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para o trabalho.
RESUMO
O objetivo desse artigo é realizar uma análise referente ao processo de mudanças que passa o processo
produtivo da maçã, a partir de meados dos anos 2000, e como essas alterações afetam a vida dos
trabalhadores que sobrevivem da venda da força de trabalho nessa produção. A princípio se fará um
estudo em Marx sobre o desenvolvimento das forças produtivas na forma capital que desembocam nas
alterações do processo produtivo. Em seguida, analisar como se constitui a classe trabalhadora, quem
são os trabalhadores e o que significam para o capital. E por fim, traçar uma compreensão sobre as
limitações da sociabilidade capitalista, quanto à constituição de estratégias que permitam aos
trabalhadores ir além da configuração da produção de mercadorias criada pelo capital. A perspectiva
teórica adotada para a escrita desse texto é a marxista, priorizando a busca da análise na gênese do
fenômeno social que o considera enquanto fenômeno possível de transformação.
1. INTRODUÇÃO
1
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina
(PPGE/UFSC), sob orientação da Professora Doutora Patrícia Laura Torriglia. Integrante do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Ontologia Critica (GEPOC), E-mail: julianahist.edu@gmail.com.
2
Dissertação de mestrado: A educação e a reprodução da classe trabalhadora da pomicultura de Fraiburgo SC
e o Programa de Aprendizagem "Cultivo da Macieira-Jovem Aprendiz Cotista", defendida em 2011 no PPGE –
UFSC.
2
mais negativas do que positivas, que se mostram e causam grande perigo ao ser humano. E
nessa leva de negatividade se encontra aquela em que o que importa é o ter e não o ser. O ter
condições de produzir mercadorias atrativas e que garanta a lucratividade para um mísero
grupo de grandes proprietários de meios de produção. Nesta realidade encontra-se a grande
maioria tendo que se adequar as incansáveis alterações no processo de produção para vender
sua força de trabalho, que mal permite alcançar as condições suficientes para a sobrevivência.
A drástica imposição da propriedade privada dos meios de produção na região de
Fraiburgo SC distribuiu milhares de hectares de terras nas mãos de poucos grandes
produtores, que ao terminarem a exploração da mata nativa, iniciaram seus grandes
empreendimentos agroindustriais, sendo que em Fraiburgo a maçã se destacou como a
mercadoria que permitiu até meados dos anos 2000, a subsistência dos trabalhadores
assalariados.
Dados do Diário Catarinense (2013)3, afirmam que de 6 mil hectares plantados de
maçã diminuíram para 4 mil nos últimos cinco anos. Na mesma notícia encontra-se a fala do
presidente da ABPM4 justificando que a produção diminuiu na região por dois motivos
principais: renovação dos pomares que são macieiras muito antigas e também devido à
instabilidade do mercado, que pode esclarecer se realmente é viável renovar os pomares e
investir nessa produção. O que se encontra nas pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) é que houve redução na área plantada e redução na produção dessa
fruta.
Estes dados apresentados pela notícia e instituto, nos faz levantar alguns
questionamentos e rememorar o que intelectuais que estudam a sociabilidade capitalista
apresentam em suas pesquisas, para o capital a mercadoria lucrativa permanece, quando não
mais garante este desenvolvimento produtivo, virá cadáver e precisa ser enterrado o mais
rápido possível. Se o pínus, a soja, o milho, a especulação imobiliária são mais atrativos
economicamente, então se altera a produção, sem ao menos considerar o ser humano que
sobrevive dessa produção, que personifica sua força de trabalho para determinado processo
produtivo específico. Não que se esteja defendendo o complexo agroindustrial de dominação
e exploração de força de trabalho, mas pensar quais estratégias poderiam se opor a esse
projeto destrutivo da vida?
Cabe, nesse artigo a partir de um estudo sobre a produção na forma capital, trazer a
tona algumas aproximações com o entendimento sobre o que é, como se manifesta e porque
3
Jornal do Estado de Santa Catarina.
