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gostaria de deter-me naquela que me configuração; foi o instrumento para o


HILSDORF, Maria Lúcia Spedo. parece central e a mais rica de conse- uso social de uma ordem de represen-
História da educação brasileira: qüências. Não se observa a história in- tações determinada.
leituras. São Paulo: Pioneira terna da escola brasileira sem mostrar Por todos os seus espaços, a esco-
Thomson Learning, 2003, 135p. que certo tipo de poder foi exercido pe- la brasileira esteve ligada às iniciativas
las instituições, projetos, decretos e pe- de modificação dos circuitos de circu-
los desejos de controle social da cultu- lação de modelos culturais. Ela aparece
Maria Lúcia Hilsdorf, professora ra; e que ainda é esse poder, por sempre integrada a uma estratégia de
da Universidade de São Paulo, narra transformações sucessivas, que garante regularização, de normalização, de as-
com uma voz forte e precisa suas leitu- as funções da ordem pública, interroga sistência, de habilitação e de vigilância
ras sobre a história da educação brasi- as práticas educativas e questiona as das crianças. A escola foi reiteradas ve-
leira. Ela o fez em formato de manual conquistas políticas. Não se observa a zes organizada como um dispositivo de
didático, por isso, História da educa- atuação dos aparelhos escolares, sejam controle do corpo político da socieda-
ção brasileira: leituras dissolve-se no os colégios jesuítas, os grupos escola- de, embora muito mais aparentada com
percurso que vai da catequese jesuíta e res ou as escolas públicas atuais, sem um campo intermitente de disputas.
colonização até a escola brasileira de estudar as formas de dominação cultu- Evasão, políticas de reforma, exclusão,
hoje. A periodização que divide os ca- ral praticadas pelos centros de decisão reprovação, processos de proletariza-
pítulos é própria e, sobretudo, capaz de que os organizaram. Mais que isso, são ção profissional, privatização da edu-
identificar a pluralidade de perspecti- as formas de domínio que estabelece- cação comparecem na narrativa que
vas presente na historiografia recente ram abertamente, propagando, espa- conta a história dessa ambigüidade do
de cada período. lhando, difundindo pelos mil canais es- funcionamento do sistema escolar no
A obra de Hilsdorf realiza a arti- pecíficos do exame, da avaliação, da Brasil.
culação dos resultados de diferentes seleção, da vigilância, da disciplina e, Portanto, não se deve valorizar o
pesquisas, não apenas permitindo o enfim, do sistema de ensino, áreas de papel do Estado e suas célebres mano-
confronto de interpretações divergentes exclusão. bras na história das relações escola–
mas ensaiando interpretações acerca da No interior dessa compreensão, sociedade. Talvez suas formas insolen-
organização escolar implementada pela Hilsdorf interpreta a história da educa- tes e demasiado visíveis tenham
ação do poder público, das instituições ção brasileira por três protocolos de obliterado da historiografia todo um
religiosas ou das diferentes leitura. funcionamento interno da escola. É an-
agremiações políticas e da cultura es- A relação escola–sociedade não tes a omissão da União, entre 1827 e
colar produzida pela escola brasileira se define politicamente nas repartições 1946, no planejamento das diretrizes
nesse período. Na realidade, os circui- públicas de governo, mas na difícil ta- da instrução primária, o sinal que aqui-
tos da institucionalização escolar, da refa de apropriação, no cotidiano das lo que sempre se suspeitou de violência
estruturação dos sistemas públicos de práticas escolares, “das conflituosas e de arbitrário no sistema público de
ensino ou de circulação dos saberes pe- forças sócio-culturais nas quais está ensino brasileiro incide de forma muito
dagógicos, ainda que eles passem pelo inserida” (p. VIII). Sem dúvida, um generalizada, muito mais intrínseca e
Estado, pela família, pelos docentes, dos principais cuidados dos responsá- ininterrupta, muito mais difusa em toda
pelas associações políticas, profissio- veis pela colonização brasileira foi o a trama educacional constituída na so-
nais ou filantrópicas tomam, no interior de fazer-se reconhecer em meio adver- ciedade brasileira. Inversamente, a es-
da análise, apoio nos fatores externos so. Foi assim com as missões e os co- cola foi essencial como peça de educa-
da política, da economia, da sociedade légios jesuítas, com as reformas ção, moralização, disciplina e controle:
e das mentalidades. Em suma, crítica e pombalinas e com a obra joanina, mas justificou as mais diversas pretensões
problematização são utilizadas para também depois da Independência, com de intervir permanentemente na socie-
apresentar o complexo político- a construção da ordem social feita sob dade. Foi a saída política mais eficiente
administrativo que originou a organiza- o período imperial e com a oferta para produzir áreas de exclusão, para
ção escolar brasileira. antecipatória organizada pelo projeto reservar direitos.
