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ARTE DA

EMPATIANA PSICOTERAPIA

CLAUDIA K. B. OSHIRO
MILENA C. G. GEREMIAS
Seja bem-vindo!
Este e-book foi escrito com muito carinho e
cuidado. Ao longo de quase duas décadas de prática
clínica permeada pela aplicação e produção do
conhecimento científico sobre a relação terapêutica,
aprendemos que a empatia é um componente
essencial em todas as nossas interações humanas.
E confirmamos que ela é uma das variáveis mais
potente e indispensável para a psicoterapia. Para
nós, sem empatia não há terapia! Vamos juntos por
essas páginas mergulhar na experiência empática DIREITOS AUTORAIS
e aprender sobre o seu poder transformador. Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta obra pode
Sinta-se acolhido desde esse primeiro parágrafo. ser reproduzida ou transmitida

Tire os seus sapatos e acomode-se com a gente, por qualquer forma, meio
eletrônico ou mecânico sem a
permissão dos autores.

A violação dos direitos


Clau e Mi autorais é crime estabelecido
na lei no. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
REITOR
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Vahan Agopyan
VICE-REITOR
Antônio Carlos Hernandes
Oshiro, Claudia Kami Bastos
Arte da empatia na psicoterapia / Claudia Kami
Bastos Oshiro e Milena Carvalho de Godoy
Geremias. -- São Paulo, Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, 2020.
INSTITUTO DE PSICOLOGIA E-book.

DIRETORA
ISBN: 978-65-87596-05-1
Ana Maria Loffredo DOI: 10.46597/9786587596051
VICE-DIRETOR
Gustavo Martineli Massola 1. Empatia 2. Psicoterapia I. Título II. Geremias,
Milena Carvalho de Godoy
Chefe do Departamento de Psicologia da
RC480
Aprendizagem, do Desenvolvimento e da
Personalidade: Pedro Fernando da Silva
Ficha elaborada por: Elaine Cristina Domingues CRB5984/08
Chefe do Departamento de Psicologia Clínica:
Isabel Cristina Gomes

Chefe do Departamento de Psicologia


Experimental: Marcelo Fernandes da Costa Projeto gráfico e Diagramação: Mila Santoro

Chefe do Departamento de Psicologia Social e do


Trabalho: Ianni Regia Scarcelli Julho de 2020
Conheça o
O Arte de Clinicar tem uma história muito especial para nós. É como se ele integrasse e reunisse em um
único espaço toda a trajetória da nossa amizade e parceria profissional. Se você já tirou os sapatos, agora
encoste no sofá e descubra onde tudo começou. Nós nos conhecemos em um curso de especialização
sobre terapia comportamental e cognitiva lá na Universidade de São Paulo há mais de uma década.
Já nos perguntamos algumas vezes o que aconteceu nesse nosso primeiro contato: foi tanta sintonia;
sabe aquela coisa de bater o olho e simplesmente gostar? Pois é, à medida que começamos a estudar e
trabalhar juntas nossas afinidades só aumentaram e nos levaram, inclusive, a estender a nossa parceria no
mesmo grupo de pesquisa no Instituto de Psicologia-USP. Hoje, podemos dizer que a nossa convivência
transbordou os muros da universidade para a vida. São longos anos de uma amizade divertida, intensa e
de extrema parceria profissional. Até engravidar juntas em uma das gestações nós fizemos. Somos mães
de quatro meninas, duas para cada.

