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FRANCIS SCHAEFFER:

SUA VIDA E TEOLOGIA

W. Gary Crampton
Este estudo do apologista cultural Francis Schaeffer objetiva apresentar: 1) O
contexto do homem e da sua vida; e 2) A teologia que deu a esse cristão o
entendimento filosófico de Deus, do mundo, do homem e do nosso dever de
transformar a cultura e a sociedade de acordo com a Palavra de Deus. As
ideias essenciais de Schaeffer não são novas; na verdade, são bem antigas.
Muitas vezes as coisas antigas são boas, caso se baseiem nos princípios da
Palavra de Deus. Há passagens no estudo em que o Dr. Crampton aponta
diferenças entre sua forma de pensar e a do Dr. Schaeffer. Todavia,
Gary Crampton exalta o entendimento de Francis Schaeffer de que a cultura e
a sociedade devem ser transformadas, e essas mudanças funcionarão só se
forem baseadas na sociedade cristã que segue a Bíblia em todas as áreas da
vida. Nessa análise introdutória, Gary Crampton escreveu um livro que deve
ser lido antes do início do estudo com profundidade sobre o homem, seu
método e suas ideias teológico-filosóficas. Recomendo fortemente o livro.
— Dr. Kenneth Gary Talbot
Presidente, Whitefield Theological Seminary
Copyright © 2013, de W. Gary Crampton
Publicado originalmente em inglês sob o título
The Life and Theology of Francis Schaeffer
pela Whitefield Media Productions – um ministério do Whitefield Theological Seminary,
P.O. Box 6321, Lakeland, Flórida, 33807, EUA.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por


Editora Monergismo
SCRN 712/713, Bloco B, Loja 28 — Ed. Francisco Morato Brasília, DF, Brasil — CEP 70.760-620
www.editoramonergismo.com.br
1ª edição, 2020

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto


Revisão: Rogério Portella

Proibida a reprodução por quaisquer meios,


salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Todas as citações bíblicas foram extraídas da Versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), salvo
indicação em contrário.
Sumário
1. Francis Schaeffer, o homem
2. O conhecimento
3. A Escritura
4. Deus
5. O homem
6. Cristo
7. A salvação
8. A igreja
9. O magistrado civil
10. A escatologia
Bibliografia
Quando foi possível identificar o trecho nas traduções brasileiras, fizemos
uso dessas edições, conforme listado na Bibliografia ao final do livro.
Contudo, em alguns casos houve omissão de trechos e até mesmo parágrafos.
Assim, nessas ocasiões fomos obrigados a traduzir diretamente do original.
Por exemplo, a “Introdução” completa de Schaeffer ao livro He is There and
He Is not Silent, composta de oito parágrafos, foi reduzida a três pequenos
parágrafos na edição da Editora Cultura Cristã [O Deus que se revela]. O
trecho ausente está no volume II da The Complete Works of Francis
Schaeffer.
Sempre que o autor citou algum volume das Obras Completas [geralmente
identificado apenas como Works], mantivemos a informação na nota de
rodapé. Nas citações em que fizemos uso de uma edição brasileira, a
informação consta entre colchetes.
Percebemos diversos erros e lapsos de tradução em várias edições brasileiras.
Em vez de apontar esses erros, alguns crassos, resolvemos utilizar a tradução
ajustando termos, expressões e frases quando necessário.
1. FRANCIS SCHAEFFER, O HOMEM

Francis August Schaeffer IV nasceu em 30 de janeiro de 1912, em


Germantown (Pensilvânia, EUA). Foi o único filho de Francis A.
Schaeffer III e Bessie Williamson Schaeffer. Na juventude, Schaeffer
frequentou uma igreja presbiteriana liberal; o ensino dessa igreja o tornou
agnóstico.
Devido às suas preocupações com respeito ao significado e propósito da vida,
Schaeffer estudou filosofia. Mas ele não encontrou nenhuma solução
adequada nos ensinos do “cristianismo” liberal nem do secularismo. Então
ele começou a ler a Bíblia. Nela Schaeffer encontrou, não apenas opiniões
humanas, mas a verdade de Deus (que ele chamava “verdade verdadeira”), e
a verdade “o libertou” (Jo 8.32). Schaeffer escreveu:
Esta foi a forma como me tornei cristão. Fui, por muitos anos, membro de uma igreja “liberal”.
Até que cheguei à conclusão, a partir do que eu lá ouvia, de que a única solução era o
agnosticismo ou ateísmo. A partir da teologia liberal, acho que não teria tomado uma decisão
mais sensata na vida. Tornei-me um agnóstico, e então comecei a ler a Bíblia pela primeira vez
para confrontá-la com a filosofia grega que eu estava lendo. Tomei esta atitude por uma questão
de honestidade, pois estava abrindo mão do que eu achava ser o cristianismo sem nunca ter lido
a Bíblia toda. Em um período de aproximadamente seis meses eu me tornei um cristão, porque
estava convencido de que a resposta completa que a Bíblia apresentava era suficiente para os
problemas que eu então conhecia, e que era suficiente de uma maneira bastante fascinante.[1]
Encontrei a verdade neste Livro [a Bíblia]. Em minha leitura da filosofia percebi que havia
inumeráveis problemas que ninguém estava respondendo. Mas na Bíblia comecei a encontrar
respostas, não meramente respostas individuas que derrubavam os problemas um por vez, mas,
embora eu sendo finito, ela colocou uma corrente em minha mão que unia todos os problemas e
tinha uma resposta sistemática a todos eles. A Bíblia, isso me chocou, lidava com os problemas
de maneira completa e abrangente.[2]
Com 18 anos de idade, Francis Schaeffer respondeu ao chamado do
Evangelho, e foi convertido. Desse período em diante, ele dedicou a vida à
propagação da verdade da Palavra de Deus.
Schaeffer estudou no Hampden-Sidney College de 1931 a 1935. Ali ele se
concentrou no estudo da filosofia e psicologia. Após se graduar, magna cum
laude, em julho de 1935, casou-se com Edith Seville. Neste mesmo ano ele
começou o treinamento em seminário no Westminster Theological Seminary
(WTS). Mas (principalmente) pela posição escatológica pré-milenarista, que
diferia do ensino do WTS, Schaeffer pediu transferência para o Faith
Theological Seminary em 1937. Ali ele recebeu o grau de mestre em 1938.
Nos anos seguintes, Francis Schaeffer recebeu os títulos de doutorado do
Highland College (Doutor em Teologia, 1954), Gordon College (Doutor em
Letras, 1971) e Simon Greenleaf School of Law (Doutor em Direito, 1983).
Após a graduação no seminário, Schaeffer se tornou o primeiro ministro
ordenado da Bible Presbyterian Church, e pastoreou igrejas presbiterianas em
Grove City (Pensilvânia) e St. Louis (Missouri). Nesse tempo, o casal
Schaeffer foi abençoado com três filhas: Priscilla (1937), Susan (1941) e
Debby (1945).[3] Em 1948, Schaeffer e sua família mudaram-se para Suíça
sob o patrocínio da Independent Board for Presbyterian Foreign Missions
[Junta Independente de Missões Presbiterianas no Exterior], a fim de
combater a disseminação do modernismo. Ele falou contra o humanismo
desenfreado da filosofia existencial e relativista, e ajudou a devolver para
muitas pessoas a confiança na veracidade da Palavra de Deus. Schaeffer
viajou muito por toda a Europa, ministrando palestras sobre o teísmo cristão
como a única cosmovisão autêntica. Em 1952, nasceu o único menino do
casal Schaeffer, Francis A. Schaeffer V (Franky).
Em 1953, Schaeffer retornou aos Estados Unidos, onde ensinou no Faith
Theological Seminary. Então, em 1955, os Schaeffers se mudaram de volta
para Suíça, para o Chalet les Mélèzes na vila de Huémoz. Esse lugar tornou-
se a base para a L’Abri Fellowship. A obra de Schaeffer floresceu em L’Abri
(palavra francesa que significa “abrigo”). Ele era um professor muito
capacitado e conservador, que se considerava mais evangelista que teólogo
ou filósofo. Contudo, ele estava totalmente ciente de que o evangelismo
genuíno precisa se fundamentar na verdade da Palavra de Deus. Dessa forma,
ele se envolveu e defendeu o estudo cuidadoso da teologia e filosofia. Além
disso, Schaeffer ensinava que a prática da verdade era essencial para a obra
do ministro. Portanto, no evangelismo e na apologética, Schaeffer enfatizou o
estilo de vida santo e condizente com o cristianismo. Ele afirmava “a
compreensão clara da importância da verdade, como a prática clara dela,
mesmo quando era custoso fazê-la; é imperativo se nosso testemunho e
evangelismo hão de ser significativos à nossa geração e ao fluxo da história”.
[4]

Schaeffer se uniu à então recém-formada Reformed Presbyterian Church,


Evangelical Synod, em 1965, e continuou no ministério L’Abri, com várias
viagens e palestras, até sua morte em 15 de maio de 1984. Ele faleceu em
casa, Rochester (Minnesota, EUA), que serviu como a sede americana de
L’Abri. Essa comunidade é um tributo genuíno à família Schaeffer.
Francis Schaeffer começou a publicar seus livros em 1968. Excelente
escritor, foi o autor de mais de duas dezenas de livros, um em parceria com
sua esposa Edith, e outro com o Dr. C. Everett Koop. Edith Schaeffer
também escreveu diversos livros. Algumas dessas obras foram traduzidas
para mais de 25 idiomas, com mais de 3 milhões de exemplares impressos.
Schaeffer considerava seus livros e os da sua esposa uma unidade: eles
deveriam ser lidos assim. Ele também datilografou muitas de suas palestras e
discussões, muito úteis no estudo de seu sistema teológico.[5]
Os ensinos de Francis Schaeffer afetaram muitos indivíduos, dentro e fora da
cristandade. Ele foi admirado mesmo pelos opositores da fé cristã. Muito
disso, talvez, possa ser atribuído ao amor e à preocupação genuínos dele para
com o próximo, algo manifesto por seus livros.
Schaeffer é considerado por muitos um dos principais intelectuais do século
20. Sua análise da cultura e do pensamento do século 20 é muito perceptiva e
informativa. Larry Wilson, por exemplo, disse: “Posso antever com confiança
que Francis A. Schaeffer [...] será lembrando pelos futuros historiadores da
igreja como um dos líderes cristãos mais importantes do século 20”.[6]
James I. Packer, declarou: “Saúdo Francis Schaeffer [...] como um dos
verdadeiramente grandes cristãos do meu tempo”.[7] De acordo com Scott
Burson e Jerry Walls, como um “missionário aos intelectuais”, Francis
Schaeffer é um dos dois “mais influentes apologistas do nosso tempo”. Ele
foi chamado “o maior filósofo evangélico do nosso século [20]”.[8] E Robert
L. Reymond escreveu: “Nenhum homem em nosso tempo provou ser mais
perceptivo ou ter se expressado com mais profundidade sobre esses temas”
que Francis Schaeffer.[9] Quando solicitado a resumir sua avaliação sobre
Schaeffer, Os Guinness disse: “No cerne de tudo o que ele fez e por trás do
gênio de sua vida, estavam três coisas muito simples que não se vê com
frequência em uma única pessoa: amor fervoroso a Deus, amor fervoroso às
pessoas e amor fervoroso à verdade”.[10] Francis Schaeffer foi de fato um
homem que, como os filhos de Issacar, era “conhecedor da época”
(1Cr 12.32). Ele resumiu a mentalidade do século 20, por exemplo, nas
seguintes palavras, ditadas à esposa poucos dias antes de falecer:
Há muito tempo se afirma e aceita, em caráter universal, que a realidade final é a energia que
sempre existiu em alguma forma e energia que tem sua forma por puro acaso. Em outras
palavras, a inteligência não tem nenhum lugar na estrutura do universo, do Iluminismo em
diante. Portanto, devemos aceitar totalmente a estrutura básica do universo como impessoal.
Isso significa, portanto, que nem a religião nem a inteligência estão no universo. A questão da
personalidade não entra na resposta do que é universo, nem nessa teoria há espaço para quem
são as pessoas. Sob essa teoria, não existe lugar para a moral, nem para qualquer significado no
universo. O problema aqui é que [essa forma falsa de ver as coisas] simplesmente não é o que
observamos sobre o universo — nem de modo especial acerca do próprio homem. A despeito
disso, o homem moderno continua pressionando, dizendo que o universo é assim, e em especial
o indivíduo. Em outras palavras, somos informados que só por meio da fé insiste-se cegamente
no que é o universo e o homem. Em outras palavras, o homem é apenas uma coisa matemática
— ou fórmula — mesmo que isso lhe traga tristeza.
Essa é a pior forma de misticismo, a negação final da racionalidade. Com entendimento,
percebe-se o egoísmo supremo de sustentar esse conceito filosófico básico contra o que chega
ao homem de todos os lados.
O que faríamos com qualquer outra teoria que postulasse esse teorema? Sem dúvida, ela seria
colocada de lado. Por que continuamos a sustentar esse teorema a respeito da realidade? Em
qualquer outra área nós o jogaríamos fora.
A resposta é clara: trata-se de uma aceitação mística. Em outras palavras, o homem é tão
orgulhoso a ponto de aceitar cegamente não só o que é intelectualmente inviável, mas o que
ninguém pode viver na prática no governo ou na vida pessoal, o que torna a vida cívica
impossível de ser vivida.
Retroceder e aceitar oposto total — a realidade final é o Deus infinito e pessoal que criou o
mundo — é racional e nos remete a respostas inteligentes, e de repente abre a porta. Isso não só
fornece respostas, mas nos coloca uma vez mais no cosmo em que se pode viver, respirar e nos
regozijar.[11]
Já se escreveu muito sobre a vida de Francis Schaeffer, sua análise dos
sistemas filosóficos falsos e sua metodologia apologética. Todavia, há poucos
textos sobre sua teologia. De fato, em seus vários escritos, embora endossasse
a “teologia sistemática”,[12] Schaeffer nunca escreveu um tratado detalhado
sobre teologia sistemática.[13] Portanto, o propósito deste livro é analisar a
teologia de Francis A. Schaeffer, e ver o que ele disse.
Francis Schaeffer era um teólogo reformado e adepto da teologia do pacto
(ele chamava a si mesmo de “um homem da Reforma”). Como ministro
ordenado na Bible Presbyterian Church e na Reformed Presbyterian Church
[Evangelical Synod], ele cria que o melhor resumo da Bíblia se encontra nos
Padrões de Westminster, consistindo na Confissão de fé de Westminster, e
nos Catecismos (breve e maior).[14] Além disso, de acordo com Schaeffer, a
cosmovisão cristã coerente reconhece tudo da história “espaço-temporal”
como um desdobrar do decreto (plano) eterno do Deus triúno da Escritura.
No centro desse plano está a pessoa e obra de Jesus Cristo. O meio pelo qual
Deus revela Cristo a seus eleitos, bem como seu propósito eterno para toda a
história, é sua Palavra infalível e inerrante: a Bíblia. Essa Palavra, disse
Schaeffer, fala a cada área da vida.
Há algo pelo que temos lutado em L’Abri — o cristianismo equilibrado, não apenas em sentido
exegético e intelectual, mas também na área da realidade e beleza; uma insistência de que, a
começar pelo sistema cristão como Deus o deu aos homens na revelação propositiva registrada
na Bíblia, a pessoa pode avançar e descobrir que cada área da vida é tocada pela verdade e por
uma música.[15]
2. O CONHECIMENTO

Francis Schaeffer acreditava que o axioma indemonstrável da teologia cristã


consiste em ser a Bíblia a Palavra de Deus, e que só ela nos concede a
“verdade verdadeira”, i.e., a verdade objetiva. Ele escreveu:
Quem não deposita sua autoridade na infalível e inerrante Palavra de Deus ficará em alguma
medida desconectado do mundo real [...] Nós, cristãos crentes na Bíblia, olhamos para o mundo
externo e para nós se trata de um mundo que pode ser entendido, pois é o mundo feito por Deus
e do qual Deus nos informou na revelação que nos deu [a Bíblia].[16]
Sem dúvida, há certa inconsistência no pensamento de Schaeffer aqui. Por
exemplo, na “Introdução” do livro He is There and He is Not Silent, ele
escreveu: “Este livro trata de uma das mais fundamentais questões de todos
os tempos: como alcançamos o conhecimento e como sabemos que
conhecemos. A menos que nossa epistemologia esteja correta, tudo o mais
será errado”.[17] Todavia, logo no começo do capítulo 1 (“A necessidade
metafísica), ele alega que o campo mais básico de toda a filosofia é a
metafísica, e não a epistemologia.
Schaeffer também não se opunha ao uso das provas teístas em sua
apologética, embora as usasse com cautela e de forma limitada.[18] Mesmo
tendo sido um “pressuposicionalista inconsistente”,[19] Schaeffer começou seu
estudo teológico e filosófico pela epistemologia (teoria do conhecimento). O
ponto de partida era a revelação.[20] Em seus livros, Schaeffer afirmava serem
as Escrituras infalíveis e inerrantes — o fundamento do restante.[21] Para ele a
“inerrância estrita” era um “teste definidor dos evangélicos”.[22] Ele “defendia
a revelação sem erro em todas as afirmações”.[23] “O fundamento sobre o qual
o cristianismo descansa”, ensinou Schaeffer, “é que o Deus infinito e pessoal
que existe não está em silêncio, mas tem falado verdades proposicionais em
tudo que a Bíblia ensina — incluindo o que ela ensina sobre história, o cosmo
e os absolutos morais, como no que ensina sobre questões religiosas”.[24]
Colin Brown declarou: a força da cosmovisão de Schaeffer consiste na
“tentativa de produzir uma filosofia de vida que integra o natural e o
sobrenatural com base na primária fonte de origem cristã — e, na verdade
única —, a Bíblia”.[25]
Schaeffer ensinava que a revelação divina ao homem tinha caráter duplo:
geral e especial.[26] O público da primeira é geral (toda a humanidade) e
limitada em conteúdo. A especial conta com um público mais restrito (os
leitores da Bíblia) e seu conteúdo é muito mais detalhado. A revelação
especial se encontra agora só nos 66 livros do Antigo e Novo Testamentos.
Além disso, como Schaeffer apontou no livro Nenhum conflito final (e outros
lugares), a revelação geral e especial estão em perfeita harmonia:
A “revelação geral” e a “revelação especial” são termos teológicos que merecem alguma
análise. A Bíblia é a revelação especial. Precisamos da Bíblia no tocante à mensagem de
salvação, e porque o conhecimento dela nos dá a chave para a revelação geral. Contudo, a
revelação geral — o que Deus criou, do que somos feitos e o que nos rodeia — apresenta a
existência de Deus e nos dá uma revelação verdadeira acerca dele. A revelação geral e especial
constituem uma revelação unificada.[27]

REVELAÇÃO GERAL
A partir de vários dos seus escritos fica óbvio que Schaeffer concordava com
o ensino da Confissão de fé de Westminster (1:1) a respeito da revelação
geral:
Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a
bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são
suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação.
[28]

Deus implantou o conhecimento inato de si mesmo em todos os homens, e


ele é proposicional e inerradicável. O homem, portador da imagem divina
(referida por Schaeffer como “hominalidade”), conta até mesmo com a lei
moral impressa no coração. Além disso, esse conhecimento inato permite ao
homem perceber a revelação divina na criação e providência.[29] Todavia, o
homem caído suprime, ou mantém em injustiça, a verdade que possui da
revelação geral. Schaeffer escreveu: “O homem sem a Bíblia não suprimiu a
revelação especial (ou seja, a revelação na Bíblia), mas a revelação geral dada
pela hominalidade do homem e pelo mundo externo. Está, pois, claro que o
homem sem a Bíblia detém a verdade pela injustiça”.[30]
Embora Francis Schaeffer defendesse com acerto a revelação natural ou
geral, ele não endossava (completamente) a teologia natural, isto é, a teoria
da apologética evidencialista sobre a possibilidade de o homem expressar
conhecimento verdadeiro acerca de Deus a partir da revelação geral somente.
Schaeffer, por exemplo, foi bastante crítico da teologia natural de Tomás de
Aquino (1225-1274), e da dicotomia de Aquino entre natureza e graça.[31] Ele
cria que essa forma de apologética evidencialista dava muito crédito às
habilidades do homem caído.[32] Schaeffer favorecia o ensino dos
reformadores:
Não, simplesmente não havia nenhum problema do tipo natureza e graça para os reformadores,
pois a Reforma contava com a revelação verbal, proposicional, e não havia dicotomia entre
natureza e graça. O posicionalmente histórico do cristianismo não apresentava este problema de
natureza e graça por causa da revelação proposicional.[33]
Além disso, Schaeffer referia-se a si mesmo como apologista
pressuposicionalista.[34]
Entretanto, como já foi observado antes, Schaeffer usava as provas teístas em
sentido limitado. Algumas vezes ele as usou de forma apagógica, isto é, para
mostrar ao incrédulo a natureza ilógica de sua cosmovisão (o que Schaeffer
designava “tirar o telhado).[35] Mas, às vezes, ele era apenas inconsistente na
abordagem apologética. Assim, o comentário de Robert L. Reymond é
apropriado: “Vejo uma tensão real no pensamento de Schaeffer nesse ponto”.
[36]

Infelizmente, é provável que essa inconsistência tenha levado Schaeffer a


adotar a teoria da verdade de dupla fonte.[37] Essa teoria afirma que a ciência,
história e psicologia fornecem ao homem verdades em adição à Palavra de
Deus. Isso é no mínimo a negação implícita do princípio sola Scriptura da
Reforma (princípio, como veremos, no qual Schaeffer alegava crer): só a
Bíblia detém o monopólio sistemático da verdade, como ensinou Paulo em 2
Timóteo 3.16,17 (e em outros lugares) e foi explicado pela Confissão de fé de
Westminster (1:6):
Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas [observe o universal “todas as coisas”]
necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente
declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada
[incluindo ciência, história e psicologia] se acrescentará em tempo algum.

