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Uma apreciação crítica da obra Império de Hardt & Negri

INTRODUÇÃO

A ascensão da chamada Terceira revolução industrial trouxe, a partir da década de


1970, inovações tecno-científicas que acarretaram diversas mudanças no modo de
produção capitalista. Uma nova caracterização da divisão internacional do trabalho
emergiu. Autores como M. Hardt e A. Negri – assim como outros teóricos sociais
conhecidos como Daniel Bells, André Gorz ou David Harvey –, dedicaram extensos
estudos e teorizações para entender como a categoria política e social do trabalho
sofreu modificações.

Na verdade, além da categoria do trabalho, toda uma ‘reestruturação do capital’


expandiu-se no plano global. A questão da internacionalização econômica (ou do
propalado termo globalização) aumentou exponencialmente a mundialização de
capitais (na forma financeira) e as trocas mercantis, modificando as formas regulação e
controle da reprodução do capital pelos agentes econômicos, políticos e sociais em
todas as escalas territoriais. A crise estrutural do capitalismo provocou um ‘desespero
intelectual’ pela busca de novas fórmulas e conceitos para este novo contexto. Isto é
palco de divergências, polêmicas e debates que marcam a literatura contemporânea
sobre o assunto.

Ora, a produção capitalista, em sentido lato, alterou-se. Com o fim da era fordista e
início de uma nova forma de acumulação – a acumulação flexível –, como sentenciou
F. Jamenson [1], ficou cada vez mais dependente de uma regulação por meio da lógica
cultural. Nesse sentido, uma das mudanças mais interessantes foi a penetração cada
vez maior das chamadas novas tecnologias da informação e comunicação. Modernas
redes de comunicação e circulação possibilitaram que as diversas mídias, o marketing,
as indústrias de entretenimento e de serviços etc. tivessem grande importância na
diversificação e aumento do consumo e, enfim, na garantia do processo de reprodução
do capital [2].

Entendemos que é no contexto exacerbado da acumulação flexível que o capitalismo é


hoje diagnosticado e estudado de muitas formas. Aparecem assim noções diversas
como: capitalismo ‘cultural’, ‘cognitivo’, ‘pós-industrial’, ‘hiperindustrial’. A partir da
obra Império, de Hardt & Negri, poderemos alcançar as consequências bastante difícil
desse novo contexto: analisar a questão da teoria política da ‘nova era do capitalismo’.
Os autores apresentam uma abrangente teorização que alimenta o debate intelectual
em áreas como as Relações Internacionais, na Teoria Social e Política ou na Economia.

Frente a este contexto, em primeiro lugar, exporemos ao leitor os centrais argumentos


presentes na proposta de Hardt & Negri, atentando às filiações teóricas que estão por
trás. A seguir, o artigo trata sobre o debate em que a obra emerge e suscita; para
enfim assegurarmos algumas considerações finais a respeito.

1
UMA NOVA TEORIA POLÍTICA PARA UM NOVO PODER MUNDIAL

HARDT & NEGRI (2001) surpreenderam o mundo acadêmico descrevendo uma nova
forma de domínio e soberania que estaria preste a predominar como a nova ordem
global vigente, e que seria o palco de conflitos políticos futuros. Intelectuais que
advogam um pensamento autônomo e oblíquo ao mundo acadêmico, Hardt & Negri
introduziram a ideia de uma nova lógica e estrutura de comando e supremacia global
como uma grande aposta conceitual para analisar o fim da ‘era imperialista’.

O que marca nas construções dos autores foram suas capacidades de acolher e
conjugar maneiras marxistas de pensar a sociedade, isto é, de fundo emancipatório,
com as propostas ditas pós-modernas que mudaram a forma de conceitualizar o
poder, o sujeito, o conhecer, a história etc.

