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VIVA NOSSAS MESTRAS!

2019
O processo de feitura deste livro foi um trabalho coletivo
das alunas do Grupo Candeia de Capoeira
Angola/Espaço Sociocultural da Floresta para a terceira
edição do evento “Aidê, Como Tá Vosmicê?”

Idealização:
Contramestra Toninha

Arte de capa:
“Guerreira”, óleo sobre tela, por Yulia Mysko (2017)
Modelo: Desirée dos Santos

Retratos:
Iel Queiroz

Organização:
Aiê e Denise Fantini
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Sumário
Introdução — 3
Viva nossas mestras! — 5

Entrevistas:
Mestra Colette (por Sofia) — 10
Mestra Janja (por Bárbara) — 13
Mestra Ritinha (por Talita) — 15
Mestra Paulinha (por Aiê) — 16
Mestra Cristina (por Akino) — 20
Mestra Elma (por Contramestra Toninha) — 22
Mestra Tisza (por Fernanda) — 25
Mestra Samme (por Denise) — 29
Mestra Gegê (por Talita) — 32
Mestra Di (por Celina) — 36
Mestra Jararaca (por Treinél Raquel) — 39
Mestra Alcione (por Júlia) — 41
Mestra Cris (por Lisa) — 44
Mestra Nani (por Ana) — 46

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Introdução
Foi lendo uma entrevista da Mestra Alcione que
pensei em como foi e como ainda é ser capoeirista e
ser mulher. Pensei em mim, pensei nas minhas
colegas, pensei nas minhas Mestras.
A luta de cada dia demanda coragem, que a
Capoeira não se limita só aos treinos ou às rodas:
Capoeira, para mim, é andar na rua, é trabalhar, é
um curar, Capoeira é ser mãe, é ver quem eu sou,
Capoeira é o mundo, Mestre Pastinha diria que
“Capoeira é tudo que a boca come”.
Foi então que surgiu a vontade de saber o que
nossas Mestras teriam a nos dizer sobre viver, esse
constante gingado — com direito a cabeçada,
rasteira e esquiva também.
O processo de feitura deste livro foi um trabalho
coletivo das alunas e alunos do Grupo Candeia de
Capoeira Angola/Floresta, cada uma e cada um
colaborando da forma que nos cabia. As alunas
entrevistaram as Mestras de todo o país e
encontraram nelas ensinamentos preciosos, foi um
trabalho lindo! Nos emocionávamos sempre que
recebíamos a resposta de alguma Mestra. Foi
gratificante ver o quanto a ideia nos movimentou.
As imagens de cada Mestra são desenhos feitos à
mão pelo Ieo Queiroz, um aluno de 17 anos do

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Grupo Candeia/Jardins, e a capa é um desenho da
Treinel do Associação de Capoeira Angola Dobrada,
Yulia Misko.
Fico encantada por ver a forma que esse trabalho
coletivo se deu.
A proposta deste livro é que ele sirva de oráculo, de
forma que possamos levar um conselho para cada
dia, para cada luta, e alegria também.
Por fim, meu profundo agradecimento à minha
Mestra Alcione, companheira de mais de 25 anos, é
ela quem me ensina a ginga da vida. É lindo vê-la
ensinando novas alunas, o mérito é dela, que abriu
seu próprio caminho. É por isso, por ver onde nossa
Mestra chegou que fizemos este livro, para que
possamos saber como foi e para dizer que daqui
para frente seguiremos juntas pelo caminho aberto
por todas elas, as alunas, Treinéis, Contramestras e
as Mestras de toda a vida, do mundo. Este livro é
para nós.

escrito pela
Contramestra Toninha e sua filha Olívia.

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Viva Nossas Mestras!
Quando iniciei na Capoeira Angola nunca pensei
que um dia iria me tornar uma Mestra desta arte,
luta, jogo, malícia, mandinga, filosofia e um jeito de
viver tão único e tão pulsante.
Não treinei com mulheres, as Mestras, e como era
comum na época, minhas referências foram os
homens, os Mestres... Não que não houvesse várias
e várias mulheres treinando e envolvidas sempre
dentro do movimento.
Faço parte deste processo de transformações sociais
e também de ter vivido o lado duro, por enfrentar
as questões gerais, o jogo de corpo, de gênero
dentro dos espaços, e por querer justiça e mesmo
que às vezes sem ter tanta certeza ou força, me
defendendo de alguma forma também, mas ao
mesmo tempo lutando por uma causa maior para
todas e todos que eu não tinha exatamente a noção
do que era ou do que se tornaria e nem do que está
apresentando agora.
Aceitei estar assumindo esse lugar da Maestria e
agora vêm mais responsabilidades, mais
aprendizados, mais desafios, mas também sei que
fortaleço junto com outras significativas Mestras
esse lugar de evolução, de trazer mais equilíbrio,
mais harmonia, com muita paciência, dedicação,