REVELAÇÃO ESPECIAL
Schaeffer ensinou que a verdade proposicional da revelação especial é
necessária para obter o conhecimento sadio e salvífico de Deus por meio de
Jesus Cristo.[38] Ele estava em plena concordância com a Confissão de
Westminster (1:1): embora a revelação geral revele a Deus como Criador, só
a revelação especial o revela como Salvador:
Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a
bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são
suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação;
por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à
sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para
o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de
Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a
Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu
povo.
De acordo com Schaeffer, a revelação especial é encontrada agora só nos 66
livros do Antigo e Novo Testamentos. No progresso da história da redenção,
Deus de fato “em diversos tempos e diferentes modos”, decidiu “revelar-se”,
e “declarar à sua igreja aquela sua vontade”. Deus não escolheu se fazer
conhecido ao homem de uma única vez. Antes, ele achou apropriado se
revelar pouco a pouco, no tempo, ao longo dos séculos. A revelação foi
progressiva e diversa. Durante esse tempo, Deus falou ao seu povo de várias
formas: teofanias, voz audível, Urim e Tumim, línguas e assim por diante.
Mas com a vinda de Cristo, e a era do Novo Testamento, cessaram “aqueles
antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo”. O cânon da
Escritura está fechado e a revelação especial está restrita à Bíblia.[39] Nela,
declarou Schaeffer, temos a “comunicação divina de verdades proposicionais,
escritas de forma verbal, para todos aqueles que foram criados à imagem de
Deus”.[40] “O que a Bíblia nos diz é verdade verdadeira, proposicional e
factual.”[41]
Na Bíblia, como sustenta o Breve catecismo (R. 3), somos ensinados sobre “o
que o homem deve crer acerca de Deus, o dever que Deus requer do homem”.
A Bíblia não nos dá conhecimento exaustivo, mas fornece tudo que
precisamos. Schaeffer escreveu: “Assim, com base nas Escrituras, ainda que
não tenhamos um conhecimento exaustivo, temos certamente conhecimento
verdadeiro e unificado”.[42] “O Antigo e o Novo Testamento juntos”,
declarou, “fornecem tudo de que precisamos, da queda à segunda vinda de
Cristo”.[43]
Ele também ensinou que a revelação da Bíblia é racional. Não existem
contradições ou paradoxos lógicos na Escritura. “A Escritura”, mantinha ele,
“não se contradiz”.[44] Além disso, não existe dicotomia entre fé (revelação) e
razão (lógica). As duas andam de mãos dadas pois Deus é racional e assim o
é sua Palavra. De fato, a fé cristã depende da irrefutabilidade da razão (o
pensamento coerente) para sua proclamação e entendimento. Deus se
comunica conosco de modo coerente em sua Palavra por meio de declarações
racionais e proposicionais. A revelação só pode chegar até a pessoa racional.
“A racionalidade”, declarou Schaeffer, “deve necessariamente abrir a porta
para um relacionamento vital com Deus”.[45] E, outra vez, “à medida que o
cristão cresce espiritualmente [santificação], ele deve tornar-se um ser
humano que, conscientemente, submete o seu mundo de pensamento, bem
como seu mundo exterior, cada vez mais às normas da Bíblia”.[46]
Schaeffer, então, não bifurcou o estudo da teologia e o estudo da filosofia. Ao
longo de todo o volume 1 das Obras Completas de Francis A. Schaeffer,
intitulada: “Uma visão cristã da filosofia e da cultura”, ele é muito explícito:
a Bíblia toda para toda a vida. “A filosofia e a religião [teologia]”, ele
afirmou, “não tratam de questões diferentes, embora [...] usem terminologia
diferenciada”. A filosofia de alguém é sua cosmovisão, e a cosmovisão cristã
deve se basear só na Escritura, “é universal no seu escopo”.[47] “Existe uma
cosmovisão”, disse Schaeffer, “que pode explicar a existência do universo,
sua forma, e a singularidade das pessoas: a cosmovisão que é nos dada na
Bíblia”.[48] O cristianismo, de acordo com Schaeffer, não é apenas uma
filosofia boa, “é a melhor filosofia [...] é a única filosofia que é coerente
consigo mesma e que resposta às questões da realidade”.[49]
Para o cristão, então, as disciplinas da oração e do estudo bíblico (pessoal e
corporativo), em base regular, são essenciais para o progresso na santificação.
Schaeffer afirmava:
Depois de alguém se tornar um cristão, há quatro coisas que o ajudarão:
1. Um estudo constante da Bíblia, que é a comunicação de Deus conosco.
2. Permanente oração. Agora que a culpa foi toda removida, não resta mais nenhuma barreira
entre nós e Deus e estaremos em condições de conversar livremente com ele. Há dois tipos de
oração que nos é necessário praticar: horas reservadas exclusivamente para a oração, e olhar
sempre para o Senhor, ao longo dos afazeres do dia.
3. Falar com os outros sobre o Deus que existe e a sua solução para o dilema humano.
4. Frequentar uma igreja que acredite na Bíblia. Não uma igreja qualquer, mas uma que seja fiel
ao conteúdo da Bíblia — não uma que se limita a recitar as palavras corretas, mas uma onde
haja vivência da verdade na comunidade e da compaixão com relação aos de dentro e de fora da
igreja.[50]
3. A ESCRITURA

Francis Schaeffer acreditava que a Bíblia é a Palavra de Deus. Ela é a


revelação escrita de Deus para a humanidade, e alega deter monopólio da
verdade. Schaeffer demonstrou que, como resultado da Reforma, esse
princípio foi entendido e aplicado pelos colonos americanos. A Bíblia era o
“livro-texto” deles para todas as áreas da vida.[51] Esse ensino, sem dúvida,
está de acordo com o do apóstolo Paulo, que escreveu em 2 Timóteo 3.14-17:
Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o
aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a
salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para
a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.
Há pelos menos cinco coisas explícita ou implicitamente ensinadas nesses
versículos: a necessidade da Escritura, a inspiração da Escritura, o propósito
da Escritura, e a total suficiência da Escritura. Por essas (e outras) razões, os
reformadores sustentaram o princípio sola Scriptura. Embora houvesse
inconsistências na posição de Schaeffer, ele defendia o princípio da Reforma.
Em seus escritos ele enfatizou esses cinco aspectos da Palavra de Deus.

A NECESSIDADE DA ESCRITURA
Vimos Schaeffer ensinar que Deus concedeu uma revelação dupla de si
mesmo ao homem: a revelação geral e especial, em perfeita harmonia. Além
disso, Schaeffer concordava com os ensinos da Confissão de fé de
Westminster (1:1): “Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da
providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de
Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para
dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a
salvação”.
Assim, declarou Schaeffer, a revelação especial é necessária para o homem
ter o conhecimento sadio e salvífico de Deus por meio de Jesus Cristo.
Enquanto a revelação geral revela a Deus como Criador, só a revelação
especial o mostra como Salvador. Portanto, ensina a Confissão (1:1):
Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a
bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são
suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação;
por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à
sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para
o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de
Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a
Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu
povo.
A necessidade da revelação especial descansa na insuficiência da revelação
geral.
Também vimos que Francis Schaeffer aderia ao ensino bíblico da revelação
progressiva. Deus se revelou de maneira progressiva ao longo dos séculos da
história da redenção, “em diversos tempos, e “de diferentes modos”. Mas
com a vinda de Cristo, e a era do Novo Testamento, cessaram “aqueles
antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo”. O cânon da
Escritura está fechado agora, e a revelação especial é encontrada apenas nos
66 livros do Antigo e Novo Testamento. Além disso, Schaeffer defendia o
conceito protestante e ortodoxo da canonicidade da Bíblia, em que cada um
dos 66 livros é plenamente canônico, e que cada livro deve ser aceito como
tal e, portanto, considerado detentor de autoridade quanto ao que está escrito.
[52]

A INSPIRAÇÃO DA ESCRITURA
Em 2 Timóteo 3.7 o apóstolo Paulo declarou enfaticamente: “Toda Escritura
é dada por inspiração de Deus”. Como os exegetas bíblicos destacam, a
palavra grega traduzida como “dada por inspiração”, ou apenas “inspirada”, é
theopneutos. “Soprada por Deus” é uma tradução melhor da palavra original,
pois significa de fato que a Escritura é “soprada” pela boca de Deus,
enquanto “inspirada” significa “tragada”.[53]
Em outras palavras, 2 Timóteo 3.16 não diz respeito à transmissão da
Escritura, mas à sua origem. A origem e o conteúdo da Escritura se
encontram no sopro criativo de Deus. Como Pedro explicou: “Sabendo,
primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular
elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade
humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo
Espírito Santo” (2Pe 1.20,21). Pedro afirmou ter Deus escolhido certos
homens para registrar sua mensagem. Eles foram “movidos pelo Espírito
Santo” de forma que seus escritos tornaram-se as palavras infalíveis e
inerrantes de Deus. Portanto, por ser Deus o autor primário da Escritura, os
escritores humanos são autores em sentido secundário. Mas só Deus fala com
a capacidade de criar nas Escrituras. Com esse ensino Francis Schaeffer
estava em pleno acordo.[54] “A Bíblia”, disse Schaeffer, “foi escrita por
homens a quem foram ditas coisas por Deus [e eles] [...] foram guardados
[por Deus] de cometer erros no relato”.[55]
Em seus vários escritos, Francis Schaeffer falou contra várias perspectivas
errôneas de interpretação bíblica.[56] Ele se referia à doutrina da infalibilidade
e inerrância da Escritura como o assunto “divisor de águas” do
evangelicalismo:[57] “O evangelicalismo não é constantemente evangélico a
menos que haja uma linha divisória entre aqueles que consideram totalmente
as Escrituras e aqueles que não”.[58]
Schaeffer explicou a ilustração do “divisor de águas” da seguinte forma:
Perto de onde moramos na Suíça, há uma cadeia rochosa bastante elevada com um vale de cada
lado. Certa vez, escalei um dos montes quando tudo ainda estava coberto de neve. O manto
branco parecia formar um todo unificado. Essa unidade, porém, não passava de ilusão, pois ali
se encontra um divisor de águas. No degelo, a água de uma parte da neve correria para um dos
vales e a outra parte, que ficava próxima, correria para outro vale.
Na cadeia rochosa em questão, parte da neve que derrete desce por um dos lados da montanha,
vai parar em um riacho e, então, vai para o rio Reno. O Reno atravessa a Alemanha e
desemboca nas águas geladas do mar do Norte. A outra parte da neve, que se acumulou bem
próxima da primeira porção, derrete, corre pelos paredões de rocha do lado oposto e termina no
vale do Ródano. Essa água corre para o lago Léman, também conhecido como lado Genebra e,
de lá, desce para o rio Ródano que atravessa a França e desemboca nas águas quentes do mar
Mediterrâneo.
A neve, no alto do divisor de águas, parece formar uma unidade. No degelo, porém, alcança
dois destinos separados um do outro por milhares de quilômetros. Um divisor de águas faz
exatamente aquilo que seu nome indica. É possível traçar uma linha clara entre duas coisas que,
a princípio, parecem constituir uma unidade, mas, na realidade, terminam em situações bem
diferentes. O divisor de águas sempre tem uma linha.[59]
Então continuou:
Qual a relação entre essa imagem e o mundo evangélico de hoje? A meu ver, descreve com
precisão o que está acontecendo. Os evangélicos da atualidade estão diante de um divisor de
águas acerca da natureza da inspiração e da autoridade bíblicas. Encontramos, nos meios
evangélicos de hoje, um número cada vez maior de pessoas que estão mudando sua forma de
ver a inerrância da Bíblia a ponto de destruir a autoridade das Escrituras. As mudanças nesse
sentido, porém, são sutis. Como as duas porções de neve que repousam lado a lado no alto das
montanhas, os novos conceitos sobre a autoridade bíblica parecem, à primeira vista, não ser tão
diferentes das convicções afirmadas pelos evangélicos até pouco tempo atrás. Quando seguidos
à risca, porém, os conceitos conservadores e os novos conceitos desembocam em lugares
separados um do outro por milhares de quilômetros.
O que, a princípio, pode parecer apenas uma pequena variação, no final das contas, faz toda
diferença. Conforme o esperado, a diferença se reflete na teologia, na doutrina e nas questões
espirituais. Além disso, afeta diretamente a vida cristã diária e como nós cristãos devemos nos
relacionar com o mundo ao nosso redor. Em outras palavras, fazer concessões à autoridade
absoluta das Escrituras acaba por afetar a natureza teológica da vida cristã e como vivenciamos
todos os aspectos da vida humana.[60]
Ele se opunha à teoria do ditado — ou seja, que os autores humanos da
Escritura eram pouco mais que fantoches passivos à medida que Deus ditava
palavras para eles como um chefe ditaria uma carta ao estenógrafo. Sem
dúvida, é verdade que houve momentos em que Deus ditou porções dessa
forma aos autores humanos, como no caso de Moisés no monte Sinai (Êx 20-
23; v. 24.4). Mas daí não se segue que toda a Escritura foi ditada dessa forma.
Somos informados, por exemplo, em Lucas 1.1-4, que o escritor do
Evangelho foi bem ativo no processo de escrita.
Schaeffer também se opunha à teoria da inspiração neoliberal. Ela não se
preocupa com a historicidade dos acontecimentos bíblicos. A única coisa
importante é a mensagem sendo transmitida. A Bíblia, pretende-se, é uma
combinação de kērygma (isto é, a mensagem ou cerne) e mito. Aqui o trabalho
do exegeta é encontrar o “cerne” da verdade contida na Bíblia.
O conceito neo-ortodoxo da inspiração também foi denunciado com
severidade por Schaeffer. Na neo-ortodoxia, partes da Bíblia podem
(subjetivamente) “tornar-se” a Palavra de Deus a um indivíduo (partes
diferentes para ouvintes distintos em tempos diferentes), mas a Bíblia em si
não é a Palavra de Deus. A Escritura contém erros, bem como paradoxos e
contradições lógicas. De acordo com essa perspectiva, Deus, o “totalmente
outro”, se rebaixaria caso transmitisse sua mensagem em proposições lógicas.
Portanto, Deus revela os eventos a nós na Bíblia, mas não seu significado. O
entendimento do significado é um empreendimento subjetivo. Ao alegar que
a revelação é apenas um evento, a neo-ortodoxia nega que a Bíblia nos
conceda revelações propositivas.
Francis Schaeffer se opôs à teoria da filosofia linguística (que ele chamava
“filosofia definidora”). Essa perspectiva nega a possibilidade da revelação
proposicional bíblica por conta da inadequação da linguagem para comunicar
a verdade literal. A linguagem, alega-se, é inadequada mesmo no nível
humano; a inadequação é ainda maior no nível transcendental. Dessa forma,
nunca pode haver “verdade verdadeira” expressa por Deus ao homem. Em
conclusão, Schaeffer contende: “A essa altura, parece já ter ficado evidente
que o cristianismo e a nova teologia não mantêm nenhum vínculo, exceto no
uso de uma terminologia comum, aplicada com sentidos bem diferentes”.[61]
Em contraste com essas perspectivas errôneas de inspiração bíblica, Schaeffer
ensinou a chamada muitas vezes perspectiva “orgânica” da inspiração. Isto é,
o Espírito Santo agiu sobre os autores humanos de forma orgânica, de acordo
com a personalidade, caráter, temperamento, dons e talentos deles. Cada
autor escreveu em seu estilo, e a todo momento o Espírito Santo guiava o
escritor a escrever verdades infalíveis e inerrantes. “Deus”, escreveu
Schaeffer, “não permitiu que fossem cometidos erros, ele não tratou os
homens como meros taquígrafos. Eles escreveram como homens de verdade.
Deus sempre trata os seres humanos como pessoas”.[62] E outra vez:
Se a pessoa não-criada [Deus] desejasse transmitir estes fatos, através de criaturas individuais,
de modo que elas escrevessem (em seu próprio estilo, etc.) precisamente as coisas que a pessoa
não-criada [Deus] gostaria que elas escrevessem acerca da verdade religiosa e das coisas do
universo e da história — então, nesta altura, é impossível dizer com absoluta certeza se ele o
poderia ter feito ou não. É evidente que a Bíblia alega ser este o caso com relação à sua
inspiração.[63]
O conceito ortodoxo da inspiração bíblica, abraçado por Schaeffer, ensina
que a natureza da revelação bíblica é propositiva. Proposições são
combinações lógicas e inteligíveis de palavras que ensinam algo. Elas são o
significado de sentenças indicativas. A verdade divina reside no significado e
organização lógica das próprias palavras. Essa posição, esposada pela
Reforma, e ensinada por Schaeffer, “declara haver um Deus pessoal, ser o
homem feito à sua imagem, e que ele se comunicou a sua criatura por uma
revelação proposicional e verbalizada de conteúdo”.[64] Isso também se
relaciona com os acontecimentos históricos e seu significado. Não só a Bíblia
nos ensina que certos eventos ocorreram na história, mas também nos diz o
que eles significam. A interpretação não é subjetiva; Deus revela o
significado ao leitor em sua Palavra.
Para apoiar essa posição, Schaeffer atacou a perspectiva liberal de que os
primeiros capítulos de Gênesis não devem ser considerados história real.[65]
Antes, disse Schaeffer, Deus nos concedeu sua revelação na história “espaço-
temporal”. Negar isso equivale a desprezar a Palavra de Deus. Como
Jeoaquim cortou e queimou o rolo de Jeremias por não gostar do que o
profeta havia escrito (Jr 36), também os teólogos liberais de hoje destroem a
Palavra de Deus quando negam sua historicidade. Schaeffer declarou:
Este é um quadro exato da nossa própria geração. Hoje os homens talvez não queimem a Bíblia,
nem a Igreja Católica Romana a coloca mais no Index [proibido], como o fazia antes. Mas os
homens a destroem em forma de exegese; eles a destroem da maneira com que lidam com ela.
Eles a destroem por não a ler como um escrito em forma literária normal, ignorando a exegese
histórico-gramatical, por mudar a própria perspectiva da Bíblia de si mesmo como revelação
proposicional no espaço e tempo, na História, dizendo que só as porções “espirituais” da Bíblia
têm autoridade sobre nós.[66]
E continuou:
Mas para muitos teólogos liberais da atualidade (mesmo aqueles que não dizem que Deus está
morto), determinadas coisas estão mortas. Porque eles não aceitam que o Deus da Bíblia e da
revelação em Cristo deu ao homem uma verdade que pode ser expressa em proposições, para
eles todo o conteúdo sobre Deus está morto, da mesma forma como qualquer garantia de um
Deus pessoal está morta.[67]
Outra forma de os estudiosos liberais minarem o conceito ortodoxo da
inspiração é vista na área da crítica textual. O ramo de estudo conhecido por
crítica textual, que na verdade teve início no século 16, faz a comparação e
avaliação cuidadosa das cópias para determinar, tanto quanto humanamente
possível, a leitura originária. Mas como Schaeffer explicou, a “baixa crítica”
dos reformadores tornou-se mais tarde a “alta crítica”. Ele comentou: “Ao
longos dos anos, grandes estudiosos que creem na Bíblia têm se dedicado
constantemente ao que chamamos de criticismo textual (ou ‘baixa crítica’) —
a investigação de qual é o melhor texto bíblico [...] É natural que os cristãos
bíblicos considerem o estudo textual importante, pois, uma vez que as
Escrituras são a comunicação proposicional de Deus aos homens, nada mais
óbvio que nos interessarmos em encontrar o melhor texto possível”. A alta
crítica, contudo, disse Schaeffer, “é outra história bem diferente. Começa
onde o criticismo textual para e procura determinar, a partir de sua própria
base subjetiva, o que devemos aceitar ou rejeitar uma vez definido o melhor
texto”. A diferença real entre os liberais e os cristãos bíblicos, continua a
argumentar Schaeffer, “não é uma questão de erudição, mas de
pressuposições. Tanto o antigo quanto o novo liberalismo operam com base
em um conjunto de pressuposições comuns a ambos, mas diferentes das do
cristianismo histórico ortodoxo”.[68]
Ao lamentar a situação, Schaeffer escreveu:
Eu diria a vocês que se chamam cristãos crentes na Bíblia que, se vocês veem a Palavra de Deus
diminuída como está nos tempos atuais e não são movidos a lágrimas e indignação, eu quero
saber se vocês têm qualquer compreensão da época na qual nós vivemos. Se nós, como cristãos
crentes na Bíblia, pudermos ver a Palavra de Deus, a comunicação verbalizada e proposicional
de Deus, tratada do jeito que frequentemente é tratada e não ficarmos cheios de tristeza e não
clamarmos: “Mas você não percebe o fim disso?”, eu desejo saber: nós amamos a Palavra dele?
Se nós lutarmos nossas batalhas filosóficas, nossas batalhas artísticas, nossas batalhas
científicas, nossas batalhas em literatura, nossas batalhas em drama, sem envolvimento
emocional, nós realmente amamos Deus? Como nós podemos fazer isto sem nos comovermos
como Jeremias se comoveu? Como nós podemos falar de juízo e ainda assim não nos
levantarmos — como o profeta chorão — com lágrimas?[69]
De acordo com Francis Schaeffer, o conceito bíblico da inspiração afirma que
a Bíblia é infalível e inerrante. A Escritura não possui defeito: ela é
incontestável, livre de erro, não declara nada contrário aos fatos, nem contém
paradoxos lógicos. A Escritura não pode ser racionalmente contradita,
violada, desconsiderada ou oposta. Schaeffer citou o rascunho final do Pacto
de Lausanne com aprovação: “Afirmamos a inspiração, confiabilidade e
autoridade divinas das Escrituras do Antigo e Novo Testamentos em sua
inteireza como a única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que
afirma, e a única regra infalível de fé e prática”.[70]
Schaeffer esteve sempre pronto para apontar: embora a expressão “em tudo o
que afirma” tem sido usada por alguns como “brecha” para negar o discurso
infalível da Bíblia em todas as áreas da vida, essa não era a perspectiva dele.
Trata-se de “uma declaração perfeitamente apropriada”, disse o autor, “se as
palavras forem lidadas com justeza”.[71]
Schaeffer citou com aprovação as palavras de Frederick C. Grant: “Em toda
parte [da Bíblia] toma-se por certo que o registro encontrado na Escritura é
obra de inspiração divina e, por isso, digno de confiança, infalível e
inerrante”.[72] Ele também escreveu:
Se não crermos em uma Bíblia sem erros não apenas no que se refere às questões de salvação,
mas também à História e ao cosmos, não teremos base para responder às perguntas acerca da
existência e da forma do universo e do caráter ímpar do ser humano. Também, não teremos
mais absolutos morais nem certeza da salvação, e as próximas gerações de cristãos não terão
bases sólidas nas quais se firmarem.[73]
Não pode ser questionado se Francis Schaeffer estava em completo acordo
com a Confissão de fé de Westminster (1:2,6):
Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os [66]
livros do Antigo e do Novo Testamento...todos dados por inspiração de Deus para serem a regra
de fé e de prática [...] [E] todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias
para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na
Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela.

