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BRASIL COLÔNIA II
Curso de História para Enem 2020
Sumário
1. Introdução .................................................................................................................................... 3
2. O Brasil além do açúcar ............................................................................................................ 3
1.1. As drogas do sertão na região amazônica ................................................................................ 4
1.2. A pecuária ...................................................................................................................................... 5
1.3. A expansão territorial e o achamento de ouro ......................................................................... 6
3. A atividade mineradora .............................................................................................................. 9
3.1. A sociedade do ouro................................................................................................................... 11
3.2. Consequências e crise da exploração aurífera ....................................................................... 14
4. Tratados e fronteiras ................................................................................................................. 15
5. O fim do sistema colonial e as revoltas do Império Português ....................................... 17
A Revolta de Beckman (1684) .................................................................................................................... 20
Guerra dos Emboabas (1707-1709) ............................................................................................................ 20
Guerra dos Mascates (1710-1711).............................................................................................................. 21
Revolta de Vila Rica (1720) ........................................................................................................................ 21
1. INTRODUÇÃO
Olá, seja bem-vindo(a) a mais uma aula do nosso curso!
Aqui continuaremos a falar do período colonial brasileiro, agora com ênfase maior nos seguintes
pontos:
▪ Atividades econômicas voltadas para o abastecimento interno da América Portuguesa;
▪ Outras atividades extrativistas voltadas para a exportação;
▪ A atividade mineradora e a sociedade do ouro;
▪ As principais revoltas do período colonial.
E então, pronto para começar? Fique bem atento, pois tratam-se de assuntos bem
importantes para o vestibular. Bons estudos!
É o Brasil mais abastado de mantimentos que quantas terras há no mundo, porque nele se
dão os mantimentos de todas as outras. Dá-se trigo em S. Vicente em muita quantidade [...].
Dá-se também em todo o Brasil muito arroz [...] e muito milho [...]. Dão-se muitos inhames
grandes [...] e outros mais pequenos, e muitas batatas, as quais plantadas uma só vez sempre
fica a terra inçada destas. Mas o ordinário e principal mantimento do Brasil é o que se faz da
mandioca, que são umas raízes maiores que nabos e de admirável propriedade, porque se as
comem cruas, ou assadas são mortífera peçonha, mas raladas, espremidas e desfeitas em
farinha fazem delas uns bolos delgados, que cozem em uma bacia, ou alguidar, e se chamam
beijus, que é muito bom mantimento, e de fácil digestão, ou cozem a mesma farinha
mexendo-a na bacia como confeitos, e esta se a torram bem, dura mais que os beijus, e por
isso é chamada farinha de guerra, porque os índios a levam quando vão a guerra longe de
suas casas, e os marinheiros fazem dela sua matalotagem daqui para o reino.
Frei Vicente do Salvador. História do Brasil: 1500-1607. 7ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp,
1982. p. 68-69.
Figura 1 - Preparação de farinha de mandioca, por Johann Moritz Rugendas, 1835. Fonte: Biblioteca Nacional.
1.2. A PECUÁRIA
O gado bovino foi introduzido no Brasil em 1534, a partir da expedição de Martim Afonso de
Souza, na capitania de São Vicente. Aos poucos, rebanhos passaram a ser criados nos engenhos,
afinal o boi era a força motriz para os trapiches, além de realizar o transporte da produção
açucareira. Sua carne servia como alimento, enquanto o couro era utilizado na confecção de
utensílios e de peças de vestuário. Com isso, tratava-se de uma atividade voltada ao mercado
interno da Colônia.
A destruição de lavouras pelos animais levou a Coroa a portuguesa, por meio da Carta Régia
de 1701, a proibir a criação de gado em uma área de dez léguas da costa, o que resguardava os
interesses econômicos dos senhores de engenho. Partindo principalmente das capitanias da Bahia
e Pernambuco, os currais se deslocaram até a região agreste, para em seguida ganhar o sertão. Este
deslocamento se deu margeando os rios, o que levou alguns deles a alcançarem a região do
Maranhão, enquanto outros partiram rumo a Minas Gerais, guiando-se pelo Rio São Francisco.
Diferentemente da atividade açucareira, a pecuária não exigia um grande contingente de
trabalhadores ou vultuosos recursos financeiros. Geralmente as áreas de criação, denominadas de
currais, empregavam em média uma dúzia de homens livres, os chamados vaqueiros. Eles recebiam
seu pagamento em gado, um boi a cada quatro criadas durante cinco anos. Além disso, a pecuária
era extensiva, ou seja, o gado era criado solto em largos espaços de pastagem.
