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PRÁTICAS CORPORAIS DA MEDICINA TRADICIONAL

CHINESA: REFLEXÕES E EXPERIÊNCIAS :


coletânea de monografias

Organizadoras:

Lisete Barlach

Violeta Sun

São Paulo

EACH

2019

DOI 10.11606/9788564842533
Copyright © 2019 – Escola de Artes, Ciências e Humanidades/USP e Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan
EACH/USP
Rua Arlindo Bettio, 1000 - Vila Guaraciaba
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


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ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES


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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO


Universidade de São Paulo. Escola de Artes, Ciências e Humanidades. Biblioteca.
Maria Fátima dos Santos (CRB-8/6818)

Práticas corporais da medicina tradicional chinesa : reflexões e experiências


: coletânea de monografias / organização, Lisete Barlach, Violeta Sun –
São Paulo : EACH/USP, 2019
1 recurso online

Modo de acesso ao documento eletrônico em pdf :


<http://dx.doi.org/10.11606/9788564842533/>
ISBN 978-85-64842-53-3

1. Terapia por exercício. 2. Consciência corporal. 3. Tai-Chi-Chuan –


Aplicações terapêuticas. 4. Terapias complementares. I. Barlach, Lisete,
org. II. Sun, Violeta, org. III. Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan. VI.
Título.

CDD 22. ed. – 615.82

Autorizo a reprodução parcial ou total desta obra, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte.
SUMÁRIO

1. Prefácio .........................................................................................................................6

2. SBTCC Socidade Brasileira de Tai Chi Chuan..............................................................8

3. O corpo e as práticas corporais como caminho para autodescoberta

Adriana Siane de Sene...................................................................................................10

4. BA DUAN JUN no universo feminino do climatério e menopausa

Catia das Neves Alves Pereira.......................................................................................64

5. Relação entre TAI CHI CHUAN e a Alimentação Orgânica

Chang Hwa.....................................................................................................................99

6. A prática do TAI CHI CHUAN como meditação ativa

Eliana Trevisan..............................................................................................................126

7. Medições de Energia Vital por meio da Bioeletrografia

Eliane Gomes Estevam..................................................................................................149

8. A prática de TAI CHI CHUAN e desenvolvimento das

Inteligências Múltiplas

Eunice Ribeiro dos Santos.............................................................................................177


9. QI GONG no contexto escolar

Evelyn Cristina Stephano...............................................................................................225

10. Slow Medicine, TAI CHI CHUAN e as Práticas Integrativas

José Carlos Aquino de Campos Velho...........................................................................239

11. QI GONG no ambiente corporativo

José Renato Rodrigues Jr...............................................................................................298

12. Estética chinesa e TAI CHI CHUAN (tradicional e moderno)

Luis Gonçalves Mariguela.............................................................................................404

13. O YOGA e o TAI CHI CHUAN como práticas de saúde

Maria Regina Reis Pacheco...........................................................................................404


14. Efeitos das práticas corporais chinesas para pacientes com doença

pulmonar obstrutiva crônica: revisão da literatura

Mônica da Silva Nunes .................................................................................................451


15. Análise da efetividade do BADUANJIN no alívio da dor lombar em
adultos tabagistas com dor lombar crônica

Sheila A. Silva................................................................................................................500
16. Percepção da imagem corporal e mental durante a prática de
TAI CHI CHUAN e QI GONG

Simone Nori...................................................................................................................559
17. Avaliação da atenção e memória em instrutores de TAI CHI CHUAN
com aplicação de jogos eletrônicos

Valeria Sanchez ............................................................................................................643


18. Os seis sons terapêuticos do QI GONG como promoção e da saúde

Vera Comar....................................................................................................................668
19. Posfácio
Texto Taoísta................................................................................................................710

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Prefácio
Autoras: Profa. Lisete Barlach e Profa. Violeta Sun

Neste primeiro volume buscamos organizar aspectos gerais das práticas


corporais orientais abordando questões da filosofia chinesa, as relações oriente e
ocidente, as pesquisas envolvendo apropriação da medicina oriental no ocidente,
e, particularmente, textos que introduzem discussões acadêmicas sobre o Tai
Chi Chuan em diferentes perspectivas: filosóficas, psicológicas, históricas e
fisiológicas. A coletânea de artigos apresenta as melhores monografias, assim
categorizadas por bancas de avaliação.

A principal contribuição é a divulgação dos estudos (pioneiros no Brasil)


sobre práticas corporais da Medicina Tradicional Chinesa, com destaque para
o Tai Chi Chuan, seus benefícios sob a ótica da medicina integrativa, para
diferentes públicos. Complementarmente, os estudos filosóficos incluídos na
Coletânea contribuem para a discussão de sua fundamentação.

O processo formal de apresentar estes conhecimentos, busca disseminar


o trabalho que muitos já fazem na prática e que ainda nos dias de hoje não é de
conhecimento do público em geral.

Um dos grandes benefícios foi o de reunir pessoas com conhecimento


e experiência de diversas áreas como por exemplo médicos, fisioterapeutas,
educadores físicos, geriatras, terapeutas, historiadores e administradores, dentre
outros, e verificar sob a ótica destes, algumas das possibilidades de aplicações
destas práticas.

O espectro de aplicações e possibilidades é tão diverso, que espera-se que


esta publicação possa estimular a curiosidade de praticantes e estudiosos a se
aprofundar nos estudos e gerar mais conhecimento.

A coletânea é composta por 18 monografias, comentadas a seguir.

Em “O corpo e as práticas corporais como caminho de autodescoberta”,


Adriana S. de Sene traz à tona a temática do corpo para além um invólucro
físico. Para a Medicina Tradicional Chinesa, bem como para importantes autores
da Psicologia Corporal, tais como Alexander Lowen, pai da Bioenergética,
corpo e mente são formas de energia. Dessa maneira, as práticas corporais são
reveladoras dos bloqueios energéticos inscritos no corpo e podem vir a ser um
importante aliado no caminho de autodescoberta. O corpo e sua energia são tema

6
também do trabalho de Eliane G. Estevam, que realizou Medições da energia
vital por meio da bioeletrografia, técnica ainda pouco conhecida no Ocidente,
porém muito utilizada em países como a Rússia.

No contexto da saúde, destacam-se os trabalhos das alunas Marina Darin,


Sheila A. Silva e Monica S. Nunes, que estudaram as práticas corporais para o
alívio de dores lombares, pacientes com doenças pulmonares obstrutivas e na
prevenção de quedas em idosos.

As alunas Eunice R. Santos e Evelyn C. Stephano desenvolveram estudos


no contexto escolar, estabelecendo relações entre as práticas corporais da
Medicina Tradicional Chinesa e as inteligências múltiplas, propostas na teoria de
H. Gardner ou investigando a melhoria da concentração dos alunos na escola, a
partir da prática.

José Renato Rodrigues Jr., na monografia intitulada “QI GONG no ambiente


corporativo”, introduz as práticas corporais da Medicina Tradicional Chinesa
como ginástica laboral antes do expediente fabril.

Reflexões filosóficas importantes são desenvolvidas em diversas


monografias. O aluno José Carlos Aquino de Campos Velho, médico e introdutor
do conceito de Slow Medicine no Brasil aborda a temática Slow Medicine, Tai
Chi Chuan e as Práticas Integrativas, considerando as interfaces entre essas
modalidades. Ele ressalta o elemento comum – tempo – como fator crítico tanto
para o tratamento médico quanto para a consolidação dos efeitos promotores da
saúde por meio do Tai Chi Chuan. Uma prática médica que não está de olho no
relógio, ou na entrada do próximo paciente, equivale à lentidão com que se pratica
os exercícios orientais, garantindo uma efetividade maior na promoção da saúde.

O trabalho de Luís Gonçalves Mariguela, por sua vez, contribui para a


discussão da estética como fator que diferencia o Tai Chi tradicional do moderno.
Intitulada “Estética chinesa e tai chi chuan: análise dos conceitos estéticos chineses
no tai chi chuan tradicional e moderno”, traz elementos reveladores acerca da
relevância da estética e sua relação com a tradição preservada ao longo dos anos
pelas famílias que dão nome às escolas de Tai Chi.

Em breve, o segundo volume trará as monografias da segunda turma do


Curso.

Desejamos a todos (e a todas) uma boa leitura!

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Prefácio e Apresentação

Palavra da SBTCC
Socidade Brasileira de Tai Chi Chuan

Autores: Professores Roque Enrique Severino e Maria Ângela Soci

Esta coletânea representa a realização de um sonho que surgiu no início dos


anos 80 quando nos deparamos com a quantidade infinita de benefícios que a
Arte do Tai Chi Chuan oferece para o ser humano!

Naquele momento a remota possibilidade de inserção desta Arte dentro do


mundo acadêmico ligada a fatores sociais e políticos, foi um grande incentivo
para que a Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan mantivesse seu empenho
firme na divulgação para que mais e mais pessoas viessem provar da prática.

Em verdade, quanto maior o desafio, maior a motivação para enfrentá-lo! O


caminho longo e lento que nos leva a acumular força e energia para seguir, é o
motor central da Arte do Tai Chi Chuan. Paciência e constância são as palavras
chave!

Com este espírito, buscamos naquele tempo, aprimorar ao máximo as


instruções oferecidas e desenvolver capacitação técnica de alto nível inserindo
nestes cursos, todas as facetas que abrangem a Arte, desde seus aspectos
históricos e filosóficos até o detalhamento sobre seus benefícios preventivos e
terapêuticos. Formamos centenas de instrutores!

Ao longo dos anos, com as transformações da sociedade e a abertura de


fronteiras entre os países, a Medicina Tradicional Chinesa ganhou espaço e
visibilidade. O compartilhamento de conhecimento e o acolhimento de novos
procedimentos para o benefício à saúde humana, transpassou os limites das
concepções mecanicistas e um novo mundo se abriu com horizontes promissores!

Entre os anos de 2007 e 2008, um primeiro trabalho junto ao Hospital das


Clínicas sob o cuidadoso olhar do Doutor Wilson Jacob, diretor do Departamento
de Geriatria, foi realizado. A comprovação dos benefícios do Tai Chi Chuan
para “Déficit Cognitivo Leve” como possiblidade de prevenir a doença do
Alzheimer e seus resultados significativos, nos rendeu o Primeiro Prêmio na
Revista Einstein em 2009!

Nos lembramos bem do telefonema do Dr Wilson quando nos convidou para


o início do projeto muito enfático em dizer:

“- Se querem que o médico receite Tai Chi Chuan como prática terapêutica,
devem desenvolver trabalhos acadêmicos dentro dos critérios estritos de
comprovação. “

8
Este incentivo nos motivou a seguir firmes no caminho da formação de
profissionais da Arte e justamente, neste processo é que recebemos a Professora
Lisete Barlach para fazer parte deste grupo de aprendizes num dos cursos de
Capacitação da SBTCC.

A parceria da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e a Universidade de


São Paulo foi possível em 2016, justamente a partir deste contato próspero então,
entre pessoas do mundo acadêmico e a Arte do Tai Chi Chuan!

E, reforçando o que é essencial à Arte, foi esta experiência que permitiu que
hoje estejamos aqui, completando o primeiro ciclo de um caminho que aspiramos
ser tão longo e abran

gente como a própria história do Tai Chi Chuan!

A produção de material científico de qualidade é extremamente necessária


para a comprovação dos benefícios da Arte e abertura de novos caminhos para
a pesquisa. Os trabalhos aqui apresentados são uma contribuição inestimável e
por isso merecem todo o destaque!

Assim seguem agradecimentos infinitos ao Doutor Wilson Jacob do


Departamento de Geriatria do Hospital das Clínicas, e especialmente à Professora
Liste Barlach que sem a sua energia, motivação e firmeza, a especialização em
“Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa com Foco no Tai Chi
Chuan da Família Yang” e seus resultados não se realizariam.

Agradecemos também à todos os que de alguma forma deram apoio para a


realização deste projeto com inserções diferenciadas dentre eles Juliana Yumi,
Priscila Rosa, Edgar Karasawa, Paula Faro, José Salvador Faro, Ana Célia
Rodrigues, Renata Fonseca e muito outros que nos acompanham por todos estes
anos que não citamos aqui por falta de espaço.

Finalmente, um especial parabéns a todos os alunos que confiaram na


proposta participando com afinco das aulas práticas e teóricas superando todas
as expectativas principalmente na elaboração das monografias!

Parabéns a todos e vamos em frente”

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

3. O corpo e as práticas corporais como caminho


para autodescoberta

Adriana Siene de Sene

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ADRIANA SIANE DE SENE

RESUMO

Este trabalho objetiva desnudar a inteireza do ser mostrando ser o corpo mais do que um
invólucro físico a luz de uma visão integrada como o fazem as terapias corporais Chinesas. É
objeto deste trabalho discorrer sobre o homem, a energia e o movimento nas Práticas Corporais,
visando uma melhor compreensão do que é esse corpo e de que forma as técnicas corporais
reconectam o ser a sua essência promovendo a autodescoberta e consequentemente melhor
qualidade de vida e saúde ao indivíduo. Será traçado um paralelo entre Práticas Corporais
Chinesas, neste trabalho representada pelo Chi Kung, e a visão de mundo dos Orientais, bem
como sua filosofia, que são essenciais ao embasamento das teorias da Medicina Tradicional
Chinesa. Dentre outros conceitos abordados estão os conceitos de Corpo e Energia e autores da
Psicologia que contribuíram significativamente para que Lowen desenvolvesse a Análise
Bioenergética, como Pierrakos e Reich. Finalizando serão descritos alguns exercícios da
Bioenergética num comparativo com algumas posturas e princípios do Chi Kung visando
mostrar o quanto o conhecimento milenar Chinês está relacionado com as técnicas Ocidentais
das Terapias Corporais. Com relação a metodologia o trabalho é teórico, baseado em revisão
bibliográfica.

Palavras Chave: Chi Kung, Terapias Corporais, Medicina Tradicional Chinesa

ABSTRACT

This work aims to to bare the whole of the human being, showing it not only as a
physical enclosure, but within an integrated view like in the Chinese Body Therapies. It
will discourse on the man, energy and movement in Corporal Practices aiming a better
understanding of the body and the way that corporal techniques will reconnect to the
being and its essence, promoting the individual self-discovering and consequently an
improvement on its quality of life and health. There will be a parallel between The
Chinese Corporal Practices, represented by Chi Kung, and the oriental perspective
and its philosophy, essential in the basement of Chinese Traditional Medicine.
Concepts as Body and Energy and some authors in Psychology who contributed
significantly with Lowen´s development of Bioenergetics Analysis, like Pierrakos and
Reich will be approached. There will be a comparative between the Bioenergetics
practices and Chi ng principles aiming to present the relation of the ancient Chinese
knowledge and Occidentals Corporal Therapies. Regarding methodology, the work is
theoretical, based on bibliographic review.

Key words: Chi Kung, Body Therapies, Chinese Traditional Medicine.

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

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ADRIANA SIANE DE SENE

INTRODUÇÃO

“A saúde é mais do que apenas a ausência de doenças clínicas” ( KIT, 2001, p.167) e
serão abordadas neste trabalho as Práticas Corporais da Medicina Chinesa como uma
ferramenta para promoção de saúde e qualidade de vida, num paralelo com a Análise
Bioenergética com vistas a compreensão do indivíduo como um ser integral, que através da
Prática se reconecta com sua essência universal. Nem mesmo os avanços tecnológicos e estudos
avançados sobre genética e células tronco foram capazes de abrandar o sofrimento humano, a
crise do ser tem sido vivenciada pela sociedade em todos os seus aspectos, há uma busca
incessante pelo alívio do sofrimento, mas face ao imediatismo o que se assiste é a redução
temporária de sintomas. Em tempos que a normose é imperativa o que se vê é o aumento de
casos de depressão, estresse, problemas de pressão, entre outros, e sendo este o contexto atual,
este trabalho propõe mostrar como conhecimentos milenares estão sendo revisitados e
validados, sendo um caminho para a autodescoberta.
O presente trabalho parte de uma revisão bibliográfica que se desenvolverá através de
Capítulos que permitam ao leitor conhecer um pouco da filosofia e da Medicina Tradicional
Chinesa (MTC) para uma compreensão de como estas influenciam as práticas do Chi Kung
para além de um simples exercício. O desenvolvimento também contempla alguns conceitos
sobre o homem , o universo , o corpo e a circulação energética convergindo para alguns
pressuspostos da Psicologia com o qual trabalharam Pierrakos, Reich e Loewn , que acabou
por desenvolver a Análise Bionergética contribuindo para resgatar e validar alguns conceitos
da Medicina Chinesa.
Longe de esgotar o assunto a proposta é revisitar algumas teorias que ainda recebem o
descrédito de muitos, e mostrar como estas podem ser um a caminho para o resgate e reconexão
do Sagrado que há em cada um através das práticas corporais.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

O Objetivo deste trabalho é mostrar como as práticas corporais da Medicina Tradicional


Chinesa promovem saúde e bem estar e colaboram para o autoconhecimento, ratificadas no
último Século pela emergência dos estudos da Análise Bioenergética de Lowen, assunto de
relevância por ainda ser pouco estudado no Ocidente.

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Relacionar pressupostos e posturas entre a Prática do Chi Kung e a Bionergética,


demonstrando que as Práticas Corporais da Medicina Chinesa e da Bioenergética apesar de
serem abordagens diferentes objetivam romper a estase, através de práticas que possibilitem a
livre circulação de energia no corpo, devolvendo a ele a fluidez e promovendo saúde.

JUSTIFICATIVA

O ser humano se desconectou de tal forma de si mesmo que levou anos para
compreender o que as civilizações milenares já sabiam, que o corpo físico não é apenas um
invólucro, mas sim a memória e o registro de toda jornada humana e assim como a natureza ele
tem ciclos e precisa ser cuidado. É necessário ter consciência da necessidade de cuidar desse
corpo e escutá-lo, pois como afirma Pierre Weil, o corpo fala. Espera se que este trabalho possa
contribuir para que a sociedade atual e principalmente os profissionais da área de saúde, com
visão tão fragmentada, percebam a importância de cuidar da causa e não do sintoma e, para
além disso, percebam a dimensão e representação desse corpo como depositário de todas as
dores e alegrias de cada ser humano.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A Compreensão do Universo e do Homem


Na cosmologia de muitas tradições filosóficas da Antiguidade se afirma ser o Universo
originado de uma vazio primordial, para os gregos eram denominados de grande plenitude,
antes do Kaos, os egipícios os chamava de Nun, os Taoístas de Wu Chi, os budistas de Shunya,
os hinduístas de Brahaman, os Cabalistas de Ain (ABREU, 2017, p. 228)
Desde tempos imemoriais o homem busca entender o Universo e a si mesmo e a história
mostra que muitas das antigas civilizações buscavam essas respostas de maneira integrada,
diferente do que presenciamos na atualidade, onde o homem muita das vezes se perde de si
mesmo por buscar fora o que está dentro e não respeitar a criação.
Abreu (2017, p. 17), considera que o Ocidental vê o universo pelo lado de fora, tendo
por base tudo que é palpável e concreto enquanto que o oriental traz consigo o aspecto do
interno, entendendo ser a realidade apenas efeito de algo invisível. Os Egípcios
consideravam se parte integrante de um Universo formado de seres e não de “coisas”, no qual
o mundo era visto como um todo inter- relacionado, assim como o viam os Chineses. Assim
também Hipócrates considerava o homem como um microcosmo e o universo como o
macrocosmo, segundo Abreu (2016). Ele afirma ser a totalidade característica fundamental do
universo, “ o produto da pulsão de sintetizar que vem da natureza”.
A sociedade moderna se contrapõe a compreensão Chinesa comportando se como

14
ADRIANA SIANE DE SENE

tivesse salvo conduto para destruir rios e oceanos, cortar árvores indiscriminadamente, ou seja,
não cuidar do Planeta e agir de forma inconsequente acreditando que não haverá punição da
natureza por tamanha ousadia, segundo Weil (1993). Esse autor afirma que, infelizmente, “a
fragmentação sujeito-natureza é um dos processos mais enraizados no homem”, mas é
indiscutível o fato de que “a evolução e o desenvolvimento de toda a humanidade é parte
integrante da evolução do universo” e que a natureza é expressão do universo (WEIL, 1993,
p.53).
Os Chineses acreditam que estando a natureza em equilíbrio as plantas irão crescer e os
animais prosperar, assim também quando o Chi (energia vital) do homem se desequilibra podem
surgir as doenças e a morte. Segundo o mestre Yang Jing Ming (1989), todas as coisas naturais,
incluindo o ser humano são influenciados pelo Chi da Terra e Chi do Céu.
Afirma Weil (1993), que recuperar a unidade perdida é o mesmo que reconquistar a paz
interior, tão em falta nos dias atuais onde o mundo do saber é uma “Torre de Babel” na qual
ninguém se entende devido a fragmentação; cita que a maior de todas foi a que dividiu homens
em corpo, emoção e intuição; visto que esta impede o ser humano de raciocinar com o coração
e sentir com o cérebro. Weil cita Einstein, por ter este físico demonstrado que embora vistos
como diferentes tudo no universo é formado pela mesma energia.
Segundo Weil (1993, p.77) “o homem é uma espécie de transformador de energia, que
a converte em suas várias manifestações: matéria, vida e psiquismo. Por esse raciocínio,
espírito é a própria energia em seu estado primordial”. Assim, “sujeito e universo nada mais
são que manifestações distintas da mesma energia”. Os Egípcios corroboravam com essa visão,
a principal lei da existência para eles era a da correlação entre céu e terra, postulavam que:
“Semear, colher, cozinhar, arar, colher, lavar pratos no transcorrer do dia a dia, segue unindo
céu e terra. E quanto mais plena se manifestar a tua humanidade, mais espelharás a essência do
universo” (ABREU, 2017, p.55).
Em sua obra, A Arte de viver em paz Weil (1993, p. 53) apresenta três formas de
manifestação da energia: a mental que engloba pensamentos e conceitos; a emocional que se
refere aos sentimentos e a física que considera apenas o corpo. Severino (2016a, p. 29) afirma
que a mente a emoção e o corpo está em constante mutação e nem sempre a nossa visão de nós
mesmos corresponde a realidade.

É a nossa mente o mais notável objeto da criação, reflexo da Mente


Divina. Mas, imersa na materialidade, é também a responsável, como vimos
anteriormente, pelo princípio separativo, o centro do egoísmo e o criador da
ilusão da existência, separada, existente entre nós: a doença mental básica da
humanidade (AZEVEDO1, 2005, p. 177 apud ABREU 2017, p. 247).

De acordo com Burgos (2018) houve uma revolução na maneira de pensar o conceito

1
AZEVEDO, C. Órion: filosofia, religião e ciência: sobre o homem. Rio de Janeiro. ABC Editora, 2005.

15
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

mente-cérebro, e hoje se sabe que a mente molda o cérebro e influencia todo o organismo
humano, assim a cada pensamento novo, também são criadas novas conexões e novos caminhos
devido a plasticidade neural. Buda dizia que“ Tudo que somos é resultado do que pensamos.
A mente é tudo. Nós nos tornamos aquilo que pensamos” e o ser humano é a única criatura
terrestre capaz de modificar a biologia pelo pensamento (ABREU, 2017, p.248).
Muitas são as descobertas recentes neste campo, mas o objetivo neste trabalho é apenas
mostrar as possíveis formas da manifestação de energia, que se dá em forma de saltos quânticos
e remetem a semelhança do que ocorre entre o vazio e a forma, que tem relação direta com as
práticas corporais Chinesas, sem aprofundar em questões referentes ao funcionamento cérebro-
mente e as noções de realidade e consciência.
No que concerne a emoção é importante considerar que estas não estão somente no
cérebro, podem ser geradas a partir do autoconhecimento e agir em todo o sistema orgânico. As
emoções atuam no corpo, conforme afirmavam os terapeutas corporais. Emoções agem no
organismo da mesma forma que as drogas e tem o poder de modificar o comportamento humano
(PERT 2, 2009, p. 37-38 apud ABREU 2017, p. 262).
O corpo será abordado posteriormente de maneira mais detalhada, mas cabe ressaltar
que este corpo também é energético e exprime todos os equilíbrios e desequilíbrios causados
pela mente e pelas emoções, assim sendo nada está desvinculado. A transformação do corpo
físico é a mola propulsora para transformação do corpo emocional pois o corpo “modela a
cabeça e ajusta o espírito” segundo Cobra (2003).
Segundo Severino (2016c) a tranquilidade física não é dissociada da mental e uma não
existe sem a outra. “Esta Tranquilidade mental é conhecida como “meditação” – chan em
chinês, zen em japonês shine em tibetano, vipásana em sânscrito”. Este assunto será retomado
adiante, ao tratar da questão das práticas corporais. A seguir serão abordadas algumas filosofias
que norteiam as práticas da MTC.

Filosofias que influenciaram as Práticas Corporais Chinesas

Budismo
O Budismo foi trazido a China pelo 28° Patriarca Bodhidharma e apesar de ter muito do
Taoísmo e do Confucionismo, é autêntico segundo Severino (2016c). A China recebeu o
Budismo de fora e o integrou às suas duas tradições nativas, o Taoísmo e o Confucionismo,
assim como o mundo europeu, por sua vez, acolheu o Cristianismo de fora (do Médio Oriente)
e o integrou às suas tradições helênicas e romanas.
O Confucionismo e o Taoísmo, tradições nativas da China, acabaram acolhendo o
Budismo importado de tal forma que foram transformados por ele, assim como o Budismo

2
PERT, C. Conexão corpo mente espírito para o seu bem estar. São Paulo. Barany Editora, 2009.

16
ADRIANA SIANE DE SENE

também emergiu da transformação desse “casamento”. A longa e complexa história dessas


interações, e do surgimento de um viés mais metafísico e até místico, revela a futilidade de
generalizações simplórias.
Os Budistas observam os símbolos que os ajudam a transformar os estados neuróticos
da mente discursiva, proporcionando-lhes uma base sólida para compreender os estágios do
caminho rumo à iluminação e os Lamas budistas tibetanos formularam todo o sistema
Kalachacra (roda do tempo), seu sistema Parka e Mewa (astrologia tibetana) e a astro-medicina
tendo como fundamento o I Ching, segundo Severino (2017).
Segundo sua Santidade Dalai Lama (1935, p.31) “todas as grandes religiões do mundo
enfatizam a importância da prática do amor, da compaixão e da tolerância” e assim também
ocorre com as tradições Mahayana, Tantrayana e Theravada , que declaram que “a compaixão
e o amor constituem a base de todos os caminhos espirituais”.
No Budismo não existe uma regra, uma hierarquia a ser seguida como no Cristianismo
e seu propósito é atingir o Nirvana (extinção do fogo do desejo), num plano de experiência que
é pessoal e intransferível pois a iluminação é um despertar pessoal, segundo Pelmo (2017).
Buda significa aquele que desenvolveu todas as qualidades excelentes, que criou o
hábito de ser compassivo, equânime e ético, ou seja, todos podemos ser Budas. Ele é pintado
com base no número áureo, série Fibonacci, conforme Severino (2016a).
A base da Doutrina Budista está em fazer o bem e purificar o coração, visto que a mente
está poluída pelo ódio, pela raiva e pela ignorância fundamental, que é o não conhecer a si
mesmo. É a ignorância, o desejo e o apego que giram a roda da vida, segundo Pelmo (2017).
Para Sua Santidade Dalai Lama (1935), o propósito da existência está na busca da felicidade e
realização neste mundo e contra os efeitos da raiva e da ignorância deve se praticar a
tolerância e paciência.
Buda nunca falou em religião, mas sim em estrutura da mente, pois tinha como objetivo
a destruição da morte. Para Buda não é possível nomear Deus, porque palavras não são capazes
de traduzi–lo, mas é possível integrá-lo e senti–lo no coração ( SEVERINO, 2016c).
Para o Budismo (PELMO, 2017), todos os fenômenos são produzidos por causas e
condições, não surgem de forma mágica e os 04 ensinamentos de Buda são:
! A preciosa vida humana, que deve ser usada em duplo benefício, do eu e do outro, ou
seja, devemos agir como um Buda;
! A natureza defeituosa de Samsara – a causa do sofrimento é a distração;
! A lei do Karma, ação, que é a reunião de causa e condições para que algo aconteça – no
budismo não há culpa ou perdão, apenas responsabilidades e o Karma amadurece sempre no
seu autor ; e
! Lei da impermanência, motivo pelo qual não há casamento Budista e que também
confirma que estamos em constante transformação.
Buda ensina a prática da excelente virtude não cometendo qualquer mal, afim de

17
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

disciplinar a mente. Segundo Pelmo (2017) o apego é a percepção errônea da realidade e a causa
de muitos sofrimentos que somente cessarão com a compreensão da mente e o despertar. De
acordo com Buda, conforme explicação de Pelmo e Severino (2017) o sofrimento dos humanos
está no nascimento, na doença, na velhice e na morte e somente através da compreensão da
mente pela meditação se pode modificar o Karma e atingir o despertar, sendo necessário para
isso a atenção plena e cita 04 elementos desta atenção:
! Atenção em relação ao corpo;
! Atenção em relação às sensações;
! Atenção em relação a mente; e
! Atenção em relação aos pensamentos.
O Budismo propõe a sabedoria em se relacionar com a realidade de uma forma
coerente com o que essa realidade é de fato, ou seja, algo mutável apesar da aparente
permanência como geralmente ela é vista. A ignorância surge ao ver o que é subjetivo como
se fosse objetivo. Para o Budismo existem o mundo Superior e o Inferior estando a ignorância
ao centro e precisamos acumular méritos para colocar em nossa conta bancária visto que ao
longo da vida consumimos o Karma (SEVERINO, 2017).
As 04 nobres verdades:

! Sofrimento – duka por conta da impermanência;


! Causa do nosso sofrimento é o vir a ser, o desejo e a aversão;
! O fim do Sofrimento é o Nirvana – não alimentar os agregados; e
! Causa do fim do sofrimento é o Caminho óctuplo, a possibilidade de tornarmos um arhat
e está relacionado aos 08 trigramas do I Ching.
Para Buda a maior parte do sofrimento humano está relacionada à forma errada de
pensar e todo seu trabalho é para estar consciente. A palavra de Buda é denominada Sutras e os
comentários feitos pelos estudantes sêniors, Satras. Ninguém pode adulterar as palavras de
Buda e não existe Budismo sem prática, segundo Severino (2017).
Confucionismo

Até hoje a China é um país Confucionista e para entendê-la é necessário conhecer


Confúcio, segundo Menezes (2016). Todo o ensinamento de Confúcio partiu do I Ching, ele
cunhou os conceito de Homem Superior e Inferior e afirma que o Homem Superior se atenta as
pequenas coisas, acumulando pequenos êxitos. Para Confúcio o Homem Inferior precisa ser
educado por ser instintivo. Confúcio escreveu 07 obras sobre o I Ching, totalizando dez volumes
denominados Dez Asas, de acordo com Severino (2017).
As origens do Confucionismo remontam ao sábio Confúcio (551 - 479 a.C.), cujo
pensamento filosófico defendia a formação do indivíduo por meio de uma educação extensa
e humanizadora, que lhe trazem boa fortuna, que traduzimos como benefício da coletividade,

18
ADRIANA SIANE DE SENE

ele nos apresenta as regras éticas morais que são apresentadas no Código Marcial da China e
no Bushido, Código de Honra dos Samurais (SEVERINO, 2017).
Os Confucionistas observam as imagens e as interpretam como deveres, regras sociais
e de comportamento humano e rituais. Inspirado na teoria dos cinco elementos, o mestre
Confúcio se baseia nas imagens para oferecer os seus “comentários sobre a decisão” (t'an
chuan), transformando-as nas cinco virtudes: o amor ao próximo, a justiça, o cumprimento das
regras adequadas de conduta, a autoconsciência da vontade do céu e a sabedoria e sinceridade
desinteressadas, que é o mesmo princípio do Taoísmo, denominado em Confúcio de inocência,
segundo Severino (2016a; 2016c).

Confúcio apresenta a questão do auto sacrifício que se relaciona com a necessidade de


fazer o que se gosta e o conceito de amor ao próximo que está ligado a importância da
experiência de uma vida social e comunitária para a qual deve se trabalhar para ter a consciência
do mandato do céu, segundo Menezes (2016).

Para Confúcio Justiça tem a ver com merecimento e colocar todos como iguais não é
verdadeiro, assim como não o é, nivelar por baixo. Confúcio não pregava a aceitação plena de
um papel definido na sociedade, mas sim que cada um cumprisse com seu dever de forma
correta. Já o condicionamento dos hábitos serviria para temperar os espíritos e evitar os
excessos. Sua doutrina apregoava a criação de uma sociedade capaz, culturalmente instruída e
disposta ao bem-estar comum, conforme Severino (2017).

Segundo Souza e Wu (2015, p.27) o Confucionismo está relacionado a erudição e


voltado para harmonia cotidiana e considera que “para a formação do caráter de uma pessoa, é
necessário que se cumpram seis estudos clássicos: Yi Jing, Ritos e Cerimônias, Poesia,
Literatura, Música e História”. A sua doutrina é representada por 06 palavras chaves, conforme
Severino, 2017:

! Jin, virtude mais elevada, que é a norma da reciprocidade


(interdependência dos fenômenos) ou da bondade (sair da sua zona de
conforto para ajudar o outro);
! Chun-tzu, Homem Superior. Segundo Confúcio, o homem para ser
perfeito deve ter humildade, magnanimidade, sinceridade, diligência e
amabilidade. Somente assim, ele poderá transformar a sociedade em um
estado de paz. Porém, a realidade do ser humano é outra. O homem natural é
egoísta, soberbo e mal. Ser magnânimo significa oferecer o que há de melhor
em você ao outro. A corrupção está associada ao ódio contra si mesmo, a perda
de contato com seu próprio espírito;
! Cheng Ming, ratificação dos nomes, papéis que exercemos em família
e na sociedade, que significa o rei, atuando como rei, o pai como pai, o filho
como filho, o servo como servo, como consta nos Analectos;
! Te, poder, autoridade. Confúcio ensinava que a virtude do poder, e não
a força física era necessária para dirigir qualquer sociedade. Todo governante,
segundo ele, deveria ter esta autoridade para inspirar seus súditos à
obediência. Este conceito perdeu-se durante o tempo de Confúcio, dado à
predominância das guerras e sobrepujança das dinastias entre si;
! Li - padrão de conduta exemplar, propriedade, reverência. Este conceito

19
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

é tratado no Livro das Cerimônias (Li Ching), um dos Cinco Clássicos.


Segundo Confúcio, cada governante deveria ser benevolente, proporcionar um
bom padrão de vida para o povo e promover a educação moral e os ritos. Sem
esta conduta, o homem não saberia oferecer a adoração correta aos espíritos
do universo, não saberia estabelecer a diferença entre o rei e o súdito, não
saberia a relação moral entre os sexos, e não saberia distinguir os diferentes
graus de relacionamento na família. Como exemplo perfeito de benevolência,
ele exaltava o legendário Imperador Yao e seu sucessor, o Imperador Shun, os
quais foram renomeados e constituíram, como diziam, "uma idade de ouro da
antiguidade"; e
! Wen, artes nobres, que inclui: música, poesia e a arte em geral.
Confúcio tinha uma grande estima pela arte vinda do período da Dinastia

Chou, e considerava a música como a chave da harmonia universal. Ele


acreditava que toda expressão artística era símbolo da virtude e que deveria
ser manifesta na sociedade. "Aqueles que rejeitam a arte, rejeitam as virtudes
do homem e do céu". Para Confúcio, a música era um reflexo do homem
superior e espelhava seu caráter verdadeiro.

Os confucionistas pedem para cultivar a humildade e reconhecer seus erros, pois entende
que ao experimentar a humildade se está a um passo da coragem conforme Severino (2016 c).
Para Confúcio as 05 virtudes essenciais se relacionam com os 05 elementos: terra, água, fogo,
metal e madeira, e o poder está em ter consciência e viver de acordo com o destino, escolhendo
amigos que tenham o que ensinar e colaborem na jornada. Ele entendia que médicos,
professores e militares não deveriam receber por serem profissões de doação (SEVERINO,
2017).

Taoísmo
O Taoísmo foi fundado por Lao-Tsé (551 a. C. - 479 a. C) quando da escrita de seu Tao
Te Ching, um livro composto por 81 poemas e tido como o tratado fundamental da “escola
do Tao”. O Taoísmo quer que sejamos livres pensadores e um com a natureza, ou seja, o
contrário do que vivemos. Para o Taoísmo a mente conceitual é o que nos separa da natureza e
só buscamos acessá-la quando estamos em crise. O Tao é contraditório para os Ocidentais
porque não pode ser classificado e quer que tudo o que se sabe seja questionado para concluir
que não há respostas por entender não ser possível cobrar uma sociedade livre e justa quando o
questionador não o é. Na China o Taoísmo é a religião dos letrados, conforme Severino
(2016c).

Ao se referir ao Tao, Lao-tsé descreve-o como um princípio de não-


ser, que dá origem a todas as coisas. O Tao é o Vazio, prossegue, mas ao
mesmo tempo, é uma Substância que está presente em tudo o que é. Essa
filosofia desenvolveu-se a partir da observação da natureza. O Taoismo vê a
natureza como um equilíbrio harmonioso ( TELESI, 2016).

O Tao não se define, a definição o limitaria, sua essência é o não ser, a idéia de ser algo
é apenas sua projeção. O Tao, ou o Tai Chi é a Lei Fundamental ou o Primeiro Princípio do

20
ADRIANA SIANE DE SENE

Universo. No início, Yin e Yang eram considerados como algo místico, porém elas são forças
negativas e positivas que governam o universo. Sua função é o trabalho persistente no tempo
suave e temos como exemplo a raiz, que desvia dos obstáculos e segue seu destino. Trata se de
uma filosofia que sintetizaram conceitos do Yin–Yang, dando origem as 04 formas que
sintetizam as 04 estações do ano e aos 04 pontos cardeais (SEVERINO, 2016 a).

Kit (2001) confirma o dito acima afirmando que o TAO não pode ser nomeado por ser
indiferenciada a realidade máxima, ela só pode ser experienciada diretamente, portanto, é
indescritível e se conceituarmos qualquer coisa no tempo-espaço o limitamos, esta realidade
máxima é o mesmo que o cosmo, é o vazio, é a união com o absoluto, o mesmo que alcançar a
iluminação. Para Telesi (2016) a origem de tudo é o Vazio no Taoísmo, é o não-ser, portanto,
tudo retorna ao seu estado original e aquilo que existe morre e o que se forma também
decompõe. Surge do vazio a forma e o contrário também é verdadeiro sem julgamento de valor,
mas no equilíbrio e harmonia entre todas as coisas.
Segundo Cairo (2014, p. 57), o Tao não pode ser definido e tem foco na natureza e
valoriza a intuição sendo que os seres humanos, como dizia Chuang Tsé “tornam se sábios por
sua tranquilidade, reais por seus movimentos”. Isso remete a afirmação de Campbell (2008) de
que ao fazer o que chama de Deus transparente ao transcendente não há a necessidade de
nominá-lo. Para os Taoístas o Universo está em constante movimento de expansão e contração
e tem uma natureza cíclica, conforme representa o símbolo do TAO, que ora é escuridão e ora
é luz, segundo Fritjof Capra3 (1991), citado por Abreu (2017), ou seja, Yin e Yang
respectivamente. Cabe frisar que esses opostos complementares contém a semente um do outro
e são necessários para alcançar a tranquilidade e paz de espírito. A mais importante
característica da visão Oriental de mundo é justamente essa consciência da unidade e da inter-
relação de todas as coisas.
“O Um emana do Tao, o dois surge do Um, o três do dois e do três as dez mil coisas,
porém todos têm Yin e Yang. Yin e Yang significa coordenar” (LAO TZU apud SEVERINO,
2016c, p.32). Conforme Abreu (2016) o Tao absoluto didaticamente se classifica em Tao em
estado latente e Tao em estado manifesto, apesar do mesmo ser indivisível. O primeiro é
como o silêncio, a ausência que permite tudo, a potencialidade que origina toda e qualquer
coisa, denominado de Wu Chi, o princípio da criação o Tao do Céu anterior. Já o Tao
manifesto ou do céu posterior é o Tai Chi, a soma de todas as coisas, a síntese, está manifesto
em tudo o tempo todo.
Severino (2016a, p. 21), citando Wang Pi escreveu: “Movimento não pode controlar
movimento” Aquilo que controla o movimento é Uno”, e o Uno é o Tao ou Tai Chi, o princípio
Fundamental do Universo, por ser universal e onipresente não pode ser designado a um evento,
3
CAPRA, F. O Tao da Física: um paralelo entre e física moderna e o misticismo oriental. São Paulo:
Cultrix,1991.

21
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

os Neo Confucionistas o chamam de Supremo Genuíno (Wu Chi). “O Tai Chi produz duas
forças, movimento e quietude, as quais produzem Yin e Yang. Essas duas formas são os
atributos do Tai Chi, enquanto movimento e quietude representam as forças opositoras desses
dois atributos”.

Os Taoístas observam a transformação do ching (a energia básica


neurobiológica do indivíduo) em chi (energia intrínseca que está contida no
sangue e na respiração), do chi em shen (espírito ou mente pura), e do shen
em vacuidade. Utilizando os ensinamentos contidos no I Ching, eles se
isolavam nas montanhas para realizar profundos trabalhos de transformação
de sua própria natureza espiritual. O Tao Te King, obra atribuída ao mestre
Lao Tzu, tem como fundamento o estudo do I Ching (SEVERINO, 2016b).

Para o Taoísmo, corpo e espírito andam juntos, portanto, a representação do espírito é


através do corpo sendo que no espírito há um pouco de matéria e o contrário também é
verdadeiro. O corpo é a expressão da mente, mas no meio se encontram as emoções. Segundo
Abreu (2016, p.96) “o taoísmo é uma tradição na qual o espiritual, o cultural, a religião, a
filosofia e a ciência não estão separados. O continuum do Tao está relacionado à luz, ao Yang,
a consciência e o Yin é o espírito primitivo. Quando Platão fala do bem, do belo e do um é
possível a comparação entre o yin, yang e o Tao (SEVERINO, 2017). O Tao é o eterno para o
Hebraico, o olho que tudo vê para o Cristão e em sânscrito representa o Dharma, segundo
Severino (2017). Os Taoístas têm como objetivo mais elevado retornar ao vazio transcendendo
a imortalidade (KIT, 2001).
O Taoísmo inicialmente não acreditava na reencarnação, mas sim na transmigração e
achava o Budismo pessimista. Para o Taoísmo a aceitação do curso natural das coisas nos deixa
sempre tranquilos independente das ocasiões serem alegres ou tristes e nos ensina que aceitar a
inevitabilidade da morte nos permite aproveitar melhor a vida. A mudança imutável é
precisamente o que os Chineses chamam de Tao; é a realidade última percebida interior e
exteriormente. A busca do Taoísmo é a imortalidade, alguns a desejam fisicamente e outros
espiritualmente (SEVERINO, 2016c).
As tradições e éticas Taoístas variam de acordo com a escola, mas em geral enfatizam
a serenidade, a não ação (Wu-Wei), o vazio, a moderação dos desejos, a simplicidade, a
espontaneidade, a contemplação da natureza e o que denomina seus 03 tesouros: compaixão,
moderação e humildade. Atualmente o Taoísmo está entre as cinco Religiões reconhecidas pela
China.
Souza e Wu (2015) citam que o Taoísmo denominado Dào jiã se preocupa com a
compreensão do Universo e tem seus ensinamentos pautados nas Três Obras do Mistério,
denominada de Tradição Secreta: O Tratado das Mutações (raiz), o Livro do Caminho e da
Virtude (tronco) e o Livro da Flor do Sul (flor).
Cherng4 (2001, apud ABREU, 2016) afirma que para os Taoístas tudo se constitue de

4
CHERNG, W. J. Iniciação ao Taoísmo. Vol. I. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Mauad,2001.

22
ADRIANA SIANE DE SENE

três elementos: o físico, o energético e o espiritual, que combinados se relacionam com o céu,
com a terra e com o tempo e espaço, possibilitando a cada indivíduo características próprias e
ritmos distintos.
O Tao serve na investigação das leis do número, que governa o tempo e o espaço. O
número celestial é o tempo, melhor conhecido pelos animais do que por nós, representam as
estações do ano e o espaço é a manifestação do tempo aqui na terra (SEVERINO, 2016a). Do
Tao (o Uno), segundo Telesi (2016), originou o Yin e Yang, opostos do equilíbrio harmônico,
cujas energias se alternam e não são nem boas nem más.

I Ching

Para Severino (2016c, p.53) o I Ching é uma filosofia sintética, é “um livro de
disciplinas unificadas, incluindo estudos de cosmologia, sociologia, culturologia e ética”.
O I Ching é o livro das mutações, da sabedoria, está entre os cinco livros sagrados da
China, foi organizado para o povo por Confúcio e representa o espírito do povo Chinês, onde o
Ching é você, seu caráter, o que você come, sua ancestralidade e muita das vezes cabe a você
corrigir os erros de seus pais de seus ancestrais. Sabedoria não é Erudição, esta representa mente
cheia do conhecimento do outro, algo externo. A Sabedoria caminha junto com a paz interior e
se mostra em seu corpo, que é onde seu espírito está (SEVERINO, 2017).
O I (易) do I Ching (易經), usado como adjetivo significa fácil ou simples e utilizado
como verbo significa mudar. O Ching (經) significa tratado, clássico, ou texto sagrado. O I (易
) pode significar, além de fácil ou simples, mudança ou transformação, motivo pelo qual o
traduzem como livro das mutações. No I Ching estão contidos os segredos universais e da vida
de cada um, trabalha com 03 princípios: simplicidade, variabilidade e durabilidade
(SEVERINO, 2016b).
Jung e Wilhelm (2001)5, segundo Abreu (2016), elaborou sua teoria da sincronicidade
tendo o I Ching por referência pois nesta, assim como no citado oráculo, todos os
acontecimentos têm relação com a situação universal daquele instante. O I Ching é o Livro
das Transmutações, remonta aos tempos mitológicos, data de 3000 a.C e é baseado na unidade
entre o homem e o cosmo e na existência de princípios complementares Ying-Yang
(princípios feminino e masculino) que se apresentam em 64 diferentes ‘sinais’ de acordo com a
obra de Jung (2016), O Homem e seus símbolos.
O I Ching é simbolizado pelos Hexagramas, que são formados por quatro Trigramas,
cada um contendo três linhas representando o céu, a humanidade e a terra, que combinadas
formam 64 Hexagramas, representando todas as possíveis formas de mudanças, situações

5
JUNG,C.G.; WILLHELM, R. O Segredo da Flor de Ouro: um livro de vida chinês. Tradução Dora Ferreira da
Silva e Maria Luiza Appy. 11ª Edição. Petrópolis – RJ: Editora Vozes, 2001.

23
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

internas e externas assim como as infinitas possibilidades tanto naturais como humanas. As
situações internas são conhecidas como “causa” as condições externas como “condições”. Os
Budistas transformam os trigramas em estados da mente, e os Jesuítas quando foram para
Macau transformaram o I Ching no Caminho da Devoção (SEVERINO 2017).
De acordo com Severino (2016a) em 2223 a.C. o Imperador Fu Shi foi quem catalogou
as oito energias cósmicas que existem antes do tempo, e o evento que divide o Paraíso Anterior,
Lien Shan, do Posterior, Kuei Ts'ang, sendo o I Ching a compilação desses períodos. O trigrama
é um símbolo eterno que comunica a virtude dos seres espirituais e os oito trigramas
representam oito estados de consciência, oito formas de pensar, de falar e de agir, que
constantemente se transformam um no outro, segundo Severino (2016a). São eles:
! Kun – Tem a ver com a mãe, a compaixão;
! Chien – Pai, luz, o céu;
! Sun – Movimento;
! Chen – Explosão;
! Li – Luz, sol, yang ou iluminação;
! Kan – Lua, yin, aquela;
! Tuin- Nuvem, garoa, chuva;e
! Ken –calma, silêncio, obstáculo.
Os símbolos do livro das mutações foram duplicados a partir do Tao do Céu (obscuro
e luminoso), Tao da Terra (Maleável e Rígido) e Tao do Homem (amor e justiça), de forma que
as linhas do trigrama formam as 06 linhas que interagem mostrando três poderes sobre dois
aspectos: Yin e Yang, o que pode ser visto no Hexagrama 63, no qual os 03 poderes estão em
seu estado primordial (SEVERINO 2016a).
No I Ching encontramos as seguintes teorias (SEVERINO, 2016c, p. 65- 66):

Teoria da Cosmologia – ou seja, a teoria do yin e do yang, os cinco elementos


e todo o processo da formação dos universos que, hoje a ciência ocidental está
comprovando;
A Teoria do Pluralismo – O céu e a terra e as miríades de coisas são formadas
pelos cinco elementos que estão em continuo conflito;
A Teoria do Dualismo Corporal – O corpo humano consiste de estrutura e
espirito, ou corpo e mente;
A Teoria dos Valores vivos – Ou seja, nos seus julgamentos e imagens estão
contidos os mais altos padrões morais como o: amor, honestidade, humildade,
equilíbrio e generosidade. Inclui também, a procura pela harmonia que surge
da quietude interior, ou seja, a mente libre do pensamento conceitual que nos

24
ADRIANA SIANE DE SENE

amarram ao passado e nos iludem em relação ao futuro, gerando em nossa


mente o medo e a esperança;
A Teoria da personalidade ideal - de onde surge a ideia do Sábio que tenta
transformar sua conduta tomando como imagens a função do céu da terra, do
sol e da lua e das quatro estações, para então poder se relacionar com os outros
seres e com os espíritos; e
A Teoria da unidade - ou seja, o Tao do céu, da terra e da humanidade são
um só.

No I Ching está contido o Tao do céu e da terra. Mestre Liu Chi Ming que apresentou o
primeiro livro do I Ching de Roque Severino, em 1994, disse o seguinte sobre o I Ching:

Abrangente e profundo em sua abordagem inclui os princípios cósmicos do


Universo, a filosofia humana, matemáticas, Geometria, Astrologia, Geografia,
Geomancia, Medicina, Estratégia Militar, Arte Marcial, Arquitetura, Política
e Região. Trata se de um conhecimento que representa o Espírito da Cultura
Chinesa, tendo vários níveis de compreensão e várias direções (apud
SEVERINO, 2016a).

Segundo Severino (2016a), a transmutação da vida humana é representada pelo I Ching


através da consciência, permitindo ao ser humano encontrar em si mesmo respostas para todos
os aspectos da sua vida, o que significa uma “revolução sem dogmas, organizações ou
bandeiras” (SEVERINO, 2016a, p.5).
Resumindo, o I Ching alerta sobre os riscos da jornada, mas cabe a cada um a decisão
de segui-lo ou não. O I Ching proporciona ao homem os meios para cultivar sua natureza de
modo a que suas inatas potencialidades possam se manifestar em toda a sua pureza, segundo
Severino (2017).

A Saúde e as Teorias da Medicina Tradicional Chinesa (MTC)

No oriente a saúde é vista em termos de Sistema Energético, abrangendo estágios mais


elevados do que o conceito de “carne, sangue e ossos” (KIT 2001, p.168), citando James
McRitchie, ao afirmar que quando esse sistema não está equilibrado há a probabilidade de
adoecimento, sendo necessário tratar a origem e não o sintoma. No ocidente, de acordo com
este mesmo autor não há nenhum livro que defina claramente estado de saúde, não tem um
método que indique quando se está saudável e a saúde é reduzida a ausência de doença, vista
através do sintoma, assim, sáude é não estar doente. Para os Chineses a base de todos os
cuidados e da sáude é o Chi, a energia.

25
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

De acordo com Cobra (2003), “sáude é alegria de viver” é um equilíbrio orgânico no


qual mecanismos interagem e movimentam o corpo para que o mesmo funcione de maneira
adequada. Para Campbell (2008) o homem é uma força mística cuja sabedoria intrínseca a sua
existência representa o poder da vida que deu forma a todos os seres humanos no útero materno
e vive em cada ser fluindo no campo e espaço como força transcendente, além do poder de
conhecimento, esta energia é contida no corpo e muitas vezes fica atada em função da mente e
da visão que não permitem que ela flua, resultando em adoecimento pelo seu bloqueio e/ou
estagnação. Assim, ele afirma que a forma de evitar a estagnação, que está diretamente
relacionada ao processo de adoecer, é ser “transparente ao transcendente” (p.19).

Segundo Leloup (2015), os Terapeutas de Alexandria, assim como os Chineses


consideram a doença um bloqueio de energia. “As doenças são como mensagens que enviamos
a nós mesmos, para que possamos nos curar. A doença é um esforço do corpo para se curar”
(LELOUP, 2015, p.107).

Para Abreu (2016), a Medicina Tradicional Chinesa se baseia nas Teorias do Yin e Yang
e na Teoria dos Cinco Movimentos concentrando se na observação dos fenômenos naturais e
seus ciclos, bem como nos princípios que o regem de forma a fazer uma analogia entre estes e
a fisiologia do corpo humano, visto considerar o homem um microcosmo e o universo o
macrocosmo. A seguir breve resumo destas teorias para contextualizar o tema.

Teoria do Yin – Yang

Comumente, os Ocidentais ao tentarem compreender a visão Chinesa do ponto de vista


do raciocínio lógico deduz que os opostos são diferentes e não compreendem a
complementaridade e tampouco que um só existe a partir do outro e que tudo no universo é
cíclico, está em movimento e é impermanente. Com a Física reconhecendo a dualidade onda –
partícula pode se observar a correspondência com a teoria do Yin – Yang, com a filosofia
hinduísta e com o princípio da polaridade egípcia, ou seja, é a comprovação científica das
antigas tradições consideradas como místicas.
O significado da palavra Universo traz a unidade na diversidade, visto que uno
significa causa e verso efeito. Citado por Abreu (2017), Einsten6 (1915) afirmou na Teoria da
Relatividade, que toda a energia transforma se em matéria e vice-versa corroborando com a
visão oriental. Jung7 menciona essa polaridade ao teorizar sobre animus e anima que são os
opostos complementares da mulher e do homem, respectivamente (CAIRO, 2014). Para a

6
EINSTEIN, A. A Teoria da Relatividade Especial e Geral. 1915.
7
JUNG, C. G. Obras Completas: Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Vol. IX/1.Editora Vozes,
2000.

26
ADRIANA SIANE DE SENE

antiga civilização egípcia, toda a criação também tinha por finalidade harmonizar os
contrários.
Para muitos eruditos, conforme afirma Kit (2001), o universo é controlado por duas
forças primordiais que constituem o cosmos, que é o yin e o yang e que não são apenas opostos
como difundido, mas o são também complementares em relação a todo universo e dependem
de uma referência assim como o céu só está acima quando o relacionamos a terra que está
abaixo. Assim Yin e Yang se constituem em uma unidade com dois aspectos, motivo pelo qual
a “harmonia yin–yang é essencial para a saúde” (p.25). Segundo Kit, o Yin representa a
quietude, a mente e a habilidade enquanto que o corpo, o movimento e a aplicação se relacionam
com o yang.
Na Escola do Yin Yang os movimentos sempre têm a forma circular, mas o mais
importante é sua tendência progressiva de definir o desenvolvimento da sociedade, da
moralidade e da civilização. Yin e Yang dão origem às quatro formas relacionadas as estações
do ano e as direções, Norte, Sul, Leste e Oeste. “Enquanto o dualismo vê a Física e Metafísica
como entidades separadas, a visão Chinesa Yin-Yang, as vê como eternamente complementares
e mutantes” (SEVERINO, 2016, p.21).
O Chinês não considera o corpo e a “alma” como existência absoluta e acabada, se
interessa pelo processo, pela harmonia e pela funcionalidade e considera o interesse no corpo e
alma como forma de manter a existência, a consciência cósmica que é o ser humano. Dentro
da Medicina Chinesa fala se muito da forma e do vazio, “que segundo o pensamento antigo”
são as duas faces de um mesmo processo em constante cooperação(TELESI, 2016).
De acordo com Abreu (2016), o Chi através das combinações do Yin–Yang promove
uma constante mudança rítmica na natureza e são os seguintes pontos, os principais na dança
da interdependência do Yin –Yang:
! Yin –Yang são estágios complementares de uma unidade;
! Yin contém a semente Yang e vice versa;
! Nada é uma coisa só, ou seja, Yin ou Yang; e
! Um se transforma no outro.

Segundo Kit (2001, p.23), citando o Mestre Wang Zong Yue, o Tao nasce do vazio,
originando “o movimento e o repouso, é a mãe do yin e o yang. Quando movido, separa; quando
em repouso unifica”. A primeira manifestação do Tao é o vazio, segundo Telesi (2016), e sob
a atuação das Leis Naturais nasce a Teoria dos Cinco Elementos ou Cinco Movimentos

27
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Teoria dos Cinco Elementos


A teoria dos cinco movimentos ou cinco elementos é um dos pilares da Medicina
Tradicional Chinesa e se relaciona com a dinâmica dos fenômenos naturais, tendo sido escrita
por Shang Shu, na dinastia Zhou, porém seus registros são do período da guerra entre os estados.
Simbolizam os movimentos de transformação e integra o homem à natureza pois o que acontece
com um acontece com o outro, segundo Telesi (2016).
Os cinco elementos são 05 componentes ligados ao seu caráter ou sua consciência,
traduzem o ciclo da vida e da natureza que também é governada por ciclos (SEVERINO, 2017).
Kit (2001) ressalta que os cinco elementos são processos que representam o Universo através
do metal, água, madeira, fogo e terra.

"A simbologia dos cinco movimentos reflete na essência da prática da


MTC: através dos símbolos expressam-se verdades profundas de fenômenos
psíquicos e energéticos, a estrutura e o funcionamento da psique e da mente
humana, a interação do físico com a natureza e, sobretudo, o processo do
mundo externo na influência de adoecimento do ser humano", segundo JIA8
(1998, apud Telesi, 2016, p.5)

De acordo com Severino (2016a) são os cinco elementos (metal, madeira, fogo, água e
terra) a essência de tudo que é manifesto e não adquirem nenhuma conotação pessoal, eles
representam as cinco fases do Chi, se relacionam com as cinco fases de transformação
representando o Universo manifesto. Simbolicamente, segundo Lao Tsé, em citação de Kit
(2001), a água transforma a todos os processos e permanece intacta, ela enferruja o metal,
apodrece a madeira, pode extinguir o fogo e transportar a terra.

A interação harmônica entre o homem e a natureza, e entre ele e os


demais seres, depende do fato de todos, sem exceção, serem descendentes de
uma mesma totalidade – o Tao, o Uno -, formando um padrão cósmico e
obedecendo às mesmas leis naturais, de preservação da vida, de manutenção
e de cuidado entre si. A matéria e a energia que conhecemos, são apenas
expressões diferenciadas de uma mesma natureza, e é possível, sob certas
condições, converter uma na outra. Haveria então no Universo uma única
substância, a quintessência – feito o éter dos gregos (TELESI, 2016).

Na Medicina Chinesa médico e paciente estão em igualdade dentro do processo saúde


– doença enquanto na Medicina Ocidental cada órgão é visto sob um aspecto anatômico-
material, a Medicina Chinesa os considera como um sistema complexo (MACIOCIA9, 1996,
apud TELESI, 2016). Para os Chineses cada conjunto de órgãos e vísceras se manifestam
através de um padrão energético, tanto no nível material quanto espiritual e não é possível
estudar um órgão em específico sem considerá-lo parte de um todo. No Egito membros e

órgãos tinham função metafísica, muito além do objetivo físico e a respiração era considerada
8
JIA, J.E. Chan Tao, Essência da Meditação. Plexus Editora, São Paulo, 1998.
9
MACIOCIA, G. Os Fundamentos da Medicina Chinesa. Ed. Roca, São Paulo, 1996.

28
ADRIANA SIANE DE SENE

função vital. Sabiam ser o coração o responsável pela circulação, mas acreditavam ser esta
dependente da respiração (ABREU, 2017, p.146).
Maciocia9(1996 apud ABREU, 2016) entende ser o Chi a base de tudo e que as
demais substâncias são a sua manifestação em graus diferentes de materialidade, variando do
material, assim como os fluídos do corpo (Jin Ye) para o imaterial, a mente (Shen) Maciocia
(1997) cita que cada um dos cinco grandes órgãos (coração, fígado, pulmão, rim e baço) que
compõem o corpo humano está relacionado a um determinado aspecto mental (mente, alma
atérea, alma corpórea, força de vontade e pensamento) Telesi (2016) e Severino (2016a)
também o relacionam com os cinco elementos (fogo, madeira, metal, água e terra) conforme
se descreve a seguir.

Mente (Shen) com o Coração (Xin)- Elemento Fogo


O Shen reside no coração, que é onde o Eu habita e representa a somatória de todas as
outras energias, seu ideograma traduzido por alma é uma noção energética apenas, pois na
Cultura Chinesa e no Taoísmo não há menção a qualquer entidade puramente espiritual ligada
ao corpo humano segundo Maciocia9 (1996, apud TELESI, 2016). Segundo Severino (2016a)
o coração é representado pelo elemento fogo, tem a ver com a energia de ascensão, com o
vermelho, com o verão, com as emoções, estresses e servem para dar calor, cozinhar,
transformar a matéria, é o coração que mantém a vida e quando não se está saudável o coração
produz a estagnação do sangue, impactando nos demais órgãos.

Pensamento (Yi ou Tyh) com o Baço (Pi) - Elemento Terra


Afirma Maciocia9 (1996, apud TELESI, 2016) que o Yi ou Tyh costuma ser traduzido
por pensamento ou qualidade do pensamento, designando mais a atividade de raciocínio e de
memória. A tendência de Yi parece mesmo ser a de qualificar o Shen (Mente), dando um
sangue novo, carregando nutrientes que levam ao Mar das Medulas (Cérebro) o combustível
energético. Tem relação com as obsessões ou pensamentos repetitivos, sempre ligados a Terra,
indicando uma “fragilidade psico-afetiva, como as observáveis nos períodos de gravidez ou
menopausa, ou nas patologias crônicas, nos pesadelos e nos estados de fadiga constante”. De
acordo com Severino (2016a) a Terra é todas as estações, associada ao Estômago, ao Baço e
Pâncreas que estão no centro do corpo e o alimentam, tem relação com a paz, a estabilidade, a
doçura, o baço contém a energia que nos faz refletir e é o “sistema central na produção do Qi.
A terra responde pela parte física do ser, seu equilíbrio depende da capacidade da Terra de
transformar energia e distribuí-la de maneira uniforme.

Alma Corpórea (Po) com o Pulmão (Fei) – Elemento Metal

29
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

É a parte primitiva da consciência e representa um dos lados do inconsciente, está ligado


às reações instintivas e encontra-se ativo desde a fecundação do ovo (zigoto), Capta o que está
fora, e absorve para si as qualidades do outro. Corresponde à vida mental das espécies inferiores
da cadeia filogenética para Maciocia9 (1996, apud TELESI, 2016) . O elemento Metal tem um
movimento para dentro, representando o outono, está relacionado a afeto, alegria, portanto, a
tristeza afeta os pulmões. Os pulmões afetam o Qi do corpo todo e auxiliam na movimentação
do Qi e dos fluídos corpóreos para a parte inferior do corpo (SEVERINO, 2016a).

Força de Vontade (Zhi) com o Rim (Shen) – Elemento Água


Conforme Maciocia9 (1996, apud TELESI, 2016), o Zhi reside no Rim, tem a ver com
a força de vontade ou determinação (potência) para as questões pessoais. “Nesse sentido, um
claro elo mediado pelo Coração, fica estabelecido entre o Zhi e o Shen (Mente). É neste sentido
que Zhi qualifica o Shen (Mente), atribuindo-lhe ou não uma dose extra de força”. A água é
uma energia descendente, que tem o inverno por representação, em equilíbrio transporta a vida
e em desequilíbrio provoca inundações. A água é imprevisível, criativa e tem grande capacidade
de adaptação, é ela a responsável pelo curso das estações e corresponde a energia ching
(ancestral). No corpo humano a água está associada aos fluídos essenciais e o rin tem por função
conservar a energia vital e a distribuir pelo corpo. (SEVERINO, 2016a).

Alma Etérea (Hun) com Fígado (Gan) – Elemento Madeira


O elemento Madeira tem a energia relacionada a primavera, está associado à educação, ao
desenvolvimento gradual persistente e intermedia o elemento fogo e água, controla o movimento.
O fígado trabalha sobre demanda, suprindo as necessidades de outros órgãos sempre que
necessitam de Qi e de sangue. A vesícula biliar também faz parte do elemento madeira e depende
do bom funcionamento do fígado para estocar a bile, além desta função física a bile afeta a
tomada de cisões do indivíduo, quando em desequilíbrio pois o fígado é o responsável pelo
planejamento da vida (SEVERINO, 2016a). As vivências e experiências do passado se
armazenam no Hun, trata se do local de arquivo das emoções, não reconhece o espaço tempo. O
fígado em conjunto com a visícula biliar rege o olhar, a visão, tudo e qualquer imagem que entra
através dos olhos, correspondem a afirmação física do ego sobre o meio,
regem tendões e terminações nervosas e, portanto, é onde se identificam comportamentos de luta,
competição, empenho e determinação, segundo Telesi (2016).
Sob o ponto de vista da MTC, os cinco elementos representam tudo que existe no
universo, e a “física quântica defende a idéia de que o homem é parte imanente da natureza’,
capaz de tomar parte e interferir na atividade da mesma (TELESI, 2016).

Os movimentos implicam em interações de energia nos ciclos de geração, controle,

30
ADRIANA SIANE DE SENE

excesso e contra-dominância entre os elementos, que representa a essência da MTC, “que é a


interação entre o micro e o macro, entre o ser humano e a influência do meio no processo de
adoecimento” (TELESI, 2016).
Os Cinco Movimentos têm correspondência com o temperamento do ser humano, de
maneira que o Coração (Fogo) é a espiritualidade, consciência, o Fígado (Madeira) representa
a adaptação ao meio, o Pulmão (Metal) representa a intuição, contato, o Baço-Pâncreas (Terra)
representa as regras, a racionalidade, e os Rins (Água) representam os sentidos, ação e reação.

Tabela I – Os Cinco Elementos e as correlações com órgãos e vísceras

Fonte: Material de aula de MTC ministrada em 17/02/2018 pela professora Renata Andrade.

De acordo com Abreu (2016) os cinco elementos mostram a relação entre os


fenômenos e ciclos da natureza com as manifestações terrenas e aspectos humanos como os
órgãos, sentimentos e expressão, conforme a Tabela I.
Dentro dos ciclos de movimento temos os ciclos energéticos a saber: Ciclo de
Geração, Ciclo de Controle e Dominância, Ciclo de Hiper Dominância e Ciclo de Contra
Dominância.
Segundo Telesi (2016) no ciclo de Geração, a energia acumulada no órgão fica instável
e terá que liberar o excesso para algum lugar, afim de se reequilibrar. Este ciclo se dá na seguinte
sequência: madeira que gera fogo, que gera terra, que gera metal, que gera água, que gera
madeira (vide setas na cor magenta da Figura 1).
No Ciclo de Controle (vide setas na cor azul – Figura 1) são emitidos pelos órgãos
pacotes de ondas energéticas entre si, visando conter a expansão em excesso de um ou outro
elemento e equilibrar a energia entre os órgãos num ciclo fisiológico, que ocorre no seguinte

31
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

sentido: madeira controla terra, que controla água, que controla fogo, que controla o metal, que
controla a madeira.

Figura 1 – Ciclos de Geração e de Controle dos 05 Elementos

Fonte: Anotações e Material de aula - Andrade (2017)

O Ciclo de Hiper Dominância ou de Super Atuação ocorre no sentido do controle, mas


com liberação de maior carga energética promovendo um maior salto em relação a onda
energética do órgão. Na Contra Dominância ou Afrontação ocorre inversão do salto de energia
e este se dá em direção contrária, oposta ao do ciclo de controle segundo Telesi (2016).

Teoria dos Meridianos

Os meridianos exteriorizam a Energia Fetal (Yuan Qi), materializada nos órgãos e


vísceras, o embrião do ser humano é formado pela energia ancestral, denominada Jing,
proveniente dos gametas dos pais. No desenvolvimento do feto, o Chi dos órgãos e das vísceras
exterioriza-se, formando os Canais de Energia ou Meridianos, sobre os quais ocorrerá
incorporação da matéria para formar membros e tronco (TELESI, 2016). Segundo Kit (2001,
p.170), citando o livro clássico da Medicina Chinesa (Nei Jing) “se a energia vital flui
harmoniosamente pelos meridianos, a doença simplesmente não ocorre” o que significa dizer
que o fluxo do chi nada mais é do que o bom funcionamento da retroalimentação, do sistema
imunológico, do sistema de defesa , do sistema hormonal, do sistema regenerativo, e todos os
outros que mantém o organismo funcionando naturalmente. Trata se da distribuição de energia

32
ADRIANA SIANE DE SENE

através dos Meridianos e dos pontos para sua regulação segundo Abreu (2016).
Através dos Meridianos a energia (Ch’i ou Qi), transita. Eles conduzem a energia,
através do organismo no sentido ascendente e descendente, mantendo o equilíbrio da Energia
Vital. “Seguem os mesmos trajetos dos vasos sanguíneos, de onde recebem energia e levam o
sangue para todo o corpo” (TELESI, 2016). As artes mais importantes do Chi Kung são o
pequeno universo e o grande universo, o primeiro circula a energia no entorno do corpo ao
longo do Ren (Meridiano Conceitual) e do Du (Meridiano Regulador), transformando a
essência em energia e a energia em espírito, promovendo saúde, afirma Kit (2001). Já o grande
universo devolve o espírito ao grande vazio ao canalizar a energia através dos doze meridianos
primários.

Os Meridianos são responsáveis pelo transporte do Sangue (Qi e Xue) e da Energia,


promovem a regulação entre Yin e Yang, e protegem o corpo dos fatores patogênicos externos,
podendo ser o também o canal de entrada de doenças no organismo (TELESI, 2016). Conforme
o pensamento Chinês é através de pontos localizados na pele que o Chi pode ser absorvido,
pontos esses que são os meridianos ou canais de energia que podem chegar a órgãos bem
profundos capazes de ativar os processos corporais, esses canais são classificados em
conformidade com as funções energéticas e dividem se em principais curiosos e distintos,
existindo ainda ramificações e meridianos secundários (ABREU, 2016).

Os Meridianos estão classificados em três categorias: Meridianos Principais (ou


Comuns, ou Regulares), que como o nome já diz é o principal e liga o externo/interno, alto/baixo
e direito esquerdo; Meridianos Curiosos (ou Particulares, ou Estranhos, ou Extraordinários),
são em número de oito, correspondem a reserva energética e não se relacionam com órgãos e
vísceras diretamente; e Meridianos Distintos (ou Divergentes), que são doze e se separam do
Principal e seguem em direção ao abdômen, tórax e cabeça (TELESI, 2016).

Os Meridianos Principais se subdividem em Canais de Energia Secundários, também


denominados Colaterais, a saber: Meridianos Tendino Musculares (comandam as
articulações e esqueletos, por estarem mais na superfície podem absorver as energias ruins do
meio eterno; Vasos Lo Longitudinais ou de Conexão ( acompanham os canais dos principais,
são em número de quinze, e reforçam a associação entre o interior e o exterior); e Vasos Lo
Transversais (consolidam a energia nutricional interligando os meridianos Yin e Yang, estão
situados entre as mãos e o cotovelo e entre os pés e o joelho) (TELESI, 2016).

Existem ainda seis pares de Meridianos Unitários (Tai Yang, Shao Yang, Yao Ming,
Tai Yin, Jue Yin e Shao Yin), que são a união de dois meridianos Yin e dois meridianos Yang
entre si.
Para os Chineses, segundo Kit (2001), emoções negativas só não podem ser dissipadas
quando os meridianos relacionados a ela estão muito bloqueados e somente nesse caso se

33
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

administra psicoterapias e/ou medicamentos, visto que o mais lógico é promover o desbloqueio.

O Corpo e a Identidade Corporal

Bogado (2009, p.161) nos diz que “o corpo físico é o Corpo de Manifestação”. É nele
que sentimos dor, prazer, é nele que a doença se manifesta, quando nos sentimos
desequilibrados por algum motivo presente ou passado”. Lowen (1979, p.229) afirma que o
sentido de identidade baseia se na percepção do desejo, no reconhecimento da necessidade e na
consciência da sensação corporal”, mas muitas vezes o sujeito não percebe que seu corpo está
preso em tensões corporais e que isso dificulta suas sensações de prazer e de amar. Para muitos
o processo de adoecer é a única maneira de olhar para o corpo, pausando as atividades mentais
e agitação do dia a dia. A doença é uma crise que traz consigo a oportunidade de transformação,
de um novo olhar sobre o corpo.
“A nossa estrutura corporal determina um modo mítico de pensar e nos dá uma
identidade”, e esses mitos é que permitem as pessoas organizarem a verdadeira experiência do
próprio corpo, este canta a nossa verdade celular, de acordo com Keleman (2001, p.16), na
introdução da obra O Mito e o Corpo. A organização da sensação que emerge do metabolismo
tissular é o que chamamos de consciência (KELEMAN, 2001, p.27). Toda nossa história é
registrada nesse corpo e nossos processos somáticos são o resultado de nossa jornada e dos
caminhos que percorremos. Nosso Templo Sagrado é o corpo e “é impossível uma pessoa
florescer e elevar se espiritualmente alicerçada em um corpo débil, incapaz de reparar as perdas
inerentes ao próprio gasto diário”, portanto, se quiser paz de espírito terá de mergulhar e se
recolher em seu interior (COBRA, 2003, p. 166). Negamos nosso corpo e escondemos seus
desejos pois há um entendimento equivocado de que nossos desejos possam ser nossa fraqueza
e assim não vivemos em congruência com nossas emoções por acreditarmos ser a mente a nossa
parte mais nobre segundo Bogado (2009).

A experiência básica do corpo são seus pulsos, que organizam realidades múltiplas em
camadas de expansão e contração; de plenitude e vazio (KELEMAN, 2001). Nosso cosmo
interno é descoberto no processo corporal e “viver é o processo de concretizar e desenvolver a
nossa imagem pessoal e herdada” (LELOUP, 2015, p.51).
Não somos máquinas e tampouco um processo bioquímico, temos realidades
somáticas e, “soma é um sistema ecológico como a Terra” (KELEMAN, 2001, p. 53). A
percepção do mundo tem relação direta com a estrutura somática e emocional do indivíduo.
Keleman (2001, p. 49) fala da importância de não desconectar a emoção sentida das imagens
externas impostas pela sociedade e em desalinhamento com a profundidade visceral corporal,
pois se assim o fizermos elas estarão descorporificadas e não sobreviverão. O corpo é um dos
caminho para o universo interno que possibilita chegar a mente, acessar às emoções, tocar o

34
ADRIANA SIANE DE SENE

espírito, sendo que o movimento é a chave para o desenvolvimento e autoconhecimento


(COBRA, 2003).

Para Reich10 (apud LELOUP, 2015, p.9) “o corpo é o inconsciente visível” e nossa
mensagem mais primitiva”. Quando tocar uma pessoa é importante lembrar que está tocando
um Templo no qual todas as memórias deste ser está registrada. (LELOUP, p.26). Novalis
afirma, segundo Leloup (2015, p. 9), que “tocamos o céu quando colocamos nossas mãos num
corpo humano”. Roberto Crema, no prefácio da obra de Leloup, complementa, afirmando ser
também este corpo o templo que abriga os corpos sutis e ainda é nele que todas as memórias se
abrigam, mas com a divisão que presenciamos na vida moderna e com a fragmentação
epistemológica perdemos a essência, o Divino que é “o que vincula, unifica e restaura a
inteireza vital” (LELOUP, 2015, p. 09). Os Egípcios corroboram essa visão entendendo o
corpo como síntese viva das funções vitais do universo. Bogado (2009, p. 19) fala da
representação simbólica da distância corporal e da distância afetiva e do que ficou reprimido e
escondido no corpo relacionada às memórias corporais e cita Weil ao alegar que nossas
emoções destrutivas transformam se nas tensões sentidas no corpo, de forma que o corpo é o
revelador de nossa história.

“Você carrega uma história dentro de você” e toda história tem realidade emocional e
esta é o personagem por nós representado, da mesma forma que a “postura corporal também é
uma história”, que também é uma experiência capaz de nos mostrar como foi o nosso processo
de corporificação, ratificando a importância deste corpo que “é a nossa ligação com o passado
e dá validade à nossa forma presente”, é a nossa continuidade de acordo com Keleman (2001,
p. 92).

Segundo Bogado (2009, p.9) “em nossos corpos vivemos a plenitude de nossa
humanidade, expressão máxima de nossa encarnação” e “estar ‘dentro do corpo’ exige uma
disponibilidade para o agora, uma Presença”, e quando nos esquecemos de cultivá– lo somos
advertidos por ele com uma enfermidade. Cobra (2003) corrobora esta afirmação ao afirmar
nada existir fora do corpo. Os órgãos corporais são os determinantes da energia proveniente da
imaginação humana enraizada na energia do corpo e seus conflitos, é necessário estar presente
no corpo e não o tomar apenas como um processo biológico para que esse corpo não seja uma
“Terra Devastada”, uma imagem, um símbolo (KELEMAN, 2001).

É importante a escuta atenta do corpo sob os pontos de vista físico, psicológico e


espiritual, é através deste que integramos e resgatamos quem somos. Crema no prefácio desta
obra afirma ser necessário resgatar a flexibilidade de nossas articulações para resgatarmos o
corpo, o psíquico e a inteligência humana. (LELOUP, 2015). A linguagem do corpo é sua

10
REICH, Wilhelm. The Silent Observer . Revista Orgonomic Functionalism, Publ. The Wilhelm Reich
Infant Trust, vol. 1, 1990.

35
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

postura, seu método, sua flexibilidade ou rigidez, sua maneira de expressar, seu tônus e a poética
deste corpo é o movimento, sua dança, energia, força, beleza e capacidade de sinergia, mas
infelizmente a grande maioria da humanidade ainda vive a dualidade entre corpo e mente
(BOGADO, 2009, p.22). O movimento é a expressão do nosso espírito, ele surge em nossa
consciência, é treinado conscientemente durante nossa vida, desde o ato de levar a colher a
nossa boca quando pequenos, até o ato de dirigir, caminhar, nos apresentar as pessoas e nos
vestir (SEVERINO, 2016c, p.47).
Cabe entender a escada evolutiva do corpo e sua consciência desde uma etapa pré-
pessoal até atingir a transpessoalidade, partindo de uma consciência matricial para uma
consciência teoantrópica, considerando que a experiência do nascimento pode deixar marcas
registradas no corpo (LELOUP, 2015, p.19), tal afirmação é corroborada pelas experiências de
Groff nos seus estudos de matriz natal e também por Reich, Lowen e Pierrakos em estudos da
Análise do Caráter.

11
Bogado (2009, p.17) afirma que somos o corpo e cita Sartre na afirmação “eu não
tenho corpo eu sou um corpo!” Há ressonância, há sincronicidade entre corpo físico e
memórias e a evolução pode modelá-lo (LELOUP, 2015, p. 23). “Nada está fora do corpo,
nem a alma, nem o espírito e nem a mente, tudo se funde numa coisa só, obra prima do Criador
[...] em nosso corpo repousa nosso delicado espírito e dorme tranquila nossa alma” (COBRA,
2003, p. 168).

As imagens enraizadas no soma são autênticas. Quando vivemos


conceitos e imagens que não estão enraizados em nosso corpo, não
acreditamos em quem somos. Quando o corpo perde contato com a própria
imagem somática inferior, ficamos alienados do Sagrado, segundo Keleman
(2001, p. 57).

“A experiência corporal e as imagens do cérebro são um único processo com duas


expressões” de maneira que “ nossas imagens são experiências corporais” e a humanidade é
organizada pelo corpo (KELEMAN, 2001, p. 104) e desenvolvemos nossa consciência a partir
e em relação com o corpo como podemos ver na Figura 2.

“Pela experiência corporal, descobrimos que somos parte de alguma coisa maior que
nós mesmos, algo que é contínuo, apesar de sermos descontínuos” (KELEMAN, 2001, p.106).
Segundo Bogado (2009, p. 29) “o corpo é o lugar onde o Sopro habita”, é o nosso lar, tem
nossa cara, expressa a nossa imagem, motivo pelo qual precisamos nos sentir bem nele. Quando
não sentimos prazer em habitar nosso corpo o abandonamos visto que ninguém permanece em
casa sozinho quando sua companhia não lhe é agradável, conforme Leloup e Bensaid12 (2006,

11
SARTRE, J.P. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Petrópolis:Ed. Vozes, 1997
(Original publicado em 1943).
12
LELOUP, J. Y.; BENSAID, C. O essencial no amor: as diferentes faces da experiência amorosa. Petrópolis – RJ:

36
ADRIANA SIANE DE SENE

apud BOGADO, 2009).

De acordo com Bogado (2009) as duas formas de nos conectarmos com nosso corpo
são: pela escuta ou pelo sintoma. A primeira é quando o experimento e o habito e a segunda é
quando o abandono e adoeço. Bogado (2009, p.133) afirma que nosso corpo é capaz de nos
conectar, a um só tempo, com a terra, através de nossos pés, com nosso universo interior
através de nossos rins e com os céus, através de nossas orelhas.

Figura 2: Escada da Consciência x Corpo

Fonte: LELOUP, 2015 p. 23

Para Platão13 (380 a.C,. apud Ramos, 2006, p. 25) não se cura os olhos sem curar a
cabeça, e não se cura a cabeça se não curar o corpo e não se cura o corpo sem curar a alma,
reconhecendo que não é possível estar bem a parte quando o mesmo não ocorre com o todo,
isso posto, o grande erro do tratamento do corpo humano consiste na separação, pela medicina
tradicional, entre corpo e alma.

Para os antigos cuidar do corpo era cuidar da sociedade e da natureza (LELOUP, 2015,
p.116), ler o corpo necessita de atenção e tempo, mas a medicina moderna busca suprimir
sintomas sem escutar a doença, não busca e tampouco se importa com suas origens.

Repetir um comportamento ou atitude tem a ver com apego em função da necessidade


de perpetuar um determinado prazer, significa estar preso no corpo tentando preencher uma

Ed. Vozes, 2006.


13
PLATÃO. Diálogos. Vol. 1. Trad. De Carlos Alberto Nunes. Belém:Universidade Federal do Pará,1980
.

37
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

falta de uma determinada fase da vida, visto ser o corpo nossa morada, segundo Bogado (2009).
A autora afirma também que o prazer e o poder são duas sensações capazes de nos aprisionar.
Para Ramos (2006) quando a figura parental não faz as mediações entre psique e corpo na
infância, a função transcendente se fixa no corpo e a somatização ocorre ao não se integrar no
plano consciente situações traumáticas e conflitivas.

Um corpo adoecido está desconectado de si mesmo e expressa seus dramas de maneira


sintomática, alterando toda a nossa vida, como diz Bogado (2009). O corpo em depressão nos
comunica de uma só vez a doença do afeto com o outro e com nós mesmos pela ausência de
sentido na existência.

“Cada um de nós é um nômade, uma onda que dura por algum tempo e então assume
uma nova forma somática” esclarece Keleman (2001, p.101), ou seja, estamos em constante
transformação. E Campbell afirma que “cada um de nós é como uma pequena chama de uma
vida eterna que está em nós” (KELEMAN 2001, p. 102). A rigidez corporal e os nós têm
relações diretas com traumas e podem ser expressas através de neuroses ou psicoses e o trabalho
do terapeuta é restabelecer o fluxo energético por vias ascendentes e descendentes pois é preciso
estar vivo da cabeça aos pés (LELOUP, 2015, p.22).

É necessário iniciar o caminho de rememoração das travessias, “ através de uma escuta


do corpo, de suas memórias, de seus bloqueios, medos, doenças, sintomas, sofrimentos,
alegrias, gozos, prazeres e silêncios” (BOGADO, 2009, p.27). “O papel do terapeuta, por meio
da anamnese física, psíquica e espiritual é de permitir a livre circulação da energia e da vida
nesse corpo” (LELOUP, 2015, p.26).

Ramos (2006, p.66) menciona um corpo sutil que se mistura ao inconsciente


somático, que nos seminários sobre Nietzche, Jung afirmou poderem ser experimentados no
corpo e que este manifesta o self externamente. De acordo com Ramos (2006) o corpo
simbólico pode ser experienciado ativa ou passivamente: “Nosso corpo é dotado de memória
e as experiências corporais sedimentam se e são a base da construção de nossa atitude de
confiança ou defesa diante do mundo” (BOGADO, 2009, p. 117).

Esse corpo também se estrutura nas partes mais baixas, nos pés, e estes são os
responsáveis pelo enraizamento e como numa estrutura de construção civil, se a fundação não
é forte o suficiente o edifício não se sustenta o corpo depende do enraizamento dos pés, da força
e da elasticidade da coluna vertebral (LELOUP, 2015). Na tradição hebraica, os pés recebem
o mesmo nome dado às festas, motivo pelo qual estão relacionados com a entrada da alegria
no corpo. Para os bambaras, grupo tribal africano, os pés simbolizam poder e se eles são
maltratados a cabeça funciona mal, ratificando que a cabeça nada é sem os pés, que estes são
as sementes, inclusive no formato (rins e orelhas também tem formato de semente). Para os
Chineses a inteligência não está na cabeça, está nos grandes artelhos segundo Leloup (2015, p.
32) e em todas as tradições, budista, chinesa, cristã encontramos impressões deixadas pelos

38
ADRIANA SIANE DE SENE

pés, o que sugere que o céu tem um pé sobre a terra e que para viver a integração entre céu e
terra basta cuidar do seu pé e, portanto, o equilíbrio do psiquismo, do corpo e da vida espiritual
depende do enraizamento, nos lembra Leloup (2015). As práticas Chinesas também comungam
dessa opinião.

Da mesma forma que os pés são nossas raízes na terra, os cabelos o são no céu, são as
antenas que captam mensagens. Quando os dois estão juntos significa a integração a integração
entre céu e terra, a união dos opostos segundo Leloup (2015, p.32) e tal citação remete aos
princípios das Práticas Corporais Chinesas.

A seguir será abordado o Chi Kung, uma das Técnicas Corporais Chinesas que
trabalham com esse corpo de forma integral.

O Chi Kung ou Qi Gong

Diversas são as Ténicas Corporais Chinesas, dentre as quais se destaca o Tai Chi
Chuan que exercita corpo e mente com suavidade, regulando o fluxo energético e muito
utilizado para beneficiar a saúde e aumentar a longevidade segundo Kit (2001). No prefácio de
sua obra, esse autor descreve o Tai Chi Chuan como “poesia em movimento”. Neste trabalho
serão abordadas, especificamente, posturas do Chi Kung, utilizado como preparação para o Tai
Chi Chuan e que segue o mesmo princípio do Tai Chi Chuan, portanto, os benefícios que muitos
autores mencionam para o Tai Chi cabem para o Chi Kung, e este é o método utilizado para
produzir a força interior utilizada na prática do Tai Chi. O Chi Kung, é a ponte de ligação entre
o físico e o espiritual.
“O Qi Gong inclui cinco elementos importantes: regular o corpo, regular a respiração,
regular a mente, regular o Qi, e regular o espírito”. O Chi Kung não é somente uma postura ou
um exercício, mas sim um depositário de conhecimentos milenares que harmoniza as energias
do céu e da terra no corpo humano, o que acontece pela mobilização corporal unida a
concentração, meditação e conservação da energia sutil, tem seus princípios derivados do I
Ching” (SEVERINO, 2016c, p. 41). Segundo Kit (2001), os grandes mestres reafirmam que
resultados obtidos com a prática estão relacionados à aspectos interiores e não exteriores,
levando o praticante a sentimentos de tranquilidade visto não ser necessário força e velocidade
no decorrer da prática, mas ao contrário, tem foco no fluxo energético e na concentração.
Chi Kung significa trabalho com energia que objetiva captar e canalizar as energias
por todo o corpo através de canais, meridianos e vasos. O Chi é a força vital ou energia
universal encontrada em todos os seres vivos e os Chineses entendem haver um Chi do Céu
Tian Chi), um Chi da Terra ( Dih Chi e o Chi do Homem ( Ren Chi). Estes são considerados
Os Três Poderes Primordiais (San Tsair), que obedecem a ciclos da natureza. Para Kit (2001),
o Chi Kung é um sistema de treinamento muito abrangente que visa desenvolver a energia

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

cósmica tanto para saúde como para a expansão de consciência e aprimoramento do espírito,
denominado “ a arte da energia”. Para Soci e Severino (2017), Chi Kung é qualquer
treinamento ou estudo relativo ao Chi que requeira um longo tempo e muito esforço.
Conforme Soci e Severino (2017) apesar de ser o Chi do Céu o mais importante o mais
estudado é o Chi do Homem e assim sendo “o estudo de qualquer dos aspectos do Chi poderia
ser chamado de Chi Kung.
O Chi Kung alonga músculos e tendões, aumentam a concentração e oportuniza ao
praticamente a consciência corporal, segundo Soci (2017), mas conforme esclarece o Mestre
Yang Wei Ming, “ não esqueçamos que o ideal tanto do treino do Tai Chi Chuan ou do Chi
Kung, quanto das práticas Vajrayana é estabilizar completamente nosso corpo emocional”
(SEVERINO, 2016c, p. 77). O Chi Kung é a mais direta e eficaz prática para desbloquear
energia provendo a cura de doenças crônicas tais como: hipertensão, reumatismo, depressão e
até mesmo câncer (KIT, 2001).
O primeiro livro a falar do Chi, o I Ching (Livro das Mutações) existe desde 1122 a.C.,
segundo Mestre Yang Ming (1989) e foi a partir dele que o Chi Kung se desenvolveu. Lao Tzu
no Clássico do Tao Te King fala de obtenção de saúde através da concentração do Chi e da
suavidade e posteriormente no Nan Hua Ching, por volta de 300 a.C. Chang Tzy, discípulo de
Lao Tzu também escreve sobre respiração e saúde.
Durante a Dinastia Chin e Han (221 a. C. a 220 a. C), muitas foram as referências
literárias sobre o Chi Kung, escritas por estudiosos, médicos e doutores, mas haviam dois tipos
de Chi Kung mais importantes: um utilizado pelos Taoístas e Confucionistas, com foco na
manutenção da saúde, e outro que visava equilibrar o Chi e curar doenças, utilizado pelos
médicos com o uso de agulhas (MING, 1989).
Ming (1989) esclarece que no período entre a dinastia Han e Liang (206 a.C a 502 d.C.)
as escolas religiosas do Budismo Indiano, Budismo Tibetano e Taoísmo dominaram as práticas
que eram ensinadas nos Templos, especialmente a meditação Chan ou Zen, mas como as
práticas visavam a busca da Budeidade eram registradas na escritura e mantidas em segredo,
não sendo ensinadas aos leigos. Nesse período enquanto os estudiosos buscavam manter a saúde
e melhorá-la, os religiosos treinavam o Chi num sentido mais profundo visando controlar corpo,
mente e espírito para escapar do ciclo das reencarnações.
No período entre a Dinastia Liang até o final da Dinastia Ching (502 a 1911 d.C.) o
Patriarca Indiano Bodhidharma é convidado a ensinar na China e ficou recluso no Mosteiro
Shaolim após desinteresse do Imperador pelos seus ensinamentos, ao constatar que os
praticantes do local eram esquálidos e adoentados escreveu dois clássicos para ajudá-los: O
clássico dos Músculos e Tendões para ajuda-los a fortalecer o corpo físico e ganhar saúde; e
a Lavagem de Medula que visa limpar a medula óssea fortalecendo o sistema imune, o sangue
e energizando o cérebro visando a iluminação. Segundo Ming (1989) quando os monges
perceberam a eficácia do primeiro clássico, o integraram as formas de arte marcial melhorando

40
ADRIANA SIANE DE SENE

sua técnica. Foi nesse período que surgiu o Chi Kung religioso, da união da meditação com as
técnicas de Chi Kung.
O Chi Kung continuou a se desenvolver no decorrer da Dinastia Swei e Tarng (551 a
907 d.C.) e posteriormente o Marechal Yueh Fei desenvolveu sistemas de Chi Kung interno e
é atribuída a ele a criação das Oito Peças do Brocado. No período da Dinastia Song (960 a 1279
d. C.) surge o Tai Chi cuja criação se atribui a Chang San Feng. O Chi Kung do Tai Chi
enfatizava o Nein Dan (Elixir Interno) enquanto que o do Shaolim enfatizava o Wei Dan (Elixir
Externo). Atualmente as práticas são ensinadas abertamente e existem vários tipos de Chi Kung
sendo comumente dividido em quatro categorias; a médica, a marcial, a religiosa e a erudita,
sendo as duas últimas focadas na natureza humana e no espírito ( MING, 1989).
A escola a médica foca na meditação, nos exercícios corporais e no movimento (Tai
Chi Chuan) para atingir a cura física e ter saúde, esta utiliza se ainda das ervas medicinais
para reequilibrar o Chi desequilibrado pela doença. A erudita por acreditar que doenças são
causadas por excessos emocionais tem seu foco na regulação da mente visando a manutenção
e prevenção da saúde. A Escola dos artistas marciais tem duas linhas: o Nein Dan (Elixir
Interno), que busca gerar Chi no corpo para levá-los aos membros aumentando seu poder
através de técnicas mentais, e o Wei Dan (Elixir Externo) , que visa gerar Chi nos membros
para coordenação das técnicas, mantendo amente concentrada. A escola Religiosa visa
fortalecer o Chi interno para atingir elevados estados de consciência tendo como propósito a
iluminação (MING, 1989). Mestre Yang Jing Ming (1989) afirma que “a meditação e o Chi
Kung são utilizados por Taoístas e Budistas para sua busca espiritual para a iluminação e
budeidade”.
Segundo Mestre Yang Wei Ming, citado por Severino (2016c, p. 81) a “Sociedade
Médica Chinesa acredita que o Chi e o sangue estão intimamente relacionados” e que há
afetação do sistema imunológico quando o organismo não está equilibrado, o Mestre continua
afirmando que o Chi é afetado pelo ar que respiramos e pela comida que ingerimos, e que as
emoções e sensações afetam a circulação do Chi no corpo, mostrando portanto a
correspondência entre as atitudes e escolhas de cada um com os desequilíbrios causados nos
órgãos, numa alusão aos cinco elementos.

Existem canais e centros particulares de energia que recebem atenção


especial no Chi Kung. Os três Dan Tiens ou “Campos de Elixir” são os locais
onde se geram e se acumulam esta energia. Os três Dan Tien são a residência
dos três tesouros: a Essência - Jing; a Vitalidade - Chi e o Espírito – Shen
(SOCI; SEVERINO, 2017).

Através da técnica de respiração e práticas conscientes se busca nutrir o Dan Tien,


reservando Chi para a prevenção de enfermidades e bem estar físico e mental. Inclusive o Dan
Tien inferior é o encontro de muitos meridianos e onde se inicia a circulação do Chi segundo
Soci e Severino (2017).

41
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

De maneira geral no último Século as práticas do Chi Kung têm recebido maior
audiência e suas técnicas tem sido comparadas a artes de outros países como Japão, Índia e
Oriente, trata se de uma ciência antiga a espera de maior investigação quanto a seus benefícios,
segundo Soci e Severino (2017).
Como há posturas consideradas como meditação em pé cabe discorrer um pouco sobre
o que é meditação e a importância do foco na respiração para a prática do Chi Kung, ressaltando
que isso se estende também a qualquer prática corporal.

Meditação e Respiração nas Práticas Corporais

Meditar é mergulhar num ambiente diferente do que o Ocidental está acostumado, é


abrir as portas do interno com disciplina e trabalho, para que seja possível a conexão com planos
mais sutis, afirma Cairo (2014). Meditar é manter se no presente e não relaxar, como é o
entendimento comum no Ocidente. Para quem nasce no Oriente relaxar significa deixar de ser
egoísta, deixar ir embora e no Tai Chi significa abrir as juntas para que a energia circule
naturalmente, conforme orienta Severino (2017).
O foco na respiração é importante para conectar seu corpo e facilitar a percepção das
mudanças de polaridades Yin e Yang, como um movimento de onda sobre o corpo, abrindo e
fechando para que o Qi possa se afundar no Dan Tian e ser enviado para todas as partes do
corpo (MADSEN, 2012). De acordo com Kit (2001), o tai Chi têm um aspecto meditativo com
ênfase em movimentos relaxados que contribuem para a serenidade da mente e clareza de
pensamento. Segundo Severino (2016c) o domínio do tempo espaço é a essência da meditação
e o treino das Práticas Corporais Chinesas permite a maestria entre ação e repouso, duro e suave.
A meditação deve começar devagar e ser intensificada a medida que o praticante se sente
mais a vontade, principalmente a meditação em pé, conforme orienta o Mestre Yang Laoshi,
(MADSEN, 2012). Ele esclarece que a meditação em pé é conhecida pelos Chineses como
Zhan (que significa estar em pé) Zhuang (poste) e recebeu esta denominação por ser
realizada geralmente nas práticas de Qi Gong para acalmar a mente, contribuindo também para
o fortalecimento dos membros inferiores e enraizamento ajudando a desenvolver o Qi do
praticante. Trata- se do movimento estático perfeito” que ajuda a desenvolver a postura correta.
Para Cobra (2003), precisamos aproveitar o potencial que a respiração nos oferece para
a saúde ao trazer paz e promover o equilíbrio do organismo, está na hora de se encontrar
consigo, de habitar o seu ser e de ser presente pois há uma relação forte entre a meditação e a
busca do sagrado em cada um, é no silêncio da alma que se encontra Deus e o corpo é o que
confirma a presença divina na Terra. A respiração saudável, conforme Lowen (1985, p.36) “ é
uma ação do corpo todo; todos os músculos do corpo estão envolvidos em algum grau”.

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ADRIANA SIANE DE SENE

Cairo (2014) afirma que a meditação existe desde épocas remotas e não existe melhor
ou pior forma, assim como as civilizações mais antigas intuía qual a melhor maneira de fazê -
la para seu povo, cada ser humano também deve escolher a que melhor lhe couber, visto que a
meditação é instintiva, é identificação, e tem de ser praticada e não intelectualizada.
Para Weil (1993, p.78) “a meditação joga nos para dentro”, para um diálogo interno e
independente das inúmeras técnicas que se apresentam, trata se de fazer o contrário do que
somos sugestionados a fazer no dia a dia, ou seja, é necessário desconectar do externo e
mergulhar em si. Para esse autor a meditação é o antídoto da alienação que desperta a
consciência plena melhorando as funções de memória, atenção e equilíbrio emocional. A dança,
assim como o Tai Chi Chuan apresenta efeitos semelhantes. Segundo Weil (1993) a meditação
pode levar o indivíduo ao que “Maslow denominou de experiências e estados culminantes”,
desbloqueando e despertando valores humanos e espirituais.
No Chi kung a concentração de luz é considerada uma prática que auxilia na purificação
do corpo e mente promovendo a circulação de energia dentro e fora do corpo, assim como
acontece em outros processos de meditação, segundo Soci (2017). Para os Chineses “o corpo
não deve ser considerado um autômato, mas sim, expressão de nossa consciência”.

Posturas e Exercícios do Chi Kung

Os exercícios de Chi Kung auxiliam no aprendizado do Tai Chi Chuan e enfatizam a


postura correta tanto externa como interna e deve ser praticado com respiração profunda
associada aos movimentos, segundo Soci (2017).
Quanto às posturas é importante trabalhá-las dentro dos princípios, mas sem exageros,
sem ficar tenso pois tudo deve ser natural, sem rigidez. O Mestre Yang Laoshi recomenda
através de Madsen (2012) entender os dois objetivos da postura: a primeira é a de melhorar a
sua saúde através do exercício e a outra é para quem deseja se aprofundar nas artes marciais.
De qualquer maneira o aprimoramento vem com a prática e nesta você planta sementes para
colheita posterior, mas é preciso o trabalho árduo (Gong) para se combinar com o Qi e ser
armazenado no corpo.
A prática em postura mais alta ou mais baixa é variável de acordo com cada indivíduo,
o importante é que seja confortável e natural. Quando surge um desconforto após no decorrer
da prática a sugestão é de acalmar a respiração e buscar novamente uma postura mais natural,
lembrando que tudo segue a natureza, a postura deve ser mantida até que seja possível sentir o
equilíbrio da energia interna e externa, assim o Qi se afundará no Dan tian e circular nas pernas
conectando às raízes. A postura deve ter a intenção de integrar céu e terra internamente.
Cada exercício tem objetivos específicos e é muito importante se observar a postura dos
pés, coluna e pernas, bem como a distribuição de pesos, lembrando que todos os exercícios e
formas de qualquer arte oriental devem ser realizados com a língua tocando o céu da boca de

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

forma a liberar uma saliva que é considerada alimento e medicamento por ser produto da
interação entre Postura Corporal e Concentração Mental. De maneira geral as posturas
dependem de uma atitude interior de concentração na elevação da cabeça. Deve se ter a
sensação de estar sendo puxado por um fio para que a coluna fique ereta e abra espaços entre
as vértebras afim de esticar o corpo para cima e para baixo partir da cintura que é seu centro. A
seguir algumas das posturas fixas, conforme texto transcrito da compilação feita por Soci
(2017).
Postura do Wu Chi (Wu = ausência e Chi = atividade) - Tem por função acalmar e
possui em si o símbolo da Totalidade. Nesta postura utiliza se as mãos e braços realizando um
círculo que representa o micro e o macrocosmos. Com a postura ereta permanece se em silêncio
com respiração natural e olhos semicerrados deixando os pensamentos passar como na
meditação. Deve se visualizar uma luz que transpassa o corpo desde o topo da cabeça até os pés
“retirando toda a tensão corporal e preocupação mental em forma de fumaça negra que sai pelos
pés e poros”. Utilizado na preparação para aula de Tai Chi
Postura do Poste - Responsável pela reunificação de energias e circulação destas por
todos os meridianos, que é o objetivo básico do Tai Chi, canalizando energias do céu e da terra.
Deve ser executado concentrando na respiração suave feita com o baixo ventre. A energia do
céu entra pelo topo da cabeça e pela perna que tem o peso (cheia) se absorve a energia da terra.
As mãos produzem um círculo fechado e o corpo se aquece, se a mão que está no ar não se
aquecer há bloqueio de energia em algum ponto. Com o tempo de prática começa a se sentir
formigamento a partir da perna até a ponta dos dedos da mão que está no ar. A cabeça deve se
manter sempre erguida, as axilas abertas e os ombros soltos para baixo.
Postura da árvore - Esta postura conecta o ser humano com a terra promovendo o
enraizamento que estabiliza a estrutura corporal a partir das pernas e braços, onde a energia se
acumula. Ao se abaixar o braço a energia se dispersa e alimenta todo o corpo acalmando o
coração e fortalecendo o abdômem. Deve ser executado com respiração profunda utilizando o
ventre toda observando o movimento deste que massageia os órgãos internos. É importante
manter as axilas abertas, ombros para baixo e cotovelos para fora e para cima elevando o topo
da cabeça e recolhendo o queixo afim de elevar o corpo. Deve se visualizar raízes grossas e
profundas nas solas dos pés que é por onde se absorve força e energia.
Pequena Circulação Celestial - Trata se de um exercício poderoso que promove o
aquecimento geral do corpo e ativação de todas as funções orgânicas com massagem
respiratória, o exercício visa promover a circulação da energia através de dois canais: Tu Mei
(Vaso Governador) e Jen Mei (Vaso Concepção), unindo a energia do céu e da terra
reproduzindo a criação da vida. Esta união é objetivo máximo dos praticantes da meditação
Taoísta, permitindo experienciar estados superiores de consciência. Deve se manter os pés
paralelos e os joelhos em leve flexão com o quadril encaixado, relaxando assim a região dos
rins. A respiração deve ser lenta e profunda e combinada com os movimentos do braço de

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ADRIANA SIANE DE SENE

ascender e descender sendo que na inspiração o peito e costas deve se expandir permitindo o
preenchimento de ar pelos pulmões e quando isso ocorrer é importante um pequeno intervalo
para que um pouco mais de ar penetre e somente depois deve se iniciar a expiração que
acompanha o movimento e finaliza com os braços em baixo. Aguardar um momento para que
o ar continue a sair e depois retomar. Este exercício inclui a meditação e recomenda se visualizar
um fio de luz percorrendo os canais supracitados desde o céu da boca até o ponto entre os órgãos
genitais e retornando novamente ao céu da boca integrando o movimento de entrada e saída de
ar ao movimento do abdômen e braços. A saliva gerada deve ser engolida por possuir
propriedades medicinais.
Dentre as posturas do Chi Kung existem também exercícios com movimento, os quais
estão resumidos abaixo.
Exercício da Garça -Trabalha o corpo inteiro absorvendo energia da terra que fortalece
as pernas que são o veículo para caminhar na vida e acabam por fortalecer os rins e
consequentemente ao fortalecer as pernas fortalece as costas.
Exercício do Ganso - Massageia órgãos internos e fortalece pernas, braços, músculos
abdominais e costas. Promove a consciência de cheio e vazio nas pernas.
Nadando no ar - Pode ser utilizado como meditação no movimento. Esse exercício
desenvolve a percepção do círculo, que é a expressão da perfeição, do processo de criação da

vida, nascimento e energia e permite a tomada de consciência do trabalho de todas as partes do


corpo através das articulações.
Acariciando Nuvens - Também pode ser utilizado como meditação no movimento e
permite a tomada de consciência do trabalho de todas as partes do corpo através das
articulações, podendo ser visualizada energia entre as mãos circulando junto com estas e
alimentando todo o corpo e o ambiente do entorno.
Curva da vida - Este exercício trabalha com a coluna vertebral e é muito importante
para se tomar consciência das vértebras sendo movidas como se fosse um colar de pérolas,
massageando e promovendo o alongamento. É executado com as pernas esticadas e pés na
largura de ombro projetando e abaixando o tronco para frente até as mãos tocarem o chão,
mantendo a cabeça solta, na sequência o corpo vai um pouco para trás tendo as mãos apoiadas
na região dos rins, de forma que a coluna vá para trás junto com a cabeça. A respiração deve
ser natural, respeitando a entrada e saída de ar no decorrer do movimento. De se manter os olhos
abertos e executar os exercícios cuidadosamente pois ao abaixar a cabeça podemos sentir
tortura.
Suaves mãos de Buda - Este exercício fortalece pernas e virilhas e permite ter
consciência de cheio e vazio, solta a cintura e também fortalece as costas. Trata se da postura
Inicial de Ma Bu (sentado a Cavalo) e é executado com as palmas unidas e cotovelos para fora,
coluna ereta, queixo recolhido e os dois joelhos flexionados. No exercício se alterna

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

completamente o peso nas pernas, girando a cintura até que o joelho junto com rosto e mãos
atinja a lateral do corpo, num ângulo de 90°.
Meio Círculo no Céu - Este exercício fortalece a região dos rins e cintura, absorve a
energia da terra e alimenta todo nosso corpo com ela. É realizando com os pés separados na
largura do ombro, tocando uma das mãos na cintura (região dos rins) enquanto o outro braço se
eleva na lateral e se observa as mãos que sobem inclinando o corpo para a lateral e arredondado
a cintura, mantendo o braço que está no alto longe do corpo desenhando um círculo amplo com
a mão se projetando para longe. A expiração deve ser feita quando se inclina o corpo e a cabeça
e o olhar deve acompanhar a mão. Nesse movimento pode se observar luz saindo da mão em
movimento circular e abrangendo todo o corpo na medida que se inclina.
Círculo Inteiro no Céu (Variação do Alongamento Lateral) - Este exercício, como
o anterior absorve a energia da Terra e trabalha nosso corpo todo possibilitando a visualização
de luz em todo seu entorno na medida em que se gira e o braço atinge a circunferência total.
Neste exercício empurramos o céu como se estivessemos carregando um objeto pesado, com
uma das mãos, na sequência se faz o giro do tronco para o lado oposto torcendo os braços e os
abaixando como que puxado pela terra, tocar o pé oposto e como num círculo tocar o pé
paralelo, mantendo sempre as pernas esticados e subir lentamente, alternado o exercício com
os dois braços.

Além dos exercícios citados acima que tem como referência a Família Yang existem
outras séries e também as Oito peças do Brocado, conhecida como Ba Juan Jin.

O Corpo e seu Campo Energético

Sabe se que estudos sobre Bioenergia, a energia humana, existem há milhares de anos,
relacionados a crenças religiosas, as artes marciais e ao misticismo. “Essa energia vital,
percebida, como um todo luminoso foi registrada pela primeira vez na literatura ocidental pelos
pitagóricos, por volta de 500 a.C”, segundo Brennan (2006, p.54) e afirmavam que a luz
promovia efeitos no organismo e tinha poder curativo.

Relatos de práticas de xamãs manipulando forças invisíveis em rituais


podem ser encontrados nas sociedades primitivas. Sacerdotes do antigo Egito
eram mestres da ciência oculta e profundos conhecedores, dominadores da
energia sutil. Magos e feiticeiros existiam espalhados por diversos países do
mundo antigo e o trabalho deles envolvia lidar com essas forças invisíveis
(CRUZ, 2015).

Nas práticas corporais orientais existe um dito muito popular: “A energia segue o
pensamento, é dirigida pelos olhos e se manifesta pelas mãos. Severino (2016c, p. 47) afirma
ainda que “o movimento é a expressão do nosso espírito” e por conta de condicionamentos
psíquicos ou emoções conflitivas nossa expressão corporal é reflexo do caos reinante em nosso

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ADRIANA SIANE DE SENE

interior. Spinoza, um pensador Holandês racionalista do século XVII afirmava que o corpo
não é um invólucro, mas sim você, e que cada movimento tem correspondência com um
pensamento da alma.
Cabe esclarecer que para os orientais espírito é um princípio ou essência da vida
incorpórea, mas também pode ser compreendido como um princípio material. Para os judaicos
cristãos, Deus soprou o barro para gerar o homem, ressaltando que na Antiguidade o sopro e o
que ele portava continha a vida. Para o budismo o espírito é um instante de consciência, um
contínuo mental conhecido através de dois aspectos indissociáveis: a vacuidade e a claridade,
estando unido ao espírito o conceito de mente, diferente do que propunha Descartes, em sua
teoria dualista (SEVERINO, 2016c, p.107).
É inegável que vivemos num planeta repleto de energia, bem como também o corpo
depende de energia interna e externa para suas funções e ainda que o corpo tanto emana quanto
recebe energia e que essas podem ser prejudiciais ou curativas. Nos dicionários a palavra
energia se traduz por potência, força ou vitalidade, a energia tem exatamente esses significados
na cura e na medicina energética. Bogado (2009, p. 155) nos diz que “a energia que emanamos
são como ‘fotos reveladas’ das nossas verdadeiras intenções, dos nossos sentimentos e
pensamentos”.

Somos uma energia que alcança uma espiral entre a vígilia e o transpessoal, e
a transdisciplinaridade é o caminho para se relacionar entre os quatro estados
de consciência, é a didática desta visão de mundo que precisamos
experimentar e sentir (OLIVEIRA, 2016).

Brennan (2006) relata vivências de práticas religiosas, como a meditação e oração que
levam ao estado de consciência ampliada, onde a pessoa declara enxergar luz em torno das
pessoas. “Toda a gente tem um campo de energia, ou aura, que rodeia e penetra o corpo físico,
intimamente associado à saúde”, segundo Brennan (p.23), a existência é um mar vivo de energia
capaz de sustentar e manter a vida.

Cristo chamou essa energia de “luz”; os russos, em suas pesquisas


psíquicas, denominaram de energia “bioplâsmica”; Reich, de “energia
orgone”; os iogues da Índia Oriental, de “pran” ou “prana”; manuscritos
alquimistas falam de “fluido vital”; Bruner denominou – a energia
“biocósmica”; Hipócrates, de (vis medicatrix naturae) “força vital da
natureza”, dentre muitas outras denominações e se procurar encontrarão
muitas outras denominações, segundo Cruz ( 2015).

O que em outras culturas é conhecido como energia vital, ou “força vital”, segundo

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Dziemidko 14(2000, apud CRUZ, 2015), é reconhecido na filosofia e na Medicina Tradicional


Chinesa através de três palavras para referir-se aos aspectos diferentes dessa energia: Chi, Jing
e Shen. Já os indianos a denominam de prana, palavra usada por eles também para respiração e
espírito. Eistein “enfatizou que as energias sutis (não físicas) são as formas de energia que
ainda não podem ser medidas pelos equipamentos convencionais”.

Nas tradições da Antiguidade, em todas as partes do globo,


encontramos a proposição de uma energia universal, ou cósmica, vista como
constituinte básico e a origem de toda a avida, que compõe toda a matéria
animada ou inanimada. Na tradição espiritual indiana, esta energia é
denominada de prana, no Taoísmo é o Qi, na Cabala é a luz astral, para os
japoneses é o ki, para os polinésios é o mana, para os índios norte americanos
é o orendo (ABREU, 2017a. p. 213).

A energia percorre todo nosso corpo como num sistema circulatório, podendo se
enfraquecer ou ser bloqueada em função do nosso cansaço ou desânimo, mas é necessário
reconhecer que não existe energia má, o que temos são energias bem ou mal direcionadas
(CRUZ, 2015).
Compreendendo nosso funcionamento energético temos possibilidades múltiplas de
melhorias da saúde num contexto biopsicossocial. Cabe-nos reconhecer a
multidimensionalidade que nos habita e nos render aos conceitos da física de que:

[...]os seres humanos são construídos na sua materialidade por energia vibrando numa
determinada frequência, portanto, um entrave, um bloqueio desse estado vibracional
poderia produzir diversos desequilíbrios em sua manifestação material, orgânica,
biológica (CRUZ, 2015).

15
Afirma Heisenberg (apud CRUZ, (2015) que no século XIX houve uma confiança
crescente no método científico, na racionalidade precisa e “no ceticismo contra tudo que
diferisse desse esquema fechado da época”, porém, “ físicos da década de 1920 e
1930 confirmaram que a matéria é na verdade uma forma de vibração de onda, aquilo que a
física quântica chama de ‘dualidade onda-partícula’, nos permitindo um novo entendimento do
nosso corpo que, além da sua forma física material, passa a ser visto como um campo de energia
dinâmica e pulsante.

Desde Einsten até hoje, comprova-se que tudo no universo adquire vida através de
campo unificado de energia e inteligência. Somos concentrações de energia e inteligência no

14
DZIEMIDKO, H. E. O livro completo da medicina energética. Ed. Manole – São Paulo, SP: 2000.
15
HEISENBERG, W. Física e filosofia. 2ª Ed. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 1987.

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ADRIANA SIANE DE SENE

campo universal e temos no nosso corpo a mesma inteligência e energia que governam o
universo, num contínuum com a natureza.
Segundo Cruz (2015), “até recentemente a medicina tradicional subestimava os efeitos
da emoção, mas hoje cada vez mais médicos reconhecem que o estresse emocional contribui
expressivamente para a produção de doenças.” Os conflitos emocionais, os sentimentos de
impotência e a falta de amor por si mesmo podem agir nocivamente sobre o funcionamento
dos chacras. Em decorrência de os chacras serem fornecedores de energia sutil aos diversos
órgãos do corpo, os bloqueios e conflitos emocionais podem levar a um fluxo anormal e com
o passar do tempo gerar doenças de maior ou menor gravidade em qualquer dos órgãos
fisiológicos , conforme Brennan (2006).
As tentativas de superar o modelo vigente de ciência mecanicista, devido às limitações
por ele apresentado, abriu novos horizontes e apresentando a abordagem sistêmica da
psicologia, não sendo mais possível reduzir as funções da psique a elementos isolados.
Para Cruz (2015, p.11) “o homem que já foi visto como mera máquina de
funcionamento bioquímico adquire nesse viés uma complexidade subatômica e passa a ser
visto como pura energia sob o domínio da consciência” A autora afirma ainda que:

[...] sua interação energética com ele mesmo, com os outros e com o meio resulta sua
posição biopsicossocial, a co-criação da realidade circundante. Ignorar esse aspecto
bioenergético de sua existência é permanecer como o homem que desconhece a si
mesmo. Ignorar elimina possibilidades, fecha portas e caminhos ainda não percorridos.

No entanto, reconhecer que somos constituídos por uma energia sutil, vital parece causar
o impacto da estranheza e da não aceitação numa grande maioria. Um conhecimento milenar,
propagado por diversas culturas e civilizações, de utilização de algumas medicinas como a
homeopatia, a acupuntura, a medicina energética e a medicina vibracional, por exemplo,
continua alvo de descrédito e desmerecimento. De acordo com Brennan (2006, p.41) “fomos
mergulhados num mundo de campo de energia vital, de campos de pensamento, e de formas
bioplasmáticas que se movem ao redor do corpo e dele emanam. Somos o próprio bioplasma,
vibrante e radiante!”.
Para Melo (2012), “a Ciência acordou do sonho de ser Deus” impondo um novo
paradigma energético que tirou egos de suas zonas de conforto, oportunizando lhes
experimentar a humildade e desenvolver o ser em detrimento do ter tão propagado na
atualidade. Segundo a autora a grande alquimia da vida começa em níveis muito profundos e
se ficarmos só na superfície não o atingiremos pois é necessário irmos a fonte capaz de
transformar e transmutar caráter e personalidades. Weil (1993,) propõe uma meta para a
educação que abrange a saúde do corpo, o equilíbrio entre mente e coração e o despertar e a
manutenção dos valores humanos.

49
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

A energia vital conforme Weil (1993, p. 71) recebe diferentes nomes na Psicologia.
Freud e Jung a denominaram libido, para Reich era orgone, para Bérgen élen vital e Kripnner a
chamou de energia psicotrônica, mas o que de fato importa para este trabalho é o entendimento
de que as emoções são capazes de gerar tensões que bloqueiam a livre circulação de energia, o
que Reich denominou de couraças musculares. A Bioenergética, criada por Lowen, objetiva
quebrar estes nós de tensão permitindo que a energia volte a circular por todo o corpo, assim
como o fazem também outros métodos como, por exemplo: a Yoga, o Tai Chi Chuan, e as artes
marciais não violentas em geral. Glória Sobrinho ao introduzir a leitura de Weil (1993) ressalta
que tudo que permanece parado e estagnado apodrece e exemplifica com uma poça de água que
limpa se torna suja, daí podemos compreender a importância de fazer a energia circular.

O movimento é a expressão do nosso espírito, ele surge em nossa


consciência, é treinado conscientemente durante nossa vida, desde o ato de
levar a colher a nossa boca quando pequenos, até o ato de dirigir, caminhar,
nos apresentar as pessoas e nos vestir (SEVERINO, 2016, p. 47).

Outros autores como Pierrakos também caminharam pelas psicoterapias alternativas


promovidas pelo vitalismo científico e aceitando proposições físicas para quebra de
paradigmas. Muitos autores mergulharam nas fontes de religiões milenares como Hinduísmo
(Hatha Yoga), Taoísmo (Tai Chi Chuan) e Budismo (Kum Nye). Segundo Rego (1989, p. 15),
“há coisas válidas na ciência, na arte, na religião, na filosofia, na política, no esporte e isso sem
esgotar as possibilidades da experiência humana” (CRUZ, 2015).
A seguir serão abordados alguns autores da Psicologia, que contribuíram para as
terapias corporais Ocidentais , visto ser o corpo o receptáculo onde se aloja todos os traumas e
memórias da existência humana e buscaram entender como desfazer a estagnação energética
para possibilitar ao indivíduo a redescoberta de si mesmo e uma melhor qualidade de vida.

Wilhelm Reich (1897 – 1957)

Reich foi discípulo de Freud, que assim como Jung depois de um período divergiu do
mestre. Ele buscou expandir os limites da Clínica Social para pessoas menos favorecidas,
observou que a repressão sexual não ocorre em todas as sociedades, entendeu ser o corpo o
centro da terapia e desenvolveu os conceitos de Anéis, Couraças e estudou o caráter. Apesar de
grandes contribuições para a Psicologia é pouco estudado nos meios acadêmicos e existe ainda
hoje um preconceito com relação a esse autor.
Segundo Brennan (2006) no início do século XX, Reich se interessa por uma energia
universal, que denominou de orgone e passou a estudar os distúrbios entre o fluxo dessa energia
e as doenças psicológicas e a partir desses estudos desenvolve uma psicoterapia integrando

50
ADRIANA SIANE DE SENE

técnicas Freudianas com técnicas físicas visando quebrar os bloqueios energéticos. Entre 1930
e 1950 Reich empregou as melhores técnicas disponíveis na época para suas experiências e
percebeu que ao liberar os bloqueios energéticos liberava também estados mentais e emocionais
negativos
Para Reich (1998) “o amor, o trabalho e o conhecimento são as fontes de nossa vida e
deveriam também governá-las”. Dentre os conceitos básicos de Reich estão:
! Energia, estase, bloqueio e fluxo, que estão relacionados a mobilização energética de
uma maneira geral;
! Curva Orgástica – unidade funcional mente – corpo, fala do Orgone, que define como a
forma geral da vida e expressa os circuitos energéticos; e
! Fundamentos da Bioenergética, que posteriormente seria aprofundada por Lowen.
Reich se interessou pela sexualidade em função da culpa que carregava sobre a morte
de sua mãe, que se suicidou. Esse autor estudou a interrupção dos fluxos energéticos, as curvas
ascendentes e descendentes e os bloqueios de anéis energéticos em relação ao corpo humano,
como pode ser visualizado na Figura 03 abaixo:
Reich Formulou uma identidade funcional entre a tensão muscular e o bloqueio
emocional, sendo este um dos seus grandes “insights”, segundo Lowen (1977, p.31),
apresentados em seus livros: A Função do Orgasmo e Análise do Caráter. Neste conclui que a
função unitária que liga psique e soma é o caráter.

Para Reich (1998) o caráter do indivíduo se manifesta em movimento corporal, que


expressa os aspectos emocionais, assim sendo uma dissolução muscular pode levar a uma
situação infantil na qual ocorreu um desconforto ou uma neurose e tratá-lo a partir da origem.
Neste processo se trabalha com a descarga ou contenção de energia do paciente, ajudando o na
busca pelo equilíbrio.

De acordo com Brennan (2006), o corpo é a cristalização no mundo físico dos campos
energéticos que a cercam e a constituem, como estes contêm a tarefa de vida de cada ser, a
estrutura de caráter pode ser considerada como a cristalização dos problemas básicos ou
pessoais e estudando a postura de caráter, visto ela se relacionar com o corpo encontramos a
chave para curar nos. Reich ao se interessar pela estrutura de formação do caráter teve o
estímulo de Abraham e pressupôs que o caráter e sua resistência estão ligados a mesma
função, que é evitar o desprazer e manter o equilíbrio psíquico, apresentando tanto uma
função defensiva como uma transferência de relacionamentos com o mundo exterior infantil.
Segundo Reich (1998, p.151) “o caráter consiste numa mudança crônica do ego que se
poderia descrever como um enrijecimento “O caráter é o “jeito” do indivíduo funcionar na vida,
o jeito que age, que atua e que lida com os problemas e sentimentos, seus comportamentos,
atitudes e sensações. E está ligado as fases de desenvolvimento. As couraças formam se como

51
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

um resultado crônico das exigências pulsionais e do mundo externo que as frustra.

Figura 3 – Segmentos Energéticos

FONTE: Anotações e Material de Aula de Barlach (2017)

Reich, como discípulo de Freud, desenvolvia seus estudos levando em consideração as


instâncias psíquicas formuladas por este e analisando o caráter sob os aspectos defensivos.
Dentre as formas definidas de caráter estão: o caráter oral, o masoquista (representa o
rompimento de Reich com a teoria Freudiana de pulsão de morte), o histérico, o compulsivo e
o fálico –narcisista.
As teorias desenvolvidas por Reich, com base na análise de caráter foram estudadas por
Pierrakos e Lowen, que acabou por criar a Bionergética.

John Pierrakos (1921 – 2001)

Pierrakos foi um psiquiatra e terapeuta grego que atuou com Lowen na Análise
Bioenergética e também desenvolveu alguns trabalhos junto com sua esposa Eva Pierrakos. Foi
paciente terapêutico de Reich.

52
ADRIANA SIANE DE SENE

Segundo Nunes (2017) Pierrakos afirma que “as estratégias de caráter apresentam
variações significativas em cada pessoa, ligadas à qualidade única de cada Essência.” Ele não
gostava de rótulos, embora as nomenclaturas sejam usadas para fins de estudo, recomenda que
não devemos criar nenhum estereótipo para os pacientes. Afirmava ser a essência que define o
ser humano e não seu padrão defensivo.
Para Pierrakos a espiritualidade é uma missão, mas não como o que vem fazer nessa
dimensão e sim pelo que vem transformar. Após seu casamento com Eva se aprofundou ainda
mais nas questões espirituais. Postulava a essência como uma dimensão interna profunda que
contém energia vital na sua forma original e saúde, o estado de cura, a unificação, a integração
entre corpo e espírito (NUNES, 2017).
Pierrakos desenvolve a Core Energética que trabalha com o corpo, as emoções, a mente,
a vontade e espiritualidade. Acredita que toda existência é a unidade em evolução criativa, na
qual o ser é uma unidade psicossomática e a fonte de cura está no seu interior. Brennan (2006)
menciona ter sido criado por Pierrakos “um sistema de tratamento e diagnósticos baseado em
observações visuais do Campo de Energia humana e derivadas do Pêndulo” que corroboram
com métodos desenvolvidos na Bioenergética.
Pierrakos16 (2007 apud Nunes, 2017) define Core Energética como:

Energia da consciência, trazer o corpo para a vida, emoções contidas


à consciência, a mente de volta à razão, equilíbrio para a vontade. Tudo que é
energizado torna-se parte da força vital, portanto, a consciência que
permanece não energizada torna-se contração.

O Método da Core Energética apresenta quatro estágios: penetrar a máscara para


encontrar nosso falso eu; libertar nosso eu inferior ao tomar conhecimento e encarar nossas
negatividades transformando as; chegar a essência através do trabalho físico de nossas defesas
corporais e finalmente encontrar o significado e beleza na nossa vida, ao que se denomina plano
de vida.
Para Pierrakos existem o Eu Superior, a máscara e o Eu Inferior, sendo a máscara uma
reação a dor que nos impede de entrar em contato com nosso eu superior, ele considera ser
importante acolher o mal para redirecionar essa corrente de energia a sua origem pura, segundo
Nunes (2017). Somente assim conseguiremos entrar em contato com nossa essência e descobrir
o nosso real plano de vida. E tudo isso Pierrakos acredita ser possível através de um trabalho
corporal como base para redirecionamento do fluxo energético.

Necessitamos de algo que nos leve a aceitar – nos totalmente como

16
PIERRAKOS, J. C. A energética da essência (Core Energetics): desenvolvendo a capacidade de amar e de curar.
Trad. Carlos A. L. Salum e Ana Lúcia Franco. São Paulo: Ed. Pensamento,2007.

53
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

somos agora e que nos oriente a trabalhar com o que bloqueia nossa evolução
pessoal e espiritual. Precisamos de mapas da psique que não idealizem nem
dourem nossas deficiências humanas [...] se formos autênticos com nós
mesmos, conseguiremos descobrir dentro de nós sentimentos e atitudes
desagradáveis e egocêntricas [...] os sentimentos turbulentos que estão dentro
de nós podem ser transformados quando os reconhecemos sem fugas e
aprendemos a reconvertê-los em sua natureza divina original. [...] A
experiência iluminadora maior é ser capaz de relacionar os acontecimentos da
própria vida – tanto positivos, como os negativos – com as forças interiores
que as criaram. Ela nos conduz para a casa, para o cerne unitivo em nós
mesmos, para a nossa identidade criadora verdadeira. (PIERRAKOS, 2007, p.
12).

A máscara é a proteção da maioria das pessoas para esconder seu Eu Interior e muitas
vezes também o seu Eu Superior, mas ela não é a essência é apenas uma idealização e a única
forma de encontrar seu verdadeiro eu é vivendo uma vida plena e dissolvendo a idealização,
mas para isso precisamos nos despojar de nosso orgulho, de nossas culpas e medos de não
sermos aceitos, segundo Pierrakos (2007, p. 40). Para Brennam (2006) O Eu Superior é a
centelha divina que habita cada ser.

As estratégias de defesa postuladas pela Análise de Caráter têm relação direta com as
máscaras e para Pierrakos (2007, apud NUNES, 2017), o terapeuta deve trabalhar verbal e
corporalmente com os pacientes a fim de ajudá-los na sua jornada de encontro consigo mesmo
e de restabelecimento do equilíbrio energético, sem que haja uma luta dualista, pois esta está
fadada a conduzi-lo a mais armadilhas.

Alexander Lowen

Análise Bioenergética é a técnica psicoterápica criada por Lowen, discípulo de Reich,


visando o equilíbrio corpo/mente, que é uma cisão comum na cultura ocidental. No processo de
desenvolvimento da técnica Lowen mergulhou nos estudos da psicossomática, da
espiritualidade, bem como nas diferentes percepções desta no mundo oriental e ocidental. Para
Lowen (2017, p.35), a vida de um indivíduo é a vida de seu corpo. Lowen (1977, p.33) afirma
haver “uma energia fundamental no corpo humano “que pode ou não se manifestar através de
fenômenos psíquicos e movimentos somáticos, denominada de bioenergia. Ele resume a
Bioenergética como sendo “ o estudo da personalidade humana com base nos processos
energéticos do corpo” (p. 39).

Se buscarmos a transcendência teremos muitas visões, mas


certamente acabaremos no próprio ponto de partida. Se optarmos pelo
crescimento, passaremos por momentos de transcendência, mas estes serão
picos de experiência dentro de uma caminhada mais plana em busca de um eu
mais rico e seguro. A vida em si é um processo de expansão que se inicia com

54
ADRIANA SIANE DE SENE

o crescimento do corpo e de seus órgãos, passando pelo desenvolvimento das


habilidades motoras, pela aquisição do conhecimento e pela ampliação dos
relacionamentos; tudo isso culmina num resumo da experiência que
denominamos saber. (LOWEN, 2017, p. 27).

Segundo Lowen (2017, p. 32), a Análise Bioenergética foi criada a partir de uma
experiência pessoal, na qual ele praticou a terapia corporal com seu colega John Pierrakos.
Lowen afirma: “trabalhando com meu corpo desenvolvi as posições e exercícios básicos que
hoje são considerados padrão na Bioenergética” iniciando os exercícios em pé e não de bruços
como fazia Reich, de forma que passei a sentir mais as minhas pernas, que depois de um tempo
vibravam.
De acordo com Lowen (1979) toda a vida se constitui através da identificação com o
corpo e, portanto, este exprime a percepção da vida pessoal do sujeito. Para este autor (LOWEN,
2018, p. 21) “espiritualidade é um estado de graça”, é a unidade entre o indivíduo e o Cosmos,
a “união do indivíduo com uma espécie de ordem superior” visto no Oriente como um
fenômeno corpóreo enquanto no Ocidente tem aspecto mental. Cabe destacar aqui que no
Ocidente a saúde do corpo está relacionada a aptidão para atividades da vida (máquina que
realiza tarefa) e o exercício é para o desenvolvimento da musculatura (mesma ideia de
máquina), segundo Lowen (2018).
A Análise Bioenergética combina a atuação sobre os níveis psíquico e somático,
partindo da compreensão da personalidade em termos de corpo e energia. Na idade adulta, as
defesas emocionais que foram construídas na infância afetam a relação da pessoa consigo
mesma e com os outros, traduzindo-se no caráter. Este está igualmente ancorado na mente e no
corpo (LOWEN, 2017).
A teoria Bioenergética acredita que tudo que acontece na mente, também ocorre no
corpo e vice-versa. Os traumas e repressões acontecem na psique e no corpo físico (soma)
simultaneamente, gerando tensões e bloqueios energéticos possibilitando o desenvolvimento de
doenças psicossomáticas.

A Bioenergética oferece caminho mais direto para o inconsciente que a análise tomada
separadamente, pois se propõe a decifrar a linguagem do corpo, percebendo os conflitos de
personalidade pelas áreas de rigidez e tensão crônicas. A proposta é deixar o corpo voltar a
sentir a vida do espírito, pela recuperação da graciosidade natural do corpo. Os exercícios
bioenergéticos propostos por Lowen são muito parecidos com os do Qi Gong, a diferença é que
os primeiros são aplicados num processo psicoterapêutico diretamente e o Qi Gong age de
forma preventiva e, indiretamente, terapêutica, mas para um resultado efetivo tanto um quanto o
outro tem na respiração um ponto crucial, assim como também é importante o grounding ou
enraizamento, segundo Lowen (2017).

55
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Na Bioenergética, a história e as defesas serão compreendidas com a ajuda de um


terapeuta, ao mesmo tempo em que as emoções a elas associadas serão mais uma vez
experimentadas a fim de que a restrição à sua expressão seja elaborada. Partindo-se do conteúdo
verbal trazido pelo paciente à psicoterapia, chega-se ao trabalho com o corpo, que, junto à
respiração, ao movimento, aos padrões de tensão, contam uma história. O trabalho corporal e a
análise verbal alternam-se na psicoterapia de base Bioenergética. Para Lowen “sentimento é a
vida do corpo, assim como o pensamento é a vida da mente” (CRUZ, 2017).
A Análise Bioenergética, proposta por Lowen, vai compreender o ser humano sob a
ótica do paradigma pulsional freudiano, a partir da noção de caráter desenvolvida inicialmente
por Reich, que pode ser definida como a maneira defensiva e rígida como a pessoa se relaciona
no mundo e Lowen acredita que o indíviduo só cresce e firma raízes sobre seu passado, que é
o corpo, assim, trabalhando o corpo trabalha suas defesas (LOWEN, 2017).
Cabe frisar que para compreender a formação da estrutura de caráter, Reich e Lowen
admitiram seis fatores constitutivos dos traumas que são decisivos na determinação do tipo de
defesa do caráter que uma criança adquiria: o momento em que um impulso é frustrado; a
extensão e intensidade das frustrações; os impulsos contra os quais a frustração central é
dirigida; a razão entre a permissão e a frustração; o sexo da principal pessoa frustradora e as
condições das frustrações em si.
Em termos psicossomáticos, Lowen (1982) afirma que o caráter é expresso
somaticamente na forma de couraças (tensões) musculares, as quais devem ser relaxadas,
liberando o conteúdo e a energia existente, transformando a energia libidinal que foi represada
pela repressão das demandas pulsionais originais em energia agressiva, libidinal, sexual,
voltada para a satisfação das necessidades do sujeito, propiciando melhor qualidade de vida,
assertividade e auto regulação emocional, assentada na realidade do seu mundo interno, do
corpo e do mundo exterior. Assim, o caráter consiste em uma série complexa de defesas e
formas substitutas de alcançar um prazer, uma descarga da energia (impulso) original.
Protegendo-se contra a angústia, o cliente limita a sua capacidade de sentir prazer na vida. Para
Nunes (2017), “ caráter é o reflexo da criança em nós, uma solução de compromisso entre as
necessidades infantis e adultas”.
Lowen atendeu seu primeiro paciente em 1945 e posteriormente trabalhou junto com
John Pierrakos, uma série de exercícios corporais usando a respiração, o movimento e a
expressão das emoções, experimentando movimentos capazes de desbloquear as couraças
físicas e psíquicas (LOWEN, 2017). De acordo com o autor (p.63), a Bioenergética busca a
mesma harmonia entre mundo externo e interno que as práticas Chinesas e utiliza os mesmos
meios: movimentos e técnicas respiratórias.
Não obstante a diferença entre as práticas, toda prática quando concebida sobre os
ditames do pensamento Ocidental tendem a ver o corpo sob o aspecto da aptidão conforme
afirmou o próprio Lowen (2018), e contrastando com esse pensamento o Oriente, através das

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ADRIANA SIANE DE SENE

Práticas Corporais, visa um aspecto mais elevado e integrado à espiritualidade.


Independente das diferenças entre o pensamento Ocidental e Oriental as teorias da
Bionergética e das Práticas Corporais Chinesas tem mais em comum do que se pressupõe e
ambas se propõe a fazer com que a energia flua pelo corpo e concordando ser a estagnação
promotora de doenças e enfermidades em geral.
A seguir serão trazidos alguns exercícios baseados nas práticas desenvolvidas por
Lowen (1985) para um paralelo com algumas posturas citadas neste trabalho e praticadas no
Chi Kung.

A Relação entre as Práticas Corporais Chinesas e os Exercícios da Bioenergética.

O ‘grouding’ é um dos exercícios da Bioenergética que nos remete as posturas do Chi


Kung e a prática do Tai Chi Chuan, este exercício propõe ao indivíduo manter os pés no chão
enraizados, o que segundo Lowen (2017;1985) está relacionado ao contato do indivíduo com
as realidades básicas de sua existência, aumentando as sensações de segurança e
proporcionando a liberação e descarga energética, ressaltando que o ser humano,
principalmente os ocidentais, tendem a levantar vôo por estarem sempre agitados e excitados
com questões intelectuais. Para os orientais estar centrado na parte inferior traz calma e
tranquilidade pois denota equilíbrio. O enraizamento é essencial também nas práticas Orientais
e nos conectam com a Terra.

Um aspecto importante no exercício de Grouding é necessidade de manter os joelhos


semi flexionados com o peso sobre o metatarso, ou seja, não trancá – los para que a energia
possa circular livremente, além de relaxar os ombros e manter solta a região do abdômen em
postura ereta, aspecto este também importante na prática do Chi Kung. Segundo Lowen (p.26)
o ventre é o assento da vida, é onde somos concebidos e de onde emergimos para a luz, daí
deriva a importância deste ponto vital. Cabe aqui relembrar a importância de submergir o Chi
no Dan Tien, que corresponde aos centros energéticos do corpo, conforme demonstrado nas
Figuras 4A e 4B (SOCI e SEVERINO, 2017). Segundo Leloup (2015) a transformação é
possível ao nível do ventre, Lao Tsé dizia que os sábios esvaziam o espírito e enchem o ventre
(p. 96).
Para Lowen o ‘grouding’ é a chave para o trabalho Bioenergético e está intimamente
ligado à respiração pois quanto melhor a respiração mais oxigênio e melhor a circulação de
energia, o que também remete aos princípios do Chi Kung citados anteriormente, bem como
aos processos de meditação.

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figuras 4A e 4 B – Visão Frontal e Lateral do Dan Tien

Fonte: Série Fundamental de Exercícios para Energia e Saúde – Soci e Severino (2017)

Outra característica importante da Bionergética é que no decorrer do exercício algumas


pessoas sentem vontade de chorar, rir e/ou emitir sons e a recomendação é que se permitam
expressar o que vier, situação esta com a qual a Core Energética também corrobora. De maneira
geral o Grouding nos remete as posturas do Chi Kung e proporciona os mesmos benefícios.
Outro exercício importante da Bioenergética é o de rotação dos quadris, que consiste
em estar em pé com os pés paralelos e separados aproximadamente 30 cm, joelhos levemente
fletidos e o peso do corpo sobre o metatarso com ombros e peito relaxados. A seguir deve se
colocar as mãos no quadril e girar o corpo trabalhando a pelve a parte superior do corpo da
esquerda para a direita. Segundo Lowen a pessoa que não conseguiu ter grouding tem
dificuldade neste exercício. Ao observar a descrição do exercício é possível observar mais uma
vez que o mesmo tem desenho semelhante a posturas do Chi Kung tais como Suaves mãos de
Buda e o Vôo de Ganso, porém, no Chi Kung estes são feitos com alternância de peso e
movimento conjunto das mãos e na Bioenergética as pernas até podem se movimentar mas
muito lentamente o foco é a massagem e liberação da região da cintura, promovendo a liberação
da energia sexual. Importante frisar também que os exercícios podem ter variações e
alternâncias de acordo com a necessidade de cada indivíduo.

Na mesma linha do exercício anterior temos o Exercício 35 que é o de movimento


pélvico circular onde se movimenta a pelve com alternância de peso entre as pernas, mantendo
a parte superior ereta e sem movimento, tudo trabalhado pela região da cintura e pela pelve,
assim como acontece nas posturas do Chi Kung citadas acima.
O exercício 19 (LOWEN, 1985) é o de manter o peso numa perna fletindo o joelho de
forma alternada, remetendo de início aos exercícios de alternância de peso praticadas em várias

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ADRIANA SIANE DE SENE

posturas do Chi Kun e no Tai Chi Chuan, de forma a mobilizar as pernas, induzindo-as a
vibração para liberar as tensões e fazer a energia fluir. Este Exercício também tem variações
mantendo uma das pernas fora do chão.
A postura da Garça praticada no Chi Kung encontra correspondência parcial em vários
exercícios da Bioenergética praticados separadamente, um deles é o Exercício 43 “ Saia das
minhas costas” onde se dobra os cotovelos e o suspende a altura do ombro empurrando os
energeticamente para trás e expressando oralmente um sentimento de raiva, conforme descreve
Lowen, cabe observar que este exercício se parece muito com o movimento em que tentamos
unir às escápulas como que a tentar quebrar uma noz entre elas. Quando esse exercício é
praticado na Bionergética há uma tendência a um sentimento de alívio e leveza por parte do
sujeito.
De uma maneira geral tanto a Bionergética como o Chi Kung possuem exercícios para
se praticar sentado possibilitando assim a prática a pessoas com limitação de movimentos. A
Bioenergética, assim como a Yoga também tem posturas de trabalho com o sujeito deitado, e o
Chi Kung também pode ser adaptado para tal situação, o importante é respeitar as possibilidades
de cada indivíduo praticante.
Inúmeros são os exercícios da Bioenergética, assim como inúmeras são as práticas
possíveis do Chi Kung e neste trabalho foram expostas algumas das possibilidades, sem a
preocupação de esgotá-las ou limitá-las. A diferença entre as práticas são suas filosofias e
teorias, mas sem dúvidas o objetivo é o mesmo, proporcionar melhores condições de saúde ao
indivíduo e autoconhecimento pois a medida que o corpo é exercitado o indivíduo aumenta a
consciência corporal e como tudo está integrado, ao romper as barreiras físicas outras barreiras
também se rompem e aspectos adoecidos podem ser ressignificados pelo enfrentamento dos
conflitos depositados no corpo ao longo de sua história, lembrando que nós somos o corpo e
ele expressa externamente tudo o que somos, a nossa essência e intenções.

59
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Considerações Finais

Estamos vivendo um momento de profundas mudanças, para muitos não de maneira


consciente, mas seja pela necessidade, pelo desespero ou pelo sentimento de vazio a sociedade
atual tem revisitado antigos saberes, que são milenares. As teorias energéticas e terapias
corporais não são novas, não ao menos para o Oriente, mas ao se pensar em termos de ciência
a Bioenergética é nova, pois um século para a ciência é muito pouco. Porém, temos as práticas
orientais que sobrevivem a séculos e provam de forma inconteste que o corpo físico não é
apenas um amontoado de músculos, uma máquina e um depositário de sintomas, mas sim o
meio de reconciliação com nossa essência, capaz de promover saúde e bem estar. Muitas das
teorias energéticas e terapias corporais são ainda discriminadas em meios que as desconhecem
e que insistem na ciência que consideram palpável, mas os autores citados neste trabalho
deixaram um legado que deve ser vivenciado e levado adiante, assim como também devemos
nos abrir aos conhecimentos do Oriente, que são milenares e vem sendo comprovados e
validados pela Física, pela Psicologia e Medicina.
Cruz (2015) afirma: você não precisa acreditar no oceano para ficar molhado, no
entanto, é necessário pular nele” E não há mais desculpas para não o fazer. O presente
trabalho mostra a importância da manutenção da vitalidade do corpo e da integração com o
Cosmo. Num diálogo entre técnicas Orientais milenares e Ocidentais mais recentes a
conclusão é a mesma, faz se necessário liberar a energia represada pelas dificuldades
encontradas desde o nascimento até o presente afim de deixar fluir as energias capazes de nos
conectar com o todo, com o Sagrado que habita em cada um e isso pode ser feito através de
Práticas e Terapias Corporais.
Trabalhar o Corpo é autoconhecimento, segundo Lowen (2017) a viagem da
autodescoberta nunca acaba, quanto mais nos aproximamos da terra prometida, mais ela
escapará e mesmo que as feridas curem, permanecem as cicatrizes. O movimento entre
crescimento e enfraquecimento é a “essência da vida, mas é preciso o compromisso com a vida
do corpo para a certeza do autoconhecimento. A vitalidade do corpo tem relação direta com a
saúde mental e pode se manifestar no olhar, na pele, na expressão, na vibração do corpo e “na
graciosidade dos movimentos”, sendo os olhos extremamente importantes por serem o “espelho
da alma, segundo Lowen (2018, p. 16)
“Um filme exposto, revelado e fixado não mais será sensível à luz. Então, deixe de lado
conceitos expostos, revelados e fixos, e receba esta dádiva. No momento, esvazie sua taça a fim
de que ela possa ser preenchida” (GORDON17, 1978, p.18 apud CRUZ, 2015, p.03 ). Este é o
convite para aqueles que desconhecem o trabalho das Terapias Corporais Chinesas, abra se ao
novo e permita se experimentar.

17
GORDON, R. A cura pelas mãos ou a prática da polaridade. Editora Pensamento: São Paulo, 1978.

60
ADRIANA SIANE DE SENE

Respeite Seu corpo !

Ele merece um tratamento melhor...

Respeite–o nas roupas que usa e não geram desconforto

Mas acariciam , deixando no confortável.

No que você come e no que você bebe,

Sem exigir dos seus órgãos

Esforços brutais para digerir a agressão.

No ar que respira, fresco,

Nutrindo e oxigenando seu sangue,

Sem entupi-lo de fuligem como se fosse um duto de gases tóxicos.

(COBRA, 2003, p.60)

61
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

REFERÊNCIAS

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63
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

4. Ba Duan Jin no universo feminino do


climatério/ menopausa

Cátia das Neves Alves Pereira

64
CÁTIA DAS NEVES ALVES

Dedico este trabalho a todas as mulheres que


vivem a incrível jornada do entardecer e a todas
aquelas que virão, em especial a minha mãe e
todas as minhas ancestrais.

65
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

“Depois dos achaques, perrengues e


mudanças, a menopausa inaugura a maturidade: a
síntese da mulher que você construiu ao longo
dos anos, fases e etapas, a essência que fica
depois que os papéis de jovem fêmea produtiva
estão cumpridos”. Seu rosto é a cara da sua vida.
Sua bagagem é tão grande que dá para jogar fora
um monte de supérfluos e pesos mortos. Seu
tempo é só seu e você não precisa provar mais
nada para ninguém. Seu maior desafio é ter-se
tornado uma boa companhia para si mesma. Você
reformula premissas, um estar no mundo mais
relaxado, uma maior complacência com suas
imperfeições, dificuldade e vícios. Você já não
quer mudar o mundo, você quer compreendê-lo;
você já não precisa agradar às pessoas, você quer
viver em paz e ser respeitada. Não há mais
pressa; a vida vira um bom vinho a ser apreciado,
com generosidade e prazer”.
(Autor Desconhecido)

66
CÁTIA DAS NEVES ALVES

RESUMO

O trabalho tem como objetivo o levantamento bibliográfico sobre a saúde da mulher com
ênfase em processos de prevenção e promoção da saúde na fase do climatério e menopausa.
Apresentando o conceito oriental sobre a menopausa através da Medicina Tradicional
Chinesa, buscou-se informações de como as práticas corporais orientais, com ênfase no Qi
Gong - Ba Duan Jin, podem auxiliar como uma ferramenta no alívio dos sintomas do
climatério/menopausa. Este estudo introdutório sugere um potencial para as politicas públicas
com as Práticas Integrativas Complementares (PICS), e a possibilidade de novos estudos na
área da saúde e qualidade de vida da mulher na fase do climatério/menopausa através das
práticas corporais da Medicina Tradicional Chinesa (MTC).

Palavras chave: Mulher, Menopausa, Ba Duan Jin

ABSTRACT

The objective of this work is the literature review on women’s health with emphasis on
prevention and health promotion processes in the climacteric and menopause phases.
Introducing the Eastern concept of menopause through Traditional Chinese Medicine,
information was sought on how Oriental body practices, with emphasis on Qi Gong-Ba Duan
Jin, may help as a tool to relieve climacteric / menopause symptoms. This introductory study
suggests a potential for public policies with Integrative and Complementary Practices, and the
possibility of further studies on women's health and quality of life in the climacteric /
menopause phase through MTC's body practices.

Key Words: Woman, Menopause, Ba Duan Jin

67
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

LISTA DE SIGLAS

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


MTC Medicina Tradicional Chinesa
PICS Práticas Integrativas e Complementares
PNIC Política nacional de práticas integrativas e complementares
SBTCC Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan

68
CÁTIA DAS NEVES ALVES

INTRODUÇÃO

A mulher tem dois grandes momentos na vida; o primeiro é quando ela se torna capaz de dar a
luz a outro ser humano e num segundo momento quando ela se torna capaz de dar a luz a si mesma.
Ao ouvir está frase me causou um imenso impacto pela sua sutileza e poesia, por se referir a
uma fase muito intensa e ao mesmo tempo temerosa para muitas mulheres que é a
Menopausa. Assim despertou em mim a curiosidade de entender melhor o que se passa com
essas mulheres nesse período da vida.
Com o advento da modernidade, a mulher cada vez mais tem que se adaptar ao stress
diário de ter que cuidar da família e em muitos casos do sustento do lar tendo dupla jornada,
com isso vai se distanciando cada vez mais de si mesma. A mulher de hoje, está exposta a
uma série de pressões, profissionais, familiares e sócio-culturais, que influência diretamente
suas escolhas pessoais, o seu estilo de vida e principalmente o funcionamento do seu
organismo. Quando se inicia o processo do climatério/menopausa ocorre uma série de
sintomas que desequilibram o emocional e o físico, como acentuada queda na libido e
consequentemente a baixa autoestima, pois sente vergonha do próprio corpo e também perde
o entusiasmo por novos conhecimentos e interesses, tem grande queda de energia ocasionando
perdas em geral como força física, além da falta de informação ela acaba entrando em
processos de dores e angústias, e em meio a tantas angústias ela não consegue perceber que é
um momento intenso de transição que muitas vezes é dolorosa mas muita transformadora.
Podemos encontrar na literatura registros dos benefícios das práticas corporais da
Medicina Tradicional Chinesa (MTC) para harmonizar mente e o corpo, dentre elas o Ba
Duan Jin aparece como uma ferramenta importante no tratamento de diversos desequilíbrios,
pois através de seus exercícios físicos e respiratórios, melhora a estrutura óssea, aumenta a
flexibilidade das articulações, regula a circulação, equilibra a energia dos meridianos, retarda
o envelhecimento e favorece a estabilidade emocional.
Este trabalho tem por objetivo o levantamento bibliográfico sobre saúde da mulher,
com ênfase em processos de prevenção e promoção de saúde ligada ao climatério/menopausa
através das práticas do Ba Duan Jin técnica terapêutica das práticas corporais da MTC.
É um estudo teórico baseado pesquisa bibliográfica em livros, monografias, artigos,
apostilas sobre a saúde da mulher e apostilas sobre práticas corporais da Medicina Tradicional
Chinesa (MTC) e da Sociedade Brasileira de Tai Chi da Família Yang (SBTCC). O estudo
iniciou-se com a leitura dos seguintes livros que tratam da temática Climatério/Menopausa:
Domínio do Yin: da fertilidade à maternidade; a mulher e suas fases segundo a medicina

69
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

tradicional chinesa (CAMPIGLIA, 2017), Sorria, Você está na Menopausa: um manual de


terapia natural para a mulher (BASTOS, 2001); além dos livros sobre Qi Gong/Ba Duan Jin:
Qi Gong para Mulher: exercícios de baixo impacto para aumentar a energia e fortalecer o
corpo (FERRARO, 2002), Qigong Chino para la Salud (LA ASOCIACIÓN CHINA DE
QIGONG PARA LA SALUD, 2008), Pa Tuan Chin: oito peças do brocado (LAZZARI,
2014), Tai Chi Chuan: saúde e equilíbrio (LAZZARI, 2009), artigos e apostilas da Associação
Brasileira de Tai Chi Chuan da Familia Yang, e monografias com a temática
climatério/menopausa, além de sites com SCIELO, Pub Med e ResearchGate (artigos) e sites
de Associações e Escolas de Tai Chi.

MENOPAUSA

Momento de renascimento para a mulher, a menopausa traz grandes transformações no


corpo, na mente e na própria forma com que ela se relaciona com o mundo e com o seu
interior. “A menopausa é um período tão marcante quanto à primeira menstruação e a
gravidez. Não é sinal de velhice, nem tão pouco de doença. Trata-se de um processo natural e
individual, embora tenha vários pontos em comum com outras mulheres” (BASTOS, 2001, p.
16).
Por falta de conhecimento muitas mulheres consideram o climatério e menopausa
como um único processo, por se atentarem apenas aos sintomas. Ao contrário do senso
comum existem definições específicas sobre o assunto.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a menopausa é uma fase biológica
da vida da mulher, o período que compreende a transição entre fase reprodutiva e a não
reprodutiva, marcado pelo último ciclo menstrual reconhecido após 12 meses do ocorrido,
geralmente em torno de 48 aos 58 anos. Portanto com o aumento da expectativa de vida
feminina, e o grande número de mulheres que irão passar pelo processo de climatério e
menopausa e se faz necessário ações de promoção da saúde (BRASIL. 2008).
Enquanto o climatério vem do termo grego climak (mudança) e terius (tempo) que
significa “mudança de estação” e essa expressão mostra que a menopausa indica uma
mudança de direção, não o final de vida (BASTOS, 2001).
Uma visão mais abrangente apresentada por Berni et al.1,(2007, apud KATAGUIRI,
2009) diz que a menopausa é um conjunto de sintomas do climatério, período de ciclos
menstruais alterados e irregulares, que ocorre em consequência da diminuição de produção do

1
Berni et al. Conhecimento, percepções e assistência à saúde da mulher no climatério. Revista Brasileira de
Enfermagem, v.60, n.3, p.299-306, 2007.
70
CÁTIA DAS NEVES ALVES

estrogênio feita pelos ovários. Além dos fatores fisiológicos, o ambiente sociocultural e
condições de vida da mulher influenciam a intensidade das manifestações clinicas nesta fase.
O processo inicia-se entre 35 e 40 anos, estendendo-se aos 65 anos, sendo dividido em: pré-
menopausa fase de ciclos menstruais; perimenopausa fase que antecede a última mesntruação
e dura em média dois anos e termina um ano após, com alterações endócrinas e ciclos
irregulares; pós- menopausa inicia-se um ano após a última menstruação.
Vale ressaltar que durante o processo de menopausa são identificados alguns sintomas
como calafrios, vertigens, diminuição da memória, fadiga, sono agitado e sintomas
vasomotores (BRASIL, 2008). Dentre eles a sudorese, ondas de calor ou fagachos são as
queixas mais comuns das mulheres ocidentais durante a transição do climatério, estes são os
sintomas dos vasomotores. Estudos mostram que as ondas de calor prevalecem em 70% das
mulheres menopausadas e isto provoca alterações no sono levando a fadiga, desconforto
físico, irritabilidade e problemas no trabalho diminuindo assim a qualidade de vida.
(SANTOS-SÁ, 2006).
Dados relatados por Guimarães e Baptista (2011) indicam que na fase de
climatério/menopausa 60 a 90% das mulheres tem sintomatologia atribuída à baixa de
estrogênio. As mulheres no período do climatério\menopausa relatam uma variedade de
sintomas, incluindo sintomas vasomotores (fogachos e suores noturnos), sintomas vaginais,
incontinência urinárias, dificuldade para dormir, disfunção sexual, depressão, ansiedade,
humor lábil, perda de memória, fadiga, cefaleia, dores nas articulações, e ganho de peso,
dores, desconfortos, falta de energia afetam 96% das mulheres, enquanto que sintomas
psicológicos, tais como depressão, ansiedade, tristeza ou irritabilidade atingem, cerca de 63%
dos casos.
Outros sintomas que afetam muito as mulheres no período do climatério e com
intensidade variada são chamados sintomas neuropsíquicos que compreende a labilidade
emocional, tristeza, irritabilidade, nervosismo, ansiedade, melancolia, depressão, baixa
autoestima e dificuldade para tomar decisões. (BRASIL, 2008). Tendo em vista que, os
sintomas do climatério não são apenas físicos, a sua intensidade está associada à autoimagem;
as mulheres com autoestima baixa apresentam mais sintomas e também possuem uma atitude
negativa com relação à vida.
O principal tratamento proposto hoje ainda se baseia em algumas idéias do início do
século XX que visa apenas os sintomas endócrinos. Como afirma Bastos (2001), a medicina
ocidental difundiu no passado a idéia de que a menopausa representa uma etapa de crise
fisiológica que pode culminar em serenidade ou doença, dependendo das predisposições de
cada mulher e que, portanto, a menopausa seria uma endocrinopatia, causada por uma
71
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

deficiência hormonal. Ainda segundo o mesma pesquisadora, Dr. Robert Wilson,


ginecologista americano e autor do livro Feminine Forever, foi um dos grandes difusores dos
benefícios da terapia de reposição hormonal para salvar as mulheres dessa “doença, que ainda
hoje é o tratamento mais usado na medicina ocidental.
A Terapia de Reposição Hormonal consiste na administração de estrógeno e
progestina para mulheres com útero e estrógeno em mulheres sem útero, usada para proteger
contra hiperplasia endometrial, o câncer; é o tratamento amplamente estudado e considerado o
mais efetivo padrão de cuidado para alívio dos sintomas dos fogachos associados à
menopausa. Os riscos potenciais da TRH são: acidente vascular encefálico, câncer de mama,
tromboembolismo pulmonar. Os benefícios em potencial são: riscos reduzido de câncer colo
retal, supressão dos sintomas vasomotores, doença arterial coronariana, demência,
osteoporose e fraturas relacionadas à osteoporose e diabetes mellitus (UMLAND, 2018).
Visto os riscos e custos da TRH, hoje tem sido, discutido alternativas para o
tratamento dos sintomas do climatério/menopausa, que tenham uma visão menos fragmentada
do indivíduo. Há um movimento de resgate das medicinas tradicionais, principalmente as
práticas da Medicina Tradicional Chinesa, como forma não só de tratar, mas também de
humanizar o tratamento dos sintomas da menopausa.

Visão Ocidental da Menopausa

A cultura ocidental valoriza muito mais a juventude e a beleza do que a maturidade e


têm a mídia como uma ferramenta eficaz na veiculação da ideia de que “aquilo que é bom, é
novo”. Nesse contexto, muitas mulheres ficam aflitas com a aproximação da menopausa,
associando muitas vezes esse período como um momento de perda de status no seu meio,
restringindo a identidade feminina apenas pela sua capacidade de reprodução.
Como consequência, a mulher ocidental sofre muito mais com os sintomas da
menopausa do que as orientais. Hábitos de vida, alimentação e fatores sócio-culturais
influenciam na maneira como elas percebem a menopausa.
Culturalmente o Cristianismo contribuiu fortemente para o conceito que adotamos de
feminino; desde que Adão e Eva provaram o “fruto” do conhecimento, nós mulheres, somos
responsabilizadas pela expulsão do “paraíso” e condenadas ao sofrimento eterno, às dores do
parto, às ondas de calor e a todos os transtornos atribuídos ao ser feminino, desde a puberdade
até a menopausa. Desmistificar essas ideias é uma dos principais paradigmas atuais
(BASTOS, 2001).
72
CÁTIA DAS NEVES ALVES

A sociedade ocidental tem por padrão reverenciar a juventude, aparência saudável e a


plástica e quem se opõe a esse padrão é omitido e esquecido e até mesmo vive de forma
marginalizada. A transição para o envelhecimento, essa nova fase da mulher, permeia
transformações e também a revisão de valores e atitudes. E em geral, não existe um preparo
emocional ou físico para o momento de envelhecer.
De Lorenzi et al. (2009) diz que a depressão pode estar relacionada a sentimentos de
inutilidade e carência afetiva, síndrome do ninho vazio, fatores psicossociais como a
separação, diminuição de renda, doença ou morte de familiares, tudo isso aliados ao medo de
envelhecer. Outro fator importante é de que na sociedade ocidental é a exacerbada valorização
da beleza, juventude e da maternidade como ideal de feminilidade, do qual a perda leva a
sentimentos de depressão e inutilidade.
Estudo qualitativo realizado com mulheres usuárias da UBS de um bairro na periferia
de São Paulo mostra que as ondas de calor causam desconforto além de despertar vergonha
por tornar visível a fase vivida ao outro e que isto é motivo de humilhação pelo fato de a
menopausa estar associada à diminuição da autoestima e feminilidade (TRENCH; ROSA,
2008).
Portanto, a visão ocidental tímida e não integralizada em relação a saúde da mulher
veicula apenas a medicação, não dando importância a educação em saúde, a informação e o
auto cuidado apoiado.

Visão Oriente da Menopausa

Diferente da visão ocidental, a visão oriental é plena de ensinamentos e reflexões sobre


o acaso da existência, trazendo uma visão a respeito do envelhecimento como fase natural e
produtiva, e coloca que desde a juventude há a necessidade de preparo emocional para esta
fase. Como diz uma antiga história chinesa chamada Velho Sábio:

Um velho sábio chinês estava caminhando por um campo de neve,


quando viu uma mulher chorando.
- Por que choras? – perguntou
- Porque me lembro do passado, da minha juventude, da beleza
que via no espelho, dos homens que amei. Deus foi cruel comigo porque
me deu memória. Ele sabia que eu ia sempre recordar a primavera de
minha vida e chorar.
O sábio ficou contemplando o campo de neve, com o olhar fixo em
determinado ponto.
- O que estás vendo aí? - perguntou a mulher ao sábio.
- Um campo de rosas, disse ele. Deus foi generoso comigo porque
me deu memória. Ele sabia que, no inverno, eu poderia sempre recordar a
primavera e sorrir (EQUILIBRIUS, 2008). 73
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Nesta história é nítido a dificuldade em realizar essa travessia, pois a realidade que se
apresenta revela que já não se dispõe da plástica da juventude, que propícia experiências
prazeirosas. Assim, a visão oriental traz uma ótica diferente na qual a decadência física não é
um fator que impede a realização individual. Já no pensamento oriental a velhice ocupa lugar
respeitável como repositório de sabedoria, sendo possível manter-se saudável e ativo com o
decréscimo natural da energia física e que existem formas mais amenas de vivenciar esta fase
tão especial da vida.
Diz Bastos (2001, p.16):

No Japão, onde a menopausa é sinônimo de sabedoria, merecendo


reverência dos mais jovens, as mulheres não temem e aceitam tranquilas
essa nova fase, com o mínimo de problemas. O mesmo acontece na Índia,
onde a menopausa é aguardada com alegria, pois significa maior liberdade
no vestir e na vida social, e também em alguns grupos da África, onde a
menopausa significa libertação sexual.

Medicina Tradicional Chinesa MTC e a Menopausa

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) possui teorias milenares sobre a origem,


prevenção e tratamento de inúmeras disfunções orgânicas e se utiliza de várias técnicas como
a massagem, a acupuntura, fitoterapia, a alimentação e as práticas corporais que realizam um
controle energético.
Sobre isso Ferraro (2002) diz que de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa
(MTC) o corpo possui uma enorme rede de canais que distribuem a energia Qi (energia Vital)
entre os vários órgãos fazendo uma comunicação entre eles, esses canais chamam-se
meridianos. Qualquer bloqueio ou desequilíbrio em determinado órgão vai repercutirnos
demais, resultando assim num desequilíbrio geral. O principio básico da MTC defende que o
organismo é um sistema unificado, corpo e mente formam um sistema individual. As
terapias tem como objetivo restabelecer o bem estar geral e o equilíbrio; o corpo não pode ser
curado “pedaço por pedaço”.

Tais canais (meridianos) tem a função de: transportar o Xue (Sangue) e o Qi (Energia
Vital); distribuir o Jing (Essência); auxiliar e equilibrar o Zang Fu (Sistema de Orgãos e
Víceras); resistir à invasão dos fatores patogênicos exteriores; manter a condutividade. O
sistema de meridianos faz a circulação continua do Qi e do Xue, responsável pela
74
CÁTIA DAS NEVES ALVES

manutenção da vida, pois nutrem os músculos, tecidos, órgãos e os ossos, hidrata as


articulações, mantendo o equilíbrio e o funcionamento do corpo e promove o Yin e o Yang
(Energia) (DE LAZZARI, 2014).
Sobre Yin e Yang diz Ferraro (2002) “Para compreender melhor a visão chinesa sobre
o sistema energético, podemos compará-lo à eletricidade. A fim de que a corrente flua, é
preciso haver dois polos, um negativo e um positivo [...]”. Portanto cada órgão necessita
receber uma carga de energia Yin (negativo) e Yang (positivo), equilibradas para o seu bom
funcionamento. Dentro da filosofia chinesa a Teoria dos Cinco Elementos representa a lei
universal que regula todo o cosmo, os seres humanos, a saúde e toda a natureza. As cinco
fases fundamentais da transformação Yin e Yang são representados pelos símbolos dos Cinco
Elementos que são TERRA, ÁGUA, METAL, FOGO e MADEIRA.
Vale ressaltar, que a natureza feminina é símbolo da suavidade, da devoção, do
recolhimento, da concentração, da adaptabilidade e da profundidade características do Yin.
Considerando a fisiologia feminina, Campiglia (2017) afirma que existe a predominância de
Xue (Sangue), substância (Yin), clinicamente tem a tendência a sentir mais frio ao contrario
daquilo que acontece no período da menopausa, quando ocorre o excesso de energia Yang.
Ainda na fisiologia feminina destacamos os cinco elementos ou movimentos energéticos
usados para descrever todo o funcionamento do corpo e da psique. Os principais elementos
relacionados à dinâmica energética dos ciclos femininos são água, madeira e terra.
Portanto a acentuada queda de Yin e do Qi (energia vital) acarreta fisicamente o
agravamento dos sintomas do climatério, são eles: cefaléia, tontura, sudorese, ondas de calor,
palpitação (alterações de rim). Displasia mamária, dores nas mamas (alterações de Fígado e
do Dai Mai); Secura e atrofia da pele (alterações de Baço-Pâncreas e Fígado); Falta de
memória, depressão, fadiga, insônia, irritabilidade, ansiedade, diminuição da libido
(alterações do Coração e d Xue).
Durante este processo, recomenda-se o uso da energia de forma tranquila e suave. Seu
tratamento consiste em reforçar o Rim Yin, pois Rim Shen desempenha inúmeras funções,
tais como: controlar o nascimento, puberdade, climatério e morte; armazenar a Essência
(Jing); produzir a Medula, abastecer o cérebro e controlar os ossos; controlar a recepção de
Qi. Para tanto se faz necessário no processo de tratamento o uso de algumas terapias, além da
acupuntura, fitoterapia e alimentação, também se recomenda a prática de exercícios físicos
como o Qi Gong e Tai Chi Chuan, por serem práticas de movimentos suaves, tranquilos e
contínuos, favorecendo a respiração fazendo com que a energia do Qi suba sem desgastar o
corpo (CAMPIGLIA, 2017), práticas estas que inclui dentro do Qi Gong a sequência do Ba
Duan Jin.
75
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

QI GONG/BA DUAN JIN

“Qi (também grafado como Chi) em chinês significa “energia vital”, Gong (ou kung),
“prática” ou exercício”. Qi Gong significa o trabalho com a energia, prática muito ampla
dentre as práticas corporais da MTC, técnica que faz circular e nutrir a energia vital,
aumentando a resistência ao estresse, a fim de atingirmos o equilíbrio físico e psíquico. É a
prática do cultivo da energia humana, Qi Gong a arte da saúde.

