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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Confecção do papiro


Figura 2 – Estrutura da Bíblia
Figura 3 – Os livros da Bíblia
Figura 4 – Texto bíblico em hebraico
Figura 5 – Texto Bíblico em aramaico e grego
Figura 6 – Texto em grego uncial
Figura 7 – Códice da Bíblia encontrado no Egito

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – A divisão das Escrituras Hebraicas


SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – ORIGEM E ESTRUTURA DAS ESCRITURAS


SAGRADAS
1.1 A IMPORTÂNCIA DA BÍBLIA
1.2 A ORIGEM DA BÍBLIA
1.3 ORIGEM DA PALAVRA BÍBLIA
1.4 ESTRUTURA DA BÍBLIA
1.5 ORIGEM DO TERMO “ANTIGO TESTAMENTO” E NOVO
TESTAMENTO
1.6 DIVISÃO EM CAPÍTULOS E VERSÍCULOS
1.7 REFERÊNCIAS BÍBLICAS

CAPÍTULO 2 – REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO


2.1 A NECESSIDADE DA REVELAÇÃO
2.2 A TRANSMISSÃO ORAL DA REVELAÇÃO
2.3 TRANSMISSÃO ESCRITA DA REVELAÇÃO
2.3.1 Revelação Geral
2.3.2 Revelação Especial
2.4 REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO
2.5 ANÁLISE DA INSPIRAÇÃO DO TEXTO SAGRADO
2.5.1 Teorias sobre a inspiração
2.5.2 Análise da inspiração da Bíblia

CAPÍTULO 3 – LÍNGUAS ORIGINAIS, A TRANSMISSÃO DA


BÍBLIA, CRÍTICA TEXTUAL E CÂNON DO ANTIGO
TESTAMENTO

3.1 IDIOMAS ORIGINAIS DA BÍBLIA


3.1.1 Hebraico
3.1.2 Aramaico
3.1.3 Grego
3.2 A BÍBLIA E A SUA TRANSMISSÃO
3.3 CRÍTICA TEXTUAL
3.4 O CÂNON DOS LIVROS SAGRADOS
3.4.1 Cânon do Antigo Testamento
3.4.2 Critérios para canonicidade da Bíblia Hebraica
3.5 ESTRUTURA DAS ESCRITURAS HEBRAICAS
3.6 SEPTUAGINTA
3.7 MANUSCRITOS DO MAR MORTO
3.8 LIVROS APÓCRIFOS
3.8.1 Livros apócrifos do Antigo Testamento
3.8.2 Os nomes dos livros apócrifos do AT

CAPÍTULO 4 - CANON DO NOVO TESTAMENTO E MÉTODOS DE


ESTUDO BÍBLICO
4.1 O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO
4.1.1 Critérios para o cânon do Novo Testamento
a) Apostolicidade
b) Circulação e uso do livro
c) Caráter concreto do livro
d) Ortodoxia
e) Leitura em público
4.1.2 Lista dos apócrifos do Novo Testamento
4.2 MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO
4.2.1 Leitura devocional
4.2.2 Estudo bíblico
4.2.3 Estudo dos livros da Bíblia
4.2.4 Estudo das doutrinas sistematizadas
4.2.5 Estudo histórico e cronológico
4.2.6 Estudo exegético
4.3 INVISTA EM SUA BIBLIOTECA
4.3.1 Bíblias na tradução de Almeida
4.3.2 Outras traduções
4.3.3 Bíblias de Estudo
CAPÍTULO 1

ORIGEM E ESTRUTURA DAS ESCRITURAS


SAGRADAS

Daniel Vicente
Neste capítulo veremos que a Bíblia é o único livro, dentre milhões já
escritos no planeta, que foi dado por Deus à humanidade através dos seus
profetas. Conheceremos mais sobre sua importância e sua estrutura.

1.1 A IMPORTÂNCIA DA BÍBLIA

A Bíblia é o livro mais notável e impactante em todo o mundo.


Instituições, pessoas e famílias inteiras têm testemunhado seu valor, como
sendo uma fonte de verdades, promessas e uma lei libertadora.
A Bíblia é como um belo edifício que não existe apenas para ser
olhado e admirado. É preciso entrar e desfrutar de tudo o que há dentro dele.
Angus (p. 18) alerta ao estudante da Bíblia que o estudo de livros
auxiliares das Escrituras não pode ser confundido com o estudo das próprias
Escrituras. Os livros auxiliares são apenas ferramentas para ajudar o
estudante a obter uma interpretação verdadeira, compatível com o propósito
do supremo autor (Deus) e de seus escritores (cerca de 40).
Viertel (1979, p.18) destaca alguns motivos por que as Escrituras
Sagradas são importantes:

1) A Bíblia explica a origem do ser humano e o propósito da sua


existência.
Sem as Escrituras, o ser humano seria considerado mais uma espécie
de animal, mortal, surgido do acaso, cujo propósito de sua existência seria
totalmente ignorado. A realidade de um criador seria apenas uma hipótese
sem qualquer possibilidade de ser provada. Tudo se resumiria a especulações,
sem qualquer certeza.
Contudo, a Bíblia deixa claro que há um ser absolutamente perfeito,
eterno, que decidiu criar tudo e compartilhar com a humanidade essa criação.
Criou-nos para nos relacionarmos com Ele e desfrutarmos de tudo o que Ele
é, fez e fará.

2) A Bíblia é importante, pois fornece orientação para a vida diária dos


cristãos.
O mundo espiritual é apresentado nas Escrituras: céus, infernos,
anjos, demônios, ressurreição, etc. Contudo, muitas lacunas e dúvidas ficam
no ar, pois o objetivo principal das Escrituras Sagradas não é desvendar todos
os segredos deste mundo paralelo.
Porém, quanto ao padrão moral divino que devemos viver, ela é bem
clara. Fornece-nos leis, princípios e orientações para um relacionamento
saudável do indivíduo consigo mesmo, com o próprio Deus, e com o seu
próximo, que resultará em harmonia e equilíbrio interior e exterior. Por
exemplo, no livro de provérbios não há informações sobre o mundo
espiritual. Todo o livro mostra o caráter divino que os filhos de Deus devem
possuir.

3) A Bíblia é importante porque conduz o ser humano condenado e


dominado pelo pecado ao Salvador que é o único que pode suprir
suas necessidades.
A alma humana agoniza. Há uma sentença de morte e juízo eterno
sobre cada indivíduo. O pecado escraviza, domina, controla, destrói. O Reino
das Trevas se aproveita da situação e piora ainda mais a vida humana.
Somente através da Verdade Divina a humanidade pode ser reconciliada com
o Todo-Poderoso, escapar do juízo eterno e triunfar sobre todos os males:
✔ Vitória sobre os problemas: “Muitas são as aflições do justo, mas o
SENHOR de todas o livra” (Salmos 34:19).
✔ Vitória sobre o reino das Trevas: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas
resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4.7).

4) A Bíblia é uma importante fonte de conhecimento.


Há uma sede humana por respostas. A ciência tem passos curtos; a
filosofia vai um pouco mais longe, mas não muito. Somente a fé pode
alcançar o que a ciência e a filosofia jamais poderiam:
✔ Aos filósofos, a Bíblia fornece a única explicação satisfatória
da origem do ser humano e seu destino.
✔ Aos psicólogos, fornece uma explicação verdadeira da
personalidade humana e a solução fundamental para seus
problemas.
✔ Aos historiadores, relata eventos com exclusividade que não
são encontrados em outras fontes.
✔ Aos cientistas, explica “quem” criou e “por que” criou. Cabe
a eles descobrirem “quando” e “como” isto ocorreu.
Viertel nos resume isto da seguinte forma:

A Bíblia Sagrada foi escrita por homens divinamente inspirados e o registro


da revelação do próprio Deus ao homem. Um tesouro perfeito de instrução
divina. Tem Deus por seu autor, a salvação como finalidade e a verdade, sem
qualquer mistura de erro, como seu assunto.
Revela os princípios pelos quais Deus nos julga; e, portanto, é, e
permanecerá até o fim do mundo, o verdadeiro centro de união cristã e é o
padrão supremo pelo qual se aferirão toda conduta, credos e opiniões
religiosas do ser humano (VIERTEL, p. 19).

1.2 A ORIGEM DA BÍBLIA

A Bíblia é o livro sagrado dos cristãos e judeus. Contém: 1) verdades


para crermos e vivermos; 2) promessas para tomarmos posse; 3)
mandamentos para obedecermos.
A origem da Bíblia é divina ou humana? Ambas as respostas estão
corretas. Sua origem é tanto divina como humana.
É um livro divino porque sua origem está no coração de Deus que o
“soprou”:

Toda a Escritura é inspirada por Deus [gr. theopneustos: soprada por Deus] e
útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na
justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra (2 Timóteo 3.16,17).

Ela é também um livro humano porque foi escrito por pessoas


escolhidas por Deus, as quais se encontravam dentro de um contexto cultural,
linguístico e geográfico, claramente percebidos no texto.
Logo, o estudo e a interpretação da Bíblia consideram tanto a
atuação divina como também a humana:

Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana;
entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito
Santo (2 Pedro 2.21).
É impossível a um ser humano conhecer a Deus. Afinal, onde está
Deus para que possamos ir lá e estudá-lo? E, mesmo que o encontrássemos,
como a mente humana finita e limitada poderia compreender a mente divina
em sua totalidade? Seria como querer inserir toda a água do planeta em um
copo de 100 ml.
É inquestionável que primeira vinda do Senhor Jesus é a prova
irrefutável do amor de Deus. Mas, existe outra confirmação desse amor: as
Escrituras Sagradas. Por ser impossível ao ser humano alcançar e
compreender a Deus, Ele mesmo tomou a iniciativa de se revelar! E o registro
dessa revelação é a Bíblia Sagrada.
Somente é possível o conhecimento mais específico do Criador e de
seu plano redentor mediante o estudo dessa Escritura. A Bíblia é a revelação
de Deus. Seu objetivo é relacionamento: Deus santo procura restabelecer a
comunhão com a humanidade que foi contaminada pelo pecado.
Essa revelação foi completada através do Emanuel: Deus conosco, o
Messias Jesus (Is 7.14; Mt 1.23) e seus apóstolos:

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais,
pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu
herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o
resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as
coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos
pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas (Hebreus 1.1-3).

A revelação divina foi transmitida pessoalmente por Deus aos seus


profetas e, por fim, através do próprio Senhor Jesus. Deus compartilhou
conosco mistérios outrora ocultos os quais decidiu revelar (Dt 29.29). Muitos
desses ministérios permanecem ocultos, pois não são importantes para nós,
mas os essenciais para nosso relacionamento com Ele foram revelados. E
essa revelação está disponível às futuras gerações através do que foi
registrado: a Bíblia Sagrada.

