Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Organizadoras:
Lisete Barlach
Violeta Sun
São Paulo
EACH
2019
DOI 10.11606/9788564842533
Copyright © 2019 – Escola de Artes, Ciências e Humanidades/USP e Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan
EACH/USP
Rua Arlindo Bettio, 1000 - Vila Guaraciaba
Ermelino Matarazzo, São Paulo (SP), Brasil
03828-000
Autorizo a reprodução parcial ou total desta obra, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte.
SUMÁRIO
1. Prefácio .........................................................................................................................6
Chang Hwa.....................................................................................................................99
Eliana Trevisan..............................................................................................................126
Inteligências Múltiplas
Sheila A. Silva................................................................................................................500
16. Percepção da imagem corporal e mental durante a prática de
TAI CHI CHUAN e QI GONG
Simone Nori...................................................................................................................559
17. Avaliação da atenção e memória em instrutores de TAI CHI CHUAN
com aplicação de jogos eletrônicos
Vera Comar....................................................................................................................668
19. Posfácio
Texto Taoísta................................................................................................................710
5
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Prefácio
Autoras: Profa. Lisete Barlach e Profa. Violeta Sun
6
também do trabalho de Eliane G. Estevam, que realizou Medições da energia
vital por meio da bioeletrografia, técnica ainda pouco conhecida no Ocidente,
porém muito utilizada em países como a Rússia.
7
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Prefácio e Apresentação
Palavra da SBTCC
Socidade Brasileira de Tai Chi Chuan
“- Se querem que o médico receite Tai Chi Chuan como prática terapêutica,
devem desenvolver trabalhos acadêmicos dentro dos critérios estritos de
comprovação. “
8
Este incentivo nos motivou a seguir firmes no caminho da formação de
profissionais da Arte e justamente, neste processo é que recebemos a Professora
Lisete Barlach para fazer parte deste grupo de aprendizes num dos cursos de
Capacitação da SBTCC.
E, reforçando o que é essencial à Arte, foi esta experiência que permitiu que
hoje estejamos aqui, completando o primeiro ciclo de um caminho que aspiramos
ser tão longo e abran
9
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
10
ADRIANA SIANE DE SENE
RESUMO
Este trabalho objetiva desnudar a inteireza do ser mostrando ser o corpo mais do que um
invólucro físico a luz de uma visão integrada como o fazem as terapias corporais Chinesas. É
objeto deste trabalho discorrer sobre o homem, a energia e o movimento nas Práticas Corporais,
visando uma melhor compreensão do que é esse corpo e de que forma as técnicas corporais
reconectam o ser a sua essência promovendo a autodescoberta e consequentemente melhor
qualidade de vida e saúde ao indivíduo. Será traçado um paralelo entre Práticas Corporais
Chinesas, neste trabalho representada pelo Chi Kung, e a visão de mundo dos Orientais, bem
como sua filosofia, que são essenciais ao embasamento das teorias da Medicina Tradicional
Chinesa. Dentre outros conceitos abordados estão os conceitos de Corpo e Energia e autores da
Psicologia que contribuíram significativamente para que Lowen desenvolvesse a Análise
Bioenergética, como Pierrakos e Reich. Finalizando serão descritos alguns exercícios da
Bioenergética num comparativo com algumas posturas e princípios do Chi Kung visando
mostrar o quanto o conhecimento milenar Chinês está relacionado com as técnicas Ocidentais
das Terapias Corporais. Com relação a metodologia o trabalho é teórico, baseado em revisão
bibliográfica.
ABSTRACT
This work aims to to bare the whole of the human being, showing it not only as a
physical enclosure, but within an integrated view like in the Chinese Body Therapies. It
will discourse on the man, energy and movement in Corporal Practices aiming a better
understanding of the body and the way that corporal techniques will reconnect to the
being and its essence, promoting the individual self-discovering and consequently an
improvement on its quality of life and health. There will be a parallel between The
Chinese Corporal Practices, represented by Chi Kung, and the oriental perspective
and its philosophy, essential in the basement of Chinese Traditional Medicine.
Concepts as Body and Energy and some authors in Psychology who contributed
significantly with Lowen´s development of Bioenergetics Analysis, like Pierrakos and
Reich will be approached. There will be a comparative between the Bioenergetics
practices and Chi ng principles aiming to present the relation of the ancient Chinese
knowledge and Occidentals Corporal Therapies. Regarding methodology, the work is
theoretical, based on bibliographic review.
11
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
12
ADRIANA SIANE DE SENE
INTRODUÇÃO
“A saúde é mais do que apenas a ausência de doenças clínicas” ( KIT, 2001, p.167) e
serão abordadas neste trabalho as Práticas Corporais da Medicina Chinesa como uma
ferramenta para promoção de saúde e qualidade de vida, num paralelo com a Análise
Bioenergética com vistas a compreensão do indivíduo como um ser integral, que através da
Prática se reconecta com sua essência universal. Nem mesmo os avanços tecnológicos e estudos
avançados sobre genética e células tronco foram capazes de abrandar o sofrimento humano, a
crise do ser tem sido vivenciada pela sociedade em todos os seus aspectos, há uma busca
incessante pelo alívio do sofrimento, mas face ao imediatismo o que se assiste é a redução
temporária de sintomas. Em tempos que a normose é imperativa o que se vê é o aumento de
casos de depressão, estresse, problemas de pressão, entre outros, e sendo este o contexto atual,
este trabalho propõe mostrar como conhecimentos milenares estão sendo revisitados e
validados, sendo um caminho para a autodescoberta.
O presente trabalho parte de uma revisão bibliográfica que se desenvolverá através de
Capítulos que permitam ao leitor conhecer um pouco da filosofia e da Medicina Tradicional
Chinesa (MTC) para uma compreensão de como estas influenciam as práticas do Chi Kung
para além de um simples exercício. O desenvolvimento também contempla alguns conceitos
sobre o homem , o universo , o corpo e a circulação energética convergindo para alguns
pressuspostos da Psicologia com o qual trabalharam Pierrakos, Reich e Loewn , que acabou
por desenvolver a Análise Bionergética contribuindo para resgatar e validar alguns conceitos
da Medicina Chinesa.
Longe de esgotar o assunto a proposta é revisitar algumas teorias que ainda recebem o
descrédito de muitos, e mostrar como estas podem ser um a caminho para o resgate e reconexão
do Sagrado que há em cada um através das práticas corporais.
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
13
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
JUSTIFICATIVA
O ser humano se desconectou de tal forma de si mesmo que levou anos para
compreender o que as civilizações milenares já sabiam, que o corpo físico não é apenas um
invólucro, mas sim a memória e o registro de toda jornada humana e assim como a natureza ele
tem ciclos e precisa ser cuidado. É necessário ter consciência da necessidade de cuidar desse
corpo e escutá-lo, pois como afirma Pierre Weil, o corpo fala. Espera se que este trabalho possa
contribuir para que a sociedade atual e principalmente os profissionais da área de saúde, com
visão tão fragmentada, percebam a importância de cuidar da causa e não do sintoma e, para
além disso, percebam a dimensão e representação desse corpo como depositário de todas as
dores e alegrias de cada ser humano.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
14
ADRIANA SIANE DE SENE
tivesse salvo conduto para destruir rios e oceanos, cortar árvores indiscriminadamente, ou seja,
não cuidar do Planeta e agir de forma inconsequente acreditando que não haverá punição da
natureza por tamanha ousadia, segundo Weil (1993). Esse autor afirma que, infelizmente, “a
fragmentação sujeito-natureza é um dos processos mais enraizados no homem”, mas é
indiscutível o fato de que “a evolução e o desenvolvimento de toda a humanidade é parte
integrante da evolução do universo” e que a natureza é expressão do universo (WEIL, 1993,
p.53).
Os Chineses acreditam que estando a natureza em equilíbrio as plantas irão crescer e os
animais prosperar, assim também quando o Chi (energia vital) do homem se desequilibra podem
surgir as doenças e a morte. Segundo o mestre Yang Jing Ming (1989), todas as coisas naturais,
incluindo o ser humano são influenciados pelo Chi da Terra e Chi do Céu.
Afirma Weil (1993), que recuperar a unidade perdida é o mesmo que reconquistar a paz
interior, tão em falta nos dias atuais onde o mundo do saber é uma “Torre de Babel” na qual
ninguém se entende devido a fragmentação; cita que a maior de todas foi a que dividiu homens
em corpo, emoção e intuição; visto que esta impede o ser humano de raciocinar com o coração
e sentir com o cérebro. Weil cita Einstein, por ter este físico demonstrado que embora vistos
como diferentes tudo no universo é formado pela mesma energia.
Segundo Weil (1993, p.77) “o homem é uma espécie de transformador de energia, que
a converte em suas várias manifestações: matéria, vida e psiquismo. Por esse raciocínio,
espírito é a própria energia em seu estado primordial”. Assim, “sujeito e universo nada mais
são que manifestações distintas da mesma energia”. Os Egípcios corroboravam com essa visão,
a principal lei da existência para eles era a da correlação entre céu e terra, postulavam que:
“Semear, colher, cozinhar, arar, colher, lavar pratos no transcorrer do dia a dia, segue unindo
céu e terra. E quanto mais plena se manifestar a tua humanidade, mais espelharás a essência do
universo” (ABREU, 2017, p.55).
Em sua obra, A Arte de viver em paz Weil (1993, p. 53) apresenta três formas de
manifestação da energia: a mental que engloba pensamentos e conceitos; a emocional que se
refere aos sentimentos e a física que considera apenas o corpo. Severino (2016a, p. 29) afirma
que a mente a emoção e o corpo está em constante mutação e nem sempre a nossa visão de nós
mesmos corresponde a realidade.
De acordo com Burgos (2018) houve uma revolução na maneira de pensar o conceito
1
AZEVEDO, C. Órion: filosofia, religião e ciência: sobre o homem. Rio de Janeiro. ABC Editora, 2005.
15
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
mente-cérebro, e hoje se sabe que a mente molda o cérebro e influencia todo o organismo
humano, assim a cada pensamento novo, também são criadas novas conexões e novos caminhos
devido a plasticidade neural. Buda dizia que“ Tudo que somos é resultado do que pensamos.
A mente é tudo. Nós nos tornamos aquilo que pensamos” e o ser humano é a única criatura
terrestre capaz de modificar a biologia pelo pensamento (ABREU, 2017, p.248).
Muitas são as descobertas recentes neste campo, mas o objetivo neste trabalho é apenas
mostrar as possíveis formas da manifestação de energia, que se dá em forma de saltos quânticos
e remetem a semelhança do que ocorre entre o vazio e a forma, que tem relação direta com as
práticas corporais Chinesas, sem aprofundar em questões referentes ao funcionamento cérebro-
mente e as noções de realidade e consciência.
No que concerne a emoção é importante considerar que estas não estão somente no
cérebro, podem ser geradas a partir do autoconhecimento e agir em todo o sistema orgânico. As
emoções atuam no corpo, conforme afirmavam os terapeutas corporais. Emoções agem no
organismo da mesma forma que as drogas e tem o poder de modificar o comportamento humano
(PERT 2, 2009, p. 37-38 apud ABREU 2017, p. 262).
O corpo será abordado posteriormente de maneira mais detalhada, mas cabe ressaltar
que este corpo também é energético e exprime todos os equilíbrios e desequilíbrios causados
pela mente e pelas emoções, assim sendo nada está desvinculado. A transformação do corpo
físico é a mola propulsora para transformação do corpo emocional pois o corpo “modela a
cabeça e ajusta o espírito” segundo Cobra (2003).
Segundo Severino (2016c) a tranquilidade física não é dissociada da mental e uma não
existe sem a outra. “Esta Tranquilidade mental é conhecida como “meditação” – chan em
chinês, zen em japonês shine em tibetano, vipásana em sânscrito”. Este assunto será retomado
adiante, ao tratar da questão das práticas corporais. A seguir serão abordadas algumas filosofias
que norteiam as práticas da MTC.
Budismo
O Budismo foi trazido a China pelo 28° Patriarca Bodhidharma e apesar de ter muito do
Taoísmo e do Confucionismo, é autêntico segundo Severino (2016c). A China recebeu o
Budismo de fora e o integrou às suas duas tradições nativas, o Taoísmo e o Confucionismo,
assim como o mundo europeu, por sua vez, acolheu o Cristianismo de fora (do Médio Oriente)
e o integrou às suas tradições helênicas e romanas.
O Confucionismo e o Taoísmo, tradições nativas da China, acabaram acolhendo o
Budismo importado de tal forma que foram transformados por ele, assim como o Budismo
2
PERT, C. Conexão corpo mente espírito para o seu bem estar. São Paulo. Barany Editora, 2009.
16
ADRIANA SIANE DE SENE
17
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
disciplinar a mente. Segundo Pelmo (2017) o apego é a percepção errônea da realidade e a causa
de muitos sofrimentos que somente cessarão com a compreensão da mente e o despertar. De
acordo com Buda, conforme explicação de Pelmo e Severino (2017) o sofrimento dos humanos
está no nascimento, na doença, na velhice e na morte e somente através da compreensão da
mente pela meditação se pode modificar o Karma e atingir o despertar, sendo necessário para
isso a atenção plena e cita 04 elementos desta atenção:
! Atenção em relação ao corpo;
! Atenção em relação às sensações;
! Atenção em relação a mente; e
! Atenção em relação aos pensamentos.
O Budismo propõe a sabedoria em se relacionar com a realidade de uma forma
coerente com o que essa realidade é de fato, ou seja, algo mutável apesar da aparente
permanência como geralmente ela é vista. A ignorância surge ao ver o que é subjetivo como
se fosse objetivo. Para o Budismo existem o mundo Superior e o Inferior estando a ignorância
ao centro e precisamos acumular méritos para colocar em nossa conta bancária visto que ao
longo da vida consumimos o Karma (SEVERINO, 2017).
As 04 nobres verdades:
18
ADRIANA SIANE DE SENE
ele nos apresenta as regras éticas morais que são apresentadas no Código Marcial da China e
no Bushido, Código de Honra dos Samurais (SEVERINO, 2017).
Os Confucionistas observam as imagens e as interpretam como deveres, regras sociais
e de comportamento humano e rituais. Inspirado na teoria dos cinco elementos, o mestre
Confúcio se baseia nas imagens para oferecer os seus “comentários sobre a decisão” (t'an
chuan), transformando-as nas cinco virtudes: o amor ao próximo, a justiça, o cumprimento das
regras adequadas de conduta, a autoconsciência da vontade do céu e a sabedoria e sinceridade
desinteressadas, que é o mesmo princípio do Taoísmo, denominado em Confúcio de inocência,
segundo Severino (2016a; 2016c).
Para Confúcio Justiça tem a ver com merecimento e colocar todos como iguais não é
verdadeiro, assim como não o é, nivelar por baixo. Confúcio não pregava a aceitação plena de
um papel definido na sociedade, mas sim que cada um cumprisse com seu dever de forma
correta. Já o condicionamento dos hábitos serviria para temperar os espíritos e evitar os
excessos. Sua doutrina apregoava a criação de uma sociedade capaz, culturalmente instruída e
disposta ao bem-estar comum, conforme Severino (2017).
19
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Os confucionistas pedem para cultivar a humildade e reconhecer seus erros, pois entende
que ao experimentar a humildade se está a um passo da coragem conforme Severino (2016 c).
Para Confúcio as 05 virtudes essenciais se relacionam com os 05 elementos: terra, água, fogo,
metal e madeira, e o poder está em ter consciência e viver de acordo com o destino, escolhendo
amigos que tenham o que ensinar e colaborem na jornada. Ele entendia que médicos,
professores e militares não deveriam receber por serem profissões de doação (SEVERINO,
2017).
Taoísmo
O Taoísmo foi fundado por Lao-Tsé (551 a. C. - 479 a. C) quando da escrita de seu Tao
Te Ching, um livro composto por 81 poemas e tido como o tratado fundamental da “escola
do Tao”. O Taoísmo quer que sejamos livres pensadores e um com a natureza, ou seja, o
contrário do que vivemos. Para o Taoísmo a mente conceitual é o que nos separa da natureza e
só buscamos acessá-la quando estamos em crise. O Tao é contraditório para os Ocidentais
porque não pode ser classificado e quer que tudo o que se sabe seja questionado para concluir
que não há respostas por entender não ser possível cobrar uma sociedade livre e justa quando o
questionador não o é. Na China o Taoísmo é a religião dos letrados, conforme Severino
(2016c).
O Tao não se define, a definição o limitaria, sua essência é o não ser, a idéia de ser algo
é apenas sua projeção. O Tao, ou o Tai Chi é a Lei Fundamental ou o Primeiro Princípio do
20
ADRIANA SIANE DE SENE
Universo. No início, Yin e Yang eram considerados como algo místico, porém elas são forças
negativas e positivas que governam o universo. Sua função é o trabalho persistente no tempo
suave e temos como exemplo a raiz, que desvia dos obstáculos e segue seu destino. Trata se de
uma filosofia que sintetizaram conceitos do Yin–Yang, dando origem as 04 formas que
sintetizam as 04 estações do ano e aos 04 pontos cardeais (SEVERINO, 2016 a).
Kit (2001) confirma o dito acima afirmando que o TAO não pode ser nomeado por ser
indiferenciada a realidade máxima, ela só pode ser experienciada diretamente, portanto, é
indescritível e se conceituarmos qualquer coisa no tempo-espaço o limitamos, esta realidade
máxima é o mesmo que o cosmo, é o vazio, é a união com o absoluto, o mesmo que alcançar a
iluminação. Para Telesi (2016) a origem de tudo é o Vazio no Taoísmo, é o não-ser, portanto,
tudo retorna ao seu estado original e aquilo que existe morre e o que se forma também
decompõe. Surge do vazio a forma e o contrário também é verdadeiro sem julgamento de valor,
mas no equilíbrio e harmonia entre todas as coisas.
Segundo Cairo (2014, p. 57), o Tao não pode ser definido e tem foco na natureza e
valoriza a intuição sendo que os seres humanos, como dizia Chuang Tsé “tornam se sábios por
sua tranquilidade, reais por seus movimentos”. Isso remete a afirmação de Campbell (2008) de
que ao fazer o que chama de Deus transparente ao transcendente não há a necessidade de
nominá-lo. Para os Taoístas o Universo está em constante movimento de expansão e contração
e tem uma natureza cíclica, conforme representa o símbolo do TAO, que ora é escuridão e ora
é luz, segundo Fritjof Capra3 (1991), citado por Abreu (2017), ou seja, Yin e Yang
respectivamente. Cabe frisar que esses opostos complementares contém a semente um do outro
e são necessários para alcançar a tranquilidade e paz de espírito. A mais importante
característica da visão Oriental de mundo é justamente essa consciência da unidade e da inter-
relação de todas as coisas.
“O Um emana do Tao, o dois surge do Um, o três do dois e do três as dez mil coisas,
porém todos têm Yin e Yang. Yin e Yang significa coordenar” (LAO TZU apud SEVERINO,
2016c, p.32). Conforme Abreu (2016) o Tao absoluto didaticamente se classifica em Tao em
estado latente e Tao em estado manifesto, apesar do mesmo ser indivisível. O primeiro é
como o silêncio, a ausência que permite tudo, a potencialidade que origina toda e qualquer
coisa, denominado de Wu Chi, o princípio da criação o Tao do Céu anterior. Já o Tao
manifesto ou do céu posterior é o Tai Chi, a soma de todas as coisas, a síntese, está manifesto
em tudo o tempo todo.
Severino (2016a, p. 21), citando Wang Pi escreveu: “Movimento não pode controlar
movimento” Aquilo que controla o movimento é Uno”, e o Uno é o Tao ou Tai Chi, o princípio
Fundamental do Universo, por ser universal e onipresente não pode ser designado a um evento,
3
CAPRA, F. O Tao da Física: um paralelo entre e física moderna e o misticismo oriental. São Paulo:
Cultrix,1991.
21
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
os Neo Confucionistas o chamam de Supremo Genuíno (Wu Chi). “O Tai Chi produz duas
forças, movimento e quietude, as quais produzem Yin e Yang. Essas duas formas são os
atributos do Tai Chi, enquanto movimento e quietude representam as forças opositoras desses
dois atributos”.
4
CHERNG, W. J. Iniciação ao Taoísmo. Vol. I. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Mauad,2001.
22
ADRIANA SIANE DE SENE
três elementos: o físico, o energético e o espiritual, que combinados se relacionam com o céu,
com a terra e com o tempo e espaço, possibilitando a cada indivíduo características próprias e
ritmos distintos.
O Tao serve na investigação das leis do número, que governa o tempo e o espaço. O
número celestial é o tempo, melhor conhecido pelos animais do que por nós, representam as
estações do ano e o espaço é a manifestação do tempo aqui na terra (SEVERINO, 2016a). Do
Tao (o Uno), segundo Telesi (2016), originou o Yin e Yang, opostos do equilíbrio harmônico,
cujas energias se alternam e não são nem boas nem más.
I Ching
Para Severino (2016c, p.53) o I Ching é uma filosofia sintética, é “um livro de
disciplinas unificadas, incluindo estudos de cosmologia, sociologia, culturologia e ética”.
O I Ching é o livro das mutações, da sabedoria, está entre os cinco livros sagrados da
China, foi organizado para o povo por Confúcio e representa o espírito do povo Chinês, onde o
Ching é você, seu caráter, o que você come, sua ancestralidade e muita das vezes cabe a você
corrigir os erros de seus pais de seus ancestrais. Sabedoria não é Erudição, esta representa mente
cheia do conhecimento do outro, algo externo. A Sabedoria caminha junto com a paz interior e
se mostra em seu corpo, que é onde seu espírito está (SEVERINO, 2017).
O I (易) do I Ching (易經), usado como adjetivo significa fácil ou simples e utilizado
como verbo significa mudar. O Ching (經) significa tratado, clássico, ou texto sagrado. O I (易
) pode significar, além de fácil ou simples, mudança ou transformação, motivo pelo qual o
traduzem como livro das mutações. No I Ching estão contidos os segredos universais e da vida
de cada um, trabalha com 03 princípios: simplicidade, variabilidade e durabilidade
(SEVERINO, 2016b).
Jung e Wilhelm (2001)5, segundo Abreu (2016), elaborou sua teoria da sincronicidade
tendo o I Ching por referência pois nesta, assim como no citado oráculo, todos os
acontecimentos têm relação com a situação universal daquele instante. O I Ching é o Livro
das Transmutações, remonta aos tempos mitológicos, data de 3000 a.C e é baseado na unidade
entre o homem e o cosmo e na existência de princípios complementares Ying-Yang
(princípios feminino e masculino) que se apresentam em 64 diferentes ‘sinais’ de acordo com a
obra de Jung (2016), O Homem e seus símbolos.
O I Ching é simbolizado pelos Hexagramas, que são formados por quatro Trigramas,
cada um contendo três linhas representando o céu, a humanidade e a terra, que combinadas
formam 64 Hexagramas, representando todas as possíveis formas de mudanças, situações
5
JUNG,C.G.; WILLHELM, R. O Segredo da Flor de Ouro: um livro de vida chinês. Tradução Dora Ferreira da
Silva e Maria Luiza Appy. 11ª Edição. Petrópolis – RJ: Editora Vozes, 2001.
23
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
internas e externas assim como as infinitas possibilidades tanto naturais como humanas. As
situações internas são conhecidas como “causa” as condições externas como “condições”. Os
Budistas transformam os trigramas em estados da mente, e os Jesuítas quando foram para
Macau transformaram o I Ching no Caminho da Devoção (SEVERINO 2017).
De acordo com Severino (2016a) em 2223 a.C. o Imperador Fu Shi foi quem catalogou
as oito energias cósmicas que existem antes do tempo, e o evento que divide o Paraíso Anterior,
Lien Shan, do Posterior, Kuei Ts'ang, sendo o I Ching a compilação desses períodos. O trigrama
é um símbolo eterno que comunica a virtude dos seres espirituais e os oito trigramas
representam oito estados de consciência, oito formas de pensar, de falar e de agir, que
constantemente se transformam um no outro, segundo Severino (2016a). São eles:
! Kun – Tem a ver com a mãe, a compaixão;
! Chien – Pai, luz, o céu;
! Sun – Movimento;
! Chen – Explosão;
! Li – Luz, sol, yang ou iluminação;
! Kan – Lua, yin, aquela;
! Tuin- Nuvem, garoa, chuva;e
! Ken –calma, silêncio, obstáculo.
Os símbolos do livro das mutações foram duplicados a partir do Tao do Céu (obscuro
e luminoso), Tao da Terra (Maleável e Rígido) e Tao do Homem (amor e justiça), de forma que
as linhas do trigrama formam as 06 linhas que interagem mostrando três poderes sobre dois
aspectos: Yin e Yang, o que pode ser visto no Hexagrama 63, no qual os 03 poderes estão em
seu estado primordial (SEVERINO 2016a).
No I Ching encontramos as seguintes teorias (SEVERINO, 2016c, p. 65- 66):
24
ADRIANA SIANE DE SENE
No I Ching está contido o Tao do céu e da terra. Mestre Liu Chi Ming que apresentou o
primeiro livro do I Ching de Roque Severino, em 1994, disse o seguinte sobre o I Ching:
25
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Para Abreu (2016), a Medicina Tradicional Chinesa se baseia nas Teorias do Yin e Yang
e na Teoria dos Cinco Movimentos concentrando se na observação dos fenômenos naturais e
seus ciclos, bem como nos princípios que o regem de forma a fazer uma analogia entre estes e
a fisiologia do corpo humano, visto considerar o homem um microcosmo e o universo o
macrocosmo. A seguir breve resumo destas teorias para contextualizar o tema.
6
EINSTEIN, A. A Teoria da Relatividade Especial e Geral. 1915.
7
JUNG, C. G. Obras Completas: Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Vol. IX/1.Editora Vozes,
2000.
26
ADRIANA SIANE DE SENE
antiga civilização egípcia, toda a criação também tinha por finalidade harmonizar os
contrários.
Para muitos eruditos, conforme afirma Kit (2001), o universo é controlado por duas
forças primordiais que constituem o cosmos, que é o yin e o yang e que não são apenas opostos
como difundido, mas o são também complementares em relação a todo universo e dependem
de uma referência assim como o céu só está acima quando o relacionamos a terra que está
abaixo. Assim Yin e Yang se constituem em uma unidade com dois aspectos, motivo pelo qual
a “harmonia yin–yang é essencial para a saúde” (p.25). Segundo Kit, o Yin representa a
quietude, a mente e a habilidade enquanto que o corpo, o movimento e a aplicação se relacionam
com o yang.
Na Escola do Yin Yang os movimentos sempre têm a forma circular, mas o mais
importante é sua tendência progressiva de definir o desenvolvimento da sociedade, da
moralidade e da civilização. Yin e Yang dão origem às quatro formas relacionadas as estações
do ano e as direções, Norte, Sul, Leste e Oeste. “Enquanto o dualismo vê a Física e Metafísica
como entidades separadas, a visão Chinesa Yin-Yang, as vê como eternamente complementares
e mutantes” (SEVERINO, 2016, p.21).
O Chinês não considera o corpo e a “alma” como existência absoluta e acabada, se
interessa pelo processo, pela harmonia e pela funcionalidade e considera o interesse no corpo e
alma como forma de manter a existência, a consciência cósmica que é o ser humano. Dentro
da Medicina Chinesa fala se muito da forma e do vazio, “que segundo o pensamento antigo”
são as duas faces de um mesmo processo em constante cooperação(TELESI, 2016).
De acordo com Abreu (2016), o Chi através das combinações do Yin–Yang promove
uma constante mudança rítmica na natureza e são os seguintes pontos, os principais na dança
da interdependência do Yin –Yang:
! Yin –Yang são estágios complementares de uma unidade;
! Yin contém a semente Yang e vice versa;
! Nada é uma coisa só, ou seja, Yin ou Yang; e
! Um se transforma no outro.
Segundo Kit (2001, p.23), citando o Mestre Wang Zong Yue, o Tao nasce do vazio,
originando “o movimento e o repouso, é a mãe do yin e o yang. Quando movido, separa; quando
em repouso unifica”. A primeira manifestação do Tao é o vazio, segundo Telesi (2016), e sob
a atuação das Leis Naturais nasce a Teoria dos Cinco Elementos ou Cinco Movimentos
27
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
De acordo com Severino (2016a) são os cinco elementos (metal, madeira, fogo, água e
terra) a essência de tudo que é manifesto e não adquirem nenhuma conotação pessoal, eles
representam as cinco fases do Chi, se relacionam com as cinco fases de transformação
representando o Universo manifesto. Simbolicamente, segundo Lao Tsé, em citação de Kit
(2001), a água transforma a todos os processos e permanece intacta, ela enferruja o metal,
apodrece a madeira, pode extinguir o fogo e transportar a terra.
órgãos tinham função metafísica, muito além do objetivo físico e a respiração era considerada
8
JIA, J.E. Chan Tao, Essência da Meditação. Plexus Editora, São Paulo, 1998.
9
MACIOCIA, G. Os Fundamentos da Medicina Chinesa. Ed. Roca, São Paulo, 1996.
28
ADRIANA SIANE DE SENE
função vital. Sabiam ser o coração o responsável pela circulação, mas acreditavam ser esta
dependente da respiração (ABREU, 2017, p.146).
Maciocia9(1996 apud ABREU, 2016) entende ser o Chi a base de tudo e que as
demais substâncias são a sua manifestação em graus diferentes de materialidade, variando do
material, assim como os fluídos do corpo (Jin Ye) para o imaterial, a mente (Shen) Maciocia
(1997) cita que cada um dos cinco grandes órgãos (coração, fígado, pulmão, rim e baço) que
compõem o corpo humano está relacionado a um determinado aspecto mental (mente, alma
atérea, alma corpórea, força de vontade e pensamento) Telesi (2016) e Severino (2016a)
também o relacionam com os cinco elementos (fogo, madeira, metal, água e terra) conforme
se descreve a seguir.
29
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
30
ADRIANA SIANE DE SENE
Fonte: Material de aula de MTC ministrada em 17/02/2018 pela professora Renata Andrade.
31
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
sentido: madeira controla terra, que controla água, que controla fogo, que controla o metal, que
controla a madeira.
32
ADRIANA SIANE DE SENE
através dos Meridianos e dos pontos para sua regulação segundo Abreu (2016).
Através dos Meridianos a energia (Ch’i ou Qi), transita. Eles conduzem a energia,
através do organismo no sentido ascendente e descendente, mantendo o equilíbrio da Energia
Vital. “Seguem os mesmos trajetos dos vasos sanguíneos, de onde recebem energia e levam o
sangue para todo o corpo” (TELESI, 2016). As artes mais importantes do Chi Kung são o
pequeno universo e o grande universo, o primeiro circula a energia no entorno do corpo ao
longo do Ren (Meridiano Conceitual) e do Du (Meridiano Regulador), transformando a
essência em energia e a energia em espírito, promovendo saúde, afirma Kit (2001). Já o grande
universo devolve o espírito ao grande vazio ao canalizar a energia através dos doze meridianos
primários.
Existem ainda seis pares de Meridianos Unitários (Tai Yang, Shao Yang, Yao Ming,
Tai Yin, Jue Yin e Shao Yin), que são a união de dois meridianos Yin e dois meridianos Yang
entre si.
Para os Chineses, segundo Kit (2001), emoções negativas só não podem ser dissipadas
quando os meridianos relacionados a ela estão muito bloqueados e somente nesse caso se
33
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
administra psicoterapias e/ou medicamentos, visto que o mais lógico é promover o desbloqueio.
Bogado (2009, p.161) nos diz que “o corpo físico é o Corpo de Manifestação”. É nele
que sentimos dor, prazer, é nele que a doença se manifesta, quando nos sentimos
desequilibrados por algum motivo presente ou passado”. Lowen (1979, p.229) afirma que o
sentido de identidade baseia se na percepção do desejo, no reconhecimento da necessidade e na
consciência da sensação corporal”, mas muitas vezes o sujeito não percebe que seu corpo está
preso em tensões corporais e que isso dificulta suas sensações de prazer e de amar. Para muitos
o processo de adoecer é a única maneira de olhar para o corpo, pausando as atividades mentais
e agitação do dia a dia. A doença é uma crise que traz consigo a oportunidade de transformação,
de um novo olhar sobre o corpo.
“A nossa estrutura corporal determina um modo mítico de pensar e nos dá uma
identidade”, e esses mitos é que permitem as pessoas organizarem a verdadeira experiência do
próprio corpo, este canta a nossa verdade celular, de acordo com Keleman (2001, p.16), na
introdução da obra O Mito e o Corpo. A organização da sensação que emerge do metabolismo
tissular é o que chamamos de consciência (KELEMAN, 2001, p.27). Toda nossa história é
registrada nesse corpo e nossos processos somáticos são o resultado de nossa jornada e dos
caminhos que percorremos. Nosso Templo Sagrado é o corpo e “é impossível uma pessoa
florescer e elevar se espiritualmente alicerçada em um corpo débil, incapaz de reparar as perdas
inerentes ao próprio gasto diário”, portanto, se quiser paz de espírito terá de mergulhar e se
recolher em seu interior (COBRA, 2003, p. 166). Negamos nosso corpo e escondemos seus
desejos pois há um entendimento equivocado de que nossos desejos possam ser nossa fraqueza
e assim não vivemos em congruência com nossas emoções por acreditarmos ser a mente a nossa
parte mais nobre segundo Bogado (2009).
A experiência básica do corpo são seus pulsos, que organizam realidades múltiplas em
camadas de expansão e contração; de plenitude e vazio (KELEMAN, 2001). Nosso cosmo
interno é descoberto no processo corporal e “viver é o processo de concretizar e desenvolver a
nossa imagem pessoal e herdada” (LELOUP, 2015, p.51).
Não somos máquinas e tampouco um processo bioquímico, temos realidades
somáticas e, “soma é um sistema ecológico como a Terra” (KELEMAN, 2001, p. 53). A
percepção do mundo tem relação direta com a estrutura somática e emocional do indivíduo.
Keleman (2001, p. 49) fala da importância de não desconectar a emoção sentida das imagens
externas impostas pela sociedade e em desalinhamento com a profundidade visceral corporal,
pois se assim o fizermos elas estarão descorporificadas e não sobreviverão. O corpo é um dos
caminho para o universo interno que possibilita chegar a mente, acessar às emoções, tocar o
34
ADRIANA SIANE DE SENE
Para Reich10 (apud LELOUP, 2015, p.9) “o corpo é o inconsciente visível” e nossa
mensagem mais primitiva”. Quando tocar uma pessoa é importante lembrar que está tocando
um Templo no qual todas as memórias deste ser está registrada. (LELOUP, p.26). Novalis
afirma, segundo Leloup (2015, p. 9), que “tocamos o céu quando colocamos nossas mãos num
corpo humano”. Roberto Crema, no prefácio da obra de Leloup, complementa, afirmando ser
também este corpo o templo que abriga os corpos sutis e ainda é nele que todas as memórias se
abrigam, mas com a divisão que presenciamos na vida moderna e com a fragmentação
epistemológica perdemos a essência, o Divino que é “o que vincula, unifica e restaura a
inteireza vital” (LELOUP, 2015, p. 09). Os Egípcios corroboram essa visão entendendo o
corpo como síntese viva das funções vitais do universo. Bogado (2009, p. 19) fala da
representação simbólica da distância corporal e da distância afetiva e do que ficou reprimido e
escondido no corpo relacionada às memórias corporais e cita Weil ao alegar que nossas
emoções destrutivas transformam se nas tensões sentidas no corpo, de forma que o corpo é o
revelador de nossa história.
“Você carrega uma história dentro de você” e toda história tem realidade emocional e
esta é o personagem por nós representado, da mesma forma que a “postura corporal também é
uma história”, que também é uma experiência capaz de nos mostrar como foi o nosso processo
de corporificação, ratificando a importância deste corpo que “é a nossa ligação com o passado
e dá validade à nossa forma presente”, é a nossa continuidade de acordo com Keleman (2001,
p. 92).
Segundo Bogado (2009, p.9) “em nossos corpos vivemos a plenitude de nossa
humanidade, expressão máxima de nossa encarnação” e “estar ‘dentro do corpo’ exige uma
disponibilidade para o agora, uma Presença”, e quando nos esquecemos de cultivá– lo somos
advertidos por ele com uma enfermidade. Cobra (2003) corrobora esta afirmação ao afirmar
nada existir fora do corpo. Os órgãos corporais são os determinantes da energia proveniente da
imaginação humana enraizada na energia do corpo e seus conflitos, é necessário estar presente
no corpo e não o tomar apenas como um processo biológico para que esse corpo não seja uma
“Terra Devastada”, uma imagem, um símbolo (KELEMAN, 2001).
10
REICH, Wilhelm. The Silent Observer . Revista Orgonomic Functionalism, Publ. The Wilhelm Reich
Infant Trust, vol. 1, 1990.
35
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
postura, seu método, sua flexibilidade ou rigidez, sua maneira de expressar, seu tônus e a poética
deste corpo é o movimento, sua dança, energia, força, beleza e capacidade de sinergia, mas
infelizmente a grande maioria da humanidade ainda vive a dualidade entre corpo e mente
(BOGADO, 2009, p.22). O movimento é a expressão do nosso espírito, ele surge em nossa
consciência, é treinado conscientemente durante nossa vida, desde o ato de levar a colher a
nossa boca quando pequenos, até o ato de dirigir, caminhar, nos apresentar as pessoas e nos
vestir (SEVERINO, 2016c, p.47).
Cabe entender a escada evolutiva do corpo e sua consciência desde uma etapa pré-
pessoal até atingir a transpessoalidade, partindo de uma consciência matricial para uma
consciência teoantrópica, considerando que a experiência do nascimento pode deixar marcas
registradas no corpo (LELOUP, 2015, p.19), tal afirmação é corroborada pelas experiências de
Groff nos seus estudos de matriz natal e também por Reich, Lowen e Pierrakos em estudos da
Análise do Caráter.
11
Bogado (2009, p.17) afirma que somos o corpo e cita Sartre na afirmação “eu não
tenho corpo eu sou um corpo!” Há ressonância, há sincronicidade entre corpo físico e
memórias e a evolução pode modelá-lo (LELOUP, 2015, p. 23). “Nada está fora do corpo,
nem a alma, nem o espírito e nem a mente, tudo se funde numa coisa só, obra prima do Criador
[...] em nosso corpo repousa nosso delicado espírito e dorme tranquila nossa alma” (COBRA,
2003, p. 168).
“Pela experiência corporal, descobrimos que somos parte de alguma coisa maior que
nós mesmos, algo que é contínuo, apesar de sermos descontínuos” (KELEMAN, 2001, p.106).
Segundo Bogado (2009, p. 29) “o corpo é o lugar onde o Sopro habita”, é o nosso lar, tem
nossa cara, expressa a nossa imagem, motivo pelo qual precisamos nos sentir bem nele. Quando
não sentimos prazer em habitar nosso corpo o abandonamos visto que ninguém permanece em
casa sozinho quando sua companhia não lhe é agradável, conforme Leloup e Bensaid12 (2006,
11
SARTRE, J.P. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Petrópolis:Ed. Vozes, 1997
(Original publicado em 1943).
12
LELOUP, J. Y.; BENSAID, C. O essencial no amor: as diferentes faces da experiência amorosa. Petrópolis – RJ:
36
ADRIANA SIANE DE SENE
De acordo com Bogado (2009) as duas formas de nos conectarmos com nosso corpo
são: pela escuta ou pelo sintoma. A primeira é quando o experimento e o habito e a segunda é
quando o abandono e adoeço. Bogado (2009, p.133) afirma que nosso corpo é capaz de nos
conectar, a um só tempo, com a terra, através de nossos pés, com nosso universo interior
através de nossos rins e com os céus, através de nossas orelhas.
Para Platão13 (380 a.C,. apud Ramos, 2006, p. 25) não se cura os olhos sem curar a
cabeça, e não se cura a cabeça se não curar o corpo e não se cura o corpo sem curar a alma,
reconhecendo que não é possível estar bem a parte quando o mesmo não ocorre com o todo,
isso posto, o grande erro do tratamento do corpo humano consiste na separação, pela medicina
tradicional, entre corpo e alma.
Para os antigos cuidar do corpo era cuidar da sociedade e da natureza (LELOUP, 2015,
p.116), ler o corpo necessita de atenção e tempo, mas a medicina moderna busca suprimir
sintomas sem escutar a doença, não busca e tampouco se importa com suas origens.
37
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
falta de uma determinada fase da vida, visto ser o corpo nossa morada, segundo Bogado (2009).
A autora afirma também que o prazer e o poder são duas sensações capazes de nos aprisionar.
Para Ramos (2006) quando a figura parental não faz as mediações entre psique e corpo na
infância, a função transcendente se fixa no corpo e a somatização ocorre ao não se integrar no
plano consciente situações traumáticas e conflitivas.
“Cada um de nós é um nômade, uma onda que dura por algum tempo e então assume
uma nova forma somática” esclarece Keleman (2001, p.101), ou seja, estamos em constante
transformação. E Campbell afirma que “cada um de nós é como uma pequena chama de uma
vida eterna que está em nós” (KELEMAN 2001, p. 102). A rigidez corporal e os nós têm
relações diretas com traumas e podem ser expressas através de neuroses ou psicoses e o trabalho
do terapeuta é restabelecer o fluxo energético por vias ascendentes e descendentes pois é preciso
estar vivo da cabeça aos pés (LELOUP, 2015, p.22).
Esse corpo também se estrutura nas partes mais baixas, nos pés, e estes são os
responsáveis pelo enraizamento e como numa estrutura de construção civil, se a fundação não
é forte o suficiente o edifício não se sustenta o corpo depende do enraizamento dos pés, da força
e da elasticidade da coluna vertebral (LELOUP, 2015). Na tradição hebraica, os pés recebem
o mesmo nome dado às festas, motivo pelo qual estão relacionados com a entrada da alegria
no corpo. Para os bambaras, grupo tribal africano, os pés simbolizam poder e se eles são
maltratados a cabeça funciona mal, ratificando que a cabeça nada é sem os pés, que estes são
as sementes, inclusive no formato (rins e orelhas também tem formato de semente). Para os
Chineses a inteligência não está na cabeça, está nos grandes artelhos segundo Leloup (2015, p.
32) e em todas as tradições, budista, chinesa, cristã encontramos impressões deixadas pelos
38
ADRIANA SIANE DE SENE
pés, o que sugere que o céu tem um pé sobre a terra e que para viver a integração entre céu e
terra basta cuidar do seu pé e, portanto, o equilíbrio do psiquismo, do corpo e da vida espiritual
depende do enraizamento, nos lembra Leloup (2015). As práticas Chinesas também comungam
dessa opinião.
Da mesma forma que os pés são nossas raízes na terra, os cabelos o são no céu, são as
antenas que captam mensagens. Quando os dois estão juntos significa a integração a integração
entre céu e terra, a união dos opostos segundo Leloup (2015, p.32) e tal citação remete aos
princípios das Práticas Corporais Chinesas.
A seguir será abordado o Chi Kung, uma das Técnicas Corporais Chinesas que
trabalham com esse corpo de forma integral.
Diversas são as Ténicas Corporais Chinesas, dentre as quais se destaca o Tai Chi
Chuan que exercita corpo e mente com suavidade, regulando o fluxo energético e muito
utilizado para beneficiar a saúde e aumentar a longevidade segundo Kit (2001). No prefácio de
sua obra, esse autor descreve o Tai Chi Chuan como “poesia em movimento”. Neste trabalho
serão abordadas, especificamente, posturas do Chi Kung, utilizado como preparação para o Tai
Chi Chuan e que segue o mesmo princípio do Tai Chi Chuan, portanto, os benefícios que muitos
autores mencionam para o Tai Chi cabem para o Chi Kung, e este é o método utilizado para
produzir a força interior utilizada na prática do Tai Chi. O Chi Kung, é a ponte de ligação entre
o físico e o espiritual.
“O Qi Gong inclui cinco elementos importantes: regular o corpo, regular a respiração,
regular a mente, regular o Qi, e regular o espírito”. O Chi Kung não é somente uma postura ou
um exercício, mas sim um depositário de conhecimentos milenares que harmoniza as energias
do céu e da terra no corpo humano, o que acontece pela mobilização corporal unida a
concentração, meditação e conservação da energia sutil, tem seus princípios derivados do I
Ching” (SEVERINO, 2016c, p. 41). Segundo Kit (2001), os grandes mestres reafirmam que
resultados obtidos com a prática estão relacionados à aspectos interiores e não exteriores,
levando o praticante a sentimentos de tranquilidade visto não ser necessário força e velocidade
no decorrer da prática, mas ao contrário, tem foco no fluxo energético e na concentração.
Chi Kung significa trabalho com energia que objetiva captar e canalizar as energias
por todo o corpo através de canais, meridianos e vasos. O Chi é a força vital ou energia
universal encontrada em todos os seres vivos e os Chineses entendem haver um Chi do Céu
Tian Chi), um Chi da Terra ( Dih Chi e o Chi do Homem ( Ren Chi). Estes são considerados
Os Três Poderes Primordiais (San Tsair), que obedecem a ciclos da natureza. Para Kit (2001),
o Chi Kung é um sistema de treinamento muito abrangente que visa desenvolver a energia
39
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
cósmica tanto para saúde como para a expansão de consciência e aprimoramento do espírito,
denominado “ a arte da energia”. Para Soci e Severino (2017), Chi Kung é qualquer
treinamento ou estudo relativo ao Chi que requeira um longo tempo e muito esforço.
Conforme Soci e Severino (2017) apesar de ser o Chi do Céu o mais importante o mais
estudado é o Chi do Homem e assim sendo “o estudo de qualquer dos aspectos do Chi poderia
ser chamado de Chi Kung.
O Chi Kung alonga músculos e tendões, aumentam a concentração e oportuniza ao
praticamente a consciência corporal, segundo Soci (2017), mas conforme esclarece o Mestre
Yang Wei Ming, “ não esqueçamos que o ideal tanto do treino do Tai Chi Chuan ou do Chi
Kung, quanto das práticas Vajrayana é estabilizar completamente nosso corpo emocional”
(SEVERINO, 2016c, p. 77). O Chi Kung é a mais direta e eficaz prática para desbloquear
energia provendo a cura de doenças crônicas tais como: hipertensão, reumatismo, depressão e
até mesmo câncer (KIT, 2001).
O primeiro livro a falar do Chi, o I Ching (Livro das Mutações) existe desde 1122 a.C.,
segundo Mestre Yang Ming (1989) e foi a partir dele que o Chi Kung se desenvolveu. Lao Tzu
no Clássico do Tao Te King fala de obtenção de saúde através da concentração do Chi e da
suavidade e posteriormente no Nan Hua Ching, por volta de 300 a.C. Chang Tzy, discípulo de
Lao Tzu também escreve sobre respiração e saúde.
Durante a Dinastia Chin e Han (221 a. C. a 220 a. C), muitas foram as referências
literárias sobre o Chi Kung, escritas por estudiosos, médicos e doutores, mas haviam dois tipos
de Chi Kung mais importantes: um utilizado pelos Taoístas e Confucionistas, com foco na
manutenção da saúde, e outro que visava equilibrar o Chi e curar doenças, utilizado pelos
médicos com o uso de agulhas (MING, 1989).
Ming (1989) esclarece que no período entre a dinastia Han e Liang (206 a.C a 502 d.C.)
as escolas religiosas do Budismo Indiano, Budismo Tibetano e Taoísmo dominaram as práticas
que eram ensinadas nos Templos, especialmente a meditação Chan ou Zen, mas como as
práticas visavam a busca da Budeidade eram registradas na escritura e mantidas em segredo,
não sendo ensinadas aos leigos. Nesse período enquanto os estudiosos buscavam manter a saúde
e melhorá-la, os religiosos treinavam o Chi num sentido mais profundo visando controlar corpo,
mente e espírito para escapar do ciclo das reencarnações.
No período entre a Dinastia Liang até o final da Dinastia Ching (502 a 1911 d.C.) o
Patriarca Indiano Bodhidharma é convidado a ensinar na China e ficou recluso no Mosteiro
Shaolim após desinteresse do Imperador pelos seus ensinamentos, ao constatar que os
praticantes do local eram esquálidos e adoentados escreveu dois clássicos para ajudá-los: O
clássico dos Músculos e Tendões para ajuda-los a fortalecer o corpo físico e ganhar saúde; e
a Lavagem de Medula que visa limpar a medula óssea fortalecendo o sistema imune, o sangue
e energizando o cérebro visando a iluminação. Segundo Ming (1989) quando os monges
perceberam a eficácia do primeiro clássico, o integraram as formas de arte marcial melhorando
40
ADRIANA SIANE DE SENE
sua técnica. Foi nesse período que surgiu o Chi Kung religioso, da união da meditação com as
técnicas de Chi Kung.
O Chi Kung continuou a se desenvolver no decorrer da Dinastia Swei e Tarng (551 a
907 d.C.) e posteriormente o Marechal Yueh Fei desenvolveu sistemas de Chi Kung interno e
é atribuída a ele a criação das Oito Peças do Brocado. No período da Dinastia Song (960 a 1279
d. C.) surge o Tai Chi cuja criação se atribui a Chang San Feng. O Chi Kung do Tai Chi
enfatizava o Nein Dan (Elixir Interno) enquanto que o do Shaolim enfatizava o Wei Dan (Elixir
Externo). Atualmente as práticas são ensinadas abertamente e existem vários tipos de Chi Kung
sendo comumente dividido em quatro categorias; a médica, a marcial, a religiosa e a erudita,
sendo as duas últimas focadas na natureza humana e no espírito ( MING, 1989).
A escola a médica foca na meditação, nos exercícios corporais e no movimento (Tai
Chi Chuan) para atingir a cura física e ter saúde, esta utiliza se ainda das ervas medicinais
para reequilibrar o Chi desequilibrado pela doença. A erudita por acreditar que doenças são
causadas por excessos emocionais tem seu foco na regulação da mente visando a manutenção
e prevenção da saúde. A Escola dos artistas marciais tem duas linhas: o Nein Dan (Elixir
Interno), que busca gerar Chi no corpo para levá-los aos membros aumentando seu poder
através de técnicas mentais, e o Wei Dan (Elixir Externo) , que visa gerar Chi nos membros
para coordenação das técnicas, mantendo amente concentrada. A escola Religiosa visa
fortalecer o Chi interno para atingir elevados estados de consciência tendo como propósito a
iluminação (MING, 1989). Mestre Yang Jing Ming (1989) afirma que “a meditação e o Chi
Kung são utilizados por Taoístas e Budistas para sua busca espiritual para a iluminação e
budeidade”.
Segundo Mestre Yang Wei Ming, citado por Severino (2016c, p. 81) a “Sociedade
Médica Chinesa acredita que o Chi e o sangue estão intimamente relacionados” e que há
afetação do sistema imunológico quando o organismo não está equilibrado, o Mestre continua
afirmando que o Chi é afetado pelo ar que respiramos e pela comida que ingerimos, e que as
emoções e sensações afetam a circulação do Chi no corpo, mostrando portanto a
correspondência entre as atitudes e escolhas de cada um com os desequilíbrios causados nos
órgãos, numa alusão aos cinco elementos.
41
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
De maneira geral no último Século as práticas do Chi Kung têm recebido maior
audiência e suas técnicas tem sido comparadas a artes de outros países como Japão, Índia e
Oriente, trata se de uma ciência antiga a espera de maior investigação quanto a seus benefícios,
segundo Soci e Severino (2017).
Como há posturas consideradas como meditação em pé cabe discorrer um pouco sobre
o que é meditação e a importância do foco na respiração para a prática do Chi Kung, ressaltando
que isso se estende também a qualquer prática corporal.
42
ADRIANA SIANE DE SENE
Cairo (2014) afirma que a meditação existe desde épocas remotas e não existe melhor
ou pior forma, assim como as civilizações mais antigas intuía qual a melhor maneira de fazê -
la para seu povo, cada ser humano também deve escolher a que melhor lhe couber, visto que a
meditação é instintiva, é identificação, e tem de ser praticada e não intelectualizada.
Para Weil (1993, p.78) “a meditação joga nos para dentro”, para um diálogo interno e
independente das inúmeras técnicas que se apresentam, trata se de fazer o contrário do que
somos sugestionados a fazer no dia a dia, ou seja, é necessário desconectar do externo e
mergulhar em si. Para esse autor a meditação é o antídoto da alienação que desperta a
consciência plena melhorando as funções de memória, atenção e equilíbrio emocional. A dança,
assim como o Tai Chi Chuan apresenta efeitos semelhantes. Segundo Weil (1993) a meditação
pode levar o indivíduo ao que “Maslow denominou de experiências e estados culminantes”,
desbloqueando e despertando valores humanos e espirituais.
No Chi kung a concentração de luz é considerada uma prática que auxilia na purificação
do corpo e mente promovendo a circulação de energia dentro e fora do corpo, assim como
acontece em outros processos de meditação, segundo Soci (2017). Para os Chineses “o corpo
não deve ser considerado um autômato, mas sim, expressão de nossa consciência”.
43
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
forma a liberar uma saliva que é considerada alimento e medicamento por ser produto da
interação entre Postura Corporal e Concentração Mental. De maneira geral as posturas
dependem de uma atitude interior de concentração na elevação da cabeça. Deve se ter a
sensação de estar sendo puxado por um fio para que a coluna fique ereta e abra espaços entre
as vértebras afim de esticar o corpo para cima e para baixo partir da cintura que é seu centro. A
seguir algumas das posturas fixas, conforme texto transcrito da compilação feita por Soci
(2017).
Postura do Wu Chi (Wu = ausência e Chi = atividade) - Tem por função acalmar e
possui em si o símbolo da Totalidade. Nesta postura utiliza se as mãos e braços realizando um
círculo que representa o micro e o macrocosmos. Com a postura ereta permanece se em silêncio
com respiração natural e olhos semicerrados deixando os pensamentos passar como na
meditação. Deve se visualizar uma luz que transpassa o corpo desde o topo da cabeça até os pés
“retirando toda a tensão corporal e preocupação mental em forma de fumaça negra que sai pelos
pés e poros”. Utilizado na preparação para aula de Tai Chi
Postura do Poste - Responsável pela reunificação de energias e circulação destas por
todos os meridianos, que é o objetivo básico do Tai Chi, canalizando energias do céu e da terra.
Deve ser executado concentrando na respiração suave feita com o baixo ventre. A energia do
céu entra pelo topo da cabeça e pela perna que tem o peso (cheia) se absorve a energia da terra.
As mãos produzem um círculo fechado e o corpo se aquece, se a mão que está no ar não se
aquecer há bloqueio de energia em algum ponto. Com o tempo de prática começa a se sentir
formigamento a partir da perna até a ponta dos dedos da mão que está no ar. A cabeça deve se
manter sempre erguida, as axilas abertas e os ombros soltos para baixo.
Postura da árvore - Esta postura conecta o ser humano com a terra promovendo o
enraizamento que estabiliza a estrutura corporal a partir das pernas e braços, onde a energia se
acumula. Ao se abaixar o braço a energia se dispersa e alimenta todo o corpo acalmando o
coração e fortalecendo o abdômem. Deve ser executado com respiração profunda utilizando o
ventre toda observando o movimento deste que massageia os órgãos internos. É importante
manter as axilas abertas, ombros para baixo e cotovelos para fora e para cima elevando o topo
da cabeça e recolhendo o queixo afim de elevar o corpo. Deve se visualizar raízes grossas e
profundas nas solas dos pés que é por onde se absorve força e energia.
Pequena Circulação Celestial - Trata se de um exercício poderoso que promove o
aquecimento geral do corpo e ativação de todas as funções orgânicas com massagem
respiratória, o exercício visa promover a circulação da energia através de dois canais: Tu Mei
(Vaso Governador) e Jen Mei (Vaso Concepção), unindo a energia do céu e da terra
reproduzindo a criação da vida. Esta união é objetivo máximo dos praticantes da meditação
Taoísta, permitindo experienciar estados superiores de consciência. Deve se manter os pés
paralelos e os joelhos em leve flexão com o quadril encaixado, relaxando assim a região dos
rins. A respiração deve ser lenta e profunda e combinada com os movimentos do braço de
44
ADRIANA SIANE DE SENE
ascender e descender sendo que na inspiração o peito e costas deve se expandir permitindo o
preenchimento de ar pelos pulmões e quando isso ocorrer é importante um pequeno intervalo
para que um pouco mais de ar penetre e somente depois deve se iniciar a expiração que
acompanha o movimento e finaliza com os braços em baixo. Aguardar um momento para que
o ar continue a sair e depois retomar. Este exercício inclui a meditação e recomenda se visualizar
um fio de luz percorrendo os canais supracitados desde o céu da boca até o ponto entre os órgãos
genitais e retornando novamente ao céu da boca integrando o movimento de entrada e saída de
ar ao movimento do abdômen e braços. A saliva gerada deve ser engolida por possuir
propriedades medicinais.
Dentre as posturas do Chi Kung existem também exercícios com movimento, os quais
estão resumidos abaixo.
Exercício da Garça -Trabalha o corpo inteiro absorvendo energia da terra que fortalece
as pernas que são o veículo para caminhar na vida e acabam por fortalecer os rins e
consequentemente ao fortalecer as pernas fortalece as costas.
Exercício do Ganso - Massageia órgãos internos e fortalece pernas, braços, músculos
abdominais e costas. Promove a consciência de cheio e vazio nas pernas.
Nadando no ar - Pode ser utilizado como meditação no movimento. Esse exercício
desenvolve a percepção do círculo, que é a expressão da perfeição, do processo de criação da
45
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
completamente o peso nas pernas, girando a cintura até que o joelho junto com rosto e mãos
atinja a lateral do corpo, num ângulo de 90°.
Meio Círculo no Céu - Este exercício fortalece a região dos rins e cintura, absorve a
energia da terra e alimenta todo nosso corpo com ela. É realizando com os pés separados na
largura do ombro, tocando uma das mãos na cintura (região dos rins) enquanto o outro braço se
eleva na lateral e se observa as mãos que sobem inclinando o corpo para a lateral e arredondado
a cintura, mantendo o braço que está no alto longe do corpo desenhando um círculo amplo com
a mão se projetando para longe. A expiração deve ser feita quando se inclina o corpo e a cabeça
e o olhar deve acompanhar a mão. Nesse movimento pode se observar luz saindo da mão em
movimento circular e abrangendo todo o corpo na medida que se inclina.
Círculo Inteiro no Céu (Variação do Alongamento Lateral) - Este exercício, como
o anterior absorve a energia da Terra e trabalha nosso corpo todo possibilitando a visualização
de luz em todo seu entorno na medida em que se gira e o braço atinge a circunferência total.
Neste exercício empurramos o céu como se estivessemos carregando um objeto pesado, com
uma das mãos, na sequência se faz o giro do tronco para o lado oposto torcendo os braços e os
abaixando como que puxado pela terra, tocar o pé oposto e como num círculo tocar o pé
paralelo, mantendo sempre as pernas esticados e subir lentamente, alternado o exercício com
os dois braços.
Além dos exercícios citados acima que tem como referência a Família Yang existem
outras séries e também as Oito peças do Brocado, conhecida como Ba Juan Jin.
Sabe se que estudos sobre Bioenergia, a energia humana, existem há milhares de anos,
relacionados a crenças religiosas, as artes marciais e ao misticismo. “Essa energia vital,
percebida, como um todo luminoso foi registrada pela primeira vez na literatura ocidental pelos
pitagóricos, por volta de 500 a.C”, segundo Brennan (2006, p.54) e afirmavam que a luz
promovia efeitos no organismo e tinha poder curativo.
Nas práticas corporais orientais existe um dito muito popular: “A energia segue o
pensamento, é dirigida pelos olhos e se manifesta pelas mãos. Severino (2016c, p. 47) afirma
ainda que “o movimento é a expressão do nosso espírito” e por conta de condicionamentos
psíquicos ou emoções conflitivas nossa expressão corporal é reflexo do caos reinante em nosso
46
ADRIANA SIANE DE SENE
interior. Spinoza, um pensador Holandês racionalista do século XVII afirmava que o corpo
não é um invólucro, mas sim você, e que cada movimento tem correspondência com um
pensamento da alma.
Cabe esclarecer que para os orientais espírito é um princípio ou essência da vida
incorpórea, mas também pode ser compreendido como um princípio material. Para os judaicos
cristãos, Deus soprou o barro para gerar o homem, ressaltando que na Antiguidade o sopro e o
que ele portava continha a vida. Para o budismo o espírito é um instante de consciência, um
contínuo mental conhecido através de dois aspectos indissociáveis: a vacuidade e a claridade,
estando unido ao espírito o conceito de mente, diferente do que propunha Descartes, em sua
teoria dualista (SEVERINO, 2016c, p.107).
É inegável que vivemos num planeta repleto de energia, bem como também o corpo
depende de energia interna e externa para suas funções e ainda que o corpo tanto emana quanto
recebe energia e que essas podem ser prejudiciais ou curativas. Nos dicionários a palavra
energia se traduz por potência, força ou vitalidade, a energia tem exatamente esses significados
na cura e na medicina energética. Bogado (2009, p. 155) nos diz que “a energia que emanamos
são como ‘fotos reveladas’ das nossas verdadeiras intenções, dos nossos sentimentos e
pensamentos”.
Somos uma energia que alcança uma espiral entre a vígilia e o transpessoal, e
a transdisciplinaridade é o caminho para se relacionar entre os quatro estados
de consciência, é a didática desta visão de mundo que precisamos
experimentar e sentir (OLIVEIRA, 2016).
Brennan (2006) relata vivências de práticas religiosas, como a meditação e oração que
levam ao estado de consciência ampliada, onde a pessoa declara enxergar luz em torno das
pessoas. “Toda a gente tem um campo de energia, ou aura, que rodeia e penetra o corpo físico,
intimamente associado à saúde”, segundo Brennan (p.23), a existência é um mar vivo de energia
capaz de sustentar e manter a vida.
O que em outras culturas é conhecido como energia vital, ou “força vital”, segundo
47
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
A energia percorre todo nosso corpo como num sistema circulatório, podendo se
enfraquecer ou ser bloqueada em função do nosso cansaço ou desânimo, mas é necessário
reconhecer que não existe energia má, o que temos são energias bem ou mal direcionadas
(CRUZ, 2015).
Compreendendo nosso funcionamento energético temos possibilidades múltiplas de
melhorias da saúde num contexto biopsicossocial. Cabe-nos reconhecer a
multidimensionalidade que nos habita e nos render aos conceitos da física de que:
[...]os seres humanos são construídos na sua materialidade por energia vibrando numa
determinada frequência, portanto, um entrave, um bloqueio desse estado vibracional
poderia produzir diversos desequilíbrios em sua manifestação material, orgânica,
biológica (CRUZ, 2015).
15
Afirma Heisenberg (apud CRUZ, (2015) que no século XIX houve uma confiança
crescente no método científico, na racionalidade precisa e “no ceticismo contra tudo que
diferisse desse esquema fechado da época”, porém, “ físicos da década de 1920 e
1930 confirmaram que a matéria é na verdade uma forma de vibração de onda, aquilo que a
física quântica chama de ‘dualidade onda-partícula’, nos permitindo um novo entendimento do
nosso corpo que, além da sua forma física material, passa a ser visto como um campo de energia
dinâmica e pulsante.
Desde Einsten até hoje, comprova-se que tudo no universo adquire vida através de
campo unificado de energia e inteligência. Somos concentrações de energia e inteligência no
14
DZIEMIDKO, H. E. O livro completo da medicina energética. Ed. Manole – São Paulo, SP: 2000.
15
HEISENBERG, W. Física e filosofia. 2ª Ed. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 1987.
48
ADRIANA SIANE DE SENE
campo universal e temos no nosso corpo a mesma inteligência e energia que governam o
universo, num contínuum com a natureza.
Segundo Cruz (2015), “até recentemente a medicina tradicional subestimava os efeitos
da emoção, mas hoje cada vez mais médicos reconhecem que o estresse emocional contribui
expressivamente para a produção de doenças.” Os conflitos emocionais, os sentimentos de
impotência e a falta de amor por si mesmo podem agir nocivamente sobre o funcionamento
dos chacras. Em decorrência de os chacras serem fornecedores de energia sutil aos diversos
órgãos do corpo, os bloqueios e conflitos emocionais podem levar a um fluxo anormal e com
o passar do tempo gerar doenças de maior ou menor gravidade em qualquer dos órgãos
fisiológicos , conforme Brennan (2006).
As tentativas de superar o modelo vigente de ciência mecanicista, devido às limitações
por ele apresentado, abriu novos horizontes e apresentando a abordagem sistêmica da
psicologia, não sendo mais possível reduzir as funções da psique a elementos isolados.
Para Cruz (2015, p.11) “o homem que já foi visto como mera máquina de
funcionamento bioquímico adquire nesse viés uma complexidade subatômica e passa a ser
visto como pura energia sob o domínio da consciência” A autora afirma ainda que:
[...] sua interação energética com ele mesmo, com os outros e com o meio resulta sua
posição biopsicossocial, a co-criação da realidade circundante. Ignorar esse aspecto
bioenergético de sua existência é permanecer como o homem que desconhece a si
mesmo. Ignorar elimina possibilidades, fecha portas e caminhos ainda não percorridos.
No entanto, reconhecer que somos constituídos por uma energia sutil, vital parece causar
o impacto da estranheza e da não aceitação numa grande maioria. Um conhecimento milenar,
propagado por diversas culturas e civilizações, de utilização de algumas medicinas como a
homeopatia, a acupuntura, a medicina energética e a medicina vibracional, por exemplo,
continua alvo de descrédito e desmerecimento. De acordo com Brennan (2006, p.41) “fomos
mergulhados num mundo de campo de energia vital, de campos de pensamento, e de formas
bioplasmáticas que se movem ao redor do corpo e dele emanam. Somos o próprio bioplasma,
vibrante e radiante!”.
Para Melo (2012), “a Ciência acordou do sonho de ser Deus” impondo um novo
paradigma energético que tirou egos de suas zonas de conforto, oportunizando lhes
experimentar a humildade e desenvolver o ser em detrimento do ter tão propagado na
atualidade. Segundo a autora a grande alquimia da vida começa em níveis muito profundos e
se ficarmos só na superfície não o atingiremos pois é necessário irmos a fonte capaz de
transformar e transmutar caráter e personalidades. Weil (1993,) propõe uma meta para a
educação que abrange a saúde do corpo, o equilíbrio entre mente e coração e o despertar e a
manutenção dos valores humanos.
49
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
A energia vital conforme Weil (1993, p. 71) recebe diferentes nomes na Psicologia.
Freud e Jung a denominaram libido, para Reich era orgone, para Bérgen élen vital e Kripnner a
chamou de energia psicotrônica, mas o que de fato importa para este trabalho é o entendimento
de que as emoções são capazes de gerar tensões que bloqueiam a livre circulação de energia, o
que Reich denominou de couraças musculares. A Bioenergética, criada por Lowen, objetiva
quebrar estes nós de tensão permitindo que a energia volte a circular por todo o corpo, assim
como o fazem também outros métodos como, por exemplo: a Yoga, o Tai Chi Chuan, e as artes
marciais não violentas em geral. Glória Sobrinho ao introduzir a leitura de Weil (1993) ressalta
que tudo que permanece parado e estagnado apodrece e exemplifica com uma poça de água que
limpa se torna suja, daí podemos compreender a importância de fazer a energia circular.
Reich foi discípulo de Freud, que assim como Jung depois de um período divergiu do
mestre. Ele buscou expandir os limites da Clínica Social para pessoas menos favorecidas,
observou que a repressão sexual não ocorre em todas as sociedades, entendeu ser o corpo o
centro da terapia e desenvolveu os conceitos de Anéis, Couraças e estudou o caráter. Apesar de
grandes contribuições para a Psicologia é pouco estudado nos meios acadêmicos e existe ainda
hoje um preconceito com relação a esse autor.
Segundo Brennan (2006) no início do século XX, Reich se interessa por uma energia
universal, que denominou de orgone e passou a estudar os distúrbios entre o fluxo dessa energia
e as doenças psicológicas e a partir desses estudos desenvolve uma psicoterapia integrando
50
ADRIANA SIANE DE SENE
técnicas Freudianas com técnicas físicas visando quebrar os bloqueios energéticos. Entre 1930
e 1950 Reich empregou as melhores técnicas disponíveis na época para suas experiências e
percebeu que ao liberar os bloqueios energéticos liberava também estados mentais e emocionais
negativos
Para Reich (1998) “o amor, o trabalho e o conhecimento são as fontes de nossa vida e
deveriam também governá-las”. Dentre os conceitos básicos de Reich estão:
! Energia, estase, bloqueio e fluxo, que estão relacionados a mobilização energética de
uma maneira geral;
! Curva Orgástica – unidade funcional mente – corpo, fala do Orgone, que define como a
forma geral da vida e expressa os circuitos energéticos; e
! Fundamentos da Bioenergética, que posteriormente seria aprofundada por Lowen.
Reich se interessou pela sexualidade em função da culpa que carregava sobre a morte
de sua mãe, que se suicidou. Esse autor estudou a interrupção dos fluxos energéticos, as curvas
ascendentes e descendentes e os bloqueios de anéis energéticos em relação ao corpo humano,
como pode ser visualizado na Figura 03 abaixo:
Reich Formulou uma identidade funcional entre a tensão muscular e o bloqueio
emocional, sendo este um dos seus grandes “insights”, segundo Lowen (1977, p.31),
apresentados em seus livros: A Função do Orgasmo e Análise do Caráter. Neste conclui que a
função unitária que liga psique e soma é o caráter.
De acordo com Brennan (2006), o corpo é a cristalização no mundo físico dos campos
energéticos que a cercam e a constituem, como estes contêm a tarefa de vida de cada ser, a
estrutura de caráter pode ser considerada como a cristalização dos problemas básicos ou
pessoais e estudando a postura de caráter, visto ela se relacionar com o corpo encontramos a
chave para curar nos. Reich ao se interessar pela estrutura de formação do caráter teve o
estímulo de Abraham e pressupôs que o caráter e sua resistência estão ligados a mesma
função, que é evitar o desprazer e manter o equilíbrio psíquico, apresentando tanto uma
função defensiva como uma transferência de relacionamentos com o mundo exterior infantil.
Segundo Reich (1998, p.151) “o caráter consiste numa mudança crônica do ego que se
poderia descrever como um enrijecimento “O caráter é o “jeito” do indivíduo funcionar na vida,
o jeito que age, que atua e que lida com os problemas e sentimentos, seus comportamentos,
atitudes e sensações. E está ligado as fases de desenvolvimento. As couraças formam se como
51
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Pierrakos foi um psiquiatra e terapeuta grego que atuou com Lowen na Análise
Bioenergética e também desenvolveu alguns trabalhos junto com sua esposa Eva Pierrakos. Foi
paciente terapêutico de Reich.
52
ADRIANA SIANE DE SENE
Segundo Nunes (2017) Pierrakos afirma que “as estratégias de caráter apresentam
variações significativas em cada pessoa, ligadas à qualidade única de cada Essência.” Ele não
gostava de rótulos, embora as nomenclaturas sejam usadas para fins de estudo, recomenda que
não devemos criar nenhum estereótipo para os pacientes. Afirmava ser a essência que define o
ser humano e não seu padrão defensivo.
Para Pierrakos a espiritualidade é uma missão, mas não como o que vem fazer nessa
dimensão e sim pelo que vem transformar. Após seu casamento com Eva se aprofundou ainda
mais nas questões espirituais. Postulava a essência como uma dimensão interna profunda que
contém energia vital na sua forma original e saúde, o estado de cura, a unificação, a integração
entre corpo e espírito (NUNES, 2017).
Pierrakos desenvolve a Core Energética que trabalha com o corpo, as emoções, a mente,
a vontade e espiritualidade. Acredita que toda existência é a unidade em evolução criativa, na
qual o ser é uma unidade psicossomática e a fonte de cura está no seu interior. Brennan (2006)
menciona ter sido criado por Pierrakos “um sistema de tratamento e diagnósticos baseado em
observações visuais do Campo de Energia humana e derivadas do Pêndulo” que corroboram
com métodos desenvolvidos na Bioenergética.
Pierrakos16 (2007 apud Nunes, 2017) define Core Energética como:
16
PIERRAKOS, J. C. A energética da essência (Core Energetics): desenvolvendo a capacidade de amar e de curar.
Trad. Carlos A. L. Salum e Ana Lúcia Franco. São Paulo: Ed. Pensamento,2007.
53
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
somos agora e que nos oriente a trabalhar com o que bloqueia nossa evolução
pessoal e espiritual. Precisamos de mapas da psique que não idealizem nem
dourem nossas deficiências humanas [...] se formos autênticos com nós
mesmos, conseguiremos descobrir dentro de nós sentimentos e atitudes
desagradáveis e egocêntricas [...] os sentimentos turbulentos que estão dentro
de nós podem ser transformados quando os reconhecemos sem fugas e
aprendemos a reconvertê-los em sua natureza divina original. [...] A
experiência iluminadora maior é ser capaz de relacionar os acontecimentos da
própria vida – tanto positivos, como os negativos – com as forças interiores
que as criaram. Ela nos conduz para a casa, para o cerne unitivo em nós
mesmos, para a nossa identidade criadora verdadeira. (PIERRAKOS, 2007, p.
12).
A máscara é a proteção da maioria das pessoas para esconder seu Eu Interior e muitas
vezes também o seu Eu Superior, mas ela não é a essência é apenas uma idealização e a única
forma de encontrar seu verdadeiro eu é vivendo uma vida plena e dissolvendo a idealização,
mas para isso precisamos nos despojar de nosso orgulho, de nossas culpas e medos de não
sermos aceitos, segundo Pierrakos (2007, p. 40). Para Brennam (2006) O Eu Superior é a
centelha divina que habita cada ser.
As estratégias de defesa postuladas pela Análise de Caráter têm relação direta com as
máscaras e para Pierrakos (2007, apud NUNES, 2017), o terapeuta deve trabalhar verbal e
corporalmente com os pacientes a fim de ajudá-los na sua jornada de encontro consigo mesmo
e de restabelecimento do equilíbrio energético, sem que haja uma luta dualista, pois esta está
fadada a conduzi-lo a mais armadilhas.
Alexander Lowen
54
ADRIANA SIANE DE SENE
Segundo Lowen (2017, p. 32), a Análise Bioenergética foi criada a partir de uma
experiência pessoal, na qual ele praticou a terapia corporal com seu colega John Pierrakos.
Lowen afirma: “trabalhando com meu corpo desenvolvi as posições e exercícios básicos que
hoje são considerados padrão na Bioenergética” iniciando os exercícios em pé e não de bruços
como fazia Reich, de forma que passei a sentir mais as minhas pernas, que depois de um tempo
vibravam.
De acordo com Lowen (1979) toda a vida se constitui através da identificação com o
corpo e, portanto, este exprime a percepção da vida pessoal do sujeito. Para este autor (LOWEN,
2018, p. 21) “espiritualidade é um estado de graça”, é a unidade entre o indivíduo e o Cosmos,
a “união do indivíduo com uma espécie de ordem superior” visto no Oriente como um
fenômeno corpóreo enquanto no Ocidente tem aspecto mental. Cabe destacar aqui que no
Ocidente a saúde do corpo está relacionada a aptidão para atividades da vida (máquina que
realiza tarefa) e o exercício é para o desenvolvimento da musculatura (mesma ideia de
máquina), segundo Lowen (2018).
A Análise Bioenergética combina a atuação sobre os níveis psíquico e somático,
partindo da compreensão da personalidade em termos de corpo e energia. Na idade adulta, as
defesas emocionais que foram construídas na infância afetam a relação da pessoa consigo
mesma e com os outros, traduzindo-se no caráter. Este está igualmente ancorado na mente e no
corpo (LOWEN, 2017).
A teoria Bioenergética acredita que tudo que acontece na mente, também ocorre no
corpo e vice-versa. Os traumas e repressões acontecem na psique e no corpo físico (soma)
simultaneamente, gerando tensões e bloqueios energéticos possibilitando o desenvolvimento de
doenças psicossomáticas.
A Bioenergética oferece caminho mais direto para o inconsciente que a análise tomada
separadamente, pois se propõe a decifrar a linguagem do corpo, percebendo os conflitos de
personalidade pelas áreas de rigidez e tensão crônicas. A proposta é deixar o corpo voltar a
sentir a vida do espírito, pela recuperação da graciosidade natural do corpo. Os exercícios
bioenergéticos propostos por Lowen são muito parecidos com os do Qi Gong, a diferença é que
os primeiros são aplicados num processo psicoterapêutico diretamente e o Qi Gong age de
forma preventiva e, indiretamente, terapêutica, mas para um resultado efetivo tanto um quanto o
outro tem na respiração um ponto crucial, assim como também é importante o grounding ou
enraizamento, segundo Lowen (2017).
55
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
56
ADRIANA SIANE DE SENE
57
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Fonte: Série Fundamental de Exercícios para Energia e Saúde – Soci e Severino (2017)
58
ADRIANA SIANE DE SENE
posturas do Chi Kun e no Tai Chi Chuan, de forma a mobilizar as pernas, induzindo-as a
vibração para liberar as tensões e fazer a energia fluir. Este Exercício também tem variações
mantendo uma das pernas fora do chão.
A postura da Garça praticada no Chi Kung encontra correspondência parcial em vários
exercícios da Bioenergética praticados separadamente, um deles é o Exercício 43 “ Saia das
minhas costas” onde se dobra os cotovelos e o suspende a altura do ombro empurrando os
energeticamente para trás e expressando oralmente um sentimento de raiva, conforme descreve
Lowen, cabe observar que este exercício se parece muito com o movimento em que tentamos
unir às escápulas como que a tentar quebrar uma noz entre elas. Quando esse exercício é
praticado na Bionergética há uma tendência a um sentimento de alívio e leveza por parte do
sujeito.
De uma maneira geral tanto a Bionergética como o Chi Kung possuem exercícios para
se praticar sentado possibilitando assim a prática a pessoas com limitação de movimentos. A
Bioenergética, assim como a Yoga também tem posturas de trabalho com o sujeito deitado, e o
Chi Kung também pode ser adaptado para tal situação, o importante é respeitar as possibilidades
de cada indivíduo praticante.
Inúmeros são os exercícios da Bioenergética, assim como inúmeras são as práticas
possíveis do Chi Kung e neste trabalho foram expostas algumas das possibilidades, sem a
preocupação de esgotá-las ou limitá-las. A diferença entre as práticas são suas filosofias e
teorias, mas sem dúvidas o objetivo é o mesmo, proporcionar melhores condições de saúde ao
indivíduo e autoconhecimento pois a medida que o corpo é exercitado o indivíduo aumenta a
consciência corporal e como tudo está integrado, ao romper as barreiras físicas outras barreiras
também se rompem e aspectos adoecidos podem ser ressignificados pelo enfrentamento dos
conflitos depositados no corpo ao longo de sua história, lembrando que nós somos o corpo e
ele expressa externamente tudo o que somos, a nossa essência e intenções.
59
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Considerações Finais
17
GORDON, R. A cura pelas mãos ou a prática da polaridade. Editora Pensamento: São Paulo, 1978.
60
ADRIANA SIANE DE SENE
61
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
REFERÊNCIAS
BOGADO, Ana Partrícia C. Corpo: prazer , dor e luz. Lorena: Editora Diálogos do Ser, 2009.
BURGOS, CÉLIA. Seminário referente ao Modelo Holográfico. Pós Graduação de
Psicologia Transpessoal. Goiânia: UNIPAZ: 2018
BRENNAN, Anna Bárbara. Mãos de Luz – um guia para cura através do campo de energia
humana. 21ª ed. - São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
CAIRO, Cristina. A cura pela meditação. São Paulo: Ed. Barany. 2014.
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação. Trad. Frederico N Ramos. São Paulo: Editora
Ágora, 2008.
COBRA, Nuno. A semente da Vitória. 41 ª Ed. São Paulo: Editora SENAC. 2003.
CRUZ, Geni A. Carmo. Disponível em: < https: // psicologado .com / abordagens
bioenergetica/bioenergiaenergia-humana-e-possiveis-utilizacoes-para-o-bem-estar-e-saude-
das-pessoas>, 2015. Acesso em junho de 2017.
JUNG, Carl G et al. O homem e seus símbolos. Trad. Maria Lúcia Pinto 3ª Ed. Rio de Janeiro:
Harper Collins Brasil. 2016.
KELEMAN, Stanley. Mito e Corpo: Uma conversa com Joseph Campbell. Trad. Denise
Maria Bolanho 3ª Ed. São Paulo: Editora Summus, 2001.
KIT; Wong Kiew: O livro completo do Tai Chi Chuan: um manual pormenorizado dos
seus princípios e práticas. Trad. Afonso Teixeira Filho .1ª Ed. São Paulo: Editora Pensamento,
2001.
LAMA, Dalai. A Arte de lidar com a raiva: o poder da paciência. Trad. A. B. Pinheiro de
Lemos. 12 ª Ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
LELOUP, Jean-Yves. O Corpo e seus símbolos: uma antropologia essencial. 23ª Ed. Rio de
Janeiro: Editora Vozes, 2015.
LOWEN, Alexander. O Corpo em Terapia: Abordagem Bionergética. São Paulo: Summus,
1977.
62
ADRIANA SIANE DE SENE
MING, Yang Jing. The root of Chinese Chi Kung. s.l:Yang’s Martial Arts Associations, 1989.
SEVERINO, Roque Enrique. I Ching – O Livro da Sabedoria: Uma visão Budista do Livro
das Mutações. 5ª Ed. São Paulo: Edição do Autor. 2016b.
SEVERINO, Roque Enrique. O universo do Tai Chi Chuan. 5ª Ed. São Paulo: Edição do Autor.
2016c.
SEVERINO, Roque Enrique. Notas de aula e Slides da Pós Gradução em Técnicas
Corporais Chinesas. São Paulo:SBTCC/USP, 2017
SOCI, Ângela. Notas de Aula da Pós Gradução em Técnicas Corporais Chinesas. São
Paulo: SBTCC/USP, 2017.
SOCI, Ângela; Severino, Roque. Chi Kung, Série Fundamental de Exercícios para
Energia e Saúde. São Paulo: Apostila do Curso de Pós Graduação Latu Senso Práticas
Corporais da Medicina Tradicional Chinesa. São Paulo: SBTCC, 2017.
63
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
64
CÁTIA DAS NEVES ALVES
65
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
66
CÁTIA DAS NEVES ALVES
RESUMO
O trabalho tem como objetivo o levantamento bibliográfico sobre a saúde da mulher com
ênfase em processos de prevenção e promoção da saúde na fase do climatério e menopausa.
Apresentando o conceito oriental sobre a menopausa através da Medicina Tradicional
Chinesa, buscou-se informações de como as práticas corporais orientais, com ênfase no Qi
Gong - Ba Duan Jin, podem auxiliar como uma ferramenta no alívio dos sintomas do
climatério/menopausa. Este estudo introdutório sugere um potencial para as politicas públicas
com as Práticas Integrativas Complementares (PICS), e a possibilidade de novos estudos na
área da saúde e qualidade de vida da mulher na fase do climatério/menopausa através das
práticas corporais da Medicina Tradicional Chinesa (MTC).
ABSTRACT
The objective of this work is the literature review on women’s health with emphasis on
prevention and health promotion processes in the climacteric and menopause phases.
Introducing the Eastern concept of menopause through Traditional Chinese Medicine,
information was sought on how Oriental body practices, with emphasis on Qi Gong-Ba Duan
Jin, may help as a tool to relieve climacteric / menopause symptoms. This introductory study
suggests a potential for public policies with Integrative and Complementary Practices, and the
possibility of further studies on women's health and quality of life in the climacteric /
menopause phase through MTC's body practices.
67
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
LISTA DE SIGLAS
68
CÁTIA DAS NEVES ALVES
INTRODUÇÃO
A mulher tem dois grandes momentos na vida; o primeiro é quando ela se torna capaz de dar a
luz a outro ser humano e num segundo momento quando ela se torna capaz de dar a luz a si mesma.
Ao ouvir está frase me causou um imenso impacto pela sua sutileza e poesia, por se referir a
uma fase muito intensa e ao mesmo tempo temerosa para muitas mulheres que é a
Menopausa. Assim despertou em mim a curiosidade de entender melhor o que se passa com
essas mulheres nesse período da vida.
Com o advento da modernidade, a mulher cada vez mais tem que se adaptar ao stress
diário de ter que cuidar da família e em muitos casos do sustento do lar tendo dupla jornada,
com isso vai se distanciando cada vez mais de si mesma. A mulher de hoje, está exposta a
uma série de pressões, profissionais, familiares e sócio-culturais, que influência diretamente
suas escolhas pessoais, o seu estilo de vida e principalmente o funcionamento do seu
organismo. Quando se inicia o processo do climatério/menopausa ocorre uma série de
sintomas que desequilibram o emocional e o físico, como acentuada queda na libido e
consequentemente a baixa autoestima, pois sente vergonha do próprio corpo e também perde
o entusiasmo por novos conhecimentos e interesses, tem grande queda de energia ocasionando
perdas em geral como força física, além da falta de informação ela acaba entrando em
processos de dores e angústias, e em meio a tantas angústias ela não consegue perceber que é
um momento intenso de transição que muitas vezes é dolorosa mas muita transformadora.
Podemos encontrar na literatura registros dos benefícios das práticas corporais da
Medicina Tradicional Chinesa (MTC) para harmonizar mente e o corpo, dentre elas o Ba
Duan Jin aparece como uma ferramenta importante no tratamento de diversos desequilíbrios,
pois através de seus exercícios físicos e respiratórios, melhora a estrutura óssea, aumenta a
flexibilidade das articulações, regula a circulação, equilibra a energia dos meridianos, retarda
o envelhecimento e favorece a estabilidade emocional.
Este trabalho tem por objetivo o levantamento bibliográfico sobre saúde da mulher,
com ênfase em processos de prevenção e promoção de saúde ligada ao climatério/menopausa
através das práticas do Ba Duan Jin técnica terapêutica das práticas corporais da MTC.
É um estudo teórico baseado pesquisa bibliográfica em livros, monografias, artigos,
apostilas sobre a saúde da mulher e apostilas sobre práticas corporais da Medicina Tradicional
Chinesa (MTC) e da Sociedade Brasileira de Tai Chi da Família Yang (SBTCC). O estudo
iniciou-se com a leitura dos seguintes livros que tratam da temática Climatério/Menopausa:
Domínio do Yin: da fertilidade à maternidade; a mulher e suas fases segundo a medicina
69
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
MENOPAUSA
1
Berni et al. Conhecimento, percepções e assistência à saúde da mulher no climatério. Revista Brasileira de
Enfermagem, v.60, n.3, p.299-306, 2007.
70
CÁTIA DAS NEVES ALVES
estrogênio feita pelos ovários. Além dos fatores fisiológicos, o ambiente sociocultural e
condições de vida da mulher influenciam a intensidade das manifestações clinicas nesta fase.
O processo inicia-se entre 35 e 40 anos, estendendo-se aos 65 anos, sendo dividido em: pré-
menopausa fase de ciclos menstruais; perimenopausa fase que antecede a última mesntruação
e dura em média dois anos e termina um ano após, com alterações endócrinas e ciclos
irregulares; pós- menopausa inicia-se um ano após a última menstruação.
Vale ressaltar que durante o processo de menopausa são identificados alguns sintomas
como calafrios, vertigens, diminuição da memória, fadiga, sono agitado e sintomas
vasomotores (BRASIL, 2008). Dentre eles a sudorese, ondas de calor ou fagachos são as
queixas mais comuns das mulheres ocidentais durante a transição do climatério, estes são os
sintomas dos vasomotores. Estudos mostram que as ondas de calor prevalecem em 70% das
mulheres menopausadas e isto provoca alterações no sono levando a fadiga, desconforto
físico, irritabilidade e problemas no trabalho diminuindo assim a qualidade de vida.
(SANTOS-SÁ, 2006).
Dados relatados por Guimarães e Baptista (2011) indicam que na fase de
climatério/menopausa 60 a 90% das mulheres tem sintomatologia atribuída à baixa de
estrogênio. As mulheres no período do climatério\menopausa relatam uma variedade de
sintomas, incluindo sintomas vasomotores (fogachos e suores noturnos), sintomas vaginais,
incontinência urinárias, dificuldade para dormir, disfunção sexual, depressão, ansiedade,
humor lábil, perda de memória, fadiga, cefaleia, dores nas articulações, e ganho de peso,
dores, desconfortos, falta de energia afetam 96% das mulheres, enquanto que sintomas
psicológicos, tais como depressão, ansiedade, tristeza ou irritabilidade atingem, cerca de 63%
dos casos.
Outros sintomas que afetam muito as mulheres no período do climatério e com
intensidade variada são chamados sintomas neuropsíquicos que compreende a labilidade
emocional, tristeza, irritabilidade, nervosismo, ansiedade, melancolia, depressão, baixa
autoestima e dificuldade para tomar decisões. (BRASIL, 2008). Tendo em vista que, os
sintomas do climatério não são apenas físicos, a sua intensidade está associada à autoimagem;
as mulheres com autoestima baixa apresentam mais sintomas e também possuem uma atitude
negativa com relação à vida.
O principal tratamento proposto hoje ainda se baseia em algumas idéias do início do
século XX que visa apenas os sintomas endócrinos. Como afirma Bastos (2001), a medicina
ocidental difundiu no passado a idéia de que a menopausa representa uma etapa de crise
fisiológica que pode culminar em serenidade ou doença, dependendo das predisposições de
cada mulher e que, portanto, a menopausa seria uma endocrinopatia, causada por uma
71
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Nesta história é nítido a dificuldade em realizar essa travessia, pois a realidade que se
apresenta revela que já não se dispõe da plástica da juventude, que propícia experiências
prazeirosas. Assim, a visão oriental traz uma ótica diferente na qual a decadência física não é
um fator que impede a realização individual. Já no pensamento oriental a velhice ocupa lugar
respeitável como repositório de sabedoria, sendo possível manter-se saudável e ativo com o
decréscimo natural da energia física e que existem formas mais amenas de vivenciar esta fase
tão especial da vida.
Diz Bastos (2001, p.16):
Tais canais (meridianos) tem a função de: transportar o Xue (Sangue) e o Qi (Energia
Vital); distribuir o Jing (Essência); auxiliar e equilibrar o Zang Fu (Sistema de Orgãos e
Víceras); resistir à invasão dos fatores patogênicos exteriores; manter a condutividade. O
sistema de meridianos faz a circulação continua do Qi e do Xue, responsável pela
74
CÁTIA DAS NEVES ALVES
“Qi (também grafado como Chi) em chinês significa “energia vital”, Gong (ou kung),
“prática” ou exercício”. Qi Gong significa o trabalho com a energia, prática muito ampla
dentre as práticas corporais da MTC, técnica que faz circular e nutrir a energia vital,
aumentando a resistência ao estresse, a fim de atingirmos o equilíbrio físico e psíquico. É a
prática do cultivo da energia humana, Qi Gong a arte da saúde.
Ferraro (2002) diz que um dos grandes fatores que acometem as mulheres no
climatério/menopausa é a deficiência de cálcio devido à diminuição dos hormônios, no Qi
Gong existem exercícios que revigoram a energia dos Rins que podem deter a queda na
produção hormonal. Praticantes de Qi Gong mantém um número alto de hormônios no sangue
como adrenalina, aldosterona, hormônios esteroides e cortisol independente da idade. Existe
exercícios da série “Medula Dourada” para curar o envelhecimento dos ossos e das
articulações, a função é expelir patógenos dos tendões e ossos melhorando o fluxo sanguíneo,
tornando o corpo mais flexível devido a circulação do Qi. Os chineses afirmam que o cérebro
funcionará bem se a medula estiver em bom estado, portanto na prática, ao esticar os tendões
há um aumento do Qi e da circulação sanguínea nos ossos, ocorrendo uma melhora na troca
biológica que oxigena a medula ocorrendo a sua regeneração, fator importante na saúde dos
ossos. Dentre as inúmeras práticas do Qi Gong existem um número enorme de exercícios que
beneficiam e auxiliam a mulher neste período de transformações que é a menopausa. Tais
como: fortalecedor dos meridianos, dos ossos, articulações, tendões, dentes, da audição,
aliviar problemas do envelhecimento fortalecendo a energia yang e revigorando os rins
auxiliando assim a medula e o cérebro, sons terapêuticos para evitar degeneração física,
restaura a memória, elimina a frigidez feminina e equilibra as emoções.
