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Rio de Janeiro
Agosto de 2015
Sumário
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO.......................................................................................1
CAPÍTULO 2 – REVISÃO TEÓRICA.............................................................................3
2.1. Ultrassom............................................................................................................ 3
2.1.1. Oscilações e Modos de Propagação.............................................................3
2.1.2. Comportamento das Ondas Ultrassônicas....................................................8
2.1.2.1. Reflexão e Transmissão de Ondas com Incidência Normal...................8
2.1.2.2. Reflexão e Transmissão de Ondas com Incidência Oblíqua..................9
2.1.3. Geração e Recepção das Ondas Ultrassônicas..........................................11
2.1.4.1. Efeito Piezelétrico e Transdutores Ultrassônicos..................................11
2.1.4.2. Interferência de Ondas.........................................................................12
2.1.4.2. Feixe Ultrassônico................................................................................14
2.1.4. Atenuação das Ondas Ultrassônicas..........................................................17
2.1.5. Técnicas de Inspeção.................................................................................19
2.1.6. Apresentação dos Dados............................................................................21
2.2. Phased Array.....................................................................................................23
2.2.1. O Método....................................................................................................23
2.2.2. Tipos de Transdutores................................................................................24
2.2.3. Leis Focais..................................................................................................26
2.2.4. Formação do Feixe.....................................................................................28
2.2.5. Apresentação dos Dados............................................................................30
2.2.6. Captura de Matriz Completa (FMC)............................................................31
2.2.6.1. Método de Focalização Total (TFM).....................................................32
2.2.6.2. Técnica de Abertura Focal Sintética (SAFT)........................................33
2.3. Aços Inoxidáveis Austeníticos...........................................................................34
2.3.1. Aspectos Gerais..........................................................................................34
2.2.2. Classificação dos AIA.................................................................................35
2.2.3. Metalurgia Básica.......................................................................................36
2.2.4. Metalurgia da Soldagem.............................................................................38
2.2.4.1. Solidificação do Tipo A.........................................................................39
2.2.4.2. Solidificação do Tipo AF.......................................................................39
2.2.4.3. Solidificação do Tipo FA.......................................................................40
2.2.4.4. Solidificação do Tipo F.........................................................................41
2.4. Ultrassom em Aços Inoxidáveis Austeníticos....................................................42
CAPÍTULO 3 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................44
3.1. Desenvolvimento da Teoria...............................................................................44
3.2. Modelagem para a propagação do feixe em soldas de AIA...............................48
CAPÍTULO 4 – PROPOSTA DE TRABALHO..............................................................74
4.1. Objetivo............................................................................................................. 74
4.2. Metodologia.......................................................................................................74
4.2.1. Materiais.....................................................................................................74
4.2.2. Procedimentos Experimentais....................................................................74
4.3. Etapas já Realizadas.........................................................................................76
4.4. Cronograma......................................................................................................81
CAPÍTULO 5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................83
ÍNDICE DE FIGURAS
Este trabalho tem como objetivo a correção de imagens geradas através da inspeção
por phased array em soldas austeníticas fabricadas pela técnica de arco submerso
(SAW). A correção será realizada segundo aplicação do modelo inverso, que consiste
na otimização dos resultados de simulação através de comparação iterativa com
resultados obtidos por via experimental. Isto permite que, posteriormente, dados de
inspeção sejam corrigidos a partir de informações provenientes dos dados de
simulação, em procedimento que será detalhado ao decorrer deste trabalho.
Para tal, inicialmente são apresentadas ao leitor conceitos teóricos necessários para o
entendimento da proposta de trabalho. Posteriormente, há uma extensa revisão
bibliográfica, apresentando desenvolvimentos históricos e o estado da arte acerca do
tema proposto. Por fim, um cronograma de trabalho, em conjunto das etapas já
desenvolvidas, é apresentado.
CAPÍTULO 2 – REVISÃO TEÓRICA
2.1. Ultrassom
(b)
(c)
Figura 2. - Modos de oscilação: (a) longitudinal, (b) transversal, (c) superficial
(Adaptado de (NDT, 2015))
1
Fonte: http://fisicaessencial.blogspot.com.br/2013/02/ondas-fisica-ii.html Acessado em: 05/2015.
