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TRIBUTÁRIAS NA
CONSTITUIÇÃO E NO STF
Aula 3
Imunidades Tributárias
Previstas nas Limitações
Constitucionais ao Poder
de Tributar - Parte 2
2. Imunidade cultural.............................................................. 11
3. Imunidade musical..............................................................14
Conclusões............................................................................... 15
Referências bibliográficas...................................................... 17
AULA 3 IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS PREVISTAS NAS LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR - PARTE 2
Introdução
Olá! Seja bem-vindo à nossa terceira aula do Curso “Imunidades e Isenções Tributárias na
Constituição e no STF”!
Na aula passada, estudamos a s imunidades genéricas, previstas no art. 150, VI, “a” e
“b”, da Constituição da República, isto é, a imunidade recíproca e a religiosa. Como visto, foram
muitas as controvérsias pacificadas pelo Supremo Tribunal Federal. Logo, compete a cada um de
vocês aplicar a jurisprudência dominante e fazer as distinções necessárias em cada caso.
Nesta aula, iremos continuar a tratar dessas vedações ao poder de tributar dirigidas a todos
os entes políticos e a quaisquer impostos, notadamente as seguintes:
(i) pessoas jurídicas de direito privado que prestam atividades de interesse público
enumeradas na alínea “c” do inciso VI do art. 150 da Constituição, tais como os partidos políticos,
inclusive suas fundações, as entidades sindicais de trabalhadores e as instituições de educação e
de assistência social sem fins lucrativos;
Nosso objetivo com esta aula é que você domine as principais características e
controvérsias que envolvem as mais frequentes normas imunizantes na jurisprudência do
STF. Além disso, é importante conhecer o sentido e o alcance conferidos pelos Ministros aos
dispositivos constitucionais em questão.
A imunidade tributária usufruída por pessoas jurídicas de direito privado que prestam
atividades de interesse público guarda muitas peculiaridades em razão da heterogeneidade
dos sujeitos abarcados pela norma imunizante. Nesse sentido, temos os (i) partidos políticos,
inclusive suas fundações, as (ii) entidades sindicais de trabalhadores e as (iii) instituições de
educação e de assistência social sem fins lucrativos. Sem dúvidas, é a última hipótese a de maior
discussão doutrinária e questionamentos judiciais, tendo em vista a tensão entre a economia de
mercado e o caráter publicista das atividades.
A mesma discussão referente às bases de incidência, que já fizemos na aula passada quanto
ao tema das imunidades recíprocas da Administração Indireta, também se aplica aqui. Ou seja, a
enunciação de rendas, patrimônio e serviços da parte inicial da alínea “c” do inciso VI do art. 150
do texto constitucional não autoriza a tributação desses sujeitos por impostos incidentes sobre
outras bases econômicas, como é o caso do IPMF – RE-AgR 211.790, de relatoria do Ministro Ilmar
Galvão, Primeira Turma, j. 12.11.2002, DJ 19.12.2002 – ou do IOF – AI-AgR 508.567, de relatoria da
Ministra Ellen Gracie, Segunda Turma, j. 4.8.2009, DJe 28.8.2009.
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AULA 3 – IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS PREVISTAS NAS LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR - PARTE 2
não perseguem o lucro, tratando-se de requisito muitas vezes debatido pelo STF quanto às
instituições educacionais e beneméritas. Portanto, Tôrres (2013, p. 1657) bem sintetiza esse
condicionamento ao compreender que
Por sua vez, à despeito de sólidos contrapontos doutrinários, o STF somente reconhece a
caracterização de entidades de assistência social a pessoas jurídicas cujas finalidades essenciais
convergem ao positivado no art. 203 da Constituição da República. Ainda na ordem constitucional
anterior, no RE 108.796, de relatoria do Ministro Carlos Madeira, Segunda Turma, j. 30.6.1986, DJ
12.9.1986, já restava clara a impossibilidade da contribuição pelos beneficiários das atividades da
entidade ou do caráter lucrativo.
Nessa linha jurisprudencial, em 2003, o STF editou a Súmula 730, que dispõe: “A
imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150,
VI, ‘c’, da Constituição, somente alcança as entidades fechadas de previdência social privada se
não houver contribuição dos beneficiários”. Porém, na sessão plenária de 9.4.2015, ante os votos
desfavoráveis de quatro Ministros, o Plenário do STF recusou a Proposta de Súmula Vinculante
109, com idêntica redação à súmula persuasiva.
