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AS MINAS DE PARANAGUÁ

Ermelino Agostinho de Leão

APRESENTAÇÃO.
Digitalizado para PDF por 316FF 20100501

O trabalho de pesquisa do insigne historiador paranaense Ermelino Agostinho de Leão que


ora publicamos no Boletim do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, além de ter exigido do
historiador consulta a diversas fontes o que o faz digno de reconhecimento e respeito, acreditamos
ter sido o seu derradeiro trabalho, pois datado de 1' de novembro de I931, o autor viria a falecer três
meses após, em 27 de fevereiro de 1932.
É constituído de um conjunto de cadernos de papel almaço, tendo na primeira página o título "As
Minas de Ouro de Paranaguá - Memória oferecida ao Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá,
por Ermelino Agostinho de Leão - 1931 ", manuscrita a pena e tinta de cor azul e com vinte e duas
páginas na grande maioria escritas com tinta de cor preta, exceto as últimas quatro, com tinta azul.
Na 23' página encontra-se um despacho assinado por Zenon Leite, datado de 28.11.1931, dando
ciência de que esse trabalho foi lido na sessão de Diretoria do IHG Paranaguá naquela data e
determinando ao Secretário para agradecer a honrosa deferência do autor àquele Instituto. O
documento é completado por mais três folhas em branco. Apenas uma parte do trabalho foi publicado
no Boletim do Instituto de Paranaguá.
No ano pretérito o nosso consócio Izeu Santo Elias Afonso da Costa entregou-nos esses originais
para fazerem parte do acervo do IHG Paraná, porém achamos oportuno também publicá-lo na íntegra
em nosso Boletim, especialmente porque o autor refere com autoridade que "as primeiras minas de
ouro no Brasil foram descobertas em nosso território", confirmando o escrito pelo Ouvidor Pardinho
em seus provimentos "que as minas eram as mais antigas destas capitanias ".
Ernam Costa Straube Vice-Presidente do IHGP
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Um dos pontos da História do Paraná, em que nos encontramos em completo desacordo - o meu
prezado e distinto amigo, o notável linhagista paranaense Francisco Negrão e eu, consiste na
ancienidade das explorações mineiras na Capitania de Paranaguá. Para mim, não há dúvida que
houve três fases distintas sobre a mineração de ouro e prata em território paranaense, sob a
denominação_ genérica de Minas de Paranaguá: a primeira, da qual nos ocupamos neste capítulo
ocorreu no final do século XVII.
Para o ilustre historiador Francisco Negrão, tal fase não existiu, afirmando que o início das
explorações mineiras data de 1646, tendo como iniciador o notável capitão-mor governador Gabriel
de Lara, contrariando a opinião do fecundo polígrafo Antonio Vieira dos Santos, que diz anteceder de
1578 a mineração.
Para a perfeita elucidação, vamos, nesta memoria, reunir os elementos que possam, de alguma
forma, concorrer para o esclarecimento da verdade. Ninguém possui maior autoridade em História do
Paraná, do que o meu dileto amigo Negrão; ele tem, com uma paciência beneditina, esmerilhado os
arquivos públicos do Estado, compulsando autos, livros seculares e colhendo, para a sua
monumental Genealogia, os mais seguros apontamentos. Assim, pois, não basta que articulemos a
negativa ou contrariedade: é mister que a fundamentemos, em bases seguras.
Antonio Vieira dos Santos, escreve nas suas preciosas Memórias Históricas de Paranaguá:
"1572 - 22 - Nesse ano de 1578 já muito se trabalhava nas minas de Paranaguá por ser antiga
tradição que o ouro que Portugal viu da costa do Brasil fora mandado a el-rei Cardeal Dom Henrique
em um frasco cheio dele, talvez pelo primeiro provedor ou administrador que
PRIMEIRA FASE
As minas de Paranaguá
As minas de Paranaguá 139 as governava, porque estas lavras e exercício de mineração delas, se
conta de tempos mais antigos que o de Minas Gerais".
O Monsenhor Pizarro confirma a remessa de ouro de Paranaguá a el-rei Cardeal Dom Henrique, que
faleceu em 1580.
O Ouvidor Geral Dr. Rafael Pires Pardinho, na carta de 30 de agosto de 1721, dirigida à coroa,
escreveu, sobre as minas de Paranaguá, o seguinte:
"Nos rios e ribeiros, que nela (baía) desaguam da Serra de Pernampiacaba e Serra Negra há
faisqueiras e pinta de ouro, em muitas partes, aonde já houve lavras e delas se tirou bastante ouro e
fòram das primeiras minas que houve nestas Capitanias e veio visitar no ano de 1660 o general
Salvador Correa de Sá e Benevides, que vedou falar-se e tratar-se de uma cata que jacia ao pé da
serra e tinha já uma alta um Dom Jaime, que.prometia descobrir nela ouro de beta, o qual mataram
pela mesma abaixo no ano de 1699." (Leia-se 1659)
Como se vê, o ouvidor Pardinho que conhecia todo o passado de Paranaguá, deixando, disto,
testemunho nos seus provimentos, afirma que as minas eram das mais antigas destas capitanias.
Benedicto Calixto de Jesus, na memoria-Capitania de Itanhaen - tratando do capitão-mor governador
Vasco da Mota escreveu: "Administrou o governo da Capitania de Itanhaen, desde o ano de 1636 até
1639, em que foi substituído por Antonio Barbosa de Morais. "Tomou parte muito ativa nas
descobertas das minas de ouro de Iguape e Paranaguá e iniciou as explorações de ouro em Minas
Gerais, cujos primeiros mineiros, já vaqueanos e práticos nesse árduo mister, pela experiência
adquirida nas minas de ouro de Iguape, partiram da povoação de Taubaté, obedecendo as ordens
deste governador de Itanhaen".
Por este tópico se ve que já antes de 1646, as minas de Paranaguá se achavam em exploração.
Na mesma obra vem reproduzida a Planta topográfica e fortaleza de Paranaguá, datada do final cio
século XVIII, a qual menciona, a foz do rio Nhundiaquara, à margem norte, na península formada pelo
rio e a baía de Antonina, a seguinte inscrição:
"Mina onde se tirou o primeiro ouro do Brasil".
Ora, o primeiro regimento das minas do Brasil foi baixado por el-rei Dom Sebastião, o que quer dizer
que data antes do desastre de Alkacerquibir. A 4 de novembro de 1613 Salvador Correa de Sá, o
velho, era nomeado administrador das minas e a 15 de agosto a corte de Castela e Aragão tinha
baixado o regimento de minas. Em 1618, pelo alvará de 18 de agosto, o rei concedia aos moradores
de São Paulo e São Vicente licença para explorar as minas descobertas e as que, no futuro,
descobrissem, mediante o pagamento da quinta parte do ouro que delas extraíssem.
