Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
COORDENAÇÃO GERAL
Adriano Luiz Duarte
Mariana Brasil Ramos
Tereza Mara Franzoni
COMISSÃO ORGANIZADORA
Carlos André dos Santos
Cassiana dos Reis Lopes
Crystiane Leandro Peres
João Gabriel da Costa
Luciana Brito
Peterson Roberto da Silva
Rafael Lemos
Rodrigo Rosa da Silva
Sumário
Sessão 1
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 5
O presente trabalho tem como objetivo propor uma utilização pedagógica dos locais de
memória ligados ao acumulo de experiências do movimento anarquista carioca, que se
estabeleceu na cidade na virada do século XIX para o XX. Pela relação complementar
entre esquecimento e memória, pretendo identificar alguns processos de seleção e
narração, sendo eles educacionais ou de políticas públicas de preservação e
conservação, que reforçaram o apagamento das contribuições do movimento anarquista
para a formação da classe trabalhadora, sua mobilização através do sindicalismo
revolucionário e as diferentes manifestações políticas e culturais que daí floresceram.
Proponho uma valorização dos locais de sociabilização e mobilização que se
estabeleceram em endereços nos bairros do centro do Rio de Janeiro através de um
percurso pedagógico aplicável ao público escolar, mas também a todos que possam
contribuir e se interessar pela militância do anarquismo. Desse desafio evoco a análise
Assmann acerca dos locais de memória, a recordação de experiências e temporalidades
passadas e sua relação com o legado que:
Mesmo quando os locais não têm em si uma memória imanente, ainda assim
fazem parte da construção de espaços culturais da recordação muito
significativos. E não apenas solidificam e validam a recordação, na medida
em que a ancoram no chão, mas também por corporificarem uma
continuidade da duração que supera a recordação relativamente breve de
indivíduos, épocas e também culturas, que está concretizada em artefatos.
(ASSMANN, 2013, p.318)
O Centro Galego torna-se referência para os de locais de memória que podem ser
resgatados através de um percurso pedagógico, abordando o ensino do movimento
anarquista e suas manifestações políticas e culturais. Dessa confederação os anarquistas
cultivavam a pluralidade de ideias e de correntes políticas dentro das agremiações,
sindicatos e federações operárias, incentivando a troca de ideias, a fundação de
universidades e escolas populares, de teatros, de textos e artigos libertários, poéticos,
literários, através de periódicos independentes (LAMELA, 2018, p. 5). Assim toda a
manifestação política e cultural anarquista se transforma em arma de revolução social.
Cabe ao professor de história valorizar a memória e o acumulo daqueles que semearam
uma sociedade igualitária.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 7
Este estudo apresenta considerações acerca da atual situação da educação libertária, nele
apresento a pesquisa na temporalidade do século XXI, Perpasso pela história da
educação libertária, analisando os pontos cruciais que destinaram a livre educação
integral a ser marginalizada e retraída em pequenas iniciativas, fato este prorrogado pela
educação do Estado, para tanto toda manifestação educacional livre do preceito estatal e
da doutrina religiosa é considerada nesta pesquisa. A mesma se propõe a trazer à tona os
elementos essências para uma educação que visa acompanhar revoluções que objetivam
alcançar a liberdade humana.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 10
Neste trabalho aborda-se como tema central a ideia de revolução dentro da contribuição
teórica, e/ou prática, de alguns pensadores libertários na área da educação. Ou seja, em
outras palavras, buscou-se entender a relação entre revolução e educação a partir da
ótica da pedagogia libertária. Contudo, antes do aprofundamento do tema, destinou-se
uma parte do trabalho para apresentar brevemente a ampla tradição anarquista. Todas as
discussões e levantamentos tiveram como base a pesquisa bibliográfica. Tal pesquisa
apontou diversos pontos que são tratados, de maneira quase unânime, pela pedagogia
libertária. São eles: a constituição de uma nova sociedade a partir de um novo ser; a
escola como um espaço de dominação e libertação; a formação coletivista sem
desconsiderar a autonomia de cada um; a importância da instrução integral; e a vivência
como uma prática educadora. Todos os tópicos referentes a esta discussão foram
extraídos de pensadores como: Fernand Pelloutier; William Godwin; Mikhail Bakunin;
e Piotr Kropotkin. Além deles, também foi revisitado a experiência do Coletivo da
Paideia e sua conexão com a pedagogia de cunho libertário. Ao final, apresenta-se
algumas aproximações entre a teoria relatada com alguns acontecimentos da conjuntura
recente de nossa história como: os Zapatistas; os Curdos sírios; as ocupações escolares;
dentre outros. Estes, em algum grau, são passiveis de analisar pelas reflexões da
pedagogia libertária.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 11
dirigisse contra o Estado e contra o capital. Estes, por sua vez, tiveram como
precursores os grupos de ação da era do pistoleirismo, durante os anos 1920. Assim,
este trabalho pretende demonstrar a linha de continuidade entre estas diversas táticas
utilizadas pelo movimento operário de cunho libertário e anarquista na Catalunha,
explicitando assim que a autogestão surgida em 1936 estava sendo gestada desde ao
menos os anos 1920 pelo movimento libertário espanhol.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 18
Sessão 2
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 19
ensino de Biologia, a ciência da vida, de modo que acolha diferentes modos de existir.