77
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Uma das técnicas do Qi Gong é o Ba Duan Jin – As Oito Peças do Brocado, exercícios
que se baseiam no movimento integrado da intenção da mente, da forma do corpo, da
respiração e de técnicas que trabalham diretamente os meridianos.
Embora, a origem do Ba Duan Jin seja incerta existe a teoria de que esta prática foi
criada durante a dinastia Song 960 – 1279, com o objetivo inicial de manter a saúde
reforçando o físico dos seus militares mais tarde a técnica foi adotada para a melhoria da
Saúde da população em geral (DE LAZZARI, 2014).
Treinado no templo Shaolin, pelo sacerdote Jou Ton, o jovem Yueh Fei que mais tarde
se tornaria um dos Marechais mais reconhecidos da dinastia Song, além de artista marcial e
patriota teve um grande papel na história da China.
Em Tang Yin Hesien distrito da província de Henan, China, nasce em 15 de fevereiro
de 1103 Yueh Fei que foi criado e educado por sua mãe, sempre com senso de liderança e
coragem, embora vivesse em condições precárias era estudioso e se tornou um jovem
agricultor arrendatário.
Após tantos anos de luta e observando o seu povo sofrer, em 1122 aos 19 anos de
idade Yueh Fei se alistou no exército dos Song para expulsar um povo nômade denominado
Gin, que havia invadido o norte da China. Com passar do tempo, Yueh Fei com sua dedicação
e seus dotes de guerreiro atingiu o grau de Marechal de Campo em apenas seis anos. A partir
daí, criou um sistema de Treinamento onde transformou os seus militares em um grupo
invencível através das suas habilidades e disciplina e também introduziu o Wu Shu como
treinamento básico dos Soldados antes de ir para o campo de batalha. Suas tropas possuíam
três princípios rigor, seriedade e profissionalismo e ensinou aos seus soldados o que aprendeu
com Jou Ton.
No treinamento de seus soldados introduziu novas técnicas de combate desenvolvidas
78
CÁTIA DAS NEVES ALVES
por ele como Palma de Águia (estilo externo) e o Xíng yìn quán (estilo interno) e também o
Ba Duan Jin uma série de exercícios destinados a manter saudável seu exército.
Devido a uma falsa acusação feita por um ministro, o Marechal Fei foi sentenciado a
morte por insubordinação, embora foram realizados muitas investigações e nada foi
encontrado contra Yueh Fei, e que, por esse motivo foi envenenado na prisão e faleceu em 27
de janeiro de 1142 com 38 anos. Em 1166 por ordem de um novo Imperador seu corpo foi
exumado e teve um enterro com honras militares na cidade de Gang Zhou e seu nome foi
limpo (SBTCC, 2015).
Nas últimas décadas está prática corporal milenar da Medicina Tradicional Chinesa
tem sido alvo de pesquisas em todo o mundo com o intuito da comprovação dos seus efeitos
terapêuticos. Universidades americanas, brasileiras e chinesas realizaram um estudo de
revisão sistematizado e de meta-análise dos benefícios da prática, utilizando-se de 6 diferentes
bases de dados e encontrou 274 trabalhos relevantes e destes foram selecionados 19 estudos,
publicados entre 2008 e 2016 sendo 5 em inglês e 9 em mandarim. Os itens analisados nestes
estudos foram: resistência cardiorrespiratória, capacidade respiratória, resistência aeróbica,
pressão sanguínea, o equilíbrio corporal, a força dos punhos, flexibilidade dos troncos e
quadris, força dos membros inferiores, qualidade do sono e a qualidade de vida. O estudo
constatou que, a prática do Ba Duan Jin trouxe uma acentuada melhora de todos os fatores
citados anteriormente (ZOU et. al., 2017)
Segundo a LA ASOCIACIÓN CHINA DE QIGONG PARA LA SALUD (2008) oBa
Duan Jin além de ser uma prática que trabalha a flexibilidade das articulações, fortalece os
membros, desenvolve o aparelho respiratório, proporcionando um equilíbrio em geral.
Também eleva o sistema imunológico do corpo, trabalha positivamente a saúde mental e
aumentando a capacidade de resistir ao envelhecimento. É considerada uma prática segura e
de fácil acesso a todas as idades.
Na prática do Ba Duan Jin o sistema endócrino, o sistema nervoso e o sistema
imunológico que na Medicina Tradicional Chinesa é composto pelo Qi (energia), o Shen
(espírito), Jin a (essência) considerados os três tesouros da vida, vão se interagindo e
entrando em um estado de homeostático do corpo tendo uma grande melhora na saúde mental
e física. Existe também apontamentos que durante a prática do Ba Duan Jin o córtex cerebral
entra gradualmente em estado de tranquilidade, o centro sub-cortical vai gradualmente se
ajustando ao sistema nervoso e o sistema endócrino, fazendo com que o corpo entre em estado
de equilíbrio através da respiração, do movimento e relaxamento e no caso das mulheres
menopausadas. Reduzir a pressão arterial; Melhorar a aptidão cardiovascular; Aliviar a dor
crónica; Melhorar o funcionamento físico diário (FERRARO, 2002).
Com o passar dos anos vamos envelhecendo e a energia vital diminuindo e a mulher
tem um desgaste muito maior devido à vida corrida e tantas cobranças. De Lazzari (2014,
p.27) diz “[...] a ciência médica chinesa indica os exercícios do Pa Tuan Chin para auxiliar na
prevenção, no tratamento, na cura de doenças e, também, para prevenir os sintomas de
envelhecimento”.
Os benefícios da prática que foram comprovados há séculos são apontados por De
Lazzari (2014, p.30-31);
80
CÁTIA DAS NEVES ALVES
81
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
de quem pratica, é interessante que, para iniciar os movimentos a mente esteja equilibrada e
calma, portanto é ideal que ao iniciar a prática faça uma meditação ou postura de preparação
chamada Wu Ji que significa “vazio primordial”, é um estado natural para relaxar o corpo e
tranquilizar a mente.
cabeça e inclinar para qualquer um dos lados ocorre o alongamento da musculatura do tronco,
ao descer os braços os músculos soltam e relaxam e o Qi pode fluir através da repetição, o
movimento regula a circulação do Qi do Triplo Aquecedor relaxando os órgãos, assim o Qi
interno pode circular livremente, isso vai resultar no desaparecimento das doenças. E ao
levantar os calcanhares durante a prática vai ajudar a elevação do Qi no Triplo Aquecedor
(SBTCC, 2015).
Também beneficia articulações dos ombros e pescoço evitando lesões; proporciona o
alongamento dos ligamentos, tecidos mole, músculos e articulações, membro superior e
coluna vertebral; aumento da flexibilidade da coluna; evita lesões de ombros e desgaste dos
discos intervertebrais e das vértebras cervicais; a aumenta a circulação do Qi na parte da
frente do corpo e vai regular o Qi dos órgãos; fortalece os braços; melhora a postura; alonga
grande parte do corpo; a respiração profundo e ao estender os braços para estender
verticalmente o diafragma, proporciona uma massagem suave nos intestinos e estômago;
prevenção e cura das doenças pois melhora a circulação do Qi desde os pés até os braços (DE
LAZZARI, 2008).
Prática: Fique na postura a cavalo. Relaxe suas mãos e leve-as até a área do
tórax. Junte suas mãos, e separe-as com a mão direita movendo-se para o
lado direito, enquanto a mão esquerda mudando para a mão da “espada
oculta”, estende para a esquerda como se você estivesse estirando um arco.
Seus olhos viram para esquerda em um ponto mais distante (SBTCC, 2015,
p. 23)
84
CÁTIA DAS NEVES ALVES
Finalidade: Fortalece os rins e a região da cintura, durante a prática se deve baixar para
firmar a raiz, na medida em que puxar o arco assim terá um centro de força para poder puxar
de forma efetiva, ao abaixar as costas devem estar retas e as nádegas para baixo enfatizando
assim a energia dos rins. Os ombros devem estar firmes e o cotovelo de trás envergar
estabilizando assim a puxada do arco. Neste exercício vai aumentar a circulação do Qi na área
dos rins e fortalecer os músculos da cintura. Concentrar a mente de maneira que você sinta
que realmente está puxando um arco muito forte, pois a fonte de movimento do Qi é a mente
concentrada. Proporciona força e melhora no equilíbrio dos membros inferiores através do
desenvolvimento da musculatura, aumento da flexibilidade, mobilidade e elasticidade nestas
regiões. Ao expandir a postura abrindo os ombros, atua nos meridianos Yin e Yan das mãos,
faz fluir o Qi ajustando o meridiano do pulmão além de estimular os pontos de acupuntura das
costas. Previne lesões na coluna vertebral, na região cervical e ombros; (SBTCC, 2015).
Benefícios: Equilibra e melhora as funções renais através do aumento da circulação do
Qi nesta região; através da respiração profunda, abre o peito e os pulmões, aumenta a
capacidade respiratória; desenvolve a caixa toráxica; melhora a respiração; fortalecimento do
musculo da cintura que auxilia a sustentação da coluna aliviando a pressão nas vértebras;
desenvolve os músculos dos braços, pernas, região lombar, ombros, peito e escápulas; as duas
pernas ficam muito fortes e principalmente o musculo da coxa devido ao enraizamento na
postura de montar o cavalo (DE LAZZARI, 2014).
86
CÁTIA DAS NEVES ALVES
internas diferentes do corpo, regular o fluxo do Qi, auxiliando na cura de ferimentos e velhos
problemas internos que são difíceis de detectar por outros métodos de tratamento. Exercita as
cavidades abdominal e peitoral no movimento de esticar. Devido o movimento tranquilo e
firme da torção dos braços até a ponta dos dedos ocorre a estimulação dos cinco órgãos
internos yin: fígado, baço, rins, pulmão e coração evitando assim os prejuízos causados pelas
sete emoções: desejo, ódio, alegria, amor, felicidade, pesar e raiva. O sistema nervoso central
e a circulação sanguínea são estimulados, alonga e desenvolve as musculaturas ao redor dos
olhos e do pescoço e alivia a sensação de cansaço (SBTCC, 2015).
“As combinações de órgãos/emoções/emoção patológica são as seguintes:
Fígado/ardor/raiva; Coração/alegria/excitação excessiva; Baço/preocupação/obsessão;
Pulmões/tristeza/depressão; Rins/ansiedade/ medo” (FERRARO, 2002, p. 63).
Benefícios: Previne e trata dores na região do pescoço; relaxa a musculatura e alivia as
tensões do trapézio, músculos dos ombros e do pescoço; fortalece e desenvolve os tendões e
músculos do pescoço; relaxa e alonga a musculatura do peito, removendo a estagnação do Qi
na região; equilibra e estimula a circulação do Qi nos meridianos que passam na região do
pescoço; auxilia na cura doenças dos órgãos Yin: coração, baço, pulmões, rins e
fígado; proporciona equilíbrio emocional, impedindo emoções extremas (DE LAZZARI,
2014).
Figura 8 – 5ª do Brocado
88
CÁTIA DAS NEVES ALVES
Prática: Fique na postura a cavalo. Coloque suas mãos nos joelhos, com o
dedão para o lado de fora da sua coxa. Mude o peso para perna esquerda, e
gira o tronco alinhando sua cabeça, espinha e perna direita. Fique nessa
posição por três segundos, e depois volte ao centro (SBTCC, 2015, p. 25).
Finalidade: Quando se tem uma alimentação imprópria, respirar ar não saudável ou até
perda de sono isso provoca um excesso de Qi no plexo solar, afetando o estômago ou o
coração e parte dessa energia precisa ser movimentada para os pulmões, onde através de uma
respiração suave pode regular e harmonizar o Qi. Durante a prática ao colocar as mãos nos
joelhos com os polegares para trás, vai fazer com que o peito se espanta quando se move de
um lado para o outro, isso fará com que ocorra uma soltura dos pulmões tirando o excesso de
Qi do Dan Tien médio diminuindo o excesso. Com a prática diária vai aumentar a circulação
sanguínea que vai auxiliar qualquer fraqueza nas pernas. Ao realizar esse exercício é
importante manter a cabeça, o pescoço e espinha alinhada e quando se faz a pressão no joelho,
produz uma compressão do pulmão do lado correspondente e produz um relaxamento no
pulmão do outro lado. Movimento realizado através de rotações que auxiliam na flexibilidade
da musculatura e articulações envolvidas (SBTCC, 2015).
Benefícios: melhora a oxigenação do sangue e as trocas gasosas; aumenta a
capacidade respiratório; promove giro rotacional das vértebras, auxiliando o fortalecimento
dos músculos das pernas evitando câimbras dos músculos das pernas; melhora circulação
sanguínea das pernas; previne contra ansiedade, dores no peito e insônia; auxilia a dissipar a
estagnação do Qi no peito e auxilia na eliminação do excesso de Yang do coração, eliminando
o “fogo do coração” (DE LAZZARI, 2014).
89
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Finalidade: A residência do Qi original são os rins que estão localizados abaixo dos
maiores músculos das costas. Quando os rins estão fortes, eles irão produzir Qi original e o
retém vivificando todo o corpo. Ao inclinar para frente e tocar os pés com as mãos, isso
provocará uma tensão nos músculos das costas, restringindo o fluxo do Qi na área dos rins e
quando se solta esta pressão, o fluxo do Qi retorna rapidamente removendo qualquer
estagnação. Esta peça é um excelente exercício de massagem nos rins aumentando o fluxo do
Qi como também nos músculos das costas e da espinha. Com o Qi forte se desenvolve uma
resistência a resfriados. Quando se inclina o corpo para frente, estará estimulando os rins e
alongando o corpo, quando se eleva esticando os braços e os pés, esta ação leva o Qi para
todos os tendões. Quando se eleva o tronco parte do Qi é dirigida ao osso sacro onde entrará
na espinha através dos seus orifícios. E ao levantar para posição ereta vai passar por toda a
espinha revitalizando o esqueleto completo. Os rins, a uretra e a glândula adrenal têm suas
funções melhoradas através da massagem feita pela flexão e inclinação da coluna vertebral,
além de auxiliar na prevenção de enfermidades no sistema urogenital, fortalecendo rins e
cintura e também os grupos musculares do tronco (SBTCC, 2015).
Benefícios: aumenta o Qi na região renal, pois massageia os rins; O Qi Original (Yuan
90
CÁTIA DAS NEVES ALVES
Qi) é fortalecido junto com o sistema imunológico; fortalece o Jing Original (Essência);
aumenta a flexibilidade da cintura, quadril e a coluna lombar; fortalece os ossos, tendões e
músculos do tronco; previne dores na coluna vertebral e nas costas (DE LAZZARI, 2014).
Finalidade: Esta peça faz uma limpeza de qualquer estagnação do Qi, leva até a pele,
trabalha a elevação do espírito da vitalidade, quando se tem um espírito elevado o fluido do
Qi é fortalecido aumentando inclusive a força muscular, quando o Shen (o espírito) está
elevado aumenta o Qi Li (Qi proveniente dá força muscular), o Qi preenche todo o corpo
chegando até a pele. Ao realizar o movimento de socar deve-se pôr a intenção de está
chocando com dureza e o golpe se tornará mais potente, porque a mente fará com que o Qi vá
para fora dos braços e pernas (SBTCC, 2015).
A Medicina Tradicional Chinesa diz que projetar o olhar com foco estimula e fortalece
o Qi do fígado nos olhos e nos músculos, além de estimular o córtex cerebral e o sistema
nervoso autônomo (FERRARO, 2002).
91
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Benefícios: Fortalece os ossos músculos e tendões dos braços e das pernas; aumenta a
força muscular, Qi Li; proporciona muita vitalidade, pois aumentando o Qi; elimina a
estagnação do Qi nas pernas e nos braços; a mente e o corpo tornam-se saudáveis e o espirito
é elevado (DE LAZZARI, 2014).
Prática: Eleve seu calcanhar com as mãos na cintura e fica o quanto você
puder, e depois abaixo pisando no chão novamente (SBTCC, 2015, p. 26).
Finalidade: Esta peça faz com que o Qi circule do topo da cabeça até a ponta dos pés.
Ao se erguer sobre a ponta dos pés, os seis canais do Qi que são conectados com os órgãos
internos são estimulados. Durante a prática deve-se manter a cabeça erguida com intenção de
fazer chegar à energia desde a ponta dos pés. A vibração que o movimento provoca no corpo
relaxa os músculos, estimula a coluna vertebral e as extremidades inferiores. Desenvolve a
capacidade de equilíbrio porque exercita os ligamentos dos pés e músculos e também ajuda a
desenvolver os músculos da panturrilha. O leve impacto nos calcanhares melhora a circulação
sanguínea e sua energia interna, levando a um maior equilíbrio, pois o Qi vai circular da
cabeça até a ponta dos pés (SBTCC, 2015).
Benefícios: Ativa o Qi e faz melhorar a circulação dessa energia em todo o corpo;
fortalece, alonga e torna mais saudável a coluna vertebral; auxilia no alinhamento correto do
92
CÁTIA DAS NEVES ALVES
corpo, pois melhora a postura e o equilíbrio; alonga os tendões e ligamentos das pernas e dos
pés; estimula os seis meridianos que passam pelos pés e pelas pernas (DE LAZZARI, 2014).
Pesquisas apontam índices alarmante tais como: 50,3% de taquicardia e 50,9% de
fogachos; 49,8% de ansiedade; 69,7% de irritabilidade e 69% de sobrepeso. A realização de
atividade física semanal (150 minutos por semana), melhora a diabetes, peso, artrite,
hipertensão e fatores de comorbidade frequentes após a menopausa (CABRAL et al.,2 2005
apud KATAGUIRI, 2009).
Com vistas ao que foi apresentado, a prática constante do Ba Duan Jin irá contribuir
para a saúde feminina em todas as idades, inclusive trazendo muitos benefícios para a
qualidade de vida na fase do climatério e menopausa, proporcionando mais consciência sobre
o corpo e sua inteireza, como também propõe a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares.
2
CABRAL et al., Quais os benefícios da atividade física no climatério? Revista da Associação
Médica Brasileira, v.51, n.4, p.181-94, 2005.
93
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
94
CÁTIA DAS NEVES ALVES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo introdutório sugere um potencial para as Políticas Públicas com as PICS, e
a possibilidade de novos estudos na área da saúde e qualidade de vida da mulher na fase do
climatério/menopausa através das práticas corporais da MTC.
Em virtude da revisão bibliográfica apresentada, podemos dizer que é neste momento,
na menopausa onde a mulher dá a luz a si própria, vai sentir a necessidade de encontrar um
novo ponto de equilíbrio para realizar uma mudança de paradigmas e ter uma nova atitude
perante a vida.
Nestas condições, podemos dizer então, que a prática do Ba Duan Jin no universo
feminino do climatério/menopausa pode ser uma ferramenta de auxílio no tratamento dos
sintomas, devido ao seus movimentos lentos e de baixo impacto, fazendo com que o fluxo de
energia vital equilibre todo corpo e conquistar uma mente calma, possibilitando a mulher
passar por essa fase de uma forma mais saudável, mais serena e que possa usufruir da desta
fase com amor e se reencontrar na sua essência tendo um novo olhar sobre si mesma.
Para concluir vale citar;
95
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
REFERÊNCIAS
BASTOS, Maria Helena. Sorria, Você está na Menopausa: um manual de terapia natural
par a mulher. São Paulo: Ground, 2001.
DE LAZZARI, Fernando. Tai Chi Chuan: saúde e equilíbrio. 2.ed. Ribeirão Preto, SP:
Editora e Gráfica São Gabriel Ltda, 2009.
DE LAZZARI, Fernando. Pa Tuan Chin: oito peças do brocado. Ribeirão Preto, SP: Editora
e Gráfica São Gabriel Ltda, 2014.
EQUILIBRIUS, Centro de Tai Chi Chuan, Acupuntura e Cultrua Oriental - Yang Chengfu
Tai Chi Chuan Center, Estórias, Frases e Ditados Chineses. São Paulo, 2008. Disponível em
< http://www.taichichuan.com.br/estorias.php >. Acesso em 20/03/2018.
96
CÁTIA DAS NEVES ALVES
SBTCC. Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental. Apostila de Pa Tuan
Chin. São Paulo: SP. Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental, Revisada
2015.
SBTCC, Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental. Pa Tuan Chin. Yang
Changfu Center, São Paulo, 2016b. Diponível em < http://www.sbtcc.org.br/pa-tuan-chin>.
Acesso em 16/03/20018.
UMLAND, E.M. Treatment Strategies for Reducing the Burden of Menopause- Associated
Vasomotor Symptoms. JMCP, v.14, Suppl3, p.S14-S19, 2008. Disponível em <
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18439062>. Acesso em 05/02/2018.
97
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
VISION TIMES The Tenderness and Compassion of Yue Fei, an Ancient Chinese
Legend, 2015. Disponível em http://www.visiontimes.com/2015/12/05/the-tenderness-and-
compassion-of-yue-fei-an-ancient-chinese-legend.html. Acesso em 03/02/2018.
ZOU, L.; SASAKI, J.E.; WANG, H.; XIAO,Z.; FANG,Q.; ZHANG, M. A systematic
Review and Meta-Analysis Baduanjin Qigong for Health Befits: Randomized Controlled
Trials. Shanghai, CHN: Hindawi, Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine,
2017. Disponível em <https://www.hindawi.com/journals/ecam/2017/4548706/>. Acesso em
05/04/2018.
98
CHANG FUN HWA
99
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
RESUMO
Este estudo teve como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre os benefícios à saúde
decorrentes da prática de Tai Chi Chuan (TCC), com ênfase nos efeitos coligados à
importância da nutrição e aos cinco elementos na Medicina Tradicional Chinesa (MTC). A
primeira parte do trabalho trata dos aspectos conceituais da MTC, como as energias
Yang/Yin, meridianos energéticos, órgãos Zang-Fu e os cinco elementos, que perpassam as
práticas da MTC. Foram destacadas na segunda parte as descrições dos benefícios
relacionados à qualidade de vida e bem-estar, atribuídos à alimentação e à prática do TCC,
como a melhoria do sono, do humor e do equilíbrio do organismo. A alimentação adequada
dentro do autoconhecimento pode e deve ajudar a melhorar a qualidade de vida tanto física,
quanto mental e social.
ABSTRACT
The aim of this study was to review the literature on the health benefits of Tai Chi Chuan
(TCC), with emphasis on the effects related to the importance of nutrition and the 5 Tai Chi
Chuan elements in Chinese medicine. The first part of the paper deals with the conceptual
aspects of Traditional Chinese Medicine (TCM), such as the Yang-Yin energies, energetic
meridians, Zang-Fu organs and the five elements that pervade TCM practices. The second
part describes the descriptions of the benefits related to quality of life and well-being,
attributed to nutrition and the practice of TCC, such as improvement of sleep, mood and body
balance. The proper nutrition within self-knowledge can and should help improve the quality
of life, physically, mentally and socially.
Key-Words: Diet, Nutrition, Chinese Tradicional Medicine, Quality of Life, Tai Chi Chuan,
100
CHANG FUN HWA
INTRODUÇÃO
1
SCHIREIBER, David S. Anticâncer, Prevenir e vencer usando nossas próprias defesas naturais. Ed.
Objetiva. Rio de Janeiro. 2007.
2
WAYNE, Peter M. Guia de Tai Chi da Faculdade de Medicina de Havard. Ed. Pensamento. São Paulo,
2016.
3
FAHRNOW, Ilse Maria. Os 5 Elementos na Alimentação Equilibrada. Ed. Agora, São Paulo, 2003.
101
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Contextualização
4
ABE, Gislaine Cristina. Medicina Tradicional Chinesa (MTC). 2006. Disponível em:
http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2006/RN%2014%20SUPLEMENTO/Pages%20from%20RN%
2014%20SUPLEMENTO-13.pdf>. Acessado em: 18 de agosto de 2018.
102
CHANG FUN HWA
Objetivos
Justificativa do estudo
5
United Nations General Assembly. Global road safety crisis: report of the Secretary-General. (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 1948). New York, NY, United Nations (A/58/228). Disponível em:
<http://www.who.int/world-health-day/2004/infomaterials/ en/un_en.pdf> Acesso em: 19 de agosto de 2018.
103
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
estar (físico, mental e social), conforme conceituou acima a OMS. Em segundo lugar, pela
intenção de divulgar os achados científicos e da literatura relativos especificamente a uma das
dietas mais difundidas da MTC, a dietoterapia.
A presente revisão, portanto, abordará princípios e conceitos vinculados ao TCC,
perpassando pela filosofia oriental e por achados científicos, de modo a oferecer o
embasamento teórico necessário para seu entendimento da alimentação terapêutica dentro da
MTC.
Dessa forma, o trabalho é importante para demonstrar que a MTC pode conferir, para
além de forma alternativa de tratamento, a autonomia do indivíduo e saúde preventiva à
população através do funcionamento e da consciência do próprio corpo.
Delimitação do estudo
A princípio, deve-se entender que a MTC é uma forma de terapia peculiar. De acordo
com Cruz (2008), a MTC foi construída durante milênios e de forma coletiva,
geograficamente e culturalmente diversa. É oriunda da cosmologia Taoísta sendo esta
diferente da chamada biomédica praticada no ocidente, no caso no Brasil.
O presente estudo visa explicar sobre como o organismo aproveita a energia existente
na alimentação de acordo com a MTC, que estabelece relações de intercâmbio energético
entre os órgãos e os tecidos. Os alimentos são avaliados pela forma como conseguem ativar,
manter e renovar energias. O organismo só pode funcionar bem quando é nutrido de forma
balanceada, com todos os cinco elementos equilibrados - madeira, fogo, terra, metal e água
(FAHRNOW, 2003).
Quando o elemento madeira está equilibrado, por exemplo, a pessoa sente-se muito
bem porque seu fígado está bem cuidado e os acúmulos de energia se dissolveram. Já os
sinais de que o elemento madeira está em desequilíbrio podem se manifestar pela preferência
extrema ou rejeição por sabor azedo, acessos explosivos de espirros, pontadas, palpitações,
dores musculares, entre outros (FAHRNOW, 2003).
Procura-se, assim, demonstrar a aplicação prática do sistema da MTC, na dietoterapia,
inclusive com indicações de como associar condimentos, ervas, grãos, raízes, verduras,
legumes, frutas, carnes, derivados e bebidas, aliadas à importância da prática de TCC para
fluir, por todo o corpo, a energia vital adquirida.
104
CHANG FUN HWA
METODOLOGIA
Este trabalho trata-se de uma revisão narrativa ou análise temática: não utiliza critérios
sistematizados de metodologia e análise, em que a intenção é realizar uma fundamentação
teórica mais simples junto a interpretações ou apresentação de informações, com objetivo de
informar sobre determinado tema.
Foram encontradas 12 teses de mestrados e doutorados, 15 livros e 2 textos sobre o
tema pesquisado. A apresentação escrita dos referenciais encontrados será dividida em 3
tópicos essenciais: 1) panoramas gerais da MTC; 2) a alimentação na MTC e 3) O TCC, a
serem apresentados a seguir.
Deitou bom, acordou emperrado - costas presas, pescoço duro, braço bobo.
Capengou até o banheiro, achou aquela aspirina americana que era tiro-e-
queda, tomou logo duas, e nada: nem tiro, nem queda. Depois do café
engoliu mais duas. Nenhum efeito. De tarde foi ao médico: injeção,
comprimido caro, botou a maior fé! E à noite achou que ia morrer. Morrer
torto, sem entrar direito no caixão. Dia seguinte tirou todas as radiografias
possíveis, e o que encontrou? Nada, apesar de tudo. No terceiro dia já estava
desesperado, achando que viver daquele jeito era ainda pior do que morrer.
Foi aí que a ex-sogra telefonou falando do massagista japonês que fazia
milagres. Ele imaginou socos, agulhadas traiçoeiras, golpes mortais de
caratê, tremeu de medo, mas quem sabe adiantava?
Socos, agulhadas, golpes de caratê, dores e dores e dores - mas não é que
melhorou? Japonês mandou voltar no dia seguinte. Na porta, domo arigatô,
emendou:
- E vê se pára de abusar desse fígado, que ele não é de ferro!
Fígado? Ué. Que comentário mais disparatado, pensou. Mas dormiu bem e
acordou mais solto, quase bom. Japonês danadinho! Chegou lá, danadinho
meteu a mão: torceu, estalou, futucou, agulhou, queimou, mandou voltar em
dois dias, arigatô, reforçou:
- E o fígado, já está cuidando melhor dele?
Fígado. Que diabos queria o japonês dizer com isso? Desconcertado, foi ao
Aurélio ler que "fígado é uma víscera glandular volumosa situada
predominantemente no hipocôndrio direito, com pequena parte no epigástrio
e hipocôndrio esquerdo, que desempenha funções tais como secreção da
105
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Este trecho foi retirado do Manual do Herói de Hirsch (2010), e é possível entender a
importância das nuances de um conto para entendermos como o corpo se comunica de forma
nem sempre sutil para demonstrar que não está em equilíbrio. No excerto acima, observa-se
que o paciente acredita ter problemas ortopédicos, quando na verdade seu problema é no
fígado, mas a falta de comunicação fluída com o “japonês” não faz o paciente entender de
maneira plena o que realmente acontece. Assim ocorre com nosso corpo, nem sempre
entendemos o que ele quer nos dizer.
A MTC é considerada uma das mais antigas medicinas. Ela foi fundamentada na
observação dos fenômenos da natureza e nos estudos dos entendimentos dos princípios que
regem a harmonia nela existente.
Tem como bases a integração e a interação entre o ser humano e a natureza, a
manutenção da saúde e a prevenção de doenças, e, assim, alcançar a harmonia do estado de
saúde geral das pessoas (TEIXEIRA, 2008).
Nesse sentido, diante do corpo, da saúde e da doença, a MTC dá ênfase no estado geral
do doente e não na doença. Segundo Cintra e Pereira (2012), a partir dessa postura, a MTC
adota uma perspectiva integradora e não organicista, interpretando a doença como um
desequilíbrio interno e meramente um resultado de invasões de agentes patogênicos. A
doença, assim, representa manifestações sintomáticas de desequilíbrio e é vista como um
106
CHANG FUN HWA
sintoma necessário, proveniente das causas mais profundas que abrangem o indivíduo e seu
modo de vida em sua totalidade.
Isto posto, de volta ao excerto inserido inicialmente neste tópico, é possível
compreender melhor o que a MTC tem a dizer sobre a ruptura da harmonia do estado de
saúde. Na perspectiva chinesa, conforme diz Franz (2016), os sintomas podem ser
interpretados a partir de sinais advindos dos órgãos, das vísceras, dos tendões, dos músculos,
do sistema circulatório, do sistema linfático, e diversos outros demonstrando, assim, que as
síndromes energéticas indicam o tipo de desequilíbrio daquele corpo e naquele dado
momento.
Assim, o diagnóstico, conforme Teixeira (2008), é realizado através da observação da
língua, das unhas e do cabelo; da palpação do punho; investigando o apetite, o paladar, as
fezes, e a urina. Ou seja, é realizada uma anamnese completa do histórico corporal do
paciente, bem como seu histórico emocional. Vale ressaltar que tal diagnóstico ocorre no
contato do corpo do paciente com o do terapeuta através dos órgãos dos sentidos (tato, olfato,
visão ou audição). Ainda, importa para o diagnóstico o histórico sociocultural do paciente
(CINTRA e PEREIRA, 2012), enfatizando, através de todos esses dados, a importância do
todo na MTC (físico, mental e social), para alcançar o bem-estar completo.
De acordo com Cintra e Pereira (2012), o diagnóstico e a terapia na MTC seguem um
procedimento tendo como base três teorias pautadas na compreensão taoísta de cosmos: a
Teoria do Yin e Yang, a Teoria dos Cinco Elementos (madeira, fogo, terra, metal e água) e a
Teoria dos Meridianos (Canais de Energia). Para o presente trabalho, cumpre analisar nos
tópicos que seguem as teorias do Yin e Yang e a dos Cinco Elementos.
O Taoísmo
O Taoísmo é uma das filosofias que influenciaram a MTC (JIA, 2004). É denominado
Tao a união de todas as coisas e fatos que observamos no universo e na natureza. Assim, o
Taoísmo entende que o ser humano está inserido neste contexto, onde o funcionamento do
corpo humano é semelhante aos fenômenos da natureza. Unidade e mutação são conceitos
centrais e fundamentais na doutrina Taoísta (FRANZ, 2016), em que os fenômenos não
acontecem ao mero acaso, ocorrendo por um caminho fixo, cíclico e contínuo.
Os elementos desse conceito, na filosofia chinesa, são divididos nas teorias do Yin e
Yang, dos cinco elementos, do Zang Fu (órgãos e vísceras), das substâncias vitais e do Jing
Luo (meridianos e colaterais) (ILKIU, 2010). O presente trabalho focará apenas na teoria dos
cinco elementos.
107
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
108
CHANG FUN HWA
Junto com a Teoria do Yin-Yang, a teoria dos cinco elementos está inserida na
filosofia do Tao, como pilar da MTC. Está fundamentada nos acontecimentos naturais que
podem ser agrupados em cinco classes diferentes, que se encontram em incessante movimento
de geração e de dominância entre si (YAMAMURA, 2001).
A medicina chinesa é baseada na cura natural e na interrelação entre os cinco
elementos: madeira, fogo, terra, metal e água. A MTC relaciona esses cinco elementos na
compreensão desde as coisas mais simples da natureza, até os fenômenos mais complexos do
ser humano (JIA, 2004). Por serem muitas as associações, a teoria dos cinco elementos,
portanto, não se limita à medicina, mas a todas as outras coisas. Existem, por exemplo, cinco
movimentos relacionados aos cinco elementos: expansão para a madeira, ascendência para o
fogo, neutralidade para a terra, contração para o metal e descendente para a água.
Importante aqui ressaltar que todas as pessoas possuem os cinco elementos, que
podem estar equilibrados, em excesso, ou em deficiência. Todas as nossas manifestações e
ações estão interconectadas, nosso corpo e a nossa alma reagem às mudanças climáticas, às
fases da lua e à todas as energias que somos expostos. Na prática, os cinco elementos
representam, abstratamente, cinco naturezas diferentes, que geram e controlam mutuamente
compondo mecanismos de autorregulação, denominados ciclos fisiológicos, e em condições
patológicas, como estados de excesso e deficiência, denominados ciclos patológicos (LUCA,
2008).
Metaforicamente, este ciclo de geração pode ser expresso da seguinte forma: madeira
gera fogo, que gera metal, que gera água, que gera madeira (SILVA et al. 2005). E o ciclo de
dominação dessa outra forma: o metal domina a madeira, o machado feito de bronze corta e
derruba as árvores. A madeira domina a terra, as raízes vão tomando conta do solo e, portanto,
desalojando-o. A terra domina a água, usada para fazer as barreiras e represando a água. Água
domina o fogo, apagando-o. O fogo domina o metal, pois o calor derrete o metal (SILVA et
al. 2005).
109
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Gera Inibe
Fonte: Espaço Terapêutico Fu Hsi.
110
CHANG FUN HWA
formas de expressão. É por isso que o modelo dos cinco elementos, contido na tabela a seguir,
se chama sistema de correspondências (FAHRNOW, 2003).
111
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
mariscos e ostras não possuem gosto salgado, mas assim são classificados pelos seus efeitos
de amaciar e dissolver massas duras.
Logo, alterações anormais nas funções internas dos órgãos e no relacionamento podem
ser detectadas pelas aparências externas. No diagnóstico clínico de uma doença, portanto, os
dados recolhidos pelos quatro métodos de diagnóstico (inspeção, auscultação e olfacção,
anamnese e palpação) devem ser analisados de acordo com o equilíbrio ou desequilíbrio dos
cinco elementos e as suas correlações analisadas no sistema de correspondências.
Por fim, para compreender melhor o diagnóstico de uma doença na MTC, necessário
reconhecer as características dos desequilíbrios de cada elemento, listados a seguir e retirados
de testes da obra de Fahrnow (2010):
(1) Frequentes acessos de raiva e ira; (2) em caso de muita irritabilidade, há a vontade
de sair correndo; (3) há mudanças súbitas de humor; (4) adoecimento repentino e recuperação
rápida; (5) sensação de calor frequente; (6) excesso de transpiração; (7) sensações que se
alternam rapidamente entre calor e frio; (8) necessita de muito movimento para se sentir bem;
113
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
(9) ressecamento da pele e mucosas, bem como prurido na pele e mucosas; (10) preferência
pelo sabor azedo; (11) eventualmente há fortes e latentes dores de cabeça; (12) muitas dores
no corpo quando o indivíduo se zanga.
No diagnóstico, caso o paciente responda afirmativo de uma para até seis das
alternativas enumeradas acima, ou seja, se o paciente marcar de 1 a 6 pontos, a energia do
elemento madeira nesse indivíduo está numa fase de tensão ou está bloqueada.
Por outro lado, se o paciente marcar de 7 a 12 pontos, a energia do seu elemento
madeira está muito tensa ou bloqueada.
Para tanto, e pela lógica do sistema de correspondências, será necessária a nutrição do
fígado com alimentos frios do elemento madeira, conforme a intensidade do desequilíbrio.
São alimentos do elemento madeira: (i) frios e gelados: vagem, verduras de folhas,
maçã, tomate, espinafre, abacaxi, kiwi, iogurte; (ii) neutros: ervilha, uvas, fígado de vitela,
salsa, ameixa, batata-doce, tangerina, roseira brava; (iii) mornos/quentes: vinagre, alho-poró,
fígado de porco, cereja, gergelim, amendoim, framboesa e lagosta.
(1) Memória muito a desejar; (2) acorda à noite com palpitações, intranquilidade e
suores; (3) na ansiedade as palavras se embaralham; (4) as demais pessoas acreditam que, às
vezes, força e gagueja ao falar; (5) na ansiedade, há irritabilidade; (6) frequentes pesadelos;
(7) preferência pelo sabor amargo; (8) esgotamento e nervosismo simultâneos; (9) raramente
há sensação de relaxamento agradável; (10) comidas e bebidas amargas são desagradáveis;
(11) taquicardia sem causas orgânicas; (12) faces coradas frequentemente.
Se o paciente marcar de 1 a 6 pontos, deve-se recomendar ao menos um alimento
refrescante do elemento fogo como complemento de alimentos das outras categorias, bem
como a ingestão suficiente de líquidos.
No caso de o paciente marcar de 7 a 12 pontos, deve haver alimentos neutros e
refrescantes em todas as refeições. Deve também evitar estimulantes (café, chá, tabaco,
limonadas) e fazer exercícios relaxantes.
São alimentos do elemento fogo: (i) frio/gelado: beterraba, aveia, trigo, chicória, salada
de endívia; (ii) neutro: salada de alface, radicchio, murtinhos, timo de vitela; e (iii)
morno/quente: noz moscada, carne grelhada, couve-de-bruxelas, trigo sarraceno.
114
CHANG FUN HWA
(1) Desânimo e cansaço frequentes; (2) mãos e pés sempre frios; (3) empanturramento e
flatulência após as refeições; (4) é comum pensar nos problemas durante muito dias sem
encontrar uma solução satisfatória; (5) acesos de fome exagerados; (6) capacidade de comer
doces sem parar ainda que depois sinta-se mal; (7) quando acorda a noite pensa nas coisas não
resolvidas e não adormece; (8) em geral sente fome de novo logo após de comer; (9) pernas
pesadas e inchadas com frequência; (10) abatimento e esgotamento após as refeições; (11)
costuma estar acima do peso e apresenta dificuldades para perder; (12) dificuldade em manter
relações alegres e harmoniosas com outras pessoas.
O paciente que marca de 1 a 6 pontos, deve comer mais alimentos neutros, mornos e
quentes do elemento Terra e evitar alimentos frios e gelados.
Ainda, o paciente que marcar de 7 a 12 pontos, também deverá se concentrar em
alimento neutros, mornos e quentes, não ingerindo leite de vaca, derivados e frutas cruas.
São alimentos do elemento Terra: (i) frio/gelado: óleos e gorduras, ervilhas, laticínios,
pera; (ii) neutro: painço, batata, carne de vitela, tâmaras; e (iii) morno/quente: trigo, erva-
doce, carne bovina, nozes.
115
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
São alimentos do elemento metal: (i) frio/gelado: arroz tipo longo, cebola, rabanete,
nabo, coelho, hortelã, couve-rabano; (ii) neutro: agrião, aipo, pêssego, ganso, cabrito,
segurelha; e (iii) morno/quente: alho-poró, mostarda, cravo, galinha, curry, raiz-forte, veado.
A pessoa (1) costuma se resfriar facilmente; (2) necessita de muito sal; (3) o novo
assusta; (4) esgotamento crônico; (5) gostaria de mais desejos eróticos; (6) muitas dores na
coluna; (7) urina frequentemente; (8) irritação na bexiga quando sente frio; (9) amigos dizem
que é medroso; (10) suores noturnos seguidos de sensações de frio; (11) sente frio
rapidamente e sempre precisa de um agasalho; (12) ama temperaturas externas mais elevadas.
Avaliação nesse caso: de 1 a 6 pontos, o elemento água está numa fase passageira de
desequilíbrio. Indica-se, para todos os dias, alimentos mornos, quentes e neutros, e,
excepcionalmente, alimentos frios e gelados.
De 7 a 12 pontos, o elemento água necessita de um reforço. Para o tratamento, também
se prescreve, para todos os dias, alimentos neutros, quentes e mornos, contudo com renúncia
aos frios e gelados.
São alimentos do elemento água: (i) frio/gelado: cevada, soja, linguado, lula, solha, rins
de vitela; (ii) neutro: ameixa, cenoura, marisco, carpa, arenque, bagre; e (iii) morno/quente:
berinjela, groselha, porco, perca, cavala, enguia.
O TCC é uma arte marcial chinesa milenar, que somente começou a ser difundida na
China com o monge Chang San Feng em aproximadamente 1200 d.C., na Disnatia Sung.
Chang Sem Feng treinou artes marciais no Templo Shaolin e depois na Montanha Wudang,
na província de Hubei, onde fundou um templo que tinha como objetivo a prática do Taoísmo
e onde criou o TCC (FRANZ, 2016).
Tai Chi significa “O supremo”. Isto significa melhorar e progredir em todos os aspectos
da vida em direção ao ilimitado. Significa, ainda, na imensidão da existência e o grande
eterno (FRANZ, 2016).
O TCC consiste em uma prática utilizada por séculos na Ásia para melhorar o bem-estar
e reduzir o estresse psicológico (CRUZ, 2008). Essa arte marcial também foi criada com um
propósito de combate, contribuindo para o desenvolvimento interno e externo. Mas, com o
116
CHANG FUN HWA
passar dos anos, foi dada maior ênfase à propriedade que esta arte tem para desenvolver o
equilíbrio da saúde.
O TCC apresenta inúmeros componentes físicos, cognitivos e psicossociais. Segundo
Wayne (2016), o TCC possui oito ingredientes ativos, quais sejam: (i) conscientização:
movimentos lentos com atenção à respiração, às posições do corpo e às sensações; (ii)
intenção: trabalho com imagens mentais, visualização; (iii) integração estrutural: integração
entre diversos sistemas estruturais e fisiológicos; (iv) relaxamento ativo: direcionam o corpo e
a mente para níveis profundos de relaxamento; (v) força e flexibilidade: treinamento aeróbico
equivalente a uma caminhada em velocidade moderada; (vi) respiração natural e mais fluida:
respiração mais eficiente que melhora a troca gasosa, movimentando o Chi dentro do corpo;
(vii) apoio social: interação e comunidade; e (viii) espiritualidade corporificada: criação de
uma estrutura prática para uma filosofia de vida holística, que integra corpo, mente e espírito.
Estudos recentes levantados por Teixeira (2008) observaram a sua aplicação e a
compreensão de seus resultados envolvendo uma sociedade extremamente consumida pelo
estresse, que se alimenta e dorme mal, e que não se exercita. Esses estudos demonstraram que,
após a prática do TCC, houve melhora do equilíbrio, da força, da flexibilidade, da
independência e da redução do risco de queda – ambos quando em idosos. Observou-se,
também, uma melhora da qualidade do sono, do estado psicológico, entre outros benefícios.
Percebe-se, portanto, que o TCC é, para além de uma modalidade de artes marciais,
importante ferramenta para a manutenção da saúde física e mental. O TCC é mostra-se uma
excelente alternativa para o desenvolvimento de habilidades latentes e do potencial interior da
pessoa, pois o que faz da prática do Tai Chi a “Suprema” dentre todas as artes, é o rico
conteúdo filosófico e o trabalho interno que ela exige, utilizando-se dos exercícios internos
para proporcionar maior controle, harmonia e consciência total da mente e do corpo.
O TCC está profundamente enraizado nas três grandes filosofias chinesas: o Budismo, o
Confucionismo e o Taoísmo. O aspecto do Tai Chi referente ao equilíbrio energético e à
harmonia do corpo e da mente está diretamente relacionado ao conceito de Yin-Yang que,
conforme anteriormente abordado, representam opostos na natureza. Portanto, o TCC é uma
117
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
118
CHANG FUN HWA
humano. Assim, a visão holística e completa do ser humano pela MTC permite que o
exercício, a respiração e a alimentação sejam aliados na manutenção da saúde.
Assim, dentre os inúmeros atributos da MTC, enfatiza-se a importância da alimentação
que, aliada à respiração, é fonte de energia vital (Chi). Destaca-se, também, a relevância do
TCC na MTC, uma vez que, mesmo com uma boa alimentação, é o TCC quem promove a
circulação da energia vital para todo o corpo, evitando a sua estagnação e consequentes
enfermidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na busca por uma relação entre alimentação e exercícios, a perspectiva da MTC revela
que o ser humano nunca está pronto e acabado. É um processo contínuo de transformação
permeado por uma dinâmica de eventos interrelacionados com o universo.
Na MTC, a preocupação e os cuidados com a saúde partem dos princípios da prevenção
e da manutenção. O cuidado com a saúde pressupõe a responsabilidade e o envolvimento
afetivo um com o outro. O médico e o paciente devem possuir uma relação igualitária no
processo saúde-doença, procurando as causas do sofrimento em busca da felicidade,
privilegiando a ética do ser humano.
Na medicina ocidental contemporânea, os médicos e pacientes se vêem esmagados entre
duas indústrias poderosas, a indústria farmacêutica e a indústria agroalimentar, que protege
avidamente os próprios interesses, impedindo a difusão de recomendações explícitas sobre as
relações entre doenças e alimentos (SCHREIBER, 2007).
Enquanto pesquisavam moléculas sintéticas capazes de bloquear a formação de novos
vasos sanguíneos necessários ao crescimento de tumores, dois pesquisadores, Yihai e Renhai,
do Instituto Karolinska de Estocolmo, demonstraram, pela primeira vez, que um alimento tão
banal quanto o chá verde poderia ser capaz de bloquear a angiogêneses, realizando, assim, a
mesma função dos medicamentos sintéticos (SCHREIBER, 2007).
6
FAHRNOW, Ilse Maria; FAHRNOW, Jürgen. Os cinco elementos na alimentação equilibrada. Tradução de Inês
Lohbauer. 1. ed. São Paulo: Ágora, 2003, p. 9.
119
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
REFERÊNCIAS
ABE, Gislaine Cristina. Medicina Tradicional Chinesa (MTC), 2006. Disponível em:
http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2006/RN%2014%20SUPLEMENTO/Pages
%20from%20RN%2014%20SUPLEMENTO-13.pdf>. Acesso em: 18 de agosto de 2018.
CABRAL, Marilene do. As duas faces da montanha: estudos sobre medicina chinesa e
acupuntura. São Paulo: Hucitec, 2006, p. 41-82.
120
CHANG FUN HWA
CRUZ, François. Pensar a partir de um fora: a China. Periferia, v.2, n.1, p.1-20. 2008.
FRANZ, S. Tai Chi Chuan: reflexos da sua prática em índices de qualidade de vida com
ênfase nos efeitos sobre a resposta imune. Trabalho de conclusão de curso. Universidade
Federal de Santa Catarina. Paraná. 2016.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2007.
JIA, J. E. Ch’na Tao, conceitos básicos: medicina tradicional chinesa Lien Ch’i e meditação.
São Paulo: Ícone, 2004.
KAO, T.C. Dieta Tao. São Paulo. Pancast: Máster Book, 1999, p. 167.
SCHREIBER, David S. Anticâncer, Prevenir e vencer usando nossas defesas naturais. Ed.
Objetiva, Rio de Janeiro. 2007.
UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY. Global road safety crisis: report of the
Secretary-General. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1948). New York, NY,
United Nations (A/58/228). Disponível em: <http://www.who.int/world-health-
day/2004/infomaterials/ en/un_en.pdf> Acesso em: 19 de agosto de 2018.
YAMAMURA, Y. Acupuntura Tradicional: A Arte de Inserir. 2 ed. São Paulo: Roca, 2001.
122
ELIANA TREVISAN
Eliana Trevisan
123
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
RESUMO
Este estudo teve como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre os benefícios à saúde
decorrentes da prática de Tai Chi Chuan (TCC), com ênfase nos efeitos coligados à
importância da nutrição e aos cinco elementos na Medicina Tradicional Chinesa (MTC). A
primeira parte do trabalho trata dos aspectos conceituais da MTC, como as energias
Yang/Yin, meridianos energéticos, órgãos Zang-Fu e os cinco elementos, que perpassam as
práticas da MTC. Foram destacadas na segunda parte as descrições dos benefícios
relacionados à qualidade de vida e bem-estar, atribuídos à alimentação e à prática do TCC,
como a melhoria do sono, do humor e do equilíbrio do organismo. A alimentação adequada
dentro do autoconhecimento pode e deve ajudar a melhorar a qualidade de vida tanto física,
quanto mental e social.
ABSTRACT
The aim of this study was to review the literature on the health benefits of Tai Chi Chuan
(TCC), with emphasis on the effects related to the importance of nutrition and the 5 Tai Chi
Chuan elements in Chinese medicine. The first part of the paper deals with the conceptual
aspects of Traditional Chinese Medicine (TCM), such as the Yang-Yin energies, energetic
meridians, Zang-Fu organs and the five elements that pervade TCM practices. The second
part describes the descriptions of the benefits related to quality of life and well-being,
attributed to nutrition and the practice of TCC, such as improvement of sleep, mood and body
balance. The proper nutrition within self-knowledge can and should help improve the quality
of life, physically, mentally and socially.
Key-Words: Diet, Nutrition, Chinese Tradicional Medicine, Quality of Life, Tai Chi Chuan,
124
ELIANA TREVISAN
INTRODUÇÃO
1
SCHIREIBER, David S. Anticâncer, Prevenir e vencer usando nossas próprias defesas naturais. Ed.
Objetiva. Rio de Janeiro. 2007.
2
WAYNE, Peter M. Guia de Tai Chi da Faculdade de Medicina de Havard. Ed. Pensamento. São Paulo,
2016.
3
FAHRNOW, Ilse Maria. Os 5 Elementos na Alimentação Equilibrada. Ed. Agora, São Paulo, 2003.
125
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Contextualização
4
ABE, Gislaine Cristina. Medicina Tradicional Chinesa (MTC). 2006. Disponível em:
http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2006/RN%2014%20SUPLEMENTO/Pages%20from%20RN%
2014%20SUPLEMENTO-13.pdf>. Acessado em: 18 de agosto de 2018.
126
ELIANA TREVISAN
Objetivos
Justificativa do estudo
5
United Nations General Assembly. Global road safety crisis: report of the Secretary-General. (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 1948). New York, NY, United Nations (A/58/228). Disponível em:
<http://www.who.int/world-health-day/2004/infomaterials/ en/un_en.pdf> Acesso em: 19 de agosto de 2018.
127
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
estar (físico, mental e social), conforme conceituou acima a OMS. Em segundo lugar, pela
intenção de divulgar os achados científicos e da literatura relativos especificamente a uma das
dietas mais difundidas da MTC, a dietoterapia.
A presente revisão, portanto, abordará princípios e conceitos vinculados ao TCC,
perpassando pela filosofia oriental e por achados científicos, de modo a oferecer o
embasamento teórico necessário para seu entendimento da alimentação terapêutica dentro da
MTC.
Dessa forma, o trabalho é importante para demonstrar que a MTC pode conferir, para
além de forma alternativa de tratamento, a autonomia do indivíduo e saúde preventiva à
população através do funcionamento e da consciência do próprio corpo.
Delimitação do estudo
A princípio, deve-se entender que a MTC é uma forma de terapia peculiar. De acordo
com Cruz (2008), a MTC foi construída durante milênios e de forma coletiva,
geograficamente e culturalmente diversa. É oriunda da cosmologia Taoísta sendo esta
diferente da chamada biomédica praticada no ocidente, no caso no Brasil.
O presente estudo visa explicar sobre como o organismo aproveita a energia existente
na alimentação de acordo com a MTC, que estabelece relações de intercâmbio energético
entre os órgãos e os tecidos. Os alimentos são avaliados pela forma como conseguem ativar,
manter e renovar energias. O organismo só pode funcionar bem quando é nutrido de forma
balanceada, com todos os cinco elementos equilibrados - madeira, fogo, terra, metal e água
(FAHRNOW, 2003).
Quando o elemento madeira está equilibrado, por exemplo, a pessoa sente-se muito
bem porque seu fígado está bem cuidado e os acúmulos de energia se dissolveram. Já os
sinais de que o elemento madeira está em desequilíbrio podem se manifestar pela preferência
extrema ou rejeição por sabor azedo, acessos explosivos de espirros, pontadas, palpitações,
dores musculares, entre outros (FAHRNOW, 2003).
Procura-se, assim, demonstrar a aplicação prática do sistema da MTC, na dietoterapia,
inclusive com indicações de como associar condimentos, ervas, grãos, raízes, verduras,
legumes, frutas, carnes, derivados e bebidas, aliadas à importância da prática de TCC para
fluir, por todo o corpo, a energia vital adquirida.
128
ELIANA TREVISAN
METODOLOGIA
Este trabalho trata-se de uma revisão narrativa ou análise temática: não utiliza critérios
sistematizados de metodologia e análise, em que a intenção é realizar uma fundamentação
teórica mais simples junto a interpretações ou apresentação de informações, com objetivo de
informar sobre determinado tema.
Foram encontradas 12 teses de mestrados e doutorados, 15 livros e 2 textos sobre o
tema pesquisado. A apresentação escrita dos referenciais encontrados será dividida em 3
tópicos essenciais: 1) panoramas gerais da MTC; 2) a alimentação na MTC e 3) O TCC, a
serem apresentados a seguir.
Deitou bom, acordou emperrado - costas presas, pescoço duro, braço bobo.
Capengou até o banheiro, achou aquela aspirina americana que era tiro-e-
queda, tomou logo duas, e nada: nem tiro, nem queda. Depois do café
engoliu mais duas. Nenhum efeito. De tarde foi ao médico: injeção,
comprimido caro, botou a maior fé! E à noite achou que ia morrer. Morrer
torto, sem entrar direito no caixão. Dia seguinte tirou todas as radiografias
possíveis, e o que encontrou? Nada, apesar de tudo. No terceiro dia já estava
desesperado, achando que viver daquele jeito era ainda pior do que morrer.
Foi aí que a ex-sogra telefonou falando do massagista japonês que fazia
milagres. Ele imaginou socos, agulhadas traiçoeiras, golpes mortais de
caratê, tremeu de medo, mas quem sabe adiantava?
Socos, agulhadas, golpes de caratê, dores e dores e dores - mas não é que
melhorou? Japonês mandou voltar no dia seguinte. Na porta, domo arigatô,
emendou:
- E vê se pára de abusar desse fígado, que ele não é de ferro!
Fígado? Ué. Que comentário mais disparatado, pensou. Mas dormiu bem e
acordou mais solto, quase bom. Japonês danadinho! Chegou lá, danadinho
meteu a mão: torceu, estalou, futucou, agulhou, queimou, mandou voltar em
dois dias, arigatô, reforçou:
- E o fígado, já está cuidando melhor dele?
Fígado. Que diabos queria o japonês dizer com isso? Desconcertado, foi ao
Aurélio ler que "fígado é uma víscera glandular volumosa situada
predominantemente no hipocôndrio direito, com pequena parte no epigástrio
e hipocôndrio esquerdo, que desempenha funções tais como secreção da
129
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Este trecho foi retirado do Manual do Herói de Hirsch (2010), e é possível entender a
importância das nuances de um conto para entendermos como o corpo se comunica de forma
nem sempre sutil para demonstrar que não está em equilíbrio. No excerto acima, observa-se
que o paciente acredita ter problemas ortopédicos, quando na verdade seu problema é no
fígado, mas a falta de comunicação fluída com o “japonês” não faz o paciente entender de
maneira plena o que realmente acontece. Assim ocorre com nosso corpo, nem sempre
entendemos o que ele quer nos dizer.
A MTC é considerada uma das mais antigas medicinas. Ela foi fundamentada na
observação dos fenômenos da natureza e nos estudos dos entendimentos dos princípios que
regem a harmonia nela existente.
Tem como bases a integração e a interação entre o ser humano e a natureza, a
manutenção da saúde e a prevenção de doenças, e, assim, alcançar a harmonia do estado de
saúde geral das pessoas (TEIXEIRA, 2008).
Nesse sentido, diante do corpo, da saúde e da doença, a MTC dá ênfase no estado geral
do doente e não na doença. Segundo Cintra e Pereira (2012), a partir dessa postura, a MTC
adota uma perspectiva integradora e não organicista, interpretando a doença como um
desequilíbrio interno e meramente um resultado de invasões de agentes patogênicos. A
doença, assim, representa manifestações sintomáticas de desequilíbrio e é vista como um
130
ELIANA TREVISAN
sintoma necessário, proveniente das causas mais profundas que abrangem o indivíduo e seu
modo de vida em sua totalidade.
Isto posto, de volta ao excerto inserido inicialmente neste tópico, é possível
compreender melhor o que a MTC tem a dizer sobre a ruptura da harmonia do estado de
saúde. Na perspectiva chinesa, conforme diz Franz (2016), os sintomas podem ser
interpretados a partir de sinais advindos dos órgãos, das vísceras, dos tendões, dos músculos,
do sistema circulatório, do sistema linfático, e diversos outros demonstrando, assim, que as
síndromes energéticas indicam o tipo de desequilíbrio daquele corpo e naquele dado
momento.
Assim, o diagnóstico, conforme Teixeira (2008), é realizado através da observação da
língua, das unhas e do cabelo; da palpação do punho; investigando o apetite, o paladar, as
fezes, e a urina. Ou seja, é realizada uma anamnese completa do histórico corporal do
paciente, bem como seu histórico emocional. Vale ressaltar que tal diagnóstico ocorre no
contato do corpo do paciente com o do terapeuta através dos órgãos dos sentidos (tato, olfato,
visão ou audição). Ainda, importa para o diagnóstico o histórico sociocultural do paciente
(CINTRA e PEREIRA, 2012), enfatizando, através de todos esses dados, a importância do
todo na MTC (físico, mental e social), para alcançar o bem-estar completo.
De acordo com Cintra e Pereira (2012), o diagnóstico e a terapia na MTC seguem um
procedimento tendo como base três teorias pautadas na compreensão taoísta de cosmos: a
Teoria do Yin e Yang, a Teoria dos Cinco Elementos (madeira, fogo, terra, metal e água) e a
Teoria dos Meridianos (Canais de Energia). Para o presente trabalho, cumpre analisar nos
tópicos que seguem as teorias do Yin e Yang e a dos Cinco Elementos.
O Taoísmo
O Taoísmo é uma das filosofias que influenciaram a MTC (JIA, 2004). É denominado
Tao a união de todas as coisas e fatos que observamos no universo e na natureza. Assim, o
Taoísmo entende que o ser humano está inserido neste contexto, onde o funcionamento do
corpo humano é semelhante aos fenômenos da natureza. Unidade e mutação são conceitos
centrais e fundamentais na doutrina Taoísta (FRANZ, 2016), em que os fenômenos não
acontecem ao mero acaso, ocorrendo por um caminho fixo, cíclico e contínuo.
Os elementos desse conceito, na filosofia chinesa, são divididos nas teorias do Yin e
Yang, dos cinco elementos, do Zang Fu (órgãos e vísceras), das substâncias vitais e do Jing
Luo (meridianos e colaterais) (ILKIU, 2010). O presente trabalho focará apenas na teoria dos
cinco elementos.
131
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
132
ELIANA TREVISAN
Junto com a Teoria do Yin-Yang, a teoria dos cinco elementos está inserida na
filosofia do Tao, como pilar da MTC. Está fundamentada nos acontecimentos naturais que
podem ser agrupados em cinco classes diferentes, que se encontram em incessante movimento
de geração e de dominância entre si (YAMAMURA, 2001).
A medicina chinesa é baseada na cura natural e na interrelação entre os cinco
elementos: madeira, fogo, terra, metal e água. A MTC relaciona esses cinco elementos na
compreensão desde as coisas mais simples da natureza, até os fenômenos mais complexos do
ser humano (JIA, 2004). Por serem muitas as associações, a teoria dos cinco elementos,
portanto, não se limita à medicina, mas a todas as outras coisas. Existem, por exemplo, cinco
movimentos relacionados aos cinco elementos: expansão para a madeira, ascendência para o
fogo, neutralidade para a terra, contração para o metal e descendente para a água.
Importante aqui ressaltar que todas as pessoas possuem os cinco elementos, que
podem estar equilibrados, em excesso, ou em deficiência. Todas as nossas manifestações e
ações estão interconectadas, nosso corpo e a nossa alma reagem às mudanças climáticas, às
fases da lua e à todas as energias que somos expostos. Na prática, os cinco elementos
representam, abstratamente, cinco naturezas diferentes, que geram e controlam mutuamente
compondo mecanismos de autorregulação, denominados ciclos fisiológicos, e em condições
patológicas, como estados de excesso e deficiência, denominados ciclos patológicos (LUCA,
2008).
Metaforicamente, este ciclo de geração pode ser expresso da seguinte forma: madeira
gera fogo, que gera metal, que gera água, que gera madeira (SILVA et al. 2005). E o ciclo de
dominação dessa outra forma: o metal domina a madeira, o machado feito de bronze corta e
derruba as árvores. A madeira domina a terra, as raízes vão tomando conta do solo e, portanto,
desalojando-o. A terra domina a água, usada para fazer as barreiras e represando a água. Água
domina o fogo, apagando-o. O fogo domina o metal, pois o calor derrete o metal (SILVA et
al. 2005).
133
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Gera Inibe
Fonte: Espaço Terapêutico Fu Hsi.
134
ELIANA TREVISAN
formas de expressão. É por isso que o modelo dos cinco elementos, contido na tabela a seguir,
se chama sistema de correspondências (FAHRNOW, 2003).
135
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
mariscos e ostras não possuem gosto salgado, mas assim são classificados pelos seus efeitos
de amaciar e dissolver massas duras.
Logo, alterações anormais nas funções internas dos órgãos e no relacionamento podem
ser detectadas pelas aparências externas. No diagnóstico clínico de uma doença, portanto, os
dados recolhidos pelos quatro métodos de diagnóstico (inspeção, auscultação e olfacção,
anamnese e palpação) devem ser analisados de acordo com o equilíbrio ou desequilíbrio dos
cinco elementos e as suas correlações analisadas no sistema de correspondências.
Por fim, para compreender melhor o diagnóstico de uma doença na MTC, necessário
reconhecer as características dos desequilíbrios de cada elemento, listados a seguir e retirados
de testes da obra de Fahrnow (2010):
(1) Frequentes acessos de raiva e ira; (2) em caso de muita irritabilidade, há a vontade
de sair correndo; (3) há mudanças súbitas de humor; (4) adoecimento repentino e recuperação
rápida; (5) sensação de calor frequente; (6) excesso de transpiração; (7) sensações que se
alternam rapidamente entre calor e frio; (8) necessita de muito movimento para se sentir bem;
137
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
(9) ressecamento da pele e mucosas, bem como prurido na pele e mucosas; (10) preferência
pelo sabor azedo; (11) eventualmente há fortes e latentes dores de cabeça; (12) muitas dores
no corpo quando o indivíduo se zanga.
No diagnóstico, caso o paciente responda afirmativo de uma para até seis das
alternativas enumeradas acima, ou seja, se o paciente marcar de 1 a 6 pontos, a energia do
elemento madeira nesse indivíduo está numa fase de tensão ou está bloqueada.
Por outro lado, se o paciente marcar de 7 a 12 pontos, a energia do seu elemento
madeira está muito tensa ou bloqueada.
Para tanto, e pela lógica do sistema de correspondências, será necessária a nutrição do
fígado com alimentos frios do elemento madeira, conforme a intensidade do desequilíbrio.
São alimentos do elemento madeira: (i) frios e gelados: vagem, verduras de folhas,
maçã, tomate, espinafre, abacaxi, kiwi, iogurte; (ii) neutros: ervilha, uvas, fígado de vitela,
salsa, ameixa, batata-doce, tangerina, roseira brava; (iii) mornos/quentes: vinagre, alho-poró,
fígado de porco, cereja, gergelim, amendoim, framboesa e lagosta.
(1) Memória muito a desejar; (2) acorda à noite com palpitações, intranquilidade e
suores; (3) na ansiedade as palavras se embaralham; (4) as demais pessoas acreditam que, às
vezes, força e gagueja ao falar; (5) na ansiedade, há irritabilidade; (6) frequentes pesadelos;
(7) preferência pelo sabor amargo; (8) esgotamento e nervosismo simultâneos; (9) raramente
há sensação de relaxamento agradável; (10) comidas e bebidas amargas são desagradáveis;
(11) taquicardia sem causas orgânicas; (12) faces coradas frequentemente.
Se o paciente marcar de 1 a 6 pontos, deve-se recomendar ao menos um alimento
refrescante do elemento fogo como complemento de alimentos das outras categorias, bem
como a ingestão suficiente de líquidos.
No caso de o paciente marcar de 7 a 12 pontos, deve haver alimentos neutros e
refrescantes em todas as refeições. Deve também evitar estimulantes (café, chá, tabaco,
limonadas) e fazer exercícios relaxantes.
São alimentos do elemento fogo: (i) frio/gelado: beterraba, aveia, trigo, chicória, salada
de endívia; (ii) neutro: salada de alface, radicchio, murtinhos, timo de vitela; e (iii)
morno/quente: noz moscada, carne grelhada, couve-de-bruxelas, trigo sarraceno.
138
ELIANA TREVISAN
(1) Desânimo e cansaço frequentes; (2) mãos e pés sempre frios; (3) empanturramento e
flatulência após as refeições; (4) é comum pensar nos problemas durante muito dias sem
encontrar uma solução satisfatória; (5) acesos de fome exagerados; (6) capacidade de comer
doces sem parar ainda que depois sinta-se mal; (7) quando acorda a noite pensa nas coisas não
resolvidas e não adormece; (8) em geral sente fome de novo logo após de comer; (9) pernas
pesadas e inchadas com frequência; (10) abatimento e esgotamento após as refeições; (11)
costuma estar acima do peso e apresenta dificuldades para perder; (12) dificuldade em manter
relações alegres e harmoniosas com outras pessoas.
O paciente que marca de 1 a 6 pontos, deve comer mais alimentos neutros, mornos e
quentes do elemento Terra e evitar alimentos frios e gelados.
Ainda, o paciente que marcar de 7 a 12 pontos, também deverá se concentrar em
alimento neutros, mornos e quentes, não ingerindo leite de vaca, derivados e frutas cruas.
São alimentos do elemento Terra: (i) frio/gelado: óleos e gorduras, ervilhas, laticínios,
pera; (ii) neutro: painço, batata, carne de vitela, tâmaras; e (iii) morno/quente: trigo, erva-
doce, carne bovina, nozes.
São alimentos do elemento metal: (i) frio/gelado: arroz tipo longo, cebola, rabanete,
nabo, coelho, hortelã, couve-rabano; (ii) neutro: agrião, aipo, pêssego, ganso, cabrito,
segurelha; e (iii) morno/quente: alho-poró, mostarda, cravo, galinha, curry, raiz-forte, veado.
A pessoa (1) costuma se resfriar facilmente; (2) necessita de muito sal; (3) o novo
assusta; (4) esgotamento crônico; (5) gostaria de mais desejos eróticos; (6) muitas dores na
coluna; (7) urina frequentemente; (8) irritação na bexiga quando sente frio; (9) amigos dizem
que é medroso; (10) suores noturnos seguidos de sensações de frio; (11) sente frio
rapidamente e sempre precisa de um agasalho; (12) ama temperaturas externas mais elevadas.
Avaliação nesse caso: de 1 a 6 pontos, o elemento água está numa fase passageira de
desequilíbrio. Indica-se, para todos os dias, alimentos mornos, quentes e neutros, e,
excepcionalmente, alimentos frios e gelados.
De 7 a 12 pontos, o elemento água necessita de um reforço. Para o tratamento, também
se prescreve, para todos os dias, alimentos neutros, quentes e mornos, contudo com renúncia
aos frios e gelados.
São alimentos do elemento água: (i) frio/gelado: cevada, soja, linguado, lula, solha, rins
de vitela; (ii) neutro: ameixa, cenoura, marisco, carpa, arenque, bagre; e (iii) morno/quente:
berinjela, groselha, porco, perca, cavala, enguia.
O TCC é uma arte marcial chinesa milenar, que somente começou a ser difundida na
China com o monge Chang San Feng em aproximadamente 1200 d.C., na Disnatia Sung.
Chang Sem Feng treinou artes marciais no Templo Shaolin e depois na Montanha Wudang,
na província de Hubei, onde fundou um templo que tinha como objetivo a prática do Taoísmo
e onde criou o TCC (FRANZ, 2016).
Tai Chi significa “O supremo”. Isto significa melhorar e progredir em todos os aspectos
da vida em direção ao ilimitado. Significa, ainda, na imensidão da existência e o grande
eterno (FRANZ, 2016).
O TCC consiste em uma prática utilizada por séculos na Ásia para melhorar o bem-estar
e reduzir o estresse psicológico (CRUZ, 2008). Essa arte marcial também foi criada com um
propósito de combate, contribuindo para o desenvolvimento interno e externo. Mas, com o
140
ELIANA TREVISAN
passar dos anos, foi dada maior ênfase à propriedade que esta arte tem para desenvolver o
equilíbrio da saúde.
O TCC apresenta inúmeros componentes físicos, cognitivos e psicossociais. Segundo
Wayne (2016), o TCC possui oito ingredientes ativos, quais sejam: (i) conscientização:
movimentos lentos com atenção à respiração, às posições do corpo e às sensações; (ii)
intenção: trabalho com imagens mentais, visualização; (iii) integração estrutural: integração
entre diversos sistemas estruturais e fisiológicos; (iv) relaxamento ativo: direcionam o corpo e
a mente para níveis profundos de relaxamento; (v) força e flexibilidade: treinamento aeróbico
equivalente a uma caminhada em velocidade moderada; (vi) respiração natural e mais fluida:
respiração mais eficiente que melhora a troca gasosa, movimentando o Chi dentro do corpo;
(vii) apoio social: interação e comunidade; e (viii) espiritualidade corporificada: criação de
uma estrutura prática para uma filosofia de vida holística, que integra corpo, mente e espírito.
Estudos recentes levantados por Teixeira (2008) observaram a sua aplicação e a
compreensão de seus resultados envolvendo uma sociedade extremamente consumida pelo
estresse, que se alimenta e dorme mal, e que não se exercita. Esses estudos demonstraram que,
após a prática do TCC, houve melhora do equilíbrio, da força, da flexibilidade, da
independência e da redução do risco de queda – ambos quando em idosos. Observou-se,
também, uma melhora da qualidade do sono, do estado psicológico, entre outros benefícios.
Percebe-se, portanto, que o TCC é, para além de uma modalidade de artes marciais,
importante ferramenta para a manutenção da saúde física e mental. O TCC é mostra-se uma
excelente alternativa para o desenvolvimento de habilidades latentes e do potencial interior da
pessoa, pois o que faz da prática do Tai Chi a “Suprema” dentre todas as artes, é o rico
conteúdo filosófico e o trabalho interno que ela exige, utilizando-se dos exercícios internos
para proporcionar maior controle, harmonia e consciência total da mente e do corpo.
O TCC está profundamente enraizado nas três grandes filosofias chinesas: o Budismo, o
Confucionismo e o Taoísmo. O aspecto do Tai Chi referente ao equilíbrio energético e à
harmonia do corpo e da mente está diretamente relacionado ao conceito de Yin-Yang que,
conforme anteriormente abordado, representam opostos na natureza. Portanto, o TCC é uma
141
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
142
ELIANA TREVISAN
humano. Assim, a visão holística e completa do ser humano pela MTC permite que o
exercício, a respiração e a alimentação sejam aliados na manutenção da saúde.
Assim, dentre os inúmeros atributos da MTC, enfatiza-se a importância da alimentação
que, aliada à respiração, é fonte de energia vital (Chi). Destaca-se, também, a relevância do
TCC na MTC, uma vez que, mesmo com uma boa alimentação, é o TCC quem promove a
circulação da energia vital para todo o corpo, evitando a sua estagnação e consequentes
enfermidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na busca por uma relação entre alimentação e exercícios, a perspectiva da MTC revela
que o ser humano nunca está pronto e acabado. É um processo contínuo de transformação
permeado por uma dinâmica de eventos interrelacionados com o universo.
Na MTC, a preocupação e os cuidados com a saúde partem dos princípios da prevenção
e da manutenção. O cuidado com a saúde pressupõe a responsabilidade e o envolvimento
afetivo um com o outro. O médico e o paciente devem possuir uma relação igualitária no
processo saúde-doença, procurando as causas do sofrimento em busca da felicidade,
privilegiando a ética do ser humano.
Na medicina ocidental contemporânea, os médicos e pacientes se vêem esmagados entre
duas indústrias poderosas, a indústria farmacêutica e a indústria agroalimentar, que protege
avidamente os próprios interesses, impedindo a difusão de recomendações explícitas sobre as
relações entre doenças e alimentos (SCHREIBER, 2007).
Enquanto pesquisavam moléculas sintéticas capazes de bloquear a formação de novos
vasos sanguíneos necessários ao crescimento de tumores, dois pesquisadores, Yihai e Renhai,
do Instituto Karolinska de Estocolmo, demonstraram, pela primeira vez, que um alimento tão
banal quanto o chá verde poderia ser capaz de bloquear a angiogêneses, realizando, assim, a
mesma função dos medicamentos sintéticos (SCHREIBER, 2007).
6
FAHRNOW, Ilse Maria; FAHRNOW, Jürgen. Os cinco elementos na alimentação equilibrada. Tradução de Inês
Lohbauer. 1. ed. São Paulo: Ágora, 2003, p. 9.
143
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
REFERÊNCIAS
ABE, Gislaine Cristina. Medicina Tradicional Chinesa (MTC), 2006. Disponível em:
http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2006/RN%2014%20SUPLEMENTO/Pages
%20from%20RN%2014%20SUPLEMENTO-13.pdf>. Acesso em: 18 de agosto de 2018.
CABRAL, Marilene do. As duas faces da montanha: estudos sobre medicina chinesa e
acupuntura. São Paulo: Hucitec, 2006, p. 41-82.
144
ELIANA TREVISAN
CRUZ, François. Pensar a partir de um fora: a China. Periferia, v.2, n.1, p.1-20. 2008.
FRANZ, S. Tai Chi Chuan: reflexos da sua prática em índices de qualidade de vida com
ênfase nos efeitos sobre a resposta imune. Trabalho de conclusão de curso. Universidade
Federal de Santa Catarina. Paraná. 2016.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2007.
JIA, J. E. Ch’na Tao, conceitos básicos: medicina tradicional chinesa Lien Ch’i e meditação.
São Paulo: Ícone, 2004.
KAO, T.C. Dieta Tao. São Paulo. Pancast: Máster Book, 1999, p. 167.
SCHREIBER, David S. Anticâncer, Prevenir e vencer usando nossas defesas naturais. Ed.
Objetiva, Rio de Janeiro. 2007.
UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY. Global road safety crisis: report of the
Secretary-General. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1948). New York, NY,
United Nations (A/58/228). Disponível em: <http://www.who.int/world-health-
day/2004/infomaterials/ en/un_en.pdf> Acesso em: 19 de agosto de 2018.
YAMAMURA, Y. Acupuntura Tradicional: A Arte de Inserir. 2 ed. São Paulo: Roca, 2001.
146
ELIANA GOMES ESTEVAM
147
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
148
ELIANA GOMES ESTEVAM
RESUMO
Demonstrar como o aprendizado da prática do TaiChiChuan, arte marcial chinesa voltada para o
cultivo da energia interior (Qi), pode ser usada como uma ferramenta poderosa para o
autoconhecimento. A revisão de um curso de especialização e suas respectivas disciplinas
voltadas à compreensão de tudo que envolve a prática e como esse caminho pode ser comparado
a um trabalho de autoconhecimento, desde a apresentação do curso até a preparação da
monografia, a relação entre cada etapa e a importância da utilização dessas ferramentas para o
autoconhecimento. Através de levantamento bibliográfico e da revisão do conteúdo apresentado,
constatar que a preparação de um curso, assim como o aprendizado de uma prática nova, pode
apresentar em todo seu decorrer, um processo de desenvolvimento interior, que da mesma forma
micro e/ou macro, requer tempo e perseverança, dedicação e atenção para que se encontre
respostas à questões simples apresentadas ainda no início deste curso: Quem é Você? O que
estamos fazendo aqui? Qual é a sua missão? Qual seu aporte para o mundo?
ABSTRACT
This paper intends to demonstrate how learning the practice of Tai Chi Chuan, Chinese martial
art focused on the cultivation of inner energy (Qi), can be used as a powerful tool for self-
knowledge. The revision of a PhD course and its respective disciplines becomes a way of
understanding everything that involves the practice and how this path can be compared to a work
of self-knowledge, from the presentation of the course to the preparation of this paper, the relation
between each step and the importance of using these tools for self-knowledge. Through a
bibliographical survey and a review of the content presented, it is possible to observe that the
preparation of a course, as well as the learning of a new practice, can present an inner
development process that, throughout a micro or macro way, giving time and perseverance,
dedication and attention can find answers to the simple questions presented at the course´s very
begining: Who are you? What are we doing here? What is your mission? What is your
contribution to the world?
149
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
INTRODUÇÃO
A escolha desse curso de especialização surge como uma das lições da vida, como uma
oportunidade, um instrumento para facilitar o encontro de respostas para um sentido mais amplo.
Como um caminho indireto, despretensioso, e rico de conteúdo para um ser que anseia por
respostas coerentes, para quem busca a compreensão de si, e um sentido para a vida.
Pode ser visto como uma sincronicidade, termo usado por Carl Gustav Jung para sua
teoria de que tudo no universo estava interligado por um tipo de vibração, e que duas dimensões
(física e não física) estavam em algum tipo de sincronia, que fazia certos eventos isolados
parecerem repetidos, em perspectivas diferentes.
Muitas vezes percebemos essa sincronicidade, comumente denominada coincidência.
Nos surpreendemos com os acontecimentos, e somos levados a pensar em algo e logo a seguir,
perceber fatos ou pessoas que falam ou se apresentam em conexão ao pensamento em questão.
Um curso de pós graduação, com um título que surpreende e que se apresenta como algo
inédito por ser composto pela união de duas instituições deveras respeitadas, apesar de
aparentemente opostas como forma de expressão, já se apresenta neste momento com a dicotomia
que no Oriente se conhece como a teoria Yin/Yang, o encontro de representantes do Oriente e
Ocidente. Essa idéia, no mínimo, já cria uma curiosidade - um convite ao novo.
Curso de especialização em práticas corporais da medicina tradicional chinesa: Tai Chi
Chuan da família yang e sua filosofia, Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Universidade de
São Paulo, um nome que é atraente para quem se interessa ou conhece a Medicina Tradicional
Chinesa, para quem tem afinidade com sua filosofia, quem pratica algum tipo de arte marcial ou
quem percebe a importância de práticas corporais para o bem estar e manutenção da saúde,
associada com o padrão de exigência e competência de uma Universidade assim reconhecida
mundialmente.
Ao conhecer a grade curricular, a curiosidade aumenta, principalmente para quem busca
o autoconhecimento ou percebe em si e na própria vida um “buraco”, algo que precisa de resposta.
150
ELIANA GOMES ESTEVAM
151
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Entender essa prática corporal tão amplamente utilizada na China, representa ter em
mãos uma oportunidade para a manutenção da saúde, autônoma e auto-suficiente. Abrange
aspectos muito além do físico: um caminho para dentro, para desidentificação do conhecido,
uma abertura para as possibilidades presentes no Agora. Uma prática onde todos os conceitos
fazem um sentido não simplesmente teórico.
Conseguir ser uma facilitadora com leveza, envolve o desejo de que esses
conhecimentos cheguem até as pessoas que nunca tiveram acesso a essas informações, de uma
forma de fácil assimilação, respeitando-se a metodologia, compreendida como um dos aspectos
da forma, fluída e bem posicionada, com disciplina e foco, sem rigidez e com graciosidade,
ética e responsabilidade.
O especialista, em geral, representa o espírito masculino, o intelecto, para o qual a fecundação
é um processo estranho e contrário à natureza, sendo, desta forma, um instrumento inadequado para
promover o renascimento de uma cultura desconhecida. Um espírito superior, no entanto, carrega em si
as características do feminino. A ele foi dado o colo receptivo e gerador que lhe permitiu recriar o
desconhecido numa forma conhecida. Wilhelm possuía o carisma de uma natureza maternal, à qual se
deve sua capacidade intuitiva em relação ao pensamento chinês, permitindo-lhe criar traduções
incomparáveis (JUNG,1971, p. 13).
Fazer uma monografia muitas vezes pode ser um obstáculo para a conclusão de um
curso por parecer ser muito complexo, técnico, com muitas regras. Assim como a prática do
Tai Chi Chuan que em um primeiro momento pode causar a mesma impressão. Sendo a
monografia parte final do curso, após a assimilação do aprendizado de toda a prática e da
internalização dos conceitos, ela poderá sim, se tornar um desafio prazeroso. Pode ser simples,
leve, com graça, estruturada, bem apoiada, disciplinada, com força, foco e continuidade fluida,
não opondo resistência aos obstáculos e sim enxergando neles as oportunidades de não esgotar
energia e sim construir algo a partir deles.
A vida ganha valor quando as pessoas envolvidas compartilham conhecimento, com
propósito claro, respeito e responsabilidade, cuidado e atenção. O curso, como um microcosmo,
fez esta representação, com uma equipe engajada facilitando a comunicação e assimilação da
importância do cultivo de valores básicos, por muitos esquecidos, e que sem os quais não é
possível a verdadeira prática do Tai Chi Chuan nem a compreensão de quem somos e para que
estamos contribuindo.
Conhecido por trabalhar a correlação entre a física moderna e o misticismo oriental,
Capra (2006) destaca que há a ocorrência de insights intuitivos espontâneos em ambas as áreas.
No misticismo oriental, contudo, a preparação da mente para uma consciência ampliada, não
152
ELIANA GOMES ESTEVAM
conceitual da realidade, silenciosa e meditativa, faz parte da cultura e é fruto da prática contínua.
Lá os insights intuitivos não se limitam a momentos breves, mas se expandem gerando uma
consciência constante.
O desejo de ter acesso a essa consciência ampliada nos faz cada vez mais buscar práticas
que sinalizam um caminho, que a nossa intuição mostra ser uma direção para conquistarmos o
autoconhecimento. A seguir, entenderemos mais sobre o que é este tão falado
autoconhecimento.
O QUE É AUTOCONHECIMENTO
153
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Temos uma máquina e não sabemos operá-la, não lemos o manual de instrução e
tentamos usar o menor número de comandos possíveis, sem perceber que poderíamos usá-los
para minimizar o uso da energia e podermos direcioná-la no momento e direção mais
adequados.
O pensamento de que “a própria essência da reflexão é compreender que não se
compreendera” (BACHELARD1, 1968, p. 147 apud KOCHE, 2011, p. 23), justifica a
incessante busca presente, o movimento que não cessa, a energia se transformando, em períodos
onde a busca é intensa e outros onde se dá uma acomodação para própria assimilação de idéias.
O fisiologista alemão Du Bois-Reymond, formula em 1880 sobre os sete enigmas do
mundo: a origem da matéria e da energia; a origem do movimento; a origem da vida; a
finalidade da natureza; a origem da sensibilidade e da consciência; a origem do pensamento
racional e da linguagem; e o livre-arbítrio (ABBAGNANO, 1982, p. 315). Estas questões
presentes na mente da humanidade desde os primórdios, fazem parte da própria evolução.
Essa formulação, que enfatizava a incognoscibilidade irredutível da origem dos
fenômenos, exerceu notável influência sobre o pensamento científico do século XIX, inclusive,
sobre a visão de Freud e Jung acerca dos limites da ciência em geral, e da psicanálise, em
particular.
"O eu é o que a pessoa sente a respeito de si própria." (SKINNER, 1991, p. 45), o si
mesmo, “aquela indescritível totalidade (ou inteireza) do homem que não pode ser visualizada,
mas que é indispensável como conceito intuitivo” (JUNG, 1985, p. 148).
O si mesmo, representação última do ser, é tanto fonte da humanidade como do mundo,
pois, ultrapassa as fronteiras do psíquico: “a individuação não exclui o mundo; pelo contrário,
o engloba” (JUNG, 1982, p. 162).
1 0 espírito tem uma estrutura variável a partir do momento em que o conhecimento teia uma história.
Efetivamente, a história humana pode muito bem, nas suas paixões, nos seus preconceitos, em
tudo o que releva das impulsões imediatas, ser um eterno recomeço; mas há pensamentos que não
recomeçam; são os pensamentos que foram retificados, alargados, completados. Eles não voltam à
sua área restrita ou pouco firme. Ora, o espírito científico é essencialmente uma retificação do
saber, um alargamento dos quadros do conhecimento. Julga o seu passado histórico condenando-o.
A sua estrutura é a consciência dos seus erros históricos. Cientificamente, pensa-se o verdadeiro
como retificação histórica de um longo erro, pensa-se a experiência como retificação da ilusão
comum e primeira. Toda a vida intelectual da ciência atua dialeticamente sobre esta diferencial do
conhecimento, na fronteira do desconhecido. A própria essência da reflexão é compreender o que
não se tinha compreendido. Os pensamentos não-baconianos, não-euclidianos, não-cartesianos
estão resumidos nestas dialéticas históricas que apresentam a retificação de um erro, a extensão de
um sistema, o complemento de um pensamento (BACHELARD, Gaston. A filosofia do não; O
novo espírito científico; A poética do espaço (Coleção Os pensadores). Abril Cultural, 1984.
154
ELIANA GOMES ESTEVAM
Cooper (1989) expressa o mesmo entendimento sistêmico ao afirmar que aqueles que
ganham consciência de que não só são parte de um todo, como também são o todo em si mesmo,
ampliam a percepção e a valorização da vida em todas as suas expressões.
As pessoas, quando afastadas da natureza, são dominadas pelo ego, sentem-se sozinhas
e tornam-se hostis, violentas, torturam-se com sentimentos como ódio, cobiça e fúria, não
percebendo que estão a ferir a si mesmas (COOPER, 1989).
De uma forma poética a filosofia chinesa, nos mostra as analogias entre o universo e
nosso corpo. Como um rio, fluímos em direção ao mar e, temos capacidade de desviar dos
obstáculos, criando alternativas e caminhos inteligentes. Se guiados pelo nosso espírito, as
escolhas tendem a ser melhores do que se guiadas pela mente, normalmente sobrecarregadas
por pensamentos baseados em crenças aceitas e não questionadas, além de serem influenciadas
por questões culturais e de religião, por exemplo, que fazem parte do nosso inconsciente e do
inconsciente coletivo.
“Muitas vezes, temos a impressão de que a psique pessoal
galopa em torno desse ponto central como um animal assustado, ao
mesmo tempo, fascinado e temeroso; embora fuja constantemente, cada
vez mais se aproxima do centro. Não quero dar ensejos a mal-
entendidos, nem quero que pensem que sei algo a respeito da natureza
do “centro”, pois este é simplesmente incognoscível”. (JUNG, 1994, p.
231)
GRADE CURRICULAR
O curso apresenta uma grade curricular que compreende tudo o que envolve uma prática
155
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
milenar da Medicina Tradicional Chinesa. Desta forma, estas disciplinas aparecem como um
convite ao aprofundamento de um conhecimento com aproximadamente quatro mil anos
merece atenção e respeito.
Abaixo é possível visualizar, por ordem alfabética, a lista de disciplinas que completam
o referido curso:
● Anatomia e Fisiologia Aplicada às Práticas Corporais da Medicina Tradicional
Chinesa;
● Bases filosóficas do Tai Chi Chuan e das Práticas Corporais Chinesas;
● Cinesiologia e Biomecânica - Estudo do movimento do corpo humano, e suas
alterações;
● Contribuições da Psicologia para a compreensão da relação corpo mente;
● Formas Curtas do Tai Chi Chuan da Família Yang;
● Fundamentos da Medicina Tradicional;
● História das Práticas Corporais Chinesas;
● Introdução à História e Cultura Chinesa;
● Metodologia da Pesquisa Científica;
● Metodologia de Ensino das Práticas Corporais Chinesas;
● Políticas Públicas e Práticas Integrativas Complementares;
● Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa e Saúde;
● Técnicas de Chi Kung – Patuanchin;
156
ELIANA GOMES ESTEVAM
pessoas; uma medicina preventiva, curativa porque fortalece e conscientiza sobre a verdadeira
força que há no humano. Além disso, traz o aprendizado da prática do Tai Chi Chuan, postura
corporal e tudo que envolve a técnica.
Estuda-se também o corpo humano, fisiologia, anatomia e cinesiologia para melhor
aproveitamento e cuidado na execução da prática, o início do autoconhecimento, compreender
do que somos feitos e quais as funções que podemos utilizar.
Bertazzo (1998) diz que os chineses possuem e praticam, há muito tempo e em larga
escala, um ensinamento que ele chama de “psicomotricidade requintado”, sendo uma
verdadeira escola de movimento. Cita ainda que toda a terapêutica chinesa da automassagem
até a ginástica e o próprio Tai Chi Chuan, são conhecimentos que costumamos classificar como
exóticos, mas na verdade se desenvolveram como um sistema muito eficiente de auto-ajuda,
cuja base é a motivação gerada pelo conhecimento do corpo e seu funcionamento.
Já no ocidente, a informação a respeito do corpo e da psique foi confinada a comunidade
científica e à elite médica, provocando ignorância do homem comum com relação às suas
próprias estruturas corporais. Quando delega à autoridade médica responsabilidade total sobre
seus músculos, ossos, vísceras e mente, o indivíduo se desapropria do próprio corpo, ao mesmo
tempo, na adoção de uma estratégia terapêutica individual, pseudosofisticada, o conhecimento
de nossas estruturas é repartido: o padre sabe do problema espiritual, o psicólogo conhece o
problema mental, o médico resolve o problema visceral (BERTAZZO, 1998).
É extremamente importante saber o poder contido na mente, suas capacidades,
funcionalidade, impressões, as fases de desenvolvimento, do que acreditamos ser nosso eu,
conhecer o inconsciente e a nossa ligação com as outras mentes, o inconsciente coletivo
afetando e nos conduzindo muitas vezes às escolhas mecânicas. A compreensão dos dizeres de
diversos médicos estudiosos como Freud, Jung, Lacan, Reich, Lowen, entre outros que
dedicaram tanto para nos ajudarem nessa busca, certamente também suas próprias buscas, vem
nos lembrar de como perdemos nossa naturalidade e graça, e como podemos resgatar o nosso
eu.
Este movimento já começou no ocidente, representado por todos que tem o objetivo
de levar esse conhecimento às pessoas que ignoram outras formas de chegar ao equilíbrio.
Pessoas engajadas estão disseminando esse conhecimento com persistência, inclusive nas
políticas públicas que tem tido grande avanço. Este movimento, assim como resultado de uma
prática de Tai Chi Chuan, respeita e persevera, passo a passo, com o olhar no horizonte, objetivo,
postura firme e equilibrada para não resistir e utilizar a energia a favor do fluxo, mantendo um
movimento contínuo.
157
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
As disciplinas do curso abordam como fazer o melhor uso possível das potencialidades,
com consciência das leis a que estamos submetidos no universo e da nossa responsabilidade em
relação a isso.
Práticas chinesas, Qigong, formas diversas, provenientes de diferentes escolas, mas que
utilizam a mesma visão, respeitando sempre a base filosófica, porque é uma tradição, verdade
internalizada. Práticas que utilizam movimentos diversos, porque somos diversos e a
assimilação de conceitos se dá de várias formas, de diferentes formas de expressão.
