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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA
E ENGENHARIA DE MATERIAIS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO REOLÓGICO DE PASTAS DE


CIMENTO CONTENDO RESÍDUOS DE PNEU
PARA POÇOS DE PETRÓLEO

ABIMAEL LOPES DE MELO

Orientador: Prof. Antônio Eduardo Martinelli

Natal – RN
Março – 2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO REOLÓGICO DE PASTAS DE


CIMENTO CONTENDO RESÍDUOS DE PNEU
PARA POÇOS DE PETRÓLEO

ABIMAEL LOPES DE MELO

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-graduação em Ciência e Engenharia
de Materiais, do Centro de Ciências
Exatas e da Terra da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
parte dos requisitos para obtenção do
título de Mestre em Ciência e Engenharia
de Materiais.

Natal – RN
Março – 2009
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha


querida mãe Luiza (em memória),
à minha esposa Eliana e à minha
querida filha Duda.
AGRADECIMENTOS

A DEUS, por mais esta conquista;


À MINHA MÃE, pelo estímulo, pela força e pelo exemplo de honestidade e
dedicação que nos deixou;
À MINHA ESPOSA, pela sua importância em todas as minhas conquistas;
AOS MEUS FAMILIARES, pela amizade e o carinho a mim dispensados;
AO PROFESSOR MARTINELLI, pela paciência, compreensão e orientação
dispensada, da elaboração à execução deste trabalho;
À PROFESSORA DULCE, pelas importantes contribuições;
AO PESSOAL DO LABORATÓRIO DE CIMENTO, pela amizade e pelas
contribuições para a realização dos experimentos;
AO PPGCEM, especialmente aos professores que ministraram as disciplinas
do Curso.
AO IFPI, pela oportunidade criada;
AOS AMIGOS DO IFPI E DE NATAL, pelas contribuições, diretas ou indiretas,
e pelo companheirismo.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 15

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 19


2.1. Cimento Portland .................................................................................. 19
2.1.1. Processo de fabricação ............................................................... 19
2.1.2. Tipos de cimentos Portland ......................................................... 20
2.1.3. Composição química ................................................................... 23
2.1.4. Reações de hidratação ................................................................ 25
2.2. O petróleo .............................................................................................. 30
2.2.1. Generalidades .............................................................................. 30
2.2.2. Perfuração de poços .................................................................... 32
2.2.3. Revestimentos de um poço .......................................................... 34
2.2.4. Cimentação de poços de petróleo ................................................ 36
2.2.4.1. Cimentação primária .......................................................... 36
2.2.4.2. Cimentação secundária ..................................................... 37
2.2.5. Completação de poços ................................................................. 38
2.2.6. Elevação artificial do petróleo ....................................................... 38
2.2.7. Recuperação do petróleo ............................................................. 39
2.2.7.1. Métodos térmicos .............................................................. 40
2.3. Pneus ..................................................................................................... 43
2.3.1. Generalidades .............................................................................. 43
2.3.2. Constituição do pneu .................................................................... 45
2.3.3. Reciclagem ................................................................................... 47
2.4. Reologia: aspectos conceituais .............................................................. 49
2.4.1. Generalidades ............................................................................... 49
2.4.2. Classificação dos fluidos ............................................................... 54
2.4.2.1. Fluidos Newtonianos .......................................................... 54
2.4.2.2. Fluidos não-Newtonianos ................................................... 56
a) Fluidos independentes do tempo .................................. 56
b) Fluidos dependentes do tempo ..................................... 58
c) Fluidos viscoelásticos ................................................... 60
2.4.3. Modelos reológicos ....................................................................... 61
2.4.3.1. Modelo de Bingham ........................................................... 62
2.4.3.2. Modelo de Potência ........................................................... 64
2.5. Pastas de cimento Portland .................................................................. 66
2.5.1. Reologia da pasta de cimento ...................................................... 66
2.5.2. Pastas contendo resíduos de borracha de pneu .......................... 69

3. MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................... 72


3.1. Materiais utilizados ............................................................................... 72
3.2. Tratamento superficial da borracha ...................................................... 74
3.3. Rota experimental ................................................................................. 75
3.4. Cálculo das pastas ................................................................................ 76
3.5. Mistura .................................................................................................. 77
3.6. Homogeneização das pastas ................................................................ 78
3.7. Peso específico ..................................................................................... 79
3.8. Ensaios Reológicos ............................................................................... 80
3.9. Ensaio de Consistometria ...................................................................... 81
3.10. Filtrado ............................................................................................... 82
3.11. Ensaio de água livre ambiente ........................................................... 83
3.12. Ensaio de estabilidade ....................................................................... 84
3.13. Ensaio de resistência à compressão ................................................. 85
3.14. Ensaio de resistência à tração por compressão diametral ................ 86

