Sei sulla pagina 1di 50

Instituto Superior Maria Mãe de África

Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

A. SOCIEDADE E DIREITO

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO

Da realidade <Direito>, tanto se pode dizer que é conhecida de toda a gente, como é
desconhecida do homem comum.

Mesmo o leigo, por mais iletrado que seja, consegue orientar-se na percepção do fenómeno
jurídico. Recordar antes de mais que os seus direitos, o que lhe é devido e o que deve aos
outros; Menciona Juízes, Advogados, Escrivãs; pensa em tribunais e prisões. Nada disto vem
a despropósito, pelo que podemos dizer que este leigo terá do Direito uma noção muito mais
aproximada do que sobre Astronomia ou Biologia, ou até Física se nestes não for
particularmente versados.

Mais quando se passa da impressão corrente a compreensão verdadeira, verificamos pelo


contrário que só os especialistas ou as pessoas cultas sabem o que é Direito. Medicina ou da
Agronomia pode-se dar uma noção assente na experiência, que resiste longamente: do Direito
não. O Direito surge nos logo como uma realidade abstracta, que transcende os exemplos
com que o queiramos captar. O Direito não está em Artur ter transferido uma coisa a
Bartolomeu, não se esgota na descrição deste facto social: Tem um prolongamento que vai
para além dele. A passagem da pré - compreensão, para usar um termo muito em voga, para o
conhecimento exacto é já obra da Ciência do Direito.

O Direito é uma Ordem da Sociedade. Uma Ordem e não a Ordem, repara-se, porque
na sociedade outras ordens se encontram. O nosso estudo deve ser uma iniciação a ordem
jurídica da sociedade.

O Direito é uma realidade muito vasta, foram-se por isso desenhando dentro dele algumas
partes ou divisões, que se chamam ramos do Direito – Direito Administrativo, Direito
Criminal, etc. Mas agora pretendemos considerar em conjunto toda essa ordem da Sociedade
que designamos direito e não apenas alguns ramos deste.

Nomeadamente, não nos restringiremos ao chamado < < Direito Civil >>, de que depois
teremos a oportunidade de falar longamente. A nossa análise deve-nos pois levar à
compreensão do Direito nos seus elementos permanentes. Pretendemos realizar uma
introdução ao Direito que desemboque numa teoria Geral do fenómeno jurídico.

1.1. O HOMEM COMO UM SER SOCIAL

A História demonstra que, desde os primórdios, o homem sempre viveu em comunidade com
os seus semelhantes. A razão da sua sociedade corresponde as tendências mais profundas do
homem, pois que este, por instinto e po necessidade, sempre procurou na convivência a
melhor satisfação das suas necessidades.

Viver é necessariamente conviver: só através da interacção com os outros homens ele


conseguirá a sua plena realização. aí o dizer se que o homem é um ser eminentemente social.
Porque a convivência em sociedade traduz-se na inter - ajuda, na solidariedade e na divisão do

Compilado por António Caetano de Sousa


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
trabalho. Tal convivência só é possível se existir um elenco mínimo de princípios ou regras
porque se pautem as condutas humanas.

A existência de normas capaz de definir as condutas, é um dado inerente à própria vida em


sociedade.

O Direito é um fenómeno social e humano.

a) O Direito não é um fenómeno da Natureza, mas sim um fenómeno humano,


implicando necessariamente o factor espiritual. Coisas animais podem ser
contemplados pelo Direito, como objectos, mas não se relacionam em termos de
direito, nem o direito estabelece para eles regras de conduta (há, sim, regras sobre
condutas humanas referentes a coisas ou animais, o que é muito diverso).

b) Sendo um fenómeno humano, direito não é um fenómeno do homem isolado, é um


fenómeno social, há uma ligação necessária, a constante entre o Direito e sociedade.
Por isso se diz que: <UBI IUS IBI SOCISTAS> (onde há direito, há sociedade). (onde
há sociedade, há direito).

1.2. NECESSIDADE DE EXISTÊNCIA DAS NORMAS

Verificamos que em toda a sociedade há elementos de permanência que a subtraem ao regime


do arbitrário.

As pessoas e condutas têm entre si um lugar demarcado. Estão numa certa ordem. Isto permite
à sociedade sobreviver e atingir os seus fins. A ordem é assim um dado primário da
observação sociológica. Toda a ordem social implica um complexo de normas propostas a
observância dos seus membros.

É a norma que demarca a harmoniza as condutas dos vários sujeitos, tornando possível atingir
em conjunto a finalidade pretendida.

Contudo, é preciso distinguir estas leis, que se dirigem à vontade humana e se propõe nortear
as condutas, das leis da natureza que são indissociáveis e exprimem uma relação necessária
entre dois seres.

A ordem natural é assim uma ordem de necessidade: tem de existir tal e qual, as suas leis não
são substituíveis.

Exemplo: Torna-se evidente que entre a infinidade dos astros, há uma maravilhosa ordem, que
o homem só lentamente vai descobrindo, se cada um não ocupasse uma posição determinada
no conjunto, teríamos o caos.

Se passarmos porém desta ordem da natureza para a ordem social, verificamos que toda a
norma exprime um dever ser e é essencialmente viciáveis. A violação só atinge a norma na
sua eficácia, não a atinge na sua validade.

Compilado por António Caetano de Sousa 2


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Exemplo: A regra <não matar> – todos concordam em que esta norma deve ser acatada, mas
isso não significa que alguém não mate, no entanto, mesmo que os homicídios sejam
numerosos, a norma não é abolida; a sua validade não é afectada.

A ordem social pode ser, portanto, perturbada, porque o homem é livre, podendo rebelar-se
contra ela. No entanto, logo se reconstitui, pois sem ordem, nenhuma sociedade pode
subsistir.

1.2 NECESSIDADE DE EXISTÊNCIA DO DIREITO

O Direito é intrínseco na própria ordem social. Se toda a sociedade tem uma ordem, ela tem
também, desde o início, uma ordem jurídica. Pode a determinação desta suscitar dificuldades,
na medida em que pode concorrer com outras ordens.

No entanto, é sempre possível distinguir o que é e não é Direito e confirmar que a vida social
só é possível porque os homens acatam regras que visam instituir a Paz, Segurança Jurídica e
dirimir os conflitos de interesses que inevitavelmente surge nas relações sociais.

E geralmente aceite que o Direito foi, é e será sempre necessário.

2. DIREITO

O dia-a-dia vai forjando em cada homem uma noção aproximada do que seja Direito. Há
certos fenómenos sociais, como os que se ligam à actividade dos tribunais ou dos notários,
que todos consideram imediatamente relativos ao Direito. A palavra Direito pertence até a
linguagem corrente – basta recordarmos as expressões: <não há direito>, << é de meu
direito >> - sem que, os que a usam, se apercebam da sua grande ambiguidade.

No Estado moderno, é corrente utilizar a expressão Direito como significando um conjunto


de normas de conduta social, emanadas pelo Estado e garantidas pelo seu poder.

2.1. AS VÁRIAS ACEPÇÕES DO TERMO DIREITO

Há muitas acepções do termo “Direito”. Vamos nos referir apenas as mais comuns.

1ª – A de ciência do Direito que será o estudo das melhores formas de conseguir tecnicamente
a atribuição a cada um o que é seu – É a chamada acepção epistemológica.

2ª – Quando se fala do Direito como conjunto de normas, escritas ou não, então aí está-se
perante a actividade normativa do Direito. É a acepção do Direito Objectivo.
3ª – Quando se dá o poder ou faculdade ao titular de um Direito objectivo, de agir ou não de
acordo com o conteúdo daquele, ou de exercer ou não o direito que lhe é devido pelo Direito
Objectivo – É a acepção do Direito Subjectivo.

Compilado por António Caetano de Sousa 3


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
3. A ORDEM JURÍDICA E OUTRAS ORDENS SOCIAIS NORMATIVAS.

A Ordem Normativa da Sociedade é ainda uma ordem complexa.

A continuação da análise demonstra que entram na sua composição quatro ordens diferentes,
que traduzem aspectos também diferentes do dever, inerentes à vida do homem em sociedade.
Por outras palavras; o Direito não está isolado, Começa mesmo historicamente por
dificilmente se diferenciar das outras ordens sociais normativas, ou seja desses conjuntos de
regras, prescrições ou

CONCEITO

O DIREITO, visa na sua função de meio de disciplina social, realizar determinados valores,
fundamentalmente a certeza dessa disciplina e a segurança da vida dos homens, por um lado,
e a rectidão ou razoabilidade das soluções, por outro. Abrange com estes termos (rectidão e
razoabilidade), a justiça, a utilidade, a oportunidade e a exequibilidade prática. Em suma, o
Direito é sistema de normas de conduta social, assistido de protecção coactiva.

Podemos definir igualmente o direito como: “O conjunto de norma jurídicas gerais,


abstractas, criadas e impostas coactivamente pelo Estado, e que tem em vista regulamentar a
convivência social”.

SENTIDOS DO TERMO DIREITO

Existem vários sentidos do termo “Direito”. Todavia, iremos nos referir, a título
exemplificativo, aos mais comuns.

1º - Sentido comum, é tomado em termos genéricos, sem se atender o seu alcance. Qualquer
leigo em direito, ao menos conhece alguns dos seus direitos, o que lhe é devido e o que deve
aos outros, menciona os juízes, advogados, pensa em tribunais, prisões, mas sem ter a
consciência da realidade abstracta e transcendente que é o direito.

2º - Sentido Fiscal, será o conjunto de normas que regulamentarão a incidência, recolha,


tributação e pagamento de imposto. O Estado para poder fazer face das suas inúmeras
despesas, no interesse da colectividade carece de obter receitas para tal.

3º - Sentido real, teremos os direitos reais como direitos absolutos e inerentes a una coisa e
funcionalmente dirigidos à afectação desta aos interesses do sujeito; ou por outras palavras, é
o poder de exigir de todos os outros indivíduos uma atitude de respeito pelo exercício de
determinados poderes sobre uma coisa. De entre os direitos reais existentes, os principais são:
A propriedade, o usufruto e a servidão.

4º - Sentido epistemológico ou científico, que será o estudo das melhores formas de


conseguir tecnicamente a atribuição a cada um o que é seu.

5º - Sentido objectivo, como conjunto ou sistema de normas, gerais, abstractas e hipotéticas,


emanadas pelo Estado e dotadas de protecção coactiva. Por outras palavras, é o corpo ou
complexo de regras gerais e abstractas que organizam a vida em sociedade sob os mais
diversos aspectos e que designadamente definem o estatuto das pessoas e regulam as relações
entre elas.

Compilado por António Caetano de Sousa 4


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

6º - Sentido subjectivo, é o poder ou faculdade atribuído ao titular de um direito objectivo, de


agir ou não de acordo com o conteúdo daquele, ou de exercer ou não um direito juridicamente
relevante, por outras palavras, é o poder jurídico atribuído pela ordem jurídica à uma pessoa,
de livremente exigir ou pretender de outrem um comportamento positivo (acção) ou negativo
(omissão) ou por um acto de vontade, só de por si integrado por um acto de uma autoridade
pública, produzir determinados efeitos jurídicos que incontestavelmente se impõem a outra
pessoa – contraparte ou adversário. Só se nos depara um direito subjectivo quando o exercício
do poder jurídico respectivo está dependente da vontade do seu titular.

7º - Direito natural, são certas normas de conduta que por serem inerentes a própria natureza
do homem, são anteriores e superiores ao Estado. É uma designação próxima da de <
<Direitos do Homem>> , e com significado afim.

8º - Direito positivo, é constituído pelas leis, com existência efectiva e que se formam na
sociedade em vista da organização desta e da pacífica convivência dos indivíduos. Ele
provém da vontade mais ou menos arbitrária dos homens que normalmente procuram criá-los
tão perfeito quanto possível, mas que pela fraqueza e contingências das suas forças fazem
quase obra precária. É o direito que a sociedade cria, com uma expressão exterior sensível e
tangível.

Mandamentos que com ela, se impõe ao homem em sociedade, e que são os alicerces da
ordem social de que falávamos.

Vamos examiná-las sucessivamente.

3.1 A ORDEM RELIGIOSA

Diz respeito às relações do Homem com Deus, com os deuses, ou mais geralmente, com o
sagrado, por oposição ao imanente, habitual, quotidiano e profano, exclusivamente material.

A sua máxima fundamental poderá ser “amar a Deus acima de todas as coisas”.

O não cumprimento das normas religiosas, pose acarretar primariamente punições extra -
terrenas.
Em todo o caso, o que é socialmente punido é a manifestação exterior de ligação com o
divino.

Exemplo: Promessas de prémios ou castigos extra terrenos.

A Ordem religiosa é assim dominada por um sentimento de transcendência.

3.2. A ORDEM MORAL

A moral respeita, quer tenha uma referência religiosa ou laica como seu fundamento, aos
deveres de cada um para consigo mesmo e para com a sociedade, numa perspectiva de
dignidade e/ou solidariedade.

Compilado por António Caetano de Sousa 5


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
A sua máxima típica seria. Por exemplo: “ ama ao próximo como a ti mesmo”, se de base
religiosa, ou “ age sempre como se a tua conduta pudesse ser apresentada como exemplo
universal”, numa visão mais laica.

A ordem moral caracteriza-se por um conjunto de imperativos impostos aos indivíduos pela
sua própria consciência ética, de tal modo que o seu incumprimento, não é necessariamente
sancionado pelos juízes sociais de reprovação, mas pela reprovação dinâmica da sua própria
consciência.