A AUTORIDADE DA ESCRITURA
Como subscritor do ensino dos Padrões de Westminster, Francis Schaeffer
acreditava, como ensina a Confissão de Westminster (1:4): “A autoridade da
Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do
testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende só de Deus (a mesma
verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra
de Deus”. A autoridade da Escritura se deve à sua origem única. Ela é a
Palavra do Cristo eterno, o Logos de Deus (Jo 1.1), que no papel de Profeta,
como ensina o Breve catecismo de Westminster (R. 24), nos revela, “pela sua
Palavra e pelo seu Espírito, a vontade de Deus para a nossa salvação”.[74]
“Jesus mesmo”, ensinou Schaeffer, “não fazia distinção entre a sua
autoridade e a autoridade das Escrituras. Ele agia com base na unidade de sua
autoridade e o conteúdo das Escrituras”.[75]
De acordo com o princípio sola Scriptura da Reforma, os 66 livros do Antigo
e Novo Testamentos são a única autoridade sobre toda a vida. Assim, a
Palavra de Deus deve ser o ponto de partida axiomático do teísmo cristão. É o
primeiro princípio indemonstrável a partir do qual tudo o mais é deduzido.
Há uma diferença substancial entre os ensinos do catolicismo romano e do
protestantismo. O primeiro alega que a autoridade da igreja supera a da
Bíblia; o último afirma que a Escritura tem autoridade sobre a igreja, bem
como sobre as outras instituições bíblicas. Schaeffer estava em pleno acordo
com o conceito da Reforma. Ele escreveu: “Quem não afirma a autoridade da
infalível e inerrante Palavra de Deus ficará em alguma medida desconectado
do mundo real”.[76] E declarou de novo:
Os reformadores não se voltaram para um homem que parte exclusivamente de si mesmo, mas
para o cristianismo original da Bíblia [...] eles levaram a sério as declarações que a própria
Bíblia faz acerca de si mesma — alegando ser a única autoridade final [...] Para os pensadores
da Reforma, a autoridade não estava dividida entre a Bíblia e a Igreja. A Igreja encontrava-se
debaixo dos ensinamentos da Bíblia — não acima deles, e não igual a eles. Seu lema era sola
Scriptura, só as Escrituras.[77]
Francis Schaeffer não aderia a nenhuma forma de revelação extrabíblica (e.g.,
profecia e línguas), tão prevalentes no movimento carismático, com sua
ênfase na experiência e no emocionalismo.[78] Como já vimos, sua perspectiva
consistia no fechamento do cânon da Escritura no final da era apostólica.
Deus agora falava com autoridade apenas na Palavra. A base da fé humana,
declarou Schaeffer, deve residir só na Escritura: “Devemos enfatizar que a
base da nossa fé não é a experiência nem a emoção, mas a verdade como
Deus a deu na forma verbalizada e proposicional da Escritura”.[79]

O PROPÓSITO DA ESCRITURA
Em 2 Timóteo 3.7 o apóstolo nos apresenta o propósito quádruplo da
Escritura: doutrina (ensino), reprovação, correção e instrução na justiça.
Como se lê no Breve catecismo (R. 3): “A coisa principal que as Escrituras
nos ensinam é o que o homem deve crer a respeito de Deus, e o dever que
Deus requer do homem”. Isso é doutrina. O cristianismo é doutrina. É o
ensino dos 66 livros da Bíblia.[80] “O cristianismo é um conjunto específico da
verdade”, disse Schaeffer; “é um sistema, e não devemos nos envergonhar da
palavra sistema. A verdade existe, e devemos nos apagar a ela”.[81] Mais uma
vez, ao falar sobre o cristianismo, Schaeffer alegou: “Deve-se enfatizar o
conteúdo, o conteúdo e, então, o conteúdo de novo”. E continuou:
O conteúdo deve se basear na revelação proposicional dada na Escritura, e todas as nossas
liberdades sob a liderança do Espírito Santo devem estar dentro das formas delineadas pela
Escritura. Devemos enfatizar que a base da nossa fé não consiste na experiência nem na
emoção, mas na verdade como Deus a concedeu: a forma verbalizada e proposicional na
Escritura e que apreendemos em primeiro lugar com a mente — embora, sem dúvida, o homem
todo deve agir de acordo com ela.[82]
A vida cristã, ensinava Schaeffer, é a aplicação da doutrina no progresso da
santificação. A santificação “envolve obediência à verdade”.[83] O processo de
santificação inclui reprovação e correção. Por meio da Escritura, o Espírito
Santo convence o crente do pecado em sua vida, como ensina o Breve
catecismo (R. 87), fazendo-o se arrepender: o pecador “se enche de tristeza e
de horror pelos seus pecados, abandona-os e volta para Deus, inteiramente
resolvido a prestar-lhe nova obediência”. Então, por meio do estudo da
Bíblia, o crente é instruído na justiça, a fim de saber a forma mais adequada
de estar “inteiramente resolvido a prestar-lhe nova obediência”. Como Paulo
escreveu: “A fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo”
(Rm 10.17). Isso é verdade, não só no passo inicial da salvação (i.e.,
justificação), mas no processo contínuo de santificação também. Dessa
forma, ensinava Schaeffer: “O conhecimento precede a fé” na inteireza da
ordo salutis (ordem da salvação).[84]
Dessa forma, de acordo com Schaeffer, e a teologia reformada em geral, a
Escritura funciona como um “meio de graça”. Essa expressão, como o Breve
catecismo (R. 88) explica, refere-se aos “meios exteriores e ordinários pelos
quais Cristo nos comunica as bênçãos da redenção”. E os meios de graça são
“suas [de Deus] ordenanças, especialmente a Palavra, os sacramentos e a
oração; as quais todas se tornam eficazes aos eleitos para a salvação”.[85]
Dessas três “ordenanças”, a Palavra de Deus é primária, pois é um meio de
graça em si mesmo, enquanto os sacramentos e a oração são meios de graça
só com a Palavra.
Como Francis Schaeffer colocou, o processo de santificação envolve a lei e o
evangelho.[86] A Bíblia serve como arma para ser usada na batalha espiritual
(Mt 4.1-10; Ef 6.17). A esse respeito, a teologia reformada — como ensinam
os Padrões de Westminster, adotados por Francis Schaeffer — distingue com
cuidado a lei e o evangelho, mas não os separa de modo absoluto. A lei sem o
evangelho é letra morta, mas não pode existir o evangelho sem a lei — que
revela a necessidade humana da graça divina em Cristo. Assim, toda a
Escritura, tanto o Antigo como o Novo Testamentos, é vital para o
crescimento cristão: “Frequentemente as pessoas tentam jogar o Antigo e o
Novo Testamento um contra o outro”, escreveu Schaeffer. “Mas a ênfase por
todo o Novo Testamento encontra-se na unidade com o Antigo
Testamento.”[87]
Schaeffer, de forma semelhante à Assembleia de Westminster, antes dele,
mantinha a existência de categorias entre os mandamentos da lei de Deus:
moral, civil e cerimonial.[88] E ele ensinou, como o capítulo 19 da Confissão
de fé de Westminster, que embora as leis cerimoniais dadas por Deus a Israel,
“como uma igreja sob tutela”, “estão agora ab-rogadas sob o Novo
Testamento”, todavia, os Dez Mandamentos e a “equidade geral” da lei civil
ainda são vinculantes a todos os homens e nações. “A base para a Lei não
está dividida”, disse Schaeffer”, “e ninguém, incluindo o rei, o Estado ou a
igreja, tem o direito de colocar qualquer coisa acima do conteúdo da Lei de
Deus [...] O governo civil, bem como a totalidade da vida, se encontra sob a
Lei de Deus”.[89]

A AUTOSSUFICIÊNCIA DA ESCRITURA
Depois da explicação do apóstolo Paulo do propósito quádruplo da Escritura
em 2 Timóteo 3.16, ele prosseguiu e disse que a Palavra de Deus equipa
totalmente o homem “para toda boa obra” (v. 17). De acordo com o apóstolo,
só a Bíblia detém o monopólio da verdade. O princípio sola Scriptura, a total
suficiência da Escritura, é ensinado na Confissão de fé de Westminster (1:6)
da seguinte forma:
Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a
salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e
claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas
revelações do Espírito, nem por tradições dos homens.
A Assembleia de Westminster afirmou que todo o conselho de Deus está
contido na Bíblia. Como temos observado, embora Schaeffer fosse de certa
forma inconsistente em sua aplicação desse princípio (incluindo a teoria da
verdade com duas fontes), não pode haver a mínima dúvida de que ele
adotava o ensino reformado de sola Scriptura. “O propósito central da
Bíblia”, disse Schaeffer, “é nos dar o que o homem caído precisa saber entre
a queda e a segunda vinda de Cristo. Esse é o tema do livro [de Gênesis] e é
lidado com grande intensidade e grande uniformidade ao longo de toda a
Bíblia. Parece-me que tudo o mais é secundário a isso [sola Scriptura] e deve
estar em referência a esse tema central [do sola Scriptura]”.[90]
Toda a Bíblia é para toda a vida.[91] Por isso o Evangelho, a Palavra de Deus,
precisa ser pregado, ensinado e aplicado a cada área, a cada assunto, da vida.
Aqui Schaeffer citou com aprovação Martinho Lutero (1483-1546):
Se eu professar com a voz mais alta e com a mais clara exposição cada pormenor da verdade de
Deus, exceto precisamente aquele pequeno ponto ao qual o mundo e o demônio estão naquele
momento atacando, eu não estou confessando a Cristo, ainda que ousadamente eu possa estar
professando a Cristo. Onde a batalha trava-se, ali a lealdade do soldado é provada, e estar em
outro campo de batalha que não este é apenas deserção e desgraça, se ele foge deste ponto.[92]
4. DEUS

Por ser calvinista, a doutrina de Deus era central no pensamento de Francis


Schaeffer, por ser central para os ensinos da Palavra de Deus que o revela.
Em nosso estudo sobre o ensino de Schaeffer sobre a “teologia propriamente
dita”, olharemos primeiro para o ser de Deus (quem ele é) e então para as
obras de Deus (o que ele faz). Nos dois casos, Francis Schaeffer estava em
concordância básica com os Padrões de Westminster.[93]

O SER DE DEUS
Schaeffer em nenhum lugar apresenta o estudo detalhado dos atributos de
Deus. Todavia, há várias seções em seus livros sobre eles.[94] Ele endossava
de modo inequívoco o ensino da Assembleia de Westminster com respeito
aos atributos divinos. Lê-se, por exemplo, no Breve catecismo (R. 4): “Deus é
espírito, infinito, eterno e imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade,
justiça, bondade e verdade”. Cada um dos atributos divinos é idêntico ao seu
ser, como o é a soma de todos eles.[95]
Além disso, um dos termos favoritos de Schaeffer é o “Deus pessoal-infinito”
(ou “Deus infinito-pessoal). “A Bíblia”, ele escreveu, “diz que Deus é um
Deus vivo [...] ela fala do próprio Deus como um Deus que é ao mesmo
tempo pessoal e infinito [...] O Deus cristão, o Deus da Bíblia, é pessoal e
infinito”.[96]
O Deus da Escritura é pessoal e criou o homem à sua imagem como ser
pessoal, enquanto as plantas e animais são impessoais. O homem é, portanto,
capaz de se relacionar de maneira especial e pessoal com Deus, ao passo que
as plantas e os animais não o fazem. Contudo, só Deus é infinito; o homem,
as plantas e os animais são finitos. Assim, o relacionamento do homem com
Deus tem o caráter “superior”, e um relacionamento “inferior” com o restante
da criação.[97]
Schaeffer argumentou que a revelação proposicional da Bíblia nos assegura
do fato de Deus ser infinito e pessoal responde à questão de Jean-Paul Sartre
(1905-1980): “por que há algo em vez de nada?”:
Na área da simples existência não se chega a uma resposta racional sem o Criador pessoal, o
Deus da Bíblia. Não estou dizendo aqui que não haja nenhuma resposta racional sem a palavra
Deus, porque é possível ter a palavra Deus sem que ela tenha o conteúdo do Deus infinito-
pessoal que é o Criador conforme a Bíblia o apresenta. Então a solução não é a palavra Deus. É
a existência desse Deus da Bíblia: sem a existência desse Criador pessoal, não há resposta
racional à simples existência como tal. Não há resposta sem um ponto de referência infinito de
natureza pessoal.[98]

A TRINDADE
De acordo com a Bíblia, a natureza do Deus pessoal e infinito é una e trina.
Ele é um em essência, e três em pessoa; cada pessoa é plenamente divina.
Como expressa o Breve catecismo (R. 5-6): “Há só um Deus, o Deus vivo e
verdadeiro. [...] Há três pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito
Santo, e estas três são um Deus, da mesma substância [essência], iguais em
poder e glória”. Com isso Schaeffer estava em pleno acordo.[99] Ele afirmava
a declaração do Credo niceno (325 d.C.): “Cremos em um só Deus, Pai
Todo-Poderoso [...] Cremos em um só Senhor [...] e cremos no Espírito
Santo”.[100] A Bíblia nos ensina que “há um só Deus.. [e] que esse único Deus
existe em três pessoas distintas”.[101] As três pessoas são igualmente divinas.
[102]
Schaeffer acreditava que encontramos o conceito da Trindade ensinado,
ou pelo menos sugerido, nos primeiros capítulos de Gênesis, mas o ensino
alcança a apresentação mais clara no Novo Testamento.[103]
Com essas coisas em mente é fácil perceber que Schaeffer rejeitava os falsos
ensinos do subordinacionismo e modalismo. O subordinacionismo mantém
que há um Deus, o Pai. O Filho e o Espírito são deuses menores — se é que
são deuses. Já o modalismo afirma que Deus é um em essência e um em
pessoa. Não existem três pessoas na Deidade, mas apenas três formas de se
referir à mesma pessoa.
De acordo com Francis Schaeffer, a questão do “uno e múltiplo” é um dos
problemas mais desconcertantes da filosofia. Essa questão diz respeito à
unidade e diversidade no universo. Como pode haver tantas coisas diversas
no universo enquanto existe ao mesmo tempo uma unidade básica? Em meio
a tanta complexidade, como pode haver também simplicidade? Qual é o fato
básico da vida, unidade ou pluralidade, o uno ou o múltiplo?
A solução, ensinou Francis Schaeffer, é encontrada na doutrina da Trindade.
Deus é “um” em essência, embora três (“muitos”) em pessoa. Ele é o eterno
“uno e múltiplo”, que criou todas as muitas coisas no universo e deu-lhes
estrutura unificada. O universo é o “uno e múltiplo” temporal. Portanto, disse
Schaeffer: “Sem a ordem suprema da unidade e diversidade pessoal
apresentadas na Trindade, não existem respostas”.[104] Esse Deus único,
existente em três pessoas, dá propósito e significado à vida. Sem ele, nada
“faz sentido”.[105]

AS OBRAS DE DEUS
De acordo com o Breve catecismo de Westminster (R. 7), as obras de Deus
são determinadas por seus decretos eternos: “Os decretos de Deus são o seu
eterno propósito, segundo o conselho da sua vontade, pelo qual, para sua
própria glória, ele predestinou tudo o que acontece”. O Breve catecismo
(R. 8) continua: “Deus executa os seus decretos nas obras da criação e da
providência”. Francis Schaeffer concordava com isso. Ele ensinou haver um
conselho eterno dentro da Deidade triúna, em que Deus preordenou todas as
coisas, incluindo a salvação dos eleitos, por meio da obra redentora de Jesus
Cristo na cruz.[106]
Pelo fato de Deus preordenar todas as coisas, é necessário que todas as coisas
ocorreram como foram determinadas. O futuro é tornado absolutamente certo
pelos decretos pré-ordenados de Deus. Como declara a Confissão de fé de
Westminster (3:1): “Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo
conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo
quanto acontece”. Isso, contudo, como Schaeffer apontou, de forma alguma
elimina a responsabilidade humana. Deus é absolutamente soberano e o
homem é responsável, e não existe nenhum paradoxo envolvido aqui.[107]

CRIAÇÃO
Francis Schaeffer afirmava que “no princípio” o Deus triúno da Escritura
criou o universo ex nihilo (a partir de nenhum material pré-existente):
Só Deus é o Criador. Tudo que há, à parte da Trindade em si, seja a maior estrela do universo
ou a menor parte do átomo, quer vivo ou inanimado, quer racional ou meramente consciente,
quer no mundo visível ou invisível, quer longe ou perto, é coisa criada.[108]
Ao citar Hebreus 11.3, 2 Pedro 3.4, Salmos 33.6, 145.5 e Gênesis 1,
Schaeffer declarou que Deus criou todas as coisas pelo fiat divino: “Haja!”.
Apenas por sua Palavra Deus fala e a criação inteira vem à existência.[109]
Além disso, ele não mantinha nenhuma relação com o ponto de vista da
Hipótese Documentária dos teólogos liberais (segundo a qual, os dois
primeiros capítulos de Gênesis são considerados dois relatos separados da
criação, unidos mais tarde por um redator). Em vez disso, ele ensinava que “o
primeiro e o segundo capítulo de Gênesis formam uma unidade; nenhum
deles é completo em si mesmo”.[110]
Infelizmente, contudo, embora Schaeffer rejeitasse qualquer forma de
evolução teísta, como meio de explicar a criação, ele aceitava a possiblidade
da teoria Dia-Era (em que os dias de Gênesis 1 são longos períodos de
tempo) e uma terra muito antiga.[111] Ele deixou em aberto também a teoria do
salto, onde há um suposto “intervalo entre os versículos 1 e 2, ou versículos 2
e 3, de Gênesis 1 e, a partir desse ponto em diante, a Bíblia esteja falando
sobre a reforma da criação parcialmente desordenada, e não sobre a criação
originária”.[112] Ele concluiu: “Se alguém se pergunta sobre minha posição,
não estou certo se os dias de Gênesis 1 devem ser considerados de períodos
de 24 horas ou mais longos. Parece-me que, a partir do estudo da própria
Bíblia, as pessoas conseguem sustentar as duas posições”.[113]
O homem, sem dúvida, sendo a imagem divina, é singular na criação de
Deus. O homem, escreveu Schaeffer, “foi criado para relacionar-se com Deus
como nenhum dos outros seres”.[114] Além disso, Adão e Eva eram pessoas
reais. Eles viveram na história espaço-temporal. Schaeffer concordava com o
Breve catecismo de Westminster (R. 17):
Depois de ter feito todas as mais criaturas, Deus criou o homem, macho e fêmea; formou-o do
pó, e a mulher da costela do homem; dotou-os de almas viventes, racionais e imortais; fê-los
conforme a sua própria imagem, em conhecimento, retidão e santidade, tendo a lei de Deus
escrita em seus corações e poder para a cumprir, com domínio sobre as criaturas, contudo
sujeitos a cair.[115]
De acordo com Schaeffer, o homem é a imagem de Deus de duas formas. Ele
é, em sentido metafísico e ético, o portador da imagem divina. Quanto ao
primeiro aspecto, o homem é um ser espiritual, moral, racional e imortal.
Essa parte da imagem foi deformada mas não extirpada pela queda. Quanto à
imagem ética, o homem possui conhecimento, justiça e santidade
verdadeiros. Essa parte da imagem foi erradicada pela queda e pode ser
restaurada só por meio da graça de Jesus Cristo.[116]
A teologia reformada em geral, ensinada pelos Padrões de Westminster,
mantém que o homem, portador da imagem de Deus, foi criado com uma
alma (ou espírito ou mente — o elemento não físico) e com um corpo (o
elemento físico). E, de maneira diferente do ensino neoplatonista, o teísmo
cristão sustenta que o elemento físico e o não físico são “bons” (Gn 1.31).
Entretanto, a imagem divina reside em sentido primário na parte não física do
homem. O corpo é o “instrumento” da alma (Rm 6.33). Ele é a “tenda” do
espírito (2Co 5.1; 2Pe 1.13,14).
Francis Schaeffer, contudo, é de certa forma inconsistente nessa área. Por um
lado, no que parece uma reação exagerada ao pensamento neoplatonista, ele
declara erroneamente: “A alma não é mais importante que o corpo”.[117] Mas
em outro lugar, ele repete o ensino de Provérbios 23.7 (“Porque, como [um
homem] imagina em sua alma, assim ele é”), ele alega de modo correto que a
“mente” ou espírito é a parte principal do homem.[118] Também, ele falou do
“interno”, do “mundo do pensamento”, como sendo primário, i.e., anterior às
ações “externas” do homem.[119]

PROVIDÊNCIA
Francis Schaeffer não disse muito sobre a obra da providência de Deus como
o fez com a obra da criação divina. Não obstante, pode-se dizer com
confiança, a partir do estudo de seus muitos escritos, bem como do fato dele
ser ministro presbiteriano e adotar os ensinos dos Padrões de Westminster,
que ele concordava com a Confissão de fé de Westminster (5:1), onde se lê:
Pela sua muito sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável
conselho da sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da
glória da sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e
governa todas as suas criaturas, todas as ações e todas as coisas, desde a maior até a menor.
De acordo com Schaeffer, Colossenses 1.17 nos ensina sobre a obra de Deus
sustentar, preservar e governar o seu universo:
Notemos a afirmação da Bíblia, que depois da criação “nele [Cristo] tudo subsiste” (Cl 1.17),
todas as coisas por ele [Cristo] “estão em harmonia”. O mundo exterior que ele criou não é
agora um centro rival no universo. Por ele todas as coisas subsistem (elas não existem de forma
autônoma).[120]
Schaeffer também mantinha que a obra providencial de Deus no universo
criado é a razão pela qual “o universo não é caótico nem aleatório, mas
ordenado”. “Apesar de este universo possuir uma existência objetiva
separada [distinta] de Deus, não opera por sua própria conta; não é
autônomo.” Ele está em necessidade constante do poder sustentador,
preservador e governador do Deus triúno da Escritura. Ou, dito de outra
forma, para Francis Schaeffer as doutrinas da criação e providência são
inseparáveis.[121]
5. O HOMEM

De acordo com a Confissão de fé de Westminster (4:2):


Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem, macho e fêmea, com almas
racionais e imortais, e dotou-as de inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a sua
própria imagem, tendo a lei de Deus escrita em seus corações, e o poder de cumpri-la, mas com
a possibilidade de transgredi-la, sendo deixados à liberdade da sua própria vontade, que era
mutável. Além dessa escrita em seus corações, receberam o preceito de não comerem da árvore
da ciência do bem e do mal; enquanto obedeceram a este preceito, foram felizes em sua
comunhão com Deus e tiveram domínio sobre as criaturas.
Francis Schaeffer concordava basicamente com essa declaração. Como já
vimos, ele ensinou que o homem era a coroa da criação de Deus. E, de acordo
com o ensino do Breve catecismo de Westminster (R. 1), Schaeffer acreditava
que “o fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”.
[122]

HOMEM COMO IMAGEM DE DEUS


O que torna o homem “especial” na criação é o fato de ele ser a imagem de
Deus. Francis Schaeffer referia-se à imago Dei como a “hominalidade” do
homem.[123] O homem “foi criado para relacionar-se com Deus como nenhum
dos outros seres”.[124] Já vimos que, de acordo com Schaeffer, o homem é a
imagem divina em dois sentidos. Ele é metafísica e eticamente portador da
imagem de Deus. Quanto ao primeiro sentido, o homem é um ser espiritual,
moral, racional e imortal. Essa parte da imagem foi deformada, mas não
extirpada pela queda. Quanto à imagem ética, o homem possui conhecimento,
justiça e santidade verdadeiros. Essa parte da imagem foi erradicada pela
queda e pode ser restaurada só por meio da graça de Jesus Cristo.[125]
Schaeffer concordava com a Confissão, citada acima: antes da queda, Adão
(o homem) possuía a liberdade de vontade, isto é, a agência moral livre, e a
capacidade de escolher de forma justa. Logo após a queda, embora ainda
retenha a agência moral livre, o homem perdeu a capacidade de escolher o
bem. A imagem ética está agora em estado de “depravação total”. Isso é
explicado pela Confissão de Westminster (6:2) da seguinte forma: “Por este
pecado eles [Adão e Eva] decaíram da sua retidão original e da comunhão
com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente
corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma”.[126]
Francis Schaeffer também ensinava que o domínio do homem sobre as
criaturas é parte e parcela da imagem divina no homem. “É com base em sua
criação à imagem de Deus”, disse ele, “que o homem tem domínio sobre as
outras coisas no mundo ao seu redor”.[127] Ele concordava com o Breve
catecismo de Westminster (R. 10): “Deus criou o homem macho e fêmea,
conforme a sua própria imagem, em conhecimento, retidão e santidade com
domínio sobre as criaturas”.[128]

