Sei sulla pagina 1di 314

F ernando

Pessoa
poesía vi
LOS POEMAS DE
/
A lv a ro d e C am pos 4

(I*
OBRAS

Cualquier form a de reproducción, distribución, comunicación pública o transformación


de esta obra sólo puede ser realizada con la autorización de sus titulares, salvo excep­
ción prevista por la ley. Diríjase a CEDRO (Centro Español de Derechos Reprográficos,
www.cedro.org) si n ecesita fotocopiar o escan ear algún fragm ento de e sta obra.

t í t u lo o r ig in a l: F ern an d o Pessoa [Alvaro de C am pos]:


• Poesia

© J u a n a I n a r e jo s y J u a n b a r j a , 2014
de la traducción

© J u a n B a r ja , 2014, de las notas

© J o s é M a n u e l C u e s ta A b a d a , 2014, delprólogo

© A b a d a E d it o r e s , s . l ., 2014
de la presente edición
Calle del Gobernador, l8
28014 Madrid
T el.: 91 429 6882 / fax: 91 429 7507
www. ab ad aed ito res. com

c u b ie rta ESTUDIO JOAQUÍN G a l l e g o

p ro d u c c ió n GUADALUPE GlSBERT

ISBN 9 7 8 -8 4 -1 5 2 8 9 -1 3 -5 [o b ra co m p leta]
ISBN 9 7 8 -8 4 -1 5 2 8 9 -9 1 -3 [vol. V I]
IBIC DCF
d e p ó sito legal M -4 6 5 -2 O I4

p r e im p r e s ió n D alubert A llé
im p r e s ió n GRÁFICAS VARONA, S.A .
Fernando
Pessoa
poesía vi
/ LOS POEMAS DE
A lvaro d e C a m p o s 4

EDICION BILINGÜE DE
J u a n B arja y J u a n a I n a r e jo s
PROLOGO DE
José M a n u e l C u e s ta A b a d
NOTAS DE
J u a n B arja

«OBRAS»
A B A D A EDITORES
EXCESOS DE CONCIENCIA
Fernando Pessoa y el triunfo del yo

José Manuel Cuesta Abad

« Q u e n o haya dioses es ta m b ié n u n d io s » , reza u n afo rism o


d e F e rn a n d o P essoa. M u e rto s lo s d io se s a n tig u o s , el p o e ta
m o d e r n o n o d e ja d e in v o c arlo s c o n v e rtid o s e n re liq u ia s de
u n a d e s tr u c c ió n d e la q u e él m is m o es c ó m p lic e y v íc tim a
p r o p ic ia to r ia . L os dioses p ag a n o s a ú n p u e d e n re g re sa r c o n
sus m ú ltip le s r o s tr o s , p e r o só lo c o m o m o tiv o d e n o s ta lg ia
a n tic u a r ía o c o m o m a te r ia a r q u e típ ic a m il veces r e p e tid a ,
cuyo p o d e r de fa sc in a c ió n p o n e e n evidencia q u izá lo s e s tre ­
c h o s lím ite s d e u n a im a g in a c ió n v e n id a a m e n o s , q u iz á la
in d ig e n c ia d e u n a rte q u e h a d e r e c u r r i r u n a y o tr a vez a lo
m ás a n tig u o p a r a tr a m a r sus in v e n c io n e s. E x tra ñ a id e a , sin
e m b a rg o , la d e u n no haber o u n vacío q u e c o n t in ú a s ie n d o
p r e s e n c ia d e ific a d a , c o m o si só lo la p é r d id a y la a u s e n c ia
p u d ie r a n elev arse a o b je to d e c u lto . « L a fa lta d e D io s
a y u d a » ( GottesFehl hilft), d ec ía H ó ld e r li n e n el v erso f in a l d e
« V o ca ció n de p o e t a » . Si la au sen cia de dioses es ta m b ié n u n
dios, tal vez sea p o r q u e el yo d el p o e ta se h a tra n s fo rm a d o e n
u n íd o lo p lu r a l s u p la n ta n d o la a p a r ie n c ia p r o te ic a q u e
a q u e llo s o s te n ta b a n . L a voz p o é tic a se a d e n tr a así e n el
d o m in io d e l m ito , d o n d e la p a la b r a , la fá b u la , la fic c ió n
d ic ta n la ley s u p r e m a se g ú n la c u a l n o hay ley a lg u n a q u e
g a ra n tic e la se p a ra c ió n de lo re a l y lo ir re a l, n i su e lo firm e
q u e p u e d a a s e g u ra r la id e n tid a d d e ly o pienso o la p e r s o n a li­
d a d estable deljio hablo.
C ie r to q u e la c o n v ic c ió n e n u n c ia d a e n el a fo ris m o de
Pessoa p a rtic ip a de la ex p e rien c ia d eicid a de u n a ép o ca m a r ­
cada p o r el p e n s a m ie n to d e N ie tz sc h e . Q u e a la m u e r te d e
D io s h a se g u id o el d esastre in te r m in a b le d e l yo es u n lu g a r

EXCESOS DE CONCIENCIA 5
c o m ú n q u e re s u e n a e n o tr o e p ig ra m a p e s so a n o : « D io s n o
tie n e u n id a d ./¿ C ó m o voy a te n e rla y o ? » La m u e rte d e D io s
c o n d e n a al yo, n o a la e x tin ció n , sin o a la p é rd id a d e la id e n ­
tid a d , y c o n ella a la sim u la c ió n espectral de ap arien cias m ú l­
tip le s y f o r tu ita s . G o m o h a se ñ a la d o P ie r r e K lossow ski, la
m u e rte n ie tzsch ean a d el dios ú n ic o n o su p o n e q u e la d iv in i­
d a d cese e n ta n to q u e ex p licitac ió n de la existencia, sin o qu e
« e l garante absoluto de la id e n tid a d del yo responsable desapa­
rec e d el h o r iz o n te de la c o n c ie n c ia » , sie n d o así q u e el yo se
c o n f u n d e c o n esa d e s a p a ric ió n 1. N o h a b ie n d o ya n in g ú n
p rin c ip io in c o n d ic io n a l q u e su sten te la id e n tid a d d el in d iv i­
d u o , el yo deviene e n u n a in c ó g n ita n o despejab le cuya exis­
te n c ia sólo alcanza a m an ifiestarse, atom izada, e n las fo rm a s
de la sim u la c ió n . Ego absconditus: «V oz q u e e n sí se e s c o n d e » ,
a d v ie rte m u y p r o n to u n v erso d e l p o r tu g u é s . E l yo tie n e la
consistencia de u n espejism o, sólo aparece retrayéndose —com o
insiste Pessoa—e n la p o te n c ia negativa de su p r o p io d e sc o n o ­
cer, d e sre c o rd a r, d e s a p re n d e r, d esp erso n aliza r cu an tas falsas
in v e stid u ra s va a z a ro sa m e n te fin g ie n d o . E sta d isp o s ic ió n al
s im u la c ro p e r s o n a l está la rv a d a e n el im p u ls o reflex iv o d el
su je to . E xiste u n c r ite r io —el m ás e le m e n ta l, el m e n o s f a li­
b le — p a r a sa b e r si u n o h a c o m e n z a d o a fig u ra rs e o tr o : la
c o n c ie n c ia d e sí. T a n p r o n to c o m o a lg u ie n r e p a r a e n q u é
sie n te , y có m o , o e n q u é p ie n sa o av en tu ra cuál es su carácter
y cuáles sus p asio n es em pieza el espectáculo. T e n e r c o n c ie n ­
cia de sí es e n tra r e n el m u n d o co m o re p re se n ta c ió n , d e sd o ­
b la rse e n e sp ec tad o r fan tasm al del a c to r q u e d e re p e n te u n o
d e sc u b re ser. « N o se es n u n c a allí d o n d e se es, sin o sie m p re
a llí d o n d e n o se es m ás q u e el a c to r d e ese otro q u e se es» ,
observ a K lossow ski e n u n a glosa al p a rá g ra fo 361 d e La Gaya
Ciencia, d o n d e N ie tz sc b e a b o r d a b re v e m e n te « e l p r o b le m a
del a c to r » e n estos té rm in o s:

I P. Klossowski, «N ietzsche, le polythéism e et la p a ro d ie » , Un sifuneste


désir, París, Gallim ard, 1963.

6 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


« L a fa lse d a d c o n b u e n a c o n c ie n c ia : el p la c e r d e la s im u ­
la c ió n q u e e x p lo ta c o m o u n a p o d e ro s a fu e rz a a rra s a n d o el
lla m a d o c a rá c te r, s u m e rg ié n d o lo a veces b a sta a p a g a rlo ; el
í n ti m o d e se o d e h a c e r u n p a p e l, p o n e r s e u n a c a re ta ,
t o m a r u n a a p a r ie n c ia ; u n e x c e d e n te d e fa c u lta d e s d e
a d a p ta c ió n d e to d a clase q u e n o p u e d e n ya sa tis fa c e rs e
p o n i é n d o s e al se rv ic io d e la n e c e s id a d m á s e s tr ic ta e
i n m e d ia ta ; ¿ a c a so n o p e r te n e c e t o d o e sto s o la m e n te al
a c to r? »

E l a c to r n ie tzsch ea n o n o re p re s e n ta u n a sim p le im a g e n
d e a q u e l q u e se e n tre g a al « p la c e r de la s im u la c ió n » sin
e s c rú p u lo m o r a l a lg u n o . E l p r o b le m a d e l a c to r c o n c ie rn e ,
de u n a p a rte , a la fo rm a c ió n ta rd ía de u n in s tin to d o m in a n te
q u e h ace d e l yo u n m a e stro in v e n c ib le e n el a rte d e ju g a r al
esco n d ite y, de o tra , a la co n c e p c ió n d el g en io artístic o co m o
la m ás alta cre a c ió n de ese in s tin to q u e e n g e n d ró al có m ico y
a sus diversas sub esp ecies (el b u f ó n , el c h a rla tá n , el lo c o , el
clown...). E l a rtista es e n to n c e s el g e n io s im u la d o r p o r exce­
le n c ia . P e ro n o h a b r ía n in g u n a tra m o y a e n la q u e se o c u lte
u n d e m iu rg o p a ra m o v e r los h ilo s de sus títe re s, n in g ú n sí-
m is m o q u e sea causa e fic ie n te de lo s sim u la c ro s , n in g ú n
su je to q u e o r q u e s te la fa rsa m ás allá d e la e sc e n a . E l
yo —co m o e n o tr o tie m p o D io s— es so la m e n te u n a s u p e rs ti­
c ió n de la gram ática, d e n u n c ia N ietzsche. P u esto q u e p e n s a r
o q u e r e r se in te p r e ta n c o m o a c c io n e s, y d a d o q u e to d a
ac ció n solicita o p r e s u p o n e u n ag en te, el su jeto sería fac to r,
o r ig e n , causa d e p re d ic a d o s c o m o « p i e n s o » o « q u i e r o » .
P e ro la v e rd a d es o tr a : u n p e n s a m ie n to o u n d eseo v ie n e n
c u a n d o ellos q u ie r e n , y a u n s in q u e r e r , g ra tu ita , a le a to ria ,
in e x p lic a b le m e n te . E l su je to es la s o m b ra ilu s o ria d e u n
ju e g o d e e sp ejo s al vacío: « L ’éffet c’est moi$>, y cad a c u e rp o
c o n s titu y e , e n e fe c to , « u n a e s tr u c tu r a so c ial d e m u c h a s
alm as» (cf. Mas allá del bieny del mal, §§ 17-19).
A d m ita m o s q u e e n to d as estas fó rm u la s cabe re c o n o c e r
u n a ex p e rien c ia m uy cercan a a la q u e Pessoa co n sig n a in c a n ­
sa b le m e n te e n sus textos. N o es q u e la in flu e n c ia d e N ietzs­
che e x p liq u e d e l to d o la g e s tu a lid a d a teo ló g ica q u e p r o d ig a

EXCESOS DE CONCIENCIA 7
c o n te n a c id a d obsesiva la o b ra d el e sc rito r p o rtu g u é s. H ay u n
a te ísm o d e p o e ta s: e n p a r te n a c id o d e la p r o p ia ta re a c re a ­
d o ra , e n p a r te c o n s tru id o c o n lo s m a te ria le s d e d e r r ib o de
to d a u n a ép o c a. E n H õ ld e r lin , L e o p a rd i y N erv al, e n B a u -
d e la ire , R im b a u d y M a lla rm é , e n R ilke y B e n n , e n C é sa r
V allejo , la lírica del ateísmo se d ic e c ie r ta m e n te d e m u c h as
m a n e ra s. P ero e n to d a s ellas, a u n sie n d o c o n tra d ic to ria s, se
adiv in a u n a m ism a c o n d ic ió n q u e afecta de raíz a la p o s ib ili­
d a d d e l s u je to p o é tic o « m o d e r n o » 2. R e c o rd e m o s « L e
C h r is t au x o liv i e r s » , el p o e m a d e Les Chiméres q u e N erv al
en c a b e z a c o n u n a c ita d e J e a n P a u l ( « Dieu est mort, le del est
vide...»'), el g r a n p r e c u r s o r r o m á n tic o d e l n ih ilis m o . E l
p o e m a p r e s e n ta a u n C r is to q u e alza al cíelo lo s b raz o s,
«commefont lespoétesS-, se vuelve hacia q u ien es, d o rm id o s co m o
b estia s, n o p u e d e n o n o q u ie r e n e sc u c h a rlo , y g rita : «Non,
Dieu n existe pas> . L a e q u ip a r a c ió n in ic ia l e n t r e C r is to y lo s
p o e ta s q u e d a re fo rz a d a p o r la d u p lic id a d d e l an c la je e n u n ­
ciativo del p o e m a , e n el q u e la voz n a rra tiv a d el su je to líric o
tie n d e a fu n d irs e a m b ig u a m e n te c o n la voz d ra m a tiz a d a d el

2 <¿Elyo —escribe G ottftied B enn—es un estado de ánimo tardío de la natura-


le%2». Es sintom ático que B enn, u n o de los poetas de su tiem po que
más reflexiones dedica al problem a del yo lírico, explique la form a­
ción del subjetivismo m o d ern o en relación con u n a especie de his­
to ria n atural de las religiones inspirada e n ideas nietzscheanas: «La
tran sfo rm ació n de la im agen del m u n d o a p a rtir de la in te rp re ta ­
c ió n to talm en te p luralista del anim ism o; el m u n d o escindido e n
inco n tab les existencias singulares y objetivas, e n tre las cuales el
yo —u n a existencia singular como cualquier otra—n o ocupa n inguna
posición privilegiada; pasando p o r el politeísm o, con su separación
cada vez más nítid a entre deidades y espíritus; a la actividad plural,
imprevisible y caprichosa de los espíritus se opone el dom inio de los
dioses, regido p o r leyes, hasta llegar a la idea de u n id a d pro p ia del
m o noteísm o: el m u n d o regido p o r una voluntad, p o r una ley, a n i­
m ado p o r un p rin c ip io vital. T odo este cam bio discurre p aralela­
m en te al d esarrollo de u n sen tim ien to vital e n el ser h u m an o ,
m ientras el yo va form ando en su in te rio r el pensam iento del subje­
tivismo, a saber: que la totalidad del m u n d o e x terior le viene dada
com o u n a vivencia in te r io r » , G. B enn, El Yo moderno-, Valencia, P re­
textos, 1999, trad. de E. O caña, p. 36.

8 JOSÉ MANUEL CUESTA ABAD


h o m b r e - d io s : «Le dieu manque à l’autel, oújesuis la victime...». E ste
yo —el del C risto , el del p o e ta —delata e n N erval su a s c e n d e n ­
cia e n tre fáustica y pascaliana, dice h a b e r r e c o rrid o los m u n ­
dos, d o n d e sólo h a e n c o n tra d o te rr ito r io s d esierto s, o céan o s
e n c re sp a d o s p o r c o n fu so s to r b e llin o s , u n vago a lie n to q u e
agita las esferas e rra n te s , p e ro n in g ú n e s p íritu q u e exista e n
to d a esa in m e n s id a d . « 0 monpire, est-ce toi queje sens en moi-
méme?», se p r e g u n ta la voz d u a l q u e h ab la de y p o r el p e r s o ­
n aje de C risto . E n u n a ca rta a V íc to r L o u b e n s co n fiesa N e r ­
val q u e al c o m p o n e r el p o e m a él m ism o se creía D io s : «je me
crqyaisDieu moi-mém e». E l p o e ta se im a g in a v íc tim a e n el a lta r
d o n d e falta el dios, cree in clu so ser él m ism o ese d io s d el q u e
n ie g a la existen cia. ¿ C ó m o n o v er, su b lim a d a e n esta n e g a ­
c ió n de lo a b s o lu to , u n a te n tativ a h ip e rb ó lic a d e c u e s tio n a r
ra d ic a lm e n te la p r o p ia id e n tid a d ?
L a d e s id e n tific a c ió n d e l yo es d esd e los ro m á n tic o s u n
te o re m a p o é tic o . F re n te al egotistical sublime d e W o rd sw o rth ,
q u e p re te n d ía c o lm a r de in te n c ió n a u to ria l el p o e m a , K eats
a firm a e n u n a c o n o c id a c a rta a R . W o o d h o u s e d e 1818: « A
P o et is th e m o st u n p o e tic a l o f any th in g in existence; because
h e h as n o I d e n tity —h e is c o n tin u a lly in f o r m in g a n d fillin g
so m e o th e r B o d y » . Es m ás: la r e - n e g a c ió n d e la id e n tid a d
(su b jetiv a, e n u n c ia tiv a , d isc u rsiv a) c o n s titu y e el sujeto d e l
p o e m a líric o , q u e e n cada caso h a d e d a r respuesta, ya q u e n o
so lu c ió n , al carácter p ro b le m á tic o de u n yo cuyo se r n o c o n ­
siste sin o e n su d ev e n ir fig u ra c ió n p o ética . L a id e n tid a d s u b ­
je tiv a q u e el p o e ta m o d e r n o sacrifica in effigie dei ja m á s e s c ri­
b ir á u n p o e m a . P o rq u e la e s c r itu r a p o é tic a es el esp acio
d o n d e la n e g a c ió n d el yo ú n ic o p re c e d e o ac o m p a ñ a n ec esa­
ria m e n te a la b ú sq u e d a in c e sa n te d e u n su jeto a ú n in c re a d o ,
s ie m p re m u ltif o rm e , d o n d e la r e n u n c ia al s í-m is m o c o i n ­
cid e c o n la i r r u p c i ó n d e u n yo p lu r a l q u e está p o r v e n ir a
cada p o e m a de u n m o d o sin g u la r e im p re d e c ib le .

EXCESOS DE CONCIENCIA 9
I

E n P essoa la n e g a c ió n d e la id e n tid a d se ex p re sa e n u n a
ac ció n so b e ra n a y al m ism o tie m p o ascética. Es sab id o q u e la
p a la b ra abdicación, u n a d e las p re d ile c ta s d e l p o e ta , a p a rece
c o n diversos m atices a lo larg o de su o b ra , ta n to e n los escri­
to s lla m a d o s o r tó n im o s c o m o e n lo s h e te r ó n im o s , e n lo s
p o em as co m o e n la p ro sa ensayística y co n fe sio n al. E l acto de
ab d icar, asociado e n el im a g in a rio m o n a rc ó filo d e Pessoa a la
g ra n d e z a d e l rey q u e d e p o n e su p o d e r p o r d e c isió n p r o p ia ,
n o sólo sim boliza la v irtu d de la ab n e g ac ió n , el d esasim ien to
o la d e sp o se sió n de sí, sin o ta m b ié n el h e ro ís m o p a ra d ó jic o
d e q u ie n sólo tr iu n f a e n la d e r r o ta o d e a q u e l q u e, co m o el
p o e ta , sólo p u e d e e sp e ra r la v ic to ria d el fracaso . E n « A b d i­
c a ç ã o » , u n so n e to o r tó n im o q u e d ata de 1913> a p a re c e n ya
las im ágenes regias de la ac ció n q u e el p o e ta reclam a p a ra sí:

T o m a -m e , ó n o ite e te rn a , n o s te u s b ra ç o s
E c h a m a -m e t e u f ilh o .
E u s o u u m re í
Q u e v o lu n ta ria m e n te a b a n d o n e i
O m e u t r o n o d e s o n h o s e cansaços.

M in h a e sp ad a, p e sa d a a b ra ç o s lassos,
e n m ão s v iris e calm as e n tre g u e i;
E m e u c e p tro e c o ro a —e u os d e ix e i
N a a n te c â m a ra , fe ito s e m p e d a ç o s.

M in h a c o ta d e m a lh a , tã o in ú til,
M in h a s e sp o ras, d e u m t i n i r tã o fú til,
D e ix e i-a s p e la fria esc ad a ria .

D e sp i a realeza, c o rp o e alm a,
E re g re ssei à n o ite a n tig a e calm a
C o m o a p a isa g e m a o m o r r e r d o d ia 3.

3 «Oh noche eterna, tómame en tus brazps/y llámame hijo tuyo./Soy un rey/ que volun­

to JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


E l escenario palaciego, c o n sus antecám aras y escalinatas,
los atrib u to s d el p o d e r q u e el rey en tre g a o a b a n d o n a d e s tro ­
zados em blem atizan u n a acción ritu a l en m arca d a p o r la in v o ­
cación in ic ia l a la « n o c h e e te r n a » y p o r la c o m p a ra c ió n fin a l
del regreso a la « n o c h e a n tig u a » c o n la d esap a ric ió n d el p a i­
saje e n la o sc u rid a d d el ocaso. L a a b d ic a c ió n es v o lu n ta ria y,
p o r ta n to , u n acto d e lib e r ta d . P e ro la n o c h e ó rfic a a la q u e
r e to r n a el rey, d e s n u d o de realeza, co m o d e se a n d o v olver al
sen o an te n a ta l, es ob v iam en te el n o - lu g a r de la m u e rte . U n a
de las sinopsis q u e Pessoa red a ctó c o n vistas a la c o m p o sic ió n
de Primeiro Fausto evidencia el sig n ific ad o m o rta l d e la a b d ic a ­
ció n . Los actos cu a rto y q u in to d e b ía n d e sa rro lla r estos m o ti­
vos: « Q u e r e r sentir a vida-abdicar da individualidade na Vida» y
« C a n sa ç o fin a l—abdicação da in d iv id u a lid a d e na M orte». E n
o tro p o e m a m uy p o ste rio r, « N a so m b ra d o M o n te A b ie g n o »
(1932), el m otivo de la ab d icació n trasluce u n se n tid o ascético
v in c u la d o a las d o c trin a s o cu ltistas de los R o sacru z. Abiegnus
mons era e n éstos la m o n ta ñ a de la sa b id u ría a la q u e sólo p o d ía
ascender q u ie n h u b ie ra su p erad o u n a in ic ia ció n p u rific a d o ra .
C o m o e n la tra d ic ió n m ística y legen d ario -cab alleresca, com o
s in ie stra m e n te e n K afka, u n C astillo inaccesib le se alza e n la
cim a d el M o n te q u e evoca el p o e m a de Pessoa. E l yo p o é tic o
dice h a b e r re n u n c ia d o a cu a n to fu era a m o r y vida: « A s o m b r a
d o m o n te A b ie g n o / R e p o u sei p o r q u e a b d iq u e i.// T al vez u m
dia, m ais f o r te / D a fo rç a o u da a b d ic a ç ã o ,/ T e n ta r e i o alto
c a m in h o / P o r o n d e ao C astelo v ã o » 4. O tr a ex p re sió n ascética

tariamente abandoné/mi trono de sueñosj cansancios. / / Mi espada, pesada en brazos


laxos, / a manos virilesy calmas entregué, / y mi cetroy mi corona los dejé / hechos en la
antecámarapedazos. / / Mi cota de malla, tan inútil, / / mis espuelas, de tintinear tan¡útil,
/ abandoné en lafría escalinata. / / Desnudos de realeza cuerpoy alma, / ala noche anti-
guay calma regresé/como elpaisaje cuando muere el día». C o n algunas variacio­
nes, he seguido e n este caso la traducción de José A. L lardent, F. Pes­
soa, Poesía, M adrid, Alianza Tres, 1982 , p. 5 2 -
4 Sobre el decorado ocultista de este poem a y su relación con otro de
Yeats («Im ages», ca. 1925) donde aparece el M onte Abiegno puede
consultarse el artículo de Sol B id erm an , « M o u n t A biegnos and
Masks. A Study o f O ccult Im agery in W . B. Yeats a n d F. Pessoa»,
LuzP-BrazilianReviene, vol. 5 , n ° I, 1968 , pp. 59 - 74 -

EXCESOS DE CONCIENCIA 11
de la a b d ic a c ió n , e m u la d o ra de la m o ra l estoica, es la q u e se
re p ite e n d os o das de R ic a rd o R eis: « A b d ic a / e sé r e i d e ti
p r ó p r i o » . E n el Libro del desasosiego B e rn a rd o Soares reflexiona a
m e n u d o s o b re el acto d e a b d ic a r, y a lu d e v isib le m e n te al
so n eto « A b d ica çã o » e n u n frag m en to d o n d e d efin e la le ctu ra
co m o u n a m o d a lid a d de a u to rre n u n c ia y d isp e rsió n subjetiva:
« L e o co m o q u ie n abdica. Y, com o la c o ro n a y el m a n to regios
n u n c a so n ta n grandes com o cu a n d o el Rey q u e p a rte los deja
e n el su e lo , d e p o n g o s o b re lo s m o saico s d e las a n tec ám a ra s
to d o s m is trofeos del tedio y d el su eñ o , y subo p o r la escalinata
c o n la nobleza ú n ic a de la m ir a d a » . E n o tro pasaje del Libro la
a b d ic a c ió n constituye el re q u isito p a ra lo g ra r la felicid a d d el
cam pesino, del le c to r de ficc ió n o del asceta:

« F e liz , e n f in , a q u e l q u e a b d ic a d e t o d o , y a q u ie n , p o r ­
q u e a b d ic ó , n a d a le p u e d e se r q u ita d o n i d is m in u id o .
E l c a m p e s in o , e l l e c t o r d e n o v e la s, el p u r o asc eta —e sto s
tre s s o n los felices d e la v ida, p o r q u e s o n estos tre s lo s q u e
a b d ic a n d e la p e rs o n a lid a d : u n o p o r q u e vive d e l in s tin to ,
q u e es im p e r s o n a l, o t r o p o r q u e vive d e la im a g in a c ió n ,
q u e es o lv id o , e l t e r c e r o p o r q u e n o vive y, n o h a b ie n d o
m u e r to , d u e r m e » ^ .

Estas líneas h a c e n de la ab d ica ció n u n a m e táfo ra existen­


cial d e la d e s p e rs o n a liz a c ió n . E n su sig n ific a c ió n p r im e r a
(fijada e n el le m a ro m a n o abdicare imperium), el acto ju ríd ic o de
a b d ic a r só lo p u e d e e je c u ta rlo q u ie n d e c id e lib r e m e n te
r e n u n c ia r a sus títu lo s y c e d e r la p o te sta d de q u e está in v es­
tid o —h u e lg a d e c ir q u e el e je m p lo m á x im o d e ta l a c c ió n
c o rre s p o n d e al rey q u e desiste d e l ejercic io d el p o d e r so b e ­
r a n o . E n la p a rtic u la r m ito lo g ía de Pessoa la a b d ica ció n regia
es el sím b o lo de la re n u n c ia a la p e rs o n a lid a d (a pessoa, luego
a sí m ism o ) e n ta n to q u e id e n tid a d ú n ic a , carácter monárquico

5 F. Pessoa, Livro do desassossego (de Vicente Guedes-Bernardo Soares), ed. de


Teresa Sobral C unha, Lisboa, Relógio d ’Agua Editores, 2 0 0 8 , pp.
397 y 441-

12 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


de u n yo d e fin id o p o r sus a trib u to s d istin tiv o s y p e r m a n e n ­
te s. E d u a r d o L o u re n ç o c o n s id e ra q u e el te m a d e la a b d ic a ­
c ió n « v ie n e sie m p re ro d e a d o de las m ás tra n s p a re n te s c o n ­
n o ta c io n e s de la im p o te n c ia e r ó tic a » 6. P u ed e ser. S ie m p re y
c u a n d o ad v irtam o s q u e el ego es el falo de la c o n c ie n c ia —su
« c e tr o » y su « e s p a d a » . Pessoa pad eció m ás b ie n la exacerba­
c ió n de esta co n c ie n cia fálica, al fin y al cabo d em asiad o c a r­
te sia n a , de cuya c a stra c ió n sim b ó lic a p a re c ía d e p e n d e r el
lo g ro de la in s p ira c ió n p o ética . E n c u a lq u ie r caso, la ab d ic a ­
c ió n r e q u ie re s ie m p re lib e r ta d y n e g a tiv id a d (o a u to lim ita -
c ió n ). Es co m o el su ic id io lib r e , se re n a e irre v o c a b le m e n te
d e c id id o p o r el B a ró n de Teive: el acto ú ltim o p o r el q u e el
yo c o n firm a su so b e ra n ía su p rim ié n d o la . N o es casual q u e en
este h e te ró n im o de Pessoa e n c o n tre m o s de nuevo el té rm in o :
« D e r e p e n te se a p o d e ró d e m í u n d eseo de in te n s a a b d ic a ­
ció n , de clau su ra firm e y ú ltim a , u n a re p u g n a n c ia p o r h a b e r
te n id o ta n to s d eseo s, ta n ta s esp eran z as, c o n ta n ta fa c ilid a d
e x te rn a p a r a re a liz a rlo s, y ta n ta im p o s ib ilid a d ín tim a p a ra
p o d e r q u e re rlo . D ata de ese m o m e n to suave y triste el p r in c i­
p io de m i s u ic id io » 7. A h o ra b ie n , ¿ c ó m o e n te n d e r p o é tic a ­
m e n te este p o d e r so b e ra n o de u n yo q u e se desposee a v o lu n ­
ta d de su d o m in io s o b re sí? I m a g in a d a c o m o u n acto
d e s p e rs o n a liz a d o r, la a b d ic a c ió n d e P essoa e n c ie r r a c ie rta
m istifica ció n . P ara el p o e ta la n e g a c ió n de la id e n tid a d n o es
algo q u e p u e d a re a liz a r s o b e ra n a m e n te u n yo s itu a d o al
m ism o tie m p o dentro y fuera de la acció n q u e ejecuta. Esa n eg a­
c ió n d e p e n d e de la n ecesidad de « a lie n a c ió n » q u e im p o n e la
e s c ritu ra p o é tic a , y n o de la v o lu n ta d o la lib re in te n c ió n de
u n s u je to . A b d ic a r d e la p e r s o n a lid a d es e n P essoa, n o la
causa q u e d a lu g a r a la d e s p e rs o n a liz a c ió n p o é tic a , s in o el
efecto de u n a ex p e rien c ia in se p a ra b le de la escritu ra.

6 E. L o u ren ç o , Pessoa revisitado. Lectura estructurante del 'drama engente’.


Valencia, Pre-Textos, 2 0 0 6 , trad. de A. Márquez, p. 137.
7 F: Pessoa, La educación del estoico, Barcelona, El Acantilado, 2 0 0 5 , trad.
de R. Vilagrassa, p. 16.

EXCESOS DE CONCIENCIA 13
« N o sé q u ie n so y » , « N o soy n a d a » , « N o es m ío lo q u e
e s c r i b o » ... N in g ú n o tr o p o e ta m o d e r n o h a te m a tiz a d o el
momento abdicador del yo líric o c o n la m ism a c o m p u lsió n r e p e ­
titiva q u e Pessoa. L a in siste n c ia es ta n en fática, se p ro p a g a de
u n o s textos a o tro s c o n tal o b stin a c ió n , q u e am en aza c o n lle ­
var la p o esía al c a lle jó n sin salida de la m a n e ra fo rm u la ria , el
c o n c e p tis m o e g o c é n tric o , el h is trio n is m o au to e le g ía c o . La
o b ra d e Pessoa se despliega e n c o n ju n to co m o u n a e sc ritu ra
eg o p o é tic a q u e c o n ju ra esa recaíd a del su je to líric o o c o n fe ­
sio n a l e n la m e ra r e - n e g a c ió n de la id e n tid a d . D a d o q u e de
ésta só lo p u e d e r e s u lta r la m u ltip lic a c ió n fictiv a d e l yo, el
p o e ta tr a ta d e s u p e ra r ese m o m e n to p u r a m e n te n eg ativ o
m e d ia n te dos p o sicio n es « a u to c rític a s » : la p o ética d el fin g i- '
m ie n to y la id e a c ió n h e te r o n ím ic a . N i q u e d e c ir tie n e q u e
estas d o s d im e n s io n e s co n stru c tiv a s c ifra n la explicación central
d e l a rtis ta q u e P essoa d e f ie n d e , n o s in a lg u n a estra te g ia d e
d istra cc ió n , e n u n a carta a J o ã o G aspar S im ões (n -1 2 -1 9 3 1 ):

« l a f u n c ió n d e l c rític o d e b e c o n c e n tra rs e e n tre s p u n to s :


( i ) e s tu d ia r al a rtis ta e x c lu siv a m e n te c o m o a rtis ta , y n o
h a c e r e n tr a r e n el e s tu d io m ás d e l h o m b r e q u e lo q u e sea
rig u r o s a m e n te p re c is o p a r a e x p lic a r al a rtis ta ; (2 ) b u s c a r
lo q u e p o d ría m o s lla m a r la explicación central d e l a rtis ta (tip o
líric o , tip o d ra m á tic o , tip o líric o -e le g ia c o , tip o d ra m á tic o
p o é tic o , e tc .); (3 ) c o m p r e n d ie n d o la e se n cial in e x p lic a b i­
lid a d d e l a lm a h u m a n a , r o d e a r estos e s tu d io s d e u n a leve
a u ra p o é tic a d e d e s e n te n d im ie n to .
[ .. .] E l p u n t o c e n tra l d e m i p e r s o n a lid a d c o m o a rtis ta es
q u e soy u n p o e ta d r a m á tic o ; te n g o c o n t i n u a m e n te , e n
t o d o c u a n to e s c rib o , la e x a lta c ió n í n ti m a d e l p o e ta y la'
d e s p e rs o n a liz a c ió n del d r a m a tu r g o . V u e lo com o
o t r o —eso es t o d o . D e sd e e l p u n t o d e v ista h u m a n o —q u e
al c rític o n o le c o n c ie rn e to c a r, p u e s d e n a d a le sirve—soy
u n h i s t e r o n e u r a s té n i c o c o n p r e d o m i n i o d e l e le m e n to
h is té ric o e n la e m o c ió n y d e l e le m e n to n e u ra s té n ic o e n la
in te lig e n c ia y la v o lu n ta d (m in u c io s id a d d e u n a , tib ieza de
la o tr a ) . E n c u a n to el c rític o fije , p o r ta n to , q u e soy e s e n ­
c ia lm e n te u n p o e ta d ra m á tic o , t e n d r á la llave d e m i p e r -

14 JOSÉ MANUEL CUESTA ABAD


s o n a lid a d [ . . . ] . P ro v isto d e e sta llave, p u e d e a b r i r l e n t a ­
m e n t e to d a s las c e r r a d u r a s d e m i e x p r e s ió n . S a b e q u e ,
c o m o p o e ta , s ie n to ; q u e , c o m o p o e ta d r a m á tic o , s ie n to
d is ta n c iá n d o m e d e m í; q u e c o m o d r a m á tic o (s in p o e ta )
tr a n s f o rm o a u to m á tic a m e n te lo q u e s ie n to e n u n a e x p re ­
s ió n a je n a a lo q u e se n tí, c o n s tru y e n d o e n la e m o c ió n u n a
p e r s o n a in e x is te n te q u e la s ie n ta v e r d a d e r a m e n te y p o r
eso sie n ta , d eriv ad as, o tra s e m o c io n e s q u e y o, p u r a m e n te
yo, m e o lv id é d e s e n t ir » .

N ad a q u e o b je ta r al m é to d o crítico q u e establece Pessoa.


Si n o fu e ra p o r q u e él m ism o p ro p ic ia e n su c o rre sp o n d e n c ia
u n a in te r p r e ta c ió n de sus fic c io n e s a u to ria le s e n clave b i o ­
g rá fic o -p s ic o ló g ic a (c a rta a A . C o r te s - R o d r ig u e s , 19-I-
1915), llega a h a b la r de « a origem orgânica do meu heteronimismo»
(carta a A . Casais M o n te iro , I3-I-I935) e insiste e n aplicarse
u n a au to ex é g esis p s iq u iá tr ic a d e c o r te f r e u d ia n o q u e
re m o n ta la causa p e rs o n a l de sus d e s d o b la m ie n to s lite ra rio s
al fo n d o h is te ro n e u ra sté n ic o d el carácter. La a n o m a lía m e n ­
ta l v ie n e a d a r r a z ó n ú ltim a d e la ra re z a d e la o b r a . E l l e n ­
guaje clín ico al q u e ta n f re c u e n te m e n te re c u rre Pessoa —a p e ­
la n d o a la d is o c ia c ió n p síq u ic a , lo d e lir a n te , lo p a to ló g ic o
p a ra ju stific a r sus fam osas m áscaras—n o sólo re d u c e la sin g u ­
la rid a d de la o b ra a u n a s cu a n to s rasgos p erso n a les, sin o q u e
adem ás p rovee de se n tid o a la d esp erso n aliza ció n sa tu rá n d o la
d e c o n te n id o s ex iste n cia les. D e a h í la c o n tr a d ic c ió n , n o
exenta de ir o n ía pessoana, a q u e h a sido procliv e b u e n a p a rte
de la crítica: la relev an cia c o n c e d id a a co n c e p to s co m o d e s­
p e r s o n a liz a c ió n e im p e r s o n a lid a d va a d a r casi s ie m p re al
ex a m e n d e la « e x tra v a g a n te » p e r s o n a lid a d d e l e s c r ito r , y
h ac e de su o b r a u n p re te x to p a r a to d a s u e rte d e te n ta tiv a s
b io gráficas y psicológicas.
Pessoa p re s c rib e a la c rític a u n a ex p lica ció n c e n tra l d el
a rtista e n té rm in o s p o e to ló g ic o s. E sta ex p licació n , tal co m o
p are ce e n te n d e rla , con stitu y e u n a m ezcla de c o n c ep to s clási­
cos e ideas ro m án tica s. C lásica es la d istin c ió n g en é rica d e los
tip o s d e p o e ta (líric o , d ra m á tic o y sus co m b in a c io n e s) d esde
u n a p e rsp e c tiv a q u e su b ray a las fo rm a s d e e n u n c ia c ió n ;

EXCESOS DE CONCIENCIA 15
ro m á n tic a , e n cam b io , es la d e fin ic ió n de d ich o s tip o s com o
m o d a lid a d e s d e e x p re sió n subjetiva basadas e n la fig u ra c ió n
d e e stad o s e m o c io n a le s y te m p le s s e n tim e n ta le s . P essoa
vuelve a e x p o n e r su clasificación de los tip o s d e p o e ta e n dos
f ra g m e n to s te ó ric o s d o n d e e m p le a u n a esp ec ie d e c r ite r io
p sic o d in á m ic o c o n el f in de d is tin g u ir grad o s d e « te m p e r a ­
m e n to lír ic o » (Stimmung, mood e n las po éticas ro m á n tic a s). El
p r im e r g ra d o de la p o e sía líric a es el d el p o e ta d e te m p e r a ­
m e n to in te n s o y em o tiv o , q u e tie n d e a ser e n g e n e ra l « v u l­
g a r » y « m o n o c o r d e » , d a d o q u e sus p o em as g ira n e n to r n o
a u n n ú m e ro lim ita d o de e m o cio n e s (a m o r, saudade, tristeza).
E l seg u n d o es el d el p o e ta q u e, p o r ser m ás in te le ctu a l e im a ­
ginativ o q u e el p r i m e r o , es capaz de v e n c e r la ríg id a u n id a d
d e su te m p e r a m e n to y e s c r ib ir c o n d e stre z a e in te n s id a d
po em as de to n o s y asu n to s m uy diversos. E l te rc e r g rad o de la
líric a c o rre sp o n d e al p o e ta a ú n m ás in te le c tu a l q u e co m ien za
a despersonalizarse: « a se n tir, n ão ja p o rq u e sen te, m as p o r ­
q u e p e n sa q u e se n te; a s e n tir estados de alm a q u e re a lm e n te
n ã o te m , s im p le s m e n te p o r q u e os c o m p r e e n d e » . C aso
e je m p la r de esta clase es el m o n ó lo g o d ra m á tic o cu ltiv a d o
p o r R . B ro w n in g y los p o etas V ictorianos. E l c u a rto y ú ltim o
g ra d o es el d e l p o e ta cuya ín d o le , in te le c tu a l e im a g in a tiv a
p o r dem ás, le p e r m ite alca n za r la p le n a d esp erso n aliza ció n :
« N ã o se n te, m as vive, os estados de alm a q u e n ã o te m d ir e ­
ta m e n te » . E l p o e ta d ra m á tic o , d el q u e s o n ex p o n e n te s S h a­
k e sp e a re y —cabe s u p o n e r — el p r o p io P essoa, n o s ie n te los
se n tim ie n to s, p e ro los vive co m o p en sad o s e im a g in a d o s, d e
m a n e r a q u e tie n d e a c re a r p a r a él u n a pessoa fictícia q u e los
sie n ta s in c e ra m e n te 8.
G u a n d o P essoa se id e n tif ic a c o n la a m b ig u a fig u ra d el
p o e ta d ra m á tic o está e n el f o n d o e s c a m o te a n d o la ex p lic a ­
c ió n c e n tr a l d e su o b r a 9. D e sd e « P o r p h y r ia ’s L o v e r» d e

8 V id. F. Pessoa, Teoría da heteronímia, Lisboa, A ssírio & Alvim, 2012,


pp. 266 - 27 ° , ed. de F. C abral M artins y R. Z enith.
9 G eorg R. L ind ba hecho n o tar atinadam ente que esta au to in terp re-
tación favorece la tergiversación: « A teoria do poeta dram ático p o r
m eio da qual o p eq u en o m u n d o dos h e te ró n im o s é relacionado

16 JOSÉ MANUEL CUESTA ABAD


B ro w n in g h a sta « T h e Love S o n g o f j . A lfre d P r u f r o c k » d e
E lio t —p o r m e n c io n a r d os casos ilu stre s— el dramatic monologue
re sp o n d e d e lib e ra d a m e n te a u n a te n d e n c ia im p líc ita e n to d a
la tr a d ic ió n líric a : la fic c io n a liz a c ió n de la voz p o é tic a . Q u e
esta lic e n c ia m u ltip e r s o n if ic a d o r a sea m ás e x p líc ita y f r e ­
cu e n te e n la p o esía m o d e rn a se d eb e n o a u n a d ra m a tiz a c ió n
c o n s u m a d a d e l liris m o , sin o a u n a calculada e x h ib ic ió n d el
p o lim o rf is m o fic tic io d e l yo lír ic o . E l p o e m a d ra m á tic o es
u n a m a n ife s ta c ió n p o te n c ia d a d e su b je tiv ism o m im é tic o :
h a c e f in ta d e a ta c a r la f o r m a lír ic a s in lle g a r a d e s tr u ir la
(p u es se tra ta p o r lo g e n e ra l de o b je tiv a r u n su je to « i n e f a ­
b le » a través de u n a alegoresis p e rs o n a l). S u ced e algo p a r e ­
c id o c o n la o b ra d e S trin d b e r g , cuya d r a m a tu rg ia su b je tiv a
(Ich-Dramatik) in v ie rte e n c ie rto m o d o el p r o c e d im ie n to d el
p o e m a d ra m á tic o . P e te r S z o n d i h a señ alad o q u e la d e f o r m a ­
c ió n d e la c o n s tru c c ió n d ra m á tic a tr a d ic io n a l e n la d r a m a ­
tu rg ia subjetivista se d eb e al h e c h o de q u e ésta p r e te n d e d r a ­
m a tiz a r la v id a a n ím ic a d e l p r o p io yo e n lo q u e tie n e d e
e s e n c ia lm e n te o c u lta . E l d r a m a só lo p u e d e sa tisfa c e r este
p r o p ó s ito c o n c e n trá n d o s e e n u n p e rs o n a je p r in c ip a l q u e o
d e s d ib u ja lo s p e rfile s d e las d em ás fig u ra s o se d e s d o b la e n
ellas co m o si f u e ra n u n a co m p arsa de fantasm as ín tim o s . E n
lo s d ra m a s trá g ic o s d e S h a k e sp e a re ya se d e te c ta —co m o
ad v irtiera H egel—u n a fu e rte in c lin a c ió n al subjetivism o a n ti­
d r a m á tic o . « A n tid r a m á tic o » e n la m e d id a e n q u e la i n t e ­
r io r i d a d d e m a sia d o interesante d e l p e r s o n a je y la s o b r e a b u n -

com o cosmo das figuras do teatro de Shakespeare, de form a a que o


poeta possa to rn a r válidas as suas aspirações à mais elevada categoria
d e n tro da h ie ra rq u ia dos poetas, è u m m a l-e n te n d id o de Pessoa
exclusivam ente líric o » , G. R. L ind, Estudos sobre Fernando Pessoa, L is­
boa, Im prensa N acional-G asa da M oeda, 1981, p. 3 4 4 - U n ju ic io
sem ejante es el de Octavio Paz: « la relación de Pessoa con sus h ete-
rónim os n o es idéntica a la del dram atugo o el novelista con sus p e r­
sonajes. N o es u n inventor de personajes poetas, sino u n creador de
obras de poetas. La diferencia es capital», O . Paz, « E l desconocido
de sí m ism o (F ern an d o P essoa)», e n Cuadrivio, B arcelona, Seix
Barral, 1991 (la ed. 1965), p. IOI.

