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Resenhas

LIQUID
MODERNITY

De Zygmunt Bauman
Cambridge : Polity Press, 2000. 228 p.

Por Mário Aquino Alves, Professor do


Departamento de Administração Geral e
Recursos Humanos da FGV-EAESP.
E-mail: maalves@fgvsp.br

Q uando estamos na escola, no início do apren-


dizado das ciências naturais, ensinam-nos
que são três os estados da matéria: sólido,
líquido e gasoso. Aprende-se que a distinção entre só-
uma concepção territorial de espaço, economia, iden-
tidade e política. A modernidade líquida é representa-
da pela incerteza, pelas formas flexíveis de trabalho e
organização, pela guerra de informações, pela dester-
lidos e líquidos deve-se ao grau de agregação de suas ritorialização da política e da economia (globalização)
moléculas. Devido ao arranjo interno de suas molécu- e, sobretudo, pelo processo de individualização. Para
las – uma pequena distância entre si –, os sólidos per- marcar as diferenças entre esses dois momentos,
manecem estáveis, ou seja, conseguem manter a sua Bauman analisa cinco conceitos sociais básicos e suas
forma apesar do tempo. Já os líquidos apresentam maior transformações nesse processo de liquidificação:
distância entre suas moléculas, o que resulta na sua flui- emancipação, individualidade, tempo/espaço, trabalho
dez. Essa distância intermolecular deve ser suficiente e comunidade.
para permitir a mudança permanente de posições entre A idéia de uma modernidade “liquidificando-se”
as moléculas, o que faz com que o líquido não possua pode parecer pouco original, já que, há 150 anos, Karl
forma definida própria, mas, sim, a forma do sólido Marx e Friedrich Engels (Manifesto do Partido Comu-
que o abarca. nista) já tratavam da força avassaladora da modernida-
Usando esse modelo da física como metáfora, o de (capitalismo) capaz de “derreter tudo que é sólido”,
sociólogo polonês Zygmunt Bauman analisa, em seu ou seja, os obstáculos arcaicos sob a forma das velhas
livro Liquid modernity, alguns dos pontos centrais para instituições inadequadas à nova ordem que se impu-
a compreensão do social nos dias de hoje. A obra tra- nha. Para Bauman, a diferença de sua análise em rela-
ça uma distinção entre uma modernidade sólida e uma ção aos primeiros é que, para os teóricos do materialis-
modernidade líquida. A modernidade sólida é repre- mo histórico, a força da modernidade destinava-se não
sentada pela certeza, pela forma de poder panóptico a destruir uma velha ordem sólida, mas a abrir espaço
(Foucault), pela organização taylorista fabril, pela ra- para “novos e melhores sólidos”, ou seja, uma nova
cionalidade instrumental, por empregos duradouros, por ordem social e política que partia da eliminação da

