Sei sulla pagina 1di 21

como enriquecer as aulas

com a literatura do sertão


Introdução
Em 2018, o Conselho Consultivo do Brasi Caboco
Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) concedeu Zé da Luz
o título de Patrimônio Cultural
Imaterial Brasileiro à Literatura
de Cordel. O gênero literário teve O qui é Brasi Caboco?
grande expansão no Brasil na É um Brasi diferente
segunda metade do século XIX
do Brasí das capitá.
e aborda episódios históricos,
temas religiosos, lendas, e fatos É um Brasi brasilêro,
do cotidiano, sobretudo do povo sem mistura de instrangero,
nordestino.
um Brasi nacioná!
O contexto social, histórico e
geográfico do surgimento do Cordel
são centrais para entendermos É o Brasi qui não veste
a importância de usá-lo como liforme de gazimira,
ferramenta pedagógica nas aulas.
camisa de peito duro,
Neste e-book vamos traçar um
breve histórico da literatura de com butuadura de ouro...
cordel, destacando alguns autores Brasi caboco só veste,
e obras do gênero. Além disso,
explicamos como ele se ajusta camisa grossa de lista,
aos parâmetros da Base Nacional carça de brim da “polista
Curricular Comum (BNCC), além
gibão e chapéu de coro!
de oferecer sugestões de obras
representativas do gênero para ...
apresentar o conteúdo aos alunos. Fonte: Academia Brasileira de
Literatura de Cordel
O título deste e-book foi extraído
do cordel “Brasi Caboco“ escrito por (Disponível em: http://www.
ablc.com.br/brasi-caboco/.
Zé da Luz. Esse cordel, que você lerá Acessado em junho de 2020.)
a seguir, trata do confronto entre
o Brasil Caboclo -- rural, simples e
pobre, território onde o cordel, de
origem europeia, se aclimatou
e desenvolveu -- e o Brasil
das capitais.
Zé da Luz (1904-1965)
Severino de Andrade Silva, o Zé da Luz, foi
cordelista, escritor e poeta brasileiro. Nascido
na Paraíba, em 1904, exercia a profissão de
alfaiate. Se mudou para o Rio de Janeiro
e lá se aproximou de outros escritores. Em
1936, mesmo ano que surgiu o pseudônimo
Zé da Luz, publicou seu primeiro livro: Brasil
Caboclo. A obra foi um sucesso editorial e
recebeu elogios de escritores consagrados,
como José Lins do Rêgo e Manuel Bandeira.
Faleceu em 1965, no Rio de Janeiro.
De onde vem o cordel
O nome “cordel“ vem de corda,
cordão. Esse é o nome que ficou
consagrado no Brasil em referência
à poesia popular que, em sua origem,
era vendida sob a forma de folhas
soltas, penduradas em um cordão.
Acredita-se que essa produção tem
origem na Europa Medieval, mas
não se sabe ao certo quando surgiu.
Alguns pesquisadores indicam que a
prática vem do século XII, outros que
começou no século XVII, aqui chegando
com os colonizadores portugueses.
Afirma Thelma Linhares, em “A história
da Literatura de Cordel“ (LINHARES,
2006), como citado por Nogueira
(p.7, 2009):

“A literatura de Cordel teve sucesso, em


Portugal, entre os séculos XVI e XVIII. Os
textos podiam ser em verso ou prosa, não
sendo invulgar trata-se de peças de teatro,
e versavam sobre os mais variados temas.
Encontram-se farsas, historietas, contos
fantásticos, escritos de fundo histórico
moralizantes, etc., não só de autores
anônimos, mas também daqueles que, assim,
viram a sua obra vendida a preço, como Gil
Vicente e Antônio José da Silva, o Judeu.“