Além disso, é preciso dar à Ciência o tom do povo, seus sons e seus sotaques, seus
dialetos, pois como produto do conhecimento humano, não pode permanecer no
domínio exclusivo das elites ou de um centro: “deve ser apropriada pela periferia”
(MARÍN, 2013, p. 84). O objetivo desse trabalho é pensar a importância de propor
elementos e estratégias que possam promover o reconhecimento dos estudantes
periféricos nas aulas de Biologia através de textos literários produzidos pela própria
periferia, a fim de colapsar o centro enquanto fortalecem o periférico. Para que assim
viva, como sua gente, a palavra latino-americana e periférica!
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 22
O presente artigo tem como objetivo provocar reflexões sobre a instituição escolar a
partir de dois acontecimentos noticiados em Rondônia no início de 2017. No cerne de
ambas as notícias está a sexualidade e seu estranhamento no espaço escolar. A
multiplicação de discursos repressores sobre o sexo nas escolas tem se alastrado nas
mais diversas formas no atual contexto brasileiro, como é o exemplo do projeto Escola
Sem Partido, que defende a neutralidade ideológica dentro da escola e, por isso, a
interdição dos discursos ligados a gênero. Nossa proposta é analisar criticamente ambos
os casos sob a perspectiva foucaultiana e na perspectiva libertária. Sem a pretensão de
afirmar que Foucault era anarquista, traçaremos relações entre ambos por suas críticas
se direcionarem as mais diversas situações de sujeição e poder, sobretudo na instituição
escolar. Foucault, em uma de suas críticas, parte sobre as formas de poder que se
relacionam a produção dos discursos, sobre aquilo que pode ou não ser dito. Dentro de
nossa análise, optamos partir por um olhar historiográfico – ou ainda, em termos
foucaltianos, arqueogenealógico –, e procuramos compreender os efeitos de tais
discursos e dessas interdições. A finalidade de trazer o pensamento anarquista para a
nossa discussão parte de três pontos: primeiro por se tratar de objeto primeiro de nossa
pesquisa; segundo pelo fato dos anarquistas do começo do século XX problematizarem
parte das relações de dominação e poder relacionadas a formação dos sujeitos e,
terceiro, e pelo motivo anterior, acreditamos que o pensamento libertário pode servir
como uma resposta contrária a esse movimento de interdição não somente da
sexualidade dentro das escolas, mas também de outros discursos marginalizados, como
a questão da família, política, etc, e que já se relacionam com às críticas de Foucault.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 31
Sessão 1
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 32
Bakunin pondera em sua obra "O Império Knuto-germânico e a revolução social" que
não é correto duvidar da justiça política para os trabalhadores e do triunfo final do
proletariado porque isso estaria em desacordo com a "lógica da história". O que na
aparência é uma simples afirmação da potência política do proletariado é na verdade o
termo de uma exposição sobre a natureza da história, quando não da vida em si. Para o
autor eslavo, o desenvolvimento das circunstâncias históricas teria por consequência
necessária a emancipação política e econômica das classes subalternas no mesmo
esquema lógico-filosófico segundo o qual o velho tem de morrer para dar lugar ao novo
no mundo natural. Apesar de expostas dessa maneira essas suas formulações darem
espaço para acusações de informarem um pensamento teleológico, não pretendemos
aqui apontar que segundo Bakunin a História seguiria um roteiro pré-estabelecido, mas
que existem tendências causais gerais no seu desenvolvimento que influenciam-na, e
que devem ser consideradas. Apesar disso, como bem sabemos, uma escola
historiográfica que seja qualificada apropriadamente como anarquista está ainda por ser
consumada. A sistematização tardia das obras de Bakunin pelo Instituto de História
Social de Amsterdã, mais de um século de falsificações no campo editorial
genericamente denominado anarquista e o desprezo de parte dos estudiosos que se
debruçaram sobre a história do pensamento socialista no século XIX mascararam as
contribuições reais desse autor e de Proudhon para o surgimento das ciências sociais. É
uma questão ignorada que, assim como Feuerbach e Marx, Bakunin buscou formular