O trabalho de Maria Lúcia educacional republicano: esforço reite- Ao operar essa leitura, Hilsdorf
Hilsdorf, no entanto, é muito mais do rado de fazer das realizações no campo esclarece um certo número de pontos
que isso. De todas as sistematizações e escolar uma conquista social. A escola fundamentais. Ela permite ter-se a di-
relações importantes que ela lança, foi antes de tudo encarregada de uma mensão de um fato essencial: a tradi-

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cional dicotomia ensino das elites/ensi- real e simbólico – a um projeto político gurações que teve ao longo da história.
no popular. Desde a visão quinhentista geral. Então, uma pergunta é formulada Ela se serve dos vestígios históricos
de mundo dos jesuítas até o nacional- em termos mais difíceis: Por quais pro- dessas relações, que foram também
desenvolvimentismo da Era Juscelino cessos a expansão da educação escolar disputas políticas, para fazer aparecer a
Kubitschek fez-se da divisão dos traba- refluiu perante às necessidades de for- tessitura social que fez da educação um
lhos educativos entre as populações mação das condições de acesso por “bem público” provido pelo Estado.
dominadas social, econômica ou politi- parte da população a uma opinião so- Porém, de fato, mostra como numero-
camente e os setores dominantes um cialmente distintiva e qualificada? sos mecanismos e diversas manobras
ponto de rearticulação dos padrões cul- Uma viragem significativa vem as- atuaram apesar do Estado, nos seus
turais e pedagógicos das instituições sociada aos princípios consagrados pe- interstícios ou nas suas margens, se-
escolares. Diversas instâncias parece- las Leis de Diretrizes e Bases de 1961 gundo modalidades heterogêneas às
ram mobilizadas para atender as dife- e de 1996: os diferentes movimentos políticas públicas, e em função de um
rentes necessidades ou possibilidades que essas legislações inauguraram pos- objetivo que não o do interesse geral.
de educação que se imaginavam indis- sibilitaram que o mercado viesse pro- Todo um regime privatista estabeleceu-
pensáveis no interior da sociedade bra- gressivamente decidir “os rumos da se em educação, com efeitos de desres-
sileira: colégios, aulas régias, ensino educação nacional segundo os seus ponsabilização, de omissão e de desre-
secundário e superior, por um lado; e próprios critérios, os quais já foram de- gulamentação do poder público como
os recolhimentos, as aulas avulsas, o nunciados exaustivamente como não provedor desse bem público.
ensino primário, a escolarização técnico- representativos dos interesses gerais da Hilsdorf é demasiadamente atenta
profissional e as escolas de ensino no- nação” (p. 134). O que há de importan- às realidades para reduzir o que há dis-
turno, por outro lado, demarcaram te e de forte nessa resposta de Hilsdorf so tudo na política neoliberal do gover-
condições específicas de ensino- é ter descrito que a organização pública no que passou e rebatê-la sobre o fato
aprendizagem de acordo com o hori- do sistema de ensino refluiu sob um bruto de suas origens. Mas ela se serve
zonte social de origem da criança, dos modelo de escolarização impeditivo da da história para decifrar a atualidade,
jovens ou dos adultos. implementação adequada de uma infra- avaliar suas possibilidades e indicar os
Fica notável que essa importante estrutura capaz de fazer das estratégias perigos políticos. Daí uma última ob-
dicotomia, criticada a tanto tempo, de educação das classes populares uma servação. Ela se serve da história tam-
manteve-se por mais de um século sob instância do acesso à esfera pública, bém para demonstrar que os circuitos
um princípio comum: desde a organi- numa nítida inversão da orientação da escolarização, da educação ou da
zação dos primeiros grupos escolares, a construída no período Vargas para aculturação, ainda que se instituciona-
partir da década de 1870, até a organi- atender essa parcela da população es- lizem por meio dos regulamentos e da
zação do ciclo básico no ensino colar. legislação, somente se efetivam por
paulista ou a criação dos Centros Inte- A maneira pela qual a autora faz meio do conjunto de práticas, de inicia-
grados de Educação Pública (CIEP), no ver como certo número de problemas tivas e de manobras no qual confirmam
Rio de Janeiro, e dos Centros Educa- no funcionamento no sistema escolar a regularidade e a ordem das represen-
cionais Unificados (CEU), atualmente brasileiro remete a uma história relati- tações vigentes na realidade social de
na cidade de São Paulo, são diversos os vamente longínqua é uma história da- uma cultura.