(LINHARES, Thelma R. S. apud NOGUEIRA,


Ângela. 2009)
No Brasil esse estilo de produção Romance do Pavão Misterioso
literária esteve presente desde
o tempo da Colônia - algo comum João Melquíades Ferreira
também no resto da América Latina.
Por aqui, foi influenciada pela poética
dos índios, pelas histórias e tradições Eu vou contar uma história
dos negros, pelos vaqueiros e de um pavão misterioso
tropeiros. Se caracteriza por ser
uma forma popular e brasileira de que levantou vôo na Grécia
expressão literária que se fixou com um rapaz corajoso
fortemente no Nordeste do Brasil
raptando uma condessa
e cresceu especialmente a partir do
século XIX. filha dum conde orgulhoso

Confira um trecho de “Romance


do Pavão Misterioso“, de João Residia na Turquia
Melquíades Ferreira, um dos folhetos um viúvo capitalista
mais famosos e lembrados da pai de dois filhos solteiros
literatura de cordel. Estima-se que
foi escrito em 1923. o mais velho João Batista
então o filho mais novo
chamava-se Evangelista

...
As características da
literatura de cordel
Desde o início, o cordel fez parte da “...
vida dos nordestinos que viviam no
campo e dependiam da agricultura ou Vendidos nas feiras livres
do comércio em pequenas cidades.
Surgiu quando ainda não existia Pendurados num cordão
rádio nem televisão e foi muito usado
Esses livretos viraram
como um meio de comunicação. Em
suas histórias, por diversas vezes, O jornal da região
misturam-se fatos e ficção, poderes
sobrenaturais e acontecimentos Levando conhecimento
políticos.
Àquela população

...“
A morte de Getúlio Vargas foi
retratada em um folheto denominado
“A lamentável morte de Getúlio
Vargas“. Sobre Virgulino Ferreira da
Silva, o Lampião, dezenas de versos
foram escritos, atribuindo a ele até
mesmo poderes sobre-humanos.
Em “Beabá do Cordel“, o cordelista
Moreira de Acopiara fala dessa
função de comunicador:

Moreira do Acopiara (1961-)


Manoel Moreira Júnior, o Moreira do
Acopiara, escreveu seus primeiros versos
aos treze anos, sob influência de grandes
mestres cordelistas e cantores repentistas.
Nasceu em 1961, no sertão do Ceará, na
cidade de Acopiara. Publicou mais de
cem cordéis, vários livros e gravou dois
CDs. Desde 2004, faz parte da Academia
Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC). 
A literatura de cordel carrega
um cunho social muito forte. Tais
narrativas em verso costumam
abordar os sofrimentos da
vivência rural, a luta dos sem-
terra e questões tradicionais do
povo nordestino como o cangaço,
a seca, a miséria, religiosidade e
a valentia dos sertanejos. Esses
temas são explorados e recitados
em rimas melódicas, que facilitam a
memorização. Essa característica
do Cordel era importante para
sua tradição oral. Versos escritos
demoraram a aparecer e, no
início, tudo era feito e repassado
verbalmente.

As mulheres no Cordel
A presença das mulheres no Cordel repete o que acontece na literatura em geral: ela é
tardia, sendo a condição feminina majoritariamente representada por homens. Mas as
cordelistas têm ampliado seu campo de atuação nas últimas décadas. O primeiro folheto
escrito por uma mulher foi lançado em 1938, por Maria das Neves Batista Pimentel. Ela,
contudo, teve de usar um pseudônimo masculino: Altino Alagoano. Foi somente a partir da
década de 1970 que começaram a surgir os cordéis assinados por mulheres. Hoje, livros de
mulheres cordelistas têm alcançado o topo das listas de mais vendidos.

