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DIARRÉIAS CRONICAS

JORGB PEREIRA LIMA

...
A diarréia consiste na eliminação de Umas são agudas, isto é, têm início
fezes com um conteúdo aquoso maior do mais ou menos repentino e duração cur-
que o normal. Em conseqüência, as fe- ta. Em geral, reconhecem uma causa
zes diarréicas são de consist;fncia pas- tóxica ou infecciosa. Outras, ao contrá-
tosa ou aquosa. o número de evacua- rio, são persistentes, de evolução contí-
ções não importa ao conceito de diarréia. nua ou intermitente. São as diarréias
Sendo assim, podemos estar em face de crônicas que, realmente, constituirão o
um paciente com diarréia evacuando objetivo dêste relatório.
apenas uma vez ao dia e, ao contrário, é Na maioria das vezes que o clínico
possível encontrar pacientes com consti- se defronta com êsse problema, o quadro
pação embora evacuando 2 ou 3 vezes diarréico está bastante afastado de sua
nas 24 horas. As fezes normais são cons- condição pura, natural. A própria evolu-
tituídas de 100 a 200 ml. de água, 2 a ção da doença de que a diarréia é apenas
5 mEq. de Na, 10 a 20 mEq. de K e 20 a um sinal, a simples persistência da diar-
30,0 g. de matérias sólidas. Com a diar- réia já são, por si mesmas, condições ca-
réia, o conteúdo aquoso aumenta, poden- pazes de alterar o quadro clínico, confe-
do atingir 2 ou mais litros ao dia. Para- rindo-lhe caracteristicas diferentes daque-
lelamente as perdas de Na aumentam, las originàriamente apresentadas. Por
atingindo mesmo 200 mEq. ao dia, mas outro lado, os pacientes restringem ou
as perdas de K são sempre bem meno- alteram os seus hábitos dietéticos, a
res. (1) maior ou menor ingestão de álcool, o
A disenteria consiste na associação uso do fumo, o que contribue também
de cólicas abdominais, tenesmo (ou pu- para tornar o comportamento intestinal
xas) e eliminação de muco, sangue e/ou diferente daquêle verificado no inicio da
pus. E' necessário estabelecer com pre- moléstia.
cisão a diferença entre êsses conceitos, o Na complexidade e variabilidade dos
de diarréia e de disenteria, uma vez que sintomas e sinais, caberá ao clínico uma
expressam situações diferentes. investigação paciente e cuidadosa da
A diarréia é um dos sinais mais co- história clínica, um exame físico minu-
muns de disfunção do trato gastro-intes- cioso, para depois lançar mão dos varia-
tinal, obedecendo a uma multiplicidade dos recursos propedêuticos de que pode
de causas, locais, abdominais ou sistê- e deve dispor na determinação étiopato-
micas. gênica das diarréias crônicas.

d Tema preferencial da IX Jornada Sul-Riograndense de Cirurgia e VI Jornada Sul-Riograndense


e Me4lclna Interna
Llvre docente e Assistente da Faculdade de Medicina de POrto Alegre. "Fellow" em Oaatroente-
roloala peJo Ho1pltal Mount Sinal de Nova Iorque.
90 ANAIS DA FACULDADE DPJ MEDICINA DE PORTO ALEORPJ