A relação entre frequência, comprimento de onda e velocidade de fase do som é
expressa pela , sendo válida para todos os tipos de onda (KRAUTKÄMER, 1969).
f ∙ λ=v Equação 2.
E (1−μ)
v L=
√ ρ(1+ μ)(1−μ) Equação 2.
E (1−2 μ)
vT =
√ ρ2(1+ μ)
=v L
√
2(1−μ) Equação 2.
v S= ( 0,87+1,12
1+ μ
μ
)v T
Equação 2.
Onde:
µ: coeficiente de Poisson;
Quando as ondas sonoras atingem uma interface entre dois meios distintos durante a
sua propagação, parte da energia acústica é refletida de volta para o primeiro meio e a
energia restante é transmitida para o segundo meio. As seções a seguir irão abordar a
ocorrência deste fenômeno em alguns casos específicos.
No caso de incidência normal de uma onda sonora sobre uma interface, a grandeza
que definirá as parcelas de energia refletida e transmitida será a impedância acústica,
definida como o produto da densidade e a velocidade sonora de um material,
conforme apresentado na (KRAUTKÄMER, 1969).
Z=ρv Equação 2.
Onde:
ρ: densidade [kg/m³]
Quanto maior for a diferença de impedância acústica entre dois materiais, maior será a
parcela de energia refletida de volta ao primeiro meio. O valor desta parcela pode ser
quantificado de acordo com a (MARTIN, 2012).
Z 2−Z 1 2
R= ( )
Z2 + Z 1
∗100 Equação 2.
Onde:
A soma das quantidades de energia refletida e transmitida deve ser igual à quantidade
total da energia incidente. Portanto, a obtenção da parcela transmitida (T) pode ser
realizada a partir de uma simples subtração: T = 100 – R (MARTIN, 2012).
Quando uma onda ultrassônica incide com angulação oblíqua em uma interface entre
dois meios com propriedades acústicas distintas, em adição aos fenômenos de
reflexão e transmissão descritos na seção anterior, ocorrem também fenômenos mais
complexos: a refração e a conversão de modo. Estes fenômenos estão ilustrados na
(MARTIN, 2012).
Uma onda sônica sofre refração na interface entre dois meios quando estes possuem
propriedades acústicas diferentes, ou seja, cada qual possui uma velocidade
ultrassônica característica. A direção da onda refratada pode ser determinada a partir
da aplicação da Lei de Snell, que estabelece a relação entre os ângulos de
propagação e as velocidades das ondas sonoras (MARTIN, 2012). A apresenta essa
relação.
senα v 1
= Equação 2.
senβ v 2
Onde:
α: ângulo de incidência no meio 1
A equação 2.7 é aplicável também nos casos em que ocorre a conversão de modo.
Durante a propagação da onda sonora em um material, é possível que a natureza do
movimento das partículas sofra alterações quando a onda atinja com angulação
oblíqua a interface de meios acusticamente distintos, gerando a conversão de modo
(MARTIN, 2012). A demonstra esta ocorrência. Nesta figura, a onda longitudinal
incidente no meio 1 é decomposta em duas ondas refratadas no meio 2: uma
longitudinal e outra transversal. Estas ondas possuem velocidades de propagação
diferentes (conforme apresentado na seção 2.1.1) e, portanto, possuem direções de
propagação diferentes – fato facilmente comprovado a partir da aplicação da Lei de
Snell.
Onde:
α: ângulo de incidência no meio 1
α’L: ângulo da onda longitudinal
refletida no meio 1
α’T: ângulo da onda transversal
refletida no meio 1
βL: ângulo da onda longitudinal
refratada no meio 2
βT: ângulo da onda transversal
refratada no meio 2
O cristal piezelétrico é considerado uma fonte extensa, composta por diversas fontes
pontuais próximas entre si, cada qual irradiando a sua frente de onda esférica, em
comportamento análogo ao apresentado na (MARTIN, 2012). Estas frentes de onda
interagem e criam interferências construtivas e destrutivas ao longo do seu percurso,
determinando o formato do feixe sônico, cujo detalhamento será realizado na seção a
seguir.