Maria das Neves Baptista


Pimentel (1913-1994)
Nascida em 1913, na Paraíba, Maria das
Neves era filha do editor de cordel e poeta
Francisco das Chagas Baptista. Seu pai era
dono de uma livraria e de uma tipografia, o
que deu à Maria das Neves a oportunidade
de publicar seus versos. Entretanto, nessa
época, a autoria feminina não era bem
vista, razão pela qual Maria decidiu adotar
o nome de seu marido e o do estado de
onde ele vinha. Sua primeira publicação se
chamou “O violino do diabo, ou O valor da
honestidade“.
A transmissão
do cordel
A criação do cordel se distingue de
outras formas de poesia oral, tal
como a peleja e os desafios, que são
cantados pelos repentistas, com forte
componente de improviso. Mesmo
que os versos de cordel tenham uma
dimensão “performática“, sendo
recitados e recebendo por vezes
acompanhamento musical, eles também
existem sob a forma impressa,
constituindo objetos estéticos com
materialidade própria.
Folhas coloridas e dobradas, com
ilustrações na capa são alguns
traços dessa materialidade. Não há
uma técnica única para impressão
dos folhetos, mas geralmente as
capas são impressas em papel
manilha, e o miolo em papel jornal. O
formato costuma ser 11 cm x 15 cm, e
o número de páginas varia entre 8 e
16. Geralmente a ilustração de capa
é feita em xilogravura (impressão em
madeira),
Os folhetos são vendidos em praças,
feiras, mas também em algumas
livrarias e bancas de jornal. Em alguns
lugares, mantém-se a tradição de
apresentá-los presos a um cordão,
como uma espécie de varal.
A estrutura do cordel
Sejam lidos ou cantados, a estrutura
do Cordel é bastante exigente.
O ritmo único de seus versos são
consequência da métrica utilizada
em cada produção. O verso do Cordel
é definido pela contagem de sílabas.
Além disso, cada estrofe também deve
ter um número preciso de versos.
Entretanto, a sílaba contada segue o
estilo poético.

A contagem de sílabas poéticas,


contudo, é diferente da contagem
de sílabas gramaticais. A contagem
gramatical é aquela que aprendemos
geralmente no início da alfabetização,
separando cada trecho da palavra.
Na língua portuguesa, a contagem no
estilo poético leva em consideração
apenas até a última sílaba tônica,
unindo certas vogais, mesmo que
estejam em palavras distintas. Essa
união de vogais é chamada de elisão.

A Academia Brasileira de Literatura de


Cordel (ABLC) estabelece os padrões
métricos mais frequentes. Conheça
esses padrões na tabela a seguir:
Tipo de Métrica Características Exemplo
ou de Estrofe

Parcela ou Verso de É o padrão mais breve Eu/ sou/ ju/deu


pa/ra o/ du/e/lo
quatro sílabas encontrado no cordel, o
can/tar/ mar/te/lo
qual configura um ritmo que/ri/a/ eu
mais acelerado. Bastante o/ pau/ ba/teu
incomum e não aceita o uso su/biu/ po/ei/ra
de palavras longas. a/qui/ na/ fei/ra
não/ fi/ca/ gen/te
quei/mo a/ se/men/te
da/ ba/na/nei/ra.

Verso de cinco O verso redondilho, um dos “...


sílabas mais tradicionais na poesia No/ ser/tão eu/ pe/guei
ou redondilha popular, também define um um/ ce/go/ mal/cria/do
menor ritmo acelerado. Quando da/nei-/lhe o/ ma/cha/do
nasce de improviso, exige ca/iu,/ eu/ san/grei
do poeta grande rapidez o/ cou/ro/ ti/rei
de raciocínio. em/ re/gra/ de es/ca/la
es/pi/chei nu/ma/ sa/la
pu/xei/ pa/ra um/ be/co
de/pois/ de/le/ se/co
fiz/ de/le u/ma/ ma/la
...”

(Trecho da “Peleja entre Cego Aderaldo


com Zé Pretinho do Tucum, da autoria de
Firmino Teixeira do Amaral)

Quadra ou Estrofes de quatro versos “...


redondilha maior de sete sílabas. Em geral, Não/ te/nho/ me/do/ do/ ho/mem
as rimas acontecem no Nem/ do/ ron/co/ que e/le/ tem
2º e no 4º verso. Um/ be/sou/ro/ tam/bém/ ron/ca
Vou/ o/lhar/ não/ é/ nin/guém
...

