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O kimbundu pertence ao grande grupo de família das línguas africanas designada por " bantu".
Bantu significa pessoas e é o plural de muntu. Em kimbundo mutu é o nome que significa
pessoa, sendo o plural atu. Todas a línguas do grupo Bantu, possuem o mesmo parentesco que
notamos por exemplo entre as línguas neo-latinas, tendo sido por isso mesmo enquadradas
neste grupo (grupo Bantu). O povo bantu faz referencia aos indivíduos pertencentes a este
grupo linguistico, mas não constituem um grupo isolado mas a união de vários povos ao qual
pertencem segundo uma classificação feita pela semelhança da linguagem. Portanto não
devemos falar em língua bantu e sim em línguas bantu, ou civilizações bantu porque inúmeras
são as línguas e as civilizações ou povos que estão enquadrados neste grupo, tendo em
comum somente o elo do parentesco da linguagem que sugere pela grande semelhança, um
tronco comum de origem, mas que apresentam no entanto diversidades socias, culturais e
políticas, mudanças essas ocorridas provavelmente ao longo do tempo. Esta semelhança da
linguagem, faz supor evidentemente uma língua e até mesmo um lugar comum de origem
desses povos, que acabou por dar devido a circunstancias históricas os diversos grupos com
seus costumes e línguas diferentes (embora identifiquemos o parentesco linguistico).
Atualmente o Kimbundu é falado por muitas pessoas. Chamamos de kimbundu, ou língua de
Angola, por ser a língua geral do antigo reino de Ngola e ser a primeira a ter a honra de ser
estudada e traduzida pelos Europeus.
O Nome da Língua
"Na literatura portuguesa e estrangeira esta lingua era conhecida até hoje sob o nome de
"lingua bunda", ao passo que entre os brancos de Angola é mais conhecida como "ambundo".
Cientificamente, porém, nem uma nem outra destas denominações é admissível: a primeira
por ser quase um termo obsceno na lingua que pretende designar, a segunda porque significa "
os pretos" e não a sua linguagem, ambas por não serem usadas pelos indigenas que falam a
lingua em questão. " Kimbundu" pelo contrário, é o termo vernaculo, dizendo os pretos de
Angola, os a-mbumdu: o kimbundu, em kimbundu, falar kimbundu, mas nunca falar ambundo
ou bundo ou bunda. Os vocábulos mu-mbundu, um preto, ou uma preta, a-mbundu, pretos ou
pretas e ki-mbundu, linguagem dos pretos constam como base comum mbundu e dos
prefixos mu-, a-, ki-, significando mu- pessoa, a- pessoas e ki linguagem. Concorda com isto
com o que se nota nas linguas da familia bantu, a qual peretence também o nosso kimbundu,
sendo o prefixo ki- o que mais se emprega nelas para designar linguagem. Algumas tribos
pronunciam o txi- (tyi), xi-, si-, isi-, se-, outras preferem-lhe os prefixos u- ou lu-, outras, mais
raras, contentam-se com a base sem acrescentamento de prefixo algum. Assim, sem sairmos
da Provincia de Angola, os Congueses ou Exi-Kongo chamam a sua lingua kixikongo, os
habitantes do Bailundo e do Bihe, os I-mbundu, a sua u-mbundu, ao passo que os Akua-
Mbamba denominam o seu dialeto simplesmente "mbamba". É pois nossa opinião que, se
quisermos falar corretamente, devemos dizer "o kimbundu", "o umbundu", mas não "a língua
kimbundu ou umbundu", porque ki- e u- já significam língua. Não recomendamos tampouco o
uso de "lingua mbundu" a não ser que se lhe junte: De Angola ou de Benguela (Bangela) para
obviar a confusão que, de outra forma, seria inevitavel."
NOTAS:
Exi-Kongo: sing. Muixi-Kongo=mu+ixi+Kongo; em kimbundu diz-se Muxi-Kongo,pl Axi-Kongo-
Seriam " as pessoas da terra de Kongo", os naturais do Kongo, ou seja os Congueses.
I-mbundu=Em kimbundu os Bailundus e Bihenos são chamados I-mbundu, cujo singular é Ki-
umbundu. Que não se confundam os homonimos Kimbundu=lingua dos Ambundu ou pretos
de Angola e Kimbundu=preto do Bailundo e Bihe. Em umbundu O Ci-mbundu(no singular) e O
Vi-mbundu(no plural)
Bailundo= Em Umbundu e Kimbundu= O Mbalundu
Bihe= em umbundu=O Viye, em kimbundu=O Biie
Como se vê, o emprego do prefixo u- para designar a linguagem (umbundu), é devido a
aplicação do prefixo ki- ou ci- a pessoa, aplicação que por seu turno, provém da necessidade
de distinguir o preto do Bailundo do de Angola.
Entretanto também acontece no u-mbangala, dialeto falado pelos I-mbangala, sing= Ki-
mbangala (em kimbundu), ou Çi-mbangala (em umbangala), entre os quais estava a outrora
feira de Cassange (=Kasanji de sanji, galinha)
A gramática de Heli Chatelain citada acima, a cujo texto transcrevi, foi editada originalmente
em 1888-89, sendo que o exemplar que possuo foi republicado em 1964.
Comentários: Assim que lancei a Hp, escrevia kimbundo (terminando na vogal "O"), e após
algum tempo verifiquei que a "rigor" a escrita mais correta seria "kimbundu" (de acordo com a
língua em questão). Cheguei a comentar o fato na época dentro do fórum (que no momento
encontra-se fora de linha), mas percebi também que trocar o endereço poderia nos trazer
alguns transtornos, e expliquei isso aos usuários. Somente hoje deixo o fato registrado na Hp.
Quando tínhamos o fórum, havia um tópico também no qual costumavamos registrar as
correções e modificações que íamos fazendo na Hp, e hoje percebo a necessidade de criarmos
um espaço dentro de Menu para essa finalidade. Qualquer trabalho necessita de revisão e
possíveis correções, e nosso trabalho não é diferente.
Deixo claro que tem sido grande o meu trabalho (sou autodidata), e tento na medida do
possível ir passando todo o conteúdo que possuo e que vou aprendendo para a Hp.
Já existe muito conteudo para revisar e aqueles que quiserem e puderem me ajudar neste
trabalho agradeço.
Nos links de nossa Hp, faço referência a um endereço que muito despertou a minha
atenção. http://www.filologia.org.br/soletras/4/04.htm
Através dele, pude perceber melhor e reforçar muito sobre a pronúncia e regras gramaticais.
Recomendo a leitura do mesmo a todos!
E o que dizer sobre aqueles que vieram como escravos ao Brasil? Muitos se esforçaram por
diversas razões a aprender Português sendo esta a primeira língua que aprenderam a
escrever(aqueles que foram alfebetizados).. E quantos destes não criaram as suas “próprias
regras” ao transcreverem para o papel a língua que fazia parte de seu culto em sua língua
materna? E quantos destes faziam parte de grupos regionais diferentes, com variantes de
pronuncias? Este questionamento que fiz a mim mesma, me fez pensar que muitas vezes
podemos nos precipitar ao julgar errado aquilo que na realidade não constitua erro quanto ao
conteúdo da linguagem escrita usada no candomblé. Mais importante que procurar erros, é
estarmos atentos para pegarmos o “fio da meada”, decodificarmos a escrita, entendermos a
que grupos podem estar ligados, inclusive não esquecendo dos grupos atuais que de posse de
dicionários e gramáticas, acrescentam, e inventam, deixando contudo sempre presentes à
marca da invenção ou acréscimo. Devemos lembrar também, que muitos repassaram através
somente da oralidade o seu culto, seja por falta de domínio da língua escrita, seja por
característica cultural, mas o fato, é que as novas gerações, daqueles que receberam, muitos já
não tinham o domínio da língua materna, não sabiam mais o significado das palavras, e
passam a escrever de acordo como perceberam a escuta, modificando, separando ou unindo
palavras, e introduzindo o português ou até mesmo o yorubá e o espanhol aonde não caberia,
somente por entenderem algum som semelhante à palavra da qual tinha mais domínio.
Lembro também, aqueles que receberam a escrita correta, mas por não dominarem as
convenções feitas quanto à representação da pronuncia, modificaram e repassaram errado o
som da palavra. Isto de certo perpetuou alguns erros, mas tudo faz parte da história e do
conteúdo do candomblé.
Muitos afirmam que o candomblé de Angola não tem linguagem própria, o que considero um
erro de compreensão de todos estes fatores, atropelando assim os detalhes da história. Dizem
muitos ainda que é mais fácil a sua linguagem por conter palavras em português, o que não
considero verdade, mas acredito que podemos ter sim (isto quanto ao culto), palavras que
sofreram africanização ou passaram a fazer parte do kimbundu ou do kikongo. Isto não se faz
presente somente quanto a estas línguas , pois que a maioria das línguas africanas só passou
da oralidade para a escrita após a chegada dos colonizadores, que trouxeram com eles novos
termos, e palavras, muitas das quais não faziam parte do cotidiano destes povos. E devemos
lembrar que é lógico que estes negros só foram trazidos como escravos após o contacto com os
colonizadores, chegando aqui já com um vocabulário que sofreu acréscimo em relação ao de
antes.
A seguir, deixo algumas notas para facilitar a leitura e o entendimento das palavras
africanizadas e muitas até escritas da forma original do português que encontrei no dicionário
Kimbundu. Muitas delas fazem parte do dicionário de Padre Maia.
O som nasal
Em kimbundu, não existem duas consoantes ligadas em uma mesma palavra. Quando isto
ocorre na escrita, representa, na realidade, o som nasal. O nasal é representado pelas letras
m e n, tendo como única e real função nasalar a consoante que precedem – como o "~" , no
português.
A letra g no kimbundu tem sempre o som nasal e, por isto, na escrita, este som é representado
pelo ng – o g, portanto, sempre será precedido pelo n no kimbundu.
O d também é sempre anasalado (nd), sendo única exceção quando é seguido pela vogal i.
Exemplo: doce, que passa a ser ndosse como escrita no dicionário kimbundu.
A letra t, precedida de n, não é encontrado no kimbundu, embora esteja presente no kikongo.
Assim, muitas palavras do português que tinham nt passam a ser escritas nd.
O b e o v, no kimbundu também pode sofrer nasalização, e por convenção da escrita
representa este som o mb e o mv ou nv, tendo este m ou n somente a função de nasalar,
como já dito na primeira regra.
Exemplo: vontade, que passa a ser nvondari ou nvondadi no kimbundu, batata que passa a
mbatata
A letra j também pode sofrer nasalização – assim, a palavra janela, por exemplo, torna-se
njanela, ou njanena (aqui o na substitui la, muito comum no kimbundu, com a intenção de
"musicar" a língua).
O g, por convenção dos autores em questão, nunca tem som de j; desta forma, girafa passa a
ser escrita jilafa.
Por convenção a Letra S em kimbundu nunca tem som de Z, e quando tal ocorre, para a escrita
por convenção adotada pelos autores, substituem este S por Z. (Ex: Paraíso=Paladizu). Tendo a
letra S em kimbundu sempre o valor de S, substitui, os sons Ce, e CI do português ( que
escreveríamos SE, SI), bem como substitui o Ç .(Ex: Cera=Sela (ou Kisela, precedida do prefixo
de classe Ki). Porém encontrei algumas palavras do português que sofreram africanização, em
que o S é substituido por Z (Ex: Salada=Zalata, sabão=Nzabá, neste último caso, o som Z com
som nasal.
O S muitas vezes também é substituído pela letra J, nestes casos ele tem o som de Z no
português, e vem seguido da vogal E ou I, que ao sofrer africanização em kimbundu passa a JI ,
mesmo quando finaliza a palavra, neste último caso, o J vem seguido de uma vogal, pois não
existe em kimbundu palavra terminada em consoante..
Exemplos:
Gás=gaji
Música=mujika
Mas=maji
Satanás=satanaji
Azeitona=njitona
Catecismo=Katisijimu
A letra G do português muitas vezes é substituída pela letra K quando sofrem africanização.
Pude observar isto em algumas palavras, e percebi que nestes casos ele sempre é precedido e
seguido por uma vogal. Vice-versa também ocorre, e como exemplo temos a palavra tanque
(=ditangi em kimbundu), em que o som que, que poderia ser representado pela letra K, é
substituído por ng . Isto ocorre porque em kimbunndu a letra K é refratária ao nasal em
kimbundu, logo nunca é precedida de N, tendo a palavra sofrido esta mudança de acordo com
a língua.
Exemplos:
Manteiga=mateka
Açougue=soki
Jogo=joko
Gago=ngaku
Trigo=tiliku
Logo=lokué, Lôko
Prego=peleku
Tanque=ditangi
O prefixo KA, quando utilizado para o diminutivo em kimbundu, assume o mesmo valor, nas
palavras derivadas do português
EXEMPLO:
Encontrei a tradução para frasco (palabra do português) no dicionário com kangalafa, isto nada
mais é que o diminutivo de garrafa=ngalafa, sendo kangalafa uma pequena garrafa, ou
seja=frasco.
EXEMPLOS:
Encontrei a palavra do português inútil , traduzida para o kimbundu como Kakixilivila, ou seja,
poderíamos entender como sendo aquele(a) ou aquilo que NÃO serve, sabendo que servir,
passou a forma africanizada –xilivila, e kixilivila seria aquilo que serve, palavra da classe III
Casar=Kukazala (-kazala), sendo solteiro definido como kakazala(ou seja aquele que não é
casado)
O prefixo KA quando indicativo de nomes, alcunhas, ou aquele individuo que pratica a ação,
ou oficio ou natureza relativa ao nome , coloca-se a frente do verbo ou do nome, assim
também nas palavras africanizadas, tal como Kaputu, aquele que é natural de Portugal, ou seja
o português, podendo também servir para o diminutivo
A letra T é algumas vezes substituída pela letra K e vice versa ao sofrer africanização. Já vimos
que isto faz parte de um estudo sobre as variantes de pronúncia.
EXEMPLO:
Tipóia=Kipóia
Lata=laka
EXEMPLOS:
Sina=Xina ou Sina
Seringa=Xilinga
A letra K em Kimbundu , serve para expressar exatamente este som, substituindo por
convenção o Q e o C do português (Exemplo : Caixa=Kaxa, cadeia=Kaléia, banco=banku).
O VERBO- O infinitivo em kimbundu dos verbos é sempre precedido do prefixo KU, e assim
ficarão os verbos do português que foram inseridos no kimbundu. Também a terminação
verbal do português ,AR, ER, IR, OR, devido a nenhuma palavra em kimbundu terminar em
consoante, serão substituídos por ALA, ELE, ILE, OLO. A conjugação destes verbos passam a
seguir as regras do kimbundu.
Em quase todos os nomes originados do português que são iniciados pelo som C duro, este
som é substituído por H(mas nem sempre) ao sofrerem africanização para o kimbundu.
Exemplos:
Cama=Hama
Copo=Hopo ou Kopo
Cal=Hala
Queijo=Heju
Exemplo:
Santo=Sandu ou Santu
Santíssimo=Sandu-sandu
A letra R, normalmente quando não seguida de I em kimbundu, acaba sendo substituida pela
letra L, com a interposição de vogais quando necessário (por não ser admissível duas
consoantes ligadas). Porém o "LI" é inadmissível em kimbundu, sendo comum em umbundu, e
nas zonas limítrofes do kimbundu. Muitas vezes então podemos ter também de acordo com a
região, a substituição do RI ou DI de uma palavra do português pelo LI, indicando a origem do
grupo em questão. Outras vezes temos também, devido à região a substituição do LI pelo som
DI, quando ao sofrer africanização.
EXEMPLOS:
Defumar= Kufumala (-fumala = radical verbal) (Neste caso a sílaba DE foi excluída, antepondo-
se-se o prefixo KU que indica o verbo no infinitivo)
Tarimba = talimba
Linha= dinha
Burro = bulu, ou kabulu ( Note o som RR, inexistente em kimbundu, substituído pela letra L)
Tentar= Kutendala (Note o som NT que passa a ND, tendo o N a função de nasalar o D, bem
como a terminação AR substituída por ALA)
Como exemplo, temos a palavra Portugal, que passa a ser escrita putugale, e posteriormente a
PUTU, sendo mukua putu aquele natural de Portugal, português, ou de forma abreviada
também escrito putu, ou kaputu. Com o tempo, por extensão, Putu ou Kaputu passou a
designar também o rei, governante, mandante, senhor...isto de forma generalizada devido a
função exercida como colonizadores por estes indivíduos. As palavras que possuem duas
consoantes ligadas, por não ser comum em kimbundu, sofrem na maioria das vezes a
supressão de uma delas, ou a interposição de uma nova sílaba seguida de vogal como já vimos
em exemplos anteriores.
EXEMPLOS:
Toma! = Má! Ma-má! (este último reduplicado para dar mais ênfase)
Páscoa=Pasu
Pasmado=pamá
Trigo=tiliku
PREFIXOS DE CLASSE-
Os nomes (substantivos) em kimbundu, são divididos em classes, de acordo com seus prefixos.
Muitas palavras do português que passaram para o kimbundu, assumem estes prefixos, e
fazem o plural de acordo com as regras do kimbundu.
Algumas destas como derivados de verbos, tal como por ex o verbo Pintar, que em kimbundu
passa a Kupindala, Os nomes derivados verbais passam a seguir as normas da língua Sendo
assim Pintura palavra derivada deste verbo, passa a Kipindalu (prefixo KI da classe III), Benzer,
outro verbo, que passa a Kubenzela ao sofrer africanização, sendo Kubenzelela = abençoar
para, em favor de, em (verbo relativo derivado do primeiro) e Mubenzeledi, sendo traduzido
como santificador no dicionário, ou seja aquele que abençoa (prefixo Mu da classe I), e
Kibenzelu traduzido como benção, prefixo KI da classe III)
O prefixo "U" no kimbundu, indica ofício, classe, estado ou qualidade abstrata. A seguir deixo
algumas palavras que sofreram africanização, que assumem esta característica ao serem
precedidas do prefixo de classe U.