Ao sul da colônia, a paisagem dos pampas também se mostrou favorável à criação de bovinos,
o que fez a região se consolidar como criadora de gado para o abastecimento de outras regiões.
Figura 4 - Bandeirantes combatendo índios botocudos no interior de São Paulo, por Jean Baptiste-Debret, 1827.
Fonte: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.
Em 1627, Frei Vicente do Salvador, primeiro historiador do Brasil, observou que os domínios
portugueses permaneciam quase intocáveis no sertão, enquanto seus conquistadores se
contentavam em permanecer, como caranguejos, arranhando ao longo do mar. Contudo, vimos que
diversos elementos contribuíram para o processo de interiorização da Colônia, ou seja, para que se
desse a ocupação do interior da América Portuguesa. Relembre cada um deles:
3. A ATIVIDADE MINERADORA
A descoberta das minas na América Portuguesa demandou a organização de um rígido
aparato administrativo, pois na lógica do Antigo Regime1, todas as riquezas coloniais pertenciam à
Coroa. Em 1702 foi criada a Intendência das Minas, principal órgão de controle da exploração
aurífera e que respondia diretamente ao Conselho Ultramarino.
Eram atribuições do intendente (ou superintendente) das minas:
▪ Repartição das jazidas de ouro em lotes, denominados de datas. O descobridor da jazida tinha
direito a duas delas, enquanto uma era tida como da Coroa. As demais eram sorteadas entre
aqueles que se candidatassem para a exploração, tendo direito a datas maiores aqueles que
dispusessem de mais escravos;
▪ Fiscalização da atividade mineradora;
▪ Julgamento de casos relativos à exploração do ouro;
▪ Tributação pela exploração das jazidas: os mineradores deveriam pagar o quinto, tributo que
correspondia a um quinto (20%) de qualquer quantidade extraída do metal.
Já a capitação, que cobrava dos mineradores um valor por cada escravo utilizado na atividade
mineradora, foi implementado e suspendido em algumas ocasiões, pois forçava o pagamento
de tributos mesmo quando não era encontrado ouro. Além disso, o imposto também se
estendia para outras atividades econômicas que envolvessem escravos na região das minas,
como transporte e hospedaria. A Coroa também tentou implantar a finta, que forçava o
pagamento de 30 arrobas de ouro anuais pela população das minas, mas este sistema foi
revogado.
Julião, séc. XVIII. Fonte: Biblioteca Virtual da Câmara dos Deputados.
Figura 6 - Lavagem do cascalho por escravos no Serro Frio, por Carlos
1
Sistema político e social baseado no poder absolutista do Rei e em privilégios garantidos ao clero e à nobreza.
2
Seu nome completo era Regimento dos Superintendentes, Guardas-mores e Oficiais Deputados para Minas de Ouro.
A fiscalização foi ainda mais severa no Arraial do Tijuco 3, região onde foram descobertas
jazidas de diamantes a partir de 1729. O sistema de tributação da pedra foi semelhante ao do ouro
até 1740, quando passou a ser adotado o regime de concessão e contrato, que conferia direito de
exploração para um único contratador, desde que ele entregasse parte do produto extraído. Os
primeiros contratadores foram João Fernandes de Oliveira e Felisberto Caldeira Brant.
3
Atual cidade mineira de Diamantina.
4
Posteriormente, a vila ficou conhecida como Mariana.
Figura 8 - Escravizadas na região das Minas. Gravura de Francisco Julião, sec. XVIII. Fonte:
Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados.
O ouro adornava as Igrejas e financiava o luxo da vida de grandes senhores, mas a riqueza
era algo quase impossível para a maioria dos habitantes da região das Minas. Segundo a historiadora
Laura de Mello e Souza (2004), a sociedade mineradora era marcada pelo “falso fausto”, ou seja,
embora poucos realmente desfrutassem dos valiosos minerais extraídos da terra e dos rios,
prevalecia a visão equivocada de que a riqueza era partilhada por todos. Para a autora, essa “riqueza
enganadora” era reforçada pelas próprias autoridades coloniais, a fim de que mantivessem seu
principal objetivo: proporcionar o acúmulo de recursos pela metrópole.