uma concepção teórico-filosófica “materialista” que se opusesse, dentro da filosofia
europeia, ao idealismo hegeliano. Apesar da pouca sistematização, o pensador russo
partiu da leitura das categorias conceituais proudhonianas, como de “forças coletivas” e
“dialética serial”, e pretendeu – conseguiu, defendemos – desenvolver uma unidade
teórica no seu pensamento político e sociológico: lançando a pedra angular do hoje
denominado bakuninismo. Bakunin acreditava que os povos amparam-se nos
fenômenos sociais coletivos de sua história e conformam uma chamada “consciência
coletiva” – conceito emprestado de Proudhon –, mesmo e apesar das formulações
teóricas e acadêmicas dos historiadores e cientistas sociais, e que partindo desse saber
compartilhado, popular e amparado na vida histórica coletiva (experiência histórica, no
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 37
Em Cuba, como em boa parte do mundo, o anarquismo deita raízes entre o final do
século XIX e início do século XX. Sua história na ilha remonta à participação de
militantes anônimos e proeminentes nas lutas pela abolição da escravidão em 1886 e na
guerra de independência em 1895. Da formação de clubes culturais, grêmios,
associações de artesãos e sindicatos à confluência de muitos libertários na organização
do M-26 de Julho, que derrubou a ditadura de Fulgencio Batista no final dos anos 1950,
os anarquistas tiveram relevante papel na constituição do campo político popular do
país. A participação e existência política dos anarquistas cubanos se encerra com a
afirmação do regime socialista de tipo estatal-autoritário instaurado por Fidel Castro e
seus colaboradores mais próximos, culminando na eliminação física ou exílio de
militantes libertários no espectro dos chamados “dissidentes políticos e
contrarrevolucionários”. A presente investigação está ancorada em levantamento e
análise documental de fontes primárias sobreviventes e localizadas fora do país,
relativas aos grupos anarquistas organizados em Cuba entre as décadas de 1940 e 1950,
em especial os jornais Solidaridad Gastrónica (pertencente ao Sindicato Gastronómico)
e El Libertario (da Asociación Libertaria de Cuba). Com base nesse material, e em
diálogo com as atuais releituras sobre a gestação e consolidação do processo
insurrecional de 1959, pretende-se apresentar uma modesta reflexão sobre a
participação dos anarquistas no fenômeno histórico conhecido como Revolução
Cubana, assinalando o escopo e o espaço social de inserção destes militantes, bem como
as posições por eles assumidas frente a formação do regime político de intenção
socialista. Desse modo, espera-se contribuir com o esforço de recuperação da memória
histórica de outros lutadores sociais invisibilizados e que igualmente compuseram a
atmosfera revolucionária da época, permitindo visualizar a complexidade dos debates
político-ideológicos da esquerda no contexto da revolução cubana reconectando suas
linhagens não marxistas.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 39
em diante sucederam-se batalhas para a retomada de um critério menos severo, até que
o Decreto n. 2.741, de 08/01/1913 revogou essa disposição, “[…] com o intuito de
evitar que o Brasil fique constituído em refúgio de anarquistas e de malfeitores
profissionais!” (GORDO, 1913, s/p). Todavia, o Decreto nº 4.247, de 06/01/1921
retomou a limitação, agora para 5 anos. O aumento do tempo e as condições de prova
tinham duplo valor: para o governo, legitimação de ações pela ordem pública; para os
anarquistas, possibilidade de defesa, ainda que restrita, pela existência de um parâmetro
legal. Afinal, sobreveio a Emenda Constitucional de 03/09/1926 à Constituição Federal
de 1891”, que inseriu o § 33 ao Art. 72, permitindo a expulsão, numa espécie de
garantia às avessas. Dali em diante, houveram mais expulsos dali a 1930 do que em
todo o período antecedente. Isso demonstra um movimento de adaptação da constituição
à lei, quando deveria ter sido o contrário. Por isso, alguns juristas antes e depois dessas
modificações mantiveram-se contrários a partir do argumento constitucionalista de que
a lei não poderia prever algo mais grave do que a constituição, que era muito permissiva
com a circulação de pessoas (BEVILACQUA, 1911, p. 67-68; FRANCA, 1930, p. 11).