4
Associação Brasileira de Produtores de Maçãs - ABPM
3
assim a força de trabalho se mostra com todas essas características. Conforme Marx esses
aspectos são evidenciados da seguinte forma (1983, p. 139):
“Ele e o possuidor de dinheiro se encontram no mercado e entram em relação um com
o outro como possuidores de mercadorias iguais por origem, só se diferenciando por um ser
comprador e o outro, vendedor, sendo portanto ambos pessoas juridicamente iguais”.
Enquanto existir a sociabilidade capitalista esta mercadoria será o foco do possuidor
de dinheiro, como o do possuidor da força de trabalho. Pois o capitalista torna a vida do
trabalhador dependente dele em todos os sentidos. O que é ser trabalhador nas condições do
capital sem possuir trabalho? Sem poder vender a força de trabalho? Que alternativas
encontram diante da falência do processo produtivo que permitiu a sobrevivência por anos,
em uma sociedade que só sobrevive quem vende a força de trabalho?
E Marx (1983) continua analisando o valor da força de trabalho que corresponde como
de qualquer outra mercadoria, o tempo de trabalho necessário para sua produção e também
sua reprodução. É por meio da força de trabalho e somente por ela que o capital pode se
proliferar, pois produz mercadorias e mais valor.
Na sociabilidade capitalista o processo de trabalho que corresponde à produção de
valor para além de seu valor, a transferência de valor para a mercadoria e a produção de valor
de uso só é possível pela força de trabalho. Que necessariamente desemboca na valorização
do capital. E assim Marx (1983, p. 160-161) explica como esse movimento acontece:
por que dura um tempo determinado. A parte do capital, convertida em meios de trabalho,
objeto de trabalho e meios de trabalho não altera sua grandeza de valor no processo de
produção. É a parte do capital convertida em força de trabalho que muda o valor do capital no
processo de produção (MARX, 1983).
A taxa de valorização do capital provém dessa maneira do tempo que o trabalhador
trabalha além daquele necessário para pagar o valor de sua própria força de trabalho e meios
de produção.
Marx (1983, p. 190), acrescenta que:
Entende-se por si, desde logo, que o trabalhador, durante toda a sua
existência, nada mais é que força de trabalho e que, por isso, todo seu tempo
disponível é por natureza e por direito tempo de trabalho, portanto,
pertencente à auto valorização do capital. Tempo para educação humana,
para o desenvolvimento intelectual, para o preenchimento de funções sociais,
para o convívio social, para o jogo livre das forças vitais físicas e espirituais,
mesmo o tempo livre de domingo – e mesmo no país do sábado santificado –
pura futilidade! Mas em seu impulso cego, desmedido, em sua voracidade
por mais-trabalho, o capital atropela não apenas os limites máximos morais,
mas também os puramente físicos da jornada de trabalho. Usurpa o tempo
para o crescimento, o desenvolvimento e a manutenção sadia do corpo
(MARX, 1983, p. 211).
O capital evolui, além disso, para uma relação coercitiva que obriga a classe
trabalhadora a executar mais trabalho do que exigia o estreito círculo de suas
próprias necessidades vitais. E como produtor de laboriosidade alheia,
extrator de mais-trabalho e explorador da força de trabalho, o capital supera
em energia, exorbitamento e eficácia todos os sistemas de produção
anteriores baseados em trabalho forçado direto (MARX, 1983, p. 244).
E assim entende-se que em Marx (1983, p. 244) “o processo vital do capital consiste
apenas em seu movimento como valor que valoriza a si mesmo”. E para que isso aconteça e
se potencialize e assim diminuir o tempo com trabalho desnecessário, reduzindo também o
tempo de trabalho necessário para a sobrevivência e assim o valor da força de trabalho, ou das
mercadorias consumidas pelo trabalhador para sua sobrevivência acontece importantes
alterações ao longo dos tempos históricos do processo de desenvolvimento das forças
produtivas do trabalho, sendo destacado por Marx três desses aspectos: as novas formas de
potencialização do trabalho, produção de conhecimentos e incorporação de novas técnicas no
processo de trabalho, a produção de conhecimento científico que permite alterações na
produção, no objeto de trabalho e por seguinte a qualificação da força de trabalho,
universalização do conhecimento das forças produtivas com menor dispêndio de tempo de
trabalho.
