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sobre desenvolvimento
agrícola e rural
nos países ACP
http://spore.cta.int
Reforçar as ligações
O crescimento
das cadeias de
valor agrícolas
Sumário | nÚmero ESPECIAL - JULHO 2012 Reforçar as ligações
Após décadas de subinvestimento, existe
1 | UMA VISÃO actualmente um consenso geral em torno
da melhoria da produtividade agrícola e do
• Uma cadeia sem RUPTURAS 3 aumento dos rendimentos dos agricultores.
• Reportagem no Ruanda: café ao gosto dos clientes 6 Hoje, o crescimento da agricultura é
• A palavra aos especialistas: “Comunicação e coordenação”, reconhecido como essencial para a conquista
• com Andrew Shepherd 8 da segurança alimentar e nutricional, assim
• Reportagem no Senegal: da cabaça ao pacote industrial 9 como para o aumento da prosperidade.
• Entrevista: “A força do produto local”, com Aïssatou Diagne 10 Mas o aumento da produtividade constitui
apenas parte da solução. Os agricultores,
pastores e pescadores necessitam de ter
2 | UMA AVENTURA COLECTIVA mercado para aquilo que produzem. Além
disso, produzir e, em seguida, procurar mercado
• UNIÕES DE NEGÓCIOS 11
não é a melhor via para o crescimento. Os
• Reportagem em Trindade e Tobago: um corte superior a todos 13 produtores devem ajustar a sua produção, para
• Um concentrado organizado 14 fornecerem aquilo de que os consumidores
• A palavra aos especialistas: “O cliente tem sempre razão”, necessitam. As cadeias de valor, que ligam a
• com Stephen Mbithi 16 procura dos consumidores ao agricultor, são a
• Reportagem no Burquina Faso: caminhar lado a lado 17 melhor forma de integração dos agricultores
nos mercados modernos.
• Entrevista: “Valorizar os produtos locais”, com Bruno Gnidehoué 18
Seguindo esta linha, o CTA identificou a
melhoria das cadeias de valor na agricultura –
3 | ESCOLHAS ESTRATÉGICAS especialmente no caso dos produtores de
pequena escala – como uma das prioridades da
• APROVEITAR AS OPORTUNIDADES, MEDIR OS RISCOS 19
sua nova estratégia para 2011-2015.
• A noz-moscada sai reforçada 20 Esta Edição Especial da Esporo apresenta as
• Reportagem na Guiana: valorizar os produtos tradicionais 21 “cadeias de valor” aos nossos leitores dos
• Reportagem nas Fiji: as floristas mais fortes do que as inundações 22 Países ACP. O termo “cadeia de valor” é muitas
• A palavra aos especialistas: “Do grão à chávena”, com Peter Batt 24 vezes utilizado com sentidos diferentes,
mesmo por especialistas no assunto. Tentamos
• Reportagem no Uganda: a qualidade compensa 25
esclarecer esta confusão e, sobretudo, fornecer
• Entrevista: “Avaliar as oportunidades”, com Don Seville 26 uma panorâmica geral das interessantes
inovações relativas às cadeias de valor nos
N
os círculos agrícolas, o conceito de cadeia
Définir les de valor é cada vez
chaînes mais utilizado
Mariages para des-
d’affaires Opportunités Une volonté
de valeur crever estratégias que visam melhorar as et risques politique
perspectivas comerciais dos produtores e
aumentar as margens de lucro. Mas, o que é exac-
tamente uma cadeia de valor? Não é fácil definir um
termo originalmente cunhado para o sector indus-
trial. É mais simples começar por dizer o que uma
cadeia de valor não é. Uma cadeia de valor não é
constituída simplesmente por um agricultor que ven-
de a sua produção a um comprador, por mais sólida
que seja essa ligação comercial. Nem é a sequência
de produção e comercialização de um produto espe-
cífico como o café ou o cacau. Para muitos observa-
dores, a característica distintiva de uma cadeia de
valor reside em que todos os seus elos estão coor-
denados, ocorrendo um acréscimo de valor em cada
fase, tendo decisivamente na mira o mercado final.
Assim, se um comprador trabalha com um agricultor
na base de um acordo prévio sobre que tipo de pro-
duto é necessário fornecer a um certo tipo de con-
sumidor ou transformador, estamos na presença de
uma cadeia de valor. Nas Caraíbas, algumas iniciati-
vas puseram em contacto directo os agricultores com
os proprietários dos estabelecimentos turísticos, com
base numa definição prévia dos tipos de fruta e vege-
tais frescos necessários para os turistas,
incluindo em alguns casos a prestação Elos da cadeia
de apoio aos produtores. No âmbito de valor dos
pimentos de
desta Edição, a definição poderia ser Diffa (Níger)
Monitorização Análise da
e avaliação cadeia de valor
lidamente ligado ao seguinte, permite-lhe oferecer
oportunidades interessantes aos pequenos produ-
tores na ponta mais remota da cadeia.
