Sei sulla pagina 1di 11

129

Ansiedade de separação: um estudo de caso com a abordagem


da análise do comportamento
ANA RODRIGUES VASCONCELLOS*

Resumo
Este trabalho apresenta aspectos importantes observados em atendimento
psicoterápico com uma paciente de 9 (nove) anos apresentando ansiedade de
separação. A importância de discussão do tema se dá à medida que se
percebe a quantidade de crianças e adolescentes que apresentam sofrimento
diante da separação dos seus pais. A abordagem escolhida para atendimento
da paciente foi a análise do comportamento. Para subsidiar essa pesquisa, foi
utilizado o estudo de caso como método investigativo, utilizando também
técnicas de coletas de informações durante as sessões realizadas.
Palavras-chave: Ansiedade de separação; Análise do Comportamento e
Família.
Abstract
This study presents important aspects observed in psychotherapeutic care
with a patient of 9 (nine) years presenting separation anxiety. The
importance of discussing the theme occurs as the number of children and
adolescents suffering from separation from their parents is perceived. The
approach chosen for patient care was behavioral analysis. To support this
research, the case study was used as an investigative method, also using
information collection techniques during the sessions.
Key words: Separation anxiety; Analysis of Behavior and Family.

*
ANA RODRIGUES VASCONCELLOS é Especialista em Terapia Analítico
Comportamental pelo PSICOLOG em Ribeirão Preto.
Introdução 1. Fundamentação teórica
130
Estamos vivendo em um contexto social 1.1 Ansiedade na análise do
aonde cada vez mais o número de comportamento
divórcios vem aumentando de forma
Dizem que a ansiedade é o mal do
significativa. O sonho do casamento
século! Vivemos e convivemos o tempo
feliz até que a morte nos separe vem
todo com pessoas se declarando
sendo substituída pela frase “ser feliz
ansiosas. É muito comum ouvirmos
até que dure”. Com certeza o processo
pessoas relatando que sofrem de
de separação não é nada novo e nem
ansiedade. Os problemas a serem
temos a intenção de trazer discussão
enfrentados no dia a dia, as inúmeras
sobre o estar ou não estar casados.
atividades e tarefas a dar conta, podem
Sabemos que muitas situações levam
ser intensificados de tal forma a
um casal a um rompimento nos seus
potencializar o transtorno de ansiedade.
relacionamentos e estes variam de falta
O manual de diagnóstico da Associação
de diálogo, incompatibilidade de ideias,
Americana de Psiquiatria, DSM-V
finanças, relacionamentos extras entre
(2013), traz a seguinte definição para os
tantos outros aspectos.
transtornos de ansiedade:
O processo de separação de um casal Os transtornos de ansiedade
pode ser realizado de forma tranquila incluem transtornos que
quando os dois chegam a um consenso compartilham características de
de que a relação chegou ao fim, mas medo e ansiedade excessivos e
também, pode ser muito conflituoso perturbações comportamentais
quando uma das partes não está disposta relacionados. Medo é a resposta
a finalizar a relação. Quando o casal emocional a ameaça iminente real
tem filhos, a situação tende a piorar, ou percebida, enquanto ansiedade é
pois em algumas vezes o casal acaba a antecipação de ameaça futura.
“usando” os filhos para provocar o Obviamente, esses dois estados se
outro cônjuge. O aspecto geral da sobrepõem, mas também se
diferenciam, com o medo sendo
família em fase de separação gera muita com mais frequência associado a
ansiedade. Os adultos lidam de forma períodos de excitabilidade
diferente com esse sentimento, porém, autonômica aumentada, necessária
as crianças, passam a sofrer com para luta ou fuga, pensamentos de
aspectos desconhecidos que muitas perigo imediato e comportamentos
vezes acabam atrapalhando sua vida de fuga, e a ansiedade sendo mais
escolar, social, cognitiva e frequentemente associada a tensão
comportamental. Dessa forma, o muscular e vigilância em
presente estudo, tem como objetivo preparação para perigo futuro e
apresentar o relato de caso de uma comportamentos de cautela ou
paciente com diagnóstico de Transtorno esquiva. Às vezes, o nível de medo
ou ansiedade é reduzido por
de Ansiedade de Separação. A paciente comportamentos constantes de
foi atendida durante aproximadamente 9 esquiva (DSM-V, p.230).