Muitas palavras que sofreram africanização, assumem como já dito, o prefixo de classe
característico do kimbundu, que precede a mesma, e deixo alguns exemplos a seguir.
Tijolo=ditijolu
Cruz=dikulusu
Coroa dikolôua
Ferida=fidila
Tacho=ritasu
Adjetivos Qualificativos
Os relativos à objetos são precedidos de kia (contração de kima kia), e os relativos à pessoas
são precedidos de ua (contração de mutu ua). Assim, por exemplo, em kimbundu, a palavra rei
tem o significado de soba, e kiasoba é igual a real.
Desta mesma forma temos kalunga como mar, e kiakalunga como marinho.
EXEMPLOS:
Lápis=lápi
Salvante=salavande
Funil=funilu
Anil=anili
Blusa= Buluza
Quanto ao O final dos nomes, em kimbundu, sempre teremos a vogal U final no lugar de O, a
não ser que o nome em questão tenha a vogal O anterior, fazendo então que a terminação
seja em O, procurando assim a maior sonoridade da língua. Por isso kimbundu escreve-se com
U final, e Ngolo, com O final, e não precisamos decorar nada para sabermos quando terminar
com O ou U qualquer nome. Esta é uma regra que podemos observar em quase todas as
palavras do kimbundu, com algumas poucas exceções (os nomes da classe IX com a vogal I
inicial), considerando o linguajar do kimbundu de Luanda.Já deixei clara a razão de permanecer
com o nome escrito KIMBUNDOHP, para denominar a nossa página.
Quando digo “mas nem sempre”, significa que muitas vezes encontrei no dicionário a
palavra escrita tal qual se fala no português, ou com poucas alterações em sua estrutura
Ao final do trabalho poderemos ver inúmeras palavras que comprovam o que digo.
EXEMPLOS:
Adobe=Ndobe
Anzol=nzolo
Engano=Inganu
Anel=nela
Europa=Ulopa
Arroz=loso
Agasalho=Kazalu
Até=Katé
Caloteiro=Kalotelu
Cadeia=Kaléia
Caixa=Kaxa
Cedo=Selu
Ouro=ulu
O til do português, ÃO, ÕE, não existem no kimbundu, e ao sofrerem africanização, muitas
destas palavras (mas nem sempre), sofrem modificações.
EXEMPLOS:
Limão=rimá, dimá
Mamão=mamá
Feijão=fejá, feijá
Sótão=kasote
Grão=grâu
Balcão=balakãu
Balão=balãu
O aumentativo em kimbundu, se faz precedendo a palavra do prefixo ki, ou colocando após a
mesma a palavra –onene, precedida do prefixo de concordância, as vezes também seguido da
palavra dikota(com o significado de maior) e assim da mesma forma se faz com as palavras que
sofreram africanização.
EXEMPLO:
Garrafa=ngalafa
Garrafão=ngalafa ionene
Pato=patu, dipatu
A letra B e a letra V, por vezes são substituídas conforme pronuncia, sendo mais freqüente o V
em kikongo, e assim acontece nas palavras africanizadas, percebemos pois estas substituições.
EXEMPLOS:
Limoeiro=Murimá, mudimá
Manga=manga
Mangueira=mumânga
Laranja=dilalanza, rilalanza
Mulalanza=laranjeira
* Vemos por vezes no dicionário, laranja traduzida com rizelu ou dizelu, mas na realidade esta
trat-ae de uma laranja amarga, e temos também a tradução riboke ou diboke, mas esta trata-
se de uma fruta semelhante a laranja, que tem um veneno atroz, que acabou servindo como
tradução para a laranja que conhecemos devido a semelhança com o fruto,
LISTA DE PALAVRAS
Seguem aqui algumas palavras escritas tal como encontrei no dicionário, que servem para
ilustrar tudo o que foi dito. Embora muitas delas tenham outras traduções, originais da língua
kimbundu, deixo aqui somente as traduções relativas ao tema deste tópico. Como já disse,
muitas sofreram mudanças ao sofrerem o processo de africanização, outras porém
permaneceram intactas ou sofreram poucas modificações. Fica a lembrança, que o plural
destas palavras se dá de acordo com as regras do kimbundu, e que os verbos sofrem o mesmo
processo de conjugação de acordo com a língua. Desenvolver este tópico para mim foi de vital
importância para que pudesse compreender melhor a pronuncia e resolvi deixar visível na HP
aquilo que pude perceber e colher, e agradeceria a todos aqueles que possam trazer suas
contribuições ou questionamentos quanto as traduções dadas.
Açougue=soki
Açúcar=sukidi
Acusar=kukuzala (-kuzala)
Adobe=ndobi
Afora=kafola
Afundar=kufundala (-fundala)
Agasalho=kazalu
Agosto=angostu
Agulha=ngúia
Afinete=funete
Algibeira=njibela
Aliviar=kuleviala (-leviala)
Alho=áiu, kiáiu
Almoçar=kudimusala (-dimusala)
Almoço=lumosu
Almofada=mufata
Amofinação=mufina
Ananás=nanaji
Anel=nela
Anil=anili
Anzol=nzolo
Apito: pitu
Arroz=loso, luoso
Até=katé
Atrasar: kutalazala
Azeitona=njitona
Azulejo=zuleju
Bacia=mbaxinha
Balde=mbáliti
Bando=mbandu
Barato: mbalatu
Batata=mbatata
Bateria=batadia
Batizar=kubatizala(-batizala)
Baú=mbahúlu
Bíblia=bibidia
Bigode=bikote
Bispo=mbispu
Bloco=boloko
Blusa=mbuluza
Bocado=bukatu
Botão=mbotau
Buraco=bulaku
Cada=kala, kâla
Cadeia: kaléia
Caixa=kaxa
Cal=hala (Poe extensão passa a ser tradução também para giz, que em kikongo equivale a
nkala)
Calabouço=kalaboso
Calor=kalolo
Cama=hama, kama
Camboio=kumbóio
Candeia=Kandéia
Cantar=kukantala (-kantala)
Canto=Kandu
Capa=kapa
Capital=kapitale
Capitão=kapita
Cara=kala
Careca=kaleka
Carro: kalu
Casear=kukaziala (-kaziala)
Castanha=kastanha
Castigo=kaxitiku
Cavalo=kavalu
Cebola=sabola
Cedo=selu
Chá=xá
Chaleira=xalela
Chama=sama
Chapéu=xapéu
Chave=sabi
Chicote=xikote
Cigarro=xigalu
Cimento=ximendu
Cinta=xinta
Cirurgião=sulujá
Citar=kuxitala (-xitala)
Classe=kalese
Cobre=Kóbiri, kóbidi
Confissão=konfesá
Conta=konda
Copo=hopo, kopo
Coqueiro=mukoko
Cor=dikóua, colo
Coroa: dikolóua
Couve=dikovi
Cumprir=kumbirila
Dedal=diladi
Defumar=kufumala (-fumala)
Diamante=diamande
Dicionário=dixiunáliu
Discípulo=xíbulu
Domingo=lumingu
Dor=ndolo
Doutor=ndotolu, dotolu
Engano=inganu
Engatar=kungatala (-ngatala)
Ensinar=kuxinala (-xinala)
Então=andá, antâo
Escola=xikola, sikola
Escova=xikova
Estanho=tanhu
Europa=Ulopa
Fada=fenda
Fava=faba
Febre=févele
Feitio=fitiu
Ferida=fidila
Ferramenta=felamenda
Ferro: felu
Fermento=felemendu
Festa=fesa, feta
Figo=fiku
Falamengo=difulumengu
Figo=fiku
Flor=fololo
Foco=foku
Forro (livre)=folo
Foto=foto
Fraco=falaku
Freguês=falakeji
Freio=felu
Freqüente=jiveji (ou seja, é o plural de veji=vez, traduzindo-se portanto por “muitas vezes”)
Fruta=fuluta
Funil=funilu
Furo=fulu
Gago=ngaku
Gaiola=ngaiola
Gaita=ngáita, ngaieta
Gala=ngala
Ganho=nganhu (por extensão passa a ser a definição também para salário, lucro)
Garfo=ngálufu
Gás=gaji
Gasto=ngasu
Gato=ngatu
Gaveta=ngaveta
Girafa=jilafa
Graça: ngalasa
Gramática: galamátika
Graça=ngalasa
Guarda=nguarda
Harpa=álapa
Hora=ola
Horta=orta
Hortelã=olatalá
Hospital=jipitale
Igreja=igeleja
Induzir=ndunjila
Infante=kifanda
Insoso=ususu
Janela=njanela
Jejuar=kujejuala )-jejuala)
Jejum=jejú
Jesús=Jezú
Jogo: joku
Lápis=lápi
Lata=laka, ou lata
Lei=lei
Leite=lete
Letra=lêtela
Licença=disesa
Limão=dimá, rimá
Litro=lítulu
Livro=livulu, divulu
Logo=lôko, lókue
Machado=dixalu
Mamão=mamá
Manga=manga
Manteiga=mateka
Manto=mandu
Maquina=makina
Mármore=mámola
Mas=maji
Medida=midila
Melão=melá
Mesa: meza
Moço: moso
Morango=mulangu
Navio=navíu
Nódoa=noda
Nunca=nuka
Obedecer=kubelesela (-belesela)
Oferecer=kufelesela (-felesela)
Oratório=kalatódio
Órfão=olafa
Ouro=ulu
Ourelo=ulélu
Padre=pátele
Palmo=pálumu
Para=pala
Paraíso=paladizu
Parar=kupalala (-palala)
Parede=palelo, palelu
Pasmado=pamá
Passeio=kipasialu
Pato=patu
Peito=petu
Pena=penda
Perda, prejuizo=péleka
Perú=pilú
Petróleo=putóliu, petololo
Pintura=kipindalu
Pobre=póbili, kapóbidi
Porco=póloko
Portal=portalu
Portugal=Putu
Preço: pelêsu
Prego=peleku
Preso: pelêzu
Primo=pilimu
Promessa=polomesa
Pronto: polontu
Poupar=kupopala (-popala)
Pulga=pulúkua
Purgante=pulukande
Puxo=puxu
Que=ki
Queijo=heju
Queixar=kukexala (-kexala)
Relógio=loloji
Remédio=lumédiu
Reza=kirezalu
Riqueza: uliku
Sabão=Nzabá
Saco=disaku, saku
Sal=sáu
Salada=zalata (por extensão, acabou designando algumas folhas utilizadas para a salada)
Salmo=sálamu
Salvante = salavande
Sandália=disandelu
Santificado = a-mu-benzelesa
Santificador = mubezenledi
Santíssimo = sandu-sandu
Sardinha = sarinha
Satanás=satanaji
Seiar=kuseiala (-seiala)
Selim = xelim
Selo =selu
Se=se
Sem=sê
Serra = sela
Serrar = kuselala
Servente = selevente
Serviço=sedivisu
Sesta=sésa
Sim = xi
Sipaio=xipaio (palavra de origem persa, assim chamavam-se os soldados nos séculos XVIII e
XIX, que estavam a serviço de Portugal, França e Grã Bretanha
Sobra=suba
Sobrado=salabalu
Sobrancelha=subidisê
Soco=disoko, soko
Sofredor=musofeledi
Sorte=sorti
Suador=kisualu
Suar=kusuúala (-suúala)
Sul=sulu
Suor=suolu
Surra=sula
Tambor=tambolu
Tanque: ditangi
Tarde=tariri, tádidi
Tarrafa: ditalafa
Teatro=tiátulu
Telha: ditéia
Tempo: tembu
Tentar=kutendala (-tendala)
Tentação: tendasá
Terço=talêsu
Terremoto=telemotu
Tesoura=tujola
Tigela: ditijela
Tijolo: ditijolu
Tinta=tinda
Toalha=dituáia
Tomate=lumata
Trocar= kutulukala(-tulukala)
Tratar=kutalatala
Tratado=kitalatalu
Trigo=tiliku, tiligu
Trocar=kutulukala (-tulukala)
Troco=Tôloko
Ufieli=fidelidade
Unguento=nguendu
Uva=uva
Ukaza=casamento
Ungüento=nguendu
Vagina=kivaji
Valer=kuvalela
Valioso=kivalelu
Valor=kivalelu, valolu
Varanda=mbalanda
Vela=nvela
Velha=veia, védia
Velho=velu
Veneno=venenu
Vingar=kuvingala (-vingala)
Vapor=vapolu
Varanda, alpendre=mbalanda
Vez=vezi, veji
Vidro=vídulu
Vinho=vinhu
Você=xê
Vontadi=vondadi, mvondari
Zero=Zelu
Acentuação
Em sua gramática Chatelain deixa claro que a sílaba tônica recai sempre na penúltima sílaba,
sendo esta sílaba portanto a que tem maior força na pronúncia. Alguns autores, como é o caso
de Cordeiro da Matta, destacam a sílaba tônica com o uso do acento gráfico, sendo que
Chatelain dispensa o uso do mesmo; uma vez que considera que já está implícito que esta
sílaba é a que tem maior intensidade na pronúncia.
Assim por exemplo Cordeiro da Matta escreve Kinêma e Chatelain escreve Kinema, sem o uso
do acento na vogal E, pois ao separarmos a palavra temos ki-ne-ma, sendo a penúltima sílaba
NE (a sílaba tônica).
Para Chatelain e outros autores, os acentos servem somente para as exceções a regra geral
seguida por ele; que veremos na continuação do tópico.
Para sabermos aonde está a sílaba tônica, o que nos ajudará muito na pronúncia, e vermos as
diferenças entre estes dois autores (colocando ou não o acento na mesma palavra), temos que
saber primeiro separar as sílabas em kimbundu.
Pode parecer banal, mas existem alguns detalhes em kimbundu que devem estar claros, pois
sem eles poderíamos cometer equívocos.
Vemos na escrita porém a letra "M" e a letra "N" precedendo por vezes uma consoante, mas
nestes casos, este M ou N não possuem o valor real de consoante, mas servem como sinais
gráficos (como se fossem um til), e representam o som nasal, isto é, as consoantes que são por
eles precedidas têm o som nasalado. Assim ao separarmos as sílabas, este "N" ou "M",
acompanham a consoante que estão nasalando.
Exemplos:
Kimbundu=ki-mbu-ndu
Nganga=nga-nga
Ngana=nga-na
Nzumbi=nzu-mbi
Cordeiro da Matta escreve as palavras kimbúndu, ngánga , ngána , ngánga, nzúmbi, usando o
acento para destacar a pronúncia na sílaba tônica (penúltima)
Quando AU, AI, EU, OU, finalizam a palavra contam por duas sílabas, porém na pronúncia
rápida soam como ditongos(lemos ou falamos com se pertencessem a uma só sílaba, e
verificamos a separação somente se pronunciarmos vagorasamente a palavra)
Sendo semi vogais, ficam na mesma sílaba da vogal que precedem, e quando fazem parte da
penúltima sílaba da palavra, o acento recai na primeira vogal
Exemplos: entre parênteses, deixo a variante escrita com acento por alguns.
Lembrar que a sílaba tônica é na penúltima sílaba
Mutue=mu-tue (mú-tue)
Kutuama=ku-tua-ma (kutúama)
Kuzuela=ku-zue-la (kuzúela)
Kuzuika=ku-zui-ka (kuzúika)
Kukia=ku-kia (kú-kia)
Kambua=ka-mbua (kámbua)
Kambia=ka-mbia (kámbia)
Imbia=i-mbia (ímbia)
Kanguia=ka-ngui-a (kangúia)
kiazulu=kia-zu-lu (kiazúlu)
Mbuanza=mbua-nza (mbúanza)
Muinu=mui-nu (múinu)
Mutualu=mu-tua-lu (mutúalu)
Muombe=muo-mbe (múombe)
Uenji=ue-nji (úenji)
Uasuina=ua-sui-na (uasúina)
Porém algumas palavras fogem a esta regra, sendo que somente estas são acentuadas por
Chatelain, para indicar a exceção
Exemplo de palavras acentuadas por ele que indicam esta exceção:
Kizúa=ki-zú-a (e não ki-zua)
ngejía=nge-jí-a (e não nge-jia)
Acentos: Servem para indicar as exceções a regra geral e para distinguir um vocábulo de outro
seu parônimo (palavras com a mesma escrita)
2)O grave:Serve para distinguir o futuro II dos pretéritos I e III (que veremos no link específico
sobre conjugação verbal)
Estes, penso eu, são usados como que indicando a graduação do tom da voz(maior, médio,
menor), sendo as consoantes de graduação menor não acentuadas. Quando somente um
acento em toda a palavra se faz presente, indica que existe uma silaba tônica, e que as outras
possuem o mesmo nível de graduação entre elas.Percebemos melhor ao
pronunciarmos(soletrarmos) vagorasamente a palavra.
Usa com frequência o acento circunflexo, até mesmo acima da vogal u(û) e i(î).Usa para
distinguir o parônimos como "njila" (Njîla=caminho; njíla=pássaro), e diferencia quase todos os
parônimos, através deste recurso (acento circunflexo/agudo)
A vogal I, observei que leva acento circunflexo quando presente na sílaba tônica como única
vogal,sempre que for precededida de outra vogal acentuada na palavra. Caso isso não ocorra,
leva acento agudo ou carece.
kubúbîla
Kulúndîla
Kumúikîna
Kunáminîna
Mujítu
Mulúmînu
Mulembiki
Quanto as outras vogais, observei que quando presentes como vogais únicas nas sílabas
tônicas(penúltimas),nas palavras com três sílabas ou mais, levam na grande maioria das
vezes(mas nem sempre) o acento circunflexo, e levarão o agudo geralmente (mas nem sempre
também) quando com menos de três sílabas:
Mulômbe
Kuzûza
Kuzákûla
Kuzôla
Malûnga
Kisâla
Ndémba
Nzála
Ndénde
Pémba
Pôko(ex de variante do geral)
Por vezes vi a mesma palavra escrita neste dicionário ora com acento agudo ora com o
circunflexo, ora sem o acento.