COMPETITIVIDADE
são da máxima importância. O Banco Africano Na região de Kwazulu Natal, na África do Sul, esta
Définir les chaînes estima
de Desenvolvimento Mariages d’affaires
que, por volta de 2060, estratégia trouxe dividendosUne
Opportunités volonté
quando se concluiu que
de haverá
valeurum bilião de africanos de classe média. No ethavia uma forte procura de politique
risques tomate chucha por parte
Uganda, a urbanização teve um enorme impacto no
sector de lacticínios, triplicando o mercado dos pe-
quenos produtores. As classes médias dos países em
“Todos os elos da cadeia podem
desenvolvimento consomem mais carne e derivados beneficiar com a adição de valor”
do leite, assim como alimentos prontos para o con-
sumo, saladas preparadas e sumos de fruta frescos. da comunidade indiana de Durban. Foi elaborado um
As sofisticadas cadeias de valor de exportação têm plano e, quando a cadeia se estabeleceu, os produto-
frequentemente mais dificuldade em penetrar neste res beneficiaram de um aumento de receitas da ordem
mercado do que os produtores domésticos, mesmo dos 400%.
em termos de padronização. O valor pode ser atribuído, ou aumentado, por meio
As cadeias de valor bem-sucedidas são orientadas da melhoria da qualidade do produto, através de me-
por informações relativas às exigências dos consumi- lhores sementes, insumos ou gestão pós-colheita no
dores, muitas vezes por meio de pesquisas de mercado. caso das culturas alimentares, ou melhor qualidade
reportageM
Ruanda
Café ao gosto dos clientes
campanha agrícola”, conta-nos. Pouco tratada em estações de lavagem
tempo antes quase que arrancara todas construídas pelo Estado e por
as suas plantas de café, desanimado investidores privados. Hoje em dia a
com os baixos preços de compra! A partir despolpagem, triagem, fermentação,
de 2004, a Starbucks Coffee Company, secagem e ensacamento fazem-se
uma empresa americana especializada nestas estações e não nas plantações
na comercialização de café, com mais dos produtores. “Estas unidades de
de 20.000 cafés no mundo, fez acordos lavagem não só contribuíram para o
com o Governo ruandês e os produtores melhoramento da qualidade do café e
da cooperativa Dukunde Kawa. A o aumento do seu preço de venda no
© A.-B. Twizeyimana
Starbucks compra café de alta qualidade mercado mundial, mas também criaram
a um preço de “comércio justo” e cerca de 4000 empregos”, estima um
ajuda os agricultores a melhorarem e agrónomo do Ministério da Agricultura e
aumentarem a sua produção. Concede dos Recursos Animais.
empréstimos à cooperativa, que Todos os anos, provadores nacionais
O Ruanda apostou tudo na fornece fertilizantes e pesticidas aos e internacionais provam estes cafés,
qualidade do seu café, para cafeicultores, que eles reembolsam premiando os melhores. Este “prémio
agradar às empresas exigentes, após a venda das colheitas. Graças a de excelência” promove a qualidade
como a Starbucks e os seus uma angariação de fundos feita pelos do café ruandês à escala internacional.
clientes, e vender a um preço empregados da empresa, os produtores Em 2011, os cinco primeiros produtores
mais alto. E ganhou a aposta. receberam vacas que darão estrume receberam conselhos para melhor
para os seus cafezeiros. Aprenderam comercializar o seu café, além de ajuda
Este cafeicultor do Norte de Ruanda
também as técnicas adequadas para em material (enxadas, etc.). Pelo seu
passa os dias a mimar os seus 8000 pés
colher à mão as bagas de café, quando lado, a cada três meses, a Starbucks
de café, que lhe garantem um
bem maduras. apresenta nas suas lojas uma promoção
rendimento miraculoso: “Nos últimos
O Governo ruandês incitou os especial do melhor café ruandês. Junto
5 anos, com a ajuda da Starbucks,
produtores de café do país a dos seus clientes ingleses, a empresa
pude aumentar e tratar bem da minha
melhorarem a qualidade do seu publicitava recentemente “um néctar a
plantação. Agora ganho entre 600 a
café. Quase toda a produção dos redescobrir”…
800 mil RWF (entre 800 e 1000 €) por
500.000 cafeicultores do país é agora Albert-Baudouin Twizeyimana
$ $$ $$$ $$$$
JULHO 2012 | Esporo Número ESPECIAL | 7
A palavra aos especialistas
1 | Les défis
Comunicação e coordenação
As cadeias de valor são empreendimentos comerciais e os
agricultores mais pobres podem encontrar dificuldades em participar
© CTA
ENTREVISTA
Définir les chaînes Mariages d’affaires Une volonté
A força do produto local
Opportunités
de valeur et risques politique disso beneficiou da introdução de
cereais locais no fabrico de pão, visando
A Associação de diminuir os custos com o trigo importado
1998) para mais de 100.000 actualmente.