Exemplo: o não cumprimento de normas morais traz como consequência, para o indivíduo
que as aceite mas desreipeita, o remorso.

Os critérios fundamentais de separação entre o Direito e a Moral, normalmente apresentados


são dois:

 Critério de Coercibilidade – as normas jurídicas são físicas e organicamente


susceptíveis de aplicação coerciva, enquanto que as morais não. Nenhuma coacção
exterior pode fazer com que os homens sejam intrinsecamente melhores.

 Critérios de Exterioridade – o direito parte do lado externo da existência humana,


enquanto que a moral do lado interno

3.3. ORDEM DO TRATO SOCIAL, ETIQUETA OU CORTESIA

Trata-se de normas de polidez, boa educação, civismo e por vezes de um cerimonial mais ou
menos complexo consoante o refinamento da sociedade e do círculo social em causa; e que
contribuem para atenuar as tensões, facilitar as relações, e tipificar os comportamentos,
adequando-os à situação.

A sua máxima poderia ser a do Gentleman inglês: dá sempre para o bolo social um bocadinho
mais do que retirares dele “Assim também com a simpatia, nas suas diversas formas, como se
sabe, as normas de trato social variam muito de círculo social para círculo social.

Exemplo: Não usar gravata tanto é em certos lugares uma terrível falta de maneiras, como
usá-la, noutros sítios, uma imperdoável falta de gosto e uma intolerável “caretice”, como
diriam os brasileiros.

A violação de tais normas implica uma sanção inorgânica consistindo essencialmente em


sentimentos de reprovação social por parte da comunidade, levando muitas vezes à própria
segregação social do infractor.

Exemplo: O duelo.

Compilado por António Caetano de Sousa 6


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
3.4. A ORDEM JURÍDICA

Esta ordena os aspectos mais importantes da convivência social e exprime-se através de regras
jurídicas. Os valores que visa atingir são a justiça, a segurança e a paz social.

3.1.1. AS RELAÇÕES ENTRE AS DIVERSAS ORDENS NORMATIVAS

Entre as ordens normativas, que acabamos de estudar, e o Direito pode sugerir relações de
coincidência, de indiferença e de conflito.

Há numerosas relações de coincidência entre todas estas ordens, pois não podemos esquecer
que durante largo tempo, existiu entre elas total identificação e, só com progresso
civilizacional se foi tomando consciência do âmbito próprio década uma destas ordens.

Por exemplo, as regras, entre <não matar> ou <não furtar> são normas jurídicas, de moral e
de grande parte das religiões.

Analisemos agora separadamente as relações que podem surgir entre cada uma das ordens
normativas e o direito.

I. MORAL / DIREITO

Entre esta ordem e o Direito, há largas zonas de concidência, pos deficilmente, se poderia
conceber uma ordem jurídica totalmente contraria aos conceitos morais vigentes numa dada
sociedade.

Assim se verifica pelo menos, o respeito daquelas regras morais que são vitais e cuja
observância é indispensável à convivência entre os membros duma determinada comunidade
como, por exemplo, as regras (não matar) ou (não furtar).

Relações de indiferença – podemos constatar que muitos dos preconceitos jurídicos são
irrelevantes para a moral, como por exemplo, os meramente organizativos ou técnicos, entre
os quais podemos apontar as regras de trânsito e as regulam a produção industrial ou as
sociedades comerciais,

Relações de conflito – pode acontecer, em algumas vezes, que certas regras de Direito se
encontrem em oposição a regra de moral. Exemplo: (não matar), em alguns países a pena de
morte

II. RELIGIÃO / DIREITO


Predominam essencialmente relações de indiferença, limitando-se o Direito a garantir com as
suas normas o livre exercício da actividade religiosa, sem assumir ele próprio, o conteúdo das
normas religiosas.

A Constituição da República de Moçambique, faz referência no seu Artº 12, nº 2, à liberdade


de religião e de culto.

Relações de coincidência – as disposições em matéria matrimonial insertas na Concordata,


de 7 de Maio de 1940, celebrado entre o estado Português e a Santa Sé, pelas quais o
casamento católico assume relevância na ordem jurídica estatal.

Compilado por António Caetano de Sousa 7


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

Relações de conflito – a despenalização do aborto em determinadas circunstâncias opõe a


regra jurídica aos preceitos religiosos.

III. TRATO SOCIAL / DIREITO

A maior parte dos usos sociais são completamente indiferentes ao Direito, como por exemplo,
os relativos à moda ou cortesia, o que leva ao estabelecimento de reacções de indiferença
entre a ordem jurídica e a do “trato social”.

Por vezes, o Direito torna ilícito certos usos sociais considerados prejudicais ou
inconvenientes para a sociedade, o que será uma relação de conflito entre as duas ordens, É o
caso do duelo ou desafio já anteriormente referido, que subsistiu durante anos, apesar da
legislação que o proíba, porque a sua não-aceitação, implicava penosa desclassificação social.

Pelo contrário, também sucede, o Direito elevar a categoria de normas jurídicas usos que se
desenvolveram na prática.

O artº 3 nº 1 do C.C., considera, juridicamente atendíveis, os usos sempre que a Lei o


determina.

Enfim, por tudo o que dissemos podemos concluir que entre o Direito e as restantes ordens
normativas que fazem parte da ordem social, ocorre historicamente uma constante assimilação
e desassimilação de conteúdos.

Já vimos que uma norma pode pertencer a diversas ordens como (não matar) ou não furtar),
ou pode deixar de ser jurídica e continuar como moral ou religiosa como a despenalização do
aborto ou das drogas leves em alguns países ou pelo contrário adquirir carácter jurídico
quando antes era um simples uso social.

4. A NORMA JURÍDICA

4.1. INTRODUÇÃO

Em regra, o comportamento dos cidadãos é conforme com o Direito; no seu dia a dia eles
observam espontaneamente uma grande variedade de normas de conduta jurídica e outras, da
realidade social.

Porém, quando há comportamento que se desviam dos imperativos da ordem jurídica, ou por
outras palavras, quando acontecem violações das suas normas derivadas de actos contrários ao
Direito (actos ilícitos), a ordem jurídica procura defender-se recorrendo aos meios de
protecção ou tutela jurídica tanto preventivas como repressivas.

Repare-se, que em todo este sistema de defesa da ordem jurídica sobressai a <<coercibilidade
>>.

Compilado por António Caetano de Sousa 8


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
4.2. CONCEITO

NORMA JURÍDICA – É uma regra de conduta social, geral e abstracta, imposta


coactivamente pelo Estado.Quer dizer que a norma jurídica participa de uma característica
de generalidade e abstracção, isso é, a norma jurídica dirige-se a um número indeferido de
pessoas, não individualizadas, e, por outro lado, abarca na sua “hipótese” um número não
concreto nas abstracto de casos e situações.

4.3. CARACTERISTICAS DA NORMA JURÍDICA

Como já sabemos, a Ordem Jurídica exprime-se através de normas que desempenham um


papel essencial como instrumento ordenador ao serviço do Direito.

Essas normas, como se compreende, possuem determinadas características, necessárias à


ordenação da vida social.

Elas constituem o Direito objectivo, isto é, o Direito sentido normativo.

Imperatividade, Generalidade /abstracção e coercibilidade.

4.3.1. IMPERATIVIDADE

Na sua forma fundamental ou protótipica, a jurídica contém um comando, porque impõe ou


ordenam certo comportamento.

No entanto, para muitos autores, certas normas não ordenam nem proíbem umas condutas,
designadamente as normas permissivas.

Deste modo, em toda a regra jurídica se cifraria num imperativo.

Porém, outros autores entendem que esse imperativo existe sempre mais ou menos expresso
ou encoberto na norma.

4.3.2. GENERALIDADE E ABSTRAÇÄO

Significa que a norma se refere a toda uma categoria mais ou menos ampla de pessoas e não a
destinatários singularmente determinados.

Uma norma pode ter como destinatário uma determinada pessoa e ser geral. Assim acontece,
por exemplo, com as regras constitucionais que definem as competências e os deveres do
Presidente da Republica e que se destinam a uma categoria de pessoa e não a uma pessoa em
concreto.

A generalidade é assim, a abstracção especial dos destinatários.

A abstracção, significa que a norma respeita a um número indeterminado de casos ou uma


categoria mais ou menos ampla de situações concretas ou individualizadas.

Exemplo, uma lei ordena aos proprietários de certa região, o abate de determinadas espécies
de animais.

Compilado por António Caetano de Sousa 9


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

A primeira parte corresponde a generalidade e a segunda a abstracção.

4.3.1. COERCIBILIDADE

Consiste na susceptibilidade de aplicação coactiva de sanções se a norma for violenta.


A coercibilidade não é característica essencial da norma

Exemplos: Art.484.* Código Civil.

Esta regra é:

- Genérica, porque visa uma pluralidade indefinida de pessoas -< Quem ...>.

- Abstracta porque contempla um certo tipo de situações - <afirma ou difundir um facto...>.

- Susceptível de imposição coactiva de sanções – porque o lesado pode recorrer aos tribunais
para obter a reparação do dano causado.

A tutela de pode ser: privada ou pública.

Meios de protecção ou tutela jurídica privada

- Preventivos: Legitima defesa, art. 337.c.c; Estado de necessidades, art.339.c.c;

Acção directa, art.336.c.c

4.4. ESTRUTURA DA NORMA JURIDICA

Toda a norma jurídica apresenta no mínimo 2 elementos.

Previsão/ Hipótese – tipo legal, a situação hipotética subsumida na norma jurídica como
sendo a que é idóneo a que é capaz com que o agente, o sujeito que nela se encontra se possa
sujeitar ao que se encontra previstos na tese, na mesma norma.

Tese/Estatuição – as consequências, os efeitos que vai sujeitar a pessoa que se encontra na


situação prevista na norma em questão.

Há autores que defendem a existência de um terceiro elemento, a sanção. E essa vai ser a
nossa orientação, pelo que:

Sanção – será o prémio positivo ou negativo a que a pessoa se vai sujeitar, beneficiar uma vez
se encontrado na situação prevista pela norma.

Há outros autores que a consideram parte integrante da tese ou da estatuição.

Exemplo: Artos 130, 483, doCódigo Civil; Artos 349,294,353 do Código Penal.

Compilado por António Caetano de Sousa 10


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
4.5.CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

A) QUANTO A IMPERATIVIDADE

1) NORMAS PERCEPTIVAS, PROBITIVAS E PERMISSIVAS

 Perceptivas – contém uma ordem, uma obrigação.


 Conduzir à esquerda
 Pagar Impostos
 Pagar Direitos Aduaneiros

 Proibitivas – contém uma proibição


 Ex. Pune os que pratiquem furto, homicídio ofensas corporais.

 Permissivas – autorizam certos comportamentos, de forma positiva:

 Dispositivas – art.802 do Código Civil –·concedem ao credor, em certos termos a


faculdade de resolver o negócio.

 Autorização – art. 1055 do C.Civil – permite ao locatário denunciar o contrato


de arrendamento para o termo do prazo.

 Concessivas – art. 1698 do C.Civil– permitem aos esposados fixar livremente, em


convenção antenupcial, o regime de bens de casamento.

O Direito contém: Ordens – Tu deves


Proibição – Tu não deves
Concessões – Tu podes

2) NORMAIS UNIVERSAIS, REGIONAIS, LOCAIS

 Validade territorial.

 Universais – que se aplicam em todo o território do Estado;

 Regionais – que se aplicam numa determinada região (Decretos das regiões antónomas);
 Locais – que se aplicam no território de uma autarquia local posturas e regulamentos dos
Conselhos Municipais).

3) NORMAS GERAIS VERSUS NORMAS EXCEPCIONAIS

Normas Gerais: estabelecem o regime regra para o sector das relações que as regulam
(art.219 do C.Civil – regime de consensalidade).

Normas excepcionais: representam um IUS singulare, limitando-se a uma parte


restrita daquele sector de relações ou factos, consagrando neste sector restrito por razões
privativas de um regime oposto aquele regime regra. (Ex. Artigo 11 do C.Civil – novas
experiência).

Compilado por António Caetano de Sousa 11


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

4) NORMAS DE DIREITO COMUM E NORMAS DE DIREITO PRIVADO


ESPECIAL.

Ex. Direito Civil – é Direito comum.


Direito do trabalho/Direito trabalho/Direito Agrário – são direitos privado especiais.

5) NORMAS SUPLETIVAS e NORMAS INTERPRETATIVAS

Normas Supletiva: é uma norma de outro tipo (imperatividade ou permitivas) mas que a
cresce de uma nota essencial particular: aplica-se aos negócios juridicos só se as partes não
tiverem excluido a sua aplicação. Ex. art. 878 do C.Civil.

Normas Interpretativa: é aquela que esclarece o sentido do outro trecho com valor jurídico;
Ex. art. 1º do C.Civil.

6) NORMAS DIRECTAS E INDIRECTAS

Normas Directas – são normas que tem várioso destinatários da vida social.

Normas indirectas – por vezes chamadas instrumentais, aquelas cujo destinatário


pretendem aplicar normas juridicas e resolver problemas de Direito.Ex. art. 9º, nº 3 do
Código Civil

7) NORMAS COMPLETAS E INCOMPLETAS

Normas completas – as que podem produzir efeitos só por si e contém uma relação
juridica, imperativa ou permitiva. Art. 1323 do C.Civil

Normas incompletas – definem pela negativa – não produzem efeitos só por si tem que ligar-
se a outras normas. Art.874 do C.Civil.