E foi considerando toda essa sinergia da nossa interação que o convite da Arte de Clinicar nos chegou:
“meninas, vocês são referências na área da psicologia, clinicam intensamente desde o término da
graduação, são amigas, transmitem com leveza assuntos delicados e, por isso, queríamos convidá-las
para comandarem juntas o Arte de Clinicar”. Realmente nós sempre discutimos muito sobre a lacuna
existente entre o conhecimento técnico produzido e a sua aplicabilidade. Embora as pessoas tenham
muitas dúvidas e interesses em aproximar a teoria da prática, pouco diálogo ocorre nessa direção. Na
verdade, sempre faltou o “como fazer” e o Arte de Clinicar nos instigou para isso e para a importância da
existência de um espaço acessível de diálogo conduzido por profissionais gabaritados e experientes. E eles
nos convenceram! Compartilhar com vocês reflexões, dicas e muito conteúdo sobre psicoterapia, prática
clínica e pesquisa virou a nossa nova paixão! Vem fazer arte com a gente!
Conheça as autoras
Claudia

“ Formada em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), turma de ‘97, fiz meu
mestrado na mesma universidade logo após ter me graduado, sendo bolsista FAPESP. Durante
o meu último ano de mestrado, cursei a especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva
(USP-SP) e me casei uma semana antes da defesa da minha dissertação. Precisei substituir
minha viagem de lua-de-mel por horas de estudo e preparação para a defesa que, aliás, ocorreu
bem no dia do meu aniversário. Logo depois do término dessa maratona, iniciei outra: meu
marido foi trabalhar em São Paulo e eu, como não sabia “viver de marido”, fui no mesmo mês da
mudança cursar uma disciplina no Departamento de Psicologia Clínica, no Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo (IPUSP). Apaixonei-me pela USP e por lá fiquei: me doutorei em
Psicologia Clínica, ganhei o Prêmio Capes de Tese 2012 na área da Psicologia – a melhor tese de
doutorado do Brasil – e fui eleita Presidente da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina
Comportamental (ABPMC).
Depois de um ano na gestão da associação, me afastei para cuidar da gestação de minha primeira
filha, Carolina. Quando ela estava apenas com três meses de vida, iniciei a saga do meu concurso,
estudando todas as madrugadas com uma bebê “pendurada” no peito. E foi assim que iniciei
minha carreira como docente do Departamento de Psicologia Clínica, no IPUSP, depois de 17 anos
de intensa prática clínica. E, claro, só para encher mais a vida de amor, depois de dois anos e meio
de docência, engravidei da minha segunda filha, Heloísa. Essa correria toda define exatamente
quem eu sou. Uma apaixonada pela vida, pela ciência, pela psicologia clínica e movida a desafios.
Milena

“ Formada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUCCAMP) em 2003 e apaixonada pela área
clínica desde a graduação. Durante a especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva, na Universidade
de São Paulo (USP-SP), me vi instigada a estudar a relação terapêutica e buscar embasamento científico para
os eventos que observava no consultório. A escolha da linha de pesquisa e o título da minha tese de mestrado,
tiveram total correlação com uma pergunta: o que especificamente o terapeuta faz em sessão, que auxilia
na promoção de mudanças clínicas? Encontrei muitas respostas para essa inquietação e pude traduzir mais
refinadamente os processos práticos por mim manejados como psicoterapeuta, ao me tornar Mestre em
Psicologia Clínica (com bolsa Capes), também pela USP-SP.
Hoje ultrapasso uma década de intensa e contínua prática clínica. Toda essa caminhada levou-me à
coordenação do setor de Psicologia do Hospital Sobrapar (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência
à Reabilitação) na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Já casada nesse momento, com uma
agenda de atendimentos consolidada e alguns passos antes da minha caminhada rumo ao doutorado,
descobri estar grávida de minha primeira filha, Eduarda. Uma nova jornada invadiu os meus dias e passei
a construir os caminhos para a conciliação da maternidade com o exercício da minha carreira. E como na
minha vida a emoção é um ingrediente fundamental, também encaixei a amamentação nesta nova equação.
Quando a rotina finalmente parecia se reestabelecer e minha primogênita ensaiava os seus primeiros passos,
fui surpreendida com a gravidez da minha segunda filha, Rafaela. E aqui estou eu, imersa em uma adrenalina
que na verdade é combustível para a minha essência pessoal e que me inspira a fazer dos desafios, a matéria
prima para o constante aprendizado e desenvolvimento humano.
Conteúdo
Afinal, o que é empatia? 10