EXCESOS DE CONCIENCIA 17
d a n c ia d e s o lilo q u io s p u e d e n d e b ilita r la o b je tiv id a d d e la
a c c ió n y el p e rsp e c tiv ism o d ia lo g a l. E n el Stationendrama d e
S tr in d b e r g el c o n flic to in te r p e r s o n a l se c o n tra e a la esfe ra
expresiva de u n yo ú n ic o , el cu rso de la acció n se q u ie b ra e n
escenas desligadas y estáticas, el diálogo decae e n c o n tra p u n to
e s p e c tra l d e u n a so la voz y, e n c o n s e c u e n c ia , el m o n ó lo g o
p ie rd e la f u n c ió n excepcional q u e te n ía e n el d ra m a . P o r eso
p u e d e d e c ir S z o n d i q u e e n la tr ilo g ía Camino de Damasco lo s
d is tin to s p e rs o n a je s n o s o n m ás q u e e m a n a c ió n d e l yo d e l
D e s c o n o c id o , h a s ta el p u n to d e q u e la o b r a e n te r a q u e d a
re a b so rb id a e n la su b je tiv id ad d el p ro ta g o n is ta . E n p alab ras
d e este p e r s o n a je d e S tr in d b e r g : « N o es la m u e r te lo q u e
te m o , sin o la so le d a d , p o r q u e e n la so le d a d sie m p re se
e n c u e n tra algo. N o sé si es algo d ife re n te o es a m í m ism o a
q u ie n p e rc ib o , p e ro e n la so le d ad n u n c a se está so lo . E l aire
se hace m ás den so , g e rm in a y em p iez an a crecer seres q u e so n
invisibles, p e ro q u e se s ie n te n y tie n e n vida p r o p ia » 10.
E n Pessoa la e sc ritu ra ta m b ié n p o n e e n escena esa so le­
d ad d o n d e ir r u m p e n seres invisibles q u e c o b ra n vida p ro p ia .
« S e r p o e ta n ã o é u m a am bição m in h a /E a m in h a m a n e ira de
estar s o z in h o » ( « S e r p o e ta n o es a m b ic ió n m ía ./S ó lo es m i
m a n e ra de estar s o lo » ) , d eclara A lb e rto G ae iro e n el p o e m a
in ic ia l de El guardador de rebaños. ¿ E n q u é se n tid o so n « d r a m á ­
tic o s » los p o em as de C a e iro , de R eis y de C a m p o s? E l ú n ic o
m o d o d e d e te r m in a r si estam os o n o a n te u n p o e m a d ra m á ­
tico es c o n statar la o ste n sió n del fin g im ie n to en u n c ia tiv o . E n
a u s e n c ia d e to d a in d ic a c ió n de la d if e r e n c ia e n tr e u n yo
a u to r ia l y u n yo p o e m á tic o , o b ie n re s u lta in d e c id ib le la
a m b ig ü e d a d (re a l/irre a l) d el su je to p o é tic o o b ie n , se g ú n la
tesis de K áte H a m b u rg e r, el yo líric o ap arece sie m p re co m o
o r ig e n d e u n a e n u n c ia c ió n re a l: « s ó lo te n e m o s d e re c h o a
h a b la r de u n yo líric o fin g id o c u a n d o el a u to r lo d a a c o n o ­
cer co m o tal. S u c o n d ic ió n de fin g id o alcanza la m áxim a cla­
rid a d e n el p o e m a d ra m á tic o (Rollengedicht) expresa y u n ív o ca -

IO C it. en P. Szondi, Teoría del drama moderno. Tentativa sobre lo trágico, Barce­
lona, D estino, 1994, trad. d e j. O rd u ñ a, p. 52 -

18 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


m e n te c a racteriza d o co m o tal, y d ism in u y e e n ra z ó n d ire c ta
de la c la rid a d c o n q u e se sepa q u e se tra ta de p ap eles d r a m a ­
tiz a d o s » 11. La id e a p esso an a de p o e ta d ram á tic o a p u n ta , n o a
las c o n v e n c io n e s d e u n g é n e ro lír ic o , s in o a la p o s tu la c ió n
ra d ic a l d e u n a p o é tic a d e l f in g im ie n to cuyas c o n s ta n te s s o n
b ie n co n o c id a s: sim u la c ió n de fig u ras au to ria le s a las q u e se
asigna la c re a c ió n de d ife re n te s o b ras; d e la c ió n d e la p e r s o ­
n a lid a d fin g id a de la voz p o é tic a m e d ia n te sim u lacro s s u ir r e -
fe re n c ia le s e in te r te x tu a le s ; tr a n s g r e s ió n d e l lir is m o p o r
efe cto d e la te m a tiz a c ió n a u to ir ó n ic a d e l y o . T o d o s esto s
a rtific io s d a n f o rm a a u n p r o b le m a m ás ese n c ia l: el p r o ­
b le m a d e l p o e ta - c o m e d ia n te . E n e fe c to , s o n m u c b a s las
c o in cid e n cias e n tre la c o n c e p c ió n p esso an a d el poeta fingidor y
las ideas de D id e r o t e n su Paradoxe sur le comédien. T ra te m o s de
resu m irlas e n tres p o sicio n es:
E n p r im e r lu g a r, la p e rfe c ta in s e n s ib ilid a d d e l c o m e ­
d ia n te . C o n tra u n a larga tra d ic ió n de p o ética em pática, f u n ­
d ad a e n la catarsis a risto télica y e n el p re c e p to h o ra c ia n o d el
p atetism o co ntagioso («sí vis meflere, dolendum estprimum ipsi tihi» ;
AdPisones, w . 1 0 3 -3 ), D id e ro t sostiene q u e el h o m b re d e g en io
p u e d e m over y excitar la se n sib ilid ad a jen a ju s to e n v irtu d de
su n a tu ra le z a in se n sib le . « L e s g ra n d s p o é te s, les g ra n d s

II K . H am burger, La lógica de la literatura [Logik der Dichtung], M adrid, Visor,


1995, trad . de J.L . A rántegui, p . 2 0 J. La segundadoí;de la poesía de
que habla T . S. E liot en « T h e T h ree Voices o f Poetry» (1953) es la
del po eta que se cam ufla e n u n perso n aje para dirig irse a u n a
audiencia, y requiere « q u e seamos conscientes de que el im itador y
el im itado son personas d istin ta s» . E liot piensa que e n estos
casos —que vienen a coincidir con el m onólogo dram ático—la im ita­
ció n de u n perso n aje está co n d icio n ad a p o r el fin pragm ático del
texto: « E l m ero hecho de asum ir u n papel, de hablar a través de una
m áscara im plica la presencia de u n p úblico: ¿ p o r qué iba u n o a
ponerse u n disfraz y u n a máscara para hablar consigo m ism o ? » . El
argum ento es más que discutible. Digamos tan sólo que el in te rro ­
gante eliotiano carece de sentido aplicado a la poesía lírica (incluida
la suya): el yo lírico sólo puede h ab lar consigo m ism o o c o n otros
poniéndose distintas máscaras verbales e im aginarias que n o encu­
b re n rostro idéntico alguno.

EXCESOS DE CONCIENCIA 19
acteurs, et p e u t-ê tre e n g én eral to u s les g ran d s im ita te u rs d e la
n a tu re , q uels q u ’il so ie n t, d o u é s d ’u n e b e lle im a g in a tio n ,
d ’u n g ra n d ju g e m e n t, d ’u n ta ct f in , d ’u n g o ú t trè s su r, so n t
les ê tre les m o in s s e n s ib le s » 12. E l p o e ta - c o m e d ia n te n a d a
tie n e d e se n tim e n tal. Sensaciones y em o cio n es s o n e n él p r o ­
ductos de la observación, el estudio, el cálculo. U n a im a g in a­
c ió n y u n a in te lig e n c ia f u e r a de lo c o m ú n s o n sus ú n ic a s
c u a lid a d e s. Se vale d e la p r im e r a p a r a e x p e r im e n ta r s e n ti­
m ie n to s q u e n o tie n e y re p re se n ta rse c u a lq u ie r te s itu ra a n í­
m ica; u tiliza la se g u n d a p a ra an alizar y c o m p re n d e r asép tica­
m e n te las p a sio n e s y los ca racteres de los o tro s . N o es su
c o ra z ó n —advierte D id e ro t—, es su cabeza la q u e lo hace to d o .
In telectu alism o e h ip erestesia im aginativa so n ta m b ié n rasgos
p r o m in e n te s del p o e ta fin g id o r de Pessoa. « O q u e em m im
se n te 'stá p e n s a n d o » , dice u n verso d el p o e m a a la seg ad o ra
(« E la canta, p o b re ce ife ira » ); « E u sim plesm en te s in to /c o n a
im ag in ação / n ão uso o c o ra ç ã o » , leem os e n o tro p o em a o r tó -
n im o ( « I s t o » ) . A n aliza r m in u c io sa m e n te las sen sacio n es de
p la c e r y d o lo r, c re a r o tr o yo q u e a p a re n te s e n tir y s u f rir p o r
u n o m is m o , h a c e r p a sa r el s e n tim ie n to p o r la in te lig e n c ia
p u r a h asta q u e a d q u ie ra f o rm a lite r a r ia s o n alg u n as d e las
recetas q u e p ro p o rc io n a la « E d u c a c ió n s e n tim e n ta l» de Pes-
soa-S o ares (Libro del desasosiego, ed. cit., p p . 131-135).
E n seg u n d o lu g a r, la caren cia de id e n tid a d p e rso n a l. E l
g r a n a c to r, n o ta D id e r o t, es to d o y es n a d a o , p a r a se r m ás
exactos, «esf-ceparce qu’il est ríen qu’il est toutpar excellence¿>. S ó lo
q u ie n p u e d e olvidarse y d istra erse de sí es capaz d e sim u larse
o tr o , f ija r su a te n c ió n e n « fa n ta s m a s q u e le sirv e n de
m o d e lo » y p a ra sita r g e n ia lm e n te m ú ltip le s ap a rien c ias fic ti­
cias. E l yo d el p o e ta -c o m e d ia n te p u e d e a p ro p ia rs e c u a lq u ie r
s im u la c ro d e p e r s o n a lid a d p r e c is a m e n te e n r a z ó n d e su

12 D . D iderot, Paradoxe sur le comédien, Paris, F lam m arion, 2 0 0 0 , ed. de


S. C haouche, p . 53 * U na brillante lectura de la p aradoja del com e­
diante diderotiano en clave filosófico-m oral es la de A ntonio Valde-
cantos, La clacj el apuntador. Materiales sobre la verdad, lajusticiaj el tiempo,
M adrid, Abada, 2011, pp. 39 Y ss*

20 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


capacidad de a u to -d e s - a p r o p ia c ió n . D id e r o t e n u n c ia , co m o
h a visto L a c o u e -L a b a rth e , u n a ley de impropiedad d el a rtista q u e
es a u n tie m p o el p r in c i p io m im e to ló g ic o d e la c re a c ió n
p o é tic a 13. Las r e - n e g a c io n e s d e P essoa, c o n su a b d ic a c ió n
d e s p e rso n a liz a d o ra y su d e le c ta c ió n e n el fracaso , n o tra z a n
sin o la fig u ra d e l p o e ta f in g id o r c o m o su je to s in a trib u to s .
D e esta im p r o p ie d a d d e p e n d e la p o s ib ilid a d d e p o e tiz a r u n
yo p lu ra l p o r m e d io de tácticas im itativ as: «Y o m ism o n o sé
si este yo q u e os e x p o n g o , e n estas p á g in a s to r tu o s a s , r e a l­
m e n te existe o n o es m ás q u e u n c o n c ep to estético y falso q u e
m e h ic e d e m í m is m o . Sí, es así. M e vivo e s té tic a m e n te e n
o tr o . H e e s c u lp id o m i v id a c o m o u n a e s ta tu a d e m a te r ia
a je n a a m i se r. A v e c e s n o m e re c o n o z c o , ta n e x te r io r a m í
m ism o m e h e p u e s to , y ta n de m o d o p u r a m e n te a rtístic o h e
em p lea d o m i co n c ie n cia de m í m is m o » (« E sté tic a d el a r tifi­
c io » ). A n tes q u e u n ateo del yo, hay e n Pessoa u n a especie de
agnóstico subjetivo p ara el q u e es im p o sib le c o n o c e r el fo n d o
del p r o p io ser, im p o sib le c o m u n ic a r lo sin g u la r d e la p e r s o ­
n a lid a d , im p o s ib le e x p re sar q u ié n es v e rd a d e ra m e n te u n o .
«T4Ê are ever unapparent>>, se n te n c ia u n verso del p r im e ro d e los
25 Sormets, y la m is m a id e a r e p ite el h e te r ó n im o A n to n io
M o ra e n este f ra g m e n to : « C a d a u n o d e n o s o tr o s tie n e , a
solas con sig o e n su silen c io de se r u n ser, u n a p e rs o n a lid a d
in e fa b le , q u e n in g u n a p a la b ra p u e d e m a n ife s ta r, n in g ú n
gesto in t e r p r e t a r [ . . . ] . P o r esa p e r s o n a lid a d e x tra so c ia l,
in c lu so ex tra h u m an a , cada cual es u n e te rn o aislado, c ru c ifi­
cado e te rn a m e n te e n su p r o p io n o ser los o tr o s » 14.
E n te r c e r lu g a r, la in v e rs ió n e s p e c u la r d e l a c to r e n
e sp e c ta d o r y viceversa. E n D id e r o t la v ieja m e tá fo ra d el te a ­
tr o del m u n d o h a de e n te n d e rse e n su estricto se n tid o literal.
La vida h u m a n a es e n re a lid a d u n e n o rm e te a tro d o n d e u n o s

13 Ph. Lacoue-Labarthe, «L e paradoxe et la m im ésis», e n L’imitation des


modemes, París, Galilée, 1986, pp. 15 y ss.
14 F. Pessoa, El regreso de los dioses, Barcelona, El A cantilado, 2 0 0 6 , ed. de
A. Crespo, p. 88.

EXCESOS DE CONCIENCIA 21
s o n a c to re s y o tr o s e s p e c ta d o re s. A h o ra b ie n , la fig u ra d el
c o m e d ia n te g e n ia l p o n e al d e s c u b ie rto la p a r a d o ja d e u n a
in v e rs ió n d e p a p e le s q u e p asa d e c o s tu m b re in a d v e rtid a :
« D a n s la g ra n d e c o m é d ie , la c o m é d ie d u m o n d e , celle à
la q u elle j ’e n reviens to u jo u rs , to u te s les ám es ch au d es o c c u -
p e n t le th é á tre ; to u s les h o m m e s d e g é n ie s o n t au p a r te r r e .
Les p re m ie rs s’ap p e lle n t des fous; les seconds, q u i s’o cc u p en t
à c o p ie r le u rs folies, s’a p p e lle n t des sages» . E l h o m b re s e n ­
sib le, a q u e l q u e c re e v iv ir e m o c io n e s e s p o n tá n e a s y s e n tir
p a s io n e s a u té n tic a s, ac tú a c o m o u n c o m e d ia n te a lie n a d o e
in c o n s c ie n te , m ie n tra s q u e tra s el g en io in se n sib le —a c to r o
p o e ta —se esco n d e sie m p re u n esp ec tad o r d istan te y p ersp icaz
d e la c o m e d ia q u e lo s d em ás i n te r p r e ta n s in sa b e rlo . E n el
Libro del desasosiego a b u n d a n las reflex io n es so b re la te a tra lid a d
d e l m u n d o y la c o m e d ia d el yo: « E s p e c ta d o r ir ó n ic o d e m í
m is m o , n u n c a s in e m b a rg o m e d e s a n im é d e a s is tir a la
v id a » . P a ra P e sso a -S o a re s la p e rfe c ta f ig u ra c ió n d e la v id a
ja m á s es ta n v e rd a d e ra c o m o e n lo s esp e c tá c u lo s te a tra le s y
c irc e n se s. « E l m u n d o e x te r io r existe co m o u n a c to r e n u n
p a lc o : está allí p e r o es o tr a c o sa » , se lee e n o tr o m o m e n to .
L a p o é tic a del fin g im ie n to tra d u c e las im ágen es d el a c to r y el
e sp e c ta d o r e n las del e s c rito r y el le c to r. Pessoa co n fiesa u n a
y o tr a vez e s c r ib ir p a r a leerse e n lo s p e rs o n a je s d e sus o b ra s.
« M e h e v u e lto u n a f ig u ra d e lib r o , u n a v id a le íd a . L o q u e
sie n to es (sin q u e yo q u ie ra ) s e n tid o p a ra e s c rib ir q u e se h a
se n tid o . L o q u e p ie n s o p asa r á p id o a las p alab ras, m ezclad o
c o n im á g e n e s q u e lo d e s h a c e n , p a te n te e n r itm o s q u e s o n
o tr a cosa c u a lq u ie ra . D e ta n to r e c o m p o n e r m e , m e h e d e s­
t r u id o » (Libro, ed . c it., p . 4-73)-

II

D esd e la lite r a tu r a p o s tro m á n tic a los p o etas h a n c o n s p ira d o


p a ra c o m p ro m e te r, si n o im p e d ir, el efecto in c a n ta to rio d el
se n tim e n ta lism o líric o so b re el le c to r. E n B au d elaire el hypo-
crite lecteur (o el le c to r b u c ó lic o y apacible al q u e ap ela y v a p u ­
lea de n u ev o sa rcásticam en te el p o e m a « E p ig ra p h e p o u r u n

22 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


livre c o n d a m n é » e n la se g u n d a e d ic ió n de Les Fleurs du Mal) es
in v o cad o co m o se m e ja n te y h e r m a n o p o r q u e ta m b ié n él h a
de f in g ir el p a p e l de m a ld ito q u e el p o e ta r e p r e s e n ta . P a ra
M allarm é la le c tu ra de u n p o e m a es u n a p rác tica ta n im p e r ­
so n a l co m o su e sc ritu ra , p u e d e re g istra r «un solitaire tacite con­
certé de so n o rid a d e s y frases q u e la n z a n destellos disp erso s de
significación. P ero el le c to r n o asiste m ás q u e a la in sc rip c ió n
m a te ria l de u n a id e a cuya ab stra c c ió n p u r a es esca n d id a p o r
el p ris m a r ítm ic o d el verso. L a le c tu ra d el L ib ro m a lla rm e -
an o se to r n a al f in u n acto in d ife re n te , in c lu so p re sc in d ib le :
« I m p e r s o n if ié , le v o lu m e , a u ta n t q u ’o n s’e n sé p are c o m m e
a u te u r , n e r é d a m e a p p r o c h e d e le c te u r » ( « Q u a n t au
L iv r e » ) . L a u tr é a m o n t, q u e d e p lo ra b a p o r so fístic o s los
g e m id o s p o é tic o s d e su sig lo , im a g in ó u n a o b r a q u e n o
p u d ie r a se r le íd a , y e n Maldoror e x h o rta s a rd ó n ic a m e n te al
le c to r a d e s istir de su e m p e ñ o o a precav erse d e lo s p e lig ro s
q u e le a c ec h an . D e e s tirp e d id e ro tia n a , su a n tis e n tim e n ta ­
lis m o n o está le jo s d e l q u e p r o fe s a r á d e sp u é s P essoa: « L e s
se n tim e n ts, m a rq u e de la faiblesse, n e s o n t pas le se n tim e n t!
L ’analyse d u s e n tim e n t, m a rq u e d e la fo rc e , e n g e n d r e les
se n tim e n ts les p lu s m a g n ifiq u es q u e j e co n n aisse. L ’éc riv ain
q u i se laisse tr o m p e r p a r les se n tim e n ts n e d o it pas é tre m is
e n lig n e d e c o m p te avec l ’éc riv ain q u i n e se laisse tr o m p e r n i
p a r les se n tim e n ts, n i p a r lu i- m é m e » (PoésiesIí).
L o s e je m p lo s p o d r ía n m u ltip lic a r s e . E n to d o s ello s la
fig u ra del le c to r « se n s ib le » se vuelve p ro b le m á tic a . M ás aú n :
el hipocriticismo d e l su je to p o é tic o —la re fle x ió n d e l yo líric o
so b re su carácter fin g id o o im p e rso n a l— se traslad a al le c to r.
E l p o e ta f in g id o r d e P essoa la n z a u n d e s m e n tid o c o n tr a el
lir is m o m o s tr a n d o c u á n to tie n e d e c o m e d ia e m p á tic a , d e
falacia s e n tim e n ta lo id e q u e p r e s u p o n e la s in c e r id a d d e las
e m o c io n e s expresadas p o r el p o e ta y la e s p o n ta n e id a d d e las
reaccio n es co nm ovidas de los lecto res. G u a n d o el le c to r cede
al en tu sia sm o s e n tim e n ta l ap en as sospecha ser el c o m e d ia n te
m e d io c re q u e o tr o le hace ser. C re e s e n tir de veras lo q u e el
p o e ta fin g e h a b e r se n tid o y, p o r eso m is m o , p r o c e d e co m o
u n m al a c to r q u e to m a a la fic c ió n p o r e x p e rie n c ia im e d ia ta
de la vida. P o r el c o n tra rio , el p o e ta es el c o m e d ia n te g en ial

EXCESOS DE CONCIENCIA 23
q u e, e n tre b astid o res, actú a co m o u n e sp ec tad o r d e la c o m e ­
d ia q u e él m ism o h a escrito p a ra q u e o tro , el le c to r sensible,
la « v iv a » . Pessoa n o se cansa de a firm a r q u e só lo co m o le c ­
t o r e x p e rim e n ta se n sacio n es y e m o c io n e s q u e n o h a te n id o .
H a y e n él u n a e r o tiz a c ió n p o r la p a la b r a q u e se r e p a r te
d e s ig u a lm e n te e n tr e la e s c r itu r a y la le c tu r a . E sta p ro v o c a
u n a s e n s ib ilid a d ilu s o ria , d e s p ie r ta al c ó m ic o larmoyant q u e
to d o s llev am o s d e n t r o ; a q u é lla es a n e s te s ia n te , o b tie n e el
goce ciego de la in se n sib iliza ció n . P lacer p a ra d ó jic o d e q u ie n
s ie n te n o s e n tir n a d a y, p o r eso m is m o , s u e ñ a c o n f in g ir
s e n tirlo to d o . N o p o d e r se n tir m ás q u e im a g in á n d o se o tro es
u n ju e g o de u n r e f in a m ie n to q u iz á so fistic a d o , q u iz á algo
p erv erso , p e ro n o excepcional. E n tal h ip e re ste sia a su m o d o
ap á tic a c o n siste sie m p re el p la c e r q u e p r o d u c e la fic c ió n en
ta n to q u e e x p e rie n c ia e n a je n a n te o ir re a l. L a crisis ir ó n ic a
d el fin g id o r p essoano estrib a e n que, p a ra co n v ertirse e n lec­
t o r d e las sensaciones q u e n o tie n e , el p o e ta d eb e h a c e r d e sí
u n c o m e d ia n te d el p a p e l q u e o tr o le im p o n e : u n o tr o q u e es
él m ism o e n tra n c e de d e s d o b la m ie n to 15. A este le c to r e sq u i­
z o id e y e s c in d id o se r e f ie r e n lo s s ie m p re c ita d o s p o e m a s
so b re la te o ría d el fin g im ie n to •.

O p o e ta é u m fin g id o r.
F in g e tão c o m p le ta m e n te
Q u e chega a f in g ir q u e é d o r
A d o r q u e deveras se n te .
E os q u e lé e m o q u e escreve,
N a d o r lid a s e n te m b e m ,
N ã o as d u a s q u e ele teve,
M as só a q u e eles n ã o te m .
( « A u to p s ic o g ra fía » )

15 Sobre la dialéctica e n tre « m ism id a d » e « ip se id a d » —a la que es


in h e re n te la relació n c o n la « o tre d a d » —es obligado re m itir a la
gran obra de P. Ricoeur, Soi-méme comme un autre, París, Seuil, I99O.

24 JOSÉ MANUEL CUESTA ABAD


Por isso escrevo en. meio
Do que não está ao pé,
Livre do m eu enleio,
Sério do que não é.
S entir? Senta quem lê!
(« Isto » )

Por isso, alheio, vou lendo


Com o páginas, m eu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
N oto a margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo, « F ui eu ? »
Deus sabe, porque o escreveu.
(«N ão sei quantas almas te n h o » )16

Las re fe re n c ia s al acto d e e s c ritu ra y le c tu ra s o n b u cles


r e c u rre n te s ta n to e n la p o esía o r tó n im a co m o e n la h e te r ó -
n im a . C a eiro alecciona a sus posibles lectores p a ra q u e al le e r
sus v erso s p ie n s e n «que soy cualquier cosa natural», y m e d ita a
cada p aso so b re la n a tu r a lid a d d e su e s c r itu r a , a u n q u e n o
d e ja d e in s i n u a r e n ella la d is im u la c ió n d e u n g esto c a li­
b ra d o : « v o u escrevendo os m e u s versos sem q u e r e r,/c o m o se
escrev e r n ã o fosse u m a co isa fe ita d e g e s to s » (Elguardador,
xlvi). I m ita d o r c o n c ie n z u d o d e l clasicism o h o r a c ia n o , R eis
sólo asp ira a le e r e n sus versos los de o t r o : « A ssim q u isie ra o

l6 « E l poeta es u n fingidor./Finge tan com pletam ente/Q ue hasta finge


que es d o lo r/E l d o lo r que e n verdad sie n te .//Y quienes leen lo que
escribe/E n el do lo r leído sien ten ,/N o los dos que tuvo él,/S ino sólo
el que n o tie n e n » (« A u to p sic o g ra fía » ); « P o r eso escribo en
m ed io /D e lo que n o está e n p ie ./L ib re de m i ata d u ra,/S e rio de lo
que n o lo e s./¿ S e n tir? ¡Sienta qu ien lee!» (« E sto » ); « P o r eso voy
leyendo, a je n o ,/C o m o páginas, m i se r./L o que sigue n o p re ­
viendo,/L o que pasó olvidando./A noto en lo que leí/Lo que juzgué
que sentí./R eleo y d ig o ,"¿ F u i y o ? ”/D io s sabe, p o rq u e lo escribí»
(« N o sé cuántas almas te n g o » ).

EXCESOS DE CONCIENCIA 25
verso: m e u e allie io /E p o r m im m esm o lid o » . E n C a m p o s la
e sc ritu ra n o se d istin g u e de u n a ex p e rien c ia d e d o lo r y p lacer
q u e re m e d a el éxtasis o rg iástico y llega a p a r o d ia r el sparagmos
d io n is ía c o e n clave d e te c n o f ilia fu tu ris ta : « A d o lo ro s a lu z
das g ra n d e s lá m p a d a s e lé c tric a s d a f á b r ic a /te n h o fe b re e
e s crev o ./E screv o r a n g e n d o os d e n te s , fe ra p a r a a b eleza
d is to ,/p a ra a beleza d isto to ta lm e n te d e sc o n h e c id a d o s a n ti­
g o s » ( « O d a t r i u n f a l » ) . Es e v id e n te q u e lo s re c u rs o s h asta
a q u í su b ra y a d o s ( a u to n e g a c ió n d e la id e n tid a d p e r s o n a l,
d ev e la ció n d e l f in g im ie n to , te m a tiz a c ió n d e l acto d e e s c ri­
tu r a - le c tu r a ) c o n v e rg e n e n la f u e r te te n d e n c ia d e P esso a a
in s c rib ir el análisis del p ro c e so c re a d o r e n los p o em as.
G e o rg R. L in d re c o rd a b a e n sus estu d io s so b re el e sc ri­
to r p o rtu g u é s la id e a de P au l V aléry seg ú n la cual h a b ría q u e
c o n c e b ir la p r o d u c c ió n de u n a o b ra de a rte c o m o u n a o b ra
d e a r te 17. Las a fin id a d e s e n tr e P essoa y V aléry s o n e sp e c ia l­
m e n te re le v a n te s si te n e m o s e n c u e n ta q u e , m ás allá d e las
obvias d ife re n c ia s, lo s d o s c o m p a r te n alg u n as id eas f u n d a ­
m e n ta le s. A m b o s c o n c e d e n la m a y o r im p o r ta n c ia a la c o n ­
ciencia d el p ro ceso cre ad o r, p riv ile g ian d o u n in telectu alism o
q u e va in c lu so e n d e trim e n to de la o b ra « c e r r a d a » , y am bos
c u e stio n a n d e raíz la p e rs o n a lid a d d el p o e ta e n aras d e u n yo
im p e rs o n a l q u e se m u ltip lic a e n la sim u la c ió n d e sus avatares
co n scie n tes. L a actividad c re a d o ra co n siste p a ra V aléry e n la
au to e x p lo ra c ió n de u n a co n c ie n cia im placable, sie m p re vigi­
la n te , ab so rta e n la in d a g a c ió n de los m ecanism o s in te le c tu a ­
les q u e g e n e r a n la m a te ria liz a c ió n d e l p e n s a m ie n to e n las
fo rm a s. « Feci quodpotui cum conscientia idfaciendi» ( « H ic e lo q u e
p u d e c o n c o n c ie n c ia de h a c e r lo » ) es el le m a q u e re su m e su
d e d ic a c ió n te n az al e scla re cim ien to reflexivo d e la ta re a c re ­
a d o ra . « Faire unpoème est unpoéme» es el axiom a q u e so stien e su
c o n c e p c ió n del p ro ce so creativo com o fac to r p rin c ip a l fre n te
al c a rácter accesorio de lo c re ad o , q u e lleva sie m p re consigo

17 U na idea citada ya p o r G. B enn en Problemas de la lírica a propósito de


la in clin ac ió n de los poetas m o d ern o s a exponer su filosofía de la
com posición: cf. G. R. L ind, Estudos sobre Femando Pessoa, c it., p. 3 0 6 .

26 JOSÉ MANUEL CUESTA ABAD


la im p e rfe c c ió n resp e cto de ¡efaire (el h a c e r in fin itiv o ). P es­
soa sitú a e n el c e n tr o d e su id e a r io s e n sa c io n ista estas d o s
afirm a cio n e s correlativas: q u e la fin a lid a d del a rte es a u m e n ­
ta r la au to c o n c ie n c ia h u m a n a y q u e el arte deb e to rn a rs e cada
vez m ás c o n s c ie n te (cf. El regreso de los dioses, ed . c it., p . 3 4 3 ) •
<sEl modo de concebir una obra de arte esja el modo de ejecutarla , afirm a
Reis e n el P refacio a las o b ras de C a e iro .
L a e s c r itu r a p e s s o a n a n o r e s p o n d e a o tr o r e q u e r i ­
m ie n to q u e n o sea el d e a b ism a rse e n la c o n c ie n c ia d e las
c o n d ic io n e s d e ( im - ) p o s ib ilid a d d e la p o e s ía y la f ic c ió n .
C o n c ie n c ia es lo q u e h a c e q u e las se n sa c io n e s e x te r io r e s e
in te r io r e s , an a liz a d a s p o r el p e n s a m ie n to , q u e d e n c o m o
a n e s te s ia d a s y p r e d is p u e s ta s a u n a r e c r e a c ió n im a g in a r ia
o p u r a m e n te in te le c tu a l. Es lo q u e e n a je n a a u n o d e sí
m is m o c o n d u c ié n d o lo p r im e r o a la d e s p e r s o n a liz a c ió n y
d e sp u é s a la f a b u la c ió n m u ltip e r s o n a l. Es ta m b ié n lo q u e
co n v ierte al yo e n a c to r y e sp e c ta d o r de u n a c o m e d ia escrita
n o se sabe p o r q u é o tr o yo. Es, e n fin , lo q u e d ic ta a C a e iro ,
R eis y C a m p o s p o e m a s p e r s p ic u a m e n te c o n s c ie n te s d e su
v e ra c id a d y su im p o s tu r a . L e o n a r d o d a V in c i y M o n s ie u r
T este d a n n o m b r e e n V aléry a las fig u ra s p rin c ip a le s d e u n
d ra m a in te le c tu a l d el q u e u n moi s in n o m b r e es a u to r, a c to r
y e s p e c ta d o r. E l p r im e r o p e rs o n if ic a al g en io cuyo m é to d o
es in f in it a m e n te s u p e r io r a lo s p r o d u c to s a d m ira b le s pero
lim ita d o s q u e r e s u lta n d e su a p lic a c ió n . E l se g u n d o r e p r e ­
se n ta u n a especie de m á q u in a m e d ita tiv a , casi u n m o n s tru o
in te le c tu a l cuyo m é to d o n o p r o d u c e n a d a , p u e s se su m e rg e
e n el m ás p o r m e n o r iz a d o ex a m e n de los re so rte s m e n ta le s y
se a b a n d o n a p o r c o m p le to a la e b r ie d a d d e l p r o p io p e n s a ­
m ie n to . « L a v id a d e la in te lig e n c ia c o n stitu y e u n u n iv e rso
lír ic o in c o m p a ra b le , u n d ra m a c o m p le to » , le e m o s e n el
escrito sobre « D e sc a rte s» de Variété. E n « N o te et d ig ressio n » ,
u n ensayo d o n d e da c u e n ta de las ideas q u e in s p ir a r o n Intro-
duction à la méthode de Léonard da Vinci (1894)1 V aléry d ic e h a b e r
visto e n L e o n a rd o al p e rso n a je de « e s a C o m e d ia In te le c tu a l
q u e n o h a e n c o n tr a d o h a sta a h o r a p o e t a » , y a ñ a d e e n u n
pasaje u lte r io r estas observaciones:

EXCESOS DE CONCIENCIA 27
« E s ta b a yo a c u c ia d o p o r la n e c e s id a d d e in v e n ta r u n p e r ­
so n a je capaz d e m u c h a s o b ra s. T e n ía la m a n ía d e n o a m a r
m ás q u e e l f u n c io n a m i e n to d e lo s se re s , y e n las o b ra s ,
n a d a m á s q u e su g e n e r a c ió n . S a b ía q u e estas o b ra s s o n
s ie m p r e fa ls ific a c io n e s , c o m p o n e n d a s , a l n o s e r fe liz ­
m e n t e e l autor ja m á s e l hombre [ . . . ] . T o d a la c rític a e stá
d o m in a d a p o r este p rin c ip io a n tic u a d o : el h o m b r e es causa
d e la o b r a —c o m o e l c r im i n a l a o jo s d e la ley es causa d e l
c rim e n . ¡Los d o s s o n m ás b i e n el e f e c to ! » 18

D e lo q u e se tra ta en to n c e s es de im a g in a r u n « s e r te ó ­
r ic o » , u n p e rso n a je q u e re p re se n te d e alg ú n m o d o la p ro p ia
cap acid ad d el p o e ta d e c o n s tru ir la o b ra q u e él m ism o se h a
p r o p u e s to ex p lic a rse . N o es o tr o , e n d e fin itiv a , el m é to d o
q u e Pessoa em p le a e n su id e a c ió n h e te ro n ím ic a . E l drama em
gente pesso an o es, al igual q u e la Comedie Intelleduelle d el fran cés,
la ex plicación del p ro c e so c re a d o r in sc rita e n la o rq u e sta c ió n
ficticia de u n a o b ra m u ltia u to ria l. N a tu ra lm e n te , los h e te r ó -
n im o s sólo p u e d e n ser re c o n o c id o s co m o tales d e sc u b rie n d o
el a rtific io de su existencia fin g id a . E n este se n tid o , el d ra m a
de Pessoa su p o n e u n a p e c u lia r n o v e liz a c ió n d e la g én esis de
los p o em as. Las biog rafías inv en tad as de G ae iro , R eis, C a m ­
p o s (e ta l), los textos testim o n iale s, los p ró lo g o s, las críticas y
las in te rp re ta c io n e s q u e los dos ú ltim o s se c ru z a n o d e d ic a n
al p r im e ro , la filosofía n eo p a g an a de A n to n io M o ra y la esté­
tic a « e x is te n c ia lis ta » d e B e rn a r d o S o ares, las ca rtas y lo s
e s c rito s te ó ric o s d e l m is m o P essoa s o b re la h e te r o n im ia
c o n s tru y e n u n co m p lejo sim u lac ro d ejramestory, es d ec ir, u n
r e la to - m a r c o q u e in te g r a lo s d is tin to s ciclo s d e p o e m a s y
p ro s a s e n u n a f a b u la c ió n explicativa d e l p ro c e s o c r e a d o r .
P ara to d o in te n to de a u to c o m p re n s ió n p o é tic a es válido este
c o ro la rio : d em asiad a a te n c ió n al p ro c e so d e c re a c ió n a m e ­
n az a c o n m a lo g r a r el re s u lta d o , m ás a ú n c u a n d o éste es d e
c o n tin u o re c e p tiv o a las h u e lla s d e a q u é l. H ay u n a ce su ra

18 P. Valéry, « N o te et digression» (1919), e n Introduction à la méthode de


LéonarddaVinci, París, Gallim ard, I 957 >PP- II2 -I1 3 .

28 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAO


inevitable, u n a lín e a de so m b ra e n tre el p ro c e so y la o b ra . La
lucidez q u e el p o e ta m ás g en ial o b tie n e de la re fle x ió n so b re
el p ro c e s o d e e s c r itu r a p u e d e asfix ia r la o b ra , p e r o n u n c a
p o d r á e x p lic a rla p o r c o m p le to . E n este h ia to e n tr e la c o n ­
c ie n c ia de la ta re a p o é tic a y su tr a n s p a r e n c ia e n la o b r a se
sitú a el p r o b le m a de le c tu ra q u e p la n te a e n g e n e ra l la h e te -
ro n im ia de Pessoa.
La le c tu ra d el 'd ra m a e n g e n te ’ e n fre n ta an tes o después
a u n d ile m a . Es p o sib le (hasta c ie rto p u n to ) le e r los p o em as
ig n o r a n d o el m a rc o d e f ic c ió n a u to ria l, d is f r u ta r d e los
hallazg o s exp resiv o s, c a p ta r n o p o ca s in fle x io n e s ir ó n ic a s ,
a d m ir a r la fu e rz a d e las im á g e n e s y la a u d a c ia d e las id eas,
c o n m o v erse acaso c o n los s e n tim ie n to s sin c e ro s o im p o s ta ­
d o s. P e ro las c o n s e c u e n c ia s fa lsific a d o ra s d e esta le c tu r a
in g e n u a so n in ev itables: la a c titu d d el le c to r te n d e r á a se r la
d e l c o m e d ia n te e n tu sia sta q u e cre e e m p a tiz a r d e in m e d ia to
c o n el p e rso n a je q u e o tro h a fin g id o y, so b re to d o , su i n t e r ­
p r e ta c ió n d e s c u id a rá u n r e m a n e n te de s e n tid o (las in s c r ip ­
cio n es textuales y co n tex tú a le s de la h e te ro n im ia ) sin el cual
lo s p o e m a s se p r e s ta n a u n a c o n tin u a te rg iv e rsa c ió n . Si, e n
c a m b io , la le c tu r a asu m e a to d o s lo s e fe cto s la p o é tic a d el
f in g im ie n to , la a d v e rte n c ia d e la c o n d ic ió n h e te r o n ím ic a
d ejará e n los p o em as el ra stro de u n a génesis q u e su b v ierte su
le c tu ra co m o obras. L a p o e sía h e te r ó n im a d ev ien e así c u a si-
o b ra , e n el s e n tid o de q u e to d a ella aparece, expuesta a la luz
d el p ro c e so creativo, e n tre u n a s com illas invisibles q u e m a r ­
ca n el como si de lo fin g id o . C o m o si to d o s los p o em as f u e ra n
citas ficticias q u e in f u n d e n e n el le c to r el vértig o d e u n a i r o ­
n ía in d e c id ib le (quién dice qué). P ara Pessoa este d ile m a n o sería
s in o u n m o m e n to p a r a d ó jic o , in d is o c ia b le d e l a r tific io
s im u la d o r , q u e se resu e lv e e n la s e rie d a d ú ltim a d e l ju e g o
h e te ro n ím ic o . E n u n a carta a C ô rte s -R o d rig u e s (19-I-1915)
co n c ib e ta l se rie d a d co m o u n a su p e ra c ió n p o é tic a d e la c o n ­
tra d ic c ió n e n tre sin c e rid a d e in sin c e rid a d :

« L la m o in s in c e ra s a las cosas h e c h a s p a r a im p r e s io n a r, y
t a m b i é n a las cosas —repare en esto, que es importante— q u e n o
c o n ti e n e n u n a f u n d a m e n ta l id e a m e ta fís ic a , e sto es, p o r

EXCESOS DE CONCIENCIA 29
d o n d e n o p a sa , a u n q u e sea c o m o u n v ie n to , u n a n o c ió n
d e la g ra v e d a d y d e l m is te r io d e la V id a . P o r eso es s e rio
t o d o lo q u e e s c rib í b a jo lo s n o m b r e s d e C a e ir o , R eis,
A lv a ro d e C a m p o s . E n c u a lq u ie r a d e e llo s p u s e u n p r o ­
f u n d o c o n c e p to d e la v id a, d if e r e n te e n lo s tre s , p e r o e n
to d o s g ra v e m e n te a te n t o a la im p o r t a n c i a m is te r io s a d e
e x is tir» .