Um dos aspectos da sociedade mineradora que merece destaque é a criação das irmandades
leigas, ou seja, que não eram compostas por clérigos. As ordens religiosas foram expulsas da região
das Minas em 1709, o que fez surgir diversas irmandades e confrarias devotas a algum santo, pelo
qual construíam Igrejas, organizavam festas religiosas e procissões, além de se dedicarem a
atividades assistencialistas. Podemos dizer que elas se dedicavam à organização da vida social e
religiosa na colônia, sendo, portanto, importantes instrumentos de construção de laços de
sociabilidade entre seus membros.
Algumas dessas associações eram formadas exclusivamente por escravos e mestiços, onde
era possível a expressão de sua cultura e religiosidade. No entanto, a permissividade das autoridades
metropolitanas em relação às manifestações religiosas dos cativos não era um ato de bondade, mas
uma forma de enquadrá-los em uma lógica de vigilância constante. Sendo a população da região das
Minas majoritariamente composta por escravos, era melhor para as autoridades administrativas e
religiosas que eles e os “desclassificados”, como eram chamados os homens pobres, fossem
devidamente registrados.
O Barroco mineiro
O estilo barroco se desenvolveu de maneira plena no Brasil durante o século XVIII, quando a
maioria dos artistas europeus já não mais adotavam este estilo. Vale lembrar que ele está
intimamente ligado à religião católica, expressando devoção por meio da arquitetura,
escultura e pintura. Outros edifícios laicos, como cadeias, Câmaras e chafarizes, também
apresentaram as características desse estilo.
O barroco se espalhou primeiramente nas regiões açucareiras, mas assumiu características
próprias nas Minas Gerais, onde predominou a utilização de materiais largamente disponíveis
naquela área, como a pedra-sabão e a madeira. Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e
Manoel da Costa Ataíde, conhecido como Mestre Ataíde, foram dois grandes nomes da
escultura e pintura nessa região, transmitindo grande emoção e religiosidade por meio de suas
belas obras, mas também contribuindo para a criação de uma arte que refletisse os valores e
concepções dos habitantes do Brasil.
Figura 9 - Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo (MG). Fonte: Shutterstock.
Antes de concluirmos esta sessão, é preciso que você fique atento às principais
diferenças entre a formação social verificada nas regiões de exploração aurífera daquela
existente na civilização do açúcar. Vamos lá?
Figura 10 - Oscar Pereira da Silva. Entrada para as Minas, 1920-1921, óleo sobre tela, 130 x 86 cm, Museu Paulista.
4. TRATADOS E FRONTEIRAS
Na virada do século XVIII, o Tratado de Tordesilhas passou a ser um acordo sem sentido. Jesuítas
organizaram reduções bem além dos limites da América Portuguesa, enquanto expedições partidas
de São Paulo percorreram o sertão em busca de indígenas e metais preciosos. Por fim, criadores de
gado se instalavam cada vez mais no interior do território. Como dissemos, todos esses elementos
contribuíram para o processo de ocupação do território.
Havia um grande interesse dos portugueses de controlarem a foz do rio da Prata, situada na
porção sul do continente. Como sugere o próprio nome da bacia, a região era vital para os espanhóis
para o escoamento da prata extraída das minas de Potosi (atual Bolívia), além de integrá-la aos
demais pontos do Império. Para garantir sua posse sobre o estuário do Prata, os portugueses
fundaram, em 1680, a colônia do Sacramento.
Situado em uma parcela do atual Rio Grande do Sul, outro território controverso era a região de
Sete Povos das Missões, conjunto de aldeamentos indígenas fundado por jesuítas espanhóis após
sofrerem sucessivos ataques de bandeirantes. Conforme se intensificava as disputas territoriais
entre Portugal e Espanha, a atividade missionária desenvolvida na região passou a representar um
entrave para as monarquias ibéricas.
Para assegurar o reconhecimento das fronteiras de seus domínios, Portugal se dedicou a ratificar
diversos tratados entre 1713 e 1801. Vejamos cada um deles:
❑ Primeiro Tratado de Utrecht (1713): Por meio dele, a França reconheceu o direito exclusivo
de navegação dos portugueses no Rio Amazonas, em troca do reconhecimento luso da posse
da Guiana pelos franceses. O Rio Oiapoque passou a ser o limite entre as duas colônias, o que
ratificou o pertencimento do Amapá ao território brasileiro.
❑ Segundo Tratado de Utrecht (1715): Ratificado pela Espanha, que reconhece a possessão
portuguesa da Colônia de Sacramento, na região sul do Brasil. Contudo, a validade foi limitada
diante de novos conflitos entre portugueses e espanhóis.