De acordo com Postone (2006, p. 97) em Marx temos que “(...) El trabajo em el
capitalismo es diretamente social porque actúa como uma actividade de mediación social” 5.
Todas as relações sociais e modificações nas várias esferas: econômica, política, educacional,
jurídica, etc. estão vinculadas com o desenvolvimento das forças produtivas na forma capital.
Em Marx é possível compreender o capitalismo para além do fetichismo dos avanços em
forças produtivas do trabalho, quando revela que o trabalho abstrato é a verdadeira fonte de
riqueza social, que é apropriada de maneira imoral pela classe capitalista.
5
O trabalho no capitalismo é diretamente social porque atua como uma atividade de mediação social.
7
Sobre esta base podre definir adecuadamente el valor como uma forma
históricamente específica de la riqueza y de las relaciones sociales, y mostrar
que el proceso de producción incorpora a la par lãs <<fuerzas>> productivas
y las <<relaciones>> de producción, no encarnando simple y exclusivamente
a las fuerzas productivas. Esto ló haré demostrando que, según el análisis de
Marx, el modo de producción em el capitalismo no es um mero processo
técnico, sino que está moldeado por formas objetivadas de relaciones
sociales (valor, capital)6.
6
Sobre esta base pode definir adequadamente o valor como uma forma historicamente especifica da riqueza e
das relações sociais, e mostrar que o processo de produção incorpora ambas as forças produtivas e as relações de
produção, e não somente incorporando exclusivamente as forças produtivas. Isto tem demonstrado que, segundo
as análises de Marx, o modo de produção no capitalismo não é um mero processo técnico, senão que está
moldado por formas objetivas de relações sociais (valor, capital).
7
"O capitalismo é um sistema de dominação abstrato e impessoal. Comparando com formas sociais anteriores, as
pessoas aparentam ser independentes, mas, na verdade, estão sujeitas a um sistema de dominação social que não
parece social, mas "objetivo".
8
Em Lukács (2013) a personalidade humana é uma categoria social com toda sua
problemática, o autor diferencia o desenvolvimento das capacidades dos homens e o formar-
se da personalidade. Sendo que o homem torna-se homem objetivamente no trabalho e no
desenvolvimento subjetivo das capacidades por este provocada. A ação favorável ou
desfavorável do desenvolvimento das capacidades humanas sobre as personalidades dos
homens é um fato objetivo e tendência social que age sobre o real.
Considerando as mudanças provocadas pelas estruturas sociais antes e depois da
produção, com reviravoltas radicais ou com visão ampliada, segue transformando as
expressões de vida dos homens, aumentando o grau de sociabilidade e as contradições entre o
desenvolvimento das forças produtivas e as relações de produção, adquirem caráter de
revolução e penetram em todas as expressões da vida humana.
na corrida desesperada pela qualificação da força de trabalho para ser explorado na condição
de proletário, contribui para que a classe se enquadre nas condições históricas desta
sociedade.
Para a classe capitalista existe uma classe que é a trabalhadora, que tem potencial de
tornar útil sua força de trabalho, nos vários momentos da vida, tem suas formas específicas de
configurar essa vida a atender seus interesses de classe capitalista. Seguindo essa
compreensão é que pretendemos aprofundar esse debate relacionando a sociabilidade
capitalista e o ser jovem sob a configuração desse sistema, que possibilita o desenvolvimento
das capacidades humanas para os avanços em forças produtivas, sendo que os processos de
educação se enquadram para atender este objetivo em sua grande maioria, e poucos se
configuram para a formação da personalidade humana, que permita ao ser humano superar os
hábitos da mera vida cotidiana. As possibilidades de crescimento dos indivíduos – suas
múltiplas e variadas possibilidades de crescimento – está na tensão contínua com seu meio
[ambiente] que está para assegurar a sua reprodução, mas, está oculta nesta sociabilidade a
autoafirmação da singularidade como uma individualidade autônoma, parafraseando Lukács.