1.3 ORIGEM DA PALAVRA BÍBLIA

A palavra “bíblia” procede do grego ta bíblia, cujo significado é “os


livros”. Contém os livros sagrados utilizados pelo judaísmo (39) e
cristianismo (66).
A origem desse termo decorre do fato de que seus livros foram
escritos e utilizados originalmente em peças separadas de material próprio
para a escrita daquele tempo: papiro ou pergaminho.
A respeito do papiro Viertel explica que:

Um biblion (livro) se referia principalmente a um rolo de papiro. O papiro


era um tipo de material usado para se escrever, feito de junco, que crescia em
pântanos. O caule da planta tinha cerca de 6 centímetros de diâmetro. Era
cortado em seções que mediam cerca de 30 centímetros de comprimento.
Cada seção era aberta em toda a sua extensão, e a medula, cortada em tiras
finas, que teriam 6 centímetros de largura e 30 centímetros de comprimento,
e colocadas lado a lado. Uma segunda camada de tiras, com fibras em
ângulos retos à camada inferior, era colocada encima. As duas camadas eram
apertadas até que formassem um só tecido. Várias seções do material de
escrita eram juntadas e enroladas em tamanho conveniente (VIERTEL, p.
21).
Quanto ao pergaminho, Viertel explica que:
O pergaminho constitui tipo diferente de material de escrita. Era feito de
peles, ou melhor, de couros de gado, ovelhas, cabras e antílopes. O pelo era
retirado e o couro amaciado com pedras especialmente preparadas para essa
finalidade.
O pergaminho de qualidade superior era chamado vellum. Comumente eram
tingidos de púrpura e se usavam tintas de ouro ou de prata sobre os mesmos.
O nome pergaminho se origina da cidade de Pérgamo, da Ásia Menor, onde
se fabricava o material com abundância no 2º século antes de Cristo, ao
passo que o centro de produção do papiro era a região do delta do rio Nilo,
no Egito (VIERTEL, p. 21).

A menção da palavra biblia foi feita por Paulo a Timóteo quando


solicitou para até Roma, onde estava preso, seus livros (gr. biblia) e seus
pergaminhos (gr. membranas), embora não saibamos se algum deles era um
texto sagrado: “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de
Carpo, bem como os livros [bíblia], especialmente os pergaminhos
[membranas]” (2Tm 4:13).

1.4 ESTRUTURA DA BÍBLIA

A Bíblia é uma coleção de 66 livros. Tradicionalmente tem sido


dividida em duas partes: os livros escritos antes e os escritos depois da sua
vinda. Em outras palavras: Antigo Testamento e Novo Testamento.
Na Bíblia evangélica os livros estão distribuídos em grupos. As Bíblias
católicas seguem a mesma sequência, mas com a adição dos livros e textos
apócrifos:

Antigo Testamento
1) Pentateuco (ou Torá: lei, instrução). São 5 livros: Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio.
2) Livros Históricos. São 12 livros: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1
e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.
3) Livros Poéticos. São 5 livros: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes,
Cantares.
4) Livros Proféticos. Os Profetas Maiores: São 5 livros: Isaías,
Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel. Os Profetas Menores (ou
os 12 profetas): Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias,
Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Novo Testamento
1) Evangelhos. São 4 livros: Mateus, Marcos, Lucas e João.
2) História. O livro de Atos.
3) Cartas Paulinas. São 13 cartas: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2
Timóteo, Tito, Filemon.
4) Cartas Gerais. São 8 cartas: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3
João, Judas.
5) Livro da Revelação ou Apocalipse.

1.5 ORIGEM DO TERMO “ANTIGO TESTAMENTO” E NOVO


TESTAMENTO

O termo “Antigo Testamento” é comumente utilizado no mundo


cristão para designar a primeira parte da Bíblia; Novo Testamento (ou Bíblia
Grega), a segunda. A primeira parte também é conhecida pelo judaísmo como
“Bíblia Hebraica” ou TANACH (acróstico em hebraico para Torá, Profetas e
Escritos). Lembre-se que o judaísmo somente aceita a primeira parte, pois
para eles só há “um testamento”.
Quanto aos termos Antigo e Novo Testamento, não eram conhecidos
assim pelos primeiros cristãos. Boyer afirma em sua Enciclopédia que
Tertuliano e Orígenes, no século II, deram esses títulos baseados no texto
bíblico de 2 Coríntios 3.14 (RC): “Mas os seus sentidos foram endurecidos;
porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do Velho Testamento,
o qual foi por Cristo abolido” (BOYER, 1971, p. 735).
A palavra original grega traduzida por “testamento” neste versículo é
diatheke. Corresponde ao hebraico berith, normalmente traduzida por
“aliança”. Deriva da tradução da Vulgata que utiliza a palavra “testamentum”
para traduzir diatheke em 2 Coríntios 3.14 e Hebreus 9.15-18. Nesta última
referência, em Hebreus, o escritor sagrado faz um contraste entre a Antiga e a
Nova Aliança (GUNNEWEG, 2003, p. 35, 36; ANGUS, 2003, p. 19, 20).
Por que estudar o AT, visto que a nova aliança veio para substituir a
antiga?
1) Primeiro ponto a observar é que o autor aos Hebreus deixa claro que a
Nova Aliança é muito melhor do que a Antiga Aliança. A Nova Aliança
é eterna e definitiva; a Antiga era provisória. A Nova Aliança está
fundamentada no sacrifício de Jesus Cristo; a Antiga, no sacrifício de
animais. O sacerdócio da Nova Aliança é eterno e perfeito; o sacerdócio
da Antiga Aliança era imperfeito. Logo, a Nova Aliança ou Novo
Testamento substituiu a Antiga Aliança ou Antigo Testamento (Mt
26.28; Lc 22.20; 1Co 11.25; Hb 5.1-6; 7.11, 22).
2) Segundo ponto a observar, não podemos confundir as duas alianças
estabelecidas por Deus com as duas partes da Bíblia. Quando o assunto é
aliança: a nova substituiu a antiga. Mas, quando o assunto é revelação
divina, uma parte não substitui a outra! Em termos de revelação de Deus,
a segunda parte da Bíblia complementa e não substitui a segunda. Ambas
formam um todo composto por 66 livros que é a revelação divina aos
seres humanos e possuem a mesma autoridade.
Para termos uma ideia de proporção entre as duas partes da
revelação, observe a quantidade de versículos em cada uma das duas divisões
da Bíblia. Segundo a Sociedade Bíblica no Brasil (SBB), a Nova Tradução na
Linguagem de Hoje (NTLH), por exemplo, possui um total de 31.103
versículos, sendo 23.146 no AT e 7.957 no NT (www.sbb.org.br). Isto
significa que 75% dos versículos da Bíblia, três quartos dela, estão no AT e
um quarto (25%) está no NT. Infelizmente, muitos cristãos, por ignorância e
preconceito, menosprezam o AT ou o reduzem ao nível inferior de revelação
em relação ao NT. Estão desprezando três quartos da revelação.
Além disso, não existia para a igreja primitiva o Novo Testamento
como o temos hoje. O que havia era o ensino dos apóstolos (os que ainda
estavam vivos). A isso foram adicionados os escritos de Paulo ou de outros
apóstolos (ou discípulo do apóstolo) os quais eram compartilhados entre as
igrejas. Logo, sempre que alguém no NT cita a Escrituras Sagradas está se
referindo à primeira parte da Bíblia.
Os livros do AT são chamados pelos escritores do NT de “os
escritos”, “as Escrituras”, “Santas Escrituras” e “sagradas letras” (Mt 21.42;
At 17.11; Rm 1.2; 2Tm 3.15). Quando o termo ocorre no singular, é uma
referência a alguma passagem particular. Por exemplo, em Lucas 4.21 o
Senhor Jesus faz referência a Isaías 61.1: “Então, passou Jesus a dizer-lhes:
Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.” Posteriormente, o termo
“a Escritura” passou a referir-se a Bíblia como um todo (ANGUS, 2003, p.
19).

1.6 DIVISÃO EM CAPÍTULOS E VERSÍCULOS

A divisão dos livros bíblicos em capítulos e versículos não faz parte


do texto original. A fim de facilitar a busca de uma passagem, cada livro teve
seu texto dividido em capítulos; e cada capítulo, em versículos. Quando o
texto de um livro ou carta é muito pequeno, não há capítulos, apenas
versículos: por exemplo, Obadias, 2 e 3 João e Judas.
O livro de Salmos é uma coletânea de hinos. Não é correto dizer
“capítulo”, mas sim “número”, da mesma forma que denominamos os
cânticos nos nossos hinários: por exemplo, Salmos 23.1 (Salmo número 23,
versículo 1).
Aletti (p. 11) explica que a divisão em capítulos tem sido atribuída a
Étienne Langton, em 1230, com a Bíblia latina da Universidade de Paris; e a
divisão em versículos foi estabelecida por Robert Estienne, em Genebra,
entre 1551 e 1555. Essas divisões não têm outra finalidade senão permitir
uma referência rápida a determinada passagem.

1.7 REFERÊNCIAS BÍBLICAS

A fim de facilitar a comunicação escrita, a referência a um texto


bíblico é feita geralmente do seguinte modo:
✔ Gn 1.1 significa: livro do Gênesis, capítulo 1, versículo 1;
✔ Ex 2.1-10: livro do Êxodo, capítulo 2, versículos de 1 a 10;
✔ Jo 9.1-10.21: evangelho segundo João, do capítulo 9, versículo
1, ao capítulo 10, versículo 21.
✔ Jo 1.1-3; 5.7-15: evangelho segundo João, capítulo 1,
versículos 1 a 3; e capítulo cinco, versículos 7 a 15.
Quanto às abreviaturas dos livros bíblicos, seria bom o estudante
familiarizar-se com elas. Normalmente, as Bíblias trazem na sua introdução
uma lista de livros e suas respectivas abreviaturas. Você também poderá
consultar o Quadro 3 abaixo.
INTRODUÇÃO À BÍBLIA

CAPÍTULO 2
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO

Daniel Vicente
Neste capítulo o estudante aprenderá sobre a necessidade da revelação
e da transmissão oral desta revelação antes de ter sido escrita. Aprenderá
também a respeito da revelação geral e especial de Deus à humanidade e uma
análise da inspiração do texto sagrado.