Mbúri---Mbûri
Rikêzu---Rikézu
Kukâla---Kukala
Sânji---Sanji
Toda vogal(com exceção do I) que segue a letra "H" não precedida de N leva em geral acento
agudo nas palavras no singular (ex:Hóngôlo), sendo que por vezes no plural perdem o acento
(como em háxi---jiháxi)
Cordeiro da Matta também escreve háma(cama) e hâma(cem), diferenciando os parônimos
desta forma.
Nos casos em que existem o H seguido de vogal em mais de uma sílaba, somente a vogal
tônica será acentuada ( ex:riháha).
Como o autor do dicionário não especifica quando e aonde usar ou não este ou aquele acento,
procurei através da observação chegar a um pouco de entendimento quanto ao uso que faz, e
de certo, pode ter escapado a minha completa compreensão.
Concordância: O Genitivo
Vamos direcionar nossa atenção as inúmeras variações que ocorrem, devido a concordância
das palavras. O que seria então essa concordância? Por ser tão necessário o pleno
conhecimento da mesma, é que antes de iniciarmos, achei conveniente uma breve introdução
das regras de concordância, uma vez que inúmeras variações ocorrem ao aplicarmos as
mesmas, fazendo com que o menos avisado, tenha dificuldades em encontrar o significado de
uma palavra que esteja inserida em um texto. Isso acontece, principalmente porque na
linguagem existe uma predominancia de prefixos (partículas que se ligam ao inicio da palavra),
que variam enormemente em função dessas regras, ocasionando então, mudanças na parte
inicial das palavras, dificultando com isso, o reconhecimento da mesma para quem não esteja
habituado a essas regras em uma listagem comum, em que costumamos seguir uma ordem
alfabética de acordo com a letra inicial de um nome em questão.
Em kimbundu, existe uma concordancia sonora entre as palavras, como que rimando as
palavras entre si em uma frase, fazendo com que os verbos, os nomes e os adjetivos,
concordem (rimem) entre si. Tal aspecto faz com que a lingua soe de forma quase poética,
estando presente em quase todas as construções das frases. Essa concordância se faz através
de prefixos de concordância, cuja explicação vem a seguir.
O que são e quais são os prefixos de concordância? Entendemos por prefixo, uma particula (ou
palavrinha), que se ligará ao início da palavra, como já dito. Os prefixos de concordância, são
então, partículas que se ligam, ao início de uma palavra, porém concordando (ou rimando)
com outra palavra. Os pronomes pessoais (eu, tu, ele, nós, vós, eles), possuem seus prefixos ,
que se ligarão ao verbo, e também os substantivos (ou nomes), que entram nas regras de
concordancia e são divididos em classes, tendo cada classe o seu prefixo de concordancia.
O Genitivo
O genitivo, isto é, o que indicaria a posse em Português traduzido pelas palavras de, do, da,
dos, das, em kimbundu é representado pela letra A, mas a este A vão se juntar os prefixos de
concordância dos nomes aos quais estejam relacionados. Assim prefiro precedê-la por
tracinhos, da seguinte forma: ---A. Fica claro então que nestes tracinhos vão se juntar os
inúmeros prefixos de concordância dos quais falaremos mais adiante. Segue alguns exemplos
somente para ilustração.
Português Kimbundu
Nos exemplos acima podemos notar que MA, IA, UA, RIA, tem o mesmo significado traduzido
para de, da, do (genitivo), e que as variações da escrita nas frases ocorrem devido aos
diferentes nomes aos quais estão ligados. Assim também em kimbundu, essas mesmas
variações vão ocorrer quando estes mesmos nomes se ligarem a verbos, adjetivos, advérbios
etc. Todas essas variações farão parte de outros temas que abordaremos nos tópicos
específicos a cada uma delas.
Artigo
Não existe em kimbundu o artigo indefinido como no Português (um, uma, uns, umas). Vamos
colocar alguns exemplos de como ficaria a escrita se fossemos traduzir do Português para o
kimbundu.
Português Kimbundu
O artigo definido em kimbundu é = O. Ele é usado tanto no singular quanto no plural como
para o masculino ou feminino. Vamos traduzir algumas frases do Português para o kimbundu
para entendermos melhor.
Português Kimbundu
O filho O mona
Os filhos O ana
A cabeça O mutue
As cabeças O mitue
A cadeira O kialu
As cadeiras O ialu
Obs.: A conjunção ni que traduzida para o Português significa e, com, nunca deverá ser
seguida do artigo definido. Vamos dar alguns exemplos traduzindo do Português para o
kimbundu.
Português Kimbundu
Kimbundu Tradução
CLASSE I
Aqui estão agrupadas todas as palavras que comecem por MU no singular, e que pertençam
aos seres racionais (pessoas), e formam o plural mudando o prefixo MU por A.
Singular Plural
*a primeira vista, mona não pertenceria a esta classe por começar com MO, porém mona é a
contração de muana, tendo o encontro da vogal u+a originado a vogal o.
Concordância:
Substantivos e Genitivo
Classe
I
Mukongo U Mukongo ua muxitu = caçador da mata
Singula
r
Classe
I Akongo A Akongo a mixitu = caçadores das matas*(1)
Plural
Classe
II Muloloke ua kituxi = perdão ou absolvição do
Muloloke U
Singula pecado ou crime
r
Classe
II Misoso I Misoso ia 'xi = contos da terra
Plural
Classe
III
Kikoakoa Ki Kikoakoa kia rikolombolo = crista de galo
Singula
r
Classe
IV
Ribitu Ri Ribitu ria 'nzo = porta da casa
Singula
r
Classe
IV Mabitu Ma Mabitu ma 'nzo = portas da casa*(1)
Plural
Classe
V Umbanda ua tata = magia ou arte de curar do
Umbanda U
Singula pai
r
Classe
Maumbanda ma tata = magias ou artes de curar
V Maumbanda Ma
do pai
Plural
Classe
VI
Lumuenu Lu Lumuenu lua muhatu = espelho da mulher
Singula
r
Classe
VI Malumuenu Ma Malumuenu ma muhatu = espelhos da mulher
Plural
Classe
VII
Tuji Tu Tuji tua sanji = excremento da galinha
Singula
r
Classe
VII Matuji Ma Matuji ma sanji = excrementos de galinha
Plural
Classe
VIII
Kufua Ku Kufua kua ndandu = morte do parente
Singula
r
Classe
Makuria ma mona = comida de criança ou do
VIII Makuria Ma
filho
Plural
Classe
IX
Poko I Poko ia ngangula = faca do ferreiro
Singula
r
Classe
IX Jipoko Ji Jipoko ja ngangula = facas dos ferreiros*(3)
Plural
Classe
X
Kamona Ka Kamona ka muxima = filhinho do coração*(1)
Singula
r
Classe
X Tuana Tu Tuana tua muxima = filhinhos do coração
Plural
Obs. *(1) a junção de duais vogais iguais fazem com que uma delas desapareça
Obs. *(2) no plural das Classes IV, V, VI, VII e VIII, no sertão, o prefixo de concordância não
é MA, mas A.
Obs. *(3) A vogal I do prefixo de concordância JI da Classe IX no plural desaparece ao ligar-se
ao genitivo.
Kota e Rikota (ou dikota de acordo com a pronuncia), que nada mais são que a mesma palavra, Kota sem o seu
prefixo de classe RI(ou di).
Kota=mais velho, superior.
Bengu e Ribengu=rato; em que bengu é a mesma palavra sem o seu prefixo de classe RI(ou di)
Bata e Ribata= casa; em que bata é a mesma palavra que sofreu a supressão de seu prefixo de
classe.
Temos também a definição Kubata, que apesar de tornar-se consagrada, foi ocasionada por
um equívoco dos colonizadores. Ao ouvirem ku bata (para casa, em casa), pensaram tratar-se
de uma só palavra (Kubata). No link Misoso temos esta frase: " Ki akexile kiá mu bixila ku
bata"= Quando estava já para chegar em casa"
Rimvula e Mvula=cozinha
Rikolombolo e Kolombolo=galo
Rikamba e Kamba=amigo
Rikanu e Kanu=boca. No link misoso, temos por ex a frase -"Tundila mu kanu" = Sai pela boca.
As regras de concordancia permanecem apesar da supressão dos prefixos de classe. Já foi dito
que esta supressão ocorre facilmente com os nomes da classe IV no singular e da classe IX no
plural. Devido a isto, fica fácil percebermos em uma frase, que a supressão ocorreu, pois o
genitivo que segue a palavra, ou mesmo um verbo, ou pronome, etc, virá escrito com o prefixo
de concordancia da classe em questão:
Kala sanji ni baia riê= Cada galinha no seu poleiro. Percebemos que a palavra baia está
suprimida de seu prefixo de classe RI pois que o pronome que a segue está escrito Riê.
A letra I, inicial de alguns nomes da classe IX, embora não seja um prefixo de classe, merece
aqui seu destaque. Parece ser meramente eufonico e prefixa-se aos nomes que de outra forma
seriam monossílabos.
Assim temos Inzo, Ingo, Inji, Imbua, Ixi. Este I desaprece, sendo substituido pelo apóstrofe,
quando uma palavra que o precede termine por vogal.
Plural Irregular
Já vimos o plural dos substantivos, e observamos que este se faz com a colocação de prefixos
específicos de acordo com a classe (de I a IX) a qual este nome pertence.
Porém alguns nomes da classe IV apresentam um plural irregular.
Pela regra geral, os nomes da classe IV, são todos os que iniciam-se pelo prefixo RI(ou DI,
conforme a pronúncia), e que fazem o plural, substituindo o prefixo RI por MA.
Asssim recordando teríamos por ex:
Ritari(ou Ditadi)=pedra; Matari=pedras
Ribitu(ou Dibitu)=porta; Mabitu=portas.
Existem nomes da classe IV que fazem o plural irregular, isto é, fogem a regra, e o
prefixo RI (ou DI conforme a pronúncia), não é substituido pelo prefixo MA, mas sim,
precedido por ele, e teríamos um nome no plural acrescido de dois prefixos, ou seja, o prefixo
que já existia do singular, e o prefixo que foi acrescentado do plural.
Seguem alguns exemplos destes nomes que fazem o plural irregular:
* Aqui escreveremos todos estes nomes optando por RI(e não DI)de acordo como vem escrito na gramática de
Heli Chatelain. É bom que se observe que aquele que optar por escrever RI, deve escrever sempre RI
independente de onde Ri se coloque na palavra, isto é, sendo prefixo ou não, e o mesmo vale para quem optar
por DI* (assim Ritari OU Ditadi)
Rimi=língua, idioma
Plural=Marimi
Rimbondo=vespa
Plural=Marimbondo
Rixi=fumo, fumaça
Plural=Marixi
Rimvula=cozinha
Plural=marimvula
*Aqui cabe uma observação, pois que nos dicionarios também encontramos o nome Mvula
definido como cozinha, e o mesmo nome "Mvula" aparece traduzido como chuva. Porém
Mvula=cozinha, quando assim se escreve, é na realidade Rimvula escrito com a supressão do
prefixo de classe RI, nome pertencente a classe IV, enquanto Mvula=chuva, pertence a classe
IX e faz o plural=Jimvula. No dicionário de Cordeiro da Matta, ele traz o plural Rimvula, como
sendo Mamvula, um plural regular portanto, e na gramática de Heli Chatelain ele coloca
Marimvula como sendo o plural, neste caso irregular portanto.
Rima=costas, morcego
Plural=Marima
Riamba=canhamo(cannabis sativa)
Plural=Mariamba
Rimandondo=morcego
Plural=Marimandondo
Riba=espadeirada, catanada
Plural=tanto escrito na forma regular como irregular, Maba ou Mariba
1)Rilu=céu; plural=maulu.
A primeira vista pensamos tratar-se de um plural irregular, pois o prefixo RI, foi substituido po
MAU. Porém a palavra Rilu, é na realidade a forma contrata da palavra Riulu
2)Risu=olho; plural=mesu.
A primeira vista pensamos tratar-se de um plural irregular, porém Risu é a forma contrata de
Riesu. A forma contrata Risu pertence ao dialeto de Luanda e Riesu (escrito na forma inteira
sem contração)ao dialeto do sertão.Teríamos então o plural regular Maesu (em Luanda ou no
sertão), porém em kimbundu a vogal A, desaparece facilmente ao encontrar-se com outro A
ou E. Assim Maesu, passa a Mesu.
6)Riala=homem, plural=mala. Aqui o plural regular seria Maala, porém ocorreu a contração
duas duas vogais A em uma só.
8)No sertão muitos nomes que iniciam-se por LU-, pertencentes portanto a classe VI, não
formam o plural como esta classe, mas sim como os nomes da classe IX. Estes nomes são os
que derivam de um nome coletivo e indicam um objeto único, destacado da coletividade.
EX: Lundemba=Um cabelo; plural=Jindemba, pois que temos no singular a palavra
ndemba=cabelo.
OBSERVAÇãO= Alguém já pensou a qual classe dos nomes pertence a palavra Menha ou
Menia=água?
A palavra menha pertence a classe IV, e sempre a escrevemos no plural. Sendo portanto uma
palavra que pertence ao plural da classe IV, deve seguir as regras de concordancia de acordo
com os nomes do plural desta classe. Assim dizemos por exemplo Menha ma tema=água
quente; menha ma tome=água potável, água doce; menha ma talala=água fria. A forma no
singular, embora não se escreva, somente para termos uma base seria Rienha, e o plural
Maenha, porém a vogal a (de Ma), desaparece ao encontrar-se com a vogal E. Aqui dei
destaque, pois a palavra menha é iniciada po ME, o que pode nos dificultar em saber a qual
classe pertence a mesma.
No exemplo do verbo Kuzola (Amar), vemos como o prefixo do pronome pessoal liga-se ao
radical verbal --- Zola. O prefixo ku ligado ao radical verbal forma o infinitivo do verbo amar em
kimbundu. O infinitivo de todo o verbo em kimbundu é constituído do prefixo ku ligado ao
radical verbal. Falaremos mais tarde sobre a conjugação verbal no tópico indicado. A
conjugação acima foi só a título de exemplo, para facilitar a compreensão.
Pronomes Possesivos
meu, minha, meus, minhas ...ami
Concordância
Vamos agora falar da concordância desses pronomes com as dez Classes dos substantivos. Os
prefixos de concordância são os mesmos para cada classe como no caso do genitivo. Coloquei
como exemplo algumas frases para cada classe de como é feita a concordância com os
pronomes possesivos.
Classe
I
Mulunduri U ---ami mulunduri uami = meu herdeiro ou sucessor
Singula
r
Classe
II Mulongi ué = teu exemplo ou conselho ou
Mulongi U ---é
Singula parecer
r
Classe
II Mikutu I ---enu Mikutu ienu = vossos corpos
Plural
Classe
III
Kitundu Ki ---etu Kitundu kietu = nossa coroa
Singula
r
Classe
Indembendembe iâ = penachos ou cocares
III Indembendembe I ---â
deles
Plural
Classe
IV
Ritari Ri ---ami Ritari riami = minha pedra
Singula
r
Classe
IV Matari Ma ---é Matari maé = tuas pedras*(2)
Plural
Classe
V
Uta U ---enu Uta uenu = vossa arma ou espingarda
Singula
r
Classe
V Mauta Ma ---ami Mauta mami = minhas armas*(2)
Plural
Classe
VI Malumuenu Ma ---enu Malumuenu menu = vossos espelhos*(2)
Plural
Classe
VII
Tuji Tu ---é Tuji tué = teu excremento
Singula
r
Classe
VII Matuji Ma ---â Matuji mâ = excrementos deles*(2)
Plural
Classe
VIII
Kufua Ku ---etu Kufua kuetu = nossa morte
Singula
r
Classe
VIII Makuria Ma ---etu Makuria metu = nossas comidas*(2)
Plural
Classe
IX
Ndululu I ---é Ndululu ié = teu fel
Singula
r
Classe
Jindandu jetu = nossos abraços ou nossos
IX Jindandu Ji ---etu
parentes
Plural
Classe
X
Kanzo Ka ---ami Kanzo kami = minha casinha
Singula
r
Classe
X Tuana Tu ---ami Tuana tuami = meus filhinhos
Plural
Obs. Importantes *(1) Alguns nomes da Classe I muitas vezes veremos que o prefixo de
concordância é eliminado. Assim também pode acontecer com todos os entes racionais
mesmo que estejam pertencentes a outra Classe. Vamos dar alguns exemplos.
Ex.Mulume uami = meu marido
....................ou
.....Mulume ami = meu marido
Obs. Importante *(2) nas Classes IV, V, VI, VII e VIII, no plural, o prefixo de concordância perde
a vogal A ao ligar-se aos pronomes possesivos.
Obs. Importante Mam'etu = significa tanto minha mãe como nossa mãe. Não se diz Mama
iami.
Tat'etu = significa tantu meu pai como nosso pai. Não se diz Tata iami.