(nove) meses sob a abordagem da
análise do comportamento. O manual de diagnóstico da Associação
Americana de Psiquiatria, DSM-V,
identifica que muitos desses transtornos
de ansiedade tendem a se desenvolver
ainda na infância e quando não tratados
de forma específica, podem persistir até
a vida adulta. É importante perceber que denominada ansiedade (SKINNER,
o medo nem sempre está ligado a um 1965, p. 178). 131
transtorno de ansiedade, pois no
É também comum a associação da
cotidiano, precisamos dele para nos
ansiedade a eventos externos como,
proteger, nos mantendo vivos e alertas.
taquicardia, tremores, sudorese entre
Muitas vezes, associamos a ansiedade outros, essas alterações são produtos
somente a eventos ruins, porém a resultantes da interação do indivíduo
ansiedade também pode ser positiva, com o mundo. Para Skinner (1965), a
vamos pensar, por exemplo, a ansiedade ansiedade é resultado de uma resposta
que antecede o dia de uma grande emocional, resultante de estímulos
viagem, o dia de uma grande prova, o antecedentes a um estímulo aversivo.
dia de um casamento. Essa ansiedade,
poderíamos chamar, de ansiedade Para Skinner (1965), a ansiedade pode
“boa”, quando gera expectativas ser entendida como resposta do
importantes e saudáveis. Segundo organismo diante de contingência que
Zamignani & Banaco (2005), não é essa envolva um estímulo (pré-aversivo),
ansiedade que atrapalha a vida das antecedendo a apresentação de um
pessoas, a ansiedade que os autores estímulo aversivo. Skinner reafirma
definem como um fenômeno clínico é a através de um de seus experimentos
que compromete a vida de uma pessoa, usando ratos, intitulado: “Algumas
trazendo prejuízos ocupacionais, muitas propriedades quantitativas da
vezes impedindo a pessoa de exercer ansiedade” que estados corporais muito
suas atividades livremente, trazendo diferentes são gerados por estímulos
sofrimento. A ansiedade está ligada a aversivos e são sentidos de diferentes
antecipação de uma ameaça futura, ou maneiras. Para a análise do
seja, algo que leva uma pessoa ao comportamento, as contingências de
sofrimento sem que ainda tenha reforçamento são responsáveis pelos
acontecido. comportamentos e não os eventos
internos como os sentimentos. Skinner
A definição de ansiedade para a análise (1989) em suas pesquisas percebe e
do comportamento é, sobretudo descreve a diferença entre a ansiedade e
complexo, talvez pelo sentido amplo e o medo, que muitas vezes acabam sendo
pelas explicações que são produzidas confundidos pelos analistas. Ele então
trazendo imprecisão ao termo, descreve que:
dificultando a construção de conceitos e
definições mais concretas. Para a Nosso experimento teria dado um
análise do comportamento, o resultado diferente se o choque
comportamento verbal e não verbal tivesse sido contingente à resposta
podem ser geradores de emoções que – em outras palavras, se a pressão à
podem desencadear em ansiedade. barra tivesse sido punida. O rato
teria igualmente parado de
Segundo Skinner (1965),
pressionar a barra, mas o estado
há efeitos emocionais que podem corporal teria sido diferente.
ocorrer apenas quando um estímulo Provavelmente, ele seria chamado
precede caracteristicamente um de medo. A ansiedade talvez seja
estímulo aversivo com um intervalo uma espécie de medo (nós diríamos
de tempo suficientemente grande que o rato estava ‘com medo de que
para permitir a observação de ocorresse outro choque’), mas isso
mudanças comportamentais. A é diferente de estar com medo de
condição resultante geralmente é pressionar a barra ‘porque outro
choque pode acontecer’. A Pelo menos três deles devem estar
diferença entre as contingências é presentes em relação ao afastamento de 132
inconfundível (SKINNER, 1989, p. casa ou dos familiares. Segundo o
8). Manual de diagnóstico da Associação
Para o autor, a ansiedade talvez seja Americana de Psiquiatria, DSM-V
uma espécie de medo e estão Dentre os critérios, é importante
relacionadas a presença de ameaça, destacar:
sendo que o medo, está associado a Sofrimento excessivo e recorrente
ameaça real, limitando-se a presença de ante a ocorrência ou previsão de
um estímulo que elicie uma resposta e a afastamento de casa ou de figuras
ansiedade, estaria relacionada a um importantes de apego. Preocupação
perigo ou ameaça incerta. Nesse caso, a persistente e excessiva acerca da
observação das contingências é possível perda ou de perigos
essencial. envolvendo figuras importantes de
apego, tais como doença,
1.2 Ansiedade de separação ferimentos, desastres ou morte.

Segundo o Manual de Diagnóstico da Repetidas queixas de sintomas


Associação Americana de Psiquiatria, somáticos (p. ex., cefaleias, dores
DSM-V (2013), o transtorno de abdominais, náusea ou vômitos)
separação é mais caracterizado na quando a separação de figuras
importantes de apego ocorre ou é
infância e na adolescência, envolvendo
prevista (DSM-V, p.191).
figuras importantes de apego.