2.1 A NECESSIDADE DA REVELAÇÃO

O Senhor Jesus declarou à mulher samaritana que Deus é espírito e


em espírito deve ser adorado (Jo 4.23,24). Nossos olhos foram projetados
para verem a matéria. Deus não foi visto por ninguém (Jo 1.18; 6.46).
Espírito não é matéria, logo nunca poderá ser visto pelo ser humano. O
invisível somente poderá ser visível quando ele decidir se revelar.
O criador não é a criação. É possível saber algo de Deus observando
o que Ele criou, mas nunca conhecer sua natureza. O conhecimento humano é
obtido através dos sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Além disso,
através de sua mente se esforça a compreender o mundo ao seu redor. Como
conhecer alguém que não é físico? Como compreender alguém que criou o
macro e o microcosmo com tanta informação e detalhes? É impossível. Logo,
era necessária a revelação.

2.2 A TRANSMISSÃO ORAL DA REVELAÇÃO

O primeiro a registrar a revelação de Deus foi Moisés. Pelo que


sabemos, antes disso não havia nenhum documento registrando a história
relatada em Gênesis. De Adão até Moisés a história da criação e da
descendência de Sete (filho de Adão) era transmitida oralmente.
Antes do surgimento da escrita, as pessoas tementes a Deus não
escreviam suas experiências com Ele e aquilo que conheciam a Seu respeito.
Antes mesmo de terem inventado o seu próprio sistema linguístico (e mesmo
depois de sua invenção) os hebreus contavam e recontavam suas histórias às
gerações futuras.
Eram histórias dos pais e mães aos seus filhos sobre si mesmos ou
sobre seus antepassados. Adão, que viveu 930 anos (Gn 5.5), narrou para sua
descendência sua experiência no Éden e a tragédia da queda. Noé recebeu o
relato contou a seus filhos as experiências de seus antepassados e sua própria
experiência do dilúvio. E seus filhos aos seus filhos. Abraão narrou a Isaque
(que narrou a Jacó), sua chamada pelo Senhor em Ur que o fez mudar-se para
Canaã.

Abraão deve ter desejado preservar as memórias do seu passado e ter


convencido a sua família e os seus novos vizinhos de que o Senhor era o
verdadeiro Deus e que os diversos deuses que eram adorados pelo povo ao
redor deles eram ídolos sem vida. Abraão, provavelmente, tenha repetido
histórias sobre como o Senhor criou o universo e salvou Noé e sua família do
dilúvio. Ele deve ter falado a respeito do seu próprio chamado, repetindo a
promessa de Deus de torná-lo o pai de uma grande nação (MILLER;
HUBER, p. 12).

Os hebreus não eram o único povo a passar adiante as suas histórias


oralmente. Existem inúmeras narrativas babilônicas antigas que possuem
alguma semelhança com as narrativas da Bíblia. Uma dessas histórias é o
poema Enuma Elish que relata a criação do céu e da terra, mas inclui uma
enorme quantidade de deuses que guerreavam entre si e que foram
dominados e governados por Marduque, o deus principal da Babilônia
(MILLER; HUBER, p. 13).
Isto mostra que a tradição oral na descendência de Adão, através de
Sete, foi inspirada por Deus, ou seja, protegida na transmissão do seu
conteúdo. Isto não aconteceu com as nações pagãs, cujas tradições orais se
tornaram repletas de politeísmo, lendas e fantasias.

Contar histórias, portanto, não era apenas para diversão. Na verdade, era uma
forma de preservar a cultura do povo, de fazer com que soubessem quem eles
eram e como eram diferentes dos seus vizinhos. As histórias serviam para
lembrar aos hebreus o que os tornava especiais.
Conforme o tempo foi passando, contar histórias deixou de ser uma prática
familiar e passou para grupos maiores [...] Ao contarem as suas histórias,
eles, talvez, as embelezassem para estimular o interesse da sua audiência,
mas não ousavam distanciar-se do ponto principal, nem alterar qualquer
verdade essencial. Se eles tentassem fazer isso, os seus ouvintes os
condenariam, porque todos [principalmente os anciãos] conheciam essas
recitações suficientemente para serem familiarizados com elas e não
tolerariam nenhum desvio significativo delas. Eram a fé e a cultura deles que
estavam sendo transmitidas nessas histórias (MILLER; HUBER, p. 13).

2.3 TRANSMISSÃO ESCRITA DA REVELAÇÃO

As palavras galah no hebraico e apocalypsis no grego significam


“revelação”. Referem-se a uma verdade, fato ou pessoa que estava escondida,
que passa a ser conhecida. A palavra apocalypsis significa “o ato de puxar a
cortina para que o auditório possa ver a atuação do artista na representação
teatral” (VIERTEL, p. 31). O próprio apocalipse é conhecido como “livro da
revelação”.
A revelação divina é o próprio Deus se tornando conhecido ao ser
humano: sua pessoa, natureza e vontade.

2.3.1 Revelação Geral

A revelação geral é tudo o que se pode saber a respeito de Deus,


através da observação da natureza, da sua criação. Paulo referiu-se a essa
revelação nos capítulos 1 e 2 de Romanos. O texto seguinte mostra que
através da revelação geral o ser humano obtém conhecimento suficiente sobre
sua responsabilidade diante do Criador, tornando-o culpado pela
desobediência:

Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como


também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o
princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram
criadas.
Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento
de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se
tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração
insensato (Romanos 1.20,21).

Os gentios (não judeus) não receberam uma revelação especial de Deus


como Israel recebeu. Porém, tinham padrões morais, alguma noção de bem e
mal, simplesmente observando o que foi criado:
Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de
conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.
Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes
também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou
defendendo-se (Romanos 2.14,15).
2.3.2 Revelação Especial

O livro de Hebreus explica que Deus falou de muitas maneiras, mas o


complemento final dessa revelação foi através do próprio Senhor Jesus:

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais,
pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu
herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo (Hb 1.1,2).

A revelação especial está relacionada com a ação reveladora de Deus


inicialmente a Adão, à descendência de Sete, de Abraão e a todo o povo de
Israel, na antiga aliança, bem como à igreja, na nova aliança. Ou seja, Deus
se revela aos seus amigos (Gn 2.16; 3.8,9; 12.1; Ex 3.4; 1Sm 3.1; Is 6.1-8;
1Co 2.10-12).
A Bíblia é o registro dessa revelação pessoal divina. É evidente que
nem tudo o que foi revelado foi registrado. Mas o que Deus quis e permitiu,
isso foi registrado (Jo 20.30,31; 2Co 12.4).
A natureza humana corrompida pelo pecado incapacita a comunhão
com Deus e a obtenção do seu conhecimento. Isto impede que a
humanidade enxergue sua situação pecaminosa, o reino das trevas real e
invisível escravizando-a e o juízo eterno iminente (Rm 6.23; Ef 6.12; Hb
9.27).
Através da revelação especial, que vem de fora para dentro do ser
humano (vendo, ouvindo), o indivíduo pode compreender com mais detalhes
a natureza e o caráter divino (Rm 10.17). Passa a compreender também sua
situação de pecado, a justiça de Deus procurando salvá-lo de um juízo
iminente.
Somente através da revelação especial é possível conhecer o grande
amor e a graça de Deus que providenciaram uma solução para que a
humanidade pecadora pudesse, através de Cristo Jesus, ter comunhão com
Deus e estar livre de toda condenação.
A revelação especial e a dádiva da graça de Deus ao homem pecaminoso, a
fim de restaurá-lo nos benefício da revelação geral e natural dada ao homem
originalmente.
A revelação especial traz ao homem as boas-novas do trabalho redentor de
Deus, mediante Jesus Cristo.
A revelação especial de Deus, que começa no Velho Testamento, alcançou
seu objetivo final em Jesus Cristo. Os eventos mais reveladores da vida de
Cristo foram sua morte e ressurreição. Em sua morte, o amor e a justiça de
Deus se evidenciaram. Um Deus de amor pune-se a si mesmo pelo pecado
que o homem comete.
Paulo nos instrui, no cap. 3 de Romanos, que, pela morte de Cristo, Deus
pode ser justo e justificador daqueles que creem na pessoa de Jesus Cristo.
Em sua ressurreição, o poder e a vitória de Deus sobre o pecado e Satanás
estão demonstrados. Em Jesus Cristo, Deus revela sua natureza e obra de
amor (VIERTEL, p. 36).

2.4 REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO

Revelação e inspiração são dois conceitos diferentes, mas que estão


relacionados. Vimos que revelação é a atividade divina em que Ele mesmo e
seus propósitos são tornados conhecidos ao ser humano. É a verdade recebida
e registrada.
A inspiração diz respeito ao modo como ocorreu a revelação. O
Criador revelou-se através de seus mensageiros espirituais (anjos), sonhos,
visões, manifestações naturais, escritos, vozes, lançamento de sortes,
consciência. Porém, todos esses meios poderiam ter falhado, pela ação
humana falível ou demoníaca.
Por este motivo foi necessária a inspiração divina. O que foi revelado
foi recebido e interpretado por pessoas específicas escolhidas por Deus.
Depois, transmitido aos outros de forma oral ou através de escritos. A ação
divina foi essencial para proteger esse processo. Objetivou inspirar e orientar
o profeta no seu trabalho de interpretar, registrar e transmitir essa revelação.
Viertel (p. 47) afirma que “inspiração é a atividade divina em que o Espírito
Santo guia as mentes de homens selecionados e os torna instrumentos de
Deus a fim de comunicarem a revelação”.
Observe 2Timóteo 3.16,17:

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus
seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.

Sobre este versículo B.B. Warfield descreveu a inspiração como uma


influência sobrenatural exercida pelo Espírito Santo sobre os escritores
sagrados. Logo, a Bíblia é o único livro inspirado por Deus e seus escritos
são dignos de confiança. Essa inspiração é que se torna a base da autoridade
das Escrituras. Negar essa inspiração implicará diretamente no ceticismo com
relação a sua autoridade.
Leia atentamente algumas referências bíblicas que atestam essa
inspiração: Ex 4.15,16; 7.1; Am 3.8; Is 40.5; Jr 1.9; 2Tm 3.16,17; 2Pe
1.20,21; Hb 1.1,2. Estas últimas referências do NT mostram que: 1) apesar da
falibilidade humana, os escritos sagrados foram inspirados; 2) o texto é de
origem divina; 3) o texto também é o resultado de um trabalho humano; 3)
em geral, a revelação de Deus vinha ao coração do profeta, era falada ao povo
e só depois escrita e transferida às gerações futuras.
Harris (p. 16) define inspiração como “a obra do Espírito santo em
indivíduos escolhidos por Deus, através do qual a pessoa é levada a falar ou
escrever, em seu próprio idioma, exatamente as palavras de Deus, sem que
cometa erro algum com respeito a fatos, doutrinas e juízos”.