Mais do que um ‘verniz intelectual’, os autores conseguem extrair um conteúdo sui


generis em suas teorizações. Isto pode ser percebido pelos fortes debates que
demandou. Em Império, estabelece-se a ideia de que a ascensão de redes de governos
mundiais em torno do globo: as instituições supranacionais, como as Nações Unidas, o
FMI, bem como os conglomerados internacionais privados e as ONGs, diferem do
Imperialismo clássico, que centrou o poder sobre os Estados-Nação. O Império, com
seu poder global de comando, seria então a etapa do capitalismo em que as
instituições de regulação e coerção social estariam descentralizadas e universalizadas,
fato que deslocaria a posição dos Estados como autoridade soberana ou de liderança
mundial (como ocupou os EUA durante longo tempo). Como argumentam:

o mercado globalizado adquire sua unidade política por intermédio de atributos que
sempre caracterizaram a soberania: o poder militar, monetário, comunicativo, cultural
e idiomático. O poder militar origina-se de um poder irrestrito de dispor sobre um
arsenal bélico abrangente, inclusive armas nucleares. O poder monetário se baseia
sobre a existência de uma moeda forte hegemônica, à qual o mundo financeiro, apesar
de sua diversidade, está completamente subordinado. O poder da comunicação se
mostra pelo triunfo de um único modelo cultural ou até de uma única língua universal.
Esse dispositivo de poder é supranacional, global e total: chamamo-lo de Império
(idem, p. 347).

Em outras palavras, a era da soberania Imperialista – como a americana – não tem


mais primazia porque não existe mais nada para esta significativamente ‘conquistar’. O
Império já abarca o mundo todo. Por isso não possui um “lado externo”, nem sequer
conduz a guerra no sentido tradicional (os conflitos hoje são intercedidos por ‘tropas
de intervenção’, por ‘polícias’ mundiais do novo Império, dizem Hardt & Negri).

Por ocasião das mudanças das categorias de produção e troca (dinheiro, tecnologia,
pessoas e bens), os autores argumentam que os comportamentos dessas categorias,

2
“cada vez mais à vontade” e acima das fronteiras nacionais, dão base para a hipótese
primordial de um novo paradigma de mundo.

O Império se auto-regula como um dispositivo – o biopolítico[3]: “Na pós-


modernização da economia global, a produção de riqueza tende cada vez mais ao que
chamaremos de produção biopolítica, a própria vida social, na qual o econômico, o
político e o cultural cada vez mais se sobrepõem e se completa um ao outro” (idem, p.
53).

Descobrem-se as novas subjetividades que “animam” as populações. Hardt & Negri


prognosticam a efetivação de formas de produtividade no contexto biopolítico do
Império. Neste âmbito, a produção do capital converge progressivamente com a
produção e reprodução da vida social, tornando cada vez mais difícil manter distinções
entre trabalho produtivo, reprodutivo e improdutivo.

Eis, então, o que talvez seja a grande originalidade das teorizações de Hardt & Negri:
com base em um profundo conhecimento do pensamento político, eles destacam a
importância e os alcances das ideias de biopolítica para o contexto da produção
capitalista contemporânea[4]. A partir das leituras de Foucault e Deleuze, os autores
extraíram o conceito de biopoder. Para eles, o que a biopolítica vem a ser é:

a forma de poder que regula a vida social por dentro, acompanhando-a,


interpretando-a, absorvendo-a e rearticulando. O poder só pode adquirir comando
efetivo sobre a vida total da população quando se torna função integral, vital, que
todos os indivíduos abraçam e reativam por sua própria vontade” (idem, p. 43).

Com DELEUZE (1992) Hardt & Negri aprenderam que nas ‘sociedades de controle’ os
mecanismos para o comando da vida são cada vez mais ampliados, ou melhor,
orgânicos e imanentes ao campo social. Com a tecnificação avançada das sociedades, e
a correspondente inovação que se tornou imanente à produção, têm-se um tecido
social e um ambiente cognitivo próprios. Deleuze foi uns dos primeiros a notar as
alterações na biopolítica após os diagnósticos de Foucault. Para ele, as novas formas
tecnológicas de controle bioquímico trouxeram um novo ‘modo de sujeição’ aos
corpos. A complexidade do mundo imagético, medicinal e virtual que criamos conduziu
a uma domesticação crescente dos desejos e sensações das sociedades. O controle
biopolítico tornou-se cada vez mais ao nível psicológico e químico. Deleuze pensou na
extrapolação da sociedade de poder disciplina diagnosticada por Foucault. Estamos na
sociedade de controle, lugar em que não é mais preciso os ‘confinamentos’ das
instituições criadas pelas sociedades disciplinares. Os novos controles aparecem como
“uma modulação, como uma moldagem auto-deformante” que mudam
constantemente, a cada instante, ou aparecem “como uma peneira cujas malhas
mudassem de um ponto a outro”.