Pronomes Demonstrativos
Singular
Exemplo de um nome de
Classes Este(a) Esse(a) Aquele(a)
Classe
Classe Mukongo
Iú ou ió Ó ou ió Uná ou iuná
I (caçador)
Classe Mutue
Iú ou ió Ó ou ió Uná ou iuná
II (cabeça)
Classe Kima
Eki ou kiki Okio ou kiokio kiná
III (coisa, objeto)
Classe Ribulu
Eri ou riri Orio ou riorio riná
IV (lebre)
Classe Uta
Iú ou ió Ó Uná ou iuná
V (arma, espingarda)
Classe Lumuenu
Olu ou lulu Olo ou Lolo Luná
VI (espelho)
Classe Tubia
Otu ou tutu Oto ou toto Tuná
VII (fogo)
Classe Kuria
Oku ou kuku Oko ou koko Kuná
VIII (comida)
Classe Inzo
Eii ou iiii Oio ou ioio Iná
IX (casa)
Classe Kamona
Aka ou kaka ou koka Oko ou koko Kaná
X (filhinho)
Plural
Classe Akongo
Á ou iá ou aua Ó Aná ou ianá
I (caçadores)
Classe Mitue
Eii ou iiii Oio ou ioio Iná
II (cabeças)
Classe Ima
Eii ou iiii Oio ou ioio Iná
III (coisas, objetos)
Classe Mabulu
Ama ou mama oumoma Omo oumomo Maná
IV (lebres)
Classe Mauta
Ama ou mama oumoma Omo oumomo Maná
V (armas, espingardas)
Classe Malumuenu
Ama ou mama oumoma Omo oumomo Maná
VI (espelhos)
Classe Matubia
Ama ou mama oumoma Omo oumomo Maná
VII (fogos)
Classe Makuria
Ama ou mama oumoma Omo oumomo Maná
VIII (comidas)
Classe Jinzo
Eji ou Jiji Ojo ou Jojo Jiná
IX (casas)
Classe Tuana
Otu ou tutu Oto ou Toto Tuná
X (filhinhos)
Observações
1) O segundo grau (esse, essa, esses, essas) geralmente é caracterizado pela vogal O e o
terceiro grau pela sílaba NA acrescentada ao prefixo de concordância.
Ex. Ó, oio, orio, okio etc. - 2° grau
Ex. Aná, iná, kaná etc - 3° grau
2) O primeiro grau é formado pela reduplicação do prefixo de concordância de cada nome
fazendo excessão a Classe I e V e o singular da Classe II, por que uu seria cacófato.
Ex. Kiki, kaka, riri, lulu, tutu, kuku etc - 1° grau
3) As formas koka e moma pertencem ao dialeto de Luanda (segundo Heli Chatelain).
5) Podemos observar no quadro acima que existem formas inteiras e outras apocopadas (com
supressão de fonema). A forma inteira sempre é usada no sertão, e em Luanda a forma inteira
precede o nome enquanto a forma apocopada vem logo após ele. Assim, em Luanda, dizemos
por exemplo iuná mukongo = aquele caçador; quando seguido ao nome diríamos,
preferivelmente, mukongo uná, que tem o mesmo significado de aquele caçador, somente
estando invertida a colocação na frase.
Exemplos
O inz'oio iami.
Essa casa (é) minha.
O uta iú ua mukongo.
Esta arma (é) do caçador.
Obs. Os apóstrofes que vem no lugar da vogal que alí deveria estar são explicados porque a
vogal A, quando vem antes de outro A ou E é suprimida, e no encontro de duas vogais
semelhantes (por exemplo o + o) acontece a mesma coisa. Dizemos por exemplo inz'oio ao
invés de inzo oio. O verbo ser, em kimbundu, como veremos na parte de conjugação verbal, na
maioria das vezes não se expressa, por isso, foi feita a tradução para o português (é).
Obs. Neste, nesta, naquela, serão abordados quando explanarmos mais sobre as Preposições
Locativas mu, bu, ku. Existe em kimbundu também as expressões este mesmo, esse
mesmo, aquele mesmo. Também serão abordadas em um tópico a parte.
Apóstrofo
Também no inglês, temos como exemplo "don't", que representa a forma acoplada de "do
not", no qual ocorreu uma junção de "do" e "not", além de vermos que a vogal "o" (em "not")
foi substituida pelo apóstrofo (n't). Outros exemplos de acoplamento e uso do apóstrofo são:
it's (it is), you're (you are), I'm (I am). Deixo aqui de fazer a tradução para o portugês, mas
servem apenas a título de exemplificação para melhor entendimento.
No kimbundu também por regras de convenção, podemos ver o uso do apóstrofo em diversas
obras. Além disso na linguagem é comum o acoplamento e contração das palavras, que assim
são representadas na escrita tal como a exemplo do inglês.
Por isso vemos escritas palavras no kimbundu como: mam'etu, tat'etu, 'xi, 'nzo, m'bika,
m'bik'en, mon'ê; mon'é, etc.
Na gramática de Heli Chatelain, ele faz o uso do apóstrofo com a única e exclusiva finalidade
de indicar a supressão de letras (substitui a letra que foi suprimida ou "desapareceu"), tal
como aprendemos na gramática da língua portuguesa.
Porém em obras de outros autores, observei uso do apóstrofo com outras finalidades que não
são unicamente a supressão.
Assim é que no dicionário de Cordeiro da Matta, encontrei muitas palavras nas quais o autor
fez uso do apóstrofo onde Chatelain não o fez.
Devido a não termos uma língua "oficial" escrita em kimbundu, e termos ao mesmo tempo
vários autores que fazem uso de suas próprias convenções ou que adotam uma para seguir,
isto acabou gerando alguma confusão e acaloradas discussões. Observei até mesmo alguns
desavisados "donos do saber" que fazem questão de esbanjar todo o seu conhecimento dando
verdadeiras aulas de correção quanto a escrita, porém sem ter conhecimento destas
variantes.
Assim, por exemplo, Cordeiro da Matta escreve Ng'enji (forasteiro, estranjeiro, viajante) e
Ng'indu (trança); enquanto Chatelain escreve Ngenji (sem o apóstrofo entre a letra "G" e a
letra "E"); e Ngindu (também sem o apóstrofo).
Mas se soubermos que foram diferentes as regras adotadas por eles, e conhecermos os
motivos de cada qual adotar esta ou aquela, o que fazemos é seguir a que julgarmos mais
apropriada; porém, jamais diria que existe erro, uma vez que a língua oficial escrita não existe
e estas convenções não foram oficializadas portanto.
Mas é bom que sempre haja um entendimento por parte daquele que escreve, em saber o
porquê de estar escrevendo desta ou daquela forma, para que não aconteça o abuso, fazendo
uso aleatório do apóstrofo ou de qualquer forma escrita sem nenhuma base ou regra (mesmo
que esta seja pessoal), tal como pude observar no e-mail enviado.
Pensando assim, resolvi deixar aqui as diferenças e o porquê de cada autor escrever com ou
sem apóstrofo uma mesma palavra.
Para melhor entendermos este tema, e lembrando do conteúdo do e-mail, acho por bem que
antes de tudo devemos ter bem claro, em nossos estudos, o som nasal em kimbundu.
O SOM NASAL
O som nasal em kimbundu, que poderia ser representado talvez por um "~" acima da letra que
queremos nasalar; por convenção da maioria dos autores que possuem obras escritas, é
representado pelas letras "M" e "N". Estas letras estarão sempre representando o nasal
quando precedendo consoantes (b, f, v, d, g, j, p). Usar um "~" acima de uma consoante
nasalada torna impossível a escrita em uma máquina de escrever comum. Estas letras
portanto, não possuem o valor real de consoante, e Heli Chatelain em sua gramática, costuma
dizer que o "M" e o "N" nestes casos não são "puros".
Em kimbundu, então, não existem palavras com DUAS consoantes ligadas, e quando tal fato
ocorre, é porque estamos diante do som nasal representado graficamente.
Então se o som nasal nada mais é que uma representação gráfica, o que diriam vocês sobre
qual a forma de escrita correta? Nzambi(Deus) ou Zambi? Um grande amigo virtual fez esta
pergunta no antigo fórum da hp, que não mais se encontra disponível, assim que comecei
meus estudos e, na época, eu não sabia responder o porquê de tantas escritas diversificadas
no Brasil, tais como Nzambi, Nezambi, Inzambi, Anzambi, Zambi, N'zambi.
Sabendo que cada consoante em kimbundu estará sempre ligada a uma vogal e nunca a outra
consoante, e que vemos escrito "NZ" em Nzambi, concluimos então que este "N" não tem o
valor de consoante, mas serve por convenção como um sinal para sabermos que o Z deve ser
pronunciado de forma nasalada.
Inclusive, quando vamos separar as sílabas, este M ou N que servem para identificar o som
nasal, acompanham a consoante a qual estão nasalando, ficam INSEPARÁVEIS.
Assim ao separarmos a palavra kimbundu temos: Ki - mbu -ndu.
Bem, voltando a pergunta: Nzambi ou Zambi?
A letra Z em kimbundu, quando inicial a um nome (e não a uma forma de conjugação verbal ou
partícula), sempre tem o som nasalado. Não diria que existe erro em escrever Zambi, mas
Nzambi facilita para quem conhece a convenção, a identificação do som nasalado.
E no Brasil?
Os que aqui chegaram, passaram para o papel em grande parte da forma como entendiam ser
melhor representado o som, além do mais, muitos possuiam diferenças regionais de
pronúncia.
E com o passar do tempo, muitos de seus descendentes já não dominavam nem mesmo o
próprio idioma, e simplesmente passaram, tal como hoje fazemos, a questionar o porquê de
tantas formas de escrita diferentes.
Também é possível que a escrita Anzambi tenha originado-se da união do genitivo "a" (de, do,
das, dos, das) com a palavra Nzambi, escrita de forma acoplada. Como exemplo, vi no livro
"Jisabhu", de "Rosário Marcelino", o enunciado de um conto tradicional com a seguinte
escrita: "Mayaki Angandu" (Ovos de Jacaré). Esta mesma frase seria escrita por Chatelain da
seguinte forma: "Maiaki ma Ngandu", com o genitivo "A" (de, do, da, dos, das) escrito "MA",
precedido do prefixo de concordância de classe. Prefiro, particularmente, a escrita de
Chatelain, pois não descaracteriza o substantivo Mayaki. Particularmente acho mais correta
esta escrita, pois assim a língua não perde a sua estrutura. Imaginem escrevermos em
portugês OVOS DEJACARÉ ? Como unir DE ao substantivo? Fica parecendo que criamos uma
nova palavra (DEJACARÉ)
Adjetivos e conjugações verbais sofrem, com frequência, mudanças em sua forma inicial,
dependentes das regras de concordância e do tempo verbal em questão, no caso dos verbos.
Mas, quanto ao substantivo, tal fato não deveria ocorrer, uma vez que é característica da
língua a separação do nome em suas 10 classes (no singular e plural) de acordo com seu
prefixo, que é invariável.
Observem também o uso do "H" após a letra "B" (em jisabhu) por Marcelino, bem como o uso
do "Y". Vemos por este exemplo o quanto temos que considerar a diversidade na escrita
adotada pelos autores, e também estarmos atentos para as variantes de pronúncia. Vamos ter
mais cautela portanto, antes de supor que esta ou aquela forma de escrita ou de pronúncia
seria correta ou não.
Assim, este som nasalado, foi representado por alguns da forma como compreendiam este
som, que parecia ter um "~" acima da consoante, escrevendo então Inzambi, Anzambi, e
muitos escreveram simplesmente Zambi, nasalando contudo a letra Z durante a pronúncia.
Considerando que Nzambi é um nome que pertence a classe IX , leiam o que escreveu
Chatelain no capítulo em que fala sobre a derivação dos nomes desta classe: "Quando
dissemos que o singular da classe IX carece de prefixo, não falamos com todo o rigor científico.
De fato o prefixo do singular da classe IX é o incremento do nasal..."
Concluí após a leitura, que a forma escrita adotada por alguns, N'zambi, tem a função de
destacar a letra N do restante da palavra através do apóstrofo, ou seja, reforçando que este
"N" tem função de nasalar,como observa Chatelain, assumindo assim este som o valor de
prefixo, o incremento do nasal) Assim quem escreve, também o faz quando todo "M" ou "n"
que tenha a função de representar o som nasal na inicial de um nome (seguido do apóstrofo,
destacando que pertence a classe IX). Assim, vemos muitas vezes escrito N'dongo, N'gola.
Bem, creio que está errada. Pois este N (Nzambi), não é para ser pronunciado como
consoante, e sim serve para representar o som nasal do Z inicial de Zambi (Nzambi). Penso ter
sido originado não de uma representação escrita adotada por alguém para a pronúncia, mas
sim o contrário, uma pronúncia equivocada da representação escrita por exemplo de alguns ao
ler Nzambi ou mais provavelmente a forma N'zambi em especial que por separar através do
apóstrofe o N do Z, pode fazer com que aquele que lê e desconhece esta convenção, pense
que este N deve ser pronunciado - e o pronuncia (NE) - imaginando até, quem sabe, que o
apóstrofo estaria no lugar de uma vogal E que foi suprimida, fazendo com que outro que o
escutou passasse a pronunciar e depois a escrever desta forma (Nezambi). Com isso a palavra
passou a sofrer modificação inclusive quanto a pronúncia.
Mas ainda fiquei pensando na hipótese de ser originado da junção da forma NE com Zambi,
sendo NE uma possível contração de uma expressão, quem sabe "ngana é" (teu senhor), ou
"ngana ê! (seu senhor, ou ainda Ne [e, com]). A contração se faria(caso seja esta hipótese real)
a partir do NA de ngana, e nunca do N inicial, que é somente um sinal de nasalização. Existe no
dicionário a palavra NA, definida como a forma abreviada de ngana, mas nunca a vi acoplada a
palavra seguinte, e acho correto desta forma. Entendo que até é possível, durante a pronúncia,
ocorrer esta junção, mas não na forma escrita. Podemos escrever Na Nzambi (senhor Deus),
sendo que na pronúncia corrida, de certo alguém iria supor tratar-se de uma só palavra.
Podemos sim, ter o acoplamento de duas palavras (originando UM nome único- ou nome
composto), mas estes agora figurando como novos nomes, encontram o seu lugar na classe
dos substantivos, com seu prefixo de classe correspondente .
Existe ainda o caso, como veremos, da união do substantivo com pronomes que o seguem,
como por exemplo ngan'é (ngana é=teu senhor), mas esta junção é eufonica (aliás como
sempre quando se faz uso do apóstrofo), e em nenhum momento, teremos ngan'é classificado
como uma nova palavra.
Mas como pronunciamos Nzambi? Meus amigos, eu (tento) entender as regras de pronúncia e
seguí-las, mas convenham que é difícil para muitos de nós que não tivemos contato com os
que falam o idioma nativo tentar aprimorar nossa pronúncia. O som nasal é difícil, não
estamos acostumados a presença dele em nossa língua portuguesa, e devemos lembrar que
ele se encontra não somente expresso no início das palavras, mas muitas vezes em toda ela,
tal como em kimbundu (ki -mbu -ndu). Imaginem a pronúncia do "B" e do "D" nasalados!
Vale lembrar também, que a letra "G" em kimbundu, sempre tem o som nasalado, e seguindo
a convenção adotada por Chatelain, sempre será escrito NG, isto é, a letra G sempre será
precedida do N, que serve para nasalar a mesma.
Bem, espero que tenham entendido o som nasal e algo sobre a pronúncia. Desculpem-me se
alonguei o assunto. Segue abaixo, tentando expor de forma resumida, algumas observações
gerais de casos em que usamos o apóstrofo, inclusive tentando observar as variantes escritas.
Tento ir passando para o papel, até mesmo a sequência dos meus pensamentos (fruto de
meus questionamentos), e peço a Nzambi que me ajude!
Na classe Ix dos substantivos, temos algumas palavras iniciadas pela vogal "I", sendo ele
meramente eufônico, isto é, para dar sonoridade agradável a linguagem, servindo de prefixo
para palavras que de outra forma seriam monossílabas.
Como exemplo temos Inzo, inji, ingo, imbua, ixi, imbia. Sabendo que o "m" e o "n" ligados as
consoantes, servem para nasalar as mesmas, caso não tivéssemos o I, todas estas palavras
teriam uma única sílaba. Este "I" eufônico geralmente cai (não necessariamente) quando estas
palavras vêm precedidas de vogais, e assim teremos no lugar da vogal I o apóstrofo indicando
a supressão.
O 'nzo, O 'mbua, O'nji, O 'ngo, o 'mbia. Estas palavras, quando colocadas no diminutivo,
passando a pertencer então a classe X que abriga todos os diminutivos, ficam precedidas do
prefixo da classe X, que liga-se a ela, perdendo também o I, sendo este substituído pelo
apóstrofo.
Escrevemos então Ka'mbua (cãozinho), Ka'nzo (casinha), e no plural tu'nzo, tu'mbua. Esta
forma escrita observei em Chatelain, porém, Cordeiro da Matta abole o apóstrofo e escreve,
por exemplo, Kanzo
A vogal "U" pode (mas não necessariamente) ser suprimida, quando em uma sílaba, encontra-
se entre "M" e "B", se este "M" for precedido de uma vogal, mesmo que esta vogal seja a final
de outra palavra que o precede. Neste caso, o apóstrofo indica esta supressão. EXEMPLOS:
Ku m'bana
A letra "K" é suprimida, geralmente, quando vem precedida dos locativos MU; BU; KU (leia
mais sobre os locativos no tópico específico). Em seu lugar colocamos o apóstrofo que indica a
supressão.
Exemplo:
Bu kaxaxi; bu 'axaxi)
Mu kalunga; mu 'alunga
Alguns autores representam o som nasal de algumas consoantes também pelo "m" e o "n"
precedendo as mesmas, porém, colocam um apóstrofo após este M e este N com a finalidade
de realçar que trata-se do som nasal. Evidente que Chatelain que usa o apóstrofo somente
com a finalidade de supressão NÃO adota esta escrita.