Conhecendo os sapatos de seu cliente 14

Caminhando com os sapatos de seu 18


cliente em sessão: expressando empatia

Entendendo o destino de seu cliente 24

Referências 27
“A empatia é a força
mais poderosamente
perturbadora do mundo,
só fica atrás do amor. ”
ANITA NOWAK
No ano de 2015, em Londres, um dos mais
importantes pensadores britânicos, o filósofo social
Roman Krznaric, fundou o Museu da Empatia
itinerante (no inglês, “Empathy Museum”), cujo
principal objetivo é ajudar as pessoas a desenvolverem
a tão famosa empatia ou, como geralmente a
descrevemos, a capacidade de se colocar no lugar
de outra pessoa. No formato de uma grande caixa de
sapato, o museu apresenta aos seus visitantes muitos
pares de sapatos pertencentes a uma diversidade de
pessoas. E diante desses pares, a proposta do museu
ganha força: o visitante escolhe um par de sapatos
e caminha com ele por uma milha (um quilômetro
e seiscentos metros) escutando por meio de fones
de ouvido a história do dono dos sapatos. Dessa
maneira, o visitante poderá ver o mundo através dos
olhos de outra pessoa e o sentimento de empatia
pode ser desenvolvido ao longo dessa experiência
transformadora.
Afinal, o que é empatia?

O termo empatia deriva da palavra grega que se referia a nossa capacidade de “sentir em”
“empatheia”, que significa “paixão” ou “ser obras de arte, por exemplo, e ter uma reação
muito afetado” 1. Edward Titchener, psicólogo emocional e não racional a elas. Na concepção
americano, criou em 1909 a palavra “empathy”, de Titchener, estruturalista norte-americano, o
cujas origens podem ser encontradas no termo conceito de Einfühlung descrevia a capacidade
alemão Einfühlung, que significa “sentir em” 1. De de conhecer a consciência de outra pessoa e de
acordo com Krznaric , o termo foi popularizado
2
raciocinar de maneira análoga a ela por meio de
no século XIX por um filósofo alemão, Theodor um processo de imitação e assim, entender o
Lipps, como um conceito de estética filosófica que ocorria com o outro3.

10
Até a metade da década de 40, no século XX, o os quais alguém se permite, deliberadamente,
conceito de empatia foi objeto de reflexão teórica sensibilizar-se e envolver-se com a vida privada
de vários autores, incluindo o neurologista de outros5. A compreensão empática vai
e psicólogo austríaco, “pai da Psicanálise”, além de um entendimento “exterior” sobre os
Sigmund Freud4. Com investigações empíricas pensamentos e sentimentos da outra pessoa e
quase inexistentes, foi a partir da década de isso implica na sensibilização do terapeuta pelo
50 que a empatia passou a ser pesquisada relato do cliente, na apreensão e na compreensão
com maior rigor e utilizada na psicoterapia. de seus estados internos, sem julgamento de
As descobertas de Carl Rogers sobre empatia valor sobre a subjetividade do outro6.
foram essenciais para o desenvolvimento Com o passar das décadas, o conceito de
da Abordagem Centrada na Pessoa que empatia na Psicologia se desenvolveu sob dois
tem como premissa básica estabelecer um enfoques principais: 1) a empatia cognitiva,
clima terapêutico adequado, desenvolvendo ou seja, a tomada de perspectiva do outro e,
sentimentos empáticos pelo cliente em um 2) a empatia afetiva, referindo-se a resposta
ambiente de aceitação incondicional, além do emocional compartilhada. Atualmente, a
terapeuta ser autêntico na comunicação de seus empatia é definida como a tendência de
comportamentos, pensamentos e sentimentos . 5
estar psicologicamente sintonizada com os
Assim, a empatia era vista por Rogers sentimentos e as perspectivas dos outros7,
não apenas como uma simples resposta fortalecendo a tese amplamente aceita de que
ao comportamento do outro, mas também a empatia tem natureza multidimensional8, ou
como uma habilidade aprendida que envolve seja, composta por componentes emocionais
o estabelecimento de vínculos cognitivo- distintos (tendências a sentir preocupação
afetivos entre duas ou mais pessoas, durante e compaixão pelos outros) e componentes