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................. 88


4.1. Caracterização dos materiais ................................................................ 88
4.1.1. Análise granulométrica da borracha e do cimento ...................... 88
4.1.2. Análise térmica da borracha ........................................................ 90
4.2. Caracterização do compósito cimento/borracha ................................. 91
4.2.1. Reologia ....................................................................................... 91
4.2.1.1. Curvas de fluxo e área de histerese .................................... 91
4.2.1.2. Viscosidade plástica ............................................................ 96
4.2.1.3. Limite de escoamento .......................................................... 97
4.2.1.4. Força gel .............................................................................. 98
4.2.1.5. Índice de consistência e de comportamento de fluxo ........... 101
4.2.2. Água livre ambiente ............................................................................. 103
4.2.3. Estabilidade ........................................................................................ 104
4.2.4. Espessamento .................................................................................... 106
4.2.5. Filtrado ................................................................................................ 108
4.2.6. Resistência mecânica ......................................................................... 110

5. CONCLUSÕES .............................................................................................. 114

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................. 116

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 117


MELO, A. L. – Análise do comportamento reológico de pastas de cimento
contendo resíduos de pneu para poços de petróleo. 2009. Dissertação de
Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais. Programa de Pós-graduação em
Ciência e Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal – RN.
RESUMO

A baixa tenacidade apresentada pelas pastas de cimentos Portland utilizadas na


cimentação de poços de petróleo tem motivado várias pesquisas voltadas para
materiais alternativos. Aditivos têm sido desenvolvidos para gerar pastas flexíveis e
com resistência mecânica capaz de suportar as expansões e retrações do
revestimento metálico dos poços que se sujeitam à injeção de vapor, técnica muito
utilizada para aumentar o fator de recuperação em reservatórios de óleo com alta
viscosidade. Uma pasta fresca com comportamento reológico inadequado pode
comprometer seriamente o processo de cimentação, implicando em falhas que
afetam substancialmente o desempenho da pasta no estado endurecido. Este
trabalho propõe a elaboração e a análise reológica de pastas de cimento Portland
com adição de resíduos de borracha de pneu em diversas proporções, com o
objetivo de minimizar os estragos provocados na bainha cimentante destes poços.
Por análise termogravimétrica, as partículas de borracha passantes na peneira de
abertura 0,5 mm (35 mesh) e tratadas superficialmente com solução 1 mol/L de
NaOH, apresentaram resistência térmica adequada para poços sujeitos à ciclagem
térmica. A avaliação do estudo baseou-se nos resultados da análise reológica das
pastas, complementadas pela análise mecânica, espessamento, estabilidade, teor
de água livre e perda de filtrado, utilizando-se como parâmetro uma pasta referência,
sem adição de borracha. Os resultados mostraram reologia satisfatória, passiva de
poucas correções; considerável perda de resistência mecânica (tração e
compressão), compensada por ganho de tenacidade, porém dentro dos limites
estabelecidos para sua aplicação em poços de petróleo; satisfatória estabilidade,
água livre e tempo de espessamento.

Palavras-Chaves: Cimento Portland, resíduos de borracha de pneu, cimentação de


poços, reologia de pastas de cimento.
MELO, A. L. Analysis of the rheological behavior of cement pastes containing

tire residues for oil wells. 2009. Dissertation of Master's degree in Science and

Engineering Materials. Program of Masters Degree in Science and Engineering

Materials, Federal University of Rio Grande do Norte, Natal - RN.

SUMMARY

The low tenacity presented by the Portland cement pastes used in the oil wells
cementation has been motivating several researches with attention focused on
alternative materials. Additives have been developed to generate flexible pastes with
mechanical resistance capable to support the expansions and retractions of the
metallic covering of the wells that submit to the steam injection, technique very used
to increase the recovery factor in oil reservoirs with high viscosity. A fresh paste with
inadequate rheological behavior may commit the cementation process seriously,
involving flaws that affect the performance of the paste substantially in the hardened
state. This work proposes the elaboration and the rheological analysis of Portland
cement pastes with addition of residues of rubber tire in several proportions, with the
aim of minimizing the damages provoked in the hem cementing of these wells. By
thermogravimetric analysis, the particles of eraser that go by the sieve of 0,5mm (35
mesh) opening and treated superficially with NaOH solution of 1 mol/L presented
appropriate thermal resistance for wells that submit to thermal cyclic. The evaluation
of the study based on the results of the rheological analysis of the pastes,
complemented by the mechanical analysis, thickening, stability, tenor of free water
and filtrate loss, being used as parameter a paste reference, without rubber addition.
The results showed satisfactory rheology, passive of few corrections; considerable
loss of mechanical resistance (traction and compression), compensated by earnings
of tenacity, however with established limits for its application in oil wells; satisfactory
stability, free water and thickening time.