FISIOPATOLOGIA ras provém bàsicamente do sistema pa-


rassimpático, através das fibras vagais,
As principais formas de motilidade que fazem a sua sinapse na própria pa-
verificadas ao nível do intestino delgado rede intestinal. São, portanto, em rela-
são: tono, peristaltismo, ritmicidade e ção ao intestino, fibras pré-ganglionares.
movimentos pendulares. (2, 3) As fibras adrenérgicas chegam ao intes-
A tonicidade do músculo seria a re- tino por meio do grande e pequeno es-
sistência por êle oferecida à sua exten- plâncnico e conexões provenientes da ca-
são. Estaria constantemente presente deia simpática lombar. As suas fibras
na parede intestinal. pré-ganglionares fazem sinapse com os
Os movimentos peristálticos consis- corpos celulares nos gânglios. pré-aórti-
tem em ondas de contração, lentas ou rá- cos, principalmente o celíaco. (6)
pidas, que se movem ao longo da pare- Os reflexos ligados ao contrôle da
de intestinal. motilidade intestinal são mediados quer
A segmentação rítmica consistiria por gânglios intrínsicos - reflexos in-
em contrações segmentares da camada trínsicos - quer através de arcos ner-
circular do intestino que fica, assim, di- vosos que incluem a medula ou centros
vidido em uma série de porções ovóides. vagais no bulbo - reflexos extrínsicos.
Ulteriormente, essas se dividem por uma (6)
contração central, desaparecendo as pri- O tono, peristaltismo e a segmenta-
mitivas. ção rítmica independem da inervação ex-
Nos movimentos pendulares um seg- trínsica. Essa apenas regula, aumentan-
mento intestinal é mobilizado ora nu- do ou diminuindo as respostas intesti-
ma ora noutra direção, a parede intesti- nais aos diferentes estímulos. Em outras
nal atritando-se contra o conteúdo, tal palavras, a inervação simpática e paras-
como as meias num pé. simpática serviria como um meio de con-
No intestino grosso ,além do tono, dução da influência do Sistema Nervoso
peristaltismo, haustrações, descrevem-se Central, modificando a reatividade local
ainda os movimentos em massa, de Holz- neuro-muscular do intestino.
knecht. :G:sses são raramente observados Os reflexos intrínsicos do intestino
em pessoas normais, mas freqüentemen- põem em jôgo a atividade peristáltica.
te em determinadas situações patológi- Essa dependeria de u'a mucosa intacta
cas, tais como a colite ulcerosa grave da qual as fibras nervosas iriam ter à ca-
(4) mada muscular por, pelo menos, uma
A velocidade de passagem do bolo sinapse. :G:sse reflexo é abolido pela re-
alimentar através do intestino é grande- moção da mucosa, pela sua asfixia, ou
mente influenciada pelo tono intestinal. pela sua cocainização. Ao contrário, o
Assim, a eficácia do peristaltismo, como aumento da pressão na luz intestinal se-
atividade propulsora, diminui à medida ria capaz de despertá-lo.
que o tono cresce além de um certo li- Os estudos sôbre a motilidade intes-
mite, pela desaparição da relaxação dias- tinal têm sido consideràvelmente desen-
tólica entre 2 contrações. Por outro la- volvidos nesses últimos anos. Em ho-
do, grandes diminuições da tonicidade mens, dados de pressão têm sido regis-
intestinal se acompanham de uma me- trados por meio de tubos ou cateteres
nor atividade peristáltica. E' importan- que transmitem as pressões a manôme-
te salientar que mesmo quando nenhu- tros externos, ou por meio de "transdu-
ma onda contrátil é demonstrada o con- cers", ou finalmente através de cápsu-
teúdo intestinal mantém a sua progres- las especiais, "telemetering capsules",
são, uma vez que o transporte depende contendo moduladores de freqüência, tal
também de um gradiente de pressão en- como usados em rádios do tipo "transis-
tre 2 segmentos intestinais adjacentes. tor". Essas últimas abrem novos hori-
A êsse passo, cabe lembrar os trabalhos zontes no estudo das alterações de moti-
experimentais de Alvarez, evidenciando lidade sobretudo no terreno da patolo-
uma dissociação entre onda peristáltica gia. (7)
e progressão do conteúdo intestinal. (5) Um outro aspecto a ser debatido é
O intestino recebe fibras nervosas a relação da flora intestinal com a fun-
colinérgicas e adrenérgicas. As primei- ção intestinal. A variabilidade da flora
ANAIS DA l"ACULDADE DE MI:DICINA DE PORTO ALEGF/.1: 91

é ampla em indivíduos com saúde. Por lo menos isotônica em relação ao san-


outro lado, não são. conhecidas as varia- gue, mas muitas vêzes atingindo valôres
ções da flora nos diferentes níveis intes- de 800 mEq. ao dia. Essa reabsorção se
tinais ,ou as variações que surgem em in- processaria mais intensamente ao nível
divíduos habitando diferentes locais ou do colon direito, mas também o hemico-
climas. Há, apenas, sugestões de que as lon esquerdo participa bastante ativa-
variações da flora normal podem origi- mente dêste processo de reabsorção. (4)
nar disfunção intestinal. O estudo com- Baseado nessas considerações, Cooke
parativo dos intestinos de mamífero com (1) classifica as diaréias em:
e sem germes abre grandes perspectivas a) as dependentes de alterações nos
para um conhecimento mais adequado fluídos apresentados ao colon, tornando-
do papel que as bactérias exercem. Elas os hipertônicos ou irritantes para a mu-
podem atuar, talvez, alterando a per- cosa
meabilidade da parede, o tonus e a mo- b) processos destrutivos da parede
tilidade intestinais, ou mesmo a estru- cólica
tura da parede. O certo é que nos ani- c) alterações no tono neuro-muscu-
mais desprovidos de germes nos intesti- lar e vaso-motor do colon, em conseqüên-
nos, êsses têm o tonus consideràvelmen- cia de fatôres constitucionais, locais, etc.
te diminuído, o ceco é aumentado, os ele- Embora correta do ponto de vista
mentos linfocitários e tecido conjuntivo patogênico, não é adequada do ponto de
menos abqndantes e a irrigação sanguí- vista prático, não permitindo uma visão
nea mais pobre. (8) ampla das diferentes situações enqua-
dradas num ou noutro grupo.
Sem apresentar um critério unifor-
CLASSIFICAÇAO me de classificação, a de Werther e Ja-
nowitz (10), do Hospital Mount Sinai de
Numerosos têm sido os critérios pa- New York, parece-nos a que mais serve
ra a classificação das diarréias. Uma das aos propósitos práticos, permitindo a
mais antigas é a de Ryle que fundamen- quem a conheça uma noção das diferen-
talmente as dividia de acôrdo com a lo- tes situações determinantes das diar-
calização anatômica da origem da diar- réias (Quadro 1)
réia, isto é, gástrica, de delgado, colon, Não é, nem poderia ser, o nosso pro-
reto e glându)as acessórias. Completan- pósito discutir cada uma dessas afec-
do a lista incluía o autor inglês as diar- ções separadamente. Apenas generica-
réias provenientes de estímulos nervosos mente, faremos alguns comentários sô-
e aquelas dependentes de desordens bre aspectos mais interessantes.
constitucionais. Apezar de reconhecer os Não há mais lugar para discutir a
seus inconvenientes, foi êsse o critério patogenicidade de certos tipos de E. coli.
adotado por Bockus no seu já clássico :S:sses serotipos patogênicos são quase ex-
tratado. (9) clusivamente associados com diarréia na
Na verdade, quaisquer que sejam as criança e raramente no adulto. (11) A
alterações encontradas no estômago ou relação entre coli enteropatogênico e
delgado, a diarréia dependerá da maneira diarréia infantil foi inicialmente sugeri-
como o colon irã. responder ao estimulo da por Adam, em 1927, mas somente em
que lhe chega. (1) Tanto é assim que i- 1945 tal hipótese foi perfeitamente com-
dênticas alterações nesses segmentos po- provada por Bray. Graças aos estudos
dem ou não acompanhar-se de diarréia. de Kauffmann, foi possível a análise an-
Considerando que a ileostomia num íleo tigênica de tais germes com o conse-
normal evidencia o material que diária e qüente desdobramento ~m serogrupos e
normalmente se apresenta ao colon, e serotipos. Segundo Ewing, conhecem-se
comparando êsse material com o que é hoje 135 antígenos o, 77 K e 40 H. Essa
excretado, conclue-se que normalmente sistematização é baseada no reconheci-
o colon reabsorve enorme quantidade de mento e identificação do antígeno somá-
água e sódio. Basta, a êsse propósito, tico O, do capsular K, e do flagelar H.
lembrar que o ileo oferece ao colon dià- O quadro n. 0 2, retirado do trabalho de
riamente cerca de 2 litros ou mais de Ewing (12) resume os serotipos de E. co-
água contendo Na em concentração pe- li associados com diarréia. A adminis-
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE
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tração de tais germes a voluntários hu- Os vírus são também responsáveis