2.5 ANÁLISE DA INSPIRAÇÃO DO TEXTO SAGRADO

Os críticos da Bíblia questionam sua inspiração. Declaram que as


Escrituras possuem contradições e erros científicos. Isto dificulta defender
uma inerrância diante deste contexto pós-moderno e inquiridor. Por exemplo,
os críticos defendem que a Bíblia erra quando diz que:
1) A terra é plana (Isaías 24.1; Mt 4.8);
2) Possui quatro cantos (Ap 7.1; 20.8);
3) A terra não se move (1Cr 16.30);
4) A terra se apoia sobre colunas (1 Sm 2.8).
5) O sol gira em torno da terra (Js 10.13).
6) As estrelas são luzes fixas em uma cúpula sobre a terra (Gn 1.16-17).
7) Em sete dias tudo foi criado, ou seja, os dinossauros nasceram,
tornaram-se adultos e morreram em “dias” (Gn 1).
8) Na narrativa do dilúvio, como atravessaram o Mar Índico os cangurus a
fim de saírem da Austrália até a arca de Noé que estava na Mesopotâmia?
2.5.1 Teorias sobre a inspiração

Raimundo de Oliveira (p. 30,31) lista as principais teorias sobre a


inspiração bíblica:

Teoria da inspiração natural humana – a Bíblia foi escrita por homens


dotados de inteligência além do normal. Logo, não houve atuação
sobrenatural. Isto contraria a revelação que mostra que houve inspiração
sobrenatural.

Teoria da inspiração divina comum – afirma que a inspiração dos


escritores é a mesma que hoje atua no cristão piedoso quando ora, prega,
canta, ensina. Isto está equivocado, pois a capacitação dos escritores foi
específica para este fim: ouvir, entender, transmitir e registrar a revelação.

Teoria da inspiração parcial – defende que partes da Bíblia são inspiradas e


outras partes não. Logo, a Bíblia não é, mas contém a Palavra de Deus. Isto
contraria o ensino de Paulo quando afirma que “toda Escritura é inspirada por
Deus” (2Tm 3.16).

Teoria do ditado verbal – ensina que as palavras foram ditadas por Deus e
que não houve liberdade para a atividade e estilo do escritor. Quem afirma
isso não conhece nem o hebraico nem o grego, pois os eruditos nas línguas
originais percebem claramente o estilo mais simples ou mais rebuscado de
cada escritor. Além disso, Lucas descreve como organizou as informações
sobre o Senhor Jesus, mediante intensa pesquisa (Lc 1.1-3).

Teoria da Inspiração Verbal ou Plenária – é a mais aceita pelos ortodoxos.


Defende que todas as partes da Bíblia foram inspiradas igualmente. Os
escritores sagrados não foram redatores inconscientes, mas houve uma
cooperação intrínseca entre eles e o Espírito de Deus que os capacitava. Os
homens santos de Deus escreveram a mensagem recebida com suas próprias
palavras, dentro do seu contexto cultural, linguístico e até mesmo refletindo
seu contexto pessoal: sacerdote, agricultor, boiadeiro, etc. defende que a
inspiração plenária foi encerrada com o ultimo livro do NT, o Apocalipse, e
que, após isso, ninguém será inspirado no mesmo sentido.

2.5.2 Análise da inspiração da Bíblia

Podemos afirmar com certeza que os escritores sagrados não foram


meros secretários que escreviam o texto ditado. Há clara diferença que no
estilo dos escritores, e no emprego de palavras que refletia sua cultura,
profissão ou atividades diárias. Isto, evidentemente, isto é mais bem
percebido na língua original. Deus utilizava os profetas e os controlava,
porém sem violar o estilo de redação ou sem eliminar a personalidade deles.
E quanto à infalibilidade? A Bíblia é infalível naquilo que diz? Não há
erros em seus registros? Harris (p. 17) afirma que teólogos conservadores
têm considerado a crença na Bíblia como “a única regra infalível de fé e
prática”. Com isso estão declarando que a Palavra de Deus é uma regra
perfeita de fé e de conduta.
Essa certeza é desafiada pelo liberalismo, que defende que a Bíblia é
infalível apenas em questões de fé e moral. Isto implica na identificação de
equívocos no texto com relação a fatos históricos ou científicos. Em reação a
essa afirmação, os conservadores passaram a adotar o adjetivo “inerrante”
para afirmar que a Bíblia não possui erros (HARRIS, p. 17).
“Dessa forma a Bíblia é verbalmente inspirada, infalível e inerrante,
no sentido de que seus manuscritos originais não contêm erros”. Harris cita
uma declaração de fé da Evangelical Theological Society que afirma: “apenas
a Bíblia, em sua totalidade, é a Palavra de Deus em forma escrita e, portanto,
inerrante em seus autógrafos [textos originais]” (HARRIS, p. 17).
A Bíblia contém algumas aparentes contradições e também certos
conceitos difíceis de serem compreendidos. Isto se explica por ser um
documento proveniente de outro contexto cultural, linguístico, histórico e
geográfico. São supostas contradições, motivadas por falta de conhecimento
do leitor, as quais podem ser explicadas com coerência.
Evidentemente, essa inerrância não se refere às cópias, mas somente
ao autógrafo (texto original). A comparação dos manuscritos que chegaram a
nós apresenta alguns erros dos copistas, que de forma alguma compromete o
conteúdo principal do texto sagrado.
A crítica textual tem a tarefa de “despir” o texto recebido desses
erros e estabelecer um texto o mais próximo possível do autógrafo sagrado:

A crítica textual - também chamada de baixa crítica ou crítica documental -


estuda os textos antigos e a sua preservação (ou corrupção) ao longo do
tempo, visando reconstituí-los com base na documentação disponível,
enquanto a alta crítica tem como foco não só a recuperação do texto em si,
mas também outros aspectos, tais como a autoria e o contexto da obra
(wikipedia).

Quanto à infalibilidade e inerrância bíblica, devemos levar em


consideração que:
1) Tanto a revelação recebida pelo profeta, como a revelação registrada,
teve a inspiração divina, ou seja, o cuidado divino para que a ideia
recebida fosse corretamente compreendida e transferida para os ouvintes
de sua época ou às futuras gerações.
2) O objetivo de Deus é “relacionamento”, ou seja, reconciliar o ser
humano pecador consigo mesmo, livrando-o do juízo eterno. O Senhor
nunca teve por objetivo desvendar todos os segredos deste mundo ou do
mundo espiritual paralelo invisível. Revelou apenas o necessário (Dt
29.29).
3) A revelação foi progressiva, ou seja, Moisés (primeiro escritor) não
soube tudo o que o apóstolo João sabia (último escritor). Logo, a maneira
como o profeta enxerga a verdade está restrito ao nível de revelação
disponível para ele em sua época.
4) Embora a Bíblia possua algumas informações científicas, Deus zelou
para que o foco da sua mensagem moral e espiritual não fosse
direcionado para uma polêmica inútil que seria gerada por uma afirmação
do tipo “a terra é redonda e gira em torno do sol”. Ele respeitou o nível
de conhecimento geral que tinha o profeta, por mais impreciso que fosse.
Além disso, até hoje é difícil afirmar algo como verdade científica, visto
que novas descobertas “desmontam” diariamente certezas científicas
anteriores. A teoria da relatividade de Albert Einstein, no século passado
é um exemplo, dentre muitos.
INTRODUÇÃO À BÍBLIA
(BIBLIOLOGIA)

CAPÍTULO 3
LÍNGUAS ORIGINAIS, A TRANSMISSÃO DA
BÍBLIA,
CRÍTICA TEXTUAL E CÂNON DO ANTIGO
TESTAMENTO

Daniel Vicente
Neste capítulo o aluno estudará quais foram os idiomas utilizados
originalmente pelos escritores sagrados, como ocorreu a transmissão do
registro da revelação, os critérios para definição do cânon sagrado, a estrutura
da Bíblia hebraica, o que foi a Septuaginta e sua importância para a Igreja e
os principais livros apócrifos do AT.

3.1 IDIOMAS ORIGINAIS DA BÍBLIA

As Bíblias em português disponíveis são traduções. Katharine Barnwell


(p. 7) define assim tradução: “traduzir é transmitir o significado exato da
mensagem original, usando-se a construção gramatical e as expressões
idiomáticas que são naturais na língua receptora”. O Antigo Testamento foi
escrito originalmente em hebraico com uma pequena parte em aramaico. O
Novo Testamento, totalmente em grego.
Não é possível conhecer mais profundamente e defender doutrinas
bíblicas sem o conhecimento das línguas originais. Nenhuma língua receptora
(idioma para a qual o texto bíblico é traduzido) consegue expressar toda a
ideia do idioma original.
Um estudante da Bíblia que ignora isto será superficial em suas
conclusões e terá muitas dificuldades em conseguir extrair a riqueza do texto
que somente o estudo das línguas originais proporciona.

3.1.1 Hebraico

O mais antigo alfabeto conhecido foi criado antes que os fenícios


chegassem a Canaã (cerca de 1200 a.C.). Assim, o sistema de escrita
desenvolvido na antiga Canaã é geralmente chamado de alfabeto fenício; e o
alfabeto hebraico é derivado dele. Os hebreus se estabeleceram em sua nova
terra e desenvolveram seu sistema próprio de escrita; adaptaram o alfabeto
fenício para a sua própria língua. O hebraico, assim como o fenício e o
ugarítico, é uma língua cananeia que, junto com o aramaico, forma o grupo
de línguas conhecido como o semítico ocidental (MILLER; HUMBER, p.
16).
O alfabeto hebraico consiste em 22 letras. Não há uma letra específica
para maiúscula ou minúscula (a letra possui uma forma apenas). Também não
há vogais: apenas consoantes. Sua escrita (e leitura) é horizontal, da direita
para a esquerda. As vogais eram pronunciadas, mas não escritas.
Posteriormente, na era cristã, foram criados sinais e inseridos debaixo ou
acima da consoante a fim de transferir para a escrita os sons vocálicos.