De acordo com Harvey (2010, p. 189):
O tempo se torna, tempo de trabalho necessário para buscar fazer algo que atenda
esses requisitos da sociabilidade da rapidez, da agilidade. Jovens considerados úteis para esse
sistema são aqueles que de alguma maneira elaboram estratégias e ações que contribuem para
o desenvolvimento da força produtiva do trabalho. Ser jovem é ser hábil para modificar o seu
espaço, ou perceber essa modificação, como sendo necessária, na esperança que o mesmo
capital que garantia a sobrevivência da família, continuará possibilitando sob outra
configuração.
Ser jovem em Fraiburgo SC é estar sempre disponível em alterar os rumos da vida, em
se tornar força de trabalho em outro processo produtivo. É ver um tempo rápido que modifica
o espaço constantemente. É ver pomares sendo substituídos rapidamente por plantações de
pinus, soja ou milho é ver casas sendo construídas onde outrora eram plantações de maçã, é
ver escolas e universidades chegando à cidade e oferecendo uma infinidade de cursos de todos
os tipos, desde arquitetura até “agribusiness”, e trabalhar em que, se formar em qual curso, e
para que? E trabalhar enquanto ainda se encontra um, ou se manter desempregado, ou migrar
para outra região, ou entrar para o mundo do crime? E nesse dilema aparece o tímido jovem,
em Fraiburgo SC, no Brasil, no mundo inteiro em uma economia mundializada em que os
campos de mediações para ir além desse sistema com o passar do tempo e as modificações do
espaço se mostram cada vez mais visíveis em suas contradições.
Vida diária que poderá conforme as explicitações das contradições arraigadas entre os
que têm e aqueles que nada têm além de sua força de trabalho se modificar, se transformar
para além da mera reprodução do mesmo, proposto pelos diversos aparatos do capital.
Novas organizações do trabalho com mudanças organizacionais tais como sistema de
entrega “Just-in-time”, que reduz os estoques, quando associados com novas tecnologias de
controle eletrônico, de produção em pequenos lotes, etc., reduziram os tempos de giro em
muitos setores da produção (eletrônica, máquinas, ferramentas, automóveis, construção,
vestuário, etc.). Para os trabalhadores, tudo isso implicou uma intensificação dos processos de
12
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DUAYER, Mario. Anti-realismo e absolutas crenças relativas. In: Revista Margem Esquerda
– ensaios marxistas nº 8, São Paulo, Boitempo editorial, novembro de 2006, PP. 109-130
LUKÁCS, G.. Ontologia do ser social: o trabalho. A partir do texto Il Lavoro, primeiro
capítulo do segundo tomo de Per una Ontologia dell ‘Essere Sociale.Tradução de Ivo Tonet.
Universidade Federal de Alagoas, (1984). Roma: Riunit, 1981.
9
Escrita da tese, 2012-2016, UFSC / PPGE.
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LUKÁCS, G. Para uma ontologia do ser social, 2. Traduçao Nélio Scheneider, Ivo Tonet,
Ronaldo Vielmi Fortes. 1. Ed. – São Paulo: Boitempo, 2013.
LUKÁCS, György. Prolegômenos para uma ontologia do ser social. São Paulo: Boitempo,
2010.
LUKÁCS, György. O jovem Marx e outros escritos de filosofia. 2. Ed. Rio de Janeiro: Editora
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MARX, Karl (1983). O Capital. Vol. I, tomo 1, São Paulo: Abril Cultural.
MARX, Karl (1984). O Capital. Vol. I, tomo 2, São Paulo: Abril Cultural.
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TUMOLO, Paulo Sergio. O trabalho na forma social do capital e o trabalho como princípio
educativo: uma articulação possível? Educação & Sociedade, Campinas - SP, v. 26, n. 9o, p.
239-265, 2oo5.
(http://www.scielo.br/pdf/es/v26n9o/a11v269o.pdf)