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respeito e amor sabendo o quão difícil também é
assumir essa posição mas também o quão
importante é para o futuro das várias gerações que
virão essa missão de dedicar e ser referência da
nossa Cultura Popular.
Aprendi a Capoeira Angola sempre com muita
humildade, respeitando meus Mestres, treinando
muito, colaborando, estando presente mesmo nas
vezes que voltava chorando pra casa, enfim, vivi
intensamente o ser Aluna, e foi lindo também, só
tenho a agradecer. E assim as oportunidades foram
surgindo, as experiências foram vindo.
Viajei muito, conheci muito, aprendi muito,
principalmente sobre as culturas dos outros estados
e países, o que tenho grande paixão.
Paixão pela vida, e suas riquezas naturais, só tenho
a agradecer à Capoeira Angola por ter conhecido
tantas coisas lindas, aos Meus Mestres Índio
(GCCA) e Rogério (ACAD) por tudo que vivi
também.
Agradeço meu irmão, hoje Mestre Ricardo da
ACAD, toda minha família, a de dentro e também a
do mundo afora.
Aos Mestres de BH, todo carinho e reconhecimento.
Às Mestras aqui presentes só muita gratidão por
vocês existirem e dedicarem tanto pela Capoeira
Angola para se tornar cada vez mais difundida com

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a energia feminina, mais florida e mais fortalecidas
nossas convivências. Só com autonomia, com
liberdade e com propriedade para desenvolver
nossas ideias e habilidades para tornar mais
acessível a presença e a permanência de mais
mulheres nessa tradição.
As Mestras que aqui não tivemos como publicar
desta vez sintam-se bem representadas e podem ter
certeza, respeitamos muito a trajetória de todas
vocês.
O trabalho foi naturalmente tomando essa forma
que aqui se apresenta e esperamos não parar por
aqui!
Agradeço muito à Contramestra Toninha por mais
essa bonita iniciativa, na composição deste trabalho
de pesquisa coletiva que com certeza nutriu muito e
uniu muito as mulheres do Grupo Candeia de
Capoeira Angola com todas as mulheres da
Capoeira Angola.
Também agradeço à Treinel Raquel pela resistência
e em ser referência na permanência da prática de
Capoeira Angola, acredito que é a Angoleira com
maior idade de BH praticando regularmente,
mantendo sua jovialidade, "...há quanto tempo
mana que andamos juntas..."
Um axé bem forte, cheio de esperanças, de amor
pra todas vocês minhas alunas do GCCA/Floresta

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pela concretização deste oráculo, dessa guia, dessa
bússola. Só desejo o melhor pra vocês e para o que
quiserem fazer e realizar pela frente em qualquer
área de suas vidas!
Esse texto é pra deixar algo que possa servir de
força e incentivo e para a continuidade deste
trabalho em prol do fortalecimento das mulheres
entre si e para seguirem seus caminhos e poderem
viver sem medo.
Parabéns ao GCCA/Jardins com essa juventude
cheia de arte e habilidades!
Salve Salve as Deusas, as Mães, as Mulheres de todo
dia!
Reconheço minhas imperfeições e prossigo
caminhando, evoluindo.

Com certeza, apesar do cansaço a palavra que


resume é alegria!

Mestra Alcione

2 anos Grupo Candeia de Capoeira Angola/


Floresta.
2 anos Espaço Sociocultural da Floresta - Março -
2020

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Entrevistas

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Mestra Colette

Colette Désilets, nascida em 19 de novembro de


1955 em Shawinigan, Québec, Canadá.

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Quando começou a Capoeira? Qual ano?
1990.

Quem foi seu Mestre? Ou seus Mestres? Mestras?