3.1.2 Aramaico
A partir do século IX a.C., surgiu o aramaico nos arredores de Damasco
e de Alepo. Entre 700 e 300 a.C., tornou-se a língua comum de toda a região,
em particular do império persa. Por este motivo, durante os séculos
sucessivos, o aramaico passou a ser a língua dos judeus e foi utilizado em
alguns textos da Bíblia hebraica: Gn 31.47; Jr 10.11; sobretudo em Dn 2.4b-
7.28 e Ed 4.8-6.18; 7.12-26. Na época de Cristo, era o idioma falado na
Palestina (ALETTI, p. 30).
3.1.3 Grego

O grego é uma língua indo-europeia que no período helenista, com as


conquistas de Alexandre, o Grande, tomou-se a língua dos povos
conquistados (ALETTI, p. 30).
Assumiu a forma denominada koiné, que é um adjetivo grego que
significa “comum”. É o mesmo grego que foi utilizado na Septuaginta (LXX)
e também no NT. O grego koiné era o grego comum que se falava em todo o
império romano, em contraste com o grego clássico empregado pelos
filósofos e intelectuais da época (VIERTEL, p. 27)
Nos dias do Senhor Jesus “a língua sagrada dos judeus era o hebraico; a
falada, o aramaico; a língua oficial, o latim; e a universal, o grego”. A
maioria dos eruditos concorda que o NT foi escrito totalmente em grego.
Alguns sugerem que Mateus foi escrito originalmente em aramaico, pois foi
destinado a judeus, e o que chegou até nós é uma tradução grega do texto
original (VIERTEL, p. 26).
Grande parte do NT foi escrita em unciais, que são letras maiúsculas.
No início do século IX, o manuscrito foi alterado para letras menores, as
minúsculas (VIERTEL, p. 26).
A língua grega tornou-se a mais apropriada para a nova aliança, visto
que a igreja foi incumbida de levar a mensagem a todos os lugares (Lc
24.47). O idioma comum dessas nações era o grego, o que facilitou a
divulgação do evangelho pelos apóstolos. Além disso, a língua era notável
“por sua elegância, variabilidade de estilo e precisão em suas afirmações”
(VIERTEL, p. 27).
3.2 A BÍBLIA E A SUA TRANSMISSÃO

Na lição 2, vimos como ocorreu a transmissão oral da revelação divina


até que fosse registrada. Agora veremos como ocorreu a transmissão do texto
escrito.
“Um manuscrito é um texto escrito à mão por um escriba ou um
copista. O texto é escrito em papiro, couro, pergaminho ou papel”. A palavra
manuscrito é muitas vezes usada de modo abreviado: no singular ms., ou no
plural mss (sem o ponto final) (ALETTI, p. 23).
O papiro, nos melhores casos, era possível escrever nos dois lados,
frente e verso. É um material mais frágil. O couro é utilizado sobretudo em
alguns manuscritos encontrados no deserto da Judeia (em Qumran), e em
outros lugares. O pergaminho é muito mais resistente que o papiro e acabou
superando-o (ALETTI, p. 24).
O papel estava disponível bem depois da época bíblica. É uma
invenção chinesa que chegou ao Egito no século X. Era fabricado com
vegetais reduzidos a uma pasta.

Os demais manuscritos bíblicos são, ou papiro ou pergaminhos. Se escritos


sobre apenas uma das faces, as páginas escritas podiam ser coladas umas às
outras para formar uma tira, às vezes de vários metros, que era enrolada. Por
isso, fala-se de rolo (ver Jr 36) e é o significado primeiro do termo volume.
As páginas podiam ser também colocadas umas sob as outras para formar um
códice (no plural, códices; em latim, codex); nesse caso, podia-se escrever
apenas sobre uma das faces das folhas ou fólios ou, como muitas vezes
acontecia, sobre ambas, a frente e o verso (ALETTI, p. 24).
Os mais antigos manuscritos da Septuaginta e do Novo Testamento
utilizam as letras gregas maiúsculas ou capitais, chamadas unciais. Por isso,
denomina-se “manuscritos unciais”. A escrita grega cursiva (ou minúscula)
foi fixada em Bizâncio, durante o século IX (ALETTI, p. 26).
O pergaminho podia ser reutilizado. Para isso era necessário raspar o
texto nele escrito e podia, então reutilizá-lo, escrevendo outro no mesmo
pergaminho. Este tipo de pergaminho reutilizado é chamado palimpsesto
(significa literalmente: raspado de novo). Atualmente, é possível recuperar
aquele texto raspado que tentaram eliminar (ALETTI, p. 26).

3.3 CRÍTICA TEXTUAL

O estudo dos manuscritos antigos é denominado crítica textual ou baixa


crítica. A crítica textual é uma ciência antiga de muito valor para o estudo da
Bíblia praticada desde Orígenes (250 d.C.) e exige um conhecimento
profundo das línguas originais. Seu objetivo é recuperar as palavras originais
dos escritores sagrados.
Dos 66 livros e cartas contidos na Bíblia, não há um só autógrafo
disponível, ou seja, o texto original. Chegaram até nós apenas cópias escritas
gerações após o original. Comparando-se as centenas de cópias que temos à
disposição, é possível identificar alguns erros que copistas cometeram na
hora de copiar o documento.
Isto não deve perturbar o estudante da Bíblia, pois, segundo Westcott e
Hort (1881): “Se deixarmos de lado superficialidades comparativas, em nossa
opinião, as palavras nos manuscritos bíblicos que ainda levantam dúvidas
chegam a menos de um milésimo de todo o texto do Novo Testamento” (in
HARRIS, p. 75).
O pastor e doutor em Teologia e Arqueologiak, Rodrigo Silva,
apresentador do Programa Evidências, afirma que há mais de 5300
manuscritos do NT disponíveis para restaurarmos o texto original. Afirma
também que a papirologia tem provado através de vários estudos que
podemos traçar 99% da originalidade do texto (www.youtube.com).
3.4 O CÂNON DOS LIVROS SAGRADOS

O termo cânon deriva do grego kanôn, que é tomado do hebraico


qânêh, cujo primeiro significado, tanto em hebraico como em grego, é “cana,
caule de cana, junco, e daí vara, régua, norma”. No sentido de régua e norma,
o termo cânon aparece somente no século IV de nossa era para designar, em
ambiente cristão, a lista dos livros que faziam parte das Escrituras Sagradas
(ALETTI, p. 21, 22).
A ideia essencial da palavra é “linha reta”, ou direita, presente em
outras palavras com a mesma raiz: cana, canal, canhão. “O termo cânon
empregado em sentido metafísico significa não a regra ou a medida, mas o
que é conforme a regra ou a medida” (ANGUS, p. 22).
O termo “canônico” é utilizado para o distinguir os livros aceitos dos
demais escritos considerados apócrifos. Estas mesmas designações são
aplicadas aos livros do Novo Testamento. Em consequência, “o Cânon das
Sagradas Escrituras significa a completa coleção dos livros escritos sob
inspiração divina” (ANGUS, p. 22).
Essa ideia metafisica está presente no texto neotestamentário: “E, a
todos quantos andarem de conformidade com esta regra [kanon], paz e
misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus” (Gl 6.15). No quarto
século a palavra cânon passou a ser utilizada para referir-se às Escrituras
Sagradas, pois continha a regra autorizada pela igreja para nortear e moldar a
vida do ser humano.
Foi a Igreja Cristã que formou o cânon neotestamentario. Após largos
debates quais livros deveriam ser recebidos como sagrados e quais seriam
rejeitados. “A igreja, pois, é que primeiramente canonizou os livros santos,
que ficaram depois sendo canônicos, isto é, conforme ao cânon, à regra”
(ANGUS, p. 23).

3.4.1 Cânon do Antigo Testamento

Os vinte e quatro livros (ou vinte e dois) das Escrituras hebraicas, que
correspondem aos trinta e nove da versão evangélica, constituem o que é
denominado Cânon do Antigo Testamento.
3.4.2 Critérios para canonicidade da Bíblia Hebraica

Aletti (p. 22) explica que os critérios de canonicidade são as razões


pelas quais determinado livro é inserido no cânon das Escrituras, e outro não.
No judaísmo, os livros inseridos na Bíblia hebraica se basearam nos seguintes
critérios:
1) Antiguidade. Estes livros foram transmitidos pela Grande
Sinagoga que, creem, sucedeu os profetas, que sucederam Moisés.
2) Doutrinas. Há uma coerência doutrinária entre a Torá e esses
livros;
3) Reconhecimento da comunidade judaica. O fato de a
comunidade aceitar determinado livro como sagrado foi também
um critério. Especificamente, esse é o caso do Cântico dos
Cânticos, do Eclesiastes (Qohelet) e de Ester, cujo caráter sagrado
algumas vezes foi contestado.
Os escritos do Antigo Testamento fazem parte do cânon cristão, pois
tiveram sua autoridade reconhecida pelo Senhor Jesus e seus apóstolos, e
transmitidos à Igreja pós-apostólica.
Harris (p. 52, 53) cita o historiador judeu Flávio Josefo, que escreveu
por volta de 90 d.C. Josefo era um indivíduo qualificado para conhecer o
cânon vigente nos dias do Senhor Jesus. Em um de seus escritos mais
importantes, ele afirmou em um texto longo, mas de grande valor para
identificarmos o cânon judaico no primeiro século:

Não temos um sem número de livros que discordam e contradizem um ao


outro, mas sim apenas vinte e dois livros que contêm todo o registro dos
tempos passados, os quais são corretamente considerados divinos. Destes,
cinco são da autoria de Moisés e trazem as leis e as tradições a respeito da
origem da humanidade até a morte desse patriarca.
Esse intervalo de tempo corresponde a pouco menos que três mil anos. Da
morte de Moisés até o reinado de Artaxerxes, rei da Pérsia, sucessor de
Xerxes, os profetas que vieram depois de Moisés, escreveram, em treze
livros, o que ocorreu naquela época. Os quatro livros restantes contêm hinos
a Deus e preceitos para a conduta humana.
E verdade que nossa história tem sido minuciosamente registrada desde
Artaxerxes, porém não se considera que possua a mesma autoridade
atribuída aos escritos anteriores de nossos antepassados. Isso se deve ao fato
de que não houve uma sucessão exata de profetas desde aquela época. Nossa
atitude para com esses registros demonstra claramente a forma como
contamos esses livros de nossa nação em alta estima.
Durante todas as épocas passadas, ninguém teve a ousadia de acrescentar
nem de retirar algo deles, muito menos de introduzir qualquer mudança
nesses livros. E algo natural para todo judeu, desde seu nascimento, apreciar
esses livros por conterem doutrinas divinas, segui-los fielmente e, se
necessário, estar disposto a morrer por eles (Flavio Josefo in HARRIS, p.
53).

Essa citação de Josefo revela várias verdades entre os judeus no


primeiro século, que com certeza influenciou a igreja cristã naquela época
(HARRIS, p. 53,54):
1) Os judeus criam na inspiração verbal das suas Escrituras.
2) Eles receberam os livros como canônicos porque foram escritos
pelos profetas. O próprio Josefo dava proeminência à autoria
profética dos livros bíblicos.
3) Sabiam que os livros apócrifos e outros documentos não eram
autoria dos profetas.
4) O cânon judaico incluía apenas 39 livros do Antigo Testamento
que temos hoje, dispostos em 22 volumes.
5) Josefo apresenta a primeira e única lista dos livros do Antigo
Testamento que se tem notícia antes de 170 d.C. Eles eram
divididos em três grupos, diferentes das divisões adotadas pelos
judeus em períodos posteriores e encontradas nas Bíblias hebraicas
atuais: Era o Pentateuco; depois todos os livros proféticos e
históricos; por fim, os quatro livros poéticos e de instrução
(provavelmente Salmos, Provérbios, Cântico dos Cânticos e
Eclesiastes).