Transformação (450.000 t/ano). Também ganhámos
de Cereais Locais Como está organizada a Associação e concursos com padarias que procuram
© M. Seck
Uniões de negócios
Conhecer os gostos do cliente, adicionar valor…
É o que os produtores devem fazer para convencer
os consumidores a aceitarem os seus produtos.
Podem, por vezes, até dar um pequeno passo em
frente para se aproximarem deles, mas devem evitar
© IRD/O. Barrière
T
êm um ar suculento estes abacates, gran-
Mariagesdes, brilhantes, bem
d’affaires maduros… No en-
Opportunités Une volonté
tanto, nenhum consumidor
et risqueseuropeu os politique
compraria. Isso é surpreendente para um
produtor de um país africano, habituado a levar os
seus frutos para o mercado mais próximo, onde são
muito apreciados. O facto é que ele não conhece as
necessidades e os gostos dos consumidores euro-
peus, que preferem abacates pequenos, para serem
comidos por uma só pessoa, com poucas gorduras
e que possam conservar-se durante alguns dias.
Uma série de critérios indispensáveis a levar em
conta para aceder aos mercados de exportação.
Um exemplo, entre tantos outros, que mostra que
os agricultores não podem contentar-se apenas em
oferecerem o que cultivam, mas devem adaptar-se
aos desejos de quem, no fim da cadeia, irá consu-
mir os seus produtos, frescos ou transformados,
tanto no seu próprio país, como no estrangeiro.
reportageM
Trindade e Tobago
Um corte superior a todos
Em Trindade e Tobago,
de carneiros e borregos. Um membro
uma associação de
da associação, mestre cortador, teve
criadores de ovinos
a ideia de transformar as carcaças
está a romper o ciclo
de carneiro em cortes de carne de
de mercados inseguros
qualidade superior. “O problema passou
e preços erráticos,
a ser termos demasiado sucesso”,
ajudando os criadores a
conta Boreley. “Não conseguíamos
comercializar melhores
satisfazer todos os compradores que
cortes de carne.
surgiam.” O problema resolveu-se
A Trinidad and Tobago Goat quando o supermercado Super Quality,
© S. Torfinn/Panos-réa
© A. Taitt
© Xxx
de intermediários e gerindo eles próprios outros de produtores, que organizam e gerem estas cadeias.
elos como
Mariages a transformaçãoOpportunités
d’affaires e a embalagem, visando Recolhem
Une os produtos, acondicionam-nos ou efectu-
volonté
a venda: farinha de mandioca em vez dos tubérculos am uma
politiqueprimeira transformação antes de os escoar.
et risques
secos, fónio lavado e pré-cozido… É o que se chama
integração vertical. Se bem que esta abordagem pare-
ça à primeira vista atraente, para colocar no mercado
“Os agricultores trabalham cada
produtos agro-alimentares é necessário possuir tecno- vez mais com as empresas que
logias adaptadas, meios financeiros e uma organiza-
ção esmerada…Quanto mais longa for a cadeia, tanto
comercializam as suas colheitas”
maiores são os riscos para aqueles que se lançam em
ofícios que não são os seus. Mas se as cadeias são pe- Na República Dominicana, o filho de um grande agri-
quenas, se é suficiente moer o milho e pô-lo num saco, cultor, regressado dos Estados Unidos, teve a boa ideia
esta solução é eficaz, permitindo, além disso, manter- de lançar-se, sozinho, no abastecimento de bananas
-se em contacto com os consumidores do produto e maduras no ponto certo, para os restaurantes, super-
adaptá-lo melhor aos seus desejos. Geralmente são as mercados e numerosos navios de cruzeiro que fazem
cooperativas, profissões integradas ou agrupamentos escala no país...
as 80.000 toneladas anuais e
rendimentos estimados em 5 mil sobre as importações.
milhões de FCFA (7,6 milhões de Contudo, as últimas campanhas foram
euros). Desde os anos 1970, o destabilizadas por vários factores. A
tomate fresco é transformado produção da SOCAS apenas cobria dois
num concentrado duplo, terços das necessidades do país e o
que entra na confecção de Senegal teve de importar concentrado de
numerosos pratos senegaleses. tomate triplo. Foi assim que, em 2005,
A organização integrada do se implantou a Agroline, uma unidade
tomate industrial (Comité industrial que colocou no mercado um
Nacional de Concertação da concentrado de tomate produzido à base
© M. Seck
Logística e financiamento
Para um bom funcionamento das cadeias
de valor, é indispensável a presença de ou-
tros actores não directamente envolvidos, tais
como serviços financeiros, empresas transpor-
tadoras, de acondicionamento e de logística.