8) NORMAS ÉTICAS E NORMAS TÉCNICAS

A norma ética: é a norma “stritu sensu”: em face de situação X, deves e requer


conduta y. E deve-se porque a ordem jurídica o comando: acho comandado é para o
destinatário da norma um dever; o acto contrário é licitico e acarrenta consigo regra
geral/ uma (verdadeira e propria) sanção.

Normas técnicas: actuam de forma diferente:cada uma previsão estabelecerem uma


conduta como necessário apenas para determinado fim, que é
indiferente para o direito ser ou não prosseguido.Ex: artigo 875 do
C.Civil – compra e venda de bens imóveis só é válido se for por
escritura pública;

Compilado por António Caetano de Sousa 12


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
8) NORMAS DE ESTATUIÇÃO MATERIAL E NORMAS DE ESTATUIÇÃO
JURIDICA.

Normas de Estatuição Material – são normas que projectam o seu comando sobre a vida
social: a sua estatuição reputa-se a actos dessa vida ( não matar, entregar objectos, art.1323 do
C.Civil). Nesse caso estão normas stritu sensu e nos acrescentar-lhes, as normas permissivas
em que se refiram a actos materiais;

Normas de estatuição jurídica – são normas lato sensu, cujo conteúdo se esgota no plano
juiridico, reflexamente, claro, vão traduzir em ultimo análise em normas de estatuição ( ou
conteúdo) material, mas, tal como se nos apresentam, têm outro sentido. Art.130 do Código
Civil.

9) NORMAS ORDENADORAS E NORMAS SANCIONATÓRIAS

Normas ordenadoras: tem previsão estatuição de uma sanção que vem repostada em
outras normas juridicas.Tem geralmente como destinatário ao
autoridade do Estado mas há excepção – art. 983, da
responsabilidade civil dos particulares, não depende de nenhum do
Estado.Responsabilidade em factos ilícitos.

10) NORMAS AUTÔNOMAS E NÃO AUTÔNOMAS

Normas não autônomas: é aquela que por si não tem um sentido completo ( falta-lhe toda
ou parte do hipotese toda a parte da estatuição, só o obtendo por
remissão para as outras normas, tais são as normas remissivas,
norma de devolução ou normas indirectas.

B) QUANTO À SANCIONALIDADE

Norma Perfeita – Lex perfecta – é aquela cuja sanção é a nulidade do acto, mas sem sanção;

Leges Perfect – regras contrárias aos bons costumes ou a ordem pública (compromisso de um
cônjuge perante outro de “confessar” certas violações dos deveres conjugais),
mas não punivel.

Normas menos perfeita/ lex minus quam perfecta- é aquela cuja sanção é outra que não a
nulidade.Exemplo: A venda ao produto depois da
hora regulamenta do encerramento não acarrecta
a nulidade da venda, mas implica uma pena
(multa) para o comerciante.

Normas mais que perfeita – lex magis quam perfectua legas plus quam perfecta – é
aquela que comporta sanções a nulidade e outra ainda (pena).

Exemplo: o contrato pelo qual os pais negoceiam com outrem os “favore” de uma filha: o
negócio é nulo (art.280 nº 2, do Cod.Civil), e demais disso, é passivel de uma sanção penal

Compilado por António Caetano de Sousa 13


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
(art. 405, do Código penal lemocidio). Veja-se ainda o art. 284 do C,Civil ( em suma
criminosa).

Norma imperfeita – leges nuperfectal e que não tem sanção não importa qualquer espécie
de sanção.Tais normas que tem por destinatários certos orgãos superiores do Estado, quando a
sua violação não é susceptivel de sanção jurídica.

Ex. O P.R. não responde por acto praticados durante o mandato.

FONTES DE DIREITO

1. EVOLUÇÃO DO DIREITO E DAS FONTES DE DIREITO


1.1. CONCEITO DE FONTE

A ordem jurídica é uma realidade histórica, cujo conteúdo são as normas jurídicas. Importa
agora saber como e onde nascem essas normas e como revelam aos particulares.

Este é o problema das fontes de Direito.

A expressão Fontes de Direito não tem sido utilizada pelos diversos autores, no mesmo
sentido.

Podemos, no entanto, distinguir 4 dos mais importantes sentidos:

a) Sentido Sociológico – Material: pode designar-se por fonte de Direito o


circunstancialismo social que esteve na origem de determinada norma.

b)Sentido Histórico – Instrumental: nesta perspectiva, fontes de Direito, são os diplomas ou


instrumentos legislativos que contêm normas jurídicas.

c) Sentido Político – Orgânico: neste sentido identificam-se as fontes de Direito com os


órgãos políticos, que, em cada sociedade, estão incumbidos de emanar normas jurídicas. No
caso de Moçambique a Assembleia da República, Presidente da República, Conselho de
Ministros.

d) Sentido Técnico – Jurídico: é este o sentido que fundamentalmente interessa ao nosso


estudo e traduz-se nos modos de formação e revelação das normas jurídicas.Investiga-se
então a maneira como é criada e se manifesta socialmente a norma jurídica.

Neste sentido são consideradas fontes de Direito:

 A lei;
 O costume;
 A jurisprudênciae; e
 A doutrina;

Deve ainda fazer-se a distinção entre fontes imediatas e fontes mediatas.

As fontes imediatas são que têm força vinculativa própria, sendo portanto os verdadeiros
modos de produção do Direito. Ex: A Lei

Compilado por António Caetano de Sousa 14


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

As fontes mediatas, não tendo força vinculativa própria, são contudo importantes pelo modo
como influenciam o processo de formação e revelação da norma jurídicas. Ex: O costume,
jurisprudência e doutrina.

Segundo alguns autores só a Lei é considerada verdadeira fonte de Direito, isto é, fonte
imediata de Direito, todas as outras são fontes mediatas.

Art.º 1º, nº1 do C.C.


“São fontes imediatas do direito as leis e as normas corporativas”

LEI, COSTUME, JURISPRUDÊNCIA E DOUTRINA.

1. 1. 2. A LEI

A lei é o processo de formação ou criação do Direito que se traduz numa declaração solene e
directa da norma juridical, efectuada por uma autoridade competente. A lei é assim uma
norma jurídica de criação deliberada.

O COSTUME

O costume constitui um outro processo de formação do Direito, essencialmente distinto da lei.


Com efeito, no costume, a norma forma-se espontaneamente no meio social. É a própria
comunidade que desempenha aquele papel activo que, nas outras fontes de Direito, pertence a
certas autoridades.

A base de todo o costume é uma repetição de práticas sociais que podemos designar por uso.

Mas não basta o uso, para que o costume exista, é necessário ainda que essas práticas sejam
acompanhadas da consciência da sua obrigatoriedade. Pois só quando as pessoas se
convencerem de que aquela prática não representa algo de arbitrário, mas é antes vinculativa e
essencial à vida da comunidade, é que pode dizer-se que há um verdadeiro costume, e que a
prática levou à criação duma norma jurídica.

Uma vez verificados estes dois elementos:


 “Corpus” - prática constante
 “Animus” – convicção de obrigatoriedade.

Nada mais é preciso para que se verifique o costume.

O Direito Consuetudinário é, como se vê, um direito não deliberadamente produzido, sendo


considerado, por alguns autores como fonte privilegiada do Direito.

Outros autores, entendem que o Costume só constituirá verdadeira fonte de Direito, quando o
Estado reconhecer que as normas jurídicas podem nascer directamente da vontade popular.

O Costume representou historicamente a mais importante fonte de Direito. Porém, a partir de


séc. XVII, os pensadores começaram a desacreditar em tudo o que representasse espontânea

Compilado por António Caetano de Sousa 15


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
organização da sociedade e deste modo o costume passou a ser olhado com suspeita,
restringindo-se o seu âmbito de actuação.

O nosso código Civil, não apresenta o costume como fonte imediata do Direito e apenas
admite que os “usos” tenham relevância jurídica, quando a lei para eles remeta, ou seja, como
fontes mediatas de Direito.

O art.º 3º Código Civil fala-nos do valor jurídico dos usos, e no seu nº 1 diz-nos que:“Os usos
que não forem contrários aos princípios da boa fé, são juridicamente relevantes, quando a lei o
determine”.

No Direito Internacional Público, o costume (internacional) continua a ser uma importante


fonte de Direito.

Discutem ainda os autores as vantagens e desvantagens recíprocas da lei e do costume. É


óbvio que nenhuma das formas é perfeita.

A lei oferece a vantagem da segurança e da certeza, enquanto o costume é de prova difícil,


mas por isso mesmo a lei tem muita maior dificuldades em acompanhar a evolução social,
enquanto o costume, se vai espontaneamente adaptando.

A JURISPRUDÊNCIA

A palavra jurisprudência é susceptível de mais de um significado. Usa-se frequentemente para


designar a orientação geral seguida pelos tribunais no julgamento dos diversos casos
concretos da vida social. Outras vezes, é entendida como os concretos da vida social.Outras
vezes, é entendida como o conjunto de decisões dos tribunais sobre os litígios que lhe são
submetidos.

Uma questão que se coloca é a de saber, se esses modos de decidir têm validade além do
processo, criando regras para casos futuros.

É o que acontece nos sistemas jurídicos Inglês e Americano, em que a jurisprudência é fonte
de Direitos.

Em princípio, não é assim que se passa entre nós. O juíz tem de julgar unicamente de
“harmonia com a lei e a sua consciência “ (arti. 8º, Cód. Civil), sendo perfeitamente
irrelevante que a sua decisão contrarie a que tenha siso tomada por outro tribunal.

Nas situações normais, a jurisprudência não é fonte de direito, no entanto, na medida em que
ao longo dos tempos vai explicitando uma determinada “consciência jurídica geral”
contribuirá para a formação de verdadeiras normas jurídicas.

A este princípio, há que indicar uma importante excepção. Em certos casos, a jurisprodência
dos tribunais superiores (Supremo Tribunal) deve ser considerada autêntica fonte de Direito
refiro-me aos ASSENTOS.

Art.º 2º C.C.

Compilado por António Caetano de Sousa 16


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
“Nos casos declarados na lei, podem os tribunais fixar, por meio de assentos, doutrina
com força obrigatória geral”.

Acórdão é a decisão proferida por um tribunal unido em colectivo.


Sentença é a decisão proferida por um tribunal na solução de um julgamento.

Sentenças e acordãos, constitiem, juntamente com os assentos, as três categorias de decisões


dos tribunais.

A DOUTRINA

A doutrina compreende as opiniões ou pareceres dos jurisconsultores, sobre regulamentação


adequada das diversas relações sociais. Consiste ainda nos artigos, monografias, escritos
científicos, etc., que se debruçam sobre os problemas jurídicos quer referentes à sua aplicação.

A doutrina, entre nós não é considerada fonte de Direito. Quando muito podemos chamar-lhe
fonte mediata, para acentuar a sua relevância prática e a maneira como contribui quer para a
formação quer para a relevância do Direito.

2. A LEI
2.1. CONCEITOS E ESPÉCIES.

A lei ocupa hoje em dia um lugar privilegiado na “Teoria das Fontes de Direito”, de tal
maneira que alguns a consideram até a única fonte admissível.

A lei, é o processo mais vulgarizado de criação do Direito, nos sistemas Continentais


Europeus e, é assim acolhido pelo nosso legislador:

ARTIGO 1 DO CÓDIGO CIVIL


1. “São fontes imediatas do direito as leis e as normas corporativas”.
2. “Consideram-se leis todas as disposições genéricas provindas dos orgãos
estaduais competentes,...”

Como decorre do nº 2 do citado artigo, “são Leis, todas as disposições genéricas provindas
de orgãos estaduais competentes”.

2.2 PRESSUPOSTOS DA LEI:

 Uma autoridade competente,


 Observância das formas previstas para essa actividade,
 Conter uma verdadeira regra jurídica.

No entanto, o conceito de lei, só se tornará verdadeiramente compreensível se tivermos em


conta a distinção entre:

 Lei em sentido formal e em sentido material


 Lei em sentido amplo e em sentido restrito.

Compilado por António Caetano de Sousa 17


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Lei em Sentido Formal, é todo o acto normativo emanado de um órgão com competência
legislativa quer contenha ou não uma verdadeira regra jurídica.

Lei em Sentido Material, é todo o acto normativo emanado de um órgão do Estado, mesmo
que não incumbido de função legislativa desde que contenha uma verdadeira regra jurídica.

Exemplos:

- Leis em sentido meramente formal – as que conferem ao governo autorização legislativa.


- Leis em sentido meramente material – um despacho que aprove o regulamento de
exames.
-Lei em sentido amplo é toda e qualquer norma jurídica.

- Leis em sentido formal e material – a Constituição, leis de revisão constitucional e as leis


ordinárias da Assembleia da República.

2.3. HIERARQUIA DAS LEIS

Há várias categorias de leis, pelo que surgem difíceis problemas quando se trata de aferir o
seu valor relativo. É pois necessário, estabelecer entre elas uma determinada ordenação ou
hierarquia.

Da hierarquia das leis resulta que as leis de hierarquia inferior não podem contrariar as leis de
hierarquia superior, antes têm de se conformar com elas, as leis de hierarquia igual ou
superior podem contrariar leis de hierarquia igual ou inferior a então diz-se que a lei mais
recente revoga a lei mais antiga.