3.5 ESTRUTURA DAS ESCRITURAS HEBRAICAS

Atualmente, os livros do AT estão divididos em grupos diferentes


daqueles adotados por evangélicos e católicos (e também da lista fornecida
por Josefo). A única semelhança são os cinco primeiros que constituem a
Torah (ou Torá, Pentateuco).
As Escrituras Hebraicas estão assim divididas: A Lei (Torah), os
Profetas (Nebiim), os Escritos (Ketubim). O número de livros é 24 ao invés
de 39 dos cristãos. Isto ocorre por que alguns livros são agrupados em um só
volume: 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Edras e Neemias, os doze
profetas menores (ANGUS, p. 20).
Como já foi mencionado, há uma coleção de livros que foi ordenada
por Josefo (e adotada por Jerônimo) que continha 22 livros, que é o número
de letras do alfabeto hebraico. Nessa coleção, o Livro de Rute aparece unido
com Juízes, e Lamentações unido a Jeremias (ANGUS, p. 21).
Tabela 1 – A divisão das Escrituras Hebraicas
1° Gênesis, 2° Êxodo, 3° Levítico,
Lei (Torá)
4° Números, 5° Deuteronômio.
Profetas – 6° Josué, 7° Juízes, 8° Samuel, 9°
primeiros Reis
Profetas – 10º lsaías, 11° Jeremias, 12°
últimos Ezequiel, 13° Os Doze
Os escritos 14° Salmos; 15° Provérbios, 16°
(hagiógrafos) Jó
17° Cântico dos Cânticos, 18°
Rute,
Os cinco volumes 19° Lamentações, 20° Eclesiastes,
ou rolos 21° Ester, 22° Daniel,
23° Esdras e Neemias, 24°
Crônicas.

Fonte: ANGUS, p. 21

3.6 SEPTUAGINTA

A primeira tradução do AT é conhecida como a versão dos “Setenta”


ou “Septuaginta”, que foi feita por eruditos judeus em Alexandria. Estes
foram enviados à Alexandria, cerca de 285 a.C. por Eleazar, a pedido de
Demétrio Falário, o bibliotecário do rei (ANGUS, p. 42). O termo Setenta (ou
em números romanos: LXX) provém da lenda narrada na Carta de Aristeias:
setenta e dois sábios judeus (seis de cada tribo) traduziram o Pentateuco de
modo idêntico em setenta e dois dias (ALETTI, p. 18).
Seu objetivo era atender os hebreus que falavam a língua grega,
principalmente os de Alexandria. Esta tradução foi utilizada pelas primeiras
comunidades cristãs, pois o grego, e não o hebraico, era a língua comum no
império romano (ALETTI, p. 17; ANGUS, p. 42).
A importância da Septuaginta está no fato de que ela se tornou o Antigo
Testamento utilizado pelos cristãos de língua grega e da Igreja latina que,
desde o II século de nossa era, a traduziu: a Vetus Latina (ALETTI, p. 19).

3.7 MANUSCRITOS DO MAR MORTO

Um acontecimento de valor inestimável para a crítica textual ocorreu


em 1947, quando um pastor árabe arremessou uma pedra para dentro de uma
caverna próxima ao Mar Morto e ouviu o som de um vaso de barro
quebrando. Foram encontrados milhares de fragmentos que haviam sido
guardados pelos escribas da comunidade de Qumran, séculos antes.
Trouxeram novas e valiosas confirmações da preservação do texto bíblico
(HARRIS, p. 80).
Além de manuscritos não-bíblicos, foram encontradas cópias antigas
dos livros bíblicos que temos hoje. Com exceção de Ester, todos os livros do
AT forma encontrados nas cavernas. Alguns como Salmos, Deuteronômio e
Isaías possuíam várias cópias. Outros, como Crônicas, apenas fragmentos. O
pergaminho mais extenso encontrado foi o de Isaías, cujo pergaminho
continha o texto completo e em boas condições. Provavelmente, data de 125
a.C. Uma parte de Salmos foi datada em 300 a.C.; Eclesiastes, 150 a.C;
trechos de Jó, Jeremias, Samuel e Salmos, 200 a.C. (HARRIS, p. 80, 81).
Essa descoberta dos manuscritos do mar Morto provaram que os
indivíduos que copiaram os textos em hebraico, desde o segundo século antes
de Cristo efetuaram um trabalho extremamente cuidadoso. Está comprovado
que a Bíblia hebraica de hoje é a mesma que os judeus usavam 200 anos
antes de Cristo (HARRIS, p. 81).

3.8 LIVROS APÓCRIFOS

O termo apócrifo significa literalmente “oculto” (gr. apokrypha) e


designa os livros que tratam de assuntos “secretos, misteriosos, ocultos”. Essa
palavra passou a não ser mais utilizada como “oculto”, mas no sentido de
“espúrio”: não genuíno, suposto, hipotético.
No tempo da Reforma Protestante, o termo apócrifo foi aplicado aos
livros contidos na Vulgata, mas que não faziam parte do Cânon hebraico. Seu
significado contrastava com o termo “canônico”. Isto acarretou para esses
livros o mesmo desprezo que era atribuído à literatura apocalíptica oculta,
tanto judaica como cristã-judaica, e pelos evangelhos apócrifos (ANGUS, p.
24).

Mas a Igreja Reformada sempre considerou os livros não canônicos como


estimáveis, para exemplo de vida e instrução de costumes, ainda que sem
autoridade em matéria de fé. Alguns deles são de alto valor literário,
histórico e moral, principalmente o 1º livro dos Macabeus e o Eclesiástico.
Os apócrifos devem ser considerados como tendo um lugar intermediário,
umas vezes superior, outras inferior, entre os livros inspirados e aquela
literatura secreta, a que o nome andava primitivamente ligado (ANGUS, p.
24).

3.8.1 Livros apócrifos do Antigo Testamento

Quanto ao reconhecimento de livros sagrados do AT, Champlin (2008,


vol. 3, p. 873) diz que:

Os saduceus aceitavam somente os livros de Moisés. Os fariseus palestinos


aceitavam o Antigo Testamento conforme o encontramos nas atuais Bíblias
protestantes. Os judeus helenistas aceitavam também os livros apócrifos, ou
seja, essencialmente o cânon atual da Igreja Católica Romana. A Septuaginta
(o Antigo Testamento traduzido para o grego) sempre incluiu os livros
apócrifos (CHAMPLIN, vol. 3, p. 873).

Champlin explica que em 1548, o Concilio de Trento, realizado pela


Igreja Romana, reconheceu que os livros apócrifos são canônicos e próprios
para a leitura nas igrejas, apesar da resistência que Jerônimo teve em incluí-
los na Vulgata. Essa decisão não incluiu I e II Esdras e a Oração de
Manassés.

3.8.2 Os nomes dos livros apócrifos do AT

Os livros apócrifos foram escritos durante o período intertestamentário,


obviamente após o último livro canônico do AT: Malaquias (HARRIS, p.
52):
✔ Apenas um deles é datado.
✔ Dois livros relatam as invasões assíria e babilônia: , Judite e
Tobias
✔ Outros dois relatam a guerra da independência dos judeus, por
volta de 165 a.C.: , 1 e 2 Macabeus
✔ Outros dois são livros de sabedoria: Eclesiástico e Sabedoria de
Salomão.
✔ Um deles é um adendo ao texto de Jeremias.
✔ Há também acréscimos curtos ao livro de Ester e de Daniel.
Há também outros livros escritos nesse período que não são aceitos
pelos católicos nem pelos protestantes. Relatam a história e o pensamento do
período intertestamentário. Entre eles estão Enoque, Jubileu e o Testamento
dos Doze Patriarcas. Entre os manuscritos do mar Morto havia fragmentos
desses livros. Eles não foram aceitos como parte das Escrituras, possuem seu
valor, mas não constam do cânon antigotestamentário (HARRIS, p. 52).

Estas adições procedem da Versão dos Setenta [Septuaginta], ainda que com
algumas diferenças quanto ao número dos livros e sua ordem. Na verdade os
livros apócrifos constituem um excesso da Vulgata latina sobre o Antigo
Testamento hebraico.
O artigo sexto da Igreja Anglicana, depois de enumerar os livros canônicos,
sendo Esdras e Neemias citados como 1° e 2° de Esdras, faz preceder a Iista
dos apócrifos com as seguintes palavras: “E os outros livros (como diz S.
Jerônimo) a Igreja os lê para exemplo de vida e instrução de costumes; mas
não os aplica para estabelecer doutrina alguma (ANGUS, p. 23).

Para a Igreja católica, o cânon das Escrituras foi definido em 1546 pelo
Concílio de Trento, que confirmou mesmo cânon definido nos Concílios
locais de Hipona, em 393, e de Cartago, em 397 e em 419, e depois na carta
do papa Inocêncio I ao bispo Exupério de Toulouse, em 405, e ainda no
Concílio Ecumênico de Florença, em 1442 (ALETTI, p. 22). A Igreja
Ortodoxa Grega aceita a maioria desses livros como canônicos, conforme
decisão do Segundo Concílio de Trulan, ocorrido em 692 d.C. (CHAMPLIN,
vol. 3, p. 273).
INTRODUÇÃO À BÍBLIA
(BIBLIOLOGIA)

CAPÍTULO 4

CANON DO NOVO TESTAMENTO E MÉTODOS


DE ESTUDO BÍBLICO

Daniel Vicente
Neste capítulo, o aluno estudará como se formou o cânon do NT, seus
apócrifos e quais os métodos mais indicados para se estudar o texto bíblico.
Serão também fornecidas algumas orientações para que o estudante organize
sua biblioteca pessoal teológica.

4.1 O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

Percebemos no texto bíblico que nenhum dos escritores


neotestamentários tinham em mente que seus escritos seriam reunidos e
comporiam a segunda parte da Bíblia. Paulo não tinha essa noção ou
intenção. Seus escritos eram práticos, acidentais e objetivavam tão somente à
solução imediata de problemas espirituais e morais dos cristãos nas
congregações fundadas por ele ou orientações à sua equipe de trabalho.
Desde sua primeira carta escrita, que foi provavelmente 1
Tessalonicenses, motivada por problemas peculiares da igreja em
Tessalônica, até à última epístola pastoral (2 Timóteo), escrita na prisão em
Roma antes da sua execução, não teve o apóstolo a intenção de produzir um
conjunto de cartas que formariam um volume para a posteridade
(BITTENCOURT, p. 28).
O Evangelho segundo Marcos teria sido confeccionado provavelmente
no ano 65. Este foi o primeiro evangelho, que serviu de base para outros dois:
Mateus e Lucas. Mateus escreveu seu Evangelho provavelmente na cidade de
Antioquia da Síria (entre 80 e 85 d.C.) e Lucas na Grécia (entre 85 e 90
d.C.). O Evangelho de João surgiu na ultima década do século,
provavelmente em Éfeso (BITTENCOURT, p. 28). Ou seja, os livros e cartas
surgiram através dos apóstolos ou pessoas ligadas a ele a fim de atender uma
necessidade imediata.