(Versos publicados em Cancioneiro


Guasca, de 1910, de João Simões Lopes
Neto)
Tipo de Métrica Características Exemplo
ou de Estrofe

Sextilha Trata-se de uma estrofe de Eu peço sua licença


seis versos. O segundo, quarto Pra falar da estrutura
e o sexto versos rimam entre Do cordel, tão lindo estilo
si, deixando órfãos o primeiro, Dentro da literatura
terceiro e quinto versos. Sou fã incondicional
Indicada para ser usada Dessa popular cultura
em poemas longos e/ou
A estrofe se costura
romanceados, é considerada
Com a metrificação
um dos mais ricos padrões de
Com rimas muito perfeitas
estrofação. Obrigatório em
E também com oração
qualquer combate poético,
Eu vou falar da sextilha
é muito usado também em
Preste bastante atenção
sátiras e críticas sociais. No
exemplo a seguir os versos Cordel de Jerson Brito sobre a sextilha.

têm sete sílabas.

Setilhas São estrofes de sete versos Va/mos/ tra/tar/ da/ che/ga/da


e sete sílabas. No padrão quan/do/ Lam/pi/ão/ ba/teu
das setilhas, o primeiro um/ mo/le/que a/in/da/ mo/ço
verso e o terceiro não no/ por/tão/ a/pa/re/ceu.
rimam, o segundo, o quarto - Quem/ é/ vo/cê/, Ca/val/hei/ro -
e o sétimo rimam entre sim. - Mo/le/que,/ sou/ can/ga/cei/ro -
Por fim, também rimam o Lam/pi/ão/ lhe/ res/pon/deu.
quinto e o sexto. As setilhas
- Não/ se/nhor/ - Sa/ta/nás,/ dis/se
constituem um padrão
vá/ di/zer/ que/ vá/ em/bo/ra
métrico mais recente,
só/ me/ che/ga/ gen/te/ ruim
marcado pela riqueza das
eu/ an/do/ mui/to/ cai/po/ra
rimas.
e/ já/ es/tou/ com/ von/ta/de
de/ man/dar/ mais/ da/ me/ta/de
dos/ que/ tem/ a/qui/ pra/ fo/ra.

(Trecho de “A chegada de Lampião no


Inferno”, de José da Rocha)
Tipo de Métrica Características Exemplo
ou de Estrofe

Oito pés de quadrão São estrofes de oito versos Ao/ sa/ir/ do/ meu/ ser/tão,
ou Oitavas e sete sílabas. A diferença Re/zei,/ fiz/ tan/ta o/ra/ção,
dessas estrofes para as Pra a/bran/dar/ meu/ co/ra/ção,
oitavas clássicas ou reais, Que in/con/for/ma/do/ [so/fri/a
como encontramos em Camões, Dei/xei/ a/ mi/nha/ ci/da/de,
está apenas a disposição das Que e/ra/ na/ re/a/li/da/de
rimas. Na oitava clássica, o A/ mi/nha/ fe/li/ci/da/de
quinto e o oitavo verso não Mi/nha/ mai/or/ a/le/gri/a.
rimam, já na popular todos (Trecho de “Saudosa ipueira“, de Dalinha
os versos rimam: os três Catunda)
primeiros, o quarto com o
oitavo, e o quinto com o sexto
e o sétimo.