O Mali multiplicou por doze as suas expor-
tações de manga entre 2005 e 2010 ao pôr
em funcionamento uma cadeia de transporte
rodoviário e ferroviário, com sistemas de refri-
geração até ao barco, para que a fruta chegue
© J.-B. Russel/Panos Pictures/Hollandse Hoogte
s ENTREVISTA
Mariages d’affaires Opportunités
Centro Une volonté
et risques de Rotulagem
politique do Benim de venda, que é o puré do fruto do
Oportunidades
e riscos
No altamente competitivo mercado agro-alimentar
dos dias de hoje, existe uma crescente pressão
para elevar a qualidade e baixar os custos. Esta
situação pode abrir novas janelas de oportunidade,
© G. Williams/SOUTH/Réa
Q
uando corre bem, o sistema da cadeia de
Opportunités Une volonté
valor pode ser vantajoso para todas as par-
politique
et risquestes, proporcionando aos compradores um
fornecimento fiável e aos agricultores um
mercado seguro. Na perspectiva do agricul-
tor, fazer parte de uma cadeia de valor pode repre-
sentar mais dinheiro. Mesmo os preços sendo por
vezes mais baixos do que os do mercado local, essa
solução representa geralmente uma receita mais
estável. A participação em cadeias de valor pode
levar à aquisição de novas habilidades e melhores
práticas. Mesmo a simples limpeza e classifica-
ção do produto pode fazer a diferença. Em vez de
empilhar vegetais numa grade e transportá-los de
camião para um comerciante ou mercado, os pro-
dutores podem ter mais lucro se realizarem uma
transformação básica no local. Fornecer alfaces ou
tomates já lavados e embalados a uma loja local
ou supermercado pode permitir
preços mais elevados. Descascar e Um produtor
cortar a fruta pode ser uma manei- transporta palmito
para a fábrica de
ra eficaz de aproveitar o mercado
© AMCAR
transformação
crescente de produtos alimentares (Guiana).
REPORTAGEM
Guiana produtos frescos e as mulheres
para os
transportam e rotulam os produtos,
integrando uma cadeia de actores
produtos
comunitários por toda a Guiana.
Mulheres transformadoras
tradicionais A cultivadora de ananás Yvonne Pearson
está ligada ao projecto desde 2003.
© AMCAR
falta de organização. O acesso inadequado à terra, também beneficiam uma vez que estão geografica-
água e insumos de qualidade Unesãovolonté
outros tantos facto- mente distantes dos mercados grossistas.
Opportunités
res limitativos. politique
et risques
Algumas empresas multinacionais, como a Unilever Transparência e comunicação
e a Walmart, estão a optar por uma política de in- A agricultura contratual é um dos modelos mais
clusão de produtores de pequena escala enquanto frequentes de integração dos pequenos agricultores
fornecedores, afastando-se de uma Responsabilidade nas cadeias de valor. Embora o sistema tenha os seus
Social Corporativa directa em favor de uma perspecti- críticos, esta estratégia pode ser eficaz, oferecendo
va baseada em parcerias sustentáveis que assegurem apoio aos agricultores sob a forma de insumos, pa-
fornecimentos fiáveis às empresas e receitas mais es- dronização e, mesmo, gestão de risco. Em grande
táveis para os produtores. Na província do Limpopo, medida, o seu sucesso baseia-se no desenvolvimento,
na África do Sul, dois supermercados rurais fazem pelas empresas, de contratos após consultas com os
questão de ser abastecidos com vegetais de produto- agricultores e discussão das dificuldades enfrentadas
res locais. As lojas, abertas sob licença do grupo SPAR, pelos fornecedores. Os contratos devem estipular
reportageM
(SSO) é um risco que ninguém pode extensão faz parte do pacote da SSO,
controlar. Este ano a empresa das Fiji foi e em 2004 o CTA financiou um manual
atingida de forma particularmente dura, de formação para as produtoras, tendo
com grandes cheias a destruir parte desde então ajudado a organizar
das suas reservas e material de plantio. diversas sessões práticas de formação.