4.1.1 Critérios para o cânon do Novo Testamento

B. P. Bittencourt (p. 23-25) expõe os critérios que a Igreja aplicou para


autenticar o material que iria compor os primeiros escritos:
a) Apostolicidade

A obra deveria ter sido escrita por um dos doze apóstolos ou possuir o
que se chamaria hoje de imprimatur apostólico. O escrito deveria ter sido
escrito por um apóstolo ou por alguém que estivera em contato direto com o
apóstolo: um discípulo. A esta lista inclui Paulo, que não era um dos doze,
mas que foi chamado pelo Senhor Jesus glorificado (1Co 1.1; 9.1).
Quanto aos evangelhos, que foram aceitos dentre os muitos que foram
rejeitados, precisavam manter o padrão de ensino apostólico de doutrinas,
principalmente quanto à encarnação do Messias. Havia heresias dentro da
igreja que combatiam essa encarnação. Isto motivou a introdução presente no
Evangelho segundo João (Jo 1.1,14): “No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre
nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do
unigênito do Pai”.

b) Circulação e uso do livro

O livro precisava ser aceito e utilizado por boa parte das comunidades
cristãs no primeiro século.

c) Caráter concreto do livro

Alguns relatos fictícios no livro resultavam na rejeição do livro todo. O


autor de “Atos de Paulo e Tecla”, segundo Tertuliano, foi afastado do
sacerdócio da Ásia, pois foi acusado de escrever ficção como se fosse história
real (BITTENCOURT, p. 24).

d) Ortodoxia

O Senhor Jesus afirmou: “Eu sou a verdade” (Jo 14.6). Nos escritos do
NT fica nítido que havia um repúdio à falsa doutrina e a luta pela preservação
da doutrina de Cristo transmitida aos apóstolos. Havia uma ortodoxia, uma
verdade, um padrão doutrinário apostólico, conforme observamos em
Romanos 6.17: “padrão de doutrina”; em 2 Timóteo 1.3: “padrão das sãs
palavras”; ou ainda 1 Timóteo 6.20: “depósito” (BITTENCOURT, p. 25).
Na época, havia o Evangelho de Pedro. Este foi rejeitado pelo cânon,
que embora estivesse de acordo com a doutrina apostólica, extava “enxertado
como ensino de mestres hereges e levou muitos cristãos de Rhosso [na
Cilícia] a abandonar a fé” (BITTENCOURT, p. 24).

e) Leitura em público

Nenhum livro seria admitido para leitura pública na igreja se não


possuísse o reconhecimento da sua autoridade. Havia muitos livros no
primeiro século, que serviam para leitura em particular, mas para a leitura
diante da igreja não era permitido qualquer livro.

4.1.2 Lista dos apócrifos do Novo Testamento

Bittencourt (p. 45) apresenta uma lista de livros apócrifos do NT:


1. Evangelhos: Evangelho segundo os Hebreus; Evangelho dos Egípcios;
Evangelho dos Ebionitas; Evangelho de Pedro; Protoevangelho de Tiago;
Evangelho de Tomé; Evangelho de Filipe; Evangelho de Bartolomeu;
Evangelho de Nicodemos; Evangelho de Gamaliel; Evangelho da
Verdade.
2. Epístolas: 1 Clemente; As sete Epístolas de Inácio: aos Efésios, aos
Magnésios, aos Trálios, aos Romanos, aos Filadélfios, aos Esmirnenses e
a Policarpo; a Epístola de Policarpo aos Filipenses; a Epístola de
Barnabé.
3. Atos: Atos de Paulo (e Tecla); Atos de Pedro; Atos de João; Atos de
André; Atos de Tomé.
4. Apocalipses: Apocalipse de Pedro; o Pastor de Hermas; Apocalipse de
Paulo; Apocalipse de Tomé; Apocalipse de Estêvão.
5. Manuais de Instrução: Didaquê ou o Ensino dos Doze Apóstolos;
Clemente; Pregação de Pedro.

4.2 MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO

A Bíblia pé um livro fácil ou difícil de ser compreendido? Não é


possível afirmar que a Bíblia é um livro fácil ou difícil. Na verdade, ela ora é
um livro fácil, ora é um livro difícil: depende do texto, depende do estudante.
O conhecimento das Escrituras é similar a uma escada com degraus que
conduz o leitor/estudante do primeiro ao último degrau, ou seja, do mais fácil
ao mais difícil. Algumas partes são rapidamente compreendidas; outras,
precisam de muitas persistência, esforço e, jamais podemos nos esquecer, de
discernimento espiritual (1Co 2.14).
A Bíblia não é um gibi, nem um jornal. O conteúdo da Bíblia e seu
estilo literário são bastante diversificados. Além disso, os aspectos históricos,
linguísticos, culturais e geográficos são muito diferentes do nosso. Um
cristão genuíno precisa se comprometer a dedicar sua vida, e não apenas um
período definido de duração do curso, para estudar, viver e ensinar a Palavra
de Deus.

4.2.1 Leitura devocional

A leitura devocional precisa ser diária. Devocional tem o sentido de


ser feita em espírito de oração e meditação, sem se preocupar com grandes
explicações teológicas, mas deixando o coração sensível para ouvir a voz de
Deus.
Harris (p. 130) aconselha que na leitura devocional não é bom ler
muito de uma só vez. E preferível restringir a leitura a meio capítulo,
sublinhar os versículos mais importantes e tomar nota das lições que
aprendemos com o texto. Se dois ou três capítulos forem lidos
apressadamente, pouco será absorvido. A essa leitura, seria bom adicionar o
hábito e a disciplina de decorar versículos ou capítulos.

4.2.2 Estudo bíblico

Para os cristãos que estão envolvidos nos ministérios de suas igrejas


locais, será necessário mais do que uma simples leitura devocional.
Todos os discípulos de Cristo precisam sair da fase de infância
espiritual e se tornar trabalhadores comprometidos com a expansão do Reino
de Deus. Para isso, precisarão conhecer a história bíblica e suas doutrinas.
Primeiro, para fundamentar suas vidas na Palavra (2Tm 2.15; Mt 7.24-27).
Em segundo, nosso objetivo é “fazer discípulos” (Mt 28.19,20), ensinar as
outras pessoas a amar e extrair as riquezas contidas nas Escrituras Sagadas.
Wilbur Smith defende vários métodos de abordagem no estudo
bíblico, no seu livro Profitable Bible Study [Estudo bíblico proveitoso] (in
HARRIS, p. 131,132): 1) o estudo de um livro de cada vez (em geral, pesado
demais para o iniciante); 2) o estudo de capítulos, de parágrafos, de
versículos e de palavras; 3) o estudo dos personagens bíblicos e as suas ações
contidas na Palavra de Deus. Todo esse estudo precisa ser cristocêntrico, ou
seja, deve estar relacionado com Cristo e sua obra redentora.
Wilbur Smith cita ainda dez perguntas elaboradas por Grace Saxe,
que devemos nos fazer ao final de cada capítulo (in HARRIS, p. 131,132).
São elas:
1. Qual o assunto principal?
2. Qual a lição principal?
3. Qual o melhor versículo?
4. Quem é o personagem principal?
5. O que essa passagem ensina a respeito de Cristo?
6. Essa passagem traz algum exemplo a seguir?
7. Essa passagem menciona algum erro que devamos evitar?
8. Ela apresenta algum dever que devamos cumprir?
9. Há alguma promessa cujo cumprimento devamos esperar?
10. Há alguma oração que devamos imitar?

O Dr. Smith explica que:

O principal segredo para o estudo bíblico é simplesmente realizá-lo! O que


um iniciante pensa ser um profundo conhecimento da Bíblia geralmente nada
mais é do que o resultado natural de perseverar no método mais simples de
todos: ler a Bíblia dia após dia, até que seu conteúdo se torne algo
extremamente familiar para nós (HARRIS, p. 132).

4.2.3 Estudo dos livros da Bíblia

O estudo de livros ou trechos chama-se interpretação bíblica. Para


sermos bem sucedidos, algumas etapas precisam ser seguidas:
1) Ler o livro em estudo várias vezes;
2) Resumir o texto de modo que compreendamos a mensagem do
livro.
Ao longo desse estudo ajuda muito fazer as seguintes perguntas:
✔ O livro apresenta um tema principal?
✔ Como esse tema é trabalhado?
✔ Se o livro é histórico, qual o ponto de vista do autor?
✔ O que o autor enfatiza?

4.2.4 Estudo da introdução aos livros bíblicos

É fundamental para a boa interpretação conhecer os aspectos


históricos de cada livro e o motivo de terem sido escritos. Uma boa
introdução à Bíblia nos fornecerá essas informações. Este conhecimento
certamente direcionará e enriquecerá a interpretação. Um estudo detalhado de
história e dos achados arqueológicos também ajuda a aprofundar nosso
conhecimento e compreensão bíblicos.

4.2.5 Estudo das doutrinas sistematizadas

O estudo sistemático das doutrinas bíblicas melhora a interpretação de


passagens bíblicas; e uma boa intepretação bíblica gerará uma compreensão
correta das doutrinas bíblicas. Algumas doutrinas ensinadas nas Escrituras:
✔ Deus (Teologia);
✔ Espírito Santo (Paracletologia ou Pneumatologia);
✔ Jesus Cristo (Cristologia);
✔ Salvação (Soteriologia);
✔ Pecado (Hamartiologia);
✔ O que ainda vai acontecer (Escatologia);
✔ O ser humano (Antropologia);
✔ dentre outras.

4.2.6 Estudo histórico e cronológico

Outro excelente método é estudar a Bíblia a partir dos períodos


históricos. Tanto o AT como o NT não possuem todos os seus livros em
ordem cronológica.
A Bíblia em Ordem Cronológica publicada pela Editora Vida, cujo
organizador é Edward Reese, ousou inserir todos os versículos em uma
ordem histórica. Por exemplo, inicia o texto com João 1.1, depois Salmo 90 e
então Gênesis 1.1. Evidentemente, é uma obra ousada, interessante, mas não
é isenta de discordâncias quanto à cronologia adotada.