Desenvolvido enriquecido durante mais de dois mil anos por


monges, médicos, taoístas e budistas Qi Gong é um exercício terapêutico
suave, tanto curativo como preventivo baseado no antigo sistema dos
meridianos de acupuntura. Esta “ginástica dos meridianos” abrange
exercícios físicos tanto estáticos como dinâmicos, técnicas para controle da
respiração e da concentração mental, auto massagem e acupressão em
pontos de acupuntura, além de sons terapêuticos cujas vibrações estimulam
diferentes órgãos internos. O propósito desses exercícios é evitar ou
dissolver bloqueios de energia estimular a circulação e corrigir
desequilíbrios O resultado é um bem estar psíquico e físico maior e um
fortalecimento significativo das defesas imunológicas. Por meio de prática
direcionada, qualquer distúrbio pode ser evitado ou curado (FERRARO,
2002, p. 9).

A técnica do Qi Gong inclui movimentos realizados de forma que combina suavidade


com firmeza, além de contínuos e lentos. Esta prática permite ao praticante mobilizar a sua
força interna para conquistar o equilíbrio da Saúde, além de evitar lesões. De Lazzari (2009,
p. 277) conceitua como “Um conjunto de exercícios físicos e respiratórios com o objetivo de
proporcionar a harmonia entre o corpo e a mente”.

Segundo Ferraro (2002) o Qi Gong representa uma série de técnicas de terapêutica


sobre as vísceras e órgãos, pontos de acupuntura, dos cinco elementos, meridianos e
colaterais. Pode-se direcionar os exercícios do Qi Gong a um órgão ou uma víscera específica,
pois é uma prática que tem objetivos específicos quanto ao seu efeito medicinal. Muitos
confundem Tai Ji Quan com o Qi Gong, porém o primeiro além de uma arte marcial trabalha
também o cultivo da saúde, enquanto o segundo é terapêutico.
Tal prática está fundamentada em quatro propósitos: Ajustar o corpo físico através de
exercícios dinâmicos; Ajustar a respiração através de técnicas respiratórias; Ajustar a mente
através de concentração mental sobre a circulação de energias nos meridianos; Ajustar as
emoções através da emissão de sons terapêuticos (FERRARO, 2002).
Os exercícios do Qi Gong são conhecidos como prolongadores da vida e seus efeitos
são: Fortalecimento energético; Fazendo circular a energia de modo regular ao longo dos
76 meridianos; Harmoniza o movimento do corpo e a respiração; Melhora a circulação
CÁTIA DAS NEVES ALVES

sanguínea; Curam distúrbios crônicos; Acalma o córtex cerebral levando a serenidade e


restabelece o equilíbrio das emoções; Aumenta o sistema imunológico; Aumenta a
flexibilidade das articulações (FERRARO, 2002).
Regras Básicas para a prática do Qi Gong inclui:
Consistência e Regularidade, pelo menos 15 minutos diários; Ser Paciente as
melhoras se nota em média dois meses após o início da prática e realizar o exercício
calmamente; Silêncio e Concentração ter um lugar calmo, arejado e sossegado, vestir roupas
confortáveis. Concentrar-se na respiração e afastar pensamentos negativos e distrações. Para
melhor absorver as energias terrestre e cósmica ideal que seja realizada ao ar livre
(FERRARO, 2002).
A prática para as mulheres em fase de menopausa traz inúmeros benefícios, sobre isto
diz Ferraro (2002, p. 10);

[...] mulheres de meia idade e as idosas terão condições de


recuperar a elasticidade das articulações e adquirir uma nova postura em
relação à própria vida e ao futuro, aprendendo a enfrentar o
envelhecimento com a força proveniente de um corpo saudável e de uma
mente calma e serena.

Ferraro (2002) diz que um dos grandes fatores que acometem as mulheres no
climatério/menopausa é a deficiência de cálcio devido à diminuição dos hormônios, no Qi
Gong existem exercícios que revigoram a energia dos Rins que podem deter a queda na
produção hormonal. Praticantes de Qi Gong mantém um número alto de hormônios no sangue
como adrenalina, aldosterona, hormônios esteroides e cortisol independente da idade. Existe
exercícios da série “Medula Dourada” para curar o envelhecimento dos ossos e das
articulações, a função é expelir patógenos dos tendões e ossos melhorando o fluxo sanguíneo,
tornando o corpo mais flexível devido a circulação do Qi. Os chineses afirmam que o cérebro
funcionará bem se a medula estiver em bom estado, portanto na prática, ao esticar os tendões
há um aumento do Qi e da circulação sanguínea nos ossos, ocorrendo uma melhora na troca
biológica que oxigena a medula ocorrendo a sua regeneração, fator importante na saúde dos
ossos. Dentre as inúmeras práticas do Qi Gong existem um número enorme de exercícios que
beneficiam e auxiliam a mulher neste período de transformações que é a menopausa. Tais
como: fortalecedor dos meridianos, dos ossos, articulações, tendões, dentes, da audição,
aliviar problemas do envelhecimento fortalecendo a energia yang e revigorando os rins
auxiliando assim a medula e o cérebro, sons terapêuticos para evitar degeneração física,
restaura a memória, elimina a frigidez feminina e equilibra as emoções.
77
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Uma das técnicas do Qi Gong é o Ba Duan Jin – As Oito Peças do Brocado, exercícios
que se baseiam no movimento integrado da intenção da mente, da forma do corpo, da
respiração e de técnicas que trabalham diretamente os meridianos.

Figura 1 – Ba Duan Jin

Fonte: Câmara SHAOLIN

Embora, a origem do Ba Duan Jin seja incerta existe a teoria de que esta prática foi
criada durante a dinastia Song 960 – 1279, com o objetivo inicial de manter a saúde
reforçando o físico dos seus militares mais tarde a técnica foi adotada para a melhoria da
Saúde da população em geral (DE LAZZARI, 2014).
Treinado no templo Shaolin, pelo sacerdote Jou Ton, o jovem Yueh Fei que mais tarde
se tornaria um dos Marechais mais reconhecidos da dinastia Song, além de artista marcial e
patriota teve um grande papel na história da China.
Em Tang Yin Hesien distrito da província de Henan, China, nasce em 15 de fevereiro
de 1103 Yueh Fei que foi criado e educado por sua mãe, sempre com senso de liderança e
coragem, embora vivesse em condições precárias era estudioso e se tornou um jovem
agricultor arrendatário.
Após tantos anos de luta e observando o seu povo sofrer, em 1122 aos 19 anos de
idade Yueh Fei se alistou no exército dos Song para expulsar um povo nômade denominado
Gin, que havia invadido o norte da China. Com passar do tempo, Yueh Fei com sua dedicação
e seus dotes de guerreiro atingiu o grau de Marechal de Campo em apenas seis anos. A partir
daí, criou um sistema de Treinamento onde transformou os seus militares em um grupo
invencível através das suas habilidades e disciplina e também introduziu o Wu Shu como
treinamento básico dos Soldados antes de ir para o campo de batalha. Suas tropas possuíam
três princípios rigor, seriedade e profissionalismo e ensinou aos seus soldados o que aprendeu
com Jou Ton.
No treinamento de seus soldados introduziu novas técnicas de combate desenvolvidas
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CÁTIA DAS NEVES ALVES

por ele como Palma de Águia (estilo externo) e o Xíng yìn quán (estilo interno) e também o
Ba Duan Jin uma série de exercícios destinados a manter saudável seu exército.
Devido a uma falsa acusação feita por um ministro, o Marechal Fei foi sentenciado a
morte por insubordinação, embora foram realizados muitas investigações e nada foi
encontrado contra Yueh Fei, e que, por esse motivo foi envenenado na prisão e faleceu em 27
de janeiro de 1142 com 38 anos. Em 1166 por ordem de um novo Imperador seu corpo foi
exumado e teve um enterro com honras militares na cidade de Gang Zhou e seu nome foi
limpo (SBTCC, 2015).

Figura 2 – Marechal Yuei Fei

Fonte: Vision Times

O Ba Duan Jin, é considerado dentro da medicina tradicional chinesa uma prática


corporal que fortalece os ossos, promove relaxamento muscular, melhora circulação
sanguínea e mantém o funcionamento equilibrado do coração, fígado, pulmão, rim, baço e
aparelho digestório, desenvolve força física dos braços e pernas, aumenta a flexibilidade e
corrige a postura do corpo.
Segundo De Lazarri (2014), com o passar dos anos a prática foi incorporada na MTC,
o Ba Duan Jin é uma prática corporal indicada para manter e recuperar a saúde física e mental
além de ser treinamento básico empregado em vários estilos de artes marciais chinesas,
quando combinado com a respiração profunda esta prática fortalece o Qi, contribui para
circulação e o equilíbrio da energia nos meridianos além de fortalecer o sistema imunológico e
também melhora a saúde mental. 79
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Nas últimas décadas está prática corporal milenar da Medicina Tradicional Chinesa
tem sido alvo de pesquisas em todo o mundo com o intuito da comprovação dos seus efeitos
terapêuticos. Universidades americanas, brasileiras e chinesas realizaram um estudo de
revisão sistematizado e de meta-análise dos benefícios da prática, utilizando-se de 6 diferentes
bases de dados e encontrou 274 trabalhos relevantes e destes foram selecionados 19 estudos,
publicados entre 2008 e 2016 sendo 5 em inglês e 9 em mandarim. Os itens analisados nestes
estudos foram: resistência cardiorrespiratória, capacidade respiratória, resistência aeróbica,
pressão sanguínea, o equilíbrio corporal, a força dos punhos, flexibilidade dos troncos e
quadris, força dos membros inferiores, qualidade do sono e a qualidade de vida. O estudo
constatou que, a prática do Ba Duan Jin trouxe uma acentuada melhora de todos os fatores
citados anteriormente (ZOU et. al., 2017)
Segundo a LA ASOCIACIÓN CHINA DE QIGONG PARA LA SALUD (2008) oBa
Duan Jin além de ser uma prática que trabalha a flexibilidade das articulações, fortalece os
membros, desenvolve o aparelho respiratório, proporcionando um equilíbrio em geral.
Também eleva o sistema imunológico do corpo, trabalha positivamente a saúde mental e
aumentando a capacidade de resistir ao envelhecimento. É considerada uma prática segura e
de fácil acesso a todas as idades.
Na prática do Ba Duan Jin o sistema endócrino, o sistema nervoso e o sistema
imunológico que na Medicina Tradicional Chinesa é composto pelo Qi (energia), o Shen
(espírito), Jin a (essência) considerados os três tesouros da vida, vão se interagindo e
entrando em um estado de homeostático do corpo tendo uma grande melhora na saúde mental
e física. Existe também apontamentos que durante a prática do Ba Duan Jin o córtex cerebral
entra gradualmente em estado de tranquilidade, o centro sub-cortical vai gradualmente se
ajustando ao sistema nervoso e o sistema endócrino, fazendo com que o corpo entre em estado
de equilíbrio através da respiração, do movimento e relaxamento e no caso das mulheres
menopausadas. Reduzir a pressão arterial; Melhorar a aptidão cardiovascular; Aliviar a dor
crónica; Melhorar o funcionamento físico diário (FERRARO, 2002).
Com o passar dos anos vamos envelhecendo e a energia vital diminuindo e a mulher
tem um desgaste muito maior devido à vida corrida e tantas cobranças. De Lazzari (2014,
p.27) diz “[...] a ciência médica chinesa indica os exercícios do Pa Tuan Chin para auxiliar na
prevenção, no tratamento, na cura de doenças e, também, para prevenir os sintomas de
envelhecimento”.
Os benefícios da prática que foram comprovados há séculos são apontados por De
Lazzari (2014, p.30-31);

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CÁTIA DAS NEVES ALVES

Fortalece o Chi, desbloqueia todos os meridianos de energia e


permite uma circulação regular do Chi para todo o corpo; melhora
significativa da resistência aeróbica; melhor a tolerância máxima ao
esforço e desempenho físico; melhora da capacidade respiratória,
permitindo uma melhor oxigenação do sangue; melhora das trocas gasosas
nos pulmões, ajudando na eliminação dos resíduos orgânicos; melhora o
funcionamento do sistema linfático, cuja função é capturar e destruir
invasores viróticos e bacterianos; Aumenta a rede de pequenos vasos que
irrigam os alvéolos pulmonares, melhorando o aproveitamento de oxigênio
pelos pulmões; retarda o envelhecimento precoce; previne diversas
doenças respiratórias;
manutenção e/ ou melhoria da capacidade funcional do aparelho locomotor
por meio de um aumento da força e resistência muscular; melhora a
amplitude do movimento, estimula nutrição da cartilagem articular e
aumenta os fluídos das articulações; diminui a perda óssea relacionada a
idade e a menopausa; estimula a formação de massa óssea ajudando a
prevenir lesões como a osteoporose; melhora o alongamento dos músculos
e a flexibilidade dos tendões e das articulações; melhora a coordenação
motora dos membros; melhora o equilíbrio sentido de espaço/tempo;
diminui edemas, varizes e o risco de trombose nas pernas, pois aumenta a
pressão dos músculos sobre as veias das pernas, ajudando o sangue a
vencer a gravidade e voltar mais facilmente para o coração; estimula o
sistema cardiovascular; fortalece o coração para que trabalhe com menos
esforço; diminui a frequência cardíaca; aumenta a elasticidade dos vasos
sanguíneos, ajudando na diminuição da pressão arterial; melhora da
circulação sanguínea, beneficiando os músculos do corpo e o tecido
muscular do coração; reduza obstruções nas paredes dos vasos sanguíneos
diminuindo problemas como arteriosclerose, derrames cerebrais e infartos;
reduza as taxas de colesterol total eleva o HDL (colesterol bom), que
produz protege contra a formação de placas de gordura nas artérias e
também reduz a taxa de triglicerídeos; proporciona bem-estar emocional,
diminuindo o stress, a ansiedade e agitação mental; melhora a
concentração mental; fortalece o sistema imunológico prevenindo de
diversas doenças.

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 3 – Ba Duan Jin – As Oito Peças do Brocado

Fonte: Confucious Institute

Prática e efeitos terapêuticos dos exercícios

A prática do Ba Duan Jin as Oito Peças do Brocado ou Oito Brocados de Seda,


consiste em 8 sequências de diferentes seções, também existe uma sequência da técnica
realizado sentado que possui 12 movimentos, chamado 12 peças do brocado neste trabalho
irei abordar a sequência em pé prática.
O nome Oito Peças do Brocado ou Oito Brocados de Seda foram dados em referência
ao sofisticado trabalho das sedas chinesas. Recomendação para prática que ela deve ser
realizada de forma suave, bela e delicada como são os bordados da seda. Está prática possuem
oito exercícios fáceis e exige prática constante e intenção e atenção nos movimentos (SBTCC,
2016).
Existem três virtudes na quais a prática deve se apoiar para alcançar todo o seu
potencial e conquistarmos assim uma vida saudável, “1. Vontade para estudar e praticar
sempre; 2. Perseverança para se dedicar nos treinamento e superar os próprios limites; 3.
Paciência para se desenvolver gradualmente, sem ansiedade e com muita disciplina. (DE
LAZZARI, 2014, p. 30)
Como esta prática faz parte do Qi Gong e está fortemente relacionado aos sentimentos
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CÁTIA DAS NEVES ALVES

de quem pratica, é interessante que, para iniciar os movimentos a mente esteja equilibrada e
calma, portanto é ideal que ao iniciar a prática faça uma meditação ou postura de preparação
chamada Wu Ji que significa “vazio primordial”, é um estado natural para relaxar o corpo e
tranquilizar a mente.

[...] A mente está sem pensamentos; a intenção, sem movimento;


os olhos estão sem foco; as mãos e pés, imóveis; o corpo não faz nenhum
movimento; Yin e Yang ainda não estão divididos; o Chi original está
unido e indiferenciado. Após permanecer um tempo na postura de Wu Ji, a
intenção da mente move o corpo e o praticante inicia os exercícios. (DE
LAZZARI, 2014, p.91)

1º BROCADO – Mão duplas empurra o céu para regular o Triplo Aquecedor

Figura 4 – 1ª Peça do Brocado

Fonte: Câmara Shaolin

Prática: Fique em pé naturalmente com seus pés paralelos, largura de


ombros e as mãos ao lado do corpo. Feche seus olhos, acalme sua mente
respire regularmente. Abra seus olhos e olhe para frente, continue
respirando naturalmente e suavemente. Entrelace os dedos das mãos e
eleve suas mãos sobre sua cabeça, com as palmas viradas para cima sem
flexionar os braços e ao mesmo tempo eleve os calcanhares. Isso se chama
“mãos duplas empurrando o céu”. Abaixe os calcanhares e balance o corpo
para direita e para esquerda e depois volte ao centro. Abaixe suas mãos na
frente do corpo para completar exercício. (SBTCC, 2015, p. 22)

Finalidade: Trabalha Sanjiao ou Triplo Aquecedor e esses três aquecedores estão


relacionados à respiração, digestão e eliminação. Na prática, ao levantar as mãos acima da
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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

cabeça e inclinar para qualquer um dos lados ocorre o alongamento da musculatura do tronco,
ao descer os braços os músculos soltam e relaxam e o Qi pode fluir através da repetição, o
movimento regula a circulação do Qi do Triplo Aquecedor relaxando os órgãos, assim o Qi
interno pode circular livremente, isso vai resultar no desaparecimento das doenças. E ao
levantar os calcanhares durante a prática vai ajudar a elevação do Qi no Triplo Aquecedor
(SBTCC, 2015).
Também beneficia articulações dos ombros e pescoço evitando lesões; proporciona o
alongamento dos ligamentos, tecidos mole, músculos e articulações, membro superior e
coluna vertebral; aumento da flexibilidade da coluna; evita lesões de ombros e desgaste dos
discos intervertebrais e das vértebras cervicais; a aumenta a circulação do Qi na parte da
frente do corpo e vai regular o Qi dos órgãos; fortalece os braços; melhora a postura; alonga
grande parte do corpo; a respiração profundo e ao estender os braços para estender
verticalmente o diafragma, proporciona uma massagem suave nos intestinos e estômago;
prevenção e cura das doenças pois melhora a circulação do Qi desde os pés até os braços (DE
LAZZARI, 2008).

2º BROCADO - Postura do Arqueiro

Figura 5 - 2 ª Peça do Brocado

Fonte: Câmara Shaolin

Prática: Fique na postura a cavalo. Relaxe suas mãos e leve-as até a área do
tórax. Junte suas mãos, e separe-as com a mão direita movendo-se para o
lado direito, enquanto a mão esquerda mudando para a mão da “espada
oculta”, estende para a esquerda como se você estivesse estirando um arco.
Seus olhos viram para esquerda em um ponto mais distante (SBTCC, 2015,
p. 23)

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CÁTIA DAS NEVES ALVES

Finalidade: Fortalece os rins e a região da cintura, durante a prática se deve baixar para
firmar a raiz, na medida em que puxar o arco assim terá um centro de força para poder puxar
de forma efetiva, ao abaixar as costas devem estar retas e as nádegas para baixo enfatizando
assim a energia dos rins. Os ombros devem estar firmes e o cotovelo de trás envergar
estabilizando assim a puxada do arco. Neste exercício vai aumentar a circulação do Qi na área
dos rins e fortalecer os músculos da cintura. Concentrar a mente de maneira que você sinta
que realmente está puxando um arco muito forte, pois a fonte de movimento do Qi é a mente
concentrada. Proporciona força e melhora no equilíbrio dos membros inferiores através do
desenvolvimento da musculatura, aumento da flexibilidade, mobilidade e elasticidade nestas
regiões. Ao expandir a postura abrindo os ombros, atua nos meridianos Yin e Yan das mãos,
faz fluir o Qi ajustando o meridiano do pulmão além de estimular os pontos de acupuntura das
costas. Previne lesões na coluna vertebral, na região cervical e ombros; (SBTCC, 2015).
Benefícios: Equilibra e melhora as funções renais através do aumento da circulação do
Qi nesta região; através da respiração profunda, abre o peito e os pulmões, aumenta a
capacidade respiratória; desenvolve a caixa toráxica; melhora a respiração; fortalecimento do
musculo da cintura que auxilia a sustentação da coluna aliviando a pressão nas vértebras;
desenvolve os músculos dos braços, pernas, região lombar, ombros, peito e escápulas; as duas
pernas ficam muito fortes e principalmente o musculo da coxa devido ao enraizamento na
postura de montar o cavalo (DE LAZZARI, 2014).

3º BROCADO – Empurrar o Céu e a Terra regular as funções do estômago e baço

Figura 6 – 3ª Peça do Brocado

Fonte: Câmara Shaolin


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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Prática: Ficar em Pé com os pés paralelos, largura de ombros. Então mova


ambas as mãos para frente do seu estômago com as palmas olhando para
cima. Eleve a sua mão esquerda sobre a sua cabeça e empurre para cima, e
ao mesmo tempo abaixa sua mão direita e pressione para baixo. Então
mude as suas mãos e repita o mesmo processo. Você deve sentir que ambas
as mãos estão empurrando contra alguma resistência, mas não tencione os
músculos (SBTCC, 2015, p.23)

Finalidade: Estimula e fortalece os tendões e músculos, quando na prática se estica as


palmas das mãos sem tencionar os músculos, mas estendendo a força através das mãos
fazendo assim com que seus braços se alonguem. Revertendo repetidamente os braços
alongando e relaxando o corpo fazendo com que os tendões e os canais do Qi revivam. O
movimento de elevar e abaixar as mãos faz com que a cavidade abdominal se alongue
massageando assim os órgãos intestino, baço e estômago, além de fortalecer o Qi do fígado,
baço e estômago e também os pontos. Promove um tratamento de prevenção de lesão na
coluna fortalecendo a musculatura envolvida nas articulações, entre as vértebras da coluna
vertebras (SBTCC, 2015, p.24).
Benefícios: Aumenta a circulação do Chi no fígado, baço e estômago; aumenta a
circulação do Qi no meridiano dos braços; desenvolve a musculatura dos ombros e da parte
superior da coluna; aumenta a capacidade respiratória e melhora a respiração devido ao
movimento vertical do diafragma; desenvolve os músculos e tendões do braços (DE
LAZZARI, 2014).

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CÁTIA DAS NEVES ALVES

4º BROCADO - Olhar para trás para prevenir as cinco fraquezas e os sete


prejuízos

Figura 7 – 4ª Peça do Brocado

Fonte: Câmara Shaolin

Prática : Fique de pé com paralelos como antes, e suas mãos naturalmente


para baixo ao lado do corpo. Eleve o seu peito um pouco desde dentro para
que sua postura fique ereta, mas não estufe o seu peito para fora. Vire a
cabeça para esquerda e olhe para trás enquanto exala, então volte para o
centro enquanto inala. Gire a sua cabeça para direita e olhe para trás
enquanto exala, depois volte ao centro enquanto inala. O seu tronco deve
estar olhando para frente, não gira o tronco enquanto gira a cabeça
(SBTCC, 2015, p. 24)

Finalidade: Tratar as 5 fraquezas e o 7 prejuízos. As 5 fraquezas estão relacionadas às


doenças dos 5 órgãos Yin, coração, fígado, baço, pulmões e rins e o 7 prejuízos estão
relacionados aos causados pelas emoções, ódio, desejo, alegria, amor, felicidade, pesar e
raiva. Na visão da MTC, a doença aparece quando os órgãos internos estão fracos e quando o
indivíduo passa por distúrbios emocionais. No caso de emoções muito fortes fazem com que o
Qi se acumule na cabeça causando desequilíbrio. Emoções extremas ocasionam os efeitos
muito negativos. Durante a prática, ao olhar para trás visualiza todas as coisas negativas que
estão ao lado esquerdo à traseira do corpo durante este movimento, o Qi vai começar a se
mover. Com a prática regular a circulação do Qi na cabeça e nos órgãos irá fluir reparando os
problemas causados por emoções fortes, auxiliando a prevenção de enfermidades. Ao girar a
cabeça e mantendo as mãos nas diferentes posições suavemente, vai proporcionar o
alongamento de partes diferentes do interior do corpo e regular o fluxo do Qi. Girar a cabeça
mantendo as mãos suaves nas diferentes posições vai proporcionar o alongamento de partes 87
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

internas diferentes do corpo, regular o fluxo do Qi, auxiliando na cura de ferimentos e velhos
problemas internos que são difíceis de detectar por outros métodos de tratamento. Exercita as
cavidades abdominal e peitoral no movimento de esticar. Devido o movimento tranquilo e
firme da torção dos braços até a ponta dos dedos ocorre a estimulação dos cinco órgãos
internos yin: fígado, baço, rins, pulmão e coração evitando assim os prejuízos causados pelas
sete emoções: desejo, ódio, alegria, amor, felicidade, pesar e raiva. O sistema nervoso central
e a circulação sanguínea são estimulados, alonga e desenvolve as musculaturas ao redor dos
olhos e do pescoço e alivia a sensação de cansaço (SBTCC, 2015).
“As combinações de órgãos/emoções/emoção patológica são as seguintes:
Fígado/ardor/raiva; Coração/alegria/excitação excessiva; Baço/preocupação/obsessão;
Pulmões/tristeza/depressão; Rins/ansiedade/ medo” (FERRARO, 2002, p. 63).
Benefícios: Previne e trata dores na região do pescoço; relaxa a musculatura e alivia as
tensões do trapézio, músculos dos ombros e do pescoço; fortalece e desenvolve os tendões e
músculos do pescoço; relaxa e alonga a musculatura do peito, removendo a estagnação do Qi
na região; equilibra e estimula a circulação do Qi nos meridianos que passam na região do
pescoço; auxilia na cura doenças dos órgãos Yin: coração, baço, pulmões, rins e
fígado; proporciona equilíbrio emocional, impedindo emoções extremas (DE LAZZARI,
2014).

5º BROCADO - Girar a cabeça e balançar a calda para eliminar alterações


patológicas (o fogo do coração)

Figura 8 – 5ª do Brocado

Fonte: Câmara Shaolin

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CÁTIA DAS NEVES ALVES

Prática: Fique na postura a cavalo. Coloque suas mãos nos joelhos, com o
dedão para o lado de fora da sua coxa. Mude o peso para perna esquerda, e
gira o tronco alinhando sua cabeça, espinha e perna direita. Fique nessa
posição por três segundos, e depois volte ao centro (SBTCC, 2015, p. 25).

Finalidade: Quando se tem uma alimentação imprópria, respirar ar não saudável ou até
perda de sono isso provoca um excesso de Qi no plexo solar, afetando o estômago ou o
coração e parte dessa energia precisa ser movimentada para os pulmões, onde através de uma
respiração suave pode regular e harmonizar o Qi. Durante a prática ao colocar as mãos nos
joelhos com os polegares para trás, vai fazer com que o peito se espanta quando se move de
um lado para o outro, isso fará com que ocorra uma soltura dos pulmões tirando o excesso de
Qi do Dan Tien médio diminuindo o excesso. Com a prática diária vai aumentar a circulação
sanguínea que vai auxiliar qualquer fraqueza nas pernas. Ao realizar esse exercício é
importante manter a cabeça, o pescoço e espinha alinhada e quando se faz a pressão no joelho,
produz uma compressão do pulmão do lado correspondente e produz um relaxamento no
pulmão do outro lado. Movimento realizado através de rotações que auxiliam na flexibilidade
da musculatura e articulações envolvidas (SBTCC, 2015).
Benefícios: melhora a oxigenação do sangue e as trocas gasosas; aumenta a
capacidade respiratório; promove giro rotacional das vértebras, auxiliando o fortalecimento
dos músculos das pernas evitando câimbras dos músculos das pernas; melhora circulação
sanguínea das pernas; previne contra ansiedade, dores no peito e insônia; auxilia a dissipar a
estagnação do Qi no peito e auxilia na eliminação do excesso de Yang do coração, eliminando
o “fogo do coração” (DE LAZZARI, 2014).

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

6º BROCADO – Tocando os pés para fortalecer os rins

Figura 9 – 6ª Peça do Brocado

Fonte: Câmara Shaolin

Prática: Fica em pé, pernas abertura de ombros. Empurre as duas palmas


para baixo ao lado da cintura, então mova suas mãos na frente do seu peito
e finalmente acima de sua cabeça com as palmas para cima. A forma
parece que você está segurando ou levantando algo acima de sua cabeça.
Fique parado um pouquinho e depois incline para frente com os braços
estendidos e segure seus pés. Puxe suas mãos um pouco para exercitar todo
seu corpo (SBTCC, 2015, p. 25).

Finalidade: A residência do Qi original são os rins que estão localizados abaixo dos
maiores músculos das costas. Quando os rins estão fortes, eles irão produzir Qi original e o
retém vivificando todo o corpo. Ao inclinar para frente e tocar os pés com as mãos, isso
provocará uma tensão nos músculos das costas, restringindo o fluxo do Qi na área dos rins e
quando se solta esta pressão, o fluxo do Qi retorna rapidamente removendo qualquer
estagnação. Esta peça é um excelente exercício de massagem nos rins aumentando o fluxo do
Qi como também nos músculos das costas e da espinha. Com o Qi forte se desenvolve uma
resistência a resfriados. Quando se inclina o corpo para frente, estará estimulando os rins e
alongando o corpo, quando se eleva esticando os braços e os pés, esta ação leva o Qi para
todos os tendões. Quando se eleva o tronco parte do Qi é dirigida ao osso sacro onde entrará
na espinha através dos seus orifícios. E ao levantar para posição ereta vai passar por toda a
espinha revitalizando o esqueleto completo. Os rins, a uretra e a glândula adrenal têm suas
funções melhoradas através da massagem feita pela flexão e inclinação da coluna vertebral,
além de auxiliar na prevenção de enfermidades no sistema urogenital, fortalecendo rins e
cintura e também os grupos musculares do tronco (SBTCC, 2015).
Benefícios: aumenta o Qi na região renal, pois massageia os rins; O Qi Original (Yuan
90
CÁTIA DAS NEVES ALVES

Qi) é fortalecido junto com o sistema imunológico; fortalece o Jing Original (Essência);
aumenta a flexibilidade da cintura, quadril e a coluna lombar; fortalece os ossos, tendões e
músculos do tronco; previne dores na coluna vertebral e nas costas (DE LAZZARI, 2014).

7º BROCADO – Movendo os punhos em espiral com olhos ferozes para aumentar o


Qi

Figura 10 – 7ª Peça do Brocado

Fonte: Câmara Shaolin

Prática: Este exercício é muito parecido com o segundo. Fique na postura a


cavalo com tronco ereto e seus punhos ao lado da cintura. Aperte ambos os
punhos, estenda um dos braços para o lado dê um golpe em espiral, gire o
punho. A outra mão fica ao lado da cintura. Depois que você termina o
movimento, afrouxe ambas as mãos e traga a mão que estava estendida de
volta ao lado da cintura, e repita para o outro lado (SBTCC, 2015, p.26).

Finalidade: Esta peça faz uma limpeza de qualquer estagnação do Qi, leva até a pele,
trabalha a elevação do espírito da vitalidade, quando se tem um espírito elevado o fluido do
Qi é fortalecido aumentando inclusive a força muscular, quando o Shen (o espírito) está
elevado aumenta o Qi Li (Qi proveniente dá força muscular), o Qi preenche todo o corpo
chegando até a pele. Ao realizar o movimento de socar deve-se pôr a intenção de está
chocando com dureza e o golpe se tornará mais potente, porque a mente fará com que o Qi vá
para fora dos braços e pernas (SBTCC, 2015).
A Medicina Tradicional Chinesa diz que projetar o olhar com foco estimula e fortalece
o Qi do fígado nos olhos e nos músculos, além de estimular o córtex cerebral e o sistema
nervoso autônomo (FERRARO, 2002).
91
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Benefícios: Fortalece os ossos músculos e tendões dos braços e das pernas; aumenta a
força muscular, Qi Li; proporciona muita vitalidade, pois aumentando o Qi; elimina a
estagnação do Qi nas pernas e nos braços; a mente e o corpo tornam-se saudáveis e o espirito
é elevado (DE LAZZARI, 2014).

8º BROCADO - Fazer vibrar as costas para eliminar as cem enfermidades

Figura 11 – 8ª Peça do Brocado

Fonte: Câmara Shaolin

Prática: Eleve seu calcanhar com as mãos na cintura e fica o quanto você
puder, e depois abaixo pisando no chão novamente (SBTCC, 2015, p. 26).

Finalidade: Esta peça faz com que o Qi circule do topo da cabeça até a ponta dos pés.
Ao se erguer sobre a ponta dos pés, os seis canais do Qi que são conectados com os órgãos
internos são estimulados. Durante a prática deve-se manter a cabeça erguida com intenção de
fazer chegar à energia desde a ponta dos pés. A vibração que o movimento provoca no corpo
relaxa os músculos, estimula a coluna vertebral e as extremidades inferiores. Desenvolve a
capacidade de equilíbrio porque exercita os ligamentos dos pés e músculos e também ajuda a
desenvolver os músculos da panturrilha. O leve impacto nos calcanhares melhora a circulação
sanguínea e sua energia interna, levando a um maior equilíbrio, pois o Qi vai circular da
cabeça até a ponta dos pés (SBTCC, 2015).
Benefícios: Ativa o Qi e faz melhorar a circulação dessa energia em todo o corpo;
fortalece, alonga e torna mais saudável a coluna vertebral; auxilia no alinhamento correto do
92
CÁTIA DAS NEVES ALVES

corpo, pois melhora a postura e o equilíbrio; alonga os tendões e ligamentos das pernas e dos
pés; estimula os seis meridianos que passam pelos pés e pelas pernas (DE LAZZARI, 2014).
Pesquisas apontam índices alarmante tais como: 50,3% de taquicardia e 50,9% de
fogachos; 49,8% de ansiedade; 69,7% de irritabilidade e 69% de sobrepeso. A realização de
atividade física semanal (150 minutos por semana), melhora a diabetes, peso, artrite,
hipertensão e fatores de comorbidade frequentes após a menopausa (CABRAL et al.,2 2005
apud KATAGUIRI, 2009).
Com vistas ao que foi apresentado, a prática constante do Ba Duan Jin irá contribuir
para a saúde feminina em todas as idades, inclusive trazendo muitos benefícios para a
qualidade de vida na fase do climatério e menopausa, proporcionando mais consciência sobre
o corpo e sua inteireza, como também propõe a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares.

2
CABRAL et al., Quais os benefícios da atividade física no climatério? Revista da Associação
Médica Brasileira, v.51, n.4, p.181-94, 2005.

93
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

SAÚDE PUBLICA CLIMATÉRIO/MENOPAUSA

Mudanças no padrão demográfico da população brasileira vêm trazendo um


progressivo envelhecimento populacional levando assim a ocorrências de novas demandas
para os serviços de saúde (IBGE, 2010).
Este envelhecimento populacional coloca o Brasil no 6º lugar entre os países com
maior população de pessoas com mais de 60 anos, a expectativa de vida da mulher brasileira
está em torno de 72,9 anos pode-se dizer que elas estão vivendo 1/3 de suas vidas na faixa
etária acima dos 50 anos (ZAMPIERI et al., 2009).
Com o aumento da expectativa de vida feminina, vem aumentar o número de mulheres
que irão vivenciar o climatério, necessitando assim de ações para promoção da saúde
(BRASIL, 2008). E em todas essas mudanças, é plausível que haja muitas mulheres que estão
na faixa etária dos 50 anos ou acima e estejam passando a fase do climatério/menopausa e
busquem as Unidades Básicas de Saúde para que sejam atendidas em suas necessidades
originadas dentro do seu ciclo de vida.
Segundo o Ministério da Saúde, a atenção básica deve ter o nível de atenção adequado
para atender a maioria das necessidades da saúde da mulher no climatério. E para se implantar
a atenção básica a saúde da mulher no climatério, deverá ter profissionais capacitados e
sensibilizados, para as particularidades deste grupo populacional (BRASIL, 2008).
O climatério não é uma doença e sim uma fase natural da vida da mulher e algumas
passam por ela sem queixas ou necessidade de medicamentos. Outras desenvolvem sintomas
que varidos. No entanto, em ambos os casos, é fundamental que haja, nessa fase da vida, um
acompanhamento sistemático visando à promoção da saúde, o diagnóstico precoce, o
tratamento imediato dos agravos e a prevenção de danos (BRASIL, 2008).
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNIC) em 2016 se
consolidou no sistema único de saúde SUS e trouxe um novo olhar, aplicando novas técnicas
de integração do ser humano, a sociedade e ao ambiente em que ele vive através de práticas
terapêuticas de prevenção e manutenção da saúde. (BRASÍLIA, 2015).
Com isso, esta politica disponibilizou aos profissionais de saúde e a população em
geral um pouco da filosofia oriental de saúde através de duas técnicas corporais da medicina
tradicional chinesa, sendo o Qi Gong e o Tai Ji Quan.
Observamos hoje que no Sistema Único de Saúde está sendo dada grande importância
a promoção de um estilo de vida mais saudável, afinal saúde não é apenas uma questão de

94
CÁTIA DAS NEVES ALVES

assistência médica ou de acesso a medicamentos. Haja visto que as práticas corporais


terapêuticas não estão somente relacionadas com a saúde, mas também com a socialização,
trazendo uma melhora substancial a nível físico e emocional através da promoção de uma
melhor qualidade de vida. As práticas corporais chinesas demonstram serem potenciais
agentes transformadores no estilo de vida não só como técnicas alternativas de saúde, mas
também sendo aplicadas a outros ambientes além do SUS como em centros comunitários,
locais públicos onde toda a população tem acesso. Dessa forma, promove uma nova cultura de
prevenção e manutenção da saúde, e pode ser utilizada para a melhoria da qualidade de vida
da população feminina na fase do climatério/menopausa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo introdutório sugere um potencial para as Políticas Públicas com as PICS, e
a possibilidade de novos estudos na área da saúde e qualidade de vida da mulher na fase do
climatério/menopausa através das práticas corporais da MTC.
Em virtude da revisão bibliográfica apresentada, podemos dizer que é neste momento,
na menopausa onde a mulher dá a luz a si própria, vai sentir a necessidade de encontrar um
novo ponto de equilíbrio para realizar uma mudança de paradigmas e ter uma nova atitude
perante a vida.
Nestas condições, podemos dizer então, que a prática do Ba Duan Jin no universo
feminino do climatério/menopausa pode ser uma ferramenta de auxílio no tratamento dos
sintomas, devido ao seus movimentos lentos e de baixo impacto, fazendo com que o fluxo de
energia vital equilibre todo corpo e conquistar uma mente calma, possibilitando a mulher
passar por essa fase de uma forma mais saudável, mais serena e que possa usufruir da desta
fase com amor e se reencontrar na sua essência tendo um novo olhar sobre si mesma.
Para concluir vale citar;

Sem a percepção da sua verdade interior, a pessoa desgasta a


energia e passa a sentir-se envelhecida e sem rumo. Para retomar o
caminho da saúde (física, psíquica e espiritual), é necessário que a mulher
perceba quem realmente ela é. A consciência de si através do Shen
(Espírito) é fundamental para reconduzir o Jing (Energia Vital) de volta ao
Coração (CAMPIGLIA, 2017, p.194).

A menopausa não deve ser um momento de perdas e tristezas e sim um momento de


incríveis e maravilhosas descobertas.

95
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

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98
CHANG FUN HWA

5. Relação entre TAI CHI CHUAN


e a Alimentação Orgânica

Chang Fun Hwa

99
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

RESUMO

Este estudo teve como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre os benefícios à saúde
decorrentes da prática de Tai Chi Chuan (TCC), com ênfase nos efeitos coligados à
importância da nutrição e aos cinco elementos na Medicina Tradicional Chinesa (MTC). A
primeira parte do trabalho trata dos aspectos conceituais da MTC, como as energias
Yang/Yin, meridianos energéticos, órgãos Zang-Fu e os cinco elementos, que perpassam as
práticas da MTC. Foram destacadas na segunda parte as descrições dos benefícios
relacionados à qualidade de vida e bem-estar, atribuídos à alimentação e à prática do TCC,
como a melhoria do sono, do humor e do equilíbrio do organismo. A alimentação adequada
dentro do autoconhecimento pode e deve ajudar a melhorar a qualidade de vida tanto física,
quanto mental e social.

Palavras-chave: Alimentação, Dietoterapia, Nutrição, Medicina Tradicional Chinesa,


Qualidade De Vida, Tai Chi Chuan.

ABSTRACT

The aim of this study was to review the literature on the health benefits of Tai Chi Chuan
(TCC), with emphasis on the effects related to the importance of nutrition and the 5 Tai Chi
Chuan elements in Chinese medicine. The first part of the paper deals with the conceptual
aspects of Traditional Chinese Medicine (TCM), such as the Yang-Yin energies, energetic
meridians, Zang-Fu organs and the five elements that pervade TCM practices. The second
part describes the descriptions of the benefits related to quality of life and well-being,
attributed to nutrition and the practice of TCC, such as improvement of sleep, mood and body
balance. The proper nutrition within self-knowledge can and should help improve the quality
of life, physically, mentally and socially.

Key-Words: Diet, Nutrition, Chinese Tradicional Medicine, Quality of Life, Tai Chi Chuan,

100
CHANG FUN HWA

INTRODUÇÃO

Baseando-se em diversos estudos publicados como os de Schreiber (2007)1, Wayne


(2016)2, Fahrnow et al (2003)3, pode-se afirmar que um dos pilares da saúde é a alimentação,
aliada à prática de exercícios físicos. Com tantas teorias sobre alimentação saudável
disponíveis, é difícil saber qual a mais apropriada. Nesta perspectiva, a tradição chinesa,
construída ao longo de milhares de ano, pode oferecer uma abordagem saudável diferente das
dietas atuais, que são pautadas pelo conceito de calorias, pela análise quantitativa dos
nutrientes e delimitação de quantidades diárias (FAHRNOW, 2003). Diferentemente, a
dietoterapia chinesa é personalizada e focada na alimentação energética diária e auxilia no
tratamento de patologias (AZEVEDO, 2008).
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é um sistema de atenção à saúde e é a
medicina praticada ainda hoje na China e em muitos lugares do mundo. O interesse do estudo
da MTC e da sua relação na alimentação saudável está no fato de que para a prática de
exercícios é preciso ter energia, a qual os chineses chamam de Chi (energia vital). A
alimentação e a respiração são as principais fontes de energia do homem, com as quais ele
complementa as energias vitais inatas. Nesse sentido, ponto principal da MTC reside na ideia
de que os órgãos e tecidos estabelecem relações de intercâmbio energéticos. Os alimentos são
avaliados pela forma como conseguem ativar, manter e renovar as energias. (FAHRNOW,
2003).
Nesse sentido, a alimentação na MTC é fundamental, pois, além de fornecer energia,
pode ser uma dieta para tratamento e prevenção de enfermos. É dentro desta filosofia que
existe a alimentação baseada nos cinco elementos (a madeira, o fogo, a terra, o metal e a
água), que estão ligados e interagem entre si (FRANZ, 2016).
Na MTC, o tratamento ideal se baseia numa análise do estado dos 5 elementos do
corpo, em que a deficiência ou excesso de um dos elementos pode resultar em doenças. Há
estudos que demonstram que os alimentos estão relacionados a um elemento através de
sabores (FAHRNOW, 2003). Assim, no caso de um indivíduo desenvolver repentinamente
um desejo por comidas azedas, isso pode indicar, por exemplo, problemas no fígado. Claro
que esse diagnóstico é muito mais complexo e profundo, mas o que se demonstra é que até os
diferentes sabores podem ajudar a dar a direção energética dos alimentos. Há, assim, relações

1
SCHIREIBER, David S. Anticâncer, Prevenir e vencer usando nossas próprias defesas naturais. Ed.
Objetiva. Rio de Janeiro. 2007.
2
WAYNE, Peter M. Guia de Tai Chi da Faculdade de Medicina de Havard. Ed. Pensamento. São Paulo,
2016.
3
FAHRNOW, Ilse Maria. Os 5 Elementos na Alimentação Equilibrada. Ed. Agora, São Paulo, 2003.

101
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

diretas entre malefícios causados em determinados órgãos e o excesso ou a deficiência de


determinados sabores, exemplificando a importância de compreender a relação que há entre a
alimentação e a saúde, através da MTC (HIRSCH, 2010).
Contudo, a energia vital adquirida necessita ser conduzida para todo o corpo. Para
tanto, a MTC prescreve o Tai Chi Chuan (TCC) e o Chi Kung que, com os movimentos lentos
combinados com a respiração, promovem o fortalecimento da integração do corpo e da mente,
a melhora da saúde, o desenvolvimento pessoal e o aumento da capacidade de autodefesa.
(FRANZ, 2016).

Contextualização

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) trabalha a comunicação do corpo, a fruição


de energia que faz o ser humano como um todo. A MTC, segundo Abe4 (2006) tem seus
primeiros registros datados de 5.000 a.C. através de livros bastante antigos, que possuem
informações em códigos, muitas vezes em forma de poesia, música e imagens. São conceitos
diferentes que levam a mudanças do estilo de vida e que destacam a prevenção como papel
fundamental. Assim, a autora salienta ainda que é essencial a difusão de informações,
fazendo-se necessário um constante “movimento” em relação aos hábitos e costumes.

As tradições orientais adentraram o Brasil em especial após os anos 1960 no


contexto do movimento internacional de contracultura. O movimento sugeria
um novo estilo de vida às pessoas, incorporando tendências naturalistas e de
afinidade com as civilizações do Oriente (QUEIROZ, 2006). Esse
Movimento trouxe para o Brasil tradições como o Taoísmo, o Zen-Budismo,
a medicina Ayurveda e a MTC e suas técnicas, despertando o interesse de
movimentos denominados "alternativos" na área da saúde no País (CINTRA
e PEREIRA, 2012, p.195).

Na MTC, a abordagem de cada paciente é global, envolvendo corpo, mente, espírito e


ambiente (SILVA FILHO e PRADO, 2007). Nesse sentido, ainda, segundo Cintra e
Figueiredo (2010), o homem é visto a partir de três componentes básicos: a Energia (Chi ou
Qi), a Matéria (Jin), e a Mente (Shen). Para Jacques (2003), o tratamento pode ser feito
através da atuação em qualquer uma delas, seja isoladamente, seja em associação.

4
ABE, Gislaine Cristina. Medicina Tradicional Chinesa (MTC). 2006. Disponível em:
http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2006/RN%2014%20SUPLEMENTO/Pages%20from%20RN%
2014%20SUPLEMENTO-13.pdf>. Acessado em: 18 de agosto de 2018.
102
CHANG FUN HWA

Os pilares filosóficos da MTC são o budismo, o taoísmo e o confucionismo. De acordo


com estas filosofias, as doenças seriam apenas caminhos que levariam à transformação
pessoal de quem as desenvolve (ABE, 2006).

Autor do livro Tao Te Ching ou "Livro da Razão Suprema", compilado,


provavelmente, por volta de 300 a.C. O Taoísmo concebe o Universo como
um composto uno estruturado pelo Qi (Força ou Energia Vital), um princípio
energético que promove o dinamismo e a atividade da matéria orgânica e do
ser vivo, seja animal, seja vegetal. (BIZERRIL, 2010, p. 287).

Quanto aos pilares terapêuticos da MTC, temos a acupuntura, a dietoterapia, a


fitoterapia, a meditação, o toque das mãos (massagens) e exercícios físicos. É dentre os
exercícios físicos que se encontram o TCC. Dessa maneira, a seguir, serão apresentadas
considerações a respeito da MTC, dietoterapia e TCC (ABE, 2006).

Objetivos

Realizar uma revisão de literatura sobre dietoterapia chinesa associada à pratica de


TCC, bem como descrever e difundir os conceitos, a prática, movimentos e benefícios da
dietoterapia e do TCC para o cuidado em saúde, equilíbrio e bem-estar.

Justificativa do estudo

A busca por alternativas à Medicina clássica para o restabelecimento e manutenção da


saúde é um fenômeno mundial. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS): “Saúde é
um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Não é, portanto, meramente a
ausência da doença ou enfermidade” (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1948)5.
Sendo assim, o presente trabalho surgiu, em primeiro lugar, pelo interesse particular
da interligação entre a alimentação e as práticas corporais e mentais da MTC. Esta, por sua
vez, apresenta importantes alternativas ou complementos para a manutenção e/ou
restabelecimento do estado de saúde e, vale ressaltar, através de um estado de completo bem-

5
United Nations General Assembly. Global road safety crisis: report of the Secretary-General. (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 1948). New York, NY, United Nations (A/58/228). Disponível em:
<http://www.who.int/world-health-day/2004/infomaterials/ en/un_en.pdf> Acesso em: 19 de agosto de 2018.
103
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

estar (físico, mental e social), conforme conceituou acima a OMS. Em segundo lugar, pela
intenção de divulgar os achados científicos e da literatura relativos especificamente a uma das
dietas mais difundidas da MTC, a dietoterapia.
A presente revisão, portanto, abordará princípios e conceitos vinculados ao TCC,
perpassando pela filosofia oriental e por achados científicos, de modo a oferecer o
embasamento teórico necessário para seu entendimento da alimentação terapêutica dentro da
MTC.
Dessa forma, o trabalho é importante para demonstrar que a MTC pode conferir, para
além de forma alternativa de tratamento, a autonomia do indivíduo e saúde preventiva à
população através do funcionamento e da consciência do próprio corpo.

Delimitação do estudo

A princípio, deve-se entender que a MTC é uma forma de terapia peculiar. De acordo
com Cruz (2008), a MTC foi construída durante milênios e de forma coletiva,
geograficamente e culturalmente diversa. É oriunda da cosmologia Taoísta sendo esta
diferente da chamada biomédica praticada no ocidente, no caso no Brasil.
O presente estudo visa explicar sobre como o organismo aproveita a energia existente
na alimentação de acordo com a MTC, que estabelece relações de intercâmbio energético
entre os órgãos e os tecidos. Os alimentos são avaliados pela forma como conseguem ativar,
manter e renovar energias. O organismo só pode funcionar bem quando é nutrido de forma
balanceada, com todos os cinco elementos equilibrados - madeira, fogo, terra, metal e água
(FAHRNOW, 2003).
Quando o elemento madeira está equilibrado, por exemplo, a pessoa sente-se muito
bem porque seu fígado está bem cuidado e os acúmulos de energia se dissolveram. Já os
sinais de que o elemento madeira está em desequilíbrio podem se manifestar pela preferência
extrema ou rejeição por sabor azedo, acessos explosivos de espirros, pontadas, palpitações,
dores musculares, entre outros (FAHRNOW, 2003).
Procura-se, assim, demonstrar a aplicação prática do sistema da MTC, na dietoterapia,
inclusive com indicações de como associar condimentos, ervas, grãos, raízes, verduras,
legumes, frutas, carnes, derivados e bebidas, aliadas à importância da prática de TCC para
fluir, por todo o corpo, a energia vital adquirida.

104
CHANG FUN HWA

METODOLOGIA

Este trabalho trata-se de uma revisão narrativa ou análise temática: não utiliza critérios
sistematizados de metodologia e análise, em que a intenção é realizar uma fundamentação
teórica mais simples junto a interpretações ou apresentação de informações, com objetivo de
informar sobre determinado tema.
Foram encontradas 12 teses de mestrados e doutorados, 15 livros e 2 textos sobre o
tema pesquisado. A apresentação escrita dos referenciais encontrados será dividida em 3
tópicos essenciais: 1) panoramas gerais da MTC; 2) a alimentação na MTC e 3) O TCC, a
serem apresentados a seguir.

PANORAMAS GERAIS DA MTC E SUAS TEORIAS

Deitou bom, acordou emperrado - costas presas, pescoço duro, braço bobo.
Capengou até o banheiro, achou aquela aspirina americana que era tiro-e-
queda, tomou logo duas, e nada: nem tiro, nem queda. Depois do café
engoliu mais duas. Nenhum efeito. De tarde foi ao médico: injeção,
comprimido caro, botou a maior fé! E à noite achou que ia morrer. Morrer
torto, sem entrar direito no caixão. Dia seguinte tirou todas as radiografias
possíveis, e o que encontrou? Nada, apesar de tudo. No terceiro dia já estava
desesperado, achando que viver daquele jeito era ainda pior do que morrer.
Foi aí que a ex-sogra telefonou falando do massagista japonês que fazia
milagres. Ele imaginou socos, agulhadas traiçoeiras, golpes mortais de
caratê, tremeu de medo, mas quem sabe adiantava?
Socos, agulhadas, golpes de caratê, dores e dores e dores - mas não é que
melhorou? Japonês mandou voltar no dia seguinte. Na porta, domo arigatô,
emendou:
- E vê se pára de abusar desse fígado, que ele não é de ferro!
Fígado? Ué. Que comentário mais disparatado, pensou. Mas dormiu bem e
acordou mais solto, quase bom. Japonês danadinho! Chegou lá, danadinho
meteu a mão: torceu, estalou, futucou, agulhou, queimou, mandou voltar em
dois dias, arigatô, reforçou:
- E o fígado, já está cuidando melhor dele?
Fígado. Que diabos queria o japonês dizer com isso? Desconcertado, foi ao
Aurélio ler que "fígado é uma víscera glandular volumosa situada
predominantemente no hipocôndrio direito, com pequena parte no epigástrio
e hipocôndrio esquerdo, que desempenha funções tais como secreção da

105
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

bílis, modificação de medicamentos, produção de glicogênio, e outras".


Grande coisa. Podia estar escrito lá que isto é bom para o fígado, aquilo é
ruim para o fígado, chá de boldo por exemplo ele se lembrava da tia tomar
sempre e não comer gorduras nem beber álcool de jeito nenhum porque
sofria do fígado. Pobre tia, morreu do coração. Mistérios. Pensava nisso
enquanto jantava ovos com bacon e tomou mais uma cerveja à saúde dos
antepassados.
Na consulta seguinte, reparando melhor na decoração do consultório, viu uns
mapas do corpo humano cheio de linhas, pontinhos, letras e números.
Identificou alguns lugares que o japonês agulhava ou queimava: F3 no pé,
F9 na perna. Na primeira chance perguntou o que significavam aqueles
códigos.
- Fígado!, respondeu o japonês.
Nosso herói calou-se para sempre. Porque o homem certamente punha as
costas no lugar, mas em matéria de fígado era no mínimo um neurótico
(HIRSCH, 2010, p. 5).

Este trecho foi retirado do Manual do Herói de Hirsch (2010), e é possível entender a
importância das nuances de um conto para entendermos como o corpo se comunica de forma
nem sempre sutil para demonstrar que não está em equilíbrio. No excerto acima, observa-se
que o paciente acredita ter problemas ortopédicos, quando na verdade seu problema é no
fígado, mas a falta de comunicação fluída com o “japonês” não faz o paciente entender de
maneira plena o que realmente acontece. Assim ocorre com nosso corpo, nem sempre
entendemos o que ele quer nos dizer.
A MTC é considerada uma das mais antigas medicinas. Ela foi fundamentada na
observação dos fenômenos da natureza e nos estudos dos entendimentos dos princípios que
regem a harmonia nela existente.
Tem como bases a integração e a interação entre o ser humano e a natureza, a
manutenção da saúde e a prevenção de doenças, e, assim, alcançar a harmonia do estado de
saúde geral das pessoas (TEIXEIRA, 2008).
Nesse sentido, diante do corpo, da saúde e da doença, a MTC dá ênfase no estado geral
do doente e não na doença. Segundo Cintra e Pereira (2012), a partir dessa postura, a MTC
adota uma perspectiva integradora e não organicista, interpretando a doença como um
desequilíbrio interno e meramente um resultado de invasões de agentes patogênicos. A
doença, assim, representa manifestações sintomáticas de desequilíbrio e é vista como um

106
CHANG FUN HWA

sintoma necessário, proveniente das causas mais profundas que abrangem o indivíduo e seu
modo de vida em sua totalidade.
Isto posto, de volta ao excerto inserido inicialmente neste tópico, é possível
compreender melhor o que a MTC tem a dizer sobre a ruptura da harmonia do estado de
saúde. Na perspectiva chinesa, conforme diz Franz (2016), os sintomas podem ser
interpretados a partir de sinais advindos dos órgãos, das vísceras, dos tendões, dos músculos,
do sistema circulatório, do sistema linfático, e diversos outros demonstrando, assim, que as
síndromes energéticas indicam o tipo de desequilíbrio daquele corpo e naquele dado
momento.
Assim, o diagnóstico, conforme Teixeira (2008), é realizado através da observação da
língua, das unhas e do cabelo; da palpação do punho; investigando o apetite, o paladar, as
fezes, e a urina. Ou seja, é realizada uma anamnese completa do histórico corporal do
paciente, bem como seu histórico emocional. Vale ressaltar que tal diagnóstico ocorre no
contato do corpo do paciente com o do terapeuta através dos órgãos dos sentidos (tato, olfato,
visão ou audição). Ainda, importa para o diagnóstico o histórico sociocultural do paciente
(CINTRA e PEREIRA, 2012), enfatizando, através de todos esses dados, a importância do
todo na MTC (físico, mental e social), para alcançar o bem-estar completo.
De acordo com Cintra e Pereira (2012), o diagnóstico e a terapia na MTC seguem um
procedimento tendo como base três teorias pautadas na compreensão taoísta de cosmos: a
Teoria do Yin e Yang, a Teoria dos Cinco Elementos (madeira, fogo, terra, metal e água) e a
Teoria dos Meridianos (Canais de Energia). Para o presente trabalho, cumpre analisar nos
tópicos que seguem as teorias do Yin e Yang e a dos Cinco Elementos.

O Taoísmo

O Taoísmo é uma das filosofias que influenciaram a MTC (JIA, 2004). É denominado
Tao a união de todas as coisas e fatos que observamos no universo e na natureza. Assim, o
Taoísmo entende que o ser humano está inserido neste contexto, onde o funcionamento do
corpo humano é semelhante aos fenômenos da natureza. Unidade e mutação são conceitos
centrais e fundamentais na doutrina Taoísta (FRANZ, 2016), em que os fenômenos não
acontecem ao mero acaso, ocorrendo por um caminho fixo, cíclico e contínuo.
Os elementos desse conceito, na filosofia chinesa, são divididos nas teorias do Yin e
Yang, dos cinco elementos, do Zang Fu (órgãos e vísceras), das substâncias vitais e do Jing
Luo (meridianos e colaterais) (ILKIU, 2010). O presente trabalho focará apenas na teoria dos
cinco elementos.
107
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

As inter-relações entre estes conceitos básicos permitem o entendimento das questões


de saúde e de doenças a que se pretendem no presente trabalho.

A Teoria do Yin e Yang

Os textos clássicos chineses comparam a força do Yin e do Yang a uma


montanha que tem uma parte na sombra e a outra no sol. A parte da
montanha que está na sombra é fria, úmida e escura, e pertence ao Yin. A
parte que está no sol é quente, seca e clara, e pertence ao Yang.
(FAHRMOW, 2007, p. 16).

O Taoísmo vê a natureza como um equilíbrio harmonioso. Nele encontra-se a origem


do princípio opostos do equilíbrio harmônico que gera duas polaridades, duas forças opostas.
Trata-se do Yin e o Yang, polos da contradição, que não devem ser entendidas como forças
opostas e distintas, e sim qualidades inseparáveis de um mesmo processo. Ao jogar uma bola
para cima, enquanto houver impulso, ela subirá. Isto é o Yang. Quando acabar o impulso da
bola, ela descerá. Isto é o Yin. Yang é o movimento e Yin é a quietude. Um se transforma
com o outro, fazendo as mutações contínuas do universo (HIRSCH, 2015).
Nesse sentido, o Yin e o Yang representam características opostas, como por exemplo
o frio e o quente, o masculino e o feminino, o alto e o baixo, o claro e o escuro. Não é
diferente na dinâmica do corpo humano. O Yin e Yang estão presentes: nos sistemas
simpático e parassimpático, nos transportes ativo e passivo, na contratura e no relaxamento, e
assim sucessivamente. Está retratada a fisiologia da MTC no dinamismo das relações entre
Yin-Yang do corpo, onde deve haver harmonia e equilíbrio. A ausência de harmonia e de
equilíbrio provoca enfermidades (YAMAMURA, 2001).
O estado de saúde, portanto, corresponde a um estado de equilíbrio entre os cinco
elementos e entre os dois aspectos opostos; esse equilíbrio é o responsável pela harmonia
entre corpo, mente e espiritualidade; e as doenças são vistas como uma ruptura com tal
harmonia, pois comprometem as funções do organismo (TEIXEIRA, 2008).
Por exemplo, dentro desta visão, a dietoterapia traz a importância da manutenção do
equilíbrio energético e da condição térmica corporal adequada. Se a energia corporal está
equilibrada, é porque a composição alimentar está equilibrada (FAHRNOW, 2003). Portanto,
os princípios Yin-Yang são utilizados para explicar a estrutura orgânica do corpo humano,
suas funções fisiológicas, as leis referentes à causa e à evolução das doenças, servindo assim
como guia no diagnóstico e no tratamento clinico (LUCA, 2008).

108
CHANG FUN HWA

A Teoria dos Cinco Elementos

Junto com a Teoria do Yin-Yang, a teoria dos cinco elementos está inserida na
filosofia do Tao, como pilar da MTC. Está fundamentada nos acontecimentos naturais que
podem ser agrupados em cinco classes diferentes, que se encontram em incessante movimento
de geração e de dominância entre si (YAMAMURA, 2001).
A medicina chinesa é baseada na cura natural e na interrelação entre os cinco
elementos: madeira, fogo, terra, metal e água. A MTC relaciona esses cinco elementos na
compreensão desde as coisas mais simples da natureza, até os fenômenos mais complexos do
ser humano (JIA, 2004). Por serem muitas as associações, a teoria dos cinco elementos,
portanto, não se limita à medicina, mas a todas as outras coisas. Existem, por exemplo, cinco
movimentos relacionados aos cinco elementos: expansão para a madeira, ascendência para o
fogo, neutralidade para a terra, contração para o metal e descendente para a água.
Importante aqui ressaltar que todas as pessoas possuem os cinco elementos, que
podem estar equilibrados, em excesso, ou em deficiência. Todas as nossas manifestações e
ações estão interconectadas, nosso corpo e a nossa alma reagem às mudanças climáticas, às
fases da lua e à todas as energias que somos expostos. Na prática, os cinco elementos
representam, abstratamente, cinco naturezas diferentes, que geram e controlam mutuamente
compondo mecanismos de autorregulação, denominados ciclos fisiológicos, e em condições
patológicas, como estados de excesso e deficiência, denominados ciclos patológicos (LUCA,
2008).
Metaforicamente, este ciclo de geração pode ser expresso da seguinte forma: madeira
gera fogo, que gera metal, que gera água, que gera madeira (SILVA et al. 2005). E o ciclo de
dominação dessa outra forma: o metal domina a madeira, o machado feito de bronze corta e
derruba as árvores. A madeira domina a terra, as raízes vão tomando conta do solo e, portanto,
desalojando-o. A terra domina a água, usada para fazer as barreiras e represando a água. Água
domina o fogo, apagando-o. O fogo domina o metal, pois o calor derrete o metal (SILVA et
al. 2005).

109
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Gera Inibe
Fonte: Espaço Terapêutico Fu Hsi.

No funcionamento do corpo humano, especificamente, cada elemento representa um


órgão fundamental de acordo com os seus meridianos (centro sutil de energia): madeira-
fígado, fogo-coração, terra-baço, metal-pulmão, água-rim. E suas respectivas vísceras:
vesícula biliar, intestino delgado, estômago, intestino grosso e bexiga. E cada órgão controla o
fluxo de energia, o bloqueio ou excesso desse fluxo acarreta um estado patológico, se não for
reestabelecida pela energia correta, desencadeia sistêmico (SILVA et al, 2005), na qual o
sistema de órgão mais afetado determina o padrão de doenças e suas manifestações físicas e
mentais (JIA,2004). Os órgãos na medicina chinesa são Yin, conhecidos como Zang e as
vísceras Yang como Fu. Dentro desta medicina, os órgãos são analisados como um sistema
complexo que além dos aspectos anatômicos, emoções, tecidos, órgãos dos sentidos,
atividades mentais, cor, clima, e demais correspondentes (ONETTA, 2005).
Reforçando a dita relação entre os cinco elementos com os fenômenos da natureza e o
funcionamento do corpo humano, segue tabela demonstrativa dessa relação com os órgãos e
as vísceras do corpo humano, os sabores, os órgãos dos sentidos, as estações do ano, os
climas, as emoções, os tecidos corporais, as cores, os odores, os pontos cardeais, virtudes, e

110
CHANG FUN HWA

formas de expressão. É por isso que o modelo dos cinco elementos, contido na tabela a seguir,
se chama sistema de correspondências (FAHRNOW, 2003).

Madeira Fogo Terra Metal Água


Orgãos (Zang) fígado coração baço pulmão rim
intestino intestino
Vísceras (Fu) vesícula estômago/pâncreas bexiga
delgado grosso
Sabor azedo amargo doce picante salgado
Orgãos dos
sentidos olho língua boca nariz ouvido
(aberturas)
Estação do
primavera verão alto verão outono inverno
ano
Clima vento/ar calor umidade secura frio
Emoção ira alegria preocupação tristeza medo
Tecidos
músculos artérias tecidos conjuntivos pele ossos
corporais
Cor verde vermelho amarelo branco preto
Odor rançoso queimado aromático de peixe de podre
Pontos
leste sul centro oeste norte
Cardeais+
Virtude bondade moralidade confiança honradez sabedoria
Forma de
gritar rir cantar chorar gemer
expressão

Fonte: FAHRNOW (2003, p. 29).

A ALIMENTAÇÃO E OS CINCO ELEMENTOS

Só quando seu organismo é nutrido de forma balanceada, com todos os


elementos – madeira, fogo, terra, metal e agua – é que ele pode funcionar
bem. (FAHRNOW, 2003, p. 47).

Conforme visto anteriormente, os cinco elementos correspondem a diversos aspectos


dos fenômenos que nos cercam. A seguir, serão delimitados, especificamente, aspectos dos
cinco elementos nos alimentos, conforme a perspectiva da MTC.

111
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

As propriedades dos alimentos na MTC.

A MTC segue o modelo da ideia energética da alimentação. Pouco importam as


calorias ou os nutrientes contidos no alimento, tais como minerais, gorduras, carboidratos ou
albuminas. Interessa apenas o efeito da comida no corpo: sinto-me aquecido e fortalecido
depois da refeição? Ou me encontro à mercê da sensação de “moleza total”? O importante,
portanto, é conhecer a condição térmica e a energia adequada ao seu corpo. Se a sua energia
corporal está em ordem, é porque a composição alimentar está equilibrada (FAHRNOW,
2003)
Quanto à temperatura, os alimentos podem ser: quentes (pimenta, alho); mornos
(gengibre e coco); neutros (milho e arroz); frescos (pepino e berinjela); e frios (germe de
trigo, limão). Nesse aspecto, Fahrnow (2003) explica que a condição energética pode ser
equilibrada com planejamento alimentar, classificando os indivíduos em Yin e Yang. A autora
descreve que pessoas do tipo Yin: sofrem frequentemente de sensações de frio (mãos e pés
gelados), preferem clima e estações do ano mais quentes, sentem-se revigorados depois de
uma sopa quente ou uma xicara de chá, sofrem – principalmente se for mulher – peso nas
pernas e nos pés congestionados, sentem-se geralmente cansadas, desanimadas, moles, como
se não tivessem dormindo. Assim, a fim de atingir o equilíbrio energético, busca-se para
pessoas do tipo Yin, um planejamento alimentar com ênfase no Yang, através de alimentos
secos, cozidos, quentes.
Já as pessoas do tipo Yang são descritas como: sentem calor facilmente, preferem
climas frios e estações mais frias, gostam de pratos frios e gelados, bem como de bebidas
refrescantes, às vezes reprimem sentimentos fortes de tal forma que chegam a se sentir
sobrecarregados fisicamente. Seguindo a mesma lógica, seu excesso de Yang pode ser
equilibrado com alimentos de predomínio Yin, tais como alimentos crus, ou pouco cozidos,
frutas e sucos frescos.
Quanto ao sabor, os alimentos podem ser principalmente: ácidos (limão, laranja,
vinagre); amargos (café, chicória, boldo); doces (açúcar, mel, batatas); picantes (rúcula,
pimentas, gengibre); e salgados (algas, azeitona, conservas). Assim, os alimentos, conforme
seus sabores, correspondem a certo elemento. Contudo, os sabores constituem uma
propriedade subjetiva. Dessa forma, um mesmo alimento pode conter mais de um sabor
conforme quem o prova. Ainda, animais e plantas também podem apresentar diferentes
sabores conforme a condição de seu desenvolvimento (FAHRNOW, 2003). Assim,
exemplificando, algumas carnes podem ser rotuladas como doces por sua função na nutrição,
embora, de fato, eles não possuam um gosto doce. De forma semelhante, a alga marinha,
112
CHANG FUN HWA

mariscos e ostras não possuem gosto salgado, mas assim são classificados pelos seus efeitos
de amaciar e dissolver massas duras.

Os cinco elementos no diagnóstico e no tratamento

Os alimentos, os órgãos e as emoções também se correlacionam. Se o fígado está


sobrecarregado, o indivíduo fica irritadiço; quando o pulmão está atacado, surge a tristeza.
Para tanto, o sabor azedo relaxa o fígado e reduz a irritabilidade; e o sabor apimentado
consola o pulmão entristecido (FAHRNOW, 2003).
Assim, de forma simplificada, as emoções indicam os sinais de desequilíbrios de cada
elemento, que, por sua vez, podem ser controlados por respectivas categorias de alimentos:

Se estiver triste (Metal - Pulmão) você deve comer alimentos de sabor


amargo (elemento Fogo-Coração) que controlam o Metal. Se sentir raiva
(Madeira-Fígado) coma alimentos picantes (elemento Metal) que controlam
a Madeira. Se sentir medo e pânico (Água-Rim) coma alimentos de sabor
doce (elemento Terra) que controlam a Água. Se estiver preocupado (Terra-
Baço) coma alimentos de sabor azedo (elemento Madeira) que controlam a
Terra. Se sentir ansiedade (Fogo-Coração) coma alimentos de sabor salgado
(elemento Água) que controlam o fogo (HIRSCH, 2010)

Logo, alterações anormais nas funções internas dos órgãos e no relacionamento podem
ser detectadas pelas aparências externas. No diagnóstico clínico de uma doença, portanto, os
dados recolhidos pelos quatro métodos de diagnóstico (inspeção, auscultação e olfacção,
anamnese e palpação) devem ser analisados de acordo com o equilíbrio ou desequilíbrio dos
cinco elementos e as suas correlações analisadas no sistema de correspondências.
Por fim, para compreender melhor o diagnóstico de uma doença na MTC, necessário
reconhecer as características dos desequilíbrios de cada elemento, listados a seguir e retirados
de testes da obra de Fahrnow (2010):

Aspectos do desequilíbrio do elemento Madeira

(1) Frequentes acessos de raiva e ira; (2) em caso de muita irritabilidade, há a vontade
de sair correndo; (3) há mudanças súbitas de humor; (4) adoecimento repentino e recuperação
rápida; (5) sensação de calor frequente; (6) excesso de transpiração; (7) sensações que se
alternam rapidamente entre calor e frio; (8) necessita de muito movimento para se sentir bem;

113
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

(9) ressecamento da pele e mucosas, bem como prurido na pele e mucosas; (10) preferência
pelo sabor azedo; (11) eventualmente há fortes e latentes dores de cabeça; (12) muitas dores
no corpo quando o indivíduo se zanga.
No diagnóstico, caso o paciente responda afirmativo de uma para até seis das
alternativas enumeradas acima, ou seja, se o paciente marcar de 1 a 6 pontos, a energia do
elemento madeira nesse indivíduo está numa fase de tensão ou está bloqueada.
Por outro lado, se o paciente marcar de 7 a 12 pontos, a energia do seu elemento
madeira está muito tensa ou bloqueada.
Para tanto, e pela lógica do sistema de correspondências, será necessária a nutrição do
fígado com alimentos frios do elemento madeira, conforme a intensidade do desequilíbrio.
São alimentos do elemento madeira: (i) frios e gelados: vagem, verduras de folhas,
maçã, tomate, espinafre, abacaxi, kiwi, iogurte; (ii) neutros: ervilha, uvas, fígado de vitela,
salsa, ameixa, batata-doce, tangerina, roseira brava; (iii) mornos/quentes: vinagre, alho-poró,
fígado de porco, cereja, gergelim, amendoim, framboesa e lagosta.

Aspectos do desequilíbrio do elemento Fogo

(1) Memória muito a desejar; (2) acorda à noite com palpitações, intranquilidade e
suores; (3) na ansiedade as palavras se embaralham; (4) as demais pessoas acreditam que, às
vezes, força e gagueja ao falar; (5) na ansiedade, há irritabilidade; (6) frequentes pesadelos;
(7) preferência pelo sabor amargo; (8) esgotamento e nervosismo simultâneos; (9) raramente
há sensação de relaxamento agradável; (10) comidas e bebidas amargas são desagradáveis;
(11) taquicardia sem causas orgânicas; (12) faces coradas frequentemente.
Se o paciente marcar de 1 a 6 pontos, deve-se recomendar ao menos um alimento
refrescante do elemento fogo como complemento de alimentos das outras categorias, bem
como a ingestão suficiente de líquidos.
No caso de o paciente marcar de 7 a 12 pontos, deve haver alimentos neutros e
refrescantes em todas as refeições. Deve também evitar estimulantes (café, chá, tabaco,
limonadas) e fazer exercícios relaxantes.
São alimentos do elemento fogo: (i) frio/gelado: beterraba, aveia, trigo, chicória, salada
de endívia; (ii) neutro: salada de alface, radicchio, murtinhos, timo de vitela; e (iii)
morno/quente: noz moscada, carne grelhada, couve-de-bruxelas, trigo sarraceno.

114
CHANG FUN HWA

Aspectos do desequilíbrio do elemento Terra

(1) Desânimo e cansaço frequentes; (2) mãos e pés sempre frios; (3) empanturramento e
flatulência após as refeições; (4) é comum pensar nos problemas durante muito dias sem
encontrar uma solução satisfatória; (5) acesos de fome exagerados; (6) capacidade de comer
doces sem parar ainda que depois sinta-se mal; (7) quando acorda a noite pensa nas coisas não
resolvidas e não adormece; (8) em geral sente fome de novo logo após de comer; (9) pernas
pesadas e inchadas com frequência; (10) abatimento e esgotamento após as refeições; (11)
costuma estar acima do peso e apresenta dificuldades para perder; (12) dificuldade em manter
relações alegres e harmoniosas com outras pessoas.
O paciente que marca de 1 a 6 pontos, deve comer mais alimentos neutros, mornos e
quentes do elemento Terra e evitar alimentos frios e gelados.
Ainda, o paciente que marcar de 7 a 12 pontos, também deverá se concentrar em
alimento neutros, mornos e quentes, não ingerindo leite de vaca, derivados e frutas cruas.
São alimentos do elemento Terra: (i) frio/gelado: óleos e gorduras, ervilhas, laticínios,
pera; (ii) neutro: painço, batata, carne de vitela, tâmaras; e (iii) morno/quente: trigo, erva-
doce, carne bovina, nozes.

Aspectos do desequilíbrio do elemento Metal

A pessoa (1) sofre frequentemente de doenças na via respiratória (corizas, tosses,


sinusites, rinites); (2) sistema imunológico enfraquecido; (3) tristeza e angústias constantes;
(4) grande necessidade por comidas apimentadas, ou não as suporta; (5) prisão de ventre e
diarreias; (6) digestão irregular; (7) as despedidas são dolorosas; (8) pele seca e mucosas
ressecadas; (9) excesso de muco mesmo sem resfriado; (10) amigos dizem que suspira com
frequência; (11) baixo tom de voz.
Se o paciente marcar de 1 a 6 pontos, seu elemento metal está momentaneamente
desarmonioso. Assim, esse paciente deverá ingerir elementos neutros e refrescantes e outros
como complemento. No caso de muito cansaço, deverá temperar os alimentos com
condimentos apimentados, fornecendo, assim, energia ao seu elemento metal.
No caso de marcar 7 a 12 pontos, o elemento metal do paciente está desequilibrado
energicamente. Deverá então temperar seus alimentos por algum tempo com condimentos
fortes. Se houver frequente nervosismo, deve-se indicar alimentos neutros e frios, e no caso de
cansaço e exaurimento, deve-se receitar alimentos neutros e mornos.

115
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

São alimentos do elemento metal: (i) frio/gelado: arroz tipo longo, cebola, rabanete,
nabo, coelho, hortelã, couve-rabano; (ii) neutro: agrião, aipo, pêssego, ganso, cabrito,
segurelha; e (iii) morno/quente: alho-poró, mostarda, cravo, galinha, curry, raiz-forte, veado.

Aspectos do desequilíbrio do elemento Água

A pessoa (1) costuma se resfriar facilmente; (2) necessita de muito sal; (3) o novo
assusta; (4) esgotamento crônico; (5) gostaria de mais desejos eróticos; (6) muitas dores na
coluna; (7) urina frequentemente; (8) irritação na bexiga quando sente frio; (9) amigos dizem
que é medroso; (10) suores noturnos seguidos de sensações de frio; (11) sente frio
rapidamente e sempre precisa de um agasalho; (12) ama temperaturas externas mais elevadas.
Avaliação nesse caso: de 1 a 6 pontos, o elemento água está numa fase passageira de
desequilíbrio. Indica-se, para todos os dias, alimentos mornos, quentes e neutros, e,
excepcionalmente, alimentos frios e gelados.
De 7 a 12 pontos, o elemento água necessita de um reforço. Para o tratamento, também
se prescreve, para todos os dias, alimentos neutros, quentes e mornos, contudo com renúncia
aos frios e gelados.
São alimentos do elemento água: (i) frio/gelado: cevada, soja, linguado, lula, solha, rins
de vitela; (ii) neutro: ameixa, cenoura, marisco, carpa, arenque, bagre; e (iii) morno/quente:
berinjela, groselha, porco, perca, cavala, enguia.

O TAI CHI CHUAN (TCC)

O TCC é uma arte marcial chinesa milenar, que somente começou a ser difundida na
China com o monge Chang San Feng em aproximadamente 1200 d.C., na Disnatia Sung.
Chang Sem Feng treinou artes marciais no Templo Shaolin e depois na Montanha Wudang,
na província de Hubei, onde fundou um templo que tinha como objetivo a prática do Taoísmo
e onde criou o TCC (FRANZ, 2016).
Tai Chi significa “O supremo”. Isto significa melhorar e progredir em todos os aspectos
da vida em direção ao ilimitado. Significa, ainda, na imensidão da existência e o grande
eterno (FRANZ, 2016).
O TCC consiste em uma prática utilizada por séculos na Ásia para melhorar o bem-estar
e reduzir o estresse psicológico (CRUZ, 2008). Essa arte marcial também foi criada com um
propósito de combate, contribuindo para o desenvolvimento interno e externo. Mas, com o

116
CHANG FUN HWA

passar dos anos, foi dada maior ênfase à propriedade que esta arte tem para desenvolver o
equilíbrio da saúde.
O TCC apresenta inúmeros componentes físicos, cognitivos e psicossociais. Segundo
Wayne (2016), o TCC possui oito ingredientes ativos, quais sejam: (i) conscientização:
movimentos lentos com atenção à respiração, às posições do corpo e às sensações; (ii)
intenção: trabalho com imagens mentais, visualização; (iii) integração estrutural: integração
entre diversos sistemas estruturais e fisiológicos; (iv) relaxamento ativo: direcionam o corpo e
a mente para níveis profundos de relaxamento; (v) força e flexibilidade: treinamento aeróbico
equivalente a uma caminhada em velocidade moderada; (vi) respiração natural e mais fluida:
respiração mais eficiente que melhora a troca gasosa, movimentando o Chi dentro do corpo;
(vii) apoio social: interação e comunidade; e (viii) espiritualidade corporificada: criação de
uma estrutura prática para uma filosofia de vida holística, que integra corpo, mente e espírito.
Estudos recentes levantados por Teixeira (2008) observaram a sua aplicação e a
compreensão de seus resultados envolvendo uma sociedade extremamente consumida pelo
estresse, que se alimenta e dorme mal, e que não se exercita. Esses estudos demonstraram que,
após a prática do TCC, houve melhora do equilíbrio, da força, da flexibilidade, da
independência e da redução do risco de queda – ambos quando em idosos. Observou-se,
também, uma melhora da qualidade do sono, do estado psicológico, entre outros benefícios.

Há trabalhos que apontam para modulação do sistema imunológico e da


atividade do sistema nervoso simpático. Algumas publicações mencionam
efeitos positivos sobre a manutenção da massa óssea em mulheres na
menopausa. Em pacientes com osteoartrite, trabalhos que compararam o Tai
Chi Chuan à hidroterapia mostraram resultados equivalentes para a reversão
dos malefícios do sedentarismo (TEIXEIRA, 2008, p. 38).

Percebe-se, portanto, que o TCC é, para além de uma modalidade de artes marciais,
importante ferramenta para a manutenção da saúde física e mental. O TCC é mostra-se uma
excelente alternativa para o desenvolvimento de habilidades latentes e do potencial interior da
pessoa, pois o que faz da prática do Tai Chi a “Suprema” dentre todas as artes, é o rico
conteúdo filosófico e o trabalho interno que ela exige, utilizando-se dos exercícios internos
para proporcionar maior controle, harmonia e consciência total da mente e do corpo.
O TCC está profundamente enraizado nas três grandes filosofias chinesas: o Budismo, o
Confucionismo e o Taoísmo. O aspecto do Tai Chi referente ao equilíbrio energético e à
harmonia do corpo e da mente está diretamente relacionado ao conceito de Yin-Yang que,
conforme anteriormente abordado, representam opostos na natureza. Portanto, o TCC é uma
117
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

arte diretamente relacionada com a saúde do corpo e da mente. Assim, quando há um


equilíbrio entre as energias opostas do Yin e Yang, tanto internamente, no organismo dos
indivíduos, como externamente, no meio ambiente, pode-se dizer que há um estado de
harmonia (CINTRA e PEREIRA, 2012).
Segundo Cintra e Pereira (2012), muitos mestres orientais são grandes exemplos de
como podemos desenvolver o potencial físico, energético e mental. O adepto do TCC, de
forma sucinta, deve ter incorporado em si o seguinte princípio: a vontade ou a mente (Yi, cujo
melhor significado em mandarim é: intenção, intuição, sensibilidade da mente), comanda; a
força (Li), obedece; a energia (Chi), segue. Diz-se que o impossível só é impossível até que se
comprove o contrário Os chineses dão a esse princípio o nome de Yi Yi Yin Qi – “usar a
mente para liderar o Chi” (CINTRA e PEREIRA, 2012).
Segundo Cruz (2008), seus praticantes tornam-se pessoas equilibradas, felizes e que
transmitem paz e harmonia aos que os cercam. Aqueles que praticam acabam munindo-se de
tolerância e serenidade para lidar com as diversas situações da vida. O aspecto meditativo do
TCC e sua ênfase nos movimentos relaxados, contribuem para a serenidade da mente e a
clareza do pensamento.
Com a finalidade de se criar um ambiente mais adequado para a mente trabalhar e
também para o Chi fluir de forma harmoniosa, é necessário ficar relaxado, calmo e natural,
não apenas física, mas também mentalmente. Isto porque, exemplificando, a tensão muscular
interrompe o fluxo harmonioso da energia, a ansiedade é fonte de energia negativa, e uma
postura irregular distrai a concentração mental e compromete os benefícios da prática do
TCC. O relaxamento é muito importante para que a nossa energia interna se desenvolva,
aumente e fique forte.
É a mente que lidera a direção da energia no processo de desenvolvimento interior.
Quando a mente se concentra numa única direção, o fluxo interno de energia se concentra e é
impulsionado naturalmente, resultando num aumento da eficiência e do poder interior. Quanto
maior o poder de concentração, mais forte será a mente e mais forte o Chi (energia vital)
fluirá. O fluxo da energia interna leva o corpo inteiro a mover-se com liberdade, e os
movimentos ficam estáveis, fortes e coordenados. O TCC, pois, dentre outros fatores, é uma
arte que trabalha o fluxo energético no organismo.
Diante de todo o exposto, constata-se a importância da MTC e o abismo entre ela e a
medicina ocidental. Enquanto a MTC é pautada pela prevenção de enfermidades, a partir de
uma visão holística (corpo, mente, espírito e ambiente) do ser humano, a medicina ocidental
tem como foco o tratamento das enfermidades, através de uma visão segmentada do ser

118
CHANG FUN HWA

humano. Assim, a visão holística e completa do ser humano pela MTC permite que o
exercício, a respiração e a alimentação sejam aliados na manutenção da saúde.
Assim, dentre os inúmeros atributos da MTC, enfatiza-se a importância da alimentação
que, aliada à respiração, é fonte de energia vital (Chi). Destaca-se, também, a relevância do
TCC na MTC, uma vez que, mesmo com uma boa alimentação, é o TCC quem promove a
circulação da energia vital para todo o corpo, evitando a sua estagnação e consequentes
enfermidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Os médicos excepcionais previnem a doença. Os médicos medianos curam


doenças que ainda não se manifestaram. Os médicos medíocres tratam de
doenças já manifestadas” (CHINESISCHES SPRICHWORT6, 2000, appud
FAHRNOW, 2003, p. 9)

Na busca por uma relação entre alimentação e exercícios, a perspectiva da MTC revela
que o ser humano nunca está pronto e acabado. É um processo contínuo de transformação
permeado por uma dinâmica de eventos interrelacionados com o universo.
Na MTC, a preocupação e os cuidados com a saúde partem dos princípios da prevenção
e da manutenção. O cuidado com a saúde pressupõe a responsabilidade e o envolvimento
afetivo um com o outro. O médico e o paciente devem possuir uma relação igualitária no
processo saúde-doença, procurando as causas do sofrimento em busca da felicidade,
privilegiando a ética do ser humano.
Na medicina ocidental contemporânea, os médicos e pacientes se vêem esmagados entre
duas indústrias poderosas, a indústria farmacêutica e a indústria agroalimentar, que protege
avidamente os próprios interesses, impedindo a difusão de recomendações explícitas sobre as
relações entre doenças e alimentos (SCHREIBER, 2007).
Enquanto pesquisavam moléculas sintéticas capazes de bloquear a formação de novos
vasos sanguíneos necessários ao crescimento de tumores, dois pesquisadores, Yihai e Renhai,
do Instituto Karolinska de Estocolmo, demonstraram, pela primeira vez, que um alimento tão
banal quanto o chá verde poderia ser capaz de bloquear a angiogêneses, realizando, assim, a
mesma função dos medicamentos sintéticos (SCHREIBER, 2007).

6
FAHRNOW, Ilse Maria; FAHRNOW, Jürgen. Os cinco elementos na alimentação equilibrada. Tradução de Inês
Lohbauer. 1. ed. São Paulo: Ágora, 2003, p. 9.

119
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Conforme já dito nesse trabalho, o conhecimento da alimentação na terapia dos cinco


elementos, dá autonomia ao indivíduo na auto prevenção e na cura. São abertos amplos canais
de conhecimento, acumulado ao longo de milhares de anos, que compreende a fisiologia do
corpo humano que interage ao meio e ao universo.
No âmbito do TCC, da mesma forma que ocorre com a combinação de componentes de
diversos medicamentos para baixar o colesterol e a pressão arterial, acredita-se que cada
ingrediente – dos oito ingredientes mencionados no tópico 5 – tenha um impacto diferente
sobre a fisiologia do organismo. Por essa análise, o TCC apresenta muito mais ingredientes,
que os medicamentos sintéticos, pois se trata de exercício holístico com influência nos níveis
físico, psicológico, social e filosófico, destacando-se o ingrediente da respiração natural que
flui energia vital para todo o corpo.
A consciência da respiração e dos exercícios são cada vez mais integrados a programas
biomédicos que reduzem o estresse, e ao treinamento esportivo, em que uma das bases para
tal integração é o próprio TCC.
Ao término do presente trabalho, é possível reafirmar que a MTC, através do TCC e da
boa alimentação, e sob a ótica da Teoria dos Cinco Elementos, é uma excelente alternativa à
medicina ocidental para um tratamento holístico do ser e para a prevenção de doenças.

REFERÊNCIAS

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122
ELIANA TREVISAN

6. A prática do TAI CHI CHUAN como


meditação ativa

Eliana Trevisan

123
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

RESUMO

Este estudo teve como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre os benefícios à saúde
decorrentes da prática de Tai Chi Chuan (TCC), com ênfase nos efeitos coligados à
importância da nutrição e aos cinco elementos na Medicina Tradicional Chinesa (MTC). A
primeira parte do trabalho trata dos aspectos conceituais da MTC, como as energias
Yang/Yin, meridianos energéticos, órgãos Zang-Fu e os cinco elementos, que perpassam as
práticas da MTC. Foram destacadas na segunda parte as descrições dos benefícios
relacionados à qualidade de vida e bem-estar, atribuídos à alimentação e à prática do TCC,
como a melhoria do sono, do humor e do equilíbrio do organismo. A alimentação adequada
dentro do autoconhecimento pode e deve ajudar a melhorar a qualidade de vida tanto física,
quanto mental e social.

Palavras-chave: Alimentação, Dietoterapia, Nutrição, Medicina Tradicional Chinesa,


Qualidade De Vida, Tai Chi Chuan.

ABSTRACT

The aim of this study was to review the literature on the health benefits of Tai Chi Chuan
(TCC), with emphasis on the effects related to the importance of nutrition and the 5 Tai Chi
Chuan elements in Chinese medicine. The first part of the paper deals with the conceptual
aspects of Traditional Chinese Medicine (TCM), such as the Yang-Yin energies, energetic
meridians, Zang-Fu organs and the five elements that pervade TCM practices. The second
part describes the descriptions of the benefits related to quality of life and well-being,
attributed to nutrition and the practice of TCC, such as improvement of sleep, mood and body
balance. The proper nutrition within self-knowledge can and should help improve the quality
of life, physically, mentally and socially.

Key-Words: Diet, Nutrition, Chinese Tradicional Medicine, Quality of Life, Tai Chi Chuan,

124
ELIANA TREVISAN

INTRODUÇÃO

Baseando-se em diversos estudos publicados como os de Schreiber (2007)1, Wayne


(2016)2, Fahrnow et al (2003)3, pode-se afirmar que um dos pilares da saúde é a alimentação,
aliada à prática de exercícios físicos. Com tantas teorias sobre alimentação saudável
disponíveis, é difícil saber qual a mais apropriada. Nesta perspectiva, a tradição chinesa,
construída ao longo de milhares de ano, pode oferecer uma abordagem saudável diferente das
dietas atuais, que são pautadas pelo conceito de calorias, pela análise quantitativa dos
nutrientes e delimitação de quantidades diárias (FAHRNOW, 2003). Diferentemente, a
dietoterapia chinesa é personalizada e focada na alimentação energética diária e auxilia no
tratamento de patologias (AZEVEDO, 2008).
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é um sistema de atenção à saúde e é a
medicina praticada ainda hoje na China e em muitos lugares do mundo. O interesse do estudo
da MTC e da sua relação na alimentação saudável está no fato de que para a prática de
exercícios é preciso ter energia, a qual os chineses chamam de Chi (energia vital). A
alimentação e a respiração são as principais fontes de energia do homem, com as quais ele
complementa as energias vitais inatas. Nesse sentido, ponto principal da MTC reside na ideia
de que os órgãos e tecidos estabelecem relações de intercâmbio energéticos. Os alimentos são
avaliados pela forma como conseguem ativar, manter e renovar as energias. (FAHRNOW,
2003).
Nesse sentido, a alimentação na MTC é fundamental, pois, além de fornecer energia,
pode ser uma dieta para tratamento e prevenção de enfermos. É dentro desta filosofia que
existe a alimentação baseada nos cinco elementos (a madeira, o fogo, a terra, o metal e a
água), que estão ligados e interagem entre si (FRANZ, 2016).
Na MTC, o tratamento ideal se baseia numa análise do estado dos 5 elementos do
corpo, em que a deficiência ou excesso de um dos elementos pode resultar em doenças. Há
estudos que demonstram que os alimentos estão relacionados a um elemento através de
sabores (FAHRNOW, 2003). Assim, no caso de um indivíduo desenvolver repentinamente
um desejo por comidas azedas, isso pode indicar, por exemplo, problemas no fígado. Claro
que esse diagnóstico é muito mais complexo e profundo, mas o que se demonstra é que até os
diferentes sabores podem ajudar a dar a direção energética dos alimentos. Há, assim, relações

1
SCHIREIBER, David S. Anticâncer, Prevenir e vencer usando nossas próprias defesas naturais. Ed.
Objetiva. Rio de Janeiro. 2007.
2
WAYNE, Peter M. Guia de Tai Chi da Faculdade de Medicina de Havard. Ed. Pensamento. São Paulo,
2016.
3
FAHRNOW, Ilse Maria. Os 5 Elementos na Alimentação Equilibrada. Ed. Agora, São Paulo, 2003.

125
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

diretas entre malefícios causados em determinados órgãos e o excesso ou a deficiência de


determinados sabores, exemplificando a importância de compreender a relação que há entre a
alimentação e a saúde, através da MTC (HIRSCH, 2010).
Contudo, a energia vital adquirida necessita ser conduzida para todo o corpo. Para
tanto, a MTC prescreve o Tai Chi Chuan (TCC) e o Chi Kung que, com os movimentos lentos
combinados com a respiração, promovem o fortalecimento da integração do corpo e da mente,
a melhora da saúde, o desenvolvimento pessoal e o aumento da capacidade de autodefesa.
(FRANZ, 2016).

Contextualização

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) trabalha a comunicação do corpo, a fruição


de energia que faz o ser humano como um todo. A MTC, segundo Abe4 (2006) tem seus
primeiros registros datados de 5.000 a.C. através de livros bastante antigos, que possuem
informações em códigos, muitas vezes em forma de poesia, música e imagens. São conceitos
diferentes que levam a mudanças do estilo de vida e que destacam a prevenção como papel
fundamental. Assim, a autora salienta ainda que é essencial a difusão de informações,
fazendo-se necessário um constante “movimento” em relação aos hábitos e costumes.

As tradições orientais adentraram o Brasil em especial após os anos 1960 no


contexto do movimento internacional de contracultura. O movimento sugeria
um novo estilo de vida às pessoas, incorporando tendências naturalistas e de
afinidade com as civilizações do Oriente (QUEIROZ, 2006). Esse
Movimento trouxe para o Brasil tradições como o Taoísmo, o Zen-Budismo,
a medicina Ayurveda e a MTC e suas técnicas, despertando o interesse de
movimentos denominados "alternativos" na área da saúde no País (CINTRA
e PEREIRA, 2012, p.195).

Na MTC, a abordagem de cada paciente é global, envolvendo corpo, mente, espírito e


ambiente (SILVA FILHO e PRADO, 2007). Nesse sentido, ainda, segundo Cintra e
Figueiredo (2010), o homem é visto a partir de três componentes básicos: a Energia (Chi ou
Qi), a Matéria (Jin), e a Mente (Shen). Para Jacques (2003), o tratamento pode ser feito
através da atuação em qualquer uma delas, seja isoladamente, seja em associação.

4
ABE, Gislaine Cristina. Medicina Tradicional Chinesa (MTC). 2006. Disponível em:
http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2006/RN%2014%20SUPLEMENTO/Pages%20from%20RN%
2014%20SUPLEMENTO-13.pdf>. Acessado em: 18 de agosto de 2018.
126
ELIANA TREVISAN

Os pilares filosóficos da MTC são o budismo, o taoísmo e o confucionismo. De acordo


com estas filosofias, as doenças seriam apenas caminhos que levariam à transformação
pessoal de quem as desenvolve (ABE, 2006).

Autor do livro Tao Te Ching ou "Livro da Razão Suprema", compilado,


provavelmente, por volta de 300 a.C. O Taoísmo concebe o Universo como
um composto uno estruturado pelo Qi (Força ou Energia Vital), um princípio
energético que promove o dinamismo e a atividade da matéria orgânica e do
ser vivo, seja animal, seja vegetal. (BIZERRIL, 2010, p. 287).

Quanto aos pilares terapêuticos da MTC, temos a acupuntura, a dietoterapia, a


fitoterapia, a meditação, o toque das mãos (massagens) e exercícios físicos. É dentre os
exercícios físicos que se encontram o TCC. Dessa maneira, a seguir, serão apresentadas
considerações a respeito da MTC, dietoterapia e TCC (ABE, 2006).

Objetivos

Realizar uma revisão de literatura sobre dietoterapia chinesa associada à pratica de


TCC, bem como descrever e difundir os conceitos, a prática, movimentos e benefícios da
dietoterapia e do TCC para o cuidado em saúde, equilíbrio e bem-estar.

Justificativa do estudo

A busca por alternativas à Medicina clássica para o restabelecimento e manutenção da


saúde é um fenômeno mundial. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS): “Saúde é
um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Não é, portanto, meramente a
ausência da doença ou enfermidade” (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1948)5.
Sendo assim, o presente trabalho surgiu, em primeiro lugar, pelo interesse particular
da interligação entre a alimentação e as práticas corporais e mentais da MTC. Esta, por sua
vez, apresenta importantes alternativas ou complementos para a manutenção e/ou
restabelecimento do estado de saúde e, vale ressaltar, através de um estado de completo bem-

5
United Nations General Assembly. Global road safety crisis: report of the Secretary-General. (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 1948). New York, NY, United Nations (A/58/228). Disponível em:
<http://www.who.int/world-health-day/2004/infomaterials/ en/un_en.pdf> Acesso em: 19 de agosto de 2018.
127
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

estar (físico, mental e social), conforme conceituou acima a OMS. Em segundo lugar, pela
intenção de divulgar os achados científicos e da literatura relativos especificamente a uma das
dietas mais difundidas da MTC, a dietoterapia.
A presente revisão, portanto, abordará princípios e conceitos vinculados ao TCC,
perpassando pela filosofia oriental e por achados científicos, de modo a oferecer o
embasamento teórico necessário para seu entendimento da alimentação terapêutica dentro da
MTC.
Dessa forma, o trabalho é importante para demonstrar que a MTC pode conferir, para
além de forma alternativa de tratamento, a autonomia do indivíduo e saúde preventiva à
população através do funcionamento e da consciência do próprio corpo.

Delimitação do estudo

A princípio, deve-se entender que a MTC é uma forma de terapia peculiar. De acordo
com Cruz (2008), a MTC foi construída durante milênios e de forma coletiva,
geograficamente e culturalmente diversa. É oriunda da cosmologia Taoísta sendo esta
diferente da chamada biomédica praticada no ocidente, no caso no Brasil.
O presente estudo visa explicar sobre como o organismo aproveita a energia existente
na alimentação de acordo com a MTC, que estabelece relações de intercâmbio energético
entre os órgãos e os tecidos. Os alimentos são avaliados pela forma como conseguem ativar,
manter e renovar energias. O organismo só pode funcionar bem quando é nutrido de forma
balanceada, com todos os cinco elementos equilibrados - madeira, fogo, terra, metal e água
(FAHRNOW, 2003).
Quando o elemento madeira está equilibrado, por exemplo, a pessoa sente-se muito
bem porque seu fígado está bem cuidado e os acúmulos de energia se dissolveram. Já os
sinais de que o elemento madeira está em desequilíbrio podem se manifestar pela preferência
extrema ou rejeição por sabor azedo, acessos explosivos de espirros, pontadas, palpitações,
dores musculares, entre outros (FAHRNOW, 2003).
Procura-se, assim, demonstrar a aplicação prática do sistema da MTC, na dietoterapia,
inclusive com indicações de como associar condimentos, ervas, grãos, raízes, verduras,
legumes, frutas, carnes, derivados e bebidas, aliadas à importância da prática de TCC para
fluir, por todo o corpo, a energia vital adquirida.

128
ELIANA TREVISAN

METODOLOGIA

Este trabalho trata-se de uma revisão narrativa ou análise temática: não utiliza critérios
sistematizados de metodologia e análise, em que a intenção é realizar uma fundamentação
teórica mais simples junto a interpretações ou apresentação de informações, com objetivo de
informar sobre determinado tema.
Foram encontradas 12 teses de mestrados e doutorados, 15 livros e 2 textos sobre o
tema pesquisado. A apresentação escrita dos referenciais encontrados será dividida em 3
tópicos essenciais: 1) panoramas gerais da MTC; 2) a alimentação na MTC e 3) O TCC, a
serem apresentados a seguir.

PANORAMAS GERAIS DA MTC E SUAS TEORIAS

Deitou bom, acordou emperrado - costas presas, pescoço duro, braço bobo.
Capengou até o banheiro, achou aquela aspirina americana que era tiro-e-
queda, tomou logo duas, e nada: nem tiro, nem queda. Depois do café
engoliu mais duas. Nenhum efeito. De tarde foi ao médico: injeção,
comprimido caro, botou a maior fé! E à noite achou que ia morrer. Morrer
torto, sem entrar direito no caixão. Dia seguinte tirou todas as radiografias
possíveis, e o que encontrou? Nada, apesar de tudo. No terceiro dia já estava
desesperado, achando que viver daquele jeito era ainda pior do que morrer.
Foi aí que a ex-sogra telefonou falando do massagista japonês que fazia
milagres. Ele imaginou socos, agulhadas traiçoeiras, golpes mortais de
caratê, tremeu de medo, mas quem sabe adiantava?
Socos, agulhadas, golpes de caratê, dores e dores e dores - mas não é que
melhorou? Japonês mandou voltar no dia seguinte. Na porta, domo arigatô,
emendou:
- E vê se pára de abusar desse fígado, que ele não é de ferro!
Fígado? Ué. Que comentário mais disparatado, pensou. Mas dormiu bem e
acordou mais solto, quase bom. Japonês danadinho! Chegou lá, danadinho
meteu a mão: torceu, estalou, futucou, agulhou, queimou, mandou voltar em
dois dias, arigatô, reforçou:
- E o fígado, já está cuidando melhor dele?
Fígado. Que diabos queria o japonês dizer com isso? Desconcertado, foi ao
Aurélio ler que "fígado é uma víscera glandular volumosa situada
predominantemente no hipocôndrio direito, com pequena parte no epigástrio
e hipocôndrio esquerdo, que desempenha funções tais como secreção da
129
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

bílis, modificação de medicamentos, produção de glicogênio, e outras".


Grande coisa. Podia estar escrito lá que isto é bom para o fígado, aquilo é
ruim para o fígado, chá de boldo por exemplo ele se lembrava da tia tomar
sempre e não comer gorduras nem beber álcool de jeito nenhum porque
sofria do fígado. Pobre tia, morreu do coração. Mistérios. Pensava nisso
enquanto jantava ovos com bacon e tomou mais uma cerveja à saúde dos
antepassados.
Na consulta seguinte, reparando melhor na decoração do consultório, viu uns
mapas do corpo humano cheio de linhas, pontinhos, letras e números.
Identificou alguns lugares que o japonês agulhava ou queimava: F3 no pé,
F9 na perna. Na primeira chance perguntou o que significavam aqueles
códigos.
- Fígado!, respondeu o japonês.
Nosso herói calou-se para sempre. Porque o homem certamente punha as
costas no lugar, mas em matéria de fígado era no mínimo um neurótico
(HIRSCH, 2010, p. 5).

Este trecho foi retirado do Manual do Herói de Hirsch (2010), e é possível entender a
importância das nuances de um conto para entendermos como o corpo se comunica de forma
nem sempre sutil para demonstrar que não está em equilíbrio. No excerto acima, observa-se
que o paciente acredita ter problemas ortopédicos, quando na verdade seu problema é no
fígado, mas a falta de comunicação fluída com o “japonês” não faz o paciente entender de
maneira plena o que realmente acontece. Assim ocorre com nosso corpo, nem sempre
entendemos o que ele quer nos dizer.
A MTC é considerada uma das mais antigas medicinas. Ela foi fundamentada na
observação dos fenômenos da natureza e nos estudos dos entendimentos dos princípios que
regem a harmonia nela existente.
Tem como bases a integração e a interação entre o ser humano e a natureza, a
manutenção da saúde e a prevenção de doenças, e, assim, alcançar a harmonia do estado de
saúde geral das pessoas (TEIXEIRA, 2008).
Nesse sentido, diante do corpo, da saúde e da doença, a MTC dá ênfase no estado geral
do doente e não na doença. Segundo Cintra e Pereira (2012), a partir dessa postura, a MTC
adota uma perspectiva integradora e não organicista, interpretando a doença como um
desequilíbrio interno e meramente um resultado de invasões de agentes patogênicos. A
doença, assim, representa manifestações sintomáticas de desequilíbrio e é vista como um

130
ELIANA TREVISAN

sintoma necessário, proveniente das causas mais profundas que abrangem o indivíduo e seu
modo de vida em sua totalidade.
Isto posto, de volta ao excerto inserido inicialmente neste tópico, é possível
compreender melhor o que a MTC tem a dizer sobre a ruptura da harmonia do estado de
saúde. Na perspectiva chinesa, conforme diz Franz (2016), os sintomas podem ser
interpretados a partir de sinais advindos dos órgãos, das vísceras, dos tendões, dos músculos,
do sistema circulatório, do sistema linfático, e diversos outros demonstrando, assim, que as
síndromes energéticas indicam o tipo de desequilíbrio daquele corpo e naquele dado
momento.
Assim, o diagnóstico, conforme Teixeira (2008), é realizado através da observação da
língua, das unhas e do cabelo; da palpação do punho; investigando o apetite, o paladar, as
fezes, e a urina. Ou seja, é realizada uma anamnese completa do histórico corporal do
paciente, bem como seu histórico emocional. Vale ressaltar que tal diagnóstico ocorre no
contato do corpo do paciente com o do terapeuta através dos órgãos dos sentidos (tato, olfato,
visão ou audição). Ainda, importa para o diagnóstico o histórico sociocultural do paciente
(CINTRA e PEREIRA, 2012), enfatizando, através de todos esses dados, a importância do
todo na MTC (físico, mental e social), para alcançar o bem-estar completo.
De acordo com Cintra e Pereira (2012), o diagnóstico e a terapia na MTC seguem um
procedimento tendo como base três teorias pautadas na compreensão taoísta de cosmos: a
Teoria do Yin e Yang, a Teoria dos Cinco Elementos (madeira, fogo, terra, metal e água) e a
Teoria dos Meridianos (Canais de Energia). Para o presente trabalho, cumpre analisar nos
tópicos que seguem as teorias do Yin e Yang e a dos Cinco Elementos.

O Taoísmo

O Taoísmo é uma das filosofias que influenciaram a MTC (JIA, 2004). É denominado
Tao a união de todas as coisas e fatos que observamos no universo e na natureza. Assim, o
Taoísmo entende que o ser humano está inserido neste contexto, onde o funcionamento do
corpo humano é semelhante aos fenômenos da natureza. Unidade e mutação são conceitos
centrais e fundamentais na doutrina Taoísta (FRANZ, 2016), em que os fenômenos não
acontecem ao mero acaso, ocorrendo por um caminho fixo, cíclico e contínuo.
Os elementos desse conceito, na filosofia chinesa, são divididos nas teorias do Yin e
Yang, dos cinco elementos, do Zang Fu (órgãos e vísceras), das substâncias vitais e do Jing
Luo (meridianos e colaterais) (ILKIU, 2010). O presente trabalho focará apenas na teoria dos
cinco elementos.
131
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

As inter-relações entre estes conceitos básicos permitem o entendimento das questões


de saúde e de doenças a que se pretendem no presente trabalho.

A Teoria do Yin e Yang

Os textos clássicos chineses comparam a força do Yin e do Yang a uma


montanha que tem uma parte na sombra e a outra no sol. A parte da
montanha que está na sombra é fria, úmida e escura, e pertence ao Yin. A
parte que está no sol é quente, seca e clara, e pertence ao Yang.
(FAHRMOW, 2007, p. 16).

O Taoísmo vê a natureza como um equilíbrio harmonioso. Nele encontra-se a origem


do princípio opostos do equilíbrio harmônico que gera duas polaridades, duas forças opostas.
Trata-se do Yin e o Yang, polos da contradição, que não devem ser entendidas como forças
opostas e distintas, e sim qualidades inseparáveis de um mesmo processo. Ao jogar uma bola
para cima, enquanto houver impulso, ela subirá. Isto é o Yang. Quando acabar o impulso da
bola, ela descerá. Isto é o Yin. Yang é o movimento e Yin é a quietude. Um se transforma
com o outro, fazendo as mutações contínuas do universo (HIRSCH, 2015).
Nesse sentido, o Yin e o Yang representam características opostas, como por exemplo
o frio e o quente, o masculino e o feminino, o alto e o baixo, o claro e o escuro. Não é
diferente na dinâmica do corpo humano. O Yin e Yang estão presentes: nos sistemas
simpático e parassimpático, nos transportes ativo e passivo, na contratura e no relaxamento, e
assim sucessivamente. Está retratada a fisiologia da MTC no dinamismo das relações entre
Yin-Yang do corpo, onde deve haver harmonia e equilíbrio. A ausência de harmonia e de
equilíbrio provoca enfermidades (YAMAMURA, 2001).
O estado de saúde, portanto, corresponde a um estado de equilíbrio entre os cinco
elementos e entre os dois aspectos opostos; esse equilíbrio é o responsável pela harmonia
entre corpo, mente e espiritualidade; e as doenças são vistas como uma ruptura com tal
harmonia, pois comprometem as funções do organismo (TEIXEIRA, 2008).
Por exemplo, dentro desta visão, a dietoterapia traz a importância da manutenção do
equilíbrio energético e da condição térmica corporal adequada. Se a energia corporal está
equilibrada, é porque a composição alimentar está equilibrada (FAHRNOW, 2003). Portanto,
os princípios Yin-Yang são utilizados para explicar a estrutura orgânica do corpo humano,
suas funções fisiológicas, as leis referentes à causa e à evolução das doenças, servindo assim
como guia no diagnóstico e no tratamento clinico (LUCA, 2008).

132
ELIANA TREVISAN

A Teoria dos Cinco Elementos

Junto com a Teoria do Yin-Yang, a teoria dos cinco elementos está inserida na
filosofia do Tao, como pilar da MTC. Está fundamentada nos acontecimentos naturais que
podem ser agrupados em cinco classes diferentes, que se encontram em incessante movimento
de geração e de dominância entre si (YAMAMURA, 2001).
A medicina chinesa é baseada na cura natural e na interrelação entre os cinco
elementos: madeira, fogo, terra, metal e água. A MTC relaciona esses cinco elementos na
compreensão desde as coisas mais simples da natureza, até os fenômenos mais complexos do
ser humano (JIA, 2004). Por serem muitas as associações, a teoria dos cinco elementos,
portanto, não se limita à medicina, mas a todas as outras coisas. Existem, por exemplo, cinco
movimentos relacionados aos cinco elementos: expansão para a madeira, ascendência para o
fogo, neutralidade para a terra, contração para o metal e descendente para a água.
Importante aqui ressaltar que todas as pessoas possuem os cinco elementos, que
podem estar equilibrados, em excesso, ou em deficiência. Todas as nossas manifestações e
ações estão interconectadas, nosso corpo e a nossa alma reagem às mudanças climáticas, às
fases da lua e à todas as energias que somos expostos. Na prática, os cinco elementos
representam, abstratamente, cinco naturezas diferentes, que geram e controlam mutuamente
compondo mecanismos de autorregulação, denominados ciclos fisiológicos, e em condições
patológicas, como estados de excesso e deficiência, denominados ciclos patológicos (LUCA,
2008).
Metaforicamente, este ciclo de geração pode ser expresso da seguinte forma: madeira
gera fogo, que gera metal, que gera água, que gera madeira (SILVA et al. 2005). E o ciclo de
dominação dessa outra forma: o metal domina a madeira, o machado feito de bronze corta e
derruba as árvores. A madeira domina a terra, as raízes vão tomando conta do solo e, portanto,
desalojando-o. A terra domina a água, usada para fazer as barreiras e represando a água. Água
domina o fogo, apagando-o. O fogo domina o metal, pois o calor derrete o metal (SILVA et
al. 2005).

133
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Gera Inibe
Fonte: Espaço Terapêutico Fu Hsi.

No funcionamento do corpo humano, especificamente, cada elemento representa um


órgão fundamental de acordo com os seus meridianos (centro sutil de energia): madeira-
fígado, fogo-coração, terra-baço, metal-pulmão, água-rim. E suas respectivas vísceras:
vesícula biliar, intestino delgado, estômago, intestino grosso e bexiga. E cada órgão controla o
fluxo de energia, o bloqueio ou excesso desse fluxo acarreta um estado patológico, se não for
reestabelecida pela energia correta, desencadeia sistêmico (SILVA et al, 2005), na qual o
sistema de órgão mais afetado determina o padrão de doenças e suas manifestações físicas e
mentais (JIA,2004). Os órgãos na medicina chinesa são Yin, conhecidos como Zang e as
vísceras Yang como Fu. Dentro desta medicina, os órgãos são analisados como um sistema
complexo que além dos aspectos anatômicos, emoções, tecidos, órgãos dos sentidos,
atividades mentais, cor, clima, e demais correspondentes (ONETTA, 2005).
Reforçando a dita relação entre os cinco elementos com os fenômenos da natureza e o
funcionamento do corpo humano, segue tabela demonstrativa dessa relação com os órgãos e
as vísceras do corpo humano, os sabores, os órgãos dos sentidos, as estações do ano, os
climas, as emoções, os tecidos corporais, as cores, os odores, os pontos cardeais, virtudes, e

134
ELIANA TREVISAN

formas de expressão. É por isso que o modelo dos cinco elementos, contido na tabela a seguir,
se chama sistema de correspondências (FAHRNOW, 2003).

Madeira Fogo Terra Metal Água


Orgãos (Zang) fígado coração baço pulmão rim
intestino intestino
Vísceras (Fu) vesícula estômago/pâncreas bexiga
delgado grosso
Sabor azedo amargo doce picante salgado
Orgãos dos
sentidos olho língua boca nariz ouvido
(aberturas)
Estação do
primavera verão alto verão outono inverno
ano
Clima vento/ar calor umidade secura frio
Emoção ira alegria preocupação tristeza medo
Tecidos
músculos artérias tecidos conjuntivos pele ossos
corporais
Cor verde vermelho amarelo branco preto
Odor rançoso queimado aromático de peixe de podre
Pontos
leste sul centro oeste norte
Cardeais+
Virtude bondade moralidade confiança honradez sabedoria
Forma de
gritar rir cantar chorar gemer
expressão

Fonte: FAHRNOW (2003, p. 29).

A ALIMENTAÇÃO E OS CINCO ELEMENTOS

Só quando seu organismo é nutrido de forma balanceada, com todos os


elementos – madeira, fogo, terra, metal e agua – é que ele pode funcionar
bem. (FAHRNOW, 2003, p. 47).

Conforme visto anteriormente, os cinco elementos correspondem a diversos aspectos


dos fenômenos que nos cercam. A seguir, serão delimitados, especificamente, aspectos dos
cinco elementos nos alimentos, conforme a perspectiva da MTC.

135
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

As propriedades dos alimentos na MTC.

A MTC segue o modelo da ideia energética da alimentação. Pouco importam as


calorias ou os nutrientes contidos no alimento, tais como minerais, gorduras, carboidratos ou
albuminas. Interessa apenas o efeito da comida no corpo: sinto-me aquecido e fortalecido
depois da refeição? Ou me encontro à mercê da sensação de “moleza total”? O importante,
portanto, é conhecer a condição térmica e a energia adequada ao seu corpo. Se a sua energia
corporal está em ordem, é porque a composição alimentar está equilibrada (FAHRNOW,
2003)
Quanto à temperatura, os alimentos podem ser: quentes (pimenta, alho); mornos
(gengibre e coco); neutros (milho e arroz); frescos (pepino e berinjela); e frios (germe de
trigo, limão). Nesse aspecto, Fahrnow (2003) explica que a condição energética pode ser
equilibrada com planejamento alimentar, classificando os indivíduos em Yin e Yang. A autora
descreve que pessoas do tipo Yin: sofrem frequentemente de sensações de frio (mãos e pés
gelados), preferem clima e estações do ano mais quentes, sentem-se revigorados depois de
uma sopa quente ou uma xicara de chá, sofrem – principalmente se for mulher – peso nas
pernas e nos pés congestionados, sentem-se geralmente cansadas, desanimadas, moles, como
se não tivessem dormindo. Assim, a fim de atingir o equilíbrio energético, busca-se para
pessoas do tipo Yin, um planejamento alimentar com ênfase no Yang, através de alimentos
secos, cozidos, quentes.
Já as pessoas do tipo Yang são descritas como: sentem calor facilmente, preferem
climas frios e estações mais frias, gostam de pratos frios e gelados, bem como de bebidas
refrescantes, às vezes reprimem sentimentos fortes de tal forma que chegam a se sentir
sobrecarregados fisicamente. Seguindo a mesma lógica, seu excesso de Yang pode ser
equilibrado com alimentos de predomínio Yin, tais como alimentos crus, ou pouco cozidos,
frutas e sucos frescos.
Quanto ao sabor, os alimentos podem ser principalmente: ácidos (limão, laranja,
vinagre); amargos (café, chicória, boldo); doces (açúcar, mel, batatas); picantes (rúcula,
pimentas, gengibre); e salgados (algas, azeitona, conservas). Assim, os alimentos, conforme
seus sabores, correspondem a certo elemento. Contudo, os sabores constituem uma
propriedade subjetiva. Dessa forma, um mesmo alimento pode conter mais de um sabor
conforme quem o prova. Ainda, animais e plantas também podem apresentar diferentes
sabores conforme a condição de seu desenvolvimento (FAHRNOW, 2003). Assim,
exemplificando, algumas carnes podem ser rotuladas como doces por sua função na nutrição,
embora, de fato, eles não possuam um gosto doce. De forma semelhante, a alga marinha,
136
ELIANA TREVISAN

mariscos e ostras não possuem gosto salgado, mas assim são classificados pelos seus efeitos
de amaciar e dissolver massas duras.

Os cinco elementos no diagnóstico e no tratamento

Os alimentos, os órgãos e as emoções também se correlacionam. Se o fígado está


sobrecarregado, o indivíduo fica irritadiço; quando o pulmão está atacado, surge a tristeza.
Para tanto, o sabor azedo relaxa o fígado e reduz a irritabilidade; e o sabor apimentado
consola o pulmão entristecido (FAHRNOW, 2003).
Assim, de forma simplificada, as emoções indicam os sinais de desequilíbrios de cada
elemento, que, por sua vez, podem ser controlados por respectivas categorias de alimentos:

Se estiver triste (Metal - Pulmão) você deve comer alimentos de sabor


amargo (elemento Fogo-Coração) que controlam o Metal. Se sentir raiva
(Madeira-Fígado) coma alimentos picantes (elemento Metal) que controlam
a Madeira. Se sentir medo e pânico (Água-Rim) coma alimentos de sabor
doce (elemento Terra) que controlam a Água. Se estiver preocupado (Terra-
Baço) coma alimentos de sabor azedo (elemento Madeira) que controlam a
Terra. Se sentir ansiedade (Fogo-Coração) coma alimentos de sabor salgado
(elemento Água) que controlam o fogo (HIRSCH, 2010)

Logo, alterações anormais nas funções internas dos órgãos e no relacionamento podem
ser detectadas pelas aparências externas. No diagnóstico clínico de uma doença, portanto, os
dados recolhidos pelos quatro métodos de diagnóstico (inspeção, auscultação e olfacção,
anamnese e palpação) devem ser analisados de acordo com o equilíbrio ou desequilíbrio dos
cinco elementos e as suas correlações analisadas no sistema de correspondências.
Por fim, para compreender melhor o diagnóstico de uma doença na MTC, necessário
reconhecer as características dos desequilíbrios de cada elemento, listados a seguir e retirados
de testes da obra de Fahrnow (2010):

Aspectos do desequilíbrio do elemento Madeira

(1) Frequentes acessos de raiva e ira; (2) em caso de muita irritabilidade, há a vontade
de sair correndo; (3) há mudanças súbitas de humor; (4) adoecimento repentino e recuperação
rápida; (5) sensação de calor frequente; (6) excesso de transpiração; (7) sensações que se
alternam rapidamente entre calor e frio; (8) necessita de muito movimento para se sentir bem;
137
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

(9) ressecamento da pele e mucosas, bem como prurido na pele e mucosas; (10) preferência
pelo sabor azedo; (11) eventualmente há fortes e latentes dores de cabeça; (12) muitas dores
no corpo quando o indivíduo se zanga.
No diagnóstico, caso o paciente responda afirmativo de uma para até seis das
alternativas enumeradas acima, ou seja, se o paciente marcar de 1 a 6 pontos, a energia do
elemento madeira nesse indivíduo está numa fase de tensão ou está bloqueada.
Por outro lado, se o paciente marcar de 7 a 12 pontos, a energia do seu elemento
madeira está muito tensa ou bloqueada.
Para tanto, e pela lógica do sistema de correspondências, será necessária a nutrição do
fígado com alimentos frios do elemento madeira, conforme a intensidade do desequilíbrio.
São alimentos do elemento madeira: (i) frios e gelados: vagem, verduras de folhas,
maçã, tomate, espinafre, abacaxi, kiwi, iogurte; (ii) neutros: ervilha, uvas, fígado de vitela,
salsa, ameixa, batata-doce, tangerina, roseira brava; (iii) mornos/quentes: vinagre, alho-poró,
fígado de porco, cereja, gergelim, amendoim, framboesa e lagosta.

Aspectos do desequilíbrio do elemento Fogo

(1) Memória muito a desejar; (2) acorda à noite com palpitações, intranquilidade e
suores; (3) na ansiedade as palavras se embaralham; (4) as demais pessoas acreditam que, às
vezes, força e gagueja ao falar; (5) na ansiedade, há irritabilidade; (6) frequentes pesadelos;
(7) preferência pelo sabor amargo; (8) esgotamento e nervosismo simultâneos; (9) raramente
há sensação de relaxamento agradável; (10) comidas e bebidas amargas são desagradáveis;
(11) taquicardia sem causas orgânicas; (12) faces coradas frequentemente.
Se o paciente marcar de 1 a 6 pontos, deve-se recomendar ao menos um alimento
refrescante do elemento fogo como complemento de alimentos das outras categorias, bem
como a ingestão suficiente de líquidos.
No caso de o paciente marcar de 7 a 12 pontos, deve haver alimentos neutros e
refrescantes em todas as refeições. Deve também evitar estimulantes (café, chá, tabaco,
limonadas) e fazer exercícios relaxantes.
São alimentos do elemento fogo: (i) frio/gelado: beterraba, aveia, trigo, chicória, salada
de endívia; (ii) neutro: salada de alface, radicchio, murtinhos, timo de vitela; e (iii)
morno/quente: noz moscada, carne grelhada, couve-de-bruxelas, trigo sarraceno.

138
ELIANA TREVISAN

Aspectos do desequilíbrio do elemento Terra

(1) Desânimo e cansaço frequentes; (2) mãos e pés sempre frios; (3) empanturramento e
flatulência após as refeições; (4) é comum pensar nos problemas durante muito dias sem
encontrar uma solução satisfatória; (5) acesos de fome exagerados; (6) capacidade de comer
doces sem parar ainda que depois sinta-se mal; (7) quando acorda a noite pensa nas coisas não
resolvidas e não adormece; (8) em geral sente fome de novo logo após de comer; (9) pernas
pesadas e inchadas com frequência; (10) abatimento e esgotamento após as refeições; (11)
costuma estar acima do peso e apresenta dificuldades para perder; (12) dificuldade em manter
relações alegres e harmoniosas com outras pessoas.
O paciente que marca de 1 a 6 pontos, deve comer mais alimentos neutros, mornos e
quentes do elemento Terra e evitar alimentos frios e gelados.
Ainda, o paciente que marcar de 7 a 12 pontos, também deverá se concentrar em
alimento neutros, mornos e quentes, não ingerindo leite de vaca, derivados e frutas cruas.
São alimentos do elemento Terra: (i) frio/gelado: óleos e gorduras, ervilhas, laticínios,
pera; (ii) neutro: painço, batata, carne de vitela, tâmaras; e (iii) morno/quente: trigo, erva-
doce, carne bovina, nozes.

Aspectos do desequilíbrio do elemento Metal

A pessoa (1) sofre frequentemente de doenças na via respiratória (corizas, tosses,


sinusites, rinites); (2) sistema imunológico enfraquecido; (3) tristeza e angústias constantes;
(4) grande necessidade por comidas apimentadas, ou não as suporta; (5) prisão de ventre e
diarreias; (6) digestão irregular; (7) as despedidas são dolorosas; (8) pele seca e mucosas
ressecadas; (9) excesso de muco mesmo sem resfriado; (10) amigos dizem que suspira com
frequência; (11) baixo tom de voz.
Se o paciente marcar de 1 a 6 pontos, seu elemento metal está momentaneamente
desarmonioso. Assim, esse paciente deverá ingerir elementos neutros e refrescantes e outros
como complemento. No caso de muito cansaço, deverá temperar os alimentos com
condimentos apimentados, fornecendo, assim, energia ao seu elemento metal.
No caso de marcar 7 a 12 pontos, o elemento metal do paciente está desequilibrado
energicamente. Deverá então temperar seus alimentos por algum tempo com condimentos
fortes. Se houver frequente nervosismo, deve-se indicar alimentos neutros e frios, e no caso de
cansaço e exaurimento, deve-se receitar alimentos neutros e mornos.
139
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

São alimentos do elemento metal: (i) frio/gelado: arroz tipo longo, cebola, rabanete,
nabo, coelho, hortelã, couve-rabano; (ii) neutro: agrião, aipo, pêssego, ganso, cabrito,
segurelha; e (iii) morno/quente: alho-poró, mostarda, cravo, galinha, curry, raiz-forte, veado.

Aspectos do desequilíbrio do elemento Água

A pessoa (1) costuma se resfriar facilmente; (2) necessita de muito sal; (3) o novo
assusta; (4) esgotamento crônico; (5) gostaria de mais desejos eróticos; (6) muitas dores na
coluna; (7) urina frequentemente; (8) irritação na bexiga quando sente frio; (9) amigos dizem
que é medroso; (10) suores noturnos seguidos de sensações de frio; (11) sente frio
rapidamente e sempre precisa de um agasalho; (12) ama temperaturas externas mais elevadas.
Avaliação nesse caso: de 1 a 6 pontos, o elemento água está numa fase passageira de
desequilíbrio. Indica-se, para todos os dias, alimentos mornos, quentes e neutros, e,
excepcionalmente, alimentos frios e gelados.
De 7 a 12 pontos, o elemento água necessita de um reforço. Para o tratamento, também
se prescreve, para todos os dias, alimentos neutros, quentes e mornos, contudo com renúncia
aos frios e gelados.
São alimentos do elemento água: (i) frio/gelado: cevada, soja, linguado, lula, solha, rins
de vitela; (ii) neutro: ameixa, cenoura, marisco, carpa, arenque, bagre; e (iii) morno/quente:
berinjela, groselha, porco, perca, cavala, enguia.

O TAI CHI CHUAN (TCC)

O TCC é uma arte marcial chinesa milenar, que somente começou a ser difundida na
China com o monge Chang San Feng em aproximadamente 1200 d.C., na Disnatia Sung.
Chang Sem Feng treinou artes marciais no Templo Shaolin e depois na Montanha Wudang,
na província de Hubei, onde fundou um templo que tinha como objetivo a prática do Taoísmo
e onde criou o TCC (FRANZ, 2016).
Tai Chi significa “O supremo”. Isto significa melhorar e progredir em todos os aspectos
da vida em direção ao ilimitado. Significa, ainda, na imensidão da existência e o grande
eterno (FRANZ, 2016).
O TCC consiste em uma prática utilizada por séculos na Ásia para melhorar o bem-estar
e reduzir o estresse psicológico (CRUZ, 2008). Essa arte marcial também foi criada com um
propósito de combate, contribuindo para o desenvolvimento interno e externo. Mas, com o

140
ELIANA TREVISAN

passar dos anos, foi dada maior ênfase à propriedade que esta arte tem para desenvolver o
equilíbrio da saúde.
O TCC apresenta inúmeros componentes físicos, cognitivos e psicossociais. Segundo
Wayne (2016), o TCC possui oito ingredientes ativos, quais sejam: (i) conscientização:
movimentos lentos com atenção à respiração, às posições do corpo e às sensações; (ii)
intenção: trabalho com imagens mentais, visualização; (iii) integração estrutural: integração
entre diversos sistemas estruturais e fisiológicos; (iv) relaxamento ativo: direcionam o corpo e
a mente para níveis profundos de relaxamento; (v) força e flexibilidade: treinamento aeróbico
equivalente a uma caminhada em velocidade moderada; (vi) respiração natural e mais fluida:
respiração mais eficiente que melhora a troca gasosa, movimentando o Chi dentro do corpo;
(vii) apoio social: interação e comunidade; e (viii) espiritualidade corporificada: criação de
uma estrutura prática para uma filosofia de vida holística, que integra corpo, mente e espírito.
Estudos recentes levantados por Teixeira (2008) observaram a sua aplicação e a
compreensão de seus resultados envolvendo uma sociedade extremamente consumida pelo
estresse, que se alimenta e dorme mal, e que não se exercita. Esses estudos demonstraram que,
após a prática do TCC, houve melhora do equilíbrio, da força, da flexibilidade, da
independência e da redução do risco de queda – ambos quando em idosos. Observou-se,
também, uma melhora da qualidade do sono, do estado psicológico, entre outros benefícios.

Há trabalhos que apontam para modulação do sistema imunológico e da


atividade do sistema nervoso simpático. Algumas publicações mencionam
efeitos positivos sobre a manutenção da massa óssea em mulheres na
menopausa. Em pacientes com osteoartrite, trabalhos que compararam o Tai
Chi Chuan à hidroterapia mostraram resultados equivalentes para a reversão
dos malefícios do sedentarismo (TEIXEIRA, 2008, p. 38).

Percebe-se, portanto, que o TCC é, para além de uma modalidade de artes marciais,
importante ferramenta para a manutenção da saúde física e mental. O TCC é mostra-se uma
excelente alternativa para o desenvolvimento de habilidades latentes e do potencial interior da
pessoa, pois o que faz da prática do Tai Chi a “Suprema” dentre todas as artes, é o rico
conteúdo filosófico e o trabalho interno que ela exige, utilizando-se dos exercícios internos
para proporcionar maior controle, harmonia e consciência total da mente e do corpo.
O TCC está profundamente enraizado nas três grandes filosofias chinesas: o Budismo, o
Confucionismo e o Taoísmo. O aspecto do Tai Chi referente ao equilíbrio energético e à
harmonia do corpo e da mente está diretamente relacionado ao conceito de Yin-Yang que,
conforme anteriormente abordado, representam opostos na natureza. Portanto, o TCC é uma
141
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

arte diretamente relacionada com a saúde do corpo e da mente. Assim, quando há um


equilíbrio entre as energias opostas do Yin e Yang, tanto internamente, no organismo dos
indivíduos, como externamente, no meio ambiente, pode-se dizer que há um estado de
harmonia (CINTRA e PEREIRA, 2012).
Segundo Cintra e Pereira (2012), muitos mestres orientais são grandes exemplos de
como podemos desenvolver o potencial físico, energético e mental. O adepto do TCC, de
forma sucinta, deve ter incorporado em si o seguinte princípio: a vontade ou a mente (Yi, cujo
melhor significado em mandarim é: intenção, intuição, sensibilidade da mente), comanda; a
força (Li), obedece; a energia (Chi), segue. Diz-se que o impossível só é impossível até que se
comprove o contrário Os chineses dão a esse princípio o nome de Yi Yi Yin Qi – “usar a
mente para liderar o Chi” (CINTRA e PEREIRA, 2012).
Segundo Cruz (2008), seus praticantes tornam-se pessoas equilibradas, felizes e que
transmitem paz e harmonia aos que os cercam. Aqueles que praticam acabam munindo-se de
tolerância e serenidade para lidar com as diversas situações da vida. O aspecto meditativo do
TCC e sua ênfase nos movimentos relaxados, contribuem para a serenidade da mente e a
clareza do pensamento.
Com a finalidade de se criar um ambiente mais adequado para a mente trabalhar e
também para o Chi fluir de forma harmoniosa, é necessário ficar relaxado, calmo e natural,
não apenas física, mas também mentalmente. Isto porque, exemplificando, a tensão muscular
interrompe o fluxo harmonioso da energia, a ansiedade é fonte de energia negativa, e uma
postura irregular distrai a concentração mental e compromete os benefícios da prática do
TCC. O relaxamento é muito importante para que a nossa energia interna se desenvolva,
aumente e fique forte.
É a mente que lidera a direção da energia no processo de desenvolvimento interior.
Quando a mente se concentra numa única direção, o fluxo interno de energia se concentra e é
impulsionado naturalmente, resultando num aumento da eficiência e do poder interior. Quanto
maior o poder de concentração, mais forte será a mente e mais forte o Chi (energia vital)
fluirá. O fluxo da energia interna leva o corpo inteiro a mover-se com liberdade, e os
movimentos ficam estáveis, fortes e coordenados. O TCC, pois, dentre outros fatores, é uma
arte que trabalha o fluxo energético no organismo.
Diante de todo o exposto, constata-se a importância da MTC e o abismo entre ela e a
medicina ocidental. Enquanto a MTC é pautada pela prevenção de enfermidades, a partir de
uma visão holística (corpo, mente, espírito e ambiente) do ser humano, a medicina ocidental
tem como foco o tratamento das enfermidades, através de uma visão segmentada do ser

142
ELIANA TREVISAN

humano. Assim, a visão holística e completa do ser humano pela MTC permite que o
exercício, a respiração e a alimentação sejam aliados na manutenção da saúde.
Assim, dentre os inúmeros atributos da MTC, enfatiza-se a importância da alimentação
que, aliada à respiração, é fonte de energia vital (Chi). Destaca-se, também, a relevância do
TCC na MTC, uma vez que, mesmo com uma boa alimentação, é o TCC quem promove a
circulação da energia vital para todo o corpo, evitando a sua estagnação e consequentes
enfermidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Os médicos excepcionais previnem a doença. Os médicos medianos curam


doenças que ainda não se manifestaram. Os médicos medíocres tratam de
doenças já manifestadas” (CHINESISCHES SPRICHWORT6, 2000, appud
FAHRNOW, 2003, p. 9)

Na busca por uma relação entre alimentação e exercícios, a perspectiva da MTC revela
que o ser humano nunca está pronto e acabado. É um processo contínuo de transformação
permeado por uma dinâmica de eventos interrelacionados com o universo.
Na MTC, a preocupação e os cuidados com a saúde partem dos princípios da prevenção
e da manutenção. O cuidado com a saúde pressupõe a responsabilidade e o envolvimento
afetivo um com o outro. O médico e o paciente devem possuir uma relação igualitária no
processo saúde-doença, procurando as causas do sofrimento em busca da felicidade,
privilegiando a ética do ser humano.
Na medicina ocidental contemporânea, os médicos e pacientes se vêem esmagados entre
duas indústrias poderosas, a indústria farmacêutica e a indústria agroalimentar, que protege
avidamente os próprios interesses, impedindo a difusão de recomendações explícitas sobre as
relações entre doenças e alimentos (SCHREIBER, 2007).
Enquanto pesquisavam moléculas sintéticas capazes de bloquear a formação de novos
vasos sanguíneos necessários ao crescimento de tumores, dois pesquisadores, Yihai e Renhai,
do Instituto Karolinska de Estocolmo, demonstraram, pela primeira vez, que um alimento tão
banal quanto o chá verde poderia ser capaz de bloquear a angiogêneses, realizando, assim, a
mesma função dos medicamentos sintéticos (SCHREIBER, 2007).

6
FAHRNOW, Ilse Maria; FAHRNOW, Jürgen. Os cinco elementos na alimentação equilibrada. Tradução de Inês
Lohbauer. 1. ed. São Paulo: Ágora, 2003, p. 9.
143
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Conforme já dito nesse trabalho, o conhecimento da alimentação na terapia dos cinco


elementos, dá autonomia ao indivíduo na auto prevenção e na cura. São abertos amplos canais
de conhecimento, acumulado ao longo de milhares de anos, que compreende a fisiologia do
corpo humano que interage ao meio e ao universo.
No âmbito do TCC, da mesma forma que ocorre com a combinação de componentes de
diversos medicamentos para baixar o colesterol e a pressão arterial, acredita-se que cada
ingrediente – dos oito ingredientes mencionados no tópico 5 – tenha um impacto diferente
sobre a fisiologia do organismo. Por essa análise, o TCC apresenta muito mais ingredientes,
que os medicamentos sintéticos, pois se trata de exercício holístico com influência nos níveis
físico, psicológico, social e filosófico, destacando-se o ingrediente da respiração natural que
flui energia vital para todo o corpo.
A consciência da respiração e dos exercícios são cada vez mais integrados a programas
biomédicos que reduzem o estresse, e ao treinamento esportivo, em que uma das bases para
tal integração é o próprio TCC.
Ao término do presente trabalho, é possível reafirmar que a MTC, através do TCC e da
boa alimentação, e sob a ótica da Teoria dos Cinco Elementos, é uma excelente alternativa à
medicina ocidental para um tratamento holístico do ser e para a prevenção de doenças.

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146
ELIANA GOMES ESTEVAM

7. Medições de Energia Vital por meio da


Bioeletrografia

Eliane Gomes Estevam

147
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Para você, a fim de que encontre o que está buscando.

Em uma pequena casa, numa pequena vila, sob uma


grande colina, vivia Giulia com sua família. Giulia era
uma menina normal, como tantas outras. Sua vida era
feliz e serena. Mas um dia, de repente, tudo isso acabou e
ela se percebeu com um grande buraco na barriga.
Um buraco enooooooorme!
O frio passava por ele...de lá de dentro saiam monstros
que engoliam tudo.
Ela experimentou preenche-lo, fechá-lo, apaga-lo para
fazer desaparecer aquele vazio...que ao invés, se tornava
cada vez maior.
Pois, um dia, pensou que deveria só encontrar uma tampa
adequada.
E na verdade no furão serviam tampas de vários tipos.
Eram tampas boas...e outras aparentemente boas. Eram
tampas enganadoras e outras muuuuuuuito perigosas.
Ela procurava e procurava, mas não conseguia encontrar
a tampa justa...por fim parou de procurá- la.
Que tontura! Vacilou um pouco e caiu no chão. Se sentia
tristíssima e começou a chorar...primeiro timidamente,
depois urrando e gritando, depois de novo, devagar, até
silenciar. Nesse silêncio ouviu uma voz que vinha do
chão e lhe dizia: ”Para de procurar fora, procura dentro
de você...”
Dentro de mim?
E começaram a sair palavras...cores. Surgiram mundos
maravilhosos que nunca tinha imaginado. Eram mundos
mágicos e com melodias que lhe restituíram a sensação
de pertencer a alguma coisa, na qual se sentia parte, como
em casa.
Feliz da descoberta, começou a se aproximar dos outros
de um jeito diferente.
Viu que também os outros tinham seus mundos mágicos,
no qual viajavam sempre e de onde voltavam com
belíssimos presentes, que compartilhavam, todos juntos.
Até que, devagarzinho, o buraco ficava cada vez
menor... e por sorte não desapareceu mais.
Assim ela podia voltar quando quisesse naquele mundo
cheio de surpresas. (LLENAS, 2013, tradução nossa)

148
ELIANA GOMES ESTEVAM

RESUMO

Demonstrar como o aprendizado da prática do TaiChiChuan, arte marcial chinesa voltada para o
cultivo da energia interior (Qi), pode ser usada como uma ferramenta poderosa para o
autoconhecimento. A revisão de um curso de especialização e suas respectivas disciplinas
voltadas à compreensão de tudo que envolve a prática e como esse caminho pode ser comparado
a um trabalho de autoconhecimento, desde a apresentação do curso até a preparação da
monografia, a relação entre cada etapa e a importância da utilização dessas ferramentas para o
autoconhecimento. Através de levantamento bibliográfico e da revisão do conteúdo apresentado,
constatar que a preparação de um curso, assim como o aprendizado de uma prática nova, pode
apresentar em todo seu decorrer, um processo de desenvolvimento interior, que da mesma forma
micro e/ou macro, requer tempo e perseverança, dedicação e atenção para que se encontre
respostas à questões simples apresentadas ainda no início deste curso: Quem é Você? O que
estamos fazendo aqui? Qual é a sua missão? Qual seu aporte para o mundo?

Palavra-chave: Autoconhecimento, Taichichuan, macrocosmo, microcosmo

ABSTRACT

This paper intends to demonstrate how learning the practice of Tai Chi Chuan, Chinese martial
art focused on the cultivation of inner energy (Qi), can be used as a powerful tool for self-
knowledge. The revision of a PhD course and its respective disciplines becomes a way of
understanding everything that involves the practice and how this path can be compared to a work
of self-knowledge, from the presentation of the course to the preparation of this paper, the relation
between each step and the importance of using these tools for self-knowledge. Through a
bibliographical survey and a review of the content presented, it is possible to observe that the
preparation of a course, as well as the learning of a new practice, can present an inner
development process that, throughout a micro or macro way, giving time and perseverance,
dedication and attention can find answers to the simple questions presented at the course´s very
begining: Who are you? What are we doing here? What is your mission? What is your
contribution to the world?

Keywords: Self-knowledge. TaiChichuan, microcosmo, macrocosm

149
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

INTRODUÇÃO

“A vida é uma escola. Por que não aproveitar suas lições?”


Provérbio popular

A escolha desse curso de especialização surge como uma das lições da vida, como uma
oportunidade, um instrumento para facilitar o encontro de respostas para um sentido mais amplo.
Como um caminho indireto, despretensioso, e rico de conteúdo para um ser que anseia por
respostas coerentes, para quem busca a compreensão de si, e um sentido para a vida.
Pode ser visto como uma sincronicidade, termo usado por Carl Gustav Jung para sua
teoria de que tudo no universo estava interligado por um tipo de vibração, e que duas dimensões
(física e não física) estavam em algum tipo de sincronia, que fazia certos eventos isolados
parecerem repetidos, em perspectivas diferentes.
Muitas vezes percebemos essa sincronicidade, comumente denominada coincidência.
Nos surpreendemos com os acontecimentos, e somos levados a pensar em algo e logo a seguir,
perceber fatos ou pessoas que falam ou se apresentam em conexão ao pensamento em questão.
Um curso de pós graduação, com um título que surpreende e que se apresenta como algo
inédito por ser composto pela união de duas instituições deveras respeitadas, apesar de
aparentemente opostas como forma de expressão, já se apresenta neste momento com a dicotomia
que no Oriente se conhece como a teoria Yin/Yang, o encontro de representantes do Oriente e
Ocidente. Essa idéia, no mínimo, já cria uma curiosidade - um convite ao novo.
Curso de especialização em práticas corporais da medicina tradicional chinesa: Tai Chi
Chuan da família yang e sua filosofia, Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Universidade de
São Paulo, um nome que é atraente para quem se interessa ou conhece a Medicina Tradicional
Chinesa, para quem tem afinidade com sua filosofia, quem pratica algum tipo de arte marcial ou
quem percebe a importância de práticas corporais para o bem estar e manutenção da saúde,
associada com o padrão de exigência e competência de uma Universidade assim reconhecida
mundialmente.
Ao conhecer a grade curricular, a curiosidade aumenta, principalmente para quem busca
o autoconhecimento ou percebe em si e na própria vida um “buraco”, algo que precisa de resposta.

150
ELIANA GOMES ESTEVAM

A definição de autoconhecimento pode ser dentre tantas, um processo terapêutico, um


caminho espiritual, uma jornada de vida. Esses são termos que se tornaram usuais na nossa fala
cotidiana para nos referirmos a um processo pessoal de descoberta e realização. O sujeito,
geralmente motivado por alguma questão que o esteja perturbando, sente-se impulsionado a
entender mais sobre si para tentar lidar melhor com suas dificuldades.
Este movimento interno gera uma necessidade de cumprir objetivos. Às vezes esta busca é
consciente, outras tantas, inconscientemente acontecem. Cada acontecimento na vida é uma
oportunidade de auto observação, reconhecimento das emoções, sentimentos, sensações,
pensamentos, crenças, tendências... Muitos caminhos existem para o buscador.
Me identifico como uma buscadora que pôde encontrar na grade curricular desse curso
de especialização, um resumo de todo conhecimento adquirido ao longo da minha jornada, uma
oportunidade de rever e reforçar conceitos e ampliar minha visão com uma prática nova carregada
de conhecimentos tão antigos, me conhecer melhor e poder viver o que entendi ser minha missão
de vida: ser uma facilitadora do autoconhecimento, com alegria, inteligência e generosidade para
a leveza na vida.
Nesta busca, sentiu-se a necessidade de fazer uma analogia entre o conteúdo de um curso
de pós graduação até sua conclusão efetiva e a oportunidade de um profundo trabalho de
autoconhecimento, de propor a prática do Tai Chi Chuan como uma ferramenta para este fim.
Para isso, buscaremos neste trabalho, identificar aspectos a serem desenvolvidos em uma
busca interior constante dentro de um curso de pós-graduação, correlacionando este curso, sua
grade curricular e os princípios da prática do Tai Chi Chuan com o autoconhecimento. Identificar,
até mesmo na preparação de uma monografia de conclusão de curso, as ferramentas contidas para
a compreensão de si mesmo e todos os conceitos que podem estar contidos em aulas, disciplinas,
práticas corporais e convívio com um grupo, que sinergicamente se forma, para reforçar as teorias
contidas no próprio curso, onde cada um tem seu papel importante e complementa a necessidade
do outro, e a compreensão dos conceitos aplicados na prática da vida.
Essa monografia enseja o início de um novo ciclo de renovação pessoal (teoria Yin
Yang), e, embasado na grade curricular, teoriza através de levantamento bibliográfico, conceitos
de autoconhecimento e dos princípios do Tai Chi Chuan, com a base filosófica da Medicina
Tradicional Chinesa.

151
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Entender essa prática corporal tão amplamente utilizada na China, representa ter em
mãos uma oportunidade para a manutenção da saúde, autônoma e auto-suficiente. Abrange
aspectos muito além do físico: um caminho para dentro, para desidentificação do conhecido,
uma abertura para as possibilidades presentes no Agora. Uma prática onde todos os conceitos
fazem um sentido não simplesmente teórico.
Conseguir ser uma facilitadora com leveza, envolve o desejo de que esses
conhecimentos cheguem até as pessoas que nunca tiveram acesso a essas informações, de uma
forma de fácil assimilação, respeitando-se a metodologia, compreendida como um dos aspectos
da forma, fluída e bem posicionada, com disciplina e foco, sem rigidez e com graciosidade,
ética e responsabilidade.
O especialista, em geral, representa o espírito masculino, o intelecto, para o qual a fecundação
é um processo estranho e contrário à natureza, sendo, desta forma, um instrumento inadequado para
promover o renascimento de uma cultura desconhecida. Um espírito superior, no entanto, carrega em si
as características do feminino. A ele foi dado o colo receptivo e gerador que lhe permitiu recriar o
desconhecido numa forma conhecida. Wilhelm possuía o carisma de uma natureza maternal, à qual se
deve sua capacidade intuitiva em relação ao pensamento chinês, permitindo-lhe criar traduções
incomparáveis (JUNG,1971, p. 13).
Fazer uma monografia muitas vezes pode ser um obstáculo para a conclusão de um
curso por parecer ser muito complexo, técnico, com muitas regras. Assim como a prática do
Tai Chi Chuan que em um primeiro momento pode causar a mesma impressão. Sendo a
monografia parte final do curso, após a assimilação do aprendizado de toda a prática e da
internalização dos conceitos, ela poderá sim, se tornar um desafio prazeroso. Pode ser simples,
leve, com graça, estruturada, bem apoiada, disciplinada, com força, foco e continuidade fluida,
não opondo resistência aos obstáculos e sim enxergando neles as oportunidades de não esgotar
energia e sim construir algo a partir deles.
A vida ganha valor quando as pessoas envolvidas compartilham conhecimento, com
propósito claro, respeito e responsabilidade, cuidado e atenção. O curso, como um microcosmo,
fez esta representação, com uma equipe engajada facilitando a comunicação e assimilação da
importância do cultivo de valores básicos, por muitos esquecidos, e que sem os quais não é
possível a verdadeira prática do Tai Chi Chuan nem a compreensão de quem somos e para que
estamos contribuindo.
Conhecido por trabalhar a correlação entre a física moderna e o misticismo oriental,
Capra (2006) destaca que há a ocorrência de insights intuitivos espontâneos em ambas as áreas.
No misticismo oriental, contudo, a preparação da mente para uma consciência ampliada, não

152
ELIANA GOMES ESTEVAM

conceitual da realidade, silenciosa e meditativa, faz parte da cultura e é fruto da prática contínua.
Lá os insights intuitivos não se limitam a momentos breves, mas se expandem gerando uma
consciência constante.
O desejo de ter acesso a essa consciência ampliada nos faz cada vez mais buscar práticas
que sinalizam um caminho, que a nossa intuição mostra ser uma direção para conquistarmos o
autoconhecimento. A seguir, entenderemos mais sobre o que é este tão falado
autoconhecimento.

O QUE É AUTOCONHECIMENTO

"Conhece-te a ti mesmo" é um aforismo grego que revela a importância do


autoconhecimento, sendo uma frase bastante conhecida no ramo da Filosofia.
Jung (2007, p. 20) diz que “o excesso de animalidade deforma o homem cultural; o
excesso de cultura cria animais doentes”.
Não temos uma educação voltada para a importância do conhecimento do corpo e sua
fisiologia, o que pode ser verificado no próprio curso, nas aulas de anatomia, quando um
significativo número de pessoas, demonstraram desconhecer importantes partes do corpo e suas
respectivas funções.
Da mesma forma, não conhecemos como funciona a nossa mente. Nas aulas de
psicologia, grande parte das informações eram novas para muitos, mesmo considerando pessoas
que chegam a uma pós graduação e, geralmente, têm acesso a muitas informações através de
diferentes canais, diferentemente de tantas pessoas que não tem essa mesma facilidade ou a
oportunidade de uma boa educação.
O homem é um ser jogado no mundo, condenado a viver a sua existência. Por ser existencial,
tem que interpretar a si e ao mundo em que vive, atribuindo-lhes significações. Cria intelectualmente
representações significativas da realidade. A essas re-presentações chamamos conhecimento. O
conhecimento, dependendo da forma pela qual se chega a essa representação significativa, pode ser, em
linhas gerais, classificado em diversos tipos: mítico, ordinário, artístico, filosófico, religioso e científico
(KOCHE, 2011, p. 23)
Portanto, fica claro que o conhecer-se (ser consciente das emoções, valores, crenças,
objetivos, possibilidades), requer um trabalho baseado na vontade, determinação e foco.
Como diz Eliade (2001), a existência do homem torna-se banalizada na medida em
que é programado desde a mais tenra idade a se transformar em um autômato, que trabalha e
consome exaustivamente para manter o “status quo” imposto pelo paradigma atuante.

153
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Temos uma máquina e não sabemos operá-la, não lemos o manual de instrução e
tentamos usar o menor número de comandos possíveis, sem perceber que poderíamos usá-los
para minimizar o uso da energia e podermos direcioná-la no momento e direção mais
adequados.
O pensamento de que “a própria essência da reflexão é compreender que não se
compreendera” (BACHELARD1, 1968, p. 147 apud KOCHE, 2011, p. 23), justifica a
incessante busca presente, o movimento que não cessa, a energia se transformando, em períodos
onde a busca é intensa e outros onde se dá uma acomodação para própria assimilação de idéias.
O fisiologista alemão Du Bois-Reymond, formula em 1880 sobre os sete enigmas do
mundo: a origem da matéria e da energia; a origem do movimento; a origem da vida; a
finalidade da natureza; a origem da sensibilidade e da consciência; a origem do pensamento
racional e da linguagem; e o livre-arbítrio (ABBAGNANO, 1982, p. 315). Estas questões
presentes na mente da humanidade desde os primórdios, fazem parte da própria evolução.
Essa formulação, que enfatizava a incognoscibilidade irredutível da origem dos
fenômenos, exerceu notável influência sobre o pensamento científico do século XIX, inclusive,
sobre a visão de Freud e Jung acerca dos limites da ciência em geral, e da psicanálise, em
particular.
"O eu é o que a pessoa sente a respeito de si própria." (SKINNER, 1991, p. 45), o si
mesmo, “aquela indescritível totalidade (ou inteireza) do homem que não pode ser visualizada,
mas que é indispensável como conceito intuitivo” (JUNG, 1985, p. 148).
O si mesmo, representação última do ser, é tanto fonte da humanidade como do mundo,
pois, ultrapassa as fronteiras do psíquico: “a individuação não exclui o mundo; pelo contrário,
o engloba” (JUNG, 1982, p. 162).

1 0 espírito tem uma estrutura variável a partir do momento em que o conhecimento teia uma história.
Efetivamente, a história humana pode muito bem, nas suas paixões, nos seus preconceitos, em
tudo o que releva das impulsões imediatas, ser um eterno recomeço; mas há pensamentos que não
recomeçam; são os pensamentos que foram retificados, alargados, completados. Eles não voltam à
sua área restrita ou pouco firme. Ora, o espírito científico é essencialmente uma retificação do
saber, um alargamento dos quadros do conhecimento. Julga o seu passado histórico condenando-o.
A sua estrutura é a consciência dos seus erros históricos. Cientificamente, pensa-se o verdadeiro
como retificação histórica de um longo erro, pensa-se a experiência como retificação da ilusão
comum e primeira. Toda a vida intelectual da ciência atua dialeticamente sobre esta diferencial do
conhecimento, na fronteira do desconhecido. A própria essência da reflexão é compreender o que
não se tinha compreendido. Os pensamentos não-baconianos, não-euclidianos, não-cartesianos
estão resumidos nestas dialéticas históricas que apresentam a retificação de um erro, a extensão de
um sistema, o complemento de um pensamento (BACHELARD, Gaston. A filosofia do não; O
novo espírito científico; A poética do espaço (Coleção Os pensadores). Abril Cultural, 1984.

154
ELIANA GOMES ESTEVAM

Cooper (1989) expressa o mesmo entendimento sistêmico ao afirmar que aqueles que
ganham consciência de que não só são parte de um todo, como também são o todo em si mesmo,
ampliam a percepção e a valorização da vida em todas as suas expressões.
As pessoas, quando afastadas da natureza, são dominadas pelo ego, sentem-se sozinhas
e tornam-se hostis, violentas, torturam-se com sentimentos como ódio, cobiça e fúria, não
percebendo que estão a ferir a si mesmas (COOPER, 1989).
De uma forma poética a filosofia chinesa, nos mostra as analogias entre o universo e
nosso corpo. Como um rio, fluímos em direção ao mar e, temos capacidade de desviar dos
obstáculos, criando alternativas e caminhos inteligentes. Se guiados pelo nosso espírito, as
escolhas tendem a ser melhores do que se guiadas pela mente, normalmente sobrecarregadas
por pensamentos baseados em crenças aceitas e não questionadas, além de serem influenciadas
por questões culturais e de religião, por exemplo, que fazem parte do nosso inconsciente e do
inconsciente coletivo.
“Muitas vezes, temos a impressão de que a psique pessoal
galopa em torno desse ponto central como um animal assustado, ao
mesmo tempo, fascinado e temeroso; embora fuja constantemente, cada
vez mais se aproxima do centro. Não quero dar ensejos a mal-
entendidos, nem quero que pensem que sei algo a respeito da natureza
do “centro”, pois este é simplesmente incognoscível”. (JUNG, 1994, p.
231)

É preciso que não se confunda o mergulho em si mesmo com o engessamento em


estereótipos que, antes de alcançarem o autoconhecimento, escondem e apagam quem
verdadeiramente somos em nome de um moralismo vazio. Preocupar-se excessivamente em
parecer correto nos torna impessoais, e isso pode ser caminho para a infelicidade. Não há
autoconhecimento sem autenticidade.
Em um curso, geralmente é criada uma formatação que permita que todos que
participem deste tenham a mesma quantidade e qualidade de conhecimento. Porém, pelo fato
de sermos seres distintos cheios de individualidades, o que levamos desta grade curricular é
sempre muito pessoal. No próximo capítulo trataremos sobre a escolha da ordem de
apresentação dos temas que auxiliaram na trajetória de autoconhecimento que tenta-se
apresentar ao longo deste trabalho.

GRADE CURRICULAR

O curso apresenta uma grade curricular que compreende tudo o que envolve uma prática

155
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

milenar da Medicina Tradicional Chinesa. Desta forma, estas disciplinas aparecem como um
convite ao aprofundamento de um conhecimento com aproximadamente quatro mil anos
merece atenção e respeito.
Abaixo é possível visualizar, por ordem alfabética, a lista de disciplinas que completam
o referido curso:
● Anatomia e Fisiologia Aplicada às Práticas Corporais da Medicina Tradicional
Chinesa;
● Bases filosóficas do Tai Chi Chuan e das Práticas Corporais Chinesas;
● Cinesiologia e Biomecânica - Estudo do movimento do corpo humano, e suas
alterações;
● Contribuições da Psicologia para a compreensão da relação corpo mente;
● Formas Curtas do Tai Chi Chuan da Família Yang;
● Fundamentos da Medicina Tradicional;
● História das Práticas Corporais Chinesas;
● Introdução à História e Cultura Chinesa;
● Metodologia da Pesquisa Científica;
● Metodologia de Ensino das Práticas Corporais Chinesas;
● Políticas Públicas e Práticas Integrativas Complementares;
● Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa e Saúde;
● Técnicas de Chi Kung – Patuanchin;

Os conteúdos principais das disciplinas proporcionaram um conhecimento da história


da China, as dinastias, a história de imperadores, as conquistas, formação de conceitos, valores.
A observação da natureza, a soberania da vontade da natureza e dos Deuses a compreensão do
funcionamento do organismo humano. A importância de conhecer a medicina tradicional
chinesa, base filosófica, uma poesia cheia de conhecimentos que já foram reproduzidos por
tantos estudiosos contemporâneos, grandes mestres que deixaram grandes ensinamentos que
até os dias de hoje estão chegando até nós, adaptados, por conterem em si, as verdades
universais.
Todos os assuntos abordados nas disciplinas estão relacionados com o que fundamenta
a Prática do Tai Chi Chuan: o Budismo, o Taoísmo, o I Ching (o livro das mutações), o Confúcio
(a sociedade baseada nos valores de ética, respeito, compaixão), dentre outras.
O curso apresenta o Tai Chi Chuan como uma arte marcial que contém todos os
conceitos resumidos e expressos em posturas corporais; uma prática adaptada para auxiliar as

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ELIANA GOMES ESTEVAM

pessoas; uma medicina preventiva, curativa porque fortalece e conscientiza sobre a verdadeira
força que há no humano. Além disso, traz o aprendizado da prática do Tai Chi Chuan, postura
corporal e tudo que envolve a técnica.
Estuda-se também o corpo humano, fisiologia, anatomia e cinesiologia para melhor
aproveitamento e cuidado na execução da prática, o início do autoconhecimento, compreender
do que somos feitos e quais as funções que podemos utilizar.
Bertazzo (1998) diz que os chineses possuem e praticam, há muito tempo e em larga
escala, um ensinamento que ele chama de “psicomotricidade requintado”, sendo uma
verdadeira escola de movimento. Cita ainda que toda a terapêutica chinesa da automassagem
até a ginástica e o próprio Tai Chi Chuan, são conhecimentos que costumamos classificar como
exóticos, mas na verdade se desenvolveram como um sistema muito eficiente de auto-ajuda,
cuja base é a motivação gerada pelo conhecimento do corpo e seu funcionamento.
Já no ocidente, a informação a respeito do corpo e da psique foi confinada a comunidade
científica e à elite médica, provocando ignorância do homem comum com relação às suas
próprias estruturas corporais. Quando delega à autoridade médica responsabilidade total sobre
seus músculos, ossos, vísceras e mente, o indivíduo se desapropria do próprio corpo, ao mesmo
tempo, na adoção de uma estratégia terapêutica individual, pseudosofisticada, o conhecimento
de nossas estruturas é repartido: o padre sabe do problema espiritual, o psicólogo conhece o
problema mental, o médico resolve o problema visceral (BERTAZZO, 1998).
É extremamente importante saber o poder contido na mente, suas capacidades,
funcionalidade, impressões, as fases de desenvolvimento, do que acreditamos ser nosso eu,
conhecer o inconsciente e a nossa ligação com as outras mentes, o inconsciente coletivo
afetando e nos conduzindo muitas vezes às escolhas mecânicas. A compreensão dos dizeres de
diversos médicos estudiosos como Freud, Jung, Lacan, Reich, Lowen, entre outros que
dedicaram tanto para nos ajudarem nessa busca, certamente também suas próprias buscas, vem
nos lembrar de como perdemos nossa naturalidade e graça, e como podemos resgatar o nosso
eu.
Este movimento já começou no ocidente, representado por todos que tem o objetivo
de levar esse conhecimento às pessoas que ignoram outras formas de chegar ao equilíbrio.
Pessoas engajadas estão disseminando esse conhecimento com persistência, inclusive nas
políticas públicas que tem tido grande avanço. Este movimento, assim como resultado de uma
prática de Tai Chi Chuan, respeita e persevera, passo a passo, com o olhar no horizonte, objetivo,
postura firme e equilibrada para não resistir e utilizar a energia a favor do fluxo, mantendo um
movimento contínuo.

157
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

As disciplinas do curso abordam como fazer o melhor uso possível das potencialidades,
com consciência das leis a que estamos submetidos no universo e da nossa responsabilidade em
relação a isso.
Práticas chinesas, Qigong, formas diversas, provenientes de diferentes escolas, mas que
utilizam a mesma visão, respeitando sempre a base filosófica, porque é uma tradição, verdade
internalizada. Práticas que utilizam movimentos diversos, porque somos diversos e a
assimilação de conceitos se dá de várias formas, de diferentes formas de expressão.
Em Metodologia Científica, ensina-se como organizar e materializar uma idéia, como
atingir e comunicar novas idéias, novos pontos de vista sobre velhas idéias, trazer à reflexão.
Garimpar conhecimento, informação, sentir o que fala com você, fluidez e não rigidez, como o
Taichichuan, aparentemente mecânico, difícil, mas da mesma forma contendo tanta riqueza de
desenvolvimento e crescimento.
Além disso, o curso foi enriquecido com a presença do mestre Cheng Fu, que
demonstrou na sua prática todos os princípios e na sua postura e fala a coerência de toda
filosofia aprendida. As mensagens resumidas que reforçam as teorias aprendidas, chamou a
atenção para alguns pontos essenciais para a boa prática conduta na Vida, como:
- compreender o corpo – o conhecimento da teoria nos conduz a boa prática;
- compreender o corpo praticando, compreendendo a técnica, o corpo e a mente;
- compreender a mente usando o corpo, transferindo o ensinamento para a vida;
- os métodos ajudam a encontrar equilíbrio;
- compreender a filosofia, os princípios e os clássicos;
- clareza de compreender o corpo em 5 áreas: pés, tronco, mãos, método, olhar
(espírito), observar e corrigir a prática externa, e coordenar com a respiração (prática
interna). Os dois juntos encontram o Shen (alma, espírito);
- compreensão de si mesmo ( auto cultivo);
- a resistência ao oponente força a gastar mais energia e o Qi sobe para a cabeça;
- quando não se está estável, aparece a fragilidade (manter a parte superior do
corpo mais leve, parte inferior mais pesada);
- manter o qi submerso;
- abaixar o centro, dar passos mais largos, manter a estrutura estável;
- o Tai Chi Chuan fortalece a parte inferior, as pernas, levando o Qi para o centro
do corpo;
- quanto mais baixo, mais estável. Qi conectado com a energia, que deve submergir,
assim como quando dormimos, o Qi está submerso, a respiração é abdominal e o sono

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ELIANA GOMES ESTEVAM

traz tranquilidade física e mental. Manter esse estado na prática e na Vida;


- observar que o excesso de pensamentos, medo e emoções afetam a respiração;
- a energia vem da raiz, dos pés, sobe para pernas, deve ser controlada na cintura
e exteriorizada nas mãos, tudo conectado;
- energia é parecida com água, suave e forte.
Dessa forma, notadamente percebe-se que o conteúdo desse curso está repleto de
oportunidades e caminhos para o auto olhar-se.

FUNDAMENTOS BÁSICOS DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

Qi

Uma grande quantidade de textos cosmológicos ligados ao taoísmo informa-nos sobre


um sopro primordial, denominado Qi (ou Ch´i), preexistente à formação do Céu e da Terra. Em
seu capítulo 42, diz o Tao Te King:
“O Tao gera o Um O Um gera o Dois O Dois gera o Três
O Três gera todas as coisas
Todas as coisas dão as costas ao escuro, Dirigindo-se para a luz.
A energia que entre eles flui lhes fornece a harmonia.”
O Qi é, para os chineses, a unidade central de uma força cósmica que envolve todo o
cosmos. Page (1995) se refere ao Qi como o princípio da mutação, como o próprio movimento
que permite a circulação e o dinamismo do sistema.
No oriente também existe uma série de conceitos semelhantes, como o shakti ou energia
do espírito, a kundalini ou a força da serpente, e ainda o calor do espírito ou força do espírito,
dos tibetanos.
Em seu estudo, Page (1995) reforça que desta forma, os taoístas buscavam aumentar a
própria vitalidade, absorvendo o Qi cósmico primordial, transformando o chi Qi individual.
Esta prática não só dinamiza e cura o organismo como também anima as funções superiores da
mente.