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Imunidades e Isenções Tributárias na Constituição e no STF AULA 3 – IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS PREVISTAS NAS LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR - PARTE 2
No que tange ao requisito da correlação, o liame entre os bens e serviços do sujeito imune
e as respectivas funcionalidades evita o desvio de potenciais receitas públicas renunciadas pelo
Poder Constituinte, com um fundamento constitucional específico, para atividades alheias ao
motivo de instituição da entidade. Portanto, todo recurso econômico obtido pelo ente imune no
mercado ou junto ao Poder Público deve ser destinado às suas finalidades essenciais, sob pena
de tributação, tendo em vista o alcance da exoneração.
Com base nesse entendimento, o Supremo Tribunal Federal editou seu único enunciado
sumular vinculante a respeito de imunidade tributária – a Súmula Vinculante 52:
Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer
das entidades referidas pelo art. 150, VI, ‘c’, da Constituição Federal, desde que o valor dos
aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas. Súmula
Vinculante 52
Com o mesmo debate, mas também posta em xeque a largueza da imunidade em relação
às instituições educacionais de natureza confessional ou às entidades de assistência social
guiadas por preceitos religiosos, noticia-se o Tema 336 da repercussão geral, veiculado pelo RE
630.790, de relatoria do Ministro Roberto Barroso, ainda pendente de julgamento.
Embora a imunidade tributária de particular com interesse público seja subjetiva, não
tem sua razão de ser no princípio da isonomia, como acontece com a imunidade recíproca. Isto
porque as pessoas jurídicas imunizadas possuem capacidade contributiva e ainda existiriam se
tributadas. Muitas das vezes, identificamos hospitais, colégios ou universidades com expressivo
vulto econômico, contudo não tributáveis, por cumprirem os requisitos constitucionais e legais
da norma imunizante.
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Logo, trata-se de imunidade tributária política, isto é, derivada de uma escolha política
Imunidades e Isenções Tributárias na Constituição e no STF
possível do Poder Constituinte, que elegeu as atividades listadas para proteger dos tributos,
silenciando quanto a tudo mais. Assim, Lobo Torres (1995) defende que o fundamento dessa
exoneração constitucional é a proteção da liberdade da sociedade em geral para o exercício das
atividades imunes de interesse público, somente viáveis sem o embaraço representado pelo
poder de tributar. Esse receio do Constituinte ostenta razões históricas, como se depreende de
normas similares nos textos constitucionais pretéritos, ao menos a partir do art. 31, V, “b”, da
Constituição da República de 1946.
Por fim, trata-se de uma imunidade tributária condicionável ou condicionada, isso porque
sua fruição depende do atendimento de condições subjetivas, materiais e formais fixadas no
âmbito infraconstitucional, mediante reserva de lei, como se depreende da expressão “atendidos
os requisitos da lei”, positivada no art. 150, VI, “c”, in fine, do texto constitucional.
É preciso ficar claro que a validade da imunidade não está em discussão, pois, dada a
rigidez e a hierarquia constitucional, a legislação ordinária não poderia alterá-la ou reduzi-la.
Logo, basta o preenchimento dos requisitos postos na própria Constituição para que a imunidade
seja devida. Portanto, há a exoneração constitucional em questão, caso o partido político esteja
em consonância com o art. 17; os sindicatos de trabalhadores com o art. 8º; as entidades de
assistência social com os arts. 203 e 204; e as instituições de educação com os arts. 205 e 213,
todos da Constituição Federal.
Em regra, a reserva de lei disposta sem adjetivação, como ocorre no 150, VI, “c”, in fine, do
texto constitucional, é presumivelmente ordinária, sem necessidade de quórum qualificado. No
entanto, o art. 146, II, da Constituição da República preconiza que “cabe à lei complementar (...)
regular as limitações constitucionais ao poder de tributar”.
Nesse aparente conflito, já existente mesmo na ordem jurídica anterior, coube ao STF
explicitar que a reserva legal contida na alínea “c” é realmente qualificada, pois exige lei
complementar. Porém, as exigências referem-se somente às condições materiais da imunidade,
atualmente previstas nos arts. 9º e 14 do Código Tributário Nacional – lei ordinária recepcionada
com status de lei complementar. Assim, os requisitos formais de constituição e funcionamento da
instituição e entidades são matérias de lei ordinária. Esse entendimento já constava em julgado
de março de 1981, o RE 93.770, de relatoria do Ministro Soares Muñoz, Primeira Turma, j. 17.3.1981,
DJ 3.4.1981.