4.2.7 Estudo exegético

Vimos que a Bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego. O texto


bíblico contém verdades divinas profundas que a tradução não conseguiu
expressar em sua totalidade. Por isso, é preciso buscar com dedicação o
sentido original de cada passagem. Isto é exegese, ou seja, extrair a verdade
do texto.

4.3 INVISTA EM SUA BIBLIOTECA

Um estudante da Bíblia (e nunca deixamos de ser estudantes) precisa


ter uma biblioteca pessoal direcionada para a teologia bíblica. Não podem
faltar as conhecidas “obras de referência”, que são livros que se destinam à
consulta: dicionários, enciclopédias, atlas, concordância (de preferência
digital pois é mais rápida e eficiente do que as impressas).
Além disso, adquira também livros de teologia sistemática,
comentários bíblicos o mais completo possível, dando preferência aos
comentários exegéticos, que analisam o texto dentro do contexto cultural,
linguístico, histórico e geográfico (é diferente do comentário devocional).
Por último, mas não menos importante, segue uma lista de versões e
traduções, além de bíblias de estudo sugeridas por R. Laird Harris (p.
122,123):

4.3.1 Bíblias na tradução de Almeida

João Ferreira de Almeida é o mais conhecido tradutor da Bíblia para a


língua portuguesa. Nasceu em 1628, em Torre de Tavares, nas proximidades
de Lisboa, Portugal. Aos 16 anos, empreendeu árdua tarefa de traduzir a
Bíblia diretamente das línguas originais. Dedicou toda a sua vida a esse
empreendimento (THOMPSON, p. 1378; HARRIS, p. 120).
Faleceu em 1691 e traduziu o AT até Ezequiel 41.21. Em 1748, o
pastor Jacobus op den Akker, da Batávia, continuou o trabalho de Almeida.
Em 1753, cinco anos depois, foi impressa a primeira Bíblia completa em
português, em dois volumes (THOMPSON, p. 1378).
Baseado em sua tradução, surgiram inúmeras versões:

1. Almeida Revista e Corrigida (ARC ou RC): Foi publicada em 1898


pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Em 1995, a SBB elaborou
uma revisão nesse texto, dando origem à Almeida Revista e Corrigida, 2ª
edição.

2. Almeida Revista Atualizada (ARA ou RA): esse texto começou a ser


produzido pela SBB em 1948 e foi publicado em 1956. É uma
atualização teológica e linguística da ARC. Em 1993, a SBB fez uma
revisão no texto que ficou conhecido como Almeida Revista e
Atualizada, 2ª edição.

3. Almeida Corrigida e Fiel (ACF): foi publicada pela Sociedade Bíblica


Trinitariana do Brasil, fundada em 1969.

4. Versão Revisada de Acordo com os melhores Textos em Hebraico e


Grego (VR): foi publicada em 1967 pela Imprensa Bíblica Brasileira
(IBB).

5. Edição Contemporânea de Almeida (ECA): tendo como base a ARC,


essa versão foi publicada em 1990 pela Editora Vida e é uma revisão
estilística da própria ARC. As palavras do Senhor Jesus estão em
vermelho.

6. Almeida Século 21: é a mais nova versão das Escrituras baseada no texto
de Almeida. É uma tradução e revisão inspirado pela VR.

4.3.2 Outras traduções

1. Nova Versão internacional (NVI): foi traduzida diretamente das línguas


originais por tradutores de diversas denominações evangélicas. É uma
das mais novas versões das Escrituras. É publicada pela Editora Vida e
pela Sociedade Bíblica Internacional desde 2001.

2. Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH): foi Lançada em 2000


pela SBB, trata-se de uma revisão da Bíblia na Linguagem de Hoje
(BLH), publicada em 1988.

3. Bíblia Viva (BV): foi publicada em 1981 pela Editora Mundo Cristão e é
considerada uma paráfrase das Escrituras e não uma tradução. Utiliza o
método de tradução de ideias por ideias, em vez de palavra por palavra.

4. Uma versão perigosa: a Tradução do Novo Mundo das Escrituras


Sagradas foi publicada pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblia e
Tratados. Uma versão (ou melhor: perversão) completa em português foi
publicada em 1967. Obviamente, os leigos TJ (testemunhas de Jeová)
defendem que essa versão é a única tradução confiável das Escrituras. Na
verdade, através dessa obra, as Escrituras foram adaptadas ao sistema
doutrinário da seita: com a omissão de versículos conflitantes ou
traduções tendenciosas a sua fé.

4.3.3 Bíblias de Estudo

1. Bíblia Shedd: o Dr. Russell Shedd coordenou uma equipe de


comentadores que produziu milhares de notas para essa bíblia de estudo.
Essas notas foram escritas no Brasil, tendo em vista o leitor brasileiro. A
Bíblia Shedd é publicada por Edições Vida Nova em parceria com a
SBB. Ferramentas de estudo: notas de rodapé, concordância bíblica,
cronologia bíblica, tabela de pesos, dinheiro e medidas, mapas coloridos
e análise e introdução aos livros da Bíblia. O texto bíblico adotado é o
ARA, 2ª edição.

2. Bíblia de Estudo Esperança: foi publicada em 1998 em coedição por


Edições Vida Nova e SBB. Objetiva responder questões da vida,
apresentadas por meio de centenas de perguntas espalhadas por suas
páginas. Ferramentas de estudo: notas exegéticas, textos paralelos dos
evangelhos etc. O texto bíblico adotado é o ARA, 2ª edição.

3. Bíblia de Estudo Almeida: foi publicada em 1999 pela SBB.


Ferramentas de estudo: concordância temática, dicionário, guia sinótico
dos evangelhos, cronologia bíblica e tabela de pesos, moedas e medidas.
O texto bíblico adotado é ARA, 2ª edição.

4. Bíblia Anotada: foi publicada em 1991 pela Editora Mundo Cristão.


Ferramentas de estudo: notas de rodapé, harmonia dos evangelhos,
resumo da doutrina bíblica, estudos sobre a Bíblia, cronograma de leitura
da Bíblia em um ano, concordância, mapas etc. O texto bíblico adotado é
o ARA, 1ª edição.

5. Bíblia de Estudo Vida: foi publicada pela Editora Vida em 1999.


Ferramentas de estudo: notas laterais, dicionário, mapas, tabelas,
concordância e plano de leitura. O texto bíblico adotado é o ARA, 2ª
edição.

6. Bíblia de Estudo NVI: foi publicada pela Editora Vida em 2003.


Ferramentas de estudo: notas de rodapé, que foram traduzidas da edição
americana da New International Version, cronologia do Antigo e do
Novo Testamento e concordância bíblica. O texto bíblico adotado é a
NVI.

7. Bíblia de Estudo de Genebra: foi publicada pela Cultura Cristã (editora


confessional da Igreja Presbiteriana do Brasil) e Sociedade Bíblica do
Brasil em 1999. E uma Bíblia direcionada para a teologia reformada
(calvinista). Ferramentas de estudo: notas de rodapé, introdução a cada
livro da Bíblia, diversos artigos, além de concordância e mapas. O texto
bíblico adotado é o ARA, 2ª edição.

8. Bíblia de Referência Thompson: foi publicada pela Editora Vida em


1990. Ferramentas de estudo: palavras de Cristo em vermelho, sistema
Thompson de estudo bíblico original e exaustivo (sistema numérico de
referências em cadeia, análise de livros, estudos esboçados e ilustrados,
harmonias, mapas, descobertas arqueológicas e concordância). O texto
bíblico adotado é o ECA (Edição Contemporânea de Almeida).
REFERÊNCIAS

1. ALETTI, Jean-Noël; GILBERT, Maurice; et al. Vocabulário ponderado


da exegese bíblica. Trad. Cassio Murilo Dias da Silva. São Paulo :
Edições Loyola, 2011.

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Tradução: J. Santos Figueiredo. São Paulo : Hagnos, 2003.

3. BARNWELL, Katharine. Tradução bíblica : um curso introdutório dos


princípios básicos de tradução. Trad. Mabel Meader. Brasília, DF, 1989

4. BEAUMONT, Mike. Guia prático da Bíblia. Trad. Vanderlei Ortigoza


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5. Bíblia on Line. Módulo Avançado. versão 3.0. São Paulo: SBB, 2002.1
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7. BÍBLIA. Português. Bíblia de Referência Thompson. Tradução de João


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Charles Thompson. São Paulo: Vida, 1992.
8. BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Edição Revista e Atualizada
(ARA). Trad. João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do
Brasil (SBB), 1993.
9. BITTENCOURT, B. P. O Novo Testamento: cânon, língua texto. 2. ed.
Rio de Janeiro e São Paulo : JUERP/ASTE, 1984.
10. BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. São Paulo : Editora
Vida, 1971.

11. BRAGA, James. Como estudar a Bíblia. Trad. Emma A. de Souza


Lima. Florida, EUA : Editora Vida, 1989.

12. CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia da Bíblia Teologia e


Filosofia. Vol. 3, 9ª ed. São Paulo : Editora Hagnos, 2008.

13. Dicionário Eletrônico HOUAISS da língua portuguesa. Versão 1.0


Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.1CD.
14. DOUGLAS, J.D. O novo dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida
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15. ELWELL, Walter A. (ed.) Enciclopédia histórico-teológica da
igreja cristã. Vol. 1. trad. Gordon Chown. São Paulo : Vida Nova, 1988.

16. GUNNEWEG, Antonius H. Hermenêutica do Antigo Testamento.


Trad. Ilson Kayser. São Leopoldo,RS:Editora Sinodal, 2003.

17. GUSSO, Antônio Renato . Como entender a Bíblia : orientações


práticas para a interpretação correta das Escrituras Sagradas. Curitiba, PR
: A. D. Santos, 1998.

18. HARRIS, R. Laird. Introdução à Bíblia. Trad. Bruno G. Destefani.


São Paulo : Vida Nova, 2005.
19. HOUAISS. Dicionário eletrônico da língua portuguesa. Versão 1.0
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 1CD.
20. MILLARD, Anne. Os Egípcios. Trad. Clarisse Tavares. São Paulo :
Editora Melhoramentos, 1988.

21. MILLER, Stephen M.; HUBER, Robert V. A Bíblia e sua história :


o surgimento e o impacto da Bíblia. Barueri, SP : SBB, 2006.
22. OLIVEIRA, Raimundo F. Como estudar e interpretar a Bíblia. Rio
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23. REESE, Edward (org.). A Bíblia em ordem cronológica: NVI. Trad.


Judson Canto. São Paulo : Editora Vida, 2003.

24. STUART, Douglas; FEE, GORDON D. Fee. Manual de Exegese


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