A NATUREZA CONSTITUTIVA DO HOMEM


Observamos também que a teologia reformada em geral, ensinada pelos
Padrões de Westminster, mantém que o homem, como imagem divina, conta
com duas partes: a alma (ou espírito ou mente — o elemento não físico) e o
corpo (o elemento físico). E, diferente do ensino dos neoplatonistas, o teísmo
cristão afirma que o elemento não físico e o físico são “bons” (Gn 1.31).
Contudo, a imagem reside em sentido primário na parte não física do homem.
O corpo é o “instrumento” da alma (Rm 6.13); é a “tenda” do espírito
(2Co 5.1; 2Pe 1.13,14).
Vimos que Francis Schaeffer mantinha inconsistências nessa área do
pensamento. Por um lado, no que parece ser uma reação exagerada ao
neoplatonismo, ele declarou erroneamente: “A alma não é mais importante
que o corpo”.[129] Por outro lado, ele afirmou de modo correto que a “mente”,
ou o espírito, é a parte principal do homem.[130] Também, ele falou do
“interno”, do “mundo do pensamento”, como sendo o aspecto primário, i.e.,
anterior às ações “externas” do homem.[131]

O HOMEM NO PACTO DE OBRAS


Francis Schaeffer era um teólogo do pacto. Ele acreditava como ensina a
Confissão de fé de Westminster (7:1):
Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam
obediência como ao seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele como bem-aventurança e
recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele
servido significar por meio de um pacto.
Além disso, Schaeffer defendia, como a Confissão (7:2) prossegue a explicar,
o seguinte: “O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras;
nesse pacto foi a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a
condição de perfeita obediência pessoal”.[132] Como se lê em Gênesis 3,
contudo, Adão não guardou o pacto. Ele pecou e comeu do fruto proibido e o
resultado foi a queda.[133] E como Paulo apontou em Romanos 5, pelo fato de
Adão ser o cabeça federal de toda a raça humana, quando ele caiu, toda a
humanidade caiu consigo. O pecado de Adão foi imputado a toda a
humanidade.
Esse é o conceito reformado da imputação imediata. O Breve catecismo de
Westminster (R. 16) a ensina nos seguintes termos: “Visto que o pacto foi
feito com Adão não só para ele, mas também para sua posteridade, todo
gênero humano que dele procede por geração ordinária, pecou nele e caiu
com ele na sua primeira transgressão“. Embora Schaeffer não use a mesma
terminologia, sua visão era similar: “Desde a queda de Adão todos os homens
são pecadores [...] [e] tendo pecado, estamos sob o julgamento de Deus, sob
sua condenação, agora”.[134]
Como resultado da queda, disse Schaeffer, a humanidade foi atingida por
uma série de separações. Há uma separação entre Deus e o homem, entre
homem e homem, entre o homem e a natureza, e entre o homem e si mesmo.
O escopo dos resultados da queda é cósmico. Estamos vivendo agora no
universo anormal, carente da obra redentora e cósmica de Jesus Cristo.[135]

O HOMEM NO PACTO DA GRAÇA


Desde a queda, o homem está em necessidade desesperada do Salvador. O
Salvador foi revelado em primeiro lugar a Adão em Gênesis 3.15: “[Eu,
Deus] porei inimizade entre ti [Satanás] e a mulher, entre a tua descendência
e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.
“Cristo”, escreveu Schaeffer, “é a semente da mulher de Gênesis 3.15 [...]
Cristo é o segundo Adão, e o segundo fundador da raça [...] A primeira
profecia messiânica é Gênesis 3.15, que a semente da mulher esmagaria a
cabeça da serpente”.[136]
Esse é o início do pacto da graça, como explicou a Confissão (7:3):
O homem, tendo-se tornado pela sua queda incapaz de vida por esse pacto, o Senhor dignou-se
fazer um segundo pacto, geralmente chamado o pacto da graça; nesse pacto ele livremente
oferece aos pecadores a vida e a salvação por Jesus Cristo, exigindo deles a fé nele para que
sejam salvos; e prometendo dar a todos os que estão ordenados para a vida o seu Santo Espírito,
para dispô-los e habilitá-los a crer.
Francis Schaeffer declarou: “Assim, no fluxo da história, visto em
Gênesis 3.15, observamos que (exceto pela obra de Cristo) a aliança das
obras é passado [para os eleitos]. Desse tempo em diante, aplica-se a aliança
da graça [aos eleitos]”.[137] E a razão pela qual o pacto das obras, com sua
exigência de obediência perfeita e pessoal, não mais é necessário para o
eleito, é que Cristo cumpriu o pacto das obras em favor deles.[138]
Desde o início do pacto da graça em Gênesis 3.15, há dois e apenas dois tipos
de pessoas no mundo: crentes e incrédulos, cristãos e não cristãos. Schaeffer
disse isso da seguinte forma: “A Bíblia é explícita quanto à humanidade ser
dividida em duas classes, e apenas duas: os que aceitaram Cristo como
Salvador, e que são, portanto, cristãos, e aqueles que não o aceitaram; aqueles
que são nossos irmãos em Cristo, e aqueles que não são”.[139]

O CARÁTER DO HOMEM
Como vimos, Francis Schaeffer ensinou que, no princípio, o homem foi
criado à imagem de Deus, e que essa imagem é dupla: metafísica e ética.
Devido à queda, o homem se encontra no estado de depravação total em
sentido ético. A imagem ética se foi, e pode ser restaurada só pela graça de
Jesus Cristo. A imagem metafísica, contudo, embora muito afetada, ainda
existe. O homem como homem, mesmo o incrédulo, ainda é homem. Ele não
foi reduzido a um nível inferior da criação; ele não é um “zero”.[140] Em seus
escritos, Schaeffer focou-se em quatro aspectos particulares do caráter do
homem: personalidade, moralidade, conhecimento e criatividade.[141]
Em primeiro lugar, há a personalidade do homem. Schaeffer se opunha
fortemente contra todas as forças da cultura moderna que tendiam a diminuir
ou eliminar a personalidade do homem. Há os deterministas químicos
(Marquês de Sade e Francis Crick), os deterministas psicológicos (Sigmund
Freud) e os deterministas ambientais (B. F. Skinner), que acreditavam que o
homem, por sua constituição química, sua hereditariedade e ambiente, era
pouco mais que uma máquina, um resultado do tempo e acaso impessoal.[142]
Alguns apoiadores dessa perspectiva sobre o homem, e de seu começo
impessoal, são panteístas. Os panteístas ensinam que Deus e a natureza são
idênticos, i.e., que o universo é a extensão da divindade. Schaeffer referiu-se
a essa crença como “pantudismo”, e a considerou a redução do homem a uma
força impessoal da natureza. O homem perdeu a “hominalidade”.[143] “O
naturalismo”, escreveu, “não deixa espaço para a verdade proposicional ser
dada por Deus ao homem, nenhum espaço para o milagre, e, por fim, nenhum
espaço para a significância do homem”.[144]
A singularidade do homem, como a Escritura ensina, é sua posição no
universo de Deus. O homem é a imagem divina. “Deus criou o homem a sua
própria imagem, e isso significa, entre outras coisas, que o homem também
pode agir num fluxo de causa e efeito da história. Isto é, o homem não pode
ser reduzido a apenas uma parte da máquina; ele não é um autômato.”[145]
O homem é um ser racional, capaz de se comunicar com Deus e com o
próximo, e de manter um relacionamento pessoal com Deus e com o homem.
O homem deve se casar e constituir família, com o relacionamento marital
similar ao relacionamento pessoal de Cristo e sua igreja. Nenhuma outra
criatura possui essa singularidade. Nenhuma outra criatura possui a
“hominalidade”.[146] A singularidade do homem é também evidente, como
ensinava Schaeffer, no fato de, quando o homem é assassinado por um
semelhante, o fato trata-se de uma ofensa capital (Gn 9.6).[147]
Em segundo, temos a moralidade. Como ensina a Confissão de Westminster
(4:2), pelo fato de todos os homens serem criados à imagem de Deus, eles
têm a lei moral “gravada no coração”. Isso os torna criaturas responsáveis. Os
homens fazem juízos morais. Infelizmente, por causa da queda, os incrédulos
estão no estado ético de “depravação total”. Assim, seus “movimentos
morais” são sempre perversos, nunca pretendem honrar o Deus da Escritura,
e esses o condenarão no dia do juízo.[148]
Uma das questões que confronta todo sistema de pensamento é o problema
do mal no mundo. De acordo com a Escritura, devido à queda do homem,
registrada em Gênesis 3, vivemos agora no universo anormal. A natureza do
mal no mundo, ensinava Schaeffer, pode ser explicada pelo teísmo cristão. Já
os ensinos do pensamento secular, de princípio impessoal, considera normal
o mundo em que vivemos. O secularismo, de fundamento evolucionista, não
pode explicar os movimentos morais do homem. Na verdade, o pensamento
secular não pode nos dizer o motivo do acerto ou do erro, da bondade ou
maldade de qualquer coisa.[149] A cosmovisão cristã, baseada nos absolutos
morais da Palavra de Deus, tem uma explicação.[150]
Uma das formas prediletas de Schaeffer explicar o dilema do mal no mundo,
enfrentado pelos secularistas evolucionistas era usando A praga, de Albert
Camus. Schaeffer narrou:
Considere, ainda, A peste, obra de destaque de Camus. Não há texto melhor para refletir sobre o
dilema do homem moderno, que pergunta: “De onde vem a justiça? Como posso me mover?”.
Camus diz: “Não podes. Na verdade, estás perdido”. Quanto mais sentimos a tensão da
injustiça, maior a perdição do homem moderno e do racionalista moderno. Em A peste,
enquanto os ratos levam a doença a Oran, Jean Tarrou se vê diante de um dilema. Pode aliar-se
ao médico e lutar contra a peste e, neste caso, ser humanitário, mas (segundo a concepção de
Camus) lutar contra Deus, ou pode aliar-se ao padre e se recusar a lutar contra a peste e, neste
caso, não ser humanitário. O pobre Camus morreu com esse dilema pairando sobre a cabeça
sem nunca solucioná-lo.
Temos, em contrapartida, o relato bíblico magnífico de Jesus Cristo diante do túmulo de Lázaro.
Jesus, que é Deus, e afirma sê-lo no sentido trinitário pleno, se encontra na frente do túmulo e
está irado. O texto grego deixa isso claro. Devemos observar que Cristo, aquele que afirma ser
Deus, pode irar-se com o resultado da queda e com o acontecimento anormal diante do qual se
vê nesse instante, sem se irar consigo mesmo.
Que conceito poderoso! Percebo que posso lutar contra a injustiça, certo de que não estou
lutando contra o que é bom. Nem tudo que é real é correto. Posso lutar contra a injustiça ciente
de que há um motivo para fazê-lo. Uma vez que Deus não ama todas as coisas e que tem
caráter, posso lutar contra a injustiça sem lutar conta Deus.[151]
Terceiro, temos o conhecimento. Em vários livros, Schaeffer traçou a busca
da humanidade pelo verdadeiro conhecimento, e a tentativa de descobrir
“como podemos saber que sabemos” (epistemologia).[152] Na história do
estudo da epistemologia destacam-se três escolas principais de pensamento:
racionalismo (puro), empirismo e irracionalismo.[153] Os defensores da
perspectiva do racionalismo puro (e.g., Platão, René Descartes, Gottfried
Leibniz, Baruch Spinoza), afirmam que a razão, à parte da revelação ou da
experiência sensorial, fornece a fonte primária, ou única, da verdade. Na
epistemologia bíblica (que pode ser designada racionalismo cristão), o
conhecimento vem por meio da lógica, à medida que se estudam as
proposições reveladas na Escritura. Já no racionalismo puro, o conhecimento
procede da razão. A razão humana desassistida torna-se o padrão último pelo
qual todas as crenças são julgadas. Mesmo a revelação deve ser julgada pela
razão.
Quem adota o empirismo (e.g., Tomás de Aquino, David Hume), afirma que
todo o conhecimento se origina nos sentidos. De acordo com o empirista, a
experiência ordinária produz conhecimento. Na epistemologia empírica
consistente, a mente é considerada uma tabula rasa (“tábua branca”) no
nascimento. Ela não dispõe de nenhuma estrutura inata.
Por último, quem afirma a escola irracionalista (e.g., Søren Kierkegaard, [em
certa medida] Immanuel Kant, Friedrich Schleiermacher, e os teólogos neo-
ortodoxos como Karl Barth e Emil Brunner) caem na categoria de ceticismo.
O irracionalismo é antirracional e anti-intelectual. A verdade, diz o cético,
jamais pode ser obtida. Tentativas racionais de explicar o mundo deixam-nos
em desespero. A realidade não pode ser comunicada sob a forma de
proposições; antes, deve ser captada de modo “pessoal” e “apaixonado”
(Kierkegaard). As pessoas devem viver como se houvesse um deus, um ser
supremo, um universo com sentido, pois se não fosse assim, o caso seria
muito pior (Kant).
Todos os homens, de uma forma ou outra, diz Schaeffer, buscam o
“propósito” na vida.
Platão (428-348 a.C.) entendeu que para os particulares deste mundo terem
significado deve haver universais. Assim, ele postulou o mundo além da
história “espaço-tempo”, o “mundo das ideias”. Leonardo da Vinci (1452-
1519) também entendeu a necessidade de universais. Mas sem o padrão
absoluto ele não pôde encontrá-los neste mundo; portanto, tentou pintá-los.
Tomás de Aquino (1225-1274) bifurcou de maneira indevida a filosofia
(natureza) e a teologia (graça), e terminou com a teoria “dupla” da verdade, o
sistema em que “a natureza começa a comer a graça”.
Na filosofia, Immanuel Kant (1724-1804) ensinou que jamais conheceremos
a verdade sobre Deus, nós mesmos, e “a coisa em si” no reino
fenomenológico. “A verdade verdadeira”, afirmava Kant, só está disponível
no reino noumenal, ao qual o homem não tem acesso. Já Georg W. F. Hegel
(1770-1831) negava a necessidade de pensar em termos de “antítese”: que se
algo é verdadeiro, seu oposto deve ser falso; podemos ter uma antítese. Mas
Hegel mudou tudo isso em seu sistema. Ela mantinha que toda tese tem uma
antítese. O resultado das duas é sempre a síntese. Isso significa que todas as
coisas são por fim relativizadas. A “verdade verdadeira” jamais pode ser
conhecida.
Søren Kierkegaard (1813-1855) viu que ninguém podia chegar à síntese
“verdadeira” por meio da razão, de forma que optou pelo salto da fé no reino
dos universais. Os filósofos existencialistas de hoje seguem a suposta solução
de Kierkegaard, como a teologia neo-ortodoxa de homens como Karl Barth
(1886-1968). Então, com tristeza, chega-se ao desespero total expresso por
Ludwig Wittgenstein (1889-1952), que ao final do Tractatus Logico-
Philosophicus, concluiu que quando se busca o padrão absoluto na área do
conhecimento, algo que dê propósito e significado para a vida, tudo o que se
encontra será “silêncio”.
Frederick Lont afirmou que a conclusão de Schaeffer foi a seguinte:
Em contraste com a sombria imagem da situação do homem moderno, Schaeffer proclama o
conceito bíblico de como o homem conhece algo. Deus comunicou ao homem a verdade real
concernente a ele mesmo, a Deus e ao universo. Os racionalistas e os humanistas falharam em
combinar a natureza com a graça e os particulares com os universais. Os homens da Reforma
puderam combinar esses dois níveis porque Deus falou verdadeiramente nos dois níveis por
meio de linguagem proposicional na Bíblia. Cristo é o Senhor de todas as áreas da vida e nos
deu verdade em todas as áreas do conhecimento do homem.[154]
Quarto temos a criatividade. Já vimos que, de acordo com a Escritura, Deus é
o Criador de todas as coisas, e que ele criou todas as coisas como “boas”
(Gn 1). O homem também, como imagem divina, deve ser criativo nos
labores perante Deus. É parte e parcela de sua responsabilidade sob o
mandato de domínio dado a ele.[155] A grande diferença entre a obra criativa
de Deus e a obra criativa do homem, é que enquanto Deus cria todas as coisas
ex nihilo, por sua palavra falada só (fiat divino), o homem cria só a partir do
que Deus já criou. E sua criatividade ocorre por meio do uso de uma ou mais
partes de seu corpo. Não obstante isso, há similaridade no sentido: a obra
criativa divina e a obra criativa humana começam no mundo do
“pensamento” e então passam para o “mundo externo”.[156]
No livro Arte e a Bíblia, Francis Schaeffer expôs seu conceito de que Deus
chama todos os homens a serem artistas de algum tipo. O senhorio de Cristo
sobre todas as áreas da vida exige isso. Não importa o chamado da vida do
homem, ele pode, e deve, desempenhá-lo de modo “artístico”, para a glória
de Deus. Nesse chamado, o homem deve expressar sua individualidade e
personalidade. Mesmo os incrédulos podem ser criativos e, na verdade,
muitos os são. Mas só o cristão pode glorificar a Deus com verdade na
atividade criativa. Edith Schaeffer escreveu um livro intitulado Hidden Art
[Arte oculta], em que apresenta muitos exemplos de atividades criativas nas
quais o homem pode se envolver.[157]
6. CRISTO

Os teólogos normalmente dividem o estudo da cristologia (a doutrina de


Jesus Cristo) em duas partes: sua pessoa (quem ele é) e sua obra (o que ele
faz). Esses dois estudos doutrinários são inseparáveis, pois nunca podemos
entender a obra de Cristo sem primeiro entender sua pessoa. Essa é a razão de
começarmos com a pessoa de Cristo ao analisar o ensino de Francis Schaeffer
sobre Jesus, e então concluir com a obra dele em nosso favor.

A PESSOA DE CRISTO
A Confissão de fé de Westminster (8:2) declara:
O Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da mesma
substância do Pai e igual a ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a
natureza humana com todas as suas propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo
sem pecado, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria e da
substância dela. As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas — a Divindade e a humanidade
— foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão composição ou confusão;
essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porém, um só Cristo, o único Mediador
entre Deus e o homem.
Francis Schaeffer concordava com o ensino da Assembleia de Westminster.

A NATUREZA DIVINA
Como vimos no capítulo 4, Francis Schaeffer concordava com o ensino do
Breve catecismo de Westminster (R. 6) que Jesus Cristo, a eterna segunda
pessoa da Deidade triúna, é plenamente divina: “Há três pessoas na
Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e estas três são um Deus, da
mesma substância, iguais em poder e glória”. Em suas próprias palavras,
Schaeffer mantinha que a Bíblia nos ensina que “há só um Deus [...] No
entanto, a Bíblia também ensina que esse Deus único existe em três pessoas
distintas [...] Assim, a segunda pessoa da Trindade não é apenas distinta da
primeira pessoa, mas é igualmente Deus”.[158]
Também no livro Gênesis no espaço-tempo, Schaeffer argumenta que
João 1.1-3 se refere a Jesus Cristo, a Palavra de Deus, não só eternamente
presente com o Pai antes da criação do universo, mas também à sua
participação divina e ativa na criação. “Repete-se a mesma ideia”, diz ele,
“em Colossenses 1.16,17”.[159]
Além disso, Schaeffer afirmava que na encarnação Cristo não se despojou
dos atributos divinos. Como a imutável segunda pessoa da Deidade, sua
natureza divina nunca pode mudar. Schaeffer discordava fortemente da
doutrina kenōsis dos teólogos modernos.[160]

A NATUREZA HUMANA
Francis Schaeffer concordava com a Assembleia de Westminster que Cristo
era plenamente humano e plenamente divino. O Antigo Testamento apresenta
várias profecias com respeito ao Messias vindouro, incluindo seu nascimento
virginal, como um bebê humano real.[161] Como ser humano, Jesus Cristo
contava com uma alma humana real e um corpo humano real. Ele tinha uma
família humana, e “cresceu em sentido físico e mental”. Ele também “sofreu
angústia” e “morreu”. Embora fosse “Deus desde a eternidade, ele se tornou
homem ao nascer”.[162]

A UNIDADE DA PESSOA
Os teólogos chamam a união das naturezas divina e humana de Jesus Cristo
em uma pessoa de “união hipostática”. Como declara a Confissão (8:2), o
Filho eterno de Deus tomou sobre si mesmo a natureza humana, com corpo e
alma: “As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas — a Divindade e a
humanidade — foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem
conversão composição ou confusão; essa pessoa é verdadeiro Deus e
verdadeiro homem, porém, um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o
homem”.
O Senhor Jesus Cristo (uma pessoa) contava com duas naturezas distintas.
Schaeffer escreveu:
Quando os homens olhavam para Jesus Cristo, viam uma só pessoa, mas ele possuía duas
naturezas. Ele é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem [...] Assim, com respeito à
pessoa de Cristo, o Mediador, ele sempre foi Deus. Desde o momento em que Maria o trouxe ao
mundo no nascimento virginal, na encarnação, ele é uma pessoa com duas naturezas:
verdadeiramente Deus e homem para sempre.[163]
Ao tratar do tema da pessoa de Cristo, os teólogos costumam se referir aos
“estados de Cristo”. Eles dizem respeito à posição de Cristo sob a lei de
Deus. Como legislador divino (Tg 4.12), Jesus Cristo tomou sobre si a
natureza humana e se pôs debaixo da lei (Gl 4.4). No período de sua
humilhação, Cristo foi servo sob a lei. No estado de exaltação, esse não é
mais o caso. No livro 25 estudos bíblicos básicos, Francis Schaeffer deixou
clara sua concordância com o ensino do Breve catecismo de Westminster
(R. 27-28):[164]
A humilhação de Cristo consistiu em ele nascer, e isso em condição baixa, feito sujeito à
lei; em sofrer as misérias desta vida, a ira de Deus e amaldiçoada morte na cruz; em ser
sepultado, e permanecer debaixo do poder da morte durante certo tempo [...] A
exaltação de Cristo consiste em ele ressurgir dos mortos no terceiro dia; em subir ao Céu
e estar sentado à mão direita de Deus Pai, e em vir para julgar o mundo no último dia.