Em Metodologia Científica, ensina-se como organizar e materializar uma idéia, como
atingir e comunicar novas idéias, novos pontos de vista sobre velhas idéias, trazer à reflexão.
Garimpar conhecimento, informação, sentir o que fala com você, fluidez e não rigidez, como o
Taichichuan, aparentemente mecânico, difícil, mas da mesma forma contendo tanta riqueza de
desenvolvimento e crescimento.
Além disso, o curso foi enriquecido com a presença do mestre Cheng Fu, que
demonstrou na sua prática todos os princípios e na sua postura e fala a coerência de toda
filosofia aprendida. As mensagens resumidas que reforçam as teorias aprendidas, chamou a
atenção para alguns pontos essenciais para a boa prática conduta na Vida, como:
- compreender o corpo – o conhecimento da teoria nos conduz a boa prática;
- compreender o corpo praticando, compreendendo a técnica, o corpo e a mente;
- compreender a mente usando o corpo, transferindo o ensinamento para a vida;
- os métodos ajudam a encontrar equilíbrio;
- compreender a filosofia, os princípios e os clássicos;
- clareza de compreender o corpo em 5 áreas: pés, tronco, mãos, método, olhar
(espírito), observar e corrigir a prática externa, e coordenar com a respiração (prática
interna). Os dois juntos encontram o Shen (alma, espírito);
- compreensão de si mesmo ( auto cultivo);
- a resistência ao oponente força a gastar mais energia e o Qi sobe para a cabeça;
- quando não se está estável, aparece a fragilidade (manter a parte superior do
corpo mais leve, parte inferior mais pesada);
- manter o qi submerso;
- abaixar o centro, dar passos mais largos, manter a estrutura estável;
- o Tai Chi Chuan fortalece a parte inferior, as pernas, levando o Qi para o centro
do corpo;
- quanto mais baixo, mais estável. Qi conectado com a energia, que deve submergir,
assim como quando dormimos, o Qi está submerso, a respiração é abdominal e o sono
158
ELIANA GOMES ESTEVAM
Qi
159
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
cinco etapas: observação, análise, suposição, comprovação e conclusão (KOCHE, 2011, p15)
A Teoria Yin-Yang também passou pelo mesmo processo. Na China antiga, as primeiras
observações efetuadas levaram à conclusão de que a estrutura básica do ser humano era a
mesma do universo. Entäo, todos os fenômenos da natureza foram classificados em dois polos
opostos - o Yin (negativo) e o Yang (positivo). Aqueles que apresentam como características
força, calor, claridade, superfície, grandeza, dureza, peso, etc, pertencem ao Yang. Ao contrário,
os que apresentam características opostas às mencionadas, pertencem ao Yin.
Não teríamos dia se não houvesse noite; não teríamos frio se não houvesse calor.
Portanto, podemos concluir que Yin e Yang estão ao mesmo tempo em oposição e em
interdependência (WEN, 1985,p19)
A Teoria dos Meridianos diz que cada novo ser humano, ao ser concebido, traz dentro
160
ELIANA GOMES ESTEVAM
161
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
I Ching
Oráculo e base para toda a filosofia chinesa, os hexagramas formados por linhas yin
yang que descrevem as transformações de cada momento e situação de vida, onde sua aplicação
leva ao equilíbrio e autoconhecimento.
O curso nos presenteia com um mestre do conhecimento do Iching, Prof Roque
Severino, que sendo um mestre, humildemente transmite seus conhecimentos inspirando uma
nova conduta e forma de interpretar os aspectos da vida, simples e justo, coerente e amoroso,
amor com disciplina e consciência.
Confucionismo
Viajar por esses conhecimentos é como tocar no fundo da consciência e encontrar algo
muito conhecido, uma verdade gravada que vibra quando identificada.
Confúcio, nome romanizado para Kung futsé, é talvez o sábio mais influente de todos
os tempos. Apesar de ter vivido entre os séculos IV e V A.C., o grande pensador chinês sempre
exerceu enorme presença junto ao seu povo. Pregador moralista, tratadista e legislador,
Confúcio legou ao povo dos Han um conjunto de normas e elevados valores morais expressos
em frases curtas, de fácil entendimento, educando assim, ao longo dos últimos 2.500 anos,
milhões de chineses nos princípios da retidão, parcimônia e busca da harmonia.
Como afirmou Mêncio, “todo homem na sua essência é bom”. Virtudes como
compaixão, bnevolência, vontade, humildade, cortesia, sinceridade, magnanimidade,
amabilidade, entusiasmo, não fazer ao outro o que não gostaria que te fizessem, oferecer sempre
o seu melhor, fazer bem feito, ter consciência do papel que exerce e atuar de acordo com ele,
saber quem você é, ter consciência de que sempre alguém sabe mais do que você, respeitar,
agradecer e humildemente aprender.
162
ELIANA GOMES ESTEVAM
Ter respeito à vontade do céu, aos ancestrais, aos pais. Ver o poder, autoridade, como
exemplo de conduta, não força física, ter padrão de conduta exemplar, reverência.
Várias frases reforçam o caminho que leva à Harmonia:
“A perseverança no caminho te leva à boa fortuna”! “Alegria compartilhada, alegria
dobrada”!
“A sabedoria surge do silêncio interior, da transcendência do intelecto” “Sabedoria
não é erudição, é a mente atenta a si mesma”.
Segundo a doutrina de Confúcio, o ser humano é composto por quatro dimensões: o
eu, a comunidade, a natureza e o céu. Este último representando a fonte da auto-realização
definitiva.
Ainda de acordo com a mesma doutrina, as cinco virtudes essenciais do homem são: o
amor ao próximo, a justiça , o cumprimento das regras adequadas de conduta, a autoconsciência
da vontade do "céu", a sabedoria e sinceridade desinteressadas.
Budismo
O Budismo originou-se na Índia há 2500 anos, por Buda, Príncipe Sidarta Gautama do
clã Sakya no reinado de Magadha que viveu desde 560 ou 550 a 477 a . C.,O Budismo, numa
visão real, não é uma religião, mas sim uma filosofia, que rejeita a existência de deuses ou de
um Deus. e foca nos ensinamentos relacionados a níveis morais e racionais.
Com o propósito de conquistar-se a si mesmo ele expôs “As Quatro Nobres Verdades”:
1. A Presença do Sofrimento; 2. As Causas do Sofrimento que são egoísmo e desejo; 3.
A Cura do Sofrimento que é a eliminação do desejo separatista; 4. O Caminho para a Remoção
do Sofrimento que é a remoção do desejo egoísta, sendo assim o mais nobre treinamento
espiritual apresentado ao homem.
A prática do Tai Chi Chuan utiliza o Zen Budismo. Os Zen budistas, além do que foi
dito acima, contribuíram com um aspecto básico para os exercício de Tai Chi Chuan através do
que os praticantes podem intuitivamente atingir o centro da personalidade que unifica os
opostos conflitantes do intelecto e sentimento, moralidade e natureza.
Buda estudou a estrutura da mente, como escapar ou como resolver o sofrimento
humano. Identificou tanto a aprender, tantas possibilidades de transformar e se abrir para
conhecimentos.
163
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Taoísmo
Escrito há mais de 2.600 anos, Tao Te Ching revela as descobertas de Lao Tsé em seu
mergulho no Cosmos, na essência do universo, feitas durante quase meio século de solidão
contemplativa e reflexiva.
O Taoísmo é uma das mais sólidas filosofias que influenciaram a Medicina Tradicional
Chinesa.
Ainda hoje não se sabe exatamente quando e onde surgiu o Taoísmo. Segundo
historiadores, o sábio chinês Lao-tsé, que viveu no “Período dos Estados Guerreiros”, por volta
de 400 a.C. não suportando ver o sofrimento do povo na guerra pelo poder, retirou-se da vida
social e nunca mais foi visto.
Conta-se que Lao-tsé seria uma pessoa centenária quando escreveu um dos mais
profundos livros sobre filosofia oriental até hoje escrito, o Tao te King2. É claro então que Tao,
na concepção de Lao Tzu, não apenas é a origem e o crescimento do universo, mas também a
Lei da Natureza.
No capítulo 25 desta obra, assim ele disse: “O homem segue as leis da Terra, A Terra
segue as leis do Céu, O Céu segue as leis do Tao, Tao segue sua própria Lei”.
Mas o que significa sua própria Lei? Alguns capítulos a frente ele explicita que sua
própria lei é a Lei da Natureza a qual consiste de dois aspectos: o movimento do Tao consiste
em Retorno., o uso do Tao consiste em suavidade.
Havia algo indefinido e ainda completo em si mesmo, Nascido antes do céu e da terra,
Silencioso e Infinito, Só e imutável, Penetrante e infalível, Que pode ser observado como a mãe do
mundo, Eu não sei o seu nome; Eu o denominei TAO, E na falta de uma palavra melhor o chamo ‘O
Grande“ (LAO-TSE, 1988).
É aceito que o livro escrito por Lao-tsé tenha dado origem ao Taoismo, filosofia que
trata da essência e natureza da condição humana, uma vez que partes do livro abordam questões
sobre saúde, meio ambiente, política e sociedade.
2
Tao Te Ching, Dao de Jing ou Tao-te king, comumente traduzido como O Livro do Caminho e da
Virtude, é uma das mais conhecidas e importantes obras da literatura da China. Foi escrito entre 350 e
250 a.C. Sua autoria é, tradicionalmente, atribuída a Lao Tzi, porém a maioria dos estudiosos atuais
acredita que Lao Tzi nunca existiu e que a obra é, na verdade, uma reunião de provérbios pertencentes
a uma tradição oral coletiva versando sobre o tao. A obra inspirou o surgimento de diversas religiões e
filosofias, em especial o taoismo e o budismo chan.
164
ELIANA GOMES ESTEVAM
Isto significa, baseando-se no Taoísmo, que nosso corpo, que não é só físico, que tem
energia e espírito, é um microcosmo do macrocosmo que é o universo, que as funções do nosso
organismo está relacionada com as funções da natureza.
Segundo a Teoria dos 5 Elementos podemos facilmente identificar em nós, essas
relações acontecendo interiormente e quanto o meio pode influenciar no funcionamento. a
teoria do Yin Yang, mostrando os opostos se interligando e se transformando um no outro. Nos
traz a compreensão de que quando nos fixamos em um lado, impedimos o fluxo de
transformação, propiciando o desequilíbrio, que com a inteligência natural, faz com que todo o
organismo se adapte para um objetivo maior, a busca do equilíbrio, afetando assim as funções
de nossos órgãos.
Segundo esta teoria tudo o que acontece com a natureza, acontece com o ser humano,
pois o homem é visto como parte da natureza. A mesma energia presente na natureza está,
portanto, presente no ser humano.
Na antiga visão oriental, a interação harmônica entre o homem e a natureza, e entre ele
e os demais seres, depende do fato de todos, sem exceção, serem descendentes de uma mesma
totalidade – o Tao, o Uno -, formando um padrão cósmico e obedecendo às mesmas leis
naturais, de preservação da vida, de manutenção e de cuidado entre si. A matéria e a energia
que conhecemos, são apenas expressões diferenciadas de uma mesma natureza, e é possível,
sob certas condições, converter uma na outra.
Acima da cabeça está o céu, abaixo dos pés está a terra. O Tai Chi Chuan é um
treinamento de união do céu e da terra dentro do homem; é um treinamento de união do corpo
e do espírito.
De acordo com o Mestre Taoistá Liu Pai LI , á uma lenda que diz que o Tai Chi Chuan
(Tai Kek Kuen) foi criado por um monge Taoísta do século XII chamado Zhang San Feng. Tal
lenda diz que ele foi visitado pelo “Espírito da Montanha Mou Tong” e este lhe ensinou as
técnicas da arte marcial chamada Tai Chi Chuan. Entretanto, o que se sabe mesmo é que suas
origens se encontram no condado de Wenxian, na província de Henan com o mestre Chen
Wangting, da pequena cidade de Chen Jiagou, e Jiang Fa, que morava na vila Xiaoliu e estudava
artes marciais em Shanxi.
A vida depende da energia primordial. A energia primordial é o Deus criador do
universo e que está dentro de nós. O Tai Chi Chuan cultiva a Deus na medida em que preserva
165
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Segundo Waysun Liao (1990), o Tai Chi Chuan nasceu como uma arte marcial nas
pequenas comunidades e aos poucos passou a ser considerado uma forma avançadíssima de arte
popular. O objetivo era auto disciplina para alcançar a espiritualidade, a saúde, a bondade e a
inteligência, mas também para ajudar outras pessoas, lutando contra injustiças e imoralidades e
protegendo os fracos, necessitados e indefesos.
Desde a Antiguidade, devido a sua extensão e sua imensa população essencialmente
rural, a China foi continuamente alvo de ameaças e guerras, tanto externas quanto internas.
Além disso, o povo era vítima constante não somente de barbaridades cometidas por
funcionários do império como também de ataques de bandidos. Como consequência, os
chineses desenvolveram uma vigorosa tradição de autodefesa. Por essa razão, a força guerreira
na tradição chinesa, incluindo o Tai Chi, tende a atacar menos e defender mais. Milícias, tanto
nas cidades, mas principalmente nos campos, surgiram e permaneceram por centenas de anos
como focos de defesa e resistência. Foi por volta do século XVII, em uma dessas milícias
camponesas, que o aspecto marcial do Tai Chi Chuan, desenvolveu-se, enfatizando não somente
o desenvolvimento espiritual como também o fortalecimento do corpo (DESPEUX, 1987).
Por muito tempo o Tai Chi foi praticado pelos integrantes dos mais baixos extratos da
sociedade chinesa, portanto, documentos escritos a respeito são raros e recentemente redigidos.
166
ELIANA GOMES ESTEVAM
167
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
outras artes marciais, tais como o Kung-fu ou outras mais espetaculares e violentas são
atualmente mais populares entre as novas gerações.
No entanto, o Tai Chi difere da maioria das artes marciais no que se refere à respiração
e aos exercícios psicofisiológicos de visualização do Chi e da interiorização.
Outra perspectiva fundamental do pensamento chinês é que o mesmo se baseia “[...] no
princípio da imanência, isto é, a verdade real emerge da ação, pois esta “fala e define por si”
(JULLIEN,19963 apud PINHEIRO; LUZ, 2007, p.6).
Tal princípio é representado no método chinês do ensino do Tai Chi Chuan,
corroborando com a citação de Despeux (2000, p. 124), na qual ela explana que “a base da
pedagogia asiática é o exercício cotidiano e repetido, pois a uniformidade, segundo os mestres,
é apenas aparente e se deve a precariedade de nossas percepções e sensações”.
Tais princípios evidenciam uma visão ampla do ser e a importância da prática constante
para o aprendizado.
O Mestre Yang Chengfu, da familia Yang, uma das vertentes das escolas remanescentes
que hoje representam o Tai Chi Chan pelo mundo, atualmente transmite dez pontos e princípios
fundamentais para a prática desta arte.
Esses princípios são a base para a perfeita execução do Tai Chi Chuan e a possibilidade
da transformação da visão sobre o relacionamento do “eu” com o meio e vice-versa.
A sequência dos 10 pontos é representada abaixo:
1- Energia leve e sensível no topo da cabeça:
Posição ereta, cabeça e pescoço naturalmente eretos com a mente concentrada no topo
da cabeça. Sem tensionar para não impedir o fluxo de sangue e energia vital.
3
Tomando como ponto de análise e exame o seu oposto cultural – o pensamento oriental –, pode-se
observar que, no pensamento chinês, não existe um movimento de transposição de ideais, ou modelos
ideais, típico do pensamento ocidental (Razão clássica - homem), como foi visto anteriormente. Isto
porque esse pensamento (oriental) está apoiado no princípio da imanência, isto é, a verdade real emerge
da ação, pois esta “fala e define por si” (JULLIEN, F. Les yeux fixes sur le modèle. In: JULLIEN, F.
Traité de l’efficacité. Paris: Bernard Grasset, 1996).
168
ELIANA GOMES ESTEVAM
169
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Dessa maneira, o retorno ritualístico ao Tao (si-mesmo) através da prática do Tai Chi
Chuan é o mesmo que buscar na fonte da totalidade a segurança ontológica perdida
(GUSDORF, 1980).
Uma postura do Tai Chi Chuan tem o poder de trazer uma imagem de uma pessoa bem
postada, que sabe o que quer e para onde ir, que está aberta para receber o que vem ao seu
encontro, não opondo resistência, mas se adaptando e encontrando a melhor forma de fluir com
a oportunidade.
Observando os detalhes de cada princípio, pode-se identificar o que leva à percepção
dessa representação simbólica de uma prática
Quando na postura ereta, cabeça e pescoço alongados em direção ao topo da cabeça e
atenção voltada para essa região, sem tensão, faz com que a energia vital e sangue (Qi), circulem
livremente, oxigenando e clareando a visão. Quando a região do pescoço tem tensão, a energia
que passa pelo meridiano da Vesícula Biliar não pode fluir normalmente, e assim afeta o
elemento Madeira que tem o fígado como o órgão responsável pelos músculos e tendões e a
Vesícula Biliar como a víscera que está relacionada com a coragem e o planejamento. Daí a
importância de se manter a livre circulação do Qi para uma boa prática corporal e uma boa
compreensão da vida.
Os movimentos fluídicos e circulares que o praticante de Tai Chi Chuan realiza
transformam-no em um pivô sobre o qual ele observa silenciosamente as alternâncias entre yin
e yang (DESPEUX, 1981), conectando o céu e a terra, o sagrado e o profano, permitindo o
surgimento, para o homem cartesiano e secular, do sentimento sagrado de conexão.
A idéia de círculo está ligada à de continuidade. Os movimentos são encadeados e
ligados sem interrupção, de acordo com as alternâncias do Yin e do Yang. Um encadeamento
do Tai Chi Chuan compõe- se, de fato, de uma infinidade de movimentos que não se podem
isolar uns dos outros. O princípio de um movimento é o fim do movimento precedente. Não há
corte nem parada na passagem de um movimento para outro. O adepto obedece unicamente a
um ritmo convertido num eixo, num pivô, assiste como espectador às alternâncias do Yin e do
Yang, como o sábio contempla os sucessos da vida, ao mesmo tempo em que deles participa
pelo seu não agir. A continuidade, portanto, reside menos na execução dos movimentos do que
no pensamento (yi).
"Se a energia vital pode ser interrompida, o pensamento não o pode" (DESPEUX,
1998, .p. 53)
170
ELIANA GOMES ESTEVAM
171
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
CONCLUSÃO
Poder conhecer e praticar o Tai Chi Chuan, compreende muito mais do que assimilar
uma prática corporal. Um portal se abre para um tempo passado, repleto de informações
registradas no inconsciente da humanidade, é como acessar uma biblioteca que tem seus
registros na terra e no céu e o posicionar-se no centro, com a postura natural, permite o encontro
com a energia que vem da terra e transforma a mente, tem um caminho e fluxo suaves em
sintonia com os movimentos da natureza, nos fazendo recordar quem somos, e abrindo o olhar
com tranquilidade para um novo horizonte, uma poesia, que traz beleza, graça e suavidade, com
força, foco e coragem.
Um conhecimento que respeita o tempo e aceita as leis, onde o sofrimento se dissipa,
pois no momento “presente” não tem espaço para vivenciar a dor, no “presente” estão contidas
as mil possibilidades
Conforme absorvido dos ensinamentos do Mestre Yang Chengfu sobre a prática do Tai
Chi Chuan, você tem que praticar todos os dias, assim como você tem que comer, ou se hidratar.
O treino deve ser uma parte de sua vida para que se possa perceber uma melhora real em seu
corpo e mente.
Dessa forma, o Tai Chi Chuan configura-se em uma técnica de combate ao dualismo,
à superação do ego e da racionalidade cartesiana, de modo a (re)criar um espaço sagrado dentro
do indivíduo, (re)organizando o caos interior.
Conclui-se, assim, que o Tai Chi Chuan emerge como alternativa ao homem ocidental
não religioso, não somente como comprovado método de saúde corporal, mas também como
meio de possibilitar a reaproximação do sagrado em seu espaço interno profano e de possibilitar
a obtenção de harmonia e equilíbrio psíquico.
A prática reiterada do Tai Chi Chuan traz em si o potencial de conduzir seu praticante
a dimensões mais profundas de si mesmo, abrindo espaço para experiências de cunho luminoso,
não racionais.
Hoje, revendo essa trajetória, me permito colocar no papel meus pensamentos, focada
e com objetivo, expressando o que para mim é minha graciosidade, tentando não perder a
espontaneidade e me adaptar às regras, ética e disciplina. Podendo respeitar as opiniões, pois é
isso que leva à reflexão e à flexibilidade, compreendo que somos únicos e que a sincronicidade
aconteceu pra mim e que no meu microcosmo, conheci o Tai Chi Chuan e me abri para
transformar visões rígidas e aspectos que me serviram por um tempo na minha jornada, mas
que posso agora, escolher viver de forma diversa.
172
ELIANA GOMES ESTEVAM
173
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
REFERÊNCIAS
BACHELARD, Gaston. O novo espírito científico, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1968.
BERTAZZO, Ivaldo. Cidad.o corpo: identidade e autonomia do movimento. Sao Paulo:
Summus, 1998
CAPRA, F. O Tao da Física. Um Paralelo entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental.
Sao Paulo: Cultrix, 2006
COOPER, J C. Yin & Yang. A Harmonia Taoísta dos Opostos. Sao Paulo: Martins Fontes,
1989.
DESPEUX, C Tai Chi Chuan. Arte Marcial, Técnica de Longa Vida. Sao Paulo: Circulo do
Livro, 1981
ELIADE, M O Sagrado e o Profano. A Essência das Religiões. Lisboa: Coleção Livro e Cultura
Livros do Brasil, 1981.
LIAO, Waysun. Clássicos do Tai Chi. São Paulo: Pensamento, 1990.
GUSDORF, G. Mito e metafísica. Introdução à filosofia. Sao Paulo: Convivio, 1980. JUNG,
C.G.. Estudos sobre o simbolismo do si-mesmo. Petrópolis: Vozes, 1982.
JUNG, Carl Gustav. O segredo da flor de lotus um livro de vida chines. 13. ed. Sao Paulo: Ed
Vozes, 1971.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do inconsciente. 17. ed. Petropolis: Ed Vozes, 2007.
KOCHE, Jose Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica. Sao Paulo: Vozes, 2011.
LAO TSE, Tao te King, O Livro do Tao e sua Virtude, Versão Integral e Comentários. Attar
Editorial, São Paulo, 1988.
LLENAS, Anna. Il buco. Italia: Ledizione Italiana, 2013.
LOWEN, A. A Espiritualidade do Corpo. Sao Paulo: Cultrix, 1997.
PAGE, M. Ch i: Energia Vital Tradução Beatriz Sidou. São Paulo: Pensamento, 1995.
PINHEIRO, R & LUZ, M. T. Práticas Eficazes x Modelos Ideais: Ação e Pensamento na
Construção da Integralidade1Construção da integralidade: cotidiano, saberes e práticas em saúde.
In: Pinheiro, R e Mattos, R. A. organizadores. 4. ed. Rio de Janeiro IMS/UERJ – CEPESC -
ABRASCO, 2007.
SILVEIRA, E.R.J. QIGONG: Uma Contribuição para a Educação Física Escolar, São Paulo,
Motrivivência Ano XVI, Nº 23, P. 83-101 Dez. /2004. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/viewFile/2025/3902, acessado em 03
de 2018.
SKINNER, B.F. Questões recentes na análise comportamental. Trad. Anita L. Neri. Campinas,
Papirus, 1991
TELESI,.E..A concepção da Medicina Tradicional Chinesa segundo tres teorias do taoísmo.
Secretaria municipal da saúde. São Paulo. 2016
WEN, Tom Sintan. Acupuntura classica chinesa. Sao Paulo: Cultrix, 1985.
174
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
175
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
RESUMO
Palavras-chave: Inteligências Múltiplas. Tai Chi Chuan. Chi Kung. Educação. Ensino
Médio.
ABSTRACT
Key words: Multiple Intelligences. Tai Chi Chuan. Chi Kung. Education. Middle School.
176
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
LISTA DE SIGLAS
177
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
INTRODUÇÃO
Alexander Lowen (1995, p. 23) mergulhou na cultura oriental em busca de respostas para
problemas de saúde e questões relacionadas à sua atividade profissional de médico. Na sua jornada,
concluiu que curar é integrar o ser humano ao universo e à espiritualidade que não é considerada apenas
uma experiência mental, mas um fenômeno corpóreo. Essas constatações foram possíveis porque Lowen
já tinha experimentado, em sua própria vida, os benefícios dos exercícios físicos, desde sua juventude
praticou esportes. O processo de construção de conhecimento de Lowen passou por algo que é
valorizado no Taoísmo: o conhecimento através da vivência do fenômeno, pois como afirma
Souza (2007) o pensamento conceitual não dá conta de abarcar toda a experiência.
Depois de anos de trabalho, na busca de integração entre os saberes do Oriente e do
Ocidente, Lowen (1950, p. 11) constata que “quanto mais flexível o corpo, mais perto
estamos da boa saúde”, pois o relaxamento corporal contribui para a dissolução das tensões
musculares que provocam doenças. Apesar de reconhecer que o método ocidental de cura,
através da palavra, seja importante, Lowen o considera insuficiente para dissolver essas
tensões, estas só são dissolvidas pelo trabalho corporal e pelo restabelecimento da
graciosidade do corpo do indivíduo. Graciosidade do corpo definida como o restabelecimento
do fluxo de excitação e a sensação de vivacidade e prazer durante o movimento.
Lowen (1995) afirma que a tradição judaico-cristã, inspirada na tradição greco-romana
de superioridade da mente em relação ao corpo, não é suficiente para lidar com os problemas
enfrentados pelo homem ocidental. Para ele, não pode haver uma dissociação entre a saúde
mental e física. Entretanto, ele observa que, no campo da saúde, a medicina ocupa-se do corpo
e a psicologia ocupa-se da mente. Na visão de Lowen (1995), apesar da psicossomática ser
uma abordagem que busca uma ligação entre corpo e mente, essa nova área do conhecimento
não consegue superar essa dicotomia presente na epistemologia ocidental, pois ainda divide o
ser humano entre soma (corpo) e psique (mente).1
Lima (2000) afirma que a educação atual é excessivamente Yang e tetraplégica. Yang
porque está muito interessada nos conteúdos, nas disciplinas e no comportamento rígido e
tetraplégico porque considera apenas a parte mental dos indivíduos. Em função disso, a autora
questiona o modo como o corpo é visto na escola e propõe uma educação motora no lugar da
educação física.
No prefácio do livro de Lima (2000), O Tao da Educação, o filósofo Régis de Morais
faz referência a Merleau-Ponty que considera que o ser humano não tem um corpo, mas é um
corpo. Esse pressuposto contido no prefácio já suscita um olhar para o ser humano e para a
1
Várias abordagens da psicossomática não correspondem à visão de Lowen (1995), mas seria
necessário um outro trabalho de pesquisa para se debruçar sobre essa área de conhecimento tão
importante.
178
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
Uma educação que dá atenção ao corpo demanda um novo processo de educação para
os próprios professores e pais. E a vivência desse processo remete a outros setores da vida,
como a importância da alimentação e do autocuidado. Algo que está no bojo dos pressupostos
da Medicina Tradicional Chinesa, que se fundamenta da prevenção de doenças através do
cuidado do corpo, da alimentação e práticas regulares de exercícios, da mente e das emoções.
É possível inferir que muitos dos problemas da contemporaneidade poderiam ser
resolvidos nessa reconexão do ser humano com o corpo e, por consequência, com as outras
esferas da vida. Para isso seria necessária uma desdomesticação do corpo. Seria possível esse
processo em escolas convencionais ou com indivíduos mais velhos?
Esse é um tema que merece maior reflexão, como “desdomesticar” o corpo dos
estudantes que estão em escolas convencionais que, de um modo geral, só se preocupam com
o corpo da criança na primeira infância. Após essa faixa etária, o corpo será objeto da atenção
nas aulas de educação física e na vida adulta haverá muitos corpos domesticados que voltarão
a ter atenção na condição de doentes.
O Tai Chi Chuan e o Chi Kung fazem parte de um conjunto de práticas corporais
milenares relacionadas à Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que não se resumem na
movimentação mecânica de músculos e tendões, mas também na movimentação do Chi
179
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
(energia vital) integrando o indivíduo nos aspectos mental, emocional e físico mantendo sua
saúde. Isto também é preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que concebe a
saúde em uma perspectiva global do indivíduo. Nessa perspectiva integradora, o aprender é
um indicador de saúde, principalmente na vida de jovens que possuem a escola como uma das
principais instituições de socialização.
O contato dessa pesquisadora com o Tai Chi Chuan deveu-se a um processo de
adoecimento do corpo. Sendo professora da Educação Básica na rede particular de ensino e na
rede pública do estado da Bahia, com uma jornada de trabalho em sala de aula de cerca de 44
horas semanais, além das atividades extraclasses, como correção de provas, planejamento de
provas e projetos, resultaram na rotura parcial dos tendões de ambos os ombros. Os
tratamentos convencionais de fisioterapia não foram eficientes e aí ocorreu o primeiro contato
com a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) através do tratamento com acupuntura e ventosa.
Após sair da fase aguda, o fisioterapeuta e professor universitário Sérgio Mecca indicou a
prática de Chi Kung. Essa prática foi iniciada com o professor Cláudio Carvalho e consistiu
na prática do Liam Qong e Tai Chi Chuan. Inicialmente a Forma de Pequim, e depois a
forma longa de 108 movimentos do estilo Yang. O início da prática, em 2012, foi custoso
e surpreendente, pois era inacreditável que movimentos tão lentos pudessem provocar tanta
dor que foi se dissipando com a aprendizagem do relaxamento. Aprender as formas do Tai
Chi Chuan tornou-se desafiante e os avanços eram motivadores. Do ponto de vista da
saúde as dores diminuíram, o corpo tornou-se mais flexível, as emoções de raiva, muito
presentes, tornaram-se mais amenas. O aumento da concentração era impressionante, as
leituras tornaram-se mais produtivas. Certos valores foram aflorando, como o deixar fluir.
Necessidades, antes reprimidas, de conexão com a natureza foram liberadas. Avaliando
aquele momento, é possível afirmar que as estases foram se dissipando.
Naquela época, essa pesquisadora já tinha mantido contato com a teoria das
Inteligências Múltiplas de Howard Gardner em um curso de formação, o que facilitou
observar o desenvolvimento de algumas inteligências, como a Linguística na leitura mais
proveitosa, e a Corporal-Cinestésica, com a motivação e prazer em praticar o Tai Chi Chuan.
A partir do contato com o Chi Kung e de voltar a considerar o desejo de praticar dança,
observou o desenvolvimento da inteligência Intrapessoal com uma introspecção produtiva na
busca do autoconhecimento: o prazer de praticar Tai Chi Chuan e Chi Kung com o grupo
desenvolveu a Inteligência Interpessoal. Naquele momento, nenhuma pesquisa científica foi
desenvolvida, mas os desafios que se apresentavam nas áreas expostas acima foram superados
de maneira mais tranquila, o que pode sugerir que houve um desenvolvimento das
inteligências, já que para Howard Gardner (1995) inteligência é a capacidade de resolver
problemas.
180
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
No ano de 2017, em uma reunião para proposta de projetos a serem financiados pela
Secretaria de Educação do Estado da Bahia, foi aceito o projeto para oferecer Tai Chi Chuan
(TCC) da Família Yang em uma escola da rede estadual de ensino da Bahia no ano de 2018.
Essa escola localiza-se no bairro de Cajazeiras, na periferia de Salvador, na Bahia. Nesse
mesmo ano, um novo projeto do Ministério da Educação denominado Ensino Médio
Inovadorfoi a oportunidade para antecipar para 2017 a proposta de Oficina de Tai Chi Chuan.
A mesma foi oferecida para os estudantes do Ensino Médio como uma atividade opcional no
turno oposto às aulas regulares. Nessa oficina do Ensino Médio Inovador foi desenvolvida a
pesquisa apresentada aqui e buscou-se responder ao seguinte problema: As práticas corporais
da Medicina Tradicional Chinesa como o Chi Kung e o Tai Chi Chuan podem contribuir para
o desenvolvimento das Inteligência Múltiplas (IMs)?
Para responder a essa pergunta foi traçado como objetivo geral:
Avaliar se as práticas corporais chinesas podem contribuir para o desenvolvimento das
Inteligências Múltiplas.
2
Segundo Antoni Zabala (1998), os conteúdos não são todos da mesma natureza. Há aqueles mais
conceituais que exigem a habilidade de construção de conceitos, os factuais que dizem respeito a
fatos e fenômenos, conteúdos procedimentais que dizem respeito ao saber fazer e os atitudinais que
dizem respeito às ações morais baseadas em valores éticos.
181
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
182
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
183
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
Desde o início do século XX, a inteligência podia ser quantificada. Um dos pioneiros
nesse trabalho foi Alfred Binet que, através de testes, podia encontrar o Quoeficiente de
Inteligência (QI) das pessoas. Entretanto, os testes de Binet concentravam-se nas capacidades
lógico matemáticas e linguísticas, se a pessoa tivesse altos escores nessas duas áreas era
considerada inteligente. Segundo Smole (1999), apesar de não ter sido a intenção de Binet, os
testes passaram a ser utilizados, principalmente nos Estados Unidos como forma de classificar
as pessoas e difundir a ideia de que a inteligência era exclusivamente herdada,
desconsiderando as experiências do indivíduo ao longo da vida. Assim, um teste de QI,
realizado na juventude, poderia determinar toda a vida de uma pessoa.
O psicólogo norte-americano Howard Gardner, a partir da década de 80 do século XX,
começou a problematizar a relevância dos testes quantificáveis para a vida, pois muitas vezes
o indivíduo era bem sucedido nos testes, porém na sua vida não conseguia obter bons
resultados. Atividades como dança, capacidade de refletir sobre valores, pensar e executar um
projeto de vida, por exemplo, envolvem inteligências que não se manifestam nas pessoas da
mesma maneira. O que explicaria esse paradoxo?
184
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
A partir das suas pesquisas, Gardner (1995) propôs uma visão alternativa sobre a
inteligência: as Inteligências Múltiplas que se baseiam em uma visão pluralista da mente.
Através de estudos com crianças e pessoas que sofreram lesões cerebrais, Gardner concluiu
que a mente tem processos cognitivos diferentes e separados o que resulta em pessoas com
estilos cognitivos diferenciados em cada pessoa.
O conceito de inteligência para Gardner (1995) é diferente dos predominantes até
então. Para ele, a inteligência é a “capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos
que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários” (GARDNER,
1995, p. 14). Esse entendimento de inteligência vai muito além de responder testes ou provas
escritas, ele se caracteriza por um potencial biopsicológico a ser desenvolvido com a
construção de experiências por parte do indivíduo.
No seu trabalho, Gardner (1995) mapeou sete inteligências que se localizam em áreas
diferenciados no cérebro: a lógico-matemática (capacidade de lidar números, padrões, séries e
raciocínio lógico, localizada na área de Broca); a linguística (capacidade de lidar de maneira
criativa com a linguagem oral e escrita e localizada na zona cerebral do Área de Broca);
espacial (habilidade de percepção de padrões e das suas relações entre eles e visualização de
espaços em tridimensionalidade, localizada no hemisfério direito do cérebro); interpessoal
(capacidade de empatia, liderança, compreensão e motivação dos seus pares, situada nos lobos
frontais); intrapessoal (capacidade de lidar consigo mesmo e suas emoções, além disso possui
facilidade nas atividades reflexivas, localizada nos lobos frontais); corporal-cinestésica
(capacidade de utilizar todo o corpo ou parte dele para resolver um problema ou moldar-se a
determinada situação; está localizada no córtex motor no hemisfério contralateral à
dominância do indivíduo) e musical (habilidade de distinguir sons e organizar tons e ritmos de
maneira harmônica, localizada no hemisfério direito do cérebro). Dependendo do desafio que
determinado indivíduo precisa resolver, determinadas inteligências são mobilizadas ao mesmo
tempo.
Smole (1999) afirma que mais tarde, outros pesquisadores vinculados a Gardner
classificaram outros tipos de inteligência como a inteligência espiritual que é a facilidade em
perceber-se vinculado a algo maior que si mesmo; a inteligência natural que é a capacidade
dos indivíduos de se conectarem à natureza e a tudo que está relacionado a ela; e a
inteligência pictórica que é a facilidade em organizar, de maneira harmônica, elementos
visuais.
Diante da constatação de que as pessoas possuem habilidades diferenciadas e formas
diferentes de aprender, o trabalho da escola é proporcionar experiências para que essas
habilidades diferenciadas sejam desenvolvidas. A oficina de Tai Chi Chuan do Ensino Médio
Inovador cumpre essa finalidade.
185
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
186
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
Frosi e Pozatti (2011) afirmam que o paradigma, ainda dominante no mundo ocidental
caracteriza-se pelo materialismo, pela objetividade forte, pelo determinismo causal, a
localidade e a causalidade ascendente. Contudo, um novo paradigma circula na sociedade e
torna-se cada vez mais visível. Esse paradigma pauta-se por uma objetividade fraca, pela não
localidade dos fenômenos, pelo princípio da incerteza e pela causalidade descendente. Os
autores apontam que esse novo paradigma vai de encontro com a concepção de saúde
idealizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1983: “Saúde é um estado
dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social e não apenas a ausência de
doença e enfermidade” (OMS appud FROSI e POZATTI, 2011, p. 320)3. Baseando-se no
conceito da OMS, Frosi e Pozatti (2011, p. 320) concebem saúde emocional como “estado
dinâmico de equilíbrio dos aspectos vitais do Ser, incluindo a relação com o corpo (couraças
reichianas), a mente (complexos de experiência condensada em sentimentos traumáticos) e
espírito (arquétipos vitais do inconsciente coletivo). Essa concepção aproxima-se das ideias
da Medicina Tradicional Chinesa sobre saúde.
Essa nova visão do mundo, no Ocidente, aproxima-se de tradições milenares da Índia,
Japão e da China da antiguidade que sobrevivem até hoje e tratam a dimensão humana de
maneira holística, nas quais movimentos bioenergéticos e sua relação com os efeitos
psicossomáticos sempre foram admitidos. Entretanto, os modos de explicação do Oriente,
repletos de simbologias e metáforas, foram considerados devaneios à luz do pensamento
ocidental, excessivamente racional.
As práticas corporais chinesas são um dos recursos da Medicina Tradicional Chinesa
(MTC) para promover e manter a saúde.
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) baseia-se em uma integração entre a esfera
microcósmica (do ser humano) e macrocósmica (o planeta Terra e o universo). Também
valoriza igualmente os aspectos físico, mental, emocional e energético do ser humano. Os
tratamentos terapêuticos da MTC não cuidam apenas dos aspectos da fisiologia biológica, mas
também da fisiológica energética, sendo essa última fundamental na cura de doenças. O que é
denominado energia no mundo ocidental é chamado Qi ou Chi, na China, o sopro vital que
mantém todos os seres vivos. A morte é o esgotamento do Chi por ele estar em desarmonia ou
por ter esgotado o Chi ancestral, aquele que se recebe dos antepassados.
A Medicina Tradicional Chinesa dá uma maior ênfase ao papel do indivíduo na
3
OMS: Disponível em https://nacoesunidas.org/saude-mental-depende-de-bem-estar-fisico-e-social-diz-
oms-em-dia-mundial/. Acesso em 05/08/2017.
187
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
O Tao é o supremo, o que não pode ser dito, pois as palavras não dão conta da sua
totalidade. É o responsável pelo surgimento de tudo. No Tao Te Ching, o Tao é chamado de
Um e ele gera o dois: as polaridades Yin e Yang são representadas no I Ching com duas
linhas descontínuas para o Yin absoluto e duas linhas contínuas para o Yang absoluto. Já o
três é o resultado da interação entre Yin e Yang que gera uma multiplicidade de fenômenos.
Esse contínuo movimento entre essas duas polaridades denomina-se Tai Chi. O Yang
possui características específicas e o Yin também. O dia é yang, a noite é yin. O alto é yang, o
baixo é yin, o superficial é yang, o profundo é yin. O excesso (Shi) de energia é yang, a
deficiência (Xu) é yin. A secura é yang, a umidade é yin. O calor é yang, o frio é yin.
Entretanto, essas características são relativas, por exemplo. A manhã é Yang, mas comparada
ao meio-dia, ela se torna Yin, pois o meio dia é mais Yang que início da manhã.
188
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
O símbolo acima demonstra a dinamicidade entre Yin e Yang onde o Yin está presente
no Yang e o Yang está presente no Yin. Aplicando a ideia da dinamicidade de Yin e Yang ao
desequilíbrio energético pode se afirmar que se um indivíduo possui excesso de energia, esse
excesso (Shi) está presente em alguns meridianos e em outros existem a deficiência (Xu).
Dependendo do caso, é possível tonificar os meridianos em depleção ou sedar os que estão
com excesso de energia.
Assim como o indivíduo pode estar em desequilíbrio entre Yin e Yang, a alimentação
e os hábitos de uma pessoa também podem ter características muito desequilibradas de Yin e
Yang, esses hábitos em desequilíbrio provocam desequilíbrios no organismo. Por exemplo, se
a pessoa se alimentar de frituras e assados de maneira predominante, sua dieta será Yang, já
se ela come mais alimentos cozidos, sua dieta será mais Yin.
Para a Medicina Tradicional Chinesa, o Chi expressa-se em cinco movimentos
diferentes que são representados metaforicamente pelos elementos da natureza: madeira, fogo,
terra, metal e água. Esses movimentos energéticos possuem interdependência entre si e
representam características emocionais, corporais e energéticas que se expressam nos
indivíduos e na natureza. O elemento fogo se alastra, a água flui, o elemento terra tem a
propriedade da estabilidade, o metal tem a propriedade aguda e cortante e o elemento madeira
é o do crescimento.
Apesar de todo indivíduo ter um movimento energético predominante, os outros
movimentos estão presentes e se relacionam entre si através das relações de geração, controle
e contra dominância. Na relação de geração, a madeira gera o fogo, o fogo gera a terra, a terra
gera o metal, o metal gera a água e a água gera a madeira. Na relação de controle, o metal
controla a madeira, a madeira controla a terra, a água controla o fogo e o fogo controla o
metal. A relação de contra dominância se estabelece quando na relação de controle o que
deveria ser controlado volta-se contra o seu controlador ou resiste ao controle.
Os Cinco Movimentos de energias expressam fenômenos físicos, energéticos e
psíquicos dos indivíduos, tudo isso ocorrendo ao mesmo tempo, sem uma separação entre o
que é físico, energético ou psíquico. Essas três instâncias de manifestação da energia são
chamadas de Três Tesouros onde o substrato mais denso, ou material é chamado de Jing, o
189
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
substrato mais sutil de Chi que está subjacente à matéria e lhe dá vida e, por último, a
substância pensante da matéria, o Shen ou mente. Esses três tesouros não estão separados.
Para a filosofia chinesa, a matéria possui uma racionalidade o que explicaria porque
determinadas emoções estão vinculadas a determinados movimentos de energia, como o
elemento madeira está relacionado à raiva e governa os órgãos do Fígado e da Vesícula Biliar,
ou seja, determinadas emoções, visões de mundo de um certo indivíduo podem adoecê-lo, e
seus sintomas visíveis de toda ordem podem contribuir para que o terapeuta compreenda o seu
sofrimento. Isso ocorre porque há uma correspondência entre os fenômenos físicos e os
psíquicos.
Telesi Júnior (2016) explica que na tradição da Medicina Chinesa a mente não tem um
local específico, pois a mesma está em todas as células. A mente (Shen), governada pelo
meridiano do Coração (Xin), é composta da soma das outras manifestações da mente como
serão expostas a seguir. As outras manifestações da mente são: a alma etérea (Hun) representa
a relação com o passado e é governada pelo meridiano do Fígado (Gan); a alma corpórea (Po)
que representa a esfera mais primitiva da consciência ou os instintos e é governada pelo
meridiano do Pulmão (Fei); a força de vontade (Zhi) comandada pelo meridiano do Rim
(Shen) e o pensamento (Yi) ou qualificação do Shen através do fornecimento de Xue e é
gerido pelo meridiano do Baço (Pi).
Os meridianos são canais de energia que passam por todo corpo. O Livro do
Imperador Amarelo já fazia referência aos meridianos e, possivelmente, essa teoria começou a
ser gestada de forma intuitiva a partir de meditação de taoístas que visualizavam os pontos de
acupuntura que estão nos trajetos dos meridianos. Eles materializam a energia fetal (Yuan Qi)
nos órgãos e vísceras, são responsáveis pelo transporte de Qi (energia), Xue (sangue),
equilíbrio de Yin e Yang e proteção do corpo contra os fatores patogênicos.
Cada movimento de energia rege pelo menos um par de meridianos onde um o Zhang,
um órgão e o Fu, uma víscera. Os Zhang são yin e os Fu são yang. Dessa forma, Pulmão (P),
Coração (C), Fígado (F), Rins (R) e Baço-Pâncreas (BP) são yin e Intestino Grosso (IG),
Intestino Delgado (ID), Vesícula Biliar (VB), Bexiga (B) e Estômago (E) são yang. Triplo
Aquecedor (TA) é yang e Pericárdio (PC) é yin, possuem características diferenciadas dos
demais, pois representam funções energéticas, não órgãos ou vísceras. O Triplo Aquecedor
representa a função de captação de chi dos alimentos e respiração, processamento do chi e da
matéria, eliminação do que é desnecessário e funções sexuais. O Pericárdio representa as
emoções e todos os meridianos conectam-se a ele.
190
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
191
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
sutil, maior senso de orientação espacial e equilíbrio. O autor demonstra que as práticas
corporais chinesas se caracterizam por completas, pois também trazem benefícios a nível
mental, já que melhoram o equilíbrio emocional, reduzem a ansiedade e o estresse, além de
aumentarem a concentração. Além disso, o contato com esse universo da cultura chinesa pode
transformar valores, formas de agir, pois parecem reconectar o ser humano com o planeta e o
universo promovendo a consciência da importância de cuidar de si mesmo, do próximo e da
natureza.
É possível supor que se o indivíduo está em um equilíbrio dinâmico, talvez esteja mais
preparado para resolver os problemas que se apresentam no cotidiano. A perspectiva
conceitual de inteligência preconizada por Howard Gardner, o indivíduo tenha condições de
desenvolver suas inteligências? Maior consciência corporal, percepção sutil e redução da
ansiedade podem remeter aos conceitos de inteligências corporal-cinestésica e intrapessoal,
por exemplo.
Apesar da popularidade do Tai Chi Chuan no mundo, a prática dele nas escolas ainda é
bem restrita. Cintra et al (2016), em pesquisa realizada no período entre 2000 e 2015,
coletando dados sobre o ensino das artes marciais na educação básica em periódicos da Capes,
Scielo e Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores: luta, práticas pedagógicas,
capoeira, lutas e escola, lutas e educação física escolar, pedagogia das lutas, práticas
pedagógicas, judô, karatê e kung fu, concluiram que das 32.200 referências à pedagogia,
apenas 20 títulos de artigos diziam respeito à pedagogia das lutas. Um dado preocupante é que
quando se tratava apenas do título lutas, os conteúdos presentes nos artigos tratavam de
competição ou alta performance e não sobre a importância da luta no processo de ensino da
Educação Física Escolar.
Dos 20 títulos que faziam referência à relação lutas e escola, apesar da variedade das
abordagens, boa parte deles tinha como viés uma educação militarizada que fugia à proposta
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que recomendam que as lutas possam servir
para a promoção da diversidade cultural, ampliação do conhecimento corporal, socialização,
perseverança, respeito e determinação.
Da Silva et al (2017) também concluíram em suas pesquisas que as aulas de artes
marciais, em especial o Wushu, acontecem pouco nas escolas, inclusive fora do Brasil. Apesar
do Japão valorizar os princípios filosóficos do Budô, poucas escolas adotam as artes marciais
192
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
como prática corriqueira. O mesmo ocorre nos Estados Unidos e Espanha. Os pesquisadores
também consideram que o Wushu, entendido como o Kung Fu, Tai Chi Chuan e o Chi Kung,
pode contribuir para o desenvolvimento da coordenação visuomanual em função do uso das
mãos e pés para realizar movimentos precisos com ou sem objetos; para a motricidade global
por causa das atividades de deslocamento e ritmo; o equilíbrio estático e dinâmico, em função
das posturas coreografadas e golpes; da noção espacial por causa da posição do corpo do
sujeito em relação ao espaço; a organização temporal e a lateralidade, pois as atividades
dessas práticas corporais levam à percepção simétrica do corpo.
Alguns dos benefícios adquiridos com a prática de Wushu, apontados por Silva et al
(2017), suscitam reflexões quanto ao desenvolvimento das Inteligências Múltiplas. Para
Gardner (1995), criador do conceito de Inteligências Múltiplas, a habilidade em lidar com o
corpo, mover-se com destreza e graciosidade poderia desenvolver uma inteligência específica
chamada corporal-cinestésica. A capacidade de imaginar-se, localizar-se e situar-se no espaço
desenvolveria a inteligência espacial. A grande questão é: o movimento corporal pode
contribuir para que essas inteligências sejam desenvolvidas e suas capacidades na resolução
de problemas possam ser extrapoladas para outras realidades? Essa pesquisa busca contribuir
para a discussão sobre essa questão.
Em função dos benefícios visíveis do Wushu, Silva et al (2017) desenvolveram uma
pesquisa de campo, de caráter exploratório, entre professores de Educação Física escolar,
praticantes de Wushu ou não, a fim de investigar a compreensão dos mesmos acerca das
potencialidades da prática dessa arte marcial chinesa. O resultado geral encontrado é que
professores praticantes de Wushu consideram essa arte marcial um sistema válido para
ensinar artes marciais escolares e pode contribuir para o desenvolvimento motor, cognitivo e
socioafetivo de crianças e adolescentes, já o grupo de não praticantes não acreditam que o
Wushu possa ser eficiente. Outro aspecto curioso da pesquisa é que os recém ingressos nas
práticas de Wushu consideram irrelevantes os aspectos filosóficos das artes. Segundo os
autores, essa resistência pode estar relacionada ao regime rígido de transmissão das artes
marciais tradicionais. Outra questão é que na graduação em Educação Física, as artes marciais
tradicionais não figuram em boa parte dos currículos e apenas 24 instituições de ensino
superior do Brasil possuem curso de lutas.
A prática de artes marciais no universo escolar é incipiente e analisando esse pequeno
universo de práticas, a prática de Tai Chi Chuan é mais incipiente ainda. Outro aspecto que
chama atenção é que as Artes Marciais estão relacionadas exclusivamente às aulas de
Educação Física. No caso da Oficina de Tai Chi Chuan descrita nessa pesquisa, o Tai Chi
Chuan e o Chi Kung foram desenvolvidos como uma prática corporal fora da disciplina de
Educação Física, pois a formação dessa pesquisadora é em História, ou seja, a experiência de
193
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
praticar o Tai Chi Chuan trouxe a sensibilização para a importância da prática na escola. Para
Libaack et al (2016) prática corporal é uma representação social de um povo a respeito do
movimento corporal que a utilizou para sua defesa e, atualmente, é reconhecida como
promotora e mantenedora da saúde, no sentido mais amplo da palavra. Portanto, o objetivo da
oficina não é a atividade física, da competência dos professores de Educação Física, mas
proporcionar a experiência em cada indivíduo dos benefícios globais que as Práticas
Corporais Chinesas podem proporcionar. Além disso, busca-se se compreender se a prática do
Tai Chi Chuan e do Chi Kung pode ajudar os estudantes a desenvolverem suas inteligências.
Nesse sentido, essas poderiam ser mais uma ferramenta da educação como um todo.
Rodrigues (2016) trouxe contribuições com a pesquisa sobre um problema que muitas
vezes é detectado somente na inserção do indivíduo na escola: o Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH). Segundo o autor, lutas como o Karatê, Judô e Taekwondo
têm obtido bons resultados no auxílio de crianças com TDAH, o mesmo atribui o sucesso à
organização desses esportes através de regras onde uma atitude deve ser refletida antes de ser
executada e em função da importância da obediência. Rodrigues também ressalta a
importância de não desprezar os valores filosóficos das artes, como, por exemplo, os
princípios morais dos samurais baseados na ética, honra, honestidade, bondade, dentre outros.
Ou seja, esse trabalho foge de uma perspectiva de alta performance e considera a importância
moral e cognitiva das artes marciais.
Leandro (2016) desenvolveu pesquisa quali-quantitativa sobre a influência das artes
marciais no comportamento de estudantes no Ensino Fundamental na faixa etária entre 07 e
13 anos, esses estudantes praticavam Judô ou Karatê e deveriam praticar a luta há pelos
menos 6 meses. Através de entrevista com pais ou responsáveis pelas crianças, o pesquisador
buscou entender se as artes marciais poderiam influenciar nos aspectos cognitivos, social,
afetivo e físico-motor dos jovens. As perguntas do questionário giraram em torno das
seguintes questões: agressão física ou psicológica por parte dos praticantes a colegas da escola
e sofrida pelos mesmos, melhoria da disciplina, respeito, defesa pessoal, concentração,
exercício físico, responsabilidade e autoconfiança. Em todos os quesitos, a prática de arte
marcial mostrou-se benéfica para as crianças.
Rodrigues (2010) afirma que o Tai Chi Chuan é um esquema de psicomotricidade
muito sofisticado que pode disciplinar o corpo e contribuir para a redução da tensão interna. O
estudioso trabalhou com crianças entre 6 e 10 aos na Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan
(SBTCC). Focou no aspecto corporal através de movimentos sem intenção de agressividade e
no aspecto emocional através de contos com questões filosóficas e éticas que podiam
contribuir para o desenvolvimento da autoestima, autoconfiança, habilidade para realizar
coisas novas e criatividade. A fim de dosar aspectos da disciplina e ludicidade, as formas de
194
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
Tai Chi Chuan foram mescladas com brincadeiras. Mesmo com essa configuração de aula,
Rodrigues (2010) não deixou de estar atento aos 10 princípios essenciais elaborados por Yang
Chengfu4, as 5 virtudes de Waysun5 que na verdade traduz e comenta esse clássico da
filosofia do Tai Chi, mas não é o autor do texto, e a Fórmula dos Cinco Caracteres de Li Yi
Yu6, discípulo do estilo Wu/Hao de Tai Chu Chuan. A iniciativa de Rodrigues contribui para
aqueles que desejarem desenvolver aulas de Tai Chi Chuan com crianças e adolescentes que
ainda não têm o seu esquema corporal estruturado, o que pode causar inseguranças ou
perturbações afetivas. Em outras palavras, o movimento corporal pode contribuir para
transformações no comportamento.
Mikaelián (2017), em seu artigo, fala das possibilidades do trabalho com Chi Kung
para o desenvolvimento psicomotor de adultos. Essa abordagem em si, já é inovadora, pois
como a própria pesquisadora afirma a maioria das pesquisas sobre psicomotricidade
concentra-se na infância, entretanto ela considera que outras faixas etárias se beneficiariam do
trabalho psicomotor. Mikaelián (2017) utiliza o Chi Kung como ferramenta através do
trabalho com a respiração, relaxamento, aspectos de tonicidade, coordenação, ritmo,
expressão, relação espaço-tempo e movimento. Aponta que as bases do Chi Kung concebem o
ser humano nas dimensões cognitiva, física, emocional e na capacidade de ser e atuar no
contexto psicossocial. O Chi Kung também torna evidente a relação entre o movimento e os
órgãos e vísceras, pois a movimentação do corpo massageia essas estruturas que podem
desfazer as estagnações energéticas, bem como ajudam em uma melhor expressão das
emoções, segundo os princípios da Medicina Tradicional Chinesa.
Em outras palavras, o Chi Kung trabalha extereocepção com os receptores periféricos
dos órgãos dos sentidos, a propriocepção com a atuação dos receptores nos músculos
estriados, ligamentos e articulações e a introcepção movendo a respiração, digestão e
circulação. Com isso, espera-se uma redimensão do papel do movimento e da expressão
corporal na vida do sujeito.
Melo et al (2016) afirmam que o Tai Chi Chuan pode contribuir para a melhoria da
qualidade de vida de estudantes com vulnerabilidade social, pois a execução dos exercícios
leva o praticante a estar consigo, desenvolve um ritmo tranquilo através da respiração e
constrói uma mente mais focada. Além da percepção individual, o Tai Chi Chuan pode
4
I.Suspender a cabeça pelo topo com leveza e sensibilidade; II. Esvaziar o peito e alongar as costas;
III. Relaxar a cintura; IV. Distinguir entre o cheio e o vazio; V. Relaxar os ombros e soltar os
cotovelos; VI. Usar a mente e não a força muscular; VII. Interligar os movimentos da parte superior e
inferior; VIII. Unir o interior e o exterior; IX. Mover-se com continuidade, sem rupturas; X. Buscar a
quietude dentro do movimento.
5
Postura de base, sensibilidade, poder de compreensão, movimento contínuo, prática com
sinceridade.
6
Calma, agilidade, respiração, força interna e concentração.
195
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
METODOLOGIA
CAMINHOS METODOLÓGICOS
7
Conforme se pode verificar nos Anexos A e B.
8
Conforme Gardner (2007, p. 28/31).
196
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
adaptar algum exercício para as necessidades dos mesmos, o que não foi necessário. Essa
anamnese assemelha-se à anamnese respondida pelos estudantes da Especialização em
Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa promovido pela Universidade de São
Paulo e Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan (SBTCC), no ato da inscrição para o curso.
Na segunda anamnese foram conservadas as questões relacionadas aos aspectos de
saúde, emocionais e psicológicos, contudo as perguntas relacionadas ao desempenho escolar
foram modificadas para questionamentos sobre possibilidades de mudança na vida pessoal e
escolar em função da prática do Tai Chi Chuan. Também foram acrescentadas perguntas de
avaliação da oficina com o objetivo de replanejamento de oficinas posteriores. Tanto a
anamnese inicial quanto a final contiveram perguntas objetivas tipo sim ou não, perguntas que
solicitavam indicar a quantidade de vezes que determinado evento ocorreu naquela semana e
também questões abertas.
O Levantamento de Inteligências Múltiplas foi aplicado no mesmo período da
anamense. Optou-se por esse instrumental por oportunizar ao professor realizar o diagnóstico
das inteligências mais desenvolvidas nos estudantes para fins de planejamento das aulas. Essa
pesquisadora entrou em contato com esse levantamento em uma formação sobre as IMs em
uma Fundação sem fins lucrativos no ano de 2001. Lá foi distribuído para os docentes uma
versão do levantamento que foi ampliado e adaptado por F. Carvalho. O levantamento
aplicado consiste em um questionário de 100 perguntas do tipo “Eu acho que tenho uma boa
voz para cantar”. As respostas devem ser dadas no formato da Escala de Likert e o estudante
poderia marcar o grau de importância da experiência para ele, onde 0 significa se não se refere
a você, 2 se tem algo a ver com você e 4 se tem muito a ver com você.
Em função da Oficina de Tai Chi Chuan ter sido composta por alunos de séries
diferentes, as anamneses e o Levantamento de Inteligências foram dados para que os
estudantes respondessem em casa e devolvessem na próxima aula da oficina.
Também foi realizada uma Roda de Conversa no dia 11 de dezembro de 2017 a fim de
debater o tema Tai Chi Chuan e Chi Kung e avaliar de que maneira essas práticas
contribuíram para a vida dos sujeitos da pesquisa. Inicialmente foi comunicado que o tema da
pesquisa seria o Tai Chi Chuan, depois discutiu-se sobre os benefícios da prática. Essa Roda
de Conversa foi gravada integralmente em áudio e, parcialmente em vídeo. A Roda de
Conversa, juntamente com a análise das respostas subjetivas da anamnese inicial e final,
caracterizam os dados da pesquisa qualitativa.
197
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
UNIVERSO DA PESQUISA
Essa pesquisa foi realizada na Oficina do Ensino Médio Inovador entre os dias 29 de
maio de 2017 e 11 de dezembro de 2017 na escola estadual do bairro de Fazenda Grande II -
Cajazeiras, em Salvador da Bahia.
Participaram da oficina os estudantes do Ensino Médio que se interessaram pela
mesma de maneira espontânea. Matricularam-se na oficina 15 estudantes e houve uma
flutuação na presença dos mesmos. Serão considerados para fins de pesquisa sete indivíduos
com idade entre 16 e 18 anos, o critério adotado foi participação regular do início até o final
da oficina. Entre aqueles que não concluíram a oficina dois alegaram problemas pessoais e os
demais não se identificaram com a proposta.
As oficinas foram desenvolvidas semanalmente em duas aulas geminadas de 50
minutos. A aula consistia em aquecimento articular, nos Chi Kung 12 Séries Fundamentais
para a Saúde entre os meses de junho, julho, agosto, setembro e outubro, no Ba Duan Jin nos
meses de novembro e dezembro e na Forma curta de 16 movimentos do estilo Yang
Tradicional durante todo o período da oficina. No início da oficina foi exibido, de maneira
fracionada, o DVD sobre Chi Kung da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan (SBTCC), a
fim de introduzir os princípios que norteiam a prática. Além das práticas, havia uma Roda de
Conversa de 20 minutos, sentava-se em círculo no chão e iniciava-se perguntando se alguém
desejava falar algo de tema geral e depois se havia alguma dúvida sobre a prática. A partir dos
questionamentos dos participantes foi possível discutir a Teoria do Yin e do Yang e dos Cinco
Movimentos de Energia. Alguns deles começaram a relacionar as práticas desenvolvidas com
filmes e o grupo decidiu que iria usar o tempo da Roda de Conversa para discutir filmes
como: Kung Fu Panda e Karatê Kid.
LIMITAÇÕES DA PESQUISA
198
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A coleta de dados quantitativos dessa pesquisa foi extraída da parte objetiva das
anamneses inicial e final e do Levantamento das Inteligências Múltiplas, ambos aplicados em
junho e dezembro, respectivamente. As questões abertas da anamnese foram utilizadas aqui
para enriquecer a análise.
Os dados das anamneses e Levantamento de Inteligências Múltiplas foram agrupados
nas tabelas com os seguintes temas: caracterização geral dos participantes, aspectos físicos,
aspectos emocionais, aspectos funcionais, levantamento das inteligências múltiplas e
avaliação da evolução das inteligências e pelos gráficos de Variação das Inteligências
Múltiplas (IMs) por sujeito e Avaliação Geral das Inteligências Múltiplas.
TABELA 01: Caracterização Geral: Número de incidências dos eventos na semana anterior
à resposta da anamnese. S significa sujeito. (Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).
No item Caracterização Geral é possível observar uma redução das queixas com
problemas de saúde, tratamento de saúde e uso de medicamentos entre o início e o final da
prática. De um modo geral, não houve alterações nas percepções sobre qualidade de vida.
Sobre a questão da qualidade de vida, o S1, apesar de considerar tanto no início da
prática quanto no final que a mesma era boa, na anamnese final acrescentou que sua qualidade
de vida era boa porque estava cuidando mais da saúde. Apenas S2 mudou sua opinião a
respeito da sua qualidade de vida. No início da prática a considerava razoável alegando
problemas financeiros, no final da prática afirma estar boa, contudo não justificou o motivo, o
que inviabiliza saber se houve alguma mudança objetiva na vida desse sujeito ou se apenas
199
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
sua percepção se alterou. O S 3 considerou na anamnese final que sua qualidade de vida era
razoável porque “procuro fazer atividades físicas e se (sic) alimentar bem”. O S6, na
anamnese inicial, ao mencionar sua qualidade de vida diz: “Moro com meus pais, sou
dependente deles, não trabalho, moro em um bairro um pouco perturbado, estou bem com
minha vida saúde física e não passo fome”. O sujeito S6, através do seu relato, exemplifica os
desafios enfrentados por esses jovens moradores da periferia de Salvador, mas também
demonstra que há possibilidades de satisfação. Já na anamnese final ele continua avaliando
sua qualidade de vida como razoável e afirma: “sinto que não passo dificuldades, meus pais
podem pagar algumas coisas quando eu peço, tenho acesso à internet, etc. Chama atenção o
destaque dado à internet, pois o acesso à mesma é um dos aspectos mais importantes de
socialização desses jovens. Já o S7 considerou nas duas anamneses que sua qualidade de vida
era muito boa, porém na anamnese final acrescentou: “Antes do Tai Chi eu só queria ficar em
casa deitada ou dormindo, depois que comecei o Tai Chi eu passei a dizer que sou mais ativa,
óbvio que faço o que fazia antes, mas bem menos”.
Através dos relatos desses jovens é possível concluir que qualidade de vida significa
boas condições financeiras, boa saúde, alimentação, autocuidado através da prática de
exercícios físicos e disposição para as atividades da vida diária.
Quanto aos aspectos físicos e sua incidência na semana anterior à aplicação das
anamneses é possível observar em todos os quesitos a redução das queixas, com exceção da
queixa de dores nas pernas que não foi referida nem no início da prática, nem na sua
conclusão.
200
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
201
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Quanto aos aspectos funcionais II, dois sujeitos relataram questões relacionadas à
timidez no mês de dezembro, totalizando 5 incidências e nenhum fez referência a essa questão
no mês de junho, havendo um crescimento, seria necessária uma maior investigação a fim de
compreender os motivos desse aumento. No item sofreu influência dos outros e fumou
cigarros permaneceram inalterados sem nenhuma incidência e o item medo / insegurança
permaneceu assinalado pelo S1 em ambas avaliações. No aspecto desmaio apenas S2 havia
referido episódio que não se repetiu; no item distúrbios do sono os sujeitos 02 e 05 não os
apresentaram em dezembro, porém os sujeitos 01 e 04 relataram o problema nessa anamnese
202
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
final. No item explodiu sob pressão apenas o S1 havia mencionado tal situação que não se
repetiu no período de aplicação da anamnese final.
TABELA 06: Levantamento de Inteligências Múltiplas. (Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).
203
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
204
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
A Inteligência Espacial foi a que apresentou maior escore de aumento e foi elencada
como mais desenvolvida na hipótese dessa pesquisa.
Já as inteligências Pictórica e Intrapessoal não apresentaram queda em nenhum dos
participantes se mantendo ou aumentando.
As inteligências Linguística e Interpessoal figuraram entre aquelas com maior queda,
sendo que a inteligência interpessoal estava entre aquelas tidas como hipótese que se
desenvolveria.
No desenvolvimento da Oficina de Tai Chi Chuan / Chi Kung percebeu-se que mesmo
que o Levantamento das Inteligências indicasse um aumento nos escores das inteligências dos
estudantes não se poderia atribuir esses resultados diretamente às Práticas Corporais da
Medicina Tradicional Chinesa, haja vista que os participantes vivenciaram uma série de outras
atividades que também estariam desenvolvendo suas inteligências, como o próprio Gardner
concluiu em seus estudos.
Por essa razão, foi proposta uma Roda de Conversa no dia 11 de dezembro de 2017.
Esse recurso já era utilizado durante o desenvolvimento da oficina a fim de que os estudantes
pudessem falar sobre o Tai Chi Chuan e o Chi Kung. A pergunta inicial da roda de conversa
foi: O que significou pra vocês terem feito a atividade do Tai chi Chuan durante esse ano?
Quais expectativas vocês tinham? Foi o que vocês estavam pensando? Não foi? Após o
esgotamento da discussão dessa questão, outras perguntas foram lançadas.
S4: Eu queria conhecer a arte marcial.
S5: Pra mim foi bastante importante, ainda mais por não conhecer. Eu no caso, não
conhecia, nem sabia que existia o Tai Chi Chuan e a gente entrou eu e as meninas, e nós
entramos para saber o que é. Eu acho que foi bem importante essa curiosidade porque se a
gente não tivesse tido essa curiosidade não teria entrado. E através da nossa curiosidade
trouxe benefícios pra gente.
205
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
A Roda de Conversa tomou uma direção natural de discutir os benefícios do Tai Chi
Chuan na vida dos participantes:
S4: Ter melhorado algumas coisas, postura, respiração, humor, foi ótimo.
S3: A gente já tinha contato com o Tai Chi antes, e naquele pouco tempo que a gente
fez eu já me senti melhor. Em postura mesmo e respiração, em geral assim.9
S7: Porque a gente agora saber lidar com qualquer tipo de coisa do que antes.
S1: Qualquer tipo de problema também.
S8: Eu me desestressei muito pró.10
S6: Acho que a gente aprende a lidar também com as energias.
S1: Eu aprendi a controlar muito o emocional através do Tai Chi. Sabe aquele
sentimento que se você fizesse assim... (gesto com os polegares indicando pouca coisa). Eu
chorava.
S6: Outra coisa que eu percebi também que até a postura, o semblante da pessoa
muda, né?
S4: Esses últimos dias tava reparando, acordava cansado, hoje em dia não acordo
muito cansado não. Dá até uma disposiçãozinha assim, pra estudar.
S5: Acorda com todo o gás.
S4: Até pra estudo mesmo, comecei a prestar mais atenção na aula. Atenção mesmo,
comecei a prestar atenção.
S6: Verdade. Atenção é uma coisa que habitou (sic) mais. Atenção é uma coisa que
aumentou demais.
S4: Até em se refletir você mesmo, no seu pensar, no seu fazer.
S3: E... quando a gente passa por alguma situação apertada, a gente... não sei, eu
pelo menos, consigo não me abafar... Eu consigo pensar em como sair daquele negócio ali
naquele momento. Antigamente não conseguia, eu ficava meio...Meu Deus!!!
S2: Eu acho que vale ressaltar outra coisa também, no meu caso, eu aprendi a limitar
meu medo com isso. Que nem nas próprias aulas, quando a gente ía fazer a parte prática de
aplicar golpes, eu morria medo do S4. Por achar que ele é grande, bem maior que eu. E na
última aula, como eu tava, como a gente até conversou até a respeito, de eu querer aplicar
um golpe, tentar, mas não conseguir por causa disso e aí eu acho que trabalhou muito isso na
9
O sujeito 3 refere-se ao ano de 2016 em que na disciplina de História estava se trabalhando
civilizações da antiguidade e foi realizado um projeto sobre Práticas Corporais Tradicionais para a
promoção da saúde que envolveu Tai Chi Chuan (China), Yoga (Índia), Dança (Civilizações
Africanas) e Capoeira (Brasil / África).
10
Maneira informal de se dirigir ao professor no estado da Bahia.
206
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
hora que a gente foi tentar até que deu certo aquilo ali. Entendeu? Limitar o meu ajudou
bastante, em separar as coisas.
Os benefícios relatados pelos estudantes como melhora da postura, humor e respiração
ratificam relatos de Mikaelian (2017) que utiliza o Chi Kung como recurso psicomotor para
adultos.
Os estudos de Leandro (2016) e Mello et al (2013) fazem menção à prática de artes
marciais e o desenvolvimento do foco e da concentração, algo que os estudantes relataram
como benefício na Roda de Conversa.
A limitação do medo relatada pelo Sujeito 02 chama atenção porque essa emoção está
relacionada ao movimento de energia água que na Medicina Tradicional Chinesa está
relacionado ao meridiano do Rim. Como afirma Mikaelian (2017), a movimentação do corpo
massageia órgãos e vísceras e, por consequência, remove estagnações energéticas que podem
ser expressas por um melhor manejo das emoções que são a manifestação externa de algo que
ocorre internamente no corpo e no mundo subatômico.
Foi questionado como eles poderiam relacionar esses benefícios à prática do Tai Chi
Chuan.
S4: Porque a última prática foi o Tai Chi Chuan.
S2: No meu caso foi assim, tipo, em casa batia o desespero, tensão, e tal, eu só
conseguia lembrar de alguns movimentos do Tai Chi e tentar fazer e me concentrar ali
naquele momento, então isso tudo foi, sabe parecendo que ía, era, isso era as coisas pra
botar as coisas no lugar. Por isso que eu ligo total ao Tai Chi.
S7: A mesma coisa foi quando a gente foi fazer o vestibular. Na hora a gente lembra
do Tai Chi e aí faz os movimentos assim e acalma.
S1: O ENEM também.
S5: Eu acho que é a forma que a gente tem de se agarrar alguma coisa. Porque a
gente conhecendo o Tai Chi Chuan sabe que a gente fazendo aquilo ali vai trazer um certo
tipo de benefício. Então se tá acontecendo alguma coisa você lembra, a não (sic), se é... o Tai
Chi Chuan tá te trazendo isso, então acho que você se agarra ao que você conhece pra tentar
cancelar tudo (sic) tá acontecendo...
S3: Eu acho que o Tai Chi ajudou muito, velho (sic), esses benefícios que a gente
falou, porque no meu caso logo após o Tai Chi eu já consegui me controlar bem mais, então,
eu acredito mesmo, porque na minha rotina só o que entrou de diferente foi o Tai Chi. E
assim que entrou eu comecei a ver a diferença, então é total ligado ao Tai Chi.
207
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
O relato dos estudantes demonstra que o Tai Chi Chuan e o Chi Kung contribuíram
para que os mesmos pudessem enfrentar situações desafiadoras com mais tranquilidade.
Outros relatos podem ter relação com o desenvolvimento das Inteligências Múltiplas:
INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL
S4: Sua forma de pensar e agir, você começa a pensar um pouco mais rápido, reagir
mais rápido.
S3: É... eu acho que a mente abre também. Fica com a mente mais aberta.
S7: É... observar mais as coisas. Observar mesmo. Direito. Focar. É observar mais as
coisas.
S6: Você vai fazer uma autoanálise.
(Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).
208
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
O relato do Sujeito 02 mostra que sua relação com a natureza ficou um pouco mais
estreita evidenciando um desenvolvimento da Inteligência Natural.
A Roda de Conversa ratificou relatos de pesquisas anteriores que afirmam que a
prática de artes marciais pode reduzir estresse, aumentar a concentração e equilibrar as
emoções.
Quanto às Inteligências Múltiplas, os estudantes relataram transformações positivas
em aspectos da vida que estão relacionados às inteligências intrapessoal, interpessoal,
linguística e natural. Das inteligências relatadas na pesquisa qualitativa, as inteligências
intrapessoal e interpessoal figuraram nas hipóteses de pesquisa.
A prática de Tai Chi Chuan e Chi Kung trouxe benefícios aos participantes da oficina,
benefícios relatados em pesquisa anteriores, inclusive. Apesar de não ser possível estabelecer
uma relação direta entre as práticas corporais chinesas e o desenvolvimento das inteligências
dos sujeitos da pesquisa, os mesmos referem ganhos que podem ser relacionados com
determinados espectros de inteligência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
209
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Inteligência Intrapessoal condiz com os depoimentos dos estudantes da Roda de Conversa que
avaliaram estar mais atentos e reflexivos, características relacionadas a essa inteligência.
As inteligências Linguística e Interpessoal figuraram entre aquelas com maior queda,
sendo que a inteligência interpessoal estava entre aquelas da hipótese de pesquisa como
possíveis para desenvolvimento através das Práticas Corporais Chinesas. Os estudantes, na
Roda de Conversa avaliaram que as Práticas Corporais Chinesas desenvolveram em si um
senso maior de coletividade e um sujeito declarou estar lendo mais depois da prática de Tai
Chi Chuan.
Na Roda de Conversa os estudantes não relataram benefícios que poderiam ser
relacionados à inteligência corporal-cinestésica.
Pautando-se no conceito de inteligência de Gardner que é a capacidade de resolver
problemas, os estudantes tiveram desafios que as Práticas Corporais Chinesas os ajudaram a
resolver como a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o vestibular, bem
como um melhor controle das emoções.
Os sujeitos da pesquisa foram unânimes em afirmar que relacionavam as mudanças às
práticas de Chi Kung e Tai Chi Chuan, porque essa foi a única alteração nas rotinas dos
mesmos.
Vários benefícios referidos na Roda de Conversa haviam sido relatados em outros
estudos sobre artes marciais e educação, como os de Leandro (2016) e Melo et al (2013) que
afirmam que as artes marciais desenvolvendo foco e concentração e os de Mikaelian (2017)
que mostra que a prática do Chi Kung pode melhorar o humor e a respiração.
Apesar dos dados da pesquisa serem inconclusivos e, por vezes, contraditórios, é
inegável que a prática de Tai Chi Chuan e Chi Kung por esse grupo de estudantes enriqueceu
a vida acadêmica dos mesmos, pois participavam de uma atividade diferenciada na escola que
os estimulou a novas experiências, como duas apresentações de Práticas Corporais da MTC
na Universidade do Idoso, vinculada à Universidade do Estado da Bahia (UNEB) o que
possibilitou que eles saíssem da escola, conhecessem uma universidade estadual e passassem
algum tempo com pessoas idosas. Em função da Oficina de Tai Chi (era assim que os
estudantes chamavam a oficina), os estudantes produziram textos e os leram para a produção
de um programa de rádio que, infelizmente, não pode ir ao ar, esse trabalho também foi uma
experiência convidativa para o desenvolvimento das inteligências interpessoal e linguística,
principalmente. Os estudantes também contribuíram com os colegas da escola compartilhando
em aula especial de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) alguns
exercícios de Chi Kung.
A experiência de promover aulas de Práticas Corporais da Medicina Tradicional
Chinesa para estudantes do Ensino Médio foi a realização de um sonho de proporcionar aos
210
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
estudantes os benefícios que essa pesquisadora pode observar em si mesma. Com a aceitação
desse desafio sua Inteligência Interpessoal também foi desenvolvida, pois a relação com os
estudantes, que também eram seus alunos do ensino regular, tornou-se mais estreita e afetiva e
estendeu-se no trato com os demais estudantes do Ensino Médio.
A possibilidade de poder trazer as Práticas Corporais da MTC para a escola provocou
a reflexão sobre a presença do corpo na educação. Essa questão merece estudos mais
sistemáticos sobre como inserir o corpo no ensino regular e não apenas como uma atividade
alternativa, pois apesar da oficina trabalhar o corpo de uma maneira diferenciada da Educação
Física, por exemplo, o corpo continuou sendo um adendo na rotina escolar. Parece que há
uma lacuna investigativa nas perspectivas de como integrar o corpo nas atividades regulares
das disciplinas escolares, principalmente nos segmentos da Educação Fundamental II e no
Ensino Médio.
O estudo da relação entre Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa e
Inteligências Múltiplas também merece novas investigações haja vista que os dados coletados
suscitaram muitas dúvidas. Novas pesquisas deveriam contar com uma amostragem maior,
haja vista que sete pessoas é uma amostra insuficiente e um tratamento estatístico .
Outro aspecto a ser melhorado seria o desenho metodológico da pesquisa que poderia
lançar mão de provas experimentais a serem realizadas após cada prática, foco no estudo de
uma única inteligência ou análise de imagens de ressonância magnética ou tomografia a fim
de se observar possíveis alterações cerebrais nas regiões onde estão localizadas as
inteligências após um determinado tempo de práticas no Tai Chi Chuan e Chi Kung.
O problema de pesquisa proposto: As práticas corporais da Medicina Tradicional
Chinesa podem contribuir para o desenvolvimento das Inteligências Múltiplas? caracteriza-se
por inédito. A pesquisa bibliográfica não indicou que problemas de pesquisa similares foram
aventados por outros pesquisadores.
Os instrumentos de coleta de dados indicam que a Prática de Tai Chi Chuan e Chi
Kung podem desenvolver as Inteligências Múltiplas, contudo outras pesquisas são necessárias
para estabelecer uma relação direta.
A pesquisa qualitativa ratificou achados anteriores sobre artes marciais e educação,
contudo a amostra dessa pesquisa é pequena para fazer generalizações.
211
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
REFERÊNCIAS
CINTRA, M. et al. O ensino das lutas na educação física escolar: o estado da arte. Coleção
Pesquisa em Educação Física, v. 15, n. 1, 2016.
LAO-TSÉ. Tao Te Ching. 5. ed. São Paulo: Martin Claret, 2013. 149p.
LIMA, L. O Tao da educação (a filosofia oriental na escola ocidental). São Paulo: Ágora,
2000. 220p.
MELO, R. et al. Da arte da guerra à arte de viver – O Tai Chi no processo de educação.
Revista [Syn]Thesis, Cadernos do Centro de Ciências Sociais, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro v. 6, n. 2, Rio de Janeiro, 2013, p. 179-193. Disponível em: http://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/synthesis/article/view/13617. Acesso em: 12/12/2016.
212
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
REYES, R. O corpo tem seu lugar na escola. Coleção corpo, convívio e linguagem.
Salvador: EDUFBA: Casa Via Magia, 2011. 56p.
SANTOS, B. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista
Crítica de Ciências Sociais, nº 63, Coimbra, Portugal, 2002. p. 237-280. Disponível em:
http://wftlofficial.org/pdf/boaventura.pdf. Acesso em: 22/04/2005.
213
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
ANEXOS
ANEXO A – Anamnese - Oficina De Tai Chi Chuan – 2017
ORIENTAÇÕES:
• Suas respostas serão mantidas em sigilo.
• Responda o mais honestamente possível todas as perguntas.
Questionário
1. Apresenta algum tipo de limitação, dificuldade, distúrbio, deficiência ou problema de
saúde: depressão, diabetes, fibromialgia, artrite, parkinson, alzheimer, problema
cardiovascular, sobrepeso, alergia, hipertensão, hiperatividade, inflamações nas articulações,
entre outros? Especifique:
214
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
5. No passado houve algum fato importante relacionado à saúde que interferiu na rotina de
sua vida?
NÃO [ ] Sim [ ] Qual e quando?
215
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
[ ] teve insônia
[ ] teve tonturas
[ ] teve desmaios
[ ] teve um distúrbio do sono - dormiu demais ou muito pouco
[ ] se sentiu pressionado, explodiu ou surtou
[ ] deixou os outros influenciarem a sua vida
[ ] passou por situações em que a timidez se manifestou
[ ] teve medo ou insegurança em aprender coisas novas
[ ] teve medo de algo comum/corriqueiro
[ ] fumou cigarro (escrever o número de cigarros por dia)
8. DESEMPENHO ESCOLAR:
A) Quais disciplina que você julga ter melhor desempenho? Por qual motivo você considera
que possui melhor desempenho nessas disciplinas? Priorize os motivos que dependem de
você. (organização, dificuldade / facilidade em aprender, dificuldade / facilidade em
concentração, relacionamentos que facilitam ou dificultam a aprendizagem, emoções que
facilitam ou dificultam a aprendizagem, dentre outros)
B) Quais as disciplinas você considera não ter um bom desempenho? Quais os motivos que
você considera determinantes para o seu desempenho? Priorize os motivos que dependem
de você. (organização, dificuldade / facilidade em aprender, dificuldade / facilidade em
concentração, relacionamentos que facilitam ou dificultam a aprendizagem, emoções que
facilitam ou dificultam a aprendizagem, dentre outros)
9. ASPECTOS PESSOAIS
216
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
coordenação motora, saúde, dentre outros), lite aspectos em que você está satisfeito (a) e
aspectos em que você está insatisfeito (a).
B) No que diz respeito a seus aspectos emocionais (expressão das emoções, relacionamentos,
manejo das emoções, reflexão sobre si mesmo e sobre os outros), liste aspectos em que
você está satisfeito (a) e aspectos em que você está insatisfeito (a).
B) Qual é a sua expectativa – o que você espera, com a prática de Tai Chi Chuan pelos
próximos 3 meses?
217
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
ORIENTAÇÕES:
• Suas respostas serão mantidas em sigilo.
• Responda o mais honestamente possível todas as perguntas.
• Responda a todas as perguntas da anamnese.
Nome
Questionário
1. Apresenta algum tipo de limitação, dificuldade, distúrbio, deficiência ou problema de
saúde: depressão, diabetes, fibromialgia, artrite, parkinson, alzheimer, problema
cardiovascular, sobrepeso, alergia, hipertensão, hiperatividade, inflamações nas articulações,
entre outros? Especifique:
218
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
7. ASPECTOS PESSOAIS
219
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
D) No que diz respeito a seus aspectos emocionais (expressão das emoções, relacionamentos,
manejo das emoções, reflexão sobre si mesmo e sobre os outros), você observou
transformações em si mesmo após a prática do TCC ou os aspectos emocionais
permaneceram inalterados? Em caso positivo, cite as transformações.
8. DESEMPENHO ESCOLAR:
O Tai Chi Chuan pode ter trazido algum tipo de benefício para sua vida pessoal e / ou
escolar? Em caso positivo, quais foram os benefícios?
220
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS
Liste os aspectos positivos da condução das aulas de TCC pela professora Eunice Ribeiro dos
Santos.
Liste os aspectos negativos da condução das aulas de TCC pela professora Eunice Ribeiro dos
Santos.
221
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
dele (a) na Oficina de Tai Chi Chuan que se realizará às segundas-feiras das 13:30 às 15:10,
nessa escola.
222
EVELYN CRISTINA STEPHANO
223
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
RESUMO
É fato conhecido que o cotidiano escolar pode ser um ambiente de grandes realizações e
também de grandes desafios para crianças dos 6 aos 11 anos e atualmente assistimos um nos
índices de crianças diagnosticadas com algum transtorno de aprendizagem, de ansiedade, ou
ainda apresentando comportamentos ligados ao stress (roer unhas, coçar-se sem motivo
aparente, mastigar objetos que tem a mão etc). Talvez por esse motivo, os olhares sobre as
práticas corporais e meditativas, as quais podem auxiliar os alunos nessas questões, vem se
intensificando. O objetivo deste estudo foi analisar a produção científica relacionada a
aplicação do Qigong no ambiente escolar para crianças bem como apontar os benefícios
obtidos com essa prática e dificuldades encontradas pelos pesquisadores na condução desses
estudos. Foram utilizadas duas bases de dados eletrônicas (CAPES e Web of Science), além
do google acadêmico para fazer um levantamento dos estudos existentes com os termos de
busca “Qigong”, “School” e “Children”. Após seguir os critérios de inclusão no estudo
restaram 8 trabalhos que revelaram que o Qigong pode ser uma valiosa ferramenta para
melhorar a qualidade de vida do aluno na escola, ajudando a aumentar as notas ou mantê-las
num patamar satisfatório, além de diminuir problemas gerados por transtornos de
aprendizagem, baixa capacidade de concentração, agressividade, comportamentos
inadequados e aumentar o senso de coletividade a percepção de sí e a auto estima
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
Dos 6 aos 11 anos, um dos medos mais comumente encontrado nas crianças é o de
sair se mal na escola (MAGALHÃES, 2016). Essa afirmação reflete se no cotidiano escolar
na frequente observação de comportamentos compulsivos e indicativos de stress presentes
em boa parte dos alunos (BROLIN, 2009).
Se o cotidiano na escola já pode ser um fator de stress e ansiedade para uma criança
cujas funções cognitivas e neurológicas operam dentro da “normalidade”, para indivíduos
que convivem com transtornos de aprendizagem esse desafio é ainda maior. Segundo dados
da Associação Brasileira de psicopedagogia, atualmente, cerca de 5% da população escolar é
acometida por transtornos que causam dificuldade de aprendizagem (COLL, 2004). Se
considerarmos que esses diagnósticos são relativamente novos e muitas vezes o acesso aos
profissionais habilitados para fazê-lo é difícil, podemos supor que esse número
possivelmente seja maior.
Essa realidade acaba por afetar também os educadores, que precisam lidar com
famílias cheias de expectativas quanto ao desempenho escolar das crianças, com os
educandos que experimentam o medo excessivo de falhar em seus “deveres de aluno” e ainda
precisam encontrar formas de auxiliar a todos em seu processo de aprendizagem em salas de
aula que muitas vezes estão superlotadas. Não à toa a docência já em 1981, foi apontada pela
Organização Internacional do Trabalho, como uma das profissões com maior potencial de
desgaste físico e mental, geradora de grande stress (OLIVEIRA, 2014).
Devido a este cenário estabelecido nas escolas, diversos experimentos envolvendo
técnicas variadas de meditação e cultivo do bem estar, têm sido conduzidos, obtendo
resultados bastante positivos como veremos mais adiante. Isso demonstra que esta pode ser
uma valiosa ferramenta não apenas para melhorar o cotidiano no ambiente escolar como
também para manutenção dos níveis de qualidade de vida de todos os sujeitos envolvidos no
contexto escolar (professores e alunos) (MAGALHÃES, 2016; BROLIN, 2009; OLIVEIRA,
2014).
O Qigong (pronuncia-se Chi Kun) é um dos componentes da Medicina Tradicional
Chinesa (MTC), que busca a mobilização sutil da energia vital do corpo (Qi) e dessa forma,
corrigir desarmonias e reestabelecer o equilíbrio da saúde integral (física e emocional)
daqueles que o praticam. Por tratar-se de um método composto de movimentos suaves,
cadenciados e coordenados com a respiração, o Qigong tem grande influência sobre a
capacidade de concentração e manutenção dos níveis de atenção, redução dos níveis de stress
e ansiedade, além de influenciar também o comportamento devido à filosofia na qual é
embasado e que geralmente, ainda que de maneira sutil, é transmitida durante sua prática
225
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
QIGONG
Qi, em chinês quer dizer energia e gong significa trabalho, mobilização ou prática
que requeira esforço, empenho e dedicação por parte do praticante/ trabalhador.
Segundo Huston (1995), é quase impossível dar uma definição de Qi sem mencionar
de alguma forma a palavra “energia” e isso muitas vezes dá a essa prática corporal o status
de exótica ou evoca no imaginário popular a ideia de uma prática distante da realidade e do
cotidiano da maior parte da população ocidental. Mas como afirma o mesmo autor, com
poucas exceções peculiares, se houver alguma, estar vivo significa criar, usar e trocar
energia. Sendo assim, o Qigong nada mais é do que um dos componentes da Medicina
Tradicional Chinesa e uma das formas de meditação que pode ocorrer em movimento (KIT,
1999).
O termo Qigong é de origem chinesa, mas esta arte tem sido praticada por diferentes
povos, o yoga, por exemplo é de origem indiana mas em diversos pontos se assemelha ao
Qigong, pois envolve o trabalho com o prana (equivalente do Qi).
Por motivos culturais e históricos, pode se encontrar algumas diferenças nos métodos
e na ênfase de diferentes técnicas de Qigong, mas todas lidam com o desenvolvimento de
energia, e todas elas visam promover a saúde integral do indivíduo (física, emocional, mental
e espiritual). (SHAOLIN, 2018).
De acordo com Oliveira (2014), o termo “Qigong” surgiu pela primeira vez no livro
“Clássico de Medicina do Imperador Amarelo” e estava ligado a exercícios físicos,
respiratórios e a práticas que trabalhavam com os meridianos (canais por onde circula o Qi),
ainda segundo este livro a real origem do Qigong está nos tempos do xamanismo chinês,
muito antes dos registos escritos (cerca de 4 ou 5 mil anos atrás). Naquela época, os chineses
dependiam muito do céu e da terra, pois a maior parte da população vivia no campo,
justamente por conta dessa dependência, aprenderam a observar esses dois elementos e suas
interações e assim entenderam o princípio do equilíbrio entre yin e yang. A partir desse
entendimento é que o Qigong foi desenvolvido. Os principais componentes dessa prática são:
concentração, relaxamento, regulação da respiração, regulação da postura corporal e
226
EVELYN CRISTINA STEPHANO
Apesar de ter origens muito antigas, o Qigong é ainda hoje muito praticado pela
população chinesa como forma de manter e recuperar a saúde física, controlar as emoções,
diminuir os níveis de stress e sintomas associados à depressão e ansiedade, além de melhorar
o bem-estar geral, uma vez que trabalha para normalizar o fluxo do Qi e assim harmonizar o
corpo físico e as emoções (SHAOLIN, 2018). A prática de Qigong apresenta benefícios
importantes para a saúde, através de exercícios físicos e meditativos que pretendem habilitar
o organismo a ser capaz de lidar com o stress e as tensões às quais estamos sujeitos
diariamente (POSADSKI, 2010).
1
AVELANS, T. C. Efeitos Cognitivos e Comportamentais do Qigong em Estudantes - Uma Revisão
Sistemática da Literatura. 2017 (Mestrado em Medicina Tradicional Chinesa). Instituto de Ciências
Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Porto, 2017. 2 ed. v.76. 83 f.
227
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
adquire visibilidade ainda maior, uma vez que um dos medos mais comuns em crianças com
idade entre 6 e 11 anos, é o de sair-se mal na escola (MAGALHÃES, 2016).