C o n c e d a m o s q u e lo s p o e m a s h e te r ó n im o s s o n al f in
« s e r io s » y « s in c e r o s » . L a s in c e r id a d d e q u e h a b la P essoa
n a d a tie n e q u e v e r c o n la d e q u ie n d ic e e x p re sa r veraz o
a u té n tic a m e n te sus se n sa c io n e s y estad o s d e á n im o . C o n
r a z ó n ju z g a C a m p o s esta s in c e r id a d c o m o u n crimen d e lesa
lite ra tu ra , p u e s la m ay o r p a rte de la g en te sie n te c o n v e n c io ­
n a lm e n te , a f e rr a d a a la ja u la d e su p e r s o n a lid a d o p resiv a,
m ie n tr a s q u e só lo el p o e ta p u e d e —m e d ia n te su s in c e r id a d
in te le ctu a liz ad a—sentir tudo de todas as maneiras. ¿ E n q u é consiste
esta s in c e r id a d lite r a r ia o p o é tic a ? E n la c re a c ió n d e u n yo
p o lim o rf o cuyos m o m e n to s de fig u ra c ió n a rtic u la n las fases
de u n d ra m a subjetivo. C o m o la m ayoría de los dram as, el de
P essoa d e s a r ro lla u n a esp ec ie d e a n ta g o n is m o q u e p o d r ía
sim plificarse e n la c o n tra p o sic ió n C a e iro /C a m p o s . Estos dos
ex tre m o s n o c o n tra s ta n ta n to p o r sus caracteres y sus ideas,
c u a n to p o r su fu n c ió n co n stru c tiv a e n la re p re s e n ta c ió n d el
p ro c e so c re a d o r. E l d e n o m in a d o r c o m ú n a to d as las fases del
d ra m a h e te ro n ím ic o es la ironbpción de las d istin ta s fo rm a s de
su jeto p o é tic o . Iro n iz a c ió n significa aq u í, g e n é ric a m e n te , la
m e ta fig u ra e n u n c ia tiv a q u e p r e s e n ta a d ic h o su je to d e s d o ­
b la d o e n o tro d ife re n te o c o n tra d ic to rio . Si e n la ir o n ía el yo
e n u n c ia tiv o « h a c e o í r » —e n té rm in o s de O . D u c ro t—la voz
d e o tr o co m o si fu e ra la suya19, e n to n c e s el e n u n c ia d o i r ó ­
n ic o a firm a algo q u e al m is m o tie m p o se está n e g a n d o o
re d u c ie n d o al ab su rd o su b re p tic ia m e n te . E sta c o n tra d ic c ió n
se t o r n a m e ta fig u ra l c u a n d o es re fle ja d a d e m a n e r a o s te n -

19 O . D ucrot, El decirj lo dicho. Polifonía de le enunciación, Barcelona, Paidós,


1986, pp. 2 I 4 - 2 I 5 -

30 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


sib le , es d e c ir , c u a n d o el e n u n c ia d o ir o n iz a a b ie r ta m e n te
s o b re su c a rá c te r ir ó n ic o . D e sd e esta p e rsp e c tiv a , p u e d e
d e c irse q u e e n lo s p o e m a s de A lb e rto G a e iro p r e d o m in a la
ironización antifrástica, y e n los de A lvaro de C a m p o s la ironización
hiperbólica20. V ayam os p o r p arte s.
Q u e C a e iro se p re se n te co m o el m a estro (o Mestre) d e los
d em ás p o e ta s h e te r ó n im o s , q u e sea, c o m o se h a d ic h o c o n
frecu en cia, el « m e n o s » Pessoa de to d o s, la m ás ex trañ a, o r i­
g in al y d e sc o n c e rta n te de sus voces fingidas, se d eb e a la p o s i­
c ió n lím ite q u e o c u p a co m o p u n to de p a r tid a a n tité tic o o,
m e jo r aú n , co m o tesis p a ra d ó jic a e n el p ro ce so d e fig u ra c ió n
d el yo líric o . C a e iro es u n a n ti-P e sso a n o p o r q u e su p e r s o ­
n alid ad , su filosofía o sus o p in io n e s c o n tra d ig a n a las d e P es­
soa, sino a n te to d o p o r q u e su m o d o de fig u ra r el su jeto c o n ­
tra d ic e ir ó n ic a m e n te la p o s ib ilid a d d e l yo p o é tic o . E sta
p o s ib ilid a d es in m a n e n te al le n g u a je , n o ya al le n g u a je e n
g en e ral, sin o a la p a la b ra q u e, p a ra ser p o ética , h a d e v en c er
las c o n s tric c io n e s lógicas, g ram aticales y sem án ticas d el d is­
c u rs o . U n p o e ta q u e se p r e te n d a e x p o n e n te m á x im o d el
« o b je tiv ism o a b s o lu to » tie n e algo de có m ico , h a b id a cu e n ta
de q u e el le n g u aje p o é tic o re d u c e tal objetivism o al m ás p e r ­
fec to a b s u rd o . U n p o e ta q u e n ie g u e la n a tu ra le z a eq u ív o ca
d e l m a te r ia l d e q u e e s tá n h e c h a s sus o b ra s p a r a a f ir m a r la
n a tu r a lid a d u n ív o c a d e lo q u e d ic e se ac erca m u c h o a la

20 N aturalm ente, Ricardo Reís cum ple distintas funciones en el dram a


en gente, sobre todo e n lo que atañe a la elaboración del neopaga-
nism o de inspiración caeiriana en u n a poética neoclasicista com ple­
m entaria, en cierto m odo, de la filosofía de A ntonio M ora. Es bien
sabido que la o bra de Reis es u n b rilla n te y cuidadoso ejercicio de
im itación horaciana. E n ella abundan la introspección epigramática
y el to n o gnóm ico « a la m a n e ra » de los antiguos. Me lim ita ré a
señalar que Reis ocupa u n lugar secundario en la creación h e te ro n í-
mica del yo poético: e n su poesía predom ina u n a ironización anacrónica
centrada en form as y contenidos arcaizantes que se p o n e n al servicio
del id eario neopagano. E n Reis el yo lírico fingido es deliberada­
m ente lim itado en sus registros expresivos y tem áticos, de m odo que
se. acerca dem asiado a los dos p rim e ro s tipos de poetas de que
hablara Pessoa.

EXCESOS DE CONCIENCIA 31
gen ia lid a d d el co m e d ia n te . G om o ha destacado E. L o u -
ren ço: « L a "idea” que organ iza el d iscu rso p o é tic o de
G aeiro es la de la im p o s ib ilid a d m etafísica de nom brar la reali­
d a d » 21. A sí es: todo el énfasis de o M e s tr e recae en la grieta que
separa las palabras de las cosas. U n a piedra só lo es u na p ie ­
dra, y nada más, para n o so tr o s, que lo p erc ib id o de ella a
través de n uestros sen tid os. El yo es una cosa que p iensa las
sen sa cio n es p rod u cid as e n él p o r cada o b je to . Las cosas
externas so n reales, n o sign ifican nada, n o ocu ltan m isterio
alguno, salvo el de su m era existencia inm ediata, so n in n o m ­
brables e inexplicables e intranscen d en tes. El m ito que evo­
can sus p oem as es el de u n len gu aje p u r o que diera acceso
directo a lo real.
Es esta quim era de u na palabra diáfana la que suscita en
n o so tr o s la ven era ció n a que alude una frase de M erlea u -
Ponty: « T o d o s ven eram os secretam ente el id eal de u n le n ­
guaje que, e n ú tim a in stan cia, n o s libraría de sí m ism o
lib rá n d o n o s a las c o s a s» 22. El id io m a de C aeiro an hela la
u n ivocid ad (un a asp iración al m en o s tan antigua co m o la
lógica aristotélica). D e ahí que su estilo explote la literalidad y
la tautología com o esquem a elem ental del p rin cip io de id e n ­
tidad . La tau tología es la fórm u la de la verdad lógica, p ero
esta verdad, com o destacara W ittgen stein , es la de la pura
p ro p o sició n analítica y, p or tanto, n o quiere decir nada, n o
representa la realidad, n o es más que la sim p le en u n cia ció n
de lo pensable com o verdadero (A=A). U n lenguaje del todo
literal y tautológico, d o n d e cada palabra significara sólo esta
cosa, nada más que esta cosa, siem pre esta cosa com o idéntica
a sí m ism a, sería o u n a m a ld ició n o u n d o n so b reh u m a n o .
U n sujeto p o ético —u n p oem a— es im p osib le en u n lenguaje
sin equivocidad n i con trad icción n i resto m etafórico. En u n
len gu aje así n o habría «p alabra en lib e r ta d » n i creación
p osible de yo alguno n i, en suma, poesía.

21 E. L ourenço, Pessoa revisitado, cit., p. 39 -


22 M. M erleau-Ponty, Laprose du monde, París, G allim ard, 1969 (ed. de
Cl. L efort), p. 8.

32 JOSÉ MANUEL CUESTA ABAD


E n los poem as de C aeiro el m o d ern o poeta sentim ental
sale a escena disfrazado de poeta in g en u o que se autoparodia
elegiacam ente: « F u i el ú n ic o poeta que tuvo la N aturaleza»
( P o e m a s i n c o n j u n t o s ) . La suprem a ab erración d el esp íritu

h um ano sería para él pensar lo que H egel p en só en este ada­


gio: «L a p eor ocurrencia que pueda tenerse es m ejor que la
n a tu ra leza » . C aeiro es sin duda u n p erson a je su m a m en te
atrayente e in teresan te p o r cu an to tie n e de ex p erim en to
m en tal. Reclam a u na ap reh en sión anim al d el m u n d o , p ero
im aginar la realidad anim al será siem pre dem asiado hum ano
y, co n toda p rob ab ilid ad , más p ob re y m en o s in o c e n te que
vivirla. Es u n fanático de la in m an en cia m aterial. La fe d o g ­
mática que profesa es la de la experiencia sensible, q u in ta e­
senciada en el sentid o de la vista. Su yo im agina recibir de las
sen sacion es la garantía absoluta de la existen cia real de las
cosas más allá del sujeto. Garantía que retorna al yo con ver­
tida en autocerteza, con cien cia de sí fortificada p o r la in te -
lectualización d el trato sensible co n la realidad exterior. Tras
la clara y distinta p ercep ció n de lo s ob jetos que p ro p u g n a a
ultranza se adivina u n h íb r id o de B erkeley y D escartes. El
lecto r p u ed e com p artir su repu gn ancia ante la so b r e in te r ­
p reta ció n an tro p o m ó rfica de la naturaleza (« p u e s só lo soy
esa cosa odiosa, u n intérprete de la N aturaleza», E l g u a r d a d o r ,
xxxi), n o lejana p or lo dem ás d el lam en to de Rilke en la P ri­
m era E legía de D u in o ( « n o estam os m uy seguros, n o n o s
sentim os en casa/en el m u n d o in terp reta d o » ); o sim patizar
co n su m isticism o pastoral y su rara piedad cósmica; o ad m i­
rar la sensatez desarm ante de sus p en sam ien tos y la aparente
claridad de sus razo n a m ien to s circulares, p o r más q ue la
facundia argum entativa co n que apuntala su doctrina b ord ee
a m en u d o —sob rem an era e n P o e m a s in c o n j u n t o s — el p astich e
sapiencial o la barbarie filosófica. « H a y m etafísica de sobra
en n o pensar en n ad a» ( E lg u a r d a d o r , v) podría ser el m o tto de la
filo so fía de C aeiro, que n o cesa de ensartar p en sa m ien to s,
ju ic io s id én ticos, en u n ciad os declarativos, reflexion es sobre
cóm o sentir y cóm o n o pensar, n i cesa p or tanto de con tra­
decirse y desdecirse a sabiendas, sin dejar p or ello de rum iar
siem pre las m ism as ideas co n el m ism o m artilleo persuasivo.

EXCESOS DE CONCIENCIA 33
El p roclam ado objetivism o de G aeiro es la im agen invertida
de su subjetivism o m ed itativo. Su d iscurso está d o m in a d o
p o r la a n tífr a s is irónica: sign ifica e n el fo n d o lo con trario de
lo que dice y delata este sentid o contradictorio m ediante una
r e - n e g a c i ó n explícita e igualm ente irón ica. D e l im pu lso a d es­

m en tir el sentido de la antífrasis habla p or sí solo el p oem a xv


de E l g u a r d a d o r d e r e b a ñ o s :

As quatro canções que seguem


separam-se de tudo o que eu penso,
mentem a todo o que eu sinto,
são do contrário do que eu sou...

Escreví-as estando doente


e por isso elas são naturais
e concordam con aquelo que sinto,
concordam con aquilo com que não concordam...
Estando doente devo pensar o contrario
do que penso quando estou são
(senão não estaria doente),
devo sentir o contrario do que sinto
quando sou eu na saúde,
devo mentir a minha natureza
de criatura que sente de certa maneira...
Devo ser todo doente —ideias e tudo.
Quando estou doente, não estou doente para outra coisa.

Por isso essas canções que me renegam


não son capaces de me renegar
e são a paisagem da minha alma de noite,
a mesma ao contrario . . . 23

23 <<Las cuatro canciones que siguen/ se separan de todo lo que pienso,/ mienten a todo lo
que siento, / son lo contrario de lo quejo soy...// Las escribí estando enfermo/jpor eso
son ellas naturales;/ concuerdan con lo que siento,/concuerdan con lo que no concuer-
dan.../Estando enfermo debo pensar lo contrario/ de aquello que pienso estando sano/
(pues sino, no estaría enfermo);/ debo sentir lo contrario de lo que siento/ en cuanto soy
yo en la salud;/debo mentir a mi naturaleza/de criatura que siente de cierta manera.../

34 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


N o su elen contarse estos versos entre los más represen ­
tativos de G aeiro y, sin em b argo, su im p orta n cia es capital
para u n a in terp retación crítica de su p o sició n en el p roceso
de la in v en ció n h eteron ím ica. El p oem a se presenta in e sp e ­
rad am en te co m o u n a esp ecie de p r ó lo g o o ex o rd io a una
breve serie de canciones situadas casi en m ed io de E l g u a r d a d o r
d e r e b a ñ o s . E l yo hace u nas cuantas advertencias relativas a las

circunstancias « p e r so n a le s» de escritura y al carácter m e n ­


daz o co n tra d icto rio de esas ca n cio n e s para in stru ir sob re
cóm o se h an de leer. Los m otivos típ icam en te p essoan os de
la crisis subjetiva q ue da lugar al p o em a , la m en tira co m o
lengu aje d el alm a, el se n tim ie n to fin g id o y la im p lic a c ió n
p rob lem ática d el lector en el ju e g o ilu sio n ista com p a recen
proyectados desde el ángulo de la visión caeiriana. El texto se
estructura rítm icam ente m ediante u na variación intensiva de
u n os p ocos form antes: la rep etición de segm entos escalona­
dos ( o q u e e u p e n s o / o q u e e u s i n t o / o q u e e u s o u ), la alternan cia de
dualism os léxicos y conceptuales (pensar/sentir; e n fe r m o /
sano; concordar/discordar) y las fluctuaciones de u na sinta­
xis paradójica que dice algo y lo desd ice a co n tin u a ció n , de
u n verso a otro y hasta en el m ism o verso. U n a excelente a li­
tera ció n ca cofón ica tartam udea la paradoja central : « [A s
canções] c o n c o r d a m c o n a q u ilo c o n q u e n ã o c o n c o r d a m » . A la luz de la
« d o c tr in a » de G aeiro, la con trap osición entre s a ú d e y d o e n ç a ,
ligada al par s e n t i r - p e n s a r , m arca la p olarid a d tem ática del
p oem a. E n el id eario caeiriano la en ferm ed ad sign ifica p o r
lo gen eral la sob revaloración h u m an a d el p en sa m ien to en
p erju icio de la exp erien cia natural, la h y b r is esp iritu a l que
atribuye sentidos ocultos a las cosas, busca en ellas u n fo n d o
m isterioso o trascendente, ignora la realidad concreta en aras
de u n a verdad que n o existe. Los m ísticos, los filó so fo s, los

Debo ser enfermo por entero —ideasy todo./ Cuando estoy enfermo, no estoy enfermo
para otra cosa.//Por eso, esas canciones que me desmienten/ no tienen capacidad de
desmentirme;/ ellas son el paisaje de mi alma de noche,/la misma al revés...», trad.
de-J. B a r j a y J . In arejo s, F. Pessoa, Los poemas de Alberto Gaeiro I,
M adrid, Abada, 2011, p. 79 -

EXCESOS DE CONCIENCIA 35
teólogos, los poetas so n pues d o e n te s . Pero las canciones in sp i­
radas p o r la en ferm ed a d , d ice ahora G aeiro, so n ta m b ién
natu rales, au n q u e co n trad igan o d esm ien ta n lo que u n o
sie n te y p ien sa cu an d o está san o. C o n esta otra vuelta de
tuerca —congruente y sofística—el poem a está desm ontand o a
su m o d o la diferencia crucial entre enferm edad y salud24. Si
estar en ferm o es algo tan natural com o estar sano, si el p e n ­
sar y el sentir d el prim ero concuerdan tam bién co n el pensar
y el sen tir con trarios del segu n d o, ¿cóm o determ in ar al fin
u na diferencia esencial de n a t u r a l i d a d entre esas «cu a tro can­
c io n e s » y las dem ás? E n u n a de las cop ias d el p o em a xv
consta u na n ota m anuscrita en la que Pessoa elogia la c o h e ­
rencia de Gaeiro:

«Lo que admiro en Caeiro es lo fuerte de sus pensamien­


tos —su raciocinio, sí—que une y va ligando sus poemas.
Nunca se contradice en la verdad, y cuando parece con ­
tradecirse, de repente aparece, en una u otra esquina de
sus versos, la alegación prevista y contestada. ¿Profunda
coherencia de la obra, donde se superpone el pensa­
miento por encima de la inspiración? ¿U hondo genio de
un griego que lo siente todo y lo ve todo? En cualquiera
de las hipótesis planteadas, la figura literaria siempre es
estupenda y enorm e, demasiado grande incluso para la
polícroma pequenez de nuestra época»25.

E n efecto, lo s poem as de G aeiro an ticip an ob jecio n es,


arguyen razonam ientos opuestos, recon ocen contradicciones
en u n estado de alerta p or m om en tos adm irable y casi siem -

24 Está e n lo cierto F. C abral M artins cuando afirm a: « C a e iro , tal


com o a h e tero n ím ia, é u n trabalho p o r d e n tro da ilusão, mas que
vem a consistir n a produção de artefactos destinados a deconstruí-
la » , en F. Pessoa, Poesia de Alberto Caeiro, L isboa, A ssírio & Alvim,
2 0 0 9 , ed. de R. Z en ith y F. Cabral M artins, p. 274"
25 V id. la n o ta d e j . B arja al p oem a e n F. Pessoa, Los poemas de Alberto
Caeirol, ed. cit., p. 183.

36 JOSÉ MANUEL CUESTA ABAD


pre sed u ctor. La clave de lectu ra d el p oem a n o está sin
em bargo en la verdad p ro fu n d a de sus paradojas n i e n la
coh eren cia de su « r a c io c in io » . Los p en sam ien tos n o dejan
de ser aquí b astante triviales —algo q ue la naturalidad ca ei-
riana, in clu so enferm a, tendría p o r m uy s a lu d a b le — y las para­
dojas tie n e n m u ch o de ejercicio in g e n io so . El p o em a xv
con stituye sob re to d o una p arod ia de ciertos gestos fu n d a ­
cio n a les de la tra d ició n lírica eu ro p ea . El texto rem ite en
con ju n to a la form a del e n v o i (la to r n a d a provenzal, el c o m m i a to
o c o n g e d o p etra rq u esco), au n q u e e n este caso n o se trata de

una coda, sin o de u n fragm ento a m od o de p ro em io lú d ico .


En la lírica am atoria tradicional el e n v o i incluye el apostrofe al
p rop io poem a, la previsión de posibles críticas o reparos a su
form a y c o n te n id o , la in te r p e la c ió n al fu tu ro le cto r y las
c o n c lu sio n e s d el yo sob re sus p erip ecias se n tim en ta le s. N i
que decir tien e que la lírica de Petrarca recreó este p ro ce d i­
m ien to de estirpe occitana y lo transm itió a la poesía europea
p o sterio r: « G a n z o n , chi tua ra g io n chiam asse o b scu ra ,/
d i’: —N o n ó cura, p erch é to sto s p e r o /c h ’altro m essaggio il
vero/farà in p iü chiara voce m a n if e s t o ...» ( R e r u m V u l g a r iu m
F r a g m e n ta , cxix). E n Pessoa, que reprochaba a C am ões su p oco

o rig in a l em u la ció n d el p etrarq u ism o, resu en a aún el to n o


co n tra-argu m en tad or y explicativo que aparece, p o r eje m ­
p lo , en el cierre de la C anção V II d el clásico p ortu gu és:
« C a n ç ã o , se q u em te le r /n ã o crer dos o lh o s lin d o s o que
d izes,/p e lo que em si se e sc o n d e ,/o s sen tim en to s h um anos,
lh e re sp o n d e,/n ã o p o d e m dos divinos ser j u íz e s » 26. Pero el
ancestro lírico que retorna en el p oem a de C aeiro es todavía
más antiguo: el d e v i n a lh , la adivinanza o el acertijo de la p o e ­
sía trovadoresca. C o m o el p erson aje de G u illerm o de P o i-

26 «Pe/o que emsise esconde» , dice u na línea de Camões. Recordem os estos


versos de u n poem a ortó n im o de Pessoa datado en 1914= «U rna voz
que o cham a/M as não sabe donde/(Voz que em si se esconde)/E só a ela
a m a ...» . (Las cursivas son m ías). Q u e Pessoa conocía m uy b ie n la
tra d ic ió n lírica p ortuguesa y eu ro p ea es u n hecho que, leídas sus
obras, no requiere dem ostración.

EXCESOS DE CONCIENCIA 37
tiers en F a r a i u n v e r s d e d r e y t n i e n , el C aeiro de « A s quatro can­
ções que se g u e m » refiere la circun stan cia p erso n a l e n que
escribió los poem as, encadena negaciones, confiesa con tra­
decirse y lo d esm ien te, prodiga las paradojas e ironiza sobre
sí m ism o y el sen tid o de sus can cio n es. E n breve, el p oem a
caeiriano presenta tod os los rasgos com positivos que d istin ­
gu en al d e v i n a lh : la c o n c o r d ia d is c o r s o coin cid en cia de los op u es­
tos, las anáforas negativas en cascada, la figuración paradójica
del yo p oético en (au to-)referen cia al acto de escritura y, no
en ú ltim o lugar, la d esm istificación paródica del con v en cio ­
nalism o lírico 87.
N o es m uy probable que Pessoa fuera con scien te de esta
afinidad co n la retórica h u m orístico -en ig m á tica de los tr o ­
vadores. Lo cierto es que las rem iniscencias de aquel subgé­
n e r o de la lírica trovadoresca van más allá d el p o em a de
C aeiro. La anáfora negativa que recitan los poem as de d e v in a lh
com o u na letanía irónica es n o s a i, u n « n o sé » cuya ig n oran ­
cia afecta al p rop io yo lírico o al poem a m ism o : «JVo s a i e n q u a l
h o r a . m f u i n a t z , / n o s o i a le g re s n i i r a t z » ( « N o sé a qué hora n a cí,/n o

estoy alegre n i tr iste » , G u illerm o de P oitiers); « E s c o t a t z , m a s


n o s o y q u e s ’e s ,/ s e n h o r , s o q u e v u e l h c o m e n s a r » («E scu ch a d , mas no

sé, señ o r es,/q u é q uiero co m e n z a r» , Raim baut d ’A urenga);


« ¡ 7 n s o n e t f a t z m a l v a t z e b o / e re n o s a i d e c a l r a z o » (« H a g o u n poem a
m alo y b u e n o ,/n o sé cual es el te m a » , G iraut de B o rn elh );
«JVo s a i q u i . m s o , t a n s u y d e s c o n o y s s e n s , / n i s o y d o n v e n h , n i s a i o n d e i
a n a r , / n i re n o s a i q u .e m d e y d ir n i f a r » ( « N o sé q u ién soy, tan ig n o ­

rante s o y ,/n i sé de d ó n d e ven go n i a d ó n d e d eb o ir ,/n i sé


qué d eb o hacer n i qué d e c ir » , A ustorc de Segret). N a o s e i es
co n d iferen cia la lo c u c ió n que más se rep ite en lo s poem as
ortó n im o s de Pessoa:27

27 U na síntesis b ien docum entada de los problem as interpretativos que


plantea este género de la poesía trovadoresca es la de Patrice U bi:
<¿Devinalh: su b tra d itio n m édiévale ou m éta tra d itio n m édiévisti-
q u e ? » , RevueRomane, 36.2, 2001, pp. 2 8 3 -2 9 6 .

38 JOSÉ MANUEL CUESTA ABAD


Não sei o que faça,
Não sei o que penso,
o frio não passa
E o tédio é im enso.

(I9I7)

Sonho. Não sei quem sou neste momento.


Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
M inh’alma não tem alma.
[...]
(1923 )

[...]
Porque verdadeiramente
Não sei se stou triste ou não,
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.
(X930 )

Como un vento na floresta


Minha emoção não tem fin.
Nada sou, nada me resta.
Não sei quem sou para mim.
[...]
(1 9 3 0 )
Si estas corresp on d en cias resultan ilu m inad oras, n o es
p orq ue esclarezcan u na p osib le « f u e n t e » directa de algunos
estilem as p essoanos o caeirianos, n i p orq ue resuelvan en u n
leja n o p aren tesco lite ra rio el co n ce p tism o in g e n io so d el
m o d ern o poeta fin gid or. T od o el interés de la com paración
estriba e n la equivalencia esencial entre la gestualidad para­
dójica d el yo en el d e v i n a lh y la au top osición negativa del suje­
to p o ético e n Pessoa. E n los dos casos el yo lírico es creado

EXCESOS DE CONCIENCIA 39
p or el lenguaje enigm ático, en el que parece h u n d irse com o
en busca de su im agen espectral: reco n o ce su d esconocerse,
dice su dificultad de decirse, exp on e el sin sen tid o del sujeto
(yoico y te m á tic o ), com o si éste n o fuera más que efecto de
u n acto de p r estid ig ita c ió n verbal28. Es sugestivo que en el
p oem a de C aeiro aparezca fin alm en te el verbo r e n e g a r : « P o r
isso esas canções que me r e n e g a m / n ã o son capazes de m e r e n e g a r » .
R enegar sign ifica negar co n tenacidad, d esm en tir u n a afir­
m a c ió n o abjurar de u n a creen cia. E n el vocab u lario de
F reud esta form a com p leja de n eg a ció n es design ada unas
veces con el térm in o V e m e i n u n g —traducido habitualm ente por
« d e n e g a c ió n » —, y otras p o r V e r le u g n u n g —« d e s m e n tid o » o
« re n e g a c ió n » del psicótico—. G uando u n sujeto com ienza a
tom ar c o n cien cia de u n c o n te n id o re p r im id o p ero n o lo
asum e aún co m o p r o p io , lo rep rim id o em erge e n su d is­
curso e n form a denegativa ( « N o q u iero d ecir q u e ...» ,
« n a d a más lejos de m í q u e ...» ) . En otras palabras, la d en e­
gación freudiana es u n a v ersión psíquica sem ico n scien te de
la antífrasis y la lito te s. Freud habla in clu so de « e l p lacer
universal de la d en eg a ció n » ( d i e a llg e m e in e V e r n e i n u n g l u s t ) , diga­
m os que la com placencia d el yo —m ovido p or la p u lsió n d es­
tructiva— e n la su p r esió n o el rechazo de c o n te n id o s que
constituyen su m o d o de ser real e im aginario. C aeiro, in sis­
tam os en ello, ironiza sobre su renegación del yo lírico , cuya
voz fin g e hablar en los poem as com o p o r d efecto , com o en
u n sim ulacro de inversión: c a s i im p oéticam en te. Las ca n cio­
n es que lo d esm ien ten n o so n capaces de d esm en tirlo p o r ­
que e n ellas estaría h ab lan d o el m ism o sujeto al revés, la
m ism a alma a o c o n tr a r io , sum ida en la n o ch e d el subjetivism o
lírico . Puesto que la voz del m a e s tr o tien d e a rechazar iró n ica ­
m en te la p o sib ilid a d m ism a d el sujeto p o é tic o , esto es,
ren iega de la « e n fe r m e d a d m ística » d el len gu aje —de su
am bigüedad inevitable, su espesor m etafórico, su p ro lifera -

28 Sobre la poética trovadoresca de la negatividad com o experiencia


inseparable del lenguaje p u e d en leerse las lúcidas observaciones de
G. Agam ben, El lenguajejp la muerte, Valencia, Pre-Textos, 2 0 0 2 , trad.
de T . Segovia, pp. 109 y ss.

40 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


c ió n sim b ólica—, el reverso de tal voz só lo p u ed e ser el yo
lírico com o p o sició n contraria (pero correlativa) al yo sim u ­
lad am en te a n tilírico de C a eir o 29. A lvaro de C am p os es el
p oeta q ue lleva hasta el exceso la creación de ese yo lír ic o
« r e p r im id o » p or el prosaísm o caeiriano.

III

'Exceso' es u n a palabra que sin duda con vien e a A lvaro de


C am pos. «E xcesivo en m is ansias para to d o , tan excesivo ya
que n i fracaso», con fiesa en u n verso de «S alu ta ció n a Walt
W b itm an ». A diferencia de C aeiro, cuya m uerte debía p oner
fin a una obra ya con clu id a en sus lín eas maestras, C am pos
sólo m uere con su creador y deja una obra inconclusa que es,
además, la más extensa y com pleja de las atribuidas a los poetas
h eter ó n im o s. Pessoa autorizó ciertam en te la idea de que
C am pos es (ju nto con Soares) el más pessoano de sus p erso ­
najes inventados, casi u n p seu d ón im o, una máscara h ip erb ó ­
lica de su p rop io tem ple obsesivo, de sus angustias vitales, sus
deseos y su eñ os in cu m p lid o s. Esta sem ejanza « p e r s o n a l»
quizá sea plausible, pero sólo concierne a una lectura crítica de
la h eteronim ia en la m edida en que arroje luz sobre el proceso
de figu ración del sujeto p o é tic o . C am pos es el más fie l fa n ­
tasma de Pessoa sólo en tanto que configuración de ese sujeto
en la escritura. Si Caeiro —decíamos—supone la ironización de
la voz lírica p o r d e fe c to , C am pos la despliega p o r e x c e so . La crea­
ción pessoana d el yo lírico culm ina en las grandes odas escri­
tas en tre 1914 J 1916 ( « O d a tr iu n fa l» , « O d a m a rítim a » ,

29 E n «A lberto C aeiro-T ranslator’s Preface», el h ereró n im o T hom as


Grosse señala la posición contraria C aeiro-C am pos (« Alvaro de Cam­
pos —curiously enough— is on the opposite point [a C a e iro ], entirely opposed to
Ricardo Reis$>, vid. F. Pessoa, Teoría da heteronimia, ed. cit., p. 30 3 ), a u n ­
que reduce la contraposición al m odo de concebir las sensaciones y
su expresión. P or su parte, E. L ourenço refleja esta inversión gené­
ricam en te cuando afirm a que la verdad de C am pos «es la de
C aeiro, p ero al revés», Pessoa revisitado, p. 174*

EXCESOS DE CONCIENCIA 41
«S alu tación a Walt W h itm a n » , «P aso de las h o ra s» , « A l fin
la m ejor m anera de viajar es se n tir » ) y en las otras co m p o si­
ciones sensacionistas coetáneas que el escritor proyectaba reu­
n ir en u n volu m en titulado A r c o d e T r iu n fo . Q u e ese yo sea exce­
sivo significa, en p rim er lugar, que los poem as de C am pos
desarrollan, potencian y, en suma, hiperbolizan líricam ente la
constante que atraviesa toda la escritura de Pessoa: la reflexión
expresa sobre el proceso creador com o crítica del sujeto p o é ­
tico. Lejos de reducirse a una licencia retórica, lo hiperbólico
se m anifiesta en d iferen tes p lan os de la con stru cció n lírica.
A sí, el ideal de C am pos, « S e n tir lo to d o de todas las m a n e­
ras», incluye el sentido del exceso com o principio egopoético,
es decir, gestación de u n yo en (y por) el poem a. R ecordem os
la versión que ofrece de tal principio el com ienzo de « A l fin la
m ejor m anera de viajar es s e n tir » :

Sentir tudo de todas as maneiras.


Sentir tudo excessivamente
porque todas as coisas são, en verdade, excessivas
e toda a realidade é um excesso, uma violência,
uma alucinação extraordinariamente nítida
que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
o centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias


[pessoas,
quanto mais personalidades eu tiver,
quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente
[atento,
estiver, sentir, viver, for,
mais possuirei a existência total do universo,
mais completo serei pelo espaço inteiro fora,
mais analogo serei a Deus, seja ele quem for,
porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
e fora d’Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco3°.

42 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


La p a n e s te s ia d efin e en estas líneas el exceso que inspira la
creación del yo p oético. Exceso com o éxtasis, salida de sí que
su p on e la entrada en otros o en lo totalm en te O tro: e xc e ss u s
m e n tis in D e u m , según la exp resión de o rigen b íb lico retom ada

p or los m ísticos medievales3031. N o es in diferente que el poem a


de Campos gire en torn o a algunos m otivos religiosos: la ana­
logía teológica que com para la capacidad del yo para sentirlo
to d o co n el p o d e r de D io s sobre la totalidad de lo s seres; la
im agen d el alma com o u na escala hacia la divinidad (« C a d a
alma é um a escada para D e u s » ) ; o la reiteración de u na frase
de la liturgia católica ( S u r s u m c o r d a ! ) a m o d o de estribillo blas­
fem o. C o n su m isticism o paródico y su ansiedad p ansensua-
lista, el yo de P esso a -C am pos rin d e trib u to al ancestro que
p erson ifica p o r an ton om asia el exceso egotista d el poeta
m oderno: Fausto. C onviene recordar la escena de G oeth e en
la que Fausto confía a M efistófeles cuál es su mayor deseo. Lo
que él desea n o es otra cosa que s e n ti r lo t o d o d e to d a s ¡as m a n e r a s ,
gozar ilim itadam ente de lo b u en o y lo m alo, de los placeres y
los sufrim ientos de toda la hum anidad, elevándose y h u n d ién ­
dose con ella, para que « a sí m i p rop io yo se extienda a su yo
m ism o » («so m e in e ig e n S e l b t s z u ih r e m S e l b s t e r w e i t e r n » , F a u s to I , v.

30 « Sentirlo todo de todos las maneras./Sentirlo todo excesivamente,/porque todas las


cosas son, en verdad, excesivas/'y la totalidad de lo real es exceso, violencia,/alucinación
extraordinariamente nítida/ que vivimos todos en común con lafuria del alma,/centro
hacia donde tienden las extrañasj centrífugasfuerzas/ de laspsiques humanas en el com­
binar de sus sentidos.// Cuanto más sienta, sí, cuanto más sienta como variaspersonas,/
j cuantas más personalidades tengajo,/cuanto más intensamentejo las tenga, más
estridentemente,/cuanto más simultáneamente sienta con todas ellas,/ más unificado en
lo diverso, dispersamente atento,/viva, esté, sienta, sea,/más he de poseer la existencia
total del universo,/más complejo seré en todo el espacio,/más análogo a Dios, sea quien
sea,/porque, sea quien sea, es seguro que es Todo,/y en lo ajuera de Él no hay sino El
dado que Todo espoco para Él», F. Pessoa, Los poemas de Alvaro de Campos 2 ,
M adrid, Abada, 2012, trad. d e j. B a rja y J. Inarejos, p. 171.
31 La expresión procede del Salmo 3 0 , 23 e n Ia versión de la Vulgata:
«Ego autem dixi in excessu mentis m ea...» [La cursiva es m ía]. Sobre el
efecto de este exceso en el lenguaje m ístico y poético véase el exce­
lente ensayo de A m ador Vega, Trespoetas del exceso. La hermenéutica imposi­
ble en Eckhart, Silesiusj Celan, Barcelona, Fragm enta, 2011.

EXCESOS DE CONCIENCIA 43
1 7 4 )- ^ E se T o d o /só lo para u n d ios se ha h e c h o » ( « d ie se s
G a n z e / I s t n u r f u r e in e n G o t t g e m a c h t /» ,
v. l 8 l ) , responde M efistófe-
les. El deseo fáustico retiene al yo en la encrucijada aporética
de T o d o -o -N a d a . Falsa disyuntiva, porque ese T odo es para el
sujeto lo im posible de una experiencia que sólo puede con d u ­
cir a la Nada de la que ha partido el deseo. La sustancia ética
del poeta fáustico es incontestablem ente e l p a t h o s apático de la
desesperación. D esesperar(-se) es siem pre una acción —y exac­
ción—reflexiva que entraña u n m om ento esencial de lo ético,
p ero sólo en el sen tid o de que determ ina u n estado de c o n ­
ciencia en el que lo ético se torna objeto de renegación abso­
luta. La conciencia desesperada sólo ve en los otros u n m edio
fu n gib le de exorcizar su apática vaciedad. El yo fáustico está
en cad en ad o a u n in stante sensual p erp etu am en te defectivo.
N o vive cada m om ento com o si fuera el últim o: lo vive com o si
n o hubiera sido to ta l m e n t e . E n u n instante desesperado —en el
que jamás se sentirá « t o d o » —n o im porta qué pueda pasar, o
sólo im porta que suceda lo que el sujeto desesperado desea
ú nicam ente para sí. Lo ú n ico que desea desesperadam ente el
yo fáustico en cada instante es, parafraseando a Kierkegaard en
L a e n fe r m e d a d m o r ta l, deshacerse de sí m ism o para llegar a ser otro

sí-m ism o de m anera absoluta: u n Yo que sea todos los yos. N o


es casual que el drama subjetivo al que Pessoa trató de dar
form a en su F a u s to quedara reducido a esbozos fragm entarios.
El «m isterio del m u n d o » que pretende reflejar esa voz fáus-
tica se c o n fu n d e c o n la exp eriencia total que n in g ú n ser
h u m an o p uede pensar n i im aginar n i decir. La voz que p re­
ten de decir la p rofun did ad del m isterio nada tien e que decir
finalm ente p or tener que decirlo tod o. G om o las demás obras
co n sujeto fáustico, la de Pessoa habría sid o más o m en o s
fallida porque sólo podía hablar el idiom a de Fausto a cam bio
de su ru in a. N i el to n o trágico n i el cóm ico n i el lírico n i el
épico con vienen a tal idiom a, y de la amalgama de todos ellos
sólo cabe esperar, e n el m ejor de lo s casos, algo parecido al
poem a de G oethe, que amenaza con desm oronarse com o u n
coloso de arena.
E n los grandes poem as sensacionistas de Campos dom ina
la iron ización h iperb ólica d el yo lírico com o sujeto fáustico.

44 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


A u n sabiendo que n o p uede sen tirlo to d o , que decirlo to d o
sería tanto com o decir lo im posible —incluso la im posibilidad
del decir—, el yo n o renuncia a una sim u lación de panestesia
de la que hace d ep en d er su m ism a singularidad p o ética . El
Todo de las sensaciones sólo se atisba oscuram ente a través de
las im ágen es parciales de u n a tran sgresión erotóm an a que
finge desbordar los lím ites de lo m oral. Si en P essoa-Campos
es la insensibilidad lo que suscita el ansia de sensibilidad total,
el yo solam ente p uede imaginar sentirlo to d o m ediante los fan ­
tasmas de una hiperestesia excesiva. La experiencia pansensual,
de p or sí irrealizable, queda m iniaturizada en los ico n o s de la
crueldad orgiástica. Ico n o s que sim b olizan la tran sgresión
aberrante de los lím ites convencionales de lo sensible. La sub­
versión del yo lírico se expresa así en el lenguaje de la perver­
sión sensual. Perversión que, n o sin acento irón ico, celebra la
« O d a tr iu n fa l» ; « Y o p odría m o rir triturado p o r u n
m o to r /c o n ese se n tim ien to de d eliciosa entrega de la m ujer
poseída (...)/¡M a so q u ism o a través de m aqu inism os!/¡N uevo
sadismo de n o sé qué m odern o y qué yo y qué ru id o !» ; o más
aún la « O d a m a rítim a», d on d e el yo fantasea ser pirata que
saquea, mata y viola salvajemente, o se com place im aginándose
víctima que evoca detalladamente todas las formas de crueldad
padecidas en su carne. Las fantasías de fem in iza ció n sexual y
las im ágenes sadomasoquistas trazan la figura de una co n cien ­
cia cuyo deseo totalitario sólo consigue realizarse en u n sim u ­
lacro de éxtasis orgiástico, cuya perversión n o es sino m etáfora
de u n a « u n i v e r s a l i t i s » sensitiva tan in d ecib le co m o in ex p er i-
m entable. Salir de sí para recrearse en una otredad irrestricta
es el acto im agin ario que desea cu m p lir el p oeta fin g id o r
rem edando ahora el gesto del perverso. U n gesto p or el que el
yo se figura fu era -d e-sí en u n exceso de conciencia alienante.
Lo que m ejor siente el perverso, ha destacado Klossowski, es el
cuerpo de otro com o sien d o el suyo, p ues en lo s reflejos de
otro cuerpo verifica « la irru pción de una fuerza extraña en el
interior de "sí”. Está a la vez dentro y fu e ra » 32. E n C am pos la

32 P. Klossowski, Sademonprochain, París, Seuil, 1967, p. 47 -

EXCESOS DE CONCIENCIA 45
vo lu n ta d de fin g im ie n to caricaturiza así su im p u lso más
extrem o, que con d uce en el centro de la « O d a m arítim a» a
la transgresión m áxima d el h ístrion ism o satánico:

Era preciso ser Deus, o Deus dum culto ao contrário,


Um Deus monstruoso e satánico, um Deus dum
[panteísmo de sangue
para poder encher toda a medida da minha fúria
[imaginativa,
para poder nunca esgotar os meus desejos de identidade
com o cada, e o tudo, e o mais-que-tudo das vossas
[vitórias!33

Estos versos declaran en realidad la p r o fe sió n de fe del


p o eta ta rd o m o d er n o , ávido de u n a lib ertad ilim ita d a que
sólo la pantom im a de estirpe d em ón ico-rom á n tica prom etía
satisfacer. D esd e u n a perspectiva literaria, el yo en d iosad o y
m e la n c ó lic o de P e sso a -C am p os es el de u n Fausto que
h ub iera le íd o desesperadam ente a Walt W hitm an: « Y nada,
n i D io s, es más gran d e para u n o que u n o m is m o » («And
n o th in g , n o t G o d , i s g r e a t e r t o o n e t h a n one s-seí/ís» ), dice u n fam oso

verso de S o n g o f M y s e l f que p odría servir com o divisa de la e le ­


fantiasis egocén trica d el n o rtea m er ica n o . N o será p reciso
detenerse a explicar hasta qué p un to fue con scien te Pessoa de
su a n x ie ty o f i n f l u e n c e w hitm aniana (« m a l de W h itm an » lo llama
él m ism o ), cóm o trató de distanciarse tácticam ente del p re-
cusor en lo que respecta a la naturalidad m ística y la sim patía
universal de Caeiro, cuánto exaltó su enorm idad insuperable
e n la « S a lu ta c ió n » q ue C am p os le d ed ica, c o n qué e n tu ­
siasm o im ita y distorsiona lo s recursos estilísticos del maestro
estad oun id en se en las odas sensacionistas. C o m o el n iñ o de

33 <¿¡Debería ser Dios, Dios de un culto invertido,/ser un Dios satánicoy monstruoso, Dios
de un panteísmo hecho de sangre/para llenaren toda su medida toda lafuria de mi ima­
ginación,/para conseguir no agotar nunca mis deseos de identidad/ con el cada,y el
todo,y el más-que-todo de vuestras victorias [las de los piratas]» , F. Pessoa,
Los poemas de Alvaro de Camposl, M adrid, Abada, 2012, trad. d e j. Barja
y j . Inarejos, p. 197*

46 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


la fábula de W h itm an en « T h e r e Was a G h ild W ent F o rth »
( A u t u m n R i v u l e t s ) , G aeiro y C am pos tam b ién habrían q uerid o

salir cada día y convertirse e n el p rim er objeto que m irasen


co n asom b ro, p ied ad , am or o tem o r. D e ese co m p lejo
in fan til de P roteo n o quedan e n las criaturas pessoanas más
que u n deseo am argam ente n ostálgico y una p u lsió n p a n to ­
m ím ica nada in gen ua. A su m o d o , el ego w hitm aniano tam ­
p oco tien e otro deseo que sentirlo tod o de todas las m aneras,
pero esta desm esura de aparente filia ció n fáustica deviene en
él u na esp ecie de tem p era m en to p á n ico que oscila en tre la
in g en u id a d y la barbarie, en tre la form a totalizad ora y el
riesgo in m in e n te de lo in fo rm e. D e ahí que siga sien d o cer­
tera —aunque tal vez dem asiado refinada—la idea de G. S an -
tayana según la cual W hitm an sería u n o de los m ayores exp o­
n en tes de « la p oesía de la b a rb a rie » , es decir, la d el p oeta
que hace de la plétora de sus sensacion es y de la veh em encia
de sus p asion es el ú n ic o m o d o de ser, y d el lengu aje que ha
de expresarlo, palabra e n m a s s e cuyas creacio n es, e n aras de
una libertad om ním od a, tien d en a la dispersión o a la h ip er­
trofia de la form a: « u n a m ultiplicidad de im ágenes pasa ante
sus ojos y él se entrega a cada u n a co n pasividad absoluta. El
m u n d o n o tie n e in terio r; es u n a fantasm agoría de v isio n es
continuas, vividas y sorprendentes, p ero m on ó to n a s y d ifíci­
les de d istin gu ir en la m em oria, com o las olas d el m ar o los
decorados de algún tem plo bárbaro, sublim e sólo p o r la adi­
ción in fin ita de p a rtes»34. Esta barbarie «d em o crá tico -a m e­
rica n a » con v irtió (y sigu e c o n v ir tien d o ) a W h itm a n e n u n
poeta exótico, en cierto m od o in com p ren sib le para sus ep í­
g o n o s eu ro p eo s, y e n to d o caso in asim ilab le para u n a c o n ­
ciencia tan acendradam ente «civilizad a» com o la de Pessoa-
G am pos. Sobre la lectura pessoana de L e a v e s o f G r a s s , en parte
m ed iad a p o r el filtro de lo s m o v im ien to s vanguardistas de

34 G. Santayana, «L a poesía de la b a rb arie» , en Interpretaciones depoesíaj


religión, M adrid, Cátedra, 1993 » p* I 57 * <<:Hay cierta analogía —señala
Santayana—e n tre u n a masa de im ágenes sin estructura y la idea de
u n a dem ocracia absoluta». D em ocracia, com o es de sobra sabido, a
la que está consagrada la poesía de W bitm an.