Décimas As décimas são as mais E/ram/ do/ze/ ca/va/lhei/ros


usadas pelos repentistas Ho/mens/ mui/to/ va/lo/ro/sos
e se caracterizam por Des/te/mi/dos,/ co/ra/jo/sos
apresentarem dez versos En/tre/ to/dos/ os/ Guer/rei/ros
de sete sílabas. Em termos Co/mo/ bem/ fos/se O/li/vei/ros
da frequência de uso elas só um/ dos/ pa/res/ de/ fi/an/ça
perdem para as sextilhas. Que/ su/a/ per/se/ve/ran/ça
Ven/ceu/ to/dos/ in/fi/éis
E/ram/ uns/ le/ões/ cru/éis
Os/ do/ze/ pa/res/ de/ Fran/ça..

(Trecho de “A batalha de Oliveiros com


Ferrabraz“ de Leandro Gomes de Barros.
Baseado na obra do imperador francês
Carlos Magno.)
Arte do povo
Desde as primeiras publicações,
ainda no século XIX, os cordelistas
são homens e mulheres pobres, com
pouca ou nenhuma instrução formal,
que contam histórias sobre o lugar de
onde vêm e sobre a vida que levam.
Ariano Suassuna (1927-2014), ainda em
1999, escreveu sobre a literatura de
cordel em sua coluna no jornal Folha
de S. Paulo: 

O folheto-de-cordel e alguns espetáculos


populares como o “auto-de-guerreiros“ ou
o “cavalo-marinho“ são fontes preciosas
para os artistas que sonham se unir a
uma linhagem mais apegada às raízes da
cultura brasileira. É que, em seu conjunto,
tudo aquilo forma um espaço cultural criado
por nosso próprio povo e no qual, por
isso mesmo, ele se expressa sem maiores
imposições e deformações que lhe viessem
de fora ou de cima.

(SUASSUNA, 1999).

