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Falência e Recuperação Judicial SUMÁRIO

SUMÁRIO

ABERTURA .................................................................................................................................. 9
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................................................................... 9
OBJETIVO E CONTEÚDO ......................................................................................................................................................... 9
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................................................... 11
PROFESSOR-AUTOR ................................................................................................................................................................. 11

MÓDULO 1 – FALÊNCIA E LEGISLAÇÃO ................................................................................... 13


APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................................................................ 13
UNIDADE 1 – MULTIDISCIPLINARIDADE DO TEMA ............................................................................ 13
1.1 EXIGÊNCIAS DO MERCADO .......................................................................................................................................... 13
1.2 ATUAÇÃO CONJUNTA ..................................................................................................................................................... 13
1.3 NOVA LEI DE FALÊNCIAS ............................................................................................................................................... 14
1.4 QUESTÕES SOCIETÁRIAS ................................................................................................................................................ 14
1.5 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 15
UNIDADE 2 – INTRODUÇÃO À NOVA LFRE ........................................................................................ 15
2.1 PROJETOS DE MODIFICAÇÃO DA LEI ........................................................................................................................ 15
2.2 CAUSAS DO DECLÍNIO DO ANTIGO SISTEMA ....................................................................................................... 16
2.3 INTENÇÕES E OBJETIVOS .............................................................................................................................................. 16
2.4 TENDÊNCIAS ....................................................................................................................................................................... 17
2.5 PONTOS DE RESISTÊNCIA .............................................................................................................................................. 18
2.6 CRÍTICAS ESPECÍFICAS .................................................................................................................................................... 18
2.6.1 CARÁTER LITIGIOSO DO PROCESSO DE FALÊNCIA ........................................................................................... 18
2.6.2 TEMPO MÉDIO DO PROCESSO FALIMENTAR ...................................................................................................... 18
2.6.3 CONCORDATA PREVENTIVA ....................................................................................................................................... 19
2.6.4 SUCESSÃO TRIBUTÁRIA ............................................................................................................................................... 19
2.6.5 CONDIÇÕES DE PARCELAMENTO DO DÉBITO TRIBUTÁRIO ......................................................................... 19
2.7 ENFOQUE ............................................................................................................................................................................. 20
2.8 PREMISSAS .......................................................................................................................................................................... 20
2.9 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 20
UNIDADE 3 – LEGITIMIDADE ATIVA PARA REQUERIMENTO DE FALÊNCIA ....................................... 21
3.1 PROCESSO DE REQUERIMENTO ................................................................................................................................... 21
3.2 CREDOR EMPRESÁRIO ..................................................................................................................................................... 21
3.2.1 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS REGISTRADAS NO RCPJ ....................................................................................... 21
3.2.2 SERVIÇOS DE NATUREZA INTELECTUAL, LITERÁRIA, ARTÍSTICA OU CIENTÍFICA ................................... 22
3.3 CREDOR DOMICILIADO NO EXTERIOR ...................................................................................................................... 22
3.4 CREDOR COM GARANTIA REAL ................................................................................................................................... 23
3.5 CREDOR FISCAL ................................................................................................................................................................. 23
3.5.1 NOVOS ARGUMENTOS ................................................................................................................................................ 24
3.6 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 24
UNIDADE 4 – JUÍZO COMPETENTE .................................................................................................... 25
4.1 DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA .................................................................................................................................... 25
4.2 PRINCIPAL ESTABELECIMENTO .................................................................................................................................... 25
4.2.1 ANÁLISE DO PRINCIPAL ESTABELECIMENTO ...................................................................................................... 25

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SUMÁRIO Falência e Recuperação Judicial

4.3 COMPETÊNCIA DO JUÍZO FALIMENTAR ................................................................................................................... 26


4.4 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 26
UNIDADE 5 – PRESSUPOSTOS FALIMENTARES .................................................................................. 26
5.1 PRESSUPOSTOS MATERIAIS E FORMAIS ................................................................................................................... 26
5.2 LEGITIMIDADE PASSIVA ................................................................................................................................................. 26
5.2.1 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL .......................................................................................................................................... 27
5.2.2 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS ...................................................................................................................................... 27
5.2.2.1 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS NÃO SUJEITAS À FALÊNCIA ........................................................................... 28
5.3 INSOLVÊNCIA ..................................................................................................................................................................... 28
5.3.1 IMPONTUALIDADE ........................................................................................................................................................ 29
5.3.1.1 PROTESTO ESPECIAL ................................................................................................................................................. 29
5.3.1.2 PROTESTO POR EMPRÉSTIMO ................................................................................................................................ 30
5.3.2 EXECUÇÃO FRUSTRADA .............................................................................................................................................. 30
5.3.3 ATOS DE FALÊNCIA ...................................................................................................................................................... 30
5.3.4 AUTOFALÊNCIA .............................................................................................................................................................. 32
5.3.4.1 MOTIVAÇÃO DA CONFISSÃO ................................................................................................................................. 32
5.3.4.2 POSSIBILIDADE DE RETRATAÇÃO ......................................................................................................................... 32
5.4 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 33
UNIDADE 6 – PROCEDIMENTO, DEFESA E SENTENÇA ....................................................................... 33
6.1 PREVENÇÃO DO JUÍZO ................................................................................................................................................... 33
6.1.1 DILAÇÃO PROBATÓRIA ................................................................................................................................................ 34
6.2 DEPÓSITO ELISIVO ........................................................................................................................................................... 34
6.2.1 RECONHECIMENTO DA DÍVIDA ............................................................................................................................... 35
6.3 SENTENÇA DE FALÊNCIA ............................................................................................................................................... 35
6.3.1 DECISÃO DE QUEBRA .................................................................................................................................................. 35
6.3.2 SISTEMA RECURSAL ...................................................................................................................................................... 37
6.4 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 37
UNIDADE 7 – ADMINISTRAÇÃO NA FALÊNCIA .................................................................................. 37
7.1 PARTICIPANTES DA FALÊNCIA ..................................................................................................................................... 37
7.2 JUIZ ........................................................................................................................................................................................ 38
7.3 MINISTÉRIO PÚBLICO ...................................................................................................................................................... 38
7.3.1 MOMENTO DE ATUAÇÃO ........................................................................................................................................... 38
7.3.2 FINALIDADE DA INTERVENÇÃO ............................................................................................................................... 39
7.4 ADMINISTRADOR JUDICIAL .......................................................................................................................................... 39
7.4.1 REMUNERAÇÃO .............................................................................................................................................................. 40
7.5 GESTOR JUDICIAL ............................................................................................................................................................. 41
7.5.1 CONTINUAÇÃO PROVISÓRIA DO NEGÓCIO ......................................................................................................... 41
7.6 ASSEMBLEIA DE CREDORES .......................................................................................................................................... 42
7.7 COMITÊ DE CREDORES ................................................................................................................................................... 43
7.8 FALIDO INDIVIDUAL ........................................................................................................................................................ 44
7.8.1 FALIDO VERSUS MASSA FALIDA ............................................................................................................................. 44
7.9 SOCIEDADE FALIDA E SÓCIOS ..................................................................................................................................... 45
7.10 EXERCÍCIO DA EMPRESA .............................................................................................................................................. 45
7.11 CONSTITUIÇÃO DE NOVAS SOCIEDADES .............................................................................................................. 45
7.12 RESTRIÇÃO AO DIREITO DE LOCOMOÇÃO ............................................................................................................ 46

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Falência e Recuperação Judicial SUMÁRIO

7.12.1 LINHAS DE INTERPRETAÇÃO ................................................................................................................................... 46


7.13 QUEBRA DO SIGILO ....................................................................................................................................................... 46
7.14 SÍNTESE .............................................................................................................................................................................. 47
UNIDADE 8 – ESTUDO DE CASO – GATEWAY ..................................................................................... 47
8.1 EMPRESA .............................................................................................................................................................................. 47
8.1.1 PROBLEMA ....................................................................................................................................................................... 47
8.1.2 PLANO DE RECUPERAÇÃO .......................................................................................................................................... 47
8.1.3 REQUERIMENTO DE FALÊNCIA ................................................................................................................................. 48
8.2 QUESTÕES ........................................................................................................................................................................... 48
8.3 CONCLUSÃO ....................................................................................................................................................................... 49
UNIDADE 9 – CENÁRIO CULTURAL ..................................................................................................... 51
9.1 FILME .................................................................................................................................................................................... 51
9.2 OBRA LITERÁRIA ................................................................................................................................................................ 51
9.3 OBRA DE ARTE ................................................................................................................................................................... 51

MÓDULO2 – EFEITOS DA FALÊNCIA ......................................................................................... 53


APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................................................................ 53
UNIDADE 1 – EFEITOS RELACIONADOS AOS BENS DO FALIDO ........................................................ 53
1.1 EFEITOS DA SENTENÇA DE FALÊNCIA ...................................................................................................................... 53
1.2 ADMINISTRAÇÃO E INDISPONIBILIDADE ................................................................................................................ 53
1.2.1 DIREITO DE FAMÍLIA E CURATELADOS .................................................................................................................. 54
1.3 ARRECADAÇÃO DOS BENS E LIVROS ........................................................................................................................ 54
1.3.1 BENS NA POSSE DE TERCEIROS ............................................................................................................................... 54
1.3.2 PROVIDÊNCIAS COMPLEMENTARES ....................................................................................................................... 55
1.4 BENS NÃO SUJEITOS A ARRECADAÇÃO ................................................................................................................... 55
1.5 NEGOCIAÇÃO DOS BENS ............................................................................................................................................... 56
1.6 PEDIDOS DE RESTITUIÇÃO ............................................................................................................................................ 56
1.6.1 RESTITUIÇÃO IN NATURA ............................................................................................................................................ 56
1.6.2 RESTITUIÇÃO EM DINHEIRO ...................................................................................................................................... 57
1.6.3 PROCEDIMENTO DO PEDIDO DE RESTITUIÇÃO ................................................................................................. 58
1.6.3.1 INTIMAÇÃO E CONTESTAÇÃO ............................................................................................................................... 58
1.6.3.2 ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA ....................................................................................................................................... 59
1.6.3.3 RECURSO DE APELAÇÃO .......................................................................................................................................... 59
1.7 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 60
UNIDADE 2 – EFEITOS RELACIONADOS AOS CONTRATOS DO FALIDO ........................................... 60
2.1 REGRAS DIFERENTES ....................................................................................................................................................... 60
2.2 CONTRATOS BILATERAIS ................................................................................................................................................ 60
2.2.1 INTERPELAÇÃO POR TERCEIRO ................................................................................................................................. 61
2.3 CONTRATOS UNILATERAIS ............................................................................................................................................. 61
2.4 SITUAÇÕES ESPECIAIS .................................................................................................................................................... 62
2.5 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 63
UNIDADE 3 – INDIVISIBILIDADE DO JUÍZO FALIMENTAR .................................................................. 63
3.1 AÇÕES CONTRA A MASSA FALIDA ............................................................................................................................. 63
3.2 EXCEÇÕES ............................................................................................................................................................................ 64
3.2.1 RECLAMAÇÕES TRABALHISTAS ................................................................................................................................ 64

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SUMÁRIO Falência e Recuperação Judicial

3.2.2 CAUSAS FEDERAIS ......................................................................................................................................................... 64


3.2.3 CAUSAS E EXECUÇÕES FISCAIS ............................................................................................................................... 65
3.2.4 MASSA FALIDA COMO AUTORA .............................................................................................................................. 65
3.2.5 EFEITOS DA UNIVERSALIDADE ................................................................................................................................. 65
3.3 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 66
UNIDADE 4 – EFEITO SOBRE OS ATOS DO FALIDO ANTERIORES À QUEBRA ................................... 66
4.1 NEGÓCIOS ANTERIORES À QUEBRA ........................................................................................................................... 66
4.2 INEFICÁCIA .......................................................................................................................................................................... 67
4.2.1 REQUISITO TEMPORAL ................................................................................................................................................ 67
4.3 INEFICÁCIA RELATIVA ...................................................................................................................................................... 67
4.3.1 PARÂMETRO TEMPORAL ............................................................................................................................................. 68
4.4 AÇÃO REVOCATÓRIA ........................................................................................................................................................ 68
4.4.1 COMPETÊNCIA ................................................................................................................................................................ 69
4.4.2 POLO PASSIVO ................................................................................................................................................................ 69
4.4.3 PONTOS DE ANÁLISE ................................................................................................................................................... 70
4.5 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 70
UNIDADE 5 – EFEITOS EM RELAÇÃO AOS CREDORES ....................................................................... 70
5.1 CLASSIFICAÇÃO DOS CREDORES ................................................................................................................................ 70
5.2 PROCEDIMENTOS ............................................................................................................................................................. 71
5.2.1 PRIMEIRO EDITAL ........................................................................................................................................................... 71
5.2.1.1 PUBLICAÇÃO ................................................................................................................................................................ 71
5.2.1.2 OBJETIVOS DO PRIMEIRO EDITAL ........................................................................................................................ 72
5.2.2 SEGUNDO EDITAL ......................................................................................................................................................... 72
5.2.2.1 PRAZO PARA IMPUGNAÇÃO ................................................................................................................................... 72
5.2.2.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO ........................................................................................................................... 73
5.2.3 TERCEIRO EDITAL ........................................................................................................................................................... 73
5.2.3.1 AÇÃO REVISIONAL ..................................................................................................................................................... 73
5.2.3.2 PROVIDÊNCIAS DO JUIZ .......................................................................................................................................... 74
5.2.3.3 AGRAVO DE INSTRUMENTO ................................................................................................................................... 75
5.2.4 HABILITAÇÕES RETARDATÁRIAS ............................................................................................................................... 75
5.2.4.1 PROCESSO DE VERIFICAÇÃO DE CRÉDITOS ..................................................................................................... 76
5.2.4.2 IMPUGNAÇÃO ............................................................................................................................................................. 77
5.3 JUROS .................................................................................................................................................................................... 77
5.3.1 PRAZOS PRESCRICIONAIS ........................................................................................................................................... 78
5.4 COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS .................................................................................................................................... 78
5.5 ORDEM DE CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES .................................................................................................... 78
5.5.1 CRÉDITOS PREVISTOS .................................................................................................................................................. 78
5.5.2 CRÉDITOS NÃO PREVISTOS ........................................................................................................................................ 80
5.6 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 80
UNIDADE 6 – REALIZAÇÃO DO ATIVO .............................................................................................. 81
6.1 MOMENTO DE REALIZAÇÃO ........................................................................................................................................ 81
6.2 FORMAS DE REALIZAÇÃO .............................................................................................................................................. 81
6.3 CASOS DE SUCESSÃO ..................................................................................................................................................... 81
6.3.1 SÓCIO DA SOCIEDADE FALIDA ................................................................................................................................ 82
6.3.1.1 PESSOA JURÍDICA CONTROLADA PELO FALIDO ............................................................................................. 82

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Falência e Recuperação Judicial SUMÁRIO

6.3.1.2 SOCIEDADE CONTROLADA POR SÓCIO DA SOCIEDADE FALIDA ............................................................ 82


6.3.2 PARENTES ......................................................................................................................................................................... 83
6.3.3 LARANJAS OU TESTAS DE FERRO ............................................................................................................................. 83
6.4 UNIVERSALIDADE DO JUÍZO FALIMENTAR ............................................................................................................. 84
6.5 MODALIDADES DE REALIZAÇÃO DO ATIVO .......................................................................................................... 84
6.5.1 REGRAS COMUNS .......................................................................................................................................................... 84
6.6 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 85
UNIDADE 7 – ETAPAS FINAIS .............................................................................................................. 85
7.1 PAGAMENTO DOS CREDORES ..................................................................................................................................... 85
7.2 PRESTAÇÃO DE CONTAS ................................................................................................................................................. 86
7.3 RELATÓRIO FINAL E ENCERRAMENTO ...................................................................................................................... 86
7.4 REABERTURA DO PROCESSO ........................................................................................................................................ 87
7.5 REABILITAÇÃO .................................................................................................................................................................... 87
7.5.1 FUNDAMENTOS DA REABILITAÇÃO ....................................................................................................................... 88
7.6 CERTIDÕES NEGATIVAS .................................................................................................................................................. 88
7.7 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 88
UNIDADE 8 – ESTUDO DE CASO – VISION .......................................................................................... 89
8.1 EMPRESA .............................................................................................................................................................................. 89
8.1.1 PEDIDOS DE RESTITUIÇÃO ......................................................................................................................................... 89
8.1.2 OUTRAS DEMANDAS .................................................................................................................................................... 89
8.2 QUESTÕES ........................................................................................................................................................................... 90
8.3 CONCLUSÃO ....................................................................................................................................................................... 90
8.5 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 91
UNIDADE 9 – CENÁRIO CULTURAL ..................................................................................................... 91
9.1 FILME .................................................................................................................................................................................... 91
9.2 OBRA LITERÁRIA ................................................................................................................................................................ 91
9.3 OBRA DE ARTE ................................................................................................................................................................... 91

MÓDULO 3 – PRINCÍPIOS DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO .............................................. 93


APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................................................................ 93
UNIDADE 1 – PROCESSO DE RECUPERAÇÃO ..................................................................................... 93
1.1 MUDANÇA DE ORIENTAÇÃO ........................................................................................................................................ 93
1.2 PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA ............................................................................................................ 93
1.3 RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL .................................................................................................................................. 94
1.4 RECUPERAÇÃO JUDICIAL ............................................................................................................................................... 94
1.4.1 INSTAURAÇÃO DO PROCESSO .................................................................................................................................. 94
1.4.1.1 LEGITIMIDADE ATIVA ................................................................................................................................................ 95
1.4.1.2 REQUISITOS .................................................................................................................................................................. 95
1.4.1.3 DOCUMENTOS ............................................................................................................................................................ 95
1.4.2 DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DO PEDIDO .......................................................................................... 96
1.4.2.1 SUSPENSÃO DE AÇÕES OU EXECUÇÕES .......................................................................................................... 97
1.4.2.2 APRESENTAÇÃO DE CERTIDÃO .............................................................................................................................. 97
1.4.2.3 DESISTÊNCIA DO PEDIDO ....................................................................................................................................... 97
1.5 SÍNTESE ................................................................................................................................................................................ 97

5
SUMÁRIO Falência e Recuperação Judicial

UNIDADE 2 – PLANO DE RECUPERAÇÃO ........................................................................................... 97


2.1 APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................................................. 97
2.2 ORGANIZAÇÃO .................................................................................................................................................................. 98
2.3 PUBLICAÇÃO DO EDITAL ............................................................................................................................................... 98
2.4 MEIOS DE RECUPERAÇÃO .............................................................................................................................................. 98
2.4.1 DILAÇÃO DO PRAZO OU REVISÃO DAS CONDIÇÕES DE PAGAMENTO .................................................... 99
2.4.2 OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS .......................................................................................................................................... 99
2.4.3 CONCESSÃO DE DIREITOS EXTRAPATRIMONIAIS ............................................................................................... 99
2.4.4 TRESPASSE OU ARRENDAMENTO .......................................................................................................................... 100
2.4.5 SOCIEDADE DE CREDORES E EQUALIZAÇÃO DE ENCARGOS ..................................................................... 100
2.4.6 USUFRUTO, ADMINISTRAÇÃO COMPARTILHADA E ADJUDICAÇÃO DE BENS ..................................... 100
2.5 RESTRIÇÕES ....................................................................................................................................................................... 101
2.5.1 ANUÊNCIA DO TITULAR DO CRÉDITO ................................................................................................................. 101
2.6 COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS .................................................................................................................................. 102
2.7 CRÉDITOS NÃO SUJEITOS AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO .......................................................................... 102
2.7.1 CREDORES NÃO SUJEITOS AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO ..................................................................... 102
2.8 CREDORES FISCAIS ......................................................................................................................................................... 103
2.9 SÍNTESE .............................................................................................................................................................................. 103
UNIDADE 3 – APROVAÇÃO DO PLANO ........................................................................................... 103
3.1 EDITAL DE AVISO AOS CREDORES ............................................................................................................................ 103
3.1.1 OBJEÇÕES AO PLANO ................................................................................................................................................ 103
3.2 SISTEMA DE VOTAÇÃO ................................................................................................................................................. 104
3.2.1 CONVOCAÇÃO DE ASSEMBLEIA GERAL ............................................................................................................. 105
3.2.2 CLASSES DE CREDORES ............................................................................................................................................ 105
3.3 SISTEMA DO CRAW DOWN .......................................................................................................................................... 105
3.3.1 REQUISITOS ................................................................................................................................................................... 106
3.4 SÍNTESE .............................................................................................................................................................................. 106
UNIDADE 4 – HOMOLOGAÇÃO DO PLANO .................................................................................... 106
4.1 CONCESSÃO DA RECUPERAÇÃO ............................................................................................................................... 106
4.2 REQUISITOS PARA HOMOLOGAÇÃO ........................................................................................................................ 106
4.3 REQUISITOS PARA HOMOLOGAÇÃO ........................................................................................................................ 107
4.4 REJEIÇÃO DO PLANO ..................................................................................................................................................... 107
4.5 RECURSOS .......................................................................................................................................................................... 107
4.5.1 APELAÇÃO ...................................................................................................................................................................... 108
4.6 RECUPERAÇÃO DE MICRO E PEQUENA EMPRESA .............................................................................................. 108
4.6.1 PLANO ESPECIAL ......................................................................................................................................................... 109
4.6.2 PROCEDIMENTO ........................................................................................................................................................... 109
4.6.3 HOMOLOGAÇÃO ......................................................................................................................................................... 110
4.6.4 VANTAGENS PARA FORNECEDORES ..................................................................................................................... 110
4.7 NOVAÇÃO .......................................................................................................................................................................... 110
4.8 SÍNTESE .............................................................................................................................................................................. 111
UNIDADE 5 – ESTUDO DE CASO – HARDWARE ................................................................................ 111
5.1 EMPRESA ............................................................................................................................................................................ 111
5.1.1 PROBLEMA ..................................................................................................................................................................... 111
5.1.2 PLANO DE RECUPERAÇÃO ........................................................................................................................................ 111

6
Falência e Recuperação Judicial SUMÁRIO

5.2 QUESTÕES ......................................................................................................................................................................... 112


5.3 CONCLUSÃO ..................................................................................................................................................................... 113
5.4 SÍNTESE .............................................................................................................................................................................. 114
UNIDADE 6 – CENÁRIO CULTURAL ................................................................................................... 114
6.1 FILME .................................................................................................................................................................................. 114
6.2 OBRA LITERÁRIA .............................................................................................................................................................. 114
6.3 OBRA DE ARTE ................................................................................................................................................................. 114
UNIDADE 7 – ATIVIDADES ................................................................................................................ 114
7.1 AUTOAVALIAÇÃO ............................................................................................................................................................ 114

MÓDULO 4 – PLANO DE RECUPERAÇÃO E PODERES CONSTITUÍDOS ............................... 115


APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................................................... 115
UNIDADE 1 – PRAZOS ...................................................................................................................... 115
1.1 PRAZO DO PLANO .......................................................................................................................................................... 115
1.2 DESFECHOS POSSÍVEIS ................................................................................................................................................ 115
1.3 PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE SUSPENSÃO ........................................................................................................ 116
1.4 UNIVERSALIDADE E INDIVISIBILIDADE DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO ...................................................... 116
1.4.1 APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS .................................................................................................................................. 117
1.5 PODERES DO JUIZ ........................................................................................................................................................... 117
1.6 ALTERAÇÕES NO PLANO .............................................................................................................................................. 117
1.6.1 OBSERVÂNCIA DO PROCEDIMENTO .................................................................................................................... 118
1.6.2 DURAÇÃO DO PROCESSO ......................................................................................................................................... 118
1.7 SÍNTESE .............................................................................................................................................................................. 118
UNIDADE 2 – ADMINISTRADOR, COMITÊ E ASSEMBLEIA GERAL .................................................... 118
2.1 PODERES DO ADMINISTRADOR ................................................................................................................................. 118
2.1.1 FUNÇÕES DO ADMINISTRADOR ............................................................................................................................ 119
2.2 PODERES DO COMITÊ ................................................................................................................................................... 119
2.2.1 OUTROS PODERES ....................................................................................................................................................... 119
2.3 PODERES DA ASSEMBLEIA GERAL ........................................................................................................................... 120
2.4 POSSIBILIDADE DE CONVOLAÇÃO .......................................................................................................................... 120
2.5 SÍNTESE .............................................................................................................................................................................. 120
UNIDADE 3 – VENDA DE BENS E RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE ........................................ 121
3.1 VENDA DE BENS NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ................................................................................................... 121
3.1.1 MODOS DE VENDA ..................................................................................................................................................... 121
3.1.2 PREFERÊNCIAS NA VENDA ....................................................................................................................................... 121
3.1.3 ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL ...................................................................................... 122
3.1.3.1RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE ............................................................................................................. 122
3.1.3.2 FOCO DAS MUDANÇAS ......................................................................................................................................... 123
3.1.3.3 ALTERAÇÕES NO CTN ............................................................................................................................................. 124
3.1.4 SUCESSÃO TRABALHISTA ......................................................................................................................................... 125
3.1.4.1 DIVERGÊNCIA ENTRE JUÍZOS ............................................................................................................................... 125
3.1.4.2 POSIÇÃO MODERADA ............................................................................................................................................. 125
3.1.5 DECISÃO SOBRE SUCESSÃO .................................................................................................................................... 126
3.2 SÍNTESE .............................................................................................................................................................................. 126

7
SUMÁRIO Falência e Recuperação Judicial

UNIDADE 4 – RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL ................................................................................ 126


4.1 ACORDO ............................................................................................................................................................................. 126
4.1.1 TIPOS DE ACORDO ...................................................................................................................................................... 126
4.2 REQUISITOS ....................................................................................................................................................................... 127
4.2.1 REQUISITOS SUBJETIVOS .......................................................................................................................................... 127
4.2.2 REQUISITOS SUBJETIVOS E OBJETIVOS .............................................................................................................. 128
4.3 CREDORES SUJEITOS ..................................................................................................................................................... 128
4.4 CREDORES NÃO SUJEITOS ........................................................................................................................................... 128
4.5 HOMOLOGAÇÃO DO PLANO APROVADO .............................................................................................................. 129
4.5.1 PETIÇÃO INICIAL .......................................................................................................................................................... 129
4.5.2 ESTRUTURA DA PETIÇÃO INICIAL .......................................................................................................................... 129
4.6 IMPUGNAÇÃO AO PEDIDO .......................................................................................................................................... 130
4.6.1 INJUSTIÇAS .................................................................................................................................................................... 131
4.7 LIMITAÇÃO AOS PODERES DO JUIZ E RECURSOS ............................................................................................... 131
4.7.1 DESISTÊNCIA DA ADESÃO AO PLANO ................................................................................................................. 131
4.7.2 EFEITOS DA HOMOLOGAÇÃO ................................................................................................................................ 132
4.7.3 CUMPRIMENTO DO PLANO ..................................................................................................................................... 132
4.8 SÍNTESE .............................................................................................................................................................................. 132
UNIDADE 5 – CENÁRIO CULTURAL ................................................................................................... 132
5.1 FILME .................................................................................................................................................................................. 132
5.2 OBRA LITERÁRIA .............................................................................................................................................................. 132
5.3 OBRA DE ARTE ................................................................................................................................................................. 132

MÓDULO 5 – ENCERRAMENTO .............................................................................................. 133


APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................................................... 133

8
Falência e Recuperação Judicial ABERTURA

ABERTURA

APRESENTAÇÃO
No curso Falência e recuperação judicial, teremos uma visão atual e multidisciplinar voltada à
atualização ou preparação do aluno para o mercado de trabalho, por meio do aprofundamento
dos conhecimentos sobre a nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas.

A nova LFRE representou o início de uma nova era no Direito Empresarial – sobretudo, no que se
refere à crise das empresas.

Destacamos que a nova legislação produziu reflexos em outros ramos do Direito, como no Cível,
Tributário e mesmo no Trabalhista, uma vez que a recuperação ou falência de uma sociedade
empresária afeta credores de toda ordem e deles exige sacrifício. Desse modo, os profissionais
dessas outras ramificações também precisam conhecer, com maior profundidade, a disciplina
jurídica da insolvência empresarial.

A opção de fazer o Falência e recuperação judicial é também a de participar de um novo


método de ensino – o ensino a distância. Dessa forma, haverá bastante flexibilidade para realizar
as atividades nele previstas.

Embora se possa definir o tempo que se dedica a este trabalho, ele foi planejado para ser concluído
em um prazo determinado. Verifique sempre, no calendário, o tempo disponível para dar conta
das atividades nele propostas.

Lá estarão agendadas todas as atividades, inclusive aquelas a serem realizadas em equipe ou


encaminhadas, em data previamente determinada, ao Professor-Tutor.

OBJETIVO E CONTEÚDO
O curso Falência e recuperação judicial tem como objetivo identificar os obstáculos que os
advogados, promotores e juízes que atuam na matéria enfrentam comumente e mostrar os
caminhos que podem ser trilhados para as soluções mais adequadas.

Falências e recuperação judicial busca a preparação do profissional para o enfrentamento de


questões práticas. Por isso, recorremos à experiência vivida durante a atuação na 1ª Curadoria de
Massas Falidas da comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro – notadamente, no processo de
Recuperação Judicial da Varig, o mais importante caso envolvendo o tema de que temos notícia.

Sob esse foco, o Falência e recuperação judicial foi estruturado em cinco módulos, nos quais
foi inserido o seguinte conteúdo...

9
ABERTURA Falência e Recuperação Judicial

Módulo 1 – Falência e legislação

Neste módulo, introduziremos o novo ambiente criado pela Lei 11.101/05 para o
regime jurídico da insolvência empresarial. Faremos também uma análise da primeira
fase do processo falimentar, que se inicia com o requerimento de falência e termina
com a sentença de quebra.

Módulo 2 – Efeitos da falência

Neste módulo, analisaremos, de maneira pormenorizada, os efeitos da sentença de


falência. A formação da massa falida sofreu significativas mudanças, com o fim de
tornar mais célere o processo. Seu estudo inicia-se na sentença de falência e termina
com o processo de extinção das obrigações da sociedade falida.

Módulo 3 – Princípios do processo de recuperação

A principal inovação da Lei nº 11.101/05 é, sem dúvida, o instituto da recuperação de


empresas, que guarda certa semelhança com a antiga concordata preventiva. Contudo,
essa novidade trouxe uma complicação, qual seja, a falta de material doutrinário que
analise o tema com profundidade. Neste módulo, iremos nos basear na experiência
vivenciada no processo de recuperação judicial da Varig para essa análise.

Módulo 4 – Plano de recuperação e poderes constituídos

Neste módulo, preocupamo-nos em analisar as variantes da fase de execução do


plano de recuperação aprovado pelos credores e homologado pelo juízo, bem como
o instituto da recuperação extrajudicial – agora sem qualquer semelhança com o
velho regime.Talvez devido a essa diferença, poucos escritórios de advocatícia têm-se
aventurado em assessorar seus clientes em um processo de recuperação extrajudicial.
A lei contém inúmeras lacunas, e a jurisprudência é escassa. Desse modo, precisamos
superar esses obstáculos para dar efetividade ao instituto da recuperação.