Exemplos:
N'gola, N'dongo, N'denge, porém sempre vejo a preocupação em destacar a forma nasalada
que acontece somente no inicio da palavra, reforçando assim o incremento do nasal como
valor de prefixo da classe IX.
6)Desuso do apóstrofo
Alguns autores não fazem uso quase por completo do apóstrofe, fazendo frequentes
contrações de palavras e supressões de letras sem a utilização do mesmo.
A vogal "A" quando precede outra vogal "A" ou uma vogal "E", costuma ser suprimida, sendo a
supressão representada pelo apóstrofo. (A+A=A ou 'A; A+E=E)
Exemplos:
Mama etu; Mam'etu (note que aqui, além de suprimida a vogal "A", houve o acoplamento do
pronome possessivo etu, como ocorre em outros casos)
Tata etu; Tat'etu
Mona ê ; Mon'ê
Kima eki; Kim'eki
Pala eme; pal'eme
mubika etu; o m'bik'etu
8)Vogais duplicadas
Toda vogal que encontrar-se duplicada, isto é, o encontro de duas vogais iguais, pode na
escrita, suprimir-se a primeira, colocando-se um apóstrofo para indicar esta supressão.
Exemplos:
Mukongo ó; Mukong'ó
Ngi ixana; ng'ixana
Ngi ibula; ng'ibula
A vogal "a" quando precede a vogal "O" geralmente é suprimida, e nestes casos, o apóstrofo
irá indicar esta supressão.
Exemplos:
Ualua ó; ualu'ó
Uta ó; Ut'ó
Kuria oku; Kuri'oku
Toda vez que vemos em um texto o uso do apóstrofo, ele geralmente se faz presente devido
a supressão de letras, supressão esta, que confere maior sonoridade a língua.
Segue agora o e-mail enviado por um de nossos leitores, e alguns comentários a respeito:
"Não é verdade que existisse "reino de Negola". O reino chamava-se de N'Dongo e a sua lingua
era, de facto o Kimbundo (ou Quimbundo). Negola ou N'gola (e não Ngola) era o titulo do rei.
Por exemplo Negola Kiluange. Da mesma maneira que o titulo do imperador do reino da Lunda
era Muatiânvua e do imperador de Roma César. O que sucedeu é que os Portugueses, pela lei
do menor esforço, começaram a chamar ao reino do Dongo(ou N'Dongo) reino do Negola, e,
com o decorrer do tempo, Angola. Daí passar o Kimbundo a lingua de Angola."
Comentários:
Quanto a observação histórica, embora soubesse que o nome do reino era Ndongo (até a data
que conhecemos), deixei escrito conforme li na gramática de Chatelain (que refere-se ao
kimbundu como sendo a língua do antigo reino de Angola), mas escrevi no entanto Ngola, de
acordo como consta a escrita no dicionário de Cordeiro da Matta, pois segundo consta neste
dicionário, em 1548 o reino já havia assumido este nome, Ngola (o nome do soberano).
Quanto ao uso do apóstrofo na palavra (N'gola), ele não está escrito desta forma no dicionário
de Cordeiro da Matta (embora outros autores pudessem assim escrever). Se procurarmos a
definição da palavra Ngola neste dicionário poderemos ver também que ele define a palavra
como o nome do Rei do Ndongo (hoje Angola) no princípio da conquista...."porém continua
com a descrição histórica da autoria de Lopes de Lima que segue....."O moço an- Gola (Ngola)
tendo sucedido seu pai em 1559 estendeu a sua conquista até a barra do Dande". "Este
mesmo rei governava, - e JÁ SEU PAI TINHA DADO O SEU NOME DE AN-GOLA ao REINO que ele
ia conquistando-quando em 1560 Paulo Dias de Novaes lhe foi por embaixador".
Pela descrição, percebemos que de acordo com o autor o nome não foi dado pelos
portugueses, e a conquista a qual ele refere-se não é a dos colonizadores. De certo outras
"Histórias" devem existir, e nós que vivemos no presente, temos que ter o cuidado de
ponderar e relacionar os autores nos quais estamos nos baseando e se possível pesquisar
outras fontes, relatando as mesmas, apesar de termos esta ou aquela preferência.
Talvez seja essa a razão das diferenças e variantes que encontramos inclusive na
representação gráfica. Observamos a escrita an-Gola, na descrição histórica adotada por Lopes
de Lima (referência quanto a autoria da descrição, colocada entre parênteses pelo autor do
dicionário, Cordeiro da Matta). Era portanto AN-GOLA a representação gráfica usada por Lopes
de Lima em específico, na tentativa de expressar o som nasalado da forma como o
compreendeu.
E hoje, conhecemos o país ANGOLA, escrito tal qual a escrita adotada por Lopes de Lima, e
com certeza por tantos outros que assim a escreveram.
Bem, pode ser que eu ainda vá descobrir que o nosso leitor tem alguma razão quando escreve
Negola ou N'gola, pois fico pensando se poderia o Ne de Negola, ser alguma forma abreviada
ou contrata de alguma expressão (Ngana ê= nosso senhor, que passou a forma ne????, ou
ainda NE=e, com ligada a palavra GOLA???), e que o apóstrofe colocado na palavra N'gola,
para ele sendo um sinônimo de Negola, estaria indicando a supressão da vogal E? Veja que
para ele N'gola e Negola são sinônimos, pois que diz N'gola OU Negola. Mas qual o prefixo de
classe de Negola? Parece que ficamos diante de uma nova palavra que não encontra seu lugar
na classe dos substantivos.
E mesmo que seja a união de NE e Ngola, e pensando que o apóstrofo estaria indicando a
supressão da vogal "E", não adota o N prévio a letra G com a função indicar que ele deve ser
nasalado (não adota esta convenção), pois se assim fosse teria escrito NENGOLA ou N'Ngola?
Mas fico confusa, pois escreve N'dongo OU Dongo (usando aqui claramente o N' para
representar o som nasalado da letra "D" de Dongo. Pensei ainda que a escrita N'gola poderia
ser a forma contrata de N'Ngola que pelo fato de termos duas consoantes N repetidas
(N'Ngola), elas poderiam ter assumido esta forma contrata (N'gola). Mas isto não se aplicaria
pois o N antes do G não tem valor de consoante (convenção).
Bem, só tenho muito a agradecer a pessoa que enviou-me este e-mail, pois ela acabou
despertando em mim todos estes questionamentos acima (e quantos..., perceberam? rsrs) e
fui pesquisar as várias formas que pude encontrar nas variantes da escrita quanto ao uso do
apóstrofo, além de perceber a necessidade de partilhar com todos o que encontrei.
Isto de certo me ajuda muito, pois passo a pesquisar bem mais, abrindo um leque para muitos
temas que até então não havia percebido ainda serem de tanta importância em nossa HP.
Numerais Cardinais
Na tabela abaixo temos os números cardinais; porém quando os mesmos são usados em uma
frase ou oração e estes números estiverem relacionados com algum nome dentro desta frase,
sofrerão variações relativas as regras de concordância. No próximo tópico faremos referências
a essas regras.
1 Moxi
3 Tatu
4 Uana
5 Tanu
6 Samanu
7 Sambuari ou Sambuadi
8 Nake Rinake
9 Ivua ou 'vua Rivua
11 Kuinii ni Moxi
12 Kuinii ni Iari
13 Kuinii ni Tatu
14 Kuinii ni Uana
15 Kuinii ni Tanu
16 Kuinii ni Samanu
18 Kuinii ni Nake
19 Kuiniivua
40 Makuinia-uana
50 Makuinia-tanu
60 Makuinia-samanu
70 Makuinii-sambuari
80 Makuinii-nake
90 Makuinii-vua
100 Háma
10000 Fuku
100000 Hueve
Observação
Numerais Ordinais
Número Kimbundu
2 Kaiari
3 Katatu
4 Kauana
5 Katanu
6 Kasamanu
7 Kasambuari (Kasambuadi)
8 Kanake
9 Kavua
10 Kakuinii
Observação
Como já podemos observar todos os números ordinais são formados pelo prefixo KA unido aos radicais
dos números cardinais
No caso dos pronomes pessoais todos os números ordinais são colocados após este pronome e
são precedidos do pronome prefixo correspondente. Os pronomes prefixos já foram
explicados em outro tópico.
Ex.
eme ngarianga = eu sou o primeiro
etu tu ou tua kauana = nós os somos os quartos
eie u ou ua kaiari = tu és o segundo
enu nu ou nua katanu = vós sois o quinto
muene katatu ou ua katatu = ele é o terceiro
ene katanu ou a katanu = eles são os quintos
Observação
Na gramática de Heli Chatelain, o primeiro é --rianga. Porém a palavra kamoxi encontrei nos
dicionários e acredito que também seja correto usá-la.
Para cada numeral em particular, existem algumas regras que veremos a seguir.
a)Número Um = Moxi
O número 1, entra nas regras de concordancia. Isto é, sofrerá variações de acordo com o nome
ao qual esteja relacionado, recebendo o prefixo da classe específica a qual este nome
pertence. No menu da Hp, temos os nomes de classe(substantivos) e podemos ver os prefixos
de concordancia específicos de cada classe. Assim, o prefixo de concordancia irá ligar-se a
palavra moxi.
Seguem alguns exemplos da concordancia com os nomes de classe. Para facilitar a
visualização, colocamos em negrito o prefixo do nome de classe e o seu prefixo de
concordancia que estará ligado a MOXI. Em português costumamos colocar o numeral antes
do nome, e neste caso vemos a colocação inversa. Como vemos abaixo, poderíamos traduzir
Mutu umoxi em sua forma literal para o português por "pessoa uma".
Mutu umoxi=Uma pessoa(classeI)
Mutue Umoxi=Uma cabeça(classeII)
Kisala kimoxi(classe III)
Uta umoxi=Uma espingarda(classe V)
Poko imoxi=Uma faca(classe IX)* Note que esta classe "carece" de prefixo no singular, por isso
não encontrarmos nenhum prefixo ligado a palavra poko.
Kahoji kamoxi=Um leãozinho(classe X)
b)Número seis=samanu
Podemos ter tres variações na forma, explicadas a seguir:
1)Pode vir logo em seguida ao nome (de qualquer classe), porém não ligado ao prefixo de
concordancia de classe deste nome como no caso anterior.Assim, usando do plural dos
mesmos nomes que serviram de exemplo anterior teríamos:
2)Nesta forma temos samanu como "nome numeral", isto é, samanu recebe o prefixo da classe
III(ki), escrevendo-se kisamanu, e podemos colocá-lo antes ou após o nome que
enumeradesde de que este nome pertença a classe I . Caso venha colocado antes do nome,
ligando os dois teremos a palavra "kia"(de, do, da,), que nada mais é que o genitivo -a, o qual
já foi visto no assunto específico. O tracinho é preenchido pelo prefixo ki, em corcondancia
com kisamanu. Assim podemos dizer por exemplo kisamanu kia ana(que ao pé da letra seria
traduzido como seis de filhos, ou podemos dizer ana kisamanu(que ao pé da letra seria
traduzido como filhos seis), sendo ambas as formas corretas.
Outros exemplos:
Atu kisamanu ou Kisamanu kia atu(Seis pessoas)
Akongo kisamanu ou Kisamanu kia akongo(Seis caçadores)
Alambi kisamanu ou Kisamanu kia alambi(Seis cozinheiros)
3)Nesta forma o número seis(samanu), segue o nome que enumera e "concorda" com ele. Esta
forma serve para para todas as classes, menos a classe I. Concordando com os outros nomes
de classe que não a I, recebe o prefixo de concordancia da classe, semelhante ao que já vimos
em relação ao número um(MOXI). Não esquecer que aqui, devido ao número seis ser "mais do
que UM", os nomes em questão estarão no plural.
Mitue isamanu=Seis cabeças(classe II)
Isala isamanu=Seis penas(classe III)
Matari masamanu=Seis pedras(classe IV)
Mauta masamanu=Seis espingardas(classe V)
Malumuenu masamanu=Seis espelhos(classe VI)
Matujola masamanu=Seis tesouras(classe VII)
Makunua masamanu=Seis bebidas(classe VIII)
Jipoko jisamanu=Seis facas(classe IX)
Tuhoji tusamanu=Seis leãozinhos(classe X)
Exemplos:
Jisanji=galinhas(plural de sanji)-classeIX
Jisanji Jiiari=duas galinhas
Jisanji Jitatu=três galinhas
Jisanji Jiuana=quatro galinhas
Jisanji Jitanu=cinco galinhas
Matari=pedras(plural de ritari)-classe IV
Matari maiari=duas pedras
Matari matatu=três pedras
Matari mauana=quatro pedras
Matari matanu=cinco pedras
Izúa=dias(plural kizúa)-classeIII
Izua Iiari=dois dias
Izua Itatu=três dias
Izua Iuana=quatro dias
Izua Itanu=cinco dias
EXEMPLOS:
Matari=pedras
Matari sambuari ou Matadi sambuadi=sete pedras
Sambuari ria matari ou Sambuadi dia matadi=sete pedras(ao pé da letra=sete de pedras)
Nake ria matari ou Nake dia matadi=oito pedras(ao pé da letra=oito de pedras)
'Vua ria matari ou 'Vua dia matadi=nove pedras
Kuinii ria matari ou Kuinii dia matadi=dez pedras
Observação-O número nove escrito abolindo-se o prefixo RI ou *DI, escreve-se Ivua, e não
Vua, este I é eufônico, evitando que a palavra fique só com uma sílaba. Porém quando em uma
frase, este I normalmente desaparece e é substituído pelo apóstrofe. O mesmo acontece em
relação a vogal I, por ex, nas palavra IXI, INZO
Abaixo segue um quadrinho resumindo todas as variantes vistas até agora. Para cada classe
dos nomes, segue um exemplo que servirá para todas as variantes que ocorrerem com os
números de 1 a 10. Poderemos assim tomar esta tabela como modelo para outros nomes,
bastando localizarmos a classe em que eles se encontram
Se formos recorrer ao dicionário, veremos que a tradução de MU, BU, KU, não terão
diferenças. Todas significam, em, na ,nos, nas, de, do, para, por
Por que, e como sabermos quando usar então uma ou outra?
Estas preposições servem para indicar o local (por isso o nome de locativas), onde alguém ou
alguma coisa está, ou alguma coisa se faz.
Acompanhando os verbos de movimento(ir, andar, chegar), indicam tanto o movimento De
como o movimento PARA algum lugar. Nestes casos(direção) são traduzidas como : a, para,de
MU= no, na,.....porém indicando que tal coisa ou pessoa está dentro de, ou dirigindo-se para
dentro de, ou vindo de dentro de, está contida em...
KU= mesma tradução, porém indicando que tal coisa ou pessoa está ao lado, junto de, ou
dirigindo-se para junto, ao lado de, ou vindo de junto de...
BU= mesma tradução, porém indicando que tal coisa ou pessoa está sobre, ou dirigindo-se
para (sobre, em cima)
Mu--------dentro
Bu---------sobre
Ku---------ao lado, junto
Uma curiosidade: Alguém já ouviu a palavra Kubata? Ela é usada como sinonimo de casa. Mas
o fato é que apesar de ter seu uso consagrado hoje com esta definição, na realidade esta
palavra foi deturpada pelos colonizadores.
Kuiza=vir, chegar
radical verbal= -iza
Kuzola=amar
radical verbal= -zola
1) Vim para conhecer seus amigos(ou seja com o intuito de conhecer) Ngeza MU kuijia o
kamba mâ
*o radical verbal de kuijia é -ijia, e inicia-se por uma vogal(i), conservando portanto o verbo o
seu prefixo Ku do infinitivo.
* ngeza=do verbo -iza
2) Uai mu kuimba ( ou seja, foi com o intuito de cantar) Foi para cantar
*kuimba(radical verbal=-imba)
* Uai=do verbo -ia
3)Ngabixila mu binga muloloki
Cheguei para pedir perdão
*ngabixila= do verbo -bixila=chegar
4)Uatundu mu lua
Saiu para lutar
* uatunda= do verbo -tunda=sair, originar, ultrapassar, exceder, nascer
5)Uende mu tuma
Foi para mandar (governar)
* uende= do verbo -enda=ir, andar, viajar, partir
3)As preposições locativas MU, BU, KU, quando iniciam a oração, ou quando por inversão
aparecem antes do verbo podem:
A) Concordam com este verbo e ficarão ligadas ao seu radical verbal. Esta inversão(vir antes
do verbo) seguida da concordancia só ocorre com a terceira pessoa(Muene=ele(a),
Ene=eles(as).
EXEMPLOS
Em todos os exemplos o verbo em questão é kukala(-kala=estar) e kukala ni(-kala ni=estar
com, ou seja, ter), e veremos a ligação das preposições locativas MU, BU, KU a ele (assim:
muala, kuala, buala).As palavras njibela(bolso), kibuna(assento) e Inzo(casa), equivalem a
terceira pessoa(ele, elas)
B) Não concordam com o verbo (isto é, não ficam ligadas ao radical verbal), quando usamos
a primeira pessoa(eu=EME, nós=ETU) ou a segunda pessoa (tu=EIE, vós=ENU). Nestes casos
(quando com a primeira e segunda pessoa)as preposições locativas só aparecem antes dos
verbos quando em uma frase interrogativa.
EXEMPLOS:
EXEMPLOS:
*Aqui coloco um exemplo com a interrogativa como seria com a terceira pessoa, de acordo
com a regra anterior.
Kuebi kuala o Mam' etu?(Aonde está a nossa(ou minha) Mãe?
Note que Mama pertence a terceira pessoa(Ela), logo o verbo kukala(-kala), fica ligado a
preposição locativa ku(kuala).