De acordo com o DSM-V, as crianças
Para Skinner (2003), é no contexto com ansiedade de separação podem
familiar que a criança vai desenvolver vivenciar sofrimento expressivo ao
os repertórios de socialização e de experimentar um processo de separação
integração com os outros, de resolução de uma figura de apego, esse sofrimento
de conflitos e diversas condutas. Nesse também pode levar a respostas
repertório, várias figuras estarão fisiológicas que venham a comprometer
presentes além da família, como os o funcionamento das atividades normais
amigos, os professores, os avós, e do dia a dia. Pode haver queixa de
fonoaudiólogos, pediatras. Esses cefaleias, dores abdominais, náusea e
personagens importantes na vida da vômitos e em alguns casos, sintomas
criança, a ajudarão a elaborar seu cardiovasculares como palpitações e
repertório social, cultural e familiar. A sensação de desmaio. Percebemos a
partir desse entendimento, é possível partir das considerações a importância
perceber que ao longo da vida, algumas da avaliação sistematizada para bom
separações podem e vão ocorrer na vida desenvolvimento da terapia.
das crianças e que nem sempre essas
separações podem e vão causar algum 2. Metodologia – procedimentos
transtorno relacionado à ansiedade. Isso realizados
pode ou não ocorrer, e vai depender de
diversos fatores. Para subsidiar essa pesquisa, foi
utilizado o estudo de caso como método
Um dos fatores essenciais que fazem investigativo, utilizando também
parte do diagnóstico do transtorno de técnicas de coletas de informações
ansiedade da separação, segundo o durante as sessões realizadas. O estudo
DSM-V (2003), é a separação das de caso possibilita o entendimento das
pessoas que o individuo tem apego. possíveis relações e investigar situações
não claramente definidas. (GIL, 1999). “comportamentos problemas” foram
A princípio, por se tratar de um aprendidos e são mantidos, modelagem 133
processo terapêutico, não houve do comportamento de trocar a
intenção em definir as questões mamadeira pelo copo.
norteadoras, porém percebemos que
A análise funcional para a análise do
alguns questionamentos foram surgindo
comportamento é importante por
no decorrer do processo terapêutico, que
destacar comportamentos específicos a
foram sendo avaliadas e trabalhadas
serem trabalhados na sessão. A esse
durante as sessões.
aspecto, Samson e McDonnell (1990)
O procedimento terapêutico de Mariana propõe:
foi realizado por duas psicólogas A análise funcional é um método de
analistas comportamentais, ambas com explicar fenômenos, que envolve a
experiência em atendimento infantil. As geração de hipóteses com respeito a
sessões ocorreram semanalmente por dados observáveis e não
um período de 09 meses, totalizando observáveis. Ela busca explicar e
aproximadamente 35 sessões de 50 prever a(s) função(ões) de um
minutos. As sessões eram intercaladas fenômeno através do exame das
com os responsáveis por Mariana. Foi relações que contribuem para ele
realizada no início da sessão, avaliação (SAMSON; MC DONNELL,1990,
inicial, e ao longo de algumas sessões p.261).
foi verificado alguns aspectos como: Alguns comportamentos foram
História de vida, dados da Infância, trabalhados durante a terapia, tais como:
dados sobre a Gravidez e parto, comportamento de largar a chupeta,
primeiras semanas de vida, aspectos comportamento de largar a mamadeira,
importantes sobre controle de comportamento de manejo da
esfíncteres, aspectos sobre a ansiedade. Foi utilizado nos
socialização infantil, sobre a atendimentos, atividades com Jogos da
sexualidade. Foi avaliado também o memória, dominó, quebra cabeça, dama
ingresso de Mariana na vida escolar, e atividades construídas para o manejo
sobre sua saúde, alimentação, sono, do comportamento específico.
desenvolvimento psicomotor, fala e Atividades lúdicas como pinturas,
linguagem. massinhas de modelar e jogos fizeram
parte do dia a dia das sessões. A
Para a investigação de quadros de
utilização de jogos e brincadeiras para o
estado mental de Mariana, as psicólogas
atendimento infantil pode ser uma
utilizaram-se do Manual diagnóstico e
grande aliada na modelagem dos
estatístico de transtornos mentais, O
comportamentos.