EXCESOS DE CONCIENCIA 47
ép oca, resu ltan esclarecedoras estas ob servacion es de J . L.
Borges en « E l otro W h itm an » (D is c u s ió n ):

«La economía de los versos de Whitman les fue tan inau­


dita [a los vanguardistas p a risin o s j , por sinécdoque, a los euro­
peos] que no lo conocieron a Whitman. Prefirieron clasifi­
carlo: encomiaron su licence m ajestueuse, lo hicieron precursor
de los muchos inventores caseros del verso libre. Además,
remedaron la parte más desarmable de su dicción: las com­
placientes enumeraciones geográficas, históricas y circuns­
tanciales que enfiló Whitman para cumplir con cierta pro­
fecía de Emerson sobre el poeta digno de América. Esos
remedos o recuerdos fueron el futurismo, el unanimismo.
Fueron y son toda la poesía francesa de nuestro tiempo,
salvo la que deriva de Poe. (De la buena teoría de Poe,
quiero decir, no de su deficiente práctica.) Muchos ni
siquieran advirtieron que la enumeración es uno de los
procedimientos poéticos más antiguos —recuérdense los
salmos de la Escritura y el primer coro de L o s p ersa s y el catá­
logo homérico de las naves—y que su mérito esencial no es
la longitud, sino el delicado ajuste verbal, las "simpatías y
diferencias” de las palabras».

Sería in ju sto rep roch ar a C am p os u n a ad aptación


deleznable o supérflua de la p oesía w hitm aniana. Pessoa fue
u n o de lo s más lú c id o s y avanzados le cto res de W h itm an
en tre to d o s sus co n tem p o r á n e o s, y la lírica de C am pos
o frece una particu lar in te rp re ta c ió n fá u stic o -fu tu rista d el
universo w hitm aniano. Pero n o es tanto el m u n d o d el a m e­
rican o —su gran d io sid a d p an teísta y se n tim en ta l, su ego
ca leid o sc ó p ic o y p r o fé tic o , su épica d em ocrática— lo que
suscita e n él la an sied ad im itativa, sin o las form as p oéticas
con las que ese nuevo m u n d o es con stru id o. A ngus Fletcher
ha sintetizado los p roced im ien tos com positivos de W hitm an
e n la id ea de p o e m a a m b i e n t a l ( e n v i r o n m e n t - p o e m ) 3 5 . E n este

35 A. Fletcher, ANew Theoryfor American Poetrf. Democracy, the Environment, and

48 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAO


g én ero de in v e n c ió n w h itm an ian a el p o eta n o h abla del
m u n d o circu n d a n te tem a tizá n d o lo , n i rep resen ta este o
aquel aspecto de u n e n to r n o paisajístico re co n o cib le . Es el
p rop io p oem a el que se p ro p o n e rodear o envolver al lector
para trasladarlo a u n am biente textual d on d e tien e lugar una
experiencia d om in a n tem en te lingüística e im aginaria. F let-
cber con sid era q ue esta fuerza en volven te de la p o esía de
W hitm an obedece a dos pautas m etódicas de com p osición: i)
el p r in c ip io que dota de o rd en , form a, en ergía expresiva y
co h eren cia al p o em a a m b ien tal es la f r a s e co m o p a tr ó n de
d icc ió n p anorám ica p o r recu rren cia y acu m u lación , y 2) la
frase w hitm aniana rep rod u ce la d in ám ica escalonada de las
olas, de m o d o que el u n d u l a n t e j f e d de lo s versículos p erm ite
variaciones virtualm ente in fin itas de u n esquem a repetitivo.
«Waves for W h itm an are e id o lo n s o f passage and tr a n sp o r t» ,
advierte Fletcher. En u n estudio ya clásico, Leo Spitzer m o s­
tró el p aren tesco de la e n u m e r a c ió n caótica w h itm an ian a
con las más antiguas fórm ulas de d icción hierática, in terp re­
tánd ola com o cauce de exp resión de la crecien te c o m p leji­
dad del m u n d o m o d ern o . Cabe añadir que el verso libre, el
fraseo a n a fó rico y las e n u m e ra c io n e s acum ulativas so n las
form as rítm icas de una n ivelación igualitaria de lo d iferente
o h etero g én eo . Formas desiderativas, rituales, casi mágicas a
través de las que accede al lenguaje del p oem a el entusiasm o
dem ocrático d el ego w hitm aniano.
Pessoa captó p erfecta m en te en W h itm an la p o d ero sa
p regnancia am biental d el p oem a y el efecto h ip n ó tic o de la
o n d u la ció n masiva de las frases: «A travieso tus versos com o
u na m ultitud a en con tron azos,/y m e h u elen a sudor, h u elen
a aceites, h u e le n a actividad h um ana y m ec á n ic a ,/ tus versos
que, a partir de cierto p u n to , n o sé si le o o vivo./P orq u e no
sé si m i lugar real está e n el m u n d o o está e n tus v er so s»
(«S a lu ta ció n a Walt W h itm a n » ). «F lu ctuar com o alma de la
vida, partir co m o v o z ,/y vivir el m o m e n to , m uy tré m u la -

the Future oflmagination, C am bridge, Mass., H arvard University Press,


2 0 0 4 , caps. 6 -8 .

EXCESOS DE CONCIENCIA 49
m en te, sobre aguas etern as» (« O d a m a rítim a » ). Las frases
de en ton ación versicular, la anáfora proliferante y la en u m e­
ra c ió n caótica so n d esd e lu eg o lo s estilem as w h itm a n ia n o s
que C am p os em u la e n b u en a p arte de sus p o em a s. S in
em b argo, la m o tiv a ció n p essoan a es otra —y de raigam bre
sim b olista—: el viaje co m o lib e r a c ió n subjetiva. P a s s a g e a n d
t r a n s p o r t que term in an siem pre en el retorn o a u n yo in e lu c ­

table. El viaje es el p retexto argum entai para otra form a de


exceso (solidaria del excessus m e n tis ) que traspasa la com p osición
del poem a lírico: el excessus com o excurso tem ático, cam bio de
registro expresivo, a g lu tin a c ió n digresiva de variedades de
discurso. E n las grandes odas sensacionistas de P essoa-C am -
pos prevalece osten sib lem en te el m od elo h ím n ic o , sobresa­
turado p o r largas ráfagas de exclam aciones, in terjeccio n es,
vocativos y apostrofes que traicion an u n p rop ó sito caricatu­
ral. Pero la form a h ím n ica in corpora a placer los más diver­
sos tip o s de d iscurso: segm en tos d escrip tivos, narrativos,
epigram áticos, m editativos, dialógicos, con fesion ales, p aró­
d ico s... E n la con stru cción abruptam ente digresiva de m ate­
riales discursivos h e te r ó c lito s radica la fig u r a ció n d el yo
lírico com o sujeto sin atributos, carente de form a específica,
siem p re en busca de u n a id en tid a d que só lo el curso del
p oem a otorga y deniega al m ism o tiem po.
Es relevante que el yo excesivo de Campos se explaye en la
form a de la oda. En una con trib ución esencial a la teoría de la
lírica m od ern a, K . Stierle ha llam ado la a ten ció n sobre el
con cepto de b e a u d e s o r d r e que B oileau introdujo en su A r t P o é t i -
q u e . D e tal d esord en sería paradigm a la oda —p o r lo dem ás

m ed io cre— que él m ism o escribió S u r ¡a p r is e d e N a m u r , cuyo


« stile im petueux souvent marche au hazard». Stierle sostiene
que el « b e llo d eso rd en » es u na categoría fundam ental de la
lírica porque se refiere ante tod o al hecho de que « la lin ea li-
dad d el discurso se rom p e com o sign o de su id e n tid a d » 36.

36 K . Stierle, «D ie Identitát des Gedichts -H o ld e rlin ais Paradigm a»,


e n O . M arquard y K . Stierle, eds., Identitãt. Poetik und Hermeneutik VIII,
M únich, W. Fink, 1979 » PP- 5*5 yss.

50 JOSÉ MANUEL CUESTA ABAD


D ich o de otro m o d o , lo que identifica al poem a lírico (y más
aún en sus form as m odernas) es la transgresión del discurso
u niform e m ediante la ruptura del ord en lin eal y la agregación
com pleja de tip os textuales desconcertad os. Para S tierle la
lírica se caracteriza p or ser u n a n t i - d i s c u r s o , u na subversión de
los esquemas discursivos a través del desorden y la m ultiplica­
ción de referentes textuales, de m od o que la identidad (subje­
tiva y form al) d el p oem a « s ó lo es viable en rela ció n c o n el
sujeto lírico convertido en pun to de fuga de u n discurso p ro ­
b lem ático».
«¡F u gas co n tin u a s, idas, au tén tica eb ried ad de lo
D iv e r so !» , le em o s en u n a lín e a de la « O d a m a r ítim a » .
D iversión del sujeto com o diversidad textual del verso, exceso
m u ltifo rm e d el p o em a , que a cada paso sale de sí en u n a
sim u lación de éxtasis p rem ed itad o. N o hay que olvidar que
en Pessoa esta h ip erb olización d el discurso p o ético rebosa de
ironía. A l fin al el sujeto lírico descubre su im postura, vuelve
a ser reab sorb id o p o r la c o n c ie n c ia m o n ó to n a d el f in g i­
m ie n to . A l fin a l regresa el la m en to p o r n o ser « t o d o el
m u n d o y todo lugar» (« O d a tr iu n fa l» ); regresa la hora real,
y co n ella « n o sé que e m o c ió n /e n el silen cio co n m o v id o de
m i a lm a » ( « O d a m a r ítim a » ); regresa el u n iv erso en tero
« s in id eal n i esp eran za» (« T a b a c a r ia » ). A l fin a l siem p re
reaparece ese y o -m ism o del que n in gu n a buida salva:

Paro, escuto, reconheço-me!


O som da minha voz caiu no ar sem vida.
Fiquei o mesmo, tu estás morto, tudo é insensível...
Saudar-te foi un modo de querer animar-me,
para que te saudei sem que me julgue capaz
da energia viva de saudar alguém!

O coração por sarar! Quem me salva de ti?


(«Salutación a Walt W hitm an»)3^

37 «¡Meparo, escuchoj me reconozcol/El sonido de mi voz cayó en el aire sin vida./To me


quedé igual,y tú estás muerto, todo es insensible.../Saludarte fue un modo de querer
animarme,/pero, ¡para qué te saludé sin creerme capaz/ de la viva energía de saludar a

EXCESOS DE CONCIENCIA 51
Las grandes odas sen sacion istas tie n e n m u c h o , co m o
juzgaba J. Gaspar S im ões, de « fe é r ic o s ju ego s de palabras y
arrebatadoras asocia cio n es de im á g e n e s» , de h isterism o
im p ostad o y p iro tec n ia verbal. A u n así, la obra de C am pos
abunda en m o m en to s m em orab les, in ten sam en te p o ético s,
cuando el fingidor, agotado p or el hastío o el cansancio, deja
oír u na voz luctuosa que habla de la infancia perdida y de u n
d esvalim ien to que p erd u ra, o cu an d o lo s p oem as p arecen
anclarse en el fo n d o real de u na existencia para cuya desola­
c ió n n in g u n a palabra basta. E l fracaso com o « p o e t a » es el
p recio que Pessoa tuvo que pagar p o r el triu n fo de C am pos.
D en tr o y fuera de su im agin ación , desde lo alto del arco de
tr iu n fo , el h e te r ó n im o más h ip e rb ó lic a m e n te p esso a n o se
erige en la figura victoriosa que ve pasar la totalidad de la vida
sin p articipar en ella, co n tem p lá n d o la de lejo s para p o d er
d ecir to d o lo que n o ha se n tid o n i vivid o. Lo que triu n fa
in eq u ív o ca m en te e n C am p os es el p oem a co m o exceso de
conciencia. Su triu n fo es tam bién el de la id eación h etero n í-
mica: una de las más radicales desm istificaciones del yo lírico
que ha con ocid o la literatura m oderna.
Hay todavía u na tercera form a de exceso, la ú ltim a en el
o rd en sim b ó lico de la p oesía pessoana, el p a s s a g e a n d t r a n s p o r t
d efin itiv o s a que llevan las im ágen es del viaje. E x c e s s u s com o
salida de la existencia, paso m ortal. «Passagem das H o ra s»
( « E l paso de las h o ra s» ) n o es sólo la oda que resum e el id e ­
ario de C am pos con todos sus tics h iperb ólicos e irón icos. Es
ta m b ién com o el reverso de la tram a cuyos h ilo s dibu jan la
figura desvaída del poeta que Pessoa soñ ó ser. U n h im n o a la
n o c h e ocu p a el cen tro d el p oem a, que se cierra co n esta
in vocación : « ¡A h , sé m atern a!/¡A h , sé m eliflu a y ta ci-

alguno!// ¡ Corazón por sanar!¿ Quién me salva de ti ?» E n su nota a este final


de la « S a lu ta c ió n » , J u a n Barja observa con toda perspicacia: «L a
acelerada coda de estos versos re-p ro d u ce el re to rn o del poem a hacia
el "y °” que lo canta (desde el C anto) com o presencia (siem pre)
inevitable. R etorno que confiesa su fracaso, dado que de ese yo’ no
hay salvación», Lospoemas de Alvaro de Campos 1, ed. cit., p. 34J8 -

52 JOSÉ M ANUEL CUESTA ABAD


tu r n a ,/n o ch e d on d e m e olvido de m í,/r e c o r d a n d o !...» Esta
n och e letal y acogedora es la m ism a que aparece en el «F rag­
m en to de O d a » . Es la n och e igualm ente invocada al p r in c i­
p io en el poem a « A b d ica çã o » . O lvidarse de sí e n esa n och e,
com o q u ien olvida su cuidado en el su eñ o o en la m uerte, es
otra im agen de u n éxtasis entre m ístico y nihilizan te, y quizá
fuera el d eseo im p o sib le que Pessoa abrigó siem p re. N o ch e
d on d e la con cien cia in so m n e del poeta querría olvidarse de
sí recordando a veces u n pasado ya irreal. Tan irreal co m o la
apariencia de las cosas cuando cae sobre ellas o l u a r , ese rayo
de lu n a que e n u n p o em a de G aeiro golp ea e n la h ierb a e
ilu m ina una rem em branza in fan til. Fue C am pos q u ien dejó
escrito el epitafio de Pessoa en u n lib ro abandonado durante
el viaje: « F u i c o m o h i e r b a s ,y n o m e a r r a n c a r o n » .

EXCESOS DE CONCIENCIA 53
"S j
Advertencia

La presente edición sigue, de m anera fundam ental, la fijación y


ordenación de textos realizada por Teresa Rita Lopes Çcit. com o
TRL), publicada en Lisboa en 2002. Siendo su orden estrictam ente
Cronológico, se ha suprimido la división interna - n o temporal, sino
intelectual y supuestam ente evolutiva— propuesta por la editora
portuguesa. Cuando nos separamos de su texto, recogiendo lecturas
(o fragm entos) de la edición de Luís de M ontalvor y João Gaspar
Simões, Ática, Lisboa, 1980 Çcit. com o Á tica) lo indicam os en nota.

Signos

| ...] Laguna en el m anuscrito original.


[?] Lectura insegura.
j
F er n a nd o
Pessoa
poesía vi
/ LOS POEMAS DE
A lv a ro de C am pos 4
Sim , sou eu, eu m esm o, tal qual resultei de tud o,
espécie de acessório o u sobresselente p ró p rio ,
arredores irregulares da m inh a em oção sincera,
sou eu aqui em m im , sou eu.

5 Q u an to fu i, quanto não fu i, tud o isso sou.


Q u an to quis, quanto não quis, tud o isso m e form a.
Q u an to am ei ou d eixei de amar é a m esm a saudade em m im . j

E, ao m esm o tem p o, a im pressão, um p o u co in co n seq u en te, :


com o de u m so n h o form ado sobre realidades m istas, j
10 de m e ter deixado, a m im , n u m b anco de carro eléctrico,
para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ia sentar em cima.;

E, ao m esm o tem p o, a im pressão, u m p o u co lon gín q u a, j


com o de um so n h o que se quer lem brar na penum bra a que sé
[acorda,;
de haver m elh or em m im do que eu.

15 Sim , ao m esm o tem p o, a im pressão, u m p ou co d olorosa,


com o de u m acordar sem son h os para u m dia de m uitos
[credores,
de haver falhado tud o com o tropeçar n o capacho,
de haver em brulhado tud o com o a m ala sem as escovas,
de haver substituído qualquer coisa a m im algures na vida

20 Baste! E a im pressão u m tanto ou quanto m etafísica.

58 POESÍA VI
Sí, soy yo, soy yo m ism o, según vengo de todo,
especie de accesorio o sobrante repuesto,
irregular entorno de m i em oción sincera.
Soy yo aquí en m í, sí, aquí yo, soy yo.

5 Cuanto fui y no fui, soy todo eso.


Cuanto quise y no quise, todo eso m e forma.
Cuanto yo amé o dejé de amar es la m ism a nostalgia en m i
[interior.

Tengo, al m ism o tiem po, la im presión, un poco inconsecuente,


de algún sueño formado de realidades m ixtas,
10 de haberme dejado abandonado, puesto en el asiento de un
[tranvía,
para ser encontrado casualmente por quien iba a sentarse sobre
[mí.
Tengo, al m ism o tiem po, la im presión, aunque un poco remota,
de un sueño que se quiere recordar en la penum bra a la que se
[despierta,
de haber algo mejor en m í que yo.

15 Sí, y al m ism o tiempo la im presión, un poco dolorosa,


com o un despertarse ya sin sueños a un día de acreedores
[abundantes,
de haber fracasado siempre en todo, como tropezar en el felpudo,
de haber empaquetado la maleta sin haber m etido los cepillos,
de haberme sustituido cualquier cosa en un sitio concreto de la
[vida.

20 ¡Basta ya! Es la im presión u n tanto más o m enos metafísica,

59 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


com o o sol pela ú ltim a vez sobre a jan ela da casa a abandonar,
de que mais vale ser criança que querer com p reen der o
[m u n d o —
a im pressão de pão com m anteiga e b rin q u ed os
de u m grande sossego se m ja rd in s de P rosérpina,
25 de um a boa vontade para com a vida encostada de testa à janela,
n u m ver chover com som lá fora
e não as lágrimas m ortas de custar a en golir.

Baste, sim baste! Sou eu m esm o, o trocado,


o em issário sem carta n em credenciais,
30 o palhaço sem riso, o b ob o com o grande fato de ou tro,
a quem tin em as cam painhas da cabeça
com o chocalhos p eq u en os de um a servidão em cima.

S ou eu m esm o, a charada sincopada


que n in gu ém da roda decifra n os serões de província.

35 S ou eu m esm o, que re m éd io !...

60 POESÍA VI
com o el sol la últim a vez en la ventana de la casa que hay que
[abandonar,
de que m ucho mejor es ser un niño que pretender comprender
[el m undo
- l a im presión que producen el pan con m antequilla y los
[juguetes—,
de un gran sosiego sin Jardín de Prosérpina,
25 de buena voluntad hacia la vida apoyando la frente en la
[ventana,
viendo llover con el sonido afuera
y no lágrimas muertas que nos cuesta tragar.

¡Basta, sí! Soy yo m ism o, soy aquel que cambiaron,


soy el emisario que carece de credencial o de presentación,
30 el payaso sin risa, el bufón con el traje de la talla de otro
tintineando con las campanillas que le cuelgan del gorro,
los pequeños cencerros que el servicio le im pone.

Soy yo m ism o, charada sincopada


que ninguno descifra en las largas veladas de provincias.

35 ¡Soy yo, qué remedio!...

61 LOS POEMAS OE ALVARO DE CAMPOS 4


A h , um s o n e t o . . .

M eu coração é u m alm irante lou co


que ab an d on ou a profissão do mar
e que a vai relem brando p ou co a p ou co
em casa a passear, a p assear...

5 N o m ovim en to (eu m esm o m e d esloco


nesta cadeira, só de o im aginar)
o mar abandonado fica em foco
n o s m úsculos cansados de parar.

H á saudades nas pernas e n o s braços,


io H á saudades n o cérebro p or fora.
H á grandes raivas feitas de cansaços.

Mas — esta é boa! — era do coração


que eu falava... e o n d e diabo estou eu agora
com alm irante em vez de sensação?...

62 POESÍA VI
Ah, u n s o n e t o . . .

M i corazón un almirante loco


que abandonó la profesión del mar
y la va recordando, poco a poco,
en casa, a pasear, a pasear...

Al m overm e ( y yo m ism o m e disloco


en m i silla, con sólo im aginar)
el mar abandonado ya entra en foco
en m úsculos cansados de parar.

Hay nostalgia en las piernas y en los brazos.


Hay nostalgia por fuera, en la memoria.
Hay grandes rabias hechas de cansancios.

Pero -¡q u é d ig o !- si es del corazón


de lo que hablaba... y, ¿dónde estoy ahora,
con alm irante en vez de sensación?...

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


M eu coração, o alm irante errado
que com an d ou a armada p or haver
ten to u cam inho on d e o n egou o Fado,
quis ser feliz quando o não p ô d e ser.

5 E assim, fechado, absurdo, postergado,


dado ao que n os resulta de se abster,
não fo i dado, não fo i dado, não fo i dado
e o verso errado d eixa-o en ten d er.

Mas há com pensações absolutórias


10 na som bra —n o silên cio da derrota
que tem mais rosas de alma que as vitórias.

E assim surgiu, Im perial, a frota


carregada de anseios e de glórias
com que o alm irante prosseguiu na rota.

64 POESÍA VI
M i corazón, un alm irante errado
que mandaba la armada por deber,
probó un cam ino que al fin le negó el Hado.
Quería ser feliz, no pudo ser.

5 Así, cerrado, absurdo, postergado,


dado a lo que nos viene de abstener,
no fue dado, no fue, no, no fue dado
el verso errado ya lo hace entender.

Pero hay com pensación absolutoria


10 en la sombra, porque hay en la derrota
rosas del alm a más que en la victoria.

Y con ello surgió, Imperial, la flota


tan cargada de anhelos y de gloria,
marcando el almirante la derrota.

65 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Estou escrevendo son etos regulares
(o u quase regulares) com o u m p o e ta ...
Mas se eu dissesse a alguém a d or com pleta
que m e faz ter tais gestos e tais ares,

5 n in g u ém acreditava. O grandes mares


da em oção su bin d o em névoa preta
até a m ágoa ser com o a do asceta.
[...]

G om u m estalido de « m o la de pressão»
fecho a carteira dos apontam entos
io on d e fixei a m inh a in decisão,

não sou m eu ser, n em sou m eus p ensam entos,


a m inh a vida é u m p rín cip e ao balcão
[...]

66 POESÍA VI
Ahora escribo sonetos regulares
(o casi regalares), de poeta...
Pero si yo contara la completa
pena de tales gestos, tales aires,

5 ninguno m e creería. Oh grandes mares


de la em oción subiendo en negra y prieta
n ieb la , m i pena ya es com o de asceta.
[• •• ]

Al igual que un «resorte de presión»,


cierro esa libreta donde intento
10 ir fijando lo que es m i indecisión,

no soy m i ser, ni soy mis pensamientos,


y m i vida es u n príncipe al balcón
[...]

67 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


N ão fales alto, que isto aqui é vida —
vida e con sciên cia dela,
p orq ue a n o ite avança, estou cansado, n ão durm o,
e, se chego à janela
5 vejo, de sob as pálpebras da besta, os m uitos lugares das
[estrelas...
C ansei o dia com esperanças de dorm ir de n o ite,
é n o ite quase ou tro dia. T enh o so n o . N ão durm o.
S in to -m e toda a h um anid ad e através do cansaço —
um cansaço que quase m e faz carne os o sso s...
io S om os tod os a q u ilo ...
B am boleam os, m oscas, com asas presas,
n o m u n d o , teia de aranha sobre o abism o.

68 POESÍA VI
N o hables alto, no, que esto es la vida
- s í que lo es, la vida y su con cien cia-.
Porque la noche avanza, y m e canso, y no duerm o,
pero, si m e asomo a la ventana,
vro, bajo los párpados de la bestia, los m uchos lugares donde
[están las estrellas...
Me cansé por el día con la esperanza de dorm ir de noche,
pues la noche casi es otro día. Tengo sueño. N o duerm o.
Así siento ser toda la hum anidad en m i cansancio
-u n o que casi m e hace de carne los huesos... - .
Todos som os aquello...
N os bamboleamos com o m oscas con las alas presas en el
[m undo,
telaraña encim a del abismo.

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


S im , não ten h o razão...
D eix a -m e d istrair-m e do argum ento m ental,
não ten h o razão, está b em , é um a razão co m o outra
[qualquer...

Se n em creio? N ão sei.
5 C reio que sim . Mas repito.
O am or deve ser constante?
Sim , deve ser constante,
só n o am or, é claro.
D ig o ainda outra v ez...

io Q u e em brulhada a gen te arranja na vida!


S im , está b em , am anhã trago o d in h eiro .

O grande sol, tu não sabes nada disto,


alegria que se não p o d e fitar n o azul sereno in atingíbel.

70 POESÍA VI
Sí, no tengo razón ...
Déjame distraerme del argum ento mental.
N o la tengo, está bien, pero es que eso es una razón com o
[otra cualquiera...

¿Que si no m e lo creo? N o lo sé.


5 Creo que sí. Pero lo repito.
El amor, ¿debe ser constante?
Sí, el am or debe ser constante.
Sólo en el amor, eso está claro,
Pero lo digo aún una vez más...

10 ¡En m enudos em brollos nos metemos!


Sí, está bien, mañana traeré el dinero.

¡Oh gran sol, tú no sabes nada de esto!


Alegría que no puede contem plarse en el azul sereno,
[inalcanzable.

71 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


É in ú til p rolon gar a conversa de tod o este silen cio .
Jazes sentado, fu m an d o, n o canto do sofá grande —
jazo sentado, fum an d o, n o sofá de cadeira funda,
entre n ó s não houve, vai para um a hora,
5 senão os olhares de um a só vontade de dizer.
Renovávam os, apenas, os cigarros — o novo n o aceso do
[velho
e continuávam os a conversa silenciosa,
in terrom p id a apenas p elo desejo olhado de falar...

Sim , é in ú til,
io m a s tu d o , a té a v id a d o s c a m p o s é ig u a lm e n te in ú til,

h á c o is a s q u e s ã o d if íc e is d e d i z e r ...
Este problem a, p or exem plo.
D e qual de n ós é que ela gosta? G om o é que p o d em o s chegar
[a d is c u t ir is s o ?

N em falar nela, não é verdade?


15 E sobretudo não ser o p rim eiro a pensar em falar nela!
A falar n ela ao im passível ou tro e a m ig o ...
C aiu a cinza do teu cigarro n o teu casaco preto —
ia advertir-te, mas para isso era preciso falar...

E n treo lh á m o -n o s de novo, com o transeuntes cruzados.


20 E o pecado m útuo que não com etem os
assom ou ao m esm o tem po ao fu n d o dos dois olhares.
D e repente espreguiças-te, se m i-e rg u es-te — escusas de
[falar...
« V o u -m e d eitar!» dizes, p orq ue o vás dizer.

72 POESÍA VI
Desde luego es inútil prolongar la conversación de este silencio.
Yaces sentado, fum ando, puesto en el rincón del gran sofá
-y a z g o sentado, fum ando, puesto en el sofá de asiento
[h u n d id o -.
N o hubo entre nosotros, y va para una hora,
5 sino las miradas de una sola voluntad de decir.
Renovábamos, apenas, los pitillos -en cend ien do el nuevo con
[el v ie jo -
y así continuábam os la silenciosa charla,
interrum pida apenas por las ganas moderadas de hablar...

Sí, sí, es inútil,


10 pero todo, hasta la vida de los campos, es igualm ente inútil.
Hay cosas m uy difíciles de decir...
Así, este problema, por ejemplo.
¿A cuál de los dos quiere? ¿Cómo podemos llegar a discutirlo?
Pero ni hablar de ella, ¿no es verdad?
15 ¡Y, sobre todo, no ser el prim ero en llegar a pensar en hablar de
[ella!
Hablando de ella al otro, impasible y amigo...
Se cayó la ceniza del pitillo sobre tu abrigo negro
-ib a ahora a advertírtelo, mas para eso es preciso hablar...-.

N os m iram os de pronto, nuevam ente, com o transeúntes que se


[cruzan,
20 y ese m utuo pecado que jamás com etim os
se asomó al m ism o tiempo desde el fondo de ambas miradas.
De repente te desperezaste, m edio te incorporaste, excusas
[hablar...
«¡Voy a acostarme!», dices, porque vas a decirlo.

73 LOS POEMAS OE ÁLVARO DE CAMPOS 4


E tudo isto, tão p sicológico, tão in volu ntário,
25 p or causa de um a em pregada de escritório agradável e solen e.
AE, v a m o -n o s deitar!
Se fizer versos a respeito d isto, já sabes, é desprezo!

74 POESÍA VI
Todo tan psicológico, tan involuntario,
25 todo esto por culpa de una secretaria agradable y solemne.
¡Ah, vam os a acostarnos!
¡Y si hago versos con respecto a esto, es por desdén, ya sabes!

75 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


A cordo de n o ite , m u ito de n o ite , n o silên cio to d o .
São — tictac visível — quatro horas de tardar o dia.
A bro a janela directam ente, n o desespero da in só n ia .
E, de repente, h um ano,
5 o quadrado com cruz de um a janela ilum inada!
Fraternidade na noite!

Fraternidade involuntária, in cógn ita, na noite!


Estam os am bos despertos e a h um anidade é alheia.
D o rm e. N ós tem os luz.

to Q u em serás? D o en te, m oed eiro falso, in so n e sim ples com o


[eu?
N ão im porta. A n o ite eterna, in fo rm e, in fin ita,
só tem , n este lugar, a h um anid ad e das nossas duas janelas,
o coração latente das nossas duas luzes,
n este m o m en to e lugar, ig n o ra n d o -n o s, som os toda a vida.

15 Sobre o parapeito da janela da traseira da casa,


sen tin d o h úm ida da n o ite a m adeira on d e agarro,
d eb ru ço -m e para o in fin ito e, u m p ou co, para m im .

N em galos gritando ainda n o silên cio definitivo!


Q u e fazes, camarada da janela com luz?
20 S o n h o , falta de so n h o , vida?
T om am arelo cheio da tua janela in có g n ita ...
T em graça: não tens luz eléctrica.
O candeeiros de p etróleo da m inh a infância perdida!

76 POESÍA VI
Me despierto de noche, m uy de noche, en pleno silencio.
Son -v isib le ticta c- las cuatro en punto dem orándose el día.
Abro directamente la ventana, no m e angustia el insom nio.
¡Y, de repente, hum ano,
5 el cuadrado con cruz de aquella ventana iluminada!
¡Fraternidad en la noche!

¡Fraternidad involuntaria, fraternidad incógnita, en la noche!


Estamos ambos despiertos, la hum anidad es ajena.
Duerm e. Pero nosotros, ahora, tenem os luz.

10 ¿Quién serás? ¿Un enfermo, falsificador de moneda, o un simple


[insom ne com o yo?
Da igual. La noche eterna, noche inform e, infinita,
sólo posee, aquí, la hum anidad de nuestras dos ventanas,
latente corazón de estas dos luces.
Ahora y aquí, ignorándonos, somos toda la vida.

15 Sobre la barandilla de la ventana de la parte trasera de la casa,


sintiendo húm eda, a causa de la noche, esa m adera a la que m e
[agarro,
m e asomo al infinito y, poco a poco, a mí.

¡N o hay n i gallos gritando todavía en el silencio ya definitivo!


¿Qué haces, camarada, en tu ventana con luz?
20 ¿Sueño, falta de sueño, o quizá vida?
Denso tono amarillo de tu ventana incógnita.
¡Qué gracia!, si no tienes luz eléctrica...
¡Lámparas de petróleo de m i infancia perdida!

77 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


N otas so bre T a v ir a

C heguei fin alm en te à vila da m inh a infância.


D esci do com b oio, re co r d e i-m e , olh ei, vi, com parei.
(T udo isto levou o espaço de tem po de um olhar can sad o).
T u do é velho on d e fu i n o v o .
5 D esd e já — outras lojas, e outras frontarias de pinturas nos
[m esm os p réd ios —
u m autom óvel que n u n ca vi (não os havia antes)
estagna am arelo escuro ante um a porta entreaberta.
T u do é velho on d e fu i n ovo.
Sim , p orq ue até o mais novo que eu é ser velho o resto,
lo A casa que pintaram de novo é mais velha p orq ue a pintaram
[de novo.
Paro diante da paisagem , e o que vejo sou eu.
O u trora aqui an tevi-m e esp len d oroso aos 4 ° anos —
sen h or do m u n d o —
é aos 41 que desem barco do co m b o io in d olen tã o .
15 O que con q u istei? N ada.
N ada, aliás, ten h o a valer conquistado.
Trago o m eu tédio e a m inha falência fisicamente no pesar-m e
[mais a m ala...
D e repente avanço seguro, resolutam ente.
Passou toda a m inh a hesitação.
20 Esta vila da m inh a in fân cia é afinal um a cidade estrangeira.

78 POESÍA VI
N otas so b r e T a v ir a

Llegué por fin al pueblo de m i infancia.


Bajé del tren, recordé, m iré, vi, comparé.
(Todo esto llevando el espacio de tiempo de un m irar ya
[cansado).
Todo es viejo allí donde fui joven.
5 Para em pezar -otra s tiendas, y otros frontispicios de pinturas,
[aunque en los m ism os ed ificios-
un autom óvil que yo nunca vi (antes no los había)
que de pronto se para, tono am arillo oscuro, ante una puerta
[entreabierta.
Todo es viejo allí donde fui joven.
Sí, sí, porque hasta lo más joven que yo junto al resto ya es viejo.
10 La casa que volvieron a pintar aún resulta más vieja justo porque
[volvieron a pintarla.
Me paro ante el paisaje y lo que veo soy yo.
Antaño, en este sitio, m e soñé esplendoroso a los cuarenta años
—com o Señor del m undo—.
A los cuarenta y uno desembarco, indolente, del tren.
15 ¿Qué he conquistado? Nada.
N ada he conquistado en realidad.
Llevo m i tedio y m i quiebra m uy físicamente, por cuanto que
[noto pesar más m i maleta...
Mas, de repente avanzo, con seguridad y resolución.
Cesan todas m is dudas.
20 Éste, que es el pueblo de m i infancia, es después de todo una
[ciudad extranjera

79 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


(E stou à vontade, com o sem pre, perante o estranho, o que
[m e não é nada)
sou forasteiro, t o u r is t , transeunte.
É cla ro : é isso que sou.
A té em m im , m eu D eu s, até em m im .

8o POESÍA VI
(y, com o siempre, estoy a gusto ante lo extraño, eso que no es
[nada para m í).
Soy un forastero, un to u r is t, transeúnte.
Está bien claro: eso es lo que soy.
Incluso en m í, Dios m ío, incluso en mí.

81 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Q u ero acabar entre rosas, p orq u e as am ei na infância.
O s crisântem os de d ep ois, d esfo lh ei-o s a frió.
Falem p ou co, devagar,
que eu não oiça, sobretudo com o p en sam ento.
S O que quis? T enh o as m ãos vazias,
crispadas fléb ilm en te sobre a colcha lon gín q u a.
O que p en sei? T en h o a boca seca, abstracta.
O que vivi? Era tão b o m dorm ir!

82 POESÍA VI
Quiero acabar entre rosas, que amé tanto en la infancia.
Después, los crisantemos los deshojé sereno.
Hablad poco, despacio.
Que no oiga nada, sobre todo con el pensamiento.
5 ¿Lo que quise? Si tengo las m anos vacías,
débilm ente crispadas en la colcha remota...
¿Lo que pensé? Si tengo la boca seca, abstracta.
¿Lo que viví? ¡Ay! ¡Sería tan bueno dormir!...

83 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


N ão, não é can saço...
É um a quantidade de desilusão
que se m e entranha na espécie de pensar,
é u m d om in go às avessas
5 do sen tim en to,
u m feriado passado n o ab ism o ...

N ão, cansaço não é ...


E eu estar existindo
e tam bém o m u n d o,
io com tud o aquilo que con tém ,
com tud o aquilo que n ele se desdobra
e afinal é a m esm a coisa variada em cópias iguais.

N ão. Cansaço p orquê?


E um a sensação abstracta
15 da vida concreta —
qualquer coisa com o u m grito
p or dar,
qualquer coisa com o um a angústia
p or sofrer,
20 ou p or sofrer com pletam ente,
ou p o r sofrer c o m o ...
sim , ou p or sofrer c o m o ...
Isso m esm o, c o m o ...

C om o q u ê ? ...
25 Se soubesse, não haveria em m im este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,


que form idável realejo

84 POESÍA VI
N o , no es cansancio...
Es una cantidad de desilusión
que se m e entraña en el m odo de pensar,
un dom ingo al revés
del sentim iento,
un festivo pasado en el abismo...

N o , cansancio no es...
Es estar yo existiendo
pero también el m undo,
junto con todo aquello que contiene,
con todo aquello que se desdobla en él
y que al final es la m ism a cosa, sólo variada con copias iguales.

N o . ¿Por qué cansancio?


Se trata de una sensación abstracta
de la vida concreta
-a lg o así com o un grito
aún por dar,
algo com o una angustia
por sufrir,
una por sufrir completamente,
o por sufrir c o m o -
sí, por sufrir com o...
Eso m ism o, com o...

¿Cómo qué?...
Mas, si lo supiera, en m í no habría este falso cansancio.

(¡Ay, ciegos que cantan en la calle,


qué tremendo barullo

LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


que é a guitarra de um , e a viola do outro, e a voz déla!)

P orque o iço , vejo.


30 C onfesso: é can saço!...

86 p o e s ía vi
la guitarra del uno y la viola del otro y la voz de ella!).

Porque oigo, veo.


30 Lo diré: ¡es cansancio!...

87 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS U


O horror sórdido do que, a sós consigo,
vergonhosa de si, no escuro, cada alma humana pensa.

88 POESÍA VI
Horror sórdido de eso que, a solas consigo,
vergonzosa de sí, entre lo oscuro, toda alma humana piensa.

89 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Sucata de alma vendida p elo p eso do corpo,
se algum guindaste te eleva é para te d esp ejar...
N en h u m guindaste te eleva senão para te baixar.

O lh o analiticam ente, sem querer, o que rom antizo sem


[q u erer...

90 POESÍA vi
¡Oh, chatarra de alma que han vendido por el peso del cuerpo!
Si ahora te levanta alguna grúa, será para arrojarte...
Porque ninguna grúa te levanta si no es para luego hacerte bajar.

Miro analíticamente, sin querer, eso que rom antizo sin querer...

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


A alma humana é porca com o um ânus
e a vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações.

M eu coração desgosta-se de tud o com um a náusea do


[estôm ago.
A Távola R edonda fo i vendida a p eso,
5 e a biografia do R ei A rtur, u m galante escreveu-a.
Mas a sucata da cavalaria ainda reina nessas almas, com o um
[perfil distante.

Está frio.
P on h o sobre os om bros o capote que m e lem bra u m xale —
o xale que m inh a tia m e p un ha aos om bros na infância,
to Mas os om bros da m inh a in fân cia su m iram -se m uito para
[dentro dos m eus om bros,
e o m eu coração da infância su m iu -se m uito para dentro do
[m eu coração.

Sim , está fr io ...


Está frio em tud o que sou, está f r io ...
M inhas próprias ideias têm frio, com o gen te v elh a ...
15 E o frio que eu ten h o das m inhas ideias terem frio é mais
[frio d o que elas.

E n gelho o capote à m in h a v o lta ...


O U niverso da g e n te ... a g e n te ... as pessoas to d a s!...
A m ultip licidad e da h um anid ad e m isturada,
sim , aquilo a que cham am a vida, com o se não houvesse
[outros e estrelas...

92 POESÍA VI
El alma humana es puerca como el ano
y la ventaja propia del carajo pesa en muchas imaginaciones.

M i corazón, que lo aborrece todo, experim enta una náusea en el


[estómago.
La Tabla Redonda fue vendida a peso,
5 y la biografía del Rey Arturo la escribió un gracioso.
Pero la chatarra de la caballería reina todavía en esas almas, com o
[un perfil distante.

Y ahora hace frío.


Me pongo sobre los hombros el capote, que m e recuerda a un chal
-aq u el chal que m i tía m e ponía en los hombros de n iñ o -,
10 Pero es que aquellos hombros de m i infancia se hundieron m uy
[dentro de los míos,
y el corazón m ío de la infancia se hundió m uy adentro, al interior
[de m i corazón.

Sí, sí, hace frío...


Hace frío en todo lo que soy, hace m ucho frío...
Y m is propias ideas tienen frío, com o la gente vieja...,
15 y el frío que tengo de que m is ideas tengan frío es más frío que
[ellas.

Ahora m e envuelvo entero en m i capote...


¡Y el Universo de los hombres... de los hombres... de todas las
[personas,
de lo que es la multiplicidad de una humanidad siempre mezclada,
eso que llam an vida, com o si no existieran otros m undos y otras
[estrellas...,

93 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


20 Sim , a v id a ...
M eus om bros descaem tanto que o capote resvala...
Q u erem com entário m elh or? P u xo-m e para cim a o capote.

A h, parte a cara à vida!


L iberta-te com estrond o n o sossego de ti!

94 POESIA VI
20 eso, sí, la vida...!
Dejo decaer tanto mis hombros que ahora el capote se resbala..
¿Queréis mejor comentario? M e estiro sobresaliendo del capote

¡Ah, pero entonces, pártele la cara a la vida!


¡Libérate ostentosamente descansando de ti!

95 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


São p ou cos os m o m en to s de prazer na v id a ...
E g o z á -la ... Sim , já o ouvi dizer m uitas vezes,
eu m esm o já o disse. (R epetir é viver.)
È gozá-la, não é verdade?