Na verdade meu primeiro contato com a Capoeira
foi em 1988 com Rafael Artigliere, um dançarino e
percussionista que dava aulas de Capoeira, com ele,
aprendíamos movimentos de Capoeira. Não
aprendíamos nem a parte musical, nem a jogar. Ele
montava coreografias com movimentos de
Capoeira. Em 1990, veio de Boston para Montreal,
Mestre Deraldo, de Capoeira Contemporânea. Foi
com ele e seu grupo que eu fiz minha primeira
viagem ao Brasil em 1993. Em 1992, tendo
conhecido Mestre João Pequeno nos Estados
Unidos, curiosa, na minha segunda viagem ao
Brasil em 1994, fui a Salvador para conhecer a
academia do Mestre João Pequeno e por uma
combinação de circunstâncias eu encontrei aquele
que se tornou meu mentor desde essa viagem,
Mestre Jogo de Dentro. Nossa amizade foi
imediata. Foi ele também que me ensinou tudo o
que eu sei e o que me falta a aprender sobre a
Capoeira Angola. Ele guiou meus passos, estimulou
minha pesquisa teórica e semeou em mim essa
vontade de aprender e melhorar sempre.

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Qual o nome do seu grupo?
Grupo de Capoeira Semente do Jogo de Angola,
núcleo de Montreal.

O que você gostaria de dizer para as mulheres


capoeiristas?
Levanta a cabeça, não tenha medo de dizer-se
feminista, porque isso significa apenas estar atenta
para defender os direitos das mulheres, das
crianças e do ser humano em geral. Não deixe
ninguém te convencer de que a mulher vale menos
que o homem.

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Mestra Janja

Rosângela Janja Costa Araújo, nascida em 04 de


outubro de 1959 em Feira de Santana-BA.

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Começou a Capoeira em 1982, no GCAP
Seus Mestres são Mestre João Grande, Mestre
Moraes e Mestre Cobra Mansa. Seu grupo é o
Grupo Nzinga de Capoeira Angola — fundado em
08 de março de 1995.

O que você quer dizer para as mulheres


capoeiristas?
Gostaria de dizer que necessitamos entender o que
significa ser mulher, para em seguida ser
capoeirista. Que a nossa condição de mulheres
capoeiristas nos exige união e força para seguirmos
enfrentando os aspectos que rebaixam e ao mesmo
tempo aprendendo a reconhecer o valor e
importância de cada mulher que entra na Capoeira.

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Mestra Ritinha

21/11/1962 — 21/01/2019

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Mestra Paulinha

Paula Cristina da Silva Barreto, nascida em 30 de


junho 1963, em Vitória da Conquista, Bahia.

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Em 1982 entrei no Grupo de Capoeira Angola
Pelourinho (GCAP), que havia sido criado há
poucos meses em Salvador por Mestre Moraes,
juntamente com o aluno que o acompanhava, hoje
Mestre Cobra Mansa.
Além de Mestre Moraes e Mestre Cobra Mansa, tive
também a honra de ter sido aluna do Mestre João
Grande, durante os anos em que ele fez parte do
GCAP (Grupo de Capoeira Angola Pelourinho),
antes de criar o próprio grupo nos Estados Unidos.

Qual o nome do seu grupo?


Grupo Nzinga de Capoeira Angola, criado em 1995
em São Paulo, por Mestra Janja, e celebrando 25
anos no próximo mês de março de 2020.

Valores na Capoeira Angola que eu mais prezo:


A maior lição que tenho aprendido como discípula
e, mais adiante, como Mestra é sobre conviver,
interagir e se organizar de maneira igualitária, com
respeito a cada pessoa que é única e, ao mesmo
tempo, parte dos coletivos que são os grupos de
Capoeira Angola.

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Aprendi com os meus Mestres que todas as pessoas
são bem-vindas se quiserem aprender Capoeira e
participar do ativismo em defesa da Capoeira
Angola como luta de resistência negra no Brasil e
na diáspora. A formação antirracista e cidadã feita
nos dois grupos de Capoeira Angola nos quais eu
participei ao longo da minha trajetória alcançou
participantes diferentes em termos de classe, cor,
gênero, idade, nacionalidade etc. Ao
compartilharmos as aulas, rodas, eventos e demais
atividades realizadas no dia a dia dos nossos grupos
de Capoeira Angola aprendemos na prática, e não
apenas na teoria, a conhecer e a respeitar as
pessoas negras, assim como as mulheres, e demais
participantes. Essa não é uma tarefa fácil, mas, pelo
contrário, é complexa e desafiadora, e são inúmeras
as dificuldades que enfrentamos para construir
relações baseadas no respeito mútuo. Mas esse
propósito nos motiva e continua a guiar a nossa
conduta.

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Mensagem para as mulheres capoeiristas:
Apesar do racismo, machismo, abusos de poder e
de outros problemas existentes no cotidiano dos
grupos de Capoeira, esses espaços merecem ser
conquistados e transformados por nós mulheres.
Nós temos o direito de ter acesso ao vasto
conhecimento produzido no universo da Capoeira
como arte diaspórica, e o dever de compartilhar e
expandir esse conhecimento ensinando a outras
pessoas. Trata-se de poder fazer as nossas escolhas,
com autonomia, sem aceitar que existem lugares
que são proibidos para as mulheres.