DSM-V.
2.1 Relato de caso
As intervenções psicoterapêuticas foram
sendo realizado durante as sessões com Mariana, (pseudônimo utilizado para
a abordagem da análise do manter a confidencialidade), sexo
comportamento, que incluiu a entrevista feminino, 9 anos (nove), tem um irmão
clínica inicial, contrato terapêutico, mais novo de 3 (três) anos. Mariana é
levantamento da história de vida da estudante de uma escola particular de
pessoa, análise funcional, levantamento Ribeirão Preto, onde cursa o 3ª ano do
dos reforçadores levantamento da Ensino Fundamental. A queixa inicial
punição audiência não punitiva, trazida pela mãe é que Mariana é muito
entendimento de como os ansiosa e isso tem atrapalhado seu
desenvolvimento social. A mãe relata planejado a gravidez, descreve que
que Mariana sente fortes dores todos, incluindo o pai, ficaram muito 134
abdominais e que já levou a filha para felizes com a chegada da menina.
fazer todos os exames e não obteve Mariana não foi amamentada com leite
diagnóstico de nenhuma doença. materno, pois sua mãe tinha feito
Mariana já teve desmaios em alguns cirurgia de redução de mama e não teve
momentos. Segundo Coelho e Tourinho como alimentá-la, passando então a dar
(2008) descrevem a relação da condição leite em pó. A mãe relata que a filha não
fisiológica e as contingências conseguiu largar a mamadeira até o
ambientais como evento a originar a início da terapia.
queixa clínica:
De acordo com Rego (2008) a
Essa condição fisiológica pode ter amamentação se difere do aleitamento
uma função estabelecedora,
materno, a amamentação é o ato de dar
“imobilizando” o indivíduo e
afetando assim sua responsividade o peito diretamente ao bebê, já o
a contingências ambientais. aleitamento materno é a forma como o
Entretanto, o efeito paralisante da bebê recebe o leite de sua mãe, que
sinalização de um evento aversivo pode ser pela mama, pela mamadeira ou
(redução da taxa de resposta) pode até mesmo pelo copinho.
ser maior do que o de um evento
A amamentação não é apenas uma
reforçador positivo, daí apenas o
técnica alimentar: é muito mais do
primeiro dar origem à queixa
que a simples passagem do leite de
clínica (COELHO; TOURINHO,
um organismo para o outro, ainda
2008, p.6)
que diretamente ao seio. Ela é um
A preocupação inicial da família de rico processo de entrosamento entre
Mariana é com o seu estado físico, pois dois indivíduos um que amamenta e
tem apresentado em muitas vezes dores o outro que é amamentado. A
amamentação não só é propiciada
fortes que a impede de realizar suas
como também propiciadora de uma
atividades normais, como por exemplo, gama de interações facilitadoras de
ir à escola. A mãe relata que a menina é formação e consolidação do vínculo
inteligente e que é exigente com a mãe-filho (REGO, 2008, p.17).
mesma, pois quer dar um futuro melhor
para a filha. A mãe de Mariana relatou Muitas mães, por motivos de saúde ou
ter percebido a filha mais inquieta desde outros, não amamentam os seus filhos,
que seu filho mais novo nasceu porém, mesmo com o recurso de outras
coincidindo com a separação do casal. técnicas, o vínculo de pais e filhos pode
Essa foi a primeira vez que Mariana fez ser mantido através do aleitamento
tratamento psicológico. materno. É inegável a importância da
amamentação nos primeiros meses de
2.1 História de vida e familiar vida, pois as relações de confiança entre
mãe e filho estão sendo criadas. Lana
Mariana, nasceu na cidade de Ribeirão
(2001) indica que crianças
Preto, mora com sua mãe e seu irmão de
amamentadas desde cedo pelas suas
3 (três) anos, seus pais são separados.
mães, são menos ansiosas.