3
O novo poder biopolítico é, assim, um regime subjetivo de controle permanente, que
produz seus efeitos de poder diretamente na exploração das atividades dos “corpos,
cérebros e sentimentos” das sociedades democráticas de massa[5].

O regime de poder subjetivo que os autores pensam, não é sinônimo pois um termo
destituído de sentido. Vale lembrar que Negri & Hardt tem, por fundo, uma nova
interpretação de Marx, que retira o “objetivismo” posto nos escritos de “O Capital”,
assumindo o “subjetivismo” dos manuscritos de “Grundisse”[6]. Para os autores, o
trabalho, seja material ou imaterial (físico ou intelectual), produz e reproduz a vida
social, e somente durante o processo é explorado pelo capital (2001, p. 426). No
entanto, o que se impõe e desponta como um novo sentido ao nosso tempo é o
trabalho imaterial. É ele que integra os afazeres de comunicação, cooperação,
dedicação e reprodução de cuidados. Os autores distinguem, dessa forma, três tipos
de trabalho: o comunicativo; o interativo; e o trabalho de produção e manipulação de
afetos.

O caráter peculiar do trabalho imaterial é a possibilidade de tornar a vida do


trabalhador moderno circunscrita no mundo do trabalho. No capitalismo, que depende
mais do labor cognitivo do que braçal, não há margem clara para se separar o tempo
livre do tempo do trabalho.

Em resumo, a nova teoria política, que une as ideias de um capitalismo cognitivo com a
de biopolítica, propõe que a existência de um sujeito soberano único no globo,
abrangendo dentro de sua lógica todas as formas de governo clássicas: o sistema
monárquico (regendo as questões globais), o aristocrático (distribuindo privilégios a
Estados limitados) e o democrático (que compõe o discurso ilusório de fundo). Uma
das realidades concretas que dá afirmação às ideias do livro é por ocasião da formação
de um ‘direito universal’. Como escrevem: “o ponto de partida de nosso estudo do
Império é a noção de direito, ou melhor, um novo registro de autoridade e um projeto
original de produção e normas e de instrumentos legais de coerção que fazem valer
contratos e resolver conflitos” (idem, p. 27).

No entanto, uma nova forma de resistência (ou revolta) a este domínio global é
metamorfoseada. Para os autores, é possível dizer que, a partir da radical modificação
do modo de produção, através da hegemonia das forças de trabalho de subsistência
cooperativa, uma subversão aos parâmetros do ‘bom governo’ é criada. Isto porque ao
mudar a situação da ‘massa pobre’ do mundo de meros proletariados para a
condecorada categoria de trabalhadores imateriais, uma maior substância de vida
possibilita a transformações em novos atores: a multidão (que difere do conceito
moderno de povo)[7]. Como escrevem Hardt & Negri, no texto “Globalização e
Democracia”:

4
A multidão com que estamos lidando hoje é, pelo contrário, uma multiplicidade de
corpos, cada um com seus entrecruzamentos de poderes intelectuais e materiais de
razão e comoção; são corpos ciborgues que se movimentam livremente, sem
considerações às antigas fronteiras que separavam os humanos do instrumental (2002,
p. 30).

Dessa forma, a multidão consistiria a massa não identificável e descontratual por


essência, que se ergue contra o Império; este último, a máquina que comanda o
mundo, o novo Leviatã (idem, p. 80). Hardt & Negri dizem que o caminho natural da
multidão é o da “resistência”, da “insurreição” e formação de um novo “poder
constituinte” que culminaria na formação de focos emancipadores. Tal como dizem, a
multidão apresentaria em si mesma o principal material do contra-poder: a ‘carne’
(que “não é matéria, não é mente, não é substância”). Os intelectuais, pois, assumem-
se otimistas e proféticos:

É preciso rejeitar toda a nostalgia diante das estruturas de poder que o procederam e
se opor a todas as estratégias políticas que se resuma e retorna ao arranjo antigo, por
exemplo, tentar fortalecer novamente o Estado Nacional como proteção contra o
capital globalizado. Portanto, o Império é melhor no mesmo sentido com que Marx
insistiu que o capitalismo é melhor do que as formações sociais e as formas de
produção que o procederam (…) (2001, p. 377).