5 G ozêm o -la , loura falsa, g o zêm o -la , casuais e in cógn itos,


tu, com teus gestos de distinção cinem atográfica,
com teus olhares para o lado a nada,
cu m p rin d o a tua função de anim al em aranhado;
eu n o p lano in clin ad o da con sciên cia para a in diferença,
io a m em o -n o s aqui. T em p o é só u m dia.
T enham os o rom an tism o dele!
Por trás de m im vigio, in volu ntariam en te.
S ou qualquer nas palavras que te digo, e são suaves — e as
[que esperas.
D o lado de cá dos m eus A lpes, e que Alpes! som os do corpo.
15 N ada quebra a passagem prom etida de um a ligação futura,
e vai tudo elegantem ente, com o em Paris, Londres, B erlim .
« P e r c e b e -se » , dizes, « q u e o senh or viveu m u ito n o
[estra n g eiro » .
E eu que sin to vaidade em ou vi-lo!
Só ten h o m ed o que m e vás falar da tua v id a...
20 Cabaret de Lisboa? V isto que o é, seja.
L e m b ro -m e subitam ente, visualm ente, do a n ú n cio no
[jo rn a l...
« R e n d e z - v o u s da sociedade eleg a n te» ,
isto.
Mas nada destas reflexões tem erárias e futuras
25 in terrom p e aquela conversa involuntária em que te sou
[qualquer.

96 POESÍA V!
Pocos son los m om entos de placer en la vida...
Hay que gozarla..., sí, ya lo oí m uchas veces,
yo m ism o ya lo dije (repetir es vivir).
Hay que gozarla, sí, ¿no es verdad eso?

5 Gocémosla, rubia falsa, gocém osla, causales e incógnitos.


T ú con tus gestos de distinción cinematográfica,
con tus miradas hacia el lado a nada,
cum pliendo exactamente tu función de animal enredado.
Yo en el plano inclinado de la conciencia de la indiferencia.
10 Am émonos aquí. Todo el tiem po es un día.
¡Tengamos pues su rom anticism o!
Ahí, por detrás de m í, v oy vigilando, involuntariam ente.
Soy cualquiera en las palabras que te digo, son palabras suaves
[-la s que esperas-.
Más acá de mis Alpes, ¡y qué Alpes!, nuestro am o es el cuerpo.
15 N ada hay que cierre el paso prom etido de una futura unión
y todo corre elegantemente, com o en París, en Londres, en
[Berlín.
«Se v e» , dices de pronto, «que el señor ha vivido m ucho en el
[extranjero».
¡Y yo que siento vanidad al oírlo!
Y sólo tengo m iedo de que empieces a hablar de tu vida...
20 ¿Cabaret de Lisboa? Ya que lo es, que sea.
Y de pronto m e acuerdo, visualm ente, del anuncio visto en el
[periódico...
« R en d ez-vo u s de la sociedad elegante»,
bueno, esto.
Pero nada de todas estas reflexiones temerarias, futuras,
25 interrumpe la conversación involuntaria en la que para ti yo soy
[cualquiera.

97 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Falo m édias e im itações
e cada vez, vejo e sin to, gostas m ais de m im a valer que [ ...]
[hoje;
é nesta altura que, d eb ru çan d o-m e de repente sobre a mesa,
te segredo em segredo o que exactam ente convinha.
30 Ris, toda olhar e em parte boca, efusiva e próxim a,
e eu gosto verdadeiram ente de ti.
Soa em n ós o gesto sexual de n os irm os em bora.
R odo a cabeça para o p agam en to...
A legre, álacre, se n tin d o -te , falas...
35 S orrio.
P or trás do sorriso, não sou eu.

98 POESÍA VI
Hablo a medias y haciendo im itaciones
y cada vez, lo veo y aun lo siento, te gusto m ucho más aún que
[...] hoy.
Y es en este m om ento cuando, inclinándom e encim a de la mesa,
te susurro en secreto lo que exactamente convenía.
30 Ríes, toda m irar y en parte boca, efusiva y próxim a,
y es que tú a m í m e gustas de verdad.
Suena en nosotros el gesto sexual de irnos.
Giro la cabeza para ir a pagar...
Viva, alegre, sintiéndote...
35 tu m e hablas... sonrío.
Pero, tras la sonrisa, no soy yo.

99 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Ah., que extraordinário,
n os grandes m om en tos do sossego da tristeza,
com o quando alguém m orre, e estam os em casa dele e todos
[estão quietos,
o rodar de u m ca rro na rua, ou o canto de u m galo n os
[q u in ta is...
s Q u e lo n g e da vida!
E ou tro m u n d o .
V ira m o -n o s para a janela, e o sol brilha lá fora —.
Vasto sossego plácido da natureza sem interrupções!

100 POESÍA VI
¡Ah, qué extraordinario!
En los grandes m om entos de sosiego que se abren en m itad de
[la tristeza,
com o cuando alguien m uere, y estamos reunidos en su casa y
[están todos quietos,
el rodar de un coche por la calle, o el canto de u n gallo en los
[jardines...
5 ¡Lejos de la vida!
¡Es otro m undo!
Y nos volvem os hacia la ventana, y el sol brilla afuera.
¡Vasto sosiego plácido, naturaleza sin interrupción!

101 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


G o sta d o so l

Todas as coisas são im pressionantes.


E nquanto houver n o m u n d o sangue e rosas
h á -d e haver sem pre certos b on s instantes
em que se passam coisas sem ser coisas.

5 M eu coração, u m solavanco, ou antes


u m intervalo con scien te. Lousas
cobrem os que com o eu tin h am rom pantes
em que iam à conquista das teim osas.

Mas o foguete é u m sím b olo que sobe


io para cair, depois de ru íd os n o alto,
m era cana caduca, e até sobre

quem o d e ito u ... E o que u m garoto leva


da rua — a cana ardida — é quanto falto ...
Q u e absurdo p irotécn ico m e eleva?

II

D eixo, deuses, atrás a dama antiga.


(C o m um a letra d iferente fixo
o absurdo, e rio, p orq u e so fro ). D igo:
deixo atrás quem am ei, com o u m p refix o ...

102 POESÍA VI
C o sta d e l so l

Todas las cosas son impresionantes.


Mientras haya en el m undo sangre y rosas
habrá siempre de haber buenos instantes
en los que pasan cosas sin ser cosas.

5 M i corazón, vaivén, o quizás, antes,


un consciente intervalo. Grandes losas
cubren a quienes com o yo, en triunfantes
m om entos, iban a lograr preciosas.

Pero el cohete es sím bolo que sube


10 para caer, tras estallar en alto,
mera caña caduca, y de la nube

cae en quien lo prendió... que u n niño lleva,


caña ardida... ¿soy eso tras el salto
que, absurdo pirotécnico, m e eleva?

II

Dejo atrás a m i dama, y luego sigo.


(C on una letra diferente, fijo
el absurdo, y m e río, y sufro). Digo:
dejo allá a quien amé, com o un prefijo...

103 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


5 O u trora eu, que era a n ó n im o e prolixo
(dois adjectivos que de há m u ito sigo)
am ei p or ter u m coração am igo.
A m o h oje o que am o só p orq u e o persigo.

D ê e m -m e v in h o que u m H orácio cante!


io Q u ero esquecer o que de m eu é m e u ...
Q u ero , sem que m e mexa, ir in d o adiante.

E stou n o E storil e o lh o para o c é u ...


A h que ainda é certo aquele azul ovante
que esp len d eu astros sobre o m ar egeu.

III

S om os m en in o s de um a prim avera
de que alguém fez tijolos. Q u an d o cism o
tiro da cigarreira u m m isticism o
que acendo e fu m o com o se o esquecera.

5 N o teu ar de dorm ir nessa cadeira


(reparo agora, feito o exorcism o,
que o terceiro son eto ergue do abism o),
és sem pre a m esm a, an ón im a — terceira...

O grande mar atlântico, desculpa!


io C usp i à tua beira três son etos.
S im , mas cu sp i-o s sobre a m inh a culpa.

M ulher, am or, alcova — sois tercetos!


Só vós ó m ar e céu n os libertais,
que qualquer trapo in có g n ito franjais.

15 Sossego? O utrora? O ra adeus! F oi feita

104 POESÍA VI
5 Otrora yo, anónim o y prolijo
(dos adjetivos que hace m ucho ligo),
amé buscando un corazón amigo.
Amo h oy lo que amo: lo persigo.

¡Dadme ahora un vino que un Horacio cante!


10 Quiero olvidar lo que de m ío es m ío...
Quiero, sin que m e mueva, ir adelante.

Estoy en Estoril, y al cielo m iro...


¡Ah, que aún existe aquel azul triunfante
que encendía el Egeo con su brillo!

III

Somos los hijos de una primavera


que alguien h izo ladrillos, sí, y yo m ism o
de m i pitillera un m isticism o
saco y m e fum o, cual si no lo viera.

5 Con tu aire de dormirte en esa espera


( y ahora advierto, hecho el exorcism o,
que el soneto se yergue del abism o),
eres la m ism a, anónim a y tercera...

¡Oh, gran mar atlántico, disculpa!


10 A tu orilla he escupido tres sonetos,
pero los escupí sobre m i culpa.

¡Mujer, amor, alcoba -so is tercetos-!


Mas tú, mar, y tú, cielo, nos libráis,
que cualquier trapo incógnito adornáis.

15 ¿Sosiego? ¿Antaño? ¡Pues adiós! Fue hecha

105 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


no cárcere a Marília de Dirceu.
D e realmente m eu só tenho eu.

Pudesse eu p ôr uffi dique ao que em m im espreita.


(N o seu p erfil de pálida im perfeita,
20 recorte m orto contra u m vivo céu.

106 POESÍA VI
en la cárcel Marília de Dirceu.
Sólo yo tengo lo realmente mío.

¡Si alzara un dique a lo que en m í m e acecha!...


(S u pálida figura contrahecha,
m uerto recorte contra un cielo v ivo).

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


A h, com o outrora era outra a que eu não tinha!
G om o am ei quando am ei! A h, com o eu ria.
C o m o com olh os de q uem n un ca via
tin h a o tro n o o n d e ter um a rainha.

5 Sob os pés seus a vida m e espezinha.


R eclin as-te tão bem ! A tarde esfria ...
O mar sem cais n em lo d o o u maresia,
que ten s com igo, cuja alma é a m inha?

Sob um a um brela de chá em baixo estam os


io e é súbita a lem brança opositória
da velha q uinta e do espalm ar dos ram os

sob os quais a m eren d a ... O h am or, oh glória!


F ech em -m e os olh os para toda a história!
G om o sapos saltamos e erram os...

108 POESÍA VI
¡Otrora era otra la que no tenía!
¡Cómo amé cuando amé! ¡Como reía!
Como con ojos de quien no veía
para m i reina un trono yo tenía.

5 ¡Bajo sus pies la vida m e patea! .


¡Te reclinas tan bien! La tarde enfría...
Oh mar, sin m uelle, lodo ni marea,
¿qué tenem os que ver, y qué alma es mía?

Una um brela de té. Debajo estamos


10 y de repente se abre, en la m em oria,
la vieja quinta y el tender los ramos.

Bajo ellos la m erienda... ¡Amor y gloria!


¡Cerrad m is ojos a cualquier historia!
Como sapos saltamos y vagamos...

109 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


R e a l id a d e

Sim , passava aqui freq u en tem en te há vinte a n o s ...


N ada está m udado — ou , p elo m en os, não d o u p o r isso —
nesta localidade da cid a d e...

H á vin te a n os!...
5 O que eu era então! O ra, era o u tr o ...
H á vin te anos, e as casas não sabem de n ad a...

V in te anos in ú teis (e sei lá se o foram!


S ei eu o que é ú til ou in ú til? )...
V in te anos perd id os (mas o que seria gan h á-los?)

10 T ento reconstruir na m inh a im aginação


quem eu era e com o era quando p or aqui passava
há vin te a n o s...
N ão m e lem b ro, não m e p osso lem brar.
O ou tro que aqui passava então,
15 se existisse h oje, talvez se lem b rasse...
H á tanta personagem de rom an ce que con h eço m elh o r p or
[dentro
do que esse eu -m e sm o que há vinte anos passava aqui!

Sim , o m istério do tem p o.


Sim , o não se saber nada,
20 sim , o term os tod os nascido a b ord o.
Sim , sim , tud o isso, ou outra form a de o d izer...

110 POESÍA VI
R e a l id a d

Pasaba por aquí frecuentem ente, hace ya veinte años...


N ada ha cambiado - o , al m enos, yo no m e he dado cu en ta -
aquí, en este lugar de la ciudad...

¡Hace ya veinte años!...


¡Ese que yo era entonces! Sí, pero era otro...
Hace ya veinte años, y las casas no saben de nada...

Veinte años inútiles (¡yo qué sé si lo fueron!,


¿sé quizá lo que es útil o inútil?)...
Veinte años perdidos (¿qué sería ganarlos?)

Intento reconstruir en m i im aginación


quién era y cóm o era cuando yo pasaba por aquí,
hace ya veinte años...
N o m e acuerdo, no puedo acordarme.
El que por aquí pasaba entonces,
si h oy existiera, tal vez se acordara...
¡Hay tanto personaje de novela que conozco mejor por sus
[adentros
que a ese yo-m ism o que hace veinte años pasaba justam ente p
[aquí!

Sí, el m isterio del tiempo.


SÍ, el no saberse nada.
Haber nacido todos, sí, a bordo.
SÍ, sí, todo eso, o alguna otra form a de decirlo...

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Daquela janela do segundo-andar, ainda idêntica a si mesma,
debruçava-se então um a rapariga mais velha que eu, mais
[lem bradam ente de azul.
H o je, se calhar, está o quê?
25 P odem os im aginar tud o do que nada sabem os.
Estou parado física e m oralm ente: não quero im aginar n ada...

H ou ve u m dia em que subi esta rua pen sand o alegrem ente


[n o futuro,
p ois D eu s dá licença que o que não existe seja fortem en te
[ilu m in ad o.
H oje, descendo esta rua n em n o passado penso alegrem ente.
30 Q u an d o m u ito, n em p e n so ...
T en h o a im pressão que as duas figuras se cruzaram na rua,
[nem então n em agora,
mas aqui m esm o, sem tem p o a perturbar o cruzam ento.
O lh ám os in d iferen tem en te u m para o ou tro.
E eu o antigo lá subi a rua im agin and o u m futuro girassol.
35 E eu o m od ern o lá desci a rua não im agin and o nada.

Talvez isto realm ente se d esse...


V erdadeiram ente se d esse...
Sim , carnalm ente se d esse...

Sim , talvez...

112 POESÍA VI
Por aquella ventana del segundo piso, todavía idéntica a sí
[misma,
se asomaba entonces una chica que era m ayor que yo, y
[recordadamente más de azul.
Pero hoy, si acaso, permanece ¿el qué?
25 Podemos im aginarnos todo aquello de que nada sabemos.
Yo estoy parado física y m oralm ente, porque no quiero
[imaginarme nada...

Hubo un día en que subí por esta calle pensando alegremente


[en el futuro,
pues Dios da su perm iso para que todo aquello que no existe
[sea fuertem ente ilum inado.
Hoy, bajando esta calle, ni en el pasado pienso alegremente.
30 Como m ucho, ni pienso...
Y m e parece que las dos figuras se cruzaron ahí, en esa calle,
[ni entonces n i ahora,
sino aquí m ism o, mas sin tiem po de perturbar el cruce.
N os m iram os entonces, indiferentem ente, el uno al otro.
Luego yo, el antiguo, fui subiendo la calle imaginando un girasol
[futuro,
35 mientras yo, el m oderno, fui bajando la calle, pero pasaba no
[im aginando nada.

Tal vez eso se diera realm ente...


Tal vez se diera verdaderamente...
Carnalmente se diera...

Sí, t a lv e z ...

113 LOS POEMAS 0 E ALVARO DE CAMPOS 4


Q u e som os n ós? N avios que passam u m p elo outro na n o ite,
cada u m a vida das linhas das vigias ilum inadas
e cada u m sabendo d o ou tro só que há vida lá d en tro e mais
[nada.
N avios que se afastam p ontead os de luz na treva,
5 cada u m in d eciso d im in u in d o para cada lado do negro.
T u do m ais é a n o ite calada e o frió que sobe d o mar.

114 POESÍA VI
¿Qué somos? N avios, que se van cruzando entre la noche,
cada uno la vida en los cordajes de las vigías bien ilum inadas,
cada uno sabiendo en cuanto al otro sólo que hay vida ahí dentro
[y nada más.
N avios que se alejan punteados de lu z en tinieblas,
5 cada uno indeciso y encogiendo hacia cada lado de lo negro.
Todo el resto es noche callada, y el frío subiendo de la mar.

115 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


E o esp len d or dos mapas, cam in ho abstracto para a
[im aginação concreta,
letras e riscos irregulares ab rin do para a maravilha.

O que de son h o jaz nas encadernações vetustas,


nas assinaturas com plicadas (o u tam sim ples e esguias) dos
[velhos livros.
5 (Tinta rem ota e desbotada aqui presente para além da m orte,
ó enigm a visível do tem p o, o nada vivo em que estam os!)
O que de negado à nossa vida quotidiana vem nas ilustrações,
o que certas gravuras de an ú n cios sem querer anunciam .

T udo quanto sugere, o u exprim e o que não exprim e,


io tud o o que diz o que não diz,
e a alma sonha, d iferente e distraída.

116 POESÍA VI
Esplendor de los mapas, cam ino abstracto a la im aginación
[concreta,
letras y trazos siempre irregulares que van abriéndose a la
[maravilla.

Lo que yace de sueños en las vetustas encuadernaciones,


en las complicadas signaturas (o tan simples y esbeltas) de los
[viejos libros.
5 (¡Tinta remota y descolorida aqui presente más allá de la muerte,
visible enigm a del tiempo, viva nada en que estam os!).
Lo que, negado a nuestra vida cotidiana, nos aparece en las
[ilustraciones,
lo que ciertas im ágenes de anuncios dicen sin querer.

Todo cuanto sugiere o cuanto expresa eso que no expresa,


10 lo que dice eso que no dice.
Distraída y distinta, el alma sueña.

117 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


N a am pla sala de jantar das tías velhas
o relógio tictaqueava o tem p o mais devagar.
A h o h o rror da felicidade que se não con h eceu
p o r se ter con h ecid o sem se con h ecer,
5 o h o rro r do que fo i p orq ue o que está está aqui.
Ghá com torradas na provincia de outrora,
em quantas cidades m e tens sido m em oria e choro!
E ternam ente criança,
etern am ente abandonado,
10 desde que o chá e as torradas m e faltaram n o coração.

A qu ece, m eu coração!
A qu ece ao passado,
que o presente é só um a rua on de passa quem m e esqu eceu ...

118 POESÍA VI
En la amplia sala de las viejas tías
el reloj tictaqueaba el tiem po más despacio.
¡Horror de una felicidad no conocida
porque se conoció sin conocerse,
5 horror que nos produce lo que fue, porque lo que es está aquí
[ahora!
¡Té con tostadas en la provincia de otro tiempo,
oh, en cuántas ciudades tú m e has sido m i m em oria y m i llanto!
Eternam ente niño
y eternamente abandonado,
10 siempre que té y tostadas m e faltaban en el corazón.

¡Arde, corazón mío!


¡Arde y alienta m i pasado!,
que el presente tan sólo es una calle por donde pasa quien ya me
[olvidó.

119 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


A clareza falsa, rígida, n ã o -la r dos hospitais
a alegria hum ana, vivaz, sobre o caso da vizinha,
da m ãe in con solável a que o filh o m orreu há u m ano

Trapos som os, trapos am am os, trapos agim os —,


5 que trapo tud o que é este m undo!

120 POESÍA VI
Esa claridad rígida y falsa en el n o-hogar de los hospitales.
La alegría vivaz y tan hum ana en lo que hace a lo de la vecina,
inconsolable madre a la que el hijo se le m urió hace u n año.

Trapos somos, amamos, actuamos,


5 ¡Qué trapo todo cuanto el m undo es!

121 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


A h o som de abanar o ferro da engom adeira
à jan ela ao lado da m inh a in fân cia debruçada!
O som de estarem lavando a roupa n o tanque!
Todas estas coisas são, de qualquer m od o,
5 parte do que sou.
(O ama m orta, que é do teu carinho grisalh o?).
M inha infância da altura da cara p ou co acima da m esa ...
M inha m ão gord in ha pousada na borda da toalha que se
[enrodilhava.
E eu olhava p o r cim a do prato, nas p onías dos pés.
10 (H oje se m e puser nas pontas dos pés, é só intelectualm ente.
E a m esa que ten h o não tem toalha, n em q uem lh e p onh a
[to a lh a ...).
E studei o ferm en to da falência
na d em on ologia da im agin ação...

122 POESÍA VI
¡El vaivén ruidoso de la plancha de la planchadora
en la ventana al lado de m i infancia asomada!
¡El sonido de ropa que van lavando en el lavadero!
Todas estas cosas son, de cualquier m odo,
5 parte de lo que soy.
(¡O h, ama muerta, ¿qué es h oy de tu cariño opaco?).
M i infancia de la altura de la cara un poco por encim a de la
[mesa...
M i m ano que era un peo regordeta posada sobre el borde del
[m antel que se iba enrollando,
y yo miraba un poco por encim a del plato, en puntillas.
10 ÇHoy, si es que m e pongo de puntillas, lo hago sólo
[intelectualm ente.
Y la m esa que tengo no tiene m antel n i quien se lo ponga...).
Estudié el ferm ento de la quiebra
en la dem onología de la im aginación...

123 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


E o som só den tro do relógio acentuado
n o serão sem n in gu ém das casas de jantar da província
p õ e -m e o tem p o in teiro em cim a da alma,
e en q uan to não chega a hora do chá das tias velhas,
5 o m eu coração ouve o tem p o passar e sofre com igo.

T ic-ta c mais so n o len to que o dos outros relógios —


na parede, de m adeira, este tem p ên d u lo e oscila.
O m eu coração tem saudades não sabe de quê.
T en h o que m o rrer...
io T ic-ta c m ecânico e certo — serão sereno m ecânico na
[província.

124 POESÍA VI
Sólo ese sonido dentro del reloj acentuado
en la velada sin nadie de los comedores de provincias
m e pone el tiempo entero encim a del alma,
y m ientras no llega la hora del té de las viejas tías,
5 m i corazón oye ir pasando el tiem po y sufre conm igo.

T ic-tac más som noliento que el de otros relojes


- e n la pared, de madera, éste tiene péndulo y o scila -.
M i corazón aquejado de nostalgia; y no sabe de qué.
He de morir...
10 T ic-tac m ecánico y preciso - velada calma m ecánica en
[provincias...

125 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


N évoas de todas as recordações juntas
(a in stitu trice loura dos jardins pacatos).
R ecordo tud o a ou ro do so l e papel de sed a ...
E o arco da criança passa veloz p or quase rente a m im .

126 POESÍA VI
N ieblas de todos los recuerdos juntos
Cía rubia institutriz del jardín sereno).
Todo lo recuerdo a oro del sol con papel de seda...
Y el aro del niño pasa ahora veloz, casi rozándom e...

127 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


Q u e n o ite serena!
Q u e lin d o luar!
Q u e lin d a barquinha
b ailan do n o mar!

5 Suave, tod o o passado — o que fo i aqui de Lisboa — m e


[surge...
O terceiro-andar das tias, o sossego de outrora,
sossego de várias espécies,
a in fân cia sem o futuro pensado,
o ruido aparentem ente con tinu o da máquina de costura delas,
io e tu d o b o m e a horas,
de u m b em e de u m a-horas p ró p rio , h oje m o rto.

M eu D eu s, que fiz eu da vida?

Q u e n o ite serena!
Q u e lin d o luar!
15 Q u e lin d a barquinha
b ailan do n o mar!

Q u em é que cantava isso?


Isso estava lá.
L e m b ro -m e mas esqueço.
20 E d ó i, d ó i, d ó i...

Por am or de D eus, parem com isso dentro da m inha cabeça.

128 POESÍA VI
¡Qué noche serena!
¡Qué brillo lunar!
¡Qué linda barquilla
bailando en la mar!

5 Suave, todo el pasado - e l de aquí, en L isb oa- va surgiendo...


El tercer piso, vivienda de las tías, la calma de entonces,
una de varias clases.
La infancia sin futuro ya pensado,
el ruido, continuo en apariencia, que viene de la m áquina de
[coser.
10 Todo bueno y en hora,
de un bien y un en-hora propio y h oy ya muerto.

Dios m ío, ¿qué he hecho de m i vida?

¡Qué noche serena!


¡Qué brillo lunar!
15 ¡Qué linda barquilla
bailando en la mar!

¿Quién cantaba esto?


Eso estaba allí.
Me acuerdo y m e olvido.
20 Duele, duele, sí...

¡Por el am or de Dios, detened ya eso en m i cabeza!

129 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Penso em ti n o silên cio da n o ite, quando tu d o é nada,
e os ru íd os que há n o silên cio são o p ró p rio silên cio,
en tão, sozin h o de m im , passageiro parado
de um a viagem em D eu s, in u tilm en te p en so em ti.

5 T od o o passado, em que foste u m m o m en to eterno


e com o este silên cio de tu d o.
T od o o p erd id o, em que foste o que mais p erdi,
é com o estes ruídos,
to d o o in ú til, em que foste o que não houvera de ser
io é com o o nada p or ser neste silên cio n o ctu rn o .

T en h o visto m orrer, o u ouvido que m orrem ,


quantos am ei ou con h eci,
ten h o visto não saber m ais nada deles de tantos que foram
com igo, e p ouco im porta se fo i um h om em ou um a conversa,
15 o u u m povo om itid o e m ud o,
e o m u n d o h oje para m im é u m cem itério de n o ite
branco e n egro de campas e árvores e de luar alheio
e é neste sossego absurdo de m im e de tud o que p en so em ti.

130 POESÍA VI
Pienso en ti en el silencio de la noche, cuando todo es nada,
y los ruidos que hay en el silencio son el propio silencio,
y solo com o estoy, pasajero parado
de u n viaje en D ios, pienso en ti inútilm ente.

5 El pasado, en que fuiste un m om ento eterno,


es igual que este silencio de todo.
Todo lo perdido, en lo que fuiste lo que más perdí,
es com o estos ruidos,
y todo aquello inútil, en que fuiste lo que no hubo de ser,
10 es com o la nada aún por ser del silencio nocturno.

He visto morir, o he oído que m ueren,


a cuantos amé o conocí.
He visto no saber ya nada de ellos, de tantos de aquellos que
[estuvieron conm igo,
y así poco im porta si era u n hombre o una conversación,
15 o incluso un pueblo que han borrado del m undo.
El m undo es, para m í, un cem enterio nocturno,
blanco y negro, de lápidas y árboles sin luna.
Y en esta absurda calma, ya de m í y de todo, es cuando pienso
[en ti.

131 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Faze as malas para Parte N enhum a!
Em barca para a universalidade negativa de tud o
com u m grande em b and eiram ento de navios fin g id o s —
dos navios p eq u en os, m u lticolores, da infância!
5 Faz as malas para o G rande A ban don o!
E não esqueças, entre as escovas e a tesoura,
a distância p olícrom a do que se não p o d e obter.
Faz as malas definitivam ente!
Q u em és tu aqui, on d e existes gregário e in ú til —
io E quanto mais ú til m ais in ú til —
E quanto mais verdadeiro m ais falso —
Q u em és tu aqui? quem és tu aqui? quem és tu aqui?
Embarca, sem malas m esm o, para ti m esm o diverso!
Q u e te é a terra habitada senão o que não é co n tig o ?

132 POESÍA VI
¡Haz las m aletas a N in gú n Lugar!
¡Embarca a la universalidad negativa de todo,
llenos de gallardetes tus navios fingidos
-pequeños y m ulticolores navios de in fan cia-!
5 ¡Llena ya las maletas para el Gran Abandono!
Y no olvides, entre cepillos y tijeras,
la distancia polícrom a de lo que no puede obtenerse.
¡Haz definitivam ente las maletas!
¿Qué eres tú, aquí en donde existes, gregario e inútil
10 - y cuanto más ú til más inútil
y más falso por ser más verdadero-?
¿Qué eres tú aquí?, ¿qué eres tú aquí?, ¿qué eres tú aquí?
¡Embárcate, incluso sin m aletas, en ti m ism o diverso!
¿Qué es la tierra habitada, para ti, sino lo que contigo no está
[nunca?

133 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


P SIQ U E T IP IA

S ím b olos. T udo sím b o lo s...


Se calhar, tudo é sím b o lo s...
Serás tu u m sím b olo tam bém ?

O lh o , desterrado de ti, as tuas m ãos brancas


5 postas, com boas m aneiras inglesas, sobre a toalha da mesa,
pessoas in d ep en d en tes de t i . ..
O lh o -a s: tam bém serão sím b olos?
Então to d o o m u n d o é sím b olo e magia?
Se calhar é ...
io E p orq u e não h á -d e ser?

S ím b o lo s...
E stou cansado de p en sar...
Ergo fin alm en te os olh os para os teus olh os que m e olham .
Sorris, sabendo b em em que eu estava p e n sa n d o ...
15 M eu D eus! e não sabes...
Eu pensava n o s sím b o lo s...
R esp on d o fielm en te à tua conversa p or cim a da m esa...
«It w a s v e r y s tr a n g e , w a s n ’t it?»
« A w f i i l l y s tr a n g e . A n d h o w d i d it end?»
20 « 1V ell, i t d i d n t e n d . I t n e v e r d o e s , j o u k n o w .»
Sim , j o u k n o w . .. Eu s e i...
S im , eu se i...
E o m al dos sím b olos , j o u know .

Yes, I k n o w .

134 POESÍA VI
PSIQUETIPIA

Símbolos. Todo símbolos...


Sí, quizá, todo es símbolos...
¿Y no serás tú un sím bolo también?

M iro, desterrado de ti, tus m anos blancas,


5 puestas, con buenas maneras inglesas, ahí, sobre el m antel,
personas independientes de ti m ism o...
Las miro: ¿serán símbolos también?
¿Entonces todo el m undo sólo es sím bolo y magia?
Sí, a lo mejor es...
10 Y ¿por qué no ha de ser?

Símbolos...
Estoy cansado de pensar...
Y levanto los ojos finalm ente en dirección a tus ojos que me
[miran.
Sonríes, sabiendo ya perfectamente en qué estaba pensando...
15 ¡Dios m ío!, y no lo sabes...
Yo pensaba en los símbolos...
Mas respondo fielm ente a tu conversación trabada por encima
[de la mesa...
« I t v a s v e r j s t r a n g e , v a s n ’t i t ? » .

« A v f u l l j s tr a n g e . A n d h o v d i d i t e n d ? » .

20 « W e ll, i t d i d n ’t e n d . I t n e v e r d o e s , j o u k n o v » .

Sí, sí,jo « k n o v ... Lo sé...


¡Oh, sí, lo sé!...
Es el m al de los sím bolos , y o u knov.

Y es, I k n o v .

135 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


25 C onversa p erfeitam en te n atu ral... Mas os sím b olos?
N ão tiro os olh os de tuas m ã o s... Q u em são elas?
M eu D eus! O s sím b o lo s... O s sím b o lo s...

136 POESÍA VI
25 Conversación perfectamente natural... Pero ¿y los símbolos?
N o aparto los ojos de tus m anos y pienso... ¿Quién son ellas?
¡Oh, Dios mío! Los sím bolos... Los símbolos...

137 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


M a g n íf ic a t

Q u an d o é que passará esta n o ite in tern a, o universo,


e eu, a m inh a alma, terei o m eu dia?
Q u an d o é que despertarei de estar acordado?
N ão sei. O sol brilha alto,
5 im possível de fitar.
A s estrelas pestanejam frio,
im possíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
im possível de escutar.
io Q u an d o é que passará este drama sem teatro,
ou este teatro sem drama,
e recolh erei a casa?
O n d e ? G om o? Q u an d o?
Gato que m e fitas com olh os de vida,
15 q uem tens lá n o fu n d o?
E esse! E esse!
Esse m andará com o Josu é parar o sol e eu acordarei;
e então será dia.
S orri, d o rm in d o , m inh a alma!
20 Sorri, m inh a alma, será dia!

138 POESÍA VI
M a g n íf ic a t

¿Cuándo pasará esta noche interna, ésta, el universo,


y yo, m i alma, tendré por fin m i día?
¿Cuándo despertaré de estar despierto?
N o lo sé. El sol brilla m uy alto,
5 imposible poderlo contemplar,
y las estrellas pestañean frío.
Imposible contarlas.
Y el corazón palpita ajeno.
Imposible escucharlo.
10 ¿Cuándo acaba este drama sin teatro,
o este teatro sin drama,
y podré ir a recogerm e a casa?
¿Donde? ¿Cómo? ¿Cuándo?
Gato que m e contemplas con ojos de vida,
15 ¿quién es el que habita en tu interior?
¡Es ése! ¡Es ése!
Ese m andará com o Josué parar el sol, y yo despertaré;
y será ya de día.
¡Sonríe durm iendo, alma mía!
20 ¡Sonríe, sí, alma m ía, vendrá el día!

139 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


P e c a d o o r ig in a l

A h, quem escreverá a h istoria do que p oderia ter sid o?


Será essa, se alguém a escrever,
a verdadeira historia da h um anidade.

O que há é só o m u n d o verdadeiro, não é n ós, só o m un do;


5 o que não há som os n ós, e a verdade está ai.

S ou quem falhei ser.


S om os tod os quem n o s supusem os.
A nossa realidade é o que não con seguim os nunca.

Q u e é daquela nossa verdade — o son ho à janela da infância?


io Q u e é daquela nossa certeza — o propósito à mesa de depois?

M edito, a cabeça curvada contra as m ãos sobrepostas


sobre o parapeito alto da janela de sacada,
sentado de lado num a cadeira, depois de jantar.

Q u e é da m inh a realidade, que só ten h o a vida?


ig Q u e é de m im , que sou só quem existo?

Q uantos Césares fui!

N a alma, e com algum a verdade;


na im aginação, e com alguma justiça;

140 POESÍA VI
Pecado o r ig in a l

¿Quién escribirá ahora la historia de lo que pudo haber sido?


Sería ésa, si alguien la escribiera,
la verdadera historia de la hum anidad.

Lo que hay es el m undo verdadero, no nosotros, el m undo,


5 y lo que no hay somos nosotros, y la verdad está ahí.

Yo soy quien he fracasado ser.


Y somos todos quienes nos supusimos.
N uestra realidad es justo eso que no logramos nunca.

¿Qué ha sido de aquella verdad nuestra -su eñ o s en la ventana


[de la infancia-?
10 ¿Qué habrá sido de la certeza nuestra -propósito para la mesa
[de después-?

Y ahora m edito, con la cabeza apoyada entre las m anos que


[están puestas encim a
de la barandilla del balcón,
ahí sentado de lado en una silla, después de cenar.

¿Qué es entonces de m i realidad, si es que solamente tengo vida?


15 ¿Qué es de m í, que tan sólo soy ése que existo?

¡Cuántos Césares fui!

Cuántos fui en el alma, y con cierta verdad;


y en la im aginación, y con cierta justicia;

141 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


N a in teligên cia, e com algum a razão
20 M eu D eus! m eu D eus! m eu D eus! —
Q u an tos Césares fui!
Q u an tos Césares fui!
Q u an tos Césares fui!

142 POESÍA VI
y en la inteligencia, y con cierta razón
20 -¡D ios! ¡Dios mío! ¡Dios m ío !-.
¡Cuántos Césares fui!
¡Cuántos Césares fui!
¡SÍ! ¡Cuántos Césares!

143 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


D a c t il o g r a f ía

T raço, sozin h o, n o m eu cubículo de en gen h eiro , o plano,


form o o p rojecto, aqui isolado,
rem oto até de quem eu sou.

A o lad o, acom panham ento b analm en te sin istro,


5 o tic-ta c estalado das m áquinas de escrever.

Q u e náusea da vida!
Q u e abjecção esta regularidade!
Q u e son o este ser assim!

O utrora, quando fu i ou tro, eram castelos e cavalarias


io (ilustrações, talvez, de qualquer livro de in fân cia),
outrora, quando fu i verdadeiro ao m eu so n h o ,
eram grandes paisagens do N orte, explícitas de neve,
eram grandes palm ares do sul, op u len tos de verdes.

O utrora.

15 A o lad o, acom panham ento banalm ente sinistro,


o tic-ta c estalado das m áquinas de escrever.

T em os todos duas vidas:


a verdadeira, que é a que son hám os na infância,
e que con tin u am os son h an d o, adultos n u m suhstracto de
[névoa;
20 a falsa, que é a que vivem os em convivência com outros,
que é a prática, a útil,

144 POESÍA VI
M e c a n o g r a f ia

Trazo ahí, en m i cuartucho de ingeniero, m i plano,


form o m i proyecto, aquí aislado,
rem oto incluso para quien yo soy.

Al lado, acom pañam iento banalmente siniestro,


5 el tic-tac restallante de las máquinas de escribir.

¡Qué náusea la vida!


¡Qué abyección la regularidad!
Y, ¡qué sueño este ser así!

Cuando fui otro, antaño, había castillos y caballerías


10 (tal vez ilustraciones de algún libro de infancia),
antaño, cuando fui verdadero a m i sueño.
Y había irnos enormes paisajes del norte, con explícita nieve,
y había unos grandes palmerales del sur, opulentos de verdes.

Antaño...

15 Al lado, acom pañam iento banalmente siniestro,


el tic-tac restallante de las máquinas de escribir.

Todos tenem os dos vidas:


la verdadera, que soñamos en la infancia,
y seguim os soñando luego, adultos, en u n sustrato de niebla;
20 y la falsa, que es la que vivim os conviviendo con otros,
que es la práctica y útil,

145 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


aquela em que acabam por nos meter num caixão.

N a outra não há caixões, n em m ortes,


há só ilustrações de infância:
grandes livros colorid os, para ver mas não ler;
grandes páginas de cores para recordar mais tarde.
N a outra som os nós,
na outra vivemos;
nesta m orrem os, que é o que viver quer dizer.
N este m o m en to , pela náusea, vivo na ou tra ...

Mas ao lado, acom p anh am ento banalm ente sin istro,


se, d em ed itan d o, escuto,
ergue a voz o tic-tac estalado das m áquinas de escrever.

POESÍA VI
aquélla en la que acaban por meternos en un ataúd.

En la otra no hay ni ataúdes n i muertes,


ahí hay solam ente ilustraciones de infancia:
25 grandes libros coloridos, para ver, no leer;
grandes páginas de colores que recordar más tarde.
Ahí som os nosotros,
ahí, en la otra, vivimos;
y en ésta m orim os, que es lo que vivir quiere decir.
50 Yo en este m om ento, por la náusea, sólo vivo en la otra...

Pero al lado, acom pañam iento banalmente siniestro,


si, desmeditándome, lo escucho ,
ya levanta la voz el tictac restallante de las m áquinas de
[escribir.

147 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


N ão ter em oções, não ter desejos, não ter vontades,
mas ser apenas, n o ar sensível das coisas,
um a con sciên cia abstracta co m asas de p en sam en to.

N ão ser deson esto n em não d eson esto, separado o u ju n to ,


5 n em igual a outros, n em d iferente dos outros,
vivê-los em ou trem , separar-se deles
com o quem , distraído, se esquece de s i...

148 POESÍA VI
N o tener em ociones, no tener deseos, no tener voluntad,
sino ya ser apenas, en el aire sensible de las cosas,
una conciencia abstracta con las alas de los pensamientos.

N o ser deshonesto ni no deshonesto, junto o separado,


5 n i ser igual a otros, ni ser diferente de los otros,
vivirlos en otros, separarse de ellos,
com o quien, distraído, se olvida de sí...

149 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


N ão será m e lh o r
n ã o fazer n a d a ?
D eixar tu d o ir de escan tilh ão pela vida abaixo
p ara u m n a u frá g io sem água?

5 N ão será m e lh o r
c o lh e r coisa n e n h u m a
nas ro seira s so nhadas,
e ja z e r q u ie to , a p e n s a r n o exílio dos o u tro s,
nas p rim a v eras p o r haver?

io N ão será m e lh o r
r e n u n c ia r, co m o u m re b e n ta r de bexigas p o p u la re s
na atm o sfera das feiras,
a tu d o
sim , a tu d o ,
15 a b so lu ta m e n te a tu d o ?

150 POESÍA VI
¿No será m ejor
no h acer nada?
¿Dejar que todo vaya en tropel, v ida abajo,
a u n naufragio sin agua?

5 ¿No será m ejor


no coger nada
en los rosales soñados,
yacer quieto, pensando en el exilio de otros,
en las p rim averas p o r haber?

10 ¿No será m ejor


ren u n ciar, quizá, com o rev ien tan
las burbujas en las atm ósferas de feria,
a todo,
si, a todo,
15 to talm en te a todo, en absoluto?

151 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


E stou vazio com o u m p o ço seco.
N ão ten h o verdadeiram ente realidade n en h u m a .
Tampa n o esforço im aginativo!

POESÍA VI
Estoy vacío com o un pozo seco.
Carezco ya de toda realidad.
¡Esfuerzo im aginativo taponado!

153 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


P u seram -m e um a tampa —
to d o o céu.
P u seram -m e um a tampa.

Q u e grandes aspirações!
5 Q u e magnas plenitudes!
E algumas verdadeiras...
Mas sobre todas elas
p u seram -m e um a tampa.
G om o a u m daqueles p ên icos antigos —
io lá n os lon ges tradicionais da província —
um a tampa.

154 POESÍA VI
Me echaron una tapa
-to d o el c ie lo -.
Me echaron una tapa.

¡Qué aspiraciones!
5 ¡Qué magnas plenitudes!
Y además algunas verdaderas...
Mas, sobre todas ellas,
una tapa m e echaron,
com o a uno de esos viejos orinales,
10 en la tradicional lejanía de provincias.
Ahí, sí, una tapa.

155 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Lisboa com suas casas
de várias cores,
Lisboa com suas casas
de várias cores,
5 Lisboa com suas casas
de várias co r es...
A força de d iferente, isto é m o n ó to n o ,
com o à força de sentir, fico só a pensar.

Se, de n o ite, deitado mas desperto,


io na lu cid ez in ú til de não p o d er dorm ir,
quero im aginar qualquer coisa
e surge sem pre outra (p orq u e há son o,
e, p orq u e há son o , u m bocado de so n h o ),
quero alongar a vista com que im agino
15 p or grandes palmares fantásticos.
Mas não vejo mais,
contra um a espécie de lado de den tro de pálpebras,
que Lisboa com suas casas
de várias cores.

20 S orrio, p orq u e, aqui, deitado, é outra coisa.


Á força de m o n ó to n o , é d iferente.
E, à força de ser eu, durm o e esqueço que existo.

Fica só, sem m im , que esqueci p orq ue durm o,


Lisboa com suas casas
25 de várias cores.

156 POESÍA VI
Lisboa con sus casas
de variados colores,
Lisboa con sus casas
de variados colores,
5 Lisboa con sus casas
de variados colores...
A fuerza de distinto, esto es m onótono,
com o también, a fuerza de sentir, sólo puedo pensar.

Si, de noche, tumbado mas despierto,


10 en la inútil lucidez de no dormir,
quiero im aginarm e cualquier cosa
y surge otra (porque tengo sueño,
y, porque tengo sueño, sueño un poco),
si alargo la visión con que im agino
15 por fantásticos y grandes palmerales,
no consigo ver más,
sobre una especie de cara interna de los párpados,
que Lisboa con sus casas
de colores.

20 Sonrío, pues tumbado es otra cosa.


A fuerza de m onótono, es distinto.
Y, a fuerza de ser yo, duerm o y olvido finalm ente que existo.

Y ahí sola, sin m í, que la olvidé al dormirme,


queda Lisboa y sus casas
25 de colores.