Ora, se foi a lavra da foz do Nhundiaquara a mina onde se tirou o primeiro ouro do Brasil, é lógico que
foi ela explorada muito antes desses repetidos atos da corte castelhana, sobre a mineração no Brasil.
O Dr. Pandiá Calógeras - Minas do Brasil - consignou que as únicas minas de que Dom Francisco de
Souza impulsionou a exploração, foram as descobertas no século anterior.
Estes são os fundamentos do que aventamos contra o juízo competente do dileto amigo Francisco
Negrão. Pensamos pois, que as minas de Paranaguá foram descobertas e exploradas no último
quartel do século dezessete e a descoberta pode ter ocorrido, quando o capitão de canoas Heleodoro
de Eobanus, com o seu filho Gilbaldo, Sebastião Teixeira e outros moradores do Rio de Janeiro,
exploraram o litoral paranaense, escravizando os índios carijós.

SEGUNDA FASE
Em 1640, mais ou menos, Gabriel de Lara descobriu, nas encostas da Serra Negra, as lavras de ouro
de Perúna (lbituruna - Serra Negra).
Passando anos, denunciou o descoberto na Provedoria de Minas de São Paulo.
Com o êxito que a exploração mineira de Lara obteve, numerosos vicentinos, paulistas, itanhaenses
e cananeenses vieram tentar fortuna e povoar o recôncavo da baía de Paranaguá.
Até então, as catas exploradas ficavam no vale do rio Cubatão dos Três Morretes com a descoberta
das lavras da Serra Negra, os aventureiros e mineiros exploraram os cursos dos rios tributários da
baía de Paranaguá.
O povoamento de Paranaguá tomou notável impulso: o velho povoado da ilha da Cotinga não
comportava a população que afluía para a localidade. Gabriel de Lara tratou de erigir nova povoação
na ribanceira do rio Taquaré e, em 1646, levantou o pelourinho, com licença do governador do Rio de
Janeiro Duarte Corrêa Vasqueanes.
Com o desenvolvimento das minas, entendeu Vasqueanes que era necessário ter uma pessoa de
sua inteira confiança no cargo de provedor das minas de Paranaguá. A escolha recaiu em Leodoro
Ebanos, neto e sucessor de Heleodoro de Eobanus, que exercia o cargo de "general da Armada de
Canoas de Guerra desta costa e mares do sul", e este, a 4 de março de 1649, comunicou a sua
nomeação à câmara e ao capitão povoador Gabriel de Lara.
O general Leodoro, verificando que a produção das minas era muito satisfatória, não só tratou de
arrecadar os quintos d'el-rei, como de fundar o Arraial Grande, acima da Serra e de montar a casa de
Fundição de Ourò de Paranaguá. Pouco depois entravam, na circulação, em São Paulo as barretas d'
ouro fundidas em Paranaguá, causando este fato grande descontentamento aos oficiais da
Provedoria das Minas de São Paulo.
A 31 de março compareciam à câmara de São Paulo o capitão -mor Manoel Pereira Lobo e
Bartolomeu Fernandes de Faria, tesoureiro da Casa da Moeda pedindo que examinassem as marcas
do ouro fundido em Paranaguá e que reclamassem contra o fato, que importava em extravio das
rendas do donatário da Capitania, solicitando providências também ao administrador geral das minas
e governador Duarte Corrêa
Vasqueanes. Essas providências não tiveram efeito imediato e as barretas de ouro fundidas em
Paranaguá continuaram a circular.
A 29 de novembro de 1649, o provedor das minas de São Paulo, compareceu à câmara, declarando
que tinha notícia de que, na vila de Paranaguá, nas minas descobertas pelo capitão Gabriel de Lara e
manifestadas na provedoria de São Paulo, estava Leodoro Ébano com casa de fundição, quintando
ouro sem ordem régia; e para por embargos a essa irregularidade estava para partir a Paranaguá e
por isso requeria que a câmara deprecasse às câmaras de Cananéa e de Paranaguá e bem assim ao
Capitão Gabriel de Lara, requerendo toda ajuda e favor. Solicitava, também, que lhe dessem índios
das aldeias reais para essa diligência.
Francisco Negrão reproduz os dois termos de vereança, de sorte que julgamos desnecessários incluí-
los nesta memoria.
Duarte Corrêa Vasqueanes, tio de Salvador Correa de Sá e Benevides, fora por este incumbido da
administração geral das minas e do governo do Rio de Janeiro, durante a sua ausência na empresa
da libertação de Angola, que havia sido conquistada pelos holandeses. Cumprida a missão na África,
ao regressar ao Rio de Janeiro mandou o seu ajudante João Rodrigues Morales receber todo o ouro
que houvesse na Casa de Fundição de Paranaguá, dirigida pelo general das canoas de guerra
Leodoro Ébano (Ordem de 5 de maio de 1652).
O conflito provocado pela provedoria de São Paulo não produziu os resultados desejados:
Vasqueanes manteve a Casa de Fundição de Ouro de Paranaguá, subordinando-a à Provedoria de
Minas de São Paulo.
Com a morte de Duarte Corrêa, Salvador C. de Sá e Benevides resolveu nomear para administrar as
minas, na sua ausência ao provedor da real fazenda Pero de Souza Pereira.
Eis o título da nomeação:
Salvador Corrêa de Sá e Benevides, senhor da vila de ........ comendador das comendas de São
Sebastião da Lagoa de São João de
As reinas de Paranaguá 143 Cássia, alcaide-mor da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, do
conselho de guerra e partes ultramarinas, governador das minas da repartição do sul, etc.
