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A DRAMATURGIA E O CINEMA
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Doutora em Artes Cênicas pela USP. Pesquisadora Associada do PPG Estudos de Cultura Contemporânea da UFMT. Atua na
linha Poéticas Contemporâneas. Lider do Grupo de Pesquisa Artes Híbridas e do Coletivo à deriva.
2 Ismail Xavier em Discurso Cinematográfico aborda a decupagem clássica.
3 Ver BURCH, Noel El tragaluz del Infinito Madrid, Espanha, Ediciones Catedra, 1995
4 XAVIER, Ismail O discurso cinematográfico op. cit p. 31
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O Tarô e a dramaturgia: estratégias para a criação de roteiros cinematográficos. Tese de doutorado defendida em Artes Cênicas USP
2003 Maria Thereza de O Azevedo Orientadora: Renata Pallottini Linha: Literatura dramática
O drama e o cinema
5 HEGEL, G.W.F. O sistema das Artes, Curso de estética. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 556
6 SZONDI, Peter Teoria do drama moderno, São Paulo, Cosac &Naif , 2001 p. 26
7 HEGEL , op. cit. p. 556
8 HEBBEL apud BENTLEY, Eric. O dramaturgo como pensador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1991
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O Tarô e a dramaturgia: estratégias para a criação de roteiros cinematográficos. Tese de doutorado defendida em Artes Cênicas USP
2003 Maria Thereza de O Azevedo Orientadora: Renata Pallottini Linha: Literatura dramática
E Hegel sustenta: “(...) para que este conteúdo essencial dos sentimentos e das
atividades humanas adquira um caráter dramático, é necessário que as ações realizadas
por um indivíduo enfrentem obstáculos provenientes de outros indivíduos que
perseguem fins opostos(...)”16.
O relato dramático é constituído pela maneira com que os personagens
conseguem vencer o obstáculo para levar adiante seu objetivo. Agora, se as forças que
resistem são obstáculos intransponíveis, então o drama é uma tragédia, pois a tragédia
trata das contradições insuperáveis, das situações-limite.
Observando alguns filmes brasileiros contemporâneos percebe-se uma tendência
aos dramas com obstáculos intransponíveis. Filmes como Céu de Estrelas, Lavoura
Arcaica, Abril despedaçado, Cidade de Deus, Ação entre amigos, trabalham com o
drama no tênue limite do trágico.
Em Céu de Estrelas, por exemplo, Vitor, um metalúrgico desempregado,
inconformado com o rompimento de uma relação de dez anos, invade a casa da ex-
noiva, Dalva, a fim de impedi-la de viajar para Miami. Quer seqüestrá-la. A chegada da
mãe, incomodada com o ex-genro que não suporta, aumenta a tensão. No desenrolar dos
fatos, ele entra em desespero e acaba matando a mãe de Dalva. Os vizinhos escutam os
tiros e chamam a polícia que cerca a casa. A televisão, através de uma repórter
sensacionalista e uma câmera voyeurista, faz a cobertura da ação dos policiais tentando
tomar a casa. Encurralado pela polícia e pela televisão que espetaculariza o fato, Vitor
cai numa armadilha, num beco sem saída. As circunstâncias de uma ação dramática,
para Hegel, são tais que "ao fim individual se antepõem obstáculos, postos por outros
indivíduos que perseguem fins diferentes e não menos justificados, pelo que surgem
conflitos e complicações de toda a espécie". 17
Se o trágico é viver uma situação limite, estes filmes, com fortes traços de
tragédia, podem estar refletindo uma situação do país, a falta de perspectiva para as
coisas mais básicas da vida, como por exemplo, emprego. Talvez o trágico
contemporâneo não seja mais a luta contra o destino no sentido de fado, pensada pelos
gregos, mas a luta contra a falta do essencial para a sobrevivência.
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18 DRYDEN apud PALLOTINI, Renata. Introdução à dramaturgia. São Paulo: Àtica, 1988 p. 28
19 HEGEL op. cit. p. 557
20 BRUNETIERE apud Pallottini op.cit.
21 PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999 p. 1009
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De um lado, a força do pai com sua moral, de outro, a força de André com sua
vontade de liberdade. André, com sua postura rebelde e seu discurso libertário,
contradiz todo o discurso conservador do pai. A vontade de liberdade do filho contraria
a vontade de manter a ordem do pai. É uma palavra contra a outra palavra. O desenlace
é trágico. E todo o trágico, para Goethe, se baseia numa contradição inconciliável. 25
Se em Lavoura Arcaica e Abril despedaçado o que rege a resistência das forças
contrárias, são os valores da tradição de uma moral arcaica, em Cidade de Deus é
exatamente a ausência de valores desta natureza que permite uma trama de batalha entre
moradores de um mesmo espaço geográfico.