A jurisprudência do STF caminhou por uma via intermediária nesse período: de um lado
não conhecia o mérito dos habeas corpus impetrados (HC 8.555, 12/06/1922),
legitimando as expulsões do governo; por outro, concedia a ordem em caso de demora
na prisão (HC 3.803, 03/07/1915), de modo a evitar abusos contra pessoas sem culpa
formada.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 41
Sessão 2
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 44
No início do século 20, o anticlericalismo que se fez germinar no Brasil, tinha como um
dos seus inveterados propagadores, o anarquista Benjamim Mota, que estava à frente do
combativo jornal A Lanterna. Surgida em março de 1901, essa folha apresentava-se
como órgão da Liga Anticlerical de São Paulo. Assim, desde 1899, junto com outros
correligionários, Benjamim Mota lançou os primeiros pilares da Liga Anticlerical,
visando, com isso, fazer barreira ao jesuitismo que, escorraçado da Europa tentava
novamente implantar-se no Brasil. Mas quem era esse intrépido jornalista que dava voz
ao anticlericalismo em São Paulo? Seu nome completo era Benjamim Franklin Silveira
da Mota (1870-1940), brasileiro, advogado, jornalista, anarquista e maçom – membro
da Loja Sete de Setembro (São Paulo), assim como redator-chefe d’A Lanterna. Em um
primeiro momento de sua trajetória política mostrou-se defensor da causa abolicionista
e do ideal republicano. Porém, com sua ida para Paris, onde morou de 1891 a 1893,
retornou ao Brasil cheio de prestígio literário, boêmio e anarquista. Logo em 1894, ao
lado de Lucien Grillot, publicou, em São Paulo, o periódico O Progresso, redigido em
português e francês e que, em suas páginas, já deixava transparecer críticas de tons
anticlericais. Dotado de grande inteligência e apreciável cultura, seu engajamento no
jornalismo não parou por aí: foi redator – entre os anos de 1897 e 1898, do jornal O
Rebate (São Paulo) – semanário republicano independente; assim como, em 1898,
publicou a revista O Libertário (São Paulo) e colaborou na redação do Il Risveglio (São
Paulo) – publicação anarquista redigida em italiano e português. Nessa mesma época,
lançou o livro Rebeldias – primeira obra de propaganda anarquista escrita no Brasil. No
ofício de advogado atuou em prol de diversas sociedades operárias e na defesa de
militantes socialistas, anarquistas, e por essa lida jurídica junto ao movimento operário,
recebeu a pecha de tribuno da plebe. Além disso, Benjamim Mota foi diretor de O
Rebelde (1898) e, em 1899, colaborou em El Grito del Pueblo (São Paulo).
Posteriormente, em 1903, passou a colaborar no jornal La Nuova Gente – publicado
pelo grupo anarquista La Propaganda, de São Paulo. No ano de 1906, dirigiu o Jornal do
Povo (São Paulo), e na sequência, em 1908, fundou A Vanguarda, publicado em Santos.
Ademais, Benjamim Mota, ateu declarado e confesso, manteve-se em forte conexão
com a maçonaria luso-brasileira de São Paulo. Logo, defendeu um livre-pensamento de
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 47
expressão ateia, que ganharia tônica na publicação do folheto Ni Dios, Ni Patria (1899),
bem como do livro A Razão contra a Fé (1900). Para tanto, afirmou: “as religiões só são
úteis aos parasitas, aos que vivem do suor das classes trabalhadoras. É preciso que o
povo se convença desta verdade”. Deste modo, por sua intrépida conduta, foi vigiado e
preso, assim como, em certa ocasião, quando andava pelo centro de São Paulo, foi
atacado com golpes de bengala. Evidentemente, Benjamim Mota desempenhou um
papel crucial nas primeiras manifestações ideológicas e práticas do anticlericalismo e do
anarquismo no Brasil.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 48
As informações biográficas sobre Isabel Cerruti são poucas. A partir de uma pesquisa
sobre a repressão política à imprensa anarquista nos anos 1930 em São Paulo (SILVA,
2005), pudemos colher alguns dados nos prontuários do DEOPS e obras de Edgar
Rodrigues (1994). Apontamentos iniciais sobre a vida e pensamento de Isabel Cerruti
foram produzidos em 2010 como um capítulo do livro Mulheres Subversivas,
organizado por Maria Luiza Tucci Carneiro, e que segue inédito. Gratas exceções são as
recentes pesquisas de historiadoras como Samanta Colhado Mendes (2010), Ana
Cláudia Ribas (2015) e Daniela Fernanda de Almeida (2018). Também está em
processo de edição uma antologia de textos a ser editada pela Biblioteca Terra Livre.
Porém, ainda há lacunas referentes à vida e à obra dessa anarquista brasileira.
Pretendemos, com o presente trabalho, colaborar para que seu nome torne-se mais
conhecido, apresentando o resultado parcial de pesquisas bibliográficas e documentais.