A hierarquia das leis depende na hierarquia das fontes em que estão contidas e têm que ser
analisadas em paralelo com a hierarquia dos correspondentes aspectos do poder legislativo.

Para estabelecer esta hierarquia há que distinguir:

 Leis Constitucionais, e
 Leis Ordinárias.

LEIS CONSTITUCIONAIS

O poder de estabelecer normas constitucionais denomina-se Poder Constituinte e ocupa o


lugar cimeiro do poder legislativo. Pode ser atribuido a certo orgão por forma pré-
constitucional pode estabelecer a forma da sua revisão.

A Constituição é a lei fundamental de um Estado, a qual fixa os grandes princípios


fundamentais da organização política e da ordem jurídica em geral, pelos quais se rege a vida
dos cidadãos.

LEIS ORDINÁRIAS

Leis ordinárias são todas as restantes leis e podem provir:

Compilado por António Caetano de Sousa 18


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
- Da Assembleia da República – leis propriamente ditas,

- Do Governo – Decretos-lei e Decretos.

A Assembleia da República,é considerada o órgão legislativo por excelência (art. 169 C.R.M)
e dela provêm as leis e resoluções (art. 182 C. R. M.), porém só a lei se destina a estabelecer
verdadeiras regras jurídicas.

O Governo no exercício das funções legislativas, emite Decretos-Lei, Decretos e Resoluções


(art. 210 C.R.M.).

HIERARQUIA DAS LEIS

Constituição
Leis Constitucionais
Lei AR
Resolução
Tratados ou Convenções Internacionais

Decreto
Despacho Presidente da República

Decreto-Lei
Decreto Conselho de Ministros
Resoluções
Diploma Ministerial
Despacho Ministerial Conselho de Ministros
Circulares
Posturas __________ Conselho Municipal

3. PROCESSO DE FEITURA DAS LEIS

Estabelecemos os tipos ou categorias de leis existentes no nosso direito. Vejamos agora como
as leis se fazem e como cessa o seu valor vinculativo ou vigência.

Na elaboração das leis – processo legislativo – há a contar com várias fases:


a) Elaboração,
b) Aprovação
c) Promulgação
d) Publicação
e) Entrada em vigor.

4. VÍCIOS DA LEI
Os vícios da lei podem ser de três tipos:

- Ineficácia Jurídica,
- Inexistência Jurídica,
- Invalidade Jurídica.

Compilado por António Caetano de Sousa 19


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

INEFICÁCIA JURÍDICA, é quando o conteúdo de uma nova lei criada, torna-se destituída
de força vinculada geral e sem consequências jurídicas.

Exemplo: A falta de publicação de uma lei, implica a não produção dos efeitos a que o acto se
dirige.

INEXISTÊNCIA JURÍDICA, é para os casos em que se confronta directamente com a lei e


para o Direito não significa nada. Ela não produz os seus efeitos.

Exemplo: A falta de promulgação (assinatura) do P.R. numa lei aprovada pela A.R.

INVALIDADE JURÍDICA, surge quando o acto que deveria ser fonte de Direito fica sem
valor e pode ser revistida de duas formas:

- Nulidade – nulidade absoluta, indisponível às partes.


- Anulabilidade - nulidade relativa, disponível às partes.

Nulidade visa a defesa de interesses públicos e pode ser arguida a qualquer tempo.
Exemplo: A feitura de leis por parte de um orgão não competente para tal.

Anulabilidade, visa defender o interesse dos particulares, pode ser arguida dentro de um
determinado tempo, estabelecido por lei.

Exemplo: Uma lei que obriga os cidadãos a tomar certa atitude. Se ela for de todo
manifestante prejudicial ao interesse legítimo dos particulares, terá que ser cumprida até que
os orgãos competentes a declarem anulada.

MODOS DE CESSAÇÃO DA EFICÁCIA DAS LEIS

A lei ficará em princípio ilimitadamente em vigor. O decurso do tempo por maior que seja,
não é razão suficiente para que a lei cesse a sua vigencia.

Quando à sua extensão, a revogação pode ser:


 Total, ou
 Parcial.

A Revogação total ocorre quando todas as disposições de uma lei antiga são atingidas,
também são conhecidas por ab-rogação.

Exemplo: uma lei nova estabelece que todo o dispositivo legal concernente a determinado
assunto fica revogado.

A Revogação parcial dá-se quando só algumas disposições da lei antiga são revogadas, pela
lei nova, também conhecida por derrogação.

Exemplo: uma lei nova que revoga apenas arguns artigos da lei antiga.

Compilado por António Caetano de Sousa 20


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
A caducidade distingue-se pois da revogação, na medida em que esta resulta da nova lei,
contendo expressa ou implicitamente o afastamento da primeira, enquanto a caducidade se dá
independetemente de qualquer nova lei.

Importa ainda salientar que “a lei geral não revoga a lei especial, excepto se outra for a
intenção inequívoca do legislador”.

A lei especial tem em conta situações particulares que não são valoradas pela lei geral,
presumindo o legislador que a mudança desta não afecta esse regime particular.

A APLICAÇÃO DA LEI

I. A INTERPRETAÇÃO DA LEI

Interpretação, é a determinação ou fixação do sentido e alcance da lei, ou o seu entendimento


ou compreensão. A determinação do exacto e pleno conteúdo de pensamento nele contido.
Por outras palavras, a interpretação é a determinação ou fixação do exacto sentido e
alcance de uma norma.

Por vezes, diz-se que a Lei clara não necessita de interpretação(IN CLARIS NON FIT
INTERPRETATIO).

É um erro. Pois para aplicar a lei, é sempre necessário entendê-la ou compreendê-la, isso é a
interpretação. Esta pode ser mais ou menos fácil, mas é sempre necessária.

A técnica da interpretação chama-se hermenêutica jurídica.

1. FORMAS DE INTERPRETAÇÃO

Pelo critério da sua fonte e valor, a interpretação diz-se autêntica, oficial, judicial e
doutrinária.

1. Interpretação Autêntica, é a realizada pelo próprio orgão com competência legislativa


mediante uma lei de valor igual ou superior à lei interpretada.

A essa lei, que fixa o sentido decisivo da lei interpretada, chama-se lei interpretativa. Nota
esta forma de interpretação é vinculativa, isto é, tem a força vinculativa da própria lei.

Exemplo: Se uma lei da AR após publicação suscitar fortes dúvidas acerca do seu exacto
sentido e alcance, pode o orgão donde emanou (A.R.), fazer a sua interpretação através de
uma lei nova (lei interpretativa).

A interpretação autêntica é realizada igualmente pelos Assentos.Note-se uma vez que são
vinculativos, porque certos autores lhes reconhecem a natureza de lei interpretativas, desde
que atenda a interpretação em sentido amplo, isto é, abragendo a interpretação e integração de
lacunas.

Compilado por António Caetano de Sousa 21


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
2. Interpretação Oficial, é a realizada por lei de valor hierárquico inferior ao da norma
interpretada. Só é vinculativa em termos de obdiência hierárquica, nã vincula os tribunais.

Exemplo: A interpretação que um ministro fizer por circular, a certa norma, só é vinculativa
ao seu ministério por obediência hierárquica, mas não vincula para além disso.

3. Interpretação Judicial, é a realizada pelos tribunais num processo (salvo o caso particular
dos assentos), só tem valor vinculativo ao processo em si. Fora disso, pode persuadir pela
forma e exactidão dos argumentos, nã mais.

Exemplo: Quando durante o julgamento o juíz fizer a interpretação de determinado preceito


legal, ele o fará apenas para a solução daquele caso que está sendo julgado.

4.Interpretação Doutrinal ou Particular, é a efectuada pelos jurisconsultos ou outras


pessoas não investidas de autoridade.

Não tem força vinculativa, mas apenas a força ou poder de persuassão que resulta do prestígio
do intérprete ou da utilização de uma metodologia jurídica correcta.

2. FINALIDADES DA INTERPRETAÇÃO

A interpretação também se pode diferenciar consoante a finalidade que se propõe:

A) Interpretação Subjectiva e Interpretação Objectivista.


B) Interpretação Histórica e Interpretação Actualista.

I. A Interpretação Subjectivista, propõe-se como finalidade reconstrituir o pensamento


concreto do legislador, ententido como a pessoa ou as pessoas que fizeram a lei. Emprega-se
aqui o termo de “Mens Legislatoris”.

Exemplo: O que tenha em vista o legislador moçambicano ao aprovar a lei dos feriados
muçulumanos?

II. A Interpretação objectiva, procura determinar o sentido da lei em si, desligada da pessoa
ou pessoas que a fizeram. Emprega-se aqui o termo “Mens Legis”.

Exemplo o que a lei x aprende?

III. A Interpretação Histórica, tem por finalidade reconstituir o sentido que a lei tinha no
momento da sua elaboração e entrada em vigor.

Exemplo com a lei das nacionalidades o que determinou o seu surgimento, e o que pretende
regulamente.

IV. A Interpretação Actualista, tem por finalidade determinar o sentido que a lei tem no
momento da sua aplicação.

Exemplo o que vale a lei johe e agora.

Compilado por António Caetano de Sousa 22


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Entende-se conviniente que a interpretação deve ser Actual;ista. Com efeito, a lei tem valor
como instrumento social, nã como peça de tradição.

A interpretação Subjectivista é naturalmente Hisatórica, a objectivista naturalmente


Actualista.

3. ELEMENTOS DA INTERPRETAÇÃO

Chamam-se Elementos da interpretação aos vários factores ou critérios de que se socorre o


intérprete para determinar o verdadeiro sentido e alcance da lei. E podem ser:

a) Elemento Literal ou Gramatical,


b) Elemento Lógico.

A) ELEMENTO LITERAL OU GRAMATICAL é constituído pelo texto legislativo “a


letra da lei”

A letra da lei representa o ponto de partida da interpretação, é o seu elemento base, pois a
principal tarefa do interprete é ler a lei e ver o que aí se diz.

Elemento Gramatical consiste na utilização das palavras da lei, isoladamente e no seu


contexto sintáctico, para determinar o seu sentido possível. E para tal recomenda se que se
faça uso das gramáticas e dicionários.

Contudo, o exame literal do texto não nos resolve todos os problemas da interpretação, terá
que se recorrer a outros elementos devido às dificuldades que o texto legislativo
frequentemente composta e que dificultam a determinação do seu sentido e alcance.

Por tudo isto se compreende que além da letra é indispensável considerar o espírito da lei,
pois apreende o sentido das leis não é só conhecer as suas palavras, mas penetrar na sua foça e
poder.

B) ELEMENTO LÓGICO OU RACIONAL, “espirito da lei”, isto é, o sentido profundo


da lei.

Certos processos de dedução jurídica encontram-se já tipificados. É o caso de duas séries de


regras que dizem respeito às relações entre mais e menos, e às relações entre entre mais e
menos, e às relações entre meios e fins.

Relações entre mais e menos:

*A lei que permite o mais, permite o menos


*A lei que proibe o menos, proibe o mais.

Os argumentos deste tipo, que repousam ainda numa maior justificabilidade lógica da solução
(permitir, proibir), para outros casos que não o previsto – Chamam-se Argumentos por
maioria de razão. < < a fortiori>>.

Mas em sentido técnico-jurídico significa a não presença de uma pessoa, ignorando-se o seu
paradeiro.

Compilado por António Caetano de Sousa 23


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

Relações entre meios e fins:

* A lei que permite o fim permite os meios necessários à prossecução desse


fim.
* A lei que proíbe o fim, proíbe os meios que necessariamente a ele
conduzem.
* A lei que permite os meios permite o fim a que eles necessariamente
conduziriam.

O elemento lógico pode dividir-se em três elementos:

 Elemento Sistemático
 Elemento Histórico, e
 Elemento Teológico

1. ELEMENTO SISTEMÁTICO – quando recorre ao elemento sistemático, o intérprete


deve ponderar as relações que a norma a interpreta tem com outras normas a fins ou paralelas,
e com a totalidade do ornenamento jurídico em que está inserida.

Assim considera-se aquilo a que se chama o contexto da lei e os lugares paralelos.

Através do contexto da lei, ponderam-se as relações que a norma a interpretar tem com
conjunto de disposições a que ela pertence e que regulam a mesma matéria.

Por sua vez, os lugares paralelos, compreendem as disposições legais que regulam problemas
normativos paralelos ou institutos afins do disciplinado pela norma a interpretar.

Como a norma constitui um elemento de um ordenamento global e unitário, resulta que a sua
interpretação deve ser feita numa perspectiva de globalidade e unidade, dentro do espirito do
sistema.

2. ELEMENTO HISTÓRICO – este elemento compreende os dados ou acontecimentos


históricos que expliquem a lei.

Assim, recorre-se de vários meios:

 Procedentes normativos,
 Trabalhos preparatórios,
 Occasio legis

Os Precedentes Normativos, são constituídos tanto pelas normas que vigoraram em períodos
anteriores que são objecto da história de Direito, como pelas normas do Direito estrangeiro
que tiveram influência na formação da lei.

Os Trabalhos Preparatórios, são os estudos prévios, os anteprojectos e projectos da lei, as


respostas e críticas são feitas aos projectos, as actas das comissões encarregadas da elaboração
do projecto ou da sua discussão, que precedem a lei e documentar o processo da sua
elaboração.

Compilado por António Caetano de Sousa 24


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

Todos estes elementos podem ser úteis para definição da vontade real do legislador e afastar
interpretações que nã estejam em consonância com o que ele pretendia.