Resistindo aos colossais estragos, a As floricultoras associadas à SSO trazem
proprietária Aileen Burness procura as suas flores para as instalações da
reagir, determinada a salvar o muito empresa em dias marcados e, no
bem-sucedido programa de floricultura final do mês, recebem os pagamentos
por ela lançado em 1996. relativos ao mês anterior, a preços
Para além dos seus próprios pré-determinados. “A classificação
rendimentos, ela sente-se devedora às e embalagem das flores são feitas
muitas pequenas floricultoras e negócios por nós, sendo depois efectuado o
© V. Prassad
tecção contra o
risco de perda da cultura devido
a condições climatéricas, ou con-
tra a perda de gado devido à seca
ou doenças, embora nem sempre
tal seja possível no caso dos pe-
quenos agricultores. É importante
que os riscos, assim como os be-
nefícios, sejam partilhados por to-
dos ao longo da cadeia, e alguns
dos melhores sistemas conseguem
estabelecer um seguro para todos
os agentes. Têm também sido de-
senvolvidas outras estratégias, in-
cluindo fundos de gestão de risco
© DR
Do grão à chávena
Preços baixos, má qualidade e técnicas locais de transformação
rudimentares são alguns dos problemas dos agricultores de café na
PNG. A organização em cadeias de valor tem ajudado os produtores
© V. Batt
A qualidade compensa
Apoiados por uma empresa privada local, os agricultores
© A. Nabwowe ugandeses estão a melhorar a qualidade do seu café, o
que lhes permite colher os benefícios de integrar uma
eficiente cadeia de valor ligada a mercados de exportação.
Mais de 5000 agricultores de café dos qualidade e os seus contactos com registo meticuloso de todas as operações.
distritos de Mbale e Masaka, no Uganda, comerciantes europeus conferiam-lhe “Insisto numa boa documentação para
associaram-se a uma empresa privada uma óptima posição. Apoiado por quatro garantir que os agentes de recolha
local para aceder ao lucrativo mercado da familiares, estabeleceu uma rede de paguem aos agricultores,” conta.
exportação. Estimulados por um mercado fornecedores e ensinou-lhes como obter
garantido, e apoiados em insumos e um produto melhor. “Não se trata de Apoio aos agricultores
produção de qualidade, juntaram-se a volumes ou equipamento, mas de melhor O agricultor Daniel Wogogo viu o preço
outros agricultores para desmatar extensas qualidade. Neste negócio, ponho-me do seu café em grão mais do que
áreas de terra anteriormente improdutiva sempre na pele do consumidor final,” duplicar desde que aderiu à cadeia de
para aí cultivarem café. Steven Wokou, afirmou Kizito. No princípio do corrente valor. “Dantes vendia os meus grãos de
produtor de Buteza, no distrito de Mbale, ano, e em resultado dos seus elevados café a quem aparecesse e o preço era
possui actualmente 30.000 pés de café padrões de qualidade, a empresa de muito baixo,” disse. “Agora, aumentei
numa extensão de 17 hectares. Está Kizito recebeu o prémio 2012 Century para 25.000 o número dos meus pés de
entusiasmado com a adesão à cadeia de International Gold Quality Era Award, café, numa extensão de 35 acres (14 ha)
valor. “Acabaram-se as preocupações sobre conferido pela organização local de de terra.”
como achar bons compradores”, disse. negócios Business Initiative Directions. A Anderson Investments fornece aos
A orientação da cadeia de valor cabe ao Num contexto de procura crescente de pequenos produtores serviços gratuitos de
empresário local Daniel Kizito. Ele fundou grãos de qualidade, Kizito estabeleceu aconselhamento sobre técnicas de gestão
a sua empresa, a Anderson Investments, ligação com agricultores do distrito das culturas, para os ajudar a aumentar
após ter trabalhado durante 6 anos em de Mbale, no Uganda oriental, para a o rendimento. Os agricultores também
padrões de qualidade, como representante produção de café Arábica. Ele obtém o recebem apoio no manuseamento pós-
de comerciantes de café europeus. Sempre café Robusta de produtores do distrito -colheita para garantir que os padrões de
no meio de constantes desacordos relativos de Masaka, no Uganda central. Garante qualidade são respeitados. Está disponível
à qualidade entre os exportadores de que os produtores recebem um preço crédito isento de juros para ajudar os
café ugandeses e os compradores de café justo; actualmente, 7500 xelins ugandeses produtores a pagar insumos essenciais,
europeus, Daniel considerou haver ali a (2,41 €) por kg de café Arábica, e tais como fertilizantes e pulverizadores.