Sua mãe é técnica de laboratório e seu
pai, atualmente mora em outra cidade A maior recompensa da
com os pais e está desempregado. amamentação é o contato íntimo,
freqüente e prolongado entre mãe e
Segundo relato, a gravidez de Mariana filho, que, além de ser por si só
foi normal e tranquila. Apesar de não ter muito gratificante para ambos,
resulta num estreito e forte laço de separação, o casal construiu um quarto
união entre eles. A conseqüente para Mariana, para que ela dormisse 135
maior ligação mãe-filho na sozinha por ocasião da chegada do
amamentação possibilita melhor irmão. Isso nunca aconteceu de fato,
compreensão das necessidades do pois Mariana nunca havia dormido no
bebê, facilitando o desempenho
quarto, passando a ir dormir na casa dos
maternal (LANA, 2001, p. 143).
avós no quarto de sua tia, irmã da sua
O contato estabelecido desde cedo com mãe. Os pais de Mariana se separaram
a amamentação ou o aleitamento quando o filho mais novo nasceu. Em
materno, é importante para a formação muitas famílias a chegada de um irmão
de vínculos futuros. pode trazer mudanças significativas.
Mariana andou com 1 (um) ano de vida. Segundo Oliveira e Lopes (2010):
Segundo a mãe, Mariana dormiu no Nesse sentido, mudanças
quarto dos seus pais até os 03 (três) decorrentes da transição da
anos de idade, pois na residência só condição de filho único para a de
havia um quarto. A mãe relata que irmão mais velho podem acarretar
Mariana tem dificuldades pra dormir. O implicações emocionais diretas para
sono tem uma grande representação no o primogênito, especialmente no
desenvolvimento infantil, sendo sentido da dependência e
responsável pelo crescimento saudável. independência. Estas implicações
Segundo Geib (2007): podem ser visualizadas por uma
variedade de reações (OLIVEIRA E
No processo de desenvolvimento LOPES, 2010, p.101).
infantil, a maturação do sistema
sono-vigília exerce influência A chegada de um novo integrante e a
significativa no funcionamento separação dos pais, trouxe uma nova
psicossocial e configuração familiar. Mariana passou a
neurocomportamental da criança, o conviver com a ausência do pai e a
que torna imprescindível a chegada do irmão. Um aspecto
identificação precoce dos hábitos importante a ser destacado é que
inadequados de sono para assegurar Mariana presenciava as brigas do casal
o bem-estar infantil. Fatores como a
sempre. De acordo com Raposo e
personalidade e psicopatologia dos
pais - especialmente materna -, o
colaboradores (2011):
modo de interação estabelecido Relações parentais conflituosas,
com a criança, os rituais adotados quando acontece o emaranhamento
para dormir e os estressores dos problemas conjugais na relação
psicossociais podem modular os parental, têm não só efeitos diretos
padrões e os hábitos de sono e no funcionamento psicológico da
serem por eles modelados (GEIBE, criança, mas também efeitos
2007, p.2). indiretos, dado que interfere na
Mariana é muito inquieta para dormir, qualidade do comportamento
range os dentes, se meche muito, baba parental. O conflito interparental
muito e transpira bastante. Atualmente coloca os pais numa posição menos
efetiva para lidar com os filhos
dorme na casa da avó, no quarto com
(RAPOSO, HÉLDER SILVA,
sua tia, onde sua mãe colocou a sua 2011, p. 31).
cama. Os avós maternos possuem
bastante influência na vida da família, Os autores destacam que o processo de
pois ficam cuidando da menina até os separação pode ser um evento estressor
pais chegarem do trabalho. Antes da para as crianças, pois muitos pais estão
preocupados com o ajustamento aos sintomas físicos da ansiedade,
familiar e outras situações mais Mariana relatava no início da terapia, 136
específicas. O processo de separação sentir fortes dores na barriga,
pode ser definido de forma positiva especialmente quando antecedia as
desde que os pais sejam cooperativos, provas. Foi descartado problema físico
que consigam manter a comunicação através de exames clínicos. Durante a
adequada e interesse no bem estar dos terapia, Mariana passou a entender
filhos. como controlar sua ansiedade na hora
das provas. Mariana não teve mais
Mariana ingressou na escola com 6 crises de dores abdominais e também
(seis) meses, não teve dificuldades na não teve crises de desmaios.
fala, tendo um bom desenvolvimento
social, controlou os esfíncteres com 2 Durante o processo terapêutico,
(dois) anos, com ajuda dos funcionários Mariana sempre destacava incômodo ao
da escola. De acordo com Dessen falar sobre a separação de seus pais,
(2007), a escola exerce um papel segundo a mesma, ela não havia
significativo no desenvolvimento entendido o motivo da separação.