Isabel Bertolucci Cerruti nasceu em 19 de agosto de 1886, na cidade de São Paulo. É
filha de Luigi Bertolucci (italiano) e Maria Emília Ferreira da Silva (brasileira). Em um
artigo sobre a Revolução de 1932, em São Paulo, Isabel cita que seu avô, Joaquim
Ferreira da Silva, pai de Maria Emília, teria lutado na Guerra do Paraguai. Quanto à sua
profissão, Edgar Rodrigues afirma que era “dona de casa”. Já Maria Luiza Tucci
Carneiro (2002) aponta que era professora e fundadora do Centro Feminino de
Educação. Samanta Colhado Mendes ressalta que, ao contrário de Maria Lacerda de
Moura, “Isabel Cerruti nasceu em uma família de operários” e “trabalhou como tecelã
em São Paulo” (MENDES, 2008, p. 08). Parentes apontam que ela ter sido, também,
professora de piano. Casou-se com Américo Cerruti em 1908 (de quem adotou o
segundo sobrenome), que foi seu companheiro por toda a vida e veio a falecer em
novembro de 1954. Américo era químico e perfumista, Era também músico, assim
como a esposa e suas irmãs. Tocava violino e era “um virtuoso”, segundo consta em
anotação encontrada no álbum de fotografias que pertenceu à Isabel. Isabel nasceu e
cresceu no Brás, bairro operário paulistano onde residiu por muitos anos. Em um artigo
de 1933 afirmou que morava no centro da cidade, porém passou os últimos anos de sua
vida num sobrado no bairro do Ibirapuera onde veio a falecer em 01 de maio de 1970,
com 83 anos de idade. Segundo familiares, encontra-se sepultada no cemitério da Vila
Mariana em São Paulo. Segundo Edgar Rodrigues, Cerruti “jovem ainda conheceu a
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 50
Arte e Anarquismo
Sessão 1
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 55
No início de 1912, Neno Vasco parecia bastante satisfeito com os resultados assumidos
pelo trabalho desenvolvido pelos anarquistas junto ao movimento operário.
Contrariando entretanto suas previsões, o engajamento dos anarquistas com o
sindicalismo revolucionário em quase todas as partes do globo, não ocasionou o
apagamento imediato dos anarquistas terroristas, tal como atesta o assalto do grupo
liderado por Julles Bonnot ao banco francês da rua Odonner no ano de 1911. Tal fato
retoma e reatualiza a espinhosa problemática da relação historicamente presente no
imaginário – entendido como um conjunto de imagens, símbolos e afetos que
configuram a realidade ( LE GOFF, 1995) – entre anarquismo e terrorismo para Neno
Vasco. Em uma época na qual os assassinatos, explosões de bombas, roubos e outras
formas de “propaganda pelo fato” pareciam ser táticas superadas pela consolidação do
sindicalismo revolucionário, o cronista se vê obrigado a (re)visitar a história do
anarquismo entre os séculos XIX e XX na Europa. Em uma época na qual os
assassinatos, explosões de bombas, roubos e outras formas de “propaganda pelo fato”
pareciam ser táticas superadas pela consolidação do sindicalismo revolucionário, o
cronista se vê obrigado a (re)visitar a história do anarquismo entre os séculos XIX e
XX. Ao (re) escrever sobre o lugar ocupado pelo terrorismo naquele contexto, nota-se
fortemente como memória e esquecimento se inserem e se articulam na escrita
cronistica do nosso biografado, formando um umbral de impossível indistinção (
SEIXAS, 2003). Com o intuito de interrogar as imagens da memória e do esquecimento
em Neno Vasco envolvendo o imaginário do anarquismo terrorista, perscruto neste
trabalho as crônicas de sua autoria que foram publicadas na imprensa anarquista e
operária do Brasil e de Portugal, durante a década de 1910, sendo que parte destas
foram republicadas no livro Da Porta da Europa ( VASCO,1913).A escolha de suas
crônicas enquanto fonte privilegiada para essa pesquisa impôs pela importância que esse
gênero literário assumiu frente aos demais nos periódicos militantes.(PRADO;
HARDMAN,2001,p.16). Ao experimentar a narrativa curta, o cronista consegue
perceber o flagrante no momento da sua consecução. Desse modo, o assunto da sua
escrita, pode surgir de forma ocasional, e ir preenchendo a pauta do jornal a partir das
demandas que, segundo ele, sejam importantes para a militância. Embora essa escrita
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 63
fosse prioritariamente uma narrativa, utilizada para informar e debater com os leitores
brasileiros e portugueses sobre este importante período do anarquismo, ela também
possibilitou ao nosso biografado uma forma de escrita de si (CASTRO, 2004, p. 14-15).