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Mestra Cristina

Cristina Nascimento Dias dos Santos, nascida em


05 de janeiro de 1965 no Rio de Janeiro.

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Começou a Capoeira no ano de 1993.

Quem foi seu Mestre ou Mestra?


Mestre Emanoel (Ypiranga de Pastinha), com quem
treinei por 15 anos.
Mestra Janja, por referência.

Qual o nome do seu grupo?


Grupo de Capoeira Angola Mocambo de Aruanda

O que você quer dizer para as mulheres


capoeiristas?
Somos potência, irmãs da lua e seus processos de
fertilização. Tudo brota quando, em magia,
podemos tocar a terra e molhá-la com nossas
sagradas águas. Honro a ancestralidade do solo
africano, útero do mundo! Que a unidade seja nosso
caminho, pois as forças que existem em dualidade
não são opostas e devem estar em equilíbrio, assim
como o sol e a lua vivem da mesma Luz.

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Mestra Elma

Elma Silva Weba, nascida em 24 de


setembro de 1966.

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Eu Nasci no Maranhão, São Luís eu me Criei, Lá
Capoeira Eu Iniciei!
Elma Silva Weba, Maranhense, foi iniciada na
Capoeira Angola em 1986, na Escola Laborarte,
discípula do Mestre Patinho cuja linhagem é do
Mestre Canjiquinha.
Em 1994 forma-se Treinel, em 1997, Contramestra
e em 2004, em reconhecimento ao seu trabalho e
contribuição à Capoeira, o Mestre Patinho
passou-lhe o título de Mestra.
Iniciou em 1993 o ensino da Capoeira em São Luís e
desde então passa a dedicar sua vida a esse ofício.
Em 1996 funda uma das primeiras organizações de
Capoeira, grupo nZambi de Capoeira Angola.

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Mestra e educadora social com vários anos de
experiência na elaboração e execução de ações
voltadas para Escolas e outras organizações
populares, através de projetos culturais e
educacionais antirracistas e antissexistas visando
colaborar com a construção de uma sociedade justa
e equânime.
Paralelo aos estudos da Capoeira, atuou em outras
manifestações Culturais afro-maranhenses, foi
integrante do Cacuriá de Dona Teté e do tradicional
Tambor de Mestre Felipe.

“Referência de Mestras tenho Dona Teté, grande


referência das brincadeiras e do sagrado em São
Luís, Dona Elza, liderança dentro da sua
comunidade e do Caroço, manifestações
maranhenses indígena/cabocla, improvisava e
cantava como poucas.
Tive outras no campo do Sagrado.

Lutemos por rodas de Capoeira mais acolhedoras e


menos ameaçadoras".

Mestra Elma.

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Mestra Tisza

Tisza Coelho, nascida em 1966, é


Carioca do Rio de Janeiro.

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Bem cedo sua mãe para ela abriu a janela para
música e poesia. Cresceu nas rodas de Chorinho e
quadras de samba.
Aos 13 anos começou a se apresentar tocando
pandeiro com a irmã mais velha em bares fazendo
voz, violão e percussão.
Iniciou a Capoeira em 1981 já se comprometendo
com trabalhos e treinamento diários.
Começou a trabalhar com Capoeira em 1983/1984
nas aulas do grupo e apresentações e shows.
Deu seguimento ao seu próprio trabalho dando aula
de Capoeira em 1987 nas escolas construtivistas do
Rio de Janeiro, participando da implantação do
ensino da Capoeira em escolas particulares e
públicas cariocas.

Na década de 80 trabalhou e treinou intensamente


no Rio de Janeiro.
Em 1984 participou da primeira mostra de
Capoeira e Maculelê feita apenas por mulheres no I
Encontro Nacional de Capoeira (Rio de Janeiro).

“Sou discípula de Mestre João Grande, formada


por ele, e parte de seu trabalho desde 1992.
Minha outra Mestra é Professora Emilia Biancardi,
com quem aprofundei meu conhecimento
etnográfico das danças, músicas e ritmos

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afro-brasileiros, e trabalhei em diversas ocasiões
em Salvador e Nova Iorque.
A partir de 1991 a 2012, fiz diversos trabalhos
musicais como percussionista de bandas e backing
vocal na Europa e EUA.”