O ambiente caótico em que atualmente vivem as crianças oferece uma diversidade
gigantesca de estímulos vindos do uso cada vez mais precoce de dispositivos eletrônicos
voltados para jogos e redes sociais, que se somam ou até mesmo concorrem com os
estímulos provenientes do ambiente escolar e das mais diversas atividades extracurriculares
(cursos de idioma, práticas esportivas, aulas de música, entre outras). Somando se a isso a
falta de tempo para que ocorram trocas afetivas e convívio adequado entre pais e filhos, cria
se um cenário que acaba por comprometer ainda mais o bom funcionamento psíquico afetivo
e social do indivíduo (VASCOUTO et al 2013).
Muitos dos problemas comportamentais e cognitivos que afligem as crianças no
ambiente escolar e dificultam o processo de aprendizagem, socialização e interação com
colegas e professores vêm também da carga atribuída a essas crianças pelos pais. De acordo
com Vectore e Zumstein (2010), os pais, na maior parte das vezes por se preocuparem em
proporcionar um bom futuro profissional para seus filhos, acabam criando expectativas
demasiadas e esperando resultados de excelência em todas as atividades nas quais as crianças
estão envolvidas. Ao perceberem isso e sentirem o peso dessas expectativas, passam a sofrer
por apresentarem ambições também demasiadamente elevadas, levando a um quadro de
desequilíbrio emocional e baixa auto-estima causada pelo excesso de atividades a que são
submetidas.
Vislumbrando o contexto exposto não é difícil perceber que diversos fatores
influenciam nos processos que culminam nas dificuldades de aprendizagem, na forma como
se desenrolam as relações de socialização e nos demais problemas enfrentados pelas crianças
no ambiente escolar. Desta forma, a abordagem mais adequada para solucionar essa questão
precisa também ser multifatorial e multidisciplinar, oferecendo auxilio para que os sujeitos
possam perceber a sí mesmos e adquirirem maior protagonismo no enfrentamento e na
solução de problemas que possam vir a enfrentar.
Devido ao fato de ser tratar de uma técnica milenar, o Qigong certamente não foi
pensado exatamente para o contexto da sociedade atual. No entanto, por ser composto de
posturas, exercícios e mesmo por técnicas de respiração que evocam calma, suavidade,
firmeza e autocontrole, atua diretamente na interação corpo–mente, sendo assim uma
ferramenta que pode ser de grande valor no contexto acima proposto.
Para Bertazzo (1998), os chineses possuem e praticam, há muito tempo e em grande
escala, uma espécie de ensinamento, chamada por ele de “psicomotricidade requintada”, que
constitui uma verdadeira “escola de movimento” que as vezes é nomeada como tai chi chuan,
ou “chi kung”. Sendo assim, toda a terapêutica chinesa, incluindo as automassagens, as
228 demais práticas corporais além do próprio tai chi chuan, são conhecimentos que podem a
EVELYN CRISTINA STEPHANO
princípio parecer estranhos ou sem relação com nosso cotidiano, mas que na verdade se
desenvolveram como um sistema muito eficiente de autoajuda, autocuidado e
autoconhecimento. A base desse sistema é a motivação gerada pelo conhecimento do próprio
corpo e de seu funcionamento, fato que pode vir a empoderar o sujeito e melhorar sua
relação com o próprio corpo e consigo mesmo.
Lynch e Huang (1998) falam sobre como a ideia da impermanência ser a única coisa
realmente imutável é expressa nos movimentos do Qigong, de forma cadenciada e
interligados na passagem de um exercício para o seguinte com fluidez e afirmam o quanto
isto pode favorecer principalmente os indivíduos considerados agressivos ou hiperativos no
contexto escolar. Através desse tipo de prática, esses sujeitos podem vivenciar e externar
emoções que talvez não possam ser vivenciadas e expressas na realidade em que estão
socialmente inseridos.
Chow e Tsang (2007), concluíram que o Qigong, devido a eficácia do seu potencial
terapêutico, pode ser considerado um tratamento válido nos transtornos de ansiedade na
população de forma geral, independente da faixa etária, pelo controle da respiração e da
mente, pois verificaram que o Qigong produz efeitos reguladores imediatos.
METODOLOGIA
Revisão da Literatura
229
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Na busca realizada na base de dados Web of Science, foram encontrados 792 registros
relacionados com o termo Qigong, dos quais 12 incluíam o termo school e neste subgrupo,
apenas 4 incluíam o termo children (FIGURA 1):
Dos 21 resultados obtidos na busca, foram excluídos aqueles que não tinham relação
alguma com o ambiente ou contexto escolar e aqueles com amostras compostas apenas por
adolescentes, ocorreu também de um mesmo artigo cientifico aparecer mais de uma vez no
mesmo banco de dados e ainda de se repetir nos 2 bancos de dados consultados.
230
EVELYN CRISTINA STEPHANO
DISCUSSÃO
100% na última observação). Houve ainda, crianças que relataram espontaneamente que já
não sentiam tanta dor de barriga e que as mãos não suavam tanto. Tendo em conta os
resultados obtidos, pode-se então afirmar que o Qigong influência positivamente os níveis de
ansiedade nas crianças no contexto escolar.
Witt et al (2005), em seu estudo envolvendo 40 crianças com idade entre 6 e 7 anos,
verificou uma melhora no comportamento social, na manutenção das notas escolares e
diminuição dos comportamentos inadequados, após 6 meses de intervenção com Qigong (na
frequência de duas vezes por semana). Essa melhora foi observada tendo como base para
comparação, um grupo de estudantes da mesma faixa etária e cursando a mesma série
escolar, mas que não tiveram intervenção alguma.
Em um estudo que teve por objetivo investigar as possíveis contribuições do Qigong
para a Educação Física escolar, Silveira e Cardoso (2004) introduziram o Qigong em
crianças da terceira série do ensino fundamental, com idade entre 8 e 9 anos, tomando por
base elementos que já era conhecidos pelos alunos (desenho animado que falava sobre
energia). Ao longo de 4 aulas, as crianças aprenderam sobre os fundamentos filosóficos, as
origens e vivenciaram exercícios de Qigong adaptados do método Fang Sung Kung
(exercício respiratório de relaxamento) e movimentos extraídos da primeira e terceira
seqüência do Tai Chi Chuan estilo Wu. Os resultados obtidos demonstraram que os alunos
sentiram alguns dos benefícios do Qigong, como relaxamento, melhora nos níveis de atenção
e capacidade de concentração, controle da agitação excessiva, aumento da auto percepção e
regulação da respiração.
Witt et al (2007), conduziu um estudo envolvendo 140 crianças de escolas primárias e
secundárias que praticaram em média 4 vezes por semana, o Xiang gong (Treinamento
Perfumado) durante 6 meses. Ao final do período de intervenção foi observado que a prática
ajudava a acalmar, energizar e harmonizar os alunos além de reduzir a agressividade,
reforçar o senso de coletividade e melhorar a saúde. Há ainda uma particularidade muito
interessante neste estudo, que é o fato das sessões Qigong terem sido ministradas pelos
professores titulares de cada turma, pois receberam treinamento para fazê-lo e dessa forma
afirmaram após o término do experimento que era viável manter a prática e apontaram ainda
algumas questões que enfrentaram com preocupações dos pais sobre uma possível
“doutrinação religiosa”.
Wang, Seo e Geib (2017) descrevem o processo de desenvolvimento de um programa
de Qigong voltado para a saúde. Esse programa, que foi formulado visando auxiliar crianças
estressadas, utilizou uma abordagem de avaliação formativa em múltiplos passos, que
incluíram: elencar os conteúdos do programa e redigir o currículo, sintetizar metodologias e
linhas pedagógicas eficazes e adequadas à faixa etária do público alvo, submeter a proposta a
232 um grupo de especialistas em Tai Chi Chuan, Qigong, saúde e educação. Após isso, aplicar
EVELYN CRISTINA STEPHANO
um teste com os alunos que estão dentro do perfil do público pretendido e solicitar feedback
dos alunos. e finalmente revisar e finalizar o programa. Os conteúdos escolhidos foram o
Qigong dos 5 animais e o Ba Duan Jin e várias adaptações foram feitas nos nomes dos
exercícios pensando em aproximar mais a prática do cotidiano infantil. Os conteúdos foram
organizados e divididos em 16 aulas. Algumas mudanças foram feitas com base nas
sugestões de cada um dos especialistas consultados afim de deixar o programa passível de
ser aplicado no dia a dia das escolas. Finalmente 34 crianças foram selecionadas para compor
o grupo para teste e após 16 semanas pode se observar que o programa parece ser realmente
eficaz na redução do estresse.
Conforme afirma Ribeiro (2015), em seu trabalho onde propõe a inserção do Qigong
dos 5 animais nas escolas, o Qigong poderia ser inserido na rotina escolar ou mesmo integrar
o tratamento psicopedagógico de diversas maneiras, inclusive como atividade regular entres
professores para manter a saúde em meio a uma rotina bastante estressante. Esta autora
sugere ainda que o ideal seria que a escola o praticasse coletivamente, pois promove um
equilíbrio integral do indivíduo e, consequentemente das suas emoções independentes da
origem dos problemas ou distúrbios de aprendizagem, desde que se observe respeite as
possibilidades físicas de cada praticante. Ribeiro defende ainda que o princípio da não-
interferência ajuda a anular a mente julgadora que muitas vezes atrapalha o processo de
ensino aprendizagem, ao emitir juízos como: “está errado”; “não dou para isso”; “tá chato”,
dentre vários outros, pois permite a observação do que ocorre, o fluir do movimento e do
próprio corpo.
CONCLUSÃO
não são acometidos por esses problemas, mas que eventualmente poderiam passar a sofrer
com eles com o passar do tempo, em virtude das exigências que aumentam de acordo com o
aumento dos desafios e pressões que enfrentam conforme ficam mais velhos.
Algumas limitações encontradas nos estudos analisados são: o baixo número de
sujeitos que compõe algumas amostras, estudos com tempo de intervenção muito reduzido.
Houveram casos de professores treinados para ministrarem o Qigong apontarem o tempo
curto de que dispunham no dia a dia para ministrar as aulas de Qigong e resistência de alguns
pais com receio de que a prática fosse uma tentativa de doutrinação religiosa.
Justamente por isso, vale ressaltar a importância de introduzir o Qigong nas escolas
como uma forma de desmistificar a ideia de que trata-se de algo muito distante da realidade
ocidental e dissolver possíveis pré conceitos existentes. Também vale ressaltar que nem
todos os estudos especificam qual a forma de Qigong que adotaram ou explanam o motivo da
escolha por determinado tipo de Qigong.
Ainda que alguns estudos tenham deixado claro que a proposta de intervenção era
para um contexto específico, seria válido replicar tais intervenções para averiguar os
resultados, pois os problemas encontrados nas amostras são bastante comuns, ficando assim
apenas a sugestão de que mais estudos sejam conduzidos envolvendo crianças, transtornos de
ansiedade e de aprendizado e o Qigong.
REFERÊNCIAS
BROLIN, G. Qigong in School. A study of the process in a primary school class that
practiced. Qigong exercises daily during a school term. Departamento de Educação e
Didática, Universidade de Gotemburgo, Suécia, 2009. 75f.
234
EVELYN CRISTINA STEPHANO
CHOW, Y.; TSANG, H. Biopsychosocial effects of Qi gong as a mindful exercise for people
with anxiety disorders - A speculative review. J. Alternative Complementary Medicine, v.
13, n. 8, p. 831-839. 2007.
HUSTON, P. China, Chi, and Chicanery - Examining traditional chinese medicine and Chi
theory. Skeptical Inquirer, v.19, n.5, p. 38-58, 1995.
KIT, W. K. Chi Kung - Qigong para a saúde e vitalidade. São Paulo: Pensamento, p. 177,
1999.
LYNCH, J.; HUANG, C. O Tao da Boa Forma Interior: o muito além de esportes e
exercícios para o seu bemestar. São Paulo: Cultrix, p. 224, 1998.
SANTOS, E. R. O Jogo dos cinco animais como estratégia para o equilíbrio das emoções na
escola ou equilíbrio integral do ser. IV Seminário Internacional: Anais Seminário
Intenacional a Educação Medicalizada. Salvador: Secretaria de Educação do Estado da
Bahia. 2015.
WANG, C., et al. Developing a mind-body exercise programme for stressed children. Health
education jornal, v.76, n.2, p. 131, 2017.
WITT, C. M. D. et al. Qigong for Schoolchildren: A Pilot Study. The journal of alternative
and complementary medicine, v. 11, n. 1, p. 41-47, 2005.
WITT, C., et al. Xianggong ('perfumed' qigong) for the health of school children: a
qualitative feasibility and effects pilot study. Journal of Chinese Medicine. v. 84. p. 42-48,
2017.
ZHOU, C. Clássico de Medicina do Imperador Amarelo. São Paulo: Roca, p. 213, 1999.
236
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
237
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Resumo
Este trabalho pretende estabelecer convergências filosóficas entre o Tai Chi e a
Slow Medicine, e mostrar que ambas as práticas confluem em termos de objetivos, no
que concerne à saúde. Procedemos à revisão de literatura, à análise de questionários e
à narrativa de uma visita à um serviço de saúde que utiliza o Tai Chi como um
adjuvante terapêutico. Acreditamos que o Tai Chi pode representar um bom exemplo
de prática, convergente com o sétimo princípio da Medicina sem Pressa, que afirma
que “as palavras de ordem são recuperação, equilíbrio, harmonia.”.
Abstract
This work aims to establish philosophical convergences between Tai Chi and
Slow Medicine, and show that both practices converge in terms of goals, with regard
to health issues. We proceeded a review of the literature, analysis of questionnaires
and the narrative of a visit to a health service that uses Tai Chi as a therapeutic
adjuvant. We believe that Tai Chi can represent a good example of practice,
convergent with the seventh principle of Slow Medicine, which states that "the words
are recovery, balance, harmony."
238
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
INTRODUÇÃO
A Slow Medicine - Medicina sem Pressa, é uma filosofia e uma prática médica que
busca o resgate do tempo como fator importante no trabalho médico, a valorização da
relação médico-paciente como pedra fundamental deste trabalho, fomenta o
compartilhamento de decisões e o uso ponderado da tecnologia, buscando o melhor
cuidado para o paciente.
Embora tenha como referencial a medicina convencional, a Slow Medicine respeita
as práticas complementares e alternativas como possibilidades de cuidado, tanto em
aspectos de promoção e prevenção de saúde, como também como parte do arsenal
terapêutico no que se convencionou chamar de “Medicina Integrativa”.
O Tai Chi Chuan é uma prática milenar no China e desde suas origens é reputado
como benéfico para a saúde.
A proposta desta monografia é debruçar-se sobre os fundamentos filosóficos do Tai
Chi Chuan e da Slow Medicine, buscando interfaces entre estas filosofias e também
revisando aspectos da literatura médica sobre benefícios do Tai Chi Chuan na
abordagem não farmacológica de algumas patologias. A abordagem não-
farmacológica tem um papel especial na filosofia da Slow Medicine na medida em
que pode proporcionar alívio para o sofrimento, com riscos menores de efeitos
adversos. Buscaremos também explorar a questão da lentidão (“slowness”) como
uma das características de ambas as filosofias, e de como esta característica pode
servir como um fator de reforço positivo no desenvolvimento da arte do Tai Chi e
como um aspecto para a melhoria da prática médica.
239
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Em 1986, quando da inauguração de uma filial de uma rede de fast food na Piazza di
Spagna em Roma, Carlo Petrini (MOVIMENTO SLOW FOOD
INTERNATIONAL, 2018) e um grupo de ativistas organizaram um protesto para
tentar evitar que o restaurante fosse aberto. Na Itália, terra de grande tradição
gastronômica, dos prazeres e da convivência à mesa, e de uma enorme riqueza em
produtos alimentares tradicionais, soava como uma agressão à história e à cultura
italiana a abertura de um restaurante com estas características em um dos pontos mais
tradicionais da capital italiana. Este evento foi a semente que gerou o Movimento
Slow Food, que oficialmente organizou-se a partir de 1989, quando foi formada uma
associação e o Manifesto Slow Food foi lançado na Opera Comique em Paris
(FERREIRA, 2009).
240
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
O Movimento Slow Food foi a fonte primordial de uma série de outros movimentos,
no que se convencionou chamar de Movimento Slow. O jornalista Carl Honoré,
nascido na Escócia, de nacionalidade canadense e que atualmente vive em Londres é
um dos seus primeiros porta-vozes. O seu livro Devagar (In praise of Slowness) faz
uma espécie de “inventário” de várias tendências do Movimento Slow, além de
estabelecer uma profunda base histórica do processo de aceleração que caracterizou a
trajetória da humanidade ao longo de sua história até chegar no frenesi que
caracteriza a vida contemporânea (HONORÉ, 2012). A partir desta compreensão, o
autor assinala o surgimento de uma corrente inversa, que aponta para a atitude de
desaceleração como uma alternativa saudável e coerente de retomada do manejo do
cotidiano pelas pessoas. Ao longo do livro ele se debruça sobre o surgimento do
Movimento Slow Food, que é a fonte de todos os outros movimentos slow. Fala das
Slow Cities, do trabalho, do sexo e do lazer. Dois capítulos do livro são voltados à
Medicina e à saúde. No capítulo Mens sana in corpore sano, dedicado às práticas de
promoção da saúde, o autor alonga-se nos benefícios da meditação, da Yoga e do Chi
Kung, identificando nestas práticas formas concretas de trazer a lentidão para o
cotidiano das pessoas, com impacto positivo em sua saúde física e mental.
No capítulo Medicina: os médicos e a paciência, o autor aborda mais
especificamente a prática da Medicina, demonstrando, através de vivências pessoais,
a forma impessoal e rápida que a medicina convencional é praticada no sistema de
saúde inglês, embora também saliente que já se manifesta alguma inconformidade
dos médicos com este estado de coisas (o livro é de 2002). As práticas
complementares e alternativas são extensamente exploradas neste capítulo, entre elas
o Rei Ki, em que o autor salienta o quanto o tempo, utilizado como ferramenta
terapêutica, pode trazer benefícios. “O corpo se cura segundo o seu próprio ritmo, de
modo que você deve ter paciência. Não poderá apressar as coisas”. São palavras da
terapeuta.
A Slow Medicine (ou Medicina sem Pressa, como foi traduzida para o português –
nota do autor):
Uma cura Slow não é uma cura Slow, mas é uma cura que:
-Renuncia à pressa em nome da precisão e da reflexão;
-É oportuna sem ser rápida;
-Usa a escuta e o diálogo associados com a perícia clínica e uso apropriado de
tecnologias diagnósticas e terapêuticas;
243
1
(www.slowmedicine.it)
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
245
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Em outro artigo publicado no site, o dr. Kazusei Akiyama, médico formado pela
tradição médica ocidental, com especialização em Medicina Tradicional Japonesa
(Kampo) no Japão, estabelece uma série de correlações entre a prática da Slow
Medicine e a Medicina Complementar e Alternativa, conforme é denominada pela
Organização Mundial de Saúde (AKIYAMA, 2016b). Este documento procura
estabelecer o entrelaçamento entre a filosofia da Slow Medicine e as práticas
integrativas. O texto procede a uma discussão conceitual acerca dos termos utilizados
dentro do que se chamam práticas integrativas, a partir do que a Organização Mundial
de Saúde cunha de MCA (Medicina Complementar e Alternativa), como por exemplo
o significado de Medicina Tradicional, “variadas maneiras de cuidados de saúde que
são vinculadas a diferentes povos, havendo tanta diversidade dessas maneiras quanto
de etnias e culturas”. Outra abordagem é da história da introdução das práticas
médicas tradicionais do Oriente no universo Ocidental. Por fim, o texto fala da Slow
Medicine como uma “ponte” entre a medicina convencional e a MCA, conforme o
autor explicita no último parágrafo: “A Slow Medicine, pelas suas características,
pode ser um meio de integração entre a medicina convencional e MCA, permitindo
que o usuário-paciente passe a dispor de informações mais fidedignas para decidir
com mais segurança qual o melhor caminho a tomar. Para os médicos pode
representar uma forma de exercer uma medicina melhor, voltada a sua principal razão
de ser: o cuidado integral da saúde do paciente.”
Em artigo mais recente, a geriatra Daniela Lima de Souza afirma que:
“É importante observar que as Medicinas Tradicionais mais antigas tem como base
principal a escuta, o estímulo da auto-cura e da auto-observação. Então, no momento
em que a globalização trouxe ao Ocidente as Medicinas Tradicionais e as práticas
Mente-Corpo, os próprios pacientes foram buscar outras medicinas, em busca de algo
que se alinhe com seus valores, crenças e filosofias, provavelmente em busca de
sanar um déficit de tempo e empatia que caracteriza a medicina convencional
contemporânea. A Slow Medicine, através dos seus princípios básicos de
individualização, tempo para ouvir e estímulo do auto-cuidado, vem para questionar a
dicotomia e o distanciamento que os profissionais de saúde atualmente têm com as
práticas integrativas.” (DE SOUZA, 2018).
“O Tai Chi, também conhecido como Tai Chi Chuan / Quan ou Taiji, originou-se na
246
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
China, e foi desenvolvido por um famoso artista marcial Wangting Chen no final da
dinastia Ming (século XVIII dC). O desenvolvimento do Tai Chi integrou a essência
das artes marciais folclóricas e militares chinesas, técnicas de respiração e meditação,
e teoria da medicina tradicional chinesa. Por séculos, milhões de chineses praticaram
movimentos fluidos e meditativos de Tai Chi para cultivar e manter a saúde e o bem-
estar. Nos últimos anos, devido aos seus benefícios para a saúde, aparente segurança
e baixo custo, o Tai Chi ganhou popularidade nos países orientais e ocidentais como
uma técnica mente-corpo, um exercício promissor de baixa intensidade” (YANG et
al., 2015)
As informações a seguir são retiradas de um livro disponível na internet para
associados da International Yang Family Tai Chi Chuan Association, de vários
autores, em tradução para o português (YANG FAMILY TAI CHI, 2018).
O fundador do estilo Yang de Tai Chi Chuan, Yang Lu Chan, nasceu em 1799 e
faleceu em 1872, tendo vivido 72 anos, numa época em que a expectativa de vida na
China não passava de 35 anos. Sua família era originária do município de Guangping,
condado de Yongnian, província de Hebei e seu nome de nascimento é Yang Fu Kui.
Por tradição, as pessoas que não eram membros da família Chen não podiam aprender
a arte da família, e recebiam seus ensinamentos na pátio da frente da casa, sem poder
frequentar as áreas internas, onde a arte era ensinada para os integrantes na família.
Após alguns anos no lugar, Yang Lu Chan não havia aprendido nada ainda. Uma
noite acordou com um grito “Heng” vindo da área interna da casa. Ele então subiu em
uma árvore de onde conseguiu ver Cheng Chang Xing ensinando Tai Chi Chuan para
247
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
um grupo de alunos. Fascinado pelo que viu, passou a assistir as aulas desde a árvore
todas as noites e a treinar sozinho, secretamente.
Uma ocasião, em um treino, quando brincava com um dos jovens da família Chen, ele
usou uma técnica de “explosão de energia” que foi testemunhada por Chen Chang
Xing. O mestre quis então saber como Yang Lu Chan havia aprendido aquilo e ele se
explicou. O mestre então pediu que ele participasse de uma competição com um aluno
e ele venceu.
A história do Tai Chi Chuan tem outro momento muito relevante que foi a criação dos
10 princípios essenciais para a prática do Tai Chi (anexo), que foram criados por
Yang Chenfu, e transmitidos de forma verbal para seu aluno Chen Wei Ming, que os
registrou por escrito. Interessante que também o Movimento Slow Medicine também
tem 10 princípios, que foram criados pelo Instituto de Slow Medicine da Holanda e
posteriormente traduzidos para o português e publicados no site Slow Medicine
Brasil.
sejam exauridas, tanto, que após praticarem, eles ficam sem fôlego. No Tai Chi nós
usamos a quietude para dominar o movimento e mesmo em movimento, ainda
preservamos a quietude. Assim, quando você pratica a forma, quanto mais lento
melhor!" (YANG FAMILY TAI CHI, 2018b).
A tradição do Tai Chi da Família Yang prosseguiu ao longo do tempo. Hoje o mestre
Yang Zendhuo é seu principal expoente, embora o seu neto, que aprendeu a arte com
o avô, seja o principal detentor direto da tradição e é o maior divulgador do Tai Chi
da Família Yang no mundo atual.
O textos que se seguem são baseados nas respostas em questionários enviados pelo
autor para alguns profissionais de saúde, com familiaridade com as ciências de saúde
e as práticas integrativas, posteriormente esclarecidos na “Metodologia”.
Ladd Bauer, em sua elaborada resposta ao nosso questionário, falando sobre a pessoa
que executa os movimentos ritmados e lentos do Tai Chi, nos aponta que:
*
Dicionário Houaiss , versão web https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v3-3/html/index.php#0
250
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
O ritmo e o tempo são de fato fundamentais para o conceito e a prática do Tai Chi. Eu
posso ver que os mesmos princípios também se aplicam à Slow Medicine. É
importante observar o ritmo e as fases da doença ou envelhecimento, em vez de
251
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
aplicar automaticamente uma bateria de testes e procedimentos; ter tempo para ouvir
atentamente o paciente; mas, quando necessário, antecipar-se e intervir sem
hesitação.
O Tai Chi Chuan pode ser considerado uma das estratégias terapêuticas da Medicina
Tradicional Chinesa, juntamente com o Qigong . São técnicas corporais que dividem
bases teóricas e filosóficas com a Medicina Tradicional Chinesa, entre elas as teorias
do Yin e Yang, dos Cinco Elementos, dos meridianos e dos órgãos Zang Fu
(SEVERINO, 2016).
“Uma nota rápida na terminologia. Se você usa o termo "Medicina Tradicional" para
a biomedicina moderna, isso leva à confusão. A biomedicina é relativamente jovem
na história da medicina. É preferível reservar o termo "Tradicional" para as bem mais
antigas tradições ancestrais de sabedoria, como Ayurveda, Medicina Tradicional
Chinesa, Medicina Tibetana, etc. (WOOTON, 2010)”
Por outro lado, faz-se mister uma avaliação crítica acerca da abrangência das práticas.
Observa-se atualmente uma tendência que não favorece o estabelecimento de uma
diversidade de racionalidades médicas, pois de maneira intempestiva propõe-se uma
espécie de vale-tudo terapêutico, onde uma miríade de técnicas sem quaisquer
comprovação de eficácia, seja através dos cânones científicos tradicionais, pela da
chamada “Medicina Baseada em Evidências” ou de técnicas amparadas em tradições
milenares de cuidado, e profundamente enraizadas na história e na cultura de alguns
povos, particularmente no Oriente, são colocadas lado a lado com meras divagações e
achismos (teorização fundada no subjetivismo do 'eu acho que' aplicável a qualquer
campo teórico).
2
Dicionário Houaiss , versão web https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v3-3/html/index.php#0
253
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
2008).
254 relevante:
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
“...talvez o mais importante de todas essas práticas seja "recordar" que nosso corpo,
emoções e pensamentos são nossos; ou seja, que somos responsáveis por eles e
podemos ter a consciência necessária para direcioná-los na perspectiva pretendida
pelo sentido que damos a própria vida. Talvez, o que a maioria dessas práticas tenha
em comum, seja o respeito pelo indivíduo como um ser autônomo, dono de sua
vontade, que pode ser recordado/ensinado quanto a responsabilidade que possui sob a
sua própria vida. "Devolvem"/desenvolvem nele a atenção a si próprio, estimulando-o
a ter disciplina e colocar atenção em si mesmo. Trabalhando com seus limites com
mais consciência. Desenvolvendo também, muitas delas, a visão sistêmica do
indivíduo quanto a própria vida.”
A partir de uma perspectiva médica, Ramon Suarez consegue ver nas entrelinhas a
postura dos médicos, calcada a partir do entendimento que, em inúmeras situações, a
Medicina Convencional não alcança resultados satisfatórios, pontuando
particularmente aspectos de prevenção. O trecho que se segue é parte da entrevista
concedida como parte da presente pesquisa.
“Neste ponto, é importante destacar que se aceitou (….o Tai Chi) na Medicina
Ocidental como parte integral dos tratamentos médicos, embora não se tenha
alcançado o nível de prevenção. Isso ocorre lamentavelmente na maior parte da
medicina, não somente no Tai Chi. Ou seja, a pessoa vem para melhorar sua
evolução, e não simplesmente para não ficar doente.”
255
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
“Deve ficar claro que a Slow Medicine não é uma especialidade ou uma nova
modalidade assistencial e muito menos uma forma de “medicina alternativa”, mas é,
simplesmente, um incentivo à adoção dos princípios básicos e tradicionais da
assistência ao doente, aprimorados pelo uso sensato e criterioso de todos os avanços
tecnológicos, sejam diagnósticos como terapêuticos.
Em outras palavras não representa uma iniciativa destinada a levar o exercício de
nossa profissão de volta ao passado. Muito pelo contrário, pretende promover um
atendimento de alto nível, mas resgatando nossos valores tradicionais e enfatizando
que o exercício da medicina deve ser realizado de acordo com os princípios
fundamentais da ética e do respeito para com os pacientes, com a sociedade e com os
colegas, e não movido por interesses econômicos ou de promoção pessoal”
(BIROLINI, 2018).
Em outro texto, publicado pela Associação Italiana de Slow Medicine em seu website
e traduzido para o português pelo dr. Dario Birolini, é explicitada esta relação da
Slow Medicine com as práticas integrativas:
“Preferimos usar o termo “outras medicinas”, pois não consideramos correto falar de
medicinas “alternativas” (palavra que implica conflito entre certezas: ou uma ou a
outra), e nem de medicinas “complementares”, que parece implicar que uma
modalidade de medicina seja mais “verdadeira” das demais, que nada mais seriam do
que simples “complementos”.
Em nenhuma hipótese as “outras medicinas” devem ser usadas em substituição a
tratamentos de comprovada eficácia. Da mesma forma que na medicina científica
tradicional, também nas “outras medicinas” devem ser avaliados os possíveis riscos
assim como a relação entre benefícios, riscos e incertezas.
Os profissionais que pretendem participar da Slow Medicine devem estar dispostos a
abrir a discussão a respeito das suas próprias condutas. Aqueles entre nós que se
identificam na “evidence based medicine” já o fazem, adotando a postura “Fazer mais
não significa fazer melhor”.
256
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
O que estas reflexões apontam é que, a partir da visão da Slow Medicine, não existe
uma aceitação tácita de qualquer prática, uma vez que ela se identifique como
“Integrativa”. Atualmente, sob a expressão “Medicina Integrativa”, um sem número
de práticas, muitas vezes carentes de maiores estudos e reflexões, são oferecidas à
população de maneira pouco criteriosa, formando uma verdadeira colcha de retalhos,
com praticantes com formação extremamente heterogênea. Muitas vezes, por
formação inadequada, estas pessoas estão pouco atentas a eventuais riscos associados
a tais abordagens, tanto no aspecto da prática em si, como pela não oferta, ou pelo
atraso na oferta, de abordagens terapêuticas convencionais comprovadamente
eficazes. É um território muitas vezes povoado por convicções apaixonadas e pouca
racionalidade, muitas vezes afastados de mínimos critérios científicos – ou
profundamente enraizados na pseudociência que hoje grassa nas redes sociais e na
internet (LI et al., 2018)
257
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
O dr. Ramon Suarez comenta este princípio na entrevista realizada para efeito da
presente pesquisa, e identifica a questão da necessária convivência e aceitação dos
valores dos pacientes, no que tange às suas escolhas, e sua co-responsanbilidade em
relação ao seu próprio cuidado:
“É um tema muito amplo, mas posso afirmar algo breve: uma coisa é ter uma doença,
outra é estar doente. Deve se procurar um entrelaçamento entre a medicina
convencional e a medicina complementar. Em particular, o paciente deve entender
que não deve esperar tudo de fora, mas sim que ele é o principal ator na mudança de
sua vida, de seus hábitos e de sua consciência, se tornando portanto uma pessoa com
uma enfermidade (passível de controle) e não um doente.”
METODOLOGIA:
de um trabalho original - um assunto que não foi objeto de estudo até o presente
momento, não existe nenhuma literatura específica sobre a questão. A busca da
opinião de algumas pessoas, com conhecimento em práticas integrativas e/ou vivência
com o Tai Chi Chuan, podem trazer elementos importantes para alimentar o trabalho.
Voltando ao questionário, ele foi enviado por email para 4 pessoas. Como 2 dos
respondedores falam a língua inglesa, ele foi traduzido para o inglês e as respostas
foram traduzidas para o português pelo próprio autor. Um dos questionários foi
enviado para uma pessoa que fala espanhol e procedemos da mesma maneira.
Jackie Wooton: Cientista social, com extenso currículo relacionado ao estudo das
práticas integrativas, foi editora executiva do Journal of Alternative &
Complementary Medicine (JACM) nos EUA e co-fundadora da Alternative Medicine
259
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Dos pés do Palácio Salvo, prédio icônico da capital uruguaia, fomos até um bairro já
nas proximidades de Carrasco, distante do centro. Lá funciona a Casa de Gardel, que
leva este nome não por acaso. A casa foi construída pelo próprio músico, que
planejou um lugar onde pudesse descansar e veranear (esta expressão também é
utilizada no Rio Grande do Sul, meu estado natal, e se refere à temporadas de
descanso durante o verão, geralmente em casas no litoral). Infelizmente Carlos Gardel
nunca pode frequentá-la, pois faleceu antes que estivesse pronta. A casa chegou a
ficar abandonada por um período e posteriormente foi encampada pelo governo, que
criou um centro de reabilitação no local. A casa tem uma belíssima arquitetura, da
260
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
primeira metade do século XX, com amplos espaços, que permitiram uma excelente
adaptação do local para os objetivos da clínica. A estrutura da clínica para reabilitação
é excelente, com disponibilidade de diversos equipamentos para reabilitação e
material especializado para fisioterapia e várias atividades físicas, inclusive na água.
E um espaço bastante adequado para a prática do Tai Chi Chuan.
formação como instrutores de Tai Chi Chuan pela Sociedade Brasileira de Tai Chi
Chuan da Tradição da Família Yang e instrutores afiliados da Associação
Internacional de Tai Chi Chuan da Tradição da Família Yang com muito anos de
prática e freqüência a inúmeros seminários internacionais de Tai Chi.
voluntário, fato importante pois abre uma perspectiva de trabalho para que outros
projetos semelhantes possam ser estruturados em outros locais.
Conversando com Ramón e Ricardo depois das práticas, eles fizeram algumas
observações, que transcrevo aqui. É importante, para que a prática traga melhores
resultados, que os pacientes possam permanecer vinculados ao grupo pelo tempo que
lhes aprouver. No início do projeto chegou-se a pensar em módulos de 3 meses, mas a
observação foi que a aderência a longo prazo e a regularidade da prática estão
diretamente relacionados aos resultados obtidos. Embora existam diferenças, a
depender, por exemplo, do extrato econômico-social do paciente, geralmente se
observa que o grau de consciência corporal dos pacientes é muito pobre. O trabalho
foca bastante nestes aspectos, procurando estimular o paciente para que conheça
melhor o seu corpo, tanto em termos de consciência corporal propriamente dita, bem
como para estimular-lhes no sentido de ter uma participação mais ativa em seus
tratamentos, retomando a responsabilidade sobre sua própria saúde.
Conversei, no final da prática, com os próprios pacientes. Os diagnósticos relatados
foram fibromialgia, osteoporose, osteoartrose - em vários sítios anatômicos, artrite
reumatóide, espondilite anquilosante, etc. Alguns pacientes relatavam que tinham
indicação de cirurgia, por exemplo, necessidade de artroplastia - implante de prótese -
de joelhos e quadris. As cirurgias ortopédicas são relativamente frequentes nos
pacientes reumatológicos. Conforme informa o dr. Ramón, a maioria dos pacientes,
após serem submetidos à intervenções cirúrgicas, podem retornar à prática em 3
semanas.
Na percepção dos pacientes, um aspecto importante é a melhoria geral da mobilidade
- com consequente melhora da capacidade funcional e da qualidade de vida. Eles
relatam redução do número de consultas médicas e do consumo de medicamentos,
inclusive com sua total suspensão, sempre sob supervisão médica.
A melhora do equilíbrio é um dos fenômenos relatados por quase todos os
participantes, além da melhora de aspectos emocionais, em particular ansiedade e
depressão. Observei que outras questões são a criação de um grupo de convivência
entre pessoas com quadros semelhantes e com uma atividade em comum - e com isso
a geração de uma sensação de pertencimento; a proximidade com os instrutores e a
convivência semanal pode estar relacionada à uma sensação de segurança para os
pacientes (conforme relatamos acima, um dos instrutores, Ramon, é médico).
263
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
No dia seguinte à minha visita, recebei um email do Dr. Ramon, no qual estava
anexado um texto que havia sido enviado a ele por uma das pacientes, Helen Abella. o
texto pode ser encontrado na íntegra, como anexo, no final desta monografia. O
excerto abaixo é retirado dele:
“Percebi que praticando a forma, poderia dizer, coreográfica, deste exercício, a dor
não aumentava, mas gradualmente ia abandonando meu joelho e minha alma.
A respiração, o equilíbrio, a coordenação e os braços, que aprendem a acariciar as
nuvens, a mobilizar suavemente a água, estando em um lugar que não existe
materialmente. Poder separar o céu e a terra, estirando nossa coluna, notando como
ela começa a respirar entre as vértebras. Começo a perceber que estou mais ágil, que
perdi peso, sem perceber (obviamente, com alimentação adequada - sem sal, sem
açúcar - na medida do possível em equilíbrio).
Cada forma / movimento leva-me a sentir a harmonia, o prazer de coordenar, o ir e vir
da esquerda para a direita em movimentos envolventes junto com a respiração,
deixando-me apaixonada. Faz sentido o fluir, a concentração e a elasticidade que meu
corpo está obtendo.
Encontrar, cuidar do centro de energia - o Tan Tien, abaixo do umbigo - que apenas
estou começando a reconhecer, depois de muito praticar.
Hoje eu só sei que nada sei, e que seguirei aprendendo, praticando “pendurada” no
ônibus lotado, na cozinha, mexendo uma comida, ou quando vou pegar algo que está
no chão, lembrar da curva da vida.”
“Sentimos que praticar essa disciplina nos dá uma energia que conforta, sustenta,
orienta e enraíza nossa experiência de vida.”
Este depoimento foi um verdadeiro presente e ilustra de forma excepcional o que
vimos procurando apresentar ao longo deste trabalho. Que o Tai Chi Chuan pode se
configurar como uma prática integrativa que se coaduna com pontos fundamentais da
filosofia da Slow Medicine, como um instrumento de auxílio para que as decisões
relativas à saúde voltem às mãos dos pacientes, melhorando sua qualidade de vida,
reduzindo o consumo de medicamentos, e quiçá, o número de exames diagnósticos e
intervenções terapêuticas. Outro aspecto é o relacionamento de proximidade e
camaradagem que se estabelece entre “curadores” (instrutores) com os pacientes, o
ganho no sentido da melhora da saúde que é obtido através de uma prática longa e
persistente - e portanto, slow. Onde o sétimo princípio da Slow Medicine encontra
264
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
sentido quando afirma que a ideia não são “…metáforas de luta ou guerra contra a
doença. As palavras de ordem são recuperação, equilíbrio, harmonia”.
autores afirmam que o estilo Yang parece ser mais eficaz do que o estilo de Sun, no
que se refere especificamente à quedas, embora não tenham havido comparações
diretas (HUANG et al. 2017). Citamos ainda um outro trabalho, publicado na
prestigiosa revista New England Journal of Medicine, onde o Tai Chi foi aplicado
para pacientes portadores de doença de Parkinson. Observou-se que o treinamento
com Tai Chi parece ter impacto positivo no equilíbrio em pacientes com doença de
Parkinson leve a moderada, além de outros benefícios como melhora da capacidade
funcional e redução de quedas (LI et al., 2012). Por fim, Jahnke R e seus
colaboradores fizeram uma extensa revisão em 2010 (JAHNKE et al., 2010) que
explora em profundidade uma vasta literatura das ciências da saúde acerca das
pesquisas sobre os benefícios para a saúde associados à prática do Tai Chi e do
Qigong. Na introdução do artigo, estas práticas, chamadas de meditação em
movimento ou movimento meditativo, são caracterizadas em suas singularidades e
semelhanças, além de estabelecer a interrelação de ambas as técnicas com os
fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa. Interessante que na maior parte dos
estudos incluídos no trabalho, o Tai Chi é feito por um período relativamente curto de
tempo, em formas mais simples (em geral, nas pesquisas, as formas longas, por sua
complexidade, não são utilizadas). O estudo aparentemente tem uma metodologia
adequada, e especifica algumas situações clínicas nas quais o Tai Chi e o Qigong
podem ter impacto positivos, a saber: densidade óssea, sistema cardiovascular e
respiratório, capacidade física, equilíbrio e quedas, qualidade de vida, auto-eficácia
(em psicologia a convicção de uma pessoa de ser capaz de realizar uma tarefa
específica), “resultados relatados pelo paciente”, efeitos psicológicos e na função
imune.
Esta breve revisão da literatura nos sugere que o Tai Chi é uma prática promissora,
enquanto adjuvante terapêutico, em uma série de condições clínicas bastante
prevalentes, com benefícios que vem sendo paulatinamente bem estabelecidos em
pesquisas científicas conduzidas com metodologia adequada. As perspectivas de
melhora da qualidade de vida, redução do uso de medicamentos, diminuição da
procura de serviços de saúde, melhor controle de sintomas através de mudanças
comportamentais e não-farmacológicas, entre outros, são todos fatos que se conciliam
com os princípios e a filosofia da Slow Medicine. Tratando-se de uma prática
integrativa, com outros prováveis benefícios, na promoção e prevenção em saúde
(LAN et al. 2013), acreditamos que o Tai Chi pode representar um bom exemplo de
266
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
prática, convergente com o sétimo princípio da Medicina sem Pressa, que afirma
que “as palavras de ordem são recuperação, equilíbrio, harmonia.”. Finalizando,
citamos a resposta de Jackie Wooton ao nosso questionário, onde ela afirma que:
“Como não-médica eu diria que a biomedicina científica é inestimável para condições
agudas, mas as práticas integrativas podem ser mais eficazes para queixas crônicas e
agem para dar suporte ao binômio corpo-mente no sentido da manutenção do bem-
estar e da boa saúde. Eu concordo que essa combinação caracteriza a Slow
Medicine.”.
REFERÊNCIAS
FERREIRA, Ana Rita Alves Cruz. O Movimento Slow Food The Slow Food
Movement, Monografia, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação.
Porto, 2009. Disponível em https://repositorio-
aberto.up.pt/bitstream/10216/54666/4/132873_09116TCD116.pdf. Acesso em
10/05/2018.
HONORÉ, CARL Devagar. Tradução de Clóvis Marques, 7ª Edição, Rio de
Janeiro, Record, 2012.
HUANG, Zhi-Guan, et al. Systematic review and meta-analysis: Tai Chi for
preventing falls in older adults. BMJ open 7.2, 2017: e013661.
JAHNKE, Roger et al. A comprehensive review of health benefits of qigong and tai
chi. American Journal of Health Promotion Vol. 24, N. 6, 2010: e1-e25.
LAN, Ching et al. Tai Chi Chuan in Medicine and Health Promotion, Evidence-
based complementary and alternative medicine, 2013.
LI, Ben; FORBES, Thomas L.; BYRNE, John. Integrative medicine or infiltrative
pseudoscience? The Surgeon, Vol. 16, N. 5, 2018, pp. 271-277.
268
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
LI, Fuzhong, et al. Tai chi and postural stability in patients with Parkinson's
disease. New England Journal of Medicine, Vol. 366, N. 6, 2012, pp. 511-519.
MCCULLOUGH, Dennis. My Mother Your Mother.
Disponível em http://www.mymotheryourmother.com. Acesso
em 18/12/2008, 2008.
POLKEY, Michael I., et al. Tai Chi and pulmonary rehabilitation compared for
treatment-naive patients with COPD: a randomized controlled trial. Chest Vol. 153,
N. 5, 2018, pp. 1116-1124.
SACKETT, David L., et al. Evidence based medicine: what it is and what it isn't. (1996):
71-72.
YEH, Gloria Y., KAPTCHUK, Ted J.; SHMERLING, Robert H. Prescribing tai chi
for fibromyalgia - are we there yet? New England Journal of Medicine Aug 19;
Vol. 363, n. 8, pp. 783-4, 2010.
8. ANEXOS:
270
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
Anexo A:
O Manifesto da Slow Medicine:
Medicina Sóbria: Fazer mais não quer dizer fazer melhor:
A Slow Medicine reconhece que fazer mais não significa fazer melhor.
271
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
A Slow Medicine reconhece que os valores, expectativas e desejos das pessoas são
diferentes e invioláveis.
Uma medicina justa promove a prevenção, entendida como tutela da saúde; presta
cuidados apropriados, isto é, adequados às pessoas e às circunstâncias, e que
provaram ser eficazes e aceitáveis aos paciente e profissionais de saúde.
272
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
273
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
(https://www.slowmedicine.com.br/principios/)
1. Against the background of the philosophy and principles of Slow Medicine and Tai
Chi Chuan, how do you see the question of rhythm and time in therapeutic processes?
274
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
Tai Chi Chuan is not as familiar to me as to you and Jackie. I have only taken
one class, and that was years ago. But I have observed it and read about it, and
have engaged in similar exercises for much of my life. An essential element of
them is slowing down one's movement and stillness enough to be "in" them
rather than allowing motion to occur mechanically and without direct
participatory awareness. Basic meditation practice begins with cultivation of
sensory presence in stillness. In these practices, one becomes as deeply and
directly aware of, say one's foot, of the skin sensations, and gradually allows
the sensations to deepen, even all the way into bone. Rather than thinking
about the foot, the foot itself comes into being. My impression of Tai Chi is
that the technique fosters this kind of sensation while in movement. This calls
for slowing to allow the practitioner to "be there" in the movement as much as
possible, and to gradually grow this direct awareness. The reciprocal process
is that the centrality of thinking as a substitute for being present is slowly
undone. We get out of just being in our heads all the time. Over time, the
practice must help a person move through life with less wasted energy -- less
"one part working against another", less employment of the wrong part for
work done better by another. This notion expands beyond just the physical
body but into intellectual and emotional spheres and their proper integration.
Your question of rhythm and time in therapeutics relates to this very well.
Slowing allows time for the development of deeper awareness and forestalls
inappropriate reactivity leading to excessive unintended consequences.
Rhythm brings timing into this process -- that there is a right time for the
movement or stillness of a particular aspect affecting someone's health. A
common error at this point is to focus on the healing practitioner as the arbiter
of this timing. In fact, the "patient" is a hugely important carrier of this
wisdom -- if they can slow down enough to learn to pay attention to their
direct experience. The healer and the patient can be allowed to "slow" together
to avoid automatic hasty reactions built on protocols and replace them with
moves better grounded in presence in the real situation. The person is a
composition of elements joined in patterns that can be more or less
harmonious. A musician who does not hear what sound is coming out of the
instrument, and sense what positions and movements allowed it, is less likely
275
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
to harmonize. This is true of patients trying to get better, and of doctors trying
to help them.
One might flip your assertion around and point out that modern medicine is
the "unconventional approach to health". Versions of traditional "slow
medicines" go much further back in history. The past few decades of dramatic
success of "fast medicine" in some areas of health practice have caused an
imbalance and disharmony to develop in relation to older traditions that did
encourage an era-related "slow medicine". Many doctors and patients have
experienced the benefits of cultivating time and attention in the therapeutic
relationship. What we call "alternative" are traditional practices that often used
these to great effect. What we have now is a situation in which this new
unconventional fast medicine might be better integrated with these older
conventions.
Note that an observable outcome of the urgent need for this integration has
been the appearance of bastardized offspring -- all sorts of allopathic-like
therapies and devices that name themselves alternative, integrative, or
complementary, but are actually just distorted versions of fast medicine and
the market economy mixed together.
276
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
possible. Without metaphors of struggle or war against disease. The slogans are
recovery, balance, harmony.
This principle simply brings together the aspects I've discussed, while
mentioning the all-important factor of "evidence". The conundrum to be
worked out is "what can we agree upon as being evidence?" An associated
element is the ubiquitous nostrum known as "the placebo effect". To what
extent is this to be encouraged? Is it o.k. to engage the placebo effect of
homeopathy if I know the individual remedies have no solid evidence base? Is
it ever o.k. to lie to the patient? When is it o.k. to allow the patient to lie to
him or herself? (This last question does relate to "rhythm", no?) If the aim is
recovery, balance, and harmony, we are helped to make ethical decisions that
will not eventually undermine them, but will promote their best manifestation.
For example, if we lie to a patient to "help" them, and they later figure that
out, it might promote deeper illness, and will certainly not build trust. Taking
time to consider long-term effects is essential, and that is why Slow Medicine
is essential.
1. O Tai Chi Chuan não é tão familiar para mim quanto para você e Jackie. Eu só fiz
uma aula, e isso foi há anos. Mas eu observei e li sobre isso, e me engajei em
exercícios similares por grande parte da minha vida. Um elemento essencial deles é
lentificar o movimento e a quietude de uma pessoa para "permanecer dentro do
movimento", em vez de permitir que o movimento ocorra mecanicamente e sem uma
consciência participativa direta. A prática básica de meditação começa com o cultivo
da presença sensorial na quietude. Nessas práticas, a pessoa se torna profunda e
diretamente consciente, digamos, do pé, das sensações da pele, e gradualmente
permite que as sensações se aprofundem, até mesmo no osso. Em vez de pensar no pé,
o próprio pé passa a existir. Minha impressão do Tai Chi é que a técnica estimula
esse tipo de sensação enquanto se está em movimento. Isso exige uma desaceleração
para permitir que o praticante "esteja presente" no movimento, tanto quanto possível,
e para aumentar gradualmente essa percepção direta. O processo recíproco é que a
centralidade do pensamento como um substituto para o estar presente é lentamente
desfeita. Nós saímos da situação de estarmos apenas dentro de nossas cabeças o
277
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
tempo todo. Com o tempo, a prática deve ajudar uma pessoa a se mover através da
vida com menos desperdício de energia - menos "uma parte trabalhando contra a
outra”, empregando menos uma parte para que o trabalho seja melhor feito por outra
parte do corpo. Esta noção se expande além do corpo físico, atingindo as esferas
intelectuais e emocionais e integrando-as de maneira adequada.
Sua questão do ritmo e do tempo na terapêutica se relaciona muito bem com isso. A
desaceleração proporciona tempo para o desenvolvimento de uma consciência mais
profunda e evita a reatividade inadequada, que pode levar a excessivas conseqüências
não-intencionais. O ritmo traz tempo para este processo - que há um momento certo
para o movimento ou a quietude acerca de um aspecto particular da saúde de uma
pessoa. Um erro comum neste ponto é se concentrar no instrutor como o árbitro desse
tempo. De fato, o "paciente" é o verdadeiro portador dessa sabedoria - se eles
puderem desacelerar o suficiente para aprender a prestar atenção à sua experiência
direta. É possível permitir que o instrutor e o paciente "desacelerem" juntos para
evitar reações precipitadas automáticas construídas em protocolos e substituí-los por
movimentos melhor fundamentados na presença da situação real. A pessoa é uma
composição de elementos unidos em padrões que podem ser mais ou menos
harmoniosos. Um músico que não ouve qual melodia está saindo de seu instrumento e
que não percebe o que as posições e os movimentos propiciaram, é menos provável
que consiga harmonizar. Isso também vale para os pacientes em busca de melhora e
para os médicos que tentam ajudá-los.
278
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
Fast Medicine não-convencional pode ser melhor integrada com essas práticas mais
antigas.
2. Las prácticas integrativas, donde enfoques "no convencionales a la salud" han sido
cada vez más utilizados por la sociedad, viene ganando aceptación en la comunidad
médica. El Tai Chi Chuan ha sido reconocido como una práctica complementaria y
279
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Es muy largo tema, pero hay algo breve para decir: una cosa es tener una
enfermedad y otra estar enfermo. Se debe lograr entre la medicina
convencional - la medicina complementaria y principalmente en la educación
del paciente que debe entender que no debe esperar todo de fuera, sino que el
principal actor es él para que cambie su vida, costumbres y conciencia y se
transforme en una persona con una enfermedad (control) y no un enfermo.
3- É um tema muito amplo, mas posso afirmar algo breve: uma coisa é ter uma
doença, outra é estar doente. Deve se procurar um entrelaçamento entre a
280
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
281
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
los na perspectiva pretendida pelo sentido que damos a própria vida. Talvez, o
que a maioria dessas práticas tenha em comum, seja o respeito pelo indivíduo
como um ser autônomo, dono de sua vontade, que pode ser
recordado/ensinado quanto a responsabilidade que possui sob a sua própria
vida. "Devolvem"/desenvolvem nele a atenção a si próprio, estimulando-o a
ter disciplina e colocar atenção em si mesmo. Trabalhando com seus limites
com mais consciência. Desenvolvendo também, muitas delas, a visão
sistêmica do indivíduo quanto a própria vida.
“Please note that I am not a medical practitioner. I am a social scientist and worked
for 20 years, while living in the US, in the field of alternative medicine/ integrative
medicine, primarily gathering and publishing (mainly open-access online) impartial
282
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
283
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
“Por favor, note que eu não sou um médica. Eu sou uma cientista social e trabalhei
por 20 anos, enquanto vivia nos EUA, no campo da medicina alternativa / medicina
integrativa, principalmente na captação e publicação informação imparcial baseada
em evidências sobre várias modalidades e práticas ((principalmente com acesso
aberto on-line). Por "baseada em evidências" eu e minha equipe na Alternative
Medicine Foundation, não olhamos para os dados de ensaios clínicos controlados
284
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
1. O ritmo e o tempo são de fato fundamentais para o conceito e a prática do Tai Chi.
Eu posso ver que os mesmos princípios também se aplicam à Slow Medicine. É
importante observar o ritmo e as fases da doença ou envelhecimento, em vez de
aplicar automaticamente uma bateria de testes e procedimentos; ter tempo para ouvir
atentamente o paciente; mas, quando necessário, antecipar-se e intervir sem hesitação.
Sou relutante em incluir a prevenção de doenças, pois há muitas condições que são
genéticas ou, de algum modo, inevitáveis, como os efeitos colaterais dos
medicamentos. Um termo melhor pode ser resiliência - a capacidade de se recuperar
rápida e completamente.
285
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
3. Uma nota rápida na terminologia. Se você usa o termo "Medicina Tradicional" para
a biomedicina moderna, isso leva à confusão. A biomedicina é relativamente jovem
na história da medicina. É preferível reservar o termo "Tradicional" para as muitas
antigas tradições ancestrais de sabedoria, como Ayurveda, TCM, medicina tibetana,
etc.
286
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
sem força. Devemos também manter os cotovelos para baixo senão não seremos
capazes de manter os ombros relaxados e mover nosso corpo de forma suave.
6 – Usar a mente e não a força: na prática do Tai Chi Chuan, todo o corpo está
relaxado e não há idéia de força bruta ou endurecida nas veias ou juntas por trás dos
movimentos do corpo. Se os meridianos não estiverem bloqueados a energia vital vai
circular no corpo inteiro. Mas se os meridianos forem preenchidos com força bruta, a
energia vital não será capaz de circular e conseqüentemente o corpo não vai se mover
facilmente ou suavemente. Deve-se assim usar a mente ao invés da força bruta, pois
assim a energia vital irá seguir a consciência e circular por todo o corpo. Através da
prática persistente seremos capazes de cultivar e desenvolver uma força interna
genuína. Isto é o que os expertos em Tai Chi Chuan chamam de: “Flexível na
aparência, mas poderoso na essência”.
7 – Coordenar o superior e o inferior: de acordo com a teoria do Tai Chi Chuan a raiz
está nos pés, a força é emitida através das pernas, controlada pela cintura e expressa
pelos dedos; os pés, pernas e a cintura formam um todo harmonioso. Quando as mãos
e a cintura e as pernas se movem, os olhos devem seguir o seu movimento. Isto pode
acontecer quando houver coordenação entre a parte superior e inferior. Se alguma
parte para de mover-se, então os movimentos serão desconectados e cairão em
desordem.
8 – Harmonia entre o interno e o externo: praticando o Tai Chi Chuan o foco está na
mente e na consciência. Assim dizem: “O Espírito (Consciência) é o comandante e o
corpo é o subordinado”. Se podemos elevar o Espírito com a mente tranqüila, então os
movimentos serão naturalmente suaves e graciosos. As posturas não vão além do
cheio e vazio, abrindo e fechando. Aquilo que é chamado abrir, significa que não
apenas as mãos e os pés estão abertos, mas a mente também está aberta. Quando
pudermos fazer com que o de dentro e o de fora se tornem um, a coordenação será
completa e a perfeição será atingida.
9 – Importância da continuidade: no Tai Chi Chuan se focaliza a atenção na mente e
não na força e os movimentos de início ao final são contínuos e circulares. Assim se
diz: “É como um grande rio correndo incessantemente”.
10 – Tranqüilidade no movimento: no Tai Chi Chuan o movimento é combinado com
a tranqüilidade e enquanto se executa os movimentos se mantém a tranqüilidade da
mente. Na prática da “Forma”, quanto mais lento o movimento, melhores resultados
são conseguidos. Isto acontece porque quando os movimentos são lentos, pode-se
287
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
1. Tempo
Tempo para ouvir, para entender, para refletir. Tempo para consultar e
tomar decisões. A tomada de decisões melhora quando os médicos dedicam seu
tempo e sua atenção ao paciente.
2. Individualização
3. Autonomia e Auto-Cuidado
Neste conceito de saúde, que transcende o antigo conceito de saúde da OMS (“um
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de
afeções e enfermidades”) o foco é no auto cuidado e resiliência, com ênfase na saúde
e não na doença, abordando os cuidados de saúde e a prevenção de doenças e a
manutenção da qualidade e da acessibilidade dos cuidados .
5. Prevenção
Alimentação saudável é a prescrição básica para uma vida saudável. Atividade física
regular, pensamento positivo e flexibilidade mental são essenciais para manter nossos
cérebros saudáveis.
288
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
6. Qualidade de vida
Fazer mais nem sempre significa fazer melhor. Mais que quantidade deve-se investir
na qualidade, na aceitação do inevitável. Deve-se sempre considerar a arte médica de
não intervir – a sabedoria da observação clínica .
7. Medicina Integrativa
9. Paixão e compaixão
Original:
Anoche un doctor geriatra de Brasil, que es el primer médico que hace la tesis en ese
país-según sus palabras- para recibirse, para practicar y aconsejar la práctica del
289
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Taichi en personas con diversas patologías, un Quijote de los tantos que precisa la
medicina, nos preguntó,( al vernos en nuestra sección semanal de esa práctica que
realizamos y que comenzamos específicamente por dolencias físicas) si notábamos
algún cambio en nuestro cuerpo, estado mental, desde que comenzamos a ahora.
Personalmente, a raíz de una tendinitis en una de las rodilla, que me hacía caminar
con dificultad, y me producía mucho dolor. La doctora, recetó placas, densitometría y
medicamentos para disminuir la inflamación y para el dolor. Sumando a esto mis
temores, al ver que esa situación física y mental, reducían mis actividades. En otra
visita a la doctora, me aconsejó -después de ver mis exámenes - el comenzar a hacer
Taichí. Desconocía que esta actividad se realizara en nuestro medio, para la salud.
Noté que realizando las prácticas con formas diría coreográficas de este ejercicio, no
aumentaba el dolor, el que poco a poco fue abandonando mi rodilla y mi alma.
290
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
Encontrar, cuidar el centro de energía el Tantien, debajo del ombligo-el que recién
con mucho practicar, estoy reconociéndolo.
Al no tener dolor, viendo que iba sintiéndome cada día mejor, vital, el entusiasmo tal
como dice su etimología griega: tener los dioses adentro-me permite compartir en mis
conversaciones, lo positivo de ejercitarse en taichí. Y demostrar a quienes están de
acuerdo, que el hombre tiene articulaciones, por todos lados, y que se van
endureciendo, entumeciéndose si no se mueven...y que además vacía la mente que
está llena de muchas cosas no importantes e importantes por la atención de esta vida
que se vive a mucha velocidad.
Carlos mi esposo, con el cual dialogamos para esta reflexión, frente a un cuadro de
presión alta arritmias colesteroles, triglicéridos y todos los valores elevados PSA,
glucemia, etc ,etc, fue estudiado con todo tipo de exámenes y fue medicado.
Ante un dolor en una pierna- la doctora que lo vio estudió todos los exámenes y
medicaciones que tenía, con mucha paciencia y responsabilidad, le aconsejó
comenzar Taichí.
Hubo cierta reticencia, porque venía de haber estado con cardiólogos, urólogos,
médico general, médico internista, diabetóloga, nutricionista, psicólogo, más
exámenes de todo tipo. Sumando medicamentos que le hacían efectos como sentir no
tener equilibrio, estar aplastado. Siendo un hombre activo, no obeso. Nunca fumó, y
beber alcohol en alguna ocasión especial, responsable en la dieta y el querer estar
bien. Luego de hablar con Ramón, el doctor, comenzó con esto del taichí.
Hoy ya casi a dos años, los médicos especialista han disminuido medicación, notaron
la ausencia de arritmias, la diabetes, con valores normales, el psicólogo le dio el alta,
las angustias se han ido, y cada vez los especialista de cada enfermedad, han
espaciado las citas, sin dejar los controles.
291
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Tiene más coordinación, tiene disciplina de practicar los ejercicios todas las mañanas,
la respiración la mente, han ido bajando el estrés que sufrió.
Y , como pareja, nos dio la oportunidad de tener algo más para compartir, al sentirnos
bien con nosotros mismos, al sentirnos con energías, con salud física y mental,
valoramos más el estar juntos, y de poder encontrar el equilibrio para seguir
eligiéndonos.
Sentimos que el practicar esta disciplina no da una energía que conforta, sostiene,
guía, enraíza nuestra experiencia de vida.
Na noite passada, um médico geriatra do Brasil, o primeiro médico a fazer este tipo de
tese naquele país, segundo suas próprias palavras - para receber, praticar Tai Chi e
aconselhar a prática do Tai Chi para pessoas com diferentes patologias, um Don
Quixote de que tanto precisa a medicina, ele nos perguntou, (vendo-nos em nossa
seção semanal desta prática que fazemos e que começamos especificamente por
doenças físicas) se notávamos qualquer mudança em nosso corpo, estado mental,
desde que começamos a praticar.
292
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
Percebi que praticando a forma, poderia dizer, coreográfica, deste exercício, a dor não
aumentava, mas gradualmente ia abandonando meu joelho e minha alma.
Encontrar, cuidar do centro de energia - o Tan Tien, abaixo do umbigo - que apenas
estou começando a reconhecer, depois de muito praticar.
Hoje eu só sei que nada sei, e que seguirei aprendendo, praticando “pendurada” no
ônibus lotado, na cozinha, mexendo uma comida, ou quando vou pegar algo que está
no chão, lembrar da curva da vida.
Por não ter nenhuma dor, vendo que estava me sentindo melhor a cada dia, vitalizada,
o entusiasmo, a partir de sua etimologia grega: ter os deuses dentro de si - me permite
compartilhar em minhas conversas os aspectos positivos de exercitar-se com oTai
Chi. E demonstrar àqueles que concordam, que o homem tem articulações, por todos
os lados, e que elas endurecem, entorpecem se não se movem ... e isso também
esvazia a mente que está cheia de muitas coisas sem importância e outras importantes
e pela atenção desta vida vivida velozmente.
293
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Carlos meu marido, com quem conversei sobre esta reflexão, frente à um quadro de
pressão alta arritmias colesterol, triglicérides e valores elevados de PSA, glicemia,
etc, etc, foi estudado com todo tipo de exames e foi medicado.
Frente a uma dor em na perna - a médica que o atendeu estudou todos os exames e
medicamentos que tinha, com muita paciência e responsabilidade, e aconselhou-o a
começar este tal de Tai Chi.
Ele tem mais coordenação, disciplina para praticar os exercícios todas as manhãs, a
respiração, a mente, têm diminuído o estresse que ele sofreu.
E, como casal, nos deu a oportunidade de ter algo mais para compartilhar, ao
sentirmo-nos bem conosco mesmos, nos sentirmos com energia, com saúde física e
mental, valorizamos mais estar juntos e sermos capazes de encontrar o equilíbrio para
continuar escolhendo-nos.
Sentimos que praticar essa disciplina nos dá uma energia que conforta, sustenta,
orienta, enraíza nossa experiência de vida.
17 de Agosto de 2018
294
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO
295
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
296
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
RESUMO
Palavras-chave: Qualidade de vida, saúde, bem estar, qigong, baduanjin, práticas corporais,
medicina tradicional chinesa.
ABSTRACT
The Traditional Chinese Medicine Bodily Practices are practices that aid people in the
maintenance of mental and physical health balance, like the prevention of illnesses. The
Programs of Life Quality at Work have the purpose to make the employees of the company
feel good working on it and turn the work atmosphere into a pleasant place, consequently,
improving the productivity itself. Therefore, several studies are been carried out intending to
demonstrate how the practices of physical exercises, being them in form of laboral
gymnastics, stretching, corporal practices of traditional Chinese medicine, among others, are
been accepted in the Brazilian companies. This work has the finality introduce the Traditional
Chinese Medicine Bodily Practices to employees of the Factory in the São José dos Campos
city, where were performed some exercises of relaxing, stretching and warming-up.
Following that, was executed a sequence of movements from the Traditional Chinese
Medicine Bodily Practices, known as BāduÀnjǐ n Qì gōng in the period from March 20,
2017 to November 1, 2017, followed by a life quality questionnaire, abbreviated as
WHOQOL-bref.
Key words: Quality of life, health, wellness, qigong, baduanjin, corporal practices,
traditional Chinese medicine.
297
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Introdução.
Nos últimos anos a Qualidade de Vida nas Empresas vem sendo um assunto muito
estudado por pesquisadores no intuito de proporcionar bem estar, saúde, uma melhor condição
de trabalho para os funcionários das empresas e assim trazer satisfação ao funcionário para
sua execução melhorando assim tanto a produtividade da empresa como o relacionamento
entre os funcionários.
Neste contexto, a qualidade de vida no trabalho vem proporcionando uma maior
participação por parte dos funcionários no intuito de criar uma maior integração entre todos os
funcionários, entre superiores e colegas de mesmo setor.
A Qualidade de Vida no Trabalho se preocupa com o bem-estar do trabalhador e com
sua eficiência durante o trabalho.
Assim sendo, discussões sobre Produtividade, Competitividade e Qualidade têm
atraído à atenção de pesquisadores, profissionais de todas as áreas e, evidentemente, dos
próprios empresários.
As Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa vem sendo utilizadas como
ferramentas pelos profissionais da área no intuito de manter a saúde equilibrada bem como
prevenir várias doenças com seu treinamento constante.
O Bāduànjǐn Qìgōng é uma Prática Corporal e mental da Medicina Tradicional
Chinesa que objetiva a manutenção da saúde física e mental. É uma prática simples de se
aprender, segura e prazerosa, que utiliza vários movimentos de todo o corpo e tem como
princípios fundamentais a integração da meditação, respiração com os movimentos corporais.
Por esses diversos motivos, o autor indica a prática para indivíduos idosos (HSU1 et al.,2008
apud TAVARES et al., 2017, p.84).
O objetivo do presente trabalho é introduzir a Pratica Corporal da Medicina
Tradicional Chinesa conhecida como Bāduànjǐn Qìgōng para os funcionários da empresa de
desenvolvimento e fabricação de componentes tubulares existente na cidade de São José dos
Campos-SP e observar como foi à aceitação entre os funcionários e através do questionário de
qualidade de vida WHOQOL-bref analisar os resultados.
1
HSU, M.-C. et al. Effects of Baduanjin Exercise on Oxidative Stress and Antioxidant Status and
Improving Quality of Life Among Middle-Aged Women. The American Journal of Chinese Medicine, v.
36, n.5, p. 815–826, jan. 2008.
298
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
299
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
300
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Qìgōng
Não sabemos ao certo quando surgiu o termo Qìgōng, mas segundo Livramento (2010,
p.82) é o resultado de milhares de anos de experiência do homem no desenvolvimento do uso
da energia vital para vários propósitos definidos.
Ainda segundo Livramento (2010, p.82), Os antigos mestres desenvolveram a arte da
energia para curar doenças, promover a saúde, a longevidade, melhorar as habilidades de luta,
expandir a mente, alcançar níveis diferentes da consciência e atingir a espiritualidade.
Os registros chineses mostram que por volta de 2.700 a.C., o Qìgōng tinha se tornado
um aspecto importante da medicina chinesa. O tipo mais antigo era provavelmente uma forma
de dança meditativa que estimulava o equilíbrio da energia do corpo (WONG, 20032 apud
LIVRAMENTO, 2010, p.82).
Nesta dimensão, a medicina tradicional chinesa – e o Qìgōng especificamente – tem
duas características importantes que justificam a necessidade de sua incorporação, difusão e
popularização no ocidente. Por um lado, consiste numa prática milenar, ou seja, consagrada,
experimentada, amplamente testada ao longo de muitas gerações humanas, constituindo, hoje,
um patrimônio da humanidade voltado para a preservação da capacidade vital e da saúde. Por
outro lado, o Qìgōng é uma prática terapêutica que pode ser compreendida, aprendida e
exercida pelas pessoas com relativa facilidade, apesar de sua complexidade, rompendo com a
passividade dos tratamentos ocidentais de saúde e com o acesso restrito às práticas
preventivas e holísticas (LIVRAMENTO et al., 2010, p.74).
Segundo Lazzari (2014, p.20), o estudo do Qìgōng se desenvolveu por intermédio da
acumulação de experiências e estudos de vários mestres chineses no decorrer dos últimos
4000 anos.
Qì Gōng quando traduzido do mandarim quer dizer: Qì ( 气 )-Energia e Gōng-
Trabalho, sendo Qì ( 气 ) um termo muito comum e de extrema importância para o
entendimento e aplicação da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que permeada
por 7 pilares e em todos eles o Qì ( 气 ) Energia é que rege tudo (MACIOCIA,
20073 apud PONTES, 2016, p.13).
2
WONG, K. K. El gran libro de la medicina china. 3. ed. Barcelona: Urano, 2003.
3
MACIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa: um texto abrangente para acupunturistas e
fitoterapeutas. 2nd. ed. [s.l.] Roca, 2007.
301
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
aristocracia, o que na verdade ainda ocorre no domínio dentro dos níveis avançados das artes
marciais, do Dàoismo e do Budismo. O conhecimento foi inicialmente ao povo através da
4
TIANJUN LIU, O. M. D. Chinese Medical Qigong. London and Philadelphia: Singing Dragon, 2013.
302
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
5
KOH, T. C. Baduanjin - An Ancient Chinese Exercise. The American Journal of Chinese
Medicine, v. 10, n. 4, p. 14–21, jan. 1982.
303
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Segundo Li et al.6 (2014, apud PONTES, 2016, p.35) o Bāduànjǐn Qìgōng é uma
técnica do tipo Interna e uma das mais antigas e populares praticadas na China, recomendada
pela Chinese Health Qigong Association para ser aplicado na comunidade pois combina a
visão holística e a teoria do Qì da Medicina Tradicional Chinesa. Como o próprio nome
caracteriza o Bāduànjǐn é uma técnica de Qìgōng formada por oito movimentos permitindo
que o corpo mantenha o centro de gravidade constante, onde a coluna funciona como um eixo
enquanto os membros são acionados alternando a contração muscular e relaxamento em
diferentes partes do corpo.
Abaixo segue a sequência dos oito exercícios do Bāduànjǐn Qìgōng realizados na
Fábrica de desenvolvimento e fabricação de componentes tubulares existente na cidade de
São José dos Campos-SP no período de 20 de março a 1º de novembro de 2017.
Início
预备式 Yùbèi shì
Preparação
Em pé, com o corpo relaxado e os braços estendidos ao longo do corpo, olhar para frente e
calcanhares unidos;
6
LI, R. et al. The effect of baduanjin on promoting the physical fitness and health of adults.
Evidience Based Complement and Alternative Medicine, v. 2014, p. 784059, 2014.
304
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Abra a perna esquerda formando uma abertura do tamanho da largura dos ombros;
Abra os braços e posicione as mãos na frente do umbigo quase igual como na postura da
árvore.
305
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Posição de preparação
1º Exercício
两手托天理三焦 Liǎngshǒu tuō tiānlǐ sānjiāo
Sustentar o céu com as mãos para regular o Triplo aquecedor
306
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Eleve os braços na frente do corpo até a altura do rosto e em seguida estique completamente
os braços para cima, o olhar acompanha as mãos;
307
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Após esticar as mãos para cima, olhar para frente e mantenha os braços esticados para cima;
308
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Posição de preparação
Repita estes movimentos 8 ou 16 vezes para ambos os lados
2º Exercício
左右开弓似射雕 zuǒyòukāigōng shì shè diāo
Estirar o arco e lançar a flecha para fortalecer os pulmões
Este exercício fortalece a parte superior das costas, ombros e dorso dos braços e
regulariza as funções do baço e do estômago, ajudando a digestão (EDEENERGIA, 2015).
309
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Abra a perna esquerda na largura de um ombro e meio e neste momento cruze os braços na
altura do peito;
Estique o braço esquerdo para trás como se estivesse puxando a flecha em um arco e o braço
direito com o dedo indicador levantado como se fosse a ponta da flecha. Neste momento,
devemos baixar a base baixa do cavaleiro;
310
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Abrir o braço direito e esquerdo abrindo lateralmente para voltar com os pés unidos e mãos na
altura do umbigo;
Posição com calcanhares unidos e mãos na altura do umbigo. Após esse movimento, fazer do
outro lado;
311
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Abra a perna direita na largura de um ombro e meio e neste momento cruze os braços na
altura do peito;
Estique o braço direito para tras como se estivesse puxando a flecha em um arco e o braço
esquerdo com o dedo indicador levantado como se fosse a ponta da flecha. Neste momento,
devemos baixar a base baixa do cavaleiro;
312
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Abrir o braço esquerdo e direito abrindo lateralmente para voltar com os pés unidos e mãos na
altura do umbigo;
Posição com calcanhares unidos e mãos na altura do umbigo. Após esse movimento, fazer do
outro lado;
Repita estes movimentos 8 ou 16 vezes para ambos os lados.
313
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
3º Exercício
调理脾胃须单举 tiáolǐ píwèi xū dān jǔ
Elevar um braço para recuperar o apetite ou Separar Céu e Terra
314
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Elevamos o braço esquerdo par cima enquanto o braço direito estica para baixo, olhar para
frente;
Descemos o braço esquerdo desce e braço direito sobe para voltar a posição de preparação;
315
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Elevamos o braço direito par cima enquanto o braço esquerdo estica para baixo, olhar para
frente;
Descemos o braço direito desce e braço esquerdo sobe para voltar a posição de preparação
Repita estes movimentos 8 ou 16 vezes para ambos os lados.
316
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Para finalizarmos esse exercício, após a posiçãod e preparação, as mãos descem com as
palmas voltadas para trás;
4º Exercício
五劳七伤向后瞧 wǔ láo qī shāng xiàng hòu qiáo
Olhar os calcanhares para evitar o enfraquecimento do organismo
317
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Na posição com as palmas voltadas para trás, começamos girar o braço para trás e no mesmo
momento giramos a cabeça como se fossemos olhar para trás ou para os calcanhares;
318
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Depois de feito a rotação do braço e cabeça para trás, voltamos para a posição com as palmas
voltadas para trás;
Na posição com as palmas voltadas para trás, iniciamos o mesmo exercício para o lado direito;
319
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Após feito a rotação do braço e cabeça para trás, voltamos para a posição com as palmas
voltadas para trás;
320
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
5º Exercício
摇头摆尾去心火 yáotóubǎiwěi qù xīn huǒ
Balançar a cabeça e o cóccix para acalmar o fogo do coração
321
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Após abrir a perna direita, descemos para a posição do cavaleiro e colocamos as mãos na coxa;
322
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Neste momento esticamos a perna esquerda e inclinamos o corpo para o lado direito para
iniciar a descida do tronco;
323
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Após chegarmos ao lado esquerdo, esticamos a perna direita enquanto a perna esquerda esta
dobrada;
324
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Após chegar ao lado esquerdo, voltamos o corpo para o centro e assim iniciamos o mesmo
movimento para o lado esquerdo;
Neste momento esticamos a perna direita e inclinamos o corpo para o lado esquerdo para
iniciar a descida do tronco;
325
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
326
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Para finalizar esse exercício, elevamos os braços para cima e descemos colocando as pontas
dos dedos voltadas para dentro e palmas das mãos para baixo;
6º Exercício
两手攀足固肾腰 liǎngshǒu pān zú gù shèn yāo
Segurar a ponta dos pés para fortalecer os rins
327
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Coma os braços elevados, começamos descer as mãos com os dedos voltados para os dedos
da outra mão;
Quando as mãos chegarem na altura do peito, passamos as mãos por debaixo das axilas;
328
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Após passar as mãos pelas axilas, descemos as mãos pelas costas, rins, parte de trás das
pernas até chegar na ponta dos pés;
Quando chegar as mãos nas pontas das pernas, alinhamos, cabeça e braços e elevamos
novamente até as os braços ficarem esticados para cima;
329
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Para finalizar, descemos os braços com as pontas dos dedos apontados para frente;
330
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
7º Exercício
攒拳怒目增气力 zǎn quán nùmù zēng qìlì
Estirar as mãos em punho com um olhar firme para fortalecer a força física
331
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Avançamos o punho esquerdo para frente como se fosse dar um soco com o punho na vertical
e olhar como se estivesse zangado;
Após o soco, abrimos a mão esquerda como se fosse pegar algo e neste momento fechamos a
mão esquerda como se estivesse pegando o dedão esquerdo;
332
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
333
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Avançamos o punho direito para frente como se fosse dar um soco com o punho na vertical e
olhar como se estivesse zangado;
Após o soco, abrimos a mão direita como se fosse pegar algo e neste momento fechamos a
mão direita como se estivesse pegando o dedão direito;
334
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
335
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Para finalizar este exercício, após fazer o lado direito, fechamos a perna esquerda e as mãos
ficam ao lado do corpo ( posição de sentido ).
8º Exercício
背后七颠百病消 bèihòu qī diān bǎi bìng xiāo
Suspender os calcanhares sete vezes para se recuperar da doença
336
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Finalizando
收式 Shōu shì
Conclusão
Finalização do 8º exercício
337
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Sendo que os homens devem colocar a mão esquerda e depois a direita por cima da esquerda
enquanto as mulheres fazer o inverso, isto é , as mulheres colocam a direita e depois colocam
a esquerda por cima;
338
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Metodologia
339
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
7
FLECK, M. P. et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da
qualidade de vida “WHOQOL-bref”. Revista de Saúde Pública, v. 34, n. 2, p. 178–183, abr. 2000.
340
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
1 Os números abaixo dos 24 facetas foram extraídos das questões do questionário Whoqol-bref. As
questões 1 e 2 não foram mostradas.
15. Mobilidade;
16. Atividades da vida cotidiana;
17. Dependência de medicação ou de tratamentos;
18. Capacidade de trabalho;
19. Sentimentos negativos;
20. Relações pessoais;
21. Suporte (Apoio) social;
22. Atividade sexual;
23. Participação em, e oportunidades de recreação/lazer;
24. Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima);
25. Transporte;
26. Espiritualidade/religião/crenças pessoais),
Segundo essa nota, podemos relacionar que o comportamento da qualidade de vida e
através dessa classificação podem avaliar cada faceta como cada domínio individualmente de
uma forma bem objetiva, assim:
• necessita melhorar (quando for 1 até 2,9);
• regular (3 até 3,9);
• boa (4 até 4,9) e
• muito boa (5).
O público participante das práticas foram os funcionários da fábrica de
desenvolvimento e fabricação de componentes tubulares existente na cidade de São José dos
Campos-SP onde participaram um total de 127 pessoas no período de 20 de março de 2017
até 1º de novembro de 2017. Do total de participantes 95 eram do sexo masculino e 32
pessoas eram do sexo feminino.
Referente ao período utilizado para a realização desta pesquisa que foi do dia 20 de
março de 2017 a 1º de novembro de 2017 cada aula teve uma duração de 15 minutos sendo
realizadas uma vez por semana.
Referente aos dados coletados foi sugerido a todos os participantes que preenchessem
os questionários e posteriormente entregassem, no entanto, nem todos os participantes
preencheram ou entregaram os referidos questionários.
Para a utilização dos dados fornecidos nestes questionários de Qualidade de Vida foi
solicitado aos funcionários participantes à autorização para a utilização das informações deste
341
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
questionário.
Dados coletados
Referente aos dados coletados durante a pesquisa, 40 pessoas autorizaram que fossem
utilizados suas informações e dentre essas 40 pessoas apenas 14 preencheram os questionários
nos três momentos pesquisados.
Dentre essas 14 pessoas que preencheram os questionários nos três momentos distintos
da pesquisa nove pessoas são do sexo masculino e cinco pessoas são do sexo feminino,
conforme gráfico abaixo:
342
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Na coleta das idades dos 14 funcionários participantes nos três momentos da pesquisa,
observou-se que 42,9% tinham idades entre 30 e 39 anos de idade, 35,7% tinham entre 20 e
29 anos de idade, 14,3% tinham entre 40 e 49 anos de idade e apenas 7,1% tinha entre 60 e 69
anos de idade.
343
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Outro dado importante observado nestes 14 participantes da pesquisa foi que apenas
uma pessoa entre eles tratava-se de pessoa fumante.
93%
Resultados e discussão
344
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Referente aos dados acima, foi observado que somente no quesito Recursos Financeiro,
os funcionários não estão satisfeitos, atingindo um porcentual de 39,29%.
345
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Com relação aos domínios, a estatística dos funcionários resume-se aos seguintes
resultados:
1º MOMENTO
COEFICIENTE
DESVIO VALOR VALOR
DOMÍNIO MÉDIA DE AMPLITUDE
PADRÃO MÍNIMO MÁXIMO
VARIAÇÃO
Físico 16,74 1,59 9,50 13,14 19,43 6,29
Psicológico 15,90 1,81 11,37 12,67 19,33 6,67
Relações Sociais 15,71 2,62 16,70 10,67 18,67 8,00
Meio Ambiente 14,26 2,43 17,02 9,00 17,00 8,00
Auto-avaliação da QV 16,14 2,14 13,28 12,00 20,00 8,00
TOTAL 15,62 1,52 9,76 12,00 18,15 6,15
2º MOMENTO
COEFICIENTE
DESVIO VALOR VALOR
DOMÍNIO MÉDIA DE AMPLITUDE
PADRÃO MÍNIMO MÁXIMO
VARIAÇÃO
Físico 16,56 1,54 9,29 13,14 19,43 6,29
Psicológico 16,15 2,72 16,86 10,00 18,67 8,67
Relações Sociais 15,90 1,69 10,64 13,33 18,67 5,33
Meio Ambiente 14,09 2,56 18,16 10,29 18,00 7,71
Auto-avaliação da QV 15,29 2,79 18,22 8,00 18,00 10,00
TOTAL 15,51 1,96 12,61 11,85 18,46 6,62
3º MOMENTO
COEFICIENTE
DESVIO VALOR VALOR
DOMÍNIO MÉDIA DE AMPLITUDE
PADRÃO MÍNIMO MÁXIMO
VARIAÇÃO
Físico 16,29 1,33 8,17 14,00 17,71 3,71
Psicológico 15,70 1,86 11,87 12,67 18,67 6,00
Relações Sociais 16,29 2,41 14,78 12,00 20,00 8,00
Meio Ambiente 14,43 2,06 14,31 10,50 17,50 7,00
Auto-avaliação da QV 16,71 1,27 7,58 16,00 20,00 4,00
TOTAL 15,64 1,46 9,32 12,92 17,85 4,92
Fonte: o autor
Analisando os escores dos domínios convertidos para uma escala centesimal nos três
momentos da pesquisa chegou-se ao mesmo resultado conforme quadro abaixo:
346
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
Físico 76,79
Psicológico 73,15
Relações
76,79
Sociais
Ambiente 65,18
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Conclusão
347
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Referente à coleta dos dados desde o início da pesquisa teve um total de 127 pessoas
que participaram preenchendo o questionário de qualidade de vida Whoqol-bref em algum
dos três momentos da pesquisa.
No terceiro momento onde foi solicitado a autorização para a utilização dos dados
coletados, cinco preencheram a autorização no entanto, não assinaram e os demais nem
entregaram.
Referências
JUNIOR, José Luiz. As práticas corporais chinesas: princípios e concepção de corpo uma breve
história do Chi Kung (Qi Gong), 2007
LAZZARI, F. D. Pa Tuan Chin, Oito Peças do Brocado, 2ª edição, Ribeirão Preto, SP, 2014.
LIVRAMENTO, G. et. al. A ginástica terapêutica e preventiva chinesa Lian Gong/Qi Gong como um
dos instrumentos na prevenção e reabilitação da LER/DORT, Rev. bras. saúde
Ocupacional vol.35 no.121 São Paulo Jan./June, 2010, p. 74 - 86.
ROSA, A. Tai Chi Chuan Estilo Chen Paraná, 2014. Disponível em Tai Chi Chuan Estilo Chen
Paraná: http://cih.org.br/taichiparana/?p=19. Acesso em 11 de junho de 2018,
348
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
ANEXO A
Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida
Instruções
Este questionário procura saber como você se sente a respeito de sua qualidade de vida, saúde
e outras áreas de sua vida. Por favor responda a todas as questões. Se você não tem certeza
sobre que resposta dar a uma questão, por favor, escolha, dentre as alternativas, a que lhe
parece mais apropriada.
Esta, muitas vezes, poderá ser sua primeira escolha. Tenha em mente seus valores, aspirações,
prazeres e preocupações. Nós estamos perguntando o que você acha de sua vida, tomando
como como referência as duas últimas semanas. Por exemplo, pensando nas últimas duas
semanas, uma questão poderia ser:
Muito
nada médio muito completamente
pouco
Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você recebe dos outros o
apoio de que necessita nestas últimas duas semanas. Portanto, você deve circular o número 4
se você recebeu "muito" apoio como abaixo.
Muito
nada médio muito completamente
pouco
Você deve circular o número 1 se você não recebeu "nada" de apoio. Por favor, leia cada
questão, veja o que você acha e circule no número e lhe parece a melhor resposta.
349
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas duas
semanas.
muito mais ou
nada bastante extremamente
pouco menos
As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de
fazer certas coisas nestas últimas duas semanas.
muito
nada médio muito completamente
pouco
350
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de
vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas.
nem
muito satisfeito Muito
Insatisfeito satisfeito
insatisfeito nem satisfeito
insatisfeito
351
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
parentes, conhecidos,
colegas)?
As questões seguintes referem-se a com que freqüência você sentiu ou experimentou certas
coisas nas últimas duas semanas.
Algumas muito
nunca freqüentemente sempre
vezes freqüentemente
352
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
ANEXO B
1º MOMENTO
DESVIO COEFICIENTE VALOR VALOR
QUESTÃO MÉDIA AMPLITUDE
PADRÃO DE VARIAÇÃO MÍNIMO MÁXIMO
Q1 4,14 0,53 12,90 3 5 2
Q2 3,93 0,73 18,58 2 5 3
Q3 1,71 0,73 42,37 1 3 2
Q4 1,57 0,85 54,19 1 3 2
Q5 3,86 0,77 19,97 2 5 3
Q6 4,00 1,24 31,01 1 5 4
Q7 3,57 0,85 23,85 2 5 3
Q8 3,50 1,02 29,12 1 5 4
Q9 3,21 0,70 21,76 2 4 2
Q10 3,71 0,61 16,46 3 5 2
Q11 4,00 0,88 21,93 2 5 3
Q12 2,57 0,65 25,13 1 3 2
Q13 3,57 0,85 23,85 2 5 3
Q14 4,14 1,17 28,18 1 5 4
Q15 4,43 0,65 14,59 3 5 2
Q16 3,77 0,83 22,07 2 5 3
Q17 4,14 0,77 18,59 2 5 3
Q18 4,50 0,52 11,53 4 5 1
Q19 4,36 0,63 14,54 3 5 2
Q20 4,00 0,78 19,61 3 5 2
Q21 4,00 1,04 25,94 2 5 3
Q22 3,79 0,97 25,75 1 5 4
Q23 4,14 1,03 24,79 1 5 4
Q24 3,57 1,02 28,46 2 5 3
Q25 3,85 1,07 27,77 2 5 3
Q26 1,93 0,73 37,85 1 3 2
353
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
ANEXO C
2º MOMENTO
DESVIO COEFICIENTE VALOR VALOR
QUESTÃO MÉDIA AMPLITUDE
PADRÃO DE VARIAÇÃO MÍNIMO MÁXIMO
Q1 3,93 0,92 23,34 2 5 3
Q2 3,71 0,91 24,60 2 5 3
Q3 1,93 1,07 55,57 1 4 3
Q4 1,43 0,76 52,92 1 3 2
Q5 3,77 1,09 28,97 2 5 3
Q6 4,23 0,83 19,67 2 5 3
Q7 3,64 0,63 17,39 2 4 2
Q8 3,79 0,70 18,47 2 5 3
Q9 3,00 0,88 29,24 1 4 3
Q10 4,00 0,58 14,43 3 5 2
Q11 4,21 0,89 21,18 3 5 2
Q12 3,07 0,73 23,77 2 5 3
Q13 3,21 0,97 30,33 2 5 3
Q14 3,86 1,17 30,26 2 5 3
Q15 4,36 0,63 14,54 3 5 2
Q16 3,79 0,89 23,58 2 5 3
Q17 4,00 0,55 13,87 3 5 2
Q18 4,21 0,70 16,59 3 5 2
Q19 4,14 0,86 20,87 2 5 3
Q20 4,14 0,53 12,90 3 5 2
Q21 4,07 0,73 17,93 3 5 2
Q22 3,71 0,73 19,55 3 5 2
Q23 4,21 0,97 23,13 2 5 3
Q24 3,46 1,33 38,43 1 5 4
Q25 3,64 1,15 31,59 1 5 4
Q26 1,86 1,10 59,20 1 5 4
354
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.
ANEXO D
3º MOMENTO
DESVIO COEFICIENTE VALOR VALOR
QUESTÃO MÉDIA AMPLITUDE
PADRÃO DE VARIAÇÃO MÍNIMO MÁXIMO
Q1 4,14 0,36 8,77 4 5 1
Q2 4,21 0,43 10,10 4 5 1
Q3 1,79 0,89 49,98 1 3 2
Q4 1,71 0,99 58,01 1 4 3
Q5 3,79 0,89 23,58 2 5 3
Q6 4,29 0,61 14,26 3 5 2
Q7 3,29 0,99 30,27 1 4 3
Q8 3,93 0,47 12,08 3 5 2
Q9 3,29 0,99 30,27 1 5 4
Q10 3,79 0,58 15,29 3 5 2
Q11 4,00 0,78 19,61 3 5 2
Q12 2,57 0,85 33,12 1 4 3
Q13 3,21 0,97 30,33 1 4 3
Q14 4,00 1,18 29,42 1 5 4
Q15 4,46 0,66 14,80 3 5 2
Q16 3,92 0,49 12,58 3 5 2
Q17 4,00 0,41 10,21 3 5 2
Q18 4,07 0,73 17,93 2 5 3
Q19 4,29 0,47 10,94 4 5 1
Q20 4,07 0,73 17,93 3 5 2
Q21 4,07 0,73 17,93 3 5 2
Q22 4,07 0,73 17,93 3 5 2
Q23 4,07 1,21 29,64 1 5 4
Q24 3,93 0,73 18,58 2 5 3
Q25 3,86 0,77 19,97 2 5 3
Q26 2,08 0,86 41,52 1 4 3
355
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
ANEXO E
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, , portador do
RG: , nascido no dia: na cidade
de: , Estado Civil: ,
Idade: , Profissão: , Tel.: com
endereço situado: , , estou sendo
convidado a participar das Práticas Corporais Chinesas (Bāduànjǐn Qìgōng) e Exercícios de
alongamentos desenvolvidas uma vez por semana na Empresa Forming Tubing Brasil, cujos
objetivos e justificativas são a melhora na qualidade de vida dos Funcionários.
A minha participação no referido estudo será no sentido de PARTICIPAR DAS
AULAS DADAS E RESPONDER AOS QUESTIONÁRIOS FORNECIDOS PELO
PROFESSOR.