Teoria Yin Yang

Os fenômenos científicos devem ser, de início, minuciosamente observados, para que,


mais tarde, seja possível desenvolver grandes teorias.Esses processos constam comumente de

159
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

cinco etapas: observação, análise, suposição, comprovação e conclusão (KOCHE, 2011, p15)
A Teoria Yin-Yang também passou pelo mesmo processo. Na China antiga, as primeiras
observações efetuadas levaram à conclusão de que a estrutura básica do ser humano era a
mesma do universo. Entäo, todos os fenômenos da natureza foram classificados em dois polos
opostos - o Yin (negativo) e o Yang (positivo). Aqueles que apresentam como características
força, calor, claridade, superfície, grandeza, dureza, peso, etc, pertencem ao Yang. Ao contrário,
os que apresentam características opostas às mencionadas, pertencem ao Yin.
Não teríamos dia se não houvesse noite; não teríamos frio se não houvesse calor.
Portanto, podemos concluir que Yin e Yang estão ao mesmo tempo em oposição e em
interdependência (WEN, 1985,p19)

Teoria dos 5 movimentos e seus elementos

Juntamente com a Teoria do Yin e do Yang, a Teoria dos Cinco Movimentos


representa um dos pilares da Medicina Tradicional Chinesa. Caracteriza-se por cinco processos
básicos, decorrentes das qualidades de cinco elementos mais comuns encontrados na natureza,
e que simbolizam para os antigos pensadores chineses todos os movimentos de transformação,
todas as dinâmicas dos fenômenos naturais observados. A teoria dos Cinco Movimentos foi
concebida alguns séculos mais tarde pela mesma escola filosófica que desenvolveu
anteriormente a teoria do Yin e do Yang. A menção aos cinco elementos encontra-se no Shang
Shu, escrito durante a Dinastia Zhou: “...Os cinco elementos são a madeira, o fogo, a terra, o
metal e a água”.
“A Teoria dos Cinco Movimentos que, em sua essência,
afirma que o elemento madeira gera o elemento fogo, o fogo
produz a terra, a terra gera o metal, que por sua vez, gera a água.
E a água fecha o ciclo de geração, produzindo a madeira. São
esses os cinco elementos fundamentais da natureza. Elementos
que se interagem e dão origem ao movimento ininterrupto, onde
um elemento nutre o outro, fato que recebe o nome de Ciclo de
Geração. No entanto, a interação entre os cinco elementos
alberga também outros ciclos de movimentos, denominados por
ciclos de controle, de excesso e de contra-dominância. Essa
inter-relação entre os cinco elementos permite aos taoístas
explicar tudo, desde o funcionamento das coisas mais simples da
natureza até a complexidade do ser humano” (TELESI, 2016).

Canais de energia, meridianos e pontos

A Teoria dos Meridianos diz que cada novo ser humano, ao ser concebido, traz dentro

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ELIANA GOMES ESTEVAM

de si um determinado conjunto, específico e único, de energias, que se manifestam por meio


dos canais por onde fluem as energias - os Meridianos - e os respectivos Pontos de Acupuntura
representam - as "memórias energéticas" de cada ser . Entretanto, esses "pontos" ou "memórias"
não necessariamente estão e/ou continuarão sua evolução em um processo de equilíbrio e
harmonia, estando sempre passíveis de contínuos desarranjos. É por isso que com o decorrer do
tempo, o que era Yang dá formação ao Yin, enquanto este dá origem ao Yang. Tudo é dinâmico,
tudo é mutável, nada permanece como está (TELESI, 2016).
Podemos pressupor que a Teoria dos Meridianos é o fruto da experiência e da
observação de muitos desde os primórdios da medicina chinesa.
Foram denominados Meridianos Yin, os relacionados aos órgãos, que receberam os
nomes: Fígado, Coração, Pericárdio, Baço-Pâncreas, Pulmão e Rim. E os Meridianos Yang,
relacionados às vísceras: Vesícula Biliar, Intestino Delgado, Triplo Aquecedor, Estômago,
Intestino Grosso e Bexiga. Cada par de meridiano Yin/Yang pertencente a um dos cinco
elementos. Tudo organizado e relacionado para compreensão da fisiologia, transformação e
organização de acordo com os mesmos fenômenos observados na Natureza.
Podemos entender como “rios” que fluem dentro do corpo, canais de energias,
meridianos que tem uma direção, a correnteza é maior em determinadas áreas de acordo com
períodos de maior concentração de energia, a cada duas horas a concentração de energia yin ou
yang é presente nos órgãos e vísceras, gerando movimento e transformação da energia por todo
o corpo. Assim como acontece na natureza, os ciclos do dia, nascer do sol (Yang), auge do dia,
entardecer, anoitecer, auge da noite (Yin). Os estímulos externos, excessos, de pensamentos e
de emoções afetam esse fluxo, podendo apresentar deficiência ou excesso de energia em
determinados canais. O restabelecimento desse fluxo pode ser dado de diversas formas, através
de estímulos em pontos específicos através da acupuntura, pelas práticas corporais, que mantém
o fluxo suave e constante da energia pelos canais, entre outras.
Somos influenciados pelas estações do ano e tudo que pertence a elas, os planetas,
astros, marés, mudança de lua, afetam diretamente nosso corpo, funções corporais, emoções,
gestações, humor. Quanto mais nos distanciamos dessa Natureza, mais desequilíbrio acontece,
quando fluímos e nos adequamos com os aspectos exteriores a nós, o equilíbrio é restaurado. A
utilização da racionalidade de forma irracional, trazendo desequilíbrio Yin Yang, manifestando
a doença no Humano, a não aceitação de ser um ser da Natureza, que obedecem a ciclos de
nascimento, crescimento, desenvolvimento, decadência e morte, na grande tentativa de
interromper o ciclo, e assim vencer a brevidade da vida.
Segundo Telesi (2016), as diferenças que percebemos entre os fenômenos naturais são

161
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

decorrentes da proporção e da freqüência vibratória do Yin e do Yang presente nos movimentos


de interação entre os cinco elementos. O equilíbrio do ser humano e de toda a vida fica
ameaçado quando o Cosmo e/ou a Terra se desequilibram. Segundo a filosofia oriental nada é
permanente, portanto, o desequilíbrio é parte inerente aos processos vitais. De acordo com essa
lógica, iremos entender, ao estudar a Teoria que deu origem à Medicina Tradicional Chinesa.

BASES FILOSÓFICAS DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

I Ching

Oráculo e base para toda a filosofia chinesa, os hexagramas formados por linhas yin
yang que descrevem as transformações de cada momento e situação de vida, onde sua aplicação
leva ao equilíbrio e autoconhecimento.
O curso nos presenteia com um mestre do conhecimento do Iching, Prof Roque
Severino, que sendo um mestre, humildemente transmite seus conhecimentos inspirando uma
nova conduta e forma de interpretar os aspectos da vida, simples e justo, coerente e amoroso,
amor com disciplina e consciência.

Confucionismo

Viajar por esses conhecimentos é como tocar no fundo da consciência e encontrar algo
muito conhecido, uma verdade gravada que vibra quando identificada.
Confúcio, nome romanizado para Kung futsé, é talvez o sábio mais influente de todos
os tempos. Apesar de ter vivido entre os séculos IV e V A.C., o grande pensador chinês sempre
exerceu enorme presença junto ao seu povo. Pregador moralista, tratadista e legislador,
Confúcio legou ao povo dos Han um conjunto de normas e elevados valores morais expressos
em frases curtas, de fácil entendimento, educando assim, ao longo dos últimos 2.500 anos,
milhões de chineses nos princípios da retidão, parcimônia e busca da harmonia.
Como afirmou Mêncio, “todo homem na sua essência é bom”. Virtudes como
compaixão, bnevolência, vontade, humildade, cortesia, sinceridade, magnanimidade,
amabilidade, entusiasmo, não fazer ao outro o que não gostaria que te fizessem, oferecer sempre
o seu melhor, fazer bem feito, ter consciência do papel que exerce e atuar de acordo com ele,
saber quem você é, ter consciência de que sempre alguém sabe mais do que você, respeitar,
agradecer e humildemente aprender.

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ELIANA GOMES ESTEVAM

Ter respeito à vontade do céu, aos ancestrais, aos pais. Ver o poder, autoridade, como
exemplo de conduta, não força física, ter padrão de conduta exemplar, reverência.
Várias frases reforçam o caminho que leva à Harmonia:
“A perseverança no caminho te leva à boa fortuna”! “Alegria compartilhada, alegria
dobrada”!
“A sabedoria surge do silêncio interior, da transcendência do intelecto” “Sabedoria
não é erudição, é a mente atenta a si mesma”.
Segundo a doutrina de Confúcio, o ser humano é composto por quatro dimensões: o
eu, a comunidade, a natureza e o céu. Este último representando a fonte da auto-realização
definitiva.
Ainda de acordo com a mesma doutrina, as cinco virtudes essenciais do homem são: o
amor ao próximo, a justiça , o cumprimento das regras adequadas de conduta, a autoconsciência
da vontade do "céu", a sabedoria e sinceridade desinteressadas.

Budismo

O Budismo originou-se na Índia há 2500 anos, por Buda, Príncipe Sidarta Gautama do
clã Sakya no reinado de Magadha que viveu desde 560 ou 550 a 477 a . C.,O Budismo, numa
visão real, não é uma religião, mas sim uma filosofia, que rejeita a existência de deuses ou de
um Deus. e foca nos ensinamentos relacionados a níveis morais e racionais.
Com o propósito de conquistar-se a si mesmo ele expôs “As Quatro Nobres Verdades”:
1. A Presença do Sofrimento; 2. As Causas do Sofrimento que são egoísmo e desejo; 3.
A Cura do Sofrimento que é a eliminação do desejo separatista; 4. O Caminho para a Remoção
do Sofrimento que é a remoção do desejo egoísta, sendo assim o mais nobre treinamento
espiritual apresentado ao homem.
A prática do Tai Chi Chuan utiliza o Zen Budismo. Os Zen budistas, além do que foi
dito acima, contribuíram com um aspecto básico para os exercício de Tai Chi Chuan através do
que os praticantes podem intuitivamente atingir o centro da personalidade que unifica os
opostos conflitantes do intelecto e sentimento, moralidade e natureza.
Buda estudou a estrutura da mente, como escapar ou como resolver o sofrimento
humano. Identificou tanto a aprender, tantas possibilidades de transformar e se abrir para
conhecimentos.

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Taoísmo

Escrito há mais de 2.600 anos, Tao Te Ching revela as descobertas de Lao Tsé em seu
mergulho no Cosmos, na essência do universo, feitas durante quase meio século de solidão
contemplativa e reflexiva.
O Taoísmo é uma das mais sólidas filosofias que influenciaram a Medicina Tradicional
Chinesa.
Ainda hoje não se sabe exatamente quando e onde surgiu o Taoísmo. Segundo
historiadores, o sábio chinês Lao-tsé, que viveu no “Período dos Estados Guerreiros”, por volta
de 400 a.C. não suportando ver o sofrimento do povo na guerra pelo poder, retirou-se da vida
social e nunca mais foi visto.
Conta-se que Lao-tsé seria uma pessoa centenária quando escreveu um dos mais
profundos livros sobre filosofia oriental até hoje escrito, o Tao te King2. É claro então que Tao,
na concepção de Lao Tzu, não apenas é a origem e o crescimento do universo, mas também a
Lei da Natureza.
No capítulo 25 desta obra, assim ele disse: “O homem segue as leis da Terra, A Terra
segue as leis do Céu, O Céu segue as leis do Tao, Tao segue sua própria Lei”.
Mas o que significa sua própria Lei? Alguns capítulos a frente ele explicita que sua
própria lei é a Lei da Natureza a qual consiste de dois aspectos: o movimento do Tao consiste
em Retorno., o uso do Tao consiste em suavidade.
Havia algo indefinido e ainda completo em si mesmo, Nascido antes do céu e da terra,
Silencioso e Infinito, Só e imutável, Penetrante e infalível, Que pode ser observado como a mãe do
mundo, Eu não sei o seu nome; Eu o denominei TAO, E na falta de uma palavra melhor o chamo ‘O
Grande“ (LAO-TSE, 1988).
É aceito que o livro escrito por Lao-tsé tenha dado origem ao Taoismo, filosofia que
trata da essência e natureza da condição humana, uma vez que partes do livro abordam questões
sobre saúde, meio ambiente, política e sociedade.

2
Tao Te Ching, Dao de Jing ou Tao-te king, comumente traduzido como O Livro do Caminho e da
Virtude, é uma das mais conhecidas e importantes obras da literatura da China. Foi escrito entre 350 e
250 a.C. Sua autoria é, tradicionalmente, atribuída a Lao Tzi, porém a maioria dos estudiosos atuais
acredita que Lao Tzi nunca existiu e que a obra é, na verdade, uma reunião de provérbios pertencentes
a uma tradição oral coletiva versando sobre o tao. A obra inspirou o surgimento de diversas religiões e
filosofias, em especial o taoismo e o budismo chan.

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ELIANA GOMES ESTEVAM

Isto significa, baseando-se no Taoísmo, que nosso corpo, que não é só físico, que tem
energia e espírito, é um microcosmo do macrocosmo que é o universo, que as funções do nosso
organismo está relacionada com as funções da natureza.
Segundo a Teoria dos 5 Elementos podemos facilmente identificar em nós, essas
relações acontecendo interiormente e quanto o meio pode influenciar no funcionamento. a
teoria do Yin Yang, mostrando os opostos se interligando e se transformando um no outro. Nos
traz a compreensão de que quando nos fixamos em um lado, impedimos o fluxo de
transformação, propiciando o desequilíbrio, que com a inteligência natural, faz com que todo o
organismo se adapte para um objetivo maior, a busca do equilíbrio, afetando assim as funções
de nossos órgãos.
Segundo esta teoria tudo o que acontece com a natureza, acontece com o ser humano,
pois o homem é visto como parte da natureza. A mesma energia presente na natureza está,
portanto, presente no ser humano.
Na antiga visão oriental, a interação harmônica entre o homem e a natureza, e entre ele
e os demais seres, depende do fato de todos, sem exceção, serem descendentes de uma mesma
totalidade – o Tao, o Uno -, formando um padrão cósmico e obedecendo às mesmas leis
naturais, de preservação da vida, de manutenção e de cuidado entre si. A matéria e a energia
que conhecemos, são apenas expressões diferenciadas de uma mesma natureza, e é possível,
sob certas condições, converter uma na outra.

O QUE É TAI CHI CHUAN

Acima da cabeça está o céu, abaixo dos pés está a terra. O Tai Chi Chuan é um
treinamento de união do céu e da terra dentro do homem; é um treinamento de união do corpo
e do espírito.
De acordo com o Mestre Taoistá Liu Pai LI , á uma lenda que diz que o Tai Chi Chuan
(Tai Kek Kuen) foi criado por um monge Taoísta do século XII chamado Zhang San Feng. Tal
lenda diz que ele foi visitado pelo “Espírito da Montanha Mou Tong” e este lhe ensinou as
técnicas da arte marcial chamada Tai Chi Chuan. Entretanto, o que se sabe mesmo é que suas
origens se encontram no condado de Wenxian, na província de Henan com o mestre Chen
Wangting, da pequena cidade de Chen Jiagou, e Jiang Fa, que morava na vila Xiaoliu e estudava
artes marciais em Shanxi.
A vida depende da energia primordial. A energia primordial é o Deus criador do
universo e que está dentro de nós. O Tai Chi Chuan cultiva a Deus na medida em que preserva

165
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

a energia primordial em nosso corpo.


A vida é movimento. O Tai Chi Chuan é a prática que traz o verdadeiro descanso, porque
seu movimento leva à serenidade. O Tai Chi Chuan é também uma forma de auto-massagem
interna e externa, atuando em todos os sistemas orgânicos do corpo, promovendo a circulação do
sangue e da energia (Qi)
O Tai Chi Chuan revitaliza o corpo e serena a mente, despertando a espiritualidade. O
Tai Chi Chuan transforma a respiração, preserva a juventude e prolonga a vida.
O Tai Chi Chuan é uma prática que desperta o Amor, levando a humanidade a uma
maior união e a verdadeira paz.”
Talvez nenhum outro pensamento, além do chinês, tenha desenvolvido a tal ponto as analogias
entre o macrocosmo (universo) e o microcosmo (corpo humano). Por isso mesmo o Taichi é um dos
sistemas de representações aplicáveis a todos os domínios. O universo é um Tajchi, mas o corpo humano
também é um Taichi.
“Essa idéia representa um grande papel na prática do
Taichi chuan, durante a qual o praticante forceja por
harmonizar o pequeno universo que é o seu corpo, ao mesmo
tempo em que se põe de acordo com a harmonia geral do
universo” (DESPEUX, 1990. p. 48).

Segundo Waysun Liao (1990), o Tai Chi Chuan nasceu como uma arte marcial nas
pequenas comunidades e aos poucos passou a ser considerado uma forma avançadíssima de arte
popular. O objetivo era auto disciplina para alcançar a espiritualidade, a saúde, a bondade e a
inteligência, mas também para ajudar outras pessoas, lutando contra injustiças e imoralidades e
protegendo os fracos, necessitados e indefesos.
Desde a Antiguidade, devido a sua extensão e sua imensa população essencialmente
rural, a China foi continuamente alvo de ameaças e guerras, tanto externas quanto internas.
Além disso, o povo era vítima constante não somente de barbaridades cometidas por
funcionários do império como também de ataques de bandidos. Como consequência, os
chineses desenvolveram uma vigorosa tradição de autodefesa. Por essa razão, a força guerreira
na tradição chinesa, incluindo o Tai Chi, tende a atacar menos e defender mais. Milícias, tanto
nas cidades, mas principalmente nos campos, surgiram e permaneceram por centenas de anos
como focos de defesa e resistência. Foi por volta do século XVII, em uma dessas milícias
camponesas, que o aspecto marcial do Tai Chi Chuan, desenvolveu-se, enfatizando não somente
o desenvolvimento espiritual como também o fortalecimento do corpo (DESPEUX, 1987).
Por muito tempo o Tai Chi foi praticado pelos integrantes dos mais baixos extratos da
sociedade chinesa, portanto, documentos escritos a respeito são raros e recentemente redigidos.

166
ELIANA GOMES ESTEVAM

Além disso, as famílias e as milícias conservavam em sigilo os segredos de sua prática. No


entanto, rapidamente as classes dominantes interessaram-se pelos benefícios produtivos do Tai
Chi, que terminou por ser estudado quase que exclusivamente por intelectuais. Assim, a prática
do Tai Chi, durante centenas de anos, permaneceu quase que exclusiva das classes dominantes
que transmitiam o conhecimento oralmente de geração em geração. Nesse processo, muito da
filosofia se perdeu, chegando a nós hoje quase que somente a forma (LIAO, 1990).
A transmissão oral do conhecimento de pais para filhos, ou no caso chinês, também
no interior das milícias acima mencionadas, é uma prática comumente utilizada em muitas
culturas. Esse tipo de comportamento evita a dispersão do conhecimento, mantendo assim o
saber e, consequentemente o poder, reservado a uns poucos. Logo, como se disse, os registros
escritos contendo os princípios do Tai Chi são muito limitados. No entanto, não tivesse sido
esse conhecimento restringido a um número reduzido de pessoas, talvez a prática não tivesse
perdurado por tanto tempo e chegado até nós.
A tradição de manter em segredo os princípios da prática levou ao surgimento de
diferentes escolas de Tai Chi, entre: a Chen, a Yang, a Wu e a Guo, que são as principais.
Somente entre o fim do século XIX e o início do século XX que a prática do Tai Chi passa a
ser disseminada mais amplamente, mais enquanto disciplina psicossomática do que técnica de
combate propriamente dita.
A partir de meados da década de 1920 houve a tentativa de implantar a prática nas
escolas. Além disso, os movimentos com maior dificuldade de execução foram suprimidos a
fim de facilitar a aprendizagem da técnica para os amadores e idosos, o que fez com que o Tai
Chi passasse a ser principalmente praticado enquanto ginástica e técnica terapêutica
(DESPEUX, 1987).
Segundo Gu Liuxin apud Despeux (1987), o presidente Mao teria sido um grande
incentivador da prática. Mais tarde, o comitê esportivo chinês reduziu para 24 os movimentos
básicos com a intenção de facilitar o aprendizado e disseminar a prática do Tai Chi. No entanto,
durante a Revolução Cultural, o Tai Chi, assim como grande parte da tradição chinesa,
enfrentou uma forte resistência por parte da nova política cultural e chegou a ser acusado de
ocultar atividades subversivas, de maneira que os praticantes foram proibidos de exercer e
ensinar a prática em locais públicos, tais como parques e praças, por exemplo. Contudo, essa
realidade não perdurou muito tempo, logo o Tai Chi e outras disciplinas corporais voltaram a
ser praticadas nas praças e parques das grandes cidades chinesas. Concomitantemente, é
crescente a disseminação da prática no Ocidente, que assim como no Oriente, tende a difundir
mais o caráter ginástico, profilático e terapêutico em detrimento do marcial, visto também que

167
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

outras artes marciais, tais como o Kung-fu ou outras mais espetaculares e violentas são
atualmente mais populares entre as novas gerações.
No entanto, o Tai Chi difere da maioria das artes marciais no que se refere à respiração
e aos exercícios psicofisiológicos de visualização do Chi e da interiorização.
Outra perspectiva fundamental do pensamento chinês é que o mesmo se baseia “[...] no
princípio da imanência, isto é, a verdade real emerge da ação, pois esta “fala e define por si”
(JULLIEN,19963 apud PINHEIRO; LUZ, 2007, p.6).
Tal princípio é representado no método chinês do ensino do Tai Chi Chuan,
corroborando com a citação de Despeux (2000, p. 124), na qual ela explana que “a base da
pedagogia asiática é o exercício cotidiano e repetido, pois a uniformidade, segundo os mestres,
é apenas aparente e se deve a precariedade de nossas percepções e sensações”.
Tais princípios evidenciam uma visão ampla do ser e a importância da prática constante
para o aprendizado.

OS 10 PRINCÍPIOS DO TAI CHI CHUAN

O Mestre Yang Chengfu, da familia Yang, uma das vertentes das escolas remanescentes
que hoje representam o Tai Chi Chan pelo mundo, atualmente transmite dez pontos e princípios
fundamentais para a prática desta arte.
Esses princípios são a base para a perfeita execução do Tai Chi Chuan e a possibilidade
da transformação da visão sobre o relacionamento do “eu” com o meio e vice-versa.
A sequência dos 10 pontos é representada abaixo:
1- Energia leve e sensível no topo da cabeça:
Posição ereta, cabeça e pescoço naturalmente eretos com a mente concentrada no topo
da cabeça. Sem tensionar para não impedir o fluxo de sangue e energia vital.

2 - Afundar o tórax e arredondar as costas:


Manter o peito ligeiramente para dentro,para que a respiração possa submergir no Tan
Tien (baixo ventre). O peito não deve estar para fora (protuberante),para que a respiração não

3
Tomando como ponto de análise e exame o seu oposto cultural – o pensamento oriental –, pode-se
observar que, no pensamento chinês, não existe um movimento de transposição de ideais, ou modelos
ideais, típico do pensamento ocidental (Razão clássica - homem), como foi visto anteriormente. Isto
porque esse pensamento (oriental) está apoiado no princípio da imanência, isto é, a verdade real emerge
da ação, pois esta “fala e define por si” (JULLIEN, F. Les yeux fixes sur le modèle. In: JULLIEN, F.
Traité de l’efficacité. Paris: Bernard Grasset, 1996).

168
ELIANA GOMES ESTEVAM

se torne difícil e deixe o topo vai ficar pesado.


3 - Relaxar a cintura:
Relaxar a cintura para que os pés formem uma base sólida e permitir que todos os
movimento saiam da cintura. Todos os movimentos dependem da ação da cintura.
4 - Discernir cheio e vazio
É de importância primeira no Tai Chi Chuan distinguirmos entre "Xu" vazio e "Shi"
cheio. Se o peso do corpo está na perna direita, então a perna direita está cheia e a esquerda está
vazia, e vice-versa. Quando conseguimos separar o cheio do vazio, giramos o corpo levemente
sem usar força. Se não conseguimos separar, o passo é pesado e vagaroso, e a posição não é
firme, não fornecendo equilíbrio.
5 - Afundar os ombros e cotovelos
Manter os ombros na posição natural e relaxados, para que o Qi também vá para baixo,e
não suba com os ombros, deixando todo o corpo sem força. Manter os cotovelos para baixo
para auxiliar no relaxamento dos ombros para o corpo se movimentar suavemente.
6 - Usar a mente e não a força
Na prática do Tai Chi Chuan, todo o corpo está relaxado e não há idéia de força bruta
ou endurecida nas veias ou articulações, por trás dos movimentos do corpo.
7 - Coordenar o superior e o inferior
De acordo com a teoria do Tai Chi Chuan a raiz está nos pés, a força é emitida através
das pernas, controlada pela cintura e expressa pelos dedos; os pés, pernas e a cintura formam
um todo harmonioso. Quando as mãos, cintura e pernas se movem, os olhos devem seguir o seu
movimento. Isto pode acontecer quando houver coordenação entre a parte superior e inferior.
Se alguma parte para de mover-se, então os movimentos serão desconectados e cairão em
desordem.
8 - Harmonia entre o interno e o externo
Na prática do Tai Chi Chuan o foco está na mente e na consciência.Se podemos elevar
o Espírito com a mente tranqüila, então os movimentos serão naturalmente suaves e graciosos.
9 - Importância da continuidade
No Tai Chi Chuan se focaliza a atenção na mente e não na força.
10 - Tranquilidade no movimento
No Tai Chi Chuan o movimento é combinado com a tranquilidade e enquanto se executa
os movimentos se mantém a tranquilidade da mente. Na prática da "Forma", quanto mais lento
o movimento, melhores resultados são conseguidos. Isto acontece porque quando os
movimentos são lentos, pode-se respirar profundamente e submergir o Qi no Tan Tien.

169
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

OS PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O AUTOCONHECIMENTO

Dessa maneira, o retorno ritualístico ao Tao (si-mesmo) através da prática do Tai Chi
Chuan é o mesmo que buscar na fonte da totalidade a segurança ontológica perdida
(GUSDORF, 1980).
Uma postura do Tai Chi Chuan tem o poder de trazer uma imagem de uma pessoa bem
postada, que sabe o que quer e para onde ir, que está aberta para receber o que vem ao seu
encontro, não opondo resistência, mas se adaptando e encontrando a melhor forma de fluir com
a oportunidade.
Observando os detalhes de cada princípio, pode-se identificar o que leva à percepção
dessa representação simbólica de uma prática
Quando na postura ereta, cabeça e pescoço alongados em direção ao topo da cabeça e
atenção voltada para essa região, sem tensão, faz com que a energia vital e sangue (Qi), circulem
livremente, oxigenando e clareando a visão. Quando a região do pescoço tem tensão, a energia
que passa pelo meridiano da Vesícula Biliar não pode fluir normalmente, e assim afeta o
elemento Madeira que tem o fígado como o órgão responsável pelos músculos e tendões e a
Vesícula Biliar como a víscera que está relacionada com a coragem e o planejamento. Daí a
importância de se manter a livre circulação do Qi para uma boa prática corporal e uma boa
compreensão da vida.
Os movimentos fluídicos e circulares que o praticante de Tai Chi Chuan realiza
transformam-no em um pivô sobre o qual ele observa silenciosamente as alternâncias entre yin
e yang (DESPEUX, 1981), conectando o céu e a terra, o sagrado e o profano, permitindo o
surgimento, para o homem cartesiano e secular, do sentimento sagrado de conexão.
A idéia de círculo está ligada à de continuidade. Os movimentos são encadeados e
ligados sem interrupção, de acordo com as alternâncias do Yin e do Yang. Um encadeamento
do Tai Chi Chuan compõe- se, de fato, de uma infinidade de movimentos que não se podem
isolar uns dos outros. O princípio de um movimento é o fim do movimento precedente. Não há
corte nem parada na passagem de um movimento para outro. O adepto obedece unicamente a
um ritmo convertido num eixo, num pivô, assiste como espectador às alternâncias do Yin e do
Yang, como o sábio contempla os sucessos da vida, ao mesmo tempo em que deles participa
pelo seu não agir. A continuidade, portanto, reside menos na execução dos movimentos do que
no pensamento (yi).
"Se a energia vital pode ser interrompida, o pensamento não o pode" (DESPEUX,
1998, .p. 53)

170
ELIANA GOMES ESTEVAM

Manter os ombros baixos e cotovelos naturalmente posicionados, articulações abertas,


sem tensão, sem frouxidão, tira a idéia de não carregar muito peso na vida, poder distribuir a
carga e não concentrar a força na idéia de carregar tudo sozinho.
Se os meridianos não estiverem bloqueados a energia vital vai circular no corpo inteiro.
Mas se os meridianos forem preenchidos com força bruta, a energia vital não será capaz de
circular e conseqüentemente o corpo não vai se mover facilmente ou suavemente. Deve-se
assim usar a mente ao invés da força bruta, pois assim a energia vital irá seguir a consciência e
circular por todo o corpo.
Através da prática persistente, seremos capazes de cultivar e desenvolver uma força
interna genuína. Isto é o que os expertos em Tai Chi Chuan chamam de flexível na aparência,
mas poderoso na essência.
Com essa conduta e postura na vida, podemos da mesma forma ter êxito nas ações e
posicionamento preservando confrontos desnecessários, mantendo a energia para ser utilizada
no momento adequado.
Isto produz um efeito suavizante no corpo e na mente. Respiração profunda,
tranquilidade da mente, percepção corporal, atenção no agora, nas sensações, no presente, a
mente não tem espaço para atenção no passado e no futuro, quando a mente está tranquila, há
uma comunicação interna e intuitivamente surgem respostas sem interferência de pensamentos
condicionados. Com a prática constante, a possibilidade de permanecer nesse estado aumenta e
se torna um estado natural para qualquer ação do cotidiano, a transformação já acontecendo.
Assim dizem: "O Espírito (Consciência) é o comandante e o corpo é o subordinado".
As posturas não vão além do cheio e vazio, abrindo e fechando. Aquilo que é chamado abrir,
significa que não apenas as mãos e os pés estão abertos, mas a mente também está aberta.
Quando pudermos fazer com que o de dentro e o de fora se tornem um, a coordenação
será completa e a perfeição será atingida.
Em seu livro A Espiritualidade do Corpo, Lowen (1997) afirma que o Tai Chi Chuan
tem como objetivo promover um senso de unidade com o cosmos através de movimentos
fluidos e graciosos. Para ele, “a base da graciosidade e da verdadeira espiritualidade é a
harmonia entre o ego e o corpo [...] a ioga ou o Tai Chi Chuan refletem o interesse da pessoa
pelos aspectos espirituais do corpo” (LOWEN, 1997, p. 22-23).

171
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

CONCLUSÃO

Poder conhecer e praticar o Tai Chi Chuan, compreende muito mais do que assimilar
uma prática corporal. Um portal se abre para um tempo passado, repleto de informações
registradas no inconsciente da humanidade, é como acessar uma biblioteca que tem seus
registros na terra e no céu e o posicionar-se no centro, com a postura natural, permite o encontro
com a energia que vem da terra e transforma a mente, tem um caminho e fluxo suaves em
sintonia com os movimentos da natureza, nos fazendo recordar quem somos, e abrindo o olhar
com tranquilidade para um novo horizonte, uma poesia, que traz beleza, graça e suavidade, com
força, foco e coragem.
Um conhecimento que respeita o tempo e aceita as leis, onde o sofrimento se dissipa,
pois no momento “presente” não tem espaço para vivenciar a dor, no “presente” estão contidas
as mil possibilidades
Conforme absorvido dos ensinamentos do Mestre Yang Chengfu sobre a prática do Tai
Chi Chuan, você tem que praticar todos os dias, assim como você tem que comer, ou se hidratar.
O treino deve ser uma parte de sua vida para que se possa perceber uma melhora real em seu
corpo e mente.
Dessa forma, o Tai Chi Chuan configura-se em uma técnica de combate ao dualismo,
à superação do ego e da racionalidade cartesiana, de modo a (re)criar um espaço sagrado dentro
do indivíduo, (re)organizando o caos interior.
Conclui-se, assim, que o Tai Chi Chuan emerge como alternativa ao homem ocidental
não religioso, não somente como comprovado método de saúde corporal, mas também como
meio de possibilitar a reaproximação do sagrado em seu espaço interno profano e de possibilitar
a obtenção de harmonia e equilíbrio psíquico.
A prática reiterada do Tai Chi Chuan traz em si o potencial de conduzir seu praticante
a dimensões mais profundas de si mesmo, abrindo espaço para experiências de cunho luminoso,
não racionais.
Hoje, revendo essa trajetória, me permito colocar no papel meus pensamentos, focada
e com objetivo, expressando o que para mim é minha graciosidade, tentando não perder a
espontaneidade e me adaptar às regras, ética e disciplina. Podendo respeitar as opiniões, pois é
isso que leva à reflexão e à flexibilidade, compreendo que somos únicos e que a sincronicidade
aconteceu pra mim e que no meu microcosmo, conheci o Tai Chi Chuan e me abri para
transformar visões rígidas e aspectos que me serviram por um tempo na minha jornada, mas
que posso agora, escolher viver de forma diversa.

172
ELIANA GOMES ESTEVAM

Concluo que esse movimento e conhecimento não se esgotam, mas, atualmente,


conheço o Tai Chi Chuan dentro de mim, mesmo que ainda não tão hábil para sua prática
externa, assim como me conheço, dentro de mim, mesmo não tão hábil para manifestar e viver
essas verdades. Compreendo, a cada avanço na conclusão desse trabalho de conclusão de curso,
as etapas do processo de aprendizado do Tai Chi Chuan e cada etapa do processo de descobrir
no corpo uma nova comunicação com o Eu.
Reforça-se assim, os conceitos de aceitação, posicionamento, visão, suavidade, força,
equilíbrio, direcionamento, apoio, fluência, graciosidade, respeito e comprometimento com
ética.
Finalizar esse trabalho é como começar a compreender a vida, poder enxergar o
conteúdo amplo de uma prática tradicional chinesa, um curso de formação de especialistas com
a responsabilidade de ser fiel à tradição, que com sabedoria pode conduzir um ser ao
autoconhecimento e transformação para entrar na sintonia da Natureza. Compreender a
responsabilidade de levar adiante um conhecimento, que a primeira vista pode parecer
meramente mecânico como um corpo humano, porém, dotado de um espírito que quer se
manifestar na totalidade e excelência, resumindo as qualidades inerentes a todos os seres,
muitas vezes esquecidas e/ou adormecidas, mas prontas a se manifestar quando adotado um
passo a passo, com um olhar amplo e abrangente de conscientização.

173
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

REFERÊNCIAS

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WEN, Tom Sintan. Acupuntura classica chinesa. Sao Paulo: Cultrix, 1985.

174
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

8. A prática de TAI CHI CHUAN e


desenvolvimento das Inteligências Múltiplas

Eunice Ribeiro dos Santos

175
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

RESUMO

Essa monografia é uma pesquisa exploratória de caráter quali-quantitativo que buscou


elucidar se as Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa podem contribuir para o
desenvolvimento das Inteligências Múltiplas, referencial teórico do psicólogo norte-
americano Howard Gardner. Em consonância com o projeto do Ministério da Educação,
denominado Ensino Médio Inovador, a pesquisa proposta foi realizada em uma escola pública
estadual na periferia da cidade de Salvador, no estado da Bahia, entre os dias 29 de maio e 11
de dezembro de 2017. Ofereceu-se às 12 Séries Fundamentais para a Saúde, o Ba Duan Jin e a
Forma Curta dos 16 Movimentos estilo Yang Tradicional. No início da oficina foi aplicada
uma anamnese, repetida no mês de dezembro. Também foi aplicado o Levantamento de
Inteligências Múltiplas de Thomas Amstrong adaptado por F. Carvalho que o adaptou para a
Escala Likert. Além disso, foi realizada uma Roda de Conversa, no dia 11 de dezembro, para
avaliar os benefícios das Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa na vida dos
estudantes. Os resultados da pesquisa apontam para fortes evidências de aumento das
Inteligências Múltiplas: os dados quantitativos mostram um aumento de 56%, já os
qualitativos indicam aumento das inteligências Intrapessoal, Interpessoal, Linguística e
Natural sendo que os sujeitos da pesquisa relacionam o aumento das suas inteligências às
Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa, pois foi essa prática a única mudança na
rotina dos mesmos.

Palavras-chave: Inteligências Múltiplas. Tai Chi Chuan. Chi Kung. Educação. Ensino
Médio.

ABSTRACT

This monography is a quali-quantitative exploratory search that aimmed to elucidate if


the Traditional Chinese Medicine Corporal Practices can contribute to the development of the
Multiple Intelligences, theoretical framework of the North American psychologist Howard
Gardner. In consonance with the project of the Brazilian Education Ministry, named Ensino
Médio Inovador, the proposed search was made in a public state school, in the outskirt of
Salvador city, in the state of Bahia, between May 29 and December 11 of 2017. Has been
offered the 12 Séries Fundamentais para a Saúde, the theoretical framework Ba Duan Jin
and the Forma Curta dos 16 Movimentos Estilo Yang Tradicional. In the beginning of the
project was applied a medical history, repeted in December. Was applied too the Multiple
Intelligences Survey of Thomas Amstrong adapted by F. Carvalho to the Likert Scale. In
addition, a Roda de Conversa was performed in December 11 to avaliate the benefits of
the Traditional Chinese Medicine Corporal Practices in students' lives. The results of the
research indicate to strong evidence of an increase in Multiple Intelligences: quantitative data
show an increase of 56%, already the qualitative ones indicate an increase in Intrapersonal,
Interpersonal, Linguistic and Natural intelligences, and the subjects of the research relate the
increase of their intelligences to the Practices of Traditional Chinese Medicine, since it was
this practice the only change in their routine.

Key words: Multiple Intelligences. Tai Chi Chuan. Chi Kung. Education. Middle School.

176
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

LISTA DE SIGLAS

MTC – Medicina Tradicional Chinesa


OMS – Organização Mundial de Saúde

177
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

INTRODUÇÃO

Alexander Lowen (1995, p. 23) mergulhou na cultura oriental em busca de respostas para
problemas de saúde e questões relacionadas à sua atividade profissional de médico. Na sua jornada,
concluiu que curar é integrar o ser humano ao universo e à espiritualidade que não é considerada apenas
uma experiência mental, mas um fenômeno corpóreo. Essas constatações foram possíveis porque Lowen
já tinha experimentado, em sua própria vida, os benefícios dos exercícios físicos, desde sua juventude
praticou esportes. O processo de construção de conhecimento de Lowen passou por algo que é
valorizado no Taoísmo: o conhecimento através da vivência do fenômeno, pois como afirma
Souza (2007) o pensamento conceitual não dá conta de abarcar toda a experiência.
Depois de anos de trabalho, na busca de integração entre os saberes do Oriente e do
Ocidente, Lowen (1950, p. 11) constata que “quanto mais flexível o corpo, mais perto
estamos da boa saúde”, pois o relaxamento corporal contribui para a dissolução das tensões
musculares que provocam doenças. Apesar de reconhecer que o método ocidental de cura,
através da palavra, seja importante, Lowen o considera insuficiente para dissolver essas
tensões, estas só são dissolvidas pelo trabalho corporal e pelo restabelecimento da
graciosidade do corpo do indivíduo. Graciosidade do corpo definida como o restabelecimento
do fluxo de excitação e a sensação de vivacidade e prazer durante o movimento.
Lowen (1995) afirma que a tradição judaico-cristã, inspirada na tradição greco-romana
de superioridade da mente em relação ao corpo, não é suficiente para lidar com os problemas
enfrentados pelo homem ocidental. Para ele, não pode haver uma dissociação entre a saúde
mental e física. Entretanto, ele observa que, no campo da saúde, a medicina ocupa-se do corpo
e a psicologia ocupa-se da mente. Na visão de Lowen (1995), apesar da psicossomática ser
uma abordagem que busca uma ligação entre corpo e mente, essa nova área do conhecimento
não consegue superar essa dicotomia presente na epistemologia ocidental, pois ainda divide o
ser humano entre soma (corpo) e psique (mente).1

Lima (2000) afirma que a educação atual é excessivamente Yang e tetraplégica. Yang
porque está muito interessada nos conteúdos, nas disciplinas e no comportamento rígido e
tetraplégico porque considera apenas a parte mental dos indivíduos. Em função disso, a autora
questiona o modo como o corpo é visto na escola e propõe uma educação motora no lugar da
educação física.
No prefácio do livro de Lima (2000), O Tao da Educação, o filósofo Régis de Morais
faz referência a Merleau-Ponty que considera que o ser humano não tem um corpo, mas é um
corpo. Esse pressuposto contido no prefácio já suscita um olhar para o ser humano e para a
1
Várias abordagens da psicossomática não correspondem à visão de Lowen (1995), mas seria
necessário um outro trabalho de pesquisa para se debruçar sobre essa área de conhecimento tão
importante.

178
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

educação que pode ser diferenciado.


Também é do lugar da experiência na Escola Via Magia, em Salvador, que Reyes
(2011) pode falar da importância da vivência corporal, sustentada pelas ideias de Freinet, nos
princípios de Anísio Teixeira, da Escola Nova e de correntes psicanalíticas. A autora afirma
que a aprendizagem é de natureza afetivo-corporal e que não há como isolar a corporalidade
dos pensamentos e dos afetos, pois na verdade eles são elementos de um processo único.
A autora entende que o “corpo é sede de aprendizagens (piagetianamente falando),
também é sede da pulsão, é suporte da inscrição significante (lacanianamente falando)”
(REYES, 2011, p. 25). Assim, muitos males dos quais o corpo padece, como paralisias
histéricas, frigidez, pequenas úlceras incuráveis na boca não podem ser explicadas
exclusivamente pela via orgânica, mas sim expressam palavras não ditas.
Reyes (2011) aponta um problema muito presente nas escolas convencionais que é a
presença do corpo exclusivamente nas aulas de educação física. Ou seja, o corpo na escola
apresenta-se separado da dinâmica da aula teórica, o que acarreta uma separação entre o
pensamento e o corpo. Segundo a autora:
Os processos educativos nas escolas amarram às cadeiras a maior parte do
tempo e tampouco facilitam a corporeidade expressiva do professor,
promovendo um ambiente relacional predominantemente mental, sem gestos,
falas e olhares de interação. Por outro lado, é preciso, sim, cuidar desta máquina
falante. Pensar o corpo como algo social, como organismo atravessado pela
linguagem, não significa abandoná-lo (REYES, 2011, p. 33).

Uma educação que dá atenção ao corpo demanda um novo processo de educação para
os próprios professores e pais. E a vivência desse processo remete a outros setores da vida,
como a importância da alimentação e do autocuidado. Algo que está no bojo dos pressupostos
da Medicina Tradicional Chinesa, que se fundamenta da prevenção de doenças através do
cuidado do corpo, da alimentação e práticas regulares de exercícios, da mente e das emoções.
É possível inferir que muitos dos problemas da contemporaneidade poderiam ser
resolvidos nessa reconexão do ser humano com o corpo e, por consequência, com as outras
esferas da vida. Para isso seria necessária uma desdomesticação do corpo. Seria possível esse
processo em escolas convencionais ou com indivíduos mais velhos?
Esse é um tema que merece maior reflexão, como “desdomesticar” o corpo dos
estudantes que estão em escolas convencionais que, de um modo geral, só se preocupam com
o corpo da criança na primeira infância. Após essa faixa etária, o corpo será objeto da atenção

nas aulas de educação física e na vida adulta haverá muitos corpos domesticados que voltarão
a ter atenção na condição de doentes.
O Tai Chi Chuan e o Chi Kung fazem parte de um conjunto de práticas corporais
milenares relacionadas à Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que não se resumem na
movimentação mecânica de músculos e tendões, mas também na movimentação do Chi

179
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

(energia vital) integrando o indivíduo nos aspectos mental, emocional e físico mantendo sua
saúde. Isto também é preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que concebe a
saúde em uma perspectiva global do indivíduo. Nessa perspectiva integradora, o aprender é
um indicador de saúde, principalmente na vida de jovens que possuem a escola como uma das
principais instituições de socialização.
O contato dessa pesquisadora com o Tai Chi Chuan deveu-se a um processo de
adoecimento do corpo. Sendo professora da Educação Básica na rede particular de ensino e na
rede pública do estado da Bahia, com uma jornada de trabalho em sala de aula de cerca de 44
horas semanais, além das atividades extraclasses, como correção de provas, planejamento de
provas e projetos, resultaram na rotura parcial dos tendões de ambos os ombros. Os
tratamentos convencionais de fisioterapia não foram eficientes e aí ocorreu o primeiro contato
com a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) através do tratamento com acupuntura e ventosa.
Após sair da fase aguda, o fisioterapeuta e professor universitário Sérgio Mecca indicou a
prática de Chi Kung. Essa prática foi iniciada com o professor Cláudio Carvalho e consistiu
na prática do Liam Qong e Tai Chi Chuan. Inicialmente a Forma de Pequim, e depois a
forma longa de 108 movimentos do estilo Yang. O início da prática, em 2012, foi custoso
e surpreendente, pois era inacreditável que movimentos tão lentos pudessem provocar tanta
dor que foi se dissipando com a aprendizagem do relaxamento. Aprender as formas do Tai
Chi Chuan tornou-se desafiante e os avanços eram motivadores. Do ponto de vista da
saúde as dores diminuíram, o corpo tornou-se mais flexível, as emoções de raiva, muito
presentes, tornaram-se mais amenas. O aumento da concentração era impressionante, as
leituras tornaram-se mais produtivas. Certos valores foram aflorando, como o deixar fluir.
Necessidades, antes reprimidas, de conexão com a natureza foram liberadas. Avaliando
aquele momento, é possível afirmar que as estases foram se dissipando.
Naquela época, essa pesquisadora já tinha mantido contato com a teoria das
Inteligências Múltiplas de Howard Gardner em um curso de formação, o que facilitou
observar o desenvolvimento de algumas inteligências, como a Linguística na leitura mais
proveitosa, e a Corporal-Cinestésica, com a motivação e prazer em praticar o Tai Chi Chuan.
A partir do contato com o Chi Kung e de voltar a considerar o desejo de praticar dança,
observou o desenvolvimento da inteligência Intrapessoal com uma introspecção produtiva na
busca do autoconhecimento: o prazer de praticar Tai Chi Chuan e Chi Kung com o grupo
desenvolveu a Inteligência Interpessoal. Naquele momento, nenhuma pesquisa científica foi
desenvolvida, mas os desafios que se apresentavam nas áreas expostas acima foram superados
de maneira mais tranquila, o que pode sugerir que houve um desenvolvimento das
inteligências, já que para Howard Gardner (1995) inteligência é a capacidade de resolver
problemas.

180
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

Essas transformações pessoais suscitaram reflexões sobre a viabilidade de inserir a


prática de Tai Chi Chuan na escola, pois naquele momento tinha-se a suspeita de que os
efeitos positivos observados nessa professora poderiam contribuir para a vida dos estudantes.
Contudo, essa era apenas uma ideia. Essa transformação generalizada trouxe à tona
inquietações muito antigas. Até então, essa professora de História contentava-se em
desenvolver apenas as habilidades conceituais e factuais da sua disciplina. Contudo, com a
prática de Tai Chi Chuan veio à tona a necessidade de desenvolver atividades mais
procedimentais e atitudinais em sala de aula2. Outros percursos na vida, como teatro e dança
foram tentativas de se debruçar sobre esse impasse: educação e corpo, educação e atividades
mais pragmáticas. Apesar das tentativas parciais e esparsas de resolver a questão, nada
consistente e duradouro tinha sido construído até então.
A oferta da Especialização em Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa,
em 2016, pela Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan (SBTCC) e pela Universidade de São
Paulo (USP) foi uma oportunidade para preencher uma lacuna na formação dessa
praticamente de Tai Chi Chuan, pois havia uma grande necessidade de compreender os
fundamentos dessa prática. No decurso das aulas foi possível vislumbrar um retorno mais
produtivo para as inquietações de 2002 e 2012: desenvolver aulas de Tai Chi Chuan para os
estudantes da Educação Básica e buscar aulas com uma abordagem mais integral do ser
humano.

No ano de 2017, em uma reunião para proposta de projetos a serem financiados pela
Secretaria de Educação do Estado da Bahia, foi aceito o projeto para oferecer Tai Chi Chuan
(TCC) da Família Yang em uma escola da rede estadual de ensino da Bahia no ano de 2018.
Essa escola localiza-se no bairro de Cajazeiras, na periferia de Salvador, na Bahia. Nesse
mesmo ano, um novo projeto do Ministério da Educação denominado Ensino Médio
Inovadorfoi a oportunidade para antecipar para 2017 a proposta de Oficina de Tai Chi Chuan.
A mesma foi oferecida para os estudantes do Ensino Médio como uma atividade opcional no
turno oposto às aulas regulares. Nessa oficina do Ensino Médio Inovador foi desenvolvida a
pesquisa apresentada aqui e buscou-se responder ao seguinte problema: As práticas corporais
da Medicina Tradicional Chinesa como o Chi Kung e o Tai Chi Chuan podem contribuir para
o desenvolvimento das Inteligência Múltiplas (IMs)?
Para responder a essa pergunta foi traçado como objetivo geral:
Avaliar se as práticas corporais chinesas podem contribuir para o desenvolvimento das
Inteligências Múltiplas.

2
Segundo Antoni Zabala (1998), os conteúdos não são todos da mesma natureza. Há aqueles mais
conceituais que exigem a habilidade de construção de conceitos, os factuais que dizem respeito a
fatos e fenômenos, conteúdos procedimentais que dizem respeito ao saber fazer e os atitudinais que
dizem respeito às ações morais baseadas em valores éticos.

181
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

E como objetivos específicos:


1. Ministrar aulas regulares de Chi Kung (12 Séries Fundamentais para a Saúde e Ba
Duan Jin) e Forma de 16 do estilo Yang tradicional;
2. Conhecer os frequentadores da oficina através de aplicação de ficha de anamnese
no início e final da oficina;
3. Medir as inteligências dos estudantes através de levantamento de inteligência de
Louis Amstrong no início e final da prática;
4. Compreender de que maneira as práticas corporais chinesas impactaram a vida dos
estudantes.
Não é objetivo de esse trabalho traçar um panorama da história dessas práticas, vários
outros trabalhos já fizeram isso de maneira exemplar. Como já foi salientado, o foco é
explanar sobre aspectos da prática do Tai Chi Chuan e do Chi Kung que podem contribuir
para o desenvolvimento do indivíduo na sua integralidade, incluindo aí, suas inteligências.
Acredita-se que a prática do Tai Chi Chuan pode desenvolver as Inteligências
Múltiplas como recurso indireto. Tem-se como hipótese que essa prática corporal pode
desenvolver a inteligência corporal-cinestésica em função da execução dos movimentos
elaborados que a prática de Tai Chi Chuan e Chi Kung exigem. Também se espera que a
inteligência espacial seja desenvolvida porque a prática exige um posicionamento no espaço
através de posturas de aterramento, dos deslocamentos que devem seguir determinados
parâmetros como no passo arco, no passo vazio, no deslocamento lateral, dentre outros, isso
em sincronia com o movimento das mãos e do resto do corpo. O bem estar geral promovido
pelo Tai Chi Chuan e o Chi Kung pode fornecer a tranquilidade necessária para a construção
das referências próprias dos adolescentes para vida adulta, para isso a inteligência intrapessoal
deve ser mobilizada e, se o indivíduo está bem consigo mesmo, possivelmente ficará melhor
com os que estão ao seu redor, o que implicaria no desenvolvimento da inteligência
interpessoal.
Esse trabalho buscou se debruçar em conhecimentos que sofreram epistemicídios,
segundo a visão de Santos (2002). O modelo paradigmático predominante na sociedade
ocidental, gestado desde o século XVI e aprofundado com o advento do Estado Liberal, nas
revoluções industriais e seus desdobramentos no Colonialismo e Imperialismo, é
excessivamente racional. O modelo de racionalidade desse paradigma desperdiçou e
desperdiça experiências das sociedades indígenas, africanas e do extremo oriente,
consideradas atrasadas e vistas como incapazes de produzir conhecimento científico. Porém,
como demonstra Lowen e o caso dessa própria pesquisadora demonstram que, muitas vezes, a
compreensão oriental pode ajudar no alívio dos sofrimentos humanos, e o trabalho de
interconexão dos conhecimentos dos dois hemisférios do planeta Terra pode contribuir para

182
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

uma abordagem mais integral do ser humano.


Esse trabalho de ecologia de saberes, ou seja, da busca da compreensão sobre saberes
considerados inferiores e gestados sob bases que não correspondem à racionalidade
cartesiana, pode responder a questões que a escola brasileira contemporânea não tem dado
conta de resolver.
A metodologia epistemológica de Santos (2002) pode colocar a Medicina Tradicional
Chinesa e suas práticas corporais como uma ferramenta construtora de novas possibilidades
de estar no mundo. O autocuidado pode ser uma alternativa para prevenção de doenças, bem
como para a integração do ser humano consigo mesmo.
As ideias de Boaventura de Sousa Santos (2002) suscitam reflexões para pensar as
práticas corporais chinesas dentro da escola, pois sua prática contribui para o alargamento das
experiências de professores e estudantes. As emoções na atividade educativa, consideradas
inapropriadas, podem ser experimentadas como uma possibilidade de enriquecimento das
relações entre professor e aluno e como indexador de aprendizagens. Isso é possível pelo Tai
Chi Chuan e o Chi Kung terem sido construídos em outras bases epistemológicas que
concebem corpo, mente, emoções e espiritualidade. Essa visão integradora de mundo ainda
não é predominante no mundo Ocidental.
Assim como as Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa consideram o
indivíduo na sua íntegra, o referencial teórico das Inteligências Múltiplas também
compreende que as ações humanas envolvem habilidades de diversos espectros, ao contrário
do paradigma vigente de inteligência: o Quoeficiente de Inteligência (QI) valoriza
excessivamente as habilidades de caráter linguístico e lógico-matemático.

183
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Para alcançar os objetivos já expostos anteriormente, no capítulo dois será exposto o


conceito de Inteligências Múltiplas, a descrição das inteligências já catalogadas, bem como
uma pequena discussão sobre a presença dessa abordagem de inteligência na escola. No
capítulo três serão expostas as bases filosóficas que sustentam as práticas corporais do Chi
Kung e do Tai Chi Chuan, bem como demonstra conhecimentos sobre como essas práticas
podem contribuir para o desenvolvimento integral dos indivíduos. No capítulo quatro será
apresentada uma revisão da literatura sobre a presença das práticas de artes marciais nas
escolas. No capítulo cinco, os resultados da pesquisa propriamente dita que foi desenvolvida
de modo quantitativo e qualitativo.
Esse trabalho é uma tentativa tímida de realização de uma ecologia de saberes
desperdiçados e de uma tradução entre as ideias das Inteligências Múltiplas e das bases
filosóficas do Tai Chi Chuan configurando-se em uma pesquisa exploratória, parcial e
provisória.

AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Desde o início do século XX, a inteligência podia ser quantificada. Um dos pioneiros
nesse trabalho foi Alfred Binet que, através de testes, podia encontrar o Quoeficiente de
Inteligência (QI) das pessoas. Entretanto, os testes de Binet concentravam-se nas capacidades
lógico matemáticas e linguísticas, se a pessoa tivesse altos escores nessas duas áreas era
considerada inteligente. Segundo Smole (1999), apesar de não ter sido a intenção de Binet, os
testes passaram a ser utilizados, principalmente nos Estados Unidos como forma de classificar
as pessoas e difundir a ideia de que a inteligência era exclusivamente herdada,
desconsiderando as experiências do indivíduo ao longo da vida. Assim, um teste de QI,
realizado na juventude, poderia determinar toda a vida de uma pessoa.
O psicólogo norte-americano Howard Gardner, a partir da década de 80 do século XX,
começou a problematizar a relevância dos testes quantificáveis para a vida, pois muitas vezes
o indivíduo era bem sucedido nos testes, porém na sua vida não conseguia obter bons
resultados. Atividades como dança, capacidade de refletir sobre valores, pensar e executar um
projeto de vida, por exemplo, envolvem inteligências que não se manifestam nas pessoas da
mesma maneira. O que explicaria esse paradoxo?

184
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

A partir das suas pesquisas, Gardner (1995) propôs uma visão alternativa sobre a
inteligência: as Inteligências Múltiplas que se baseiam em uma visão pluralista da mente.
Através de estudos com crianças e pessoas que sofreram lesões cerebrais, Gardner concluiu
que a mente tem processos cognitivos diferentes e separados o que resulta em pessoas com
estilos cognitivos diferenciados em cada pessoa.
O conceito de inteligência para Gardner (1995) é diferente dos predominantes até
então. Para ele, a inteligência é a “capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos
que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários” (GARDNER,
1995, p. 14). Esse entendimento de inteligência vai muito além de responder testes ou provas
escritas, ele se caracteriza por um potencial biopsicológico a ser desenvolvido com a
construção de experiências por parte do indivíduo.
No seu trabalho, Gardner (1995) mapeou sete inteligências que se localizam em áreas
diferenciados no cérebro: a lógico-matemática (capacidade de lidar números, padrões, séries e
raciocínio lógico, localizada na área de Broca); a linguística (capacidade de lidar de maneira
criativa com a linguagem oral e escrita e localizada na zona cerebral do Área de Broca);
espacial (habilidade de percepção de padrões e das suas relações entre eles e visualização de
espaços em tridimensionalidade, localizada no hemisfério direito do cérebro); interpessoal
(capacidade de empatia, liderança, compreensão e motivação dos seus pares, situada nos lobos
frontais); intrapessoal (capacidade de lidar consigo mesmo e suas emoções, além disso possui
facilidade nas atividades reflexivas, localizada nos lobos frontais); corporal-cinestésica
(capacidade de utilizar todo o corpo ou parte dele para resolver um problema ou moldar-se a
determinada situação; está localizada no córtex motor no hemisfério contralateral à
dominância do indivíduo) e musical (habilidade de distinguir sons e organizar tons e ritmos de
maneira harmônica, localizada no hemisfério direito do cérebro). Dependendo do desafio que
determinado indivíduo precisa resolver, determinadas inteligências são mobilizadas ao mesmo
tempo.
Smole (1999) afirma que mais tarde, outros pesquisadores vinculados a Gardner
classificaram outros tipos de inteligência como a inteligência espiritual que é a facilidade em
perceber-se vinculado a algo maior que si mesmo; a inteligência natural que é a capacidade
dos indivíduos de se conectarem à natureza e a tudo que está relacionado a ela; e a
inteligência pictórica que é a facilidade em organizar, de maneira harmônica, elementos
visuais.
Diante da constatação de que as pessoas possuem habilidades diferenciadas e formas
diferentes de aprender, o trabalho da escola é proporcionar experiências para que essas

habilidades diferenciadas sejam desenvolvidas. A oficina de Tai Chi Chuan do Ensino Médio
Inovador cumpre essa finalidade.

185
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Gardner (1995) exemplifica sua teoria citando um estudante com problemas em


aprender matemática. Para o psicólogo, muitas vezes superar o problema através da própria
matemática pode não ser eficiente. Procurar um caminho alternativo percorrendo outras
inteligências pode auxiliar o aluno que não tem a inteligência lógico-matemática muito
desenvolvida. É baseada nessa ideia que esse trabalho começou a ser desenvolvido,
acreditando-se que o Tai Chi Chuan e Chi Kung podem contribuir para o desenvolvimento
das inteligências de maneira indireta.
É bastante comum confundir inteligência com memória. Em especial na inteligência
linguística, a memória é importante para compreender o pensamento discursivo, entretanto, as
demais inteligências trabalham com outros tipos de memória para resolver problemas. Em
outras palavras, a memória mobilizada para falar sobre uma obra literária é diferente daquela
que lembra um percurso em um planejamento logístico ou daquela que o músico necessita
para aprender uma partitura.
Outra questão levantada por Gardner é a relação entre cultura e desenvolvimento das
inteligências. As culturas tendem a legitimar mais determinadas inteligências do que outras, o
que pode colocar determinados indivíduos em situação desconfortável.
Ao contrário da perspectiva predominante em quase todo século XX de que a
inteligência era exclusivamente hereditária, Gardner afirma que as Inteligências Múltiplas
podem ser desenvolvidas por toda a vida do ser humano conforme o contexto cultural
específico no qual está inserido e influenciar no acesso às experiências que podem
proporcionar o desenvolvimento das suas inteligências ou não. Na fase da infância, até os
cinco anos de idade, as crianças estão muito abertas às experiências, entretanto, apenas
algumas dessas experiências irão se cristalizar. Dos cinco anos aos dez, as crianças se
interessarão em aprender as “regras do jogo”, em outras palavras, querem ter acesso aos
modos já produzidos culturalmente de como fazer as coisas. A adolescência é a fase crítica
onde os jovens precisam de auxílio para iniciarem a cristalização das suas inteligências, é a
fase onde as referências culturais serão deixadas para trás e isso, muitas vezes, provoca uma
insegurança por não se saber ao certo o que colocar no lugar dessas referências.

186
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

AS PRÁTICAS CORPORAIS CHINESAS E O CONTEXTO DA MEDICINA


TRADICIONAL CHINESA (MTC)

Frosi e Pozatti (2011) afirmam que o paradigma, ainda dominante no mundo ocidental
caracteriza-se pelo materialismo, pela objetividade forte, pelo determinismo causal, a
localidade e a causalidade ascendente. Contudo, um novo paradigma circula na sociedade e
torna-se cada vez mais visível. Esse paradigma pauta-se por uma objetividade fraca, pela não
localidade dos fenômenos, pelo princípio da incerteza e pela causalidade descendente. Os
autores apontam que esse novo paradigma vai de encontro com a concepção de saúde
idealizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1983: “Saúde é um estado
dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social e não apenas a ausência de
doença e enfermidade” (OMS appud FROSI e POZATTI, 2011, p. 320)3. Baseando-se no
conceito da OMS, Frosi e Pozatti (2011, p. 320) concebem saúde emocional como “estado
dinâmico de equilíbrio dos aspectos vitais do Ser, incluindo a relação com o corpo (couraças
reichianas), a mente (complexos de experiência condensada em sentimentos traumáticos) e
espírito (arquétipos vitais do inconsciente coletivo). Essa concepção aproxima-se das ideias
da Medicina Tradicional Chinesa sobre saúde.
Essa nova visão do mundo, no Ocidente, aproxima-se de tradições milenares da Índia,
Japão e da China da antiguidade que sobrevivem até hoje e tratam a dimensão humana de
maneira holística, nas quais movimentos bioenergéticos e sua relação com os efeitos
psicossomáticos sempre foram admitidos. Entretanto, os modos de explicação do Oriente,
repletos de simbologias e metáforas, foram considerados devaneios à luz do pensamento
ocidental, excessivamente racional.
As práticas corporais chinesas são um dos recursos da Medicina Tradicional Chinesa
(MTC) para promover e manter a saúde.
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) baseia-se em uma integração entre a esfera
microcósmica (do ser humano) e macrocósmica (o planeta Terra e o universo). Também
valoriza igualmente os aspectos físico, mental, emocional e energético do ser humano. Os
tratamentos terapêuticos da MTC não cuidam apenas dos aspectos da fisiologia biológica, mas
também da fisiológica energética, sendo essa última fundamental na cura de doenças. O que é
denominado energia no mundo ocidental é chamado Qi ou Chi, na China, o sopro vital que
mantém todos os seres vivos. A morte é o esgotamento do Chi por ele estar em desarmonia ou
por ter esgotado o Chi ancestral, aquele que se recebe dos antepassados.
A Medicina Tradicional Chinesa dá uma maior ênfase ao papel do indivíduo na

3
OMS: Disponível em https://nacoesunidas.org/saude-mental-depende-de-bem-estar-fisico-e-social-diz-
oms-em-dia-mundial/. Acesso em 05/08/2017.

187
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

promoção da própria saúde ou doença, pois a ingestão de alimentos e a prática de exercícios


físicos são fundamentais para a promoção da saúde. Através da alimentação, o Yong Chi, a
energia proveniente da essência dos alimentos, faz com que os órgãos possam funcionar
normalmente. Através das práticas de exercícios físicos como o Chi Kung e o Tai Chi Chuan
há uma maior qualidade na respiração, o que proporciona um melhor aproveitamento do Chi
do ar (Zhong Qi), bem como contribui para a melhor circulação da energia pelos meridianos
que correm através do corpo humano.
O Chi manifesta-se de diversas maneiras na natureza e no ser humano. Para explicar
essas manifestações, os chineses desenvolveram, ao longo dos séculos, as teorias do Yin e do
Yang e dos Cinco Elementos.
A cosmogonia chinesa afirma que o princípio da existência era o Wu Ji, ou a não
existência, o vazio primordial necessário para a expansão e surgimento das polaridades
complementares e interdependentes do Yin e do Yang que interagindo entre si geraram o
universo.
Lao Tsé, no livro Tao Te Ching fala:
O Caminho (Tao)
gera o um O um gera
dois
O dois gera o três
O três gera os dez mil seres (TSÉ, 2011).

O Tao é o supremo, o que não pode ser dito, pois as palavras não dão conta da sua
totalidade. É o responsável pelo surgimento de tudo. No Tao Te Ching, o Tao é chamado de
Um e ele gera o dois: as polaridades Yin e Yang são representadas no I Ching com duas
linhas descontínuas para o Yin absoluto e duas linhas contínuas para o Yang absoluto. Já o
três é o resultado da interação entre Yin e Yang que gera uma multiplicidade de fenômenos.
Esse contínuo movimento entre essas duas polaridades denomina-se Tai Chi. O Yang
possui características específicas e o Yin também. O dia é yang, a noite é yin. O alto é yang, o
baixo é yin, o superficial é yang, o profundo é yin. O excesso (Shi) de energia é yang, a
deficiência (Xu) é yin. A secura é yang, a umidade é yin. O calor é yang, o frio é yin.
Entretanto, essas características são relativas, por exemplo. A manhã é Yang, mas comparada
ao meio-dia, ela se torna Yin, pois o meio dia é mais Yang que início da manhã.

188
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

Figura 1: Símbolo Yin – Yang ou Tai Chi

Fonte: ARTEDOTAO (2009)

O símbolo acima demonstra a dinamicidade entre Yin e Yang onde o Yin está presente
no Yang e o Yang está presente no Yin. Aplicando a ideia da dinamicidade de Yin e Yang ao
desequilíbrio energético pode se afirmar que se um indivíduo possui excesso de energia, esse
excesso (Shi) está presente em alguns meridianos e em outros existem a deficiência (Xu).
Dependendo do caso, é possível tonificar os meridianos em depleção ou sedar os que estão
com excesso de energia.
Assim como o indivíduo pode estar em desequilíbrio entre Yin e Yang, a alimentação
e os hábitos de uma pessoa também podem ter características muito desequilibradas de Yin e
Yang, esses hábitos em desequilíbrio provocam desequilíbrios no organismo. Por exemplo, se
a pessoa se alimentar de frituras e assados de maneira predominante, sua dieta será Yang, já
se ela come mais alimentos cozidos, sua dieta será mais Yin.
Para a Medicina Tradicional Chinesa, o Chi expressa-se em cinco movimentos
diferentes que são representados metaforicamente pelos elementos da natureza: madeira, fogo,
terra, metal e água. Esses movimentos energéticos possuem interdependência entre si e
representam características emocionais, corporais e energéticas que se expressam nos
indivíduos e na natureza. O elemento fogo se alastra, a água flui, o elemento terra tem a
propriedade da estabilidade, o metal tem a propriedade aguda e cortante e o elemento madeira
é o do crescimento.
Apesar de todo indivíduo ter um movimento energético predominante, os outros
movimentos estão presentes e se relacionam entre si através das relações de geração, controle
e contra dominância. Na relação de geração, a madeira gera o fogo, o fogo gera a terra, a terra
gera o metal, o metal gera a água e a água gera a madeira. Na relação de controle, o metal
controla a madeira, a madeira controla a terra, a água controla o fogo e o fogo controla o
metal. A relação de contra dominância se estabelece quando na relação de controle o que
deveria ser controlado volta-se contra o seu controlador ou resiste ao controle.
Os Cinco Movimentos de energias expressam fenômenos físicos, energéticos e
psíquicos dos indivíduos, tudo isso ocorrendo ao mesmo tempo, sem uma separação entre o
que é físico, energético ou psíquico. Essas três instâncias de manifestação da energia são
chamadas de Três Tesouros onde o substrato mais denso, ou material é chamado de Jing, o

189
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

substrato mais sutil de Chi que está subjacente à matéria e lhe dá vida e, por último, a
substância pensante da matéria, o Shen ou mente. Esses três tesouros não estão separados.
Para a filosofia chinesa, a matéria possui uma racionalidade o que explicaria porque
determinadas emoções estão vinculadas a determinados movimentos de energia, como o
elemento madeira está relacionado à raiva e governa os órgãos do Fígado e da Vesícula Biliar,
ou seja, determinadas emoções, visões de mundo de um certo indivíduo podem adoecê-lo, e
seus sintomas visíveis de toda ordem podem contribuir para que o terapeuta compreenda o seu
sofrimento. Isso ocorre porque há uma correspondência entre os fenômenos físicos e os
psíquicos.
Telesi Júnior (2016) explica que na tradição da Medicina Chinesa a mente não tem um
local específico, pois a mesma está em todas as células. A mente (Shen), governada pelo
meridiano do Coração (Xin), é composta da soma das outras manifestações da mente como
serão expostas a seguir. As outras manifestações da mente são: a alma etérea (Hun) representa
a relação com o passado e é governada pelo meridiano do Fígado (Gan); a alma corpórea (Po)
que representa a esfera mais primitiva da consciência ou os instintos e é governada pelo
meridiano do Pulmão (Fei); a força de vontade (Zhi) comandada pelo meridiano do Rim
(Shen) e o pensamento (Yi) ou qualificação do Shen através do fornecimento de Xue e é
gerido pelo meridiano do Baço (Pi).
Os meridianos são canais de energia que passam por todo corpo. O Livro do
Imperador Amarelo já fazia referência aos meridianos e, possivelmente, essa teoria começou a
ser gestada de forma intuitiva a partir de meditação de taoístas que visualizavam os pontos de
acupuntura que estão nos trajetos dos meridianos. Eles materializam a energia fetal (Yuan Qi)
nos órgãos e vísceras, são responsáveis pelo transporte de Qi (energia), Xue (sangue),
equilíbrio de Yin e Yang e proteção do corpo contra os fatores patogênicos.
Cada movimento de energia rege pelo menos um par de meridianos onde um o Zhang,
um órgão e o Fu, uma víscera. Os Zhang são yin e os Fu são yang. Dessa forma, Pulmão (P),
Coração (C), Fígado (F), Rins (R) e Baço-Pâncreas (BP) são yin e Intestino Grosso (IG),
Intestino Delgado (ID), Vesícula Biliar (VB), Bexiga (B) e Estômago (E) são yang. Triplo
Aquecedor (TA) é yang e Pericárdio (PC) é yin, possuem características diferenciadas dos
demais, pois representam funções energéticas, não órgãos ou vísceras. O Triplo Aquecedor
representa a função de captação de chi dos alimentos e respiração, processamento do chi e da
matéria, eliminação do que é desnecessário e funções sexuais. O Pericárdio representa as
emoções e todos os meridianos conectam-se a ele.

190
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

A doença é explicada na MTC, inicialmente, por um desequilíbrio energético do


indivíduo que passa a se manifestar no corpo físico. Esse desequilíbrio pode ser por
estagnação de energia, quando a energia não flui adequadamente pelos meridianos, pelo
excesso de energia ou pela depleção de energia, quando a energia do indivíduo está em baixa.
Essas alterações energéticas prejudicam a circulação do Xue (sangue), e a circulação de
energia (Chi) pelos Zhang (órgãos) e pelos Fu (vísceras).
Outra explicação para as doenças sob a ótica da MTC é a invasão de um agente
agressor externo, ou fator patogênico, entretanto, a invasão de um fator patogênico não
acarreta necessariamente uma doença, o que determinada seu surgimento é o estado de
equilíbrio ou desequilíbrio do organismo do indivíduo. Enquanto, para tratar doenças na
medicina ocidental se ingere medicamentos para atacar os fatores patogênicos, na MTC
busca-se reequilibrar o organismo do indivíduo para que ele mesmo possa eliminar a doença.
Outro diferencial entre essas duas maneiras de fazer medicina é que a medicina ocidental tem
se ocupado frequentemente em tratar sintomas, já a MTC preocupa-se com as causas das
doenças, pois, muitas vezes, um mesmo sintoma pode ter causas diferentes de acordo com o
indivíduo.
Os médicos chineses, através da observação dos seus pacientes, perceberam que a
meditação silenciosa não era suficiente para regular o corpo e a mente. Eles constataram que
pessoas que se movimentavam regularmente adoeciam menos e concluíram que isso ocorria
porque o Chi circulava melhor quando os indivíduos se movimentavam. Assim vários
estudiosos começaram a criar movimentos corporais para o cultivo da energia. Contudo, vale
ressaltar que os Chi Kung (trabalho com energia / cultivo da energia) nem sempre foram
criados por médicos e com o objetivo de promover a saúde. Outros interessados no tema da
circulação de energia no organismo criaram Chi Kung marciais, para desenvolver a resistência
de lutadores e guerreiros e Chi Kung religiosos foram criados para auxiliar na transcendência
espiritual.
As práticas corporais chinesas dão ênfase à respiração abdominal que promove um
melhor aproveitamento do oxigênio nos pulmões e, por consequência, ajuda no processo de
purificação do organismo. A respiração consciente regula o Shen (mente) contribuindo para o
equilíbrio das emoções e dos pensamentos e para o bom funcionamento de órgãos e vísceras
de uma forma ampla e complexa, pois atua sobre a força de vontade, os pensamentos, a
qualificação da mente do indivíduo e sua relação com o passado.
Segundo Canalonga (2011), a prática de Tai Chi Chuan e o Chi Kung pode trazer
benefícios cognitivos como aumento da consciência corporal e motora, melhoria da percepção

191
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

sutil, maior senso de orientação espacial e equilíbrio. O autor demonstra que as práticas
corporais chinesas se caracterizam por completas, pois também trazem benefícios a nível
mental, já que melhoram o equilíbrio emocional, reduzem a ansiedade e o estresse, além de
aumentarem a concentração. Além disso, o contato com esse universo da cultura chinesa pode
transformar valores, formas de agir, pois parecem reconectar o ser humano com o planeta e o
universo promovendo a consciência da importância de cuidar de si mesmo, do próximo e da
natureza.
É possível supor que se o indivíduo está em um equilíbrio dinâmico, talvez esteja mais
preparado para resolver os problemas que se apresentam no cotidiano. A perspectiva
conceitual de inteligência preconizada por Howard Gardner, o indivíduo tenha condições de
desenvolver suas inteligências? Maior consciência corporal, percepção sutil e redução da
ansiedade podem remeter aos conceitos de inteligências corporal-cinestésica e intrapessoal,
por exemplo.

ARTES MARCIAIS E EDUCAÇÃO: UMA REVISÃO DA LITERATURA

Apesar da popularidade do Tai Chi Chuan no mundo, a prática dele nas escolas ainda é
bem restrita. Cintra et al (2016), em pesquisa realizada no período entre 2000 e 2015,
coletando dados sobre o ensino das artes marciais na educação básica em periódicos da Capes,
Scielo e Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores: luta, práticas pedagógicas,
capoeira, lutas e escola, lutas e educação física escolar, pedagogia das lutas, práticas
pedagógicas, judô, karatê e kung fu, concluiram que das 32.200 referências à pedagogia,
apenas 20 títulos de artigos diziam respeito à pedagogia das lutas. Um dado preocupante é que
quando se tratava apenas do título lutas, os conteúdos presentes nos artigos tratavam de
competição ou alta performance e não sobre a importância da luta no processo de ensino da
Educação Física Escolar.
Dos 20 títulos que faziam referência à relação lutas e escola, apesar da variedade das
abordagens, boa parte deles tinha como viés uma educação militarizada que fugia à proposta
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que recomendam que as lutas possam servir
para a promoção da diversidade cultural, ampliação do conhecimento corporal, socialização,
perseverança, respeito e determinação.
Da Silva et al (2017) também concluíram em suas pesquisas que as aulas de artes
marciais, em especial o Wushu, acontecem pouco nas escolas, inclusive fora do Brasil. Apesar
do Japão valorizar os princípios filosóficos do Budô, poucas escolas adotam as artes marciais

192
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

como prática corriqueira. O mesmo ocorre nos Estados Unidos e Espanha. Os pesquisadores
também consideram que o Wushu, entendido como o Kung Fu, Tai Chi Chuan e o Chi Kung,
pode contribuir para o desenvolvimento da coordenação visuomanual em função do uso das
mãos e pés para realizar movimentos precisos com ou sem objetos; para a motricidade global
por causa das atividades de deslocamento e ritmo; o equilíbrio estático e dinâmico, em função
das posturas coreografadas e golpes; da noção espacial por causa da posição do corpo do
sujeito em relação ao espaço; a organização temporal e a lateralidade, pois as atividades
dessas práticas corporais levam à percepção simétrica do corpo.
Alguns dos benefícios adquiridos com a prática de Wushu, apontados por Silva et al
(2017), suscitam reflexões quanto ao desenvolvimento das Inteligências Múltiplas. Para
Gardner (1995), criador do conceito de Inteligências Múltiplas, a habilidade em lidar com o
corpo, mover-se com destreza e graciosidade poderia desenvolver uma inteligência específica
chamada corporal-cinestésica. A capacidade de imaginar-se, localizar-se e situar-se no espaço
desenvolveria a inteligência espacial. A grande questão é: o movimento corporal pode
contribuir para que essas inteligências sejam desenvolvidas e suas capacidades na resolução
de problemas possam ser extrapoladas para outras realidades? Essa pesquisa busca contribuir
para a discussão sobre essa questão.
Em função dos benefícios visíveis do Wushu, Silva et al (2017) desenvolveram uma
pesquisa de campo, de caráter exploratório, entre professores de Educação Física escolar,
praticantes de Wushu ou não, a fim de investigar a compreensão dos mesmos acerca das
potencialidades da prática dessa arte marcial chinesa. O resultado geral encontrado é que
professores praticantes de Wushu consideram essa arte marcial um sistema válido para
ensinar artes marciais escolares e pode contribuir para o desenvolvimento motor, cognitivo e
socioafetivo de crianças e adolescentes, já o grupo de não praticantes não acreditam que o
Wushu possa ser eficiente. Outro aspecto curioso da pesquisa é que os recém ingressos nas
práticas de Wushu consideram irrelevantes os aspectos filosóficos das artes. Segundo os
autores, essa resistência pode estar relacionada ao regime rígido de transmissão das artes
marciais tradicionais. Outra questão é que na graduação em Educação Física, as artes marciais
tradicionais não figuram em boa parte dos currículos e apenas 24 instituições de ensino
superior do Brasil possuem curso de lutas.
A prática de artes marciais no universo escolar é incipiente e analisando esse pequeno
universo de práticas, a prática de Tai Chi Chuan é mais incipiente ainda. Outro aspecto que
chama atenção é que as Artes Marciais estão relacionadas exclusivamente às aulas de
Educação Física. No caso da Oficina de Tai Chi Chuan descrita nessa pesquisa, o Tai Chi
Chuan e o Chi Kung foram desenvolvidos como uma prática corporal fora da disciplina de
Educação Física, pois a formação dessa pesquisadora é em História, ou seja, a experiência de

193
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

praticar o Tai Chi Chuan trouxe a sensibilização para a importância da prática na escola. Para
Libaack et al (2016) prática corporal é uma representação social de um povo a respeito do
movimento corporal que a utilizou para sua defesa e, atualmente, é reconhecida como
promotora e mantenedora da saúde, no sentido mais amplo da palavra. Portanto, o objetivo da
oficina não é a atividade física, da competência dos professores de Educação Física, mas
proporcionar a experiência em cada indivíduo dos benefícios globais que as Práticas
Corporais Chinesas podem proporcionar. Além disso, busca-se se compreender se a prática do
Tai Chi Chuan e do Chi Kung pode ajudar os estudantes a desenvolverem suas inteligências.
Nesse sentido, essas poderiam ser mais uma ferramenta da educação como um todo.
Rodrigues (2016) trouxe contribuições com a pesquisa sobre um problema que muitas
vezes é detectado somente na inserção do indivíduo na escola: o Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH). Segundo o autor, lutas como o Karatê, Judô e Taekwondo
têm obtido bons resultados no auxílio de crianças com TDAH, o mesmo atribui o sucesso à
organização desses esportes através de regras onde uma atitude deve ser refletida antes de ser
executada e em função da importância da obediência. Rodrigues também ressalta a
importância de não desprezar os valores filosóficos das artes, como, por exemplo, os
princípios morais dos samurais baseados na ética, honra, honestidade, bondade, dentre outros.
Ou seja, esse trabalho foge de uma perspectiva de alta performance e considera a importância
moral e cognitiva das artes marciais.
Leandro (2016) desenvolveu pesquisa quali-quantitativa sobre a influência das artes
marciais no comportamento de estudantes no Ensino Fundamental na faixa etária entre 07 e
13 anos, esses estudantes praticavam Judô ou Karatê e deveriam praticar a luta há pelos
menos 6 meses. Através de entrevista com pais ou responsáveis pelas crianças, o pesquisador
buscou entender se as artes marciais poderiam influenciar nos aspectos cognitivos, social,
afetivo e físico-motor dos jovens. As perguntas do questionário giraram em torno das
seguintes questões: agressão física ou psicológica por parte dos praticantes a colegas da escola
e sofrida pelos mesmos, melhoria da disciplina, respeito, defesa pessoal, concentração,
exercício físico, responsabilidade e autoconfiança. Em todos os quesitos, a prática de arte
marcial mostrou-se benéfica para as crianças.
Rodrigues (2010) afirma que o Tai Chi Chuan é um esquema de psicomotricidade
muito sofisticado que pode disciplinar o corpo e contribuir para a redução da tensão interna. O
estudioso trabalhou com crianças entre 6 e 10 aos na Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan
(SBTCC). Focou no aspecto corporal através de movimentos sem intenção de agressividade e
no aspecto emocional através de contos com questões filosóficas e éticas que podiam
contribuir para o desenvolvimento da autoestima, autoconfiança, habilidade para realizar
coisas novas e criatividade. A fim de dosar aspectos da disciplina e ludicidade, as formas de

194
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

Tai Chi Chuan foram mescladas com brincadeiras. Mesmo com essa configuração de aula,
Rodrigues (2010) não deixou de estar atento aos 10 princípios essenciais elaborados por Yang
Chengfu4, as 5 virtudes de Waysun5 que na verdade traduz e comenta esse clássico da
filosofia do Tai Chi, mas não é o autor do texto, e a Fórmula dos Cinco Caracteres de Li Yi
Yu6, discípulo do estilo Wu/Hao de Tai Chu Chuan. A iniciativa de Rodrigues contribui para
aqueles que desejarem desenvolver aulas de Tai Chi Chuan com crianças e adolescentes que
ainda não têm o seu esquema corporal estruturado, o que pode causar inseguranças ou
perturbações afetivas. Em outras palavras, o movimento corporal pode contribuir para
transformações no comportamento.
Mikaelián (2017), em seu artigo, fala das possibilidades do trabalho com Chi Kung
para o desenvolvimento psicomotor de adultos. Essa abordagem em si, já é inovadora, pois
como a própria pesquisadora afirma a maioria das pesquisas sobre psicomotricidade
concentra-se na infância, entretanto ela considera que outras faixas etárias se beneficiariam do
trabalho psicomotor. Mikaelián (2017) utiliza o Chi Kung como ferramenta através do
trabalho com a respiração, relaxamento, aspectos de tonicidade, coordenação, ritmo,
expressão, relação espaço-tempo e movimento. Aponta que as bases do Chi Kung concebem o
ser humano nas dimensões cognitiva, física, emocional e na capacidade de ser e atuar no
contexto psicossocial. O Chi Kung também torna evidente a relação entre o movimento e os
órgãos e vísceras, pois a movimentação do corpo massageia essas estruturas que podem
desfazer as estagnações energéticas, bem como ajudam em uma melhor expressão das
emoções, segundo os princípios da Medicina Tradicional Chinesa.
Em outras palavras, o Chi Kung trabalha extereocepção com os receptores periféricos
dos órgãos dos sentidos, a propriocepção com a atuação dos receptores nos músculos
estriados, ligamentos e articulações e a introcepção movendo a respiração, digestão e
circulação. Com isso, espera-se uma redimensão do papel do movimento e da expressão
corporal na vida do sujeito.

Melo et al (2016) afirmam que o Tai Chi Chuan pode contribuir para a melhoria da
qualidade de vida de estudantes com vulnerabilidade social, pois a execução dos exercícios
leva o praticante a estar consigo, desenvolve um ritmo tranquilo através da respiração e
constrói uma mente mais focada. Além da percepção individual, o Tai Chi Chuan pode

4
I.Suspender a cabeça pelo topo com leveza e sensibilidade; II. Esvaziar o peito e alongar as costas;
III. Relaxar a cintura; IV. Distinguir entre o cheio e o vazio; V. Relaxar os ombros e soltar os
cotovelos; VI. Usar a mente e não a força muscular; VII. Interligar os movimentos da parte superior e
inferior; VIII. Unir o interior e o exterior; IX. Mover-se com continuidade, sem rupturas; X. Buscar a
quietude dentro do movimento.
5
Postura de base, sensibilidade, poder de compreensão, movimento contínuo, prática com
sinceridade.
6
Calma, agilidade, respiração, força interna e concentração.

195
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

contribuir para a percepção do meio ambiente valorizando mais a natureza e a percepção do


outro. Ou seja, o Tai Chi Chuan contribui para o desenvolvimento da atenção, foco, disciplina
e interação. Segundo os autores, essa construção de um bem estar através da educação motora
reflete-se no ambiente onde os indivíduos praticantes de Tai Chi Chuan estão inseridos. Isso
ocorre através da observação dos próprios movimentos corporais, ou seja, através da
meditação em movimento que pode gerar um equilíbrio entre as forças Yin e Yang nos
indivíduos.
Em outras palavras, Santos (2012) afirma que atuar no corpo é atuar na sociedade em
que o corpo está inserido, o que exige um cuidado maior de quem trabalha com as práticas
corporais, pois o planejamento dessas atividades deve contemplar essa ideia da sua dimensão
social.

METODOLOGIA

CAMINHOS METODOLÓGICOS

O trabalho proposto teve início com a pesquisa bibliográfica ao utilizar diversos


materiais publicados sobre os temas: Inteligências Múltiplas, Artes Marciais e Educação,
Fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa e o lugar do corpo no mundo ocidental. Isso
porque, em um trabalho científico, a análise bibliográfica fornece embasamento teórico em
todas as etapas produzidas e possibilita ao investigador aprofundar o tema em estudo.
Foi utilizada também a pesquisa exploratória por se tratar de um tema em estudo ainda
pouco conhecido e explorado, o qual oportunizou à pesquisadora conhecer mais sobre o
assunto, não apenas a partir da pesquisa bibliográfica como também através das atividades
desenvolvidas nas oficinas.
Essa pesquisa possui caráter quantitativo por utilizar o levantamento de dados através
da aplicação de anamnese7 e do Levantamento de Inteligências Múltiplas (IMs)8 elaborado
por Thomas Amstrong (2001).
No início e no final da oficina foi aplicada anamnese baseada na anamnese respondida
pelos estudantes do curso de Especialização em Práticas Corporais da Medicina Tradicional
Chinesa com adaptações para a realidade escolar. A primeira anamnese inquiria sobre
problemas de saúde, questões emocionais, questões psicológicas e desempenho escolar. A
anamnese tinha como objetivo conhecer melhor os estudantes e verificar se seria necessário

7
Conforme se pode verificar nos Anexos A e B.
8
Conforme Gardner (2007, p. 28/31).

196
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

adaptar algum exercício para as necessidades dos mesmos, o que não foi necessário. Essa
anamnese assemelha-se à anamnese respondida pelos estudantes da Especialização em
Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa promovido pela Universidade de São
Paulo e Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan (SBTCC), no ato da inscrição para o curso.
Na segunda anamnese foram conservadas as questões relacionadas aos aspectos de
saúde, emocionais e psicológicos, contudo as perguntas relacionadas ao desempenho escolar
foram modificadas para questionamentos sobre possibilidades de mudança na vida pessoal e
escolar em função da prática do Tai Chi Chuan. Também foram acrescentadas perguntas de
avaliação da oficina com o objetivo de replanejamento de oficinas posteriores. Tanto a
anamnese inicial quanto a final contiveram perguntas objetivas tipo sim ou não, perguntas que
solicitavam indicar a quantidade de vezes que determinado evento ocorreu naquela semana e
também questões abertas.
O Levantamento de Inteligências Múltiplas foi aplicado no mesmo período da
anamense. Optou-se por esse instrumental por oportunizar ao professor realizar o diagnóstico
das inteligências mais desenvolvidas nos estudantes para fins de planejamento das aulas. Essa
pesquisadora entrou em contato com esse levantamento em uma formação sobre as IMs em
uma Fundação sem fins lucrativos no ano de 2001. Lá foi distribuído para os docentes uma
versão do levantamento que foi ampliado e adaptado por F. Carvalho. O levantamento
aplicado consiste em um questionário de 100 perguntas do tipo “Eu acho que tenho uma boa
voz para cantar”. As respostas devem ser dadas no formato da Escala de Likert e o estudante
poderia marcar o grau de importância da experiência para ele, onde 0 significa se não se refere
a você, 2 se tem algo a ver com você e 4 se tem muito a ver com você.
Em função da Oficina de Tai Chi Chuan ter sido composta por alunos de séries
diferentes, as anamneses e o Levantamento de Inteligências foram dados para que os
estudantes respondessem em casa e devolvessem na próxima aula da oficina.
Também foi realizada uma Roda de Conversa no dia 11 de dezembro de 2017 a fim de
debater o tema Tai Chi Chuan e Chi Kung e avaliar de que maneira essas práticas
contribuíram para a vida dos sujeitos da pesquisa. Inicialmente foi comunicado que o tema da
pesquisa seria o Tai Chi Chuan, depois discutiu-se sobre os benefícios da prática. Essa Roda
de Conversa foi gravada integralmente em áudio e, parcialmente em vídeo. A Roda de
Conversa, juntamente com a análise das respostas subjetivas da anamnese inicial e final,
caracterizam os dados da pesquisa qualitativa.

197
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

UNIVERSO DA PESQUISA

Essa pesquisa foi realizada na Oficina do Ensino Médio Inovador entre os dias 29 de
maio de 2017 e 11 de dezembro de 2017 na escola estadual do bairro de Fazenda Grande II -
Cajazeiras, em Salvador da Bahia.
Participaram da oficina os estudantes do Ensino Médio que se interessaram pela
mesma de maneira espontânea. Matricularam-se na oficina 15 estudantes e houve uma
flutuação na presença dos mesmos. Serão considerados para fins de pesquisa sete indivíduos
com idade entre 16 e 18 anos, o critério adotado foi participação regular do início até o final
da oficina. Entre aqueles que não concluíram a oficina dois alegaram problemas pessoais e os
demais não se identificaram com a proposta.
As oficinas foram desenvolvidas semanalmente em duas aulas geminadas de 50
minutos. A aula consistia em aquecimento articular, nos Chi Kung 12 Séries Fundamentais
para a Saúde entre os meses de junho, julho, agosto, setembro e outubro, no Ba Duan Jin nos
meses de novembro e dezembro e na Forma curta de 16 movimentos do estilo Yang
Tradicional durante todo o período da oficina. No início da oficina foi exibido, de maneira
fracionada, o DVD sobre Chi Kung da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan (SBTCC), a
fim de introduzir os princípios que norteiam a prática. Além das práticas, havia uma Roda de
Conversa de 20 minutos, sentava-se em círculo no chão e iniciava-se perguntando se alguém
desejava falar algo de tema geral e depois se havia alguma dúvida sobre a prática. A partir dos
questionamentos dos participantes foi possível discutir a Teoria do Yin e do Yang e dos Cinco
Movimentos de Energia. Alguns deles começaram a relacionar as práticas desenvolvidas com
filmes e o grupo decidiu que iria usar o tempo da Roda de Conversa para discutir filmes
como: Kung Fu Panda e Karatê Kid.

LIMITAÇÕES DA PESQUISA

A opção por entregar as anamneses e o Levantamento das Inteligências Múltiplas para


os estudantes responderem em casa foi pela dificuldade dessa pesquisadora / instrutora não ter
tempo disponível em sua carga horária para supervisionar a aplicação da parte quantitativa da
pesquisa. Também não havia recurso humano disponível para aplicar os instrumentos
quantitativos de coleta de dados, nem para conduzir a Roda de Conversa.

198
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

RESULTADOS E DISCUSSÕES

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS QUANTITATIVOS

A coleta de dados quantitativos dessa pesquisa foi extraída da parte objetiva das
anamneses inicial e final e do Levantamento das Inteligências Múltiplas, ambos aplicados em
junho e dezembro, respectivamente. As questões abertas da anamnese foram utilizadas aqui
para enriquecer a análise.
Os dados das anamneses e Levantamento de Inteligências Múltiplas foram agrupados
nas tabelas com os seguintes temas: caracterização geral dos participantes, aspectos físicos,
aspectos emocionais, aspectos funcionais, levantamento das inteligências múltiplas e
avaliação da evolução das inteligências e pelos gráficos de Variação das Inteligências
Múltiplas (IMs) por sujeito e Avaliação Geral das Inteligências Múltiplas.

TABELA 01: Caracterização Geral: Número de incidências dos eventos na semana anterior
à resposta da anamnese. S significa sujeito. (Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).

No item Caracterização Geral é possível observar uma redução das queixas com
problemas de saúde, tratamento de saúde e uso de medicamentos entre o início e o final da
prática. De um modo geral, não houve alterações nas percepções sobre qualidade de vida.
Sobre a questão da qualidade de vida, o S1, apesar de considerar tanto no início da
prática quanto no final que a mesma era boa, na anamnese final acrescentou que sua qualidade
de vida era boa porque estava cuidando mais da saúde. Apenas S2 mudou sua opinião a
respeito da sua qualidade de vida. No início da prática a considerava razoável alegando
problemas financeiros, no final da prática afirma estar boa, contudo não justificou o motivo, o
que inviabiliza saber se houve alguma mudança objetiva na vida desse sujeito ou se apenas

199
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

sua percepção se alterou. O S 3 considerou na anamnese final que sua qualidade de vida era
razoável porque “procuro fazer atividades físicas e se (sic) alimentar bem”. O S6, na
anamnese inicial, ao mencionar sua qualidade de vida diz: “Moro com meus pais, sou
dependente deles, não trabalho, moro em um bairro um pouco perturbado, estou bem com
minha vida saúde física e não passo fome”. O sujeito S6, através do seu relato, exemplifica os
desafios enfrentados por esses jovens moradores da periferia de Salvador, mas também
demonstra que há possibilidades de satisfação. Já na anamnese final ele continua avaliando
sua qualidade de vida como razoável e afirma: “sinto que não passo dificuldades, meus pais
podem pagar algumas coisas quando eu peço, tenho acesso à internet, etc. Chama atenção o
destaque dado à internet, pois o acesso à mesma é um dos aspectos mais importantes de
socialização desses jovens. Já o S7 considerou nas duas anamneses que sua qualidade de vida
era muito boa, porém na anamnese final acrescentou: “Antes do Tai Chi eu só queria ficar em
casa deitada ou dormindo, depois que comecei o Tai Chi eu passei a dizer que sou mais ativa,
óbvio que faço o que fazia antes, mas bem menos”.

TABELA 02: Aspecos Físicos: número de incidências na semana anterior à aplicação da


anamnese. (Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).

Através dos relatos desses jovens é possível concluir que qualidade de vida significa
boas condições financeiras, boa saúde, alimentação, autocuidado através da prática de
exercícios físicos e disposição para as atividades da vida diária.

Quanto aos aspectos físicos e sua incidência na semana anterior à aplicação das
anamneses é possível observar em todos os quesitos a redução das queixas, com exceção da
queixa de dores nas pernas que não foi referida nem no início da prática, nem na sua
conclusão.

200
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

TABELA 03: Aspectos Emocionais: número de incidências na semana anterior à aplicação


da anamnese. (Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos.)
.

TABELA 04: Aspectos Funcionais: número de incidências na semana anterior à aplicação


da anamnese. (Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).

Quanto às questões emocionais, os estudantes apresentaram redução da queixa nos


quesitos irritabilidade excessiva e na percepção de que não conseguiriam fazer algo que lhes
foi solicitado. Essa redução passou de 06 incidências para nenhuma, em ambos os quesitos.
Os quesitos sentiu vontade de sumir e tiveram a sensação de nada valer a pena permaneceram
inalterados, contudo a incidência não se referiu aos mesmos sujeitos. Houve a ocorrência de
um evento de intolerância e agressividade referido pelo Sujeito 1 na anamnese final.

Em relação aos aspectos funcionais I, na semana anterior à aplicação das anamneses,

201
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

observa-se um aumento no quesito perda de memória e sobrecarga, é importante lembrar que


a maioria dos participantes da oficina era estudante do 3º ano que estava se preparando para
fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Além disso, na III Unidade do
ano letivo houve uma sobrecarga de atividades, os mesmos participavam de um projeto de
empresa-escola que estava se concluindo, o que talvez pudesse justificar a sensação de
sobrecarga, afinal ela objetivamente existia. No quesito dificuldade de concentração os
índices permaneceram inalterados, porém os indivíduos que falaram desse problema no início
da prática não são os mesmos que referem à falta de concentração no final da prática. No
quesito insônia, dois indivíduos tinham feito menção ao problema com escore 4 para o S1 e 3
para S2, respectivamente, mas na anamnese final observa-se que S1 não se refere ao problema
e S2 teve uma redução para escore 1. Nos quesitos perda de controle, ansiedade e tontura não
houve nenhuma incidência na semana anterior à aplicação da anamnese final.

TABELA 05: Aspectos Funcionais II: número de incidências na semana anterior à


aplicação da anamnese. (Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).

Quanto aos aspectos funcionais II, dois sujeitos relataram questões relacionadas à
timidez no mês de dezembro, totalizando 5 incidências e nenhum fez referência a essa questão
no mês de junho, havendo um crescimento, seria necessária uma maior investigação a fim de
compreender os motivos desse aumento. No item sofreu influência dos outros e fumou
cigarros permaneceram inalterados sem nenhuma incidência e o item medo / insegurança
permaneceu assinalado pelo S1 em ambas avaliações. No aspecto desmaio apenas S2 havia
referido episódio que não se repetiu; no item distúrbios do sono os sujeitos 02 e 05 não os
apresentaram em dezembro, porém os sujeitos 01 e 04 relataram o problema nessa anamnese

202
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

final. No item explodiu sob pressão apenas o S1 havia mencionado tal situação que não se
repetiu no período de aplicação da anamnese final.

TABELA 06: Levantamento de Inteligências Múltiplas. (Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).

A tabela acima mostra os resultados do Levantamento de Inteligência (IMs) na


aplicação inicial e final por indivíduo.
Analisando os escores do Levantamento das Inteligências Múltiplas (IMs) dos
participantes das oficinas de Tai Chi Chuan é possível observar que em boa parte dos sujeitos
houve um aumento das IMs. Resultando em um aumento de 56% nas inteligências dos
participantes da pesquisa. 25% dos escores permaneceram inalterados e 19% tiveram uma
redução. A explicação para a redução de 19% dos escores de inteligência pode ser atribuída a
uma ressignificação das experiências por parte dos estudantes, conforme mostra o gráfico
abaixo.

203
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Gráfico 01: Percentual de Variação das Inteligências Múltiplas

(Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).

Na análise do Levantamento das Inteligências Múltiplas por indivíduo, observa-se que


apenas o Sujeito 5 não teve redução em nenhum dos escores de inteligência.

Gráfico 02: Variação das Inteligências Múltiplas por Sujeito da Pesquisa

(Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).


Chama a atenção o escore de redução das Inteligências Múltiplas, o que poderia
explicar essa redução? O levantamento das IMs de Amstrong foi confeccionado a partir da
identificação de interesses dos estudantes, as variações podem ser explicadas pela
ressignificação dos interesses por parte dos estudantes na construção de novas experiências.

Tabela 07: Variação de IMs (por Inteligência)

204
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

L L PIC INTER C MUS INTRA NAT ESPC ESPT


M PES C PES
AUMENTO 3 4 4 3 4 4 3 4 5 3
MANUT. 0 1 3 0 2 2 4 2 1 1
REDUÇÃO 4 2 0 4 1 1 0 1 1 3
Legenda: L: Linguísca, LM: Lógico-matemática, PIC: Pictórica, INTERPES: Interpessoal,
CC: Corporal- cinestésica, MUS: Musical, INTRAPES: Intrapessoal, NAT: Natural,
ESPC: Espacial, ESPT: Espiritual (Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).

A Inteligência Espacial foi a que apresentou maior escore de aumento e foi elencada
como mais desenvolvida na hipótese dessa pesquisa.
Já as inteligências Pictórica e Intrapessoal não apresentaram queda em nenhum dos
participantes se mantendo ou aumentando.
As inteligências Linguística e Interpessoal figuraram entre aquelas com maior queda,
sendo que a inteligência interpessoal estava entre aquelas tidas como hipótese que se
desenvolveria.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS QUALITATIVOS

No desenvolvimento da Oficina de Tai Chi Chuan / Chi Kung percebeu-se que mesmo
que o Levantamento das Inteligências indicasse um aumento nos escores das inteligências dos
estudantes não se poderia atribuir esses resultados diretamente às Práticas Corporais da
Medicina Tradicional Chinesa, haja vista que os participantes vivenciaram uma série de outras
atividades que também estariam desenvolvendo suas inteligências, como o próprio Gardner
concluiu em seus estudos.
Por essa razão, foi proposta uma Roda de Conversa no dia 11 de dezembro de 2017.
Esse recurso já era utilizado durante o desenvolvimento da oficina a fim de que os estudantes
pudessem falar sobre o Tai Chi Chuan e o Chi Kung. A pergunta inicial da roda de conversa
foi: O que significou pra vocês terem feito a atividade do Tai chi Chuan durante esse ano?
Quais expectativas vocês tinham? Foi o que vocês estavam pensando? Não foi? Após o
esgotamento da discussão dessa questão, outras perguntas foram lançadas.
S4: Eu queria conhecer a arte marcial.
S5: Pra mim foi bastante importante, ainda mais por não conhecer. Eu no caso, não
conhecia, nem sabia que existia o Tai Chi Chuan e a gente entrou eu e as meninas, e nós
entramos para saber o que é. Eu acho que foi bem importante essa curiosidade porque se a
gente não tivesse tido essa curiosidade não teria entrado. E através da nossa curiosidade
trouxe benefícios pra gente.

205
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

A Roda de Conversa tomou uma direção natural de discutir os benefícios do Tai Chi
Chuan na vida dos participantes:
S4: Ter melhorado algumas coisas, postura, respiração, humor, foi ótimo.
S3: A gente já tinha contato com o Tai Chi antes, e naquele pouco tempo que a gente
fez eu já me senti melhor. Em postura mesmo e respiração, em geral assim.9
S7: Porque a gente agora saber lidar com qualquer tipo de coisa do que antes.
S1: Qualquer tipo de problema também.
S8: Eu me desestressei muito pró.10
S6: Acho que a gente aprende a lidar também com as energias.
S1: Eu aprendi a controlar muito o emocional através do Tai Chi. Sabe aquele
sentimento que se você fizesse assim... (gesto com os polegares indicando pouca coisa). Eu
chorava.
S6: Outra coisa que eu percebi também que até a postura, o semblante da pessoa
muda, né?
S4: Esses últimos dias tava reparando, acordava cansado, hoje em dia não acordo
muito cansado não. Dá até uma disposiçãozinha assim, pra estudar.
S5: Acorda com todo o gás.
S4: Até pra estudo mesmo, comecei a prestar mais atenção na aula. Atenção mesmo,
comecei a prestar atenção.
S6: Verdade. Atenção é uma coisa que habitou (sic) mais. Atenção é uma coisa que
aumentou demais.
S4: Até em se refletir você mesmo, no seu pensar, no seu fazer.
S3: E... quando a gente passa por alguma situação apertada, a gente... não sei, eu
pelo menos, consigo não me abafar... Eu consigo pensar em como sair daquele negócio ali
naquele momento. Antigamente não conseguia, eu ficava meio...Meu Deus!!!
S2: Eu acho que vale ressaltar outra coisa também, no meu caso, eu aprendi a limitar
meu medo com isso. Que nem nas próprias aulas, quando a gente ía fazer a parte prática de
aplicar golpes, eu morria medo do S4. Por achar que ele é grande, bem maior que eu. E na
última aula, como eu tava, como a gente até conversou até a respeito, de eu querer aplicar
um golpe, tentar, mas não conseguir por causa disso e aí eu acho que trabalhou muito isso na

9
O sujeito 3 refere-se ao ano de 2016 em que na disciplina de História estava se trabalhando
civilizações da antiguidade e foi realizado um projeto sobre Práticas Corporais Tradicionais para a
promoção da saúde que envolveu Tai Chi Chuan (China), Yoga (Índia), Dança (Civilizações
Africanas) e Capoeira (Brasil / África).
10
Maneira informal de se dirigir ao professor no estado da Bahia.

206
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

hora que a gente foi tentar até que deu certo aquilo ali. Entendeu? Limitar o meu ajudou
bastante, em separar as coisas.
Os benefícios relatados pelos estudantes como melhora da postura, humor e respiração
ratificam relatos de Mikaelian (2017) que utiliza o Chi Kung como recurso psicomotor para
adultos.
Os estudos de Leandro (2016) e Mello et al (2013) fazem menção à prática de artes
marciais e o desenvolvimento do foco e da concentração, algo que os estudantes relataram
como benefício na Roda de Conversa.
A limitação do medo relatada pelo Sujeito 02 chama atenção porque essa emoção está
relacionada ao movimento de energia água que na Medicina Tradicional Chinesa está
relacionado ao meridiano do Rim. Como afirma Mikaelian (2017), a movimentação do corpo
massageia órgãos e vísceras e, por consequência, remove estagnações energéticas que podem
ser expressas por um melhor manejo das emoções que são a manifestação externa de algo que
ocorre internamente no corpo e no mundo subatômico.
Foi questionado como eles poderiam relacionar esses benefícios à prática do Tai Chi
Chuan.
S4: Porque a última prática foi o Tai Chi Chuan.
S2: No meu caso foi assim, tipo, em casa batia o desespero, tensão, e tal, eu só
conseguia lembrar de alguns movimentos do Tai Chi e tentar fazer e me concentrar ali
naquele momento, então isso tudo foi, sabe parecendo que ía, era, isso era as coisas pra
botar as coisas no lugar. Por isso que eu ligo total ao Tai Chi.
S7: A mesma coisa foi quando a gente foi fazer o vestibular. Na hora a gente lembra
do Tai Chi e aí faz os movimentos assim e acalma.
S1: O ENEM também.
S5: Eu acho que é a forma que a gente tem de se agarrar alguma coisa. Porque a
gente conhecendo o Tai Chi Chuan sabe que a gente fazendo aquilo ali vai trazer um certo
tipo de benefício. Então se tá acontecendo alguma coisa você lembra, a não (sic), se é... o Tai
Chi Chuan tá te trazendo isso, então acho que você se agarra ao que você conhece pra tentar
cancelar tudo (sic) tá acontecendo...
S3: Eu acho que o Tai Chi ajudou muito, velho (sic), esses benefícios que a gente
falou, porque no meu caso logo após o Tai Chi eu já consegui me controlar bem mais, então,
eu acredito mesmo, porque na minha rotina só o que entrou de diferente foi o Tai Chi. E
assim que entrou eu comecei a ver a diferença, então é total ligado ao Tai Chi.

207
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

O relato dos estudantes demonstra que o Tai Chi Chuan e o Chi Kung contribuíram
para que os mesmos pudessem enfrentar situações desafiadoras com mais tranquilidade.
Outros relatos podem ter relação com o desenvolvimento das Inteligências Múltiplas:

INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL
S4: Sua forma de pensar e agir, você começa a pensar um pouco mais rápido, reagir
mais rápido.
S3: É... eu acho que a mente abre também. Fica com a mente mais aberta.
S7: É... observar mais as coisas. Observar mesmo. Direito. Focar. É observar mais as
coisas.
S6: Você vai fazer uma autoanálise.
(Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).

Os relatos dos sujeitos 03, 04, 06, 07 remetem ao desenvolvimento da Inteligência


Intrapessoal que se expressou neles na capacidade de autorreflexão e análise.

(Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).


O relato do sujeito 03 sobre o aumento de um senso coletivo remete ao
desenvolvimento da Inteligência Interpessoal, da habilidade de se relacionar com os outros e
da empatia.

(Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos)

O aumento do interesse do Sujeito 01 pela leitura pode demonstrar um maior


desenvolvimento da Inteligência Linguística.

208
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

(Fonte: Eunice Ribeiro dos Santos).

O relato do Sujeito 02 mostra que sua relação com a natureza ficou um pouco mais
estreita evidenciando um desenvolvimento da Inteligência Natural.
A Roda de Conversa ratificou relatos de pesquisas anteriores que afirmam que a
prática de artes marciais pode reduzir estresse, aumentar a concentração e equilibrar as
emoções.
Quanto às Inteligências Múltiplas, os estudantes relataram transformações positivas
em aspectos da vida que estão relacionados às inteligências intrapessoal, interpessoal,
linguística e natural. Das inteligências relatadas na pesquisa qualitativa, as inteligências
intrapessoal e interpessoal figuraram nas hipóteses de pesquisa.
A prática de Tai Chi Chuan e Chi Kung trouxe benefícios aos participantes da oficina,
benefícios relatados em pesquisa anteriores, inclusive. Apesar de não ser possível estabelecer
uma relação direta entre as práticas corporais chinesas e o desenvolvimento das inteligências
dos sujeitos da pesquisa, os mesmos referem ganhos que podem ser relacionados com
determinados espectros de inteligência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi estabelecida como hipótese de pesquisa que as inteligências: espacial, corporal-


cinestésica, intrapessoal e interpessoal poderiam ser desenvolvidas com as Práticas Corporais
da Medicina Tradicional Chinesa.
Não foi possível concluir que as Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa
foram responsáveis diretamente pelo aumento de 56% nos escores do Levantamento das
Inteligências Múltiplas dos sujeitos da pesquisa.
Os dados quantitativos apontaram que a Inteligência Espacial foi a que apresentou
maior escore de aumento e foi elencada como mais desenvolvida na hipótese dessa pesquisa,
contudo os estudantes não fizeram nenhuma referência a essa inteligência na Roda de
Conversa. Já as inteligências Pictórica e Intrapessoal não apresentaram queda em nenhum dos
participantes se mantendo ou aumentando. A manutenção ou aumento do escore da

209
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Inteligência Intrapessoal condiz com os depoimentos dos estudantes da Roda de Conversa que
avaliaram estar mais atentos e reflexivos, características relacionadas a essa inteligência.
As inteligências Linguística e Interpessoal figuraram entre aquelas com maior queda,
sendo que a inteligência interpessoal estava entre aquelas da hipótese de pesquisa como
possíveis para desenvolvimento através das Práticas Corporais Chinesas. Os estudantes, na
Roda de Conversa avaliaram que as Práticas Corporais Chinesas desenvolveram em si um
senso maior de coletividade e um sujeito declarou estar lendo mais depois da prática de Tai
Chi Chuan.
Na Roda de Conversa os estudantes não relataram benefícios que poderiam ser
relacionados à inteligência corporal-cinestésica.
Pautando-se no conceito de inteligência de Gardner que é a capacidade de resolver
problemas, os estudantes tiveram desafios que as Práticas Corporais Chinesas os ajudaram a
resolver como a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o vestibular, bem
como um melhor controle das emoções.
Os sujeitos da pesquisa foram unânimes em afirmar que relacionavam as mudanças às
práticas de Chi Kung e Tai Chi Chuan, porque essa foi a única alteração nas rotinas dos
mesmos.
Vários benefícios referidos na Roda de Conversa haviam sido relatados em outros
estudos sobre artes marciais e educação, como os de Leandro (2016) e Melo et al (2013) que
afirmam que as artes marciais desenvolvendo foco e concentração e os de Mikaelian (2017)
que mostra que a prática do Chi Kung pode melhorar o humor e a respiração.
Apesar dos dados da pesquisa serem inconclusivos e, por vezes, contraditórios, é
inegável que a prática de Tai Chi Chuan e Chi Kung por esse grupo de estudantes enriqueceu
a vida acadêmica dos mesmos, pois participavam de uma atividade diferenciada na escola que
os estimulou a novas experiências, como duas apresentações de Práticas Corporais da MTC
na Universidade do Idoso, vinculada à Universidade do Estado da Bahia (UNEB) o que
possibilitou que eles saíssem da escola, conhecessem uma universidade estadual e passassem
algum tempo com pessoas idosas. Em função da Oficina de Tai Chi (era assim que os
estudantes chamavam a oficina), os estudantes produziram textos e os leram para a produção
de um programa de rádio que, infelizmente, não pode ir ao ar, esse trabalho também foi uma
experiência convidativa para o desenvolvimento das inteligências interpessoal e linguística,
principalmente. Os estudantes também contribuíram com os colegas da escola compartilhando
em aula especial de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) alguns
exercícios de Chi Kung.
A experiência de promover aulas de Práticas Corporais da Medicina Tradicional
Chinesa para estudantes do Ensino Médio foi a realização de um sonho de proporcionar aos

210
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

estudantes os benefícios que essa pesquisadora pode observar em si mesma. Com a aceitação
desse desafio sua Inteligência Interpessoal também foi desenvolvida, pois a relação com os
estudantes, que também eram seus alunos do ensino regular, tornou-se mais estreita e afetiva e
estendeu-se no trato com os demais estudantes do Ensino Médio.
A possibilidade de poder trazer as Práticas Corporais da MTC para a escola provocou
a reflexão sobre a presença do corpo na educação. Essa questão merece estudos mais
sistemáticos sobre como inserir o corpo no ensino regular e não apenas como uma atividade
alternativa, pois apesar da oficina trabalhar o corpo de uma maneira diferenciada da Educação
Física, por exemplo, o corpo continuou sendo um adendo na rotina escolar. Parece que há
uma lacuna investigativa nas perspectivas de como integrar o corpo nas atividades regulares
das disciplinas escolares, principalmente nos segmentos da Educação Fundamental II e no
Ensino Médio.
O estudo da relação entre Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa e
Inteligências Múltiplas também merece novas investigações haja vista que os dados coletados
suscitaram muitas dúvidas. Novas pesquisas deveriam contar com uma amostragem maior,
haja vista que sete pessoas é uma amostra insuficiente e um tratamento estatístico .
Outro aspecto a ser melhorado seria o desenho metodológico da pesquisa que poderia
lançar mão de provas experimentais a serem realizadas após cada prática, foco no estudo de
uma única inteligência ou análise de imagens de ressonância magnética ou tomografia a fim
de se observar possíveis alterações cerebrais nas regiões onde estão localizadas as
inteligências após um determinado tempo de práticas no Tai Chi Chuan e Chi Kung.
O problema de pesquisa proposto: As práticas corporais da Medicina Tradicional
Chinesa podem contribuir para o desenvolvimento das Inteligências Múltiplas? caracteriza-se
por inédito. A pesquisa bibliográfica não indicou que problemas de pesquisa similares foram
aventados por outros pesquisadores.
Os instrumentos de coleta de dados indicam que a Prática de Tai Chi Chuan e Chi
Kung podem desenvolver as Inteligências Múltiplas, contudo outras pesquisas são necessárias
para estabelecer uma relação direta.
A pesquisa qualitativa ratificou achados anteriores sobre artes marciais e educação,
contudo a amostra dessa pesquisa é pequena para fazer generalizações.

211
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

ANEXOS
ANEXO A – Anamnese - Oficina De Tai Chi Chuan – 2017

COLÉGIO ESTADUAL OLIVEIRA BRITTO


OFICINA DE TAI CHI CHUAN – 2017
ANAMNESE

ORIENTAÇÕES:
• Suas respostas serão mantidas em sigilo.
• Responda o mais honestamente possível todas as perguntas.

Nome Data Nascimento / /

Data de início treinamento: / /

Data de resposta à anamnese / /

Questionário
1. Apresenta algum tipo de limitação, dificuldade, distúrbio, deficiência ou problema de
saúde: depressão, diabetes, fibromialgia, artrite, parkinson, alzheimer, problema
cardiovascular, sobrepeso, alergia, hipertensão, hiperatividade, inflamações nas articulações,
entre outros? Especifique:

2. Você faz algum tratamento e/ou terapia?


NÃO [ ] SIM[ ] Qual, tipo e desde quando:?

3. Você fez alguma cirurgia nos últimos 12 meses?


NÃO [ ] SIM [ ] Qual e quando?

4. Toma algum medicamento?


NÃO [ ] SIM [ ] Em caso positivo, especifique o tipo de medicamento e para que serve:

214
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

5. No passado houve algum fato importante relacionado à saúde que interferiu na rotina de
sua vida?
NÃO [ ] Sim [ ] Qual e quando?

6. Como você considera sua qualidade de vida?


[ ] Muito boa [ ] Boa [ ] Razoável [ ] Ruim [ ] Muito ruim
Por que?

7. Na ÚLTIMA SEMANA marque entre os colchetes QUANTAS VEZES você apresentou os


sinais – se não apresentou, deixe em branco

A) Aspectos físicos - na ÚLTIMA SEMANA QUANTAS VEZES você teve:


[ ] incidência de quedas e desequilíbrio – caiu, tropeçou, esbarrou...
[ ] algum tipo de tensão muscular - aperto de mandíbula, dor na nuca...
[ ] hiperacidez estomacal (azia) sem causa aparente
[ ] cansaço ao levantar
[ ] dor de cabeça – Área frontal da cabeça
[ ] dor no joelho: [ ] esquerdo [ ] direito
[ ] dor na perna: [ ] esquerda [ ] direita
[ ] dor nas costas: [ ] cervical [ ] torácica [ x ] lombar
[ ] dor nos ombros: [ ] esquerdo [ ] direito
[ ] dor em outra parte do corpo, especifique:

B) Aspectos emocionais - na ÚLTIMA SEMANA QUANTAS VEZES você:


[ ] teve irritabilidade excessiva
[ ] teve vontade de sumir fora de hora
[ ] sentiu que não iria conseguir lidar com o que estava ocorrendo
[ ] sentiu que nada mais valia a pena
[ ] ficou tenso, nervoso ou angustiado quando teve que esperar numa fila
[ ] ficou impaciente quando pegou um engarrafamento
[ ] ficou intolerante com as limitações dos outros
[ ] tornou-se agressivo quando discordaram de você

C) Aspectos funcionais - na ÚLTIMA SEMANA QUANTAS VEZES você:


[ ] perdeu a memória e esqueceu de coisas simples (nº do seu telefone, onde colocou a chave
etc)
[ ] esperou alguém que estava atrasado e por isso ficou de mal humor e reclamando
[ ] perdeu o controle quando as coisas não aconteceram como esperava
[ ] aceitou novas responsabilidades mesmo sobrecarregado
[ ] teve dificuldade em se concentrar
[ ] teve ansiedade elevada

215
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

[ ] teve insônia
[ ] teve tonturas
[ ] teve desmaios
[ ] teve um distúrbio do sono - dormiu demais ou muito pouco
[ ] se sentiu pressionado, explodiu ou surtou
[ ] deixou os outros influenciarem a sua vida
[ ] passou por situações em que a timidez se manifestou
[ ] teve medo ou insegurança em aprender coisas novas
[ ] teve medo de algo comum/corriqueiro
[ ] fumou cigarro (escrever o número de cigarros por dia)

8. DESEMPENHO ESCOLAR:

A) Quais disciplina que você julga ter melhor desempenho? Por qual motivo você considera
que possui melhor desempenho nessas disciplinas? Priorize os motivos que dependem de
você. (organização, dificuldade / facilidade em aprender, dificuldade / facilidade em
concentração, relacionamentos que facilitam ou dificultam a aprendizagem, emoções que
facilitam ou dificultam a aprendizagem, dentre outros)

B) Quais as disciplinas você considera não ter um bom desempenho? Quais os motivos que
você considera determinantes para o seu desempenho? Priorize os motivos que dependem
de você. (organização, dificuldade / facilidade em aprender, dificuldade / facilidade em
concentração, relacionamentos que facilitam ou dificultam a aprendizagem, emoções que
facilitam ou dificultam a aprendizagem, dentre outros)

9. ASPECTOS PESSOAIS

A) No que diz respeito a seus aspectos físicos (aparência, condicionamento físico,

216
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

coordenação motora, saúde, dentre outros), lite aspectos em que você está satisfeito (a) e
aspectos em que você está insatisfeito (a).

B) No que diz respeito a seus aspectos emocionais (expressão das emoções, relacionamentos,
manejo das emoções, reflexão sobre si mesmo e sobre os outros), liste aspectos em que
você está satisfeito (a) e aspectos em que você está insatisfeito (a).

10. PRÁTICAS CORPORAIS


A) Participou de alguma atividade corporal nos últimos 2 anos?
NÃO [ ] SIM [ ] Qual, quando e por quanto tempo:

B) Qual é a sua expectativa – o que você espera, com a prática de Tai Chi Chuan pelos
próximos 3 meses?

217
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

ANEXO B – Anamnese 2ª Fase – Oficina de TaiChi Chuan

COLÉGIO ESTADUAL OLIVEIRA BRITTO


OFICINA DE TAI CHI CHUAN – 2017
ANAMNESE – 2ª FASE

ORIENTAÇÕES:
• Suas respostas serão mantidas em sigilo.
• Responda o mais honestamente possível todas as perguntas.
• Responda a todas as perguntas da anamnese.

Nome

Data de resposta à anamnese


/ /

Questionário
1. Apresenta algum tipo de limitação, dificuldade, distúrbio, deficiência ou problema de
saúde: depressão, diabetes, fibromialgia, artrite, parkinson, alzheimer, problema
cardiovascular, sobrepeso, alergia, hipertensão, hiperatividade, inflamações nas articulações,
entre outros? Especifique:

2. Você faz algum tratamento e/ou terapia?


NÃO [ ] SIM[ ] Qual, tipo e desde quando:?

3. Você fez alguma cirurgia nos últimos 6 meses?


NÃO [ ] SIM [ ] Qual e quando?

4. Toma algum medicamento?


NÃO [ ] SIM [ ] Em caso positivo, especifique o tipo de medicamento e para que serve:

5. Como você considera sua qualidade de vida?


[ ] Muito boa [ ] Boa [ ] Razoável [ ] Ruim [ ] Muito ruim
Por que?

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EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

6. Na ÚLTIMA SEMANA marque entre os colchetes QUANTAS VEZES você apresentou os


sinais – se não apresentou, deixe em branco

A) Aspectos físicos - na ÚLTIMA SEMANA QUANTAS VEZES você teve:


[ ] incidência de quedas e desequilíbrio – caiu, tropeçou, esbarrou...
[ ] algum tipo de tensão muscular - aperto de mandíbula, dor na nuca...
[ ] hiperacidez estomacal (azia) sem causa aparente
[ ] cansaço ao levantar
[ ] dor de cabeça – Área frontal da cabeça
[ ] dor no joelho: [ ] esquerdo [ ] direito
[ ] dor na perna: [ ] esquerda [ ] direita
[ ] dor nas costas: [ ] cervical [ ] torácica [ x ] lombar
[ ] dor nos ombros: [ ] esquerdo [ ] direito
[ ] dor em outra parte do corpo, especifique:

B) Aspectos emocionais - na ÚLTIMA SEMANA QUANTAS VEZES você:


[ ] teve irritabilidade excessiva
[ ] teve vontade de sumir fora de hora
[ ] sentiu que não iria conseguir lidar com o que estava ocorrendo
[ ] sentiu que nada mais valia a pena
[ ] ficou tenso, nervoso ou angustiado quando teve que esperar numa fila
[ ] ficou impaciente quando pegou um engarrafamento
[ ] ficou intolerante com as limitações dos outros
[ ] tornou-se agressivo quando discordaram de você
C) Aspectos funcionais - na ÚLTIMA SEMANA QUANTAS VEZES você:
[ ] perdeu a memória e esqueceu de coisas simples (nº do seu telefone, onde colocou a chave
etc)
[ ] esperou alguém que estava atrasado e por isso ficou de mal humor e reclamando
[ ] perdeu o controle quando as coisas não aconteceram como esperava
[ ] aceitou novas responsabilidades mesmo sobrecarregado
[ ] teve dificuldade em se concentrar
[ ] teve ansiedade elevada
[ ] teve insônia
[ ] teve tonturas
[ ] teve desmaios
[ ] teve um distúrbio do sono - dormiu demais ou muito pouco
[ ] se sentiu pressionado, explodiu ou surtou
[ ] deixou os outros influenciarem a sua vida
[ ] passou por situações em que a timidez se manifestou
[ ] teve medo ou insegurança em aprender coisas novas
[ ] teve medo de algo comum/corriqueiro
[ ] fumou cigarro (escrever o número de cigarros por dia)

7. ASPECTOS PESSOAIS

219
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

C) No que diz respeito a seus aspectos físicos (aparência, condicionamento físico,


coordenação motora, saúde, dentre outros), você observou alguma modificação após a
prática de TCC ou não houveram alterações? Em caso positivo, cite quais foram as
modificações.

D) No que diz respeito a seus aspectos emocionais (expressão das emoções, relacionamentos,
manejo das emoções, reflexão sobre si mesmo e sobre os outros), você observou
transformações em si mesmo após a prática do TCC ou os aspectos emocionais
permaneceram inalterados? Em caso positivo, cite as transformações.

8. DESEMPENHO ESCOLAR:

O Tai Chi Chuan pode ter trazido algum tipo de benefício para sua vida pessoal e / ou
escolar? Em caso positivo, quais foram os benefícios?

9. AVALIAÇÃO DA AULA DE TAI CHI CHUAN

Liste os aspectos positivos das aulas de Tai Chi Chuan.

220
EUNICE RIBEIRO DOS SANTOS

Liste os aspectos negativos das aulas de Tai Chi Chuan.

Liste os aspectos positivos da condução das aulas de TCC pela professora Eunice Ribeiro dos
Santos.

Liste os aspectos negativos da condução das aulas de TCC pela professora Eunice Ribeiro dos
Santos.

10. PRÁTICAS CORPORAIS


Após seu tempo de prática de TCC suas expectativas sobre a prática se cumpriram? Em caso
positivo ou negativo, justifique sua resposta.

221
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

ANEXO C – Termo de Autorização

COLÉGIO ESTADUAL OLIVEIRA BRITTO

Eu, , pai ou responsável do

estudante autorizo a participação

dele (a) na Oficina de Tai Chi Chuan que se realizará às segundas-feiras das 13:30 às 15:10,

nessa escola.

Autorizo também o uso da imagem e divulgação de dados, adquiridos na Oficina, de forma

anônima, para fins educacionais e / ou científicos.

Aluno Pai ou Responsável

222
EVELYN CRISTINA STEPHANO

9. QI GONG no contexto escolar

Evelyn Cristina Stephano

223
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

RESUMO

É fato conhecido que o cotidiano escolar pode ser um ambiente de grandes realizações e
também de grandes desafios para crianças dos 6 aos 11 anos e atualmente assistimos um nos
índices de crianças diagnosticadas com algum transtorno de aprendizagem, de ansiedade, ou
ainda apresentando comportamentos ligados ao stress (roer unhas, coçar-se sem motivo
aparente, mastigar objetos que tem a mão etc). Talvez por esse motivo, os olhares sobre as
práticas corporais e meditativas, as quais podem auxiliar os alunos nessas questões, vem se
intensificando. O objetivo deste estudo foi analisar a produção científica relacionada a
aplicação do Qigong no ambiente escolar para crianças bem como apontar os benefícios
obtidos com essa prática e dificuldades encontradas pelos pesquisadores na condução desses
estudos. Foram utilizadas duas bases de dados eletrônicas (CAPES e Web of Science), além
do google acadêmico para fazer um levantamento dos estudos existentes com os termos de
busca “Qigong”, “School” e “Children”. Após seguir os critérios de inclusão no estudo
restaram 8 trabalhos que revelaram que o Qigong pode ser uma valiosa ferramenta para
melhorar a qualidade de vida do aluno na escola, ajudando a aumentar as notas ou mantê-las
num patamar satisfatório, além de diminuir problemas gerados por transtornos de
aprendizagem, baixa capacidade de concentração, agressividade, comportamentos
inadequados e aumentar o senso de coletividade a percepção de sí e a auto estima

Palavras-chave: Qigong. Ambiente escolar. Crianças. Transtornos de aprendizagem.


Transtorno de ansiedade

ABSTRACT

It is a well-known fact that everyday school life can be an environment of great


achievements and also great challenges for children from the age of 6 and today we see an
index of children diagnosed with some learning disorder, anxiety, or even stress , scratching
for no apparent reason, chewing on objects that have a hand etc.). Perhaps for this reason, the
looks on corporate practices that lavish the style of their adventures have been intensifying.
The objective of this study was to analyze the scientific relationship related to the application
of Qigong in the school setting for children. There were two electronic databases (CAPES
and web of Science) plus google academic to do a survey of existing studies with the search
terms "Qigong", "Children" and "School". Qigong can be a valuable tool to improve the
quality of student's life at school for learning disorders, poor ability to concentrate,
aggressiveness, inappropriate behaviors and increase the sense of collectivity self-perception
self-esteem.

Keywords: Qigong. School environment. Children. Learning disorders. Anxiety disorder.


224
EVELYN CRISTINA STEPHANO

INTRODUÇÃO

Dos 6 aos 11 anos, um dos medos mais comumente encontrado nas crianças é o de
sair se mal na escola (MAGALHÃES, 2016). Essa afirmação reflete se no cotidiano escolar
na frequente observação de comportamentos compulsivos e indicativos de stress presentes
em boa parte dos alunos (BROLIN, 2009).
Se o cotidiano na escola já pode ser um fator de stress e ansiedade para uma criança
cujas funções cognitivas e neurológicas operam dentro da “normalidade”, para indivíduos
que convivem com transtornos de aprendizagem esse desafio é ainda maior. Segundo dados
da Associação Brasileira de psicopedagogia, atualmente, cerca de 5% da população escolar é
acometida por transtornos que causam dificuldade de aprendizagem (COLL, 2004). Se
considerarmos que esses diagnósticos são relativamente novos e muitas vezes o acesso aos
profissionais habilitados para fazê-lo é difícil, podemos supor que esse número
possivelmente seja maior.
Essa realidade acaba por afetar também os educadores, que precisam lidar com
famílias cheias de expectativas quanto ao desempenho escolar das crianças, com os
educandos que experimentam o medo excessivo de falhar em seus “deveres de aluno” e ainda
precisam encontrar formas de auxiliar a todos em seu processo de aprendizagem em salas de
aula que muitas vezes estão superlotadas. Não à toa a docência já em 1981, foi apontada pela
Organização Internacional do Trabalho, como uma das profissões com maior potencial de
desgaste físico e mental, geradora de grande stress (OLIVEIRA, 2014).
Devido a este cenário estabelecido nas escolas, diversos experimentos envolvendo
técnicas variadas de meditação e cultivo do bem estar, têm sido conduzidos, obtendo
resultados bastante positivos como veremos mais adiante. Isso demonstra que esta pode ser
uma valiosa ferramenta não apenas para melhorar o cotidiano no ambiente escolar como
também para manutenção dos níveis de qualidade de vida de todos os sujeitos envolvidos no
contexto escolar (professores e alunos) (MAGALHÃES, 2016; BROLIN, 2009; OLIVEIRA,
2014).
O Qigong (pronuncia-se Chi Kun) é um dos componentes da Medicina Tradicional
Chinesa (MTC), que busca a mobilização sutil da energia vital do corpo (Qi) e dessa forma,
corrigir desarmonias e reestabelecer o equilíbrio da saúde integral (física e emocional)
daqueles que o praticam. Por tratar-se de um método composto de movimentos suaves,
cadenciados e coordenados com a respiração, o Qigong tem grande influência sobre a
capacidade de concentração e manutenção dos níveis de atenção, redução dos níveis de stress
e ansiedade, além de influenciar também o comportamento devido à filosofia na qual é
embasado e que geralmente, ainda que de maneira sutil, é transmitida durante sua prática

225
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

(CHOW e TSANG, 2007).


Devido a tudo o que até aqui foi exposto, o foco deste trabalho é explorar a literatura
existente que traça uma correlação entre o Qigong na escola e a melhora no desempenho
escolar e nas habilidades sociais de crianças submetidas a sessões desta prática. O objetivo
deste estudo foi analisar a produção científica relacionada a aplicação do Qigong no
ambiente escolar para crianças bem como apontar os benefícios obtidos com essa prática e
dificuldades encontradas pelos pesquisadores na condução desses estudos.

QIGONG

Qi, em chinês quer dizer energia e gong significa trabalho, mobilização ou prática
que requeira esforço, empenho e dedicação por parte do praticante/ trabalhador.
Segundo Huston (1995), é quase impossível dar uma definição de Qi sem mencionar
de alguma forma a palavra “energia” e isso muitas vezes dá a essa prática corporal o status
de exótica ou evoca no imaginário popular a ideia de uma prática distante da realidade e do
cotidiano da maior parte da população ocidental. Mas como afirma o mesmo autor, com
poucas exceções peculiares, se houver alguma, estar vivo significa criar, usar e trocar
energia. Sendo assim, o Qigong nada mais é do que um dos componentes da Medicina
Tradicional Chinesa e uma das formas de meditação que pode ocorrer em movimento (KIT,
1999).
O termo Qigong é de origem chinesa, mas esta arte tem sido praticada por diferentes
povos, o yoga, por exemplo é de origem indiana mas em diversos pontos se assemelha ao
Qigong, pois envolve o trabalho com o prana (equivalente do Qi).
Por motivos culturais e históricos, pode se encontrar algumas diferenças nos métodos
e na ênfase de diferentes técnicas de Qigong, mas todas lidam com o desenvolvimento de
energia, e todas elas visam promover a saúde integral do indivíduo (física, emocional, mental
e espiritual). (SHAOLIN, 2018).
De acordo com Oliveira (2014), o termo “Qigong” surgiu pela primeira vez no livro
“Clássico de Medicina do Imperador Amarelo” e estava ligado a exercícios físicos,
respiratórios e a práticas que trabalhavam com os meridianos (canais por onde circula o Qi),
ainda segundo este livro a real origem do Qigong está nos tempos do xamanismo chinês,
muito antes dos registos escritos (cerca de 4 ou 5 mil anos atrás). Naquela época, os chineses
dependiam muito do céu e da terra, pois a maior parte da população vivia no campo,
justamente por conta dessa dependência, aprenderam a observar esses dois elementos e suas
interações e assim entenderam o princípio do equilíbrio entre yin e yang. A partir desse
entendimento é que o Qigong foi desenvolvido. Os principais componentes dessa prática são:
concentração, relaxamento, regulação da respiração, regulação da postura corporal e
226
EVELYN CRISTINA STEPHANO

regulação da mente (KIT, 1999).


Há uma grande variedade de estilos da prática, inclusive voltados para diferentes
finalidades, como os Qigong médicos, marciais, religiosos, estáticos, dinâmicos, entre outros,
mas todos eles trabalham o indivíduo de forma integral, tratando-o como um ser que é um
todo, composto por partes que mantem entre si uma relação de interdependência
(AVELANS1, 2017 appud WANG et al, 2013).

Apesar de ter origens muito antigas, o Qigong é ainda hoje muito praticado pela
população chinesa como forma de manter e recuperar a saúde física, controlar as emoções,
diminuir os níveis de stress e sintomas associados à depressão e ansiedade, além de melhorar
o bem-estar geral, uma vez que trabalha para normalizar o fluxo do Qi e assim harmonizar o
corpo físico e as emoções (SHAOLIN, 2018). A prática de Qigong apresenta benefícios
importantes para a saúde, através de exercícios físicos e meditativos que pretendem habilitar
o organismo a ser capaz de lidar com o stress e as tensões às quais estamos sujeitos
diariamente (POSADSKI, 2010).

Qigong no contexto escolar

Embora profissionais da área da educação e de áreas correlatas a esta estarem


direcionando um olhar mais atento às diversas formas de meditação, seus benefícios e outras
alterativas para controle da ansiedade, agressividade e melhora na atenção e concentração
das crianças no ambiente escolar (MAJOLO, 2014) ainda há uma carência muito grande de
estudos conduzidos envolvendo o Qigong dentro das escolas. Essa carência é ainda maior
quando se fala em Qigong infantil.
São raras as pesquisas realizadas que abordam diretamente a relação entre
desempenho escolar (incluindo-se aí notas, comportamento em sala de aula, relacionamento
interpessoal, sentimentos relacionados ao ambiente escolar, por exemplo), crianças e Qigong.
É importante que esse quadro seja revertido, pois o imediatismo sob o qual a sociedade
moderna vive, vem atingindo seus membros cada vez mais cedo (LIMA, 2000).
Frequentemente, podemos perceber crianças ainda em tenra idade que apresentam
comportamentos relacionados a ansiedade, como tiques e gestos compulsivos (roer as unhas,
morder objetos que tenham a mão, coçar a cabeça sem motivo etc.). No contexto escolar isto

1
AVELANS, T. C. Efeitos Cognitivos e Comportamentais do Qigong em Estudantes - Uma Revisão
Sistemática da Literatura. 2017 (Mestrado em Medicina Tradicional Chinesa). Instituto de Ciências
Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Porto, 2017. 2 ed. v.76. 83 f.

227
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

adquire visibilidade ainda maior, uma vez que um dos medos mais comuns em crianças com
idade entre 6 e 11 anos, é o de sair-se mal na escola (MAGALHÃES, 2016).
O ambiente caótico em que atualmente vivem as crianças oferece uma diversidade
gigantesca de estímulos vindos do uso cada vez mais precoce de dispositivos eletrônicos
voltados para jogos e redes sociais, que se somam ou até mesmo concorrem com os
estímulos provenientes do ambiente escolar e das mais diversas atividades extracurriculares
(cursos de idioma, práticas esportivas, aulas de música, entre outras). Somando se a isso a
falta de tempo para que ocorram trocas afetivas e convívio adequado entre pais e filhos, cria
se um cenário que acaba por comprometer ainda mais o bom funcionamento psíquico afetivo
e social do indivíduo (VASCOUTO et al 2013).
Muitos dos problemas comportamentais e cognitivos que afligem as crianças no
ambiente escolar e dificultam o processo de aprendizagem, socialização e interação com
colegas e professores vêm também da carga atribuída a essas crianças pelos pais. De acordo
com Vectore e Zumstein (2010), os pais, na maior parte das vezes por se preocuparem em
proporcionar um bom futuro profissional para seus filhos, acabam criando expectativas
demasiadas e esperando resultados de excelência em todas as atividades nas quais as crianças
estão envolvidas. Ao perceberem isso e sentirem o peso dessas expectativas, passam a sofrer
por apresentarem ambições também demasiadamente elevadas, levando a um quadro de
desequilíbrio emocional e baixa auto-estima causada pelo excesso de atividades a que são
submetidas.
Vislumbrando o contexto exposto não é difícil perceber que diversos fatores
influenciam nos processos que culminam nas dificuldades de aprendizagem, na forma como
se desenrolam as relações de socialização e nos demais problemas enfrentados pelas crianças
no ambiente escolar. Desta forma, a abordagem mais adequada para solucionar essa questão
precisa também ser multifatorial e multidisciplinar, oferecendo auxilio para que os sujeitos
possam perceber a sí mesmos e adquirirem maior protagonismo no enfrentamento e na
solução de problemas que possam vir a enfrentar.
Devido ao fato de ser tratar de uma técnica milenar, o Qigong certamente não foi
pensado exatamente para o contexto da sociedade atual. No entanto, por ser composto de
posturas, exercícios e mesmo por técnicas de respiração que evocam calma, suavidade,
firmeza e autocontrole, atua diretamente na interação corpo–mente, sendo assim uma
ferramenta que pode ser de grande valor no contexto acima proposto.
Para Bertazzo (1998), os chineses possuem e praticam, há muito tempo e em grande
escala, uma espécie de ensinamento, chamada por ele de “psicomotricidade requintada”, que
constitui uma verdadeira “escola de movimento” que as vezes é nomeada como tai chi chuan,
ou “chi kung”. Sendo assim, toda a terapêutica chinesa, incluindo as automassagens, as
228 demais práticas corporais além do próprio tai chi chuan, são conhecimentos que podem a
EVELYN CRISTINA STEPHANO

princípio parecer estranhos ou sem relação com nosso cotidiano, mas que na verdade se
desenvolveram como um sistema muito eficiente de autoajuda, autocuidado e
autoconhecimento. A base desse sistema é a motivação gerada pelo conhecimento do próprio
corpo e de seu funcionamento, fato que pode vir a empoderar o sujeito e melhorar sua
relação com o próprio corpo e consigo mesmo.
Lynch e Huang (1998) falam sobre como a ideia da impermanência ser a única coisa
realmente imutável é expressa nos movimentos do Qigong, de forma cadenciada e
interligados na passagem de um exercício para o seguinte com fluidez e afirmam o quanto
isto pode favorecer principalmente os indivíduos considerados agressivos ou hiperativos no
contexto escolar. Através desse tipo de prática, esses sujeitos podem vivenciar e externar
emoções que talvez não possam ser vivenciadas e expressas na realidade em que estão
socialmente inseridos.
Chow e Tsang (2007), concluíram que o Qigong, devido a eficácia do seu potencial
terapêutico, pode ser considerado um tratamento válido nos transtornos de ansiedade na
população de forma geral, independente da faixa etária, pelo controle da respiração e da
mente, pois verificaram que o Qigong produz efeitos reguladores imediatos.

METODOLOGIA

Revisão da Literatura

Para proceder a revisão da literatura, foi feito um levantamento em 2 diferentes bases


de dados eletrônicas de artigos científicos (Web of Science e CAPES) utilizando as palavras
chaves: Qigong and School and children. Algumas teses e dissertações também foram
encontradas na plataforma do Google acadêmico foram utilizadas. A Lista de referência com
todos os resultados foi analisada e após a leitura dos respectivos resumos, foram excluídos os
trabalhos que eram voltados para atividades extra curriculares, ou que não foram
propriamente desenvolvidos no contexto escolar

229
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Resultados da pesquisa da literatura

Na busca realizada na base de dados Web of Science, foram encontrados 792 registros
relacionados com o termo Qigong, dos quais 12 incluíam o termo school e neste subgrupo,
apenas 4 incluíam o termo children (FIGURA 1):

FIGURA 1: Dados relacionados aos termos utlizados no levantamento bibliografico.


Fonte:Web of Science

Junto ao Portal de Periódicos da CAPES/MEC, 9344 artigos continham o termo


Qigong, desses 192 continham o termo “school” e no refinamento buscando pela palavra
children, o número de artigos encontrados foi de 17 (Figura 2).

FIGURA 2: Dados relacionados aos termos utlizados no levantamento bibliografico.


Fonte:Portal Periódicos CAPES/MEC.

Dos 21 resultados obtidos na busca, foram excluídos aqueles que não tinham relação
alguma com o ambiente ou contexto escolar e aqueles com amostras compostas apenas por
adolescentes, ocorreu também de um mesmo artigo cientifico aparecer mais de uma vez no
mesmo banco de dados e ainda de se repetir nos 2 bancos de dados consultados.
230
EVELYN CRISTINA STEPHANO

Após as exclusões e eliminação dos resultados duplicados, restaram então 8 trabalhos,


que são os que serão aqui discutidos.

DISCUSSÃO

Brolim (2009), conduziu um estudo com crianças do ciclo de ensino equivalente ao


ensino fundamental 1, na Suécia, onde aplicou o Qigong Chi Neng em seus alunos com idade
entre 7 e 9 anos por 3 meses e constatou que a melhora relativa a concentração, habilidades
sociais, habilidades motoras, autoconfiança, otimismo, auto consciência. Dentre outras
capacidades, foi maior nos alunos que praticaram o Qigong em relação aos níveis de melhora
obtidos por alunos que praticaram outras técnicas de relaxamento e auto massagem.
Rodrigues et al (2018), em seu experimento envolvendo Tai chi chuan e Qigong (de
forma mais precisa o Ba Duan Jin) para um grupo de 4 crianças com idade entre 6 e 10 anos,
diagnosticadas com transtornos de comportamento e de aprendizagem, encontrou ótimos
resultados após intervenção feita durante 1 ano ministrando essas práticas. Os problemas
relacionados ao Transtorno do Déficit de Atenção (TDA) e ao Transtorno Opositor
Desafiante (TOD) tiveram uma redução bastante expressiva e em menor escala, mas ainda
assim significativa melhora. Os problemas relacionados ao TDA com Hiperatividade
(TDAH) também diminuíram. A melhora geral dos sintomas foi de 43%, demonstrando que
essas técnicas podem ser de grande valia para auxiliar crianças com transtornos de
aprendizagem.
Magalhães (2016) em seu estudo com 3 alunos do 1º Ciclo de ensino, em Portugal
(equivalente ao Ensino Fundamental 1 no Brasil), conduziu seu estudo a fim de verificar se
as técnicas de Qigong e Tui na (que denomina também como toque terapêutico) poderiam
constituir em uma ferramenta eficaz de auxilio para que os educandos a diminuíssem e
controlassem os níveis de ansiedade antes dos exames escolares. Neste estudo a autora
verificou ainda que há uma possível influência das mães nos níveis de ansiedade das
crianças, pois todas as mães das crianças que integraram a amostra (cujo critério para
inclusão era apresentar comportamentos relacionados à ansiedade) assumiram que eram
pessoas bastante ansiosas. Após a aplicação das duas técnicas diariamente por um período de
10 dias, a autora observou que as crianças obtiveram melhoras em todos os gestos e atitudes
relacionados a ansiedade observados anteriormente, sendo que os movimentos compulsivos
foram os que apresentaram uma melhora mais significativa, (em alguns casos logo após a
primeira sessão de Qigong e Tui na), acabando por atingir uma eficácia de 100% após a
última intervenção. Além disso, todas as crianças obtiveram melhoras quanto a concentração,
uma vez, que não se distraíram com tanta facilidade (em alguns casos obtendo melhoras de
231
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

100% na última observação). Houve ainda, crianças que relataram espontaneamente que já
não sentiam tanta dor de barriga e que as mãos não suavam tanto. Tendo em conta os
resultados obtidos, pode-se então afirmar que o Qigong influência positivamente os níveis de
ansiedade nas crianças no contexto escolar.
Witt et al (2005), em seu estudo envolvendo 40 crianças com idade entre 6 e 7 anos,
verificou uma melhora no comportamento social, na manutenção das notas escolares e
diminuição dos comportamentos inadequados, após 6 meses de intervenção com Qigong (na
frequência de duas vezes por semana). Essa melhora foi observada tendo como base para
comparação, um grupo de estudantes da mesma faixa etária e cursando a mesma série
escolar, mas que não tiveram intervenção alguma.
Em um estudo que teve por objetivo investigar as possíveis contribuições do Qigong
para a Educação Física escolar, Silveira e Cardoso (2004) introduziram o Qigong em
crianças da terceira série do ensino fundamental, com idade entre 8 e 9 anos, tomando por
base elementos que já era conhecidos pelos alunos (desenho animado que falava sobre
energia). Ao longo de 4 aulas, as crianças aprenderam sobre os fundamentos filosóficos, as
origens e vivenciaram exercícios de Qigong adaptados do método Fang Sung Kung
(exercício respiratório de relaxamento) e movimentos extraídos da primeira e terceira
seqüência do Tai Chi Chuan estilo Wu. Os resultados obtidos demonstraram que os alunos
sentiram alguns dos benefícios do Qigong, como relaxamento, melhora nos níveis de atenção
e capacidade de concentração, controle da agitação excessiva, aumento da auto percepção e
regulação da respiração.
Witt et al (2007), conduziu um estudo envolvendo 140 crianças de escolas primárias e
secundárias que praticaram em média 4 vezes por semana, o Xiang gong (Treinamento
Perfumado) durante 6 meses. Ao final do período de intervenção foi observado que a prática
ajudava a acalmar, energizar e harmonizar os alunos além de reduzir a agressividade,
reforçar o senso de coletividade e melhorar a saúde. Há ainda uma particularidade muito
interessante neste estudo, que é o fato das sessões Qigong terem sido ministradas pelos
professores titulares de cada turma, pois receberam treinamento para fazê-lo e dessa forma
afirmaram após o término do experimento que era viável manter a prática e apontaram ainda
algumas questões que enfrentaram com preocupações dos pais sobre uma possível
“doutrinação religiosa”.
Wang, Seo e Geib (2017) descrevem o processo de desenvolvimento de um programa
de Qigong voltado para a saúde. Esse programa, que foi formulado visando auxiliar crianças
estressadas, utilizou uma abordagem de avaliação formativa em múltiplos passos, que
incluíram: elencar os conteúdos do programa e redigir o currículo, sintetizar metodologias e
linhas pedagógicas eficazes e adequadas à faixa etária do público alvo, submeter a proposta a
232 um grupo de especialistas em Tai Chi Chuan, Qigong, saúde e educação. Após isso, aplicar
EVELYN CRISTINA STEPHANO

um teste com os alunos que estão dentro do perfil do público pretendido e solicitar feedback
dos alunos. e finalmente revisar e finalizar o programa. Os conteúdos escolhidos foram o
Qigong dos 5 animais e o Ba Duan Jin e várias adaptações foram feitas nos nomes dos
exercícios pensando em aproximar mais a prática do cotidiano infantil. Os conteúdos foram
organizados e divididos em 16 aulas. Algumas mudanças foram feitas com base nas
sugestões de cada um dos especialistas consultados afim de deixar o programa passível de
ser aplicado no dia a dia das escolas. Finalmente 34 crianças foram selecionadas para compor
o grupo para teste e após 16 semanas pode se observar que o programa parece ser realmente
eficaz na redução do estresse.
Conforme afirma Ribeiro (2015), em seu trabalho onde propõe a inserção do Qigong
dos 5 animais nas escolas, o Qigong poderia ser inserido na rotina escolar ou mesmo integrar
o tratamento psicopedagógico de diversas maneiras, inclusive como atividade regular entres
professores para manter a saúde em meio a uma rotina bastante estressante. Esta autora
sugere ainda que o ideal seria que a escola o praticasse coletivamente, pois promove um
equilíbrio integral do indivíduo e, consequentemente das suas emoções independentes da
origem dos problemas ou distúrbios de aprendizagem, desde que se observe respeite as
possibilidades físicas de cada praticante. Ribeiro defende ainda que o princípio da não-
interferência ajuda a anular a mente julgadora que muitas vezes atrapalha o processo de
ensino aprendizagem, ao emitir juízos como: “está errado”; “não dou para isso”; “tá chato”,
dentre vários outros, pois permite a observação do que ocorre, o fluir do movimento e do
próprio corpo.

CONCLUSÃO

Mediante a revisão bibliográfica aqui realizada, os trabalhos evidenciaram os


benefícios do Qigong em ambiente escolar, especialmente entre estudantes que já tem níveis
elevados de ansiedade e outros transtornos de aprendizagem. A prática pode beneficiar as
crianças em vários aspectos, entre eles estão a diminuição dos níveis de stress e ansiedade,
melhora da capacidade de concentração e consequente melhora no aprendizado, resultando
até mesmo em uma possível melhora da autoestima e autoconfiança.
Além disso, o Qigong também influência positivamente no comportamento e as
interações sociais dos alunos, reduzindo níveis de agressividade e comportamentos
inadequados e favorecendo a harmonia entre o grupo, a coletividade e o respeito por si e
pelos outros.
Dessa forma é possível afirmar que a adoção de práticas como o Qigong, constituem
importantes ferramentas para a inserção e otimização do desempenho de crianças com
transtornos de ansiedade e de aprendizagem, além de prevenir o surgimento naqueles que
233
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

não são acometidos por esses problemas, mas que eventualmente poderiam passar a sofrer
com eles com o passar do tempo, em virtude das exigências que aumentam de acordo com o
aumento dos desafios e pressões que enfrentam conforme ficam mais velhos.
Algumas limitações encontradas nos estudos analisados são: o baixo número de
sujeitos que compõe algumas amostras, estudos com tempo de intervenção muito reduzido.
Houveram casos de professores treinados para ministrarem o Qigong apontarem o tempo
curto de que dispunham no dia a dia para ministrar as aulas de Qigong e resistência de alguns
pais com receio de que a prática fosse uma tentativa de doutrinação religiosa.
Justamente por isso, vale ressaltar a importância de introduzir o Qigong nas escolas
como uma forma de desmistificar a ideia de que trata-se de algo muito distante da realidade
ocidental e dissolver possíveis pré conceitos existentes. Também vale ressaltar que nem
todos os estudos especificam qual a forma de Qigong que adotaram ou explanam o motivo da
escolha por determinado tipo de Qigong.
Ainda que alguns estudos tenham deixado claro que a proposta de intervenção era
para um contexto específico, seria válido replicar tais intervenções para averiguar os
resultados, pois os problemas encontrados nas amostras são bastante comuns, ficando assim
apenas a sugestão de que mais estudos sejam conduzidos envolvendo crianças, transtornos de
ansiedade e de aprendizado e o Qigong.

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236
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

10. Slow Medicine, TAI CHI CHUAN e as Práticas


Integrativas

José Carlos Aquino de Campos Velho

237
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Resumo
Este trabalho pretende estabelecer convergências filosóficas entre o Tai Chi e a
Slow Medicine, e mostrar que ambas as práticas confluem em termos de objetivos, no
que concerne à saúde. Procedemos à revisão de literatura, à análise de questionários e
à narrativa de uma visita à um serviço de saúde que utiliza o Tai Chi como um
adjuvante terapêutico. Acreditamos que o Tai Chi pode representar um bom exemplo
de prática, convergente com o sétimo princípio da Medicina sem Pressa, que afirma
que “as palavras de ordem são recuperação, equilíbrio, harmonia.”.

Abstract

This work aims to establish philosophical convergences between Tai Chi and
Slow Medicine, and show that both practices converge in terms of goals, with regard
to health issues. We proceeded a review of the literature, analysis of questionnaires
and the narrative of a visit to a health service that uses Tai Chi as a therapeutic
adjuvant. We believe that Tai Chi can represent a good example of practice,
convergent with the seventh principle of Slow Medicine, which states that "the words
are recovery, balance, harmony."

238
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

INTRODUÇÃO

A Slow Medicine - Medicina sem Pressa, é uma filosofia e uma prática médica que
busca o resgate do tempo como fator importante no trabalho médico, a valorização da
relação médico-paciente como pedra fundamental deste trabalho, fomenta o
compartilhamento de decisões e o uso ponderado da tecnologia, buscando o melhor
cuidado para o paciente.
Embora tenha como referencial a medicina convencional, a Slow Medicine respeita
as práticas complementares e alternativas como possibilidades de cuidado, tanto em
aspectos de promoção e prevenção de saúde, como também como parte do arsenal
terapêutico no que se convencionou chamar de “Medicina Integrativa”.
O Tai Chi Chuan é uma prática milenar no China e desde suas origens é reputado
como benéfico para a saúde.
A proposta desta monografia é debruçar-se sobre os fundamentos filosóficos do Tai
Chi Chuan e da Slow Medicine, buscando interfaces entre estas filosofias e também
revisando aspectos da literatura médica sobre benefícios do Tai Chi Chuan na
abordagem não farmacológica de algumas patologias. A abordagem não-
farmacológica tem um papel especial na filosofia da Slow Medicine na medida em
que pode proporcionar alívio para o sofrimento, com riscos menores de efeitos
adversos. Buscaremos também explorar a questão da lentidão (“slowness”) como
uma das características de ambas as filosofias, e de como esta característica pode
servir como um fator de reforço positivo no desenvolvimento da arte do Tai Chi e
como um aspecto para a melhoria da prática médica.

239
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

SLOW MEDICINE E TAI CHI : O OCIDENTE E O ORIENTE SE


APROXIMAM

Slow Medicine: um pouco de sua história e sua filosofia

Em 1986, quando da inauguração de uma filial de uma rede de fast food na Piazza di
Spagna em Roma, Carlo Petrini (MOVIMENTO SLOW FOOD
INTERNATIONAL, 2018) e um grupo de ativistas organizaram um protesto para
tentar evitar que o restaurante fosse aberto. Na Itália, terra de grande tradição
gastronômica, dos prazeres e da convivência à mesa, e de uma enorme riqueza em
produtos alimentares tradicionais, soava como uma agressão à história e à cultura
italiana a abertura de um restaurante com estas características em um dos pontos mais
tradicionais da capital italiana. Este evento foi a semente que gerou o Movimento
Slow Food, que oficialmente organizou-se a partir de 1989, quando foi formada uma
associação e o Manifesto Slow Food foi lançado na Opera Comique em Paris
(FERREIRA, 2009).

“A Slow Food é uma organização eco-gastronómica internacional, sem fins


lucrativos, apoiada pelos seus membros. Foi fundada em 1989 para combater o estilo
de vida Fast Food e o ritmo de vida acelerado. Hoje em dia, a Slow Food tem mais de
100.000 membros em 132 países.
Esta organização internacional tenta impedir o desaparecimento das tradições
alimentares locais, contrariar o desinteresse dos indivíduos pela alimentação, alertar
para a origem dos produtos, assim como alertar para o impacto que as escolhas
alimentares têm no resto do mundo.
A Slow Food baseia-se no princípio da qualidade alimentar e do paladar, bem como
da sustentabilidade ambiental e de justiça social - na sua essência é baseada num
sistema alimentar “bom, limpo e justo”. Esta organização procura catalisar uma
mudança cultural ampla que fuja dos efeitos destrutivos do sistema alimentar
industrial e do ritmo de vida demasiado acelerado que conduzem a uma degeneração
cultural, social e econốmica. Deste modo, a Slow Food defende um sistema alimentar
sustentável, preservando as tradições alimentares locais e o prazer das refeições à
mesa, criando um ritmo de vida mais calmo e harmonioso.”

240
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

O Movimento Slow Food foi a fonte primordial de uma série de outros movimentos,
no que se convencionou chamar de Movimento Slow. O jornalista Carl Honoré,
nascido na Escócia, de nacionalidade canadense e que atualmente vive em Londres é
um dos seus primeiros porta-vozes. O seu livro Devagar (In praise of Slowness) faz
uma espécie de “inventário” de várias tendências do Movimento Slow, além de
estabelecer uma profunda base histórica do processo de aceleração que caracterizou a
trajetória da humanidade ao longo de sua história até chegar no frenesi que
caracteriza a vida contemporânea (HONORÉ, 2012). A partir desta compreensão, o
autor assinala o surgimento de uma corrente inversa, que aponta para a atitude de
desaceleração como uma alternativa saudável e coerente de retomada do manejo do
cotidiano pelas pessoas. Ao longo do livro ele se debruça sobre o surgimento do
Movimento Slow Food, que é a fonte de todos os outros movimentos slow. Fala das
Slow Cities, do trabalho, do sexo e do lazer. Dois capítulos do livro são voltados à
Medicina e à saúde. No capítulo Mens sana in corpore sano, dedicado às práticas de
promoção da saúde, o autor alonga-se nos benefícios da meditação, da Yoga e do Chi
Kung, identificando nestas práticas formas concretas de trazer a lentidão para o
cotidiano das pessoas, com impacto positivo em sua saúde física e mental.
No capítulo Medicina: os médicos e a paciência, o autor aborda mais
especificamente a prática da Medicina, demonstrando, através de vivências pessoais,
a forma impessoal e rápida que a medicina convencional é praticada no sistema de
saúde inglês, embora também saliente que já se manifesta alguma inconformidade
dos médicos com este estado de coisas (o livro é de 2002). As práticas
complementares e alternativas são extensamente exploradas neste capítulo, entre elas
o Rei Ki, em que o autor salienta o quanto o tempo, utilizado como ferramenta
terapêutica, pode trazer benefícios. “O corpo se cura segundo o seu próprio ritmo, de
modo que você deve ter paciência. Não poderá apressar as coisas”. São palavras da
terapeuta.

A Slow Medicine tem sua pedra fundamental no artigo de um cardiologista italiano,


publicado em 2002, na revista hoje descontinuada Italian Heart Journal (DOLARA,
2002). Este artigo, publicado em 2002, disponível somente em italiano e comentado
pelo dr. Dario Birolini no site Slow Medicine Brasil (SLOW MEDICINE BR,
2017), tem uma importância histórica no Movimento Slow Medicine, pois foi a
primeira vez que esta expressão foi utilizada em uma publicação médica. Pode-se
afirmar que ele estabelece as bases sobre a qual se construiu a filosofia da Slow
241
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Medicine. O resumo, no último parágrafo, nos diz que

“hiperatividade é freqüentemente desnecessária na prática clínica. A aplicação de


uma “Slow Medicine” pode favorecer resultados melhores em muitas circunstâncias.
Ela permite que os profissionais de saúde, particularmente os médicos ou os
enfermeiros, tenham tempo suficiente para avaliar os problemas pessoais, familiares e
sociais dos doentes reduzindo sua ansiedade enquanto estão aguardando
procedimentos diagnósticos ou terapêuticos não urgentes, para analisar com atenção
procedimentos e tecnologias de vanguarda, para evitar altas hospitalares prematuras
e, enfim, para oferecer um apoio emotivo adequado aos pacientes em fase terminal e
a suas famílias.”

A Associação Italiana de Slow Medicine foi fundada em 2011. O Movimento Slow


Medicine na Itália é o mais organizado do mundo, com um grupo diretivo atuando
fortemente dentro das instituições de saúde e na sociedade, através de um trabalho de
cooperação com outras instituições que atuam na defesa do cidadão. “A primeira
Sociedade de Slow Medicine foi constituída na Itália, em Torino, em janeiro de 2011.
Nesta ocasião foi produzido o “Manifesto“ (anexo A), documento multilíngüe da
Slow Medicine e iniciou-se o planejamento da atuação da Sociedade. A primeira
atividade oficial do movimento se deu em Ferrara, dia 29 de junho de 2011, com o
objetivo de agregar profissionais que se identificavam com a proposta e divulgar suas
filosofia . Em novembro do mesmo ano, ocorreu o primeiro congresso de Slow
Medicine na Itália, em Torino, com a presença do Dr. Alberto Dolara e de Carlos
Petrini. Cerca de 300 pessoas participaram do Congresso (CAMPOS VELHO,
2016).
Ao longo dos anos, a Associação tem apresentado uma extensa produção teórica, com
publicação de livros, artigos científicos e materiais de divulgação voltados para o
público leigo. É muito freqüente a participação de seus membros em eventos, tanto na
área da saúde quanto em outras áreas do conhecimento humano. Em seu website
encontramos, à guisa de uma definição, o porquê da idéia da lentidão.

Slow Perché? (ASSOCIAÇÃO ITALIANA DE SLOW MEDICINE, 2017):


Trata-se de um documento que procura estabelecer alguns parâmetros através dos
quais a expressão Slow adquire consistência na prática em saúde. Apresentando já no
início do texto o logotipo da Associação, representado por dois caracóis um a frente
do outro, que representam o profissional de saúde e o paciente, um diante do outro,
242
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

dialogando – o que significa falar e escutar com respeito e tempo. O tempo é um


valor essencial na Slow Medicine, e sua passagem um ponto importante para
sedimentar este relacionamento e este conhecimento entre as pessoas, aquele que
cuida e aquele que é cuidado. Este documento (que traduzimos de maneira livre),
aponta para as ferramentas utilizadas na Slow Medicine para a estruturação da relação
terapêutica: o tempo, a individualização do cuidado, as estratégias educacionais para
profissionais de saúde, pacientes e cidadãos, e as maneiras pelas quais estas
ferramentas poderão servir para fundar um novo paradigma na atenção médica, tanto
em termos de estabelecer parâmetros mais humanos no cuidado, como as estratégias
de capilarização desta filosofia e destes princípios no sistema de saúde.

Transcrevemos este trecho obtido no site italiano1:

“O termo lento, como os caracóis que aparecem no logotipo, sinaliza a estreita


conexão do movimento Slow Medicine com o movimento Slow Food.
Os dois caracóis que dialogam sobre um cuidado sóbrio e respeitoso indicam que o
diálogo e a compreensão entre os cidadãos e o sistema de cuidados são os pré-
requisitos para uma cura slow.

A Slow Medicine (ou Medicina sem Pressa, como foi traduzida para o português –
nota do autor):

-Respeita o tempo de conhecimento mútuo, no que se refere à saúde e doença, de


acolhimento e de cuidado;
-Coloca a relação entre o profissional de saúde e o paciente de volta ao centro da
intervenção assistencial, tornando-os ativos e cooperativos;
-Pesquisa o equilíbrio adequado entre o uso de tecnologias e terapias de comprovada
eficácia, o respeito pela pessoa cuidada e por suas preferências e a atenção aos
recursos econômicos e ambientais;
-Desenvolve ações de prevenção, informação, promoção da saúde e educação
buscando comportamentos equilibrados e sóbrios como um método para a melhoria
da condição de saúde;
-Promove os conceitos de atendimento efetivo, apropriado e personalizado, e passível
de reabilitação e aprimoramento de habilidades remanescentes em oposição ao
cuidado excessivo e à busca da cura a qualquer custo.

Uma cura Slow não é uma cura Slow, mas é uma cura que:
-Renuncia à pressa em nome da precisão e da reflexão;
-É oportuna sem ser rápida;
-Usa a escuta e o diálogo associados com a perícia clínica e uso apropriado de
tecnologias diagnósticas e terapêuticas;

243
1
(www.slowmedicine.it)
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

-Desenvolve métodos e ferramentas para facilitar a participação ativa do cidadão nos


percursos assistenciais;
-Cuida da capacitação dos profissionais e de seu direito a cursos de atualização,
efetivos, cientificamente fundamentados e livres de conflitos de interesse.”