Fundou em 2004 o Centro de Capoeira Angola


OuroVerde e leciona na área rural e no povoado de
Serra grande- Bahia.
Ganhou o prêmio pontinho de cultura da SECULT
Bahia pelo seu trabalho e fundação do “Centro
Cultural Permanente de Serra Grande Barracão
D'Angola”.
A iniciativa Barracão D' Angola também recebeu o
prêmio federal do MINC através da Fundação
Palmares por seu trabalho de difusão e
fortalecimento da Cultura afro-brasileira na região.
Tisza ao longo do ano realiza palestras em
universidades e escolas (UESC, Elies Haum, etc.) e
ministra aulas e cursos em outros estados e no
exterior.
O Centro de Capoeira Angola OuroVerde tem
trabalho contínuo de Capoeira Angola, dança e
percussão ao longo do ano em Serra Grande(BA),
Saleiros (BA), Capão (BA), Cidade de Goiás, Viçosa
(MG), Cidade do México, Xalapa(México), Merida
(México), Flagstaff (EUA) e Finlândia.

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Desde 14 anos de idade Tisza abraçou a Capoeira
Angola como seu único trabalho, sendo esta a
grande inspiração para seu trabalho musical.

Discografia/Registros fonográficos como


produtora/instrumentista/cantora/arranjadora:
CD Volta no Mundo;
CD Viola Angoleira;
CD Velho Angoleiro;
CD Meu canto no Samba (sambas de raiz).

Registros fonográficos como participação especial


(instrumentista/cantora):
CD Mágica (new York 1999);
CD Rogério Bicudo Ensemble (Amsterdan 1992);
CD Nestor Capoeira e Mestre Toni Vargas(1987);
Beat The Donkey (NY 2000);
CD Grupo Senzala (RJ 1986).

“Não desista da pessoa que você está se tornando.


Evoluir leva tempo, mas vale a pena.”
Mestra Tisza

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Mestra Samme

Samme Soraya Oliveira Santos, nascida em 10 de


junho de 1968, em São Luís-MA.

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Começou a Capoeira em 1992 com Mestre Patinho
na Escola Laborarte, onde segue até hoje. No ano
2017 recebe o título de Mestra do Mestre Marco
Aurélio. Outros Mestres como Mestre Curió, Mestre
Augusto, Mestre Jaime, Mestra Elma e Mestra
Tisza, influenciaram sua trajetória. Desde 2017 é
Mestra do Coletivo Angoleiras de Upaon-Açu,
grupo de mulheres que se reúne para fortalecer os
registros musicais da Mulher na Capoeira, promove
rodas, conversas e oficinas. Atualmente facilita a
Oficina "Quem nunca viu vem a ver".

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O que você quer dizer para as mulheres
capoeiristas?
Capoeira é tudo que a boca come, que os olhos
vêem, que a alma vibra, que o corpo pensa, que o
coração sente... é arte de sabedoria... de segredo....
de malícia...
Capoeira é de Deus, de Oxalá, de Jah, de Alá, de
Jeová... dos Orixás, das Mineiras, dos Mineiros, dos
Caboclos, das Coreiras, dos Coreiros… das
Quebradeiras de Coco, das Caixeiras... de todo
mundo... do mundo inteiro!
É bênção de Iemanjá, de Pajé... de Santo Padroeiro.
Capoeira é Maria 12 homens, Salomé, Catú, Chicão,
Angélica Endiabrada, Dona Almerinda, Rosa
Palmeirão... é a Rainha Nzinga, Dona Dandara,
Maria Firmina, Dona Faustina... é o Cocar de
Jurema, o Maracá de Iracema... é Dona Tété, Mãe
Mundica, Rosa Reis, Mestra Elma... é mandinga de
Patativa, é a Punga de Dona Kelé!
Capoeira é pra Homem, Menina, menino, trans e
Mulher... Só não aprende quem não quer!

Mulheres Capoeiras na Rua pelo fim da violência


contra as Mulheres!

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Mestra Gegê

Maria Eugenia Poggi de Araujo, nascida em 28 de


novembro de 1972 no Rio de Janeiro.