A OBRA DE CRISTO
João Calvino desenvolveu de maneira mais plena o estudo da obra de Jesus
Cristo sob a rubrica dos três ofícios: profeta, sacerdote e rei.[165] Desde os dias
de Calvino, os teólogos reformados — como Francis Schaeffer — têm
seguido esse padrão. Ele escreveu: “A Bíblia nos ensina que a obra de Cristo
consiste em três partes”.[166]
Primeira, de passagens tais como João 1.1,2,18, 14.26, 16.12-14, Lucas 13.13
e 1 João 5.20, declarou Schaeffer, somos ensinados que Cristo não era só um
profeta, mas um profeta singular. Nesse ofício, ele “revela as coisas de Deus
aos homens”. Ele é o único que nos concede “conhecimento verdadeiro e
proposicional”.[167] Isso concorda com o Breve catecismo (R. 24): “Cristo
exerce as funções de profeta, revelando-nos, pela sua Palavra e pelo seu
Espírito, a vontade de Deus para a nossa salvação”.
Segunda, a partir de Marcos 10.45, João 1.29, 17.9, 1 Coríntios 5.7,
Hebreus 3.1, 4.14, 6.20, 5.5,6, 7.26,27, 8.1, 9.11-15, 25-28, 1 Pedro 3.18 e 1
João 2.1, 4.10, Schaeffer afirma com o Catecismo (R. 25): “Cristo exerce as
funções de sacerdote, oferecendo-se a si mesmo uma vez em sacrifício, para
satisfazer a justiça divina, reconciliar-nos com Deus e fazendo contínua
intercessão por nós”. Ensinou Schaeffer:
Desde a queda do homem no pecado, ele precisa de algo mais que conhecimento. Ele também
carece de santidade e justiça. Portanto, Cristo não só age como profeta, ao nos conceder
conhecimento, mas também age como sacerdote. Sendo sacerdote, ele remove de nós a culpa do
pecado e obtém para nós santidade e justiça verdadeiras.[168]
De acordo com Francis Schaeffer, a obra expiatória de Jesus Cristo na cruz é
a mensagem central do cristianismo: “Observemos que isso constitui o cerne
da mensagem cristã. Seu centro não é a vida de Cristo, nem seus milagres, e
sim, a sua morte”.[169]
Isso de forma alguma diminui a vida sem pecado de Cristo. Como único
Redentor dos eleitos de Deus, Cristo viveu de forma perfeita e sem pecado —
sua obediência ativa à vontade revelada de Deus, cumprindo dessa forma o
pacto de obras em favor deles. Ele então foi até a cruz, como o sacrifício
único, de uma vez por todas, para expiar os pecados deles, no que é
designado sua obediência passiva.[170] A Bíblia se refere à obra redentora de
Cristo como detentora de proporções cósmicas. De acordo com Schaeffer: “O
bem-estar de todos os crentes [eleitos] e da criação inteira depende da sua
morte”.[171]
Schaeffer ensinou que a lei cerimonial, com todos os seus sacrifícios,
apontava para a vinda de Cristo e sua obra sacrificial como sacerdote.[172] Ele
afirmava de forma correta: “O fundamento da nossa justificação é a obra
perfeita de Cristo no Calvário”.[173] Isso é verdade acerca dos santos do
Antigo e Novo Testamentos.
Francis Schaeffer, alinhado com a Assembleia de Westminster, ensinava que
o papel sacerdotal de Cristo continua hoje em sua obra de intercessão. Ele
acreditava que “Cristo agora ministra como sacerdote a todos os que
aceitaram Cristo como Salvador. Cristo não pode nunca falhar no ministério
de intercessão pelos santos”.[174]
Terceira, de Lucas 1.31-33, 19.37,38, Mateus 2.2, 25.31-34, 28.18, João 1.29,
19.2,3,12-15,19-22, Atos 1.6,7, Efésios 1.20-24 e Colossenses 1.13, somos
ensinados, dizia Schaeffer, em consonância com o Breve catecismo (R. 26),
que “Cristo exerce as funções de rei, sujeitando-nos a si mesmo, governando-
nos e protegendo-nos, contendo e subjugando todos os seus e os nossos
inimigos”.[175]
Francis Schaeffer acreditava que Cristo é rei de três formas: 1. Ele é o
monarca regente do universo agora; 2. No segundo avento, Cristo retornará
para governar a terra com os seus santos no milênio terreno. Esse será o
tempo de paz e prosperidade do qual, desde a queda, o mundo jamais viu; e
3. Ele é o rei de forma especial do seu povo, a igreja.[176]

A EXPIAÇÃO
A expiação é parte do ministério de Cristo como sacerdote. Schaeffer
observou haver um sentido real em que deveríamos dizer que a expiação era
o propósito da encarnação: “Cristo veio para morrer”.[177] Essa é a mensagem
central da Bíblia.[178]
A análise dos escritos de Francis Schaeffer demonstra que sua crença na
expiação estava em conformidade com o ensino da Confissão de fé de
Westminster (8:5):
O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo, sacrifício que pelo
Eterno Espírito, ele ofereceu a Deus uma só vez, satisfez plenamente à justiça do Pai. e para
todos aqueles que o Pai lhe deu adquiriu não só a reconciliação, como também uma herança
perdurável no Reino dos Céus.[179]
Em primeiro lugar, a expiação foi suficiente para salvar todos os homens,
mas eficiente para salvar apenas os eleitos, i.e., “para todos aqueles que o Pai
lhe deu”. Ela foi ilimitada em poder, mas limitada em extensão. Esse é o
conceito reformado da expiação limitada.
Em segundo, a expiação foi um sacrifício vicário e penal. A natureza da obra
de Cristo na cruz foi sacrificial. Ela consistiu no sacrifício pelo qual Jesus
pagou a penalidade devida pelos eleitos por causa dos pecados deles. Cristo
sofreu vicariamente no lugar deles.
Terceiro, a expiação consistiu em um único sacrifício. Sob a administração
do Antigo Testamento os sacrifícios eram oferecidos a Deus de forma
contínua. Contudo, em contraste, a oferta de Cristo foi o sacrifício “de uma
vez por todas”.
Quarto, a expiação foi uma obra de reconciliação. Reconciliação pressupõe
separação divina e humana. Deus e o homem estavam alienados entre si. A
alienação de Deus é santa e justificável, por conta do pecado do homem
contra ele. Já a alienação do homem é ímpia e injustificável. Na obra
expiatória de Jesus Cristo na cruz essa alienação foi reconciliada.
Quinto, a expiação foi uma obra de redenção. Redenção pressupõe cativeiro.
Os pecadores culpados têm um débito de pecado junto a Deus, e o pecador
em cativeiro precisa ser redimido pelo valor de um resgate. De acordo com a
Escritura, a expiação de Cristo pagou esse preço de resgate a Deus, o Pai,
redimindo assim seu povo eleito.
E sexto, a expiação foi um sacrifício propiciatório. Na obra expiatória de
Cristo, ele tomou os pecados dos eleitos e aplacou a ira de Deus relativa a
eles. Dessa forma, a justiça divina foi satisfeita.

EXCLUSIVISMO CRISTÃO
Por último, deve-se declarar com toda a clareza que Francis Schaeffer
mantinha a perspectiva do exclusivismo cristão. Esse é o ponto de vista
defendido pela igreja reformada e ortodoxa ao longo dos séculos. Ela
mantém: 1) Jesus Cristo como único Salvador; e 2) O caráter essencial da
crença nele para ser salvo.
Embora a igreja verdadeira de Cristo sempre tenha sustentado o exclusivismo
cristão, sempre houve quem objetasse. Ronald H. Nash explicou isso da
seguinte forma:
Houve o tempo em que os cristãos eram identificados pelo comprometimento sem reservas com
Jesus Cristo como único e verdadeiro Salvador do mundo. Contudo, a unidade dos [supostos]
cristãos desapareceu. Hoje muitas pessoas que alegam ser cristãs escolhem uma dentre três
respostas de todo diferentes à pergunta: “Jesus é o único Salvador?”. Essas respostas podem ser
enunciadas de forma resumida: “Não!”; “Sim, mas...”; e “Sim, ponto!”.[180]
A resposta negativa (“Não!”) é dada pelos pluralistas religiosos. Os
pluralistas negam que Jesus Cristo seja o único Salvador; eles também negam
o caráter essencial da crença nele para ser salvo. Essa perspectiva está em
desacordo tão óbvio com os ensinos da Escritura que não pode ser de forma
alguma considerada “cristã”. O “pluralismo cristão” é um oximoro.
Infelizmente, há um número crescente de pensadores supostamente cristãos,
no protestantismo e no catolicismo romano, que responde à pergunta: “Jesus
é o único Salvador?”, com uma afirmativa qualificada: “Sim, mas...”. Esse
grupo adere ao ponto de vista conhecido por “inclusivismo cristão”. O
inclusivismo afirma: “Sim”, Jesus é o único Salvador, “mas”, eles dizem, não
é necessário que a pessoa creia nele a fim de ser salva. Aqui se tem a
distinção entre a “necessidade ontológica” da obra de Cristo como Redentor e
a alegação separada de que a obra de Cristo é “epistemologicamente
necessária”.
No inclusivismo cristão há uma grande ênfase na importância da revelação
geral. A alegação é que as pessoas são capazes de chegar ao conhecimento
salvador de Deus por meio da revelação geral, à medida que busca a Deus na
própria consciência, ou em uma ou outra das várias religiões encontradas no
mundo hoje. Como já estudamos, embora a revelação geral revele a Deus
como o Criador e Sustentador do universo, deixando assim os homens sem
desculpa (Rm 1.18-21; 2.14,15), ela não o revela como Salvador.
A Bíblia rejeita abertamente a perspectiva dos inclusivistas cristãos. Em
João 3.18,36, por exemplo, lemos:
Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do
unigênito Filho de Deus [...] Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se
mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.
Como foi observado, Francis Schaeffer defendida com firmeza a posição
esposada pelo exclusivismo cristão. Jesus Cristo é o único Salvador, e é
absolutamente necessário que a pessoa creia nele para ser salva: “Ao longo de
todas as eras, antes e depois de Cristo, existe uma forma de salvação [...] A
salvação encontra-se disponível apenas por meio da fé na obra do Messias
consumada a nosso favor”.[181]
7. A SALVAÇÃO

De acordo com a Bíblia, os três membros da Deidade estão ativamente


envolvidos na salvação dos eleitos. O Pai elege (Ef 1.3-6; Rm 8.28; 9.22,23;
1Pe 1.2), o Filho redime os eleitos (Ef 1.7; Rm 8.34; 1Pe 1.2), e o Espírito
Santo lhes aplica a salvação (Ef 1.13,14; Tt 3.5,6; 1Pe 1.2).
A Escritura também ensina que a salvação dos eleitos, do início ao fim, deve-
se ao relacionamento deles com Cristo. Eles estão em união com Jesus, e ele
é o seu cabeça federal. Cristo representa os eleitos, como Adão representou
todos os homens no jardim do Éden. A única forma de Deus amar os
pecadores eleitos é em Cristo.
A união dos cristãos com Jesus Cristo é produzida pela obra do Espírito
Santo. Nas palavras de João Calvino, o Espírito é o “laço pelo qual Cristo se
une eficazmente a si mesmo”.[182] A importância da doutrina da união do
crente é explicada por John Murray:
A união com Cristo é um tema muito abrangente. Ela abarca cada palmo da salvação, desde sua
fonte inicial, na eleição eterna de Deus, até sua realização final, na glorificação dos eleitos. Ela
não é só uma fase da aplicação da redenção, mas sustenta todos os aspectos da redenção, tanto
em sua realização quanto em sua aplicação. A união com Cristo liga todos esses aspectos,
assegurando que Cristo a aplicará e comunicará a todos pelos quais ele comprou a redenção.
[183]

Francis Schaeffer concordava com esse ensino. “O novo relacionamento” que


temos com o Deus triúno, escreve, diz respeito a estarmos “identificados e
unidos com Deus Filho... Estamos juntos e unidos a Cristo”.[184]
Sendo esse o caso, não devemos considerar a salvação como muitos atos
distintos de redenção. Antes, ela deve ser vista como aspectos distintos de um
único ato, que ocorrem no tempo de modo ordenado, com a doutrina da união
do crente com Cristo por trás deles e unindo-os. Do começo ao fim, Schaeffer
alegou, a salvação em todos os aspectos decorre só da graça só (sola gratia),
só pela fé (sola fide), em Jesus Cristo.[185] “A salvação”, escreveu, “se obtém
pela fé em Cristo e mais nada”.[186]

A ORDEM DA SALVAÇÃO
Soteriologia (do grego sotēr , “salvador”) é o estudo da obra de redenção
consumada por Cristo e aplicada aos eleitos. Como somos ensinados por
passagens como João 1.12,13, Romanos 8.28-30 e Efésios 1.3-14, 2.8-10, há
um processo envolvido na salvação. Há uma ordem lógica para a execução
dessa obra, referida como ordo salutis (ordem da salvação). Ninguém é
convertido e glorificado de imediato; a salvação não é um acontecimento de
um único passo.
Como ensina a Confissão de fé de Westminster, de acordo com a teologia
reformada, a ordem lógica da salvação é: chamado eficaz e/ou regeneração,
conversão (que consiste em fé salvadora e arrependimento), justificação,
adoção, santificação, perseverança, certeza e glorificação.[187] Francis
Schaeffer em nenhum lugar apresentou com profundidade a ordo salutis. Em
seus escritos, contudo, ele se concentra em várias partes dessa ordem lógica.
Então, também, como vimos, tendo sido ministro da igreja presbiteriana ele
aderia aos ensinos da Assembleia de Westminster. Dessa forma, podemos
estar certos de que ele concordava com a ordo salutis apresentada nos
Padrões de Westminster.
Primeiro, há o chamado eficaz e/ou regeneração. De acordo com a Confissão
(10:4), ocorre o chamado universal, ou externo, do evangelho; nele, a
salvação é oferecida a todos os homens que ouvem a ministração da Palavra
de Deus. Esse chamado, contudo, é rejeitado pelos nãos eleitos: “Os não
eleitos, posto que sejam chamados pelo ministério da palavra e tenham
algumas das operações comuns do Espírito, contudo não se chegam nunca a
Cristo e portanto não podem ser salvos”.
O chamado universal do evangelho torna-se eficaz quando o Espírito Santo o
aplica ao coração dos eleitos. Como declara o Breve catecismo (R. 31):
“Vocação eficaz é a obra do Espírito Santo, pela qual, convencendo-nos do
nosso pecado, e da nossa miséria, iluminando nossos entendimentos pelo
conhecimento de Cristo, e renovando a nossa vontade, nos persuade e habilita
a abraçar Jesus Cristo, que nos é oferecido de graça no Evangelho”.[188]
Por ter sido um teólogo reformado, Francis Schaeffer enfatizava a
importância da Palavra de Deus no chamado eficaz: “Devemos enfatizar que
a experiência e a emoção não consistem na base da nossa fé, e sim a verdade
outorgada por Deus de forma verbalizada e propositiva na Escritura, e que,
em primeiro lugar, apreendemos com a mente — embora, sem dúvida, todo o
homem esteja envolvido”.[189] Esse chamado é irresistível (Rm 8.28-30;
11.29).
Enquanto alguns teólogos reformados distinguem o chamado eficaz da
regeneração — em que o chamado eficaz ocorre “por meio” da regeneração,
[190]
Schaeffer em nenhum lugar faz essa distinção. Aparentemente para ele,
como na Confissão de Westminster (10.3), o chamado eficaz e a regeneração
são a mesma coisa.
Segundo há a conversão. A conversão é a obra do Espírito de Deus pela qual
ele age com graça sobre os indivíduos regenerados, fazendo-os responder ao
chamado eficaz com fé e arrependimento. A fé e o arrependimento andam de
mãos dadas; eles não podem ser separados em sentido temporal.
O arrependimento, de acordo com o Breve catecismo (R. 87): “É uma graça
salvadora pela qual o pecador, tendo um verdadeiro sentimento do seu
pecado e percepção da misericórdia de Deus em Cristo, se enche de tristeza e
de horror pelos seus pecados, abandona-os e volta para Deus, inteiramente
resolvido a prestar-lhe nova obediência”. Já a fé salvadora, diz o Catecismo
(R. 86): “É uma graça salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele
para a salvação, como ele nos é oferecido”. Essa era a visão claramente
exposta por Francis Schaeffer.[191]
De forma simples, o arrependimento consiste no afastamento do pecado; a fé
salvadora consiste na volta para Cristo. E uma vez que os pecadores eleitos se
voltam para Cristo a fim de serem salvos, toda a sua vida gira em torno de
servir a Deus e obedecer a seus mandamentos. “A salvação”, ensinava
Schaeffer, “envolve a obediência à verdade”.[192] O “chamado da Bíblia é para
a vida sem pecado”.[193]
Para Schaeffer, em particular, e a teologia reformada, em geral, a fé salvadora
e a Palavra de Deus estão unidas de forma inextricável. Apesar de o
pensamento existencial da neo-ortodoxia negar a importância do conteúdo
bíblico na apresentação do evangelho, o cristianismo genuíno enfatiza a
necessidade do conteúdo sadio da mensagem pregada.[194] A fé salvadora, do
princípio ao fim, descansa sobre a Palavra.[195] No livro O grande desastre
evangélico, Francis Schaeffer afirmou sua concordância com a Confissão de
Westminster (14:3): a fé salvadora genuína que crê em tudo que a Bíblia
ensina: “Por essa fé [salvadora] o cristão, segundo a autoridade do mesmo
Deus que fala em sua palavra, crê ser verdade tudo quanto nela é revelado”.
[196]

De acordo com Francis Schaeffer, há três elementos envolvidos na fé


salvadora: conhecimento (notitia), assentimento (assensus) e confiança
(fiducia). Não é suficiente conhecer a verdade sobre Jesus Cristo; nem é
suficiente assentir apenas à mensagem do evangelho, não importa quão
essencial seja isso. A fé salvadora é a que também confia com sinceridade no
Cristo revelado na Escritura. Para Schaeffer: “A pessoa não se torna cristã
por apenas dar assentimento moral a certas reivindicações de verdade, mas
por entrar no relacionamento pessoal com o Deus que existe”.[197]
Conhecendo “os fatos”, disse Schaeffer, “devemos descansar neles com fé”.
[198]