manos determinou a produção de diar- por diarréias, em crianças ou em adul-
réia. A presença de anticorpos específi- tos. (14) A transferência do agente a
cos, demonstrada pelas hemaglutininas, terceiros, experiências em voluntários
bem como o papel profilático e terapêu- humanos, estudos imunológicos eviden-
tico dos antibióticos, evidenciam a im- ciaram a etiologia viral de certos qua-
portância dêsses elementos nos estados dros diarréicos. Mais recentemente, Sa-
diarréicos. Ainda não está de todo es- bin obteve dados sugestivos de que mem-
clarecida a questão de porque apenas as bros do grupo de vírus Echo podem ser
crianças são em geral suscetíveis à in- responsáveis por estados diarréicos.
fecção pelo coli enteropatogênico. Em Em nosso meio as diarréias parasi-
adultos ela ocorre em indivíduos debili-· tárias são freqüentes. O seu diagnóstico
tados, principalmente se houver preva- é sirúples e os agentes causais devem ser
lência da E. coli enteropatogênica na co- imperiosamente tratados, mesmo quan-
munidade examinada (13). O fato de do nas formas de infecção assintomáti-
adultos serem resistentes a êsses germes, ca. Muito já se escreveu a respeito da
apesar de não possuírem hemaglutininas amebíase, a ponto de criar-se a noção de
ou apresentarem-nas em títulos baixos, amebofobia. Entretanto, descontados os
e crianças serem suscetíveis a êles, a des- exa~eros, ~erma:t_;ecem as reais compU-
peito das hemaglutininas provenientes caçoes da mfecçao amébica e a necessi-
do organismo materno, levou Stulberg e dade de um diagnóstico pronto e tera-
Zuelzer a sugerirem que a resistência dos p~utica adequada. Em nossa experiên-
adultos poderia estar na dependência de Cia, entre as verminoses, a mais freqüen-
outros fatôres que não os anticorpos es- te é a estrongiloidiase, criando, às vezes,
pecíficos. O meio intestinal da criança quadros de profunda desnutrição e até
é diferente daquele do adulto. A E. coli mesmo levando o paciente à morte. Ain-
lá prolifera ràpidamente e ràpidamente da recentemente, tivemos oportunidade
torna-se o organismo predominante se- de revisar com o Dr. Paulo Delgado, nos-
não o único. (11) so companheiro de trabalho, os primei-
ros 1000 casos arquivados na 38.a Enf. da
QUADRO 1 Sta. Casa de Misericórdia de Pôrto Ale-
gre. Dêstes, 61,4% apresentavam vermi-
Serotipos de Escherichia coli associados nose. A mais freqüente foi a estrongi-
com diarréia * loidíase (33,01% do total ou 53,7% dos
portadores de verminose) ( 15)
A esteatorréia deve ser procurada
I I em todo o caso de diarréia. Isso justifi-
O Antige- J K Anti- i H Antigenos (e slnô-
genos nimos) ca a afirmativa de que "Ali is not disen-
DOII
II II tery that is diarrhea". As suas causas
são múltiplas e, entre nós, o seu estudo
2.3 160
(B6) I NM • • (E893)' 11
tem recebido a merecida atenção pelo
55 59 (B5) 1 NM <B), 2, 4, 6, 7, a, to,
i 21 grupo de Fernandes Pontes, em São Pau-
86
I
161
(B7) i NM (E990), 8, 9, 10, 11, lo. (16}
I 34 As diaréias gastrógenas não relacio-
'36 ; ú:J (L) 12
111 158 <B4l I NM (2)' 2 (0433)' 4, 11, nadas à cirurgia são muito discutidas.
i I 12, 16, 21 Em geral, são atribuídas à ausência de
112a, 112c ! 66 (Bll) ; NM <Guanabara) HC1, o que ocasionaria ou uma deficien-
119 i 69 (B14) i NM, 6 (Aberdeen 537- te digestão gástrica ou uma aceleração
I' I 52), 9, 18, 27 <W 34) do esvaziamento do estômago. Qualquer
124 I 72 <B17l I NM, 19, 30, 32
125a, 125b I 70 (B15) I 19 (CanionD, 21 que seja a situação, o resultado seria o
125a, 125c I 1o i6 contato do alimento com porções do in·
126 1 71 (B16) I ~. 2 (E611)' 27 testino não preparadas para recebê-los.
127a : 63 (B8) I NM, <Holcombl Entretanto, a freqüência da diarréia na
128a, 128b 1 67 (B12) ! 2 (Cibler!s), 8, 9
128a, 128c I 67 I NM, 8, 10, 12 anemia perniciosa - onde há acloridria
histamino-resistente na grande maioria
• Segundo Ewing dos casos - é de apenas 10%. Estudos
•• NM, imóveis feitos por Brumer não conseguiram evi-
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO. ALEGRE 93