Ocasio Legis, é todo o conjunto de circunstâncias (políticas, sociais, económicas, morais,


etc.) que envolveram e influenciaram o aparecimento da lei.

Este elemento é muito importante especialmente na legislação de emergência.

3. ELEMENTO TELEOLÓGICO, consiste na razão de ser da lei “ratio legis”, no fim que
o legislador teve em vista ao eleborar a norma.

O conhecimento deste fim é extremamente importante para determinar o sentido da norma,


sobretudo quando acompanhado do conhecimento da circunstâncias históricas e particulares
em que ela foi eleborada (occasio legis).

4. OS RESULTADOS DA INTERPRETAÇÃO

Feita a interpretação da lei, com auxílio dos elementos referidos anteriormente, o intérprete
chegará a um dos seguintes resultados ou modalidades de interpretação:

 Interpretação Declarativa,
 Interpretaçã Extensiva,
 Interpretaçã Restritiva.

1. A Interpretação Declarativa ocorre quando o sentido que o intérprete fixou à norma


coincide com o significado literal ou um dos significados literais que o texto comporta, por
ser o que corresponde ao pensamento legislativo.

A interpretação declarativa pode ser lata ou restrita, consoante se considere o sentido mais
amplo ou, mais restrito de alguma ou algumas palavras da lei que têm mais do que um
sentido.

Exemplo: A palavra “homem”.

Pode ser interpretada num sentido mais lato – ser humano – interpretação declarativa lata.

Pode ser interpretada num sentido mais restrito – ser humano do sexo masculino –
interpretação declarativa escrita.

2. A Interpretação Extensiva é aquela em que o intérprete chega a conclusão que a letra da


lei fica aquém do seu espirito, porque o legislador disse menos do que no fundo predendia.

Nestes casos, torna-se necessário alargar o texto legal dando-lhe um alcance conforme ao
pesamento legislativo, fazendo corresponder a letra da lei ao seu espirito. (Art. 877º nº 1 C.C.)

3. A Interpretação Restrita, é o contrário da extensiva. Neste caso, a letra da lei vai além do
seu espirito por o legislador disse mais do que aquilo que pretendia.

Compilado por António Caetano de Sousa 25


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

O intérprete deve então restringir o texto isto é, incurtar o segnificado das palavras
empregadas pela lei, de modo à harmoniza-lo com o pensamento legislativo.

II. A LACUNA JURÍDICA

1. NOÇÃO: A Lacuna jurídica (caso omisso) existe quando uma determinada situação
merecedora de tutela jurídica não se encontra por vista na lei.

Torna-se então necessário perante estas situações não previstas na lei, mas carecidas de
regulamentção jurídica, fazer aquilo que se chama a integração de lacunas, que será
atividade que visa precisamente encontrar solução jurídica para os casos omissos.

Para haver integração, há que averiguar primeiramente que não há nenhuma regra aplicável,
isto é, que o caso não está especificamente regulado, o que presupõe, obviamente, uma prévia
interpretação.

Visando esta actividade, conforme já estudamos, a fixação do sentido e alcance da lei, só


depois de efectuada se pode concluir que dada situação não está abrangida nem na letra nem
no espirito de nenhum dos preceitos vigentes.

Deste modo, “a integração supõe a interpretação (em sentido técnico) mas não é ela própria a
interpretação”

Poderá parecer estranho que a ordem jurídica contenha lacunas, mas por mais competente que
seja o legislador, nunca consegue prever, todas as relações da vida social com relevância
jurídica.

Várias razões estão na origem de problema das lacunas.

Resumidamente indicaremos algumas:

2. ESPÉCIES DE LACUNAS

Certas situações são imprevisíveis no momento da elaboração da lei enquanto que outras,
embora previsíveis escapam a previsão do legislador em face da enorme complexidade de
formas da vida social.

Por vezes o próprio legislador, intecionalmente, sobretudo em matérias novas ou complexas,


abstém-se de regulá-la directamente, pelas dificuldades que se sente em o fazer
convenientemente.

Ainda que se verifique uma lacuna, o caso concreto tem de ser resolvido, pois de outro modo
violar-se-ia o disposto no art. 8º, do C.C.

3. FORMAS DE INTEGRAÇÃO

Compilado por António Caetano de Sousa 26


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Posto isto, e para dar cumprimento a este preceito há que recorrer à intefração da lei,
actividade que, repitimos, consiste no preenchimento de lacunas da lei e que está regulada
fundamentalmente no art. nº 10 do C.C.

Art. 10º
(Integração de lacunas)

1. Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma aplicável aos
casos análologos.

2.Há analogia sempre que no caso omisso procedam as razões justificativas da


regulamentação do caso previsto na lei.

3. Na falta de caso análogo, a situação é resolvida segundo a norma que o próprio


intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro do esperito do sistema.

Este artigo, consagra assim dois métodos para a resolução dos casos omissos:

 A analogia: art. nº 10 do C.C; e


 O método previsto no nº 3 do mesmo artigo.

a) A ANALOGIA

Sempre que seja possível, recorre-se à anologia, que consiste em aplicar ao caso omisso, a
mesma norma reguladora de qualquer caso análogo.

Assim por exemplo: a circulação aérea quando surgiu provocou uma lacuna da lei durante
algum tempo, mas as mesmas que existiam sobre a navegação e transporte marítimos
puderam em grande parte aplicar-se por analogia, pelas muitas semelhanças qye havia entre
os dois tipos de transporte.

O recurso à analogia como primeiro meio de preenchimento de lacunas, justifica-se por


uma questão de coerência normativa do próprio sistema jurídico. De facto, tal
circunstância, existe que casos semelhantes devem merecer do Direito o mesmo
tratamento, favorecendo assim em larga medida a certeza e a a segurança jurídica.

N.B. A aplicação analógica distingue-se da interpretação extensiva porque esta


pressupõe ue determinada situação, não estando compreendida na letra da lei, o está no
seu espirito, enquanto que a analogia leva a uma aplicação da lei a situações não
abrangidas, nem na letra da lei, nem no seu espírito.

Proibições do uso da analogia

Apesar das razões apontadas para o uso da analogia, verifica-se que em certos casos a lei a
proíbe:

 Nas normas excepcionais, art. 11º do C.C.


 Nas normas incriminadoras, art. 18º C. Penal
 Em Direito Fiscal, relativamente às normas de incidência (29) do imposto e às que
definem garantiam dos particulares.

Compilado por António Caetano de Sousa 27


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

b) MÉTODO PREVISTO NO Nº 3 DO ART. 10º DO C.C.

Verificando-se uma lacuna da lei, e na falta de caso análogo, o art. 10º, nº 3 C.C., manda que
Resolvida segundo a norma que o próprio interprete criaria, se houvesse de legislar dentro do
espírito do sistema”.

Assim, o intérprete não é remetido para juízo de equidade, isto é, para a justiça do caso
concreto, antes tem de decidir segundo uma regra que contemple a categoria de casos em que
se enquadre o caso omisso, válida apenas para esse caso.

Isto significa que essa norma não tem carácter vinculativo para futuros casos ou para outros
julgadores.

A. APLICAÇÃO DAS LEIS NO TEMPO E NO ESPAÇO

Como já estudamos, o Direito é na sua essência um ordenamento normativo e coactivo das


relações sociais. Ora, a evolução da vida social vai se reflectir necessariamente nas relações
sociais que a constituem, e o Direito que na sociedade encontra a sua razão de ser – Ubi
societas ibi ius – não pode ignorar tal evolução.

Daí porém a mutabilidade do direito e o aparecimento de novas normas que vão substituir
outras, que melhor se adaptem às modificações que vão surgindo na sociedade.

Porém, o facto de surgir uma nova lei, não implica o corte radical na continuidade da vida
social, pois há situações jurídicas que tendo-se constituído no passado, isto é antes da entrada
em vigor da nova lei, se prolonga no futuro, sob a vigência desta, entrando assim em contacto
com duas ou mais leis que sucedem no tempo.

A essas situações, que lei se aplica? A antiga ou a nova lei?

Por outro lado, as relações jurídicas não se desenvolvem apenas no quadro nacional, pois
também podem entrar em contacto com mais de um ordenamento jurídico estadual ou porque
os sujeitos da relação pertencem a Estados diferentes ou o próprio objecto a que ela respeita
se situa num outro Estado, ou os seus efeitos se vão produzir noutro, etc.

A essas situações que lei se aplica? A nacional ou a Estrangeira?

Surgem-nos assim duas questões de grande importância e complexidade, no domínio da


selecção da norma aplicável, que iremos analisar em seguida e que se referem
respectivamente:

- A aplicação da da lei no tempo; e


- A aplicação da lei no espaço;

B. A APLICAÇÃO DAS LEIS NO TEMPO

Para melhor se compreender esta questão, vamos supor os seguintes casos:

Compilado por António Caetano de Sousa 28


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
* Dois indivíduos celebram um contrato quando a lei não exigia escritura pública para a sua
realização. Entretanto, surge uma nova lei que vem exigir esse formalismo para esse tipo de
contratos.
Deverá, por força da lei nova, considerar-se formalmente inválido aquele contrato?

* O regime de administração dos bens do casal, é alterado por uma nova lei.

* Deverá esta aplicar-se aos casamentos anteriores?

* Determinado indivíduo pratica um facto, que na altura era considerado criminoso e punível
com prisão até 6 meses. Entretanto, antes do julgamento surge uma nova lei que deixa de
considerar tal facto punível.

Qual da leis deverá aplicar-se?

Casos como estes e outros muito mais complexos surgem constantemente pois cada vez são
mais numerosos e frequentes as alterações e inovações legislativas, o que acontece com
particular acuidade na nossa época.

Uma das soluções possíveis para os problemas da sucessão de leis no


tempo, motivados pela entrada em vigor de uma nova lei, são as disposições transitórias
fixadas nessa mesma lei e que se destinam a regulal a tradição dum regime legal para o outro.

Porém, na maior parte das vezes e na grande maioria dos casos, o legislador nada diz sobre a
lei aplicável a situações em que se suscita um problema de aplicação de leis no tempo.

Daí a necessidade de se recorrer a princípios doutrinários e gerais que orientem o jurista na


resolução destes conflitos.

Neste caso, o principio que se pode invocar e para o qual é remetido o jurista é “o da não
retroactividade da lei”, de harmonia com o precentuado no art. 12º do C.C. (32(.

Art. 12º
Aplicação das leis no tempo.
( Princípio geral)

1. A lei só dispõe para o futuro, ainda que lhe seja atribuída eficácia retroactiva,
presume-se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se
destina a regular.

2. Quando a lei dispõe sobre as condições de validade substancial ou formal de


quaisquer factos ou sobre os seus efeitos, entende-se, em caso de dúvida, que só visa os
factos novos, mas, quando dispuser directamente sobre o conteúdo de certas relações
jurídicas, abstaindo dos factos que lhe deram origem, entender-se-á que a lei abrange as
próprias relações já constituídas, que subsistam à data da sua entrada em vigor.

Compilado por António Caetano de Sousa 29


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Este princípio não tem carácter absoluto, pois pode haver em determinados domínios a
possibilidade de leis retroactivas, como se prevê no art. 12º, nº 1. “...ainda que lhe seja
atribuída eficácia retroactiva”.

Mas a regra é a de que a lei só dispõe para o futuro, isto é, não tem efeitos retroactivos.

De outro modo atentar-se-ia contra a certeza e segurança do Direito, valores fundamentais


para a vida das pessoas e que contribuem para que cada um com base em expectativas firmes
estabeleça os seus planos de vida.

Como excepção áquela regra temos a lei interpretativa que tem efeitos retroactivos, porque se
integra na lei interpretada art. 13º, nº 1.

Já que as leis interpretativas são aquelas que fazem a interpretação autêntica de outras leis
anteriores, entende-se que são retroactivas porque actuam sobre o passado.

Então, como a lei interpretativa é retroactiva, há a necessidade de garantir “a estabilidade das


situações já consumadas” pois de outro poder-se-iam provocar grandes pertubações nas
relações sociais.

Nas Constituições modernas, “o princípio da não retroctividade, não é principio constitucional


a não ser no domínio do Direito Penal (art. 99, nº 2 da C.R.M.).

C. A APLICAÇÃO DAS LEIS NO ESPAÇO

As leis, assim como são limitadas no tempo são no também no espaço.

Como já sabemos, cada Estado tem a sua própria ordem jurídica interna, o seu Direito.

Porém as relações sociais transcendem o âmbito dos Estado e estabelecem-se quer entre
indivíduos de Estado diferentes, quer entre os próprios Estados.

Deste modo resulta, que os Estados não aplicam exclusivamente o seu Direito interno no seu
espaço, e tenham por vezes que aplicar nos seus tribunais as leis de outros Estados.

Entram assim em concorrência leis estrangeiras com as leis do próprio Estado, dentro do seu
próprio território, quando uma situação jurídica se produz de modo a relacionar-se com mais
de um ordenamento jurídico estadual.

- quer pela nacionalidade ou domínio dos sujeitos,


- quer pelo lugar da prática do facto constitutivo da relação ou do lugar onde os seus efeitos
se vão produzir.
- quer pelo lugar da situação do seu objecto, etc.

Surgem assim os conflitos das leis no espaço que são decididos mediante as regras de
conflito, que permitem determinar qual de entre as leis em contacto com a situação deve ser
decrerada competente para a regular.