O ensino do cordel, portanto, propicia


o contato dos estudantes com essa
importante manifestação da cultura
popular, desfazendo a impressão de
que a literatura é uma arte erudita,
privilégio das elites letradas. Por
diversas vezes, a literatura é vista
como uma arte dos letrados, voltada
para às pessoas com muito ensino.
A literatura de cordel por ser, antes
de tudo, uma forma de expressão
literária popular, quebra com essa
impressão.
O cordel na
alfabetização
Segundo alguns pesquisadores, o a existência de cordéis em forma de
cordel também exerce importante vídeo, como é o caso de “O coronavírus
influência no processo de em cordel“, composto pela cordelista
alfabetização. No interior do paraibana Anne Karolynne com
Brasil, existiam no passado finalidade educativa, a fim de prevenir a
poucas escolas, e as apostilas população contra a Covid-19.
de alfabetização eram escassas.
Em “Origem e Características da A produção do cordel também é
Literatura de Cordel“ (Nogueira, abordada em outras plataformas.
2009), a pesquisadora Angela O Budejo é um podcast feito por
Maciel Nogueira afirma que, pelo moradores da região do Cariri sobreo
menos até as primeiras décadas que é visto e falado na região. A
do século XX, as taxas de cada episódio, os apresentadores e
analfabetismo chegavam a quase convidados tratam de assuntos de
70% da população com mais de entretenimento, informação e cultura.
15 anos, e eram muito baixos os No episódio 42, o programa fala
índices de escolarização. Por outro sobre Patativa do Assaré, um dos mais
lado, Ribamar Lopes afirma, no livro conhecidos escritores de cordel do
Literatura de Cordel: Antologia Brasil. Sua obra e feitos são discutidos
(Lopes, 1994), que muitas pessoas e lembrados. Assaré também é da
aprenderam a ler com os livrinhos região do Cariri e, com seu talento e
de cordel vendidos nas feiras. genialidade, falou para o mundo todo
sobre a cultura e realidade do nordeste.
Por muito tempo críticos
imaginaram que, com a tecnologia e
os meios de comunicação de massa,
o cordel não resistiria. O que se
testemunha hoje, entretanto, é
a modernização do gênero, que
continua a fazer sucesso no Patativa do Assaré (1909-2002)
ambiente digital. Prova disso é
Antônio Gonçalves da Silva nasceu em
Serra de Santana, a 18 quilômetros do
município de Assaré, estado do Ceará. Ainda
pequeno conheceu a literatura de cordel, se
encantou pelas rimas e passou a produzir
as suas. A beleza de sua poesia fez com
que ela fosse comparado ao canto de uma
ave muito comum no Cariri, e foi assim que
nasceu a alcunha de Patativa do Assaré.
Com sensibilidade, Patativa escreveu sobre
a vida do povo sertanejo e as dificuldades
de viver da terra. Fortemente marcados
pela oralidade, seus versos possibilitam o
contato dos ouvintes e leitores com variações
linguísticas, conforme preconizado na BNCC.
O cordel e a BNCC
Nas últimas décadas, houve um • Trabalho e projeto de vida;
esforço das instituições oficiais
como o Ministério da Educação • Argumentação;
(MEC) e o Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas (INEP) • Autoconhecimento e
em remodelar o ensino no país. autocuidado;
Medidas legislativas permitiram
o desenvolvimento de novas • Empatia e cooperação;
diretrizes para a Educação, como
• Responsabilidade e cidadania.
a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, em 1996, e o
Plano Nacional da Educação, em Na BNCC, encontram-se ainda
2014. menções diretas ao gênero cordel
em habilidades específicas de Língua
A Base Nacional Comum Curricular Portuguesa:
(BNCC), de 2018, é outro
importante documento que
norteia o currículo das escolas
brasileiras. Suas diretrizes definem
as aprendizagens essenciais para (EF12LP05) Planejar e produzir, em
o ensino de modo geral. A BNCC colaboração com os colegas e com
estipula objetivos, aprendizagens e a ajuda do professor, (re)contagens
competências específicas a serem de histórias, poemas e outros textos
desenvolvidas em cada componente versificados (letras de canção,
curricular. Além das competências quadrinhas, cordel), poemas visuais,
específicas, há ainda dez tiras e histórias em quadrinhos,
competências gerais, transversais dentre outros gêneros do campo
a todos os componentes. São elas: artístico-literário, considerando a
situação comunicativa e a finalidade
do texto.
• Conhecimento;
(EF03LP27) Recitar cordel e cantar
• Pensamento científico, crítico repentes e emboladas, observando
e criativo; as rimas e obedecendo ao ritmo e à
melodia.
• Repertório cultural;

• Comunicação;

• Cultura digital; .
A Base, portanto, busca formar
alunos capazes de compreender
que as manifestações populares
constituem um importante vetor no
campo de atuação artístico-literário.
Uma forma de despertar o Nos caminhos da Educação
interesse pela leitura é utilizar
técnicas diversificadas. A literatura Moreira de Acopiara
de cordel, conforme demonstramos,
é mencionada algumas vezes
na BNCC como um gênero a ser “Eu já escrevi cordéis
trabalhado com os alunos. Para o Falando de Lampião,
leitor iniciante, o cordel oferece um
Frei Damião, padre Cícero
material acessível, com cadência
marcada, possibilitando também o E outros mitos do sertão,
contato com diversas expressões Mas agora os versos meus
regionais, sobretudo da cultura
nordestina. Serão sobre educação.
...
Para alunos mais velhos, há
também a possibilidade explorar Mas nós somos preparados
mais detidamente a matéria social Desde pequenos pra ser
e histórica presente nos versos.
As tradições orais são muito Eternos competidores,
importantes para a construção E quem possui mais saber
das civilizações. Diversas culturas No mundo modernizado
se mantêm até hoje por causa
delas. Foi através dos “causos“, Tem mais chance de vencer.
narrativas orais, contos e cantorias
que o cordel surgiu. Enquanto E nós agora vivemos
ferramenta pedagógica, o cordel Num mundo globalizado
também permite despertar nos
alunos o gosto pela leitura. Onde todo ser humano
Deve ser bem informado.
Moreira de Acopiara escreveu,
aliás, um cordel sobre educação: Mas antes disso é preciso
Que seja alfabetizado.