Isso permitiu, por sua vez, a este biógrafo encontrar uma chave para abrir não apenas a
porta da história do movimento anarquista e operário no continente europeu, mas
também, e, sobretudo, a porta da sua história de vida, ajudando a melhor compreender
os motivos que levaram Neno Vasco, assim como muitos outros, a esquecer o capítulo
envolvendo o terrorismo na história do anarquismo.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 64
em segundo lugar, significa romper com a lógica mercadológica que determina o que
pode ser lido. Uma obra literária teatral como Terrenal, por exemplo, sofre com pelo
menos duas barreiras antes de chegar ao público brasileiro: 1) a barreira editorial, que
não vende nem publiciza a obra fora da Argentina; 2) a barreira linguística, já que o
texto foi escrito em espanhol. É nesse sentido que a tradução pode funcionar como uma
estratégia de expropriação: traduzindo uma obra literária, podemos ampliar
potencialmente suas chances de ser lida e apreciada (e gerar outros efeitos críticos) por
um público além daquele que entende a língua original. Mas não basta traduzir para
expropriar: é preciso traduzir fora do mercado editorial capitalista. Traduzir e publicar
gratuitamente, por exemplo. No caso específico do meu projeto de doutorado, me valho
da brecha existente nas leis de direito autoral, o que me permite a publicação integral de
textos traduzidos dentro de trabalhos acadêmicos: ou seja, vou usar minha tese de
doutorado para disponibilizar gratuitamente a tradução da obra de Mauricio Kartun em
língua portuguesa, o que está perfeitamente de acordo com o conteúdo do texto escrito
por ele e ao qual eu tive acesso por meio da pirataria, essa outra forma de expropriação
graças à qual tanta pesquisa acadêmica de qualidade acaba sendo desenvolvida no
Brasil.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 66
Arte e Anarquismo
Sessão 2
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 67
Existe um cinema anarquista? O que é filme anarquista? Onde estão os primeiros filmes
anarquistas? Quem os definiu assim? Quais seus personagens e enredos? Quem os
produziu? Com que objetivo? Onde circulam? O que define um audiovisual anarquista e
um festival de filmes anarquistas? Onde e quando ocorrem ou aconteceram? Quem os
promove e divulga? Com que finalidade?
Buscando responder essas perguntas, pretendo no artigo redimensionar o seu
entendimento, criando uma possível cartografia, que ofereça um panorama mais amplo
deste objeto. Existem algumas obras sobre o tema como o livro de Richard Porton
(2001) que faz um estudo pormenorizado da relação entre a historia do anarquismo –
baseado em fatos históricos e obras de diferentes autores- e as diferentes representações
cinematográficas que teve acesso. Nele se amplia a definição de cinema anarquista, não
somente mencionando filmes produzidos por anarquistas, mas também obras
cinematográficas que tenham reproduzido em algum de seus fragmentos ações
vinculadas ao anarquismo. Para Isabelle Marione (2009) o que possivelmente ligava
Georges Méliès, Émile Cohl, Man Ray, Hans Richter, Jean Vigo era exatamente o
anarquismo. A autora mapeou as influências anarquistas no imaginário e na produção de
cineastas de idos de 1895 até 1935 na França. Ela esclarece uma rede imbricada de
relações, que contribuem para um novo olhar do cinema francês. O ponto inicial é a
concepção artística do movimento libertário de Pierre-Joseph Proudhon, que defendia a
utilização do anarquismo na arte como forma de manutenção de todas as liberdades e
para fazer desaparecer o princípio da autoridade ou das instituições. A partir daí, o livro
mapeia as ligações entre os ecos deste pensamento com os estilos cinematográficos ou
com os trabalhos pioneiros de cineastas. Ela observa uma vontade de ruptura quando o
ideário anarquista se misturou com o cinema. Ruptura pela forma, pelo conteúdo, ou
pelos dois ao mesmo tempo. Não se trata de afirmar que Méliès ou Hans Richter eram
anarquistas, mas de entender, o uso das representações do ideal libertário nos meios
artísticos cinematográficos. Dessa maneira, a perspectiva microscópica e macroscópica
liga a teoria sobre a arte como forma de incidir sobre a política. Ela divide os cineastas
em dois grandes grupos. Um composto por militantes anarquistas engajados ou por
descendentes de militantes, como Armand Guerra, Gustave Cauvin, Jean Vigo. Outro,
contendo intelectuais com tendências libertárias, tais como Luis Buñuel, Émile Cohl,
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 73
Sessão 1
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 77
O conceito de ação direta apareceu por escrito pela primeira vez no Congresso de
Amiens, já tendo sido usado pelo sindicalismo francês. Com o tempo, veio a significar
uma ação política com um objetivo específico, executada diretamente por um indivíduo
ou grupo de pessoas, sem apelar por legitimidade para uma autoridade maior. O
objetivo no caso deve ser um resultado concreto e não apenas publicidade para seu
agente. Mais tecnicamente, portanto, implica agir sem referência a, à revelia de,
instâncias de autoridade que seriam teoricamente responsáveis por permitir e/ou
executar o ato. A ação direta não necessariamente depõe sobre as ideias políticas
daqueles que executam a ação. Há uma tensão entre a definição do conceito,
relativamente agnóstica de valores, e o contexto anarquista em que ela se desenvolveu.