Colocadas como prefixos junto a forma verbal na negativa, teremos mualê, bualê, kualê
As preposições locativas podem vir como sufixos deste verbo, significando que " há"(sobre,
junto, dentro).
Sai-ku= há (junto)
Sai-mu= há (dentro)
Sai-bu= há (sobre)
EXEMPLOS:
Nzambi, uala kuebi?= Deus, aonde estás?
O maiaki mala Muebi?= Os ovos estão aonde?( dentro de onde?)
R: Mu kinda kié = No(dentro do) teu cesto
9)A palavra -oso(todo, toda, todos, todas), seguidas aos nomes liga-se a seus prefixos de
concordancia conforme as regras já vistas no tópico específico
Assim teríamos por exemplo, kima kioso(toda coisa ou todo objeto), mutu uoso(toda pessoa),
makamba moso (todos amigos), etc, etc....
Porém o que queremos destacar aqui são as formas em que -OSO fica ligado as preposições
locativas em que damos os significados abaixo:
EXEMPLOS:
Nzambi, uala kuebi?
R:Kuoso
10) -oso-oso
Escrito assim com os tracinhos(-), significando que tal como -oso, estes tracinhos estarão
ligados aos prefixos de acordo com as regras de concordancia. -Oso-oso, tem o significado de
qualquer, assim teríamos por exemplo kima kiosokioso=qualquer coisa,
mutu uosouoso=qualquer pessoa, etc, etc.
Mas o que queremos destacar aqui, são as formas em que -oso-oso, liga-se as preposições
locativas, com os significados dados abaixo.
EXEMPLOS:
Eme ngitena kuxikama buebi?
Eu posso sentar aonde?
Buosobuoso kiriri.
Em qualquer (sobre qualquer) lugar.
Adjetivos
Adjetivos Qualificativos
Aqui também valem as regras de concordancia. Esses adjetivos concordam com a classe do
substantivo ou pronome ao qual estejam referindo-se. Por isso, colocarei cada um antecipado
por "tracinhos", sendo esses tracinhos preenchidos pelo prefixo adequado em cada caso.
---onene=grande ( do mesmo jeito pode siiignificar o advérbio de intensidade=muito, que
quando ligado diretamenteao nome sofre também esta regra de concordancia)
---obe=novo
---ofele=pequeno (do mesmo jeito pode siiignificar o adverbio de intensidade =pouco quando
ligado diretamente ao nome também sofre também esta regra de concordancia)
---okulu=velho
Podemos observar que nos exemplos acima,que esses adjetivos começam na maioria das
vezes pela vogal O
Isso acontece porque foram formados pela contrção da particula do genitivo ---a (=de, do, da),
com o prefixo U dos nomes abstratos.
UNENE por exemplo é um nome abstrato que significa grandeza. MUTU UA UNENE,
siginificaria traduzindo literalmente, pessoa de grandeza, ou seja, pessoa grande. O encontro
da vogal A (de ua_), com a vogal U(de unene), origina a substituição das duas vogais pela vogal
O, dando a forma contrata ---Onene que conhecemos. Então dizemos MUTU UONENE
UBE também é um nome abstrato com o significado de novidade, do qual derivou ---OBE
UKULU também é um nome abstrato com o significado de antiguidade , do qual derivou
---OKULU
a)Concordância com os pronomes pessoais
- Sabemos que os pronomes pessoais tem seus pronomes prefixos, que no caso são os que se
ligarão a esses adjetivos.
Ex. Etu tuonene
Ex. Eie uonene Enu nuonene
Ene onene * Obs=o pronome prefixo de ene(eles) é A, mas no caso este A desaparece quando
do encontro com a vogal O
No caso do pronome pessoal EME(eu), o seu pronome prefixo é ngi, mas não encontrei
nenhuma forma escrita direta Eme ngionene, mas fala-se Eme ngi mutu uonene (eu sou
pessoa grande)
b) Concordância com as classes dos substantivos- Já vimos que existem dez classes de
substantivos em kimbundu, cada qual com seus prefixos de concordancia no singular e plural,
que se ligarão a esses adjetivos qualificativos. Para melhor compreensão, vamos ver cada
classe em separado (ver rodapé da página).
Existem nomes abstratos que se ligam ao nome por meio do genitivo servindo para qualificar
este nome fazendo as vezes do adjetivo.
Ex. Nguzu = Força, vigor.
Ex. Muhatu ua nguzu = mulher de força, isto é, mulher forte.
Ex. Mbote = bom
Ex. Muhatu ua mbote = mulher boa.
Muitos nomes concretos podem ligar-se ao sujeito da frase através de um pronome prefixo ou
através do verbo Kukala (estar) fazendo as vezes de um adjetivo.
Ex. Eme ngi haxi = eu sou doente.
Ex. Eme ngala haxi = eu estou doente.
Existem nomes compostos que tem a função de adjetivo. Com a palavra mukua, que tem o
significado de natural de, dotado de, formamos por exemplo inúmeros adjetivos.
Henda
Múkua - henda
(amor, saudade, compaixão, Akua - henda
(amoroso, compasivo, piedoso)
piedade)
Múkua - ixi
Ixi
(nativo, habitante natural da terra Akua - ixi
(terra)
ou país)
Verbos Qualificativos
Abaixo seguem alguns verbos e os adjetivos formados a partir deles, mas não devemos nos
esquecer que aqui também estão presentes as regras de concordância com os nomes.
Obs. Todos esses verbos apresentam três gradações conforme a conjugação verbal. São verbos
ditos de transição. Como exemplo vamos dar o verbo kuneta (ser gordo, engordar), conjugado
com as três gradações possíveis.
1) Eme ngineta = eu fico gordo.
2) Eme nganete = eu estou gordo (aqui o tempo verbal é o pretérito I que no caso destes
verbos corresponde ao presente do português).
3) Eme nganeta = eu sou gordo.
Advérbios
6) Advérbios de lugar.
Lá
Momo Bobo Koko
(perto)
Lá
Muná Baná Kuná
(longe)
Os advérbios de lugar compreendem três espaços de tempo como visto no quadrinho [Aqui, Lá
(perto) e Lá (longe)]. A estes três acrescentam-se comumente as três preposições locativas que
falaremos mais no tópico respectivo. As três preposições locativas são MU, BU, KU. As três
preposições significam para; por; em; ao; à; aos; às; no; na; nas...; porém MUrefere-se a tudo
que esta dentro, BU refere-se a tudo que está sobre e KU refere-se a tudo o que está próximo,
junto. Estes advérbios nada mais são do que os pronomes demonstrativos tomados
adverbialmente.
Assim quando dizemos mumu como está no quadrinho refere-se a tudo o que está aqui,
porém localizando o objeto ou pessoa dentro, baba ou boba a tudo o que está aqui, porém
sobre e kuku a tudo o que está aqui, porém perto, junto.
Na prática a aplicação destas regras não é rigorosa
Exemplos:
Zá kuku = Vem aqui (isto é, vem aqui perto)
Zenu kuku = Vinde aqui (isto é, vinde aqui perto)
Ndé kuná = Vai lá (isto é, vai lá longe)
O ima ia tata iala mumu = As coisas do pai estão aqui (isto é, aqui dentro)
Tala baba ou Tala boba = Olha aqui (isto é, sobre aqui)
Outros Exemplos
Kiebi ki uazuela? = Como falou?
Eie uazuela kiebi? = Tu falastes como?
Muene uazuela kiebi? = Ele falou como?
Locuções Adverbiais
Vamos mencionar também algumas locuções adverbiais resultantes da união de um nome com
as preposições NI (com) e as preposições locativas MU, BU, KU
Exemplos:
Ni nguzu = Com força, isto é, fortemente.
Ni kuijia = Com sabedoria, isto é, sabiamente.
Interjeição
Interjeição é a palavra que procura expressar de modo vivo um sentimento e tem como
característica portanto, o fato de quase sempre estar acompanhada do ponto de exclamação.
Assim sendo, muitas palavras que pertencem a outras classes gramaticais (como verbos,
adjetivos, substantivos), podem aparecer como interjeiçõs quando apresentam um tom
exclamativo.
Também existem as interjeições onomatopéicas, ou seja, que servem para expressar ruídos.
A locuçao interjetiva, são duas ou mais palavras com valor de interjeição. EX: Lamba riami!
("Coitado de mim!" ou "Ai de mim!" deriva de rilmba=desventura, desgraça + riami=minha,
meu)
Antes de mais nada, é preciso dizer que a mesma interjeição (com o mesmo sentido)em outras
obras escreve-se Eh!, Ê!. Aqui usamos É! conforme a gramática de Heli Chatelain
Quando "É!" acompanha um nome, podendo vir antes ou após este nome, corresponde ao
vocativo = Oh!
Quando a interjeição é vem após um nome, muitas vezes vemos a união desta com este nome
como formando uma só palavra EX: É! ngana!= Oh senhor! Ngan'é! *aqui vemos que a vogal
"A" final de ngana(senhor) foi substituida pelo apóstrofe, e que a interjeição (é!)vem logo em
seguida. Estas aglutinações de palavras são comuns, e farei destaque a este tema em tempo
oportuno.
Quando a interjeição "É" vem seguindo um verbo, serve para dar mais enfase a uma
interrogativa (em qualquer tempo verbal, comparado ao português hein?), ou no tempo do
imperativo, sendo que neste último caso chamaos de imperativo enfático. EX: Kuzuela(-
zuela)=falar
Interrogativa:
Eie uzuela=Tu falas
Eie uzuel'é?= Tua falas, hein?
Imperativo enfático:
Zuela=Fala
Zuelenu=Falai
Zuel'é! Fala! Zuelenu é!=Falai!
Mama=mãe
Mam'é!=Oh mãe!
Tata=pai
Tat'é!=Oh pai!
Mam'etu=minha mãe, nossa mãe
Mam'etu é! Oh minha mãe! Oh nossa mãe!
Mona=filho(a)
Mon'é! Oh filho(a)!
Tuana=filhinhos
Tuan'é!=Oh filhinhos!
Eie uiv'é?=Tu ouves, hein?
Eie uondokuiz'é?= Tu virás, hein? (tempo futuro I de kuiza)
Tund'é!=sai! (imperativo enfático de kutunda)
A seguir, uma sequencia de exemplos de interjeições, e algumas observações necessárias.
Kubá!=interjeição imitativa do ruido causado por alguma coisa que cai. Nos Jinongonongo(vide
menu), tivemos uma frase que serve de exemplo:
Kamuxi mu sala, kubá! * Foi traduzido como "Pauzito na sala, cai!", isto é, Kubá foi traduzido
como cai, pois refere-se ao som da caida.
Temos também em português, interjeições que imitam os sons, como por exemplo, Plaft!
Ploft! Bum!
Uaiá!=interjeição imitativa do ruido que faz a areia ou a chuva quando cai em cima de coisas
sonoras. Nos jinongonongo, também tivemos um exemplo:
Kisekele moxi a funda, uaiá! *Areia dentro de funda, cai! *Novamente, pela difculdade em
transmitir este som, o autor traduziu uaiá como cai.
Piba!=Bumba!
Pi!=interjeição que significa "silencio!"
Pá! Expressão que imita o som de bater
Biki-biki-tunha!=interjeição imitativa do som de um corpo que cai de uma árvore.
Xobo-xobo!=expressão que exprime a queda de um corpo n'água.
Xuku-xuku!=Expressão imitativa de quem soluça
Kixukuxuku=expressão imitativa de quem soluça
Xoko!=Expressaõ imitativa do som de um objeto que cai na água
Leku!=Expressão que significa o repentino clarão do fogo.
Ululu!=Expressão que significa o repentino clarão do fogo.
Uá!=veja! Oh!
Uá!=expressão para significar oposição, desprezo, dúvida.
* A entonação da voz, pode mudar o sentido da palavra, assim vemos uá com duas definiçoes.
Uá!Uá!=interjeição de apupo ou surriada. Desta interjeição se faz o seguinte
trocadilho,quando uma pessoa diz a outra Uá!Uá!, a outra responde: Uá!, uanga(Oh!veneno);
ao que a outra retruca: Ualeba o muzumbu ukoue. (Quem irá bajular é o lábio do sogro(a))
Euah!= Ah! pois sim
De tdos os verbos colocados no imperativo (refere-se a uma ordem) podemos ter uma
interjeição:
EXEMPLOS:
Tunda=sai(tu)
Tundenu=Saí(vós) *Verbo kutunda(-tunda) no imperatvio
Tunda!=Sai! Arreda!
Tundenu!=Saí!Arredai!
Zuela!=Fala!
Iva!=Escuta!
Ivenu!=Escutai! (silencio!)
Kinga!=Espera!
Kingenu!=Esperai!
Tala!=Olha!
Talenu!=Olhai!
Jimba!=Esquece! Ignora!
Jimbenu!=Esquecei, ignorai! Iza!=Vem!
Zá!=Vem!
Zá kuku!=Vem cá!
Zenu!=Vinde!
Ixana!=Chama!
Bita!=Passa!
Binga!=Pede!
Lunda!=Guarda!
Zuata!=veste-te!
Zeka!=Dorme!
Katula!=Tira!
Katulenu!=Tirai!
Lumata!=Morde!
Poderia aqui ficar dando uma infinidade de exemplos, pois que todo verbo no imperativo,
pode tornar-se uma interjeição. De muitos outros verbos, mesmo quando não conjugados no
imperativo, derivam também outras expressões exclamativas.
Interrogativa no Kimbundu
1) kuxi? = qual?
Neste caso refere-se a um grupo em específico, isto é, qual destes(as) ou daqueles(as).
Ex. O tata uebula: Mona kuxi uandala kurilonga kimbundu? = O pai perguntou: Qual filho (isto
é, qual destes) deseja aprender kimbundu?
b) Quando o inverso acontece, isto é, vem precedendo o verbo, ele é seguido por seu prefixo
de concordância. Assim, inii pertence a Classe IX tendo seu prefixo de concordância I.
Ex. Inii i tuondoria? = O que comeremos?
Ex. Inii i uandala? = O que desejas?
Ex. Inii i ubanza? = O que pensas?
Ex. Inii i ulonga? = O que ensinas?
Ex. Inii i unua? = O que bebes?
c) Inii entra nas regras de concordância quando segue um nome de Classe dos substantivos.
Isso porque a forma original era ligada ao nome pelo genitivo (de, do, das...). A forma original é
por exemplo mutu ua inii, isto é, que espécie de pessoa, que deu origem a forma mutu uanii.
Vemos que o prefixo de concordância U da palavra mutu que pertence a Classe I liga-se a
palavra ---anii (que é o genitivo ---A ligado a inii que perdeu a sua vogal inicial I). Assim
também vão se ligar todos os prefixos de concordância das Classes a palavra ---anii. A tabela
abaixo serve para explicar como ficam os nomes quando diretamente ligados a ---anii.
---anii
Classes do substantivo Prefixos de concordância Exemplo de frase
(que? qual?)
Classe
Mutu uanii uzuela
I
U uanii kimbundu? = Que pessoa
Singular
(quem) fala kimbundu?
(Mutu)
Classe
Atu anii azuela
I
A anii kimbundu? = Quais
Plural
pessoas falam kimbundu?
(Atu)
Classe
Muene uatange mukanda
II
U uanii uanii = Ele leu que ou
Singular
qual carta?
(Mukanda)
Classe
Muene uatange mikanda
II
I ianii ianii? = Ele leu que ou
Plural
quais cartas?
(Mikanda)
Classe
Muene uebula kima
III
Ki kianii kianii? = Ele perguntou
Singular
que coisa? (isto é, o que?)
(Kima)
Classe
Muene uebula ima ianii?
III
I ianii = Ele perguntou que
Plural
coisas?
(Ima)
Classe
V Uhaxi uanii eie uala ni? =
U uanii
Singular Que doença tu tens?
(Uhaxi)
Classe
Mauhaxi manii eie uala
V
Ma manii ni? = Que doenças tu
Plural
tens?
(Mauhaxi)
Classe
Lumuenu luanii muene
VI
Lu luanii uasumbu? = Que espelho
Singular
ele comprou?
(Lumuenu)
Classe
Malumuenu manii muene
VI
Ma manii uasumbu? = Que
Plural
espelhos ele comprou?
(Malumuenu)
Classe
VII Tubia tuanni? = Qual
Tu tuanii
Singular fogo?
(Tubia)
Classe
VII Matubia manii? = Quais
Ma manii
Plural fogos?
(Matubia)
Classe
VIII Eie uandala kunua kuanii?
Ku kuanii
Singular = Tu desejas qual bebida?
(Kunua)
Classe
Eie uandala makunua
VIII
Ma manii manii? = Tu desejas quais
Plural
bebidas?
(Makunua)
Classe
Enu nuala ni uoma nioka
IX
I ianii ianii? = Vós estas com
Singular
medo de que cobra?
(Nioka)
Classe
Enu nuala ni uoma jinioka
IX
Ji jianii jianii? = Vós estas com
Plural
medo de quais cobras?
(Jinioka)
4) nanii? ou mukuanii? = quem?
Ex. Eie u mona ua nanii? = tu és filho de quem?
Ex. Mukuanii uzuela o kimbundu kiambote? = quem fala bem o kimbundu?
Ex. Mukuanii uala ni uoma? = quem está com medo?
Ex. Mukuanii uala ni nzala? = quem está com fome?
Ex. Mukuanii uala mu zuela? = quem está a falar? (quem esta falando?)
Plural de mukuanii = akuanii = quem? Nanii é invariavel, não tem plural.
5) ---kuxi?
Aqui entram as regras de concordância, os prefixos das Classes dos substantivos se ligarão aos
tracinhos. Serve para perguntar a quantidade. Tem o significado de quanto, quanta, quantos,
quantas.