oportunidade de estabelecer uma cadeia 4500 xelins ugandeses (1,44 €) por kg de Um sistema flexível de pagamento da
de valor eficaz. Os exportadores enviavam café Robusta. Os agricultores que cultivam dívida deduz os empréstimos dos ganhos
muitas vezes um produto diferente café para a Anderson Investments dos produtores, numa taxa que eles
daquele que forneciam como amostra. também recebem um bónus no final da possam suportar. Os agricultores recebem
“A amostra era muito superior ao que estação, que varia normalmente entre os também gratuitamente os encerados para
enviavam depois como produto final. Isto 200 e os 500 xelins ugandeses (0,06 € e secagem dos grãos de café.
criava problemas entre os comerciantes 0,15 €) por kg, dependendo do volume Uma vez que o café é uma cultura
e os torrefactores na Europa,” diz Kizito. total fornecido pelo agricultor. A empresa sazonal, a empresa apoia os seus
“Pareceu-me haver uma lacuna no exporta uma média de 420 toneladas pequenos fornecedores a diversificar
mercado, devido à falta de comunicação por mês, na sua maioria para mercados e estabelecer-se noutras actividades
entre os compradores e os produtores. europeus. geradoras de receita. A maioria dos
Os compradores achavam que, sendo os O bónus pretende ser um incentivo para produtores dedica-se agora à criação
donos do dinheiro, tinham sempre razão.” dissuadir os agricultores de venderem de abelhas e aos lacticínios para obter
o seu café a outros compradores. Kizito receitas suplementares, o que ajuda a
Uma abordagem em controla cuidadosamente toda a cadeia impedir que se sintam tentados a vender
prol do consumidor de valor, pagando aos agentes de recolha o seu café a outros compradores.
A experiência de Kizito na análise da uma comissão e exigindo deles um Angella Nabwowe
es ENTREVISTA
Opportunités Une volonté
et risques
Avaliando os prognósticos
politique conhecimento para investir no acesso a
esses novos mercados.
Uma vontade
política
Vários elementos contribuem para o desenvolvimento e
viabilidade das cadeias de valor. Um ambiente favorável
combina políticas com uma formação adaptada para
© FAO/G. Napolitano
N
enhum consumidor dos países ACP virá
Une volonté
comprar os seus produtos agrícolas no lo-
politique cal de produção. Esta evidência demons-
tra até que ponto a intervenção do Estado
é crucial para o desenvolvimento das cadeias de va-
lor. Estradas, electricidade, etc., as infra-estruturas,
da competência do Estado, são indispensáveis. Mas
não só. Outra condição sine qua non para o desen-
volvimento das cadeias de valor é a existência de
políticas adequadas. Políticas agrícolas, fundiárias,
comerciais, industriais, fiscais, monetárias, todos os
elos são afectados pelas escolhas e pela acção do
Estado, qualquer que seja a fileira. Quanto mais o
Estado dá garantias (regime fundiário, acesso aos
financiamentos, etc.), quanto mais assegura a trans-
parência (dos preços no mercado), implementa po-
líticas económicas e comerciais favoráveis (regime
estável e equilibrado das taxas de câmbio, da moe-
da e das políticas fiscais, regulamentação bancária
favorável sobre a fiscalidade comercial e empresa-
rial, legislação sobre o emprego, execução de con-
tratos, etc.), tanto mais favorece o desenvolvimento
das cadeias de valor.
As escolhas e as opções dos Governos determi-
nam, muitas vezes, a sua competitividade. Um es-
tudo recente sobre cereais, realizado no Zimbabué,
recomenda que o Governo encontre um equilíbrio
justo entre a protecção da indústria local e a promo-
ção do comércio regional, em nome da soberania
valor de modo a beneficiar as populações pobres, abordagem orientada para o mercado) para desenvol-
não apenas em termos de rendimentos, mas também
Une volonté ver a indústria regional.
politique e de alimentação. No seio da Comunidade
de saúde
das Caraíbas (CARICOM), o Instituto de Investigação As regiões, pontas de lança
e Desenvolvimento Agrícola das Caraíbas (CARDI) tra- O desenvolvimento das cadeias de valor é parte inte-
balha com o modelo de cadeias de valor (coordena- grante do Programa Integrado para o Desenvolvimento
ção entre os actores, valor acrescentado a cada etapa, da Agricultura em África (PDDAA) da NEPAD, no
reportagem
diplomas depois de terem montado uma
oficina de transformação agro-alimentar,
que funcione adequadamente. Os
estudantes podem escolher entre a
transformação de farinhas e sucedâneos,
frutos, leite, legumes, produtos de
carne, aves ou peixe. A formação inclui
uma componente de gestão, destinada a
ensinar aos estudantes a voarem com as
suas próprias asas.
