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1. HISTÓRIA DO CONCEITO
Kreaplin (1899): Este médico fazia registos clínicos muito precisos, pelo que percebeu que
estavam alienados, pois tinham uma deterioração no inicio da vida, que se mantinha.
Chamou a este fenómeno “dementia praecox” = demência precoce. Percebeu ainda que
existiam doentes que apenas estavam alienados ciclicamente, aos quais diagnosticou
demência maníaco-depressiva.
Bleuler (1908-1911): percebeu que nas pessoas com demência precoce existia, ao mesmo
tempo, uma dimensão doente e uma saudável, pelo que a descreveu como esquizofrenia
(schizo = cisão + phrenia = pensamento). Descreveu como principais sintomas desta
perturbação os 4 A’s de Bleuler:
Associações (saltar de umas ideias para as outras)
Afeto (ausência de ressonância afetiva)
Autismo
Ambivalência (coexistência de afetas, pensamentos e comportamentos contraditórios).
2. GENERALIDADES
É uma doença mental crónica com inicio da idade adulta jovem. Apresenta diferentes formas
de inicio, estado e evolução, mas geralmente depois da doença eclodir há uma deterioração
de funcionamento em relação ao prévio.
3. EPIDEMIOLOGIA
Prevalência: 0,5 – 1%
Incidência: 0,1 – 0,7 / 100.000 / 6 meses
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4. ETIOPATOGENIA
São várias as teorias que tentam explicar a origem e fisiopatologia da esquizofrenia, mas o
mecanismo etiológico continua por esclarecer. A tabela seguinte resume as várias hipóteses
colocadas até hoje, umas mais aceites que outras.
Fatores socioculturais:
Há autores que defendem que esta síndrome é mais prevalente em grupos com piores
condições socioeconómicas e eventos de vida desfavoráveis.
Sexo:
O rácio homem:mulher é de 1,4:1 e o inicio é mais precoce nos homens, pelo que se pensa
que os estrogénios possam ter um papel protetor na mulher.
Hereditariedade:
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100% (gémeos monozigóticos), o risco do gémeo não esquizofrénico vir a desenvolver a
doença é de 48%, sendo que à medida que a proximidade genética diminui, também o risco
diminui. Assim, é possível inferir que a genética é importante, mas não é determinante,
existindo outros fatores que contribuem para o aparecimento da doença.
Têm-se realizado vários estudos com o intuito de determinar quais as regiões cromossomais
associadas ao desenvolvimento de esquizofrenia. Foi demonstrada a existência de múltiplas
áreas associadas (43 genes já identificados), não se podendo atribuir um gene único à
doença, mas o efeito aditivo de vários genes e fatores externos, o que corrobora os achados
prévios que defendiam que a genética não é um fator determinante. Assim, foi criado um
modelo de vulnerabilidade (“Liability-Threshold”), que defende que os familiares de
esquizofrénicos têm uma vulnerabilidade aumentada, não só para esquizofrenia, mas para
um espetro de doenças, nomeadamente psicoses não-afetivas, psicose esquizoafetiva e
perturbação esquizotípica da personalidade.
Fatores perinatais:
Vários estudos demonstraram um risco maior para os indivíduos nascidos entre Fevereiro e
Abril, com correspondência no Hemisfério Sul. Tem-se colocado a hipótese de risco
aumentado em caso de infeção maternal por Influenza durante a gravidez. Os genes que
conferem vulnerabilidade para a esquizofrenia estão diretamente implicados no ciclo de
vida de diversos vírus como CMV, Influenza, Herpes Simplex, rubéola e Toxoplasma gondi.
Outra hipótese é a de que os traumatismos obstétricos, por exemplo na sequência de um
parto distócico, poderiam predispor a um maior risco para desenvolvimento de
esquizofrenia, uma vez que a expressão dos genes de vulnerabilidade para esta doença é
sensível à ação da hipoxia.
Estudos indicam que a idade paternal é um fator que também pode estar relacionado com
o aparecimento de esquizofrenia, principalmente se existir história de psicose na família.
Uma meta-análise estimou um risco acrescido para pais com mais de 50 anos, quando
comparados com pais com 25-29 anos.
Consumo de canabinóides:
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Estudos indicam que indivíduos que consomem cannabis durante a adolescência têm um
risco superior de desenvolver esquizofrenia. Este risco vai depender dos polimorfismos que
os jovens tiverem no gene COMT, que codifica uma enzima envolvida no metabolismo das
monoaminas cerebrais. Assim, adolescentes com o polimorfismo Val/Val e que consomem
cannabis, têm maior risco enquanto que quem tem o polimorfismo Met/Met tem um risco
baixo.