11
AFINAL, O QUE É EMPATIA?
cognitivos (tendências a imaginar pontos de disposicional - em termos de suas dimensões
vista diferentes além dos seus). emocional e cognitiva, como supracitada - é
Considerando então a natureza geralmente considerada uma característica
multidimensional, a empatia também está individual duradoura que é relativamente
associada a uma ampla gama de resultados estável ao longo do tempo e da vida útil do
intrapessoais e interpessoais9. Explicamos: indivíduo15,16.
a empatia está positivamente relacionada à Muitos pesquisadores se interessam pela
inteligência emocional, à satisfação com a vida forma como a empatia é vivenciada por
e a autoestima10. Por exemplo, pessoas mais terapeutas e clientes durante as sessões
empáticas não apenas têm redes sociais maiores de psicoterapia. Considerando o nosso tão
e mais gratificantes em comparação com conhecido cenário de trabalho, o olho no
pessoas menos empáticas, mas são também olho com tantas pessoas, como podemos
mais sociáveis, uma vez que fazem mais compreender a empatia dentro do recorte da
caridade, se voluntariam mais e apresentam psicoterapia?
maior probabilidade para ajudar outras pessoas
movidas pelo altruísmo11.
Enquanto competência, a empatia pode ser
compreendida como uma atitude em relação
à consideração dos sentimentos de outras
pessoas12 e há algumas evidências que mostram
que intervenções específicas podem impactar
positivamente, isto é, aumentando a atitude
empática nas pessoas13,14. Contudo, empatia

12
AFINAL, O QUE É EMPATIA?
Na perspectiva da relação que se institui
entre terapeuta e cliente, a empatia caracteriza-
se como um tipo de resposta afetiva que, no
ambiente terapêutico, ocorre ao longo de três
etapas: na primeira, o psicoterapeuta escuta
atentamente o cliente, tentando compreendê-
lo cognitivamente, tomando sua perspectiva;
na segunda, ocorre um aprofundamento Se a empatia é, portanto, a arte de se
emocional por parte do terapeuta, no sentido colocar no lugar do outro e ver o mundo
de que ele passa a ser sensibilizado pelo que de sua perspectiva, vamos conhecer quem
observa no relato do outro, e, por fim, na de fato calça os sapatos que adentram a
terceira etapa, esse aprofundamento produz nossa sala de psicoterapia?
um sentimento de unicidade com o cliente,
e é essa sensação que caracteriza a empatia
propriamente dita8. Ou seja, a empatia é um
processo experiencial com várias fases, que
envolve uma série de elementos próprios ao
setting terapêutico.

13
AFINAL, O QUE É EMPATIA?
Conhecendo os
sapatos de seu
cliente

Uma professora e pesquisadora que gostamos Brené também discute o conceito de empatia
muito, Brené Brown17 (University of Houston em um vídeo facilmente encontrado no YouTube
- EUA), estuda há décadas a vulnerabilidade, intitulado “Empatia versus Simpatia” 19, e cita o
coragem, vergonha e empatia. Em decorrência estudo da pesquisadora Theresa Wiseman20 que
de suas pesquisas sobre os temas citados, seus aponta quatro características do comportamento
livros e palestras impactam muitas pessoas e a empático: 1) a tomada de perspectiva, isto
prática de muitos profissionais no mundo. Como é, a habilidade de reconhecer a perspectiva
conferencista da TED (acrônimo de Technology, da pessoa como verdadeira; 2) a ausência de
Entertainment, Design), por exemplo, a sua julgamentos; 3) o reconhecimento das emoções
palestra “O poder da vulnerabilidade”18 está nas outras pessoas e, 4) a comunicação dessas
entre as cinco mais assistidas, ultrapassando os emoções.
45 milhões de pessoas.