O problema decorre do fato de que não há outra tradição de pensamento político que
valorize publicamente, em termos simultaneamente teóricos e práticos, o conceito de
ação direta. Ao presumir certos valores, anarquistas defendem uma ação direta que já os
presume. Não obstante, é no contexto do anarquismo que vamos encontrar definições
mais produtivas de ação direta, pois o debate sobre o termo no campo de estudos da
tipologia de ações políticas é bastante pobre. Uma “ação direta autoritária” passa pela
questão de que, se a ação direta tem como fim a resolução de um problema, é de suma
importância a definição de quem é afetado pelo problema, o que por sua vez está
relacionado ao que é percebido como um problema ou objetivo em primeiro lugar. A
ação direta não-anarquista costuma ser associada a outros conceitos, a depender de
certas subtipos: arrogância, condescendência e paternalismo; imoralidade e sociopatia;
autoritarismo e imperialismo. Toda ação direta pode ser mal vista se interpretada como
um desrespeito às “regras do jogo” do sistema sociopolítico. Uma “ação direta
autoritária” não tem outro objetivo se não a formação de um, ou integração com um,
Estado, enquanto monopólio do uso da força. A legitimidade pode ser vista como um
recurso estratégico à medida que o não-conflito leva à estabilidade de um sistema; para
que se possa proteger quaisquer avanços que tenha conseguido construir, partidários da
ação direta precisam legitimá-la. A linguagem da autoridade e do Estado, isto é, um
modelo de legitimidade estatista, é utilizado no caso da ação direta autoritária. Mas em
nenhuma outra tradição teórica além dos anarquistas a ação direta impõe-se como fim, e
para evitar que suas ações diretas sejam tão mal vistas como as versões autoritárias,
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 78
Este trabalho pretende traçar uma relação entre o desenvolvimento histórico das práticas
de domesticação e exploração animal com a ascensão do especismo, enquanto ideologia
proveniente do antropocentrismo moderno. Nosso trabalho apoia-se simultaneamente no
material produzido por militantes anarquistas na causa da libertação animal e, de igual
modo, nos teóricos que discutem a questão da relação entre o ser humano e o mundo
natural, a fim de situar o antiespecismo enquanto pauta concernente ao projeto de
revolução social. O que é o especismo? Em linhas gerais, trata-se de uma ideologia que
defende a distinção entre animais humanos e não-humanos, a partir de uma definição de
valores intrínsecos que os afasta. Isto é, a partir do ponto de vista especista há diferentes
pesos para julgar o significado do humano em relação aos demais animais. Tal
julgamento define-se, à primeira vista, por associar a seus diferentes modos de ser,
diferentes valores, consequentemente atribuindo direitos desiguais quanto à preservação
de sua existência e meios de sua subsistência. Essa ideia encontra suas raízes na
exacerbação dos valores humanistas cunhados pela filosofia de tradição ocidental,
configurando-se como uma fetichização do antropocentrismo. A natureza, os seres que
nela habitam e por ela têm suas formas particulares, servem aos propósitos da esfera
humana. Assim, retira-se qualquer caráter de “organismo”, de formas de vida que
igualmente compõem um mesmo ecossistema, para submetê-las a seu caráter de
utilidade relativa ao domínio humano sobre o mundo natural. Entretanto, como toda
ideologia, o especismo nasce de ações concretas que possibilitam seu desdobramento
em ideia e, posteriormente, sua mobilização social como forma de manutenção de
determinada sistemática de atos. Em sua forma prática, o especismo encontra suas raízes
na exploração animal ao longo da história humana corrente. Se preferirmos, podemos
afirmar que há traços de especismo que acompanham a história do dito mundo
primitivo, mas o advento do humanismo iluminista assevera a separação entre humano e
não-humano, enquanto base para as manifestações modernas do especismo. De igual
modo, essa ideologia é gradativamente incorporada como um dos pilares da exploração
capitalista sobre a natureza, seguindo o avanço da técnica sobre a mesma. Podemos
distinguir dois modos genéricos de especismo: Um deles, geral, e elementar, estabelece
as fronteiras entre animais, resultando no antropocentrismo. Nesta forma são
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 80
consideradas duas ideias abstratas em oposição: o que é ser humano, e o que não é ser
humano. Desconsiderando assim, toda a gama de espécies que se inclui no segundo
grupo. A segunda: hierarquiza entre os animais não-humanos em espécies que têm mais,
ou menos, direitos, que as outras. Por exemplo, nota-se esta segunda forma de
especismo nas distinções de tratamento entre animais domésticos e animais
culturalmente marcados para o abate. Há na ordem social presente uma relação de
interdependência que constitui sua base ideológica. Podemos afirmar, os mesmos