A presença do ISTACHA em Kimpese,
cidade hortícola, é uma dádiva para
os agricultores. “Sei que com esta
instituição tenho a garantia de escoar a
minha malagueta”, diz Alain Lukebana,
entusiasmado. Tal como ele, são muitos
© A. Nekwa Makwala
© A. Nekwa Makwala
A formação,
universitária agro-alimentar da RDC, bem embalados”, explica um vendedor
criada em 2005. Este país, que se de alimentos de “Didier Chic” em Matadi
debate com uma enorme carência de (a 365 km de Kinshasa). Héritier Lusadisu
um elo indústria alimentar, importa, a preço de
ouro, uma grande parte dos produtos
é um destes compradores “Tenho mais
confiança nestes produtos e compro-os
indispensável de consumo corrente. Não obstante,
não há falta de matérias-primas.
para incentivar os produtores”, declara.
Não satisfeito em desenvolver os laços
Na República Democrática do Congo Grandes quantidades de fruta e legumes entre os produtores e os consumidores,
(RDC), várias lojas de alimentos e apodrecem, por falta de conservação. Charles Kusita também estimula a
supermercados de Kinshasa e da Estes produtos são transformados pelos cooperação a plano nacional. No início
província do Baixo Congo (no Sudoeste) estudantes do ISTACHA em modernas de Abril, recebeu a visita do Ministro
vendem produtos agro-alimentares instalações. “A construção dum futuro da Indústria que ficou impressionado
com o rótulo “Centro de Informação e alimentar colectivo na RDC é possível com os seus produtos agro-alimentares.
Extensão Agro-Alimentar de Kimpese se cada um de nós criar o seu próprio Segundo o Director do ISTACHA, os
(CIVAK)”. Chickwangue (pão de emprego”, declara o padre Charles produtos agro-alimentares podem
mandioca), compotas, malaguetas Kusita, fundador e Director-Geral da alimentar a província e Kinshasa com os
em boiões, etc. Estes produtos, escola. Neste instituto, o programa seus 15 milhões de habitantes. “É tudo
bem acondicionados, são obra dos dedica mais tempo à prática do que à uma questão de formação, de redes… e
estudantes do Instituto Superior de teoria. Ao fim de três meses de ensino, de políticas”, conclui.
Técnicas Aplicadas em Química Alimentar os estudantes só recebem os seus Alphonse Nekwa Makwala
Leis fundiárias Regulamentos Política sobre investimento directo estrangeiro Preferências culturais
do mercado
Regime fundiário
consuetudinário Infra-estruturas Imposto sobre vendas
Política Estratégias de aquisição
Serviços industrial de negócios Atitudes
governamentais Taxas sobre serviços dos consumidores
© Intactile Design. Fonte Vermeulen et. al 2008
Organizações de produtores/cooperativas
Une volonté
politique Josué Dioné
das políticas no resolver o problema da fragmentação dos tos. Nos anos mais recentes, tem-se assisti-
desenvolvimento mercados (54 países e mais de uma dúzia do em África a um crescente investimento
Dr. Josué Dioné, das cadeias de agrupamentos sub-regionais) tendo em estrangeiro directo na terra arável, o que,
Director, Divisão de de valor? vista a concretização do potencial do co- em si, é positivo desde que traga consigo
Segurança Alimentar Os Estados têm de mércio alimentar intra-africano. um investimento significativo e efectivo
e Desenvolvimento definir e dirigir a vi- Em primeiro lugar, a integração regio- na agricultura africana. Todavia, muitos
Sustentável, Comissão são. Num ambiente nal deveria permitir criar economias de casos de aquisição de terra em larga es-
Económica das Nações económico cada complementaridade entre as diferentes cala através de acordos de investimento
Unidas para África (UNECA) vez mais globaliza- sub-regiões, especialmente através da co- estrangeiro directo têm resultado em si-
www.uneca.org do e competitivo, operação regional, para desenvolver cin- tuações em que as comunidades locais e
determinado pelos turas estratégicas de bens alimentares e os pequenos agricultores visados não são
mercados, há a necessidade de adoptar uma agrícolas (por ex. milho, arroz, lacticínios, envolvidos ou consultados, e acabam des-
estratégia abrangente de desenvolvimento gado/carne, etc.), baseadas em vantagens tituídos de direitos e bens. É também im-
e transformação da agricultura, e de inci- comparativas de natureza agro-ecológica. portante promover e fazer vigorar regimes
dir em todo o sistema agrícola e alimentar Em segundo lugar, a integração regional contratuais inovadores (tais como agricul-
em vez de numa agricultura estreitamente deveria ajudar a criar economias de maior tura contratual, esquemas de produção
limitada ao cultivo. Temos de passar de es- escala em todas as fases das cadeias de integrada e trocas de mercadorias) para
tratégias e programas específicos para as valor, especialmente nas fases de agro- ajudar a integrar os pequenos agricultores
diferentes fases da cadeia de valor (cultivo, -indústria e agro-negócio, que muitas ve- no desenvolvimento de cadeias de valor,
agro-indústria, comercialização, etc.), em zes requerem uma escala mínima para ser ligando-os a empresas de agro-negócios.