14
CONHECENDO OS SAPATOS DE SEU CLIENTE
Baseando-se nesta definição de Theresa, O grande desafio proposto por essa
Brené salienta que “o sentir com as pessoas” afirmação é exatamente a escolha vulnerável
é central na empatia e observa que é uma que nós, psicoterapeutas, devemos fazer para
“escolha vulnerável”. E por quê? Porque requer conhecer os donos dos sapatos que se sentam
que uma pessoa se conecte com algo seu, no nosso sofá. Só assim nós nos conectaremos
pessoal e íntimo, que a faça se identificar com genuinamente com eles. O problema é que
a luta de outra pessoa para que, então, consiga estamos imersos em uma cultura que nos ensina
criar uma conexão com o outro. Nas palavras de desde cedo a esconder a nossa vulnerabilidade e,
Brené Brown: infelizmente, aprendemos que estar vulnerável
é um sinal de fraqueza. De acordo com a autora,
em seu livro “A coragem de ser imperfeito”21, a
“vulnerabilidade é o centro de todas as emoções
“A empatia é uma escolha e sensações. Sentir é estar vulnerável. Acreditar
vulnerável: para me conectar que vulnerabilidade seja fraqueza é o mesmo
que acreditar que qualquer sentimento seja
com você, eu preciso me franqueza. Abrir mão de nossas emoções por
medo de que o custo seja muito alto significa
conectar com algo dentro
nos afastarmos da única coisa que dá sentido e
de mim que reconhece esse significado à vida” (p. 27/28)21.
Como salientado por Brené, para conectarmos
sentimento.”19
com o outro, primeiro precisamos conectar com
BRENÉ BROWN algo nosso e só assim nós conheceremos e nos
conectaremos com os donos dos sapatos. Mas

15
CONHECENDO OS SAPATOS DE SEU CLIENTE
como? Em um treinamento ministrado pela Jamais esqueceremos esse exemplo tão
primeira autora junto com outros colegas, o lindo e claro de como nós, psicoterapeutas,
exercício sobre aprendermos a sentir o que o podemos resgatar a nossa empatia diante de
outro sente, produziu em um dos participantes situações tão diferentes relatadas pelos nossos
um belíssimo exemplo de como podemos fazer clientes. Facilmente, quando os escutamos
isso. Disse ele: sem julgamentos e conseguimos acessar o
sentimento encoberto pela cortina de conteúdo
“Imaginem uma adolescente que chega do relato do cliente, nós empatizaremos. Como
à sessão chorando, dizendo que uma amiga no exemplo supracitado, nós também já
estava com um vestido igual ao dela no sentimos o que o cliente está sentindo, mesmo
seu aniversário de 15 anos. Dependendo de em situações bem distintas. Nos exercícios
quem é o terapeuta, ou seja, de algumas conduzidos nos treinamentos ministrados
variáveis tipo idade, valores pessoais, nível pelas autoras, a REGRA de OURO é: o caminho
socioeconômico etc., a fala da adolescente da conexão com o outro será sempre pelo
pode aproximar ou distanciar o terapeuta sentimento. Aconselhamos: façam esse exercício
da cliente, impactando na habilidade de diariamente.
empatizar. Entretanto, se analisarmos a
E atrelada a essa regra de ouro, temos a
fala por meio dos sentimentos, ou seja, se
regra técnica (já que somos psicoterapeutas e
nos perguntarmos: o que será que a cliente
que aprendemos a analisar o outro): conhecer
sentiu na ocasião? Humilhação? Vergonha?
a história de vida de seu cliente e conseguir
Rejeição? Nada especial? Fracasso? Com
se apegar a ela durante todos os preciosos
certeza já sentimos alguma coisa parecida,
minutos da interação é o que nos faz empatizar
muitas vezes em situações bem diferentes. ”
por completo. Quem calça os sapatos diante