Observada empiricamente nas diversas insurgências e singularidades individuais no


capitalismo cognitivo (seja de trabalhadores formais, informais, precários, sem carteira
assinada, do trabalho material ou do imaterial), a multidão impõe uma biopotência
coletiva que circunscreve, enfim, o terreno de possibilidade à constituição sinérgica de
movimentos, mobilizações, manifestações contra à nova ordem mundial. Para os
autores, a positividade da biopotência coletica é capacidade se torna, em meio às
coerções que recebe, uma poderosa arma de insurreição contra a era do capitalismo
cognitivo e de evidenciar as questões biopolíticas na democracia contemporânea.

DEBATE EM TORNO DA TEORIA POLÍTICA DE HARDT & NEGRI

As propostas de Hardt & Negri receberam, nos anos após a publicação da obra, ampla
exposições na mídia jornalística. Estas propostas, no mais das vezes, banalizaram as
discussões e, seja como for, não estabeleceram contribuições. Obviamente, o debate
em que a obra emerge e suscita encontrou consistências na escrita de intelectuais e de
especialistas sobre o tema.

No meio intelectual marxista, a postura crítica de Hardt & Negri ao capitalismo e à


mundialização neoliberal obteve certos elogios em autores como BORON (2001) e
KURZ (2005). No entanto, mesmo estabelecendo preceitos do materialismo-dialético
(realizando não somente uma interpretação, mas também uma proposição libertadora
do mundo) e utilizando diagnósticos dos pós-modernistas, o livro Império não teve

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apreciação e aderência fácil. De longe, sua recepção não ficou ‘neutra’. Na verdade, foi
acompanhada de grandes acolhimentos e repulsas.

BORON (2001), por exemplo, inicia sua crítica apontando para as insuficiências das
discussões de Hardt & Negri. Para ele, a proposta que quer dar uma nova etapa e luz
ao capitalismo, não consegue ou esquece as formulações e problemas de obras
clássicas para o debate como as de Rosa Luxemburgo, Lênin, Bukarin e Kaustsky
(Boron, 2001, p. 17). Boron demonstra, portanto, uma repulsa pela falta de
‘academicismo’ da obra e, por fim, pensa que as ideias de Império seguem uma leitura
e visão parcial, unilateral e incapacitada para perceber a totalidade do sistema.

Para Boron, não há procedência no objetivo reivindicado pelos autores: contribuir com
a criação de uma estrutura teórica geral que constitua uma caixa de ferramentas
conceituais que permita assim teorizar e atuar contra o Império. Critica-se e
desacredita-se em sua base em termos jurídicos que forma o “novo Leviatã” (ou seja, a
ordem política do Império). Ora, pensa Boron, esquecem que a “ordem mundial” é
uma conjugação de organizações de mercados, de Estados nacionais e classes
dominantes (em que todos esses agentes criam políticas…), não sendo somente
resultantes de um órgão público soberano, como as Nações Unidas. Assim, a supressão
do sistema imperialista por um direito internacional que daria “princípios éticos
supremos” não é convincente, muito menos palco para afirmar o decreto de fim da
dependência econômica e tecnológica dos Estados pobres.

Nos termos críticos de um autor como Boron, entende-se que Negri & Hardt apenas
conseguiram aludir sobre questões latentes hoje: a substituição social do trabalho, a
formação de um capitalismo cognitivo de trabalhadores imateriais e o surgimento de
uma “sociedade-informacional”. A ‘lógica antropológica’ do trabalho, que diz que o
“cérebro vence o músculo”, não representaria uma consumação real. A suposta
preponderância do trabalho imaterial constitui, na realidade, uma parcela
insignificativa no mundo, mesmo em países ricos. A análise recai, pois, em uma ideia
fetichista a respeito das novas tecnologias da informação e comunicação e uma
mistificação do trabalho imaterial na “Nova Economia”.