Nos EUA, o principal representante da Slow Medicine foi Dennis McCullough,


geriatra e médico de família, autor o livro My Mother Your Mother, uma das obras
seminais da Slow Medicine, voltada para a assistência aos idosos, particularmente em
seus últimos anos de vida, quando a dependência e a fragilidade que frequentemente é
observada passam a fazer parte do cotidiano. Em seu site (McCULLOUGH, 2008),
Dennis afirma que “moldada pelo bom senso e pela bondade, baseada na medicina
tradicional, mas receptiva a terapias alternativas, a Slow Medicine é um tratamento
ponderado pautado pela premissa do "menos é mais", com o objetivo de melhorar a
qualidade de vida dos pacientes sem levar suas famílias à bancarrota ou e
comprometê-las gravemente econômica e emocionalmente. Intervenções médicas
caras e de última geração não produzem necessariamente resultados superiores,
argumenta o Dr. McCullough. Cuidados pessoais delicados geralmente produzem
melhores resultados, não apenas para os idosos no final da vida, mas para as famílias
que os amam.”
O editorial da revista americana de Medicina Complementar e Alternativa foi a
primeira publicação em língua inglesa citada na MedLine que cita a expressão Slow
Medicine (BAUER, 2008). O texto fala que a Slow Medicine contrapõe-se
frontalmente ao padrão americano da atenção à saúde, onde a sobreutilização de
recursos tecnológicos, tanto diagnósticos como terapêuticos, e a tendência a agir
intempestivamente são a tônica do cuidado. Baseando-se em uma resenha do livro My
Mother Your Mother, de Jacqueline C. Wootton, publicada naquele número da
revista, o autor desenvolve uma série de ideias voltadas à prática da medicina e toca,
pela primeira vez, na questão do desperdício e da sobreutilização de recursos, como
um fator de impacto ambiental. “Uma cultura de desperdício pode ser suplantada por
uma cultura em que a calma e uma deliberação mais lenta são apropriadas”. O autor
pondera que o tempo e a escuta desde sempre fizeram parte da abordagem terapêutica
nas práticas alternativas e vê o conceito de Slow Medicine como uma possibilidade de
ligação e conexão entre a Medicina dita convencional e Medicina Complementar e
Alternativa.
244
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

No Brasil, a divulgação mais sistemática dos princípios e da filosofia da Slow


Medicine começou a ocorrer a partir do lançamento do site Slow Medicine Brasil,
que ocorreu precisamente no dia 12 de abril de 2016. Menção à Slow Medicine,
“uma medicina sem pressa” , já havia surgido em 2012,em um artigo do cardiologista
gaúcho Flávio Kanter publicado no jornal Zero Hora (JORNAL ZERO HORA,
2012). Posteriormente, o lançamento do livro de Marco Bobbio, O Doente
Imaginado, entrevistado pelas páginas amarelas da revista Veja em dezembro de 2014
trouxe o conceito para o grande público. O próprio dr. Marco Bobbio fez o
lançamento da iniciativa Slow Medicine no Brasil em palestra realizada na Faculdade
de Medicina da Universidade de são Paulo, e a palestra pode ser encontrada na
íntegra em vídeo divulgado no site Slow Medicine Brasil e também disponível no
Canal Slow Medicine no YouTube (AKIYAMA, 2016a).
O artigo “Slow Medicine, a Medicina sem Pressa” (CAMPOS VELHO, 2016), é um
texto que procura estabelecer o conceito do que é a Slow Medicine, e de que maneira
ela valoriza o tempo e a relação médico-paciente como seus pilares e, conforme
afirma no 3° parágrafo “...a filosofia da Slow Medicine caminha na direção
contrária: resgata o tempo como parte essencial da abordagem médica. O tempo para
ouvir. A Slow Medicine começa pela escuta cuidadosa e respeitosa do paciente.
Enfatiza o raciocínio clínico e o cuidado focado no paciente.” Neste sentido,
evidencia uma característica seminal, colocando na “vagareza” um ponto essencial
para a mudança de paradigma que propõe à prática médica, sugerindo que a tomada
de decisões, quando feita sem pressa e após uma análise cuidadosa do indivíduo, e de
sua inserção familiar, social e cultural, certamente será mais benéfica. Ainda neste
texto, o autor afirma que:

“A convivência com a diversidade da prática médica e o conhecimento de que a


Medicina Complementar pode oferecer alívio aos pacientes em algumas situações
clínicas, é uma atitude que faz parte de nossa filosofia de trabalho. A busca essencial
é o cuidado, a melhora, o alívio – o suporte. E estes alvos eventualmente são melhor
atingidos através de práticas menos agressivas, como por exemplo, o alívio da dor
através de terapias físicas e da acupuntura. O ato de cuidar, de se interessar
compassivamente pelo sofrimento do outro e de tentar buscar alternativas de alívio
daquele sofrimento já é terapêutico em si. A medicina complementar se utilizou
desde sempre destes preciosos instrumentos – o tempo e a escuta, a proximidade e a
intimidade com o paciente.”

245
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Em outro artigo publicado no site, o dr. Kazusei Akiyama, médico formado pela
tradição médica ocidental, com especialização em Medicina Tradicional Japonesa
(Kampo) no Japão, estabelece uma série de correlações entre a prática da Slow
Medicine e a Medicina Complementar e Alternativa, conforme é denominada pela
Organização Mundial de Saúde (AKIYAMA, 2016b). Este documento procura
estabelecer o entrelaçamento entre a filosofia da Slow Medicine e as práticas
integrativas. O texto procede a uma discussão conceitual acerca dos termos utilizados
dentro do que se chamam práticas integrativas, a partir do que a Organização Mundial
de Saúde cunha de MCA (Medicina Complementar e Alternativa), como por exemplo
o significado de Medicina Tradicional, “variadas maneiras de cuidados de saúde que
são vinculadas a diferentes povos, havendo tanta diversidade dessas maneiras quanto
de etnias e culturas”. Outra abordagem é da história da introdução das práticas
médicas tradicionais do Oriente no universo Ocidental. Por fim, o texto fala da Slow
Medicine como uma “ponte” entre a medicina convencional e a MCA, conforme o
autor explicita no último parágrafo: “A Slow Medicine, pelas suas características,
pode ser um meio de integração entre a medicina convencional e MCA, permitindo
que o usuário-paciente passe a dispor de informações mais fidedignas para decidir
com mais segurança qual o melhor caminho a tomar. Para os médicos pode
representar uma forma de exercer uma medicina melhor, voltada a sua principal razão
de ser: o cuidado integral da saúde do paciente.”
Em artigo mais recente, a geriatra Daniela Lima de Souza afirma que:

“É importante observar que as Medicinas Tradicionais mais antigas tem como base
principal a escuta, o estímulo da auto-cura e da auto-observação. Então, no momento
em que a globalização trouxe ao Ocidente as Medicinas Tradicionais e as práticas
Mente-Corpo, os próprios pacientes foram buscar outras medicinas, em busca de algo
que se alinhe com seus valores, crenças e filosofias, provavelmente em busca de
sanar um déficit de tempo e empatia que caracteriza a medicina convencional
contemporânea. A Slow Medicine, através dos seus princípios básicos de
individualização, tempo para ouvir e estímulo do auto-cuidado, vem para questionar a
dicotomia e o distanciamento que os profissionais de saúde atualmente têm com as
práticas integrativas.” (DE SOUZA, 2018).

O Tai Chi Chuan da Tradição da Família Yang: um pouco de sua história

“O Tai Chi, também conhecido como Tai Chi Chuan / Quan ou Taiji, originou-se na
246
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

China, e foi desenvolvido por um famoso artista marcial Wangting Chen no final da
dinastia Ming (século XVIII dC). O desenvolvimento do Tai Chi integrou a essência
das artes marciais folclóricas e militares chinesas, técnicas de respiração e meditação,
e teoria da medicina tradicional chinesa. Por séculos, milhões de chineses praticaram
movimentos fluidos e meditativos de Tai Chi para cultivar e manter a saúde e o bem-
estar. Nos últimos anos, devido aos seus benefícios para a saúde, aparente segurança
e baixo custo, o Tai Chi ganhou popularidade nos países orientais e ocidentais como
uma técnica mente-corpo, um exercício promissor de baixa intensidade” (YANG et
al., 2015)
As informações a seguir são retiradas de um livro disponível na internet para
associados da International Yang Family Tai Chi Chuan Association, de vários
autores, em tradução para o português (YANG FAMILY TAI CHI, 2018).

O fundador do estilo Yang de Tai Chi Chuan, Yang Lu Chan, nasceu em 1799 e
faleceu em 1872, tendo vivido 72 anos, numa época em que a expectativa de vida na
China não passava de 35 anos. Sua família era originária do município de Guangping,
condado de Yongnian, província de Hebei e seu nome de nascimento é Yang Fu Kui.

A história do desenvolvimento da arte do Tai Chi Chuan, em particular o estilo da


família Yang, foi o aprendizado de Yang Lu Chan, no seio da família Chen. O estilo
Yang, a partir da vivência de seu fundador, havia bebido em uma fonte ancestral, na
Vila Chen. Vindo de uma família pobre, ele trabalhou por um tempo na farmácia de
Cheng De Hu, onde uma ocasião viu o dono expulsar alguns arruaceiros usando um
estilo particular de arte marcial. Ele ficou muito interessado em aprender a arte e
manifestou para seu patrão. Percebendo as boas intenções de seu empregado, o patrão
o envia para a Vila Chen, onde foi recebido por Chen Chang Xing. Ali, foi aceito
como aluno pelo mestre, para aprender a arte do Tai Chi Chuan. Chen Chang Xing,
representava a 14ª geração da família Chen. A arte já tinha este nome pelo menos
desde a época de Wang Zongyue, autor do “Tratado de Tai Chi Chuan”.

Por tradição, as pessoas que não eram membros da família Chen não podiam aprender
a arte da família, e recebiam seus ensinamentos na pátio da frente da casa, sem poder
frequentar as áreas internas, onde a arte era ensinada para os integrantes na família.
Após alguns anos no lugar, Yang Lu Chan não havia aprendido nada ainda. Uma
noite acordou com um grito “Heng” vindo da área interna da casa. Ele então subiu em
uma árvore de onde conseguiu ver Cheng Chang Xing ensinando Tai Chi Chuan para
247
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

um grupo de alunos. Fascinado pelo que viu, passou a assistir as aulas desde a árvore
todas as noites e a treinar sozinho, secretamente.

Uma ocasião, em um treino, quando brincava com um dos jovens da família Chen, ele
usou uma técnica de “explosão de energia” que foi testemunhada por Chen Chang
Xing. O mestre quis então saber como Yang Lu Chan havia aprendido aquilo e ele se
explicou. O mestre então pediu que ele participasse de uma competição com um aluno
e ele venceu.

Percebendo sua natureza bondosa e sinceridade, o mestre admitiu Yang Lu Chan


como aluno de fora da Vila Chen. Ele estudou e praticou com afinco por vários anos,
voltou para Yongnian, onde foi desafiado e nocauteado por seu oponente. Retornou
para a Vila Chen, onde permaneceu mais alguns anos treinando e melhorando suas
habilidades. Retornando a Yongnian mais uma vez, ele não mais foi derrotado, mas
ainda não tinha noção clara do que estava fazendo. Ao voltar pela terceira vez para a
Vila Chen, o mestre percebeu seu talento e sua dedicação ao estudo da arte e
gradualmente transmitiu seu estilo ao aluno. Desta maneira, Yang Lu Chan tornou-se
um “admirável praticante do estilo Chen” e acabou voltando para sua terra natal.

O aprendizado do fundador do estilo Yang se concretizou nesta época, quando tinha


cerca de 40 anos. A partir daí, ele passa a ensinar sua arte em Benjing. Com a
passagem dos anos, ele suaviza alguns movimentos e percebe que a prática do Tai Chi
Chuan pode contribuir para a manutenção da saúde do praticante, equilibrando-o e
fortalecendo-o. Assim, lançou a pedra fundamental que foi o alicerce para o Tai Chi
Chuan Estilo da Família Yang.

A história do Tai Chi Chuan tem outro momento muito relevante que foi a criação dos
10 princípios essenciais para a prática do Tai Chi (anexo), que foram criados por
Yang Chenfu, e transmitidos de forma verbal para seu aluno Chen Wei Ming, que os
registrou por escrito. Interessante que também o Movimento Slow Medicine também
tem 10 princípios, que foram criados pelo Instituto de Slow Medicine da Holanda e
posteriormente traduzidos para o português e publicados no site Slow Medicine
Brasil.

Afirma o décimo princípio do Tai Chi :

"Procure a Quietude dentro do Movimento: Artistas marciais externos apreciam


saltar e parar como boa técnica e eles fazem isso até que a respiração (chi) e a força
248
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

sejam exauridas, tanto, que após praticarem, eles ficam sem fôlego. No Tai Chi nós
usamos a quietude para dominar o movimento e mesmo em movimento, ainda
preservamos a quietude. Assim, quando você pratica a forma, quanto mais lento
melhor!" (YANG FAMILY TAI CHI, 2018b).

A tradição do Tai Chi da Família Yang prosseguiu ao longo do tempo. Hoje o mestre
Yang Zendhuo é seu principal expoente, embora o seu neto, que aprendeu a arte com
o avô, seja o principal detentor direto da tradição e é o maior divulgador do Tai Chi
da Família Yang no mundo atual.

A QUESTÃO DA LENTIDÃO: O RITMO E O TEMPO ENQUANTO


ESPAÇOS DE TRABALHO

“Imagine que você tem, 2 ou 3 vezes por semana, a oportunidade de contactar,


ver, ouvir, falar com o paciente e seguir sua evolução” (depoimento
verbal, Ramon Suarez).

O textos que se seguem são baseados nas respostas em questionários enviados pelo
autor para alguns profissionais de saúde, com familiaridade com as ciências de saúde
e as práticas integrativas, posteriormente esclarecidos na “Metodologia”.

O Tai Chi Chuan e a Slow Medicine se utilizam do tempo como um instrumento de


trabalho, e a passagem do tempo, enquanto um espaço privilegiado de observação da
vida, dá sentido ao trabalho na área da saúde, pois permite que a interação entre
profissionais, pacientes e familiares, para que travem conhecimento uns com os outros
e adquiram familiaridade, fator essencial para que as decisões sejam tomadas
respeitando valores e expectativas. No Tai Chi, a passagem do tempo permite a
elaboração e o aprimoramento dos movimentos, um ganho crescente na consciência
corporal, além da convivência entre mestres e alunos, que ganha consistência ao
longo do tempo.

Como afirmam SCHVEITZER et al. (2012),

“Há o tempo da ação e o tempo da "digestão"; ou seja, do Yang e do Yin. A


imagem do TAO me ajuda nessa compreensão: no centro de um, tenho o outro, e
vice-versa. Para agir é necessário que o terapeuta esteja atento e focado no que é
249
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

seu e no que é do outro (transferência, contra-transferência, esteriótipos,


preconceitos...), respeitando o outro na sua individualidade e inteireza. Para poder
falar é necessário ouvir; para poder compreender é necessário silêncio interno,
para agir é necessário ter compreendido, para poder avaliar o resultado da ação
terapêutica é necessário o tempo de "digestão e elaboração" do outro, num
continuum de troca que se modifica a partir da própria vida que existe em ambos
e no contexto onde se encontram. Afinal, ambos fazem parte da "vida maior" do
seu entorno.”

Portanto, o tempo acaba sendo um elemento enriquecedor de ambas as práticas, na


Slow Medicine criando um outro olhar e uma maneira particular de prestar a atenção
à saúde e no Tai Chi Chuan o cultivo do desenvolvimento da arte. E neste aspecto,
entramos na questão do ritmo, onde uma outra característica é basilar, em ambos as
filosofias - a lentidão. A vagareza. Em um mundo onde a velocidade é um paradigma
fundamental, uma defesa da lentidão enquanto valor (no pensamento moderno de
tendência relativista, cada um dos preceitos ou princípios igualmente passíveis de
guiar a ação humana, na suposição da existência de uma pluralidade incontornável de
padrões éticos e da ausência de um Bem absoluto ou universalmente válido cria o
necessário contraponto) (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DA SAÚDE,
2018).

Ladd Bauer, em sua elaborada resposta ao nosso questionário, falando sobre a pessoa
que executa os movimentos ritmados e lentos do Tai Chi, nos aponta que:

“Um elemento essencial deles é lentificar o movimento e a quietude de uma pessoa


para "permanecer dentro do movimento", em vez de permitir que o movimento ocorra
mecanicamente e sem uma consciência participativa direta. A prática básica de
meditação começa com o cultivo da presença sensorial na quietude. Nessas práticas, a

*
Dicionário Houaiss , versão web https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v3-3/html/index.php#0

250
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

pessoa se torna profunda e diretamente consciente, digamos, do pé, das sensações da


pele, e gradualmente permite que as sensações se aprofundem, até mesmo no osso.
Em vez de pensar no pé, o próprio pé passa a existir. Minha impressão do Tai Chi é
que a técnica estimula esse tipo de sensação enquanto se está em movimento. Isso
exige uma desaceleração para permitir que o praticante "esteja presente" no
movimento, tanto quanto possível, e para aumentar gradualmente essa percepção
direta. O processo recíproco é que a centralidade do pensamento como um substituto
para o estar presente é lentamente desfeita. Nós saímos da situação de estarmos
apenas dentro de nossas cabeças o tempo todo. Com o tempo, a prática deve ajudar
uma pessoa a se mover através da vida com menos desperdício de energia - menos
"uma parte trabalhando contra a outra”, empregando menos uma parte para que o
trabalho seja melhor feito por outra parte do corpo. Esta noção se expande além do
corpo físico, atingindo as esferas intelectuais e emocionais e integrando-as de maneira
adequada.
Sua questão do ritmo e do tempo na terapêutica se relaciona muito bem com isso. A
desaceleração proporciona tempo para o desenvolvimento de uma consciência mais
profunda e evita a reatividade inadequada, que pode levar a excessivas conseqüências
não-intencionais. O ritmo traz tempo para este processo - que há um momento certo
para o movimento ou a quietude acerca de um aspecto particular da saúde de uma
pessoa. Um erro comum neste ponto é se concentrar no instrutor como o árbitro desse
tempo. De fato, o "paciente" é o verdadeiro portador dessa sabedoria - se eles
puderem desacelerar o suficiente para aprender a prestar atenção à sua experiência
direta. É possível permitir que o instrutor e o paciente "desacelerem" juntos para
evitar reações precipitadas automáticas construídas em protocolos e substituí-los por
movimentos melhor fundamentados na presença da situação real. A pessoa é uma
composição de elementos unidos em padrões que podem ser mais ou menos
harmoniosos. Um músico que não ouve qual melodia está saindo de seu instrumento e
que não percebe o que as posições e os movimentos propiciaram, é menos provável
que consiga harmonizar. Isso também vale para os pacientes em busca de melhora e
para os médicos que tentam ajudá-los (BAUER, 2008).

Jackie Wooton, com a visão de alguém que se debruçou sobre a fundamentação


filosófica da Slow Medicine e que pratica Tai Chi consegue enxergar nas entrelinhas:

O ritmo e o tempo são de fato fundamentais para o conceito e a prática do Tai Chi. Eu
posso ver que os mesmos princípios também se aplicam à Slow Medicine. É
importante observar o ritmo e as fases da doença ou envelhecimento, em vez de

251
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

aplicar automaticamente uma bateria de testes e procedimentos; ter tempo para ouvir
atentamente o paciente; mas, quando necessário, antecipar-se e intervir sem
hesitação.

A RELAÇÃO ENTRE AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E


COMPLEMENTARES E A PREVENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE

“Também vale ressaltar que é alentador a comunidade médica estar


reconhecendo que práticas integrativas, algumas milenares, merecem atenção
e estudo pelo seu papel na espécie humana” (SCHVEITZER et al., 2012).

As práticas integrativas hoje são uma política da Organização Mundial da Saúde


(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DA SAÚDE, 2018), que tem procurado
definir melhor conceitualmente o que elas significam e qual o seu papel na atenção a
saúde. Esta política tem um olhar especial para as chamadas Medicinas Tradicionais,
cuja definição é “a soma total do conhecimento, habilidades e práticas baseadas nas
teorias, crenças e experiências nativas de diferentes culturas, explicáveis ou não,
usadas na manutenção da saúde, bem como na prevenção, diagnóstico, melhoria ou
tratamento de doença física e mental.” (a tradução é do autor). O Ministério da Saúde
no Brasil também abre espaço para as práticas integrativas, cuja aprovação data de
2006, através da portaria N° 971, de 13 de maio de 2006 (MINISTÉRIO DA
SAÚDE DO BRASIL, 2006).

O Tai Chi Chuan pode ser considerado uma das estratégias terapêuticas da Medicina
Tradicional Chinesa, juntamente com o Qigong . São técnicas corporais que dividem
bases teóricas e filosóficas com a Medicina Tradicional Chinesa, entre elas as teorias
do Yin e Yang, dos Cinco Elementos, dos meridianos e dos órgãos Zang Fu
(SEVERINO, 2016).

Ladd Bauer, quando questionado sobre a aceitação das práticas “não-convencionais”


pela comunidade médica propõe uma inversão de conceitos:

“Pode-se inverter sua afirmação e ressaltar que a medicina moderna é a "abordagem


não convencional à saúde". Versões tradicionais da "Slow Medicine" estão
profundamente enraizadas na história. As últimas décadas do dramático sucesso da
252
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

“Fast medicine" em algumas áreas da prática da saúde causaram desequilíbrio e


desarmonia em relação às tradições mais antigas que encorajavam uma "medicina
sem pressa" relacionada ao nosso tempo. Muitos médicos e pacientes
experimentaram os benefícios de cultivar tempo e atenção no relacionamento
terapêutico. O que chamamos de "alternativa" são práticas tradicionais que muitas
vezes usaram isso com grande efeito. O contexto que vivemos atualmente é uma
situação em que a nova Fast Medicine não-convencional pode ser melhor integrada
com essas práticas mais antigas” (BAUER, 2008).

Jackie Wooton concorda com a observação de Ladd Bauer:

“Uma nota rápida na terminologia. Se você usa o termo "Medicina Tradicional" para
a biomedicina moderna, isso leva à confusão. A biomedicina é relativamente jovem
na história da medicina. É preferível reservar o termo "Tradicional" para as bem mais
antigas tradições ancestrais de sabedoria, como Ayurveda, Medicina Tradicional
Chinesa, Medicina Tibetana, etc. (WOOTON, 2010)”

Por outro lado, faz-se mister uma avaliação crítica acerca da abrangência das práticas.
Observa-se atualmente uma tendência que não favorece o estabelecimento de uma
diversidade de racionalidades médicas, pois de maneira intempestiva propõe-se uma
espécie de vale-tudo terapêutico, onde uma miríade de técnicas sem quaisquer
comprovação de eficácia, seja através dos cânones científicos tradicionais, pela da
chamada “Medicina Baseada em Evidências” ou de técnicas amparadas em tradições
milenares de cuidado, e profundamente enraizadas na história e na cultura de alguns
povos, particularmente no Oriente, são colocadas lado a lado com meras divagações e
achismos (teorização fundada no subjetivismo do 'eu acho que' aplicável a qualquer
campo teórico).

Sobre esta questão, comenta Ladd Bauer:

“Observe que um resultado observável da necessidade urgente dessa integração tem


sido surgimento de filhos bastardos - todos os tipos de terapias e abordagens
semelhantes às alopáticas que se intitulam alternativas, integrativas ou

2
Dicionário Houaiss , versão web https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v3-3/html/index.php#0

253
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

complementares, mas na verdade são apenas versões distorcidas da Fast Medicine


misturadas à economia de mercado” (BAUER, 2008).

Trata-se de uma questão complexa e controversa, pois a avaliação da eficácia das


práticas integrativas exclusivamente através de evidências científicas pode não ser
adequada, na medida em que o rigor da observação científica pode não ser
suficientemente flexível para uma apreciação mais holística dos benefícios que
algumas práticas integrativas podem trazer às pessoas . Ao mesmo tempo, a
inexistência de valoração destas mesmas práticas e uma aceitação tácita de quaisquer
sugestões de abordagens não-convencionais simplesmente pela alegação
(eventualmente não-calcadas em nenhum terreno investigativo mais sólido ou em
conhecimentos tradicionais) de que “fazem bem” ou pela negativa de que “não fazem
mal”, também podem ser prejudiciais à aceitação destas práticas pela comunidade
médica. Pensemos em situações em que a medicina convencional oferece tratamentos
seguros, eficazes e conhecidos, e que eventualmente sejam abandonados ou
oferecidos tardiamente, com comprometimento dos resultados terapêuticos. Nestas
circunstâncias, não oferecer o tratamento adequado pode trazer prejuízo ao indivíduo.
Novamente, Ladd Bauer oferece uma reflexão:

“Esse princípio simplesmente reúne os aspectos que discuti, mencionando o


importantíssimo fator de "evidência". O enigma a ser trabalhado é "com o que
podemos concordar como evidência?" Um elemento associado é o nostrum
onipresente conhecido como "efeito placebo". Até que ponto isso é para ser
encorajado? É o.k. engajar o efeito placebo da homeopatia se eu souber que os
remédios individuais não têm base sólida de evidências? É sempre o.k. mentir para o
paciente? Quando é o.k. permitir que o paciente minta para si mesmo? (Esta última
pergunta está relacionada ao "ritmo", não?) Se o objetivo é a recuperação, o equilíbrio
e a harmonia, somos ajudados a tomar decisões éticas que não os enfraquecerão, mas
promoverão sua melhor manifestação. Por exemplo, se mentirmos a um paciente para
"ajudá-lo", e depois descobrirem isso, ele poderá promover uma doença mais
profunda e, certamente, não criará confiança. Ter tempo para considerar os efeitos a
longo prazo é essencial, e é por isso que a Slow Medicine é essencial” (BAUER,

2008).

Na introdução de sua resposta, Jackie Wooton levanta uma questão bastante

254 relevante:
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

“Por "baseada em evidências", eu e minha equipe na Alternative Medicine


Foundation não olhamos para os dados de ensaios clínicos controlados
exclusivamente, mas os dados observacionais e também em sistemas tradicionais de
medicina e seus princípios e práticas subjacentes” (WOOTON, 2010).

SCHVEITZER et al. (2012) sugerem, com leveza, uma outra perspectiva:

“...talvez o mais importante de todas essas práticas seja "recordar" que nosso corpo,
emoções e pensamentos são nossos; ou seja, que somos responsáveis por eles e
podemos ter a consciência necessária para direcioná-los na perspectiva pretendida
pelo sentido que damos a própria vida. Talvez, o que a maioria dessas práticas tenha
em comum, seja o respeito pelo indivíduo como um ser autônomo, dono de sua
vontade, que pode ser recordado/ensinado quanto a responsabilidade que possui sob a
sua própria vida. "Devolvem"/desenvolvem nele a atenção a si próprio, estimulando-o
a ter disciplina e colocar atenção em si mesmo. Trabalhando com seus limites com
mais consciência. Desenvolvendo também, muitas delas, a visão sistêmica do
indivíduo quanto a própria vida.”

A partir de uma perspectiva médica, Ramon Suarez consegue ver nas entrelinhas a
postura dos médicos, calcada a partir do entendimento que, em inúmeras situações, a
Medicina Convencional não alcança resultados satisfatórios, pontuando
particularmente aspectos de prevenção. O trecho que se segue é parte da entrevista
concedida como parte da presente pesquisa.

“Neste ponto, é importante destacar que se aceitou (….o Tai Chi) na Medicina
Ocidental como parte integral dos tratamentos médicos, embora não se tenha
alcançado o nível de prevenção. Isso ocorre lamentavelmente na maior parte da
medicina, não somente no Tai Chi. Ou seja, a pessoa vem para melhorar sua
evolução, e não simplesmente para não ficar doente.”

255
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

O SÉTIMO PRINCÍPIO DA SLOW MEDICINE

A Slow Medicine não se configura enquanto uma prática alternativa, complementar


ou integrativa. Os seus horizontes teóricos e alicerces conceituais estão embasados na
ciência médica convencional, com a qual tem uma relação harmônica, não conflitante.
Como afirma o dr. Dario Birolini em um texto publicado no site brasileiro,

“Deve ficar claro que a Slow Medicine não é uma especialidade ou uma nova
modalidade assistencial e muito menos uma forma de “medicina alternativa”, mas é,
simplesmente, um incentivo à adoção dos princípios básicos e tradicionais da
assistência ao doente, aprimorados pelo uso sensato e criterioso de todos os avanços
tecnológicos, sejam diagnósticos como terapêuticos.
Em outras palavras não representa uma iniciativa destinada a levar o exercício de
nossa profissão de volta ao passado. Muito pelo contrário, pretende promover um
atendimento de alto nível, mas resgatando nossos valores tradicionais e enfatizando
que o exercício da medicina deve ser realizado de acordo com os princípios
fundamentais da ética e do respeito para com os pacientes, com a sociedade e com os
colegas, e não movido por interesses econômicos ou de promoção pessoal”
(BIROLINI, 2018).

Em outro texto, publicado pela Associação Italiana de Slow Medicine em seu website
e traduzido para o português pelo dr. Dario Birolini, é explicitada esta relação da
Slow Medicine com as práticas integrativas:
“Preferimos usar o termo “outras medicinas”, pois não consideramos correto falar de
medicinas “alternativas” (palavra que implica conflito entre certezas: ou uma ou a
outra), e nem de medicinas “complementares”, que parece implicar que uma
modalidade de medicina seja mais “verdadeira” das demais, que nada mais seriam do
que simples “complementos”.
Em nenhuma hipótese as “outras medicinas” devem ser usadas em substituição a
tratamentos de comprovada eficácia. Da mesma forma que na medicina científica
tradicional, também nas “outras medicinas” devem ser avaliados os possíveis riscos
assim como a relação entre benefícios, riscos e incertezas.
Os profissionais que pretendem participar da Slow Medicine devem estar dispostos a
abrir a discussão a respeito das suas próprias condutas. Aqueles entre nós que se
identificam na “evidence based medicine” já o fazem, adotando a postura “Fazer mais
não significa fazer melhor”.
256
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

Todos os que representam as “outras medicinas” são convidados, seja através de


associações ou grupos de trabalho como individualmente, a identificar as condutas de
sua própria forma de atuação que consideram que possam correr riscos de
ser inapropriadas, avaliando a relação de risco-benefício; tal postura deve ser adotada
para mostrar que não pretendem inserir na Slow Medicine certezas ou receitas pré-
confeccionadas, mas sim dúvidas e questionamentos” (ASSOCIAÇÃO ITALIANA
DE SLOWMEDICINE, 2016).

O que estas reflexões apontam é que, a partir da visão da Slow Medicine, não existe
uma aceitação tácita de qualquer prática, uma vez que ela se identifique como
“Integrativa”. Atualmente, sob a expressão “Medicina Integrativa”, um sem número
de práticas, muitas vezes carentes de maiores estudos e reflexões, são oferecidas à
população de maneira pouco criteriosa, formando uma verdadeira colcha de retalhos,
com praticantes com formação extremamente heterogênea. Muitas vezes, por
formação inadequada, estas pessoas estão pouco atentas a eventuais riscos associados
a tais abordagens, tanto no aspecto da prática em si, como pela não oferta, ou pelo
atraso na oferta, de abordagens terapêuticas convencionais comprovadamente
eficazes. É um território muitas vezes povoado por convicções apaixonadas e pouca
racionalidade, muitas vezes afastados de mínimos critérios científicos – ou
profundamente enraizados na pseudociência que hoje grassa nas redes sociais e na
internet (LI et al., 2018)

Tendo como preâmbulo estas palavras, que configuram um horizonte do


entendimento filosófico da Slow Medicine em relação às práticas integrativas, a
Medicina sem Pressa enxerga com bons olhos possibilidades terapêuticas que possam
beneficiar os pacientes, em sua busca de prevenção e promoção de saúde, através de
práticas que possam melhorar sua qualidade de vida e eventualmente oferecer
abordagens terapêuticas para o seu sofrimento com menor risco de efeitos adversos e
iatrogenias. A Slow Medicine é, portanto, simpática às práticas integrativas, como
afirma o seu sétimo princípio.

“Medicina Integrativa: O melhor de 2 mundos: medicina tradicional sempre que


indicada . Medicina complementar se possível , preferencialmente baseada em
evidências. Segurança em primeiro lugar, eficácia quando possível. Sem
metáforas da luta ou guerra contra a doença. As palavras de ordem são
recuperação, equilíbrio, harmonia” (INSTITUTE OF SLOW MEDICINE,
2016).

257
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

O dr. Ramon Suarez comenta este princípio na entrevista realizada para efeito da
presente pesquisa, e identifica a questão da necessária convivência e aceitação dos
valores dos pacientes, no que tange às suas escolhas, e sua co-responsanbilidade em
relação ao seu próprio cuidado:

“É um tema muito amplo, mas posso afirmar algo breve: uma coisa é ter uma doença,
outra é estar doente. Deve se procurar um entrelaçamento entre a medicina
convencional e a medicina complementar. Em particular, o paciente deve entender
que não deve esperar tudo de fora, mas sim que ele é o principal ator na mudança de
sua vida, de seus hábitos e de sua consciência, se tornando portanto uma pessoa com
uma enfermidade (passível de controle) e não um doente.”

SCHVEITZER et al. (2012) acrescentam à sua reflexão, apontando que a Medicina,


embora fortemente encravada na ciência, não consegue explicar ou abranger a
diversidade e multiplicidade da vivência humana, particularmente num território tão
nebuloso como o processo saúde-doença, onde valores, expectativas e escolhas
podem ser extremamente divesrificadas. Respeitando a singularidade da pessooa
humana, afirma que:

“. a vida, sendo dinâmica, exige constante adaptação. Adaptação exige acolhimento


do novo, que gera insegurança. Nossa espécie têm como necessidade básica "sentir-se
seguro". Para sentirmo-nos seguros, "seguramos" (com expectativas, rejeição ou
apego) a realidade como algo estável, imutável. Esse princípio aceita essa

dinamicidade e resgata a importância da recuperação de um equilíbrio que é


dinâmico, que exige atenção e presença para ser mantido.”

METODOLOGIA:

Embora esta monografia se debruce essencialmente sobre aspectos históricos,


filosóficos e conceituais da Slow Medicine e do Tai Chi Chuan, optamos por
enriquecê-la com um questionário, que foi enviado para algumas pessoas que tem
proximidade e familiaridade com a Slow Medicine e/ou o Tai Chi Chuan. A análise
destas respostas vem no sentido de trazer elementos e ideias em relação às possíveis
interfaces entre estas 2 filosofias – que carregam uma característica em comum: tem
uma extensa elaboração teórica, com uma história e um conjunto de princípios, mas
ao mesmo tempo tem uma implicação prática bastante clara e evidente. Como se trata
258
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

de um trabalho original - um assunto que não foi objeto de estudo até o presente
momento, não existe nenhuma literatura específica sobre a questão. A busca da
opinião de algumas pessoas, com conhecimento em práticas integrativas e/ou vivência
com o Tai Chi Chuan, podem trazer elementos importantes para alimentar o trabalho.

A perspectiva de conhecer a aplicação prática do Tai Chi em um serviço médico é


outra concepção que pode ser fundamental na construção do que chamaríamos uma
concretização destas ideias no mundo real da prática médica. Em relação a esta
questão particular, tivemos a oportunidade de visitar o trabalho conduzido por Ramon
Suarez e Ricardo Suarez, no Instituto Nacional de Reumatología em Montevideo,
Uruguai, em agosto de 2018. Esta visita gerou uma narrativa, descrita no capítulo “E
na prática? Isso funciona? Observação de Campo”, e o anexo E é um comprovante
desta visita, gentilmente assinado pelo dr. Ramon Suarez.

Voltando ao questionário, ele foi enviado por email para 4 pessoas. Como 2 dos
respondedores falam a língua inglesa, ele foi traduzido para o inglês e as respostas
foram traduzidas para o português pelo próprio autor. Um dos questionários foi
enviado para uma pessoa que fala espanhol e procedemos da mesma maneira.

Os 4 questionários forma respondidos por:


Ladd Bauer: Médico, ex-editor do American Journal of Alternative and
Complementary Medicine, autor do primeiro artigo em língua inglesa sobre Slow
Medicine (Medline) e organizador do site sobre a história da Slow Medicine
(http://www.slowmedicine.info) . Tem particular interesse sobre fitoterapia.

Ramón Suarez: Médico, patologista clínico, com especial interesse em enfermidades


reumatológicas, instrutor afiliado à International Yang Family Tai Chi Chuan
Association e praticante de Tai Chi Chuan da tradição da família Yang.

Maria Julia Paes da Silva: Enfermeira, mestre, doutora e livre-docente em


Enfermagem pela Escola de Enfermagem da USP. Professora titular de Enfermagem
pela Universidade de São Paulo, aposentada. Praticante de Tai Chi Chuan (Pai Lin).

Jackie Wooton: Cientista social, com extenso currículo relacionado ao estudo das
práticas integrativas, foi editora executiva do Journal of Alternative &
Complementary Medicine (JACM) nos EUA e co-fundadora da Alternative Medicine
259
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Foundation, em 1988, da qual foi presidente e Diretora Executiva até setembro de


2010. É praticante de Tai Chi Chuan, estilo Yang. Além disso, Jackie escreveu uma
resenha sobre o livro My Mother Your Mother de Dennis McCullough, publicado no
JACM, citado no editorial de Ladd Bauer.

Nos anexos ao trabalho, colocamos na íntegra os questionários traduzidos e suas


versões originais.

E NA PRÁTICA? ISSO FUNCIONA? OBSERVAÇÃO DE CAMPO

Faremos em seguida a narrativa de uma visita a um serviço de saúde que se utiliza do


Tai Chi enquanto instrumento terapêutico. Visitei o projeto coordenado pelo Dr.
Ramon Suarez, em Montevideo, Uruguai. A narrativa segue-se a seguir:

“Uma tarde fria e ensolarada em Montevideo. Depois de passear um pouco no centro


da cidade, com sua bela arquitetura dos fins do século XIX e início do século XX, e
olhar seus cafés e suas livrarias, suas ruas de árvores despidas no inverno, encontro
Ramón e Ricardo, que vieram me buscar para que eu pudesse conhecer seu trabalho.
Meu primeiro contato com eles foi durante um dos módulos do curso de pós-
graduação em práticas corporais com foco no Tai Chi Chuan da Família Yang, em
que ambos foram responsáveis pelos ensinamentos ao longo de um final de semana.
Desde que soube da singularidade de seu trabalho, a idéia de conhecê-lo de perto foi
sendo nutrida. A questão é que esta dissertação, que fala das convergências entre
Slow Medicine, práticas integrativas e Tai Chi Chuan, tem um caráter eminentemente
teórico, e vislumbrei neste trabalho uma perspectiva da aplicação prática, no mundo
real, destes conceitos.

Dos pés do Palácio Salvo, prédio icônico da capital uruguaia, fomos até um bairro já
nas proximidades de Carrasco, distante do centro. Lá funciona a Casa de Gardel, que
leva este nome não por acaso. A casa foi construída pelo próprio músico, que
planejou um lugar onde pudesse descansar e veranear (esta expressão também é
utilizada no Rio Grande do Sul, meu estado natal, e se refere à temporadas de
descanso durante o verão, geralmente em casas no litoral). Infelizmente Carlos Gardel
nunca pode frequentá-la, pois faleceu antes que estivesse pronta. A casa chegou a
ficar abandonada por um período e posteriormente foi encampada pelo governo, que
criou um centro de reabilitação no local. A casa tem uma belíssima arquitetura, da
260
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

primeira metade do século XX, com amplos espaços, que permitiram uma excelente
adaptação do local para os objetivos da clínica. A estrutura da clínica para reabilitação
é excelente, com disponibilidade de diversos equipamentos para reabilitação e
material especializado para fisioterapia e várias atividades físicas, inclusive na água.
E um espaço bastante adequado para a prática do Tai Chi Chuan.

O trabalho com Tai Chi é desenvolvido em 3 locais: 2 deles são vinculados ao


Instituto Nacional de Reumatologia, instituição pública, a Casa Gardel, a que nos
referimos acima, e o Edifício-sede do Instituto Nacional de Reumatologia - que
oferece cuidados ambulatoriais e internação hospitalar, além de atividades de
reabilitação com equipes multiprofissionais e pesquisa. O Instituto Nacional de
Reumatologia Dr. Moisés Mizraji localiza-se na região central da cidade, próximo ao
belíssimo prédio do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
da República e do histórico estádio Centenário. No serviço público a maioria dos
pacientes é mais idosa, com clara predominância do sexo feminino, estando listados
54 pacientes no Instituto Central de Reumatologia e 39 pacientes na Casa de Gardel.
O trabalho também é desenvolvido em uma instituição privada, o Hospital Britânico
de Montevideo, onde o foco é voltado para controle do estresse, e a frequência é de
pacientes mais jovens, com predominância de problemas de ordem psíquica e
emocional, decorrentes de estresse. Este trabalho não foi visitado, pois nesta semana
não ocorreram atividades; portanto, as observações que aqui são apresentadas
referem-se somente ao que foi testemunhado nas instituições públicas.
A entrada dos pacientes no programa é somente através de encaminhamento por
escrito pelos médicos reumatologistas e fisiatras e por fisioterapeutas . Os pacientes
devem ser necessariamente vinculados ao Instituto de Reumatologia; antes de iniciar a
prática passam por uma avaliação clínica com o Dr. Ramón Suarez e com o
fisioterapeuta para melhor avaliação da mobilidade.
No Instituto Central geralmente são realizadas 2 sessões semanais ( onde os pacientes
da Casa de Gardel podem participar da segunda sessão da semana), com duração de
90 min. O trabalho é desenvolvido com 2 instrutores trabalhando concomitantemente
(um grupo com pacientes com pouco tempo de prática e outro com pacientes com
mais antigos no programa - no Instituto Central de Reumatologia existem pacientes
praticando há 5 anos). Permite-se um esquema flexível de presença - a maioria
procura participar das 2 sessões semanais, uma parte faz uma sessão semanal e alguns
frequentam as sessões quinzenalmente.
Os instrutores são Ramon Suarez, médico e Ricardo Suarez, matemático, ambos com 261
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

formação como instrutores de Tai Chi Chuan pela Sociedade Brasileira de Tai Chi
Chuan da Tradição da Família Yang e instrutores afiliados da Associação
Internacional de Tai Chi Chuan da Tradição da Família Yang com muito anos de
prática e freqüência a inúmeros seminários internacionais de Tai Chi.

As sessões são estruturadas em 4 momentos, mas sem um caráter rígido: exercícios de


aquecimento para relaxamento e posteriormente exercícios de QiGong; em seguida é
executada a primeira parte da forma longa (103) e no final exercícios de respiração e
auto-massagem ; eventualmente se utilizam bolas, por exemplo, para a “postura da
árvore” e colchonetes, usados particularmente para orientação da maneira como
levantar-se após a ocorrência de quedas. São utilizadas também cadeiras para a
execução de alguns movimentos, que são feitos com os pacientes sentados ou
apoiando-se na parede e em barras de apoio. Aqui vale a pena salientarmos uma
questão importante - trata-se de pessoas acometidas de doenças reumatológicas, com
diferente gravidade e severidade, algumas com sequelas e deformidades. Deve-se
atentar para limitações na execução da prática em decorrência destas doenças; alguns
exercícios exigem adaptação pela condição de mobilidade dos pacientes; deve-se estar
atento também para o eventual aparecimento de quadros mais agudos, que podem
modificar a performance dos pacientes e limitar a execução de certos movimentos.
No decorrer da prática, os exercícios são explicados verbalmente em detalhes pelo
instrutor, que vai falando enquanto pratica e os pacientes vão “copiando os
movimentos”. Depois de um certo tempo de prática, os pacientes podem ser instados a
fazer os movimentos por conta própria, sob observação dos instrutores. Isto é
importante, pois além de ser um estímulo à cognição, permite que se tenha uma noção
de sua capacidade de repetir os exercícios em casa, sem supervisão, uma atitude que é
estimulada pelos instrutores.
Os pacientes tem também aulas teóricas com os instrutores, onde são explanadas a
filosofia, os princípios, conceitos e aspectos do Tai Chi Chuan da tradição da família
Yang. Os instrutores também tem participações em simpósios profissionais, onde são
feitas demonstrações para médicos sobre o projeto. De nota é o fato de que existe uma
produção científica relacionada ao projeto, com trabalhos apresentados em
Congressos e inclusive um artigo publicado na Revista da Associação Internacional
de Tai Chi Chuan da Família Yang pelo Dr. Ramon Suarez.
Embora a remuneração seja baixa e o próprio trabalho se sustente com uma dedicação
262
dos instrutores que não se prende exatamante à questões pecuniárias, o trabalho não é
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

voluntário, fato importante pois abre uma perspectiva de trabalho para que outros
projetos semelhantes possam ser estruturados em outros locais.
Conversando com Ramón e Ricardo depois das práticas, eles fizeram algumas
observações, que transcrevo aqui. É importante, para que a prática traga melhores
resultados, que os pacientes possam permanecer vinculados ao grupo pelo tempo que
lhes aprouver. No início do projeto chegou-se a pensar em módulos de 3 meses, mas a
observação foi que a aderência a longo prazo e a regularidade da prática estão
diretamente relacionados aos resultados obtidos. Embora existam diferenças, a
depender, por exemplo, do extrato econômico-social do paciente, geralmente se
observa que o grau de consciência corporal dos pacientes é muito pobre. O trabalho
foca bastante nestes aspectos, procurando estimular o paciente para que conheça
melhor o seu corpo, tanto em termos de consciência corporal propriamente dita, bem
como para estimular-lhes no sentido de ter uma participação mais ativa em seus
tratamentos, retomando a responsabilidade sobre sua própria saúde.
Conversei, no final da prática, com os próprios pacientes. Os diagnósticos relatados
foram fibromialgia, osteoporose, osteoartrose - em vários sítios anatômicos, artrite
reumatóide, espondilite anquilosante, etc. Alguns pacientes relatavam que tinham
indicação de cirurgia, por exemplo, necessidade de artroplastia - implante de prótese -
de joelhos e quadris. As cirurgias ortopédicas são relativamente frequentes nos
pacientes reumatológicos. Conforme informa o dr. Ramón, a maioria dos pacientes,
após serem submetidos à intervenções cirúrgicas, podem retornar à prática em 3
semanas.
Na percepção dos pacientes, um aspecto importante é a melhoria geral da mobilidade
- com consequente melhora da capacidade funcional e da qualidade de vida. Eles
relatam redução do número de consultas médicas e do consumo de medicamentos,
inclusive com sua total suspensão, sempre sob supervisão médica.
A melhora do equilíbrio é um dos fenômenos relatados por quase todos os
participantes, além da melhora de aspectos emocionais, em particular ansiedade e
depressão. Observei que outras questões são a criação de um grupo de convivência
entre pessoas com quadros semelhantes e com uma atividade em comum - e com isso
a geração de uma sensação de pertencimento; a proximidade com os instrutores e a
convivência semanal pode estar relacionada à uma sensação de segurança para os
pacientes (conforme relatamos acima, um dos instrutores, Ramon, é médico).

263
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

No dia seguinte à minha visita, recebei um email do Dr. Ramon, no qual estava
anexado um texto que havia sido enviado a ele por uma das pacientes, Helen Abella. o
texto pode ser encontrado na íntegra, como anexo, no final desta monografia. O
excerto abaixo é retirado dele:

“Percebi que praticando a forma, poderia dizer, coreográfica, deste exercício, a dor
não aumentava, mas gradualmente ia abandonando meu joelho e minha alma.
A respiração, o equilíbrio, a coordenação e os braços, que aprendem a acariciar as
nuvens, a mobilizar suavemente a água, estando em um lugar que não existe
materialmente. Poder separar o céu e a terra, estirando nossa coluna, notando como
ela começa a respirar entre as vértebras. Começo a perceber que estou mais ágil, que
perdi peso, sem perceber (obviamente, com alimentação adequada - sem sal, sem
açúcar - na medida do possível em equilíbrio).
Cada forma / movimento leva-me a sentir a harmonia, o prazer de coordenar, o ir e vir
da esquerda para a direita em movimentos envolventes junto com a respiração,
deixando-me apaixonada. Faz sentido o fluir, a concentração e a elasticidade que meu
corpo está obtendo.
Encontrar, cuidar do centro de energia - o Tan Tien, abaixo do umbigo - que apenas
estou começando a reconhecer, depois de muito praticar.
Hoje eu só sei que nada sei, e que seguirei aprendendo, praticando “pendurada” no
ônibus lotado, na cozinha, mexendo uma comida, ou quando vou pegar algo que está
no chão, lembrar da curva da vida.”
“Sentimos que praticar essa disciplina nos dá uma energia que conforta, sustenta,
orienta e enraíza nossa experiência de vida.”
Este depoimento foi um verdadeiro presente e ilustra de forma excepcional o que
vimos procurando apresentar ao longo deste trabalho. Que o Tai Chi Chuan pode se
configurar como uma prática integrativa que se coaduna com pontos fundamentais da
filosofia da Slow Medicine, como um instrumento de auxílio para que as decisões
relativas à saúde voltem às mãos dos pacientes, melhorando sua qualidade de vida,
reduzindo o consumo de medicamentos, e quiçá, o número de exames diagnósticos e
intervenções terapêuticas. Outro aspecto é o relacionamento de proximidade e
camaradagem que se estabelece entre “curadores” (instrutores) com os pacientes, o
ganho no sentido da melhora da saúde que é obtido através de uma prática longa e
persistente - e portanto, slow. Onde o sétimo princípio da Slow Medicine encontra
264
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

sentido quando afirma que a ideia não são “…metáforas de luta ou guerra contra a
doença. As palavras de ordem são recuperação, equilíbrio, harmonia”.

A GUISA DE UMA CONCLUSÃO:

Creio que ao longo de nossa exposição, pudemos estabelecer algumas similaridades


filosóficas entre o Tai Chi e a Slow Medicine, em particular no que se relaciona às
questões do Tempo e do Ritmo, onde se sobressai a questão da lentidão ou da
vagareza. O Tai Chi Chuan tem sido objeto freqüente de estudos da chamada
Medicina Convencional, buscando estabelecer bases mais sólidas e evidências de sua
efetividade em situações clínicas específicas. Sabemos, por exemplo, que a
Fibromialgia é uma situação clínica bastante prevalente na população, em que as
alternativas de tratamento medicamentoso oferecem resultados frequentemente pouco
satisfatórios e que atividade física é um dos pontos essenciais em seu manejo.
Trabalho publicado na revista New England Journal of Medicine sugere que o Tai Chi
– de nota vale a pena salientar que o estilo que foi utilizado na trabalho foi o estilo
tradicional da Família Yang – “pode ser um tratamento útil no manejo
multidisciplinar da fibromialgia” (WANG et al., 2010). Este artigo foi objeto do
editorial deste número da revista (YEH et al., 2010), fato que revela a importância do
estudo. A revista americana CHEST, em artigo recente (POLKEY et al, 2018),
comparou a prática do Tai Chi com a reabilitação pulmonar convencional como
adjuvante terapêutico em pacientes portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva
Crônica (DPOC). O estudo conclui que doze semanas após o término da intervenção,
foi observada uma diferença significativa favorecendo o grupo Tai Chi; sendo
observados também melhora na dispnéia e no desempenho no exercício, sugerindo
que o Tai Chi poderia substituir a Reabilitação Pulmonar no tratamento da DPOC
com maior conveniência para os pacientes. O Tai Chi também foi estudado como
abordagem terapêutica da artrose de joelho, com resultados animadores. A prática do
Tai Chi reduz a dor e melhora a função física, a auto- eficácia, a depressão e a
qualidade de vida relacionada à saúde em pacientes portadores de artrose de joelho
(WANG et al., 2018). Uma revisão sistemática, que foi publicada em 2016 por Huang e
colaboradores, debruça-se sobre a prevenção de quedas em idosos. A conclusão é que
o Tai Chi é eficaz para prevenir quedas em adultos mais velhos. Além de apontar que
é provável que o efeito preventivo aumente com a frequência do exercício, esta
revisão agrega uma informação interessante, em relação ao estilo praticado, onde os 265
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

autores afirmam que o estilo Yang parece ser mais eficaz do que o estilo de Sun, no
que se refere especificamente à quedas, embora não tenham havido comparações
diretas (HUANG et al. 2017). Citamos ainda um outro trabalho, publicado na
prestigiosa revista New England Journal of Medicine, onde o Tai Chi foi aplicado
para pacientes portadores de doença de Parkinson. Observou-se que o treinamento
com Tai Chi parece ter impacto positivo no equilíbrio em pacientes com doença de
Parkinson leve a moderada, além de outros benefícios como melhora da capacidade
funcional e redução de quedas (LI et al., 2012). Por fim, Jahnke R e seus
colaboradores fizeram uma extensa revisão em 2010 (JAHNKE et al., 2010) que
explora em profundidade uma vasta literatura das ciências da saúde acerca das
pesquisas sobre os benefícios para a saúde associados à prática do Tai Chi e do
Qigong. Na introdução do artigo, estas práticas, chamadas de meditação em
movimento ou movimento meditativo, são caracterizadas em suas singularidades e
semelhanças, além de estabelecer a interrelação de ambas as técnicas com os
fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa. Interessante que na maior parte dos
estudos incluídos no trabalho, o Tai Chi é feito por um período relativamente curto de
tempo, em formas mais simples (em geral, nas pesquisas, as formas longas, por sua
complexidade, não são utilizadas). O estudo aparentemente tem uma metodologia
adequada, e especifica algumas situações clínicas nas quais o Tai Chi e o Qigong
podem ter impacto positivos, a saber: densidade óssea, sistema cardiovascular e
respiratório, capacidade física, equilíbrio e quedas, qualidade de vida, auto-eficácia
(em psicologia a convicção de uma pessoa de ser capaz de realizar uma tarefa
específica), “resultados relatados pelo paciente”, efeitos psicológicos e na função
imune.

Esta breve revisão da literatura nos sugere que o Tai Chi é uma prática promissora,
enquanto adjuvante terapêutico, em uma série de condições clínicas bastante
prevalentes, com benefícios que vem sendo paulatinamente bem estabelecidos em
pesquisas científicas conduzidas com metodologia adequada. As perspectivas de
melhora da qualidade de vida, redução do uso de medicamentos, diminuição da
procura de serviços de saúde, melhor controle de sintomas através de mudanças
comportamentais e não-farmacológicas, entre outros, são todos fatos que se conciliam
com os princípios e a filosofia da Slow Medicine. Tratando-se de uma prática
integrativa, com outros prováveis benefícios, na promoção e prevenção em saúde
(LAN et al. 2013), acreditamos que o Tai Chi pode representar um bom exemplo de
266
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

prática, convergente com o sétimo princípio da Medicina sem Pressa, que afirma
que “as palavras de ordem são recuperação, equilíbrio, harmonia.”. Finalizando,
citamos a resposta de Jackie Wooton ao nosso questionário, onde ela afirma que:
“Como não-médica eu diria que a biomedicina científica é inestimável para condições
agudas, mas as práticas integrativas podem ser mais eficazes para queixas crônicas e
agem para dar suporte ao binômio corpo-mente no sentido da manutenção do bem-
estar e da boa saúde. Eu concordo que essa combinação caracteriza a Slow
Medicine.”.

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Vol. 363, n. 8, pp. 783-4, 2010.

8. ANEXOS:

A. Manifesto Slow Medicine


B. O modelo de questionário
C. As respostas ao questionário (originais e traduzidas)
D. Os 10 Princípios do Tai Chi Chuan da Tradição da Família Yang segundo o
mestre Yang Chenfu
E. Os 10 Princípios da Slow Medicine
F. A carta da paciente Hellen Abella (original e traduzida)
G. Certificado de Participação das atividades no Uruguai

270
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

Anexo A:
O Manifesto da Slow Medicine:
Medicina Sóbria: Fazer mais não quer dizer fazer melhor:

A divulgação e o uso de novos tratamentos de saúde e de novos procedimentos


diagnósticos nem sempre são acompanhados de maiores benefícios aos pacientes.
Interesses econômicos e razões de caráter cultural e social estimulam o consumo
excessivo de serviços de saúde, aumentando demasiadamente as expectativas das
pessoas, muito além da capacidade do sistema sanitário em atendê-las. Além disso,
não se dá atenção suficiente ao equilíbrio do ambiente e à integridade do ecossistema.

Uma medicina sóbria implica a capacidade de agir com moderação, de forma


gradual e essencial. Utiliza de modo apropriado e sem desperdício os recursos
disponíveis. Respeita o ambiente e protege o ecossistema.

A Slow Medicine reconhece que fazer mais não significa fazer melhor.

Medicina Respeitosa: Os valores, expectativas e desejos das pessoas são


diferentes e invioláveis.

Cada um tem o direito de ser o que é e de expressar o que pensa.

Uma medicina respeitosa acolhe e leva em consideração os valores, as preferências e


as orientações do outro em cada momento de sua vida; encoraja uma comunicação
honesta, cuidadosa e completa com os pacientes.

271
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Os profissionais de saúde agem com atenção, equilíbrio e educação.

A Slow Medicine reconhece que os valores, expectativas e desejos das pessoas são
diferentes e invioláveis.

Medicina Justa: Cuidados adequados e de boa qualidade para todos.

Uma medicina justa promove a prevenção, entendida como tutela da saúde; presta
cuidados apropriados, isto é, adequados às pessoas e às circunstâncias, e que
provaram ser eficazes e aceitáveis aos paciente e profissionais de saúde.

Uma medicina justa combate as desigualdades e facilita o acesso à saúde e aos


serviços sociais, supera a fragmentação dos tratamentos e promove a troca de
informações e de experiências entre os profissionais em uma lógica sistêmica.

A Slow Medicine promove cuidados adequados e de boa qualidade para todos.

272
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

273
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Anexo B: O Modelo do questionário:

O questionário consta de 3 questões, listadas abaixo:

1. Tendo como pano de fundo a filosofia e os princípios da Slow Medicine e


do Tai Chi Chuan, como você vê a questão do ritmo e do tempo em processos
terapêuticos?

2. As práticas integrativas, onde abordagens “não-convencionais à saúde” tem


sido cada vez mais utilizadas pela sociedade, vem ganhando aceitação na
comunidade médica. O Tai Chi Chuan tem sido reconhecido como uma
prática complementar e alternativa (“integrativa”) com impacto positivo na
saúde. Qual a relação entre as práticas integrativas e complementares e a
prevenção e promoção da saúde?

3. Comente o sétimo princípio da Slow Medicine.

Observação: o sétimo princípio da Slow Medicine afirma:

“7. Medicina Integrativa:

O melhor de 2 mundos: medicina tradicional sempre que indicada . Medicina


complementar se possível , preferencialmente baseada em evidências.
Segurança em primeiro lugar, eficácia quando possível. Sem metáforas da luta
ou guerra contra a doença. As palavras de ordem são recuperação, equilíbrio,
harmonia.”

(https://www.slowmedicine.com.br/principios/)

Anexo C: As respostas ao questionário (originais e traduzidas):

Resposta de Ladd Bauer:

1. Against the background of the philosophy and principles of Slow Medicine and Tai
Chi Chuan, how do you see the question of rhythm and time in therapeutic processes?

274
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

Tai Chi Chuan is not as familiar to me as to you and Jackie. I have only taken
one class, and that was years ago. But I have observed it and read about it, and
have engaged in similar exercises for much of my life. An essential element of
them is slowing down one's movement and stillness enough to be "in" them
rather than allowing motion to occur mechanically and without direct
participatory awareness. Basic meditation practice begins with cultivation of
sensory presence in stillness. In these practices, one becomes as deeply and
directly aware of, say one's foot, of the skin sensations, and gradually allows
the sensations to deepen, even all the way into bone. Rather than thinking
about the foot, the foot itself comes into being. My impression of Tai Chi is
that the technique fosters this kind of sensation while in movement. This calls
for slowing to allow the practitioner to "be there" in the movement as much as
possible, and to gradually grow this direct awareness. The reciprocal process
is that the centrality of thinking as a substitute for being present is slowly
undone. We get out of just being in our heads all the time. Over time, the
practice must help a person move through life with less wasted energy -- less
"one part working against another", less employment of the wrong part for
work done better by another. This notion expands beyond just the physical
body but into intellectual and emotional spheres and their proper integration.

Your question of rhythm and time in therapeutics relates to this very well.
Slowing allows time for the development of deeper awareness and forestalls
inappropriate reactivity leading to excessive unintended consequences.
Rhythm brings timing into this process -- that there is a right time for the
movement or stillness of a particular aspect affecting someone's health. A
common error at this point is to focus on the healing practitioner as the arbiter
of this timing. In fact, the "patient" is a hugely important carrier of this
wisdom -- if they can slow down enough to learn to pay attention to their
direct experience. The healer and the patient can be allowed to "slow" together
to avoid automatic hasty reactions built on protocols and replace them with
moves better grounded in presence in the real situation. The person is a
composition of elements joined in patterns that can be more or less
harmonious. A musician who does not hear what sound is coming out of the
instrument, and sense what positions and movements allowed it, is less likely

275
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

to harmonize. This is true of patients trying to get better, and of doctors trying
to help them.

2. Integrative practices, where "unconventional approaches to health" have been


increasingly used by society, have gained acceptance in the medical community. Tai
Chi Chuan has been recognized as a complementary and alternative ("integrative")
practice with a positive impact on health. What is, in your vision, the relationship
between integrative and complementary practices and prevention and health
promotion?

One might flip your assertion around and point out that modern medicine is
the "unconventional approach to health". Versions of traditional "slow
medicines" go much further back in history. The past few decades of dramatic
success of "fast medicine" in some areas of health practice have caused an
imbalance and disharmony to develop in relation to older traditions that did
encourage an era-related "slow medicine". Many doctors and patients have
experienced the benefits of cultivating time and attention in the therapeutic
relationship. What we call "alternative" are traditional practices that often used
these to great effect. What we have now is a situation in which this new
unconventional fast medicine might be better integrated with these older
conventions.

Note that an observable outcome of the urgent need for this integration has
been the appearance of bastardized offspring -- all sorts of allopathic-like
therapies and devices that name themselves alternative, integrative, or
complementary, but are actually just distorted versions of fast medicine and
the market economy mixed together.

3. Discuss the seventh principle * of Slow Medicine.

(*) Integrative Medicine (7th principle)

The best of 2 worlds: traditional medicine whenever indicated. Complementary


medicine if possible, preferably based on evidence. Safety first, effectiveness when

276
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

possible. Without metaphors of struggle or war against disease. The slogans are
recovery, balance, harmony.

This principle simply brings together the aspects I've discussed, while
mentioning the all-important factor of "evidence". The conundrum to be
worked out is "what can we agree upon as being evidence?" An associated
element is the ubiquitous nostrum known as "the placebo effect". To what
extent is this to be encouraged? Is it o.k. to engage the placebo effect of
homeopathy if I know the individual remedies have no solid evidence base? Is
it ever o.k. to lie to the patient? When is it o.k. to allow the patient to lie to
him or herself? (This last question does relate to "rhythm", no?) If the aim is
recovery, balance, and harmony, we are helped to make ethical decisions that
will not eventually undermine them, but will promote their best manifestation.
For example, if we lie to a patient to "help" them, and they later figure that
out, it might promote deeper illness, and will certainly not build trust. Taking
time to consider long-term effects is essential, and that is why Slow Medicine
is essential.

Questionário traduzido de Ladd Bauer:

1. O Tai Chi Chuan não é tão familiar para mim quanto para você e Jackie. Eu só fiz
uma aula, e isso foi há anos. Mas eu observei e li sobre isso, e me engajei em
exercícios similares por grande parte da minha vida. Um elemento essencial deles é
lentificar o movimento e a quietude de uma pessoa para "permanecer dentro do
movimento", em vez de permitir que o movimento ocorra mecanicamente e sem uma
consciência participativa direta. A prática básica de meditação começa com o cultivo
da presença sensorial na quietude. Nessas práticas, a pessoa se torna profunda e
diretamente consciente, digamos, do pé, das sensações da pele, e gradualmente
permite que as sensações se aprofundem, até mesmo no osso. Em vez de pensar no pé,
o próprio pé passa a existir. Minha impressão do Tai Chi é que a técnica estimula
esse tipo de sensação enquanto se está em movimento. Isso exige uma desaceleração
para permitir que o praticante "esteja presente" no movimento, tanto quanto possível,
e para aumentar gradualmente essa percepção direta. O processo recíproco é que a
centralidade do pensamento como um substituto para o estar presente é lentamente
desfeita. Nós saímos da situação de estarmos apenas dentro de nossas cabeças o

277
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

tempo todo. Com o tempo, a prática deve ajudar uma pessoa a se mover através da
vida com menos desperdício de energia - menos "uma parte trabalhando contra a
outra”, empregando menos uma parte para que o trabalho seja melhor feito por outra
parte do corpo. Esta noção se expande além do corpo físico, atingindo as esferas
intelectuais e emocionais e integrando-as de maneira adequada.

Sua questão do ritmo e do tempo na terapêutica se relaciona muito bem com isso. A
desaceleração proporciona tempo para o desenvolvimento de uma consciência mais
profunda e evita a reatividade inadequada, que pode levar a excessivas conseqüências
não-intencionais. O ritmo traz tempo para este processo - que há um momento certo
para o movimento ou a quietude acerca de um aspecto particular da saúde de uma
pessoa. Um erro comum neste ponto é se concentrar no instrutor como o árbitro desse
tempo. De fato, o "paciente" é o verdadeiro portador dessa sabedoria - se eles
puderem desacelerar o suficiente para aprender a prestar atenção à sua experiência
direta. É possível permitir que o instrutor e o paciente "desacelerem" juntos para
evitar reações precipitadas automáticas construídas em protocolos e substituí-los por
movimentos melhor fundamentados na presença da situação real. A pessoa é uma
composição de elementos unidos em padrões que podem ser mais ou menos
harmoniosos. Um músico que não ouve qual melodia está saindo de seu instrumento e
que não percebe o que as posições e os movimentos propiciaram, é menos provável
que consiga harmonizar. Isso também vale para os pacientes em busca de melhora e
para os médicos que tentam ajudá-los.

2.Pode-se inverter sua afirmação e ressaltar que a medicina moderna é a "abordagem


não convencional à saúde". Versões tradicionais da "Slow Medicine" estão
profundamente enraizadas na história. As últimas décadas do dramático sucesso da
“Fast medicine" em algumas áreas da prática da saúde causaram desequilíbrio e
desarmonia em relação às tradições mais antigas que encorajavam uma "medicina
sem pressa" relacionada ao nosso tempo. Muitos médicos e pacientes experimentaram
os benefícios de cultivar tempo e atenção no relacionamento terapêutico. O que
chamamos de "alternativa" são práticas tradicionais que muitas vezes usaram isso
com grande efeito. O contexto que vivemos atualmente é uma situação em que a nova

278
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

Fast Medicine não-convencional pode ser melhor integrada com essas práticas mais
antigas.

Observe que um resultado observável da necessidade urgente dessa integração tem


sido surgimento de filhos bastardos - todos os tipos de terapias e abordagens
semelhantes às alopáticas que se intitulam alternativas, integrativas ou
complementares, mas na verdade são apenas versões distorcidas da Fast Medicine
misturadas à economia de mercado.

3. Esse princípio simplesmente reúne os aspectos que discuti, mencionando o


importantíssimo fator de "evidência". O enigma a ser trabalhado é "como podemos
ajustar-nos às evidências?" Um elemento associado é o nosso onipresente e conhecido
"efeito placebo". Até que ponto devemos encorajá-lo? É correto aceitarmos o efeito
placebo da homeopatia sabendo que estes remédios não têm base sólida de
evidências? É sempre correto mentir para o paciente? Quando é adequado permitir
que o paciente minta para si mesmo? (Esta última pergunta pode estar relacionada ao
"ritmo", não?) Se o objetivo é a recuperação, o equilíbrio e a harmonia, precisamos
tomar decisões éticas que não os enfraqueçam, mas que permitam sua melhor
expressão. Por exemplo, se mentirmos a um paciente para "ajudá-lo", e depois ele
descobra isso, ele poderá promover uma doença mais grave e, certamente, isso não
ajudará a que se conquiste a necessária confiança. Ter tempo para considerar os
efeitos a longo prazo é essencial, e é por isso que a Slow Medicine é essencial.

Respostas do Dr. Ramón Suarez:

1. Teniendo como telón de fondo la filosofía y los principios de la Slow Medicine y


del Tai Chi Chuan, ¿cómo usted ve la cuestión del ritmo y del tiempo en procesos
terapéuticos?

En relación a la filosofia de la Slow Med. Imagina que tienes 2 ó 3 veces por


semana la oportunidad de contactar, oir, ver y hablar con el paciente y seguir
su evolución. Por eso es fundamental que sea personal de la salud el que se
involucre en las intervenciones.

2. Las prácticas integrativas, donde enfoques "no convencionales a la salud" han sido
cada vez más utilizados por la sociedad, viene ganando aceptación en la comunidad
médica. El Tai Chi Chuan ha sido reconocido como una práctica complementaria y

279
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

alternativa ("integrativa") con un impacto positivo en la salud. ¿Cuál es la relación


entre las prácticas integrativas y complementarias y la prevención y promoción de la
salud?

En este punto es importante destacar que se ha aceptado en Medicina


Occidental como parte integral de tratamientos médicos sin embargo no se ha
alcanzado el nível de prevensión. Esto ocurre lamentablemente en la mayor
parte de la medicina no solo en el Tai Chi. Es decir, la persona viene para
mejorar su evolución, no para intentar no enfermar.

3. Comente el séptimo principio de la Slow Medicine.

Es muy largo tema, pero hay algo breve para decir: una cosa es tener una
enfermedad y otra estar enfermo. Se debe lograr entre la medicina
convencional - la medicina complementaria y principalmente en la educación
del paciente que debe entender que no debe esperar todo de fuera, sino que el
principal actor es él para que cambie su vida, costumbres y conciencia y se
transforme en una persona con una enfermedad (control) y no un enfermo.

Respostas traduzidas de Ramon Suarez:

1- Em relação à filosofia da Slow Medicine:

Imagine que você tem, 2 ou 3 vezes por semana, a oportunidade de contactar,


ver, ouvir, falar com o paciente e seguir sua evolução. É por isso que é
fundamental que os profissionais da saúde se envolvam nas intervenções.

2- Neste ponto, é importante destacar que se aceitou (….o Tai Chi) na


Medicina Ocidental como parte integral dos tratamentos médicos, embora não
se tenha alcançado o nível de prevenção. Isso ocorre lamentavelmente na
maior parte da medicina, não somente no Tai Chi. Ou seja, a pessoa vem para
melhorar sua evolução, e não simplesmente para não ficar doente.

3- É um tema muito amplo, mas posso afirmar algo breve: uma coisa é ter uma
doença, outra é estar doente. Deve se procurar um entrelaçamento entre a

280
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

medicina convencional e a medicina complementar. Em particular, o paciente


deve entender que não deve esperar tudo de fora, mas sim que ele é o principal
ator na mudança de sua vida, de seus hábitos e de sua consciência, se tornando
portanto uma pessoa com uma enfermidade (passível de controle) e não um
doente.

Questionário original Maria Julia Paes da Silva:

1. Tendo como pano de fundo a filosofia e os princípios da Slow Medicine e do Tai


Chi Chuan, como você vê a questão do ritmo e do tempo em processos terapêuticos?

Tempo e ritmo dos processos terapêuticos: Há o tempo da ação e o tempo da


"digestão"; ou seja, do Yang e do Yin. A imagem do TAO me ajuda nessa
compreensão: no centro de um, tenho o outro, e vice-versa. Para agir é
necessário que o terapeuta esteja atento e focado no que é seu e no que é do
outro (transferência, contra-transferência, esteriótipos, preconceitos...),
respeitando o outro na sua individualidade e inteireza. Para poder falar é
necessário ouvir; para poder compreender é necessário silêncio interno, para
agir é necessário ter compreendido, para poder avaliar o resultado da ação
terapêutica é necessário o tempo de "digestão e elaboração" do outro,
num continuum de troca que se modifica a partir da própria vida que existe
em ambos e no contexto onde se encontram. Afinal, ambos fazem parte da
"vida maior" do seu entorno.

2. As práticas integrativas, onde abordagens “não-convencionais à saúde” tem sido


cada vez mais utilizadas pela sociedade, vem ganhando aceitação na comunidade
médica. O Tai Chi Chuan tem sido reconhecido como uma prática complementar e
alternativa (“integrativa”) com impacto positivo na saúde. Qual a relação entre as
práticas integrativas e complementares e a prevenção e promoção da saúde?

Tai Chi Chuan e demais práticas integrativas e a promoção e prevenção da


saúde: talvez o mais importante de todas essas práticas seja "recordar" que
nosso corpo, emoções e pensamentos são nossos; ou seja, que somos
responsáveis por eles e podemos ter a consciência necessária para direcioná-

281
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

los na perspectiva pretendida pelo sentido que damos a própria vida. Talvez, o
que a maioria dessas práticas tenha em comum, seja o respeito pelo indivíduo
como um ser autônomo, dono de sua vontade, que pode ser
recordado/ensinado quanto a responsabilidade que possui sob a sua própria
vida. "Devolvem"/desenvolvem nele a atenção a si próprio, estimulando-o a
ter disciplina e colocar atenção em si mesmo. Trabalhando com seus limites
com mais consciência. Desenvolvendo também, muitas delas, a visão
sistêmica do indivíduo quanto a própria vida.

Também vale ressaltar que é alentador a comunidade médica estar


reconhecendo que práticas integrativas, algumas milenares, merecem atenção
e estudo pelo seu papel na espécie humana.

3. Comente o sétimo princípio da Slow Medicine.

(o sétimo princípio da Slow Medicine afirma:

“Medicina Integrativa: O melhor de 2 mundos: medicina tradicional sempre que


indicada . Medicina complementar se possível , preferencialmente baseada em
evidências. Segurança em primeiro lugar, eficácia quando possível. Sem metáforas da
luta ou guerra contra a doença. As palavras de ordem são recuperação, equilíbrio,
harmonia.”)

7º Princípio da Slow Medicine: a vida, sendo dinâmica, exige constante


adaptação. Adaptação exige acolhimento do novo, que gera insegurança.
Nossa espécie têm como necessidade básica "sentir-se seguro". Para sentirmo-
nos seguros, "seguramos" (com expectativas, rejeição ou apego) a realidade
como algo estável, imutável. Esse princípio aceita essa dinamicidade e resgata
a importância da recuperação de um equilíbrio que é dinâmico, que exige
atenção e presença para ser mantido.

Questionário Jackie Wooton:

Ela introduz sua resposta com a seguinte colocação:

“Please note that I am not a medical practitioner. I am a social scientist and worked
for 20 years, while living in the US, in the field of alternative medicine/ integrative
medicine, primarily gathering and publishing (mainly open-access online) impartial

282
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

evidence-based information about various modalities and practices. By “evidence-


based” I, and my team at the Alternative Medicine Foundation, did not look
exclusively at data from controlled clinical trials but also at observational data and
traditional systems of medicine and their underlying principles and practices.

Latterly, in discussion with Ladd, I became interested in the concept of Slow


Medicine (SM). This also meshed with my long-term (about 25 years now) practice
of Tai Chi Chuan – Yang style.”

1. Against the background of the philosophy and principles of Slow Medicine


and Tai Chi Chuan, how do you see the question of rhythm and time in
therapeutic processes?
Rhythm and time are indeed fundamental to the concept and practice
of Tai Chi. I can see that the same principles also apply to SM. It is
important in SM to observe the rhythm and phases of illness or ageing
rather than automatically apply a battery or tests and procedures; to
take time to listen attentively to the patient; yet to anticipate and
intervene without hesitation when necessary.

There are other important principles basic to Tai Chi: relaxation;


alignment, fluidity of movement, and lightness; a sense of stillness in
motion; balance when transferring weight from one leg to the other;
use of mind and mindfulnesss, not strength, to direct energy.

2. . Integrative practices, where "unconventional approaches to health" have been


increasingly used by society, have gained acceptance in the medical
community. Tai Chi Chuan has been recognized as a complementary and
alternative ("integrative") practice with a positive impact on health. What is, in
your vision, the relationship between integrative and complementary practices
and prevention and health promotion?
There is increasing interest in researching the health benefits of
practising Tai Chi. A quick search of the PubMed database reveals
positive studies for the effect of Tai Chi on fibromyalgia, stroke rehab,

283
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

depressive disorders, schizophrenia, metabolism ... Despite many such


clinical research projects demonstrating specific effects, perhaps the
greatest benefits relate more generally to health maintenance,
mindfulness, physical and mental balance and thus to the core
principles of integrative medicine: health maintenance, wellness
promotion; speed of recovery from illness or surgery.

I am reluctant to include disease prevention as there are many


conditions that are genetic or in some way unavoidable like drug side-
effects. A better term might be resilience – the capacity to recover
quickly and fully.

3. Discuss the seventh principle of Slow Medicine.


A quick note on terminology. If you use the term “traditional
medicine” for modern biomedicine, it leads to confusion. Biomedicine
is relatively young in the history of medicine. It is preferable to
reserve the term “traditional“ for the many ancient wisdom traditions,
such as Ayurveda, TCM, Tibetan Medicine, etc.

As a non-medic I would say that scientific biomedicine is invaluable


for acute conditions but integrative practices may be more effective for
chronic complaints and act to support the body-mind to maintain
wellness and basic good health. I agree that this combination
characterises Slow Medicine.

O questionário traduzido de Jackie Wooton:

“Por favor, note que eu não sou um médica. Eu sou uma cientista social e trabalhei
por 20 anos, enquanto vivia nos EUA, no campo da medicina alternativa / medicina
integrativa, principalmente na captação e publicação informação imparcial baseada
em evidências sobre várias modalidades e práticas ((principalmente com acesso
aberto on-line). Por "baseada em evidências" eu e minha equipe na Alternative
Medicine Foundation, não olhamos para os dados de ensaios clínicos controlados

284
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

exclusivamente, mas os dados observacionais e também em sistemas tradicionais de


medicina e seus princípios e práticas subjacentes.

Posteriormente, em discussão com Ladd, me interessei pelo conceito de Slow


Medicine (SM). Isso também se mesclou à minha prática de longo prazo (cerca de 25
anos) do Tai Chi Chuan - estilo Yang.”

1. O ritmo e o tempo são de fato fundamentais para o conceito e a prática do Tai Chi.
Eu posso ver que os mesmos princípios também se aplicam à Slow Medicine. É
importante observar o ritmo e as fases da doença ou envelhecimento, em vez de
aplicar automaticamente uma bateria de testes e procedimentos; ter tempo para ouvir
atentamente o paciente; mas, quando necessário, antecipar-se e intervir sem hesitação.

Existem outros princípios básicos importantes ao Tai Chi: relaxamento; alinhamento,


fluidez de movimento e leveza; uma sensação de quietude no movimento; equilíbrio
ao transferir o peso de uma perna para a outra; uso da mente, da atenção e da
concentração, e não a força, para direcionar a energia.

2. Há um interesse crescente em pesquisar os benefícios para a saúde da prática do


Tai Chi. Uma rápida pesquisa aos estudos que constam no banco de dados PubMed
revela efeito positivo do Tai Chi sobre a fibromialgia, reabilitação de acidente
vascular cerebral, transtornos depressivos, esquizofrenia, o metabolismo ... Apesar de
muitos desses projetos de pesquisa clínica demonstrarem efeitos específicos sobre as
condições estudadas, talvez os maiores benefícios se relacionem mais com a
manutenção da saúde geral, atenção plena, equilíbrio físico e mental, portanto, aos
princípios fundamentais da medicina integrativa: manutenção da saúde, promoção do
bem-estar; a velocidade de recuperação de uma doença ou cirurgia.

Sou relutante em incluir a prevenção de doenças, pois há muitas condições que são
genéticas ou, de algum modo, inevitáveis, como os efeitos colaterais dos
medicamentos. Um termo melhor pode ser resiliência - a capacidade de se recuperar
rápida e completamente.

285
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

3. Uma nota rápida na terminologia. Se você usa o termo "Medicina Tradicional" para
a biomedicina moderna, isso leva à confusão. A biomedicina é relativamente jovem
na história da medicina. É preferível reservar o termo "Tradicional" para as muitas
antigas tradições ancestrais de sabedoria, como Ayurveda, TCM, medicina tibetana,
etc.

Como não-médica eu diria que a biomedicina científica é inestimável para condições


agudas, mas as práticas integrativas podem ser mais eficazes para queixas crônicas e
agem para dar suporte ao binômio corpo-mente no sentido da manutenção do bem-
estar e da boa saúde. Eu concordo que essa combinação caracteriza a Slow Medicine.

Anexo 4: Os 10 Princípios Essenciais do Tai Chi Chuan da Família Yang, segundo o


Mestre Yang Chengfu:
1 – Energia leve e sensível no topo da cabeça: fique ereto e mantenha a cabeça e o
pescoço naturalmente eretos com a mente concentrada no topo da cabeça. Não
tencionar demais, pois isto não permite que o sangue e a energia vital circulem
suavemente.
2 – Afundar o peito e arredondar as costas: mantenha o peito ligeiramente para dentro
o que o capacita a afundar ou submergir a respiração no Tan Tien (baixo ventre). Não
deixe o peito para fora (protuberante), pois isto vai fazer com que a respiração torne-
se difícil e de alguma forma o topo vai ficar pesado.
3 – Relaxar a cintura: quando relaxamos a cintura, os dois pés terão força o suficiente
para formar uma base sólida. Todos os movimentos dependem da ação da cintura. Os
movimentos desajeitados no Tai Chi Chuan surgem de ações erradas da cintura.
4 – Discernir cheio e vazio: é de importância primeira no Tai Chi Chuan
distinguirmos entre “Xu” vazio e “Shi” cheio. Se o peso do corpo está na perna
direita, então a perna direita está cheia e a esquerda está vazia, e vice- versa. Quando
conseguimos separar o cheio do vazio, giramos o corpo levemente sem usar força. Se
não conseguimos separar, o passo é pesado e vagaroso, e a posição não é firme, não
fornecendo equilíbrio.
5 – Afundar os ombros e cotovelos: devemos manter os ombros na posição natural e
relaxados. Se elevamos os ombros, o chi vai subir com eles e todo o corpo vai ficar

286
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

sem força. Devemos também manter os cotovelos para baixo senão não seremos
capazes de manter os ombros relaxados e mover nosso corpo de forma suave.
6 – Usar a mente e não a força: na prática do Tai Chi Chuan, todo o corpo está
relaxado e não há idéia de força bruta ou endurecida nas veias ou juntas por trás dos
movimentos do corpo. Se os meridianos não estiverem bloqueados a energia vital vai
circular no corpo inteiro. Mas se os meridianos forem preenchidos com força bruta, a
energia vital não será capaz de circular e conseqüentemente o corpo não vai se mover
facilmente ou suavemente. Deve-se assim usar a mente ao invés da força bruta, pois
assim a energia vital irá seguir a consciência e circular por todo o corpo. Através da
prática persistente seremos capazes de cultivar e desenvolver uma força interna
genuína. Isto é o que os expertos em Tai Chi Chuan chamam de: “Flexível na
aparência, mas poderoso na essência”.
7 – Coordenar o superior e o inferior: de acordo com a teoria do Tai Chi Chuan a raiz
está nos pés, a força é emitida através das pernas, controlada pela cintura e expressa
pelos dedos; os pés, pernas e a cintura formam um todo harmonioso. Quando as mãos
e a cintura e as pernas se movem, os olhos devem seguir o seu movimento. Isto pode
acontecer quando houver coordenação entre a parte superior e inferior. Se alguma
parte para de mover-se, então os movimentos serão desconectados e cairão em
desordem.
8 – Harmonia entre o interno e o externo: praticando o Tai Chi Chuan o foco está na
mente e na consciência. Assim dizem: “O Espírito (Consciência) é o comandante e o
corpo é o subordinado”. Se podemos elevar o Espírito com a mente tranqüila, então os
movimentos serão naturalmente suaves e graciosos. As posturas não vão além do
cheio e vazio, abrindo e fechando. Aquilo que é chamado abrir, significa que não
apenas as mãos e os pés estão abertos, mas a mente também está aberta. Quando
pudermos fazer com que o de dentro e o de fora se tornem um, a coordenação será
completa e a perfeição será atingida.
9 – Importância da continuidade: no Tai Chi Chuan se focaliza a atenção na mente e
não na força e os movimentos de início ao final são contínuos e circulares. Assim se
diz: “É como um grande rio correndo incessantemente”.
10 – Tranqüilidade no movimento: no Tai Chi Chuan o movimento é combinado com
a tranqüilidade e enquanto se executa os movimentos se mantém a tranqüilidade da
mente. Na prática da “Forma”, quanto mais lento o movimento, melhores resultados
são conseguidos. Isto acontece porque quando os movimentos são lentos, pode-se

287
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

respirar profundamente e submergir o Chi no Tan Tien. Isto produz um efeito


suavizante no corpo e na mente. Aprendizes de Tai Chi Chuan irão conseguir uma
melhor compreensão de tudo isto, através de estudo cuidadoso e prática persistente.
Fonte: Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental
(http://www.taichichuan.com.br/arqdoc/dezprincipios.pdf)

Anexo E: Os Dez princípios da Slow Medicine:

1. Tempo

Tempo para ouvir, para entender, para refletir. Tempo para consultar e
tomar decisões. A tomada de decisões melhora quando os médicos dedicam seu
tempo e sua atenção ao paciente.

2. Individualização

Cuidado particularizado, justo, apropriado. A individualidade em lugar


da generalidade. O paciente deve ser o foco da atenção e seu ponto de vista e seus
valores são fundamentais.

3. Autonomia e Auto-Cuidado

Decisões compartilhadas. A chave da questão são os valores, expectativas


e preferências do paciente. Nela estão envolvidos o ambiente de cuidados do paciente,
sua família, vizinhos, amigos e outras fontes de suporte ou apoio.

4. Conceito positivo de saúde:

Neste conceito de saúde, que transcende o antigo conceito de saúde da OMS (“um
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de
afeções e enfermidades”) o foco é no auto cuidado e resiliência, com ênfase na saúde
e não na doença, abordando os cuidados de saúde e a prevenção de doenças e a
manutenção da qualidade e da acessibilidade dos cuidados .

5. Prevenção

Alimentação saudável é a prescrição básica para uma vida saudável. Atividade física
regular, pensamento positivo e flexibilidade mental são essenciais para manter nossos
cérebros saudáveis.

288
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

6. Qualidade de vida

Fazer mais nem sempre significa fazer melhor. Mais que quantidade deve-se investir
na qualidade, na aceitação do inevitável. Deve-se sempre considerar a arte médica de
não intervir – a sabedoria da observação clínica .

7. Medicina Integrativa

O melhor de 2 mundos: medicina tradicional sempre que indicada . Medicina


complementar se possível , preferencialmente baseada em evidências. Segurança em
primeiro lugar, eficácia quando possível. Sem metáforas da luta ou guerra contra a
doença. As palavras de ordem são recuperação, equilíbrio, harmonia.

8. Segurança em primeiro lugar:

Lembre-se do juramento de Hipócrates : Primum non nocere et in dubio abstine.


Em primeiro lugar não causar o mal. Em dúvida, abstenha-se de intervir.

9. Paixão e compaixão

Resgatar a paixão pelo cuidar e o sentimento da compaixão na atenção médica.


Buscar incansavelmente a humanização dos cuidados à saúde .

10. Uso parcimonioso da tecnologia

A tecnologia deve servir ao homem. As novas tecnologias devem cumprir


seus objetivos de auxiliar a pessoa no autocuidado e auxiliar o médico a tomar
as melhores decisões para seu paciente, que busquem primordialmente melhorar sua
qualidade de vida.

Os 10 princípios: tradução livre do texto do Grupo Slow Medicine Holanda.


(http://slowmedicine.nl/home%20english.html)

Anexo 6: Carta da Paciente Helen Abella:

Original:

Un jueves de más aprendizaje en Taichi. Agosto 16 2018

Anoche un doctor geriatra de Brasil, que es el primer médico que hace la tesis en ese
país-según sus palabras- para recibirse, para practicar y aconsejar la práctica del

289
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Taichi en personas con diversas patologías, un Quijote de los tantos que precisa la
medicina, nos preguntó,( al vernos en nuestra sección semanal de esa práctica que
realizamos y que comenzamos específicamente por dolencias físicas) si notábamos
algún cambio en nuestro cuerpo, estado mental, desde que comenzamos a ahora.

Brevemente cada uno le contestó.

Nosotros vinimos en el bus, reflexionando y compartiendo opiniones sobre esa


pregunta.

Personalmente, a raíz de una tendinitis en una de las rodilla, que me hacía caminar
con dificultad, y me producía mucho dolor. La doctora, recetó placas, densitometría y
medicamentos para disminuir la inflamación y para el dolor. Sumando a esto mis
temores, al ver que esa situación física y mental, reducían mis actividades. En otra
visita a la doctora, me aconsejó -después de ver mis exámenes - el comenzar a hacer
Taichí. Desconocía que esta actividad se realizara en nuestro medio, para la salud.

Obviamente, comencé a practicarlo, con inseguridad, miedo al dolor, y miedo a lo


desconocido. Continué, viendo poco a poco que: el miedo se iba (elemento que
siempre nos limita en la vida), el trato de los profesionales -el Doctor Ramón y el
Profesor Ricardo- expertos en este arte marcial para la salud física y mental .nos
contienen, nos enseñan, y el afecto que nos brindan, provocan la empatía al estar bien.

Noté que realizando las prácticas con formas diría coreográficas de este ejercicio, no
aumentaba el dolor, el que poco a poco fue abandonando mi rodilla y mi alma.

La respiración, el equilibrio, el balanceo, la coordinación, y los brazos, que aprenden


a acariciar las nubes, a movilizar suavemente el agua, estando en un lugar que nada de
eso existe materialmente. El poder separar el cielo y la tierra, estirando nuestra
columna, notando como ella empieza a respirar entre vértebra y vértebra. Comienzo a
notar que estoy más ágil, he adelgazado, sin darme cuenta.(Obviamente con
alimentación acorde -sin sal, sin azúcar- en lo posible en equilibrio).

Cada forma -movimiento- me lleva a sentir la armonía, el placer de coordinar, el ir y


venir de izquierda a derecha en movimientos envolventes junto a la respiración, me
apasiona. Tiene sentido el fluir, la concentración y la elasticidad que mi cuerpo va
teniendo.

290
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

Encontrar, cuidar el centro de energía el Tantien, debajo del ombligo-el que recién
con mucho practicar, estoy reconociéndolo.

Hoy sólo sé que no sé nada, y seguiré aprendiendo, practicándolo en el ómnibus


cuando voy "colgada" por estar lleno de gente, en la cocina, revolviendo alguna
comida, o cuando debo levantar algo que está en el suelo, recordar, la curva de la
vida.

Al no tener dolor, viendo que iba sintiéndome cada día mejor, vital, el entusiasmo tal
como dice su etimología griega: tener los dioses adentro-me permite compartir en mis
conversaciones, lo positivo de ejercitarse en taichí. Y demostrar a quienes están de
acuerdo, que el hombre tiene articulaciones, por todos lados, y que se van
endureciendo, entumeciéndose si no se mueven...y que además vacía la mente que
está llena de muchas cosas no importantes e importantes por la atención de esta vida
que se vive a mucha velocidad.

Carlos mi esposo, con el cual dialogamos para esta reflexión, frente a un cuadro de
presión alta arritmias colesteroles, triglicéridos y todos los valores elevados PSA,
glucemia, etc ,etc, fue estudiado con todo tipo de exámenes y fue medicado.

Ante un dolor en una pierna- la doctora que lo vio estudió todos los exámenes y
medicaciones que tenía, con mucha paciencia y responsabilidad, le aconsejó
comenzar Taichí.

Hubo cierta reticencia, porque venía de haber estado con cardiólogos, urólogos,
médico general, médico internista, diabetóloga, nutricionista, psicólogo, más
exámenes de todo tipo. Sumando medicamentos que le hacían efectos como sentir no
tener equilibrio, estar aplastado. Siendo un hombre activo, no obeso. Nunca fumó, y
beber alcohol en alguna ocasión especial, responsable en la dieta y el querer estar
bien. Luego de hablar con Ramón, el doctor, comenzó con esto del taichí.

Hoy ya casi a dos años, los médicos especialista han disminuido medicación, notaron
la ausencia de arritmias, la diabetes, con valores normales, el psicólogo le dio el alta,
las angustias se han ido, y cada vez los especialista de cada enfermedad, han
espaciado las citas, sin dejar los controles.

291
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Tiene más coordinación, tiene disciplina de practicar los ejercicios todas las mañanas,
la respiración la mente, han ido bajando el estrés que sufrió.

Y , como pareja, nos dio la oportunidad de tener algo más para compartir, al sentirnos
bien con nosotros mismos, al sentirnos con energías, con salud física y mental,
valoramos más el estar juntos, y de poder encontrar el equilibrio para seguir
eligiéndonos.

Sentimos que el practicar esta disciplina no da una energía que conforta, sostiene,
guía, enraíza nuestra experiencia de vida.

Agosto 17- /2018

Helen Abella- (68 años), Carlos Spintones (75 años.)

Tradução (pelo autor):

Uma quinta-feira de aprendizado em Tai Chi. 16 de agosto de 2018

Na noite passada, um médico geriatra do Brasil, o primeiro médico a fazer este tipo de
tese naquele país, segundo suas próprias palavras - para receber, praticar Tai Chi e
aconselhar a prática do Tai Chi para pessoas com diferentes patologias, um Don
Quixote de que tanto precisa a medicina, ele nos perguntou, (vendo-nos em nossa
seção semanal desta prática que fazemos e que começamos especificamente por
doenças físicas) se notávamos qualquer mudança em nosso corpo, estado mental,
desde que começamos a praticar.

Resumidamente, cada um respondeu.

Entramos no ônibus, refletindo e compartilhando opiniões sobre essa questão.

Pessoalmente, como resultado de uma tendinite em um dos joelhos, que me fazia


andar com dificuldade, e me causava muita dor. O médico prescreveu adesivos
transdérmicos, densitometria e medicamentos para reduzir a inflamação e a dor.
Somando-se a isso, meus receios, percebendo aquela situação física e mental,
reduziram minhas atividades. Em outra visita ao médico, ela me aconselhou - depois
de ver meus exames - a começar a fazer Tai Chi. Eu não sabia que essa atividade era
realizada em nosso meio, para a saúde.

292
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

Obviamente, comecei a praticá-lo, com insegurança, medo da dor e medo do


desconhecido. Continuei, vendo aos poucos que: o medo estava indo embora
(elemento que sempre nos limita na vida), o cuidado dos profissionais - Dr. Ramón e
o professor Ricardo - especialistas nessa arte marcial para a saúde física e mental.
Eles nos sustêm, nos ensinam, e o afeto que eles oferecem provocam empatia e bem-
estar.

Percebi que praticando a forma, poderia dizer, coreográfica, deste exercício, a dor não
aumentava, mas gradualmente ia abandonando meu joelho e minha alma.

A respiração, o equilíbrio, a coordenação e os braços, que aprendem a acariciar as


nuvens, a mobilizar suavemente a água, estando em um lugar que não existe
materialmente. Poder separar o céu e a terra, estirando nossa coluna, notando como
ela começa a respirar entre as vértebras. Começo a perceber que estou mais ágil, que
perdi peso, sem perceber (obviamente, com alimentação adequada - sem sal, sem
açúcar - na medida do possível em equilíbrio).

Cada forma / movimento leva-me a sentir a harmonia, o prazer de coordenar, o ir e vir


da esquerda para a direita em movimentos envolventes junto com a respiração,
deixando-me apaixonada. Faz sentido o fluir, a concentração e a elasticidade que meu
corpo está obtendo.

Encontrar, cuidar do centro de energia - o Tan Tien, abaixo do umbigo - que apenas
estou começando a reconhecer, depois de muito praticar.

Hoje eu só sei que nada sei, e que seguirei aprendendo, praticando “pendurada” no
ônibus lotado, na cozinha, mexendo uma comida, ou quando vou pegar algo que está
no chão, lembrar da curva da vida.

Por não ter nenhuma dor, vendo que estava me sentindo melhor a cada dia, vitalizada,
o entusiasmo, a partir de sua etimologia grega: ter os deuses dentro de si - me permite
compartilhar em minhas conversas os aspectos positivos de exercitar-se com oTai
Chi. E demonstrar àqueles que concordam, que o homem tem articulações, por todos
os lados, e que elas endurecem, entorpecem se não se movem ... e isso também
esvazia a mente que está cheia de muitas coisas sem importância e outras importantes
e pela atenção desta vida vivida velozmente.

293
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Carlos meu marido, com quem conversei sobre esta reflexão, frente à um quadro de
pressão alta arritmias colesterol, triglicérides e valores elevados de PSA, glicemia,
etc, etc, foi estudado com todo tipo de exames e foi medicado.

Frente a uma dor em na perna - a médica que o atendeu estudou todos os exames e
medicamentos que tinha, com muita paciência e responsabilidade, e aconselhou-o a
começar este tal de Tai Chi.

Houve alguma relutância, porque tinha sido consultado por cardiologistas,


urologistas, clínico geral, médico internista, diabetologista, nutricionista, psicólogo, e
feito todo tipo de exames. Os medicamentos o faziam sentir-se sem equilíbrio,
humilhado. É um homem ativo, não obeso. Nunca fumou e bebe álcool em alguma
ocasião especial, sempre foi responsável em sua dieta e queria estar bem. Depois de
conversar com Ramón, o médico, ele começou com este tal de Tai Chi.

Hoje, quase dois anos depois, os médicos especialistas diminuíram seus


medicamentos, notaram a ausência de arritmias, o diabetes com valores normais, o
psicólogo deu alta, as ansiedades se foram, e os seus médicos especialistas têm
espaçado as consultas, mas sem deixar de mantê-las sob controle.

Ele tem mais coordenação, disciplina para praticar os exercícios todas as manhãs, a
respiração, a mente, têm diminuído o estresse que ele sofreu.

E, como casal, nos deu a oportunidade de ter algo mais para compartilhar, ao
sentirmo-nos bem conosco mesmos, nos sentirmos com energia, com saúde física e
mental, valorizamos mais estar juntos e sermos capazes de encontrar o equilíbrio para
continuar escolhendo-nos.

Sentimos que praticar essa disciplina nos dá uma energia que conforta, sustenta,
orienta, enraíza nossa experiência de vida.

17 de Agosto de 2018

Helen Abella- (68 años) , Carlos Spintones (75 años.)

294
JOSÉ CARLOS AQUINO DE CAMPOS VELHO

Anexo 7: Certificado Uruguai:

295
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

11. QI GONG no ambiente corporativo

José Renato Rodrigues Jr.

296
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

RESUMO

As Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa são práticas que auxiliam as


pessoas na manutenção do equilíbrio da saúde física e mental bem como na prevenção de
doenças. Os Programas de Qualidade de Vida no Trabalho têm como finalidade fazer com que
os funcionários das empresas se sintam bem trabalhando na empresa e fazer do seu ambiente
de trabalho um lugar agradável e consequentemente melhorar a produtividade da mesma.
Sendo assim, vários estudos estão sendo realizados no intuito de demonstrar como as práticas
de exercícios físicos, sendo elas em forma de ginástica laboral, alongamentos, práticas
corporais da medicina tradicional chinesa entre outras praticas estão sendo aceitas nas
empresas brasileiras. Este trabalho tem a finalidade de introduzir as Praticas Corporais da
Medicina Tradicional Chinesa para funcionários de uma Fábrica na cidade de São José dos
Campos onde foram realizados alguns exercícios de relaxamento/alongamento/aquecimento e
em seguida foi realizado a sequência de movimentos da Prática Corporal da Medicina
Tradicional Chinesa conhecida como Bāduànjǐn Qìgōng no período de 20 de março de 2017 a
01 de novembro de 2017 seguida do questionário de qualidade de vida abreviado WHOQOL-
bref.

Palavras-chave: Qualidade de vida, saúde, bem estar, qigong, baduanjin, práticas corporais,
medicina tradicional chinesa.

ABSTRACT

The Traditional Chinese Medicine Bodily Practices are practices that aid people in the
maintenance of mental and physical health balance, like the prevention of illnesses. The
Programs of Life Quality at Work have the purpose to make the employees of the company
feel good working on it and turn the work atmosphere into a pleasant place, consequently,
improving the productivity itself. Therefore, several studies are been carried out intending to
demonstrate how the practices of physical exercises, being them in form of laboral
gymnastics, stretching, corporal practices of traditional Chinese medicine, among others, are
been accepted in the Brazilian companies. This work has the finality introduce the Traditional
Chinese Medicine Bodily Practices to employees of the Factory in the São José dos Campos
city, where were performed some exercises of relaxing, stretching and warming-up.
Following that, was executed a sequence of movements from the Traditional Chinese
Medicine Bodily Practices, known as BāduÀnjǐ n Qì gōng in the period from March 20,
2017 to November 1, 2017, followed by a life quality questionnaire, abbreviated as
WHOQOL-bref.

Key words: Quality of life, health, wellness, qigong, baduanjin, corporal practices,
traditional Chinese medicine.
297
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Introdução.

Nos últimos anos a Qualidade de Vida nas Empresas vem sendo um assunto muito
estudado por pesquisadores no intuito de proporcionar bem estar, saúde, uma melhor condição
de trabalho para os funcionários das empresas e assim trazer satisfação ao funcionário para
sua execução melhorando assim tanto a produtividade da empresa como o relacionamento
entre os funcionários.
Neste contexto, a qualidade de vida no trabalho vem proporcionando uma maior
participação por parte dos funcionários no intuito de criar uma maior integração entre todos os
funcionários, entre superiores e colegas de mesmo setor.
A Qualidade de Vida no Trabalho se preocupa com o bem-estar do trabalhador e com
sua eficiência durante o trabalho.
Assim sendo, discussões sobre Produtividade, Competitividade e Qualidade têm
atraído à atenção de pesquisadores, profissionais de todas as áreas e, evidentemente, dos
próprios empresários.
As Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa vem sendo utilizadas como
ferramentas pelos profissionais da área no intuito de manter a saúde equilibrada bem como
prevenir várias doenças com seu treinamento constante.
O Bāduànjǐn Qìgōng é uma Prática Corporal e mental da Medicina Tradicional
Chinesa que objetiva a manutenção da saúde física e mental. É uma prática simples de se
aprender, segura e prazerosa, que utiliza vários movimentos de todo o corpo e tem como
princípios fundamentais a integração da meditação, respiração com os movimentos corporais.
Por esses diversos motivos, o autor indica a prática para indivíduos idosos (HSU1 et al.,2008
apud TAVARES et al., 2017, p.84).
O objetivo do presente trabalho é introduzir a Pratica Corporal da Medicina
Tradicional Chinesa conhecida como Bāduànjǐn Qìgōng para os funcionários da empresa de
desenvolvimento e fabricação de componentes tubulares existente na cidade de São José dos
Campos-SP e observar como foi à aceitação entre os funcionários e através do questionário de
qualidade de vida WHOQOL-bref analisar os resultados.

1
HSU, M.-C. et al. Effects of Baduanjin Exercise on Oxidative Stress and Antioxidant Status and
Improving Quality of Life Among Middle-Aged Women. The American Journal of Chinese Medicine, v.
36, n.5, p. 815–826, jan. 2008.

298
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa

Desde o início da sua civilização, por volta de 2.500 a.C., os chineses já


costumavam dançar para melhorar o movimento das articulações e friccionar
os músculos para atenuar a dor após as jornadas de trabalho, desenvolvendo a prática
de exercícios e de massagens para a preservação e restauração da saúde.
“Ao longo da história da humanidade, a saúde física e mental sempre foi objeto de
pesquisa. Vários povos tem buscado formas de melhorar a saúde, prevenir doenças e
alcançar a longevidade.” ( LAZZARI, 2014, p. 19 )
As Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa não se tem ao certo uma data
inicial, sabemos que a milhares de anos essa fabulosa cultura já o praticavam para o
fortalecimento do corpo e equilibrar a saúde física e mental do indivíduo.
Essas Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa tiveram importantes valores
terapêuticos demonstrados, tanto na manutenção da saúde, como na prevenção de várias
doenças.
Os chineses sempre enfatizaram a prevenção de doenças muito mais do que na
sociedade ocidental. Eles acreditam que é muito melhor tomar medidas que evitem o
aparecimento de algumas doenças. Muitos exercícios de Qìgōng foram criados mais
para a prevenção do que para cura ( LAZZARI, 2014, p. 20 ).
Além de tratar e prevenir as dores em tendões, músculos, articulações, que se
desenvolvem a partir do mau uso do corpo físico, que precisa de movimento, alongamento,
e oxigenação para manter-se saudável, a prática regular dos exercícios chineses promove o
bem-estar físico, psicológico, emocional, mental e espiritual, promovendo o equilíbrio e
harmonia do Ser para uma vida com qualidade.
São pontos importantes para uma melhor execução dos movimentos das Práticas
Corporais da Medicina Tradicional Chinesa a meditação constante durante a prática
juntamente com a tentativa de se conectar com toda a natureza os quais ajudam a desenvolver
o senso de equilíbrio a força física e melhoram as funções Fisiológicas das pessoas (JEDYN,
2015).
Segundo Lazzari (2014, p.19), com o passar do tempo, foram sendo criadas,
aperfeiçoadas e ensinadas por diversos mestres, sábios e médicos, inumeráveis técnicas,
métodos e práticas, que se acumularam em uma série de movimentos, exercícios e artes
marciais para o fortalecimento do corpo e equilíbrio da mente e das emoções, bem como para
o desenvolvimento espiritual do praticante.

299
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Existe uma enorme variedade de Praticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa


as quais diferem de estilos, sequências e variações dentro de uma mesma técnica e assim,
podemos citar algumas Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa abaixo:

Pīnyīn ( romanização dos


Ideogramas Simplificados Português
ideogramas chineses )
八段锦气功 Bāduànjǐn Qìgōng Oito peças do brocado

太极气功十八法 Tàijí Qìgōng shíbā fǎ Exercícios de respiração

太极气功二十八法 Tàijí Qìgōng èrshíbā fǎ Exercícios de respiração


Tratado da Transformação
易筋经 Yìjīnjīng
dos Músculos e Tendões
Tratado de limpeza da
洗髓经 Xǐsuǐjīng
medula óssea.
练功十八法 Liàngōng shíbā fǎ Liangong 18 Terapias

元极舞 Yuánjí wǔ Dança de yuanji

关节操 Guānjié cāo Exercícios para juntas

五行健康操 Wǔxíng jiànkāng cāo Exercícios para a saúde

五行甩手功 Wǔxíng shuǎishǒu gōng Treino de mão oscilante

香功 Xiāng gōng Treinamento perfumado

达摩十八式 Dámó shíbā shì 18 exercícios de Dámó

达摩神功 Dámó shéngōng Dámó shéngōng

导引养生功 Dǎo yǐn yǎngshēng gōng Dǎo yǐn yǎngshēng gōng

练气 Liànqì Treinando a energia

外丹功 Wàidāngōng Wàidāngōng


Movimento dos 5 animais
五禽戏 Wǔqínxì
ou jogos dos 5 animais
缠丝功 Chán sī gōng enrolar o fio de seda
Qìgōng: Os seis sons da
六字诀气功 Liù zì jué Qìgōng
cura
Qìgōng dos meridianos Qìgōng dos meridianos Qìgōng dos meridianos
Qìgōng dos símbolos Qìgōng dos símbolos Qìgōng dos símbolos
Qìgōng: Série fundamental Qìgōng: série fundamental Qìgōng: Série fundamental

Elaborado pelo autor.

300
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

Qìgōng

Não sabemos ao certo quando surgiu o termo Qìgōng, mas segundo Livramento (2010,
p.82) é o resultado de milhares de anos de experiência do homem no desenvolvimento do uso
da energia vital para vários propósitos definidos.
Ainda segundo Livramento (2010, p.82), Os antigos mestres desenvolveram a arte da
energia para curar doenças, promover a saúde, a longevidade, melhorar as habilidades de luta,
expandir a mente, alcançar níveis diferentes da consciência e atingir a espiritualidade.
Os registros chineses mostram que por volta de 2.700 a.C., o Qìgōng tinha se tornado
um aspecto importante da medicina chinesa. O tipo mais antigo era provavelmente uma forma
de dança meditativa que estimulava o equilíbrio da energia do corpo (WONG, 20032 apud
LIVRAMENTO, 2010, p.82).
Nesta dimensão, a medicina tradicional chinesa – e o Qìgōng especificamente – tem
duas características importantes que justificam a necessidade de sua incorporação, difusão e
popularização no ocidente. Por um lado, consiste numa prática milenar, ou seja, consagrada,
experimentada, amplamente testada ao longo de muitas gerações humanas, constituindo, hoje,
um patrimônio da humanidade voltado para a preservação da capacidade vital e da saúde. Por
outro lado, o Qìgōng é uma prática terapêutica que pode ser compreendida, aprendida e
exercida pelas pessoas com relativa facilidade, apesar de sua complexidade, rompendo com a
passividade dos tratamentos ocidentais de saúde e com o acesso restrito às práticas
preventivas e holísticas (LIVRAMENTO et al., 2010, p.74).
Segundo Lazzari (2014, p.20), o estudo do Qìgōng se desenvolveu por intermédio da
acumulação de experiências e estudos de vários mestres chineses no decorrer dos últimos
4000 anos.
Qì Gōng quando traduzido do mandarim quer dizer: Qì ( 气 )-Energia e Gōng-
Trabalho, sendo Qì ( 气 ) um termo muito comum e de extrema importância para o
entendimento e aplicação da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que permeada
por 7 pilares e em todos eles o Qì ( 气 ) Energia é que rege tudo (MACIOCIA,
20073 apud PONTES, 2016, p.13).

Atualmente, centenas de diferentes técnicas de Qìgōng são registradas. Contudo,


antigamente eram consideradas técnicas secretas, restritas a certos grupos, famílias ou
organizações. Foram por muito tempo formalmente reservadas à família imperial e à

2
WONG, K. K. El gran libro de la medicina china. 3. ed. Barcelona: Urano, 2003.
3
MACIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa: um texto abrangente para acupunturistas e
fitoterapeutas. 2nd. ed. [s.l.] Roca, 2007.

301
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

aristocracia, o que na verdade ainda ocorre no domínio dentro dos níveis avançados das artes
marciais, do Dàoismo e do Budismo. O conhecimento foi inicialmente ao povo através da

prática da medicina, da acupuntura e exercícios para a saúde (CASTRO JUNIOR, 2007,


p.56).
Pontes (2016, p.35) comenta que segundo Jahnke (2010), o Qì Gōng cultiva e aumenta
a energia e a essência do ser humano. Na Ásia é usado como método de cura e prática
medicinal há séculos e estes exercícios são caracterizados como movimentos meditativos que
tem aplicação prática na saúde agindo em três focos: Corporal - postura e movimento,
Respiratório e Mental - respiração e componentes meditativos e conscientes, que podem
promover reparo e recuperação da saúde fisiológica e psicológica.
Com a prática constante do Qìgōng a pessoa consegue equilibrar sua saúde física e
mental, prevenindo e curando enfermidades.
Desde 1959, o Qìgōng vem sendo aplicado para pessoas com hipertensão e
intolerantes a anti-hipertensivos, tiveram resultados positivos sobre a patologia após 6 meses
de prática; em 1962 observaram 415 pessoas com hipertensão e viram que 80,5% dos
praticantes que faziam Qìgōng regularmente e 17% que praticavam aleatoriamente
conseguiram manter a estabilidade na pressão arterial (TIANJUN LIU, 20134 apud PONTES,
2016, p.42 ).

八段锦气功 – Bāduànjǐn Qìgōng – Oito Peças do Brocado

Os exercícios da Pratica Corporal da Medicina Tradicional Chinesa conhecida como


Bāduànjǐn Qìgōng, também conhecido como: Oito Peças do Brocado, Oito Brocados de Seda
ou Oito exercícios preciosos, é um conjunto de oito exercícios que promovem bem estar físico
e espiritual onde engloba técnicas de respiração, alongamentos e auto-massagem.
Segundo consta, o Bāduànjǐn Qìgōng é uma das seqüências mais antigas das Práticas
Corporais da Medicina Tradicional Chinesa o qual foi desenvolvida na Dinastia Song da
China ( 960 – 1279 d.C ).
Sua criação é atribuída ao Marechal Yuè Fēi ( 岳 飞 ), considerado um dos grandes
sábios e heróis nacionais até os dias de hoje (ROSA, 2014).
O Bāduànjǐn Qìgōng é composto de uma série de oito exercícios que ajudam a desenvolver a força física,
trabalha os braços e pernas e amplia tórax e ajuda a corrigir problemas de postura.
Com a prática diária o Bāduànjǐn Qìgōng traz diversos benefícios ao corpo físico e

4
TIANJUN LIU, O. M. D. Chinese Medical Qigong. London and Philadelphia: Singing Dragon, 2013.

302
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

também ajuda a desbloquear os canais de Qì (meridianos energéticos pelos quais a energia


percorre o corpo e usados na Medicina Tradicional Chinesa), fortalece os músculos, favorece
a concentração, melhora a memória, acalma a mente e estimula a respiração profunda.
Mesmo para os praticantes do Tàijí quán ( 太 极 拳 ) sua prática é benéfica, pois ela
desobstrui os canais de Qì, alonga os músculos e tendões e favorece a saúde num período
muito curto de tempo da prática, auxiliando assim, que o praticante consiga aprofundar a sua
prática do Tàijí quán (太极拳) e consiga também atingir níveis de relaxamento do corpo e da
mente de forma mais efetiva (ROSA, 2014).
Como os exercícios são leves em um sentido geral (embora também possam ser feitos
de forma vigorosa para aqueles que já têm algum tempo de prática), eles podem ser feitos por
praticamente qualquer pessoa nas mais variadas formas físicas, desde pessoas altamente
sedentárias, pessoas de terceira idade, e até atletas. Por serem poucos movimentos e diversas
repetições (oito movimentos realizados oito vezes para cada lado do corpo), são ideais para
começar uma prática corporal chinesa, pois é de fácil memorização, o que também auxilia
num posterior aprendizado de Tàijí quán ( 太 极 拳 ). Os nomes poéticos e sugestivos de cada
movimento também possui uma função mnemônica, e portanto, aos professores é indicado
que antes de cada movimento salientem o nome do mesmo, facilitando a memorização
(ROSA, 2014).
Existem diversas ramificações do Bāduànjǐn Qìgōng e neste trabalho foi utilizado a
sequência compilada pela Associação Chinesa de Health Qigong, a qual foi transmitida pela
Professora Maria Lucia Lee.
Mesmo havendo algumas variações da Prática Corporal da Medicina Tradicional
Chinesa conhecida por Bāduànjǐn Qìgōng, o que realmente é muito importante são os
benefícios que cada exercício proporciona.
O Bāduànjǐn Qìgōng, também conhecido como Oito Brocados de Seda é um
compilado de exercícios de corpo e mente, os quais pertencentes à Medicina Tradicional
Chinesa, idealizados na China e promulgados pela Associação Chinesa de Health Qigong
como meio de promoção da saúde (ZHENG et al., 2015). Sua prática pode ser facilmente
aprendida, além de serem exercícios de execução segura, os quais envolvem os princípios:
concentração, respiração e movimento corporal. Seus benefícios para a saúde física e mental
dependem da correta execução da prática, concentração empenhada e prática regular (KOH,
19825 apud TAVARES et. al., 2017, p.85).

5
KOH, T. C. Baduanjin - An Ancient Chinese Exercise. The American Journal of Chinese
Medicine, v. 10, n. 4, p. 14–21, jan. 1982.

303
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Segundo Li et al.6 (2014, apud PONTES, 2016, p.35) o Bāduànjǐn Qìgōng é uma
técnica do tipo Interna e uma das mais antigas e populares praticadas na China, recomendada
pela Chinese Health Qigong Association para ser aplicado na comunidade pois combina a
visão holística e a teoria do Qì da Medicina Tradicional Chinesa. Como o próprio nome
caracteriza o Bāduànjǐn é uma técnica de Qìgōng formada por oito movimentos permitindo
que o corpo mantenha o centro de gravidade constante, onde a coluna funciona como um eixo
enquanto os membros são acionados alternando a contração muscular e relaxamento em
diferentes partes do corpo.
Abaixo segue a sequência dos oito exercícios do Bāduànjǐn Qìgōng realizados na
Fábrica de desenvolvimento e fabricação de componentes tubulares existente na cidade de
São José dos Campos-SP no período de 20 de março a 1º de novembro de 2017.

Início
预备式 Yùbèi shì
Preparação

Preparação a (Fonte: o autor)

Em pé, com o corpo relaxado e os braços estendidos ao longo do corpo, olhar para frente e
calcanhares unidos;

6
LI, R. et al. The effect of baduanjin on promoting the physical fitness and health of adults.
Evidience Based Complement and Alternative Medicine, v. 2014, p. 784059, 2014.

304
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

Preparação b (Fonte: o autor)

Abra a perna esquerda formando uma abertura do tamanho da largura dos ombros;

Preparação c (Fonte: o autor)

Abra os braços e posicione as mãos na frente do umbigo quase igual como na postura da
árvore.

305
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Preparação d (Fonte: o autor)

Posição de preparação

1º Exercício
两手托天理三焦 Liǎngshǒu tuō tiānlǐ sānjiāo
Sustentar o céu com as mãos para regular o Triplo aquecedor

Este exercício, além de promover o alongamento e melhorar a postura, regulariza o


fluxo de energia no meridiano do Triplo Aquecedor (San Jiao ) e regula os órgãos internos
(EDEENERGIA, 2015).

1º Exercício a (Fonte: o autor)


Na posição de preparação;

306
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

1º Exercício b (Fonte: o autor)

Junte as mãos com as palmas voltadas para cima;

1º Exercício c (Fonte: o autor)

Eleve os braços na frente do corpo até a altura do rosto e em seguida estique completamente
os braços para cima, o olhar acompanha as mãos;

307
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

1º Exercício d (Fonte: o autor)

Após esticar as mãos para cima, olhar para frente e mantenha os braços esticados para cima;

1º Exercício e (Fonte: o autor)

Desça os braços lateralmente até chegar à posição de preparação.

308
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

1º Exercício f (Fonte: o autor)

Posição de preparação
Repita estes movimentos 8 ou 16 vezes para ambos os lados

2º Exercício
左右开弓似射雕 zuǒyòukāigōng shì shè diāo
Estirar o arco e lançar a flecha para fortalecer os pulmões

Este exercício fortalece a parte superior das costas, ombros e dorso dos braços e
regulariza as funções do baço e do estômago, ajudando a digestão (EDEENERGIA, 2015).

2º Exercício a (Fonte: o autor)


Posição de preparação;

309
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

2º Exercício b (Fonte: o autor)

Abra a perna esquerda na largura de um ombro e meio e neste momento cruze os braços na
altura do peito;

2º Exercício c (Fonte: o autor)

Estique o braço esquerdo para trás como se estivesse puxando a flecha em um arco e o braço
direito com o dedo indicador levantado como se fosse a ponta da flecha. Neste momento,
devemos baixar a base baixa do cavaleiro;

310
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

2º Exercício d (Fonte: o autor)

Abrir o braço direito e esquerdo abrindo lateralmente para voltar com os pés unidos e mãos na
altura do umbigo;

2º Exercício e (Fonte: o autor)

Posição com calcanhares unidos e mãos na altura do umbigo. Após esse movimento, fazer do
outro lado;

311
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

2º Exercício f (Fonte: o autor)

Abra a perna direita na largura de um ombro e meio e neste momento cruze os braços na
altura do peito;

2º Exercício g (Fonte: o autor)

Estique o braço direito para tras como se estivesse puxando a flecha em um arco e o braço
esquerdo com o dedo indicador levantado como se fosse a ponta da flecha. Neste momento,
devemos baixar a base baixa do cavaleiro;

312
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

2º Exercício h (Fonte: o autor)

Abrir o braço esquerdo e direito abrindo lateralmente para voltar com os pés unidos e mãos na
altura do umbigo;

2º Exercício i (Fonte: o autor)

Posição com calcanhares unidos e mãos na altura do umbigo. Após esse movimento, fazer do
outro lado;
Repita estes movimentos 8 ou 16 vezes para ambos os lados.

313
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

2º Exercício j (Fonte: o autor)

Depois de feito esse exercício finalizamos na posição de preparação

3º Exercício
调理脾胃须单举 tiáolǐ píwèi xū dān jǔ
Elevar um braço para recuperar o apetite ou Separar Céu e Terra

Este exercício desenvolve os músculos da cintura escapular e laterais do peito,


fortalece as coxas, desenvolve a caixa torácica, aumenta a capacidade respiratória e melhora a
circulação sanguínea (EDEENERGIA, 2015).

3º Exercício a (Fonte: o autor)


Na posição de preparação;

314
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

3º Exercício b (Fonte: o autor)

Elevamos o braço esquerdo par cima enquanto o braço direito estica para baixo, olhar para
frente;

3º Exercício c (Fonte: o autor)

Descemos o braço esquerdo desce e braço direito sobe para voltar a posição de preparação;

315
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

3º Exercício d (Fonte: o autor)

Elevamos o braço direito par cima enquanto o braço esquerdo estica para baixo, olhar para
frente;

3º Exercício e (Fonte: o autor)

Descemos o braço direito desce e braço esquerdo sobe para voltar a posição de preparação
Repita estes movimentos 8 ou 16 vezes para ambos os lados.

316
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

3º Exercício f (Fonte: o autor)

Para finalizarmos esse exercício, após a posiçãod e preparação, as mãos descem com as
palmas voltadas para trás;

4º Exercício
五劳七伤向后瞧 wǔ láo qī shāng xiàng hòu qiáo
Olhar os calcanhares para evitar o enfraquecimento do organismo

Este exercício fortalece o pescoço e ajuda a aliviar as tonturas em pacientes


hipertensos, além de curar as «cinco perturbações» e os «sete distúrbios».
Nota: as «cinco perturbações» são deficiências dos cinco órgãos — coração, fígado, baço,
pulmões e rins — e os «sete distúrbios» são as complicações decorrentes dos sete excessos —
comida, raiva, esforço, frio, calor, ansiedade e preocupação (EDEENERGIA, 2015).

317
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

4º Exercício a (Fonte: o autor)

Na posição com as palmas voltadas para trás, começamos girar o braço para trás e no mesmo
momento giramos a cabeça como se fossemos olhar para trás ou para os calcanhares;

4º Exercício b (Fonte: o autor)

Olhando para o calcanhar do lado esquerdo e girando os braços para trás;

318
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

4º Exercício c (Fonte: o autor)

Depois de feito a rotação do braço e cabeça para trás, voltamos para a posição com as palmas
voltadas para trás;

4º Exercício d (Fonte: o autor)

Na posição com as palmas voltadas para trás, iniciamos o mesmo exercício para o lado direito;

319
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

4º Exercício e (Fonte: o autor)

Olhando para o calcanhar do lado direito e girando os braços para trás;

4º Exercício f (Fonte: o autor)

Após feito a rotação do braço e cabeça para trás, voltamos para a posição com as palmas
voltadas para trás;

320
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

4º Exercício g (Fonte: o autor)


Finalizamos na posição de preparação.
Repita estes movimentos 8 ou 16 vezes.

5º Exercício
摇头摆尾去心火 yáotóubǎiwěi qù xīn huǒ
Balançar a cabeça e o cóccix para acalmar o fogo do coração

Este exercício fortalece as coxas e desenvolve a flexibilidade da coluna vertebral, além


de eliminar a «fleuma do coração» ou tranquilizar o «coração angustiado».
Nota: estas expressões referem-se aos sintomas decorrentes da agitação mental, como
a insônia e a inquietação, entre outros (EDEENERGIA, 2015).

5º Exercício a (Fonte: o autor)


Na posição de preparação elevam-se as mãos para cima;

321
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

5º Exercício b (Fonte: o autor)


Enquanto abre-se a perna direita para a lateral na largura de um ombro e meio;

5º Exercício c (Fonte: o autor)

Após abrir a perna direita, descemos para a posição do cavaleiro e colocamos as mãos na coxa;

322
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

5º Exercício d (Fonte: o autor)

Neste momento esticamos a perna esquerda e inclinamos o corpo para o lado direito para
iniciar a descida do tronco;

5º Exercício e (Fonte: o autor)

Descemos o tronco do lado direito para o lado esquerdo;

323
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

5º Exercício f (Fonte: o autor)

Passamos o tronco pelo meio até chegarmos ao lado esquerdo;

5º Exercício g (Fonte: o autor)

Após chegarmos ao lado esquerdo, esticamos a perna direita enquanto a perna esquerda esta
dobrada;

324
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

5º Exercício h (Fonte: o autor)

Após chegar ao lado esquerdo, voltamos o corpo para o centro e assim iniciamos o mesmo
movimento para o lado esquerdo;

5º Exercício i (Fonte: o autor)

Neste momento esticamos a perna direita e inclinamos o corpo para o lado esquerdo para
iniciar a descida do tronco;

325
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

5º Exercício j (Fonte: o autor)

Descemos o tronco do lado esquerdo para o lado esquerdo;

5º Exercício k (Fonte: o autor)

Passamos o tronco pelo meio até chegarmos ao lado direito;

326
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

5º Exercício l (Fonte: o autor)


Após chegar ao lado direito, voltamos o corpo para o centro e assim iniciamos o mesmo
movimento para o lado esquerdo;

Repita estes movimentos 8 ou 16 vezes.

Para finalizar esse exercício, elevamos os braços para cima e descemos colocando as pontas
dos dedos voltadas para dentro e palmas das mãos para baixo;

6º Exercício
两手攀足固肾腰 liǎngshǒu pān zú gù shèn yāo
Segurar a ponta dos pés para fortalecer os rins

Este exercício desenvolve a flexibilidade da coluna lombar, do quadril e da cintura


além de fortalecer os rins (EDEENERGIA, 2015).

Na ultima posição do 5º exercício, elevamos os braços para cima;

327
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

6º Exercício a (Fonte: o autor)

Coma os braços elevados, começamos descer as mãos com os dedos voltados para os dedos
da outra mão;

6º Exercício b (Fonte: o autor)

Quando as mãos chegarem na altura do peito, passamos as mãos por debaixo das axilas;

328
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

6º Exercício c (Fonte: o autor)

Após passar as mãos pelas axilas, descemos as mãos pelas costas, rins, parte de trás das
pernas até chegar na ponta dos pés;

6º Exercício d (Fonte: o autor)

Quando chegar as mãos nas pontas das pernas, alinhamos, cabeça e braços e elevamos
novamente até as os braços ficarem esticados para cima;

329
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

6º Exercício e (Fonte: o autor)

Após os braços ficarem esticados, iniciamos novamente o movimento;


Repita estes movimentos 8 ou 16 vezes.

6º Exercício f (Fonte: o autor)

Para finalizar, descemos os braços com as pontas dos dedos apontados para frente;

330
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

7º Exercício
攒拳怒目增气力 zǎn quán nùmù zēng qìlì
Estirar as mãos em punho com um olhar firme para fortalecer a força física

Este exercício fortalece as coxas e os braços, além de aumentar a energia vital ( Qì )


(EDEENERGIA, 2015).

7º Exercício a (Fonte: o autor)


Após finalizar o 6º exercício,

7º Exercício b (Fonte: o autor)

Abrimos a perna esquerda a largura de um ombro e meio para ficarmos na posição do


cavaleiro e neste momento trazemos os punhos ao lado do corpo;

331
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

7º Exercício c (Fonte: o autor)

Avançamos o punho esquerdo para frente como se fosse dar um soco com o punho na vertical
e olhar como se estivesse zangado;

7º Exercício d (Fonte: o autor)

Após o soco, abrimos a mão esquerda como se fosse pegar algo e neste momento fechamos a
mão esquerda como se estivesse pegando o dedão esquerdo;

332
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

7º Exercício e (Fonte: o autor)

Após pegar o dedão esquerdo, trazemos o punho para junto ao corpo;

7º Exercício f (Fonte: o autor)

Na posição do cavaleiro, iniciamos o movimento par o lado direito;

333
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

7º Exercício g (Fonte: o autor)

Avançamos o punho direito para frente como se fosse dar um soco com o punho na vertical e
olhar como se estivesse zangado;

7º Exercício h (Fonte: o autor)

Após o soco, abrimos a mão direita como se fosse pegar algo e neste momento fechamos a
mão direita como se estivesse pegando o dedão direito;

334
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

7º Exercício i (Fonte: o autor)

Após pegar o dedão direito, trazemos o punho para junto ao corpo;

7º Exercício j (Fonte: o autor)

Na posição do cavaleiro, iniciamos o movimento novamente para o outro lado;


Repita estes movimentos 8 ou 16 vezes.

335
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

7º Exercício k (Fonte: o autor)

Para finalizar este exercício, após fazer o lado direito, fechamos a perna esquerda e as mãos
ficam ao lado do corpo ( posição de sentido ).

8º Exercício
背后七颠百病消 bèihòu qī diān bǎi bìng xiāo
Suspender os calcanhares sete vezes para se recuperar da doença

Este exercício fortalece os músculos das pernas e melhora a postura (EDEENERGIA,


2015).

8º Exercício a (Fonte: o autor)

Na posição de sentido, elevamos os calcanhares o máximo possível e descemos para dar


tremida no corpo;

336
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

8º Exercício b (Fonte: o autor)

Após a descida fazemos novamente;

Repita estes movimentos 8 ou 16 vezes.

Finalizando
收式 Shōu shì
Conclusão

Conclusão a (Fonte: o autor)

Finalização do 8º exercício

337
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Conclusão b (Fonte: o autor)

Para finalizar a sequencia, abrimos os braços e levamos as mãos na região do umbigo;

Conclusão c (Fonte: o autor)

Sendo que os homens devem colocar a mão esquerda e depois a direita por cima da esquerda
enquanto as mulheres fazer o inverso, isto é , as mulheres colocam a direita e depois colocam
a esquerda por cima;

338
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

Conclusão d (Fonte: o autor)

Após alguns instantes de meditação, colocamos as mãos na lateral do corpo e encerra-se a


prática.

Metodologia

Neste trabalho de pós-graduação foi realizado com os funcionários de uma fábrica de


desenvolvimento e fabricação de componentes tubulares situada na cidade de São José dos
Campos-SP onde inicialmente foi feito exercícios de alongamento e aquecimento do corpo e
depois foi realizado a série de exercícios da Prática Corporal da Medicina Tradicional Chinesa
conhecida como Bāduànjǐn Qìgōng
Neste trabalho também foi utilizado o questionário de qualidade de vida abreviado
WHOQOL-BREF o qual contém 26 questões os quais foram coletados em três momentos
distintos, isto é, no início da pesquisa, no meio e no final do período solicitado para empresa.
O WHOQOL-abreviado é um instrumento de avaliação da qualidade de vida criado
pela Organização Mundial de Saúde em adaptação ao questionário WHOQOL-100, que
continha 100 perguntas, que foi resumido em uma versão com 26 perguntas sem perder seu
potencial avaliativo (TAVARES, 2017, p.91).
O instrumento WHOQOL-abreviado é constituído por 26 perguntas objetivas. Todas
as respostas seguem uma escala de “Likert”, variando de 1 a 5, onde quanto maior a
pontuação, melhor a qualidade de vida, com exceção das questões de número 3, 4 e 26, onde
pela natureza das questões o sentido é invertido, quanto menor a pontuação, melhor será a

339
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

qualidade de vida. As perguntas de número 1 e 2 discorrem sobre a qualidade de vida geral e


saúde do indivíduo. As outras 24 perguntas concernem 24 facetas as quais compõem os 4
domínios que o instrumento avalia: Domínio 1 (Físico); Domínio 2 (Psicológico); Domínio 3
(Relações Sociais); e Domínio 4 (Meio Ambiente) (TAVARES et al., 2017, p.86).
Segundo Fleck et al.7 (2000, apud TAVARES, 2017, p.86). Cada domínio especifica
as questões apropriadas para o cálculo do seu respectivo índice. O cálculo consiste na média
simples do somatório das pontuações de todas as perguntas do Domínio, multiplicado por 4.
• O Domínio 1 (Físico) compõe as questões de número 3, 4, 10, 15, 16, 17 e 18;
• O Domínio 2 (Psicológico) compõe as questões de número 5, 6, 7, 11, 19 e 26;
• O Domínio 3 (Relações Sociais) compõe as questões de número 20, 21 e 22;
• O Domínio 4 (Meio Ambiente) compõe as questões de número 8, 9, 12, 13, 14, 23, 24 e 25;
• A média do somatório das duas primeiras questões constitui uma nota à parte, que remete a
autoavaliação da qualidade de vida e saúde pelo indivíduo.
O cálculo do índice final consiste na soma dos valores dos Quatro Domínios somado à
nota da auto avaliação da qualidade de vida, resultado que pode ter valor máximo de 100
pontos.
Segundo Tavares (2017, p.87), mesmo não havendo um valor definitivo para estimar a
qualidade de vida como boa ou ruim nos diversos tipos de populações, há uma classificação
em cada uma das 24 facetas1 que compõem o questionário:
3. Dor e desconforto;
4. Energia e Fadiga;
5. Sentimentos positivos;
6. Pensar, aprender, memória e concentração;
7. Auto-estima;
8. Segurança física e proteção;
9. Ambiente no lar;
10. Sono e repouso;
11. Imagem corporal e aparência;
12. Recursos financeiros;
13. Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade;
14. Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades;

7
FLECK, M. P. et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da
qualidade de vida “WHOQOL-bref”. Revista de Saúde Pública, v. 34, n. 2, p. 178–183, abr. 2000.

340
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

1 Os números abaixo dos 24 facetas foram extraídos das questões do questionário Whoqol-bref. As
questões 1 e 2 não foram mostradas.
15. Mobilidade;
16. Atividades da vida cotidiana;
17. Dependência de medicação ou de tratamentos;
18. Capacidade de trabalho;
19. Sentimentos negativos;
20. Relações pessoais;
21. Suporte (Apoio) social;
22. Atividade sexual;
23. Participação em, e oportunidades de recreação/lazer;
24. Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima);
25. Transporte;
26. Espiritualidade/religião/crenças pessoais),
Segundo essa nota, podemos relacionar que o comportamento da qualidade de vida e
através dessa classificação podem avaliar cada faceta como cada domínio individualmente de
uma forma bem objetiva, assim:
• necessita melhorar (quando for 1 até 2,9);
• regular (3 até 3,9);
• boa (4 até 4,9) e
• muito boa (5).
O público participante das práticas foram os funcionários da fábrica de
desenvolvimento e fabricação de componentes tubulares existente na cidade de São José dos
Campos-SP onde participaram um total de 127 pessoas no período de 20 de março de 2017
até 1º de novembro de 2017. Do total de participantes 95 eram do sexo masculino e 32
pessoas eram do sexo feminino.
Referente ao período utilizado para a realização desta pesquisa que foi do dia 20 de
março de 2017 a 1º de novembro de 2017 cada aula teve uma duração de 15 minutos sendo
realizadas uma vez por semana.
Referente aos dados coletados foi sugerido a todos os participantes que preenchessem
os questionários e posteriormente entregassem, no entanto, nem todos os participantes
preencheram ou entregaram os referidos questionários.
Para a utilização dos dados fornecidos nestes questionários de Qualidade de Vida foi
solicitado aos funcionários participantes à autorização para a utilização das informações deste

341
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

questionário.

Os questionários foram entregues em três momentos distintos, sendo uma no início da


pesquisa, uma na metade do período e outra na última aula.
No primeiro momento 101 pessoas entregaram e preencheram as fichas, no segundo
momento 64 pessoas entregaram e preencheram as fichas e no terceiro e último momento 48
pessoas preencheram e entregaram as fichas.
Num total de 127 pessoas participantes no decorrer do período utilizado para a coleta
de dados, somente 40 pessoas autorizaram que fossem utilizado as suas informações contidas
no questionário.
Das 40 pessoas que autorizaram, 31 pessoas são do sexo masculino e nove pessoas são
do sexo feminino.
Para uma melhor análise dos dados foram utilizados os dados dos participantes que
preencheram os questionários nos três momentos da pesquisa.
Com relação dos 40 participantes que autorizaram a utilização das suas informações,
apenas 14 preencheram os questionários nos três momentos da pesquisa.
As aulas foram realizadas no pátio da fábrica de desenvolvimento e fabricação de
componentes tubulares existente na cidade de São José dos Campos-SP e eram iniciadas às 7h
e terminadas às 7h15min. uma vez por semana, aulas estas que eram iniciadas com exercícios
de aquecimento das articulações, alongamentos e depois era realizada a prática dos oito
exercícios da Prática Corporal da Medicina Tradicional Chinesa conhecida como Bāduànjǐn
Qìgōng.

Dados coletados

Referente aos dados coletados durante a pesquisa, 40 pessoas autorizaram que fossem
utilizados suas informações e dentre essas 40 pessoas apenas 14 preencheram os questionários
nos três momentos pesquisados.
Dentre essas 14 pessoas que preencheram os questionários nos três momentos distintos
da pesquisa nove pessoas são do sexo masculino e cinco pessoas são do sexo feminino,
conforme gráfico abaixo:

342
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

Pessoas do sexo Masculino e Feminino (%) (Fonte: o autor)

Na coleta das idades dos 14 funcionários participantes nos três momentos da pesquisa,
observou-se que 42,9% tinham idades entre 30 e 39 anos de idade, 35,7% tinham entre 20 e
29 anos de idade, 14,3% tinham entre 40 e 49 anos de idade e apenas 7,1% tinha entre 60 e 69
anos de idade.

Idade dos Funcionários em % 1 (Fonte: o autor)

343
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Outro dado importante observado nestes 14 participantes da pesquisa foi que apenas
uma pessoa entre eles tratava-se de pessoa fumante.

Fumantes Não Fumantes


7%

93%

% de Fumantes 1 (Fonte: o autor)

Durante as práticas foram observadas vários fatores importantes que poderão em um


futuro próximo melhorar a aceitação dos funcionários da referida empresa, bem como de
outras empresas que tiverem interesse de introduzir as Práticas Corporais da Medicina
Tradicional Chinesa ( Qìgōng ) .
Durante o período, foram observados que nem todos praticavam e conversando com
alguns funcionários, estes relataram que não havia interesse de praticar, mesmo sabendo que
seria bom para sua saúde.
Outros relataram que por causa da religião não poderiam fazer e até mesmo por causa
da música que foi utilizada, isto é, uma música calma, tranquila para a realização da prática,
música esta muito utilizada na prática do Tàijíquán.

Resultados e discussão

Para a análise das informações dos questionários Whoqol-bref entregues pelos 14


funcionários que preencheram os questionários no três momentos distintos, foi utilizado a
ferramenta proposta por Pedroso et al. (2009)2.

2 Ferramenta: download através do URL: http://www.brunopedroso.com.br/whoqol- bref.html

344
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

Nos Anexo A, Anexo B e Anexo C mostram os resultados das questões do Whoqol-


bref para os 14 funcionários nos três momentos da pesquisa:
Ao serem analisadas as 25 facetas do questionário Whoqol-bref nos três momentos
distintos, os funcionários da empresa alvo da pesquisa demonstraram estarem satisfeitos com
sua qualidade de vida.
Ao analisar os dados nos três momentos da pesquisa onde os dados foram convertidos
na escala centesimal constatou-se que os dados nos três momentos pesquisados foram
idênticos e são apresentados no gráfico abaixo:

Dor e desconforto 80,36


Energia e fadiga 69,64
Sono e repouso 73,08
Mobilidade 86,54
Atividades da vida cotidiana 75,00
Dependência de medicação ou de tratamentos 82,14
Capacidade de trabalho 76,79
Sentimentos positivos 69,64
Pensar, aprender, memória e concentração 57,1 4
Auto-estima 82,14
Imagem corporal e aparência 75,00
Sentimentos negativos 73,08
Espiritualidade/religião/crenças pessoais 82,14
Relações pessoais 76,79
Suporte e apoio pessoal 76,79
Atividade sexual 76,79
Segurança física e proteção 73,21
Ambiente do lar 76,79
Recursos financeiros 39, 29
Cuidados de saúde 73,21
Novas informações e habilidades 55,36
Recreação e lazer 75,00
Ambiente físico 57,1 4
Transporte 71,43
Auto-avaliação da Qualidade de Vida 79,46

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Escore das facetas dos três momentos 1 (Fonte: o autor)

Referente aos dados acima, foi observado que somente no quesito Recursos Financeiro,
os funcionários não estão satisfeitos, atingindo um porcentual de 39,29%.

345
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Com relação aos domínios, a estatística dos funcionários resume-se aos seguintes
resultados:

1º MOMENTO
COEFICIENTE
DESVIO VALOR VALOR
DOMÍNIO MÉDIA DE AMPLITUDE
PADRÃO MÍNIMO MÁXIMO
VARIAÇÃO
Físico 16,74 1,59 9,50 13,14 19,43 6,29
Psicológico 15,90 1,81 11,37 12,67 19,33 6,67
Relações Sociais 15,71 2,62 16,70 10,67 18,67 8,00
Meio Ambiente 14,26 2,43 17,02 9,00 17,00 8,00
Auto-avaliação da QV 16,14 2,14 13,28 12,00 20,00 8,00
TOTAL 15,62 1,52 9,76 12,00 18,15 6,15

2º MOMENTO
COEFICIENTE
DESVIO VALOR VALOR
DOMÍNIO MÉDIA DE AMPLITUDE
PADRÃO MÍNIMO MÁXIMO
VARIAÇÃO
Físico 16,56 1,54 9,29 13,14 19,43 6,29
Psicológico 16,15 2,72 16,86 10,00 18,67 8,67
Relações Sociais 15,90 1,69 10,64 13,33 18,67 5,33
Meio Ambiente 14,09 2,56 18,16 10,29 18,00 7,71
Auto-avaliação da QV 15,29 2,79 18,22 8,00 18,00 10,00
TOTAL 15,51 1,96 12,61 11,85 18,46 6,62

3º MOMENTO
COEFICIENTE
DESVIO VALOR VALOR
DOMÍNIO MÉDIA DE AMPLITUDE
PADRÃO MÍNIMO MÁXIMO
VARIAÇÃO
Físico 16,29 1,33 8,17 14,00 17,71 3,71
Psicológico 15,70 1,86 11,87 12,67 18,67 6,00
Relações Sociais 16,29 2,41 14,78 12,00 20,00 8,00
Meio Ambiente 14,43 2,06 14,31 10,50 17,50 7,00
Auto-avaliação da QV 16,71 1,27 7,58 16,00 20,00 4,00
TOTAL 15,64 1,46 9,32 12,92 17,85 4,92

Fonte: o autor
Analisando os escores dos domínios convertidos para uma escala centesimal nos três
momentos da pesquisa chegou-se ao mesmo resultado conforme quadro abaixo:

346
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

Gráfico do escore dos domínios convertidos na escala centesimal.

Físico 76,79

Psicológico 73,15

Relações
76,79
Sociais

Ambiente 65,18

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Escore dos Domínios 1 (Fonte: o autor)

Conclusão

Muito ainda tem a explorar e pesquisar sobre as Praticas Corporais da Medicina


Tradicional Chinesa quando introduzidas em ambientes coorporativos.
Nesta pesquisa apesar do pouco tempo para a prática por aula (apenas 15 minutos por
aula ), foram observados fatores relevantes no período da pesquisa.
Vários funcionários participaram das aulas e relataram melhoras em dores que tinham.
Uma funcionária ainda comentou que tinha dores no joelho e mal conseguia subir as escadas
sem sentir dores e após um período de prática já conseguia subir as mesmas escadas sem
sentir dores nos joelhos.
Foi observada ainda certa resistência por parte de alguns funcionários para a realização
dos exercícios da série da Prática Corporal da Medicina Tradicional Chinesa Bāduànjǐn
Qìgōng devido à falta de interesse em praticar e à religião dentre os principais motivos
alegados por eles.
Também foi observado que alguns funcionários ficaram um pouco inibidos na hora de
praticar a série de exercícios.
Mesmo tendo os dados coletados nos três momentos distintos do questionário Whoqol-
bref terem apresentado resultados semelhantes e mostrado que os funcionários estão
satisfeitos com sua qualidade de vida, a empresa onde foi realizada a pesquisa resolveu
manter as Práticas Corporais da Medicina Tradicional Chinesa para seus funcionários e assim
contratou um profissional para a continuação das aulas.

347
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Referente à coleta dos dados desde o início da pesquisa teve um total de 127 pessoas
que participaram preenchendo o questionário de qualidade de vida Whoqol-bref em algum
dos três momentos da pesquisa.
No terceiro momento onde foi solicitado a autorização para a utilização dos dados
coletados, cinco preencheram a autorização no entanto, não assinaram e os demais nem
entregaram.

Referências

AS OITO PEÇAS DO BROCADO (Ba Duan Jin), 2015. disponível em


https://edeenergia.com/2015/04/30/baduanjin/. Acesso em 11 de junho de 2018,

JEDYN, L. Medicina Tradicional Chinesa: Práticas corporais, Gazeta do Povo.


https://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/saude-e-bem-estar/saude/medicina-tradicional-chinesa-
praticas-corporais/, 2015. Acesso em 15 de junho de 2018, disponível em Medicina Tradicional
Chinesa: Práticas corporais:

JUNIOR, José Luiz. As práticas corporais chinesas: princípios e concepção de corpo uma breve
história do Chi Kung (Qi Gong), 2007

LAZZARI, F. D. Pa Tuan Chin, Oito Peças do Brocado, 2ª edição, Ribeirão Preto, SP, 2014.

LIVRAMENTO, G. et. al. A ginástica terapêutica e preventiva chinesa Lian Gong/Qi Gong como um
dos instrumentos na prevenção e reabilitação da LER/DORT, Rev. bras. saúde
Ocupacional vol.35 no.121 São Paulo Jan./June, 2010, p. 74 - 86.

PEDROSO, B. et al. Avaliação da qualidade de vida de alunos ingressantes e concluintes do curso de


Licenciatura em Educação Física das Faculdades Integradas de Itararé: convergências e
divergências., 2014. Disponível em http://www.efdeportes.com/efd188/avaliacao-da-qualidade-de- vida-
de-ingressantes.htm. Acesso em junho de 2018,

PEDROSO, B. et al. Cálculo dos escores e estatística descritiva do WHOQOL-bref através do


Microsoft Excel. Revista Brasileira de Qualidade De Vida, 2010 , p. 31-36.

PONTES, C. C. O mapeamento dos efeitos da pratica de qì gōng bāduànjǐn em jovens adultos


saudáveis, Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2016.

ROSA, A. Tai Chi Chuan Estilo Chen Paraná, 2014. Disponível em Tai Chi Chuan Estilo Chen
Paraná: http://cih.org.br/taichiparana/?p=19. Acesso em 11 de junho de 2018,

TAVARES, Y. Qualidade de vida de indivíduos praticantes de qigong na Comunidade. Extensão em


Ação, 2017, pp. 83-93.

348
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

ANEXO A
Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida

The World Health Organization Quality of Life – WHOQOL-bref

Instruções

Este questionário procura saber como você se sente a respeito de sua qualidade de vida, saúde
e outras áreas de sua vida. Por favor responda a todas as questões. Se você não tem certeza
sobre que resposta dar a uma questão, por favor, escolha, dentre as alternativas, a que lhe
parece mais apropriada.

Esta, muitas vezes, poderá ser sua primeira escolha. Tenha em mente seus valores, aspirações,
prazeres e preocupações. Nós estamos perguntando o que você acha de sua vida, tomando
como como referência as duas últimas semanas. Por exemplo, pensando nas últimas duas
semanas, uma questão poderia ser:

Muito
nada médio muito completamente
pouco

Você recebe dos outros o apoio de que


1 2 3 4 5
necessita?

Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você recebe dos outros o
apoio de que necessita nestas últimas duas semanas. Portanto, você deve circular o número 4
se você recebeu "muito" apoio como abaixo.

Muito
nada médio muito completamente
pouco

Você recebe dos outros o apoio de que


1 2 3 5
necessita?

Você deve circular o número 1 se você não recebeu "nada" de apoio. Por favor, leia cada
questão, veja o que você acha e circule no número e lhe parece a melhor resposta.

nem ruim nem


muito ruim Ruim boa muito boa
boa
Como você
1 avaliaria sua 1 2 3 4 5
qualidade de vida?
muito Insatisfeito nem satisfeito satisfeito muito

349
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

insatisfeito nem insatisfeito satisfeito


Quão satisfeito(a)
2 você está com a sua 1 2 3 4 5
saúde?

As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas duas
semanas.

muito mais ou
nada bastante extremamente
pouco menos

Em que medida você acha que sua


3 dor (física) impede você de fazer o 1 2 3 4 5
que você precisa?

O quanto você precisa de algum


4 tratamento médico para levar sua 1 2 3 4 5
vida diária?

5 O quanto você aproveita a vida? 1 2 3 4 5

Em que medida você acha que a


6 1 2 3 4 5
sua vida tem sentido?

O quanto você consegue se


7 1 2 3 4 5
concentrar?

Quão seguro(a) você se sente em


8 1 2 3 4 5
sua vida diária?

Quão saudável é o seu ambiente


9 físico (clima, barulho, poluição, 1 2 3 4 5
atrativos)?

As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de
fazer certas coisas nestas últimas duas semanas.

muito
nada médio muito completamente
pouco

Você tem energia suficiente para seu


10 1 2 3 4 5
dia-a- dia?

Você é capaz de aceitar sua aparência


11 1 2 3 4 5
física?

350
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

Você tem dinheiro suficiente para


12 1 2 3 4 5
satisfazer suas necessidades?

Quão disponíveis para você estão as


13 informações que precisa no seu dia-a- 1 2 3 4 5
dia?

Em que medida você tem


14 1 2 3 4 5
oportunidades de atividade de lazer?

As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de
vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas.

nem ruim muito


muito ruim ruim bom
nem bom bom

Quão bem você é


15 capaz de se 1 2 3 4 5
locomover?

nem
muito satisfeito Muito
Insatisfeito satisfeito
insatisfeito nem satisfeito
insatisfeito

Quão satisfeito(a) você


16 1 2 3 4 5
está com o seu sono?

Quão satisfeito(a) você


está com sua
capacidade de
17 1 2 3 4 5
desempenhar as
atividades do seu dia-
a-dia?

Quão satisfeito(a) você


está com sua
18 1 2 3 4 5
capacidade para o
trabalho?

Quão satisfeito(a) você


19 1 2 3 4 5
está consigo mesmo?

Quão satisfeito(a) você


20 está com suas relações 1 2 3 4 5
pessoais (amigos,

351
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

parentes, conhecidos,
colegas)?

Quão satisfeito(a) você


21 está com sua vida 1 2 3 4 5
sexual?

Quão satisfeito(a) você


está com
22 o apoio que você 1 2 3 4 5
recebe de seus
amigos?

Quão satisfeito(a) você


está com
23 1 2 3 4 5
as condições do local
onde mora?

Quão satisfeito(a) você


está com o
24 1 2 3 4 5
seu acesso aos serviços
de saúde?

Quão satisfeito(a) você


está com
25 1 2 3 4 5
o seu meio de
transporte?

As questões seguintes referem-se a com que freqüência você sentiu ou experimentou certas
coisas nas últimas duas semanas.

Algumas muito
nunca freqüentemente sempre
vezes freqüentemente

Com que freqüência


você tem sentimentos
26 negativos tais como 1 2 3 4 5
mau humor, desespero,
ansiedade, depressão?

Alguém lhe ajudou a preencher este questionário? ..................................................................

Quanto tempo você levou para preencher este questionário? ..................................................

Você tem algum comentário sobre o questionário?

352
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

ANEXO B

1º MOMENTO
DESVIO COEFICIENTE VALOR VALOR
QUESTÃO MÉDIA AMPLITUDE
PADRÃO DE VARIAÇÃO MÍNIMO MÁXIMO
Q1 4,14 0,53 12,90 3 5 2
Q2 3,93 0,73 18,58 2 5 3
Q3 1,71 0,73 42,37 1 3 2
Q4 1,57 0,85 54,19 1 3 2
Q5 3,86 0,77 19,97 2 5 3
Q6 4,00 1,24 31,01 1 5 4
Q7 3,57 0,85 23,85 2 5 3
Q8 3,50 1,02 29,12 1 5 4
Q9 3,21 0,70 21,76 2 4 2
Q10 3,71 0,61 16,46 3 5 2
Q11 4,00 0,88 21,93 2 5 3
Q12 2,57 0,65 25,13 1 3 2
Q13 3,57 0,85 23,85 2 5 3
Q14 4,14 1,17 28,18 1 5 4
Q15 4,43 0,65 14,59 3 5 2
Q16 3,77 0,83 22,07 2 5 3
Q17 4,14 0,77 18,59 2 5 3
Q18 4,50 0,52 11,53 4 5 1
Q19 4,36 0,63 14,54 3 5 2
Q20 4,00 0,78 19,61 3 5 2
Q21 4,00 1,04 25,94 2 5 3
Q22 3,79 0,97 25,75 1 5 4
Q23 4,14 1,03 24,79 1 5 4
Q24 3,57 1,02 28,46 2 5 3
Q25 3,85 1,07 27,77 2 5 3
Q26 1,93 0,73 37,85 1 3 2

353
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

ANEXO C

2º MOMENTO
DESVIO COEFICIENTE VALOR VALOR
QUESTÃO MÉDIA AMPLITUDE
PADRÃO DE VARIAÇÃO MÍNIMO MÁXIMO
Q1 3,93 0,92 23,34 2 5 3
Q2 3,71 0,91 24,60 2 5 3
Q3 1,93 1,07 55,57 1 4 3
Q4 1,43 0,76 52,92 1 3 2
Q5 3,77 1,09 28,97 2 5 3
Q6 4,23 0,83 19,67 2 5 3
Q7 3,64 0,63 17,39 2 4 2
Q8 3,79 0,70 18,47 2 5 3
Q9 3,00 0,88 29,24 1 4 3
Q10 4,00 0,58 14,43 3 5 2
Q11 4,21 0,89 21,18 3 5 2
Q12 3,07 0,73 23,77 2 5 3
Q13 3,21 0,97 30,33 2 5 3
Q14 3,86 1,17 30,26 2 5 3
Q15 4,36 0,63 14,54 3 5 2
Q16 3,79 0,89 23,58 2 5 3
Q17 4,00 0,55 13,87 3 5 2
Q18 4,21 0,70 16,59 3 5 2
Q19 4,14 0,86 20,87 2 5 3
Q20 4,14 0,53 12,90 3 5 2
Q21 4,07 0,73 17,93 3 5 2
Q22 3,71 0,73 19,55 3 5 2
Q23 4,21 0,97 23,13 2 5 3
Q24 3,46 1,33 38,43 1 5 4
Q25 3,64 1,15 31,59 1 5 4
Q26 1,86 1,10 59,20 1 5 4

354
JOSÉ RENATO RODRIGUES JR.

ANEXO D

3º MOMENTO
DESVIO COEFICIENTE VALOR VALOR
QUESTÃO MÉDIA AMPLITUDE
PADRÃO DE VARIAÇÃO MÍNIMO MÁXIMO
Q1 4,14 0,36 8,77 4 5 1
Q2 4,21 0,43 10,10 4 5 1
Q3 1,79 0,89 49,98 1 3 2
Q4 1,71 0,99 58,01 1 4 3
Q5 3,79 0,89 23,58 2 5 3
Q6 4,29 0,61 14,26 3 5 2
Q7 3,29 0,99 30,27 1 4 3
Q8 3,93 0,47 12,08 3 5 2
Q9 3,29 0,99 30,27 1 5 4
Q10 3,79 0,58 15,29 3 5 2
Q11 4,00 0,78 19,61 3 5 2
Q12 2,57 0,85 33,12 1 4 3
Q13 3,21 0,97 30,33 1 4 3
Q14 4,00 1,18 29,42 1 5 4
Q15 4,46 0,66 14,80 3 5 2
Q16 3,92 0,49 12,58 3 5 2
Q17 4,00 0,41 10,21 3 5 2
Q18 4,07 0,73 17,93 2 5 3
Q19 4,29 0,47 10,94 4 5 1
Q20 4,07 0,73 17,93 3 5 2
Q21 4,07 0,73 17,93 3 5 2
Q22 4,07 0,73 17,93 3 5 2
Q23 4,07 1,21 29,64 1 5 4
Q24 3,93 0,73 18,58 2 5 3
Q25 3,86 0,77 19,97 2 5 3
Q26 2,08 0,86 41,52 1 4 3

355
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

ANEXO E
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, , portador do
RG: , nascido no dia: na cidade
de: , Estado Civil: ,
Idade: , Profissão: , Tel.: com
endereço situado: , , estou sendo
convidado a participar das Práticas Corporais Chinesas (Bāduànjǐn Qìgōng) e Exercícios de
alongamentos desenvolvidas uma vez por semana na Empresa Forming Tubing Brasil, cujos
objetivos e justificativas são a melhora na qualidade de vida dos Funcionários.
A minha participação no referido estudo será no sentido de PARTICIPAR DAS
AULAS DADAS E RESPONDER AOS QUESTIONÁRIOS FORNECIDOS PELO
PROFESSOR.
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou qualquer
outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar, será mantido em sigilo.
Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e de, por desejar sair da pesquisa,
não sofrerei qualquer prejuízo quanto ao curso que estou frequentando.
O pesquisador envolvido com o referido projeto é o PROFESSOR JOSÉ RENATO
e com ele poderei manter contato pelo telefone 12.97404.1070
É assegurada a assistência durante toda pesquisa, bem como me é garantido o livre
acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas
consequências, enfim, tudo o que eu queira saber antes, durante e depois da minha
participação.
Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado e
compreendido a natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livre
consentimento em participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor
econômico, a receber ou a pagar, por minha participação.
São José dos Campos-SP, de de 2017.

Nome completo do funcionário

Nome completo do pesquisador responsável

356
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

12. Estética chinesa e TAI CHI CHUAN


(tradicional e moderno)

Luis Gonçalves Mariguela

357
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

RESUMO
Através de revisão bibliográfica e análises comparativas encontradas na literatura filosófica e
marcial dos conceitos de li, wuwei, shen e TAO na prática do Tàijí quán tradicional e
moderno foi traçado um paralelo da construção estética das duas modalidades. O tradicional
ocupa-se em expressar a harmonia com o TAO 道 e não um conjunto de movimentos
padronizados e executados segundo critérios de perfeição, objetivando produzir um
conhecimento sobre a realidade que não se transmite por palavras, em contrapartida a prática
moderna, influenciada pelos conceitos ocidentais, possui uma estética normativa da beleza do
movimento e das posturas que representam um ideal ao qual o praticante deve adaptar-se. A
lógica universalista que foi empregada no Tàijí quán moderno é um empréstimo da mesma
utilizada no ballet, nas ginásticas artísticas, nado sincronizado e outras modalidades
esportivas ou performáticas ocidentais.

Palavras-chave: Filosofia Chinesa. Tai Chi Chuan. Taoísmo. Estética.

ABSTRACT
Through a bibliographical review and comparative analyzes found in the philosophical and
martial literature of the concepts of li, wuwei, shen and TAO in the traditional and modern
Tàijí quán prática practice was drawn a parallel of the aesthetic construction of the two
modalities. The traditional is concerned with expressing harmony with TAO and not a set of
standardized movements and executed according to criteria of perfection, aiming to produce a
knowledge about reality that is not transmitted by words, in contrast to modern practice,
influenced by concepts has a normative aesthetic of the beauty of movement and postures that
represent an ideal to which the practitioner must adapt. The universalistic logic that was
employed in the modern Tàijí quán is a loan of the same used in ballet, artistic gymnastics,
synchronized swimming and other western sports or performance modalities.

Keywords: Chinese Philosophy. Tai Chi Chuan. Taoism. Aesthetics.

ABSTRAIT
À travers une revue bibliographique et des analyses comparatives trouvées dans la littérature
philosophique et martiale des concepts de li, wuwei, shen et TAO dans la pratique
traditionnelle et moderne Tàijí quán a été tiré un parallèle de la construction esthétique des
deux modalités. Le traditionnel vise à exprimer l'harmonie avec TAO et non pas un ensemble
de mouvements standardisés et exécutés selon des critères de perfection, visant à produire une
connaissance de la réalité non transmise par les mots, contrairement à la pratique moderne,
influencée par les concepts a une esthétique normative de la beauté du mouvement et des
postures qui représentent un idéal auquel le praticien doit s'adapter. La logique universaliste
qui a été employée dans le moderne Tàijí quán est un emprunt de la même utilisé dans le
ballet, la gymnastique artistique, la nage synchronisée et d'autres sports occidentaux ou
modalités de performance.

Mots-clés: Philosophie chinoise. Tai Chi Chuan. Taoïsme. Esthétique

358
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

Introdução

O presente trabalho tem por objetivo delinear os princípios estéticos que regem as
práticas do Tàijí quán 太极拳 moderno e tradicional, suas aproximações e divergências
partindo de uma análise filosófica dos conceitos gerais que compõe a estética chinesa ou
meixue 美学. Serão abordados as definições dos conceitos de estética, meixue 美学, li 理,
wuwei 無為, shen神, TAO 道 e Tàijí 太极 bem como sua aplicação na prática do Tàijí quán
太极拳 e seus desdobramentos nas duas modalidades (moderno e tradicional), além da
influência de conceitos estéticos ocidentais no Tàijí quán 太极拳 moderno e tradicional.
A compreensão dos fundamentos estéticos do Tàijí quán 太 极 拳 é preponderante
uma vez que neles estão contidos todo o arcabouço teórico primário que baliza esta prática
difundida a nível mundial. Pouco explorado em seu aspecto estético, o Tàijí quán 太极拳 vem
sendo apresentado no ocidente primeiramente como uma ginástica laboral altamente indicada
para idosos ou como prática fitness alternativa entre outras corruptelas. Portanto, resgatar e
sobretudo transliterar as nuances do pensamento estético chinês que norteia toda a construção
prática do Tàijí quán 太 极 拳 se faz necessária, em uma primeira instância para esclarecer e
posteriormente enriquecer a prática e o entendimento dos adeptos da modalidade, evitando o
surgimento de equívocos e até mesmo engodos sobre o que é realmente o Tàijí quán 太极拳.
A falta de literatura e pesquisas específicas sobre o tema em língua portuguesa ainda são um
obstáculo a ser superado na difusão desse tipo de conhecimento acerca do Tàijí quán 太极拳,
desta forma, tal revisão, visa preencher, mesmo que de uma maneira introdutória, esse hiato
entre prática e teoria nessa modalidade tão amplamente praticada, seja na sua vertente
esportiva, terapêutica ou tradicional.
Para tanto, o presente trabalho foi estruturado em seis capítulos, partindo de uma
abordagem geral sobre a concepção de estética e a diferença entre estética ocidental e oriental
(meixue 美学) em seguida é explanado a aplicação dos conceitos estéticos chineses nas artes
marciais em geral, para no capítulo posterior demonstrar a presença desses conceitos estéticos
no Tàijí quán 太极拳 tradicional e por consequência a ausência dos conceitos tradicionais no
Tàijí quán 太 极 拳 moderno, que construiu seus valores estéticos em uma lógica própria,
fundamentada na cultura ocidental. Por conseguinte, é realizada uma comparação entre as

359
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

duas visões estéticas para o Tàijí quán 太极拳 bem como suas aproximações e
distanciamentos conceituais.

A Estética Chinesa Tradicional

Para compreendermos o conceito de estética chinesa é preciso antes compreender o


sentido da palavra “estética”. Do grego αισθητική (aistétike), significa sensação, percepção,
sensibilidade, ou seja, na concepção grega, tudo que provoca uma sensação é estético. O
vocábulo “estética” foi relacionado pela primeira vez na literatura com a “questão do belo”
por Alexander Gottlieb Baumgarten no século XVIII, no entanto a “questão do belo” já existia
na filosofia ocidental com Platão e ainda hoje é tema de discussão. O principal problema da
estética na filosofia ocidental é se o “belo” enquanto propriedade é uma construção do homem
ou uma propriedade objetiva das coisas? De caráter contemplativo no ocidente, a palavra
estética abordará o conceito de beleza com Platão a partir do século V a.C., e perdurará até a
contemporaneidade, criando a ideia da beleza enquanto forma invariável e independente da
sua manifestação material “sempre é: não se torna, nem acaba, não brilha nem desvanece”
(PLATÃO, Symposium 211ª, 1980). Ao contrário, a estética chinesa entende o belo como algo
a ser compreendido e portador de um conhecimento específico sobre a realidade e o homem,
essa ideia de belo reside na natureza e suas manifestações.
A estética na concepção chinesa não é uma investigação sobre a propriedade inerente
ou não do “belo” no mundo, mas é um estudo de como compreender o “belo” no mundo, uma
vez que em tal visão o “belo” é inerente ao mundo e uma propriedade objetiva das coisas. Os
chineses não conhecem o vocábulo estética - que é criação grega - porém em uma correlação
de sentidos temos a palavra meixue 美 学 (estudo, aprendizagem sobre o belo), mei ( 美 é um
radical que denota um sentido de bonito, belo, formoso) e xue (学, estudo, aprendizagem).
O meixue não é uma investigação sobre a natureza do “belo”, mas é um estudo, uma
aprendizagem sobre ele. O “belo” e a “perfeição”, residem na natureza e cabe ao homem
aprender a perceber e contemplar aquilo que se apresenta, se manifesta e sobretudo o que
transcende a própria materialidade da natureza. Para os chineses a natureza é perfeita e não
pode ser copiada pelo homem, pois o homem é apenas um microcosmo dentro do
macrocosmo natural. O sujeito deve, então, enaltecer a relação totalizante do macrocosmo
(TAO, unicidade, completude) na qual ele está inserido. Tal estética oriental, portanto, não
contempla somente as artes eruditas, mas seus conceitos são presentes nos mais variados tipos
de expressões inclusive a arte marcial.

360
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

A estética tradicional chinesa (...) inclui não somente a poesia, caligrafia e


pintura (como as artes eruditas mais proeminentes) mas também a
arquitetura, cerâmica, bronzes, música, artes marciais e assim por diante. 1
(POHL, 1980, p. 02).

Não há fator individualizante na produção artística chinesa, o homem é posto apenas


como uma parte do todo, e o próprio artista desaparece (imerge) na própria obra, pois não
“cria”, mas só torna evidente aquilo que já está/já é, ou seja, faz emergir o que já existe
apenas. Desta maneira, a expressão artística para os chineses se constitui em um “saber” sobre
a natureza.
A pintura chinesa em seda reflete bem
1. a concepção de mimese (ocidental) e essência

(oriental), já que não se preocupa com a imitação perfeita da forma, uma vez que a perfeição é
inerente ao natural e a pintura não sendo natural não pode representar a perfeição. Como
elemento de comparação as pinturas de Zhang Zeduan 张择端 (nº 1) (Ao longo do rio durante
o festival Qingming, datada no século XII) e de Pieter Bruegel (nº 2) (Quermesse de São
Jorge, datada no século XVII), sinalizam claramente a diferença entre as distintas concepções
de representação.

Fonte: wahooart.com

Fonte: wahooart.com

1
Traditional Chinese aesthetics (…) includes not only poetry, calligraphy and painting (as the most prominent
scholarly arts) but also architecture, pottery, bronzes, music, martial arts and so on. (Tradução livre).