157 los p o e m a s d e Alvaro de campos 4


Esta velha angústia,
esta angústia que trago há séculos em m im ,
transbordou da vasilha,
em lágrim as, em grandes im aginações,
5 em son h os em estilo de pesadelo sem terror,
em grandes em oções súbitas sem sentid o n en h u m .

T ransbordou.
Mal sei com o co n d u z ir-m e na vida
com este m al-estar a fazer-m e pregas na alma!
io Se ao m en os en d oidecesse deveras!
Mas não: é este estar-entre,
este quase,
este p o d er ser q u e ...,
isto.

15 U m in tern ad o n u m m an ico m io é, ao m en os, alguém .


Eu sou u m in tern ad o n u m m an icom io sem m a n ico m io .
Estou d o id o a frio,
estou lú cid o e lo u c o ,
estou alheio a tud o e igual a todos:
20 estou d orm in d o desperto com son h os que são loucura
p orq u e não são son h os.
Estou assim ...

Pobre velha casa da m in h a in fân cia perdida!


Q u em te diria que eu m e desacolhesse tanto!
25 Q u e é do teu m e n in o ? Está m aluco.
Q u e é de quem dorm ia sossegado sob o teu tecto provinciano?
Está m aluco.

158 POESÍA VI
Esta vieja angustia,
esta angustia que llevo hace siglos en m í,
desbordó finalm ente la vasija
convertida en lágrimas, im aginaciones desbordadas,
convertida en sueños al estilo de una pesadilla sin terror,
e intensas em ociones repentinas, carentes de sentido.

Se desbordó,
y no sé casi cóm o conducirm e en la vida
con este m alestar que ya m e viene arrugando el alma.
¡Si al m enos enloqueciera de verdad!
Pero no: sólo es este estar-entre,
este casi,
este poder ser que...,
sí, esto.

Uno que está internado en u n m anicom io al m enos es alguien.


Yo estoy internado en un m anicom io, mas sin m anicom io.
Soy un loco en frío,
estoy lúcido y loco,
soy ajeno a todo e igual a todos:
duerm o despierto con sueños de locura,
porque no son sueños.
Soy así...

¡Pobre vieja casa de m i infancia perdida!


¡Quién podría haber dicho que te abandonaría hasta ese punto!
¿Qué ha sido de tu niño? Está loco.
¿Qué de quien dormía sosegado acogido a tu techo provinciano?
Está loco. Está loco.

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Quem. de quem fui? Está maluco. H oje é quem eu sou.

Se ao m en os eu tivesse um a religião qualquer!


30 Por exem plo, a p or aquele m anipanso
que havia em casa, lá nessa, trazido de Á frica.
Era feiíssim o, era grotesco,
mas havia n ele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer n u m m anipanso qualquer —
35 Jú piter, Jeová, a H u m an id ade —
qualquer serviria,
p ois o que é tud o senão o que pensam os de tu d o?

Estala, coração de vidro pintado!

160 POESÍA VI
¿Qué de quien fui? Está loco y ahora es quien soy.

¡Si al m enos tuviera cualquier religión!


30 Por ejemplo, la de aquel fetiche
que habla en casa, hace tanto, traído de África,
y que era feísim o, grotesco;
pero había en él la divinidad que hay en todo eso en que se cree.
¡Si pudiera creer en un fetiche
35 -Júpiter, Jehová, la H u m an id ad-,
serviría cualquiera,
pues, ¿qué es todo sino eso que pensamos de todo?

¡Corazón de cristal pintado, estalla!

161 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Na casa defronte de m im e dos meus sonhos,
que felicidade há sempre!

M oram ali pessoas que d escon h eço, que já vi mas não vi.
São felizes, p orq ue não são eu.

5 As crianças, que brincam às sacadas altas,


vivem entre vasos de flores,
sem dúvida, eternam ente.

As vozes, que sobem do in terio r do d om éstico,


cantam sem pre, sem dúvida,
io Sim , devem cantar.

Q u an d o há festa cá fora, há festa lá d en tro.


A ssim tem que ser on d e tud o se ajusta —
O h o m e m à Natureza, p orq ue a cidade é Natureza.

Q u e grande felicidade não ser eu!

15 Mas os outros não sentirão assim tam bém ?


Q uais ou tros? N ão há outros.
O que os outros sentem é um a casa com a jan ela fechada,
ou , quando se abre,
é para as crianças brincarem na varanda de grades,
20 entre os vasos de flores que n un ca vi quais eram .

O s ou tros n un ca sentem .
Q u em sente som os nós,

162 POESÍA VI
En la casa de enfrente de mí y de mis sueños,
¡qué felicidad esa que hay siempre!

Ahí viven personas que desconozco, que ya v i mas no vi.


Y son felices porque no son yo.

5 Los niños, que juegan en los altos balcones,


viven en esa casa entre macetas de flores.
Sin duda, eternamente.

Y las voces, que suben desde el interior de lo doméstico,


cantan siempre, sin duda.
10 Sí, deben cantar.

Si hay fiesta aquí afuera, hay fiesta allí adentro.


Donde todo se ajusta, así ha de ser
-d o n d e el Hombre se ajusta a la N aturaleza, pues la ciudad es
[N atu raleza-.

¡Qué gran felicidad el no ser yo!

15 ¿Pero entonces, los otros, no sentirán quizás eso también?


¿Qué otros? N o hay otros.
Lo que los otros sienten es tan sólo una casa de ventanas
[cerradas,
o, cuando se abren,
es para que los niños salgan a jugar en el balcón,
20 entre macetas de flores -n u n c a vi cuáles era n -.

Los otros nunca sienten.


N o , sentim os nosotros.

163 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


sim, todos nós,
até eu, que neste m om ento já não estou sentindo nada.

25 N ada? N ão s e i...
U m nada que d ó i...

164 POESÍA VI
Sx, todos nosotros, hasta yo
que, en este momento, no estoy sintiendo nada.

25 ¿Nada? N o lo sé...
Una nada que duele...

165 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


Saí d o com b oio,
disse adeus ao com p an h eiro de viagem ,
tính am os estado dezoito horas ju n to s.
A conversa agradável,
5 a fraternidade da viagem,
tive p en a de sair do co m b o io , de o deixar.
A m igo casual cujo n o m e n un ca soube.
M eus olh os, se n ti-o s, m arejaram -se de lágrim as...
Toda despedida é um a m o r te ...
io Sim , toda despedida é um a m orte.
N ó s, n o co m b oio a que cham am os a vida
som os tod os casuais u ns para os outros,
e tem os tod os pena quando p o r fim desem barcam os.

T udo que é h um ano m e com ove, p orq ue sou h o m em .


15 T udo m e com ove, p orq u e ten h o ,
não um a sem elhança com ideias ou doutrinas,
mas a vasta fraternidade com a h um anidade verdadeira.

A criada que saiu com pena


a chorar de saudade
20 da casa on d e a não tratavam m u ito b e m ...

T udo isso é n o m eu coração a m orte e a tristeza do m u n d o .


T udo isso vive, p orq ue m orre, den tro do m eu coração.

E o m eu coração é u m p o u co m aior que o universo in teiro .

166 POESÍA VI
Salí del tren,
dije adiós al compañero de viaje;
habíamos estado dieciocho horas juntos.
Conversación gustosa,
5 fraternidad del viaj e...
Así que m e dio pena salir del tren, dejarlo.
El casual amigo cuyo nom bre no supe.
Mis ojos, los sentía, se inundaron de lágrimas...
Toda despedida es una m uerte...
10 Sí, la despedida es una m uerte.
N osotros, en ese tren llamado vida,
somos todos casuales m utuam ente
y nos da pena a todos cuando desembarcamos.

Todo lo que es hum ano m e conm ueve, sí, porque soy hombre.
15 Todo m e conm ueve, porque tengo,
no algo com o ideales o doctrinas,
sino fraternidad vasta y extensa con la verdadera hum anidad.

Esa criada que salió apenada,


llorando com o iba de nostalgia
20 de aquella casa donde no la trataban bien...
Todo eso es la m uerte y tristeza del m undo al interior de m i
[corazón.
SÍ, todo eso vive en m i corazón, por cuanto muere.

Sí, m i corazón cuyo tamaño es algo más que todo el universo.

167 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


Mas eu não tenho problemas; tenho só mistérios.

T od os choram as m inhas lágrimas, p orq ue as m inhas


[lágrimas são todos.

Todos sofrem n o m eu coração, porque o m eu coração é tudo.

168 POESÍA VI
Yo no tengo problemas, sino sólo misterios.

Todos lloran m is lágrimas, dado que mis lágrimas son todos.

Y todos sufren en m i corazón, pues m i corazón también es


[todo.

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


M eu coração, bandeira içada
em festas o n d e não há n in g u é m ...
M eu coração, barco atado à m argem
esperando o d o n o , cadáver am arelado entre os ju n ca is...
S M eu coração, a m ulh er do forçado,
a estalajadeira dos m ortos da n oite,
aguarda à porta, com u m sorriso m aligno,
to d o o sistem a do universo,
con clu so a podridão e a esfin ges...
io M eu coração, algema partida.

170 POESÍA VI
M i corazón, una bandera izada
en las fiestas sin nadie...
M i corazón, un barco atracado a la orilla,
esperando a su dueño, cadáver que amarillea entre juncales...
M i corazón, mujer del condenado a trabajos forzados,
posadera de los m uertos de la noche,
aguardando a la puerta, con m aligna sonrisa,
el com pleto sistema del universo,
concluso en podredumbre y en esfinges...
M i corazón, cadena troceada...

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


A m úsica, sim , a m ú sica...
Piano banal do ou tro andar...
A m úsica em to d o o caso, a m úsica...
A q u ilo que vem buscar o ch oro im anente
5 de toda a criatura hum ana,
aquilo que vem torturar a calma
com o desejo dum a calma m e lh o r ...
A m ú sica ... U m p ian o lá em cim a
com alguém que o toca m a l...
io Mas é m ú sica ...

A h, quantas infâncias tive!


Q uantas boas mágoas!
A m ú sica...
Q uantas m ais boas mágoas!
15 Sem pre a m ú sica ...
O p obre p ia n o tocado p o r quem não sabe tocar.
Mas apesar de tud o é m úsica.

A h, lá con segu iu um a m úsica seguida —


U m a m elod ia racional —.
20 R acional, m eu Deus!
G om o se alguma coisa fosse racional!
Q u e novas paisagens de u m p ian o m al tocad o?
A m úsica!... A m ú sica ...!

172 POESÍA VI
Música, sí, la música...
Piano banal en el otro piso...
Música, en todo caso...
Lo que viene a buscar el inm anente
5 llanto de toda criatura humana,
eso que viene a torturar la calma
abrigando el deseo de una calma mejor...
Música... De un piano, ahí arriba,
con alguno que lo toca m al­
lo Cierto, sí, mas música...

¡Cuántas infancias tuve!


¡Ah, cuántas buenas penas!
La m úsica, la música...
¡Cuántas más buenas penas!
15 Sí, la m úsica siempre...
Pobre piano que toca quien no sabe tocar.
Pero, a pesar de todo, es que eso es música.

¡Ah, consiguió una m úsica seguida


-u n a m elodía racional!-
20 ¡Racional, oh, Dios mío!
¡Como si algo fuera racional!
Y, ¿qué nuevos paisajes m al tocados al piano?
¡La música!... ¡La música...!

173 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


C om eça a haver m e ia -n o ite , e a haver sossego,
p o r toda a parte das casas sobrepostas,
os andares vários da acum ulação da v id a...

Calaram o p iano n o terceiro an d ar...


5 N ão o iço já passos n o segundo an d ar...
N o r é s-d o -c h ã o o rádio está em silê n c io ...

Vai tu d o d o rm ir...

Fico sozin h o com o universo in teiro .


N em quero ir à janela:
io se eu olhar, que de estrelas!
Q u e grandes silên cios m aiores há n o alto!
Q u e céu a n ti-cita d in o !...

A ntes, recluso
n u m desejo de não ser recluso,
15 escuto ansiosam ente os ruídos da ru a...
U m autom óvel! — dem asiado rápido! —,
os dup los passos em conversa fa la m -m e...
o som de u m p ortão que se fecha brusco d ó i-m e .

Vai tud o d o r m ir ...

20 Só eu velo, son olen tam en te escutando,


esperando
qualquer coisa antes que d u rm a...
Q u alq uer c o isa ...

174 POESÍA VI
Em pieza a ser m edia noche, a haber sosiego,
por todas partes, en casas superpuestas,
los variados pisos que acum ulan la vida...

Acallaron el piano en el tercero...


5 Ya no oigo pasos en el segundo piso...
En el bajo la radio está en silencio...

Todo va ya a dormirse...

Me quedo solo con el universo.


N o quiero ni acercarme a la ventana
10 pues, si mirara, ¡qué cantidad de estrellas!
¡Y qué grandes silencios m ayores en lo alto!
¡Y qué cielo antiurbano!...

N o , mejor, recluido
en un deseo de no ser recluso,
15 escucho ansioso el ruido de la calle...
Un autom óvil -¡dem asiado rápido!-.
Dobles pasos de charla que m e hablan ...
Y el sonido brusco de un portón que se cierra de golpe y que
[m e duele...

Todo va ya a dormirse...

20 Y tan sólo yo velo, som noliento, escuchando...


Esperando algo,
cualquier cosa, antes de dormir...
Algo, cualquier cosa...

175 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


D o m in g o irei para as hortas na pessoa dos outros,
con ten te da m inh a an on im id ad e.
D o m in g o serei feliz — eles, e le s...
D o m in g o ...
5 H o je é a q u in ta-feira da sem ana que não tem d o m in g o ...
N en h u m d o m in g o ...
N u n ca d o m in g o ...
Mas sem pre haverá alguém nas hortas n o d om in go que vem .
A ssim passa a vida,
io sobretudo para quem sente,
m ais ou m en os para quem pensa:
haverá sem pre alguém nas hortas ao d o m in g o ...
N ão n o n osso d om in go,
não n o m eu d om in go,
15 não n o d o m in g o ...
Mas sem pre haverá ou trem nas hortas e ao d o m in g o ...

176 POESÍA VI
Iré el dom ingo a las huertas en la persona de otros,
contento de ir así, en m i anonimia.
Seré feliz el dom ingo -e llo s, ellos...
El dom ingo...
5 h oy es jueves, pero de esa semana que no tiene dom ingo...
D om ingo no, ninguno...
D om ingo nunca, nunca...
Pero siempre habrá alguien en las huertas el domingo que viene.
Así pasa la vida,
10 y sobre todo para aquel que siente,
y m is o m enos para aquel que piensa:
siempre habrá de haber alguien el dom ingo en las huertas...
N o en nuestro domingo,
no en el m ío, no,
15 no en dom ingo...
Pero, en cambio, en las huertas y el dom ingo habrá otros
[siempre...

177 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


H á tanto tem po que não sou capaz
de escrever u m p oem a extenso!
H á a n o s...

Perdi a virtude do desenvolvim ento rítm ico


5 em que a ideia e a form a,
n um a u nid ade de corpo com alma,
u n án im em en te se m o v ia m ...

Perdi tud o que m e fazia con scien te


de um a certeza qualquer n o m eu se r...
io H o je o que m e resta?
O sol que está sem que eu o cham asse...
O dia que m e não custou esfo r ço ...
U m a brisa, ou a festa de um a brisa,
que m e dão um a con sciên cia do a r...
15 E o egoísm o d om éstico de não querer mais nada.

Mas, ah!, m inh a Ode Triunfal,


o teu m ovim ento rectilíneo!
A h, m in h a Ode Marítima,
a tua estrutura geral em estrofe, antiestrofe e épodo!
20 E os m eus planos, então, os m eus p lanos —
esses é que eram as grandes odes!
E aquela, a últim a, a suprem a, a im possível!

178 POESÍA VI
¡Hace ya tanto que no soy capaz
de escribir un poema extenso!...
¡Hace ya tantos años!...

Perdí la virtud propia del desarrollo rítm ico


5 en donde idea y forma,
com o una unidad de cuerpo y alma,
se iban m oviendo de m anera unánim e...

Perdí cuanto m e hacía ser consciente


de una certeza cualquiera en m i ser...
10 Así, hoy, ¿qué m e queda?
El sol, que está sin llam arlo yo ...
El día, que no m e cuesta esfuerzo alguno...
Una brisa, o la fiesta de una brisa,
las que m e dan una conciencia de aire...
15 Y aún el doméstico egoísm o de no tener ningún otro deseo.

Pero, ¡ah! ¡mi O da T r iu n fa l,

con tu m ovim iento rectilíneo!


¡Ah, m i O da M a r ítim a ,

con tu estructura general de estrofa, antistrofa y épodo!


20 ¡Y m is planes, entonces, sí, m is planes,
esos que eran ya las grandes odas!
¡Y aquélla, la últim a, y también la suprema, la imposible!

179 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Sem im paciência,
sem curiosidade,
sem atenção,
v e jo -o crochet que com ambas as m ãos com binadas
5 fazes.

V e jo -o do alto de u m m o n te in existente,
m alha após m alha form and o p a n o ...

Q u al é a razão que te dá en treten im en to


às m ãos e à alma essa coisa rala
io p or on d e se p o d e m eter u m fósforo apagado?
Mas tam bém ,
qual é a razão que assiste a eu te criticar?

N en h u m a.
Eu tam bém ten h o u m crochet.
15 Data de desde quando com ecei a p en sa r...
Malhas sobre m alhas form and o u m tod o sem to d o ...
U m p ano que não sei se é para u m vestido o u p ’ra nada,
um a alma que não sei se é para sentir ou v iver...
O lh o -te com tanta atenção
20 Q u e já n em d ou p o r t i...

Crochet, almas, filo so fia ...


Todas as religiões do m u n d o ...
T udo quanto nos entretém ao serão de serm o s...
D o is m arfins, um a volta, o silê n c io ...

180 POESÍA VI
Sin ninguna impaciencia,
sin curiosidad,
sin atención,
veo el cro ch et que con ambas m anos, combinadas,
5 tú haces.

Lo veo desde aquí, desde lo alto de una m ontaña inexistente;


nudo a nudo se va formando el paño...

¿Cuál es la razón que así entretiene


tu m ano y tu alma, esa cosa rala
10 por la que entra un fósforo apagado?
Pero, también,
¿cuál es la razón que a m í m e asiste para criticarte?

N inguna.
Yo tam bién tengo un c r o c h e t.

15 Data del tiem po en que empecé a pensar...


N ud o tras nudo, sí, para ir form ando com o un todo sin todo...
Este paño, no sé si para un vestido o para nada,
esta alma, no sé si para sentir o ya vivir...
Y yo te m iro con tal atención
20 que n i m e doy cuenta ya de ti...

C ro ch et y almas y filosofía...
Todas las religiones de este m undo...
Cuanto nos entretiene la velada de ser...
Dos hileras más, vuelta, y silencio...

181 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


— O sen h or en gen h eiro não con h ece aquela cantiga?
— Q u al cantiga, m u lh e r ? ...
— A quela m uito antiga. Então não con h ece?
A quela que é assim —
Toda esta n o ite ch oveu ...
— Sim , le m b ro -m e, va i-te em bora!

— Sim , lem b ro -m e.
S ei lá se m e lem b ro.
S ei que m e lem b ro agora.
Sei que m e lem b ro agora de toda a vida possível,
a verdadeira, a essen cial...
A quela em que
toda a n o ite choveu
nas gargulinhas da praça...
Sei lá (ó m eu coração) o que são gargulinhas da praça!
Mas que m u s iq u e d e f o n d de tod os os seres
M e fo i esta cantiga?
C o m que então
toda a n o ite choveu
nas gargulinhas da praça...

E eu aqui, eu aqui, eu aqui,


tão d efinitivam ente aqui!
T ão irrem ediavelm ente aqui!
O n d e é que está essa praça?
O n d e é que está essa n o ite?
O n d e é que está essa chuva?
E tu, Senhora D . Maria,
e tu, e tu, b oq u in h a de cravo roxo?
T en h o passado p or m uitos cansaços

POESÍA VI
¥
g>"

-S e ñ o r ingeniero ¿no conoce aquel canto?


-¿Q u é canto, mujer?...
-A q uél tan antiguo. Pero, ¿no lo conoce?
Ése que es:
5 Llovió toda la noche...
-S Í, m e acuerdo, ¡ve!

- S í, m e acuerdo.
Mas, ¿qué sé si m e acuerdo?
Sí, m e acuerdo ahora.
10 Sé que ahora recuerdo toda vida posible,
sí, la verdadera, la esencial...
Aquélla en que
llovió toda la noche
en los canalones de la plaza...
15 ¡Y yo qué sé (oh , m i corazón) qué son los canalones de la plaza!
¿Qué m u s i c j u e d e f o n d de los seres todos
fue para m í ese canto?
Conque, entonces,
llovió toda la noche
20 en los canelones de la plaza...

¡Y yo aquí, sí, yo aquí, yo aquí!


¡Tan definitivam ente aquí!
¡Tan irremediablemente aquí!
Y, ¿dónde está esa plaza?
25 Y, ¿dónde está esa noche?
Y, ¿dónde está esa lluvia?
¿Y dónde estás tú, doña María,
tú y tu boquita de clavel carmín?
He ido pasando por m uchos cansancios

183 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


30 ch eios de vagas esperanças de u m futuro qualquer.
T en h o d orm id o m uitas vezes
ao relen to de todos os so n h o s...
T en h o sido in ú til, fruste, in con gru en te —
com o isso que está aí fora e é a vida.
35 T en h o sido estes nadas fúteis.

S enhora D . Maria,
quando eu u m dia te encontrasse
ah, quanto te amaria!
E com quanto am or de tod os os que amaram sem futuro!
40 Mas quando é que chove toda a n o ite
nas gargulinhas da praça?
Q u a n d o ? E o n d e? o n d e?
B oq u in h a de cravo roxo?

Eras tu, eras tu, aquela que sem pre amei!


45 Mas não sabia o teu n o m e — s e i-o agora.
N ão sabia com o eras — s e i-o agora...
S en hora D . Maria,
b oq u in h a de cravo roxo,
já te con h eço m elh or, mas não estou mais p erto de ti.
50 P erco -te mais p orq ue te con h eci.

184 POESÍA VI
30 todos llenos de vagas esperanzas de un futuro cualquiera,
m e dorm í m uchas veces
al relente de todos los sueños...
He sido inútil, tosco, incongruente
com o lo de ahí afuera que es la vida.
35 Eso es lo que he sido, estas fútiles nadas.

¡Ay, doña María,


si te encuentro un día
cuánto te amare!
¡Y con cuánto am or de todos esos que han amado siempre sin
[futuro!
40 ¿Cuándo llueve toda, sí, toda la noche
en los canelones de la plaza?
¿Cuándo? ¿Y dónde? ¿Dónde,
boquita de clavel color carmín?

¡Eras tú, tú eras la que siempre ame!


45 N o sabía tu nombre - l o sé ah ora-.
N o sabía cóm o eras - l o sé ah ora-...
TÚ, doña María,
boquita de clavel color carmín,
te conozco ya algo mejor, pero no estoy más cerca de ti.
50 Y más te pierdo, pues te conocí.

185 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


D obrada à m oda do P orto

U m dia, n u m restaurante, fora do espaço e do tem po,


serviram -m e o am or com o dobrada fria.
D isse d elicadam ente ao m ission ário da cozinha
que a p referia quente,
5 que a dobrada (e era à m oda d o P orto) n un ca se com e fria.

Im pacientaram -se com igo.


N u n ca se p o d e ter razão, n em n u m restaurante.
N ão com i, não p ed i outra coisa, paguei a conta
e vim passear para toda a rua.

io Q u em sabe o que isto quer dizer?


Eu não sei, e fo i c o m ig o ...

(Sei m uito bem que na infância de toda a gente houve um


[jardim,
particular ou p ú b lico, ou do vizinh o.
Sei m u ito b em que brincarm os era o d o n o dele.
15 E que a tristeza é de h o je ).

S ei isso m uitas vezes,


mas, se eu p ed i am or, p orq u e é que m e trouxeram
dobrada à m oda do Porto fria?
N ão é prato que se possa com er frio,
20 mas trou xeram -m e frio.
N ão m e queixei, mas estava frio,
n u n ca se p o d e com er frio, mas veio frio.

186 POESÍA VI
Callos a l e s t il o d e O porto

Un día, en un restaurant, fuera del espacio y del tiem po,


me sirvieron am or com o callos fríos.
Dije educadamente al encargado
que los prefería bien calientes,
que los callos ( y eran al estilo de Oporto) nunca se com en fríos.

Se irritaron m ucho contra m í.


N o es posible jamás tener razón, ya ni siquiera en el restaurant.
N i com í ni pedí ya nada más, luego pagué la cuenta
y m e fui de paseo por la calle.

¿Quién sabe lo que esto significa?


N o sé, pero eso tuvo m ucho que ver conm igo...

(Sé m uy bien que en la infancia de los hombres siempre ha


[habido u n jardín,
particular o público, o el de su vecino.
Sé m uy bien que su gracia era jugar,
y sé que lo de h oy es la tristeza).

SÍ, sé eso de sobra,


mas, si yo pedí amor, ¿por qué trajeron
aquellos callos fríos al estilo de Oporto?
N o es plato que se pueda com er frío,
pero a m í así m e lo trajeron.
N o m e quejé, pero es que estaba frío,
nunca se com e frío y vino frío.

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


V il e g ia t u r a

O sossego da n oite, na vilegiatura n o alto;


o sossego, que mais aprofunda
o ladrar esparso dos cães de guarda na n oite;
o silen cio , que mais se acentua,
5 porque zum be ou m urm ura um a coisa nenhum a n o escu ro...
A h, a opressão de tudo isto!
O p rim e com o ser feliz!
Q u e vida idílica, se fosse outra pessoa que a tivesse
com o zum bido ou m u rm ú rio m o n ó to n o de nada
10 sob o céu sardento de estrelas,
com o ladrar dos cães p olvilh and o o sossego de tudo!

V im para aqui repousar,


mas esq u eci-m e de m e deixar lá em casa.
Trouxe com igo o esp in h o essencial de ser con scien te,
15 avaga náusea, a doença incerta, de m e sentir.
S em pre esta inquietação m ord ida aos bocados
com o pão ralo escuro, que se esfarela caind o.
Sem pre este m al-estar tom ad o aos maus haustos
com o um v in h o de bêbado quando n em a náusea obsta.
20 Sem pre, sem pre, sem pre
este d efeito da circulação na própria alma,
esta lip o tim ia das sensações,
isto ...

188 POESÍA VI
Ve r a n e o

El sosiego nocturno, vacación en lo alto;


el sosiego que ahonda
con el ladrar disperso de los perros, vigilando en la noche;
acentuado silencio
5 porque hay algo que zum ba o susurra en lo oscuro...
¡Ah, y la opresión de todo eso,
que oprim e tanto com o ser feliz!
¡Qué idílica vida, si fuera otro el que la tuviera
bien con el zum bido o con el m onótono susurro de nada
10 por debajo de un cielo pecoso de estrellas,
y el ladrar de los perros, espolvoreando el sosiego de todo!

Yo vine aquí para reposar,


pero m e olvidé dejarme en casa.
He traído conm igo la espina esencial de ser consciente,
15 traje esa vaga náusea, la enfermedad incierta, de sentirme.
Y siempre esta inquietud m ordida a trozos
com o pan ralo oscuro que desmiga cayendo.
Siempre u n m alestar que se digiere entre los malos tragos,
al igual que un vino de borracho que no nos im pide tragarnos
[la náusea.
20 Siempre, siempre, siempre.
Siempre este defecto de la circulación en nuestra alma,
la lipotim ia de las sensaciones,
esto, esto siempre...

189 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Tuas m ãos esguias, u m p o u co pálidas, u m p o u co m inhas,
25 estavam naquele dia quietas p elo teu regaço de sentada,
com o e on d e a tesoira e o dedal de um a outra.
Cismavas, o lh a n d o -m e , com o se eu fosse o espaço.
R ecordo para ter em que pensar, sem pensar.
D e repente, n u m m eio suspiro, in terrom p este o que estavas
[sendo.
30 O lhaste con scien tem en te para m im , e disseste:
« te n h o p en a que tod os os dias não sejam assim » —
assim, com o aquele dia que não fora n ad a...

A h, não sabias,
felizm en te não sabias,
35 que a p en a é tod os os dias serem assim, assim;
que o m al é que, feliz ou in feliz,
a alma goza ou sofre o ín tim o téd io de tudo,
con scien te o u in co n scien tem en te,
p en san d o ou p o r pensar —
40 que a p en a é essa...
L em bro fotograficam ente as tuas m ãos paradas,
m o lem en te estendidas.
L em b ro -m e, neste m o m e n to , mais delas d o que de ti.
Q u e será feito de ti?
45 Sei que, n o form idável algures da vida,
casaste. C reio que és m ãe. Deves ser feliz.
P orque o não haverias de ser?

Só p or m aldad e...
Sim , seria in ju sto ...
50 Injusto?

(Era u m dia de sol p elos cam pos e eu dorm itava, so rrin d o ).

190 POESÍA VI
(Y tus m anos delgadas, algo pálidas, sí, y un poco mías,
25 que se encontraban aquel día quietas - t u sentada a h í-, en tu
[regazo,
dispuestas com o y donde las tijeras y el dedal de otra.
Cavilabas, m irándom e, tal com o si yo fuera el espacio.
Recuerdo para tener en qué pensar, pero sin pensar.
Y de repente, en un m edio suspiro, interrumpiste lo que estabas
[siendo,
30 m e miraste consciente y m e dijiste:
«Siento m ucha pena de que todos los días no sean así».
Tal com o era aquel día, ese que no había sido nada...

Ah, y tú no sabías,
afortunadamente no sabías,
35 que la pena sin duda es que todos los días sean así, así;
que lo m alo, feliz o infelizm ente,
es que nuestra alma goza o, al contrario, que íntimam ente sufre
[el tedio de todo,
sea consciente o inconscientem ente,
pensando o todavía por pensar.
40 SÍ, que la pena es ésa...
Pero ahora recuerdo fotográficam ente tus m anos paradas,
laxam ente extendidas.
SÍ, m e acuerdo, ahora m ism o, de ellas más que de ti.
Pues, de ti, ¿qué se ha hecho?
45 Sé que, en el formidable azar de la vida decidiste casarte.
Y creo que eres madre. Sin duda eres feliz.
¿Por qué no ibas a serlo?

Por maldad solam ente...


Sería injusto...
50 ¿Injusto?).

—Era un día de sol sobre los campos mientras yo dormitaba,


[sonrien d o-.

191 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


A vida...
Branco ou tinto, é o m esm o: é para vom itar.

192 POESÍA VI
La vida...
Blanco o tinto; pero es lo mismo: para vomitar.

193 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


D ep us a máscara e v i-m e ao e s p e lh o ...
Era a criança de há quantos a n o s...
N ão tinh a m udado n ad a...

É essa a vantagem de saber tirar a máscara.


5 Ê -se sem pre a criança,
o passado que fica,
a criança.

D ep u s a máscara e to rn ei a p ô -la .
A ssim é m elh or,
io A ssim sou a máscara.

E volto à norm alid ade com o a u m térm in us de lin h a.

194 POESÍA VI
Me levanté la máscara y m e m iré al espejo...
Era aquel niño de hace cuántos años...
N o cambiaba nada...

Esa es la ventaja cuando uno sabe desenmascararse.


5 Se es siempre ese niño,
el pasado que queda,
sí, el niño.

Me levanté la máscara, y volví a ponérm ela de nuevo.


Así está mejor.
10 Así soy yo, la máscara.

Y así regreso a la norm alidad com o se vuelve a un final de línea.

195 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


... C o m o , n os dias de grandes acon tecim en tos n o centro
[da cidade,
n o s bairros q uase-excêntricos as conversas em silen cio ás
[portas —
a expectativa em g r u p o s...
N in g u é m sabe nada.
5 Leve rastro de b risa ...
coisa n en h u m a que é real
e que, com u m afago o u u m sopro,
toca o que há até que seja...
M agnificencia da n atu ralid ad e...
io C oração...
Q u e A fricas inéditas em cada desejo!
Q u e m elh ores coisas que tu d o lá longe!

M eu cotovelo toca n o da vizinha do eléctrico


com um a involuntariedade fruste,
15 cu rto-circu ito da p ro x im id a d e...
Ideias ao acaso
com o u m balde que se e n to r n o u ...

F ito -o : é u m balde en to rn a d o ...

Jaz: ja z o ...

196 POESÍA VI
... Como pasa en los días de grandes sucesos en la parte central
[de la ciudad,
y en los barrios casi-periféricos, las conversaciones en silencio,
[en las puertas,
esperando, en grupos...
N adie sabe nada.
5 Leve rastro de brisa...
ahí nada es real,
mas con una caricia o con un soplo
roza lo que hay, hasta que sea...
M agnificencia de lo natural, de lo natural...
10 El corazón...
¡y qué inéditas Áfricas en cada deseo!
¡ni qué mejor cosa que todo allá lejos!

M i codo roza el de la vecina del tranvía


de m anera algo tosca, involuntaria,
15 cortocircuito de lo próxim o...
cierta idea al acaso,
igual que un cubo que se vació...

Lo contemplo: es un cubo vacío, sí, un cubo...

El yace: yo yazgo...

197 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


D ep o is de não ter d orm id o,
d ep ois de já não ter son o ,
interm inável m adrugada em que se pensa sem pre sem se
[pensar,
vi o dia vir
5 com o a p io r das m aldições —
a con d en ação ao m esm o.

C o n tu d o , que riqueza de azul verde e am arelo dourado de


[verm elho
n o céu eternam ente lo n g ín q u o —
nesse o rien te que estragaram
io d izend o que vêm de lá as civilizações;
nesse orien te que n os roubaram
com o C o n to do V igário dos m itos solares,
m aravilhoso orien te sem civilizações n em m itos,
sim p lesm en te céu e luz,
15 m aterial sem m aterialidad e...
T od o luz, m esm o assim
a som bra, que é a luz da n o ite dada ao dia,
en ch e p or vezes, irresistivelm ente natural,
o grande silên cio do trigo sem v en to ,
20 o verdor esbatido dos cam pos afastados,
a vida e o sen tim en to da vida.
A m anhã in u n d a toda a cidade.
M eus olh os pesados do so n o que não tivestes,
que am anhã inundará o que está p or trás de vós.
25 Q u e é vós,
que sou eu?

198 POESÍA VI
Tras no haber dormido,
y después de ya no tener sueño,
en la interm inable madrugada en que siempre se piensa sin
[pensar,
vi venir el día
5 com o la peor de las maldiciones:
la condena a lo m ismo.

N o obstante, qué riqueza de azul verde y de un am arillo dorado


[de rojo
en el cielo rem oto eternamente,
en ese oriente que han arruinado
10 al decirnos que vienen de allí todas las civilizaciones;
en ese oriente que nos han robado
con el viejo cuento de los m itos solares,
maravilloso oriente sin civilizaciones y sin m itos,
tan sólo lu z y cielo,
15 m aterial sin m aterialidad...
Todo luz y aun así
la sombra, que es la lu z que la noche da al día,
y que algunas veces está llena, irresistiblem ente natural,
ese gran silencio del trigo sin viento,
20 verdor atenuado de los campos lejanos,
la vida y el sentim iento de la vida.
La m añana inunda la ciudad,
y m e pesan los ojos por el sueño que no has tenido.
Ese que mañana inundará lo que ahora aún se encuentra
[detrás de vosotros.

25 Sí, pero, ¿qué es vosotros?


¿Qué soy yo?

199 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


E d eito u m cigarro m eio fum ado fora
para irrem ediavelm ente acender um novo cigarro

im paciente até à angústia,


com o q uem espera n um a estação dos arredores
5 o com b oio que h á -d e trazer ah tão talvez, quem talvez venha

200 POESÍA VI
Y tiro un pitillo a m edio fumar
para luego encender, irremediablemente, un nuevo pitillo.

Me encuentro impaciente hasta la angustia,


al igual que el que espera, en cualquier estación de los
[alrededores,
5 al tren que ha de traer, ¡ah, tan tal vez!, a ese que tal vez venga.

201 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


L À -B A S , JE N E SAIS O Ü ...

V éspera de viagem , cam p ainh a...


N ão m e sobreavisem estridentem ente!

Q u ero gozar o repouso da g a r e da alma que ten h o


antes de ver avançar para m im a chegada de ferro
3 do co m b o io d efinitivo,
antes de sentir a partida verdadeira nas goelas do estôm ago,
antes de p ô r n o estribo u m pé
que n un ca aprendeu a não ter em oção sem pre que teve que
[partir.

Q u ero , neste m o m en to , fum and o n o apeadeiro de hoje,


to estar ainda um bocado agarrado à velha vida.
V ida in ú til, que era m elh or deixar, que é um a cela?
Q u e im porta? T od o o universo é um a cela, e o estar preso
[não tem que ver com o tam anho da cela.
S ab e-m e a náusea próxim a o cigarro. O com b o io já partiu
[da outra estação...
A deus, adeus, adeus, toda a gente que não veio d esp ed ir-se
[de m im ,
15 m in h a fam ília abstracta e im p ossível...
A deus dia de h oje, adeus apeadeiro de h oje, adeus vida,
[adeus vida!
Ficar com o u m volu m e rotulado esquecido,
ao canto do resguardo de passageiros do ou tro lado da linha.
Ser en con trad o p elo guarda casual d ep ois da partida —.

202 POESÍA VI
LÀ-BA S, JE N E SAIS O U ...

Vísperas de viaje, y ahora el timbre,...


¡no m e aviséis tan estridentemente!

Quiero gozar del reposo de la g a r e del alma que tengo


antes de contem plar cóm o avanza hacia m í la llegada de hierro
5 del que va a ser el tren definitivo,
antes de que sienta la salida justo en la boca del estómago,
y de poner en el estribo un pie
que no ha aprendido nunca a no sentir em oción cuando tuvo
[que partir.

Quiero, en este m omento, aquí, en el apeadero de hoy, fumando,


lo continuar, todavía, algo agarrado a la vieja vida.
¿A esa vida inútil que sería quizá m ucho mejor abandonar, y
[que es una celda?
Pero eso, ¿qué importa? Todo el universo es una celda, de
[manera tal que el estar preso nada tiene que ver
[con el que sea finalm ente el tamaño de la celda.
Me sabe a náusea próxim a el cigarro. Y el tren ya ha salido de la
[otra estación...
¡Adiós, adiós, adiós, a todos esos que no han acudido a
[despedirme,
15 a m i fam ilia abstracta e imposible...
¡Adiós día de hoy, apeadero de hoy, adiós vida, adiós vida!
Y quedarme aquí quieto com o un bulto rotulado, olvidado,
en un rincón del hogar de pasajeros que hay al otro lado de la
[vía.
Y ser hallado casualm ente por el guarda, ya después de partir.

203 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


20 « E esta? Então não houve u m tipo que deixou isto a q u i? » —
Ficar só a pensar em partir,
ficar e ter razão,
ficar e m orrer m e n o s...

V ou para o futuro com o para u m exame d ifícil.


25 Se o co m b o io n un ca chegasse e D eu s tivesse pena de m im ?

Já m e vejo na estação até aqui sim ples m etáfora.


S ou um a pessoa p erfeitam en te apresentável.
V ê -se — dizem — que ten h o vivido n o estrangeiro.
O s m eus m od os são de h o m e m educado, evidentem en te.
30 Pego na mala, rejeitando o m o ço , com o a u m vício vil.
E a m ão com que pego na m ala tre m e -m e e a ela.

Partir!
N u n ca voltarei.
N u n ca voltarei p orq ue n un ca se volta.
35 O lugar a que se volta é sem pre ou tro,
a g a r e a que se volta é outra.
Já não está a m esm a gente, n em a m esm a luz, n em a m esm a
[filosofia.

Partir! M eus D eus, partir! T enh o m ed o de p a rtir!...

204 POESÍA VI
20 -« ¿ Y ésta? ¿No hubo un tipo que se dejó esto a q u í? » -.
Quedarme sólo pensando en el partir,
pero quedarme y tener razón,
quedarme y m orir m enos...

Voy al futuro tal com o se va a un difícil exam en.


25 ¿Si el tren nunca llegara y Dios tuviera lástim a de mí?

Ya m e veo ahí en la estación, que hasta aquí sólo fue simple


[metáfora.
Soy perfectamente presentable,
se ve - d ic e n - que viví en el extranjero.
Mis m odales son propios de un hombre educado, desde luego.
30 Cojo ya la maleta, rechazando al m ozo com o a u n vicio vil.
Y la m ano con que cojo la m aleta hace que tem blem os ella y yo.

¡La salida!
N un ca volveré.
N u n ca volveré, precisam ente porque nunca se vuelve.
35 El sitio al que se vuelve es siempre otro,
la g a r e a que se vuelve es siempre otra.
Pues allí ya no está la m ism a gente, n i hay al regresar la m ism a
[luz, n i es ya la m ism a la filosofía.

¡Partir! ¡Partir, D ios mío! ¡Tengo miedo!...

205 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


N a véspera de não partir nunca
ao m en os não há que arrum ar malas
n em que fazer p lanos em papel
com acom panham ento involu ntário de esqu ecim entos,
5 para a parte ainda livre do dia seguinte.

N ão há que fazer nada


na véspera de não partir n unca.

G rande sossego de já não haver sequer


de que ter sossego!
io G rande tranquilidade a que n em sabe en co lh er om bros
p or, p obre téd io, ter passado o téd io
e ter chegado deliberadam ente a nada.
G rande alegria de não ter precisão de ser alegre,
com o um a op ortu n id ad e virada do avesso.

15 H á quantos m eses vivo


a vida vegetativa do p ensam ento!
T od os os dias s in e li n e a ...

Sossego, sim , sossego...


G rande tran q u ilid ad e...
20 Q u e repou so, d ep ois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
Q u e p o d er olhar para as malas fechadas com o para nada!
D orm ita, alma, dorm ita!
A proveita, dorm ita!
D orm ita!

25 É p o u co o tem po que tens! D orm ita.


E a véspera de não partir n u n ca !...

206 POESÍA VI
En la víspera de no partir nunca
por lo m enos no hay que hacer maletas
ni tampoco planes en papel,
involuntario acompañar de olvidos
5 hacia la parte aún libre del que será el siguiente día.

Pues no hay que hacer nada


en esa víspera de no partir nunca.

¡Gran sosiego de ya no haber siquiera


de qué sosegarse!
10 Gran tranquilidad la que n i sabe encogerse de hombros
por, pobre tedio, haber pasado el tedio
y haber llegado deliberadamente a nada.
Y gran alegría que no haya la necesidad de estar alegre,
oportunidad vuelta al revés.

15 ¡Ah, cuántos meses hace ya que vivo


la vida vegetativa del pensar!
Un día tras otro s i n e l i n e a . . .

Sosiego, sí, sosiego...


Y también una gran tranquilidad...
20 ¡Qué reposo, después de tantos viajes, físicos y psíquicos!
¡Qué poder ya m irar las maletas cerradas com o mirando a nada!
¡Dormita, alma, dormita!
¡Aprovecha y dormita!
¡Sí! ¡Dormita!

25 ¡Dormita, que ya es poco el tiem po que tienes!


¡Que h oy es la víspera de no partir nunca!...

207 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


O que há em m im é sobretudo cansaço —
não disto n em daquilo,
n em sequer de tudo ou de nada:
cansaço assim m esm o, ele m esm o,
cansaço.

A subtileza das sensações in úteis,


as paixões violentas p or coisa n en hu m a,
os am ores in ten sos p or o suposto em alguém ,
essas coisas todas —
10 essas e o que falta nelas etern am ente —;
tud o isso faz u m cansaço,
este cansaço,
cansaço.