denciar esvaziamento gástrico acelerado eólico exagerado. Nesses casos de diar-


em pacientes aclorídricos, embora tais ex- réia emocional são nítidos os distúrbios
periências sejam passíveis de crítica. (17, motores do delgado, conforme a observa-
18, 19) A prova terapêutica pela admi- ção direta de Cummins, (24) em pacien-
nistração de HC1 não resistiu ao duplo tes com ileostomias. Mas, particularmen-
teste cego, nem à verificação das modifi- te ilustrativo é o exemplo ensinado por
cações do pH em tais estômagos. Em nos- Coin (25) a propósito de uma paciente
sa experiência, jamais tivemos oportuni- que apresentava dores abdominais e diar-
d~de de verificar um caso comprovado de réia sempre que comia carne de porco.
diarréia gastrógena por deficiente secre- A administração de bário com carne de
ção de ácido clorídrico. E em 40 anos porco, a paciente desconhecendo a natu-
de exercício da especialidade, Alvarez, na reza da mistura, evidenciou um intestino
Clínica Mayo apenas viu 6 casos de diar- perfeitamente normal. Ao contrário, a
réia "aparentemente" atribuíveis à aclo- administração de apenas bário produziu
ridria. cólicas e revelou distúrbios motores e de
E' noção corrente a diarréia provo- relêvo mucosa quando se disse proposi-
cada pelo uso de antibióticos. (21, 22) tadamente à paciente que a mistura ba-
As vezes o quadro assume aspectos ver- ritada também continha carne de por-
dadeiramente dramáticos, de prognósti- co. Também interessante a êsse propó-
co grave, com mortalidade elevada. São sito é o trabalho de Friedman. (26)
as enterites estafilocócicas (ou microcó- Focos irritáveis no intestino, com a-
cicas). Outras vêzes a administração de baixamento do limiar de sensibilidade,
antibióticos conduz a quadros de diar- podem ser responsáveis por diarréias, di-
réia crônica, freqüentemente disenteri- tas funcionais (27). Isso ocasionaria ati-
formes, de diagnóstico diferencial com a vidade exagerada dos nervos intrínsicos
colite ulcerosa grave nem sempre fácil. que, por meio dos reflexos intestinais lo-
(23) cais transmitiria a tôda extensão da pa-
Não é rara a diarréia entre os dia- rede intestinal essa sensibilidade exage-
béticos. Independe da gravidade do dis- rada. Nesse mecanismo talvez estejam
túrbio metabólico, do tempo de duração incluídas as diarréias que persistem mui-
do mesmo, bem como do fato de estar ou to tempo após a suspensão dos antibió-
não compensado. Parece decorrer de ticos ou as que se seguem à uma infecção
uma lesão nervosa, similar à neuropatia intestinal aguda (post dysenteric syndro-
periférica encontradiça nesses casos. me'' da literatura anglo-saxônica) (28)
A diarréia nervosa é a mais freqüen- Nas cirroses são frequentes as ma-
te dentre os diferentes tipos de diarréia nifestações díarréicas. Há aqui hiperten-
descritos. Nove entre 10 pacientes com são porta, isto é, congestão venosa, e, con-
d~arréia crônica têm em situações emo- forme Sherlock, a flora bactérica nesses
Clonals os elementos desencadeantes de pacientes é bem mais abundante que na
seu quadro clínico, na experiência de Al- população normal.
varez. Essa é também a impressão dêste A colite ulcerosa crônica e a enterite
relator. {\.s fezes são usualmente líqui- regional - doença de Crohn - são ex-
das, tendendo a ocorrer pela manhã e tremamente raras em nosso meio, pelo
11Pós as refeições - reflexo gastro-fleo- menos na experiência do relator.

CLASSIFICAÇAO DAS DIARR~IAS

(Werther e Janewlts, lfM)

1 · INFECÇõES B -VItais
Oastroenterlte vlral
A -- Baetérlcas Oastroenterlte epidêmica, não bactériea
Dlsenterla bacllar Oastroenterlte aguda, não bactérica
Salmonelose Doença elo vOmito
Enterocollte estatuoeócla Dlsenterla vira!
Enterlte tuberculosa Diarréia epidêmica elo recém nascido
Cólera Estomatlte e diarréia das crianças
Diarréia por coll pato&enlco Infecção pelo vlrus Echo
94 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

Doenças vlrais com manifestações principais em 4. ENDOCRINOPATJA


outros órgãos
Hepatite Infecciosa Hipertireoldlsmo
Pol!omel!te Hipoparatlreoldlsmo
Mononucleose infecciosa Carclnólde
Llnfogranuloma venéreo Adenoma pancreático, etc.
C - Parasitárias
Ameblase, Balantldlase 5. NEOPLASICAS
Olardlase
Estronglloldlase, necatorose Tumores do delgado, colon e reto
Trlqu!n!ase, etc.
6. INDUZIDAS POR DROGAS