361
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

A obra de Zhang Zeduan2 e de Pieter Bruegel retratam festas populares, no entanto, a


de Zhang não possui elementos individualizantes, percebe-se o todo, o artista demonstra a
totalidade do momento. O homem não ocupa um lugar privilegiado, mas está disperso e
generalizado.
Na obra de Pieter em comparação com a de Zhang as diferenças são claras, é
possível notar que o “homem” ocupa o centro do quadro, todas as pessoas possuem
características individualizantes e não existe a preocupação do autor de demonstrar o TODO,
mas apenas parte do momento através de uma representação fidedigna de uma fração da
totalidade.
O filósofo taoísta Liezi 列 子 escreveu no século III a.C. um texto intitulado “Uma
folha em três anos” onde ele demonstra certa aversão pela reprodução fidedigna da natureza e
afirma o saber sobre a natureza.
“No estado de Song um homem reproduziu em marfim uma folha de
amoreira para dar de presente ao rei. Ele levou três anos nesse trabalho. O
resultado foi uma folha maravilhosa, delicada nos traços, cores finas e
brilhantes. Quando alguém a colocava junto com a outra de verdade,
ninguém conseguia distinguir uma da outra, de tão perfeita. Esse homem
recebeu o pagamento do governador de Song por tamanha perfeição.
Ouvindo isso, Liezi disse:
- Se a Mãe Natureza precisar de três anos para fazer uma folha, tudo aquilo
que tem folhas vai ser tornar raridade. Por isso, o sábio deve se apoiar na
sabedoria da natureza, e não na inteligência dos homens.” (CAPPARELLI,
2009, p. 63)
Dessa maneira, a visão que possuímos de arte enquanto sua finalidade diverge do
conceito chinês, uma vez que ultrapassa a ideia de uma atividade mimética que cause uma
sensação, acima de tudo, a arte na concepção chinesa é uma prática de auto cultivo em todas
as suas manifestações, como a pintura em seda, caligrafia, escultura, poesia, artes marciais
entre outras. Mesmo com estruturas artísticas diferentes as manifestações da arte chinesa
enquanto auto cultivo obedecem aos mesmos princípios conceituais, que regem desde a
produção até seu objetivo final.
Partindo da cosmovisão chinesa que pressupõe o homem como parte de um
macrocosmo, a representação artística tem como função enaltecer a relação do homem com o
macrocosmo, e em certa medida ajudá-lo a compreender essa relação. O que denominamos de
macrocosmo, foi concebido em última instância como TAO 道, embora esse conceito permeie

2
Ver obra completa em: http://scrolls.uchicago.edu/scroll/spring-festival-along-river

362
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

a cultura chinesa desde a elaboração o I Ching 易 经 3, foi com a corrente taoísta que ele se
solidificou na cultura chinesa e foi conceitualmente elaborado.
Para uma compreensão inicial do conceito de TAO 道 e sua correlação com a ideia de
macrocosmo são encontradas três definições básicas:
1. VAZIO, princípio e fim de toda realidade, tudo emana do TAO 道 e retorna ao
TAO道. “TAO é vazio -/Seu uso nunca se esgota./Insondável-/ A origem de todas as coisas.”
(LAO-TZU, 2002, p. 04).
2. Grande unidade presente na multiplicidade, imensuralibidade do real. “O Tao é
grande em tudo,/Completo em tudo, Universal em Tudo,/Integral em tudo. Estes três
aspectos/São distintos, mas a Realidade é o Uno.” (CHUANG TZU, 2002, p. 183).
3. Princípio de utilidade e força motriz da realidade. “Trinta raios unem um eixo./A
utilidade da roda vem do vazio/Queima-se o barro para fazer o pote./A utilidade do pote vem
do vazio./Rasgam-se janelas e portas para criar o quarto./A utilidade do quarto vem do vazio.”
(LAO-TZU, 2002, p. 11).
Embora tentemos condensar o conceito em axiomas, para facilitar o entendimento à
compreensão ocidental, segundo a tradição taoísta o TAO 道 é apreendido, captado, sentido,
porém não pode ser descrito. A linguagem é limitada, parcial, exprime partes do TAO 道, mas
não o TAO 道 como ele é, como nos diz Lao-tse “O TAO chamado TAO não é TAO/Nomes
não podem dar nome a nenhum nome duradouro” (LAO-TZU, 2002, p. 01).
Assim o conceito de Uno que está presente na construção estética chinesa direciona a
produção das manifestações artísticas para uma representação da imersão do homem no
TODO, tomemos como exemplo a ausência de fatores individualizantes da obra de Zhang
Zeduan retro citada.
Concomitante a ideia de TAO 道 que norteia o significado das manifestações
artísticas o conceito li 理 nos apresenta o fator determinante das formas dessas
manifestações. O referido conceito que podemos ter como central não só na filosofia chinesa,
mas em todas as esferas da cultura chinesa - pintura, caligráfica, música, artes marciais - esse
conceito chamado de li 理 exprime a noção de ordem natural a que todos estão submetidos,
originalmente essa palavra representava as ranhuras (veios) naturais do jade, sendo
posteriormente utilizado para representar a noção de ordem natural, caracterizado a partir do li
理 “o pensamento chinês estava marcado pelo espírito do lapidador, que experimenta a

3
O I Ching, ou Livro das Mutações como é conhecido no ocidente é um dos mais antigos tratados
cosmológicos e origem do pensamento chinês é nele que aparece pela primeira vez os conceitos de Ying e
Yang.

363
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

resistência do jade e emprega toda sua arte unicamente para tirar vantagem do sentido dos
estratos da matéria bruta, para desprender desta a forma que ali preexista...” (CHENG, 2008,
p. 58).
Em termos gerais, podemos compreender, não de uma maneira definitiva, mas como
uma correlação entre conceitos, para facilitar o entendimento ao pensamento ocidental, a
noção de li 理 com a noção de substância4 em Aristóteles, que determina as características
essenciais do ser, ou seja, aquilo que faz o Ser, aquilo que é e não outra coisa. Dessa maneira,
assim como a substância, o li 理 carrega em si a unidade identitária da forma e suas potências.
Cabe ao artista, dentro da concepção chinesa, extrair aquilo que já se apresentava em potência
na matéria, respeitando suas características únicas e não impondo sua vontade padronizada à
ordem natural (li 理).
Como exemplo é possível ressaltar a semelhança na relação mestre/artista e
matéria/discípulo. O mestre é como o artista, ele deve ser capaz de identificar a essência da
matéria prima (discípulo) e lapidá-la até que essa essência aflore. O mestre ou o artista não
impõe sua vontade à matéria prima, mas segue o li 理 da matéria, não acrescenta nada que já
não havia em potência, respeita a ordem natural.
O respeitar a ordem natural da matéria (li 理 ) configura-se em uma maneira de agir
sobre a natureza para que a obra seja uma representação holística do macrocosmo (TAO 道).
Essa maneira de agir é denominada por wuwei 無 為 , que se apresenta como um ethos para
qualquer espécie de manifestação artística, inclusive as artes marciais. Esse ethos,
contribuição taoísta, prima essencialmente pela prática em detrimento do intelecto, trata-se de
um saber fazer que não se transmite por palavras, mas por imersão, integração com o TAO 道.
“Apreender o Tao é uma experiência que não se pode exprimir nem
transmitir pelas palavras. Enquanto o intelecto nunca pode conhecer nada
com certeza, a mão sabe o que ela faz com uma segurança infalível, ela sabe
fazer o que a linguagem não sabe dizer. Mas este saber-fazer da mão não é
em si senão uma metáfora para designar certo tipo de conhecimento
privilegiado pelos pensadores chineses: um conhecimento que não resultaria
da aquisição de um conteúdo, mas de um processo de aprendizado como o
de um ofício, que não se adquire num dia, mas que “entra”
imperceptivelmente. (...) Trata-se de um saber-fazer bem preciso, e não de
um estado de vaga e serena espontaneidade. Encontramos aqui uma ideia

4
A substância de uma coisa pode ser a sua essência, ou seja, aquilo que é. Isto implica que a substância de
uma coisa seja aquilo que permanece ao longo de todas as mudanças nas suas propriedades.
(BLACKBURN, 1997, p. 317)

364
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

ligada na China a toda prática ao mesmo tempo física e espiritual: a ideia de


gongfu 功 夫 (...) trata-se, portanto, do aprendizado de um saber-fazer que
não se transmite pelas palavras. ” (CHENG, 2008, p. 137).
O saber-fazer surge nas ações que não passam pelo crivo do intelecto, é a
manifestação do espírito (shen 神 ), no apogeu de sua espontaneidade e naturalidade, sua
perfeita integração com o TAO 道 . É importante ressaltar que a manifestação do shen 神 não
está associada com ações inconscientes, mas é um esquecimento da consciência que ocorre
quando há a espontaneidade e o indivíduo é capaz de retornar à unidade do real, a dicotomia
ela/mundo é anulada. Chuang-tse explicita muito bem o conceito de espontaneidade e
integração na passagem sobre o “Cozinheiro do Príncipe Huei.”
“ O cozinheiro do Príncipe Wen Hui/Estava destrinchando um boi./Lá se foi
uma pata,/Pronto, um quarto dianteiro,/Ele apertou com um dos joelhos,/O
boi partiu-se em pedaços./Com um sussurro,/A machadinha
murmurou/Como um vento suave./Ritmo! Tempo! /Como uma dança
sagrada, /Como a floresta de arbustos. /Como antigas harmonias! /Bom
trabalho! Exclamou o Príncipe/Seu método é sem falhas! /Método? /disse-
lhe o cozinheiro/Afastando a sua machadinha,/ O que eu sigo é o
Tao,/Acima de todos os métodos!/Quando primeiro comecei/A destrinchar
bois/Via diante de mim/O boi inteiro/Tudo num único bloco./Depois de três
anos/Nunca mais vi este bloco/Via as suas distinções./Mas, agora, nada
vejo/Com os olhos./Todo o meu ser/Apreende./Meus sentidos são
preguiçosos. O espírito/Livre para operar sem planos/Segue o seu próprio
instinto/Guiado pela linha natural, /Pela secreta abertura, pelo espaço
oculto,/Minha machadinha descobre seu caminho/ Não corto nenhuma
articulação, não esfacelo nenhum osso,/Todo bom cozinheiro precisa de um
novo facão, uma vez por ano – ele corta./Todo cozinheiro medíocre precisa
de um novo a cada mês – ele estraçalha!/...”(CHUANG TZU, 2002, p.75).
O conceito de espontaneidade é central nas artes chinesas, devemos entender tal
conceito como pôr-se de acordo com as coisas, seguir o fluxo natural (li 理 ) das coisas, não
lutar contra o TAO 道, não agir segundo distinções.
O agir segundo distinções é denominado pelos taoístas por wei 為 , dentro da
concepção taoísta de wei 為 entende-se toda ação que força a natureza ou a ordem natural, em
contrapartida Chuang-tse apresenta o wuwei 無 為 , que traduzido literalmente significa não
ação, porém, a não ação de que fala Chuang-tse é agir de acordo com a natureza, enquanto o

365
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

wei 為 situa-se na circunscrição do ego, dos desejos e distinções o wuwei 無 為 situa-se na


imersão do TAO道. O ego é a parte periférica do ser, para Chuang-tse o abandono do ego é o
reencontro com seu centro, é estar em comunhão com o TAO 道.
O ethos do artista que possui por base o wuwei 無 為 , nada mais é, do que um
princípio de auto cultivo que está na circunscrição de diversas formas de arte chinesas, em
suma, enquanto o artista trabalha sua obra, trabalha concomitantemente consigo mesmo.
A arte marcial chinesa, além de uma técnica de combate corporal e de manutenção
física é através de um conjunto de práticas e princípios próprios uma arte de auto cultivo, por
pertencer a circunscrição dos princípios abordados anteriormente.

A Estética nas Artes Marciais

Todas as manifestações artísticas chinesas estão embasadas nos mesmos conceitos


estéticos que se diferenciam e se diversificam no âmbito prático, pois cada forma de arte
expressa de uma maneira diferente os conceitos de acordo com o objeto de sua expressão.
Para cada objeto, temos uma expressão diferente e concomitantemente temos uma estrutura
única pautada por outros conceitos que se situam na particularidade de cada manifestação
artística.
Aqui abordaremos os conceitos específicos da prática marcial e sua relação com os
conceitos de TAO 道, li 理 e wuwei 無為.
A arte marcial chinesa possui três características que a particularizam:
4. Técnicas de combate corporal;
5. Manutenção da saúde;
6. Auto cultivo.
Embora essas características intrínsecas das artes marciais chinesas sejam expostas
separadas, na prática elas se apresentam de modo crescente, partindo do mais bruto (combate)
para o mais refinado (auto cultivo) até que o praticante seja capaz de trabalhar as três
características em uma unidade.
A relação entre arte marcial, manutenção da saúde e auto cultivo aparecerá na
história em meados do século XVII com a popularização das técnicas de mãos livres em
detrimento das técnicas com armas durante a dinastia Ming (embora não há fatores que
excluam um período anterior, tal dinastia será utilizada como demarcação histórica). Foi
durante esse período que ocorreu quase simultaneamente o florescimento de três grandes
expressões de artes marciais chinesas o Shàolín Quán 少林拳, o Tàijí Quán 太極拳 e o
Xíng yì quán 形意拳.

366
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

As técnicas de Shaolin Quan, Taiji Quan e Xingyi Quan, desenvolvidas no


período Ming tardio e na fase inicial do período Qing, haviam sido descritas
a partir de um rico vocabulário de auto cultivo fisiológico e espiritual. (...)
Os praticantes já não estavam interessados apenas em lutar: eles também
tinham na saúde um elemento de motivação, ao mesmo tempo em que
perseguiam a realização espiritual (SHAHAR, 2011, p. 201).

O desenvolvimento das práticas puramente combativas em práticas de cultivo


fisiológico sofreu a influência direta de um conjunto de práticas corporais de origem taoísta
denominadas de daoyin 導 引 . Essa prática que inicialmente possuía um caráter
terapêutico/preventivo passou a integrar as formas (taolu5 套 路 ) e agregar além das
características de combate, efeitos de cultivo fisiológico.

Quando o daoyin foi integrado aos emergentes métodos de combate


modernos, durante o período Ming tardio e Qing inicial, foi meticulosamente
transformado. A antiga tradição de ginástica adquiriu uma dimensão marcial,
e as técnicas de luta quan foram enriquecidas com significado terapêutico e
religioso. Foi estabelecido uma síntese de combate, cura e auto cultivo.
(SHAHAR, 2011, p. 217)

Foi através da influência do daoyin 導 引 na prática marcial chinesa, que a mesma


passou a ser uma forma de cultivar o qi 氣 . Podemos entender tal conceito como a energia
vital que anima o universo, está dentro da vida e toda realidade seja física ou mental é regida
pelo qi 氣 . Sendo assim, o mesmo impulso vital que gera um pensamento abstrato gera
também o desabrochar de uma flor. O qi 氣 é o elemento constitutivo da matéria, da
intelectualidade e da espiritualidade.

“O homem não é apenas animado pelo sopro [qi] em todos seus aspectos,
mas haure [absorve] nele seus critérios de valor, quer de ordem moral ou de
ordem artística. Fonte da energia moral, o qi, longe de representar uma
noção abstrata é sentido até no mais profundo de um indivíduo e de sua
carne. Sendo embora eminentemente concreto, nem sempre, contudo ele é
visível ou tangível: pode ser o temperamento de uma pessoa ou a atmosfera
de um lugar, a força expressiva de um poema ou a carga emocional de uma
obra de arte”. (CHENG, 2008, p. 36).

É a partir da introdução dos conceitos de cultivo fisiológico do daoyin 導引 que


também em última instância é uma forma de meditação em movimento, juntamente com
elementos budistas e taoístas que é formado a tríade jing 精 , qi 氣 e shen 神 . Esses três
367
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

conceitos representam a fusão das técnicas de combate, manutenção da saúde e auto cultivo
nas artes marciais chinesas.
O jing 精 é comumente compreendido como energia vital, elemento originário da
estrutura biológico do indivíduo, essa estrutura pode ser preservada ou destruída dependendo
dos hábitos, como má alimentação, pouco descanso e consumo de drogas. Despeux define o
jing 精 como “...a mola do indivíduo, sua vitalidade, seu dinamismo, dando destaque à
interioridade dessa força, que precede a forma muscular, preside a ela e está ligada à atitude
psicológica da pessoa” (DESPEUX, 2002, p. 76).

5
O tàolù, também erroneamente conhecido por “kati” no Brasil, consiste em um conjunto de movimentos
que aludem às técnicas de combate organizados em uma sequência pré-determinada.

368
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

Severino exemplifica o jing 精 como nossa herança genética que pode ser melhorada
e acrescenta uma conotação espiritual nas ações que visam melhorar o jing 精 e como os
hábitos nocivos atuam em sua destruição.
“De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, Ching [jing] é a energia
física herdada pelos nossos pais. No pensamento chinês é conhecido como
Essência, ou seja, o melhor aspecto herdado de nossos pais. (...) Dentro
dessa tradição é ensinado que qualquer trabalho realizado com a intenção de
melhorar-nos espiritualmente afetará os nossos pais e até sete gerações
passadas. (...) A maior fonte de desperdício desta energia vital se dá no
esgotamento físico, que pode advir de várias causas excesso de trabalho,
pouco descanso, muita atividade sexual com vários ou um parceiro, ingestão
de álcool, todo tipo de alucinógeno e, em especial o fumo. ” (SEVERINO,
2016, p. 69).

O jing 精 é a constituição básica de nossa vitalidade e alicerce para o desenvolvimento


do trabalho do qi 氣, que por sua vez incide diretamente no trabalho sobre o shen 神 para que
o indivíduo alcance o jingshen 精神.

Primeiramente, para compreender o processo de refinamento do jing-qi-shen-jingshen


é importante demarcar o sentido do conceito shen 神 . O shen 神 pode ser entendido como
potência espiritual, no entanto, não devemos conceber o termo espírito através da ótica
judaico-cristã, não é uma entidade é “...sucessão de instantes de consciência, também
conhecido como continuum mental, que pelo aparecimento da memória lhe confere uma
aparente continuidade e solidez.” (SEVERINO, 2016, p. 107).

O shen 神 é composto por dois aspectos definidos como:


1. Vacuidade: o shen 神 não possui existência material, não é quantitativo, mas
está ligado a matéria e é dependente desta para se desenvolver como cita
Huiyuan 慧遠, monge budista do século IV “É certo, portanto, que o espírito e
o corpo evoluem juntos, seguindo um só e mesmo fio desde sua origem.”
(CHENG, 2008, p. 426).
2. Claridade: o shen 神 é o que nos dá a potência de conhecimento “Não é o
próprio conhecimento, mas a claridade, a faculdade consciente que o torna
possível.” (SEVERINO, 2016, p. 111). Além da função de potência cognitiva,
ele também é responsável pela conexão entre os sentidos e as formas mentais
que deles derivam.

369
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Quanto mais refinado é o shen 神 , maior e mais clara é nossa compreensão do que
nos rodeia e de nós mesmos. É no ato de refinar o espírito (shen 神 ) para alcançar o jingshen
精神 que encontramos a correlação entre o combate corporal, a manutenção da saúde e o auto
cultivo.
A qualidade das técnicas de combate depende necessariamente de uma boa saúde
para serem eficazes, no entanto, uma boa saúde está ligada com uma mente (espírito) estável
e, para se ter uma mente estável é preciso refiná-la. Esse processo de refinamento abrange
práticas físicas e mentais com o intuito de preservar o jing 精 através de hábitos saudáveis,
desenvolver o qi 氣 através de exercícios adequados, para refinar o shen 神 ampliando a
compreensão. O jingshen 精 神 “...pode ser atingido mediante práticas bem concretas,
agrupadas sob a designação genérica de trabalho sobre o qi (qigong 氣 功 ), que não é senão
um aspecto do gongfu 功夫 (...) domínio da respiração, ginástica, meditação, disciplina sexual
etc.” (CHENG, 2008, p.148).
As práticas de refinamento do qi 氣 constituem a síntese entre os três componentes
que caracterizam a arte marcial chinesa tradicional. Essas práticas ligadas à arte marcial
visam:
“...à saúde, à eficiência em combate, à expansão da mente e ao
aprimoramento espiritual (...) [que] compreende três estágios, ou seja,
cultivar o jing (essência) par tornar-se chi (energia), cultivar o chi para
tornar-se shen (espírito) e cultivar o shen para retornar ao cosmo. O chi kung
é, pois a ponte que liga o físico (jing) ao espiritual (shen) (KIT, 2016, p. 79).

O retorno ao cosmo, citado por Kit, pode ser entendido como um retorno à unidade
original, identificado também com o conceito de TAO 道 , o retorno aludido que pode ser
melhor interpretado como imersão, integração com o todo. Uma vez atingido o jingshen 精神
e a compreensão da ordem natural li 理 , a relação do indivíduo consigo e com o mundo
torna-se uma. O indivíduo é capaz de praticar o wuwei 無 為 , pois a espontaneidade lhe é
intrínseca, uma vez que possui um estado de consciência que lhe permite ultrapassar a
distinções conceituais como exemplifica Su Shi 苏 轼 “Compreender os princípios em sua
essência é esgotar-lhes o sentido. Entrar na dimensão espiritual (shen) é realizar plenamente a
natureza para chegar ao destino.” (CHENG, 2008, p. 533).
A dimensão dos conceitos estéticos se expressa na arte marcial através da execução
de exercícios individuais em um primeiro momento e nos exercícios em duplas. Esses

370
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

exercícios condensam as dimensões físicas, mentais e espirituais, buscando sempre a conexão


do corpo, energia e mente. Como exercício primário em todas as artes marciais chinesas
temos o taolu 套 路 , que serve como exercício de combate, manutenção da saúde, cultivo de
energia e meditação.
O taolu 套路 em sua perfeita execução deve expressar o espírito através do qi氣 dos
seus movimentos, pois é uma meditação em movimento e sua execução se dá quando o
indivíduo o executa sem pensar. É na imerção da mente e do corpo no espírito que a
execução deve atingir o jingshen 精神, ou seja, a elevação espiritual através do refinamento
do qi 氣 , que parte do físico (jing 精 ) com simples movimentos mecânicos para o espiritual
(shen 神 ), ou seja, movimentos naturais (li 理 ), espontâneos (wuwei 無 為 ) que superam o
próprio estado de consciência ( jingshen 精神) para uma integração total consigo e com
cosmos (TAO 道 ). O mesmo princípio se aplica aos exercícios em duplas conhecidos como
duishou 对手 (toishao), tuishou 推手 ou duilian 对练, embora cada um desses exercícios
tenha suas características singulares eles convergem no quesito de que o processo em dupla é
uma espécie de comunhão entre os pares. O indivíduo deve estar com seu corpo, mente e
espírito em sincronia consigo e com o outro, é onde o múltiplo (duplas) torna-se uma unidade
física e espiritual.
Portanto o artista marcial é um lapidador do qi 氣, seu objeto de trabalho é seu corpo,
sua energia e seu espírito. Sua expressão estética se dá por meio da continua busca no
processo do refinamento de si mesmo, buscando a integração com o TAO 道 por meio do
wuwei 無為 através da compreensão do li 理.

A Estética no Taiji Quan Tradicional

O conceito de Tàijí 太 极 possui diversas traduções, mas de forma mais simples e geral,
podemos traduzir como suprema unidade. O Tàijí 太 极 é “o primeiro princípio que rege o
universo e preside a união do Yin/Yang.” (DESPEUX, 2002, p. 37). O conceito de Tàijí太极

aparece pela primeira vez no I Ching 易 经 como fenômeno propulsor do dinamismo do Yin/Yang

阴 阳 , além do I Ching 易 经 , apenas Chuang-tse o menciona antes da era cristã, o que nos faz
deduzir que o Tàijí 太 极 ainda não era fonte de especulação metafísica.

Em primeira instância o termo Tàijí 太 极 aparece na cultura chinesa como parte do


vocabulário filosófico/cosmológico chinês sem guardar relação alguma com práticas marciais.
Após a segunda metade do século XIX, foi acrescido o termo quán 拳 que literalmente
significa punhos cerrados e é utilizado para designar técnicas de combate de mãos livres.
Assim no termo Tàijí quán 太 极 拳 temos a união de um conceito filosófico à um conceito

371
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

prático, em suma, ele denota a intenção dessa arte marcial, onde a busca pela unidade (Tàijí)
se dá por meio de técnicas de auto cultivo e exercícios de combate (quán).
Os fundamentos da prática do Tàijí quán 太 极 拳 estão embasados nas teorias do
Tàijí 太 极 e do Yin/Yang 阴 阳 , uma vez que esses conceitos são indissociáveis. A prática
dessa arte marcial não se reduz à métodos de combate baseados em princípios filosóficos, mas
compreende também um vasto processo espiritual que busca a unidade em todos os sentidos,
primeiro, do homem consigo mesmo e depois do homem com o TAO 道.
O Taiji quan, portanto, mais do que uma técnica corporal, é também uma
prática que une o céu, a terra e o homem (...) Todos os elementos do Taiji
quan estão classificados em Yin-Yang ou em termos complementares, seja
nos movimentos, seja nos princípios básicos, seja nas partes do corpo.
(DESPEUX, 2002, p. 54).

O auto cultivo é desenvolvido através do refinamento do qi 氣, que engloba as


esferas: espiritual, marcial e saúde. Embora cada uma dessas esferas seja independente da
outra, no Tàijí quán 太极拳 assim como nas artes marciais chinesas em geral elas se
apresentam uníssonas durante a prática.
O refinamento do qi 氣, geralmente conhecido como qigong 氣功 é um conjunto de
práticas respiratórias aliadas a posturas corporais estáticas e dinâmicas que visam “...absorver
os sopros aéreos externos, a fim de aumentar a própria vitalidade (...) pela troca com o sopro
externo.” (DESPEUX, 2002, p. 58). É importante salientar que o qigong 氣 功 não é uma
prática exclusiva do Tàijí quán 太极拳, nem das artes marciais chinesas, e sim, uma prática
ancestral pertencente primeiramente à medicina tradicional chinesa. No entanto, nas artes
marciais chinesas, o qigong 氣 功 é explorado para além de sua eficácia para a saúde,sendo
utilizado como ferramenta de aprimoramento espiritual e combativo de acordo com Wong
Kiew Kit.
O chi kung, que literalmente significa “a arte da energia”, é um termo
abrangente que se refere a centenas de sistemas de treinamento que
desenvolvem a energia cósmica para diversas finalidades, principalmente
relativas à saúde, à eficiência em combate, à expansão da mente e ao
aprimoramento espiritual. (KIT, 2006, p. 80).

No Tàijí quán 太极拳 a prática do qigong 氣功 é pilar fundamental para transformar


o jing 精 em shen 神 . Assim sendo, desassociar o Tàijí quán 太 极 拳 do qigong 氣 功 é
reduzir sua eficácia em todos os seus campos de atuação (marcial, terapêutico e espiritual).

Tai Chi Chuan sem chi kung não é Tai Chi Chuan, pois nesse caso o Tai Chi
Chuan se resumiria a um tipo de exercício suave que talvez oferecesse
alguns benefícios em termos de circulação do sangue e divertimento, mas
372
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

provavelmente não traria a vitalidade e a clareza mental geralmente


atribuídas ao treinamento do Tai Chi Chuan (KIT, 2006, p. 80).

É importante salientar que na prática do Tàijí quán 太 极 拳 , os campos terapêutico,

marcial e espiritual não são trabalhados isoladamente, pois, ao passo que se trabalha um, os
outros por consequência também são desenvolvidos. Dessa maneira ao se executar um taolu
套 路 que em primeira instância é um exercício marcial, o praticante está desenvolvendo sua
saúde e seu espírito.
O primeiro passo para um bom aprendizado é conhecido como o treino com
a consciência. Isto quer dizer a repetição minuciosa de cada movimento que
nos leva a transformar nossos hábitos mais primários, como por exemplo, o
hábito de caminhar, endireitar a nossa coluna, olhar para frente, o gestual
com as nossas mãos, entre outros. (...) A tranquilidade surge do silêncio
interior, ou seja, quando por breves segundos conseguimos parar, ou melhor,
nos abstrair de nossa constante tagarelice mental. A tranquilidade física não
pode coexistir se previamente não houver uma tranquilidade mental.
(SEVERINO, 2016, p. 48).

Dessa maneira, o qigong 氣 功 além de eficaz para o combate e para a saúde é suporte

fundamental para a prática espiritual, cujo o objetivo é conectar o microcosmo (praticante)


com macrocosmo (TAO 道 ). O principal veículo para esse desenvolvimento holístico
proporcionado pela prática das artes marciais chinesas, em especial o Tàijí quán 太 极 拳 é a
execução por excelência do taolu 套路, ou também chamado de encadeamento.

Durante o encadeamento do Taiji quan, os movimentos de concentração ou


de extensão, para cima ou para baixo, etc., se alternam; não há, portanto,
dificuldade em fazer corresponder a inspiração e a expiração (...) Dessa
maneira, a respiração estabelece o ritmo do desenrolar do encadeamento,
numa cadência cada vez mais lenta (...) Levado por esse fluxo, o executante
sente-se unido ao ritmo do universo. (DESPEUX, 2002, p. 60).

A prática respiratória é fundamental para o desenvolvimento de aspectos ligados ao


combate e à saúde, porém também é recurso fundamental para o desenvolvimento
espiritualque em suma é a base das transformações psicofisiológicas dos praticantes, atuando
assim, diretamente sobre as esferas terapêutica e marcial.
O sopro (qi 氣 ) pode ser transformado em energia espiritual em um processo que
consiste em acalmar a mente dos pensamentos contínuos que desconectam o microcosmo
(praticante) com macrocosmo (TAO 道). Durante a prática do taolu 套路, o praticante deve
buscar a imobilidade do pensamento na mobilidade da execução (movimentos e respiração), o
objetivo é fazer com que os pensamentos não nasçam. Assim, além de marcial e terapêutica, a
373
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

prática do taolu 套 路 possui sua esfera meditativa. A partir do momento que o praticante
consegue acalmar a mente e integra-se consigo seus movimentos passam a ser dirigidos pelo
pensamento criador ou intenção (yì 意 ) que derivam do coração (xīn 心 ). O shen 神 só pode
ser manifestado quando os movimentos são direcionados pelo coração, uma vez que a ligação
entre o shen神 e coração é na medicina chinesa.

No Taiji quan, todo movimento parte do coração e é dirigido pelo


pensamento criador: “O pensamento e o sopro são soberanos, os ossos e os
músculos, os ministros”, lê-se num texto. O pensamento criador serve de elo
entre o corpo e o espírito (DESPEUX, 2002, p. 71).

Essa prática é denominada pelos taoístas de xīnshēng 心 声 , literalmente pode ser


entendida como som do coração, ou discurso do coração como aponta Despeux. A prática do
xīnshēng 心 声 , não se reduz à meditação, mas é um caminho para o ideal do sábio taoísta6.
Esse caminho consiste na anulação da ideia de ego, da disjunção entre eu/mundo,
interno/externo, ou seja, preconiza uma ideia de unidade (Tàijí 太极).
O xīnshēng 心 声 é um estado de consciência que está intimamente ligado na prática
do Tàijí quán 太极拳 tradicional aos conceitos de li 理 e wuwei 無為. Só é possível
desobstruir a mente, integrar-se, quando o praticante executa os movimentos de acordo com o
li 理, seguindo sua constituição natural onde surge a espontaneidade, a não-ação wuwei 無為.
A partir desse momento a mente torna-se clara e limpa de perturbações exteriores permitindo
ao coração xīn 心 manifestar a intenção yì 意 no taolu 套 路 . Também nesta sequência que
ocorre a união com o TAO 道 , sobre esse aspecto “Chen Pinsan escreve: Já não sei que esse
corpo sou eu, nem que eu sou esse corpo” (DESPEUX, 2002, p. 72).
A estética do Tàijí quán 太 极 拳 tradicional obedece aos mesmos princípios que
norteiam as artes chinesas como pintura e a poesia, esses princípios li 理, wuwei 無為, shen神
e TAO 道 se apresentam de formas distintas de acordo com o objeto da expressão estética. No
caso do Tàijí quán 太 极 拳 esse objeto é o próprio artífice, ou seja, o praticante em seu
processo de refinamento do qi 氣, dessa forma a estética no Tàijí quán 太极拳 tradicional não
está inserida no âmbito da padronização de movimentos perfeitos e universalizados segundo
critérios mecânicos ou plásticos. Embora seja uma atividade física o cerne da estética está
diretamente ligada a apreensão de conceitos que são aplicados à pratica individual. O mais
importante é que os movimentos executados sejam norteados pelos princípios de li 理, wuwei
無 為 , shen 神 e TAO 道 , ainda que haja uma variação de movimentos entre praticantes do
mesmo estilo, os princípios que os regem são os mesmos e essa diferença se deve ao princípio
de individualidade derivante do li 理.

374
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

Assim temos dentro da estética do Tàijí quán 太 极 拳 tradicional uma preocupação


com o entendimento e expressão dos conceitos estéticos (uno) e não uma preocupação em
como esses conceitos aparecem na prática (múltiplo), visto que as diferenças de execuções
dos movimentos não determinam a mudança no entendimento dos conceitos. Dessa maneira, a
expressão estética é pautada pelo:
• Li 理: no entendimento do li 理 temos uma dupla aplicação, no corpo e na mente,
todo corpo humano possui os mesmos princípios mecânicos, dessa maneira, os movimentos
devem respeitar a mecânica natural do corpo não exigindo dele aquilo que não lhe é natural.
Ainda em relação ao corpo, embora todo corpo possua os mesmos princípios mecânicos, cada
corpo possui características identitárias próprias, fazendo com que o mesmo movimento em
corpos diferentes seja distinto possuindo a mesma mecânica. Em relação à mente, a mesma
deve estar livre de perturbações exteriores, pois sem a mente calma o praticante não consegue
compreender o li 理 do mundo e integrar-se a ele, já que o corpo e a mente são ordenados
sobre os mesmos princípios naturais que regem o universo.
• Wuwei 無為: esse conceito se resume primeiramente em dominar o método através
da repetição do taolu 套路, para posteriormente quando a repetição torna-se entendimento os
movimentos executados não obedecem mais uma ordem pré-estabelecida e interiorizada, mas
exterioriza a intenção yì 意 da mente desobstruída, os movimentos tornam-se espontâneos, a
não-ação da mente e do corpo permitem a manifestação do shen 神.

Quando há coincidência, cada vez mais perfeita, entre a execução de um


movimento e a emissão, pelo coração, de sua representação mental, quando
o corpo, responde instantaneamente ao pensamento emitido, há automatismo
do movimento e passagem ao inconsciente. Já não faz necessário o esforço
consciente para executar o movimento nem para emitir o pensamento
determinado que lhe corresponde (DESPEUX, 2002 p. 72).

• Shen 神 :Na prática marcial, a meditação aliada ao qigong 氣 功 objetiva a


desobstrução da mente para a manifestação do shen 神, no que tange ao Tàijí quán 太极拳 a
prática da lentidão nos exercícios é um recurso meditativo que visa a tomada de consciência,
primeiramente do próprio corpo e posteriormente da mente por si mesma.

Dentro do contexto da meditação, a lentidão exigida pelo treino da Tai Chi
Chuan nos possibilita ter acesso aos estados mais profundos de nosso
inconsciente (...) tendo acesso a sabedoria inata que nos acompanha desde
tempos imemoriais (SEVERINO, 2016, p. 150).

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

A manifestação do shen 神 ocorre após o praticante alcançar o jingshen 精 神 no


processo de refinamento do qi 氣, além de suas características iniciais vacuidade e claridade o
shen 神 é caracterizado pela inteligência sem obstrução “É esta inteligência que permite
conhecer efetivamente cada coisa sem confusão. Não somente a mente tem consciência dos
fenômenos – o que é a claridade – mas ela os reconhece sem confusão – o que é a
inteligência” (SEVERINO, 2016, p. 112). A mente que reconhece sem confusão é aquela que
não estando mais turva é capaz de apreender o li 理 e vivenciar o wuwei 無 為 para conectar-
se com o TAO 道.

• TAO 道: Quando o praticante manifesta o shen 神, a dualidade da do real é


superada e as distinções são diluídas, o corpo e a mente unificadas durante a prática obedecem
o li 理 do praticante através do wuwei 無 為 , essa espontaneidade harmoniza o microcosmo
(praticante) com o macrocosmo (TAO 道), quando essa harmonia ocorre o Tàijí 太极emerge,
unir o tangível (corpo) e o intangível (mente); interior (eu) e exterior (mundo); em suma o yin
阴 e yang 阳.
[o praticante] Encontra-se num estado que ultrapassa a dualidade
consciência/não-consciência, pois foi realizada a união dos contrários:
interior e exterior, movimento e repouso, eu e o outro.(...)Quando nenhum
pensamento se eleva no interior e não há obstruções no exterior, a energia do
indivíduo não tem limites, identifica-se com as forças do universo cujas lei
segue; é a realização do Taiji.(DESPEUX, 1981, p. 72).

Alcançar o Tàijí 太 极 é o objetivo final da prática do Tàijí quán 太极拳, é


necessário adormecer o corpo para o espírito (shen 神 ) manifestar-se, e manifestando-se
fundir-se ao TAO 道 . Porém esse estágio uma vez alcançado não é permanente, é necessário
retomá-lo diariamente com a prática, que quanto mais constante mais fácil torna-se de
alcançar esse estágio uma vez cessado. Deve-se busca-lo frequentemente pois a mente volta a
ser afligida pelas preocupações diárias, o corpo dela se desconecta e todo caminho reverso é
trilhado como demonstra Chuang-tse.

A grande sabedoria vê tudo num só./A pequena sabedoria multiplica-se entre


as muitas partes./Quando o corpo adormece, a alma envolve-se no
Uno./Quando o corpo desperta, os sentidos abertos começam a
funcionar./Ressoam a cada encontro/Com os afazeres várias da vida, as
dificuldades do coração;/Os homens estão bloqueados, perplexos, perdidos
na dúvida./Pequenos temores devoram a paz do seu coração./(...)/Ficam por
fim bloqueados, limitados,/e amordaçados... (CHUANG TZU, 2002, p.67).

376
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

A estética no Tàijí quán 太 极 拳 tradicional ocupa-se em expressar através de sua


prática a relação de harmonia com o TAO 道 e não propriamente um conjunto de movimentos
padronizados e executados segundo critérios de perfeição que não coabitam com os princípios
mais elementares das artes chinesas li 理 e wuwei 無 為 . Podemos afirmar que, para além de
seus princípios marciais e terapêuticos o conceitos estéticos da prática do Tàijí quán 太极拳
objetivam a produzir um conhecimento sobre a realidade que não se transmite por palavras,
mas por apreensão, por um tipo de entendimento que não se faz por conceitos e dentro da
mentalidade taoísta, que é a base do Tàijí quán 太极拳. O cerne, o repositório deste
conhecimento está no TAO 道 e na capacidade de nos harmonizarmos com ele, de abandonar
os limites que uma visão fragmentada baseada do eu/mundo, corpo/mente cria em inúmeras
disjunções sobre o real e nos impede de perceber a totalidade que abarca a realidade.
No âmbito do meixue 美 学 , o aprendizado (xue 学 ) que se pretende nessa busca
constante pela harmonia com o TAO 道 é imergir no centro das distinções.

O sábio, portanto, em vez de tentar provar este ou aquele ponto pela disputa
lógica, vê todas as coisas à luz da intuição direta. Não se prende aos limites
do “Eu”, pois o ponto de vista da intuição direta é tanto o “Eu” como o
“Não-Eu”. Daí notar ele que, tanto de um como de outro lado de cada
argumento, há o certo e o errado. Também vê que, no final, eles se reduzem
à mesma coisa, uma vez que estão relacionados com o pivô do Tao.
(CHUANG TZU, 2002, p.72).

Dessa maneira a estética do Tàijí quán 太 极 拳 tradicional possui por finalidade a


expressão de uma harmonia de si com o mundo através dos movimentos, a quietude (da
mente) no movimento do corpo, que ao contrário das outras expressões artísticas, poesia,
pintura e música onde o artista causa um sentimento, uma reflexão no outro, somente o
artífice (praticante) é capaz de sentir aquilo que o movimento expressa de apreender uma
totalidade que é um experiência individual e intransferível.
A prática do Tàijí quán 太极拳 tradicional pode ser, dessa maneira, enquadrada tanto
do conceito de αισθητική (aistétike) por produzir uma sensação, mesmo que em si e para si,
como no conceito de meixue 美学, pois produz-se um conhecimento, um aprendizado sobre a
natureza, o macrocosmo (TAO 道 ) e sobre si mesmo, uma vez que somos parte indissociável

377
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

do macro. Sendo assim o praticante de Tàijí quán 太 极 拳 tradicional é artífice e público de


sua própria expressão no TAO 道.

7. A Estética no Taiji Quan Moderno

Em 1º de outubro de 1949, o Partido Comunista, comandado por Mao Tsé-tung


proclamou em Pequim a República Popular da China. Logo após a vitória comunista que
colocou um fim na guerra civil, diversos setores da sociedade passaram por profundas
modificações, entre elas o wushu 武术 do qual o Tàijí quán 太极拳 faz parte.
A partir de 1951 foi promovido diversas reuniões para discutir e organizar as práticas
do novo wushu 武术, inspirados por um artigo publicado em 1917 por Mao Tsé-tung, onde se
abordava a importância dos exercícios físicos para o fortalecimento na nação. Citando os
exemplos da educação física alemã e do judô japonês, criticando a diversidade de estilos da
prática e defendendo uma simplificação dos métodos chineses desses exercícios.

...Mao também fazia referência a casos mais recentes como a educação física
alemã ou o judô japonês – pelo qual o líder comunista expressava sua
admiração -, que em sua opinião haviam contribuído bastante para o
fortalecimento de ambos os países. (...) Outra opinião sustentada por Mao
era de que existiam muitos métodos para conseguir fortalecer o corpo, porém
essa diversidade não era positiva... (ACEVEDO, 2011, p. 130).

As modificações propostas não eram simplesmente uma reformulação do wushu 武


术 , mas uma adequação do mesmo aos princípios do governo comunista, transformando uma
prática tradicional e popular em material ideológico.
A primeira modificação proposta pelo Partido Comunista Chinês (PCC) foi a
simplificação, unificação das práticas marciais e a ausência de combates bem como a criação
de uma regulamentação própria, porém ainda nesse momento a práticas tradicionais gozavam
de grande popularidade, pois o wushu 武术 moderno não encontrava espaço para se firmar na
sociedade chinesa pela ausência de um objetivo claramente definido que justifica tais
alterações.
Em 1957, o Departamento Nacional de Esportes organizou uma reunião
muito importante na qual foi definido o objeto do novo wushu. Para
diferenciá-lo da prática precisamente marcial, os objetivos do wushu
passaram a ser a educação física – isto é, sem enfrentamentos diretos na
forma de combates -, centrando-se para tanto na criação de rotinas
padronizadas. (ACEVEDO, 2011, p. 131).

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LUIS GONÇALVES MARIGUELA

Agora, o wushu 武 术 , com objetivos claramente definidos e regulamentados o PCC


passou a investir na divulgação da nova modalidade criando em 1958 os Jogos Nacionais de
Wushu para popularizar a nova prática. Todavia, o crescimento dessa modalidade oficial se
dará apenas após a Revolução Cultural, onde a prática marcial tradicional foi oficialmente
proibida e seus mestres e praticantes perseguidos e presos pelo PCC. No caso do Tàijí quán 太
极拳 tradicional não foi diferente.

Mestre Yang Zhenduo e toda sua família foram vítimas tanto na revolução
comunista como na revolução cultura. Sua família foi perseguida, torturada
e encarcerada em campos de trabalhos rurais. (SEVERINO, 2016, p. 244).

Com as práticas tradicionais lançadas à ilegalidade o PCC passou a investir


maciçamente na padronização e divulgação de sua modalidade esportiva oficial, investindo
em apresentações nacionais e internacionais, além de promover sistematicamente eventos
primeiramente dentro da China, e em seguida a nível mundial a partir dos anos noventa.

Em 1974, uma delegação de wushu visitou diversas cidades fora da China, como a
Cidade do México, Havaí, São Francisco e Nova York (...) Em contraste com a
crescente evolução do wushu, as artes marciais tradicionais não tiveram a mesma
sorte. O estouro da Revolução Cultural em 1966 colocou no alvo todos aqueles
contrários ao espírito revolucionário; os membros do partido contrários a Mao,
burgueses, pró-capitalistas, intelectuais, etc. (...) Em 3 de outubro de 1990, foi criada
em Pequim a Federação Internacional de Wushu... (ACEVEDO, 2011, p. 132).

No que tange à codificação do Tàijí quán 太极拳 moderno, seu início se dá em 1956
com a criação da Comissão Estatal de Cultura Física e Esportes, que em uma tentativa de
unificar a prática, convocou representantes dos principais estilos, no entanto apenas dois
representantes diretamente ligados as famílias tradicionais compareceram sendo eles Chen
Fake e Wu Tunan, os demais representantes foram praticantes que não pertenciam diretamente
às árvores genealógicas, mas possuíam conhecimento da prática das famílias.
Após longas discussões e longe de chegar à um acordo a Comissão relegou a tarefa
de sistematização para Li Tianji, praticante do método da família Sun. Li então criou a
primeira rotina do Tàijí quán 太极拳 moderno baseado no método da família Yang, por ser na
época o mais difundido, dos 103 movimentos da forma tradicional da família Yang, Li os
transformou em um compilado de apenas 24 movimentos e continuou criando formas
condensadas ao longo das décadas seguintes. O PCC através da Comissão Estatal de Cultura
Física e Esportes possuía uma dupla intenção na simplificação do Tàijí quán 太 极 拳
tradicional, a primeira era desenvolver uma atividade física acessível à população e ao mesmo

379
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

tempo incorporá-la às práticas competitivas nacionais.


Ao longo dos anos, agora sob tutela da Federação Internacional de Wushu, a criação
de novas formas compiladas continuou initerruptamente, assim como a modificação quase

que anual de seus movimentos, buscando sempre uma maior uniformização da prática. No
entanto os princípios utilizados para a compilação desses movimentos são em tese antípodas
dos princípios tradicionais, pois sua finalidade era para mera apresentação, destituindo da
prática do Tàijí quán 太 极 拳 o caráter meditativo e marcial, preservando apenas o
componente terapêutico característico de qualquer atividade física.
Dessa maneira as normas que regeram a codificação do método oficial do PCC para
o Tàijí quán 太 极 拳 foram pautadas pela beleza dos movimentos e seu grau de dificuldade,
característica muito similar às modalidades competitivas ocidentais como ginástica artística,
patinação, nado sincronizado entre outras modalidades esportivas.

Um aspecto importante e que vale destacar é que essas normas começaram a


dar mais importância nas pontuações àqueles movimentos com alto grau de
dificuldade (nandu), no lugar dos movimentos relacionados com aplicações
de combate. (...) há autores que utilizaram dois caracteres chineses que têm a
mesma pronúncia “wu” – porém grafia diferentes – para transformar “arte
marcial” em “arte de dança”, e desse modo criticar que o wushu moderno é
uma mera exibição cujo caráter é semelhante ao de esportes como ginástica
olímpica (...) De fato, como explica o professor Ma Mingda, na prática do
wushu moderno são avaliadas a altura (gao), a dificuldade (man), a
originalidade (xing) e a beleza (mei) dos movimentos executados, todos
elementos que se referem a um âmbito estético e não utilitário (ACEVEDO,
2011, p. 131).

No caso do Tàijí quán 太 极 拳 moderno, segundo o Regulamento de Arbitragem de


Internos – 2017 – CBKW (Confederação Brasileira de Kung Fu/Wushu) existem sete níveis
de dificuldade para os movimentos que compõe as formas, onde a pontuação decrescida do
atleta equivale a proporcionalidade do nível de dificuldade do movimento executado.
Somando-se ao nível de dificuldade dos movimentos há também a separação por categorias
iniciante, básico, avançado, compulsório e opcionais. Nessas categorias vale destacar a
categoria “opcionais” que de acordo com o Regulamento de Arbitragem de Internos – 2017 –
CBKW deve ser criado pelos competidores obedecendo algumas técnicas padrões.

Artigo 8 - Composição de Taolu Opcionais e de Grupo 8.1 Taolu Opcionais


e de Grupo são compostos pelos próprios atletas usando um número
especificado de técnicas tradicionais ou contemporâneos de taijiquan ou de
outros estilos interno, tais como tuishou, baguazhang, xingyiquan, ou outros.
8.2 Para a criação de Taolu Opcionais devem usar necessariamente técnicas

380
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

indicadas na Tabela 01, 02 e 03; para completar o taolu com continuidade e


suavidade, podem usar outras rotinas internas.” (SAKANAKA– 2017 –
CBKW, 2017, p. 5)

A liberdade de critérios na construção das formas para a categoria “opcionais” reflete


a ideia de uma prática voltada exclusivamente para apresentações que priorizam o aspecto da
beleza da coreografia apresentada, destacando-se pela intensa exploração da dificuldade dos
movimentos. Durante a execução dessas coreografias não é raro presenciar saltos
ornamentais, chutes aéreos e movimentos hiperbólicos com a finalidade de impressionar os
árbitros e espectadores.
Embora a categoria “opcionais” se aproxime mais dos modelos esportivos ocidentais,
que primam pela beleza e dificuldade da coreografia como as diversas modalidades de
ginástica (rítmica, artística, acrobática...), as demais categorias também seguem os mesmos
critérios que definem descontos na pontuação final por erros cometidos, além do tempo de
execução que varia entre 2 e 6 minutos como pode ser observado nos anexos A e B.
Em suma os critérios de arbitragem descritos no Regulamento de Arbitragem de
Internos – 2017 – CBKW determinam a maneira como se deve executar as formas e por uma
relação de causalidade determinam seus padrões estéticos sob os quais critérios os
movimentos foram pensados bem como sua finalidade. Como pode ser observado, os padrões
estéticos definidos no supracitado regulamento se equiparam às concepções ocidentais que
preveem uma padronização, com a finalidade de se obter uma pontuação em atividades de
cunho competitivo e não de auto cultivo como ocorre na prática tradicional.
É perceptível que o foco da construção estética do Tàijí quán 太 极 拳 moderno é a
mecanicidade do movimento convencionado como correto, através de princípios técnico-
científicos utilizando os conceitos desenvolvidos dentro da ciência do esporte, como é
descrito na programação do curso de instrutores de Tàijí quán 太 极 拳 da CBKW “O Curso
enfatiza aspectos de saúde e também esportivos. Utilizam-se extensamente conceitos e
explicações técnico-científicos seguindo a linha de ciência do esporte” (SAKANAKA - 2018,
p. 01). Há três pontos chaves que merecem ser levantados em relação a citação anterior para
entender a construção estética do Tàijí quán 太极拳 moderno, esses pontos são a saúde;
esportivo; ciência do esporte.
A saúde foi o principal argumento utilizado pelo PCC para a sistematização e
unificação da prática do Tàijí quán 太 极 拳 , com o objetivo de descentralizar esse
conhecimento do seio das famílias.

Portanto [Mao tsé-tung] em seu artigo publicado em 1917] propunha a


simplificação desses métodos, o que afetava diretamente os diversos estilos
de kung fu existentes na China. (...) foram simplificados a uma série de
381
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

rotinas de exercícios obrigatórios carentes de seu sentido prático original.


(...) Do mesmo modo, o regime comunista eliminou a relação tradicional que
existia entre alunos, discípulos (isto é, os alunos mais experientes e
veteranos) e o mestre em artes marciais (shifu), já que esta foi vista pelo
regime como um elemento feudal e reacionário, sendo, portanto, substituída
pela relação mais moderna de treinador-atleta (ACEVEDO, 2011, p. 130)

Dessa maneira a criação do Tàijí quán 太 极 拳 moderno surge como um veículo de


propagação ideológica do PCC além de um método de atividade física acessível à todas as
idades e camadas populares, como é descrito acerca das formas 24 e 32 de Tàijí quán 太极拳
moderno: “Estas formas foram difundidas amplamente na população – ensinadas e praticadas
nos parques de recreação, como também em todas as escolas da China.” (SAKANAKA – 2018,
p. 01).
A conversão de uma prática tradicional em esporte nos moldes ocidentais influenciou
diretamente a burocratização e regulamentação da prática buscando uma uniformização entre
os métodos de Tàijí quán 太 极 拳 , objetivando um método universal de arbitragem, visando
dessa maneira a mecânica, beleza e dificuldade do movimento. Esse interesse no esporte se
justifica pela intenção política de inserir o wushu 武 术 como um todo no rol de modalidades
olímpicas desde sua criação nos anos cinquenta, para tal a prática deveria estar alinhada aos
princípios ocidentais.
Ao seguir a linha da ciência do esporte, nota-se a preponderância da visão técnico-
científica ocidental contemporânea, demonstrado uma clara tentativa de enquadrar uma
prática tradicional, com conceitos próprios em uma visão diametralmente oposta. Essa
abordagem científica inserida na prática tradicional deve-se ao fato do próprio Mao apreciar
os métodos esportivos e a educação física ocidental bem como legitimar diante das nações
ocidentais a nova China, moderna e renovada.
Mesmo sob a égide da concepção técnico-científica a prática moderna do Tàijí quán 太
极拳 procura resguardar alguns princípios estéticos tradicionais, como os conceitos de qi 氣,

jing 精 e shen 神 , pelo menos a título de conhecimento, no entanto, na análise dos


regulamentos e do cronograma do curso de formação de instrutores a menção a esses
elementos são superficiais, ver anexos A e B, em comparação ao destaque dado aos elementos
esportivos, principalmente na grade do curso de formação de instrutores, sendo que no
Regulamento de Arbitragem de Internos tais conceitos não aparecem.

Os termos equivalentes tradicionais, como Qi, Jin, Shen são amplamente


explorados. Os dez princípios básicos de Tàijí quán 太极拳 propagados pela
escola Yang fazem parte do curso. Com respeito a aspecto esportivo do
taijiquan, os alunos aprendem as posturas e movimentos tecnicamente

382
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

corretos e os limites de divergência aceitáveis em competições. Em resumo,


aspectos de arbitragem e treinamento técnico de atletas são explorados

amplamente durante o curso (SAKANAKA, 2018, p. 02).

A análise do Regulamento de Arbitragem de Internos e a Programação do Curso de


Instrutores delineia claramente a ênfase no aspecto competitivo da estruturação das regras de
execução das formas bem como seu objetivo central, a influência do conceito de esporte e
beleza ocidental, alterou profundamente a maneira como o Tàijí quán 太极拳 moderno
alicerçou seus fundamentos conceituais, onde ângulos exatos, sequências compiladas com
objetivos plásticos e graus de dificuldade crescentes sobrepujam a prática do auto cultivo e
marcialidade.
De acordo com os pressupostos explanados anteriormente podemos considerar que a
expressão estética no Tàijí quán 太极拳 moderno é aquela que obedece aos critérios de
Execução/Qualidade; Performance Geral e Graus de Dificuldade de acordo com o artigo 5º do
Regulamento de Arbitragem de Internos, onde cada um desses itens são compostos por
inúmeros detalhes que decrescem conforme o praticante for “errando” durante sua execução.
Dessa maneira, a expressão estética se dá pela conformidade da coreografia executada com as
regras estabelecidas e padronizadas, onde o belo aqui é a conformidade entre a ideia (regras) e
objeto (coreografia), seguindo uma estética normativa-platônica, influenciado pelo
classicismo e por conseguinte produto do naturalismo grego que exerceu papel conceitual
forte dentro da mentalidade esportiva ocidental, por sua vez adotada pelo PCC na construção
do wushu 武术 moderno.

Segundo o pensamento platônico, somos obrigados a admitir a existência do


“belo em si” independentemente das obras individuais que, na medida do
possível, devem aproximar-se desse ideal universal. O classicismo vi ainda
mais longe, pois deduz regras para o fazer artístico com base no belo ideal,
fundando a estética normativa. É o objeto que passa a ter qualidades que o
tornam mais ou menos agradável, independentemente do sujeito que as
percebe (ARANHA, 2016, p. 350)

Fica evidente na construção dos princípios do Tàijí quán 太 极 拳 moderno como um


todo a presença dos elementos estéticos ocidentais, onde o mesmo é resultado da fusão de
movimentos inspirados nas práticas tradicionais, porém revestidos com conceitos ocidentais
de correspondência entre o universal/ideal (regras de uma execução coreográfica perfeita) e o
real (a execução), quanto mais próximo a execução da forma se aproxima da ideia de
perfeição convencionado pela norma, maior seu valor estético, enquanto a prática tradicional

383
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

constitui-se em uma estética de si para si, a moderna se apresenta com uma estética de
adequação à ideia de perfeição onde o sujeito (praticante) é veículo para a expressão e não seu
artífice, pois apenas segue um padrão, uma norma exterior ao seu li 理.

Comparações estéticas

A prática do Tàijí quán 太 极 拳 tradicional é formada por três características


indissociáveis, a marcialidade; a terapia e o auto cultivo que são estruturadas sobre os
princípios de li 理 , wuwei 無 為 , shen 神 e TAO 道 . Essas três características são
interdependentes dentro da prática tradicional, não se alcança um resultado integral quando
elas são dissociadas, pois segundo Wong Kiew Kit:

Se você pratica Tai Chi Chuan como uma forma de exercícios suaves, como
muitos fazem, os benefícios alcançados serão mínimos, menores talvez do
que aqueles que você poderia alcançar como ginástica calistênica, ginástica
aeróbica ou natação (KIT, 2006, p.30).

O aprendizado e expressão de uma estética de si, se perdem quando se pratica o Tàijí


quán 太 极 拳 objetivando apenas umas de suas características. Ao reduzir sua prática para a
finalidade marcial ele se converte em simples sistema de combate que não o particulariza em
relação a nenhuma outra arte marcial. Se utilizado apenas para a saúde seus efeitos não são
diferentes de qualquer outro exercício funcional de baixo impacto e ao fim o terceiro
componente (auto cultivo) se perde, pois ele é o resultado da prática concomitante das outras
duas características quando guiado pelos conceitos de li 理, wuwei 無為, shen 神 e TAO 道.
No Tàijí quán 太极拳 moderno, fica claro a supressão dos elementos marciais e por
conseguinte o auto cultivo, assim como os conceitos de li 理, wuwei 無為, shen 神 e TAO 道,
na sua constituição pelo PCC através da Comissão Estatal de Cultura Física e Esportes, já
estava implícito seu uso exclusivo para a promoção da saúde e esporte.

Esse conselho foi estabelecido pelo governo chinês para atender a duas
necessidades prementes: usar o Tai Chi Chuan como um método
conveniente e barato de solucionar os problemas de saúde do país; encontrar
uma série comum com a qual os praticantes dos diferentes estilos de Tai Chi
Chuan pudessem concorrer nas competições de artes marciais recentemente
popularizadas (KIT, 2006, p.86).

384
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

O Tàijí quán 太 极 拳 tradicional foi convertido pelo PCC, em uma atividade física
não muito diferente das ginásticas laborais que encontramos nos dias de hoje. Em sua função
esportiva o caráter de promoção da saúde se perde devido ao aumento dos níveis de
dificuldades conforme o praticante avança nas competições, pois a cada novo nível é exigido
movimentos mais complexos que muitas vezes contrariam os princípios biomecânicos para a
preservação da saúde das articulações como saltos ornamentais e movimentos acrobáticos
característicos das modalidades de ginásticas performáticas.
Além da conversão de uma prática marcial em ginástica laboral e performática o
Tàijí quán 太 极 拳 moderno, em seu aspecto competitivo acaba se enquadrando nos padrões
do consumo ocidentais, pois a cada nível diferente que o atleta deseja competir o mesmo deve
pagar para aprender as formas em cursos, porém tais formas sofrem alterações constantes que
precisam ser atualizadas pelos atletas até o próximo circuito de competições.
O Tàijí quán 太极拳 moderno cria uma roda viva de desejo e insatisfação, pois para
o atleta vencer é necessário consumir as atualizações de movimentos e para avançar nas
categorias mais prestigiosas é preciso comprar as formas “coreografias” que são criadas ou
reformuladas constantemente, onde uma forma do ano anterior já não possui mais serventia.
Dessa maneira, a prática do taolu 套 路 que a princípio é um exercício que preconiza uma
série de repetições como prática meditativa e de interiorização dos movimentos através do
entendimento do li 理 e busca por atingir o wuwei 無 為 perde sua finalidade
meditativa/terapêutica, se tornando um conjunto de movimentos cuja existência possui um
prazo de validade. De acordo com o Regulamento de Arbitragem de Interno, no 1º Capítulo é
possível contar mais de dez formas diferentes.

1.1 Taolu Opcionais e 3º Set Individuais Taijiquan e Taijijian: opcionais


(taolu criado pelo atleta), 3º Set (compulsório) 1.2 Taolu Contemporâneos
Individuais Iniciantes Taijiquan Forma-8, Forma-16; Taijijian Forma-16;
Básicos Taijiquan Simplificado Forma-24; Taijijian Simplificado Forma-
32; Avançados Taijiquan Compulsório (Standard) Estilos Yang, Estilo
Chen; Taijiquan Compulsório Combinado Forma-42, Chen-36, Yang-40,
Chen-56, Sum-73, Wú-45, Wǔ-46; Taijijian Compulsório (Standard) Estilo
Yang, Estilo Chen; Taijijian Compulsório Combinado Forma-42, Chen-56.
(SAKANAKA – 2017 – CBKW, 2017, p. 03)

Nas escolas tradicionais de Tàijí quán 太极拳, cada escola/família pratica apenas um
taolu 套路 de mãos livres, pois o sentido estético que se confere à prática da rotina é diferente
do que se confere no Tàijí quán 太极拳 moderno, onde o taolu 套路 é um produto com prazo
determinado para um circuito de competições. Já nas escolas tradicionais o taolu 套 路 é a

385
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

base do processo de aprendizagem sobre si mesmo e veículo para a prática do wuwei 無 為 ,


sendo assim, não existe a necessidade de uma variedade de formas, pois independente da
sequência ou de seus padrões de movimentos o objetivo das formas é em suma o auto cultivo.

Quando alguém diz que pratica Tai Chi Chuan, o que está querendo dizer,
em geral, é que sabe como executar uma ou mais séries de Tai Chi Chuan, e
não sua totalidade. Do ponto de vista da saúde e da vida cotidiana,
desenvolver movimentos elegantes, o fluxo de energia e a consciência é mais
importante do que apenas executar séries de Tai Chi (KIT, 2006, p.
85).Sobre a prática das formas no Tàijí quán 太 极 拳 tradicional, Despeux

salienta a importância das repetições para o auto cultivo e o método de


ensino que não segue um padrão universal de adequação da ideia ao objeto
como foi demonstrado em sua prática moderna, mas um processo de
lapidação do mestre, que ajuda o discipulo a se perceber, a compreender seu
li 理 . Por esse motivo, não há uma diversidade de formas, já que mudar os

padrões torna esse processo mais difícil tanto para a compreensão do li 理


quanto para a prática do wuwei 無 為 . Por uma relação de causal isso afeta o
trabalho sobre todos os outros elementos que dependem destes, como
manifestar o shen 神 e integrar-se ao TAO 道.
Denominado zoujia, o encadeamento é um exercício destinado a aprimorar
“o autoconhecimento”, diz Li Yixu. O principiante aplica-se, portanto,
intensa e regularmente, uma ou várias vezes por dia, à prática do
encadeamento e de diversos exercícios complementares, em que se dá
destaque, primeiro, à execução da forma exterior do movimento. (...) Ora, a
repetição de um movimento milhares de vezes ajuda o executante a tomar
consciência dos menores movimentos de seu corpo (...) Na prática, o aluno,
portanto, repetirá, com variações centimétricas, os mesmos movimentos
durantes meses e meses. (...) cada mestre dará um tema particular em função
da personalidade do aluno, de seus defeitos e qualidades, dos aspectos que
ele precisa trabalhar mais, e em função da própria experiência e da riqueza
de sua imaginação na criação de meios pedagógicos. (...) Ora, um trabalho
dessa natureza seria bem mais árduo se o executante devesse fazer, a cada
vez, um movimento diferente e tivesse a atenção presa à execução exterior
do movimento. (...) Assim o encadeamento não é mais que o suporte de um
trabalho de profundidade sobre o corpo e o espírito” (DESPEUX, 1981, p.
121).

A variedade de formas e suas constantes “atualizações” presentes no Tàijí quán 太极


拳 moderno, de acordo com os argumentos de Wong Kiew Kit e Despeux, contrariam a
aplicação dos conceitos li 理, wuwei 無為, shen 神 e TAO 道.

386
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

As formas de fato no Tàijí quán 太极拳 moderno tornam-se produtos a serem


comercializados em cursos de formação e atualização, cuja a única finalidade é a performance
coreográfica, uma vez que, embora sejam inspirados em movimentos das formas tradicionais
das famílias e em alguns pontos possuam semelhanças, elas contemplam o que Despeux
denomina como forma exterior. Ou seja, é a reprodução mecânica de um encadeamento
norteado por princípios cinesiológicos. Dessa forma o praticante não aprofunda seu
autodesenvolvimento, apenas paira no estágio mais elementar da expressão estética de acordo
com os pressupostos chineses tradicionais.
Ainda sobre a uniformização dos movimentos característicos do Tàijí quán 太 极 拳
moderno (ver anexo I), essas características impostas pela necessidade de critérios únicos de
arbitragem é o ponto de maior distanciamento dos princípios que compõe o meixue 美学,
pois suprime li 理 e, por conseguinte todo o processo da expressão estética de si.
Na literatura tradicional podemos encontrar uma certa despreocupação com a
metodologia e universalização dos movimentos como descreve Wu Yu Xiang7 em seu poema
“A canção dos Segredos para o Treinamento das Treze Técnicas”. “...Deixe que os
movimentos sejam espontâneos./Para entrar no caminho é necessária a orientação de um
mestre./Se ele for perfeito, não será restringido por regras./...” (KIT, 2006, p. 48).
A espontaneidade wuwei 無 為 é expressão do li 理 do praticante, que uma vez
absorvido e praticado o método transmitido pelo mestre, o método desaparece conforme a
espontaneidade aparece e as regras impostas exteriormente não são necessárias e a forma ou
encadeamento tornam-se únicos, particularizados, porém o que se vê no Tàijí quán 太 极 拳
moderno é a forma como uma expressão do movimento ideal, é a adequação do praticante às
regras e normas de execução que não são necessariamente conceitos biomecânicos e sim
performáticos, suprimindo a expressão de um movimento interior, “Seja o Taiji quan
considerado arte marcial, técnica de longevidade ou encaminhamento espiritual, podemos
aplicar-lhe a frase seguinte sobre o bugang8, segundo o qual todo movimento do corpo é
expressão de um movimento interior...” (DESPEUX, 1981, p. 265).
Ao comparar as concepções estéticas entre o moderno e o tradicional é nítida a
influência ocidental sobre toda a construção do Tàijí quán 太 极 拳 moderno e seu
distanciamento dos padrões estéticos presentes nas artes chinesas em geral, conferindo-lhe
dessa maneira um arcabouço estético alinhado com os padrões esportivos ocidentais,
adaptando uma prática de auto cultivo ao consumo e a competição.
Dos três níveis de desenvolvimento preconizados pelo Tàijí quán 太 极 拳 e outras
modalidades de wushu 武术 tradicional, o Tàijí quán 太极拳 moderno, enquadra-se apenas o
primeiro nível quando este é praticado como exercício laboral e não para competições. A
saber os três níveis são: 1- Manutenção da saúde; 2- Cultivo do qi 氣 e 3- Meditação.

387
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

No primeiro, os praticantes podem executar graciosamente uma série de Tai


Chi; assim obtém-se boa saúde. No nível intermediário, desenvolve-se a
força interior e pode-se aplicar impecavelmente os movimentos do Tai Chi
Chuan para lutar; eles proporcionam eficiência no combate. No nível mais
elevado, os mestres estão no caminho da imortalidade 9, eles alcançam a
plenitude espiritual (...) No primeiro nível, a ênfase do treinamento está no
jing, ou forma; no segundo está no chi, ou energia; no nível mais elevado,
está no shen, ou mente. (KIT, 2006, p. 306).

7
Wu Yuxiang (1812–1880), foi um proeminente mestre de Tàijí quán, criador da escola Wu Hao, foi aluno
de Yang Luchan (1799–1872) e Chen Qingping (1795–1868), publicou um livro denominado por
“Elucidação Mental Sobre As Treze Posturas do Tàijí quán que se converteu em um dos livros clássicos
dessa arte.
8
O bugang é um ritual de origem taoísta em forma de dança que reproduz a ordem cósmica do universo.

388
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

A busca pela uniformidade exterior do movimento no Tàijí quán 太 极 拳 moderno


como uma adequação aos padrões competitivos transforma sua prática e sua expressão
estética em uma adequação à um modelo pré-estabelecido, em comparação com a dinâmica
tradicional que coloca a uniformidade dos movimentos como característica secundária devido
a base da pedagogia asiática que parte da compreensão pela repetição “...pois a uniformidade,
segundo os mestres, é apenas aparente e se deve à precariedade de nossas percepções e
sensações” (DESPEUX, 1981, p. 124).
A prática do Tàijí quán 太 极 拳 moderno é determinada pela aproximação de graus
de perfeição, onde o atleta que executa uma forma mais próxima do que foi convencionado
como perfeita recebe uma maior pontuação. Os graus de perfeição são determinados por
conceitos plásticos, mesmo que haja uma preocupação biomecânica e de adequação dos
movimentos às características naturais do corpo humano, isso se perde nas categorias mais
avançadas onde existem saltos acrobáticos, chutes aéreos e desenvolvimento de formas
aleatórias cujo o objetivo é impressionar os árbitros pelo grau de dificuldade da execução.
Temos no moderno, uma expressão estética da beleza do movimento e das posturas
que representam um ideal ao qual o praticante deve adaptar-se. A lógica universalista que foi
empregada no Tàijí quán 太 极 拳 moderno é um empréstimo da mesma utilizada no ballet,
nas ginásticas artísticas, nado sincronizado e outras modalidades esportivas ou performáticas
ocidentais.
Dessa maneira, a dicotomia que separa o moderno e o tradicional não se aplica em
primeira instância às diferenças de posturas ou encadeamentos, mas na intenção que essas
posturas e encadeamentos são desenvolvidos. Enquanto o moderno se preocupa na
uniformização para fins esportivos e uma consequente adequação os modelos esportivos
ocidentais e por decorrência uma adequação à estética ocidental, o tradicional ocupa-se com
os processos meditativos, terapêuticos e marciais que não necessitam de uma padronização,
pois o que importa são os efeitos psicossomáticos alcançados com os movimentos e não os
movimentos em si. Isso não significa que não exista um método no tradicional, porém esse
método não é universalista, é apenas um caminho introdutório que se apaga conforme o li 理
do praticante é lapidado já no moderno o li 理 é retalhado, quem possui li 理 um que se
adequada as regras universais o lapida, não possui se adequa como uma cama de Procusto10.

10
Procusto, personagem da mitologia grega em Elêusis, possuía em sua casa, uma cama que tinha seu
tamanho. Procusto convidava todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem maiores que a cama,
ele cortava excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que eram menores que sua estatura eram

389
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Conclusão

Embora o conceito de estética αισθητική (aistétike) seja puramente ocidental em sua


essência e não haja na filosofia chinesa um correspondente exato, podemos traçar uma
aproximação com o conceito de meixue 美 学 , uma vez que a atividade fundamental entre
estética e meixue 美 学 são correlatas, ou seja, o aprender, o conhecer algo por meio da
sensibilidade. Segundo os conceitos de Baumgarten, fundador da estética moderna “... a
estética para ele completa a lógica e deve dirigir a faculdade do conhecer pela sensibilidade.”
(ARANHA, 2009, p. 402). A palavra meixue 美 学 , já denota a intenção do aprender, pois é
composto pelo radical mei 美 (belo) e xue 学 (estudo, aprendizagem), embora os dois
termos sejam correlatos em suas funções eles se distanciam nas concepções de como esse
aprendizado ocorre e na própria definição de belo.
Quando analisamos as definições de belo no decorrer da filosofia ocidental notamos
um percurso que se inicia com o idealismo platônico, que prega “...a existência do belo em si
independente das obras individuais que, na medida do possível, devem se aproximar desse
ideal universal” (ARANHA, 2009, p. 402), para um relativismo fenomenológico que possui
origem no pensamento hegeliano, ou seja, atualmente o pensamento estético ocidental não se
pauta pelo universalismo do valor estético.

Hegel, em seguida, introduz o conceito de história ao estudo do belo, e, a


partir do século XIX, a beleza muda de face e de aspecto através dos tempos.
(...) O objeto é belo por que realiza sua finalidade, é autêntico,
verdadeiramente segundo seu modo de ser, isto é, por ser um objeto singular,
sensível, carrega um significado que só pode ser percebido na experiência
estética. Não existe mais a ideia de um único valor estético baseado no qual
julgamos todas as obras (ARANHA, 2009, p. 403).

A concepção estética ocidental foi construída por um processo histórico pautado na


construção e desconstrução de conceitos, enquanto a chinesa se firmou de uma maneira linear
nos fundamentos do taoísmo e budismo, onde o meixue 美 学 se liga com práticas de auto
cultivo.
Em períodos posteriores, após o budismo ter assumido uma forte influência
na sociedade chinesa, particularmente sobre a classe de eruditos-literatos na
escola budista Chan 禪 (Zen-) de inspiração taoísta, os conceitos budistas
tornaram-se importantes pontos de referência em estética11 (POHL, 1980, p.
4).

esticados até atingirem seu tamanho exato. Nos dois casos os viajantes morriam, esse mito foi utilizado para
criticar a imposição de padrões a aspectos subjetivos.
11
In later periods, after Buddhism had taken a strong hold in Chinese society, particularly for the scholar-
literati class in the Daoist inspired Chan 禪 (Zen-) Buddhist school, Buddhist concepts became major
390 reference points in aesthetics. (Tradução Livre)
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

Independente da forma de expressão artística, o meixue 美 学 engloba uma série de


conceitos comuns à todas as formas de expressão, diferente da lógica ocidental
contemporânea onde “Cada objeto singular estabeleceu seu próprio tipo de beleza.”
(ARANHA, 2009, p. 403). A estética chinesa se preocupa em expressar aquilo que não é
visível aos olhos, ou seja, não se ocupa em uma representação da realidade, e sim uma
expressão do li 理 do artista, algo que está além da forma representada, que está contido nela,
uma relação harmônica entre o artista, a obra e o TAO 道 . Vemos os mesmos princípios
aplicados à poesia e pintura tradicional chinesa no Tàijí quán 太极拳 tradicional.

...poesia deveria transmitir “imagens além das imagens” e “cenas além


cenas. Em termos de fundo filosófico, temos aqui novamente raízes taoístas,
a noção de que as palavras não podem transmitir completamente ideias,
muito menos transmitir a verdade suprema ou o Dao 道 . (...) Também a
pintura, que visava uma representação da "realidade interior" (zhen 真) além
de “forma” (xing 形 ), deveria possuir esse caráter sugestivo, alusivo(...)
levando a bem conhecida característica da pintura chinesa, onde o espaço
vazio ( xu 虛) é mais importante, do que a substância pintada (shi 實).
(POHL, 1980, p. 07)

A busca pela manifestação da realidade interior no Tàijí quán 太极拳 tradicional é


nada mais do que o caminho pela manifestação do shen 神 , onde o praticante na execução da
forma, busca seguir o li 理 (sua natureza) para praticar o wuwei 無 為 (espontaneidade) e
manifestar o shen 神 (espírito) através do refinamento do jing 精 em qi 氣 e qi 氣 em shen 神
. Em suma, todas as manifestações artísticas chinesas são um trabalho sobre o qi 氣 em suas
diferentes manifestações. O qi 氣 é a força motriz sobre qual o artista age, porém não
simplesmente para representar o objeto, mas para compreendê-lo além do que ele se
apresenta, ou seja, é a busca da unidade Tàijí 太极, primeiro consigo mesmo (corpo e mente)
e depois com a realidade exterior (TAO 道).

No pensamento chinês, temos o noção de “força vital” (qi 氣 ) que serve


como a principal categoria para discutir o poder criativo de um poeta ou
artista. (...) Um segundo requisito importante é a capacidade imaginativa do
artista. (...) chamado de "pensamento espiritual" (shen si 神思), é uma fusão
da mente do artista com o mundo exterior. Existe uma imagem bem
conhecida usada por Su Shi descrevendo esta faculdade mais
impressionantemente na capacidade de seu amigo, o pintor de bambu Wen
Tong 同 同 , de ter o “bambu completo em sua mente” antes de pintar, ou
melhor, tornar-se bambu ao pintar bambu12. (POHL, 1980, p. 08)
391
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

12
In Chinese thought, we have the notion of “vital force” (qi 氣) which serves as the main category with
which to discuss the creative power of a poet or artist. (…) A second important requirement is the artist’s
imaginative capacity. (…) alled “spiritual thinking” (shen si 神思) , was thought of bringing about a fusion
of the artist’s mind with the outside world . There is a well known image used by Su Shi describing this
392 faculty most impressively in the capacity of his friend, the bamboo painter Wen Tong 文 同, of having the
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

Dessa maneira a expressão estética Tàijí quán 太 极 拳 tradicional não se limita à


expressão da forma13 xing 形 correta, perfeita, pois isso é secundário em relação à
manifestação do shen 神 e do shi 實 do praticante e sua harmonia com o TAO 道 . Em
contrapartida o Tàijí quán 太极拳 moderno, ocupa-se primordialmente com a forma xing 形
exterior e não com a manifestação interior do li 理 e shen 神.
A primazia dada pelo moderno ao xing 形 se deve aos fatores históricos quem
envolveram sua criação pelo PCC (Partido Comunista Chinês), que buscava uma prática
terapêutica acessível para a população e ao mesmo tempo que pudesse ser convertida em
prática esportiva.
Dessa maneira o processo de ensino/aprendizagem deveria ser rápido para que essa
modalidade pudesse ser massificada, em contrapartida muitos aspectos que compunham o
cerne do Tàijí quán 太极拳 tradicional foram suprimidos, como as práticas de refinamento do
qi 氣 , técnicas meditavas, marcialidade e ensinamentos filosóficos que deveriam ser
compreendidos na prática, uma vez que esse processo de ensino/aprendizagem é muito
demorado ele tornou-se inadequado às novas diretrizes impostas pelo PCC às práticas
marciais.
Outro fator determinante para a concepção estética do Tàijí quán 太 极 拳 moderno
foi a necessidade de uniformizar os movimentos que até então não seguiam um padrão
universal para transformar a modalidade em prática esportiva profissional. Ao transformar
uma prática de auto cultivo em uma categoria esportiva a preocupação com xing 形 torna-se
central, uma vez que, não é possível medir a qualidade de algo intrínseco ao atleta (li 理 e
shen 神), só se mede o que se vê “xing 形”, assim é preciso convencionar um ideal/universal
de perfeição e o valores de proximidade a este valor e transformá-lo em notas que atribuem o
valor estético da execução.
A concepção estética empregada no Tàijí quán 太极拳 moderno é fortemente
influenciada pela estética normativa, que por sua vez se origina no classicismo inspirado pelos
ideais estéticos platônicos. “O classicismo (...) deduz regras para o fazer artístico a partir do
belo ideal, fundando a estética normativa. É o objeto que passa a ter qualidades que o tornam
mais ou menos agradável, independente do sujeito que as percebe.” (ARANHA, 2009, p.
402). O Tàijí quán 太极拳 moderno, embora tenha sido desenvolvido na China, seu resultado

“complete bamboo in his mind” before painting (xiong Zhong cheng zhu 胸中成竹), or rather of actually
becoming bamboo when painting bamboo. (Tradução livre).

393
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

é o produto da influência ocidental na cultura chinesa, pois o próprio conceito de esporte é


ocidental. Dessa maneira a expressão estética passa a ser a adequação do movimento real ao
movimento ideal, o praticante é mimético, imita o ideal em detrimento do real e não produz
um saber sobre a natureza, nem sobre si, tal concepção já fora criticada pelo filósofo taoísta
Liezi no século III a.C. em seu conto “Uma folha em três anos” abordado no primeiro capítulo
deste trabalho.
A adequação do Tàijí quán 太 极 拳 moderno às concepções ocidentais faz com que
os conceitos de li 理 , wuwei 無 為 , shen 神 e TAO 道 se percam em detrimento de uma
reprodução mecânica de movimentos performáticos ou laborais. Embora os movimentos
executados não tenham grandes diferenças entre o moderno e o tradicional, a separação entre
as duas modalidades ocorre no âmbito teórico, pois o que traça o limite entre as duas é a
intenção da prática, que exerce grande influência em como a transmissão dessas modalidades
são organizadas.
Em se tratando de organização das modalidades é possível identificar a fronteira
entre o tradicional e o moderno na organização dos cursos de instrutores das duas
modalidades. Ao analisar o curso de formação de instrutores da Sociedade Brasileira de Tai
Chi Chuan (SBTCC)14, seu conteúdo programático aborda em caráter teórico conteúdos
relativos à tradição filosófica chinesa que se alinham com os conceitos estéticos do meixue 美
学 , como o taoísmo, budismo, os cinco elementos, jing 精 , qi 氣 e shen 神 . No âmbito
prático além da transmissão da forma longa tradicional é abordado o trabalho sobre a energia
qigong 氣功, tuishou 推手, fājìn 發勁 e técnicas meditativas (ver anexo C).
Em comparação com o conteúdo do curso de formação tradicional, o curso oferecido
pela Confederação Brasileira de Kung Fu/Wsuhu CBKW de Tàijí quán 太极拳 demonstra um
caráter mais mecânico, voltado para a transmissão de formas e ausência quase que completa
de conteúdo teórico, pelo menos, de acordo com o conteúdo e grade programática. No entanto
existem, ao menos algumas menções aos conceitos mais elementares do conteúdo tradicional,
porém o foco esportivo é hegemônico na organização do curso, visto que são ensinadas cinco
formas utilizadas em competições, enquanto no tradicional é ensinada apenas uma (ver anexo
B).

14
A SBTCC é pioneira no ensino do Tàijí quán tradicional na América Latina e representantes da Família
Yang de Tàijí quán, uma das mais antigas famílias de Tàijí quán que se dedica à modalidade desde o século
XIX.

394
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

Os termos equivalentes tradicionais, como Qi, Jin, Shen são amplamente


explorados. Os dez princípios básicos de taijiquan propagados pela escola
Yang fazem parte do curso. Com respeito a aspecto esportivo do taijiquan,
os alunos aprendem as posturas e movimentos tecnicamente corretos e os
limites de divergência aceitáveis em competições. Em resumo, aspectos de
arbitragem e treinamento técnico de atletas são explorados amplamente
durante o curso (SAKANAKA - 2018, p. 01).

No entanto os dois cursos de formação se assemelham em estrutura organizacional,


sendo semipresenciais e de curta duração, nesse sentido é possível afirmar que o Tàijí quán 太
极 拳 tradicional se enquadrou nos modelos ocidentais assim como o Tàijí quán 太 极 拳
moderno. Seja por uma necessidade de adequação para sua perpetuação ou seja por fatores
econômicos, as duas modalidades utilizam as mesmas estratégias de difusão como venda de
cursos, formas diversificadas, produção de instrutores de maneira rápida e adequação de seus
métodos ao mercado consumidor ocidental, com a diferença que durante a formação de
instrutores da modalidade tradicional os conceitos estéticos são apresentados, porém nos resta
saber se os praticantes “tradicionais” guiam suas práticas em consonância com esses
princípios ou usam da prática tradicional apenas como uma reprodução exterior xing 形 . Pois
a diferença entre a prática moderna e tradicional, não são os movimentos, como já foi
abordado, e sim a intenção.
Portanto, o estudo dos princípios estéticos tanto no Tàijí quán 太 极 拳 tradicional e
moderno são fundamentais para o enriquecimento prático e tomada de consciência de seus
praticantes sobre a função da modalidade que praticam, uma vez que há poucas publicações
sobre esse tema o esclarecimento desses princípios, suas diferenças e aplicações são fontes de
enriquecimento para as duas modalidades, visto a falta de literatura específica sobre o tema
em língua portuguesa.
Abordar os padrões estéticos orientais tradicionais são fundamentais para uma
reflexão da prática por adeptos das duas modalidades, sendo estudos mais profundos e
específicos necessários para uma melhor fundamentação e difusão desse tipo de
conhecimento, principalmente durante os cursos de formação de instrutores e professores,
visto que, independente da modalidade (tradicional ou moderno) essa prática está difusa a
nível mundial e congrega um grande número de praticantes que por desconhecerem suas
raízes teórico-culrais não potencializam sua prática com tudo que o Tàijí quán 太极拳 poderia
lhes oferecer.

395
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Referências

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1997)
CAPPARELLI, Sérgio, 50 Fábulas da China Fabulosa/ Sérgio Capparelli e Márcia Schmaltz. –
3º ed. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2009.
CHUANG TZU, A via de Chuang Tzu, traduzido por Thomas Merton, 10º.

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SAKANAKA, Regulamento de Arbitragem de Internos -2017/ Paulo Hiroshi Sakanaka/Vilma
Mayumi Kurihara/Tania Emi Sakanaka, CBKW: Campinas, São Paulo, 2017.
SAKANAKA, Programação Completo do Curso de Instrutores Nivel I de Taijiquan- 2017/
Paulo Hiroshi Sakanaka/Vilma Mayumi Kurihara/Tania Emi Sakanaka, CBKW: Campinas, São
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SEVERINO, Roque Enrique, O Universo do Tai Chi Chuan, 2016.
SHAHAR, Meir O mosteiro de Shaolin: história, religião e as artes marciais
chinesas\tradução: Rodrigo Wolff Apolloni e Rodrigo Borges de Faveri. – São Paulo:
Perspectiva, 2011.
POHL, Karl-Heinz “Chinese and Western Aesthetics – Some Comparative Considerations”,
Trier University, German, 1980.
WAHOO Art Disponível em http://pt.wahooart.com/A55A04/w.nsf/O/BRUE-8LT57K. Acesso
em 05/05/2016.

396
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

夫. Fu. Homem experiente, velho


Glossário
ancião. Os dois traços horizontais
武. Wǔ. Marcial, relativo à guerra ou representam as presilhas de cabelo
parar a violência, uma vez que sua usadas por homens considerados sábios
representação é um machado sendo e experientes.
parado por uma lança. . Shù. Técnica, arte ou método.


推. Tuī. Empurrar, dispersar.
拳. Quán “kuen ou chwan”. Punhos,
道. Dào (TAO). Estrada, via, método,
relativo à luta.
caminho, porém não se refere à estrada
美. Mei. Belo, relativo à beleza
ou via de maneira concreta e sim como
sensorial.
uma maneira de ser. Também é na
concepção taoísta a vacuidade e o 学. Xue. Estudo, aprendizagem.

macrocosmo que tudo abarca. 理. Li. Representação das ranhuras de


氣. Qì. Representa o vapor do arroz um jade em estado bruto, representa as
cozido. È entendido como energia que características naturais que
constitui todas as coisas existentes e se individualizam um ser.
manifesta de múltiplas maneiras das 無.Wu. Vazio, negativo, pré-fixo de
mais tangíveis (matéria) para mais negação ou ausência.
intangíveis (pensamento). 為.Wei. Ação, atividade.
太极. Tài. Supremo, último, sumo. 神.Shen. Divindade, relativo à
极. jí. Unidade, uno. manifestações espirituais, divinas.
陰“阴”. Yīn. Princípio feminino ou 精.Jing. Refinado, essencial, original.
negativo da natureza, sua representação 对手. Duìshǒu “toishao”. Luta
tradicional é uma montanha sob um combinada
sobra o luar. 心. Xīn. Coração, relativo à sentimentos
陽“阳”. Yáng. Princípio masculino ou
e suas expressões.
positivo da natureza. Sua representação 声. Shēng. Ruído, manifestação sonora, declamação.
tradicional é uma montanha iluminada
形.Xing.Forma, arquétipo, forma
pelo sol.
material.
功. Gōng. Habilidade, destreza,
實.Shi. Real, verdadeiro, autêntico em
engenho, esforço desprendido. Esse
sentido fenomenológico.
ideograma é representado pela imagem
de um homem empurrando um arado.

397
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Anexos

Anexo A – Regulamento de Arbitragem de Internos – 2017 – CBKW.

As

Disponível: http://www.cbkw.org.br/novo/wp-content/uploads/2018/01/Regulamento-
de-Arbitragem-de-Internos-2017.pdf Acessado em 11/07/2018.

398
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

.
ANEXO B – Programação Completa do Curso de Instrutores Nível I Taiji Quan 2018.

399
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Disponível:http://www.cbkw.org.br/novo/wp-content/uploads/2018/01/Curso-de-
Intrutores-N%C3%ADvel-1-Unicamp-e-Nordeste.pdf
Anexo III - Formação em Tai Chi Chuan da Família Yang - Habilitação na Forma
Longa 103.

Disponível: http://www.sbtcc.org.br/cursos/formacao-em-tai-chi-chuan-da-familia-

400
LUIS GONÇALVES MARIGUELA

yang-habilitacao-na-forma-longa-103-sistema-mensal. Acesso em 11/07/2018.


Anexo C – Estilo Chen e Yang lado a lado. “Chen Style Taiji & Yang Style Taiji (Tai
Chi) Side by Side.”. O vídeo que pode ser encontrado no link abaixo é uma análise
comparativa entre as execuções de Chen Zhenglei e Yang Jun, ambos proeminentes
mestres as escolas tradicionais que levam os nomes de suas famílias. A formas executa
é conhecida como forma tradicional ou cento e três movimentos, as imagens abaixo
servem para ilustrar a diversidade de expressões para o mesmo movimento dentro da
prática tradicional, fenômeno que não ocorre no moderno. (Coluna esquerda Chen e
direita Yang)
https://www.youtube.com/watch?v=-HRaAIdkqiY acessado em 11/07/2018.

- dan bian - Chicote simples.



- jin bu ban lan chui - Avançar o passo, bloquear e socar.






白 - bai he liang chi - Garça branca estende as asas.




401
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

13. O YOGA e o TAI CHI CHUAN


como práticas de saúde

Maria Regina Reis Pacheco

402
MARIA REGINA REIS PACHECO

Resumo

Tai Chi Chuan e Yoga são práticas corporais clássicas que combinam exercícios físicos
com trabalho respiratório, concentração e meditação. Atividades físicas estão assumindo um
papel importante para a manutenção e recuperação da saúde. Incentivos à conscientização da
população ao hábito de se exercitar são oferecidos em alguns setores como as Práticas
Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde. O objetivo deste trabalho é
pesquisar sobre a origem destas duas atividades orientais no contexto histórico cultural da
China e da Índia e registrar a importância das mesmas para estas civilizações, apresentando
considerações sobre a área da saúde e acreditar que sejam práticas valiosas como meio de
conscientização da saúde do corpo e do autoconhecimento físico, mental e espiritual.

Palavras chave: tai chi chuan; yoga; práticas de saúde.

Abstract

Tai Chi Chuan and Yoga are classic oriental practices that combine physical exercises,
breathing, concentration and meditation. Physical activities are assuming an important role for
the maintenance and recovery of health. Complementary and Integrative Practices in Unified
Health System are services offered to make people aware of physical exercise. This study
intends to investigate the cultural historic context of these two practices in China and India.
Research the importance of these activities for these civilizations and presenting
considerations on the health area. These practices are valuable for the body’s health and
physical, mental and spiritual self-awareness.

Keywords: tai chi chuan; yoga; health practice.

403
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

INTRODUÇÃO

Bem estar, seja físico, mental e/ou social é condição desejada pela maioria dos seres
humanos. Vários fatores da vida diária afastam-nos deste ideal como o estresse, a alimentação
inadequada, o consumo excessivo de álcool, o uso do fumo, o sedentarismo, além de fatores
ambientais como a poluição e mudanças climáticas, entre outras. São fatores determinantes
que agridem a saúde. O acesso aos serviços para a recuperação da saúde ou sua manutenção
muitas vezes não permite tal propósito. A Organização Mundial da Saúde (OMS) incentiva a
implantação de políticas públicas que viabilizem programas com essa finalidade. Assim,
surgem as práticas integrativas e complementares. No final da década de 70, a OMS criou o
Programa de Medicina Tradicional pretendendo elaborar a organização e incentivar a
estruturação desse projeto.
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são técnicas ou recursos
terapêuticos que buscam estimular mecanismos naturais para prevenir o adoecimento e
recuperar a saúde, chamados pela OMS de medicina tradicional e complementar/alternativa.
Essa metodologia busca uma ampla abordagem do conjunto saúde-doença e estabelece o
cuidado do indivíduo como um todo, pretendendo também valorizar o autoconhecimento e o
autocuidado, criando uma nova cultura de saúde. No Brasil os serviços relacionados às PICS
no Sistema Único de Saúde oferecem a utilização de acupuntura, homeopatia, fitoterapia,
biodança, termalismo, musicoterapia e, entre outros, as práticas corporais chinesas e o yoga.
O objetivo deste trabalho é desenvolver um estudo comparativo do surgimento do
Yoga e do Tai Chi Chuan (TCC) dentro da história e da filosofia da Índia e da China. O
contexto histórico não é totalmente desenvolvido, não é esse o nosso propósito e sim
comentar sobre o princípio das duas práticas no desenvolvimento dessas civilizações e como
as mesmas podem ser empregadas para a manutenção da saúde e para auxiliar o tratamento de
doenças.
O Yoga é uma prática corporal que aparece no cenário dos Vedas, os primeiros textos
sagrados da Índia que datariam entre 7000-4000 a. C. Os sacerdotes védicos deviam cumprir
os ritos com perfeita exatidão e com a máxima concentração. O conhecimento sagrado exigia
disciplina mental rigorosa. Foi essa uma das raízes do yoga.
O Tai Chi Chuan acredita-se que tenha sido criado durante a Dinastia Sung (960 a
1279) pelo mestre taoísta Chang San Feng que fundou um templo na Montanha Wudang para
a prática do Taoísmo. Para fortalecer o corpo e a mente, ensinava, além da meditação,

404
MARIA REGINA REIS PACHECO

movimentos naturais do corpo propulsados por uma energia interna adquirida através de
treinamento. Entende-se aqui uma das origens do TCC.
Vários estudos têm colocado o yoga e o TCC como recurso não medicamentoso para a
reabilitação de patologias como doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral,
diabetes mellitus, fibromialgia, alterações de equilíbrio, ansiedade, entre muitas outras.
Alguns trabalhos serão discutidos através de artigos científicos que avaliam opções de
tratamento auxiliares para algumas destas doenças.
Ambas as práticas desenvolvem-se com posturas corretas do corpo, respiração
adequada e concentração que abrange a meditação. Estes elementos são condições para o
aperfeiçoamento destas atividades e alcançar o objetivo máximo: corpo saudável, estilo de
vida apropriado e conhecimento de si mesmo, conectando o físico, a mente e o espírito.
A realização deste estudo foi apoiada em leituras e análise de livros-texto e artigos
acadêmicos.

405
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

O DESENVOLVIMENTO DO YOGA

O CONTEXTO HISTÓRICO CULTURAL DO YOGA

Estudos arqueológicos localizaram as ruínas da civilização Harappa, na segunda


metade do século XX. Era a chamada civilização do Vale do Indo e se desenvolveu na Índia
há cerca de cinco mil anos. Foram arqueólogos britânicos e indianos que descobriram duas
cidades da civilização indiana: Harappa e Mohenjo-daro (atual Paquistão). Aproximadamente
no ano de 1800 a. C. a civilização Harappa desapareceu sem que se saiba o motivo, talvez por
um desastre ecológico (COSTA, 2015)
A civilização Harappa foi uma das mais avançadas da antiguidade. As ruínas
encontradas permitiram observar que as cidades eram planejadas com largas avenidas para os
carros de bois e ruas para os pedestres; as casas tinham dois andares, com instalações
sanitárias e água corrente. Havia iluminação nas ruas e esgoto coberto. 3000 anos a. C.!
(YOGUE, 2015).

Figura 1: Ruínas da civilização Harappa.

FONTE: Yogue (2015)

A princípio, a história da Índia abrangeria todo o subcontinente indiano que hoje


corresponderia à atual República da Índia, Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka, Nepal e Butão.
A Índia apresentou, no decorrer de sua história, invasões sucessivas e a primeira delas
ocorreria pelas tribos pastorais dos arianos que vieram, provavelmente, da Ásia Central. A
comprovação desta ocupação se verificou pela inclusão de um animal que não existia na
sociedade indiana naquele período, o cavalo; estima-se que foi trazido durante a invasão. No
século XVIII descobriu-se também que o idioma destas tribos tinha origem externa, o

406
MARIA REGINA REIS PACHECO

sânscrito (ancestral), de origem do mesmo grupo da maioria das línguas europeias (COSTA,
2015).
A Índia possui mais de cento e cinquenta idiomas, a maioria pertencente ao ramo
indo-ariano, mas sua língua oficial é o híndi, que também tem origem no sânscrito (védico). O
sânscrito é uma língua de origem indo-européia. O sânscrito védico é o ramo indiano da
família indo-européia mais antigo conhecido. Diz-se védico porque contém a linguagem dos
Vedas (hinos e textos religiosos e filosóficos mais antigos da Índia). Permanece como idioma
até a primeira metade do primeiro milênio a. C. quando começa a transição para o período de
sânscrito clássico. Vedas referem-se às quatro grandes obras redigidas em sânscrito védico.
Inicialmente eram transmitidos de forma oral. Teriam sido elaborados por volta de 1500 a. C.
São compostos por Rigveda (¨veda dos hinos ou cantos¨), Yajurveda (¨veda dos mantras em
prosa usadas em um ritual ou sacrifício¨), Samaveda (¨veda dos cantos rituais¨) e Atharvaveda
(uma condição de sacerdote, composto por dois grupos: os rishis e os angirasas). (VEDAS,
2014).
A civilização do Vale do Indo teria florescido entre 3.000 e 2.000 a. C. nas margens do
rio Indus, numa região que hoje é território do Paquistão. Quando da invasão ariana, por volta
do ano 1.500 a. C., essa civilização já se encontrava em declínio, e os arianos depararam com
culturas descendentes de Harappa e Mohenjo-daro (SIEGEL E BARROS, 2013).
A civilização hindu desenvolveu-se com a agricultura, atividades comerciais e práticas
religiosas. Do período das invasões, forma-se um novo cenário, a civilização védica (1.500 a
600 a. C.), que recebe este título fundamentado nos Vedas, já citado, textos sagrados que
consistem em poemas e escritos em homenagens a deuses e reis, textos estes atribuídos à
Krishna, encarnação de Vishnu, uma das divindades do povo indiano. Foram memorizados
por sacerdotes brâmanes e transmitidos oralmente por séculos. Esta obra de três mil anos
contém normas religiosas e regras sociais que justificam o sistema de castas indiano (SOUSA,
2018). Foi primeira fase da mitologia hindu. Vedas significa conhecimento e revela o conflito
entre os arianos e os habitantes originais do território indiano que acaba dividindo-os em
nobres e escravos, respectivamente.
Os nascimentos de Buda e Mahavira no século V I a. C. marcam a fase melhor
registrada da história indiana.
Segundo Kupfer (2007), a cronologia da história da Índia, baseada em estudos
arqueológicos e análise de referências vêdicas e purânicas, seguiria a seguinte sequência:
* Idade Vêdica: 7000-4000 a. C.

407
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

** Surgimento do Yoga pré-histórico: 7000 a. C.


* Fim do período Ramayana/Mahabhárata: 3000 a. C. Ramayana é um antigo poema
épico indiano que influenciou a cultura hindu. Apresenta ensinamentos dos antigos sábios
hindus. O panorama cultural do Ramayana é um dos períodos pós-urbanização da parte
oriental do norte da Índia e do Nepal, enquanto Mahabharata reflete as áreas a oeste de Kuru
(abrange hoje os estados de Delhi, Haryana, Punjab, Uttarakhand e parte de Uttar Pradesh).
(HISTÓRIA DA ÍNDIA, 2018).
* Apogeu da civilização do Indus-Sarasvati: 3000-2000 a. C. Sarasvati é o nome de
um rio extinto da Índia do vale do rio Indo. Por mudanças geológicas secou e acredita-se ser a
causa do declínio desta civilização. (HISTÓRIA DA ÍNDIA, 2018).
* Declínio da civilização do Indus-Sarasvati: 2200-1900 a. C.
** Sistematização do Yoga [Smriti: primeiras Upanishads (espirirualidade e
filosofia), Araynakas(filosofia do sacrifício ritual dos Vedas) e Brahmanas(textos com
comentários sobre os cantos dos quatro Vedas)]: 1900-1500 a. C.
* Período de caos e migração: 1900-1500 a. C.
* Síntese do hinduísmo clássico (Sutras, Tantras e Épicos): 1400-250 a. C. Sutra: trata-
se de um ensinamento basicamente religioso em forma de texto, originário das tradições
espirituais da Índia, particularmente do hinduísmo, do budismo e do jainismo (uma das
religiões mais antigas da Índia onde não existe um Deus como criador; pessoas, animais,
plantas, tudo na natureza tem alma e possuem vínculos cármicos). Tantra é uma filosofia
hindu que se caracteriza pela sociedade matriarcal (nas sociedades primitivas a mulher era
fortemente exaltada), pela expansão da sensibilidade, pelo naturalismo e pelo cessar da
repressão; vê o corpo como meio de conhecimento, usa mantras (vocalização de sons), figuras
geométricas e rituais meditativos (HISTÓRIA DA ÍNDIA, 2018).
O surgimento do yoga ocorreria por volta de 7000 a. C., chamado período pré-
histórico do yoga.
...talvez esta civilização tenha sido a primeira e mais
avançada do mundo antigo, e que o movimento civilizatório deu-se a
partir do subcontinente indiano. Concomitantemente, o Yoga seria
muito mais antigo do que se pensava até agora: poderíamos situar a
sua idade, segundo a estimativa mais prudente, em mais de 7000
anos, o que o torna parte do mais antigo patrimônio da Humanidade.
(KUPFER, 2007, p.10).

Feuerstein (2018) propõe uma composição histórica da seguinte maneira:

* Era Pré Védica: 7000 a 4500 a. C.

408
MARIA REGINA REIS PACHECO

* Era Védica: 4500 a 2500 a. C.: quando surgiram os quatro Vedas, com os grandes
sábios (Rishis) e os habitantes que ocupavam as margens do rio Sarasvati, rio citado nos
quatro Vedas e que secou porque os rios afluentes passaram a desaguar no rio Ganges e então
o povo migrou para o leste da Índia, para as margens deste último. Na planície do Ganges os
arianos e os dravidianos (como eram chamados os povos primitivos da Índia) mesclaram-se
produzindo uma cultura grandiosa.
* Era Brahmanica: 2500 a1500 a. C. Neste período o conhecimento védico fica
reservado aos Brahmanes ou casta dos sacerdotes, a casta dominante. Neste é o momento em
que as castas tornam-se fixas. Nesse período Vedas recebe interpretações dos rishis (sábios).
São escrituras e livros que regulamentam a sociedade, épicos, livros de educação religiosa e
de escolas de pensamento a partir dos Vedas, as chamadas Darshanas. O Yoga é uma
Darshana, uma das seis escolas filosóficas, nascidas dos Vedas. O yoga foi sistematizado por
Patanjali que tem como obra literária o Yoga Sutra. É um longo período de desenvolvimento
da prática do yoga.
* Era pós Védica ou Upanishadica: 1500 a 1000 a. C. O termo Upanishad deriva do
sânscrito upa (perto), ni (embaixo) e shad (sentar): sentar-se no chão ao lado de um mestre
espiritual para receber instrução. São comentários sobre os Vedas com alta dose de
espiritualidade.
* Era Pré-Clássica ou Épica: 1000 a 100 a. C. Grandes épicos Mahabharatha e
Ramayana.
* Era Clássica: 100 a. C. a 500 d. C.
* Era Trântica e Purânica: 500 a 1300 d. C.
O yoga manifesta-se nos Vedas, os primeiros textos sagrados do hinduísmo. Os
sacerdotes védicos deveriam cumprir os ritos sagrados com muito rigor, o que exigia muita
concentração e disciplina mental. Seria uma das raízes do yoga através do exercício da
meditação (FEUERSTEIN, 2018).
A cronologia dos dois autores, apesar das diferenças, coloca o Yoga nos primórdios da
civilização hindu.
O subcontinente indiano dividiu-se em diversos pequenos reinos e Cidades-Estados.
Em torno de 500 a. C. com dezesseis reinos chamados Mahajanapadas, o período se encerra
com as invasões dos persas, dos gregos e dos hunos brancos, colocando fim a vários impérios
como Mágada, Sunga e Gupta. Um imperador da Dinastia Máuria que reinou entre 322 e185
a. C., Ashoka, estabeleceu o budismo oficialmente na Índia o que durou mais ou menos um
milênio. Na era clássica da história da Índia destacam-se os Reinos Chola e Chera. Surgem
os primeiros sultanatos islâmicos. Os portos da Índia meridional dedicam-se ao comércio,
409
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

especialmente de especiarias, na região do Oceano Índico. Sucedem-se vários impérios e


dinastias conforme a região que enfrentam as invasões islâmicas. O mais conhecido sultanato,
o Sultanato de Deli, é absorvido pelo Império Mogol em 1526, após invasões dos mogóis da
Ásia Central. Taj Mahal foi construído pelo Grão Mogol Xá Jeã. O Império Mogol procurou
fundir a cultura turco-persa às tradições indianas, mas foi derrubado pelos britânicos em 1857,
o que ocorreu também com o Império Marata (1674-1818) e a Confederação Sique (um
conjunto de Estados da região de Punjab) entre1845 e 1849. Na Era Colonial, com a
descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco Da Gama estabelece-se a fase do
domínio das potências europeias no subcontinente: portugueses, franceses e neerlandeses
(Países Baixos). O controle territorial predominante foi dos britânicos que estabeleceram a
primeira base em Bengala através da Companhia Inglesa das Índias Orientais. (HISTÓRIA
DA ÍNDIA, 2018).
Na era moderna a Índia entra em contato com outras civilizações ocidentais. Os
produtos indianos chamam a atenção dos europeus por sua diversidade e preciosidade durante
os séculos XV e XVI. No século XIX o envolvimento político-econômico com o governo
britânico interessado em conquistar novos mercados leva à dominação da Índia pelo Império
Britânico. O domínio inglês só é interrompido quando o líder Mahatma Gandhi organiza um
movimento pacifista que desorganiza o controle da Inglaterra. (HISTÓRIA DO MUNDO,
2018).
O pensamento filosófico na Índia está presente em obras como Os Vedas e as
Upanishads. Upanishads são antigos textos que contêm pensamentos filosóficos e conceitos
do hinduísmo, uma parte dos Vedas. A filosofia hindu se divide em várias escolas de
pensamento. O yoga é considerado uma escola filosófica (uma Darshana, já citado).
Hinduísmo é uma corrente filosófica da Índia que designa as instituições culturais,
religiosas e sociais da grande maioria da população indiana. Seu pensamento surge no
contexto da primitiva civilização hindu durante o alvorecer da nação indiana.
Por volta do século VI a. C., um novo movimento religioso se insere na civilização
indiana através da história de Sidarta Gautama, o Budismo.

410
MARIA REGINA REIS PACHECO

AS PRINCIPAIS ESCOLAS DE PENSAMENTO DA ÍNDIA ANTIGA

HINDUÍSMO

O Hinduísmo é uma ampla e complexa organização social e religiosa da Índia.


Compõe-se por diversas seitas, cultos, sistemas filosóficos, rituais, cerimônias, disciplinas,
conceitos, deuses, deusas e tem como fonte espiritual os Vedas, que é a mais antiga de todas
as escrituras sagradas do mundo. A palavra Veda significa visão, conhecimento. Vedas
contem hinos (Rigveda), preces e provérbios populares, cantos rituais (Samaveda),
composições sobre os sacrifícios (Yajurveda) e Vedas dos sacerdotes (Atharvaveda).
Mahabharata, que é um grande épico do Hinduísmo e contém o conhecimento da mitologia
da Índia e ensinamentos sobre o hinduísmo voltados para as massas, através de contos
populares (GUERRA PEREIRA, 2017). O hinduísmo desenvolveu práticas para ajudar o
indivíduo a procurar a consciência de Deus. As características principais do hinduísmo são a
reencarnação, o sistema de castas, o naturalismo e o individualismo. Brâman, Deus supremo,
encarnou como Brahma (Deus criador), Vishnu (Deus da conservação), e Shiva (Deus da
destruição), formando a trindade indiana chamada Trimurti. Os filhos de Brâman são
representados no sistema de castas indiano. Os templos possuem divindades primárias e
divindades subordinadas às primeiras (HISTÓRIA DA ÍNDIA, 2018). Deus Brahma, criador
do mundo, teria dado origem às quatro castas que surgiriam de várias de suas partes
hierarquicamente: de sua cabeça, teriam saído os brâmanes (religiosos e mestres); de seus
braços, os xátrias (guerreiros, governantes e reis); de suas coxas, os vaixás (comerciantes) e
de seus pés surgiram os sudras (trabalhadores braçais). Abaixo de todos estes estão os
chamados intocáveis, ou dalits (oprimidos), os marginalizados, tão desprezados que não
participam do sistema de castas (COSTA, 2015).

O hinduísmo não se restringe ao aspecto religioso, mas constitui o aspecto cultural e


social da civilização indiana. Aparece na civilização hindu durante o período primitivo da
formação da sociedade indiana, e não tem data precisa para se destacar. Surge entre o
declínio da civilização védico-harappiana (2200-1900 a. C.) e a descoberta dos primeiros
registros escritos (século VI a. C.). As primeiras escrituras do hinduísmo foram transmitidas
oralmente. (KUPFER, 2007) Podemos identificar quatro grandes momentos durante a
evolução do hinduísmo:

411
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

1. Período védico (1400-500 a. C.): a tradição oral se transcreve para o nágarí, escrita
da Índia antiga. Refere-se a Vedas e outros conteúdos: Brahmánas (tratados escritos pelos
sacerdotes), Upanishads (espiritualidade e filosofia; ensinamentos orientados pelo mestre;
tem-se conhecimento de treze Upanishads, três delas tratam do yoga) e Áranyaka (descrição
de rituais; Livros da Floresta) e Samhitas (bênçãos e hinos).

2. A literatura épica: Mahabhárata (épico da mitologia hindu: A Grande História de


Bharata, cuja autoria é atribuída a Krishna Dvapayana Vyasa; a composição desta obra
aborda o tri-varga ou as três metas da vida: Kama ou satisfação sensorial, artha ou
prosperidade econômica e dharma, a religiosidade com códigos de conduta moral e de rituais;
a obra trata também da libertação deste ciclo do tri-varga e a saída do samsara ou ciclo de
nascimentos e mortes); Rámáyána (poema épico indiano que narra a luta do divino
príncipe Rama para resgatar sua esposa Sita do rei demônio Ravana); Puránas (textos hindus
que exaltam divindades): são epopeias e textos mitológicos, anteriores ao ano 3.000 a. C.;
foram transcritos para o nágari entre os séculos III a. C. e IV d. C.
3. Organização das seis escolas filosóficas tradicionais (chamadas darshanas), do
dharma (conceito com vários significados dentro da religião e filosofia indianas; nos textos
mais antigos significa lei cósmica), do sistema de castas, do uso do sânscrito como língua
sagrada, e da diferença entre a revelação, o shruti (literatura védica transmitida oralmente,
considerada sem autor) e da tradição, o smriti (textos hindus, geralmente escritos e revisados;
referem-se à tradição). De 1400 a. C. até o século V d. C. As seis darshanas: Nyaya,
Vaisheshika, Sankhya, Yoga, Purva Mimamsa e Uttara Mimamsa (Vedanta).
4. Bhakti Yoga ou hinduísmo devocional que atinge o auge entre os séculos VII e XVI
d. C. O hinduísmo possui três caminhos para a liberação espiritual. Três doutrinas ou
caminhos básicos prescritos pelo hinduísmo para a liberação espiritual: Karma, ou caminho
do trabalho, Bhakti, ou caminho da devoção, e Jñana, o caminho do conhecimento (KUPFER,
2007).
O yoga apresenta-se nos Vedas, os primeiros textos sagrados do hinduísmo. Os
sacerdotes védicos deviam cumprir os ritos com perfeita exatidão e exigindo a máxima
concentração. O conhecimento sagrado exigia disciplina mental rigorosa. Foi essa uma das
raízes do yoga que dois mil anos mais tarde deram origem aos Upanishads que têm a
meditação como principal característica. O yoga dos Upanishads deu origem a um conjunto
de práticas com explicações acerca da transcendência humana, legado este passado de mestre
a discípulo por transmissão oral (FEUERSTEIN, 2018).
O hinduísmo deu origem a três grupos religiosos: o Jainismo. O Budismo e o
Sikhismo.
412
MARIA REGINA REIS PACHECO

JAINISMO

Jainismo é uma das três principais religiões nascidas na Índia. Teve início no leste da
Índia entre os séculos VII e V a. C. Seus adeptos acreditam no renascimento e este poderia
ocorrer como outros seres. A purificação da alma permite a libertação e a interrupção dos
renascimentos. Este objetivo é alcançado através da prática da não violência o que significa
não prejudicar os outros, sejam os seres humanos, animais e até mesmo os insetos. Foi
fundado em oposição aos privilégios dos brâmanes e do sistema de castas que condicionava o
hinduísmo. Seu principal texto sagrado é o Tattvartha Sutra. Tirthankaras são chamados
salvadores porque se livraram dos ciclos de renascimentos. No janaísmo existiram vinte e
quatro tirthankaras. Mahavira, que provavelmente viveu no século V I ou V a. C. foi o último
deles (ESCOLA BRITÂNICA, 2018).
O Jainismo, juntamente com o budismo, manifesta-se como uma vertente da tradição
bramânica. Surgiu como um movimento de reforma do hinduísmo e acreditava que a salvação
dependia do esforço de cada um e não dos deuses, protestava contra o regime de castas e dos
privilégios dos brâmanes. O universo seria composto pelos seres vivos (Jiva) e matéria
(Ajiva). A libertação da alma ocorre quando se alcança o Nirvana, estado de perfeição, de
individualidade eterna, ao contrário do budismo. Não há deuses no jainismo. Tem como
fundador Mahavira, que significa Grande Homem e que, tradicionalmente, tem como data de
nascimento em 599 a. C., no noroeste da Índia. Em sua história, foi o segundo filho de um
rajá. Quando seus pais faleceram começou uma vida de desprendimento, aos trinta anos, e
ficou sem falar doze anos. Por um período ficou vagueando nu pela Índia, sendo ofendido
pelos homens, até que recebeu a iluminação aos quarenta e dois anos de idade. Até o fim de
sua vida contou com catorze mil monges em sua fraternidade.
As principais diferenças em relação ao hinduísmo estão no conceito de renascimento,
onde as almas não possuem individualidade na eternidade e são absorvidas em Brahman na
doutrina hindu e para Mahavira existe a autonomia da alma. O sistema de castas é importante
para o hinduísmo e Maravira ensinou a importância de uma sociedade sem castas ou camadas
sociais. Mahavira pertencia à segunda casta, a dos guerreiros e sofreu com o predomínio da
casta sacerdotal e assim uma das fontes da reprovação do sistema. Hinduísmo profere o
politeísmo e o sacrifício de animais. No Jainismo não se adora um ser supremo, embora o
próprio Maharvira tenha se tornado um objeto de adoração. Os Cinco Grandes Votos do
Jainismo para alcançar a libertação compreendem a renúncia à mentira, à cobiça, aos prazeres
sexuais, ao apego às coisas mundanas e matar coisas vivas. Deve–se evitar o contato com as
mulheres, pois elas são a maior tentação do mundo. Praticar a não violência. Não injuriar,
deixar o orgulho, a ira, o ludíbrio, a cobiça, não matar e reverenciar a vida (RABELO, 2018).

413
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

A influência do jainismo no yoga se faz pela prática da não violência o que também é
desenvolvido nesta atividade. Yoga compreende virtudes morais como a não violência, a
verdade, a compaixão e a benevolência. Seguindo esses princípios o yoga nos conduz à
libertação.

O Yoga recebe também influência tardia do Sikhismo, no período do yoga moderno.


Trata-se de uma religião monoteísta fundada nos fins do século XV no Punjab. Consistia na
prática de três deveres básicos: manter Deus presente na mente em todos os momentos,
alcançar o sustento através do trabalho honesto e partilhar os frutos deste trabalho com os que
necessitassem. Preconizava evitar a luxúria, a cólera, a cobiça, o luxo e o orgulho.
Recomendava a castidade moral e o não uso de drogas (SIEGEL E BARROS, 2013).

BUDISMO

Segundo Humphreys1 (1969, apud GUERRA PEREIRA, 2017): “O Budismo é um


sistema de doutrina e prática erigido pelos adeptos de Buda, em torno daquilo que
acreditavam serem os seus ensinamentos, mas o objetivo do budismo é um estado de
consciência conhecido como iluminação”.
Budismo também é conhecido como Dharma, termo sânscrito que significa verdade,
ordem, retidão, justiça, doutrina, ou seja, a doutrina de Buda. Seus seguidores também
preferem chamá-lo de Buda-Dharma, que significa ensinamentos de Buda, Lei Cósmica ou
Caminho para o Nirvana (libertação, extinção do sofrimento ou apagamento). (GUERRA
PEREIRA, 2017).

O objetivo principal do Budismo é a extinção do “eu” através da qual se conquista a


iluminação. É a filosofia do despertar. Procura conquistar o amadurecimento, o
autoconhecimento, a iluminação. O Eu não existe, assim como a realidade em que vivemos, é
uma ilusão. O objetivo, portanto, do Budismo, é a apreensão do Real, e isso só é possível com
a extinção desse falso eu.
Para alguns é uma religião, baseada em ensinamentos deixados por Buda, porque trata
de questões sagradas, mas não é representada por um Deus, bíblia ou dogmas. Outros veem o
budismo como uma filosofia ou psicologia, mas este se apresenta principalmente como um
sistema ético de vida.
O fundador do budismo Sidartha Gautama, o Buda, viveu, provavelmente, entre 563 e
483 a. C. Nasceu em Lumbini, vilarejo de uma região no nordeste da Índia, hoje pertencente
ao Nepal, próximo à cordilheira do Himalaia, e faleceu em Kushinagar, aos oitenta anos

1
HUMPHREYS, C. O Budismo e o caminho da vida. São Paulo: Cultrix, 1969.
414 CAPRA, Fritjof. O Tao da física. São Paulo: Cultrix, 1983.
2
MARIA REGINA REIS PACHECO

(CAPRA2, 1983, apud GUERRA PEREIRA, 2017). Um príncipe que, após atingir o despertar
interior, ficou conhecido por Buda, o Iluminado, o que possui o conhecimento perfeito e que
despertou do sono da ignorância. Buda foi discípulo de Mahavira, o fundador do Jainismo,
por volta do século V a. C. Por isso é possível encontrar no Budismo muito das técnicas de
meditação e dos princípios do Yoga, assim como se encontram em ambos muito da tradição
Jainista, que é mais antiga. Por exemplo, o código de ética (yamas): não ofender, não mentir,
não roubar, não se dispersar e não cobiçar. São preceitos jainistas, que foram integralmente
absorvidos pelo Yoga e pelo Budismo. No entanto, foram os Nathas, uma imensa seita
hinduísta que preservou, de fato, o Yoga em suas tradições (conforme a doutrina de Patanjali)
e o incrementou com as tradições tântricas, pelo menos até a idade média, quando se produziu
o Hatha Yoga e outros textos mais ou menos conhecidos, porém, plenos de sabedoria e da
tradição original.
O sábio Patanjali, do Yoga, e o príncipe Gautama, do Budismo, surgiram quase na
mesma época. Segundo Martins (2018), Buda teria sido discípulo de Mahavira, do Jainismo,
enquanto Patanjali estabeleceu a doutrina do Yoga nessa mesma época.
Tanto o Jainismo quanto o Budismo eram formas de crítica intelectual ao domínio e à
manipulação dos brâmanes. No entanto a dinastia Mauria, do poderoso imperador Ashoka,
conseguiu fazer com que a Índia se tornasse budista, em consequência da conversão do
monarca. E assim permaneceu a Índia por cerca de um milênio. Mas, nesse período, muito do
Yoga foi absorvido pelo Budismo, pelas similaridades que tinham essas duas linhas
doutrinárias (MARTINS, 2018).

Buda revela Quatro Nobres Verdades e uma Senda Óctupla para a conquista da
Iluminação. São conceitos que postulam sobre a origem da dor, as verdades sobre esta, de sua
interrupção e o que permite seu fim. Sem conhecer todo este processo e compreendê-lo, não
se pode libertar dos sofrimentos e chegar à iluminação.
A primeira Nobre Verdade é a constatação do sofrimento: perdas, separações,
adoecimento, a velhice, o pressentimento da morte. Tem-se consciência do sofrimento que
causa a dor e deve-se entrar em contato com ele.
A segunda Nobre Verdade debate sobre a origem e o surgimento do sofrimento. O
sofrimento deriva de um sentimento inferior que nos leva ao desespero e nos aprisiona: o
desejo. Estamos presos ao desejo de negar o sofrimento: não perder, possuir, não adoecer, não
morrer.
A Terceira Nobre Verdade argumenta sobre a cessação da dor: o sofrimento pode
chegar ao fim através da eliminação do desejo, deixá-lo no passado e esperar o futuro. Viver o
agora. As aflições que nos agridem são deixadas no passado. O futuro ainda vai acontecer. Só
existe então o agora.

2
CAPRA, Fritjof. O Tao da física. São Paulo: Cultrix, 1983.

415
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

A Quarta Nobre Verdade nos leva a eliminar o que gera sofrimento. É a revelação de
um Caminho Óctuplo, chamado na China como o Caminho das Oito Práticas Corretas.
Implica em uma Compreensão Correta, um Pensamento Correto, uma Fala Correta, uma Ação
Correta, um Meio de Vida Correto, um Esforço Correto, uma Atenção Plena Correta e uma
Concentração Correta. A Senda Óctupla é o que se chama de Caminho Do Meio, ou uma vida
em equilíbrio entre os extremos e atingir o equilíbrio é uma prática que prega ética, sabedoria
e concentração (GUERRA PEREIRA, 2017). A cessação do sofrimento permite o estado de
libertação, o Nirvana.
O Budismo dividiu-se em dois grandes movimentos: Theravada e Mahayana, ambos
seguindo os discursos feitos por Sidartha, os Sutras. Quatro séculos depois, surge um terceiro
movimento, chamado Vajrayana, inspirado nos Tantras, que eram os ensinamentos secretos
também atribuídos a Buda. Cada uma dessas vertentes é composta por linhagens e seitas.
São as principais escolas do budismo, com várias tradições (indianas, chinesas,
japonesas, tibetanas):
*Theravada: significa o ensino dos Sábios. É a mais antiga escola budista. Este
Movimento, conhecido também por “Budismo do Sul”, segue as antigas escrituras onde foram
registrados os primeiros documentos budistas. Resume-se em dois grandes princípios: a
observação de uma ética que evita tudo o que pode prejudicar o outro e a compreensão da
vacuidade do sujeito, denominado também como ”não eu”. É chamado ¨Veículo Monástico¨.
A vida monástica, em muitos casos, representou uma fuga ao sistema de castas inferiores; no
budismo não havia divisão social. A expansão do budismo para além dos mosteiros dá-se no
século III d. C. no reinado de Ashoka, com um novo movimento, Mahayana. (NINA3, 2004,
apud GUERRA PEREIRA, 2017).
*Mahayana: refere-se ao caminho de Bodhisattva (um ser iluminado) buscando a
iluminação. Também chamado o Grande Veículo ou o "Veículo Bodhisattva". É a principal
corrente do Budismo e abriga um variado número de escolas e linhagens. As escolas mais
populares desta vertente são aquelas que fazem parte do chamado Budismo da Fé e as que
pertencem ao grupo do Budismo Chan (ou Budismo Zen, no Japão). Esse caráter eclético e
aberto do Budismo é uma característica do Movimento Mahayana. Este movimento tem a
característica da devoção com o desenvolvimento de um panteão de Budas. Em Mahayana a
prática da virtude e da compaixão é um conceito fundamental a fim de ajudar todos os seres a
atingirem a iluminação.
*Vajrayana ou Budismo Tibetano: Veículo Vajrayana, conhecido também por
Tantrayana, Veículo do Raio ou do Diamante, Budismo Yogo-Tântrico ou ainda Budismo
Tibetano (Lamaísmo): incorporou práticas do tantrismo hindu. Espalhou-se intensamente por

3
NINA, Ana. Cristina. L. Ventos da Impermanência: um estudo sobre a ressignificação do
Budismo tibetano no contexto da diáspora. Tese (Doutorado em Antropologia Social) –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.

416
MARIA REGINA REIS PACHECO

vários países da Ásia Oriental (China, Japão, Mongólia, Butão, Nepal), mas foi no Tibete
onde ele encontrou as condições ideais É um prosseguimento dos outros dois veículos e tem
origem nos tantras. As principais práticas tântricas envolvem principalmente: a recitação de
fórmulas mágicas, chamadas mantras; a execução de gestos (mudras) e danças rituais; a
identificação com divindades por meio de uma prática especial de meditação (samadhi) e o
enfoque dado à prática sexual. O Yoga hindu, incorporando elementos tântricos origina o
Yoga Tântrico ou Yoga Sexual ou Kundalini. O Budismo Tibetano desenvolve-se em quatro
escolas Nyingma, Sakya, Kagyu e Guelupa, que visam o mesmo objetivo de atingir o Nirvana,
mas com tempo de formação, terminologia e metodologia próprias.
A doutrina do Budismo não apenas promovia uma revolução ética em alguns setores
da sociedade indiana, como também servia de crítica a essa sociedade, especialmente em
relação ao sistema de castas e representou uma fuga das castas inferiores.
Hoje Budismo, entre suas derivações, é mais vivenciado como uma religião
messiânica e ampla, uma das maiores do mundo, embora, originalmente, tenha sido apenas
uma linha de pensamento e ação, derivada do Jainismo reformado por Mahavira, mestre de
Buda. O que procura fazer o Budismo: tornar o homem melhor, contribuir para o seu
amadurecimento interior e para a sua iluminação (GUERRA PEREIRA, 2017).

A PRÁTICA DO YOGA

O termo Yoga provém da raiz sânscrita yug e significa unir: unir a alma de quem a
pratica com o todo universal. O Yoga possui uma cultura de mais de quinze mil anos, mas só
foi estruturada a cerca de oito mil anos atrás por Patanjali, o sistematizador do yoga, no
Período Clássico do yoga. Patanjali escreveu o primeiro texto clássico sobre o yoga com o
título de “Yoga Sutra” ou “Aforismos do Yoga”. O primeiro aforisma trata sobre como a
mente deve ser direcionada para alcançar objetivos superiores. O segundo trata da estrutura do
yoga como prática e como obter bons resultados. O terceiro trata como atingir poderes ocultos
da mente através do yoga. O quarto trata como obter o equilíbrio interno nos aspectos físico,
emocional e psicológico. O texto aborda ainda sobre os nove centros de energia ou tchakras e
como mantê-los em equilíbrio.
Em termos arqueológicos, o único objeto relacionado com a origem do Yoga é um
selo de esteatita descoberto em escavações na Índia, realizadas entre 1921 e 1931, nas ruínas
de Mohenjo-daro e Harappa. Este selo estampa um ser humano sentado em posição
meditativa sobre um trono cercado por animais: um tigre, um elefante, um rinoceronte e um
búfalo. Este selo ilustraria a figura de um Proto-Shiva, ou também chamado Pashupati, da
cultura do Indus. (SIEGEL E BARROS, 2013) Figuras 2 e 3.

417
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 2. Selo de Esteatita. Fonte: YOGA PLENO (20

Figura 3: Selo de Esteatita completo. Fonte: YOGA PLENO (2018)

Algumas posturas do yoga assemelham-se às posturas de práticas rituais de iniciação


em culturas pré-colombianas. (SIEGEL E BARROS, 2013). Museus no México e Peru
expõem figuras em posturas de Yoga como as posições sentadas de meio-loto e a do
escorpião, porém, em consulta a arqueólogos estes não reconheceram semelhanças entre as
duas atividades, o que seria efeito da casualidade.
Existem relatos sobre figuras desenhadas em uma gruta na Sicília que confirmariam a
origem europeia do yoga que teria sido levado à Índia por povos mediterrâneos, os drádivas.
Esta informação também foi contestada por historiadores, havendo evidências de que
pudessem referir-se a danças circulares (SIEGEL E BARROS, 2013).
418
MARIA REGINA REIS PACHECO

O Yoga teria surgido mitologicamente com a história de um dançarino que improvisou


movimentos instintivos e sofisticados, mas com muita sensibilidade. Ele transmitiu essa
cultura para discípulos que preservaram essa arte e a retransmitiram. Esse dançarino ficou
conhecido mitologicamente por Shiva e essa arte ganhou o nome de união que, em sânscrito,
quer dizer Yoga (YOGUE, 2015).
O yoga aparece retratado nos Vedas, nos ritos dos sacerdotes védicos. O termo yoga
surgiu na época dos Upanishads e evolui nos ensinamentos dos escritos de Mahabharata. Em
torno de 100-200 d. C., sob a influência do Budismo, Patanjali codifica o caminho yogue
(Yoga-Sutra). Por volta de 300 ou 400 d. C. o yoga recebe a influência do Tantra (conjunto
de livros posteriores aos Vedas, escritos aproximadamente entre os séculos VII e XV d. C.
que objetiva o desenvolvimento espiritual através de rituais) o que conduz à criação do Hatha-
yoga, o ramo mais popular do yoga.
O Yoga é um conjunto sistematizado de técnicas que visam a alcançar o estado não
condicionado da consciência, de meditação completa (samádhi). Diferente dos outros
darshanas (uma das disciplinas da escola de filosofia hindu que significa ver, no sentido de
refletir), o Yoga utiliza práticas contemplativas para atingir o estado do não condicionamento.
O Yoga está ligado ao Sámkhya (sistema filosófico indiano desenvolvido concomitantemente
com o yoga; é uma filosofia enumeracionista que apresenta como evidências para obter o
conhecimento, a percepção, a dedução e a palavra/testemunho) e faz seus princípios baseado
neste último (KUPFER, 2007).
Antes de ser reconhecido como darshana, o Yoga já tinha alguns milênios de
existência, estando ligado a Sámkhya ateísta. A partir da sua inclusão na grande síntese hindu,
já com o status de darshana, passa a receber também o nome de Sêshwara Sámkhya, ou
Sámkhya teísta, pois reconhece a existência de um Princípio Criador que estava fora das
asserções do Sámkhya ateísta, mais antigo.
Podemos traçar sete períodos históricos do yoga - por três diferentes autores
(FEUERSTEIN, 1998; RUFF, 2003; SIEGEL E BARROS, 2013):
1. Proto – Yoga: de 3.000 a 1.500 a. C. Recebe influência de Rigveda, também
chamado Livro dos Hinos, o documento mais antigo da literatura hindu composto de hinos,
rituais e oferendas às divindades. Recebe também a participação dos Upanishads, antigos
textos que contêm textos filosóficos e conceitos do hinduísmo.
2. Yoga Pré – Clássico: 800 a 200 a. C. É a época em que Buda conheceu os
fundamentos do yoga. Compõe-se neste período, juntamente com o período épico, a obra
Mahabharat, um longo poema épico. Faz parte desta obra um texto religioso hindu chamado
Bhagavad Gita. A versão do Mahabharata que inclui o Bhagavad Gita é datada do século IV
a. C. Entre outros assuntos apresenta ideais yogues e apresenta três caminhos yóguicos: o
Jñana-Yoga (a via do conhecimento) e o Karma-Yoga (a via de ação consciente), e o Bhakti-
419
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Yoga (a via da devoção).


Nesse período surge também do Maitrayaniya Upanishad que estrutura o yoga em seis
passos, que dará forma ao Yoga dos oito passos no período do Yoga Clássico.
Os seis passos do Yoga de Maitrayaniya Upanishad:

2.1. Controle da respiração (pranayama).


2.2. Retração dos sentidos (pratyahara).
2.3. Concentração (dharana).
2.4. Meditação (dhyana).
2.5. Reflexão ou intenção de compreender (tarka).
2.6. União com o absoluto (samadhi).
A diferença entre o Yoga dos seis passos do período pré-clássico e o Yoga dos oito
passos do período clássico, é que este último não menciona tarka (intenção de compreender) e
acrescenta três passos, a saber: yama (as abstinências), niyama (regras de vida) e os asanas
(posições do corpo).
3. Yoga Épico: 500 a 200 a. C.
4. Yoga Clássico: séculos II e III a. C. – Patanjali. Neste período o yoga é reconhecido
como uma das seis escolas filosóficas da Índia, chamadas darshanas, e onde o yoga se
organiza. As demais escolas são: Nyaya, Mimansa, Vaisheshika, Vedanta e Sanquia.
Patanjali, considerado pai do Yoga, seria responsável pelos pensamentos contidos no
Yoga Sutras (século II a. C.) que está dividido em quatro capítulos:
*1. Samadhi Pada: a prática do yoga permite alcançar a iluminação;
*2. Sadhana Pada: disciplina. Também chamado Karma Yoga (é a execução de uma
ação em união com a parte divina interior, mantendo o equilíbrio, independente do resultado;
o praticante deve se libertar da ambição, do desejo, da raiva e do egoísmo).
*3. Vibhuti Pada: expõe a tentação dos poderes yóguicos.
*4. Kaivalya Pada: isolamento. Diz respeito à libertação do ser e do ser
transcendental.
5. Yoga Pós-Clássico: 200 a 1900.
6. Yoga Medieval: séculos VII ao XVII. No período do Yoga pós-clássico e o
medieval surgem os Yoga Upanishads que tratam do Mantra-Yoga (via do som), do Hatha-
Yoga (via das posturas) e trazem conceitos sobre os chakras (centros de energia) do corpo
humano.
7. Yoga Moderno Temprano/Moderno: séculos XVII ao XX.
O Yoga tem como fundamento uma vida moral firme e sadia, o que é regido pelo
princípio do dharma que significa moralidade, lei, ordem, e virtude. Yoga compreende
virtudes morais como a não violência, a verdade, a compaixão e a benevolência. Seguindo
esses princípios o yoga nos conduz à libertação.

420
MARIA REGINA REIS PACHECO

O Yoga sempre esteve associado às três grandes tradições religiosas e culturais da


Índia, o Hinduísmo, o Budismo e o Jainismo. Para BKS Iyengar, o mais influente mestre de
Hatha-Yoga: “ O Yoga é uma arte, uma ciência e uma filosofia “. Os princípios filosóficos
são empregados com os exercícios físicos: relaxa e contrai os músculos promovendo a
circulação, permite a massagem de glândulas e órgãos internos, libera os chakras permitindo o
fluxo de energia vital, expande a capacidade respiratória através do trabalho diafragmático,
amplia o aprendizado e a atenção permitindo a meditação. Através da filosofia recomenda-se
o autocuidado, alimentação saudável, respeito a si e ao seu semelhante.
A prática do Yoga no Brasil tem uma tradição de 60 anos e apresenta-se como um
sistema terapêutico-religioso, que inclui: um código de ética, posturas físicas, exercícios
respiratórios, controle das percepções orgânicas e diversos níveis meditativos (SIEGEL E
BARROS, 2013).
As seguintes práticas de yoga são conhecidas: Hatha-Yoga e seus sub-tipos,
Ashtanga, Iyengar y Vinyasa; Neo-Tantra; Kriya; Jñana, Bhakti, Karma, Raja, Mantra, Japa,
Kundalini e Yoga Integral.
Hatha-Yoga, Hatha do sânscrito Ha (sol) e tha (lua): reúne posturas (asanas ,que
tentam equilibrar o físico, a mente e espírito), exercícios de respiração (pranayama, do
sânscrito prana=energia vital e ayama= controle), meditação (dharana) e relaxamento
(dhyana).
Ashtanga, do sânscrito ashta (oito) e anga (limbos) segue o método para atingir oito
objetivos: yama (autodisciplina), niyama (disciplina religiosa), asana (postura), pranayama
(controle da respiração), pratyahara (distrair-se dos sentidos), dharana (concentração) e
samadhi (máximo da consciência).
Iyengar-yoga, de BKS Iyengar, com duzentas posturas (asanas) e quatorze exercícios
de respiração (pranayamas) com objetivo terapêutico.
Vinyasa, introduzido por Tirumalai Krishnamacharya, do sânscrito vi (de forma
especial) e nyasa (colocar): sequência de posturas coordenadas com meditação em movimento
criando um fluxo contínuo combinando meditação estática, concentração e relaxamento no
final da prática.
Neotranta ou sexo tântrico é uma variação do tantra e que está associado a
movimentos religiosos. Hoje é considerado sinônimo de sexualidade sagrada.
Kriya yoga, técnica que visa acelerar o desenvolvimento espiritual e alcançar um
profundo estado de comunicação com o Eu Superior.

421
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Jñana yoga, muitas veze referido como yoga do conhecimento. Exige força de vontade
e intelecto. O praticante usa a mente para explorar sua própria natureza e deve estar integrado
às outras práticas yogues.
Bhakti yoga, conhecido como yoga da devoção. Busca uma experiência de unidade
com o universo, usa mantras e procura uma conexão perfeita com o Absoluto.
Karma, ou yoga da ação. É a dedicação de todas as suas ações e de seus frutos à
divindade. É o serviço desinteressado para a humanidade. A ação desinteressada é libertadora.
Note que as três últimas práticas referem-se às três doutrinas ou aos três caminhos prescritos
pelo hinduísmo: Karma, caminho do trabalho, Bhakti, caminho da devoção, e
Jñana, caminho do conhecimento.
Raja yoga, que foi descrita como um caminho dos oito passos do yoga clássico nos
Yoga Sutras de Patanjali.
Mantra yoga é um tipo de yoga que trabalha a vocalização dos sons.
Japa yoga trabalha a repetição de um mantra meditativo de um nome com poder
divino. Acredita-se que a prática retira as impurezas da mente e elimina o pecado.
Kundalini. O Yoga hindu também incorporou elementos do tantra, originando a partir
daí o Yoga Tântrico, mais conhecido por Kundalini Yoga ou Yoga Sexual. Kundalini tem por
objetivo despertar a consciência dominando uma energia primordial presente em todos os
seres humanos que se expande ao longo de um canal principal (Sushuma) na coluna vertebral,
no centro da medula a partir do sacro até o topo da cabeça. A prática inclui asanas,
pranayama, bandhas (contrações) e recitação de mantras.
Yoga Integral é uma combinação de práticas físicas e espirituais com desenvolvimento
psicológico e filosófico (YOGUI, 2016).
O Yoga foi levado para o ocidente no séc. XIX por gurus indianos que queriam levar a
técnica para outros países. Tirumali Krishnamacharya (1888-1989) é descrito como o pai do
yoga moderno que estudou com um mestre tibetano. Ensinou a prática para a soviética Zhenia
Labunskaia que adotou um nome indiano, Indra Devi. Indra viajou pelo mundo divulgando a
técnica que havia aprendido com Tirumali. Tirumali também teve como discípulo Bellur
Iyengar, também um dos principais responsáveis pela divulgação do Yoga no ocidente.
Iyengar simplificou asanas que eram complexas e demonstrou os benefícios dos exercícios
tornando o que era uma prática mística, uma terapia física e mental acessível a todos
(COSTA, 2015).

422
MARIA REGINA REIS PACHECO

Na Índia, yoga significa um estilo de vida que inclui dieta vegetariana e prática de
meditação diária, além das posturas que são consideradas uma preparação para prática
espiritual e meditativa. Além das asanas, temos no yoga as pranayamas, exercícios
respiratórios que têm por objetivo controlar a mente. É um meio de alcançar a iluminação
espiritual, unir a mente e o corpo, que é o que significa yoga (COSTA, 2015).

“Yoga não é algo que nós fazemos, mas algo que somos e em que nos tornamos”.
(FEUERSTEIN, 2018).

Figura 4. Posições de yoga.

FONTE: LAI YOGA (2016)

Figura 5. Postura da árvore.

FONTE: LAI YOGA (2016)

423
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

O DESENVOLVIMENTO DO TAI CHI CHUAN

O CONTEXTO HISTÓRICO CULTURAL DO TAI CHI CHUAN

A civilização chinesa, uma das mais antigas do mundo, surge como um grupo de
cidades no vale do rio Amarelo. Os primeiros chineses provavelmente migraram do oeste para
o leste a partir da Ásia Central estabelecendo-se em terras férteis nas proximidades deste rio.
Essa terra irrigada permitiu o cultivo de hortaliças, frutas e arroz, proporcionando o princípio
desta civilização.

A China pré-histórica data de 400.000 anos a. C. Passa por várias culturas com
evidências arqueológicas de domesticação de animais e há indícios que o arroz já era
cultivado nessa época. Esse período é representado por imperadores que remetem à mitologia
chinesa. Dinastias sucessivas lideradas por soberanos míticos, desde Fu Xi, Shennong
passando pelo período de Huangdi, o Imperador Amarelo, Yao até o Imperador Shun marcam
o período dos lendários Três Augustos e os Cinco Imperadores. Shun, um líder legendário
com um dos mandatos mais longos, nomeia seu primeiro ministro Yu que funda a Dinastia
Xia que juntamente com Shang e Zhou formam as três dinastias da China Antiga.

A primeira dinastia descrita pela história da civilização chinesa é representada pela


Dinastia Xia, com data de aproximadamente c.2070 a C. a 1600 a. C. e que finaliza o sistema
de monarquia hereditária da época dos imperadores. Inicia-se um período de liderança política
através de clãs ou famílias. Jie, o décimo sétimo e último governante da Dinastia Xia, foi
deposto por T’ang, o líder do povo shang. Segue-se, então, a Dinastia Shang (c.1600 - 1028 a.
C.), confirmada por documentação, e a Dinastia Zhou (1028 - 256 a. C.), que começa a
estabelecer o período histórico. As dinastias compreendem vários reinados. A Dinastia Zhou
divide-se em Dinastia Zhou do Oeste (1028 - 772 a. C.) e Zhou do Leste (772 - 256 a. C.). A
Dinastia Zhou do leste apresenta-se com dois períodos de conflitos: o período
Primavera/Outono (772 - 481 a. C.), onde as guerras são tão contínuas que justificam o nome
do período (um reino surge na primavera e no outono desaparece), e o período de Estados
Combatentes (481 - 256 a. C.), onde sete principados disputam a supremacia (Zhao,Wei, Han,
Qin, Qi, Yan e Chu) e os estados que lutam entre si são englobados pelo vencedor. Nesta
dinastia surgem escolas de pensamento filosófico como tentativa de organizar o estado, o
regime social. Nesse período de lutas, Yang Zheng, do Estado de Qin, vence os demais e cria-

424
MARIA REGINA REIS PACHECO

se uma nova Dinastia: a Dinastia Qin (221 - 206 a. C.), responsável pela unificação do
império, que promove reformas administrativas e adota o Legismo como ideologia de estado,
uma das quatro grandes escolas de pensamento filosófico do período. É o período da China
Imperial.

O regime Legista era rígido e sobrecarregava a população com grandes obras como o
Mausoléu com soldados de terracota e a Grande Muralha da China. A carga tributária alta e o
sistema punitivo rigoroso resultam em revolta popular que derruba a dinastia e a luta entre os
estados reinicia. Do novo episódio de batalhas surge o líder militar de Han que vence a guerra
e funda uma nova dinastia, a Dinastia de Han (206 a. C.-220 d. C.), que consolida o Império,
com grande esplendor cultural e que adota o Taoísmo como ideologia de estado inicialmente e
posteriormente, o Confucionismo, que perdura até o fim da China Imperial. Abrem-se os
primeiros contatos com o ocidente através da Rota da Seda. Um plano de reforma agrária pela
breve Dinastia Xin (8-23 d. C.) ocorre nesse período. O imperador Guangwu restitui a
Dinastia Han, mas é um período de invasões e aquisições de terras e estabelece-se o Período
dos Três Reinos, Wei, Shu e Wu, temporariamente unificados na Dinastia Jin (265-420 d. C.),
período de nova fragmentação política. Seguem-se Dinastia Sui (589- 618 d. C.), após
Dinastias do Norte e Sul, período de reunificação, Dinastia Tang (618-907 d. C.), onde o
budismo torna-se a religião predominante e adotado pela família imperial. Entre a Dinastia
Tang e a Dinastia Sung (960-1279) temos um período das Cinco Dinastias, que se sucedem
rapidamente no norte, e dos Dez Reinos, períodos pouco mais estáveis no sul e oeste da
China. Com a invasão pelos mongóis estabelece-se uma unificação, mas através do domínio
destes, que fundam a Dinastia Yuan (1271-1368). Os chineses repelem os mongóis e institui-
se a Dinastia Ming (1368-1644), um período de prosperidade. O comércio exterior cresce. A
burocracia é considerada uma das causas do declínio desta dinastia. Yongle, o terceiro
imperador da Dinastia Ming desenvolveu a marinha e o exército e os chineses estenderam sua
influência territorial. É um dos períodos mais prósperos da China com a edificação do palácio
imperial da Cidade Proibida e a última ampliação da Grande Muralha.

Os Manchus, grupo do noroeste da Manchuria conquistam a Dinastia Ming e fundam a


Dinastia Qing (1644-1911) e consolidam o controle no território chinês ampliando sua
influência para Xinijang, Tibete e Mongólia. Neste governo acontece a Primeira Guerra do
Ópio, um conflito de interesse britânico em continuar o comércio de ópio. Nesse período
também ocorreram a Rebelião Taiping (uma guerra civil com ideologia religiosa) e o Levante

425
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

dos Boxers (um movimento antiocidental e anticristão; opunham-se à expansão estrangeira).


Segue-se o declínio econômico e o sofrimento do povo chinês com a fome. Acordos com
países da Aliança dos Oito Estados auxilia a derrota dos Boxers, mas se impõem concessões
ao governo Qing. Jovens funcionários, oficiais militares e estudantes se inspiram em ideias
revolucionárias para derrubar a Dinastia Qing e proclamar a República da China. Os eventos
principais do período: Levante Wuchang, que levou à formação de um governo provisório,
mas seguem-se novos momentos de instabilidade; o Movimento de Quatro de Maio,
desenvolvimento do Partido Comunista da China e do Partido Nacionalista. A Grande
Marcha.

Um monastério budista construído provavelmente em 495 d. C., o chamado Mosteiro


Shaolin ou O Templo do Bosque da Pequena Colina, criou uma escola de arte marcial.
Localizava-se nas montanhas Song, consideradas sagradas, e o imperador recebia proteção em
sua dinastia em troca de sacrifícios. O templo foi sustentado por várias dinastias. Lendas
contam que o vigésimo oitavo patriarca do Budismo, Bodhidharma, que teria introduzido
novas técnicas de meditação e sequências marciais aos monges de Shaolin, uma arte marcial
indiana chamada Vajramushti praticada pela casta hindu dos guerreiros.

A mais antiga evidência da prática de arte marcial no templo data do período da


Dinastia Tang, pelo historiador Meir Shahar (AGUIAR, 2009). Supõe-se que a situação
desastrosa da Índia por parte de constantes e devastadores conflitos estaria levando o governo
a recorrer com frequência a tropas milicianas locais e algumas destas incluíam monges em seu
conjunto. Os monges tinham vantagem sobre seus adversários em combates armados ou com
as mãos livres. Existem fontes da atividade de artes marciais no mosteiro no final da Dinastia
Ming, que foi fundada por um noviço budista que vivera em um mosteiro entre os 16 e os 33
anos, o imperador Zhu Yuanzhang (1328-1398). Neste período, oficiais, praticantes de artes
marciais e simpatizantes da prática viajavam para o templo para aprender com os monges.
Após a queda da Dinastia Ming os monges representavam uma ameaça ao invasor Quing
(AGUIAR, 2009).

Em 1929 o governo republicano chinês fundou o Central Wushu Institute, em Nanjing,


o primeiro estabelecimento próprio para o desenvolvimento das artes marciais nacionais. A
China pós 1949 empenhou-se em criar um Wu Shu moderno, reunindo estilos antigos,
tentando quebrar suas tradições, distanciando-se dos princípios destas artes. Mestres e monges

426
MARIA REGINA REIS PACHECO

taoístas e budistas foram perseguidos durante a Revolução Cultural e se refugiaram em países


ocidentais (AGUIAR, 2009).

AS PRINCIPAIS ESCOLAS DE PENSAMENTO DA CHINA ANTIGA

TAOÍSMO

Taoísmo é uma escola de pensamento filosófico originário da China. É um dos quatro


pilares filosóficos que fundamentam o TAI CHI CHUAN: o Livro das Mutacões ( I Ching ), o
Confucionismo, o Budismo e o Taoísmo.

I Ching ou Livro das Mutações é uma clássica obra da cultura chinesa que engloba
conceitos de Yin/Yang e dos cinco elementos. Tudo o que existe nos anos de história da
China inspirou-se neste livro: a filosofia chinesa, a ciência, arte de governar e também as artes
marciais. Foi um guia para líderes e sábios através da história chinesa. Relatos remontam sua
autoria ao mitológico Fu Xi (um dos Três Augustos). Fu Xi estudou as mudanças no céu, na
Terra e nos seres vivos e criou símbolos que os representassem e assim elaborou o conceito de
Tai Chi e dos oito trigramas dentro do I Ching. Rei Wen, da Dinastia Zhou foi o autor dos 64
hexagramas (são combinações de dois trigramas), ou 64 julgamentos, e suas interpretações:
são comentários sobre cada hexagrama. Duque de Chou, filho de Rei Wen, escreve
explicações sobre as seis linhas que formam um hexagrama determinando significados das
384 linhas que formam o conteúdo completo dos 64 hexagramas do I Ching. O conceito de
yin e yang aparece como fundamento para a interpretação de trigramas e hexagramas. Linhas
representativas cheias e quebradas e seus desdobramentos permitem a estruturação de um
símbolo com um significado, uma mensagem, um aviso. De Tai Chi (O Grande Chi),
substância fundamental, energia cósmica primordial, surge uma base para a construção de
tudo o que existe no universo, manifestando-se através de yin/yang. Os cinco elementos (ou
éteres, que são: metal, madeira, água, fogo e terra) surgem da combinação entre yin /yang.
Através da interação de Yin/Yang e dos cinco elementos são produzidos os inúmeros
fenômenos da natureza. Com estes, céu e terra são originados. Todas as coisas no universo
surgem e estão em constante transformação. Cada um destes símbolos representa uma
condição, uma possibilidade de modificação de tudo na natureza, inclusive o homem que se
transforma até alcançar a perfeição. Representa a sequência do desenvolvimento humano
desde o seu nascimento, seu processo de crescimento e transformação até atingir a calma de 427
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

seu estado original e assim como tudo no universo. Cada hexagrama trás a ideia de mudança,
de transformação que tem um fundamento. Extrai-se deste livro de sabedoria informações e
conselhos relativos à vida diária, pensamentos e inspirações. Os símbolos representados pelos
trigramas e hexagramas podem explicar o presente, apontar escolhas para o futuro e ser um
guia para decisões pessoais. Shao Yong, um mestre que viveu na dinastia Song, desenvolveu
um método matemático de consulta ao I Ching. Através de uma data e horário de um
acontecimento há influência do Céu e da Terra nesse momento e sobre tudo o que há no
Universo. O estudo dos hexagramas, avaliando seus conteúdos, permite responder questões
para uma consulta sobre determinado assunto. I Ching mostra a possibilidade de prever
acontecimentos, indica possíveis situações, permite analisá-las e decidir qual o caminho a
seguir. I Ching dá ao homem os meios para cultivar sua própria natureza, o conhecimento de
si próprio e sua transformação. É um conselheiro que ajuda a revelar qual a atitude tomar
frente a determinadas situações e também pode ser usado para o autoconhecimento
(SEVERINO, 2017).

Confúcio (551-479 a. C.), Dong Zhongshu ( 179-104 a.C. ) e Wang Pi ( 226-249 d.C.)
foram pensadores e filósofos que interpretaram o I Ching e receberam influência deste. I
Ching também influencia o taoísmo.

Dois grandes autores formam as bases filosóficas do Taoísmo. O mestre Lao Tzu, cuja
principal obra é o Tao Te Ching (o livro do caminho e da virtude) e Zhuang Tzu, com o livro
de Zhuangzi ( ¨atuar o não atuar ¨ : uma ação deve ser não invasiva, deve criar condições para
que algo aconteça sem prejudicar, sem invadir ).

Lao Tzu nasceu em 571 a. C. durante a dinastia Zhou Oriental na China. O rei Wu de
Zhou o nomeou encarregado dos arquivos imperiais, então Lao lia muito e tornou-se um
sábio.

O taoísmo baseia-se num pequeno livro com cerca de 5.000 caracteres, dividido em 81
capítulos, intitulado Tao Te Ching, ou O Livro do Tao, cuja autoria é atribuída a Lao Tse (ou
Lao Tzu). No Tao Te Ching, tudo gira em torno do Tao, termo que significa “caminho” ou
“princípio”. O taoísmo está ligado ao símbolo chinês do yin/yang, que representa uma
polaridade a partir da qual surgiu o universo. Essa polaridade resume todas as oposições
básicas da vida: bem/mal, claro/escuro, masculino/feminino e assim por diante. Conquanto
essas polaridades estejam em tensão, elas não são francamente opostas, mas complementares
e interdependentes. Ambas se resolvem no círculo que as cerca, a saber, o Tao:

Figura 6: Yin / yang

428
MARIA REGINA REIS PACHECO

FONTE: BRASIL ESCOLA (2015)

No Taoísmo chinês de Lao Tzu Tao é simbolicamente representado pelo Tai Chi, que
é o equilíbrio entre o Yin e o Yang. O preto e o branco contendo cada um deles uma semente
do seu oposto. Significa a condução de uma vida baseada na harmonia e no equilíbrio entre os
extremos (GUERRA PEREIRA, 2017).
Tao é algo quase divino, a fonte a partir da qual todas as coisas foram criadas. Nesse
segundo sentido, ele é o “caminho do universo”, a norma, o poder propulsor de toda a
natureza, o princípio ordenador de toda a vida. É a “fonte inesgotável”, o “espírito do
universo”. Num terceiro sentido, o Tao refere-se ao “caminho da vida humana”, quando ela se
harmoniza com o Tao do universo. Os taoístas rejeitam todas as formas de autoafirmação e
competição. Outro aspecto importante é a abordagem ecológica presente no taoísmo. Tal
abordagem busca sintonizar-se com a natureza ao invés de tentar dominá-la, como
normalmente fazem os ocidentais. Lao Tzu mencionou técnicas respiratórias no Livro de Tao
Te Ching.

Tradicionalmente o Taoísmo reverencia os ancestrais e enfatiza a vida em harmonia


com o TAO. Destaca a serenidade, a não ação, o vazio, a moderação, a simplicidade e o
respeito à natureza, considerando os Três Tesouros: a compaixão, a simplicidade e a
humildade.

O livro escrito por Lao Tzu, redigido no período dos Reinos Combatentes, trás a
ideologia do campo. A imagem da vida rural, o sonho de voltar para a vida no campo, para a
vida comunitária, como forma de superar o quadro de batalhas e crise social que a China vivia
naquele momento (MENEZES, 2016).

429
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

“Do caminho, significado de Tao, surge o “um”, aquele que está consciente, e dessa
consciência surge o conceito de “dois” (Yin e Yang), entre os quais o número três está
implícito (céu, terra e humanidade), produzindo tudo no mundo como conhecemos, “as
10.000 coisas”, com harmonia que passa pelos cinco elementos”.

“Nada” é a essência do Tao e a origem do universo. (a origem do universo é nada, e


então, entende-se como o Tao é misterioso – a origem das coisas é uma manifestação de Tao,
é um mistério). Tao é fonte de todas as coisas no mundo. Quando Tao adquire o poder de
produção, as coisas no universo passaram a existir natural e espontaneamente. Não é algo que
pode ser explicado por palavras ou definições. Ser também é resultado de Tao. É preciso
compreendê-lo com o coração e a alma. “Não ser” e “ser”: um é a essência de Tao e o outro é
seu aspecto produtivo. São conceitos opostos que se complementam e se harmonizam quando
estão juntos.

O homem deve ser abnegado e altruísta, não deve ter medo. Deve ser suave e flexível.
Viver de acordo com Tao é conhecer o eterno, alcançar a simplicidade e a quietude, para
compreender tudo a sua volta, compreender o mistério da existência.

Lao Tsu: Na sua concepção, o indivíduo deveria meditar em profunda tranquilidade,


esquecendo todos os seus pensamentos acerca de coisas externas; só então ele poderia ser
preenchido pelo Te, a força vital, de forma alcançar a união com o Tao. O mestre do taoísmo
enfatiza a vida em harmonia, a serenidade, a moderação dos desejos, a compaixão, a
humildade. O que enobrece o homem são suas virtudes, não sua profissão ou posição social o
que acarreta frustação e problemas emocionais (LAO TSU, 2006).

CONFUCIONISMO

Confúcio foi um filósofo que viveu entre 551 a 479 a. C. cujas ideias orientaram a
organização política, social e familiar da China. Com a desordem política do Período da
Primavera e Outono, através de seus pensamentos procurou restabelecer a ordem social e
definir um código moral de conduta. Confúcio admirava a retidão moral, a sabedoria e a
benevolência dos soberanos míticos da época dos Cinco Imperadores e Três Augustos,
governantes exemplares. A essência da sua filosofia compreende que cada um tem um lugar
definido na sociedade que deve ser desempenhado adequadamente e disto depende o
equilíbrio do universo. As ações do superior, que deve ter comportamento exemplar, devem

430
MARIA REGINA REIS PACHECO

servir de modelo para os demais e inspirar obediência. É importante a hierarquia social e


familiar. A dedicação filial relaciona-se aos vivos e aos mortos, e o culto aos ancestrais era
um dos principais rituais do confucionismo. Foi uma ideologia oficial do Império Chinês da
Dinastia Han e um principal guia para a reorganização social, familiar e política: um sistema
conservador que permitiu a estabilidade social (TREVISAN, 2014).
A ênfase principal da doutrina de Confúcio está justamente na importância ética dos
relacionamentos humanos. Seu interesse pelas questões sociológicas reais, como o papel do
indivíduo na sociedade e as regras corretas de conduta, era maior do que seu interesse por
questões religiosas e metafísicas. Uma das ideias fundamentais do Mestre Kung é que a
natureza e o universo estão em harmonia, e isso deve ser aplicado também aos seres humanos.
O conceito Tao também está presente no confucionismo, porém de forma diferente do
taoísmo. Para alcançar a harmonia com o Tao, as pessoas precisam de conhecimento e
compreensão, o que pode ser obtido através do estudo do passado, da tradição. Na concepção
confucionista, é a tradição que ensina ao indivíduo as regras de comportamento correto e qual
é o seu lugar na sociedade. Para Confúcio, o lugar do indivíduo na sociedade é regulado por
cinco relações: entre o senhor e o servo, entre o pai e o filho, entre o esposo e a esposa, entre
o irmão mais velho e o irmão mais novo, entre o amigo mais experiente e o amigo menos
experiente. Conceitos como piedade filial, respeito e reverência são importantíssimos na
concepção de Confúcio.
Como yin e yang, taoísmo e confucionismo representam dois polos inatos do caráter
chinês. Lao Tse representa o polo romântico, caracterizado pela espontaneidade e pela
naturalidade. Confúcio representa o polo clássico, o qual enfatiza a responsabilidade social. O
foco de Confúcio está no humano e o de Lao Tse, naquilo que transcende o humano. Confúcio
desejava educar o ser humano por meio do conhecimento. Lao Tse preferia que as pessoas
permanecessem simples e ingênuas, como as crianças, pois, segundo ele, “o excesso de
conhecimento conduz ao esgotamento” Confúcio ansiava por regras e sistemas fixos na
política. Lao Tse, porém, acreditava que o ser humano deveria interferir o mínimo possível no
desenrolar natural dos fatos. Enquanto Confúcio desejava uma administração bem-ordenada,
Lao Tse acreditava que toda forma de administração é má. Enquanto Confúcio caminha
dentro da sociedade, Lao Tse vagueia além dela. Certamente a sociedade chinesa teria sido
mais pobre se uma ou outra dessas direções não tivesse surgido (CORDEIRO, 2009).

A principal obra, Os Analectos, trás orientações de Confúcio para o homem virtuoso,


apresentada sob a forma de diálogos entre o mestre e seus discípulos ou entre os discípulos.
Até hoje Confúcio é associado ao ensino. No Livro das Cerimônias, um dos Cinco Clássicos
do confucionismo, trata dos rituais da corte, de banquetes, do comportamento familiar, do
luto, entre outros.

431
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Confúcio preconizava a reciprocidade no relacionamento humano, o que se


compreende como respeito ao próximo:
Tzu Kung perguntou: “Existe um único princípio que possa guiar nossas ações ao
longo de toda vida?” O mestre respondeu: “Que tal “shu”: nunca faça ao outro o que você não
gostaria que fizessem a você mesmo” (TREVISAN, 2014).
Para o Tai Chi Chuan o confucionismo oferece as regras éticas e morais. Ensina a não
prejudicar o outro. Recomenda o estudo constante e a educação buscando o aperfeiçoamento e
o aprimoramento tornando-se uma pessoa melhor.

BUDISMO

O Budismo surge na China por meio das rotas comerciais da Ásia Central que ligavam
a China à Índia. A desestruturação do Império pela dominação do norte do país por invasores
estrangeiros no século III d. C. levou à transferência do poder central para o sul e
desestruturou a crença no confucionismo. Novas filosofias ofereciam respostas às questões
sociais. O confucionismo preconizava questões da existência presente e desvalorizava a
crença na vida após a morte o que também contrariava a tradição do culto aos ancestrais. O
budismo se organizava no ambiente dos monastérios e pregava o celibato, o que contrariava a
crença que valorizava a família e o culto aos antepassados. O budismo adaptou-se à China
recebendo a influência do confucionismo e do taoísmo e termina influenciando as duas
filosofias do país.
O budismo foi adotado por soberanos da Dinastia Sui (589-618). Na Dinastia Tang
(618-907) as três filosofias são estimuladas a se difundirem.
A escola do budismo que se estabeleceu na China foi mahayana onde a iluminação
pode ser alcançada por qualquer pessoa. Em theravada era somente para os que levavam uma
vida monástica. Essa ideia de salvação inspirou os chineses, que passaram a idolatrar
divindades budistas (TREVISAN, 2014).

Os chineses traduzem As Quatro Grandes Verdades do Budismo como “As Quatro


Verdades Maravilhosas” ou “As Quatro Verdades Sagradas”. Aceitar o sofrimento
profundamente torna-o sagrado. As Nobres Verdades não são discutíveis. São para entender e
praticar. (HANH4, 2001, apud GUERRA PEREIRA, 2017)

4
HANH, Thich. Nhat. A essência dos ensinamentos de Buda. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
432
MARIA REGINA REIS PACHECO

Bodhidharma viveu por volta de 470 a 543 d. C. Pertenceu à casta dos guerreiros
indianos (ksatryias) e conhecia uma técnica combativa conhecida por Yainanusht que teria
sido utilizada para os exercícios corporais ensinados aos monges do mosteiro Shaolin.
(SANTOS, 2015) Doutrinando monges itinerantes, consegue difundir largamente o Budismo
entre as populações mais pobres, dando ênfase à meditação e não à leitura dos sutras e à
cultura já que, frequentemente, eram analfabetos (AGUIAR, 2009).

A PRÁTICA DO TAI CHI CHUAN

Tai Ji Quan é o nome adotado para esta prática segundo o sistema de romanização
Pinyin, desenvolvido por um comitê governamental da República Popular da China em 1958
e adotado internacionalmente em 1982 (SEVERINO, 2016).
As artes marciais chinesas apresentam-se, inicialmente, através de confrontos tribais e
utilização de armas contra animais através de lanças e machados.

No final da dinastia Xia, a primeira da história da China, surgem os primeiros


conceitos de combate corporal chamado Jiji (técnicas de ataque).

Tai Ji é um estilo de vida praticado pelos chineses no decorrer de sua história.


Desenvolveu-se como arte marcial e foi transmitido de geração a geração. A filosofia do Tai
Ji influencia toda a história da China. Guiou os movimentos de sua cultura em diversas áreas,
desde a Medicina Tradicional Chinesa até a economia, a política e o relacionamento humano.
Este pensamento permite aos chineses amplo desenvolvimento da mente humana através de
uma atividade física. Tai Ji significa “o supremo” no sentido de melhorar e progredir; o ser
humano pode desenvolver suas habilidades potencialmente até atingir o nível supremo. Tai Ji
encoraja o conhecimento e o crescimento individual. É uma filosofia que se baseia na teoria
dos opostos: o yin e o yang. São dois poderes que alternam sua essência e interagem
resultando em equilíbrio, em harmonia. Esse conceito estabeleceu-se em termos de poder
político no período da Primavera e Outono da História da China. A Dinastia Ching
caracterizou-se por ser um regime autoritário e opressor. Para os governantes, o poder yang
representava os agressivos e tinham o poder supremo. Os obedientes e subjugados possuíam o
poder yin, ou seja, mulheres, escravos e homens que eram treinados para seguirem o poder
supremo, ou seja, o rei, representando assim o Yang. A competitividade era encorajada, mas
controlada em benefício dos governantes. Este sistema conserva os princípios do Tai Ji por
centenas de anos, mas através de abusos até mesmo através do Budismo que foi trazido da
Índia. Desse modo, a filosofia budista foi negligenciada e o autocontrole, preconizado pela
doutrina, foi ignorado pelo governo chinês e manipulado para inibir a população. Ao mesmo

433
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

tempo, havia aqueles que procuravam levar o corpo e a mente ao nível supremo e
desenvolveram exercícios que empregavam os princípios do Tai Ji: ”Enquanto a classe
governante Chinesa estava interessada apenas nos benefícios produtivos do Tai Ji, aqueles que
não se preocupavam com as autoridades, estavam adaptando a filosofia aos seus estilos de
vida pessoal” (SEVERINO, 2016).

Pequenos grupos isolados desenvolviam o Tai Ji, independente do sistema político


vigente. Adotaram o Taoísmo como filosofia e viviam de modo similar aos monges.
No período da Dinastia Han e na era dos Três Reinos, um médico chinês chamado Hua
Tuo demonstrou a importância do exercício físico como meio de melhorar a saúde. Imitando
os movimentos dos animais como o pássaro, o tigre, a cobra, o urso e o rato, ou macaco,
conforme a referência estudada, Hua Tuo elaborou exercícios para recuperar a capacidade
física perdida. Essa série de exercícios é conhecida como “O Jogo dos Cinco Animais” ou “A
Luta dos Cinco Animais”. Assim, surge a primeira arte marcial sistematizada na China. Desde
então, a Luta dos Cinco Animais tornou-se popular na China que é praticada como um
exercício para a saúde.

O Qi gong é um termo usado na china para qualquer treinamento ou aprendizado


relativo ao Qi que requeira tempo e esforço. Qi refere-se à energia em termos de força natural
que integra todo o universo. Seria como um “campo energético” que estaria em equilíbrio e
dividido em Qi do Céu, Qi da Terra e Qi do Homem. São os Três Poderes Primordiais citados
no I Ching. Qi da Terra é influenciado pelo Qi do Céu. Qi é a fonte da vida. O Qi do Homem
também deve estar em equilíbrio com as forças da natureza e é influenciado pelos ciclos
naturais do Céu e da Terra. Qi Gong é uma técnica de exercícios com meditação para ajustar o
fluxo de Qi. I Ching ensina o povo chinês sobre o Qi e suas variações na natureza e no
homem. Os exercícios de Qi Gong auxiliam aos taoístas e aos budistas a busca espiritual para
alcançar a iluminação. Qi gong tem referências já na época dos Reinos Combatentes através
de uma relíquia da cultura chinesa, o Pingente de Jade, que tem traçado uma figura humana
em posição de Qi Gong. Desenvolve-se na Dinastia Han (206 aC – 220 d. C. ). A prática do
Qi Gong requer o propósito de enraizamento. A raiz permite a conexão com a terra que
permite a nutrição, a manutenção da vida. Se você mantém a raiz, você pode crescer. Estudar
e entender os exercícios de Qi Gong, entender seus objetivos, permite o controle emocional e
físico, da respiração, da postura e do equilíbrio, o que conduzirá o fluxo de Qi por todo o
corpo físico (SEVERINO, 2016).

434
MARIA REGINA REIS PACHECO

Figura 7. Postura da Árvore no Qi Gong.

FONTE: ARTES DO TAO (2016).