Sérgio LESSA (2002), no artigo “Trabalho imaterial, classe expandida e revolução


passiva”, realiza uma análise crítica da filosofia social impetrada em Império. No dizer
deste autor, Hardt & Negri, ao dar um novo “elogio” da crise capitalista da qual
estamos mergulhados, vendo ela com otimismo, propõe uma nova filosofia da história
(“a nova ética”) e proclamam a anulação da “luta de classe” pela vontade de “amor
para o tempo”, uma vez que o “objetivismo” de Marx ganha novo status com a
transição para um “subjetivismo” que prega “revolução passiva”. Desse modo, explica
Lessa, a categoria do trabalho não necessita mais de emancipação para uma atitude
revolucionária, mas de uma “restauração”. Os novos operários são constituído, pois,
de uma “necessidade ontológica de revolução”, e a formação de um “poder

6
constituinte” traria essa ontologia inata do ser (quase tautológica). Hardt & Negri
estariam argumentando que a reestruturação capitalista não foi fruto da busca
competitiva por mais-valia, mas veio do fato de que os trabalhadores estariam
‘fatigados’ do keynesianismo e fordismo.

Para salientar os termos críticos acima, podemos citar aqui o clássico trabalho de
análise da “revolução informacional” realizado pelo neomarxista Jean LOJKINE (1995).
Ele obviamente é contra qualquer teoria que dê margem a se pensar na ideia de
‘sociedade pós-industrial’ que apregoe uma fantasiástica e ideológica interpretação de
que o mundo caminha por uma profunda crise da indústria tradicional e as formas de
exploração do trabalho estariam surgindo ou formariam um ‘potencial
revolucionário’[8]. Neste âmbito, para ele, o que pode se afirmar hoje é uma revisão
da tese de um Estado-Nação como compartimento primordial da realização do lucro
máximo capitalista. O argumento para isto está em analisar que há a preponderância
do mercado financeiro mundial na reprodução capitalista, sendo que assim a escala
nacional não é mais o locus do lucro máximo. É a mais-valia global a extensão maior do
domínio econômico.

Lojkine concluía com a célebre frase medieval que se perpetua ainda hoje: “Uns rezam
(orant), outros combatem (pugnant) e outros ainda, trabalham (laborant) – expressão
universal da divisão de classes em todas as sociedades de classe, dos Estados
sumerianos até o sistema capitalista” (1995, p. 269). A frase ainda seria lógica suprema
vigente do capitalismo. Entretanto, Lojkine (1995, p. 272) ponderava que:

a enorme complexidade da função de direção e gestão na “Revolução Informacional”


transformou uma pequena elite, pertencente à classe dirigente, numa vasta categoria
social multiforme, em grande expansão há trinta anos, se opõe cada vez mais a uma
pluralidade de frações sociais dominadas e freqüentemente exploradas, mesmo se
suas funções de criação e de organização erguem uma barreira eficaz contra toda
assimilação simplista ao salariato e ao mundo do ‘trabalho’.

Robert KURZ (2005) é também categórico em descartar as proposta dos ‘neo-


utopistas’ Hardt & Negri. Para ele, a ‘desmaterialização’ do conceito marxista de luta
de classes significa meramente retórica. Há três pontos centrais de sua reticência.
Resumimos assim: (1) não há, na verdade, trabalho ‘imaterial’, pois a base dos setores
da informação e do ‘conhecimento’ “continua a ser o ‘processo de metabolismo com a
natureza’ (Marx) e, portanto, material”; (2) da mesma forma, estes setores são
minoria, e não uma ‘multidão’, “isso se deve ao facto de que a microeletrônica, que
tornou supérfluo o trabalho industrial anterior, não produz nenhum no trabalho
capitalista em massa”; (3) por fim, a lógica econômica das atividades ‘imateriais’ (da
cultura, informação e conhecimento) criaria, no lugar da antiga luta de classes do
trabalho assalariado, uma visão neo-pequeno-burguesa: “Hardt/Negri pretendem
prosseguir e eternizar a produção de mercadorias que se tornou obsoleta, com o

7
expediente de uma formação de redes independentes que se instauram entre
pequenos colectivos informacionais de ‘autovalorização’”.