infantil: Mariana relata um dia ter presenciado
uma briga de seus pais e no outro dia
É importante ressaltar que a família
não ver mais o seu pai em sua casa, nem
e a escola são ambientes de
desenvolvimento e aprendizagem ele nem os seus pertences. Muitas
humana que podem funcionar como vezes, é inevitável o divórcio quando as
propulsores ou inibidores dele. discussões entre os casais saem do
Estudar as relações em cada controle. A esse aspecto Lessa (1998)
contexto e entre eles constitui fonte destaca que:
importante de informação, na
Quando pensamos em situações de
medida em que permite identificar
aspectos ou condições que geram conflito na família, logo nos vem na
mente discussões e brigas entre
conflitos e ruídos nas comunicações
e, conseqüentemente, nos padrões casais, que inevitavelmente
acontecem e que dependendo da
de colaboração entre eles.
natureza dos motivos e uma série de
(DESSEN, 2007, p.27).
outras razões, esses
A parceria entre a família e a escola desentendimentos podem conduzir
segundo a autora, é importante no o casal ao caminho da separação e
desenvolvimento da aprendizagem. posteriormente, do divórcio
Mariana apresenta boa saúde, mais já se (LESSA, 1998, p.10).
submeteu a cirurgia de refluxo e Para as crianças, o fato de os pais se
adenoide, atualmente, faz tratamento de separarem pode agravar mais quando
glicemia, pois quando fica nervosa ou não há um diálogo adequado sobre as
tensa, desmaia. razões pelas quais o casal está optando
por não conviver mais juntos. Pra
3. Resultados e discussões
muitas crianças, pode gerar um
A ansiedade de separação segundo o sentimento de abandono e de vazio.
DSMV pode reproduzir: “Repetidas Muitos pais alegam não ter essa
queixas de sintomas somáticos (p. ex., conversa com seus filhos, por
cefaleias, dores abdominais, náusea ou entenderem que os mesmos não tem
vômitos) quando a separação de figuras capacidade de entender a vida adulta.
importantes de apego ocorre ou é Apesar de Mariana não ter entendido
prevista” (DSM-V p.191). Com relação bem a separação, sua mãe relata que o
processo foi tranquilo e que ele tinha apresenta seu boletim com a nota 8,0
total acesso a filha. É importante como sendo uma nota péssima. A mãe 137
também destacar o fato de Mariana de Mariana relata que é muito exigente
preferir dormir com sua tia ao invés de com a filha, não admitindo que ela tire
dormir com sua mãe, já que o seu notas baixas, pois ela faz de tudo para
quarto estava preparado do jeito que ela que a mesma tenha um futuro melhor do
havia pedido. A mãe de Mariana, a que o dela. Mariana parece entender que
princípio não demostra incômodo nessa precisa ser melhor sempre para não
questão, e até mesmo quando a mesma frustrar a mãe e o pai, já que seu irmão,
faz algo errado a coloca de castigo “não precisa provar nada, ele já é o
dormindo em seu quarto. Ao longo das favorito”. (palavras de Mariana).
sessões, as psicólogas foram abordando Constatou-se também que Mariana
esse sentimento de Mariana, e sempre se mostrou receptiva e
constatou-se que a menina tinha interessada pela terapia, demostrando
bastante ciúmes de seu irmão mais novo muito carinho pelas psicólogas. Nessa
e dormir com sua tia, talvez fosse uma fase, vale destacar a importância do
forma de “punição” a sua mãe. vínculo terapêutico. Segundo
Baptistussi (2000), podemos entender
Segundo Mariana, dormir na tia era que:
bom porque podia dormir de luz acesa e
vendo televisão. Mariana reforça A relação terapeuta-cliente é
sempre o favoritismo do irmão pela influenciada por uma série de
família e que sempre ganha o que quer, fatores e se desenvolve como um
mesmo sem ter idade para isso. Sobre processo de modelagem do
desempenho do cliente e do próprio
relacionamento entre irmãos, Goldsmid
terapeuta, pois ele levanta hipóteses
e Féres-Carneiro (2007) destacam que: e desenvolve análises a partir de
[...] Não escolhemos nossos irmãos, suas observações do
eles nos são impostos por nossos comportamento do cliente e de seu
pais, mas com eles compartilhamos referencial teórico. Conforme as
a nossa história de vida, nossas hipóteses vão sendo testadas, as
experiências, vivências e análises vão se modificando, novos
lembranças por mais tempo do que comportamentos vão sendo testados
provavelmente com qualquer outra e modelados pelas suas
pessoa. Ser e ter um (a) irmão(ã) consequências (BAPTISTUSSI,
vai-se constituir numa das três 2000, p. 158).