2. DIET~:TICAS
Antibióticos
Parasslmpátlcom!métlcos
A - Envenenamento alimentar Purgativos. enemas, etc.
Intoxicação por produtos bactér!cos
Envenenamento alimentar estafllocóclco 7. INFLAMACAO LOCAL
Envenenamento por Streptococcus. Proteus. Clos-
trldlum Intracolo-retal
Alimentos tóxicos Corpo estranho, etc.
Alimentos contaminados por venenos Inorgânicos Extracolo-retal
B - Superallmentação Apendicite
Excesso de Ingestão de gorduras DI vertlcullte cólica ou de delgado
Excesso de Ingestão de celulose
C - Apetite pervertido 8. NEUROGJ:NICAS
Diarréia por Ingestão de areia
D - Alergia aUmentar Diabetes mellltus
E - Deficiência nutritiva Tabes dorsalls
Pelagra Vagotomla
Alcoolismo crônico
9. PSICOG~NICAS

3. MA ABSOR(:AO Diarréia nervosa


Colon Irritável
Esteatorréla ldlopátlco.
Espru Aecundár!o 10. SECUNDARIAS A DOENÇAS SISTtMICAS
Doença cel!aca Uremla
Insuficiência pancreática externe. Cirrose
Diminuição da superflcle de absorção Intestinal
Flstula gastro-jejuno-cóllca 11. VASCULARES
Oastro!leostomla
Ressecção maciça do delgado Oclusão mesentérlca
Flstula êntero-entérlca Embóllca
Flstula êntero-cóllca Trombótlca
Desordens slstêmlcas que Impedem a drenaiem ce·
nosa ou linfática Intestinal 12. JDJOPATICAS
Doença de Whlpple
Hipertensão porta, etc. Colltc ulcerosa crOnlca
Diarréia gastrógena Enterlte granulomatosa

DIAGNóSTICO DIFERENCIAL ponderai, bem como a sua capacidade de


trabalho. Outros aspectos a considerar
No estabelecimento do diagnóstico seriam a duração dos sintomas, a sua in-
diferencial das causas das diarréias, mui- termitência, o resultado de tratamentos
tos aspectos devem ser levados em con- anteriores, a evolução dos sintomas, bem
sideração: como a atitude do paciente em relação a
Sexo - a diarréia nervosa é mais êles. (29)
freqüente nas mulheres, como nessas é A acentuação da dor pela defecação
também mais freqüente aquela decorren- levantaria a suspeita de carcinoma de
te do uso de laxativos, do hipertiroidismo, colon, diverticulite, colite ulcerativa crô-
etc. Ao contrário, no homem é mais fre- nica.
qüente o carcinoma de colon, a diverti- Uma relação mais ou menos nítida
culite, etc. entre diarréia e emoções, situações de con-
Idade - as doenças parasitárias, a flito, etc. sugeriria o diagnóstico de diar-
disenteria bacilar, a estea torréia idiopá- réia nervosa.
tica são mais frequentes nos jovens. A di- História de uma relação muito es-
verticulose (ite), o carcinoma de colon, treita entre ingestão de determinados a-
as diarréias que seguem ao uso de laxa- limentos e diarréia deveria fazer pensar
tivos e enemas são mais freqüentes após numa causa alérgica. No entanto, a com-
os 35 anos. provação diagnóstica desta última na
Na história do paciente há funda- maioria das vêzes é extremamente difí-
mental importância o estabelecimento de cil. Na alergia alimentar interferem fatô-
dados incontravertidos, tais como inter- res quantitativos e cumulativos. Isto é,
venções cirúrgicas, exames prévios, curva muitas vêzes pequenas quantidades de
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEORE 95