Em Abril despedaçado ferve entre famílias uma guerra pelo domínio de terras,
para cada morte de um lado uma de outro: "É preciso honrar o sangue". Em Cidade de
Deus, uma guerra entre grupos, casos de vingança de sangue entre traficantes que lutam
pelo domínio do tráfico de drogas. Para cada morte de um lado, uma de outro. Em meio
a isso tudo, está a vontade do personagem Buscapé de sair desta tradição de violência e
buscar outro caminho.
Outra questão que estrutura o drama é a relação de causa e efeito. No drama, o
tempo é demarcado pela causalidade, os fatos são frutos de uma ação anterior, que
promoverá um fato posterior, criando assim uma linha evolutiva. Na definição de drama
proposta por Aristóteles, segundo Rosenfeld, o encadeamento causal é rigoroso, "cada
cena sendo a causa da próxima e esta sendo efeito da anterior" 26. Além disso, as ações
no drama sempre ocorrem no presente.
Sendo o drama sempre primário, sua época é sempre o presente. O que não
indica que é estático, senão somente que há um tipo particular de decurso
temporal no drama: o presente passa e se torna passado, mas enquanto tal já não
está mais presente em cena . Ele passa produzindo uma mudança, nascendo um
novo presente de sua antítese. O decurso temporal do drama é uma seqüência de
presentes absolutos 27.
25 GOETHE apud LESKY, Albin A tragédia Grega São Paulo: Perspectiva 1996 p. 31
26 ROSENFELD, Anatol, Teatro Épico op. cit p. 30
27 SZONDI, Peter op. cit p. 32
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Embora a ordem temporal e causal tenha distinção, para Benedito Nunes, elas
dificilmente se dissociam. Ele observa que a ordem objetiva do tempo se apoia no
princípio da causalidade, isto é, "na conexão entre causa e efeito, como forma de
sucessão regular dos eventos naturais" 28. Assim o drama existe dentro da lógica da
causalidade.
Assim, dizer que um evento antecede outro é afirmar que, sem o primeiro
(causa), o segundo (efeito) não existiria a ordem temporal acompanhando a
conexão que os une e que não pode ser invertida (o efeito não pode vir antes da
causa) a menos que a natureza desandasse." 29
(...) um texto de porte lírico como Lavoura Arcaica de Raduan Nassar tão
musical no andamento pulsante do seu discurso, que une em sua história o mito
do filho pródigo aos arquétipos primordiais do incesto e da sanção paterna,
redunde numa suspensão do movimento temporal progressivo em proveito de
uma temporalidade cíclica – mais compatível com a sombria fatalidade do
destino que a invocação exaltada do personagem narrador à força trágica, versátil
e lúdica do tempo justiceiro e reparador, prenuncia." 30
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Em Ação entre amigos o ponto de partida é o fato de Miguel ver uma foto do seu
torturador num jornal. Isso aciona sua ira e dor, como se a foto abrisse as comportas das
emoções adormecidas pelo tempo. A este respeito, Hegel observa que no drama
ocorrem: "Intenções e fins, com os quais o indivíduo se confunde como parte integrante
de si mesmo e que, por conseguinte, também devem aderir antecipadamente a todas as
conseqüências exteriores da sua realização. "33
Em Lavoura Arcaica o ponto de partida é a paixão de André pela irmã, isso
provoca a sua fuga de casa. Longe do clã, ele passa a refletir sobre o sistema familiar no
qual ele está inserido e a questionar os valores do pai. O seu afastamento de casa
provoca angústia nas pessoas, a sua ausência traz uma sensação de perda irreparável
que faz a mãe incumbir ao filho mais velho, Pedro, de trazê-lo de volta para casa. O seu
retorno não traz apaziguamento, mas provoca um desfecho irreconciliável.
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Na observação de Hegel: "A ação oferece assim complicações e lutas que, por
sua vez, contra a vontade e previsão do indivíduo, conduzem a um desenlace no qual se
manifesta a natureza intima dos fins dos caracteres e dos conflitos humanos em geral." 34
No desenlace dramático está a resolução do conflito, mas, numa abordagem
dialética, o verdadeiro desenlace, conforme Hegel "consiste na supressão das oposições,
como oposições, na conciliação das forças que dirigiam as ações e procuravam negar-se
mutuamente mediante o conflito". 35
No drama clássico não há cabos soltos, tudo está conectado e a questão abordada
resolve-se de alguma maneira. Já o drama épico se nega a dar à ação, a aparência de um
esquema definitivo e resolvido.