Módulo 5 – Encerramento

Neste módulo, além da avaliação deste trabalho, haverá algumas divertidas opções
para testar seus conhecimentos sobre o conteúdo desenvolvido nos módulos anteriores:
caça-palavras, palavras cruzadas, forca e criptograma. Entre neles e bom trabalho!

10
Falência e Recuperação Judicial ABERTURA

BIBLIOGRAFIA
CAMPINHO, Sérgio. Falência e recuperação de empresa. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
A obra do professor Campinho se notabiliza por proporcionar uma visão panorâmica
do processo falimentar e de recuperação de empresas, sem se descuidar do
aprofundamento teórico nos pontos reputados mais importantes pelo autor.

COELHO, Fábio Ulhoa. Comentário à Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas. São Paulo:
Saraiva, 2008.
O professor Fábio Ulhoa Coelho é merecidamente aclamado como um dos maiores
juristas do Direito Empresarial em atuação. Sua obra dedicada ao tema consegue manter
a qualidade teórica sem se afastar da realidade processual, permitindo uma ampla
visão dos institutos, sobretudo em razão da cuidadosa divisão da lei em tópicos.

Comentário ao artigo 8º da Lei 11.101/05. IN: TOLEDO, Paulo F.C. Salles; ABRÃO, Carlos Henrique
(Coord.). Comentários à lei de recuperação de empresa e de falência. São Paulo: Saraiva, 2005.
Em nossa opinião, essa é a melhor lei comentada, pois os coordenadores, além de
profundos conhecedores do tema, convidaram alguns dos mais brilhantes falencistas
do País para o árduo trabalho de comentar a lei, artigo por artigo, o que permitiu um
maior aprofundamento na abordagem de todos os temas.

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar. Volumes I e II. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
Trata-se de uma obra clássica de direito falimentar que transcende seu tempo em
razão da clareza de seus conceitos e da profundidade com que os temas são analisados.
Apesar de a obra ter como suporte o Decreto-Lei 7.661/45, muitos institutos não
sofreram grandes mudanças com a nova legislação.

PROFESSOR-AUTOR
Leonardo Araujo Marques é Mestre em Direito Empresarial e Tributário
pela Universidade Cândido Mendes. É professor da Fundação Getulio Vargas
nos cursos de MBA em Direito da Economia e da Empresa, MBA em Direito
Civil e Processo Civil, MBA em Poder Judiciário e MBA em Gestão
Empresarial. É conferencista da Escola da Magistratura do Estado do Rio de
Janeiro e professor da Escola da Associação do Ministério Público do Estado
do Espírito Santo. Também é professor de diversos cursos preparatórios
para concurso público em diferentes Estados da Federação. É ex-gerente de mercado do Unibanco
e Promotor de Justiça Titular da Promotoria de Massas Falidas e Liquidações Extrajudiciais da
comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro.

11
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

MÓDULO 1 – FALÊNCIA E LEGISLAÇÃO

APRESENTAÇÃO

Neste módulo, introduziremos o novo ambiente criado pela Lei 11.101/05 para o regime jurídico
da insolvência empresarial.

Faremos também uma análise da primeira fase do processo falimentar, que se inicia com o
requerimento de falência e termina com a sentença de quebra.

UNIDADE 1 – MULTIDISCIPLINARIDADE DO TEMA

1.1 EXIGÊNCIAS DO MERCADO


Pode parecer, em princípio, que um curso de falências e de recuperação de empresas tem por
público-alvo apenas os estudiosos de Direito.

Essa visão, no entanto, certamente está deturpada e em desacordo com as exigências


do mercado.

A recente crise financeira mundial, por exemplo, afetou a situação econômica de muitas empresas
e intensificou o número de processos de falência e de recuperação judicial – ainda chamados de
concordata nos Estados Unidos.

A crise é enfrentada, do primeiro ao último estágio, por profissionais de diferentes ramos e


somente aqueles que tiverem uma visão multidisciplinar terão chances de vitória.

Em outras palavras, o melhor caminho para enfrentar a crise só poderá ser encontrado pelo
empresário que consiga implementar as melhores práticas econômicas sem esbarrar em proibições
jurídicas.

1.2 ATUAÇÃO CONJUNTA

A concordata da General Motors, a recuperação judicial das brasileiras Varig,


Parmalat e Casa & Vídeo, a falência da Vasp são exemplos vivos de grandes
empresas envolvidas em falência ou recuperação judicial.

Os primeiros a sentirem os reflexos de uma crise são os diretores das empresas, os contadores, os
responsáveis pela produção e pela distribuição...

Os profissionais em Direito terão, certamente, papel fundamental na orientação do


melhor caminho a ser trilhado em momentos de turbulência.

13
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

Contudo, a decisão final será sempre do empresário, que precisará de uma boa noção
dos instrumentos jurídicos que a lei coloca a sua disposição para tentar superar as
dificuldades.

Na corrida contra a crise, o tempo é fundamental.

1.3 NOVA LEI DE FALÊNCIAS


Sem destoar desse cenário de cooperação, a nova Lei de falências e recuperação de
empresas é verdadeiramente multidisciplinar.

A principal novidade do novo sistema, a recuperação judicial, é a que mais


depende dessa visão abrangente.

O plano de recuperação de uma empresa em crise reflete as opções do empresário


por alguns dos diferentes caminhos postos a sua disposição pela legislação.

O empresário devedor, com o auxílio de seus técnicos, deverá demonstrar a viabilidade econômica
do plano de reestruturação de sua empresa para o Juiz da causa e, principalmente, para seus
credores.

Trata-se de uma complexa negociação coletiva.

O sucesso de um processo de recuperação empresarial depende não apenas do comprometimento


e da especialização de seu departamento jurídico ou do escritório de advocacia contratado...

São os profissionais das áreas econômica, contábil e de administração de empresas


que têm fornecido os subsídios mais eficazes para a reestruturação de um negócio.

1.4 QUESTÕES SOCIETÁRIAS


Outro viés do curso passa, necessariamente, pela abordagem de questões societárias...

Como a falência da sociedade empresária afeta seus sócios e seus administradores? Seus
bens pessoais correm algum risco?

Quem administra as empresas em regime de recuperação?

A especialização no tema de falência e de recuperação de empresas não é caro apenas para


aqueles envolvidos com a empresa em crise, ou seja, com o empresário devedor.

O conhecimento também interessa – e muito – às empresas credoras e a seus profissionais.

Da ótica do credor, o que esperar de um processo de falência ou de recuperação de


uma empresa devedora?

14
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

Eventuais créditos podem ser considerados ativos perdidos?

Qual é o risco de negociar com empresas em crise?

Qual é a melhor forma de se prevenir contra a falência de um cliente?

Ao longo do curso, vamos dissipar essas incertezas.

1.5 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 2 – INTRODUÇÃO À NOVA LFRE

2.1 PROJETOS DE MODIFICAÇÃO DA LEI


Havia uma enorme expectativa da comunidade jurídica em relação à nova Lei de Falências e
Recuperação de Empresas – – Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005.

Ao longo do processo legislativo, logo se compreendeu que a viabilidade de um moderno sistema


falimentar reclamava uma reformulação do respectivo regime tributário.

De forma simultânea, tramitaram três projetos para modificar a legislação. Os projetos estavam
divididos da seguinte forma...
§ primeiro projeto – revogava o Decreto-Lei 7.661/1945 e instituía a nova Lei de Falências
e de Recuperação de Empresas;
§ segundo projeto – alterava alguns dispositivos do Código Tributário Nacional, a fim
de promover a correlata modificação;
§ terceiro projeto – criava um regime especial para o parcelamento dos débitos
tributários federais para as empresas em recuperação.

A multiplicidade justificava-se...

...pela complexidade dos temas tratados...

...pelo fato de o Decreto-Lei 7661/45 ter sido recepcionado pela CF/88 como lei ordinária,
enquanto o Código Tributário Nacional – no que tange a suas normas gerais sobre
Direito Tributário – havia sido recepcionado como lei complementar.

15
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

2.2 CAUSAS DO DECLÍNIO DO ANTIGO SISTEMA


Foram causas do declínio do antigo sistema...

Obsolescência...
Passadas seis décadas de vigência do diploma falimentar, o antigo sistema se mostrava
obsoleto perante a nova realidade empresarial.

Contudo, não foi apenas o ostracismo que condenou o antigo sistema.Fatores estranhos
à dinâmica empresarial influíram significativamente na elaboração e na votação do
projeto.

Questões da macroeconomia...
Questões da macroeconomia – tão valorizadas em tempos de extrema
internacionalização dos capitais, em que a quase ausência de barreiras à movimentação
de capitais permite e incentiva as transações financeiras internacionais – influenciaram
muito no processo de elaboração do novo regime.

O Fundo Monetário Internacional – FMI – e o Banco Mundial se encarregaram de


pressionar o Estado Brasileiro para que regras fossem criadas protegendo o investimento
estrangeiro, dando mais segurança jurídica aos contratos.

Profundas alterações microeconômicas...


As profundas alterações no painel microeconômico – aquele que trata da constituição
e interação das empresas e dos agentes individuais – também tiveram um papel
relevante na matéria.

As organizações societárias são cada vez mais intrincadas. Empresas associam-se cada
vez mais por meio de operações que visam quase sempre à concentração empresarial
– com destaque para as fusões e aquisições.

Essas grandes corporações operam agora sem qualquer apego à propriedade de ativos
físicos e tangíveis, praticamente assumindo um papel de centros de decisões
mercadológicas, de desenvolvimento de produtos e de logística.

2.3 INTENÇÕES E OBJETIVOS


Conservação da empresa...
É possível perceber que muitas alterações têm como prisma fundamental a conservação
da empresa.

Difusão da ideia de empresa como bem comum...


Outro ponto importante a difundir é a ideia de que a empresa é um bem comum a
todos os membros da sociedade à qual pertence.

16
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

Aproximação à legislação de outros países...


A intenção da nova lei é aproximar o sistema pátrio das legislações de outros países,
nos quais o crédito é – por assim dizer – mais protegido.

A aproximação se justifica, já que, no Brasil, sempre foi propalada a ideia de que a


legislação civil e comercial privilegiava o devedor.

Era fundamental, naquele momento, incorporar a nosso sistema a perspectiva de


recuperação da empresa em crise – o que, até então, não fazia parte de nossa cultura.

Superação da visão simplista do processo falimentar...


Os idealizadores daquele antigo projeto queriam superar a ultrapassada e simplista
concepção de que o processo falimentar era um procedimento restrito à distribuição
de prejuízos e à punição de culpados.

A ideia era passar a adotar um modelo que garantisse, quando possível, a manutenção
de postos de trabalho, com a geração de tributos e o incremento da produção.

A produção seria potencializada pela redução dos juros bancários frente à nova
perspectiva de menores índices de inadimplência, dada a maior probabilidade de
recuperação do crédito.

2.4 TENDÊNCIAS
A forte ingerência externa foi clara ao longo de todo o processo de votação da nova lei.

Desde o início das discussões, a tendência foi prestigiar os maiores credores, que
quase sempre são instituições financeiras.

Ao que parece, portanto, as empresas em dificuldade dependerão ainda mais da boa


vontade dos banqueiros.

Entretanto, em regra, banqueiros não possuem qualquer afeição pelo setor produtivo
– ainda mais quando há um histórico de insucesso na empresa.

Podemos destacar também que a lei americana – referência para vários sistemas de falência –
inspirou alguns institutos da nova lei, notadamente, o sistema de recuperação extrajudicial.

Por outro lado, o texto do projeto inicial – Projeto de Lei 4.376/93 – muito se valeu das experiências
trazidas pela jurisprudência, a qual sugeriu mecanismos que tornariam os futuros processos mais
eficientes.

Além disso, nota-se a intenção voltada a eliminar as fraudes e a impunidade


comuns no antigo regime.

17
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

2.5 PONTOS DE RESISTÊNCIA


Vários foram os pontos de resistência, como a dificuldade de convencer alguns deputados e
senadores de que a imposição de limites para a liquidação dos créditos trabalhistas era um mal
necessário. O administrador judicial e seus auxiliares não observariam qualquer teto para seus
recebimentos.

Outra questão que rendeu enfrentamentos dos parlamentares cingiu-se ao pagamento dos
Adiantamentos a Contratos de Câmbio – ACC –, medida imprescindível para garantir, no mercado,
o crédito para as exportações.

2.6 CRÍTICAS ESPECÍFICAS


Alguns temas específicos foram criticados e discutidos...
§ caráter litigioso do processo de falência;
§ tempo médio do processo falimentar;
§ concordata preventiva;
§ sucessão tributária;
§ condições de parcelamento do débito tributário.

2.6.1 CARÁTER LITIGIOSO DO PROCESSO DE FALÊNCIA

Desde as primeiras discussões, havia uma séria disposição no sentido de


tornar a falência um processo menos litigioso, mais conciliador – excluindo, em
alguns casos, a apreciação pelo magistrado.

No entanto – para frustração de boa parte da doutrina –, persiste a característica marcante do


Direito brasileiro de presumir a existência da lide, o que contribui para o assoberbamento do
Poder Judiciário.

2.6.2 TEMPO MÉDIO DO PROCESSO FALIMENTAR


Pesavam duras críticas acerca do tempo médio de um processo falimentar, que era de
doze anos.

Ao mesmo tempo, ganhava força outra frente de ideias, que via na rápida solução
desses feitos a única maneira de aproveitar os ativos da massa falida – como bens
imóveis e móveis, incluindo o intangível.

Medidas foram pensadas a fim de garantir a continuidade da empresa, mesmo que em outras
mãos.

Especificamente, o que se questionava era a necessidade de se aguardar a conclusão do quadro


de credores para que fosse possível projetar a forma de alienação dos ativos.

18
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

Essa espera era porta para a desvalorização e até o sumiço dos ativos – muitas vezes,
para a frustração do pagamento dos credores.

A concordata suspensiva raramente justificava tamanho sacrifício...


Pouquíssimas empresas conseguiam se soerguer após tanto tempo!

2.6.3 CONCORDATA PREVENTIVA


A concordata preventiva mostrava-se um processo superado, que reclamava profundas alterações
e há muito recebia duras críticas da doutrina.

Aquele instituto havia de ser banido, pois se revelara um instrumento inócuo de conservação da
empresa.

Entre outras razões, existia a sombra da responsabilidade trabalhista e, principalmente, a onerosa


e quase sempre inconciliável sucessão tributária.

2.6.4 SUCESSÃO TRIBUTÁRIA


A sucessão tributária, a seu tempo, era tema que exigia enfrentamento direto dos políticos
envolvidos naquele projeto.

Os membros do governo sempre têm dificuldade em abrir mão desses


volumosos recursos...

O passivo fiscal deveria ser submetido a uma direção ditada pela recuperação judicial, sob pena
de inutilizar qualquer tentativa de reorganização da empresa.

2.6.5 CONDIÇÕES DE PARCELAMENTO DO DÉBITO TRIBUTÁRIO


Era imprescindível ainda que a legislação concursal desenvolvesse meios realmente viáveis de
parcelamento do débito tributário.

A situação é ainda mais sensível se for considerada a vedação constitucional à isenção heterônoma.

A dificuldade residia na necessidade de conciliar a previsão de prazos e


condições do parcelamento de débitos tributários por meio de uma lei federal.

Esses débitos, por vezes, poderiam ser compostos, exclusivamente, por créditos
estranhos à União – como os créditos pertinentes aos Municípios, Estados e ao
Distrito Federal.

19
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

2.7 ENFOQUE
O enfoque na elaboração da nova lei foi...

...defender a recuperação de empresas viáveis...

...possibilitar a rápida eliminação de empresas sem boas perspectivas econômicas.

Com acerto, quem determina o futuro da empresa são os próprios credores. No mais
das vezes, caberá ao setor financeiro reanimar a empresa em crise ou determinar sua
queda definitiva.

2.8 PREMISSAS
É válido enumerar, desde logo, os princípios norteadores da reforma concursal, responsáveis pelo
delineamento de boa parte dos dispositivos da nova lei.

Foram doze as premissas eleitas e anunciadas pelo então Senador da República Ramez Tebet
como orientadoras do projeto de lei de 1993, na exposição de motivos apresentada na Comissão
de Assuntos Econômicos do Senado Federal – CAE. Eram elas...
§ preservação da empresa;
§ separação dos conceitos de empresa e de empresário;
§ recuperação das sociedades e dos empresários recuperáveis;
§ retirada do mercado de sociedades ou empresários não recuperáveis;
§ proteção aos trabalhadores;
§ redução do custo do crédito no Brasil;
§ celeridade e eficiência dos processos judiciais;
§ segurança jurídica;
§ participação ativa dos credores;
§ maximização do valor dos ativos do falido;
§ desburocratização da recuperação de microempresas e empresas de pequeno
porte;
§ rigor na punição de crimes relacionados à falência e à recuperação judicial.

Nem sempre é possível a total satisfação de cada um dos doze enunciados – principalmente,
quando há conflito entre dois ou mais deles.

Nesses casos, é necessário pesar as possíveis consequências sociais e econômicas e buscar o


ponto de conciliação, a configuração mais justa, que represente o máximo benefício possível à
sociedade.

2.9 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

20
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

UNIDADE 3 – LEGITIMIDADE ATIVA PARA REQUERIMENTO DE FALÊNCIA

3.1 PROCESSO DE REQUERIMENTO


O Artigo 97 da LFRE prevê que o processo de requerimento de falência pode ser iniciado...
§ a pedido do próprio devedor empresário individual;
§ pelo cônjuge do empresário individual falecido, pelo herdeiro ou pelo inventariante;
§ a requerimento da própria sociedade empresária, por iniciativa de seus quotistas
ou acionistas, na forma da lei ou do ato constitutivo;
§ por qualquer credor.

Algumas peculiaridades, no entanto, devem ser destacadas para a perfeita


compreensão do requerimento de falência.

3.2 CREDOR EMPRESÁRIO


Segundo o Artigo 97, Parágrafo 1º da LFRE...

O credor, sendo empresário, deverá comprovar a regularidade de sua atividade


empresarial por meio de certidão obtida na Junta Comercial.

Para a comprovação da regularidade empresarial, basta apresentar, junto


com a petição inicial, cópia de seu ato constitutivo, devidamente registrado na
Junta Comercial.

3.2.1 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS REGISTRADAS NO RCPJ


Um ponto que ainda não despertou o interesse dos estudiosos, mas que é bastante corriqueiro
para quem atua, efetivamente, nas varas de falências refere-se às sociedades empresárias
registradas nos cartórios de registro civil de pessoas jurídicas – RCPJ.

Pode parecer, em uma primeira leitura, que tal circunstância revelaria a irregularidade daquelas
sociedades, mas a questão não é tão simples.

O Código Civil de 2002 incorporou a chamada teoria da empresa, transformando muitas


sociedades civis em empresárias – em especial, as prestadoras de serviços não
intelectuais, como academias de ginásticas, imobiliárias e outras do gênero.

Não há como exigir que as sociedades empresárias registradas nos cartórios de RCPJ
migrem seus registros dos cartórios de registro civil de pessoas jurídicas para as juntas
comerciais, não só pelo caos burocrático que isso acarretaria, mas pelo respeito ao ato
jurídico perfeito.

Dessa forma, apesar de as sociedades prestadoras de serviços registradas antes de


2003 hoje serem consideradas empresárias, não podemos considerá-las irregulares,
mesmo estando elas registradas no RCPJ, e não na Junta Comercial.

21
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

Lembre-se... Independentemente do local do registro as sociedades


prestadoras de serviço estão sujeitas ao novo regime jurídico da insolvência
empresarial.

3.2.2 SERVIÇOS DE NATUREZA INTELECTUAL, LITERÁRIA, ARTÍSTICA OU CIENTÍFICA

Outro ponto que, futuramente, precisará ser resolvido diz respeito às


sociedades prestadoras de serviço de natureza intelectual, literária, artística ou
científica.

Essas sociedades, por força do Parágrafo Único do Artigo 966 do Código Civil, têm natureza simples.

Todavia, quando a estrutura empresarial acaba por absorver a atividade intelectual, e a atividade-
fim é desenvolvida em maior escala por profissionais contratados, e não pelos sócios...

...essas sociedades prestadoras de serviço passam a ser consideradas empresárias,


mesmo com sua inscrição no RCPJ, e não na Junta Comercial.

3.3 CREDOR DOMICILIADO NO EXTERIOR


Quando o credor requerente for domiciliado no exterior, deverá prestar caução arbitrada pelo
juiz.

Essa caução visa assegurar o pagamento das custas e de eventual indenização se


constatado que o requerimento de falência julgado improcedente foi doloso – ou seja,
com o fim de causar prejuízo ao empresário requerido, consoante Artigo 101 da Lei de
Falências.

São raros os requerimentos de falência formulados por credores


estrangeiros...

A raridade de requerimentos de falência formulados por credores estrangeiros ocorre porque...

...normalmente, eles se valem de garantias reais ou bancárias.

...os contratos elegem o país do credor como o local para dirimir qualquer lide decorrente
desses contratos internacionais.

22
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

3.4 CREDOR COM GARANTIA REAL


O Artigo 9º, Inciso III, letra b do Decreto-Lei 7.661/45 proibia, expressamente, o requerimento de
falência por credor com garantia real, salvo se o credor...

...renunciasse à garantia...

...provasse, antecipadamente, que a garantia era insuficiente para cobrir o crédito.

Essa proibição sempre foi seguida à risca pela jurisprudência dos Tribunais.

3.5 CREDOR FISCAL


Quando ainda em vigor o sistema anterior, prevalecia o entendimento que negava legitimidade
ativa à Fazenda Pública. Contudo, diante da nova sistemática, é inevitável a rediscussão da matéria.

Em razão da ausência de norma expressa, indagava-se...

...a Fazenda Pública pode requerer a falência do contribuinte empresário com base em
créditos tributários, representados por certidões de dívida ativa, uma vez que possui lei
própria que regula a cobrança de seus créditos e não está sujeita ao concurso de credores?

Sempre existiram dois posicionamentos a respeito da questão levantada...

Negação da legitimidade ativa da Fazenda Pública para requerimento de falência do devedor...


Os defensores dessa tese – dentre eles, Rénan Kfuri Lopes, Sérgio Campinho e Rubens
Requião – alegavam que existe uma lei própria para a fazenda cobrar seus créditos,
faltando-lhe legítimo interesse econômico e moral para postular a declaração de falência
do seu devedor – Rubens Requião.

Legitimidade ativa como privilégio da Fazenda Pública para requerimento de falência do devedor...
A tese vencedora encontra – em parte da doutrina e na própria legislação vigente –
grandes inimigos, como Waldo Fazzio Júnior, que defende uma ótica diametralmente
oposta àquela que veda o requerimento de falência pela Fazenda, o professor
Maximilianus, Fabio Konder Comparato e Amador Paes de Almeida.

Netto Armando conclui pela presença de interesse econômico e social do Estado em


requerer a falência de tais contribuintes, após acentuar que o Artigo 187 do CTN não
constitui óbice algum, pois se revela um privilégio à Fazenda Pública.

23
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

3.5.1 NOVOS ARGUMENTOS


Não bastassem tantos argumentos, todos erigidos por grandes nomes da doutrina brasileira,
apresentamos novos fundamentos para reflexão...

I...
Tendo em vista que todos os credores – inclusive, aqueles que preferem ao tributário,
desde o credor mais privilegiado até o desprovido de qualquer garantia – têm
legitimidade ativa para requerer a falência, foge ao senso de razoabilidade aceitar que
a Fazenda Pública, por possuir uma lei própria para executar seus créditos, seria a única
credora impedida de formular o pedido de falência desse mesmo devedor.

II...
No que se refere à causa de pedir, o processo de execução do crédito fazendário
realmente está vinculado aos termos da Lei 6.830/80. Contudo, a primeira fase do
processo falimentar tem natureza cognitiva, e o pedido formulado no requerimento
de quebra não se confunde com aquele do processo de cobrança – de natureza
executiva. São ações com pedidos diferentes – uma de declaração de insolvência e
outra de pagamento do crédito devido –, portanto, inconfundíveis entre si.

III...
As execuções fiscais não se suspendem por ocasião da decretação da falência, nem
existe mais a possibilidade de realização de hasta pública de bens da massa falida em
execuções individuais – nem mesmo naquelas em que o leilão já estava marcado
quando da decretação da quebra –, como também não mais existe a chamada sucessão
tributária quando da alienação dos bens da massa falida.

Todos os bens do devedor serão arrecadados pelo Administrador Judicial e, portanto,


não poderão ser penhorados, e muito menos alienados, no curso de qualquer execução
individual – inclusive, a fiscal.

Diante disso, caso se entendesse pela aplicação do Artigo 187 do CTN e do Artigo 38 da
Lei de Execuções Fiscais, tratar-se-ia de verdadeiro privilégio ao credor fazendário, pois
a legitimidade de seu crédito não se submeteria à discussão em outro juízo que não o
especializado.

3.6 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

24
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

UNIDADE 4 – JUÍZO COMPETENTE

4.1 DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA


Nos termos do Artigo 3º da LFRE, será competente para a distribuição do pedido de requerimento
da falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que
tenha sede fora do Brasil.

Surge então a dúvida...

Qual seria o principal estabelecimento da empresa?

4.2 PRINCIPAL ESTABELECIMENTO


Em relação ao principal estabelecimento da empresa, poder-se-ia pensar...
§ na sede designada no ato constitutivo;
§ no local onde está concentrada a maior parte do ativo imobilizado;
§ no lugar onde se encontram seus administradores.

Dois critérios disputam a preferência da doutrina e da jurisprudência...

Pelo critério econômico, principal estabelecimento é o local onde está localizada a


maior parte do ativo imobilizado.

Pelo critério jurídico, o principal estabelecimento é reputado como o local onde se


encontra a diretoria.

Para o Superior Tribunal de Justiça, principal estabelecimento é o local onde a


atividade se mantém centralizada.

4.2.1 ANÁLISE DO PRINCIPAL ESTABELECIMENTO


Sob nossa ótica, a análise do principal estabelecimento deve atentar sempre
para as peculiaridades do caso concreto.

Nesse contexto, em regra, o critério é o local onde está concentrada a maior parte do ativo – se
não houver uma grande diferença.

Existindo uma equivalência patrimonial entre os diversos locais em que a sociedade


empresária exerce sua atividade, o local onde está a diretoria será o fator determinante
para a fixação do principal estabelecimento.

A alteração fraudulenta do estabelecimento empresarial – mudança que tem por finalidade


dificultar a ação dos credores – passou a ser considerada como um ato de falência.

25
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

Esse fato por si já autoriza o requerimento de sua quebra, no juízo do local do antigo
estabelecimento, conforme Artigo 94, Inciso III, Letra D da LFRE.

4.3 COMPETÊNCIA DO JUÍZO FALIMENTAR


A competência do juízo falimentar possui natureza absoluta por ser funcional, conforme já se
pronunciou o Supremo Tribunal Federal.

Com base no Artigo 6º, Parágrafo 8º da LFRE, a distribuição do pedido de falência ou de recuperação
judicial previne a competência, não sendo necessária a prova da citação, pois basta a distribuição
para prevenir a competência.

A distribuição da recuperação extrajudicial para homologação também previne a competência.

4.4 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 5 – PRESSUPOSTOS FALIMENTARES

5.1 PRESSUPOSTOS MATERIAIS E FORMAIS


Para que seja decretada a falência, na fase cognitiva, deve ficar comprovada a presença dos
chamados pressupostos falimentares...
§ materiais – legitimidade passiva e insolvência;
§ formal – sentença de falência.

Durante a tramitação do pedido de falência, o juiz deverá perquirir se todos


os pressupostos destacados encontram-se presentes.

A ausência de qualquer um deles impede a sentença de quebra e, portanto, merece


análise mais aprofundada.

5.2 LEGITIMIDADE PASSIVA


O Artigo 1º da LFRE foi muito feliz ao dispor de forma clara que...

...Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do


empresário e da sociedade empresária, doravante referido simplesmente como devedor.

Diante da literalidade do texto legal, somente o empresário individual e a


sociedade empresária estão sujeitos à falência, pois o instituto é exclusivamente
empresarial.

26
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

5.2.1 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL


Em relação ao empresário individual, três pontos devem ser abordados...

I...
O empresário individual, no Brasil, é o titular da firma individual e com ela se confunde.
A firma individual não possui personalidade jurídica própria, ou seja, distinta de seu
titular.

A falência, portanto, é do empresário individual – pessoa natural –, titular da firma


individual – pessoa jurídica. Os bens do empresário individual serão arrecadados, estejam
ou não ligados a sua atividade empresarial.

O empresário individual confunde-se com a pessoa física. Sendo ambos a mesma


pessoa, um responde pelas obrigações do outro.

II...
É possível a decretação da falência do espólio deixado pelo empresário individual – o
que, no entanto, é fato raro.

III...
É possível a decretação da falência do empresário individual menor de 18 anos – algo
proibido no sistema anterior.

Tanto o empresário absolutamente incapaz – autorizado pelo Artigo 974 do Código


Civil – quanto o empresário maior de 16 anos, emancipado por força do Artigo 5º, Inciso
V do Código Civil podem ser declarados falidos.

5.2.2 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS


Voltemos nossas atenções para as sociedades empresárias...

Devemos considerar empresárias todas as sociedades que explorarem atividade de produção de


bens, como...
§ indústrias;
§ circulação de bens;
§ restaurantes e lojas de eletrodomésticos;
§ prestação de serviços – como imobiliárias ou academias de ginástica.

Também são consideradas empresárias as sociedades que explorem atividade intelectual, artística,
literária ou científica, quando a estrutura empresarial se sobrepuser à atividade.

Normalmente, isso fica evidenciado quando a atividade-fim não é exercida significativamente


pelos sócios, mas por profissionais contratados.

É o caso de escolas, laboratórios e hospitais.

27
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

5.2.2.1 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS NÃO SUJEITAS À FALÊNCIA


Nem todas as sociedades empresárias estão sujeitas à falência – pelo menos, essa é a primeira
impressão que se extrai da redação do Artigo 2º da LFRE.

Apesar da divergência doutrinária, no âmbito jurisprudencial, a interpretação desse dispositivo


legal não parece tão complexa.

Empresas públicas e sociedades de economia mista...


As empresas públicas e as sociedades de economia mista, apesar de empresárias,
sempre estiveram fora do regime falimentar.

Instituições financeiras, cooperativas de crédito e consórcios...


As instituições financeiras, as cooperativas de crédito e os consórcios estão sujeitos às
regras de intervenção extrajudicial e liquidação extrajudicial previstas na Lei 6.024/76.

Conjugando-a à nova, chegamos à conclusão de que tais sociedades não estão sujeitas
diretamente à falência.