contingências vitalícias, pois assim O relacionamento de Mariana com as
como não há ex-pais nem ex-filhos, psicólogas tem função importante na
não existem ex-irmãos
(GOLDSMID; FÉRES-
modelagem nos novos comportamentos,
CARNEIRO, 2007, p. 293). pois a mesma se sente tranquila e a
vontade para relatar seus sentimentos. A
Mariana, sempre que possível, destaca partir desse espaço criativo do vínculo
nos desenhos, seu sentimento de ser terapêutico estabelecido, foi oportuno
inferior ao seu irmão, colocando-o no trabalhar com Mariana o
centro de suas atividades e de seus comportamento de tomar mamadeira,
desenhos. Mariana sempre procura algo que ela tinha muita vergonha e
ressaltar que é muito boa em nunca havia falado para ninguém.
matemática e em Inglês, mas que em Mariana relatou que quem lhe dava a
ciências ela é uma negação. Quando mamadeira era a sua mãe, e podemos
questionada pela nota de ciência ela nos perceber então, que talvez esse fosse o
momento em que ela aguardava para ser atenção dividida da mãe com o irmão,
tratada da mesma forma que o irmão. A podem gerar novos estímulos por meio 138
princípio Mariana ficou envergonhada, de novos pareamentos ou pela
mas assumiu que mamava. Foi generalização de estímulos ou na
proposto para Mariana um jogo formação de classes equivalentes de
desafiador, com algumas etapas a serem estímulos.
vencidas, ao longo de uma semana.
Duas operações estabelecedoras foram
Também combinamos com a mãe que
analisadas nesse caso, Pouca atenção da
ela teria um dia na semana para tomar
mãe e pouco tempo com a mesma.
café da manhã com a filha sozinha,
Sabemos que uma operação
substituindo a mamadeira por um copo
estabelecedora pode evocar e aumentar
da escolha de Mariana. A mãe relata
comportamentos que tenham sido
que já fez todas as tentativas e que nada
previamente reforçados pelo estímulo.
dava certo. Fizemos um acordo e
Na formatação “Ele não precisa provar
Mariana nos surpreendeu largando a
nada, ele já é o favorito”, foi reforçado e
mamadeira em uma semana e mantendo
mantido o lugar do irmão e o seu lugar
o comportamento por toda a terapia.
Reforçamos o comportamento de na família. Vale lembrar que inclusive
as respostas que o indivíduo emitia
Mariana com jogos extras na sessão. Foi
podem ser sujeitas aos mesmos
realizada uma análise funcional de
processos, adquirindo a função de
Mariana com alguns resultados
estímulos eliciadores e discriminativos
importantes:
condicionados.
A mãe de Mariana relata que percebe a Considerações finais
filha mais calma e que ela mesma jogou
sua mamadeira no lixo mantendo o O presente artigo pretendeu refletir
comportamento de tomar leite no copo. sobre aspectos relacionados a ansiedade
Mariana manteve seu comportamento de separação associados a separação dos
aprendido em terapia durante os meses pais. O atendimento a Mariana, trouxe
seguintes ao término das observações. O provocações importantes sobre a
caso em questão revelou sinais questão da ansiedade e a ansiedade de
consideravelmente importantes para os separação. Foi possível entender
comportamentos que foram trabalhados questões importantes relacionando as
ao longo das sessões. Foi possível mesmas com a análise do
realizar o levantamento dos seguintes comportamento. Por se tratar de
comportamentos: Busca da atenção da atendimento infantil, foi importante a
mãe. (Tomar mamadeira, disputar criação de vínculo com as terapeutas e o
coisas com o irmão.) Ir bem à escola. uso de materiais variados para que a ida
ao atendimento fosse reforçadora para
Em relação aos antecedentes dos Mariana. A relação de confiança
comportamentos apresentados por estabelecida nas sessões facilitou o
Mariana, percebemos que a separação manejo dos comportamentos a serem
dos pais, o nascimento do irmão, a modificados. Ao final do atendimento,
exigência da mãe e ser cuidada pela tia, Mariana volta a dormir com sua mãe e
evocou em Mariana sentimento de de forma gradativa foi inserida no
rejeição. Na função eliciadora, o contexto da sua casa. A família de
sentimento de rejeição e no estímulo Mariana foi sendo incluída durante a
discriminativo, onde o irmão ganha terapia. A importância da participação
presentes melhores, a presença da mãe e da família foi sem dúvida importante
para os resultados alcançados. No Horizonte), Belo Horizonte, v. 13, n. 2, p. 293-
decorrer das sessões, os pais foram 308, dez. 2007 139
sendo convidados a refletir sobre as LANA, Adolfo Paulo Bicalho. Centro de
expectativas deles em relação a notas Saúde Amigo da Criança. 6.ed. Belo
Horizonte: Coopmed, 2001.