Porquanto sua majestade, que Deus guarde, depois da morte do meu tio Duarte Corrêa Vasqueanes,
a quem tinha feito mercê do cargo de administrador das minas da repartição do Sul em minha
ausência, foi servido encarregar da obrigação delas e das novas descobertas no Paranaguá da sua
defeza e fortificação ao capitão Pero de Souza Pereira, meu primo, provedor e contador perpétuo de
sua real fazenda nesta cidade do Rio de Janeiro, por uma carta firmada de sua real mão que vai
trasladada com o regimento com que o dito senhor o habilitou e ainda confirmou na mesma mercê
feita ao dito Duarte Correa Vasqueanes de administrador das ditas minas na minha ausência em
consideração........... do oitavo capítulo do meu regimento porque sua majestade fia de mim a eleição
da pessoa que houver de nomear para o dito cargo em minha ausência, para que não parem as ditas
minas nem se perca o que estiver obrado nelas, encarregando-me que seja a de maior satisfação,
tendo-a eu mui particular do talento, zelo e amor com que o dito Pero de Souza Pereira serve à sua
majestade, de muitos anos a esta parte e conhecendo da confiança que o dito senhor dele faz para
tudo do seu real serviço "por sua qualidade e experiência; hei por bem além de estar nomeado para o
tal efeito da obrigação das minas pela dita carta de sua majestade, de minha parte e conforme ao
poder que para isso tenho de nomear e eleger como por esta faço, em minha ausência ao dito
capitão Pedro-de Souza Pereira por administrador das minas daquelas capitanias de São Vicente,
São Paulo e Paranaguá e todas as mais da repartição do Sul, em que se achar ouro, prata, pérolas,
salitre......... e outros metais, assim como sua majestade me há feito encomendar para que o (fosse),
como minha própria pessoa, levando o ordenado declarado no regimento, usando dos poderes que
por ele me foram concedidos e também (os concedidos) pela (nomeação) que faz n ) lugar do meu tio
Duarte Corrêa pela referida carta de sua majestade;
e juntamente às minas particulares, em razão da administração (geral) das ditas minas, para logo se
dispor assim como (nas) ditas capitanias, (encarregar-se) das fortificações que achar conveniente
(entabolar) com grande benefício do serviço de sua majestade............(cumprindo as ordens régias) e
o mesmo regimento enquanto (eu estiver ausente), e notifico assim os capitães das ditas capitanias,
câmaras, ministros da fazenda e da justiça de sua majestade, de sua parte e todos os moradores
(brancos) e índios, conheçam, hajam e respeitem ao dito capitão Pedro de Souza Pereira por
administrador das ditas minas, em meu lugar, na (mesma) forma que sua majestade ordena o façam
à minha pessoa, guardando em tudo o tocante a elas e bem da sua administração e benefício, suas
ordens de palavra ou por escrito, como de seu superior, deixando-o usar do regimento na forma que
nele está disposto e os oficiais das ditas minas de todas aquelas capitanias darão logo conta ao dito
administrador de tudo o que tem até agora obrado e do procedimento que nelas tem havido, com as
mais notícias para por seu aviso eu as dar a sua majestade; e só seguirão suas ordens e mandados,
sem dúvida, nem contradição alguma, e porque em todas as matérias do serviço do dito Senhor e sua
majestade fio do dito administrador Pedro de Souza Pereira (do talento, zelo e amor com que serve o
real serviço, esperando) grandes (benefícios, ficando a sua) eleição tudo mais; e esta se guardará e
cumprirá em todas aquelas capitanias e nas mais partes, conforme ao regimento das ditas minas na
forma que nele se contém, pela qual hei por derrogadas todas as provisões que meu tio Duarte
Corrêa houvesse passado a qualquer pessoa, em razão das ditas minas porque só até agora houve
por bem que se cumprissem; e esta se registará nos livros da fazenda desta capitania e nos das
capitanias e mais partes, onde pertencer naquelas da repartição do Sul. Passada no Rio de Janeiro
sob meu sinal e sinete das minhas armas aos 24 de Maio de 1652."
Esta provisão destituiu o general de canoas de guerra LeodorO Ebano da provedoria das minas de
Paranaguá, e tem o mérito de provar. que já, nesse ano, o Conde de Monsanto, donatário de Santo
Amaro, havia criado a Capitania de Paranaguá.
A 22 de Setembro do mesmo ano, Pedro de Souza Pereira apresentava à câmara de São Vicente , a
sua provisão, sendo lavrado o seguinte termo:
"Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil seiscentos e cincoenta e dois anos, nesta
vila de São Vicente, nas casas do conselho e casa da câmara se ajuntaram os oficiais dela e na dita
câmara apareceu o capitão Pedro de Souza Pereira, provedor e contador da fazenda de sua
majestade da cidade do Rio de Janeiro e apresentou na dita câmara a carta patente atrás do general
e administrador das minas Salvador Correa de Sá e Benevides, em que faz mercê da administração
das ditas minas destas capitanias na forma das ordens de sua majestade, que Deus guarde, à qual
logo deram cumprimento, sendo o cumpra-se como dela consta e logo lhe deram posse e juramento,
que assinou com os ditos oficiais e eu Antonio de Madeira Salvadores, escrivão da câmara o escrevi.
Pedro de Souza Pereira, Manuel Lopes de Moura, João Homem da Costa, João de Mello, João No-
gueira, Luiz Alves.
Logo após a posse, Pedro de Souza Pereira subiu para São Paulo, onde no dia 5 de Outubro,
apresentou à câmara a sua carta patente. O intuito da ida a São Paulo está explicado: foi requisitar
índios das aldeias para a jornada a Paranaguá. A vereança de 19 de Outubro da câmara de São
Paulo, que se opõe à mudança dos índios para Bertioga, diz "... por estarem milhor aqui pera o
benifisio das minas, como de presente piam os ditos em serviço de .sua rnagestade a Pernagá com o
administrador Pero de Soeria Pereira... "
Antes de deixar São Paulo, resolveu mandar um entrada à mina de Sabarábassu nomeando Álvaro
Rodrigues do Prado para capitão da jornada, sendo a provisão datada de Outubro de 1652 e
registrada na câmara de Parnaíba a 9 de Dezembro.
Ignoramos em que data o provedor Pedro de Souza Pereira partiu de São Paulo para Paranaguá. As
bandeiras que mandou levantar por João Maciel Basão e Álvaro Rodrigues do Prado não tinham
ainda deixado aquela vila a 29 de março de 1653, quando requisitaram da câmara índios para os
acompanharem na jornada. A câmara recusou, dizendo que os índios que havia estavam no
descobrimento de minas e os restantes tinham ido a Santos buscar o ouvidor geral.
Em abril de 1653, achavam o provedor e o seu escrivão Diogo Vaz Escobar em Iguape. A 30 desse
mez baixava ele a seguinte ordem: "Faço saber aos Snrs Oficiais da câmara da vila de São Paulo,
que correndo eu estas capitanias até Pernaguá sobre a obrigação e deligência das minas que sua
magestade foi servido encarregar-me, como se vê da seguinte carta sua: Pedro de Souza Pereira. Eu
el-rei vos envio muito saudar, Antonio Galvão, governando essa capitania me enviou algumas
amostras de pedras das minas que Teodosio Ebano teve notícia haver junto à vila de Pernaguá e
porque vieram em menor quantidade do que deverá ser para ensaio de sua importância se fazer com
certeza, vos hei por muito encomendado que, pelas vias que vos parecer, procureis saber tudo o que
se puder alcançar das ditas minas e se as pedras que se acham são movediças ou é em serra com....
e que de qualquer maneira que seja me envieis em breve que possa ser, alguns caixões das ditas
pedras, mas da maneira encomendada, mas disfarçados que se acaso os navios em que vierem
forem tomados (pelos ini) migos não ser conhecidas deles, o que vos hei por muito ancomendado e
encarregado; e que se for necessário fazer-se alguma prevenção de defensão naquela paragem para
nela haver resistência, me aviseis qual ( a necessária) e me indicareis para isso a ordem que vos
parecer. Escrita em ..... a vinte e oito de Novembro de 1651 - Rei - O Conde ...."