Existe apenas um único caminho para que essas sociedades cheguem à falência – a
autorização do Banco Central do Brasil para que o liquidante extrajudicial por ele
nomeado requeira a autofalência da instituição financeira em crise, nas hipóteses
previstas nos Artigos 12, letra d e 21, letra b, da Lei 6.024/76.

Operadoras de plano de saúde...


As sociedades operadoras de plano de saúde estão reguladas pela Lei 9.656/98, a qual,
em seu Artigo 23, também autoriza a falência nas mesmas hipóteses previstas para as
instituições financeiras.

Nesse caso, no entanto, todo o procedimento é supervisionado pela Agência Nacional


de Saúde Suplementar – ANS.

5.3 INSOLVÊNCIA
A LFRE pouco alterou os critérios caracterizadores da insolvência.

A insolvência ficta ou presumida continuou prestigiada.

Para a decretação da falência, não precisa ficar demonstrado que o ativo do


devedor é inferior a seu passivo.

A Lei definiu, em seu Artigo 94, três critérios distintos para presumir que o devedor encontra-se
insolvente.

28
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

Os critérios que determinam a constatação da insolvência são...


§ a impontualidade;
§ a execução frustrada;
§ os atos de falência.

O requerente deve informar, claramente, em sua petição inicial, qual desses três critérios
é o fundamento de seu requerimento.

5.3.1 IMPONTUALIDADE
Seguindo uma tradição do direito pátrio...

...a nova lei reproduziu, como principal elemento caracterizador da insolvência, a


impontualidade.

Todavia, foram traçados novos contornos.

Quase nada muda em relação ao sistema anterior, salvo no que concerne ao valor do
título ou dos títulos que municiam o requerimento.

Pelas novas regras, a dívida deve superar a marca dos quarenta salários
mínimos na data do requerimento de falência.

Após inúmeras sugestões durante o processo legislativo, a lei admitiu, expressamente, a


possibilidade de litisconsórcio entre diversos credores do mesmo devedor empresário, a fim de
se alcançar o mínimo legal – consoante Parágrafo 1º do Artigo 94.

Para tanto, é preciso que todos os títulos estejam devidamente acompanhados dos
respectivos instrumentos de protesto.

5.3.1.1 PROTESTO ESPECIAL


Todos os títulos devem estar protestados para fundamentar o pedido de
quebra com base na impontualidade.

O atual Artigo 94, Parágrafo 3o da LFRE determina que os títulos, em qualquer caso, devem estar
acompanhados dos respectivos instrumentos de protesto para fim falimentar, nos termos da legislação
específica.

Seja qual for a corrente doutrinária e jurisprudencial adotada, ainda é majoritário o entendimento
de que...

...o requerente deve comprovar que o devedor foi intimado, pessoalmente, do protesto,
juntando o respectivo aviso de recebimento – AR –, salvo quando o devedor não for
encontrado em seu estabelecimento.

29
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

Até mesmo os títulos executivos judiciais, quando utilizados para o requerimento de falência pela
impontualidade, devem ser protestados para fim falimentar.

5.3.1.2 PROTESTO POR EMPRÉSTIMO


Não é mais possível o requerimento de falência com base em protesto por empréstimo.

Protesto por empréstimo é o caso em que um credor se aproveita do


protesto tirado por outro contra o mesmo devedor.

O Parágrafo 3º do Artigo 94 da LFRE é claro ao dispor que, em qualquer caso, os títulos devem estar
acompanhados dos respectivos instrumentos de protesto.

5.3.2 EXECUÇÃO FRUSTRADA


A execução frustrada sempre foi um dos caminhos para provar a insolvência do devedor.

No sistema anterior, ela estava inserida – incorretamente, segundo nosso ponto de


vista – no rol de atos de falência.

No entanto, a execução frustrada ganhou prestígio na nova legislação e hoje está


disciplinada como uma forma autônoma de caracterização da insolvência.

Não há necessidade de se extinguir definitivamente a execução singular


para proceder ao requerimento de falência. Basta sua suspensão a pedido do
exequente.

A partir das reformas do Código de Processo Civil, no que toca ao procedimento de execução
individual, esse dispositivo legal deve ser interpretado em conjunto com as novas regras do
processo civil.

Se o devedor for citado em execução e não depositar, pagar ou nomear bens à penhora,
mas apresentar embargos, não se pode permitir o requerimento de falência.

Portanto, ousamos inaugurar uma nova expressão – a quádrupla omissão.

5.3.3 ATOS DE FALÊNCIA


Seguindo a tradição, a nova lei conserva a possibilidade de o requerimento de falência ocorrer
com base na prática de certos atos pelo devedor. Essas condutas receberam o nome de atos de
falência.

O credor não precisa estar com seu título vencido – e muito menos protestado – para
requerer a falência com base nesse fundamento.

30
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

Vejamos a que se resume o conteúdo de cada conduta na ordem constante da lei...

Liquidação precipitada...
A liquidação precipitada caracteriza-se pela venda de bens indispensáveis à continuação
da empresa – ativo não circulante –, especialmente, por valores muito abaixo dos
praticados no mercado. A lei vê a malícia do empresário que pretende apurar o ativo
sem pagar o passivo.

Negócio simulado...
Com o negócio simulado, o devedor tenta furtar a garantia comum dos credores. A
transferência simulada de bens proporciona aos credores e ao administrador judicial o
direito de buscar a ineficácia desses negócios.

Trespasse irregular ...


O trespasse deve seguir rigorosamente as regras previstas nos Artigos 1.144 e 1.146 do
Código Civil, sob pena de ineficácia.

A lei pretende coibir que o devedor transfira para terceiro seu estabelecimento
empresarial e, com isso, fique sem bens suficientes para pagar o passivo.

Transferência irregular do principal estabelecimento...


Trata-se de uma inovação e, portanto, ainda não dispomos de base doutrinária ou
jurisprudencial para melhor explicitá-la.

Em um exame inicial, temos que tal comportamento só deve realmente ser considerado
como ato de falência quando inviabilizar o acesso à justiça e à ação fiscalizadora dos
credores, isto é, quando a transferência efetivamente tiver como único ou principal
objetivo dificultar o acesso dos credores.

Falsa garantia...
O STF decidiu que a falência com base nesse inciso só pode ser deferida quando o
devedor procurar favorecer um credor em detrimento dos outros, e não quando se
trate de operação nova, que tenda a desafogar uma situação passageira de falta de
capital de giro.

Abandono do estabelecimento...
Tem por finalidade afastar a ação dos credores e só se caracteriza quando o titular não
deixar procuradores para representá-lo.

Rescisão da recuperação judicial...


Trata-se de uma novidade. Caso o devedor em recuperação judicial cumpra suas
obrigações nos dois primeiros anos, o processo será encerrado e a fiscalização passará
a ser feita exclusivamente por seus credores.

31
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

Entretanto, se o devedor descumprir qualquer obrigação assumida no plano depois de


encerrado o processo, seja de dar, de fazer ou não fazer, além da opção de buscar a
tutela específica, o credor poderá requerer a falência do devedor.

5.3.4 AUTOFALÊNCIA
Existe ainda um tipo de falência – de difícil ocorrência – requerida pelo próprio devedor,
denominada insolvência confessada.

Antes havia um estímulo na própria Lei de Falência para que o devedor confessasse sua insolvência,
a concordata suspensiva.

Atualmente, não existe instituto similar à extinta concordata suspensiva.

Por isso, não há qualquer benefício ou sanção relacionados à confissão de


insolvência.

5.3.4.1 MOTIVAÇÃO DA CONFISSÃO

Por que o devedor confessaria sua insolvência? Por que iria requerer sua própria
falência?

De fato, não existe nenhuma explicação plausível para essas indagações.

Todavia, não podemos esquecer que...

...em caso de dissolução e liquidação das sociedades empresárias pelos sócios, o


liquidante nomeado por eles tem o dever legal de confessar a falência quando os
recursos obtidos com a venda de ativos não forem suficientes para o pagamento
integral dos credores, do acordo com o Artigo 1103, Inciso VII do Código Civil.

Segundo a doutrina...

...o sócio das sociedades de pessoas pode opor-se judicialmente ao pedido de


autofalência se não o assinou.

...o sócio das sociedades por ações deve manifestar sua oposição apenas na assembleia
geral extraordinária, na forma do Artigo 122, Inciso IX, da LSA.

5.3.4.2 POSSIBILIDADE DE RETRATAÇÃO


Outro ponto que pode gerar dúvida é a possibilidade de retratação.

A doutrina, com o referendo da jurisprudência, defende que a retratação só é possível


antes da sentença de falência.

32
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

Ademais, a petição inicial deve vir acompanhada de vários documentos. Com isso, surge outra
indagação...

Caso o pedido não esteja satisfatoriamente instruído, o que deve fazer o juiz?

Caso o devedor não emende a inicial ou junte os demais documentos exigidos na lei,
se estiverem presentes os pressupostos falimentares, o juiz deve decretar a falência
assim mesmo.

As irregularidades poderão ser sanadas futuramente pelo administrador


judicial a ser nomeado.

5.4 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 6 – PROCEDIMENTO, DEFESA E SENTENÇA

6.1 PREVENÇÃO DO JUÍZO


A simples distribuição do pedido de falência tem como efeito a prevenção do juízo, na forma do
Artigo 6º, Parágrafo 8º da LFRE.

O rito processual está regulado nos Artigos 94 até 98 da LFRE, aplicando-se, supletivamente, às
normas do Código de Processo Civil.

O devedor será citado para se defender em dez dias, na forma do Artigo 98, caput, da
LFRE, mas a contagem do prazo é na forma preconizada no CPC – ou seja, após a
juntada do mandado positivo nos autos.

Caso a contestação não seja apresentada no prazo legal, aplicam-se todos os efeitos da
revelia – inclusive, aqueles previstos no Artigo 319 do CPC –, presumindo-se verdadeiros
os fatos narrados pelo requerente.

O Artigo 94 traz um rol exemplificativo das matérias que podem ser alegadas em
defesa quando o pedido é fundado na impontualidade.

À exceção da matéria articulada no Inciso VI, vício no protesto, todas as demais, se


comprovadas, também impedem a decretação da falência quando o fundamento do
pedido for execução frustrada ou ato de falência.

No prazo para defesa, o devedor poderá formular pedido de recuperação judicial, com
fulcro no Artigo 95 da LFRE.

33
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

Ao devedor é aconselhável atentar para os rigores dos Artigos 48 e 51 da própria LFRE.


Uma vez preenchidos os requisitos legais, o juiz deferirá o processamento da
recuperação.

6.1.1 DILAÇÃO PROBATÓRIA


A Lei de Falências não prevê dilação probatória, salvo quando o requerimento é formulado com
fulcro no Artigo 94, Inciso III, ou seja, atos de falência, conforme dispõe o Parágrafo 5º desse artigo.

Todavia, em muitos casos, o juiz não tem como prolatar sentença apenas com a prova
documental.

Por vezes, é imprescindível a produção de uma prova pericial ou testemunhal.

Nessas hipóteses, também aplicaremos as normas gerais processuais supletivamente, e a prova


deve ser deferida.

Não há previsão legal de intervenção do Ministério Público nessa fase processual, mas,
na prática, sua atuação tem-se revelado de extrema importância, com fulcro no Artigo
82, Inciso III do CPC.

6.2 DEPÓSITO ELISIVO


O Parágrafo Único do Artigo 98 da LFRE prevê que...

...o devedor, nas hipóteses de impontualidade ou execução frustrada, pode afastar a


possibilidade de falência depositando o valor total da dívida reclamada em juízo, com
os acréscimos legais, no prazo da contestação.

Pela clareza do texto legal, pode parecer que o prazo de dez dias é peremptório. No
entanto, não é esse o entendimento dos tribunais.

Acompanhando a tendência jurisprudencial, é possível o depósito elisivo a


qualquer momento, desde que antes da sentença de falência, com fundamento
na teoria da preservação da empresa.

Alguns autores – baseados na teoria da preservação da empresa – defendem a possibilidade do


depósito mesmo quando o requerimento tem como base a prática de atos de falência.

Os tribunais, majoritariamente, não admitem o depósito elisivo parcial, conforme precedente do


Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

34
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

6.2.1 RECONHECIMENTO DA DÍVIDA

O depósito não importa em reconhecimento da dívida, pois o devedor pode


contestar o pedido de falência.

Nesse caso, o autor do requerimento de falência só poderá levantar o valor depositado se a


contestação não for acolhida.

Nessa hipótese, a falência não será decretada.

É a melhor exegese possível para a péssima redação do Parágrafo Único do Artigo 98 da


LFRE.

6.3 SENTENÇA DE FALÊNCIA


Grandes processualistas – como o renomado professor Alexandre Freitas Câmara – sempre
criticaram a opção do legislador de classificar a decisão que decreta a falência como sentença,
pois ela não termina o processo em primeira instância, mas sim revela-se como verdadeira decisão
interlocutória, mista e não terminativa.

A lei nova continua a se referir a tal decisão como sentença, conforme pode ser constatado no
Artigo 99 da LF.

É a partir desse ponto que se inicia o processo de execução concursal do devedor empresário. A
lei não mais se refere a tal sentença como declaratória – abrindo ainda mais espaço para a eterna
discussão sobre sua natureza jurídica.

Do ponto de vista processual penal, contudo, o Artigo 180 da LF é claro em considerar a decisão
como condição objetiva de punibilidade.

6.3.1 DECISÃO DE QUEBRA


A sentença que decreta a falência tem seu conteúdo detalhadamente regulado no
Artigo 99 da LFRE.

Apresentaremos, item por item, o que deve constar da decisão de quebra, seguindo a ordem
legal...

Inciso I...
A exigência do Inciso I evita transtornos sobre a identificação da sociedade falida e de
seus administradores, facilitando, inclusive, a apuração de responsabilidades.

35
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

Inciso II...
O termo legal da falência é de suma importância para o ajuizamento da ação revocatória
e pode ser fixado em até 90 dias antes do primeiro protesto por falta de pagamento. O
texto encerra qualquer discussão sobre o que se deve entender por primeiro protesto,
uma vez que devem ser desconsiderados todos aqueles já cancelados.

Inciso III...
O objetivo do Inciso III é facilitar a identificação dos credores – massa falida objetiva –,
abreviando o trabalho do administrador judicial.

Inciso IV...
O prazo para habilitação é de 15 dias e seu procedimento inicial é extrajudicial.

Inciso V...
O Inciso V está relacionado com a universalidade do juízo falimentar – que adiante será
analisada.

Inciso VI...
O Inciso VI trata da indisponibilidade dos bens do falido.

Inciso VII...
A decretação da prisão preventiva não pode ser de ofício e só será possível se
preenchidos os pressupostos exigidos no Artigo 312 do Código de Processo Penal.

Inciso VIII...
Relaciona-se à publicidade da decisão e à perda da capacidade profissional do devedor,
ou seja, a impossibilidade de ele exercer a empresa.

Inciso IX...
A nomeação do administrador judicial deve ser feita o quanto antes, haja vista a
importância e a urgência de suas atribuições.

Inciso X...
A providência prevista no Inciso X auxilia sobremaneira a arrecadação de bens imóveis
do falido.

Inciso XI...
A continuação da empresa – atividade – durante o processo falimentar era medida
excepcional, mas agora é a regra, a fim de que os bens intangíveis não sejam
desperdiçados – como clientela, freguesia e a força da marca e do nome empresarial.

Inciso XII...
A conveniência ou não da constituição do comitê de credores também será objeto de
estudo em capítulo próprio.

36
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

Inciso XII...
A figura do Ministério Público também será amplamente analisada. No que toca às
fazendas públicas, a intimação faz com que elas apresentem, também por ofício,
eventuais créditos que tenham contra o falido.

6.3.2 SISTEMA RECURSAL

O sistema recursal previsto na nova legislação é muito mais simples!

Segundo o Artigo 100 da LFRE...

...da sentença de improcedência é cabível o recurso de apelação.

...da sentença de procedência é cabível o agravo de instrumento.

Esses recursos, por força do Artigo 189 da LFRE, seguem os procedimentos previstos no
Código de Processo Civil – inclusive, no tocante aos prazos para interposição.

Em regra, a sentença que julga improcedente o pedido de falência tem o mesmo


tratamento de qualquer outra. O autor é condenado ao pagamento do ônus da
sucumbência, na forma prevista no Artigo 20 do Código de Processo Civil.

6.4 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 7 – ADMINISTRAÇÃO NA FALÊNCIA

7.1 PARTICIPANTES DA FALÊNCIA


No desenrolar da falência, a lei prevê a participação...
§ do falido;
§ do juiz;
§ do Ministério Público;
§ do administrador judicial;
§ do gestor judicial;
§ dos credores – reunidos em assembleia geral ou representados pelo comitê de
credores.

Tracemos o perfil de cada uma dessas figuras!

37
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

7.2 JUIZ
O juiz é a autoridade suprema do processo falimentar e exerce funções de dupla natureza...
§ funções jurisdicionais típicas;
§ funções administrativas.

As funções administrativas de um juiz referem-se a questões materiais do próprio dia


a dia da falência.

Por exemplo, o juiz atua superintendendo a atuação do administrador judicial – mesmo


onde inexiste lide a ser resolvida – e na autorização para a venda antecipada de bem.

Na nova lei, a função do juiz é atenuada em razão da maior intervenção dos credores durante o
processo falimentar – ou, pelo menos, essa era a intenção do legislador.

Inúmeras atribuições do magistrado passaram para as mãos dos credores, que decidirão,
em assembleia ou por meio de órgão representativo, o comitê de credores.

7.3 MINISTÉRIO PÚBLICO


Enormes avanços ocorreram no que concerne às atribuições do Promotor de Justiça nos processos
regulados pela nova lei.

Fundamentalmente, o promotor de justiça atuará como custos legis.

No entanto, o legislador conferiu ao promotor de justiça legitimidade ativa em diversas ocasiões,


sobretudo, para o ajuizamento da ação revocatória – algo reclamado pela instituição há tempos.

7.3.1 MOMENTO DE ATUAÇÃO


Em razão do veto presidencial ao Artigo 4º da LFRE, dúvidas podem surgir em relação à intervenção
ministerial, principalmente na primeira fase do processo falimentar.

Não podemos esquecer o fato de que a Lei não prevê de modo expresso sua participação em
alguns momentos do processo principal e dos diversos incidentes.

Há quem defenda que o MP não deve atuar na primeira fase do processo falimentar...

Fábio Ulhoa Coelho defende que o Ministério Público não deveria atuar na primeira
fase do processo falimentar, pois não existiria ainda interesse público na demanda.

Esse entendimento vem sendo difundido no próprio seio da instituição, por meio de
um movimento alcunhado de racionalização da atuação do Ministério Público na área
cível.

38
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

Prevalecendo a orientação de o Ministério Público não atuar na primeira fase de todos


os processos, também não estaria obrigado a intervir em pequenas falências decretadas
e em processos nos quais a massa falida fosse parte.

Felizmente, a orientação de o MP não atuar na primeira fase de todos os


processos não tem prevalecido!

O interesse público está presente em todo processo de falência, desde a primeira fase,
uma vez que é de suma importância a constatação da presença ou ausência dos
requisitos para a decretação da falência de uma empresa.

Da mesma forma, qualquer que seja o processo em que a massa falida tome parte,
torna-se indispensável a atuação ministerial. O interesse da massa falida é indisponível,
o que exige a presença do promotor de justiça.

Ademais, normalmente, um grande número de consumidores e trabalhadores saem


prejudicados nos processos de falência – além do óbvio abalo do crédito.

7.3.2 FINALIDADE DA INTERVENÇÃO


A intervenção do Ministério Público tem dupla finalidade...

...assegurar a repressão aos crimes falimentares.

...defender, por sua ação disciplinar, o interesse público, refletido na tutela do crédito e
na preservação do mercado.

Importantes julgados atestam a necessidade da intervenção ministerial, até mesmo de forma


mais ampla que a mera figura de fiscal.

A jurisprudência é pacífica no sentido de que o Ministério Público tem legitimidade


para propor ação de responsabilidade contra os administradores de instituições
financeiras.

Decretada a falência, contudo, o Superior Tribunal de Justiça continua firme no sentido


de que o Ministério Público tem de ser substituído pela massa falida, representada
pelo administrador judicial.

7.4 ADMINISTRADOR JUDICIAL


Uma das figuras mais importantes do atual processo falimentar é, indubitavelmente, o
administrador judicial.

39
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

A disciplina do administrador judicial está nos Artigos 21 a 25 e 30 a 34 da Lei de


Falências e Recuperação de Empresas, sem prejuízo de diversos outros artigos
espalhados.

O administrador judicial é o maior responsável pelo sucesso ou insucesso do processo


falimentar.

O administrador judicial é a pessoa que vai administrar toda a massa falida, inclusive,
representá-la judicialmente – o que lhe exige grande esforço pessoal.

O administrador judicial pode ser uma pessoa natural ou jurídica.

Em caso de administrador pessoa jurídica, será nomeada uma pessoa natural para
representá-la no processo. A nomeação deve recair, preferencialmente, sobre um
economista, advogado, contador ou administrador de empresas.

O administrador é, exclusivamente, um auxiliar do juízo falimentar, e não mais um


representante dos credores, cujos interesses devem ser defendidos por eles próprios
ou pelo comitê constituído.

No atual sistema, a lei conferiu ainda mais poderes ao administrador judicial, embora ele agora
esteja sob a tripla fiscalização...
§ do comitê de credores;
§ do Ministério Público;
§ do próprio juiz.

7.4.1 REMUNERAÇÃO
A remuneração do administrador judicial deve ser fixada pelo juiz, que levará em conta a
complexidade do caso – embora haja um teto para tal retribuição.

O máximo na recuperação judicial e na falência é de 5%, respectivamente, do total devido aos


credores abrangidos pela recuperação judicial ou do total do valor arrecadado com a venda dos
bens na falência.

Considerando a realidade de nossos processos falimentares, dificilmente


alguém se candidata à função.

O valor dos bens arrecadados na falência, normalmente, é muito baixo, quase inexistente.

A remuneração quase inexistente não ocorre nos processos de recuperação.

Nos processos de recuperação, a remuneração é paga pela sociedade empresária em


recuperação.

40
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

O pagamento deve obedecer a uma regra – 60% quando do atendimento dos créditos
extraconcursais e o restante após a aprovação de suas contas.

O administrador, normalmente, precisa contratar outros profissionais para o auxiliarem durante o


processo. A remuneração desses profissionais também é fixada pelo juiz. É o caso de advogados
e peritos contadores.

O administrador judicial que pedir para ser substituído sem relevante razão ou que for destituído,
em caso de culpa ou dolo, perde o direito à remuneração – assim como na hipótese de rejeição
de suas contas.

7.5 GESTOR JUDICIAL

A sociedade empresária em regime de recuperação judicial não perde o


direito de administrar sua empresa!

Os diretores e administradores em geral da sociedade empresária em regime de recuperação


judicial continuam exercendo suas funções.

O exercício das funções é a regra prevista na primeira parte do Artigo 64 da LFRE.

Contudo, a segunda parte do dispositivo permite que o juiz afaste o devedor da administração
dos negócios em determinadas situações.

Nessa hipótese, o juiz convocará assembleia geral para deliberar sobre a pessoa que irá
substituí-lo.

Enquanto não se realizar a assembleia geral de credores, o administrador judicial ficará


à frente dos negócios da empresa, conforme regra prevista no Artigo 65, Parágrafo 1º
da LFRE.

A assembleia de credores deverá atentar para o fato de que ao gestor judicial se


aplicam todas as restrições impostas ao administrador judicial – inclusive, sobre
impedimento e remuneração.

Atendidas as formalidades legais, entendemos que o Juiz não pode recusar a indicação dos
credores.

7.5.1 CONTINUAÇÃO PROVISÓRIA DO NEGÓCIO

O cargo de gestor judicial não é exclusivo dos processos de recuperação


judicial.

Embora raro, em alguns casos de falência, o Juiz autoriza a continuação provisória do negócio.

41
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

Essa medida tem por objetivo preservar o valor dos bens intangíveis do devedor, como a marca e
o nome empresarial – Artigo 99 da LFRE.

Pela redação legal, pode parecer que o negócio será gerido pelo administrador judicial. Contudo,
na prática, a realidade tem sido outra.

Essas funções são completamente distintas e inviabilizam essa cumulação. Desse modo, é
conveniente a nomeação de um gestor judicial para a função de continuar, provisoriamente, os
negócios do falido.

Por fim, não podemos esquecer que essa continuação é provisória, pois, na falência, todos os bens
do devedor serão vendidos.

Entretanto, a continuação dos negócios do falido facilitará a venda do ativo, por meio da alienação
de todo o estabelecimento empresarial, atingindo dois objetivos da nova legislação – a
maximização do ativo e a preservação da empresa.

7.6 ASSEMBLEIA DE CREDORES


Com o fim de aproximar os credores da administração do processo falimentar, a Lei reservou aos
credores inúmeras atribuições, outrora conferidas ao juiz.

Por meio da assembleia, os credores do falido reunir-se-ão para deliberar sobre vários assuntos
atinentes ao rumo do processo.

A regulamentação da assembleia encontra-se nos Artigos 35 a 46 da LFRE.

Direito de voto...
Nas assembleias, em regra, os credores exercerão seu direito de voto
proporcionalmente ao valor de seu crédito.

Apesar da divisão dos credores em três categorias distintas – por força do Artigo 42 da
LFRE –, considera-se aprovada a proposta que tiver o apoio de mais da metade dos
presentes, independentemente da divisão em classes.

Exceções à regra da aprovação da proposta apoiada por mais da metade dos presentes
ocorrem...
§ nas deliberações sobre aprovação do plano de recuperação judicial;
§ na constituição do comitê de credores;
§ na forma alternativa de alienação do ativo.

Nem todos os credores admitidos na falência ou na recuperação possuem direito de


voto – conforme Artigos 43 e 45, Parágrafo 3º da LFRE.

42
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

Convocação...
A assembleia de credores pode ser convocada pelo juiz de ofício, por solicitação de
algum interessado ou por credor ou credores que representem pelo menos 25% de
uma classe.

No caso de credores que representem 25% de uma classe, o juiz não poderá recusar o
pedido, mas as despesas correrão por conta do requerente, e não do devedor ou da
massa falida.

Em primeira convocação, a assembleia só pode ser instalada se estiverem presentes


credores que representem mais da metade dos créditos de cada classe.

Em segunda convocação, a assembleia pode ser instalada com qualquer número –


mas, nesse caso, não poderá ser realizada em menos de cinco dias da primeira.

Condução...
As assembleias devem ser presididas pelo administrador judicial ou, quando houver
incompatibilidade, pelo maior credor presente à assembleia.

Em regra, as deliberações serão consideradas aprovadas por maioria simples,


considerado o voto a partir do valor do crédito.

Caso um credor ainda não reconhecido deseje participar de uma assembleia, a única
alternativa é conseguir uma tutela antecipada nos autos de sua habilitação retardatária.

Também poderão participar e votar aqueles que tenham obtido reservas de


importâncias.

7.7 COMITÊ DE CREDORES


Regulado basicamente nos Artigos 26 a 34 da LFRE, o comitê é um órgão representativo
dos credores, composto por três membros eleitos em assembleia geral, por sistema
especial.

Os credores são divididos em três grupos e cada um deles indica um membro e dois suplentes. Os
grupos são organizados da seguinte forma...
§ um representante indicado pela classe dos credores trabalhistas e por acidente de
trabalho, com dois suplentes;
§ um representante indicado pela classe dos credores com direitos reais de garantia
e com privilégios especiais, com dois suplentes;
§ um representante indicado pela classe dos credores quirografários e com privilégios
gerais, com dois suplentes.

A constituição do comitê pode ser requerida por qualquer dos grupos.

43
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

A inércia de alguma classe em indicar seu representante não impede a criação e o funcionamento
do órgão. As decisões serão tomadas por maioria e registradas em livro próprio.

No caso de impasse sobre algum tema, a decisão caberá ao administrador


judicial – salvo hipótese de incompatibilidade, quando a decisão caberá ao juiz.

Primordialmente, a função do comitê é de fiscalizar o processo falimentar ou de recuperação


judicial, conforme se depreende do Artigo 27 da LFRE.

Os membros do comitê não receberão qualquer remuneração, mas serão reembolsados das
despesas que fizerem com autorização judicial em favor da massa falida.

7.8 FALIDO INDIVIDUAL


O afastamento do devedor de sua própria empresa e da administração de seus bens não significa
que ele será apenas um espectador do processo.

A lei impõe ao falido uma série de obrigações, e sua atuação será vital para o
sucesso do processo falimentar.

Diversos dispositivos da LFRE – sobretudo, o Artigo 104 – impõem ao falido o direito e o dever de
auxiliar e fiscalizar os demais órgãos da falência durante o processo.

A fiscalização e o auxílio ocorrem na apresentação de diferentes documentos e no


fornecimento de informações acerca dos bens e dos débitos da massa.

Para tal fiscalização, o falido deverá manifestar-se, inclusive, nas impugnações à relação
de credores e comparecer, pessoalmente, sempre que solicitado.

7.8.1 FALIDO VERSUS MASSA FALIDA


Devemos alertar para a necessidade de se evitar uma corriqueira confusão que se faz entre as
figuras do falido e da massa falida...

Falido...
O falido nada mais é do que o empresário individual ou a sociedade empresária cuja
falência foi decretada.

Massa falida...
A massa falida é um ente meramente formal, composto, de um lado, pelos credores
do falido – aspecto subjetivo – e, de outro, pelos bens arrecadados – aspecto objetivo.

44
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

7.9 SOCIEDADE FALIDA E SÓCIOS

Os sócios da sociedade falida de responsabilidade limitada não são atingidos


pela falência, salvo prova de fraude ou de comprovada falta de integralização do
capital social.

Algumas das obrigações impostas à sociedade falida, porém, devem ser cumpridas por aqueles
que exerciam sua administração antes da falência.

7.10 EXERCÍCIO DA EMPRESA


Por força do Artigo 102 da LFRE, o falido individual e a sociedade falida não poderão mais exercer
atividade empresarial.

Esse impedimento é identificado como incapacidade profissional.

Essa restrição não impede que o juiz autorize a continuação dos negócios do falido com o
principal objetivo de preservar o valor dos bens intangíveis, de forma a...

...maximizar o ativo...

...viabilizar a venda do estabelecimento empresarial em bloco.

Essa continuação, entretanto, ficará a cargo de um gestor nomeado.

7.11 CONSTITUIÇÃO DE NOVAS SOCIEDADES

Uma questão interessante recai sobre os sócios da sociedade falida...

Podem eles criar uma nova sociedade?

Ressalvados os casos de fraude, não há nenhum impedimento legal.

Um sócio de uma sociedade falida não está impedido de criar outra sociedade, até para
atuar no mesmo ramo da falida.

Os administradores da sociedade falida condenados criminalmente, contudo, estão


impedidos de exercer a administração de outra sociedade empresária – Artigo 35,
Inciso II da Lei 8.934/94.