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Contudo, a controvérsia permanece atual. Em 2018, a matéria foi apreciada pelo Tribunal
Imunidades e Isenções Tributárias na Constituição e no STF
Pleno do STF, no âmbito da ADI 1.802, de relatoria do Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, j.
12.4.2018, DJe 3.5.2018. Pelo didatismo, vale a transcrição de trecho da ementa:
Por outro lado, o Tribunal Pleno recusou a repercussão geral da matéria referente à
aferição dos requisitos legais para enquadramento de pessoa jurídica como entidade beneficente
de assistência social no âmbito do Tema 459 da sistemática da repercussão geral. Logo, esse
exame deve ser, em regra, realizado nas instâncias ordinárias.
Por vezes, o STF é obrigado a analisar a questão pela via do recurso ordinário no
mandado de segurança impetrado perante o Superior Tribunal de Justiça, ante o indeferimento
da renovação do certificado de entidade beneficiária de assistência social (CEBAS). Nessas
oportunidades, afirma que não há direito adquirido à fruição de imunidade, sendo legítima a
renovação periódica da comprovação dos requisitos legais. A esse respeito, temos, entre outros,
o RMS-AgR 28.200, de relatoria do Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, j. 16.10.2017, DJe
27.10.2017, e o RMS 27.914, de relatoria do Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, j. 6.9.2016,
DJe 19.10.2016.
Sa
cê bi Você sabe o que é o Certificado de Entidade Beneficiária de Assistência
Vo
a?
Social, o CEBAS?
Confira a explicação do Ministério do Desenvolvimento Social a respeito
desse instrumento de controle: CEBAS.
No ano de 2018, o Tribunal de Contas da União realizou auditoria dos gastos tributários
nessa área e constatou uma série de irregularidades na concessão, renovação e supervisão
do CEBAS. Merece a leitura o Acórdão TCU 823/2018 ou o resumo elaborado com as
conclusões principais da Corte de Contas. Confira a página no sítio eletrônico institucional.
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Antes de finalizar nossos estudos sobre esse tipo de imunidade, só nos resta abordar
Imunidades e Isenções Tributárias na Constituição e no STF
Outro dado relevante é que a pessoa que suporta o ônus econômico do tributo
(adquirente da mercadoria ou tomador do serviço) não coincide com quem efetivamente recolhe a
receita aos cofres públicos. Daí nasce a diferença entre contribuinte de direito e de fato. O primeiro
é o que forma a relação jurídico-tributária com o Fisco e o segundo é aquele economicamente
onerado pela carga tributária.
Nesse contexto, surgem as perguntas: o sujeito imune é exonerado quando está em qual
condição? Ou em ambas as situações, de modo a maximizar a finalidade da norma imunizante?
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Imunidades e Isenções Tributárias na Constituição e no STF AULA 3 – IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS PREVISTAS NAS LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR - PARTE 2
Por fim, em relação à importação de mercadorias por entidade imune não contribuinte
habitual de imposto sobre o consumo, era assente na jurisprudência do STF que “a imunidade
prevista no art. 150, VI, c, da Constituição Federal abrange o ICMS incidente sobre a importação
de mercadorias utilizadas na prestação de seus serviços específicos” (trecho da ementa do
AI-AgR 669.257, de relatoria do Ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, j. 17.3.2009, DJe
17.4.2009).
No entanto, é importante saber que o Supremo Tribunal Federal editara a Súmula 660 do
STF, segundo a qual “[n]ão incide ICMS na importação de bens por pessoa física ou jurídica que
não seja contribuinte do imposto”, à luz do princípio da não cumulatividade. Porém, exsurgiu a
Emenda Constitucional 33/2001, que dispõe justamente o oposto, alterando a jurisprudência do
STF. Nesses termos, ao discutir a importação de equipamento médico por sociedade civil não
contribuinte habitual do ICMS, no Tema 171 da repercussão geral, compreendeu-se constitucional
a incidência do imposto.