Reconheci tudo o que convém à fortificação e defensão (dos ditos) logares e me parece,
conformando-me com a ordem do dito senhor.... que me dá nela, que é precisamente necessário
guarnecer, com aldeias de índios, as paragens que tenho feito eleição para fortificação capaz de
defeza qualquer invenção de inimigos pelo que (ordeno) e mando na forma do poder que para isso
tenho e (do) regimento (das cujo primeiro capítulo é o seguinte: "Em todo o tocante às ditas minas e
deligências que sobre elas (tendes) de fazer isento do governador Leral daquele Estado, o qual não
poderá mandar sobre vós cousa alguma e para esse efeito lhe derrogo (por) este seus poderes para
todas as causas e diligências que ordenareis para obrigação e benefício das ditas minas tereis
jurisdição e alçada (sobre) os capitães das ditas capitanias de São Paulo e São Vicente e das (ditas)
câmaras, justiça e ministros dela e das minas e sobre todas as pessoas (brancos e índios) moradores
e estantes nelas, os quais todos para o dito efeito serão obrigados a Cumprir vossos mandados,
como de seu superior, o qual vos assim (encomendo) confiando em vós que usareis desse poder de
maneira clue (mais) convém ao bem das ditas deligências e meu serviço que não Laja (de)zavenças,
como espero da vossa prudência, e para o que for necessário das mais capitanias do dito Estado
mando ordenar ao governador dele e mais capitães, ministros da justiça e da fazenda delas os
(ajudem) com aquilo que pedirdes e for melhor para bem do entabolamento das ditas minas e boa
administração delas, e quando eles não vos ajudares, protestareis contra eles e me dareis conta".
Que logo que este meu mandado for apresentado e ordem (do uentio) descer à vila da Conceição,
para onde vou caminhando, dispondo e ordenando o que sobre o particular das ditas minas convém
ao serviço de sua majestade, as três aldeias que o dito senhor tem nessa vila, a ,,aber: a de São
(Miguel); a de Marueri e a de Nossa Senhora dos Pinheiros, todos os índios delas e (suas famílias,
obrigados assim, os estantes, como os que estiverem por casa (de mora)dores, fazendo-os para este
efeito entregar e juntar nas ditas aldeias, os quais todos assim \irão a cargo dos capitães brancos,
que os governam fazerem entrega na dita vila da Conceição e me apresentar nos lugares de beira-
mar que me tem parecido (conveniente), concedendo em nome de sua majestade terras
convenientes e capazes a sua (aldeia), lavouras de mantimento de xeu sustento comum.......; isto até
darconta ao dito senhor e ele (resolver) () que melhor que é seu serviço, o que vossa mercê (cumpra)
logo esta tão necessária ajuda (ao entabolamènto e defensão das minas) de se lhe aumentar e poder
conseguir o intento de sua majestade, da sua parte e ordeno assim a vossa mercê, com (vista de
evitar) de todo o risco que correm estas praças e logares, a serem tomados do inimigo, a falta deste
primeiro modo de defensão e da perda das rendas reais, por se não intentar o aumento delas e
outros particulares, cuja conta só pertence a sua majestade e a ela juntamente (avisarei) com o
traslado deste, da desobediência de vossa mercê, que não espero haja, antes, por certo, que em tudo
darão o devido cumprimento e execução a esta minha ordem e mandado, como leais vassalos seus,
sendo negócio de tanto peso e importância e de tão pouca assistência das aldeias dessa vila, que
nem podem valer nas deligências que se hão de fazer nas minas, nem nos casos em que
repentinamente o inimigo a acometa, como costuma, além de que é mais que tudo isto a razão do
que tenho reconhecido e me parece para o fim do que sua majestade me encarregou. Passado nesta
vila de Iguape a trinta de abril de 1653. Diogo Vaz Escobar, escrivão da fazenda e quintos reais e
moeda nesta repartição do Sul a subscrevi e dou fé de serem tirados dos próprios os traslados que
aqui vão da carta de sua majestade e capítulos do regimento das minas, que tudo está em poder do
administrador geral delas, a que me reporto. //Pedro de Souza Pereira.//"
Esta ordem prolixa do provedor não obteve o "cumpra-se" da Câmara de São Paulo. Esta, a 28 de
Maio reunia-se para resolver sobre a ordem, convocando o capitão-mor Bento Ferrão Castelo Branco,
Dom Simão de Toledo Piza, juiz de órfãos , Pedro da Silva, Gaspar Manoel Salvago, João da Costa,
João de Godoi Moreira, Pascoal Leite, Francisco Nunes de Siqueira - o salvador da pátria, Antonio
Lopes de Medeiros e Francisco Rodrigues Guerra. Exposto o fim da reunião pelo vereador capitão
Cal ixto da Mota, o capitão-mor Bento Ferrão se opôs à mudança das aldeias para Paranaguá,
declarando que ia comunicar a el-rei e ao governador geral a ordem do administrador geral, com a
qual não podia concordar por ter dado menagem destas praças e estarem elas ameaçadas pelo
inimigo e não contava para assistência e defeza senão com os referidos índios. Os demais
convocados declararam-se contra a mudança das aldeias: primeiro porque a capitania ficava sem
defesa, justamente no momento em que o inimigo infestava a costa e em que os índios estão em
diligência e policiamento do mar, em canoas; segundo, pela falta de mantimento para a mudança;
terceiro, pela questão do clima, enquanto as aldeias de São Paulo aumentavam, as do litoral
definhavam devido ao clima doentio; quarto, pelo perigo que oferecia a ordem da mudança, visto os
índios não concordarem e poderem fugir para os domínios de Castela. A câmara resolveu escrever
ao rei e ao governador geral expondo as razões de não cumprir as ordens recebidas.