A inabilitação se encerra com a declaração de extinção das obrigações do falido.

45
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

7.12 RESTRIÇÃO AO DIREITO DE LOCOMOÇÃO


Segundo o Artigo 104, Incisos III e IV da LFRE...

...o falido individual e os administradores da sociedade falida ficam proibidos de se


ausentar do lugar da falência, salvo mediante prévia comunicação ao juízo, deixando
procurador para representá-lo no processo.

Na vigência do Decreto-Lei 7.661/45, por força de seu Artigo 34, Inciso III, o falido só poderia se
ausentar com autorização judicial.

No entanto, a nova lei substituiu o verbo autorizar por comunicar, o que pode despertar
dúvida sobre como interpretar a nova lei.

7.12.1 LINHAS DE INTERPRETAÇÃO


Duas linhas de interpretação surgiram sobre a nova lei...

A primeira linha defende que não houve qualquer mudança substancial.

Para se ausentar, o falido ou os administradores da sociedade falida precisam de


autorização judicial, na medida em que, pela nova lei, ainda precisam justificar a
necessidade da viagem.

A segunda linha – diametralmente oposta – sustenta que o falido e os administradores


da sociedade falida não precisam mais pedir autorização, mas apenas comunicar a
intenção de se ausentar, justificando-a e deixando procurador.

Em caso de abuso ou de efetivo prejuízo ao bom andamento do processo, o juiz, dentro de seu
poder geral de cautela – com fulcro no Artigo 99, Inciso VII da LFRE –, pode até proibir a saída deles
do local da falência, desde que estejam presentes os requisitos próprios – fummus boni iures e o
periculum in mora.

7.13 QUEBRA DO SIGILO

Uma das atribuições do administrador judicial – na forma do Artigo 22, Inciso


III, Letra D da LFRE – é receber todas as correspondências dirigidas ao falido,
devolvendo-lhe as que não despertarem interesse para a massa falida.

No sistema anterior, antes de abrir as correspondências, o antigo síndico intimava o falido,


informando-lhe dia, hora e local para abertura das correspondências.

O falido poderia acompanhar os trabalhos pessoalmente ou por advogado.

46
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

Embora a nova lei não tenha repetido tal exigência, esse expediente mostra-se
conveniente, a fim de não violar o preceito constitucional que protege o sigilo das
correspondências – previsto no Artigo 5º, Inciso XII da CF/88.

7.14 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 8 – ESTUDO DE CASO – GATEWAY

8.1 EMPRESA
Gateway Indústria de Material Elétrico S/A, após 25 anos de sua criação, alcançou um lugar de
destaque no cenário nacional de fabricação de componentes elétricos.

No entanto, após a abertura do mercado nacional, com a queda de inúmeras barreiras


protecionistas...

...a competitividade ficou muito acirrada.

A companhia passou a acumular grandes prejuízos nos últimos cinco anos, pois não
estava aparelhada tecnologicamente para competir com as multinacionais do setor.

8.1.1 PROBLEMA
Em razão da crise que se instalou, a Gateway deixou de honrar inúmeros compromissos, acumulando
uma dívida total de R$ 7 bilhões, divididos em...
§ passivo trabalhista = R$ 900 milhões;
§ passivo tributário = R$ 1,6 bilhão, dos quais R$ 1 bilhão com a União, R$ 400
milhões com o Estado de Pernambuco e o restante com a prefeitura de Porto
Alegre;
§ passivo = R$ 1,5 bilhão, representado por cédulas de crédito industrial pignoratícias,
em favor de cinco bancos;
§ dívidas quirografárias = R$ 3 bilhões.

8.1.2 PLANO DE RECUPERAÇÃO

Diante da situação, Gateway contratou os serviços de uma conceituada


empresa de consultoria, com o objetivo de montar uma estratégia para salvar a
empresa.

Após alguns meses de intenso trabalho, os consultores apresentaram um relatório, no qual


apontavam os principais problemas da companhia e algumas sugestões para solucionar esses
problemas.

47
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

Nesse trabalho, concluiu-se que...

...o quadro de funcionários deveria ser reduzido em 30% no primeiro ano de


reestruturação, e todas as dívidas trabalhistas só poderiam ser pagas em um prazo
mínimo de 36 meses...

...todos os créditos com garantia real deveriam ser substituídos por debêntures com
garantia flutuante, com juros de 6% a.a., com prazo de resgate de 100 meses.

...os credores quirografários que fossem fornecedores teriam duas opções para receber...
§ 100% do crédito em um prazo de 60 meses, com correção pelo IGPM;
§ 70% do crédito em um prazo de 30 meses, corrigidos pelo mesmo índice.

...os demais credores quirografários receberiam em 120 meses, com correção pela TR.

8.1.3 REQUERIMENTO DE FALÊNCIA


Antes de a companhia aprovar, em assembleia geral extraordinária, o ajuizamento do plano de
recuperação judicial nos moldes do relatório preparado pela consultoria, Gateway foi citada em
um requerimento de falência.

O requerimento de falência foi formulado por dois de seus credores, em litisconsórcio ativo...
§ Credor Malvado Produtos Químicos Ltda., titular de um crédito representado por
uma duplicata mercantil, sem aceite, no valor de R$ 11.500,00;
§ Silver Company Mobile, titular de um crédito de R$ 10.000,00, representado por um
termo de confissão de dívida.

A duplicata mercantil estava protestada cambialmente e acompanhada do respectivo comprovante


de entrega da mercadoria. O termo de confissão de dívida estava protestado para fim falimentar.

Os administradores da companhia constataram que, em relação a uma das duplicatas,


houve a devolução amigável de parte das mercadorias.

Essa devolução deveria resultar em um abatimento de 50% de seu valor de face,


conforme entendimentos firmados entre os representantes das duas empresas por e-
mail.

8.2 QUESTÕES
A respeito do requerimento de falência...
1. Quais argumentos poderiam ser manejados pelos advogados de Gateway para
evitar a decretação de sua falência? Para apresentação das defesas é necessário garantir
o juízo?

48
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

2. É possível a apresentação do pedido de recuperação judicial durante o prazo da


contestação, antes de aprovado pela assembleia geral extraordinária da companhia?
Em caso positivo, o que deveria acontecer com o requerimento de falência? E em caso
negativo?

3. Sendo um dos credores uma sociedade domiciliada fora do Brasil, qual seria a
providência de ordem preliminar para que formulasse o pedido de falência?

4. Qual é a consequência do pedido de recuperação judicial formulado no prazo da


contestação?

5. Se os credores tivessem garantia real, eles poderiam requerer a falência da


devedora?

6. Efetuado o depósito elisivo e apresentada a contestação, o autor poderia levantar a


quantia depositada? E se o juiz não acolhesse a contestação, o pedido de falência
deveria ser julgado procedente?

7. O Ministério Público deve ser chamado a se manifestar durante o requerimento de


falência?

8. Decretada a falência, a empresa pode continuar funcionando?

9. Julgado procedente o pedido de falência, os administradores da sociedade falida


sofrem alguma sanção?

10. Em relação às correspondências da sociedade, decretada sua falência, qual será seu
destino?

8.3 CONCLUSÃO
Vejamos as respostas às questões levantadas...

Quais argumentos poderiam ser manejados pelos advogados de ‘Gateway ‘ para evitar a decretação
de sua falência? Para apresentação das defesas é necessário garantir o juízo?...

Poderiam ser alegadas as seguintes matérias de defesas...


§ ausência de protesto especial na duplicata – jurisprudência de SC;
§ valor do crédito inferior a 40 salários mínimos, em virtude do desfazimento parcial
do negócio de origem;
§ pedido de recuperação judicial.

49
MÓDULO 1 Falência e Recuperação Judicial

É possível a apresentação o pedido de recuperação judicial durante o prazo da contestação, antes de


aprovado pela assembleia geral extraordinária da companhia? Em caso positivo, o que deveria
acontecer com o requerimento de falência? E em caso negativo?

Sim, pois a lei admite, em situações excepcionais, o requerimento de recuperação judicial, que
depois deverá ser ratificado pela AGE. É possível apresentar o pedido de recuperação no prazo da
contestação com base no Artigo 95 da LFRE. Deferido o processamento do pedido, o requerimento
de falência fica suspenso por força do Artigo 6º, Caput da LFRE.

Sendo um dos credores uma sociedade domiciliada fora do Brasil, qual seria a providência de ordem
preliminar para que formulasse o pedido de falência?...

O credor domiciliado no exterior deve prestar caução, na forma do Artigo 97 da LFRE.

Qual é a consequência do pedido de recuperação judicial formulado no prazo da contestação?...

A suspensão do processo de falência até o julgamento do pedido de recuperação.

Se os credores tivessem garantia real, poderiam eles requerer a falência da devedora?...

Há divergência sobre a legitimidade ativa dos credores com garantia real. A lei anterior proibia,
mas a atual não renovou tal proibição de forma expressa. A doutrina majoritária é contra o
requerimento, sob o argumento de falta de interesse de agir.

Efetuado o depósito elisivo e apresentada a contestação, poderia o autor levantar a quantia


depositada? E se o juiz não acolhesse a contestação, deveria o pedido de falência ser julgado
procedente?....

Não, pois somente na hipótese de o juiz não acolher os argumentos deduzidos na contestação é
que o autor do requerimento poderá levantar o depósito. Há uma impropriedade técnica no
Parágrafo Único do Artigo 98 da LFRE. Na verdade, o pedido de falência não será julgado procedente
em razão do depósito elisivo.

O Ministério Público deve ser chamado a se manifestar durante o requerimento de falência?...

Há divergência sobre a manifestação do MP na fase preliminar. Vários autores defendem a não


intervenção. Na prática, o Ministério Público tem manifestado-se na fase preliminar, com fulcro no
Código de Processo Civil.

Decretada a falência, a empresa pode continuar funcionando?...

Com a falência, os administradores são automaticamente afastados, mas a empresa pode continuar
funcionando, desde que interessante para a massa falida, a fim de preservar os bens intangíveis.

50
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 1

Julgado procedente o pedido de falência, os administradores da sociedade falida sofrem alguma


sanção?...

Sim, pois são automaticamente afastados da direção da empresa e só podem ausentar-se do local
da falência após autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

Em relação às correspondências da sociedade, decretada sua falência, qual será seu destino?...

Todas as correspondências comerciais da sociedade falida e dos administradores – endereçadas


para a sede da empresa – serão arrecadadas pelo administrador judicial, que só devolverá aos
falidos o que não for de interesse da massa falida.

UNIDADE 9 – CENÁRIO CULTURAL

9.1 FILME
Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, assista a
uma cena do seriado Justiça sem limites no CD que acompanha a apostila.

9.2 OBRA LITERÁRIA


Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, leia o texto
A falência no ambiente on-line.

9.3 OBRA DE ARTE


Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, aprecie o
quadro Conselho a um jovem artista no ambiente on-line.

51
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

MÓDULO2 – EFEITOS DA FALÊNCIA

APRESENTAÇÃO
Neste módulo, analisaremos, de maneira pormenorizada, os efeitos da sentença de falência.

A formação da massa falida sofreu significativas mudanças, com o fim de tornar mais célere o
processo. Seu estudo inicia-se na sentença de falência e termina com o processo de extinção das
obrigações da sociedade falida.

UNIDADE 1 – EFEITOS RELACIONADOS AOS BENS DO FALIDO

1.1 EFEITOS DA SENTENÇA DE FALÊNCIA


Os efeitos da sentença de falência em relação aos bens do falido ou da sociedade falida merecem
atenção redobrada.

Os efeitos da sentença de falência não devem recair sobre os bens dos


sócios de responsabilidade limitada.

Esse princípio tem como exceção a hipótese de aplicação da teoria da desconsideração


da personalidade jurídica ou de outro instituto que permita esse alcance.

1.2 ADMINISTRAÇÃO E INDISPONIBILIDADE


Consoante determina o Artigo 99, Inciso VI, c/c 103 da LFRE...

...o falido individual e a sociedade falida perdem imediatamente a administração e


disponibilidade sobre seus bens a partir da sentença de falência ou da medida cautelar
de arresto.

A administração dos bens ficará a cargo do administrador judicial.

O falido individual e a sociedade falida terão legitimidade para fiscalizar a administração


dos bens e poderão requerer qualquer medida necessária para a defesa desses bens.

Constatada a prática de algum ato de alienação de bens após a sentença de falência do juiz – de
ofício ou por provocação –, será declarada a nulidade do ato, sem prejuízo das demais medidas
que poderão ser tomadas contra o devedor.

O falido só perde a capacidade processual em relação às questões patrimoniais que


envolvam bens da massa falida.

Quem representará a massa falida será o administrador judicial. Contudo, o falido poderá agir
como assistente processual em qualquer dessas ações.

53
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

A perda da administração e da disponibilidade dos bens...

...é uma consequência natural da decretação da falência.

1.2.1 DIREITO DE FAMÍLIA E CURATELADOS


Em relação ao direito de família, o falido – se empresário individual – não perde o direito de
administrar os bens de seus filhos menores e continua com usufruto legal dos bens deles.

No que toca aos curatelados, o falido não poderá mais administrar seus bens, uma vez que a lei
que regula o instituto da curatela exige idoneidade financeira para exercer o cargo de curador de
incapaz.

1.3 ARRECADAÇÃO DOS BENS E LIVROS


É atribuição do administrador judicial arrecadar e avaliar todos os bens e livros contábeis que
estiverem na posse do falido – Artigo 22, Inciso III, Letra f, c/c 108/110 da LFRE.

Esses bens devem ficar sob a guarda do administrador judicial.

É possível a nomeação de terceiros como depositários, inclusive, o próprio


falido.

Como a avaliação dos bens arrecadados também é de atribuição do administrador judicial, em


casos de maior complexidade, um profissional deve ser escolhido em, no máximo, 30 dias para
essa tarefa.

Muitas vezes, a avaliação dos bens dá-se em bloco.

Caso algum dos bens seja objeto de garantia real, ele deve também ser avaliado
separadamente – Artigo 108, Parágrafo 5º, c/c 83, Inciso II da LFRE.

1.3.1 BENS NA POSSE DE TERCEIROS


Também deverão ser arrecadados os bens do falido que estiverem na posse de terceiros.

O administrador judicial deverá requerer as medidas necessárias para esse fim.

Até mesmo os bens penhorados ou o produto de sua alienação, após a falência, devem ser
arrecadados – Artigo 108, parágrafo 3º, da LFRE.

O juízo de falência deve comunicar aos demais juízos a necessidade de transferência dos recursos
para a conta da massa falida.

Todos os bens arrecadados constarão do auto de arrecadação.

54
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

O auto de arrecadação é composto do inventário e do laudo de avaliação. Ele deve ser assinado
pelo administrador judicial e por quem mais presenciou o ato – como o promotor de justiça ou o
falido.

1.3.2 PROVIDÊNCIAS COMPLEMENTARES


A arrecadação de alguns bens necessita de providências complementares. É o caso...

...dos imóveis – cuja arrecadação deve ser averbada no Registro Geral de Imóveis.

...das ações, que se efetivam com a averbação no livro próprio da companhia.

O conjunto de bens arrecadados forma a chamada massa falida objetiva ou ativa –


tratada pelos italianos como patrimônio falimentar.

1.4 BENS NÃO SUJEITOS A ARRECADAÇÃO


Todos os bens da sociedade empresária falida estão sujeitos à arrecadação. Contudo, duas situações
merecem atenção especial...
§ falência do empresário individual – algo raríssimo de ocorrer;
§ bens dos sócios atingidos por decisão de desconsideração da personalidade jurídica.

Nas duas hipóteses mencionadas, não são passíveis de arrecadação...


§ bens absolutamente impenhoráveis – Artigo 108, Parágrafo 4º da /c Artigo 649 do
CPC;
§ bens legalmente impenhoráveis – por exemplo, bem de família – Lei 8.009/90;
§ bens inalienáveis por ato de vontade, isto é, voluntariamente inalienáveis – só é
possível nas declarações de última vontade e nas doações.

Se o casamento foi celebrado com separação de bens, aqueles bens que o cônjuge possuía antes
do casamento, evidentemente, não podem ser arrecadados.

Se o regime adotado for o de comunhão de bens, total ou parcial, duas indagações se mostram
pertinentes...

O exercício de atividade empresarial pelo devedor era do conhecimento do cônjuge?

O casal beneficiou-se do produto de tal atividade?

Se alguma das respostas for afirmativa, todos os bens do casal serão atingidos e, por conseguinte,
a meação do cônjuge.

55
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

1.5 NEGOCIAÇÃO DOS BENS


O administrador – sempre com autorização judicial – poderá negociar os bens da massa com o
objetivo de majorar seus recursos – por exemplo, realizar locação de móveis ou imóveis – na
forma do Artigo 114 da LFRE.

No entanto, se o bem for posteriormente vendido, o contrato de pleno


direito será rescindido, sem multa.

Em certos casos, o juiz pode autorizar até mesmo a venda de alguns bens diretamente para os
credores, observada a ordem de classificação.

Haverá compensação se for de interesse da massa, observado o preço de avaliação.

1.6 PEDIDOS DE RESTITUIÇÃO


O terceiro que teve algum bem arrecadado pelo administrador judicial ou que tinha algum bem
na posse do devedor na época da decretação da falência poderá reaver seu bem por meio de um
procedimento denominado pedido de restituição.

O pedido de restituição é uma ação incidental – natureza jurídica – por meio


da qual se pede ao juiz a devolução do bem injustamente arrecadado ou que
estava na posse do falido quando da decretação de sua quebra.

1.6.1 RESTITUIÇÃO IN NATURA


Prevista no Artigo 85 da LFRE, a restituição in natura é a mais comum.

A restituição in natura ocorre quando um bem de terceiro é arrecadado, injustamente,


por força da falência do devedor, ou porque estava na posse do devedor, ou por equívoco
do administrador. A regra é que o bem seja devolvido o quanto antes ao proprietário in
natura.

O administrador judicial consignará, no auto de arrecadação, todas as observações a respeito dos


bens, em especial, a alegação de que eles não pertencem ao falido.

Restituição natura de dinheiro...


Será possível a restituição de dinheiro – na forma da Súmula 417 do STF – quando, por
força de lei ou de contrato, o falido estiver na posse de quantia de terceiros.

Essa regra também se aplica quando o falido receber dinheiro em nome de terceiro,
como nos contratos de depósito, de mandato e de comissão.

56
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

Restituição excepcional...
O Parágrafo Único do Artigo 85 da LFRE – a exemplo do Párágrafo 2º do Artigo 76 do
Decreto-Lei 7661/45 – permite que os bens vendidos ao falido a crédito e entregues nos
15 dias anteriores ao requerimento de falência, se ainda não alienados, sejam restituídos
ao vendedor.

Prima facie, parece tranquila a aplicação da restituição excepcional, mas vários problemas
surgem com um exame mais aprofundado – como é possível examinar a partir da
Súmula 495 e da Súmula 193 do STF.

Bens alienados fiduciariamente, arrendados ou decorrentes de compra e venda com reserva de


domínio...
Em relação aos bens alienados fiduciariamente, arrendados ou vendidos com reserva
de domínio em favor do vendedor, a solução é sensivelmente diferente.

Em todas essas hipóteses, o bem não pertence ao devedor, que só detém a posse
direta.

Dessa forma, em caso de falência do devedor e diante da arrecadação do bem, em


princípio, o credor poderá pedir sua restituição. Nesse caso, duas situações podem
apresentar-se...

Se o credor já havia ajuizado algum procedimento no foro comum para reaver o bem
antes da decretação da falência, o processo deve seguir seu trâmite normal e – salvo
em relação a um cuidado especial – o administrador judicial e o Ministério Público
devem ser intimados.

Quando o credor ainda não propôs qualquer medida judicial antes da falência, deve
ajuizar o pedido de restituição no juízo falimentar.

1.6.2 RESTITUIÇÃO EM DINHEIRO


A restituição em dinheiro ocorre nas hipóteses elencadas nos três incisos do Artigo 86 da LFRE...

Bens vendidos, consumidos ou desaparecidos...


A circunstância de a coisa não mais existir ao tempo do pedido não é empecilho para
a restituição.

A restituição ocorrerá em dinheiro – ou seja, no valor da avaliação, de forma atualizada...

...na hipótese de o bem ter desaparecido ou ter sido consumido pela massa
falida...

...em caso de alienação pela massa, do respectivo preço.

57
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

Desse modo, o único requisito para devolução do bem de terceiro é que este tenha
sido arrecadado.

Adiantamento de contrato de câmbio...


A restituição dar-se-á em dinheiro em relação às quantias adiantadas por instituições
financeiras por meio do adiantamento de contrato de câmbio, aplicando-se a Lei 4.728/
65, Artigo 75, Parágrafos 3º e 4º, bem como o Artigo 86, Inciso II, da LF.

Valores entregues por terceiros de boa-fé atingidos pela declaração de ineficácia...


É cabível a restituição em dinheiro quando o juízo falimentar, ao declarar a ineficácia
de algum ato praticado pelo falido – com base no Artigo 129 c/c 136 da LFRE –, percebe
que o terceiro com quem o falido negociou estava de boa-fé, nada obstante a declaração
de ineficácia quando entregou valores ao falido, com fulcro no Artigo 86, III da LFRE.

A principal diferença prática entre as restituições previstas nos Artigos 85 e 86 é que


aquelas têm absoluta preferência, enquanto estas somente são efetivadas após o
pagamento aludido no Artigo 151 da LFRE.

O pagamento aludido no Artigo 151 da LFRE é o dos créditos salariais dos três últimos
meses anteriores à falência, limitado o pagamento a cinco salários mínimos por
trabalhador.

1.6.3 PROCEDIMENTO DO PEDIDO DE RESTITUIÇÃO

O procedimento do pedido de restituição está previsto no Artigo 87 da LFRE.

Formulado o requerimento e devidamente autuado em apartado, serão intimados,


sucessivamente...
§ o falido;
§ o comitê de credores;
§ os credores;
§ finalmente, o administrador judicial, para se manifestarem em 5 dias.

Com ou sem contestação, o juiz designará AIJ, se necessário, ou julgará de plano.

Dois pontos merecem destaque...


§ a lei refere-se à intimação;
§ a lei não prevê a oitiva do Ministério Público.

1.6.3.1 INTIMAÇÃO E CONTESTAÇÃO


Atualmente, na prática, os autos são enviados – saem de cartório – ao falido e ao administrador
judicial. A intimação é pessoal, o pedido nunca é decidido sem a manifestação do síndico e quase
nunca sem a oitiva do falido.

58
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

Logo em seguida, ocorre a intimação dos credores pela imprensa oficial e, antes de decidir, o
Ministério Público é ouvido.

Se qualquer das partes se manifestar contra o pedido, essa manifestação valerá como contestação.

Todavia, o juiz julgará o pedido independente de contestação e poderá determinar a produção de


provas de ofício.

Se não houver necessidade de provas de ofício, os autos serão conclusos para sentença. Se
procedente, será expedido alvará de liberação, consoante Artigo 88 da LFRE.

Não pode haver nenhum tipo de acordo extrajudicial, uma vez que não cabe devolução amigável
pelo administrador judicial.

A decisão é exclusiva do juiz da falência.

1.6.3.2 ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA


A redação do Parágrafo Único do Artigo 88 da LFRE pode dar a impressão de que, toda vez que for
contestado o pedido e, posteriormente, for julgado procedente, haverá condenação da massa
falida nos honorários advocatícios. Essa não é a melhor interpretação.

A redação do artigo similar no sistema anterior era muito mais adequada – conforme podemos
notar do Artigo 77, Parágrafo 7º do Decreto-Lei 7661/45.

A regra era clara, e essa deve ser a exegese do novo dispositivo legal – o
vencido paga o ônus da sucumbência, e nem sempre o vencido é a massa falida.

Uma vez negado o pedido de restituição, se o juiz reconhecer que o requerente é credor, mandará
– de ofício – incluí-lo no quadro geral, com base no Artigo 89 da LFRE.

A lei permite que, antes do trânsito em julgado da sentença, o bem seja entregue ao reivindicante,
desde que prestada caução – Artigo 90, Parágrafo Único da , que deve ser combinado com o Artigo
273 do CPC.

Pelo sistema anterior, sequer previa-se tal entrega cautelar em sede de pedido de restituição.

1.6.3.3 RECURSO DE APELAÇÃO


A decisão que aprecia o pedido de restituição continua desafiando o recurso de apelação, sem
efeito suspensivo, conforme Artigo 90, Caput da LFRE.

Enquanto não transitar em julgado, fica suspensa a disponibilidade da coisa.

59
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

A coisa não poderá ser alienada pela massa – Artigo 91 da LFRE, que é uma repetição do
Artigo 78 do Decreto-Lei 7661/45.

É cabível a restituição em dinheiro.

O reivindicante terá de reembolsar à massa falida as despesas com a conservação da


coisa, na forma do Artigo 92 da LFRE.

Esse valor pode ser fixado na própria decisão que manda entregar o bem.

Em redação muito mais apropriada, a nova lei, em seu Artigo 93, não afasta a possibilidade do
manejo dos embargos de terceiros, quando não for cabível o pedido de restituição, ou seja, em caso
de mera turbação.

Quando não houver saldo suficiente para o pagamento de todos, será feito um rateio entre eles
– Parágrafo Único do Artigo 91 da LFRE.

1.7 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 2 – EFEITOS RELACIONADOS AOS CONTRATOS DO FALIDO

2.1 REGRAS DIFERENTES


O que fazer em relação aos contratos sobrevindo a falência de uma das partes?

Os efeitos da falência podem variar de acordo com a espécie do contrato,


mas duas regras básicas foram criadas – uma para aplicação aos contratos
unilaterais e a outra, para os bilaterais.

2.2 CONTRATOS BILATERAIS


Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência, consoante determina o Artigo 117 da LFRE.

Cabe ao administrador judicial decidir por seu prosseguimento ou não, conforme


interesse à massa falida.

Se optar pelo prosseguimento do contrato, a decisão deve ser endossada pelo comitê.

Portanto, para rescisão, basta a vontade do administrador, mas o prosseguimento exige ainda
manifestação positiva do comitê.

60
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

A nosso ver, trata-se de um ato jurídico complexo.

2.2.1 INTERPELAÇÃO POR TERCEIRO


Caso o administrador judicial não se manifeste sobre o prosseguimento ou não do contrato
bilateral, o terceiro poderá interpelá-lo – judicial ou extrajudicialmente.

Essa interpelação deve ser feita no prazo máximo de 90 dias, a contar da investidura do administrador
judicial, para que este diga em 10 dias se cumprirá ou não o contrato.

Em caso de resposta negativa ou silêncio do administrador judicial, nasce para o terceiro contraente
o direito de propor, no juízo falimentar, ação de cunho indenizatório contra a massa.

Em caso de procedência, a ação de cunho indenizatório constituirá saldo quirografário.

Nada impede que, após os prazos determinados, o administrador judicial – endossado pelo comitê
– e o terceiro contraente entrem em um acordo para dar continuidade ao contrato – se ainda for
de interesse da massa. Isso, no entanto, dependeria também da anuência do terceiro.

2.3 CONTRATOS UNILATERAIS


Os contratos unilaterais cujo falido seja o beneficiário continuam normalmente, já que
não existe ônus para a massa.

Nos contratos unilaterais em que o falido é devedor, caberá ao administrador judicial


realizar o pagamento da prestação como crédito extraconcursal.

A atitude do administrador deverá ser endossada pelo comitê, desde que


interesse à massa.

Não havendo qualquer manifestação nesse sentido, o credor deverá habilitar-se no processo.

Em relação aos débitos da massa, ocorre o vencimento antecipado, na forma do Artigo


77 da LFRE...

As cláusulas penais dos contratos unilaterais resolvidos pela falência não serão atendidas,
conforme Artigo 83, Parágrafo 3º da LFRE.

Em qualquer caso que for autorizado o cumprimento do contrato, os créditos dele decorrente
serão considerados extraconcursais.

Tanto o MP como o juiz da falência não interferem no mérito dessa decisão, embora possam
invalidá-la em caso de comprovada má-fé ou de erro manifestamente grosseiro do administrador.
Os prejuízos daí oriundos ser-lhe-ão imputados.

61
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

Não havendo comitê de credores, caberá ao juiz autorizar ou não o cumprimento de qualquer
contrato, a requerimento do administrador.

2.4 SITUAÇÕES ESPECIAIS


Outras regras de cunho especial devem ser observadas, visto que existem as duas regras gerais
dos contratos...

‘Right of stoppage in transitu’...


Celebrado um contrato de compra e venda a prazo antes do requerimento de falência,
ocorrendo a quebra e ainda não entregues as mercadorias, o que pode ser feito pelo
vendedor?

Se a mercadoria já tiver sido entregue ao comprador, o vendedor deve verificar se é ou


não o caso do pedido de restituição.

Se a mercadoria ainda estiver em trânsito, nasce para o vendedor o chamado right of


stoppage in transitu, ou direito de estopagem. O vendedor poderá sustar a entrega da
mercadoria, impedindo-a de chegar às mãos do comprador falido.

Compra e venda a prazo e de coisas compostas...


Se o falido vendeu coisas compostas e o administrador judicial resolveu não cumprir o
contrato, o comprador poderá colocar as coisas já compradas à disposição da massa,
pleiteando perdas e danos na forma do Artigo 117, Parágrafo 2º da LFRE.

Compra e venda com reserva de domínio...


Resolvendo não continuar com o contrato – Artigo 117 da LFRE –, o administrador
judicial deverá devolver a coisa após uma vistoria e o arbitramento de seu valor.

Dessa forma, descontado o valor pago e com o acréscimo das despesas judiciais e
extrajudiciais, o vendedor poderá restituir à massa o saldo verificado, salvo se existir
outra forma de liquidação prevista no contrato.

Um exemplo...
§ valor do negócio – $ 100.000,00;
§ valor pago – $ 40.000,00;
§ valor da vistoria – $80.000,00;
§ saldo a restituir – $ 20.000,00

Patrimônio de afetação...
Em suma, a nova lei não rege o patrimônio de afetação, cuja regulamentação está
reservada para a Lei 10.934/01.

62
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

O patrimônio de afetação não se confunde com os demais bens do falido até seu
termo ou cumprimento de seu objetivo.

Eventual saldo credor será revertido em favor da massa, enquanto eventual saldo
devedor deverá ser habilitado na respectiva classe.

Locação...
A falência do locador não importa em alteração do contrato.

A intenção do legislador é proteger o locatário. Se a falência for do locatário, surge para


o administrador judicial o poder de denunciar – a qualquer tempo – o contrato,
resolvendo-se em perdas e danos – Artigo 117, Parágrafo , c/c 83, Inciso VII, ambos da
LFRE.

Mandato...
Houve uma mudança significativa.

Agora cessa pela falência o mandato conferido pelo falido antes da quebra quando
ligado aos negócios da empresa – salvo se o mandato for para representação judicial,
que só cessará mediante notificação do administrador judicial.