16
CONHECENDO OS SAPATOS DE SEU CLIENTE
de nós é fruto de uma história única, cheia de
detalhes e de aventuras. É uma pessoa que
foi esculpida pelas experiências vividas e por
todos os relacionamentos que cruzaram a sua
existência. Como no exemplo acima, da menina
do vestido, só compreenderemos o que ela
sentiu de fato, ou seja, se foi humilhação ou
rejeição, quando a entendermos a luz de sua
história. História esta que dará sentido a tudo
que foi experienciado por ela. E assim fechamos
“nossa análise” sobre a menina do vestido,
empatizando genuinamente com o sofrimento
trazido sem perder a oportunidade de sermos
terapeuticamente eficientes. Lembrete:
Uma vez conhecida a pessoa que calça
os sapatos que nos procuram, vamos tentar
a expressão de
caminhar com eles durante cada sessão de
terapia? E que tal falarmos de forma mais técnica
empatia tem que
sobre como podemos expressar a empatia em
sessão?
ser genuína.

17
CONHECENDO OS SAPATOS DE SEU CLIENTE
Caminhando com
os sapatos de seu
cliente em sessão:
expressando empatia

A empatia pode ser expressa em sessão Assim, para caminharmos com os sapatos
pelo terapeuta de diversas maneiras. do cliente que está diante de nós, precisamos
Comportamentos verbais e/ou gestuais ter em mente que a empatia contempla ações
(inclusive expressões do rosto) com função de ou verbalizações do terapeuta que sugerem
se aproximar e demonstrar compreensão são acolhimento, aceitação, cuidado, entendimento,
considerados como pertencentes a categoria validação da experiência ou sentimento do
da empatia. Também incluímos nesta categoria cliente. A mensagem que temos que passar é
falas sobre sentimentos positivos que o cliente que o cliente é aceito, “bem-vindo”, sem implicar
produz no terapeuta, paráfrases, uso do em avaliação ou julgamento (“eu entendo você
humor, confirmações como “sim, eu acho que e aceito como você é”)23. E para fazermos isso,
é isso mesmo” e indicações de estar ouvindo podemos23 - 1,2.
e concordando. Todos os comportamentos
supracitados indicam que o terapeuta apresenta
uma preocupação genuína com o bem-estar de 1 Exemplos meramente ilustrativos.
2 As subcategorias da empatia foram reagrupadas pelas autoras. Para acesso a todas as
seu cliente . 22
categorias, ver tese citada no número 23 na seção Referências.

18
CAMINHANDO COM OS SAPATOS DE SEU CLIENTE EM SESSÃO
Validar sentimentos, dizendo que o que o Validar críticas e discordâncias que o cliente
cliente faz e sente são esperados e “fazem todo diz sobre a terapia, reavaliando sua conduta
sentido” na situação vivida. e análise; muitas vezes admitindo erros e se
Por exemplo: desculpando.
Por exemplo:

Cliente: “Você vai achar bobo


o que eu vou dizer, mas eu estou Cliente: “Queria te dizer que na
muito triste e chorei o fim de última sessão eu queria ter falado
semana inteiro porque queria ter mais sobre a situação com aquela
falado sobre o documento que minha amiga e senti que você não
preparei naquela reunião, mas não me deu espaço.”
consegui. Quando vi que tinham
pessoas da outra sede, fiquei
apavorado e só ouvi, não falei nada”. Terapeuta: “Sinto muito que eu tenha
feito você se sentir assim. Realmente,
como eu achei que a conversa tinha
Terapeuta: “Faz todo o sentido você sido positiva, inferi que você estava bem
achar isso bobo, pq na sua história de vida e não percebi que haviam incômodos
poucas foram as validações que recebeu que ainda gostaria de me falar. Quero
sobre os seus sentimentos. E é claro que me desculpar e se ainda quiser,
você se sentiria triste, você estava cheio podemos retomar essa conversa.”
de expectativas para apresentar aquelas
informações. Eu te entendo”