Como disse Paulo Freire,


Um homem muito sabido:
Educação e cultura
Dão à vida mais sentido!
E educar é libertar
De uma vez o oprimido.

...
Como trabalhar o
cordel em sala de aula
Existem diversas maneiras de se Depois do contato com o gênero e
trabalhar a literatura de cordel de desenvolveram a capacidade de
em sala de aula. Sua riqueza e compreender as características
diversidade de expressão permite do Cordel, os alunos podem ser
várias abordagens. Elencamos incentivados a escrever suas
algumas ideias que dialogam com próprias histórias. O incentivo à
as habilidades e competências produção textual autônoma e ao
previstas na BNCC: pensamento crítico são habilidades
importantes a serem desenvolvidas
• Realização de um apanhado com os estudantes.
histórico desse gênero literário,
sua criação, desenvolvimento e
importância cultural;

• Introdução aos princípios da


versificação, com apresentação de
padrões métricos, tipos de verso,
rima e estrofe;

• Debate sobre o contexto


social e histórico do cordel e
sua importância para a cultura
nordestina e brasileira;

• Exploração de temas e
motivos mais recorrentes na
produção de cordel (como o
cangaço, a morte de Getúlio
Vargas, as desigualdades regionais
e socioeconômicas);

• Exibição de cordeia
eletrônicos e depoimentos em vídeo
de cordelistas de várias gerações;
Livros para trabalhar
a literatura de cordel
Existem diversos livros que oferecem uma amostra representativa da produção de cordel, com
explicações sobre sua origem e características. Selecionamos alguns deles a seguir.

FEIRA DE VERSOS - O JUMENTO E O

1. 3.
poesia de cordel, de João BOI EM CORDEL,
Melquíades F. da Silva,
de João Bosco Bezerra
Leandro Gomes de Barros
Bonfim
e Patativa do Assaré
Transitando entre o
Este livro é uma coleção de
formal, o informal
pérolas do cordel nacional.
e o regional, os
Três grandes nomes do
versos de João Bosco
gênero nos põem diante de
ensejam o contato
quase um século de poesia
com expressões
popular, em que o cordel
regionais ou menos
mostra sua atualidade
conhecidas pelos
e pertinência.
pequenos leitores.
O texto também
possibilita discussões
CORDEL EM CORES,

2.
sobre a exploração
de Maria Augusta de no trabalho e a
Medeiros esperteza popular.
As cores são presentes Obra ilustrada com
infinitos oferecidos ao nosso xilogravuras de Nena
olhar. Entretanto, é o dom Borges.
da palavra que permite dar
a cada cor um nome. E é o
NO REINO DO VAI

4.
dom da palavra iluminada
pela poesia que faz as cores NÃO VEM - uma
ganharem alma e significado viagem ao mundo
tão certeiros, a ponto de do cordel, de Fábio
podermos enxergá-las Sombra
mesmo sem vê-las, apenas
com os olhos do coração. O narrador-
Prosadora e poetisa, Maria personagem revela
Augusta de Medeiros nos o drama em que se
contempla nesta obra com encontra: sua rabeca
uma singela descrição das Veridiana sumiu e,
cores, começando por aquela sem ela, não existe
que é a ausência de todas criação. Depois de
elas - o branco - , viajando consultar a cigana
pelas cores primárias e suas Esmeralda, o artista
composições que formam descobre que a rabeca
as secundárias e terciárias, está no Reino do Vai
aliando o cordel às belíssimas não Vem, um lugar
ilustrações do artista gráfico mágico onde vivem
Gilberto Tomé. todos os personagens
da poesia popular.
Conclusão
A missão do Coletivo Leitor Existem outras habilidades
é promover o incentivo à e gêneros indicados para o
leitura e à formação do leitor desenvolvimento do leitor-
literário e a literatura como fruidor, ou seja, aquele capaz
experiência de prazer. Por de se implicar na leitura
isso, apresentar diferentes dos textos, desvendando
gêneros literários, como a suas múltiplas camadas de
literatura de cordel, uma das sentido. O Coletivo Leitor
mais ricas expressões da possui obras que auxiliam no
cultura popular brasileira, desenvolvimento de habilidades
é tão importante. Como socioemocionais e na
parte do campo artístico- discussão de temas sociais
literário, o cordel oferece importantes. Além disso,
dezenas de oportunidades de nossos livros acompanham
ensino para os educadores, material complementar, que
sendo uma aliada decisiva no auxiliam na mediação da
desenvolvimento do interesse leitura. O Coletivo pode auxiliar
dos jovens pela leitura. Com na inserção da Literatura nas
seu ritmo e cadência, ele aulas e a formação de alunos
apresenta aos alunos uma leitores.
das mais bonitas tradições
culturais do nosso país.