Tais regras constituem o objectivo do Direito Internacional Privado e estão contidas nos
artigos 15º a 65º do C.C.

Compilado por António Caetano de Sousa 30


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

A- RAMOS DE DIREITO

I. RAZÕES DA DIVISÃO

Passamos agora à divisão das instituições e regras atendendo ao seu conteúdo. A ordem
jurídica é uma, mas o seu estudo impõe a demarcação de sectores. A esses sectores se chama
tradicionalmente os ramos do direito.

O conteúdo de cada ramo deve ser estruturado por intermédio de princípios gerais próprios
desse ramo. Isto permite um aprofundamento coordenado das matérias nele abrangidas.

A primeira e mais tradicional divisão do Direito é a que distingue entre Direito Público e
Direito Privado.

Esta distinção tem sido polémica, ao longo dos tempos, sendo vários os critérios de distinção
proposto pelos diversos autores.

II. CRITÉRIOS DE DISTINÇÃO

Existem 3 critérios de distinção:

 Critério da natureza dos interesses;


 Critério da qualidade dos sujeitos na relação jurídica; e
 Critério da posição do sujeitos na relação jurídica.

II.1 CRITÉRIO DA NATUREZA DOS INTERESSES

De acordo com este critério, o Direito Público, teria como objectivo a satisfação de interesses
públicos, pelo contrário, o Direito Privado, visaria a satisfação de interesse privados.

As normas que regulam por exemplo a fixação dos impostos, que determinam as penas
aplicáveis aos diversos crimes, etc., sua vez, as normas que regulam os direitos e deveres dos
compradores e vendedores são incluídos no Direito Privado.

Este critério suscita algumas críticas:

Com efeito é difícil dizer se uma norma regula interesses da colectividade (públicos) ou se
tutela interesses privados.

Na verdade, todas as normas jurídicas, mesmo as de Direito Privado são criadas no interesse
público, porque os interesses protegidos pelo Direito, mesmo os individuais devem ter certa
relevância pública.

Exemplo: As normas que fixam as penas para os diversos crimes, procuram defender a
segurança da colectividade, garantir a paz social e nessa medida tutelar interesses públicos.

Por seu turno, as normas de Direito Público visam regular a conduta dos homens em
sociedade e tutelam também os interesses dos particulares.

Compilado por António Caetano de Sousa 31


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Exemplo: as normas que fixam os diversos impostos, protegem antes de mais um interesse do
Estado, que é a obtenção de receitas públicas; mas os particulares também são beneficiados
com essas receitas se o Estado lhes proporcionar serviços públicos eficientes.

Alguns autores procuram reformular este critério e basear a distinção entre Direito Público e
Direito Privado, tendo em conta a natureza do interesse predominantemente tutelado pela
norma.

Assim, seriam normas de Direito Público, as que tutelassem fundamentalmente interesses da


colectividade e normas do Direito Privado, as que predominantemente visassem a protecção
do interesse individual.

Também esta modalidade levanta as maiores dificuldades, não facultando uma distinção entre
as diversas normas. Com efeito, é na maioria das vezes difícil distinguir qual é o interesse –
privado ou público - que é predominantemente tutelado, passando a distinção a estar
dependente de critérios de valoração.

Assim, se para alguns autores predomina em determinadas normas um interesse geral, outros
autores virão neles tutelados predominantemente interesses particulares.

II.2 CRITÉRIO DA QUALIDADE DOS SUJEITOS NA RELAÇÃO JURÍDICA

De acordo comeste critério, o Direito Público, é constituído pelas normas que regulam as
relações em que intervenha o Estado ou qualquer ente público em geral; o Direito Privado, é
constituído pelas normas que regulam as relações entre particulares.

Este critério também é sujeito a críticas, uma vez que o Estado e demais entes públicos podem
actuar e frequentemente actuam, nos mesmos termos que qualquer particular.

Exemplo: quando o Estado celebra com outro ente público um contrato de compra a venda, as
normas do contrato não deixam de ser de Direito Privado, para passarem a ser de Direito
Público.

II.3 CRITÉRIO DA POSIÇÃO DOS SUJEITOS NA RELAÇÃO JURÍDICA

Para alguns autores este parece ser o critério mais adequado. Segundo ele a destrinça entre o
Direito Público e Direito Privado, fundamenta-se na posição relativa dos sujeitos da relação
social regulada pela norma.

Assim, o Direito Público disciplina as relações jurídicas que se estabelecem entre o Estado
(ou outros entes públicos) os particulares, intervindo o Estado numa posição de supremacia,
isto é, como entidade dotada de poder soberano << imperium>>; as normas de Direito
Privado, regulam as relações sociais entre particulares ou em que intervenham o Estado (ou
outros entes públicos) desprovidos do seu <<imperium>>.

Assim, os sujeitos da relação jurídica estão numa relação de igualdade ou paridade.

Exemplo: quando o Estado celebra um contrato de arrendamento com o proprietário de um


prédio para lá instalar um serviço, ele actua em pé de igualdade com o proprietário do prédio,

Compilado por António Caetano de Sousa 32


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
não exercendo nessa relação nenhuma função soberana. Estamos perante uma relação de
Direito Privado.

Pelo contrário, certas relações tributárias que se estabelecem entre os particulares e o Estado,
e em que este intervém com o seu poder soberano, dizem-se de Direito Público.

É evidente que estes dois ramos de Direito, o Direito Público e o Direito Privado, não
constituem dois compartimentos estanques, separados de forma absolita. Pelo contrário,
existem muitos pontos de conexão entre eles.

B. APLICAÇÃO DAS NORMAS DE DIREITO PRIVADO E DIREITO PÚBLICO

No campo da aplicação do Direito, é importante distinguir se a norma é de Direito Público ou


de Direito Privado, para se saber se a pretensão resulta de uma relação de Direito público ou
de Direito privado e se determinar qual o Tribunal que pode julgar. Assim: os tribunais
judiciais (cíveis, de trabalho, de família), são competentes para resolver os diferendos que
surgem entre particulares, ou entre particulares e o Estado, estando os sujeitos numa posição
de igualdade – relação de Direito Privado.

Os Tribunais Administrativos, são competentes para resolver os diferendos entre particulares


e entes públicos, ou entre entes públicos diversos, estando estes munidos de poder soberano –
relação de Direito Público.

C. RAMOS DO DIREITO PÚBLICO

Dentro do Direito Público é vulgar distinguir nomeadamente os seguintes ramos de


Direito:Direito Constituciona, Direito Administrativo, Direito Financeiro, Direito
Fiscal,Direito Criminal e Direito Processual.

Vejamos agora qual é o objecto próprio de cada um destes ramos de Direito:

I. DIREITO CONSTITUCIONAL

É o conjunto de normas que regulam a organização fundamental do estado e que estabelecem


ainda os direitos e obrigações recíprocas do Estado, bem os direitos e deveres dos cidadãos.

I.1 CONSTITUIÇÃO

A Constituição pode ser definida como a lei fundamental dum país, que fixa os grandes
princípios da organização política e da ordem jurídica em geral e os direitos e deveres
fundamentais dos cidadãos.

As normas constitucionais ocupam assim um lugar cimeiro na hierarquia das leis.

O nosso país tem uma história constitucional muito nova, pois, só apenas com a
independência é que tivemos a nossa primeira constituição. Ela sofreu várias alterações, mas
só foi definitivamente revogada em 1990, tendo vigorado até 20 de Janeiro com alterações
resultantes nomeadamente da aplicação do Acordo Geral de Paz, assinado em Roma em 1992,
implantação das autarquias em 1997 e por força da necessidade e para fazer face aos pleitos
eleitorais de 1998 e 1999.

Compilado por António Caetano de Sousa 33


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

A partir de 21 de Janeiro de 2005, passou a vigora a nossa terceira constituição, aprovada pela
Assembleia da República aos 16 de Novembro de 2006.

II. DIREITO ADMINISTRATIVO

O Direito Administrativo é constituído pelas normas jurídicas reguladores da organização da


Administração Pública e do seu processo próprio de agir nas relações com os particulares.

O Direito Administrativo moçambicano pode definir-se o sistema de normas jurídicas que


regulam a organização e o processo próprio de agir da Administração Pública e disciplinam as
relações pelas quais ela prossegue interesses colectivos podendo usar da iniciativa do
Privilégio de Execução Prévia.

O Privilégio de Execução Prévia consiste na faculdade concedida a certas pessoas ou órgãos


de executarem imediatamente as medidas destinadas à satisfação das necessidades colectivas,
em vez de aguardarem que um órgão jurisdicional decida previamente sobre se é ou não legal
a medida projectada.

Exemplo: O Estado pode executar o património do devedor para realização dos créditos não
voluntariamente satisfeitos, sem necessidade de declaração judicial prévia do seu direito.

A actividade administrativa do Estado, é toda a actividade do executivo com exclusão da


actividade legislativa. É uma actividade que tem por objectivo a satisfação das necessidades
públicas ou colectivas, tais como a manutenção da ordem e paz públicas, a assistência social,
os transportes, extinção de incêndios, fornecimento de energia eléctrica e de água ás
populações, etc.

É costume dizer-se que o Direito Administrativo disciplina a actividade do Estado,


enquanto o Direito Constitucional regula a organização do Estado.

O Direito Administrativo é unanimemente considerado Direito Público. Com efeito, no


exercício da função administrativo, o Estado intervém munido do seu poder soberano <ius
imperium>>.

III. DIREITO FINANCEIRO

É constituído pelo conjunto de normas jurídicas que regulam a actividade financeira do


Estado.

O Estado para satisfazer as necessidades colectivas, desenvolve uma actividade financeira,


tendo por objectivo a obtenção de receitas e a realização de despesas.

O Direito Financeiro regula assim as formas de recolha, gestão e aplicação dos meios
financeiros do Estado. Esses meios financeiros, são obtidos através de impostos e taxas,
receitas patrimoniais e empréstimos públicos.

IV. DIREITO FISCAL

Compilado por António Caetano de Sousa 34


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
É o conjunto de normas jurídicas reguladoras do nascimento, desenvolvimento e extinção das
relações jurídicas suscitadas pela percepção do imposto.

Tradicionalmente são apresentadas as seguintes fases do imposto:

Incidência – é a definição geral e abstracta, feita pela lei, dos actos ou situações sujeitos a
impostos e das pessoas sobre as quais recai o dever de prestar.

Liquidação – consiste na série de operações, ou seja a aplicação da taxa da matéria


colectável, para a determinação do montante do imposto.

Cobrança - é a fase última do imposto e consiste na operação administrativa que visa a


entrada dos impostos nos cofres do Estado.

V. DIREITO CRIMINAL OU PENAL

É o conjunto de normas jurídicas que procuram qualificar determinados factos como crimes e
fixam os pressupostos da aplicação de sanções criminais correspondentes (penas e medidas de
segurança).

O Direito Criminal indica não só os diversos tipos de crimes, mas também as condições em
que existe culpa, bem como as modalidades da culpa (dolo ou negligência), as circunstâncias
agravantes atenuantes do crime, as condições e os termos em que pode ser decretada uma
medida de segurança, etc.

O crime é o elemento central, deste ramo de Direito Público.

VI. DIREITO PROCESSUAL

É o conjunto de normas que fixam os termos a observar na propositura e desenvolvimento de


uma acção que os particulares ou o Estado submetem a julgamento.

VI.I DIREITO PROCESSUAL CIVIL

É o conjunto de normas que estabelecem os termos a observar na propositura e no


desenvolvimento das acções cíveis, ou seja, nas acções fundadas no direito civil.

VI.II. DIREITO PROCESSUAL CRIMINAL OU PENAL

É o conjunto de normas que estabelecem os termos a observar na instauração e no


desenvolvimento da acção criminal.

D. RAMOS DO DIREITO PRIVADO

Como se referiu atrás o critério mais adequado para alguns autores, é o que define Direito
Privado, como um conjunto de normas que regulam as relações sociais que se estabelecem
entre os particulares ou entre os particulares e o Estado (ou outros estes públicos) desde que
estes intervenham em pé de igualdade com os particulares.

I. DIVISÕES DO DIREITO PRIVADO:

Compilado por António Caetano de Sousa 35


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Direito Civil
Direito Privado Especial

O Ramo mais importante no Direito Privado é o Direito Civil.

II. DIREITO CIVIL

O Direito Civil, é o direito privado comum ou direito-regra, cujo campo de acção tende a
abranger todas as relações de Direito Privado. É o núcleo fundamental do Direito privado.

Daí que em relação aos outros ramos do Direito privado, seja considerado um direito
subsidiário, isto é, sempre que surja um caso a resolver que não esteja previsto nesses ramos,
ter-se-á que recorrer às normas contidas no Direito Civil.

O principio central do Direito Civil é o da livre autonomia da vontade das partes.

A autonomia, consiste na liberdade na liberdade de cada um ordenar dentro de certos limites


gerais, o leque de relações que lhe dizer respeito; consiste ainda na liberdade de exercer ou
não os poderes de que é titular.

O diploma fundamental do Direito Civil é o Código Civil.

3.1.1. Subclassificação do Direito Civil

O Código Civil aparece-nos subdividido em:

II.I PARTE GERAL

Título I – Das leis, sua interpretação e aplicação.


Título II – Das relações Juridicas.

O título I, contém uma << teoria geral da lei >> (teoria das fontes de direito, teoria da
interpretação o aplicação da lei, teoria da aplicação da lei no tempo e teoria da aplicação da lei
no espaço).