um alimento podem ser toleradas mas ma da parede do delgado, dificuldade de


quantidades maiores já desencadearão os absorção, fechando assim, um círculo vi-
sintomas. O fator cumulativo se expressa cioso. Tal é o caso de um paciente que ti-
no fato de que muitas vêzes a reação a- vemos ooprtunidade de examinar na 38.a
lérgica só é verificada quando o alimento Enf. da Sta. Casa de Misericórdia de P.
é ingerido em dias sucessivos. Além dis- Alegre, onde foi hospitalizado com um
so, os alimentos crus são mais alergizan- quadro de diarréia crônica de 6 anos de
tes que os cozidos e, freqüentemente, as duração. A causa desta foi interpretada
alergias alimentares são múltiplas. E', como estando na dependência do Str .
também, necessário ter em mente que i- stercoralis. Havia ao exame físico um
mediatamente após uma reação alérgica quadro de emagrecimento acentuado, e-
desenvolve-se um período refratário du- dema maleolar, derrame pleural bilateral
rante o qual a ingestão do alergênio não (transsudato). A albumina sérica estava
desencadeará os sintomas. Na opinião do consideràvelmente diminuída (1,1 g%) e
relator, a única prova da existência num uma curva glicêmica evidenciou má ab-
~eterminado paciente de uma alergia a- sorção intestinal. O estudo radiológico do
limentar é a precipitação repetida dos trato digestivo mostrou hipotonia do ar-
sintomas e a sua desaparição com a in- co duodenal, hipertonia, com desapareci-
trodução e a subtração do alimento sus- mento das dobras de mucosa em alças je-
peito da dieta, tudo isso sendo feito de tal junais proximais (fig. 1)
modo que o paciente ignore as condições Ainda recentemente tivemos a opor-
a que se está submetendo. (30, 31) tunidade de examniar uma paciente do
De grande importância diagnóstica serviço do Prof. Fernando Carneiro que
é conhecer se o sono é ou não interrom- se apresentava com lesões pulmonares
pido pelas evacuações freqüentes. As diar- curadas, de natureza tuberculosa, e uma
réias nervosas são freqüentemente apenas diarréia crônica de muitos meses de du-
diurnas. ração. Ao exame físico, mostrava-se ex-
A presença de tenesmo (puxas) lo- tremamente emagrecida e os níveis de
calizaria a patologia no reto-sigmóide. No albumina sérica também estavam bas-
entanto, convém lembrar que diarréias de tante diminuídos (2,6 g. e posteriormen-
longa duração podem ocasionar tenesmo te 1,2g.%). O estudo radiológico do in-
pelo desenvolvimento de lesão anal. testino delgado evidenciou extrema hi-
O calibre das fezes, se estreito como potonia das suas alças e diminuição do
lápis sugere patologia, orgânica ou fun- relêvo mucoso do íleo (fig. 2). Essa pa-
cional, do segmento reto-sigmóide. ciente veiu a falecer pouco após a sua
Não é necessário salientar o valor hospitalização e o estudo necrópsico evi-
que terá o conhecimento de situação si- denciou extenso depósito de substância
milar em diversos membros da família ou amilóide na sub-mucosa (identificação
da comunidade, fazendo suspeitar uma pelo Vermelho Congo) (fig. 3)
causa infecciosa ou tóxica comum. Recentemente foi criada a expressão
Similarmente, o passado de um qua- "leaking-gut" para explicar a hipoalbu-
dro diarréico sugestivo de doença celíaca minemia verificada em determinadas si~
é informação preciosa ao clinico. tuações, como a colite ulcerosa crônica,
Ao exame físico, numerosos aspectos p. ex., na ausência de doença hepática,
devem ser pesquisados. Dos mais impor- renal ou mesmo de uma diminuída in-
tantes, objetivos e simples é o conheci- gestão alimentar. (32)
mento do pêso. Diarréias crônicas, de A anorexia, as perdas fecais exage-
longa duração, desacompanhadas de que- radas, a esteatorréia podem justificar os
da ponderai significativa. devem fazer quadros de hipovitaminose e tetania fre-
pensar na diarréia emocional. A aprecia- qüentemente descritas e verificadas em
ção assim do estado nutritivo do paciente tais pacientes.
é fundamental. Podem ser encontrados No exame do ventre, a presença de
sinais de desidratação, edema, etc. As distensão exigiria do clínico a exclusão
Perdas aquosas excessivas, a hipoalbumi- de uma obstrução parcial do intestino.
nemia são suficientes para explicá-las. :msse estado de distensão freqüentemente
~ssa última às vêzes atinge níveis con- acompanha as diarréias secundárias à
Slderàvelmente baixos. ccasionando ede- uma deficiência nutritiva.
96 ANAIS DA FACULDADE DE MliDlClNA DE PORTO ALEGRE

Massa palpável no quadrante infe- verificação poderá levar ao diagnóstico


rior E faria o clínico suspeitar de carci- da causa da diarréia, tais como o hiper-
noma, diverticulite. A contrário, no qua- tireoidismo, cirrose, tuberculose pulmo-
drante inferior Da massa palpável é su- nar, etc.
gestiva de carcinoma, ameboma, tuber-
culosa ou enterite regional. A êsse pro-
pósito é bastante ilustrativa a observa- SIGMOIDOSCOPIA
ção de um paciente hospitalizado na 36a
Enf., portador de um tumor na F. I. D., Na opinião do r ela tor, o exame re-
quando lhe foi feito o diagnóstico de ileíte tossigmoidoscópico deve ser praticado
regional. Melhorado, teve alta, voltando como rotina, pelo menos pelo especialis-
para o interior do Estado. Ai, foi ope- ta em doença do sistema digestivo. Já
rado e o diagnóstico de "tumor de ceco" há algum tempo executando-a quase que
foi feito e a radioterapia foi indicada. sistemàticamente, tem o relator tido oca-
Três meses mais tarde foi novamente sião de surpreender lesões ainda sem ex-
hospitalizado na 36a Enf., sob os cuida- pressão clínica e invisíveis ao exame ra-
dos do Prof. Fernando Carneiro quando diológico minuciosamente executado. Nas
ao exame físico, além do tumor na F. I. diarréias o seu uso é obrigatório. Ao fi-
D., foi descrito edema do pé D. O estu- nal, o profissional estari!'J. capacitado pa-
do radiológico dos campos pulmonares ra julgar da presença de lesões anais, ab-
revelou ' várias áreas de infiltração e de cessos e fístulas perianais, ou perirretais,
condensação sugestivas de metástases". presença de hemorróides internas ou ex-
(fig. 4) Uma radiografia do pé mostrou ternas, carácter da mucosa do retossig-
"rarefação óssea do tarso". Um eetudo móide, presença de massas de natureza
radiológico do intestino delgado eviden- diversas, ou de sangue proveniente de re-
ciou um defeito de enchimento da região gião distai à extremidade do instrumen-
íleo-cecal. (fig. 5) A reação de Mantoux to, etc. O estudo endoscópico ainda per-
(1/1000) foi negativa. O paciente foi no- mitiria a feitura de biópsias e estudo de
vamente submetido à laparotomia quan- esfregaços feitos com diferentes finalida-
do foi retirado um gânglio mesentérico des. O diagnóstico de colite ulcerosa crô-
para biopsia que revelou: "numerosos nó- nica, amebiase, câncer pela endoscopia.
dulos formados de células epiteliódes, nas O de diverdiculite e colo irritável poderão
quais se encontram raras células gigan- ser sugeridos apenas.
tes e raríssimos focos de necrose". :msse Assim o caso do Sr. J. V. A., 62 anos,
paciente ilustra perfeitamente o que foi que nos consulta em virtude de um sin-
dito acima, isto é, de que um tumor na drome disentérico de 3 meses de dura-
F. I . D. faz sugerir as hipóteses dtagnós- ção, hipertermia e emagrecimento acen-
ticas de carcinoma, ileíte regional e tu- tuado. A endoscopia só pôde ser reali-
berculose. Tôdas essas hipóteses foram zada até 15 em. A mucosa apresentava
aventadas, para ao final, revelar-se o pa- numerosas ulcerações recobertas por ex-
ciente ser portador de tuberculose hi- sudato purulento, edema e congestão. A
pertrófica, as lesões pulmonares e ós- biópsia (figs. 6 e 7) mostrou área de ul-
seas sendo conseqüência, secundárias à ceração e intensa infiltração inflamató-
lesão intestinal. ria da mucosa, sub-mucosa e fibrose da
Segmento eólico endurecido, tubu- sub-mucosa (Colite ulcerosa crônica)
lar, palpável no Q.I.E. sugere colo ir-
ritável, diverticulite, colite ulcerativa
crônica. EXAMES COMPLEMENTARES
As manifestações gerais que acom-
panham as doenças inflamatórias do in- Exames de fezes
testino são variadas - hipertermia, ar-
tralgias, lesões cutâneas variadas, tais Na apreciação diagnóstica das diar-
como eritema multiforme, eritema no- réias crônicas, indubitàvelmente o con-
doso, piodermites, pigmentação excessi- tingente de dados trazidos pelo exame
va, etc. de fezes é dos maiores.
Ao lado dêsses aspectos, convém lem- a - a simples inspecção das maté-
brar a pesquisa de outras alterações cuja rias fecais é recurso precioso, embora ne~
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE
97