❑ Tratado de Badajós (1801): devolveu a Portugal grande parte do Rio Grande do Sul (Sete
Povos das Missões), mas a Espanha manteve o domínio do estuário do Prata ao afirmar sua
posse da região de Sacramento. O tratado representou o fim dos conflitos territoriais entre
portugueses e espanhóis, além de assegurar ao Brasil a maior parte de sua configuração atual.
Repare que o nosso território pós-1801 em pouco se difere do atual, a exceção da ausência do
Acre, região que seria adquirida da Bolívia por meio do Tratado de Petrópolis (1903).
Figura 12 – Tratados e Limites de Portugal ao longo dos séculos XVII e início do XVIII.
Fonte: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2008. p. 40.
Pombal se retirou do poder após a morte de D José I e a ascensão de sua filha, a rainha D.
Maria I. A nova soberana se mostrou disposta a compensar o clero conservador e os comerciantes
prejudicados pelas políticas pombalinas, mas suas mudanças não contornaram as insatisfações que
rondavam a Colônia. Uma de suas medidas teve impacto negativo entre os luso-brasileiros: o Alvará
de 1785, que extinguia manufaturas instaladas no Brasil. A decisão beneficiou principalmente os
produtores têxteis portugueses, pois agora os domínios coloniais só poderiam ser abastecidos com
os seus produtos, sem enfrentar mais a concorrência do tecido brasileiro.
As revoltas que veremos a seguir sinalizam certa decadência do Império Português, ainda que
muitas delas não confrontassem a autoridade da Coroa. Para facilitar, podemos dividir os
movimentos coloniais em duas categorias:
❑ Revoltas nativistas: Contestam a forma como os representantes da Coroa conduzem seus
negócios na América Portuguesa, como é o caso da Revolta de Vila Rica e a Revolta de
Beckman. Em outros casos, como na Guerra dos Emboabas e na Guerra dos Mascates,
verificou-se a disputa de grupos adversários pelo domínio sobre uma determinada região.
❑ Revoltas emancipacionistas: Inspiradas por ideias iluministas que rondavam a Europa no
período, buscam a separação política de Portugal. Veremos duas delas: a Inconfidência
Mineira e a Conjuração Baiana.
Figura 13 - Mapa das revoltas coloniais. Fonte: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2008.p. 40.
emboabas, Bento Coutinho, não cumpriu com a sua palavra, e todos foram exterminados. O
massacre ficou conhecido como Capão da Traição.
A fim de retomar o controle sobre seus súditos, a Coroa portuguesa criou a Capitania de São
Paulo e Minas do Ouro, separando este território da administração do Rio de Janeiro. Com isso,
novos funcionários da Coroa se instalaram nas proximidades da região das Minas, o que possibilitava
maior fiscalização do ouro encontrado e contenção das insurreições. Quanto aos paulistas
sobreviventes, muitos se dirigiram para regiões como Goiás e Mato Grosso, onde foram encontradas
novas jazidas de ouro, enquanto outros passaram a se dedicar à agricultura, voltada para o
abastecimento das áreas de exploração de metais preciosos.
Das Minas seus moradores bastava dizer [...] que é habitada de gente intratável [...] A terra
parece que evapora tumultos; a água exala motins; o ouro toca desaforos; destilam liberdade
os ares; vomitam insolências as nuvens; influem desordens os astros; o clima é tumba da paz e
berço da rebelião; a natureza anda inquieta consigo, e amotinada lá por dentro é como no
inferno.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras,
2015. p. 138.
de de Vila Rica, as elites econômicas buscaram extinguir as Casas de Fundição, local onde o ouro era
transformado em barras e dele extraído o quinto, imposto pago à Coroa.
Comandados pelo tropeiro Felipe dos Santos, os revoltosos promoveram diversos tumultos
nas ruas de Vila Rica, atual Ouro Preto, atraindo a adesão de setores populares. Não tardou para
que o conde de Assumar respondesse a altura, cercando a cidade e exterminando participantes da
insurreição. Felipe dos Santos, por sua vez, foi morto e esquartejado, sendo sua cabeça exposta em
local público. Após enfrentar tantas revoltas nas regiões auríferas, a Coroa portuguesa decidiu
reforçar a fiscalização por meio da criação da capitania de Minas Gerais, em setembro de 1720.