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Efetores neurobiológicos
A dopamina é um neurotransmissor libertado quando há uma novidade ou quando se
observa algo interessante, após uma boa refeição ou prática de exercício físico. Há evidência
científica de que os estímulos considerados relevantes para a libertação de dopamina são
distintos nos esquizofrénicos e não esquizofrénicos. Estudos recentes mostram que, nestes
doentes, existe um aumento da síntese de dopamina no estriado, além de um aumento da
síntese e ocupação dos recetores D2. Assim, crê-se que este neurotransmissor está envolvido
na fisiopatologia da doença, daí que os fármacos utilizados no tratamento da esquizofrenia
bloqueiem os recetores de dopamina (pós-sinapticamente) provoquem uma melhoria nos
sintomas psicóticos, enquanto que fármacos libertadores de dopamina (anfetamina) os
agravam. Os recetores envolvidos na etiologia da doença são os pertencentes à via meso-
córtico-límbica, no entanto, recetores dopaminérgicos de outras vias são também afetados,
nomeadamente os da via nigro-estriada, causando um parkinsonismo iatrogénico, e os da
via tuberoinfudibular, que causam um aumento da prolactina e consequente galactorreia,
amenorreia e diminuição da líbido.
No entanto, fármacos bloqueadores dos recetores D2 não provocam melhorias dos sintomas
cognitivos apresentados por estes doentes, pelo que a “hipótese da dopamina” não
esclarece o aparecimento destes sintomas. Assim, para complementar esta teoria surge a
“hipótese do glutamato”. Num estudo, voluntários saudáveis foram medicados com baixas
doses de antagonistas dos recetores de glutamato do tipo NMDA, como Ketamina,
manifestando alguns aspetos de esquizofrenia – défices de atenção e memoria. Por outro
lado, agentes que modulam o local modulador da glicina no recetor de NMDA mostraram
reduzir alguns sintomas cognitivos da doença. Esta hipótese defende que os sintomas
cognitivos da esquizofrenia podem resultar de uma baixa atividade do recetor NMDA no
interneurónios GABA inibitórios do córtex pre-frontal.
5. ESTADIOS DA DOENÇA
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3º: Estado de Psicose Ativa
Curso
6. FORMAS DE INÍCIO
A esquizofrenia pode ter um inicio insidioso ou abrupto. O inicio insidioso é mais típico em
jovens do sexo masculino e pode associar-se à perturbação esquizotípica da personalidade.
Caracteriza-se por um isolamento social progressivo, com diminuição do rendimento
escolar, comportamentos pouco adequados ou bizarros, preocupações
filosóficas/metafísicas e frieza afetiva nas relações. Por outro lado, a forma abrupta pode
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estar mais relacionada com fatores psicogéneos. Este inicio caracteriza-se por
ansiedade/disforia, perplexidade, despersonalização, atividade delirante polimorfa e
agitação psicomotora.
7. QUADRO CLÍNICO
Quanto à forma:
Afrouxamento de associações
Incapacidade de filtrar linhas de pensamento (hiperinclusão)
Manipulação de conceitos/símbolos desligada da realidade (pensamento ilógico)
Dificuldade em lidar com o abstrato (pensamento concreto)
No discurso pode evidenciar-se:
o Pseudoprofundidade/pobreza conceptual/discurso vago
o Neologismos
o Tangencialidade ou descarrilamento (falta de foco)
o Desagregação (pensamento constituído por fragmentos soltos de ideias)
o Incoerência
Podemos ter ilusões ou alucinações. Nas ilusões existe a perceção de um objeto deformado
enquanto qua nas alucinações existe perceção sem objeto. As alucinações podem ser:
Auditivas elementares (ruídos, zumbidos)
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Auditivas verbais (vozes de comando, pensamento falado, vozes na 3ª pessoa, vozes que
comentam as ações do doente)
Visuais (são raras, ocorrendo mais frequentemente em perturbações orgânicas, no
entanto podem estar presentes na esquizofrenia, geralmente acompanhadas de outro
tipo de alucinações como táteis, olfatórias, gustativas)
Cenestésicas (individuo sente os seus órgãos)
Cinestésicas (alucinações de movimento)
7.6. Outros
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8. CATEGORIAS
Em 1985, Crow propôs uma outra divisão da esquizofrenia em subtipos, com base em fatores
clínicos e neurobiológicos:
9. EVOLUÇÃO
A evolução é muito variável de estudo para estudo mas parece ser menos má que aquilo
que é inicialmente previsível.
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10. CLASSIFICAÇÃO
A. 2 ou mais dos seguintes, cada um presente durante pelo menos 1 mês. Pelo menos 1
tem que ser o 1, o 2 ou o 3:
1. Delírios
2. Alucinações
3. Discurso desorganizado
4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatónico
5. Sintomas negativos
B. Nível de funcionamento comprometido em pelo menos um domínio (ex: emprego,
relações) por um intervalo significativo de tempo. Se o inicio começa na infância ou
adolescência, o doente não consegue atingir o nível de funcionamento esperado.