De fato, a câmara dirigiu-se à coroa, enviando a seguinte carta: "Desejando nós os oficiais da câmara
da vila de São Paulo acertar sempre na execução das ordens de vossa majestade que, como
obedientes vassalos veneramos e respeitamos com toda a submissão, julgamos que devíamos avisar
a vossa majestade do que nos ordenou Pedro de Souza Pereira, provedor da real fazenda do Rio de
Janeiro e administrador das minas desta capitania sobre a mudança de umas aldeias e do que nós
também respondemos para que vossa majestade, sendo informado dos inconvenientes grandes que
disto se segue, seja servido ordenar o que mais convier ao seu real serviço; chegou a esta capitania
o dito provedor Pedro de Souza a fazer por ordem e carta de vossa majestade nas minas a
experiência das pedras que o capitão Antonio Galvão havia mandado e parecendo-lhe necessário
para a defensão daqueles sítios mudar umas aldeias de índios que no termo desta vila assistem para
aquele distrito chamado Pernaguá, que dista desta cidade sessenta legoas, nos ordenou por seus
precatórios e mandados os fizessemos mudar logo para a dita paragem; como esta ordem tão
apressada tinha inconvenientes de momento que se não podiam vencer com atualidade (?) lhe
propuzemos na resposta que lhe mandamos as principais seguintes: que estes índios destas aldeias
se não haviam de mudar, ainda que nós as mandássemos por ser aquela paragem Paranaguá
conhecidamente muito estéril, sujeita a enfermidades e esta do seu natural muito fértil, donde se
constrangidos por força chegarem a abalar daqui em quatro dias se metiam pelo sertão, como
costumam fugindo destes apertos, e assim cá e lá vinham a faltar ao real serviço de vossa majestade
e ao cômodo dos moradores, que se tem por experiência com índios o tem por agouro que muda do
seu natural contra a sua vontade e muito mais para sítios estéreis, pouco sadios em breve se acabam
e morrem uns após outros, como se neles desse a peste; que estes índios são de muita utilidade e
grande préstimo nesta paragem assim para os moradores, como para o serviço real, porque estes
são os que acodem de contínuo, a rebates que se dão, por razão do inimigo, que infesta esta costa,
que está povoada há mais de cem anos com muitas igrejas, conventos, casa de moeda e quintos
reais e alfândega, além de que estes índios são os de que se servem no serviço comum da república,
os ministros e capitães em todas as ocasiões necessárias, como em efeito o dito Pedro de Souza se
serviu, levando muitos em sua companhia a buscar pedras a Pernaguá, despedindo outros para mais
longe com alguns brancos a descobrir minas de prata e se aqui servem com tanta prontidão não
desamparando deixar suas famílias por muito tempo para acudir o que se lhe mande do real serviço,
parece justo não bulir com eles, nem tirá-los das suas aldeias, onde tem igrejas em que são
doutrinados pelos padres e sacerdotes que lhes assistem e onde vivem contentes e se conservam,
que em caso que as ditas aldeias se pudessem, sem inconveniente mudar, não poderia ser senão
depois de dois anos, que tal é necessário tempo para plantarem mantimentos e sustentação para
suas famílias que estas não fossem tal facilmente viver por ração; estas são as razões que demos ao
provedor Pedro de Souza, as mesmas nos pediram os índios, como miseráveis propusemos a vossa
majestade e nos com toda a submissão as propusemos e representamos a vossa majestade
sobreestando na execução do dito negócio até que vossa majestade for servido ordenar o que
devemos fazer. Deus guarde a católica pessoa de vossa majestade. Como seus vassalos ao mister.
São Paulo em câmara aos dois de Junho de 1653, Domingos Garcia Velho, Domingos Rodrigues de
Mesquita, Calixto da Mota, Francisco Cubas, Gaspar Correa, Sebastião Martins Pereira".
Na mesma data e com os mesmos argumentos tendenciosos, a câmara escreveu ao governador
geral do Brasil, fazendo referências ao inimigo holandês que infestava a costa. A alegação que
Paranaguá era estéril e insalubre, como tal inabitável para o gentio das aldeias, não tinha o menor
fundamento. Entre os índios das aldeias havia carijós, que foram habitantes de litoral paranaense, e
que, portanto, não estranhariam a mudança para o torrão natal.
Esta tentativa do administrador geral das minas, Pedro de Souza Pereira indispôs contra ele os
paulistas.
Segundo narra Benedito Calixto, o provedor, não podendo vencer a resistência dos paulistas,
removeu para Paranaguá uma das aldeias existentes no distrito de Itanhaem. Era escrivão da
provedoria,
o capitão-mor da capitania de Itanhaen Diogo Vaz Escobar, que muito a auxiliou nessa empresa.
Acompanhava o provedor Pedro de Souza, o mineiro Dom Jayme Comere, que depois de febris
pesquisas com os índios da companhia de minas, estava persuadido ter descoberto uma jazida de
ouro de beta, na lavra próxima a Serra, a qual denominou Santa Fé. Assegurava ele a existência de
um rico veeiro de ouro nativo; e nessa crença trabalhava com ardor, não dando descanço aos índios
que comandava.
Pedro de Souza Pereira, fiado nas informações do mineiro, por sua vez dava a Salvador Correa de
Sá e Benevides e à coroa, as mais animadoras notícias.
Em 1654 achando-se o administrador, aliás o provedor das minas enfermo em Paranaguá, a câmara
tomou posse dos quintos reais douro, que se encontravam em poder do mesmo e que montavam em
127 oitavas, que foram depositadas em poder de Antonio Nunes Pinto, homem abonado.
Entre os paulistas que acompanharam o provedor Pedro de Souza, figuravam Manoel de Lemos
Conde, João Maciel e outros. Pedro de Souza nomeou provedor das minas de Paranaguá a Mateus
Leão e tesoureiro a Francisco Pontes: acabou, porém, com a Casa de Fundição de Ouro, removendo
a quintação para a oficina de Iguape. Em vereação de 5 de Outubro de 1655, a câmara
paranaguense reclamou providências contra esse regime, fazendo ver que Iguape ficava muito
distante e que a passagem por largas e perigosas baías, além dos riscos de vida, oferecia perigo aos
quintos de sua majestade.
Mateus Leão incorreu no desagrado do administrador geral e este deu ordem à câmara para prendê-
lo, procedendo a inventário do que encontrasse na provedoria e em poder do provedor. A 5 de
dezembro de 1655 foi ele preso e entregue ao capitão-mor Diogo Vaz Escobar, governador da
Capitania de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaem, que então exercia jurisdição sobre
Paranaguá.
As minas continuavam em plena exploração, tendo sido nomeado tesoureiro da Provedoria o capitão
Antonio Nunes Pinto, que a 17 de abril de 1656 entregou à câmara de Paranaguá um arretel de ouro,
menos uma oitava, que foi remetido ao provedor Pedro de Souza Pereira.
Diziam os paulistas e os desafetos das Assécas (Corrêa de Sá) que Pedro de Souza Pereira, para
compensar a reduzida renda dos quintos d'ouro e iludir a coroa, tinha montado estancos em
Paranaguá e Iguape, para com as rendas desses monopólios do comércio engrossar as das
provedorias.
Nesse mesmo ano, perdia Souza Pereira o seu valioso auxiliar, capitão-mor Diogo Vaz Escobar,
governador de Itanhaem e seu braço direito nos negócios das minas de Iguape e Paranaguá.
Pouco depois, sucedia o desastre ou tragédia de Santa Fé (Porto de Cima), onde Dom Jaime Comere
perdera a vida, morto pelos índios que comandava. A trágica morte do mineiro, fez com que se
dissipasse
a ilusão da rica jazida d'ouro. O general Salvador Corrêa de Sá e Benevides havia regressado da
metrópole investido do cargo de governador geral da Repartição do Sul do Brasil, do qual tomou
posse e prestou menagem na cidade da Baía, a 5 de setembro de 1659, tratando, desde logo, da
descoberta das minas de esmeraldas, que se dizia existir na Capitania do Espírito Santo. Dirigiu-se
para essa capitania e aí nomeou o seu filho João Correa, mestre de campo da bandeira que deveria
descobri-Ias.