D 2ef ∙ f
N= (cristal circular) Equação 2.
4 ∙V
M 2ef ∙ f
N=1,3 (cristal retangular) Equação 2.
V
Onde:
N: extensão do campo próximo
V: velocidade do som
f: frequência
Ao fim do campo próximo, a interação das ondas originais forma uma frente de onda
relativamente uniforme. É iniciada então a zona de transição, a partir da qual o feixe
passa a divergir, os fenômenos de interferência já não são observados e há o
decaimento progressivo da pressão sônica com o aumento da distância do feixe em
relação ao cristal (MARTIN, 2012).
v
sen γ =K 1 Equação 2.
D∙f
v
sen γ =K 2 Equação 2.
M ∙f
Onde:
f: frequência [Hz]
D: diâmetro do elemento ativo [m]
Onde:
Onde:
λ: comprimento de onda
F: frequência
D: dimensão do espalhador
α: coeficiente de atenuação
(b)
(c)
Figura 2. – Técnicas de inspeção por ultrassom: (a) pulso-eco, (b) transparência, (c)
tandem (MARTIN, 2012).
2.1.6. Apresentação dos Dados
2
Fonte: Non Destructive Testing Handbook, Volume 7: Ultrasonic Testing (UT), Third Edition, American Society for
Nondestructive Testing, 2007
Figura 2. – Representação de uma mapa B-Scan e a relação com a amplitude dos
sinais A-scan durante uma varredura. (OLYMPUS, 2007)
2.2.1. O Método
Formato de feixe:
1D Anular esférico.
Focalização: esférica.
Formato de feixe:
esférico/cilíndrico.
2D Anular
Deflexão: angular e
profundidade; 3D.
Formato de feixe:
esférico/cilíndrico.
1D Circular
Deflexão: angular e
profundidade; 3D.
2.2.3. Leis Focais
Existem três padrões essenciais de leis focais, descritos a seguir (OLYMPUS 2007a,
2007b, 2012):
O phased array obedece aos mesmos princípios físicos que o ultrassom convencional.
Consequentemente, parâmetros como dimensão do cristal e frequência de oscilação,
que influenciam a formação do feixe de um transdutor monoelemento, também
determinam o comportamento do feixe de um transdutor phased array. Porém, em
adição a estes parâmetros, fatores como distribuição e número de elementos também
devem ser considerados na técnica em questão (OLYMPUS 2007a, 2012).
Onde:
A: abertura efetiva na direção de
refração do feixe
H: altura do elemento
P: pitch (distância centro a centro entre
dois elementos consecutivos)
E: largura do elemento
G: Distância entre dois elementos
consecutivos
Figura 2. – Principais parâmetros de um transdutor phased array (Adaptado de
OLYMPUS, 2012).
(a) (b)
Figura 2. – Posicionamento do transdutor e mapas S-scan para varredura setorial (a)
-30° a +30° e (b) +35° a +70°. (OLYMPUS, 2012)
A captura por FMC gera uma enorme quantidade de dados perfeitamente manipulável
pelo usuário através de ferramentas de pós-processamento. As possibilidades para
tais pós-processamentos são infinitas, demonstrando a grande versatilidade da
técnica. Em geral, além da manipulação do feixe para diversas morfologias de lei focal
(setorial, linear, focalizada etc.), são aplicados sobre os dados métodos sintéticos de
focalização, como o Método de Focalização Total (TFM) e a Técnica de Abertura de
Focalização Sintética (SAFT). Ambas as técnicas serão detalhadas a seguir.
N N
| |
I [ P ( x , z ) ]= ∑ ∑ S ij (T ip + T jp )
i=1 j=1
Equação 2.
O SAFT é uma variação da TFM, no qual são processados apenas os ecos cujos
elemento receptor e emissor são os mesmos. Desta forma, o volume de dados a ser
processado é menor, gerando menor tempo de uso computacional. O algoritmo para
este caso é então definido pela , uma simplificação da , sendo i=j (CONNOLLY, 2009).
| |
I [ P ( x , z ) ]= ∑ S i( 2T ip )
i=1
Equação 2.