Em muitos vestibulares, o nome mais recorrente para tratar deste conteúdo continua a ser
Inconfidência Mineira, designação dada pela metrópole para explicitar que o movimento foi uma
traição a Coroa. Contudo, seus participantes justificavam a conjura – ou seja, a conspiração – diante
da necessidade de defenderem seus interesses, daí o movimento ser denominado como Conjuração
Mineira.
Arcadismo e Inconfidência
O Arcadismo foi um estilo literário que se desenvolveu na Europa por volta do século XVII,
no qual se observa influências das ideias iluministas em voga na época. As elites coloniais,
principalmente as oriundas da região das Minas, obtêm contato com essa literatura em
Coimbra, para onde muitos jovens eram enviados para cursarem o ensino superior.
Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto, três importantes
lideranças da Inconfidência Mineira, também se destacaram como escritores árcades na
segunda metade do século XVIII. Uma das produções mais famosas deste estilo foram as Cartas
Chilenas, que circularam anonimamente em Vila Rica em formato de panfletos, entre 1787 e
1788. Em tom satírico, o poema expunha a corrupção e desmandos do governador da capitania
de Minas Gerais, Luís da Cunha de Meneses, identificado na obra com o pseudônimo de
Fanfarrão Minésio.
Figura 16 - Igreja do Hospício de N. S. da Piedade da Bahia, por Rugendas. Fonte: Impressões Rebeldes.
Diferentemente dos conjurados das Minas, os conspiradores baianos faziam questão de que
seus posicionamentos políticos fossem conhecidos publicamente, se utilizando de adornos que os
marcavam como simpatizantes das ideias francesas. Segundo o relato de uma das autoridades era
fácil distingui-los pelas ruas de Salvador: ao se deparar com um homem “com brinquinho na orelha,
barba crescida, até o meio do queixo, com um búzio de Angola nas cadeias do relógio, este era
Francês e do partido da rebelião” (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 149).
O movimento não chegou a dar origem a um conflito com as forças militares portuguesas,
uma vez que suas lideranças logo foram delatadas. Lucas Dantas, João de Deus, Manuel Faustino e
Luís Gonzaga das Virgens – todos homens negros e pobres – foram condenados a forca pelas
autoridades da capitania, e seus corpos esquartejados e fixados em vários pontos de Salvador,
alertando para que nenhum súdito voltasse a desafiar a autoridade da Coroa. Como João de Deus e
Manuel Faustino dos Santos ocupavam os ofícios de alfaiate, o movimento ficou conhecido como
Revolta dos Alfaiates.
Figura 14 - Interior de pobres, por Joaquim Cândido Guillobel, 1812. Fonte: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.
No interior, as casas de chão batido não costumavam ter mais que dois cômodos, utilizados
para dormir, cozinhar e realizar afazeres domésticos. O mobiliário era bastante modesto: uma mesa,
poucas cadeiras e bancos, algumas caixas e baús. Para dormir, pendurava-se em redes ou se
espichava sobre uma esteira no chão.
O asseio da casa e o preparo dos alimentos ficavam a cargo das mulheres, que quando
dispunham de melhores condições, eram assessoradas por escravizadas e índios domésticos. Como
talheres e utensílios de mesa eram escassos, as refeições eram feitas com as mãos, em todas as
classes sociais. Farinha de mandioca, carne-seca, rapadura, milho e feijão são mantimentos comuns
no dia-a-dia. Nas mesas fartas dos grandes proprietários, não podiam faltar diversos tipos de doce,
sobretudo em dias de festa ou quando se recebia um ilustre visitante.
Nosso velho catolicismo, tão característico, que permite tratar os santos com uma
intimidade quase desrespeitosa, que deve parecer estranho às almas verdadeiramente
religiosas. A popularidade, entre nós, de uma santa Teresa de Lisieux – santa Teresinha –
resulta muito do caráter intimista que pode adquirir seu culto, culto amável e quase fraterno,
que se acomoda mal às cerimônias e suprime as distâncias. É o que também ocorreu com o
nosso Menino Jesus, companheiro de brinquedo das crianças [...]. Os que assistiram às festas
do Senhor Bom Jesus de Pirapora, em São Paulo, conhecem a história do Cristo que desce do
altar para sambar com o povo.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 149.
Por vezes, o alto grau de intimismo também era utilizado para coagir os santos a atenderem
as preces dos fiéis, a partir da utilização de suas imagens. Daí vem a superstição de colocar Santo
Antônio mergulhado de cabeça para baixo em copos d’água ou de cachaça, com o intuito de fazê-lo
interceder em favor de uma união matrimonial. Entre as fiéis que buscavam a fertilidade, era
recorrente tocar o órgão sexual com a imagem de São Gonçalo do Amarante.