altas de Mariana. O pai passou a ser
mais participativo na vida de Mariana, LESSA, Samanta. A ausência paterna e
ligando com mais frequência e indo materna: um estudo sobre as repercussões
em crianças que freqüentam creches e pré-
visita-la nos fins de semana. escolas. Monografia (Graduação em pedagogia
Mariana demostrou mais tranquilidade e – habilitação em Magistério do pré-escolar)-
Faculdade de Educação, Universidade Estadual
também aprendeu algumas técnicas de
de Campinas. Campinas, 1998.
manejo respiratório que poderiam
ajuda-la na hora da ansiedade alta. OLIVEIRA, Débora Silva de; LOPES, Rita de
Cássia Sobreira. Implicações emocionais da
Marina segue em atendimento chegada de um irmão para o primogênito: uma
terapêutico com uma das terapeutas. revisão da literatura. Psicol. estud., Maringá, v.
15, n. 1, p. 97-106, mar. 2010.
RAPOSO, Hélder Silva et al. Ajustamento da
Referências criança à separação ou divórcio dos pais. Rev.
psiquiatr. clín., São Paulo, v. 38, n. 1, p. 29-33,
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION.
2011.
DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, REGO, José Dias. O Papel do Pai na
2013. Amamentação. In: ISSLER, Hugo. O
Aleitamento Materno no Contexto Atual:
BAPSTISTUSSI, Maria Cantarelli. Bases
políticas, práticas e bases científicas. São Paulo:
teóricas para o bom atendimento em clínica
Sarvier, 2008.
comportamental. In: WIELENSKA, Regina
Christina, et al. Sobre comportamento e SAMSON, D. M. & McDonnell, A. A.
cognição: questionando e ampliando a teoria e Functional analysis and challenging
as intervenções clínicas e em outros contextos. behaviours. Behavioural Psychotherapy.
Santo André: ARBytes, 2000, vol. 6, cap. 19, p. (1990). 18, 259-271.
156-162.
SKINNER, B. F. Science and human
COELHO, Nilzabeth Leite and TOURINHO, behavior. New York/London: Free
Emmanuel Zagury. O conceito de ansiedade na Press/Collier MacMillan, (1965).
análise do comportamento. Psicol. Reflex. Crit.
SKINNER, B. F. The behavior of organisms
[online]. 2008, vol.21, n.2, pp.171-178.
at fifty. In B. F. Skinner, Recent issues in the
DESSEN, Maria Auxiliadora; POLONIA, Ana analysis of behavior (pp. 121-35). Columbus,
da Costa. A família e a escola como contextos OH: Merrill, (1989).
de desenvolvimento humano. Paidéia (Ribeirão
SKINNER, B. F. Ciência e comportamento
Preto), Ribeirão Preto, v. 17, n. 36, p. 21-32,
humano (J. C. Todorov, & R. Azzi, Trans.).
apr. 2007 .
São Paulo: Martins Fontes, (2003).
GEIB, Lorena Teresinha Consalter.
ZAMIGNANI, Denis Roberto; BANACO,
Moduladores dos hábitos de sono na infância.
Roberto Alves. Um panorama analítico-
Rev. bras. enferm., Brasília, v. 60, n. 5, p. 564-
comportamental sobre os transtornos de
568, out. 2007 .
ansiedade. Rev. bras. ter. comport. cogn., São
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa Paulo, v. 7, n. 1, p. 77-92, jun. 2005.
social. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 1999.
GOLDSMID, Rebeca; FERES-CARNEIRO,
Recebido em 2017-05-04
Terezinha. A função fraterna e as vicissitudes de
Publicado em 2018-01-01
ter e ser um irmão. Psicol. rev. (Belo

Potrebbero piacerti anche