2.3. Aços Inoxidáveis Austeníticos
Aços inoxidáveis austeníticos (AIA) são ligas monofásicas cuja fase austenítica é
estável desde temperaturas criogênicas até seu ponto de fusão. Esta estabilidade
ocorre graças à adição de elementos de liga - basicamente, 18% de cromo e 8% de
níquel – à composição do material (MARSHAL, 1984, LIPPOLD e KOTECHI, 2005).
Estes aços possuem resistência equivalente à dos aços baixo carbono, podendo ser
endurecidos por trabalho a frio. São tenazes e apresentam boa ductilidade, podendo
ser empregados em uma grande faixa de temperaturas – desde criogênicas até
aproximadamente 760°C (MARSHAL, 1984, LIPPOLD e KOTECHI, 2005).
Os AIA fazem parte das séries AISI 200 e 300 dos aços inoxidáveis. A série 200
apresenta altos teores de carbono, manganês e nitrogênio, e é usualmente empregada
em aplicações especiais. A série 300 encontra maior aplicação industrial, tendo
maiores teores de níquel que a anterior (MARSHAL, 1984, LIPPOLD e KOTECHI,
2005).
As ligas conhecidas como “18-8”, ou seja, que possuem 18% de cromo e de 8 a 10%
de níquel, são as mais utilizadas. Este termo se refere aos tipos AISI 304, 316, 321 e
347 e suas variantes. O fluxograma apresentado na demonstra como a classificação
destes aços varia de acordo com a composição química. É importante salientar que
esta é apenas uma pequena parcela dos AIA existentes. Para uma abordagem mais
completa, é indicada a referência (LIPPOLD e KOTECKI, 2005).
Figura 2. – Composições e classificações dos aços inoxidáveis austeníticos3
Ocorre para as menores razões Cr/Ni; neste caso, toda a liga é solidificada como
austenita e esta fase se mantém estável até a temperatura ambiente. Este processo
gera uma estrutura dendrítica e apresenta grande segregação de elementos de liga
aos contornos de grão. Uma micrografia desta estrutura está apresentada na .
(a) (b)
Figura 2. - Microestrutura resultante da solidificação do tipo FA. (a) Ferrita vermicular.
(b) Ferrita em ripas (LIPPOLD e KOTECKI, 2005).
2.2.4.4. Solidificação do Tipo F
(a) (b)
(c) (d)
Figura 2. - Macrografias de soldas austeníticas: (a) 316L, SMAW (APFEL et al, 2005);
(b) 316L, SMAW (CHASSIGNOLE et al, 2009); (c) 316L, TIG (TABATABAEIPOUR e
HONARVAR, 2010); (d) 316L, SAW.
4
Fonte: Adaptado de Handbook on the Ultrasonic Examination of Austenitic Welds, American Welding Society, 1986
Figura 3. – Variação da velocidade ultrassônica para os modos de propagação L, SV
e SH, em função do ângulo formado entre o feixe ultrassônico e a direção [100] dos
grãos colunares austeníticos. (KUPPERMAN e REIMANN, 1980)
Modelos Numéricos:
o Técnica de Integração Elastodinâmica Finita (EFIT) (CHINTA et al,
2012);
o Método de Elementos Finitos (HARUMI e UCHIDA, 1990,
CHASSIGNOLE et al, 2000a, 2000b);
o Método de Diferenças Finitas (BAEK e YIM, 2011);
o Método dos Elementos de Contorno (SAEZ e DOMINGUEZ, 1999).
Modelos Aproximados:
o Método Gaussiano de Superposição de Feixe (SPIES, 2000).
Modelos Analíticos:
o Método de Traçagem do Feixe.
O presente trabalho dará enfoque ao método analítico de traçagem do feixe. Para
aprofundamento nas demais abordagens, o leitor é convidado a acessar as referências
citadas.
3. Caso haja mudança de região, reduzir o intervalo de tempo para atingir a interface
entre as regiões e continuar ao passo 4;
4. Na nova posição, definir uma interface artificial para o cálculo da refração do raio;
Figura 3. – Imagens resultantes para o defeito da figura 3.8: (a) Imagem SAFT com lei
focal isotrópica. (b) Imagem TFM com lei focal isotópica. (c) Imagem SAFT com lei
focal corrigida. (d) Imagem TFM com lei focal corrigida (CONNOLLY, 2010).