Antes disto, recomendou ao provedor Pedro de Souza Pereira que retirasse os índios das
companhias de minas de Paranaguá e os enviasse para o Espírito Santo. Imediatamente, o provedor
partiu para Paranaguá, com o intuito de retirar os índios e chegando à vila, tratar de pôr em execução
a ordem recebida. O povo, porém, amotinou-se, impedindo a retirada dos índios. Quando o tumulto
assumia graves proporções, o capitão-mor Gabriel de Lara interveio pacificadoramente, prometendo
representar ao Governador Geral Benevides contra a retirada dos índios; e fez com que a câmara
intimasse ao provedor a sustar o embarque dos índios; Gabriel de Lara orou, então, fazendo ver que
justamente quando já estava aberta a lavra de ouro de beta, era precipitação abandonar o serviço,,
sem verificar se de fato, existia o veeiro de ouro nativo que Jaime Comere previa; alegou que, com a
retirada dos índios, Paranaguá ficava indefeza, exposta a urn assalto do inimigo holandês, que já
havia entrado na baía, depois da descoberta da lavra de ouro nativo; e que vendo a terra
desguarnecida, facilmente poderia conquistá-la fazendo outras considerações.
Pedro de Souza Pereira declarou que estava cumprindo ordens: entretanto, se lhe dessem o
requerimento por escrito, sustaria o embarque e submeteria o caso à decisão do governador geral.
O general Benevides, logo que chegou ao Rio de Janeiro e assumiu o governo, resolveu enviar o
doutor Pedro de Maestre Portugal, ouvidor geral, a São Paulo e São Vicente, incumbindo-o da
administração das minas de Paranaguá e dirigiu uma carta à câmara paulista, convidando os
moradores que tivessem posse e gente para a exploração das mesmas minas.
A câmara de São Paulo baixou, neste sentido, o seguinte edital: "Os oficiais da Câmara, que servem
este presente ano os abaixoassinados fazemos saber a todos os moradores desta dita vila, em como
temos carta do governador geral desta repartição do Sul , Salvador Correa de Sá e Benevides, pelo
qual consta pedir-nos peçamos aos ditos moradores, que tiverem posse; e gente; cultivem as minas;
pagando os quintos; do ouro que tirassem; a sua majestade, as quais minas se estendem as de
Pernaguá, em que farão a sua majestade grande serviço; e proveito para os ditos moradores
que cultivarem as ditas minas, de que sua majestade se haverá por bem servido; dos moradores
desta dita vila; e para que venha a notícia de todos, mandamos passar o presente e para que conste
da deligência, que fizemos sobre o que nos é avisado; dado em câmara sob nossos sinais somente
aos dezesete de maio de mil seiscentos e sessenta. André de Barros Miranda, escrivão da câmara a
fez por nosso mandado - João Machado Lima, Francisco Martins Bonilha - Manoel Alves de Souza -
João Vieira."
O plano de Benevides era o de guarnecer Paranaguá com os mineradores paulistas para poder retirar
os índios, sem o perigo de deixar indefesas as minas. Parece que descontentou ao governador geral
a conduta do provedor Pedro de Souza Pereira, deixando de cumprir as suas ordens sobre o
embarque dos índios: destituiu-o do cargo, incumbindo ao ouvidor Dr. Pedro de Mustre Portugal, de
administrar as minas de Paranaguá, tendo esse magistrado requisitado da câmara de São Paulo,
índios para acompanhá-lo, como se verifica pela leitura da seguinte carta:
"O Governador Geral Salvador Corrêa de Sá me encarregou da administração das minas de
Pernaguá para cujo efeito me são necessários os índios dessas quatro aldeias, os quais vossas
mercês, por serviço de sua majestade mandarão alistar e mandarmos a esta vila para se conseguir o
serviço de sua majestade e avisar-me a quantidade que se poderá mandar para conduzirem os
mantimentos, advertindo que se lhe hão de
As minas de Paranaguá
As minas de Paranaguá 155 pagar pontualmente, todo o seu trabalho; e fico esperando aviso de
vossas mercês para dispor a jornada; e entretanto, me tem para o que se oferecer ao serviço de
vossas mercês e essa república, a quem Deus guarde. A 10 de maio de 1660 anos - Pedro de Mustre
Portugal."
Não se limitou a essa providência: pouco depois o ouvidor enviava a Santos, com um frade, dois
mineiros para, em companhia do provedor das minas de São Paulo, Pascoal Afonso, seguirem a
Paranaguá
a examinar as minas. O provedor da fazenda real de Santos, Sebastião Velho de Lima, dirigiu à
câmara de São Paulo, a seguinte missiva:
"O senhor Salvador Corrêa de Sá e Benevides, governador desta repartição, enviou um frade com
dois mineiros a esta vila para que em companhia do provedor Pascoal Afonso vão a tratar das minas
de Pernaguá, para o que é necessario o favor de vossas mercês conduzirem alguns índios das
aldeias para irem na dita jornada, visto ser serviço de sua majestade, em cuja causa vossas mercês
disporão, como se espera do seu procedimento, determinando como julgarem mais acertado e com
brevidade possível, do que se fica esperando para se dar expedição a dita viagem, em uma
embarcação que do Rio veio para esse efeito; como o dito provedor sobre a mesma matéria escreve
a vossas mercês, não sou mais largo, ficando muito certo, a seu serviço no que me mandarem.
Guarde Deus a vossas mercês como pode. Santos, 16 de maio de 1660 anos - Sebastião Velho de
Lima.
A câmara paulista baixou um edital ordenando que os moradores, que tivessem índios das aldeias
em seu poder, fizessem entrega dentro de vinte dias, sob pena de 50 cruzados de multa para o
conselho e caminho do mar.
Todas estas providências que o governo Benevides tomou sobre as minas de Paranaguá eram
conseqüência da representação do capitãomor Gabriel de Lara.
São Paulo estava com as aldeias despovoadas e os paulistas não viam com agrado essas contínuas
requisições de índios, havendo, mesmo, tentativa de motim, como adiante descreveremos.
As notícias das minas de Paranaguá eram contraditórias: uns diziam que não havia ouro nativo;
outros, ao contrário, se mostravam esperançados e confiantes, prevendo a próxima descoberta de
uma jazida riquíssima. O governador Benevides achou acertado ir pessoalmente examiná-las: deixou
o Rio de Janeiro em demanda a Santos, onde esperava conseguir uma escolta dos índios das
aldeias, para o que mandou a São Paulo o capitão-mor de São Vicente, Antonio Ribeiro de Moraes,
para trazê-la. Quando a câmara e o capitão-mor procuravam executar a ordem, surgiu um motim
chefiado por Dom Simão de Toledo Piza, juiz de órfãos e pelo ouvidor Antonio Lopes de Medeiros,
que induziram os moradores a irem à câmara, afim de impedir a descida dos índios.