Embora a hierarquia da Igreja e a Inquisição condenassem manifestações não-cristãs na
Colônia, o catolicismo popular era conciliado com a crença em feiticeiros, rezadeiras, benzedeiras e
adivinhos. Na verdade, alguns membros do clero faziam vista grossa às práticas sincréticas de
origem ameríndia e africana, considerando-as meios legítimos de promover a conversão de
escravizados e nativos. Os principais santos de devoção dos “homens pretos” eram Nossa Senhora
do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito, sendo a fé manifestada em amuletos, bolsas de mandinga
e imagens em estilo africano.
Para os negros escravizados, forros e livres, o sincretismo significou a formação de novas
solidariedades e identidades. Um dos momentos mais importantes das irmandades as quais muitos
pertenciam era a coroação de reis e rainhas negros, festejo que ocorria nas igrejas em meio a danças
e cantos de matriz africana. Apesar do caráter lúdico e descontraído das celebrações, os coroados
passavam a acumular responsabilidades no interior de uma determinada comunidade, que
geralmente se organizava levando em conta a origem étnica comum. No século XIX, todos os reis
passaram a ser chamados de Reis do Congo, e suas celebrações de Congadas.
LISTA DE QUESTÕES
1. (2019/Enem)
O processamento da mandioca era uma atividade já realizada pelos nativos que viviam no Brasil
antes da chegada de portugueses e africanos. Entretanto, ao longo do processo de colonização
portuguesa, a produção de farinha foi aperfeiçoada e ampliada, tornando-se lugar-comum em
todo o território da colônia portuguesa na América. Com a consolidação do comércio atlântico
em suas diferentes conexões, a farinha atravessou os mares e chegou aos mercados africanos.
BEZERRA, N. R. Escravidão, farinha e tráfico atlântico: um novo olhar sobre as relações entre o Rio de Janeiro e Benguela
(1790-1830). Disponível em: www.bn.br. Acesso em: 20 ago. 2014 (adaptado).
2. (2016/Enem)
A África Ocidental é conhecida pela dinâmica das suas mulheres comerciantes, caracterizadas
pela perícia, autonomia e mobilidade. A sua presença, que fora atestada por viajantes e por
missionários portugueses que visitaram a costa a partir do século XV, Consta também na ampla
documentação sobre a região. A literatura é rica em referências às grandes mulheres como as
vendedoras ambulantes, cujo jeito para o negócio, bem como a autonomia e mobilidade, é tão
típico da região.
HAVIK, P. Dinâmicas e assimetrias afro-atlânticas: a agência feminina e representações em mudança na Guiné (séculos XIX
e XX). In: PANTOJA, S. (Org.). Identidades, memórias e histórias em terras africanas, Brasília: LGE; Luanda: Nzila, 2006.
A abordagem realizada pelo autor sobre a vida social da África Ocidental pode ser relacionada
a uma característica marcante das cidades no Brasil escravista nos séculos XVIII e XIX, que se
observa pela
a) restrição à realização do comércio ambulante por africanos escravizados e seus
descendentes.
b) convivência entre homens e mulheres livres, de diversas origens, no pequeno comércio.
c) presença de mulheres negras no comércio de rua de diversos produtos e alimentos.
d) dissolução dos hábitos culturais trazidos do continente de origem dos escravizados.
e) entrada de imigrantes portugueses nas atividades ligadas ao pequeno comércio urbano.
3. (2016/Enem)
TEXTO I
TEXTO II
Os santos tornaram-se grandes aliados da Igreja para atrair novos devotos, pois eram
obedientes a Deus e ao poder clerical. Contando e estimulando o conhecimento sobre a vida
dos santos, a Igreja transmitia aos fiéis os ensinamentos que julgava corretos e que deviam ser
imitados por escravos que, em geral, traziam outras crenças de suas terras de origem, muito
diferentes das que preconizava a fé católica.
OLIVEIRA, A. J. Negra devoção. Revista de História da Biblioteca Nacional, n. 20, maio 2007 (adaptado)
4. (2016/Enem)
O que ocorreu na Bahia de 1798, ao contrário das outras situações de contestação política na
América portuguesa, é que o projeto que lhe era subjacente não tocou somente na condição,
ou no instrumento, da integração subordinada das colônias no império luso. Dessa feita, ao
contrário do que se deu nas Minas Gerais (1789), a sedição avançou sobre a sua decorrência.