senhores beneficiam-se da exploração humana e não-humana, e suas práticas opressivas
pouco distinguem seus alvos. A marca utilitarista que subjuga todas as formas de vida
ao avanço do capital e à manutenção da ordem social estabelecida é, em primeira
instância impessoal. Porém, a partir dela há a ramificação em ideologias que
disseminam a separação entre o conjunto de seres oprimidos, baseada na particularidade
que concerne cada individuo em sua relação original com a materialidade que o cerca. O
especismo engendra uma posição moral a respeito dos animais não-humanos. Tal
posição se manifesta socialmente sob muitas formas, desde a prática da produção e
consumo de mercadorias obtidas através da exploração animal, até a manifestação
linguística consequente desses valores. Isto se realiza através da negação do estatuto
ontológico básico ao animal não-humano.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 81
Sessão 2
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 91
O presente artigo irá debater a construção da Retomada Aty Jovem (RAJ), que figura
hoje enquanto grande conselho e assembleia da juventude Guarani e Kaiowá organizado
a partir de distintas áreas de retomadas de terra, aldeias e acampamentos de beira-de-
estrada do Mato Grosso do Sul, re-existindo no período relativo ao processo que
culminou nos levantes de junho de 2013 e que os procede, enquanto conjuntos de
“insurreições invisíveis” (FERREIRA, 2015), onde o mesmo povo produziu e
enfrentou suas próprias guerras, se constituindo em sua amplitude como movimento
étnico-social (PEREIRA, 2003). A assembleia, nascida em 2016 por meio da retomada
de Paraguassu, anuncia um protagonismo de base com efeitos reais nas trincheiras das
lutas pelo tekoha, e cujas contradições geradas em relação ao agronegócio
movimentaram transformações em territorialidades de potência autonômica onde novas
práticas políticas nascem através da ação. Assim, buscando dialogar com a etnografia
ainda em curso, que realizo desde 2016 nas áreas de retomada de terra Guarani e
Kaiowá no MS, tentaremos evidenciar a existência “da crise do Estado e do surgimento
de novas formas de luta e organização” (Moraes; Jourdan; Ferreira, 2015), ao passo que
emerge um novo segmento político entre os Guarani e Kaiowá, com suas próprias
reivindicações e campo de relações, abrindo novos caminhos na luta pela terra.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 94
O presente artigo fará uma análise comparativa entre as posturas e atitudes políticas da
CNT-FAI e da CUP, nos diferentes contextos de independência catalã de 1934 e de
2017. Desde os movimentos sociais surgidos como conseqüência da crise internacional
iniciada em 2008, o independentismo catalão voltou á cena política espanhola com
considerável vigor. Na esteira desses movimentos ganhou força a Candidatura d’Unitat
Popular, a CUP, organização assembleísta, descentralizada e municipalista,
freqüentemente tida como anarquista e comparada com os anarquistas da Confederación
Nacional del Trabajo e Federación Anarquista Ibérica, a CNT-FAI, anarcossindicalistas
das primeiras décadas do século XX que participaram, á sua maneira, dos debates sobre
a independência catalã durante a Segunda República Espanhola (1931-1936).
Pretendemos averiguar se há correspondência ideológica e/ou de princípios entre as
duas organizações e, também, se existe uma relação diacrônica entre elas, considerando
seus respectivos contextos.
I Colóquio Pesquisa e Anarquismo - Caderno de Resumos 97
ANARQUISMO E HEGEMONIA
Carlos André dos Santos
Anarquistas” na revista Dielo Truda, escrita por revolucionários russos que haviam
participado da Revolta de Kronstant e da Revolução Ucraniana em resposta as estruturas
Bolcheviques; as críticas de Camillo Berneri ao conceito de hegemonia de Gramsci e,
de Gramsci aos anarquistas e anarcosindicalistas, são discursos, ao mesmo tempo
analíticos, éticos, estratégicos, e não poderiam deixar de ser. Afinal, o que estava em
jogo era política revolucionária, e não (...) um debate acadêmico em que as vaidades se
matam umas às outras, nem um torneio literário onde só se derrama tinta, como diria
Bakunin. O conceito de hegemonia de Antônio Gramsci proveniente da sua filosofia da
práxis e as criticas do seu compatriota anarquista Camillo Berneri ao marxismo, são
extremamente viscerais e ricas para o debate sobre as estratégias socialistas, não só por
Berneri compartilhar com Gramsci a preocupação sobre questão do “domínio” e
“direção” de classe, ou por manter um diálogo coerente com quem considerou “um
valente intelectual e tenaz militante” e “nosso adversário ”, mas, em especial, por terem
ao longo de suas trajetórias, como intelectuais orgânicos das classes subalternas,
vivenciando um período glorioso de revoluções e lutas operárias, como também, as
desgraças da derrota do socialismo pelo fascismo na Itália e a burocratização e
capitalismo de Estado estalinista.