gligenciado na maioria das vezes. Fezes mente dita das fezes são fundamentais.
Volumosas, pálidas, com cheiro lembran- Em recente publicação, Londero (34)
do o de manteiga rançosa deveriam fa- discutiu com autoridade e experiência
zer o clínico suspeitar de esteatorréia. A êsses diferentes aspectos do problema
presença nas fezes de alimentos não di- abordado. Lembramos, apenas, que na
~er~dos permitiria, igualmente, ao pro- experiência dos autores o meio MIF re-
fissiOnal localizar o processo causal. A presentaria a solução para aquêles ca-
existência de quantidade apreciável de sos em que o material deva ser enviado
sangue, muco ou pus seriam também a local distante para ser examinado. Em
elementos a anotar porque de impor- meio MIF - e parece ser essa uma ob-
tância diagnóstica. servação generalizada - há conservação
b - A microscopia das fezes deve dos parasitas que se mantém tal como
ser exame de rotina. A pesquisa de fi- no momento da emissão das fezes. Na
bras de carne não digerida, bem como pesquisa das formas vegetativas das ame-
de glóbulos de gordura neutra ou de cris- bas - em fezes diarréicas, portanto, os
tais de ácidos gordurosos seriam elemen- cuidados são maiores. Pela própria bio-
tos de importância na caracterização logia do protozoário, o exame deve ser
diagnóstica das diarréias crônicas. Em feito nos primeiros 15 minutos após a eli-
quantidades apreciáveis estabeleceriam o minação das fezes. Se essa não for feita
diagnóstico de creatorréia e/ou esteator- no próprio laboratório, as fezes devem
réia, sem entretanto, permitir um diag- ser guardadas em garrafas térmicas,
nóstico diferencial das causas que a de- aquecidas a 37°C., e tão cedo quanto
terminaram. Os processos de digestão e possível enviadas ao laboratório para
absorção intestinais estão de tal modo exame. E' a experiência de Lôndero que
interdependentes que o defeito num in- essa situação constitue outra das vanta-
fluencia o outro, não havendo, assim, gens do emprêgo da solução MIF, que
fundamento para a diferenciação das es- permitiria uma conservação adequada
teatorréias em idiopática e pancreática do material sem os requisitos e cuidados
na base de um excesso de cristais de áci- acima apontados. Até o momento, o re-
dos gordurosos ou de gorduras neutras, lator não teve experiência pessoal com a
respectivamente. Alguns autores cha- solução MIF.
mam a atenção para a importância da Dos diferentes métodos propostos na
Presença de um excesso de grãos de ami- sistemática do exame parasitológico de
do nas fezes. Na experiência dêste rela- fezes, temos larga experiência com os
tor, no entanto, êste é um dado sem va- métodos de Faust, Ritchie e Baermann.
lor clínico. E' nossa impresão ser o método de Faust
. O exame parasitológico é recurso superior aos demais na pesquisa de cis-
Imprescindível. Muitas vezes elucida um tos de amebas; ao contrário, temos evi-
diagnóstico, apontando a presença de dência que o método de Ritchie é supe-
Protozoários e;ou helmintos como ele- rior ao de Faust na pesquisa de ovos de
mentos determinantes da diarréia. Sob Trichuris. Em relação aos ovos de As-
ê~se aspecto, não há ainda por parte dos caris e Necator ambos os métodos se
diferentes laboratórios uma sistematiza- equivalem. Entretanto, no diagnóstico
ção de técnicas na pesquisa dêsses dife- das larvas de Strongyloides stercoralis é
rentes elementos. As preferências pen- indiscutível a vantagem do método de
dem para êsse ou aquêle método e a és- Baermann sôbre os demais. Sob êsse as-
se propósito é útil lembrar a excelente pecto a nossa experiência é demasiado
tese de Leal de Morais (33), onde êsses conclusiva. (15) A microscopia das fe-
assuntos são discutidos. Para cada pa- zes ainda pode revelar a presença de leu-
rasita ou grupo de parasitas há proces- cócitos, degenerados ou não, eritrócitos,
sos eletivos que são necessários usar sis- etc., de grande significação diagnóstica.
t~mática e racionalmente, de modo a A pesquisa de sangue oculto deve
diag~osticar tão amplamente quanto ser obrigatória, embora alguns autores,
Poss1ve1 os parasitas infectantes. O tem- Todd e Sanford, (35) p. ex., apenas atri-
po que decorre entre a colheita do ma- buam valor quando o resultado é negati-
terial e o exame, bem como os cuidados vo. Os métodos aconselhados são inúme-
que se devem ter na colheita pràpria- ros. Entretanto, na experiência do rela-
98 11NAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