separado e fragmentariamente, para uma viáveis e rentáveis. Em terceiro lugar, a
perspectiva integrada de desenvolvimento integração regional deveria criar também Qual o papel da UNECA no
de todas as fases da totalidade das cadeias economias de coordenação vertical, atra- desenvolvimento das cadeias de
de valor. Os Estados têm a responsabilidade vés da redução dos custos de transacção valor?
de criar um ambiente institucional e regu- entre os actores-chave dos sectores produ- Desde 2003, a UNECA apoia com suces-
lador favorável ao investimento, e forne- tivo e de serviços pertencentes à cadeia de so a Comissão da União Africana na de-
cer os bens e serviços públicos necessários valor. Em quarto lugar, a ligação dos cam- fesa e na ajuda à operacionalização para
(particularmente I&D, infra-estruturas, fa- pos agrícolas ao mercado, tanto ao nível o desenvolvimento de cadeias de valor
cilitação comercial, etc.) para estimular o nacional como regional, pode ser também alimentares e agrícolas coordenadas re-
investimento do sector privado e assegurar uma fonte importante de criação de em- gionalmente, no quadro do Programa
a rentabilidade deste último. pregos e receitas. Integrado para o Desenvolvimento da
As políticas devem visar a eliminação de Agricultura em África (CAADP) da NEPAD.
todas as barreiras ao investimento e ao co- Que papel devem ter as Actualmente, estamos a trabalhar no alar-
mércio. As políticas devem igualmente criar autoridades públicas na promoção gamento de parcerias multi-institucionais
incentivos ao investimento, com eficiência da inclusão e da participação com a COMESA e a ECOWAS (incluindo
crescente em todas as fases da cadeia de va- dos pequenos produtores nas a FAO, o CTA e com forte interesse da
lor. São particularmente importantes códigos cadeias de valor agrícolas? UNCTAD e da UNIDO), para operacionali-
de investimento, políticas fiscais, políticas É óbvio que nem todos os actores das ca- zar esta mudança de paradigma através de
fundiárias, etc., que promovam a segurança deias de valor têm o mesmo poder opera- uma abordagem integrada da agricultura
e a rentabilidade do investimento privado. cional e de negociação. Ajudar ao envol- ao mercado para desenvolver cadeias de
vimento dos pequenos agricultores em valor de produtos do milho, arroz e gado.
Qual a importância da integração cadeias de valor implica facilitar e apoiar Com base na experiência obtida nestes es-
regional para o desenvolvimento das as organizações de agricultores e coope- forços piloto, pensamos alargar este traba-
cadeias de valor? rativas a reforçarem a sua capacidade de lho a outros produtos alimentares e agrí-
Um dos principais obstáculos ao desenvol- participação. Requer também a garantia colas estratégicos e a outras sub-regiões de
vimento da indústria e do agro-negócio de que os pequenos produtores tenham África.
ENTREVISTA
Une volonté
politique Normalização, a chave de novos mercados
Em 2007, a Agência comercial do país, com uma herança desenvolvendo as marcas para que se
de Normalização de 20 anos de controlo estatal. Todos destaquem no mercado. Houve uma
© M. Andriatiana
NEPAD
Para mais informações http://tinyurl.com/6wvw2gf
http://tinyurl.com/3uly4dd
SOS Faim
FAO OCDE Mise en valeur d’une production paysanne:
Formação em cadeias de valor Aide pour le commerce : cas d’expérience. rôle d’Harbu Microfinance dans la filière
http://tinyurl.com/8265vms Appui à la filière café du Cameroun soja en région Oromo (Etiópia) in Zoom
http://tinyurl.com/7kkmeor microfinance, número 33, Setembro de 2011.
IFPRI
http://tinyurl.com/chndawr ONUDI / UNIDO http://tinyurl.com/d5gqnzy
Organização das Nações Unidas para o
ILO UNECA
Desenvolvimento Industrial
Value Chain Development for Decent Work Relatório sobre a criação e a promoção de
“Upgrading Value Chains” de Stefano Ponte in
A guide for development practitioners, Agribusiness for Africa’s Prosperity cadeias de valor regionais para os produtos
government and private sector initiatives K.-K. Yumkella, P. –M. Kormawa, T. –M. alimentares e agrícolas estratégicos em África.
http://tinyurl.com/cpdrbkq Roepstorff, A. –M. Hawkins, págs. 87 a 134 http://tinyurl.com/d4md693