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou qualquer
outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar, será mantido em sigilo.
Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e de, por desejar sair da pesquisa,
não sofrerei qualquer prejuízo quanto ao curso que estou frequentando.
O pesquisador envolvido com o referido projeto é o PROFESSOR JOSÉ RENATO
e com ele poderei manter contato pelo telefone 12.97404.1070
É assegurada a assistência durante toda pesquisa, bem como me é garantido o livre
acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas
consequências, enfim, tudo o que eu queira saber antes, durante e depois da minha
participação.
Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado e
compreendido a natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livre
consentimento em participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor
econômico, a receber ou a pagar, por minha participação.
São José dos Campos-SP, de de 2017.
356
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
357
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
RESUMO
Através de revisão bibliográfica e análises comparativas encontradas na literatura filosófica e
marcial dos conceitos de li, wuwei, shen e TAO na prática do Tàijí quán tradicional e
moderno foi traçado um paralelo da construção estética das duas modalidades. O tradicional
ocupa-se em expressar a harmonia com o TAO 道 e não um conjunto de movimentos
padronizados e executados segundo critérios de perfeição, objetivando produzir um
conhecimento sobre a realidade que não se transmite por palavras, em contrapartida a prática
moderna, influenciada pelos conceitos ocidentais, possui uma estética normativa da beleza do
movimento e das posturas que representam um ideal ao qual o praticante deve adaptar-se. A
lógica universalista que foi empregada no Tàijí quán moderno é um empréstimo da mesma
utilizada no ballet, nas ginásticas artísticas, nado sincronizado e outras modalidades
esportivas ou performáticas ocidentais.
ABSTRACT
Through a bibliographical review and comparative analyzes found in the philosophical and
martial literature of the concepts of li, wuwei, shen and TAO in the traditional and modern
Tàijí quán prática practice was drawn a parallel of the aesthetic construction of the two
modalities. The traditional is concerned with expressing harmony with TAO and not a set of
standardized movements and executed according to criteria of perfection, aiming to produce a
knowledge about reality that is not transmitted by words, in contrast to modern practice,
influenced by concepts has a normative aesthetic of the beauty of movement and postures that
represent an ideal to which the practitioner must adapt. The universalistic logic that was
employed in the modern Tàijí quán is a loan of the same used in ballet, artistic gymnastics,
synchronized swimming and other western sports or performance modalities.
ABSTRAIT
À travers une revue bibliographique et des analyses comparatives trouvées dans la littérature
philosophique et martiale des concepts de li, wuwei, shen et TAO dans la pratique
traditionnelle et moderne Tàijí quán a été tiré un parallèle de la construction esthétique des
deux modalités. Le traditionnel vise à exprimer l'harmonie avec TAO et non pas un ensemble
de mouvements standardisés et exécutés selon des critères de perfection, visant à produire une
connaissance de la réalité non transmise par les mots, contrairement à la pratique moderne,
influencée par les concepts a une esthétique normative de la beauté du mouvement et des
postures qui représentent un idéal auquel le praticien doit s'adapter. La logique universaliste
qui a été employée dans le moderne Tàijí quán est un emprunt de la même utilisé dans le
ballet, la gymnastique artistique, la nage synchronisée et d'autres sports occidentaux ou
modalités de performance.
358
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
Introdução
O presente trabalho tem por objetivo delinear os princípios estéticos que regem as
práticas do Tàijí quán 太极拳 moderno e tradicional, suas aproximações e divergências
partindo de uma análise filosófica dos conceitos gerais que compõe a estética chinesa ou
meixue 美学. Serão abordados as definições dos conceitos de estética, meixue 美学, li 理,
wuwei 無為, shen神, TAO 道 e Tàijí 太极 bem como sua aplicação na prática do Tàijí quán
太极拳 e seus desdobramentos nas duas modalidades (moderno e tradicional), além da
influência de conceitos estéticos ocidentais no Tàijí quán 太极拳 moderno e tradicional.
A compreensão dos fundamentos estéticos do Tàijí quán 太 极 拳 é preponderante
uma vez que neles estão contidos todo o arcabouço teórico primário que baliza esta prática
difundida a nível mundial. Pouco explorado em seu aspecto estético, o Tàijí quán 太极拳 vem
sendo apresentado no ocidente primeiramente como uma ginástica laboral altamente indicada
para idosos ou como prática fitness alternativa entre outras corruptelas. Portanto, resgatar e
sobretudo transliterar as nuances do pensamento estético chinês que norteia toda a construção
prática do Tàijí quán 太 极 拳 se faz necessária, em uma primeira instância para esclarecer e
posteriormente enriquecer a prática e o entendimento dos adeptos da modalidade, evitando o
surgimento de equívocos e até mesmo engodos sobre o que é realmente o Tàijí quán 太极拳.
A falta de literatura e pesquisas específicas sobre o tema em língua portuguesa ainda são um
obstáculo a ser superado na difusão desse tipo de conhecimento acerca do Tàijí quán 太极拳,
desta forma, tal revisão, visa preencher, mesmo que de uma maneira introdutória, esse hiato
entre prática e teoria nessa modalidade tão amplamente praticada, seja na sua vertente
esportiva, terapêutica ou tradicional.
Para tanto, o presente trabalho foi estruturado em seis capítulos, partindo de uma
abordagem geral sobre a concepção de estética e a diferença entre estética ocidental e oriental
(meixue 美学) em seguida é explanado a aplicação dos conceitos estéticos chineses nas artes
marciais em geral, para no capítulo posterior demonstrar a presença desses conceitos estéticos
no Tàijí quán 太极拳 tradicional e por consequência a ausência dos conceitos tradicionais no
Tàijí quán 太 极 拳 moderno, que construiu seus valores estéticos em uma lógica própria,
fundamentada na cultura ocidental. Por conseguinte, é realizada uma comparação entre as
359
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
duas visões estéticas para o Tàijí quán 太极拳 bem como suas aproximações e
distanciamentos conceituais.
360
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
(oriental), já que não se preocupa com a imitação perfeita da forma, uma vez que a perfeição é
inerente ao natural e a pintura não sendo natural não pode representar a perfeição. Como
elemento de comparação as pinturas de Zhang Zeduan 张择端 (nº 1) (Ao longo do rio durante
o festival Qingming, datada no século XII) e de Pieter Bruegel (nº 2) (Quermesse de São
Jorge, datada no século XVII), sinalizam claramente a diferença entre as distintas concepções
de representação.
Fonte: wahooart.com
Fonte: wahooart.com
1
Traditional Chinese aesthetics (…) includes not only poetry, calligraphy and painting (as the most prominent
scholarly arts) but also architecture, pottery, bronzes, music, martial arts and so on. (Tradução livre).
361
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
2
Ver obra completa em: http://scrolls.uchicago.edu/scroll/spring-festival-along-river
362
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
a cultura chinesa desde a elaboração o I Ching 易 经 3, foi com a corrente taoísta que ele se
solidificou na cultura chinesa e foi conceitualmente elaborado.
Para uma compreensão inicial do conceito de TAO 道 e sua correlação com a ideia de
macrocosmo são encontradas três definições básicas:
1. VAZIO, princípio e fim de toda realidade, tudo emana do TAO 道 e retorna ao
TAO道. “TAO é vazio -/Seu uso nunca se esgota./Insondável-/ A origem de todas as coisas.”
(LAO-TZU, 2002, p. 04).
2. Grande unidade presente na multiplicidade, imensuralibidade do real. “O Tao é
grande em tudo,/Completo em tudo, Universal em Tudo,/Integral em tudo. Estes três
aspectos/São distintos, mas a Realidade é o Uno.” (CHUANG TZU, 2002, p. 183).
3. Princípio de utilidade e força motriz da realidade. “Trinta raios unem um eixo./A
utilidade da roda vem do vazio/Queima-se o barro para fazer o pote./A utilidade do pote vem
do vazio./Rasgam-se janelas e portas para criar o quarto./A utilidade do quarto vem do vazio.”
(LAO-TZU, 2002, p. 11).
Embora tentemos condensar o conceito em axiomas, para facilitar o entendimento à
compreensão ocidental, segundo a tradição taoísta o TAO 道 é apreendido, captado, sentido,
porém não pode ser descrito. A linguagem é limitada, parcial, exprime partes do TAO 道, mas
não o TAO 道 como ele é, como nos diz Lao-tse “O TAO chamado TAO não é TAO/Nomes
não podem dar nome a nenhum nome duradouro” (LAO-TZU, 2002, p. 01).
Assim o conceito de Uno que está presente na construção estética chinesa direciona a
produção das manifestações artísticas para uma representação da imersão do homem no
TODO, tomemos como exemplo a ausência de fatores individualizantes da obra de Zhang
Zeduan retro citada.
Concomitante a ideia de TAO 道 que norteia o significado das manifestações
artísticas o conceito li 理 nos apresenta o fator determinante das formas dessas
manifestações. O referido conceito que podemos ter como central não só na filosofia chinesa,
mas em todas as esferas da cultura chinesa - pintura, caligráfica, música, artes marciais - esse
conceito chamado de li 理 exprime a noção de ordem natural a que todos estão submetidos,
originalmente essa palavra representava as ranhuras (veios) naturais do jade, sendo
posteriormente utilizado para representar a noção de ordem natural, caracterizado a partir do li
理 “o pensamento chinês estava marcado pelo espírito do lapidador, que experimenta a
3
O I Ching, ou Livro das Mutações como é conhecido no ocidente é um dos mais antigos tratados
cosmológicos e origem do pensamento chinês é nele que aparece pela primeira vez os conceitos de Ying e
Yang.
363
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
resistência do jade e emprega toda sua arte unicamente para tirar vantagem do sentido dos
estratos da matéria bruta, para desprender desta a forma que ali preexista...” (CHENG, 2008,
p. 58).
Em termos gerais, podemos compreender, não de uma maneira definitiva, mas como
uma correlação entre conceitos, para facilitar o entendimento ao pensamento ocidental, a
noção de li 理 com a noção de substância4 em Aristóteles, que determina as características
essenciais do ser, ou seja, aquilo que faz o Ser, aquilo que é e não outra coisa. Dessa maneira,
assim como a substância, o li 理 carrega em si a unidade identitária da forma e suas potências.
Cabe ao artista, dentro da concepção chinesa, extrair aquilo que já se apresentava em potência
na matéria, respeitando suas características únicas e não impondo sua vontade padronizada à
ordem natural (li 理).
Como exemplo é possível ressaltar a semelhança na relação mestre/artista e
matéria/discípulo. O mestre é como o artista, ele deve ser capaz de identificar a essência da
matéria prima (discípulo) e lapidá-la até que essa essência aflore. O mestre ou o artista não
impõe sua vontade à matéria prima, mas segue o li 理 da matéria, não acrescenta nada que já
não havia em potência, respeita a ordem natural.
O respeitar a ordem natural da matéria (li 理 ) configura-se em uma maneira de agir
sobre a natureza para que a obra seja uma representação holística do macrocosmo (TAO 道).
Essa maneira de agir é denominada por wuwei 無 為 , que se apresenta como um ethos para
qualquer espécie de manifestação artística, inclusive as artes marciais. Esse ethos,
contribuição taoísta, prima essencialmente pela prática em detrimento do intelecto, trata-se de
um saber fazer que não se transmite por palavras, mas por imersão, integração com o TAO 道.
“Apreender o Tao é uma experiência que não se pode exprimir nem
transmitir pelas palavras. Enquanto o intelecto nunca pode conhecer nada
com certeza, a mão sabe o que ela faz com uma segurança infalível, ela sabe
fazer o que a linguagem não sabe dizer. Mas este saber-fazer da mão não é
em si senão uma metáfora para designar certo tipo de conhecimento
privilegiado pelos pensadores chineses: um conhecimento que não resultaria
da aquisição de um conteúdo, mas de um processo de aprendizado como o
de um ofício, que não se adquire num dia, mas que “entra”
imperceptivelmente. (...) Trata-se de um saber-fazer bem preciso, e não de
um estado de vaga e serena espontaneidade. Encontramos aqui uma ideia
4
A substância de uma coisa pode ser a sua essência, ou seja, aquilo que é. Isto implica que a substância de
uma coisa seja aquilo que permanece ao longo de todas as mudanças nas suas propriedades.
(BLACKBURN, 1997, p. 317)
364
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
365
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
366
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
“O homem não é apenas animado pelo sopro [qi] em todos seus aspectos,
mas haure [absorve] nele seus critérios de valor, quer de ordem moral ou de
ordem artística. Fonte da energia moral, o qi, longe de representar uma
noção abstrata é sentido até no mais profundo de um indivíduo e de sua
carne. Sendo embora eminentemente concreto, nem sempre, contudo ele é
visível ou tangível: pode ser o temperamento de uma pessoa ou a atmosfera
de um lugar, a força expressiva de um poema ou a carga emocional de uma
obra de arte”. (CHENG, 2008, p. 36).
conceitos representam a fusão das técnicas de combate, manutenção da saúde e auto cultivo
nas artes marciais chinesas.
O jing 精 é comumente compreendido como energia vital, elemento originário da
estrutura biológico do indivíduo, essa estrutura pode ser preservada ou destruída dependendo
dos hábitos, como má alimentação, pouco descanso e consumo de drogas. Despeux define o
jing 精 como “...a mola do indivíduo, sua vitalidade, seu dinamismo, dando destaque à
interioridade dessa força, que precede a forma muscular, preside a ela e está ligada à atitude
psicológica da pessoa” (DESPEUX, 2002, p. 76).
5
O tàolù, também erroneamente conhecido por “kati” no Brasil, consiste em um conjunto de movimentos
que aludem às técnicas de combate organizados em uma sequência pré-determinada.
368
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
Severino exemplifica o jing 精 como nossa herança genética que pode ser melhorada
e acrescenta uma conotação espiritual nas ações que visam melhorar o jing 精 e como os
hábitos nocivos atuam em sua destruição.
“De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, Ching [jing] é a energia
física herdada pelos nossos pais. No pensamento chinês é conhecido como
Essência, ou seja, o melhor aspecto herdado de nossos pais. (...) Dentro
dessa tradição é ensinado que qualquer trabalho realizado com a intenção de
melhorar-nos espiritualmente afetará os nossos pais e até sete gerações
passadas. (...) A maior fonte de desperdício desta energia vital se dá no
esgotamento físico, que pode advir de várias causas excesso de trabalho,
pouco descanso, muita atividade sexual com vários ou um parceiro, ingestão
de álcool, todo tipo de alucinógeno e, em especial o fumo. ” (SEVERINO,
2016, p. 69).
369
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Quanto mais refinado é o shen 神 , maior e mais clara é nossa compreensão do que
nos rodeia e de nós mesmos. É no ato de refinar o espírito (shen 神 ) para alcançar o jingshen
精神 que encontramos a correlação entre o combate corporal, a manutenção da saúde e o auto
cultivo.
A qualidade das técnicas de combate depende necessariamente de uma boa saúde
para serem eficazes, no entanto, uma boa saúde está ligada com uma mente (espírito) estável
e, para se ter uma mente estável é preciso refiná-la. Esse processo de refinamento abrange
práticas físicas e mentais com o intuito de preservar o jing 精 através de hábitos saudáveis,
desenvolver o qi 氣 através de exercícios adequados, para refinar o shen 神 ampliando a
compreensão. O jingshen 精 神 “...pode ser atingido mediante práticas bem concretas,
agrupadas sob a designação genérica de trabalho sobre o qi (qigong 氣 功 ), que não é senão
um aspecto do gongfu 功夫 (...) domínio da respiração, ginástica, meditação, disciplina sexual
etc.” (CHENG, 2008, p.148).
As práticas de refinamento do qi 氣 constituem a síntese entre os três componentes
que caracterizam a arte marcial chinesa tradicional. Essas práticas ligadas à arte marcial
visam:
“...à saúde, à eficiência em combate, à expansão da mente e ao
aprimoramento espiritual (...) [que] compreende três estágios, ou seja,
cultivar o jing (essência) par tornar-se chi (energia), cultivar o chi para
tornar-se shen (espírito) e cultivar o shen para retornar ao cosmo. O chi kung
é, pois a ponte que liga o físico (jing) ao espiritual (shen) (KIT, 2016, p. 79).
O retorno ao cosmo, citado por Kit, pode ser entendido como um retorno à unidade
original, identificado também com o conceito de TAO 道 , o retorno aludido que pode ser
melhor interpretado como imersão, integração com o todo. Uma vez atingido o jingshen 精神
e a compreensão da ordem natural li 理 , a relação do indivíduo consigo e com o mundo
torna-se uma. O indivíduo é capaz de praticar o wuwei 無 為 , pois a espontaneidade lhe é
intrínseca, uma vez que possui um estado de consciência que lhe permite ultrapassar a
distinções conceituais como exemplifica Su Shi 苏 轼 “Compreender os princípios em sua
essência é esgotar-lhes o sentido. Entrar na dimensão espiritual (shen) é realizar plenamente a
natureza para chegar ao destino.” (CHENG, 2008, p. 533).
A dimensão dos conceitos estéticos se expressa na arte marcial através da execução
de exercícios individuais em um primeiro momento e nos exercícios em duplas. Esses
370
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
O conceito de Tàijí 太 极 possui diversas traduções, mas de forma mais simples e geral,
podemos traduzir como suprema unidade. O Tàijí 太 极 é “o primeiro princípio que rege o
universo e preside a união do Yin/Yang.” (DESPEUX, 2002, p. 37). O conceito de Tàijí太极
aparece pela primeira vez no I Ching 易 经 como fenômeno propulsor do dinamismo do Yin/Yang
阴 阳 , além do I Ching 易 经 , apenas Chuang-tse o menciona antes da era cristã, o que nos faz
deduzir que o Tàijí 太 极 ainda não era fonte de especulação metafísica.
371
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
prático, em suma, ele denota a intenção dessa arte marcial, onde a busca pela unidade (Tàijí)
se dá por meio de técnicas de auto cultivo e exercícios de combate (quán).
Os fundamentos da prática do Tàijí quán 太 极 拳 estão embasados nas teorias do
Tàijí 太 极 e do Yin/Yang 阴 阳 , uma vez que esses conceitos são indissociáveis. A prática
dessa arte marcial não se reduz à métodos de combate baseados em princípios filosóficos, mas
compreende também um vasto processo espiritual que busca a unidade em todos os sentidos,
primeiro, do homem consigo mesmo e depois do homem com o TAO 道.
O Taiji quan, portanto, mais do que uma técnica corporal, é também uma
prática que une o céu, a terra e o homem (...) Todos os elementos do Taiji
quan estão classificados em Yin-Yang ou em termos complementares, seja
nos movimentos, seja nos princípios básicos, seja nas partes do corpo.
(DESPEUX, 2002, p. 54).
Tai Chi Chuan sem chi kung não é Tai Chi Chuan, pois nesse caso o Tai Chi
Chuan se resumiria a um tipo de exercício suave que talvez oferecesse
alguns benefícios em termos de circulação do sangue e divertimento, mas
372
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
marcial e espiritual não são trabalhados isoladamente, pois, ao passo que se trabalha um, os
outros por consequência também são desenvolvidos. Dessa maneira ao se executar um taolu
套 路 que em primeira instância é um exercício marcial, o praticante está desenvolvendo sua
saúde e seu espírito.
O primeiro passo para um bom aprendizado é conhecido como o treino com
a consciência. Isto quer dizer a repetição minuciosa de cada movimento que
nos leva a transformar nossos hábitos mais primários, como por exemplo, o
hábito de caminhar, endireitar a nossa coluna, olhar para frente, o gestual
com as nossas mãos, entre outros. (...) A tranquilidade surge do silêncio
interior, ou seja, quando por breves segundos conseguimos parar, ou melhor,
nos abstrair de nossa constante tagarelice mental. A tranquilidade física não
pode coexistir se previamente não houver uma tranquilidade mental.
(SEVERINO, 2016, p. 48).
Dessa maneira, o qigong 氣 功 além de eficaz para o combate e para a saúde é suporte
prática do taolu 套 路 possui sua esfera meditativa. A partir do momento que o praticante
consegue acalmar a mente e integra-se consigo seus movimentos passam a ser dirigidos pelo
pensamento criador ou intenção (yì 意 ) que derivam do coração (xīn 心 ). O shen 神 só pode
ser manifestado quando os movimentos são direcionados pelo coração, uma vez que a ligação
entre o shen神 e coração é na medicina chinesa.
374
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
375
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
376
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
O sábio, portanto, em vez de tentar provar este ou aquele ponto pela disputa
lógica, vê todas as coisas à luz da intuição direta. Não se prende aos limites
do “Eu”, pois o ponto de vista da intuição direta é tanto o “Eu” como o
“Não-Eu”. Daí notar ele que, tanto de um como de outro lado de cada
argumento, há o certo e o errado. Também vê que, no final, eles se reduzem
à mesma coisa, uma vez que estão relacionados com o pivô do Tao.
(CHUANG TZU, 2002, p.72).
377
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
...Mao também fazia referência a casos mais recentes como a educação física
alemã ou o judô japonês – pelo qual o líder comunista expressava sua
admiração -, que em sua opinião haviam contribuído bastante para o
fortalecimento de ambos os países. (...) Outra opinião sustentada por Mao
era de que existiam muitos métodos para conseguir fortalecer o corpo, porém
essa diversidade não era positiva... (ACEVEDO, 2011, p. 130).
378
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
Mestre Yang Zhenduo e toda sua família foram vítimas tanto na revolução
comunista como na revolução cultura. Sua família foi perseguida, torturada
e encarcerada em campos de trabalhos rurais. (SEVERINO, 2016, p. 244).
Em 1974, uma delegação de wushu visitou diversas cidades fora da China, como a
Cidade do México, Havaí, São Francisco e Nova York (...) Em contraste com a
crescente evolução do wushu, as artes marciais tradicionais não tiveram a mesma
sorte. O estouro da Revolução Cultural em 1966 colocou no alvo todos aqueles
contrários ao espírito revolucionário; os membros do partido contrários a Mao,
burgueses, pró-capitalistas, intelectuais, etc. (...) Em 3 de outubro de 1990, foi criada
em Pequim a Federação Internacional de Wushu... (ACEVEDO, 2011, p. 132).
No que tange à codificação do Tàijí quán 太极拳 moderno, seu início se dá em 1956
com a criação da Comissão Estatal de Cultura Física e Esportes, que em uma tentativa de
unificar a prática, convocou representantes dos principais estilos, no entanto apenas dois
representantes diretamente ligados as famílias tradicionais compareceram sendo eles Chen
Fake e Wu Tunan, os demais representantes foram praticantes que não pertenciam diretamente
às árvores genealógicas, mas possuíam conhecimento da prática das famílias.
Após longas discussões e longe de chegar à um acordo a Comissão relegou a tarefa
de sistematização para Li Tianji, praticante do método da família Sun. Li então criou a
primeira rotina do Tàijí quán 太极拳 moderno baseado no método da família Yang, por ser na
época o mais difundido, dos 103 movimentos da forma tradicional da família Yang, Li os
transformou em um compilado de apenas 24 movimentos e continuou criando formas
condensadas ao longo das décadas seguintes. O PCC através da Comissão Estatal de Cultura
Física e Esportes possuía uma dupla intenção na simplificação do Tàijí quán 太 极 拳
tradicional, a primeira era desenvolver uma atividade física acessível à população e ao mesmo
379
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
que anual de seus movimentos, buscando sempre uma maior uniformização da prática. No
entanto os princípios utilizados para a compilação desses movimentos são em tese antípodas
dos princípios tradicionais, pois sua finalidade era para mera apresentação, destituindo da
prática do Tàijí quán 太 极 拳 o caráter meditativo e marcial, preservando apenas o
componente terapêutico característico de qualquer atividade física.
Dessa maneira as normas que regeram a codificação do método oficial do PCC para
o Tàijí quán 太 极 拳 foram pautadas pela beleza dos movimentos e seu grau de dificuldade,
característica muito similar às modalidades competitivas ocidentais como ginástica artística,
patinação, nado sincronizado entre outras modalidades esportivas.
380
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
382
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
383
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
constitui-se em uma estética de si para si, a moderna se apresenta com uma estética de
adequação à ideia de perfeição onde o sujeito (praticante) é veículo para a expressão e não seu
artífice, pois apenas segue um padrão, uma norma exterior ao seu li 理.
Comparações estéticas
Se você pratica Tai Chi Chuan como uma forma de exercícios suaves, como
muitos fazem, os benefícios alcançados serão mínimos, menores talvez do
que aqueles que você poderia alcançar como ginástica calistênica, ginástica
aeróbica ou natação (KIT, 2006, p.30).
Esse conselho foi estabelecido pelo governo chinês para atender a duas
necessidades prementes: usar o Tai Chi Chuan como um método
conveniente e barato de solucionar os problemas de saúde do país; encontrar
uma série comum com a qual os praticantes dos diferentes estilos de Tai Chi
Chuan pudessem concorrer nas competições de artes marciais recentemente
popularizadas (KIT, 2006, p.86).
384
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
O Tàijí quán 太 极 拳 tradicional foi convertido pelo PCC, em uma atividade física
não muito diferente das ginásticas laborais que encontramos nos dias de hoje. Em sua função
esportiva o caráter de promoção da saúde se perde devido ao aumento dos níveis de
dificuldades conforme o praticante avança nas competições, pois a cada novo nível é exigido
movimentos mais complexos que muitas vezes contrariam os princípios biomecânicos para a
preservação da saúde das articulações como saltos ornamentais e movimentos acrobáticos
característicos das modalidades de ginásticas performáticas.
Além da conversão de uma prática marcial em ginástica laboral e performática o
Tàijí quán 太 极 拳 moderno, em seu aspecto competitivo acaba se enquadrando nos padrões
do consumo ocidentais, pois a cada nível diferente que o atleta deseja competir o mesmo deve
pagar para aprender as formas em cursos, porém tais formas sofrem alterações constantes que
precisam ser atualizadas pelos atletas até o próximo circuito de competições.
O Tàijí quán 太极拳 moderno cria uma roda viva de desejo e insatisfação, pois para
o atleta vencer é necessário consumir as atualizações de movimentos e para avançar nas
categorias mais prestigiosas é preciso comprar as formas “coreografias” que são criadas ou
reformuladas constantemente, onde uma forma do ano anterior já não possui mais serventia.
Dessa maneira, a prática do taolu 套 路 que a princípio é um exercício que preconiza uma
série de repetições como prática meditativa e de interiorização dos movimentos através do
entendimento do li 理 e busca por atingir o wuwei 無 為 perde sua finalidade
meditativa/terapêutica, se tornando um conjunto de movimentos cuja existência possui um
prazo de validade. De acordo com o Regulamento de Arbitragem de Interno, no 1º Capítulo é
possível contar mais de dez formas diferentes.
Nas escolas tradicionais de Tàijí quán 太极拳, cada escola/família pratica apenas um
taolu 套路 de mãos livres, pois o sentido estético que se confere à prática da rotina é diferente
do que se confere no Tàijí quán 太极拳 moderno, onde o taolu 套路 é um produto com prazo
determinado para um circuito de competições. Já nas escolas tradicionais o taolu 套 路 é a
385
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Quando alguém diz que pratica Tai Chi Chuan, o que está querendo dizer,
em geral, é que sabe como executar uma ou mais séries de Tai Chi Chuan, e
não sua totalidade. Do ponto de vista da saúde e da vida cotidiana,
desenvolver movimentos elegantes, o fluxo de energia e a consciência é mais
importante do que apenas executar séries de Tai Chi (KIT, 2006, p.
85).Sobre a prática das formas no Tàijí quán 太 极 拳 tradicional, Despeux
386
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
387
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
7
Wu Yuxiang (1812–1880), foi um proeminente mestre de Tàijí quán, criador da escola Wu Hao, foi aluno
de Yang Luchan (1799–1872) e Chen Qingping (1795–1868), publicou um livro denominado por
“Elucidação Mental Sobre As Treze Posturas do Tàijí quán que se converteu em um dos livros clássicos
dessa arte.
8
O bugang é um ritual de origem taoísta em forma de dança que reproduz a ordem cósmica do universo.
388
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
10
Procusto, personagem da mitologia grega em Elêusis, possuía em sua casa, uma cama que tinha seu
tamanho. Procusto convidava todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem maiores que a cama,
ele cortava excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que eram menores que sua estatura eram
389
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Conclusão
esticados até atingirem seu tamanho exato. Nos dois casos os viajantes morriam, esse mito foi utilizado para
criticar a imposição de padrões a aspectos subjetivos.
11
In later periods, after Buddhism had taken a strong hold in Chinese society, particularly for the scholar-
literati class in the Daoist inspired Chan 禪 (Zen-) Buddhist school, Buddhist concepts became major
390 reference points in aesthetics. (Tradução Livre)
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
12
In Chinese thought, we have the notion of “vital force” (qi 氣) which serves as the main category with
which to discuss the creative power of a poet or artist. (…) A second important requirement is the artist’s
imaginative capacity. (…) alled “spiritual thinking” (shen si 神思) , was thought of bringing about a fusion
of the artist’s mind with the outside world . There is a well known image used by Su Shi describing this
392 faculty most impressively in the capacity of his friend, the bamboo painter Wen Tong 文 同, of having the
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
“complete bamboo in his mind” before painting (xiong Zhong cheng zhu 胸中成竹), or rather of actually
becoming bamboo when painting bamboo. (Tradução livre).
393
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
14
A SBTCC é pioneira no ensino do Tàijí quán tradicional na América Latina e representantes da Família
Yang de Tàijí quán, uma das mais antigas famílias de Tàijí quán que se dedica à modalidade desde o século
XIX.
394
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
395
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Referências
ACEVEDO, Willian/ Breve história do Kung Fu Willian Acevedo, Carlos Gutiérrz, Mei
Cheung; tradução Flávia Delgado. – São Paulo: Madras, 2011.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, Filosofando: Introdução à Filosofia/Maria Lúcia de Arruda
Aranha, Maria Helena Pires Martins. – 4º ed. – São Paulo: Moderna, 2009.
BLACKBURN, Simon, Dicionário Oxford de filosofia/Simon Blackburn: consultoria da edição
brasileira, Danilo Marcondes; [tradução, Desidério Murcho...et ali.}. – Rio de Janeiro Zahar Ed.,
1997)
CAPPARELLI, Sérgio, 50 Fábulas da China Fabulosa/ Sérgio Capparelli e Márcia Schmaltz. –
3º ed. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2009.
CHUANG TZU, A via de Chuang Tzu, traduzido por Thomas Merton, 10º.
CHENG, Anne. História do pensamento chinês/ Anne Cheng; tradução de Gentil Avelino
Titton. – RJ: Vozes, 2008.
DESPEUX, Catherine, Tai-Chi-Chuan, Arte Marcial, técnica da longa vida. – São Paulo:
Editora Pensamento, 1981.
KIT, Wong Kiew. O Livro Completo do Tai Chi Chuan – São Paulo: Editora
Pensamento, 2016.
LAO-TZU. Tao Te Ching; tradução de Waldéa Barcelos – São Paulo: Martins Fontes, 2002.
PLATÃO, Symposium, Cambridge University Press, 1980.
SAKANAKA, Regulamento de Arbitragem de Internos -2017/ Paulo Hiroshi Sakanaka/Vilma
Mayumi Kurihara/Tania Emi Sakanaka, CBKW: Campinas, São Paulo, 2017.
SAKANAKA, Programação Completo do Curso de Instrutores Nivel I de Taijiquan- 2017/
Paulo Hiroshi Sakanaka/Vilma Mayumi Kurihara/Tania Emi Sakanaka, CBKW: Campinas, São
Paulo, 2017.
SEVERINO, Roque Enrique, O Universo do Tai Chi Chuan, 2016.
SHAHAR, Meir O mosteiro de Shaolin: história, religião e as artes marciais
chinesas\tradução: Rodrigo Wolff Apolloni e Rodrigo Borges de Faveri. – São Paulo:
Perspectiva, 2011.
POHL, Karl-Heinz “Chinese and Western Aesthetics – Some Comparative Considerations”,
Trier University, German, 1980.
WAHOO Art Disponível em http://pt.wahooart.com/A55A04/w.nsf/O/BRUE-8LT57K. Acesso
em 05/05/2016.
396
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
术
推. Tuī. Empurrar, dispersar.
拳. Quán “kuen ou chwan”. Punhos,
道. Dào (TAO). Estrada, via, método,
relativo à luta.
caminho, porém não se refere à estrada
美. Mei. Belo, relativo à beleza
ou via de maneira concreta e sim como
sensorial.
uma maneira de ser. Também é na
concepção taoísta a vacuidade e o 学. Xue. Estudo, aprendizagem.
397
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Anexos
As
Disponível: http://www.cbkw.org.br/novo/wp-content/uploads/2018/01/Regulamento-
de-Arbitragem-de-Internos-2017.pdf Acessado em 11/07/2018.
398
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
.
ANEXO B – Programação Completa do Curso de Instrutores Nível I Taiji Quan 2018.
399
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Disponível:http://www.cbkw.org.br/novo/wp-content/uploads/2018/01/Curso-de-
Intrutores-N%C3%ADvel-1-Unicamp-e-Nordeste.pdf
Anexo III - Formação em Tai Chi Chuan da Família Yang - Habilitação na Forma
Longa 103.
Disponível: http://www.sbtcc.org.br/cursos/formacao-em-tai-chi-chuan-da-familia-
400
LUIS GONÇALVES MARIGUELA
401
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
402
MARIA REGINA REIS PACHECO
Resumo
Tai Chi Chuan e Yoga são práticas corporais clássicas que combinam exercícios físicos
com trabalho respiratório, concentração e meditação. Atividades físicas estão assumindo um
papel importante para a manutenção e recuperação da saúde. Incentivos à conscientização da
população ao hábito de se exercitar são oferecidos em alguns setores como as Práticas
Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde. O objetivo deste trabalho é
pesquisar sobre a origem destas duas atividades orientais no contexto histórico cultural da
China e da Índia e registrar a importância das mesmas para estas civilizações, apresentando
considerações sobre a área da saúde e acreditar que sejam práticas valiosas como meio de
conscientização da saúde do corpo e do autoconhecimento físico, mental e espiritual.
Abstract
Tai Chi Chuan and Yoga are classic oriental practices that combine physical exercises,
breathing, concentration and meditation. Physical activities are assuming an important role for
the maintenance and recovery of health. Complementary and Integrative Practices in Unified
Health System are services offered to make people aware of physical exercise. This study
intends to investigate the cultural historic context of these two practices in China and India.
Research the importance of these activities for these civilizations and presenting
considerations on the health area. These practices are valuable for the body’s health and
physical, mental and spiritual self-awareness.
403
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
INTRODUÇÃO
Bem estar, seja físico, mental e/ou social é condição desejada pela maioria dos seres
humanos. Vários fatores da vida diária afastam-nos deste ideal como o estresse, a alimentação
inadequada, o consumo excessivo de álcool, o uso do fumo, o sedentarismo, além de fatores
ambientais como a poluição e mudanças climáticas, entre outras. São fatores determinantes
que agridem a saúde. O acesso aos serviços para a recuperação da saúde ou sua manutenção
muitas vezes não permite tal propósito. A Organização Mundial da Saúde (OMS) incentiva a
implantação de políticas públicas que viabilizem programas com essa finalidade. Assim,
surgem as práticas integrativas e complementares. No final da década de 70, a OMS criou o
Programa de Medicina Tradicional pretendendo elaborar a organização e incentivar a
estruturação desse projeto.
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são técnicas ou recursos
terapêuticos que buscam estimular mecanismos naturais para prevenir o adoecimento e
recuperar a saúde, chamados pela OMS de medicina tradicional e complementar/alternativa.
Essa metodologia busca uma ampla abordagem do conjunto saúde-doença e estabelece o
cuidado do indivíduo como um todo, pretendendo também valorizar o autoconhecimento e o
autocuidado, criando uma nova cultura de saúde. No Brasil os serviços relacionados às PICS
no Sistema Único de Saúde oferecem a utilização de acupuntura, homeopatia, fitoterapia,
biodança, termalismo, musicoterapia e, entre outros, as práticas corporais chinesas e o yoga.
O objetivo deste trabalho é desenvolver um estudo comparativo do surgimento do
Yoga e do Tai Chi Chuan (TCC) dentro da história e da filosofia da Índia e da China. O
contexto histórico não é totalmente desenvolvido, não é esse o nosso propósito e sim
comentar sobre o princípio das duas práticas no desenvolvimento dessas civilizações e como
as mesmas podem ser empregadas para a manutenção da saúde e para auxiliar o tratamento de
doenças.
O Yoga é uma prática corporal que aparece no cenário dos Vedas, os primeiros textos
sagrados da Índia que datariam entre 7000-4000 a. C. Os sacerdotes védicos deviam cumprir
os ritos com perfeita exatidão e com a máxima concentração. O conhecimento sagrado exigia
disciplina mental rigorosa. Foi essa uma das raízes do yoga.
O Tai Chi Chuan acredita-se que tenha sido criado durante a Dinastia Sung (960 a
1279) pelo mestre taoísta Chang San Feng que fundou um templo na Montanha Wudang para
a prática do Taoísmo. Para fortalecer o corpo e a mente, ensinava, além da meditação,
404
MARIA REGINA REIS PACHECO
movimentos naturais do corpo propulsados por uma energia interna adquirida através de
treinamento. Entende-se aqui uma das origens do TCC.
Vários estudos têm colocado o yoga e o TCC como recurso não medicamentoso para a
reabilitação de patologias como doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral,
diabetes mellitus, fibromialgia, alterações de equilíbrio, ansiedade, entre muitas outras.
Alguns trabalhos serão discutidos através de artigos científicos que avaliam opções de
tratamento auxiliares para algumas destas doenças.
Ambas as práticas desenvolvem-se com posturas corretas do corpo, respiração
adequada e concentração que abrange a meditação. Estes elementos são condições para o
aperfeiçoamento destas atividades e alcançar o objetivo máximo: corpo saudável, estilo de
vida apropriado e conhecimento de si mesmo, conectando o físico, a mente e o espírito.
A realização deste estudo foi apoiada em leituras e análise de livros-texto e artigos
acadêmicos.
405
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
O DESENVOLVIMENTO DO YOGA
406
MARIA REGINA REIS PACHECO
sânscrito (ancestral), de origem do mesmo grupo da maioria das línguas europeias (COSTA,
2015).
A Índia possui mais de cento e cinquenta idiomas, a maioria pertencente ao ramo
indo-ariano, mas sua língua oficial é o híndi, que também tem origem no sânscrito (védico). O
sânscrito é uma língua de origem indo-européia. O sânscrito védico é o ramo indiano da
família indo-européia mais antigo conhecido. Diz-se védico porque contém a linguagem dos
Vedas (hinos e textos religiosos e filosóficos mais antigos da Índia). Permanece como idioma
até a primeira metade do primeiro milênio a. C. quando começa a transição para o período de
sânscrito clássico. Vedas referem-se às quatro grandes obras redigidas em sânscrito védico.
Inicialmente eram transmitidos de forma oral. Teriam sido elaborados por volta de 1500 a. C.
São compostos por Rigveda (¨veda dos hinos ou cantos¨), Yajurveda (¨veda dos mantras em
prosa usadas em um ritual ou sacrifício¨), Samaveda (¨veda dos cantos rituais¨) e Atharvaveda
(uma condição de sacerdote, composto por dois grupos: os rishis e os angirasas). (VEDAS,
2014).
A civilização do Vale do Indo teria florescido entre 3.000 e 2.000 a. C. nas margens do
rio Indus, numa região que hoje é território do Paquistão. Quando da invasão ariana, por volta
do ano 1.500 a. C., essa civilização já se encontrava em declínio, e os arianos depararam com
culturas descendentes de Harappa e Mohenjo-daro (SIEGEL E BARROS, 2013).
A civilização hindu desenvolveu-se com a agricultura, atividades comerciais e práticas
religiosas. Do período das invasões, forma-se um novo cenário, a civilização védica (1.500 a
600 a. C.), que recebe este título fundamentado nos Vedas, já citado, textos sagrados que
consistem em poemas e escritos em homenagens a deuses e reis, textos estes atribuídos à
Krishna, encarnação de Vishnu, uma das divindades do povo indiano. Foram memorizados
por sacerdotes brâmanes e transmitidos oralmente por séculos. Esta obra de três mil anos
contém normas religiosas e regras sociais que justificam o sistema de castas indiano (SOUSA,
2018). Foi primeira fase da mitologia hindu. Vedas significa conhecimento e revela o conflito
entre os arianos e os habitantes originais do território indiano que acaba dividindo-os em
nobres e escravos, respectivamente.
Os nascimentos de Buda e Mahavira no século V I a. C. marcam a fase melhor
registrada da história indiana.
Segundo Kupfer (2007), a cronologia da história da Índia, baseada em estudos
arqueológicos e análise de referências vêdicas e purânicas, seguiria a seguinte sequência:
* Idade Vêdica: 7000-4000 a. C.
407
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
408
MARIA REGINA REIS PACHECO
* Era Védica: 4500 a 2500 a. C.: quando surgiram os quatro Vedas, com os grandes
sábios (Rishis) e os habitantes que ocupavam as margens do rio Sarasvati, rio citado nos
quatro Vedas e que secou porque os rios afluentes passaram a desaguar no rio Ganges e então
o povo migrou para o leste da Índia, para as margens deste último. Na planície do Ganges os
arianos e os dravidianos (como eram chamados os povos primitivos da Índia) mesclaram-se
produzindo uma cultura grandiosa.
* Era Brahmanica: 2500 a1500 a. C. Neste período o conhecimento védico fica
reservado aos Brahmanes ou casta dos sacerdotes, a casta dominante. Neste é o momento em
que as castas tornam-se fixas. Nesse período Vedas recebe interpretações dos rishis (sábios).
São escrituras e livros que regulamentam a sociedade, épicos, livros de educação religiosa e
de escolas de pensamento a partir dos Vedas, as chamadas Darshanas. O Yoga é uma
Darshana, uma das seis escolas filosóficas, nascidas dos Vedas. O yoga foi sistematizado por
Patanjali que tem como obra literária o Yoga Sutra. É um longo período de desenvolvimento
da prática do yoga.
* Era pós Védica ou Upanishadica: 1500 a 1000 a. C. O termo Upanishad deriva do
sânscrito upa (perto), ni (embaixo) e shad (sentar): sentar-se no chão ao lado de um mestre
espiritual para receber instrução. São comentários sobre os Vedas com alta dose de
espiritualidade.
* Era Pré-Clássica ou Épica: 1000 a 100 a. C. Grandes épicos Mahabharatha e
Ramayana.
* Era Clássica: 100 a. C. a 500 d. C.
* Era Trântica e Purânica: 500 a 1300 d. C.
O yoga manifesta-se nos Vedas, os primeiros textos sagrados do hinduísmo. Os
sacerdotes védicos deveriam cumprir os ritos sagrados com muito rigor, o que exigia muita
concentração e disciplina mental. Seria uma das raízes do yoga através do exercício da
meditação (FEUERSTEIN, 2018).
A cronologia dos dois autores, apesar das diferenças, coloca o Yoga nos primórdios da
civilização hindu.
O subcontinente indiano dividiu-se em diversos pequenos reinos e Cidades-Estados.
Em torno de 500 a. C. com dezesseis reinos chamados Mahajanapadas, o período se encerra
com as invasões dos persas, dos gregos e dos hunos brancos, colocando fim a vários impérios
como Mágada, Sunga e Gupta. Um imperador da Dinastia Máuria que reinou entre 322 e185
a. C., Ashoka, estabeleceu o budismo oficialmente na Índia o que durou mais ou menos um
milênio. Na era clássica da história da Índia destacam-se os Reinos Chola e Chera. Surgem
os primeiros sultanatos islâmicos. Os portos da Índia meridional dedicam-se ao comércio,
409
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
410
MARIA REGINA REIS PACHECO
HINDUÍSMO
411
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
1. Período védico (1400-500 a. C.): a tradição oral se transcreve para o nágarí, escrita
da Índia antiga. Refere-se a Vedas e outros conteúdos: Brahmánas (tratados escritos pelos
sacerdotes), Upanishads (espiritualidade e filosofia; ensinamentos orientados pelo mestre;
tem-se conhecimento de treze Upanishads, três delas tratam do yoga) e Áranyaka (descrição
de rituais; Livros da Floresta) e Samhitas (bênçãos e hinos).
JAINISMO
Jainismo é uma das três principais religiões nascidas na Índia. Teve início no leste da
Índia entre os séculos VII e V a. C. Seus adeptos acreditam no renascimento e este poderia
ocorrer como outros seres. A purificação da alma permite a libertação e a interrupção dos
renascimentos. Este objetivo é alcançado através da prática da não violência o que significa
não prejudicar os outros, sejam os seres humanos, animais e até mesmo os insetos. Foi
fundado em oposição aos privilégios dos brâmanes e do sistema de castas que condicionava o
hinduísmo. Seu principal texto sagrado é o Tattvartha Sutra. Tirthankaras são chamados
salvadores porque se livraram dos ciclos de renascimentos. No janaísmo existiram vinte e
quatro tirthankaras. Mahavira, que provavelmente viveu no século V I ou V a. C. foi o último
deles (ESCOLA BRITÂNICA, 2018).
O Jainismo, juntamente com o budismo, manifesta-se como uma vertente da tradição
bramânica. Surgiu como um movimento de reforma do hinduísmo e acreditava que a salvação
dependia do esforço de cada um e não dos deuses, protestava contra o regime de castas e dos
privilégios dos brâmanes. O universo seria composto pelos seres vivos (Jiva) e matéria
(Ajiva). A libertação da alma ocorre quando se alcança o Nirvana, estado de perfeição, de
individualidade eterna, ao contrário do budismo. Não há deuses no jainismo. Tem como
fundador Mahavira, que significa Grande Homem e que, tradicionalmente, tem como data de
nascimento em 599 a. C., no noroeste da Índia. Em sua história, foi o segundo filho de um
rajá. Quando seus pais faleceram começou uma vida de desprendimento, aos trinta anos, e
ficou sem falar doze anos. Por um período ficou vagueando nu pela Índia, sendo ofendido
pelos homens, até que recebeu a iluminação aos quarenta e dois anos de idade. Até o fim de
sua vida contou com catorze mil monges em sua fraternidade.
As principais diferenças em relação ao hinduísmo estão no conceito de renascimento,
onde as almas não possuem individualidade na eternidade e são absorvidas em Brahman na
doutrina hindu e para Mahavira existe a autonomia da alma. O sistema de castas é importante
para o hinduísmo e Maravira ensinou a importância de uma sociedade sem castas ou camadas
sociais. Mahavira pertencia à segunda casta, a dos guerreiros e sofreu com o predomínio da
casta sacerdotal e assim uma das fontes da reprovação do sistema. Hinduísmo profere o
politeísmo e o sacrifício de animais. No Jainismo não se adora um ser supremo, embora o
próprio Maharvira tenha se tornado um objeto de adoração. Os Cinco Grandes Votos do
Jainismo para alcançar a libertação compreendem a renúncia à mentira, à cobiça, aos prazeres
sexuais, ao apego às coisas mundanas e matar coisas vivas. Deve–se evitar o contato com as
mulheres, pois elas são a maior tentação do mundo. Praticar a não violência. Não injuriar,
deixar o orgulho, a ira, o ludíbrio, a cobiça, não matar e reverenciar a vida (RABELO, 2018).
413
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
A influência do jainismo no yoga se faz pela prática da não violência o que também é
desenvolvido nesta atividade. Yoga compreende virtudes morais como a não violência, a
verdade, a compaixão e a benevolência. Seguindo esses princípios o yoga nos conduz à
libertação.
BUDISMO
1
HUMPHREYS, C. O Budismo e o caminho da vida. São Paulo: Cultrix, 1969.
414 CAPRA, Fritjof. O Tao da física. São Paulo: Cultrix, 1983.
2
MARIA REGINA REIS PACHECO
(CAPRA2, 1983, apud GUERRA PEREIRA, 2017). Um príncipe que, após atingir o despertar
interior, ficou conhecido por Buda, o Iluminado, o que possui o conhecimento perfeito e que
despertou do sono da ignorância. Buda foi discípulo de Mahavira, o fundador do Jainismo,
por volta do século V a. C. Por isso é possível encontrar no Budismo muito das técnicas de
meditação e dos princípios do Yoga, assim como se encontram em ambos muito da tradição
Jainista, que é mais antiga. Por exemplo, o código de ética (yamas): não ofender, não mentir,
não roubar, não se dispersar e não cobiçar. São preceitos jainistas, que foram integralmente
absorvidos pelo Yoga e pelo Budismo. No entanto, foram os Nathas, uma imensa seita
hinduísta que preservou, de fato, o Yoga em suas tradições (conforme a doutrina de Patanjali)
e o incrementou com as tradições tântricas, pelo menos até a idade média, quando se produziu
o Hatha Yoga e outros textos mais ou menos conhecidos, porém, plenos de sabedoria e da
tradição original.
O sábio Patanjali, do Yoga, e o príncipe Gautama, do Budismo, surgiram quase na
mesma época. Segundo Martins (2018), Buda teria sido discípulo de Mahavira, do Jainismo,
enquanto Patanjali estabeleceu a doutrina do Yoga nessa mesma época.
Tanto o Jainismo quanto o Budismo eram formas de crítica intelectual ao domínio e à
manipulação dos brâmanes. No entanto a dinastia Mauria, do poderoso imperador Ashoka,
conseguiu fazer com que a Índia se tornasse budista, em consequência da conversão do
monarca. E assim permaneceu a Índia por cerca de um milênio. Mas, nesse período, muito do
Yoga foi absorvido pelo Budismo, pelas similaridades que tinham essas duas linhas
doutrinárias (MARTINS, 2018).
Buda revela Quatro Nobres Verdades e uma Senda Óctupla para a conquista da
Iluminação. São conceitos que postulam sobre a origem da dor, as verdades sobre esta, de sua
interrupção e o que permite seu fim. Sem conhecer todo este processo e compreendê-lo, não
se pode libertar dos sofrimentos e chegar à iluminação.
A primeira Nobre Verdade é a constatação do sofrimento: perdas, separações,
adoecimento, a velhice, o pressentimento da morte. Tem-se consciência do sofrimento que
causa a dor e deve-se entrar em contato com ele.
A segunda Nobre Verdade debate sobre a origem e o surgimento do sofrimento. O
sofrimento deriva de um sentimento inferior que nos leva ao desespero e nos aprisiona: o
desejo. Estamos presos ao desejo de negar o sofrimento: não perder, possuir, não adoecer, não
morrer.
A Terceira Nobre Verdade argumenta sobre a cessação da dor: o sofrimento pode
chegar ao fim através da eliminação do desejo, deixá-lo no passado e esperar o futuro. Viver o
agora. As aflições que nos agridem são deixadas no passado. O futuro ainda vai acontecer. Só
existe então o agora.
2
CAPRA, Fritjof. O Tao da física. São Paulo: Cultrix, 1983.
415
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
A Quarta Nobre Verdade nos leva a eliminar o que gera sofrimento. É a revelação de
um Caminho Óctuplo, chamado na China como o Caminho das Oito Práticas Corretas.
Implica em uma Compreensão Correta, um Pensamento Correto, uma Fala Correta, uma Ação
Correta, um Meio de Vida Correto, um Esforço Correto, uma Atenção Plena Correta e uma
Concentração Correta. A Senda Óctupla é o que se chama de Caminho Do Meio, ou uma vida
em equilíbrio entre os extremos e atingir o equilíbrio é uma prática que prega ética, sabedoria
e concentração (GUERRA PEREIRA, 2017). A cessação do sofrimento permite o estado de
libertação, o Nirvana.
O Budismo dividiu-se em dois grandes movimentos: Theravada e Mahayana, ambos
seguindo os discursos feitos por Sidartha, os Sutras. Quatro séculos depois, surge um terceiro
movimento, chamado Vajrayana, inspirado nos Tantras, que eram os ensinamentos secretos
também atribuídos a Buda. Cada uma dessas vertentes é composta por linhagens e seitas.
São as principais escolas do budismo, com várias tradições (indianas, chinesas,
japonesas, tibetanas):
*Theravada: significa o ensino dos Sábios. É a mais antiga escola budista. Este
Movimento, conhecido também por “Budismo do Sul”, segue as antigas escrituras onde foram
registrados os primeiros documentos budistas. Resume-se em dois grandes princípios: a
observação de uma ética que evita tudo o que pode prejudicar o outro e a compreensão da
vacuidade do sujeito, denominado também como ”não eu”. É chamado ¨Veículo Monástico¨.
A vida monástica, em muitos casos, representou uma fuga ao sistema de castas inferiores; no
budismo não havia divisão social. A expansão do budismo para além dos mosteiros dá-se no
século III d. C. no reinado de Ashoka, com um novo movimento, Mahayana. (NINA3, 2004,
apud GUERRA PEREIRA, 2017).
*Mahayana: refere-se ao caminho de Bodhisattva (um ser iluminado) buscando a
iluminação. Também chamado o Grande Veículo ou o "Veículo Bodhisattva". É a principal
corrente do Budismo e abriga um variado número de escolas e linhagens. As escolas mais
populares desta vertente são aquelas que fazem parte do chamado Budismo da Fé e as que
pertencem ao grupo do Budismo Chan (ou Budismo Zen, no Japão). Esse caráter eclético e
aberto do Budismo é uma característica do Movimento Mahayana. Este movimento tem a
característica da devoção com o desenvolvimento de um panteão de Budas. Em Mahayana a
prática da virtude e da compaixão é um conceito fundamental a fim de ajudar todos os seres a
atingirem a iluminação.
*Vajrayana ou Budismo Tibetano: Veículo Vajrayana, conhecido também por
Tantrayana, Veículo do Raio ou do Diamante, Budismo Yogo-Tântrico ou ainda Budismo
Tibetano (Lamaísmo): incorporou práticas do tantrismo hindu. Espalhou-se intensamente por
3
NINA, Ana. Cristina. L. Ventos da Impermanência: um estudo sobre a ressignificação do
Budismo tibetano no contexto da diáspora. Tese (Doutorado em Antropologia Social) –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.
416
MARIA REGINA REIS PACHECO
vários países da Ásia Oriental (China, Japão, Mongólia, Butão, Nepal), mas foi no Tibete
onde ele encontrou as condições ideais É um prosseguimento dos outros dois veículos e tem
origem nos tantras. As principais práticas tântricas envolvem principalmente: a recitação de
fórmulas mágicas, chamadas mantras; a execução de gestos (mudras) e danças rituais; a
identificação com divindades por meio de uma prática especial de meditação (samadhi) e o
enfoque dado à prática sexual. O Yoga hindu, incorporando elementos tântricos origina o
Yoga Tântrico ou Yoga Sexual ou Kundalini. O Budismo Tibetano desenvolve-se em quatro
escolas Nyingma, Sakya, Kagyu e Guelupa, que visam o mesmo objetivo de atingir o Nirvana,
mas com tempo de formação, terminologia e metodologia próprias.
A doutrina do Budismo não apenas promovia uma revolução ética em alguns setores
da sociedade indiana, como também servia de crítica a essa sociedade, especialmente em
relação ao sistema de castas e representou uma fuga das castas inferiores.
Hoje Budismo, entre suas derivações, é mais vivenciado como uma religião
messiânica e ampla, uma das maiores do mundo, embora, originalmente, tenha sido apenas
uma linha de pensamento e ação, derivada do Jainismo reformado por Mahavira, mestre de
Buda. O que procura fazer o Budismo: tornar o homem melhor, contribuir para o seu
amadurecimento interior e para a sua iluminação (GUERRA PEREIRA, 2017).
A PRÁTICA DO YOGA
O termo Yoga provém da raiz sânscrita yug e significa unir: unir a alma de quem a
pratica com o todo universal. O Yoga possui uma cultura de mais de quinze mil anos, mas só
foi estruturada a cerca de oito mil anos atrás por Patanjali, o sistematizador do yoga, no
Período Clássico do yoga. Patanjali escreveu o primeiro texto clássico sobre o yoga com o
título de “Yoga Sutra” ou “Aforismos do Yoga”. O primeiro aforisma trata sobre como a
mente deve ser direcionada para alcançar objetivos superiores. O segundo trata da estrutura do
yoga como prática e como obter bons resultados. O terceiro trata como atingir poderes ocultos
da mente através do yoga. O quarto trata como obter o equilíbrio interno nos aspectos físico,
emocional e psicológico. O texto aborda ainda sobre os nove centros de energia ou tchakras e
como mantê-los em equilíbrio.
Em termos arqueológicos, o único objeto relacionado com a origem do Yoga é um
selo de esteatita descoberto em escavações na Índia, realizadas entre 1921 e 1931, nas ruínas
de Mohenjo-daro e Harappa. Este selo estampa um ser humano sentado em posição
meditativa sobre um trono cercado por animais: um tigre, um elefante, um rinoceronte e um
búfalo. Este selo ilustraria a figura de um Proto-Shiva, ou também chamado Pashupati, da
cultura do Indus. (SIEGEL E BARROS, 2013) Figuras 2 e 3.
417
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
420
MARIA REGINA REIS PACHECO
421
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Jñana yoga, muitas veze referido como yoga do conhecimento. Exige força de vontade
e intelecto. O praticante usa a mente para explorar sua própria natureza e deve estar integrado
às outras práticas yogues.
Bhakti yoga, conhecido como yoga da devoção. Busca uma experiência de unidade
com o universo, usa mantras e procura uma conexão perfeita com o Absoluto.
Karma, ou yoga da ação. É a dedicação de todas as suas ações e de seus frutos à
divindade. É o serviço desinteressado para a humanidade. A ação desinteressada é libertadora.
Note que as três últimas práticas referem-se às três doutrinas ou aos três caminhos prescritos
pelo hinduísmo: Karma, caminho do trabalho, Bhakti, caminho da devoção, e
Jñana, caminho do conhecimento.
Raja yoga, que foi descrita como um caminho dos oito passos do yoga clássico nos
Yoga Sutras de Patanjali.
Mantra yoga é um tipo de yoga que trabalha a vocalização dos sons.
Japa yoga trabalha a repetição de um mantra meditativo de um nome com poder
divino. Acredita-se que a prática retira as impurezas da mente e elimina o pecado.
Kundalini. O Yoga hindu também incorporou elementos do tantra, originando a partir
daí o Yoga Tântrico, mais conhecido por Kundalini Yoga ou Yoga Sexual. Kundalini tem por
objetivo despertar a consciência dominando uma energia primordial presente em todos os
seres humanos que se expande ao longo de um canal principal (Sushuma) na coluna vertebral,
no centro da medula a partir do sacro até o topo da cabeça. A prática inclui asanas,
pranayama, bandhas (contrações) e recitação de mantras.
Yoga Integral é uma combinação de práticas físicas e espirituais com desenvolvimento
psicológico e filosófico (YOGUI, 2016).
O Yoga foi levado para o ocidente no séc. XIX por gurus indianos que queriam levar a
técnica para outros países. Tirumali Krishnamacharya (1888-1989) é descrito como o pai do
yoga moderno que estudou com um mestre tibetano. Ensinou a prática para a soviética Zhenia
Labunskaia que adotou um nome indiano, Indra Devi. Indra viajou pelo mundo divulgando a
técnica que havia aprendido com Tirumali. Tirumali também teve como discípulo Bellur
Iyengar, também um dos principais responsáveis pela divulgação do Yoga no ocidente.
Iyengar simplificou asanas que eram complexas e demonstrou os benefícios dos exercícios
tornando o que era uma prática mística, uma terapia física e mental acessível a todos
(COSTA, 2015).
422
MARIA REGINA REIS PACHECO
Na Índia, yoga significa um estilo de vida que inclui dieta vegetariana e prática de
meditação diária, além das posturas que são consideradas uma preparação para prática
espiritual e meditativa. Além das asanas, temos no yoga as pranayamas, exercícios
respiratórios que têm por objetivo controlar a mente. É um meio de alcançar a iluminação
espiritual, unir a mente e o corpo, que é o que significa yoga (COSTA, 2015).
“Yoga não é algo que nós fazemos, mas algo que somos e em que nos tornamos”.
(FEUERSTEIN, 2018).
423
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
A civilização chinesa, uma das mais antigas do mundo, surge como um grupo de
cidades no vale do rio Amarelo. Os primeiros chineses provavelmente migraram do oeste para
o leste a partir da Ásia Central estabelecendo-se em terras férteis nas proximidades deste rio.
Essa terra irrigada permitiu o cultivo de hortaliças, frutas e arroz, proporcionando o princípio
desta civilização.
A China pré-histórica data de 400.000 anos a. C. Passa por várias culturas com
evidências arqueológicas de domesticação de animais e há indícios que o arroz já era
cultivado nessa época. Esse período é representado por imperadores que remetem à mitologia
chinesa. Dinastias sucessivas lideradas por soberanos míticos, desde Fu Xi, Shennong
passando pelo período de Huangdi, o Imperador Amarelo, Yao até o Imperador Shun marcam
o período dos lendários Três Augustos e os Cinco Imperadores. Shun, um líder legendário
com um dos mandatos mais longos, nomeia seu primeiro ministro Yu que funda a Dinastia
Xia que juntamente com Shang e Zhou formam as três dinastias da China Antiga.
424
MARIA REGINA REIS PACHECO
se uma nova Dinastia: a Dinastia Qin (221 - 206 a. C.), responsável pela unificação do
império, que promove reformas administrativas e adota o Legismo como ideologia de estado,
uma das quatro grandes escolas de pensamento filosófico do período. É o período da China
Imperial.
O regime Legista era rígido e sobrecarregava a população com grandes obras como o
Mausoléu com soldados de terracota e a Grande Muralha da China. A carga tributária alta e o
sistema punitivo rigoroso resultam em revolta popular que derruba a dinastia e a luta entre os
estados reinicia. Do novo episódio de batalhas surge o líder militar de Han que vence a guerra
e funda uma nova dinastia, a Dinastia de Han (206 a. C.-220 d. C.), que consolida o Império,
com grande esplendor cultural e que adota o Taoísmo como ideologia de estado inicialmente e
posteriormente, o Confucionismo, que perdura até o fim da China Imperial. Abrem-se os
primeiros contatos com o ocidente através da Rota da Seda. Um plano de reforma agrária pela
breve Dinastia Xin (8-23 d. C.) ocorre nesse período. O imperador Guangwu restitui a
Dinastia Han, mas é um período de invasões e aquisições de terras e estabelece-se o Período
dos Três Reinos, Wei, Shu e Wu, temporariamente unificados na Dinastia Jin (265-420 d. C.),
período de nova fragmentação política. Seguem-se Dinastia Sui (589- 618 d. C.), após
Dinastias do Norte e Sul, período de reunificação, Dinastia Tang (618-907 d. C.), onde o
budismo torna-se a religião predominante e adotado pela família imperial. Entre a Dinastia
Tang e a Dinastia Sung (960-1279) temos um período das Cinco Dinastias, que se sucedem
rapidamente no norte, e dos Dez Reinos, períodos pouco mais estáveis no sul e oeste da
China. Com a invasão pelos mongóis estabelece-se uma unificação, mas através do domínio
destes, que fundam a Dinastia Yuan (1271-1368). Os chineses repelem os mongóis e institui-
se a Dinastia Ming (1368-1644), um período de prosperidade. O comércio exterior cresce. A
burocracia é considerada uma das causas do declínio desta dinastia. Yongle, o terceiro
imperador da Dinastia Ming desenvolveu a marinha e o exército e os chineses estenderam sua
influência territorial. É um dos períodos mais prósperos da China com a edificação do palácio
imperial da Cidade Proibida e a última ampliação da Grande Muralha.
425
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
426
MARIA REGINA REIS PACHECO
TAOÍSMO
I Ching ou Livro das Mutações é uma clássica obra da cultura chinesa que engloba
conceitos de Yin/Yang e dos cinco elementos. Tudo o que existe nos anos de história da
China inspirou-se neste livro: a filosofia chinesa, a ciência, arte de governar e também as artes
marciais. Foi um guia para líderes e sábios através da história chinesa. Relatos remontam sua
autoria ao mitológico Fu Xi (um dos Três Augustos). Fu Xi estudou as mudanças no céu, na
Terra e nos seres vivos e criou símbolos que os representassem e assim elaborou o conceito de
Tai Chi e dos oito trigramas dentro do I Ching. Rei Wen, da Dinastia Zhou foi o autor dos 64
hexagramas (são combinações de dois trigramas), ou 64 julgamentos, e suas interpretações:
são comentários sobre cada hexagrama. Duque de Chou, filho de Rei Wen, escreve
explicações sobre as seis linhas que formam um hexagrama determinando significados das
384 linhas que formam o conteúdo completo dos 64 hexagramas do I Ching. O conceito de
yin e yang aparece como fundamento para a interpretação de trigramas e hexagramas. Linhas
representativas cheias e quebradas e seus desdobramentos permitem a estruturação de um
símbolo com um significado, uma mensagem, um aviso. De Tai Chi (O Grande Chi),
substância fundamental, energia cósmica primordial, surge uma base para a construção de
tudo o que existe no universo, manifestando-se através de yin/yang. Os cinco elementos (ou
éteres, que são: metal, madeira, água, fogo e terra) surgem da combinação entre yin /yang.
Através da interação de Yin/Yang e dos cinco elementos são produzidos os inúmeros
fenômenos da natureza. Com estes, céu e terra são originados. Todas as coisas no universo
surgem e estão em constante transformação. Cada um destes símbolos representa uma
condição, uma possibilidade de modificação de tudo na natureza, inclusive o homem que se
transforma até alcançar a perfeição. Representa a sequência do desenvolvimento humano
desde o seu nascimento, seu processo de crescimento e transformação até atingir a calma de 427
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
seu estado original e assim como tudo no universo. Cada hexagrama trás a ideia de mudança,
de transformação que tem um fundamento. Extrai-se deste livro de sabedoria informações e
conselhos relativos à vida diária, pensamentos e inspirações. Os símbolos representados pelos
trigramas e hexagramas podem explicar o presente, apontar escolhas para o futuro e ser um
guia para decisões pessoais. Shao Yong, um mestre que viveu na dinastia Song, desenvolveu
um método matemático de consulta ao I Ching. Através de uma data e horário de um
acontecimento há influência do Céu e da Terra nesse momento e sobre tudo o que há no
Universo. O estudo dos hexagramas, avaliando seus conteúdos, permite responder questões
para uma consulta sobre determinado assunto. I Ching mostra a possibilidade de prever
acontecimentos, indica possíveis situações, permite analisá-las e decidir qual o caminho a
seguir. I Ching dá ao homem os meios para cultivar sua própria natureza, o conhecimento de
si próprio e sua transformação. É um conselheiro que ajuda a revelar qual a atitude tomar
frente a determinadas situações e também pode ser usado para o autoconhecimento
(SEVERINO, 2017).
Confúcio (551-479 a. C.), Dong Zhongshu ( 179-104 a.C. ) e Wang Pi ( 226-249 d.C.)
foram pensadores e filósofos que interpretaram o I Ching e receberam influência deste. I
Ching também influencia o taoísmo.
Dois grandes autores formam as bases filosóficas do Taoísmo. O mestre Lao Tzu, cuja
principal obra é o Tao Te Ching (o livro do caminho e da virtude) e Zhuang Tzu, com o livro
de Zhuangzi ( ¨atuar o não atuar ¨ : uma ação deve ser não invasiva, deve criar condições para
que algo aconteça sem prejudicar, sem invadir ).
Lao Tzu nasceu em 571 a. C. durante a dinastia Zhou Oriental na China. O rei Wu de
Zhou o nomeou encarregado dos arquivos imperiais, então Lao lia muito e tornou-se um
sábio.
O taoísmo baseia-se num pequeno livro com cerca de 5.000 caracteres, dividido em 81
capítulos, intitulado Tao Te Ching, ou O Livro do Tao, cuja autoria é atribuída a Lao Tse (ou
Lao Tzu). No Tao Te Ching, tudo gira em torno do Tao, termo que significa “caminho” ou
“princípio”. O taoísmo está ligado ao símbolo chinês do yin/yang, que representa uma
polaridade a partir da qual surgiu o universo. Essa polaridade resume todas as oposições
básicas da vida: bem/mal, claro/escuro, masculino/feminino e assim por diante. Conquanto
essas polaridades estejam em tensão, elas não são francamente opostas, mas complementares
e interdependentes. Ambas se resolvem no círculo que as cerca, a saber, o Tao:
428
MARIA REGINA REIS PACHECO
No Taoísmo chinês de Lao Tzu Tao é simbolicamente representado pelo Tai Chi, que
é o equilíbrio entre o Yin e o Yang. O preto e o branco contendo cada um deles uma semente
do seu oposto. Significa a condução de uma vida baseada na harmonia e no equilíbrio entre os
extremos (GUERRA PEREIRA, 2017).
Tao é algo quase divino, a fonte a partir da qual todas as coisas foram criadas. Nesse
segundo sentido, ele é o “caminho do universo”, a norma, o poder propulsor de toda a
natureza, o princípio ordenador de toda a vida. É a “fonte inesgotável”, o “espírito do
universo”. Num terceiro sentido, o Tao refere-se ao “caminho da vida humana”, quando ela se
harmoniza com o Tao do universo. Os taoístas rejeitam todas as formas de autoafirmação e
competição. Outro aspecto importante é a abordagem ecológica presente no taoísmo. Tal
abordagem busca sintonizar-se com a natureza ao invés de tentar dominá-la, como
normalmente fazem os ocidentais. Lao Tzu mencionou técnicas respiratórias no Livro de Tao
Te Ching.
O livro escrito por Lao Tzu, redigido no período dos Reinos Combatentes, trás a
ideologia do campo. A imagem da vida rural, o sonho de voltar para a vida no campo, para a
vida comunitária, como forma de superar o quadro de batalhas e crise social que a China vivia
naquele momento (MENEZES, 2016).
429
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
“Do caminho, significado de Tao, surge o “um”, aquele que está consciente, e dessa
consciência surge o conceito de “dois” (Yin e Yang), entre os quais o número três está
implícito (céu, terra e humanidade), produzindo tudo no mundo como conhecemos, “as
10.000 coisas”, com harmonia que passa pelos cinco elementos”.
O homem deve ser abnegado e altruísta, não deve ter medo. Deve ser suave e flexível.
Viver de acordo com Tao é conhecer o eterno, alcançar a simplicidade e a quietude, para
compreender tudo a sua volta, compreender o mistério da existência.
CONFUCIONISMO
Confúcio foi um filósofo que viveu entre 551 a 479 a. C. cujas ideias orientaram a
organização política, social e familiar da China. Com a desordem política do Período da
Primavera e Outono, através de seus pensamentos procurou restabelecer a ordem social e
definir um código moral de conduta. Confúcio admirava a retidão moral, a sabedoria e a
benevolência dos soberanos míticos da época dos Cinco Imperadores e Três Augustos,
governantes exemplares. A essência da sua filosofia compreende que cada um tem um lugar
definido na sociedade que deve ser desempenhado adequadamente e disto depende o
equilíbrio do universo. As ações do superior, que deve ter comportamento exemplar, devem
430
MARIA REGINA REIS PACHECO
431
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
BUDISMO
O Budismo surge na China por meio das rotas comerciais da Ásia Central que ligavam
a China à Índia. A desestruturação do Império pela dominação do norte do país por invasores
estrangeiros no século III d. C. levou à transferência do poder central para o sul e
desestruturou a crença no confucionismo. Novas filosofias ofereciam respostas às questões
sociais. O confucionismo preconizava questões da existência presente e desvalorizava a
crença na vida após a morte o que também contrariava a tradição do culto aos ancestrais. O
budismo se organizava no ambiente dos monastérios e pregava o celibato, o que contrariava a
crença que valorizava a família e o culto aos antepassados. O budismo adaptou-se à China
recebendo a influência do confucionismo e do taoísmo e termina influenciando as duas
filosofias do país.
O budismo foi adotado por soberanos da Dinastia Sui (589-618). Na Dinastia Tang
(618-907) as três filosofias são estimuladas a se difundirem.
A escola do budismo que se estabeleceu na China foi mahayana onde a iluminação
pode ser alcançada por qualquer pessoa. Em theravada era somente para os que levavam uma
vida monástica. Essa ideia de salvação inspirou os chineses, que passaram a idolatrar
divindades budistas (TREVISAN, 2014).
4
HANH, Thich. Nhat. A essência dos ensinamentos de Buda. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
432
MARIA REGINA REIS PACHECO
Bodhidharma viveu por volta de 470 a 543 d. C. Pertenceu à casta dos guerreiros
indianos (ksatryias) e conhecia uma técnica combativa conhecida por Yainanusht que teria
sido utilizada para os exercícios corporais ensinados aos monges do mosteiro Shaolin.
(SANTOS, 2015) Doutrinando monges itinerantes, consegue difundir largamente o Budismo
entre as populações mais pobres, dando ênfase à meditação e não à leitura dos sutras e à
cultura já que, frequentemente, eram analfabetos (AGUIAR, 2009).
Tai Ji Quan é o nome adotado para esta prática segundo o sistema de romanização
Pinyin, desenvolvido por um comitê governamental da República Popular da China em 1958
e adotado internacionalmente em 1982 (SEVERINO, 2016).
As artes marciais chinesas apresentam-se, inicialmente, através de confrontos tribais e
utilização de armas contra animais através de lanças e machados.
433
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
tempo, havia aqueles que procuravam levar o corpo e a mente ao nível supremo e
desenvolveram exercícios que empregavam os princípios do Tai Ji: ”Enquanto a classe
governante Chinesa estava interessada apenas nos benefícios produtivos do Tai Ji, aqueles que
não se preocupavam com as autoridades, estavam adaptando a filosofia aos seus estilos de
vida pessoal” (SEVERINO, 2016).
434
MARIA REGINA REIS PACHECO
Ba Duan Jin é uma forma de Qi Gong conhecido como As Oito Peças do Brocado ou
Oito Movimentos de Seda. Refere-se a uma sequência de oito exercícios que levam o corpo e
a energia a desenvolverem uma qualidade de seda. O brocado tem cores brilhantes, padrões
sublimes e textura suave, mas é resistente. Foi criado na época da Dinastia Sung pelo general
Yueh Fei, no período das guerras contra os bárbaros do norte. Para melhorar a saúde de seus
soldados, instituiu um programa de treinamento sistemático em arte marcial. Foi o primeiro a
introduzir o wu shu no exército como treinamento básico antes do combate.
Durante a Dinastia Song (960-1279) acredita-se que Chang San Feng tenha criado o
Tai Chi Chuan. Tai Chi Chuan está estruturado em quatro pilares filosóficos: o livro das
Mutações (I Ching), o Taoísmo, o Confucionismo e o Budismo. Compreende o conhecimento
dos Três Sábios: Lao Tzu, Confúcio e Buda.
Por volta de 475 d. C. Bodhidharma, um monge budista indiano veio para a China a
convite de um imperador da Dinastia Liang (502-557 d. C.), mas o soberano não aprovou suas
435
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
teorias e o monge foi residir no Templo Shaolin na área de Tang Fung, no Norte da China
para difundir seus ensinamentos. Ensinou os monges obrigações religiosas, meditação e
treinamentos físicos usando a Luta dos Cinco Animais. Esta luta foi desenvolvendo-se como
uma arte marcial e difundiu-se na China juntamente com os conceitos religiosos dos
seguidores de Bodhidharma. Enfatizava o fortalecimento físico e o desenvolvimento
espiritual. Assim começou a sistematização das Artes Marciais externas na China
(SEVERINO, 2016).
Em 1200 d. C. o monge taoísta Zhang Sanfeng fundou um templo na Montanha
Wudang para a prática do Taoísmo. Recomendava equilíbrio de Yin/Yang para fortalecer o
corpo e a mente, além da meditação e movimentos naturais do corpo propulsados por uma
energia interna adquirida através de treinamento. Observa-se assim o foco para o poder
interno, diferente da sistematização do Templo Shaolin que exprimia o poder externo. O
pensamento Tai Ji e a sua filosofia Yin/Yang desenvolveram-se rapidamente. A dedicação
para atingir a perfeição no Tai Ji permitiu a formação de líderes e proporcionou o
relacionamento de treino mestre-discípulo. Os mestres eram altamente respeitados pela
sabedoria sobre os princípios da filosofia Taoísta e sobre o Tai Ji e ditavam até códigos
morais respeitados até mesmo pelos imperadores. A regra do Tai Ji era corpo e mente em
harmonia com as leis da natureza o que ofereceu resultados em termos de habilidades com o
poder da mente, um poder diferente de outras formas de luta, enfim uma arte marcial
poderosa.
436
MARIA REGINA REIS PACHECO
Mestre Yang Luchan estudou com o Mestre Chen Changxin. Mestres Yang Luchan
(1799-1873) e Wu Yuxiang (1813 – 1880) eram amigos e Yuxiang aprendeu da família Yang.
Ambos começaram usando a forma Chen e começaram a seguir as teorias de um livro
chamado “Clássicos do Tai Ji” de Wang Zongyue . Reuniram seus conhecimentos e estilos e
criaram uma nova arte marcial com o nome de Tai Ji Quan substituindo alguns movimentos
acelerados e com saltos por atividade suave e fundamentaram a técnica. A cidade de Guangfu
foi sua cidade Natal. Uma dessas primeiras teorias afirmava que Tai Ji Quan foi criado por
Zhang Sanfeng.
A família Yang historicamente tem dois estilos, um chamado de Forma Longa (103
movimentos) e outro chamado de Forma Curta (16 movimentos). Estas práticas possuem
normas que garantem o desenvolvimento da habilidade para atingir a perfeição técnica que
inclui a atividade física, a flexibilidade, a sincronia dos movimentos, o alinhamento do corpo,
a respiração, o equilíbrio e a concentração até o estado meditativo. Dez princípios
caracterizam e regem o estilo Yang:
1. Cabeça ereta e sem tensão para permitir o fluxo de chi e sangue e assim pode-se
permitir que o espírito alcance o topo.
2. Arredondar as costas e afundar o peito: permite o chi atingir o Tan Tien.
Sustentando as costas libera-se a força através da espinha e terás o controle da luta.
3. Relaxar a cintura. A cintura comanda os movimentos do corpo. A parte inferior
fica firme e estável.
4. Diferenciar o “cheio” do “vazio”. Se o corpo está apoiado em uma perna, nesta
está o cheio, o substancial e na outra esta o vazio, o insubstancial. Sabendo-se
diferenciar, o giro é leve e equilibrado e o passo, suave e preciso.
5. Abaixar os ombros e os cotovelos, o que permite o relaxamento dos ombros e o
movimento adequado.
6. Usar a mente e não a força. A força bloqueia. Adquirir habilidade e liberar o
movimento correto através do trabalho da mente. Qi e sangue circulam livremente,
seguindo a mente. Acalmar a mente permite estar alerta. O Tai Ji Quan Clássico
diz: “Quando você está extremamente suave, então você se torna extremamente
437
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
duro e forte”.
7. Coordenar o superior e o inferior. O mais alto e o mais baixo seguem-se
mutuamente. O Tai Ji Quan Clássico diz: “O movimento deveria ser originado nos
pés, liberado através da cintura e manipulado através dos dedos”. Os olhos seguem
os movimentos das mãos e então, pés, cintura e o corpo seguem orientados.
8. Coordenar interior e exterior. "O espírito é o comandante e o corpo é o
subordinado". Coordenar a mente e os movimentos. Dentro e fora se tornam um e
assim a coordenação é completa.
9. Continuidade dos movimentos. Do início ao fim os movimentos são sucessivos e
não interrompidos.
10. Quietude no movimento. Movimentos lentos permitem controle da respiração.
Inspirações e expirações longas e profundas permitem o chi aprofundar no Tan
Tien (região inferior do tórax compreendida por três pontos: o umbigo, um ponto
oposto ao umbigo, na região da exponha, chamado portão da vida, e o períneo).
Muitos estudos procuram demonstrar os efeitos do yoga e do tai chi chuan como
auxiliares na recuperação da saúde e na prevenção de doenças. São práticas que oferecem
importante recurso para a saúde já que aplica regras nas posturas físicas com controle da
realização dos movimentos, exercícios respiratórios com participação consciente do trabalho
do diafragma e distintos estados de meditação.
Estudos têm procurado demonstrar que o TCC pode melhorar a função
cardiorrespiratória em portadores de doenças cardíacas.
Em uma revisão sistematizada da literatura que foi realizada em 2014 avaliou os
efeitos do TCC na reabilitação cardíaca em pacientes com doença arterial coronariana. Foram
usados dados de MEDLINE, EMBASE, LILACS e Registro Cochrane de Ensaios
Controlados. De 201 estudos, foram selecionados 12 manuscritos e nove foram excluídos.
Três ensaios clínicos randomizados foram destacados. Estes estudos de revisão sistematizada
compreendiam pacientes com diagnóstico comprovado de doença arterial coronariana estável
clinicamente e com condições de praticar atividade física. O grupo controle nos três estudos
foi composto por praticantes de qualquer categoria de treinamento físico (aeróbico e/ou de
resistência). O tempo de acompanhamento foi de dois a doze meses. O primeiro trabalho
apresentava pacientes após enfarto agudo do miocárdio. Após dois meses de atividade, tanto o
438
MARIA REGINA REIS PACHECO
grupo controle quanto os que praticavam TCC apresentaram redução da pressão arterial
diastólica. No segundo trabalho, após um ano de prática de TCC, os pacientes demonstraram
aumento significativo da sensibilidade baroreflexa (reflexo barorreceptor é um dos
mecanismos de controle da pressão arterial que atua ajustando a frequência cardíaca e o tônus
simpático) e no grupo controle não houve diferença significativa para este parâmetro. No
terceiro estudo, após três meses de atividade, o grupo de tai chi chuan apresentou aumento no
escore do teste Chair Stand (teste que avalia a força e resistência das pernas), do tempo One-
Leg Stand (teste de suporte em uma perna) e se tornaram mais rápidos no teste 8 Foot Up-
and-Go (testa velocidade, agilidade e equilíbrio), além de aumento da flexibilidade e no
número de repetições no teste do degrau. Surgiram evidências que o Tai Chi Chuan possa ser
uma forma não convencional de reabilitação cardíaca apresentando-se como uma terapêutica
adjuvante no tratamento de pacientes com doença arterial coronariana estável, entretanto a
qualidade metodológica dos artigos incluídos e o tamanho das amostras evidenciam a
necessidade de novos estudos clínicos randomizados sobre o tema (NERY, 2014).
pacientes com doenças crônicas. Foram selecionados nove estudos randomizados, 23 não
randomizados e 15 estudos observacionais, resultando em 47 análises. Foram avaliados o
equilíbrio, a força, o alongamento, a resistência, a flexibilidade, a estabilidade postural, a
função cardiovascular e respiratória, o sistema imune, os sintomas de artrite e os efeitos
psicológicos. Sete estudos revelaram que oito a doze semanas de treinamento melhoram
significativamente o equilíbrio, a flexibilidade e a força extensora dos joelhos, reduzindo a
ocorrência de quedas. Um dos estudos combinou o treinamento de força e peso por três meses
e seis meses de TCC o que levou a um impacto favorável em termos de equilíbrio. Três
estudos em indivíduos que praticavam Tai Chi por 1 a 35 anos revelaram que estes tinham
maior flexibilidade em membros inferiores do que não praticantes, além de melhor velocidade
de marcha, equilíbrio, desempenho cardiovascular e redução do risco de quedas. Estudos
sobre os efeitos nas condições musculoesqueléticas em pacientes com osteoartrite notificaram
que doze semanas da prática melhoram significantemente os sintomas, o nível de tensão, a
satisfação com o estado de saúde e menor atividade da doença. Já em uma publicação de
pacientes com artrite reumatóide submetidos a dez semanas de prática não mostrou diferença
significativa com o grupo controle na atividade da doença. Pacientes com esclerose múltipla
foram submetidos a oito semanas de prática de tai chi em um estudo mostrou aumento da
velocidade para caminhar e da flexibilidade isquiotibial, além da melhora da vitalidade, da
sociabilidade, saúde mental e habilidade para executar atividades físicas, potencializando a
independência e a melhora da qualidade de vida. Estudos em pacientes hipertensos que
praticaram tai chi por oito a doze semanas e três anos, a redução da pressão arterial média foi
encontrada no grupo de prática regular. Em uma comparação com exercícios aeróbicos,
ambos os grupos, de tai chi e exercícios aeróbicos foram associados à redução da pressão
sistólica e tai chi reduziu a pressão diastólica em pacientes em recuperação por infarto do
miocárdio. No sistema cardiorrespiratório, dois estudos de coorte com 90 e 84 pessoas com
6,3 e 6,7 anos de experiência com tai chi, respectivamente, demonstraram que a captação de
oxigênio no grupo tai chi foi significativamente maior que no grupo controle. Um estudo de
caso controle com 76 pessoas com média de 69 anos com 11,8 anos de prática em tai chi,
estes apresentaram maior volume de oxigênio no teste stand-and-reach (na posição em pé e
alcançar os pés) e menor porcentagem de gordura corpórea que sedentários da mesma idade.
Dois estudos avaliaram os efeitos do tai chi em 38 pessoas com idade entre 58 e 70 anos em
uma comunidade e 20 pacientes com média de idade de 57 anos com baixo risco e que
sofreram cirurgia de revascularização miocárdica; após um ano de treinamento quatro vezes
por semana houve melhora significativa na função cardiorrespiratória, força, flexibilidade e
aumento do volume de oxigênio, comparados com os grupos controle. Em um estudo que
comparou a prática do tai chi com Wing Chun, uma prática com movimentos rápidos, com
golpes e chutes cronometrados para alcançar potência máxima, a ventilação equivalente ao
440
MARIA REGINA REIS PACHECO
volume de oxigênio foi significativamente menor em tai chi. Os autores consideraram que os
movimentos lentos e não intensos do tai chi poderiam não ser adequados para melhorar a
aptidão cardiorrespiratória. Resultados relacionados aos efeitos do tai chi nas funções
cardiovascular e pulmonar foram bem reportados em 11 publicações de pesquisadores
chineses. Embora um destes estudos referisse que a intensidade metabólica da atividade
parece ser insuficiente para gerar melhora na aptidão cardiovascular em adultos jovens
saudáveis, outros estudos sugerem que a prática regular do tai chi pode atrasar o declínio da
função cardiorrespiratória em indivíduos mais velhos. Os efeitos psicológicos do tai chi foram
avaliados em três estudos randomizados e três não randomizados. Destes, resultados de dois
estudos randomizados com 283 adultos pouco ativos que participaram de um programa de tai
chi dezesseis semanas ou seis meses indicaram melhora comparados com o grupo controle
quanto ao bem estar psicológico relacionado com depressão, angústia, satisfação de vida, bem
estar e percepção de saúde. Outro estudo randomizado examinou os efeitos psicológicos em
90 crianças em idade escolar, 52 meninos e 38 meninas que praticaram 12 semanas de tai chi
e neste grupo houve melhora significativa nos itens autoconhecimento e integração motora
visual. Dois estudos não randomizados com 186 pacientes no total relataram que 1 a 46 meses
de tai chi melhoraram o humor e reduziram o estresse e a ansiedade. Em um estudo com nove
pacientes idosos com diagnóstico de demência por múltiplos infartos ou doença de Alzheimer
participaram duas vezes por semana por mais de sete semanas e foram avaliados antes e
depois do tai chi, concluindo-se que reminiscências estruturadas, com a prática, permitiram
que a linha de pensamento fosse facilitada além do nível normalmente manifestado. Para o
sistema imunológico, um estudo não randomizado com 60 idosos mostrou que o número total
de linfócitos T circulantes, incluindo linfócitos T ativos, era significantemente mais elevado
no grupo praticante de tai chi (30 idosos saudáveis que regularmente praticavam por quatro
anos ou mais) do que no grupo não praticante (30 idosos). A maioria dos estudos não
randomizados não tinha grupo controle ou tinham pequenos tamanhos de amostras; outros não
tinham detalhes das informações, o estilo da forma do TCC e suas modificações também não
foram esclarecidos, assim como informações sobre as habilidades dos instrutores. Outra
dificuldade foi estabelecer as dimensões dos benefícios de acordo como tempo de
treinamento. Parece ser uma atividade segura e efetiva em pacientes em condições crônicas,
entretanto existem limitações nos estudos que dificultam as conclusões sobre o assunto e
melhores estudos são necessários (WANG, 2004).
Um estudo randomizado para avaliar os efeitos do yoga nos sintomas da fibromialgia
foi realizado com uma amostra de 53 mulheres com idade mínima de 21 anos, média 53,7,
com diagnóstico da doença há um ano e recebendo tratamento farmacológico e/ou não
farmacológico há pelo menos três meses. Foram distribuídas aleatoriamente 25 mulheres e
estas foram submetidas a oito semanas de prática de yoga, o que englobava 40 minutos de
441
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas as civilizações trazem em sua trajetória uma herança particular para o mundo.
Alguns povos deixaram documentos de inestimável valor, lendas, obras de arte, monumentos,
formas de expressão, danças, músicas, culinária, artefatos e muito, muito mais.
443
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
São práticas que oferecem importante recurso para a saúde já que aplicam regras,
posturas físicas com controle da realização dos movimentos, exercícios respiratórios e
distintos estados de meditação. Proporcionam a manutenção da saúde e auxiliam sua
recuperação frente a várias doenças. Propiciam a conscientização do próprio corpo e o
autoconhecimento. São práticas físicas e espirituais. São acessíveis a todos.
É inquestionável valor das duas práticas para a humanidade. Cientificamente há ainda
muito a ser feito, mas o caminho já está sendo percorrido.
444
MARIA REGINA REIS PACHECO
445
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
REFERÊNCIAS
FEUERSTEIN, G. Uma visão profunda do yoga. 1edição. São Paulo: Pensamento, 2005.
GUERRA PEREIRA, A.F. Budismo e Educação: uma proposta de superação aos desafios da
sociedade pós-moderna. 2017. 100f. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade
Federal do Ceará, Fortaleza, 2017.
446
MARIA REGINA REIS PACHECO
SEVERINO, R.E. O espírito das artes marciais. São Paulo: Nelpa, 2010.
SEVERINO, R. E. ; SOCI, M.A. História geral do tai ji quan. História geral do tai ji quan
da família Yang. Curso de pós-graduação latu sensu em práticas corporais da medicina
tradicional chinesa com foco em tai chi chuan da família Yang e sua filosofia. São Paulo:
USP, 2016.
TZE, LAO. Tao te ching. 1 Edição. São Paulo: Pensamento, 2006. Texto e comentário de
Richard Wilhelm.
WANG, C.; COLLET, J.P.; LAU, J. The Effect of Tai Chi on Health Outcomes in Patients
with Chronic Conditions. A Sistematic Review. Archive Internal Medicine. 2004; 164:493-
501.
XAVIER, J.J.S. Equilíbrio em idoso e prática de Tai Chi Chuan. 2008. 156f. Dissertação
(Mestrado em Ciências Médicas). Saúde na Comunidade, Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto/USP, São Paulo, 2008.
447
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
448
MÔNICA DA SILVA NUNES
449
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
RESUMO
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e uma doença importante por sua alta
prevalência, alta morbidade e mortalidade. A principal causa e o tabagismo, além de fatores
genéticos. Inicia com tosse crônica produtiva, evoluindo ao longo do tempo com limitação ao
movimento, falta de ar, fadiga muscular, alterações nutricionais e disfunções
musculoesqueléticas. Além do tratamento medicamentoso, recomenda-se a reabilitação pulmonar
na forma de exercícios. Este estudo efetuou uma revisão da literatura publicada de 2010 até 2018
em periódicos indexados na língua inglesa sobre os efeitos do Tai Chi Chuan para pacientes com
DPOC. Foram identificados 11 artigos publicados sobre o tema, referentes a sete ensaios clínicos
e um estudo fisiológico. Os resultados mostraram que o Tai Chi Chuan, quando praticado
frequentemente, promove a reabilitação pulmonar desses pacientes, sendo equivalente ou ainda
superior aos programas convencionais de reabilitação pulmonar, e algumas vezes com efeito
mais duradouro do que os programas convencionais de exercícios.