O título II, contém uma << teoria geral das relações juridicas >> (a teoria geral do facto
jurídico, a das pessoas, a das coisas, e a do exercício de direitos e das provas.

II.3. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Regula um tipo particular de relação jurídica, a que se chama obrigação, relação jurídica
obrigacional ou relação jurídicas de crédito.

A obrigação tanto pode resultar de um contrato como de um acto ilícito. O contrato é no


entanto por excelência a expressão da sua autonomia privado.

II. 4. DIREITO DAS COISAS

Também se designa por Direitos reais, cuja instituição central é a propriedade (mas regula
também o usufruto, uso e habitação, direito de superfície e servidão predial).

Compilado por António Caetano de Sousa 36


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

II.5. DIREITO DA FAMÍLIA

Regula as instituições típicas do casamento, da adopção e da afinidade.

II. 6 . DIREITO DAS SUCESSÕES

Disciplina a sucessão por causa de morte, <<mortis causa>>.

III. DIREITO PRIVADO ESPECIAL

III.I DIREITO COMERCIAL

O Direito Comercial é um direito privado especial, regulador da actividade mercantil.

De acordo com o art. 1º do novo Código Comercial:<< A lei comercial regula a actividade
dos empresários comercias, bem como os actos considerados comerciais.>>

Refere-se assim o Direito Comercial a um sector específico, objectivamente delimitável.

Aparentemente, a determinação do campo da lei comercial seria facilitada pelo confronto com
o conceito de comércio – actividade de mediação entre a produção e o consumo de bens.

No entanto, o conceito jurídico de comércio é muito mais extenso e guia-se pelos princípios
da Celeridade, Reforço do crédito, Boa fé, e Fim lucrativo da actividade comercial

DIREITO DO TRABALHO
O Direito do Trabalho estuda as normas jurídicas que regem as relações de trabalho: os
direitos e obrigações dos trabalhadores face à entidade patronal e, de ambos (trabalhadores e
entidade patronal), face ao Estado.

O Direito do Trabalho regula apenas relações da classe subordinada e numa da classe


empregadora.

TEMA V. TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

1. RELAÇÃO SOCIAL : NOÇÃO E ESPÉCIES

Para se falar de relação jurídica, tem que se falar primeiro das situações sociais, que se
revelam nas relações entre as pessoas. Estes casos da vida real, conforme a importância que
têm ou não têm na vida da comunidade, podem ou não ter protecção jurídica. Assim, as
situação jurídicas dividem-se em dois grandes grupos:

2. Situações sociais ajurídicas;

3. Situação sociais jurídicas

São ajurídicas as situações sociais que não têm protecção legal, não têm relevância para o
Direito.

Compilado por António Caetano de Sousa 37


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
São jurídicas as situações sociais cuja importância na vida das sociedades toena-se dignas de
proteção legal e por isso mesmo, estão tuteladas pelo Direito.

2. A RELAÇÃO JURÍDICA

NOÇÃO

Vamos em seguida debruçar-nos sobre a Relação Jurídica pela sua importãncia para a Teoria
Geral do direito Civil e porque, em certo sentido, redunda uma Teoria Geral do direito
Sujectivo.

Vejamos: a vida em sociedade realiza-se através de uma multiplicidade de relações sociais


determinadas pela necessidade de vida em comum. Quando o Direito intervém para as
regular, elas transformam-se em relações jurídicas.

A ordem Jurídica desenvolve-se assim numa compexa teia de relações intersubjectivas,


tuteladas pelo Direito.

A Expressão relação jurídica pode ser tomada em dois sentidos: Amplo e Restrito ou
técnico.

Num sentido amplo, relação jurídica é toda e qualquer relação da vida social disciplinada
pelo direito, isto é, juridicamente relevante.

Esta noção é extremamente ampla e vaga, e apenas não estão incluidas neste sentido as
relações da vida social estranhas ao direito como a amizade, gratidão, etc.

Num sentido restrito ou técnico, relação jurídica é a relação da vida social disciplinada
pelo direito, mediante a atribuição a um sujeito de um direito subjectivo e a imposição a
outro de um dever juridico ou de uma sujeição.

È este facto o sentido nos interessa para a nosso Direito.

ELEMENTOS DA RELAÇÄO JURIDICA

O conceito de relação jurídica pressupõe um conjunto de elementos cuja sistematização


tradicional é a seguinte:

a) OS SUJEITOS

b) O OBJECTO

c) O FACTO JURÍDICO

d) A GARANTIA

SUJEITOS da relação jurídica são as pessoas entre as quais ela se estabelece. São os titulares
do direito subjectivo e das posições passivas correspondentes – dever jurídico ou sujeição.

Compilado por António Caetano de Sousa 38


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
O OBJECTO é aquilo sobre o que recaem os poderes do titular do direito (por exemplo,
coisas ou prestações).

O FACTO JURÍDICO é todo o acontecimento natural ou acção humana produtivo de efeitos


ou consequências jurídicas.

Esse efeito poderá ser o de criar, modificar ou extinguir uma relação jurídica.

A GARANTIA é a susceptibilidade de protecção coactiva da posição do sujeito activo da


relação jurídica pode recorrer aos meios coercitivos que a lei põe à sua disposição para obter a
satisfação do seu direito no caso de violação ou de ameaça de violação do mesmo.

Exemplo de uma relação jurídica

Suponhamos que Alberto vendeu a Bonifácio uma casa. Estabeleceu-se entre ambos uma
relação em que se distinguem os seguintes elementos:

Sujeitos – Alberto e Bonifácio

Objecto – a casa

Facto jurídico – o contrato de compra e venda

Garantia – a faculdade que Alberto e Bonifácio dispõem de recorrer ao tribunal para obrigar o
outro a cumprir a sua obrigação, no caso de recusa.

DIREITOS E DEVERES JURÍDICOS OU SUJEIÇÕES

Como vimos, toda a relação jurídica existe entre sujeitos.

Dentro do nexo ou vínculo que une os sujeitos, podemos distinguir:

- o lado activo correspondente ao titular do direito subjectivo ( sujeito activo).

- o lado passivo, correspondente ao titular do dever jurídico ou sujeição (sujeito passivo).

O DIREITO SUBJECTIVO – é o poder atribuido pela ordem jurídica a uma pessoa de


livremente exigir ou pretender de outra certo comportamento positivo (acção) ou
negativo (omissão), ou de por um acto de uma autoridade pública, produzir
determinados efeitos jurídicos inevitáveis na esfera jurídica alheia.

Só existe um direito subjectivo quando o seu tiutlar é livre de exercer ou não, o que significa
que o exercírcio do poder conferido por esse direito está dependente da vontade do respectivo
sujeito.

OS SUJEITOS

Sujeitos de Direito são as entidades susceptíveis de serem titulares de relações jurídicas.

Compilado por António Caetano de Sousa 39


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Há que distinguir, como jã referimos, o sujeito activo – titular do direito subjectivo – e o
sujeito passivo adstrito à vinculação (dever jurídico ou sujeição).
Em qualquer dos lados da relação jurídica, pode haver unicidade ou pluralidade de sujeitos.
Estes podem ser pessoas singulares ou colectivas consoante se trate de indivíduos ou
organizações.

Todo o sujeito de direito é necessariamente pessoa em sentido jurídico.

Como pessoas jurídicas que são, os sujeitos são dotados de personalidade jurídica, que é a
aptidão para ser titular de relações jurídicas, ou seja, de direito e vinculações.

Também o Direito Objectivo atribui persanalidade jurídica a certas organizações que têm um
substracto social e uma individualidade própria tais como uma sociedade comercial, um
partido político ou um sindicato, para que possam ser titulares de relações jurídicas e para
uma melhor consecução dos fins sociais ou colectivos que se propõem.

(Estão neste caso as pessoas colectivas, já referidas).

PESSOAS SINGULARES

Na história do Direito, são conhecidas situações em que a personalidade jurídica era negada a
certos seres humanos – os escravos – que eram tratados no Direito Romano como coisas, isto
é, como objecto de direito e não como sujeito destes.

Idêntica situação recaía sobre determiandos pessoas autoras de crimes graves, a que
correspondiam também certas penas criminais graves, extintivas da personalidade jurídica.

O Direito moderno, dando expressão a uma exigência da natureza e de dignidade do homem,


orienta-se no sentido de reconhecer a personalidade jurídica a todos os homens, condição
indispensáveis a realização dos seus fins e interesses na vida social.

PERSONALIDADE JURÍDICA

Se alguém ou alguma intidade é titular de um direito ou sujeito a uma obrigação, é porque o


pode ser. E esta aptidão a ser titular de direitos e obrigações constitui uma figura muito
importante do direito: a personalidade jurídica.

Chama-se personalidade jurídica a susceptibilidade de ser titular de direitose obrigalções.

Titularidade é a ligação efectiva entre o direito subjectivo e a pessoa em quem está investido.

Começo e termo de personalidade

A personalidade jurídica é inerente a todos os seres humanos, pois radica na sua natureza e
pertence-lhe por direito originário.

Compilado por António Caetano de Sousa 40


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Artigo 66º
(Começo da personalidade)

1. A personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com vida.

2. Os direitos que a lei reconhece aos nasciturnos dependem do seu nascimento.

Art. 68º
(Termo da personalidade)

1. a personalidade cessa com a morte.


2. …
3. …

Direitos de personalidade

À personalidade jurídica estão ligados certos direitos fundamentais, os chamados direitos de


personalidade. Em esta designação os poderes jurídicos pertencentes a todas as pessoas por
força do nascimento e que se impõem ao respeito de todas as outras.

São verdadeiros direitos subjectivos que tem por objecto certas manifestações de
personalidade humana física, a sua honra, a sua liberdade física e psicológica, a sua imagem,
o seu nome, a intimidade da sua vida privada, etc.

É este um círculo de direitos necessários; um conteúdo mínimo e imprescindível da esfera


jurídica de cada pessoa. Podemos classificá-los de:

gerais – porque todos os possuem;

não patrimoniais ou pessoais – porque não são susceptíveis de expressão pecuniária, embora a
violação desses direitos possa implicar uma reparação monetária.

Absolutos – porque lhes corresponde um dever geral de respeito.

Artigo 70º e seguintes.

Nos nossos dias, multiplicam-se as iniciativas em torno da defesa dos direitos do homem,
tanto a nível de Estado como de organizações privadas de renome internacional, como é o
caso da << Amnistia Internacional >>, criada em 1961, á qual foi atribuído o Prémio Nobel da
Paz em 1977.

Em Moçambique, temos a Liga de Defesa dos Direitos Humanos, que visa a defesa da
dignidade da pessoa humana e denunciar as violações que os direitos do homem sofrem ainda
em grande número de Estados contamporâneos.

CAPACIDADE JURIDICA

Compilado por António Caetano de Sousa 41


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
A capacidade jurídica ou capacidade de gozo de direitos é inerente à personalidade jurídica

Compilado por António Caetano de Sousa 42


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Artigo 67º do C.C.

As pessoas podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em
contrário; nisto consiste a sua capacidade jurídica.

A capacidade de gozo de direitos é assim o conteúdo necessário da personalidade jurídica, já


que esta compete a todas as pessoas e é, como sabemos, a aptidão para ser sujeito de relações
jurídicas.

Enquanto a personalidade jurídica é um conceito puramente qualitativo, pois refere-se apenas


à condição jurídica da entidade em causa, a capacidade jurídica tem um sentido qualitativo,
pois a medida de direitos e vinculações de que cada um pode ser titular é variável.

Mais rigorosamente podemos dizer que a capacidade jurídica é a aptidão para ser titular de um
circulo maior ou menor de relações jurídicas.

Distinta desta noção é a de capacidade de exercício de direitos ou capacidade de agir, que


significa a medida de direitos e vinculações que a pessoa pode exercer ou cumprir por si,
pessoal e livremente.

Nota-se que o que está agora em causa não é já a aptidão para a titularidade, mas sim para o
exercício de direitos.

“ Enquanto a capacidade jurídica é uma simples condição de gozo, uma posição estática, a
capacidade de agir denota uma actividade dinâmica, o poder de pôr em movimento os
direitos, de produzir transformações mediante actuação jurídica própria.” .

Em princípio todas as pessoas singulares, ao atingirem a maioridade adquirem capacidade de


exercício, que resulta do preceituado nos artigos 130º (ambos do Código Civil ).

Artigo 130º
Efeitos da maioridade

Aquele que perfizer vinte e um anos de idade adquire plena capacidade de exercício de
direitos, ficando habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens.

Artigo 133º
Efeitos da emancipação

A emancipação atribui ao plena capacidade de exercício de direitos, habilitando-se a reger a


sua pessoa e a dispor livremente dos seus bens como se fosse maior, salvo o disposto nos
artigo 136º e 1649º.

No entanto, a lei reconhece como possível certas situações excepcionais – as incapacidades.

Com efeito, pode suceder uma pessoa ser titular de direitos, isto é, ter capacidade de gozo e
não os poder exercer por lhe faltar a necessária idoneidade para actuar juridicamente, ou seja,
a necessidade capacidade de exercício de direito.

Compilado por António Caetano de Sousa 43


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Por exemplo, os menores e os dementes, embora sejam titulares de direitos, não os podem
exercer pessoal e livremente.

A incapacidade de exercício pode ser genérica ou especifica (consoante se refira aos actos
jurídicos em geral ou a alguns em especial), e pode ser suprida.