C. Sinais contínuos de distúrbio durante pelo menos 6 meses, em que pelo menos 1 destes
meses cumpre o critério A.
D. O paciente não cumpre os critérios para perturbação esquizoafetiva ou para
perturbação do humor com sintomas psicóticos.
E. Estes sintomas não são atribuíveis nem ao consumo de substâncias nem a outras
condições médicas.
F. Se existe história de perturbação do espetro do autismo, o diagnóstico de esquizofrenia
só é feito se existirem alucinações ou delírios proeminentes durante pelo menos 1 mês,
além de outros sintomas de esquizofrenia.
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Critérios de esquizofrenia segundo a ICD-10:
11. PROGNÓSTICO
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12. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Exemplos:
Delirium (alucinações visuais e delírios persecutórios)
Quadros orgânicos crónicos (demência)
Tumores cerebrais
Perturbações psicóticas relacionadas com o consumo de substâncias:
Têm um inicio súbito, sendo que o quadro se desenvolve em menos de 2 semanas. O inicio
pode estar associado a um stress agudo. Os sintomas psicóticos são exuberantes,
polimórficos e, por vezes, com presença de “perplexidade”, mas sem sintomas negativos.
Sintomas afetivos podem estar presentes (depressão, euforia, ansiedade, irritabilidade). A
recuperação do funcionamento pré-mórbido ocorre em poucas semanas ou até 2-3 meses.
Os sintomas não podem ser atribuíveis a outra entidade psiquiátrica, ao consumo de
substâncias ou a outra condição médica.
Perturbação esquizoafetiva
Perturbação delirante
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Risperidona: 4-8 mg/d
Olanzapina: 15-20 mg/d
Aripiprazol: 10-30 mg/d
Ziprazidona: 120-160 mg/d
A intervenção psicoterapêutica deve englobar não só o doente, mas também a sua família,
pois são o seu suporte e esta perturbação pode causar grandes impactos no agregado
familiar. Assim, é recomendado que a família tenha uma psico-educação sobre a doença.
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13.3. Intervenção psicossocial
Treino de cognição social: O objetivo é intervir nos componentes cognitivos que subjazem à
interação social (perceção das emoções, perceção social, teoria da mente e estilo atributivo),
com vista a melhorar o funcionamento social. Por outras palavras, ajuda o indivíduo a
interpretar os sinais do ambiente de uma forma menos desajustada.
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A esquizofrenia é uma doença do cérebro, crónica e grave. As intervenções farmacológicas
e psicossociais nos estádios iniciais da doença procuram controlar os sintomas e prevenir
recaídas. A remissão dos sintomas previne a deterioração e as incapacidades associadas.
Mesmo nos estádios mais avançados da doença, quando os sintomas são crónicos e as
incapacidades se instalaram, as intervenções psicossociais podem promover a recuperação
em vários domínios funcionais.
Muitas vezes o primeiro surto ocorre no fim da adolescência ou no início da idade de jovem
adulto e implica mudanças no estilo de vida naquela que é uma fase importante na definição
de um projeto de vida.
A psicose acarreta um elevado impacto social: estigma, rutura da rede social, rutura do
projeto de vida, corte com as rotinas do dia-a-dia e, além de tudo isto, os sintomas negativos
acentuam a incapacidade ao nível das atividades da vida diária. Mais de 40% dos casos
adquire défice no funcionamento psicossocial. Apenas 10% das pessoas com doença mental
grave aufere tratamentos psicossociais, e destas, apenas uma pequena percentagem usufrui
de tratamentos psicossociais baseados na evidência científica.
A fase de recuperação é
a mais longa, podendo
durar até 5 anos. O
objetivo é que não
ocorram mais surtos ou
sintomas da doença.
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O gráfico abaixo demonstra a evolução 5 anos após o diagnóstico de esquizofrenia. Na maior
parte dos casos o que acontece efetivamente é um aumento da incapacidade com uma
evolução deficitária da doença. Quanto mais recaídas ocorrem desde o primeiro surto, maior
o grau de incapacidade, pois é cada vez mais difícil recuperar o limiar pré-mórbido e o limiar
de recaída aumenta. A partir do terceiro surto considera-se que a doença durará
indefinidamente e com elevada probabilidade de evolução deficitária, que é o que acontece
mais frequentemente (43% dos casos). Atualmente pretende-se atuar logo no primeiro
surto e instituir tratamentos psicossociais para impedir a instalação dos sintomas negativos.
Requer um tratamento integrado - psicossocial e farmacológico. Assim, nos primeiros 3
meses após recaída devemos acompanhar o doente e, só após 6-12 meses é que o
aconselhamos a voltar ao seu projeto de vida, de modo a diminuir o seu nível de stress.