MOYSAN et al (2003) criaram o algoritmo MINA para a modelagem da anisotropia de
soldas SMAW austeníticas a partir do conhecimento de alguns parâmetros de
soldagem e da avaliação de macrografias da solda. A principal proposta deste
algoritmo é que esta modelagem ocorra em uma escala intermediária entre a escala
microscópica, na qual os fatores que regem a morfologia final da microestrutura são de
difícil reprodução virtual, e a escala macroscópica, cuja resolução é insuficiente para
uma modelagem satisfatória da propagação do ultrassom no meio em questão.
RV = h/H
RL = l/L
(a) (b)
Figura 3. – Parâmetros MINA: RV, RL, θB e θC. (Adaptado de MOYSAN et al, 2003,
GUEUDRE et al, 2009)
MOYSAN et al (2003) testaram eficácia do MINA através da comparação entre as
orientações cristalográficas obtidas por este modelo e as medidas diretamente pelas
macrografias de 6 soldas austeníticas. Mapas de erros como os apresentados na
foram gerados, a partir dos quais foi constatado que o modelo apresenta erro médio
(Δθ) de 10° a 15° em comparação aos valores reais da orientação dos grãos da solda,
resultado considerado satisfatório.
¿ exp 2
n m
e ij ( RV , R L ,θ B , θC )−eij
J ( RV , RL ,θ B , θC )=∑ ∑
i =1 j=1 ( exp
e ij ) Equação 3.
Onde:
Figura 3. – Evolução de gerações após gerações dos parâmetros estimados - RV, RL,
θB e θC – (esquerda) e evolução da função de custo (direita) (Adaptado de GUEUDRE
et al, 2009).
Caso 2: Solda austenítica 316L com 40mm de espessura e dois furos laterais, cada
um em um lado da solda, ambos à profundidade de 20mm. Mesmo transdutor
empregado, nas angulações de 35°, 45° e 60°. A perda de amplitude foi calculada a
partir da diferença entre as amplitudes dos furos 1 (propagação ultrassônica no
material isotrópico) e 2 (propagação ultrassônica no material anisotrópico).
Caso 3: Solda austenítica 316L, com chanfro em K, 60mm de espessura e dois furos
laterais, cada um em um lado da solda, ambos à profundidade de 39mm. Mesmo
transdutor empregado, apenas a angulação de 60° foi testada. A perda de amplitude
foi calculada a partir da diferença entre as amplitudes dos furos 1 (propagação
ultrassônica no material isotrópico) e 2 (propagação ultrassônica no material
anisotrópico).
Cada um dos três casos gerou três resultados: experimental, simulado sem correção
para a atenuação (simulação 1) e simulado com a atenuação inserida no código
(simulação 2). A configuração e os resultados obtidos estão apresentados nas Figuras
3.14, 3.15 e 3.16. Os resultados demonstram que, para todos os casos, as simulações
com o código não corrigido subestimam ou eventualmente ignoram o poder de
atenuação da estrutura anisotrópica. Após a correção proposta pelos autores, o
ATHENA 2D apresenta resultados de atenuação similares aos obtidos
experimentalmente, ou seja, consegue reproduzir de forma satisfatória a amplitude dos
ecos provenientes de descontinuidades presentes em uma estrutura anisotrópica.
Figura 3. - Caso 1: Macrografia da solda, configuração da inspeção e resultados
expressos quanto à variação da amplitude entre os defeitos 1 e 2 para o experimento
e as simulações realizadas (Adaptado de CHASSIGNOLE et al, 2009).
FAN e LOWE (2012, 2013, 2014) aplicaram o código MINA, em conjunto com o código
de traçagem do feixe desenvolvido por CONNOLLY et al (2010), e desenvolveram
seus próprios modelos direto e inverso para a correção de leis focais para meios
anisotrópicos a partir de dados experimentais. Para tal, realizaram simulações e
tomada de dados experimentais em uma solda de aço austenítico 304L (SMAW). Esta
solda foi reproduzida virtualmente a partir dos seus parâmetros MINA; uma
comparação entre as direções produzidas pelo MINA e as direções reais dos grãos
colunares (medidas através de macrografia) foi realizada, gerando o mapa
apresentado na . Neste mapa, é possível observar que em grande parte da solda o
erro entre as direções calculadas pelo MINA e as direções verdadeiras é menor do
que 20°, atestando a validade do modelo.