Se o falido for o mandatário, só cessará o contrato quando ligado à atividade empresarial.

Conta corrente...
Encerram-se as contas correntes por ocasião da falência.

Mesmo as ordens de pagamento emitidas antes da falência não podem ser aceitas se
apresentadas após a decretação da quebra.

2.5 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 3 – INDIVISIBILIDADE DO JUÍZO FALIMENTAR

3.1 AÇÕES CONTRA A MASSA FALIDA


A indivisibilidade do juízo falimentar persiste no novo diploma legal e impõe que...

...todas as ações que venham a ser propostas em face da massa falida o sejam no
próprio juízo onde corre o processo falimentar.

Dessa forma – ressalvadas as exceções –, qualquer ação que venha a ser intentada
contra a massa falida há de ser atraída para o juízo falimentar.

63
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

É uma regra de competência absoluta, visto que funcional.

Caso a sociedade falida tenha, mesmo antes da falência, praticado algum ato ilícito que
resultou em prejuízo para terceiros, se a ação for proposta depois da sentença de
quebra, o juízo competente é o da falência.

3.2 EXCEÇÕES
É importante estabelecer os limites das exceções da indivisibilidade do juízo falimentar.

Analisaremos cada uma dessas exceções, sempre dando enfoque ao ponto de vista da
jurisprudência.

Inicialmente, vamos verificar as causas que jamais são atraídas para o juízo da falência, mesmo
que sejam ajuizadas após a decretação.

3.2.1 RECLAMAÇÕES TRABALHISTAS


A competência da justiça trabalhista está prevista na própria Constituição da República
e, portanto, uma lei ordinária não poderia sobrepor-se ao comando constitucional.

Mesmo após a decretação da falência, um eventual dissídio trabalhista deve


ser apreciado pela Justiça do Trabalho.

Constituído o título executivo judicial...

...o crédito deve ser habilitado no processo falimentar, para que se respeite o princípio
par conditio creditorum.

No polo passivo, estará a massa falida, devidamente representada pelo administrador


judicial.

3.2.2 CAUSAS FEDERAIS


Qualquer ação que venha a ser proposta contra a massa falida em que haja interesse da União, de
suas autarquias ou de empresa pública federal deve ser apreciada pela Justiça Federal.

Essa competência está prevista na própria Constituição da República.

Caso a intervenção seja apenas como amicus curi, não se desloca a competência para a Justiça
Federal.

64
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

3.2.3 CAUSAS E EXECUÇÕES FISCAIS


Qual caminho deve ser trilhado pela Fazenda Pública para receber o crédito tributário
correspondente diante da decretação da falência do contribuinte?

A Fazenda Pública deve habilitar-se no processo falimentar, simplesmente comunicar seu


crédito por ofício ou propor o executivo fiscal, na forma da lei própria? Ela está sujeita ao
juízo universal?

A questão do caminho trilhado pela Fazenda Pública não é tão simples. Duas situações distintas
podem ocorrer...

Débitos tributários da massa falida...


No que se refere ao débito tributário da massa falida – ou seja, tributos cujos fatos
geradores ocorrerem após a sentença de falência –, o pagamento deve ser feito direta
e amigavelmente pelo administrador judicial, na forma prevista na legislação tributária,
já que tais tributos devem ser tratados como despesas extraconcursais.

Débitos tributários do falido...


A solução é sensivelmente diferente para os débitos tributários do falido – créditos
tributários cujos fatos geradores ocorrerem antes da sentença de quebra.

A Fazenda Pública não está sujeita ao concurso de credores ou ao procedimento de


habilitação. Dessa forma, deve comunicar, por ofício, o juízo onde se processa a falência.

A comunicação deve ser feita, a fim de que seja reservada a quantia necessária para o
pagamento de seu crédito, observada a ordem de preferência prevista na Lei de
Falências e no próprio Código Tributário Nacional.

3.2.4 MASSA FALIDA COMO AUTORA


Não há qualquer inovação nessa exceção da massa falida como autora.

Quando a massa falida é autora, a competência é determinada pelas regras


gerais, salvo se tal ação estiver prevista na própria Lei de Falências.

Eventual ação de despejo a ser ajuizada pela massa falida não estará abrangida pela
indivisibilidade da falência.

3.2.5 EFEITOS DA UNIVERSALIDADE


Vamos destacar agora os efeitos da universalidade do juízo falimentar sobre as ações em
andamento.

65
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

Ações em andamento são aquelas que já haviam sido ajuizadas antes da


sentença de falência.

Todas as ações e execuções contra o falido devem ser suspensas por força da sentença
de quebra, permitindo que todos os credores se habilitem na falência.

A suspensão das ações e execuções também possui sua exceção – as ações propostas
antes da falência que demandem quantia ilíquida. Como não há possibilidade de o
autor habilitar-se na falência, sua ação não pode ser suspensa.

O processo prossegue, portanto, no juízo de origem, promovendo-se uma substituição


do polo passivo, já que deve sair a sociedade falida e entrar a massa falida, representada
pelo administrador judicial.

Tornado líquido o crédito, este deve ser incluído no quadro geral de credores. Permite-
se que o juiz competente, para apreciar a demanda, determine uma reserva na falência
da quantia estimada ao autor antes do trânsito em julgado.

Há discussão sobre a necessidade de habilitação desse crédito.

3.3 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 4 – EFEITO SOBRE OS ATOS DO FALIDO ANTERIORES À QUEBRA

4.1 NEGÓCIOS ANTERIORES À QUEBRA

Vamos analisar os efeitos da sentença de falência sobre os negócios


realizados pelo falido antes de sua quebra?

Os negócios realizados pelo falido antes de sua quebra devem sofrer profunda investigação.

Preenchidos determinados requisitos, é possível que alguns dos negócios venham a


ser declarados ineficazes em relação à massa falida, de ofício ou por força da ação
revocatória.

A expressão ação revocatória vem do latim revocare, que significa trazer de volta.

Seguindo a sistemática tradicional do Direito falimentar pátrio, a atual Lei de Falências


prevê duas regras para se chegar à ineficácia dos atos praticados pelo falido – a ineficácia
e a ineficácia relativa.

66
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

4.2 INEFICÁCIA
Antes prevista no Artigo 52 do Decreto-Lei 7661/45 e hoje regulada no Artigo 129 da, a ineficácia é
de natureza objetiva.

Não é preciso fazer prova da má-fé do falido ou do terceiro com quem ele
contratou, nem mesmo do prejuízo para a massa falida. Basta o enquadramento do
negócio no rol previsto nos incisos do Artigo 129.

A ineficácia objetiva só pode ser reconhecida em relação aos negócios enquadrados nos exatos
limites previstos nos incisos do Artigo 129 da LFRE – cujo rol é taxativo e demanda interpretação
restritiva.

A decisão judicial que reconhece a ineficácia objetiva tem natureza meramente


declaratória e força retroativa.

Ação revocatória pode ser usada para se reconhecer a ineficácia objetiva, especialmente,
quando não for possível reconhecer pelos elementos contidos nos autos a prática do
ato previsto no rol mencionado – ação declaratória de ineficácia relativa.

4.2.1 REQUISITO TEMPORAL


A ineficácia objetiva está intimamente ligada ao requisito temporal.

Os três primeiros incisos do Artigo 129 têm como parâmetro o chamado termo legal.

O termo legal pode retrotrair em até 90 dias antes do primeiro protesto por
falta de pagamento contra o falido.

Já em relação aos outros incisos que tratam da ineficácia objetiva...

As hipóteses previstas nos Incisos IV e V utilizam como parâmetro temporal o período


suspeito – prazo fixo de dois anos antes da decretação da falência.

A conduta tipificada no Inciso VI tem sua regulamentação prevista nos Artigos 1.144 e
1.145 do Código Civil.

A hipótese do Inciso VII tem como referência o ato de registro após a própria sentença
de falência.

4.3 INEFICÁCIA RELATIVA


Embora o Artigo 130 da LFRE utilize a expressão são revogáveis, a análise do negócio também se
situa no plano da eficácia.

67
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

Mesmo quando procedente o pedido, o ato permanece íntegro e válido.

Os efeitos do ato são atingidos, ou seja, o negócio não terá nenhuma eficácia contra a
massa falida.

Antes prevista no Artigo 53 do Decreto-Lei 7.661/45, a ineficácia relativa só pode ser


reconhecida por meio da ação revocatória.

A ineficácia relativa é tratada como de natureza subjetiva.

O autor precisa provar a má-fé do falido e do terceiro contratante, além do prejuízo aos
credores.

A ação não está adstrita a nenhum rol, pois qualquer negócio poderá ser objeto da ação – desde
que sejam provados o conluio e o prejuízo da massa falida.

4.3.1 PARÂMETRO TEMPORAL


Apesar de uma pequena resistência doutrinária, a ineficácia subjetiva não se prende a qualquer
parâmetro temporal.

Independentemente da data do ato, ele pode ser alcançado pela ação revocatória.

No entanto, quanto mais antigo o ato, mais difícil será a prova da fraude e do prejuízo para os
credores.

4.4 AÇÃO REVOCATÓRIA


Ação revocatória é aquela por meio da qual se retira a eficácia de certos atos praticados
pelo devedor antes da falência, em relação à massa falida.

O ato permanece íntegro, válido, uma vez que a ação revocatória atua no plano da eficácia, e não
nos planos da existência ou da validade.

Em regra, declara-se a ineficácia do ato, e os bens voltam a integrar o patrimônio da


massa falida.

Essa ação tem por objetivo recompor o acervo patrimonial da massa falida, normalmente,
dilapidado pelo falido durante o processo de insolvência.

68
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

4.4.1 COMPETÊNCIA
A ação revocatória é de competência do juízo indivisível da falência e processada pelo rito
ordinário.

Não podemos confundir a ação revocatória com a ação pauliana do direito comum.

As principais diferenças entre ação revocatória e ação pauliana são...

Ação pauliana ação revocatória...


Torna o ato ineficaz apenas em relação ao credor que intentou a ação.

Apenas o credor quirografário é legitimado.

Ação revocatória...
Seus efeitos beneficiam todos os credores.

A legitimidade ativa é ampla. O administrador judicial, os credores e o Ministério Público


podem promovê-la.

Em alguns casos, o juiz pode reconhecer a ineficácia de ofício.

O administrador judicial, o Ministério Público e qualquer credor podem ajuizar a ação


revocatória – conforme o Artigo 132 da LFRE –, desde que isso seja feito em até 3 anos,
a contar da sentença que decretar a falência. O prazo é decadencial.

4.4.2 POLO PASSIVO


Segundo o Artigo 133 da LFRE, podem figurar no polo passivo da ação revocatória...
§ todos os que figuraram no ato ou que por efeito dele foram pagos, garantidos ou
beneficiados;
§ os terceiros adquirentes, se tiveram conhecimento, ao se criar o direito, da intenção
do devedor de prejudicar os credores;
§ seus herdeiros ou legatários.

A expressão pode, Artigo 133 da LFRE, na maioria das vezes, tem de ser interpretada como deve.

Essa interpretação deve-se ao fato de que, frequentemente, deparamo-nos com casos


de litisconsórcio passivo.

A sentença que julga a ação revocatória desafia recurso de apelação, recebido no


duplo efeito.

69
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

4.4.3 PONTOS DE ANÁLISE


Alguns pontos sobre ação revocatória merecem especial atenção...

Reconhecida a ineficácia do negócio, as partes devem retornar ao estado anterior.

O contratante de boa-fé terá direito de restituição dos bens ou dinheiro entregues ao


falido por ocasião do negócio, na forma do Artigo 86, Inciso III da LFRE.

Ao contratante é ressalvado o direito de propor ação de perdas e danos contra o falido


ou contra seus garantidores.

Durante o curso da ação revocatória e a requerimento do autor, o juiz poderá ordenar


o sequestro do bem retirado do patrimônio do devedor e entregue ao terceiro.

O juiz tomará essa medida se forem preenchidos os requisitos previstos nos Artigos
822/825 do Código de Processo Civil.

Na hipótese de ineficácia objetiva, o juiz poderá decretar de ofício essa medida.

O Artigo 138 da prevê que até mesmo o ato praticado em cumprimento de decisão
judicial pode ser declarado ineficaz, o que pode causar uma perplexidade inicial em
face da força da coisa julgada.

Entretanto, essa previsão não fere – em nenhum momento – a coisa julgada. Tanto a
causa de pedir próxima como a causa de pedir remota serão completamente distintas
da ação em cuja decisão judicial baseou-se o ato.

Na ação revocatória, a compensação e a reconvenção não têm cabimento.

4.5 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 5 – EFEITOS EM RELAÇÃO AOS CREDORES

5.1 CLASSIFICAÇÃO DOS CREDORES


Como decorrência do princípio par conditio creditorum – isonomia dos credores de mesma
categoria...

...os processos de falência e de recuperação judicial têm em comum a necessidade de


se conhecerem os credores do devedor, a fim de classificá-los de acordo com as
preferências legais.

70
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

O reconhecimento do crédito independe da existência de título executivo – Artigo 9º,


Parágrafo Único da LFRE.

Todos os credores do falido devem abandonar suas ações judiciais


individuais, a fim de concorrerem com seus pares na execução concursal –
ressalvadas as exceções já analisadas.

O processo de conhecimento e classificação dos credores foi profundamente alterado


pela nova Lei de Falências.

5.2 PROCEDIMENTOS
Os procedimentos de habilitação, divergências, impugnações e ação revisional são manifestados
em três editais...
§ primeiro edital – elaborado pelo devedor;
§ segundo edital – elaborado pelo administrador;
§ terceiro edital – elaborado pelo quadro geral de credores.

Veremos cada um deles de forma mais detalhada...

5.2.1 PRIMEIRO EDITAL

Assim que é decretada a falência ou é deferido o processamento do pedido


de recuperação judicial, o juiz nomeia o administrador judicial, uma das principais
figuras do processo.

Na recuperação...

...um dos requisitos da petição inicial é que o devedor apresente a relação completa
de seus credores, indicando valor, espécie e origem da dívida, e os endereços dos
credores.

Na falência...

...o rol requisitado deve ser apresentado pelo devedor em, no máximo, cinco dias
depois de cientificado da sentença de falência.

O prazo vale se a sentença não estiver nos autos – o que só deve ocorrer nos pedidos
de autofalência –, pois a relação é um dos documentos que devem acompanhar a
petição inicial.

5.2.1.1 PUBLICAÇÃO
De posse do rol de credores elaborado pelo devedor, caberá ao administrador judicial publicá-lo,
imediatamente, na imprensa oficial.

71
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

A publicação é o ponto de partida para que os credores apresentem – em, no máximo, quinze
dias...

...as habilitações de créditos que não constarem do rol apresentado pelo devedor...

...qualquer divergência acerca do valor ou da natureza de créditos relacionados.

As habilitações e divergências devem ser apresentadas diretamente ao


administrador judicial.

5.2.1.2 OBJETIVOS DO PRIMEIRO EDITAL


A nova forma do edital do devedor visa à desburocratização e à desoneração do
processo de habilitação de créditos.

O processo de habilitação de créditos é afastado inicialmente da


responsabilidade do juiz, logo, ele terá mais tempo para dedicar a outros assuntos
não menos importantes.

O administrador terá o prazo total de 60 dias, contados da publicação do primeiro edital, para
concluir a tarefa de verificação dos créditos.

A verificação dos créditos terá como fonte de informações toda a contabilidade e os


livros fiscais e empresariais do devedor.

5.2.2 SEGUNDO EDITAL

A partir do segundo edital, o procedimento começa sua fase judicial.

O edital deve indicar o local onde se encontram os documentos que fundamentaram


as conclusões do administrador.

No prazo de 10 dias, contados da publicação do segundo edital, os credores, o Ministério Público,


o comitê, o falido e seus sócios podem impugnar, judicialmente, a relação elaborada pelo
administrador – seja por desconformidade, seja por omissão da lista.

5.2.2.1 PRAZO PARA IMPUGNAÇÃO


Surge uma primeira questão relevante envolvendo o Ministério Público...

O prazo para impugnação é comum.

Não está prevista a intimação pessoal do representante ministerial para análise dos
autos de declaração de créditos.

72
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

Essa é prerrogativa inquestionável quando Parquet atua como custos legis.

Como deverá ser contado o prazo para o Ministério Público?

Cada impugnação será autuada em apartado. Os titulares dos créditos impugnados serão intimados
para contestarem no prazo de 5 dias.

Também serão intimados para se manifestar no mesmo prazo, sucessivamente, o devedor, o


comitê de credores e o administrador judicial.

O administrador judicial deverá juntar, se for o caso, o laudo pericial e todos os


documentos que entender pertinentes.

5.2.2.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

Aparentemente, há uma violação ao princípio do contraditório...

A lei prevê que o administrador poderá juntar documentos e até mesmo um laudo pericial sobre
o objeto da impugnação.

Contudo, a lei não exige que, nesses casos, as partes tomem sequer ciência do que foi juntado a
posteriori pelo administrador.

Toda vez que alguma das partes juntar aos autos qualquer documento, as demais
devem ser intimadas para tomar conhecimento – e, se assim entenderem, fazer alguma
ponderação.

5.2.3 TERCEIRO EDITAL


Com base nas decisões judiciais, o administrador judicial promoverá a consolidação do quadro
geral de credores.

O quadro deve ser publicado em, no máximo, 5 dias, a contar da última decisão judicial acerca das
impugnações, mesmo que dela ainda caiba recurso – pois o agravo, em regra, não tem efeito
suspensivo.

Eventuais modificações em decorrência do julgamento dos recursos interpostos dar-se-ão


concomitantemente à ciência de seus provimentos.

5.2.3.1 AÇÃO REVISIONAL


É possível retificação ou exclusão de crédito constante da relação do terceiro edital diante da
descoberta de fraude, dolo, simulação, erro essencial ou desconhecimento de documento
existente à época da habilitação.

73
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

Essa providência depende do ajuizamento, ainda em curso o processo principal de falência, da


chamada ação revisional – também conhecida como ação rescisória falimentar ou ação anulatória
de decisão judicial.

A ação revisional pode ser ajuizada, seguindo o rito ordinário...


§ pelo MP;
§ por qualquer credor;
§ pelo comitê;
§ pelo administrador judicial.

A ação revisional será processada e julgada no próprio juízo falimentar – Lei 11.101/05, Artigo 19.

Não vemos a possibilidade de exclusão da legitimidade ativa do próprio


devedor ou de algum de seus sócios, apesar de abalizados posicionamentos em
sentido contrário.

Na ação revisional, o falido ou qualquer de seus sócios estarão em juízo defendendo –


em última análise – o interesse próprio, e não exclusivamente o interesse da massa
falida.

Não fosse assim, os credores e o próprio comitê também deveriam ser excluídos do
polo ativo.

5.2.3.2 PROVIDÊNCIAS DO JUIZ


Finalmente, os autos serão conclusos ao juiz. Nesse momento, segundo a Lei 11.101/05, Artigo 15,
o juiz deverá adotar as seguintes providências...

...determinar a inclusão, no quadro geral, dos créditos não impugnados...

...julgar as impugnações de plano, quando não necessitar de dilação probatória...

...resolver as questões processuais pendentes, fixar os pontos controvertidos e


determinar as provas a serem produzidas – inclusive, designando audiência de instrução
e julgamento, se necessária.

Enquanto não for decidida, definitivamente, a impugnação, o juiz determinará a reserva do valor
necessário ao pagamento do crédito e não impedirá o pagamento da parte incontroversa.

Entendendo que as informações nos autos são suficientes – que a causa está madura –, o juiz
poderá julgar antecipadamente o mérito.

74
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

5.2.3.3 AGRAVO DE INSTRUMENTO

A decisão judicial sobre a impugnação desafia o recurso de agravo de


instrumento.

O recurso de agravo de instrumento cabe, igualmente, em relação à decisão do juiz que determinar,
de ofício, a exclusão ou retificação de créditos.

A solução dada pelo legislador poderia ser questionada, uma vez que a impugnação
tem natureza de ação autônoma.

A impugnação, sendo decidida por sentença, desafiaria o recurso de apelação.

Parece-nos válida, no entanto, a opção pelo agravo de instrumento, já que sua tramitação mais
célere é mais adequada ao rito falimentar.

5.2.4 HABILITAÇÕES RETARDATÁRIAS


Os créditos não constantes da relação elaborada pelo devedor devem ser habilitados no prazo de
15 dias, a contar da publicação do primeiro edital, diretamente com o administrador judicial.

Ultrapassado o prazo de 15 dias, a habilitação deverá ser tratada como


retardatária.

Os titulares dos créditos não terão o direito de voto nas assembleias enquanto não for
homologado o quadro geral de credores, contendo o referido crédito – salvo os
trabalhistas ou se já julgada a habilitação na época da realização da assembleia.

Os titulares dos créditos retardatários terão de arcar com o pagamento das custas
judiciais e não terão direito aos rateios já distribuídos, nem aos acessórios compreendidos
entre o término do prazo e a data do pedido de habilitação – embora possam requerer
a reserva correspondente ao valor de seus créditos.

O processamento das habilitações retardatárias, se apresentadas antes da homologação do QGC,


atenderá à forma prevista para o processamento das impugnações.

Se apresentadas após a homologação, o requerimento para retificação do quadro geral de credores


deverá seguir o procedimento ordinário.

75
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

5.2.4.1 PROCESSO DE VERIFICAÇÃO DE CRÉDITOS


Vejamos o esquema do procedimento de verificação de créditos...

76
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

5.2.4.2 IMPUGNAÇÃO
Vejamos o esquema da impugnação das habilitações retardatárias...

5.3 JUROS
No que concerne aos juros, nada mudou em relação ao sistema anterior.

Os juros não correm contra a massa falida – Artigo 124 da LFRE.

Dessa forma, quando das habilitações dos créditos, o valor principal só pode ser acrescido
de juros e correção até a data da falência.

Quando do primeiro rateio, o valor habilitado deve ser atualizado monetariamente.

No primeiro rateio, não serão pagos os juros, salvo em relação às debêntures e aos créditos com
garantia real – desde que nas forças da garantia.

Após o pagamento de todas as classes de credores, havendo saldo positivo, terá início o pagamento
dos juros da data da decretação da falência até a data do pagamento do primeiro rateio –
observadas, mais uma vez, as preferenciais legais.

77
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

5.3.1 PRAZOS PRESCRICIONAIS


A partir da decretação da falência, são suspensos os prazos prescricionais das ações em face do
falido, mas não os decadenciais, conforme Artigo 6º, Caput da LFRE.

Encerrado o processo falimentar, sem prejuízo do prazo especial previsto para a extinção das
obrigações do falido, voltam a correr os prazos prescricionais comuns.

5.4 COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS


Segundo o Artigo 122 da LFRE – outrora Artigo 46 do Decreto-Lei 7661/45 –, provenha ou não o
vencimento de uma dívida do falido da sentença de quebra, opera-se a compensação nos moldes
da legislação civil, com preferência sobre quaisquer outros.

Caso um devedor do falido também seja seu credor, sobrevindo a falência – e, portanto, ocorrendo
o vencimento antecipado do crédito –, opera-se a compensação.

Não poderão ser compensados os créditos transferidos após a decretação da falência, nem aqueles
transferidos durante o estado de insolvência.

5.5 ORDEM DE CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES


Os especialistas em Direito Falimentar devem estar atentos para o fato de que...

...antes do pagamento dos credores listados no Artigo 83 da LFRE – ou seja, dos credores
do falido –, muitas outras obrigações devem ser honradas no decorrer do processo
falimentar.

Antes dos credores tributários, com garantia real e até mesmo trabalhista, devem ser satisfeitas,
na seguinte ordem, as seguintes obrigações...
§ restituições in natura – Artigo 85 da LFRE;
§ três últimos salários em atraso, limitado o pagamento a 5 salários mínimos por
empregado – Artigo 151 da LFRE;
§ restituições em dinheiro – Artigo 86 da LFRE;
§ despesas extraconcursais – Artigo 84 da LFRE, com atenção para o Artigo 150 da
mesma lei.

Somente após o cumprimento dessas obrigações será autorizado o pagamento dos


credores relacionados no quadro geral, classificados de acordo com o Artigo 83 da LFRE.

5.5.1 CRÉDITOS PREVISTOS


Créditos por acidente de trabalho...
A classificação dos créditos por acidente de trabalho também compreende os créditos
trabalhistas, limitados a 150 salários mínimos.

78
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

Como o empregado já recebeu os 5 salários mínimos mencionados no Artigo 151 da


LFRE, só lhe restarão 145 salários mínimos como teto do crédito privilegiado. Havendo
diferença, ela será considerada crédito quirografário.

Créditos com garantia real...


Caso um credor hipotecário de R$ 400.000,00 tenha como garantia um imóvel avaliado
contratualmente em R$ 500.000,00, na hipótese de esse bem ser alienado pela massa
falida, pelo valor de R$ 300.000,00, este será o limite privilegiado.

O credor só receberá como crédito com garantia real até o limite de R$ 300.000,00,
enquanto a diferença – no exemplo, R$ 100.000,00 – será considerada crédito
quirografário.

Créditos tributários...
O tratamento dos créditos tributários sofreu profunda modificação por meio da Lei
Complementar 118/05, que alterou vários dispositivos do Código Tributário Nacional.

Os credores tributários não precisam habilitar seus créditos; eles apenas os informam
ao juízo falimentar por meio de ofício – embora a doutrina ressalte a propriedade de se
fazer constar do QGC o valor destinado ao pagamento desses credores.

Permanece o critério de preferência previsto no Parágrafo Único do Artigo 187 do CTN.


Primeiramente, são satisfeitos os créditos tributários federais, depois os estaduais e só
então os municipais. As multas fiscais não são atendidas nesse momento.

Créditos quirografários...
Créditos quirografários são aqueles que não detêm nenhum tipo de privilégio – assim
como os saldos dos créditos trabalhistas que ultrapassaram o limite de 150 salários
mínimos e os saldos dos créditos com garantia real que ultrapassaram o limite do valor
do bem gravado.

As multas estipuladas nos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações


vencerem em virtude da falência. Já as multas decorrentes dos contratos bilaterais,
tenham ou não se resolvido pela falência, devem ser pagas após os créditos
quirografários.

Créditos subordinados...
A lei e os contratos podem estipular que o crédito tenha natureza subordinada.

São subordinados, por exemplo, os créditos das debêntures subordinadas – Artigo 58,
Parágrafo 4º da Lei 6.404/76 – e os créditos dos sócios e dos administradores, quando
não forem considerados empregados.

79
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

Se os sócios tiverem direito a crédito por dividendos, esses créditos serão considerados
subordinados. Também será subordinado o crédito do sócio que tiver feito um
empréstimo à sociedade, independentemente do que estiver no contrato.

Portanto, a lei não está referindo-se aos haveres devidos aos sócios em caso de liquidação
– que sequer têm como ser habilitados.

5.5.2 CRÉDITOS NÃO PREVISTOS


Uma questão – infelizmente, tangenciada pela doutrina – tem mostrado-se latente nos processos
de falência...

Como deverão ser classificados os créditos decorrentes do pensionamento determinado


em razão de uma ação indenizatória?

Pensemos na seguinte hipótese...

Uma empresa de ônibus é condenada a pagar uma vultosa indenização por danos
morais e materiais a uma vítima de acidente ocorrido em um de seus carros, além de
uma pensão equivalente a R$ 2.500,00 por mês, até que a vítima, de 25 anos de idade,
complete 70 anos.

Além de não pagar a indenização por danos morais e materiais, a empresa condenada
também não honrou com o pensionamento e, muito menos, constituiu o capital
garantidor.

Para piorar, tal sociedade empresária foi à falência.

Parece-nos pacífico que as indenizações pelos danos morais e materiais são créditos
quirografários.

Todavia, o que fazer em relação às pensões? E em relação ao capital


garantidor?

Não temos a intenção de trazer uma solução definitiva, mas apenas de despertar a atenção para
esse grande dilema que temos enfrentado no dia a dia dos processos de falência.

Sob nossa ótica, só são devidas as pensões até a data da decretação da falência – as quais, por
equiparação, merecem o privilégio do crédito trabalhista.

5.6 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

80
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

UNIDADE 6 – REALIZAÇÃO DO ATIVO

6.1 MOMENTO DE REALIZAÇÃO


A realização do ativo deve ocorrer tão logo se encerre a atividade de arrecadação.

A realização do ativo pode ser iniciada já durante a segunda fase do processo.

Essa medida só é possível em virtude da extinção do instituto da concordata suspensiva.

O objetivo da realização do ativo é a maximização dos recursos da massa falida.

A regulamentação do processo se encontra nos Artigos 139 a 148 da LFRE.

6.2 FORMAS DE REALIZAÇÃO


O Artigo 140 da LFRE prevê as formas de realização do ativo e estabelece uma ordem de preferência
para adoção do tipo escolhido.

Preferencialmente, a realização do ativo deve respeitar a seguinte ordem...


§ alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em um único bloco;
§ alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas
isoladamente;
§ alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do
devedor, formando o que, na prática, chamamos de lotes;
§ alienação dos bens de forma individual.

O ponto alto desse tema é a significativa mudança de tratamento às alienações judiciais


nos processos de falência.

6.3 CASOS DE SUCESSÃO


Com o objetivo de maximizar o ativo, o legislador buscou tornar mais atrativos os bens que
integram o patrimônio falimentar.

Para tanto, o legislador consignou, no Inciso II do Artigo 141 da LFRE, que...

...os bens serão alienados livres e desembaraçados de quaisquer ônus, e o arrematante


não será sucessor do devedor – nem mesmo nas obrigações trabalhistas e tributárias.

A regra comporta algumas exceções, a fim de não permitir que essa blindagem seja
utilizada para fins ilícitos.

Dessa forma, haverá sucessão quando ficar provado que o arrematante é...
§ sócio da sociedade falida ou de sociedade controlada pelo falido;
§ parente até o 4º grau do falido ou do sócio da sociedade falida;
§ agente do falido ou de sócio da sociedade falida, chamado de laranja.

81
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

6.3.1 SÓCIO DA SOCIEDADE FALIDA


O Inciso I do Artigo 141, Parágrafo 1º da LFRE prevê, em sua primeira parte, que...

Haverá sucessão no passivo quando o adquirente for um dos sócios da


sociedade falida.

Não importa o tamanho da participação no capital social da sociedade falida. Qualquer um de


seus sócios que vier a adquirir a empresa responderá, integralmente...
§ pelo passivo comum contabilizado;
§ pelo passivo tributário;
§ pelo passivo trabalhista.

6.3.1.1 PESSOA JURÍDICA CONTROLADA PELO FALIDO


A segunda parte do Inciso I do Artigo 141, Parágrafo 1º da LFRE dispõe que...

...se o arrematante é uma sociedade controlada pela sociedade falida, o arrematante


responderá por todo o passivo da empresa adquirida.

...se o arrematante for uma pessoa jurídica controlada pelo falido ou, realisticamente,
pela sociedade falida, a sociedade falida responderá, integralmente, pelo passivo.