14.2. Recuperação
Obstáculos à recuperação:
Sintomas positivos resistentes ao tratamento
Consumo de substancias psicoativas
Défices cognitivos
Dificuldades gerais de reinserção social (ex: estigma)
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Recovery: processo de tratamento e transformação de uma pessoa com incapacidade
permitindo-lhe uma vida com significado, na comunidade, de acordo com as suas escolhas,
alcançando todo o seu potencial humano e pessoalidade (pessoa adquire um sentido de
existência mais elevado comparativamente ao que tinha previamente à doença). Este
processo tem implicações práticas, tais como:
Foco em lidar com as dificuldades do quotidiano
Intervenções centradas nas necessidades dos pacientes e das famílias
Participação e escolha dos utentes
Ir além de regular sintomas (perspetiva global da pessoa)
Tratamentos baseados na evidência científica.
Terapia cognitivo-comportamental
Distinta da TCC que se aplica nas perturbações da ansiedade e depressão. É útil na resolução
de sintomas negativos e comorbilidades, mas a sua principal vantagem é no tratamento de
ideias delirantes em doentes resistentes ao tratamento farmacológico, nomeadamente com
fármacos já de última linha como a Clozapina. Algumas técnicas consistem na realização de
“testes da realidade”, ou seja, experiências comportamentais com o intuito de depois
integrá-las nos delírios e alucinações, com o objetivo de os doentes ganharem insight.
Segundo as guidelines NICE devem ser realizadas pelo menos 16 sessões.
Intervenções familiares
Têm o intuito de diminuir a emoção expressa. Promovem uma redução do risco de recaída
a 2 anos de 20-30%.
Emprego apoiado
Realização de protocolos com empresas de maneira a facilitar a inserção dos doentes e
conferir-lhes alguma proteção. É-lhes indicado um tutor no local de trabalho e têm algumas
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regalias, como uma menor carga horária, dispensa para irem às consultas, etc. As empresas
têm benefícios fiscais por aderirem.
Aos doentes com esquizofrenia que realizem tratamentos psicossociais deve ser atribuído
um terapeuta de referência (case manager), que é uma pessoa da equipa multidisciplinar
cuja função é:
Avaliar as necessidades
Elaborar o plano individual de reabilitação (PIR)
Garantir que o paciente usufrui dos tratamentos de que precisa
Promove uma relação terapêutica privilegiada e aumenta a acessibilidade em risco de
recaída.
Existem muitos serviços onde o doente pode usufruir destes tratamentos psicossociais,
nomeadamente, hospitais de dia, unidades comunitárias de treino de autonomia, fóruns
sócio-ocupacionais, unidades residenciais e club-houses.
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14.5. Novos tratamentos psicossociais
AVATAR Therapy
Este método é utilizado para diminuir as alucinações auditivo-verbais resistentes à
terapêutica farmacológica. Com recurso a técnicas de inteligência artificial, o doente é
convidado a construir uma imagem que represente a sua alucinação auditivo-verbal,
externalizando-a. Constrói uma face e é criada uma voz, permitindo ao doente dialogar com
a sua alucinação, neste caso, o AVATAR, que é controlado pelo terapeuta. Este diálogo faz
com que estes doentes deixem de ter alucinações em 5/6 sessões ou, pelo menos, que
ganhem poder sobre as suas alucinações, que deixam, deste modo, de ser malevolentes e
omnipotentes. Note-se que o doente está a par do procedimento, tendo conhecimento que
o AVATAR é controlado pelo terapeuta.
14.6. No futuro…
No futuro é importante desenvolver uma nova visão sobre a psicose. A evidência mais
recente demonstra que o estado psicótico não é um estado de corte com a realidade como
as definições clássicas mencionam, mas sim um contínuo do funcionamento habitual do
indivíduo. Assim, existem níveis até se atingir o estado de desregulação máxima ou estado
psicótico efetivo, sendo possível agir durante esse período. Outro aspeto muito importante
no futuro é intervir mais precocemente no doente, ainda antes dos pródromos,
nomeadamente em jovens considerados em estado mental de risco. Este estado implica a
presença de sintomas de disforia graves e perturbações no sono no final da adolescência ou
inicio da idade de jovem adulto. Assim, deve-se estar atento à existência, na história clínica,
de experiências de abuso, bullying, experiências de não-vitimização e história de doença
mental grave na família. Experiências de não-vitimização são experiências em que não é
identificado o agente agressor em relação ao próprio (exemplo: pessoa assiste a alguém a
morrer; pessoa é vítima de acidente de aviação não intencional; mulher que tem aborto
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espontâneo), ou seja, são situações traumáticas de vida nas quais não existe propriamente
um agressor identificado em relação ao próprio.
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