JANCSÓ, I.; PIMENTA, J. P. Peças de um mosaico. In: MOTA, C. G. (Org.) Viagem incompleta: a experiência brasileira (1500-
2000). São Paulo: Senac, 2000.
5. (2013/Enem-PPL)
É preciso ressaltar que, de todas as capitanias brasileiras, Minas era a mais urbanizada. Não
havia ali hegemonia de um ou dois grandes centros. A região era repleta de vilas e arraiais,
grandes e pequenos, em cujas ruas muita gente circulava.
PAIVA, E. F. O ouro e as transformações na sociedade colonial. São Paulo: Atual, 1998.
As regiões da América portuguesa tiveram distintas lógicas de ocupação. Uma explicação para
a especificidade da região descrita no texto está identificada na
a) apropriação cultural diante das influências externas.
b) produção manufatureira diante do exclusivo comercial.
c) insubordinação religiosa diante da hierarquia eclesiástica.
d) fiscalização estatal diante das particularidades econômicas.
e) autonomia administrativa diante das instituições metropolitanas.
6. (2012/Enem-PPL)
Em teoria, as pessoas livres da Colônia foram enquadradas em uma hierarquia característica
do Antigo Regime. A transferência desse modelo, de sociedade de privilégios, vigente em
Portugal, teve pouco efeito prático no Brasil. Os títulos de nobreza eram ambicionados. Os
fidalgos eram raros e muita gente comum tinha pretensões à nobreza.
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: Edusp; Fundação do Desenvolvimento da Educação, 1995 (adaptado).
7. (2012/Enem)
Próximo da Igreja dedicada a São Gonçalo nos deparamos com uma impressionante multidão
que dançava ao som de suas violas. Tão logo viram o Vice-Rei, cercaram-no e o obrigaram a
dançar e pular, exercício violento e pouco apropriado tanto para sua idade quanto posição.
Tivemos nós mesmos que entrar na dança, por bem ou por mal, e não deixou de ser
interessante ver numa igreja padres, mulheres, frades, cavalheiros e escravos a dançar e pular
misturados, e a gritar a plenos pulmões “Viva São Gonçalo do Amarante”.
Barbinais, Le Gentil. Noveau Voyage autour du monde. Apud: TINHORÃO, J. R. As festas no Brasil Colonial. São Paulo: Ed.
34, 2000 (adaptado).
O viajante francês, ao descrever suas impressões sobre uma festa ocorrida em Salvador, em
1717, demonstra dificuldade em entendê-la, porque, como outras manifestações religiosas do
período colonial, ela
a) seguia os preceitos advindos da hierarquia católica romana.
b) demarcava a submissão do povo à autoridade constituída.
c) definia o pertencimento dos padres às camadas populares.
d) afirmava um sentido comunitário de partilha da devoção.
e) harmonizava as relações sociais entre escravos e senhores.
8. (2013/Enem)
Seguiam-se vinte criados custosamente vestidos e montados em soberbos cavalos; depois
destes, marchava o Embaixador do Rei do Congo magnificamente ornado de seda azul para
anunciar ao Senado que a vinda do Rei estava destinada para o dia dezesseis. Em resposta
obteve repetidas vivas do povo que concorreu alegre e admirado de tanta grandeza.
Coroação do Rei do Congo em Santo Amaro, Bahia apud DEL PRIORE, M. Festas e utopias no Brasil colonial. In: CATELLI JR,
R. Um olhar sobre as festas populares brasileiras. São Paulo: Brasiliense, 1994 (adaptado).
Originária dos tempos coloniais, as festa da Coroação do Rei do Congo evidencia um processo
de
a) exclusão social.
b) imposição religiosa.
c) acomodação política.
d) supressão simbólica.
e) ressignificação cultural.
9. (2012/Enem)
A experiência que tenho de lidar com aldeias de diversas nações me tem feito ver, que nunca
índio fez grande confiança de branco e, se isto sucede com os que estão já civilizados, como
não sucederá o mesmo com esses que estão ainda brutos.
NORONHA, M. Carta a J. Caldeira Brant. 2 jan.1751. Apud CHAIM, M. M. Aldeamentos indígenas (Goiás: 1749-1811). São
Paulo: Nobel, Brasília: INL, 1983 (adaptado).