O conceito de controlador não se restringe à concepção de sócio com mais de 50% do capital
votante. Tomando como base o Artigo 116 da Lei de Sociedades por Ações...

Acionista controlador é aquele que, direta ou indiretamente, é titular de


ações com direito de voto que lhe assegure, de modo permanente,
preponderância nas deliberações sociais.

6.3.1.2 SOCIEDADE CONTROLADA POR SÓCIO DA SOCIEDADE FALIDA


Existe uma hipótese não contemplada literalmente no Artigo 141 da LFRE, mas que exige muito
cuidado...

Deve ocorrer sucessão quando a arrematante for sociedade controlada por sócio da
sociedade falida?

É bastante plausível que determinada pessoa seja sócia da sociedade falida e, ao mesmo tempo,
de outra sociedade que atue no mesmo ramo.

Seria justo impedir que os credores da sociedade falida cobrassem seus direitos
da sociedade arrematante?

82
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

Efetivamente, o quadro apresentado não encontra previsão expressa no dispositivo legal.

No entanto, defendemos que o fato de existir um sócio comum às sociedades falida e


arrematante não pode ser empecilho à aplicação da regra que veda a sucessão.

Por outro lado, se verificado que o sócio em comum não é um simples sócio, mas o controlador
de ambas as sociedades, atende melhor ao espírito da lei enquadrar essa hipótese dentro das
exceções previstas no Parágrafo 1º do Artigo 141 da LFRE.

Desse modo, seria permitido que os credores da sociedade falida buscassem seus
direitos acionando a sociedade arrematante.

6.3.2 PARENTES
No que se refere ao disposto no Inciso II do Artigo 141, Parágrafo 1º da LFRE...

...o texto reflete a preocupação do legislador em impedir que parentes sejam utilizados
como instrumento para ludibriar proibições legais impostas a determinadas pessoas.

A hipótese, entretanto, conserva o equívoco já constatado no Inciso I do Artigo 141.

Se a arrematante for uma sociedade cujos sócios sejam parentes até o 4º grau
de sócio da sociedade falida, há sucessão?

Defendemos que só haverá sucessão quando esse parente até o 4º grau for sócio controlador da
sociedade arrematante.

Do contrário, não é visualizada nenhuma burla à lei ou aos princípios idealizados pelo legislador
quando estruturou a questão da sucessão tributária na LFRE.

6.3.3 LARANJAS OU TESTAS DE FERRO


O Inciso III do Artigo 141, Parágrafo 1º da LFRE tem por objetivo considerar todas as hipóteses não
contempladas nos incisos anteriores, mas que revelem alguma forma de fraude na sucessão.

O objetivo do legislador foi alcançar os denominados laranjas ou testas de ferro do


falido ou dos sócios da sociedade falida.

Nesse sentido, os termos usados pelo legislador são absolutamente apropriados, deixando para o
juiz, diante do caso concreto, a análise dos fatores que indiquem ou não a presença da fraude.

O juiz poderá, de ofício e no curso do processo falimentar, determinar a aplicação das


regras comuns de sucessão do passivo ou anular a venda – quando entender que há
provas de que o arrematante ou sociedade arrematante sejam apenas uma fachada
para a prática de fraude.

83
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

6.4 UNIVERSALIDADE DO JUÍZO FALIMENTAR


Com o intuito de se evitar a possibilidade de decisões judiciais conflitantes, somente ao juiz da
falência é conferido o poder de decidir se é ou não o caso de sucessão do passivo, em razão do
princípio da universalidade do juízo falimentar – salvo se já encerrado o processo falimentar.

6.5 MODALIDADES DE REALIZAÇÃO DO ATIVO


A despeito da forma escolhida para a realização do ativo, a lei prevê algumas modalidades para
realizá-lo...

Leilão...
Modalidade utilizada em quase 100% dos processos falimentares.

Nela se aplicam as normas comuns do Código de Processo Civil, especialmente os


Artigos 686 e 707.

Cartas propostas...
Embora não seja novidade, dificilmente é adotada.

São publicados editais contendo a descrição dos bens e o valor da avaliação. Nessa
oportunidade, os interessados apresentam propostas por meio de cartas fechadas e
entregues no cartório, mediante recibo.

Pregão...
Constitui uma novidade. Consiste na aglutinação das duas outras modalidades em
uma só.

É uma modalidade híbrida, que se divide em duas fases. Na primeira fase, são recebidas
e abertas as propostas. A segunda fase é o leilão, no qual os habilitados poderão
disputar o bem por meio de lances orais.

6.5.1 REGRAS COMUNS


Temos de atentar para algumas regras comuns, isto é, aplicáveis qualquer que seja a modalidade
escolhida...

As regras são...

...o Ministério Público deve ser intimado pessoalmente, sob pena de nulidade...

...as publicações devem ocorrer em jornais de grande circulação, com 15 dias


antecedência para bens móveis e 30 para bens imóveis...

84
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

...os lances e as propostas são irretratáveis, incorrendo os faltosos nas obrigações previstas
no Artigo 695 do Código de Processo Civil...

...a alienação poderá ser impugnada em 48 horas da arrematação por qualquer credor,
pelo devedor ou pelo Ministério Público...

...o produto da alienação deve ser depositado em nome da massa falida, em uma conta
remunerada...

...o juiz pode determinar a adoção de uma forma alternativa para realização do ativo.
Tal opção também pode ser feita pelos credores, desde que aprovada por 2/3 dos
credores reunidos em assembleia especial.

6.6 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 7 – ETAPAS FINAIS

7.1 PAGAMENTO DOS CREDORES


O pagamento dos credores habilitados é a última fase, o momento mais esperado do
processo. Os Artigos 149 a 153 da LFRE regulam essa fase.

Se ainda existirem recursos após os pagamentos efetuados na segunda fase


do processo, o administrador judicial dará início ao pagamento dos credores
habilitados.

Observadas as preferências legais, serão pagos...

...os créditos com juros até a data da decretação da falência – a correção monetária
incidirá até a data do efetivo pagamento.

...os juros contados da data da falência até o dia do pagamento. Quem – por dolo ou
fraude – receber crédito indevido deverá devolver em dobro o que recebeu. Os valores
referentes às reservas, se elas não forem confirmadas, darão ensejo a rateios
suplementares.

Se, após o pagamento do principal e dos juros, ainda sobrarem recursos – algo raro –,
eles serão devolvidos ao falido, que – de pronto – poderá retornar a suas atividades,
uma vez que ocorrerá o que a doutrina chama de levantamento da falência.

85
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

7.2 PRESTAÇÃO DE CONTAS


O administrador judicial prestará suas contas em 30 dias depois de ter realizado todo o ativo e
rateado seu produto entre os credores.

Em seguida, qualquer interessado poderá apresentar impugnação às contas do administrador


judicial. O parecer contrário do Ministério Público – que será ouvido no prazo de 5 dias – será tido
como impugnação.

Apesar de não haver previsão legal, o administrador judicial deverá ser ouvido em caso de
impugnação, em respeito ao princípio da ampla defesa. O administrador poderá, inclusive, requerer
a produção de provas.

As contas serão julgadas por sentença, o que desafia recurso de apelação.

A sentença que não aprovar as contas fixará a indenização devida pelo administrador. Nessa
hipótese, o processo falimentar não poderá ser encerrado – pelo menos, enquanto não executada
essa sentença. Um novo administrador deverá ser nomeado, na forma dos Artigos 154 a 156 da
LFRE.

O juiz decretará a indisponibilidade ou o arresto – não o sequestro – dos bens do ex-administrador


judicial.

7.3 RELATÓRIO FINAL E ENCERRAMENTO


Após aprovadas as contas, o administrador apresentará um relatório final resumindo o
processo.

Quatro pontos são obrigatórios no relatório final do processo...


§ indicação do valor do ativo realizado;
§ valor do passivo declarado;
§ pagamentos feitos aos credores concursais e extraconcursais – já declarados na
prestação de contas;
§ indicação expressa da responsabilidade com que continuará o falido – ou seja,
indicação das classes e dos credores concursais que não foram pagos e o percentual
do saldo em aberto.

O juiz encerrará o processo por meio de sentença de cunho declaratório, que desafia o recurso de
apelação e pode ter as seguintes causas...
§ esgotamento do valor obtido com a venda do ativo;
§ pagamento integral dos credores.

86
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

7.4 REABERTURA DO PROCESSO


Ainda na vigência do creto-Lei 7661/45, o entendimento era de que a falência não poderia ser
reaberta.

Trajano de Miranda Valverde explicava...

...os credores não ficam impedidos de buscar a satisfação dos seus créditos na hipótese de
o devedor adquirir um novo patrimônio, bastando que o acionem através da execução
individual e não mais a concursal, conforme determina os Artigos 33 e 133, do Decreto-Lei
7661/45.

Anco Márcio Valle sempre sustentou tese contrária, argumentando que...

...tais dispositivos não impediam a reabertura do processo falimentar. Nesse sentido, a


conclusão proibitiva da reabertura da falência resultaria, unicamente, de uma construção
doutrinária.

Sustentamos a possibilidade de reabertura da execução concursal com


utilização do direito comparado e discordância da quase unanimidade dos
doutrinadores.

Em nosso entender, a reabertura da execução concursal estaria, porém, sujeita a determinadas


condições...

...se as obrigações do falido não estivessem extintas – Artigo 135 do Decreto-Lei 7661/45...

...se fosse feita a pedido de credor que tivesse se habilitado no processo falimentar ou
do próprio devedor...

...se fosse comprovada a existência de novos bens passíveis de arrecadação.

7.5 REABILITAÇÃO
A reabilitação tem funcionado como forma declaratória da extinção das responsabilidades civis e
criminais, dando-lhe feição híbrida.

A reabilitação tem natureza declaratória, segundo Pontes de Miranda.

No entanto, a reabilitação não deixa de possuir efeitos constitutivos quando permite que o
devedor volte a exercer atividade empresarial.

O pedido de reabilitação pode ser feito antes da sentença de encerramento da falência.

87
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

Nessa oportunidade, o juiz, ao declarar extintas as obrigações, encerrará a falência.

Ao encerramento antecipado damos o nome de levantamento da falência. O levantamento da


falência só pode ocorrer na hipótese de pagamento integral das dívidas.

Caso não haja pagamento integral das dívidas, o pedido deve processar-se em autos apartados,
depois de encerrada a falência – Artigo 159 da LFRE.

7.5.1 FUNDAMENTOS DA REABILITAÇÃO


A reabilitação pode ter os seguintes fundamentos...

...qualquer causa extintiva dos créditos habilitados – como novação, remissão,


prescrição, pagamento, transação...

...rateio de mais de 50% dos créditos habilitados, depois de realizado todo o ativo...

...após o decurso do prazo decadencial de 5 anos – contados a partir da data de


encerramento da falência –, se o falido ou qualquer administrador da sociedade falida
não forem condenados por crime falimentar. No caso de condenação, o prazo sobe
para 10 anos.

7.6 CERTIDÕES NEGATIVAS


Para que se declare a extinção das obrigações do falido, o devedor deve comprovar sua regularidade
fiscal.

Os Tribunais Superiores assentaram que o pedido de extinção das obrigações deve


estar instruído com a prova de quitação das dívidas fiscais, na forma do Artigo 191 do
Código Tributário Nacional.

A observância ao Artigo 191 do CTN também tem sido a orientação dos Tribunais
Estaduais.

Mesmo diante da inexistência das certidões negativas, o falido pode ver


declaradas extintas suas obrigações.

Para tanto, deve ser comprovado que o crédito fiscal está garantido por qualquer
meio – por exemplo, por uma penhora de imóvel ou uma fiança bancária.

7.7 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

88
§
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

UNIDADE 8 – ESTUDO DE CASO – VISION

8.1 EMPRESA
A Vision Indústria de Material Eletrônico S/A, após 25 anos de sua criação,
alcançou um lugar de destaque no cenário nacional de fabricação de
componentes eletrônicos.

Após uma grave crise, a empresa teve sua falência decretada em 12 de maio de 2008.

Na falência em questão, não foi arrecadada qualquer quantia em espécie, mas apenas bens
móveis e imóveis.

8.1.1 PEDIDOS DE RESTITUIÇÃO


Durante a tramitação do processo, o administrador judicial, Master Planejamento e Consultoria
Empresarial Ltda, por seu representante, Marco Aurélio, deparou-se com quatro pedidos de
restituição...

INSS...
§ pedido de restituição das contribuições previdenciárias devidas pela falida –
contribuição patronal – e daquelas que foram descontadas dos salários dos
empregados, no valor total de R$ 4.700.000,00.

Fazenda Nacional...
§ pedido de restituição do imposto de renda descontado dos salários dos empregados
e não repassados ao Fisco, no valor de R$ 2.500.000,00.

Sindicato dos Metalúrgicos...


§ pedido de restituição das contribuições sindicais descontadas dos salários dos
empregados nos últimos nove meses e não repassadas, no valor de R$ 670.000,00.

Banco do Brasil...
§ pedido de restituição de adiantamento de contrato de câmbio, no valor de R$
1.100.000,00.

8.1.2 OUTRAS DEMANDAS


Paralelamente aos pedidos de restituição, os trabalhadores estão reivindicando...

...o pagamento dos salários em atraso, referentes aos quatro últimos meses de
funcionamento da Vision.

...as demais verbas trabalhistas, decorrentes da rescisão de seus contratos de trabalho.

89
MÓDULO 2 Falência e Recuperação Judicial

Além desses pedidos, o administrador judicial terá que contratar um advogado


tributarista para questionar a cobrança, aparentemente indevida, de ICMS.

8.2 QUESTÕES
Considerando que o administrador judicial não tem recursos disponíveis em caixa para o
pagamento de todas essas obrigações...

Qual ordem deve ser seguida pelo administrador judicial para o cumprimento das
obrigações?

Os pedidos de restituição do INSS, da Fazenda Nacional e do Sindicato devem ser


julgados totalmente procedentes?

Quem deve receber primeiro, o Banco do Brasil ou os credores trabalhistas?

Como se classifica o crédito do advogado contratado para defender os interesses da


massa falida no juízo fazendário?

Qual é o momento oportuno para o cumprimento dessas obrigações?

8.3 CONCLUSÃO
Ordem de pagamento...
A ordem a ser seguida é a seguinte...
§ pedidos de restituição baseados no Artigo 85 da LFRE;
§ verbas salariais em atraso, relativas aos três últimos meses, limitado o
pagamento a cinco salários-mínimos por empregado, com base no Artigo 86
Parágrafo Único, c/c 151, da LFRE;
§ pedidos de restituição baseados nos incisos do Artigo 86 da LFRE;
§ despesas extraconcursais, obedecida a ordem prevista no Artigo 84 da LFRE,
ressalvadas as despesas urgentes e vitais para a massa falida, conforme
Artigo 150 da LFRE;
§ créditos concursais, obedecida a ordem prevista no Artigo 83 da LFRE.

Pedidos de restituição...
Os pedidos de restituição do sindicato e da Fazenda Nacional devem ser julgados
procedentes. A falida não é a devedora dessas obrigações, apenas responsável pela
transferência dos recursos descontados dos salários dos empregados.

Em relação ao pedido do INSS, há um problema. Ele só deve ser julgado procedente


em relação às contribuições descontadas dos salários dos empregados, pois a
contribuição patronal é uma dívida concursal tributária como outra qualquer. Devem
ser pagos como restituição apenas o valor principal da dívida com a correção monetária.

90
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 2

Os demais encargos moratórios e os honorários advocatícios são créditos concursais,


pois decorrem da conduta ilícita da falida – sendo, portanto, obrigações como as demais
dívidas concursais.

Ressalvadas as verbas salariais em atraso – pagamento limitado a cinco salários mínimos


por empregado –, os titulares do direito de restituição, como o Banco do Brasil – Artigo
86, Inciso II da LFRE –, recebem na frente dos credores trabalhistas.

Classificação do crédito do advogado contratado...


Crédito extraconcursal, conforme Artigo 84, Inciso I da LFRE.

Momento oportuno para cumprimento...


O pagamento dos salários em atraso, com as limitações do Artigo 151 da , os pedidos de
restituição e as despesas extraconcursais devem ser honrados tão logo haja
disponibilidade, ou seja, já na segunda fase do processo. Já o pagamento dos créditos
concursais – inclusive os trabalhistas –, só ao final do processo, isto é, na terceira fase.

8.5 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 9 – CENÁRIO CULTURAL

9.1 FILME
Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, assista a
uma cena do filme Uma história do Brooklin no CD que acompanha a apostila.

9.2 OBRA LITERÁRIA


Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, leia o texto
O Alienista no ambiente on-line.

9.3 OBRA DE ARTE


Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, aprecie a
obra Xeque-mate no ambiente on-line.

91
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 3

MÓDULO 3 – PRINCÍPIOS DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO

APRESENTAÇÃO
A principal inovação da Lei nº 11.101/05 é, sem dúvida, o instituto da recuperação de empresas, que
guarda certa semelhança com a antiga concordata preventiva.

Contudo, essa novidade trouxe uma complicação, qual seja, a falta de material doutrinário que
analise o tema com profundidade. Neste módulo, iremos nos basear na experiência vivenciada
no processo de recuperação judicial da Varig para essa análise.

UNIDADE 1 – PROCESSO DE RECUPERAÇÃO

1.1 MUDANÇA DE ORIENTAÇÃO


O legislador deixou clara a mudança de orientação a ser adotada na Lei 11.101/2005 ao regular os
planos de recuperação judicial.

A recuperação das empresas passou a se destinar, exclusivamente, aos empresários


individuais e às sociedades empresárias viáveis.

O deferimento da recuperação de uma empresa depende da concordância dos


credores.

Essa mudança de orientação veio prestigiar o entendimento – mais moderno e


majoritariamente adotado em outros países – de que são os credores, em tese, os
maiores interessados na recuperação da empresa.

Desse modo, os credores, organizados em assembleia, conforme as perspectivas


daquela empresa, definirão o futuro da sociedade em crise.

1.2 PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA


O princípio da preservação da empresa vem previsto no Artigo 47 da Lei nº 11.101/2005 – Lei de
Falências e Recuperação de Empresas.

Em razão de sua função social, a empresa deve ser preservada sempre que possível.

A empresa gera riqueza econômica e cria emprego e renda, contribuindo


para o crescimento e o desenvolvimento social do país.

A extinção da empresa provoca a perda do agregado econômico representado pelos


chamados intangíveis.

93
MÓDULO 3 Falência e Recuperação Judicial

São exemplos de intangíveis...


§ nome;
§ ponto comercial;
§ reputação;
§ marcas;
§ clientela;
§ rede de fornecedores;
§ know-how;
§ treinamento;
§ perspectiva de lucro futuro.

1.3 RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL


A LFRE contemplou duas formas de se evitar a falência de um devedor em crise econômico-
financeira...
§ a recuperação judicial;
§ a recuperação extrajudicial.

A recuperação extrajudicial tem natureza contratual, sendo precedida de um


acordo homologado pelo juízo competente.

1.4 RECUPERAÇÃO JUDICIAL


De acordo com o Artigo 47 da nova Lei de Falências...

...a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do
emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores.

Dessa forma, a intenção da recuperação judicial é promover a preservação da empresa, sua função
social e o estímulo à atividade econômica.

A redação do dispositivo denota a preocupação do legislador com a


preservação da empresa.

1.4.1 INSTAURAÇÃO DO PROCESSO


O processo de recuperação judicial será instaurado por iniciativa do devedor em crise econômico-
financeira.

Para tanto, devem ser atendidos os requisitos previstos no Artigo 48 da LFRE .

Por outro lado, a petição inicial deverá estar acompanhada de uma série de documentos,
consoante determinação do Artigo 51 da LFRE.

94
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 3

1.4.1.1 LEGITIMIDADE ATIVA


O objetivo da recuperação judicial é reerguer a empresa em crise. Dessa forma, só
terão legitimidade ativa para requerer a recuperação aqueles que estão sujeitos à
falência – ou seja, as sociedades empresárias e o empresário individual, nos termos do
Artigo 1º da LFRE.

Apenas o devedor em crise econômico-financeira terá legitimidade ativa


para requerer a recuperação judicial.

Os credores ou os empregados do devedor, ainda que tenham um plano de


recuperação, não poderão apresentá-lo em juízo.

O Parágrafo Único do Artigo 48 da nova Lei de Falências estende essa legitimidade ativa para o
pedido de recuperação judicial...

...ao cônjuge sobrevivente, aos herdeiros do devedor ou ao inventariante, caso se trate


de empresário individual falecido.

...aos sócios remanescentes, quando se tratar de sociedade empresária.

1.4.1.2 REQUISITOS
Não basta que a sociedade empresária exerça atividade econômica exposta ao risco de falência.
Ela também terá de atender a mais quatro requisitos...
§ a sociedade não pode estar falida;
§ a sociedade deve estar explorando atividade econômica há mais de 2 anos;
§ a sociedade não pode ter-se submetido à recuperação judicial nos últimos 5 anos
– no caso de sociedade microempresária ou empresária de pequeno porte, 8 anos;
§ o sócio controlador ou o administrador não poderá ter sido condenado pela prática
de crime falimentar – salvo se já reabilitado.

1.4.1.3 DOCUMENTOS
Com relação aos documentos necessários à instrução da petição inicial de recuperação judicial,
há exigências que não são recebidas com simpatia por parte da doutrina...

Relação dos bens particulares...

A relação dos bens particulares dos sócios ou acionistas controladores e administradores


está prevista no Inciso VI do Artigo 51 da LFRE.

Para Paulo Penalva Santos, o legislador presume uma fraude, colocando em risco os
bens particulares dos controladores e administradores.

95
MÓDULO 3 Falência e Recuperação Judicial

Infelizmente, o legislador está com razão ao adotar certas cautelas contra as fraudes.
Não surpreende uma grande empresa em crise não apresentar ativos compatíveis
com a atividade que explora, enquanto seus sócios – principais causadores do insucesso
– apresentam um patrimônio bastante considerável, que – ao contrário do esperado –
só cresceu durante o estado de insolvência da empresa.

Neste texto, não há presunção alguma de fraude por parte do legislador. A relação de bens,
entretanto, facilitará o ressarcimento dos danos causados aos credores, caso se comprove,
efetivamente, a prática de algum ato fraudulento.

Extratos de contas bancárias e aplicações financeiras ou em bolsa...


A apresentação de extratos de contas bancárias e aplicações financeiras ou em bolsa
está prevista no Inciso VII do Artigo 51 da LFRE.

Alguns doutrinadores defendem que, além de serem desnecessárias em um primeiro


momento, tais informações poderão ser utilizadas por credores de má-fé em prejuízo
do prosseguimento do negócio. As informações acabariam por expor a empresa a um
risco desnecessário para sua preservação.

Entretanto, não é o que está ocorrendo na prática. A preservação da empresa é um tema de


interesse público, revelando a total conveniência da participação do Ministério Público.

1.4.2 DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DO PEDIDO


Apresentado o pedido de recuperação judicial, o juiz verificará se os requisitos
mencionados, previstos nos Artigos 48 e 51 da LFRE , foram preenchidos. Caso tenham
sido, deferirá o processamento do pedido.

O despacho proferido pelo juiz não se confunde com a decisão concessiva


da recuperação judicial, já que se limita a acolher o pedido de tramitação do
pedido.

O despacho contém as providências e produz os efeitos mencionados nos incisos


do Artigo 52 da LFRE.

Será determinada a expedição de edital – Parágrafo 1o do Artigo 52 da LFRE, contendo...


§ o resumo do pedido e da decisão;
§ a relação nominal dos credores;
§ a discriminação do valor atualizado e a classificação de cada crédito;
§ advertências acerca dos prazos para habilitação dos créditos;
§ prazos para que os credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial.

96
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 3

1.4.2.1 SUSPENSÃO DE AÇÕES OU EXECUÇÕES


A suspensão não abrange todas as ações ou execuções em trâmite. Não se suspendem...
§ ações que versem sobre quantia ilíquida;
§ reclamações trabalhistas;
§ execuções promovidas por credores que não se submetem à recuperação;
§ execuções fiscais – desde que não tenha sido concedido parcelamento a que se
refere o Artigo 155-A, Parágrafos 3º e 4º do CTN.

A suspensão das ações ou execuções em trâmite contra o requerente é temporária,


cessa com a aprovação do plano de recuperação ou com o decurso do prazo de 180
dias, nos termos do Parágrafo 4º do Artigo 6º da LFRE.

1.4.2.2 APRESENTAÇÃO DE CERTIDÃO


O Inciso II do Artigo 52 da LFRE dispensa o devedor de apresentar as certidões negativas para o
exercício de suas atividades.

A inexistência dessa previsão legal poderia inviabilizar o prosseguimento das atividades


empresárias pelo devedor e, consequentemente, sua recuperação.

O Inciso II do Artigo 52 da LFRE excepciona a contratação com o poder público e o recebimento de


benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. Nesses casos, será imprescindível a apresentação
das certidões devidas.

1.4.2.3 DESISTÊNCIA DO PEDIDO


Nos termos do Parágrafo 4º do Artigo 52 da LFRE ...

A partir do deferimento do processamento do pedido de recuperação, o


devedor só poderá desistir do pedido mediante aprovação da assembleia geral de
credores.

1.5 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 2 – PLANO DE RECUPERAÇÃO

2.1 APRESENTAÇÃO
Com o despacho de processamento do pedido de recuperação judicial, o devedor terá 60 dias
para apresentar o plano de recuperação judicial.

97
MÓDULO 3 Falência e Recuperação Judicial

Após a apresentação do plano, inicia-se a fase de deliberação, cujo objetivo é a apreciação do


plano de recuperação do devedor.

Conforme salienta Fábio Ulhoa Coelho, o plano de recuperação é a peça mais importante
do processo de recuperação judicial.

Do plano de recuperação dependerá o alcance do objetivo do instituto, qual


seja, a preservação da atividade econômica e o cumprimento de sua função
social.

2.2 ORGANIZAÇÃO
O plano de recuperação poderá atingir todos os credores do devedor, inclusive as dívidas não
vencidas.

O meio de recuperação a ser adotado deverá constar do plano e poderá ser ou não um dos
previstos no Artigo 50 da LFRE.

A viabilidade da recuperação deverá estar demonstrada mediante a apresentação dos laudos de


avaliação patrimonial e econômico-financeiro.

O requerente da recuperação possui ampla liberdade para implementar alterações no valor,


forma de pagamento, condições de cumprimento da obrigação, dentre outras providências, salvo
algumas exceções que serão examinadas oportunamente.

2.3 PUBLICAÇÃO DO EDITAL


Tão logo o plano de recuperação do devedor seja recebido, o juiz determinará a publicação de
edital com aviso aos credores sobre o recebimento do plano e fixará prazo de 30 dias para
eventuais objeções.

Havendo impugnação por parte de qualquer credor, o plano de recuperação se submeterá à


aprovação pela assembleia geral de credores, convocada pelo juiz, na forma do Artigo 56 da LFRE.

O plano se submeterá à aprovação dos credores ou da assembleia geral de


credores, que poderão apresentar planos alternativos.

2.4 MEIOS DE RECUPERAÇÃO

Os meios de recuperação a serem adotados deverão constar do plano de


recuperação.

O Artigo 50 da LFRE, em seus incisos, traz um rol meramente exemplificativo. Portanto, é admitido
qualquer meio lícito para a recuperação.

98
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 3

2.4.1 DILAÇÃO DO PRAZO OU REVISÃO DAS CONDIÇÕES DE PAGAMENTO

O Inciso I do Artigo 50 da LFRE trata da hipótese de dilação do prazo ou


revisão das condições de pagamento.

Segundo o professor Fábio Ulhoa Coelho...

...com o abatimento no valor de suas dívidas ou o aumento do prazo de vencimento, o


devedor tem a oportunidade de se reestruturar porque disporá, por algum tempo, de mais
recurso em caixa.

Como exemplo de revisão das condições de pagamento, ele cita a substituição de garantias.

Se um credor abrir mão de sua garantia ou a substituir por outra, o devedor terá esses bens
liberados de ônus em seu patrimônio.

Para o professor Paulo Penalva Santos, a maior parte dos pedidos de recuperação judicial é
baseada no pedido de dilação do prazo ou revisão das condições de pagamento.

Os demais meios vislumbrados pelo legislador retratam situações que não são,
necessariamente, obtidas por recuperação judicial, como o aumento de capital.

2.4.2 OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS


De acordo com professor Penalva Santos...

...a adoção das operações societárias previstas no Inciso II do Artigo 50 da LFRE , por si só,
não são suficientes para propiciar a recuperação do devedor em crise, sendo necessário
contextualizá-las num plano econômico que mostre como sua efetivação poderá acarretar
as condições para o reerguimento da atividade.

Artigo 50, II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade,


constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os
direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente.

2.4.3 CONCESSÃO DE DIREITOS EXTRAPATRIMONIAIS


Segundo o professor Fábio Ulhoa Coelho...

...a concessão de direitos extrapatrimoniais aos credores, prevista no Inciso V do Artigo


50 da LFRE, confere um grau mínimo de ingerência dos credores na administração da
sociedade empresária em recuperação, visando a garantir-lhes que se tentarão realizar
os objetivos explicitados no plano de organização.

99
MÓDULO 3 Falência e Recuperação Judicial

2.4.4 TRESPASSE OU ARRENDAMENTO


O Inciso VII do Artigo 50 da LFRE trata da hipótese de trespasse ou arrendamento do
estabelecimento.

Trespasse ou arrendamento consiste na mudança na titularidade ou na


direção do estabelecimento empresarial da sociedade empresária em crise.

A lei autorizou o arrendamento do estabelecimento à sociedade constituída pelos empregados


do devedor, em razão de serem...

...os maiores interessados na preservação de seus postos de trabalho.

...os mais familiarizados com a realidade da atividade empresarial desenvolvida.

A possibilidade de renegociação das obrigações trabalhistas ou do passivo trabalhista


se justifica quando as obrigações trabalhistas são o principal entrave nas contas do
devedor – ao lado do passivo fiscal.

2.4.5 SOCIEDADE DE CREDORES E EQUALIZAÇÃO DE ENCARGOS


Por meio da constituição da sociedade de credores, estes substituem seu direito de crédito por
direitos de sócios, logo, em vez de titularizarem o direito de crédito e seus consectários derivados
do inadimplemento, passam a ter a expectativa de lucros na hipótese de sucesso do plano
reorganizacional.

Por meio da equalização dos encargos financeiros, prevista no Inciso XII do Artigo 50 da LFRE,
bancos e empresas de fomento mercantil padronizam os encargos financeiros de seus créditos,
ajustando-os ao menor dos praticados no mercado.

2.4.6 USUFRUTO, ADMINISTRAÇÃO COMPARTILHADA E ADJUDICAÇÃO DE BENS


Usufruto da empresa...
O usufruto de empresa é mais uma das possibilidades de transferência da direção da
atividade empresarial do devedor em crise para mãos mais hábeis e preparadas.