H á sem dúvida quem am e o in fin ito ,


15 há sem dúvida quem deseje o im possível,
há sem dúvida quem não queira nada —
três tipos de idealistas, e eu n en h u m deles:
p orq u e eu am o in fin itam en te o fin ito ,
p orq u e eu desejo im possivelm ente o possível,
20 p orq ue quero tud o, ou u m p ou co mais, se puder ser,
ou até se não p ud er se r...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
para eles o so n h o son had o o u vivido,
25 para eles a m édia entre tu d o e nada, isto é, is t o ...
Para m im só u m grande, u m p rofu n d o,
e, ah com que felicidade in fe cu n d o , cansaço,
u m suprem íssim o cansaço,

208 POESÍA VI
Eso que hay en m í sobre todo es cansancio
- n o de esto o de aquello,
ni de todo o de nada tan siquiera:
cansancio, sí, así m ism o y en sí m ism o,
5 cansancio.

La sutileza propia de las sensaciones inútiles,


las violentas pasiones sin objeto,
los amores intensos por lo supuesto en alguien,
sí, todas esas cosas
10 -ésa s y lo que en ellas falta, etern am ente-,
eso hace un cansancio,
este cansancio,
éste.

Hay sin duda quien ame lo infinito,


15 hay sin duda quien quiera lo imposible,
hay sin duda quien no desee nada
-tr e s tipos de idealistas; yo ninguno:
pues yo amo infinitam ente lo finito,
deseo im posiblem ente lo posible,
20 quiero todo, o algo más, si puede ser,
y hasta, incluso, si no puede ser...-.

Y así, ¿cuál es el resultado?


Para ellos la vida vivida o soñada,
para ellos el sueño soñado o vivido,
25 para ellos la m edia entre todo y nada, es decir, sí, esto ...
Y para m í tan sólo u n gran, un profundo,
y, ¡ah, qué felizm ente infecundo!, cansancio,
un cansancio supremo, supremísimo,

209 LOS POEMAS DE ALVARO 0E CAMPOS 4


íssim o, íssimo, issimo,
30 cansaço...

210 POESÍA VI
ísimo, ísimo, ísimo,
30 cansancio...

211 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


Tantos poem as con tem porâneos!
Tantos poetas absolutam ente de h oje —
interessante tud o, interessantes to d o s...
A b, mas é tud o q uase...
S E tu d o vestíbulo
é tudo só para escrever...
N em arte,
n em ciencia
n em verdadeira n ostalgia...
io Este o lh o u b em o relevo desse cip reste...
Esse viu b em o p o en te p o r trás do cip reste...
Este reparou b em na em oção que tu d o isso d a ria...
Mas d e p o is? ...
A b, m eus poetas, m eus poem as — e d epois?
15 O p io r é sem pre o d e p o is...
E que para dizer é preciso pensar —
pensar com o segundo p en sam en to —
e vocês, m eus velhos, poetas e poem as,
p en sam só com a rapidez prim ária da asneira — é [ ...] e da
[pena —

20 Mais vale o clássico segu ro,


mais vale o rom ân tico cantante,
mais vale qualquer coisa, ainda que má,
que os arredores in con stru íd os dum a qualquer coisa b o a ...
« T e n h o a m inh a alma!
25 N ão, não tens: tens a sensação dela.
C uidado com a sensação!
M uitas vezes é dos outros,
e m uitas vezes é nossa
só p elo acidente estonteado de a sen tirm o s...

192 POESÍA VI
¡Tantos poemas hay contemporáneos!
¡Tantos poetas que son del todo de hoy
-interesante, interesantes tod os...-!
¡Ah, pero todo es casi!...
5 SÍ, todo es vestíbulo,
todo sólo es para escribir...
N i arte,
ni ciencia
n i nostalgia auténtica...
10 Éste ha mirado bien el perfil del ciprés...
Éste vio el poniente por detrás del ciprés...
Éste se fijó bien en la em oción que daría todo eso...
Pero, ¿y después?...
¡Ah, poetas, poemas! - ¿ y después?-.
15 Pues lo peor siempre es el después,...
porque para decir es preciso pensar
-p en sar con el segundo p en sam ien to-,
y ustedes, amigos, poetas, poemas,
piensan tan sólo con la rapidez primaria de los asnos - e s [...] y
[de la p lu m a -

20 Más vale lo clásico seguro,


más vale lo rom ántico cantante,
más vale cualquier cosa, aun siendo mala,
que los alrededores inconstruidos de cualquier cosa buena...
«¡Yo tengo m i alma!»
25 N o la tienes: tienes su sensación.
Pero, ¡cuidado con la sensación!
M uchas veces ésa es de los otros
y otras m uchas es nuestra,
pero lo es tan sólo por el m ero accidente de sentirla...

213 LOS POEMAS OE ALVARO DE CAMPOS 4


Subiste à gloria pela escada abaixo.
Paradoxo? N ão: a realidade.
O paradoxo é o que é palavras;
a realidade é o que és.
5 Subiste p orq ue desceste.
Está b em .
A m anhã talvez eu faça a m esm a coisa.
Por ora, se calhar, in vejo -te,
não sei se te invejo a vitória,
io não sei se te invejo o con segu i-la,
mas realm ente creio que te a in vejo...
S em pre é v itó ria ...
Façam u m em b ru lho de m im
e d ep ois d eitem -m e ao rio.
15 E não esqueçam o « s e calhar» quando lá m e deitarem .
Isso é im portante.
N ão esqueçam o « s e calh ar».
Isso é que é im portante.
P orque tudo é se calhar...

214 POESÍA VI
Te subiste a la gloria escalera abajo.
¿Paradoja? N o: la realidad.
La paradoja es lo que es palabras,
Yla realidad es lo que es.
5 Subiste justo porque descendiste.
Así está bien.
Mañana tal vez haga lo m ism o.
Por ahora, a lo mejor, te envidio,
mas no sé si te envidio la victoria,
10 ni tampoco si envidio el conseguirla,
mas realm ente, creo que te envidio...
Al final, es victoria...
Haced de m í -un paquete,
echadme al río.
15 Pero, atención, no os olvidéis del «a lo m ejor» cuando m e echéis.
Eso es im portante.
N o os olvidéis de ese «a lo m ejor».
Eso sí es importante.
Porque todo es a lo mejor...

215 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


S ím b olos? E stou farto de sím b o lo s...
U n s d ize m -m e que tud o é sím b olo.
T od os m e dizem nada.

Q uais sím b olos? S o n h o s...


5 Q n e o sol seja u m sím b olo, está b e m ...
Q u e a lua seja u m sím b olo, está b e m ...
Q u e a terra seja u m sím b olo, está b e m ...
\M as quem repara n o sol senão quando a chuva cessa
e ele rom p e as nuvens e aponta para trás das costas
io para o azul do céu?
Mas quem repara na lua senão para achar
b ela a luz que ela espalha, e não b em ela?
Mas quem repara na terra, que é o que pisa?
C ham a terra aos cam pos, às árvores, aos m ontes
15 p or um a d im in u ição instintiva,
p orq u e o mar tam bém é terra...

B em , vá, que tud o isso seja sím b o lo s...


Mas que sím b olo é, não o sol, não a lua, não a terra,
mas neste p o en te p recoce e azu lan do-se m en o s,
20 o sol entre farrapos fin d o s de nuvens,
enquanto a lua é já vista, m ística, n o ou tro lado,
e o que fica da luz do dia
doira a cabeça da costureira que pára vagam ente à esquina
o n d e se demorava outrora (m ora p erto) com o nam orado
[que a deixou?
23 S ím b olos? N ão quero sím b o lo s...
Q u eria só — p obre figura de magreza e desam paro! —
que o nam orado voltasse para a costureira.

216 POESÍA VI
¿Símbolos? Estoy harto de símbolos ...
Unos m e dicen, sí, que todo es símbolo.
Todos m e dicen nada.

Mas, ¿qué símbolos? Sueños...


5 El que el sol sea sím bolo, está bien...
Que la luna sea sím bolo, está bien...
Que la tierra sea sím bolo, está bien...
Pero, ¿quién m ira el sol sino cuando cesa ya la lluvia
y él rom pe las nubes apuntando sobre la espalda
10 al azul del cielo?
¿Quién se fija en la lim a sino para encontrar
la bella luz que esparce, y no ella exactamente?
¿Quién se fija en la tierra, que no es nada más que lo que pisa?
Llama tierra a los campos, los árboles, los m ontes
15 por una dism inución que es instintiva,
porque sin duda el m ar también es tierra...

Bueno, vale, que eso sean símbolos...


¿Mas qué sím bolo es ya no el sol, o la luna, o la tierra,
sino, en este poniente tan precoz, azulándose m enos,
20 ese sol entre harapos deshilados de nubes,
mientras la luna ya se deja ver, mística, al otro lado,
y lo que queda de la lu z del día
dora ya el rostro de la costurera vagam ente parada en esa
[esquina
donde se demoraba (Vive cerca) con el novio aquel que la dejó?
25 ¿Símbolos?... Yo no quiero símbolos...
N o, yo quiero tan sólo -¡pobre figura de delgadez y desamparo!-
que vuelva el novio con la costurera.

217 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


(A memoria de Soame Jenyns,
lembrando depois de o poema escrito)

As vezes ten h o ideias felizes,


ideias subitam ente felizes, em ideias
e nas palavras em que naturalm ente se desp ejam ...

D ep o is de escrever, le io ...
5 P orque escrevi isto?
O n d e fu i buscar isto?
D e on d e m e veio isto? Isto é m elh or do que e u ...

Serem os n ós neste m u n d o apenas canetas com tinta


com que alguém escreve a valer o que n ós aqui
[traçam os?...

218 POESÍA VI
( A la memoria de SoameJenyns ,
recordado después de escribir elpoema)

Algunas veces tengo ideas felices,


sí, ideas felices de repente, en ideas
y en esas palabras en las cuales de una manera natural se vierten...

Después de escribir, leo...


5 ¿Por qué escribí esto?
¿Dónde fui a buscar esto?
¿De dónde vino esto? Si es mejor que yo...

¿No seremos nosotros en el m undo sino apenas plumas cargadas


[de tinta
con las que alguien escribe de verdad eso que nosotros trazamos
[aquí?

219 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


A li não havia electricidade.
Por isso fo i à luz de um a vela m ortiça
que li, in serto na cama,
o que estava à m ão para ler —
5 a Bíblia, em português porque (coisa curiosa!), eram
[protestantes.
E reli a P rim eira Epístola aos C orin tios.
Em torn o de m im o sossego excessivo das n oites de província
fazia u m grande barulho ao contrário,
dava-m e um a ten d ên cia do ch oro para a desolação,
io A P rim eira Epístola aos C o r in tio s...
R eli-a à luz de um a vela subitam ente antiquíssim a,
e u m grande m ar de em oção o u viu -se d en tro de m im ...

S ou n ad a...
S ou um a ficçã o ...
15 Q u e ando eu a querer de m im ou de tud o neste m u n d o ?
« S e eu não tivesse a ca r id a d e» ...
E a soberana luz m anda, d o alto dos séculos,
a grande m ensagem em que a alma é liv r e...
« S e eu não tivesse a c a r id a d e » ...
20 M eu D eus, e eu que não ten h o a carid ade!...

220 POESÍA VI
Allí no había electricidad.
Por eso al m ortecino resplandor de una vela
fue com o leí, embutido en la cama,
eso que estaba ahí para leer
- l a Biblia traducida al portugués; ¡cosa curiosa!: eran
[protestantes—.
Y releí la Primera Epístola a los Corintios.
En torno a m í el sosiego excesivo de las noches de provincia
hacía un gran ruido en sentido contrario,
poniéndome de un ánimo que iba desde el llanto a la desolación.
La Primera Epístola a los Corintios...
Yo la fui releyendo a la lu z de una vela de repente antiquísima,
y un gran m ar de em oción se podía oír en m i interior.

Soy nada...
una ficción...
¿Qué ando pretendiendo yo de m í, o de todo, en el mundo?
«Y si yo no tuviera caridad»...
La soberana voz que ahí nos envía, desde lo más rem oto de los
[siglos,
el gran mensaje en el que es libre el alma...
«Y si yo no tuviera caridad»...
¡Dios m ío, no tengo !...

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


H á m ais de m eia hora
que estou sentado à secretária
com o ú n ic o in tu ito
de olhar para ela.

5 (Estes versos estão fora do m eu ritm o.


Eu tam bém estou fora do m eu ritm o).

T in teir o (grande) à frente.


Canetas com aparos m en os à frente.
Mais para cá papel m u ito lim p o ,
io A o lado esquerdo u m volu m e da E n ciclop éd ia Britânica,
ao lado d ireito —
ah, ao lado direito! —
a faca de papel com que o n tem
não tive paciência para abrir com p letam en te
15 o livro que m e interessa e não lerei.

Q u em pudesse hipn otizar tud o isto!

226 POESÍA VI
Hace más de m edia hora
que m e he sentado al escritorio
con la intención exclusiva
de m irarlo.

(Estos versos están fuera de m i ritm o.


Yo también estoy fuera de m i ritm o).

(G ran) tintero delante,


y plumas con plum illas no tan adelante.
Más acá, papel limpio.
Al lado izquierdo un volum en de la Enciclopedia Británica,
y, al lado derecho
-¡a h , al lado derecho!-
ese abrecartas con que ayer
yo no tuve paciencia de abrir por completo
el libro que m e interesa y que no leeré.

¡Ah, quién pudiera hipnotizar todo esto!

LOS POEMAS DE ÁLVARO OE CAMPOS 4


N ão: devagar.
Devagar, p orq ue não sei
o n d e quero ir.
H á entre m im e os m eus passos
S um a divergência instintiva.

H á entre quem sou e estou


um a diferença de verbo
que corresp ond e à realidade.

D evagar...
io Sim , devagar...
Q u ero pensar n o que quer dizer
este devagar...

Talvez o m u n d o exterior tenha pressa de m ais.


Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
15 Talvez a im pressão dos m om en tos seja m u ito p ró x im a ...
Talvez isso tu d o ...
Mas o que m e preocupa é esta palavra: devagar...
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o u n iv erso ...
20 A verdade m anda D eu s que se diga.
Mas ouviu alguém isso a D eu s?

222 POESÍA VI
N o: despacio.
Despacio, pues no sé
dónde quiero ir.
Hay entre yo y mis pasos
5 una instintiva divergencia.

Entre quien soy y estoy


una diferencia de verbo
que corresponde a la realidad.

Despacio...
10 SÍ, despacio...
Y es que quiero pensar
lo que quiere decir este despacio...

Q uizá el m undo exterior tenga prisa de más.


Quizá el alma vulgar quiera llegar más pronto.
15 Quizá que la im presión de los m om entos se encuentre m uy
[próxima...
Quizá, sí, todo eso...
Mas lo que m e preocupa es la palabra despacio...
¿Qué es eso que ha de ser despacio?
A lo mejor es el universo...
20 La verdad, Dios manda que se diga,
pero, ¿le oyó eso alguien a Dios?

223 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


O s antigos invocavam as Musas.
N ós in v o ca m o -n o s a n ós m esm os.
N ão sei se as Musas apareciam —
seria sem dúvida con form e o invocado e a invocação —.
5 Mas sei que nós não aparecem os.

Q uantas vezes m e ten h o debruçado


sobre o p oço que m e su p on h o
e balido « U h ! » p ’ra ouvir um eco,
e não ten h o ouvido mais que o visto —
io o vago alvor escuro com que a água resplandece
lá na in utilidad e do fu n d o.
N en h u m eco para m im ...
Só vagam ente uma cara, que deve ser a m inha, p orque não
[pode ser de outro.
E um a coisa quase invisível,
15 excepto com o lu m in osam en te a vejo
lá n o fu n d o ...
N o silên cio e na luz falsa do fu n d o ...

Q u e M usa!...

224 POESÍA VI
Los antiguos invocaban a las Musas.
N osotros nos invocam os a nosotros.
N o sé si aparecían esas Musas
aunque debía haber correspondencia de lo invocado a la
[invocación-.
5 Pero nosotros no nos aparecemos.

¡Cuántas veces no m e habré asomado


al pozo que yo m ism o m e supongo
balando «¡uh!» para oír un eco,
y nunca he oído más que lo que he visto!
10 A saber, el vago albor oscuro con el cual el agua resplandece
en la inutilidad que es ese fondo.
N o hay un solo eco para mí...
Sólo, vagam ente, hay una cara; deberá ser la mía, dado que no
[puede ser de otro,
una cosa que es casi invisible
15 excepto a esa luz en que la veo,
sí, ahí, en el fondo...
en el silencio y la falsa lu z del fondo...

¡Ahí! ¡Vaya Musa!...

225 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


D ep o is de quando d eixei de pensar em depois
m in h a vida to r n o u -se mais calma —
isto é, m en os vida.
Passei a ser o m eu acom panham ento em surdina.

5 O lh o , do alto da janela baixa,


as garotas que dançam a brincar na rua.
O seu d estin o inevitável
d ó i-m e .
V ejo -lh o n o vestido entreaberto nas costas, e d ó i-m e .

io G rande cilin d ro, quem te m anda cilindrar esta estrada


que está calçada de almas?

(Mas a tua voz in te rr o m p e-m e


— voz alta, lá de fora, do jard im , rapariga —
e é com o se eu deixasse
15 cair irresolutam ente u m livro n o ch ã o ).

N ão terem os, m eu am or, nesta dança da vida


que fazem os p or brincadeira natural
as m esm as costas desabotoadas
e o m esm o d ecote a m ostrar-n os a p ele p o r cim a da camisa
[suja?

228 POESÍA VI
Después que dejé de pensar en después
m i vida se h izo más calma,
es decir, m enos vida.
Pasé a ser, en sordina, m i acompañamiento.

M iro, desde lo alto de la ventana baja,


a las niñas que bailan en la calle, jugando.
Su implacable destino,
que m e duele,
lo veo en su vestido entreabierto a la espalda.

Gran cilindro, ¿quién es el que te manda apisonar esta carretera


que está enteramente pavimentada de almas?

(M as tu voz m e interrumpe
- v o z alta, desde afuera, desde el jardín, m u ch ach a-,
y es com o si dejara
caer, irresoluto, un libro al suelo).

¿No tendrem os, amor, quizás en esta danza de la vida


que hacem os com o juego natural
la m ism a espalda desabotonada
y el m ism o escote mostrando nuestra piel sobre la sucia camisa
[que llevamos?

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Eu, eu m e sm o ...
Eu, ch eio de tod os os cansaços
quantos o m u n d o p o d e dar...
E u ...

A fin al tu d o, p orq ue tud o é eu,


e até as estrelas, ao que parece,
m e saíram da algibeira para deslum brar crianças.
Q u e crianças não s e i...
E u ...

Im p erfeito? In có g n ito ? D ivin o?


N ão se i...
E u ...

Tive u m passado? Sem dúvid a...


T en h o u m presen te? Sem dúvid a...
T erei u m fu tu ro? Sem dúvida,
ainda que pare de aqui a p o u c o ...
Mas eu, e u ...
Eu sou eu,
eu fico eu,
E u ...

POESÍA VI
Yo, yo m ism o, yo m ism o...
yo, lleno de todos los cansancios,
todos cuantos el m undo puede darnos...
yo...

Al final todo, porque todo es yo,


m e parece que hasta las estrellas
se m e han salido del bolsillo para deslumbrar a los
Qué niños no lo sé... no lo sé...
yo...

¿Imperfecto? ¿Incógnito? ¿Divino?


N o, no lo sé.
Yo...

¿He tenido un pasado? Sí, sin duda...


¿Tengo quizá un presente? Sí, sin duda...
¿Tendré yo un futuro? Sí, sin duda...
Aunque se detenga de aquí a poco ...
Pero yo, yo...
yo, soy yo,
yo sigo siendo yo, sí, sigo
yo...

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


N ão sei se os astros m andam n este m u n d o ,
n em se as cartas —
as de jogar ou as do Tarot —
p o d em revelar qualquer coisa.

S N ão sei se deitando dados


se chega a qualquer conclusão.
Mas tam bém não sei
se vivendo com o o com u m dos h om en s
se atinge qualquer coisa.

io Sim , n ão sei
se h e i-d e acreditar n este sol de tod os os dias,
cuja autenticidade n in g u ém m e garante,
o u se não será m elh or, p or m elh or ou p or mais cóm o d o ,
acreditar em qualquer ou tro sol —
15 ou tro que ilu m in e até de n o ite, —
qualquer p rofun did ad e lu m in osa das coisas
de que não percebo n a d a ...

Por en q u a n to ...
(vamos devagar)
20 p or enquanto
ten h o o corrim ão da escada absolutam ente seguro,
seguro com a m ão —
o corrim ão que m e não pertence
e apoiado ao qual ascen d o ...
25 S im ... A sc e n d o ...
A scen d o até isto:
não sei se os astros m andam neste m u n d o ...

232 POESÍA VI
N o sé si m andan los astros en el m undo,
ni si las cartas
—de jugar, o del T arot-
pueden revelarnos ciertas cosas.

5 N o sé si echando dados
se alcanza alguna conclusión.
Pero no sé tampoco
si viviendo com o hacen norm alm ente los hombres
se llega a alguna cosa.

10 SÍ, es que no sé
si he de creer en el sol de cada día,
de cuya autenticidad nadie responde,
o si quizá no será mejor, por mejor o más cóm odo,
dar en creer en cualquier otro sol
15 -o tr o que ilum ine hasta de n o c h e -
cualquier profunda lu z sobre las cosas
de las cuales nada se m e alcanza...

Mientras...
(Vamos despacio)
20 mientras
yo m antengo el pasamanos de la escalera bien sujeto,
firm em ente sujeto con la m ano
- e l pasamanos, que no m e pertenece,
pero apoyándome en el cual asciendo... —
25 Asciendo... sí...
hasta esto:
no sé si m andan los astros en el m undo...

233 LOS POEMAS OE ALVARO DE CAMPOS 4


Ah! Ser in diferente!
E do alto do p od er da sua in diferença
que os chefes dos chefes d om in am o m u n d o .

Ser alheio até a si m esm o!


5 E do alto do sentir desse alheam ento
que os m estres dos santos d om in am o m u n d o .

Ser esquecido de que se existe!


E d o alto do pensar desse esquecer
que os deuses dos deuses d om in am o m u n d o .

io (N ão ouvi o que d izias...


O u vi só a m úsica, e n em a essa o u v i...
Tocavas e falavas ao m esm o tem po?
Sim , creio que tocavas e falavas ao m esm o te m p o ...
C om quem ?
15 C om alguém em quem tud o acabava n o d o rm ir do m u n d o ...)

234 POESÍA VI
¡Ah! ¡Ser indiferente!
Ahí, desde la altura que da el poder de su indiferencia,
desde ahí los jefes de los jefes dom inan el m undo.

¡Enajenarse incluso de sí mismo!


5 Ahí, desde la altura que da el sentir de su enajenación,
desde ahí los maestros de los santos dom inan el m undo.

¡Olvidarse también de que se existe!


Ahí, desde la altura que nos da el pensar que contiene ese
[olvidar,
desde ahí los dioses de los dioses dom inan el m undo.

10 (N o oí qué decías...
Oí sólo la m úsica, y ni ésa oí...
¿O tocabas y hablabas todo al tiempo?
Sí, tocabas y hablabas todo al tiem po...
¿Con quién?
15 Con alguno en que el dormir del m undo es el final...).

235 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


R eg resso a o lar

H á quanto tem p o não escrevo u m son eto


mas não im porta: escrevo este agora.
S on etos são infância e, nesta hora,
a m in h a infância é só u m p o n to preto,

5 que n u m im ó b il e fú til trajecto


do co m b o io que sou m e deita fora.
E o son eto é com o alguém que m ora
há d ois dias em tudo que p rojecto.

Graças a D eus, ainda sei que há


i° catorze linhas a cum prir iguais
para a gen te saber o n d e é que está...

Mas on d e a gen te está, ou eu, não se i...


não quero saber m ais de nada mais
e berdam erda para o que saberei.

236 POESÍA VI
Re g r e so al hogar

¡Cuánto hace que no escribo yo un soneto!


Pero no importa, que éste escribo ahora.
Sonetos son infancia, y, a esta hora,
m i infancia es sólo un punto, negro, escueto,

5 que en lo fútil e inm óvil del trayecto


del tren que soy m e expulsa sin demora,
y el soneto es igual que uno que mora
hace dos días en cuanto proyecto.

Gracias a Dios que sé m uy bien que habrá


10 catorce líneas por cumplir, ¡a fe!,
y que la gente sepa en dónde está...

Mas dónde está la gente, o yo, no sé...


N o quiero saber más de nada ya.
Y a la mierda, por fin, lo que sabré.

237 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Sim , está tud o certo.
Está tudo p erfeitam en te certo.
O p io r é que está tu d o errado.
B em sei que esta casa é pintada de cinzen to
b em sei qual é o n ú m ero desta casa —
não sei, mas p od erei saber, com o está avaliada
nessas oficinas de im p ostos que existem para isto —
b em sei, b em se i...
Mas o p io r é que há almas lá dentro
e a T esouraria de Finanças não con seguiu livrar
a vizinha do lado de lh e m orrer o filh o .
A Repartição de não sei quê não p ôd e evitar
que o m arido da vizinha do andar mais acima lh e fugisse
[com a cu n h ad a...
Mas, está claro, está tu d o ce rto ...
E, excepto estar errado, é assim m esm o: está ce rto ...

POESÍA VI
Sí, todo es correcto.
Todo es correcto estrictamente.
O, peor, todo está equivocado.
Sé perfectamente que esta casa va pintada de gris.
Sé perfectamente de igual m odo el núm ero que marea dk'llli

-au n q u e no sé, pero podré saber, en qué cantidad está tftlAtlu


en esas oficinas del im puesto que a tal efecto existen”,
Lo sé perfectamente, sí, lo sé...
Mas lo peor es que hay almas dentro,
y la Tesorería de la Hacienda no ha podido librar
a la vecina de al lado de que su hijo muriera.
La Administración de no sé qué no ha podido evitar
que el marido de la vecina del piso de arriba huyera COI) la (|tte
[era »tt etiftatla,,,
Pero, está claro, sí, todo es correcto... ¡
Y, excepto por estar equivocado, es correcto tal cilItL,

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


E stou cansado, é claro,
p orq u e, a certa altura, a gen te tem que estar cansado.
D e que estou cansado não sei.
D e nada m e serviria sab ê-lo
5 p o is o cansaço ficaria na m esm a,
a ferida d ó i com o d ó i
e não em função da causa que a p rod uziu.
Sim , estou cansado,
e u m p ou co sorrid en te
io de o cansaço ser só isto —
um a vontade de son o n o corpo,
u m desejo de não pensar na alma,
e p or cim a de tudo um a tranquilidade lúcida
do en ten d im en to retrosp ectivo...

15 E a luxúria m uda de não ter já esperanças?

S ou in teligente: eis tud o.

T en h o visto m u ito e en ten d id o m u ito o que ten h o v isto ,


e há u m certo prazer até n o cansaço que isto m e dá,
que afinal a cabeça sem pre serve para qualquer coisa.

240 POESÍA VI
Estoy cansado, claro,
porque, en cierto m om ento, uno ha de cansarse.
Mas de qué estoy cansado no lo sé,
aunque saberlo de nada serviría.
5 Seguiría el cansancio de igual m odo,
pues la herida duele com o duele,
no en función de la causa que la causa.
Sí, estoy cansado,
y hasta sonrío un poco
10 porque el cansancio sea sólo esto,
voluntad de sueño en nuestro cuerpo,
un querer no pensar dentro del alma,
y, sobre todo, una calma lúcida
de nuestro entender retrospectivo...

15 ¿La lujuria cesa al no tener ya ninguna clase de esperanzas?

Soy inteligente: sí, eso es todo.

Yo ya he visto m ucho, y he entendido m ucho lo que he visto,


y hay un cierto placer, hasta en el cansancio que m e da,
que después de todo la cabeza siempre pueda servirnos para
[algo.

241 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


N ão estou pen sand o em nada
e essa coisa central, que é coisa n en hu m a,
é -m e agradável com o o ar da n oite,
fresco em contraste com o verão q uente do dia.

5 N ão estou pen sand o em nada, e que bom !

Pensar em nada
é ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada
é viver in tim am en te
io o fluxo e refluxo da v id a ...

N ão estou p en sand o em nada.


Só, com o se m e tivesse encostado mal
um a dor nas costas, ou n u m lado das costas,
há u m am argo de boca na m in h a alma:
15 é que, n o fim de contas,
não estou p en sand o em nada,
mas realm ente em nada,
em n a d a ...

242 POESÍA VI
N o , no pienso en nada,
y esa cosa central, que no es ninguna,
m e agrada com o el aire de la noche,
fresco al contrastar con el caliente verano del día.

5 N o , no pienso en nada, ¡sí, qué bien!

Pensar en nada
es tener el alma al fin propia y entera.
Pensar en nada
es vivir íntim am ente
10 el flujo y el reflujo de la vida...

N o , no pienso en nada.
Sólo, cual si m e hubiera recostado mal,
cierto dolor de espalda, o dolor de un lado de la espalda.
Hay amargor de boca ahí, en m i alma:
15 es que, a fin de cuentas,
de verdad que no estoy pensando en nada;
pero realm ente en nada,
en nada...

243 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


O son o que desee sobre m im ,
o so n o m ental que desee fisicam ente sobre m im ,
o so n o universal que desee in dividu alm en te sobre m im
esse son o
5 parecerá aos outros o so n o de dorm ir,
o son o da vontade de d orm ir,
o son o de ser son o .

Mas é m ais, mais de d en tro, m ais de cima:


é o so n o da som a de todas as desilusões,
io é o so n o da síntese de todas as desesperanças,
é o son o de baver m u n d o com igo lá dentro
sem que eu houvesse con trib u íd o em nada para isso.

O so n o que desee sobre m im


é con tu d o com o tod os os son os.
15 O cansaço tem ao m en o s brandura,
o abatim ento tem ao m en o s sossego,
a rendição é ao m en os o fim do esforço,
o fim é ao m en os o já n ão haver que esperar.

H á u m som de abrir um a janela,


20 viro in d iferen te a cabeça para a esquerda
p or sobre o om bro que a sente,
o lh o pela jan ela entreaberta:

a rapariga do segu n d o-an d ar de d efron te


deb ru ça-se com os olh os azuis à procura de alguém .
25 D e quem ?,
pergunta a m inh a in diferença.

244 POESÍA VI
El sueño que desciende sobre m í,
ese sueño m ental que baja sobre m í físicamente,
ese sueño, sí, universal, que baja sobre m í individualm ente,
ese sueño
5 parecerá a los otros solam ente el sueño de dormir,
el sueño de las ganas de dormir,
el sueño de ser sueño.

Pero es más, más de dentro, más de arriba:


el sueño que resulta de lá sum a de las desilusiones,
10 el sueño que resulta de la síntesis de las desesperanzas,
el sueño de haber m undo mas conm igo ahí adentro,
y sin que yo contribuyera en nada.

El sueño que desciende sobre m í


es, a pesar de todo, com o todos los sueños.
15 Al m enos el cansancio tiene cierta blandura
y el abatim iento tiene al m enos sosiego,
el rendirse es al m enos fin de nuestro esfuerzo
y el fin es al m enos no deber ya esperar.

Suena ahora, al abrirse, una ventana.


20 Giro indiferente la cabeza, volviéndola a la izquierda,
por encim a del hom bro que la siente.
M iro por la ventana, ya entreabierta:

la chica del segundo de ahí enfrente


de repente se asoma con sus ojos azules a la busca de alguien,
25 ¿de quién?,
pregunto en m i indiferencia.

245 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


e tud o isso é son o .
M eu D eus, tanto s o n o !...

246 POESÍA VI
Pero todo eso es sueño.
¡Ay D ios, tanto sueño!...

247 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


E stou to n to ,
to n to de tanto dorm ir o u de tanto pensar,
o u de ambas as coisas.
O que sei é que estou to n to
5 e n ão sei b em se m e devo levantar da cadeira
ou com o m e levantaria dela.
Fiquem os nisto: estou to n to .

A fin al
que vida fiz eu da vida?
10 N ada.
T u do interstícios,
tud o aproxim ações,
tud o função do irregular e do absurdo,
tud o n ad a...
15 É p or isso que estou to n t o ...

A gora
todas as m anhãs m e levanto
to n to ...
Sim , verdadeiram ente to n to ...
20 Sem saber em m im o m eu n o m e,
sem saber o n d e estou,
sem saber o que fui,
sem saber nada.

Mas se isto é assim é assim.


25 D e ix o -m e estar na cadeira.
Estou to n to .
B em , estou to n to .

248 POESÍA VI
Estoy tonto,
de tanto dorm ir o de tanto pensar,
o quizá de ambas cosas.
Lo que sé es que estoy tonto
5 y no sé si m e debo levantar de la silla
o cóm o debo levantarm e de ella.
Quedém onos en esto: que estoy tonto.

Pues, al final,
¿qué vida hice yo de la vida?
10 Nada.
Todo intersticios,
todo aproxim aciones,
todo función de lo absurdo e irregular,
nada, no, todo nada...
15 Y es por eso por lo que estoy tonto...

De m anera que, ahora,


cada m añana m e levanto
to n to -
Sí, verdaderam ente tonto...
20 Me levanto sin saber en m í m i nombre,
sin saber siquiera dónde estoy,
sin saber lo que fui,
sin saber nada.

Pero si esto es así esto es así.


25 Y m e quedo en la silla,
que estoy tonto.
Bueno, bien, estoy tonto.

249 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


Fico sentado
e to n to ,
sim , to n to ,
to n to ...
to n to ...

POESÍA VI
Aquí, sentado
y tonto,
30 tonto,
tonto,
tonto...

251 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


Todas as cartas de am or são
ridículas.
N ão seriam cartas de am or se não fossem
ridículas.

5 Tam bém escrevi em m eu tem p o cartas de am or,


com o as outras,
ridículas.

As cartas de am or, se há am or,


têm de ser
io ridículas.

Mas, afinal,
só as criaturas que n un ca escreveram
cartas de am or
é que são
15 ridículas.

Q u em m e dera n o tem p o em que escrevia


sem dar p or iso
cartas de am or
ridículas.

20 A verdade é que h oje


as m inhas m em órias
dessas cartas de am or
é que são
ridículas.

252 POESÍA VI
Todas las cartas de am or son, sí,
ridiculas.
Sin duda no serían tales cartas de am or si no fueran
ridiculas.

5 También yo m ism o escribí en m is tiempos de esas cartas de amor;


com o todas,
ridiculas.

Pues las cartas de amor, si es que lo hay,


tienen que ser
10 ridiculas,

pero, después de todo,


sólo las criaturas que jamás escribieron
unas cartas de amor
son las que son
15 ridiculas.

¡Ah, si volviera al tiem po en que escribía,


aunque sin darme cuenta,
cartas de am or
ridiculas!

20 La verdad es que h oy
las m em orias que guardo
de esas cartas de amor
son las que son
ridiculas.

253 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


25 (Todas as palavras esdrúxulas,
com o os sen tim en tos esdrúxulos,
são naturalm ente
rid ícu las).

254 POESÍA VI
25 (Las palabras esdrújulas,
com o los sentim ientos esdrújulos,
siempre, naturalm ente, son
ridiculas).

255 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


O bêbado caía de bêbado
e eu, que passava,
não o ajudei, p ois caía de bêbado,
e eu só passava.
5 O bêbado caiu de bêbado
n o m eio da rua.
E eu não m e voltei, mas ouvi. Eu bêbado
e a sua queda na rúa.
O bêbado caiu de bêbado
io na rua da vida.
M eu D eus! Eu tam bém caí de bêbado
D eu s [ ...]

256 POESÍA VI
El borracho se caía de borracho,
y yo, que pasaba,
no lo ayudé, pues se caía de borracho,
y yo sólo pasaba.
5 E l borracho se cayó ya de borracho
en m itad de la calle,
y yo no m e volví, pero lo oí, sí, lo oí yo, borracho,
y su caída en la calle.
El borracho cayó ya de borracho
10 en la calle: en la vida.
¡Dios mío! ¡También yo caí de borracho,
también yo caí, Dios! [...]

257 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Saudação a todos quantos querem ser felizes:
saúde e estupidez!

Isto de ter nervos


o u de ter in teligência
5 ou até de julgar que se tem um a coisa o u outra
h á -d e acabar u m d ia ...
h á -d e acabar com certeza
se os governos autoritários con tinu arem .

258 POESÍA VI
Saludo a cuantos quieren ser felices:
¡salud y estupidez!

Esto de tener nervios


o lo de tener inteligencia
5 o incluso el creer que se posee una u otra cosa
ha de acabar un día...
acabará, seguro...
si los gobiernos autoritarios continúan.

259 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


O FUTURO

S ei que m e espera qualquer coisa,


mas não sei que coisa m e espera.

G om o u m quarto escuro
que eu tem o quando creio que nada tem o,
5 mas só o tem o p o r ele, tem o em vão.
N ão é um a presença; é u m frio e u m m ed o .
O m istério da m orte a m im o liga.
ao brual fim do m eu p oem a.

260 POESÍA VI
E l futuro

Sé que m e está esperando alguna cosa,


pero no sé qué cosa está esperando.

Igual que un cuarto oscuro


que tem o cuando creo que yo ya nada temo,
5 pero sólo lo tem o y por él tem o en vano.
N o es una presencia: es un frío y un m iedo.
El m isterio de la m uerte a m í lo liga,
al brutal term inar de m i poema.

261 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


O b in o m io de N ew ton é tão b elo com o a V én u s de M ilo.
O que há é p ouca gen te para dar p or isso.
(Alvaro de C am pos)

óóóó — óóóóóóóóó — óóóóóóóóóóóóóóó


5 (O ven to lá fo ra ).

262 POESÍA VI
El binom io de N ew ton es tan bello com o la Venus de M ilo,
por más que hay pocos para darse cuenta.
(Alvaro de Campos)

l i l i / I I l I I I I / / / / / / / / / / / / / / / /
0 0 0 0 - 0 0 0 0 0 0 0 0 0 -0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

5 (E l viento ahí afuera).

263 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


ESBO ÇO S
Y
FRAG M ENTO S
ESBOZOS
Y
FRAGMENTOS
O d e m a r c ia l

Ave guerra, som da luz e do fogo


ave, ave, ave p elos teu s arsenais e pelas tuas esquadras,
ave, ave, ave, p elos teus barcos e pelas tuas fábricas,
ave p or toda a tua civilização de m etal em obra,
5 ave p or tod o o teu aço!
Ave p o r to d o o teu alu m inio!
Ave p o r todas as tuas m áquinas, ave!
Ave, ave, ave, p o r toda a força m otriz que tu és!

Farol do Aplicado!
io Eclusa [...]
G rande p o n te p erfeitam en te construída sobre [...]

O que quer que seja que cria e m antém este m u n d o ,


se é gente, que sinta com o gente, tenha piedade da gente!
E se não é nada, que o acaso, guiado ou vivo antes,
15 o esboroe na terra e acabe com esta d olorosa função.
A p e n sa r em tud o, eu quero que tud o [ ...] ,

p en so em tud o isto é d ó i-m e a alma angustiadam ente


e o ver isso é verm os m elh o r o que fazer o u p od er.

266 POESÍA VI
O da m a r c ia l

¡Ave guerra, sonido de la lu z y el fuego,


ave, por tus arsenales, ave, por tus escuadras,
ave, ave, ave, por tus barcos y fábricas,
ave por toda tu civilización de m etal en obra,
5 ave por todo tu acero,
por todo tu alum inio,
por tus m áquinas, ave!
¡Ave, ave, ave, ya por toda la fuerza m otriz que tú eres!

¡Faro del Aplicado!,


10 esclusa,
gran puente, perfectamente construido sobre [...].

¡Lo que quiera que sea lo que crea y m antiene este m undo,
si es gente, ¡que sienta com o gente y tenga piedad de ella!
Pero, si no es nada, que el azar, guiado, o mejor vivo,
15 lo desm orone en tierra y que se acabe esta función dolorosa.
Porque, pensando en todo, yo quiero que todo [...],

pienso yo en todo esto y el alm a m e duele angustiadamente,


así que ver eso es un ver mejor qué hacer o poder.

267 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


(C am p ina e trigo, cam pina,
20 cam pina e trigo).
C o m o ao som de um a m archa ao m esm o tem p o m arcial e
[fúnebre,
e alegria e tem or
rom p em
a vida é a n tagon ism o...

25 Q u ed a de im périos, tud o a fu g ir ... sangue, ru íd o s...


[tum ultos
am on toam en tos de coisas pilhadas n u m saque,
despensas ju n to das cidades, entre casas caídas,
choros, raivas, in fern o de som ,
a vida e a sua tragédia toda vivida n u m dia, n um a h o r a ...
30 T od o o m istério e h o rro r de n o s acontecerem coisas
to d o o h o rro r de q uem vive sossegado e de repente vê a
[m orte
vê o in fe rn o , [ ...]
(pobre de [ ...] ! ) .
T u do quebrado, tud o ferid o , tud o diverso de quando era
[norm al a v id a ...

35 (D itosos os que m orrem lo g o d ep ois de nascer


e para q uem a luz da vida não é m ais do que u m relâm pago
[no h o rizo n te!).
(P od er pensar claro n este assunto!
P oder ver h em e sem sofrer ser ou tro o que é isto!
A h quem m e dera ter o coração am pliado e arrum ado
40 com o u m in terio r de casa de fam ília de gen te que tem com
[que viver!).
E o ruído dos saques, o fragor das batalhas, os choros, as
[mágoas, os [ ...] ,
os choques dos h om en s
são u m mar de confusão on d e a nossa lu cid ez se afunda.

2 ó8 POESÍA VI
([Campiña y trigo, campiña,
20 campiña y trig o ).
Como al son de una m archa al m ism o tiem po funeral y marcial,
alegría y tem or
rom pen de pronto,
y es que la vida es antagonism o...

25 La caída de imperios, todo huyendo... sangre, ruidos... tum ulto


y m ontones de cosas saqueadas,
depósitos junto a ciudades, entre casas caídas,
llantos, rabias, infierno de sonido,
la vida y su tragedia vivida en sólo u n día, en una hora...
30 Todo el horror y m isterio de que sucedan cosas,
todo el horror de quien vive sosegado y que de repente ve la
[muerte,
ve el infierno,...
(¡Pobre!).
Todo quebrado, herido, diferente de cuando la vida era normal...

35 (¡D ichosos los que m ueren de inm ediato después de nacer


y para los cuales la luz de la vida no es más que u n relámpago en
[el horizonte!).

(¡Y poder pensar claro en este asunto!


¡Poder ver bien, y sin sufrir ser otro, todo aquello que es esto!
¡Quién m e diera tener el corazón ampliado, ordenado,
40 com o interior de casa de fam ilia de gente que tiene bien de qué
[vivir!).
Y el ruido que producen los saqueos, el fragor de batallas,
[llantos, penas, los [...],
el chocar de los hombres,
com o un enorm e mar de confusión donde se hunde nuestra
[lucidez.

269 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Perco-m e de com preender...
45 A panho-m e nessa tragédia de pasmo humanitário.

C hove fogo — ou ro de b aru lho estruge...


« H e la - h o h ô -ô ( ô ) . .. » .

Z — zz Sher Rr to go. Shabababulá...

[...]
T u do se apaga com o um a grande lâm pada eléctrica que se
[fu n d e...

50 V em do fu n d o do m u n d o
vem d o h o rizo n te m u d o , con fu so do m u n d o ,
sussurro surdo, escuro, m urm ú rio
de um a cavalgada que dura, que dura furiosa n o ouvido,
in úm era cavalgada v e m ...

55 V êm do fu n d o do m u n d o con fu so,
vêm d o abism o do espaço n o c tu r n o ...
A p ressa, negros, rápidos, de repente su rd em ...
S úbito outra vez tre m e m ...
oscilam n o ru íd o que tem rasto n o escu ro ...
60 Inúm era cavalgada... Q u em ?

V em apertada n os passos con fusos


vem apertada n os ruídos dispersos,
vem aclamada n os ruídos m udos
vem apertada n o s ruídos con fusos,
65 vem apertada, vem apertada, vem apertada...