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AULA 3 – IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS PREVISTAS NAS LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR - PARTE 2
Contudo, a diretriz jurisprudencial da Corte não se alterou, levando a crer que a EC 33/01
Imunidades e Isenções Tributárias na Constituição e no STF
também não modificou a realidade jurídica da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “c”, da
Constituição da República. Assim, a norma imunizante abarca operações de compras de bens com
vendedor fora da jurisdição brasileira, à luz de julgamentos recentes do STF (ARE-AgR 1.049.943,
de relatoria do Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, j. 29.9.2017, DJe 13.10.2017;
AI-AgR 629.551, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, Primeira Turma, j. 18.4.2017, DJe 1º.6.2017).
2. Imunidade cultural
Igualmente, a imunidade tributária é objetiva, focada nos livros, jornal, periódico e papel,
sendo irrelevante a qualificação subjetiva das pessoas que operam com esses bens.
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AULA 3 – IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS PREVISTAS NAS LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR - PARTE 2
Com base nessas compreensões preliminares, vamos conversar sobre cada uma das
Imunidades e Isenções Tributárias na Constituição e no STF
Em relação às obras literárias, há uma definição legal desse bem no art. 2º da Lei
10.753/2003, que institui a Política Nacional do Livro, assim “[c]onsidera-se livro, para efeitos
desta Lei, a publicação de textos escritos em fichas ou folhas, não periódica, grampeada, colada
ou costurada, em volume cartonado ou em brochura, em capas avulsas, em qualquer formato
e acabamento”. Porém, sob pena de subverter a lógica hierárquica constitucional, o Supremo
Tribunal Federal toma conceito mais amplo informado pela finalidade cultural.
Por isso, em aguardado julgamento, a Corte finalmente definiu que “[a] imunidade
tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se ao livro eletrônico (e-book), inclusive
aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo” no bojo do Tema 593 da repercussão geral,
relatado pelo Ministro Dias Toffoli. Assim, o que importa é a veiculação de pensamentos, cultura e
educação, sendo o instrumental exonerado tributariamente.
A relevância desse julgado levou, após longo hiato e pela primeira vez em sessão virtual,
que o STF editasse a Súmula Vinculante 57 na qual se reafirmou essa diretriz jurisprudencial,
nos seguintes termos: “[a] imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à
importação e comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes
exclusivamente utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que
possuam funcionalidades acessórias.”
Além disso, o STF não adentra em juízos de qualidade do conteúdo, haja vista que não há
parâmetros constitucionais para tanto. Na ementa do RE 221.239, de relatoria da Ministra Ellen
Gracie, Segunda Turma, j. 25.5.2004, DJ 6.8.2004, bem se explicou a questão ao tratar de álbum
de figurinhas:
2. O Constituinte, ao instituir esta benesse, não fez ressalvas quanto ao valor artístico
e
ou didático, à relevância das informações divulgadas ou à qualidade cultural de uma
álbum das
figurinh publicação. 3. Não cabe ao aplicador da norma constitucional em tela afastar este benefício
fiscal instituído para proteger direito tão importante ao exercício da democracia, por força de
um juízo subjetivo acerca da qualidade cultural ou do valor pedagógico de uma publicação
destinada ao público infanto-juvenil.
Com a mesma racionalidade, julga-se imune lista telefônica, desde a ordem constitucional
anterior, v.g. RE 134.071, de relatoria do Ministro Ilmar Galvão, Primeira Turma, j. 15.9.1992, DJ
30.11.1992, assim como apostilas, que seriam veículos de transmissão de cultura simplificados,
segundo o RE 183.403, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, Segunda Turma, j. 7.11.2000, DJ
4.5.2001, e fascículos semanais compostos por capa e encartes.
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Situação distinta é quando o livro ou o periódico não apresenta finalidade cultural, como
é o caso de livros em branco (diários), de espiral (caderno escolar), de bordo ou de ponto, bem
como encartes publicitários distribuídos autonomamente por jornais e periódicos. A propósito,
a Primeira Turma foi categórica, no RE 213.094, de relatoria do Ministro Ilmar Galvão, Primeira
Turma, j. 22.6.1999, DJ 15.10.1999, ao afirmar que “veículo publicitário (...) não pode ser
considerado como destinado à cultura e à educação”.
Por fim, devemos tratar do “papel destinado à impressão de livros, jornais e periódicos”.
Nesse ponto, sempre se questiona acerca da taxatividade da expressão, ou seja, há outros
insumos ou maquinário também abrangidos pela norma imunizante?