Figura 3. – (a) Micrografia da solda inspecionada. (b) Solda gerada pelo MINA. (c)
Comparação entre (a) e (b) (Adaptado de FAN e LOWE, 2013, 2014).
Figura 3. – (a) Aparato experimental. (b) Sinal B-scan gerado por um dos elementos
emissores. (c) Sinal A-scan recebido por um dos elementos. (d) Sinal A-scan após
aplicação do algoritmo CLEAN (Adaptado de FAN e LOWE, 2014).
Figura 3. – Tempos de voo entre todos os elementos emissores e receptores para: (a)
modelo direto, (b) experimental (Adaptado de FAN e LOWE, 2014).
RV RL θB θC
Original 0.15 0.335 17.5° 0°
Otimizado 0.173 0.362 20.5° 5.63°
As leis focais para a formação de imagens por phased array são computadas sob o
princípio de Fermat, no qual o menor tempo de voo possível entre a fonte e o ponto de
destino deve ser encontrado e admitido. Em meios isotrópicos as leis focais podem ser
calculadas de forma simples, de acordo com a distância entre a fonte e o ponto de
destino. Em meios anisotrópicos isso não é possível em decorrência dos desvios que
o feixe sofre. Assim, metodologias baseadas na traçagem do feixe devem ser
desenvolvidas para os cálculos de tempo de voo entre dois pontos (FAN e LOWE,
2014).
FAN e LOWE fizeram isto da seguinte forma: utilizando a solda com parâmetros MINA
otimizados, a traçagem do feixe é realizada em diferentes ângulos a partir de uma
única fonte de emissão, tendo em vista a simulação de todos os caminhos possíveis
da fonte até o ponto de destino. Isto pode ser observado na (a). O tempo de voo entre
cada ponto de emissão e cada ponto da imagem pode ser obtido através da
interpolação dos dados de traçagem do feixe. O resultado pode ser visualizado na (b),
na qual o tempo de voo entre uma única fonte de emissão e cada ponto da imagem
está apresentado em escala de cinza.
Figura 3. – (a) Percurso na solda dos raios originados em um único ponto de emissão.
(b) Mapa de tempo de voo para um único ponto de emissão (FAN e LOWE, 2014).
A validação experimental de todo o processo proposto por FAN e LOWE foi realizada
a partir da captura de sinais phased array por FMC em duas soldas: uma solda
austenítica 304L (SMAW) e uma solda Inconel (SMAW), ambas contendo defeitos
artificiais (furos laterais), conforme as Figuras 3.23(a) e 3.24(a). Leis focais
anisotrópicas foram calculadas para ambos os casos a partir do modelo inverso. Seus
valores de tempo de voo para cada ponto da imagem foram confrontados aos tempos
de voo de leis focais isotrópicas e geraram os mapas de erros apresentados nas
Figuras 3.23(b) e 3.24(b). As Figuras 3.23(c) e 3.24(c) apresentam as imagens TFM
geradas pelas leis focais isotrópicas. Em ambos os casos, o desvio de localização dos
defeitos é evidente – em vermelho, há a indicação da posição real do defeito. As
Figuras 3.23(d) e 3.24(d) apresentam as imagens TFM geradas pelas leis focais
anisotrópicas. Nestas imagens os defeitos possuem localização condizente com a sua
posição real, indicando que o método foi eficaz na correção das leis focais.