Em 1749, ao separar-se de São Paulo, a capitania de Goiás foi governada por D. Marcos de
Noronha, que atendeu às diretrizes da política indigenista pombalina que incentivava a criação
de aldeamentos em função
a) das constantes rebeliões indígenas contra os brancos colonizadores, que ameaçavam a
produção de ouro nas regiões mineradoras.
b) da propagação de doenças originadas do contato com os colonizadores, que dizimaram boa
parte da população indígena.
c) do empenho das ordens religiosas em proteger o indígena da exploração, o que garantiu a
sua supremacia na administração colonial.
d) da política racista da Coroa Portuguesa, contrária à miscigenação, que organizava a
sociedade em uma hierarquia dominada pelos brancos.
e) da necessidade de controle dos brancos sobre a população indígena, objetivando sua
adaptação às exigências do trabalho regular.
10. (2012/Enem)
Torna-se claro que quem descobriu a África no Brasil, muito antes dos europeus, foram os
próprios africanos trazidos como escravos. E esta descoberta não se restringia apenas ao reino
linguístico, estendia-se também a outras áreas culturais, inclusive à da religião. Há razões para
pensar que os africanos, quando misturados e transportados ao Brasil, não demoraram em
perceber a existência entre si de elos culturais mais profundos.
SLENES, R. Malungu, ngoma vem! África coberta e descoberta do Brasil. Revista USP, n. 12, dez./jan./fev. 1991-92
(adaptado).
11. (2010/Enem)
Os tropeiros foram figuras decisivas na formação de vilarejos e cidades do Brasil colonial. A
palavra tropeiro vem de "tropa" que, no passado, se referia ao conjunto de homens que
transportava gado e mercadoria. Por volta do século XVIII, muita coisa era levada de um lugar
a outro no lombo de mulas. O tropeirismo acabou associado à atividade mineradora, cujo auge
foi a exploração de ouro em Minas Gerais e, mais tarde, em Goiás. A extração de pedras
preciosas também atraiu grandes contingentes populacionais para as novas áreas e, por isso,
era cada vez mais necessário dispor de alimentos e produtos básicos. A alimentação dos
tropeiros era constituída por toucinho, feijão preto, farinha, pimenta-do-reino, café, fubá e
coité (um molho de vinagre com fruto cáustico espremido). Nos pousos, os tropeiros comiam
feijão quase sem molho com pedaços de carne de sol e toucinho, que era servido com farofa e
couve picada. O feijão tropeiro é um dos pratos típicos da cozinha mineira e recebe esse nome
porque era preparado pelos cozinheiros das tropas que conduziam o gado.
Disponível em http://www.tribunadoplanalto.com.br.
Acesso em: 27 nov. 2008.
A criação do feijão tropeiro na culinária brasileira está relacionada à
a) atividade comercial exercida pelos homens que trabalhavam nas minas.
b) atividade culinária exercida pelos moradores cozinheiros que viviam nas regiões das minas.
c) atividade mercantil exercida pelos homens que transportavam gado e mercadoria.
d) atividade agropecuária exercida pelos tropeiros que necessitavam dispor de alimentos.
e) atividade mineradora exercida pelos tropeiros no auge da exploração do ouro.
12. (2010/Enem-PPL)
O alfaiate pardo João de Deus, que, na altura em que foi preso, não tinha mais do que 80 réis
e 8 filhos, declarava que "Todos os brasileiros se fizessem franceses, para viverem em
igualdade e abundância”.
MAXWELL, K. Condicionalismos da independência do Brasil. SILVA, M. N. (Org.)
O império luso–brasileiro, 1750–1822. Lisboa: Estampa, 1986.
O texto faz referência à Conjuração Baiana. No contexto da crise do sistema colonial, esse
movimento se diferenciou dos demais movimentos libertários ocorridos no Brasil por
a) defender a igualdade econômica, extinguindo a propriedade, conforme proposto nos
movimentos liberais da França napoleônica.
b) introduzir no Brasil o pensamento e o ideário liberal que moveram os revolucionários
ingleses na luta contra o absolutismo monárquico.
c) propor a instalação de um regime nos moldes da república dos Estados Unidos, sem alterar
a ordem socioeconômica escravista e latifundiária.
d) apresentar um caráter elitista burguês, uma vez que sofrera influência direta da Revolução
Francesa, propondo o sistema censitário de votação.
GABARITO
1. A 5. D 9. E
2. C 6. B 10. A
3. B 7. D 11. C
4. B 8. E 12. E