Obs. importante Na Classe I além da forma em que o prefixo de concordância liga-se a ---kuxi
também é correto falarmos kikuxi mas isto refere-se somente a esta Classe. Seguem alguns
exemplos:
Ex. Akongo akuxi? ou Akongo kikuxi? = Quantos caçadores?
Ex. Atu akuxi? ou Atu kikuxi? = Quantas pessoas?
Ex. Jinzo jikuxi? = Quantas casas?
Ex. Jisanji jikuxi? = Quantas galinhas?
Ex. Jipoko jikuxi? = Quantas facas?
Ex. Matari makuxi? = Quantas pedras?
Ex. Maju makuxi? = Quantos dentes?
Ex. Ana akuxi ou ana kikuxi? = Quantos filhos?
9) kiebi? ou kié? = como?
Ex. Muene uala kiebi? = Ele está como?
Ex. Uala kiambote = Está bem?
Observação - Quando vem precedendo o verbo é seguido pelo seu prefixo de concordância
que no caso é ki, pois pertence a Classe III.
Ex. Kiebi ki uala? = Como estás?
Ex. Kiebi ki uijia o rijina riami? = Como sabes o meu nome?
Ex. Kiebi ki uazeke? = Como dormistes?
10) Muebi ou mué?, buebi ou bué?, kuebi ou kué? = aonde?
Aqui vemos as três preposições locativas (mu, bu, ku), ligadas a palavra ebi sendo mu em
referência a tudo que está contido (dentro); bu a tudo que está na superfície sobre; ku a tudo
que não está ligado em separado, fora, porém, próximo. Então muebi seria aonde
(dentro); buebi aonde (sobre); kuebi aonde (próximo, fora).
Ex. O kamba rietu riala kuebi? = O nosso amigo está aonde?
Ex. O ima iami uala muebi? = As minhas coisas estão aonde? (dentro de onde?)
Comparação no Kimbundu
1) Comparativos de Igualdade: dizemos que uma coisa é igual a outra (nas dimensões), ou que
é ou faz como a outra
a)O verbo Kusokela (-sokela)- que significa "ser igual, parecer-se", seguido da preposição
NI(com), isto é kusokela ni=parecer-se ou assemelhar-se com.
Exemplo:
O kim'eki kiasokela ni kiná
A coisa esta assemelha-se (em tamanho) com aquela (tradução ao pé da letra)
Exemplo:
Muene uolozuela kala mundele
Ele está falando como (um) branco
Mon'ami uolozoua kala mbiji
Meu filho está nadando como um peixe
Também é comum vermos o verbo Kubeta seguido da palavra kota(forma abreviada originada
de rikota), que tem o significado de superior, melhor, mais velho, maioral. Assim kubeta o kota
pode-se traduzir como ser superior, ser melhor, ou seja vence ou bate em superioridade
Exemplos:
4)Superlativo absoluto-
a)forma-se através de um verbo (afirmativo), e o seu relativo na negativa, usado na
comparação
exemplo:
Uakemba, k'a-mu-kembel'á (É bela, nem há quem seja mais bela do que ela)
As formas de conjungação, serão abordadas com mais ênfase no link específico)
b) forma-se através da duplicação, repetição, ou através do uso das palavras kiavulu, kionene,
kinene, muene.
Kionene=muito, grande
Kinene=muito, bastante
kiavulu=muito, abundantemente
Muene=mesmo- reforçando uma palavra, dá o sentido também de muito, bastante
Nas duplicação teremos as palavras kionenene(grandíssimo), kiofelefele(pequeniníssimo,
muito pouco, pouquinho)....
Exemplos: Kiambote kiambote (neste caso temos a repetição da palavra)
Muito bem
Kiambote=bem
Sandu-sandu
Santíssimo
Sandu=santo (palavra derivada do português santo)
O Verbo
INFINITIVO
ngi: me
ku: te
mu: o, a, lhe
tu: nos
nu (ou mi no sertão): vos
a:os, as, lhes
Esses pronomes irão ficar entre o prefixo KU do infinitivo, e o radical varbal> Alguns autores
preferem fazer a escrita em separado (prefixo+pronome objetivo infixo+radical verbal),
enquanto outros escrevem sem a separação. Para mim, prefiro colocá-los em separado, pois
sempre me facilita o reconhecimento desta construção verbal.
Exemplo do verbo Kuzola no infinitivo, com os pronomes objetivos infixos
Kuzola= amar
O prefixo do infinitivo encontra-se presente (KU)
O radical do verbo é -zola
O pronome objetivo irá ficar entre o prefixo e o radical verbal.
Ku ngi zola=amar-me
Ku ku zola= amar-nos
Ku mu zola= amá-lo("amar-lhe")
Ku tu zola=amar-nos
Ku nu zola=amar-vos
Ku a zola= ama-los ("amar-lhes")
Importante também lembrar do pronome reflexivo RI(ou DI), que dá a ideia de fazer (ou
praticar a ação) a si próprio, que pode ficar inserido entre o prefixo do infinitivo e seu radical
verbal, escrito assim por alguns autores. Em Cordeiro da Matta, ele costuma escrever sem
esta separação, e classifica até mesmo como um novo verbo, a que chama de verbo
reflexivo.
Kuria(ou Kudia)=comer
Kuriria(ou kudidia)=comer-se, matar-se
Kujiba=matar
Kurijiba=matar-se, suicidar-se
Kueha=deixar, largar
Kurieha=deixar-se estar, desmazelar-se (isto é largar a si próprio)
Kulunda=guardar,conservar, reservar
Kurilunda=recatar-se, estar de reserva, guardar-se
Kuzola=amar, gostar
Kurizola=amar-se
Porém alguns autores preferem deixar a escrita em separado, e escreveriam por exemplo Ku ri
zola e não kurizola
EM BREVE CONTINUAREMOS
Verbos Iterativos
Exemplos:
kujikula: abrir
kujikujula: abrir continuamente, sempre
Existem três regrinhas fáceis para sabermos a formação destes verbos. Para vê-las, basta clicar
no quadrinho abaixo.
Os nomes em kimbundu são derivados quase sempre de um verbo. Seria o que corresponde
em português por exemplo, em relação aos verbos: cantar-cantor/canto; sofrer-
sofredor/sofrimento; construir-construtor, etc...
Veremos logo seguir como se processa esta derivação, de acordo com cada classe(I a X) do
substantivo. Isto nos ajuda bastante com o vocabulário, pois ao conhecermos o nome,
podemos chegar muitas vezes ao verbo e vice versa.
Os verbos no infinitivo em kimbundu, são todos iniciados pelo prefixo KU, sendo que o radical
verbal é o mesmo verbo porém sem este prefixo, que vamos substituir por um tracinho(-).
Assim por ex Kuzola=amar; -zola=radical verbal de Kuzola.
Nos nomes derivados dos verbos, iremos sempre trabalhar com o radical verbal, e no lugar do
tracinho, iremos colocar o prefixo de classe. Para ver as regras e exercícios correspondentes a
cada classe, clique abaixo.
Não deixe de ver, este é um tema importante e muito interessante.
Nomes Compostos
Na gramática portuguesa definimos os nomes compostos como sendo aqueles formados por
mais de um radical, isto é, em sua formação identificamos a união de mais de um
nome(substantivos), ou de um verbo e um nome, ou de um nome e um adjetivo, dando origem
a uma nova palavra.
Muitos nomes compostos resultaram da contração de dois nomes, ou de um verbo e um
nome; como por exemplo nas palavras planalto(=plano+alto), ou girassol(gira+Sol).
Tal como na gramática portuguesa, em kimbundu encontramos inúmeras palavras compostas,
especialmente os nomes de plantas, sendo muitas destas palavras originadas também da
contração de palavras.
A seguir vamos separar com exemplos, algumas variantes em que ocorrem a formação destas
palavras.
A palavra MUKUA-, nunca é usada em separado (segundo Heli Chatelain), e serve para a
formação de inúmeras palavras compostas em kimbundu. Por esta razão, na gramática de Helli
Chatelain, ele a escreve seguidade de um hifen(-), significando que a ela estará ligada outra
palavra.
Podemos definir a palavra MUKUA-, como possuidor de-; dono de-, natural de-, dotado de-
Seguem alguns exemplos:
b)Mukua-kulúa=mendigo, pedinte
Temos aí a união da palavra MUKUA- com o verbo kulúa= mendigar, ser parasita, viver a custa
alheia.
OBSERVAÇÃO- notamos aqui como a pronúncia é importante. Temos aí dois verbos, sendo
que em um, a pronúncia da silaba tônica ocorre na sílaba ku (kú-lua) e no outro na sílaba
lúa(ku-lúa).
Heli Chatelain em sua gramática, diferentemente de outros autores, somente acentua as
palavras que fogem as regras de pronúncia, sendo que de regra geral, o acento tônico(sílaba
de maior intensidade sonora), sempre recai na penúltima sílaba.
Assim a própria palavra mukua, quando separarmos as sílabas temos MU-KUA, é escrita por
ele sem acento, pois está dentro da regra geral, ou seja, o acento tônico está na sílaba
MU(penúltima sílaba). Outros autores porém, procedem a centuação da mesma, escrevendo
MÚKUA. O próprio verbo kúlua(kú-lua) que aqui escrevi com acento, não é acentuado por Heli
Chatelain, pois este não foge a regra geral por ter o acento tônico na penúltima sílaba (kú)
Este assunto será mais detalhado no item de acentuação, em que poderemos inclusive
reforçar algumas regras de pronúncia.
Esta é a mesma palavra que já vimos anteriormente (mukua-kúlua), sendo que aqui escrita de
forma contrata.
Isto deve-se a contração que pode ocorrer, sempre que a sílaba Ku e a vogal A se encontram,
originando a vogal O. Fazem exceção a regra, quando temos formações verbais com vogal A
inicial, e nestes casos nunca ocorrerá a contração.
Mukua-kúlua=Mukuolua.
Outros exemplos:
b)Mukuozanga=estragador, esbanjador
União da palavra Mukua com o verbo Kuzanga(=estragar, esbanjar)
*Também podemos escrever Mukua-kuzanga
OBSERVAÇÃO: No plural dos nomes compostos com a palavra mukua, somente o vocábulo
mukua toma o prefixo do plural(akua)
Assim:
Mukua-kúlua=akua-kúlua
a)Muenexi=soberano, rei
Muenexi é a união da palavra muene(senhor, dono, proprietário, possuidor), com a palavra
Ixi('xi=terra). Seria o "senhor da terra" e em muitos dicionários é traduzido com rei, e em
alguns como sinônimo de soba(régulo).
Já vimos o genitivo -a(de, do, da, dos, das), em kimbundu, que dá o sentido de posse, e
escrevemos com o tracinho a frente, para lembrarmos que o mesmo entra nas regras de
concodância. Seguem alguns exemplos de nomes compostos resultantes desta união.
Não podemos esquecer também vários nomes compostos referentes aos filhotes de animais,
formados muitas vezes a partir da palavra Mona unida ao nome do animal em questão.
Assim:
Mon'a ngombe (ou Mona-ngombe)=bezerro (filho do boi)
Mon'a sanji (ou Mona-sanji)=pintinho (filho da galinha)
Mon'a ngulu (ou mona-ngulu)=leitão, porquinho(filho do porco)
*E em Mona-njila=passarinho, teria o sentido de diminutivo (de pássaro=njila)
Também vale a pena relembrar que a maioria dos nomes em kimbundu (com algumas
exceções) são epicenos, isto é, náo especificam o sexo, servindo indiferentemente tanto para o
sexo masculino quanto o feminino.
Assim quando queremos especificar o sexo(feminino ou masculino), juntamos ao nome em
questão, unindo através do genitivo(-a), a palavra muhatu(mulher) para o sexo feminino, e e
riala(ou diala)=homem para o sexo masculino. Todas estas palavras serão portanto palavras
compostas.
Exemplos:
Mukongo=caçador ou caçadora.
Mukongo ua muhatu=caçadora.
Mukongo ua diala=caçador.
Ngombe=boi ou vaca
Ngombe ia muhatu=vaca
Ngombe ia diala=boi
IV-Nomes compostos por um radical verbal e um nome (sendo precedido por um prefixo de
classe do substantivo). Seguem exemplos:
a)Kijibanganga=assassino, matador
KI=prefixo de classe
-Jiba=radical do verbo kujiba=matar
Nganga=sacerdote, feiticeiro
c)Kiba-muenhu=salvador, protetor
Ki=prefixo de classe
-Ba=radical do verbo Kuba=dar, oferecer.. Muenhu=vida
*Seria aquele individuo que dá a sua própria vida em favor de alguém.
V-Nomes compostos em que a segunda palavra (hoje sufixos), antigamente era uma palavra
independente (kaji, kimi)
Kaji equivalente a mulher(de mukaji), e kimi relativo provavelmente a varão (segundo Heli
Chatelain). Hoje porém os nomes compostos com estes elementos que assumem função de
sufixos, são na maioria epicenos(isto é, não especificam o sexo, servindo tanto para masculino
quanto para o feminino, com exceção da palavra mbalakaji=nora). Segundo Cordeiro da Matta,
kimi parece significar alto, grande, muito poderoso; pois que se diz "ki ia me", significando meu
rico, para mim, excelso, etc. Assim a palavra muariakimi (muari ia kimi), teria o significado de
superior, grande senhor (forma como são tratados os mais velhos) Seguem exemplos:
b)Kiriakaji=comilão(comilona)
Ki=prefixo de classe
-Ria=radical do verbo Kuria=comer
Kaji=sufixo já comentado
c)Kirimakaji=lavrador
Ki=prefixo de classe
-Rima=radical do verbo kurima=cultivar, lavrar, capinar
Kaji=sufixo já comentado
VII- Nomes que s-ao compostos devido a repetição do primeira palavra, porém sem repetir
seu prefixo de classe. Seguem exemplos
c)kifusefuse=sarampo
d)kikubakuba=praga
e)Kibatubatu=casca, cavaco
f)Kilukuluku=calor
g)Kisokosoko=alto da cabeça
h)kisekeseke=troco(dinheiro de menor valor, miudo), miudo
Jisabu
Jisabu é o plural de sabu, palavra do kimbundu, que significa provérbio, segundo Heli Chatelain
e Cordeiro da Matta.
Com esta página, pretendo reunir ditos populares nas línguas nativas de Angola, iniciando logo
abaixo uma coleção em kimbundu.
Ainda estou começando, e pretendo aos poucos ir colocando todo o material que disponho;
bem como fico no aguardo daqueles que possam me ajudar, colaborando com o acréscimo
deste trabalho.
Os ditados abaixo estarão traduzidos nem sempre ao pé da letra para que possam ser
compreendidos de acordo com a lingua portuguesa.
Observação= nos "jisabu" as coisas geralmente são "personificadas" e regem o verbo como os
nomes da classe I. Portanto teremos variações quanto as regras de concordancia que não
devemos estranhar.
1) Bengu uarimukina mu huina uê.
O rato é esperto na sua toca
* Bengu: forma contrata de ribengu (rato)
15)Kuba ki kutex' ê.
O dar não é perder.
30)Hengele, hengele, ndunge, ndunge; hengele ia mukaji a mona, ndunge ia ukoakimi; hengele
u itela njimu. Kioua n'abukujuka.
Sátira, sátira, astúcia, astúcia; a sátira da nora, astúcia do sogro, a sátira coloca-se para o
esperto. O tolo anda a abanar a cabeça.
*Oscar Ribas em seu livro "Ilundu" , comenta que a palavra nguba deriva do verbo kuba(dar,
reproduzir), em alusão ao inesgotamento do fruto debaixo da terra
93)( O ima) I ua ngi bele nga i ria kiá; mulonga, u ua ng' ambele, ió ku muxima.
(As coisas) que me destes, eu já as comi; a palavra, que me disseras, essa (está) no coração
Jinongonongo
(Enigmas)
Nongonongo jami= que eu traduzo como :Meus enigmas, ou minhas adivinhas, ou minhas
proposições(vide observações-1)
Os presentes repondem:
Nongojoka=Proponha a decifraçaõ do enigma (vide observações) 2)
Assim, depois que ninguém decifrou, aquele que propôs o enigma, revela a solução, e diz:
Soba iokute-kange (ou iokange)=O soba está amarrado, bem amarrado. (vide observações 4).
Acresecenta ainda:
Kopo o ié(copo o teu); Kopo o iami (copo o meu); Kopo o iê (copo o seu)
Obeservações:
1-Aqui vemos que a oração encontra-se no plural e concluímos isso devido as regras de
concordância (vide gramática). Jami está em concordância com Jinongonongo, que nesta frase
está com seu prefixo de classe suprimido, escrevendo-se Nongonongo. Mesmo quando ocorre
a supressão do prefixo de classe, a concordância permanece viva.
2- Nongojoka, nada mais é que o verbo Kunongojoka (-nongojoka), cuja definição é: propor a
decifração de um enigma. Aqui está colocado no imperativo, e traduzimos como "proponha a
decifração do enigma".
3-No dicionário de Cordeiro da Matta, temos soba = régulo, potentado, e também como sendo
palavra que o proponente de enigmas (jinongonongo) exige que lhe dêem (Ngi bane soba); os
circunstantes que não souberem decifrar qualquer enigma que ele propuser.
Poderiamos traduzir a frase ngi bane soba, como "dá-me soba".
Nogbana ou nga ku bana o soba, traduzido como dar-te-ei o soba, ou seja dar-te-ei o "título"
de soba,(foi o que conclui) sendo considerado soba(rei) neste passa-tempo, aquele que propôs
um enigma que ninguém conseguiu decifrar. Assim é que também dizem Soba ioio=Esse soba,
isto é, chamando de soba, aquele que propôs um enigma que ninguém decifrou.