270 P O E S ÍA VI
Me pierdo en comprender,..;
45 y me sorprendo en la tragedia de pasmo humanitario.

Llueve fuego - truena oro de ru id o -...


«H ela-h oh ô-ô ( o ) ...».

Z - z z Sher Rr to go. Shabababulá...

[...]

Y todo se apaga, com o cuando se funde una bombilla...

50 Viene del fondo del m undo,


viene del horizonte confuso y m udo del m undo,
susurro sordo, oscuro,
rum or de cabalgada duradera, duradera y furiosa, en el oído
la innumerable cabalgada viene...

55 Viene del fondo del confuso m undo,


desde el abismo del nocturno espacio...
De prisa, negros, rápidos, de repenten ensordecen...
Y de súbito tiem blan otra vez...
oscilan en el ruido que hace rastro en lo oscuro...
60 Innumerable cabalgada... ¿quién?

Viene apretada en los confusos pasos,


viene apretada en los dispersos ruidos,
viene aclamada en los ruidos mudos,
viene apretada en los confusos ruidos,
65 viene apretada, apretada, sí...

271 LOS P O E M A S D E A LVA R O D E C A M P O S 4


T od o o h o rizo n te está ch eio p or d en tro de u m grito
absurdo,
h e la h ô h ô ...
h e la h ô h ô ...

P O E S ÍA VI
Y el horizonte entero está por dentro lleno de u n grito
absurdo,
helahó...
helahó...

273 LOS POEMAS OE ÁLVARO DE CAMPOS 4


Sa u d a ç ã o a Walt W h it m a n

Portugal — In fin ito , on ze de J u n h o de 1915


H é lá, á — á — á — á!

D e aqui, de Portugal, de o n d e a Europa olha a A m érica,


de o n d e tu teres existido é u m efeito co m p lex o ,
5 con scien te de estar à vista, n o palco para a plateia que é n o
[auge.
S a ú d o -te deliberadam ente, saú d o-te
desde o p rin cíp io de te saudar, com o é p ró p rio de ti.

H é -lá Walt, o l d b q y , m eu velho arado das almas,


h é -lá m eu c o n d o ttie r e da sensualidade autêntica,
10 pirata do teu p róp rio g én io,
filh o -p r ó d ig o da tua inspiração!

O sem pre m odern o e eterno; cantor dos concretos absolutos,


con cu b in a fogosam ente [ ...] do universo disperso,
grande pederasta ro ç a n d o -te pela diversidade das coisas,
15 sexualidade...

Tu, o h om em -m u lh er-crian ça-n atu reza-m á q u in a s!


Tu, o p ra-d en tro, tu o pra-fora, tu o a o -la d o de tudo!
F ulcro-sensu alid ad e ao serviço do in fin ito , escada
até não haver fim a subir, — e subir!

20 S a ú d o -te e cham o
a tom ar parte em m im na saudação que te faço

274 P O E S ÍA VI
Sa l u t a c i ó n a W a l t W h it m a n

Portugal - Infinito, once de junio de 1915

¡He lá, á-á-á-á!

Desde aquí, Portugal, desde donde Europa m ira a América,


desde donde que tú hayas existido es un efecto complejo,
5 situado y consciente de estar a la vista, directamente sobre el
[escenario, frente a una platea que está en auge,
te saludo deliberadamente, te saludo
desde el principio ya de saludarte, com o es propio de ti.

¡Hé-lá Walt, o íd b o y, viejo arado de almas,


bé-lá, m i c o n d o ttie r e de la sensualidad auténtica,
10 tú, pirata de tu propio genio,
pródigo hijo de tu inspiración!

¡Siempre eterno y m oderno; cantor de los concretos absolutos,


concubina fogosamente [...] del disperso universo,
gran pederasta rozándote en la diversidad de las cosas,
15 sexualidad...

¡Tú, el hom bre-m ujer-niño-naturaleza-m áquinas!


¡Tú, el hacia-dentro, el hacia-fúera, el al-lado de todo!
¡Sensualidad central al servicio ya del infinito,
escalera hasta no haber ya fin sino subir, indefinidam ente!

20 Yo te saludo, y llam o
a tomar parte en m í, en m i saludo

275 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


tud o quanto cantaste ou desejaste cantar.
Ervas, árvores, flores, a natureza dos cam p os...
h o m en s, lutas, tratados — a natureza das alm as...
25 O s artifícios, que dão sabor ao que não é artifício,
as coisas naturais que valem sem valor dado,
as profissões com que o h o m em se interessa p o r ter vontade,
as grandes am bições, as grandes raivas, as pálpebras
descidas sobre a in u tilid ad e m etafísica de viver...
30 C ham o a m im , para os levar até ti,
com o a m ãe chama a criança para a sentir ser
a totalidade dispersa do que interessa ao m u n d o ...
A h , que nada m e fiq u e de fora das algibeiras
quando vou p rocu rar-te.
35 Q u e nada m e esqueça, se te saúdo, que nada
falte, n em o faltar esqueça,
p orq u e faltar é um a coisa — faltar.

Vá! Vá! Tudo! O natural e o h um ano!


Vá, o que parte! vá, o que fica! vá o que lem bra e o que
[esquece!
40 Tu ten s d ireito a ser saudado p o r tudo
e eu , p orq u e o vejo,
ten h o o d ireito a encanar a voz em tud o saudar-te.

O p ó que fica das velocidades que já se não vêem!


O cio m etálico dos êm b olos,
45 o fu ror u terin o das válvulas lá p or d en tro —,
o sangue dando em baque ao ataque dos excêntricos.

M inhas sensações,
protoplasm a da h um anid ad e m atem ática do futuro!

276 P O E S ÍA VI
a cuanto cantaste o quisiste cantar:
hierbas, árboles, flores, la naturaleza de los campos...
hombres, luchas, tratados —la naturaleza de las a lm a s-...
25 los artificios, que otorgan su sabor a lo que no es un artificio,
las cosas naturales que nos valen sin ningún valor dado,
las profesiones con que el hombre se interesa por tener voluntad,
las grandes am biciones, las grandes rabias, los párpados
cerrados sobre la inutilidad m etafísica de vivir...
?0 A m í los llam o para llevarlos hasta ti,
tal com o la madre llam a al niño, para sentirlo ser,
totalidad dispersa de lo que al m undo atañe...
¡Ah, que nada se quede fuera de m is bolsillos
cuando v oy a buscarte!
35 ¡Que nada se m e olvide, si te saludo, que nada
falte, n i el faltar olvide,
dado que faltar es una cosa -fa lta r -.

¡Vamos! ¡SÍ! ¡Vamos! ¡Todo! ¡Lo natural, lo hum ano!


¡Vamos, sí, lo que parte!, ¡vamos, sí, lo que queda!, ¡vamos lo
[que recuerda y lo que olvida!
40 Tienes derecho a ser saludado por todo,
y yo, porque lo veo,
tengo derecho a engolar la voz, engolarla en todo saludarte.

¡Ese polvo que queda de las velocidades que ya no se ven!


El m etálico celo de los émbolos,
45 el furor uterino de las válvulas
- c o n la sangre golpeando por ataques excén tricos-.

¡Y m is sensaciones,
protoplasma de la m atemática y futura humanidad!

277 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


E ia-la-ho! H ó -o o -o !

50 O h lá, saltos e p u los com o m eu p en sam en to to d o .


Pula, bola de m im — a m ágica b iológica que eu sou!
O cérebro servo de leis, os nervos m ovidos p o r norm as,
p or norm as com postas em tratados de psiquiatras.

A m in h a universalite —,
35 a ânsia vaga, a alegria absurda, a dor indecifrável,
sín drom a da doença da In con gru ên cia Final.

C urso do êm b olo do d inam ism o abstracto,


do vácuo dinâm ico do m undo!

A m in h a aspiração consubstanciada com fórm ulas,


60 m atem ática de m im fa lid o .

C om bandas m ilitares à frente, com postas de volantes e


[hélices,
com um a vanguarda son ora de sereia de autom óvel e de
[barco
com u m estardalhaço lo n g ín q u o , com saltos e alardes
de b om b os e pratos, co m [ ...]
65 D ese n c a d e io -m e a saudar-te. Pum!
Pum , p um , p u m ...
P u - u -u -u -u - m !

278 POESÍA VI
¡Eia-la-ho! ¡Hó-oo-o!

50 ¡Oh allí, saltos, brincos con todo lo que es m i pensamiento!


¡Brinca, bola de m í - l a magia biológica que so y -!,
cerebro siervo de leyes, nervios m ovidos por normas,
normas compuestas en tratados de psiquiatras.

¡Mi universalitis,
55 el ansia vaga, la alegría absurda, com o el dolor indescifrable,
síndrom e de la dolencia de la Incongruencia Final!

¡Curso del ém bolo del dinam ism o abstracto,


la vacuidad dinám ica del mundo!

¡Mi aspiración consubstanciada en fórmulas!


60 ¡Matemática yo, que fracase!

Con bandas militares en vanguardia, todas compuestas de


[volantes y hélices,
y vanguardia sonora de sirena de autom óvil y barco,
con un rem oto estruendo, y con saltos y alardes,
golpeando bombos y platillos, con [...].
65 Me desencadeno saludándote.
¡Pum! ¡Pum, pum , pum!...
¡P u -u -u -u -u -m !

279 LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS 4


Cá estam os n o píncaro — n ó s d ois.
N ó s d ois e H o m er o ? N ão sabem os. Esse está mais abaixo.
E stendem os a m ão e cada qual ainda que cego chega a D eus
[(ele n ã o ).
O quê — você não chega? Então você desaparece? — o u não
[chegou.

S ou m ío p e e português
se houver troca de lou ros
[ ...]

P ’ra A p o io falta-m e a beleza,


mas tam bém falta só isso.
[ ...]
[...]

Camarada W ill, qualquer de n ós


vale o resto, excepto o ou tro.

Ave, p oem a m u d o de verso (poem a diverso),


verso m u d o de frases,
m esm o (ó diabo!) m u d o de m im .
N ão im porta. Feliz en co n tro .

Para cantar-te,
para cantar-te com o tu quererias que te cantassem ,
m elh or é cantar a terra, o mar, as cidades e os cam pos —,
os h om en s, as m ulheres, as crianças,
as p rofissões, [ ...] , as [ ...] .
Todas as coisas que, juntas, form am a sín tese-U n iv erso ,
todas as coisas que, separadas, valem a sín tese-U n iv erso ,

P O E S ÍA VI
I

Aquí estamos —los dos—en el pináculo.


Pero, ¿los dos y Homero? N o sabemos. Ése está más abajo.
70 Extendem os la m ano y cada uno, aunque ciego, llega hasta
[Dios (é l n o ).
¡Qué!, ¿usted no llega? Pero, entonces, ¿usted desaparece? - o
[quizá no llegó—.

Soy m iope y portugués.


Pero quizá si hubiera intercambio de rubios...
[ ...]

Para Apolo m e falta la belleza,


75 pero cierto que falta sólo eso.
[ ...]
[ ...]

Will, camarada, cualquiera de nosotros


vale por el resto, excepto el otro.

¡Ave, tú, poema, poem a m udo de verso (poem a d iverso),


verso m udo de frases
80 e incluso (¡oh diablos!) verso m udo de m í.
D a igual. Feliz encuentro.

Pues, para cantarte,


cantarte com o querrías ser cantado,
lo mejor es cantar la tierra y el mar, las ciudades, los campos,
85 los hombres, las mujeres y los niños,
las profesiones, las [...],
todas las cosas que, juntas, form an esa síntesis-universo,
todas las cosas que, estando separadas, valen por la síntesis-
[universo,

281 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


todas as coisas que, universais, formam a síntese Deus.

90 Ah., o p oem a que te cantasse bem ,


seria o p oem a que to d o cantasse tud o,
o p oem a em que estivessem todas as vestes e todas as sedas —,
tod os os perfum es e tod os os sabores
e o contacto em tod os os sen tid os do tacto de todas as coisas
[tangíveis.

95 P oem a que dispensasse a m úsica, m úsica com vida,


p oem a que transcendesse a pintura, p intura com alma.

A h, de que serve
a arte que quer ser vida, sem a vida que quer ser?
D e que serve a arte se não é a arte que querem os?
lo o D e que n os serve a vida se a querem os e não a buscam os,
se n u n ca é para nós a vida?

A h, pra saudar-te
era preciso o coração
da terra to d a ...
105 O co rp o -esp írito das coisas...

Eu, o ritm ista feb ril


para quem o parágrafo de versos é um a pessoa inteira,

282 P O E S ÍA VI
todas las cosas que, siendo universales, forman todas la síntesis
[de Dios.

90 Ah, el poem a que te cantara bien


sería el poem a entero que todo lo cantara,
el poem a en que estuvieran contenidas todas las vestiduras y
[todas las sedas,
todos los perfumes y sabores,
y el contacto en todos los sentidos del tacto de todas las cosas
[tangibles.

95 Ese poem a que dispensara m úsica, que dispensara m úsica con


[vida,
poem a que trascendiera la pintura, la pintura con alma.

Ah, ¿para qué sirve,


para qué sirve el arte que quiere ser vida sin la vida que
[pretende ser?
¿Para qué sirve el arte si ése no es el arte que queremos?
100 ¿De qué sirve la vida cuando la queremos y no la buscamos,
si no es jamás para nosotros vida?

Ah, para saludarte


sería necesario el corazón
de toda la tierra...
105 Ese cuerpo-espíritu que las cosas poseen...

Yo, el febril ritm ista


para quien un parágrafo de versos es enteramente una persona,

283 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


para quem , p or baixo da m etáfora aparente,
com o em estrofe, antístrofe, ép od o o poem a que escrevo,
no que p o r detrás do d elírio construo,
que p o r detrás de sentir p en so,
que am o, expludo, rujo, com ord em e oculta m edida,
eu ante ti quereria ter m en os de en gen h eiro na alma,
m en os de grego das m áquinas, de Bacante de A p o lo
115 n o s m eus m om en tos de alm a m ultiplicados em verso.

Mas o ar do m ar alto
chega, p o r u m in flu xo de d en tro do m eu sangue,
ao m eu cérebro desterrado em terra,
e a fúria com que m ed ito, a raiva com que m e d o m in o
120 ab re-se com o urna vela, tom ada de ven to, aos ares,
am pla servidão ao rasgo de assom bro dos [ ...]

284 P O E S ÍA VI
para quien, por debajo de la propia m etáfora aparente,
com o en estrofa, antistrofa y epodo el poem a que escribo,
que por detrás del delirio lo construyo
y que por detrás de sentir pienso,
que amo, exploto, rujo, dotándolo con orden, con oculta
[medida,
yo ante ti querría sin duda tener m enos de ingeniero en el
[alma,
algo m enos de griego de las m áquinas, de Bacante de Apolo,
en m is m om entos de alma m ultiplicados en verso.

Pero el aire, el aire de alta mar,


llega, por un im pulso del interior de m i sangre,
a m i cerebro desterrado en tierra,
y esa furia con la que m edito, y esa rabia con que m e dom ino,
se abre, com o vela que bate el viento, al aire,
amplia servidumbre frente al rasgo de asombro de los [...]

LOS P O E M A S D E A LVA R O D E C A M P O S 4
A PASSAGEM DAS HORAS

Grandes estandartes de fu m o das cham inés das fábricas


sobre os telhados [ ...] .
O p od erosam en te gritos de com bate!
Vago ru m or silen cioso e com ercial das rú as...
e a ord em in co n scien te dos que vão e vêm
pelas fitas dos p asseios...
à hora de sol em que as lojas descem os toldos.

P O E S IA VI
El pa so d e la s h o r a s

Gran estandarte de hum o de las chim eneas de las fábricas,


ahí, sobre los tejados [...].
¡Oh, poderosos gritos de combate!
Vago rum or silencioso y com ercial de las calles...
5 y el orden inconsciente de los que van y vienen
junto al borde exterior de las aceras...
a la hora de sol en que las tiendas van bajando los toldos.

287 LOS POEMAS OE ÁLVARO DE CAMPOS 4


Todas as horas faço gajfes de civilidade e etiqueta
(a vida social é complexa para a minha fraqueza de nervos),
mas nunca existiu quem só tivesse vivido em alma
numa eterna luta de Janus.

5 Arre, a humanidade é uma coisa muito complexa...


Tenho-a observado com os olhos e os nervos, e ainda não
[percebi.
(Compreender é um navio ao longe).

Toda a gente que tenho conhecido


[...]

Estou farto de semi-deuses!


io Onde é que há gente no mundo?

Não tenho um amigo, um conhecido, em quem batessem,


ninguém que eu conheça perdeu o amor de uma mulher.
Tenho feito muitas coisas más, muitas coisas reles, muitas
[infâmias.
Tenho sido cobarde, revoltante, sujo.
15 N ão en con tro n in g u ém assim.
Todos têm sido príncipes, os que têm andado comigo.

288 POESÍA VI
A toda hora hago gajfes de educación y etiqueta
(la vida social es compleja para mis flacos nervios),
pero no existió nunca quien hubiera vivido solamente en el
[alma
trabado en una lucha eterna de Jano.

¡Arre, la humanidad es muy compleja!...


La he observado con los ojos y los nervios y aún no la entendí.
(Y es que el comprender es un navio que se avista a lo lejos).

Toda la gente que hasta ahora he conocido...


[...]
¡Estoy más que harto ya de semidioses!
¿Dónde hay gente en el mundo?

Yo no tengo un amigo, o un conocido, al que hayan golpeado,


nadie que yo conozca perdió nunca el amor de una mujer.
He hecho maldades, cosas despreciables y muchas infamias,
y fui cobarde, repugnante y sucio.
No encuentro así a nadie.
Cuantos fueron conmigo fueron príncipes siempre.

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Ah, quem me dera ser desempregado!
Não ter que fazer a valer, mas de dentro!
Ter [...]

290 POESÍA vi
¡Ah, quién me diera estar desempleado
y no tener ya nada para hacer, mas por dentro!
Y tener [...]

LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


O nde é que os mortos dorm em ? D orm e alguém
neste universo atómicamente falso?

292 POESÍA VI
¿Dónde duermen los muertos? ¿Duerme alguien
en este universo falso atómicamente?

293 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


Nas minhas veias, por onde corre, numa lava de asco,
a fúria do horror da vida!

294 POESÍA VI
¡En mis venas, ahí por donde corre, en una lava de asco,
una furia de horror ante la vida!

295 LOS POEMAS DE ALVARO DE CAMPOS 4


NOTAS

La presente edición de la Poesía de Fernando


A d v e rte n c ia .

Pessoa estando globalmente concebida, hemos pretendido


limitar la anotación de cada volumen -en lo que hace a la
interpretación- a las variantes significativas en el desple­
garse sucesivo de lo que cada poética supone. En conse­
cuencia sólo señalamos lo que nos aparece como nuevo -o,
por mejor decir diferencial- en los textos que forman este
libro. Para asuntos ya vistos en extenso (en lo que corres­
ponde, entre otros temas, a la sexualidad, a la violencia,
las posiciones de la subjetividad, la personalidad, la iden­
tidad, la poética o la política de ‘Campos’) nos remitimos
a los tres volúmenes anteriores y a los comentarios de sus
páginas 311-3+8, 309-325 y 2+9-263 respectivamente.

pág. 59 Fechado a 6 de agosto del año 1931. El poema es un texto


casi final y definitivo entre la poética de ‘Campos’ sobre el
problema de la identidad (ver ahí al respecto, entre otros
muchos, el poema de páginas 216-219 del volumen Y de la
edición de esta Poesía de Fernando Pessoa). En todo caso
tanto este poema como otros varios de los posteriores -que
se prolongan hasta el final de ‘Campos’, muy poco ante­
rior al de Pessoa— muestran que en el proceso de
extrañeza que se sigue mostrando en el sí-mismo - y sin
duda, también hacia el sí-mismo- se ha perdido la multi­
plicidad, el caleidoscopio simultáneo que fue caracterís­
tico de ‘Campos’ (especialmente en las grandes “Odas”).

297 NOTAS
No se ha dado con ello sin embargo una evolución en el
poeta sino más bien su transformación por efecto de un
tiempo -ahora lineal, aunque sin duda, aún, contradicto­
rio - que reduce el espacio del poema - y al tiempo el
‘espacio’ del poeta- a figura final de lo quefue. Es, en los
mismos años más o menos -p o r citar otro caso desta­
cado-, un proceso inverso al de Vallejo, por ejemplo en el
texto que comienza: «A lo mejor soy otro; andando...»;
una suposición ([«sospecha postuma», como el propio
Vallejo nos señala) que se basa de modo bien expreso en la
supresión correlativa de todo rastro de temporalidad.
«¡No! ¡Nunca! ¡Nunca ayer! ¡ Nunca después!» es otro de
los versos de ese texto ([ver en Poemas humanos-, el texto va
fechado en octubre de 1917). La sombra de Rimbaud, que
es alargada, cruza todo un espacio que se ensancha -des­
bordando su tiempo y nuestro siglo retrospectiva y
prospectivamente- del romanticismo al psicoanálisis.

61 v. 2+. El Jardín de Prosérpina, de acuerdo con el mito, es el


jardín de la muerte -que la diosa cultiva en el submundo
tras ser arrebatada por Hefaistos-.

v. 27. «Lágrimas adultas». Variante señalada en TRL.

63 Fechado a 12 de octubre del año 1931 y publicado en el


número 34- de Presença, de noviembre de 1931-febrero de
1932, el poema tiene por título alternativo el de «Soneto
para parecer normal» ([en el manuscrito de Pessoa).

67 v. 7. «Noche» (jpor «niebla»). Variante señalada en TRL.

69 Fechado a 21 de octubre del año 1931.

v. 9 . «De espuma los huesos». Variante señalada en TRL.

298 POESÍA VI
7i Fechado a 31 de octubre del año 1 9 3 1 .

73 Fechado a 22 de noviembre del año 1931.

v. 6 . «Encendiendo el nuevo en el ocaso del viejo».


Variante señalada en TRL.

v. 10. «Todo, hasta la vida al aire libre». Variante señalada


en TRL.

77 Fechado a 25 de noviembre del año 1931.

v. 23. Podríamos decir que en este verso se inicia una serie


de poemas (o de variantes de poemas -textos complemen­
tarios mutuamente, más o menos logrados o en estado de
esbozo-) de lo que el mismo ‘Campos’ califica de su
«infancia perdida», contemplada a la luz imprecisa del
recuerdo. Así en el poema que le sigue -el titulado «Notas
sobre Tavira»- como también, entre otros, en el poema de
pág. 82, en el titulado «Realidad», en el poema «Pecado
original», el titulado «Mecanografía», el de pág. 158, el
titulado «Callos ai estilo de Oporto», el de pág. 194- o en la
secuencia ‘de provincias’ sobre la casa de las «viejas tías»
(ver poemas de páginas 118,122,124 y 126). La reducción
que antes comentamos (nota al poema de pp. 58 -
61) -desde el plano de un ‘Campos’ expandido, como un
‘Campos-mundo’, a uno provinciano y puntual- llega ahí
a su extremo en su mínima forma de nostalgia.

79 Fechado a 8 de diciembre del año 1931-

83 Fechado a 8 de diciembre del año 1931, se publicó en Desco­


brimento, en el número de invierno de 1931-1932.

v. 2. Frente a la juvenil imagen de las rosas, los crisante-

299 NOTAS
raos, ‘margaritas de los muertos’, marcan el cambio de
signo de una(s) vida(s).

91 Posterior al 1 de febrero del año 1912 (así resulta por el


matasellos del folleto de propaganda sobre el cual está
escrito).

93 v. 1. «Como un culo». Variante señalada en TRL.

97 Fechado a 5 de febrero del año 1912.

v. 22. «Cita» (en francés en el original).

101 Fechado a 28 de marzo del año 1912.

103 Fechado a 9 de septiembre del año 1912. En el tercer


soneto del conjunto el autor duda entre dos finales (mar­
cándolos con puntos suspensivos; ver pp. 104—107).

m Fechado a 15 de diciembre del año 1912.

113 w. 27-19. El encuentro entre el poeta ya maduro y el joven


aún lleno de ambición -variación de carácter temporal de
la vieja temática del doble (Musset, Hoffman, Poe, tantos
otros)- logrará su expresión más ingeniosa en el relato de
Borges titulado «El otro» (incluido en el conjunto de El
libro de arena), del año 1972; uno que podría haber
tenido —el doble en su distancia temporal- el poema de
Pessoa por modelo.

115 v. 5- «Hacia cada lado de la sombra». Variante señalada en


TRL.

v. 6. «Subiendo de las aguas». Variante señalada en TRL.

300 POESÍA VI
ii7 Fechado a 1 4 de enero del año 1 9 1 ?.

119 Fechado a 29 de enero del año 1931.

i2 i De idéntica fecha que el poema anterior.

131 Fechado con posterioridad al 15 de marzo del año 19??.

v. 2. «Crean el propio silencio». Variante señalada en TRL.

133 Fechado a 2 de mayo del año 191?. En clara relación a este


poema, y a las «maletas» siempre por hacer, ver el poema
de pp. 224-229 (y su nota de pp. 261-262) en el volumen V
de esta edición de la poesía pessoana.

135 Fechado a 7 de mayo del año 19??. En este texto de desdo­


blamientos («desterrado de ti», ver verso 4), el desdobla­
miento más extraño: el extrañamiento de las «manos» que se
independizan del sujeto (del sujeto visto en el espejo y del
‘otro’ que mira a quien lo mira y que piensa lo mismo que
aquél piensa). Y unas manos ahí vistas justamente en su
(im)propio carácter de «personas» (así literalmente en
verso 6 ). Aun añadiremos al respecto que la «persona»
(en)cubre - y manifiesta, siempre, al tiempo- otra cosa
(otra que la que oculta y que desvela), de la misma manera
que los símbolos - y «el mal» enfermizo de los símbolos
(así se dice en verso 2 ? )- siempre lo son, y están, por otra
cosa... El poema en conjunto se com-pone en la mise-en-
abime de sus ‘conceptos’: la ‘mirada’, el ‘reflejo’, ‘ojos’ y
‘manos’, y en todo ello las ‘almas’, las ‘personas’: escritura
automática del alma - a saber: psicotipia del reflejo, del sím­
bolo reflejo de las almas—.Extrañamiento y fragmentación.

v. 18-24. «Fue muy extraño. ¿O no? / SÍ. Por completo. Y,

301 NOTAS
¿cómo acabará? / No acabará. No acaba, ya lo sabes. / Sí,
lo sabes... lo sé.../ ¡Oh, sí, lo sé! / Es el mal de los símbolos,
lo sabes. / Sí, lo sé».

139 Fechado a 7 de noviembre del año 193?.

w . 10-11. Aquí se ve cómo el «drama-en-gente» (es decir,


el drammatisj>ersonae) que constituye el ‘teatro’ pessoano
en realidad es un «drama sin teatro» o un «teatro sin
drama», sin espacio por tanto, o sin suceso (a la «busca de
autor» casi diríamos con su coetáneo Pirandello) en su
(im)posible ‘interpretación’.

v. 17. «Parar el sol» -o bien parar el tiempo. [La referencia


es ahí a Josué, el caudillo judío que encabeza -en sustitución
de Moisés- la conquista de la «tierra prometida» (Libro de
Josué, capítulo X)]. El título antepuesto a este poema -que
quisiera ser canto- se justifica en la conclusión.

141 Mecanografiado con indicación de fecha y de ‘lugar’:


«Mundo, a 7 de diciembre del 1933».

w . 6 - 8 . El texto nos remite nuevamente -como prolonga­


ción y variante- a lo ya comentado del poema que se
incluye en las pp. 58-61 de este libro. El ‘pecado’ («Pecado
original») que constituye al hombre es no haber sido (no
haber sido lo que pudo ser, como se dice ya en el primer
verso); una inversión, en cierto modo, del famoso motivo
del drama de(l) ser calderoniano.

145 Fechado a 19 de diciembre del año 1933-

147 v. 3 2 . «Sí, desmeditándome, despierto». Variante señalada


en TRL.

302 POESÍA VI
149 v. 2. «En el aire sentido de las cosas». Variante señalada en
TRL.

v. 3. «Una emoción abstracta». Variante señalada en TRL.


151 Fechado a 12 de abril del año 1934.

v. 4. Nueva metáfora de un vaciamiento -u n «naufragio


sin agua»- como en las dos fórmulas del «Magnífi­
cat» -«dram a sin teatro» / «teatro sin drama» (p. 139,
w . 10 y 1 1 )- o de u n a falta irrestañ ab le que a n te rio rm e n te
y a h em os señalado. L a idea se p ro lo n g a en to d o caso en el
«vacío com o u n p o zo seco» (p . 153, v. 1) qu e, ad em ás, se
e n c u en tra clausurado (jp. 153, v. 3, y poem a de pp. 154- 155) ,
en tre otros ejem plos reseñables.

153 Posterior a 1923.

155 Fechado a 12 de abril del año 1934.

157 Fechado a 11 de mayo del año 1934.

v. 22. Una nueva fórmula -contradictoria: «a fuerza de


seryo[...] olvido[...] que existo»- para las ‘personalida­
des’ pessoanas.

159 Fechado a 16 de junio del año 1934.

w. 16 y 20-21. «Un manicomio, más sin manicomio», «sue­


ños [ ...] / [...] que no son sueños». Ver nota a la p. 151, v. 4.

161 w . 29-36. Aunque el texto remite a una vivencia —y una en


el recuerdo de Pessoa, que también, en su día, ha venido
«de África»—, es interesante recordar una famosa anéc­
dota de Baudelaire que Pessoa seguramente conocía:

303 NOTAS
«Según cuentan, un día, uno de sus amigos, oficial de
marina, le mostró un fetiche que se había traído de África,
una más que monstruosa cabecita tallada en un palo [...].
“Es espantosa”, comentó el marino desplazándola a un
lado desdeñoso. “¡Cuidado!” dijo Baudelaire inquieto.
“¡Podría ser el verdadero dios!”. (En Anatole France, La
vie littéraire III, p. 21, París, 1891). Así, en efecto: «Esta
vieja angustia» (p. 59, v. 1).

163 De idéntica fecha al poema anterior.

167 Fechado a 4 de julio del año 1914.

w. 21-21. Ahí tiene comienzo una pequeña serie de poemas


-pp. 166-171- con el «corazón» como motivo.

173 Fechado a 19 de julio del año 1914.

175 Fechado a 9 de agosto del año 1914.

v. 2. «Por todas partes cosas superpuestas». Variante de


lectura en Ática.

v. 17. «Que me anuncian». Variante en Atica. «Que me


animan». Variante en TRL.

177 De idéntica fecha que el poema anterior.

179 De idéntica fecha que el poema anterior. Aquí el poeta


declara, al mismo tiempo que una incapacidad para la
forma (para la forma grande, ‘triunfal’), quizás una poé­
tica tardía; esa que se ha venido practicando en los distin­
tos textos de este libro.

181 De idéntica fecha al poema anterior. El poema constituye

304 POESÍA VI
o tra poética en calidad de u n a vieja práctica, la que fo rm a
u n tejido te x tu al.

v. 16. «Como un todo sin todo». Ver nuevamente notas a


p. 151, v. 4 y 159, w . 16 y 20-21.

183 L a m e ta p o é tic a de ‘C am pos’ g u sta de g lo sa r alg u n as


veces - p o r ejem plo en el caso del « P o em a de ca n ció n
sobre la e sp e ra n z a » o en el que co m ien z a p o r el v erso
«¡Q u é n o ch e se ren a!» ( p p . 130-135 del v o lu m e n V y pp.
128-129 del p resente v o lu m en de la Poesía de P essoa)—fig­
u ras y canciones populares.

v. 16. «Música de fondo» (en francés en el original).

195 Fechado a 11 de agosto del año 1934. El poema de la más­


cara contiene igualmente el ‘poema-de-pessoa’ (la per­
sona = la máscara). El verso 10 lo dice expresamente: así
soy jo, Pessoa. El drama-en-gente de ‘Campos’, con sus
máscaras y las demás personas pessoanas en su teatro en
busca de un ‘Autor’.

v. 6 . «El pasado que fue». Variante de lectura en Atica.

v. 10. «Así, sin la máscara». Variante de lectura en Atica;


una que, en todo caso, parece resultar contradictoria con
el sentido afirmado en / del poema.

197 Fechado a 16 de agosto del año 1934.

199 Fechado a 5 de septiembre del año 1934. La desmitologiza-


ción propuesta del “oriente” -ta n a contramano de su
tiempo- puede ser quizá para Pessoa o, en todo caso, para
‘Campos’, una crítica histórica al destino oriental de Por­
tugal.

305 NOTAS
203 «Ahí abajo, no sé dónde» (en francés en el original). Este
poema, como el que le sigue, reinciden en la metáfora del
tren y de la última espera en la estación (y. 26 expresa­
mente), en una serie que se había iniciado en los textos de
pp. 220-229 del volumen V de esta edición de la Poesía de
Pessoa: «¡Qué vida fue la mía! / ¡Qué larga espera en el ape­
adero!», se dice en versos 20 y 21 de «¡La libertad, sí, la
libertad!»; «Mejor será que me haga la maleta. / Fin» -son
los versos finales de «Grandes son los desiertos y ya todo es
desierto»-. En relación con esto remitimos a la nota que
glosa ese poema (pp. 261-262 del citado volumen).

v. 3. «La estación» (en francés en el ogirinal).

205 v. 35- «El sitio al que se vuelve es siempre otro». Ahí - y en


los dos versos que le siguen- vienen a resonar en cierto
modo el «nunca entramos en los mismos ríos» del famoso
fragmento heraclitiano y el célebre «yo es otro» de Rim-
baud.

207 Fechado a 27 de septiembre del año 193+-

v. 11. «Por todo esto, haber pensado todo». Variante de


/ . *
lectura en Atica.

v. 17. «Sin línea» (es decir, «sin escribir», en latín en el


original; el adagio latino nos ordena, al contrario, «ni un
día sin línea»).

v. 21. «Las maletas, como mirando a nada». Variante de


lectura en Atica (ver al respecto nota a poema de p. 133).

209 Fechado a 9 de octubre del año 1934--

v. 25. «Es decir, la vida...». Variante señalada en Atica.

306 POESÍA VI
213 F echado a 1 de n o v iem b re del añ o 1934. E l te x to m u e stra
ev id en te re la c ió n con u n o sem ejan te titu la d o « E n la
ú ltim a p ág in a de u n a n u ev a an to lo g ía» (v e r en pp. 64-65
del v o lu m e n V de esta edición de la Poesía pessoana).

215 Fechado a 30 de noviembre del año 1934. Otro poema de


crítica más o menos directa a los poetas. Es posible leerlo
en relación con «Marinetti, académico» (ver en pp. 116-
117 del volumen V ya citado de esta Poesía de Pessoa).

217 Fechado a 18 de diciembre del año 1934. El poema retoma


el rumbo establecido en «Psiquetipia» (pp. 134-137 del
presente volumen de la Poesía de Pessoa), en cierta forma
como variante: lo que allí constituía ya el rechazo -o, por
lo menos, el cuestionamiento- de la idea de símbolo en los
terrenos del cuerpo y de la mente aquí se centra en cambio
en impugnar una naturaleza idealizada (concebida, pen­
sada, como símbolo). De algún modo se da un acerca­
miento a la poética propia de ‘Caeiro’ -el ‘maestro de
Campos’- en estos versos últimos, finales.

v. 20. «Entre finos harapos». Variante de lectura en Atica.

v. 24. «Donde se demoraba con el novio aquel que la


dejó». Variante de lectura en Ática.

219 De idéntica fecha que el poema anterior. Una escueta ver­


sión de la sospecha arraigada y antigua -¿inevitable?- de
que «el espíritu sopla donde quiere».

221 Fechado a 20 de diciembre del año 1934.

v. 5. «La Biblia, en portugués (¡cosa curiosa!) pero hecha


para protestantes». Variante recogida en Ática.

307 NOTAS
v. 12. «Murmura en mi interior». «Lloraba en mi inte­
rior». Dos nuevas variantes recogidas en Ática.

v. 17. «La soberana luz». Variante de lectura en Atica.

v. 18. «El gran mensaje con el que el alma se libera».


Variante recogida en Ática.

223 Fechado a 30 de diciembre del año 1934.

225 Fechado a 3 de enero del año 1935- El texto continúa, de


otro modo, el problema poético planteado en el poema de
p. 219 de este libro.

227 De idéntica fecha al poema anterior.

v. 8 . «Y plumas con plumillas nuevas ahí delante».


Variante de lectura en Ática.

v. 16. «Sintonizar todo eso!». Variante de lectura en Atica.

229 De idéntica fecha al poema anterior.

231 Fechado a 4 de enero del año 1935-

v. 16. «La vida, que se pare, de aquí a poco». Variante de


lectura en Ática.

233 Fechado a 5 de enero del año 1935-

235 Fechado a 12 de enero del año 1935-

237 Fechado a 3 de febrero del año 1935, lleva nota manuscrita


de Pessoa calificándolo, en inglés, de «end of the book»
C«fin del libro» proyectado para ‘Campos’).

308 p o e s ía vi
239 Fechado a 5 de marzo del año 1915-

241 Fechado a 24 de junio del año 1935-

v. 15. «¿Y la lujuria única de no tener ya esperanzas?».


Variante de lectura en Ática.

v. 18. «Que nos da». Variante de lectura en Atica.

243 Fechado a 6 de julio del año 1935-

245 Fechado a 28 de agosto del año 1935-

249 Fechado a 12 de septiembre del año 1935-

253 Fechado a 21 de octubre del año 1935, el poema sería postu­


mamente publicado en el n° 41 de Jcção, el 6 de marzo de
1937.

259 Fechable en 1935- El último de los versos del poema -junto


a los tres primeros del de la p. 197-, son los únicos casos en
que la actualidad de la política viene a hacerse presente en
los últimos textos producidos por ‘Campos’ ya en su perí­
odo final.

263 Los dos versos primeros del poema, nos dice ‘Campos’ en
el verso 3, son dos versos de Álvaro de Campos (con la
atribución entre paréntesis). El siguiente verso -el verso
4 - viene en cambio firmado por el «viento» (el verso 5 lo
dice entre paréntesis). La ironía -del viento (en el
«afuera»)- barre el ingenio -de la propia voz-...

267 Este texto nos muestra, fragmentario y en estado de


esbozo, cierta coincidencia de motivos con la Oda marcial
definitiva (pp. 236-261 del volumen III de esta edición de

309 NOTAS
la Poesía de Pessoa); así nos encontramos, por ejemplo, la
onomatopeya del grito («helahó...») o la cabalgada
incontenible. Y también se da inicio a un desarrollo,
todavía embrionario en todo caso, del tema que presenta
la «venida» (desde «el fondo del mundo») de ese «con­
fuso» alud de destrucción: comparar al respecto versos 5 0 -
69 de este texto con los 18-26 presentes en la versión
definitiva. La diferencia de concepción y dimensión (279
versos en aquélla frente a 68 en esta otra) es de todas for­
mas manifiesta.

275 Al igual que en el caso de la Oda marcial que le antecede,


este fragmento de la Salutación muestra ya algún motivo
en miniatura del amplio y ambicioso desarrollo de la
Salutación definitiva (ver en pp. 262-311 del volumen III de
esta edición de la Poesía pessoana), siendo la diferencia de
extensión más apreciable aún por esta vez -611 versos la
versión ‘completa’ (aunque sea incompleta en realidad,
con diversos fragmentos y lagunas) frente a 121 del
esbozo—. Entre los motivos coincidentes tenemos los dos
versos del inicio -con idéntica fecha y redacción—, las
referencias a la sexualidad (comparar verso 13 del esbozo
con el 6 de la versión definitiva, que casi son iguales entre
sí), o el problema del canto y de los versos en sus diferen­
cias con la vida (w. 97-101 en el caso presente; w . +41-446
y 499-513 de los que componen la gran oda).

v. 14. «Contra la diversidad de las cosas». Variante seña­


lada en TRL.

277 v. 42. «Engolar en todo saludar». Variante señalada en


TRL.

281 v. 70. «Pero Homero no». Variante señalada en TRL. Este


verso y los dos que le anteceden, parecen encontrarse en

310 POESÍA VI
relación con la posición en la que Dante se sitúa a su vez
en su Comedia cuando, acompañado por Virgilio, es reci­
bido en el limbo, como igual, por los grandes poetas de la
antigüedad grecolatina, Homero, Horacio, Ovidio y
Lucano (vid. «Inferno», IV, w . 79-102; más adelante, en
el «Purgatorio», aún será recibido por Estacio). Pessoa se
sitúa por su parte subido «en el pináculo» con Whitman, a
cuya altura no alcanza Homero (ése «está más abajo», se
nos dice) porque no puede alcanzar «a Dios». De este
modo el rey de los poetas sigue estando en el limbo (ahí
«abajo») frente a los cristianos y modernos (aunque de
éstos se dice que son «ciegos» -como Homero lo era ‘real­
mente’- ; ahí la relación tradicional entre ‘visión poética’
y ‘ceguera’ se activa de nuevo, idealmente, a favor de
Whitman y Pessoa).

283 w . 97-105. El presente fragmento está datado como ante­


rior a 1918.

w . 106-107. El que cada «parágrafo de versos», cada


grupo coherente, cada estrofa, sea ya «enteramente una
persona» nos da una clave sobre la estructura - ‘individual’
al tiempo que poética- y la autonomía morfológica de las
composiciones pessoanas (de las de ‘Campos’ muy espe­
cialmente). Ello no contradice en todo caso la afirmación
del v. 109 sobre sus pretensiones clasicistas («estrofa, anti-
strofa y épodo»), iluminando en cambio, expresamente,
su naturaleza conflictiva (w . 110 - 112) inmediatamente
confirmada.

285 v. 118. «Desterrado en tierra», se nos dice. Pese a las


enormes diferencias tanto estilísticas como personales,
quizá valga la pena señalar la coincidencia que ahí se
muestra con la expresión «marinero en tierra» del libro
de Alberti —irnos siete años posterior—.

311 NOTAS
287 El mínimo fragmento aquí incluido es completamente
incomparable con el poema de (casi) el mismo título que
hemos editado anteriormente (pp. 56-10? del volumen IV
de esta edición de la Poesía de Pessoa). Frente a los 576
versos de esa oda, los siete versos sueltos de este texto no
componen entera ni una estrofa. En todo caso puede
señalarse el parentesco motívico existente de algunos de
los versos contenidos entre los 4-82 y 504- de aquella ver­
sión definitiva con el contenido del fragmento; en especial
se nota el parentesco que hay entre «banderas» (v. 484) y
«estandartes» (aquí v. 1), y todavía más el existente entre
lo que presentan las imágenes «aquella hora [...] de luz en
que las tiendas van bajando los párpados» (v. 504) y «a la
hora de sol en que las tiendas van bajando los toldos»
(aquí v. 7).

v. 7. «Van bajando los párpados». Variante señalada en


TRL (ver sobre esta imagen lo expresado en la nota ante­
rior).

289 El fragmento procede claramente de una versión parcial


alternativa del llamado «Poema en línea recta» (ver en
pp. 190-193 del volumen IV de esta edición de la Poesía de
Pessoa). Siendo idéntico el tema, algunos versos (p. ej.: los
w. 9 -1 0 del fragmento que aquí se nos presenta que corres­
ponden casi exactamente a los w . 29-30 de la versión más
larga de este texto) son en gran medida intercambiables.

v. 1. «Faltas», «meteduras de pata» (en francés en el ori­


ginal).

v. 4. Jano, divinidad romana con dos rostros -violento y


pacífico respectivamente—.

291 Fragmento del 28 de febrero del año 1931.

312 POESÍA VI
INDICE

P rólogo
E x c e s o s d e c o n c ie n c ia
F ern a n d o P e s s o a y e ltr iu n fo d e l yo 5
por José Manuel Cuesta Abad

A d verten cia 55

LOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS - 4 57

Esbozos y fragmentos 265

N o ta s 297
Juan Barja

Potrebbero piacerti anche