Terceiro temos a justificação. “Justificação só pela fé (sola fide)”, disse


Martinho Lutero, é o “artigo [a doutrina] pelo qual a igreja cai ou permanece
de pé”. João Calvino a chamou “a dobradiça da Reforma”. A igreja
protestante permaneceu nessa doutrina, enquanto o catolicismo romano a
rejeitou no Concílio de Trento (1546-1563).[199]
De acordo com o Breve catecismo (R. 33): a “justificação é um ato da livre
graça de Deus, no qual ele perdoa todos os nossos pecados, e nos aceita como
justos diante de si, só por causa da justiça de Cristo a nós imputada, e
recebida só pela fé”. Schaeffer concordava. Isso fica claro quando ele, como
os reformadores antes dele, falou da justificação só pela fé, ou seja, apenas
por Cristo. O fundamento da justificação é o sacrifício consumado e
meritório de Cristo em favor dos eleitos. Disse Schaeffer: “O verdadeiro
fundamento da fé não se encontra na fé por si mesma, mas na obra
completada por Cristo na cruz. Minhas crenças não são a base de eu ter sido
salvo — mas o é a obra de Cristo completada na cruz [...] Minha fé encontra-
se apenas nas mãos vazias pelas quais eu aceito o presente gratuito de Deus”.
[200]
Fé é o instrumento pelo qual alguém é salvo, não a causa da salvação.[201]
Além disso, a justificação é um ato judicial ou forense de Deus, no qual ele
declara o pecador arrependido justo ou reto, com base na justiça perfeita de
Deus. Os reformadores se referiam a isso como a “justiça alheia” (i.e., a que
vem de “outro”, a saber, Cristo). Assim, enquanto no catolicismo romano a
justiça é infundida no pecador culpado, no protestantismo a justiça é
declarativa; ela é imputada.[202]
Quarto temos a adoção. A adoção, como a justificação, é um ato judicial
divino; nele, por seu Espírito, Deus conduz o pecador justificado ao
relacionamento filial consigo mesmo. Como declara o Catecismo maior de
Westminster (R. 64):
Adoção é um ato da livre graça de Deus, em seu único Filho Jesus Cristo e por amor dele, pelo
qual todos os que são justificados são recebidos no número dos filhos de Deus, trazem o seu
nome, recebem o Espírito do Filho, estão sob o seu cuidado e dispensações paternais, são
admitidos a todas as liberdades e privilégios dos filhos de Deus, feitos herdeiros de todas as
promessas e coerdeiros com Cristo na glória.
Uma vez mais, a perspectiva de Francis Schaeffer está em conformidade com
a Assembleia de Westminster.[203] Adoção é um grande privilégio, declarou
Schaeffer, e inclui o direito à oração:
Temos aqui um relacionamento pessoal extraordinário com o Pai, um relacionamento
maravilhoso entre pai e filho. Agora, quando digo: “Pai nosso, que estás no céu”, não se trata de
figura de linguagem [...] É uma realidade. Deus é meu Pai. Posso chamá-lo de Papai. Posso
chamá-lo de Paizinho.[204]
Francis Schaeffer desejaria que soubéssemos que esse privilégio é apenas
para quem foi unido a Cristo pela salvação. Nem todas as pessoas são filhas
de Deus. O ensino errante da igreja liberal sobre a irmandade de todos os
homens e a paternidade universal de Deus foi negado de modo inequívoco
por Francis Schaeffer: “Quando aceitamos Jesus como nosso Salvador, nós
nos tornamos filhos de Deus [...] Nem todos os homens são irmãos, de acordo
com a utilização bíblica do termo [...] Mas nos termos da Bíblia, somos
irmãos de quem tem Cristo como seu Salvador e, portanto, tem em Deus seu
Pai”.[205]
Quinto há a santificação. Eis a doutrina bíblica da santificação, nas palavras
da Confissão (13:1):
Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado em si um novo coração e um
novo espírito, são além disso santificados real e pessoalmente, pela virtude da morte e
ressurreição de Cristo, pela sua palavra e pelo seu Espírito, que neles habita; o domínio do
corpo do pecado é neles todo destruído, as suas várias concupiscências são mais é mais
enfraquecidas e mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em todas as
graças salvadores, para a prática da verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá a Deus.
Essa perspectiva era sustentada por Schaeffer. Ele se referia à santificação
progressiva do crente como a “verdadeira espiritualidade”.[206] E escreveu:
1. A verdadeira vida cristã, a verdadeira espiritualidade, não significa apenas que nascemos de
novo. Precisa começar aí, mas é muito mais do que isso. Não quer dizer só que vamos estar no
céu. Significa isso, mas muito mais do que isso. A verdadeira vida cristã, a verdadeira
espiritualidade na vida presente quer dizer mais do que ser justificado e saber que irei para o
céu.
2. Não é um desejo de me livrar de tabus para viver uma vida mais fácil e mais solta. Nosso
desejo precisa ser o de uma vida mais profunda. E quando me ponho a pensar nisso, a Bíblia me
apresenta o todo dos Dez Mandamentos e o todo da Lei do Amor.
3. A verdadeira espiritualidade, a verdadeira vida cristã, não é só exterior, mas é interior —
consiste em não cobiçar contra Deus e contra os homens.
4. É também mais do que isso: é positiva; é realidade positiva que se interioriza, e então positiva
nos resultados exteriores. O importante no íntimo é ser positivo e não apenas negativo; e a partir
do ímpeto da realidade interior positiva, deverá haver uma manifestação exterior positiva. O
plano não é só estarmos mortos para certas coisas, mas termos muito amor para com Deus,
sermos vivos para com ele, estarmos em comunhão com ele, neste exato momento da História.
E nós devemos amar as pessoas, ser vivos para com os indivíduos como pessoas, estar em
comunicação com nossos semelhantes num nível verdadeiramente pessoal, neste exato
momento da História.
Quando falo da vida cristã, ou de ser livre das algemas do pecado, ou da verdadeira
espiritualidade, os quatro pontos da lista acima são aquilo que a Bíblia quer dizer com isso, e
menos do que isso é agir de modo leviano para com Deus — é fazer pouco daquele que criou o
mundo; é não levar a sério aquele que morreu na cruz. É isso que precisamos ter em mente ao
começar um estudo dessa natureza; do contrário não adianta falar sobre ter a experiência de ser
livre das garras do pecado, ou sobre ter a experiência da realidade da vida cristã, da verdadeira
espiritualidade. Se isso não estiver em nossa mente, pelo menos compreendido um pouco, e
desejado um pouco, será melhor então parar por aqui. Tudo mais é menosprezar o Senhor Deus,
e por ser menosprezo de Deus, é pecado.[207]
Schaeffer enfatizava a diferença entre justificação e santificação. Enquanto o
catolicismo romano confunde e junta as duas, o protestantismo não o faz. Na
justificação, a culpa do pecado é removida de imediato. Na santificação, a
poluição do pecado é progressivamente erradicada.[208]
Além disso, Francis Schaeffer falava do aspecto “já e ainda não” da
santificação. Na justificação, o pecador eleito “já” é posicionalmente (ou
definitivamente) santificado. Ele já foi “separado” para Deus. Todavia, ele
deve passar pelo processo de santificação — a parte “ainda não” da doutrina.
Embora o processo se inicie nesta vida, os cristãos nunca serão purificados
por completo até o tempo da morte e entrada no estado de glorificação.[209]
Aqui Schaeffer se posicionou contra a falsa doutrina do “perfeccionismo” (“o
ensino que o cristão pode ser perfeito nesta vida”) ensinado por John Wesley
(1703-1701).[210]
No chamado eficaz, na justificação e na adoção o crente é totalmente passivo;
na santificação ele é ativo. Ele deve trabalhar pela salvação de acordo com o
ensino da Palavra de Deus. Schaeffer vinculou o processo de santificação a
“caminhar pela lama” do mundo. É difícil o cristão caminhar pela lama
(pecaminosidade) do mundo sem se sujar, mas pela graça de Deus ele deve se
guardar de se conformar ao espírito do mundo. Além disso, este andar não é
possível, disse Schaeffer, sem o conhecimento e a prática do ensino da
Escritura.[211] Assim, o cristão deve ser um estudante da Palavra de Deus.
Devemos saber o que a Bíblia diz, e a única forma de sabermos isso é
estudando-a. “Precisa existir a doutrina ortodoxa”, ele escreveu, “mas
também precisa existir a prática dessas doutrinas”.[212] Por último, “o processo
de santificação [que] continua até a morte” deve afetar o homem como um
todo.[213] Toda a vida é sagrada, e ela deve ser vivida para a glória de Deus.
[214]
De acordo com o Francis Schaeffer, a oração é essencial no processo de
santificação do cristão. A oração deve ser “sempre vista como comunicação
de pessoa a pessoa, não meramente um exercício devocional”. Ela deve ser
vista como um relacionamento “momento em momento” entre o crente e
Jesus Cristo, seu Salvador e Senhor. Sem esse tipo de comunicação contínua,
não haverá santificação genuína.[215]
Sexto temos a perseverança e certeza. De acordo com Francis Schaeffer, uma
vez que o indivíduo entra no relacionamento salvador com Deus por meio de
Jesus Cristo, ele jamais se perderá de novo. Cristo preservará sua igreja;
portanto, a igreja perseverará: “Jamais nos perderemos de novo, por causa da
perfeição da obra sacerdotal de Cristo por nós”.[216]
A doutrina da perseverança não é a mesma coisa que a doutrina da segurança
ou certeza. A primeira ensina que nenhum crente genuíno cairá para sempre
do estado de graça no qual está em Cristo. Já a segurança é alcançada quando
o crente justificado reconhece que “jamais se perderá de novo”.[217] É possível
que o crente verdadeiro seja salvo e nunca alcance o estado de segurança.
Mas isso não afeta o fato que os santos perseverarão. Schaeffer ensinou:
A segurança de que nós somos filhos de Deus e de que seremos seus para sempre é uma das
melhores coisas que Deus nos deixa entender depois da aceitação de Jesus como Salvador. Nem
todos os verdadeiros cristãos sentem essa segurança; mas caso não o façam, não usufruem de
uma das vantagens das riquezas de Cristo Jesus que consiste agora em um de seus privilégios.
[218]

Sétimo temos a glorificação. Aqui está o estado final da ordo salutis, que de
acordo com Francis Schaeffer, acontece em três estágios.[219] O primeiro
estágio ocorre na morte do crente individual — o estado intermediário. O
segundo estágio começa com Cristo vindo de novo para estabelecer seu reino
milenar na terra. O terceiro estado será o estado final, quando haverá um
novo céu e uma nova terra, como ensinam os capítulos 21 e 22 de
Apocalipse. A glorificação será discutida no capítulo sobre escatologia.
8. A IGREJA

De seu entendimento da Palavra de Deus, Francis Schaeffer afirmou serem


três as principais instituições bíblicas: a família, a igreja e o magistrado civil
(ou Estado). As instituições existem como todas as outras coisas para
glorificar a Deus. Elas são separadas quanto à função, mas não quanto à fonte
de autoridade. As três devem ser governadas pela Escritura. Das três
instituições, a família é a primária. Ela foi estabelecida em primeiro lugar
(Gn 1-2) e, em certo sentido, as outras duas instituições são fundamentadas
sobre ela.[220]
A segunda instituição é a igreja. A palavra grega traduzida como igreja é
ekklēsia , que significa “chamados para fora”. A igreja, disse Schaeffer, é a
comunidade chamada para fora do mundo a fim de pertencer a Cristo.[221] A
Bíblia se refere à igreja como noiva de Cristo, em sentido individual e
conjunto. Nas palavras de Schaeffer:
Quando examinamos o Novo Testamento, descobrimos que a condição de Noiva é vista de duas
maneiras. Algumas passagens enfatizam o fato de que cada cristão é, individualmente, a Noiva
de Cristo. Outras passagens mostram que a igreja como unidade é a Noiva de Cristo. Não há,
porém, contradição, mas apenas unidade em meio à diversidade. A igreja é, coletivamente, a
Noiva de Cristo e é constituída de cristãos individuais que são, cada um deles, a Noiva de
Cristo.[222]
Além disso, Schaeffer, embora com inconsistências (em particular, de caráter
escatológico), revelou sua perspectiva da teologia pactual ao ensinar que a
igreja sempre foi a noiva de Cristo. Tanto o povo do Antigo como do Novo
Testamentos são um em Cristo. Não existem dois povos distintos de Deus
(i.e., Israel e a igreja), como ensina a teologia dispensacionalista: “Como o
Novo Testamento, o Antigo Testamento enfatiza o aspecto da Noiva e do
Novo [...] A igreja continua. Em certo sentido, a igreja nasceu em
Pentecostes. Em outro sentido, porém, existe desde que o primeiro homem
foi remido com base na obra vindoura de Cristo”.[223]
Schaeffer também aderia com firmeza ao ensino reformado, em oposição à
falsa teologia do catolicismo romano, de que a igreja se fundamenta na
Palavra de Deus, e não vice-versa: “A igreja do Senhor Jesus Cristo [...]
descansa nos absolutos dados a nós na Escritura”.[224]

A IGREJA VISÍVEL E INVISÍVEL


Francis Schaeffer, com os Padrões de Westminster, fazia distinção entre a
igreja visível e invisível. A primeira, de acordo com a Confissão (25:1-2):
“Consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira
religião, juntamente com seus filhos”. Já a igreja invisível compreende os
verdadeiros santos (os eleitos) de todos os tempos, mesmo os que ainda não
nasceram: “A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do número
total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão
reunidos em um só corpo sob Cristo, seu cabeça”. Sob essa definição, os
verdadeiros membros da igreja visível são membros também da igreja
invisível. Mas algumas pessoas que fazem profissão de fé e participam da
igreja visível não são cristãs de verdade. Assim, a igreja visível sempre
permanecerá, até o estado final, um “corpo misto” de crentes e incrédulos.[225]
Uma das maiores preocupações de Francis Schaeffer era com o atual estado
da igreja visível. Em muitas denominações a igreja havia caído nas mãos de
teólogos liberais.[226] O resultado disso consistiu no “adultério espiritual para
com o Noivo [Jesus Cristo]”. Esse “adultério espiritual é muito pior que o
adultério físico [...] A teologia liberal moderna é pior que o a culto a Moloque
[deus pagão amonita] na Antiguidade”. “Quais são as características da
teologia liberal?”, pergunta Schaeffer. “O paralelismo mais adequado é
aquilo que Deus diz em Provérbios 30.20 acerca da mulher adúltera: ‘Tal é o
caminho da mulher adúltera: come, e limpa a boca, e diz: Não cometi
maldade’”.[227] Ao dar voz à conclusão composta por J. Gresham Machen
(1881-1937) no livro Cristianismo e liberalismo, Schaeffer acreditava que o
cristianismo genuíno e o liberalismo são duas religiões distintas:
A nova teologia é apenas o pensamento moderno expresso em termos religiosos [...] A nova
teologia se encontra no círculo finito e não tem nenhum significado ou autoridade além
daqueles que os seres humanos podem lhe atribuir.
Em outras palavras, na falta de uma comunicação verbalizada e proposicional de Deus ao
homem, em todas as formas de teologia liberal, antigas e novas, o ser humano está sozinho com
suas palavras religiosas em vez com a verdade religiosa. O cristianismo histórico não tem nada
em comum com a teologia liberal antiga, tampouco com a nova. O cristianismo histórico e a
teologia liberal antiga ou nova são duas religiões separadas, sem nenhum ponto de intersecção,
exceto os termos que usam com significados completamente diferentes.[228]
A única solução para esse problema, afirmou Schaeffer, é “reforma,
avivamento e revolução construtiva”.
A igreja em nossa geração precisa de reforma, reavivamento e revolução construtiva.
Às vezes os homens pensam nas duas palavras — reforma e reavivamento — como se
estivessem em contraste uma com a outra, mas isto é um erro. Ambas as palavras são
relacionadas à palavra restaurar.
Reforma refere-se a uma restauração à doutrina pura; reavivamento refere-se a uma restauração
na vida do cristão. Reforma fala de um retorno aos ensinos da Bíblia; reavivamento fala de uma
vida levada à sua relação apropriada com o Espírito Santo.
Os grandes momentos da História da igreja vieram quando estas duas restaurações entraram
simultaneamente em ação, de forma que a igreja voltou à doutrina pura e a vida dos cristãos na
igreja conheceu o poder do Espírito Santo. Não pode haver reavivamento verdadeiro a menos
que tenha havido reforma; e a reforma não é completa sem reavivamento.
Tal combinação de reforma e reavivamento seria revolucionária em nossos dias —
revolucionária em nossa vida individual como cristãos, revolucionária não só na igreja liberal,
mas também construtivamente revolucionária na igreja evangélica ortodoxa.
Que possamos ser aqueles que conhecem a realidade da reforma e do reavivamento, de forma
que este mundo pobre e sombrio possa ter uma mostra de uma porção da igreja devolvida tanto
à doutrina pura quanto à vida cheia do Espírito.[229]
Francis Schaeffer enfatizou aqui o conceito expresso pelos reformadores (a
respeito da igreja visível): deve haver a distinção entre igrejas verdadeiras e
falsas. Então, em referência às igrejas verdadeiras, deve-se distinguir as mais
puras das menos puras.[230] Schaeffer considerava a passagem de Atos 2.42-46
como o paradigma da igreja visível mais pura:[231]
E [os discípulos cristãos] perseveravam na doutrina [ensino] dos apóstolos e na comunhão, no
partir do pão [a ceia do Senhor] e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e
sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham
tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à
medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam
pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração.
Nesses versículos vemos a igreja envolvida em adoração, no estudo da
Escritura, na participação dos sacramentos, oração e unindo-se em
fraternidade como a comunhão dos santos. Assim, deve-se entender a
importância da união dos cristãos à igreja que crê com seriedade na Escritura.
Schaeffer declarou o seguinte: “A salvação é individual, porém não
individualista. As pessoas só podem se tornar cristãs uma de cada vez, mas
nossa salvação não é solitária. O povo de Deus é chamado de forma
conjunta”.[232]

IGREJA E ADORAÇÃO
A adoração pública e conjunta é parte muito importante da igreja bíblica. De
acordo com Schaeffer, os santos devem se reunir a cada dia do Senhor, o
primeiro dia da semana (o domingo),[233] a fim de adorar o Deus triúno da
Escritura:
É um mandamento direto de nosso Senhor que, depois de nos tornarmos cristãos, devemos nos
reunir para adorar com outros cristãos. Não se trata de algo próprio do período inicial da igreja;
isso deve perdurar até a volta de Cristo [...] Não devemos nos unir a qualquer grupo que se diga
cristão, mas sim onde haja ensinos bíblicos, onde a disciplina seja mantida em relação à vida e
doutrina, e onde exista uma comunidade verdadeira.[234]
Além disso, Francis Schaeffer afirmava o que a teologia reformada designa
“princípio regulador do culto”. Deus deve ser adorado apenas da maneira
prescrita em sua Palavra. O princípio é ensinado na Confissão de fé de
Westminster (21.1):
A luz da natureza mostra que há um Deus que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e
faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de
todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro
Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser
adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob
qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.
“Deus ordenou uma ordem para o culto”, disse Schaeffer, “não uma ordem
arbitrária, mas uma ordem que se conforma a quem ele é”. As igrejas “estão
absolutamente erradas em pensar que podem louvar a Deus à sua própria
maneira. Esse incenso estranho é inaceitável”.[235]
Ao mesmo tempo, Schaeffer advertiu contra uma perspectiva excessiva, que
seguia a máxima “só aquilo que é ordenado [no culto público] é permitido”.
[236]
“Se fosse o caso”, alega Schaeffer, “seria errado, por exemplo, a igreja ter
um templo, sinos, púlpito, hinário, seguir uma ordem específica de culto,
ficar em pé para cantar e muitas outras coisas do gênero. Se essa ideia fosse
colocada em prática em todos os aspectos”, conclui ele, “duvido que alguma
igreja conseguisse funcionar ou ter cultos”.[237]
As marcas da igreja
Francis Schaeffer (com a teologia reformada em geral) ensinava que a igreja
possui três marcas essenciais: a pregação da Palavra de Deus, a administração
correta dos sacramentos e a disciplina eclesiástica bíblica. Quando uma ou
mais dessas marcas está faltando em uma igreja, ela não funciona mais como
“igreja bíblica”.[238]
Primeiro, em oposição ao catolicismo romano, os reformadores enfatizaram a
pregação da Palavra de Deus acima dos sacramentos, pois mantinham que a
Palavra de Deus é completa em si mesma como meio de graça. A Bíblia é
necessária para a salvação (sob circunstâncias normais), enquanto os
sacramentos são meios de graça só quando administrados com a Palavra.
Ninguém pode entender o significado dos sacramentos à parte do ensino da
Escritura. Nesse sentido podemos dizer que, enquanto a Palavra gera e
fortalece a fé, os sacramentos apenas a fortalece.[239]
Schaeffer concordava com isso. “Nós e nossas igrejas precisamos levar a
verdade a sério”. Quem serve como pastor e mestre deve dar “atenção
especial à pregação e ao ensino”.[240] Os cristãos que creem na Bíblia devem
estar unidos a uma igreja local, mas “não devemos nos unir a qualquer grupo
que se diga cristão, mas sim onde o ensino seja verdadeiramente bíblico”.[241]
A segunda marca da igreja é a correta administração dos sacramentos.
Enquanto a Igreja Católica Romana ensina existirem sete sacramentos,
Francis Schaeffer, como reformado e teólogo do pacto, acreditava como
ensina a Confissão de fé de Westminster (27:4-5): “Há só dois sacramentos
ordenados por Cristo, nosso Senhor, no Evangelho; o batismo e a santa ceia
[...] [e] os sacramentos do Antigo Testamento, quanto às coisas espirituais
por eles significados e representados, eram em substância os mesmos que do
Novo Testamento”. Schaeffer também concordava com a Confissão de fé de
Westminster (27:1) no seguinte:
Os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus
para representar Cristo e os seus benefícios e confirmar o nosso interesse nele, bem como para
fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o resto do mundo, e solenemente
obrigá-los ao serviço de Deus em Cristo, segundo a sua palavra.[242]
O batismo com água, ensinava Schaeffer, é o sinal da entrada no
relacionamento pactual com Deus. Dessa forma, deve ser administrado só
uma vez. O sinal da água aponta para o batismo do Espírito Santo. O batismo
com água não regenera, apenas simboliza a obra regeneradora do Espírito.[243]
Já a ceia do Senhor é o sinal da permanência de alguém no relacionamento
pactual com Deus. Dessa forma, deve ser administrada com frequência.[244]
Como sinal, seu significado primário é o da morte de Cristo e de todos os
benefícios fluentes dela. Como um dos benefícios procedentes da morte de
Cristo consiste na santificação de todos os que pertencem a Cristo de
verdade, a ceia aponta também para a obra do Espírito de Deus na
santificação.[245]
Schaeffer escreveu:
Os dois grandes sacramentos enfatizam isso. A circuncisão do Antigo Testamento e o batismo
do Novo Testamento representam o lado de uma-vez-por-todas da obra de Cristo quando eu o
aceito como meu Salvador. Mas o outro sacramento, a Páscoa do Antigo Testamento e a Ceia
do Senhor do Novo, é algo que é repetido durante toda a vida da pessoa. O primeiro é
representativo do uma-vez-por-todas da obra de Cristo quando eu o aceitei como meu Salvador,
o segundo é representativo do relacionamento com aquele Um que está ali. Alimentar-nos de
Cristo em nossos corações pela fé não nega o “uma-vez-por-todas” da salvação. Há uma
diferença entre ser salvo uma vez-por-todas e aplicar diariamente, através da fé, a obra
completada de Cristo. Preciso olhar a obra completa de Cristo no agora da minha vida.[246]
Francis Schaeffer também acreditava que, pelo fato de os filhos dos crentes
serem membros do pacto, eles devem ser batizados na infância. Assim, ele
concordava com o ensino da Confissão de Westminster (28:4): “Não só os
que professam a sua fé em Cristo e obediência a ele, mas os filhos de pais
crentes (embora só um deles o seja) devem ser batizados”.[247]
A terceira marca da igreja é o exercício fiel e amoroso da disciplina
eclesiástica bíblica. Essa disciplina, que deve ser exercida pelos presbíteros
da igreja, é necessária para a manutenção da pureza de doutrina e vida da
igreja. Ela deve ser levada a sério.[248] Na opinião de Francis Schaeffer, a falta
de disciplina eclesiástica bíblica é uma das razões pelas quais muitas
denominações “tradicionais” se desviaram. Por exemplo, ele pergunta, com
tristeza: “Em qual presbitério da UPCUSA pode-se propor a disciplina bíblica
a um homem ordenado por sustentar perspectivas falsas de doutrina e se
espera que ele seja disciplinado?”.[249] E outra vez: “Isso se baseia no ensino
da Bíblia de que Deus é um Deus santo e não tolerará o pecado. Se Deus é o
Deus santo e o homem ensina uma religião não cristã, então a igreja tem a
responsabilidade de expulsar esse homem da igreja”.[250]

GOVERNO ECLESIÁSTICO
Francis Schaeffer ensinou que a igreja de Jesus Cristo é uma organização e,
portanto, precisa de governo. A igreja sem um governo não pode funcionar.
Ao longo dos séculos da história da igreja se destacam três formas básicas de
governo eclesiástico: episcopal (ou hierárquico), independente (ou
congregacional) e presbiteriano.
A forma episcopal de governo é encontrada nas Igrejas Católica Romana,
Episcopal e Metodista. Aqui a autoridade reside no bispo (Roma, sem dúvida,
é a mais centralizada dessas igrejas, com o papado). As igrejas independentes
afirmam que a congregação local é independente de qualquer outra igreja.
Cada igreja deve ser governada democraticamente. Isto é, a igreja é
governada pelo voto da maioria da congregação. Schaeffer se opunha a essas
duas formas de governo. Concordando com o ensino da Confissão de fé de
Westminster, ele era presbiteriano.[251]
No livro A igreja no final do século 20, Schaeffer listou várias “normas” para
o governo eclesiástico.[252] Ali descobrimos que o governo eclesiástico bíblico
precisa ter várias cortes eclesiásticas. No nível da igreja local temos um
conjunto de presbíteros que se reúnem como um “conselho”. A seguir deve
haver um corpo de presbíteros que se encontram como um presbitério. Então
há a corte mais alta, que consiste em um conjunto de presbíteros reunidos
como um sínodo ou assembleia geral.
A partir de seu entendimento da Escritura, Francis Schaeffer afirmou que
existem duas ordens básicas de ofício na igreja: presbíteros e diáconos. Ao
analisar 1 Timóteo 5.17 (“Devem ser considerados merecedores de dobrados
honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se
afadigam na palavra e no ensino”), Schaeffer ensina que os presbíteros
devem estar divididos em dois grupos. Primeiro, há aqueles cuja principal
função é pregar e ensinar a Palavra de Deus. Eles são geralmente chamados
“presbíteros docentes”. Segundo, há os “presbíteros regentes”, cuja função é
governar a igreja com os presbíteros docentes. Esses dois “grupos” são iguais
em autoridade, de forma que há paridade e pluralidade entre os presbíteros no
“conselho” eclesiástico. Quanto ao ofício de diácono, como se observa em
Atos 6.1-6, trata-se de um ministério de serviço. Os diáconos devem estar
envolvidos no ministério da igreja que cuida da saúde e do bem-estar. Além
disso, dizia Schaeffer, os ofícios eclesiásticos devem ser ocupados apenas por
homens, homens piedosos por certo, mas homens.[253] E esses homens devem
prestar contas de acordo com um credo ou confissão, como os dos Padrões
de Westminster.[254]