O usufrutuário deve manter a atividade ativa e frutífera.

Administração compartilhada...
Com a administração compartilhada, ocorre uma divisão de responsabilidades entre o
devedor e seus credores, ou parte deles, nas decisões administrativas de interesse da
empresa em crise.

100
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 3

Adjudicação de bens...
Segundo o professor Fábio Ulhoa Coelho, a possibilidade de se adjudicar bens nada
mais é que um desdobramento da dação em pagamento.

Diferenciam-nos apenas o fato de que, na adjudicação de bens, há a intermediação por


uma sociedade constituída exclusivamente para a adjudicação.

2.5 RESTRIÇÕES
De acordo com o Artigo 49, caput da nova Lei de Falências, em regra, a recuperação judicial irá
atingir todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.

O requerente da recuperação tem ampla liberdade para implementar alterações no valor, na


forma de pagamento, nas condições de cumprimento da obrigação, dentre outras providências.

O legislador cuidou de prever alguns limites a essa liberdade...

Os créditos trabalhistas vencidos na data do pedido de recuperação terão que ser


pagos em até um ano.

Os saldos salariais em atraso deverão ser pagos em 30 dias.

No entanto, não fica claro na lei...

...qual é a natureza do crédito trabalhista abrangido pela restrição – se apenas o


decorrente de relação de emprego ou também o relativo à indenização por acidente
de trabalho.

...se os créditos estão limitados ao mesmo teto adotado como critério de preferência
na falência – ou seja, valores até 150 salários mínimos.

...se a limitação pode advir do plano.

2.5.1 ANUÊNCIA DO TITULAR DO CRÉDITO


Dependem de expressa anuência do titular do crédito...
§ a conversão dos créditos em moeda estrangeira para moeda nacional;
§ a supressão ou substituição de garantia real, quando o plano contemplar previsão
de alienação de bens onerados.

Pela interpretação literal da lei, para a supressão ou substituição da garantia real, basta a aprovação
do plano de recuperação.

A concordância expressa do credor só é exigida caso o plano preveja a alienação do bem gravado.

101
MÓDULO 3 Falência e Recuperação Judicial

2.6 COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS


Já analisamos a possibilidade de compensação de créditos no processo de falência, com esteio
no Artigo 122 da LFRE .

Apesar de esse dispositivo estar no capítulo relativo à falência, cabe refletirmos sobre a possibilidade
de sua aplicação à recuperação judicial.

É de bom tom aplicarmos, por analogia, o disposto no capítulo de falências, salvo se o


contrário constar do plano de recuperação.

Se a opção for pela não aplicação do Artigo 122 da LFRE às recuperações, torna-se impossível, na
prática, a compensação de créditos na recuperação judicial.

Nesse caso, teria de ser adotado o regime da compensação previsto no Código Civil.

Esse regime indica que a compensação só é possível quando não prejudicar terceiros.

E é claro que a concessão de uma preferência a um credor mediante


compensação prejudicaria os demais!

2.7 CRÉDITOS NÃO SUJEITOS AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO

Alguns credores não se sujeitam aos efeitos do processo de recuperação de


seu devedor.

Dessa forma, em uma leitura a contrario sensu do Artigo 49, caput, da LFRE, concluímos que...

...os créditos cujos fatos geradores ocorrerem após o pedido de recuperação não
sofrerão seus efeitos.

Se assim não fosse, restaria inviabilizada a recuperação, já que o devedor não conseguiria
mais acesso a nenhum crédito comercial ou bancário.

O professor Fábio Ulhoa Coelho considera o dia da distribuição do pedido como marco a ser
levado em conta para determinar se um crédito se sujeita ou não à recuperação.

2.7.1 CREDORES NÃO SUJEITOS AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO


Não estará sujeito aos efeitos da recuperação judicial...

...o credor titular da posição de proprietário fiduciário, arrendador mercantil ou


negociante de imóvel – vendedor, promitente vendedor ou titular de reserva de
domínio –, cujo contrato tenha cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade –
Parágrafo 3º do Artigo 49 da LFRE. No curso da suspensão da prescrição, assim como das
ações e execuções em face do devedor, não será possível a venda ou a retirada do
estabelecimento do devedor de bens que sejam essenciais ao desenvolvimento da
atividade empresarial – Artigo 6º, caput e Parágrafo 4º, Artigo 49 da LFRE.

102
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 3

...os bancos credores por adiantamento a contrato de câmbio para exportação, ACC –
Parágrafo 4º do Artigo 49 da LFRE.

2.8 CREDORES FISCAIS


Tendo em vista o impacto que a enorme carga tributária produz nas sociedades empresárias, a
possibilidade de parcelamento do crédito tributário – prevista no Artigo 68 da LFRE e no Artigo 155-
A do CTN – seria uma importante medida para possibilitar a recuperação das sociedades em crise.

O parcelamento especial para as sociedades empresárias em regime de


recuperação judicial depende da edição de lei específica, que ainda não foi
aprovada.

Dessa forma, embora não seja a solução mais adequada, resta às sociedades em recuperação a
adoção do regime de parcelamento geral, previsto no Parágrafo 4º do Artigo 155-A do CTN.

2.9 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 3 – APROVAÇÃO DO PLANO

3.1 EDITAL DE AVISO AOS CREDORES


Após o recebimento do plano, será publicado edital com aviso aos credores, visando a
permitir-lhes eventuais objeções – Artigo 53, Parágrafo Único da LFRE.

Não tendo sido apresentada qualquer objeção, caberá ao juiz verificar se foram
preenchidos todos os requisitos legais.

Caso os requisitos legais tenham sido preenchidos, o juiz concederá a recuperação


judicial, conforme determina o Artigo 58 da LFRE.

Contudo, parece pouco factível pensar que algum plano de recuperação será aprovado com a
aquiescência de todos os credores – em especial, no caso de empresas que possuam um universo
maior de relações jurídicas.

O mais comum é a apresentação de objeções ao plano de recuperação e, via


de consequência, a não homologação imediata do plano.

3.1.1 OBJEÇÕES AO PLANO


Se for apresentada alguma objeção ao plano de recuperação, o juiz deverá convocar a assembleia
geral de credores, que deverá reunir-se no prazo máximo de 150 dias do despacho que deferiu
o processamento da recuperação.

103
MÓDULO 3 Falência e Recuperação Judicial

A assembleia geral de credores deve decidir sobre...

Rejeição do plano...
A rejeição do plano pela assembleia geral de credores implicará a falência do devedor.

A falência do devedor está prevista no Artigo 56, Parágrafo 4º da LFRE, salvo nos casos
excepcionais previstos no Parágrafo 1º do Artigo 58 da LFRE.

Em casos excepcionais, o juiz poderá conceder a recuperação, ainda que essa não
tenha sido aprovada na assembleia geral de credores.

Aprovação do plano...
Com relação à aprovação total do plano ou de alterações, deverão ser observadas as
regras de votação.

Alteração do plano...
Caso sejam apresentadas sugestões de alteração do plano ou mesmo planos alternativos,
as alterações deverão submeter-se à aprovação do devedor.

As alterações não poderão implicar a diminuição dos direitos relativos aos credores
ausentes, conforme dispõe o Parágrafo 3º do Artigo 56 da LFRE.

3.2 SISTEMA DE VOTAÇÃO


Dentre as atribuições da assembleia geral previstas nas alíneas do Inciso I do Artigo 35
da LFRE está a aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação apresentado
pelo devedor.

Nos termos do Artigo 41 da LFRE, a assembleia geral será composta pelas classes de credores
titulares dos seguintes créditos...
§ derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho;
§ com garantia real;
§ quirografários, com privilégio especial ou geral e subordinados.

Se for apresentada alguma objeção ao plano de recuperação da sociedade devedora, o juiz


deverá convocar a assembleia geral de credores.

Essa convocação será feita mediante a publicação de edital no órgão oficial e em jornais de
grande circulação nas localidades da sede e filiais, de acordo com os requisitos do Artigo 36 da
LFRE.

104
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 3

3.2.1 CONVOCAÇÃO DE ASSEMBLEIA GERAL


Depois de convocada a assembleia geral, ela será presidida, em regra, pelo administrador judicial
e será instalada em primeira convocação.

A primeira convocação terá espaço, caso conte com a presença de credores


titulares de mais da metade dos créditos de cada classe, de acordo com seu valor.

Do contrário, será instalada em segunda convocação, independentemente do


número de credores presentes.

Como regra geral, o voto do credor será proporcional ao valor de seu crédito, sendo aprovada a
proposta que obtiver a votos favoráveis que represente a mais da metade do valor total dos créditos
presentes à assembleia geral, conforme Artigo 42 da LFRE.

Para a aprovação do plano de recuperação, o Artigo 45 da LFRE impõe um quórum de


deliberação qualificado.

3.2.2 CLASSES DE CREDORES


O plano de recuperação deverá ser aprovado, na assembleia geral, pelas três classes de credores,
individualmente, que a compõem...
§ classe dos trabalhadores e equiparados – votação em turno único, sem levar em
consideração o valor dos créditos, na medida em que cada trabalhador terá direito
a um voto. É o chamado voto por cabeça;
§ classe dos credores com garantia real – a votação ocorre em dois turnos;
§ classe dos demais credores.

O credor cujo direito não for atingido pelo plano de recuperação, muito embora possa participar
da assembleia, não terá direito a voto e não será considerado para fins de verificação de quorum de
deliberação, conforme dito no Artigo 45, Parágrafo 3º da Lei 11.101/2005.

3.3 SISTEMA DO CRAW DOWN

O juiz pode aprovar o plano de recuperação mesmo quando for rejeitado


pela assembleia geral de credores.

Esse tipo de aprovação pelo juiz ocorrerá quando...

...embora não alcançado o quórum qualificado de deliberação, o plano tenha contado


com substancial apoio dos credores, na forma prevista nos Incisos do Parágrafo 1º do
Artigo 58 da LFRE.

105
MÓDULO 3 Falência e Recuperação Judicial

3.3.1 REQUISITOS
São os requisitos para a aprovação do plano pelo juiz no sistema Craw Down...

...o plano ter sido aprovado pelos credores que representem a maioria do valor dos
créditos presentes na assembleia...

...serem três as classes de credores e ao menos duas terem aprovado o plano – na


hipótese de existirem apenas duas classes, que uma o tenha aprovado...

...haver aprovação de mais de 1/3 dos credores da classe onde o quórum não foi
atingido...

...inexistir tratamento diferenciado entre os credores que compõem a classe em que


o quórum não foi atingido.

3.4 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 4 – HOMOLOGAÇÃO DO PLANO

4.1 CONCESSÃO DA RECUPERAÇÃO


Nos termos do Artigo 58 da LFRE, o juiz concederá a recuperação se...

...preenchidos todos os requisitos legais do plano, que não tenha sofrido qualquer
objeção.

...o plano tiver sido aprovado pela assembleia geral de credores, na forma do Artigo 45
da LFRE.

Há ainda a exigência legal contida no Artigo 57 da LFRE, ou seja, a apresentação da


certidão negativa de débitos – CND – como requisito à homologação do plano.

Discute-se se o juiz pode conceder a recuperação judicial diante da não apresentação


da certidão de regularidade fiscal.

4.2 REQUISITOS PARA HOMOLOGAÇÃO

Quais seriam os requisitos que o juiz deve observar para homologar o plano?
O juiz poderá adentrar no mérito?

106
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 3

O juiz não pode entrar no mérito do plano, apenas observar se foram preenchidos os requisitos
formais, bem como se o plano viola questões de ordem pública.

Desse modo, o documento de viabilidade econômica que necessariamente deve ser apresentado
pelo requerente da recuperação se destina aos credores, para que estes deliberem pela aprovação
ou não do plano.

Uma vez preenchidos os requisitos da lei, o juiz não possui a faculdade de conceder ou não a
recuperação, mas está vinculado a concedê-la.

Há maior grau de discricionariedade apenas no sistema do craw down, uma vez que o juiz deve
verificar se houve qualquer concessão de privilégio que possa implicar tratamento diferenciado
entre os credores da classe que tenha rejeitado o plano – Parágrafo 2º do Artigo 58 da LFRE.

4.3 REQUISITOS PARA HOMOLOGAÇÃO


Conforme previsto no Artigo 59 da LFRE, uma vez concedida a recuperação, ocorre a novação de
todos os créditos, mesmo daqueles contrários ao plano.

Essa novação se opera apenas entre o credor e a sociedade em recuperação.

Permanecem intactos os direitos dos credores contra os demais coobrigados, fiadores e avalistas.

Caso o plano não seja cumprido nos dois primeiros anos e a recuperação
acabe convertida em falência, o crédito volta a seu status a quo.

4.4 REJEIÇÃO DO PLANO


Caso o plano seja rejeitado e não sejam preenchidos os requisitos do Parágrafo 1º do Artigo 58 da
LFRE, o juiz terá de decretar a falência do requerente da recuperação judicial.

Esse ponto é um dos mais criticados da LFRE.

O risco de ter decretada a falência se rejeitado o plano de recuperação faz


com que as sociedades empresárias só se socorram do instituto da recuperação
judicial quando já estão em grave crise financeira.

4.5 RECURSOS
Com a concessão da recuperação judicial, encerra-se a fase de deliberação e se inicia a fase de
execução.

A concessão da recuperação é uma decisão interlocutória, pois não encerra o processo.


Contra essa decisão, cabe o recurso de agravo.

107
MÓDULO 3 Falência e Recuperação Judicial

O agravo poderá ser interposto por qualquer credor ou pelo Ministério


Público, na forma do Parágrafo 2º do Artigo 59 da LFRE.

A decisão que rejeita o plano de recuperação e, ao mesmo tempo, decreta a falência


também desafia o recurso de agravo – Artigo 100 da LFRE.

Em ambos os casos, o agravo será por instrumento, visto que...

...se concedida a recuperação e cumprido o plano, não haverá sentença – desse modo,
o agravo retido nunca seria apreciado.

...no caso de ser decretada a falência, se a questão fosse deixada para ser decidida
como preliminar no julgamento da apelação contra a sentença de encerramento da
falência, não mais seria possível desconstituir a execução concursal.

Nesse recurso de agravo, não será discutida nenhuma questão atinente ao mérito do
plano, mas apenas as relativas ao desatendimento das normas legais sobre convocação
e instalação da assembleia ou quórum de deliberação.

4.5.1 APELAÇÃO
Caberá apelação quando a sentença não homologar o plano, mas também não decretar a falência.

Seria a hipótese de desistência do processo homologada pela assembleia de credores.

4.6 RECUPERAÇÃO DE MICRO E PEQUENA EMPRESA


Se o devedor em crise econômico-financeira for microempresa ou empresa de pequeno porte,
serão aplicadas regras específicas de recuperação judicial – Artigos 70 e 71 da LFRE.

De acordo com a Lei Complementar 123/06, há definições para microempresário e empresário


de pequeno porte...

Microempresário...
Microempresário é aquele que aufere, por ano, receita bruta de até R$ 240.000,00 –
duzentos e quarenta mil reais.

Empresário de pequeno porte...


Empresário de pequeno porte é o que aufere receita bruta anual entre aquele valor e R$
2.400.000,00 – dois milhões e quatrocentos mil reais.

108
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 3

4.6.1 PLANO ESPECIAL

O microempresário ou empresário de pequeno porte poderá apresentar


plano especial de recuperação judicial.

O microempresário ou empresário de pequeno porte deverá manifestar, na petição inicial, sua


intenção de apresentar plano especial de recuperação judicial.

Dessa forma, o devedor...

...apresenta, em juízo, pedido de recuperação judicial...

...expõe as razões de sua crise econômica...

...apresenta o plano de recuperação.

O plano especial de recuperação judicial abrangerá apenas os credores quirografários existentes


ao tempo do pedido.

O plano especial de recuperação dos microempresários e empresários de pequeno porte é


padronizado.

O objeto do plano especial de recuperação é restrito, uma vez que suas condições
estão enumeradas nos Incisos II, III e IV do Artigo 71 da LFRE.

4.6.2 PROCEDIMENTO
Depois de ter recebido o plano de recuperação especial, o juízo determinará sua publicação no
Diário Oficial.

Os credores terão o prazo de trinta dias para impugnar o plano de recuperação especial.

Mesmo havendo impugnações, o juiz o homologará sem a convocação da assembleia


geral, se forem preenchidos os requisitos legais.

Se não forem preenchidos os requisitos legais para o plano especial de recuperação, o


juiz se limitará a julgar improcedente o pedido.

O juiz só poderá decretar a falência se mais da metade dos credores sujeitos ao plano apresentarem
impugnação, conforme determina o Parágrafo Único do Artigo 72 da LFRE.

É possível que mais da metade dos credores entenda que o devedor não tem condição
alguma de permanecer no mercado.

Nesse caso, não se justificaria tamanho sacrifício em favor de uma empresa


inviável.

109
MÓDULO 3 Falência e Recuperação Judicial

4.6.3 HOMOLOGAÇÃO
A prescrição, as ações e as execuções dos créditos abrangidos são suspensas depois de homologado
o plano especial.

As normas gerais estabelecidas para as empresas de médio e grande porte são aplicadas à
recuperação judicial dos microempresários e empresários de pequeno porte.

4.6.4 VANTAGENS PARA FORNECEDORES


O instituto da recuperação foi criado com o objetivo de reerguer a sociedade em crise.

O Artigo 67 da LFRE prevê hipótese para incentivar os fornecedores de bens


ou serviços a continuarem a entregar seus produtos e prestar seus serviços
durante a recuperação.

Todo crédito decorrente do fornecimento de bens ou serviços durante a recuperação será considerado
extraconcursal.

O crédito quirografário decorrente de obrigação anterior à recuperação será elevado à classe dos
créditos com privilégio geral, na proporção dos bens ou serviços fornecidos durante o período de
recuperação – Artigo 67, Parágrafo Único da LFRE.

4.7 NOVAÇÃO
Diferentemente do que ocorria na época da concordata preventiva, a homologação do plano de
recuperação judicial provoca novação em relação aos créditos sujeitos ao plano, mesmo que eles
não estejam listados no quadro geral de credores – Artigo 59 da LFRE.

Se dois credores estão sujeitos ao plano de recuperação judicial, um deles


com seu crédito habilitado e o outro, não, não importa!

Depois de homologado o plano, ambos deverão receber segundo as regras previstas


no plano, que tem natureza de título executivo judicial.

Se o plano homologado judicialmente for rescindido ainda durante a fase judicial – ou seja,
naqueles dois anos posteriores à homologação...

...incide a regra prevista no Artigo 61, Parágrafo 2º da LFRE, isto é, a reconstituição de


todos os créditos a suas condições originais.

Em breve, os tribunais terão de enfrentar o seguinte dilema... E se a rescisão da rescisão da


recuperação judicial ocorrer na fase extrajudicial?

Caminha-se – ao menos no campo doutrinário – para a manutenção das obrigações


assumidas no plano.

110
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 3

4.8 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 5 – ESTUDO DE CASO – HARDWARE

5.1 EMPRESA

Hardware Informática S/A, após 15 anos de sua criação, alcançou um lugar de


destaque no cenário nacional de fabricação de peças para computadores.

No entanto, após a abertura do mercado nacional, com a queda de inúmeras barreiras protecionistas,
a competição ficou muito acirrada.

A companhia passou a acumular grandes prejuízos nos últimos cinco anos, pois não estava
aparelhada, tecnologicamente, para competir com as multinacionais do setor.

5.1.1 PROBLEMA
Em razão da crise que se instalou, Hardware Informática S/A deixou de honrar inúmeros
compromissos, acumulando uma dívida total de R$ 7,3 bilhões...
§ passivo trabalhista = R$ 900 milhões;
§ passivo tributário = R$ 1,6 bilhão, dos quais R$ 1 bilhão com a União, R$ 400
milhões com o Estado de Pernambuco e o restante com a prefeitura de Porto
Alegre;
§ passivo = R$ 1,5 bilhão, representado por cédulas de crédito industrial pignoratícias,
em favor de cinco bancos;
§ crédito hipotecário com o Banco Valor Empresarial S/A = 300 milhões;
§ dívidas quirografárias = R$ 3 bilhões, dos quais 50% estavam em moeda estrangeira.

5.1.2 PLANO DE RECUPERAÇÃO


Diante dessa situação, Hardware Informática S/A contratou os serviços de uma
conceituada empresa de consultoria, objetivando montar uma estratégia para salvar a
empresa.

Após alguns meses de intenso trabalho, os consultores apresentaram um


relatório.

O relatório apontava os principais problemas da companhia e algumas sugestões


para solucionar os problemas.

111
MÓDULO 3 Falência e Recuperação Judicial

Nesse trabalho, concluiu-se que...

...o quadro de funcionários deveria ser reduzido em 30% no primeiro ano de


reestruturação, e todas as dívidas trabalhistas só poderiam ser pagas em um prazo
mínimo de 36 meses.

...todos os créditos com garantia real deveriam ser substituídos por debêntures com
garantia flutuante, com juros de 6% a.a., com prazo de resgate de 100 meses.

...os credores quirografários que fossem fornecedores teriam duas opções para receber...
§ 100% do crédito em um prazo de 60 meses, com correção pelo IGPM;
§ 70% do crédito em um prazo de 30 meses, corrigidos pelo mesmo índice.

...os demais credores quirografários receberiam em 120 meses, com correção pela TR.

...a hipoteca deveria ser levantada, e o bem imóvel ser alienado para capitalizar a
empresa. O credor deveria receber em 50 parcelas reajustáveis pela SELIC, garantido
pelos recebíveis das operações com cartão de crédito.

...todos os créditos em moeda estrangeira deveriam ser convertidos para Real


imediatamente, tendo em vista a projeção de alta para a moeda americana para os
próximos meses.

5.2 QUESTÕES
Sobre o plano de recuperação judicial...
1. Como se dá a aprovação do plano de recuperação judicial? É possível a homologação
de um plano de recuperação judicial rejeitado por alguma classe de credores? Qual é
o grau de discricionariedade conferido ao juiz para homologar o plano de recuperação
judicial? E na hipótese do plano especial destinado aos microempresários?
2. É possível a homologação do plano de recuperação judicial nos moldes do relatório
apresentado pela empresa de consultoria, sobretudo em face da previsão de pagamento
dos credores trabalhistas em 36 meses e do tratamento favorecido, conferido aos
credores quirografários fornecedores da companhia?
3. Quais são os argumentos pró e contra a homologação do plano de recuperação
judicial das companhias que não apresentarem a certidão de regularidade fiscal?
4. O credor com garantia hipotecária poderia impedir a homologação do plano, mesmo
se ele fosse aprovado por todos os demais credores, inclusive trabalhistas?
5. Os titulares de crédito em moeda estrangeira estão obrigados a concordar com a
desvinculação prevista no plano?

112
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 3

5.3 CONCLUSÃO
Após a apresentação e publicação do plano, se não houver nenhuma impugnação – Artigo 55 –, o
juiz poderá homologá-lo. Da mesma forma, se houver impugnação, mas os credores aprovarem
o plano em assembleia, o juiz poderá homologá-lo.

A votação em assembleia deve obedecer as regras previstas no Artigo 45 da LFRE. Caso alguma
das classes referidas no Artigo 41 rejeite o plano, ele poderá ainda ser aprovado, se observados os
requisitos do Parágrafo 1º do Artigo 58 da LFRE – sistema do Craw Down.

Sobre a discricionariedade do juiz há muita divergência. O Caput do Artigo 58 prevê que o juiz
concederá a recuperação. Já o Parágrafo 1º desse mesmo artigo, que trata do Craw Down, está
escrito que o juiz poderá conceder. Cremos que, praticamente, não há espaço para análise judicial.
Se os credores aprovarem o plano e não houver nenhuma ilegalidade, o juiz deverá homologar o
plano, não podendo analisar o mérito da solução encontrada pelo devedor e seus credores.

No caso do plano dos microempresários e das empresas de pequeno porte, o sistema é


completamente diferente. Trata-se de um direito subjetivo do devedor, pois não há convocação
dos credores para deliberar sobre ele em assembleia. Ele possui um modelo prefixado –
parcelamento em 36 meses, com o primeiro pagamento em até 180 dias da distribuição, com
juros de 12% ao ano.

A lei prevê, em seu Artigo 54, que o plano não pode prever o pagamento dos credores trabalhistas
em prazo superior a 1 ano. Contudo, há o precedente do Caso Varig, em que o plano foi aprovado
pelos credores e homologado pelo Juízo da 1ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado
do Rio de Janeiro. Em relação ao tratamento favorecido aos credores quirografários que possuem
a qualidade de fornecedores, não existe qualquer ilegalidade. É perfeitamente possível o
tratamento diferenciado a determinados credores, mesmo que não extensivo a todos daquela
classe. Isso só não seria possível se o plano fosse aprovado pelo sistema do Craw Down – ainda
assim, na classe em que houve a rejeição.

Para aqueles que defendem a inexigibilidade da certidão, o maior argumento, sem dúvida, refere-
se à falta da lei específica tratando do parcelamento das dívidas tributárias para as sociedades
empresárias em regime de recuperação judicial. A norma transitória que remete tais empresas à
lei geral do parcelamento é insuficiente.

De outro lado, além da presunção de constitucionalidade do Artigo 57 da LFRE, milita em favor da


tese que exige a apresentação das certidões a modificação do Código Tributário Nacional – a qual,
além de prever, expressamente, a exigência, cria a regra transitória que determina a aplicação das
regras gerais de parcelamento.

Ademais, por não participar do plano de recuperação, o crédito tributário precisa de uma proteção
legal compatível com as nobres funções do Estado.

113
MÓDULO 3 Falência e Recuperação Judicial

Um dos poucos obstáculos colocados ao empresário para montar seu plano é a impossibilidade
de supressão ou alteração de garantia real sem a anuência expressa do credor titular, conforme
Artigo 50, Parágrafo 1º da LFRE. Portanto, há necessidade de autorização expressa daquele credor
hipotecário.

Outro obstáculo durante a elaboração do plano é a necessidade de concordância expressa dos


credores para a desvinculação cambial, conforme Artigo 50, Parágrafo 2º da LFRE.

5.4 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 6 – CENÁRIO CULTURAL

6.1 FILME
Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, assista a
uma cena do filme Enron – os mais espertos da sala no CD que acompanha a apostila.

6.2 OBRA LITERÁRIA


Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, leia o texto
Casa de pensão no ambiente on-line.

6.3 OBRA DE ARTE


Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, aprecie o
quadro O castelo de cartas no ambiente on-line.

UNIDADE 7 – ATIVIDADES

7.1 AUTOAVALIAÇÃO
Acesse, no ambiente on-line, a autoavaliação deste módulo.

114
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 4

MÓDULO 4 – PLANO DE RECUPERAÇÃO E PODERES CONSTITUÍDOS

APRESENTAÇÃO
Neste módulo, preocupamo-nos em analisar as variantes da fase de execução do plano de
recuperação aprovado pelos credores e homologado pelo juízo, bem como o instituto da
recuperação extrajudicial – agora sem qualquer semelhança com o velho regime.

Talvez devido a essa diferença, poucos escritórios de advocatícia têm-se aventurado em assessorar
seus clientes em um processo de recuperação extrajudicial. A lei contém inúmeras lacunas e a
jurisprudência é escassa. Desse modo, precisamos superar esses obstáculos para dar efetividade
ao instituto da recuperação.

UNIDADE 1 – PRAZOS

1.1 PRAZO DO PLANO


O plano de recuperação se destina ao soerguimento da sociedade empresária, portanto, seu
prazo de duração dependerá da complexidade do caso concreto.

Dessa forma, seu prazo de vigência é muito variado, podendo durar seis, dez, doze
anos...

Não há, na lei, limite temporal para a reestruturação.

No entanto, a lei estabelece que, nos dois primeiros anos, o cumprimento do plano estará sujeito
à fiscalização...
§ pelo juiz;
§ pelo Ministério Público;
§ pelo comitê de credores;
§ pelo administrador judicial...

Sendo descumprida qualquer obrigação que se vencer na fase judicial da recuperação, restará ao
credor uma única opção – requerer a convolação da recuperação em falência.

Antes dos dois anos, as medidas previstas no plano ainda não terão produzido os
efeitos necessários a propiciar o reerguimento da sociedade em recuperação, de modo
a viabilizar a execução específica das obrigações.

1.2 DESFECHOS POSSÍVEIS


O descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação judicial demonstrará que as
condições pactuadas pelo empresário com seus credores não possibilitaram a recuperação da
empresa, que continua incapaz de honrar com as obrigações assumidas.

115
MÓDULO 4 Falência e Recuperação Judicial

A incapacidade de honrar com as obrigações assumidas levará o juiz a decretar, de ofício ou por
provocação nos autos da recuperação, a falência da sociedade empresária.

Após os dois anos iniciais, sendo cumprido o plano, encerra-se o processo de recuperação por
sentença e inicia-se a fase extrajudicial de cumprimento do plano.

Nessa fase, qualquer credor poderá pedir a execução específica de obrigação descumprida pelo
devedor ou requerer sua falência.

1.3 PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE SUSPENSÃO


Pela análise do Artigo 61 da LFRE, percebemos que...

A fase judicial da recuperação se encerra tão logo sejam cumpridas as obrigações,


previstas no plano, que vencerem dois anos após a decisão que concede a recuperação
judicial.

É possível termos uma situação em que as obrigações previstas para vencerem em dois anos não
sejam cumpridas dentro desse período por motivo alheio à vontade da sociedade em recuperação.
Por isso, levantou-se a questão...

Será possível prorrogar o prazo de recuperação por mais de dois anos ou deve ser decretada
a falência?

Há jurisprudência favorável à prorrogação do prazo no caso Varig.

1.4 UNIVERSALIDADE E INDIVISIBILIDADE DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO

Questão que vem sendo muito debatida é se também vigoram para a


recuperação os princípios da universalidade e indivisibilidade do juízo falimentar.

O Artigo 6º prevê a suspensão do curso de todas as ações e execuções contra o devedor


pelo prazo de 180 dias.

Uma vez superado o prazo de 180 dias, o Parágrafo 5º estabelece que...

...as execuções trabalhistas poderão ser normalmente concluídas, mesmo o crédito já


estando inscrito no quadro geral de credores.

Depois de transcorrido o prazo de 180 dias, as execuções trabalhistas só poderão prosseguir na


Vara do Trabalho em duas hipóteses...
§ se o plano não abranger os credores trabalhistas;
§ se o plano ainda não tiver sido aprovado.

116
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 4

1.4.1 APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS


Em reiteradas decisões, o Superior Tribunal de Justiça vem se manifestando no sentido
de que os princípios da universalidade e da indivisibilidade são aplicáveis ao juízo da
recuperação.

Após a aprovação do plano de recuperação, todos os créditos serão satisfeitos de acordo com as
condições previstas no plano, inclusive o trabalhista.

O STJ não faz a distinção entre universalidade e indivisibilidade...

Na recuperação judicial, vigora o princípio da universalidade.

Todos os credores devem habilitar seu crédito e tê-lo satisfeito segundo o plano de
recuperação.