96 RAE - Revista de Administração de Empresas • Jan./Mar. 2002 RAE


São• Paulo,
v. 42 v.• 42
n. 1• •n. Jan./Mar.
1 • p. 96-102
2002
Resenhas

opressão do homem pelo homem. Já no atual momento Apesar da semelhança na análise do atual estágio
– o momento da “modernidade líquida” –, não há uma da modernidade, Liquid modernity mostra não só a
agenda política definida, um projeto acabado de socie- criatividade do autor no uso de uma metáfora clara e
dade. As forças de liquidificação do social não procu- adequada para explicar o atual estágio da modernida-
ram constituir uma ordem social estável calcada em de, mas também a diferença que Bauman apresenta
um projeto político. em relação aos seus contemporâneos, especialmente
Essa dissolução do social, porém, não é um proces- Giddens e Beck. Há uma convergência na análise que
so unidirecional, mas, sim, oscilante entre “solidifica- fazem sobre os processos que desembocaram no atu-
ção” e “liquidificação”. Tal oscilação não está relacio- al estágio da modernidade. A divergência mostra-se
nada com uma liberação da sociedade ou de seus indi- na avaliação da liquidificação da modernidade e dos
víduos. Derretem-se “sólidos” (programas econômicos, projetos políticos que devem ser construídos deste
modelos políticos, políticas sociais) para tentar moldá- momento em diante. Enquanto Anthony Giddens pre-
los de outra maneira, ainda que efêmera. ga uma reforma do Estado de forma a adaptá-lo às
Conquistar espaço em meio à fluidez dessa moder- transformações que considera positivas (o polêmico
nidade líquida passa por transpor ou mesmo destruir projeto da Terceira Via) e Ulrich Beck vê na supera-
os obstáculos herdados pela estrutura sólida anterior. ção – pela flexibilização dos contratos – do trabalho
Esses obstáculos são os limites, quer seja no sentido remunerado uma forma de emancipação, Zygmunt
físico ou simbólico: desde os territórios das nações, Bauman mostra-se pessimista e desencantado com a
com suas demarcações fronteiriças, até as barreiras ins- modernidade líquida.
titucionais das estruturas políticas que são demasiada- Para Bauman, a liquidificação imposta pelo atual es-
mente “estáticas”, produtos de ideologias rígidas que tágio da modernidade criou uma separação da liberdade
não se adaptam à nova realidade. jurídico-institucional (de jure) que não se traduz em uma
Na modernidade sólida, os indivíduos podiam es- liberdade real (de facto). A modernidade liquidificada
truturar suas vidas a partir de instituições que davam (e o processo de individualização nela embutido) possi-
os limites e os caminhos para que vivessem suas vidas. bilitou um tal desenvolvimento econômico que oferece
Segundo Bauman, agora “derreter os sólidos” tem um diversas alternativas de escolha (consumo), mas que tam-
novo significado: a liquidificação dos laços que conec- bém gerou uma separação entre uma elite com grande
tam escolhas individuais a projetos e ações coletivas. capacidade de consumo e uma massa de não consumi-
Os padrões, os códigos e as regras de significação do dores. Nas palavras do autor, o processo de individua-
social, ou seja, os pontos de orientação, não estão mais lização “separa seres humanos e promove uma compe-
ao alcance direto dos indivíduos, mas se encontram tição sangrenta, ao invés de unificar uma condição hu-
sobre formas liquidificadas e adquiriram uma fluidez mana capaz de gerar cooperação e solidariedade” (p.
que os tornam intangíveis. Vive-se, portanto, um pro- 90). Se o temor dos autores da Teoria Crítica (Adorno,
cesso de individualização, pelo qual os indivíduos se Horkheimer e Marcuse) era que a modernidade criasse
tornam unicamente vinculados a si mesmos e ao tem- as condições para que uma esfera pública autoritária,
po presente. calcada na racionalidade instrumental, sufocasse os in-
Bauman, radicado há 30 anos na Inglaterra e pro- divíduos, a modernidade líquida criou as condições para
fessor da Universidade de Leeds, segue um debate que a “colonização” da esfera pública pela esfera privada
se estabeleceu sobre a questão da modernidade, prin- que acabou por anular as duas.
cipalmente entre autores como Anthony Giddens, Scott O projeto emancipatório de uma nova Teoria Críti-
Lash, Richard Sennett e Ulrich Beck. Deste último, ca demanda, na visão de Bauman, uma defesa da esfe-
aliás, Bauman utilizou as distinções de “primeira mo- ra pública contra o processo de colonização pela esfe-
dernidade” e “segunda modernidade” (Risk society: ra privada, não em nome de um projeto coletivo, mas,
towards a new modernity, Sage, 1992) para criar as sim, para garantir uma efetiva liberdade individual.
distinções entre modernidade sólida e modernidade lí- Liquid modernity é a extensão do pensamento de
quida. A modernidade líquida é equivalente ao perío- Zygmunt Bauman que vem sendo desenvolvido em li-
do de segunda modernidade, descrito por Beck como vros como Globalization: the human consequences
um processo pelo qual “a modernidade se volta sobre (Polity Press, 1998) e In search of politics (Polity Press,
si mesma”, gerando conseqüências como a crise eco- 1999). Trata-se de uma obra cuja leitura é importante
lógica, a individualização acelerada e a flexibilização para aqueles que procuram compreender as forças que
das relações humanas, especialmente no mundo do tra- estão tornando a nossa existência mais flexível, mas,
balho – processo a que chamou de “brasilianização”. simultaneamente, insegura e incerta. 

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©2002, v. 42- Revista
• n. 1de •Administração
Jan./Mar. 2002
de Empresas/FGV-EAESP, São Paulo, Brasil. 97

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