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Quando começou a Capoeira?
Tive a primeira aula com Mestre João do Pulo em
1993 na lagoa Rodrigo de Freitas (espaço aberto),
na zona sul do Rio de Janeiro. Entrei pra PUC RJ
menos de 6 meses depois para estudar letras. Uma
amiga me chamou pra ir à aula do Mestre Gil Velho,
que também acontecia em um espaço aberto atrás
do planetário, também zona sul do RJ. Treinei com
o Mestre Gil Velho (um dos fundadores do Grupo
Senzala) por 2 anos e meio. Ele tinha uma forma
única de ver, viver e experimentar a Capoeira. Não
usava abadá, não dava cordel. Ele iniciou o que
chamamos de Capoeira Orgânica. Através do
Mestre Gil Velho conheci Mestre Angolinha, Mestre
Camaleão, Mestre Mucunjê, Mestre Leopoldina,
Mestre Manuel, Mestre Touro entre outros mestres
da capoeiragem antiga do Rio de Janeiro.

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Em 1995 fui morar nos EUA a convite da minha
irmã que estava grávida e tinha um filho. Fui para
ajudá-la e aprender inglês. Mestre Angolinha
indicou procurar o Mestre Cobra Mansa lá. Nesse
mesmo ano conheci Mestre Cobra Mansa em
Washington DC e me apaixonei! Ao invés de ficar 6
meses, fiquei 14 anos.

Em 2010 mudei para Salvador onde morei 4 anos


participando das atividades da FICA Salvador com
o Mestre Valmir. Há 6 anos vivo e ensino em
Valença, Bahia. Meu xodó hoje é o trabalho
voluntário que faço na comunidade de pescadoras e
pescadores quilombolas de Graciosa.

Quem foi seu Mestre? Ou seus Mestres? Mestras?


Mestre Gil Velho foi meu primeiro Mestre e o
considero meu Mestre da vida. Na Capoeira Angola
Mestre Cobra Mansa é meu pai e Mestre Valmir é
meu padrinho. Também considero minhas mestras
as Mestras Janja e Paulinha, pelas ideias,
conversas, maneira de conduzir esse mundo da
Capoeira — elas são representatividade e espelho.

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Qual o nome do seu grupo?
Fundação Internacional de Capoeira Angola (FICA)

O que você quer dizer para as mulheres


capoeiristas? Pode deixar um ensinamento, uma
reflexão?
Se proteger para poder permanecer:
espiritualmente, fisicamente, emocionalmente e
mentalmente. Como na vida, se proteger para
permanecer viva e não tentar reproduzir o que
tanto criticamos. Temos que nos policiar. Se
queremos ver uma transformação de verdade e já
sabemos o que não funciona, temos que fazer
diferente.

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Mestra Di

Adriana Luz do Nascimento, nascida em 23 de


dezembro de 1973, em Olinda-PE.

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Filha caçula de uma família de oito irmãos, Mestra
Di começou a ter contato com a cultura
pernambucana na infância participando de projetos
sociais. Aos 13/14 anos começou a treinar Capoeira
Regional com o mestre Sapo (Umberto Mendonça),
transitando para a Capoeira Angola em 1998 junto
com o mestre, que fundou o grupo de Capoeira
Angola Mãe, de Olinda/Pernambuco. Hoje, aos 46
anos de idade, tem uma história de mais de 30 anos
na Capoeira.

Qual o nome do seu grupo?


Luz Di Angola, fundado pela Mestra há cinco anos
para dar continuidade aos aprendizados da
Capoeira Angola.

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O que você quer dizer para as mulheres
capoeiristas?
Perseverança, não desista da Capoeira, ela não vai
desistir de você. Nós capoeiristas mulheres vamos
ter mais dificuldade para permanecer na Capoeira,
vai haver barreiras seja por questões financeiras,
pela maternidade ou por questões dentro do
próprio grupo que privilegia os homens, às vezes
por oportunidades que não lhe são oferecidas. Que
isso não seja um impedimento para que você
continue, a própria Capoeira nos ajuda, nos
fortalece, nos mostra as estratégias, nos dá energia,
nos ajuda a construir uma nova identidade.
Permanecer é nossa luta. Perseverança, a Capoeira
vai sempre emanar essa força, a gente ouve o
berimbau, sente essa coisa que vibra no corpo. “Eu
sei que eu não teria como apagar isso em mim, meu
corpo vem de longe.

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Mestra Jararaca

Valdelice Santos de Jesus, nascida em 4 de agosto


de 1974, em Salvador-BA.

39
Quando começou a Capoeira e em que ano?
Entre 83 e 84 academia do Mestre João Pequeno.
Eu tinha 11, porém meu pai me pegou treinando e
me tirou! Daí em 89 quando ele faleceu eu voltei.
Nessa época eu já tinha 14 anos de idade.

Quem foram seus Mestres e ou Mestras?


Meu primeiro Mestre: João Pequeno e o segundo e
último: Mestre Curió.