No entanto, a indivisibilidade não seria aplicável.

Desse modo, uma ação por responsabilidade civil contra a sociedade em recuperação
não deve ser ajuizada no juízo onde se processa a recuperação, mas sim no juízo
competente, segundo as normas comuns.

1.5 PODERES DO JUIZ


Nos termos do Artigo 64 da LFRE, em regra, o devedor e seus administradores são mantidos na
condução da atividade empresarial, sob a fiscalização do comitê e do administrador judicial.

O juiz poderá afastar o devedor e os administradores, se ficar constatado que sua manutenção é
prejudicial à recuperação da sociedade – conforme hipóteses previstas no Artigo 64 da LFRE.

O afastamento acontecerá mediante a destituição dos cargos.

Deve ser convocada uma assembleia geral para a nomeação do gestor


judicial.

No que se refere ao acionista controlador, ele será afastado nas mesmas hipóteses
previstas para os administradores, mas mediante a suspensão de seu direito de voto na
assembleia geral de credores.

1.6 ALTERAÇÕES NO PLANO


O plano de recuperação pode ter um prazo de duração bastante longo, logo, podem ocorrer
alterações consideráveis na condição econômico-financeira do devedor – até por consequência
de crises financeiras globais como a que estamos vivenciando.

117
MÓDULO 4 Falência e Recuperação Judicial

Nesses casos, é possível – e até aconselhável – introduzir alterações no plano em


execução.

Para introduzir as alterações, porém, deve ser seguido o mesmo procedimento adotado
para a aprovação do plano.

A retificação será submetida à assembleia de credores com o quórum


qualificado e depois levado à homologação pelo juiz, que deverá verificar se
foram preenchidos os requisitos legais.

1.6.1 OBSERVÂNCIA DO PROCEDIMENTO


Caberá agravo de instrumento na hipótese de o juiz homologar a retificação ao plano sem que
seja observado o procedimento de submeter a retificação à assembleia de credores com o
quórum qualificado e levado à homologação do juiz.

A única diferença é que, na hipótese de a assembleia não aprovar a modificação, não se decretará
a falência e o plano anterior continuará a ser executado.

1.6.2 DURAÇÃO DO PROCESSO


Existe grande discussão doutrinária e jurisprudencial sobre as consequências de modificação do
plano, no que concerne ao tempo de duração do processo.

A fase judicial de cumprimento do plano é de dois anos após sua homologação.

Sabendo disso, surge a pergunta...

Em caso de alteração substancial do plano, esse prazo será contado novamente?

1.7 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 2 – ADMINISTRADOR, COMITÊ E ASSEMBLEIA GERAL

2.1 PODERES DO ADMINISTRADOR


O administrador judicial, de acordo com o Artigo 21 da Nova Lei de Falências, deve ser pessoa
idônea, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa
jurídica especializada.

Segundo o professor Fábio Ulhoa Coelho, as funções do administrador judicial na recuperação


judicial variam conforme...

...exista ou não o comitê...

118
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 4

...tenha sido ou não decretado o afastamento dos administradores da sociedade empresária em


recuperação.

2.1.1 FUNÇÕES DO ADMINISTRADOR


Se existir comitê instaurado, caberá ao administrador judicial...
§ a verificação dos créditos;
§ a presidência da assembleia dos credores;
§ a fiscalização do devedor.

Caso não tenha sido instituído o comitê, o administrador também exercerá a


competência atribuída por lei a este órgão, o comitê de credores.

Apenas na hipótese de o juiz ter afastado os administradores do devedor, o


administrador judicial irá assumir a administração da sociedade empresária e representá-
la, enquanto a assembleia geral de credores não deliberar sobre a escolha do gestor
judicial.

2.2 PODERES DO COMITÊ


Quando o plano for aprovado, a assembleia geral poderá indicar membros do comitê de credores,
o qual terá as atribuições previstas no Artigo 27 da LFRE.

Na recuperação judicial, a principal competência do comitê é fiscalizar a


atuação do administrador judicial e do devedor.

Mensalmente, o comitê deverá elaborar um relatório e encaminhá-lo ao juiz.

Caso constate qualquer fato que considere irregular, no exercício de sua atividade
fiscal, o comitê deverá encaminhar um requerimento ao juiz solicitando a adoção das
medidas que considerar pertinentes.

Esse requerimento será encaminhado ao juiz mediante aprovação pela maioria dos
membros do comitê.

2.2.1 OUTROS PODERES


Elaboração de plano alternativo...
O comitê poderá elaborar plano alternativo ao apresentado pelo devedor, que se
submeterá ao procedimento geral dos planos de recuperação apresentados, ou seja,
se submeterá à aprovação da assembleia geral de credores.

Administração da sociedade...
Caberá ao comitê, caso afastada a administração da sociedade em recuperação, cuidar
das alienações de bens do ativo permanente e dos endividamentos necessários à
continuação da atividade empresarial até a aprovação do plano. Nessa hipótese, as
medidas administrativas adotadas estão sujeitas à autorização do juiz.

119
MÓDULO 4 Falência e Recuperação Judicial

2.3 PODERES DA ASSEMBLEIA GERAL


A assembleia geral de credores é um órgão de altíssima importância na recuperação judicial, que
só pode ser dispensado na recuperação das microempresas ou empresas de pequeno porte.

As atribuições da assembleia geral referem-se às questões mais relevantes do processo.

As atribuições da assembleia geral estão intimamente relacionadas às matérias que possam


afetar os interesses dos credores, como previsto nas alíneas do Inciso I do Artigo 35 da LFRE.

Cabe à assembleia geral de credores...


§ aprovar o plano de recuperação, caso tenha ocorrido alguma oposição quanto a
ele;
§ deliberar sobre a constituição do comitê de credores, a escolha de seus membros
e sua substituição;
§ nomear o gestor judicial, na hipótese de a administração da sociedade em
recuperação ser afastada;
§ deliberar sobre o pedido de desistência da recuperação apresentado pelo devedor
após o deferimento do processamento da recuperação.

2.4 POSSIBILIDADE DE CONVOLAÇÃO


A possibilidade de convolação da recuperação judicial em falência encontra previsão
no Artigo 73 da Nova Lei de Falências.

De acordo com o Artigo 73 da LFRE, ocorrerá a convolação nas seguintes hipóteses...


§ deliberação da assembleia geral de credores pelo voto favorável de credores que
representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembleia
geral – Artigo 73, I, c/c Artigo 42 da LFRE;
§ não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo improrrogável
de 60 dias, contados do despacho de processamento – Artigo 73, II, c/c, Artigo 53,
caput da LFRE;
§ rejeição do plano de recuperação pela assembleia geral de credores – Artigo 73,
Inciso III, c/c Artigo 56, Parágrafo 4º da LFRE;
§ descumprimento de obrigações assumidas no plano, durante o período de
recuperação – que poderá chegar a 2 anos a partir de sua concessão.

2.5 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

120
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 4

UNIDADE 3 – VENDA DE BENS E RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE

3.1 VENDA DE BENS NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL


Segundo dispõe o Artigo 66 da LFRE, após a distribuição do pedido de recuperação, apenas será
possível a alienação ou oneração de bens ou direitos do ativo permanente da sociedade em
recuperação mediante...

...autorização do juiz, depois de ouvido o comitê...

...previsão expressa no plano de recuperação aprovado pela assembleia geral de


credores.

Embora não haja qualquer sanção prevista para a hipótese de inobservância


dessa restrição, aplica-se a regra geral.

Se for descumprida uma obrigação legal pelo devedor, caberá a convolação da recuperação
judicial em falência.

Essa é a única restrição que a sociedade sofrerá em sua personalidade jurídica, uma vez
que, concedida a recuperação, a sociedade continuará a ser um sujeito de direito, apto
a contrair obrigações e titularizar crédito.

3.1.1 MODOS DE VENDA


Nas hipóteses em que é possível a alienação, os bens poderão ser vendidos...
§ individualmente;
§ em lotes;
§ em pequenos blocos que formam as filiais ou unidades produtivas autônomas.

A utilização, pelo legislador, da expressão empresa, no Artigo 50 da LFRE, é bastante imprópria.

Pode ocorrer a alienação de todo o estabelecimento empresarial.

3.1.2 PREFERÊNCIAS NA VENDA


Na falência, deve ser prioritariamente perquirida a venda de todo o estabelecimento empresarial
em um único bloco.

Se a primeira tentativa for infrutífera, pode-se então buscar a realização do ativo com
a venda de pequenos blocos, desde que, isoladamente, formem filiais ou centros
produtivos.

Mais uma vez não efetivada a alienação, os bens deverão ser divididos em lotes e,
somente em último caso, pode-se recorrer à venda dos bens isoladamente.

121
MÓDULO 4 Falência e Recuperação Judicial

A regra, porém, não é aplicável à recuperação. Aqui se busca o reerguimento


da sociedade em crise, e não sua alienação para terceiros.

3.1.3 ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

Artigo 50 da LFRE prevê vários métodos para recuperação das empresas.

Dentre eles, é possível que o plano preveja a venda do estabelecimento


empresarial.

Caso o plano de recuperação preveja a venda judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas
do devedor, o procedimento previsto para a realização ordinária do ativo de falidos deverá ser
adotado na forma estipulada no Artigo 142 da LFRE.

Em resumo, a venda será feita, obrigatoriamente, por hasta pública.

O plano de recuperação estará limitado a prever qual bem será alienado e poderá estipular um
valor mínimo para venda, mas não será admitida previsão no sentido de permitir a alienação
direta a terceiro.

O Parágrafo Único do Artigo 60 da LFRE prevê que não haverá a sucessão do arrematante
nas obrigações do devedor e que o bem objeto de alienação estará livre de qualquer
ônus.

3.1.3.1RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE
Anteriormente, era ínfima a parcela de empresários que demonstrava interesse em adquirir
estabelecimentos de empresas falidas ou em concordatas.

De acordo com as regras do antigo regime falimentar, as empresas herdariam o pesado


passivo trabalhista e tributário.

Uma vez afugentados os interessados, a empresa, por mais viável que fosse, estaria
fadada ao encerramento definitivo em caso de falência, com séria violação ao princípio
da utilidade dos meios de produção no interesse da sociedade, gerando mais
desemprego e instabilidade no mercado.

Em condições normais, quando uma sociedade empresária adquire todo o


estabelecimento de outra sociedade, ela assume toda a respectiva gama de direitos e
obrigações.

Seja por força do contrato de trespasse, seja por força de outros métodos de
concentração de mercado – como fusões e incorporações –, além da sucessão nos
contratos de trabalho em curso quando ultimada a transferência, a sociedade adquirente
responde por todos os débitos trabalhistas outrora de responsabilidade da sociedade
empresária sucedida.

122
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 4

É o que podemos inferir da leitura da Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho e do


Artigo 10 da CLT.

Em relação ao passivo tributário, a solução não era diferente. O Artigo 133 do CTN
estabelecia que a pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir o
estabelecimento empresarial responde pelos tributos relativos ao fundo ou
estabelecimento adquirido, na forma prevista nos incisos do dispositivo legal.

Essa aquisição ficaria ainda mais arriscada quando da entrada em vigor do Código Civil
de 2002.

Pelo Código Civil de 2002, a sucessão do adquirente não mais se restringiria ao passivo
tributário e trabalhista.

A partir de então, seria estendida por todo o passivo contabilizado, tanto nas obrigações
vencidas como vincendas, consoante dispõe o Artigo 1.146 do Código Civil.

O arcabouço legislativo inviabilizava, portanto, qualquer possibilidade de


aquisição do estabelecimento empresarial explorado por sociedades empresárias
em dificuldades financeiras.

Por mais viável que fosse a perpetuação do negócio, com a consequente preservação
dos postos de trabalho e da atividade empresarial, nenhuma sociedade empresária se
interessava em adquirir o estabelecimento daquela empresa, em virtude do montante
das dívidas com que teria de arcar – especialmente, tributárias e trabalhistas.

3.1.3.2 FOCO DAS MUDANÇAS


A preocupação do legislador em mudar o sistema era salvaguardar uma última possibilidade de
preservar a continuidade dos negócios de empresas viáveis.

Essa hipótese só se tornaria possível com o surgimento de sociedades empresárias interessadas


em adquirir aqueles estabelecimentos das empresas em crise, ou seja, sob falência ou sob o
regime de recuperação judicial.

A hipótese de preservar a continuidade dos negócios de empresas viáveis


trouxe regras para evitar essa sucessão, estatuindo que os bens alienados em
regime falimentar ou de recuperação judicial serão livres de quaisquer ônus.

Uma das grandes vedetes da reforma do regime jurídico da insolvência empresarial é a ausência
de responsabilidade do adquirente sobre o passivo das empresas absorvidas nos processos de
falência e de recuperação judicial.

123
MÓDULO 4 Falência e Recuperação Judicial

Há ainda outros benefícios que a venda da empresa como um todo – ou, pelo menos,
dividida em unidades produtivas – representaria, como a maximização do ativo e a
celeridade processual.

Ademais, a venda da empresa em um único bloco ou dividida em centros autônomos de produção


preserva os bens intangíveis.

Como exemplo de bens preservados, temos a freguesia, a clientela, o título de


estabelecimento, enfim, todos aqueles fatores que sempre influenciam positivamente
na quantificação do aviamento e que, portanto, devem ser levados em conta quando
da alienação judicial.

Essa alienação ainda simplifica e agiliza intensamente o procedimento de realização do ativo,


contribuindo para a celeridade processual. Quanto mais rápida a alienação do ativo, menor a
depreciação dos bens que o compõem.

3.1.3.3 ALTERAÇÕES NO CTN


De nada adiantaria a mudança promovida pela LFRE sem a correlata alteração do Código Tributário
Nacional.

Pelo menos aqui o legislador teve o cuidado de zelar pela coerência do sistema e providenciou
a respectiva mudança no Artigo 133 do CTN, por intermédio da Lei Complementar 118, também
de 9 de fevereiro de 2005.

Nas alienações de empresas nos processos de recuperação, a sociedade


arrematante é imune ao passivo tributário de qualquer espécie.

Essa previsão está expressa no Parágrafo Único do Artigo 60 da LFRE e na nova redação do Artigo
133 do CTN.

Para reforçar a ideia de segurança jurídica – também um dos pilares do novo


ordenamento –, se algum dos bens que integram o estabelecimento empresarial
estiver gravado com ônus real, o beneficiário deverá ser ouvido antes da alienação.

A lei exige o consentimento do beneficiário para a supressão ou substituição da garantia


real.

O legislador, mais uma vez, demonstrou sua preocupação em tutelar o credor com garantia real,
preservando seu privilégio com objetivo de assegurar a estabilidade jurídica dos contratos de
concessão de crédito.

Por consequência, não havendo anuência expressa do titular da garantia real para
supressão ou substituição de sua garantia, é perfeitamente aplicável o direito de sequela.

124
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 4

3.1.4 SUCESSÃO TRABALHISTA


Em uma primeira análise, pode parecer que não haja diferença alguma em relação à disciplina das
alienações de empresas nos processos de falência e recuperação.

No entanto, questão de suma importância e que está em franca ebulição


envolve o passivo trabalhista e acidentário, assim como os contratos de trabalho
em vigor.

3.1.4.1 DIVERGÊNCIA ENTRE JUÍZOS

Sobre a sucessão trabalhista, no caso Varig, houve divergência entre o juízo


trabalhista e o empresarial.

Para o juízo trabalhista, não existiria outro caminho senão o de se reconhecer a plena eficácia dos
Artigos 10 e 448 da CLT, bem como da Súmula 331 do TST.

Como justificativa, entende-se que a CLT é lei especial e que o Artigo 60 da LFRE e seu
Parágrafo Único em nenhum momento fazem referência expressa à não sucessão do
passivo trabalhista ou à sucessão dos contratos de trabalho.

Para o juízo empresarial, não há que se falar em sucessão trabalhista, uma vez que a omissão do
Artigo 60 da LFRE não teria sido eloquente.

Ao citar a não sucessão tributária, o legislador buscava apenas mencionar um exemplo,


e não estabelecer um rol taxativo.

3.1.4.2 POSIÇÃO MODERADA


Adotando uma posição mais moderada, estendemos que o silêncio do Artigo 60 da LFRE é
eloquente.

Além da continuidade das relações de emprego, a sociedade arrematante poderá ser


responsabilizada pelo passivo trabalhista das unidades adquiridas.

Tal regra, contudo, pode ser excepcionada, porque, sob nossa ótica, o plano de
recuperação pode estipular um tratamento especial à questão.

Caso o plano de recuperação seja aprovado, deve ser rigorosamente respeitado, mesmo
porque passa necessariamente pelo crivo dos credores trabalhistas, reunidos em
assembleia e com o sistema de voto por cabeça.

Em resumo, defendemos que...

...se o plano prevê a venda de unidades produtivas isoladas, ressaltando, expressamente,


que o adquirente não responderá pelas dívidas trabalhistas, e os empregados serão
recontratados por meio de novos contratos, essa regra deverá ser respeitada.

125
MÓDULO 4 Falência e Recuperação Judicial

3.1.5 DECISÃO SOBRE SUCESSÃO


A competência para decidir sobre a sucessão é do juízo empresarial.

Atento à possibilidade de fraude, o legislador consignou que a inexistência de sucessão


seria imediatamente afastada quando constatada a tentativa de fraude.

Essa regra não se aplicaria nas hipóteses previstas nos incisos do Parágrafo 1º do Artigo
141 da LFRE.

Embora a previsão esteja no capítulo relativo à falência, entendemos que são aplicáveis também
à recuperação.

3.2 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 4 – RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

4.1 ACORDO
Na recuperação extrajudicial, o devedor em crise econômico-financeira reúne-se com algum
credor, ou alguns de seus credores, ou com todos eles, e celebra acordo, que será homologado
em juízo.

Esse acordo até poderia ser discutido e aprovado em uma única reunião, com todos os
credores envolvidos.

Na prática, entretanto, o devedor formula um plano de pagamento e


reestruturação e o leva a cada credor individualmente, colhendo as respectivas
assinaturas nos termos de adesão.

Somente depois de procurar todos os credores a alcançar o número de adesões


necessário para aprovação, o devedor leva o plano para homologação judicial.

4.1.1 TIPOS DE ACORDO


A partir das normas que regulam o novo instituto, existem dois tipos de acordo que podem ser
objeto de homologação...
§ acordo que envolve apenas os credores que a ele aderiram;
§ acordo que abrange todos os credores, desde que aceito por 3/5 de cada classe ou
grupo de credores.

126
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 4

O Artigo 167 da LFRE indica que será possível qualquer espécie de acordo entre credor e devedor,
ao prever que o disposto no capítulo atinente à recuperação extrajudicial não implicará a
impossibilidade de realização de outras modalidades de acordos privados entre o devedor e seus
credores.

Dessa forma, além do acordo celebrado e homologado nos termos da Lei 11.101/05, o
devedor poderá celebrar acordos paralelos com alguns credores.

4.2 REQUISITOS
O Artigo 161 da LFRE remete o intérprete para o Artigo 48, indicando requisitos que devem ser
preenchidos pelo devedor que pretende propor e negociar com credores plano de recuperação
extrajudicial.

Não tem direito ao instituto o devedor que...

...estiver atuando regularmente no mercado há menos de 2 anos...

...for falido...

...tiver obtido recuperação judicial há menos de 5 anos...

...tiver obtido recuperação pelo plano especial há menos de 8 anos, sendo micro ou
pequeno empresário...

...tiver, como administrador ou controlador, pessoa condenada por crime falimentar.

4.2.1 REQUISITOS SUBJETIVOS


Como requisito subjetivo, acrescentamos o fato de o devedor...

...não poder ter pendente pedido de recuperação judicial...

...ter obtido recuperação judicial ou homologação de outro plano de recuperação


extrajudicial há menos de 2 anos – Artigo 161, Parágrafo 3º da LFRE.

O professor Fábio Ulhoa Coelho afirma que...

...os requisitos subjetivos exigidos pelo Artigo 161 somente serão necessários para a
homologação do plano em juízo.

Qualquer devedor pode simplesmente procurar seus credores e tentar


encontrar, em conjunto com eles, uma saída negociada para a crise.

127
MÓDULO 4 Falência e Recuperação Judicial

4.2.2 REQUISITOS SUBJETIVOS E OBJETIVOS

Os requisitos objetivos necessários à homologação do plano de recuperação


extrajudicial referem-se ao conteúdo do plano e se encontram dispersos no
capítulo da atinente à recuperação extrajudicial.

Os dois primeiros requisitos objetivos têm previsão no Parágrafo 2º do Artigo 161 da LFRE...
§ o plano não poderá prever o pagamento antecipado de dívidas;
§ o plano não poderá contemplar tratamento desfavorável aos credores que não
estejam sujeitos ao plano.

Outro requisito objetivo diz respeito aos credores com garantia real. Conforme dispõe o Artigo
163, Parágrafo 4º da LFRE, o plano de recuperação somente poderá prever a alienação de bem
objeto de garantia real, a supressão de garantia ou sua substituição, se houver aquiescência
expressa do credor garantido.

O último requisito trata das hipóteses em que o plano abrange créditos em moeda estrangeira. O
Artigo 163, Parágrafo 5º da LFRE prevê que o credor de crédito em moeda estrangeira deve
aprovar plano que afaste a variação cambial.

4.3 CREDORES SUJEITOS


De acordo com o Artigo 163, Parágrafo 1º, in fine, da LFRE, o plano de recuperação somente poderá
abranger titulares de créditos já constituídos à data do pedido de homologação.

Poderão ser atingidos pelo plano os credores com garantia real, com privilégio especial e geral,
quirografários e subordinados.

4.4 CREDORES NÃO SUJEITOS


Existem credores que, por determinação legal, não podem participar do plano de recuperação
extrajudicial. De acordo com o Parágrafo 1o do Artigo 161 da LFRE...

...não serão atingidos pela recuperação extrajudicial os titulares de créditos de natureza


tributária, derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho,
assim como aqueles previstos nos arts. 49, §3o, e 86, inciso II do caput, desta Lei.

Esses credores não terão seus créditos atingidos pela recuperação.

A razão de o credor tributário estar excluído do regime de recuperação é que tal categoria de
crédito é disciplinada por normas de direito público.

Portanto, somente poderá ser concedida remissão mediante lei, conforme bem salienta
o professor Fábio Ulhoa.

128
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 4

Os credores identificados no Artigo 49, Parágrafo 3º da LFRE, não estão impossibilitados de


renegociar seus créditos por meio da recuperação extrajudicial. São eles...
§ o proprietário fiduciário;
§ o arrendador mercantil;
§ o vendedor ou promitente vendedor de imóvel por contrato irrevogável;
§ o vendedor titular de reserva de domínio.

Entretanto, em hipótese alguma será possível que a homologação de recuperação extrajudicial


atinja seus créditos de forma compulsória.

De acordo com o Artigo 86, Inciso II da LFRE, também não se sujeitará aos efeitos da
recuperação extrajudicial a instituição financeira credora por adiantamento ao
exportador.

4.5 HOMOLOGAÇÃO DO PLANO APROVADO


Em regra, o verdadeiro plano de recuperação extrajudicial deve ser levado à homologação judicial,
muito embora não possamos deixar de consignar o entendimento que sustenta não ser obrigatória
a fase judicial quando o plano só atingir os credores anuentes.

Dependendo de sua abrangência, o conteúdo da petição inicial do pedido


de homologação e os documentos que devem instruí-la variam.

4.5.1 PETIÇÃO INICIAL


Se o plano de recuperação extrajudicial abranger apenas os credores anuentes, a petição inicial
deve conter somente...
§ a justificativa para a concessão do benefício àquela sociedade empresária
requerente;
§ o plano em si;
§ os termos de adesão;
§ a ata da reunião em que o plano foi aprovado.

Os itens da petição inicial estão em conformidade com o Artigo 162 da LFRE.

Se o devedor pretender estender os efeitos do plano aos credores não


anuentes, por força da decisão da ampla maioria – 3/5 –, há um rigor maior.

4.5.2 ESTRUTURA DA PETIÇÃO INICIAL


Classes de credores...
De início, a petição inicial deve mencionar, claramente, quais são as classes ou os
grupos de credores que pretende atingir.

129
MÓDULO 4 Falência e Recuperação Judicial

Legalmente, os credores estão divididos em classes conforme seus privilégios – Artigo


83 da LFRE. Esses credores devem ser divididos entre credores aderentes e não
aderentes.

A lei permite ainda que os credores sejam divididos em grupos de credores de mesma
natureza e sujeitos a semelhantes condições de pagamento.

Registros contábeis...
Devem constar os registros contábeis das respectivas operações, a fim de que o juiz
possa verificar se o quórum foi atingido.

Detalhamento da situação patrimonial...


O devedor deverá expor sua situação patrimonial com detalhes, além de instruir o
pedido com a última demonstração contábil e um balanço especial, levantado na
época do pedido.

O devedor também deverá apresentar...


§ a relação completa de seus credores, indicando o endereço de cada um;
§ a natureza, a classificação, o valor e a origem de cada crédito;
§ os registros contábeis respectivos.

O procedimento em si é idêntico, isto é, esteja ou não o plano se estendendo aos credores não
aderentes. Dessa forma, recebida a petição inicial, será publicado um edital no Diário Oficial e em
jornal de grande circulação, convocando os credores para impugnarem o pedido no prazo de 30
dias.

No mesmo prazo, o devedor deverá comprovar que enviou carta registrada para seus credores
sujeitos ao plano, notificando-os da ação, das condições do plano e do prazo para impugnação.

4.6 IMPUGNAÇÃO AO PEDIDO


Segundo o Parágrafo 3º do Artigo 164 da LFRE, os credores só podem se opor ao pedido alegando...

...não preenchimento do percentual mínimo previsto no caput do Artigo 163 da lei...

...prática de qualquer dos atos previstos no Inciso III do Artigo 94 ou do Artigo 130 da lei,
ou descumprimento de requisito previsto na lei...

...descumprimento de qualquer outra exigência legal.

Apesar da limitação legal, temos visto várias impugnações com fundamentos diversos dos previstos
no citado dispositivo legal, mas que se mostraram pertinentes.

130
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 4

4.6.1 INJUSTIÇAS

Outro ponto não imaginado pelo legislador é a possibilidade de o plano


conter injustiças, como tratamentos desfavoráveis a certos credores.

Apresentada impugnação – que deverá ser processada nos autos principais –, o devedor terá o
prazo de 5 dias para se manifestar.

Não há previsão de audiência ou de diligência probatória, assim como manifestação


do Ministério Público.

Apesar disso, a manifestação do Ministério Público tem sido considerada obrigatória e,


dependendo do caso, até mesmo uma audiência ou uma providência probatória não
podem ser descartadas.

4.7 LIMITAÇÃO AOS PODERES DO JUIZ E RECURSOS


Uma vez concluídos os autos para sentença, o juiz não homologará o plano se ficar provado que
ele praticou qualquer ato fraudulento em prejuízo para os credores ou ato de falência.

O juiz também não homologará o plano se...


§ não for atingido o quórum de 3/5 dos credores sujeitos ao plano;
§ ficar comprovada qualquer irregularidade que recomende sua rejeição – Artigo
164, Parágrafo 5º da LFRE.

Em qualquer hipótese, caberá apelação da sentença, sem efeito suspensivo.

Caso o pedido seja indeferido, não há impedimento para nova apresentação do pedido,
desde que afastado o motivo que levou a sua denegação.

4.7.1 DESISTÊNCIA DA ADESÃO AO PLANO


Nos termos do Artigo 161, Parágrafo 5o, da LFRE...

...após a distribuição do pedido de homologação, os credores não poderão desistir da


adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais signatários.

O professor Fábio Ulhoa Coelho defende que não se pode fazer uma interpretação a contrario
sensu do Artigo 161, Parágrafo 5º da LFRE, de modo a sustentar que até a distribuição da
homologação do plano qualquer credor pode desistir, unilateralmente, de sua adesão.

De acordo com o professor Fábio Ulhoa Coelho...

...a anuência do devedor e de todos os credores é condição para existência, validade e


eficácia do arrependimento porque o plano de recuperação deve sempre ser considerado
em sua integralidade.

131
MÓDULO 4 Falência e Recuperação Judicial

4.7.2 EFEITOS DA HOMOLOGAÇÃO


O Artigo 165 da estabelece que o plano de recuperação extrajudicial produz
efeitos após sua homologação judicial.

É possível, contudo, que o plano disponha de forma diversa, estabelecendo a produção de efeitos
imediatos em relação à modificação do valor ou da forma de pagamento dos credores signatários.

Nessa hipótese, os credores poderão exigir seus créditos nas condições originais,
deduzindo-se os valores já pagos.

Essa exigência dos créditos ocorrerá caso o juízo a que for submetido o plano para
homologação o rejeite.

4.7.3 CUMPRIMENTO DO PLANO


O cumprimento do plano deve ser acompanhado pelos credores, não havendo supervisão do juiz
ou do membro do Ministério Público.

Se o plano envolver a venda de unidades produtivas ou de filiais, o juiz que homologar o pedido
determinará imediatamente a venda judicial, observado o Artigo 142 da LFRE.

A discussão é se a venda, nessa hipótese, será livre e desembaraçada ou se o arrematante será


considerado sucessor do devedor nas obrigações inerentes ao estabelecimento adquirido.

4.8 SÍNTESE
Acesse, no ambiente on-line, a síntese desta unidade.

UNIDADE 5 – CENÁRIO CULTURAL

5.1 FILME
Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, acesse uma
cena do filme As loucuras de Dick e Jane no CD que acompanha a apostila.

5.2 OBRA LITERÁRIA


Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, leia o texto
A luneta mágica no ambiente on-line.

5.3 OBRA DE ARTE


Para refletir um pouco mais sobre questões relacionadas ao conteúdo deste módulo, aprecie o
quadro O viajante sobre o mar de névoa no ambiente on-line.

132
Falência e Recuperação Judicial MÓDULO 5

MÓDULO 5 – ENCERRAMENTO

APRESENTAÇÃO
Na unidade 1 deste módulo, você encontrará algumas divertidas opções para testar seus
conhecimentos sobre o conteúdo desenvolvido em toda a disciplina. São elas...
§ caça-palavras;
§ palavras cruzadas;
§ forca;
§ criptograma.

A estrutura desses jogos é bem conhecida por todos.Você poderá escolher o jogo de sua preferência
ou jogar todos eles... a opção é sua! Em cada um deles você encontrará perguntas – acompanhadas
de gabaritos e comentários – por meio das quais você poderá se autoavaliar.

Já na unidade 2, é hora de falarmos sério!!!! Sabemos que o novo – e a disciplina que você
terminou de cursar enquadra-se em uma modalidade de ensino muito nova para todos nós,
brasileiros – tem de estar sujeito à crítica... a sugestões... a redefinições. Por estarmos cientes
desse processo, contamos com cada um de vocês para nos ajudar a avaliar nosso trabalho.

Então? Preparado?

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