Ba Duan Jin é uma forma de Qi Gong conhecido como As Oito Peças do Brocado ou
Oito Movimentos de Seda. Refere-se a uma sequência de oito exercícios que levam o corpo e
a energia a desenvolverem uma qualidade de seda. O brocado tem cores brilhantes, padrões
sublimes e textura suave, mas é resistente. Foi criado na época da Dinastia Sung pelo general
Yueh Fei, no período das guerras contra os bárbaros do norte. Para melhorar a saúde de seus
soldados, instituiu um programa de treinamento sistemático em arte marcial. Foi o primeiro a
introduzir o wu shu no exército como treinamento básico antes do combate.

Figura 8. As Oito Peças do Brocado.

FONTE: ARTES DO TAO (2016).

Durante a Dinastia Song (960-1279) acredita-se que Chang San Feng tenha criado o
Tai Chi Chuan. Tai Chi Chuan está estruturado em quatro pilares filosóficos: o livro das
Mutações (I Ching), o Taoísmo, o Confucionismo e o Budismo. Compreende o conhecimento
dos Três Sábios: Lao Tzu, Confúcio e Buda.

Por volta de 475 d. C. Bodhidharma, um monge budista indiano veio para a China a
convite de um imperador da Dinastia Liang (502-557 d. C.), mas o soberano não aprovou suas

435
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

teorias e o monge foi residir no Templo Shaolin na área de Tang Fung, no Norte da China
para difundir seus ensinamentos. Ensinou os monges obrigações religiosas, meditação e
treinamentos físicos usando a Luta dos Cinco Animais. Esta luta foi desenvolvendo-se como
uma arte marcial e difundiu-se na China juntamente com os conceitos religiosos dos
seguidores de Bodhidharma. Enfatizava o fortalecimento físico e o desenvolvimento
espiritual. Assim começou a sistematização das Artes Marciais externas na China
(SEVERINO, 2016).
Em 1200 d. C. o monge taoísta Zhang Sanfeng fundou um templo na Montanha
Wudang para a prática do Taoísmo. Recomendava equilíbrio de Yin/Yang para fortalecer o
corpo e a mente, além da meditação e movimentos naturais do corpo propulsados por uma
energia interna adquirida através de treinamento. Observa-se assim o foco para o poder
interno, diferente da sistematização do Templo Shaolin que exprimia o poder externo. O
pensamento Tai Ji e a sua filosofia Yin/Yang desenvolveram-se rapidamente. A dedicação
para atingir a perfeição no Tai Ji permitiu a formação de líderes e proporcionou o
relacionamento de treino mestre-discípulo. Os mestres eram altamente respeitados pela
sabedoria sobre os princípios da filosofia Taoísta e sobre o Tai Ji e ditavam até códigos
morais respeitados até mesmo pelos imperadores. A regra do Tai Ji era corpo e mente em
harmonia com as leis da natureza o que ofereceu resultados em termos de habilidades com o
poder da mente, um poder diferente de outras formas de luta, enfim uma arte marcial
poderosa.

Os períodos de guerra na China impunham aos praticantes de Tai Ji o envolvimento


com as lutas, e restabelecida a paz, só os dedicados à arte continuavam a praticá-la e esta era
transmitida aos interessados, como uma atividade familiar. Sobrenomes de famílias
associaram-se a diferentes estilos de Tai ji e ensinados de geração em geração, todos seguindo
o estilo clássico, mas cada um com algumas particularidades.

Na época da invasão da China pela Manchuria em 1644 estabelece-se a Dinastia


Ching. Os manchurianos tentam integrar-se à cultura chinesa. Os governantes invasores,
tentando compreender o Tai Ji, requisitam um dos grandes mestres da prática, Yang Luchang,
fundador do estilo Yang, para aprender o método. O Mestre Yang, resguardando a verdadeira
técnica do estilo, modificou refletidamente a forma do Tai Ji convertendo-a num movimento
vagaroso e exercício externo, omitindo a filosofia da energia interna e disciplina mental do
Tai Ji. Este fato intensifica o comportamento de transmitir os conhecimentos somente para os
membros da família, protegendo assim os princípios da prática. Essa forma modificada de Tai
Ji é conhecida como Tai Ji Chuan. Mais tarde Wu Jianquan (1870-1942) e Sun Lutang (1861-
1932) desenvolveram seus estilos a partir dos fundamentos da Família Yang.

436
MARIA REGINA REIS PACHECO

Mestre Yang Luchan estudou com o Mestre Chen Changxin. Mestres Yang Luchan
(1799-1873) e Wu Yuxiang (1813 – 1880) eram amigos e Yuxiang aprendeu da família Yang.
Ambos começaram usando a forma Chen e começaram a seguir as teorias de um livro
chamado “Clássicos do Tai Ji” de Wang Zongyue . Reuniram seus conhecimentos e estilos e
criaram uma nova arte marcial com o nome de Tai Ji Quan substituindo alguns movimentos
acelerados e com saltos por atividade suave e fundamentaram a técnica. A cidade de Guangfu
foi sua cidade Natal. Uma dessas primeiras teorias afirmava que Tai Ji Quan foi criado por
Zhang Sanfeng.

As gerações posteriores dessas duas famílias também trabalharam juntas para


combinar a prática e a teoria aperfeiçoando os níveis de treinamento. Como distinguimos as
artes marciais? Em primeiro lugar nós examinamos a teoria. Em segundo, o desempenho de
suas formas. Em terceiro lugar, quais são os métodos de ensino? Esses três pontos nos ajudam
a avaliar as diferenças. Por exemplo, muitos esportes usam bolas: basquete, basebol, futebol,
mas sabemos que são jogos diferentes (SEVERINO, 2016)

A família Yang historicamente tem dois estilos, um chamado de Forma Longa (103
movimentos) e outro chamado de Forma Curta (16 movimentos). Estas práticas possuem
normas que garantem o desenvolvimento da habilidade para atingir a perfeição técnica que
inclui a atividade física, a flexibilidade, a sincronia dos movimentos, o alinhamento do corpo,
a respiração, o equilíbrio e a concentração até o estado meditativo. Dez princípios
caracterizam e regem o estilo Yang:

1. Cabeça ereta e sem tensão para permitir o fluxo de chi e sangue e assim pode-se
permitir que o espírito alcance o topo.
2. Arredondar as costas e afundar o peito: permite o chi atingir o Tan Tien.
Sustentando as costas libera-se a força através da espinha e terás o controle da luta.
3. Relaxar a cintura. A cintura comanda os movimentos do corpo. A parte inferior
fica firme e estável.
4. Diferenciar o “cheio” do “vazio”. Se o corpo está apoiado em uma perna, nesta
está o cheio, o substancial e na outra esta o vazio, o insubstancial. Sabendo-se
diferenciar, o giro é leve e equilibrado e o passo, suave e preciso.
5. Abaixar os ombros e os cotovelos, o que permite o relaxamento dos ombros e o
movimento adequado.
6. Usar a mente e não a força. A força bloqueia. Adquirir habilidade e liberar o
movimento correto através do trabalho da mente. Qi e sangue circulam livremente,
seguindo a mente. Acalmar a mente permite estar alerta. O Tai Ji Quan Clássico
diz: “Quando você está extremamente suave, então você se torna extremamente

437
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

duro e forte”.
7. Coordenar o superior e o inferior. O mais alto e o mais baixo seguem-se
mutuamente. O Tai Ji Quan Clássico diz: “O movimento deveria ser originado nos
pés, liberado através da cintura e manipulado através dos dedos”. Os olhos seguem
os movimentos das mãos e então, pés, cintura e o corpo seguem orientados.
8. Coordenar interior e exterior. "O espírito é o comandante e o corpo é o
subordinado". Coordenar a mente e os movimentos. Dentro e fora se tornam um e
assim a coordenação é completa.
9. Continuidade dos movimentos. Do início ao fim os movimentos são sucessivos e
não interrompidos.
10. Quietude no movimento. Movimentos lentos permitem controle da respiração.
Inspirações e expirações longas e profundas permitem o chi aprofundar no Tan
Tien (região inferior do tórax compreendida por três pontos: o umbigo, um ponto
oposto ao umbigo, na região da exponha, chamado portão da vida, e o períneo).

A consciência do alinhamento do tronco, dos movimentos de todo o corpo requerem


uma sequência bem coordenada dos segmentos corporais (XAVIER, 2008).

ESTUDO DO YOGA E DO TAI CHI CHUAN COMO PRÁTICAS DE SAÚDE

Muitos estudos procuram demonstrar os efeitos do yoga e do tai chi chuan como
auxiliares na recuperação da saúde e na prevenção de doenças. São práticas que oferecem
importante recurso para a saúde já que aplica regras nas posturas físicas com controle da
realização dos movimentos, exercícios respiratórios com participação consciente do trabalho
do diafragma e distintos estados de meditação.
Estudos têm procurado demonstrar que o TCC pode melhorar a função
cardiorrespiratória em portadores de doenças cardíacas.
Em uma revisão sistematizada da literatura que foi realizada em 2014 avaliou os
efeitos do TCC na reabilitação cardíaca em pacientes com doença arterial coronariana. Foram
usados dados de MEDLINE, EMBASE, LILACS e Registro Cochrane de Ensaios
Controlados. De 201 estudos, foram selecionados 12 manuscritos e nove foram excluídos.
Três ensaios clínicos randomizados foram destacados. Estes estudos de revisão sistematizada
compreendiam pacientes com diagnóstico comprovado de doença arterial coronariana estável
clinicamente e com condições de praticar atividade física. O grupo controle nos três estudos
foi composto por praticantes de qualquer categoria de treinamento físico (aeróbico e/ou de
resistência). O tempo de acompanhamento foi de dois a doze meses. O primeiro trabalho
apresentava pacientes após enfarto agudo do miocárdio. Após dois meses de atividade, tanto o

438
MARIA REGINA REIS PACHECO

grupo controle quanto os que praticavam TCC apresentaram redução da pressão arterial
diastólica. No segundo trabalho, após um ano de prática de TCC, os pacientes demonstraram
aumento significativo da sensibilidade baroreflexa (reflexo barorreceptor é um dos
mecanismos de controle da pressão arterial que atua ajustando a frequência cardíaca e o tônus
simpático) e no grupo controle não houve diferença significativa para este parâmetro. No
terceiro estudo, após três meses de atividade, o grupo de tai chi chuan apresentou aumento no
escore do teste Chair Stand (teste que avalia a força e resistência das pernas), do tempo One-
Leg Stand (teste de suporte em uma perna) e se tornaram mais rápidos no teste 8 Foot Up-
and-Go (testa velocidade, agilidade e equilíbrio), além de aumento da flexibilidade e no
número de repetições no teste do degrau. Surgiram evidências que o Tai Chi Chuan possa ser
uma forma não convencional de reabilitação cardíaca apresentando-se como uma terapêutica
adjuvante no tratamento de pacientes com doença arterial coronariana estável, entretanto a
qualidade metodológica dos artigos incluídos e o tamanho das amostras evidenciam a
necessidade de novos estudos clínicos randomizados sobre o tema (NERY, 2014).

Em um estudo sobre equilíbrio em idosos enfatiza o envelhecimento e o sedentarismo


prejudicando a estabilidade levando ao aumento do número de quedas. A diminuição do
equilíbrio é um entre grande número de alterações fisiológicas e funcionais do
envelhecimento. É um processo que requer ajustes constantes da atividade muscular e do
posicionamento articular. O exercício é medida preventiva e terapêutica para estes reajustes e
para melhorar a amplitude dos movimentos. Neste estudo o autor considera o TCC uma
atividade de intensidade moderada de grande popularidade em todo o mundo. Idosos
sedentários cadastrados no Programa de Saúde da Família na faixa etária dos 60 aos 70 anos
foram avaliados em três tempos: antes, durante e depois, durante um período de seis meses de
atividade de TCC. Vinte e um idosos responderam a um questionário estruturado com
características gerais e de saúde e foram submetidos à escala de equilíbrio de Berg
(questionário com quatorze questões cujas respostas são pontuadas e colocadas em um gráfico
que relaciona o equilíbrio e o risco de quedas). Um questionário complementar foi utilizado
para conhecer as percepções dos idosos e da equipe de Saúde da Família. Os resultados
demonstraram melhora significativa (p<0,01) entre os tempos da primeira e da terceira
avaliação de Berg. Não houve diferença significativa entre os componentes do grupo em
relação ao gênero, idade, escolaridade, estado civil, aposentadoria, diferenças em relação à
saúde e outras comorbidades. Houve diminuição significativa do número de quedas. Ocorreu
melhora da postura, da respiração, da flexibilidade e da socialização. O estudo permitiu
concluir que o TCC pode ser uma atividade acessível, de baixo custo, de baixo a moderado
impacto e permite o cuidado no processo de envelhecimento da população (XAVIER, 2008).
Um estudo de revisão sistemática de Wang em 2004 avaliou os efeitos do TCC em
439
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

pacientes com doenças crônicas. Foram selecionados nove estudos randomizados, 23 não
randomizados e 15 estudos observacionais, resultando em 47 análises. Foram avaliados o
equilíbrio, a força, o alongamento, a resistência, a flexibilidade, a estabilidade postural, a
função cardiovascular e respiratória, o sistema imune, os sintomas de artrite e os efeitos
psicológicos. Sete estudos revelaram que oito a doze semanas de treinamento melhoram
significativamente o equilíbrio, a flexibilidade e a força extensora dos joelhos, reduzindo a
ocorrência de quedas. Um dos estudos combinou o treinamento de força e peso por três meses
e seis meses de TCC o que levou a um impacto favorável em termos de equilíbrio. Três
estudos em indivíduos que praticavam Tai Chi por 1 a 35 anos revelaram que estes tinham
maior flexibilidade em membros inferiores do que não praticantes, além de melhor velocidade
de marcha, equilíbrio, desempenho cardiovascular e redução do risco de quedas. Estudos
sobre os efeitos nas condições musculoesqueléticas em pacientes com osteoartrite notificaram
que doze semanas da prática melhoram significantemente os sintomas, o nível de tensão, a
satisfação com o estado de saúde e menor atividade da doença. Já em uma publicação de
pacientes com artrite reumatóide submetidos a dez semanas de prática não mostrou diferença
significativa com o grupo controle na atividade da doença. Pacientes com esclerose múltipla
foram submetidos a oito semanas de prática de tai chi em um estudo mostrou aumento da
velocidade para caminhar e da flexibilidade isquiotibial, além da melhora da vitalidade, da
sociabilidade, saúde mental e habilidade para executar atividades físicas, potencializando a
independência e a melhora da qualidade de vida. Estudos em pacientes hipertensos que
praticaram tai chi por oito a doze semanas e três anos, a redução da pressão arterial média foi
encontrada no grupo de prática regular. Em uma comparação com exercícios aeróbicos,
ambos os grupos, de tai chi e exercícios aeróbicos foram associados à redução da pressão
sistólica e tai chi reduziu a pressão diastólica em pacientes em recuperação por infarto do
miocárdio. No sistema cardiorrespiratório, dois estudos de coorte com 90 e 84 pessoas com
6,3 e 6,7 anos de experiência com tai chi, respectivamente, demonstraram que a captação de
oxigênio no grupo tai chi foi significativamente maior que no grupo controle. Um estudo de
caso controle com 76 pessoas com média de 69 anos com 11,8 anos de prática em tai chi,
estes apresentaram maior volume de oxigênio no teste stand-and-reach (na posição em pé e
alcançar os pés) e menor porcentagem de gordura corpórea que sedentários da mesma idade.
Dois estudos avaliaram os efeitos do tai chi em 38 pessoas com idade entre 58 e 70 anos em
uma comunidade e 20 pacientes com média de idade de 57 anos com baixo risco e que
sofreram cirurgia de revascularização miocárdica; após um ano de treinamento quatro vezes
por semana houve melhora significativa na função cardiorrespiratória, força, flexibilidade e
aumento do volume de oxigênio, comparados com os grupos controle. Em um estudo que
comparou a prática do tai chi com Wing Chun, uma prática com movimentos rápidos, com
golpes e chutes cronometrados para alcançar potência máxima, a ventilação equivalente ao
440
MARIA REGINA REIS PACHECO

volume de oxigênio foi significativamente menor em tai chi. Os autores consideraram que os
movimentos lentos e não intensos do tai chi poderiam não ser adequados para melhorar a
aptidão cardiorrespiratória. Resultados relacionados aos efeitos do tai chi nas funções
cardiovascular e pulmonar foram bem reportados em 11 publicações de pesquisadores
chineses. Embora um destes estudos referisse que a intensidade metabólica da atividade
parece ser insuficiente para gerar melhora na aptidão cardiovascular em adultos jovens
saudáveis, outros estudos sugerem que a prática regular do tai chi pode atrasar o declínio da
função cardiorrespiratória em indivíduos mais velhos. Os efeitos psicológicos do tai chi foram
avaliados em três estudos randomizados e três não randomizados. Destes, resultados de dois
estudos randomizados com 283 adultos pouco ativos que participaram de um programa de tai
chi dezesseis semanas ou seis meses indicaram melhora comparados com o grupo controle
quanto ao bem estar psicológico relacionado com depressão, angústia, satisfação de vida, bem
estar e percepção de saúde. Outro estudo randomizado examinou os efeitos psicológicos em
90 crianças em idade escolar, 52 meninos e 38 meninas que praticaram 12 semanas de tai chi
e neste grupo houve melhora significativa nos itens autoconhecimento e integração motora
visual. Dois estudos não randomizados com 186 pacientes no total relataram que 1 a 46 meses
de tai chi melhoraram o humor e reduziram o estresse e a ansiedade. Em um estudo com nove
pacientes idosos com diagnóstico de demência por múltiplos infartos ou doença de Alzheimer
participaram duas vezes por semana por mais de sete semanas e foram avaliados antes e
depois do tai chi, concluindo-se que reminiscências estruturadas, com a prática, permitiram
que a linha de pensamento fosse facilitada além do nível normalmente manifestado. Para o
sistema imunológico, um estudo não randomizado com 60 idosos mostrou que o número total
de linfócitos T circulantes, incluindo linfócitos T ativos, era significantemente mais elevado
no grupo praticante de tai chi (30 idosos saudáveis que regularmente praticavam por quatro
anos ou mais) do que no grupo não praticante (30 idosos). A maioria dos estudos não
randomizados não tinha grupo controle ou tinham pequenos tamanhos de amostras; outros não
tinham detalhes das informações, o estilo da forma do TCC e suas modificações também não
foram esclarecidos, assim como informações sobre as habilidades dos instrutores. Outra
dificuldade foi estabelecer as dimensões dos benefícios de acordo como tempo de
treinamento. Parece ser uma atividade segura e efetiva em pacientes em condições crônicas,
entretanto existem limitações nos estudos que dificultam as conclusões sobre o assunto e
melhores estudos são necessários (WANG, 2004).
Um estudo randomizado para avaliar os efeitos do yoga nos sintomas da fibromialgia
foi realizado com uma amostra de 53 mulheres com idade mínima de 21 anos, média 53,7,
com diagnóstico da doença há um ano e recebendo tratamento farmacológico e/ou não
farmacológico há pelo menos três meses. Foram distribuídas aleatoriamente 25 mulheres e
estas foram submetidas a oito semanas de prática de yoga, o que englobava 40 minutos de
441
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

posturas, 20 minutos de exercícios respiratórios, 25 minutos de meditação, 20 minutos de


apresentação didática sobre o yoga e 25 minutos de discussões em grupo. O grupo controle de
28 pacientes foi colocado em uma lista de espera para ser chamado para a prática. Este estudo
foi baseado em outro estudo que demonstrou efeitos das posturas de yoga em mulheres com
câncer de mama que constatou melhora da dor, fadiga, qualidade do sono e humor, sintomas
que predominam na fibromialgia. A resposta foi avaliada através de questionário, testes
físicos, com determinação de tender points, medida de força e equilíbrio, além de seguir-se
uma agenda diária. Houve significante melhora dos sintomas no grupo de yoga como dor,
fadiga, rigidez, perda de memória, ansiedade, sensibilidade e perda de equilíbrio. Também
houve melhora do aspecto de como lidar com a dor. Seria interessante adicionar técnicas de
avaliação cognitiva e do nível de instrução dos pacientes. Amostra pequena, pequeno período
de seguimento, a confiança na resposta dos questionários foram questionados. É um estudo
promissor o que justifica um estudo mais aprofundado (CARSON, 2010).
No International Journal of Cardiology foi publicado um artigo sobre os efeitos do
yoga sobre os fatores de risco da doença cardiovascular por meio de uma revisão sistemática e
meta-análise. Os estudos selecionados foram ensaios clínicos randomizados e estudos
cruzados randomizados. Foram incluídos participantes saudáveis, participantes não diabéticos
com alto risco de doença cardiovascular (hipertensão, síndrome metabólica, obesidade,
dislipidemia e resistência à insulina) e participantes com diabetes mellitus tipo II. Os estudos
compararam yoga com o tratamento usual, ou outro tipo de tratamento, e participantes sem
tratamento. Dados foram pesquisados em Medline/Pubmed, Scopus, the Cochrane Library e
IndMED. De um total de 1515 trabalhos foram adequados à análise 44 ensaios clínicos
randomizados. Destes, 21 continham participantes saudáveis, 12 abrangiam pacientes não
diabéticos com alto risco de doença cardiovascular e 11 continham pacientes com diabetes
tipo II com um total de 3168 participantes com tamanho de amostra variando entre 16 e 420
(mediana de 49). A idade variou entre 10,8 a 75,4 anos (média de 48,2). Os estudos tinham
origem de vários países. O tempo de prática de yoga foi de três dias a um ano, com média de
doze semanas. Trinta trabalhos compararam o yoga com tratamento usual ou sem tratamento,
doze usaram exercícios nas intervenções de controle e seis usaram intervenções educacionais
e psicológicas. Referente ao tratamento comum ou sem tratamento, yoga melhorou a pressão
sistólica e diastólica com diferença média de – 5,85 mmHg e -4,12 mmHg, respectivamente.
A frequência cardíaca e frequência respiratória com diferença média de -6,59 bpm e -0,93
respirações/min, respectivamente. A circunferência abdominal e a relação cintura-quadril
tiveram uma diferença média de -1,95 cm e -0,02 cm, respectivamente. Colesterol total -13,09
mg/dl, HDL 2,94 mg/dl, VLDL -5,70 mg/dl, triglicérides -20,97 mg/dl, HcA1c – 0,45% e
resistência à insulina – 0,19. Esta meta-análise sobre os efeitos do yoga sobre os fatores de
risco para doenças cardiovasculares revelou efeitos clinicamente importantes na pressão
442
MARIA REGINA REIS PACHECO

sanguínea, nas frequências cardíaca e respiratória, circunferência abdominal, níveis de lipídios


sanguíneos e da resistência à insulina. Os efeitos não foram claramente evidenciados em bias,
mas a segurança e a efetividade do yoga permite que seja considerada uma intervenção
auxiliar para pessoas saudáveis ou com risco aumentado para doença cardiovascular
(CRAMER, 2014).
Os efeitos do Hatha-Yoga nos níveis de estresse e ansiedade de mulheres
mastectomizadas, fatores que estão relacionados à recorrência e progressão da doença e
importantes para a recuperação física e emocional, foram objetos de estudo através de um
ensaio clínico aleatorizado controlado. Variáveis qualitativas como a idade, estado civil,
religião, escolaridade, profissão, tabagismo, etilismo, estadiamento da doença e fase do
tratamento foram pesquisadas para demostrar possível correlação. A amostra foi composta por
45 mulheres encaminhadas ao Programa de Reabilitação para Mulheres Mastectomizadas, 19
colocadas no grupo controle e 26 no grupo experimental, distribuídas aleatoriamente. As do
grupo experimental foram orientadas à prática individual de seis sessões de 45 minutos. As
sessões eram compostas de acolhimento e interiorização, orientação da respiração
diafragmática, realização de posturas corporais acompanhadas de exercício respiratório,
relaxamento e exercícios de concentração para a meditação. Guias práticos foram utilizados
para incentivar a prática domiciliar. Após as sessões as variáveis foram avaliadas através de
formulário. Os dados coletados foram avaliados através do Inventário de Ansiedade e Estado,
instrumento composto por itens que avaliam os níveis de ansiedade. O estresse foi avaliado
pelo instrumento Lista de Sinais e Sintomas de Estresse. A comparação dos dados mostrou
que não houve diferença significativa entre os grupos em relação às variáveis qualitativas,
então possíveis de comparação, e também não houve diferença significativa entre os grupos
quanto ao traço de ansiedade, estado de média intensidade de ansiedade, no momento inicial.
O grupo experimental diminuiu de forma significativa passando para estado de baixa
ansiedade do momento inicial para o final, com diferença significativa, o mesmo ocorrendo
com os sinais e sintomas de estresse. A autora refere o yoga como uma disciplina que permite
uma perspectiva a nível físico, mental, espiritual e social. O Hatha-Yoga auxilia a mulher no
enfrentamento do câncer de mama, promovendo o autoconhecimento, a melhora da
autoestima e do gerenciamento da ansiedade e do estresse (BERNARDI, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todas as civilizações trazem em sua trajetória uma herança particular para o mundo.
Alguns povos deixaram documentos de inestimável valor, lendas, obras de arte, monumentos,
formas de expressão, danças, músicas, culinária, artefatos e muito, muito mais.

443
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

A civilização que deu origem ao Yoga conquistou a sobrevivência à catástrofe natural


com a mudança do curso de um rio que sustentava a civilização do Indus e reconstruiu a
organização da sociedade indiana após invasões de seu território. Da mesma forma a
civilização chinesa mostrou uma enorme força em suas convicções, que foram postas à prova,
uma geração após a outra durante os períodos de conquista territorial. As duas civilizações
deixaram, dentro de suas escolas filosóficas, ensinamentos extraordinários. O Absoluto
Universal presente em todas as coisas, o Uno que o filósofo Lao Tzu chama de Tao, no
hinduísmo é o Ser Eterno e no budismo, o Dharma, a verdade, são manifestações do Infinito,
que está em tudo, com diferentes formas de expressão. É uma energia que abrange o céu, a
terra e os seres vivos. E esta energia transforma-se, propaga-se, desloca-se. Regras de
moralidade, respeito aos outros à natureza e a nós mesmos, o autoconhecimento e inúmeros
atributos nos deixaram estas filosofias. De importância principal para a nossa saúde deixaram
o yoga e o tai chi chuan.
Tai chi Chuan, a arte marcial chinesa que, em chinês, traduz-se pelo vocábulo wushu.
Em seu sentido literal, significa “parar as armas”. É uma técnica que tem como objetivo evitar
a guerra e devolver à natureza sua condição original, em resposta a tantos conflitos e
desestabilização social. É uma arte que nos protege e previne em nós mesmos a violência. É
uma prática meditativa onde os movimentos são combinados com a respiração e a
concentração, o que permite o fluxo de “energia”, trabalha o equilíbrio, a flexibilidade e a
coordenação mão olho. A meditação em movimento.
De acordo com Chang San Feng: a suavidade e a flexibilidade superam a dureza e a
rigidez.
As posturas do yoga permitem este mesmo fluxo, a distribuição harmoniosa da energia
vital. Exercícios respiratórios auxiliam o controle da mente. Posturas que possibilitam a
massagem de órgãos internos.

São práticas que oferecem importante recurso para a saúde já que aplicam regras,
posturas físicas com controle da realização dos movimentos, exercícios respiratórios e
distintos estados de meditação. Proporcionam a manutenção da saúde e auxiliam sua
recuperação frente a várias doenças. Propiciam a conscientização do próprio corpo e o
autoconhecimento. São práticas físicas e espirituais. São acessíveis a todos.
É inquestionável valor das duas práticas para a humanidade. Cientificamente há ainda
muito a ser feito, mas o caminho já está sendo percorrido.

Figura 9: Famílias e estilos de tai chi chuan

444
MARIA REGINA REIS PACHECO

FONTE: ARTES DO TAO (2016).

445
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

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MARIA REGINA REIS PACHECO

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448
MÔNICA DA SILVA NUNES

14. Efeitos das práticas corporais chinesas para


pacientes com doença pulmonar obstrutiva
crônica: revisão da literatura

Monica da Silva Nunes

449
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

RESUMO

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e uma doença importante por sua alta
prevalência, alta morbidade e mortalidade. A principal causa e o tabagismo, além de fatores
genéticos. Inicia com tosse crônica produtiva, evoluindo ao longo do tempo com limitação ao
movimento, falta de ar, fadiga muscular, alterações nutricionais e disfunções
musculoesqueléticas. Além do tratamento medicamentoso, recomenda-se a reabilitação pulmonar
na forma de exercícios. Este estudo efetuou uma revisão da literatura publicada de 2010 até 2018
em periódicos indexados na língua inglesa sobre os efeitos do Tai Chi Chuan para pacientes com
DPOC. Foram identificados 11 artigos publicados sobre o tema, referentes a sete ensaios clínicos
e um estudo fisiológico. Os resultados mostraram que o Tai Chi Chuan, quando praticado
frequentemente, promove a reabilitação pulmonar desses pacientes, sendo equivalente ou ainda
superior aos programas convencionais de reabilitação pulmonar, e algumas vezes com efeito
mais duradouro do que os programas convencionais de exercícios.

Palavras-chave: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, Reabilitação pulmonar, Tai Chi Chuan,
Estudo experimental

ABSTRACT

Chronic obstructive pulmonary disease (COPD) is an important disease due to its high
prevalence, high morbidity and mortality. The main cause is smoking, as well as genetic
factors. It begins with productive chronic cough, evolving over time with limited movement,
shortness of breath, muscle fatigue, nutritional changes and musculoskeletal dysfunctions. n
addition to medical treatment, pulmonary rehabilitation in the form of exercises is
recommended. This study reviewed the literature published on the effects of Tai Chi Chuan for
patients with COPD from 2010 to 2018 in English language and in indexed journals. We
identified 11 published articles on the subject, referring to seven clinical trials and one
physiological study. The results showed that Tai Chi Chuan, when practiced frequently,
promotes the pulmonary rehabilitation of these patients, being equivalent to or even superior to
conventional pulmonary rehabilitation programs, and sometimes with a longer lasting effect
than conventional exercise programs.

Key Words: Chronic Obstructive Pulmonary Disease, Pulmonary Rehabilitation, Tai Chi Chuan,
Experimental Study

450
MÔNICA DA SILVA NUNES

RESUMEN

La enfermedad pulmonar obstructiva crónica (EPOC) es una enfermedad importante por su


alta prevalencia, alta morbilidad y mortalidad. La principal causa y el tabaquismo, además de
factores genéticos. Se inicia con tos crónica productiva, evolucionando a lo largo del tiempo con
limitación al movimiento, falta de aire, fatiga muscular, alteraciones nutricionales y disfunciones
musculoesqueléticas. Además del tratamiento medicamentoso, se recomienda la rehabilitación
pulmonar en forma de ejercicios. Este estudio efectuó una revisión de la literatura publicada de
2010 a 2018 en periódicos indexados en la lengua inglesa sobre los efectos del Tai Chi Chuan
para pacientes con EPOC. Se identificaron 11 artículos publicados sobre el tema, referentes a
siete ensayos clínicos y un estudio fisiológico. Los resultados mostraron que el Tai Chi Chuan,
cuando se practica frecuentemente, promueve la rehabilitación pulmonar de estos pacientes,
siendo equivalente o aún superior a los programas convencionales de rehabilitación pulmonar, ya
veces con efecto más duradero que los programas convencionales de ejercicios.

Palabras clave: Enfermedad Pulmonar obstructiva crónica, Rehabilitación pulmonar, Tai Chi
Chuan, Estudio experimental

451
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

INTRODUÇÃO

EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO DA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA


CRÔNICA

Segundo a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença pulmonar obstrutiva


crônica (DPOC) é um termo usado para designar um conjunto de doenças que causam obstrução
ao fluxo de ar no pulmão (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018). As bases
patológicas da DOPC incluem inflamação das vias respiratórias, com remodelamento das
mesmas, e destruição de alvéolos pulmonares, com perda da elasticidade do parênquima,
geralmente resultando na limitação do fluxo de ar (GLOBAL INITIATIVES FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 1). Antigamente, eram usados os termos “bronquite
crônica” e “enfisema” para designar esses processos, respectivamente. (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2018). Os principais sintomas são falta de ar, produção de secreção e
tosse crônica.
A DPOC é uma causa importante de morbidade e mortalidade, com alta prevalência. Em 2004, a
OMS estimou haver 64 milhões de pessoas com DOPC no mundo e 3 milhões de óbitos devido a
essa doença, correspondendo a 5% dos óbitos mundiais. A previsão e que ocorra um aumento de
mais de 30% no número de óbitos por DPOC, e até 2030 ela se tornara a terceira principal causa
de morte no mundo, caso medidas preventivas não sejam tomadas (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2018).
Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da DPOC são o tabagismo, tanto ativo
como passivo, a poluição do ar externa e intradomiciliar, e os vapores e gases industriais
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018). Um estudo feito em 28 países entre 1990 e
2004, e outro feito no Japão, mostraram que a prevalência de DPOC e muito maior em homens
do que mulheres; em fumantes e ex-fumantes do que não fumantes; e naqueles acima dos 40
anos (MENEZES1 et al., 2005 apud GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 8). Em homens a principal causa e o tabagismo; já

1
MENEZES, A.M. et al. Chronic obstructive pulmonary disease in five Latin American cities (the
PLATINO study: a prevalence study. Lancet, v. 366, n. 9500, p. 1875-1881, 2005.
12

452
MÔNICA DA SILVA NUNES

em mulheres não tabagistas o principal fator de risco é a fumaça advinda do ato de cozinhar em
fogão a lenha,principalmente no Oriente Médio, África e Ásia (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DA SAÚDE, 2018). Inicialmente, o paciente apresenta tosse crônica produtiva, e a limitação ao
movimento do ar aparece depois, ao longo dos anos. Como é um processo longo, geralmente o
diagnóstico de DOPC é feito somente após os quarenta anos de idade (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2018).

Geralmente os pacientes com DPOC apresentam comorbidades, relacionadas tanto ao tabagismo


como a idade. Além disso, a DPOC apresenta efeitos extra-pulmonares que contribuem para
essas comorbidades, como perda de peso, alterações nutricionais e disfunções
musculoesqueléticas, bem como risco maior de osteoporose, fraturas, distúrbios do sono, anemia,
glaucoma e câncer pulmonar (VAN WEEL, SCHELLEVIS, 2006; STAVEM et al., 2005).

DIAGNÓSTICO DA DPOC

Uma vez que a principal característica da DPOC e a limitação do fluxo de ar, o diagnóstico dessa
doença é feito através de testes de função pulmonar. As provas de função pulmonar envolvem a
espirometria, a avaliação de volumes pulmonares, a capacidade de difusão do monóxido de
carbono (DCO), as pressões expiratórias máximas, os testes de bronco-provocação, a oximetria,
a gasometria arterial, e os testes de exercício (PEREIRA, 2001). Na DPOC, são usados
principalmente o teste de espirometria antes e após broncodilatador, e os testes com exercícios,
podendo, a critério clínico, serem usados também outros testes para diagnostico, estadiamento ou
ainda acompanhamento do tratamento (PEREIRA, 2001)

A espirometria mede volumes e fluxos aéreos. As principais medidas avaliadas são a capacidade
vital lenta (CV), a capacidade vital forcada (FVC), o volume expiratório forcado no primeiro
segundo (FEV1), e suas relações (FEV1/CV e FEV1/FVC). A espirometria antes e após o uso de
broncodilatador é o teste diagnóstico e de estadiamento (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 19962, apud PEREIRA, 2001).

__________________
2
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. I Consenso Brasileiro
sobre Espirometria. Jornal Brasileiro de Pneumologia, n. 22: 105-164, 1996

13

453
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

A quantificação do distúrbio na pulmonar na DPOC é expressa em termos de porcentagem,


sendo o distúrbio classificado em leve moderado e grave, conforme a porcentagem alcançada dos
valores de referências da normalidade (PEREIRA, 2001).

A DCO expressa o tamanho do enfisema, e permite distinguir o enfisema da asma (McLEAN et


al., 19923 apud PEREIRA, 2001). As pressões expiratórias máximas avaliam a força dos
músculos expiratórios e podem ser usadas para avaliação de dispnéia e distúrbio restritivo
(BERSACOLA et al, 19984 apud PEREIRA, 2001). A oximetria estima a saturação do oxigênio
da hemoglobina a partir do leito capilar, e é um bom exame para avaliar resultados de terapia
(PEREIRA, 2001). Os testes de exercício mais comuns são: a) teste cardiopulmonar ao
exercício, que mede o consumo de O2, a produção de CO2, a ventilação, a frequência cardíaca e
respiratória, alterações eletrocardiográficas, saturação de O2 e outros parâmetros; b) teste de
exercício para dessaturação de O2 com oximetria, em caminhada em corredor, subida de degraus
ou esteira; c) teste para broncoespasmo induzido por exercício (PEREIRA, 2001). Na DPOC
esses testes permitem avaliar a necessidade de suplementação de O2 (CARLIN et al, 19945 apud
PEREIRA, 2001), avaliar o nível de incapacidade, identificar a presença de doença cardíaca
concomitante (KILLIAM et al, 19926 apud PEREIRA, 2001), e avaliar a necessidade de
condicionamento físico, bem como monitorar os programas de reabilitação (PEREIRA, 2001).

ESTADIAMENTO DA DPOC E EVOLUÇÃO

A DPOC é atualmente classificada em estágios (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC


OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 8). O estágio I (DPOC leve) caracteriza-se por
limitação leve do fluxo de ar (FEV1/FVC < 0.70; FEV1 ≥ 80% previsto), com presença de tosse
crônica e produção de secreção ou não. Geralmente esse estágio passa desapercebido pelo
paciente.
______________________________________________
3
McLEAN, A. et al. Microscopic and macroscopic measurements of emphysema: relation to
carbon monoxide gas transfer. Thorax, v. 47, p. 144-149, 1992
4
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5
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6
KILLIAM, K.J. et al. Exercise capacity and ventilator, circulatory, and symptom limitation in patients
with airflow limitation. American Review of Respiratory Diseases, v. 16, p. 935-940, 1992

14

454
MÔNICA DA SILVA NUNES

No estágio II (DPOC moderada), há aumento da restrição ao fluxo de ar (FEV1/FVC < 0.70; 50%
≤ FEV1 < 80% previsto), com sensação de falta de ar ao exercício, e eventual tosse com
secreção. Neste estágio muitos pacientes procuram atendimento médico.

O estágio III (DPOC grave) apresenta piora da limitação do fluxo de ar (FEV1/FVC < 0.70; 30%
≤ FEV1 < 50% do previsto), falta de ar mais intensa, capacidade de exercícios reduzida, fadiga, e
exacerbações repetidas que afetam a qualidade de vida.

Finalmente, no estágio IV (DPOC muito grave) há intensa limitação ao fluxo de ar (FEV1/FVC <
0.70; FEV1 < 30% do previsto ou FEV1 < 50% do previsto) e falência respiratória crônica
(pressão de oxigênio em sangue arterial menor do que 60 mm Hg ao nível do mar). Nesse estágio
pode aparecer o cor pulmonale (insuficiência do lado direito do coração), levando a uma grave
restrição da atividade física. Práticamente todo fumante pode chegar ao estágio IV, mesmo após
parar de fumar.

A tosse crônica e a secreção podem aparecer muito tempo antes da limitação ao fluxo de ar, o
que permite uma intervenção precoce antes do quadro grave. As causas do óbito na DPOC
costumam ser doenças cardiovasculares, câncer pulmonar e insuficiência respiratória. (GLOBAL
INITIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 8).

MECANISMOS CAUSAIS DA DPOC

A patologia da DPOC envolve as vias aéreas proximais, periféricas, parênquima pulmonar e


vasos pulmonares. Ocorre inflamação crônica, presença de células inflamatórias e mudanças
estruturais decorrentes das lesões e do processo de reparo. Essas alterações inflamatórias e
estruturais aumentam com a progressão da doença e persistem mesmo quando o tabagismo e
interrompido, por exemplo (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG
DISEASE, 2006, p. 24). Essa inflamação crônica e uma resposta exacerbada a presença de
irritantes ou oxidantes, como a fumaça do cigarro, mas também pode ocorrer na ausência do
mesmo, sendo ainda amplificada pelas enzimas proteinases em excesso, algo que parece ser
mediado geneticamente (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG
DISEASE, 2006, p. 24).

15

455
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Limitação do fluxo de ar e retenção de ar


A obstrução das vias respiratórias periféricas ocorre devido a inflamação e fibrose, resultando na
retenção do ar expirado e na hiperinflação pulmonar, com diminuição de VEF1 e da razão
VEF1/FVC (HOGG et al., 20047 apud GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 24). A hiperinsuflação, por sua vez, reduz a capacidade
inspiratória, aumentando a capacidade residual funcional, principalmente durante o exercício,
resultando em faltar de ar e limitação da capacidade de efetuar exercícios, daí a limitação que
esses pacientes apresentam na execução do esforço físico (GLOBAL INITIATIVE FOR
CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 24-29).

Alterações na troca de gases


A destruição parenquimatosa que ocorre no enfisema causa alteração na troca de gases,
resultando em hipoxemia e hipercapnia. A obstrução das vias aéreas periféricas também resulta
no desequilíbrio da relação Ventilação Alveolar e Perfusão (Va/Q), e combinada com o
enfraquecimento dos músculos leva a uma redução da ventilação, resultando na retenção do
dióxido de carbono. Essas anomalias na ventilação alveolar e a redução da vasculatura pulmonar
decorrente da destruição de septos piora a relação Va/Q (GLOBAL INITIATIVE FOR
CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 24).

Hipersecreção de muco
A presença da hipersecreção de muco e mais característica da bronquite crônica, e nem sempre
está associada a limitação do fluxo de ar. Nem todos os pacientes com DPOC possuem essa
hipersecreção. Ela ocorre devido a metaplasia mucosa do epitélio e aumento das glândulas da
submucosa em resposta aos irritantes crônicos como a fumaça do cigarro e outros vapores
(GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 24).

Hipertensão pulmonar
Nos estágios mais tardios, poderá ocorrer hipertensão pulmonar leve a moderada, devido à
____________________________________
7
HOGG, J.C. et al. The nature of small-airway obstruction in chronic obstructive
pulmonary disease. New England Journal of Medicine, v. 350, n. 26, p. 2645-2653, 2004

16

456
MÔNICA DA SILVA NUNES

vasoconstricção por hipóxia das pequenas artérias pulmonares. Isso pode resultar em alterações
estruturais como hiperplasia da intima dos vasos e hipertrofia da camada muscular lisa dos vasos,
com disfunção endotelial. A destruição do leito vascular que ocorre no enfisema também
contribui para o aumento da pressão na circulação pulmonar. Por sua vez, a hipertensão
pulmonar progressiva leva a hipertrofia ventricular direita, podendo chegar a insuficiência
cardíaca direita, chamada de cor pulmonale (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 24).

Efeitos sistêmicos

A DPOC envolve vários sintomas sistêmicos, principalmente nos pacientes mais graves
(AGUSTI et al., 20038 apud GLOBAL INITIATIVES FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG
DISEASE, 2006, p. 24). O emagrecimento é comum, devido à perda de massa muscular por
apoptose e desuso. Também há risco maior de ter osteoporose, depressão e anemia, bem como
aumento no risco de doença cardiovascular (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 24).

Exacerbações
A exacerbação e uma amplificação da resposta inflamatória existente na DPOC, geralmente
desencadeada pela presença de vírus, bactérias ou agentes poluentes. Na exacerbação há aumento
da retenção de ar e redução do fluxo expiratório, com redução do fluxo expiratório, levando ao
aumento da dispneia (PARKER et al., 20059, apud GLOBAL INITIATIVES FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 24).

TRATAMENTO DA DPOC

Enquanto o diagnóstico é relativamente simples, a redução dos fatores de risco nem sempre e,
dado o fato de que o tabagismo ainda é amplamente usado no mundo, e nem todos tem acesso a
____________________________________________
8
AGUSTI, A.G. et al. Systemic effects of chronic obstructive pulmonary disease.
European Respiratory Journal, v. 21, n. 2, p. 347-360, 2003
9
PARKER, C.M. et al. Physiological changes during symptom recovery from
moderate exacerbations of COPD. European Respiratory Journal, v. 26, n. 3, p. 420-
428, 2005

17

457
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

métodos alimentares sem o uso do fogão a lenha. Mas o mais difícil é o tratamento da doença já
instalada, dependendo do grau de comprometimento pulmonar.

Segundo a OMS, o objetivo do tratamento da DPOC é prevenir a progressão da doença,


diminuir os sintomas, aumentar a tolerância ao exercício, melhorar o estado de saúde, prevenir e
tratar as complicações e as exacerbações, e reduzir a mortalidade (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DA SAÚDE, 2018).

Em pacientes com DPOC estável, a OMS recomenda atividades no sentido de educar o paciente
a conviver com a doença e aprender meios de melhorar sua saúde. Isso inclui cessar o habito de
fumar, mas também outras medidas profiláticas. O tratamento farmacológico da DPOC não
modifica a evolução a longo prazo da DPOC, que se caracteriza pela diminuição progressiva da
função pulmonar. Isso significa, em outras palavras, que mesmo usando medicação a progressão
da doença para um estado incapacitante, imóvel e dependente do uso de oxigênio continuará a

ocorrer. Por isso, a reabilitação pulmonar vai além do tratamento medicamentoso, que por si só
não é capaz de agir em todas essas etapas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018).

Em termos de tratamento farmacológico, as drogas disponíveis incluem broncodilatadores,


corticóides inalatórios, corticoides sistêmicos, entre outros. Cada classe de drogas tem seus
efeitos benéficos e também efeitos colaterais, além de algumas contraindicações na presença de
outras comorbidades, como cardiopatias, osteoporose e outras. Portanto, nem todos os
medicamentos podem ser usados por todos os pacientes, devendo ser o tratamento farmacológico
avaliado e indicado por um profissional especializado (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE, 2018). As demais medidas incluem a realização de exercícios, o aconselhamento
nutricional, o uso de oxigênio, o suporte ventilatório não- invasivo, tratamentos cirúrgicos e
ainda o transplante pulmonar (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG
DISEASE, 2006, p. 32).

O uso de exercícios na reabilitação do paciente está indicado pela OMS para todos os pacientes,
bem como o aconselhamento nutricional, enquanto as demais medidas são indicadas conforme a
gravidade da doença (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018).

EXERCĺCIOS E DPOC

Vários estudos já mostraram que a disfunção pulmonar acaba resultando em limitação da


18

458
MÔNICA DA SILVA NUNES

capacidade de fazer exercícios (LIN et al., 2012; CRISAFULLI et al., 2012), evoluindo até para
dificuldade em andar e efetuar movimentos normais. Os sintomas da DPOC fazem com que se
exercitar pareça uma atividade desagradável pois a sensação de falta de ar aumenta, devido a
retenção de ar e hiperinflação dos pulmões (McCARTHY et al., 2015). O aumento da falta de ar
causa ansiedade, aumentando o desconforto e piora da DPOC. Por isso alguns pacientes,
principalmente aqueles em estado avançado da doença, acabam tendo uma redução da qualidade
de vida (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018). Essa dificuldade em fazer
exercícios acaba levando a inatividade do paciente, que por sua vez piora a função pulmonar,
pois a musculatura que não e usada enfraquece. A inatividade por sua vez pode levar ao aumento
da secreção, o que reduz ainda mais a ventilação pulmonar. (BEAUCHAMP et al., 2012). A
inatividade física é um preditor de mortalidade nas pessoas com DPOC.

Sabe-se que o exercício físico e uma forma importante de reabilitação pulmonar, melhorando a
dispneia e o estado geral de saúde, e também diminuindo o número de intercorrências.
(McCARTHY et al., 2015). Podemos mencionar as evidências clinicas do benefício da
reabilitação pulmonar na DPOC a partir de vários ensaios clínicos, sendo elas a melhora da
capacidade de fazer exercícios, a redução da intensidade da falta de ar, a melhora na qualidade de
vida, a redução do número de hospitalizações e sua duração, a redução da ansiedade e depressão
associadas a doença, a melhora da função dos braços, o aumento da sobrevida, e a duração de
parte desses benefícios após o período de treinamento (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 32). Porisso tanto a OMS como a American
Thoracic Society e a European Respiratory Society enfatizam a importância do exercício no
tratamento da DPOC (McCARTHY et al., 2015).

A reabilitação pulmonar e definida como

“uma intervenção ampla baseada na avaliação continua do paciente com uma terapia
individualizada que inclui exercícios, educação, e mudança de hábitos, destinada a
melhoria das condições físicas e psicológicas das pessoas com DPOC e promover a
aderência a longo prazo a comportamentos mais saudáveis” (SPRUIT et al., 2013).

A Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease recomenda que a reabilitação
pulmonar seja oferecida para os seguintes pacientes: paciente com DPOC moderada e severa,
pacientes com DPOC estável, pacientes que apresentem sintomas respiratórios contínuos;
pacientes com capacidade de exercícios diminuída, e pacientes que não melhoraram somente
19

459
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

com medicação (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE,


2006, p. 32).

Os programas de reabilitação pulmonar variam muito de instituição para instituição. Geralmente


se constituem de caminhadas, ou no ritmo próprio, ou em um ritmo definido. A intensidade do
exercício costuma ser direcionada para aquela que não traz desconforto para o paciente. Para
aqueles com limitação severa pela doença ou por comorbidades, o uso de aparelhos que auxiliem
na locomoção pode ajudar. Alguns programas envolvem medidas complementares, como uso de
oxigênio durante o exercício, estimulação neuromuscular, e técnicas alternativas de respiração,
mas a comprovação de eficácia dessas medidas ainda não existe (GLOBAL INITIATIVE FOR
CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 32).

As sessões costumar ser oferecidas de uma vez na semana até todos os dias, com tempos que
variam entre 10 e 50 minutos por sessão, e com intensidade variável do exercício. (MAHLER,
1998). A duração da reabilitação ainda não está definida. Algumas evidências mostram que o
tempo mínimo de programa para ser efetivo é de 6 semanas (BEHNKE et al., 2000; FINNERTY
et al., 2001), enquanto outras sugerem pelo menos 8 semanas. (BEAUCHAMP, 2011), com um
mínimo de 28 sessões de exercício. Já outros estudos sugerem sessões 3 vezes por semana
(NICI et al., 2006). Apesar da recomendação de que o treinamento seja planejado
individualmente, o treino em geral e feito em grupos, sendo recomendado uma proporção de
instrutor/aluno de 1: 4 a 1:8 (GLOBAL INITIATIVES FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE
LUNG DISEASE, 2006, p. 32). Os exercícios costumar conter treinos do membro superior e
membro inferior, treinos de resistência aeróbica e de forca. A movimentação dos membros
superiores pode ser útil para pacientes com fraqueza da musculatura respiratória (BELMAN et
al., 199410; LOTTERS et al., 200211, apud GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC
OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p. 32).

A avaliação no programa de reabilitação deve ser efetuada antes do início e ao seu termino, pelo
menos, geralmente sendo feita múltiplas avaliações. Tanto a espirometria quanto a avaliação da

______________________________________
10
BELMAN, M.J. et al. Ventilatory load characteristics during ventilatory muscle training.
American Journal of Respiratory Critical Care, v. 149, n. 4 Pt 1, p. 925-929, 1994.
11
LOTTERS, F. et al. Effects of controlled inspiratory muscle training in patients with
COPD: a meta-analysis. European Respiratory Journal, v. 3, p. 570-576, 2002

20

460
MÔNICA DA SILVA NUNES

musculatura inspiratória e expiratória devem estar presentes, assim como a forca dos membros
inferiores. O estado geral de saúde na DPOC é importante, existindo vários questionários para
isso, como o Chronic Respiratory Disease Questionnaire (GUYATT et al., 1987) e o St. George
Respiratory Questionnaire (JONES et al., 1991). A avaliação do quadro mental também e feita,
usando-se escalas para medir ansiedade e depressão, entre outras comorbidades.
Alguns exercícios permitem não só avaliar a gravidade da DPOC, mas também medir a melhora
funcional do paciente no programa de reabilitação. Um desses exercícios e a caminhada de 6
minutos, onde se mede a distância que o paciente consegue caminhar no intervalo de tempo de 6
minutos (SPRUIT et al., 2012).
Estudos sobre programas de reabilitação pulmonar mostraram que eles são capazes de diminuir
o uso de serviços de saúde e também a duração de internações, bem como melhora da capacidade
de andar no estado de saúde em geral. Troosters et al. (2005) mostraram que a reabilitação
pulmonar pode aumentar o consumo de oxigênio em 11%, aumento do tempo de exercícios em
87% e aumento de 9 metros na caminhada de 6 minutos. Os exercícios levam a ao aumento do
volume inspiratório e redução da hiperinsuflação dinâmica, levando a redução da dispneia bem

como ao aumento da função muscular, diminuição do cansaço e aumento da tolerância ao


próprio exercício (SPRUIT et al., 2013). Entretanto, a adesão dos pacientes a programas de
exercício tende a ser baixa, além dos mesmos serem infrequentes (PUHAN et al., 2008),
devendo portanto serem estimulados a participarem da reabilitação.
O aconselhamento nutricional também faz parte do programa de reabilitação. Cerca de 25% dos
pacientes com DPOC tem redução do índice de massa corporal, o que e um fator de risco para o
óbito (GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006, p.
32). Por fim, os programas devem incluir a modificação comportamental, levando o paciente a
mudar padrões alimentares e também a cessação do tabagismo, bem como a prática regular de
atividade física e correções da respiração (SPRUIT et al., 2013).

DPOC E A MEDICINA CHINESA

Na medicina chinesa, o pulmão representa o elemento metal, e está ligado a emoção da tristeza.
Segundo Yamamura e Yamamura (2010), a DPOC e causada pela plenitude do Fei-Yang e pela
deficiência do PI (Baco/Pâncreas), levando a acumulo de umidade, agredindo o pulmão,
desencadeando o vazio do Yin e a plenitude do Yang, que seca a umidade do Pulmão, enquanto

21

461
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

o Yang do Fígado contrai a musculatura lisa dos brônquios, levando a dispneia expiratória.
Portanto, a DPOC, na concepção da medicina chinesa, e’ o resultado de um mecanismo
complexo, sendo seu tratamento feito através de acupuntura e também dos exercícios corporais.
Já o enfisema deve-se ao vazio do Shen Qi (energia dos rins) e do Fei Qi (energia do pulmão)
com vazio predominante do Yin desses órgãos. Assim, não é possível reter o Yang. ocorrendo o
secamento dos líquidos desses órgãos.

A FILOSOFIA TAI CHI E O TAI CHI CHUAN

Tai Chi (ou Tai Ji, ou T’ai Chi) é uma filosofia que surgiu há milhares de anos atrás, e que foi
integrada em várias partes da cultura chinesa. A sistematização da filosofia Tai Chi em práticas
corporais começou há cerca de 1700 anos atrás, quando um médico chamado Hua Tuo criou as
artes folclóricas da luta dos cinco animais, que se popularizou entre o povo. Depois em 75 D.C. o
Bodhidarma entrou na China e aprofundou esse sistema de artes marciais entre os
mongesbudistas, dando origem a arte marcial Shaolin. Posteriormente, em 1200 d.C, o monge
Taoísta Zhang Sanfeng fundou um templo na Montanha Wudang, combinando os elementos
taoístas com os budistas, e difundindo a filosofia Tai Chi. A partir daí, surgiram alguns mestres
que aperfeiçoaram a técnica, e deram origem a diferentes estilos de prática, ensinados no âmbito
familiar. Esses exercícios de Tai Chi também foram chamados de Tai Chi Chuan, ou T’ai Chi
C’huan, ou Tai Ji Quan. O primeiro deles foi Wang Zongyue no século 13, que desenvolveu o
“Taijiquan Lun” . Depois Chen Wangting criou o punho longo e o punho de algodão. Chen
Changxing, da família Chen, criou as 13 posturas, que foram aperfeiçoadas por Yang Luchan
(1799-1872) e Wu Yuxiangg. Yang Luchan foi o fundador do estilo Yang ou do sistema da
família Yang, e Wu Yuxiang (1813 – 1880) criou o estilo Wu/Hao. Há ainda o estilo tradicional
Wu, criado por Quanyou e Wu Jianquan, e o estilo Sun, criado por Sun Lutang, derivado do
estilo Wu/Hao. (SEVERINO; SOCI, 2016).
Depois, com a revolução política de 1900 a 1910, alguns chineses figuram para o Ocidente,
levando consigo a arte, que, no entanto, sofreu modificações e deu lugar a um estilo moderno de
Tai Chi Chuan, que tem muitas diferenças do estilo clássico ensinado pelas famílias tradicionais.
Em 1956, após a Revolução Cultural Chinesa, a prática do Tai Chi Chuan clássico foi proibida e
o governo criou formas simplificadas e populares, chamadas simplesmente de Tai Chi Chuan ou
Taijiquin (LAN et al., 2001), sem a denominação do estilo, que passa a ser único no sistema
oficial governamental.
22

462
MÔNICA DA SILVA NUNES

O Tai Chi Chuan tornou-se popular no Ocidente nas últimas décadas, gerando interesse da classe
de profissionais de saúde e da ciência. Pode ser praticado sozinho ou em grupos, não necessita
de equipamentos, e pode ser efetuado ao ar livre.
O Tai Chi Chuan constitui-se em movimentos do tronco, da cabeça e das extremidades, unidos
em sequência de maneira suave, com transição geralmente lenta entre um movimento e outro
(HONG, LI, ROBINSON et al., 2000). Durante a execução do Tai Chi Chuan, é necessário que
haja respiração diafragmática e rítmica, integrando esses movimentos com o equilíbrio do corpo
e concentração mental (LAN et al., 2013). A prática do Tai Chi Chuan também inclui a
respiração e o relaxamento muscular ativo com movimentos lentos e delicados em posturas
estáticas (CHEON et al., 2013), onde ocorre contração concêntrica e excêntrica das extremidades
(LAN et al., 2000). Segundo Lan et al. (2001), o Tai Chi Chuan preenche as recomendações do
Colégio Americano de Medicina do Esporte como exercício que promove o condicionamento

cardiorrespiratório por ter movimentos lentos, harmoniosos, envolver coordenação motora, exigir
movimentos contínuos, requerer contração muscular e ter baixo impacto ortopédico com poucas
lesões.

Estudos recentes mostraram que o Tai Chi Chuan pode atuar como exercício físico aeróbio de
moderada intensidade. Zheng et al. (2015) avaliaram 20 estudos clínicos sobre o efeito do Tai
Chi Chuan na resistência cardiovascular em pessoas sadias. Esses estudos incluíram Tai Chi
Chuan do estilo Yang, entre outros, com treinamento entre 8 semanas e vários anos, sendo
praticados de 2 a 7 vezes na semana, de 12 a 60 minutos por sessão. Os autores concluíram que o
TC e eficiente em melhorar o condicionamento cardiorrespiratório em adultos saudáveis, sendo
que após a metanálise foi encontrada redução da pressão arterial de repouso, frequência cardíaca
de repouso, aumento do volume sistólico e também do debito cardíaco no repouso, bem como
aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio, utilização efetiva de energia pelo coração
esquerdo, forca da bomba ventricular esquerda. Também houve aumento da função respiratória
avaliada pela capacidade vital forcada, ventilação máxima de minuto, o volume expiratório
forcado no primeiro segundo, o consumo de O2 máximo, e na resistência cardiorrespiratória
medida pelo teste de escada e oximetria.

Lan et al. (2001) também demonstrou o efeito do Tai Chi Chuan na função cardiorrespiratória.
Quinze voluntários sadios com idade entre 29 e 56 anos, práticantes de Tai Chi Chuan, foram
avaliados durante a prática do TC, para se determinar a intensidade do exercício. Os resultados

23

463
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

mostraram que durante a execução do TC ocorre mudanças na frequência cardíaca e o consumo


de O2 compatíveis com atividade aeróbica de moderada intensidade.

Mesmo em idosos, tem se demonstrado que a prática do Tai Chi Chuan e benéfica para melhora
da resistência aeróbia. Em um dos poucos estudos brasileiros publicados sobre o Tai Chi Chuan,
Chao et al. (2012) mostraram que 11 idosas sedentárias, quando submetidas a prática de Tai Chi
Chuan por 50 minutos, três vezes na semana, por 12 semanas, tiveram aumento da resistência
aeróbia, demonstrado pelo aumento dos resultados do teste da caminhada de seis minutos e da
marcha estacionaria de dois minutos. Isso mostra a capacidade do Tai Chi Chuan de melhorar as
condições físicas mesmo em idosos previamente sedentários.

O Tai Chi Chuan também é benéfico em idosos por melhorar a função cardíaca, a ventilação
pulmonar e a resistência ao fluxo de sangue cerebral. Song et al. (2014) mostraram que em 108

idosos sedentários na faixa de idade dos 60 aos 70 anos, previamente saudáveis, que praticaram
Tai Chi Chuan do estilo Chen diariamente por 12 meses, por pelo menos 60 minutos, houve
melhora estatisticamente significante na função respiratória ( capacidade pulmonar e ventilação
alveolar por minuto máxima) a partir dos 6 meses de treino, na função cardíaca (volume sistólico
final, fração de ejeção e frequência cardíaca) a partir de 12 meses, e na circulação sanguínea
cerebral (tempo de inspiração e amplitude) a partir de 12 meses de treino. Esses achados
sugeriram que houve compensação das células musculares cardíacas, com aumento de sua
contratilidade, aumento na capacidade de acumular sangue e na função de bomba do mesmo,
promove expansão do leito vascular dos vasos cerebrais e aumento do metabolismo cerebral,
bem como aumento do funcionamento do diafragma com aumento da amplitude de elevação, e
mudanças na pressão torácica e abdominal, com melhora da circulação sanguínea e da ventilação
pulmonar.

Estudos vem demonstrando que o Tai Chi Chuan contribui para a melhora cardiorrespiratória dos
pacientes também com doenças crônicas. Nery et al. (2015) mostraram que pacientes com infarto
do miocárdio recente submetidos a treinamento de Tai Chi Chuan como forma de reabilitação
tiveram um aumento do consumo de O2 pico (consumo máximo de oxigênio atingido antes da
estabilização da quantidade de oxigênio captado) após as 12 semanas de tratamento quando
comparados com pacientes infartados que praticaram exercícios de alongamento apenas. Uma
possível explicação para esse resultado e que o Tai Chi Chuan, ao combinar movimentos do
corpo com exercícios respiratórios diafragmáticos profundos melhora a ventilação pulmonar,
24

464
MÔNICA DA SILVA NUNES

principalmente devido à expansão torácica que ocorre na fase inspiratória (CHAO et al., 200212
apud NERY et al., 2015; BROWN et al., 198913 apud NERY et al, 2015) demonstraram que a
porcentagem de ventilação por minuto usada na ventilação alveolar era maior durante o TCC do
que em exercícios feitos em bicicleta ergométrica. A disponibilidade de oxigênio para troca
gasosa no nível tecidual aumenta durante exercícios ventilatórios, fazendo com que o trabalho do
musculo esquelético seja mais eficiente e aumente o consumo de O2 pico (SONI, MUNISH,
SINGH et al, 201214, apud NERY et al., 2015).

Apesar das evidencias mostrando o benefício do Tai Chi Chuan para pacientes com DPOC,
McCarthy et al. (2015) excluíram estudos com Tai Chi Chuan da revisão sistemática publicada
recentemente na Cochrane Library com a justificativa de que exercícios de Tai Chi Chuan não

envolvem treinamento aeróbico, mostrando desconhecimento sobre essa arte milenar validada
por estudos científicos.

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho e efetuar uma revisão dos artigos publicados sobre os efeitos da prática
do Tai Chi Chuan como forma de reabilitação pulmonar para pacientes com Doença pulmonar
obstrutiva crônica.

METODOLOGIA

1.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO DE ESTUDOS

Foram incluídos ensaios clínicos publicados entre janeiro de 2010 e junho de 2018, cujos
resultados registraram os efeitos da prática de Tai Chi Chuan em pacientes previamente
diagnosticados como portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica, e que foram publicados
em periódicos indexados na base Pubmed, Scielo ou Crochrane Library.

METODOLOGIA

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO DE ESTUDOS

Foram incluídos ensaios clínicos publicados entre janeiro de 2010 e junho de 2018, cujos
25

465
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

resultados registraram os efeitos da prática de Tai Chi Chuan em pacientes previamente


diagnosticados como portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica, e que foram publicados
em periódicos indexados na base Pubmed, Scielo ou Crochrane Library.

______________________________________
12
CHAO, Y.F. et al. The cardiorespiratory response and energy expenditure of Tai-Chi-Qui-Gong.
American Journal of Chinese Medicine, v. 30, n. 4, p. 451-461, 2002
13
BROWN, D.D. et al. Cardiovascular and ventilatory responses during formalized T'ai Chi
Chuan exercise. Research Quarterly for Exercise and Sport, v. 60, n. 3, p. 246-250, 1989
14
SONI, R., MUNISH, K., SINGH, K.P. S.S. Study of the effect of yoga training on diffusion
capacity in chronic obstructive pulmonary disease patients: A controlled trial. International
Journal of Yoga, v.5, n. 2, p. 123-127, 2012.

MÉTODO DE BUSCA DOS ARTIGOS

Como na literatura inglesa os exercícios de Tai Chi Chuan são denominados simplesmente por
Tai Chi, efetuou-se uma busca de artigos na base PubMed
(https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/), usando-se os seguintes termos; Tai Chi + COPD; Tai
Chi + pulmonary; Tai Chi + lung, Tai Chi + emphysema; Tai Chi + bronchitis. Usou-se também
a palavra Taijiquan no lugar de Tai Chi, e a grafia Tai Chi Chuan para buscas adicionais. Os
mesmos termos foram usados na base Scielo (www.scielo.org) e na base Cochrane Library (
www.cochranelibrary.com). Além do termo COPD, foram usados os demais termos para se
ampliarem as chances de identificação de estudos pertinentes.

MÉTODO DE SELEÇÃO DOS ARTIGOS

Foram pré-selecionados estudos publicados entre 2010 e 2018, nas línguas inglesa, espanhola ou
portuguesa. Os títulos e/ou resumos foram lidos, excluindo-se estudos duplicados, aqueles que
não se relacionavam a DPOC, ou que relatavam apenas experimentos com animais ou culturas de
células. Também foram excluídos descrições de casos, opiniões pessoais, estudos feitos somente
com pessoas sadias ou com doenças extrapulmonares, ou ainda protocolos a serem
implementados e ainda não executados. Também foram excluídos do estudo artigos publicados
em outra língua, como chinês, ou anteriores a 2010, ou ainda artigos não disponíveis
gratuitamente ou através do sistema de acesso da USP.
26

466
MÔNICA DA SILVA NUNES

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO NA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Foram incluídos no estudo apenas os artigos que se encaixaram nos critérios descritos
anteriormente e que se constituíram de (a) ensaios clínicos ou estudos de fisiologia, onde
pacientes foram submetidos a exercícios de Tai Chi Chuan e analisados posteriormente; (b)
revisões sistemáticas e/ou metanálises; (c) artigos do tipo evidence map.

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO NA ANÁLISE DE DADOS

Foram analisados somente os artigos relatando estudos experimentais (ensaios clínicos e estudos
de fisiologia)

BUSCA COMPLEMENTAR DE ARTIGOS

Os artigos que consistiam de revisões sistemáticas e metanálises, ou ainda do tipo evidence map
(revisões estruturadas não sistemáticas) foram lidos para a identificação de outros estudos que
porventura se encaixavam nos critérios de busca e inclusão.

RESULTADOS

IDENTIFICAÇÃO DOS ARTIGOS

Foram encontrados 167 artigos com essas palavras de busca na base Pubmed, sendo 34
encontrados com os termos Tai Chi + COPD, 46 com os termos Tai Chi + lung, 86 com os
termos Tai Chi + pulmonary. Nenhum artigo foi encontrado usando- se os termos Tai Chi +
emphysema ou Tai Chi + bronchitis. AS buscas usando-se o termo Taijiquan e Tai Chi Chuan ao
invés de Tai Chi tiveram resultados idênticos. Após a leitura do título ou resumo, foram
excluídos 54 artigos listados mais de uma vez, e 75 artigos relatando estudos efetuados com
cultura de células ou animais, pessoas sadias ou com outra doença pulmonar que não DOPC,

27

467
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

asma ou bronquite, ou ainda, protocolos a serem implementados.

Trinta e oito artigos foram acessados na integra para verificar-se a adequação ao tema e aos
critérios de inclusão. Desses, 29 corresponderam aos termos Tai Chi + COPD, 5 aos termos Tai
Chi + pulmonary, e 4 aos termos Tai Chi + lung. Nove estudos foram excluídos por se referirem
a estudos com pessoas sadias ou outras doenças que não a DPOC.

Dos 29 artigos restantes, 5 foram excluídos por serem revisões não-sistemáticas, cartas ou
opiniões de especialista ou carta ao editor. Restaram, portanto, 11 artigos originais, 4 revisões
sistemáticas, 7 estudos de metanálise, e 2 artigos do tipo evidence map.

Os resultados da busca na base Cochrane Library identificaram 13 artigos com os termos Tai
Chi + COPD, 33 artigos com os termos Tai Chi + lung, e nenhum artigo com os termos Tai Chi
+ emphysema ou bronchitis. Desses 46 artigos, apenas 1 revisão sistemática se adequava aos
critérios de inclusão, entretanto a mesma já havia sido identificada na busca realizada na base
PubMed.

Na base Scielo, foram identificados 32 artigos sobre Tai Chi, mas nenhum estudo incluía
pacientes com DPOC, sendo todos excluídos da análise. As etapas de seleção dos artigos são
mostradas na Figura 1.

Figura 1.

28

468
MÔNICA DA SILVA NUNES

Artigos identificados através busca em banco de Termos de busca no PubMed:


dados (PubMed) de Jan 2010 a Julho 2018 Tai Chi + COPD (n = 34); Tai Chi + lung (n = 46);
N = 167 Tai Chi + pulmonary (n = 86);
Tai Chi + emphysema/ Tai Chi + bronchitis ( n = 0)
*Buscas com Taijiquan tiveram os mesmos resultados

Artigos acessados na integra para


verificar adequação ao tema (n = 38) Exclusão de 129 artigos após leitura do resumo ou titulo
Tai Chi + COPD (n = 29) *Listado mais de uma vez ( n = 54)
Tai Chi + pulmonary (n = 5) * Estudos efetuados com cultura de células ou animais, pessoas sadias
Tai Chi + lung (n = 4) ou com outra doença pulmonar que não DOPC, asma ou bronquite, ou
ainda, protocolos a serem implementados ( n = 75)

Exclusão após leitura do artigo, por se referirem a


estudos com pessoas sadias ou outras doenças:
Tai Chi + pulmonary (n = 5); Tai Chi + lung (n = 4)
Tipos de artigos
* Revisões sistemáticas e metanálise (n =7 )
* Revisões sistemáticas sem metanálise ( n =
4)
* Evidence map ( n = 2) Exclusão de artigos por não incluírem informação
* Revisões não-sistemáticas, opiniões, cartas adicional
( n = 5) * Revisões não-sistemáticas, opiniões, cartas ( n = 5)
* Artigos originais (n = 11)

OUTRAS BASES DE BUSCA

Artigos pré-selecionados:
* Revisões sistemáticas e metanálise (n =7 ) Cochrane Library
* Revisões sistemáticas sem metanálise ( n = 4) Termo de busca:
* Evidence map ( n = 2); * Artigos originais (n Tai Chi + COPD (n = 13);
= 11) Excluídos: 9 por não s relacionarem a COPD ou tai chi; 1 por
ser repetido, 2 protocolos não implementados .
Identificada 1 revisão sistemática sobre COPD, entretanto a
mesma já havia sido incluída na busca do PubMed.

Tai Chi + Lung ( n = 33);


Excluídos: 28 por não se relacionarem a COPD; 5 por serem
Artigos incluídos no estudo: * Artigos originais (n = 11) repetidos. Incluídos: 0

Scielo
Termo de busca: Tai Chi, taiji, taijiquan; Resultado: 32
Busca de bibliografia suplementar a partir dos artigos pré- artigos , todos excluídos (nenhum sobre COPD)
selecionados (nenhum selecionado)
* Ensaio Clinico em chinês ( n = 8) Busca de bibliografia suplementar a partir dos artigos
* Ensaio clinico em chinês anterior a 2010 (2) pré-selecionados (nenhum selecionado)
* Ensaio Clinico em chinês ( n = 8)
* Ensaio clinico em chinês anterior a 2010
(2)
29

469
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 1 – Etapas na seleção de artigos para a pesquisa (Fonte: a autora).

As revisões sistemáticas, metanálise e os artigos do tipo evidence map foram usados somente
para identificação de outros artigos que porventura não haviam sido identificados anteriormente.
A busca de bibliografia suplementar a partir desses 13 artigos pré-selecionados identificou 8
ensaios clínicos publicados em chinês no período de 2010 a 2016, e 2 ensaios clínicos publicados
em chinês anterior a 2010. Todos esses artigos foram excluídos do presente estudo pelo fato de
ao ser possível acessar ou entender a publicação. Foram incluídos na análise de dados, portanto,
11 artigos originais de pesquisa sobre os efeitos do Tai Chi Chuan em pacientes com DPOC
(Quadro 1).
ANO DE PUBLICAÇÃO, ORIGEM DOS AUTORES E PAĺS DE ESTUDO

Dos 11 artigos analisados, dois foram publicados em 2010, um em 2011, três em 2013, dois em
2014, um em 2016 e dois em 2018. Foram identificados 6 grupos de pesquisa responsáveis pela
publicação desses artigos: um dos Estados Unidos (A), dois grupos da China com participação de
pesquisadores ingleses em cada um deles (B e E), um da Austrália (C), um grupo da China com
participação de pesquisador localizado nos Estados Unidos (F), e um grupo de pesquisa
exclusivamente com pesquisadores localizados na China (D), (Quadros 1 e 2). Dos onze estudos
publicados, um estudo foi conduzido nos Estados Unidos, um na Austrália, e os demais na China
(Quadro 2).

FORMAÇÃO ACADÊMICA DOS PESQUISADORES E FILIAÇÃO

Somente duas publicações informavam a formação acadêmica dos autores, sendo os mesmos
médicos, portadores de título de PhD (Doutor em Ciências), MSc (Mestre em Ciências) ou MPH
(Mestre em Saúde Pública). Exceto por um autor, a filiação de todos os demais autores dos
artigos envolveu a área da Saúde, sendo alguns de Escolas de Enfermagem, Departamento de
Fisioterapia, Unidades de Saúde Intensiva, Escolas de Saúde Pública, Medicina Preventiva,
Saúde da Família ou Pneumologia. O pesquisador não ligado a área da Saúde era ligado ao
Serviço de Interpretes em Medicina da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Em
apenas dois estudos conduzidos nos Estados Unidos houve a participação de membros de
unidades de Medicina Integrativa e Complementar, ligados a Universidade de Harvard (Quadro
2).

30

470
MÔNICA DA SILVA NUNES

Quadro 1 - Artigos sobre efeito do Tai Chi Chuan em pacientes com DPOC incluídos na análise
Legenda: (a) Financiamento da National Institutes of Health, Estados Unidos, (b) Financiamento da Novartis China

Titulo Autores Ano Grupo Financia


mento
1 Tai Chi Exercise for Patients With Chronic Gloria Y Yeh, David H 2010 A Sima
Obstructive Pulmonary Disease: A Pilot Study Roberts, Peter M Wayne,
Roger B Davis,
Mary T Quilty, Russell S
Phillips
2 Effectiveness of a Tai chi Qigong program in Aileen W K Chan, Albert 2010 B Sim
promoting health-related quality of life and perceived Lee, Lorna K P Suen,
social support in chronic obstructive pulmonary Wilson W S Tam
disease clients
3 Tai chi Qigong improves lung functions and activity Aileen W K Chan, Albert 2011 B Sim
tolerance in COPD clients: A single blind, Lee, Lorna K P Suen,
randomized controlled trial Wilson W S Tam
4 The sustaining effects of Tai chi Qigong on Aileen W.K. Chan, Albert 2013 B Sim
physiological health for COPD patients: A Lee, Diana T F Lee, Lorna
randomized controlled trial K P Suen, Wilson W S Tam,
S Y Chair, Peter Griffiths
5 Evaluation of the Sustaining Effects of Tai Chi Aileen W K Chan, Albert 2013 B Sim
Qigong in the 6- Month in Promoting Psychosocial Lee, Diana T F. Lee, Janet
Health in COPD Patients: A Single-Blind, W H Sit, S Y Chair
Randomized Controlled Trial
6 Short-form Sun-style t’ai chi as an exercise training Regina Wai Man Leung, 2013 C Sim
modality in people with COPD Zoe J McKeough, Matthew
J Peters, Jennifer A Alison
7 The Effect of Tai Chi on Chronic Obstructive Ruichao Niu, Ruoxi He, 2014 D Não
Pulmonary Disease: A Pilot Randomised Study of Bai-ling Luo, Chengping Hu
Lung Function, Exercise Capacity and Diaphragm
Strength
8 Effectiveness of incorporating Tai Chi in a pulmonary Lorna Ng, Lap Kin Chiang, 2014 B Sim
rehabilitation program for chronic obstructive Raymond Tang, Cheetham
pulmonary disease (COPD) in primary care -- a pilot Siu , Lawrence Fung, Albert
randomized controlled trial. Lee, Wilson Tam.
9 Physiological responses to Tai Chi in stable patients Zhi-Hui Qiu, Hong-Xi Guo, 2016 E Sim
with COPD Gan Lu, Ning Zhang, Bai-
Ting He, Lian Zhou,Y.M.
Luo, Michael I Polkey
10 Tai Chi and Pulmonary Rehabilitation Compared for Michael I Polkey, Zhi-Hui Qiu, 2018 E Simb
Treatment-Naive Patients With COPD - A Lian Zhou, Meng-Duo Zhu,
Ying-Xin Wu, Yong-Yi Chen,
Randomized Controlled Trial Sheng-Peng Ye, Yu-Shan He,
Mei Jiang, Bai-Ting He,
Bhavin Mehta, Nan-Shan Zhong,
Yuan-Ming Luo
11 A modified 6-form Tai Chi for patients with COPD Sucui Zu, Kun Shi, Jin Yan, 2018 F Sim
Zhiping He, Yan Wang,
Qifeng Yi, Hui Huang

31

471
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Quadro 2 – Informações sobre os artigos selecionados para analise quanto a pais de estudo, instituição e departamento de origem dos autores,
periódico e fator de impacto, e presença de financiamento para o estudo.
Autor e Pais do Instituição dos autores Departamento dos autores Periódico,
Ano estudo continente e fator de
impacto
YEH et EUA Beth Israel Deaconess Medical Pesquisa e Educação em Respir Care
al., 2010 a Center, Harvard Medical School, Terapias Complementares e (Americano)
EUA Integrativas, Medicina Geral e 2.073
Atenção Primaria, Pneumologia
e Medicina Intensiva
CHAN et China The Chinese University of Hong Escola de Enfermagem, Depto Qual Life Res
al., 2010 Kong, The University of Hong de Medicina da Família e (Europeu)
Kong, China Comunidade, Escola de Saúde 2.392
Publica
CHAN et China The Chinese University of Hong Escola de Enfermagem, Depto. Complementary
al, 2011 Kong, China de Medicina da Família e Therapies in
Comunidade, Escola de Saúde Medicine (Europeu)
Pública e Atenção Primaria 2.084
CHAN et China The Chinese University of Hong Escola de Enfermagem, Escola Complementary
al., 2013a Kong, The Hong Kong Polytechnic de Saúde Pública e Atenção Therapies in
University, Primaria, Faculdade de Ciências Medicine (Europeu)
University of Southampton, UK Medicas 2.084
CHAN et China The Chinese University of Hong Escola de Enfermagem, Escola The Scientific World
al., 2013b Kong, China de Saúde Pública e Atenção J (Oriente Medio)
Primaria -d
LEUNG Australia Concord Repatriation General Depto. de Fisioterapia, Depto. de Eur Respir J
et al, 2013 Hospital, University of Sidney, AU Medicina Torácica (Europeu)
12.242
NIU et al., China Xiangya Hospital and Central South Depto. De Medicina Respiratória Heart, Lung and
2014 University, China Circulation
(Australiano)
1.921
NG et al., China Kwong Wah Hospital e Depto. De Medicina da Família, European Journal of
2014 Chinese University of Hong Kong, Depto. de Fiosioterapia, Escola Integrative Medicine
Hong Kong de Saúde Pública e Atenção (Europeu)
Primaria 0.698
QIU et al., China Royal Brompton & Harefield NHS Laboratório de Doenças Respiratory
2016 Foundation Trust and Imperial Respiratórias, Hospital Oficial Physiology &
College, UK; Guangzhou Medical da Província de Jiangsu, Neurobiology
University e Jiangsu Province Unidade de Pesquisa Biomédica (Europeu)
Official Hospital, China Respiratória, Inglaterra 1.792
POLKEY China Royal Brompton & Harefield NHS Unidade de Pesquisa Biomédica Chest
et al., Foundation Trust and Imperial Respiratória, Inglaterra, (Americano)
2018b College, UK; Guangzhou Medical Laboratório de Doenças 7.652
University e Xing-Ning People’s Respiratórias, Xing-Ning
Hospital, China. People’s Hospital, China
ZHU et China The Third Xiangya Hospital, The Third Xiangya Hospital , Complementary
al., 2018 Central South University, China; Interpreter Services Michigan Therapies in
University of Michigan, USA Medicine Medicine (Europeu)
2.084

Legenda: Todos os estudos foram aprovados pelo CEP de pelo menos uma instituição participante; Formação dos autores: (a) 2 médicos, 1 médico e MPH, 1 PhD, 1 ScD, 1 autor
sem informação; (b) 6 médicos, 3 PhD, 3 MSc; (c) Fator de impacto de 2017, Journal Citation Report, Thompson Reuters; (d) Desindexado em 2015.

32

472
MÔNICA DA SILVA NUNES

FINANCIAMENTO

Dos onze estudos publicados, apenas um relatou não ter obtido financiamento para a pesquisa
(NIU et al, 2014); os demais relataram pelo menos uma fonte de financiamento, na forma de
auxílio a pesquisa, bolsa individual, salario, uso de instalações e obtenção de material para
pesquisa (Tabela 2). Dentre as fontes de financiamento, vários estudos foram financiados pelas
próprias instituições de origem ou agencias de pesquisa nacionais. Um dos estudos (POLKEY et
al., 2018) obteve financiamento de empresa farmacêutica (Novartis China), na forma de cessão
de medicamento para a DPOC, e outro estudo (YEH et al., 2010) obteve financiamento da
National Institutes of Health dos Estados Unidos (Quadro 1).

FATOR DE IMPACTO DAS PUBLICAÇÕES

Três estudos foram publicados em revistas com fator de impacto menor que 2.0; cinco estudos
foram publicados em periódicos com fator de impacto entre 2.0 e 7.0; e dois estudos foram
publicados em periódicos com fatores de impacto acima de 7.0 (dados de 2017, Journal Citation
Report, Thompson Reuters, Quadro 2). Um estudo foi publicado em 2013 em um periódico que
posteriormente foi retirado da lista de indexação do JCR, não sendo possível comparar seu índice
com os dos demais (CHAN et al., 2013b).

TIPO DE ESTUDO E TAMANHO AMOSTRAL

Nove artigos descreveram ensaios clínicos randomizados, sendo que em apenas cinco deles
houve cegamento do pesquisador que analisou os dados quanto ao grupo estudado. Um artigo
descreveu estudos fisiológicos obtidos em práticantes de Tai Chi Chuan imediatamente após a
prática de Tai Chi Chuan ou de caminhada em esteira (QUIU et al., 2016), e um artigo (ZHU et
al., 2018) associou uma abordagem qualitativa para definição de uma forma curta de Tai Chi
Chuan a ensaio clínico utilizando essa nova forma definida pela pesquisa (Quadro 3). O tamanho
amostral dos estudos variou de 10 pacientes até 207 pacientes.

33

473
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

DIVISÃO DOS GRUPOS DE ESTUDO E CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO DE


PACIENTES

Todos os artigos efetuaram os estudos apenas com pacientes portadores de Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica. Quatro artigos descrevem o mesmo ensaio clínico, cujos resultados foram
publicados em partes conforme o desfecho analisado (CHANG et al., 2010, 2011, 2013a, 2013b).
Portanto, dos 7 ensaios clínicos originais, seis utilizaram dois grupos experimentais, e um
utilizou três grupos experimentais. Todos continham um grupo de pacientes submetidos a prática
de Tai Chi Chuan, e um (ou dois) grupos controle. O maior estudo incluiu 94 pacientes no grupo
de Tai Chi Chuan, e 98 pacientes no grupo controle. Já o menor ensaio clínico incluiu apenas 5
pacientes no grupo Tai Chi Chuan e 5 pacientes no grupo controle (Quadro 3).

Cinco ensaios clínicos utilizaram critérios clínicos de diagnóstico de DPOC (segundo definições
da American Thoracic Society em 4 estudos, American Thoracic Society/European Respiratory
Society em 1 estudo, Global Initiatives for Chronic Obstructive Lung Disease em 1 estudo, e
Global Initiatives for Chronic Obstructive Lung Disease junto com American Thoracic Society
em 1 estudo) em conjunto com dados de função pulmonar avaliados por espirometria para
inclusão dos pacientes (Quadro 3). Apenas um ensaio clínico e o estudo fisiológico utilizaram
somente o diagnóstico clínico de DPOC como critério de inclusão na pesquisa. Três ensaios
clínicos usaram também a idade atual paciente como critério de inclusão, além do diagnóstico de
DPOC. Os dados de função pulmonar mais comumente utilizados para inclusão dos pacientes
foram FEV1, FVC e a relação FEV1/FVC (Quadro 3). Nenhum estudo relatou o uso de definições
de DPOC segundo a Medicina Chinesa para seleção dos pacientes.

Os critérios mais comuns de exclusão de pacientes foram a presença de comorbidades moderadas


ou graves, a impossibilidade de andar sem auxilio, a presença de exacerbação e/ou internação
recente, e déficit cognitivo importante. Dos sete ensaios clínicos, somente quatro relataram como
critério de exclusão a prática anterior de Tai Chi Chuan pelos pacientes; o estudo fisiológico
incluiu somente pacientes que já práticavam Tai Chi Chuan, e em três estudos não há menção
sobre a utilização desse critério (Quadro 3).

34

474
MÔNICA DA SILVA NUNES

Quadro 3 – Tipo de estudo, tamanho da amostra e critérios de inclusão e exclusão de pacientes dos artigos sobre efeitos do Tai Chi em
pacientes com DPOC incluídos na análise.

Autor e Ano Tipo de Quantidade Critérios de Critérios de exclusão


estudo de pacientes inclusão
em cada
grupo
YEH et al., 2010 a ECR TCC = 5 DPOC e FEV1 < Exacerbação nos 30 dias prévios;
controle = 5 65%, FEV1/FVC < Intervenção nos próximos 6 meses,
0,70%, incapacidade de caminhar, fazer teste
maiores de 45 anos ergométrico ou falar inglês; disfunção
de idade cognitiva severa, prática regular de TCC ou
de programa de reabilitação pulmonar
convencional
CHAN et al., 2010 ECRC do TCC = 70 Diagnóstico clínico Não conseguir andar sozinho, déficit
tipo cego exercício = 69 de DPOCa, cognitivo severo, doença cardíaca isquêmica
controle = 67 FEV1/FVC < 0,70% sintomática, práticar TCC nos 12 meses
anteriores ao estudo
CHAN et al, 2011 ECRC do TCC = 70 Diagnóstico clínico Não conseguir andar sozinho, déficit
CHAN et al., 2013a tipo cego exercício = 69 de DPOCa, cognitivo severo, doença cardíaca isquêmica
CHAN et al., 2013b controle = 67 FEV1/FVC < 0,70% sintomática, práticar TCC nos 12 meses
anteriores ao estudo
LEUNG et al, 2013 ECRC do TCC = 22 Diagnóstico de Exacerbação nas 4 semanas prévios;
tipo cego controle = 20 DPOC b treinamento físico nos 12 meses anteriores,
comorbidades graves
NIU et al., 2014 ECRC do TCC = 20 DPOC moderada a Exacerbação nos 30 dias prévios; Intervenção
tipo cego controle = 20 severa; FEV1 < planejada para os próximos 6 meses,
65%; incapacidade de caminhar; disfunção
FEV1/FVC < 0,70%; cognitiva severa
maiores de 45 anos
NG et al., 2014 ECRC do TCC = 94 DPOCc, FEV1/FVC Não conseguir andar sozinho, déficit
tipo cego controle = 98 < 70%, dispnéia >= cognitivo severo, comorbidades graves,
2 no escore MRC práticar Tai Chi nos 6 meses anterior

QIU et al., 2016 Estudo 11 pacientes DPOC, práticar Tai Comorbidades importantes, incapacidade de
fisiológico Chi Chuan há pelo efetuar exercícios, exacerbação nos 30 dias
menos 12 meses prévios,
POLKEY et al., ECR TCC = 60 DOPC, idade entre Doença pulmonar restritiva, FEV1 > 80%,
2018 controle = 60 40 e 80 anos, FEV1 FEV1 < 25%, outras medicações para DPOC,
> = 25% e < 80% do restrições auditivas ou mecânicas, prova de
previsto e broncodilatador positiva
FEV1/FVC < 0,70
ZHU et al., 2018 Estudo TCC = 30 Diagnóstico de Doença cardíaca isquêmica sintomática,
qualitativo controle = 30 DPOCd e FEV1 < déficit cognitivo grave, impossibilidade de
e ECR 80%, morador da caminhar, participação em programa de
região central de reabilitação pulmonar ou de TCC
Changsha, ≥45 anos

Legenda: ECR = Ensaio Clínico Randomizado; ECRC = Ensaio Clínico Randomizado e Controlado; TCC = Tai Chi Chuan; TCQ = Tai Chi Qigong; DPOC
= Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica; FEV1= Forced Expiratory Volume in one second; FVC = Forced Vital Capacity; (a) Critérios da American
Thoracic Society; (2004) (b) Critérios da American Thoracic Society e European Respiratory Society (Celli ; MacNee, 2004); (c) Critérios da American
Thoracic Society (2004) e Global Initiatives for Chronic Obstructive Lung Disease (2010) , (d) Critérios de Global Initiatives for Chronic Obstructive Lung
Disease, 2010.

35

475
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

INTERVENÇÃO NO GRUPO SUBMETIDO AO TAI CHI CHUAN

O estilo de Tai Chi Chuan usado nas intervenções foram estilo Yang em 3 publicações, estilo
Sun em duas publicações, estilo oficial modificado em uma publicação, e uma forma de 13
movimentos de Tai Chi Qigong desenvolvida por Lin Hou Sheng em quatro publicações. Um
estudo não menciona o estilo de Tai Chi Chuan utilizado. As formas praticadas continham de 5
movimentos até 24 movimentos, sendo que as sessões de Tai Chi Chuan duraram de 15 minutos
até 60 minutos de prática. As sessões supervisionadas de Tai Chi Chuan variaram de 2 vezes na
semana até 5 vezes na semana. O tempo de intervenção mínimo foi de 6 semanas, e o máximo de
6 meses. Já o tempo de acompanhamento do estudo variou de 6 semanas até 6 meses. O estudo
fisiológico usou apenas uma sessão de Tai Chi Chuan com duração de 60 minutos em sua
avaliação. Um único estudo mencionou os movimentos praticados (Wild Horse's Mane, Brush
Knee and Twist Step, Repulse Monkey, Grasp Sparrows Tail, Girls Work at Shuttles, Wave
Hands Like Clouds). Somente dois ensaios clínicos não ofereceram aos participantes recursos
adicionais como DVD, folheto explicativo ou registro de sessões não-supervisionadas (Quadro
4).

INTERVENÇÃO NO GRUPO CONTROLE

As intervenções no grupo controle foram bastante heterogêneas entre si (Quadro 4). Em dois
ensaios clínicos, o grupo controle recebeu somente tratamento medicamentoso com orientações
sobre a importância de exercícios; em um deles apenas tratamento medicamentoso, e em outro
somente orientações gerais sobre a doença. Em três ensaios clínicos, o grupo controle recebeu
sessões supervisionadas de exercícios com frequência de 2 a 3 vezes na semana, além de
orientações para efetuar os mesmos exercícios em casa nos demais dias da semana. Em um
ensaio clínico (que resultou em 4 artigos publicados), houve um grupo controle submetido
somente a tratamento medicamentoso, e outro grupo submetido a sessões de exercícios feitos em
casa, após treinamento pela equipe de pesquisadores.

36

476
MÔNICA DA SILVA NUNES

Quadro 4 – Dados sobre a intervenção nos estudos sobre efeito do Tai Chi Chuan em pacientes com DPOC.
Legenda: TCQ: Tai Chi Qigong (Fonte: a autora)
Autor e Ano Frequência e duração da Tipo de Tai Chi Chuan e Outros Intervenção no
sessão de Tai Chi Chuan tempo de prática Grupo Controle
YEH et al., 2010 Sessões 2 vezes por semana, Tai Chi estilo Yang, forma DVD e Tratamento
60 minutos cada curta Registro medicamentoso e
supervisionadas, e sessões em de sessões orientações sobre
casa 3 x na semana Tempo: 3 meses exercícios
CHAN et al., 2010 Sessões supervisionadas de TCQ forma 13 modificada DVD e Grupo exercício:
CHAN et al, 2011 60 minutos 2 vezes na semana, da forma 18 por Lin Hou Registro exercícios
CHAN et al, e sessões diárias em casa Sheng Tempo: 3 meses de sessões respiratórios e
2013a (CHAN et al., 2010 e 2011); caminhadas, por 60
CHAN et al, reavaliação com 6 meses minutos; Grupo
2013b (CHAN et al., 2013a, controle: Medicação e
2013b) orientações, por 3
meses
LEUNG et al, 2013 Parte A: Sessões 2 vezes na Tai chi Chuan estilo Sun DVD + Tratamento médico
semana, 60 minutos e 30 forma 21 livreto, de rotina
minutos em casa 5 x na Registro
semana. Parte B: ISWT + 15 Tempo: 3 meses de sessões
minutos de STTC após 15 dias
da parte A
NIU et al., 2014 Sessões diárias (4 sessões Tai Chi Chuan com ajuste DVD + Medicamentos,
supervisionadas e 3 sessões individual da intensidade livreto + exercícios
não-supervisionadas), 50 Tempo: 6 meses Registro respiratórios por
minutos cada de sessões 10 minutos e
caminhada diária
de 30 minutos, por 6
meses
NG et al., 2014 Sessões supervisionadas 2 Cinco formas de Tai Chi Sessão Sessões
vezes na semana de 1h 20 Chuan estilo Sun educativa supervisionadas de
minutos contendo 15 minutos + livreto + reabilitação 2 vezes
de Tai Chi Chuan e exercícios Tempo: 6 semanas Registro na semana de 1h 20
não de sessões minutos, por 6
supervisionados por 60 semanas, e
minutos diários em casa exercícios não
supervisionados por
60 minutos diários
em casa
QIU et al., 2016 Sessenta minutos de Tai Chi Tai Chi Chuan estilo Yang, - Tratamento
Chuan forma 24 ou esteira por forma 24 medicamentoso e
60 minutos, em sessões com orientações sobre
intervalos de 2 dias Tempo: 2 sessões exercícios
POLKEY et al., Sessões 5 vezes na semana, 60 Tai Chi Chuan estilo Yang, -- Sessão de exercícios
2018 minutos forma 24 3 vezes
Tempo: 3 meses na semana, 60
minutos
ZHU et al., 2018 Sessões 3 vezes na semana de Tai Chi Chuan forma 24 Somente Orientações
Tai Chi Chuan durando 40 a transformada em forma de 6
50 minutos movimentos
Tempo: 3 meses

37

477
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

RESULTADOS DOS ESTUDOS

O ensaio clínico de Yeh et al. (2010) observou que houve melhora na qualidade de vida dos
pacientes com DPOC que praticaram Tai Chi Chuan de duas a cinco vezes na semana por 3
meses, enquanto o grupo controle, que só recebeu tratamento medicamentoso, teve uma piora na
qualidade de vida e na capacidade de fazer exercícios ao longo de três meses. Esse estudo teve
uma amostra muito pequena (somente 5 pacientes em cada grupo), não obtendo significância
estatística na análise (Quadro 5).

Quadro 5 – Resultados do estudo publicado por Yeh et al. (2010)

Autores Testes Resultados Conclusões dos autores e Aderência


e Ano limitações do estudo
Vieses
YEH et 1. Capacidade de Melhora na qualidade de vida Tai Chi Chuan pode melhorar a 91% no grupo
al, 2010 exercícios com TCC e piora no grupo qualidade de vida e capacidade experimental
2. testes pulmonares controle de fazer exercícios, e parece ser em 4 pacientes,
funcionais, Aumento da distância no teste seguro. 1 paciente não
3.Qualidade de de 6 minutos com TCC (27 Estudo preliminar, novos efetuou todas as
vida, sintomas, metros) e diminuição da estudos são necessários. sessões
humor, distância no grupo controle, Grupo muito pequeno,
funcionamento porém sem significância dificuldade de obter
psicossocial, estatística significâncias estatísticas,
atividade física, uso Melhora dos sintomas principalmente no teste de
do sistema de saúde depressivos com o TCC caminhada
e efeitos adversos Não houve diferença na
espirometria ou consumo de
oxigênio
Legenda: TCC: Tai Chi Chuan (Fonte: a autora).

Chan e colaboradores, em ensaio clínico realizado com três grupos de pacientes, submetidos a
exercícios de Tai Chi Chuan, exercícios de reabilitação pulmonar ou somente tratamento
medicamentoso por 3 meses, observaram melhora da qualidade de vida no grupo Tai Chi Chuan
após a intervenção de 3 meses (CHAN et al., 2010) e que continuava aos 6 meses de seguimento
(CHAN et al., 2013b), enquanto o grupo não submetido a nenhum exercício teve piora da
qualidade de vida (Quadro 6)

No mesmo ensaio clínico foram mensurados parâmetros de função pulmonar, sintomas,


capacidade de caminhar e saturação de oxigênio, além de outros dados, com 6 semanas de
intervenção (CHAN et al., 2011), 3 meses de intervenção (CHAN et al., 2011) e no sexto mês de
seguimento (CHAN et al., 2013a).

38

478
MÔNICA DA SILVA NUNES

Quadro 6 - Resultados dos estudos publicados por Chan e colaboradores, 2010 e 2013.

Autores e Testes Resultados Conclusões dos autores e Aderência


Ano limitações do estudo
Chan et Al 1. Qualidade de Melhora na qualidade de O grupo de TCC tinha somente 83% no
2010 al vida (SGRQ-HKC) vida do grupo de TCC, em uma mulher. O efeito grupo TC
2. Percepção de relação aos sintomas e confundidor foi controlado na nas sessões;
suporte social atividade, quando análise. Entretanto, houve 74% na
(MSPSS-C) comparado aos outros poucas mulheres nos 3 grupos. prática total.
grupos O grupo de TC tinha mais Aderência
Testes com 3 meses Piora na qualidade de vida exacerbações previas, podendo de 69% do
de intervenção do grupo que não ao efetuou ter se beneficiado mais com grupo
exercícios físicos. exercícios. exercício.
Chan et al., 1. Qualidade de Não houve diferença na A percepção dos pacientes a
2013b vida (SGRQ-HKC) percepção do suporte social respeito da sua qualidade de
2. Percepção de em nenhum dos três grupos vida foi maior no grupo TCC
suporte social analisados na avaliação de 3 do que nos demais, sugerindo
(MSPSS-C) meses, mas com 6 meses de que o TCC e mais benéfico
seguimento houve aumento para esse tipo de doença do que
Testes com 6 meses da percepção de suporte somente caminhar e respirar.
de seguimento relacionada aos amigos no TCC e efetivo para melhorar o
grupo Tai Chi Chuan aspecto psicossocial dos
pacientes com DPOC, e seus
efeitos duram por mais tempo.
Legenda: SGRQ-HKC: St. George’s Respiratory Questionnaire-Hong Kong Chinese version; MSPSS-C: The Multidimensional Scale of
Perceived Social Support-Chinese version; TCC: Tai Chi Chuan (Fonte: a autora)

O grupo que praticou o Tai Chi Chuan por 3 meses apresentou melhora da função pulmonar,
aumento da distância de caminhada no teste de 6 minutos, diminuição das exacerbações do
quadro de DPOC, enquanto o grupo que praticou exercícios de outro tipo não teve melhora
significativa, e o grupo só com tratamento medicamentoso apresentou piora nesses parâmetros
(Quadro 7).

Os demais parâmetros estudados (saturação de oxigênio, internações hospitalares, e intensidade


dos sintomas) não tiveram alterações significativas em nenhum grupo de estudo. Apesar das
sessões supervisionadas terem se encerrado aos 3 meses de intervenção, os grupos foram
incentivados a continuarem com o tratamento proposto indefinidamente, e a avaliação com 6
meses de seguimento indicou uma melhora adicional na função pulmonar do grupo Tai Chi
Chuan, sem significância estatística, entretanto. Os autores relatam que a adesão à prática do Tai
Chi Chuan foi maior do que aos programas de exercícios feitos isoladamente e em casa (Quadro
7).

39

479
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Quadro 7 - Resultados dos estudos publicados por Chan e colaboradores, 2011 e 2013.

Autores Testes Resultados Conclusões dos autores e Aderência


e Ano limitações do estudo
CHAN 1. Medidas com 6 Melhora na FVC e FEV1 do A ausência de atividade 83% no grupo
et al, semanas e 3 meses grupo TCC física leva ao declínio da TC nas
2011 2. TC6m Aumento da distância no TC6m função pulmonar em sessões; 74%
3. Espirometria no grupo TCC pacientes com DPOC. na prática
4. Escala de Borg para Diminuição das exacerbações Exercícios devem ser total.
dispneia e fadiga no grupo TCC incentivados, e o Tai Chi Aderência de
5. Saturação de O2 Sem melhora significativa no Chuan e altamente 69% do grupo
cutânea grupo exercício, e piora nas recomendado para esses exercício.
6. Número de funções pulmonares do grupo pacientes. O TC também
exacerbações e visitas controle teve maior adesão do que
a hospitais durante o Sem diferenças significativas exercícios rotineiros.
período nos sintomas, saturação de O2, e Necessidade de estudar
7. Uso de medicação admissão hospitalar e uso extra períodos mais longos de
beta2 agonista de medicação nos 3 grupos. TCC e de incluir mais
mulheres nos estudos
CHAN 1. Medidas na linha de Melhora na FVC do grupo TCC O Tai Chi Chuan promoveu
et al., base, 3 meses e 6 e exercícios, e piora no grupo melhora importante da
2013a meses. controle até os 3 meses. função pulmonar e da
2. TC6m Aumento adicional da FVC de 3 capacidade de fazer
3. Espirometria m para 6 m no grupo TCC, sem exercícios, além de reduzir
4. Escala de Borg para significância estatística as exacerbações. Já os
dispneia e fadiga Aumento da distância no TC6m exercícios não
5. Saturação de O2 no grupo TCC supervisionados não tiveram
cutânea o mesmo efeito,
6. Número de Diminuição das exacerbações no provavelmente porque não
exacerbações e visitas grupo TCC foi cobrado dos pacientes o
a hospitais durante o Melhora na FEV1 do grupo TCC desempenho máximo deles,
período e exercício, e piora no grupo sugerindo que programas de
controle com 3 meses reabilitação não-
supervisionados são menos
Sem diferenças significativas efetivos.
nos sintomas, saturação de O2, e
admissão hospitalar nos 3 grupos
Legenda: Tc6m: teste de caminhada de 6 minutos; FVC: Forced Vital Capacity; FEV1: Forced Expiratory Volume in 1 second; TCC: Tai Chi
Chuan; O2: oxigênio (Fonte: a autora).

O ensaio clínico conduzido por Leung et al. (2013) foi dividido em duas partes (Quadro 8). Na
primeira parte, os pacientes praticaram Tai Chi Chuan duas vezes na semana, em sessões
supervisionadas de 60 minutos cada, com orientação para práticar em casa por 30 minutos nos
outros dias da semana. Esses resultados foram comparados com os de pacientes não submetidos
a nenhum tipo de exercício. Essa intervenção foi efetuada por 3 meses, e vários parâmetros
foram estudados antes e depois da intervenção. Após 15 dias do termino do período de

40

480
MÔNICA DA SILVA NUNES

intervenção, os pacientes foram submetidos a analises novamente antes e após efetuarem 15


minutos de Tai Chi Chuan.

Quadro 8 - Resultados dos estudos publicados por Leung et al., 2013.

Autores Testes Resultados Conclusões dos autores e Aderência


e Ano limitações do estudo
LEUNG Parte A: Parte A: A capacidade de SSTC foi mais eficaz em Aderência
et al., 1. Capacidade de exercício foi maior no melhorar a capacidade de de 91% nas
2013 exercício (ISWT, ESWT) grupo Tai Chi Chuan do exercício, performance física, sessões
2. Sintomas (Escala de que no grupo controle. forca do quadríceps, qualidade
Borg) de vida, ansiedade e eficácia
3. Performance física Houve aumento na pessoal do que o tratamento
(MPPB) distância caminhada, no médico usual sem exercícios.
4.Balanco do corpo balanço do corpo e na
5. Forca do quadríceps forca do quadríceps no SSTC e um exercício que pode
6. Qualidade de vida grupo Tai Chi Chuan. melhorar a capacidade de
(CRQ, HADS) Houve consumo de O2 de exercício tanto quanto os
Parte B: 53%. demais programas de
1. Consumo de O2 reabilitação pulmonar. Ele
2. Produção de CO2 A qualidade de vida foi melhora o equilíbrio e a forca
(VCO2) maior no grupo Tai Chi muscular e pode, portanto,
3. Volume corrente Chuan; houve também diminuir quedas em pessoas
4. Frequência diminuição da ansiedade. com DPOC.
respiratória
5. Ventilação alveolar de Parte B: O tempo de Além disso e um exercício de
minute caminhada do grupo Tai intensidade moderada e pode
6. Saturação de O2 Chi Chuan foi maior do ser chamado de exercício
7.Frequencia respiratória que o grupo controle da aeróbico.
parte A. Tai Chi Chuan foi executado
usando se pesos nos membros
superiores, o que não e uma
prática convencional e pode
ter alterado a intensidade do
exercício
Legenda: ISWT: incremental shuttle walk test; ESWT: endurance shuttle walk test; MPPB: modified physical performance battery test; CRQ:
Chronic Respiratory Disease questionnaire; HADS: Hospital Anxiety and Depression Scale; SSTC: Sun style Tai Chi (Fonte: a autora)

Os resultados de Leung et al. (2013) também mostram os efeitos benéficos do Tai Chi Chuan para
pacientes com DPOC, em relação a capacidade de caminhar, melhora no balanço do corpo,
melhora na qualidade de vida e diminuição da ansiedade. Os parâmetros analisados também
indicaram que o Tai Chi Chuan atua como exercício aeróbico de moderada intensidade para os
pacientes com DPOC, e que tem efeitos similares a programas de reabilitação pulmonar
convencionais. Entretanto, nesse ensaio clínico os pacientes usaram pesos nos membros
superiores ao executarem o Tai Chi Chuan, o que não é frequente em práticas corporais chinesas,
e isso pode ter intensificado os efeitos da intervenção (Quadro 8).

41

481
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Por sua vez, Niu et al. (2014) encontraram, além da melhora na capacidade de efetuar exercícios
e caminhar, um aumento do desempenho do diafragma, evidenciado por mudanças na pressão
esofagiana, gástrica e transdiafragmática. Este estudo corrobora os resultados dos anteriores e
identifica objetivamente a melhora das funções diafragmáticas causadas pelo Tai Chi Chuan
(Quadro 9).

Quadro 9 - Resultados dos estudos publicados por Niu et al., 2014.

Autores Testes Resultados Conclusões dos autores Aderência


e Ano e limitações do estudo
NIU et 1.Parâmetros Tai Chi Chuan aumenta 96.93%
al., 2014 pulmonares; Aumento da FEV1 no grupo TCC. a função pulmonar, a sessões
2.Analise de Aumento da distância no teste de capacidade de exercício, supervisiona
gases caminhada de 6 minutos (46 m) no e a forca do diafragma das
3.TC6minutos grupo TC. Aumento do desempenho do O estudo não informa e 95.21%
4.Analise do diafragma (pressão esofageana, gástrica qual tipo de Tai Chi nas sessões
diafragma e transdiafragmática). Gasometria Chuan nem as formas em casa
arterial sem mudanças utilizadas.
Legenda: Tc6m: teste de caminhada de 6 minutos; FEV1: Forced Expiratory Volume in 1 second; TCC: Tai Chi Chuan (Fonte: a autora)

O ensaio clínico publicado por Ng et al. (2014) compara dois grupos de pacientes com DPOC,
um submetido a prática de Tai Chi Chuan e o outro submetido a prática de exercícios de
reabilitação pulmonar (Quadro 10).

Os pesquisadores mostraram que tanto a prática de Tai Chi Chuan quanto o programa de
reabilitação pulmonar convencional trouxeram benefícios para os pacientes, no que toca a função
pulmonar, capacidade de exercício, qualidade de vida e eficácia pessoal, permanecendo assim
seis meses após o termino das seis semanas de intervenção. Entretanto, o grupo submetido a
prática de Tai Chi Chuan apresentou desempenho superior na distância da caminhada de seis
minutos, mesmo após 6 meses do início da intervenção (Quadro 10). Esse grupo praticou os
mesmos exercícios do grupo controle, com diferença que 15 minutos da prática foram
substituídos por Tai Chi Chuan (Quadro 4).

Os autores relatam que 95.5% dos pacientes do grupo Tai Chi Chuan continuaram a práticar
sozinho em casa após o termino do estudo, o que pode ter contribuído para essa diferença em
relação ao grupo controle, já que o tempo de Tai Chi Chuan durante a intervenção foi de apenas
15 minutos por sessão.

42

482
MÔNICA DA SILVA NUNES

Apesar de possuir um número relativamente grande de pacientes em cada grupo (96 a 98),
houve muitos parâmetros estudados, o que pode ter limitado a obtenção de significância
estatística; além de que poucas mulheres foram incluídas no estudo (Quadro 10).

Quadro 10 - Resultados dos estudos publicados por Ng et al., 2014.

Autores Testes Resultados Conclusões dos autores e Aderência


e Ano limitações do estudo
NG et 1.Medidas na linha Aumento da FVC, FEV1 e Houve melhora no estado 89.1% no grupo
al., 2014 de base, 2 meses e %FEV1 em ambos os fisiológico, capacidade de controle e 88.9%
6 meses após a grupos, mas com exercício, qualidade de vida e no grupo Tai Chi
intervenção significância estatística eficácia pessoal aos 2 meses e 6 Chuan nas sessões
2. Eficácia pessoal apenas no grupo TC meses nos dois grupos. supervisionadas
com a DPOC
(COPD-CSES) Melhora do teste de Comparando—se os resultados
3. Eficácia pessoal caminhada em ambos os entre os grupos, não houve Média de 5.46
com a falta de ar grupos diferença entre eles na melhora dias de exercício
(SEMSOB) dos parâmetros estudados, não
4. Qualidade de Melhora da eficácia com a exceto na distância da supervisionado
vida (SGRQ-HKC) falta de ar no grupo caminhada (12 metros a mais por semana no
5. Função controle aos 6 meses no grupo TC aos 6 meses) grupo controle e
pulmonar de 5.58 dias na
(Espirometria) Melhora da eficácia Os grupos diferiram quanto ao semana no grupo
6. Teste de pessoal com a DPOC e estágio da DPOC, havendo Tai Chi Chuan.
caminhada (Tc6m) falta de ar no grupo TC aos pacientes mais graves no grupo
7. Sintomas antes e 2 meses e aos 6 meses TC (estágios III e IV) e menos 95.5% dos
após exercício graves no grupo controle pacientes do
(escala de Borg) Melhora da saturação de (estágio II), com diferenças grupo Tai Chi
8. Saturação de oxigênio no grupo também na espirometria e Chuan
oxigênio controle, apesar de inferior percepção de sintomas. continuaram a
ao grupo TC Houve poucas mulheres no práticar Tai Chi
estudo. Chuan após a
Grupo pequeno para tantos intervenção.
desfechos, limitando o poder do
estudo.
Poucos minutos de Tai Chi
Chuan diário.
Legenda: COPD-CSES: COPD self-efficacy scale; SGRQ-HKC: St. George’s Respiratory Questionnaire-Hong Kong Chinese version; Tc6m:
teste de caminhada de 6 minutos (Fonte: a autora)

Qiu et al. (2016) identificaram em pacientes com DPOC práticantes de Tai Chi Chuan algumas
diferenças nos parâmetros fisiológicos durante a prática de Tai Chi Chuan e durante a caminhada
em esteira. As alterações inspiratórias são menos intensas durante o Tai Chi Chuan do que na
caminhada na esteira, e o Tai Chi Chuan causa menor fadiga do musculo quadríceps, enquanto as
alterações de diafragma e pressão intraesofagiana foram similares. Entretanto, o estudo incluiu
poucos pacientes, sendo as conclusões limitadas.

43

483
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Polkey et al. (2018), em ensaio clínico de 3 meses de intervenção onde um grupo de pacientes foi
submetido a Tai Chi Chuan e o outro a exercícios convencionais de reabilitação pulmonar,
também encontrou melhora da qualidade de vida e aumento da distância no teste de caminhada
em ambos os grupos, sem no entanto encontrar alterações significativas na função pulmonar em
nenhum deles após 3 meses de prática. Entretanto, ao reavaliar esses pacientes 6 meses após o
início do estudo, ou seja, 3 meses após o termino dos exercícios, o grupo Tai Chi Chuan teve um
acréscimo ainda maior no teste de caminhada e na forca do músculo quadríceps, na qualidade de
vida e uma diminuição dos sintomas de dispneia, enquanto o grupo controle teve piora de alguns
parâmetros avaliados. Esse estudo comprova que os benefícios do Tai Chi Chuan, embora
equivalentes aos de um programa de reabilitação pulmonar convencional, são capazes de se
sustentarem por mais tempo (Quadro 11).

44

484
MÔNICA DA SILVA NUNES

Quadro 11 - Resultados dos estudos publicados por Qiu et al, 2016; e Polkey et al., 2018.

Autores Testes Resultados Conclusões dos Aderência


e Ano autores e limitações
do estudo
Qiu et 1. Hiperinsuflação O volume corrente foi maior após o O TC e similar a Não
al., 2016 dinâmica (capacidade TC do que após a caminhada na caminhada na esteira aplicável.
inspiratória) esteira. com relação a ação
2. Consumo de O2 (VO2) A frequência respiratória foi maior no diafragma e
3. Produção de CO2 na esteira do que no TC, apesar do pressão
(VCO2), consumo de O2 ser similar. intraesofagiana,
4. Respiração alveolar de A capacidade inspiratória foi menor porem as alterações
minuto após a caminhada na esteira. de hiperinsuflação
5. Frequência respiratória A fadiga do quadríceps foi menor dinâmica são menos
6. Frequência cardíaca aos 20 minutos e 60 minutos de TC intensas durante o
7.Saturação de O2 mas não se alterou TC. Por elicitar
8. Eletromiografia significativamente na esteira. menor fadiga do
diafragmática Não houve diferenças significantes quadríceps, o TC e
9. Fadiga do musculo nos sintomas de dispneia, fadiga da adequado como
quadríceps. perna, consumo de O2, pressão programa e
esofagiana ou na eletromiografia reabilitação pulmonar
diafragmática entre o TC e a esteira na DPOC.
Amostra foi muito
pequena e
heterogênea.
Polkey et 1. SGRQ Melhora da qualidade de vida em Tai Chi Chuan é o 91,7% no
al., 2018 2. FEV1 ambos os grupos após 3 meses. programa de grupo de
3. Tc6m Aumento da distância no teste de reabilitação pulmonar Tai Chi
4. Escore de dispneia caminhada após 3 meses em ambos convencional são Chuan e
5.Indice de massa os grupos. Sem alteração na FEV1 equivalentes no efeito 87% no
corporal ou FVC em ambos os grupos após 3 imediato, mas o Tai grupo de
6.Gordura corporal meses Chi Chuan oferece reabilitação
7.Forca de contração do um benefício que se pulmonar
quadríceps Após 6 meses o grupo de Tai Chi mantem por mais
8.Visitas ao hospital Chuan obteve melhora na SGRQ, tempo.
mMRC,
Medidas na visita 1, 6 e 9 e Tc6m; o grupo controle não
mostrou diferença em relação a
SGRQ e mMRC medidas com 3
meses,e houve uma piora no teste de
caminhada de 6 minutos.
Maior forca do quadríceps no grupo
Tai Chi Chuan aos 6 meses em
relação ao grupo controle
Legenda: O2: oxigênio; CO2: gás carbônico; SGRQ: St. George’s Respiratory Questionnaire; FEV1: Forced Expiratory Volume in 1 second;
Tc6m: teste de caminhada de 6 minutos; mMRC: modified Medical Research Council dyspnea score (Fonte: a autora).

Zhu et al. (2018) efetuaram um ensaio clínico com 3 meses de duração, porem com 9 meses de
seguimento, sendo o estudo com o maior tempo de acompanhamento identificado nesta revisão
da literatura. Trabalhando com a forma moderna de 24 movimentos (oficial da China), os
pesquisadores elaboraram uma forma mais curta, com apenas 6 movimentos, baseados em
grupos de discussão com especialistas e pacientes que identificaram movimentos seguros,
efetivos e simples.
45

485
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

A diferença deste estudo para os demais e que ele procura criar uma sequência de movimentos de
Tai Chi Chuan personalizada para pacientes com DPOC. Nesse estudo, foram observados
melhora da função pulmonar, na distância do teste de caminhada de seis minutos e nas condições
de saúde no grupo Tai Chi Chuan, mas não do grupo controle. A média de incremento no teste de
caminhada foi o maior relatado entre os ensaios clínicos avaliados (média de 78 metros). AS
limitações desse estudo foram o pequeno número de pacientes e a grande heterogeneidade clinica
entre eles, o que pode ter gerado vieses de interpretação. Portanto, fica difícil assegurar que a
elaboração de uma sequência especifica de Tai Chi Chuan para pacientes com DPOC seja
superior em eficácia as demais formas tradicionais praticadas por todos os tipos de indivíduos.

Quadro 12 - Resultados do estudo publicados por Zhu et al, 2018.

Autores Testes Resultados Conclusões dos autores e Aderência


e Ano limitações do estudo
Zhu et 1.Medidas no O estudo qualitativo identificou formas O estudo desenvolveu uma 86% no grupo
al., 2018 início, 3 e 9 a serem retiradas ou mantidas que sequência de TCC fácil de Tai Chi Chuan
meses de preenchessem os critérios de segurança, aprender, com boa nos 3 meses de
seguimento eficiência e baixo custo, gerando uma aderência dos pacientes e intervenção;
2. Função sequência de 6 movimentos. segura em práticar, que 18 de 25
pulmonar Aumento maior da FEV1 no grupo TCC proporciona melhora da pacientes no
(espirometria) do que no grupo controle entre 3 e 9 capacidade pulmonar e de grupo Tai Chi
3. Teste de meses. FEV1 basal teve efeitos realizar exercícios, previne Chuan
caminhada de 6 positivos na FEV1 final. Diferença piora da dispneia e melhora relataram
minutos (Tc6m) significativa na distância do teste de o estado de saúde. continuar
4. Sintoma de caminhada de 6 minutos (74.87 ± 9.98 A amostra foi pequena e práticando 3 a
dispneia m). A distância no TC6m basal teve heterogênea, podendo levar 5 vezes na
(mMRC) efeitos positivos na capacidade de a conclusões errôneas. Não semana em
5. Condições de exercícios. foi possível concluir se a casa após a
saúde (CAT) Houve melhora nas condições de saúde forma de 6 movimentos e intervenção
do grupo TCC, mas não do grupo superior a de 24. A própria
controle. Diferenças não significantes interação social do
nos sintomas (tendência a diminuir no treinamento dos exercícios
grupo TCC e a aumentar no grupo no grupo TCC pode ter
controle). Sintomas basais trazido melhora aos
influenciaram nas mudanças de escores pacientes.
durante a intervenção
Legenda: mMRC: modified Medical Research Council dyspnea score; CAT: Chinese version of COPD Assessment Test; FEV1: Forced
Expiratory Volume in 1 second; TCC: Tai Chi Chuan (Fonte: a autora).

DISCUSSÃO

A revisão da literatura efetuada neste trabalho identificou apenas sete ensaios clínicos publicados
em língua inglesa entre janeiro de 2010 e julho de 2018, e um estudo sobre parâmetros
fisiológicos. Ngai, Jones e Tam (2016), em revisão sistemática efetuada com artigos publicados
até 2015, identificaram 12 ensaios clínicos, sendo 5 publicados em língua inglesa em periódicos
46

486
MÔNICA DA SILVA NUNES

indexados no PubMed, e 7 publicados em língua chinesa em periódicos não-indexados no


PubMed.

Portanto, a revisão apresentada aqui sobre artigos em língua inglesa representa cerca de 42% dos
artigos publicados no período em todas as línguas, e mostra que menos de 50% da pesquisa
conduzida sobre Tai Chi Chuan e DPOC consegue atingir bases indexadas internacionalmente,
ficando a maioria restrita a periódicos publicados em Chinês.

É interessante notar, em primeiro lugar, o pequeno número de estudos publicados no período


sobre os efeitos do Tai Chi Chuan em pacientes com DOPC, mostrando que ainda há muito a ser
pesquisado. Hempel et al. (2014) identificam a DPOC como uma das áreas onde os efeitos do
Tai Chi Chuan tem sido pouco investigado. Em 2014, os pesquisadores identificaram algumas
áreas com vários ensaios clínicos (EC) publicados (bem-estar psicológico, 37 EC), equilíbrio (27
EC), hipertensão (18 EC), qualidade de vida (15 EC), e capacidade cognitiva (11 EC). Dentre as
áreas com menos de 10 EC efetuados, estavam a DPOC (8 EC), osteoartrite (9 EC), câncer (8
EC), osteoporose (5 EC) e diabetes (2 EC) (HEMPEL et al. (2014).

Dos onze artigos identificados nas bases de busca publicados em revistas indexadas em bases
ocidentais neste estudo, somente cinco se referem a pesquisa efetuada exclusivamente por
pesquisadores chineses, sem colaboração internacional. Quatro desses artigos contem, além de
pesquisadores localizados em instituições chinesas, colaboradores em outros países (Inglaterra e
Estados Unidos). Isso pode ser um indicativo da dificuldade de grupos chineses publicarem seus
estudos em periódicos internacionais, ou ainda, na língua inglesa. Também pode indicar uma
falta de interesse de grupos tradicionais chineses em publicarem estudos em bases indexadas fora
da China sobre o tema.

Os estudos identificados nesta revisão se sobressaem pelo pequeno número de pacientes


incluídos na pesquisa. Apesar da DPOC ser uma doença de grande prevalência, nenhum estudo
contou com mais de cem pacientes por grupo. Os motivos para isso não são claros, mas é
provável que ainda haja muita dificuldade de diagnostico dessa doença, principalmente na China,
onde a maioria dos estudos foi conduzida. Ngai, Jones e Tam (2016) também não identificaram
nenhum estudo conduzido com mais de 100 pacientes por grupo, sendo o maior deles o ensaio
clínico de Ng et al. (2014).

Os estudos identificados nesta revisão são muito similares entre si quanto aos critérios
47

487
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

diagnósticos de DPOC, critérios de inclusão e exclusão de pacientes, e tempo de intervenção.


Entretanto, os estudos diferem bastante quanto ao tipo de intervenção utilizada, tanto no que se
refere ao estilo de Tai Chi Chuan utilizado, duração da sessão, e frequência das sessões. Além
disso, o grupo controle recebeu diferentes intervenções nos sete ensaios clínicos, tornando difícil
a comparação dos seus resultados.

Mesmo assim, há uma concordância entre os ensaios clínicos identificados em apontar efeitos
benéficos do Tai Chi Chuan em pacientes com DPOC durante a execução da intervenção. Todos
os sete ensaios clínicos mostraram pelo menos um efeito benéfico do Tai Chi Chuan. Sete EC
identificaram aumento da distância da caminhada que o paciente consegue executar em seis
minutos ou aumento do tempo de caminhada sem sintomas. Dos cinco ensaios clínicos que
avaliaram a função pulmonar através de espirometria, quatro identificaram melhora da função
pulmonar; o único que não conseguiu identificar melhora tinha apenas 5 pacientes com DPOC.
Todos os seis ensaios clínicos que avaliaram a qualidade de vida encontraram melhora da mesma
no grupo de pacientes com DPOC.

Cinco ensaios clínicos avaliaram a intensidade dos sintomas; em dois deles houve melhora
significativa dos sintomas, um observou melhora, mas sem atingir significância estatística, e dois
EC não conseguiram observar redução dos sintomas. Possíveis causas para essas diferenças são o
número reduzido de pacientes em cada grupo e a diferença de estagio clínico dos mesmos,
reduzindo o poder dos estudos de atingir significância estatística, e as diferenças na metodologia
da intervenção.

Portanto, os dados mostram que a prática frequente de Tai Chi Chuan traz benefícios aos
pacientes com DPOC. Essa conclusão também e relatada por artigos de evidence map
(SOLLOWAY et al., 2016) e várias reanalises, como a de Yan et al. (2013), Ding et al. (2014);
Wu et al., (2014); Guo et al., (2016) e Ngai, Jones e Tam (2016).

A próxima questão e se esses benefícios se mantem ao longo do tempo. A maioria dos estudos
analisados aqui (n = 5) conduziu intervenções de 3 meses; um estudo fez a intervenção por
apenas 6 semanas e o mais longo dele conduziu a intervenção por 6 meses. Os resultados foram
similares após o período de intervenção. Em quatro ensaios clínicos os pacientes continuaram a
ser acompanhados após a intervenção, por 3 a 6 meses, e todos mostraram que apesar das sessões
supervisionadas terem se encerrado, vários pacientes continuaram a práticar Tai Chi Chuan por

48

488
MÔNICA DA SILVA NUNES

conta própria e os benefícios se mantiveram ou aumentaram ainda mais.

Apenas dois estudos avaliaram os efeitos do Tai Chi Chuan na função diafragmática. Os testes
para evidenciar a função diafragmática são relativamente difíceis de executar, já que exigem a
inserção de um tubo no esôfago para a realização do exame. Mesmo assim, Niu et al. (2014) e
Qiu et al. (2016) mostraram evidencias de melhora na função diafragmática nos pacientes que
praticaram o Tai Chi Chuan.

Ainda não é possível, baseado nos estudos publicados, evidenciar diferenças de efeito quanto ao
estilo de Tai Chi Chuan praticado, e número de formas executadas. Aparentemente, todos os
estilos estudados (Yang, Sun, estilos personalizados e formas oficiais da China) resultaram em
alguma forma de benefício ao paciente. Estudos mais detalhados comparando—se diferentes
estilos, ou ainda, diferentes formas de um mesmo estilo, poderão responder a essa questão.

Também não fica evidente qual o menor tempo de Tai Chi Chuan a ser praticado para se obter
benefício na DPOC. Seis ensaios clínicos utilizaram sessões entre 40 e 60 minutos. Apenas um
ensaio clínico usou como intervenção apenas 15 minutos de Tai Chi Chuan diários (NG et al.,
2014), mas essa prática estava inserida em uma sequência de outros exercícios pulmonares,
totalizando 1 hora e 20 minutos de sessão, impossibilitando, portanto, avaliar se sessões curtas de
prática de Tai Chi Chuan são igualmente benéficos para pacientes com DPOC.

Os estudos quantitativos analisados aqui mostram que apesar de haver melhora nas provas de
função pulmonares, outros parâmetros como saturação de oxigênio e redução da dispneia nem
sempre acompanham essas mudanças. Isso talvez se deva ao estágio clínico do paciente no
momento da intervenção, ou ainda ao pequeno tempo de intervenção. Estudos com mais
pacientes e maior tempo de intervenção são necessários para entender melhor os efeitos do Tai
Chi Chuan em pacientes com DPOC.

Os estudos analisados incluíram poucas mulheres na amostra. Provavelmente isso se deve ao fato
de que por ser o tabagismo a principal causa de DPOC, o que resulta em mais homens com
DPOC do que mulheres (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018). Entretanto, o perfil
do tabagismo vem mudando aos longos das décadas, o que resultara daqui alguns anos em mais
mulheres com DPOC. É possível que não haja diferenças no efeito do Tai Chi Chuan em homens
e mulheres quanto a função pulmonar, mas é necessário que os futuros estudos incluam mais
mulheres para elucidar essa questão.

49

489
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

A recomendação oficial da Organização Mundial da Saúde e das sociedades americanas e


europeias quanto a reabilitação pulmonar para pacientes com DPOC ainda se baseia na prática de
exercícios respiratórios, como apertar os lábios, caminhada em esteira e outros exercícios
aeróbicos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018; GLOBAL INITIATIVE FOR
CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE, 2006; AMERICAN THORACIC SOCIETY
AND EUROPEAN RESPIRATORY SOCIETY, 2004). Os resultados dos ensaios clínicos avaliados
mostram que o Tai Chi Chuan traz benefícios para pacientes com DPOC, mas ainda não está
claro se a prática do Tai Chi Chuan e superior aos programas de reabilitação pulmonar, quanto
aos resultados obtidos. Essa também e a conclusão de Ngai, Jones e Tam (2016) em revisão
sistemática com 12 ensaios clínicos, publicadas recentemente.

Claramente, há vantagens na substituição dos programas convencionais pelo Tai Chi Chuan, no
que tange ao custo, aderência dos pacientes, facilidade de executar os exercícios sozinho em
ambiente doméstico, e portanto no resultado a longo prazo. Entretanto, dos sete ensaios clínicos
avaliados, somente quatro compararam o Tai Chi Chuan com outros tipos de exercícios de
reabilitação pulmonar, restringindo as conclusões acerca de uma possível maior eficácia da
prática de Tai Chi Chuan sobre exercícios aeróbicos usuais.

Os resultados encontrados neste estudo são similares aos descritos por Ngai, Jones e Tam
(2016), cuja revisão sistemática envolveu artigos publicados em chinês também. Os doze ensaios
clínicos compilados pelos autores mostraram os mesmos benefícios: melhora da capacidade
pulmonar, redução de alguns sintomas, melhora da qualidade de vida, aumento da capacidade de
efetuar exercícios, e ausência de efeitos adversos. Ngai, Jones e Tam (2016), entretanto,
concluíram que não há evidencias que suportem a superioridade da prática de Tai Chi Chuan a
longo prazo devido a baixa qualidade dos estudos analisados. Os autores concordam que não e
possível avaliar possíveis diferenças no efeito da prática de Tai Chi Chuan dos diversos estilos
ou de diferentes números de formas em pacientes com DPOC, por insuficiência de dados.

2 CONCLUSÃO

Os resultados desta revisão de literatura evidenciaram sete ensaios clínicos e um estudo de


parâmetros fisiológicos em pacientes com DPOC submetidos a prática de Tai Chi Chuan. Os
resultados desses estudos comprovaram melhora na capacidade de efetuarem exercícios, melhora
das provas de função pulmonares, melhora da qualidade de vida, do desempenho do diafragma e,
50

490
MÔNICA DA SILVA NUNES

em alguns casos, da redução dos sintomas associados a DPOC. Para pacientes com DPOC, a
prática de Tai Chi Chuan equivale aos programas de reabilitação pulmonar usuais. Estudos
adicionais são necessários para evidenciar os efeitos do Tai Chi Chuan em mulheres portadoras
de DPOC, o efeito dos diferentes estilos, o tempo mínimo de prática e a frequência. E possível
que o Tai Chi Chuan seja superior aos programas convencionais de reabilitação pulmonar, mas
outros estudos devem mostrar se essa diferença realmente existe para eu maior atenção seja dada
a essa prática corporal chinesa milenar a nível mundial.

51

491
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57

497
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

15. Análise da efetividade do BADUANJIN


no alívio da dor lombar em adultos tabagistas
com dor lombar crônica

Sheila A. Silva

498
SHEILA A. SILVA

Resumo
A dor lombar crônica é um problema de saúde pública que acomete principalmente a
população adulta em idade produtiva. O consumo abusivo de álcool e tabaco pode intensificar
a dor e comprometer ainda mais as articulações e o sistema nervoso central e periférico
intensificando o quadro álgico. A estratégia mais efetiva para reabilitação nessa doença é a
terapia por exercícios. O Brasil a partir de 2006 passou a incentivar a implantação da
Medicina Chinesa no Sistema Único de Saúde Essa racionalidade contempla a prática
corporal Qigong. Tendo como base essas informações, nesse trabalho utilizou-se o Qigong
Baduanjin na reabilitação de pacientes com dor lombar cônica. O objetivo geral foi avaliar a
efetividade dessa prática corporal no alívio da dor lombar crônica em adultos; além de avaliar
o índice de incapacidade lombar, índice de incapacidade cervical e a percepção dos pacientes
sobre o Baduajin. Foram avaliados 11 voluntários, concluíram o projeto 6 voluntários, (3
homens e 3 mulheres). A média de idade foi 44 (±7) anos; apenas uma participante não fazia
uso de álcool e tabaco, sendo a média de consumo de 10(±9), que sentiam dor há 9 (±5) anos,
com intensidade 7(± 2,66), índice de incapacidade lombar de 47 (±12)% e incapacidade
cervical 21 (±18)%. Após 10 sessões de prática de Baduanjin houve redução na intensidade de
dor (p 0,046), redução na incapacidade lombar (p 0,028); não houve redução da incapacidade
cervical estatisticamente significativa (p 0,285) mas foi constatada melhora clínica de 18%.
Para tais resultados considerou-se p≤0,05. Portanto o Baduajin é efetivo na reabilitação da dor
lombar crônica em adultos, de acordo com evidências quanti e qualitativas.

Palavras-chave: Terapia por exercício; Sistema Único de Saúde; Fisioterapia

499
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

INTRODUÇÃO

A Dor lombar (DL) é a segunda entidade nosológica de incapacidade mundial sendo


que a primeira é a cefaleia (MACEDO, 2011).
A DL afeta cerca de 100 milhões de adultos nos Estados Unidos, com um custo anual
estimado em 635 bilhões de dólares, incluindo despesas médicas diretas e perda de
produtividade, tem prevalência mundial de 39% e uma prevalência anual semelhante de 38%
(TREEDE et al., 2015). Aproximadamente 10 milhões de brasileiros ficam incapacitados por
essa morbidade e ao menos 70% da população mundial terá um episódio de DL na vida
(GARCIA FILHO et al., 2006).
Na população brasileira, os níveis epidemiológicos atingidos indicam um problema de
saúde pública, influenciando a incapacidade funcional e diminuição da produtividade
(SALVETTI et al., 2012; KORELO et al., 2013). A taxa de incidência de lombalgia nas
aposentadorias por invalidez no Brasil em 2007 foi de 29,96 por 100.000 contribuintes
(MEZIAT FILHO; SILVA, 2011).
A DL pode ser classificada em aguda, dor nociceptiva, com papel de alerta e dor
lombar crônica (DLC) foi classificada como dor primária crônica, dor em uma ou mais
regiões anatômicas (c dor ou desconforto, com localização abaixo do arco costal e acima das
pregas glúteas com irradiação ou não para o membro inferior) que persiste por mais de três
meses e está associada à angústia emocional significativa ou deficiência funcional importante
que interfere nas atividades da vida diária e participação na vida social. Esta nova definição
fenomenológica foi criada porque a etiologia é desconhecida para muitas formas de dor
crônica como a DL (TREEDE et al., 2015).
As causas de DL incluem hérnias de disco, espondilolistese, espondiloartrose,
compressão de raízes nervosas, estenose do canal medular, doenças inflamatórias e
contraturas musculares que não possuem lesão histológica demonstrável (GARCIA FILHO et
al., 2006; STRONG et al., 2013). Essas lesões raramente, levam a quadros de hipocinesia e
cinesiofobia que debilitam ainda mais as pessoas com esse diagnóstico; comprometendo a
estabilidade da coluna. Além disso são apenas em alguns casos é indicada a cirurgia de
artrodese. E existem poucas informações quanto aos achados anatomo histológicos das
estruturas comprometidas, o que dificulta a interpretação da dor. O estudo da DL é complexo,
pois nem sempre existe relação entre os exames de imagem e os achados clínicos, o que torna
difícil determinar com precisão o local de origem da dor (GARCIA FILHO et al., 2006).
É importante considerar o exame físico e o sofrimento do paciente com DL que pode

500
SHEILA A. SILVA

se sobrepor à própria por isso, é importante proporcionar a esses pacientes, além do


tratamento convencional, tecnologias em saúde que humanizem a relação profissional da
saúde-paciente, estimulem o autocuidado e empoderem os pacientes enquanto atores de sua
situação de saúde.
As Práticas Integrativas em Saúde (PIC) são uma opção de humanizar o cuidado na
saúde pública brasileira. O termo “Medicina Integrativa” (MI), cunhado na década de 1990,
significa o ato ou efeito de se integrar modelos terapêuticos de forma a oferecer cuidado
integral. Atualmente utiliza-se PIC, pois essa não é uma atribuição exclusiva da Medicina
(OTANI, BARROS, 2011).
Então em 2006 foi promulgada, no Brasil, a Política Nacional de Práticas Integrativas
e Complementares (PNPIC) com o objetivo de agregar ao modelo de atenção em saúde
vigente em nosso país, tecnologias que de fato considerem o paciente como um ser
biopsicossocial (BRASIL, 2008).
A terapia por exercício supervisionado é a primeira linha de cuidado no tratamento da
DL aguda ou crônica. Exercícios realizados em grupo utilizando abordagens cognitivo
comportamentais são opções interessantes de tratamento por serem eficazes, beneficiarem
maior número de pessoas e terem baixo custo. Não há recomendações quanto ao tipo de
exercício a ser escolhido (AIRAKSINEN et al., 2006, FRANÇA et al., 2012; KORELO et al.,
2012; RACHED et al., 2013; SUNG et al., 2013; DREISINGER, 2014). Dente as práticas
integrativas que constam na PNPIC estão os exercícios de Qigong, com origem na Medicina
Tradicional Chinesa (MTC), que no âmbito do Sistema Único de Saúde deve ser executado,
preferencialmente, por fisioterapeutas e profissionais de Educação Física (BRASIL, 2008).
Qigong é uma arte milenar chinesa que remonta há 7000 anos. A palavra Qigong é formada
por Qi, a energia vital do corpo, e Gong, a formação de Qi, trabalho, esforço. A prática de
Qigong tem como objetivo cultivar energia através de exercícios, incluindo a coordenação de
diferentes padrões respiratórios, movimentos rítmicos e meditação. Devido à sua significativa
contribuição para na promoção da saúde, prevenção, recuperação de doenças e facilidade de
aprendizado o Qigong é apropriado para várias populações, de qualquer idade e condição
física (XIONG et al., 2015). Existem vários sistemas de Qigong nessa pesquisa será utilizado
o Baduanjin.
Baduanjin são exercícios realizados na postura bípede compostos de movimentos dos membros superiores,
inferiores e tronco; executados de forma lenta, suave e contínua associados à respiração (CHEN, LIU,
HUANG et al;2012; CHAN et al., 2013; DE LAZZARI, 2014). Os exercícios de Qigong, Baduanjin podem
ser úteis na redução da DLC em tabagistas. A literatura traz relatos de

501
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

inúmeros benefícios desses como por exemplo: na redução dos lipídios no sangue (MEI, CHEN, GE et
al., 2012; ), redução da pressão arterial, redução do açúcar no sangue e hemoglobina glicada (LIU,
GUO, ZHANG et al., 2011), além disso, foram relatadas também melhora significativa no equilíbrio,
força e flexibilidade, redução da dor, melhora na qualidade do sono, melhor bem-estar psicológico e
melhor função imune (CHEN, LIU, HUANG et al., 2012; ZHENG, CHEN, FANG, et al., 2014; ZOU,
SASAKI, WANG et al., 2017). No entanto, a amostra proposta nesse trabalho ainda não foi estudada.
O paciente que desenvolve a DL crônica/incapacitante causa economicamente um
maior custo social seja direto ou indireto se comparado ao que possui a dor lombar aguda
(FUJII; MATSUDAIRA, 2013; DREISINGER, 2014), a DLC é altamente incapacitante
caracterizando-se como um problema de saúde pública na população adulta em idade
produtiva (ALMEIDA, 2008; SHIRI, FALAH-HASSANI, 2016), portanto justifica-se a
importância de buscar métodos eficientes e menos onerosos de reabilitação desta doença
como a utilização do Baduanjin (YANG, 1995; DE LAZZARI, 2014, ZOU, SASSAKI,
WANG et al., 2017) no tratamento dessa população. A escolha desses exercícios se deve a
trabalhos anteriores que revelaram achados interessantes nessa população tais como: redução
da dor, incapacidade, depressão e aumento da atividade elétrica dos músculos multífidos e
glúteo máximo (SILVA, 2016).
Dessa forma, tendo como eixo norteador a PNPIC, o objetivo geral dessa pesquisa é
avaliar a efetividade do Baduanjin em adultos com DLC quanto à dor e rastrear o consumo de
álcool, tabaco e outras drogas pelo ASSIST, tendo como objetivos específicos: avaliar
incapacidade lombar pelo ODI, avaliar incapacidade cervical pelo NDI e registrar a percepção
dos usuários quanto a prática do Baduanjin por meio de entrevistas.
No capítulo 1 discorreremos sobre dor lombar, capítulo 2 Política Nacional de Práticas
Integrativas e complementares (PNPIC), capítulo 3 Baduanjin, Capítulo 4: A integralidade da
atenção à saúde no SUS e a Unidade Especializada em Reabilitação (UER) - Unidade de
Saúde Vimerson Hilário Paiva, capítulo 5 Material e métodos, capítulo 6 resultados, capítulo
7 discussão e considerações finais.

502
SHEILA A. SILVA

Capítulo 1: Dor lombar

A dor é conceituada como uma experiência sensorial e emocional desagradável,


descrita em termos de lesões teciduais reais ou potenciais, sendo sempre subjetiva e cada
indivíduo aprende e utiliza este termo a partir de suas experiências (KRELING, CRUZ,
PIMENTA, 2006). O processo doloroso que dura ou se repete por mais de três meses é
conhecido como dor crônica. Deve receber maior atenção como uma prioridade global de
saúde, pois o tratamento adequado da dor é um direito humano, e fornecê-lo é o dever de
qualquer sistema de saúde (TREEDE et al., 2015).
Uma definição específica e completa da dor tem sido exaustivamente buscada. Isso
parece humanamente impossível de ser obtido pois cada indivíduo experimenta a dor a seu
modo (DRUMMOND, 2012). Por mais que os estudiosos busquem formas de mensurá-la,
sempre haverá o imensurável. Aquela porção da dor que não é possível calcular pois
machuca, torna incapaz, aproxima da insanidade, isola o indivíduo, faz brotar o pranto, incita
ao autoextermínio. Isso é o sofrimento inerente a dor e é visível nos olhos de quem a sente
mas infelizmente a ciência ainda não possui ferramentas apropriadas para a materialização de
cada um desses sofrimentos particulares (DRUMMOND, 2012). Por isso denominado por
alguns pesquisadores com fenomenológico, ou seja, aquilo que só pode ser experimentado
pelos sentidos (TREEDE et al., 2015). É esse o universo dos pacientes que sentem dor lombar
crônica e eles são o tema central dessa pesquisa.
A dor lombar (DL) constitui causa frequente de morbidade, sendo menor apenas que a
cefaleia na escala dos distúrbios dolorosos que afetam o homem (GARCIA FILHO et al.,
2006; TSUKIMOTO, RIBERTO, BATTISTELLA, 2006; MACEDO, 2011); afeta cerca de
100
milhões de adultos nos Estados Unidos, com um custo anual estimado em 635 bilhões de
dólares, incluindo despesas médicas diretas e perda de produtividade. Tem prevalência
mundial de 39% e uma prevalência anual semelhante de 38% (TREEDE et al., 2015).
Aproximadamente 10 milhões de brasileiros ficam incapacitados por essa morbidade e
ao menos 70% da população mundial terá ao menos um episódio de DL na vida (GARCIA
FILHO et al., 2006; MEZIAT FILHO, SILVA, 2011, TREEDE et al., 2015). Na população
brasileira, os níveis epidemiológicos atingidos pela DL indicam um problema de saúde
pública pois gera incapacidade funcional, diminui a produtividade, aumenta os gastos
públicos e exige política de atenção específica para essa população (KORELO et al., 2013).
A dor lombar crônica (DLC) pode ser definida como dor ou desconforto, com

503
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

localização abaixo do último arco costal e acima das pregas glúteas que dura ou persiste por
três meses ou mais (TREEDE et al., 2015).
A literatura aponta marcante associação entre DLC e fatore s como: baixo nível de
escolaridade, obesidade central, tabagismo, idade, sexo, alcoolismo, classe social, ausência de
prática de atividade física, atividades laborais (BEHREND, PRASARN, COYNE et al., 2012;
MEUCCI, FASSA, FARIA, 2015), transtornos depressivos (SHEMORY, PFEFFERLE,
GRADISAR, 2016) e endividamento (MANCHIKANTI, SINGH, FALCO et al., 2014).
Quanto a isso, Hoy et al., 2012 constataram ser essa uma disfunção com prevalência no
gênero feminino, em pessoas na faixa etária de 40 a 80 anos. Esses fatores podem ser
explicados pois a menor escolaridade é relacionada a condições vulneráveis de vida e
trabalho.
Em relação ao tabagismo, os efeitos sistêmicos da nicotina sobre as articulações da coluna
vertebral aceleram a degeneração articular aumentando o potencial de transmissão de
impulsos álgicos ao sistema nervoso central (BEHREND, PRASARN, COYNE et al., 2012).
Quanto ao excesso de peso, indivíduos obesos estão sujeitos a maiores cargas na região
lombar, o que favorece o desenvolvimento de doenças crônicas como DLC (MEUCCI,
FASSA, FARIA, 2015).
Indivíduos superendividados apresentam uma probabilidade onze vezes maior de sofrer de
DLC (SHEMORY, PFEFFERLE, GRADISAR, 2016).
A taxa de incidência de DLC nas aposentadorias por invalidez no Brasil em 2007 foi
de 29,96 casos por cada grupo 100.000 contribuintes (MEZIAT FILHO, SILVA, 2011).
As principais causas de DL são: 70% tensão das estruturas lombares; 27% causas
mecânicas (como: processos degenerativos dos discos e facetas, hérnia de disco, fratura
osteoporótica, estenose do canal espinal, dor discogênica ou instabilidade lombar); 2% dor
referida (causada por: aneurisma da aorta ou doenças dos órgãos pélvicos) e 1% causas não
mecânicas (neoplasias, artrite inflamatória, espondilite anquilosante, espondilite psoriática
síndrome de Reiter, doença inflamatória intestinal, osteomielite, herpes zoster, doença de
Scheuermann, osteocondrose, doença de Paget e abcessos) (AIRAKSINEN et al., 2006,
LAST, HULBERT, 2009). Essas doenças podem possuir ou não lesão histológica
demonstrável (GARCIA FILHO et al., 2006; STRONG et al., 2013).
Em alguns casos existem poucas informações quanto aos achados anátomo-
histológicos das estruturas comprometidas, o que dificulta a interpretação da dor. Nem sempre
existe relação entre exames de imagem e achados clínicos, o que torna difícil determinar com
precisão o local de origem da dor (GARCIA FILHO et al., 2006).

504
SHEILA A. SILVA

As principais classificações da DL são quanto ao tempo de instalação da dor em aguda


ou crônica; quanto à causa, específica ou inespecífica e quanto à classificação clínica da dor
em nociceptiva, neuropática ou sensibilização central da dor.
A DL pode ser classificada como aguda (DLA), quando desempenha um papel de alerta ou
DLC (STUMP, DALBEN, 2012). A DLC foi recentemente classificada como dor primária
crônica, dor em uma ou mais regiões anatômicas que persiste por mais de três meses e está
associada à angústia emocional significativa ou deficiência funcional importante que interfere
nas atividades da vida diária e participação na vida social. (TREEDE et al., 2015).
A DLC é específica quando diagnosticada uma causa intrínseca ou extrínseca. São causas
intrínsecas: condições congênitas, degenerativas, inflamatórias, infecciosas, tumorais e
mecânicos-posturais. E causas extrínsecas: o desequilíbrio entre a carga funcional o esforço
requerido para atividades do trabalho e da vida diária, estresse postural e lesões agudas que
causam deterioração de estruturas. DL específica é rara, representando menos de 15% de
todas as queixas de DL. Quando não encontrada uma causa, denomina-se DL idiopática ou
inespecífica (ANDRADE, ARAUJO, VILAR, 2005; RACHED et al., 2013). De acordo com
Franke et al. (2014) a DL inespecífica corresponde a cerca de 85% dos pacientes com essa
doença que foi definida como tensão, dor e / ou rigidez na região lombar para as quais não é
possível identificar uma causa específica (NIJS et al., 2015).
A dor nociceptiva é definida como a dor resultante da lesão nos tecidos não-neuronais devido
à ativação de nociceptores ou como dor atribuível à ativação dos receptores periféricos dos
neurônios aferentes primários, em resposta a estímulos térmicos, químicos ou mecânicos. O
termo dor nociceptiva pode ser utilizado quando a dor é proporcional à entrada nociceptiva
em contraste com a dor neuropática que é causada por uma lesão primária ou doença do
sistema nervoso somatossensorial (NIJS et al., 2015). Nos pacientes com DLC, a
radiculopatia é um tipo comum de dor neuropática, enquanto lesões na fáscia toracolombar e
ligamentos lombares podem causar dor nociceptiva. Tanto a dor nociceptiva quanto
neuropática podem ser classificadas como DL específica quando existe um diagnóstico
anatomopatológico claro (NIJS et al., 2015).
A sensibilização central (SC) é uma amplificação do sinal neuronal no sistema nervoso
central, que induz hipersensibilidade a dor (WOOLF, 2011), ou seja, hiperexcitabilidade
central. Essa definição é originária de pesquisas experimentais mas há necessidade de que o
conceito de SC seja trazido para a clínica. Pois a DLC por compressão radicular é a síndrome
de dor neuropática mais comum, afeta de 20% a 35% dos pacientes com DL (NIJS et al.,
2015). Pessoas com DLC neuropática experimentam níveis mais elevados de dor,

505
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

incapacidade, ansiedade, depressão e qualidade de vida reduzida em comparação com DLC


nociceptiva. Portanto, pacientes com DLC neuropática podem desenvolver SC. Além disso, a
radiculopatia lombar, se tratada cirurgicamente, também pode evoluir para DL nociceptiva
pós-cirúrgica (NIJS et al., 2015), então, a maioria dos pacientes com DLC não serão
beneficiados por cirurgia (NIJS et al., 2015). Mas uma avaliação cirúrgica pode ser
considerada para pacientes com diagnósticos de compressão de raiz nervosa e estenose do
canal vertebral que possuam deficiências funcionais ou dor refratária apesar de vários
tratamentos não cirúrgicos (LAST, HULBERT, 2009). E mesmo após a cirurgia, abordagem
de gestão estratificada incluindo triagem, prognóstico e direcionamento do tratamento,
mostra-se necessária para melhores benefícios clínicos (HILL et al., 2011).
As abordagens terapêuticas para reabilitação da DLC incluem tratamentos como:
terapia por exercício; terapia manual; escola de postura; terapia cognitivocomportamental;
tratamento multidisciplinar; terapia medicamentosa; acupuntura; injeções, bloqueios
nervosos; neuroreflexoterapia, estimulação elétrica transcutânea (TENS) estimulação elétrica
percutânea (PENS); radiofrequência; procedimentos de denervação eletrotérmicos e cirurgia
(AIRAKSINEN et al., 2006, RACHED et al., 2013). Dentre esses tratamentos são
recomendados por diretrizes europeia e nacional escola de postura, intervenções educativas e
neuroreflexoterapia (AIRAKSINEN et al., 2006).
Em relação à terapia medicamentosa, recomenda-se a utilização de analgésicos não
esteroides por períodos inferiores a três meses; celocoxibe; adesivos transdérmicos de
capsaicina ou buprenorfina; opióides fracos (tramadol, oximorfina/ oxicodona) e
antidepressivos cíclicos ou duais (duloxetina e escitalopram) também por períodos menores
que três meses (AIRAKSINEN et al., 2006, DELITTO et al., 2012; RACHED et al., 2013).
Quanto ao tratamento cirúrgico, a artrodese da coluna lombar é recomendada mediante
bastante critério devido à altas taxas de complicações cirúrgicas, altos custos e sofrimento dos
pacientes. De acordo com a diretriz europeia, apenas têm indicação para artrodese de coluna
lombar pacientes submetidos a tratamentos conservadores compostos por exercícios físicos e
intervenção cognitiva por dois anos com desfecho clínico malsucedido (AIRAKSINEN et al.,
2006).
Na busca por intervenção fisioterapêutica mais apropriada, grupos de pesquisadores
têm recomendado o Sistema de Tratamento Baseado na Classificação (TBC) por subgrupos.
O TBC envolve etapas de decisão clínica:1) avaliação clínica e biopsicossocial; 2) são
colhidas sua história, anamnese e exame físico, utilizados para identificar seu quadro clínico e
assim conduzidos a terapia mais apropriada para tal; 3) então são alocados no subgrupo

506
SHEILA A. SILVA

denominado de acordo com a principal terapia empregada. Os subgrupos são: terapia manual,
exercícios de estabilização, exercícios de resistência/ fortalecimento e tração (HEBERT et al,
2011; DELITTO et al., 2012).
A terapia por exercício supervisionada é a primeira linha de cuidado no tratamento
conservador da DLC. Exercícios realizados em grupo utilizando abordagens cognitivo-
comportamentais são opções interessantes de tratamento por serem eficazes, beneficiarem
maior número de pessoas e terem baixo custo. Não há recomendações quanto ao tipo de
exercício a ser escolhido (AIRAKSINEN et al., 2006, RACHED et al., 2013).
Dreisinger (2014) em seu trabalho sobre exercício físico no manejo da DLC, afirma que
exercícios de treinamento de força supervisionados que obedeçam ao princípio da sobrecarga
com frequência predeterminada, aumento progressivo da intensidade e sobrecarga melhoram a
capacidade de realizar atividades de vida diária.
Sobre o fortalecimento dos músculos paravertebrais a literatura ainda é ambígua sobre a
efetividade dos exercícios de estabilização. Mas o fortalecimento dos extensores do tronco
demonstrou resultados melhores ou iguais à fisioterapia convencional. Dessa forma, um
programa de treinamento de força dos músculos do tronco promove ganhos significativos para
os pacientes como: ganho de força, maior amplitude de movimento, melhor funcionalidade e
diminuição de escores de incapacidade tanto para queixas relativas à coluna lombar quanto
cervical.
Diante disso, a realização de exercícios de fortalecimento dos músculos do tronco,
alongamentos e exercícios de estabilização são abordagens terapêuticas efetivas na
reabilitação de pacientes com DLC (AIRAKSINEN et al.,2006; DREISINGER, 2014, LEE,
PARK, JANG, 2015).

507
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Capítulo 2: Política Nacional de Prática Integrativas e Complementares

A Organização Mundial da Saúde (OMS) denomina o campo das Práticas Integrativas


e Complementares (PIC) como Medicina Tradicional e Complementar/ Alternativa
(MT/MCA). Desde a década de 70 essa organização incentiva os Estados-membros a
formularem e implementarem políticas públicas para a utilização racional e integrada dessas
práticas nos serviços de saúde; utilizando as na prevenção e tratamento de doenças crônicas,
como lombalgia. Pois as PIC, nesse caso o Baduanjin, consideram o indivíduo na sua
dimensão global, ser biopsicossocial.
No Brasil, a legitimação e a institucionalização dessas abordagens de atenção à saúde
iniciaram-se a partir da década de 80, principalmente, após a criação do Sistema Único de
saúde (SUS), quando os estados e municípios ganharam maior autonomia na definição de suas
políticas e ações em saúde, vindo a implantar experiências pioneiras no campo das PIC.
Estudos têm demonstrado que tais abordagens contribuem para a ampliação da
corresponsabilidade dos indivíduos pela saúde, contribuindo assim para o aumento do
exercício da cidadania (BRASIL, 2015).
De acordo com o disposto no inciso II do art. 198 da Constituição Federal, que dispõe
sobre a integralidade da atenção como diretriz do SUS; o parágrafo único do art. 3º da Lei nº
8.080/90, que diz respeito às ações destinadas a garantir às pessoas e à coletividade condições
de bem-estar físico, mental e social como fatores determinantes e condicionantes da saúde e
considerando que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimulou o uso da Medicina
Tradicional/Medicina Complementar/ Alternativa nos sistemas de saúde de forma integrada às
técnicas da medicina ocidental modernas e em seu documento “Estratégia da OMS sobre
Medicina Tradicional 2002-2005” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018);foi aprovada em 03 de
maio de 2006 a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC),
portaria ministerial 971/2006 que tem buscado incorporar aos serviços de saúde as seguintes
práticas: Fitoterapia, Homeopatia, Medicina Tradicional Chinesa (MTC), Medicina
Antroposófica e Termalismo/ Crenoterapia (BRASIL, 2006). Tais sistemas e recursos
envolvem abordagens que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos
e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta
acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o
meio ambiente e a sociedade (BRASIL, 2008; SCHVEITZER, ESPER, SILVA, 2012).
Após sua aprovação em 03 de maio de 2006 a portaria ministerial 971, PNPIC foi revisada

508
SHEILA A. SILVA

várias vezes: pela portaria ministerial 1.600, de 17 de julho de 2006 que aprovou a
constituição do Observatório das Experiências de Medicina Antroposófica no Sistema Único
de Saúde (SUS); portaria da secretaria de atenção à saúde Nº 853, de 17 de novembro de 2006
que incluiu na Tabela de Serviços/classificações do Sistema de Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde (SCNES) do SUS, o serviço de código 068 - Práticas Integrativas
e Complementares; portaria da secretaria de atenção à saúde N°154 de 18 de março de 2008
que recompõe a tabela de Serviços/Classificações do SCNES; portaria Interministerial Nº
2.960, de 09 de dezembro de 2008 que aprova o Programa Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos e cria o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos; portaria NR
07/DGP, de 27 de janeiro de 2009 que aprova as normas reguladoras do Exercício da
acupuntura no âmbito do serviço de saúde do exército; portaria da secretaria de atenção à
saúde Nº 84, de 25 de março de 2009 que adequa o serviço especializado 134 – serviço de
Práticas Integrativas e sua classificação 001 – Acupuntura; portaria 374 de 1 de outubro de
2009 que aprova a norma Técnica nº 001/2009, que dispõe sobre as "Especificações Técnicas
para o aproveitamento de água mineral, termal, gasosa, potável de mesa, destinadas ao
envase, ou como ingrediente para o preparo de bebidas em geral ou ainda destinada para fins
balneários"; portaria nº 48, de 25 de fevereiro de 2010 que aprova a diretriz para implantação
dos Núcleos de Estudos em Terapias Integradas (NETI) no âmbito do serviço de saúde do
exército; a portaria ministerial nº 886, de 20 de abril de 2010 que institui a Farmácia Viva no
âmbito do SUS; portaria, nº 127 de 25 de março de 2011 que aprova o roteiro técnico para
elaboração do projeto de caracterização crenoterápica para águas minerais com propriedades
terapêuticas utilizadas em complexos hidrominerais ou hidrotermais; portaria da secretaria de
atenção à saúde nº 470 de 19 de agosto de 2011 que inclui na tabela de SCNES, no serviço de
código 125 - Serviço de Farmácia, a classificação 007 - Farmácia Viva; portaria Nº 533, de 28
de Março de 2012 que estabelece o elenco de medicamentos e insumos da Relação Nacional
de Medicamentos Essenciais (RENAME) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS);
portaria Nº 849, de 27 de março de 2017 que inclui a Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança
Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia,
Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares; portaria Nº 633, DE 28 de março de 2017 que atualiza o
serviço especializado 134 - Práticas Integrativas e Complementares na tabela de serviços do
Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e a portaria ministerial
Nº 702, de 21 de março de 2018 que atualiza o serviço especializado 134 Práticas Integrativas
e Complementares na tabela de serviços do SCNES (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

509
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Além dessas atualizações, em março de 2018 foram acrescidas mais dez práticas à
PNPIC são elas: apiterapia, aromaterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia,
geoterapia, hipnoterapia, imposição de mãos, ozonioterapia e terapia de florais. Desse modo, a
PNPIC atualmente comtempla 29 práticas (BRASIL, 2018).
A PNPIC tem como objetivos:
Incorporar e implementar as Práticas Integrativas e Complementares no SUS, na
perspectiva da prevenção de agravos e da promoção e recuperação da saúde, com
ênfase na atenção básica, voltada ao cuidado continuado, humanizado e integral em
saúde; contribuir ao aumento da resolubilidade do Sistema e ampliação do acesso à
PNPIC, garantindo qualidade, eficácia, eficiência e segurança no uso; promover a
racionalização das ações de saúde, estimulando alternativas inovadoras e
socialmente contributivas ao desenvolvimento sustentável de comunidades e;
estimular as ações referentes ao controle/participação social, promovendo o
envolvimento responsável e continuado dos usuários, gestores e trabalhadores nas
diferentes instâncias de efetivação das políticas de saúde (Brasil, 2015, p. 28)
Quanto às diretrizes elencamos as seguintes de acordo com esse trabalho: estruturação
e fortalecimento da atenção em PIC no SUS; (...) divulgação e informação dos conhecimentos
básicos da PIC para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS, considerando as
metodologias participativas e o saber popular e tradicional; e) fortalecimento da participação
social; (...) e incentivo à pesquisa em PIC com vistas ao aprimoramento da atenção à saúde,
avaliando eficiência, eficácia, efetividade e segurança dos cuidados prestados (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2018).
Com o objetivo de reafirmar a PNPIC, em Minas gerais foi promulgada a Política
Estadual de Práticas Integrativas e Complementares /MG (PEPIC), em abril de 2009 (MINAS
GERAIS, 2009).
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) caracteriza-se por um sistema médico integral
originado há milhares de anos na China. Sua utilização no SUS tem como objetivo a
prevenção de agravos e doenças, promoção e recuperação da saúde. (MINAS GERAIS,
2009).
As PIC são ações de cuidado transversais, podendo ser realizadas na atenção primária,
secundária e/ou terciária (BRASIL, 2018). Elas estão presentes em 9.350 estabelecimentos de
3.173 municípios brasileiros, sendo que 88% são oferecidas na Atenção Básica. Em 2017,
foram registrados 1,4 milhão de atendimentos individuais em PIC. Somando as atividades
coletivas, a estimativa é que cerca de 5 milhões de pessoas por ano participem dessas práticas
no SUS (BRASIL, 2018).
Atualmente, a acupuntura é a mais difundida com 707 mil atendimentos e 277 mil
consultas individuais. Em segundo lugar, estão as práticas de Medicina Tradicional Chinesa
com 151 mil sessões, como Tai Chi Chuan e Lian Gong. Em seguida aparece a auriculoterapia

510
SHEILA A. SILVA

com 142 mil procedimentos. Também foram registradas 35 mil sessões de yoga, 23 mil de
dança circular/biodança e 23 mil de terapia comunitária entre outras (BRASIL, 2018).
Evidências científicas têm mostrado os benefícios do tratamento integrado entre
medicina convencional e práticas integrativas e complementares (SILVA, 2016; BRASIL,
2018). Além disso, há crescente número de profissionais capacitados e habilitados e maior
valorização dos conhecimentos tradicionais de onde se originam grande parte dessas práticas.
No ano passado foram capacitados mais de 30 mil profissionais (BRASIL, 2018).