As Atas da Câmara de São Paulo comprovam o fato, como se vê do seguinte termo de vereança:
"Aos dois dias do mez de novembro de mil e seiscentos e sessenta anos, nesta vila de São Paulo, o
povo dela em comum foram às pousadas dos juízes ordinários e vereadores, que atualmente servem;
e aclamando o dito povo a vós de el-rei como nosso senhor dom Afonso, que Deus guarde e
aclamando a liberdade da pátria e estripação da tirania, com esta voz e com disserem que Salvador
Correa de Sá e Benevides era seu inimigo capital; por haver sido expulso pelo dito povo a primeira
vez que intitulado governador geral a esta capitania veio e por se livrarem da tirania que publicamente
comete e pelo gentio andar alvoroçado por dizerem o dito Salvador Correa vinha dar liberdade, com
cuja voz o dito gentio matou Francisco Coelho da Cruz e a Bertolomeu Nunes do Passo e a Fernão
Bicudo Tavares, fazendo e cometendo esses e outros excessos, do que se queriam livrar, como
também atalhar os intentos que dizem traz para se passar à Província do Paraguay; e eles como leais
vassalos do dito senhor, todos juntos trouxeram os ditos oficiais e sendo juntos em mesa, foram as
pousadas do ouvidor Antonio Lopes de Medeiros e às do juiz de órfãos dom Simão de Toledo Piza e
trazendo-os à casa do conselho, donde os ditos juízes e vereadores estavam, o dito povo a grandes
vozes e alaridas, disseram de comum que não queriam ao dito Salvador Corrêa de Sá e Benevides
nesta vila; e que se trazia algumas ordens de sua majestade de lá as mandasse aos ditos oficiais,
que eles como leais vassalos as dariam a sua devida execução; e requeriam aos ditos oficiais lhe
escrevessem não viesse a esta dita vila, com protestação que vindo, se poriam em defesa e não
seriam incursos em pena alguma, do que tudo mandaram com o dito povo; e eu André de Barros
Miranda, escrivão da câmara o escrevi."
Este termo traz sessenta e poucas assinaturas; mas uma nota marginal declara: "esse assunto não
teve efeito como consta do requerimento que a câmara e povo desta vila fez ao senhor General, que
está lançado neste livro às folhas 129 a 130 e por mandado dos oficiais da câmara fez este assento.
André de Barros, escrivão da câmara".
Como se vê, as minas de Paranaguá iam causando uma verdadeira revolução em São Paulo.
Benevides era um oligarca bem caracterizado: todos os empregos públicos da Repartição do Sul
eram confiados aos seus numerosos parentes. Homem de raro valor e de grande energia não soube
conquistar a estima dos seus governados: a sua preocupação única consistia em conservar a estima
e a consideração que a corte de Lisboa lhe dispensava com justas razões. Tinha sido ele o libertador
de Angola, de onde expulsou os invasores batavos; e bastaria este notável serviço para recomendá-
lo ao apreço do governo da metrópole.
Quando o governador Benevides teve ciência do motim de São Paulo, mandou publicar um bando,
dizendo que Dom Simão de Toledo e o ouvidor Medeiros tinham iludido, com razões sofisticas, o
povo, tendo assim reunido 50 ou 60 pessoas, que não representavam os três mil paulistas.
Suspendeu o ouvidor Medeiros, ordenando que se apresentasse em Santos a sua presença, sob
pena de confidente e rebelde; e o mesmo fez em relação a Dom Simão Toledo. Ambos obtiveram
cartas de seguro para comparecerem soltos à presença do governador geral, dentro do prazo de um
mês. Este bando foi datado de Santos, a 5 de novembro de 1660.
No dia 8, a câmara de São Paulo retratava-se, escrevendo ao governador geral, ao capitão-mor e às
câmaras de Santos e São Vicente, dizendo que estava pronta a cumprir as ordens de Benevides,
pronta para ir às minas, tanto de ouro, como de esmeraldas com o gentio e a sua custa; mas pedia
que Benevides não subisse a São Paulo para evitar o levante do gentio, que já, no bairro de Juquiri,
havia tido começo.
Benevides, respondendo à carta declarou que os cabeças do motim tinham agido de má fé,
pois sabiam que estava em Santos de passagem para as minas de Paranaguá, em serviço real, sem
o propósito de ir a São Paulo nesta ocasião. Desta longa e prolixa carta extraímos o seguinte:
.... entretanto, passo a Pernagoá; se houver minas, tratarei delas, e quando vossas mercês e os
honrados dessa vila lhe parecesse que tratemos das de Sabarabuçu, se fará de uma maneira ou de
outra; estejam vossas mercês certos que me devia essa vila diferente agasalho..."
Alegava os seus serviços, que eram, de fato valiosos.
A câmara publicou um edital dizendo que cumpriria as ordens do governador geral e que os dois
ministros suspensos não podiam exercer seus cargos por nenhuma via sem mostrarem
melhoramento.
Benevides, depois de deixar regularizada a situação em São Paulo, veio a Paranaguá, encontrando
no governo da capitania de Nossa Senhora do Rosario e das quarenta léguas de costa do Sul, ao
capitãomor Gabriel de Lara, loco tenente do Marquês de Cascais.
Sabendo da luta que Lara mantivera com o capitão-mor Antonio Barbosa Sotomaior, governador de
Jtanhaem, resolveu prover que enquanto durasse o litígio entre os herdeiros de Martim Afonso de
Souza, as autoridades em exercício continuassem nas funções dos seus cargos até a decisão do
pleito, em nome de e]-rei. Este provimento favoreceu ao Marquês de Cascais, então em demanda
com a casa dos Vimieiros.
As minas de Paranaguá 159 Soube Salvador C. de Sá e Benevides da tragédia de Santa Fé, da morte
de dom Jaime Comere, e achou conveniente prover que ninguém falasse ou tratasse de tal assunto,
como afirma o ouvidor Pardinho, que viu os seus provimentos. Chegado a Paranaguá a 30 de
novembro de 1660, permaneceu aí algum tempo, examinando as lavras existentes.
Na sua ausência, governava o Rio de Janeiro, o seu parente Tomé Corrêa de Alvarenga. Os seus
adversários aproveitando-se das circunstâncias, o depuseram do cargo de governador geral,
prendendo
a Tomé Corrêa, seu substituto interino e depondo-o do posto de sargentomor, e bem assim ao seu
sobrinho Martim Correa Vasques; ao seu primo provedor Pedro de Souza Pereira e a outros
parentes, aos quais acusavam de locupletarem-se à custa do povo. Na carta de 16 de novembro, que
escreveram à câmara de São Paulo, pedindo auxílio de bons vizinhos, há referência aos sucessos
das minas de Paranaguá. Dela extraímos os trechos abaixo:
"Suposto isto, quiséramos com toda a verdade representar a sua majestade entre outras cousas, o
procedimento com que o administrador geral das minas Pedro Souza Pereira se tem havido nelas,
em razão estanes que lá mandou fazer de aguardente e vinho e outras fazendas, para com elas
comprar ouro e mandar a sua majestade com título que era rendimento dos quintos, a fim de ir
sustentando o muito que tinha prometido a sua majestade que pretendia tirar das sobreditas minas; e
também o que nessa capitania se tem alcançado sobre o mineiro 'aime Comere, do qual corre por cá
a fama que fora violentamente morto, em respeito de haverem mandado a sua majestade, em nome
do dito mineiro, alguns avisos fantásticos para se ir continuando com o engano sobredito. Pedimos a
vossas mercês nos queriam mandar informação certa de todo o sobredito, pois também vem vossas
mercês fazer nisto serviço a sua majestade, que tanto deseja saber, com certeza, o desengano
destas minas e de todo o procedimento dela, fazendo ambém se a vossas mercês lhe parecer, aviso
a dito senhor, enviandonos as cartas, por nossa via se remeterem."