exemplos de serviços organizados na quilo que foi a forma de enunciá-los. Todos esses esclarecimentos indi-
tentativa de controlar a influência das Mais especificamente, a autora reduz cam que o conjunto de práticas e enun-
carências materiais dos alunos. Tal os limites da sua narrativa para propor ciados relativos à educação, e que de
inércia das instituições escolares ou ta- um ponto de vista aberto, múltiplo, ma- fato a constituem, está longe de se rela-
manha persistência das políticas públi- croscópico que, em vez de uma história cionar com um único objeto, de o ter
cas seria mal compreendida caso a edu- evolutiva da educação brasileira, des- formado de uma vez por todas e de
cação escolar não tivesse sido creve as relações de poder que foram conservá-lo perpetuamente como seu
associada à idéia de opinião pública. exercidas sobre a escola e que a escola tipo ideal. O objeto que é colocado
Presunçosamente necessária para dar exerceu sobre outras instituições. A re- como seu correlato pelas autoridades
fundamento real ao acesso ao juízo que flexão sobre os problemas enfrentados eclesiásticas dos séculos XVII e XVIII
se expressa, numa democracia, me- pela constituição do campo educacio- não é idêntico ao objeto que se delineia
diante o sufrágio universal, a escola é nal é feita por meio das realizações através da esfera pública freqüentada
uma peça indispensável – por seu papel perpetradas pelas mais diversas confi- pelas parcelas ilustradas da sociedade

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portuguesa ou das medidas sulcada de violência, arrebatada às ve- orientações teóricas que apresentam.
pombalinas. Da mesma forma, todos os zes por turbilhões, atravessadas por Cada capítulo traz uma bibliografia es-
objetos do discurso educacional foram tensões que de tempos em tempos faz pecífica rigorosamente organizada em
modificados no decorrer da história dessa peça essencial da iniciação ao função da periodização elegida. É um
que Hilsdorf repensa entre a primeira discurso articulado e geral sobre o livro útil pelas referências que sistema-
legislatura brasileira (1826-1827) e as mundo um possível lugar de satisfação tiza, mas sobretudo, pela competência
discussões acerca da Lei de Diretrizes para todos – reformadores, professores, didática com que integra as diferentes
e Bases em 1961 ou 1996: não é abso- parentes e sobretudo alunos. Maria Lú- perspectivas da historiografia e suas
lutamente a mesma escola, a mesma cia Hilsdorf, nesse livro, revira a possi- problemáticas ao repertório histórico
educação, o que está em questão aqui e bilidade. Ela faz perceber que é a esco- com que escolheu trabalhar.
ali – seja porque o código de percepção la que depende da possibilidade de Assim, nesse livro ficam regis-
e as estratégias de intervenção muda- satisfação de todos, isto é, da satisfa- trados tanto alguns dos modos de pen-
ram, seja porque as designações da cul- ção do interesse geral. Disso resultou, sar quanto muitas das formas de escre-
tura e sua formação geral não obede- em sua própria realidade, a arquitetura ver as histórias da educação brasileira.
cem mais aos mesmos critérios ou da síntese ora editada pela Pioneira Por conta disso, é possível que a obra
porque o discurso educacional, sua Thomson Learning. de Maria Lúcia Hilsdorf valha como
função, as práticas nas quais ele está Quanto à plêiade de especialistas um manual, talvez como uma indica-
investido e que o sancionam, as rela- mobilizados por Hilsdorf para opera- ção: ela ensina a ler não apenas os re-
ções que ele mantém com os estudan- cionalizar suas análises cabe apontar a gulamentos e as leis de uma prática,
tes foram modificados. heterogeneidade. Tratam-se, por um mas o funcionamento dos sistemas
Poderia dizer que História da lado, de autores tradicionalmente tra- educativos no contexto cultural de
educação brasileira: leituras fez-me balhados na historiografia da educação uma sociedade.
pensar sobretudo nas modificações do e de pesquisas recentemente concluídas
léxico educacional, como ainda exis- nos programas de pós-graduação e, por André Luiz Paulilo
tem, nas reformas atuais, em certos de- outro lado, de historiadores, de histo- Doutorando na Faculdade de
partamentos de educação governamen- riadoras, de sociólogas e de sociólogos Educação da Universidade de São Paulo
tais: há uma suavidade da escola reunidos num texto sensível às diversas E-mail: paulilo@usp.br

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