Na condição de certeza, a Súmula 657 do STF preconiza que “[a] imunidade prevista no
art. 150, VI, d, da CF abrange os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e
periódicos”. Assim, os assimiláveis ao papel (papel fotográfico, papel telefoto, filmes fotográficos,
sensibilizados, não impressionados, para imagens monocromáticas, fotocomposição por laser)
são igualmente imunes.
Por dever de ofício didático, importa registrar que, em algumas ocasiões, a parcela de
Ministros que sustenta uma visão ampliativa da imunidade cultural, de modo a considerar
exonerados os produtos, maquinários e insumos, restou vencedora nos colegiados fracionários.
Por todos, o multicitado RE 202.149, de relatoria do Ministro Menezes Direito e com acórdão
redigido pelo Ministro Marco Aurélio, Primeira Turma, DJe 26.4.2011, sempre é apontado por
quem defende uma viragem jurisprudencial na questão.
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3. Imunidade musical
De acordo com Carvalho (2014), “[p]ercebe-se aqui, com clareza, a influência dos valores
de proteção do patrimônio cultural brasileiro e do incentivo à produção artística, estampado no
art. 215 da Lei Maior”.
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Por outro lado, a necessidade de produção do bem no Brasil, para ser albergado, vai contra
a lógica de livre comércio internacional, ao estabelecer uma reserva de mercado. Nessa linha,
argumenta Paulsen (2015) que a finalidade principal é a proteção da indústria, e não a produção
cultural.
Uma vez que o objetivo é o estímulo à produção cultural, o próprio Constituinte retirou do
âmbito de aplicação da norma imunizante a etapa de replicação industrial de mídias ópticas de
leitura a laser, pois não se gera conteúdo ou se agrega valor em território nacional.
Registro apenas a ADI 5.058, de relatoria do Ministro Alexandre de Moraes, ajuizada pelo
Governador do Estado do Amazonas, sob o fundamento de descaracterização da Zona Franca de
Manaus e ofensa aos arts. 40 e 92 do ADCT, que instituem o regime diferenciado de tributação
da zona de livre comércio. A argumentação do Chefe do Executivo estadual é que a ZFM teria
ficado menos atrativa pela extensão de suas benesses tributárias a todo o território nacional pela
EC 75, interferindo no objetivo de redução das desigualdades regionais. Contudo, no julgamento
do mérito da ação, o STF considerou que a Zona Franca de Manaus não traduz cláusula pétrea
impassível de mudança via reforma constitucional, assim como o fato de a nova hipótese de
imunidade não desconfigurar o regime fiscal dessa região aduaneira especial.
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Ademais, chama atenção o primeiro tema da repercussão geral sobre a matéria. Cuida-
se do recente Tema 1083, cujo título é ‘[a]lcance da imunidade tributária prevista no artigo
150, inciso VI, alínea e, da Constituição Federal, em relação a suportes materiais importados e
produzidos fora do Brasil que contenham obras musicais de artistas brasileiros.’ Na manifestação
pela repercussão geral da questão constitucional, além da clarificação por parte do Judiciário
acerca dos limites aos objetivos constitucionais de promover a liberdade de expressão, fomentar
e tornar acessível a cultura nacional e combater a contrafação, afirmou-se que estava em jogo a
fixação do sentido e a definição do alcance dessa norma imunizante recentemente introduzida
pelo Poder Constituinte.
Conclusões
Enfim, chegamos ao fim de mais uma aula! Conseguimos finalizar o tema das imunidades
tributárias genéricas, previstas no art. 150, IV, da Constituição da República. De início, abordamos
com a devida profundidade a imunidade tributária usufruída por pessoas jurídicas de direito
privado que prestam atividades de interesse público. Esse é o tópico de nosso Curso com mais
incidência na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, como podemos ver a partir de súmulas
e temas da sistemática da repercussão geral. Porém, o aluno pode ter a certeza de contar com um
útil guia de estudo e de trabalho nesta aula.
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Referências bibliográficas
Imunidades e Isenções Tributárias na Constituição e no STF
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 30 ed. São Paulo:
Malheiros, 2015.
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
COSTA, Regina Helena. Imunidades Tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. 3 ed.
São Paulo: Malheiros, 2015.
TÔRRES, Heleno. Art. VI, c). In: CANOTILHO, J. J. Gomes et al. Comentários à Constituição do
Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013.
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