A carta também tratava do processo de sal e era subscrita pelos vereadores Clemente Nogueira,
Fernando Faleiro Homem, Simão Botelho de Almeida e Diogo Lopes Pereira.
A câmara de São Paulo, já provada com a prematura tentativa de sedição, não se manifestou muito
favorável aos rebeldes do Rio de Janeiro, embora fizesse votos para que em breve visse "a esse
nobre povo restituído no seu antigo sossego e lhe demos os parabéns, assim como agora os
pêsames dos seus fados."
Acrescentavam os oficiais paulistas:
"A informação que vossas mercês nos pedem dos estanques que o administrador das minas Pedro
de Souza Pereira mandava fazer dos vinhos e aguardente, não podemos satisfazer, porque nesta vila
nunca os pôs e si nas outras fez por razão de que lhe ficavam elas em via para a jornada delas, digo
das minas e não tão fora da mão como esta; as câmaras delas devem informar a vossas mercês,
neste caso, da verdade que ignoramos.
E quanto à morte do mineiro Jorge Comere, ou posto que ao princípio a fama, como em outras
cousas públicas que fora violentadas, todavia o contrário se praticou depois e entre nós serve, nesta
câmara, quem com curiosidade perguntou pelo sucesso a pessoas que foram presentes, as quais lhe
disseram que fora a morte casualmente desastrada, porque indo-se mudar com passo mais largo o
dito mineiro para outra pedra, por haver antes chovido, escorregara e caindo se despenhara na cata
ou alto cova que se fazia; também disto podem dar mais plena os que são vizinhos ao lugar onde
sucedeu o caso.
A câmara paulista depois de dizer que sobre o preço do sal fosse consultada a câmara de Santos,
manifestou-se francamente partidária do governador geral, aconselhando aos oficiais cariocas, que
devam acudir com remédio, a novidade de excesso praticado, que estranhava.
A carta era datada de 18 de dezembro de 1660.
Em março de 1661 já o governador geral Benevides se encontrava, em São Paulo. de regresso das
minas de Paranaguá, providenciando sobre a abertura de uma estrada carroçável para Santos. O
povo paulista, tendo à frente a câmara e as cabeças de religião, louvando a ação administrativa de
Salvador Corrêa de Sá e Benevides e tendo em vista os excessos praticados no Rio de Janeiro,
pediu-lhe que dissesse se estava disposto a ir ao Rio de Janeiro sem esperar nova ordem de sua
majestade, pois estava pronto a acompanhá-lo, não só por dever patriótico, como em reconhecimento
à afabilidade com que era tratado e ao bom governo e grandes serviços prestados durante tão largos
anos, pedindo, caso contrário, que ficasse em São Paulo.
Enquanto esta carta pareça um documento gracioso, que somente serviria para a defesa de
Benevides junto ao governo da metrópole, demonstra, contudo que os paulistas, depois do falho
motim, que segundo supomos, obedeceria ao plano geral da conspiração contra o governador e
deveria romper simultaneamente com a rebelião do Rio de Janeiro, se aliaram ao governador geral e
estavam dispostos a prestar-lhe incondicional apoio.
Benevides respondendo essa carta de 2 de março de 1661, muito agradeceu e engrandeceu a
lealdade dos paulistas, dizendo, porém, que não podia ficar em São Paulo, tratando das suas
conveniências, quando
o serviço real reclamava a sua presença na Ilha Grande, onde estavam construindo navios para a
armada real.
As minas de Paranaguá agitaram o Sul do Brasil, produzindo sucessos notáveis da historia nacional.
Onde ficavam as lavras d'ouro?
Pelo roteiro que o ouvidor geral Dr. Manoel dos Santos Lobato, sabemos que a lavra de Santa Fé
ficava em Porto de Cima, junto à serra e para ela de Paranaguá se seguiu pelo rio Cubatão dos Três
Morretes (Nhundiaquara) gastando dois dias em canoa.
O ilustre e saudoso paranaense Dr. Moyses Marcondes inseriu no precioso volume - Documentos
interessantes para a Historia
do Paraná, uma curiosa planta da baía de Paranaguá, mencionando numerosas lavras.
A mina de Bituruna, descoberta por Gabriel de Lara, ficava na Serra Negra, em Guaraqueçaba. Nos
rios Faisqueira, Nhundiaquara, Picão, Sapetanduva, Rio dos Pintos e, principalmente, acima da Serra
nas encostas do Marumbi eram numerosas as lavras d'ouro, que deram origem ao povoado do Arraial
Grande.
Eram famosas as lavras do Pinajóia, do Pau Seco, do Rio dos Pintos, do Silão, do Arraial, nessa fase
da mineração.
TERCEIRA FASE
Não nos ocuparemos nesta memória, da terceira fase que se refere às famosas e fabulosas "Minas
de Prata de Paranaguá", que já constituiu assunto de outros ensaios nossos.
O propósito que temos ao oferecer este ligeiro ensaio ao Instituto Historico e Geográfico de
Paranaguá consiste em levar o nosso aplauso aos iniciadores do nobre instituto de cultura cívica,
demonstrando, assim, o apreço que temos por tão louváveis esforços e o amor que dedico ao torrão
dos meus maiores.
Curitiba, 1 ".de novembro de 1931.
(ass.) Ermelino Agostinho de Leão
E, ainda, sobre as minas de ouro do Brasil.... no dia 23 de maio de 1730....
"O provedor dos quintos redes André Gonçalves Pinheiro, querendo evitar o descaminho dos quintos
do ouro que sua Magestade com generosa mão reservou todo a seus vassalos, só reservando para si
a limitada porção dos quintos e porque dessa real generosidade se abusa descaminhando o ouro, pa-
rece-lhe buscar o rernedio para evitar o grande crime, um dos maiores, de que sua magestade se
quer esquecer: apresente dentro de 3 dias a casa da.fundição, com carta de guia passada pelos
Juizes para se cobrar os quintos. "
Extraído de Francisco Negrão, "Efeméricles Paranaenses", 1º. Volume,
Curitiba 1949, pg. 266.

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