Palavras-chave: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, Reabilitação pulmonar, Tai Chi Chuan,
Estudo experimental
ABSTRACT
Chronic obstructive pulmonary disease (COPD) is an important disease due to its high
prevalence, high morbidity and mortality. The main cause is smoking, as well as genetic
factors. It begins with productive chronic cough, evolving over time with limited movement,
shortness of breath, muscle fatigue, nutritional changes and musculoskeletal dysfunctions. n
addition to medical treatment, pulmonary rehabilitation in the form of exercises is
recommended. This study reviewed the literature published on the effects of Tai Chi Chuan for
patients with COPD from 2010 to 2018 in English language and in indexed journals. We
identified 11 published articles on the subject, referring to seven clinical trials and one
physiological study. The results showed that Tai Chi Chuan, when practiced frequently,
promotes the pulmonary rehabilitation of these patients, being equivalent to or even superior to
conventional pulmonary rehabilitation programs, and sometimes with a longer lasting effect
than conventional exercise programs.
Key Words: Chronic Obstructive Pulmonary Disease, Pulmonary Rehabilitation, Tai Chi Chuan,
Experimental Study
450
MÔNICA DA SILVA NUNES
RESUMEN
Palabras clave: Enfermedad Pulmonar obstructiva crónica, Rehabilitación pulmonar, Tai Chi
Chuan, Estudio experimental
451
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
INTRODUÇÃO
1
MENEZES, A.M. et al. Chronic obstructive pulmonary disease in five Latin American cities (the
PLATINO study: a prevalence study. Lancet, v. 366, n. 9500, p. 1875-1881, 2005.
12
452
MÔNICA DA SILVA NUNES
em mulheres não tabagistas o principal fator de risco é a fumaça advinda do ato de cozinhar em
fogão a lenha,principalmente no Oriente Médio, África e Ásia (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DA SAÚDE, 2018). Inicialmente, o paciente apresenta tosse crônica produtiva, e a limitação ao
movimento do ar aparece depois, ao longo dos anos. Como é um processo longo, geralmente o
diagnóstico de DOPC é feito somente após os quarenta anos de idade (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2018).
DIAGNÓSTICO DA DPOC
Uma vez que a principal característica da DPOC e a limitação do fluxo de ar, o diagnóstico dessa
doença é feito através de testes de função pulmonar. As provas de função pulmonar envolvem a
espirometria, a avaliação de volumes pulmonares, a capacidade de difusão do monóxido de
carbono (DCO), as pressões expiratórias máximas, os testes de bronco-provocação, a oximetria,
a gasometria arterial, e os testes de exercício (PEREIRA, 2001). Na DPOC, são usados
principalmente o teste de espirometria antes e após broncodilatador, e os testes com exercícios,
podendo, a critério clínico, serem usados também outros testes para diagnostico, estadiamento ou
ainda acompanhamento do tratamento (PEREIRA, 2001)
A espirometria mede volumes e fluxos aéreos. As principais medidas avaliadas são a capacidade
vital lenta (CV), a capacidade vital forcada (FVC), o volume expiratório forcado no primeiro
segundo (FEV1), e suas relações (FEV1/CV e FEV1/FVC). A espirometria antes e após o uso de
broncodilatador é o teste diagnóstico e de estadiamento (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 19962, apud PEREIRA, 2001).
__________________
2
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. I Consenso Brasileiro
sobre Espirometria. Jornal Brasileiro de Pneumologia, n. 22: 105-164, 1996
13
453
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
14
454
MÔNICA DA SILVA NUNES
No estágio II (DPOC moderada), há aumento da restrição ao fluxo de ar (FEV1/FVC < 0.70; 50%
≤ FEV1 < 80% previsto), com sensação de falta de ar ao exercício, e eventual tosse com
secreção. Neste estágio muitos pacientes procuram atendimento médico.
O estágio III (DPOC grave) apresenta piora da limitação do fluxo de ar (FEV1/FVC < 0.70; 30%
≤ FEV1 < 50% do previsto), falta de ar mais intensa, capacidade de exercícios reduzida, fadiga, e
exacerbações repetidas que afetam a qualidade de vida.
Finalmente, no estágio IV (DPOC muito grave) há intensa limitação ao fluxo de ar (FEV1/FVC <
0.70; FEV1 < 30% do previsto ou FEV1 < 50% do previsto) e falência respiratória crônica
(pressão de oxigênio em sangue arterial menor do que 60 mm Hg ao nível do mar). Nesse estágio
pode aparecer o cor pulmonale (insuficiência do lado direito do coração), levando a uma grave
restrição da atividade física. Práticamente todo fumante pode chegar ao estágio IV, mesmo após
parar de fumar.
A tosse crônica e a secreção podem aparecer muito tempo antes da limitação ao fluxo de ar, o
que permite uma intervenção precoce antes do quadro grave. As causas do óbito na DPOC
costumam ser doenças cardiovasculares, câncer pulmonar e insuficiência respiratória. (GLOBAL
INITIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 8).
15
455
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Hipersecreção de muco
A presença da hipersecreção de muco e mais característica da bronquite crônica, e nem sempre
está associada a limitação do fluxo de ar. Nem todos os pacientes com DPOC possuem essa
hipersecreção. Ela ocorre devido a metaplasia mucosa do epitélio e aumento das glândulas da
submucosa em resposta aos irritantes crônicos como a fumaça do cigarro e outros vapores
(GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 24).
Hipertensão pulmonar
Nos estágios mais tardios, poderá ocorrer hipertensão pulmonar leve a moderada, devido à
____________________________________
7
HOGG, J.C. et al. The nature of small-airway obstruction in chronic obstructive
pulmonary disease. New England Journal of Medicine, v. 350, n. 26, p. 2645-2653, 2004
16
456
MÔNICA DA SILVA NUNES
vasoconstricção por hipóxia das pequenas artérias pulmonares. Isso pode resultar em alterações
estruturais como hiperplasia da intima dos vasos e hipertrofia da camada muscular lisa dos vasos,
com disfunção endotelial. A destruição do leito vascular que ocorre no enfisema também
contribui para o aumento da pressão na circulação pulmonar. Por sua vez, a hipertensão
pulmonar progressiva leva a hipertrofia ventricular direita, podendo chegar a insuficiência
cardíaca direita, chamada de cor pulmonale (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 24).
Efeitos sistêmicos
A DPOC envolve vários sintomas sistêmicos, principalmente nos pacientes mais graves
(AGUSTI et al., 20038 apud GLOBAL INITIATIVES FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG
DISEASE, 2006, p. 24). O emagrecimento é comum, devido à perda de massa muscular por
apoptose e desuso. Também há risco maior de ter osteoporose, depressão e anemia, bem como
aumento no risco de doença cardiovascular (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 24).
Exacerbações
A exacerbação e uma amplificação da resposta inflamatória existente na DPOC, geralmente
desencadeada pela presença de vírus, bactérias ou agentes poluentes. Na exacerbação há aumento
da retenção de ar e redução do fluxo expiratório, com redução do fluxo expiratório, levando ao
aumento da dispneia (PARKER et al., 20059, apud GLOBAL INITIATIVES FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 24).
TRATAMENTO DA DPOC
Enquanto o diagnóstico é relativamente simples, a redução dos fatores de risco nem sempre e,
dado o fato de que o tabagismo ainda é amplamente usado no mundo, e nem todos tem acesso a
____________________________________________
8
AGUSTI, A.G. et al. Systemic effects of chronic obstructive pulmonary disease.
European Respiratory Journal, v. 21, n. 2, p. 347-360, 2003
9
PARKER, C.M. et al. Physiological changes during symptom recovery from
moderate exacerbations of COPD. European Respiratory Journal, v. 26, n. 3, p. 420-
428, 2005
17
457
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
métodos alimentares sem o uso do fogão a lenha. Mas o mais difícil é o tratamento da doença já
instalada, dependendo do grau de comprometimento pulmonar.
Em pacientes com DPOC estável, a OMS recomenda atividades no sentido de educar o paciente
a conviver com a doença e aprender meios de melhorar sua saúde. Isso inclui cessar o habito de
fumar, mas também outras medidas profiláticas. O tratamento farmacológico da DPOC não
modifica a evolução a longo prazo da DPOC, que se caracteriza pela diminuição progressiva da
função pulmonar. Isso significa, em outras palavras, que mesmo usando medicação a progressão
da doença para um estado incapacitante, imóvel e dependente do uso de oxigênio continuará a
ocorrer. Por isso, a reabilitação pulmonar vai além do tratamento medicamentoso, que por si só
não é capaz de agir em todas essas etapas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018).
O uso de exercícios na reabilitação do paciente está indicado pela OMS para todos os pacientes,
bem como o aconselhamento nutricional, enquanto as demais medidas são indicadas conforme a
gravidade da doença (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018).
EXERCĺCIOS E DPOC
458
MÔNICA DA SILVA NUNES
capacidade de fazer exercícios (LIN et al., 2012; CRISAFULLI et al., 2012), evoluindo até para
dificuldade em andar e efetuar movimentos normais. Os sintomas da DPOC fazem com que se
exercitar pareça uma atividade desagradável pois a sensação de falta de ar aumenta, devido a
retenção de ar e hiperinflação dos pulmões (McCARTHY et al., 2015). O aumento da falta de ar
causa ansiedade, aumentando o desconforto e piora da DPOC. Por isso alguns pacientes,
principalmente aqueles em estado avançado da doença, acabam tendo uma redução da qualidade
de vida (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018). Essa dificuldade em fazer
exercícios acaba levando a inatividade do paciente, que por sua vez piora a função pulmonar,
pois a musculatura que não e usada enfraquece. A inatividade por sua vez pode levar ao aumento
da secreção, o que reduz ainda mais a ventilação pulmonar. (BEAUCHAMP et al., 2012). A
inatividade física é um preditor de mortalidade nas pessoas com DPOC.
Sabe-se que o exercício físico e uma forma importante de reabilitação pulmonar, melhorando a
dispneia e o estado geral de saúde, e também diminuindo o número de intercorrências.
(McCARTHY et al., 2015). Podemos mencionar as evidências clinicas do benefício da
reabilitação pulmonar na DPOC a partir de vários ensaios clínicos, sendo elas a melhora da
capacidade de fazer exercícios, a redução da intensidade da falta de ar, a melhora na qualidade de
vida, a redução do número de hospitalizações e sua duração, a redução da ansiedade e depressão
associadas a doença, a melhora da função dos braços, o aumento da sobrevida, e a duração de
parte desses benefícios após o período de treinamento (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 32). Porisso tanto a OMS como a American
Thoracic Society e a European Respiratory Society enfatizam a importância do exercício no
tratamento da DPOC (McCARTHY et al., 2015).
“uma intervenção ampla baseada na avaliação continua do paciente com uma terapia
individualizada que inclui exercícios, educação, e mudança de hábitos, destinada a
melhoria das condições físicas e psicológicas das pessoas com DPOC e promover a
aderência a longo prazo a comportamentos mais saudáveis” (SPRUIT et al., 2013).
A Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease recomenda que a reabilitação
pulmonar seja oferecida para os seguintes pacientes: paciente com DPOC moderada e severa,
pacientes com DPOC estável, pacientes que apresentem sintomas respiratórios contínuos;
pacientes com capacidade de exercícios diminuída, e pacientes que não melhoraram somente
19
459
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
As sessões costumar ser oferecidas de uma vez na semana até todos os dias, com tempos que
variam entre 10 e 50 minutos por sessão, e com intensidade variável do exercício. (MAHLER,
1998). A duração da reabilitação ainda não está definida. Algumas evidências mostram que o
tempo mínimo de programa para ser efetivo é de 6 semanas (BEHNKE et al., 2000; FINNERTY
et al., 2001), enquanto outras sugerem pelo menos 8 semanas. (BEAUCHAMP, 2011), com um
mínimo de 28 sessões de exercício. Já outros estudos sugerem sessões 3 vezes por semana
(NICI et al., 2006). Apesar da recomendação de que o treinamento seja planejado
individualmente, o treino em geral e feito em grupos, sendo recomendado uma proporção de
instrutor/aluno de 1: 4 a 1:8 (GLOBAL INITIATIVES FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE
LUNG DISEASE, 2006, p. 32). Os exercícios costumar conter treinos do membro superior e
membro inferior, treinos de resistência aeróbica e de forca. A movimentação dos membros
superiores pode ser útil para pacientes com fraqueza da musculatura respiratória (BELMAN et
al., 199410; LOTTERS et al., 200211, apud GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 32).
A avaliação no programa de reabilitação deve ser efetuada antes do início e ao seu termino, pelo
menos, geralmente sendo feita múltiplas avaliações. Tanto a espirometria quanto a avaliação da
______________________________________
10
BELMAN, M.J. et al. Ventilatory load characteristics during ventilatory muscle training.
American Journal of Respiratory Critical Care, v. 149, n. 4 Pt 1, p. 925-929, 1994.
11
LOTTERS, F. et al. Effects of controlled inspiratory muscle training in patients with
COPD: a meta-analysis. European Respiratory Journal, v. 3, p. 570-576, 2002
20
460
MÔNICA DA SILVA NUNES
musculatura inspiratória e expiratória devem estar presentes, assim como a forca dos membros
inferiores. O estado geral de saúde na DPOC é importante, existindo vários questionários para
isso, como o Chronic Respiratory Disease Questionnaire (GUYATT et al., 1987) e o St. George
Respiratory Questionnaire (JONES et al., 1991). A avaliação do quadro mental também e feita,
usando-se escalas para medir ansiedade e depressão, entre outras comorbidades.
Alguns exercícios permitem não só avaliar a gravidade da DPOC, mas também medir a melhora
funcional do paciente no programa de reabilitação. Um desses exercícios e a caminhada de 6
minutos, onde se mede a distância que o paciente consegue caminhar no intervalo de tempo de 6
minutos (SPRUIT et al., 2012).
Estudos sobre programas de reabilitação pulmonar mostraram que eles são capazes de diminuir
o uso de serviços de saúde e também a duração de internações, bem como melhora da capacidade
de andar no estado de saúde em geral. Troosters et al. (2005) mostraram que a reabilitação
pulmonar pode aumentar o consumo de oxigênio em 11%, aumento do tempo de exercícios em
87% e aumento de 9 metros na caminhada de 6 minutos. Os exercícios levam a ao aumento do
volume inspiratório e redução da hiperinsuflação dinâmica, levando a redução da dispneia bem
Na medicina chinesa, o pulmão representa o elemento metal, e está ligado a emoção da tristeza.
Segundo Yamamura e Yamamura (2010), a DPOC e causada pela plenitude do Fei-Yang e pela
deficiência do PI (Baco/Pâncreas), levando a acumulo de umidade, agredindo o pulmão,
desencadeando o vazio do Yin e a plenitude do Yang, que seca a umidade do Pulmão, enquanto
21
461
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
o Yang do Fígado contrai a musculatura lisa dos brônquios, levando a dispneia expiratória.
Portanto, a DPOC, na concepção da medicina chinesa, e’ o resultado de um mecanismo
complexo, sendo seu tratamento feito através de acupuntura e também dos exercícios corporais.
Já o enfisema deve-se ao vazio do Shen Qi (energia dos rins) e do Fei Qi (energia do pulmão)
com vazio predominante do Yin desses órgãos. Assim, não é possível reter o Yang. ocorrendo o
secamento dos líquidos desses órgãos.
Tai Chi (ou Tai Ji, ou T’ai Chi) é uma filosofia que surgiu há milhares de anos atrás, e que foi
integrada em várias partes da cultura chinesa. A sistematização da filosofia Tai Chi em práticas
corporais começou há cerca de 1700 anos atrás, quando um médico chamado Hua Tuo criou as
artes folclóricas da luta dos cinco animais, que se popularizou entre o povo. Depois em 75 D.C. o
Bodhidarma entrou na China e aprofundou esse sistema de artes marciais entre os
mongesbudistas, dando origem a arte marcial Shaolin. Posteriormente, em 1200 d.C, o monge
Taoísta Zhang Sanfeng fundou um templo na Montanha Wudang, combinando os elementos
taoístas com os budistas, e difundindo a filosofia Tai Chi. A partir daí, surgiram alguns mestres
que aperfeiçoaram a técnica, e deram origem a diferentes estilos de prática, ensinados no âmbito
familiar. Esses exercícios de Tai Chi também foram chamados de Tai Chi Chuan, ou T’ai Chi
C’huan, ou Tai Ji Quan. O primeiro deles foi Wang Zongyue no século 13, que desenvolveu o
“Taijiquan Lun” . Depois Chen Wangting criou o punho longo e o punho de algodão. Chen
Changxing, da família Chen, criou as 13 posturas, que foram aperfeiçoadas por Yang Luchan
(1799-1872) e Wu Yuxiangg. Yang Luchan foi o fundador do estilo Yang ou do sistema da
família Yang, e Wu Yuxiang (1813 – 1880) criou o estilo Wu/Hao. Há ainda o estilo tradicional
Wu, criado por Quanyou e Wu Jianquan, e o estilo Sun, criado por Sun Lutang, derivado do
estilo Wu/Hao. (SEVERINO; SOCI, 2016).
Depois, com a revolução política de 1900 a 1910, alguns chineses figuram para o Ocidente,
levando consigo a arte, que, no entanto, sofreu modificações e deu lugar a um estilo moderno de
Tai Chi Chuan, que tem muitas diferenças do estilo clássico ensinado pelas famílias tradicionais.
Em 1956, após a Revolução Cultural Chinesa, a prática do Tai Chi Chuan clássico foi proibida e
o governo criou formas simplificadas e populares, chamadas simplesmente de Tai Chi Chuan ou
Taijiquin (LAN et al., 2001), sem a denominação do estilo, que passa a ser único no sistema
oficial governamental.
22
462
MÔNICA DA SILVA NUNES
O Tai Chi Chuan tornou-se popular no Ocidente nas últimas décadas, gerando interesse da classe
de profissionais de saúde e da ciência. Pode ser praticado sozinho ou em grupos, não necessita
de equipamentos, e pode ser efetuado ao ar livre.
O Tai Chi Chuan constitui-se em movimentos do tronco, da cabeça e das extremidades, unidos
em sequência de maneira suave, com transição geralmente lenta entre um movimento e outro
(HONG, LI, ROBINSON et al., 2000). Durante a execução do Tai Chi Chuan, é necessário que
haja respiração diafragmática e rítmica, integrando esses movimentos com o equilíbrio do corpo
e concentração mental (LAN et al., 2013). A prática do Tai Chi Chuan também inclui a
respiração e o relaxamento muscular ativo com movimentos lentos e delicados em posturas
estáticas (CHEON et al., 2013), onde ocorre contração concêntrica e excêntrica das extremidades
(LAN et al., 2000). Segundo Lan et al. (2001), o Tai Chi Chuan preenche as recomendações do
Colégio Americano de Medicina do Esporte como exercício que promove o condicionamento
cardiorrespiratório por ter movimentos lentos, harmoniosos, envolver coordenação motora, exigir
movimentos contínuos, requerer contração muscular e ter baixo impacto ortopédico com poucas
lesões.
Estudos recentes mostraram que o Tai Chi Chuan pode atuar como exercício físico aeróbio de
moderada intensidade. Zheng et al. (2015) avaliaram 20 estudos clínicos sobre o efeito do Tai
Chi Chuan na resistência cardiovascular em pessoas sadias. Esses estudos incluíram Tai Chi
Chuan do estilo Yang, entre outros, com treinamento entre 8 semanas e vários anos, sendo
praticados de 2 a 7 vezes na semana, de 12 a 60 minutos por sessão. Os autores concluíram que o
TC e eficiente em melhorar o condicionamento cardiorrespiratório em adultos saudáveis, sendo
que após a metanálise foi encontrada redução da pressão arterial de repouso, frequência cardíaca
de repouso, aumento do volume sistólico e também do debito cardíaco no repouso, bem como
aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio, utilização efetiva de energia pelo coração
esquerdo, forca da bomba ventricular esquerda. Também houve aumento da função respiratória
avaliada pela capacidade vital forcada, ventilação máxima de minuto, o volume expiratório
forcado no primeiro segundo, o consumo de O2 máximo, e na resistência cardiorrespiratória
medida pelo teste de escada e oximetria.
Lan et al. (2001) também demonstrou o efeito do Tai Chi Chuan na função cardiorrespiratória.
Quinze voluntários sadios com idade entre 29 e 56 anos, práticantes de Tai Chi Chuan, foram
avaliados durante a prática do TC, para se determinar a intensidade do exercício. Os resultados
23
463
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Mesmo em idosos, tem se demonstrado que a prática do Tai Chi Chuan e benéfica para melhora
da resistência aeróbia. Em um dos poucos estudos brasileiros publicados sobre o Tai Chi Chuan,
Chao et al. (2012) mostraram que 11 idosas sedentárias, quando submetidas a prática de Tai Chi
Chuan por 50 minutos, três vezes na semana, por 12 semanas, tiveram aumento da resistência
aeróbia, demonstrado pelo aumento dos resultados do teste da caminhada de seis minutos e da
marcha estacionaria de dois minutos. Isso mostra a capacidade do Tai Chi Chuan de melhorar as
condições físicas mesmo em idosos previamente sedentários.
O Tai Chi Chuan também é benéfico em idosos por melhorar a função cardíaca, a ventilação
pulmonar e a resistência ao fluxo de sangue cerebral. Song et al. (2014) mostraram que em 108
idosos sedentários na faixa de idade dos 60 aos 70 anos, previamente saudáveis, que praticaram
Tai Chi Chuan do estilo Chen diariamente por 12 meses, por pelo menos 60 minutos, houve
melhora estatisticamente significante na função respiratória ( capacidade pulmonar e ventilação
alveolar por minuto máxima) a partir dos 6 meses de treino, na função cardíaca (volume sistólico
final, fração de ejeção e frequência cardíaca) a partir de 12 meses, e na circulação sanguínea
cerebral (tempo de inspiração e amplitude) a partir de 12 meses de treino. Esses achados
sugeriram que houve compensação das células musculares cardíacas, com aumento de sua
contratilidade, aumento na capacidade de acumular sangue e na função de bomba do mesmo,
promove expansão do leito vascular dos vasos cerebrais e aumento do metabolismo cerebral,
bem como aumento do funcionamento do diafragma com aumento da amplitude de elevação, e
mudanças na pressão torácica e abdominal, com melhora da circulação sanguínea e da ventilação
pulmonar.
Estudos vem demonstrando que o Tai Chi Chuan contribui para a melhora cardiorrespiratória dos
pacientes também com doenças crônicas. Nery et al. (2015) mostraram que pacientes com infarto
do miocárdio recente submetidos a treinamento de Tai Chi Chuan como forma de reabilitação
tiveram um aumento do consumo de O2 pico (consumo máximo de oxigênio atingido antes da
estabilização da quantidade de oxigênio captado) após as 12 semanas de tratamento quando
comparados com pacientes infartados que praticaram exercícios de alongamento apenas. Uma
possível explicação para esse resultado e que o Tai Chi Chuan, ao combinar movimentos do
corpo com exercícios respiratórios diafragmáticos profundos melhora a ventilação pulmonar,
24
464
MÔNICA DA SILVA NUNES
principalmente devido à expansão torácica que ocorre na fase inspiratória (CHAO et al., 200212
apud NERY et al., 2015; BROWN et al., 198913 apud NERY et al, 2015) demonstraram que a
porcentagem de ventilação por minuto usada na ventilação alveolar era maior durante o TCC do
que em exercícios feitos em bicicleta ergométrica. A disponibilidade de oxigênio para troca
gasosa no nível tecidual aumenta durante exercícios ventilatórios, fazendo com que o trabalho do
musculo esquelético seja mais eficiente e aumente o consumo de O2 pico (SONI, MUNISH,
SINGH et al, 201214, apud NERY et al., 2015).
Apesar das evidencias mostrando o benefício do Tai Chi Chuan para pacientes com DPOC,
McCarthy et al. (2015) excluíram estudos com Tai Chi Chuan da revisão sistemática publicada
recentemente na Cochrane Library com a justificativa de que exercícios de Tai Chi Chuan não
envolvem treinamento aeróbico, mostrando desconhecimento sobre essa arte milenar validada
por estudos científicos.
OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho e efetuar uma revisão dos artigos publicados sobre os efeitos da prática
do Tai Chi Chuan como forma de reabilitação pulmonar para pacientes com Doença pulmonar
obstrutiva crônica.
METODOLOGIA
Foram incluídos ensaios clínicos publicados entre janeiro de 2010 e junho de 2018, cujos
resultados registraram os efeitos da prática de Tai Chi Chuan em pacientes previamente
diagnosticados como portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica, e que foram publicados
em periódicos indexados na base Pubmed, Scielo ou Crochrane Library.
METODOLOGIA
Foram incluídos ensaios clínicos publicados entre janeiro de 2010 e junho de 2018, cujos
25
465
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
______________________________________
12
CHAO, Y.F. et al. The cardiorespiratory response and energy expenditure of Tai-Chi-Qui-Gong.
American Journal of Chinese Medicine, v. 30, n. 4, p. 451-461, 2002
13
BROWN, D.D. et al. Cardiovascular and ventilatory responses during formalized T'ai Chi
Chuan exercise. Research Quarterly for Exercise and Sport, v. 60, n. 3, p. 246-250, 1989
14
SONI, R., MUNISH, K., SINGH, K.P. S.S. Study of the effect of yoga training on diffusion
capacity in chronic obstructive pulmonary disease patients: A controlled trial. International
Journal of Yoga, v.5, n. 2, p. 123-127, 2012.
Como na literatura inglesa os exercícios de Tai Chi Chuan são denominados simplesmente por
Tai Chi, efetuou-se uma busca de artigos na base PubMed
(https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/), usando-se os seguintes termos; Tai Chi + COPD; Tai
Chi + pulmonary; Tai Chi + lung, Tai Chi + emphysema; Tai Chi + bronchitis. Usou-se também
a palavra Taijiquan no lugar de Tai Chi, e a grafia Tai Chi Chuan para buscas adicionais. Os
mesmos termos foram usados na base Scielo (www.scielo.org) e na base Cochrane Library (
www.cochranelibrary.com). Além do termo COPD, foram usados os demais termos para se
ampliarem as chances de identificação de estudos pertinentes.
Foram pré-selecionados estudos publicados entre 2010 e 2018, nas línguas inglesa, espanhola ou
portuguesa. Os títulos e/ou resumos foram lidos, excluindo-se estudos duplicados, aqueles que
não se relacionavam a DPOC, ou que relatavam apenas experimentos com animais ou culturas de
células. Também foram excluídos descrições de casos, opiniões pessoais, estudos feitos somente
com pessoas sadias ou com doenças extrapulmonares, ou ainda protocolos a serem
implementados e ainda não executados. Também foram excluídos do estudo artigos publicados
em outra língua, como chinês, ou anteriores a 2010, ou ainda artigos não disponíveis
gratuitamente ou através do sistema de acesso da USP.
26
466
MÔNICA DA SILVA NUNES
Foram incluídos no estudo apenas os artigos que se encaixaram nos critérios descritos
anteriormente e que se constituíram de (a) ensaios clínicos ou estudos de fisiologia, onde
pacientes foram submetidos a exercícios de Tai Chi Chuan e analisados posteriormente; (b)
revisões sistemáticas e/ou metanálises; (c) artigos do tipo evidence map.
Foram analisados somente os artigos relatando estudos experimentais (ensaios clínicos e estudos
de fisiologia)
Os artigos que consistiam de revisões sistemáticas e metanálises, ou ainda do tipo evidence map
(revisões estruturadas não sistemáticas) foram lidos para a identificação de outros estudos que
porventura se encaixavam nos critérios de busca e inclusão.
RESULTADOS
Foram encontrados 167 artigos com essas palavras de busca na base Pubmed, sendo 34
encontrados com os termos Tai Chi + COPD, 46 com os termos Tai Chi + lung, 86 com os
termos Tai Chi + pulmonary. Nenhum artigo foi encontrado usando- se os termos Tai Chi +
emphysema ou Tai Chi + bronchitis. AS buscas usando-se o termo Taijiquan e Tai Chi Chuan ao
invés de Tai Chi tiveram resultados idênticos. Após a leitura do título ou resumo, foram
excluídos 54 artigos listados mais de uma vez, e 75 artigos relatando estudos efetuados com
cultura de células ou animais, pessoas sadias ou com outra doença pulmonar que não DOPC,
27
467
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Trinta e oito artigos foram acessados na integra para verificar-se a adequação ao tema e aos
critérios de inclusão. Desses, 29 corresponderam aos termos Tai Chi + COPD, 5 aos termos Tai
Chi + pulmonary, e 4 aos termos Tai Chi + lung. Nove estudos foram excluídos por se referirem
a estudos com pessoas sadias ou outras doenças que não a DPOC.
Dos 29 artigos restantes, 5 foram excluídos por serem revisões não-sistemáticas, cartas ou
opiniões de especialista ou carta ao editor. Restaram, portanto, 11 artigos originais, 4 revisões
sistemáticas, 7 estudos de metanálise, e 2 artigos do tipo evidence map.
Os resultados da busca na base Cochrane Library identificaram 13 artigos com os termos Tai
Chi + COPD, 33 artigos com os termos Tai Chi + lung, e nenhum artigo com os termos Tai Chi
+ emphysema ou bronchitis. Desses 46 artigos, apenas 1 revisão sistemática se adequava aos
critérios de inclusão, entretanto a mesma já havia sido identificada na busca realizada na base
PubMed.
Na base Scielo, foram identificados 32 artigos sobre Tai Chi, mas nenhum estudo incluía
pacientes com DPOC, sendo todos excluídos da análise. As etapas de seleção dos artigos são
mostradas na Figura 1.
Figura 1.
28
468
MÔNICA DA SILVA NUNES
Artigos pré-selecionados:
* Revisões sistemáticas e metanálise (n =7 ) Cochrane Library
* Revisões sistemáticas sem metanálise ( n = 4) Termo de busca:
* Evidence map ( n = 2); * Artigos originais (n Tai Chi + COPD (n = 13);
= 11) Excluídos: 9 por não s relacionarem a COPD ou tai chi; 1 por
ser repetido, 2 protocolos não implementados .
Identificada 1 revisão sistemática sobre COPD, entretanto a
mesma já havia sido incluída na busca do PubMed.
Scielo
Termo de busca: Tai Chi, taiji, taijiquan; Resultado: 32
Busca de bibliografia suplementar a partir dos artigos pré- artigos , todos excluídos (nenhum sobre COPD)
selecionados (nenhum selecionado)
* Ensaio Clinico em chinês ( n = 8) Busca de bibliografia suplementar a partir dos artigos
* Ensaio clinico em chinês anterior a 2010 (2) pré-selecionados (nenhum selecionado)
* Ensaio Clinico em chinês ( n = 8)
* Ensaio clinico em chinês anterior a 2010
(2)
29
469
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
As revisões sistemáticas, metanálise e os artigos do tipo evidence map foram usados somente
para identificação de outros artigos que porventura não haviam sido identificados anteriormente.
A busca de bibliografia suplementar a partir desses 13 artigos pré-selecionados identificou 8
ensaios clínicos publicados em chinês no período de 2010 a 2016, e 2 ensaios clínicos publicados
em chinês anterior a 2010. Todos esses artigos foram excluídos do presente estudo pelo fato de
ao ser possível acessar ou entender a publicação. Foram incluídos na análise de dados, portanto,
11 artigos originais de pesquisa sobre os efeitos do Tai Chi Chuan em pacientes com DPOC
(Quadro 1).
ANO DE PUBLICAÇÃO, ORIGEM DOS AUTORES E PAĺS DE ESTUDO
Dos 11 artigos analisados, dois foram publicados em 2010, um em 2011, três em 2013, dois em
2014, um em 2016 e dois em 2018. Foram identificados 6 grupos de pesquisa responsáveis pela
publicação desses artigos: um dos Estados Unidos (A), dois grupos da China com participação de
pesquisadores ingleses em cada um deles (B e E), um da Austrália (C), um grupo da China com
participação de pesquisador localizado nos Estados Unidos (F), e um grupo de pesquisa
exclusivamente com pesquisadores localizados na China (D), (Quadros 1 e 2). Dos onze estudos
publicados, um estudo foi conduzido nos Estados Unidos, um na Austrália, e os demais na China
(Quadro 2).
Somente duas publicações informavam a formação acadêmica dos autores, sendo os mesmos
médicos, portadores de título de PhD (Doutor em Ciências), MSc (Mestre em Ciências) ou MPH
(Mestre em Saúde Pública). Exceto por um autor, a filiação de todos os demais autores dos
artigos envolveu a área da Saúde, sendo alguns de Escolas de Enfermagem, Departamento de
Fisioterapia, Unidades de Saúde Intensiva, Escolas de Saúde Pública, Medicina Preventiva,
Saúde da Família ou Pneumologia. O pesquisador não ligado a área da Saúde era ligado ao
Serviço de Interpretes em Medicina da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Em
apenas dois estudos conduzidos nos Estados Unidos houve a participação de membros de
unidades de Medicina Integrativa e Complementar, ligados a Universidade de Harvard (Quadro
2).
30
470
MÔNICA DA SILVA NUNES
Quadro 1 - Artigos sobre efeito do Tai Chi Chuan em pacientes com DPOC incluídos na análise
Legenda: (a) Financiamento da National Institutes of Health, Estados Unidos, (b) Financiamento da Novartis China
31
471
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Quadro 2 – Informações sobre os artigos selecionados para analise quanto a pais de estudo, instituição e departamento de origem dos autores,
periódico e fator de impacto, e presença de financiamento para o estudo.
Autor e Pais do Instituição dos autores Departamento dos autores Periódico,
Ano estudo continente e fator de
impacto
YEH et EUA Beth Israel Deaconess Medical Pesquisa e Educação em Respir Care
al., 2010 a Center, Harvard Medical School, Terapias Complementares e (Americano)
EUA Integrativas, Medicina Geral e 2.073
Atenção Primaria, Pneumologia
e Medicina Intensiva
CHAN et China The Chinese University of Hong Escola de Enfermagem, Depto Qual Life Res
al., 2010 Kong, The University of Hong de Medicina da Família e (Europeu)
Kong, China Comunidade, Escola de Saúde 2.392
Publica
CHAN et China The Chinese University of Hong Escola de Enfermagem, Depto. Complementary
al, 2011 Kong, China de Medicina da Família e Therapies in
Comunidade, Escola de Saúde Medicine (Europeu)
Pública e Atenção Primaria 2.084
CHAN et China The Chinese University of Hong Escola de Enfermagem, Escola Complementary
al., 2013a Kong, The Hong Kong Polytechnic de Saúde Pública e Atenção Therapies in
University, Primaria, Faculdade de Ciências Medicine (Europeu)
University of Southampton, UK Medicas 2.084
CHAN et China The Chinese University of Hong Escola de Enfermagem, Escola The Scientific World
al., 2013b Kong, China de Saúde Pública e Atenção J (Oriente Medio)
Primaria -d
LEUNG Australia Concord Repatriation General Depto. de Fisioterapia, Depto. de Eur Respir J
et al, 2013 Hospital, University of Sidney, AU Medicina Torácica (Europeu)
12.242
NIU et al., China Xiangya Hospital and Central South Depto. De Medicina Respiratória Heart, Lung and
2014 University, China Circulation
(Australiano)
1.921
NG et al., China Kwong Wah Hospital e Depto. De Medicina da Família, European Journal of
2014 Chinese University of Hong Kong, Depto. de Fiosioterapia, Escola Integrative Medicine
Hong Kong de Saúde Pública e Atenção (Europeu)
Primaria 0.698
QIU et al., China Royal Brompton & Harefield NHS Laboratório de Doenças Respiratory
2016 Foundation Trust and Imperial Respiratórias, Hospital Oficial Physiology &
College, UK; Guangzhou Medical da Província de Jiangsu, Neurobiology
University e Jiangsu Province Unidade de Pesquisa Biomédica (Europeu)
Official Hospital, China Respiratória, Inglaterra 1.792
POLKEY China Royal Brompton & Harefield NHS Unidade de Pesquisa Biomédica Chest
et al., Foundation Trust and Imperial Respiratória, Inglaterra, (Americano)
2018b College, UK; Guangzhou Medical Laboratório de Doenças 7.652
University e Xing-Ning People’s Respiratórias, Xing-Ning
Hospital, China. People’s Hospital, China
ZHU et China The Third Xiangya Hospital, The Third Xiangya Hospital , Complementary
al., 2018 Central South University, China; Interpreter Services Michigan Therapies in
University of Michigan, USA Medicine Medicine (Europeu)
2.084
Legenda: Todos os estudos foram aprovados pelo CEP de pelo menos uma instituição participante; Formação dos autores: (a) 2 médicos, 1 médico e MPH, 1 PhD, 1 ScD, 1 autor
sem informação; (b) 6 médicos, 3 PhD, 3 MSc; (c) Fator de impacto de 2017, Journal Citation Report, Thompson Reuters; (d) Desindexado em 2015.
32
472
MÔNICA DA SILVA NUNES
FINANCIAMENTO
Dos onze estudos publicados, apenas um relatou não ter obtido financiamento para a pesquisa
(NIU et al, 2014); os demais relataram pelo menos uma fonte de financiamento, na forma de
auxílio a pesquisa, bolsa individual, salario, uso de instalações e obtenção de material para
pesquisa (Tabela 2). Dentre as fontes de financiamento, vários estudos foram financiados pelas
próprias instituições de origem ou agencias de pesquisa nacionais. Um dos estudos (POLKEY et
al., 2018) obteve financiamento de empresa farmacêutica (Novartis China), na forma de cessão
de medicamento para a DPOC, e outro estudo (YEH et al., 2010) obteve financiamento da
National Institutes of Health dos Estados Unidos (Quadro 1).
Três estudos foram publicados em revistas com fator de impacto menor que 2.0; cinco estudos
foram publicados em periódicos com fator de impacto entre 2.0 e 7.0; e dois estudos foram
publicados em periódicos com fatores de impacto acima de 7.0 (dados de 2017, Journal Citation
Report, Thompson Reuters, Quadro 2). Um estudo foi publicado em 2013 em um periódico que
posteriormente foi retirado da lista de indexação do JCR, não sendo possível comparar seu índice
com os dos demais (CHAN et al., 2013b).
Nove artigos descreveram ensaios clínicos randomizados, sendo que em apenas cinco deles
houve cegamento do pesquisador que analisou os dados quanto ao grupo estudado. Um artigo
descreveu estudos fisiológicos obtidos em práticantes de Tai Chi Chuan imediatamente após a
prática de Tai Chi Chuan ou de caminhada em esteira (QUIU et al., 2016), e um artigo (ZHU et
al., 2018) associou uma abordagem qualitativa para definição de uma forma curta de Tai Chi
Chuan a ensaio clínico utilizando essa nova forma definida pela pesquisa (Quadro 3). O tamanho
amostral dos estudos variou de 10 pacientes até 207 pacientes.
33
473
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Todos os artigos efetuaram os estudos apenas com pacientes portadores de Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica. Quatro artigos descrevem o mesmo ensaio clínico, cujos resultados foram
publicados em partes conforme o desfecho analisado (CHANG et al., 2010, 2011, 2013a, 2013b).
Portanto, dos 7 ensaios clínicos originais, seis utilizaram dois grupos experimentais, e um
utilizou três grupos experimentais. Todos continham um grupo de pacientes submetidos a prática
de Tai Chi Chuan, e um (ou dois) grupos controle. O maior estudo incluiu 94 pacientes no grupo
de Tai Chi Chuan, e 98 pacientes no grupo controle. Já o menor ensaio clínico incluiu apenas 5
pacientes no grupo Tai Chi Chuan e 5 pacientes no grupo controle (Quadro 3).
Cinco ensaios clínicos utilizaram critérios clínicos de diagnóstico de DPOC (segundo definições
da American Thoracic Society em 4 estudos, American Thoracic Society/European Respiratory
Society em 1 estudo, Global Initiatives for Chronic Obstructive Lung Disease em 1 estudo, e
Global Initiatives for Chronic Obstructive Lung Disease junto com American Thoracic Society
em 1 estudo) em conjunto com dados de função pulmonar avaliados por espirometria para
inclusão dos pacientes (Quadro 3). Apenas um ensaio clínico e o estudo fisiológico utilizaram
somente o diagnóstico clínico de DPOC como critério de inclusão na pesquisa. Três ensaios
clínicos usaram também a idade atual paciente como critério de inclusão, além do diagnóstico de
DPOC. Os dados de função pulmonar mais comumente utilizados para inclusão dos pacientes
foram FEV1, FVC e a relação FEV1/FVC (Quadro 3). Nenhum estudo relatou o uso de definições
de DPOC segundo a Medicina Chinesa para seleção dos pacientes.
34
474
MÔNICA DA SILVA NUNES
Quadro 3 – Tipo de estudo, tamanho da amostra e critérios de inclusão e exclusão de pacientes dos artigos sobre efeitos do Tai Chi em
pacientes com DPOC incluídos na análise.
QIU et al., 2016 Estudo 11 pacientes DPOC, práticar Tai Comorbidades importantes, incapacidade de
fisiológico Chi Chuan há pelo efetuar exercícios, exacerbação nos 30 dias
menos 12 meses prévios,
POLKEY et al., ECR TCC = 60 DOPC, idade entre Doença pulmonar restritiva, FEV1 > 80%,
2018 controle = 60 40 e 80 anos, FEV1 FEV1 < 25%, outras medicações para DPOC,
> = 25% e < 80% do restrições auditivas ou mecânicas, prova de
previsto e broncodilatador positiva
FEV1/FVC < 0,70
ZHU et al., 2018 Estudo TCC = 30 Diagnóstico de Doença cardíaca isquêmica sintomática,
qualitativo controle = 30 DPOCd e FEV1 < déficit cognitivo grave, impossibilidade de
e ECR 80%, morador da caminhar, participação em programa de
região central de reabilitação pulmonar ou de TCC
Changsha, ≥45 anos
Legenda: ECR = Ensaio Clínico Randomizado; ECRC = Ensaio Clínico Randomizado e Controlado; TCC = Tai Chi Chuan; TCQ = Tai Chi Qigong; DPOC
= Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica; FEV1= Forced Expiratory Volume in one second; FVC = Forced Vital Capacity; (a) Critérios da American
Thoracic Society; (2004) (b) Critérios da American Thoracic Society e European Respiratory Society (Celli ; MacNee, 2004); (c) Critérios da American
Thoracic Society (2004) e Global Initiatives for Chronic Obstructive Lung Disease (2010) , (d) Critérios de Global Initiatives for Chronic Obstructive Lung
Disease, 2010.
35
475
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
O estilo de Tai Chi Chuan usado nas intervenções foram estilo Yang em 3 publicações, estilo
Sun em duas publicações, estilo oficial modificado em uma publicação, e uma forma de 13
movimentos de Tai Chi Qigong desenvolvida por Lin Hou Sheng em quatro publicações. Um
estudo não menciona o estilo de Tai Chi Chuan utilizado. As formas praticadas continham de 5
movimentos até 24 movimentos, sendo que as sessões de Tai Chi Chuan duraram de 15 minutos
até 60 minutos de prática. As sessões supervisionadas de Tai Chi Chuan variaram de 2 vezes na
semana até 5 vezes na semana. O tempo de intervenção mínimo foi de 6 semanas, e o máximo de
6 meses. Já o tempo de acompanhamento do estudo variou de 6 semanas até 6 meses. O estudo
fisiológico usou apenas uma sessão de Tai Chi Chuan com duração de 60 minutos em sua
avaliação. Um único estudo mencionou os movimentos praticados (Wild Horse's Mane, Brush
Knee and Twist Step, Repulse Monkey, Grasp Sparrows Tail, Girls Work at Shuttles, Wave
Hands Like Clouds). Somente dois ensaios clínicos não ofereceram aos participantes recursos
adicionais como DVD, folheto explicativo ou registro de sessões não-supervisionadas (Quadro
4).
As intervenções no grupo controle foram bastante heterogêneas entre si (Quadro 4). Em dois
ensaios clínicos, o grupo controle recebeu somente tratamento medicamentoso com orientações
sobre a importância de exercícios; em um deles apenas tratamento medicamentoso, e em outro
somente orientações gerais sobre a doença. Em três ensaios clínicos, o grupo controle recebeu
sessões supervisionadas de exercícios com frequência de 2 a 3 vezes na semana, além de
orientações para efetuar os mesmos exercícios em casa nos demais dias da semana. Em um
ensaio clínico (que resultou em 4 artigos publicados), houve um grupo controle submetido
somente a tratamento medicamentoso, e outro grupo submetido a sessões de exercícios feitos em
casa, após treinamento pela equipe de pesquisadores.
36
476
MÔNICA DA SILVA NUNES
Quadro 4 – Dados sobre a intervenção nos estudos sobre efeito do Tai Chi Chuan em pacientes com DPOC.
Legenda: TCQ: Tai Chi Qigong (Fonte: a autora)
Autor e Ano Frequência e duração da Tipo de Tai Chi Chuan e Outros Intervenção no
sessão de Tai Chi Chuan tempo de prática Grupo Controle
YEH et al., 2010 Sessões 2 vezes por semana, Tai Chi estilo Yang, forma DVD e Tratamento
60 minutos cada curta Registro medicamentoso e
supervisionadas, e sessões em de sessões orientações sobre
casa 3 x na semana Tempo: 3 meses exercícios
CHAN et al., 2010 Sessões supervisionadas de TCQ forma 13 modificada DVD e Grupo exercício:
CHAN et al, 2011 60 minutos 2 vezes na semana, da forma 18 por Lin Hou Registro exercícios
CHAN et al, e sessões diárias em casa Sheng Tempo: 3 meses de sessões respiratórios e
2013a (CHAN et al., 2010 e 2011); caminhadas, por 60
CHAN et al, reavaliação com 6 meses minutos; Grupo
2013b (CHAN et al., 2013a, controle: Medicação e
2013b) orientações, por 3
meses
LEUNG et al, 2013 Parte A: Sessões 2 vezes na Tai chi Chuan estilo Sun DVD + Tratamento médico
semana, 60 minutos e 30 forma 21 livreto, de rotina
minutos em casa 5 x na Registro
semana. Parte B: ISWT + 15 Tempo: 3 meses de sessões
minutos de STTC após 15 dias
da parte A
NIU et al., 2014 Sessões diárias (4 sessões Tai Chi Chuan com ajuste DVD + Medicamentos,
supervisionadas e 3 sessões individual da intensidade livreto + exercícios
não-supervisionadas), 50 Tempo: 6 meses Registro respiratórios por
minutos cada de sessões 10 minutos e
caminhada diária
de 30 minutos, por 6
meses
NG et al., 2014 Sessões supervisionadas 2 Cinco formas de Tai Chi Sessão Sessões
vezes na semana de 1h 20 Chuan estilo Sun educativa supervisionadas de
minutos contendo 15 minutos + livreto + reabilitação 2 vezes
de Tai Chi Chuan e exercícios Tempo: 6 semanas Registro na semana de 1h 20
não de sessões minutos, por 6
supervisionados por 60 semanas, e
minutos diários em casa exercícios não
supervisionados por
60 minutos diários
em casa
QIU et al., 2016 Sessenta minutos de Tai Chi Tai Chi Chuan estilo Yang, - Tratamento
Chuan forma 24 ou esteira por forma 24 medicamentoso e
60 minutos, em sessões com orientações sobre
intervalos de 2 dias Tempo: 2 sessões exercícios
POLKEY et al., Sessões 5 vezes na semana, 60 Tai Chi Chuan estilo Yang, -- Sessão de exercícios
2018 minutos forma 24 3 vezes
Tempo: 3 meses na semana, 60
minutos
ZHU et al., 2018 Sessões 3 vezes na semana de Tai Chi Chuan forma 24 Somente Orientações
Tai Chi Chuan durando 40 a transformada em forma de 6
50 minutos movimentos
Tempo: 3 meses
37
477
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
O ensaio clínico de Yeh et al. (2010) observou que houve melhora na qualidade de vida dos
pacientes com DPOC que praticaram Tai Chi Chuan de duas a cinco vezes na semana por 3
meses, enquanto o grupo controle, que só recebeu tratamento medicamentoso, teve uma piora na
qualidade de vida e na capacidade de fazer exercícios ao longo de três meses. Esse estudo teve
uma amostra muito pequena (somente 5 pacientes em cada grupo), não obtendo significância
estatística na análise (Quadro 5).
Chan e colaboradores, em ensaio clínico realizado com três grupos de pacientes, submetidos a
exercícios de Tai Chi Chuan, exercícios de reabilitação pulmonar ou somente tratamento
medicamentoso por 3 meses, observaram melhora da qualidade de vida no grupo Tai Chi Chuan
após a intervenção de 3 meses (CHAN et al., 2010) e que continuava aos 6 meses de seguimento
(CHAN et al., 2013b), enquanto o grupo não submetido a nenhum exercício teve piora da
qualidade de vida (Quadro 6)
38
478
MÔNICA DA SILVA NUNES
Quadro 6 - Resultados dos estudos publicados por Chan e colaboradores, 2010 e 2013.
O grupo que praticou o Tai Chi Chuan por 3 meses apresentou melhora da função pulmonar,
aumento da distância de caminhada no teste de 6 minutos, diminuição das exacerbações do
quadro de DPOC, enquanto o grupo que praticou exercícios de outro tipo não teve melhora
significativa, e o grupo só com tratamento medicamentoso apresentou piora nesses parâmetros
(Quadro 7).
39
479
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Quadro 7 - Resultados dos estudos publicados por Chan e colaboradores, 2011 e 2013.
O ensaio clínico conduzido por Leung et al. (2013) foi dividido em duas partes (Quadro 8). Na
primeira parte, os pacientes praticaram Tai Chi Chuan duas vezes na semana, em sessões
supervisionadas de 60 minutos cada, com orientação para práticar em casa por 30 minutos nos
outros dias da semana. Esses resultados foram comparados com os de pacientes não submetidos
a nenhum tipo de exercício. Essa intervenção foi efetuada por 3 meses, e vários parâmetros
foram estudados antes e depois da intervenção. Após 15 dias do termino do período de
40
480
MÔNICA DA SILVA NUNES
Os resultados de Leung et al. (2013) também mostram os efeitos benéficos do Tai Chi Chuan para
pacientes com DPOC, em relação a capacidade de caminhar, melhora no balanço do corpo,
melhora na qualidade de vida e diminuição da ansiedade. Os parâmetros analisados também
indicaram que o Tai Chi Chuan atua como exercício aeróbico de moderada intensidade para os
pacientes com DPOC, e que tem efeitos similares a programas de reabilitação pulmonar
convencionais. Entretanto, nesse ensaio clínico os pacientes usaram pesos nos membros
superiores ao executarem o Tai Chi Chuan, o que não é frequente em práticas corporais chinesas,
e isso pode ter intensificado os efeitos da intervenção (Quadro 8).
41
481
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Por sua vez, Niu et al. (2014) encontraram, além da melhora na capacidade de efetuar exercícios
e caminhar, um aumento do desempenho do diafragma, evidenciado por mudanças na pressão
esofagiana, gástrica e transdiafragmática. Este estudo corrobora os resultados dos anteriores e
identifica objetivamente a melhora das funções diafragmáticas causadas pelo Tai Chi Chuan
(Quadro 9).
O ensaio clínico publicado por Ng et al. (2014) compara dois grupos de pacientes com DPOC,
um submetido a prática de Tai Chi Chuan e o outro submetido a prática de exercícios de
reabilitação pulmonar (Quadro 10).
Os pesquisadores mostraram que tanto a prática de Tai Chi Chuan quanto o programa de
reabilitação pulmonar convencional trouxeram benefícios para os pacientes, no que toca a função
pulmonar, capacidade de exercício, qualidade de vida e eficácia pessoal, permanecendo assim
seis meses após o termino das seis semanas de intervenção. Entretanto, o grupo submetido a
prática de Tai Chi Chuan apresentou desempenho superior na distância da caminhada de seis
minutos, mesmo após 6 meses do início da intervenção (Quadro 10). Esse grupo praticou os
mesmos exercícios do grupo controle, com diferença que 15 minutos da prática foram
substituídos por Tai Chi Chuan (Quadro 4).
Os autores relatam que 95.5% dos pacientes do grupo Tai Chi Chuan continuaram a práticar
sozinho em casa após o termino do estudo, o que pode ter contribuído para essa diferença em
relação ao grupo controle, já que o tempo de Tai Chi Chuan durante a intervenção foi de apenas
15 minutos por sessão.
42
482
MÔNICA DA SILVA NUNES
Apesar de possuir um número relativamente grande de pacientes em cada grupo (96 a 98),
houve muitos parâmetros estudados, o que pode ter limitado a obtenção de significância
estatística; além de que poucas mulheres foram incluídas no estudo (Quadro 10).
Qiu et al. (2016) identificaram em pacientes com DPOC práticantes de Tai Chi Chuan algumas
diferenças nos parâmetros fisiológicos durante a prática de Tai Chi Chuan e durante a caminhada
em esteira. As alterações inspiratórias são menos intensas durante o Tai Chi Chuan do que na
caminhada na esteira, e o Tai Chi Chuan causa menor fadiga do musculo quadríceps, enquanto as
alterações de diafragma e pressão intraesofagiana foram similares. Entretanto, o estudo incluiu
poucos pacientes, sendo as conclusões limitadas.
43
483
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Polkey et al. (2018), em ensaio clínico de 3 meses de intervenção onde um grupo de pacientes foi
submetido a Tai Chi Chuan e o outro a exercícios convencionais de reabilitação pulmonar,
também encontrou melhora da qualidade de vida e aumento da distância no teste de caminhada
em ambos os grupos, sem no entanto encontrar alterações significativas na função pulmonar em
nenhum deles após 3 meses de prática. Entretanto, ao reavaliar esses pacientes 6 meses após o
início do estudo, ou seja, 3 meses após o termino dos exercícios, o grupo Tai Chi Chuan teve um
acréscimo ainda maior no teste de caminhada e na forca do músculo quadríceps, na qualidade de
vida e uma diminuição dos sintomas de dispneia, enquanto o grupo controle teve piora de alguns
parâmetros avaliados. Esse estudo comprova que os benefícios do Tai Chi Chuan, embora
equivalentes aos de um programa de reabilitação pulmonar convencional, são capazes de se
sustentarem por mais tempo (Quadro 11).
44
484
MÔNICA DA SILVA NUNES
Quadro 11 - Resultados dos estudos publicados por Qiu et al, 2016; e Polkey et al., 2018.
Zhu et al. (2018) efetuaram um ensaio clínico com 3 meses de duração, porem com 9 meses de
seguimento, sendo o estudo com o maior tempo de acompanhamento identificado nesta revisão
da literatura. Trabalhando com a forma moderna de 24 movimentos (oficial da China), os
pesquisadores elaboraram uma forma mais curta, com apenas 6 movimentos, baseados em
grupos de discussão com especialistas e pacientes que identificaram movimentos seguros,
efetivos e simples.
45
485
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
A diferença deste estudo para os demais e que ele procura criar uma sequência de movimentos de
Tai Chi Chuan personalizada para pacientes com DPOC. Nesse estudo, foram observados
melhora da função pulmonar, na distância do teste de caminhada de seis minutos e nas condições
de saúde no grupo Tai Chi Chuan, mas não do grupo controle. A média de incremento no teste de
caminhada foi o maior relatado entre os ensaios clínicos avaliados (média de 78 metros). AS
limitações desse estudo foram o pequeno número de pacientes e a grande heterogeneidade clinica
entre eles, o que pode ter gerado vieses de interpretação. Portanto, fica difícil assegurar que a
elaboração de uma sequência especifica de Tai Chi Chuan para pacientes com DPOC seja
superior em eficácia as demais formas tradicionais praticadas por todos os tipos de indivíduos.
DISCUSSÃO
A revisão da literatura efetuada neste trabalho identificou apenas sete ensaios clínicos publicados
em língua inglesa entre janeiro de 2010 e julho de 2018, e um estudo sobre parâmetros
fisiológicos. Ngai, Jones e Tam (2016), em revisão sistemática efetuada com artigos publicados
até 2015, identificaram 12 ensaios clínicos, sendo 5 publicados em língua inglesa em periódicos
46
486
MÔNICA DA SILVA NUNES
Portanto, a revisão apresentada aqui sobre artigos em língua inglesa representa cerca de 42% dos
artigos publicados no período em todas as línguas, e mostra que menos de 50% da pesquisa
conduzida sobre Tai Chi Chuan e DPOC consegue atingir bases indexadas internacionalmente,
ficando a maioria restrita a periódicos publicados em Chinês.
Dos onze artigos identificados nas bases de busca publicados em revistas indexadas em bases
ocidentais neste estudo, somente cinco se referem a pesquisa efetuada exclusivamente por
pesquisadores chineses, sem colaboração internacional. Quatro desses artigos contem, além de
pesquisadores localizados em instituições chinesas, colaboradores em outros países (Inglaterra e
Estados Unidos). Isso pode ser um indicativo da dificuldade de grupos chineses publicarem seus
estudos em periódicos internacionais, ou ainda, na língua inglesa. Também pode indicar uma
falta de interesse de grupos tradicionais chineses em publicarem estudos em bases indexadas fora
da China sobre o tema.
Os estudos identificados nesta revisão são muito similares entre si quanto aos critérios
47
487
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Mesmo assim, há uma concordância entre os ensaios clínicos identificados em apontar efeitos
benéficos do Tai Chi Chuan em pacientes com DPOC durante a execução da intervenção. Todos
os sete ensaios clínicos mostraram pelo menos um efeito benéfico do Tai Chi Chuan. Sete EC
identificaram aumento da distância da caminhada que o paciente consegue executar em seis
minutos ou aumento do tempo de caminhada sem sintomas. Dos cinco ensaios clínicos que
avaliaram a função pulmonar através de espirometria, quatro identificaram melhora da função
pulmonar; o único que não conseguiu identificar melhora tinha apenas 5 pacientes com DPOC.
Todos os seis ensaios clínicos que avaliaram a qualidade de vida encontraram melhora da mesma
no grupo de pacientes com DPOC.
Cinco ensaios clínicos avaliaram a intensidade dos sintomas; em dois deles houve melhora
significativa dos sintomas, um observou melhora, mas sem atingir significância estatística, e dois
EC não conseguiram observar redução dos sintomas. Possíveis causas para essas diferenças são o
número reduzido de pacientes em cada grupo e a diferença de estagio clínico dos mesmos,
reduzindo o poder dos estudos de atingir significância estatística, e as diferenças na metodologia
da intervenção.
Portanto, os dados mostram que a prática frequente de Tai Chi Chuan traz benefícios aos
pacientes com DPOC. Essa conclusão também e relatada por artigos de evidence map
(SOLLOWAY et al., 2016) e várias reanalises, como a de Yan et al. (2013), Ding et al. (2014);
Wu et al., (2014); Guo et al., (2016) e Ngai, Jones e Tam (2016).
A próxima questão e se esses benefícios se mantem ao longo do tempo. A maioria dos estudos
analisados aqui (n = 5) conduziu intervenções de 3 meses; um estudo fez a intervenção por
apenas 6 semanas e o mais longo dele conduziu a intervenção por 6 meses. Os resultados foram
similares após o período de intervenção. Em quatro ensaios clínicos os pacientes continuaram a
ser acompanhados após a intervenção, por 3 a 6 meses, e todos mostraram que apesar das sessões
supervisionadas terem se encerrado, vários pacientes continuaram a práticar Tai Chi Chuan por
48
488
MÔNICA DA SILVA NUNES
Apenas dois estudos avaliaram os efeitos do Tai Chi Chuan na função diafragmática. Os testes
para evidenciar a função diafragmática são relativamente difíceis de executar, já que exigem a
inserção de um tubo no esôfago para a realização do exame. Mesmo assim, Niu et al. (2014) e
Qiu et al. (2016) mostraram evidencias de melhora na função diafragmática nos pacientes que
praticaram o Tai Chi Chuan.
Ainda não é possível, baseado nos estudos publicados, evidenciar diferenças de efeito quanto ao
estilo de Tai Chi Chuan praticado, e número de formas executadas. Aparentemente, todos os
estilos estudados (Yang, Sun, estilos personalizados e formas oficiais da China) resultaram em
alguma forma de benefício ao paciente. Estudos mais detalhados comparando—se diferentes
estilos, ou ainda, diferentes formas de um mesmo estilo, poderão responder a essa questão.
Também não fica evidente qual o menor tempo de Tai Chi Chuan a ser praticado para se obter
benefício na DPOC. Seis ensaios clínicos utilizaram sessões entre 40 e 60 minutos. Apenas um
ensaio clínico usou como intervenção apenas 15 minutos de Tai Chi Chuan diários (NG et al.,
2014), mas essa prática estava inserida em uma sequência de outros exercícios pulmonares,
totalizando 1 hora e 20 minutos de sessão, impossibilitando, portanto, avaliar se sessões curtas de
prática de Tai Chi Chuan são igualmente benéficos para pacientes com DPOC.
Os estudos quantitativos analisados aqui mostram que apesar de haver melhora nas provas de
função pulmonares, outros parâmetros como saturação de oxigênio e redução da dispneia nem
sempre acompanham essas mudanças. Isso talvez se deva ao estágio clínico do paciente no
momento da intervenção, ou ainda ao pequeno tempo de intervenção. Estudos com mais
pacientes e maior tempo de intervenção são necessários para entender melhor os efeitos do Tai
Chi Chuan em pacientes com DPOC.
Os estudos analisados incluíram poucas mulheres na amostra. Provavelmente isso se deve ao fato
de que por ser o tabagismo a principal causa de DPOC, o que resulta em mais homens com
DPOC do que mulheres (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018). Entretanto, o perfil
do tabagismo vem mudando aos longos das décadas, o que resultara daqui alguns anos em mais
mulheres com DPOC. É possível que não haja diferenças no efeito do Tai Chi Chuan em homens
e mulheres quanto a função pulmonar, mas é necessário que os futuros estudos incluam mais
mulheres para elucidar essa questão.
49
489
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Claramente, há vantagens na substituição dos programas convencionais pelo Tai Chi Chuan, no
que tange ao custo, aderência dos pacientes, facilidade de executar os exercícios sozinho em
ambiente doméstico, e portanto no resultado a longo prazo. Entretanto, dos sete ensaios clínicos
avaliados, somente quatro compararam o Tai Chi Chuan com outros tipos de exercícios de
reabilitação pulmonar, restringindo as conclusões acerca de uma possível maior eficácia da
prática de Tai Chi Chuan sobre exercícios aeróbicos usuais.
Os resultados encontrados neste estudo são similares aos descritos por Ngai, Jones e Tam
(2016), cuja revisão sistemática envolveu artigos publicados em chinês também. Os doze ensaios
clínicos compilados pelos autores mostraram os mesmos benefícios: melhora da capacidade
pulmonar, redução de alguns sintomas, melhora da qualidade de vida, aumento da capacidade de
efetuar exercícios, e ausência de efeitos adversos. Ngai, Jones e Tam (2016), entretanto,
concluíram que não há evidencias que suportem a superioridade da prática de Tai Chi Chuan a
longo prazo devido a baixa qualidade dos estudos analisados. Os autores concordam que não e
possível avaliar possíveis diferenças no efeito da prática de Tai Chi Chuan dos diversos estilos
ou de diferentes números de formas em pacientes com DPOC, por insuficiência de dados.
2 CONCLUSÃO
490
MÔNICA DA SILVA NUNES
em alguns casos, da redução dos sintomas associados a DPOC. Para pacientes com DPOC, a
prática de Tai Chi Chuan equivale aos programas de reabilitação pulmonar usuais. Estudos
adicionais são necessários para evidenciar os efeitos do Tai Chi Chuan em mulheres portadoras
de DPOC, o efeito dos diferentes estilos, o tempo mínimo de prática e a frequência. E possível
que o Tai Chi Chuan seja superior aos programas convencionais de reabilitação pulmonar, mas
outros estudos devem mostrar se essa diferença realmente existe para eu maior atenção seja dada
a essa prática corporal chinesa milenar a nível mundial.
51
491
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
REFERÊNCIAS
American Thoracic Society and European Respiratory Society. Standards for the diagnosis and
management of clients with COPD. 2004. Anterioremente disponível em:
http://www.thoracic.org/sections/copd/resources/copddoc.pdf. Accesso: em 21 jul 2018
BEAUCHAMP, M.K. et al. Optimal duration of pulmonary rehabilitation for individuals with
chronic obstructive pulmonary disease – a systematic review. Chronic Respiratory Disease, v.8
n. 2, p. 129–400, 2011
CELLI, B.R., MACNEE, W. Standards for the diagnosis and treatment of patients with COPD: a
summary of the ATS/ERS position paper. European Respiratory Journal, v. 23, p. 932–946,
2004
CHAN, A.W.; Lee, A., Suen, L.K.; Tam, W.W. Effectiveness of a Tai chi Qigong program in
promoting health-related quality of life and perceived social support in chronic obstructive
pulmonary disease clients. Quality of Life Research, v. 19, n. 5, p. 653—664, 2010. doi:
10.1007/s11136-010-9632-6. Erratum in: Quality of Life Research, v.19, n. 8, p. 1241, 2010
CHAN, A.W., et al. . Tai chi Qigong improves lung functions and activity tolerance
in COPD clients: a single blind, randomized controlled trial. Complementary Therapies in
Medicine, v. 19, n. 1, p. 3-11, 2011. doi: 10.1016/j.ctim.2010.12.007.
52
492
MÔNICA DA SILVA NUNES
CHAN. A.W., et al. (a) The sustaining effects of Tai chi Qigong on physiological health
for COPD patients: a randomized controlled trial. Complementary Therapies in Medicine,
v.21, n. 6, p. 585594, 2013. doi: 10.1016/j.ctim.2013.09.008.
CHAN, A.W., et al (b). Evaluation of the sustaining effects of Tai Chi Qigong in the sixth month
in promoting psychosocial health in COPD patients: a single-blind, randomized controlled trial.
The Scientific World Journal. v. 24, p. 425082, 2013. doi: 10.1155/2013/425082. eCollection
2013.
CHAO, C.H.N., et al. Efeito da prática do Tai Chi Chuan sobre a resistência aeróbia de idosas
Sedentárias. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 15, n. 4, p.627-633, 2012
CHEON, S.M., et al. The Efficacy of Exercise Programs for Parkinson’s Disease: Tai Chi versus
Combined Exercise. Journal of Clinical Neurology, v. 9, p. 237–243, 2013. doi:
10.3988/jcn.2013.9.4.237 PMID: 24285965
CRISAFULLI, E. et al. Exercise performance after standard rehabilitation in COPD patients with
lung hyperinflation. Internal and Emergency Medicine, v. 9, n. 1, p. 23–31, 2014
DING, M. et al. Effectiveness of T’ai Chi and Qigong on Chronic Obstructive Pulmonary
Disease: A Systematic Review and Meta-Analysis. The Journal of Alternative and
Complementar Medicine, v. 20, n. 2, p. 79–86, 2014
FINNERTY, J.P. et al. The effectiveness of outpatient pulmonary rehabilitation in chronic lung
disease: a randomized controlled trial. Chest, v. 119, n. 6, p. 1705-1710, 2001
53
493
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
GUO, J-B. et al. Tai Chi for improving cardiopulmonary function and quality of life in patients
with chronic obstructive pulmonary disease: a systematic review and meta-analysis. Clinical
Rehabilitation, v. 30, n., p. 750 -76, 2016
GUYATT, G.H. et al. A measure of quality of life for clinical trials in chronic lung disease.
Thorax, v. 42, n. 10, p. 773-778, 1987.
HEMPEL, S. et al. Evidence map of Tai Chi. Department of Veterans Affairs , VA -ESP
Project #ESP 05-226; 37 p. 2014
HONG, Y.; LI, J.X.; ROBINSON, P.D. Balance control, flexibility, and cardiorespiratory fitness
among older Tai Chi practitioners. British Journal of Sports Medicine, v. 34, n. 1, p. 29-34,
2000
JONES, P.W., QUIRK, F.H., BAVEYSTOCK, C.M. The St George's Respiratory Questionnaire.
Respiratory Medicine, v. 85, Suppl B, p. 25-31; discussion 3-7, 1991
LAN, C. et al. Tai Chi Chuan can improve muscular strength and endurance in elderly
individuals: a pilot study. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 81, p. 604-
607, 2000.
LAN, C. et al. Heart Rate Responses and Oxygen Consumption during Tai Chi Chuan Practice.
American Journal of Chinese Medicine, v. 29, p. 403-410, 2001
LAN, C. et al. Tai Chi Chuan in Medicine and Health Promotion. Evidence Based
Complementary and Alternative Medicine, 502131, 2013. doi: 10.1155/2013/502131 PMID:
24159346.
LEUNG, R.W. et al. Short-form Sun-style t'ai chi as an exercise training modality in people
with COPD. European Respiratory Journal, v. 41, n. 5, p. 1051-1057, 2013. doi:
54
494
MÔNICA DA SILVA NUNES
10.1183/09031936.00036912.
LIN, W.C. et al. The effects of respiratory training for chronic obstructive pulmonary disease
patients: a randomised clinical trial. Journal of Clinical Nursing, v. 21, n. 19–20, p. 2870–2878,
2012
NERY, R.M. et al. Tai Chi Chuan improves functional capacity after myocardial infarction: A
randomized clinical trial. American Heart Journal, v. 169, p. 854-860, 2015
NGAI, S.P.C., JONES, A.Y.M., TAM, .W.W.S. Tai Chi for chronic obstructive pulmonary
disease (COPD). Cochrane Database of Systematic Reviews, Issue 6. Art. No.: CD009953,
2016. DOI: 10.1002/14651858.CD009953.pub2.
NG, L. et al. Effectiveness of incorporating Tai Chi in a pulmonary rehabilitation program for
Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) in primary care—A pilot randomized
controlled trial. European Journal of Integrative Medicine, v. 6, p. 248 -25, 2014.
NICI, L. et al. American Thoracic Society/European Respiratory Society statement on
pulmonary rehabilitation. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, v.
173, p. 1390–1413, 2006
NIU, R. et al The effect of tai chi on chronic obstructive pulmonary disease: a pilot randomised
study of lung function, exercise capacity and diaphragm strength. Heart, Lung and Circulation,
v. 23, n. 4, p. 347-352, 2014. doi: 10.1016/j.hlc.2013.10.057.
POLKEY, M.I. et al. Tai Chi and Pulmonary Rehabilitation Compared for Treatment-Naive
Patients With COPD - A Randomized Controlled Trial. Chest, v. 153, n. 5, p. 1116 -1124, 2018.
PUHAN, M.A., et al. Interpretation of treatment changes in 6-minute walk distance in patients
with COPD. European Respiratory Journal, v. 32, n. 3, p. 637–643, 2008.
55
495
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
QIU, Z.H., et al. Physiological responses to Tai Chi in stable patients with COPD. Respiratory
Physiology & Neurobiology, v. 221, p. 30-34, 2016. doi: 10.1016/j.resp.2015.10.019.
SEVERINO, R.E.; SOCI, M.A. Historia Geral do Tai Ji Quan. Historia do Tai Ji Quan da
Família Yang. Pós-Graduação Lato Sensu Práticas Corporais da Medicina Tradicional
Chinesa e Tai Chi Chuan, São Paulo, [2016]
SOLLOWAY M.R., et al. An evidence map of the effect of Tai Chi on health outcomes.
Systematic Reviews, n. 5, p.126, 2016.
SONG, Q-H. et al. Influence of Tai Chi exercise cycle on the senile respiratory and
cardiovascular circulatory function. International Journal of Clinical and Experimental
Medicine, v. 7, n. 3, p. 770-774, 2014
VAN WEEL, C., SCHELLEVIS, F.G. Comorbidity and guidelines: conflicting interests. Lancet,
v. 367, n. 9510, p. 550-551, 2006.
WU, W. et al. Effects of Tai Chi on exercise capacity and health-related quality of life in
patients with chronic obstructive pulmonary disease: a systematic review and meta-analysis.
International Journal of COPD, v. 9, p. 1253 – 1263, 2014
YAN, J-H. et al. Effects of Tai Chi in Patients with Chronic Obstructive Pulmonary Disease:
Preliminary Evidence. PLoS ONE, v. 8, n. 4, p.e61806, 2013. doi:10.1371/journal.pone.0061806
56
496
MÔNICA DA SILVA NUNES
YEH, G.Y., et al. Tai chi exercise for patients with chronic obstructive pulmonary disease: a
pilot study. Respiratory Care, v. 55, n. 11, p. 1475-1482, 2010
ZHENG, G. et al. The Effect of Tai Chi Training on Cardiorespiratory Fitness in Healthy Adults:
A Systematic Review and Meta-Analysis. PLoS ONE, v. 10, n. 2, .p e0117360, 2015.
doi:10.1371/journal.pone.0117360
ZHU, S. et al. A modified 6-form Tai Chi for patients with COPD. Complementary Therapies
in Medicine, v. 39, p. 36-2, 2018. https://doi.org/10.1016/j.ctim.2018.05.007
57
497
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Sheila A. Silva
498
SHEILA A. SILVA
Resumo
A dor lombar crônica é um problema de saúde pública que acomete principalmente a
população adulta em idade produtiva. O consumo abusivo de álcool e tabaco pode intensificar
a dor e comprometer ainda mais as articulações e o sistema nervoso central e periférico
intensificando o quadro álgico. A estratégia mais efetiva para reabilitação nessa doença é a
terapia por exercícios. O Brasil a partir de 2006 passou a incentivar a implantação da
Medicina Chinesa no Sistema Único de Saúde Essa racionalidade contempla a prática
corporal Qigong. Tendo como base essas informações, nesse trabalho utilizou-se o Qigong
Baduanjin na reabilitação de pacientes com dor lombar cônica. O objetivo geral foi avaliar a
efetividade dessa prática corporal no alívio da dor lombar crônica em adultos; além de avaliar
o índice de incapacidade lombar, índice de incapacidade cervical e a percepção dos pacientes
sobre o Baduajin. Foram avaliados 11 voluntários, concluíram o projeto 6 voluntários, (3
homens e 3 mulheres). A média de idade foi 44 (±7) anos; apenas uma participante não fazia
uso de álcool e tabaco, sendo a média de consumo de 10(±9), que sentiam dor há 9 (±5) anos,
com intensidade 7(± 2,66), índice de incapacidade lombar de 47 (±12)% e incapacidade
cervical 21 (±18)%. Após 10 sessões de prática de Baduanjin houve redução na intensidade de
dor (p 0,046), redução na incapacidade lombar (p 0,028); não houve redução da incapacidade
cervical estatisticamente significativa (p 0,285) mas foi constatada melhora clínica de 18%.
Para tais resultados considerou-se p≤0,05. Portanto o Baduajin é efetivo na reabilitação da dor
lombar crônica em adultos, de acordo com evidências quanti e qualitativas.
499
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
INTRODUÇÃO
500
SHEILA A. SILVA
501
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
inúmeros benefícios desses como por exemplo: na redução dos lipídios no sangue (MEI, CHEN, GE et
al., 2012; ), redução da pressão arterial, redução do açúcar no sangue e hemoglobina glicada (LIU,
GUO, ZHANG et al., 2011), além disso, foram relatadas também melhora significativa no equilíbrio,
força e flexibilidade, redução da dor, melhora na qualidade do sono, melhor bem-estar psicológico e
melhor função imune (CHEN, LIU, HUANG et al., 2012; ZHENG, CHEN, FANG, et al., 2014; ZOU,
SASAKI, WANG et al., 2017). No entanto, a amostra proposta nesse trabalho ainda não foi estudada.
O paciente que desenvolve a DL crônica/incapacitante causa economicamente um
maior custo social seja direto ou indireto se comparado ao que possui a dor lombar aguda
(FUJII; MATSUDAIRA, 2013; DREISINGER, 2014), a DLC é altamente incapacitante
caracterizando-se como um problema de saúde pública na população adulta em idade
produtiva (ALMEIDA, 2008; SHIRI, FALAH-HASSANI, 2016), portanto justifica-se a
importância de buscar métodos eficientes e menos onerosos de reabilitação desta doença
como a utilização do Baduanjin (YANG, 1995; DE LAZZARI, 2014, ZOU, SASSAKI,
WANG et al., 2017) no tratamento dessa população. A escolha desses exercícios se deve a
trabalhos anteriores que revelaram achados interessantes nessa população tais como: redução
da dor, incapacidade, depressão e aumento da atividade elétrica dos músculos multífidos e
glúteo máximo (SILVA, 2016).
Dessa forma, tendo como eixo norteador a PNPIC, o objetivo geral dessa pesquisa é
avaliar a efetividade do Baduanjin em adultos com DLC quanto à dor e rastrear o consumo de
álcool, tabaco e outras drogas pelo ASSIST, tendo como objetivos específicos: avaliar
incapacidade lombar pelo ODI, avaliar incapacidade cervical pelo NDI e registrar a percepção
dos usuários quanto a prática do Baduanjin por meio de entrevistas.
No capítulo 1 discorreremos sobre dor lombar, capítulo 2 Política Nacional de Práticas
Integrativas e complementares (PNPIC), capítulo 3 Baduanjin, Capítulo 4: A integralidade da
atenção à saúde no SUS e a Unidade Especializada em Reabilitação (UER) - Unidade de
Saúde Vimerson Hilário Paiva, capítulo 5 Material e métodos, capítulo 6 resultados, capítulo
7 discussão e considerações finais.
502
SHEILA A. SILVA
503
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
localização abaixo do último arco costal e acima das pregas glúteas que dura ou persiste por
três meses ou mais (TREEDE et al., 2015).
A literatura aponta marcante associação entre DLC e fatore s como: baixo nível de
escolaridade, obesidade central, tabagismo, idade, sexo, alcoolismo, classe social, ausência de
prática de atividade física, atividades laborais (BEHREND, PRASARN, COYNE et al., 2012;
MEUCCI, FASSA, FARIA, 2015), transtornos depressivos (SHEMORY, PFEFFERLE,
GRADISAR, 2016) e endividamento (MANCHIKANTI, SINGH, FALCO et al., 2014).
Quanto a isso, Hoy et al., 2012 constataram ser essa uma disfunção com prevalência no
gênero feminino, em pessoas na faixa etária de 40 a 80 anos. Esses fatores podem ser
explicados pois a menor escolaridade é relacionada a condições vulneráveis de vida e
trabalho.
Em relação ao tabagismo, os efeitos sistêmicos da nicotina sobre as articulações da coluna
vertebral aceleram a degeneração articular aumentando o potencial de transmissão de
impulsos álgicos ao sistema nervoso central (BEHREND, PRASARN, COYNE et al., 2012).
Quanto ao excesso de peso, indivíduos obesos estão sujeitos a maiores cargas na região
lombar, o que favorece o desenvolvimento de doenças crônicas como DLC (MEUCCI,
FASSA, FARIA, 2015).
Indivíduos superendividados apresentam uma probabilidade onze vezes maior de sofrer de
DLC (SHEMORY, PFEFFERLE, GRADISAR, 2016).
A taxa de incidência de DLC nas aposentadorias por invalidez no Brasil em 2007 foi
de 29,96 casos por cada grupo 100.000 contribuintes (MEZIAT FILHO, SILVA, 2011).
As principais causas de DL são: 70% tensão das estruturas lombares; 27% causas
mecânicas (como: processos degenerativos dos discos e facetas, hérnia de disco, fratura
osteoporótica, estenose do canal espinal, dor discogênica ou instabilidade lombar); 2% dor
referida (causada por: aneurisma da aorta ou doenças dos órgãos pélvicos) e 1% causas não
mecânicas (neoplasias, artrite inflamatória, espondilite anquilosante, espondilite psoriática
síndrome de Reiter, doença inflamatória intestinal, osteomielite, herpes zoster, doença de
Scheuermann, osteocondrose, doença de Paget e abcessos) (AIRAKSINEN et al., 2006,
LAST, HULBERT, 2009). Essas doenças podem possuir ou não lesão histológica
demonstrável (GARCIA FILHO et al., 2006; STRONG et al., 2013).
Em alguns casos existem poucas informações quanto aos achados anátomo-
histológicos das estruturas comprometidas, o que dificulta a interpretação da dor. Nem sempre
existe relação entre exames de imagem e achados clínicos, o que torna difícil determinar com
precisão o local de origem da dor (GARCIA FILHO et al., 2006).
504
SHEILA A. SILVA
505
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
506
SHEILA A. SILVA
denominado de acordo com a principal terapia empregada. Os subgrupos são: terapia manual,
exercícios de estabilização, exercícios de resistência/ fortalecimento e tração (HEBERT et al,
2011; DELITTO et al., 2012).
A terapia por exercício supervisionada é a primeira linha de cuidado no tratamento
conservador da DLC. Exercícios realizados em grupo utilizando abordagens cognitivo-
comportamentais são opções interessantes de tratamento por serem eficazes, beneficiarem
maior número de pessoas e terem baixo custo. Não há recomendações quanto ao tipo de
exercício a ser escolhido (AIRAKSINEN et al., 2006, RACHED et al., 2013).
Dreisinger (2014) em seu trabalho sobre exercício físico no manejo da DLC, afirma que
exercícios de treinamento de força supervisionados que obedeçam ao princípio da sobrecarga
com frequência predeterminada, aumento progressivo da intensidade e sobrecarga melhoram a
capacidade de realizar atividades de vida diária.
Sobre o fortalecimento dos músculos paravertebrais a literatura ainda é ambígua sobre a
efetividade dos exercícios de estabilização. Mas o fortalecimento dos extensores do tronco
demonstrou resultados melhores ou iguais à fisioterapia convencional. Dessa forma, um
programa de treinamento de força dos músculos do tronco promove ganhos significativos para
os pacientes como: ganho de força, maior amplitude de movimento, melhor funcionalidade e
diminuição de escores de incapacidade tanto para queixas relativas à coluna lombar quanto
cervical.
Diante disso, a realização de exercícios de fortalecimento dos músculos do tronco,
alongamentos e exercícios de estabilização são abordagens terapêuticas efetivas na
reabilitação de pacientes com DLC (AIRAKSINEN et al.,2006; DREISINGER, 2014, LEE,
PARK, JANG, 2015).
507
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
508
SHEILA A. SILVA
várias vezes: pela portaria ministerial 1.600, de 17 de julho de 2006 que aprovou a
constituição do Observatório das Experiências de Medicina Antroposófica no Sistema Único
de Saúde (SUS); portaria da secretaria de atenção à saúde Nº 853, de 17 de novembro de 2006
que incluiu na Tabela de Serviços/classificações do Sistema de Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde (SCNES) do SUS, o serviço de código 068 - Práticas Integrativas
e Complementares; portaria da secretaria de atenção à saúde N°154 de 18 de março de 2008
que recompõe a tabela de Serviços/Classificações do SCNES; portaria Interministerial Nº
2.960, de 09 de dezembro de 2008 que aprova o Programa Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos e cria o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos; portaria NR
07/DGP, de 27 de janeiro de 2009 que aprova as normas reguladoras do Exercício da
acupuntura no âmbito do serviço de saúde do exército; portaria da secretaria de atenção à
saúde Nº 84, de 25 de março de 2009 que adequa o serviço especializado 134 – serviço de
Práticas Integrativas e sua classificação 001 – Acupuntura; portaria 374 de 1 de outubro de
2009 que aprova a norma Técnica nº 001/2009, que dispõe sobre as "Especificações Técnicas
para o aproveitamento de água mineral, termal, gasosa, potável de mesa, destinadas ao
envase, ou como ingrediente para o preparo de bebidas em geral ou ainda destinada para fins
balneários"; portaria nº 48, de 25 de fevereiro de 2010 que aprova a diretriz para implantação
dos Núcleos de Estudos em Terapias Integradas (NETI) no âmbito do serviço de saúde do
exército; a portaria ministerial nº 886, de 20 de abril de 2010 que institui a Farmácia Viva no
âmbito do SUS; portaria, nº 127 de 25 de março de 2011 que aprova o roteiro técnico para
elaboração do projeto de caracterização crenoterápica para águas minerais com propriedades
terapêuticas utilizadas em complexos hidrominerais ou hidrotermais; portaria da secretaria de
atenção à saúde nº 470 de 19 de agosto de 2011 que inclui na tabela de SCNES, no serviço de
código 125 - Serviço de Farmácia, a classificação 007 - Farmácia Viva; portaria Nº 533, de 28
de Março de 2012 que estabelece o elenco de medicamentos e insumos da Relação Nacional
de Medicamentos Essenciais (RENAME) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS);
portaria Nº 849, de 27 de março de 2017 que inclui a Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança
Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia,
Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares; portaria Nº 633, DE 28 de março de 2017 que atualiza o
serviço especializado 134 - Práticas Integrativas e Complementares na tabela de serviços do
Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e a portaria ministerial
Nº 702, de 21 de março de 2018 que atualiza o serviço especializado 134 Práticas Integrativas
e Complementares na tabela de serviços do SCNES (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
509
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Além dessas atualizações, em março de 2018 foram acrescidas mais dez práticas à
PNPIC são elas: apiterapia, aromaterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia,
geoterapia, hipnoterapia, imposição de mãos, ozonioterapia e terapia de florais. Desse modo, a
PNPIC atualmente comtempla 29 práticas (BRASIL, 2018).
A PNPIC tem como objetivos:
Incorporar e implementar as Práticas Integrativas e Complementares no SUS, na
perspectiva da prevenção de agravos e da promoção e recuperação da saúde, com
ênfase na atenção básica, voltada ao cuidado continuado, humanizado e integral em
saúde; contribuir ao aumento da resolubilidade do Sistema e ampliação do acesso à
PNPIC, garantindo qualidade, eficácia, eficiência e segurança no uso; promover a
racionalização das ações de saúde, estimulando alternativas inovadoras e
socialmente contributivas ao desenvolvimento sustentável de comunidades e;
estimular as ações referentes ao controle/participação social, promovendo o
envolvimento responsável e continuado dos usuários, gestores e trabalhadores nas
diferentes instâncias de efetivação das políticas de saúde (Brasil, 2015, p. 28)
Quanto às diretrizes elencamos as seguintes de acordo com esse trabalho: estruturação
e fortalecimento da atenção em PIC no SUS; (...) divulgação e informação dos conhecimentos
básicos da PIC para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS, considerando as
metodologias participativas e o saber popular e tradicional; e) fortalecimento da participação
social; (...) e incentivo à pesquisa em PIC com vistas ao aprimoramento da atenção à saúde,
avaliando eficiência, eficácia, efetividade e segurança dos cuidados prestados (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2018).
Com o objetivo de reafirmar a PNPIC, em Minas gerais foi promulgada a Política
Estadual de Práticas Integrativas e Complementares /MG (PEPIC), em abril de 2009 (MINAS
GERAIS, 2009).
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) caracteriza-se por um sistema médico integral
originado há milhares de anos na China. Sua utilização no SUS tem como objetivo a
prevenção de agravos e doenças, promoção e recuperação da saúde. (MINAS GERAIS,
2009).
As PIC são ações de cuidado transversais, podendo ser realizadas na atenção primária,
secundária e/ou terciária (BRASIL, 2018). Elas estão presentes em 9.350 estabelecimentos de
3.173 municípios brasileiros, sendo que 88% são oferecidas na Atenção Básica. Em 2017,
foram registrados 1,4 milhão de atendimentos individuais em PIC. Somando as atividades
coletivas, a estimativa é que cerca de 5 milhões de pessoas por ano participem dessas práticas
no SUS (BRASIL, 2018).
Atualmente, a acupuntura é a mais difundida com 707 mil atendimentos e 277 mil
consultas individuais. Em segundo lugar, estão as práticas de Medicina Tradicional Chinesa
com 151 mil sessões, como Tai Chi Chuan e Lian Gong. Em seguida aparece a auriculoterapia
510
SHEILA A. SILVA
com 142 mil procedimentos. Também foram registradas 35 mil sessões de yoga, 23 mil de
dança circular/biodança e 23 mil de terapia comunitária entre outras (BRASIL, 2018).
Evidências científicas têm mostrado os benefícios do tratamento integrado entre
medicina convencional e práticas integrativas e complementares (SILVA, 2016; BRASIL,
2018). Além disso, há crescente número de profissionais capacitados e habilitados e maior
valorização dos conhecimentos tradicionais de onde se originam grande parte dessas práticas.
No ano passado foram capacitados mais de 30 mil profissionais (BRASIL, 2018).
511
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Capítulo 3: Baduajin
512
SHEILA A. SILVA
manter a mesnte em harmonia para equilibrar o Qi. A Escola dos médicos, a mais duradoura,
seu início data de 4000 anos, afirmam que a prática de exercícios aumenta o Qi tornando
órgãos mais saudáveis por isso enfatizam a prática de exercícios terapêuticos como o
Baduanjin e meditação em movimento (Tai Chi Chuan). Os exercícios de Qigong são apenas
parte da ciência médica chinesa, sendo acupuntura, a massagem e as ervas além de outros
métodos de cura e preservação da saúde. A Escola dos Artistas Marciais que começou a ser
desenvolvido no Mosteiro Shaolin, durante a dinastias Liang (502-557 d.C) depois que
Bodhidharma, 28º patriarca zen-budista criou o Yi Jin Jing (Tratado de transformação dos
Músculos e Tendões) e Xi Sui Jing (Tratado de Limpeza da Medula/Cérebro). Divide-se nos
estilos interno (Tai Chi Chuan) e externo. E a Escola dos Religiosos que apesar de ser a mais
elevada se manteve em segredo até o século passado. O maior propósito dessa escola é o
treinamento para a iluminação. Os praticantes dessa escola treinam para fortalecer o Qi
interno, para nutrir o espírito, para atingir elevados estágios de consciência e para que o
espírito seja capaz de sobreviver à morte do corpo físico (LAZZARI, 2014).
Nos seres humanos existem três energias muito importantes chamadas de três tesouros
ou San Bao; três Origens ou as três raízes. São elas: Essência (Jing); Energia Vital (Chi) e
Espírito (Shen). Recebemos essa energia de nosso pais (hereditariedade), dos alimentos, pela
respiração, do céu, da Terra e da natureza. Captamos essa energia pela sola dos pés, alto da
cabeça e nos centros de energia. As três energias são as raízes de nossa vida e nos
proporcionam saúde, vitalidade e longevidade se soubermos preservá-las e emprega-las de
forma correta (YANG, 1995; LAZZARI, 2014).
Já o Dan Tian “Campo de Elixir”, local onde a energia pode ser transmutada, é o ponto
fundamental na prática do Qigong e Baduanjin. Existem três Dan Tiens (Figura 1): Inferior
(mar de energia) é associado à energia física; Médio (casa do Qi) relacionado à respiração e
saúde dos órgãos internos e Superior (Terceiro Olho) relacionado à consciência à mente,
relaciona-se com a vida espiritual e controla a manifestação do Qi pelo pensamento
(LAZZARI, 2014).
Qi significa ar, poder, energia e vida, energia vital ou energia interna. O que faz do
Baduanjin um sistema tão especial de disciplina da mente e do corpo é o desenvolvimento do
Qi no corpo humano. O Qi circula por canais, os meridianos que foram descobertos por
médicos da MTC e podem ser mapeados por medições de diferenças de resistência elétrica da
pele. O sistema de meridiano estende-se por todo o corpo transportando sangue e energia vital
distribuindo a Essência, auxiliando a equilibrar órgãos e vísceras, mantendo a condutividade e
513
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
resistindo à invasão de patógenos. Existem doze meridianos principais, dois extras, oito
maravilhosos, doze distintos, doze tendinomusculares (Figura 2).
Dessa forma, Qigong é conhecido e difundido pela comunidade médica chinesa como
“exercício de respiração terapêutica”, constitui um conjunto de exercícios e meditação que
contribuem para a saúde e bem estar do praticante, regulando o fluxo energético (SEVERINO,
SOCI, 2011).
Existem duas categorias de Qigong: interno e externo. O Qigong interno ou exercícios de
Qigong envolve utilização de meditação, movimentos e controle da respiração. Envolve
movimentos das mãos, do corpo e concentração. Os movimentos e posturas foram
desenvolvidos para melhorar o fluxo da energia, Qi, pelo corpo; melhorando assim a saúde
física e o bem estar. E o Qigong externo, onde o terapeuta direciona seu próprio Qi para o
corpo do paciente, como o Reiki (CHEN et al, 2008; CHAN et al, 2012).
Entre os sistemas de Qigong mais conhecidos atualmente podem ser destacadas as seguintes
práticas: as oito peças de brocado (Baduanjin); a palma dos 5 elementos (ou movimentos); o
jogo dos cinco animais; permanecer quieto como uma árvore (Zhan Zhuang) e renovação dos
músculos e tendões (KOSKUBA, 2003; SEVERINO, SOCI, 2011; ZOU, SASAKI, WANG et
al., 2017 ).
Baduanjin (também chamado de brocados de oito seções) é um das formas de
exercícios de Qigong chinês tradicional que tem uma história de mais de 1000 anos. É
caracterizado pela interação entre posturas e movimentos físicos simétricos, mente e
respiração exercício de forma harmoniosa (ZOU, SASAKI, WANG et al., 2017).