A RELAÇÃO ENTRE A IGREJA E O ESTADO


Na história da relação entre a igreja e o Estado, dois principais erros se
desenvolveram: papismo e erastianismo. O primeiro ensina que a igreja (i.e.,
o papa) deve governar a igreja e o Estado. O último afirma que as duas
instituições devem estar sob a liderança do magistrado civil. Schaeffer
discordava desses dois erros e defendia o conceito bíblico de que as duas
instituições são separadas em função, mas não em autoridade. A igreja e o
Estado devem ser governados pela lei de Deus.
Como presbítero docente de uma igreja presbiteriana, que adere aos ensinos
dos Padrões de Westminster, Schaeffer concordava com a Confissão de fé
(23:1), que resume a responsabilidade do magistrado civil da seguinte forma:
Deus, o Senhor Supremo e Rei de todo o mundo, para a sua glória e para o bem público,
constituiu sobre o povo magistrados civis que lhe são sujeitos, e a este fim, os armou com o
poder da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores.
Além disso, como a Confissão (23:3) continua em seu ensino, o Estado não
deve entrar nas questões da igreja: “Os magistrados civis não podem tomar
sobre si a administração da palavra e dos sacramentos ou o poder das chaves
do Reino do Céu”. E, diz a Confissão (30:1): a igreja, como instituição, é
distinta da instituição do Estado: “O Senhor Jesus, como Rei e Cabeça da sua
Igreja, nela instituiu um governo nas mãos dos oficiais dela; governo distinto
da magistratura civil”.
Isso não significa, afirmava Schaeffer, que a igreja não mantenha certas
responsabilidades relativas ao Estado, como o magistrado civil possui certas
responsabilidades para com a igreja. A igreja tem o dever de ensinar ao
magistrado civil seus deveres sob a lei de Deus. E o magistrado civil tem o
dever de proteger a igreja, não só de quem a prejudica, mas também de quem
a impede de cumprir a grande comissão.[255]
9. O MAGISTRADO CIVIL

Já vimos que Francis Schaeffer afirmava a existência de três instituições


bíblicas básicas: a família, a igreja e o magistrado civil (ou Estado). Essas são
três entidades de funções separadas e distintas, mas não no que concerne à
fonte de autoridade. A lei de Deus é a autoridade delas.
De acordo com Schaeffer, forte adepto dos ensinos da Reforma, visto que o
magistrado civil está sob a autoridade da lei de Deus, ele deve agir de acordo
com essa lei. “Além de promover a pregação clara do evangelho”, mantinha
ele, “a Reforma moldou a sociedade como um todo, inclusive o governo [...]
não há dúvida [...] de que a Reforma abriu as portas para que muitos
conhecessem a Cristo e para que os padrões absolutos da Bíblia se
disseminassem amplamente na cultura como um todo”.[256] Dos vários livros
que escreveu, O manifesto cristão é em especial o estudo da doutrina do
magistrado civil. Torna-se evidente que ele concordaria com John Robbins
que, de acordo com a Escritura, há pelo menos sete valores bíblicos básicos
essenciais para uma nação ser considerada justa:[257]
Primeiro, deve haver o reconhecimento da soberania divina. A soberania de
Deus é universal, ensinava Schaeffer. Como declarado na Confissão de fé de
Westminster (5:1):
Pela sua muito sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável
conselho da sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da
glória da sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e
governa todas as suas criaturas, todas as ações e todas as coisas, desde a maior até a menor.
Com respeito às questões nacionais, isso significa que Deus, não a igreja ou o
Estado, deve ser a causa da segurança da nação. Sempre que as pessoas de
uma nação olham para a igreja (como no catolicismo romano), ou para o
magistrado civil, e não para Deus, a fim ter as necessidades satisfeitas,
acabam negando o primeiro valor: o reconhecimento da soberania de Deus.
[258]
“Há um lugar legítimo tanto para o Estado como para a igreja”, escreveu
Schaeffer, “mas não no centro. O centro precisa ser uma pessoa [Deus]”.[259]
Segundo, há a necessidade do governo limitado. O fato de Deus ser soberano
precisa restringir o poder e a autoridade das instituições humanas. Na
sociedade guiada pela Palavra de Deus, lemos em Romanos 13 e 1 Pedro 2, a
autoridade do governo civil deveria se limitar às esferas de defesa e justiça.
Nas palavras da Confissão de Westminster (23:1):
Deus, o Senhor Supremo e Rei de todo o mundo, para a sua glória e para o bem público,
constituiu sobre o povo magistrados civis que lhe são sujeitos, e a este fim, os armou com o
poder da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores.
“Deus”, escreveu Schaeffer, “estabeleceu o Estado como autoridade
delegada; ele não é uma autoridade autônoma. O Estado deve ser um agente
da justiça para restringir o mal, punindo o malfeitor, e para proteger os bons
na sociedade”.[260]
Francis Schaeffer também citou com aprovação a declaração de James
Madison (1741-1836), “o pai da Constituição”, a respeito do propósito da
Constituição dos Estados Unidos: “Os poderes delegados ao governo federal
pela Constituição proposta são poucos e definidos”. Schaeffer prosseguiu e
lamentou que “o Governo federal dos Estados Unidos continuamente se
apropria do poder que o governo originário dos Estados Unidos tentou ao
máximo conter, limitar e resistir”.[261]
Terceiro, há a primazia do indivíduo. A Reforma enfatizou esse ponto. É
também o fundamento das seguintes doutrinas da Confissão de fé de
Westminster: eleição individual (cap. 3), chamado ou regeneração individual
(cap. 10), justificação individual (cap. 11), adoção individual (cap. 12),
santificação individual (cap. 13) e glorificação individual (caps. 32 e 33).
O ensino da Confissão sobre a primazia do indivíduo de forma alguma nega
que Deus tenha, desde a eternidade, entrado em um pacto de graça com seu
povo eleito (cap. 7), que é a igreja de Jesus Cristo (cap. 25), a comunhão dos
santos (cap. 26). Nas palavras de Schaeffer: “O cristianismo é individual no
sentido de que cada homem deve ser convertido e nascer de novo, um de cada
vez. Mas o cristianismo não é individualista”.[262] O ponto aqui é o seguinte:
Deus salva pecadores eleitos como indivíduos, e cada homem, mulher e
criança é individualmente responsável perante Deus.
A partir dessa doutrina da Reforma são derivadas as várias liberdades e
proteções individuais que os cidadãos de uma nação devem desfrutar:
liberdade de religião, liberdade de imprensa, liberdade de expressão e assim
por diante. O “consenso judaico-cristão”, disse Schaeffer, “forneceu a base
para a forma e a liberdade no governo. O consenso judaico-cristão não só
concedeu as maiores liberdades que o mundo já viu, como também as
conteve para que não despedaçassem a sociedade”.[263]
Quarto, há o direito à propriedade privada. Dois dos Dez Mandamentos
ensinam esse direito: “Não furtarás” e “Não cobiçarás” (Êx 20.15,17). Se
toda propriedade devesse ser mantida em comum, o furto e a cobiça não
seriam possíveis. Há também a história bíblica da vinha de Nabote, em 1
Reis 21, onde somos ensinados que o magistrado civil é proibido de
expropriar a propriedade privada.[264] Incluso no direito de propriedade
privada está o direito bíblico de “ter e portar armas”.[265]
Quinto, há a ética protestante do trabalho. O princípio está fundamentado no
quarto mandamento: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra” (Êx 20.9).
O trabalho não era difícil antes da queda. Mesmo antes da queda, Adão foi
ordenado a cultivar e a guardar o jardim do Éden (Gn 2.15). O trabalho era e
ainda é parte da responsabilidade do homem sob o mandato cultural.[266]
A ética protestante do trabalho inclui também um entendimento apropriado
do princípio do dia do descanso. O homem deve trabalhar seis dias por
semana, mas deve saber que “o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus;
não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o
teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas
para dentro; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo
o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia
de sábado e o santificou”.[267]
Sexto, há o estado de direito (ou seja, a vigência da lei). De acordo com o
capítulo 19 da Confissão de fé de Westminster, uma nação baseada na Bíblia
deve estabelecer princípios legais fundamentados nos Dez Mandamentos e na
“equidade geral” da lei judicial que Deus concedeu a Israel. Toda lei
permanente deve ser encontrada no ensino da Escritura. Nas palavras de
Schaeffer: “O governo civil, bem como a totalidade da vida, se encontra sob a
Lei de Deus”.[268] Ele cita com aprovação o seguinte:
[Samuel] Rutherford [1600-1661] argumentou que Romanos 13 indica que todo poder procede
de Deus e que o governo é ordenado e instituído por Deus. O Estado, entretanto, deve ser
administrado de acordo com os princípios da Lei de Deus. Os atos do Estado que
contradissessem a Lei de Deus se tornavam ilegítimos e eram atos de tirania. Tirania foi
definida como governar sem a sanção de Deus.[269]
É também mandatório, argumentou Schaeffer, que as leis estabelecidas pela
nação sejam aplicáveis a todas as pessoas, incluindo os líderes. Ninguém na
nação está acima da lei. Esse é o princípio puritano do lex rex (“a lei é rei”),
em oposição ao rex lex (“o rei é lei”).[270]
Sétimo, há o republicanismo. Modelado pela forma presbiteriana de governo
eclesiástico, a nação bíblica deve ser uma república, não uma monarquia ou
democracia. Deus advertiu Israel contra a monarquia em 1 Samuel 8. Entre
outras coisas, disse o Senhor, o rei se valeria de trabalho compulsório,
estabeleceria burocracias, imporia impostos excessivos e nacionalizaria os
meios de produção. Na monarquia a voz do rei é como a voz de Deus.
Já na sociedade democrática, o governo se baseia na maioria. Quando uma
nação é governada pela maioria, a voz do povo torna-se a voz de Deus.
Francis Schaeffer referiu-se à “democracia” como “a ditadura dos 51%, sem
controles nem meios de desafiar a maioria”.[271]
A monarquia e a democracia não são bíblicas.[272] A forma bíblica de governo
é a república — nela, a nação é governada pelas leis estabelecidas. Uma
república cristã deve ser governada pela lei bíblica, e administrada por
representantes eleitos pelo povo. Deve haver divisão de poderes e separação
de poderes, a fim de que nenhum governo ou ramo do governo detenha o
monopólio sobre a jurisdição.[273]

CONCLUSÃO
Francis Schaeffer ensinou que esses setes valores são fundamentais para toda
sociedade desejosa de ser bíblica. Eles são básicos, pois se baseiam na
Palavra inspirada, infalível e inerrante de Deus. Se forem abandonados ou
subvertidos, o poder e autoridade moral de uma nação se perderão.
10. A ESCATOLOGIA

Escatologia é o estudo da doutrina das “últimas coisas” (do grego eschatos,


“último”). Os teólogos normalmente dividem esse estudo em escatologia
pessoal (ou individual) e geral (ou cósmica). A escatologia pessoal examina o
fenômeno da morte e do estado intermediário — aplicados aos indivíduos. Já
a escatologia geral lida com os eventos que ocorrerão no final da história
humana. Isso inclui o milênio, a ressurreição, o julgamento e o estado final.
A visão escatológica de Francis Schaeffer estava inextricavelmente
relacionada à sua visão histórica. De modo muito diferente do pensamento
grego, que considera a natureza da história cíclica, o ponto de vista cristão
afirma que a história é dinâmica e linear. A história segue “para um lugar”,
pois o Deus triúno da Escritura não só predestinou todas as coisas que
acontecerão, mas ele também criou todas as coisas, e providencialmente
controla todas as coisas, conduzindo-as ao fim ordenado. E, disse Schaeffer,
no centro da história estão a vida, morte, ressurreição e ascensão de Jesus
Cristo, que dão significado e propósito à história. Dessa forma, a perspectiva
histórica de Schaeffer é teocêntrica e cristocêntrica.[274]

ESCATOLOGIA PESSOAL
Schaeffer ensinava que o homem foi criado reto por Deus. O homem e Deus
caminhavam juntos no jardim do Éden, “na virada do dia”. Se Adão tivesse
obedecido a Deus e cumprido o pacto de obras, ele (e sua posteridade) teriam
vivido para sempre. Na queda o homem perdeu esse status. Como resultado
da queda, o homem deve morrer em sentido físico e espiritual. Não só o
corpo, mas a alma imortal do homem, morre ao jazer sob a maldição contínua
de Deus.[275]
Na morte, o corpo do homem retorna ao pó e experimenta corrupção. Mas a
alma do homem entra no estado intermediário e permanece consciente. A
diferença entre os cristãos e não cristãos é que, enquanto os cristãos, na
morte, entram no estado de bem-aventurança na presença de Jesus Cristo, os
não cristãos entram no estado de sofrimento e castigo consciente.[276]
Os corpos dos homens, depois da morte, convertem-se em pó e vêm a corrupção; mas as suas
almas (que nem morrem nem dormem), tendo uma substância imortal, voltam imediatamente
para Deus que as deu. As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são
recebidas no mais alto dos céus onde vêm a face de Deus em luz e glória, esperando a plena
redenção dos seus corpos; e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde ficarão, em
tormentos e em trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final. Além destes dois
lugares destinados às almas separadas de seus respectivos corpos as Escrituras não reconhecem
nenhum outro lugar.