4-Aqui vemos a presença de dois verbos que possuem significados semelhantes, e serve
portanto para reforçar a idéia, e por isso da tradução dada por Heli Chatelain, como "Está
amarrado, bem amarrado."
Kukuta(-kuta)=amarrar, atar, ligar, agarrar
Kukanga (-kanga)=atar solidamente. Aqui, a definição dada por Heli Chatelain foi por isso "bem
amarrado"
A seguir, uma sequencia de jinongonongo. O autor, faz várias referencias as regras gramaticais.
Aqui deixo de fazer estas observações, mas pretendo com o tempo, ir trazendo as mesmas
colocadas como exemplos nos tópicos específicos, ficando aqui somente com a tradução dada
por ele. Colocamos a letra P como indicando a proposição, e R como a resposta.
1-P:Kamuxi mu sala, kubá
Pauzito na sala, cai.
R:Menia ma funji.
Agua de infundi.
5-P:Rizanga, ri abânga Tumba Ndala: Jimbiji, jimbiji kiá, jene bu o muene. Uoso uia mu
kuasa-bu, né imoxi ngó.
A lagoa, que fez Tumba Ndala: peixes, peixes já, eles estão lá mesmo. Todo(que) vai para fisgar
nela, nem um só
R:Rikoko.
O coco.
R:Ribitu.
A porta.
Misoso, é uma palavra pertencente ao kimbundu (plural de musoso), que significa contos,
apólogos, fábulas. Esta definição está de acordo com Chatelain e Cordeiro da Matta, porém
Rosário Marcelino, em seu livro "Jisabhu-Contos Tradicionais" questiona estas definições
Segundo este escritor, Misoso é o plural de Musoso, e representa o conjunto de adivinhas, e
Jisabhu o conjunto de contos (ficção), fábulas, provérbios, adágios; e Jinongonongo, uma
variante da língua kimbundu que tem o mesmo significado que Misoso. Diz-se (segundo o
autor Rosário Marcelino) Misoso nas províncias de Kwanza-Norte e Malanje; Jinongonongo,
nas províncias de Luanda a Bengo (anteriormente constituiam uma só província).
Ainda segundo a escrita de "Jisabhu" com "H" entre "B" e "U", justifica da seguinte forma:
"A sílaba "BU" de jisabhu, não cai abruptamente; daí a razão pela qual se lhe antepões o "H". É,
portanto uma sílaba semi-aspirada, o que lhe dá um valor fonético aproximado ao "V".
A Mulher Antojada
Este conto, encontra-se na gramática de Heli Chatelain, em uma capítulo a ele
destinado(MISOSO segundo o autor).
Trata-se da versão na forma escrita de um conto que faz parte da literatura oral, puramente
nacional.
Em seu livro ele aproveita o texto, para colocar observações de gramática, que pretendo
futuramente destacar.
O texto está em kimbundu com a respectiva tradução para o português.
Trago este conto, sem contudo fazer muitas alterações da forma original traduzida como foi
colocada por ele, que embora muitas vezes possa nos parecer estranho da nossa forma
habitual de escrita, esta maneira facilita a nossa compreensão.
Deixo a tradução entre parenteses.
Eme ngatelele ngana Kimalauezu kia Tumba Ndala, (Eu contava (do) senhor Kiamaluezu de
Tumba Ndala) uakexiriê ni mukaji ê, (que estava com a mulher dele) kurima ria kukala anga
akalâ mukaji ê anga uiza uimita. (atrás de ser e estavam, a mulher dele
veiu(a)conceber).Muene kana kariê xitu,(ela não comia carne) maji usema ngó mbiji.(mas
antojava só peixe) O riala, ki aia mu tamba, ubeka ndumba ria jimbiji. (O homem, quando ia
pescar, trazia quantidade de peixes). O jimbiji anga jilengela mu ngiji iengi.(Os peixes pois
refugiaram-se para rio outro) O riala anga uambela o muhatu, uixi: (O homem pois disse à
mulher, disse:) Ngi ririkile huta,(prepara-me comida,)anga o muhatu uririka o huta, (e a
mulher preparou o comer), anga o riala riia bu ngiji,(e o homem foi para o rio) bu alengelele o
jimbiji anga ubanga-bu o fundu iê anga uria. (onde tinham fugido os peixes e fez lá o seu
fundo e comeu.) Ki azubile, uixi: (Tendo acabado, disse:) "Ngiia mu tamba, anga utakula o
uanda. ("Vou pescar, e lançou a rede.) Luarianga kakuateriê kima, (A primeira vez não
apanhou nada,) lua kaiari kiomuene, (a segunda o mesmo,) o lua katatu anga uivua uanene
anga uivua moxi a menia muixi:(a terceira vez então sente (a) pesada e ouve dentro da água
dizendo:) "Kinga, mbata mukuenu mukua-mona" (Espera, porque o teu amigo (é) pai de
familia.) Kia azubile o kukinga anga uivua ringi muixi; (Tendo terminado o esperar então ouve
outra vez, dizendo:) Sunga kiá! (Puxa já!) Anga usunga kimbiji kionene anga u ki ta
muhamba. (E puxou um peixão grande e pô-lo na muhamba) anga umateka o kuenda. (e
começou a andar.) Maji o jimbiji joso jakexile mu kaiela o kimbiji eki, (Porém os peixes todos
estavam a seguir o peixão este,) o riala anga rivua-jinga ngó mu iangu : ualalá! ualalá! (o
homem e ouve continuamente só no capim: ualalá! ualalá!) -Ki akexile kiá mu bixila ku
bata, (Quando estava já a chegar em casa) o muhatu uendele ku mu kauirila ni akua-riembu
riê. (a mulher foi encontra-lo com os vizinhos dela.) Ki abixirile ku bata, (Quando chegou em
casa,) o riala anga ribana o mbiji pala ku i banga. ( o homem então deu o peixe para ser feito
(faze-lo)) O muhatu pe anga uambela o riala, uixi: ( A mulher porém disse ao homem,
disse:) "Banga-iu! (Escama-o tu! (Faça-o tu)) O riala uixi: Nguami. ( O homem disse: Não
quero.) O muhatu anga umateka o ku i banga ( A mulher pois começou a escama-lo.) Maji o
mbiji iakexile mu kuimba, ixi: ( Mas o peixe estava a cantar, dizendo:) Ki u ngi banga, ngi
bang'ami kiambote (Escamando-me(fazendo-me) tu, escama-me bem.) Ki azubile anga u i ta
mu 'mbia, (Quando acabou ela o pôs na panela,)maji o mbiji iakexirilê hanji mu kuimba (mas
o peixe estava ainda a cantar.) O mbiji ki iabile (O peixe quando estava pronto,) o muhatu
anga uririka malonga matanu anga ukuvitala o riala ni akua riembu riâ; (a mulher então
arranjou pratos cinco e convidou o marido e os vizinhos deles;) ene anga a ri tunâ ( eles porém
recusaram.) Muene anga uria k'ubeka uê. (Ela pois comeu sozinha.) Ki azubile anga ukatula o
rixisa ni pexi iê (quando acabou tirou a esteira e o cachimbo seu) anga u ri zala mu kanga, (e
estendeu-a no chão(no meio da casa ou do quintal,)) anga uivua mu rivumu uixi: (e ouviu na
barriga, dizendo:) Ngitundila kué? (Sairei por onde?) O muhatu uixi; ( A mulher disse:) Tundila
ku makanda me 'nama. (Saia pelas plantas dos pés.) O mbiji ia mu kumbuile: (O peixe lhe
respondeu:) Ku inama ié, (pelos teus pés,) ku uenioriatela o matuji, (com que costumas pisar
as porcarias,) Kuene ku ngitundila? (por ai hei de sair?) O muhatu uixi: ( A mulher
disse:) Tundila mu kanu (Sai pela boca) -Mu kanu, (Pela boca) mu ua ngi miniina, (em que tu
me enguliste,) muene mu ngitundila? (pela boca, em que tu me enguliste, por ai hei de
sair?) O muhatu uixi: (A mulher disse:) Sota buoso bu uandala. (Procura onde quer que
desejas.) O mbiji ixi: (O peixe disse:) Eme ze ngitund'ó! (Eu pois saio lá) anga o muhatu ubaza
bu 'axaxi. (e a mulher rebentou no meio.) O mbiji anga iiê. (O peixe porém foi-se embora.)
Colunas
A Linguagem no Candomblé
Sabemos como já vimos (vide o link "Pronúncia") que somente podemos encontrar a forma
escrita R seguida da vogal I, porém com frequência vemos comumente palavras pronunciadas
com R seguidos de outras vogais no candomblé, aonde este R normalmente deveria estar em
kimbundu substituido por L. Assim, por exemplo, pronuncia-se no candomblé INGOROSSI,
ANGOROSSI, palavra que não encontramos no dicionário de kimbundu, e sim Ngoloxi. Aqui
vemos também a troca da letra X pela letra S. Não podemos dizer que existe erro
propriamente se considerarmos o aspecto que a língua adquiriu no Brasil, fazendo com que a
linguagem usada no candomblé assumisse quase que um caráter de uma nova língua criada a
partir da miscigenação. Pude ver um dicionário Portugues-Chisena, falado em Moçambique,
que encontra-se na internet (http://cabanavc.com/dicio/), palavras como Njara (fome), e nos
dicionários de kimbundu temos Nzala (fome). Já ouvi pronunciarem e traduzirem no
candomblé Zara, com o mesmo significado.
Isto não deve nos causar espanto algum, pois sabemos que aqui no Brasil houve uma mistura
de etnias (destaquei aqui em específico o bantu), que puderam notar semelhanças em seu
linguajar - da mesma forma que os estudiosos já haviam notado a mesma semelhança -
fazendo com que Wilhelm Eirich Emmanuel Bleck, que dedicou-se ao estudo comparado das
linguas Sul-Africanas, as designassem com o nome genérico de Linguas Bantu.
Com isso porém, não devemos esquecer, que não trata-se de uma cultura única, logo não
podemos unificar costumes e tradições diversas como vejo comumente, sendo catalogados
como do "povo bantu". De certo, povo bantu, mas somente pelo tronco linguístico comum,
mas sem esquecer que embora existam semelhanças na língua, a corrente migratória ao longo
do tempo acabou por diversificar muitos costumes de cada qual em particular.
Desde que a Hp foi lançada, tenho recebido muitas mensagens e solicitações sobre termos
usados no candomblé, e bem sei a dificuldade de encontrar palavras tal como são
pronunciadas em um dicionário, devido não só as deturpações que ocorreram por parte de
alguns que repassaram da forma que "escutaram", muitas vezes com falhas na compreensão
auditiva, além de repassarem muitas vezes para o papel de forma errada; ou muitas vezes até
receberem a forma escrita correta, porém aquele que lê a pronuncia de forma incorreta por
desconhecer a "correta" escrita e a pronúncia (por convenção daqueles que assim
estabeleceram a língua da forma escrita), como é o caso da troca do som do G de gato; como
por exemplo na palavra Ngimbiri (ou ngimbidi), pelo J, em que o menos avisado lê e pronuncia
Injimbiri (ou Injimbidi); e assim ao longo dos anos os erros foram avolumando-se. Fora estas
deturpações, temos também como já disse, que considerar a mistura que ocorreu aqui no
Brasil, dos diversos grupos etnicos.
Por este último fator, teríamos que passar tal como Bleck, a tentar comparar a língua dos que
aqui chegaram. Heli Chatelain em sua gramática coloca nas regras fonológicas e eufônicas
observações para cada letra em particular, e faz referências as trocas (de uma para outra letra
em dialetos e línguas afins).
Isto pude entender após ler atentamente, e chegar mesmo a poder comparar algumas
palavras nestes dialetos e línguas irmãs que possuem a mesma definição para o português e
percebi que houve a troca de uma letra (comparando uma com a outra), por variações da
pronúncia que ocorrem entre estes povos. Este assunto terá seu destaque no menu da Hp,
onde pretendo estar abordando o mesmo de forma mais profunda e exemplificada.
Assim devo dizer que muitas palavras incluidas no candomblé de Angola que não
encontrávamos nos dicionários, poderão ser traduzidas quando passamos a dar atenção a tudo
o que explanei acima.
Não devo dizer que é facil chegarmos a todas as traduções, o caminho é longo e penoso,
principalmente para mim que ainda sou novata no candomblé. Existem também termos
restritos, palavras que por ter seu caráter tão específico não são encontradas em um
dicionário comum. Muitos me pediram para traduzir cantigas e mesmo rezas, e este não é um
trabalho para mim. O que faço, e costumava fazer no fórum (hoje fora do ar), era trazer uma
lista de palavras contidas nas cantigas ou que fossem semelhantes a elas - mas colocar uma
forma escrita apropriada como muitos queriam, nunca. Não posso afirmar que uma palavra
não existe somente por não a ter encontrado em um dicionário e trocar simplesmente por
outra parecida, muito embora consiga perceber muitas vezes que nelas (muitas na forma em
que me apresentaram) devam existir erros. Este é um trabalho que caberia melhor para os
mais velhos, que podem unir o conhecimento e o estudo da linguagem, aos fundamentos do
culto.
A língua está aí para nos ajudar a entender melhor o que possuímos e não para criarmos o
novo ou darmos asas a imaginação. O objetivo do meu trabalho é colocar disponível o material
que possuo e os estudos que vou fazendo a respeito da língua em si. Trocar ou corrigir o que
me pedem a respeito do candomblé, é um trabalho que não me compete. Também sou
contrária a idéia que muitos tiveram a partir do estudo da língua - passarem a criar novas rezas
e cantigas mais "corretas" quanto a tradução, por saberem o quanto é difícil entender o que já
possuem ou ainda então para preencher a lacuna do que não receberam.
Que o bom senso possa atingir estas pessoas, para que percebam que o legado cultural que
temos é imenso, e que devemos preservá-lo a todo custo. Não se pode jogar fora assim todo
um patrimônio cultural, toda uma história, tudo o que aqui foi implantado pelo negro em
nossas terras. Que se unam para compreender melhor, chegar a um consenso, e não para
apagá-los de nossa memória. Esquecem do homem que trouxe a língua, preferindo ficar
somente com lingua que este homem trouxe, e muitas vezes passando a criar rezas e cantigas
que nem mesmo se enquadram no contexto do divino ou da divindade. Na ansiedade de
pureza e de entendimento, o candomblé passa por uma fase obscura, condenado talvez a
extinção, ou seja, a troca de ritos, rezas, e/ou cantigas por outros elementos que aqui não
chegaram ou não se propagaram ou, ainda, não se enquadram dentro do contexto religioso.
Eu aprecio a leitura sobre a cultura dos povos de Angola, porém as tenho somente a nível
histórico e de conhecimento - mas em relação ao culto até hoje não li nada que abordasse ou
que pudesse ser comparado com a iniciação religiosa tal como vemos aqui no Brasil, no
candomblé de Angola, em nenhum destes livros. Li sim, outros ritos que não enquadram-se no
contexto religioso do candomblé. Muitos defendem mudanças somente devido a algumas
semelhenças contidas entre alguns elementos da ritualística, mas infelizmente parecer não é
ser. E digo que por enquanto nada encontrei, e aquele que tenha encontrado algo por favor
me forneça a fonte. Todos, tenho certeza, gostariam de poder ler algo semelhante a iniciação
no candomblé em terras africanas, eu não sou diferente, muito embora mesmo assim as
usasse como forma comparada, pois sabemos que o tempo impõe mudanças, e teriamos que
saber a época a qual refere-se o autor, bem como não devemos nos esquecer das mudanças
ou adaptações impostas pelo meio.
Tenho me dedicado ao estudo da língua, porém quando falamos candomblé, creio que nada
melhor que dirigir estes assuntos àquela a quem foi destinada a orientar o início de minha
caminhada e o rumo de meus passos dentro do culto, a minha Mãe Maza Kessy. Sabendo do
anseio de muitos, pedi à ela que elaborasse um vocabulário com palavras mais comumente
utilizadas dentro do culto. Vamos aguardar!
Katulembe
Regras de Pronúncia
1) A letra R ou RI em Luanda tem o som brando aproximando-se a DI. Nunca tem a pronúncia
forte como em Português acontece por exemplo nas palavras carro, roupa etc. No interior o
som é pronunciado como DI, inclusive muitas vezes vemos variações na escrita devido a estas
diferenças de pronúncia.
3) a letra S nunca tem o som de Z como em Português as vezes acontece, como por exemplo
nas palavras casa, coisa, mesa. O seu som em kimbundu é sempre de SS ou Ç.
Ex. Musambu = oração. A pronúncia é "Mussambu" e nunca "Muzambu".
Ex. Musoso = história, conto. Nunca seria pronunciado "Muzozo", mas sim "Mussosso"
4) As letras M e N quando precedem a uma consoante tem som nasal e são pronunciadas
juntamente com a consoante que precedem (veja a regra para separação das sílabas).
6) I e U, quando vem antes de uma outra vogal são semi-vogais e tem som brando, como por
exemplo nas palavras em Português teríamos aia, água. Quando ocorrem exceções em que a
pronúncia forte recai sobre este U ou este I, os mesmos virão com um acento agudo.
7) A acentuação tônica na pronúncia da palavra ocorre sempre na penúltima sílaba com
algumas exceções como por exemplo nas palavras de origem estrangeira nos vocábulos em
que houve uma contração de duas palavras (kiá).
8) A letra H é sempre aspirada, nunca tem o som mudo como por exemplo na palavra hora, em
Português.
2) As letras M e N, quando precedem uma consoante, são escritas e pronunciadas juntamente
com a mesma e com o som anasalado.
Ex. Ndenge = Nde-nge
Ex. Rilonga = Ri-lo-nga
Ex. Rilunga = Ri-lu-nga