514
SHEILA A. SILVA
515
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Figura 3: Gânglios do sistema Nervoso Periférico, Dan Tiens, Ren Mai e Du Mai.
516
SHEILA A. SILVA
Nesses termos, fica explícito que o Brasil optou por um sistema público e universal de
saúde, que deve garantir atendimento integral para todos os cidadãos, não cabendo, em
nenhuma hipótese, a limitação de seus atendimentos ao mínimo de serviços de saúde,
destinado à parcela mais pobre da população. Daí a importância de se compreender a atenção
básica como o eixo orientador do SUS e nunca como barreira limitante ou exclusiva do
sistema; como tendem a acreditar alguns governantes (BRASIL, 2007).
Portanto, o SUS deve enfrentar um duplo desafio: abrir as portas do sistema para
garantir o atendimento à população historicamente desassistida em saúde (fato que tem
alcançado sucesso no Brasil, por meio de ampla expansão da atenção básica em saúde) e, ao
mesmo tempo, implantar redes de atenção à saúde (RAS) que possam dar conta das
necessidades de atendimento visto que ainda existem desigualdades de acesso significativas
entre as diferentes regiões do país (BRASIL, 2007). Uma possível solução para isso seria a
implementação da PNPIC compondo de fato as RAS de acordo com a portaria nº 4.279, de
30/12/2010 do Ministério da Saúde.
A organização da assistência à saúde no SUS, por meio da RAS está organizada em
atenção básica, atenção secundária - média complexidade - e atenção terciária (alta
complexidade). A eficiência do SUS muitas vezes comprometida pela centralidade dos
procedimentos médico-hospitalares em detrimento da promoção da saúde. Tal característica é
fruto de um modelo de atenção marcado pela hegemonia dos interesses da corporação médica,
das indústrias e dos serviços privados de saúde. Essa tendência manifesta-se na compra
indiscriminada de serviços do setor privado pelo público e na baixa qualidade da atenção
básica do SUS, o que contribui para a ampliação do uso de planos privados pela classe média.
No que se refere à concepção de Atenção Básica (AB), recente portaria ministerial (BRASIL,
2006) ratifica a visão clássica da Atenção Primária em Saúde (APS) enquanto
517
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
518
SHEILA A. SILVA
519
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Reumatologia e Ortopedia, no período de 2010 a 2013 quando contava também com serviço
de Clínica de Dor (UBERABA, 2017).
Os atendimentos são individuais (sessões de psicologia, terapia ocupacional,
fonoaudiologia, fisioterapia, acupuntura ou auriculoterapia) ou em grupos (alongamento com
pacientes portadores de Fibromialgia, Qigong/Baduanjin, já contou com grupo de Liang
Gong).
A utilização de PIC na UER data de 1999 (quando ainda era denominada centro de
Fisioterapia) quando o ex-servidor Vimerson Hilário Paiva começou a atender alguns
pacientes de prognóstico incerto com acupuntura, ele mesmo comprava as agulhas. A partir de
então, Vimerson fez formação em Liang Gong e iniciou também os atendimentos em grupo.
A partir de 2012 foram inseridos no serviço os atendimentos incluindo Qigong/ Baduanjin e
auriculoterapia (após capacitação oferecida pela Secretaria Estadual de Saúde Minas Gerais).
A UER é o único serviço do município com série histórica em PIC cadastrado no
Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES). E a utilização das PIC na UER
tem como um de seus objetivos garantir a integralidade da assistência à saúde aos usuários da
RAS de Uberaba além de implementar a PNPIC.
520
SHEILA A. SILVA
Para avaliação da DL foi utilizada a escala visual analógica (EVA), que varia de 0 a
10. A Escala Visual Analógica (EVA), que consiste em aferir a intensidade da dor no paciente
e é um importante instrumento para verificar a evolução do paciente durante o tratamento e
mesmo a cada atendimento de maneira mais fidedigna. Ela varia de 0 a 10, sendo 0 sem dor;
5, dor moderada; e 10, pior dor para identificar a intensidade da dor (PIMENTA, 1994;
CAMARGO, MOSER, 2009).
A incapacidade cervical que mensurada pelo Índice de incapacidade para o pescoço –
Neck Disability Index (NDI), um questionário de autoavaliação, cujo objetivo é medir a
incapacidade associada à condição de dor cervical (cervicalgia) (COOK et al, 2006;
521
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
MCCARTHY, GREVITT, SILCOCKS & HOBBS, 2007). Este instrumento foi desenvolvido
a partir do Oswestry Low Back Pain Disability Index, resultado inicialmente numa escala de 6
itens, sendo eles: intensidade da dor, cuidados pessoais, levantar coisas (objetos), dormir,
conduzir, e vida sexual. Cada um dos itens/secções é composto por 6 opções de resposta. Sete
desses itens/secções são relativos a atividades de vida diária, dois são relativos à dor e um está
relacionado com a capacidade de concentração. As respostas possíveis são cotadas numa
escala do tipo Likert, variando entre 0 e 5, em que 0 corresponde a nenhuma incapacidade e 5
incapacidade extrema (VOS, VERHAGEN & KOES, 2006). A pontuação total do
instrumento resulta da soma da pontuação de todos os itens, e varia entre 0 e 50, sendo que os
autores originais sugerem a seguinte interpretação: 0-4 = não há incapacidade, 5-14 =
incapacidade leve, 15-24 = moderada, 25-34 = severa e superior a 34 = completa.
A pontuação total pode ser transformada numa escala de 0 a 100 multiplicando-se por 2,
sendo calculada apenas quando os indivíduos respondem a pelo menos 8 itens/secções. Se os
indivíduos não responderem a 3 itens/secções o questionário deve ser considerado inválido
(VERNON1, 2008, apud DOMINGUES e CRUZ, 2011).
Para coletar as percepções dos pacientes sobre as práticas realizou-se uma entrevista
(Apêndice C) técnica de abordagem qualitativa.
Segundo Maeda (2011) a metodologia qualitativa procura entender como os
fenômenos acontecem, buscando a profundidade dos fatos e a incorporação de processos
sociais e da subjetividade à abordagem. Na área de saúde, essa contribuição é muito
significativa, pois traz a visão e posição de diferentes sujeitos envolvidos na experiência da
atenção à saúde, sem perder a consistência que envolve a elaboração do estudo ao que ela se
aplica.
Entrevistas são ferramentas fundamentais quando deseja mapear práticas, crenças ou
valores em que os conflitos e contradições não estejam claramente explicitados. Elas
permitem ao pesquisador fazer uma espécie de mergulho em profundidade, coletando indícios
dos modos como cada um daqueles sujeitos percebe e significa sua realidade e levantando
informações consistentes que lhe permitam descrever e compreender a lógica que preside as
relações que se estabelecem no interior daquele grupo (DUARTE, 2004)
A entrevista ocorreu no dia 10 de julho de 2018 às 17h e 10min, nessa ocasião foram
entrevistadas duas participantes, e foi norteada pelos seguintes temas:
Figura 4: Roteiro de entrevistas
1. Conversando sobre dor O que é dor para vocês? Onde você sente dor? Há
quanto tempo? O que a dor te impede de fazer.
2. Tratamentos prévios para dor Como você tratou sua dor antes de chegar aqui na
1
Vernon H. The Neck Disability Index: state-of-the-art, 1991-2008. J Manipulative Physiol Ther. 2008; 31(7):491–
502. doi:10.1016/j.jmpt.2008.08.006
522
SHEILA A. SILVA
523
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
2
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
3
MARTINS, J., BICUDO, MAV. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo:
PUC-SP, 1989.
524
SHEILA A. SILVA
Capítulo 6: Resultados
Foram contactados via telefone 14 pacientes com diagnóstico clínico de dor lombar,
compareceram às avaliações 11 pacientes, sendo 5 do sexo masculino e 6 mulheres com idade
média de 49 anos, variando de 30 a 58 anos; índice de massa corporal médio de 28, 35,
variando de 22,95 a 34, 71, todos tinham DLC de origem mecânica (processos degenerativos
facetas e/ou hérnia de disco) como queixa principal, sendo que 54% apresentaram queixa de
DLC irradiada para os membros inferiores. Usavam em média 3 remédios de uso contínuo
variando de 1 a 6 medicamentos. Apenas um paciente não relatou comorbidades, dentre elas
as mais comuns referidas estão: hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes melitus tipo II
(DM- II). Todos dos pacientes apresentaram exames complementares; quatro trouxeram
ressonância nuclear magnética e os demais radiografias (evidenciando osteófitos e/ou hérnias
discais). A média de dor referida na Escala Visual Analógica (EVA) foi 8, variando de 4 a 10;
relataram ainda que sentiam dor lombar em média há 6 anos variando de 1 ano a 18 anos, O
ODI médio foi de 53%, variando de 32% a 72%. NDI médio foi de 40% variando de 2% a
67,5%. Houve associação positivas entre dor, incapacidade lombar (ODI) e incapacidade
cervical (NDI). Desses pacientes, um foi excluído, um solicitou dispensa do tratamento por
motivos pessoais, um contraiu pneumonia e não pôde continuar e dois abandonaram (não
tinham dinheiro para pagar o transporte coletivo). Finalizando o estudo com 6 pacientes.
Quanto aos pacientes que concluíram as dez sessões de tratamento, as características
foram as seguintes: 3 homens e 3 mulheres, com idade média de 45 anos, IMC médio 29,
média de dor 7 na EVA há pelo menos dois anos, ODI médio 47% e NDI médio 21%. Quanto
às profissões: uma manicure, uma doméstica e uma cozinheira autônoma, um comerciante,
um pedreiro afastado e um estivador aposentado.
Na tabela 1 é possível visualizar os valores da dor (EVA), incapacidade lombar (ODI)
e incapacidade cervical (NDI) antes e após o tratamento. Após dez sessões de prática de
Baduanjin houve redução estatisticamente significativa da dor e incapacidade lombar e
redução da incapacidade cervical que apesar de não evidenciar relevância estatística
corresponde a melhora clínica de 18% em relação à incapacidade cervical inicial.
Tabela1: Variáveis antes e após as 10 sessões de Baduanjin
Antes Depois
Média (dp) Mínimo Máximo Média Mínimo Máximo p Tamanho do efeito
(dp) (D de Cohen)
EVA 7(±2) 4 10 3(±3) 0 6 0,046 0,76
ODI 47%(±12) 32 64% 18(±12) 7% 40% 0,028 0,7
NDI 21%(±18) 2 46% 14(±10) 2% 26% 0,29 0,18
ASSIST: Teste de Triagem do Envolvimento com Álcool, Tabaco e Outras Substâncias; EVA: Escala Visual
525
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Analógica; ODI: Índice de Incapacidade de Oswestry; NDI: Índice de Incapacidade relacionada ao pescoço; p≤
0,05 em negrito. Fonte: Pesquisadora; p≥ 0,05.
As entrevistas, foram realizadas no dia 10/07/2018 a partir das 17h10min no mesmo
local onde realizou-se o tratamento. Foram convidados para as entrevistas os seis pacientes,
porém só compareceram quatro, que foram entrevistados na primeira hora duas paciente e na
segunda dois pacientes. As entrevistas foram gravadas em áudio, posteriormente transcritas na
íntegra respeitando as particularidades de cada paciente. Em seguida foram analisadas e
categorizadas de acordo com o questionário semiestruturado, roteiro
Quanto à categoria dor, as falas convergiram para incapacidade, “A dor é quando a
gente fica impossibilitada de fazer determinada coisa que você já está acostumado a fazer”;
limitação “Eu tinha uma unha marcada hoje e desmarquei porque eu não ia consegui fazer”,
“pra agachar, pra limpar debaixo das cama, não consigo”; incômodo, “a dor que eu sinto
é... assim, ela me incomoda”. Uma fala explicitou a dor como fenômeno sentido mas de difícil
definição “: Mas é... eu num sei assim falá.” Além disso, ficou evidente que se tratava de
pessoas que tinham como queixa principal dor nas costas “No meio.... no meio das costas”;
“É, principalmente a da coluna né” mas apresentavam também dor em outras regiões do
corpo “Na perna direita chegando até o cóccix”, “o problema é que doi muito meu joelho se
eu agachá”. E que essa dor era crônica com duração variando de 1 ano “Uns quatro meses
que veio a queimação (intensificação do sintoma)... mais forte” há 14 anos “De 2004 pra cá
começou ai foi piorando né.”. Essa última fala denuncia também o caráter progressivo da
lesão e da incapacidade.
Ainda quanto à dor, em uma das falas é dito que é preciso acostumar com a dor pois a lesão é
degenerativa “Tá doendo uai, tem que acostumá, né?... é degenerativo” e que a idade piora os
sintomas álgicos “Quando vai ficando velho, né? Ai piora.”. É dito também que o uso de
remédios de uma forma geral causam dependência “É por exemplo, o da pressão tem que
tomá o resto da vida”. Um entrevistado cita a associação entre má postura, sedentarismo e dor
lombar “... sabia fazer todos (exercícios), nossa... todos os exercícios! Ai eu parei, fui ficando
meio que sedentário, sabe? (...) Ai eu comecei, eu ia pra loja, chegava lá, sentava lá, ficava
sentado o dia todo e... tinha um sofá até confortável lá e eu ficava deitado e... com a postura
errada e... e ai foi dando uma dor nas costas.”. E relata a desqualificação de seu quadro
álgico pelo médico “doutor cavalo S, ele falou pra mim, falou: “não, rapaz, que isso! Não,
magrinho desse jeito aí, isso aí é dor lombar, pode vim daqui seis meses cê me fala, cê pode
voltar aqui. Não, num esquenta não (...) vai fazer exercício, pode fazer exercício a vontade.”
Em relação aos tratamentos prévios para alívio da dor, as pacientes relatam ter
526
SHEILA A. SILVA
realizado tratamento medicamentoso “Tomei remédio só”, “Eu já passei aquela pomada
diclofenaco”; prática regular de exercício físico; “Eu fiz hidroginástica” “Tentei fazer
caminhada. Mas aí doí o meu joelho”; uso de medicação fitoterápica “A gente passa essas
pomada que a gente compra, gel de sete ervas, essas coisa”, “Eu já passei arnica também.
Aquelas coisa que a minha avó falava eu já passei tudo”.
De acordo com os pacientes eles foram encaminhados por ortopedistas dos
ambulatórios Maria da Glória, do hospital de clínicas da Universidade Federal do Triângulo
Mineiro, “Eu procurei lá no hospital escola né”, do ambulatório municipal do São Cristovão,
“Aí eu comecei a fazer os acompanhamentos com o Dr. A.... F. lá no São Cristovão” ou do
Mário Palmério Hospital Universitário “Foi no posto médico, aí eles me encaminharam pra
lá (Mário Palmério Hospital Universitário).”. Afirmam também que antes dos atendimentos
com especialistas procuraram atendimento em Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24h)
“Já parei muito na UPA por causa dessas dor”, “Essa injeção Biprofenide, eu já tô cansada
de tomar ela nessas UPA aí”. E que em momentos de crises de dor chega a recorrer a serviços
privados de reembolso direto “dessa última vez eu paguei uma consulta com o Dr. D. foi
aonde ele receitou esse remédio Prefiss 75mg (Pregabalina) que eu tô tomando”. Aqui
também pode ser verificados problemas como regulação ineficiente do Sistema Único de
Saúde (SUS) que gera uma sobrecarga do nível secundário de saúde e utilização equivocada
da atenção básica constatados nas falas: “Perdi o acompanhamento com ele (o ortopedista)
porque no dia 26 de janeiro que era pra eu voltar no médico mas minha mãe faleceu. Aí eu
tenho que começar tudo de novo, pra entra traveis (retornar à Unidade de Saúde da Família,
passar pelo médico da Família para depois ser encaminhada ao ortopedista novamente)” e
“Mas eu já procurei o médico da família de novo porque ele já me dá os encaminhamento, as
receita dos remédio que eu preciso tomá”. Assim foram relatados os Itinerários em Saúde.
Isso evidência a fragilidade e desestruturação da RAS do município de Uberaba que não
consegue informar e/ ou sensibilizar o usuário a buscar atendimentos na AB. Sobrecarregando
os outros níveis de atenção.
Ao abordarmos a prática do Baduanjin, fica evidente o distanciamento entre o SUS e
as PIC, especificamente práticas corporais, em nível interestadual inclusive “Eu aqui é a
primeira vez. Nunca tinha feito nem Fisioterapia nem exercício. E meu tratamento vem lá de
São Joaquim da Barra (SP)”; “Eu nem sabia que existia”; “Eu só vi na televisão.”
Quando as participantes citam também seu contato com a Fisioterapia, dois
entrevistados nunca precisaram fazer até então “Nunca tinha feito nem Fisioterapia ”; outros
dois relatam seus contatos prévios “Eu já fiz uma vez. Numa clínica particular como o Dr. C.
527
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
ali na R. Capitão Domingos, já em vem desde muito tempo. Lá era particular”; “Eu fiz mas
era só acupuntura”. Fica evidente também a utilização de tecnologia em detrimento da
cinesioterapia em contatos prévios com a Fisioterapia “Era aquele aparelho lá” (Estimulação
Elétrica Transcutânea – TENS, “massage que as moça mesmo fazia na gente. E aquele
infravermelho, sabe?”. É notória também a centralização do cuidado, pois vemos nas falas, o
profissional de saúde mais citado ao longo da história de saúde dos pacientes é o médico.
Especificamente falando da prática do Baduanjin, os pacientes afirmam ser prazerosa
“Pra mim tudo é bom. Acho que cada um trabaia uma região e um músculo né?”;“Agora
desse eu gosto. Num atrapalha minha vida em nada. Esse eu gostei mais”, “Esse que eu tô
fazendo, eu tô gostando” e demonstram sua efetividade gradativa “no começo, aquele que
fazia assim (1º Baduajin), dava unas pontada que eu achava que era o rim, e agora não doí
mais não”. Além de perceberem os benefícios da prática na sua saúde física “eu tava com
dificuldade até pra estendê a cama. A Fisioterapia ajudou eu demais. Não sei se cê lembra?
Quando eu cheguei aqui meu pescoço era até encaxado assim (mostra como era elevando os
ombros). Nossa! Melhorou demais! Até a postura da gente. O jeito da gente ficá. Porque a
gente vai acostumando com a dor”. “Na hora que a gente tá fazendo doí. Dá um desconforto
mais depois passa. Tanto é que eu faço ele em casa. Eu tento fazer todos em casa. Quando
não dá pra mim vim eu faço mesmo.” Essa última fala salienta ainda a noção de autocuidado
que as práticas de Baduanjin estimulam nos praticantes. E embora não tenham relatado na
entrevista, durante as práticas citavam seus benefícios mentais com falas como: quando eu
faço esse, eu fico leve, leve ao se referirem ao 5º Baduajin que segundo as pacientes é um dos
exercícios preferidos delas. Três participantes relataram gostar mais de um exercício. Os
escolhidos como preferidos foram: o 5º Baduanjin “Agora o que eu mais gosto, é o que gira
de um lado para o outro, parece o bobo da corte”; o 8º Baduanjin “e o de ficar na ponta do
pé” e o 6º Baduanjin “:Ah... eu num sei o nome dele mas o que eu mais gosto é aquele que
mais força a coluna. Porque ele é o que mais força aqui. Aí eu faço ele e dá uma
melhorada.”; que para uma das participantes era também o mais difícil “aquele de ir pra
frente (6º Baduanjin) que eu não dô conta”.
Em relação às dúvidas, as pacientes afirmam a efetividade do Baduanjin, a dor lombar
crônica foi aliviada com a prática o que consequentemente diminuiu a incapacidade “antes de
senti essa dor que tô sentindo hoje que desce pra perna direita, eu sentia tanta dor nas costa
que incomodava, às vezes, até o jeito de deitá. Hoje melhorou a dor das costa... o que me
incomoda agora é a perna, a perna porque ela doí e vem até aqui na bunda. Antes doía muito
as costas assim berando o pulmão. Tinha vez que me dava dor até pra respirar. Agora
528
SHEILA A. SILVA
melhorou essa dor. Não sinto mais essa dor”, “Eu também doía assim...agora graças a Deus,
os remédios e a Fisioterapia melhorou. Não tá doendo muito”. Quanto aos participantes,
ambos afirmaram que os exercícios são efetivos; “Eu falo, falo não. Tem que fazer. Melhora
muito” e fortalecem os músculos “. Acho que cada um trabaia uma região e um músculo
né?”. Todos afirmam que já falaram e/ou ensinaram os para algum familiar ou conhecido;
“Eu comecei a ensinar pra minha mulher, que ela tem uma dor nas costas também. (...) Ela
tem 34 anos e tem uma dor nas costas e de cabeça também”; “Eu ensino mais é pras minha
minina né mas elas faz enfermagem. Já sabe mais que eu”; “Eu tô tentando ensinar pro meu
marido mas ele não quer aprender”; “Pra minha menina”. Além de um participante ensinar
o itinerário terapêutico a outras pessoas com a mesma queixa “Aí pergunta como você fez? Aí
eu falo do trajeto que eu fiz. Fui até o postinho, na onde que é que eu faço.”
529
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
530
SHEILA A. SILVA
531
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
532
SHEILA A. SILVA
pesquisa, dor lombar. Problemas pontuais podem ser resolvidos por um diagnóstico municipal
e se necessário realização de capacitações dos médicos das unidades básicas (SILVESTRE,
FORTES 2016). Mas essa não deveria ser uma lógica na regulação dos serviços públicos de
saúde no município.
3) E mesmo na prática clínica dos ortopedistas, é possível detectar iatrogenias que
intensificam o sofrimento do usuário pois o tratamento mais referido pelos usuários é a terapia
medicamentosa antes da referência ao serviço de Fisioterapia. De acordo com as últimas
diretrizes internacionais os exercícios físicos devem ser a primeira intervenção a ser
considerada em pacientes com DLC (DELITTO et al., 2012). Recomenda-se fortemente que
pacientes com DLC inicialmente realizem tratamento não-farmacológico com exercícios,
reabilitação multidisciplinar, acupuntura, redução do estresse, tai chi, yoga, exercícios de
controle motor, relaxamento progressivo, biofeedback eletromiográfico, terapia a laser de
baixa intensidade, terapia cognitiva comportamental ou manipulação espinhal. Caso essa
opção não seja resolutiva, recomenda-fracamente seja considerado o tratamento
farmacológico com antiinflamatórios não-esteroides como terapia de primeira linha, ou
tramadol ou duloxetina como terapia de segunda linha. Os médicos devem considerar os
opioides apenas como última opção em pacientes que falharam nos tratamentos mencionados
e somente se os benefícios potenciais superarem os riscos para após uma discussão de riscos
conhecidos e benefícios com os pacientes, isso deve ser feito caso a caso (QASEEM, WILT,
MCLEAN et al, 2017; WONG, CÔTÉ, SUTTON et al., 2017).
4) A PNPIC promulgada em 2006 versa a utilização das PIC na saúde pública com ênfase na
AB devido ao enfoque integral dessas práticas e a relação custo efetividade delas. De acordo
com o diagnóstico realizado pelo Ministério da Saúde, 88% das unidades que afirmaram usar
PIC são unidades que compõe AB (BRASIL, 2018). Uberaba é um município que está na
contramão desse movimento, pois não há série histórica de PIC em nenhuma unidade da AB.
A série histórica contempla apenas a unidade na qual foi realizada essa pesquisa, UER o que é
ratificado pelo plano de saúde do município que cita a UER como unidade em que há
acupuntura, ou seja, restringe PNPIC a uma prática. E cita a necessidade de avançar na
implementação da PNPIC (UBERABA, 2017). Dessa forma, o município sobrecarrega os
demais níveis de atenção AS e AT com demandas que poderiam ser resolvidas na AB. Visto
que as práticas corporais, nesse caso o Baduajin, para além de aliviarem a DLC integram
razão, intuição, sensibilidade e sentidos, baseando-se na promoção do autoconhecimento, não
apenas durante a prática mas como recurso para a vida; com base para o exercício do
533
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
534
SHEILA A. SILVA
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Isabela Costa Guerra Barreto et al. Prevalência de dor lombar crônica na
população da cidade de Salvador. Rev. bras. ortop, São Paulo, mar. 2008, v. 43, n. 3, p. 96-
102. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
36162008000200007&script=sci_abstract&tlng=pt >. Acesso em: 29 Mar. 2018.
535
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
CHEN MC, LIU HE, HUANG HY, CHIOU AF. The effect of a simple traditional exercise
programme (Baduanjin exercise) on sleep quality of older adults: a randomized controlled
trial. Int J Nurs Stud. 2012;49:265–273. Disponível em: <
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21963235 >. Acesso em: 29 Mar. 2018.
CHO, Y.K. et al. Synergistic effect of a rehabilitation program and treadmill exercise on pain
and dysfunction in patients with chronic low back pain. J Phys Ther Sci., v. 27, n. 4, p.
1187–1190, 2015. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4434006/
>. Acesso em: 20 jan. 2016.
DE LAZZARI, Fernando. Pa Tuan Chin: oito peças do brocado. 2ed. Equilibrius centro de
Tai Chi Chuan e cultura oriental, 2014, 140p.
DELITTO et al. Low Back Pain Clinical Practice Guidelines Linked to the International
classification of Functioning, Disability, and Health from the Orthopaedic Section of the
American Physical Therapy Association. Journal of Orthopaedic & Sports Physical
Therapy, 2012; april, 42 (4): A1- 57. Disponível em: < www.jospt.org>. Acesso em: 26 ago.
2018.
FUJII, T; MATSUDAIRA, K. Prevalence of low back pain and factors associated with
chronic disabling back pain in Japan. European Spine Journal, 2013, v. 22.2, p 432-438.
Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22868456 >. Acesso em: 29 Mar.
2018.
GALVANESE, Ana Tereza Costa, BARROS, Nelson Filice de; OLIVEIRA Ana Flávia Pires
Lucas d’. Contribuições e desafios das práticas corporais e meditativas à promoção da saúde
na rede pública de atenção primária do Município de São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública,
2017, v. 33, n. 12, dez. Disponível em: < https://doi.org/10.1590/0102-311X00122016>.
Acesso em: 14 Jan. 2018
536
SHEILA A. SILVA
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
78522006000100002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 09 jan. 2017.
GÖTTEMS, Leila Bernardo Donato, PIRES, Maria Raquel Gomes Maia. Para Além da
Atenção Básica: reorganização do SUS por meio da interseção do setor político com o
econômico. Saúde Soc. São Paulo, 2009, v.18, n.2, p.189-198,.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v18n2/03.pdf. Acesso em: 14 fev. 18.
KIM S, ZHANG X, O'BUCKLEY SC, COOTER M, PARK JJ, NACKLEY AG. Acupuncture
Resolves Persistent Pain and Neuroinflammation in a Mouse Model of Chronic Overlapping
Pain Conditions. J Pain. 2018 Jul 4. pii: S1526-5900(18)30305-5. doi:
10.1016/j.jpain.2018.05.013. . Disponível em:
<https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1526590018303055?via%3Dihub>.
Acesso em: 12 jul. 2018.
KISNER, Carolyn; COLBY, Lynn Allen. A coluna: intervenção com exercícios para o
pescoço e o tronco. In: Exercícios Terapêuticos Fundamentos e Técnicas. 4 ed.
Barueri, Manole, 2005, cap. 16; p. 649-676.
KORELO, R.I.G; RAGASSON, C.A.P; LERNER, C.E; DE MORAIS, J.C; COSSA, J.B.N;
KRAUCZUK, C. Krauczuk. Efeito de um programa cinesioterapêutico de grupo, aliado à
escola de postura, na lombalgia crônica. Fisioter. mov. 2013, Curitiba , v. 26, n. 2, Jun.
Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/fm/v26n2/16.pdf >. Acesso em: 29 Mar. 2018.
LIU JR, GUO YS, ZHANG RF, Li JJ, ZHANG B, JIANG XJ. Effects of health Qigong and
Baduanjin on the middle and old aged people’s blood sugar. Chin J Gerontol. 2011, n16, p.
3196- 3197. Disponível em: <
https://www.researchgate.net/publication/284045177_Effects_of_health_Qigong_and_Badua
njin_on_the_middle_and_old_aged_people's_blood_lipid >. Acesso em: 29 Mar. 2018.
MACEDO, D. D. P. Lombalgias. Cienc. Cult., v. 63, n.2, p. 42-44, 2011. Disponível em: <
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252011000200013&script=sci_arttext >.
Acesso em: 20 jan. 2018.
537
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
MEZIAT FILHO, N; SILVA, G. A. e. Invalidez por dor nas costas entre segurados da
Previdência Social do Brasil. Rev. Saúde Pública, São Paulo, jun 2011, v. 45, n. 3, p. 494-
502. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
89102011000300007 >. Acesso em: 29 Mar. 2018.
PIMENTA CAM. Escalas de avaliação de dor. In: Teixeira MD (ed). Dor conceitos
gerais. São Paulo: Limay; 1994, pp. 46-56.
QASEEM A, WILT TJ, MCLEAN RM, FORCIEA, MA. Noninvasive Treatments for Acute,
Subacute, and Chronic Low Back Pain: A Clinical Practice Guideline From the American
College of Physicians. Ann Intern Med. 2017 abr., v. 166, n. 7, p514-530. Disponível em:<
http://annals.org/aim/fullarticle/2603228/noninvasive-treatments-acute-subacute-chronic-low-
back-pain-clinical-practice>. Acesso em: 14 jan. 2019
SHIRI, Rahman, FALAH-HASSANI, Kobra. The Effect of Smoking on the Risk of Sciatica:
A Meta-analysis. The American journal of medicine. Jan. 2016, v. 129, n 1p 64 – 73, e20.
Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26403480 >. Acesso em: 29 Mar.
2018.
538
SHEILA A. SILVA
SILVSTRE, Michelli Vitória; FORTES, Alexandre Borges. Oficina de Ortopedia Clínica para
Médicos de Família: estratégia de educação permanente através do matriciamento coletivo.
Revista de Saúde Pública de Florianópolis, 2016, v.1. Disponível em:
http://moodle.saude.pmf.sc.gov.br/revista/index.php/rspf/article/view/10/23>. Acesso em: 14
Jan. 2019.
SUNG, Paul S. Disability and back muscle fatigability changes following two therapeutic
exercise interventions in participants with recurrent low back pain. MedSciMonit, Shanghai,
2013, n. 19, p. 40- 48. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23314589>.
Acesso em: 29 Mar. 2018.
Test (ASSIST): development, reliability and feasibility. Addiction 2002; v. 97p. 1183-94.
Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12199834>. Acesso em: 29 Mar.
2018.
TREEDE et al. A classification of chronic pain for ICD-11. Pain, 2015, v. 156, n. 6, p.1003-
1007. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25844555 >. Acesso em: 29
Mar. 2018.
UBERABA. Plano Municipal de saúde 2018-2021/ SMS Uberaba. Abril 2017. Disponível
em:
<http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/acervo//saude/arquivos/2017/Plano%20Municipal%20
de%20Saude%202018-2021%20aprovado%20pelo%20CMS.pdf >. Acesso em: 29 Mar.
2018.
VARELA L, OCAMPO DC, RAMÍREZ MC, RESTREPO SL, LÓPEZ MV, CAÑAVERAL
MI. Perfil de algunas condiciones psicosociales de un grupo de adultos mayores. Rev Fac
Nac Salud Pública. 2006; v. 24, n. 2, p. 37-50. Disponível em: <
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17304141>. Acesso em: 14 jan 2019.
539
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
VAISEY A. Clinical practice guidelines for the noninvasive management of low back pain: A
systematic review by the Ontario Protocol for Traffic Injury Management (OPTIMa)
Collaboration. Eur J Pain. 2017, feb, v. 21, n. 2, p. 201-216. Disponível
em:<https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ejp.931>. Acesso em: 14 jan. 2019.
YANG, Dr Jwing-Ming. Oito exercícios simples para a saúde: as oito peças do brocado. 1 ed.
YMAA publication center, 1995, 120p.
ZHENG G, CHEN B, FANG Q, et al. Primary prevention for risk factors of ischemic stroke
with Baduanjin exercise intervention in the community elder population: study protocol for a
randomized controlled trial. Trials. 2014;15: 113. doi: 10.1186/1745-6215-15-113.
Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24712684>. Acesso em: 29 Mar.
2018.
ZOU L, SASSAKI JE, WANG, H et al. A Systematic Review and Meta-Analysis Baduanjin
Qigong for Health Benefits: Randomized Controlled Trials. Evidence-Based Complementary
and Alternative Medicine, v. 2017, ID artigo 4548706, 17 p. Disponível em: <
https://www.hindawi.com/journals/ecam/2017/4548706/ >. Acesso em: 29 Mar. 2018.
540
SHEILA A. SILVA
541
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
ANAMNESE
QUEIXA PRINCIPAL:
CLASSIFICAÇÃO DA LOMBALGIA:
DOENÇAS PRÉVIAS:
EXAMES COMPLEMENTARES:
542
SHEILA A. SILVA
543
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
544
SHEILA A. SILVA
um dia de atestado e fala para procurar o ortopedista. Melhora na hora. Mas no outro dia tem que trabalhar.
Participante 2: Essa injeção Biprofenide, eu já tô cansada de tomar ela nessas UPA aí. Aí eu comecei a fazer os
acompanhamentos com o Dr. A.... F ..... lá no São Cristovão (Centro de Especialidades Municipal, Atenção
Secundária). Foi ele que pediu uma ressonância da coluna. Eu fiz essa ressonância no hospital escola. Voltei
nele de novo peguei o encaminhamento e vim até aqui pra fazer Fisioterapia. Perdi o acompanhamento com ele
(o ortopedista) porque no dia 26 de janeiro que era pra eu voltar no médico mas minha mãe faleceu. Aí eu tenho
que começar tudo de novo, pra entra traveis (retornar à Unidade de Saúde da Família, passar pelo médico da
Família para depois ser encaminhada ao ortopedista novamente). Dessa última vez eu paguei uma consulta com
o Dr. D... foi aonde ele receitou esse remédio Prefiss 75mg (Pregabalina) que eu tô tomando. Mas eu já
procurei o médico da família de novo porque ele já me dá os encaminhamento, as receita dos remédio que eu
preciso toma.
.
4. Baduanjin (Já havia feito esses exercícios? O que você acha dos exercícios? O que você acha mais difícil
neles? Você faz os exercícios em casa? Qual é seu preferido? Fale sobre esses exercícios do primeiro ao
oitavo. Você já ensinou ou falou desses exercícios para alguém?)
Participante 2: Eu já fiz uma vez. Numa clínica particular como o Dr. C (Mas ela se refere à Fisioterapia em
si). Ali na R. Capitão Domingos, já em vem desde muito tempo. Entrevistadora: Era parecido com esses
exercícios? Era diferente? Era aquele aparelho lá (Estimulação Elétrica Transcutânea - TENS), massage que as
moça mesmo fazia na gente. E aquele infravermelho, sabe? Até então eu não conseguia fazê esse de puxá
(autoalongamento de Isquiotibiais e Tríceps Sural). Aí foi melhorando. Lá era particular porque na época, eu
era casada e tinha o plano do meu marido, ele tinha o convenio do serviço dele que dava direito pras esposa. Aí
depois disso, nois separo, cabo tudo né... Aí eu comecei a fazer hidroginástica lá naquela I na R. Capitão
Domingos também. Lá era R$ 80,00 na época, aí eu pagava. Mas eu tava ficando muito, muito cansada com a
hidroginástica. Aí... eu não sei nadar tirando o medo que eu sentia. Sabe? Parei também. Entrevistadora: a
senhora parou por medo? Participante 2: não. Eu tava muito cansada. Eu tava chegando em casa e não dava
conta de fazer mais nada. Entrevistadora: E a senhora chegou a falar pra pessoa que era responsável?
Participante 2: Não. Saí assim... Também a gente vai melhorando né... (Sorri). Entrevistadora: Ah Entendi.
Participante 2: Aí a gente larga. Na hora que o bicho pega é que a gente fica doida da cabeça fazendo o que
tive que fazê.
Participante 1: Eu aqui é a primeira vez. Nunca tinha feito nem Fisioterapia nem exercício. E meu tratamento
vem lá de São Joaquim da Barra. A queimação começou aqui. Mas o problema começou lá em São Joaquim da
Barra. Lá eu nunca fiz Fisioterapia. Eu perguntei pro médico lá se podia fazer caminhada. E ele disse que não
me aconselhava. Lá eu trabalhava de varrer rua. Aí ele falou que eu tinha que procurar um serviço mais leve
porque meu braço também tava um mundo (aponta para o cotovelo direito). Passou uma injeção. Aí eu sai do
serviço e vim pra cá. E ele mandou eu continuar o tratamento aqui. Aí quando eu fui levar o resultado do
exame, ele disse que eu tava com bico de papagaio na coluna. Mas eu não achei isso no exame. Entrevistadora:
é porque no exame vem escrito osteófitos e não bico de papagaio. E no seu exame têm diversos osteófitos. Bico
de papagaio é nome popular. Participante 1: Isso é o bico de papa bico de papagaio? Participante 2: Mas a
hérnia vem. Entrevistadora: Sim. Hénia é um nome técnico. Participante 2: E o que é hérnia protusa?
Entrevistadora: Pego um papel, desenho e explico o que é hérnia protusa.
Entrevistadora: Então E o que que vocês acham desses exercícios? Podem ser bem sinceras.
Participante 2: Bom eu gostei desses exercício, igual eu te falei. Da hidroginástica eu num gostava porque eu
tava chegando muito cansada mesmo em casa que eu não tava dando conta de fazer mais nada. Corpo parece
que ficava mole sabe? Agora desse eu gosto. Num atrapalha minha vida em nada. Esse eu gostei mais.
Participante 1: Esse que eu tô fazendo, eu tô gostando. Entrevistadora: Qual é o mais gostoso? Qual a maior
dificuldade?
Participante 1: aquele de ir pra frente (6º Baduanjin) que eu não dô conta. Entrevistadora: Não. A Senhora
faz. Mas do seu jeito. Participante 1: Mais a minha vontade era de pegar lá no dedão do pé.
Participante 2: Esse é a primeira vez que eu tô fazendo, eu tô gostando. Entrevistadora: O que incomoda mais
quando vcs vão fazer eles?
Participante 1: Eu não gostava desse que ela falou; e antes, no começo aqueles de dobrar o joelho porque doía
(2º e 7º Bauanjin). Agora não doí mais. Agora o que eu mais gosto, é o que gira de um lado para o outro, parece
o bobo da corte (5º Baduanjin).
Participante 2: No começo, aquele que fazia assim ... - mostra o exercício – (1º Baduajin), dava unas pontada
que eu achava que era o rim, e agora não doí mais não. E o que eu gosto mais é esse ai que ela falou (5º
Baduanjin) e o de ficar na ponta do pé (8º Baduanjin).
Entrevistadora: Já chegaram a falar pra alguém sobre esses exercícios?
Participante 2: Pra minha menina. Entrevistadora: Já ensinaram pra alguém? Participante 1: Não. Por que eu
falo pra eles coloca a mão no pé e es faiz numa boa! E eu tenho uma dificuldade! Risos. Eu não dou conta de
fazer. Entrevistadora: Não é porque o corpo vai cedendo aos poucos e cada um tem uma experiência com o
545
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
ENTREVISTA 2
1. Conversando sobre dor (O que é dor para vocês? Onde você sente dor? Há quanto tempo? O que a dor
te impede de fazer)
Entrevistadora: Vamos lá! Primeiro eu queria saber de vocês o que que é dor pra vocês? Cês tem como definir?
Cês tem como explicar... que que a dor é pra vocês? A dor que cês sentem ou a dor que cês já sentiram?
Entrevistado 1: Ah, a dor que eu sinto é... Assim, ela me incomoda, né? Pra mim essa parte da... Eu nunca tinha
tido isso, sabe? É meio que de uns tempo pra cá, e.… é uma dor assim, sabe? É que num tá tão constante agora.
Entrevistadora: Humrrum...
Entrevistado 2: Mas é... eu num sei assim falá.
Entrevistadora: Não, é o que é pra você mesmo, é isso mesmo, você ta falando certinho.
Entrevistado 1: E... e tem ajudado bastante, assim, essas sessões que a gente ta fazendo ai. Tem melhorado.
546
SHEILA A. SILVA
Entrevistadora: Aham.
Entrevistado 1: consideradamente.
Entrevistadora: E pro senhor? Como o senhor acha que explicaria a dor? Se é que tem como explicar?
Entrevistado: É meio complicado, né? Dor não tem como explicar. Tá doendo uai, tem que acostumá, né?
Entrevistadora: tem que acostumar? Será?
Entrevistado 2: Tem, né, fazer o que?
Entrevistadora: Tenta aliviar, ué!
Entrevistado 2: É.. isso aqui é, como que fala, é... degenerativo já, ne?
Entrevistadora: Mas será que tem?
Entrevistado 2: Quando vai ficando velho, né? Ai piora.
Entrevistadora: Mas será que tem alguma dor que não tem alivio nenhum?
Entrevistado 2: É... alivia, lógico. Se oê dá uma droga, por exemplo, remédio pra num piorar né!? Aí o efeito
passa aí começa tudo de novo.
Entrevistadora: Bom ué, que tem o efeito do remédio que alivia.
Entrevistado 2: É só que cê vai ficar escravo do remédio né!?
Entrevistadora: Às vezes não...
Entrevistado 2: É por exemplo, o da pressão tem que tomá o resto da vida.
Entrevistadora: O remédio da pressão? Ah mas pressão é uma alteração né. Antes o senhor tomar um remédio
pra pressão do que o senhor ter um derrame.
Entrevistado 1: É... nesse caso ai cê tem razão. Se eu tomar remédio (não entendi)
Entrevistadora: Entendi... é... assim igual, depois o senhor falou, a dor incomoda, né. As vezes tem gente que
fala que atrapalha a fazer as coisas. E... há quanto tempo tem que cês sentem a dor, essa dor? Ou uma dor
parecida, ou...
Entrevistado 2: É, principalmente a da coluna né, também... desde 2004. De 2004 pra cá começou ai foi
piorando né.
Entrevistadora: Ah... foi um caminho, então?
Entrevistado 2: É que nessa época aparecia só o osteofito??? no Rx.
Entrevistadora: isso, isso... osteófito
Entrevistado 2: É porque foi piorando...
Entrevistadora: Entendi. Ai... pode falar
Entrevistado 1: Uai começou tem. Acho que tem um ano né. Mais ou menos um ano.
Entrevistadora: E antes então ce nunca tinha sentido dor?
Entrevistado: Não eu até fazia exercício, cê sabe né... sempre gostei de fazer. Eu tinha até uma academiazinha
lá no fundo da minha casa, sabe?
Entrevistadora: Hum...
Entrevistado 1: Uma vez um rapaz apertou lá, e ai eu comprei dele, levei lá pro fundo de casa e ficava sempre
fazendo, sabia fazer todos (exercícios), nossa... todos os exercícios! Ai eu parei, fui ficando meio que sedentário,
sabe?
Entrevistadora: Ah tá.
Entrevistado1: Ai eu comecei, eu ia pra loja, chegava lá, sentava lá, ficava sentado o dia todo e... tinha um sofá
até confortável lá e eu ficava deitado e... com a postura errada e... e ai foi dando uma dor nas costas.
Entrevistadora: Entendi...
Entrevistado 1: Assim, sabe.. e foi indo, foi indo
Entrevistadora: ai foi.. também foi piorando?
Entrevistado 1: foi piorando.
Entrevistadora: isso há mais ou menos um ano também?
Entrevistado 1: E... num sei.. Eu tenho uma impressão também que o que colaborou muito foi uma cama que eu
comprei até num comprei. Vendi a casa e mudei pro apartamento e num passava pela porta cama box, ai eu
vendi todas as cama dos quarto que era box e comprei, não. Minha sogra me deu uma de madeira, uma cama
boa um colchão bom também, sabe? Só que o colchão... que eu nunca gostei daquela cama, sempre eu falo pra
minha esposa e eu acho que o colchão tem colaborado bastante. Quando eu vou pro Goiás e durmo na casa da
minha mãe, ai já num dói tanto, nem num dói as vezes, então ai eu num sei
Entrevistaora: E num pode trocar esse colchão?
Entrevistado 1: Não. Dai eu preciso mudar de lá se mudasse o apartamento, porque num cabe, num passa na
porta
Entrevistadora: Num cabe, é eu sei como é que é. Morei em apartamento.
Entrevistado 1: Ai tinha de compra a cama de madeira, passar peça por peça, a grade.
Entrevistadora: Ela passa... ah...
Entrevistado 1: Tem que desmontá a grade todinha pra passar pela escada, dobrar. Nossa...
Entrevistadora: É difícil... já morei em apartamento também. E eu tenho um apartamento também. É, outra
547
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
coisa né, o que que essa dor, né, esse desconforto, igual ce falou assim, quando impede você de fazer?
Entrevistado 1: Ah eu me pego, assim, no meio. com coisas.. Eu no momento tô louquinho pra ir embora pros
Estados Unidos. Tem serviço prontinho lá.
Entrevistadora: Hum...
Entrevistado 1: E... e... com essa dor eu tô tentando melhorar pra mim sair daqui chegar firme lá, porque
chegar lá com dor num vai render nada.
Entrevistadora: Ai ce vai ter prejuízo, ne?
Entrevistado 1: então... vô ter prejuízo
Entrevistadora: Porque lá num tem, lá num tem... Sistema de Saúde Público. La é só privado né, tem uma
amiga nossa que tá lá.
Entrevistado 1: Mas.. mas...
Entrevistadora: Passou um perrengue...
Entrevistado 1: Passou? Mas os médicos são bons!
Entrevistadora: É, mas, quinze mil também... hahahaha foi muito bem atendida, mas depois chega a fatura né.
Complicado. E o senhor? O Que que a dor te impede de fazer?
Entrevistado 2 : Pior e que ela impede muita coisa as vezes num e o caso da gente ficar muito tempo em pé ou
continuá muito tempo sentado começa a incomodá assim tem que tá sempre sentá, levantá, deitá.
Entrevistado 1: A minha dor é igual a dele e ele num guenta fica muito tempo de pé também as vezes doi e as
vezes não. Então a dele também ta vendo aí?
Entrevistadora: Hum hum, então, mas a sua ta longe da dele
Entrevistado 1: É né.
Entrevistadora: É graças a deus
Entrevistado 1: Graças a deus. Eu falo assim
Entrevistadora: É ne?
Entrevistado 1: Na mesma região.
Entrevistadora: Isso, é a mesma, vocês todos tem dor na mesma região. Isso é algo em comum que a gente tem
ai. O que que acontece, né, igual, a dele começou igual a sua, porque ela não começa forte de uma vez, é o que
ele falou, no começo era um achado no exame pequenininho. A dor começa antes de ter achado no exame na
verdade.
Entrevistado 1: Pode ter sido por causa dos peso que eu pegava?
Entrevistadora: Se fosse pelos pesos que você pegava ela tinha começado a doer quando você fazia exercício.
Entrevistado 1: não doía nada, porque no caso dele, também, ele pegava peso, também né.
Entrevistadora: Mas era no trabalho? Era peso de trabalho ou peso de exercício igual o seu?
Entrevistado 1: Não, eu pegava peso. Ele pegava... O meu era... era... era quatro vezes na semana
Entrevistadora: isso..., mas cê fazia exercício?
Entrevistado 1: Exercício!
Entrevistadora: é diferente do peso que você imagina, por exemplo, vou te dar um exemplo, é... um estivador...
Entrevistado 2: É o seu caso né?
Entrevistadora: É que pega muito peso, muitas vezes ao dia, muitos anos na vida.
Entrevistado 2: É verdade.
Entrevistadora: E você fazer um exercício na academia igual você falou, eu sabia fazer todos, eu fazia
corretamente.... Não é seu caso.
Voltando ao estivador ... Aí imagina quando chega a esteira da estiva aquilo é correndo: Vamo! Vamo! Vamo!
Vamo esvaziar o caminhão. E tipo assim, num tem treinamento hoje em dia o pessoal que faz entrega da coca
cola e alguns estivadores ainda usam cinta, pra tentar compensar a força que ce teria que ter de abdômen. Mas
antes nem isso usava, né?!
E isso é novo, muito novo, e mesmo assim tem uns que não usam porque acham que é bobeira, então tem todas
essas coisas, são situações de pegar peso diferente, entende a diferença? Provavelmente a dor que ce
experimenta, que ce sente agora é por conta porque o que que acontece, a medida que o tempo vai passando,
os músculos da gente vão ficando fracos, aí cê parou de fazer exercício ficaram mais fracos e igual ce falou, as
posturas incorretas vão deixando algumas estruturas tensas, outras mais expostas ao risco, e aí, isso juntou
tudo.
Entrevistado 1: Da outra vez que me encaminhou pra cá, ele é o que a gente fala, doutor cavalo S, ele falou pra
mim, falou: “não, rapaz, que isso! Não, magrinho desse jeito aí, isso aí é dor lombar, pode vim daqui seis meses
cê me fala, cê pode voltar aqui. Não, num esquenta não”
Entrevistadora: É porque o que que acontece?
Entrevistado 1: E não ai ele falou de exercício, ele falou não, vai fazer exercício, pode fazer exercício a vontade.
Entrevistadora: E porque o que que acontece, o que que a gente, no modelo médico que a gente. ...no modelo de
saúde que a gente. ...que não é o SUS que ta no papel, o modelo que a gente experimenta, o que que as pessoas
acham? Principalmente os médicos. Que enquanto não dá nada no exame, cê num tem problema. Mas não é
548
SHEILA A. SILVA
porque seu exame não dá nada que você não sente dor. Dor é uma experiência subjetiva. Se você fala que tem
dor, eu não tenho como afirmar que você não tem. A dor é sua.
Entrevistado 1: É claro....
Entrevistadora: Entendeu? Eu tenho que achar formas de tratar a sua dor, mas não desqualificá-la. Entendeu?
E isso, apesar de a gente ver na faculdade, tem muita gente que ainda não trouxe isso pra vida real, então se a
gente começar a tratar a dor antes de ter achado no exame, a gente não vai ter dor igual a dele. Que ele tem
dor, é antiga e o exame é cheinho de achado agora. Igual ele falou, num é só mais um osteofito, agora tem um
monte de coisa. E aí é mais difícil de tratar, demorá mais tempo. E isso dói mais, custa mais caro pro Estado,
aposenta. Deixa a pessoa infeliz, porque ela não tem mais o mesmo vigor. Essa dor custa caro, essa dor crônica
que vai sendo empurrada, porque cê tem que trabalhar, né? Porque cê não consegue consulta médica no
horário que cê tem vago no trabalho.
2. Tratamentos prévios para dor (Como você tratou sua dor antes de chegar aqui na fisioterapia -
remédios, tratamentos alternativos?
Entrevistadora: Então que que ces fizeram antes de chegar aqui pra tratar a dor?
Entrevistado 1: Ah eu tomei alguns remédios porque eu já tinha ido no médico.
Entrevistadora: Uhum...
Entrevistado 1: Eu num sei se a coluna, eu num sei, parece que. .. A coluna aqui ó, parece que ela, como é que
fala? Esse montinho aqui atrás? Aqui assim, sabe? Perto da barriga também
Entrevistadora: Uhum...
Entrevistado 1: A coluna faz isso também?
Entrevistadora: É se tiver alguma lesão na estrutura nervosa da coluna pode fazer sim.
Entrevistado 1: Então, porque... aí eu tomava um remédio pra ... pra coluna eu ia no medico e tava doendo aqui
assim doía aqui assim. Aí eu tomava o remédio e parava a dor ... parava a dor aqui. Ai esse medico mesmo falou
que essa dor pode afetar essa região daqui também, sabe?
Entrevistadora: Uhum
Entrevistado 1: Mas que não era nada preocupante, que seria uma (não entendi)
Entrevistadora: Uhum...
Entrevistado 1: Foi isso
Entrevistadora: Uhum....E... que.. e o senhor? Como que o senhor tratou antes de chegar na fisioterapia?
Entrevistado 2: Ah só tava tomando remédio até. .. (não entendi?)
Entrevistadora: E o senhor?
Entrevistado 2: É porque... comecei a mais falar com o .... Dava o remédio ai cê tomava o remédio ....passava o
efeito, continuava.
Entrevistadora: É só que...
Entrevistado 2: Só na base de remédio
Entrevistadora: Entendi.. é.. usar chá, outras coisas?
Entrevistado 2: Não.
Entrevistadora: Exercício ce falou que já fez antes, né?
Entrevistado 1: Já. Eu morro de vontade de voltar a fazer.
Entrevistadora: Entendi. E o seu exercício antes era só o trabalho?
Entrevistado 2: Só trabalho e andar. Eu sempre gosto de andar.
Entrevistadora: Uhum
Entrevistado 2: Andar muito é ruim, mas ... mas ficar parado, igual assim no meu caso, assim, andar pouco é
ruim também.
Entrevistadora: É... eu gosto de andar também, faz bem. É ... e como que vocês fizeram, igual cê falou, você foi
no medico né? E ele te encaminhou pra fisioterapia.
3. Itinerário terapêutico (Por quais serviços passou antes de chegar aqui? (Unidade de Pronto
Atendimento - UPA, Unidade Básica de Saúde – UBS, Programa Saúde da Família – PSF, hospitais entre
outros). Você demorou ser atendido? Como chegou à fisioterapia?
549
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
4. Baduanjin (Já havia feito esses exercícios? O que você acha dos exercícios? O que você acha mais difícil
neles? Você faz os exercícios em casa? Qual é seu preferido? Fale sobre esses exercícios do primeiro ao
oitavo. Você já ensinou ou falou desses exercícios para alguém?)
Entrevistadora: E assim. .. Cês já tinham feito esses exercícios?
Entrevistado 2: Eu só vi na televisão.
Entrevistado 1: Eu nem sabia que existia. Assim eu achava que exercício de Fisioterapia era na máquina, desse
tipo sabe? Era com a máquina. Não achei que era dessa forma.
550
SHEILA A. SILVA
551
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
quando terminar a Fisioterapia. Ou a pessoa te fala e você não acredita que a dor vai voltar. Aí você para e ela
volta. Eu falo pra tudo mundo que eu dou alta que é importante continuar fazer exercício. Hoje a gente não tem
a estrutura física que necessita ter mas que eu sei, a gente exercício no (Unidade de atenção ao Idoso) UAI a
partir dos 55 anos, têm nos dois Centros Municipais Avançados de Educação (CEMEA) no Abadia e no Boa
Vista, na Praça do Quartel os cinco dias da semana, na Associação de cria dores do Zebu (ABCZ), tem no
Lions, no santa Maria, na praça Pôr do Sol e na Praça do Parque das Américas então... Têm lugares que tem
ginástica orientada. Eu geralmente falo pra todo mundo. A gente tem até essa listinha aqui (mostro afixada na
parede). Porque quando eu dou alta, geralmente todo mundo está apto a realizar exercícios. Eu oriento para
dar fluxo aos pacientes atendidos mas a pessoa não acredita que voltará a sentir dor.
Entrevistado 1: Mas eu não paro não. Eu quero voltar a fazer exercício na academia de novo. Começar a pega
leve. Eu até quero saber depois como eu faço pra voltar.
Entrevistadora: Vocês já falaram da particularidades dos exercícios. Igual... Vocês já chegaram a ensinar esses
exercícios pra alguém?
Entrevistado 1: Eu comecei a ensinar pra minha mulher, que ela tem uma dor nas costas também. E olha que
ela é nova hein!? Ela tem 34 anos e tem uma dor nas costas e de cabeça também.
Entrevistado 2: Eu ensino mais é pras minha minina né mas elas faz enfermagem. Já sabe mais que eu. Já.
Entrevistadora: Às vezes, não. E eu fui falar umas coisas pra ela e ela já sabia de tudo.
Entrevistado 1: A minha é enfermeira também mas eu ensino pra ela. Ela fez duas veiz ela fez comigo. Aí como
ela sentiu. No dia seguinte que ela fez a musculatura dela doeu. Aí ela falou assim: ah... eu não vou fazer mais
não. Invés de melhorar tá doendo mais. Mas é assim porque ela não tinha o costume.
Entrevistadora: E aí. Não sei se é o caso dela, mas a gente tem que aprender a diferenciar o que é dor no
músculo e o que é dor articular. Porque se der dor articular, realmente tem que parar. Se for uma dor
muscular Igual aquele, estica aí doi. Mas depois melhora. Aquele de subir, ela falou que a batata da perna
dela doeu.
552
SHEILA A. SILVA
0 10
Por favor, responda esse questionário. Ele foi desenvolvido para dar-nos informações sobre
como seu problema nas costas ou pernas tem afetado a sua capacidade de realizar as atividades da vida diária.
Por favor, responda a todas as seções.
ASSINALE EM CADA UMA DELAS APENAS A RESPOSTA QUE MAIS CLARAMENTE
DESCREVE A SUA CONDIÇÃO NO DIA DE HOJE.
Seção 4 – Caminhar
( ) A dor não me impede de caminhar qualquer distância.
( ) A dor me impede de caminhar mais de 1.600 metros (aproximadamente 16 quarteirões de 100 metros).
( ) A dor me impede de caminhar mais de 800 metros (aproximadamente 8 quarteirões de 100 metros).
( ) A dor me impede de caminhar mais de 400 metros (aproximadamente 4 quarteirões de 100 metros).
( ) Só consigo andar usando uma bengala ou muletas.
( ) Fico na cama a maior parte do tempo e preciso me arrastar para ir ao banheiro.
Seção 5 – Sentar
( ) Consigo sentar em qualquer tipo de cadeira durante o tempo que quiser.
( ) Consigo sentar em uma cadeira confortável durante o tempo que quiser.
( ) A dor me impede de ficar sentado por mais de 1 hora.
( ) A dor me impede de ficar sentado por mais de meia hora.
( ) A dor me impede de ficar sentado por mais de 10 minutos.
( ) A dor me impede de sentar.
Seção 6 – Ficar em Pé
( ) Consigo ficar em pé o tempo que quiser sem aumentar a dor.
( ) Consigo ficar em pé durante o tempo que quiser, mas isso aumenta a dor.
( ) A dor me impede de ficar em pé por mais de 1 hora.
( ) A dor me impede de ficar em pé por mais de meia hora.
553
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Seção 7 – Dormir
( ) Meu sono nunca é perturbado pela dor.
( ) Meu sono é ocasionalmente perturbado pela dor.
( ) Durmo menos de 6 horas por causa da dor.
( ) Durmo menos de 4 horas por causa da dor.
( ) Durmo menos de 2 horas por causa da dor.
( ) A dor me impede totalmente de dormir.
554
SHEILA A. SILVA
Seção 4 – Leitura
( ) Eu posso ler tanto quanto eu queira sem dor no meu pescoço.
( ) Eu posso ler tanto quanto eu queira com uma dor leve no meu pescoço.
( ) Eu posso ler tanto quanto eu queira com uma dor moderada no meu pescoço.
( ) Eu não posso ler tanto quanto eu queira por causa de uma dor moderada no meu
pescoço.
( ) Eu mal posso ler por causa de uma grande dor no meu pescoço.
( ) Eu não posso ler nada.
( ) 7 Pergunta não se aplica por não saber ou não poder ler
Seção 7 – Trabalho
( ) Eu posso trabalhar tanto quanto eu quiser.
( ) Eu só consigo fazer o trabalho que estou acostumado(a) a fazer.
555
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
( ) Eu consigo fazer a maior parte do trabalho que estou acostumado(a) a fazer, mas
nada além disso.
( ) Eu não consigo fazer o trabalho que estou acostumado(a) a fazer.
( ) Eu mal consigo fazer qualquer tipo de trabalho.
( ) Eu não consigo fazer nenhum tipo de trabalho
Seção 9 – Dormir
( ) Eu não tenho problemas para dormir.
( ) Meu sono é um pouco perturbado (menos de uma hora sem conseguir dormir).
( ) Meu sono é levemente perturbado (1-2 horas sem conseguir dormir).
( ) Meu sono é moderadamente perturbado (2-3 horas sem conseguir dormir).
( ) Meu sono é muito perturbado (3-5 horas sem conseguir dormir).
( ) Meu sono é completamente perturbado (1-2 horas sem sono).
Seção 10 – Diversão
( ) Eu consigo fazer todas as minhas atividades de diversão sem nenhuma dor no
pescoço.
( ) Eu consigo fazer todas as minhas atividades de diversão com alguma dor no pescoço.
( ) Eu consigo fazer a maioria, mas não todas as minhas atividades de diversão por causa da dor no meu
pescoço.
( ) Eu consigo fazer poucas das minhas atividades de diversão por causa da dor no meu pescoço.
( ) Eu mal consigo fazer quaisquer atividades de diversão por causa da dor no meu pescoço.
( ) Eu não consigo fazer nenhuma atividade de diversão.
556
SIMONE NORIA
Simone Nori
557
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
“Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer.”
Mahatma Gandhi
558
SIMONE NORIA
RESUMO
Este trabalho é um estudo de caso único realizado no CTKS _ Centro de Treinamento Kung
Fu Shao Lin e teve como objetivo descrever a participação de uma pessoa com deficiência
visual em aulas marciais de Tai Chi Chuan e Qi Gong. Nele, foram observados os efeitos dos
exercícios na construção e percepção da imagem corporal em um indivíduo com baixa visão e
como isso influencia em sua qualidade de vida, em relação à orientação, mobilidade, relações
emocionais e projeção mental na forma. Os dados coletados foram registrados em uma Ficha
de Observação e, posteriormente, aplicadas duas entrevistas: uma à praticante, a entrevista de
Qualidade de Vida _ WHOQOL_BREF e outra, formulada a partir desta, para o ambiente
familiar, social e profissional da aluna. Os dados coletados do estudo prático foram colhidos
no período de 6 meses, sendo que a aluna já possuía tempo anterior de pratica há mais de 2
anos. Nas entrevistas, ela relata as diferenças em relação ao inicio da mesma. Sendo assim, o
estudo foi baseado em dois aspectos, o antes e depois de iniciar a pratica de Tai Chi Chuan e
Qi Gong e a partir dos dados coletados observou-se que a maioria das atividades propostas
nas aulas favoreceu a aluna com baixa visão em sua vida cotidiana, melhorando a mobilidade
e orientação, respiração, percepção e relações emocionais. Houve também melhora na
interação entre familiares, amigos e trabalho. Apresentar a inclusão social de pessoas com
deficiência visual em atividades marciais, sem a necessidade de aulas exclusivas, mas com
aulas conjuntas em que praticantes e professores se beneficiam, é o principal resultado desse
trabalho.
559
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
ABSTRACT
This work is a unique case study conducted at the CTKS - Kung Fu Training Center Shao Lin
and aimed to describe the participation of a person with visually impaired in Tai Chi Chuan
and Qi Gong martial arts. In which, the effects of the exercises in the construction and
perception of the body image in an individual with low vision were observed and how this
influences in their quality of life, in relation to the orientation, mobility, emotional relations
and mental projection in the form.
The collected data were recorded in a Observation Sheet and, afterwards, two interviews were
applied: one to the practitioner, being a Quality of Life _ WHOQOL_BREF interview and
another formulated from it, for the student's family, social and professional environment. On
the other hand, the data collected from the practical study were analyzed in a period of 6
months, and the student already had previous practice time for more than 2 years, and in
interviews with her throughout the practice, she reports the differences in relation to the
beginning of the same.
Thus, the study was based on two aspects, the before and after starting the practice of Tai Chi
Chuan and Qi Gong and from the collected data it was observed that, most of the activities
proposed in the classes favored the student with low vision, in their daily lives, improving
mobility and orientation, breathing, perception and emotional relationships, where there was
improvement in the interaction between family, friends and work.
To present the social inclusion of visually impaired people in martial activities, without the
need for exclusive classes, but with joint classes where practitioners and teachers benefit.
560
Figura 31 _ Galo Dourado numa Perna Só (Jin1 Ji1 Du2 Li4) ......................................... 64
Figura 32 _ Chutar com o Calcanhar (Deng1 Jiao3) ......................................................... 65
SIMONE NORIA
Figura 33 _ Tui Shou.............................................................................................................. 66
Figura 34 _ Relatório Médico................................................................................................ 75
561
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
INTRODUÇÃO
DV (Alguma Dificuldade)
29 Milhões hab.
1
IBGE _ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Características gerais da população, religião e pessoas com
deficiência, Rio de Janeiro, RJ, 2010, p.71-80
562
SIMONE NORIA
Para Schilder2 (1994, apud Tavares, 2007, p.130), no desenvolvimento da imagem corporal, a
visão seria responsável pela estruturação das imagens mentais, baseadas em experiências
vivenciadas pelo corpo e os estímulos externos.
[...] valendo-se da recepção de informações (percepções) do mundo e dos outros e
com base nisso a formulamos. Ao mesmo tempo em que recebemos informações
“de fora” (mundo e outras pessoas), também estamos continuamente recebendo
percepções que vêm do nosso interior.
2
SCHILDER, P. A imagem do corpo: as imagens construtivas da psique. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
563
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Apesar dos indivíduos com boa visão apresentarem certo desenvolvimento no conhecimento
da imagem corporal, pouco tem sido investigado sobre como as pessoas com baixa visão,
percebem seus próprios corpos, uma vez que esses são menos susceptíveis à exposição dos
modelos corporais e toda mídia visual.
ALMEIDA3 et al. (2007, apud TAVARES, 2007, p.134), apresenta que os deficientes visuais
utilizam outros meios que não visuais para estruturar sua imagem corporal, valendo-se de
outras sensações para compreender a relação e estruturar essa imagem.
3
ALMEIDA,J.et al. Metodologia aplicada ao deficiente visual. In: Brasil. Ministério da Educação. Caderno texto do
Curso de capacitação dos professores multiplicadores em Educação Física adaptada/Secretaria de Educação Especial.
Brasília: MEC;SEESP,2002.
4
ALMEIDA,J.J.G.et al.Esportes na Natureza:possibilidades para o deficiente. In: Sociedade Brasileira de Atividade
Motora Adaptada: Temas em Educação Física adaptada/Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada.
[S.L]:SOBAMA,2001.
564
SIMONE NORIA
espacial e mobilidade, sua importância também pode ser notada nas relações sociais e afetivas
e principalmente para o auto-conceito.” NASÁRIO e ERNST5 (2011, apud EIRAS, et
al.,2012 p.95). Segundo Nasário e Ernest (2011), para construção da imagem corporal, a
visão é essencial, onde privados deste sentido, os deficientes visuais, podem de diversos
aspectos serem prejudicados e terem atraso nesta formação. Em conseqüência, geram uma
compensação pela falta total ou parcial da visão, através da utilização dos outros órgãos
sensoriais. As Artes Marciais, em específico neste estudo, o Tai Chi Chuan e Qi Gong podem
auxiliar os deficientes visuais na construção e obtenção da consciência e percepção corporal.
Dessa forma, este tema se justifica e se mostra relevante para os Instrutores de Tai Chi Chuan
e Qi Gong, que desejam trabalhar com deficientes visuais, uma vez que é essencial entender
como estes compreendem e percebem seu corpo, mente e energia e como a prática dos
exercícios marciais, podem auxiliá-los na construção dessa Imagem Corporal e assim,
melhorar sua qualidade de vida.
Na falta do sentido da visão para a definição da Imagem Corporal, o Deficiente Visual,
explora os demais sentidos na busca de conhecer e compreender a si próprio, formando, em
sua mente, a imagem subjetiva de seu corpo. (NASÁRIO e ERNEST, 2011)
Com o ritmo acelerado das grandes cidades, as pessoas estão cada vez mais desconectadas da
realidade de seu estado de consciência, onde o indivíduo não consegue perceber, visualizar,
escutar e até mesmo sentir o próprio corpo, estando muitas vezes completamente
desconectado com a realidade do seu estado corporal, emocional e mental. Por outro lado, o
deficiente visual, pela privação total ou parcial da visão, acaba desenvolvendo de forma mais
aflorada sua percepção. Com isso, buscamos responder as seguintes questões: Como o Tai
Chi Chuan e Qi Gong promovem a estimulação, capaz de provocar modificações positivas na
construção e percepção da Imagem Corporal de um deficiente visual? E como essa percepção,
associada ao movimento, ajuda no processo energético e mental, melhorando sua saúde e
qualidade de vida?
5
NASÁRIO, J. C.; ERNST, T. N. Educere _ X Congresso Nacional de Educação. Imagem Corporal e a Deficiência
Visual ,2011. Disponivel em: <http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/4333_2325.pdf>. Acesso em: 12 Março 2018.
565
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
566
SIMONE NORIA
REFERENCIAL TEÓRICO
“A eliminação dos cegos e dos considerados inválidos não se dava somente pelas
difíceis condições de vida da época. Em muitas comunidades, acreditava-se que o
indivíduo que nascia ou desenvolvia a deficiência visual estava possuído por
espíritos malignos e essa crença dificultava a relação e interação com essas pessoas,
sendo considerados objetos de temor religioso. Em outros casos, a cegueira era
considerada um castigo infligido pelos deuses sendo um estigma do pecado
cometido pelo próprio indivíduo, por seus pais, seus avós ou por algum membro da
tribo.”(MECLOY6,1974 apud FRANCO; DIAS, 2005).
“A Bíblia foi escrita por pessoas que enxergam e os textos bíblicos traduzem imagens
negativas da cegueira e da deficiência.” (HULL7, 2000 apud MOTTA, 2008). Segundo Motta
(2008), na descrição bíblica, onde Deus é representado pela luz ou claridade, o deficiente
visual é visto como escuridão e pecado, considerado a ausência de Deus, sendo a cegueira
símbolo da ignorância, pecado e falta de fé, e ainda, um castigo dos céus. Nos textos bíblicos,
a chamada “cura” dos cegos, está relacionada à confissão e remissão dos pecados.
Para os hebreus, o deficiente físico, visual, entre outros, era indigno, com poderes
demoníacos, cujas marcas corporais expressavam as impurezas e pecados. (BENAZZI, 2015).
Conforme Motta (2008), na antiguidade, o Egito era intitulado como o país dos cegos, que
devido ao clima quente e à poeira, tinha uma alta incidência de cegueira. Os médicos
tornaram-se famosos na região mediterrânea por cuidarem da visão e várias doenças nos
olhos.
6
MECLOY, E. P. Psicologia de la ceguera. Madrid: Editorial Fragua, 1974.
7
HULL,J. 2000. Blindness and the Face of God: Toward a Theology of Disability. In Hans-gerg Ziebertz et all (eds)
The Human Image of God (Johannes A.Van Der Ven Festschrift) Leiden, Brill, p 21-229.
567
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
O antigo Egito era uma terra onde a deficiência física parece ter sido bastante
natural. Pelo menos há registros dessa anomalia, que inclusive chama o país dos
egípcios de “Terra dos Cegos”, em virtude da grande quantidade de pessoas
acometidas por doenças oftalmológicas, que hoje seriam identificadas como
conjuntivite, catarata e glaucoma. Essas informações constam de um papiro datado
de 1500 a. C. descoberto pelo egiptólogo Georg Ebers. (RECANTO DAS LETRAS,
2017).
Para Lowenfeld8 et al., (1974 apud FRANCO e DIAS, 2005), as pessoas que por alguma
razão não se encaixavam nos padrões como dito normais, tais como velhos, doentes e
deficientes, eram tratadas ou com tolerância e apoio ou menosprezo e eliminação. Na Grécia,
em Atenas, crianças que nasciam com algum tipo de deficiência eram abandonados em
vasilhas de argila. Em Esparta, as crianças com algum tipo de deficiência eram consideradas
sub-humanas e como tais, abandonadas ou eliminadas.
Segundo Benazzi (2015), na Grécia Antiga, Homero, o grande trovador cego da época, que
recitava versos pela cidade, acabou morrendo na miséria. Ao mesmo tempo em que a ausência
da visão, manifestava uma conotação negativa, com sacrilégios e adultérios, para os gregos,
algumas pessoas cegas, eram veneradas como profetas, onde o desenvolvimento dos outros
sentidos era considerado milagroso. Em Roma, por volta de 753 a.C., o procedimento mais
comum era o de eliminação do cego. “O patriarca de uma família tinha o direito de matar um
filho nascido disforme ou com alguma anomalia, conforme as Leis das Doze Tábuas”
(VASSEUR e NORA, 2012, pag.3). Conforme Benazzi (2015), haviam cegos de toda
natureza e alguns tornaram-se pessoas letradas, filósofos, advogados, músicos e poetas, como
Cícero, orador e escritor romano, aprendeu filosofia e geometria com um tutor cego chamado
Diodotus. Porém, a grande maioria vivia na mais completa pobreza, recebendo alimentos e
roupas como esmola. Nessa época, os mais afetados eram as crianças, sendo os meninos
usados como escravos e as meninas como prostitutas.
“Na Idade Média, a cegueira era utilizada como castigo ou ato de vingança, como pena
judicial, aplicada como castigo para crimes nos quais havia participação dos olhos, como
crimes contra a divindade e faltas graves às leis de matrimônio.” (MECLOY9 et al., 1974
apud FRANCO e DIAS, 2005)
No século V, com a preocupação social religiosa em relação aos deficientes visuais, parece ter
sido fundada a primeira comunidade para cegos, por São Lineu, na França. “No século XI, no
Ocidente, Guilherme, o Conquistador, criou quatro hospitais para cegos, tendo como objetivo
expiar o pecado de ter se casado com uma parente.” (BENAZZI, 2015).
8
LOWENFELD, B. The visually handicapped child in school. London: Constanble, 1974.
9
MECLOY, E. P. Psicologia de la ceguera. Madrid: Editorial Fragua, 1974.
568
SIMONE NORIA
Pintura executada em tinta sobre tela de linho, medindo 86 cm × 154 cm, do artista holandês renascentista
Pieter Bruegel, concluída em 1568. Descreve a parábola bíblica dos “cegos guiando os cegos” do
Evangelho de Mateus 15:14 e está na coleção do Museo di Capodimonte_ Nápoles, Itália. (Fonte:
WIKIPÉDIA10, 2018 _ The Blind Leading the Blind)
Na Idade Média, mais atenção foi dada às pessoas pobres e com deficiência,
principalmente devido à lei _ “The Poor Law Act”, lavrada em 1601, que
mencionava, explicitamente, os pobres, os incapazes e os cegos, prevendo abrigo e
suporte para estas pessoas. Desta data em diante e por mais uns duzentos anos, os
cegos viveram em suas casas ou em instituições, os chamados “asylums”, contando
com algum suporte dos governantes. (MOTTA, 2008)
10
WIKIPÉDIA. Wikipédia _ The Blind Leading the Blind, 2018. Disponível em:
<https://en.wikipedia.org/wiki/The_blind_leading_the_blind>. Acesso em: 12 Maio 2018
11
MECLOY, E. P. Psicologia de la ceguera. Madrid: Editorial Fragua, 1974.
569
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
O conceito da cegueira para o oriente não tinha o mesmo significado do ocidente. Segundo
Motta (2008), na China a deficiência visual era comum entre os moradores do deserto.
Exercitar os ouvidos e a memória através da música era um recurso para os cegos ganharem a
vida. Já os japoneses, construíram uma atitude mais positiva em relação ao deficiente visual,
onde além da música, poesia e religião, a massagem terapêutica foi encorajada, enfatizando a
independência e auto-ajuda. Como contadores de história e historiadores, os cegos
memorizaram os anais do Império, os feitos dos grandes homens e das famílias tradicionais,
perpetuando as tradições.
Segundo Amiralian12 et al. (1986, apud FRANCO e DIAS, 2005), os avanços da área médica
proporcionaram o inicio de atendimentos voltados aos deficientes, no entanto, limitando-se às
deficiências sensoriais.
Posteriormente, com esse avanço, foi inaugurada no ano de 1784 na França, a primeira escola
para cegos do mundo, “O Instituto Real dos Jovens Cegos” foi fundado por Valentin Hauy,
que adaptou os caracteres comuns, criando linhas em alto relevo. A partir desse sistema, mais
tarde, em 1829, surgiria o Sistema Braille (LOWENFELD13 et al. 1974, apud FRANCO e
DIAS, 2005).
Introduzido no Brasil em 1854, o sistema de escrita em alto relevo Braille, facilitou a
alfabetização de deficientes visuais. “Mesmo com a resistência de alguns países em adotá-lo,
o Braille se mostrou o melhor sistema de leitura e escrita para cegos.” (VASSEUR e NORA,
2012, p.4). Segundo Vasseur e Nora (2012), somente com a atenção da (ONU) Organização
das Nações Unidas, que os Estados e a sociedade passaram a dar a devida atenção ao assunto
e com o passar dos anos foram criadas leis que permitiam pessoas cegas terem acesso ao
estudo e ao trabalho.
Assim, cada vez mais, nota-se um crescimento dos direitos das pessoas com
necessidades especiais. Isso pode ser percebido pela criação do Conselho Nacional
dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (CONADE) em 1999, e também,
pela autorização da entrada e permanência de cães-guia em locais de uso coletivo e
no transporte público, conforme Lei nº 11.126/05. Outro grande avanço ocorreu na
área da comunicação quando, em 1997, os Correios passaram a transcrever o Braille
para a escrita comum e vice-versa. (VASSEUR e NORA, 2012, p.4)
12
AMIRALIAN, M. L. T. M. Psicologia do excepcional. São Paulo: EPU, 1986.
13
LOWENFELD, B. The visually handicapped child in school. London: Constanble, 1974.
570
SIMONE NORIA
A DV _ Deficiência Visual pode ser definida como uma incapacidade visual total (cegueira),
ou ainda, a presença de certa capacidade visual (baixa visão).
“Para considerar uma pessoa cega, dois fatores devem ser analisados: a acuidade visual, isto é,
o que a pessoa enxerga à determina distância, e o campo visual, que é amplitude da área
alcançada pela visão.” (SANTOS, 2018)
Devemos considerar como cegueira parcial ou total:
Os indivíduos com cegueira total possuem uma perda completa da visão, onde não possuem a
percepção luminosa, condição essa,chamada de amaurose.
De acordo com o Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989,
a cegueira é definida como uma deficiência visual “na qual a acuidade visual é igual ou menor
que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica”. (PLANALTO, PRESIDÊNCIA DA
REPÚBLICA15 1999, apud SANTOS, 2018)
14
CBO_ Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 2018. Disponível em: https://www.cbo.net.br/novo/publico-
geral/index.php>. Acesso em: 12 Maio 2018
15
PLANALTO, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA,1999. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3298.htm> Acesso em: 12 Maio 2018
571
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
o que em alguns casos, pode ser traumático. Já as pessoas com cegueira desenvolvida
possuem a chamada memória visual, onde conseguem lembrar-se de imagens e cores, o que
facilita muito a adaptação ao nosso estilo de vida, o que não ocorre com os cegos de
nascimento. (CBO_ Conselho Brasileiro de Oftalmologia16,2018 apud SANTOS, 2018).
O apoio e incentivo familiar é fundamental aos portadores de DV _ Deficiência Visual, onde
o papel da família é promover autonomia e independência e não impor limites que acabam por
tornar o indivíduo dependente e inseguro. As atividades, cursos e o aprendizado é
fundamental para a qualidade de vida destes.
A ciência está comprovando o que os praticantes de Tai Chi sabem há séculos, que a pratica
do Tai Chi aumenta o vigor, a energia, a flexibilidade e a sensação de bem-estar, melhora o
equilíbrio e a mobilidade, tendo um impacto positivo nos ossos, nervos, músculos, sistema
imunológico e da mente. Em um nível mais sutil, o Tai Chi sensibiliza e integra ao ambiente
social e físico; no nível interpessoal, estar sintonizado com outras pessoas no seu ambiente
social, ajudará a aprender, interpretar e reagir adequadamente; integração interna/externa; se
tornar extremamente sensível aos movimentos do adversário. (WAYNE e FUERST, 2016,
p.20).
O Tai Chi tem múltiplos componentes, muitos ingredientes físicos, cognitivos e psicossociais.
Sendo uma arte marcial, o Tai Chi combina movimentos lentos intencionais, respiração e
habilidades cognitivas (atenção plena e imaginação), ainda fortalece, relaxa, integra corpo e
mente, aumenta o fluxo natural de Qi, melhora a saúde, contribui para o desenvolvimento
pessoal e aumenta a autoconfiança. (WAYNE e FUERST, 2016, p.31)
Na história antiga encontram-se diversos relatos da influência das Artes de Cura, o Tai Chi e o
Qi Gong, onde a MTC inclui prescrições de exercícios e mudança de estilo de vida, bem
como ervas, dieta, acupuntura, massagem e outras modalidades para saúde e longevidade. O
objetivo fundamental dos exercícios, assim como da MTC é aumentar e equilibrar
acirculação de Qi entre os sistemas orgânicos e em todo corpo. Para um praticante de arte
marcial, o corpo e mente sãos, é um objetivo a ser alcançado, reconhecendo, valorizando e
enfatizando o desenvolvimento interior, associado com a filosofia e estilo de vida saudável.
(WAYNE e FUERST, 2016, p. 39)
16
CBO_ Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 2018. Disponível em: https://www.cbo.net.br/novo/publico-
geral/index.php>. Acesso em: 12 Maio 2018
572
SIMONE NORIA
[...] LaoTzu escreveu: “No mundo inteiro não há nada mais fluido do que a água. No
entanto, para atacar o que é duro nada se iguala a ela. A fraqueza vence a força; a
suavidade vence a dureza.” [...] “Quem conhece os outros é inteligente; quem
conhece a si mesmo é sábio. Quem vence os outros é forte; quem vence a si mesmo
é poderoso”. (WAYNE e FUERST, 2016, p. 41)
Um fator muito importante para o Tai Chi no Ocidente é sua interface com a ciência
biomédica. O primeiro estudo publicado em 1987, avaliou o Tai Chi em relação ao equilíbrio
e à amplitude de movimentos de adultos mais velhos. Desde essa época, já foram publicados
mais de 700 trabalhos sobre o tema, onde pesquisas fornecem provas contundentes, mas em
muitos casos ainda não definitivas, de que o Tai Chi Chuan pode melhorar o equilíbrio, saúde
cardiovascular, sistema imunológico, sono, bem-estar psicológico e outras dimensões da
saúde. Começam a caracterizar os mecanismos psicológicos que estão por traz dos efeitos
clínicos observados, mudando a percepção dos ocidentais em relação ao Tai Chi. (WAYNE e
FUERST, 2016, p.45)
17
MENDES,E.G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Revista Brasileira de Educação, V.11 n.33
set./dez. 2006.
18
MENDES,E.G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Revista Brasileira de Educação, V.11 n.33
set./dez. 2006.
573
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Depois da formalização da consciência em relação às pessoas com deficiência, que antes eram
restritas à caridade e a políticas de assistência, e depois foram em direção às conquistas no
universo da política e da luta por seus direitos, criou-se na década de 1970, o ambiente que
resultaria no ‘movimento político das pessoas com deficiência’. “Nessa época, surgiram as
primeiras organizações compostas e dirigidas por pessoas com deficiência contrapondo-se às
associações que prestavam serviços a este público” (JÚNIOR, 2010). Segundo Júnior (2010),
as primeiras organizações associativistas de pessoas com deficiência eram iniciativas que
visavam o auxílio mútuo e não possuíam objetivo político definido, não tinham sede própria,
estatuto ou qualquer outro elemento formal e essa aproximação estimulou um processo da
ação política em prol de seus direitos humanos.
No final dos anos 1970, o movimento ganhou visibilidade, e, a partir daí, as pessoas
com deficiência tornaram-se ativos agentes políticos na busca por transformação da
sociedade. O desejo de serem protagonistas políticos motivou uma mobilização
nacional. Essa história alimentou-se da conjuntura da época: o regime militar, o
processo de redemocratização brasileira e a promulgação, pela ONU, em 1981, do
Ano Internacional das Pessoas Deficientes (AIPD). (JÚNIOR, 2010)
574
SIMONE NORIA
575
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
com segurança e o melhor grau de independência possível, ela garante a inclusão em todos os
ambientes necessários para qualquer indivíduo, onde não basta apenas uma estrutura física
adequada, mas também o uso correto dela, respeitando as diferenças e possibilidades de cada
um. (FURRER, 2011)
O Símbolo Internacional de Acessibilidade em edificações, mobiliários, espaços e
equipamentos urbanos, podem ser representados conforme (Figura 4), e devem sempre estar
voltado para o lado direito. Segundo a (ABNT NBR 9050:2004), esta representação indica
que os serviços, espaços, edificações, mobiliário e equipamentos urbanos são acessíveis a
pessoas com deficiência (auditivos, visuais e cadeirantes) ou com mobilidade reduzida
(idosos, gestantes e obesos). Desmitificando a idéia de que o símbolo de
acessibilidade representa apenas os cadeirantes. (FURRER, 2011)
576
SIMONE NORIA
Figura 6. Pessoa com deficiência visual acompanhada de cão-guia e Pessoa com deficiência
visual (cego, baixa visão)
577
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
578
SIMONE NORIA
marco social, político e histórico, com a participação da sociedade civil e do poder público,
colaborando para a estruturação de um modelo de gestão participativa das políticas sociais
destinadas às pessoas com deficiência. (MARIANO, CUNHA et al, 2017).
Sendo um espaço democrático de participação popular, a II Conferência foi embasada na
igualdade e no direito à cidadania, afirmando a solidariedade social e a responsabilidade no
processo de construção e monitoramento das políticas públicas, que além das conquistas no
âmbito jurídico, foi desenvolvendo ações para transformar o modelo assistencialista em que as
pessoas com deficiência passam a exercer a posição principal de sua emancipação e
cidadania. (HUMANOS, 2012, p.29)
A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU, foi aprovada
em julho de 2008 pelo Decreto Legislativo nº186, e promulgada pelo Decreto nº
6.949, de 25 de agosto de 2009, com equivalência de emenda constitucional, um
marco extremamente relevante para o movimento das pessoas com deficiência.
(HUMANOS, 2012, p.20)
19
Portal da RMC _ SUS para a oferecer 29 terapias alternativas como acupuntura, tai chi chuan, yoga entre
outras;, 2018. Disponivel em: <http://www.portaldarmc.com.br/saude/2018/03/sus-para-a-oferecer-29-terapias-
alternativas-como-acupuntura-taichi-chuan-yoga-entre-outras-veja-todas-as-opcoes/>. Acesso em: 26 Agosto 2018.
579
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Figura 8. Bengala
Figura 9. Assinador
O assinador é um aparelho utilizado como guia, para que o deficiente visual possa escrever o
20
ESPERANÇA, F. B. Intervox. BLOG _ COISAS DE CEGO, 2001. Disponivel em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm>. Acesso em: 12 maio 2018.
580
SIMONE NORIA
próprio nome, assinar cheques, e outras atividades que a escrita é necessária. Com treino, a
pessoa cega pode escrever normalmente. (ESPERANÇA, 2001, apud REMUS, 2008)
Muito utilizado no Japão pelas escolas, casas comerciais e engenheiros, como máquina de
calcular de grande rapidez, o Sorobã é um aparelho de cálculo sendo um método ideal para
deficientes visuais. Com alguma habilidade o deficiente visual pode escrever números no
sorobã com muita velocidade e agilidade. (ESPERANÇA, 2001, apud REMUS, 2008)
21
ESPERANÇA, F. B. Intervox. BLOG _ COISAS DE CEGO, 2001. Disponivel em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm>. Acesso em: 12 maio 2018.
581
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Existem vários jogos adaptados: baralho, xadrez, dama, jogo da velha e ainda, jogos feitos em
computadores, como: jogo da forca, memória e outros. Existem jogos que não precisam ser
adaptados, como o dominó. Nos esportes, exemplo do futebol, as bolas são adaptadas com
guizos e através do som, os deficientes visuais totais, sabem encontrá-la. (ESPERANÇA22,
2001, apud REMUS, 2008)
Segundo Esperança (2001, apud REMUS, 2008), em 1825 com apenas 15 anos, Louis Braille
que também era cego, inventou o sistema Braille que é conhecido como um meio de escrita e
leitura utilizado por pessoas deficientes visuais.
22
ESPERANÇA, F. B. Intervox. BLOG _ COISAS DE CEGO, 2001. Disponivel em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm>. Acesso em: 12 maio 2018.
582
SIMONE NORIA
Outra maneira são as máquinas de datilografia, onde o trabalho se torna muito mais rápido
que na reglete. Com o avanço da informática, foi possível a impressão do braille e de gráficos
com ótima qualidade, através de impressoras especiais. Os livros são produzidos em grandes
gráficas informatizadas.
23
ESPERANÇA, F. B. Intervox. BLOG _ COISAS DE CEGO, 2001. Disponivel em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm>. Acesso em: 12 maio 2018.
583
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Nos anos 90, com o surgimento de novas tecnologias voltadas para as pessoas com algum tipo
de deficiência visual, caracterizou-se um enorme avanço no desenvolvimento de vários
sofwares, com funções variadas.
Entre estes estão o JAWS criado nos Estados Unidos em 1989, para leitura de tela, com
recursos e ferramentas com tradução para diversos idiomas, inclusive para o português; O
DOSVOX criado em 1990, pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, com ferramentas e aplicativos próprios além de agenda, chat e jogos
interativos; O VIRTUAL VISION criado em 1998, é um software brasileiro desenvolvido
pela Micropower, em São Paulo, auxilia as operações dos utilitários e as ferramentas do
ambiente Windows; o NVDA, que traduzido do Inglês significa "Acesso Não-Visual ao
Ambiente de Trabalho", criado em 2006 pelo australiano conhecido como Mick, Michael
Curran, sendo um software Livre, com leitor de tela para Windows. “Mick e alguns
conhecidos fundaram recentemente a NV Access (Acesso Não Visual), organização não-
governamental sem fins lucrativos, destinada a desenvolver projetos e tecnologias livres que
facilitem a acessibilidade para pessoas cegas e de baixa visão.” (ESPERANÇA24, 2001, apud
REMUS, 2008)
A adaptação aos novos instrumentos e tecnologias, cada vez mais desenvolvidas para atender
os deficientes visuais, facilitaram e melhoraram o desempenho para o trabalho e
desenvolvimento pessoal desses indivíduos.
Segundo IG_Último Minuto (2013), a Fundação Dorina Nowill para Cegos distribui
gratuitamente para deficientes visuais, 1.400 escolas, associações e bibliotecas, livros em
Braille, digitais e falados produzidos na própria fundação. Também existem outros serviços
especializados para deficientes visuais de todas as faixas etárias, onde o trabalho desenvolvido
engloba as áreas de serviço social, psicologia, pedagogia, fisioterapia, educação de orientação
e mobilidade, terapia ocupacional e oftalmológica.
24
ESPERANÇA, F. B. Intervox. BLOG _ COISAS DE CEGO, 2001. Disponivel em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm>. Acesso em: 12 maio 2018.
584
SIMONE NORIA
585
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
ATENDE +
O Serviço de Atendimento Especial foi criado por meio do decreto nº 36.071 de 09 de maio
de 1996 e atualmente regido pela Lei Municipal nº 16.337, de 30 de dezembro de 2015. É
uma modalidade de transporte gratuito, feito porta a porta, para as pessoas com necessidades
especiais, sendo físicas, motoras, visuais, auditivas, entre outras. Oferecido pela Prefeitura do
Município de São Paulo e gerenciado pela São Paulo Transporte S.A., sendo operado pelas
empresas de transporte coletivo do município de São Paulo e cooperativa de táxis acessíveis.
(SPTRANS, 1996)
ACESSIBILIDADE PARA VIAGENS _ Desde 2013 foi regulamentada uma lei pela
ANTT_ Agencia Nacional de Transportes Terrestres, onde as empresas que fazem rotas
interestaduais e internacionais devem estar adaptadas para o transporte de pessoas com algum
tipo de deficiência. A pessoa com deficiência visual, que necessita de um cão-guia, tem
assegurado o direito de embarque sem quaisquer ônus na passagem. Também, é exigido pela
586
SIMONE NORIA
ANTT, que os funcionários sejam treinados no auxilio as pessoas com deficiência, tanto no
embarque como desembarque. (BLOG_GUICHÊ VIRTUAL25, 2018)
25
BLOG_ GUICHÊ VIRTUAL _ Passageiros com Deficiência, 2018. Disponivel em:
<https://www.guichevirtual.com.br/blog/passageiros-com-deficiencia/>. Acesso em: 30 Junho 2018.
26
G1_Globo.com _ Aplicativo ajuda os Deficientes Visuais a usarem o Transporte Público em São Paulo, 2015. Disponivel
em: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/09/aplicativo-ajuda-deficientes-visuais-usarem-o-transporte-publico-em-
sp.html>. Acesso em: 30 Junho 2018.