ESCATOLOGIA GERAL
Francis Schaeffer não dava ênfase a seus conceitos escatológicos. Na
verdade, ele se opunha a quem o fazia, crendo que muitos teólogos tendiam a
concentrar-se em espetacularizar certos aspectos escatológicos.[277] Todavia,
ele ensinou sobre o assunto.[278]
Francis Schaeffer mantinha que no primeiro advento, Jesus Cristo
estabeleceu seu reino mediador. Mesmo agora, Cristo, no estado de ascensão,
“à destra de Deus, o Pai, é o cabeça de todas as coisas na igreja”. Todavia,
ensinava Schaeffer, no segundo avento, Cristo “regerá de uma forma
diferente de como ele governa agora”, no reino milenar. Nesse tempo,
quando retornar “como Rei dos reis e Senhor dos senhores [...] todo joelho se
dobrará diante dele”.[279]
Francis Schaeffer mantinha a perspectiva escatológica pré-milenarista.
Embora haja vários elementos dispensacionalistas reconhecíveis na doutrina
de Schaeffer sobre as últimas coisas, devido ao foco no “Israel nacional” e na
terra de Canaã prometida a Abraão e ao povo judeu, na base, Schaeffer não
era dispensacionalista. Antes, embora de forma inconsistente, ele adotou o
pré-milenarismo histórico ou pactual.[280]
Francis Schaeffer ensinava que Cristo poderia retornar a qualquer momento
para “arrebatar” a igreja. Quando ele vier, quem morreu no Senhor (os santos
do Antigo e do Novo Testamentos) será fisicamente ressuscitado e, com
quem ainda estiver vivo, será levado para se encontrar com o Senhor nos
ares.[281]
Schaeffer afirmava que logo após o arrebatamento da igreja cristã, haverá um
tempo de grande tribulação. Nesse tempo, “haverá um período de grande
apostasia com um ditador, chamado ‘o Anticristo’, governando o mundo. Ele
é o oposto completo de Cristo e se lhe opõe, sendo completamente
subserviente a Satanás, o ‘dragão’. Ele controlará o governo e a vida
econômica, e será adorado como Deus”. No final desse período de tribulação,
Jesus Cristo voltará à terra, “de forma visível e em glória”, com seus santos”,
e vencerá o Anticristo e Satanás. “Trata-se da batalha do Armagedon.”[282]
Ele baseava sua doutrina do reinado dos mil anos de Cristo sobre a terra no
pacto que Deus fez com Abraão e a nação de Israel. Há uma promessa
“espiritual” dada por Deus a Abraão de que em sua semente todas as nações
do mundo serão abençoadas. Esse é o aspecto mais importante da promessa
abraâmica. Mas há também a bênção nacional que Deus deu ao patriarca na
qual a terra de Canaã foi prometida ao povo judeu: a semente natural de
Abraão. E essa promessa será cumprida no milênio.[283]
“Quando Cristo retornar em glória”, ensinou Schaeffer, “os judeus o verão
como o verdadeiro Messias a quem eles, como nação, rejeitaram; e crerão
nele”. Ao mesmo tempo o diabo será solto por mil anos, e os crentes, no
corpo glorificado, reinarão com Deus na terra. No tempo do milênio, a
maldição que Deus colocou sobre a terra em Gênesis 3.17,18 será removida e
a criação será restaurada ao seu estado pristino. “O mundo será, durante esse
período, normal outra vez — isto é, como Deus o fez.”[284]
No final do milênio Satanás será solto do cativeiro e conduzirá a revolta final
contra Cristo. Todavia, Cristo derrotará seus inimigos, e lançará o diabo no
lago de fogo. Após a revolta final, o juízo de todos os incrédulos ocorrerá.
Eles enfrentarão a “segunda morte”. “O fim dos perdidos”, escreveu
Schaeffer”, “é o mesmo fim do Diabo e dos anjos que o seguiram [...] O
inferno foi preparado para o Diabo e seus anjos, e o resultado de segui-lo é
terminar no mesmo lugar”. E o inferno, como Cristo mesmo ensinou, é um
lugar de tormento sem fim.[285] Seguindo-se ao julgamento dos ímpios, Deus
inaugurará o estado eterno: “Haverá novo céu, nova terra e a cidade
celestial”, onde os eleitos viverão na presença de Deus para sempre. “É eterna
— para sempre e sempre, sem fim.”[286]
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[1]
A morte da razão (São Paulo: Cultura Cristã, 2002), p. 95-6 [Works, vol. I, p. 264].
[2]
Introduction to Francis Schaeffer, p. 34.
[3]
A vida familiar biblicamente orientada dos Schaeffers está exposta no livro de Edith Schaeffer, O
que é uma família? (Brasília, DF: Monergismo, 2019).
[4]
The God Who is There, p. 169.
[5]
V. a bibliografia. Para mais sobre a vida de Francis A. Schaeffer, v. Edith Schaeffer, L’Abri e The
Tapestry; Lane T. Dennis, org., Francis A. Schaeffer: Portraits of the Man and His Work; Lane T.
Dennis, org., Letters of Francis A. Schaeffer, e Frederick Carl Lont, The Theology of Francis A.
Schaeffer IV, p. 3-9. A obra do Dr. Lont foi muito útil na escrita deste livro.
[6]
“What Can We Learn From Francis Schaeffer?”, in: Louis G. Parkhurst, Francis Schaeffer: The
Man and His Message, p. 217.
[7]
“No Little People”, in: Reflections on Francis Schaeffer, Ronald W. Ruegsegger, org., p. 17.
[8]
C. S. Lewis & Francis Schaeffer, p. 21, 13, 17.
[9]
A New Systematic Theology of the Christian Faith, p. 125.
[10]
Citado em Bryan A. Follis, Truth and Love: The Apologetics of Francis Schaeffer, p. 170.
[11]
Edith Schaeffer, Forever Music, p. 61-2.
[12]
No livro O Deus que intervém (p. 137) [Works, vol. I, p. 93, 178], Schaeffer escreveu: “Nossos
antepassados usam o termo teologia sistemática para expressar a sua visão de que o cristianismo não é
uma série de preceitos religiosos isolados, mas que tem um início e progride para um fim. Cada parte
relaciona-se com as outras e com o todo, e para com o que está posto em primeiro plano no sistema [...]
O sistema cristão (o que está ensinado em toda a Bíblia) é uma unidade de pensamento”.
[13]
A coisa mais próxima que Schaeffer escreveu sobre o assunto da teologia sistemática é o livro 25
estudos bíblicos básicos (Brasília, DF: Monergismo, 2015). Mas a obra está longe de ser detalhada; ela
é, como o título sugere, “básica”.
[14]
Veja Francis A. Schaeffer, The Complete Works of Francis A. Schaeffer, vol. III, p. 290; vol. IV,
p. 65, 108, 166, 168, 219; vol. V, p. 22, 123. Schaeffer subscrevia os Padrões de Westminster,
declaração feita por Edith Schaeffer, L’Abri, p. 193; Burson; Walls, C. S. Lewis & Francis Schaeffer,
p. 70-1. Também, na série de palestras gravadas (254-258) que Schaeffer proferiu sobre a doutrina
bíblica, ele seguiu o esboço da Confissão de fé de Westminster, indicando assim a adesão a essa
confissão.
[15]
Works, vol. I, p. 275. [Trecho omitido na introdução de O Deus que se revela, publicado pela
Cultura Cristã. (N. do T.)]
[16]
“Modern Man and the Problem of Authority”, Journal of the Faith Theological Seminary Alumni
Association 4, n. 1 (Fall, 1951), p. 9.
[17]
O Deus que se revela (São Paulo: Cultura Cristã, 2007), p. 47.
[18]
Para saber mais sobre o tema, v. Thomas V. Morris, Francis Schaeffer’s Apologetics: A Critique. O
uso limitado das provas teístas na apologética de Schaeffer é óbvio na alegação: “Todas as provas
clássicas são inúteis”, citada em Follis, Truth and Love: The Apologetics of Francis Schaeffer, p. 21.
[19]
Bryan Follis prefere chamar Francis Schaeffer de “verificacionista”, alguém que defende a
interpretação pressuposicional da Bíblia como fundamento de todo o conhecimento, e então alega que o
ensino que a Bíblia deve ser “verificado” pela evidência histórica. Veja Follis, Truth and Love: The
Apologetics of Francis Schaeffer, p. 99.
[20]
Kenneth C. Harper, “Francis A. Schaeffer: An Evaluation”, Bibliotheca Sacra (April-June, 1976),
vol. 133, p. 132-9.
[21]
V., p. ex., Schaeffer, The God Who is There, p. 15; He is There and He is Not Silent, p. 65; How
Shall We Then Live?, p. 81; Escape from Reason, p. 87; e The Great Evangelical Disaster, p. 51.
[22]
Burson; Walls, C. S. Lewis & Francis Schaeffer, p. 20.
[23]
Follis, Truth and Love: The Apologetics of Francis Schaeffer, p. 45.
[24]
Works, vol. II, p. 147.
[25]
Philosophy & The Christian Faith, p. 265.
[26]
Works, vol. II, p. 129-30.
[27]
Ibid., vol. III, p. 308.
[28]
True Spirituality, p. 116; The Finished Work of Christ, p. 29-54.
[29]
Morte na cidade, p. 67-79 [Works, vol. IV, p. 265-76].
[30]
Ibid., p. 79 [Works, vol. IV, p. 276].
[31]
Na opinião deste autor, Schaeffer era excessivamente crítico de Tomás de Aquino neste ponto.
[32]
Escape from Reason, p. 11-7.
[33]
O Deus que se revela, p. 99-100 [Works, vol. I, p. 323].
[34]
The God Who is There, p. 15, 93.
[35]
Veja Schaeffer, O Deus que se revela.
[36]
The Justification of Knowledge, p. 147.
[37]
Isso é evidente, p. ex., em todo o livro Nenhum conflito final (Brasília, DF: Monergismo, 2017) de
Schaeffer.
[38]
The Finished Work of Christ, p. 23-5; Works, vol. IV, p. 281.
[39]
Works, vol. II, p. 171-5.
[40]
A morte da razão, p. 100.
[41]
Gênesis no espaço-tempo (Brasília, DF: Monergismo, 2014), p. 50 [Works, vol. I, p. 23].
[42]
A morte da razão, p. 33 [Works, vol. I, p. 219].
[43]
Gênesis no espaço-tempo, p. 50 [Works, vol. II, p. 23].
[44]
Works, vol. II, p. 378.
[45]
O Deus que intervém, p. 177.
[46]
Ibid., p. 122.
[47]
Ibid., p. 41, 42 [Works, vol. I, p. 279].
[48]
Works, vol. V, p. 357.
[49]
Verdadeira espiritualidade, p. 86 [Works, vol. III, p. 259].
[50]
O Deus que intervém, p. 208 [Works, vol. I, p. 148].
[51]
A Christian Manifesto, p. 31-9.
[52]
Joshua and the Flow of Biblical History, p. 34-45.
[53]
Veja Gordon H. Clark, The Pastoral Epistles, p. 179-85.
[54]
Schaeffer, “What Difference Does Inerrancy Make?”, The Church at the End of the Twentieth
Century, Appendix B; Schaeffer, Nenhum conflito final; Francis A. Schaeffer; Edith Schaeffer,
Everybody Can Know, p. 19; Donald A. Waiter, I.C.O.W.E. Report, p. 199; Frederick Carl Lont, The
Theology of Francis August Schaeffer V, p. 190-1.
[55]
Schaeffer; Schaeffer, Everybody Can Know, p. 19.
[56]
Schaeffer, The God Who is There, vol. I, p. 2; vol. II, p. 1, 5; Lont, The Theology of Francis August
Schaeffer V, p. 191-3. Sua crítica completa dos conceitos liberais sobre a Escritura, v. Schaeffer, “Uma
crítica histórica do liberalismo teológico”, A igreja diante do mundo que a observa, cap. 1.
[57]
Veja Schaeffer, Nenhum conflito final, cap. 5, onde ele fala sobre “o divisor de águas do mundo
evangélico”.
[58]
O grande desastre evangélico, p. 275. In: A igreja no século 21 (São Paulo: Cultura Cristã, 2010)
[Works, vol. IV, p. 320, 333].
[59]
Ibid., p. 269 [Works, vol. IV, p. 327-8].
[60]
Ibid., p. 270 [Works, vol. IV, p. 328].
[61]
O Deus que se revela, p. 156 [Works, vol. I, p. 107].
[62]
Schaeffer; Schaeffer, Everybody Can Know, p. 20.
[63]
O Deus que se revela, p. 31 [Works, vol. IV, p. 347].
[64]
Works, vol. I, p. 86.
[65]
Veja Schaeffer, Gênesis no espaço-tempo.
[66]
Morte na cidade (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), p. 46.
[67]
Como viveremos? (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), p. 125 [Works, vol. V, p. 192-3].
[68]
A igreja diante do mundo que a observa, p. 99, 100. In: A igreja no século 21 (São Paulo: Cultura
Cristã, 2010) [Works, vol. IV, p. 419].
[69]
Morte na cidade, p. 46-7 [Works, vol. IV, p. 245].
[70]
Works, vol. II, p. 145.
[71]
Ibid.
[72]
Schaeffer, “God Gives His People a Second Chance”, in: The Foundations of Biblical Authority,
James Montgomery Boice, org., p. 16.
[73]
O grande desastre evangélico, p. 271 [Works, vol. IV, p. 103].
[74]
25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 8.
[75]
A morte da razão, p. 94 [Works, vol. I, p. 263].
[76]
“Modern Man and the Problem of Authority”, Journal of the Faith Theological Seminary Alumni
Association 4, n. 1 (Fall, 1951), p. 8.
[77]
Como viveremos?, p. 49, 50 [Works, vol. V, p. 121-2].
[78]
The Finished Work of Christ, p. 130.
[79]
The New Super-Spirituality, p. 24.
[80]
“A identificação do divisor de águas”, O grande desastre evangélico, cap. 2.
[81]
Works, vol. III, p. 407.
[82]
Ibid., p. 397 [The New Super-Spirituality].
[83]
The Finished Work of Christ, p. 164.
[84]
Works, vol. I, p. 154.
[85]
Ibid., vol. I, p. 129, 180-1; vol. V, p. 104, 125; 25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 4-5. Embora
Schaeffer não use a expressão “meios de graça” a ideia é a mesma.
[86]
Ibid., vol. I, p. 144.
[87]
A obra consumada de Cristo (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), p. 15.
[88]
V. a Confissão de fé de Westminster, cap. 19; Schaeffer, 25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 9;
“A preparação de Josué”, José e a história bíblica, cap. 1; A Christian Manifesto, p. 28, 39.
[89]
Um manifesto cristão, p. 171, 208. In: A igreja no século 21 (São Paulo: Cultura Cristã, 2010).
[90]
Works, vol. II, p. 129.
[91]
Schaeffer, “Introdução”, Nenhum conflito final; Works, vol. I, p. 379.
[92]
O Deus que intervém (São Paulo: Cultura Cristã, 2009), p. 29-30 [Works, vol. I, p. 11].
[93]
Na Confissão de fé de Westminster, a Assembleia de Westminster primeiro estudou o ser de Deus
no cap. 2 e então passou ao estudo das obras de Deus nos caps. 3 a 5. Seguiremos essa ordem.
[94]
V., p. ex., Schaeffer, Não há gente sem importância (São Paulo: Cultura Cristã, 2009), cap. 2: “A
mão de Deus” e cap. 3: “A fraqueza dos servos de Deus”, e 25 estudos bíblicos básicos, vol. I, p. 1,
vol. II, p. 3-5.
[95]
Works, vol. III, p. 79.
[96]
Schaeffer, A morte da razão (São Paulo: ABU; São José dos Campos: Fiel, 2001), p. 47 [Works,
vol. I, p. 221].
[97]
Escape from Reason, p. 25-7; “A necessidade metafísica”, O Deus que se revela, cap. 1.
[98]
Verdadeira espiritualidade (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), p. 156 [Works, vol. III, p. 316].
[99]
25 estudos bíblicos básicos, vol. I, p. 1.
[100]
Works, vol. I, p. 289.
[101]
25 estudos bíblicos básicos, vol. I, p. 1.
[102]
The Finished Work of Christ, p. 16-7.
[103]
“Criação”, Gênesis no espaço-tempo, cap. 1; Works, vol. III, p. 44.
[104]
Here is There and He is Not Silent, p. 14.
[105]
“Morte na cidade”, Morte na cidade, cap. 1.
[106]
Gênesis no espaço-tempo, p. 26-7.
[107]
O Deus que intervém (São Paulo: Cultura Cristã, 2009), Seção III, cap. 3: “O dilema do homem” e
cap. 4: “A resposta de Deus ao dilema do homem”. Por causa das várias formas de determinismo
populares hoje (como o “determinismo químico” de Marquês de Sade e Francis Crick, o “determinismo
psicológico” de Freud e o “determinismo ambiental” de B. F. Skinner), Schaeffer aparentemente
hesitou em falar do teísmo cristão como “determinista”. V. “A significância do homem”, Morte na
cidade, cap. 6.
[108]
Não há gente sem importância, p. 178 [Works, vol. III, p. 162]. Schaeffer não cria que a criação ex
nihilo significasse que Deus criou todas as coisas absolutamente do nada, o que seria impossível (ex
nihilo nihil fit). Ele pretendia mostrar o que a teologia ortodoxa pretende dizer por meio dessa
expressão, i.e., que (como foi observado) Deus criou todas as coisas a partir de nenhum material pré-
existente (Hb 11.3). Ele escreveu: “É preciso notar que, enquanto Deus assim criava algo que não tinha
existência antes, esta não representa uma origem a partir do nada de nada, porque ele já existia, bem
como a sua vontade” (O Deus que se revela, p. 140 n. 1 [Works, vol. I, p. 285]).
[109]
“Criação”. Gênesis no espaço-tempo, cap. 1.
[110]
Works, vol. II, p. 26.
[111]
“A liberdade e a limitação da cosmogonia apresentada na Bíblia”, Nenhum conflito final, cap. 3.
[112]
Ibid., p. 38 [Works, vol. II, p. 132].
[113]
Ibid., p. 42 [Works, vol. II, p. 134].
[114]
Gênesis no espaço-tempo, p. 67 [Works, vol. II, p. 32].
[115]
Schaeffer, “Diferenciação e a criação do homem”, Gênesis no espaço-tempo, cap. 2.
[116]
Works, vol. I, p. 109, 114.
[117]
Ibid., p. 223.
[118]
Ibid., p. 376.
[119]
“Livre na vida dos pensamentos”, Verdadeira espiritualidade, cap. 9.
[120]
Verdadeira espiritualidade, p. 156 [Works, vol. III, p. 306].
[121]
A igreja diante do mundo que a observa, p. 101 [Works, vol. IV, p. 119, 168-71].
[122]
Works, vol. IV, p. 168.
[123]
Ibid., vol. I, p. 24, 119-23; vol. II, p. 11, 14; vol. IV, p. 10-2; vol. V, p. 132, 251-2.
[124]
Gênesis no espaço-tempo, p. 67 [Works, vol. II, p. 32].
[125]
Works, vol. I, p. 109-14.
[126]
25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 3; The Finished Work of Christ, p. 67-71.
[127]
Gênesis no espaço-tempo, p. 68 [Works, vol. II, p. 33].
[128]
“A visão cristã: criação”, Poluição e morte do homem, cap. 4.
[129]
Works, vol. I, p. 223.
[130]
Ibid., p. 376.
[131]
“Livre na vida dos pensamentos”, Verdadeira espiritualidade, cap. 9.
[132]
Gênesis no espaço-tempo, p. 91-101.
[133]
De acordo com Schaeffer, a “cobiça” é a raiz de todo pecado, incluindo a Queda, Schaeffer,
Works, vol. II, p. 57-8. V. tb. Frederick Lont, The Theology of Francis August Schaeffer V, p. 41.
[134]
25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 3.
[135]
“A queda espaço-temporal e seus resultados”, Gênesis no espaço-tempo, cap. 5.
[136]
Works, vol. II, p. 74, 106.
[137]
Gênesis no espaço-tempo, p. 142 [Works, vol. II, p. 77].
[138]
The Finished Work of Christ, p. 84-8.
[139]
Verdadeira espiritualidade, p. 187 [Works, vol. III, p. 343].
[140]
Works, vol. IV, p. 7.
[141]
Lont, The Theology of Francis August Schaeffer V, p. 44-52.
[142]
“A significância do homem”, Morte na cidade, cap. 6.
[143]
He is There and He is Not Silent, 8-10.
[144]
Works, vol. IV, p. 120.
[145]
Ibid., p. 119.
[146]
He is There and He is Not Silent, p. 64-74; Works, vol. II, p. 386-7; v. tb. Edith Schaeffer, O que é
uma família?
[147]
Gênesis no espaço-tempo, p. 73.
[148]
Death in the City, p. 111-5.
[149]
The God Who Is There, p. 100.
[150]
Louis G. Parkhust, Jr., Francis Schaeffer: The Man and His Message, p. 155-7; Schaeffer, He is
There and He is Not Silent, p. 21-9.
[151]
A igreja no final do século 20, p. 28-9 [Works, vol. IV, p. 21]. Ênfase no original.
[152]
V., p. ex., Schaeffer, The God Who is There, p. 20-9; He is There and He is Not Silent, p. 37-67.
V. tb., “Uma crítica histórica do liberalismo teológico”, A igreja diante do mundo que a observa,
cap. 1.
[153]
Works, vol. V, p. 166-7, 171, 358, 440; vol. V, p. 61, 138, 204, 361-6; vol. V, p. 172-4, 179-80,
374-84.
[154]
The Theology of Francis August Schaeffer IV, p. 50.
[155]
Schaeffer, Arte e a Bíblia (Viçosa: Ultimato, 2010); “A visão cristã: criação”, Poluição e morte do
homem, cap. 4.
[156]
Gênesis no espaço-tempo, p. 40-5.
[157]
Veja Lont, The Theology of Francis August Schaeffer IV, p. 50-2.
[158]
25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 1.
[159]
Gênesis no espaço-tempo, p. 35.
[160]
Works, vol. IV, p. 171; 25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 7.
[161]
Gênesis no espaço-tempo, p. 143-4; 25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 6. Schaeffer ensinou
que o nascimento virginal é eclipsado em Gn 3.15; Works, vol. II, p. 73-4.
[162]
25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 7.
[163]
Ibid., p. 7.
[164]
Ibid., p. 11.
[165]
As institutas da religião cristã, II:15:1-6.
[166]
25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 8.
[167]
Ibid., p. 8.
[168]
Ibid., p. 9.
[169]
Verdadeira espiritualidade, p. 36 [Works, vol. III, p. 219].
[170]
The Finished Work of Christ, p. 19.
[171]
Não há gente sem importância, p. 153.
[172]
Gênesis no espaço-tempo, p. 146-54; “A arca, o propiciatório e o altar de incenso”, Não há gente
sem importância, cap. 7; 25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 5.
[173]
25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 13.
[174]
Frederick Carl Lont, The Theology of Francis August Schaeffer V, p. 93.
[175]
25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 10.
[176]
Ibid.
[177]
Ibid., p. 9.
[178]
Não há gente sem importância, p. 153 [Works, vol. III, p. 219].
[179]
V. 25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 9; Works, vol. I, p. 301; vol. II, p. 252; vol. III, p. 51, 79,
166, 200.
[180]
Is Jesus the Only Savior?, p. 9.
[181]
25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 9.
[182]
As institutas da religião cristã, III:1:1.
[183]
Redenção consumada e aplicada, p. 148.
[184]
25 estudos bíblicos básicos, vol. III, p. 15.
[185]
“Raabe”, Josué e a história bíblica (São Paulo: Cultura Cristã, 2005), cap. 4.
[186]
25 estudos bíblicos básicos, III:12.
[187]
V. Confissão de fé de Westminster, caps. 10-18, 32-33.
[188]
Schaeffer, Baptism, p. 7.
[189]
The New Super-Spirituality, p. 24.
[190]
Veja Robert L. Reymond, A New Systematic Theology of the Christian Faith, p. 711.
[191]
Works, vol. I, p. 146-7; vol. III, p. 291-5.
[192]
The Finished Work of Christ, p. 164.
[193]
Works, vol. IV, p. 77.
[194]
Dois conteúdos, duas realidades, p. 147-9, in: 25 estudos bíblicos básicos, p. 8-10.
[195]
Works, vol. I, p. 154.
[196]
“A identificação do divisor de águas”, O grande desastre evangélico, cap. 2.
[197]
Follis, Truth and Love: The Apologetics of Francis Schaeffer, p. 46.
[198]
25 estudos bíblicos básicos, vol. III, p. 20.
[199]
John H. Gerstner, Handout Theology, p. 48.
[200]
O Deus que intervém, p. 205, 207 [Works vol. I, p. 146-7].
[201]
Death in the City, p. 87-8.
[202]
The Finish Work of Christ, p. 97-8; Works, vol. III, p. 211.
[203]
25 estudos bíblicos básicos, vol. III, p. 14. Works, vol. III, p. 20.
[204]
A igreja no final do século 20, p. 49 [Works, vol. IV, p. 45].
[205]
25 estudos bíblicos básicos, vol. III, p. 14, 17.
[206]
V. Verdadeira espiritualidade.
[207]
Verdadeira espiritualidade, p. 28-9 [Works, vol. III, p. 212-3].
[208]
The Church Before the Watching World, p. 99-103.
[209]
“A salvação: passada — presente — futura”, Verdadeira espiritualidade, cap. 6. Embora
Schaeffer não use os termos “já e ainda não”, o conceito é o mesmo.
[210]
Works, vol. III, p. 288.
[211]
“Caminhando pela lama”, Não há gente sem importância, cap. 5.
[212]
Verdadeira espiritualidade, p. 203, 204 [Works, vol. III, p. 355].
[213]
Poluição e morte do homem, p. 45; 25 estudos bíblicos básicos, vol. III, p. 19-20.
[214]
Lane T. Dennis, org., Letters of Francis A. Schaeffer, p. 167-72.
[215]
A verdadeira espiritualidade, p. 111, 186 [Works, vol. III, p. 342, 347].
[216]
25 estudos bíblicos básicos, vol. III, p. 18.
[217]
The Finish Work of Christ, p. 229-30.
[218]
25 estudos bíblicos básicos, vol. III, p. 18.
[219]
The Finished Work of Christ, p. 207-30; 25 estudos bíblicos básicos, vol. IV, p. 24.
[220]
Veja Schaeffer, “Diferenciação e a criação do homem”, Gênesis no espaço-tempo, cap. 2; A igreja
diante do mundo que a observa; Um manifesto cristão; e Edith Schaeffer, O que e uma família?.
[221]
Works, vol. III, p. 358.
[222]
A igreja diante do mundo que a observa, p. 116 [Works, vol. IV, p. 134].
[223]
Ibid., p. 117 [Works, IV:135].
[224]
Works, vol. IV, p. 30.
[225]
Ibid., vol. III, p. 365; vol. IV, p. 51-2, 151.
[226]
“Adultério e apostasia: o tema da Noiva e do Novo”, A igreja diante do mundo que a observa,
cap. 2.
[227]
A igreja diante do mundo que a observa, p. 126 [Works, vol. IV, p. 154, 145-6].
[228]
Ibid., p. 113, 114 [Works, vol. IV, p. 132].
[229]
Morte na cidade, p. 11-2 [Works, vol. IV, p. 209-10].
[230]
Works, vol. IV, p. 178.
[231]
Ibid., vol. III, p. 368.
[232]
A igreja no final do século 20, p. 55 [Works, vol. IV, p. 52].
[233]
Works, vol. IV, p. 55.
[234]
25 estudos bíblicos básicos, vol. III, p. 17.
[235]
Não há gente sem importância, p. 100 [Works, vol. III, p. 84].
[236]
Essa declaração resumida do princípio regulador do culto não é totalmente acurada. É mais
apropriado dizer que aquilo que não é ordenado é proibido. Agradeço a Chris Coldwell por me alertar
quanto a isso.
[237]
A igreja no final do século 20, p. 62, n. 6 [Works, vol. III, p. 413].
[238]
25 estudos bíblicos básicos, vol. III, p. 17, 21.
[239]
Veja João Calvino, As institutas da religião cristã, IV:14:1-6.
[240]
Works, vol. IV, p. 31, 57.
[241]
25 estudos bíblicos, vol. III, p. 17.
[242]
“Dois tipos de memoriais”, Josué e a história bíblica, cap. 5; Baptism; 25 estudos bíblicos básicos,
vol. III, p. 21.
[243]
Baptism, p. 7-9.
[244]
Embora Schaeffer não diga isso de modo explícito, ele parece indicar que a ceia do Senhor deveria
ser celebrada todas as semanas. Ele escreveu: “A ceia do Senhor [deve ser] repetida com frequência
porque representa como os cristãos se nutrem de Cristo, uma prática que deve ser constante, repetida a
cada momento” (A igreja no final do século 20, p. 51 [Works, vol. IV, p. 47]).
[245]
Francis A. Schaeffer; Edith Schaeffer, Everybody Can Know, p. 298-9.
[246]
Não há gente sem importância, p. 101-2 [Works, vol. III, p. 85-6].
[247]
Baptism, p. 12-24.
[248]
A igreja no final do século 20, p. 58-61.
[249]
Works, vol. IV, p. 101.
[250]
Here We Stand, p. 28.
[251]
A igreja no final do século 20, p. 60-1; Edith Schaeffer, L’Abri, p. 193.
[252]
“Forma e liberdade na igreja”, A igreja no final do século 20, cap. 4.
[253]
A igreja no final do século 20, p. 58-59; Dennis T. Lane, Letters of Francis A. Schaeffer, p. 233-4.
[254]
Edith Schaeffer, L’Abri, p. 193.
[255]
V. Um manifesto cristão; Works, vol. II, p. 298; vol. III, p. 145.
[256]
O grande desastre evangélico, p. 251 [Works, vol. IV, p. 309].
[257]
“The Ethics and Economics of Health Care”, Journal of Biblical Ethics in Medicine, Hilton P.
Terrell, org., n. 2 (1994), vol. 8, p. 23-4. Dr. Robbins listou dez valores básicos no artigo. O presente
escritor agrupou alguns deles com outros no total de sete valores.
[258]
Schaeffer, A Christian Manifesto, p. 91, 100; Morte na cidade, cap. 1: “Morte na cidade” e cap. 3:
“A mensagem de julgamento”.
[259]
Não há gente sem importância, p. 159 [Works, vol. III, p. 145].
[260]
Um manifesto cristão, p. 208.
[261]
Ibid., p. 221-2.
[262]
Works, vol. IV, p. 262.
[263]
Um manifesto cristão, p. 181.
[264]
Works, vol. III, p. 101-2.
[265]
Um manifesto cristão, p. 223.
[266]
Arte e a Bíblia; A Christian Manifesto, p. 136-7; 25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 3.
[267]
Works, vol. IV, p. 55.
[268]
Um manifesto cristão, p. 208.
[269]
Ibid., p. 213.
[270]
Ibid.
[271]
A igreja no final do século 20, p. 34 [Works, vol. IV, p. 27].
[272]
How Then Shall We Live?, p. 224-54; A Christian Manifesto, p. 75-80.
[273]
A Christian Manifesto, p. 133-4.
[274]
Gênesis no espaço-tempo; “Verdade e história”, O que aconteceu com a raça humana? (Brasília,
DF: Monergismo, 2020), cap. 5.
[275]
25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 3.
[276]
Works, vol. II, p. 51, 68-71; The Finished Work of Christ, p. 207-33; “The Dust of Life”, True
Spirituality, Appendix.
[277]
The New Super-Spirituality, p. 22-3. Frederick Carl Lont, The Theology of Francis Schaeffer IV,
p. 200-1.
[278]
Schaeffer, Study Tapes, “The Doctrines of the Bible” (p. 254-8); “The Book of Revelation”
(p. 267-75); 25 estudos bíblicos básicos, vol. IV, p. 24-5; Lont, The Theology of Francis A. Schaeffer
IV, p. 202-4.
[279]
25 estudos bíblicos básicos, vol. II, p. 10.
[280]
“A continuidade do pacto”, Josué e a história bíblica, cap. 3.
[281]
Não há gente sem importância, p. 168-70; Verdadeira espiritualidade, p. 64-8; Francis Schaeffer;
Edith Schaefffer, Everybody Can Know, p. 188.
[282]
25 estudos bíblicos básicos, vol. IV, p. 24.
[283]
Josué e a história bíblica, p. 46-57; Lont, The Theology of Francis A. Schaeffer IV, p. 205-7.
[284]
25 estudos bíblicos básicos, vol. IV, p. 24.
[285]
Morte na cidade, p. 71-4; 25 estudos bíblicos básicos, vol. IV, p. 25.
[286]
25 estudos bíblicos básicos, vol. IV, p. 24.

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