Figura 3. – (a) Tomada de dados experimental para a solda 304L. (b) Mapa de erros
gerado após aplicação do modelo inverso. (c) Imagem TFM gerada por leis focais
isotrópicas. (d) Imagem TFM corrigida, gerada por leis focais anisotrópicas (FAN e
LOWE, 2014)
Figura 3. - (a) Tomada de dados experimental para a solda Inconel. (b) Mapa de erros
gerado após aplicação do modelo inverso. (c) Imagem TFM gerada por leis focais
isotrópicas. (d) Imagem TFM corrigida, gerada por leis focais anisotrópicas (FAN e
LOWE, 2014)
Figura 3. – Uma varredura simulada no CIVA entre 5mm e 9mm. Um furo lateral de
3mm foi introduzido em uma profundidade de 9.6mm em um meio isotrópico
(esquerda) e em uma solda anisotrópica (direita) (Adaptado de NAGESWARAN et al,
2009).
A partir destes resultados, os autores propuseram uma estratégia baseada na
correção das leis focais calculadas pelo CIVA para um meio anisotrópico. Esta
estratégia, batizada de leis focais adaptadas, é baseada no conceito de reversão de
tempo, no qual o tempo levado pelo eco de cada elemento do transdutor para retornar
de um determinado ponto de interesse do material é convertido em leis focais. O
principal objetivo é maximizar a energia sonora neste ponto de interesse, ou seja,
manipular o tempo de disparo de cada elemento de forma que as ondas emitidas por
cada um cheguem ao mesmo tempo e em fase ao ponto de interesse na peça.
5
Fonte: Guidelines for generating array ultrasonic procedures for the inspection of dissimilar/austenitic welded
components. TWI, 2011. Acessado em http://www.dissimilarweld.co.uk/publications/DIS-Gu-Rev.01.05.pdf, junho/2015
Figura 3. – Comparação entre os ecos simulados gerados pelo defeito 3, empregando
cada uma das 7 leis focais adaptadas em suas respectivas posições e leis focais
isotópicas.6
6
Fonte: Guidelines for generating array ultrasonic procedures for the inspection of dissimilar/austenitic welded
components. TWI, 2011. Acessado em http://www.dissimilarweld.co.uk/publications/DIS-Gu-Rev.01.05.pdf, junho/2015
sensibilidade, e comportamento melhor, no que tange o dimensionamento, em
comparação à lei focal original. Adicionalmente, houve grande correspondência entre
os resultados simulados e experimentais em relação os tempos de voo entre o defeito
e o transdutor. Assim, a técnica desenvolvida demonstra grande capacidade de prever
o percurso sônico no interior do material, porém, não é capaz de prever os valores de
amplitude de uma inspeção real.
Figura 3. – Curvas ecodinâmicas geradas por dados experimentais por leis focais
isotrópicas e leis focais adaptadas (CARPENTIER et al, 2010).
Tabela 3. – Amplitudes dos furos após passagem do feixe pela solda (Adaptado de
BANNOUF et al, 2014).
Figura 3. - B-scans obtidos para o entalhe através da inspeção pela direção d1: (a)
experimental, (b) CIVA, (c) ATHENA 3D (Adaptado de BANNOUF et al, 2014)
Tabela 3. - Amplitudes dos entalhes após passagem do feixe pela solda (Adaptado de
BANNOUF et al, 2014).
4.1. Objetivo
Este trabalho tem como objetivo a correção de imagens geradas através da inspeção
por phased array em soldas austeníticas fabricadas pela técnica de arco submerso
(SAW). A correção será realizada segundo aplicação do modelo inverso - baseado no
código MINA - que consiste na otimização dos resultados de simulação através de
comparação iterativa com resultados obtidos por via experimental. Isto permite que,
posteriormente, dados de inspeção sejam corrigidos a partir de informações
provenientes dos dados de simulação, em procedimento já detalhado na revisão
bibliográfica.
4.2. Metodologia
4.2.1. Materiais
A análise macrográfica será realizada no intuito do cálculo dos parâmetros MINA que
não constam na EPS: (RV, RL, θB e θC).
A coleta preliminar de dados será realizada nas soldas sem defeitos, tendo em vista a
aplicação do modelo inverso. A captura será realizada através da técnica FMC,
empregando transdutores phased array lineares de 2MHz.
As soldas com defeitos artificiais serão utilizadas para verificar a eficácia do modelo
inverso. Novas capturas empregando a técnica FMC serão realizadas, tendo em vista
a correção da localização dos defeitos nas imagens geradas através do pós-
processamento por TFM.