511
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Capítulo 3: Baduajin

Dentre as PIC estão as corporais da Medicina Tradicional Chinesa que vêm


contribuindo de forma consistente no conjunto de mudanças por que passa a medicina
mecanicista. Uma contribuição interessante destas práticas encontra-se no debate sobre o
processo de humanização do SUS. Pois proporcionam proximidade entre as pessoas e a
possibilidade de trocas solidárias e afetivas que agem no campo psicossomático. Destacamos
as seguintes Práticas Corporais da MTC: Tui Ná (massagem), Lian Gong (exercícios para
prevenir e tratar de dores no corpo e restaurar a sua movimentação natural), Tai Chi Chuan
(forma de meditação em movimento) e o Qigong (ciência e prática do Chi) (BRASIL, 2015;
MINAS GERAIS, 2009).
Desde o início da civilização chinesa, costumavam dançar e praticar conjuntos de
exercícios que melhoravam os movimentos das articulações e dos músculos e faziam
desaparecer problemas circulatórios. Esses exercícios receberam o nome de Qigong, são
praticados para fortalecer e flexibilizar o corpo, melhorar a saúde, curar doenças, acalmar a
mente e preservar energia vital. Os Qigong são praticados há pelo menos 4.000 anos e dentre
os tipos de Qigong está o Baduanjin. No livro Tratado Interno do Imperador Amarelo (Huang
Di Nei Jing), escrito no período de 2690 a 2590 aC, cita vários exercícios respiratórios e
alongamentos para se manter saudável e ajudar na preservação do QI (LAZZARI, 2014).
A definição correta de Qigong é um treinamento ou estudo relativo ao Qi que necessite
de muito tempo e esforço (YANG, 1995; LAZZARI, 2014). O Qigong chinês pode ser
estudado em quatro períodos: 2400 a.C com a introdução ao I Ching até a dinastia Han (206
a.C); o segundo com introdução ao Budismo, importado da Índia 206 a.C e que levou à
prática da meditação unida às técnicas de Qigong que estendeu-se até a dinastia Liang (502-
557 d.C); e o terceiro associa com o descobrimento da prática com propósitos marciais,
quando diferentes estilos de Qigong marcial foram criados. Isso se estendeu até a queda da
dinastia Qing (1911), início da República da China. E o contemporâneo que iniciou em 1911
e se estende aos dias atuais.
O Qigong foi praticado por muitos anos a portas fechadas, tanto técnicas marciais
como religiosas eram ensinadas de mestre a discípulo cuidadosamente escolhidos. Após 1911
a prática mudou em função das mudanças nos veículos de comunicação e influências do
ocidente onde começa-se a se difundir com bons resultados (LAZZARI, 2014).
Existem quatro categorias de Qigong. A Escola dos Eruditos, que acreditam que
muitas doenças são causadas por excessos mentais e emocionai e têm como foco principal

512
SHEILA A. SILVA

manter a mesnte em harmonia para equilibrar o Qi. A Escola dos médicos, a mais duradoura,
seu início data de 4000 anos, afirmam que a prática de exercícios aumenta o Qi tornando
órgãos mais saudáveis por isso enfatizam a prática de exercícios terapêuticos como o
Baduanjin e meditação em movimento (Tai Chi Chuan). Os exercícios de Qigong são apenas
parte da ciência médica chinesa, sendo acupuntura, a massagem e as ervas além de outros
métodos de cura e preservação da saúde. A Escola dos Artistas Marciais que começou a ser
desenvolvido no Mosteiro Shaolin, durante a dinastias Liang (502-557 d.C) depois que
Bodhidharma, 28º patriarca zen-budista criou o Yi Jin Jing (Tratado de transformação dos
Músculos e Tendões) e Xi Sui Jing (Tratado de Limpeza da Medula/Cérebro). Divide-se nos
estilos interno (Tai Chi Chuan) e externo. E a Escola dos Religiosos que apesar de ser a mais
elevada se manteve em segredo até o século passado. O maior propósito dessa escola é o
treinamento para a iluminação. Os praticantes dessa escola treinam para fortalecer o Qi
interno, para nutrir o espírito, para atingir elevados estágios de consciência e para que o
espírito seja capaz de sobreviver à morte do corpo físico (LAZZARI, 2014).
Nos seres humanos existem três energias muito importantes chamadas de três tesouros
ou San Bao; três Origens ou as três raízes. São elas: Essência (Jing); Energia Vital (Chi) e
Espírito (Shen). Recebemos essa energia de nosso pais (hereditariedade), dos alimentos, pela
respiração, do céu, da Terra e da natureza. Captamos essa energia pela sola dos pés, alto da
cabeça e nos centros de energia. As três energias são as raízes de nossa vida e nos
proporcionam saúde, vitalidade e longevidade se soubermos preservá-las e emprega-las de
forma correta (YANG, 1995; LAZZARI, 2014).
Já o Dan Tian “Campo de Elixir”, local onde a energia pode ser transmutada, é o ponto
fundamental na prática do Qigong e Baduanjin. Existem três Dan Tiens (Figura 1): Inferior
(mar de energia) é associado à energia física; Médio (casa do Qi) relacionado à respiração e
saúde dos órgãos internos e Superior (Terceiro Olho) relacionado à consciência à mente,
relaciona-se com a vida espiritual e controla a manifestação do Qi pelo pensamento
(LAZZARI, 2014).
Qi significa ar, poder, energia e vida, energia vital ou energia interna. O que faz do
Baduanjin um sistema tão especial de disciplina da mente e do corpo é o desenvolvimento do
Qi no corpo humano. O Qi circula por canais, os meridianos que foram descobertos por
médicos da MTC e podem ser mapeados por medições de diferenças de resistência elétrica da
pele. O sistema de meridiano estende-se por todo o corpo transportando sangue e energia vital
distribuindo a Essência, auxiliando a equilibrar órgãos e vísceras, mantendo a condutividade e

513
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

resistindo à invasão de patógenos. Existem doze meridianos principais, dois extras, oito
maravilhosos, doze distintos, doze tendinomusculares (Figura 2).
Dessa forma, Qigong é conhecido e difundido pela comunidade médica chinesa como
“exercício de respiração terapêutica”, constitui um conjunto de exercícios e meditação que
contribuem para a saúde e bem estar do praticante, regulando o fluxo energético (SEVERINO,
SOCI, 2011).
Existem duas categorias de Qigong: interno e externo. O Qigong interno ou exercícios de
Qigong envolve utilização de meditação, movimentos e controle da respiração. Envolve
movimentos das mãos, do corpo e concentração. Os movimentos e posturas foram
desenvolvidos para melhorar o fluxo da energia, Qi, pelo corpo; melhorando assim a saúde
física e o bem estar. E o Qigong externo, onde o terapeuta direciona seu próprio Qi para o
corpo do paciente, como o Reiki (CHEN et al, 2008; CHAN et al, 2012).
Entre os sistemas de Qigong mais conhecidos atualmente podem ser destacadas as seguintes
práticas: as oito peças de brocado (Baduanjin); a palma dos 5 elementos (ou movimentos); o
jogo dos cinco animais; permanecer quieto como uma árvore (Zhan Zhuang) e renovação dos
músculos e tendões (KOSKUBA, 2003; SEVERINO, SOCI, 2011; ZOU, SASAKI, WANG et
al., 2017 ).
Baduanjin (também chamado de brocados de oito seções) é um das formas de
exercícios de Qigong chinês tradicional que tem uma história de mais de 1000 anos. É
caracterizado pela interação entre posturas e movimentos físicos simétricos, mente e
respiração exercício de forma harmoniosa (ZOU, SASAKI, WANG et al., 2017).

O Baduanjin é relativamente fácil de aprender com menos demandas físicas e


cognitivas porque contém os movimentos (AN, DAI, ZHU et al., 2008; ZOU, SASAKI,
WANG et al., 2017). São eles: Mãos duplas empurram o céu, Direita e esquerda abrem o arco
para atirar no falcão, Empurrando o Céu e a Terra, Segurando a cintura olhando para trás,
Coração de fogo, Fortalecendo os rins, Socando para aumentar a vitalidade e Caindo sobre os
calcanhares ativando a circulação (Zhang, 2017). Foram criados com base nas teorias da
tradicional Medicina Chinesa, Yin Yang e Cinco Movimentos (AN, DAI, ZHU et al., 2008;
ZOU, SASAKI, WANG et al., 2017). Seu foco principal é a liberação de energia corporal
interna com a intenção de produzir diversos benefícios para a saúde (ZOU, SASAKI, WANG
et al., 2017). Seus movimentos foram descritos em versos que remetem aos trajetos dos
meridianos ou rios de QI, canais de energia do corpo, locais destinados à circulação do QI.
Esta denominação foi documentada na dinastia Han (206 aC - 220 dC) nos textos: Huang Di

514
SHEILA A. SILVA

Nei Jing e Nan Jing (YANG, 1995).


Durante a prática do Baduanjim o Qi circula pelos meridianos. Cada exercício se
relaciona mais especificamente com um meridiano, de acordo coma descrição os poemas, no
caso do Baduanjin (Anexo C).
Figura1: Dan tiens (superior, médio e inferior) e meridianos (Ren Mai e Du Mai)

Fonte: Tai Chi Fighter's Blog


É importante refletirmos sobre a correspondência, inclusive anatômica, entre os
meridianos de acupuntura e as fáscias de tecido conjuntivo (Figura 2) bem como entre os
gânglios nervosos do sistema nervoso periférico e os Dan tiens (Figura 3). Para buscarmos
traças inferências e possíveis associações entre os benefícios do Baduanjin descritos nos
poemas (YANG, 1995; LAZZARI, 2014) e achados de pesquisas recentes que evidenciam, de
forma empírica, tais efeitos (MOON et al., 2017).

Figura 2: Alguns meridianos de acupuntura e fáscias de tecido conjuntivo

Fonte: Tai Chi Fighter's Blog

515
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 3: Gânglios do sistema Nervoso Periférico, Dan Tiens, Ren Mai e Du Mai.

Fonte: Tai Chi Fighter's Blog

Então, os meridianos descritos anteriormente se relacionam com os plexos do sistema


nervoso periférico e com as fáscias. Depreende-se dai que a estimulação de tais estruturas
pode influenciar funções neuroendócrinas como a redução de liberação das citocinas pró-
inflamatórias TNFα, IL-1β e IL-6 (KIM, ZHANG, O'BUCKLEY et al., 2018). Esses achados
foram corroborados por estudos experimentais utilizando acupuntura (KIM, ZHANG,
O'BUCKLEY et al., 2018), eletroacupuntura (ZHANG, LAO, REN et al., 2014) e Qigong
(MOON et al., 2017).

516
SHEILA A. SILVA

Capítulo 4: A integralidade da atenção à saúde no SUS e a Unidade Especializada em


Reabilitação (UER) - Unidade de Saúde Vimerson Hilário Paiva

A Constituição Federal definiu que “a saúde é direito de todos e dever do Estado” e a


Lei Federal n. 8.080/1990, que regulamentou o SUS, prevê em seu Artigo 7º, como princípios
do sistema, entre outros:
I- universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;
II- integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das
ações e dos serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para
cada caso, em todos os níveis de complexidade do sistema; (...).

Nesses termos, fica explícito que o Brasil optou por um sistema público e universal de
saúde, que deve garantir atendimento integral para todos os cidadãos, não cabendo, em
nenhuma hipótese, a limitação de seus atendimentos ao mínimo de serviços de saúde,
destinado à parcela mais pobre da população. Daí a importância de se compreender a atenção
básica como o eixo orientador do SUS e nunca como barreira limitante ou exclusiva do
sistema; como tendem a acreditar alguns governantes (BRASIL, 2007).
Portanto, o SUS deve enfrentar um duplo desafio: abrir as portas do sistema para
garantir o atendimento à população historicamente desassistida em saúde (fato que tem
alcançado sucesso no Brasil, por meio de ampla expansão da atenção básica em saúde) e, ao
mesmo tempo, implantar redes de atenção à saúde (RAS) que possam dar conta das
necessidades de atendimento visto que ainda existem desigualdades de acesso significativas
entre as diferentes regiões do país (BRASIL, 2007). Uma possível solução para isso seria a
implementação da PNPIC compondo de fato as RAS de acordo com a portaria nº 4.279, de
30/12/2010 do Ministério da Saúde.
A organização da assistência à saúde no SUS, por meio da RAS está organizada em
atenção básica, atenção secundária - média complexidade - e atenção terciária (alta
complexidade). A eficiência do SUS muitas vezes comprometida pela centralidade dos
procedimentos médico-hospitalares em detrimento da promoção da saúde. Tal característica é
fruto de um modelo de atenção marcado pela hegemonia dos interesses da corporação médica,
das indústrias e dos serviços privados de saúde. Essa tendência manifesta-se na compra
indiscriminada de serviços do setor privado pelo público e na baixa qualidade da atenção
básica do SUS, o que contribui para a ampliação do uso de planos privados pela classe média.
No que se refere à concepção de Atenção Básica (AB), recente portaria ministerial (BRASIL,
2006) ratifica a visão clássica da Atenção Primária em Saúde (APS) enquanto

517
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

primeiro nível de atenção, estratégia e filosofia para organizar os serviços de saúde


(STARFIELD, 2002).
AB é descrita em Brasil (2007) como: conjunto de ações de saúde, no âmbito
individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de
agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida
por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob
forma de trabalho em equipe, e dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas
quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território
em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa
densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e relevância em
seu território.
Acrescenta-se o caráter democrático, participativo e integrado das ações, bem como os
princípios que vêm norteando a organização dos serviços pela Estratégia Saúde da Família,
como o trabalho em equipe, a territorialização e a corresponsabilidade sanitária.
A atenção secundária (AS) ou média complexidade e a atenção terciária (AT) ou alta
complexidade se inserem num cenário permeado por disputas mais acirradas entre o público
e o privado.
A Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) do Ministério da Saúde (MS) define média
complexidade em saúde, em seu site na internet
(http://portal.saude.gov.br/portal/sas/mac/default.cfm), conforme se segue: AS é composta por
ações e serviços que visam atender aos principais problemas e agravos de saúde da população,
cuja complexidade da assistência na prática clínica demande a disponibilidade de
profissionais especializados e a utilização de recursos tecnológicos, para o apoio diagnóstico e
tratamento. (...) compõem os procedimentos de média complexidade do Sistema de
Informações Ambulatoriais (SIA) procedimentos especializados realizados por profissionais
médicos, outros profissionais de nível superior e nível médio; fisioterapia; terapias
especializadas dentre outros (BRASIL, 2007).
Enquanto a AT designa o conjunto de procedimentos que, no contexto do SUS, envolve alta
tecnologia e alto custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços qualificados,
integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde (AB e AS). Algumas áreas de AT são:
oncologia, cardiologia, oftalmologia, transplantes, parto de alto risco, traumato-ortopedia,
neurocirurgia, diálise (para pacientes com doença renal crônica) dentre outros (BRASIL,
2007).
Os serviços de AS e AT são regionalizados, localizados em emergências, ambulatórios

518
SHEILA A. SILVA

de especialidades e internações hospitalares, visando à concentração do volume para redução


de custos (BRASIL, 2007).
As ações básicas de saúde públicas de “menor custo” e consumidas eminentemente
pela população pobre, com baixo poder de vocalização e mobilização política, interferem
muito pouco na relação entre mercado e trabalho, inerente à conformação das políticas sociais
(BEHRING, 1988; LAURELL, 2002) enquanto a média e a alta complexidades têm interface
direta com o financiamento e manutenção do setor privado de serviços. O setor público
financia parte das ações mais caras ofertadas pela rede de prestadores – a alta complexidade –,
mantendo uma situação rentável para os hospitais privados, que corresponde a 61,8% dos
estabelecimentos de saúde e mais de 60% dos leitos do Brasil (BRASIL, 2004).
Em linhas gerais, o SUS, forjado no seio do modo liberal-privatista de organizar a
provisão de cuidados à saúde (CAMPOS, 2007) continua comprando muitos procedimentos
caros ofertados pela rede privada pois para atender aos usuários conta com uma oferta própria
comparativamente menor, 42,6%, dos estabelecimentos de saúde e 39,3% dos leitos são
públicos além disso, regula precariamente os prestadores de serviços (GÖTTEMS, PIRES,
2009).
A Unidade Especializada em Reabilitação “Vimerson Hilário de Paiva” (UER) é o
centro de reabilitação física municipal, atenção secundária, estruturada e administrada pela
Prefeitura Municipal de Uberaba, Minas Gerais, vinculada ao SUS, inaugurada em
janeiro/2008. Mas já funcionava anteriormente com o nome de centro de fisioterapia desde
1999.
A estrutura foi organizada para prestar atendimento a indivíduos que demandam
reabilitação física de todas as faixas etárias.
As ações são desenvolvidas por equipe multidisciplinar, visando à reabilitação global
do indivíduo, a prevenção, a qualidade de vida e a inclusão, priorizando-se a humanização do
atendimento. A entrada do paciente na rede de assistência especializada se dá com a inserção
do paciente na fila interna, após a entrada no SUS via atenção primária (Unidade Básica de
Saúde/ Equipe Saúde da Família), especializada (Unidade de Pronto Aatendimento) ou
terciária (Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro ou Mário
Palmério Hospital Universitário), aguardando a chamada para realização do procedimento
solicitado. Os pacientes de Urgência são atendidos como prioridade, assim também os
pacientes acima de 60 anos.
A equipe multiprofissional conta com profissionais das seguintes áreas: Fisioterapia,
Psicologia, Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia. Mas já contou com Neurologia, Fisiatria,

519
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Reumatologia e Ortopedia, no período de 2010 a 2013 quando contava também com serviço
de Clínica de Dor (UBERABA, 2017).
Os atendimentos são individuais (sessões de psicologia, terapia ocupacional,
fonoaudiologia, fisioterapia, acupuntura ou auriculoterapia) ou em grupos (alongamento com
pacientes portadores de Fibromialgia, Qigong/Baduanjin, já contou com grupo de Liang
Gong).
A utilização de PIC na UER data de 1999 (quando ainda era denominada centro de
Fisioterapia) quando o ex-servidor Vimerson Hilário Paiva começou a atender alguns
pacientes de prognóstico incerto com acupuntura, ele mesmo comprava as agulhas. A partir de
então, Vimerson fez formação em Liang Gong e iniciou também os atendimentos em grupo.
A partir de 2012 foram inseridos no serviço os atendimentos incluindo Qigong/ Baduanjin e
auriculoterapia (após capacitação oferecida pela Secretaria Estadual de Saúde Minas Gerais).
A UER é o único serviço do município com série histórica em PIC cadastrado no
Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES). E a utilização das PIC na UER
tem como um de seus objetivos garantir a integralidade da assistência à saúde aos usuários da
RAS de Uberaba além de implementar a PNPIC.

520
SHEILA A. SILVA

Capítulo 5: Material e métodos

CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA E TERMOS ÉTICOS


Esse é um projeto piloto de delineamento longitudinal. Para essa pesquisa foram
avaliados pacientes com diagnóstico clínico de dor lombar encaminhados à UER. OS
atendimentos foram realizados no período de 24/04/2018 a 05/07/2018. Foram incluídos
pacientes com dor lombar crônica; sem histórico de disfunções que afetem diretamente a
coluna, sendo por causa especifica ou inespecífica; com idade entre 18 e 60 anos de ambos os
sexos. E excluídos pacientes com alteração cognitiva; não aceitação dos termos apresentados
no termo de consentimento livre e esclarecido; desistência de participação durante o processo
de avaliação e aplicação dos questionários; alteração congênita da coluna vertebral ou fratura
de vértebra recente.
Todos voluntários assinaram TCLE (Apêndice A). Os pacientes foram avaliados antes
e após as intervenções.
INSTRUMENTOS PARA AVALIAÇÃO
A Incapacidade lombar foi avaliada pelo Oswestry Low Back Pain Disability Index
(ODI), uma ferramenta utilizada para avaliação funcional da coluna lombar, incorpora
medidas de dor e atividade física. A escala consiste em 10 questões com seis alternativas, cujo
valor varia de 0 a 5. O escore total é dividido pelo número de questões respondidas
multiplicadas pelo número 5, o resultado desta divisão é multiplicado por 100 e os valores
finais são apresentados em porcentagem. O IO é classificado em incapacidade mínima (0 –
20%), incapacidade moderada (21- 40%), incapacidade severa (41 – 60%), paciente que se
apresenta inválido (61 – 80%) e indivíduo restrito ao leito (81 – 100%) (VIGATTO,
ALEXANDRE, CORREA FILHO, 2007; COELHO et al., 2008; FALAVIGNA, et al., 2011).

Para avaliação da DL foi utilizada a escala visual analógica (EVA), que varia de 0 a
10. A Escala Visual Analógica (EVA), que consiste em aferir a intensidade da dor no paciente
e é um importante instrumento para verificar a evolução do paciente durante o tratamento e
mesmo a cada atendimento de maneira mais fidedigna. Ela varia de 0 a 10, sendo 0 sem dor;
5, dor moderada; e 10, pior dor para identificar a intensidade da dor (PIMENTA, 1994;
CAMARGO, MOSER, 2009).
A incapacidade cervical que mensurada pelo Índice de incapacidade para o pescoço –
Neck Disability Index (NDI), um questionário de autoavaliação, cujo objetivo é medir a
incapacidade associada à condição de dor cervical (cervicalgia) (COOK et al, 2006;

521
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

MCCARTHY, GREVITT, SILCOCKS & HOBBS, 2007). Este instrumento foi desenvolvido
a partir do Oswestry Low Back Pain Disability Index, resultado inicialmente numa escala de 6
itens, sendo eles: intensidade da dor, cuidados pessoais, levantar coisas (objetos), dormir,
conduzir, e vida sexual. Cada um dos itens/secções é composto por 6 opções de resposta. Sete
desses itens/secções são relativos a atividades de vida diária, dois são relativos à dor e um está
relacionado com a capacidade de concentração. As respostas possíveis são cotadas numa
escala do tipo Likert, variando entre 0 e 5, em que 0 corresponde a nenhuma incapacidade e 5
incapacidade extrema (VOS, VERHAGEN & KOES, 2006). A pontuação total do
instrumento resulta da soma da pontuação de todos os itens, e varia entre 0 e 50, sendo que os
autores originais sugerem a seguinte interpretação: 0-4 = não há incapacidade, 5-14 =
incapacidade leve, 15-24 = moderada, 25-34 = severa e superior a 34 = completa.
A pontuação total pode ser transformada numa escala de 0 a 100 multiplicando-se por 2,
sendo calculada apenas quando os indivíduos respondem a pelo menos 8 itens/secções. Se os
indivíduos não responderem a 3 itens/secções o questionário deve ser considerado inválido
(VERNON1, 2008, apud DOMINGUES e CRUZ, 2011).
Para coletar as percepções dos pacientes sobre as práticas realizou-se uma entrevista
(Apêndice C) técnica de abordagem qualitativa.
Segundo Maeda (2011) a metodologia qualitativa procura entender como os
fenômenos acontecem, buscando a profundidade dos fatos e a incorporação de processos
sociais e da subjetividade à abordagem. Na área de saúde, essa contribuição é muito
significativa, pois traz a visão e posição de diferentes sujeitos envolvidos na experiência da
atenção à saúde, sem perder a consistência que envolve a elaboração do estudo ao que ela se
aplica.
Entrevistas são ferramentas fundamentais quando deseja mapear práticas, crenças ou
valores em que os conflitos e contradições não estejam claramente explicitados. Elas
permitem ao pesquisador fazer uma espécie de mergulho em profundidade, coletando indícios
dos modos como cada um daqueles sujeitos percebe e significa sua realidade e levantando
informações consistentes que lhe permitam descrever e compreender a lógica que preside as
relações que se estabelecem no interior daquele grupo (DUARTE, 2004)
A entrevista ocorreu no dia 10 de julho de 2018 às 17h e 10min, nessa ocasião foram
entrevistadas duas participantes, e foi norteada pelos seguintes temas:
Figura 4: Roteiro de entrevistas
1. Conversando sobre dor O que é dor para vocês? Onde você sente dor? Há
quanto tempo? O que a dor te impede de fazer.
2. Tratamentos prévios para dor Como você tratou sua dor antes de chegar aqui na

1
Vernon H. The Neck Disability Index: state-of-the-art, 1991-2008. J Manipulative Physiol Ther. 2008; 31(7):491–
502. doi:10.1016/j.jmpt.2008.08.006

522
SHEILA A. SILVA

fisioterapia -remédios, tratamentos alternativos?


3. Itinerário terapêutico Por quais serviços passou antes de chegar aqui?
(Unidade de Pronto Atendimento - UPA, Unidade
Básica de Saúde – UBS, Programa Saúde da Família –
PSF, hospitais entre outros). Você demorou ser
atendido? Como chegou à fisioterapia?
4. Baduanjin Já havia feito esses exercícios? O que você acha dos
exercícios? O que você acha mais difícil neles? Você
faz os exercícios em casa? Qual é seu preferido? Fale
sobre esses exercícios do primeiro ao oitavo. Você já
ensinou ou falou desses exercícios para alguém?
5. Uso problemático de álcool e outras drogas Você fuma ou bebe ou considera que têm algum
vício?
6. Inquietações, críticas, dúvidas ou sugestões E tem alguma coisa que você queira falar que não foi
perguntado?
Fonte: Pesquisadora

ROTINA DAS SESSÕES DE FISIOTERAPIA


Os pacientes foram submetidos a duas sessões de fisioterapia semanais com duração
média de 50 minutos seguindo a sequência do Apêndice C. Os níveis de pressão arterial foram
aferidos ao início de cada sessão. Pacientes realizaram três sessões de ambientação, quando
conheceram os exercícios, foram conscientizados da importância de manter posturas
adequadas durante os exercícios e na realização das atividades de vida diária..
As sessões foram realizadas na sala de cinesioterapia de uma unidade de reabilitação
física. Os exercícios, Baduanjin foram realizados na postura bípede (de acordo com a dor
relatada o paciente poderia realizá-los sentado), começando com uma série de 4 repetições na
ambientação (3 sessões), uma série de 8 repetições, da terceira até a oitava sessão, uma série
de 10 repetições até a décima sessão de tratamento. Respeitando os princípios de
especificidade e sobrecarga.
ANÁLISE ESTATÍSTICA E DAS ENTREVEISTAS
Utilizou-se o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.
Os dados dessa pesquisa devem ser interpretados na hipótese de que a casuística constitui uma
amostra aleatória simples de uma população com amostras similares.
Processou-se a análise univariada de dados, utilizando medidas de posição, média e
desvio padrão para cada variável, seguida pela análise bivariada, onde foi realizado o teste de
Wilcoxom. Para todas as análises, considerou-se p≤0,05 de significância. Para o cálculo do
tamanho do efeito utilizando médias e desvios padrões, foi utilizada a calculadora do tamanho
do efeito da Universidade do Colorado (BECKER, 1999)
As entrevistas foram gravadas em áudio e foram conduzidas pela própria
pesquisadora. As falas foram transcritas integralmente (Apêndice D). Foram analisadas
utilizando a Técnica de Elaboração e Análise de Unidades de Significado, criada a partir das

523
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

abordagens de Análise de Conteúdo - Análise de Avaliação Assertativa (Bardin, 19772 apud


MOREIRA, SIMÕES, PORTO, 2005) e da Análise do Fenômeno Situado (GIORGI, 1978;
MARTINS, BICUDO, 19893 apud MOREIRA, SIMÕES, PORTO, 2005). A justificativa da
escolha foi “tentar desvelar os significados de discursos proferidos por corpos como
expressões possíveis de seres-no-mundo” (MOREIRA, SIMÕES, PORTO, 2005; p. 108).
No tratamento dos dados obtidos foi aplicada a análise temática, conduzida em três
momentos: 1) Relato Ingênuo (discurso sem sofrer neste momento nenhum tipo de
modificação); 2) Identificação de Atitudes (identificar pessoas, grupos, ideias, coisas,
acontecimentos, termos que qualificam e os conectores verbais); 3) Interpretação (com o
quadro geral das ideias de cada sujeito montado e caracterizado pela identificação das
unidades de significado é feita a análise interpretativa do fenômeno, buscando a compreensão)
(MOREIRA, SIMÕES, PORTO, 2005).

2
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
3
MARTINS, J., BICUDO, MAV. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo:
PUC-SP, 1989.

524
SHEILA A. SILVA

Capítulo 6: Resultados

Foram contactados via telefone 14 pacientes com diagnóstico clínico de dor lombar,
compareceram às avaliações 11 pacientes, sendo 5 do sexo masculino e 6 mulheres com idade
média de 49 anos, variando de 30 a 58 anos; índice de massa corporal médio de 28, 35,
variando de 22,95 a 34, 71, todos tinham DLC de origem mecânica (processos degenerativos
facetas e/ou hérnia de disco) como queixa principal, sendo que 54% apresentaram queixa de
DLC irradiada para os membros inferiores. Usavam em média 3 remédios de uso contínuo
variando de 1 a 6 medicamentos. Apenas um paciente não relatou comorbidades, dentre elas
as mais comuns referidas estão: hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes melitus tipo II
(DM- II). Todos dos pacientes apresentaram exames complementares; quatro trouxeram
ressonância nuclear magnética e os demais radiografias (evidenciando osteófitos e/ou hérnias
discais). A média de dor referida na Escala Visual Analógica (EVA) foi 8, variando de 4 a 10;
relataram ainda que sentiam dor lombar em média há 6 anos variando de 1 ano a 18 anos, O
ODI médio foi de 53%, variando de 32% a 72%. NDI médio foi de 40% variando de 2% a
67,5%. Houve associação positivas entre dor, incapacidade lombar (ODI) e incapacidade
cervical (NDI). Desses pacientes, um foi excluído, um solicitou dispensa do tratamento por
motivos pessoais, um contraiu pneumonia e não pôde continuar e dois abandonaram (não
tinham dinheiro para pagar o transporte coletivo). Finalizando o estudo com 6 pacientes.
Quanto aos pacientes que concluíram as dez sessões de tratamento, as características
foram as seguintes: 3 homens e 3 mulheres, com idade média de 45 anos, IMC médio 29,
média de dor 7 na EVA há pelo menos dois anos, ODI médio 47% e NDI médio 21%. Quanto
às profissões: uma manicure, uma doméstica e uma cozinheira autônoma, um comerciante,
um pedreiro afastado e um estivador aposentado.
Na tabela 1 é possível visualizar os valores da dor (EVA), incapacidade lombar (ODI)
e incapacidade cervical (NDI) antes e após o tratamento. Após dez sessões de prática de
Baduanjin houve redução estatisticamente significativa da dor e incapacidade lombar e
redução da incapacidade cervical que apesar de não evidenciar relevância estatística
corresponde a melhora clínica de 18% em relação à incapacidade cervical inicial.
Tabela1: Variáveis antes e após as 10 sessões de Baduanjin
Antes Depois
Média (dp) Mínimo Máximo Média Mínimo Máximo p Tamanho do efeito
(dp) (D de Cohen)
EVA 7(±2) 4 10 3(±3) 0 6 0,046 0,76
ODI 47%(±12) 32 64% 18(±12) 7% 40% 0,028 0,7
NDI 21%(±18) 2 46% 14(±10) 2% 26% 0,29 0,18
ASSIST: Teste de Triagem do Envolvimento com Álcool, Tabaco e Outras Substâncias; EVA: Escala Visual

525
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Analógica; ODI: Índice de Incapacidade de Oswestry; NDI: Índice de Incapacidade relacionada ao pescoço; p≤
0,05 em negrito. Fonte: Pesquisadora; p≥ 0,05.
As entrevistas, foram realizadas no dia 10/07/2018 a partir das 17h10min no mesmo
local onde realizou-se o tratamento. Foram convidados para as entrevistas os seis pacientes,
porém só compareceram quatro, que foram entrevistados na primeira hora duas paciente e na
segunda dois pacientes. As entrevistas foram gravadas em áudio, posteriormente transcritas na
íntegra respeitando as particularidades de cada paciente. Em seguida foram analisadas e
categorizadas de acordo com o questionário semiestruturado, roteiro
Quanto à categoria dor, as falas convergiram para incapacidade, “A dor é quando a
gente fica impossibilitada de fazer determinada coisa que você já está acostumado a fazer”;
limitação “Eu tinha uma unha marcada hoje e desmarquei porque eu não ia consegui fazer”,
“pra agachar, pra limpar debaixo das cama, não consigo”; incômodo, “a dor que eu sinto
é... assim, ela me incomoda”. Uma fala explicitou a dor como fenômeno sentido mas de difícil
definição “: Mas é... eu num sei assim falá.” Além disso, ficou evidente que se tratava de
pessoas que tinham como queixa principal dor nas costas “No meio.... no meio das costas”;
“É, principalmente a da coluna né” mas apresentavam também dor em outras regiões do
corpo “Na perna direita chegando até o cóccix”, “o problema é que doi muito meu joelho se
eu agachá”. E que essa dor era crônica com duração variando de 1 ano “Uns quatro meses
que veio a queimação (intensificação do sintoma)... mais forte” há 14 anos “De 2004 pra cá
começou ai foi piorando né.”. Essa última fala denuncia também o caráter progressivo da
lesão e da incapacidade.
Ainda quanto à dor, em uma das falas é dito que é preciso acostumar com a dor pois a lesão é
degenerativa “Tá doendo uai, tem que acostumá, né?... é degenerativo” e que a idade piora os
sintomas álgicos “Quando vai ficando velho, né? Ai piora.”. É dito também que o uso de
remédios de uma forma geral causam dependência “É por exemplo, o da pressão tem que
tomá o resto da vida”. Um entrevistado cita a associação entre má postura, sedentarismo e dor
lombar “... sabia fazer todos (exercícios), nossa... todos os exercícios! Ai eu parei, fui ficando
meio que sedentário, sabe? (...) Ai eu comecei, eu ia pra loja, chegava lá, sentava lá, ficava
sentado o dia todo e... tinha um sofá até confortável lá e eu ficava deitado e... com a postura
errada e... e ai foi dando uma dor nas costas.”. E relata a desqualificação de seu quadro
álgico pelo médico “doutor cavalo S, ele falou pra mim, falou: “não, rapaz, que isso! Não,
magrinho desse jeito aí, isso aí é dor lombar, pode vim daqui seis meses cê me fala, cê pode
voltar aqui. Não, num esquenta não (...) vai fazer exercício, pode fazer exercício a vontade.”
Em relação aos tratamentos prévios para alívio da dor, as pacientes relatam ter

526
SHEILA A. SILVA

realizado tratamento medicamentoso “Tomei remédio só”, “Eu já passei aquela pomada
diclofenaco”; prática regular de exercício físico; “Eu fiz hidroginástica” “Tentei fazer
caminhada. Mas aí doí o meu joelho”; uso de medicação fitoterápica “A gente passa essas
pomada que a gente compra, gel de sete ervas, essas coisa”, “Eu já passei arnica também.
Aquelas coisa que a minha avó falava eu já passei tudo”.
De acordo com os pacientes eles foram encaminhados por ortopedistas dos
ambulatórios Maria da Glória, do hospital de clínicas da Universidade Federal do Triângulo
Mineiro, “Eu procurei lá no hospital escola né”, do ambulatório municipal do São Cristovão,
“Aí eu comecei a fazer os acompanhamentos com o Dr. A.... F. lá no São Cristovão” ou do
Mário Palmério Hospital Universitário “Foi no posto médico, aí eles me encaminharam pra
lá (Mário Palmério Hospital Universitário).”. Afirmam também que antes dos atendimentos
com especialistas procuraram atendimento em Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24h)
“Já parei muito na UPA por causa dessas dor”, “Essa injeção Biprofenide, eu já tô cansada
de tomar ela nessas UPA aí”. E que em momentos de crises de dor chega a recorrer a serviços
privados de reembolso direto “dessa última vez eu paguei uma consulta com o Dr. D. foi
aonde ele receitou esse remédio Prefiss 75mg (Pregabalina) que eu tô tomando”. Aqui
também pode ser verificados problemas como regulação ineficiente do Sistema Único de
Saúde (SUS) que gera uma sobrecarga do nível secundário de saúde e utilização equivocada
da atenção básica constatados nas falas: “Perdi o acompanhamento com ele (o ortopedista)
porque no dia 26 de janeiro que era pra eu voltar no médico mas minha mãe faleceu. Aí eu
tenho que começar tudo de novo, pra entra traveis (retornar à Unidade de Saúde da Família,
passar pelo médico da Família para depois ser encaminhada ao ortopedista novamente)” e
“Mas eu já procurei o médico da família de novo porque ele já me dá os encaminhamento, as
receita dos remédio que eu preciso tomá”. Assim foram relatados os Itinerários em Saúde.
Isso evidência a fragilidade e desestruturação da RAS do município de Uberaba que não
consegue informar e/ ou sensibilizar o usuário a buscar atendimentos na AB. Sobrecarregando
os outros níveis de atenção.
Ao abordarmos a prática do Baduanjin, fica evidente o distanciamento entre o SUS e
as PIC, especificamente práticas corporais, em nível interestadual inclusive “Eu aqui é a
primeira vez. Nunca tinha feito nem Fisioterapia nem exercício. E meu tratamento vem lá de
São Joaquim da Barra (SP)”; “Eu nem sabia que existia”; “Eu só vi na televisão.”
Quando as participantes citam também seu contato com a Fisioterapia, dois
entrevistados nunca precisaram fazer até então “Nunca tinha feito nem Fisioterapia ”; outros
dois relatam seus contatos prévios “Eu já fiz uma vez. Numa clínica particular como o Dr. C.

527
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

ali na R. Capitão Domingos, já em vem desde muito tempo. Lá era particular”; “Eu fiz mas
era só acupuntura”. Fica evidente também a utilização de tecnologia em detrimento da
cinesioterapia em contatos prévios com a Fisioterapia “Era aquele aparelho lá” (Estimulação
Elétrica Transcutânea – TENS, “massage que as moça mesmo fazia na gente. E aquele
infravermelho, sabe?”. É notória também a centralização do cuidado, pois vemos nas falas, o
profissional de saúde mais citado ao longo da história de saúde dos pacientes é o médico.
Especificamente falando da prática do Baduanjin, os pacientes afirmam ser prazerosa
“Pra mim tudo é bom. Acho que cada um trabaia uma região e um músculo né?”;“Agora
desse eu gosto. Num atrapalha minha vida em nada. Esse eu gostei mais”, “Esse que eu tô
fazendo, eu tô gostando” e demonstram sua efetividade gradativa “no começo, aquele que
fazia assim (1º Baduajin), dava unas pontada que eu achava que era o rim, e agora não doí
mais não”. Além de perceberem os benefícios da prática na sua saúde física “eu tava com
dificuldade até pra estendê a cama. A Fisioterapia ajudou eu demais. Não sei se cê lembra?
Quando eu cheguei aqui meu pescoço era até encaxado assim (mostra como era elevando os
ombros). Nossa! Melhorou demais! Até a postura da gente. O jeito da gente ficá. Porque a
gente vai acostumando com a dor”. “Na hora que a gente tá fazendo doí. Dá um desconforto
mais depois passa. Tanto é que eu faço ele em casa. Eu tento fazer todos em casa. Quando
não dá pra mim vim eu faço mesmo.” Essa última fala salienta ainda a noção de autocuidado
que as práticas de Baduanjin estimulam nos praticantes. E embora não tenham relatado na
entrevista, durante as práticas citavam seus benefícios mentais com falas como: quando eu
faço esse, eu fico leve, leve ao se referirem ao 5º Baduajin que segundo as pacientes é um dos
exercícios preferidos delas. Três participantes relataram gostar mais de um exercício. Os
escolhidos como preferidos foram: o 5º Baduanjin “Agora o que eu mais gosto, é o que gira
de um lado para o outro, parece o bobo da corte”; o 8º Baduanjin “e o de ficar na ponta do
pé” e o 6º Baduanjin “:Ah... eu num sei o nome dele mas o que eu mais gosto é aquele que
mais força a coluna. Porque ele é o que mais força aqui. Aí eu faço ele e dá uma
melhorada.”; que para uma das participantes era também o mais difícil “aquele de ir pra
frente (6º Baduanjin) que eu não dô conta”.
Em relação às dúvidas, as pacientes afirmam a efetividade do Baduanjin, a dor lombar
crônica foi aliviada com a prática o que consequentemente diminuiu a incapacidade “antes de
senti essa dor que tô sentindo hoje que desce pra perna direita, eu sentia tanta dor nas costa
que incomodava, às vezes, até o jeito de deitá. Hoje melhorou a dor das costa... o que me
incomoda agora é a perna, a perna porque ela doí e vem até aqui na bunda. Antes doía muito
as costas assim berando o pulmão. Tinha vez que me dava dor até pra respirar. Agora

528
SHEILA A. SILVA

melhorou essa dor. Não sinto mais essa dor”, “Eu também doía assim...agora graças a Deus,
os remédios e a Fisioterapia melhorou. Não tá doendo muito”. Quanto aos participantes,
ambos afirmaram que os exercícios são efetivos; “Eu falo, falo não. Tem que fazer. Melhora
muito” e fortalecem os músculos “. Acho que cada um trabaia uma região e um músculo
né?”. Todos afirmam que já falaram e/ou ensinaram os para algum familiar ou conhecido;
“Eu comecei a ensinar pra minha mulher, que ela tem uma dor nas costas também. (...) Ela
tem 34 anos e tem uma dor nas costas e de cabeça também”; “Eu ensino mais é pras minha
minina né mas elas faz enfermagem. Já sabe mais que eu”; “Eu tô tentando ensinar pro meu
marido mas ele não quer aprender”; “Pra minha menina”. Além de um participante ensinar
o itinerário terapêutico a outras pessoas com a mesma queixa “Aí pergunta como você fez? Aí
eu falo do trajeto que eu fiz. Fui até o postinho, na onde que é que eu faço.”

529
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Capítulo 7: Discussão e Considerações Finais

A amostra desta pesquisa apresenta características epidemiológicas similares a estudos


anteriores que denotam ser a DL a segunda dor mais incapacitante referida pela população
adulta em idade produtiva (TREEDE et al., 2015) sendo que cinco dos seis participantes dessa
amostra possuíam DLC específica de origem mecânica (DELITTO et al., 2012) Presente entre
as pessoas com menor escolaridade ligadas a atividades laborais repetitivas e/ou pesadas. É
possível identificar as vulnerabilidades desses pacientes como a falta de dinheiro para pagar o
transporte coletivo. Nessa amostra verificou-se equiparação entre os gêneros, mas a literatura
evidencia que prevalência entre mulheres (ALMEIDA, 2008; HOY et al., 2012).
É possível afirmar que após dez atendimentos fisioterapêuticos nos quais foi
executado o Baduanjin como recurso cinesioterápico houve alívio da dor lombar crônica,
redução da incapacidade lombar e redução da incapacidade cervical que apesar de não ser
estatisticamente significativa demonstrou melhora clínica de 18%. Sugere-se que para estudos
futuros, maior número de pacientes. Esses dados são corroborados pelos achados qualitativos
quando os pacientes afirmam que podem realizar suas atividades com menos dificuldades e
que houve redução da DLC (DREISINGER, 2014; ZOU, SASSAKI, WANG et al., 2017).
Além disso, os dados qualitativos nos mostram de fato quem são esses pacientes, suas
dificuldades, seu universo suas demandas pessoais. A dor é descrita como incapacidade,
incômodo, limitação ou algo fenomenológico (DRUMMOND, 2012). Foi possível constatar
que se tratava de DLC com duração variando de um a quatorze anos; e que a queixa álgica
iniciou leve e foi se tornando mais intensa com o passar do tempo. A maioria dos
participantes relatou uso de medicamentos para alívio da dor quando essa estava muito
intensa. Exceto um paciente que alegou alergia a analgésicos e não procura o médico para
alívio da dor alegando que não tem paciência para aguardar o atendimento. Mas sua fala é
marcada de simbolismos como se inconscientemente achasse que merece sentir dor por fumar
e beber diariamente contrariando as expectativas da família. Ressalta-se também que esses
hábitos (beber e fumar) geram lesões crônicas no sistema nervoso central e periférico
comprometendo estruturas articulares e neurológicas o que desencadeia dores mais intensas
(BEHREND, PRASARN, COYNE et al., 2012; MEUCCI, FASSA, FARIA, 2015). Quanto à
dor ainda é possível identificar que o profissional mais procurado é o médico o que mostra
que apesar dos avanços, ainda vivenciamos um sistema público de saúde biomédico. Diante
disso, esse profissional, de acordo com um participante desqualifica sua dor dizendo que por
ele ser jovem, pode ficar tranquilo porque é apenas dor lombar.

530
SHEILA A. SILVA

Quanto aos itinerários terapêuticos (CABRAL et al., 2011), os pacientes afirmam


terem ido várias vezes À UPA por conta do sintomas álgicos. Os demais foram à unidade
básica de saúde, aos ambulatórios de ortopedia e em seguida referenciados à Fisioterapia. Isso
demonstra que esses participantes não buscam a atenção primária para ações de promoção de
saúde e prevenção de doenças. Ou seja, busca-se o SUS quando a doença já está instalada e as
queixas são intensas. Esse achado se deve à existência de um rede de atenção à saúde
desarticulada e distante do usuário (ALMEIDA, MEDINA, FAUSTO et al., 2018)
Antes de serem referenciados ao serviço de Fisioterapia, os participantes utilizaram
remédios, fitoterápicos de uso tópico e hidroginástica via desembolso direto. Mas chegaram à
Fisioterapia pois os remédios não aliviam mais as dores atuais. Quando fazia hidroginástica,
não sentia dores fortes mas interrompeu a prática e aos poucos as dores retornaram.
A Fisioterapia é ainda um serviço elitizado e pouco disponível à população como um
todo, metade dos participantes nunca tinha feito. E os outros dois um já havia feito apenas
acupuntura e outra havia feito via desembolso direto e mesmo assim eram executados
procedimentos em sua maioria por aparelhos e a prática de exercícios não citada. O que
denuncia uma prática profissional diferente do que é recomendado pela literatura no
tratamento desse doença. Ou seja, acupuntura e aparelhos eletroterápicos aliviam a dor e
estimulam a regeneração tecidual mas é a prática de exercícios terapêutico, que de fato
reabilita o paciente com DLC (KISNER, COLBY, 2005; SUNG, 2013; DREISINGER, 2014;
CHO et al., 2015).
Todo o trabalho demonstra que as PIC ainda são raras no SUS apesar de um
participantes relatar que realizou Acupuntura, outra afirmou que fez usos de fitoterápicos por
conta própria. Mas as práticas corporais da Medicina Chinesa não são citadas. O único
usuário que conhecia tem como referência o televisor.
Em relação à prática do Baduajin em dez sessões se mostrou efetiva corroborando os
achados quantitativos e da literatura (ZOU, SASSAKI, WANG et al., 2017). Os relatos
retomam melhora na capacidade de execução de atividades de vida diária, redução da dor e da
incapacidade lombar além de percepções quanto à melhora da postura, autocuidado, quando
relatam que fazem os exercícios em casa, além da evidente disseminação do conhecimento em
saúde quando relatam como fazer os exercícios a outras pessoas as ensinando quer seja os
exercícios ou os itinerários em saúde (SAWYNOK, LYNCH, MARCON, 2013; Li et al.
2015).
As práticas corporais de Medicina Chinesa tem ainda um relevante potencial de
mostrarem aos praticantes que eles são os mais responsáveis por seu estado de saúde, cabe a

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

cada um cuidar de si; buscando os serviços de saúde e os profissionais para os auxiliarem e


não relegar à eles a responsabilidade pela própria saúde. Aos poucos o corpo que apenas doía
vai se deixando perceber mais leve, mais flexível e assim também se torna a vida e os
sentimentos e os pensamentos. Essas características reafirmam o Baduanjin como forma
concreta de vivenciar a integralidade do cuidado no SUS (BRASIL, 2006; TESSER, LUZ,
2008).
Alguns problemas emergiram durante as entrevistas e são relevantes para nos
localizarmos socialmente e epistemologicamente: 1) quanto à condição social do usuário do
SUS; 2) qual a diferença entre a formação do médico da família e do ortopedista no SUS? 3)
Por que prescrever remédios e não referenciar à Fisioterapia ou à prática de exercícios físicos?
E 4) quanto à relevância da presença e permanência das PIC na Atenção Básica (AB) pela
maior facilidade de acesso do usuário, nesse caso específico o Baduanjin.
1) Nesse trabalho foi possível compreendermos quanto a vulnerabilidade social influencia nas
questões de saúde pública, ao descrevermos os participantes da pesquisa, foi possível
identificar características como baixa escolaridade, condições vulneráveis de trabalho e renda
e o abandono do tratamento por 2 usuários sem dinheiro para se locomover até a unidade onde
eram realizados os atendimentos. Ressaltamos que nos referimos à vulnerabilidade que
considera que algumas variáveis ocupam um lugar em uma cadeia causal ou, seja, a pobreza e
a baixa escolaridade fazem dos usuários cidadãos vulneráveis expostos a trabalhos pesados
e/ou sedentários o que aumenta o perigo de desencadear dor lombar que ao longo do tempo se
torna DLC (VARELA et al., 2006). Lembrando que discutir vulnerabilidade social é estar
ciente de que ela se configura em uma dinâmica de interdependências que exprimem valores
biológicos, existenciais e sociais; situação que restringe as capacidades relacionais de
afirmação no mundo, gerando fragilização. Além disso, a existência humana é frágil, está
imersa em permanentes processos de enfraquecimento consubstanciais às ordens de poder.
Ver essa complexidade e analisá-la é desafiador tanto pelas implicações práticas no âmbito
clínico da saúde pública quanto pelos desafios em torno da crítica geral das instituições
sociais contemporâneas, ancoradas em um projeto biopolítico norteado pelo controle, que
conduz a formas de exclusão, segregação e negação de direitos (OVIEDO, CZERESNIA,
2015).
2) Médicos de família e comunidade ou médicos generalistas têm a mesma autonomia para
referenciar usuários ao serviço de Fisioterapia que o ortopedista mas o que é visto na prática é
que o usuário é referenciado do médico da AB ao ortopedista para depois ser referenciado à
Fisioterapia o que aumenta o sofrimento do usuário e a cronicidade do agravo, em nossa

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SHEILA A. SILVA

pesquisa, dor lombar. Problemas pontuais podem ser resolvidos por um diagnóstico municipal
e se necessário realização de capacitações dos médicos das unidades básicas (SILVESTRE,
FORTES 2016). Mas essa não deveria ser uma lógica na regulação dos serviços públicos de
saúde no município.
3) E mesmo na prática clínica dos ortopedistas, é possível detectar iatrogenias que
intensificam o sofrimento do usuário pois o tratamento mais referido pelos usuários é a terapia
medicamentosa antes da referência ao serviço de Fisioterapia. De acordo com as últimas
diretrizes internacionais os exercícios físicos devem ser a primeira intervenção a ser
considerada em pacientes com DLC (DELITTO et al., 2012). Recomenda-se fortemente que
pacientes com DLC inicialmente realizem tratamento não-farmacológico com exercícios,
reabilitação multidisciplinar, acupuntura, redução do estresse, tai chi, yoga, exercícios de
controle motor, relaxamento progressivo, biofeedback eletromiográfico, terapia a laser de
baixa intensidade, terapia cognitiva comportamental ou manipulação espinhal. Caso essa
opção não seja resolutiva, recomenda-fracamente seja considerado o tratamento
farmacológico com antiinflamatórios não-esteroides como terapia de primeira linha, ou
tramadol ou duloxetina como terapia de segunda linha. Os médicos devem considerar os
opioides apenas como última opção em pacientes que falharam nos tratamentos mencionados
e somente se os benefícios potenciais superarem os riscos para após uma discussão de riscos
conhecidos e benefícios com os pacientes, isso deve ser feito caso a caso (QASEEM, WILT,
MCLEAN et al, 2017; WONG, CÔTÉ, SUTTON et al., 2017).
4) A PNPIC promulgada em 2006 versa a utilização das PIC na saúde pública com ênfase na
AB devido ao enfoque integral dessas práticas e a relação custo efetividade delas. De acordo
com o diagnóstico realizado pelo Ministério da Saúde, 88% das unidades que afirmaram usar
PIC são unidades que compõe AB (BRASIL, 2018). Uberaba é um município que está na
contramão desse movimento, pois não há série histórica de PIC em nenhuma unidade da AB.
A série histórica contempla apenas a unidade na qual foi realizada essa pesquisa, UER o que é
ratificado pelo plano de saúde do município que cita a UER como unidade em que há
acupuntura, ou seja, restringe PNPIC a uma prática. E cita a necessidade de avançar na
implementação da PNPIC (UBERABA, 2017). Dessa forma, o município sobrecarrega os
demais níveis de atenção AS e AT com demandas que poderiam ser resolvidas na AB. Visto
que as práticas corporais, nesse caso o Baduajin, para além de aliviarem a DLC integram
razão, intuição, sensibilidade e sentidos, baseando-se na promoção do autoconhecimento, não
apenas durante a prática mas como recurso para a vida; com base para o exercício do

533
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

protagonismo, da responsabilidade e da autonomia no cuidado de si (GALVANESE,


BARROS, OLIVEIRA, 2017).
Para além dos resultados... temos o que há de mais moderno e avançado na medicina,
tanto no SUS como nos serviços privados. Não é por falta de procedimentos diagnósticos,
médicos, medicamentos ou outros recursos que tem se procurado resgatar o valor das
medicinas tradicionais. É por vontade de afirmar uma identidade de cuidado oposta à prática
de cuidado feita de forma muitas vezes desumana, que infelizmente prepondera nos serviços
de saúde. As PICS expressam o desejo de mostrar que é possível implementar outras práticas
de saúde. O que move os atores envolvidos nessas práticas é o impulso de participar
ativamente de um processo capaz de mostrar que são possíveis outras formas de aprender,
praticar e cuidar da saúde, de si e dos outros. E deixar de ser um sujeito subjugado ao sistema
dominante, para inventar novos espaços para a produção de uma prática alternativa de saúde.
norteada pela sensibilidade e emoção (TELESI JUNIOR, 2016).
Além dos benefícios e resultados já registrados vale salientar que no durante a
execução desse trabalho um dos participantes buscou a Unidade Básica de Saúde para tratar a
Hipertensão Arterial pois estava sem medicação. E outra também procurou para ajustar a
medicação que faz uso pois não estava mantendo níveis pressóricos adequados.
Então é possível concluir que a prática de Baduanjin por dez sessões é efetiva na
redução da DLC e da incapacidade lombar, evidenciando melhora clínica de 70% em ambas;
melhora clínica da incapacidade cervical de 18% e ganhos qualitativos múltiplos.
Limitações do estudo
Amostra com poucos participantes devido à dificuldade de adesão e conclusão
programa de exercícios pelos pacientes.

534
SHEILA A. SILVA

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540
SHEILA A. SILVA

APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


Eu, ,
nacionalidade , idade , estado civil
, profissão , endereço
,
RG , estou sendo convidado a participar de um estudo denominado Análise
da efetividade do Baduanjin no alívio da dor lombar crônica (DLC) em adultos, cujos objetivo é avaliar a
efetividade da prática de Baduanjin quanto ao alívio da DLC.
A minha participação no referido estudo será no sentido de permitir avaliar se prática de Baduanjin pode
beneficiar eu e futuramente outras pessoas .
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou qualquer outro dado ou elemento
que possa, de qualquer forma, me identificar, será mantido em sigilo.
Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu consentimento a qualquer
momento, sem precisar justificar, e de, por desejar sair da pesquisa.
Os pesquisadores envolvidos com o referido projeto são Sheila Aparecida da Silva e Lisete Barlach e com eles
poderei manter contato pelo telefone 11 95415-3108.
É assegurada a assistência durante toda pesquisa, bem como me é garantido o livre acesso a todas as informações
e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas consequências, enfim, tudo o que eu queira saber antes,
durante e depois da minha participação.
Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado e compreendido a natureza e o objetivo
do já referido estudo, manifesto meu livre consentimento em participar, estando totalmente ciente de que não há
nenhum valor econômico, a receber ou a pagar, por minha participação.
São Paulo, de abril de 2018.

Nome e assinatura do sujeito da pesquisa RG

Nome e assinatura dos pesquisadores da pesquisa RG

541
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

APÊNDICE B: AVALIAÇÃO INICIAL E FINAL


DATA:
NOME:
DATA DE NASCIMENTO: IDADE: SEXO: M (1 ) F ( 2 )
PROFISSÃO: ESCOLARIDADE (anos completos):
DIAGNÓSTICO CLÍNICO: :
MASSA CORPORAL (Kg):_
ÍNDICE TABÁGICO(CIGARROS/DIA):
1 maço=20 cigarros

ANAMNESE
QUEIXA PRINCIPAL:

HISTÓRIA DA MOLÉTIA ATUAL/ HISTÓRIA DA MOLÉTIA PREGRESSA:

CLASSIFICAÇÃO DA LOMBALGIA:

MEDICAÇÃO DE USO CONTÍNUO:

DOENÇAS PRÉVIAS:

EXAMES COMPLEMENTARES:

542
SHEILA A. SILVA

APÊNDICE C: PROTOCOLO DE EXERCÍCIOS


PRIMEIRO EXERCÍCIO - Mãos duplas empurrando o céu.
Poema: “As doenças desaparecem. Mãos reversas olham o céu e elevam os dois braços.
Estire o peito, endireite a cintura e balance para os dois lados. Fique ereto e firme. Pratique
longamente e o seu corpo se tornará forte e você sentirá alegria”.

SEGUNDO EXERCÍCIO - Direita e esquerda abrem o arco para atirar no falcão


Poema: Dois braços fortes e firmes para fortalecer os rins e a cintura. Dobre o cotovelo
horizontal ao ombro, (a sua mente) puxa com força. O objetivo da mão em flecha. (em
direção ao alvo), usa os olhos para fixar. Sente-se a cavalo para aumentar a eficiência.

TERCEIRO EXERCÍCIO - Empurrando o Céu e a Terra


Poema: “Para ajustar e regular o baço e o estômago deve-se elevar os braços isoladamente, o
baço e estômago ganham paz e harmonia, as doenças são curadas automaticamente. Elevar o
braço e esticar as palmas, usando força para esticar. Estende e desenvolve os tendões e os
músculos. O fígado e o estômago ficarão confortáveis. Mão direita eleva-se, mão esquerda
abaixa-se, direita e esquerda estendem e trocam fazendo os tendões e os canais viverem”.
QUARTO EXERCÍCIO - Segurando a cintura olhando para trás
Poema: “Cinco fraquezas (doença dos Zang) e sete prejuízos (pelas sete emoções) espere e
veja depois. Pratique longamente, exercite longamente, tendões e ossos ficarão fortes.
Fraqueza e injúrias acontecem porque os órgãos internos estão fracos. Fortaleça o peito e o
pescoço para dar uma boa olhada atrás. Segure a cintura e eleve o peito. O corpo fica ereto.
Especialmente efetivo na cura de prejuízos internos. Girando a cabeça de um lado para
outro, os músculos e vasos sanguíneos se soltam e o QI é canalizado para o pescoço
abastecendo toda a cabeça”.
QUINTO EXERCÍCIO - Coração de fogo
Poema: “Gire a cabeça e balance o quadril para eliminar o fogo do coração. Quando o fogo
do coração é forte, use o metal do pulmão para subjugá-lo. O corpo girando de um lado para
o outro fará o sangue fluir suavemente produzindo muitos benefícios. Se os músculos e
tendões das pernas estiverem presos estas ficam doloridas e o corpo fica adormecido,
estenda e dobre as pernas durante o exercício. O fogo (QI em excesso) no plexo solar pode
ser causado por alimentação imprópria, respiração de ar inadequado ou perda de sono.
Quando há QI em excesso no plexo ou coração o melhor é mover o fogo para os pulmões
onde poderá ser regularizado e harmonizado com a respiração suave”.
SEXTO EXERCÍCIO - Fortalecendo os rins
Poema: “As duas mãos vão para o chão em direção aos pés (com pernas esticadas)
fortalecendo os rins e a cintura; quando os rins e a cintura são fortes, todo o corpo estará
forte. Curve a cintura e segure os pés. Esta é a forma mais efetiva de fortalecer músculos,
tendões e ossos. É também a melhor forma de prevenir resfriados. Os rins estão sob os
maiores músculos das costas, são a residência do Jing ancestral (Yuan Jing). Quando os rins
estão fortes e saudáveis, o QI ancestral (Yuan QI) é retido e fortalecido. Só quando os rins
são fortes eles são capazes de gerar QI ancestral e vivificar o corpo. Quando se inclina para
frente e as mãos vão em direção ao chão se tenciona os músculos das costas restringindo o
fluxo do QI na área dos rins. Quando se solta esta pressão retornando o corpo se libera
rapidamente o fluxo do qi removendo qualquer QI estagnado”.
SÉTIMO EXERCÍCIO - Socando para aumentar a vitalidade
Poema: “Mova os punhos em espiral com olhos ferozes para aumentar o QI. Sente a cavalo
e agache-se fortalecendo o peito. Este exercício treina a elevação do espírito da vitalidade.
Quando seu espírito está elevado ( Shen ), o fluido do QI é fortalecido aumentando inclusive
a força muscular (Qi li ), o qi preenche todo o corpo chegando a atingir a pele”.
OITAVO EXERCÍCIO - Caindo sobre os calcanhares ativando a circulação
Poema: “Sete desordens e centenas de enfermidades desaparecem quando a circulação é
restabelecida e o QI flua suave. Este exercício é usado para fazer circular o QI desde o topo
da cabeça até a ponta dos pés. Quando se eleva nas pontas dos pés, os seis canais de QI
conectados com órgãos internos são estimulados”.
Fonte: ZHANG, 2017.Imagens:https://www.camarashaolin.com.br/apostila/qi-gong-para-a-saude-ba-duan-jin/#.W0TyY9JKjIU

543
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

APÊNDICE D: Transcrição das entrevistas:


ENTREVISTA 1

O objetivo da gente estar aqui hoje é conversar...


1. Conversando sobre dor (O que é dor para vocês? Onde você sente dor? Há quanto tempo? O que a dor
te impede de fazer)
Participante 1: A dor é quando a gente fica impossibilitada de fazer determinada coisa que vc já está
acostumado a fazer. Ai a gente não consegue. Igual hoje, eu tentei fazer uma série de coisas e não consegui...
Antes eu tinha ficado um pouquinho mais sentada, quando eu levantei... eu já... tive dificuldade.
Participante 2: Acho que foi hoje,...não foi ontem eu senti uma dor muito forte nas costas. Hoje com esse frio,
piorou. No frio tá arrebentando.
Entrevistadora: Onde vc está sentindo dor? Onde que essa dor? Entrevistadora: a senhora falou que a dor é nas
costas.
Participante 2: No meio no meio das costas. E a senhora?
Participante 1: Na perna direita chegando até o cóccix.
Há quanto tempo vcs sentem essa dor? Desde que ela começou assim?
Participante 1: Meu tem desde 2012. Desde 2012 sentindo.
Participante 2: Depois que eu cai... aí veio essa dor. Não lembro. Entrevistadora: Mais ou menos quanto
tempo? Meses? Ano? Uns quatro meses que veio a queimação ... mais forte.
Entrevistadora: Que coisas a dor te impediu de fazer hoje?
Participante 1: Eu tinha uma unha marcada hoje e desmarquei porque eu não ia consegui fazer. Devido a essa
dor. Aí. .. que que eu fiz? Deitei. Fiquei quietinha.
Entrevistadora: Aí deitada não tem dor?
Participante 1: Às vezes eu ainda sinto. Mas ai eu ponho o travesseiro no meio das pernas e fico quietinha.
Participante 2: É ficá muito em pé. Lavando louça e limpando casa. Que tem que fica agachando. Eu já tentei
usá até aqueles rodo do cabo grande que minha patroa comprou. Aí doí o braço. Outro problema desse rodo é
pra agachar, pra limpar debaixo das cama, não consigo, porque ela (patroa) gosta que limpa bem lá no
cantinho. Entrevistadora: Então... pra fazer isso a senhora tem que agachar, ajoelhar para limpar. Depois
levanta apoiando em um móvel. Participante 2: Então, o problema. É que doi muito meu joelho se eu agachá e
fica com joelho no chão. Por isso que eu evito muito de ficar com o joelho no chão. Aí eu falo pra ela (patroa).
Aí ela diz que vai arrumar uma faxineira pra podê dá faxina na casa que eu não tô dando conta de limpar
debaixo das coisa. O resto tudo eu limpo.
2. Tratamentos prévios para dor (Como você tratou sua dor antes de chegar aqui na fisioterapia -
remédios, tratamentos alternativos?
Participante 2: Tomei remédio só.
Participante 1: Ah .... Eu fiz hidroginástica.
Participante 2: Tentei fazer caminhada. Mas aí doí o meu joelho.
Entrevistadora: Já usou algum remédio natural? Alguma coisa que não seja ir ao médico?
Participante 1: Ah sim. A gente passa essas pomada que a gente compra, gel de sete ervas, essas coisa.
Participante 2: Eu já passei aquela pomada diclofenaco. Eu já passei arnica também. Aquelas coisa que a
minha avó falava eu já passei tudo.
Participante 1: agora uma coisa que eu tô me policiando, que eu não tô fazendo é agachá (abaixar sem dobrar
os joelhos fazendo flexão anterior de tronco) pra pegar as coisas. Às vezes eu até vô mas na hora que eu volto
doí . Sabe que que tô fazendo? Andando com uma pá. Aí quando cai eu uso a pá. E pego, eu não agacho. Eu
levanto a pazinha e pego. Entrevistadora: Mas e se a senhora agachar, apoiar o joelho, assim é certo.
Participante 1: Mas eu fazia normal (abaixar sem dobrar os joelhos fazendo flexão anterior de tronco).
Entrevistadora: mas enquanto a senhora estiver nesse quadro de dor, não vai conseguir. Vai passar. Isso é
transitório no seu caso porque agudizou no último sábado depois que você pegou aquela cadeira né? Então,
enquanto está assim, evita de ir pra frente porque vai doer. E pegar com a pazinha é uma alternativa que você
achou. Não está errado não. Você não vai ficar assim pra sempre. É por enquanto.
Participante 2: Quando eu preciso agachar eu vou assim como se fosse sentar em uma cadeira devagar. Aí eu
consigo. Mas não consigo por o joelho no chão. Por isso eu não consigo limpar debaixo da cama. Lá em casa
sábado, eu deitei pra conseguir limpar debaixo da cama.
Participante 1: Mas por que que ocê num faiz... senta na cama e limpa assim. (mostra para a outra como
fazer). Participante 2: Porque a cama dela é desse tamanho assim ô (mostra com a mão).
3. Itinerário terapêutico (Por quais serviços passou antes de chegar aqui? (Unidade de Pronto
Atendimento - UPA, Unidade Básica de Saúde – UBS, Programa Saúde da Família – PSF, hospitais entre
outros). Você demorou ser atendido? Como chegou à fisioterapia?
Participante 2: Eu procurei lá no hospital escola né (ambulatório Maria da Glória do hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro). Já parei muito na UPA por causa dessas dor. Eles dão injeção,

544
SHEILA A. SILVA

um dia de atestado e fala para procurar o ortopedista. Melhora na hora. Mas no outro dia tem que trabalhar.
Participante 2: Essa injeção Biprofenide, eu já tô cansada de tomar ela nessas UPA aí. Aí eu comecei a fazer os
acompanhamentos com o Dr. A.... F ..... lá no São Cristovão (Centro de Especialidades Municipal, Atenção
Secundária). Foi ele que pediu uma ressonância da coluna. Eu fiz essa ressonância no hospital escola. Voltei
nele de novo peguei o encaminhamento e vim até aqui pra fazer Fisioterapia. Perdi o acompanhamento com ele
(o ortopedista) porque no dia 26 de janeiro que era pra eu voltar no médico mas minha mãe faleceu. Aí eu tenho
que começar tudo de novo, pra entra traveis (retornar à Unidade de Saúde da Família, passar pelo médico da
Família para depois ser encaminhada ao ortopedista novamente). Dessa última vez eu paguei uma consulta com
o Dr. D... foi aonde ele receitou esse remédio Prefiss 75mg (Pregabalina) que eu tô tomando. Mas eu já
procurei o médico da família de novo porque ele já me dá os encaminhamento, as receita dos remédio que eu
preciso toma.
.
4. Baduanjin (Já havia feito esses exercícios? O que você acha dos exercícios? O que você acha mais difícil
neles? Você faz os exercícios em casa? Qual é seu preferido? Fale sobre esses exercícios do primeiro ao
oitavo. Você já ensinou ou falou desses exercícios para alguém?)
Participante 2: Eu já fiz uma vez. Numa clínica particular como o Dr. C (Mas ela se refere à Fisioterapia em
si). Ali na R. Capitão Domingos, já em vem desde muito tempo. Entrevistadora: Era parecido com esses
exercícios? Era diferente? Era aquele aparelho lá (Estimulação Elétrica Transcutânea - TENS), massage que as
moça mesmo fazia na gente. E aquele infravermelho, sabe? Até então eu não conseguia fazê esse de puxá
(autoalongamento de Isquiotibiais e Tríceps Sural). Aí foi melhorando. Lá era particular porque na época, eu
era casada e tinha o plano do meu marido, ele tinha o convenio do serviço dele que dava direito pras esposa. Aí
depois disso, nois separo, cabo tudo né... Aí eu comecei a fazer hidroginástica lá naquela I na R. Capitão
Domingos também. Lá era R$ 80,00 na época, aí eu pagava. Mas eu tava ficando muito, muito cansada com a
hidroginástica. Aí... eu não sei nadar tirando o medo que eu sentia. Sabe? Parei também. Entrevistadora: a
senhora parou por medo? Participante 2: não. Eu tava muito cansada. Eu tava chegando em casa e não dava
conta de fazer mais nada. Entrevistadora: E a senhora chegou a falar pra pessoa que era responsável?
Participante 2: Não. Saí assim... Também a gente vai melhorando né... (Sorri). Entrevistadora: Ah Entendi.
Participante 2: Aí a gente larga. Na hora que o bicho pega é que a gente fica doida da cabeça fazendo o que
tive que fazê.
Participante 1: Eu aqui é a primeira vez. Nunca tinha feito nem Fisioterapia nem exercício. E meu tratamento
vem lá de São Joaquim da Barra. A queimação começou aqui. Mas o problema começou lá em São Joaquim da
Barra. Lá eu nunca fiz Fisioterapia. Eu perguntei pro médico lá se podia fazer caminhada. E ele disse que não
me aconselhava. Lá eu trabalhava de varrer rua. Aí ele falou que eu tinha que procurar um serviço mais leve
porque meu braço também tava um mundo (aponta para o cotovelo direito). Passou uma injeção. Aí eu sai do
serviço e vim pra cá. E ele mandou eu continuar o tratamento aqui. Aí quando eu fui levar o resultado do
exame, ele disse que eu tava com bico de papagaio na coluna. Mas eu não achei isso no exame. Entrevistadora:
é porque no exame vem escrito osteófitos e não bico de papagaio. E no seu exame têm diversos osteófitos. Bico
de papagaio é nome popular. Participante 1: Isso é o bico de papa bico de papagaio? Participante 2: Mas a
hérnia vem. Entrevistadora: Sim. Hénia é um nome técnico. Participante 2: E o que é hérnia protusa?
Entrevistadora: Pego um papel, desenho e explico o que é hérnia protusa.
Entrevistadora: Então E o que que vocês acham desses exercícios? Podem ser bem sinceras.
Participante 2: Bom eu gostei desses exercício, igual eu te falei. Da hidroginástica eu num gostava porque eu
tava chegando muito cansada mesmo em casa que eu não tava dando conta de fazer mais nada. Corpo parece
que ficava mole sabe? Agora desse eu gosto. Num atrapalha minha vida em nada. Esse eu gostei mais.
Participante 1: Esse que eu tô fazendo, eu tô gostando. Entrevistadora: Qual é o mais gostoso? Qual a maior
dificuldade?
Participante 1: aquele de ir pra frente (6º Baduanjin) que eu não dô conta. Entrevistadora: Não. A Senhora
faz. Mas do seu jeito. Participante 1: Mais a minha vontade era de pegar lá no dedão do pé.
Participante 2: Esse é a primeira vez que eu tô fazendo, eu tô gostando. Entrevistadora: O que incomoda mais
quando vcs vão fazer eles?
Participante 1: Eu não gostava desse que ela falou; e antes, no começo aqueles de dobrar o joelho porque doía
(2º e 7º Bauanjin). Agora não doí mais. Agora o que eu mais gosto, é o que gira de um lado para o outro, parece
o bobo da corte (5º Baduanjin).
Participante 2: No começo, aquele que fazia assim ... - mostra o exercício – (1º Baduajin), dava unas pontada
que eu achava que era o rim, e agora não doí mais não. E o que eu gosto mais é esse ai que ela falou (5º
Baduanjin) e o de ficar na ponta do pé (8º Baduanjin).
Entrevistadora: Já chegaram a falar pra alguém sobre esses exercícios?
Participante 2: Pra minha menina. Entrevistadora: Já ensinaram pra alguém? Participante 1: Não. Por que eu
falo pra eles coloca a mão no pé e es faiz numa boa! E eu tenho uma dificuldade! Risos. Eu não dou conta de
fazer. Entrevistadora: Não é porque o corpo vai cedendo aos poucos e cada um tem uma experiência com o

545
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

corpo. Né... Cada um experimenta de uma forma.


Participante 2: Eu tô tentando ensinar pro meu marido mas ele não quer aprender. Ele tem problema
gravíssimo na coluna. E ele não faz. Esse médico meu mesmo, ele que deu a carta de aposentadoria para ele.
Ele deita, ora que ele levanta, ele chora. Agora que ele tá tomando remédio, que ele tá melhorando. E tá
fazendo um bico aí. Eu falei pra ele ir ao médico pra pedir pra passar Fisioterapia pra ele mas ele fala que não
consegue fazer Fisioterapia não. Eu falei pra ele, ele falou não faz aí. Cê melhorando tá bom.
Participante 1: Fisioterapia ajuda muito. Eu tava com dificuldade até pra estendê a cama. A Fisioterapia
ajudou eu demais. Não sei se cê lembra? Quando eu cheguei aqui meu pescoço era até encaxado assim (mostra
como era elevando os ombros). Nossa! Melhorou demais! Até a postura da gente. O jeito da gente ficá. Porque
a gente vai acostumando com a dor. Eu achei muito bom esse jeito dessa Fisioterapia. Eu gostei.
Participante 1: Agora amanhã eu vou levar o resultado lá (no médico no Maria da Glória). Tenho certeza que
ele vai passar isso de novo (Fisioterapia). Aí... deixa eu te perguntar se ele passar Fisioterapia a gente fica na
fila de espera ou a gente continua?
Entrevistadora: Como vocês não estão de alta, não precisa ficar na fila. Quando eu der alta pra vocês, vocês
terão autonomia para fazer outros exercícios também disponíveis em vários lugares. Tem essa lista aqui de
lugares que tem ginástica orientada. Por exemplo: tem no Unidade de Atenção ao Idoso (UAI) nos dois Centros
Municipais de Educação Avançada (CEMEA).
Participante 1: Eu fiz meu cadastro no CEMEA Abadia para fazer acupuntura. Só que tem duzentos na minha
frente. Foi minha vizinha que me falou que lá tem acupuntura. Mas eu disse que quando sair pra mim tá bom.
Saindo...
Entrevistadora: E acupuntura vocês já fizeram antes? Participante 1: Não. Participante 2: Não.
5. Uso problemático de álcool e outras drogas
Entrevistadora: Vocês fumam ou bebem ou consideram que têm algum vício?
Participante 2: Eu já fumei há muitos anos, isso foi quando eu tinha 20 anos. Mas fumei 6 meses e parei. Não
viciei em cigarro não. Agora fumo, por que meu marido fuma tem 40 anos e joga fumaça pro meu lado. Eu bebo
no final de ano, não é pinga não é uma cervejinha. No resto do ano eu parei por causa dos remédios da pressão
do diabete. Mas no final de ano eu não vou em médico não.
Participante 1: Eu não bebo cerveja. Quando eu bebi, tive dor de barriga. Eu nem insisto.
6. Inquietações, criticas, dúvidas ou sugestões
Entrevistadora: E tem alguma coisa que vocês queiram falar que não foi perguntado?
Participante 1: Uma coisa que eu queria falá é que é engraçado... antes de senti essa dor que tô sentindo hoje
que desce pra perna direita, eu sentia tanta dor nas costa que incomodava, às vezes, até o jeito de deitá. Hoje
melhorou a dor das costa. Não sei se tem alguma ligação alguma coisa a ver, ela não me incomoda. O que me
incomoda agora é a perna, a perna porque ela doi e vem até aqui na bunda. Antes doía muito as costas assim
berando o pulmão. Tinha vez que me dava dor até pra respirar. Agora melhorou essa dor. Não sinto mais essa
dor. Mas começo a da perna.
Participante 2: Eu também doía assim...agora graças a Deus, os remédios e a Fisioterapia melhorou. Não tá
doendo muito.
Participante 1: ainda bem né? Que doi uma coisa de cada vez.
Participante 2: A minha perna, quando ela tava doendo muito, começava em uma depois passava para outra. O
que será isso? Entrevistadora: geralmente a gente descarrega menos pesso na que doi menos massa ao longo do
dia ela cansa e doí como a outra perna.
Participante 1: Mas vai doer assim pra sempre? Vai melhorar? Vou levar uma vida normal?
Entrevistadora: A dor passa porque com os exercícios descomprimimos as estruturas e fortalecemos os
músculos. Mas a hérnia e os osteófitos ficam. Mas dessa forma a dor passa. Mas precisa continuar a fazer
exercício pra ela não voltar. Muito obriga por vocês terem comparecido e boa noite. Risos.

ENTREVISTA 2

1. Conversando sobre dor (O que é dor para vocês? Onde você sente dor? Há quanto tempo? O que a dor
te impede de fazer)

Entrevistadora: Vamos lá! Primeiro eu queria saber de vocês o que que é dor pra vocês? Cês tem como definir?
Cês tem como explicar... que que a dor é pra vocês? A dor que cês sentem ou a dor que cês já sentiram?
Entrevistado 1: Ah, a dor que eu sinto é... Assim, ela me incomoda, né? Pra mim essa parte da... Eu nunca tinha
tido isso, sabe? É meio que de uns tempo pra cá, e.… é uma dor assim, sabe? É que num tá tão constante agora.
Entrevistadora: Humrrum...
Entrevistado 2: Mas é... eu num sei assim falá.
Entrevistadora: Não, é o que é pra você mesmo, é isso mesmo, você ta falando certinho.
Entrevistado 1: E... e tem ajudado bastante, assim, essas sessões que a gente ta fazendo ai. Tem melhorado.

546
SHEILA A. SILVA

Entrevistadora: Aham.
Entrevistado 1: consideradamente.
Entrevistadora: E pro senhor? Como o senhor acha que explicaria a dor? Se é que tem como explicar?
Entrevistado: É meio complicado, né? Dor não tem como explicar. Tá doendo uai, tem que acostumá, né?
Entrevistadora: tem que acostumar? Será?
Entrevistado 2: Tem, né, fazer o que?
Entrevistadora: Tenta aliviar, ué!
Entrevistado 2: É.. isso aqui é, como que fala, é... degenerativo já, ne?
Entrevistadora: Mas será que tem?
Entrevistado 2: Quando vai ficando velho, né? Ai piora.
Entrevistadora: Mas será que tem alguma dor que não tem alivio nenhum?
Entrevistado 2: É... alivia, lógico. Se oê dá uma droga, por exemplo, remédio pra num piorar né!? Aí o efeito
passa aí começa tudo de novo.
Entrevistadora: Bom ué, que tem o efeito do remédio que alivia.
Entrevistado 2: É só que cê vai ficar escravo do remédio né!?
Entrevistadora: Às vezes não...
Entrevistado 2: É por exemplo, o da pressão tem que tomá o resto da vida.
Entrevistadora: O remédio da pressão? Ah mas pressão é uma alteração né. Antes o senhor tomar um remédio
pra pressão do que o senhor ter um derrame.
Entrevistado 1: É... nesse caso ai cê tem razão. Se eu tomar remédio (não entendi)
Entrevistadora: Entendi... é... assim igual, depois o senhor falou, a dor incomoda, né. As vezes tem gente que
fala que atrapalha a fazer as coisas. E... há quanto tempo tem que cês sentem a dor, essa dor? Ou uma dor
parecida, ou...
Entrevistado 2: É, principalmente a da coluna né, também... desde 2004. De 2004 pra cá começou ai foi
piorando né.
Entrevistadora: Ah... foi um caminho, então?
Entrevistado 2: É que nessa época aparecia só o osteofito??? no Rx.
Entrevistadora: isso, isso... osteófito
Entrevistado 2: É porque foi piorando...
Entrevistadora: Entendi. Ai... pode falar
Entrevistado 1: Uai começou tem. Acho que tem um ano né. Mais ou menos um ano.
Entrevistadora: E antes então ce nunca tinha sentido dor?
Entrevistado: Não eu até fazia exercício, cê sabe né... sempre gostei de fazer. Eu tinha até uma academiazinha
lá no fundo da minha casa, sabe?
Entrevistadora: Hum...
Entrevistado 1: Uma vez um rapaz apertou lá, e ai eu comprei dele, levei lá pro fundo de casa e ficava sempre
fazendo, sabia fazer todos (exercícios), nossa... todos os exercícios! Ai eu parei, fui ficando meio que sedentário,
sabe?
Entrevistadora: Ah tá.
Entrevistado1: Ai eu comecei, eu ia pra loja, chegava lá, sentava lá, ficava sentado o dia todo e... tinha um sofá
até confortável lá e eu ficava deitado e... com a postura errada e... e ai foi dando uma dor nas costas.
Entrevistadora: Entendi...
Entrevistado 1: Assim, sabe.. e foi indo, foi indo
Entrevistadora: ai foi.. também foi piorando?
Entrevistado 1: foi piorando.
Entrevistadora: isso há mais ou menos um ano também?
Entrevistado 1: E... num sei.. Eu tenho uma impressão também que o que colaborou muito foi uma cama que eu
comprei até num comprei. Vendi a casa e mudei pro apartamento e num passava pela porta cama box, ai eu
vendi todas as cama dos quarto que era box e comprei, não. Minha sogra me deu uma de madeira, uma cama
boa um colchão bom também, sabe? Só que o colchão... que eu nunca gostei daquela cama, sempre eu falo pra
minha esposa e eu acho que o colchão tem colaborado bastante. Quando eu vou pro Goiás e durmo na casa da
minha mãe, ai já num dói tanto, nem num dói as vezes, então ai eu num sei
Entrevistaora: E num pode trocar esse colchão?
Entrevistado 1: Não. Dai eu preciso mudar de lá se mudasse o apartamento, porque num cabe, num passa na
porta
Entrevistadora: Num cabe, é eu sei como é que é. Morei em apartamento.
Entrevistado 1: Ai tinha de compra a cama de madeira, passar peça por peça, a grade.
Entrevistadora: Ela passa... ah...
Entrevistado 1: Tem que desmontá a grade todinha pra passar pela escada, dobrar. Nossa...
Entrevistadora: É difícil... já morei em apartamento também. E eu tenho um apartamento também. É, outra

547
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

coisa né, o que que essa dor, né, esse desconforto, igual ce falou assim, quando impede você de fazer?
Entrevistado 1: Ah eu me pego, assim, no meio. com coisas.. Eu no momento tô louquinho pra ir embora pros
Estados Unidos. Tem serviço prontinho lá.
Entrevistadora: Hum...
Entrevistado 1: E... e... com essa dor eu tô tentando melhorar pra mim sair daqui chegar firme lá, porque
chegar lá com dor num vai render nada.
Entrevistadora: Ai ce vai ter prejuízo, ne?
Entrevistado 1: então... vô ter prejuízo
Entrevistadora: Porque lá num tem, lá num tem... Sistema de Saúde Público. La é só privado né, tem uma
amiga nossa que tá lá.
Entrevistado 1: Mas.. mas...
Entrevistadora: Passou um perrengue...
Entrevistado 1: Passou? Mas os médicos são bons!
Entrevistadora: É, mas, quinze mil também... hahahaha foi muito bem atendida, mas depois chega a fatura né.
Complicado. E o senhor? O Que que a dor te impede de fazer?
Entrevistado 2 : Pior e que ela impede muita coisa as vezes num e o caso da gente ficar muito tempo em pé ou
continuá muito tempo sentado começa a incomodá assim tem que tá sempre sentá, levantá, deitá.
Entrevistado 1: A minha dor é igual a dele e ele num guenta fica muito tempo de pé também as vezes doi e as
vezes não. Então a dele também ta vendo aí?
Entrevistadora: Hum hum, então, mas a sua ta longe da dele
Entrevistado 1: É né.
Entrevistadora: É graças a deus
Entrevistado 1: Graças a deus. Eu falo assim
Entrevistadora: É ne?
Entrevistado 1: Na mesma região.
Entrevistadora: Isso, é a mesma, vocês todos tem dor na mesma região. Isso é algo em comum que a gente tem
ai. O que que acontece, né, igual, a dele começou igual a sua, porque ela não começa forte de uma vez, é o que
ele falou, no começo era um achado no exame pequenininho. A dor começa antes de ter achado no exame na
verdade.
Entrevistado 1: Pode ter sido por causa dos peso que eu pegava?
Entrevistadora: Se fosse pelos pesos que você pegava ela tinha começado a doer quando você fazia exercício.
Entrevistado 1: não doía nada, porque no caso dele, também, ele pegava peso, também né.
Entrevistadora: Mas era no trabalho? Era peso de trabalho ou peso de exercício igual o seu?
Entrevistado 1: Não, eu pegava peso. Ele pegava... O meu era... era... era quatro vezes na semana
Entrevistadora: isso..., mas cê fazia exercício?
Entrevistado 1: Exercício!
Entrevistadora: é diferente do peso que você imagina, por exemplo, vou te dar um exemplo, é... um estivador...
Entrevistado 2: É o seu caso né?
Entrevistadora: É que pega muito peso, muitas vezes ao dia, muitos anos na vida.
Entrevistado 2: É verdade.
Entrevistadora: E você fazer um exercício na academia igual você falou, eu sabia fazer todos, eu fazia
corretamente.... Não é seu caso.
Voltando ao estivador ... Aí imagina quando chega a esteira da estiva aquilo é correndo: Vamo! Vamo! Vamo!
Vamo esvaziar o caminhão. E tipo assim, num tem treinamento hoje em dia o pessoal que faz entrega da coca
cola e alguns estivadores ainda usam cinta, pra tentar compensar a força que ce teria que ter de abdômen. Mas
antes nem isso usava, né?!
E isso é novo, muito novo, e mesmo assim tem uns que não usam porque acham que é bobeira, então tem todas
essas coisas, são situações de pegar peso diferente, entende a diferença? Provavelmente a dor que ce
experimenta, que ce sente agora é por conta porque o que que acontece, a medida que o tempo vai passando,
os músculos da gente vão ficando fracos, aí cê parou de fazer exercício ficaram mais fracos e igual ce falou, as
posturas incorretas vão deixando algumas estruturas tensas, outras mais expostas ao risco, e aí, isso juntou
tudo.
Entrevistado 1: Da outra vez que me encaminhou pra cá, ele é o que a gente fala, doutor cavalo S, ele falou pra
mim, falou: “não, rapaz, que isso! Não, magrinho desse jeito aí, isso aí é dor lombar, pode vim daqui seis meses
cê me fala, cê pode voltar aqui. Não, num esquenta não”
Entrevistadora: É porque o que que acontece?
Entrevistado 1: E não ai ele falou de exercício, ele falou não, vai fazer exercício, pode fazer exercício a vontade.
Entrevistadora: E porque o que que acontece, o que que a gente, no modelo médico que a gente. ...no modelo de
saúde que a gente. ...que não é o SUS que ta no papel, o modelo que a gente experimenta, o que que as pessoas
acham? Principalmente os médicos. Que enquanto não dá nada no exame, cê num tem problema. Mas não é

548
SHEILA A. SILVA

porque seu exame não dá nada que você não sente dor. Dor é uma experiência subjetiva. Se você fala que tem
dor, eu não tenho como afirmar que você não tem. A dor é sua.
Entrevistado 1: É claro....
Entrevistadora: Entendeu? Eu tenho que achar formas de tratar a sua dor, mas não desqualificá-la. Entendeu?
E isso, apesar de a gente ver na faculdade, tem muita gente que ainda não trouxe isso pra vida real, então se a
gente começar a tratar a dor antes de ter achado no exame, a gente não vai ter dor igual a dele. Que ele tem
dor, é antiga e o exame é cheinho de achado agora. Igual ele falou, num é só mais um osteofito, agora tem um
monte de coisa. E aí é mais difícil de tratar, demorá mais tempo. E isso dói mais, custa mais caro pro Estado,
aposenta. Deixa a pessoa infeliz, porque ela não tem mais o mesmo vigor. Essa dor custa caro, essa dor crônica
que vai sendo empurrada, porque cê tem que trabalhar, né? Porque cê não consegue consulta médica no
horário que cê tem vago no trabalho.

2. Tratamentos prévios para dor (Como você tratou sua dor antes de chegar aqui na fisioterapia -
remédios, tratamentos alternativos?
Entrevistadora: Então que que ces fizeram antes de chegar aqui pra tratar a dor?
Entrevistado 1: Ah eu tomei alguns remédios porque eu já tinha ido no médico.
Entrevistadora: Uhum...
Entrevistado 1: Eu num sei se a coluna, eu num sei, parece que. .. A coluna aqui ó, parece que ela, como é que
fala? Esse montinho aqui atrás? Aqui assim, sabe? Perto da barriga também
Entrevistadora: Uhum...
Entrevistado 1: A coluna faz isso também?
Entrevistadora: É se tiver alguma lesão na estrutura nervosa da coluna pode fazer sim.
Entrevistado 1: Então, porque... aí eu tomava um remédio pra ... pra coluna eu ia no medico e tava doendo aqui
assim doía aqui assim. Aí eu tomava o remédio e parava a dor ... parava a dor aqui. Ai esse medico mesmo falou
que essa dor pode afetar essa região daqui também, sabe?
Entrevistadora: Uhum
Entrevistado 1: Mas que não era nada preocupante, que seria uma (não entendi)
Entrevistadora: Uhum...
Entrevistado 1: Foi isso
Entrevistadora: Uhum....E... que.. e o senhor? Como que o senhor tratou antes de chegar na fisioterapia?
Entrevistado 2: Ah só tava tomando remédio até. .. (não entendi?)
Entrevistadora: E o senhor?
Entrevistado 2: É porque... comecei a mais falar com o .... Dava o remédio ai cê tomava o remédio ....passava o
efeito, continuava.
Entrevistadora: É só que...
Entrevistado 2: Só na base de remédio
Entrevistadora: Entendi.. é.. usar chá, outras coisas?
Entrevistado 2: Não.
Entrevistadora: Exercício ce falou que já fez antes, né?
Entrevistado 1: Já. Eu morro de vontade de voltar a fazer.
Entrevistadora: Entendi. E o seu exercício antes era só o trabalho?
Entrevistado 2: Só trabalho e andar. Eu sempre gosto de andar.
Entrevistadora: Uhum
Entrevistado 2: Andar muito é ruim, mas ... mas ficar parado, igual assim no meu caso, assim, andar pouco é
ruim também.
Entrevistadora: É... eu gosto de andar também, faz bem. É ... e como que vocês fizeram, igual cê falou, você foi
no medico né? E ele te encaminhou pra fisioterapia.

3. Itinerário terapêutico (Por quais serviços passou antes de chegar aqui? (Unidade de Pronto
Atendimento - UPA, Unidade Básica de Saúde – UBS, Programa Saúde da Família – PSF, hospitais entre
outros). Você demorou ser atendido? Como chegou à fisioterapia?

Entrevistadora: Antes de ir nesse medico você foi em algum outro lugar?


Entrevistado 1: Fui só umas 8 vez na UPA lá.
Entrevistadora: Ah tá ... ai ce foi na UPA
Entrevistado 1: Haha fui na UPA, fazer raio x e num dava nada.
Entrevistadora: Uhum
Entrevistado 1: Fiz ultrassom também, deu nada também, fiz exames dos bons.
Entrevistadora: Aham
Entrevistado: Nada também. Graças a Deus, eu achava ruim porque eu num achava.

549
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Entrevistadora: É... O motivo da dor


Entrevistado 1: É.
Entrevistadora: Entendi.
Entrevistado 1: Mas aí também comecei. Tanto é que já comecei a ir.
Entrevistadora: Ahm....
Entrevistado 1: Ai, ai não adiantou nada. Eles passava a receita pra mim...
Entrevistadora: Se quiser pode ficar em pé tá?
Entrevistado 1: Aí passava a receita pra mim eu já nem tomava mais
Entrevistadora: Porque num...
Entrevistado 1: Num ia adiantar. Ai, eu tava na fila do ortopedista, ai consegui a consulta com ele. Ai vim pra
fila daqui também.
Entrevistadora: Uhum
Entrevistado 1: Uai. .. Preciso achar uma saída
Entrevistadora: Uhum
Entrevistado 1: Pra ver se melhora
Entrevistadora: Ai ele te encaminhou... por exemplo ... ce já tinha feito o exame quando cê veio pra ca?
Entrevistado 1: Já.
Entrevistadora: Então cê fez o exame primeiro pra depois vir pra cá?
Entrevistado 1: Já. já tinha feito particular e num deu nada. Depois me chamou de novo, sabe. depois de 2
meses depois... fazer o que, pelo SUS também. .. porque de repente aparece alguma coisa?
Entrevistadora: Aham
Entrevistado 1: Depois de 2 meses. Ai eu fiz o exame e num deu nada também.
Entrevistadora: no ... no postinho ce não chegou a ir?
Entrevistado 1: Não.. não .... não, no postinho eu fui lá no São Cristovão (ambulatório de especialidades)
consultar com ele, né?
Entrevistadora: Ah entendi. .. da UPA eles te encaminharam pro São Cristovão? E aí do São Cristovão, cê veio
pra cá?
Entrevistado 1: Foi.
Entrevistadora: Entendi. E o senhor? Como que o senhor fez pra chegar ate aqui? O senhor lembra?
Entrevistado 2: Primeiro eu tinha feito já.... a fila de espera daqui, né?
Entrevistadora: Ah tá.
Entrevistado 2: Ai tem a ... aposentei. Ai continuei fazendo (acompanhamento ambulatorial) lá no hospital Mário
Palmerio.
Entrevistadora: Sei.
Entrevistado 2: De seis em seis meses.
Entrevistadora: Ah, o acompanhamento com o médico?
Entrevistado 2: É.
Entrevistadora: Ai lá já era ortopedista ne?
Entrevistado 2: Aí eles me encaminharam pra fazer a ... natação.
Entrevistadora: A hidroginástica?
Entrevistado 2: A hidroginástica, esse negócio aí, porque lá não dá.
Entrevistadora: Uhum. Entendi, mas o senhor ainda não ia dar conta não... é outra coisa. Ai pra chegar lá o
senhor foi no postinho ou não? O senhor foi de UPA igual ele?
Entrevistado 2:Foi no posto médico, aí eles me encaminharam pra lá (hospital Mário Palmério).
Entrevistadora: Lá o senhor faz acompanhamento com neurologista ou ortopedista?
Entrevistado 2: Acho que é ortopedista, é do osso mesmo.
Entrevistadora: E demorou ser atendido no Mário Palmério?
Entrevistado 2: É, Demora sempre um poquinho né?
Entrevistadora: E aqui?
Entrevistado 2: Aqui sempre demora. Demora sei lá uns 6, 8 meis. Até chamá, muita gente, muita procura né?
Entrevistadora: E o senhor? O mesmo tempo?
Entrevistado 1: Isso. Mais ou menos o mesmo tempo.

4. Baduanjin (Já havia feito esses exercícios? O que você acha dos exercícios? O que você acha mais difícil
neles? Você faz os exercícios em casa? Qual é seu preferido? Fale sobre esses exercícios do primeiro ao
oitavo. Você já ensinou ou falou desses exercícios para alguém?)
Entrevistadora: E assim. .. Cês já tinham feito esses exercícios?
Entrevistado 2: Eu só vi na televisão.
Entrevistado 1: Eu nem sabia que existia. Assim eu achava que exercício de Fisioterapia era na máquina, desse
tipo sabe? Era com a máquina. Não achei que era dessa forma.

550
SHEILA A. SILVA

Entrevistadora: Já tinha feito Fisioterapia antes?


Entrevistado 1: Não nunca tinha feito.
Entrevistado 2: Eu tinha feito acupuntura. Só acupuntura mesmo.
Entrevistadora: Entendi. É assim o... Fisioterapia cê pode fazer de n formas. Tem os recursos eletroterápicos
que são os aparelhos, tem recursos fototerápicos que são lâmpadas e tem o exercício né. A gente usa todos esses
equipamentos que tem aqui pra fazer exercícios. Então a gente tem vários equipamentos, a gente tem as nossas
mãos pra pode avaliar e tem tema Cinesioterapia que é a aplicação do movimento de uma forma terapêutica.
Entrevistado 1: De acordo com a necessidade.
Entrevistadora: Isso. O que que acontece? Todos os aparelhos que a gente tem servem pra facilitar o momento
cinesioterápico, que é o momento do exercício. Porque o que de fato reabilita é o fortalecimento dos músculos e
aumento do espaço articular, então os outros equipamentos, mesmo a acupuntura que a gente usa, é pra aliviá a
dor pra você conseguir fazer o exercício. Se você não faz exercício, cê não tem uma melhora efetiva. Pode fica
em pé se o senhor quiser.
Entrevistado 1: E esse outro exercício, já é pra não ter a dor.
Entrevistadora: Isso. Esses exercícios que a gente faz são exercícios advindos da Medicina Tradicional
Chinesa. Mas se eu tivesse por exemplo formação em Yoga eu podia reabilitar com Yoga. Eu posso reabilitar
com o exercício que eu quiser.
Entrevistado 1: Ele (o médico) pediu pra eu fazer Pilates.
Entrevistadora: Pilates ele é a base dele são os exercícios de estabilização segmentar. Alguns dos exercícios que
a gente vai começar a fazer em agosto eles têm esse princípio. Entendeu? Só que se você faz exercício com
alguém que só fala que é Pilates e não é Pilates de fato, não melhora. Entendeu? Tem todas essas coisas.
Entrevistadora: E o que que vocês acham desses exercícios que vocês estão fazendo agora? O senhor já tinha
visto na televisão e o senhor nunca tinha visto.
Entrevistado 1: Ah... Eu acho que tá me ajudando. Acho bom. Eu tô achando bom...
Entrevistado 2: Prós músculo é uma beleza agora pra coluna ... Prós músculo é bom é. Faz trabalhar todos os
músculos.
Entrevistadora: Ok. A singularidade desses exercícios e os exercícios de Pilates é que eles trabalham vários
músculos ao mesmo tempo. Eles são globais. E quem faz precisa estar concentrado e respirando. As duas
técnicas tem esses particularidades. E.... desses exercícios tem algum que vocês acham mais fácil? Um que
vocês acham mais difícil? Algum que gostem mais? Ou um que vocês não gostem?
Entrevistado 1: Ah eu num sei o nome dele mas o que eu mais gosto é aquele que mais força a coluna. Porque
ele é o que mais força aqui. Aí eu faço ele e dá uma melhorada.
Entrevistadora: O 6ºBaduanjin? Aquele que vai lá na frente e desce?
Entrevistado 1: Isso. Na hora que a gente tá fazendo doí. Dá um desconforto mais depois passa. Tanto é que eu
faço ele em casa. Eu tento fazer todos em casa. Quando não dá pra mim vim eu faço mesmo.
Entrevistadora: E qual vc achou mais difícil? Ou o que você achou mais difícil? Não precisa ser os exercícios.
Entrevistado 1: Não. Pra mim foi tudo tranquilo. Não achei nada difícil ou diferente demais não. Pra mim tudo
é bom de fazer. Tem alguns que a gente confunde né?
Entrevistadora: Concordo.
Entrevistado 1: Mais é bom.
Entrevistadora: E o senhor? Tem algum que o senhor achou mais difícil? Ou tranquilo? Tem algum que o
senhor gosta mais ou gosta menos?
Entrevistado 2: Pra mim tudo é bom. Acho que cada um trabaia uma região e um músculo né?
Entrevistadora: Isso. Cada um dá ênfase a um conjunto de músculos. Numa região.
Entrevistado 2: Eu acho que todos tem. .. é válido.
Entrevistadora: Você já falaram que não acham nenhum difícil, que está tudo tranquilo. Têm alguma sugestão
para próximas pessoas que forem fazer?
Entrevistado 1: Ah ....Eu já até falo já. Eu faço o comercial já. Depois que eu comecei fazer aqui eu falo pra
muita gente. Às vezes a pessoa fala eu preciso fazer fisioterapia eu falo que tô fazendo. Aí a pessoa pergunta pra
que? Eu falo que é coluna Todo mundo parece que tem problema de coluna. É que você comenta, tudo mundo
que cê fala tem problema de coluna. E fala nossa! Eu tô precisando.
Entrevistadora: É que dentre as dores, os problemas físicos causados por dor, a dor lombar é a segunda causa
mais comum. Só perde para dor de cabeça. 80% das pessoas do mundo vão sentir ao menos uma vez na vida,
dor nas costas.
Entrevistado 1: Eu falo, falo não. Tem que fazer. Melhora muito. Aí pergunta como você fez? Aí eu falo do
trajeto que eu fiz. Fui até o postinho, na onde que é que eu faço. Aí tem uma amiga da minha sogra também que
fez aqui e vai voltar.
Entrevistado 2: Fisioterapia ela não cura né? Ela vai ajudar um pouco mais a regenerá.
Entrevistadora: O que cura (reduz ou neutraliza os sintomas) é a prática regular de exercícios. O que acontece
nesse percurso, é que quando você faz Fisioterapia, quem te atende explica que você tem que fazer exercícios

551
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

quando terminar a Fisioterapia. Ou a pessoa te fala e você não acredita que a dor vai voltar. Aí você para e ela
volta. Eu falo pra tudo mundo que eu dou alta que é importante continuar fazer exercício. Hoje a gente não tem
a estrutura física que necessita ter mas que eu sei, a gente exercício no (Unidade de atenção ao Idoso) UAI a
partir dos 55 anos, têm nos dois Centros Municipais Avançados de Educação (CEMEA) no Abadia e no Boa
Vista, na Praça do Quartel os cinco dias da semana, na Associação de cria dores do Zebu (ABCZ), tem no
Lions, no santa Maria, na praça Pôr do Sol e na Praça do Parque das Américas então... Têm lugares que tem
ginástica orientada. Eu geralmente falo pra todo mundo. A gente tem até essa listinha aqui (mostro afixada na
parede). Porque quando eu dou alta, geralmente todo mundo está apto a realizar exercícios. Eu oriento para
dar fluxo aos pacientes atendidos mas a pessoa não acredita que voltará a sentir dor.
Entrevistado 1: Mas eu não paro não. Eu quero voltar a fazer exercício na academia de novo. Começar a pega
leve. Eu até quero saber depois como eu faço pra voltar.
Entrevistadora: Vocês já falaram da particularidades dos exercícios. Igual... Vocês já chegaram a ensinar esses
exercícios pra alguém?
Entrevistado 1: Eu comecei a ensinar pra minha mulher, que ela tem uma dor nas costas também. E olha que
ela é nova hein!? Ela tem 34 anos e tem uma dor nas costas e de cabeça também.
Entrevistado 2: Eu ensino mais é pras minha minina né mas elas faz enfermagem. Já sabe mais que eu. Já.
Entrevistadora: Às vezes, não. E eu fui falar umas coisas pra ela e ela já sabia de tudo.
Entrevistado 1: A minha é enfermeira também mas eu ensino pra ela. Ela fez duas veiz ela fez comigo. Aí como
ela sentiu. No dia seguinte que ela fez a musculatura dela doeu. Aí ela falou assim: ah... eu não vou fazer mais
não. Invés de melhorar tá doendo mais. Mas é assim porque ela não tinha o costume.
Entrevistadora: E aí. Não sei se é o caso dela, mas a gente tem que aprender a diferenciar o que é dor no
músculo e o que é dor articular. Porque se der dor articular, realmente tem que parar. Se for uma dor
muscular Igual aquele, estica aí doi. Mas depois melhora. Aquele de subir, ela falou que a batata da perna
dela doeu.

5. Uso problemático de álcool e outras drogas


Entrevistadora: Isso, aí é muscular. É aí é muscular realmente. O senhor tem razão. Algum de vocês fuma ou
bebe ou considera que tem algum vício?
Entrevistado 1: Assim. De vez enquanto eu bebo. Mas a minha mulher não sabe. Ela fez uma promessa pro
pai dela em vida ainda. Ele faleceu. Mas ela falou que se ele melhorasse, ela não bebia mais. Mas ela me
colocou na promessa. Só que tem 12 anos que isso aconteceu. Aí eu parei sabe? Mas agora de vez em quando eu
bebo e quando eu bebo, eu tenho vontade de fumar e acabo fumando. Mas eu não suporto cheiro de cigarro.
Entrevistado 2: Ah Eu fumo muito. (E mencionou em outra situação que bebe todos os dias pela manhã).
Entrevistadora: Mas eu tenho muitos amigos que fumam mas não gostam do cheiro de cigarro.
Entrevistado 1: Pois é, e seu eu não beber, eu não fumo. Se eu ficar 60 dias sem beber, eu não fumo. Tanto é que
ela (esposa) estava de férias agora que a Ana Laura (filha) tava doente, ela (esposa) ficou 60 dias de férias e eu
sem beber ou fumar. A gente é que é bobo mesmo. Né e fuma.

6. Inquietações, criticas, dúvidas ou sugestões


Entrevistadora: Ok. E... Assim né disso que a gente tá conversando, eu tô perguntando o que é importante pra
mim enquanto profissional. E quanto a vocês? Vocês tem alguma dúvida? Algum questionamento? Alguma
sugestão? A fazer?
Entrevistado 1: Oh Pra mim não. Pra mim tá tudo tranquilo. Tudo bem.
Entrevistado 2: Tamém num. Pra mim tá ótimo. Agora tem que ir vendo e aprendendo né. Por que às vezes a
gente fica com medo de fazer em casa e fazer errado né? Aí a gente tem medo. É que eu costumo travar de vez
em quando. Se fizer errado o que a gente num sabe né.
Entrevistadora: Então a gente precisa aprender a sentir o corpo da gente. Quando você conhece o seu corpo, e
você começa a fazer alguma coisa e vê que não vai dar certo, você para no começo. Quando a gente ainda não
aprendeu a entender o corpo da gente, a gente faz coisas que podem nos machucar. Que vão doer mais depois.
Às vezes a insiste fazendo o que vai doer, aí fica pior. Então a gente está em um momento de se conhecer mesmo
(cada um conhecer a si mesmo). Porque cada corpo é um corpo e cada um experimento o corpo de alguma
forma. Então não dá para eu chegar aqui e querer que todo mundo faça do mesmo jeito. Porque eu sei que cada
um tem uma história, suas facilidades e suas dificuldades.
Entrevistado 1: Cada um tem as sua limitação.
Entrevistadora: Então tá tudo tranquilo?
Entrevistado 1: Pra mim tá.
Entrevistadora: (O entrevistado 2 concorda). Muito obrigada a vocês por participarem e colaborarem comigo
na minha prática profissional.

552
SHEILA A. SILVA

ANEXO A: ESCALA VISUAL ANALÓGICA (EVA)

0 10

ANEXO B: ÍNDICE DE OSWESTRY DE INCAPACIDADE

Por favor, responda esse questionário. Ele foi desenvolvido para dar-nos informações sobre
como seu problema nas costas ou pernas tem afetado a sua capacidade de realizar as atividades da vida diária.
Por favor, responda a todas as seções.
ASSINALE EM CADA UMA DELAS APENAS A RESPOSTA QUE MAIS CLARAMENTE
DESCREVE A SUA CONDIÇÃO NO DIA DE HOJE.

Seção 1 – Intensidade da Dor


( ) Não sinto dor no momento.
( ) A dor é muito leve no momento.
( ) A dor é razoavelmente intensa no momento.
( ) A dor é muito intensa no momento.
( ) A dor é a pior que se pode imaginar no momento.

Seção 2 – Cuidados Pessoais (lavar-se, vestir-se, etc.)


( ) Posso cuidar de mim mesmo normalmente sem que isso aumente a dor.
( ) Posso cuidar de mim mesmo normalmente, mas sinto muita dor.
( ) Sinto dor ao cuidar de mim mesmo e faço isso lentamente e com cuidado.
( ) Necessito de alguma ajuda, porém consigo fazer a maior parte dos meus cuidados pessoais.
( ) Necessito de ajuda diária na maioria dos aspectos de meus cuidados pessoais.
( ) Não consigo me vestir, lavo-me com dificuldade e permaneço na cama.

Seção 3 – Levantar Objetos


( ) Consigo levantar objetos pesados sem aumentar a dor.
( ) Consigo levantar objetos pesados, mas isso aumenta a dor.
( ) A dor me impede de levantar objetos pesados do chão, mas consigo levantá-los se
estiverem convenientemente posicionados, por exemplo, sobre uma mesa.
( ) A dor me impede de levantar objetos pesados, mas consigo levantar objetos leves a
moderados, se estiverem convenientemente posicionados.
( ) Consigo levantar apenas objetos muito leves.
( ) Não consigo levantar ou carregar absolutamente nada.

Seção 4 – Caminhar
( ) A dor não me impede de caminhar qualquer distância.
( ) A dor me impede de caminhar mais de 1.600 metros (aproximadamente 16 quarteirões de 100 metros).
( ) A dor me impede de caminhar mais de 800 metros (aproximadamente 8 quarteirões de 100 metros).
( ) A dor me impede de caminhar mais de 400 metros (aproximadamente 4 quarteirões de 100 metros).
( ) Só consigo andar usando uma bengala ou muletas.
( ) Fico na cama a maior parte do tempo e preciso me arrastar para ir ao banheiro.

Seção 5 – Sentar
( ) Consigo sentar em qualquer tipo de cadeira durante o tempo que quiser.
( ) Consigo sentar em uma cadeira confortável durante o tempo que quiser.
( ) A dor me impede de ficar sentado por mais de 1 hora.
( ) A dor me impede de ficar sentado por mais de meia hora.
( ) A dor me impede de ficar sentado por mais de 10 minutos.
( ) A dor me impede de sentar.

Seção 6 – Ficar em Pé
( ) Consigo ficar em pé o tempo que quiser sem aumentar a dor.
( ) Consigo ficar em pé durante o tempo que quiser, mas isso aumenta a dor.
( ) A dor me impede de ficar em pé por mais de 1 hora.
( ) A dor me impede de ficar em pé por mais de meia hora.

553
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

( ) A dor me impede de ficar em pé por mais de 10 minutos.


( ) A dor me impede de ficar em pé.

Seção 7 – Dormir
( ) Meu sono nunca é perturbado pela dor.
( ) Meu sono é ocasionalmente perturbado pela dor.
( ) Durmo menos de 6 horas por causa da dor.
( ) Durmo menos de 4 horas por causa da dor.
( ) Durmo menos de 2 horas por causa da dor.
( ) A dor me impede totalmente de dormir.

Seção 8 – Vida Sexual


( ) Minha vida sexual é normal e não aumenta minha dor.
( ) Minha vida sexual é normal, mas causa um pouco mais de dor.
( ) Minha vida sexual é quase normal, mas causa muita dor.
( ) Minha vida sexual é severamente limitada pela dor.
( ) Minha vida sexual é quase ausente por causa da dor.
( ) A dor me impede de ter uma vida sexual.

Seção 9 – Vida Social


( ) Minha vida social é normal e não aumenta a dor.
( ) Minha vida social é normal, mas aumenta a dor.
( ) A dor não tem nenhum efeito significativo na minha vida social, porém limita alguns
interesses que demandam mais energia, como por exemplo, esporte, etc.
( ) A dor tem restringido minha vida social e não saio de casa com tanta freqüência.
( ) A dor tem restringido minha vida social ao meu lar.
( ) Não tenho vida social por causa da dor.

Seção 10 – Locomoção (ônibus/carro/táxi)


( ) Posso ir a qualquer lugar sem sentir dor.
( ) Posso ir a qualquer lugar, mas isso aumenta a dor.
( ) A dor é intensa, mas consigo me locomover durante 2 horas.
( ) A dor restringe-me a locomoções de menos de 1 hora.
( ) A dor restringe-me a pequenas locomoções necessárias de menos de 30 minutos.
( ) A dor impede de locomover-me, exceto para receber tratamento.

554
SHEILA A. SILVA

ANEXO C: ÍNDICE DE INCAPACIDADE RELACIONADA AO PESCOÇO


(NECK DISABILITY INDEX)
Este questionário foi criado para dar informações ao seu doutor sobre como a sua dor no pescoço tem afetado a
sua habilidade para fazer atividades diárias. Por favor responda a cada uma das perguntas e marque em cada
seção apenas uma alternativa que melhor se aplique a você HOJE.
Seção 1 – Intensidade da dor
( ) Eu não tenho dor nesse momento.
( ) A dor é muito leve nesse momento.
( ) A dor é moderada nesse momento.
( ) dor é razoavelmente grande nesse momento.
( ) A dor é muito grande nesse momento.
( ) A dor é a pior que se possa imaginar nesse momento.

Seção 2 – Cuidado pessoal (se lavar, se vestir, etc)


( ) Eu posso cuidar de mim mesmo(a) sem aumentar a dor.
( ) Eu posso cuidar de mim mesmo(a) normalmente, mas isso faz aumentar a dor.
( ) É doloroso ter que cuidar de mim mesmo e eu faço isso lentamente e com cuidado.
( ) Eu preciso de ajuda mas consigo fazer a maior parte do meu cuidado pessoal.
( ) Eu preciso de ajuda todos os dias na maioria dos aspectos relacionados a cuidar de mim mesmo(a).
( ) Eu não me visto, me lavo com dificuldade e fico na cama.

Seção 3 – Levantar coisas


( ) Eu posso levantar objetos pesados sem aumentar a dor.
( ) Eu posso levantar objetos pesados mas isso faz aumentar a dor.
( ) A dor me impede de levantar objetos pesados do chão, mas eu consigo se eles
estiverem colocados em uma boa posição, por exemplo em uma mesa.
( ) A dor me impede de levantar objetos pesados, mas eu consigo levantar objetos
com peso entre leve e médio se eles estiverem colocados em uma boa posição.
( ) Eu posso levantar objetos muito leves.
( ) Eu não posso levantar nem carregar absolutamente nada.

Seção 4 – Leitura
( ) Eu posso ler tanto quanto eu queira sem dor no meu pescoço.
( ) Eu posso ler tanto quanto eu queira com uma dor leve no meu pescoço.
( ) Eu posso ler tanto quanto eu queira com uma dor moderada no meu pescoço.
( ) Eu não posso ler tanto quanto eu queira por causa de uma dor moderada no meu
pescoço.
( ) Eu mal posso ler por causa de uma grande dor no meu pescoço.
( ) Eu não posso ler nada.
( ) 7 Pergunta não se aplica por não saber ou não poder ler

Seção 5 – Dores de cabeça


( ) Eu não tenho nenhuma dor de cabeça.
( ) Eu tenho pequenas dores de cabeça com pouca frequência.
( ) Eu tenho dores de cabeça moderadas com pouca frequência.
( ) Eu tenho dores de cabeça moderadas muito frequentemente.
( ) Eu tenho dores de cabeça fortes frequentemente .
( ) Eu tenho dores de cabeça quase o tempo inteiro.

Seção 6 – Prestar Atenção


( ) Eu consigo prestar atenção quando eu quero sem dificuldade.
( ) Eu consigo prestar atenção quando eu quero com uma dificuldade leve.
( ) Eu tenho uma dificuldade moderada em prestar atenção quando eu quero.
( ) Eu tenho muita dificuldade em prestar atenção quando eu quero.
( ) Eu tenho muitíssima dificuldade em prestar atenção quando eu quero.
( ) Eu não consigo prestar atenção.

Seção 7 – Trabalho
( ) Eu posso trabalhar tanto quanto eu quiser.
( ) Eu só consigo fazer o trabalho que estou acostumado(a) a fazer.

555
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

( ) Eu consigo fazer a maior parte do trabalho que estou acostumado(a) a fazer, mas
nada além disso.
( ) Eu não consigo fazer o trabalho que estou acostumado(a) a fazer.
( ) Eu mal consigo fazer qualquer tipo de trabalho.
( ) Eu não consigo fazer nenhum tipo de trabalho

Seção 8 – Dirigir automóveis


( ) Eu posso dirigir meu carro sem nenhuma dor no pescoço.
( ) Eu posso dirigir meu carro tanto quanto eu queira com uma dor leve no pescoço.
( ) Eu posso dirigir meu carro tanto quanto eu queira com uma dor moderada no pescoço.
( ) Eu não posso dirigir o meu carro tanto quanto eu queira por causa de uma dor
moderada no pescoço.
( ) Eu mal posso dirigir por causa de uma dor forte no meu pescoço.
( ) Eu não posso dirigir meu carro de maneira nenhuma.
( ) Pergunta não se aplica por não saber dirigir ou não dirigir muitas vezes

Seção 9 – Dormir
( ) Eu não tenho problemas para dormir.
( ) Meu sono é um pouco perturbado (menos de uma hora sem conseguir dormir).
( ) Meu sono é levemente perturbado (1-2 horas sem conseguir dormir).
( ) Meu sono é moderadamente perturbado (2-3 horas sem conseguir dormir).
( ) Meu sono é muito perturbado (3-5 horas sem conseguir dormir).
( ) Meu sono é completamente perturbado (1-2 horas sem sono).

Seção 10 – Diversão
( ) Eu consigo fazer todas as minhas atividades de diversão sem nenhuma dor no
pescoço.
( ) Eu consigo fazer todas as minhas atividades de diversão com alguma dor no pescoço.
( ) Eu consigo fazer a maioria, mas não todas as minhas atividades de diversão por causa da dor no meu
pescoço.
( ) Eu consigo fazer poucas das minhas atividades de diversão por causa da dor no meu pescoço.
( ) Eu mal consigo fazer quaisquer atividades de diversão por causa da dor no meu pescoço.
( ) Eu não consigo fazer nenhuma atividade de diversão.

556
SIMONE NORIA

16. Percepção da imagem corporal e mental


durante a prática de TAI CHI CHUAN e
QI GONG

Simone Nori

557
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

“Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer.”

Mahatma Gandhi

558
SIMONE NORIA

RESUMO

Este trabalho é um estudo de caso único realizado no CTKS _ Centro de Treinamento Kung
Fu Shao Lin e teve como objetivo descrever a participação de uma pessoa com deficiência
visual em aulas marciais de Tai Chi Chuan e Qi Gong. Nele, foram observados os efeitos dos
exercícios na construção e percepção da imagem corporal em um indivíduo com baixa visão e
como isso influencia em sua qualidade de vida, em relação à orientação, mobilidade, relações
emocionais e projeção mental na forma. Os dados coletados foram registrados em uma Ficha
de Observação e, posteriormente, aplicadas duas entrevistas: uma à praticante, a entrevista de
Qualidade de Vida _ WHOQOL_BREF e outra, formulada a partir desta, para o ambiente
familiar, social e profissional da aluna. Os dados coletados do estudo prático foram colhidos
no período de 6 meses, sendo que a aluna já possuía tempo anterior de pratica há mais de 2
anos. Nas entrevistas, ela relata as diferenças em relação ao inicio da mesma. Sendo assim, o
estudo foi baseado em dois aspectos, o antes e depois de iniciar a pratica de Tai Chi Chuan e
Qi Gong e a partir dos dados coletados observou-se que a maioria das atividades propostas
nas aulas favoreceu a aluna com baixa visão em sua vida cotidiana, melhorando a mobilidade
e orientação, respiração, percepção e relações emocionais. Houve também melhora na
interação entre familiares, amigos e trabalho. Apresentar a inclusão social de pessoas com
deficiência visual em atividades marciais, sem a necessidade de aulas exclusivas, mas com
aulas conjuntas em que praticantes e professores se beneficiam, é o principal resultado desse
trabalho.

Palavras – Chave: Tai Chi Chuan; Deficiência Visual; Imagem Corporal

559
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

ABSTRACT

This work is a unique case study conducted at the CTKS - Kung Fu Training Center Shao Lin
and aimed to describe the participation of a person with visually impaired in Tai Chi Chuan
and Qi Gong martial arts. In which, the effects of the exercises in the construction and
perception of the body image in an individual with low vision were observed and how this
influences in their quality of life, in relation to the orientation, mobility, emotional relations
and mental projection in the form.
The collected data were recorded in a Observation Sheet and, afterwards, two interviews were
applied: one to the practitioner, being a Quality of Life _ WHOQOL_BREF interview and
another formulated from it, for the student's family, social and professional environment. On
the other hand, the data collected from the practical study were analyzed in a period of 6
months, and the student already had previous practice time for more than 2 years, and in
interviews with her throughout the practice, she reports the differences in relation to the
beginning of the same.
Thus, the study was based on two aspects, the before and after starting the practice of Tai Chi
Chuan and Qi Gong and from the collected data it was observed that, most of the activities
proposed in the classes favored the student with low vision, in their daily lives, improving
mobility and orientation, breathing, perception and emotional relationships, where there was
improvement in the interaction between family, friends and work.
To present the social inclusion of visually impaired people in martial activities, without the
need for exclusive classes, but with joint classes where practitioners and teachers benefit.

Keywords: Tai Chi Chuan; Visual Impairment; Body Image

560
Figura 31 _ Galo Dourado numa Perna Só (Jin1 Ji1 Du2 Li4) ......................................... 64
Figura 32 _ Chutar com o Calcanhar (Deng1 Jiao3) ......................................................... 65
SIMONE NORIA
Figura 33 _ Tui Shou.............................................................................................................. 66
Figura 34 _ Relatório Médico................................................................................................ 75

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT _Associação Brasileira de Normas Técnicas


ADEVA _ Associação de Deficientes Visuais e Amigos
AIPD _ Ano Internacional das Pessoas Deficientes
ANCINE _ Agência Nacional do Cinema
ANTT_ Agência Nacional de Transportes Terrestres
CADEVI _ Centro de Apoio ao Deficiente Visual
CBO _ Conselho Brasileiro de Oftalmologia
CONADE _ Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência
CTKS _ Centro de Treinamento Kung Fu ShaoLin
DOSVOX _ Sistema Computacional de Síntese de Voz
DV _ Deficiência Visual
IBGE _ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
JAWS _ Job Access With Speech
LARAMARA _ Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual
MIT _ Massachusetts Institute of Technology (Instituto de Tecnologia de Massachusetts)
MTC _Medicina Tradicional Chinesa
NOVILL _ Fundação DorinaNovill para Cegos
NV Access _ Acesso Não Visual
NVDA _ Non Visual Desktop Access
ONU _ Organização das Nações Unidas
SMPD _ Secretaria Municipal de Pessoas com Deficiência Visual e Mobilidade Reduzida
VIRTUAL VISION _ Visão Virtual

561
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

INTRODUÇÃO

Em uma sociedade onde a visão é um dos principais meios de comunicação e relacionamento


de um indivíduo com mundo, sua limitação ou falta, independente do tipo de patologia, pode
piorar e afetar consideravelmente sua qualidade de vida.
Em pesquisa realizada pelo IBGE no Censo Demográfico de 2010, a população do Brasil
alcançou a marca de 190.755.799 habitantes, sendo que 23,9% da população, ou seja, 45,6
milhões de brasileiros declararam serem portadores de algum tipo de deficiência, entre estes,
35,7 milhões com algum grau de deficiência visual, sendo que aproximadamente, 529 mil não
conseguem enxergar, 6 milhões com baixa visão e outros 29 milhões com dificuldades de
enxergar mesmo utilizando óculos ou lentes. (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
IBGE1 2010, p. 71- 80 apud NOWILL, 2018).

Segundo dados do World Report on Disability 2010 e do Vision 2020, a cada 5


segundos, 1 pessoa se torna cega no mundo. Além disso, do total de casos de
cegueira, 90% ocorrem nos países emergentes e subdesenvolvidos. Estima-se que,
até 2020, o número de pessoas com deficiência visual poderá dobrar no mundo.
(NOWILL, 2018)

Figura 1. Gráfico População Brasileira com Deficiência Visual

Porcentagem da População Brasileira com


Deficiência Visual _ IBGE 2010
1%
17%

DV (Alguma Dificuldade)
29 Milhões hab.

DV (Grande Dificuldade _ Baixa


Visão) 6 Milhões hab.

Deficiência Visual (Dificuldade


82%
Total _ Cegueira) 529.000 hab.

(Fonte: NOWILL, D. Fundação Dorina Nowill para Cegos.)

1
IBGE _ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Características gerais da população, religião e pessoas com
deficiência, Rio de Janeiro, RJ, 2010, p.71-80

562
SIMONE NORIA

No Brasil, segundo a Lei Nº 13.146, de 6 de julho de 2015, Art. 1o “É instituída a Lei


Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência),
destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das
liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e
cidadania.”(LEI Nº 13.146, Planalto. Presidência da República, 2015)
A conscientização, respeito às diferenças e a não discriminação, juntamente com o
conhecimento das limitações, necessidades e possibilidades de pessoas com deficiência
visual, é cada vez mais evidente e para usufruir de todos seus direitos e benefícios, tais
indivíduos buscam várias maneiras de se inserirem na sociedade.
Na medicina, o corpo humano é identificado por sistemas biológicos que realizam funções
específicas tanto nos aspectos físicos quanto sensoriais. Segundo Brites (2009), esses órgãos
possuem receptores que captam informações e estímulos do meio ambiente, transmitidos na
forma de impulsos elétricos até o sistema nervoso central, processando assim, as informações
em sensações e gerando respostas, e é através desses impulsos que sentimos o entorno, como
o frio, calor, dor entre outros. Entre estes, os mais comuns, a visão, audição, tato, olfato e
paladar, nos trazem a percepção corporal necessária à vida. Através da visão, desenvolvemos
o ambiente em que vivemos e os órgãos dos sentidos têm um papel fundamental nesse
processo, onde a linguagem corporal baseada em imagens é um ponto forte na compreensão e
percepção corporal do indivíduo.
Jung (2000), usou o termo arquétipos para referir à expressão e desenvolvimento da psique
que está no consciente coletivo e tende a ser compartilhado pela humanidade.

Uma existência psíquica só pode ser reconhecida pela presença de conteúdos


capazes de serem conscientizados. Só podemos falar, portanto, de um inconsciente
na medida em que comprovarmos os seus conteúdos. Os conteúdos do inconsciente
pessoal são principalmente os complexos de tonalidade emocional, que constituem a
intimidade pessoal da vida anímica. Os conteúdos do inconsciente coletivo, por
outro lado, são chamados arquétipos. (JUNG, 2000, p. 16)

Para Schilder2 (1994, apud Tavares, 2007, p.130), no desenvolvimento da imagem corporal, a
visão seria responsável pela estruturação das imagens mentais, baseadas em experiências
vivenciadas pelo corpo e os estímulos externos.
[...] valendo-se da recepção de informações (percepções) do mundo e dos outros e
com base nisso a formulamos. Ao mesmo tempo em que recebemos informações
“de fora” (mundo e outras pessoas), também estamos continuamente recebendo
percepções que vêm do nosso interior.

2
SCHILDER, P. A imagem do corpo: as imagens construtivas da psique. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

563
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Apesar dos indivíduos com boa visão apresentarem certo desenvolvimento no conhecimento
da imagem corporal, pouco tem sido investigado sobre como as pessoas com baixa visão,
percebem seus próprios corpos, uma vez que esses são menos susceptíveis à exposição dos
modelos corporais e toda mídia visual.
ALMEIDA3 et al. (2007, apud TAVARES, 2007, p.134), apresenta que os deficientes visuais
utilizam outros meios que não visuais para estruturar sua imagem corporal, valendo-se de
outras sensações para compreender a relação e estruturar essa imagem.

Com a ausência ou limitação de informações visuais, o cego ou a pessoa com baixa


visão terá de desenvolver sua imagem corporal valendo-se das sensações
provenientes dos outros sistemas sensoriais, como tato, a audição, a propriocepção, a
sensibilidade vibratória, entre outros.

Para o deficiente visual, a percepção de si e do ambiente é alterada devido às restrições,


muitas vezes relacionada a informações reduzidas e representações precárias. Assim, o
acesso as informações, em alguns casos, feitas através da exploração do ambiente pelas mãos
ou outros sentidos, podem gerar ansiedade e insegurança. Ao longo do tempo, através de seus
relacionamentos sociais e familiares, seus conceitos são formados com informações
produzidas a partir de descrições do espaço e objetos, por indivíduos não cegos.
Segundo ALMEIDA4 et al. (2007, apud TAVARES, 2007, p.135), somente através de
sensações corporais que o deficiente visual estrutura sua imagem corporal, estando a todo
momento voltado para seu corpo, para si e para as pessoas que o rodeiam. Sua movimentação
corporal deve ser ampla, com relações saudáveis entre o meio e com o mundo,
proporcionando sentimentos de segurança e o conhecimento corporal. Estruturar uma imagem
corporal de boa qualidade com a real compreensão de suas capacidades e limitações.
A proposta deste trabalho, busca tentar esclarecer a construção e percepção da imagem
corporal em um indivíduo com baixa visão, após iniciar a prática de Artes Marciais, em
específico o Tai Chi Chuan e Qi Gong. Buscamos entender os efeitos desse processo em sua
mente e como estas atividades promovem a estimulação capaz de provocar modificações
positivas na vida desse indivíduo.
“A formação da imagem corporal é fundamental para interações com o meio, orientação

3
ALMEIDA,J.et al. Metodologia aplicada ao deficiente visual. In: Brasil. Ministério da Educação. Caderno texto do
Curso de capacitação dos professores multiplicadores em Educação Física adaptada/Secretaria de Educação Especial.
Brasília: MEC;SEESP,2002.
4
ALMEIDA,J.J.G.et al.Esportes na Natureza:possibilidades para o deficiente. In: Sociedade Brasileira de Atividade
Motora Adaptada: Temas em Educação Física adaptada/Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada.
[S.L]:SOBAMA,2001.

564
SIMONE NORIA

espacial e mobilidade, sua importância também pode ser notada nas relações sociais e afetivas
e principalmente para o auto-conceito.” NASÁRIO e ERNST5 (2011, apud EIRAS, et
al.,2012 p.95). Segundo Nasário e Ernest (2011), para construção da imagem corporal, a
visão é essencial, onde privados deste sentido, os deficientes visuais, podem de diversos
aspectos serem prejudicados e terem atraso nesta formação. Em conseqüência, geram uma
compensação pela falta total ou parcial da visão, através da utilização dos outros órgãos
sensoriais. As Artes Marciais, em específico neste estudo, o Tai Chi Chuan e Qi Gong podem
auxiliar os deficientes visuais na construção e obtenção da consciência e percepção corporal.
Dessa forma, este tema se justifica e se mostra relevante para os Instrutores de Tai Chi Chuan
e Qi Gong, que desejam trabalhar com deficientes visuais, uma vez que é essencial entender
como estes compreendem e percebem seu corpo, mente e energia e como a prática dos
exercícios marciais, podem auxiliá-los na construção dessa Imagem Corporal e assim,
melhorar sua qualidade de vida.
Na falta do sentido da visão para a definição da Imagem Corporal, o Deficiente Visual,
explora os demais sentidos na busca de conhecer e compreender a si próprio, formando, em
sua mente, a imagem subjetiva de seu corpo. (NASÁRIO e ERNEST, 2011)
Com o ritmo acelerado das grandes cidades, as pessoas estão cada vez mais desconectadas da
realidade de seu estado de consciência, onde o indivíduo não consegue perceber, visualizar,
escutar e até mesmo sentir o próprio corpo, estando muitas vezes completamente
desconectado com a realidade do seu estado corporal, emocional e mental. Por outro lado, o
deficiente visual, pela privação total ou parcial da visão, acaba desenvolvendo de forma mais
aflorada sua percepção. Com isso, buscamos responder as seguintes questões: Como o Tai
Chi Chuan e Qi Gong promovem a estimulação, capaz de provocar modificações positivas na
construção e percepção da Imagem Corporal de um deficiente visual? E como essa percepção,
associada ao movimento, ajuda no processo energético e mental, melhorando sua saúde e
qualidade de vida?

5
NASÁRIO, J. C.; ERNST, T. N. Educere _ X Congresso Nacional de Educação. Imagem Corporal e a Deficiência
Visual ,2011. Disponivel em: <http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/4333_2325.pdf>. Acesso em: 12 Março 2018.

565
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

OBJETIVOS

Objetivo Geral

Analisar os efeitos do Tai Chi Chuan e Qi Gong na construção e percepção da imagem


corporal em um indivíduo com baixa visão e como isso influencia em sua qualidade de vida.

Objetivos Específicos

A) Conhecer os efeitos dos exercícios de Tai Chi Chuan e Qi Gong na construção da


imagem corporal de uma pessoa com baixa visão.
B) Analisar a percepção da imagem corporal e mental de um indivíduo com baixa visão,
durante a prática de Tai Chi Chuan Estilo Yang e Qi Gong, em relação à orientação,
mobilidade, relações emocionais e projeção mental na forma.

566
SIMONE NORIA

REFERENCIAL TEÓRICO

Contexto Histórico da Deficiência Visual

No âmbito mundial, a deficiência visual alcança um número significativo de indivíduos,


sendo caracterizada por uma perda considerável ou total da visão.
Na história da humanidade, por volta do século VIII a.C., pessoas com algum tipo de
deficiência, sendo crianças ou adultos, eram considerados incapazes, dependentes e por isso,
maltratados e negligenciados. Em algumas sociedades primitivas, marcados por sentimentos
de rejeição, preconceito, intolerância, religiosidade e ignorância, era natural não encontrá-los,
pois esses eram abandonados ou mortos.

“A eliminação dos cegos e dos considerados inválidos não se dava somente pelas
difíceis condições de vida da época. Em muitas comunidades, acreditava-se que o
indivíduo que nascia ou desenvolvia a deficiência visual estava possuído por
espíritos malignos e essa crença dificultava a relação e interação com essas pessoas,
sendo considerados objetos de temor religioso. Em outros casos, a cegueira era
considerada um castigo infligido pelos deuses sendo um estigma do pecado
cometido pelo próprio indivíduo, por seus pais, seus avós ou por algum membro da
tribo.”(MECLOY6,1974 apud FRANCO; DIAS, 2005).

“A Bíblia foi escrita por pessoas que enxergam e os textos bíblicos traduzem imagens
negativas da cegueira e da deficiência.” (HULL7, 2000 apud MOTTA, 2008). Segundo Motta
(2008), na descrição bíblica, onde Deus é representado pela luz ou claridade, o deficiente
visual é visto como escuridão e pecado, considerado a ausência de Deus, sendo a cegueira
símbolo da ignorância, pecado e falta de fé, e ainda, um castigo dos céus. Nos textos bíblicos,
a chamada “cura” dos cegos, está relacionada à confissão e remissão dos pecados.
Para os hebreus, o deficiente físico, visual, entre outros, era indigno, com poderes
demoníacos, cujas marcas corporais expressavam as impurezas e pecados. (BENAZZI, 2015).
Conforme Motta (2008), na antiguidade, o Egito era intitulado como o país dos cegos, que
devido ao clima quente e à poeira, tinha uma alta incidência de cegueira. Os médicos
tornaram-se famosos na região mediterrânea por cuidarem da visão e várias doenças nos
olhos.

6
MECLOY, E. P. Psicologia de la ceguera. Madrid: Editorial Fragua, 1974.
7
HULL,J. 2000. Blindness and the Face of God: Toward a Theology of Disability. In Hans-gerg Ziebertz et all (eds)
The Human Image of God (Johannes A.Van Der Ven Festschrift) Leiden, Brill, p 21-229.

567
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

O antigo Egito era uma terra onde a deficiência física parece ter sido bastante
natural. Pelo menos há registros dessa anomalia, que inclusive chama o país dos
egípcios de “Terra dos Cegos”, em virtude da grande quantidade de pessoas
acometidas por doenças oftalmológicas, que hoje seriam identificadas como
conjuntivite, catarata e glaucoma. Essas informações constam de um papiro datado
de 1500 a. C. descoberto pelo egiptólogo Georg Ebers. (RECANTO DAS LETRAS,
2017).

Para Lowenfeld8 et al., (1974 apud FRANCO e DIAS, 2005), as pessoas que por alguma
razão não se encaixavam nos padrões como dito normais, tais como velhos, doentes e
deficientes, eram tratadas ou com tolerância e apoio ou menosprezo e eliminação. Na Grécia,
em Atenas, crianças que nasciam com algum tipo de deficiência eram abandonados em
vasilhas de argila. Em Esparta, as crianças com algum tipo de deficiência eram consideradas
sub-humanas e como tais, abandonadas ou eliminadas.
Segundo Benazzi (2015), na Grécia Antiga, Homero, o grande trovador cego da época, que
recitava versos pela cidade, acabou morrendo na miséria. Ao mesmo tempo em que a ausência
da visão, manifestava uma conotação negativa, com sacrilégios e adultérios, para os gregos,
algumas pessoas cegas, eram veneradas como profetas, onde o desenvolvimento dos outros
sentidos era considerado milagroso. Em Roma, por volta de 753 a.C., o procedimento mais
comum era o de eliminação do cego. “O patriarca de uma família tinha o direito de matar um
filho nascido disforme ou com alguma anomalia, conforme as Leis das Doze Tábuas”
(VASSEUR e NORA, 2012, pag.3). Conforme Benazzi (2015), haviam cegos de toda
natureza e alguns tornaram-se pessoas letradas, filósofos, advogados, músicos e poetas, como
Cícero, orador e escritor romano, aprendeu filosofia e geometria com um tutor cego chamado
Diodotus. Porém, a grande maioria vivia na mais completa pobreza, recebendo alimentos e
roupas como esmola. Nessa época, os mais afetados eram as crianças, sendo os meninos
usados como escravos e as meninas como prostitutas.
“Na Idade Média, a cegueira era utilizada como castigo ou ato de vingança, como pena
judicial, aplicada como castigo para crimes nos quais havia participação dos olhos, como
crimes contra a divindade e faltas graves às leis de matrimônio.” (MECLOY9 et al., 1974
apud FRANCO e DIAS, 2005)
No século V, com a preocupação social religiosa em relação aos deficientes visuais, parece ter
sido fundada a primeira comunidade para cegos, por São Lineu, na França. “No século XI, no
Ocidente, Guilherme, o Conquistador, criou quatro hospitais para cegos, tendo como objetivo
expiar o pecado de ter se casado com uma parente.” (BENAZZI, 2015).

Figura2. The Blind Leading the Blind _ O Cego guiando o Cego

8
LOWENFELD, B. The visually handicapped child in school. London: Constanble, 1974.
9
MECLOY, E. P. Psicologia de la ceguera. Madrid: Editorial Fragua, 1974.

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SIMONE NORIA

Pintura executada em tinta sobre tela de linho, medindo 86 cm × 154 cm, do artista holandês renascentista
Pieter Bruegel, concluída em 1568. Descreve a parábola bíblica dos “cegos guiando os cegos” do
Evangelho de Mateus 15:14 e está na coleção do Museo di Capodimonte_ Nápoles, Itália. (Fonte:
WIKIPÉDIA10, 2018 _ The Blind Leading the Blind)

No Cristianismo, com a religiosidade e a pratica da caridade e compaixão, surgiram as


primeiras instituições com o intuito de cuidar e proteger quem tivesse deficiências, porém,
continuavam isoladas da sociedade, em asilos, sem direito ao trabalho ou estudo. (VASSEUR
e NORA, 2012)
Segundo Mecloy11 et al. (1974, apud FRANCO e DIAS, 2005), com o vinda do Cristianismo
houve uma valorização do ser humano, sem exceções, e com isso, os deficientes passaram a
ser considerados filhos de Deus, onde o Evangelho dignifica o deficiente visual, isentando-o
de um estigma de culpa e indignidade, onde a piedade transforma-se num meio de ganhar o
céu. “No Reino Unido, as primeiras referências às pessoas cegas datam do século XII, e
mencionam um refúgio para homens cegos, perto de Londres, aberto por William Elsing. Os
cegos eram geralmente mendigos que viviam da caridade alheia.”(BENAZZI, 2015).

Na Idade Média, mais atenção foi dada às pessoas pobres e com deficiência,
principalmente devido à lei _ “The Poor Law Act”, lavrada em 1601, que
mencionava, explicitamente, os pobres, os incapazes e os cegos, prevendo abrigo e
suporte para estas pessoas. Desta data em diante e por mais uns duzentos anos, os
cegos viveram em suas casas ou em instituições, os chamados “asylums”, contando
com algum suporte dos governantes. (MOTTA, 2008)

10
WIKIPÉDIA. Wikipédia _ The Blind Leading the Blind, 2018. Disponível em:
<https://en.wikipedia.org/wiki/The_blind_leading_the_blind>. Acesso em: 12 Maio 2018
11
MECLOY, E. P. Psicologia de la ceguera. Madrid: Editorial Fragua, 1974.

569
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

O conceito da cegueira para o oriente não tinha o mesmo significado do ocidente. Segundo
Motta (2008), na China a deficiência visual era comum entre os moradores do deserto.
Exercitar os ouvidos e a memória através da música era um recurso para os cegos ganharem a
vida. Já os japoneses, construíram uma atitude mais positiva em relação ao deficiente visual,
onde além da música, poesia e religião, a massagem terapêutica foi encorajada, enfatizando a
independência e auto-ajuda. Como contadores de história e historiadores, os cegos
memorizaram os anais do Império, os feitos dos grandes homens e das famílias tradicionais,
perpetuando as tradições.
Segundo Amiralian12 et al. (1986, apud FRANCO e DIAS, 2005), os avanços da área médica
proporcionaram o inicio de atendimentos voltados aos deficientes, no entanto, limitando-se às
deficiências sensoriais.
Posteriormente, com esse avanço, foi inaugurada no ano de 1784 na França, a primeira escola
para cegos do mundo, “O Instituto Real dos Jovens Cegos” foi fundado por Valentin Hauy,
que adaptou os caracteres comuns, criando linhas em alto relevo. A partir desse sistema, mais
tarde, em 1829, surgiria o Sistema Braille (LOWENFELD13 et al. 1974, apud FRANCO e
DIAS, 2005).
Introduzido no Brasil em 1854, o sistema de escrita em alto relevo Braille, facilitou a
alfabetização de deficientes visuais. “Mesmo com a resistência de alguns países em adotá-lo,
o Braille se mostrou o melhor sistema de leitura e escrita para cegos.” (VASSEUR e NORA,
2012, p.4). Segundo Vasseur e Nora (2012), somente com a atenção da (ONU) Organização
das Nações Unidas, que os Estados e a sociedade passaram a dar a devida atenção ao assunto
e com o passar dos anos foram criadas leis que permitiam pessoas cegas terem acesso ao
estudo e ao trabalho.
Assim, cada vez mais, nota-se um crescimento dos direitos das pessoas com
necessidades especiais. Isso pode ser percebido pela criação do Conselho Nacional
dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (CONADE) em 1999, e também,
pela autorização da entrada e permanência de cães-guia em locais de uso coletivo e
no transporte público, conforme Lei nº 11.126/05. Outro grande avanço ocorreu na
área da comunicação quando, em 1997, os Correios passaram a transcrever o Braille
para a escrita comum e vice-versa. (VASSEUR e NORA, 2012, p.4)

Apesar de lenta, percebe-se uma melhora considerável, em relação ao convívio e tratamento


das pessoas com deficiência, aumentando consideravelmente a qualidade de vida e o bem
estar dos deficientes.(VASSEUR e NORA, 2012)

12
AMIRALIAN, M. L. T. M. Psicologia do excepcional. São Paulo: EPU, 1986.
13
LOWENFELD, B. The visually handicapped child in school. London: Constanble, 1974.

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SIMONE NORIA

Conceito e Classificação da Deficiência Visual

A DV _ Deficiência Visual pode ser definida como uma incapacidade visual total (cegueira),
ou ainda, a presença de certa capacidade visual (baixa visão).
“Para considerar uma pessoa cega, dois fatores devem ser analisados: a acuidade visual, isto é,
o que a pessoa enxerga à determina distância, e o campo visual, que é amplitude da área
alcançada pela visão.” (SANTOS, 2018)
Devemos considerar como cegueira parcial ou total:

“a visão corrigida do melhor dos seus olhos é de 20/400 ou menor, ou se o ângulo


em relação ao eixo visual que limita o campo visual apresenta medida inferior a 20
graus de arco, ainda que sua acuidade visual nesse estreito campo possa ser superior
a 20/400.” (CBO_ Conselho Brasileiro de Oftalmologia14, 2018 apud SANTOS,
2018)

Os indivíduos com cegueira total possuem uma perda completa da visão, onde não possuem a
percepção luminosa, condição essa,chamada de amaurose.
De acordo com o Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989,
a cegueira é definida como uma deficiência visual “na qual a acuidade visual é igual ou menor
que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica”. (PLANALTO, PRESIDÊNCIA DA
REPÚBLICA15 1999, apud SANTOS, 2018)

Causas e Conseqüências da cegueira

Segundo CBO_Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 2018 apud SANTOS, 2018, a cegueira


pode ocorrer desde o nascimento, sendo chamada de cegueira congênita ou ocorrer mais tarde,
denominada de cegueira adventícia ou adquirida. Entre as principais causas de cegueira
podemos citar erros de refração não corrigidos e catarata, glaucoma, degeneração relacionada
à idade, retinopatia diabética e opacidade corneada entre outros. O Índice Mundial apresenta
que em 90% dos casos do mundo ocorrem nas áreas pobres, sendo que 60% são evitáveis,
40% são hereditárias, 25% tem causa infecciosa e 20% das cegueiras já instaladas são
recuperáveis.
A cegueira pode apresentar grande impacto na vida do indivíduo, onde a realização de
atividades diárias simples tornam-se difíceis, afetando a locomoção, profissão e o psicológico,

14
CBO_ Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 2018. Disponível em: https://www.cbo.net.br/novo/publico-
geral/index.php>. Acesso em: 12 Maio 2018
15
PLANALTO, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA,1999. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3298.htm> Acesso em: 12 Maio 2018

571
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

o que em alguns casos, pode ser traumático. Já as pessoas com cegueira desenvolvida
possuem a chamada memória visual, onde conseguem lembrar-se de imagens e cores, o que
facilita muito a adaptação ao nosso estilo de vida, o que não ocorre com os cegos de
nascimento. (CBO_ Conselho Brasileiro de Oftalmologia16,2018 apud SANTOS, 2018).
O apoio e incentivo familiar é fundamental aos portadores de DV _ Deficiência Visual, onde
o papel da família é promover autonomia e independência e não impor limites que acabam por
tornar o indivíduo dependente e inseguro. As atividades, cursos e o aprendizado é
fundamental para a qualidade de vida destes.

Tai Chi Chuan e Qi Gong

A ciência está comprovando o que os praticantes de Tai Chi sabem há séculos, que a pratica
do Tai Chi aumenta o vigor, a energia, a flexibilidade e a sensação de bem-estar, melhora o
equilíbrio e a mobilidade, tendo um impacto positivo nos ossos, nervos, músculos, sistema
imunológico e da mente. Em um nível mais sutil, o Tai Chi sensibiliza e integra ao ambiente
social e físico; no nível interpessoal, estar sintonizado com outras pessoas no seu ambiente
social, ajudará a aprender, interpretar e reagir adequadamente; integração interna/externa; se
tornar extremamente sensível aos movimentos do adversário. (WAYNE e FUERST, 2016,
p.20).
O Tai Chi tem múltiplos componentes, muitos ingredientes físicos, cognitivos e psicossociais.
Sendo uma arte marcial, o Tai Chi combina movimentos lentos intencionais, respiração e
habilidades cognitivas (atenção plena e imaginação), ainda fortalece, relaxa, integra corpo e
mente, aumenta o fluxo natural de Qi, melhora a saúde, contribui para o desenvolvimento
pessoal e aumenta a autoconfiança. (WAYNE e FUERST, 2016, p.31)
Na história antiga encontram-se diversos relatos da influência das Artes de Cura, o Tai Chi e o
Qi Gong, onde a MTC inclui prescrições de exercícios e mudança de estilo de vida, bem
como ervas, dieta, acupuntura, massagem e outras modalidades para saúde e longevidade. O
objetivo fundamental dos exercícios, assim como da MTC é aumentar e equilibrar
acirculação de Qi entre os sistemas orgânicos e em todo corpo. Para um praticante de arte
marcial, o corpo e mente sãos, é um objetivo a ser alcançado, reconhecendo, valorizando e
enfatizando o desenvolvimento interior, associado com a filosofia e estilo de vida saudável.
(WAYNE e FUERST, 2016, p. 39)

16
CBO_ Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 2018. Disponível em: https://www.cbo.net.br/novo/publico-
geral/index.php>. Acesso em: 12 Maio 2018

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SIMONE NORIA

[...] LaoTzu escreveu: “No mundo inteiro não há nada mais fluido do que a água. No
entanto, para atacar o que é duro nada se iguala a ela. A fraqueza vence a força; a
suavidade vence a dureza.” [...] “Quem conhece os outros é inteligente; quem
conhece a si mesmo é sábio. Quem vence os outros é forte; quem vence a si mesmo
é poderoso”. (WAYNE e FUERST, 2016, p. 41)

Um fator muito importante para o Tai Chi no Ocidente é sua interface com a ciência
biomédica. O primeiro estudo publicado em 1987, avaliou o Tai Chi em relação ao equilíbrio
e à amplitude de movimentos de adultos mais velhos. Desde essa época, já foram publicados
mais de 700 trabalhos sobre o tema, onde pesquisas fornecem provas contundentes, mas em
muitos casos ainda não definitivas, de que o Tai Chi Chuan pode melhorar o equilíbrio, saúde
cardiovascular, sistema imunológico, sono, bem-estar psicológico e outras dimensões da
saúde. Começam a caracterizar os mecanismos psicológicos que estão por traz dos efeitos
clínicos observados, mudando a percepção dos ocidentais em relação ao Tai Chi. (WAYNE e
FUERST, 2016, p.45)

Movimentos Políticos nas Décadas de 1960, 1970 e 1980

Segundo Mendes17 (2006, apud MARTINS, 2017), na história da Educação Especial, no


século XVI, acreditando nas potencialidades de indivíduos que até então, eram considerados
ineducáveis, excluídos de um sistema em que a educação era direito de poucos, médicos e
pedagogos desafiaram todo um paradigma da época, com atendimentos custodiais em
ambientes segregatórios, em asilos e manicômios, já que se acreditava que o tratamento
deveria ser em ambiente separado e que a sociedade também estaria protegida daqueles vistos
como “anormais” que perdurou até meados do século XX.

[...] a Educação Especial constituiu-se historicamente como um sistema paralelo à


educação comum até que, em meados de 1960, os movimentos sociais pelos direitos
humanos promoveram debates sobre os prejuízos da segregação de grupos
minoritários, contexto fundante para as bases da integração escolar, “sob o
argumento irrefutável de que todas as crianças com deficiências teriam o direito
inalienável de participar de todos os programas e atividades cotidianas que eram
acessíveis para as demais crianças.” (MENDES18 apud MARTINS, 2017).

17
MENDES,E.G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Revista Brasileira de Educação, V.11 n.33
set./dez. 2006.
18
MENDES,E.G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Revista Brasileira de Educação, V.11 n.33
set./dez. 2006.

573
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Depois da formalização da consciência em relação às pessoas com deficiência, que antes eram
restritas à caridade e a políticas de assistência, e depois foram em direção às conquistas no
universo da política e da luta por seus direitos, criou-se na década de 1970, o ambiente que
resultaria no ‘movimento político das pessoas com deficiência’. “Nessa época, surgiram as
primeiras organizações compostas e dirigidas por pessoas com deficiência contrapondo-se às
associações que prestavam serviços a este público” (JÚNIOR, 2010). Segundo Júnior (2010),
as primeiras organizações associativistas de pessoas com deficiência eram iniciativas que
visavam o auxílio mútuo e não possuíam objetivo político definido, não tinham sede própria,
estatuto ou qualquer outro elemento formal e essa aproximação estimulou um processo da
ação política em prol de seus direitos humanos.

No final dos anos 1970, o movimento ganhou visibilidade, e, a partir daí, as pessoas
com deficiência tornaram-se ativos agentes políticos na busca por transformação da
sociedade. O desejo de serem protagonistas políticos motivou uma mobilização
nacional. Essa história alimentou-se da conjuntura da época: o regime militar, o
processo de redemocratização brasileira e a promulgação, pela ONU, em 1981, do
Ano Internacional das Pessoas Deficientes (AIPD). (JÚNIOR, 2010)

Durante a época da ditadura no Brasil (1964_1985), com o autoritarismo, o exercício da


cidadania foi limitada em todas as suas dimensões, prevalecendo a censura e a falta de
liberdade. Com o enfraquecimento e declínio do regime militar, em meados de 1970, iniciou-
se um processo de abertura política e a redemocratização com a participação da sociedade
civil, era o Brasil, novamente, rumo à democracia. Novos movimentos sociais surgiram com a
participação de negros, mulheres, índios, trabalhadores, sem-teto, sem-terra e, também, as
pessoas com deficiência, que uniram esforços, formaram novas organizações, articularam-se
nacionalmente, criaram estratégias de luta para reivindicar igualdade de oportunidades e
garantias de direitos. (JÚNIOR, 2010)
Em 1981, a ONU _ Organização das Nações Unidas, proclamou o ‘Ano Internacional das
Pessoas Deficientes’ (AIPD), sob o tema "Participação Plena e Igualdade", que colocou as
pessoas com deficiência no centro das discussões, tanto no mundo quanto no Brasil. Nos anos
de 1980 e 1983, com a criação da Coalizão Pró-Federação Nacional, iniciou-se a busca por
reivindicações e estratégias de luta, bem como a fundação da ‘Federação Nacional de
Entidades de Pessoas Deficientes’ (JÚNIOR, 2010)

574
SIMONE NORIA

Acessibilidade e Políticas Públicas para Deficientes

Segundo a Secretaria Municipal de Pessoas com Deficiência Visual e Mobilidade Reduzida


(SMPD), Prefeitura de São Paulo, (ABNT NBR 9050:2004) a acessibilidade refere-se a
“Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com
segurança e autonomia, de edificações, espaços, mobiliários, vias públicas, equipamentos
urbanos e transporte coletivo.”

Figura 3. Acessibilidade de Pessoas com Deficiência

Fonte: (Prefeitura de São Paulo, MANUAL DE INSTRUÇÕES TÉCNICAS DE


ACESSIBILIDADE PARA APOIO AO PROJETO ARQUITETÔNICO)

“A busca pela acessibilidade universal, garantirá conscientemente a inclusão social do


indivíduo com deficiência e a necessidade de uma maior fusão da acessibilidade com o
desenho mais universal, como subsídio imprescindível à efetiva inclusão.” (PREFEITURA
BENTO GONÇALVES, 2017)

Foram instituídos no município de Bento Gonçalves, o selo e o certificado de


acessibilidade e o selo de certificado de rumo à acessibilidade com a finalidade de
incentivar e garantir que todas as ambiências incorporem o conceito de desenho
universal no físico existente. Só com esforço coletivo é que conseguiremos tornar
nosso município um exemplo para o Brasil e reforçar que “Com Trabalho, Bento é
Muito mais. (PREFEITURA BENTO GONÇALVES, 2017)

Com a (ABNT NBR 9050:2004) a acessibilidade, além de proporcionar o direito de ir e vir

575
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

com segurança e o melhor grau de independência possível, ela garante a inclusão em todos os
ambientes necessários para qualquer indivíduo, onde não basta apenas uma estrutura física
adequada, mas também o uso correto dela, respeitando as diferenças e possibilidades de cada
um. (FURRER, 2011)
O Símbolo Internacional de Acessibilidade em edificações, mobiliários, espaços e
equipamentos urbanos, podem ser representados conforme (Figura 4), e devem sempre estar
voltado para o lado direito. Segundo a (ABNT NBR 9050:2004), esta representação indica
que os serviços, espaços, edificações, mobiliário e equipamentos urbanos são acessíveis a
pessoas com deficiência (auditivos, visuais e cadeirantes) ou com mobilidade reduzida
(idosos, gestantes e obesos). Desmitificando a idéia de que o símbolo de
acessibilidade representa apenas os cadeirantes. (FURRER, 2011)

Figura 4. Símbolo Internacional de Acessibilidade

Fonte: Furrer (2011)

Existem também as representações internacionais específicas da deficiência visual, que


indicam a existência de equipamentos, mobiliários e serviços conforme (Figuras 5 e 6)

576
SIMONE NORIA

Figura 5. Símbolo Internacional da Pessoa com Deficiência Visual

Fonte: Furrer (2011)

“A fim de facilitar a identificação, sugere-se adotar cores diferenciadas de fundo e


pictogramas, principalmente quando mais de dois símbolos fazem parte de uma mesma placa
de informação.” (PREFEITURA BENTO GONÇALVES, 2017)

Figura 6. Pessoa com deficiência visual acompanhada de cão-guia e Pessoa com deficiência
visual (cego, baixa visão)

Fonte: (PREFEITURA BENTO GONÇALVES, 2017)

Regulamentado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT NBR 9050:2004), um


fator muito importante para a segurança e acessibilidade do deficiente visual nos trajetos em
ruas, estabelecimentos, residências e prédios públicos ou privados, é a sinalização tátil de
piso, que pode ser do tipo de alerta ou direcional, com cores contrastantes com a do piso,
podendo ser sobrepostas ou integradas ao piso existente.

577
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 7. Piso Tátil de Alerta e Direcional

Fonte: autora (HAGAH_Imagem Piso Tátil)

Segundo a Cartilha Acessibilidade da Prefeitura de Bento Gonçalves, a sinalização tátil de


alerta, com formato de bolinhas, tem função de alertar e orientar o deficiente visual sobre
obstáculos, escadas, rampas, portas de elevadores, rebaixamento de calçadas ou desnível,
como as plataformas de embarque e desembarque. Já a direcional, tem linhas verticais e
servem para orientar a direção e trajeto ao deficiente visual.
Segundo Mariano, Cunha et al (2017), a participação popular é fundamental nas políticas
públicas, onde deve haver o diálogo democrático entre a sociedade e o governo e ainda, a
implementação de ações por parte do Estado, com foco no bem-estar social das pessoas com
deficiência, valorizando e respeitando suas características e qualidades.
Antigamente, no Brasil, havia o conceito de que a deficiência deveria receber intervenção de
profissionais, para que somente assim, a pessoa com deficiência pudesse se encaixar na
sociedade, onde este teria que se adaptar aos padrões já estabelecidos. (MARIANO, CUNHA,
et al, 2017).
Segundo a Lei 13.146, Planalto, Presidência da República, (2015) que assegura aos
deficientes condições de igualdade e do exercício dos direitos, os movimentos de inclusão das
pessoas com deficiência, acabou proporcionando avanços sociais para todos com a
participação efetiva de pessoas com deficiência na definição de políticas públicas.
(MARIANO, CUNHA et al, 2017)
Promovido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, por meio do CONADE (Conselho
Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência), em 2006, foi realizado em
Brasília, a I Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, e tornou-se um

578
SIMONE NORIA

marco social, político e histórico, com a participação da sociedade civil e do poder público,
colaborando para a estruturação de um modelo de gestão participativa das políticas sociais
destinadas às pessoas com deficiência. (MARIANO, CUNHA et al, 2017).
Sendo um espaço democrático de participação popular, a II Conferência foi embasada na
igualdade e no direito à cidadania, afirmando a solidariedade social e a responsabilidade no
processo de construção e monitoramento das políticas públicas, que além das conquistas no
âmbito jurídico, foi desenvolvendo ações para transformar o modelo assistencialista em que as
pessoas com deficiência passam a exercer a posição principal de sua emancipação e
cidadania. (HUMANOS, 2012, p.29)
A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU, foi aprovada
em julho de 2008 pelo Decreto Legislativo nº186, e promulgada pelo Decreto nº
6.949, de 25 de agosto de 2009, com equivalência de emenda constitucional, um
marco extremamente relevante para o movimento das pessoas com deficiência.
(HUMANOS, 2012, p.20)

No Brasil, após a realização da I e II Conferências Nacionais sobre Políticas Públicas para as


pessoas com deficiência, muito se tem avançado em sua elaboração e execução, onde parte
das propostas advindas da II Conferência Nacional foram atendidas por meio do Plano Viver
sem Limite e outras ações. “O Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência –
Viver sem Limite, lançado em 17 de novembro de 2011 pelo Governo Federal, foi elaborado
com a participação de mais de 15 ministérios e do CONADE.” (HUMANOS, 2012, p.29)
Segundo Marcel, 2015, as pessoas com deficiência visual lutam por uma universalização das
políticas públicas, onde cobram uma política transversalizada, com a atualização da legislação
para que livros sejam disponibilizados em formato digital, possibilitando acessibilidade a todas as
pessoas com deficiência.
"A política transversalizada é, nada mais nada menos, que a pessoa com deficiência,
como qualquer outro segmento da sociedade, não precisar somente de uma política
única, ela precisa do transporte, da educação, de saúde, enfim, de cultura, de lazer....
ela precisa de outras políticas para em que ela possa viver com qualidade de vida."
(MARCEL,2015)
Em 2017, foram registrados 1,4 milhão de procedimentos alternativos. A acupuntura
é a técnica mais difundida com 707.000 [...] Em segundo lugar, estão as também
práticas chinesas de tai chi chuan e liangong, com 151.000 . Esses procedimentos
são chamados de Práticas Integrativas e Complementares (Pics), pois utilizam
recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais, voltados para curar e
prevenir diversas doenças, como depressão e hipertensão. [ ] evidências científicas
têm mostrado os benefícios do tratamento integrado entre medicina convencional e
práticas integrativas e complementares. (PORTAL DA RMC19, 2018)

19
Portal da RMC _ SUS para a oferecer 29 terapias alternativas como acupuntura, tai chi chuan, yoga entre
outras;, 2018. Disponivel em: <http://www.portaldarmc.com.br/saude/2018/03/sus-para-a-oferecer-29-terapias-
alternativas-como-acupuntura-taichi-chuan-yoga-entre-outras-veja-todas-as-opcoes/>. Acesso em: 26 Agosto 2018.

579
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Instrumentos e Tecnologias para Deficiência Visual

Figura 8. Bengala

Fonte: ESPERANÇA (2001, apud REMUS, 2008)

A bengala ajuda o deficiente visual a locomover-se em ambientes desconhecidos, ruas e


calçadas, e também, para perceber os obstáculos que estão à sua volta. Vários deficientes
visuais, já estão deixando a bengala e optando por cães- guias. Existem muitos modelos e a
mais comum é a dobrável. (ESPERANÇA, 200120, apud REMUS, 2008)

Figura 9. Assinador

Fonte: ESPERANÇA (2001, apud REMUS, 2008)

O assinador é um aparelho utilizado como guia, para que o deficiente visual possa escrever o

20
ESPERANÇA, F. B. Intervox. BLOG _ COISAS DE CEGO, 2001. Disponivel em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm>. Acesso em: 12 maio 2018.

580
SIMONE NORIA

próprio nome, assinar cheques, e outras atividades que a escrita é necessária. Com treino, a
pessoa cega pode escrever normalmente. (ESPERANÇA, 2001, apud REMUS, 2008)

Figura 10. Sorobã

Fonte: ESPERANÇA21 (2001, apud REMUS, 2008)

Muito utilizado no Japão pelas escolas, casas comerciais e engenheiros, como máquina de
calcular de grande rapidez, o Sorobã é um aparelho de cálculo sendo um método ideal para
deficientes visuais. Com alguma habilidade o deficiente visual pode escrever números no
sorobã com muita velocidade e agilidade. (ESPERANÇA, 2001, apud REMUS, 2008)

Figura 11. Jogos Adaptados

Fonte: ESPERANÇA (2001, apud REMUS, 2008)

21
ESPERANÇA, F. B. Intervox. BLOG _ COISAS DE CEGO, 2001. Disponivel em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm>. Acesso em: 12 maio 2018.

581
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Existem vários jogos adaptados: baralho, xadrez, dama, jogo da velha e ainda, jogos feitos em
computadores, como: jogo da forca, memória e outros. Existem jogos que não precisam ser
adaptados, como o dominó. Nos esportes, exemplo do futebol, as bolas são adaptadas com
guizos e através do som, os deficientes visuais totais, sabem encontrá-la. (ESPERANÇA22,
2001, apud REMUS, 2008)

Figura 12. Sistema Braille

Fonte: ESPERANÇA (2001, apud REMUS, 2008)

Segundo Esperança (2001, apud REMUS, 2008), em 1825 com apenas 15 anos, Louis Braille
que também era cego, inventou o sistema Braille que é conhecido como um meio de escrita e
leitura utilizado por pessoas deficientes visuais.

Nesse sistema, existem 63 combinações que representam as letras do alfabeto,


números e símbolos. Cada letra, número ou símbolo está representado na cela
Braille, a qual é organizada em duas colunas verticais que apresentam três pontos à
direita e três, à esquerda. A disposição dos pontos nessa cela determina um caractere
específico A escrita do braille pode se realizar por várias maneiras: A mais antiga e a
mais utilizada é a reglete e o punção.A pessoa prende o papel na reglete, e com o
punção vai fazendo todos os pontos que formam as letras. (ESPERANÇA, 2001,
apud REMUS, 2008)

22
ESPERANÇA, F. B. Intervox. BLOG _ COISAS DE CEGO, 2001. Disponivel em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm>. Acesso em: 12 maio 2018.

582
SIMONE NORIA

Figura 13. Reglete

Fonte: ESPERANÇA23 (2001, apud REMUS, 2008)

Outra maneira são as máquinas de datilografia, onde o trabalho se torna muito mais rápido
que na reglete. Com o avanço da informática, foi possível a impressão do braille e de gráficos
com ótima qualidade, através de impressoras especiais. Os livros são produzidos em grandes
gráficas informatizadas.

Figura 14. Máquina de Escrever e Impressora

Fonte: ESPERANÇA (2001, apud REMUS, 2008)

23
ESPERANÇA, F. B. Intervox. BLOG _ COISAS DE CEGO, 2001. Disponivel em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm>. Acesso em: 12 maio 2018.

583
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Nos anos 90, com o surgimento de novas tecnologias voltadas para as pessoas com algum tipo
de deficiência visual, caracterizou-se um enorme avanço no desenvolvimento de vários
sofwares, com funções variadas.
Entre estes estão o JAWS criado nos Estados Unidos em 1989, para leitura de tela, com
recursos e ferramentas com tradução para diversos idiomas, inclusive para o português; O
DOSVOX criado em 1990, pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, com ferramentas e aplicativos próprios além de agenda, chat e jogos
interativos; O VIRTUAL VISION criado em 1998, é um software brasileiro desenvolvido
pela Micropower, em São Paulo, auxilia as operações dos utilitários e as ferramentas do
ambiente Windows; o NVDA, que traduzido do Inglês significa "Acesso Não-Visual ao
Ambiente de Trabalho", criado em 2006 pelo australiano conhecido como Mick, Michael
Curran, sendo um software Livre, com leitor de tela para Windows. “Mick e alguns
conhecidos fundaram recentemente a NV Access (Acesso Não Visual), organização não-
governamental sem fins lucrativos, destinada a desenvolver projetos e tecnologias livres que
facilitem a acessibilidade para pessoas cegas e de baixa visão.” (ESPERANÇA24, 2001, apud
REMUS, 2008)
A adaptação aos novos instrumentos e tecnologias, cada vez mais desenvolvidas para atender
os deficientes visuais, facilitaram e melhoraram o desempenho para o trabalho e
desenvolvimento pessoal desses indivíduos.
Segundo IG_Último Minuto (2013), a Fundação Dorina Nowill para Cegos distribui
gratuitamente para deficientes visuais, 1.400 escolas, associações e bibliotecas, livros em
Braille, digitais e falados produzidos na própria fundação. Também existem outros serviços
especializados para deficientes visuais de todas as faixas etárias, onde o trabalho desenvolvido
engloba as áreas de serviço social, psicologia, pedagogia, fisioterapia, educação de orientação
e mobilidade, terapia ocupacional e oftalmológica.

24
ESPERANÇA, F. B. Intervox. BLOG _ COISAS DE CEGO, 2001. Disponivel em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~fabiano/braille.htm>. Acesso em: 12 maio 2018.