587
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
27
PRÁTICA, A. N. Acessibilidade na Prática _ Wearables promovem acessibilidade a deficientes visuais, 2015. Disponivel
em: <http://www.acessibilidadenapratica.com.br/textos/wearables-promovem-acessibilidade-a-deficientes-visuais/>. Acesso
em: 30 Junho 2018.
588
SIMONE NORIA
CELULAR BRAILLE _Em 2014, foi lançado no Reino Unido, o primeiro Smartphone com
leitura em Braille, que possui letras em alto relevo e impresso em 3D. (BARROS, 2014)
Fonte: BOTELHO,2018
589
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
[...] tecnologia capaz de “ler” placas de rua, livros, revistas, telas de smartphones,
itens de um cardápio e, assim, oferecer independência aos quase 7 milhões de
brasileiros com deficiência visual já é possível. [...] OrCamMyEye: um dispositivo
de visão artificial disponível há quase seis meses no país. Desenvolvido pelos
israelenses Amnon Shashua, professor da Universidade de Jerusalém e por Ziv
Aviram, empreendedor, a tecnologia é capaz de detectar todo e qualquer tipo de
objeto no campo de visão de uma micro câmera. (BOTELHO,2018)
Fundamento Teórico
A Imagem Corporal
Segundo Palazzo (2016), a IC _Imagem Corporal é a percepção que o indivíduo tem do seu
próprio corpo e os pensamentos e sentimentos que resultam desta percepção, podem ser
positivos, negativos ou ambos, sendo influenciados por fatores individuais, sociais e
ambientais.
A imagem corporal pode ser definida como a formação multidimensional que
envolve a percepção corporal, o desenho que uma pessoa tem em sua mente em
relação ao tamanho, imagem e formas corporais, juntamente com os sentimentos que
ela possui em relação a isso .(SCHERER, MARTINS et al., 2010)
Segundo Tavares (2003), devemos ampliar nossa visão sobre esse assunto tão complexo,
abrindo um leque com novas possibilidades de intervenções e compreensão do ser humano
28
SCHILDER,Paul. A Imagem do corpo _ As energias construtivas da psique. São paulo, Martins Fontes, 1994.
590
SIMONE NORIA
como um todo. Segundo entrevista de Morin29 (2017, apud RANGEL, 2017), surge a ideia de
uma nova concepção do próprio conhecimento, no qual é uma tradução de todos os estímulos
que chegam à nossa retina.
“ A crise no ensino surge por conta da ausência dessas matérias que são importantes
ao viver. Ensinamos apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas
ele também precisa se adaptar aos fatos e a si mesmo” (MORIN, 2014 apud
RANGEL, 2017)” “[...] fazer uma intervenção com o objetivo de “desenvolver a
imagem corporal” ou “melhorar a imagem corporal”, constatar que uma pessoa com
alguma doença ou deficiência apresenta “alteração ou distúrbio de imagem corporal”
ou, ainda, fazer a avaliação para “verificar a imagem corporal” de um paciente ou de
um aluno a fim de subsidiar uma proposta de tratamento ou ação pedagógica [...]”
(TAVARES, 2003, p.39)
29
EDGAR MORIN: É PRECISO EDUCAR OS EDUCADORES, 2017. Disponível em: PRÁTICA, A. N. Acessibilidade
na Prática. Acessibilidade na Prática _ Wearables promovem acessibilidade a deficientes visuais, 2015.
<http://www.acessibilidadenapratica.com.br/textos/wearables-promovem-acessibilidade-a-deficientes-visuais/>. Acesso em:
30 Junho 2018.
30
MORGADO, Fabiane Frota da Rocha et al. Imagem corporal do deficiente visual: um estudo de revisão. In: SIMPÓSIO
591
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
ERNST, 2011, p.263), “Os cegos são capazes de formular sua imagem corporal, pois o fator
preponderante não é a função específica do estímulo visual, mas a organização de outras vias
sensórias – táteis, cinestésicos, auditivos entre outros”.
Duarte31 (2007, apud TAVARES, 2007, p. 17) nos faz compreender de forma anatômica e
funcional, os conceitos relacionados ao sistema nervoso e os mecanismos neurais envolvidos.
Com aspectos gerais do sistema nervoso, sensibilidade e percepção, motricidade,
comportamento emocional, áreas corticais e imagem mental que sejam pontuais e
relacionados a imagem corporal.
O sistema nervoso tem papel fundamental, pois possui mecanismos para perceber as variações
de energia externas e internas do organismo. Variações energéticas como luz, som, calor,
frio, alteração do O2 no sangue são estímulos, que na maioria das vezes causam respostas
motoras dos músculos e glândulas, gerando alterações no potencial elétrico dos receptores
nervosos (impulso), onde recebemos, processamos e enviamos informações essenciais ao
592
SIMONE NORIA
Segundo Brandão33 (1995, apud TAVARES, 2007, p. 28), a sensação pode ser o resultado da
atividade de receptores sensoriais com a identificação e reconhecimento do objeto, enquanto a
percepção é o resultado final, quando as imagens surgem sem a presença do mesmo. “As
imagens mentais só são acessíveis aos organismos que as possuem”, ou seja, as experiências
individuais que são intransferíveis. (DAMÁSIO34, 1999 apud TAVARES, 2007, p. 28)
“A palavra imagem não se refere apenas à imagem ‘visual’, e também não há nada
de estático nas imagens. A palavra também se refere a imagens sonoras, como as
causadas pela música e pelo vento, e às imagens sômato-sensitivas.” (DAMÁSIO,
1999 apud TAVARES, 2007, p. 36)
32
DUARTE, Edison. Mestre em Biologia e Patologia Buco-Dental. Doutor em Anatomia Humana_ USP. Docente do
Departamento de Atividade Motora Adaptada e do programa de Pós Graduação _ FEF/UNICAMP, 2007.
33
BRANDÃO,L.M. Psicofisiologia. São Paulo:Atheneu, 1995.
34
DAMÁSIO,A. O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
593
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
nos diferentes objetos. (TAVARES; CATUSSO, 2007, p.69). Antonio Damásio35 (1996, apud
TAVARES e CATUSSO, 2007, p.71), apresenta avanços da neurofisiologia em relação as
imagens mentais, consciência, emoções e sentimentos. Sendo dois aspectos fundamentais: A)
as imagens são singulares, particulares de cada sujeito, elas refletem a interação entre o
organismo e o ambiente; B) a consciência e a self, onde a representação do próprio corpo é a
base para todas as representações mentais.
[...] o componente da consciência que tem a ver com a self, fornece a mente uma
orientação. O self introduz na mente a noção de que todas as atividades aí
representadas correspondem a um organismo singular cujas necessidades de auto-
preservação são a causa principal daquilo que está sendo representado. O self
orienta o processo mental do planejamento de forma a satisfazer essas
necessidades.”
Françoise Dolto (2001), também contribui com grande importância no estudo da imagem
corporal, aprofundando conceitos de aspectos da imagem corporal, noção dos aspectos
simbólicos, conexões dos aspectos inconscientes da imagem corporal às primeiras relações
objetais e funcionamento biológico, apontando o narcisismo como elemento pra sua
estruturação. (DOLTO36, 2001 apud TAVARES e CATUSSO, 2007, p.72)
Quero dar a entender que o sujeito inconsciente desejante em relação ao corpo existe
desde a concepção. A imagem do corpo é, a cada momento, memória inconsciente
de todo o vivido relacional e, ao mesmo tempo, ela é atual, viva, em situação
dinâmica, simultaneamente narcísica e inter-relacional: camuflável ou atualizável na
relação aqui e agora, por qualquer expressão “linguageira”, desenho, modelagem,
invenção musical, plástica, assim como mímica e gestos. (DOLTO37, 2015, p.15)
35
DAMÁSIO,A. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das letras, 1996.
36
DOLTO,F. A imagem inconsciente do corpo. São Paulo: Perpectiva, 2001.
37
DOLTO,F. A imagem inconsciente do corpo. São Paulo: Perpectiva, 3ª Edição, 2015.
594
SIMONE NORIA
externo; C) Definição e coesão do eu corporal como base da consciência do eu, onde a criança
já se reconhece e traz autonomia com a capacidade de dizer “não”, tendo assim, um senso de
identidade, com uma representação mental coesa e integrada ao corpo. (KRUEGER38, 1990
apud TAVARES e CATUSSO, 2007, p.76)
Olivier (1995), conclui que esquema corporal é relacionado a questões neurológicas e imagem
corporal está ligada a psicologia e psiquiatria. Por sua vez, Françoise Dolto (2001), distingue
o esquema corporal ao nosso viver carnal no contato com o mundo físico e a imagem corporal
inconsciente e a encarnação simbólica. Paul Schilder (1999), traz a imagem corporal como
parte do nosso aspecto fisiológico e psicológico, como uma figuração do nosso corpo formada
em nossa mente. Duran (1997), refere-se a imagem corporal como auto-conceito e que essas
equivalem-se, como representação do corpo na nossa mente, ou o modo como o corpo
apresenta-se para nós. (TURTELLI e TAVARES, 2007, p.83). Segundo, ALMEIDA39 et al.
(2001, apud Tavares 2007, p. 129), destaca-se a importância da visão para o desenvolvimento
da imagem corporal, e como as implicações da ausência ou limitações desta influenciam sua
imagem. Para Cobo (2003), a visão é de grande relevância para o movimento, onde quando
crianças, a formação do “eu” gera a interação com o mundo, sua ausência ou limitação,
implica em uma privação sensorial. Mas para continuar, devemos entender o conceito de
deficiência visual: perdas visuais parciais ou totais, sendo que o deficiente visual é uma
pessoa normal apresentando um déficit visual que pode variar desde a total incapacidade
visual até a redução da mesma, podendo ser congênitas ou adquiridas. Com o déficit visual,
onde há uma limitação na capacidade visual, podemos observar principalmente a redução nas
experiências vivenciadas e isso leva a uma severa redução nas informações recebidas e
oportunidades de vivências corporais, levando também, um possível atraso no
desenvolvimento motor.
A movimentação ampla do corpo é essencial para o desenvolvimento da imagem
corporal do deficiente visual, visto que por meio dos estímulos cinestésicos há
estruturação do conhecimento de seu corpo. Schilder (1994) afirma que cegos
utilizam-se de movimentos musculares para localização de percepções táteis, porém,
com o passar do tempo, a necessidade de movimentação é substituída pela
imaginação cinestésica. (ALMEIDA40 et al. 2001 apud TAVARES, 2007, p. 135)
Segundo Cobo41 et al. (2003, apud ALMEIDA et al. 2007, p.137), relações saudáveis com o
38
KRUGER,D.W. Developmental and psychodynamic perspectives on body-image change. In: CASH,T.F.,
PRUZINSKY,T. (Eds.) Body Image: development, deviance and change. New York: The Guilford, 1990.p.255-271.
39
ALMEIDA,J.J.G.et al.Esportes na Natureza:possibilidades para o deficiente. In: Sociedade Brasileira de Atividade Motora
Adaptada: Temas em Educação Física adaptada/Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada. [S.L]:SOBAMA,2001.
40
ALMEIDA,J.J.G.et al.Esportes na Natureza:possibilidades para o deficiente. In: Sociedade Brasileira de Atividade Motora
Adaptada: Temas em Educação Física adaptada/Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada. [S.L]:SOBAMA,2001.
41
COBO,A.D. et al. Personalidade e auto-imagem do cego. In: MARTINN, M.B., BUENO,S.T. (Coord.). Deficiência
595
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
[...] encorajar a criança cega a explorar seus próprios limites, permitindo que aflore
um sentimento de competência, diante das barreiras superadas. Devem oferecer
oportunidades para que ela experiencie seu corpo de forma positiva e, ainda,
encorajá-la a monitorar seus sinais internos indicadores de fome, satisfação, fadiga,
entre outros (KEARNEY-COOKE42, 2004, apud MORGADO et al, 2010, p. 4).
“Não se pode negar que é através da interação que estabelece com o outro que o deficiente
visual conquista um corpo seguro, ganhando confiança para a delimitação do espaço físico em
que convive” (DIEHL43, 2007, p. 6, apud NASÁRIO e ERNST,2011, p.266).
Uma imagem corporal bem desenvolvida promove unidade e coesão do eu corporal,
proporcionando ao indivíduo que não enxerga sensações positivas com seu corpo. O
contrário pode colocar o sujeito em uma situação de insatisfação, solidão e
depressão, e como conseqüência, ele pode acomodar uma imagem corporal negativa.
Visual: aspectos psicoevolutivos e educativos. Trad. Magali de Lourdes Pedro. São Paulo: Santos, 2003.
42
Kearney-Cooke, A _ Familial Influences on Body Image Development. In: CASH, T., PRUZINSKY, T. Body Image: a
handbook of theory, research & clinical practice. Nova Iorque: Guilford Press, 2004.
43
DIELH, Rosilene Moraes. Imagem corporal: corporeidade da pessoa com deficiência visual. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE/ CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 15./ 2.,
2007, Recife. Anais... Recife: CBCE, 2007. Disponível em: . Acesso em: 22 fev. 2011.
596
SIMONE NORIA
44
SILVA,M.C. Mestre em gestão escolar _ UNIFENAS. Docente dos cursos de pedagogia na PUCMinas e UNIPAC.
2007.
45
ALVES, Maria Luiza Tanure; DUARTE, Edison. Imagem corporal e deficiência visual: um estudo bibliográfico das
relações entre a cegueira e o desenvolvimento da imagem corporal. Acta Scientiarum Human and Social Sciences,
Maringá, v. 30, n. 2, p. 147-154, 2008. Disponível em: 273 . Acesso em: 23 fev. 2011.
597
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
METODOLOGIA
1
Baixa Visão Severa (H54.2), considerada uma visão subnormal, com comprometimento visual de categoria 2,
classificando assim, ambos os olhos com acuidade visual snellen _ 20/200 a 20/400 e acuidade visual decimal _
598
SIMONE NORIA
Formada pelo Instituto ONIKI, que proporciona formação as pessoas com deficiência visual,
a participante do estudo, atua no mercado de trabalho como Massoterapeuta, sendo uma
profissional capacitada em várias técnicas que envolvem a massagem terapêutica oriental.
Atividades Desenvolvidas
599
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Pelo fato, do referente aluno participante do estudo possuir baixa visão severa e doença de
Stargardt, que o incapacita de uma leitura sem o auxílio de instrumentos para o aumento do
mesmo, o questionário foi administrado pelo entrevistador. Este, por sua vez, reproduziu
fielmente as palavras do entrevistado e suas observações.
Para analisar o convívio do praticante nos ambientes familiar, social e profissional, utilizando
o mesmo método, baseado no questionário de WHOQOL-BREF, foi desenvolvido nove
questões relacionadas ao desenvolvimento, estado emocional, dificuldades, influência na
qualidade de vida, construção e percepção da imagem corporal, onde os entrevistados
avaliaram a evolução do ‘antes’ e ‘depois’ do praticante iniciar o Tai Chi Chuan e Qi Gong
especificamente.
Inicialmente, após um convite formal, onde foi informado ao aluno todo o processo da
pesquisa, com sua aceitação e autorização, após assinatura de um termo de consentimento,
iniciamos a coleta de dados. O mesmo ocorreu com a aplicação do instrumento no meio
familiar, social e profissional do praticante, no qual também assinaram um termo de
46
CASTRO, Marcelle Maria L.D.; HOKERBERG, Yara H.M.; PASSOS, Sonia Regina L. Validade dimensional do
instrumento de qualidade de vida WHOQOL-BREF aplicado a trabalhadores de saúde. Cad. saúde pública [online], Rio
de Janeiro, v. 29, n. 7, p. 1357-1369, 2013. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/ enfermagem/ article/
viewFile/11857/pdf_21 Acesso em: 11 jul. 2014.
600
SIMONE NORIA
Posturas Observadas
A praticante de Tai Chi Chuan e Qi Gong realizou no período da pesquisa, aulas semanais
com duração de 1 ½ hora cada. O procedimento incluiu avaliação inicial e final das
atividades executadas, com treinamento de respiração, equilíbrio, mobilidade, interação
social, emocional e consciência da imagem corporal.2
[...]“Oito Ingredientes Ativos do Tai Chi”,que podem influenciar os níveis físico,
psicológico, social, filosófico e ainda, sistema nervoso, respiratório, endócrino e
imunológico que interagem com o sistema cardiovascular. São eles: Conscientização
(inclusive atenção plena e atenção focada); Intenção (inclusive crença e
expectativa); Integração estrutural (inclusive forma e função dinâmica) e padrões;
Relaxamento Ativo, com movimentos circulares e fluidos conseguimos direcionar o
corpo e a mente para níveis mais profundos de relaxamento, ou seja, meditação em
movimento; Força e Flexibilidade; Respiração Natural e mais Fluida; Apoio Social
(inclusive interação e comunidade); Espiritualidade Corporificada (inclusive
filosofia e ritual), onde a integração corpo, mente e espírito é colocada em evidência,
acrescentando uma dimensão espiritualizada a vida do indivíduo, ampliando os
efeitos terapêuticos. (WAYNE e FUERST, 2016, p.48)
Dentro da prática, as posturas observadas, foram divididas conforme sua atuação, sendo duas
fixas; duas com rotação de cintura e alternância de peso; duas com movimentação de base;
duas de equilíbrio e para finalizar, técnica de empurrar com as mãos. As posturas se
apresentam da seguinte maneira:
Posturas Fixas _Wu Chi “Postura inicial para os exercícios básicos. Tem a função de nos
acalmar e nos preparar para a aula de Tai Chi.” (SEVERINO e SOCI, 2017); Abraçando à
Árvore (ZhanZhuang)“ esta postura tem por objetivo o processo de enraizamento, ou seja,
conectar os seres humanos com a terra, absorvendo energia da terra e estabilizando toda a
estrutura corporal a partir do fortalecimento das pernas e dos braços.” (SEVERINO e SOCI,
2017)
Posturas com Rotação de Cintura e Alternância de Peso _ Suaves Mãos de Buda “O objetivo
básico deste exercício é o fortalecimento das pernas e abertura de virilhas, com a consciência
601
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
2
Vide Seqüência de Posturas em 5.4
de cheio e vazio, fortalecer a musculatura das costas e soltar a cintura.” (SEVERINO e SOCI,
2017); Acariciando Nuvens (Yun2 Shou3) “Seguindo o mesmo principio de palmas de Buda,
este exercício pode ser utilizado como Meditação no Movimento, também nos possibilita
tomar consciência de todas as articulações trabalhando em conjunto”. (SEVERINO e SOCI,
2017)
Posturas com Movimentação de Base _ Chicote Simples (Dan1 Bian1), “movimento de
empurrar com a palma da mão para fora e a outra mão na forma de um gancho; ”Defender os
Joelhos e Empurrar (Lou1 Xi1 Ao3 Bu4) “movimento de defender com uma das mãos e
empurrar com a palma da mão para fora.”
Posturas de Equilíbrio_ Galo Dourado numa Perna Só (Jin1 Ji1 Du2 Li4) “elevar um dos pés
e manter o equilíbrio; ”Chutar com o Calcanhar (Deng1 Jiao3) “movimento para empurrar
ou chutar com os pés”
Técnica de Empurrar com as mãos _ Tui Shou ”empurrar as mãos” ou “mãos coladas”,
designando exercícios praticados em dupla em diversos estilos de artes
47
marciais.(WIKIPÉDIA , 2017)
RESULTADOS
Este estudo visa mostrar que os benefícios decorrentes da prática do Tai Chi Chuan e Qi Gong
são excelentes para todas as pessoas, sem distinção, sendo uma atividade ideal inclusive para
pessoas com deficiência visual, foco de nossa pesquisa.
Após o início do estudo em Janeiro de 2018, onde a praticante foi convidada e aceitou
participar da pesquisa, e com todos os procedimentos já descritos anteriormente, através de
47
WIKIPÉDIA _ Tui Shou, 2017. Disponivel em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tui_shou>. Acesso em: 12 Março 2018.
48
OLIVEIRA, J. P.; MARQUES, S. L. Análise da comunicação verbal e não verbal de crianças com deficiência visual
durante interação com a mãe. Revista Brasileira de “Educação Especial”, Marília, v. 11, n. 3, p. 409-428, Set/Dez. 2005.
602
SIMONE NORIA
Seguindo esse mesmo processo de avaliação, no período final da analise, após 5 meses do
estudo, através de questionários, foram entrevistadas 30 pessoas do convívio familiar, social e
profissional, estas, com faixa etária que variou entre 18 e 65 anos de idade.
Neste ponto, apresentamos os resultados obtidos com os instrumentos e coleta de dados, onde
os depoimentos avaliaram desde a imagem corporal, equilíbrio, percepção até relação
emocional, interação e inclusão nas atividades e melhora em sua qualidade de vida.
Questionário nº 1 _ “A convivência familiar melhorou muito mais. Antes era ansiosa, agora
se controla mais. Está mais tranqüila. A postura corporal melhorou bastante.”; Questionário
nº 5 _ “Está mais calma. É uma pessoa equilibrada. Muito esforçada.”; Questionário nº
7_“Todos tem dificuldades e ela vem melhorando paulatinamente pela prática e disciplina.
Demonstra sempre equilíbrio emocional. Está melhorando a postura corporal.”; Questionário
nº 8 _“Não percebi que tinha deficiência visual. Sua postura é muito boa com movimentos
firmes.”; Questionário nº 9 _ “Transmite tranquilidade. Se relaciona muito bem com os
colegas, tendo uma vida ativa e participativa em todas atividades. Sua postura é ótima, pois
tenho convívio com outras pessoas que possuem deficiência visual e essas possuem má
postura. Ela precisa de atenção voltada para a deficiência, mas nada que comprometa o
andamento das aulas. A dificuldade que existe é comum à todo e qualquer aprendizado de
pessoas com ou sem deficiência.”; Questionário nº 11 _ “Quando se pratica artes marciais o
indivíduo melhora não só fisicamente mas no aspecto social e afetivo. Com os outros sentidos
mais aguçados a praticante absorve de maneira efetiva as informações transmitidas pelo
professor(a).”; Questionário nº 15 _“A princípio não tinha percebido a deficiência. Não
percebi nenhuma dificuldade, a mesma entendia o que era solicitado.”; Questionário nº 17
_“Está mais flexível e equilibrada. Se preocupa e dá valor a sua postura. Consegue absorver
as coisas facilmente. É participativa e interessada.”; Questionário nº 18 _ “Essa atividade nos
603
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
mostra ter controle de nossas ações. Tem todo o conhecimento corporal, tem como rotina
sempre manter sua postura. Ela possui uma felicidade em aprender”; Questionário nº 19 _
“Aluna disciplinada e persistente. Boa postura durante e após a prática. Dificuldades
semelhantes aos demais alunos quando estão aprendendo a prática.” Questionário nº 20
_“Antes era mais insegura. Melhorou sua confiança. Ela é muito tranquila. Sua postura
corporal é visível na sua forma de caminhar, que é firme. Antes ela era mais contida nos
movimentos, hoje ela faz os movimentos mas soltos e seguros. Hoje ela aprende mais rápido e
com mais consciência das técnicas. Em grupo ela interage muito bem.”; Questionário nº 21
_“Tem iniciativa de participação em diversos eventos. Postura condizente com as exigidas
para a prática. Parece ter auto-controle nas atividades, nos relacionamentos, etc. sua
dificuldade parece ser apenas em relação a visualização de alguma explanação, mas não na
execução dos movimentos. Parece apresentar boa dimensão corporal, domínio de diversos
movimentos.”; Questionário nº 23 _“A respeito das dificuldades inerentes de um praticante
com baixa visão praticar Tai Chi, acredito que tanto ela quanto os instrutores estãos adaptados
ao ensino e isso contribui para que sua ansiedade diminua, ao menos durante a prática.
Percebo que durante a pratica ela é capaz de manter uma postura bastante adequada.”;
Questionário nº 24 _ “ a noção de espaço da mesma é ótimo. Nas práticas novas, ela leva um
pouco mais de tempo para aprender, mas o faz com perfeição. Ela é bem comunicativa e
empática.”; Questionário nº 26 _ “Ela é extremamente positiva. É uma pessoa alto astral e
persistente. Equilibrada no que faz e fala. A postura corporal melhorou muito e continua
evoluindo. É uma pessoa iluminada e com Deus no coração. Ela supera todos os obstáculos
impostos a ela. Com sua deficiência ela enxerga com a alma.”.
No geral, o resultado foi muito satisfatório para todos os itens abordados, tendo a praticante
uma melhora significativa perante a opinião das pessoas de seu convívio, principalmente em
relação a confiança adquirida, sua postura corporal, percepção e execução dos exercícios.
Ao serem perguntados sobre a inclusão de pessoas com deficiências visuais nas aulas de Tai
Chi Chuan e Qi Gong, sem separação dos mesmos com uma aula exclusiva, mas sim que
sejam inseridos nas aulas cotidianas, os participantes forneceram as seguintes respostas:
Questionário nº 3 _“Sim. Melhora a qualidade de vida e é também uma forma de integração
social.”; Questionário nº 4 _“Acho válido porque as pessoas não devem ser discriminadas.”;
“Questionário nº 5 _ “É uma coisa ótima, pois é uma aula relaxante. E não é porque a pessoa
têm deficiência que ela seja incapaz de praticar alguma aula diferente.”; Questionário nº 7 _
“Sim, por vários aspectos: Percepção espacial, equilíbrio corporal, consciência corporal,
aumento da segurança, inclusão social e nos relacionamentos, aumento da autoestima e
604
SIMONE NORIA
605
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
movimentos. Por isso, todos que se submetem à pratica, terão todos os seus benefícios.
Equilíbrio total.”
Sendo assim, podemos considerar uma grande aceitação pela inclusão de pessoas com
deficiência visual nas aulas, favorecendo não só a pessoa com deficência mas também os
professores e os colegas de convívio. Isto nos leva a acreditar que devemos cada vez mais,
abrir os caminhos para que a inclusão seja algo natural em todas as artes marciais e diversas
outras atividades, com o propósito de trazer mais qualidade de vida à todas as pessoas
independente de seu estado físico ou emocional.
Relatos da Praticante
“De acordo com Interdonato e Greguol49 (2009) e França e Azevedo50 (2003), as pessoas com
deficiência visual apresentaram uma fiel percepção de sua imagem corporal e um bom nível
de satisfação com o seu corpo.” (EIRAS et al., 2012, p.100)
Seguindo o estudo, foi aplicado um questionário de Qualidade de Vida _ WHOQOL-BREF,
onde a praticante pode relatar de forma mais clara, o ‘antes e depois’ de iniciar as praticas de
Tai Chi Chuan e Qi Gong, em relação às mudanças percebidas em sua vida diária.
“Consigo dormir melhor, meu sono melhorou muito.”; “Aprendi a ter mais paciência e a
analisar e compreender o próximo.”; “Sinto insegurança do desconhecido, mas ganhei mais
confiança, sigo em frente, sem abaixar a cabeça e chorar.”; “Antigamente, não tinha
controle sobre pressão, chorava muito.” ; “Antes era muito estressada, agora melhorei
bastante.”
Após ter iniciado a pratica do Tai Chi Chuan e Qi Gong, seus relatos apresentam uma melhora
significativa tanto física quanto emocional. Com isso, podemos considerar que estas
atividades marciais, podem beneficiar as pessoas com deficiências visuais, uma vez que seus
exercícios proporcionam desde a coordenação, o equilíbrio físico e emocional, a percepção
corporal e espacial e ajuda na construção da forma durante os exercícios.
49
INTERDONATO C. G.; GREGUOL, M. Auto-análise da imagem corporal de adolescentes com deficiência visual
sedentários e fisicamente ativos. Conexões: Revistada Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 7, n.
3, p. 1 -13, Set./Dez. 2009.
50
FRANÇA, D. N. O.; AZEVEDO, E. E. S. Imagem corporal e sexualidade de adolescentes com cegueira,alunos de
uma escola pública especial em Feira de Santana, Bahia. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, Salvador, v. 2, n. 2,
p. 176-184, Jul./Dez. 2003.
606
SIMONE NORIA
ANTES DEPOIS
sem disposição para tarefas diárias mais disposição para tarefas diárias
607
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Figura 23 _ Postura Wu Chi com Palmas Abertas no Tan Tien (Fonte: autora)
“Sinto alguma coisa pulsando no Tan Tien, é como se algo estivesse fazendo um círculo
entorno do umbigo. No corpo, eu sinto um formigamento nas pernas, que vem desde o
calcanhar até a coxa.”
608
SIMONE NORIA
609
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Figura 25 _ Postura Wu Chi com Palmas no Tan Tien voltadas para o céu (Fonte: autora)
610
SIMONE NORIA
“Sinto um pulsar nos meus dedos e visualizo várias cores (azul, verde, amarelo e laranja),
como se fosse um flash de luz. No meu corpo sinto mais a leveza mesmo, a parte que eu mais
sinto são as mãos pulsando. Sinto uma coisa leve na parte de baixo do corpo, minhas pernas
estavam leves, com o enraizamento, senti firme o chão, mas sem pressão. Foi leve e
tranqüilo.”
611
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
“Em relação ao movimento da energia, senti um aquecimento forte nas mãos e nos pés.
Estava muito quente e a minha mão formigou bastante. Senti a região do plexo solar e o
enraizamento da terra que também ativou o meridiano dos rins e a cintura.”
612
SIMONE NORIA
613
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
“Sinto um aquecimento na sola dos pés, subindo pelas pernas e chegando ao formigamento
das mãos. Sinto aquecimento nos braços, com os meridianos do pulmão, coração e intestino
grosso. Um círculo na região do terceiro olho como se tivesse no sentido horário. Movimento
circular entorno da cabeça e retornando ao terceiro olho. Sinto as fontes borbulhantes na
sola dos pés, o aquecimento subindo pelas pernas, fortalecendo toda região chegando a
cintura e o enraizamento.”
614
SIMONE NORIA
Figura 30 _ Defender o Joelho e Empurrar (Lou1 Xi1 Ao3 Bu4). (Fonte: autora)
“Sinto um aquecimento nos dedos e palma das mãos. Uma sensação de formigamento. Os pés
estão muito enraizados na terra. Sensação de que algo está puxando os pés, como se fosse um
pulsar. Sinto firmeza na postura. Na região do Tan Tien sinto um círculo no sentido horário.”
615
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Figura 31 _ Galo Dourado numa Perna Só (Jin1 Ji1 Du2 Li4). (Fonte: autora)
616
SIMONE NORIA
617
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
“Sinto os pés firmes no chão, o enraizamento com o aquecimento na sola dos pés. Sinto o
aquecimento e formigamento nas mãos e trabalhar os meridianos dos rins, coração, pulmão e
estômago. Sinto bastante a região da cintura no Tan Tien e a cada movimento, vai ficando
cada vez mais leve, soltando a lombar. Ficando cada vez mais segura. Em relação céu e
terra, visualizo as cores azul, verde e laranja percebendo círculos sobre a cabeça, como
espirais. Energia no topo da cabeça é bem forte com as cores e o movimento circular.”
618
SIMONE NORIA
Observações da Prática
619
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
CONCLUSÕES e RECOMENDAÇÕES
Os dados coletados do estudo prático foram analisados em um período de 6 meses, sendo que
a aluna já possuía tempo anterior de pratica há aproximadamente 2 anos, e em entrevistas com
ela ao longo da pratica, ela relata as diferenças em relação ao inicio da mesma.
A partir dos dados observou-se que através da pratica de Tai Chi Chuan e Qi Gong, a maioria
das atividades propostas nas aulas, favoreceu a aluna com baixa visão, em sua vida cotidiana,
melhorando a mobilidade e orientação, respiração, percepção, imagem corporal e relações
emocionais, onde, houve melhora na interação entre familiares, amigos e trabalho.
Apesar dos avanços em relação a inclusão de pessoas com deficiência visual, ainda nos falta
muito empenho para que esta seja uma realidade definitiva no Brasil.
Os resultados se apresentam positivos com a inclusão da pratica marcial de Tai Chi Chuan e
Qi Gong em pessoas com baixa visão, sendo este o indivíduo de nossa pesquisa.
Esta pesquisa permitiu observar a grande importância das atividades físicas, neste caso
marcial, na vida de uma pessoa com deficiência visual, onde não só o fator físico é importante
para manutenção da saúde, mas suas relações com o ambiente, social e a melhora emocional,
ficam nítidas com o aproveitamento do praticante.
Acredita-se, portanto, que esta pesquisa atingiu seus objetivos e respondeu as questões
iniciais. Porém, tais resultados motivam novas pesquisas sobre o tema, onde as possibilidades
são infinitas, sendo que a característica individual de uma pessoa com deficiência visual
poderia gerar novos resultados.
Abrindo novos caminhos e oportunidades para professores que desejam inserir
definitivamente em suas aulas a inclusão deste público tão especial e merecedor de atenção.
620
SIMONE NORIA
REFERÊNCIAS
621
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
622
SIMONE NORIA
623
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-31102017
121309/publico/ALINE_TOFFOLI_MARTINS_rev.pdf> Acesso em: 15 Junho 2018.
624
SIMONE NORIA
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/pessoa_com_deficiencia/manual%
20acessibilidade.pdf>. Acesso em: 12 maio 2018.
RANGEL, A. _ Fronteiras do Pensamento _ Entrevista de 2014 _ EDGAR MORIN: É
PRECISO EDUCAR OS EDUCADORES, 2017. Disponível em:
https://www.fronteiras.com/entrevistas/entrevista-edgar-morin-e-preciso-educar-os-
educadores. Acesso em: 15 Janeiro 2019
625
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
2. ANEXOS
Eu, ,
nacionalidade , idade ,
estado civil , profissão ,
endereço ,
RG , estou sendo convidado(a) a participar de um estudo
denominado Efeitos do Tai Chi Chuan e Qi Gong na Construção e Percepção da Imagem
Corporal em Deficientes Visuais, cujosobjetivos e justificativas sãoconhecer os efeitos e
analisar a percepção da imagem corporal de um indivíduo com baixa visão, a partirda
prática de exercícios de Tai Chi Chuane Qi Gong, em relação à orientação, mobilidade,
relações emocionais e projeção mental na forma.
A minha participação no referido estudo será no sentido de permitir o uso de questionário
para avaliação do praticante.
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ouqualquer outro
dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar, serámantido em sigilo.
Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirarmeu
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e de, por desejar sairda pesquisa,
não sofrerei qualquer prejuízo quanto ao curso que estou frequentando.
Os pesquisadores envolvidos com o referido projeto são Simone Nori Ribeiro e Lisete
Barlache com eles poderei manter contato pelo e-mail samnorib.rib@gmail.com.
É assegurada a assistência durante toda pesquisa, bem como me é garantidoo livre acesso a
todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo esuas conseqüências, enfim,
tudo o que eu queira saber antes, durante e depois daminha participação.
Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado ecompreendido a
natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livreconsentimento em participar,
estando totalmente ciente de que não há nenhum valoreconômico, a receber ou a pagar, por
minha participação.
626
SIMONE NORIA
Neste ato, e para todos os fins de direito, autorizo o uso da minha imagem e voz para fins de
divulgação e publicidade do estudo denominado Efeitos do Tai Chi Chuan e Qi Gong na
Construção e Percepção da Imagem Corporal em Deficientes Visuais, em caráter definitivo
e gratuito, constante em fotos e filmagens.
As imagens e voz poderão ser exibidas: parcial ou total, em apresentação audiovisial,
publicações e divulgações em sites e artigos acadêmicos nacionais e/ou internacionais, sem
quaisquer tipo de remuneração, com disponibilidade de imagens resultante da pesquisa em
internet e outras mídias futuras, fazendo-se constar os devidos créditos ao fotógrafo.
Por ser esta a expressão de minha vontade, nada terei a reclamar a título de direitos conexos a
minha imagem e voz ou qualquer outro.
de de 20
Assinatura do Praticante
Nome:
R.G : CPF:
Endereço:
Cidade:
Estado:
Assinatura do Testemunha?
627
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Por esta ser a expressão de minha livre e espontânea vontade,declaro que autorizo o uso acima
descrito sem que nada haja a ser reclamado a título de direitos autorais e conexos.
628
SIMONE NORIA
Instruções
Este questionário procura esclarecer sobre como você se sente a respeito de sua qualidade de vida,
saúde e outras áreas de sua vida.
Por favor,responda a todas as perguntas. Se você não tem certeza sobre qual resposta dar em uma
questão, escolha entre as alternativas a que lhe parece mais apropriada.
Esta, muitas vezes, poderá ser a sua primeira escolha. Por favor, tenha em mente seus valores,
expectativas, alegrias e preocupações. Solicitamos respostas em relação ao que você acha de sua vida,
tomando como referência as duas últimas semanas.
Por exemplo, pensando nas últimas duas semanas, uma questão poderia ser:
Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você se preocupou com a saúde
nestas últimas duas semanas. Portanto, você deve circular o número 4 para "muito" ou circular o
número 1 se você não se preocupou "nada" com sua saúde.
Agradecemos a ajuda!
629
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Dados Pessoais
Nome:
Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número e lhe parece a melhor resposta.
630
SIMONE NORIA
As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas duas
semanas.
muito mais ou
nada bastante extremamente
pouco menos
As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de fazer
certas coisas nestas últimas duas semanas.
muito
nada médio muito Completamente
pouco
631
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de vários
aspectos de sua vida nas últimas duas semanas.
nem satisfeito
muito Muito
Insatisfeito nem satisfeito
insatisfeito satisfeito
insatisfeito
632
SIMONE NORIA
As questões seguintes referem-se acom que freqüência você sentiu ou experimentou certas coisas
nas últimas duas semanas.
Alguma
nunca freqüentemente muitofreqüentemente Sempre
s vezes
Agradecemos a ajuda!
Questionário (Familiares/Social/Profissional)
633
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
QUESTIONÁRIO
Nome:
INSTRUÇÕES
(A) X
(D) X
1 2 3 4 5 6
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo
Se você não tem certeza sobre qual resposta dar em uma questão, escolha entre as alternativas
a que lhe parece mais apropriada.
Obs:(A) = Antes
(D) = Depois
634
SIMONE NORIA
(A)
(D)
1 2 3 4 5 6
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo
Por quê?
(A)
(D)
1 2 3 4 5 6
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo
Por quê?
(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo
Por quê?
(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo
Por quê?
5. De 0 à 5. Como você percebe a postura corporal do praticante?
635
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo
Por quê?
(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo
Por quê?
(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo
Por quê?
(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo
Por quê?
636
SIMONE NORIA
637
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Professor Disciplina
Aluno (a)
Ano Período
638
SIMONE NORIA
1 É pontual
2 Respeita as regras da academia
3 Facilidade com os cumprimentos marciais
4 Facilidade com as técnicas
5 Facilidade com as armas
6 Facilidade com novas técnicas
7 Facilidade com cursos rápidos
8 Participação das atividades
9 Mantém o foco nas atividades
639
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
640
VALERIA SANCHEZ
Valeria Sanchez
641
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
INTRODUÇÃO
O Tai Chi Chuan é uma arte marcial de origem chinesa que tem se tornado popular
em diversos países pelo mundo. Segundo1 (ZHENDUO,1988), uma vez que a China é uma
nação com uma longa história e uma cultura esplêndida, os chineses tiveram grandes
contribuições para as civilizações do mundo, uma delas é o Tai Chi Chuan, que tem se
tornado popular entre as pessoas de muitos países e regiões.
Existem cinco estilos tradicionais de Tai Chi Chuan, cada um denominado com o
sobrenome da família Chinesa que o originou. Eles são: Estilo Chen, Estilo Yang, Estilo
Wu(Hao), Estilo Wu e Estilo Sun. O Estilo Pai Lin, não é um estilo tradicional, mas
também será estudado levando em consideração a grande divulgação deste estilo em São
Paulo, local principal do estudo.
Os cinco maiores estilos das famílias compartilham a maior parte de suas
teorias sobre a prática do Tai Chi Chuan, mas diferem em abordagens de
treinamento. O que os torna todos “tradicionais” é sua rigorosa atenção
aos detalhes, adesão aos princípios e refinamentos passados de geração a
geração 2
As tradições antigas eram transmitidas através de linhagens, que a arte se
transmitia oralmente de pai para filho, no seio da família 3
Atualmente, o Tai Chi Chuan tem sido recomendado como uma importante
ferramenta terapêutica, ajudando pessoas a minimizarem problemas de saúde e tem sido
pesquisado nos diversos âmbitos da saúde e em diferentes patologias especialmente na
população idosa como, por exemplo, na melhora da memória4. Um estudo publicado
recentemente mostrou que o grupo que praticou Tai Chi Chuan teve melhora no
aprendizado e preservação da memória em comparação ao Grupo Controle após um ano.
Estes resultados sugerem que o Tai Chi Chuan, além de melhorar o desempenho na
memória, pode retardar suas alterações com o decorrer do envelhecimento5. No entanto,
em busca bibliográfica realizada previamente não localizamos estudos sobre avaliação da
atenção, memória e reflexo em instrutores de Tai Chi Chuan. Desta forma este estudo
contribuirá para iniciar pesquisas neste campo.
1
YANG, Z. Yang Style Tai Ji Quan. Hong Kong: Hai Feng Publishing, 1988.
2
YANG, Jun. Pontos Essenciais da Família Yang. Tradução de Ângela Soci e Paula Faro. São Paulo: SBTCC.
3
DESPEAUX, C. Tai Chi Chuan: Arte marcial, técnica da longa vida. São Paulo: Editora Pensamento, 1981.
4
CHANG, Y. Review Tai Ji Quan, the brain, and cognition in older adults. Journal of Sport and Health Science. 2014.
5
KASAI, J. Y. T. et al. Efeitos da prática de Tai Chi Chuan na cognição de idosas com comprometimento cognitivo leve.
Einstein. 2010.
642
VALERIA SANCHEZ
6
YANG,J. Anotações verbais do Seminário Internacional de Tai Chi Chuan, 2017.
7
SOCI, A. Anotações verbais da aula da Professora.
643
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
644
VALERIA SANCHEZ
Comportamento motor
O termo controle motor é definido como a habilidade de regular ou direcionar os
6
mecanismos essenciais do movimento , a área de controle motor está direcionada ao
estudo da natureza do movimento, e como este é controlado.
O Movimento emerge da interação de três fatores: o indivíduo, a tarefa e o meio
ambiente 8 . Emerge pelo esforço cooperativo das diversas estruturas e processos cerebrais,
o movimento surge da interação de processos múltiplos, como a percepção, cognição e a
ação.
Sendo assim, a aprendizagem ocorre por meio de estimulação e experiência, o
treinamento fortalece as conexões neurais usadas, e uma vez que cada habilidade é
específica, ela deve ser especificamente treinada. No processo experimental o indivíduo
precisa descobrir, ou ser explicado, “regras” para execução de tarefas, por meio do
processo de tentativa e erro, construindo um movimento eficaz9.
Embora muitos pesquisadores tenham relatado que atividades mente-corpo podem
melhorar a aptidão física, poucos realmente compararam seus efeitos benéficos relativos
em funções cognitivas, como visualização, imagens, atenção, memória e planejamento.
Observe que a Forma 108 é considerada treinamentos de habilidades motoras que demanda
mais atenção e memória em toda a sua experiência.10
O estudo qualitativo de Yau e Packer também relatara melhora na função cognitiva,
incluindo memória, amplitude de concentração, agilidade mental e habilidade no problema
resolução. Portanto, antecipamos que a prática da repetição do tai chi pode melhorar
funções cognitivas específicas (atenção e memória) em praticantes de Tai Chi.10
JUSTIFICATIVA
Na literatura pesquisada não foi encontrado nenhum estudo que avaliou o desempenho
motor de instrutores de tai chi chuan. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo
verificar desempenho motor, concentração e atenção desses instrutores através do Software
Timing Coincidente - Reflex, comparando os resultados obtidos com estudos de
populações diferentes.
8
COOK, A.; WOOLLACOTT, M., Controle Motor: teoria e aplicações práticas: 3. ed. São Paulo: Editora
Manole, 2010.
9
SIGMUNDSSON, Hermundur et al. What is trained develops! theoretical perspective on skill learning. Sports, v.
5, n. 2, p. 38, 2017.
10
LIEBERT, M. A., Idosos praticantes de Tai Chi têm melhor atenção e função de memória? Jornal de Medicina
Alternativa, v.16, n12, pp. 1259 - 1264, 2009.
645
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Este estudo poderá contribuir para identificar áreas-chaves para pesquisas futuras.
OBJETIVO
Apresentar os resultados do desempenho motor, concentração e atenção dos
instrutores de Tai Chi Chuan por meio de tarefa realizada em ambiente virtual.
MÉTODOS
Amostra
Para a realização deste trabalho foram avaliados, a atenção e a memória dos
instrutores de Tai Chi Chuan (ITCC) de diferentes estilos.
Participaram deste estudo piloto instrutores de tai chi chuan no estado de São Paulo
e que realizaram o mesmo protocolo de avaliação a partir da aplicação do Software Timing
Coincidente - Reflex que foi desenvolvido por um grupo de pesquisa da Escola de Artes,
Ciências e Humanidades (EACH) da USP.
Critérios de elegibilidade
Foram incluídos instrutores de tai chi chuan de diferentes estilos, que tivessem pelo
menos 3 anos de instrução ininterruptamente, com idade mínima de 25 anos e máxima de
59 anos. Os voluntários assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Procedimentos
Os participantes realizaram um protocolo de avaliação em tarefas de realidade
virtual, seguindo a ordem que são explanadas: 1. responderam o questionário de Perfil de
Instrutores, 2. realizaram a Tarefa Timing Coincident, com velocidade 4, sendo que após a
primeira fase de aquisição são trinta repetições, 3. fizeram uma pausa de cinco minutos, 4.
realizaram a segunda fase, (retenção) com cinco tentativas, ainda na mesma velocidade 4,
1. realizaram a terceira fase (transferência) com cinco tentativas em velocidade 5.
646
VALERIA SANCHEZ
Instrumentos de avaliação
647
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
erro de tarefa por sons diferentes (Interação auditiva) e por meio de imagens (Interação
Visual) que mudam de cor.
Para realização dessa tarefa, a prática foi dividida em 3 fases: aquisição (30
repetições), seguida de 5 minutos de pausa, para que seja feita a retenção (5 repetições) e
transferência (5 repetições) na qual ocorreu aumento de velocidade.
648
VALERIA SANCHEZ
Questionário
Foi aplicado um questionário referente ao perfil dos instrutores, onde investigou-se
o tempo que o instrutor dá aulas de Tai Chi Chuan, observou-se qual ou quais estilos eles
aprenderam, em qual instituição de ensino, e de que maneira estes instrutores são avaliados
para adquirirem sua certificação e tornarem-se habilitados a ministrar aulas. (Anexo A).
Através da aplicação do questionário IPAQ, foi avaliado se, os instrutores, além de
dar aulas, e manterem seus treinos pessoais, também praticavam alguma outra atividade
física moderada (como por exemplo pedalar leve na bicicleta, nadar, dançar, fazer
ginástica aeróbica leve, jogar vôlei recreativo, carregar pesos leves, fazer serviços
domésticos na casa, no quintal ou no jardim como varrer, aspirar, cuidar do jardim, ou
qualquer atividade que fez aumentar moderadamente sua respiração ou batimentos do
coração) ou vigorosa (como por exemplo correr, fazer ginástica aeróbica, jogar futebol,
pedalar rápido na bicicleta, jogar basquete, fazer serviços domésticos pesados em casa, no
quintal ou cavoucar no jardim, carregar pesos elevados ou qualquer atividade que fez
aumentar MUITO sua respiração ou batimentos do coração), que pudesse interferir nos
resultados das análises.
RESULTADOS
Foram avaliados 11 participantes, sendo 9 homens e 2 mulheres, idade 41±5 anos
(mínimo 34; máximo 53), praticantes dos estilos: Chen (5), Yang (4), Pai Lin (2) e Wo
Hao (1), tempo de prática na modalidade 101±52 meses (mínimo 31; máximo 216), média
de horas/aula ministrada por semana 7,3±5,5 horas, e treinamento pessoal 5,0±3,0 horas
por semana. Pela avaliação do questionário IPAQ versão curta, verificou-se nível de
atividade física “Muito Ativo” em 2 participantes, e 9 participantes “Ativos” fisicamente.
649
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
transferência (132,4 ms). A média foi calculada com a somatória de resultados de cada
fase, de todos os instrutores, e em seguida dividido pelo número de instrutores.
650
VALERIA SANCHEZ
DISCUSSÃO
A aprendizagem motora tem recebido a atenção de estudiosos do comportamento
motor pelo importante papel no cotidiano do ser humano. Barros sintetiza as definições de
alguns autores sobre a aprendizagem motora como: “mudanças internas na capacidade de
executar habilidades motoras, sendo tais mudanças no sentido de execuções cada vez mais
eficientes, relativamente permanentes e fruto de prática e experiência”13.
A execução eficiente de uma habilidade depende do controle dos movimentos e da
seleção das informações relevantes para entender os estímulos do ambiente, o que resulta
na aquisição de uma habilidade motora14.
A média de tempo (em milissegundos) entre os instrutores na fase de aquisição foi
de 176,45 ms, enquanto nas fases de retenção 202,6 ms e de transferência 132,4 ms (tempo
que o instrutor levou para tocar o teclado quando a bolinha coincidiu com a chegada ao
alvo).
Observamos que houve uma diminuição de 25% do tempo entre a fase de aquisição
e a fase de transferência. O estudo de Tani et al. (2014) propõe um modelo de
aprendizagem motora - estabilização e adaptação – sendo que o indivíduo adquire um nível
de organização espaço temporal do movimento dirigido à uma meta, atingindo certo nível
de estabilidade para adaptar-se a novos desafios.15
A aprendizagem de novas habilidades e o aperfeiçoamento dos movimentos já
existente são características de todos seres vivos para interagir com o ambiente. A
capacidade de aprendizagem evolutiva é uma característica forte do ser humano e
reconhecida como uma das responsáveis pelo processo evolutivo16
Muitos estudos demonstram um impacto positivo do Tai Chi Chuan no equilíbrio,
força muscular, flexibilidade, controle postural em idosos17 . Um estudo mostrou que o
grupo que praticou Tai Chi Chuan teve melhora no aprendizado e preservação da memória
em comparação a um grupo controle após 12 meses, que sugere que o Tai Chi Chuan, além
de melhorar o desempenho na memória, pode desacelerar suas alterações do
envelhecimento18
13
BARROS, J. A. C. Estrutura de prática e processo adaptativo em aprendizagem motora: efeitos da
especificidade da tarefa. São Paulo 2006: Universidade de São Paulo – Escola de educação física e esporte.
14
MEDINA J. et al. O efeito de dicas de aprendizagem na aquisição do rolamento peixe por crianças com TDC.
Rev Bras de Ciênc Esporte 2008.
15
TANI, G. et al. An Adaptive Process Model of Motor Learning: Insights for the Teaching of Motor Skills.
Universidade de São Paulo, 2014
16
PINKER, S. How the Mind Works, New York: William Morrow and Company, 1997; London: The
Penguin Press, 1998.
17
KASAI, J. Y. T. et al. Efeitos da prática de Tai Chi Chuan na cognição de idosas com comprometimento
cognitivo leve. Einstein. 2010.
18
CHAN, A. S. et al. Association between mind-body and cardiovascular exercises and memory in older adults. Journal of
the American Geriatrics Society, 2005.
651
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
5. CONCLUSÃO
Analisando os dados obtidos com a aplicação dos jogos e dos questionários,
observou-se a melhora na execução, considerando que os instrutores já possuem uma boa
performance motora e, muito provavelmente, já realizaram a tarefa muito bem desde o
início, fenômeno chamado de efeito topo.
Também podemos relacionar o processo de aprendizado da sequência de
movimentos do Tai Chi Chuan (forma) ao modelo de Tani et al (2014) sendo que o tempo
de prática pode interferir no desempenho da fase de adaptação já que, depois de
memorizada a sequência (estabilização), o praticante continua a aperfeiçoar os movimentos
em busca das posturas mais estáveis, suaves e fluidas.20
As referências consultadas apontam que o tai chi chuan pode melhorar o
desempenho motor e cognitivo, mas que as evidências carecem de clareza dos processos e
métodos, e o número de publicações é ainda pequeno, portanto, é clara a necessidade de
desenvolver estudos com maior metodologia em relação ao assunto.
19
KASAI, J. Y. T. et al. Efeitos da prática de Tai Chi Chuan na cognição de idosas com comprometimento
cognitivo leve. Einstein. 2010.
20
TANI, G. et al. An Adaptive Process Model of Motor Learning: Insights for the Teaching of Motor Skills.
Universidade de São Paulo, 2014
652
VALERIA SANCHEZ
REFERÊNCIAS
BARROS, J. A. C. Estrutura de prática e processo adaptativo em aprendizagem motora:
efeitos da especificidade da tarefa. São Paulo 2006: Universidade de São Paulo – Escola de
educação física e esporte.
CHAN, A. S. et al. Association between mind-body and cardiovascular exercises and memory in older
adults. Journal of the American Geriatrics Society, 2005.
CHANG, Y. Review Tai Ji Quan, the brain, and cognition in older adults. Journal of Sport
and Health Science. 2014.
COOK, A.; WOOLLACOTT, M., Controle Motor: teoria e aplicações práticas: 3. ed. São
Paulo: Editora Manole, 2010.
DESPEAUX, C. Tai Chi Chuan: Arte marcial, técnica da longa vida. São Paulo: Editora
Pensamento, 1981.
KASAI, J. Y. T. et al. Efeitos da prática de Tai Chi Chuan na cognição de idosas com
comprometimento cognitivo leve. Einstein. 2010.
LIEBERT, M. A., Idosos praticantes de Tai Chi têm melhor atenção e função de memória? Jornal de
Medicina Alternativa, v.16, n12, pp. 1259 - 1264, 2009.
MESTRE, JUN YANG. Anotações verbais da aula proferida durante o Seminário Yang Jun
no dia 12 novembro, 2017.
MONTEIRO, Carlos Bandeira de Mello et al. Transfer of motor learning from virtual to
natural environments in individuals with cerebral palsy. Research In Developmental
Disabilities, [s.l.], v. 35, n. 10, p.2430-2437, out. 2014. Elsevier BV.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ridd.2014.06.006.
PINKER, S. How the Mind Works, New York: William Morrow and Company, 1997;
London: The Penguin Press, 1998.
TANI, G. et al. An Adaptive Process Model of Motor Learning: Insights for the
Teaching of Motor Skills. Universidade de São Paulo, 2014
653
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
YANG, Jun. Pontos Essenciais da Família Yang. Tradução de Ângela Soci e Paula Faro. São Paulo:
SBTCC.
YANG SYLE TAIJIQUAN, Hong Kong - Hai Feng Publishing Co. - 1998
654
VALERIA SANCHEZ
ANEXO A
Nome completo:
4. Em qual instituição/escola?
655
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
8. Desde que você fez o seu curso de instrutores e começou a dar aulas, você
interrompeu esse processo por algum motivo? Se sim, Por quanto tempo?
656
VALERIA SANCHEZ
ANEXO B
Nós estamos interessados em saber que tipos de atividade física as pessoas fazem como
parte do seu dia a dia. Este projeto faz parte de um grande estudo que está sendo feito em
diferentes países ao redor do mundo. Suas respostas nos ajudarão a entender que tão ativos
nós somos em relação à pessoas de outros países. As perguntas estão relacionadas ao
tempo que você gasta fazendo atividade física na ÚLTIMA semana. As perguntas incluem
as atividades que você faz no trabalho, para ir de um lugar a outro, por lazer, por esporte,
por exercício ou como parte das suas atividades em casa ou no jardim. Suas respostas são
MUITO importantes. Por favor responda cada questão mesmo que considere que não seja
ativo. Obrigado pela sua participação !
Para responder as questões lembre que: ➢ atividades físicas VIGOROSAS são aquelas que
precisam de um grande esforço físico e que fazem respirar MUITO mais forte que o
normal ➢ atividades físicas MODERADAS são aquelas que precisam de algum esforço
físico e que fazem respirar UM POUCO mais forte que o normal
Para responder as perguntas pense somente nas atividades que você realiza por pelo menos
10 minutos contínuos de cada vez.
1a Em quantos dias da última semana você CAMINHOU por pelo menos 10 minutos
contínuos em casa ou no trabalho, como forma de transporte para ir de um lugar para outro,
por lazer, por prazer ou como forma de exercício?
dias por SEMANA ( ) Nenhum
1b Nos dias em que você caminhou por pelo menos 10 minutos contínuos quanto tempo no
total você gastou caminhando por dia?
horas: Minutos:
2a. Em quantos dias da última semana, você realizou atividades MODERADAS por pelo
menos 10 minutos contínuos, como por exemplo pedalar leve na bicicleta, nadar, dançar,
fazer ginástica aeróbica leve, jogar vôlei recreativo, carregar pesos leves, fazer serviços
domésticos na casa, no quintal ou no jardim como varrer, aspirar, cuidar do jardim, ou
657
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
658
VALERIA SANCHEZ
ANEXO C
659
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Exemplos:
F D F D F D
1 - - - - - - Sedentário
2 4 20 1 30 - - Irregularmente
Ativo A
3 3 30 - - - - Irregularmente
Ativo B
4 3 20 3 20 1 30 Ativo
5 5 45 - - - - Ativo
6 3 30 3 30 3 20 Muito Ativo
7 - - - - 5 30 Muito Ativo
F = Freqüência – D = Duração
660
VALERIA SANCHEZ
ANEXO D
661
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
AQ1
4 83 66 249 183 349 66 233 133 133 183 216
AQ1
5 99 216 116 183 333 66 266 116 133 233 183
AQ1
6 33 99 116 166 299 116 216 49 99 166 216
AQ1
7 49 216 183 166 299 99 133 183 149 199 199
AQ1
8 83 166 166 149 299 83 199 133 166 216 216
AQ1
9 116 183 149 149 316 83 283 83 99 199 133
AQ2
0 16 149 116 133 316 49 233 166 83 266 166
AQ2
1 66 149 116 233 333 133 133 166 149 149 149
AQ2
2 133 66 183 166 249 66 133 166 99 149 266
AQ2
3 116 133 199 149 316 116 266 199 116 116 266
AQ2
4 -50 183 216 149 333 116 233 249 166 233 116
AQ2
5 183 183 199 199 266 99 249 149 149 166 233
AQ2
6 116 133 183 166 316 99 166 249 83 133 183
AQ2
7 183 283 99 149 316 83 183 249 83 183 149
AQ2
8 66 233 183 166 266 33 133 233 166 133 216
AQ2
9 149 216 199 383 316 66 149 166 133 216 49
AQ3 149 149 199 166 333 49 233 166 149 133 133
662
VALERIA SANCHEZ
0
R01 116 133 133 166 266 183 199 183 199 133 199
R02 33 149 116 166 349 99 266 249 99 133 216
R03 149 183 199 199 366 133 216 149 99 216 249
R04 166 99 199 183 333 99 249 149 99 133 183
R05 183 133 166 183 333 133 316 216 166 133 166
TR0
1 83 216 166 149 333 166 83 49 183 66 116
TR0
2 166 249 166 199 216 183 133 66 83 166 149
TR0
3 116 266 166 116 316 183 99 49 83 233 99
TR0
4 83 366 249 216 333 149 99 116 99 199 49
TR0
5 183 83 33 166 299 -17 83 183 33 133 249
663
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
ANEXO E
Para tanto, gostaria que você participasse desta pesquisa, na qual me comprometo a
seguir a Resolução CNS 96/1996, relacionada à Pesquisa com Seres Humanos, respeitando
o seu direito de:
1- Ter liberdade de participar ou deixar de participar do estudo, sem que isso lhe traga
algum prejuízo ou risco,
2- Manter o seu nome em sigilo absoluto, sendo que o que disser não lhe resultará em
qualquer dano à sua integralidade,
3- Interromper a participação na pesquisa caso se sinta incomodado(a) com a mesma,
4- Responder as questões levantadas pelo pesquisador(a) caso seja solicitado(a) para
uma entrevista, onde será marcado um local na instituição, horário e data em que
possa se sentir mais confortável,
5- Garantia de receber uma resposta a alguma dúvida durante ou após a participação
na pesquisa.
Esclareço-lhe que ao participar dessa pesquisa, poderá correr risco mínimo de
escorregar durante as tarefas devido ao fato de exigir movimentos dos braços e pernas, por
isso sempre haverá duas pessoas responsáveis ao lado para ensinar as tarefas e garantir a
segurança.
Esclareço-lhe ainda que o tempo estimado de sua participação será de 30 minutos.
664
VALERIA SANCHEZ
A sua participação nesta pesquisa ajudará a responder várias perguntas sobre como
pessoas com deficiência conseguem ou não fazer algum movimento. Estes dados irão
ajudar vários familiares e deficientes a entender melhor as dificuldades de movimento.
Este Termo de Consentimento será emitido em duas vias, sendo que uma via ficará
em poder do pesquisador e a outra em poder do participante.
Deixo telefone para contato: (11) 99953.0716 – Dr. Carlos Bandeira de Mello
Monteiro e o endereço do CEP-EACH-USP no rodapé deste impresso, para que possa
obter mais esclarecimentos ou informações sobre o estudo e sua participação.
São Paulo, / / .
665
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
666
VERA COMAR
667
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
RESUMO
A vida moderna proporciona muitos benefícios, mas também exige muito dos cidadãos.
Atualmente pode-se dizer que quase todas as pessoas têm que lidar com algum tipo de
estresse, fato que tem sido apontado pelos profissionais da saúde como fator principal para um
grande número de doenças. A forma taoísta de lidar com o estresse mostra-se de grande
auxílio nesses tempos modernos, pois apresenta opções de práticas já utilizadas desde a
antiguidade. Dentre elas, pode-se mencionar o Qi Gong. Diversos estudos científicos sobre a
eficácia da prática do Qi Gong na saúde têm sido realizados ultimamente. O objetivo deste
trabalho é apresentar e divulgar uma das variações do Qi Gong, conhecida como seis sons de
cura, cuja técnica apresenta-se de fácil execução e muito valiosa na prevenção e manutenção
da saúde. Apesar de seu grande valor para a prevenção e promoção da saúde, sua prática é
pouco divulgada e, além disso, há muitas informações conflitantes nos materiais disponíveis
atualmente, o que será abordado oportunamente durante o decorrer deste material. Por ser um
tema pouco explorado, as diferenças encontradas na literatura atual podem confundir o leitor e
levá-lo a desistir de uma prática que se apresenta muito benéfica. Desta forma, neste trabalho,
foram abordados os diferentes sons e práticas difundidos para que o leitor possa tirar suas
próprias conclusões e fazer suas próprias escolhas de acordo com aquelas que mais se
identificar.
Palavras-chave: Seis sons de Cura. Seis Sons Terapêuticos. Seis sons Taoístas. Sorriso
Interno. Qi Gong. Chi Kung. Tai Chi Chuan. Meditação. Relaxamento.
668
VERA COMAR
ABSTRACT
Modern life offers many benefits, but it is also very demanding. It is said that nowadays
almost everyone has to deal with some kind of stress, that has been indicated by health
professionals as the main fact of a great number of diseases. The taoist way do deal with
stress has been of great value in modern times, once it offers options of physical practices
which have been adopted for ages. Among them, there is one called Qi Gong. Several
scientific studies about Qi Gong practices in health have been developed lately. This work has
the intention to present and make well known one of many Qi Gong variations known as six
healing sounds, which procedure seems to be easily adopted and very valuable to aid and
maintain health. Despite its great value for health aid and maintenance, its practice is not well
known and, besides this, there is a lot of conflicting information on the literature currently
disclosed, which subject will be addressed in the course of this work. As a vaguely explored
theme, the differences found in present literature may be confusing, causing the reader to
abandon a very beneficial practice. As a result, this work is about the different sounds of this
technique so that the reader can come to his own conclusions and make his own choices
according to those he prefers the most.
Keywords: Six Healing Sounds, Six Word Formula, Six Sillable Secret, Six Basic Soundless
Sound for Health, Inner Smile, Meditation, Relaxation, Qi Gong, Chi Kung, Tai Chi Chuan.
669
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
LISTA DE SÍMBOLOS
气 Qi, Ki ou Chi
670
VERA COMAR
INTRODUÇÃO
Os chineses são conhecidos por sua ampla bagagem histórica e cultural, e também
pela constante busca por melhores condições de saúde e crescimento espiritual.
Além da preocupação com a qualidade de vida, a ênfase no desenvolvimento da vida
espiritual é um dos diferenciais entre a cultura oriental e ocidental. E, para a medicina chinesa,
o desequilíbrio entre corpo, mente e espírito é causa de inúmeras doenças.
Desta forma, esse povo milenar desenvolveu inúmeras técnicas para auxiliar no cultivo
da energia, e uma delas, a qual será abordada neste trabalho é conhecida como Qi Gong.
Qi Gong, cujas diversas variações na escrita podem englobar Qi, Ki ou Chi e Gong,
Kung, Ko ou Kun, é um termo de origem chinesa que significa trabalho ou exercício de
cultivo da energia. É uma prática corporal, considerada um capítulo da medicina chinesa cuja
função principal é a harmonização do sistema nervoso central através do livre fluxo de
energia vital, ou Qi, no corpo.
Pesquisas pioneiras, efetuadas na década de 1970, comprovaram seus efeitos benéficos
para a saúde do ser humano em geral. Métodos científicos ocidentais utilizados em pesquisas
feitas no Instituto de Qi Gong e Medicina Chinesa de Shanghai puderam comprovar a
existência do Qi, o qual pôde ser medido por sensores infravermelhos e cujos resultados
foram debatidos entre a comunidade científica internacional. Assim, pode-se afirmar que a
prática do Qi Gong traz muitos benefícios à saúde e o acesso à informação de uma prática de
execução simples e rápida parece ser de vital importância no auxílio à prevenção e
manutenção da saúde nos dias atuais.
O Qi Gong engloba diversas técnicas que foram desenvolvidas separadamente em
vários locais da China e, dentre essas muitas variações, há uma conhecida como “seis sons
terapêuticos” ou “seis sons de cura”, uma técnica muito valiosa e de fácil execução. Muitas
técnicas requerem meses e anos de prática antes de apresentar qualquer resultado, Felizmente,
não é o caso dos Seis Sons de Cura, cujos resultados podem ser percebidos desde as primeiras
práticas.
Uma vez que o Qi Gong oferece tantos benefícios, surgiu a intenção de divulgar essa
pequena parte de um dos vários tipos de Qi Gong existentes, através da pesquisa, compilação
e divulgação de documentos já publicados sobre este tema.
Apesar de bastante popular no oriente, este conhecimento é relativamente novo para a
ciência ocidental, desta forma, espero que este trabalho seja um incentivador para novas
671
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
pesquisas neste campo, as quais venham validar e elucidar as inúmeras dúvidas que se
apresentam para o bom entendimento do leitor ocidental.
Este trabalho se inicia com a abordagem sobre o Qi Gong, sua nomenclatura, origens,
técnicas, benefícios, segue com uma ideia geral sobre a respiração e o som e se aprofunda em
uma de suas vertentes, os Seis Sons de Cura, técnica pouco divulgada atualmente e com
diferentes interpretações em relação aos sons utilizados. A ideia aqui foi a divulgação de um
conhecimento milenar feito através de pesquisa bibliográfica e compilação dos elementos
essenciais visando possibilitar uma visão ampla sobre o assunto. Ao final, pôde ser verificado
que, apesar da controvérsia em relação a alguns sons emitidos na prática, todos eles são
benéficos e permitem a promoção da saúde para aqueles que o praticam.
672
VERA COMAR
14
QI GONG
Qi (Chi ou Ki) é a energia vital ou força natural que permite a existência do universo.
673
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
História do Qi Gong
Não há um indivíduo que possa ser considerado o criador do Qi Gong, essa técnica
milenar foi obtida através do resultado de milhares de anos de experiência dos chineses na
tentativa de equilibrar a energia para tratar doenças, promover saúde, expandir a mente,
desenvolver a espiritualidade e expandir a consciência.
Até recentemente, a prática de Qi Gong era mantida em segredo, inicialmente era
reservada somente para a família imperial e aristocracia chinesa, apenas alguns poucos
exercícios relacionados à saúde é que chegavam até o conhecimento do público em geral, fato
este que tem mudado nas últimas décadas e tornado possível o acesso a essa prática milenar
através de publicações e ensinamentos práticos divulgados através do mundo.
Grosso modo, pode-se dividir a história do Qi Gong em quatro períodos, descritos a
seguir.
O primeiro período compreende um tempo anterior a 1122 a.C e que se prolonga até a
dinastia Han, em aproximadamente 206 a.C . Deste período pouco se sabe, além do
conhecimento de que foi nesta época que o budismo e as práticas meditativas estavam sendo
levados à China provenientes da Índia, e é esta junção cultural que leva o Qi Gong ao
próximo período.
O segundo período, derivado do primeiro e conhecido como Qi Gong religioso,
adotava as práticas de relaxamento e meditação e durou até a dinastia Liang, 502 – 557 d.C,
quando o Qi Gong começou a ser utilizado para fins marciais.
Foi no terceiro período que diversos estilos de Qi Gong marciais foram criados, todos
baseados nos princípios do Qi Gong Taoísta e Budista, e durou até a queda da dinastia Qing,
em 1911.
Pode-se considerar o quarto período, a partir de 1911, uma época em que o Qi Gong
chinês foi sendo mesclado com práticas provenientes da Índia, Japão e outros países.
Categorias de Qi Gong
674
VERA COMAR
neutralizar a mente alcança-se o equilíbrio mental e finalmente, após todos esses passos
trabalhados em conjunto, percebe-se o desenvolvimento espiritual.
Há quatro categorias diferenciadas de Qi Gong de acordo com o objetivo que se deseja.
Qi Gong filosófico para manutenção da saúde, em que a ênfase se dá no trabalho
mental e espiritual.
Qi Gong médico, ou terapêutico, para a cura, focado nos exercícios meditativos em
movimento.
Qi Gong marcial para lutas cujo objetivo é aumentar as habilidades de luta.
Qi Gong religioso, voltado para as questões religiosas e desenvolvimento espiritual.
675
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
As categorias de elixir externo e interno podem, por sua vez, ser divididas em métodos
passivos (Jing Gong) e ativos (Dong Gong).
Os métodos passivos são práticas meditativas que dão ênfase na quietude, na
consciência dos movimentos internos e no transporte do Qi pelo corpo. Pode ser praticado
sentado ou em pé e normalmente são característicos do elixir interno, embora não
exclusivamente.
Os métodos ativos enfatizam o movimento lento, com ou sem métodos de respiração
específicos. Pode servir de veículo tanto para a prática do elixir interno quanto o externo.
676
VERA COMAR
RESPIRAÇÃO
677
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
SOM
O som é parte da vida, ele está presente no dia-a-dia, seu efeito é sentido na música,
nos barulhos cotidianos como buzinas de automóveis, palavras amorosas, gritos de raiva e
mesmo dentro de cada ser humano, ao ouvir os batimentos do coração.
Toda energia produz uma vibração e esta, por sua vez, produz um som. Essa
afirmação fica evidenciada através de um estudo denominado Cimática.
Cimática é o ramo da ciência que estuda o som através dos padrões e formas que ele
produz sobre o meio: o som visível. O termo cimática foi criado pelo cientista suíço Hans
Jenny e deriva do grego kyma (onda) e kymatika (assuntos referentes a ondas).
Mas, antes mesmo dele criar esse termo, outros estudiosos já haviam se atentado para
o tema.
Em 1787, o físico e músico alemão Ernst Chladni observou o efeito da passagem de
um arco de violino sobre areia em uma chapa metálica. O que ele viria a descobrir mudaria a
forma como a humanidade entende o som e a matéria. Chladni notou que conforme
tencionava ou relaxava as fibras de seu arco, um padrão geométrico diferente se formava na
chapa.
E só quase duzentos anos depois, que Hans Jenny deu continuidade aos estudos de
Chladni fazendo uso de geradores de frequência controlada e amplificadores elétricos e
explicando os fenômenos osbervados por Chladni.
Padrões geométricos eram produzidos tornando-se mais complexos conforme o
aumento da frequência. Assim, Jenny explica que diferentes ondas sonoras interagem
diferentemente com os materiais, gerando nas chapas metálicas regiões de intensa vibração,
de onde os grãos de areia se distanciam, e regiões mais estáveis, onde os grãos se acumulam.
Desta forma, cada frequência altera essas regiões no material, formando um padrão
geométrico específico para a areia sobre a chapa.
678
VERA COMAR
Diante da vida moderna, a arte de entoar sons e cânticos de cura começou a ser
deixada de lado. Por sorte, duas práticas ainda são divulgadas no mundo contemporâneo, os
mantras do ioga e os seis sons de cura da alquimia taoísta. São duas vertentes de uma mesma
fonte, cada qual com seus próprios ensinamentos acerca da relação entre os órgãos e os sons.
Certas frequências de som têm efeitos reais sobre a saúde e o nosso estado emocional
e de espírito e os taoístas, como exímios observadores da natureza, já conheciam essa ligação
entre os sons e a cura. Muitos falam sobre o poder dos mantras tibetanos, mas um número
menor de pessoas conhece os efeitos da prática dos seis sons de cura.
O mantra universal do ioga, AUM, consiste em três sons que correspondem ao corpo
físico (A), à alma (U) e ao espírito (M).
Já os seis sons de cura abrangem os efeitos terapêuticos e físicos dos sons sobre
órgãos específicos.
679
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Os seis sons de cura são uma antiga prática de respiração de Qi Gong, que engloba
emissão de som, intenção e movimento.
Os relatos mais antigos desta técnica de respiração referem-se ao período da Dinastia
do Norte e do Sul e foram escritos pelo doutor em Medicina Tradicional Chinesa, alquimista e
astrólogo Tao Hangjing, que viveu de 456 a 536 d.C. no seu tratado “Caring for the Health of
the Mind and Prolonging the Life Span”.
Através dos séculos, os seis sons terapêuticos sofreram diversas modificações por
vários doutores e especialistas em Medicina Tradicional Chinesa, taoístas, monges e devotos
chineses como Sun Simiao, conhecido como o Rei da Medicina Chinesa, e Zhiyi, fundador da
escola de Budismo Tian Tai. Entretanto, devido à falta de padrões na transcrição dos sons dos
caracteres chineses no passado, houve muita confusão quanto à pronúncia desses sons.
Devido a essa discrepância, a Administração Chinesa de Esporte da China buscou os registros
existentes dos seis sons terapêuticos, estudou, comparou e compilou as diferenças com o
auxílio de linguistas chineses especialistas no assunto.
Em 2003, uma versão revisada dos seis sons terapêuticos foi disponibilizada no livro
Liu Zi Jue: Chinese Health Qi Gong, cujo estudo faz parte da comparação dos sons descritos
neste trabalho, que incluem a consulta a outros autores como Daniel Reid, Stuart Alve Olson,
Hua-Ching Ni, Deborah Davis, Dantao Center of New York, Kenneth S. Cohen e Mantak
Chia, sendo este último um dos mais divulgados atualmente.
Conforme já dito, a literatura histórica sobre os Seis Sons de Cura é bastante extensa,
aqui estão incluídos apenas parte do que possivelmente pode ser encontrado em um estudo
mais aprofundado.
680
VERA COMAR
Os três principais efeitos terapêuticos dos sons de cura são harmonizar os órgãos, abrir
a garganta e aumentar o fluxo de oxigênio para as células, aumentando assim o fluxo de Qi.
É um método que combina respiração, som e movimento com o intuito de regular o Qi
interno e manter a energia vital.
Nesta prática fundamentada no Taoísmo, os movimentos são leves, lentos e
executados de forma cadenciada e com plena atenção mental, por esse motivo é recomendado
a todas as pessoas, incluindo os idosos.
Esta técnica está diretamente relacionada à teoria dos Cinco Elementos ou Cinco
Movimentos da Medicina Tradicional Chinesa, que está descrita a seguir.
Juntamente com a teoria do yin e yang, a teoria dos cinco elementos ou cinco
movimentos é um dos dois pilares da medicina oriental.
A abordagem resumida do assunto mostra que os cinco movimentos fazem referência
aos cinco elementos da natureza que, por sua vez, fazem correspondência com os doze
meridianos principais que servem de base para os tratamentos da Medicina Chinesa.
Cada um desses meridianos tem sua própria trajetória e são relacionados a certos
órgãos e vísceras do corpo humano devido exercerem funções semelhantes a estes. Sendo
assim, há o Meridiano do Pulmão e do Intestino Grosso, do Rim e da Bexiga, do Fígado e da
Vesícula Biliar, do Coração e do Intestino Delgado, do Baço Pâncreas e do Estômago e
também do Triplo Aquecedor e Pericárdio, vale mencionar que esses dois últimos não se
referem a nenhum órgão específico, são considerados corpos de energia.
A influência desses elementos sobre os órgãos correspondentes e sua correlação é o
principal fator para a manutenção de uma boa saúde.
681
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Cada órgão possui um som que se associa e ressoa com ele e cada som cria pressões e
vibrações internas diferentes através da inalação e exalação do ar. Ao praticar o som
equivalente a determinado órgão, é possível expelir a energia estagnada, limpar o meridiano e
possibilitar a entrada de uma energia renovada.
A prática da emissão de sons pode ser acrescida de movimentos físicos que servem
para auxiliar na abertura e acesso aos espaços de ressonância dos órgãos em questão.
Em outras palavras, ao praticar os seis sons terapêuticos, os órgãos internos recebem
uma massagem que auxilia no seu bom funcionamento.
Como o intuito desta prática é a transformação de emoções negativas em positivas,
deve-se imaginar a seguinte associação durante a execução:
Pulmão: tristeza é transformada em desapego e satisfação
Rins: medo é transformado em coragem e sabedoria
Fígado: raiva é transformada em gentileza e equilíbrio
Coração: euforia é transformada em alegria e paciência.
Baço-Pâncreas: preocupação é transformada serenidade.
Triplo Aquecedor: esgotamento é transformado em vitalidade.
Cada órgão possui uma multiplicidade de associações, como emoções, vísceras
correspondentes, cores, elementos, etc. alguns dos quais estão identificados nas tabelas a
seguir.
682
VERA COMAR
BAÇO TRIPLO
ÓRGÃOS PULMÃO RINS FÍGADO CORAÇÃO
PÂNCREAS AQUECEDOR
Intestino Vesícula Intestino
VÍSCERAS Bexiga Estômago Pericárdio
Grosso Biliar Delgado
Preto ou
COR Branco Azul Verde Vermelho Amarelo Vermelho
Escuro
CHOOO HAAWW
SSSS SHHH WHOOO
TCHRUIII RRÃÃ
SIIÁÁÁ XU RRUUU Xī (嘻)
CHU HO
SONS XI SHOOO FU HHEEE
CHWAY KHE
SHHHH SHU HHOOO HHIII
FOOO HAAA
ZZZZ HSÚ HU
FU HER
683
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
684
VERA COMAR
BAÇO TRIPLO
ÓRGÃOS PULMÃO RINS FÍGADO CORAÇÃO
PÂNCREAS AQUECEDOR
Intestino Vesícula Intestino
VÍSCERAS Bexiga Estômago Pericárdio
Grosso Biliar Delgado
Liu Zi Jue Sī (呬) Chuī (吹) Xū (嘘) Hē (呵) Hū (呼) Xī (嘻)
Postura Inicial
685
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
para cima. Tocar o céu da boca com a ponta da língua, respirar lenta e naturalmente, somente
pelo nariz, a não ser no momento de pronunciar o som.
A concentração deve ser feita na respiração, sem se preocupar com o ritmo ou
intensidade desta, respirar com naturalidade. Diante de ocorrência de pensamentos e emoções,
que certamente aparecerão, manter o foco na respiração, desta forma eles se dissiparão.
Atentar-se ao som da respiração, sem procurar alterá-lo, apenas escutar. Conforme a
calma se instalar o som diminuirá.
686
VERA COMAR
PULMÃO
COR Branco
ELEMENTO Metal
ESTAÇÃO Outono
SENTIDO Olfato
Dentes entreabertos
BOCA
Cantos da boca para trás.
Sī (呬 )
SSSS
SONS SIIÁÁÁ
XI
SHHHH
ZZZZ
Este som trabalha o Movimento Metal, representado no corpo humano pelo Pulmão e
Intestino Grosso.
Ao exalar, soprar o som correspondente a esse elemento, lentamente.
Opções de sons: Sī (呬), SSSS, SIIÁÁÁ, XI, SHHHH ou ZZZZ
Manter o foco nos pulmões, inspirar lenta e profundamente enquanto ergue-se os
braços para a frente, acompanhar com os olhos. Os braços devem estar arredondados como se
houvesse uma bola entre eles. Quando as mãos estiverem na algura dos olhos, girar as palmas
687
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
para cima e continuar a elevação dos braços acima da cabeça. Manter os cotovelos
flexionados. Os pulmões e o peito ficarão mais abertos, facilitando a respiração.
Sentir a respiração expandindo tórax.
Deixar a boca e dentes suavemente entreabertos para que o som Siiiii saia como um
sopro suave e sutil. Ao mesmo tempo tentar visualizar os pulmões expelindo emoções como
tristeza e angústia assim como sintomas como asma.
Ao exalar, abaixar lentamente os braços e e terminar o movimento com as palmas das
mãos viradas para cima e apoiadas sobre as coxas. Fechar os olhos e inpirar lentamente
visualizando uma nuvem branca preenchendo os pulmões. Visualizar o ar que os preenche e
sorrir. Perceber-se preenchido por esse novo ar.
Repetir o ciclo quantas vezes desejar, com um pequeno intervalo de descanso entre
cada repetição.
688
VERA COMAR
RINS
VÍSCERAS Bexiga
ELEMENTO Água
ESTAÇÃO Inverno
SENTIDO Audição
Arredondar os lábios
BOCA
Som de Soprar uma vela
Chuī (吹 )
CHOOO
TCHRUIII
SONS CHU
CHWAY
FOOO
FU
689
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
690
VERA COMAR
691
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
692
VERA COMAR
FÍGADO
COR Verde
ELEMENTO Madeira
ESTAÇÃO Primavera
SENTIDO Visão
BOCA Formato de U
Xū (嘘 )
SHHH
SONS XU
SHOOO
SHU
HSÚ
Prosseguindo no Qi Gong dos Seis Sons de Cura, após o Movimento Água tem-se o
Movimento Madeira. Ligado à Primavera e ao Figado, à cor verde.
Sons associados: Xū (嘘), SHHH, XU, SHOOO, SHU, HSÚ
Praticá-lo quando houver intenção de desintoxicar, eliminar a raiva em alguma
situação, acalmar olhos vermelhos, refrescar a cabeça.
693
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
694
VERA COMAR
695
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
CORAÇÃO
COR Vermelho
ELEMENTO Fogo
ESTAÇÃO Verão
SENTIDO Paladar
Lábios entreabertos
BOCA
Soltar o som de dentro do peito
Hē (呵 )
HAAWW
RRÃÃ
SONS HO
KHE
HAAA
HER
696
VERA COMAR
Para sua prática, sentado em uma cadeira, com os pés paralelos e afastados, apoiados
no chão, costas eretas, as mãos apoiadas nas coxas, visualizar o coração. Inspirar
lentamente enquanto elevar os braços em direção ao teto com as palmas das mãos viradas
para cima e com os dedos levemente entrelaçados. Com os lábios entreabertos e relaxados
permitir que o som Haw saia de dentro do peito, como se fosse um sopro, exatamente igual
quando solta-se o ar em um vidro em dia frio, sorrir e imaginar uma luz vermelha brilhante
envolvendo o coração. Expirar baixando lentamente os braços e tornando a apoia-los nas
coxas com as palmas das mãos voltadas para cima.
Repetir algumas vezes, principalmente se tiver algum abalo nervoso, insônia,
ansiedade, tensão.
697
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
698
VERA COMAR
BAÇO PÂNCREAS
VÍSCERAS Estômago
COR Amarelo
ELEMENTO Terra
ESTAÇÃO Canícula
SENTIDO Tato
BOCA
Lábios redondos
Hū (呼 )
WHOOO
RRUUU
SONS FU
HHOOO
HU
Continuando o Qi Gong dos Seis Sons Curativos ou Seis Silabas Secretas e seguindo o
Ciclo de Geração dos Wu Hsing, temos o Movimento Terra, que no corpo humano está
relacionado ao Estômago e ao Baço/ Pancreas. Sua cor é o amarelo, o sabor doce.
Sons relacionados: Hū (呼), WHOOO, RRUUU, FU, HHOOO, HU
699
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
Sentar-se em uma cadeira com as costas eretas e os pés apoiados no chão. Visualizar o
Baço, ele está à esquerda no abdomem, inspirar enquanto leva as mãos a esta região
pressionando levemente. Expirar inclinando o tronco levemente para trás e exalar o som
Whooo como se estivesse soprando, enquanto imagina uma luz amarela envolvendo o
abdomen e curando os órgãos digestivos.
Apoiar as mãos nas coxas, com as palmas voltadas para cima enquanto sorri para o
Estômago e o Baço. Esse exercicio, entre outras coisas, libera as toxinas do trato digestivo,
sendo eficaz para melhorar problemas como náuseas, indigestão, diarréia e preocupações
excessivas.
700
VERA COMAR
701
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
TRIPLO AQUECEDOR
VÍSCERAS Pericárdio
COR Vermelho
ELEMENTO Fogo
ESTAÇÃO Verão
SENTIDO x
Lábios entreabertos
BOCA
Som soprado sem usar a garganta
Xī (嘻)
SONS HHEEE
HHIII
O Triplo Aquecedor não tem as mesmas características dos outros cinco órgãos, uma
vez que ele compreende a energia dos três centros do corpo, o superior, médio e inferior.
Os sons associados são Xī (嘻), HHEEE, HHIII e ele é responsável por equilibrar a
temperatura do corpo através da sua relação com os outros órgãos.
Induz a um sono profundo, tranquilo e relaxante.
A estação, cor ou emoção associada a ele estão ligadas ao elemento fogo, mas
divergem em relação ao coração e intestino delgado. Há de se ressaltar que alguns autores
sugerem que não há nenhuma estção, cor ou emoção relacionada a ele.
702
VERA COMAR
703
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
CONCLUSÃO
704
VERA COMAR
REFERÊNCIAS
CHIA, M. Métodos Taoístas Para Transformar Stress Em Vitalidade. São Paulo: Cultrix,
2011.
COHEN, K. S. The Way of Qigong: The Art and Science of Chinese Energy Healing. New
York: Ballantine Books, 1999.
EPOCH Times. O som em imagens. O poder que o som oculta: cimática, 2014. Disponivel
em: <https://www.epochtimes.com.br/o-som-em-iimagens-o-poder-que-o-som-oculta-
cimatica/>. Acesso em: 20 Fevereiro 2018.
GAROFALO, M. P. Green Way Research. Six Daoist Healing Sounds Liu Zi Jue, 2015.
Disponivel em: <http://www.egreenway.com/qigong/sixhealingsounds.htm>. Acesso em: 5
Março 2018.
HENTZY, M. Artes do Tao. As Seis Sílabas Secretas ou Os Seis Sons Curativos, 2014.
Disponivel em: <https://artesdotao.com/tag/sun-si-miao/>. Acesso em: 21 Fevereiro 2018.
HO, W. P. The Conscious Life. Teach yourself the Six Healing Sounds Qigong. Disponivel
em: <https://theconsciouslife.com/six-healing-sounds.htm>. Acesso em: 21 Fevereiro 2018.
HON, S. C. Taoist Qigong for Health and Vitality: A Complete Program of Movement,
Meditation, and Healing Sounds. Boston: Shambhala, 2003.
JARMEY, C. Teoria y Práctica del Taiji QiGong. Barcelona: Pai do Tribo, 2010.
705
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
JOU, T. H. The Tao of Meditation: Way to Enlightenment. Scottsdale: Tai Chi Foundation,
1983.
OLSON, S. A. Tao of No Stress: Three Simple Paths. Rochester: Healing Arts Press, 2002.
REID, D. The Complete Book of Chinese Health & Healing: Guarding the Three Treasures.
New York: Barnes & Noble Books, 1998.
THOMAS. Neigong Net. Liu Zi Jue in Regulating Emotions, 2011. Disponivel em:
<https://neigong.net/2011/09/25/liu-zi-jue-in-regulating-emotions/>. Acesso em: 5 março
2018.
YANG, J.-M. The Root of Chinese Qigong: Secrets of Health, Longevity, & Enlightenment.
Wolfeboro: YMAA Publication Center, 1997.
706
VERA COMAR
GLOSSÁRIO
Gong: é a realização ou habilidade cultivada através da prática. Também grafado como Kung,
Kun ou Ko.
Qi: é a energia vital ou força natural que permite a existência do universo. Também grafado
como Chi ou Ki.
707
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
19. Pósfacio
Pense no que vai dizer antes de abrir a boca. Seja breve e preciso, já que cada
vez que deixa sair uma palavra, deixa sair uma parte do seu Chi (energia). Assim,
aprenderá a desenvolver a arte de falar sem perder energia.
Nunca faça promessas que não possa cumprir. Não se queixe, nem utilize pala-
vras que projetem imagens negativas, porque se reproduzirá ao seu redor tudo o
que tenha fabricado com as suas palavras carregadas de Chi.
Se não tem nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, é melhor não dizer nada.
Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia. O Universo é o
melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu, porque aceita, sem con-
dições, os nossos pensamentos, emoções, palavras e ações, e envia-nos o reflexo
da nossa própria energia através das diferentes circunstâncias que se apresentam
nas nossas vidas.
Se se identifica com o êxito, terá êxito. Se se identifica com o fracasso, terá fra-
casso. Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos são simples-
mente manifestações externas do conteúdo da nossa conversa interna. Aprenda a
ser como o universo, escutando e refletindo a energia sem emoções densas e sem
preconceitos.
Não se dê demasiada importância, e seja humilde, pois quanto mais se mostra su-
perior, inteligente e prepotente, mais se torna prisioneiro da sua própria imagem
e vive num mundo de tensão e ilusões. Seja discreto, preserve a sua vida íntima.
Desta forma libertar-se-á da opinião dos outros e terá uma vida tranquila e bene-
volente invisível, misteriosa, indefinível, insondável como o TAO.
Não entre em competição com os demais, a terra que nos nutre dá-nos o necessá-
rio. Ajude o próximo a perceber as suas próprias virtudes e qualidades, a brilhar.
O espírito competitivo faz com que o ego cresça e, inevitavelmente, crie confli-
708
TAOÌSTA
tos. Tenha confiança em si mesmo. Preserve a sua paz interior, evitando entrar na
provação e nas trapaças dos outros. Não se comprometa facilmente, agindo de
maneira precipitada, sem ter consciência profunda da situação.
Evite julgar ou criticar. O TAO é imparcial nos seus juízos: não critica ninguém,
tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade. Cada vez que julga al-
guém, a única coisa que faz é expressar a sua opinião pessoal, e isso é uma perda
de energia, é puro ruído. Julgar é uma maneira de esconder as nossas próprias
fraquezas.
O Sábio tolera tudo sem dizer uma palavra. Tudo o que o incomoda nos outros é
uma projeção do que não venceu em si mesmo. Deixe que cada um resolva os seus
problemas e concentre a sua energia na sua própria vida. Ocupe-se de si mesmo,
não se defenda. Quando tenta defender-se, está a dar demasiada importância às
palavras dos outros, a dar mais força à agressão deles.
Se aceita não se defender, mostra que as opiniões dos demais não o afetam, que
são simplesmente opiniões, e que não necessita de os convencer para ser feliz. O
seu silêncio interno torna-o impassível. Faça uso regular do silêncio para educar o
seu ego, que tem o mau costume de falar o tempo todo.
Pratique a arte de não falar. Tome algumas horas para se abster de falar. Este é
um exercício excelente para conhecer e aprender o universo do TAO ilimitado,
em vez de tentar explicar o que é o TAO. Progressivamente desenvolverá a arte
de falar sem falar, e a sua verdadeira natureza interna substituirá a sua personali-
dade artificial, deixando aparecer a luz do seu coração e o poder da sabedoria do
silêncio.
Graças a essa força, atrairá para si tudo o que necessita para a sua própria reali-
zação e completa libertação. Porém, tem que ter cuidado para que o ego não se
infiltre… O Poder permanece quando o ego se mantém tranquilo e em silêncio.
Se o ego se impõe e abusa desse Poder, este converter-se-á num veneno, que o
envenenará rapidamente.
709
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS
710