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da Cidade (1937-1945)
Ao longo da década de trinta se processa uma recomposição dos órgãos Estatais em seus
diversos níveis que tem como ponto alto o surgimento do Departamento Administrativo
do Serviço Público, DASP, em 1938. No Rio de Janeiro, a administração Dodsworth não
cansava de exaltar que sua governança era regida por “critérios técnicos, voltada para os
interesses administrativos e alheia à politicagem do período anteriori”. Em nossa pesquisa
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Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense,
bolsista do CNPQ.
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julgamos fundamental problematizar esta imagem técnica e neutra propagada pelo Estado
e destrinchar as relações de classe que o atravessam. Para tanto, se faz necessário
questionar o paradigma liberal que estabelece Estado e sociedade civil como entidades
que se excluem mutuamente. Autores como Friedrich Engels nos mostram que o Estado
é fruto de um processo histórico diretamente ligado ao estabelecimento da propriedade
privada. O Estado nasceria da necessidade histórica de defender este tipo de propriedade
e coagir os que dela discordassem (ENGELS, 2013, p. 215). Dentro deste debate, Antonio
Gramsci tem uma contribuição fundamental ao desvendar as contradições da visão liberal
de Estado:
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membros inseridos diretamente nos órgãos da administração pública como o Secretário
de Obras e Viação da Prefeitura Edison Junqueira Passos e José de Oliveira Reis,
presidente da Comissão do Plano da Cidade.
O mesmo decreto ainda previu que a Comissão seria subordinada à Secretaria de Viação
e Obras e seria dividida em duas partes. Uma delas, nomeada como Comissão de
Elaboração, seria composta por técnicos oriundos dos quadros da própria secretaria ou de
outras repartições municipais sendo indicados pelo secretário Edison Passos ou pelo
prefeito. Por sua vez, a outra parte, denominada como Comissão de Colaboração, seria
composta por elementos externos ao corpo de funcionários municipais, com preferência
para associações ou empresas ligadas ao debate sobre planejamento urbano.
A grande maioria dos estudos sobre as transformações urbanas da gestão Dodsworth tem
concordado com a posição defendida por José de Oliveira Reis em suas obras e entrevistas
no que se refere à atuação do corpo técnico municipal. Segundo Reis, a Comissão de
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Elaboração “foi se extinguindo naturalmente – não foi extinto por um decreto, mas
extinguiu-se naturalmente, por falta de colaboração, vamos dizer assim- ficou só a de
Elaboração” (FREIRE; OLIVEIRA, 2008, p. 4). Uma visão que concebe os planos e ações
realizados na Comissão como obra exclusiva de um corpo técnico independente das
demandas da sociedade graças a existência da ditadura. Tais condições especiais
promovidas pelo regime estado-novista garantiriam uma ação apartada dos debates da
sociedade, transformando os técnicos em uma forma de “elite burocrática” (SILVA, 2003,
p. 148).
Julgamos que tal visão merece, no mínimo, ser indagada frente aos diversos estudos que
analisaram o aparelho de Estado no período. Trabalhos clássicos como o de Eli Diniz
questionaram esta visão do Estado Novo monolítica e equidistante das forças sociais em
confronto. A autora nos mostra que a inexistência do Legislativo ao longo do Estado Novo
não significou perda de canais de diálogo entre o empresariado e o Governo Vargas
(DINIZ, 2007, p. 131). Com um peculiar poder de síntese, Sonia Draibe descreve o
verdadeiro processo de estatização dos conflitos entre as frações de classe que ocorreu no
pós-1930 (DRAIBE, 2004, p. 76-87).
Portanto, a reforma urbana do período Dodsworth não pode ser compreendida de maneira
plena se deslocada desta série de interesses que se inseriam no processo de expansão da
malha urbana. As soluções projetadas pela Comissão engendraram uma série de
intervenções viárias com quatro principais obras: abertura das Avenidas Presidente
Vargas e Brasil, urbanização da Esplanada do Castelo e duplicação do Túnel do Leme.
Originalmente prevista, a derrubada do Morro de Santo Antônio foi inviabilizada pela
dificuldade na importação do maquinário necessário devido a situação de guerra.
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Trapicheiros, balneário de Ramos, estudo de localização dos Clubes de Regatas e Estádio
Nacional e urbanização de Botafogo (RIO DE JANEIRO, 1945, p. 87).
Fontes Primárias
Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro: Coleção Particular Oliveira Reis. Caixas: 1,
2, 22.
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DODSWORTH, Henrique de Toledo. Avenida Presidente Vargas: aspectos urbanísticos,
jurídicos, financeiros e administrativos de sua realização. Rio de Janeiro: Tipografia
Jornal do Comércio, 1955.
PASSOS, Edison. Melhoramentos do Rio de Janeiro (conferência proferida na
Associação Brasileira de Imprensa). Rio de Janeiro: Prefeitura do Distrito Federal,
Departamento de Geografia e estatística, 1945.
RIO DE JANEIRO (DISTRITO FEDERAL). Relatório da Prefeitura do Distrito Federal,
1944. Departamento de Geografia e Estatística, 1944.
Bibliografia
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de Janeiro. As obras públicas de infra-estrutura urbana na construção do “novo Rio” no
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