584
SIMONE NORIA

Figura 15. Maquete disponível ao toque

Fonte: (NOWILL, Fundação Dorina, 2018)

3.3 Serviços Especiais

Figura 16. Atende + (Serviço de Atendimento Especial)

Fonte: (SPTRANS, 1996)

585
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

ATENDE +
O Serviço de Atendimento Especial foi criado por meio do decreto nº 36.071 de 09 de maio
de 1996 e atualmente regido pela Lei Municipal nº 16.337, de 30 de dezembro de 2015. É
uma modalidade de transporte gratuito, feito porta a porta, para as pessoas com necessidades
especiais, sendo físicas, motoras, visuais, auditivas, entre outras. Oferecido pela Prefeitura do
Município de São Paulo e gerenciado pela São Paulo Transporte S.A., sendo operado pelas
empresas de transporte coletivo do município de São Paulo e cooperativa de táxis acessíveis.
(SPTRANS, 1996)

INSTITUIÇÕES DE APOIO AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO


ESTADO DE SÃO PAULO
FUNDAÇÃO DORINA NOVILL PARA CEGOS _ criada em 1946, iniciou a produção de
livros em Braille para o Brasil, expandindo suas atividades na educação e inclusão das
pessoas com deficiência visual. Em 1947, introduziu no colégio Caetano de Campos o curso
de especialização para cegos, sendo um passo inicial no processo de integração e educação
para os mesmos no Brasil (NOWILL, 1946)
ADEVA _ Associação de Deficientes Visuais e Amigos, criado em 1978 por um grupo de
amigos para promover a inclusão social de pessoas com deficiência visual, através de uma
educação integrada, reciclagem e capacitação para o mercado de trabalho. (ADEVA, 1978)
CADEVI _ Centro de Apoio ao Deficiente Visual, criado por um grupo de amigos, em 1984,
com a finalidade de ajudar aos jovens e adultos com deficiência visual. Promovendo inclusão
social por meio de atividades nas áreas social, esportiva, educacional e cultural e ainda, cursos
de capacitação para o trabalho e para o pleno exercício da cidadania. (CADEVI, 1984)
LARAMARA _ Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual, criada
em 1991, com o intuito de promover o desenvolvimento humano e inclusão social.
(LARAMARA, 1991)

ACESSIBILIDADE PARA VIAGENS _ Desde 2013 foi regulamentada uma lei pela
ANTT_ Agencia Nacional de Transportes Terrestres, onde as empresas que fazem rotas
interestaduais e internacionais devem estar adaptadas para o transporte de pessoas com algum
tipo de deficiência. A pessoa com deficiência visual, que necessita de um cão-guia, tem
assegurado o direito de embarque sem quaisquer ônus na passagem. Também, é exigido pela

586
SIMONE NORIA

ANTT, que os funcionários sejam treinados no auxilio as pessoas com deficiência, tanto no
embarque como desembarque. (BLOG_GUICHÊ VIRTUAL25, 2018)

APLICATIVOS PARA MOBILIDADE _ Em 2015, foi lançado o primeiro aplicativo para


ajudar pessoas com deficiência visual a utilizarem o transporte público, facilitando a
mobilidade e autonomia dos usuários. Estes aplicativos indicam por sistema de voz e
vibração, quanto tempo até a chegada do ônibus, além do embarque e desembarque. (G126,
2015)
CINEMA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL _ Desde o ano de 2016,
vigora a Instrução Normativa 128/2016, da ANCINE _ Agência Nacional do Cinema, que
insere para pessoas com deficiência visual e auditiva, a adaptação dos cinemas com filmes no
formato áudio descrição com legenda closed caption e Libras _ Linguagem Brasileira de
Sinais. (MARAFON, 2017)
Figura 17. Pessoas com deficiência auditiva e visual no cinema

Fonte: (Autora, 2016)

25
BLOG_ GUICHÊ VIRTUAL _ Passageiros com Deficiência, 2018. Disponivel em:
<https://www.guichevirtual.com.br/blog/passageiros-com-deficiencia/>. Acesso em: 30 Junho 2018.
26
G1_Globo.com _ Aplicativo ajuda os Deficientes Visuais a usarem o Transporte Público em São Paulo, 2015. Disponivel
em: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/09/aplicativo-ajuda-deficientes-visuais-usarem-o-transporte-publico-em-
sp.html>. Acesso em: 30 Junho 2018.

587
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

TECNOLOGIA PELO MUNDO _


Em 2015, MIT – Massachusetts Institute of Technology (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, Estados Unidos), criou o Finger Reader, um anel com uma câmera integrada
que permite a leitura de textos apenas passando o dedo por ele, que com um software no
celular ou notebook que narra o conteúdo lido em tempo real. (PRÁTICA, 2015)
Figura 18. Finger Reader

Fonte: (PRÁTICA27, 2015)

E em 2017, pesquisadores do MIT _ Massachusetts Institute of Technology, criaram um


sistema de identificação de obstáculos para substituir as bengalas, onde permite ao usuário
andar em um ambiente interno reduzindo em 86% o perigo de colisão com outras pessoas e
objetos. (CORREA, 2017).
Figura 19. Dispositivo de Identificação acoplada ao corpo

Fonte: CORREA, 2017

27
PRÁTICA, A. N. Acessibilidade na Prática _ Wearables promovem acessibilidade a deficientes visuais, 2015. Disponivel
em: <http://www.acessibilidadenapratica.com.br/textos/wearables-promovem-acessibilidade-a-deficientes-visuais/>. Acesso
em: 30 Junho 2018.

588
SIMONE NORIA

CELULAR BRAILLE _Em 2014, foi lançado no Reino Unido, o primeiro Smartphone com
leitura em Braille, que possui letras em alto relevo e impresso em 3D. (BARROS, 2014)

Figura 20. Celular em Braille

Fonte: BARROS, 2014

CÂMERA INTELIGENTE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL_


Desenvolvida em Israel, reconhece textos, produtos e pessoas. Valor estimado em 2018 de R$
14.900, sendo ainda um preço muito elevado ao povo brasileiro. (BOTELHO, 2018)

Figura 21. Câmera Inteligente

Fonte: BOTELHO,2018

589
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

[...] tecnologia capaz de “ler” placas de rua, livros, revistas, telas de smartphones,
itens de um cardápio e, assim, oferecer independência aos quase 7 milhões de
brasileiros com deficiência visual já é possível. [...] OrCamMyEye: um dispositivo
de visão artificial disponível há quase seis meses no país. Desenvolvido pelos
israelenses Amnon Shashua, professor da Universidade de Jerusalém e por Ziv
Aviram, empreendedor, a tecnologia é capaz de detectar todo e qualquer tipo de
objeto no campo de visão de uma micro câmera. (BOTELHO,2018)

Reconhecer as necessidades das pessoas com deficiência visual e o surgimento de novas


tecnologias é cada vez mais necessário para proporcionar a qualidade de vida a estes
indivíduos.

Fundamento Teórico
A Imagem Corporal

Segundo Palazzo (2016), a IC _Imagem Corporal é a percepção que o indivíduo tem do seu
próprio corpo e os pensamentos e sentimentos que resultam desta percepção, podem ser
positivos, negativos ou ambos, sendo influenciados por fatores individuais, sociais e
ambientais.
A imagem corporal pode ser definida como a formação multidimensional que
envolve a percepção corporal, o desenho que uma pessoa tem em sua mente em
relação ao tamanho, imagem e formas corporais, juntamente com os sentimentos que
ela possui em relação a isso .(SCHERER, MARTINS et al., 2010)

É formada por um processo complexo, onde o corpo é a expressão material da personalidade


do indivíduo, que envolve aspectos afetivos, cognitivos, socioculturais e motores. A imagem
corporal, percepção corporal, o desenho mental em relação ao tamanho, imagem e formas
corporais, é a maneira pela qual o corpo se apresenta para si próprio. “A imagem corporal
engloba todas as formas pelas quais uma pessoa experiência e conceitua seu próprio corpo.
Ela está ligada a uma organização cerebral integrada, influenciada por fatores sensoriais,
processo de desenvolvimento e aspectos psicodinâmicos.” (TAVARES, 2003, p.15).
Schilder28 (1994, apud TAVARES, 2003, p.15), em sua época, apresentou contribuições
significativas e inovadoras no conceito da imagem corporal, abordando o corpo de forma
integrada com uma perspectiva sistêmica, utilizando os conhecimentos de fisiologia,
psicologia e sociologia para discorrer assuntos como beleza, ginástica, dança, dor, distúrbios
psíquicos entre outros.

Segundo Tavares (2003), devemos ampliar nossa visão sobre esse assunto tão complexo,
abrindo um leque com novas possibilidades de intervenções e compreensão do ser humano

28
SCHILDER,Paul. A Imagem do corpo _ As energias construtivas da psique. São paulo, Martins Fontes, 1994.

590
SIMONE NORIA

como um todo. Segundo entrevista de Morin29 (2017, apud RANGEL, 2017), surge a ideia de
uma nova concepção do próprio conhecimento, no qual é uma tradução de todos os estímulos
que chegam à nossa retina.
“ A crise no ensino surge por conta da ausência dessas matérias que são importantes
ao viver. Ensinamos apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas
ele também precisa se adaptar aos fatos e a si mesmo” (MORIN, 2014 apud
RANGEL, 2017)” “[...] fazer uma intervenção com o objetivo de “desenvolver a
imagem corporal” ou “melhorar a imagem corporal”, constatar que uma pessoa com
alguma doença ou deficiência apresenta “alteração ou distúrbio de imagem corporal”
ou, ainda, fazer a avaliação para “verificar a imagem corporal” de um paciente ou de
um aluno a fim de subsidiar uma proposta de tratamento ou ação pedagógica [...]”
(TAVARES, 2003, p.39)

Segundo Palazzo (2016), a IC _ Imagem Corporal é a combinação de vários fatores, entre


eles, a crença do indivíduo em relação a sua própria aparência, memórias, suposições e
generalizações, seu próprio corpo, altura, forma e peso, seu controle e mobilidade. E ainda, os
aspectos psicológicos que envolvem a IC e a realidade, onde nem sempre o individuo
identifica a representação correta de seu corpo; o lado afetivo onde predomina a satisfação ou
insatisfação em relação ao corpo; a ICC _ Imagem Corporal Cognitiva, sendo a relação entre
o pensamento e seu corpo, levando o indivíduo a acreditar que a aparência e a forma do corpo,
melhora sua vida; a Imagem Corporal Comportamental, onde a insatisfação com a aparência
leva o indivíduo ao isolamento, podendo gerar comportamentos destrutivos com atividades
excessivas para mudar seu corpo gerando prejuízo. Paul Schilder (1994, apud TAVARES,
2003) em sua época, apresentou a imagem corporal como parte do nosso aspecto fisiológico e
psicológico, como uma figuração do nosso corpo formada em nossa mente, onde um simples
estímulo como ruídos, cores, locais, são vivenciados corporalmente. Um mesmo som traz
diferentes sentimentos para cada indivíduo, mudando seu corpo e criando uma ligação com o
mundo, transformando-o e gerando uma imagem diferente a cada vivência. Com isso, o
estudo evidencia a profunda relação entre imagem corporal, corpo, representações mentais,
identidade corporal, psiquismo, cultura, estímulos e contextualização no tempo e espaço. “O
mundo externo que percebemos é sempre um mundo nosso, particular.” (TAVARES, 2003,
p.24). Segundo Nasário e Ernst (2011), p.263, como os deficientes visuais não conseguem
construir a IC através dos estímulos visuais, eles utilização outros meios para isso, como os
outros sentidos do corpo humano. Para Morgado30 et al (2010, p. 3, apud NASÁRIO e

29
EDGAR MORIN: É PRECISO EDUCAR OS EDUCADORES, 2017. Disponível em: PRÁTICA, A. N. Acessibilidade
na Prática. Acessibilidade na Prática _ Wearables promovem acessibilidade a deficientes visuais, 2015.
<http://www.acessibilidadenapratica.com.br/textos/wearables-promovem-acessibilidade-a-deficientes-visuais/>. Acesso em:
30 Junho 2018.
30
MORGADO, Fabiane Frota da Rocha et al. Imagem corporal do deficiente visual: um estudo de revisão. In: SIMPÓSIO

591
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

ERNST, 2011, p.263), “Os cegos são capazes de formular sua imagem corporal, pois o fator
preponderante não é a função específica do estímulo visual, mas a organização de outras vias
sensórias – táteis, cinestésicos, auditivos entre outros”.

Assim, a visão é necessária na construção da Imagem Corporal, mas não é a única


via pela qual se chega à ela. “Para os sujeitos cegos, a produção de imagens é
singular, baseada em outros estímulos que não sejam o visual”).

Segundo Tavares (2003, p.29) o conceito de imagem ou representação mental é de suma


importância, onde a analise do tipo de imagem representará os diversos processos psíquicos,
com expressões mentais da percepção da realidade exterior, sua representação mental de
objetos internos, fantasias e atividades inconscientes que apresentam características essenciais
e descrevem a cada instante a mutabilidade constante no indivíduo. Devemos então, construir
um sentido de identidade, através de vivências que incluem forças externas (ambiente, cultura,
relações afetivas) e internas do corpo (energias impulsivas), gerando assim, uma organização
de sua imagem corporal. “Facilitar o processo de desenvolvimento da imagem corporal”, onde
corpo e mente, movimentos e percepção, relações afetivas e sociais são aspectos inseparáveis
para organizar a imagem do indivíduo.

“[...] Atividades artísticas, vivências corporais individuais e em grupo, esportes,


ginásticas e práticas sistemáticas de atividade física, assim como as propostas de
terapia corporal e psicológica, têm relevância e possibilidade de dinamizar o
processo de desenvolvimento da imagem corporal.” (TAVARES, p. 121)

Duarte31 (2007, apud TAVARES, 2007, p. 17) nos faz compreender de forma anatômica e
funcional, os conceitos relacionados ao sistema nervoso e os mecanismos neurais envolvidos.
Com aspectos gerais do sistema nervoso, sensibilidade e percepção, motricidade,
comportamento emocional, áreas corticais e imagem mental que sejam pontuais e
relacionados a imagem corporal.
O sistema nervoso tem papel fundamental, pois possui mecanismos para perceber as variações
de energia externas e internas do organismo. Variações energéticas como luz, som, calor,
frio, alteração do O2 no sangue são estímulos, que na maioria das vezes causam respostas
motoras dos músculos e glândulas, gerando alterações no potencial elétrico dos receptores
nervosos (impulso), onde recebemos, processamos e enviamos informações essenciais ao

INTERNACIONAL DE IMAGEM CORPORAL/ CONGRESSO BRASILEIRO DE IMAGEM CORPORAL, 1., 2010,


Campinas. Anais... Campinas: UNICAMP, 2010.
31
DUARTE, Edison. Mestre em Biologia e Patologia Buco-Dental. Doutor em Anatomia Humana_ USP. Docente do
Departamento de Atividade Motora Adaptada e do programa de Pós Graduação _ FEF/UNICAMP, 2007

592
SIMONE NORIA

aprendizado e construção de lembranças das imagens. (DUARTE32, 2007 apud TAVARES,


2007, p.20). Segundo o autor, na relação sensação e percepção temos: visão, olfato,
equilíbrio, audição e gustação como uma estrutura específica de recepção. E como
sensibilidade geral: dor, pressão, temperatura, tato, propriocepção (consciente e inconsciente),
sensibilidade vibratória, captada pela pele, articulações, músculos, ossos e vísceras. Os
sistemas sensitivos captam informações do ambiente e do organismo e estes, emitem
respostas através dos sistemas motores. A integração dos sistemas sensitivo e motor são de
fundamental importância para o cérebro analisar os impulsos nervosos.

“A percepção envolve mecanismos mais complexos do que simplesmente a


consciência da sensibilidade, ela depende de nosso conhecimento sobre o objeto, de
nosso estado emocional no momento da informação sensorial, do ambiente e da
cultura. A percepção segundo Kaplan, Sadock e Grebb (1997), é o processo de
transformação de estimulações físicas em informação psicológicas, procedimento
mental pelo qual estímulos sensoriais são reconhecidos.” (DUARTE apud
TAVARES, 2007, p. 21)

Segundo Brandão33 (1995, apud TAVARES, 2007, p. 28), a sensação pode ser o resultado da
atividade de receptores sensoriais com a identificação e reconhecimento do objeto, enquanto a
percepção é o resultado final, quando as imagens surgem sem a presença do mesmo. “As
imagens mentais só são acessíveis aos organismos que as possuem”, ou seja, as experiências
individuais que são intransferíveis. (DAMÁSIO34, 1999 apud TAVARES, 2007, p. 28)

“A palavra imagem não se refere apenas à imagem ‘visual’, e também não há nada
de estático nas imagens. A palavra também se refere a imagens sonoras, como as
causadas pela música e pelo vento, e às imagens sômato-sensitivas.” (DAMÁSIO,
1999 apud TAVARES, 2007, p. 36)

Tavares e Catusso (2007), trazem um componente essencial da imagem corporal, integrada


aos pensamentos e as ações dos indivíduos. O aspecto emocional da imagem corporal cria
com freqüência desconforto e polêmicas, onde em um sentido amplo inclui sentimentos,
emoções, paixões, estado de humor e pulsões, sendo conscientes e inconscientes, formados
pela sua relação com o mundo. Vinculada a identidade de cada indivíduo, valendo-se de um
processo corporal particular, tendo maior diferenciação e consciência de si, e ainda, um
aspecto energético e quantitativo, que confere um perfil próprio e singular de investimento

32
DUARTE, Edison. Mestre em Biologia e Patologia Buco-Dental. Doutor em Anatomia Humana_ USP. Docente do
Departamento de Atividade Motora Adaptada e do programa de Pós Graduação _ FEF/UNICAMP, 2007.
33
BRANDÃO,L.M. Psicofisiologia. São Paulo:Atheneu, 1995.
34
DAMÁSIO,A. O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

593
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

nos diferentes objetos. (TAVARES; CATUSSO, 2007, p.69). Antonio Damásio35 (1996, apud
TAVARES e CATUSSO, 2007, p.71), apresenta avanços da neurofisiologia em relação as
imagens mentais, consciência, emoções e sentimentos. Sendo dois aspectos fundamentais: A)
as imagens são singulares, particulares de cada sujeito, elas refletem a interação entre o
organismo e o ambiente; B) a consciência e a self, onde a representação do próprio corpo é a
base para todas as representações mentais.

[...] o componente da consciência que tem a ver com a self, fornece a mente uma
orientação. O self introduz na mente a noção de que todas as atividades aí
representadas correspondem a um organismo singular cujas necessidades de auto-
preservação são a causa principal daquilo que está sendo representado. O self
orienta o processo mental do planejamento de forma a satisfazer essas
necessidades.”

Françoise Dolto (2001), também contribui com grande importância no estudo da imagem
corporal, aprofundando conceitos de aspectos da imagem corporal, noção dos aspectos
simbólicos, conexões dos aspectos inconscientes da imagem corporal às primeiras relações
objetais e funcionamento biológico, apontando o narcisismo como elemento pra sua
estruturação. (DOLTO36, 2001 apud TAVARES e CATUSSO, 2007, p.72)
Quero dar a entender que o sujeito inconsciente desejante em relação ao corpo existe
desde a concepção. A imagem do corpo é, a cada momento, memória inconsciente
de todo o vivido relacional e, ao mesmo tempo, ela é atual, viva, em situação
dinâmica, simultaneamente narcísica e inter-relacional: camuflável ou atualizável na
relação aqui e agora, por qualquer expressão “linguageira”, desenho, modelagem,
invenção musical, plástica, assim como mímica e gestos. (DOLTO37, 2015, p.15)

Segundo o filósofo francês Merleau-Ponty, o ser humano, a partir de sua consciência


perceptiva, primeiro percebe o objeto com sua forma, que entra em sua consciência e passa a
ser um fenômeno, imaginando-o em toda sua plenitude, sendo possível descrevê-lo como
realmente é. Para Merleau-Ponty, o conhecimento nasce e faz-se sensível em sua
corporeidade. Krueger (1990), aponta que o corpo e as representações mentais do corpo são
base para um sentido do “eu”, onde o “eu corporal” e o “eu psicológico” desenvolvem-se
paralelamente. No “eu corporal” mostra três aspectos: A) Experiências psíquicas precoces do
corpo onde nos primeiros meses de vida do bebê, o vínculo mãe-filho é fundamental; B)
Consciência inicial da imagem corporal com integração de experiências internas e externas,
iniciando com poucos meses até a fase da criança começar a caminhar, em que as percepções
de suas partes corporais são vivenciadas, onde há a diferenciação entre o eu e o mundo

35
DAMÁSIO,A. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das letras, 1996.
36
DOLTO,F. A imagem inconsciente do corpo. São Paulo: Perpectiva, 2001.
37
DOLTO,F. A imagem inconsciente do corpo. São Paulo: Perpectiva, 3ª Edição, 2015.

594
SIMONE NORIA

externo; C) Definição e coesão do eu corporal como base da consciência do eu, onde a criança
já se reconhece e traz autonomia com a capacidade de dizer “não”, tendo assim, um senso de
identidade, com uma representação mental coesa e integrada ao corpo. (KRUEGER38, 1990
apud TAVARES e CATUSSO, 2007, p.76)
Olivier (1995), conclui que esquema corporal é relacionado a questões neurológicas e imagem
corporal está ligada a psicologia e psiquiatria. Por sua vez, Françoise Dolto (2001), distingue
o esquema corporal ao nosso viver carnal no contato com o mundo físico e a imagem corporal
inconsciente e a encarnação simbólica. Paul Schilder (1999), traz a imagem corporal como
parte do nosso aspecto fisiológico e psicológico, como uma figuração do nosso corpo formada
em nossa mente. Duran (1997), refere-se a imagem corporal como auto-conceito e que essas
equivalem-se, como representação do corpo na nossa mente, ou o modo como o corpo
apresenta-se para nós. (TURTELLI e TAVARES, 2007, p.83). Segundo, ALMEIDA39 et al.
(2001, apud Tavares 2007, p. 129), destaca-se a importância da visão para o desenvolvimento
da imagem corporal, e como as implicações da ausência ou limitações desta influenciam sua
imagem. Para Cobo (2003), a visão é de grande relevância para o movimento, onde quando
crianças, a formação do “eu” gera a interação com o mundo, sua ausência ou limitação,
implica em uma privação sensorial. Mas para continuar, devemos entender o conceito de
deficiência visual: perdas visuais parciais ou totais, sendo que o deficiente visual é uma
pessoa normal apresentando um déficit visual que pode variar desde a total incapacidade
visual até a redução da mesma, podendo ser congênitas ou adquiridas. Com o déficit visual,
onde há uma limitação na capacidade visual, podemos observar principalmente a redução nas
experiências vivenciadas e isso leva a uma severa redução nas informações recebidas e
oportunidades de vivências corporais, levando também, um possível atraso no
desenvolvimento motor.
A movimentação ampla do corpo é essencial para o desenvolvimento da imagem
corporal do deficiente visual, visto que por meio dos estímulos cinestésicos há
estruturação do conhecimento de seu corpo. Schilder (1994) afirma que cegos
utilizam-se de movimentos musculares para localização de percepções táteis, porém,
com o passar do tempo, a necessidade de movimentação é substituída pela
imaginação cinestésica. (ALMEIDA40 et al. 2001 apud TAVARES, 2007, p. 135)

Segundo Cobo41 et al. (2003, apud ALMEIDA et al. 2007, p.137), relações saudáveis com o

38
KRUGER,D.W. Developmental and psychodynamic perspectives on body-image change. In: CASH,T.F.,
PRUZINSKY,T. (Eds.) Body Image: development, deviance and change. New York: The Guilford, 1990.p.255-271.
39
ALMEIDA,J.J.G.et al.Esportes na Natureza:possibilidades para o deficiente. In: Sociedade Brasileira de Atividade Motora
Adaptada: Temas em Educação Física adaptada/Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada. [S.L]:SOBAMA,2001.
40
ALMEIDA,J.J.G.et al.Esportes na Natureza:possibilidades para o deficiente. In: Sociedade Brasileira de Atividade Motora
Adaptada: Temas em Educação Física adaptada/Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada. [S.L]:SOBAMA,2001.
41
COBO,A.D. et al. Personalidade e auto-imagem do cego. In: MARTINN, M.B., BUENO,S.T. (Coord.). Deficiência

595
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

meio e outros indivíduos é fundamental para o desenvolvimento da imagem corporal em


pessoas com deficiência visual, onde a aceitação desde o nascimento por parte dos familiares
é essencial, propiciando experiências variadas para que a criança possa vivenciar seu corpo,
conhecer o meio, relacionar-se e aceitar seus erros com naturalidade.

[...] encorajar a criança cega a explorar seus próprios limites, permitindo que aflore
um sentimento de competência, diante das barreiras superadas. Devem oferecer
oportunidades para que ela experiencie seu corpo de forma positiva e, ainda,
encorajá-la a monitorar seus sinais internos indicadores de fome, satisfação, fadiga,
entre outros (KEARNEY-COOKE42, 2004, apud MORGADO et al, 2010, p. 4).

“Não se pode negar que é através da interação que estabelece com o outro que o deficiente
visual conquista um corpo seguro, ganhando confiança para a delimitação do espaço físico em
que convive” (DIEHL43, 2007, p. 6, apud NASÁRIO e ERNST,2011, p.266).
Uma imagem corporal bem desenvolvida promove unidade e coesão do eu corporal,
proporcionando ao indivíduo que não enxerga sensações positivas com seu corpo. O
contrário pode colocar o sujeito em uma situação de insatisfação, solidão e
depressão, e como conseqüência, ele pode acomodar uma imagem corporal negativa.

A capacidade de adaptação da pessoa com deficiência visual frente a um mundo cheio de


diversidades é essencial para a construção e compreensão da imagem corporal, apoiada em
mudanças constantes e ou tradicionais. (NASÁRIO e ERNST, 2011, p.139)
Pensando na independência das atividades diárias, mobilidade, estímulo e o equilíbrio de
pessoas com deficiência visual, podemos destacar os benefícios dos exercícios de Tai Chi
Chuan e Qi Gong como auxílio na construção e percepção da Imagem Corporal, onde a
estimulação do uso da mente para movimentar a energia, as sensações corporais, a atenção e a
concentração, através de movimentos lentos e contínuos, melhoram significativamente a
qualidade de vida do indivíduo.
Conforme Nasário e Ernst (2011, p.267), “É de importância fundamental o incentivo,
estimulação e prevenção com relação a atividades motoras para que não ocorram desvios,
atrasos e dificuldades na aquisição de habilidades sensório-motoras” (PONTES, 2006).
Devemos entender que o desenvolvimento da imagem corporal é possibilitado pela integração
de várias percepções do corpo, imagens mutáveis de acordo com novas experiências, por meio

Visual: aspectos psicoevolutivos e educativos. Trad. Magali de Lourdes Pedro. São Paulo: Santos, 2003.
42
Kearney-Cooke, A _ Familial Influences on Body Image Development. In: CASH, T., PRUZINSKY, T. Body Image: a
handbook of theory, research & clinical practice. Nova Iorque: Guilford Press, 2004.
43
DIELH, Rosilene Moraes. Imagem corporal: corporeidade da pessoa com deficiência visual. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE/ CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 15./ 2.,
2007, Recife. Anais... Recife: CBCE, 2007. Disponível em: . Acesso em: 22 fev. 2011.

596
SIMONE NORIA

do ato de se mover. No aspecto psicológico, temos a superação do sentimento de perda em


relação a limitação manifestada pela deficiência, onde qualquer obstáculo à capacidade, pode
minar a confiança em si, além da unidade do sentimento corporal. É necessário então,
possibilitar que o indivíduo em desvantagem, possa sentir seus movimentos, ampliando esse
sentir para uma aceitação corporal, uma re-significação de si e do outro, vencendo o medo.
(SILVA44 et al. 2007, apud TAVARES, 2007 p.152)
A prática esportiva exerce papel importante na reconstrução da imagem corporal
pela pessoa com deficiência visual, pois proporciona a descoberta do corpo, de seus
limites e possibilidades. Nesse sentido, o esporte é fundamental já que fornece
experiências corporais positivas para o praticante deficiente. Este vivencia seu corpo
de variadas formas e o descobre como um corpo possível e repleto de
potencialidades. (ALVES45 e DUARTE, 2008, p. 148 apud NASÁRIO e ERNST,
2011, p. 268)

Segundo Wayne e Fuerst (2016), referências e estudos elaborados na Faculdade de Medicina


de Harvard, analisam os movimentos do Tai Chi Chuan e sua aplicação na saúde física,
mental e energética. Em um evento histórico, pela primeira vez, mestres dos principais estilos
de Tai Chi Chuan reuniram-se em um “I Simpósio Internacional sobre o Tai Chi”, realizado
no campus da Faculdade de Medicina da Universidade Vanderbilt, para ensinar e compartilhar
seus conhecimentos, mostrando uma unidade em todos os estilos, falando sobre o futuro dessa
arte marcial. Outras discussões giraram em torno do potencial da instrumentação cientifica
para elucidar o impacto do Tai Chi Chuan sobre processos fisiológicos no cérebro, coração e
no sistema músculo esquelético, e ainda, compreender os conceitos da MTC_ Medicina
Tradicional Chinesa como o Qi Gong e o fluxo de energia do corpo. Vários estudos recentes
comprovam que os benefícios da prática do Tai Chi Chuan e Qi Gong, aumentam o poder de
rejuvenescimento tanto físico quanto mental, estimulando o sistema imunológico, ativando os
hormônios e células imunes, regulando as funções orgânicas, melhorando equilíbrio, reflexos,
entre outros. “Uma maior consciência corporal também pode contribuir para a melhora de
problemas musculoesqueléticos, como a dor lombar, ao ajudar o paciente a perceber quais são
as posturas e os padrões de movimento que aliviam ou exacerbam a dor”. (WAYNE e
FUERST, 2016, p.59). Analisando o Tai Chi Chuan sob a óptica da Ciência Moderna, Wayne
e Fuerst (2016), abordam o equilíbrio, ossos mais fortes, diminuição de dores e desconfortos,
fortalecimento do coração, respiração mais profunda e mais rica, mente tranquila, bem-estar

44
SILVA,M.C. Mestre em gestão escolar _ UNIFENAS. Docente dos cursos de pedagogia na PUCMinas e UNIPAC.
2007.
45
ALVES, Maria Luiza Tanure; DUARTE, Edison. Imagem corporal e deficiência visual: um estudo bibliográfico das
relações entre a cegueira e o desenvolvimento da imagem corporal. Acta Scientiarum Human and Social Sciences,
Maringá, v. 30, n. 2, p. 147-154, 2008. Disponível em: 273 . Acesso em: 23 fev. 2011.

597
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

psicológico e a melhora do sono.

METODOLOGIA

A pesquisa realizada é experimental, do tipo estudo de caso, referente a um indivíduo, do sexo


feminino, 50 anos, solteira, de uma família de classe média, diagnosticada com Deficiência
Visual12, no qual o auxílio de lentes asféricas, lupas de mesa alto poder e bengala para
mobilidade, se fazem necessários para as pessoas inseridas nessa categoria geral de
habilidade, que se caracteriza pela perda severa da visão, onde o desempenho é considerado
restrito. E ainda, possui Síndrome de Stargardt, desenvolvido durante a infância, sendo uma
degeneração macular juvenil congênita, onde a perda de visão progressiva é causada pela
morte de células fotorreceptoras na porção central da retina denominada mácula.

A retina é o tecido sensível à luz que reveste o fundo do olho. As células


fotorreceptoras da retina são responsáveis por proporcionar a visão pela transmissão
de informações para o cérebro. A mácula é responsável pela visão central de alta
definição que nos permite realizar com clareza tarefas como ler, assistir televisão e
identificar as expressões das pessoas. A diminuição da visão central é uma
característica da doença de Stargardt. A visão lateral é geralmente preservada. A
doença de Stargardt normalmente se desenvolve durante a infância e
adolescência. (NEXTEWS, 2018)

Figura 22 _ Síndrome de Stargardt

À esquerda, visão com degeneração macular, à direita, visão normal


Fonte: EL PAÍS _Un trasplante de células madre devuelve la visión a personas ciegas, 2014

1
Baixa Visão Severa (H54.2), considerada uma visão subnormal, com comprometimento visual de categoria 2,
classificando assim, ambos os olhos com acuidade visual snellen _ 20/200 a 20/400 e acuidade visual decimal _

598
SIMONE NORIA

0,10 a 0,05(Vide Relatório Médico em Anexos)

Formada pelo Instituto ONIKI, que proporciona formação as pessoas com deficiência visual,
a participante do estudo, atua no mercado de trabalho como Massoterapeuta, sendo uma
profissional capacitada em várias técnicas que envolvem a massagem terapêutica oriental.

A escola técnica de massoterapia ONIKI, idealizada e fundada pelo profº ICHIJIRO


ONIKI em 1990, autorizada pela Secretaria do Estado da Educação, em Fevereiro de
1993. A Mantenedora, Instituto Oniki do Brasil, é uma entidade sem finalidade
lucrativa e tem por objetivo a formação profissional na área de massagem
terapêutica oriental. A escola é especializada em ministrar técnicas de massagem
para os deficientes visuais e para as pessoas de visão subnormal. A escola, oferece
também, o curso de massagem para as pessoas não portadoras de deficiência visual.
O profº ONIKI, teve como meta, oferecer condições para que os seus alunos
(deficientes visuais), adquiram, independência financeira através do próprio
trabalho. (ONIKI, 1990)

Atividades Desenvolvidas

No mês de Janeiro, foi solicitado a autorização no CTKS _ Centro de Treinamento Kung Fu


Shao Lin, pessoalmente e por meio formal de carta, para realização de um estudo de caso
único envolvendo pesquisa documental de dados secundários pré-existentes, condizente ao
estudo em questão. As informações pertinentes sofreram um processo de análise e tabulação
sendo registradas em uma Ficha de Observação e, posteriormente, foi aplicado ao aluno, um
questionário de Qualidade de Vida _ WHOQOL-BREF, e ainda, formulado à partir deste,
outro questionário para os ambientes familiar, social e profissional da praticante. Para mostrar
o quadro investigado de uma forma mais completa, além da prática dos exercícios
relacionados ao Tai Chi Chuan e Qi Gong, foram coletados entrevistas, áudios, fotos e vídeos,
todos com pré aprovação documentada para utilização de espaço e dados.
O trabalho teve inicio em Janeiro de 2018, onde a praticante aceitou voluntariamente a
participar do estudo. Realizou-se pesquisa bibliográfica em livros e sites, voltados ao estudo
da deficiência visual, percepção e imagem corporal, e ainda, perante a análise científica da
medicina ocidental, a definição e construção dos efeitos do Tai Chi Chuan e Qi Gong na
qualidade de vida do indivíduo. Sendo a pesquisa voltada a entender esse processo de
construção e percepção da imagem corporal em uma pessoa com baixa visão, utilizamos a
pesquisa de campo para corroborar no processo de analise.

599
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Instrumentos e Procedimentos para Coleta e Análise dos Dados

O instrumento utilizado neste estudo foi um questionário de Qualidade de Vida _ WHOQOL-


BREF, que define sobre como o indivíduo se sente a respeito de sua qualidade de vida, saúde
e outras áreas de sua vida. Segundo Angelim, Figueiredo et al. (2015), este, surgiu com a
iniciativa da OMS _ Organização Mundial da Saúde, contando com especialistas de várias
culturas, onde foi possível construir um instrumento aplicável a várias populações, com
diferentes realidades socioculturais.

Em sua versão original, o WHOQOL é constituído por 100 questões distribuídas ao


longo de seis domínios (físico, psicológico, relações sociais, meio ambiente e
espiritualidade) sumarizados por 24 facetas específicas. Há ainda uma faceta
composta por questões relacionadas à QV de modo geral. O WHOQOL-BREF, ou
versão abreviada do WHOQOL, possui 26 questões, das quais duas são relativas à
QV geral e à percepção geral de saúde. As demais estão dispostas em quatro
domínios (físico, psicológico, relações sociais e meio-ambiente) compostos por 24
facetas, contendo, cada uma delas, apenas uma pergunta (CASTRO; HOKERBERG;
PASSOS,46 2013 apud ANGELIM, FIGUEIREDO, et al., 2015)

Pelo fato, do referente aluno participante do estudo possuir baixa visão severa e doença de
Stargardt, que o incapacita de uma leitura sem o auxílio de instrumentos para o aumento do
mesmo, o questionário foi administrado pelo entrevistador. Este, por sua vez, reproduziu
fielmente as palavras do entrevistado e suas observações.
Para analisar o convívio do praticante nos ambientes familiar, social e profissional, utilizando
o mesmo método, baseado no questionário de WHOQOL-BREF, foi desenvolvido nove
questões relacionadas ao desenvolvimento, estado emocional, dificuldades, influência na
qualidade de vida, construção e percepção da imagem corporal, onde os entrevistados
avaliaram a evolução do ‘antes’ e ‘depois’ do praticante iniciar o Tai Chi Chuan e Qi Gong
especificamente.
Inicialmente, após um convite formal, onde foi informado ao aluno todo o processo da
pesquisa, com sua aceitação e autorização, após assinatura de um termo de consentimento,
iniciamos a coleta de dados. O mesmo ocorreu com a aplicação do instrumento no meio
familiar, social e profissional do praticante, no qual também assinaram um termo de

46
CASTRO, Marcelle Maria L.D.; HOKERBERG, Yara H.M.; PASSOS, Sonia Regina L. Validade dimensional do
instrumento de qualidade de vida WHOQOL-BREF aplicado a trabalhadores de saúde. Cad. saúde pública [online], Rio
de Janeiro, v. 29, n. 7, p. 1357-1369, 2013. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/ enfermagem/ article/
viewFile/11857/pdf_21 Acesso em: 11 jul. 2014.

600
SIMONE NORIA

consentimento para o uso fiel das informações concedidas.


Iniciado em Janeiro de 2018, os dados coletados do estudo prático foram analisados em um
período de 6 meses, sendo este composto por exercícios voltados a respiração, equilíbrio,
consciência corporal, construção e percepção do praticante. A aluna, por sua vez, já possuía
tempo anterior de prática há aproximadamente 2 anos, e em entrevista com a mesma ao longo
das atividades, ela relata as diferenças em sua qualidade de vida, social, físico e mental em
relação ao inicio da prática.

Posturas Observadas

A praticante de Tai Chi Chuan e Qi Gong realizou no período da pesquisa, aulas semanais
com duração de 1 ½ hora cada. O procedimento incluiu avaliação inicial e final das
atividades executadas, com treinamento de respiração, equilíbrio, mobilidade, interação
social, emocional e consciência da imagem corporal.2
[...]“Oito Ingredientes Ativos do Tai Chi”,que podem influenciar os níveis físico,
psicológico, social, filosófico e ainda, sistema nervoso, respiratório, endócrino e
imunológico que interagem com o sistema cardiovascular. São eles: Conscientização
(inclusive atenção plena e atenção focada); Intenção (inclusive crença e
expectativa); Integração estrutural (inclusive forma e função dinâmica) e padrões;
Relaxamento Ativo, com movimentos circulares e fluidos conseguimos direcionar o
corpo e a mente para níveis mais profundos de relaxamento, ou seja, meditação em
movimento; Força e Flexibilidade; Respiração Natural e mais Fluida; Apoio Social
(inclusive interação e comunidade); Espiritualidade Corporificada (inclusive
filosofia e ritual), onde a integração corpo, mente e espírito é colocada em evidência,
acrescentando uma dimensão espiritualizada a vida do indivíduo, ampliando os
efeitos terapêuticos. (WAYNE e FUERST, 2016, p.48)

Dentro da prática, as posturas observadas, foram divididas conforme sua atuação, sendo duas
fixas; duas com rotação de cintura e alternância de peso; duas com movimentação de base;
duas de equilíbrio e para finalizar, técnica de empurrar com as mãos. As posturas se
apresentam da seguinte maneira:
Posturas Fixas _Wu Chi “Postura inicial para os exercícios básicos. Tem a função de nos
acalmar e nos preparar para a aula de Tai Chi.” (SEVERINO e SOCI, 2017); Abraçando à
Árvore (ZhanZhuang)“ esta postura tem por objetivo o processo de enraizamento, ou seja,
conectar os seres humanos com a terra, absorvendo energia da terra e estabilizando toda a
estrutura corporal a partir do fortalecimento das pernas e dos braços.” (SEVERINO e SOCI,
2017)
Posturas com Rotação de Cintura e Alternância de Peso _ Suaves Mãos de Buda “O objetivo
básico deste exercício é o fortalecimento das pernas e abertura de virilhas, com a consciência

601
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

2
Vide Seqüência de Posturas em 5.4
de cheio e vazio, fortalecer a musculatura das costas e soltar a cintura.” (SEVERINO e SOCI,
2017); Acariciando Nuvens (Yun2 Shou3) “Seguindo o mesmo principio de palmas de Buda,
este exercício pode ser utilizado como Meditação no Movimento, também nos possibilita
tomar consciência de todas as articulações trabalhando em conjunto”. (SEVERINO e SOCI,
2017)
Posturas com Movimentação de Base _ Chicote Simples (Dan1 Bian1), “movimento de
empurrar com a palma da mão para fora e a outra mão na forma de um gancho; ”Defender os
Joelhos e Empurrar (Lou1 Xi1 Ao3 Bu4) “movimento de defender com uma das mãos e
empurrar com a palma da mão para fora.”
Posturas de Equilíbrio_ Galo Dourado numa Perna Só (Jin1 Ji1 Du2 Li4) “elevar um dos pés
e manter o equilíbrio; ”Chutar com o Calcanhar (Deng1 Jiao3) “movimento para empurrar
ou chutar com os pés”
Técnica de Empurrar com as mãos _ Tui Shou ”empurrar as mãos” ou “mãos coladas”,
designando exercícios praticados em dupla em diversos estilos de artes
47
marciais.(WIKIPÉDIA , 2017)

RESULTADOS

Este estudo visa mostrar que os benefícios decorrentes da prática do Tai Chi Chuan e Qi Gong
são excelentes para todas as pessoas, sem distinção, sendo uma atividade ideal inclusive para
pessoas com deficiência visual, foco de nossa pesquisa.

A percepção adequada da imagem corporal é fundamental para que o indivíduo


deficiente visual consiga se desenvolver de forma integral e viver de forma mais
autônoma e confiante na sociedade. Diante disso, observa-se a importância de se
analisar de que forma tal imagem é construída na ausência da visão, já que, a
privação visual pode acarretar algumas complicações no desenvolvimento do
individuo, por ser a base para grande parte do aprendizado ao longo da vida.
(OLIVEIRA e MARQUES48, 2005 apud EIRAS et al., 2012, p.99).

Após o início do estudo em Janeiro de 2018, onde a praticante foi convidada e aceitou
participar da pesquisa, e com todos os procedimentos já descritos anteriormente, através de

47
WIKIPÉDIA _ Tui Shou, 2017. Disponivel em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tui_shou>. Acesso em: 12 Março 2018.
48
OLIVEIRA, J. P.; MARQUES, S. L. Análise da comunicação verbal e não verbal de crianças com deficiência visual
durante interação com a mãe. Revista Brasileira de “Educação Especial”, Marília, v. 11, n. 3, p. 409-428, Set/Dez. 2005.

602
SIMONE NORIA

pesquisas voltadas a entender o processo de construção e percepção da imagem corporal em


uma pessoa com baixa visão, utilizamos uma Ficha de Observação, baseada em um modelo
pré-definido do Só Escola (2017), onde em um período de 6 meses, a praticante foi observada
nos exercícios propostos de Tai Chi Chuan e Qi Gong, em relação à Respiração, Equilíbrio,
Consciência Corporal, Construção e Percepção nos exercícios, e ainda, Relação Emocional,
Social e Interação nas Atividades.

1.1 Relatos (Familiares/Social/Profissional)

Seguindo esse mesmo processo de avaliação, no período final da analise, após 5 meses do
estudo, através de questionários, foram entrevistadas 30 pessoas do convívio familiar, social e
profissional, estas, com faixa etária que variou entre 18 e 65 anos de idade.
Neste ponto, apresentamos os resultados obtidos com os instrumentos e coleta de dados, onde
os depoimentos avaliaram desde a imagem corporal, equilíbrio, percepção até relação
emocional, interação e inclusão nas atividades e melhora em sua qualidade de vida.
Questionário nº 1 _ “A convivência familiar melhorou muito mais. Antes era ansiosa, agora
se controla mais. Está mais tranqüila. A postura corporal melhorou bastante.”; Questionário
nº 5 _ “Está mais calma. É uma pessoa equilibrada. Muito esforçada.”; Questionário nº
7_“Todos tem dificuldades e ela vem melhorando paulatinamente pela prática e disciplina.
Demonstra sempre equilíbrio emocional. Está melhorando a postura corporal.”; Questionário
nº 8 _“Não percebi que tinha deficiência visual. Sua postura é muito boa com movimentos
firmes.”; Questionário nº 9 _ “Transmite tranquilidade. Se relaciona muito bem com os
colegas, tendo uma vida ativa e participativa em todas atividades. Sua postura é ótima, pois
tenho convívio com outras pessoas que possuem deficiência visual e essas possuem má
postura. Ela precisa de atenção voltada para a deficiência, mas nada que comprometa o
andamento das aulas. A dificuldade que existe é comum à todo e qualquer aprendizado de
pessoas com ou sem deficiência.”; Questionário nº 11 _ “Quando se pratica artes marciais o
indivíduo melhora não só fisicamente mas no aspecto social e afetivo. Com os outros sentidos
mais aguçados a praticante absorve de maneira efetiva as informações transmitidas pelo
professor(a).”; Questionário nº 15 _“A princípio não tinha percebido a deficiência. Não
percebi nenhuma dificuldade, a mesma entendia o que era solicitado.”; Questionário nº 17
_“Está mais flexível e equilibrada. Se preocupa e dá valor a sua postura. Consegue absorver
as coisas facilmente. É participativa e interessada.”; Questionário nº 18 _ “Essa atividade nos

603
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

mostra ter controle de nossas ações. Tem todo o conhecimento corporal, tem como rotina
sempre manter sua postura. Ela possui uma felicidade em aprender”; Questionário nº 19 _
“Aluna disciplinada e persistente. Boa postura durante e após a prática. Dificuldades
semelhantes aos demais alunos quando estão aprendendo a prática.” Questionário nº 20
_“Antes era mais insegura. Melhorou sua confiança. Ela é muito tranquila. Sua postura
corporal é visível na sua forma de caminhar, que é firme. Antes ela era mais contida nos
movimentos, hoje ela faz os movimentos mas soltos e seguros. Hoje ela aprende mais rápido e
com mais consciência das técnicas. Em grupo ela interage muito bem.”; Questionário nº 21
_“Tem iniciativa de participação em diversos eventos. Postura condizente com as exigidas
para a prática. Parece ter auto-controle nas atividades, nos relacionamentos, etc. sua
dificuldade parece ser apenas em relação a visualização de alguma explanação, mas não na
execução dos movimentos. Parece apresentar boa dimensão corporal, domínio de diversos
movimentos.”; Questionário nº 23 _“A respeito das dificuldades inerentes de um praticante
com baixa visão praticar Tai Chi, acredito que tanto ela quanto os instrutores estãos adaptados
ao ensino e isso contribui para que sua ansiedade diminua, ao menos durante a prática.
Percebo que durante a pratica ela é capaz de manter uma postura bastante adequada.”;
Questionário nº 24 _ “ a noção de espaço da mesma é ótimo. Nas práticas novas, ela leva um
pouco mais de tempo para aprender, mas o faz com perfeição. Ela é bem comunicativa e
empática.”; Questionário nº 26 _ “Ela é extremamente positiva. É uma pessoa alto astral e
persistente. Equilibrada no que faz e fala. A postura corporal melhorou muito e continua
evoluindo. É uma pessoa iluminada e com Deus no coração. Ela supera todos os obstáculos
impostos a ela. Com sua deficiência ela enxerga com a alma.”.
No geral, o resultado foi muito satisfatório para todos os itens abordados, tendo a praticante
uma melhora significativa perante a opinião das pessoas de seu convívio, principalmente em
relação a confiança adquirida, sua postura corporal, percepção e execução dos exercícios.
Ao serem perguntados sobre a inclusão de pessoas com deficiências visuais nas aulas de Tai
Chi Chuan e Qi Gong, sem separação dos mesmos com uma aula exclusiva, mas sim que
sejam inseridos nas aulas cotidianas, os participantes forneceram as seguintes respostas:
Questionário nº 3 _“Sim. Melhora a qualidade de vida e é também uma forma de integração
social.”; Questionário nº 4 _“Acho válido porque as pessoas não devem ser discriminadas.”;
“Questionário nº 5 _ “É uma coisa ótima, pois é uma aula relaxante. E não é porque a pessoa
têm deficiência que ela seja incapaz de praticar alguma aula diferente.”; Questionário nº 7 _
“Sim, por vários aspectos: Percepção espacial, equilíbrio corporal, consciência corporal,
aumento da segurança, inclusão social e nos relacionamentos, aumento da autoestima e

604
SIMONE NORIA

confiança.” Questionário nº 8 _ “Para mim, a prática é imprensindível para o deficiente


visual, pois quando a conheci ela já praticava o Tai Chi Chuan e eu não percebi a deficiência,
só descobri na hora de ir embora quando ela pegou a bengala para sair para a rua.”;
Questionário nº 9 _ “Acredito nesta inclusão justamente por ser irmã de uma pessoa com
deficiência visual e o fato, de ter convivido ao lado dela durante um tempo, no qual
praticávamos, percebi o resultado positivo, pois aumentou muito a noção de espaço, confiança
na caminhada, a percepção do outro e o equilíbrio emocional.”; Questionário nº 11 _ “As
atividades físicas de uma maneira geral são comprovadamente um fator de melhora na
qualidade de vida de todos, inclusive de pessoas portadoras de deficiências. Também é
notório que o esporte é uma grande ferramenta de inclusão social, e, com o Tai Chi e Qi Gong
não é diferente.”; Questionário nº 15 _ “Acredito que seja benéfico para ambos os lados, pois
aquele que possui a deficiência tem a oportunidade de aprender e dominar seu corpo e mente,
e para nós é um aprendizado de que o nosso limite, somos nós mesmos que fazemos.”;
Questionário nº 18 _ “Sim, há muitos benefícios. A inclusão deles nas atividades faz com que
não se sintam excluídos da sociedade e se tornem mais saudáveis e com auto_controle
pessoal.”; Questionário nº 19 _ “O Tai Chi Chuan e Qi Gong é um saber do patrimônio
cultural da humanidade, logo todos, com deficiência ou não, tem o direito de aprender. Todos
terão benefícios por meio de sua prática. Especificamente para pessoas com deficiência
visual, penso que o maior ganho é o seu direito de acessar esse conhecimento.”; Questionário
nº 20 _ O Tai Chi Chuan fornece inúmeras ferramentas que possibilitam ao praticante
vivenciar e experimentar posições e movimentos que melhoram seu controle motor e diversas
aptidões físicas. Isso pode ajudar o praticante, inclusive e especialmente o deficiente visual a
ter mais confiança e estabilidade nas atividades da vida diária.”; Questionário nº 21 _
“Acredito que a prática destas atividades devam ser inclusivas e não vista como obstáculo
para o desenvolvimento das atividades. A deficiência visual deve ser vista apenas como uma
caracteristica da pessoa, não como um impecilho de qualquer direito, ou acesso à cidadania,
nisto incluídas as práticas das artes marciais.”; Questionário nº 23 _ “Percebo muitos
benefícios nessa inclusão, não apenas do ponto de vista social, mas sobretudo do ponto de
vista das relações e percepções do praticante. Além dos ganhos potenciais em equilíbrio,
consciência corporal e espacial, força e flexibilidade.”; Questionário nº 24 _ “O Tai Chi
Chuan mexe com o emocional além do corporal, para qualquer dificuldade ele eleva a auto-
estima. Os benefícios são inúmeros e como o deficiente visual desenvolve outras habilidades
nas artes marciais, eles ficam mais capazes e com a percepção mais aguçada.”; Questionário
nº 26_“O Tai Chi é o modo de expressarmos os vários sentimentos de nossa alma através dos

605
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

movimentos. Por isso, todos que se submetem à pratica, terão todos os seus benefícios.
Equilíbrio total.”
Sendo assim, podemos considerar uma grande aceitação pela inclusão de pessoas com
deficiência visual nas aulas, favorecendo não só a pessoa com deficência mas também os
professores e os colegas de convívio. Isto nos leva a acreditar que devemos cada vez mais,
abrir os caminhos para que a inclusão seja algo natural em todas as artes marciais e diversas
outras atividades, com o propósito de trazer mais qualidade de vida à todas as pessoas
independente de seu estado físico ou emocional.

Relatos da Praticante

“De acordo com Interdonato e Greguol49 (2009) e França e Azevedo50 (2003), as pessoas com
deficiência visual apresentaram uma fiel percepção de sua imagem corporal e um bom nível
de satisfação com o seu corpo.” (EIRAS et al., 2012, p.100)
Seguindo o estudo, foi aplicado um questionário de Qualidade de Vida _ WHOQOL-BREF,
onde a praticante pode relatar de forma mais clara, o ‘antes e depois’ de iniciar as praticas de
Tai Chi Chuan e Qi Gong, em relação às mudanças percebidas em sua vida diária.
“Consigo dormir melhor, meu sono melhorou muito.”; “Aprendi a ter mais paciência e a
analisar e compreender o próximo.”; “Sinto insegurança do desconhecido, mas ganhei mais
confiança, sigo em frente, sem abaixar a cabeça e chorar.”; “Antigamente, não tinha
controle sobre pressão, chorava muito.” ; “Antes era muito estressada, agora melhorei
bastante.”
Após ter iniciado a pratica do Tai Chi Chuan e Qi Gong, seus relatos apresentam uma melhora
significativa tanto física quanto emocional. Com isso, podemos considerar que estas
atividades marciais, podem beneficiar as pessoas com deficiências visuais, uma vez que seus
exercícios proporcionam desde a coordenação, o equilíbrio físico e emocional, a percepção
corporal e espacial e ajuda na construção da forma durante os exercícios.

49
INTERDONATO C. G.; GREGUOL, M. Auto-análise da imagem corporal de adolescentes com deficiência visual
sedentários e fisicamente ativos. Conexões: Revistada Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 7, n.
3, p. 1 -13, Set./Dez. 2009.
50
FRANÇA, D. N. O.; AZEVEDO, E. E. S. Imagem corporal e sexualidade de adolescentes com cegueira,alunos de
uma escola pública especial em Feira de Santana, Bahia. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, Salvador, v. 2, n. 2,
p. 176-184, Jul./Dez. 2003.

606
SIMONE NORIA

Instrumento de Avaliação Qualidade de Vida _ WHOQOL-BREF

Tabela 1 _ Resultados (Antes e Depois) da Praticante (Fonte: autora)

ANTES DEPOIS

dificuldade de sono sono tranquilo

muita ansiedade mais tranquila

relações pessoais regular muito satisfeito com as relações pessoais

dificuldade mobilidade mobilidade melhorou

dores lombares, ombro, calcanhar não sente mais dores

sem disposição para tarefas diárias mais disposição para tarefas diárias

não tinha muitas perspectivas de vida encontrou sentido na vida

insegurança muita segurança

pouca atividades de lazer busca atividades lazer

freqüentes sentimentos negativos (mau apenas algumas vezes


humor, desespero, depressão)

Seguindo a analise e partindo do princípio da MTC _ Medicina Tradicional Chinesa, onde a


energia ‘Qi’ ou ‘Sopro de Vida’, é ingrediente fundamental do corpo humano, sendo este
transporte para os canais chamados de meridianos e que, como tal, as praticas marciais de Tai
Chi Chuan e Qi Gong, envolvem os mesmos conceitos, foi possível, através dos exercícios e
relatos da praticante, elaborarmos com imagens a descrição detalhada da visualização dessas
energias pela mesma. Também, levamos em consideração, que a praticante é massoterapeuta e
que possui conhecimento através de vários cursos referentes ao assunto e isto, por sua vez,
facilitou e muito seu relato como mostram as imagens à seguir.

607
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Analise das Posturas

Figura 23 _ Postura Wu Chi com Palmas Abertas no Tan Tien (Fonte: autora)

“Sinto alguma coisa pulsando no Tan Tien, é como se algo estivesse fazendo um círculo
entorno do umbigo. No corpo, eu sinto um formigamento nas pernas, que vem desde o
calcanhar até a coxa.”

608
SIMONE NORIA

Figura 24_ Postura Wu Chi Micro e Macrocosmos (Fonte: autora)

“Sinto um formigamento na palma das mãos, pegando os dedos e um formigamento no


meridiano do baço, pegando parte da coluna, parte de dentro dos pés até a virilha.”

609
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 25 _ Postura Wu Chi com Palmas no Tan Tien voltadas para o céu (Fonte: autora)

“Sinto um círculo nas mãos no sentido anti-horário e um aquecimento na região lombar.”

610
SIMONE NORIA

Figura 26 _ Abraçando à Árvore (Fonte: autora)

“Sinto um pulsar nos meus dedos e visualizo várias cores (azul, verde, amarelo e laranja),
como se fosse um flash de luz. No meu corpo sinto mais a leveza mesmo, a parte que eu mais
sinto são as mãos pulsando. Sinto uma coisa leve na parte de baixo do corpo, minhas pernas
estavam leves, com o enraizamento, senti firme o chão, mas sem pressão. Foi leve e
tranqüilo.”

611
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 27 _ Suaves Mãos de Buda (Fonte: autora)

“Em relação ao movimento da energia, senti um aquecimento forte nas mãos e nos pés.
Estava muito quente e a minha mão formigou bastante. Senti a região do plexo solar e o
enraizamento da terra que também ativou o meridiano dos rins e a cintura.”

612
SIMONE NORIA

Figura 28 _ Acariciando as Nuvens (Fonte: autora)

“Visualizei várias cores, o azul, verde, amarelo e o laranja. Na movimentação da energia,


senti um aquecimento que vem da ponta dos dedos até o cotovelo. Senti os meridianos do
coração, pulmão e intestino. Também um grande alívio na região lombar, a cintura ficou
mais livre, a movimentação melhorou. Sinto a liberação da cintura e o movimento dos
meridianos dos rins. Senti o enraizamento, a energia da terra, muita energia nos pés, com
muita firmeza. Sinto a energia céu e terra, mais forte na terra, mas pelas cores percebo a
circulação da energia entre os dois.”

613
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 29 _ Chicote Simples (Dan1 Bian1). (Fonte: autora)

“Sinto um aquecimento na sola dos pés, subindo pelas pernas e chegando ao formigamento
das mãos. Sinto aquecimento nos braços, com os meridianos do pulmão, coração e intestino
grosso. Um círculo na região do terceiro olho como se tivesse no sentido horário. Movimento
circular entorno da cabeça e retornando ao terceiro olho. Sinto as fontes borbulhantes na
sola dos pés, o aquecimento subindo pelas pernas, fortalecendo toda região chegando a
cintura e o enraizamento.”

614
SIMONE NORIA

Figura 30 _ Defender o Joelho e Empurrar (Lou1 Xi1 Ao3 Bu4). (Fonte: autora)

“Sinto um aquecimento nos dedos e palma das mãos. Uma sensação de formigamento. Os pés
estão muito enraizados na terra. Sensação de que algo está puxando os pés, como se fosse um
pulsar. Sinto firmeza na postura. Na região do Tan Tien sinto um círculo no sentido horário.”

615
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 31 _ Galo Dourado numa Perna Só (Jin1 Ji1 Du2 Li4). (Fonte: autora)

“Sinto o aquecimento e a firmeza nos pés. O aquecimento sobe pelo calcanhar e a


panturrilha chegando nas mãos e dedos. Antigamente eu não conseguia ficar na postura e
hoje consigo ficar mais tranqüila, percebi a diferença no equilíbrio, tenho mais segurança na
postura e hoje em dia, me equilibro melhor. Sinto a energia com círculos ao redor do Tan
Tien. Sinto como se a energia estivesse abrindo cada vez mais nessa região.”

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SIMONE NORIA

Figura 32 _ Chutar com o Calcanhar (Deng1 Jiao3). (Fonte: autora)

“Sinto uma pressão muito grande na panturrilha e no calcanhar. Sensação de alongamento


na perna e na coxa. Sinto a energia ao redor do Tan Tien e o enraizamento com a firmeza dos
pés no chão. Sinto a energia entrando pelas mãos até os cotovelos, o aquecimento dos pés e
dos braços.”

617
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 33 _ Tui Shou. (Fonte: autora)

“Sinto os pés firmes no chão, o enraizamento com o aquecimento na sola dos pés. Sinto o
aquecimento e formigamento nas mãos e trabalhar os meridianos dos rins, coração, pulmão e
estômago. Sinto bastante a região da cintura no Tan Tien e a cada movimento, vai ficando
cada vez mais leve, soltando a lombar. Ficando cada vez mais segura. Em relação céu e
terra, visualizo as cores azul, verde e laranja percebendo círculos sobre a cabeça, como
espirais. Energia no topo da cabeça é bem forte com as cores e o movimento circular.”

618
SIMONE NORIA

Observações da Prática

Inicialmente, se mostrava uma pessoa desconfiada, insegura, com dificuldades respiratórias e


de energia. Após iniciar as atividades de Tai Chi Chuan e Qi Gong, foi adquirindo confiança e
passo a passo melhorando sua qualidade de vida, mobilidade, respiração, orientação de espaço
e desenvolvimento nos exercícios propostos. Atualmente, tem facilidade de aprendizado,
aceita com tranqüilidade as correções, sem ansiedade, sendo uma pessoa muito atenta as
orientações dos professores. Suas relações em grupo são tranqüilas, melhorou sua insegurança
a esse respeito e tem ótimo aproveitamento em aula e em conjunto.
Com isso, observamos uma melhora gradual na praticante, onde os exercícios ajudaram a
fortalecer o equilíbrio tanto físico quanto emocional, trazendo mais disposição ao seu
cotidiano e conseqüentemente melhora em sua qualidade de vida.
Em relação ao grupo, demonstraram total entrosamento, compreensão e interesse na inclusão
de pessoas com deficiência, não gerando nenhum tipo de conflito em aula, sendo que em um
primeiro momento, é notório que, a pessoa com deficiência requer uma maior atenção por
parte do professor.
Os professores por sua vez, são comprometidos com a aprendizagem significativa do
praticante, buscando melhorar e adaptar quando necessário as atividades propostas em aula,
para que desta forma, não crie desconforto aos alunos com deficiência visual.
Os recursos utilizados em aula, neste caso, armas marciais para a pratica do Tai Chi Chuan,
são utilizadas normalmente, sendo em um primeiro contato de madeira e após aprimoramento,
utilização de armas convencionais da prática.
As avaliações seguem o mesmo padrão para todos os praticantes, sendo exigida nota mínima
para sua aprovação. Sendo assim, a pessoa com deficiência, pode mostrar seu andamento e
aprimoramento, sentido-se parte integrante, fato este, que deveria ser natural para todas as
atividades, independente das condições físicas do indivíduo.

619
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

CONCLUSÕES e RECOMENDAÇÕES

Os dados coletados do estudo prático foram analisados em um período de 6 meses, sendo que
a aluna já possuía tempo anterior de pratica há aproximadamente 2 anos, e em entrevistas com
ela ao longo da pratica, ela relata as diferenças em relação ao inicio da mesma.
A partir dos dados observou-se que através da pratica de Tai Chi Chuan e Qi Gong, a maioria
das atividades propostas nas aulas, favoreceu a aluna com baixa visão, em sua vida cotidiana,
melhorando a mobilidade e orientação, respiração, percepção, imagem corporal e relações
emocionais, onde, houve melhora na interação entre familiares, amigos e trabalho.
Apesar dos avanços em relação a inclusão de pessoas com deficiência visual, ainda nos falta
muito empenho para que esta seja uma realidade definitiva no Brasil.
Os resultados se apresentam positivos com a inclusão da pratica marcial de Tai Chi Chuan e
Qi Gong em pessoas com baixa visão, sendo este o indivíduo de nossa pesquisa.
Esta pesquisa permitiu observar a grande importância das atividades físicas, neste caso
marcial, na vida de uma pessoa com deficiência visual, onde não só o fator físico é importante
para manutenção da saúde, mas suas relações com o ambiente, social e a melhora emocional,
ficam nítidas com o aproveitamento do praticante.
Acredita-se, portanto, que esta pesquisa atingiu seus objetivos e respondeu as questões
iniciais. Porém, tais resultados motivam novas pesquisas sobre o tema, onde as possibilidades
são infinitas, sendo que a característica individual de uma pessoa com deficiência visual
poderia gerar novos resultados.
Abrindo novos caminhos e oportunidades para professores que desejam inserir
definitivamente em suas aulas a inclusão deste público tão especial e merecedor de atenção.

620
SIMONE NORIA

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TAVARES, M. D. C. G. C. F. Imagem Corporal: Conceito e Desencolvimento. 1ª Edição.
ed. São Paulo: Manole Ltda, 2003.
TAVARES, M. D. C. G. C. F. O Dinamismo da Imagem Corporal. 1ª Edição. ed. São
Paulo: Phorte Ltda, 2007.
VASSEUR, F.C.; NORA, P. A Percepção dos Deficientes Visuais em Atrativos Turísticos: O
Caso da Igreja de São Pelegrino, Anais do VII Seminário de Pesquisa em Turismo do
Mercosul _ 2012 https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/a_percepcao_dos_deficientes.pdf
WIKIPÉDIA. Wikipédia_ Tui Shou,2017. Disponivel em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Tui_shou>. Acesso em: 12 Março 2018.

WIKIPÉDIA. Wikipédia_The Blind Leading the Blind, 2018. Disponível em:


<https://en.wikipedia.org/wiki/The_blind_leading_the_blind>. Acesso em: 12 Maio 2018
WIKIPÉDIA. Wikipédia _ Maurice Merleau Ponty, 2018. Disponivel em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Maurice_Merleau-Ponty>. Acesso em: 12 Maio 2018.

625
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

2. ANEXOS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, ,
nacionalidade , idade ,
estado civil , profissão ,
endereço ,
RG , estou sendo convidado(a) a participar de um estudo
denominado Efeitos do Tai Chi Chuan e Qi Gong na Construção e Percepção da Imagem
Corporal em Deficientes Visuais, cujosobjetivos e justificativas sãoconhecer os efeitos e
analisar a percepção da imagem corporal de um indivíduo com baixa visão, a partirda
prática de exercícios de Tai Chi Chuane Qi Gong, em relação à orientação, mobilidade,
relações emocionais e projeção mental na forma.
A minha participação no referido estudo será no sentido de permitir o uso de questionário
para avaliação do praticante.
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ouqualquer outro
dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar, serámantido em sigilo.
Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirarmeu
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e de, por desejar sairda pesquisa,
não sofrerei qualquer prejuízo quanto ao curso que estou frequentando.
Os pesquisadores envolvidos com o referido projeto são Simone Nori Ribeiro e Lisete
Barlache com eles poderei manter contato pelo e-mail samnorib.rib@gmail.com.
É assegurada a assistência durante toda pesquisa, bem como me é garantidoo livre acesso a
todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo esuas conseqüências, enfim,
tudo o que eu queira saber antes, durante e depois daminha participação.
Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado ecompreendido a
natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livreconsentimento em participar,
estando totalmente ciente de que não há nenhum valoreconômico, a receber ou a pagar, por
minha participação.

São Paulo, 31 de Maio de 2018

Nome e assinatura do sujeito da pesquisa


SIMONE NORI RIBEIRO

626
SIMONE NORIA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E VOZ

Neste ato, e para todos os fins de direito, autorizo o uso da minha imagem e voz para fins de
divulgação e publicidade do estudo denominado Efeitos do Tai Chi Chuan e Qi Gong na
Construção e Percepção da Imagem Corporal em Deficientes Visuais, em caráter definitivo
e gratuito, constante em fotos e filmagens.
As imagens e voz poderão ser exibidas: parcial ou total, em apresentação audiovisial,
publicações e divulgações em sites e artigos acadêmicos nacionais e/ou internacionais, sem
quaisquer tipo de remuneração, com disponibilidade de imagens resultante da pesquisa em
internet e outras mídias futuras, fazendo-se constar os devidos créditos ao fotógrafo.
Por ser esta a expressão de minha vontade, nada terei a reclamar a título de direitos conexos a
minha imagem e voz ou qualquer outro.

de de 20

Assinatura do Praticante

Nome:

R.G : CPF:

Endereço:

Cidade:

Estado:

Assinatura do Testemunha?

627
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

DECLARAÇÃO DE CESSÃO DE ESPAÇO FÍSICO

Eu, portador da carteira de


identidade nº ,CPF , na condição de
,autorizo o uso doCTKS _ Centro de Treinamento Kung Fu
ShaoLinlocalizado na Av. Penha de França nº 710para realização do Projeto Efeitos do Tai
Chi Chuan e Qi Gong na Construção e Percepção da Imagem Corporal em Deficientes
Visuais proposto pelo(a) Simone Nori Ribeiro, durante o período de execução do mesmo,
dentro da disponibilidade de datas e horários sem prejudicar a realização das atividades já
existentes no local.

Por esta ser a expressão de minha livre e espontânea vontade,declaro que autorizo o uso acima
descrito sem que nada haja a ser reclamado a título de direitos autorais e conexos.

São Paulo, de de 2018.

Nome e Assinatura do Responsável pelo Local

628
SIMONE NORIA

Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida

The World Health Organization Quality of Life – WHOQOL-bref

Instruções

Este questionário procura esclarecer sobre como você se sente a respeito de sua qualidade de vida,
saúde e outras áreas de sua vida.

Por favor,responda a todas as perguntas. Se você não tem certeza sobre qual resposta dar em uma
questão, escolha entre as alternativas a que lhe parece mais apropriada.

Esta, muitas vezes, poderá ser a sua primeira escolha. Por favor, tenha em mente seus valores,
expectativas, alegrias e preocupações. Solicitamos respostas em relação ao que você acha de sua vida,
tomando como referência as duas últimas semanas.

Por exemplo, pensando nas últimas duas semanas, uma questão poderia ser:

Nada Pouco Médio Muito Completamente


O quanto você se preocupa com sua
saúde? 1 2 3 5

Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você se preocupou com a saúde
nestas últimas duas semanas. Portanto, você deve circular o número 4 para "muito" ou circular o
número 1 se você não se preocupou "nada" com sua saúde.

Agradecemos a ajuda!

629
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Dados Pessoais

Nome:

Idade: Data Nascimento: Gênero: ( )M ( ) F

Estado Civil: Escolaridade: Profissão:

Pratica atividade física? Quais?

Tem alguma patologia? Qual? Há quanto tempo?

Regime do Tratamento? Toma algum tipo de medicamento? Qual?

Forma de administração do questionário:

( )1. Auto-administrado;( ) 2. Assistido pelo Entrevistador; ( ) 3. Administrado pelo entrevistador

Tem algum comentário sobre o estudo:

Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número e lhe parece a melhor resposta.

nem ruim nem


muito ruim Ruim boa muito boa
boa
Como você avaliaria
1 1 2 3 4 5
sua qualidade de vida?
muito nem satisfeito muito
Insatisfeito satisfeito
insatisfeito nem insatisfeito satisfeito
Quão satisfeito(a) você
2 1 2 3 4 5
está com a sua saúde?

630
SIMONE NORIA

As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas duas
semanas.

muito mais ou
nada bastante extremamente
pouco menos

Em que medida você acha que sua dor


3 (física) impede você de fazer o que 1 2 3 4 5
você precisa?

O quanto você precisa de algum


4 tratamento médico para levar sua vida 1 2 3 4 5
diária?

5 O quanto você aproveita a vida? 1 2 3 4 5

Em que medida você acha que a sua


6 1 2 3 4 5
vida tem sentido?

O quanto você consegue se


7 1 2 3 4 5
concentrar?

Quão seguro(a) você se sente em sua


8 1 2 3 4 5
vida diária?

Quão saudável é o seu ambiente físico


9 1 2 3 4 5
(clima, barulho, poluição, atrativos)?

As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de fazer
certas coisas nestas últimas duas semanas.

muito
nada médio muito Completamente
pouco

Você tem energia suficiente para seu dia-


10 1 2 3 4 5
a- dia?

Você é capaz de aceitar sua aparência


11 1 2 3 4 5
física?

Você tem dinheiro suficiente para


12 1 2 3 4 5
satisfazer suas necessidades?

Quão disponíveis para você estão as


13 informações que precisa no seu dia-a- 1 2 3 4 5
dia?

631
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Em que medida você tem oportunidades


14 1 2 3 4 5
de atividade de lazer?

As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de vários
aspectos de sua vida nas últimas duas semanas.

nem ruim muito


muito ruim ruim bom
nem bom bom

Quão bem você é capaz de


15 1 2 3 4 5
se locomover?

nem satisfeito
muito Muito
Insatisfeito nem satisfeito
insatisfeito satisfeito
insatisfeito

Quão satisfeito(a) você


16 1 2 3 4 5
está com o seu sono?

Quão satisfeito(a) você


está com sua capacidade
17 de desempenhar as 1 2 3 4 5
atividades do seu dia-a-
dia?

Quão satisfeito(a) você


18 está com sua capacidade 1 2 3 4 5
para o trabalho?

Quão satisfeito(a) você


19 1 2 3 4 5
está consigo mesmo?

Quão satisfeito(a) você está


com suas relações pessoais
20 1 2 3 4 5
(amigos, parentes,
conhecidos, colegas)?

Quão satisfeito(a) você


21 1 2 3 4 5
está com sua vida sexual?

Quão satisfeito(a) você


está com
22 1 2 3 4 5
o apoio que você recebe de
seus amigos?

23 Quão satisfeito(a) você 1 2 3 4 5


está com

632
SIMONE NORIA

as condições do local onde


mora?

Quão satisfeito(a) você


está com o
24 1 2 3 4 5
seu acesso aos serviços de
saúde?

Quão satisfeito(a) você


25 está com 1 2 3 4 5
o seu meio de transporte?

As questões seguintes referem-se acom que freqüência você sentiu ou experimentou certas coisas
nas últimas duas semanas.

Alguma
nunca freqüentemente muitofreqüentemente Sempre
s vezes

Com que freqüência


você tem sentimentos
negativos tais como
26 1 2 3 4 5
mau humor,
desespero, ansiedade,
depressão?

Alguém lhe ajudou a preencher este questionário?

Quanto tempo você levou para preencher este questionário?

Você tem algum comentário sobre o questionário?

Agradecemos a ajuda!

Questionário (Familiares/Social/Profissional)

633
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

QUESTIONÁRIO

Nome:

Idade: Data Nascimento: / / Gênero: ( )M ( )F

Estado Civil: Escolaridade: Profissão:

Pratica atividade física? Quais?

Tem algum parentesco com o indivíduo da pesquisa? Qual?

Como você o (a) conhece?

INSTRUÇÕES

Este questionário refere-se a um Estudo de Caso, de um indivíduo com deficiência visual,


praticando aulas de Tai Chi Chuan e Qi Gong.
Buscamos sua opinião, de como você visualiza o Antes (A) e o Depois (D),desta pessoa após
ter iniciado suas práticas. Observando o comportamento social, emocional e a percepção do
ambiente.
Por favor,responda a todas as perguntas assinalando um (X) conforme o exemplo.

(A) X
(D) X
1 2 3 4 5 6
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo

Se você não tem certeza sobre qual resposta dar em uma questão, escolha entre as alternativas
a que lhe parece mais apropriada.

Solicitamos respostas em relação ao que você acha do praticante,tomando como referência os


últimos 6 meses.

Obs:(A) = Antes
(D) = Depois

Marque na escala a sua opinião sobre o assunto.

634
SIMONE NORIA

1. De 0 à 5. Qual imagem você tem do (a) praticante?

(A)
(D)
1 2 3 4 5 6
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo

Por quê?

2. De 0 à 5. Como o Tai Chi e Qi Gong influenciou a vida


(Familiar/Social/Profissional)do(a) praticante?

(A)
(D)
1 2 3 4 5 6
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo

Por quê?

3. De 0 à 5. Você o (a) considera uma pessoa ansiosa?

(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo

Por quê?

4. De 0 à 5. Você percebe diferenças no humor do praticante?

(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo

Por quê?
5. De 0 à 5. Como você percebe a postura corporal do praticante?

635
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo

Por quê?

6. De 0 à 5. Como você percebe o autocontrole do praticante?

(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo

Por quê?

7. De 0 à 5. Percebe alguma dificuldade durante a prática de Tai chi e Qi Gong em


relação ao praticante?

(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo

Por quê?

8. De 0 à 5. Percebe alguma dificuldade na percepção do praticante em relação ao


aprendizado, consciência e osocial (grupo)?

(A)
(D)
0 1 2 3 4 5
Não Sabe Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo

Por quê?

636
SIMONE NORIA

9. De sua opinião sobre a inclusão de deficientes visuais nasartes marciais, em


específico nas atividades de Tai Chi Chuan e Qi Gong?
Percebe algum benefício?

637
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

FICHA DE OBSERVAÇÃO DE AULAS

Professor Disciplina

Aluno (a)

Ano Período

1. Área de avaliação: Comportamento


ITEM DE AVALIAÇÃO Sempre Frequente/e Raramente

1 Relaciona-se bem com os amigos


2 Relaciona-se bem com o professor
3 Atende as pessoas com boa vontade
4 Tem espírito cooperativo nas atividades do grupo
5 Integra-se facilmente ao grupo
6 Depende muito do auxílio de outra pessoa
7 Lidera seu grupo
8 Tem iniciativa própria
9 Realiza as atividades com ordem
10 Respeita as regras
11 Tem boa concentração durante as atividades
12 Interessa-se por atividades de respiração
13 Interessa-se por atividades de equilíbrio
14 Interessa-se por atividades de consciência corporal
15 Interessa-se por atividades de construção e percepção
16 Participa com interesse de todas as atividades propostas
17 Participa com interesse quando estimulado
18 Demonstra agilidade em coordenar seus movimentos
19 Consegue participar de atividades que exijam atenção e
reflexão imediata
20 Mantém uma atitude de colaboração e respeito nogrupo
21 Gosta de atividades livres
22 Tem dificuldade em compreender um comando e/ou chamado

2. Área de avaliação: Psicomotricidade


CONCEITO DE AVALIAÇÃO
ITEM DE AVALIAÇÃO Sempre Frequente Raramente
1 Anda bem e com postura
2 Esbarra nos outros e nos objetos
3 Deixa cair as coisas que segura
4 Tem medo de queda
5 Fica cansado com facilidade
6 Tem agilidade com o manejo dos equipamentos utilizados em
aula
7 É muito ativo

638
SIMONE NORIA

8 Tem facilidade em fazer exercícios de coordenação motora


9 Tem facilidade em imitar posições
10 É capaz de nomear e localizar (em si mesmo e nos outros) as
partes do corpo
11 Demonstrou preferência pelas atividadesQi Gong
12 Demonstrou preferência pelas atividadesTai Chi
13 É capaz de se controlar dentro dos limites da forma
14 É capaz de copiar movimentos
15 Facilidade lado direito
16 Facilidadelado esquerdo
17 Cumpre no tempo previsto, as atividades propostas

3. Área de avaliação: Aspecto emocional


ITEM DE AVALIAÇÃO Sempre Frequente/e Raramente

1 Chega alegre e sorridente à aula


2 É calma
3 Reage agressivamente
4 Tem baixa resistência a frustração
5 É muito comunicativo
6 Tem atitudes diferentes na presença dos colegas
7 Reage com negatividade
8 Fica isolado
9 É muito comunicativo
10 Se aproxima do professor (Tira dúvidas)

4. Área de avaliação: Formação de hábitos nas aulas marciais


ITEM DE AVALIAÇÃO Sempre Frequente/e Raramente

1 É pontual
2 Respeita as regras da academia
3 Facilidade com os cumprimentos marciais
4 Facilidade com as técnicas
5 Facilidade com as armas
6 Facilidade com novas técnicas
7 Facilidade com cursos rápidos
8 Participação das atividades
9 Mantém o foco nas atividades

639
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 34 _ Relatório Médico

640
VALERIA SANCHEZ

17. Avaliação da atenção e memória em


instrutores de TAI CHI CHUAN com aplicação
de jogos eletrônicos

Valeria Sanchez

641
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


O desempenho motor em instrutores de tai chi chuan em tarefas de realidade virtual
Valeria Sanchez

INTRODUÇÃO
O Tai Chi Chuan é uma arte marcial de origem chinesa que tem se tornado popular
em diversos países pelo mundo. Segundo1 (ZHENDUO,1988), uma vez que a China é uma
nação com uma longa história e uma cultura esplêndida, os chineses tiveram grandes
contribuições para as civilizações do mundo, uma delas é o Tai Chi Chuan, que tem se
tornado popular entre as pessoas de muitos países e regiões.
Existem cinco estilos tradicionais de Tai Chi Chuan, cada um denominado com o
sobrenome da família Chinesa que o originou. Eles são: Estilo Chen, Estilo Yang, Estilo
Wu(Hao), Estilo Wu e Estilo Sun. O Estilo Pai Lin, não é um estilo tradicional, mas
também será estudado levando em consideração a grande divulgação deste estilo em São
Paulo, local principal do estudo.
Os cinco maiores estilos das famílias compartilham a maior parte de suas
teorias sobre a prática do Tai Chi Chuan, mas diferem em abordagens de
treinamento. O que os torna todos “tradicionais” é sua rigorosa atenção
aos detalhes, adesão aos princípios e refinamentos passados de geração a
geração 2
As tradições antigas eram transmitidas através de linhagens, que a arte se
transmitia oralmente de pai para filho, no seio da família 3

Atualmente, o Tai Chi Chuan tem sido recomendado como uma importante
ferramenta terapêutica, ajudando pessoas a minimizarem problemas de saúde e tem sido
pesquisado nos diversos âmbitos da saúde e em diferentes patologias especialmente na
população idosa como, por exemplo, na melhora da memória4. Um estudo publicado
recentemente mostrou que o grupo que praticou Tai Chi Chuan teve melhora no
aprendizado e preservação da memória em comparação ao Grupo Controle após um ano.
Estes resultados sugerem que o Tai Chi Chuan, além de melhorar o desempenho na
memória, pode retardar suas alterações com o decorrer do envelhecimento5. No entanto,
em busca bibliográfica realizada previamente não localizamos estudos sobre avaliação da
atenção, memória e reflexo em instrutores de Tai Chi Chuan. Desta forma este estudo
contribuirá para iniciar pesquisas neste campo.

1
YANG, Z. Yang Style Tai Ji Quan. Hong Kong: Hai Feng Publishing, 1988.
2
YANG, Jun. Pontos Essenciais da Família Yang. Tradução de Ângela Soci e Paula Faro. São Paulo: SBTCC.
3
DESPEAUX, C. Tai Chi Chuan: Arte marcial, técnica da longa vida. São Paulo: Editora Pensamento, 1981.
4
CHANG, Y. Review Tai Ji Quan, the brain, and cognition in older adults. Journal of Sport and Health Science. 2014.
5
KASAI, J. Y. T. et al. Efeitos da prática de Tai Chi Chuan na cognição de idosas com comprometimento cognitivo leve.
Einstein. 2010.

642
VALERIA SANCHEZ

Principais características dos instrutores


Os instrutores de Tai Chi Chuan, sejam eles, de diferentes estilos ou famílias
tradicionais, (Estilo Chen, Yang, Wu Hao, Liu Pai Lin e Estilo Moderno), acumulam uma
extensa carga horária de práticas físicas nos cursos de instrutores, e em seus treinos
pessoais. Porém, não há estudos anteriores que discorram sobre esse assunto.

Descrição das escolas de Tai Chi Chuan


Apesar da filosofia ser a mesma para as diferentes famílias e estilos de Tai Chi
Chuan, há diferentes abordagens e compreensões em seus treinos práticos e na
sistematização de ensino, principalmente no que se refere a carga horária e qualificação
dos seus alunos para a validação e certificação de como tornar-se um instrutor.
O que os torna todos “tradicionais” é sua rigorosa atenção aos detalhes, adesão aos
princípios e refinamentos passados de geração a geração. Todas as cinco famílias
continuam a trazer saúde e habilidades de autodefesa a aqueles que praticam o Tai Chi
Chuan. (Essencial, Yang Family Tai Chi Chuan).
O Estilo Chen, criado por Chen Wangting (1580- 1660) é caracterizado por suas
posturas baixas e explicitamente expressando a energia de “casulo da seda”. A velocidade
na execução é variada; tem movimentos lentos e rápidos e inclui saltos, pisões e emissões
de energia visíveis. Os círculos internos e externos e espirais também são observados. No
estilo Chen se usa uma variedade de técnicas e o cultivo do fajing (energia explosiva),
habilidades que são o principal foco deste estilo6. (YANG, 2017).
Segundo Essencials, o Tai Chi Chuan do Estilo Yang, criado por Yang Luchan
(1799-1872) se tornou amplo e gracioso, cuidadosamente estruturado, relaxado, suave e
fluido, enquanto mantém seus aspectos marciais.
A repetição dos movimentos, é um método de aprendizado para que o instrutor
possa assimilar o aprendizado. Tradicionalmente a repetição é exigida, justamente, para
que, esses instrutores, atinjam níveis de perfeição comprovadas7.
No curso de instrutores da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura
Oriental, entidade representante do estilo Tradicional da Família Yang no Brasil e na
América Latina desde 1999, do total de 360 horas aulas do Curso de Formação de
instrutores, 228 horas são reservadas para a prática física.

6
YANG,J. Anotações verbais do Seminário Internacional de Tai Chi Chuan, 2017.
7
SOCI, A. Anotações verbais da aula da Professora.

643
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

O tempo em que os instrutores permanecem em cada postura dá possibilidade ao


corpo, melhor compreensão dos movimentos e significativas mudanças ocorrem. O
exercício de olhar em um ponto único, por exemplo, nas posturas fixas, nos ajuda a
desenvolver a concentração, quanto mais treinamos estar continuamente olhando em um
ponto fixo, mais melhora-se a nossa atenção.
Inúmeras são as pesquisas científicas nacionais e principalmente de fora, que
comprovam os benefícios da prática do Tai Chi Chuan, incluindo equilíbrio, memória,
pressão arterial, depressão, entre outros. Sabendo disso, e, podendo comprovar estes
resultados em aula, através da observação dos alunos, em minha experiência dando aulas
de Tai Chi Chuan da Família Yang desde 1999 e ao mesmo tempo que ensinando esta arte,
mantendo meus treinos pessoais, observei em mim, mudanças significativas na atenção,
tempo de reação e reflexo e na melhora da memória e concentração. A partir destas
observações, surgiu o interesse em mensurar quanto, de fato, estes fatores são realmente
melhorados nestes sujeitos.
O Estilo Wu Hao, criado por Wu Yuxiang (1812-1880) e continuado por Hao
Weizhen (1842-1920), é distinguido por movimentos pequenos e sutis. É lento, suave e
compacto e concentrado no equilíbrio, sensibilidade e o desenvolvimento do qi interno.
Com suas posturas altas, apetece a aqueles que veem os estilos de posturas baixas como
sendo duro para os joelhos.
O Estilo Wu, criado por Wu Quanyou (1834–1902) e seu filho Wu Jianquan
(1870-1942) tem um foco inicial em agarrar, deslocamento, quedas, saltos, rasteiras, e em
níveis avançados pressão em pontos de acupuntura, chaves nas articulações, e fraturas.
O Estilo Sun, criado por Sun Lutang, (1861–1932) tem passos altos; os
movimentos são curtos e compactos, e cada técnica de mãos está acompanhada por uma
ação de passos correspondente. O Estilo Sun também é caracterizado por seu movimento
de mãos de “abrir – fechar”
O Estilo Pai Lin, que também será estudado, foi criado pelo Mestre Liu Pai Lin
que chegou ao Brasil em 1975 e começou a ensinar Tai Chi Chuan. Fundou o Instituto Pai
Lin de Ciências e Cultura Oriental e a Associação Tai Chi Pai Lin (Linhagem Taoísta Pai
Lin, Lin, 2015). Em Beijing, Mestre Liu Pai Lin, recebeu uma iniciação do centenário
Mestre Liao Kung. Em São Paulo, seus ensinamentos, são oferecidos gratuitamente pelo
sistema SUS (Sistema Único de Saúde).

644
VALERIA SANCHEZ

Comportamento motor
O termo controle motor é definido como a habilidade de regular ou direcionar os
6
mecanismos essenciais do movimento , a área de controle motor está direcionada ao
estudo da natureza do movimento, e como este é controlado.
O Movimento emerge da interação de três fatores: o indivíduo, a tarefa e o meio
ambiente 8 . Emerge pelo esforço cooperativo das diversas estruturas e processos cerebrais,
o movimento surge da interação de processos múltiplos, como a percepção, cognição e a
ação.
Sendo assim, a aprendizagem ocorre por meio de estimulação e experiência, o
treinamento fortalece as conexões neurais usadas, e uma vez que cada habilidade é
específica, ela deve ser especificamente treinada. No processo experimental o indivíduo
precisa descobrir, ou ser explicado, “regras” para execução de tarefas, por meio do
processo de tentativa e erro, construindo um movimento eficaz9.
Embora muitos pesquisadores tenham relatado que atividades mente-corpo podem
melhorar a aptidão física, poucos realmente compararam seus efeitos benéficos relativos
em funções cognitivas, como visualização, imagens, atenção, memória e planejamento.
Observe que a Forma 108 é considerada treinamentos de habilidades motoras que demanda
mais atenção e memória em toda a sua experiência.10
O estudo qualitativo de Yau e Packer também relatara melhora na função cognitiva,
incluindo memória, amplitude de concentração, agilidade mental e habilidade no problema
resolução. Portanto, antecipamos que a prática da repetição do tai chi pode melhorar
funções cognitivas específicas (atenção e memória) em praticantes de Tai Chi.10

JUSTIFICATIVA
Na literatura pesquisada não foi encontrado nenhum estudo que avaliou o desempenho
motor de instrutores de tai chi chuan. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo
verificar desempenho motor, concentração e atenção desses instrutores através do Software
Timing Coincidente - Reflex, comparando os resultados obtidos com estudos de
populações diferentes.

8
COOK, A.; WOOLLACOTT, M., Controle Motor: teoria e aplicações práticas: 3. ed. São Paulo: Editora
Manole, 2010.
9
SIGMUNDSSON, Hermundur et al. What is trained develops! theoretical perspective on skill learning. Sports, v.
5, n. 2, p. 38, 2017.
10
LIEBERT, M. A., Idosos praticantes de Tai Chi têm melhor atenção e função de memória? Jornal de Medicina
Alternativa, v.16, n12, pp. 1259 - 1264, 2009.

645
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Este estudo poderá contribuir para identificar áreas-chaves para pesquisas futuras.

OBJETIVO
Apresentar os resultados do desempenho motor, concentração e atenção dos
instrutores de Tai Chi Chuan por meio de tarefa realizada em ambiente virtual.

MÉTODOS

Amostra
Para a realização deste trabalho foram avaliados, a atenção e a memória dos
instrutores de Tai Chi Chuan (ITCC) de diferentes estilos.
Participaram deste estudo piloto instrutores de tai chi chuan no estado de São Paulo
e que realizaram o mesmo protocolo de avaliação a partir da aplicação do Software Timing
Coincidente - Reflex que foi desenvolvido por um grupo de pesquisa da Escola de Artes,
Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

Critérios de elegibilidade
Foram incluídos instrutores de tai chi chuan de diferentes estilos, que tivessem pelo
menos 3 anos de instrução ininterruptamente, com idade mínima de 25 anos e máxima de
59 anos. Os voluntários assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Procedimentos
Os participantes realizaram um protocolo de avaliação em tarefas de realidade
virtual, seguindo a ordem que são explanadas: 1. responderam o questionário de Perfil de
Instrutores, 2. realizaram a Tarefa Timing Coincident, com velocidade 4, sendo que após a
primeira fase de aquisição são trinta repetições, 3. fizeram uma pausa de cinco minutos, 4.
realizaram a segunda fase, (retenção) com cinco tentativas, ainda na mesma velocidade 4,
1. realizaram a terceira fase (transferência) com cinco tentativas em velocidade 5.

646
VALERIA SANCHEZ

Figura 1. Delineamento da pesquisa (Fonte: autora)

Instrumentos de avaliação

Software Timing Coincidente - Reflex


A tarefa de “Timing” coincidente, é definida como a capacidade perceptual-motora
para executar uma resposta motora em sincronia com a chegada de um objeto externo, em
um determinado ponto11. Tarefas de “Timing” coincidente tem sido intensamente
investigada, principalmente no campo de aprendizagem motora e sua necessidade de
sincronização de tempo é uma competência muito importante para a aquisição e
desempenho de habilidades motoras que geram a necessidade de adaptar as ações dos
segmentos corporais para eventos externos do ambiente que estão mudando a sua posição
no espaço12
A tarefa de timing coincidente utilizada compreende uma barra vertical, na qual
existem 10 esferas, que se acendem (luz vermelha) em sequência até que a última esfera
(luz verde) que é considerada o alvo acenda. O objetivo é que a pessoa aperte a barra de
espaço quando se acender a 10º esfera. Os participantes obtêm resposta imediata de acertou
11
BELISLE, J. J. Accuracy, reliability, and refractoriness in a coincidence-anticipation task. Research Quarterly.
American Association for Health, Physical Education and Recreation, v. 34, n. 3, p. 271-281, 1963.
12
MONTEIRO, Carlos Bandeira de Mello et al. Transfer of motor learning from virtual to natural
environments in individuals with cerebral palsy. Research In Developmental Disabilities, [s.l.], v. 35,
n. 10, p.2430-2437, out. 2014.

647
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

erro de tarefa por sons diferentes (Interação auditiva) e por meio de imagens (Interação
Visual) que mudam de cor.
Para realização dessa tarefa, a prática foi dividida em 3 fases: aquisição (30
repetições), seguida de 5 minutos de pausa, para que seja feita a retenção (5 repetições) e
transferência (5 repetições) na qual ocorreu aumento de velocidade.

Figura 7. Tarefa de "Timing" Coincidente realizada no computador (Fonte: autora)

Figura 8. Tarefa de "Timing" Coincidente realizada no computador, demonstrando o alvo a ser


alcançado pela bola verde (Fonte: autora)

648
VALERIA SANCHEZ

Questionário
Foi aplicado um questionário referente ao perfil dos instrutores, onde investigou-se
o tempo que o instrutor dá aulas de Tai Chi Chuan, observou-se qual ou quais estilos eles
aprenderam, em qual instituição de ensino, e de que maneira estes instrutores são avaliados
para adquirirem sua certificação e tornarem-se habilitados a ministrar aulas. (Anexo A).
Através da aplicação do questionário IPAQ, foi avaliado se, os instrutores, além de
dar aulas, e manterem seus treinos pessoais, também praticavam alguma outra atividade
física moderada (como por exemplo pedalar leve na bicicleta, nadar, dançar, fazer
ginástica aeróbica leve, jogar vôlei recreativo, carregar pesos leves, fazer serviços
domésticos na casa, no quintal ou no jardim como varrer, aspirar, cuidar do jardim, ou
qualquer atividade que fez aumentar moderadamente sua respiração ou batimentos do
coração) ou vigorosa (como por exemplo correr, fazer ginástica aeróbica, jogar futebol,
pedalar rápido na bicicleta, jogar basquete, fazer serviços domésticos pesados em casa, no
quintal ou cavoucar no jardim, carregar pesos elevados ou qualquer atividade que fez
aumentar MUITO sua respiração ou batimentos do coração), que pudesse interferir nos
resultados das análises.

RESULTADOS
Foram avaliados 11 participantes, sendo 9 homens e 2 mulheres, idade 41±5 anos
(mínimo 34; máximo 53), praticantes dos estilos: Chen (5), Yang (4), Pai Lin (2) e Wo
Hao (1), tempo de prática na modalidade 101±52 meses (mínimo 31; máximo 216), média
de horas/aula ministrada por semana 7,3±5,5 horas, e treinamento pessoal 5,0±3,0 horas
por semana. Pela avaliação do questionário IPAQ versão curta, verificou-se nível de
atividade física “Muito Ativo” em 2 participantes, e 9 participantes “Ativos” fisicamente.

Tarefa Timing Coincidente – Reflex


Na tarefa de Timing Coincidente, os participantes realizaram a prática com 30
repetições para fase de aquisição e após um período de 5 minutos sem contato com a tarefa
foram realizadas 5 repetições na fase de retenção, em seguida mais 5 repetições, porém
com aumento da velocidade para a fase de transferência. Para análise foram divididos em
blocos de 5 repetições.
Observamos que a média no tempo de execução na fase de aquisição foi de 176,4
ms, este tempo aumentou durante a fase de retenção (202,6 ms), e diminuiu na fase de

649
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

transferência (132,4 ms). A média foi calculada com a somatória de resultados de cada
fase, de todos os instrutores, e em seguida dividido pelo número de instrutores.

Tabela 3. Tempo da execução em milissegundos da tarefa de Timing Coincidente para as fases de


aquisição, retenção e transferência (Fonte: autora)
.
Aquisição média Retenção média Transferência média

176,4 202,6 132,4

Gráfico 3. Tempo da execução em milissegundos da tarefa de Timing Coincidente para as fases de


aquisição, retenção e transferência (Fonte: autora).

AQ: Aquisição; R: Retenção; T: Transferência.

650
VALERIA SANCHEZ

DISCUSSÃO
A aprendizagem motora tem recebido a atenção de estudiosos do comportamento
motor pelo importante papel no cotidiano do ser humano. Barros sintetiza as definições de
alguns autores sobre a aprendizagem motora como: “mudanças internas na capacidade de
executar habilidades motoras, sendo tais mudanças no sentido de execuções cada vez mais
eficientes, relativamente permanentes e fruto de prática e experiência”13.
A execução eficiente de uma habilidade depende do controle dos movimentos e da
seleção das informações relevantes para entender os estímulos do ambiente, o que resulta
na aquisição de uma habilidade motora14.
A média de tempo (em milissegundos) entre os instrutores na fase de aquisição foi
de 176,45 ms, enquanto nas fases de retenção 202,6 ms e de transferência 132,4 ms (tempo
que o instrutor levou para tocar o teclado quando a bolinha coincidiu com a chegada ao
alvo).
Observamos que houve uma diminuição de 25% do tempo entre a fase de aquisição
e a fase de transferência. O estudo de Tani et al. (2014) propõe um modelo de
aprendizagem motora - estabilização e adaptação – sendo que o indivíduo adquire um nível
de organização espaço temporal do movimento dirigido à uma meta, atingindo certo nível
de estabilidade para adaptar-se a novos desafios.15
A aprendizagem de novas habilidades e o aperfeiçoamento dos movimentos já
existente são características de todos seres vivos para interagir com o ambiente. A
capacidade de aprendizagem evolutiva é uma característica forte do ser humano e
reconhecida como uma das responsáveis pelo processo evolutivo16
Muitos estudos demonstram um impacto positivo do Tai Chi Chuan no equilíbrio,
força muscular, flexibilidade, controle postural em idosos17 . Um estudo mostrou que o
grupo que praticou Tai Chi Chuan teve melhora no aprendizado e preservação da memória
em comparação a um grupo controle após 12 meses, que sugere que o Tai Chi Chuan, além
de melhorar o desempenho na memória, pode desacelerar suas alterações do
envelhecimento18

13
BARROS, J. A. C. Estrutura de prática e processo adaptativo em aprendizagem motora: efeitos da
especificidade da tarefa. São Paulo 2006: Universidade de São Paulo – Escola de educação física e esporte.
14
MEDINA J. et al. O efeito de dicas de aprendizagem na aquisição do rolamento peixe por crianças com TDC.
Rev Bras de Ciênc Esporte 2008.
15
TANI, G. et al. An Adaptive Process Model of Motor Learning: Insights for the Teaching of Motor Skills.
Universidade de São Paulo, 2014
16
PINKER, S. How the Mind Works, New York: William Morrow and Company, 1997; London: The
Penguin Press, 1998.
17
KASAI, J. Y. T. et al. Efeitos da prática de Tai Chi Chuan na cognição de idosas com comprometimento
cognitivo leve. Einstein. 2010.
18
CHAN, A. S. et al. Association between mind-body and cardiovascular exercises and memory in older adults. Journal of
the American Geriatrics Society, 2005.

651
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Os resultados positivos encontrados nos testes do Timing Coincidente sugerem uma


relação ao fato de que o Tai Chi Chuan trabalha a concentração para a execução de uma
sequência de movimentos, que deve ser memorizada, mantendo o foco na consciência
corporal, relaxamento e respiração.

Kasai et al (2010), correlaciona os resultados positivos de seu estudo entre o teste


de aprendizado aplicado ao grupo que praticou Tai Chi Chuan, que reforça a relação direta
entre o desempenho da memória e a prática da arte.19

5. CONCLUSÃO
Analisando os dados obtidos com a aplicação dos jogos e dos questionários,
observou-se a melhora na execução, considerando que os instrutores já possuem uma boa
performance motora e, muito provavelmente, já realizaram a tarefa muito bem desde o
início, fenômeno chamado de efeito topo.
Também podemos relacionar o processo de aprendizado da sequência de
movimentos do Tai Chi Chuan (forma) ao modelo de Tani et al (2014) sendo que o tempo
de prática pode interferir no desempenho da fase de adaptação já que, depois de
memorizada a sequência (estabilização), o praticante continua a aperfeiçoar os movimentos
em busca das posturas mais estáveis, suaves e fluidas.20
As referências consultadas apontam que o tai chi chuan pode melhorar o
desempenho motor e cognitivo, mas que as evidências carecem de clareza dos processos e
métodos, e o número de publicações é ainda pequeno, portanto, é clara a necessidade de
desenvolver estudos com maior metodologia em relação ao assunto.

19
KASAI, J. Y. T. et al. Efeitos da prática de Tai Chi Chuan na cognição de idosas com comprometimento
cognitivo leve. Einstein. 2010.
20
TANI, G. et al. An Adaptive Process Model of Motor Learning: Insights for the Teaching of Motor Skills.
Universidade de São Paulo, 2014

652
VALERIA SANCHEZ

REFERÊNCIAS
BARROS, J. A. C. Estrutura de prática e processo adaptativo em aprendizagem motora:
efeitos da especificidade da tarefa. São Paulo 2006: Universidade de São Paulo – Escola de
educação física e esporte.

BELISLE, J. J. Accuracy, reliability, and refractoriness in a coincidence-anticipation task.


Research Quarterly. American Association for Health, Physical Education and
Recreation, v. 34, n. 3, p. 271-281, 1963.

CHAN, A. S. et al. Association between mind-body and cardiovascular exercises and memory in older
adults. Journal of the American Geriatrics Society, 2005.

CHANG, Y. Review Tai Ji Quan, the brain, and cognition in older adults. Journal of Sport
and Health Science. 2014.

COOK, A.; WOOLLACOTT, M., Controle Motor: teoria e aplicações práticas: 3. ed. São
Paulo: Editora Manole, 2010.

DESPEAUX, C. Tai Chi Chuan: Arte marcial, técnica da longa vida. São Paulo: Editora
Pensamento, 1981.

KASAI, J. Y. T. et al. Efeitos da prática de Tai Chi Chuan na cognição de idosas com
comprometimento cognitivo leve. Einstein. 2010.

LIEBERT, M. A., Idosos praticantes de Tai Chi têm melhor atenção e função de memória? Jornal de
Medicina Alternativa, v.16, n12, pp. 1259 - 1264, 2009.

MEDINA J. et al. O efeito de dicas de aprendizagem na aquisição do rolamento peixe por


crianças com TDC. Rev Bras de Ciênc Esporte 2008.

MESTRE, JUN YANG. Anotações verbais da aula proferida durante o Seminário Yang Jun
no dia 12 novembro, 2017.

MONTEIRO, Carlos Bandeira de Mello et al. Transfer of motor learning from virtual to
natural environments in individuals with cerebral palsy. Research In Developmental
Disabilities, [s.l.], v. 35, n. 10, p.2430-2437, out. 2014. Elsevier BV.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ridd.2014.06.006.

PINKER, S. How the Mind Works, New York: William Morrow and Company, 1997;
London: The Penguin Press, 1998.

SIGMUNDSSON, Hermundur et al. What is trained develops! theoretical perspective on


skill learning. Sports, v. 5, n. 2, p. 38, 2017.

SOCI, A. Anotações verbais da aula da Professora.

SOUZA, D. E.; FRANÇA, F. R.; e CAMPOS, T. F. , Teste de labirinto: instrumento de


análise na aquisição de uma habilidade motora. Rev. bras. fisioter., São Carlos, v. 10, n. 3, p.
355-360, jul./set. 2006.

TANI, G. et al. An Adaptive Process Model of Motor Learning: Insights for the
Teaching of Motor Skills. Universidade de São Paulo, 2014

653
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

TORRIANI-PASIN, C. et al. Performance of Down syndrome subjects during a coincident


timing task. Int Arch Med, v. 6, n. 1, p. 15, 2013.

YANG, Jun. Pontos Essenciais da Família Yang. Tradução de Ângela Soci e Paula Faro. São Paulo:
SBTCC.

YANG SYLE TAIJIQUAN, Hong Kong - Hai Feng Publishing Co. - 1998

654
VALERIA SANCHEZ

ANEXO A

Questionário – Perfil Instrutores

Nome completo:

Data de nascimento: Idade:

Cidade: Estado: País:

1.Qual estilo de Tai Chi Chuan que você ensina?

2.Há quanto tempo?

3.Você fez curso de instrutor? Quando?

4. Em qual instituição/escola?

5.Qual a carga horária do seu curso de instrutores?

6.Possui algum ranking ou avaliação e/ou certificação de equivalência?

7.Qual a quantidade de horas/aula semanais que você dá aula?

655
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

8. Desde que você fez o seu curso de instrutores e começou a dar aulas, você
interrompeu esse processo por algum motivo? Se sim, Por quanto tempo?

9.Qual a quantidade de horas semanais do seu treino pessoal?

10.Você pratica alguma outra atividade física? Qual? Há


quanto tempo?

11. Possui algum tipo de doença? Se sim, qual(ais)?

12.Você faz uso de algum medicamento controlado? Se sim, qual(ais)?

656
VALERIA SANCHEZ

ANEXO B

QUESTIONÁRIO INTERNACIONAL DE ATIVIDADE FÍSICA – VERSÃO


CURTA
Nome: Data:
/ / Idade : Sexo: F ( ) M ( )

Nós estamos interessados em saber que tipos de atividade física as pessoas fazem como
parte do seu dia a dia. Este projeto faz parte de um grande estudo que está sendo feito em
diferentes países ao redor do mundo. Suas respostas nos ajudarão a entender que tão ativos
nós somos em relação à pessoas de outros países. As perguntas estão relacionadas ao
tempo que você gasta fazendo atividade física na ÚLTIMA semana. As perguntas incluem
as atividades que você faz no trabalho, para ir de um lugar a outro, por lazer, por esporte,
por exercício ou como parte das suas atividades em casa ou no jardim. Suas respostas são
MUITO importantes. Por favor responda cada questão mesmo que considere que não seja
ativo. Obrigado pela sua participação !
Para responder as questões lembre que: ➢ atividades físicas VIGOROSAS são aquelas que
precisam de um grande esforço físico e que fazem respirar MUITO mais forte que o
normal ➢ atividades físicas MODERADAS são aquelas que precisam de algum esforço
físico e que fazem respirar UM POUCO mais forte que o normal
Para responder as perguntas pense somente nas atividades que você realiza por pelo menos
10 minutos contínuos de cada vez.
1a Em quantos dias da última semana você CAMINHOU por pelo menos 10 minutos
contínuos em casa ou no trabalho, como forma de transporte para ir de um lugar para outro,
por lazer, por prazer ou como forma de exercício?
dias por SEMANA ( ) Nenhum
1b Nos dias em que você caminhou por pelo menos 10 minutos contínuos quanto tempo no
total você gastou caminhando por dia?
horas: Minutos:
2a. Em quantos dias da última semana, você realizou atividades MODERADAS por pelo
menos 10 minutos contínuos, como por exemplo pedalar leve na bicicleta, nadar, dançar,
fazer ginástica aeróbica leve, jogar vôlei recreativo, carregar pesos leves, fazer serviços
domésticos na casa, no quintal ou no jardim como varrer, aspirar, cuidar do jardim, ou

657
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

qualquer atividade que fez aumentar moderadamente sua respiração ou batimentos do


coração (POR FAVOR NÃO INCLUA CAMINHADA)
dias por SEMANA ( ) Nenhum
2b. Nos dias em que você fez essas atividades moderadas por pelo menos 10 minutos
contínuos, quanto tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia?
horas: Minutos:
3a Em quantos dias da última semana, você realizou atividades VIGOROSAS por pelo
menos 10 minutos contínuos, como por exemplo correr, fazer ginástica aeróbica, jogar
futebol, pedalar rápido na bicicleta, jogar basquete, fazer serviços domésticos pesados em
casa, no quintal ou cavoucar no jardim, carregar pesos elevados ou qualquer atividade que
fez aumentar MUITO sua respiração ou batimentos do coração.
dias por SEMANA ( ) Nenhum
3b Nos dias em que você fez essas atividades vigorosas por pelo menos 10 minutos
contínuos quanto tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia?
horas: Minutos:
Estas últimas questões são sobre o tempo que você permanece sentado todo dia, no
trabalho, na escola ou faculdade, em casa e durante seu tempo livre. Isto inclui o tempo
sentado estudando, sentado enquanto descansa, fazendo lição de casa visitando um amigo,
lendo, sentado ou deitado assistindo TV. Não inclua o tempo gasto sentando durante o
transporte em ônibus, trem, metrô ou carro.
4a. Quanto tempo no total você gasta sentado durante um dia de semana?
horas minutos 4b. Quanto tempo no total você gasta sentado durante em um
dia de final de semana?
horas minutos

658
VALERIA SANCHEZ

ANEXO C

CLASSIFICAÇÃO DO NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA IPAQ


1. MUITO ATIVO: aquele que cumpriu as recomendações de:

a) VIGOROSA: ≥ 5 dias/sem e ≥ 30 minutos por sessão

b) VIGOROSA: ≥ 3 dias/sem e ≥ 20 minutos por sessão + MODERADA e/ou


CAMINHADA: ≥ 5 dias/sem e ≥ 30 minutos por sessão.
2. ATIVO: aquele que cumpriu as recomendações de:

a) VIGOROSA: ≥ 3 dias/sem e ≥ 20 minutos por sessão; ou

b) MODERADA ou CAMINHADA: ≥ 5 dias/sem e ≥ 30 minutos por sessão;


ou

c) Qualquer atividade somada: ≥ 5 dias/sem e ≥ 150 minutos/sem (caminhada


+ moderada + vigorosa).
3. IRREGULARMENTE ATIVO: aquele que realiza atividade física porém
insuficiente para ser classificado como ativo pois não cumpre as recomendações
quanto à freqüência ou duração. Para realizar essa classificação soma-se a freqüência
e a duração dos diferentes tipos de atividades (caminhada + moderada + vigorosa).
Este grupo foi dividido em dois sub-grupos de acordo com o cumprimento ou não de
alguns dos critérios de recomendação:
IRREGULARMENTE ATIVO A: aquele que atinge pelo menos um dos critérios da
recomendação quanto à freqüência ou quanto à duração da atividade:
a) Freqüência: 5 dias /semana ou

b) Duração: 150 min / semana

IRREGULARMENTE ATIVO B: aquele que não atingiu nenhum dos critérios da


recomendação quanto à freqüência nem quanto à duração.
4. SEDENTÁRIO: aquele que não realizou nenhuma atividade física por pelo menos
10 minutos contínuos durante a semana.

659
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Exemplos:

Indivíduos Caminhada Moderada Vigorosa Classificação

F D F D F D

1 - - - - - - Sedentário

2 4 20 1 30 - - Irregularmente
Ativo A

3 3 30 - - - - Irregularmente
Ativo B

4 3 20 3 20 1 30 Ativo

5 5 45 - - - - Ativo

6 3 30 3 30 3 20 Muito Ativo

7 - - - - 5 30 Muito Ativo

F = Freqüência – D = Duração

CENTRO COORDENADOR DO IPAQ NO BRASIL– CELAFISCS -


INFORMAÇÕES ANÁLISE, CLASSIFICAÇÃO E COMPARAÇÃO DE
RESULTADOS NO BRASIL
Tel-Fax: – 011-42298980 ou 42299643. E-mail:
celafiscs@celafiscs.com.br Home Page:
www.celafiscs.com.br IPAQ Internacional:
www.ipaq.ki.se

660
VALERIA SANCHEZ

ANEXO D

Tabela de resultados das fases Aquisição, Retenção e Transferência


INSTR. INSTR. INSTR. INSTR. INSTR. INSTR. INSTR. INSTR. INSTR. INST INSTR
01 02 03 04 05 06 07 08 09 R. 10 . 11
M.D.
A.M D.Y E.S F.S F.M.M. F.P J.A J.L.C.J L.K.Y. M. S.N.R
AQ0
1 266 283 49 149 333 99 -234 99 183 233 166
AQ0
2 166 283 183 166 333 99 283 149 116 183 66
AQ0
3 216 249 266 133 299 83 266 116 99 249 183
AQ0
4 116 183 283 183 283 116 266 166 66 233 233
AQ0
5 166 199 183 183 199 166 316 199 83 233 83
AQ0
6 199 283 149 166 366 83 299 166 83 149 0
AQ0
7 183 316 149 183 299 66 266 133 149 233 -17
AQ0
8 183 233 249 166 333 99 266 133 166 199 149
AQ0
9 149 166 116 166 333 83 266 166 183 199 166
AQ1
0 149 66 183 149 333 116 299 183 149 199 233
AQ1
1 116 183 249 199 299 183 283 149 116 183 216
AQ1
2 183 116 183 166 299 66 266 149 99 233 266
AQ1
3 149 66 183 166 333 99 266 166 99 166 316

661
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

AQ1
4 83 66 249 183 349 66 233 133 133 183 216
AQ1
5 99 216 116 183 333 66 266 116 133 233 183
AQ1
6 33 99 116 166 299 116 216 49 99 166 216
AQ1
7 49 216 183 166 299 99 133 183 149 199 199
AQ1
8 83 166 166 149 299 83 199 133 166 216 216
AQ1
9 116 183 149 149 316 83 283 83 99 199 133
AQ2
0 16 149 116 133 316 49 233 166 83 266 166
AQ2
1 66 149 116 233 333 133 133 166 149 149 149
AQ2
2 133 66 183 166 249 66 133 166 99 149 266
AQ2
3 116 133 199 149 316 116 266 199 116 116 266
AQ2
4 -50 183 216 149 333 116 233 249 166 233 116
AQ2
5 183 183 199 199 266 99 249 149 149 166 233
AQ2
6 116 133 183 166 316 99 166 249 83 133 183
AQ2
7 183 283 99 149 316 83 183 249 83 183 149
AQ2
8 66 233 183 166 266 33 133 233 166 133 216
AQ2
9 149 216 199 383 316 66 149 166 133 216 49
AQ3 149 149 199 166 333 49 233 166 149 133 133

662
VALERIA SANCHEZ

0
R01 116 133 133 166 266 183 199 183 199 133 199
R02 33 149 116 166 349 99 266 249 99 133 216
R03 149 183 199 199 366 133 216 149 99 216 249
R04 166 99 199 183 333 99 249 149 99 133 183
R05 183 133 166 183 333 133 316 216 166 133 166
TR0
1 83 216 166 149 333 166 83 49 183 66 116
TR0
2 166 249 166 199 216 183 133 66 83 166 149
TR0
3 116 266 166 116 316 183 99 49 83 233 99
TR0
4 83 366 249 216 333 149 99 116 99 199 49
TR0
5 183 83 33 166 299 -17 83 183 33 133 249

663
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

ANEXO E

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Carlos Bandeira de Mello Monteiro, Professor Doutor do curso de


Ciências da Atividade Física da EACH-USP, realizo uma pesquisa intitulada de Realidade
Virtual em deficientes físicos: proposta de intervenção prática. Essa pesquisa tem como
objetivos: desenvolver e adaptar os jogos virtuais existentes às necessidades do deficiente
físico possibilitando sua participação e inclusão social.

Para tanto, gostaria que você participasse desta pesquisa, na qual me comprometo a
seguir a Resolução CNS 96/1996, relacionada à Pesquisa com Seres Humanos, respeitando
o seu direito de:

1- Ter liberdade de participar ou deixar de participar do estudo, sem que isso lhe traga
algum prejuízo ou risco,
2- Manter o seu nome em sigilo absoluto, sendo que o que disser não lhe resultará em
qualquer dano à sua integralidade,
3- Interromper a participação na pesquisa caso se sinta incomodado(a) com a mesma,
4- Responder as questões levantadas pelo pesquisador(a) caso seja solicitado(a) para
uma entrevista, onde será marcado um local na instituição, horário e data em que
possa se sentir mais confortável,
5- Garantia de receber uma resposta a alguma dúvida durante ou após a participação
na pesquisa.
Esclareço-lhe que ao participar dessa pesquisa, poderá correr risco mínimo de
escorregar durante as tarefas devido ao fato de exigir movimentos dos braços e pernas, por
isso sempre haverá duas pessoas responsáveis ao lado para ensinar as tarefas e garantir a
segurança.
Esclareço-lhe ainda que o tempo estimado de sua participação será de 30 minutos.

664
VALERIA SANCHEZ

A sua participação nesta pesquisa ajudará a responder várias perguntas sobre como
pessoas com deficiência conseguem ou não fazer algum movimento. Estes dados irão
ajudar vários familiares e deficientes a entender melhor as dificuldades de movimento.

Este Termo de Consentimento será emitido em duas vias, sendo que uma via ficará
em poder do pesquisador e a outra em poder do participante.

Deixo telefone para contato: (11) 99953.0716 – Dr. Carlos Bandeira de Mello
Monteiro e o endereço do CEP-EACH-USP no rodapé deste impresso, para que possa
obter mais esclarecimentos ou informações sobre o estudo e sua participação.

Grato (a) pela atenção

Assinatura do (a) pesquisador (a)

Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o


que me foi explicado, consinto em participar do presente Projeto de Pesquisa.

São Paulo, / / .

Assinatura do sujeito de pesquisa (ou responsável legal)

Identificação do CEP-EACH-USP: Endereço: Av. Arlindo Bétio, 1000 – Ermelino


Matarazzo – CEP: : 03828-00005508-000 – São Paulo – SP - Telefone: 3091-1046 - e-
mail: cep-each@.usp.br

665
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

18. Os seis sons terapêuticos do QI GONG


como promoção e da saúde

Vera Cristina Comar

666
VERA COMAR

“Quem respira apressado não dura. Quem alarga os


passos não caminha.”

(LAO TSE, Tao Te Ching, cap. 24)

667
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

RESUMO

A vida moderna proporciona muitos benefícios, mas também exige muito dos cidadãos.
Atualmente pode-se dizer que quase todas as pessoas têm que lidar com algum tipo de
estresse, fato que tem sido apontado pelos profissionais da saúde como fator principal para um
grande número de doenças. A forma taoísta de lidar com o estresse mostra-se de grande
auxílio nesses tempos modernos, pois apresenta opções de práticas já utilizadas desde a
antiguidade. Dentre elas, pode-se mencionar o Qi Gong. Diversos estudos científicos sobre a
eficácia da prática do Qi Gong na saúde têm sido realizados ultimamente. O objetivo deste
trabalho é apresentar e divulgar uma das variações do Qi Gong, conhecida como seis sons de
cura, cuja técnica apresenta-se de fácil execução e muito valiosa na prevenção e manutenção
da saúde. Apesar de seu grande valor para a prevenção e promoção da saúde, sua prática é
pouco divulgada e, além disso, há muitas informações conflitantes nos materiais disponíveis
atualmente, o que será abordado oportunamente durante o decorrer deste material. Por ser um
tema pouco explorado, as diferenças encontradas na literatura atual podem confundir o leitor e
levá-lo a desistir de uma prática que se apresenta muito benéfica. Desta forma, neste trabalho,
foram abordados os diferentes sons e práticas difundidos para que o leitor possa tirar suas
próprias conclusões e fazer suas próprias escolhas de acordo com aquelas que mais se
identificar.

Palavras-chave: Seis sons de Cura. Seis Sons Terapêuticos. Seis sons Taoístas. Sorriso
Interno. Qi Gong. Chi Kung. Tai Chi Chuan. Meditação. Relaxamento.

668
VERA COMAR

ABSTRACT

Modern life offers many benefits, but it is also very demanding. It is said that nowadays
almost everyone has to deal with some kind of stress, that has been indicated by health
professionals as the main fact of a great number of diseases. The taoist way do deal with
stress has been of great value in modern times, once it offers options of physical practices
which have been adopted for ages. Among them, there is one called Qi Gong. Several
scientific studies about Qi Gong practices in health have been developed lately. This work has
the intention to present and make well known one of many Qi Gong variations known as six
healing sounds, which procedure seems to be easily adopted and very valuable to aid and
maintain health. Despite its great value for health aid and maintenance, its practice is not well
known and, besides this, there is a lot of conflicting information on the literature currently
disclosed, which subject will be addressed in the course of this work. As a vaguely explored
theme, the differences found in present literature may be confusing, causing the reader to
abandon a very beneficial practice. As a result, this work is about the different sounds of this
technique so that the reader can come to his own conclusions and make his own choices
according to those he prefers the most.

Keywords: Six Healing Sounds, Six Word Formula, Six Sillable Secret, Six Basic Soundless
Sound for Health, Inner Smile, Meditation, Relaxation, Qi Gong, Chi Kung, Tai Chi Chuan.

669
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

LISTA DE SÍMBOLOS

气 Qi, Ki ou Chi

功 Gong, Kung ou Kong

Sī (呬) Som do Pulmão

Chuī (吹) Som do Rim

Xū (嘘) Som do Fígado

Hē (呵) Som do Coração

Hū (呼) Som do Baço Pâncreas

Xī (嘻) Som do Triplo Aquecedor

670
VERA COMAR

INTRODUÇÃO

Os chineses são conhecidos por sua ampla bagagem histórica e cultural, e também
pela constante busca por melhores condições de saúde e crescimento espiritual.
Além da preocupação com a qualidade de vida, a ênfase no desenvolvimento da vida
espiritual é um dos diferenciais entre a cultura oriental e ocidental. E, para a medicina chinesa,
o desequilíbrio entre corpo, mente e espírito é causa de inúmeras doenças.
Desta forma, esse povo milenar desenvolveu inúmeras técnicas para auxiliar no cultivo
da energia, e uma delas, a qual será abordada neste trabalho é conhecida como Qi Gong.
Qi Gong, cujas diversas variações na escrita podem englobar Qi, Ki ou Chi e Gong,
Kung, Ko ou Kun, é um termo de origem chinesa que significa trabalho ou exercício de
cultivo da energia. É uma prática corporal, considerada um capítulo da medicina chinesa cuja
função principal é a harmonização do sistema nervoso central através do livre fluxo de
energia vital, ou Qi, no corpo.
Pesquisas pioneiras, efetuadas na década de 1970, comprovaram seus efeitos benéficos
para a saúde do ser humano em geral. Métodos científicos ocidentais utilizados em pesquisas
feitas no Instituto de Qi Gong e Medicina Chinesa de Shanghai puderam comprovar a
existência do Qi, o qual pôde ser medido por sensores infravermelhos e cujos resultados
foram debatidos entre a comunidade científica internacional. Assim, pode-se afirmar que a
prática do Qi Gong traz muitos benefícios à saúde e o acesso à informação de uma prática de
execução simples e rápida parece ser de vital importância no auxílio à prevenção e
manutenção da saúde nos dias atuais.
O Qi Gong engloba diversas técnicas que foram desenvolvidas separadamente em
vários locais da China e, dentre essas muitas variações, há uma conhecida como “seis sons
terapêuticos” ou “seis sons de cura”, uma técnica muito valiosa e de fácil execução. Muitas
técnicas requerem meses e anos de prática antes de apresentar qualquer resultado, Felizmente,
não é o caso dos Seis Sons de Cura, cujos resultados podem ser percebidos desde as primeiras
práticas.
Uma vez que o Qi Gong oferece tantos benefícios, surgiu a intenção de divulgar essa
pequena parte de um dos vários tipos de Qi Gong existentes, através da pesquisa, compilação
e divulgação de documentos já publicados sobre este tema.
Apesar de bastante popular no oriente, este conhecimento é relativamente novo para a
ciência ocidental, desta forma, espero que este trabalho seja um incentivador para novas

671
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

pesquisas neste campo, as quais venham validar e elucidar as inúmeras dúvidas que se
apresentam para o bom entendimento do leitor ocidental.
Este trabalho se inicia com a abordagem sobre o Qi Gong, sua nomenclatura, origens,
técnicas, benefícios, segue com uma ideia geral sobre a respiração e o som e se aprofunda em
uma de suas vertentes, os Seis Sons de Cura, técnica pouco divulgada atualmente e com
diferentes interpretações em relação aos sons utilizados. A ideia aqui foi a divulgação de um
conhecimento milenar feito através de pesquisa bibliográfica e compilação dos elementos
essenciais visando possibilitar uma visão ampla sobre o assunto. Ao final, pôde ser verificado
que, apesar da controvérsia em relação a alguns sons emitidos na prática, todos eles são
benéficos e permitem a promoção da saúde para aqueles que o praticam.

672
VERA COMAR

14

QI GONG

Qi (Chi ou Ki) é a energia vital ou força natural que permite a existência do universo.

É representado pelo ideograma 气.


Para os chineses, deve-se considerar três tipos de Qi principais: o Qi do céu, o Qi da
terra e o Qi individual.
O Qi do céu é manifestado através do sol, da lua e da influência que esta exerce sobre
as marés. O Qi da terra que é influenciado e controlado pelo Qi do céu e é formado por
padrões de energia, campo magnético e calor contido no seu interior. Essas energias, quando
em equilíbrio, permitem o crescimento e desenvolvimentos das espécies, e demonstram seu
desequilíbrio através de inundações, secas e desastres naturais. O Qi individual está inserido
no Qi da terra. Pessoas, animais e plantas têm seu próprio campo de energia que é vital para
sua existência. Seu desequilíbrio traz doença, morte e decomposição.
Como se pode notar, a palavra Qi vai além da definição geral que se refere à energia
circulante no corpo humano. Ela representa a energia em si e também a sua forma de
expressão. Esse entendimento se faz necessário quando se pratica o Qi Gong, pois permite um
amplo entendimento e desenvolvimento desta arte.
Gong (Kung, Kun ou Ko) é a realização ou habilidade cultivada através da prática. Seu

ideograma é representado por este símbolo 功.


Portanto, a definição correta de Qi Gong é qualquer treinamento ou estudo do Qi e que
demanda tempo e esforço. É a arte de cultivar a energia vital, a qual os chineses chamam de
Qi. É a ciência de cuidado com a saúde e manutenção da energia que vem sendo praticada na
China há milênios.
Uma pesquisa que ultrapassa os cinco mil anos permitiu que os chineses percebessem
que o Qi Gong é uma forma de melhorar a saúde e, mais importante, de trazer paz e equilíbrio
mental e espiritual àqueles que o praticam.
Quando o Budismo indiano foi introduzido na China, influenciou profundamente sua
cultura e o Qi Gong sofreu grande influência das práticas meditativas Budistas.
Os praticantes de Qi Gong acreditam que a verdadeira saúde só é alcançada quando há
um equilíbrio entre exercícios físicos e mentais, e esta combinação está inserida nos
exercícios de Qi Gong e na prática da meditação.

673
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

História do Qi Gong

Não há um indivíduo que possa ser considerado o criador do Qi Gong, essa técnica
milenar foi obtida através do resultado de milhares de anos de experiência dos chineses na
tentativa de equilibrar a energia para tratar doenças, promover saúde, expandir a mente,
desenvolver a espiritualidade e expandir a consciência.
Até recentemente, a prática de Qi Gong era mantida em segredo, inicialmente era
reservada somente para a família imperial e aristocracia chinesa, apenas alguns poucos
exercícios relacionados à saúde é que chegavam até o conhecimento do público em geral, fato
este que tem mudado nas últimas décadas e tornado possível o acesso a essa prática milenar
através de publicações e ensinamentos práticos divulgados através do mundo.
Grosso modo, pode-se dividir a história do Qi Gong em quatro períodos, descritos a
seguir.
O primeiro período compreende um tempo anterior a 1122 a.C e que se prolonga até a
dinastia Han, em aproximadamente 206 a.C . Deste período pouco se sabe, além do
conhecimento de que foi nesta época que o budismo e as práticas meditativas estavam sendo
levados à China provenientes da Índia, e é esta junção cultural que leva o Qi Gong ao
próximo período.
O segundo período, derivado do primeiro e conhecido como Qi Gong religioso,
adotava as práticas de relaxamento e meditação e durou até a dinastia Liang, 502 – 557 d.C,
quando o Qi Gong começou a ser utilizado para fins marciais.
Foi no terceiro período que diversos estilos de Qi Gong marciais foram criados, todos
baseados nos princípios do Qi Gong Taoísta e Budista, e durou até a queda da dinastia Qing,
em 1911.
Pode-se considerar o quarto período, a partir de 1911, uma época em que o Qi Gong
chinês foi sendo mesclado com práticas provenientes da Índia, Japão e outros países.

Categorias de Qi Gong

Como o Qi Gong trabalha com o campo energético do corpo, está diretamente


relacionado aos aspectos físico, emocional ou energético, mental e espiritual de uma pessoa.
Fisicamente, através do fortalecimento do corpo, energeticamente pelo livre fluxo do Qi, ao

674
VERA COMAR

neutralizar a mente alcança-se o equilíbrio mental e finalmente, após todos esses passos
trabalhados em conjunto, percebe-se o desenvolvimento espiritual.
Há quatro categorias diferenciadas de Qi Gong de acordo com o objetivo que se deseja.
Qi Gong filosófico para manutenção da saúde, em que a ênfase se dá no trabalho
mental e espiritual.
Qi Gong médico, ou terapêutico, para a cura, focado nos exercícios meditativos em
movimento.
Qi Gong marcial para lutas cujo objetivo é aumentar as habilidades de luta.
Qi Gong religioso, voltado para as questões religiosas e desenvolvimento espiritual.

Elixir interno e externo: Nei Dan e Wai Dan

De forma geral, qualquer categoria de Qi Gong, respeitando-se sua teoria e prática,


pode ser agrupada em duas subdivisões, elixir externo (Wai Dan) e elixir interno (Nei Dan).
A prática focada no elixir externo ou Wai Dan concentra a atenção nos membros.
O corpo humano possui doze canais principais de energia, conhecidos na Medicina
Tradicional Chinesa como meridianos, seis deles são conectados com os dedos das mãos e os
outros seis aos dedos dos pés, e todos conectados aos órgãos internos. Há também oito outros
canais que servem de reservatório e regulam o Qi desses meridianos, são responsáveis pelo
transporte da energia dos canais maiores para toda parte do corpo humano. Quando a energia
se acumula em algum desses canais o órgão relacionado a ele recebe uma quantidade indevida
de Qi e passa a não funcionar corretamente. A ideia baseada no elixir externo é manter o fluxo
equilibrado de energia para todos os órgãos.
Ao praticar o Wai Dan (elixir externo), a atenção se concentra nos membros, o Qi
aumenta e torna possível o envio da energia de forma a possibilitar a desobstrução de
qualquer canal que porventura possua energia estagnada.
Em contrapartida, a prática do Nei Dan ou elixir interno foca a atenção no interior do
corpo e, a partir daí, move a energia para os membros. Para que o transporte do Qi ocorra
satisfatoriamente é necessário que os reservatórios possuam energia suficiente e é este o
propósito do Nei Dan, completar o nível de energia nesses reservatórios.

675
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Métodos Passivos e Ativos

As categorias de elixir externo e interno podem, por sua vez, ser divididas em métodos
passivos (Jing Gong) e ativos (Dong Gong).
Os métodos passivos são práticas meditativas que dão ênfase na quietude, na
consciência dos movimentos internos e no transporte do Qi pelo corpo. Pode ser praticado
sentado ou em pé e normalmente são característicos do elixir interno, embora não
exclusivamente.
Os métodos ativos enfatizam o movimento lento, com ou sem métodos de respiração
específicos. Pode servir de veículo tanto para a prática do elixir interno quanto o externo.

676
VERA COMAR

RESPIRAÇÃO

A função da respiração é essencial à manutenção da vida. Basicamente, é um processo


de troca de gases entre as células do organismo e a atmosfera, através do qual inala-se
oxigênio e remove-se dióxido de carbono do corpo humano.
A respiração é um aspecto muito trabalhado na cultura oriental. É utilizada para
aumentar a vitalidade, focar a mente, alterar estados mentais e emocionais, aumentar a força
dos golpes e muito mais.
Existem inúmeras técnicas de respiração ensinadas através de livros variados
relacionados cada qual a uma prática espiritual ou técnica específica.
O taoísmo relaciona o tempo de vida com uma certa quantidade de respirações, o que
significa que quanto melhor for o trabalho respiratório maior será o prolongamento de vida.
O objetivo da respiração taoísta é cultivar a capacidade natural e espontânea para
atingir níveis profundos de respiração natural.
Ao respirar profunda e suavemente há uma maior captação de oxigênio e maior
expiração de gás carbônico e energias impuras. O diafragma ficará mais conservado, sem
tensão e sem retenção de energias do corpo emocional. Por isso, segundo os taoístas, ao
respirar desta forma, naturalmente haverá maior saúde física, energética, mental e espiritual.
A prática dos exercícios de Qi Gong – Seis Sons de Cura são, em essência, técnicas de
respiração que permitem aos órgãos internos que se abram e aprendam a respirar. A
respiração não está limitada aos pulmões, outros órgãos como fígado, baço, rins, etc respiram
de uma forma sutil que é percebida através da pulsação regular e cadenciada que acontece de
forma física e energética.
Além da respiração, a emissão do som é um item de suma importância para a boa
prática desse tipo de Qi Gong, sendo assim, o próximo capítulo é dedicado a esse tema.

677
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

SOM

O som é parte da vida, ele está presente no dia-a-dia, seu efeito é sentido na música,
nos barulhos cotidianos como buzinas de automóveis, palavras amorosas, gritos de raiva e
mesmo dentro de cada ser humano, ao ouvir os batimentos do coração.
Toda energia produz uma vibração e esta, por sua vez, produz um som. Essa
afirmação fica evidenciada através de um estudo denominado Cimática.

Cimática – som visível

Cimática é o ramo da ciência que estuda o som através dos padrões e formas que ele
produz sobre o meio: o som visível. O termo cimática foi criado pelo cientista suíço Hans
Jenny e deriva do grego kyma (onda) e kymatika (assuntos referentes a ondas).
Mas, antes mesmo dele criar esse termo, outros estudiosos já haviam se atentado para
o tema.
Em 1787, o físico e músico alemão Ernst Chladni observou o efeito da passagem de
um arco de violino sobre areia em uma chapa metálica. O que ele viria a descobrir mudaria a
forma como a humanidade entende o som e a matéria. Chladni notou que conforme
tencionava ou relaxava as fibras de seu arco, um padrão geométrico diferente se formava na
chapa.
E só quase duzentos anos depois, que Hans Jenny deu continuidade aos estudos de
Chladni fazendo uso de geradores de frequência controlada e amplificadores elétricos e
explicando os fenômenos osbervados por Chladni.
Padrões geométricos eram produzidos tornando-se mais complexos conforme o
aumento da frequência. Assim, Jenny explica que diferentes ondas sonoras interagem
diferentemente com os materiais, gerando nas chapas metálicas regiões de intensa vibração,
de onde os grãos de areia se distanciam, e regiões mais estáveis, onde os grãos se acumulam.
Desta forma, cada frequência altera essas regiões no material, formando um padrão
geométrico específico para a areia sobre a chapa.

Sons como auxiliares de cura

Em momentos de estresse ou doença é comum a emissão de sons espontâneos que


parecem auxiliar a curar a mágoa e diminuir a dor.

678
VERA COMAR

Diante da vida moderna, a arte de entoar sons e cânticos de cura começou a ser
deixada de lado. Por sorte, duas práticas ainda são divulgadas no mundo contemporâneo, os
mantras do ioga e os seis sons de cura da alquimia taoísta. São duas vertentes de uma mesma
fonte, cada qual com seus próprios ensinamentos acerca da relação entre os órgãos e os sons.
Certas frequências de som têm efeitos reais sobre a saúde e o nosso estado emocional
e de espírito e os taoístas, como exímios observadores da natureza, já conheciam essa ligação
entre os sons e a cura. Muitos falam sobre o poder dos mantras tibetanos, mas um número
menor de pessoas conhece os efeitos da prática dos seis sons de cura.
O mantra universal do ioga, AUM, consiste em três sons que correspondem ao corpo
físico (A), à alma (U) e ao espírito (M).
Já os seis sons de cura abrangem os efeitos terapêuticos e físicos dos sons sobre
órgãos específicos.

679
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

SEIS SONS DE CURA

Os seis sons de cura são uma antiga prática de respiração de Qi Gong, que engloba
emissão de som, intenção e movimento.
Os relatos mais antigos desta técnica de respiração referem-se ao período da Dinastia
do Norte e do Sul e foram escritos pelo doutor em Medicina Tradicional Chinesa, alquimista e
astrólogo Tao Hangjing, que viveu de 456 a 536 d.C. no seu tratado “Caring for the Health of
the Mind and Prolonging the Life Span”.
Através dos séculos, os seis sons terapêuticos sofreram diversas modificações por
vários doutores e especialistas em Medicina Tradicional Chinesa, taoístas, monges e devotos
chineses como Sun Simiao, conhecido como o Rei da Medicina Chinesa, e Zhiyi, fundador da
escola de Budismo Tian Tai. Entretanto, devido à falta de padrões na transcrição dos sons dos
caracteres chineses no passado, houve muita confusão quanto à pronúncia desses sons.
Devido a essa discrepância, a Administração Chinesa de Esporte da China buscou os registros
existentes dos seis sons terapêuticos, estudou, comparou e compilou as diferenças com o
auxílio de linguistas chineses especialistas no assunto.
Em 2003, uma versão revisada dos seis sons terapêuticos foi disponibilizada no livro
Liu Zi Jue: Chinese Health Qi Gong, cujo estudo faz parte da comparação dos sons descritos
neste trabalho, que incluem a consulta a outros autores como Daniel Reid, Stuart Alve Olson,
Hua-Ching Ni, Deborah Davis, Dantao Center of New York, Kenneth S. Cohen e Mantak
Chia, sendo este último um dos mais divulgados atualmente.
Conforme já dito, a literatura histórica sobre os Seis Sons de Cura é bastante extensa,
aqui estão incluídos apenas parte do que possivelmente pode ser encontrado em um estudo
mais aprofundado.

Como funcionam os seis sons de cura

Esta prática que se utiliza de sons específicos é feita aplicando-se diferentes


modulações de exalação de som pela boca com a finalidade de limpar e estimular os órgãos
vitais.
Cada uma das sílabas usadas na exalação estabelece a vibração energética precisa que
cada órgão requer para acessar um Meridiano da Medicina Tradicional Chinesa, expelir a
energia estagnada, receber energia nova e restaurar o equilíbrio energético.

680
VERA COMAR

Os três principais efeitos terapêuticos dos sons de cura são harmonizar os órgãos, abrir
a garganta e aumentar o fluxo de oxigênio para as células, aumentando assim o fluxo de Qi.
É um método que combina respiração, som e movimento com o intuito de regular o Qi
interno e manter a energia vital.
Nesta prática fundamentada no Taoísmo, os movimentos são leves, lentos e
executados de forma cadenciada e com plena atenção mental, por esse motivo é recomendado
a todas as pessoas, incluindo os idosos.
Esta técnica está diretamente relacionada à teoria dos Cinco Elementos ou Cinco
Movimentos da Medicina Tradicional Chinesa, que está descrita a seguir.

Teoria dos Cinco Elementos da Medicina Tradicional Chinesa

Juntamente com a teoria do yin e yang, a teoria dos cinco elementos ou cinco
movimentos é um dos dois pilares da medicina oriental.
A abordagem resumida do assunto mostra que os cinco movimentos fazem referência
aos cinco elementos da natureza que, por sua vez, fazem correspondência com os doze
meridianos principais que servem de base para os tratamentos da Medicina Chinesa.
Cada um desses meridianos tem sua própria trajetória e são relacionados a certos
órgãos e vísceras do corpo humano devido exercerem funções semelhantes a estes. Sendo
assim, há o Meridiano do Pulmão e do Intestino Grosso, do Rim e da Bexiga, do Fígado e da
Vesícula Biliar, do Coração e do Intestino Delgado, do Baço Pâncreas e do Estômago e
também do Triplo Aquecedor e Pericárdio, vale mencionar que esses dois últimos não se
referem a nenhum órgão específico, são considerados corpos de energia.
A influência desses elementos sobre os órgãos correspondentes e sua correlação é o
principal fator para a manutenção de uma boa saúde.

“In spring, the trees are clad in dazzling green - (wood).


In summer, blazing sunshine lights the scene - (fire).
While melancholy autumns tints are gold - (metal).
And streams are frozen hard by winters cold - (water).
Through all the seasons. earth remains serene - (earth).”
(BLOFELD, 2000, pg. 191).

681
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 1- Ciclo dos Cinco Elementos


Fonte: Tao Holístico (2016)

Cada órgão possui um som que se associa e ressoa com ele e cada som cria pressões e
vibrações internas diferentes através da inalação e exalação do ar. Ao praticar o som
equivalente a determinado órgão, é possível expelir a energia estagnada, limpar o meridiano e
possibilitar a entrada de uma energia renovada.
A prática da emissão de sons pode ser acrescida de movimentos físicos que servem
para auxiliar na abertura e acesso aos espaços de ressonância dos órgãos em questão.
Em outras palavras, ao praticar os seis sons terapêuticos, os órgãos internos recebem
uma massagem que auxilia no seu bom funcionamento.
Como o intuito desta prática é a transformação de emoções negativas em positivas,
deve-se imaginar a seguinte associação durante a execução:
Pulmão: tristeza é transformada em desapego e satisfação
Rins: medo é transformado em coragem e sabedoria
Fígado: raiva é transformada em gentileza e equilíbrio
Coração: euforia é transformada em alegria e paciência.
Baço-Pâncreas: preocupação é transformada serenidade.
Triplo Aquecedor: esgotamento é transformado em vitalidade.
Cada órgão possui uma multiplicidade de associações, como emoções, vísceras
correspondentes, cores, elementos, etc. alguns dos quais estão identificados nas tabelas a
seguir.

682
VERA COMAR

BAÇO TRIPLO
ÓRGÃOS PULMÃO RINS FÍGADO CORAÇÃO
PÂNCREAS AQUECEDOR
Intestino Vesícula Intestino
VÍSCERAS Bexiga Estômago Pericárdio
Grosso Biliar Delgado
Preto ou
COR Branco Azul Verde Vermelho Amarelo Vermelho
Escuro

ELEMENTO Metal Água Madeira Fogo Terra Fogo

ESTAÇÃO Outono Inverno Primavera Verão Canícula Verão

EMOÇÃO Desapego Coragem Gentileza Alegria


Serenidade Vitalidade
POSITIVA Satisfação Sabedoria Equilíbrio Paciência
EMOÇÃO Tristeza
Medo Raiva Euforia Preocupação Esgotamento
NEGATIVA Pesar

SENTIDO Olfato Audição Visão Paladar Tato x

CHOOO HAAWW
SSSS SHHH WHOOO
TCHRUIII RRÃÃ
SIIÁÁÁ XU RRUUU Xī (嘻)
CHU HO
SONS XI SHOOO FU HHEEE
CHWAY KHE
SHHHH SHU HHOOO HHIII
FOOO HAAA
ZZZZ HSÚ HU
FU HER

Tabela 1 - Associações dos Cinco Elementos. Fonte: autora

A Prática dos Seis Sons de Cura

Ao iniciar a prática de Qi Gong, várias sensações passam a ser observadas, sensações


estas que diferem de indivíduo para indivíduo. Algumas experiências vão de suor,
aquecimento ou resfriamento do corpo até tonturas e gases. Estas sensações são consideradas
normais dentro das práticas energéticas em iniciantes. Quanto mais se pratica, mais rápido
essas sensações se amenizam.

683
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Experiências de dores e incômodos fortes podem sugerir a execução errada dos


exercícios, desta forma é aconselhável que se tenha o acompanhamento de algum professor ou
mestre devidamente habilitado.
Os exercícios devem ser executados de forma lenta e suave, são fáceis de aprender e
podem ser praticados por pessoas de todas as idades e condições de saúde.
Ao executá-los, absorva o ar inspirado dirigindo-o intencionalmente à região ou órgão
equivalente e ao expirar exale as toxinas e emoções negativas que porventura estejam
presentes.
Sugere-se que a prática seja diária e cada exercício repetido ao menos três vezes.

A respiração na pratica dos Seis Sons

A inalação deve ser feita através do nariz e o ar direcionado ao baixo abdômen.


Expandir o abdômen na inalação e e contraí-lo na exalação para que todo o ar saia do corpo.
A exalação deve ser mais longa que a inalação e o som exalado deve sair do abdômen e não
da garganta.
Embora haja apenas uma maneira de inalação, há seis diferentes formas de exalação
com seis sons divergentes. Após a inalação e a exalação dos sons, deve-se respirar
normalmente algumas vezes antes de fazer o próximo som ou exercício.
Apesar de haver vários instrutores desta arte milenar, são encontradas algumas
diferenças no som, que diverge de mestre para mestre.
Como citado no início do capítulo 5 (cinco), as modificações e diferentes
interpretações dos sons terapêuticos contribuíram para que uma série de pronúncias fosse
relacionada a um mesmo órgão e víscera.
Algumas dessas diferentes opções são mostradas na tabela a seguir.

684
VERA COMAR

BAÇO TRIPLO
ÓRGÃOS PULMÃO RINS FÍGADO CORAÇÃO
PÂNCREAS AQUECEDOR
Intestino Vesícula Intestino
VÍSCERAS Bexiga Estômago Pericárdio
Grosso Biliar Delgado
Liu Zi Jue Sī (呬) Chuī (吹) Xū (嘘) Hē (呵) Hū (呼) Xī (嘻)

Mantak Chia SSSSSSSS CHOOO SHHHHHH HAWWW WHOOOOO, HEEEEEEE

Cohen SSII ÁÁÁ, TCHRR- SHHHH, RRÂÂÂ RRUUU HOOO


pronunciar a UUII deixar a Pronunciar pronunciar
tônica no Á boca em deixando o ar como som
formato de sair pela boca soprado, sem
U usar a garganta
Dantao XI CHU XU HO FU HEY

Davis SHHH CHWAY SHOO KHE HOO (como SSSSSSS


(como (sussurrado (mesmo quando se
quando se ) som do assopra uma
diz para metal, mas vela)
alguém com os
fazer lábios
silêncio) redondos)
Olson SSS FOO SHOO HAA HOO SHEE

Ni SZZ FU SHU HO HU SHI (refere-se


mais à vesicular
que ao triplo
aquecedor)
Reid SSS CHWAY HSÜ HER (não HOO (com os SHEE
pronunciar o lábios
“r” final) redondos)
Tabela 2 - Sons dos Cinco Elementos. Fonte: autora

Postura Inicial

Sentar-se confortavelmente na beirada de uma cadeira, mantendo a coluna ereta, os


ombros relaxados e os pés apoiados no chão, com as pernas levemente afastadas na largura
dos quadris. Manter os olhos abertos, apoiar as mãos sobre as pernas, com as palmas viradas

685
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

para cima. Tocar o céu da boca com a ponta da língua, respirar lenta e naturalmente, somente
pelo nariz, a não ser no momento de pronunciar o som.
A concentração deve ser feita na respiração, sem se preocupar com o ritmo ou
intensidade desta, respirar com naturalidade. Diante de ocorrência de pensamentos e emoções,
que certamente aparecerão, manter o foco na respiração, desta forma eles se dissiparão.
Atentar-se ao som da respiração, sem procurar alterá-lo, apenas escutar. Conforme a
calma se instalar o som diminuirá.

Figura 2 - Postura Inicial


(Fonte: CHIA, 2011)

686
VERA COMAR

Postura do Pulmão e Intestino Grosso – Elemento Metal

PULMÃO

VÍSCERAS Intestino Grosso

COR Branco

ELEMENTO Metal

ESTAÇÃO Outono

EMOÇÃO POSITIVA Desapego/ Satisfação

EMOÇÃO NEGATIVA Tristeza/ Pesar

SENTIDO Olfato

Dentes entreabertos
BOCA
Cantos da boca para trás.

Sī (呬 )
SSSS
SONS SIIÁÁÁ
XI
SHHHH
ZZZZ

Tabela 3 - Pulmão e suas associações. Fonte: autora

Este som trabalha o Movimento Metal, representado no corpo humano pelo Pulmão e
Intestino Grosso.
Ao exalar, soprar o som correspondente a esse elemento, lentamente.
Opções de sons: Sī (呬), SSSS, SIIÁÁÁ, XI, SHHHH ou ZZZZ
Manter o foco nos pulmões, inspirar lenta e profundamente enquanto ergue-se os
braços para a frente, acompanhar com os olhos. Os braços devem estar arredondados como se
houvesse uma bola entre eles. Quando as mãos estiverem na algura dos olhos, girar as palmas

687
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

para cima e continuar a elevação dos braços acima da cabeça. Manter os cotovelos
flexionados. Os pulmões e o peito ficarão mais abertos, facilitando a respiração.
Sentir a respiração expandindo tórax.
Deixar a boca e dentes suavemente entreabertos para que o som Siiiii saia como um
sopro suave e sutil. Ao mesmo tempo tentar visualizar os pulmões expelindo emoções como
tristeza e angústia assim como sintomas como asma.
Ao exalar, abaixar lentamente os braços e e terminar o movimento com as palmas das
mãos viradas para cima e apoiadas sobre as coxas. Fechar os olhos e inpirar lentamente
visualizando uma nuvem branca preenchendo os pulmões. Visualizar o ar que os preenche e
sorrir. Perceber-se preenchido por esse novo ar.
Repetir o ciclo quantas vezes desejar, com um pequeno intervalo de descanso entre
cada repetição.

Figura 3 - Execução Movimento Pulmão


(Fonte: CHIA, 2011)

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VERA COMAR

Figura 4 - Posição da Boca no Movimento Pulmão


(Fonte: CHIA, 2011)

Postura do Rim e Bexiga – Elemento Água

RINS

VÍSCERAS Bexiga

COR Preto ou Azul Escuro

ELEMENTO Água

ESTAÇÃO Inverno

EMOÇÃO POSITIVA Coragem/ Sabedoria

EMOÇÃO NEGATIVA Medo

SENTIDO Audição

Arredondar os lábios
BOCA
Som de Soprar uma vela

Chuī (吹 )
CHOOO
TCHRUIII
SONS CHU
CHWAY
FOOO
FU

689
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Tabela 4 - Rim e suas associações. Fonte: autora

Seguindo o ciclo de geração dos Wu Hsing, ou cinco movimentos, o próximo passo


desta prática é com o Movimento Água, representado no corpo humano pelos Rins e Bexiga.
A cor deste Movimento é o Preto, podendo também ser usado o Azul bem escuro. A
emoção associada é o medo. Esse exercício é indicado para regularizar a energia renal, expelir
toxinas, aliviar dores na região lombar, melhorar a fadiga.
Sons associados: Chuī (吹), CHOOO, TCHRUIII, CHU, CHWAY, FOOO, FU,
exalado com os lábios arredondados, saindo parecido com leves ondas do mar chegando na
beira da praia.
Sentar com as pernas unidas, tornozelos encostados e joelhos aproximados. Ao
inspirar envolver os joelhos com os braços, unindo as mãos uma sobre a outra e puxar para
trás. As costas ficarão levemente curvadas e a cabeça colocada de modo que o olhar fixe um
ponto em frente.
Ao exalar, usar os músculos do abdomen, levando o umbigo em direção às costas.
Exalar soprando o som que se faz ao apagar uma vela. CHUIII/ Woo e visualizar os rins
eliminando toxinas, o excesso de calor, a umidade e o medo.
Após exalar, voltar lentamente à posição ereta, visualizar os rins envolvidos por uma
luz azul brilhante e sentir coragem e confiança. Afastar as pernas na largura dos quadris,
relaxar, apoiar as mãos nas coxar com as palmas para cima e sorrir para os rins.
Repetir esse exercicio de 2 a 4 vezes. Evitar fazê-lo ao sentir-se muito exausto, com a
pressão alta ou com problemas cardíacos.

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VERA COMAR

Figura 5 - Posição Inicial do Movimento Rim


(Fonte: CHIA, 2011)

691
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 6 - Posição das mãos no movimento Rim


(Fonte: CHIA, 2011)

Figura 7 - Execução Movimento Rim


(Fonte: CHIA, 2011)

Figura 8 - Posição da Boca no Movimento Rim


(Fonte: CHIA, 2011)

692
VERA COMAR

Postura do Fígado e Vesícula Biliar – Elemento Madeira

FÍGADO

VÍSCERAS Vesícula Biliar

COR Verde

ELEMENTO Madeira

ESTAÇÃO Primavera

EMOÇÃO POSITIVA Gentileza Equilíbrio

EMOÇÃO NEGATIVA Raiva

SENTIDO Visão

BOCA Formato de U

Xū (嘘 )
SHHH
SONS XU
SHOOO
SHU
HSÚ

Tabela 5 - Fígado e suas associações. Fonte: autora

Prosseguindo no Qi Gong dos Seis Sons de Cura, após o Movimento Água tem-se o
Movimento Madeira. Ligado à Primavera e ao Figado, à cor verde.
Sons associados: Xū (嘘), SHHH, XU, SHOOO, SHU, HSÚ
Praticá-lo quando houver intenção de desintoxicar, eliminar a raiva em alguma
situação, acalmar olhos vermelhos, refrescar a cabeça.

693
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Sentado em uma cadeira, iniciar a concentração no figado, que se localizar do


lado superior direito de seu abdomen, logo abaixo das costelas. Inspirar, elevar os braços, com
as palmas das mãos entrelaçadas e voltadas para cima até a altura da cabeça.
Lentamente descer os braços até a altura da “boca do estomago” enquanto dobra
ligeiramente o tronco, apoiar-se no lado direito, expirando e soprando o som referente,
enquanto imagina o figado sendo limpo de todas as impurezas e toda a raiva.
Relaxar e soltar os braços, apoiar as mãos sobre as coxas, com as palmas voltadas para
cima, visualizar o figado envolto por uma suave névoa verde.

Figura 9 - Posição Inicial Movimento Fígado


(Fonte: CHIA, 2011)

Figura 10 - Execução Movimento Fígado


(Fonte: CHIA, 2011)

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VERA COMAR

Figura 11 - Braços no Movimento Fígado


(Fonte: CHIA, 2011)

Figura 12 - Boca no Movimento Fígado


(Fonte: CHIA, 2011)

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COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Postura do Coração e Intestino Delgado – Elemento Fogo

CORAÇÃO

VÍSCERAS Intestino Delgado

COR Vermelho

ELEMENTO Fogo

ESTAÇÃO Verão

EMOÇÃO POSITIVA Alegria Paciência

EMOÇÃO NEGATIVA Euforia

SENTIDO Paladar

Lábios entreabertos
BOCA
Soltar o som de dentro do peito

Hē (呵 )
HAAWW
RRÃÃ
SONS HO
KHE
HAAA
HER

Tabela 6 - Coração e suas associações. Fonte: autora

Na continuação do Qi Gong dos Seis Sons Curativos, seguindo a sequência de geração


dos Wu Hsing, após o Movimento Madeira tem-se o Movimento Fogo.
Fogo ligado ao Coração, o Imperador. Sede da Consciência, que se expressa na alegria,
na luz, no brilho, no entusiasmo.
Sons relacionados: Hē (呵), HAAWW, RRÃÃ, HO, KHE, HAAA, HER .

696
VERA COMAR

Para sua prática, sentado em uma cadeira, com os pés paralelos e afastados, apoiados
no chão, costas eretas, as mãos apoiadas nas coxas, visualizar o coração. Inspirar
lentamente enquanto elevar os braços em direção ao teto com as palmas das mãos viradas
para cima e com os dedos levemente entrelaçados. Com os lábios entreabertos e relaxados
permitir que o som Haw saia de dentro do peito, como se fosse um sopro, exatamente igual
quando solta-se o ar em um vidro em dia frio, sorrir e imaginar uma luz vermelha brilhante
envolvendo o coração. Expirar baixando lentamente os braços e tornando a apoia-los nas
coxas com as palmas das mãos voltadas para cima.
Repetir algumas vezes, principalmente se tiver algum abalo nervoso, insônia,
ansiedade, tensão.

Figura 13 - Posição Inicial Movimento Coração


(Fonte: CHIA, 2011)

697
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Figura 14 - Execução Movimento Coração


(Fonte: CHIA, 2011)

Figura 15 - Boca no Movimento Coração


(Fonte: CHIA, 2011)

698
VERA COMAR

Postura do Baço Pâncreas e Estômago – Elemento Terra

BAÇO PÂNCREAS

VÍSCERAS Estômago

COR Amarelo

ELEMENTO Terra

ESTAÇÃO Canícula

EMOÇÃO POSITIVA Serenidade

EMOÇÃO NEGATIVA Preocupação

SENTIDO Tato

BOCA
Lábios redondos

Hū (呼 )
WHOOO
RRUUU
SONS FU
HHOOO
HU

Tabela 7 - Baço Pâncreas e suas associações. Fonte: autora

Continuando o Qi Gong dos Seis Sons Curativos ou Seis Silabas Secretas e seguindo o
Ciclo de Geração dos Wu Hsing, temos o Movimento Terra, que no corpo humano está
relacionado ao Estômago e ao Baço/ Pancreas. Sua cor é o amarelo, o sabor doce.
Sons relacionados: Hū (呼), WHOOO, RRUUU, FU, HHOOO, HU

699
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Sentar-se em uma cadeira com as costas eretas e os pés apoiados no chão. Visualizar o
Baço, ele está à esquerda no abdomem, inspirar enquanto leva as mãos a esta região
pressionando levemente. Expirar inclinando o tronco levemente para trás e exalar o som
Whooo como se estivesse soprando, enquanto imagina uma luz amarela envolvendo o
abdomen e curando os órgãos digestivos.
Apoiar as mãos nas coxas, com as palmas voltadas para cima enquanto sorri para o
Estômago e o Baço. Esse exercicio, entre outras coisas, libera as toxinas do trato digestivo,
sendo eficaz para melhorar problemas como náuseas, indigestão, diarréia e preocupações
excessivas.

Figura 16 - Posição Inicial Movimento Baço Pâncreas


(Fonte: CHIA, 2011)

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VERA COMAR

Figura 17 - Execução Movimento Baço Pâncreas


(Fonte: CHIA, 2011)

Figura 18 - Boca no Movimento Baço Pâncreas


(Fonte: CHIA, 2011)

701
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Postura do Triplo Aquecedor e Pericárdio

TRIPLO AQUECEDOR

VÍSCERAS Pericárdio

COR Vermelho

ELEMENTO Fogo

ESTAÇÃO Verão

EMOÇÃO POSITIVA Vitalidade

EMOÇÃO NEGATIVA Esgotamento

SENTIDO x

Lábios entreabertos
BOCA
Som soprado sem usar a garganta

Xī (嘻)
SONS HHEEE
HHIII

Tabela 8 - Triplo Aquecedor e suas associações. Fonte: autora

O Triplo Aquecedor não tem as mesmas características dos outros cinco órgãos, uma
vez que ele compreende a energia dos três centros do corpo, o superior, médio e inferior.
Os sons associados são Xī (嘻), HHEEE, HHIII e ele é responsável por equilibrar a
temperatura do corpo através da sua relação com os outros órgãos.
Induz a um sono profundo, tranquilo e relaxante.
A estação, cor ou emoção associada a ele estão ligadas ao elemento fogo, mas
divergem em relação ao coração e intestino delgado. Há de se ressaltar que alguns autores
sugerem que não há nenhuma estção, cor ou emoção relacionada a ele.

702
VERA COMAR

Deitar de costas, fechar os olhos e respirar profundamente. Apoiar os joelhos sobre


uma almofada ou travesseiro caso haja incômodo na área lombar. Ao inspirar, expandir o
estômago e o peito e concentrar a atenção nas três partes do corpo, superior, média e inferior.
Ao exalar, executar o som correspondente e imaginar um rolo passando do início do
peito até o final do estômago, empurrando a respiração para fora. Imaginar a região tão fina
como uma folha de papel e sentir iluminação, brilho e vazio.
Voltar a respirar naturalmente.
Repetir o exercício mais vezes caso sinta-se bem acordado.
Esse exercício é eficaz para proporcionar relaxamento sem adormecer.

Figura 19 - Execução Movimento Triplo Aquecedor


(Fonte: CHIA, 2011)

Figura 20 - Boca no Movimento Triplo Aquecedor


(Fonte: CHIA, 2011)

703
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

CONCLUSÃO

Este trabalho foi desenvolvido através de levantamento bibliográfico por meio de


leitura, pesquisa, compilações e transcrições textuais de autores nacionais e internacionais,
obtidos por meio de livros e artigos de revistas científicas especializadas de conteúdo
confiável que abordam os temas relacionados ao Qi Gong, Seis Sons de Cura, Meditação e
Tai Chi Chuan.
A partir das informações obtidas através da elaboração desta pesquisa conclui-se que
apesar das diferenças encontradas em relação a emissão de sons, todos trazem benefícios à
saúde de quem o pratica, ficando confirmado pela literatura pesquisada que a prática do Qi
Gong engloba inúmeros benefícios para o bem-estar das pessoas em geral.
Através deste trabalho, buscou-se contribuir com a compilação e organização dos
conhecimentos disponíveis sobre o assunto que, uma vez sendo acessíveis à população e
profissionais da saúde, podem contribuir para a promoção e prevenção da saúde.
Faz-se necessário mais estudos a fim de elucidar se a diferença de sons divulgada
pelos diversos autores equivale a frequências distintas e, se afirmativo, qual o resultado desta
divergência de vibração no corpo humano.

704
VERA COMAR

REFERÊNCIAS

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CHIA, M. Métodos Taoístas Para Transformar Stress Em Vitalidade. São Paulo: Cultrix,
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JIANG, P. PJ Vital Health. Health Qigong Class. Disponivel em:


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705
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

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MORALES, J. F. Baharna. Six Healing Sounds, 2003. Disponivel em:


<http://baharna.com/chant/six_healing.htm>. Acesso em: 20 Fevereiro 2018.

OLSON, S. A. Tao of No Stress: Three Simple Paths. Rochester: Healing Arts Press, 2002.

REID, D. The Complete Book of Chinese Health & Healing: Guarding the Three Treasures.
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TAO HOLÍSTICO Os Cinco Elementos/Movimentos e suas constituições, 2016.


http://institutotaocursos.blogspot.com/2016/02/blog-post_3.html

THOMAS. Neigong Net. Liu Zi Jue in Regulating Emotions, 2011. Disponivel em:
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YANG, J.-M. The Root of Chinese Qigong: Secrets of Health, Longevity, & Enlightenment.
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ZHANG, G. L. Medicina Chinesa e Saúde Humana. Exercício de Cura e QiGong, 2013.


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qigong.html?m=1>. Acesso em: 5 março 2018.

706
VERA COMAR

GLOSSÁRIO

Gong: é a realização ou habilidade cultivada através da prática. Também grafado como Kung,
Kun ou Ko.

Qi: é a energia vital ou força natural que permite a existência do universo. Também grafado
como Chi ou Ki.

Qi Gong: qualquer treinamento ou estudo do Qi e que demanda tempo e esforço. É a arte de


cultivar a energia vital, a qual os chineses chamam de Qi. É a ciência de cuidado com a saúde
e manutenção da energia que vem sendo praticada na China há mais de cinco mil anos.

Wu Hsing: Cinco Elementos ou Cinco Movimentos da Medicina Tradicional Chinesa.

707
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

19. Pósfacio

Pense no que vai dizer antes de abrir a boca. Seja breve e preciso, já que cada
vez que deixa sair uma palavra, deixa sair uma parte do seu Chi (energia). Assim,
aprenderá a desenvolver a arte de falar sem perder energia.

Nunca faça promessas que não possa cumprir. Não se queixe, nem utilize pala-
vras que projetem imagens negativas, porque se reproduzirá ao seu redor tudo o
que tenha fabricado com as suas palavras carregadas de Chi.

Se não tem nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, é melhor não dizer nada.
Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia. O Universo é o
melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu, porque aceita, sem con-
dições, os nossos pensamentos, emoções, palavras e ações, e envia-nos o reflexo
da nossa própria energia através das diferentes circunstâncias que se apresentam
nas nossas vidas.

Se se identifica com o êxito, terá êxito. Se se identifica com o fracasso, terá fra-
casso. Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos são simples-
mente manifestações externas do conteúdo da nossa conversa interna. Aprenda a
ser como o universo, escutando e refletindo a energia sem emoções densas e sem
preconceitos.

Porque, sendo como um espelho, com o poder mental tranquilo e em silêncio,


sem lhe dar oportunidade de se impor com as suas opiniões pessoais, e evitando
reações emocionais excessivas, tem oportunidade de uma comunicação sincera
e fluída.

Não se dê demasiada importância, e seja humilde, pois quanto mais se mostra su-
perior, inteligente e prepotente, mais se torna prisioneiro da sua própria imagem
e vive num mundo de tensão e ilusões. Seja discreto, preserve a sua vida íntima.
Desta forma libertar-se-á da opinião dos outros e terá uma vida tranquila e bene-
volente invisível, misteriosa, indefinível, insondável como o TAO.

Não entre em competição com os demais, a terra que nos nutre dá-nos o necessá-
rio. Ajude o próximo a perceber as suas próprias virtudes e qualidades, a brilhar.
O espírito competitivo faz com que o ego cresça e, inevitavelmente, crie confli-

708
TAOÌSTA

tos. Tenha confiança em si mesmo. Preserve a sua paz interior, evitando entrar na
provação e nas trapaças dos outros. Não se comprometa facilmente, agindo de
maneira precipitada, sem ter consciência profunda da situação.

Tenha um momento de silêncio interno para considerar tudo que se apresenta e só


então tome uma decisão. Assim desenvolverá a confiança em si mesmo e a Sabe-
doria. Se realmente há algo que não sabe, ou para que não tenha resposta, aceite
o fato. Não saber é muito incómodo para o ego, porque ele gosta de saber tudo,
ter sempre razão e dar a sua opinião muito pessoal. Mas, na realidade, o ego nada
sabe, simplesmente faz acreditar que sabe.

Evite julgar ou criticar. O TAO é imparcial nos seus juízos: não critica ninguém,
tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade. Cada vez que julga al-
guém, a única coisa que faz é expressar a sua opinião pessoal, e isso é uma perda
de energia, é puro ruído. Julgar é uma maneira de esconder as nossas próprias
fraquezas.

O Sábio tolera tudo sem dizer uma palavra. Tudo o que o incomoda nos outros é
uma projeção do que não venceu em si mesmo. Deixe que cada um resolva os seus
problemas e concentre a sua energia na sua própria vida. Ocupe-se de si mesmo,
não se defenda. Quando tenta defender-se, está a dar demasiada importância às
palavras dos outros, a dar mais força à agressão deles.

Se aceita não se defender, mostra que as opiniões dos demais não o afetam, que
são simplesmente opiniões, e que não necessita de os convencer para ser feliz. O
seu silêncio interno torna-o impassível. Faça uso regular do silêncio para educar o
seu ego, que tem o mau costume de falar o tempo todo.

Pratique a arte de não falar. Tome algumas horas para se abster de falar. Este é
um exercício excelente para conhecer e aprender o universo do TAO ilimitado,
em vez de tentar explicar o que é o TAO. Progressivamente desenvolverá a arte
de falar sem falar, e a sua verdadeira natureza interna substituirá a sua personali-
dade artificial, deixando aparecer a luz do seu coração e o poder da sabedoria do
silêncio.

Graças a essa força, atrairá para si tudo o que necessita para a sua própria reali-
zação e completa libertação. Porém, tem que ter cuidado para que o ego não se
infiltre… O Poder permanece quando o ego se mantém tranquilo e em silêncio.
Se o ego se impõe e abusa desse Poder, este converter-se-á num veneno, que o
envenenará rapidamente.
709
COLETÂNEA DE MONOGRAFIAS

Fique em silêncio, cultive o seu próprio poder interno. Respeite a


vida de tudo o que existe no mundo. Não force, manipule ou con-
trole o próximo. Converta-se no seu próprio Mestre e deixe os de-
mais serem o que têm a capacidade de ser. Por outras palavras, viva
seguindo a via sagrada do TAO.

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