Converse
com um
de nossos
consultores!
Para saber mais sobre o campo artístico
literário na BNCC, acesse nosso material:

Campo artístico-
literário na BNCC

Episódio de podcast: Budejo #42.


Patativa do Assaré: filosofia de
um trovador nordestino

Vídeo: Coronavirus explicado


em Cordel
Referências
ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DE CORDEL. Rio de Janeiro. Disponível
em < http://www.ablc.com.br/>. Acessado em junho de 2020.

BRITO, Jerson. A sextilha na literatura de cordel. Disponível em < https://www.


recantodasletras.com.br/cordel/2381276>. Acessado em junho de 2020.

CORDEL DE SAIA. Disponível em <https://cordeldesaia.blogspot.com/>. Acessado


em junho de 2020.

IPIRANGA, Sarah. O papel da leitura na BNCC: ensino, leitor, leitura e escola.


Revista de Letras, nº 38. vol. (1), jan./jun. Universidade Federal do Ceará. Ceará,
2019. Disponível em <http://periodicos.ufc.br/revletras/article/view/43409/
revletras.38.1.9>. Acessado em junho de 2020.

LOPES, José de Ribamar (org.). Literatura de Cordel. Antologia. 3°. Ed. Fortaleza,
Banco do Nordeste do Brasil, 1994.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Base Nacional Comum Curricular. Brasília. Disponível


em <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio>. Acessado em junho
de 2020.

NOGUEIRA, Angela Maciel. Origem e Características da Literatura de Cordel. Artigo


apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura
Plena em Letras/Inglês das Faculdades Integradas de Ariquemes – FIAR.
Ariquemes, Rondônia. 2009. Disponível em < http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/ea00709a.pdf>. Acessado em junho de 2020.

PODCAST BUJETO. Episódio 42. Patativa do Assaré: filosofia de um trovador


nordestino. Arquivo em áudio. Disponível em <https://anchor.fm/budejopodcast/
episodes/42--Patativa-do-Assar-filosofia-de-um-trovador-nordestino-ebf9p5>.
Acessado em junho de 2020.

REVISTA DESVAIRO. O Cordel é delas. 2019. Disponível em <https://medium.com/


desvario/o-cordel-%C3%A9-delas-16546a733928>. Acessado em junho de 2020.

RIBEIRO, Amanda Vieira. Literatura de Cordel: da teoria à prática em sala de aula.


III Congresso Nacional da Educação. Universidade Estadual do Ceará. Ceará,
2016. Disponível em <http://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/
trabalhos/TRABALHO_EV056_MD4_SA20_ID6764_13082016135022.pdf>. Acessado
em junho de 2020.

SUASSUNA, Ariano. A literatura de cordel. Folha de S. Paulo. São Paulo, 1999.


Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz01069907.htm>.
Acessado em junho de 2020.
Gostou?
Compartilhe!

Potrebbero piacerti anche