Deste modo, não podendo certas pessoas exercer os seus direitos, torna-se necessário recorrer
a certas formas legais de suprimento da incapacidade de exercício e que são.

- INSTITUTO DA REPRESENTAÇÃO LEGA,


- INSTITUTO DA ASSISTËNCIA

A representação, consiste em ser admitida a agir outra pessoa em nome e no interesse do


incapaz; juridicamente é como se fosse o incapaz a agir. Essa pessoa – representante legal – é
designada pela lei ou em conformidade com ela.

Exemplo: os pais quando agem pelos filhos menores; os tutores.

A assistência, a outra forma de suprimento da incapacidade, tem lugar quando a lei permite
agir o assistente.

A situação oposta à capacidade de gozo de direitos é, como é óbvio, a incapacidade de gozo.

Em regra, qualquer pessoa pode ser titular de quaisquer direitos o adstrita a quaisquer
vinculações, tal vimos pelo artigo 67º do C.C., nisso consiste a sua capacidade jurídica
(capacidade de gozo).

No entanto, esse mesmo preceito revela que podem existir excepções: << As pessoas podem
ser sujeitos de qualquer relações jurídicas, salvo disposição…>>

O menor, tendo como todas as pessoa singulares capacidade geral de gozo, sofre de certas
incapacidades concretas de gozo, do C.C., que lhes retira respectivamente a possibilidade de
poderem ser tutores ou testar. Na mesma situação se encontram os interditos

A incapacidade de gozo é insuprível, isto é, o incapaz não pode ser substituído na prática dos
actos jurídicos a que ela se refere, nem os pode praticar com autorização de outra entidade sob
pena de nulidade dos mesmos.

AS INCAPACIDADES DE EXERCICIO

As principais incapacidades de exercicio estabelecidas pelo Código Civil são:

- MENORIDADE,
- INTERDIÇÃO,
- INABILITAÇÃO

O interesse visado com o estabelecimento das incapacidades é determinado pela defesa dos
interesses do próprio incapaz.

Analisaremos agora separadamente cda uma das incapacidades citadas

Compilado por António Caetano de Sousa 44


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

Incapacidade por menoridade

Artigo 122º
Menores

São menores as pessoas de um e outro anexo enquanto não perfizerem vinte e um anos de
idade.

Artigo 123º
Incapacidade dos menores

Salvo disposição em contrário, os menores carecem de capacidade para o exercicio de


direitos.

Apesar da incapacidade geral de exercicio de que sofrem, têm porém os menores


algumas capacidades concretas de exercicio, em conformidade com a ressalva inserta neste
artigo.

Artigo 127º

Excepções à incapacidade dos menores

1. São excepcionalmente válidos, além de outros previstos na lei:


a) Os actos de administração ou disposição de bens que o maior de dezasseis
anos haja adquirido pelo seu trabalho;

b) Os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que, estando ao


alcance da sua capacidade natural, só impliquem despesas, ou disposição
de bens, de pequena importância;
c) Os negócios jurídicos relativos à profissão, arte ou ofício que o menor
tenha sido autorizado a exercer, ou os praticados no exercício dessa
profisssão, arte ou ofício.

2. Pelos actos relativos à profissão, arte ou ofício do menor e pelos actos praticados
no exercício dessa profissão, arte oi fício só respondem bens de que o menor tiver
livre disposição.

A forma de suprimento comum da incapacidade de exercício dos menores é a representação.


(artigo 124º)

Os meios de suprimento desta incapacidade através do instituto de representação, são:

3.6. o poder paretal


3.7. a tutela
3.8. Os negócios jurídicos praticados pelo menor feridos de incapacidade de
exercício são anuláveis (artigo 125º).

Compilado por António Caetano de Sousa 45


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Assim, se um menor for proprietário de um prédio urbano e venda referente a esse mesmo
prédio, tal contrato é anulável.

INCAPACIDADE POR INTERDIÇÃO

Esta incapacidade, a mais grave, resulta de determinadas deficiências psíquicas ou físicas


possuídas por certas pessoas que lhes afecta a vontade e o normal discernimento para
poderem reger-se, tomar resoluções, dispor dos seus bens, enfim, actuar juridicamente.

Artigo 138º
Pessoas sujeito a interdição

1. Podem ser interditos do exercício dos seus direitos todos aqueles que por
anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira se mostrem incapazes de
governar suas pessoas e bens.
2. As interdições são aplicáveis a maiores, mas podem ser requeridas e
decretadas dentro do ano anteiror à maioridade, para produzirem os seus
efeitos a partir do dia em que o menor se torne maior.

Para alguém ser considerado interdito é necessário que a sua incapacidade seja declarada por
sentença judicial, no termo do processo especial que se abriu para esse fim. A partir daí é que
existirá a interdição e a consequente incapacidade de exercício de direito.

O interdito tem um regime jurídico semelhante ao menor, quer quanto ao valor dos actos
praticados, quer quanto aos meios de suprir a sua incapacidade.

A incapacidade por interdição só cessará se desaparecer o motivo natural que o motivo natural
que a originou. Todavia, para que esse efeito se verifique, é necessário que se requeira no
Tribunal <<o levantamento da interdição>> pelo interdito ou qualquer das pessoas com
legitimidade para o fazer, consoante o preceituado no artigo 151º.

INCAPACIDADE POR INABILITAÇÃO

Os motivos que determinam a inabilitação são os mesmos da interdição mas revestidos de menor
gravidade, a que se juntam ainda certos modos habituais de comportamento, como a
prodigalidade (39), o abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes.

Artigo 152º
Pessoas sujeitas a inabilitação

Podem ser inabilitados os indivíduos cuja anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira,


embora de carácter permanente, não seja de tal modo grave que justifique a sua interdição,
assim como aqueles que pela sua habitual prodigalidade ou pelo abuso de bebidas alcoólicas
ou de estupefacientes se mostrem incapazes de reger convenientemente o seu património.

A inabilitação resulta também de uma sentença jurídica proferida no termo de uma acção
interposta para esse fim.

Compilado por António Caetano de Sousa 46


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Esta incapacidade é suprida pelo instituto da assistência, sendo designado por curador a
pessoa encarregada de a exercer.

PESSOAS COLECTIVA

Personalidade Jurídica

Acabamos de referir a capacidade das pessoas singulars, mas também existem as pessoas
colectivas que, como já referimos, são as organizações destinadas à realização de interesses
comuns ou colectivos, às ordem jurídica atribui personalidade jurídica, sendo, pois,
susceptíveis de serem titulares de direitos e vinculações.

A esta categoria de pessoas pertencem o Estado, as recreativas, os partidos políticos, etc.

As pessoas colectivas adquirem a sua personalidade juridical no momento do seu


reconhecimento legal, e ela extingue-se quando a pessoa actos contrarios aos estabelecidos
nos seus estatutos ou quando prosseguem fins contraries á lei.

Capacidade Jurídica

Ao contrário do que acontece com as pessoas singulares, a capacidade de gozo está limitada
aos direitos e vinculações adequados à prossecução dos seus interesses, conforme o
preceituado no Código Civil.

Artigo 160º
Capacidade

1. A capacidade das pessoas colectivas abrange todos os direitos e obrigações necessários ou


convenientes á prossecução dos seus fins.

Exceptuam-se os direitos e obrigações vedadas por lei ou que sejam inseparáveis da


personalidade singular.

Assim, relativamente à capacidade de gozo das pessoas colectivas impera o chamado


principio da especialidade, devido às limitações mencionadas.

Quanto à corrente de opinião que perece mais adequada juridicamente, considera aplicável às
pessoa colectivas o principio da capacidade genérica de exercício, pois a lei dota-se de órgão,
através dos quais elas actuam juridicamente, tal como as pessoas singular o fazem.

2. O OBJECTO

O objecto da Relação Jurídica é tudo aquilo sobre que incidem os poderes do titular activo da
relação. É corrente identificar-se o objecto da Relação Jurídica com o objecto do Direito
Subjectivo, que constitui o lado activo da mesma relação.

O Direito Subjectivo existe, tendo em vista a satisfação de interesses. Para isso, a Ordem
Jurídica põe à disposição da pessoa um certo bem ( 42). Esse bem é que constitui o objecto de
direito subjectivos em geral.

Compilado por António Caetano de Sousa 47


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana

Modalidades de objecto da Relação Jurídica

É usual distinguir entre:

- OBJECTO IMEDIATO
- OBJECTO MEDIATO

Objecto Imediato – Quando os poderes do titular activos incidem directamente sobre o bem,
sem que se interponha qualquer mediador.

Exemplo: Quando afirmo que tenho direito aos meus livros, enuncio um poder direito. Os
livros são assim o objecto imediato da relação de propriedade de que eu sou titular activo.

Objecto mediato – quando os poderes do titular activo incidem indirectamente sobre o bem.

Exemplo: Quando digo que tenho direito à entrega de um livro que me é devido, este constitui
o objecto mediato do meu direito.

No exemplo anterior, o objectivo imediato seria a entrega do bem (livro). Deste modo se o
devedor alienar o respectivo livro, eu fico sem o direito sobre ele, embora possa exigir ao
devedor a correspondente indemnização.

Esta distinção entre objecto imediato e mediato, nem sempre se verifica, pois nos direitos
reais não há intermediário entre o titular de um direito e o bem. O proprietário está em
contacto directo com o objecto do seu direito, como vimos no 1ë exemplo.

Porém a distinção verifica-se nas obrigações (direitos de crédito) de prestação de coisa certa e
determinada. Nelas, o objecto imediato do direito do credor é a prestação do devedor – o acto
da entrega da coisa devida – e o objecto medito é a própria coisa.

Assim, entre o credor (ou o seu direito) e a coisa, intromete-se a pessoa do devedor, como
vimos no 2º exemplo.

Possíveis objectos da Relação Jurídica

2. PESSOAS,
3. PRESTAÇÕES,
4. COISAS

Pessoas

No Direito moderno as pessoas só podem ser objecto da Relação Jurídica nos denominados
poderes-deveres ou poderes funcionais, que não são verdadeiros direito subjectivos.

Exemplo: O poder parental e o poder tutelar.

Os direitos inseridos no poder paternal ou no poder tutelar não conferem qualquer domínio
sobre a pessoa do filho ou do puplio, no interesse dos pais ou do tutor. São meramente

Compilado por António Caetano de Sousa 48


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
direitos, que conferem poderes destinados a habilitarem os pais e os tutores ao cumprimento
dos deveres que lhes são impostos por lei.

Prestações
Denomina-se prestação à conduta a que o devedor está obrigado. Por exemplo, nos direitos de
crédito, o objecto não é rigorosamente uma coisa, mais sim o comportamento do devedor.

Coisas
Artigo 202º
Noção

1. Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objecto de relações jurídicas.

2. Considera-se porém fora do comércio todas as coisas que a pessoa e prestação serão
coisas?

O FACTO JURÍDICO

Facto Jurídico é todo o facto da vida social que produz efeitos jurídicos, constituindo,
modificando ou extinguindo, relações jurídicas.

Exemplo: O contrato cria uma relação jurídica.


O casamento modifica o <<status personae>>.
A morte extingue a persolidade jurídica.

Facto jurídico voluntário ou acto jurídico e facto jurídico involuntário

Uma das possíveis classificações dos factos jurídicos assenta na distinção entre factos
jurídicos voluntários ou actos jurídicos e factos jurídicos involuntários ou naturais.

Factos jurídicos voluntários ou actos jurídicos, são manifestações de vontade, quer de


quem o represente, com relevância jurídica.

Factos jurídicos involuntários, são estranhos e independentes à vontade (factos naturais).


São puramente obra da natureza, embora possam verificar-se no próprio homem.

Exemplo: O nascimento, a morte, à chuva torrencial, etc.

Os Factos jurídicos voluntários ou actos jurídicos podem ser:

* Actos jurídicos lícitos são aqueles que estão em conformidade com a Ordem
Jurídica.

Exemplo: O casamento, a doação, o mútuo, etc.

* Actos jurídicos ilícitos são os que contrariam a ordem jurídica e implicam uma
sanção para o seu autor.
Exemplo: O homicídio, o furto, etc.

Compilado por António Caetano de Sousa 49


Instituto Superior Maria Mãe de África
Tópicos das aulas de Leislação Moçambicana
Os factos jurídicos voluntários ou actos jurídicos lícitos podem ainda classificar-se
em:
* Negócios jurídicos, são os factos jurídicos voluntários, constituídos por umna ou
mais manifestações de vontade, destinadas a produzir intencionalmente efeitos jurídicos.

Exemplo: casamento, locação, compra e venda, etc.

* Simples actos jurídicos, são factos jurídicos voluntários, cujos efeitos jurídicos,
embora eventualmente concordantes com a vontade dos seus autores, não são todavia
determinados pelo conteúdo desta vontade, mas directa e imperativamente pela lei.

Exemplo: Com a criação de uma obra de arte adquirem-se direito de autor, mesmo que não
tenha sido essa a intenção do artista.

Os actos jurídicos ilícitos podem ser:

* Dolosos, quando existe por parte do indivíduo o propósito de fazer mal, ou de prejudicar.

Exemplo: o furto, injúrias, difamação.

* Meramente culposos, quando o indivídio não prevê o resultado – não há dolo –


mas houve imprudência ou negligência, que lhe conferem culpa (43)

Exemplo: Acidente de viação provocado por condutor que não respeita o sinal vermelho
devido a distração.

Compilado por António Caetano de Sousa 50

Potrebbero piacerti anche