Encontramos em BOLAÑO, C. (2007, p. 41), no entanto, uma atitude bem menos


adversa às reflexões de Hardt & Negri. Se na nova era do capitalismo cognitivo não se
pode:

afirmar que a nova classe trabalhadora surgida da Terceira Revolução Industrial seja
mais consciente ou potencialmente revolucionária que antecessora do século XX (…),
tampouco se pode afirmar o contrário. Isto porque aquele caráter informático,
comunicacional e extremamente socializado do trabalho intelectual aponta
efetivamente para uma possibilidade concreta de formas alternativas e possivelmente
mais adequadas de organização da luta contra-hegemônica do que aquelas do velho
movimento operário europeu e asiático que levaram às revoluções proletárias do
século XX.

Para Bolaño, enfim, uma posição mais conveniente – do que a simples negação das
teorizações que Hardt & Negri estabelecem diante da reestruturação capitalista – seria
o estabelecimento de diretrizes científicas para se pensar como o ‘homem comum’
reage aos assujeitamentos biopolíticos, uma vez que parece estar bastante claro que
hoje não procede mais uma análise limitada em categorias de entendimento da
‘exploração entre classes’ ou da ‘dominação entre Estados-nação’.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ora, acima de tudo, é preciso entender, que as principais reticências às propostas as


de Hardt & Negri se localizam, mais propriamente, em sua aproximação às teorias pós-
modernas que constatam mudanças como: as novas subjetividades, o novo estatuto e
papel do conhecimento e das tecnologias, a dissolução da ‘luta de classes’. Tão logo,
observa-se o distanciamento principalmente das interpretações marxistas ortodoxas, e
isto é divisor de águas nas posições pro e contra os autores.

Hardt & Negri parecem estar preocupados em responder aos problemas e teorias
dispostos hoje (e a tentar encontrar ‘novas saídas’) e suas resoluções sobre o
problema da hegemonia recupera raízes de um pensar gramsciano[9]. Não à toa, a
derradeira tese deles pensa como a questão da hegemonia não se pode limitar a
controlar a produção econômica, mas deve abranger uma direção político-cultural. A
nova hegemonia (ou a contra-hegemonia) não se estende sem uma ‘reforma
intelectual e moral’. E parece criterioso dizer que nos termos do capitalismo cognitivo
e do apoderamento biopolítico estas questões, enfim, estão cada vez mais práticas e
presente.

Mas, afinal, é possível afirmar uma ‘insurreição’ da multidão em meio a uma sociedade
de controle que parece cada vez mais submeter os desejos (os inconscientes) e

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determinar o flagelo da individuação e posição política dos indivíduos? A questão, sem
dúvida, recai na análise crítica da cultura de nossa época. Podemos lembrar que, se
tempos atrás Herbert Marcuse foi apontado como bastante descomedido ao prever
saídas de emancipação no seu diagnóstico da revolução cultural, hoje, no entanto, é
certo que não fora totalmente errado, uma vez que os grandes estandartes dos
outsiders foram que protagonizaram das maiores transformações na sociedade
ocidentais como um todo.

As inovações tecnológicas ditam hoje novos contextos para a relação entre capital e
vida. A decisão, no entanto, é política (e não tecnológica). Ao repensar a política e a
subjetividade que dinamizam e têm seus efeitos no plano mundial, Hardt & Negri não
podem ser apontados dentro da pecha de determinismo tecnológico. No momento em
que o fortalecimento da política mundial significou uma significativa perda da base dos
Estados-Nação, a nova ordem mundial simboliza o duelo entre o horizonte de duas
biopotências contrárias: a do Império e a da Multidão.

Sem dúvida, as construções críticas não-tradicionais de Hardt & Negri são um grande
mérito dos intelectuais – o livro é também um grande manifesto (e há todas as
características nesse sentido). Um manifesto esperançoso, tácito e muito vivo deste
momento histórico. Indiscutivelmente emblemático, corajoso e inovador. Atinge-se
uma profunda análise deste novo fermento histórico e a iminência de novas
interpretações da realidade.

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