• IMAGE: produz a imagem TFM dos resultados experimentais com a lei focal
anisotrópica, corrigindo, portanto, a imagem original gerada com leis focais isotrópicas
(FAN e LOWE, 2014).
Uma chapa soldada de aço inoxidável austenítico 316L foi fabricada conforme EPS
empregada para fabricação de estruturas encontradas em instalações da
PETROBRAS. A técnica de soldagem empregada foi arco submerso para o
enchimento e TIG para os passes de raiz. As Figuras 4.1 e 4.2 apresentam as
principais dimensões da solda e algumas etapas do procedimento de soldagem
realizado.
(c) (d)
Figura 4. – Procedimento de soldagem. (a) Passe de raiz com TIG. (b) Passe de
raiz. (c) Enchimento com arco submerso. (d) Estado do cordão de solda após
aplicação de um dos passes de enchimento por arco submerso.
Parte da junta soldada também foi usinada para preparo metalográfico e obtenção dos
demais parâmetros MINA: RV, a taxa de refusão vertical do passe anterior após
aplicação do passe subsequente; RL, a taxa de refusão lateral do passe anterior após
aplicação do passe subsequente; θB, inclinação do ângulo de simetria de um passe
com a vertical para passes na parede do chanfro e θ C, inclinação do ângulo de simetria
de um passe com a vertical para passes internos. A apresenta uma seção da solda
após preparo metalográfico, já com a demarcação dos passes para o cálculo dos
parâmetros MINA. A apresenta os parâmetros MINA obtidos para o presente caso de
estudo.
Figura 4. – Demarcação dos passes para o cálculo dos parâmetros RV, RL, θC, θB.
Paralelamente, foram coletados os dados em FMC na solda sem defeitos para realizar
a iteração entre os resultados simulado e experimental. Para tal, foi utilizado o
equipamento MultiX++, da fabricante M2M, com 128 canais, e dois transdutores
phased array da Olympus, de 2MHz e 32 elementos cada, com pitch de 1mm. Estes
transdutores trabalharam em pitch-catch, ou seja, um foi responsável apenas pela
emissão e outro pela recepção dos sinais em FMC. O transdutor emissor teve uma
sapata angular acoplada, tendo em vista priorizar a propagação transversal das ondas
no interior do material.
A extração dos resultados em formato de tempo de voo para cada elemento emissor e
receptor foi realizada na plataforma de simulação CIVA.
Nos ensaios realizados no LNDC, porém, este comportamento não foi reproduzido.
Conforme pode ser visto na (b), não é sempre o mesmo modo que mantém a maior
amplitude. Na posição do cursor preto nesta figura, observa-se que dois modos de
propagação apresentam grande amplitude (caracterizada pelo tom em azul claro),
tornando difícil a escolha do modo de maior energia para a extração dos dados de
tempo de voo.
(a) (b)
Figura 4. - Comparação entre os resultados FMC gerados no (a) Imperial College e
(b) LNDC.
Ainda assim, foi realizada a extração da matriz contendo os tempos de voo, conforme
a . Os dados nesta matriz comprovam o comportamento apresentado na (b): existem
pontos de grande descontinuidade entre os tempos de voo de elementos
consecutivos, provavelmente não provenientes do fenômeno de desvio do feixe.
Novas tomadas de dados e análises complementares serão realizadas para maior
investigação deste comportamento.
4.4. Cronograma
1. Revisão Bibliográfica.
2. Confecção dos corpos de prova.
3. Análise metalográfica.
4. Obtenção das constantes elásticas.
5. Registro de dados FMC das juntas sem defeitos.
6. Extração dos dados FMC das juntas sem defeitos.
7. Aplicação do modelo inverso.
8. Correção do algoritmo.
9. Registro de dados FMC das juntas com defeitos.
10. Extração dos dados FMC das juntas com defeitos.
11. Correção das Imagens por TFM.
12. Elaboração da dissertação.
13. Defesa da Tese.
mai/ jun/ jul/ ago/ set/ out/ nov/ dez/ jan/ fev/ mar abr/ mai/ jun/
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CAPÍTULO 5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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