19
CAMINHANDO COM OS SAPATOS DE SEU CLIENTE EM SESSÃO
Mostrar interesse e/ou entendimento,
expressando e comentando sobre o tema
relatado, ou seja, indicando que está interessado
pelo o assunto exposto e/ou que você está Mostrar preocupação pessoal com o cliente,
compreendendo o que o cliente está dizendo. emitindo falas que demonstrem cuidado.
Por exemplo: Por exemplo:

Cliente: “Nossa eu estava lendo Cliente: “Nossa deixa eu te


um livro que o personagem me contar, bati meu carro essa
fez lembrar muito de um grande semana!”
amigo, fiquei com saudades”.

Terapeuta: “Caramba, mas como


Terapeuta: “Nossa é mesmo? Me assim? Estou vendo que você está bem,
conta que livro é e o que te fez lembrar mas chegou a se machucar? E agora
desse amigo. Aliás, de quem falamos?” como está fazendo sem carro?”

20
CAMINHANDO COM OS SAPATOS DE SEU CLIENTE EM SESSÃO
Parafrasear, dizendo de forma resumida o que Cooperar e/ou apoiar, afirmando sua
foi dito pelo cliente, tanto por meio da repetição disponibilidade para ajudar o cliente a solucionar
literal quanto reorganizando as falas do cliente, um problema e/ou para superar uma situação
sem acrescentar qualquer elemento novo à fala específica.
do cliente. Por exemplo:
Por exemplo:

Cliente: “Já vou adiantar que


Cliente: “Eu encontrei com eu fiz tudo diferente do que nós
ela naquela festa. Não estava conversamos e acabei aceitando o
esperando e fiquei super mal. convite dele, de novo!”.
Tomei o maior porre. Ela estava com
um grupo de rapazes, me viu, mas
Terapeuta: “Fica tranquila, estou
nem me cumprimentou. Foi difícil”.
com você e sei o quanto essa
relação te é importante. Me conta
Terapeuta: “Poxa, que difícil ter logo como foi o encontro!”.
encontrado com ela na festa e ela
nem ter te cumprimentado!”.

21
CAMINHANDO COM OS SAPATOS DE SEU CLIENTE EM SESSÃO
Usar humor, emitindo falas acompanhadas Autorrevelar-se, contando sobre experiências
de risadas e que tenham sido humorísticas. semelhantes vivenciadas pelo terapeuta,
Não pode ter função de ironia ou sarcasmo com sugerindo validação e entendimento da condição
relação ao cliente ou a qualquer comportamento do cliente.
dele. Por exemplo:
Por exemplo:

Cliente: “Tenho percebido que


Cliente: Não adianta, eu quando trabalho muito, chego
não consigo ser tão educada em casa tão exausto que não
quando estou brava!”. tenho paciência para nada e com
ninguém. Estou sendo muito
intolerante com a minha esposa”.
Terapeuta: Uai e quem consegue ser
a miss simpatia quando ta querendo
mandar o outro catar coquinho? Pode Terapeuta: “Conheço bem essa
me contar se descobrir!”. sensação, funciono de forma parecida
e minha disponibilidade para o outro
também se afeta quando estou muito
sobrecarregada e cansada”.