O nome do seu grupo de Capoeira?


Escola de Capoeira Angola Mestra Jararaca (não é
registrada).

O que você quer dizer para as capoeiristas, pode


deixar uma reflexão, um exemplo, ensinamento?
Que acima de tudo a humildade, caráter e
personalidade devem acompanhá-las com a
obrigação de aprender para poderem passar sem
temer a nada nem a ninguém! Claro que o respeito
aos mais velhos passando pelos mais novos. E que
nunca desistam de ir em frente, pois nada é ou será
fácil pra ninguém quanto mais pra nós mulheres,
capoeiristas Pretas.

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Mestra Alcione

Alcione Alves de Oliveira, nascida em 21 de janeiro


de 1977 em​ ​Belo Horizonte-MG.

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Quando começou a Capoeira?
Em 92, seu irmão que a levou pra Capoeira.

Quem foi seu Mestre?


O primeiro Mestre foi o Mestre Primo do Grupo
Iúna, depois foi aluna do Mestre João por 4 anos.
Conheceu o Mestre Índio e Mestre Rogério quando
começou a Capoeira Angola e fundou com eles e
juntamente com a Contramestra Toninha Soares,
Treinel Raquel Almeida e mais um grupo de
Capoeiristas um dos núcleos da Associação de
Capoeira Angola Dobrada em 97, em Belo
Horizonte.
Em 2001 foi morar na Alemanha e ficou quase 2
anos com o grupo Angola Dobrada. E já
representou a Capoeira Angola em eventos pelo
mundo, como EUA, Itália, França, México, Costa
Rica, Havaí, entre outros.
Fundou em 2018 o Grupo Candeia de Capoeira
Angola juntamente com Mestre Índio e Mestre
Alexandre.

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O que você quer dizer para as mulheres
capoeiristas?
Mulheres que sejam amigas e parceiras iluminando
o caminho umas das outras, dentro da Capoeira
Angola e fora também.
Vivemos num mundo de desafios, competitividade,
machismo, racismo, muitas negatividades e
crueldades , por isso é importante ser uma força
que impulsiona, que eleve e que evolua nossas
relações. Nossas vidas não são perfeitas mas são
nosso tesouro, é importante cuidar.
Se for sincero o caminhar junto, temos mais
chances de viver uma nova era e criar novas
oportunidades vindas de referências femininas com
carinho, honra e respeito à história delas. As
lideranças são luzes no caminho que para ter força
várias chamas precisam estar acesas colaborando e
construindo um futuro melhor pra quem vier.
Assim um dia, toda humanidade, todo ecossistema
e toda natureza estarão em comunhão.
Agradeço ao Seu Pastinha, aos Mestres e Mestras
da Capoeira Angola e de toda Cultura Popular do
nosso Brasil.

43
Mestra Cris

Bárbara Cristina Bittencourt, nascida em 1 de


setembro de 1982, em Salvador-BA.

44
Quando começou a Capoeira?
Em 1990.

Quem foi seu Mestre? Ou seus Mestres? Mestras?


Qual o nome do seu grupo?
Meu mestre: Renê Bittencourt.
Group ACANNE (Associação de Capoeira Angola
Navio Negreiro)

O que você quer dizer para as mulheres


capoeiristas?
Eu gostaria de deixar uma reflexão: Qual é sua
intenção, qual é seu propósito com a Capoeira? Pois
eu acredito que como tudo na vida tem energia.
Capoeira tem um energia ancestral!

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Mestra Nani

Cristiane Santos Miranda (Nani de João Pequeno),


nascida em 2 de junho de 1983 em Salvador-BA.

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Quando começou a Capoeira?
Iniciei na Prática da Capoeira Angola em 1995 no
Bairro da Fazenda Coutos, Subúrbio de Salvador na
casa do Mestre João Pequeno.

Quem foi seu Mestre? Ou seus Mestres? Mestras?


O Meu Mestre foi/é o Mestre João Pequeno de
Pastinha.

Qual o nome do seu grupo?


Academia de João Pequeno de Pastinha - CECA
(Matriz - Salvador)

O que você quer dizer para as mulheres


capoeiristas?
Chegou uma fase da minha vida em que eu comecei
a refletir minha caminhada e, há anos atrás, fui me
perguntando o que era que eu queria com a
Capoeira Angola. Para além da prática, que é de
onde tiramos o discernimento do quanto a Capoeira
é importante para nossa transformação, eu me
perguntava como que a Capoeira poderia
transformar e fazer diferença na minha vida.