O filme Cidade de Deus é um épico em sua forma, embora seu conteúdo seja de
cunho dramático, um drama épico. No cinema, a figura do narrador é evidenciada pelos
realizadores quando organizam o filme através da montagem. Neste filme, além disso,
há um personagem narrador, o Buscapé, que vai conduzindo a história e às vezes a
interrompe no meio de uma cena para dizer: "Este é o fulano, mas agora não é hora de
falar dele", criando com isso uma autonomia entre as partes. O épico trata do que já
aconteceu, pode ser contado na ordem que o narrador escolher, ou seja, não é necessário
um avanço ininterrupto. Na definição de Rosenfeld: "Como especificamente épico,
destacam-se sempre a variedade e amplitude do mundo narrado; a relativa autonomia
das partes, e a grande mobilidade dos eventos em espaço e tempo." 36
O filme inicia com uma cena que, do ponto de vista dramático, seria a
preparação da solução final: uma perseguição dos traficantes a uma galinha fujona que
será morta para o almoço leva o grupo ao encontro da polícia, que está ali justamente
para capturá-los. Buscapé, morador do lugar, ao subir o morro, é solicitado a pegar a
galinha, mas neste "pega pega " ele acaba se posicionando exatamente entre os
traficantes armados e a polícia, ou seja, no centro da guerra. Neste momento, a cena é
suspensa pelo personagem narrador, para contar o motivo daquele acontecimento e
quem são os personagens desta história que ele vai narrar. Ele vai então aos anos de
1960 para falar do início da povoação de Cidade de Deus e só retorna a esta cena no
final do filme para concluir a história. Goethe destaca que a obra épica retrocede e
avança, sendo épicos todos os motivos retardantes37.
34 idm,idem,idem
35 HEGEL op cit p. 609
36 ROSENFELD, Anatol , Teatro Moderno São Paulo: Editora Perspectiva, 1997 p. 134
37 GOTHE apud ROSENFELD em Teatro Épico p. 32
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A autonomia das partes constitui caráter essencial do poema épico, isto é, não se
exige dele o encadeamento rigoroso do drama puro, o poema épico descreve-nos
apenas a existência e o atuar tranqüilo das coisas segundo as suas naturezas, seu
fim repousa desde logo em cada ponto do seu movimento; por isso não corremos
impacientes para um alvo, mas demoramo-nos em cada passo.38
Para Shiller, o dramaturgo vive sob a categoria da causalidade, o autor épico sob
o da substancialidade; no drama, cada momento deve ser causa da seguinte, na obra
épica cada momento tem seus direitos próprios 39. "A ação dramática move-se diante de
mim, mas sou eu que me movimento em torno da ação épica que parece estar em
repouso. O drama move-se em plena atualidade, na épica tudo já aconteceu e o narrador
escolhe os momentos para narrar."40
Tanto o drama moderno como o cinema moderno enveredaram pela forma épica.
Cineastas de alguns movimentos estéticos do cinema como a nouvelle vague francesa, o
cinema novo brasileiro, inspiraram-se em Brecht, o dramaturgo que trabalhou o épico
enquanto didática, criando o efeito-V, método para uma ação pedagógica, efeito de
alienação, desfamiliarização ou estranhamento partindo do princípio, que o
conhecimento ocorre quando você estranha. E isso só é possível com uma estrutura
épica.
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processo de individuação41.
Já Wladimir Propp, ao observar nos anos 1920 cem contos russos, populares, de
magia, detectou 31 funções com estágios pelos quais o herói necessita trilhar para
chegar à vitória. É possível observar,por exemplo, no filme O feitiço de Áquila todas as
31 funções42 apontadas por Propp. Nos contos que ele analisou há sempre o
deslocamento, que é a retirada do mundo comum para o mundo especial, a travessia e
o retorno, muito semelhantes à jornada mítica formulada por Joseph Campbell
categorizada em três grandes estágios. O primeiro é a separação ou partida, quando o
herói deixa o mundo comum para aventurar-se pelo desconhecido; o segundo é o das
provas, da iniciação que são as provações, os testes pelos quais o herói necessita passar
para alcançar o que procura; o terceiro é o retorno ou reintegração à sociedade, a volta
do herói para o mundo comum, mas com outra qualidade, transformado, o que ele
denomina Senhor de dois Mundos.
O cinema norte-americano explorou de maneira ostensiva e esquemática esta
estrutura na maioria dos seus filmes. Do ponto de vista ideológico, a idéia do herói
americano que luta e vence o inimigo que é sempre o país com o qual ele está em pé de
guerra no momento. Cristopher Vogler chegou a listar 142 filmes americanos com
estrutura de Jornada de herói, e até montou um esquema mais sintético baseado na
jornada mítica de Campbell para facilitar aos roteiristas. 43
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recusa ao chamado.