22
CAMINHANDO COM OS SAPATOS DE SEU CLIENTE EM SESSÃO
Todas as categorias citadas ilustram função de empatia. Muitas vezes a gente se
possíveis formas de como podemos expressar apega a essas categorias e não percebemos
a empatia diante das falas de nossos clientes. que não acessamos nossos sentimentos e nem
Vale ressaltar que elas só terão esse efeito tão pouco acessamos o que de fato faz o cliente
se estiverem muito bem acopladas à análise sofrer. Repetimos as frases como se fossem
do caso. Lembrem-se que cada cliente é “decoradas” e falhamos na missão de sermos
único e o que pode funcionar como uma fala empáticos. Voltamos a ressaltar: empatia é algo
empática para um, pode não ter o mesmo genuíno e jamais “fingido”.
efeito para o outro cliente. A empatia por si só,
embora considerada um dos fatores comuns
Segue mais um importante lembrete:
responsáveis pela mudança terapêutica,
precisa ser acompanhada de outras
intervenções. Geralmente, após a emissão Se conseguirmos ser
dessas falas, solicitação de relato, uma efetivos no exercício da
interpretação ou até mesmo uma solicitação
empatia com nossos clientes,
de reflexão precisam ser feitas para maior
efetividade de intervenção.
daremos modelos de como
Além da análise do caso que deve sempre
podemos ser empáticos nas
acompanhar todas as intervenções do nossas interações, além
psicoterapeuta, se não conseguirmos identificar de fortalecemos a relação
os sentimentos presentes (tanto do cliente
quanto do terapeuta) e conectar a eles, qualquer
terapêutica.
fala das categorias supracitadas não terão a

23
CAMINHANDO COM OS SAPATOS DE SEU CLIENTE EM SESSÃO
Entendendo o destino
de seu cliente
Empatia é um sentimento que foi selecionado
filogeneticamente, importante para a
sobrevivência da nossa espécie. Todos nós
temos um “ser empático” e precisamos nos
conectar com ele. A experiência do Museu de
empatia descrita logo no início deste livro nos
traz a esperança de nos conectarmos conosco
e assim conectarmos com o outro, conseguindo
abandonar todo o julgamento que geralmente
deteriora nossas interações.

24
“A vida me fez de vez em quando
pertencer, como se fosse para me
dar a medida do que eu perco não
pertencendo. E então eu soube:
pertencer é viver.”
CLARICE LISPECTOR

É quando os nossos clientes entendem


a potência da sua conexão com o outro e
nos incluem nesse time, que sabemos ter
alcançado o melhor da nossa entrega humana
e profissional. Entendemos o destino de cada
cliente que nos pede ajuda.

25
ENTENDENDO O DESTINO DE SEU CLIENTE
Guardem com carinho a nossa frase:

“Sem empatia
não há terapia!”

CLAUDIA OSHIRO &


MILENA GEREMIAS

26
3. Wispé, L. (1986). The distinction between
sympathy and empathy: To call forth a concept,
a word is needed. Journal of Personality and
Social Psychology, 50(2), pp. 314-321. https://doi.
org/10.1037/0022-3514.50.2.314.

4. Wispé, L. (1987). History of the concept of


empathy. In N. Eisenberg & J. Strayer (Eds.),
Empathy and its development (pp.17-37). New

Referências1 York: Cambridge University Press.

5. Rogers, C. R. (2001a). Tornar-se pessoa (5a ed., M.


J. C Ferreira & A. Lamparelli, trads.). São Paulo:
1. Sampaio, L. R., Camino, C. P. S., & Roazzi, A.
Martins Fontes. (Trabalho original publicado em
(2009). Revisão de aspectos conceituais, teóricos
1985)
e metodológicos da empatia. Psicologia
6. Rogers, C. R. (2001b). Sobre o poder pessoal
Ciência e Profissão, 29(2), pp.212-227. https://doi.
(4a ed., W. M. Alves Penteado, trad.). São Paulo:
org/10.1590/S1414-98932009000200002.
Martins Fontes. (Trabalho original publicado em
2. Krznaric, R. (2015). O poder da empatia: a arte de
1979)
se colocar no lugar do outro para transformar o
7. Decety, J., Lamm, C. (2006).  Human empathy
mundo (1a ed., M. L. X. de A. Borges, trad.). Rio de
through the lens of social neuroscience. The
Janeiro: Zahar (Trabalho original publicado em
Scientific World Journal, 6, pp. 1146-1163. https://
2014).
doi.org/10.1100/tsw.2006.221

1 As referências apresentadas seguem a ordem de citação no texto.

27
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“Quando eu puder sentir plenamente
o outro estarei salva e pensarei:
eis o meu porto de chegada”
CLARICE LISPECTOR
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