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Quando eu dou aula às mulheres e às meninas a
primeira coisa que eu pergunto como forma de
reflexão:
"Você sabe o que você quer com a Capoeira? Você já
pensou o que a Capoeira tem a contribuir para
você?" Tento mostrar que só em ela já estar ali, já
existe a transformação de algo na vida. Mas
precisamos refletir essa transformação e buscar
compreender para a evolução acontecer. Refletindo
a gente passa a entender o nosso papel enquanto
participante, enquanto aluna, enquanto seguidora
da arte da Capoeira Angola. A gente passa a
entender para além da força e resistência física,
cardiorrespiratória, respiratória.. entendemos o
equilíbrio, o olhar periférico, o perceber o perigo.

Além dessa autonomia a Capoeira Angola lhe dá


também o seu lugar de fala, de pesquisadora, de
contribuinte para a formação de outros e de outras.
Porque nós mulheres já temos a responsabilidade
de formar a sociedade, para além de gerar o ser, a
gente cria, a gente educa, mas a importância que
temos não é valorizada pois somos desrespeitadas a
todo momento. Ainda assim, a Capoeira Angola nos
dá o discernimento da importância que somos e é
um lugar de afirmação da mulher capoeirista, filha,
companheira, mãe, dona de casa, trabalhadora

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dentro da sociedade e contribuinte para a formação
e educação da sociedade. Com muito mais
consciência da resistência e da luta que É, a
Capoeira é lugar de compreender que uma mulher
precisa da outra, que a mulher precisa entender o
lugar da outra e as situações e os questionamentos
que a outra faz. Percebo muitas vezes o quanto a
sociedade não tem consciência do poder que nós
mulheres temos.

Outra reflexão importante que gostaria de deixar é


a necessidade de trabalharmos também a nossa
movimentação de corpo e treinar mesmo! Buscar,
se interessar em se descobrir, dentro da
movimentação, dentro das suas possibilidades de
seu limite de corpo. Se descobrir dentro do canto,
dentro da instrumentalização, ser cantadora, ser
tocadora, pra você mesma, para se valorizar e
outras mulheres inspirar, é importante também.
Muitas vezes eu sinto falta disso, das mulheres se
descobrirem, explorarem esse lado da
movimentação, do toque, do canto, de treinar
mesmo e dizer: se eu tenho uma hora no dia pra
treinar eu vou treinar, se eu tenho meia hora no dia
pra treinar eu vou treinar.
A gente precisa se descobrir, se profissionalizar,
acreditar na gente. Porque se a gente esperar que os

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outros acreditem, a gente vai se decepcionar e
deixar de evoluir. Muitas vezes uma fala negativa já
nos enfraquece. A gente vai se desestimulando e
desacreditando, e a gente não pode deixar isso
acontecer! Use a Capoeira Angola como terapia de
melhora da autoestima.
Eu mesma passei por muitas situações onde muitas
falas negativas influenciavam no meu
desenvolvimento e eu já ficava apreensiva, já
começava a desistir... Mas sempre aparecia uma
fala positiva que me criava fôlego. Então, que a
gente deixe que as coisas positivas possam
influenciar a nossa evolução e não deixe que as
coisas negativas influenciam para que a gente
regrida ou desista.

Acredite! A primeira pessoa que tem que acreditar


em você é você mesma e que as nossas irmãs
possam nos fortalecer e que a gente possa fortalecer
essas mulheres, para que elas possam continuar,
para que elas possam evoluir, para que elas possam
melhorar e acreditar e se empoderar de tudo isso.

Se empoderar é viver, viver toda oportunidade de


evolução. Viver é aproveitar as oportunidades que
aparecem pra gente, abraçar e fazer da melhor
forma. Fazer com amor, com dedicação, com

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inspiração, para que isso faça bem para outras
pessoas e principalmente para você. Quando a
gente faz com amor, com dedicação profunda, isso
faz bem pra gente mesmo e faz com que a gente
evolua. Que estejamos sempre abertas para
aprender, aprender mesmo com uma criança,
aprender com o outro, com a outra.

Eu acredito muito nisso e essa é a filosofia que o


Mestre João Pequeno trazia. Foi dessa forma que eu
consegui e venho conseguindo me dar a
oportunidade, aproveitando as oportunidades. E
que as mulheres possam estar fazendo isso
também. Abrace as oportunidades mas também
foque em algo. Não é tá pulando aqui, pulando ali.
Escolha alguém para lhe inspirar, lhe ensine... Se
dedique a você e se dedique a aprender! Aproveite!

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