A PARTIDA -
Mundo comum
O mundo comum é o universo cotidiano da personagem, contraponto do mundo
especial por onde ela trilhará o seu desenvolvimento.
Em Central do Brasil, Dora (Fernanda Montenegro), escreve cartas para
analfabetos no meio da estação de trem Central do Brasil, no Rio de Janeiro. A estação
ferroviária é um lugar de passagem, de seres que, ali, são apenas transeuntes "mal se
olham, se falam ou se escutam." 44 Há um grande fluxo de gente, um vai e vem de uma
multidão anônima, o universo da indiferença, muitos rostos desconhecidos, nenhum
encontro.
Galende observa que nestes lugares "se começa com uma diluição dos sistemas
de reconhecimento do outro e se acaba com uma perda de reconhecimento de nosso
próprio eu. "45 Dora está inserida neste ambiente hostil, escreve as cartas para as pessoas
que solicitam, cobra pelo trabalho, mas não as envia, afinal ela não se incomoda nem
um pouco com essa gente, multidão que nem sabe escrever ou dizer o que sente. O que
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interessa a ela é faturar uns trocados com o "bico", até porque ela não acredita que uma
carta vá mudar muita coisa.
Chamado à aventura.
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A recusa ao chamado
Este estágio pode ser entendido também como relutância ao chamado, quando o
herói ainda não se convenceu de que é hora de mudar, partir, dar outro rumo à vida.
Dora reluta em entender que cabe a ela encaminhar a vida daquele menino. Ela não
atende ao chamado e ainda assim comete um erro, vendendo o menino para "adoção".
Segundo Campbell, o erro pode equivaler ao ato inicial de um destino. "A psique
reserva muitos segredos, que só serão revelados quando necessário. E assim, às vezes, o
castigo que se segue a uma recusa obstinada ao chamado mostra ser a ocasião da
providencial revelação de algum princípio insuspeitado de liberação" 49.
O auxílio
49 Idem, Idem p. 70
50 Idem Idem p. 61
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Dora precisa agir rápido, senão Josué será levado para o exterior e ela não
conseguirá mais vê-lo. Yolanda e seu sócio, compradores de criança, são os guardiões
do lugar onde está Josué. Dora enfrenta a passagem pelo primeiro limiar, corre riscos,
ultrapassa limites. Em meio à relutância de Josué e às ameaças do "sócio" de Yolanda
de matá-la, ela consegue retirar Josué de dentro do apartamento.
Campbell adverte que a "(...) aventura é, sempre e em todos os lugares, uma
passagem pelo véu que separa o conhecido do desconhecido; as forças que vigiam no
limiar são perigosas e lidar com elas envolve riscos; e, no entanto, todos os que tenham
a competência e coragem, verão o perigo desaparecer."51
O ventre da baleia.
51 Idem, Idem p. 85
52 Idem Idem p. 91
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A tentação
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Apoteose
Um ritual de entrega ocorre quando Dora tira do bolso o lenço da mãe de Josué
e passa a ele para que coloque num cruzeiro no meio de várias fitas, velas e objetos que
os romeiros depositam ali. A cantoria dos romeiros entra em sintonia com a cerimônia
dos dois. Uma tarefa está sendo cumprida, o lenço que a mãe de Josué esquecera com
Dora, na mesinha da estação, tomou um destino. É como se Dora estivesse
proporcionando a Josué o enterro que ela não tivera. O lenço é um corpo entre os muitos
objetos naquela cruz do sertão. Se Dora é capaz de acreditar neste gesto, isso significa
que ela já está embuída de compaixão, palavra chave deste estágio.
A benção última
No espaço da sala dos Milagres ocorre a benção final. Dora, em meio às rezas e
velas que iluminam a multidão fervorosa, entra numa espécie de torpor. Tudo gira e ela
cai desmaiada. Campbell a referir-se a benção última fala de uma espécie de explosão,
que na realidade parece ocorrer nesta cena em que Dora desmaia: "mas o milagre dos
milagres residiu no fato de que, embora tudo explodisse, tudo foi, não obstante
renovado pela própria explosão, revificado e tornado glorioso com o fulgor do
verdadeiro ser " 57
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O RETORNO
A fuga
Irene, que esteve como guia, ajuda a resgatá-la de sua aventura. Irene é a pessoa
que ficou do outro lado acompanhando o trajeto e a aguarda. O depósito de dinheiro
para o retorno, feito por Irene, é o auxílio externo que Dora necessita para retornar.
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