tor o que melhor serve à rotina clínica é Exame radiológico


a pesquisa pelo guaiaco. De simples exe-
cução, a sua interpretação deve ser ba- De acôrdo com a história, achados
seada na maior ou menor velocidade com físicos, endoscópicos e exame das maté-
que se processa o aparecimento da cor rias fecais, o clínico decidirá do plane-
azul ou verde. Assim, temos: jamento do exame radiológico. Tanto o
Reação negativa enema baritado, quanto o estudo do in-
testino delgado fornecem elementos de
Duvidosa +, quando a coolração apare- excepcional valor para o diagnóstico das
ce depois de 90 segundos e antes de diarréias crônicas. Não será necessário
2 minutos insistir na importância dos mesmos e
Positivo 1 +, quando a coloração apare- muito menos nos cabe definir-lhes as
ce depois de 60 segundos e antes de técnicas e as limitações.
90 segundos Apenas dois exemplos. Paciente de
Positivo 2 +, quando a coloração apare- 60 anos é hospitalizado na 33a Enf. em
ce depois de 30 segundos e antes de virtude de diarréia de 1 ano de duracão.
60 segundos Emagrecimento de 30 kg. Anemia hÍpo-
Positivo 3 +, quando a coloração apare- crômica. Enema baritado revela um tu-
ce dentro de 30 segundos mor na porção distai do colo ascenden-
te (fig. 8). A laparotomia e ulterior exa-
Quantidades mínimas de sangue in- me microscópico revelaram ser um ade-
gerido - 8 cm3 - são capazes de po- nocarcinoma.
sitivar (2 ou 3 +) a reação do guaiaco. Paciente de 21 anos, sexo feminino,
A grande maioria dos resultados falsos queixa-se de síndrome disentérico de 1
positivos - aqui incluídos aqueles de- mês de duração. Emagrecimento acen-
pendentes da ingestão de ferro - ins- tuado. Artralgias, hipertermia. O estu-
creve-se em ± ou 1 + . Uma análise mi- do radiológico do intestino grosso (ene-
nuciosa dos diferentes fatôres capazes de ma) revelou edema e pequenas ulcera-
interferir na pesquisa de sangue oculto ções no segmento E do transverso e des-
nas fezes foi feita por Tohrnton e Illing- cendente (figs. 9 e 10), compatível com
worth. (36) o diagnóstico de colite ulcerativa crô-
c - A análise química das fezes é nica.
método mais complexo, limitado a ape-
nas alguns laboratórios. Método relati-
vamente simples para a dosagem de gor- Biúpsia do Intestino Delgado
dura nas fezes é o de Van de Kamer e
para o de nitrogênio o de Kjedahl. Em A biópsia do intestino delgado feita
dietas normais, com um conteúdo de por aspiração foi idealizado por Shiner
gordura variável de 50 a 150,0 g./24 ho- (37) na Inglaterra. Desde então nume-
ras, quantidades de gordura e nitrogê- rosos trabalhos têm surgido sôbre o te-
nio fecais superiores a 7,0 g. e 3,0 g. de- ma, mostrando a importância dêste no-
finem a presença de esteatorréia e crca- vo recurso propeclêutico (38, 39, 40). A
torréia. nossa experiência sôbre o assunto será
d - A pesquisa bacteriológica é tam- relatada em trabalho ulterior feito em
bém de importância, sobretudo nas for- eolabora(;ão com o Dr. Rolf U. Zclmano-
mas de diarréia aguda. Diferentes ger- viez.
mes, bactérias ou vírus, podem ser os res-
ponsáveis pelos quadros de diarréia agu-
da ou crônica. As salmoneloses, shigue- SUMARIO
loses são suficientemente conhecidas.
Sôbre a E. coli enteropatogênica já nos Nesse trabalho são abordados os prin-
referimos em outra parte dêste relatório. cipais aspcetos referentes ao problema
Basta aqui repetir que a determinação das diarréias crônicas. Salienta-se, ini-
dos sorotipos seria essencial para estu- cialmente, a diferença entre diarréia e di-
dos epidemiológicos a fim de determinar sentcria e, logo a seguir, a sua fisiopato-
a relação causal, a fonte e o meio de logia é abordada. Relrmbra o autor augu-
transmissão destas bactérias. mas classifica(;ões usadas, preferindo a de
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PôRTO ALEGRE 99
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FIG. 1 FIG. 2

FIG. 3
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

FIG. 4
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE 105
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FIG. 5 FIG. 6

FIG. 7 FIG. 8
ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE P ORTO ALEGRE 107
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FIG. 9

FIG. 10

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