Keywords: Cement Portland, residues of tire rubber, foundation of Wells, rheology of


cement pastes.
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Processo de fabricação do cimento Portland ................................. 20


Figura 2.2 - Evolução da resistência à compressão dos diferentes tipos de
cimento Portland ............................................................................. 21
Figura 2.3 - Microscopia da seção polida de um nódulo de clínquer ................. 25
Figura 2.4 - (A) Micrografia eletrônica de varredura da morfologia da fase
C-S-H, e (B) da fase Portlandita ..................................................... 27
Figura 2.5 - Micrografia eletrônica de varredura da Etringita ............................. 28
Figura 2.6 - Curva de liberação de calor na hidratação do cimento Portland .... 29
Figura 2.7 - Esquema do Sistema Petrolífero com seus elementos .................. 31
Figura 2.8 - Evolução da tecnologia brasileira em águas profundas ................. 32
Figura 2.9 - Esquema de uma sonda de perfuração com os principais
componentes ................................................................................... 33
Figura 2.10 - Tipos de plataformas marítimas ...................................................... 34
Figura 2.11 - Esquema de revestimento de poços ............................................... 35
Figura 2.12 - Esquema de um poço com falhas de cimentação .......................... 37
Figura 2.13 - Métodos de recuperação de petróleo ............................................. 39
Figura 2.14 - Esquema da injeção cíclica de vapor ............................................. 41
Figura 2.15 - Esquema da injeção contínua de vapor ......................................... 42
Figura 2.16 - Esquema do processamento da borracha natural ......................... 43
Figura 2.17 - (A) Fogo em amontoado de pneus durante o verão de 1999, em
Stanislaus, EUA; (B) córrego de óleo liberado pela queima ........... 44
Figura 2.18 - Partes componentes de um pneu ................................................... 46
Figura 2.19 - Processo de moagem do pneu ....................................................... 47
Figura 2.20 - Representação do ciclo de destinação do pneu ............................. 48
Figura 2.21 - Tensões normais e cisalhantes em um sólido ................................ 50
Figura 2.22 - Deformação: (A) rotação sem deformação; (B) deformação por
cisalhamento; (C) deformação por elongação ................................ 52
Figura 2.23 - Ilustração de um fluido cisalhado entre placas paralelas ............... 53
Figura 2.24 - Classificação dos fluidos segundo seu comportamento reológico . 54
Figura 2.25 - Curva de escoamento (A) e de viscosidade (B) de um fluido
Newtoniano ..................................................................................... 55
Figura 2.26 - Curvas de fluxo para fluidos independentes do tempo ................... 57
Figura 2.27 - Curvas de viscosidade com taxa de cisalhamento constante ........ 58
Figura 2.28 - Ilustração comparativa dos vários tipos de fluidos ......................... 60
Figura 2.29 - Representação gráfica do modelo de Bingham ............................. 62
Figura 2.30 - Reologia das pastas de cimento: (A) mesma tensão de escoamento
e diferentes viscosidades; (B) mesma viscosidade e diferentes
tensões de escoamento ................................................................. 63
Figura 2.31 - Curvas de fluxo (A) e de viscosidade (B) do fluido binghamiano ... 64
Figura 2.32 - Curvas de fluxo (A) e de viscosidade (B) para fluidos que seguem
a lei de potência, em escala logarítmica .......................................... 65
Figura 2.33 - Micrografia eletrônica de varredura da superfície de fratura de
corpo de prova contendo 10% de borracha, respectivamente,
com e sem tratamento superficial com NaOH ................................ 70
Figura 3.1 - Fluxograma da rota experimental ................................................... 75
Figura 3.2 - Misturador de Palheta Chandler Modelo 80-60 .............................. 77
Figura 3.3 - Consistômetro atmosférico Chandler, modelo 1200 ....................... 78
Figura 3.4 - Balança de lama atmosférica e balança pressurizada .................... 79
Figura 3.5 - Viscosímetro rotativo de cilindros coaxiais Chandler Modelo 3500 . 80
Figura 3.6 - Consistômetro pressurizado chandler modelo 7716 ...................... 81
Figura 3.7 - Filtro Prensa Fann HPHT Série 387 ............................................... 82
Figura 3.8 - Tubo decantador com amostra seccionada em quatro partes
iguais .............................................................................................. 84
Figura 4.1 - Micrografias da borracha de pneu obtidas por MEV ...................... 88
Figura 4.2 - Curva granulométrica da borracha de pneu ................................... 89
Figura 4.3 - Curva granulométrica do cimento Portland classe especial .......... 89
Figura 4.4 - Análise Termogravimétrica da borracha de pneu .......................... 90
Figura 4.5 - Curvas de fluxo das pastas ensaiadas a 27 °C .............................. 91
Figura 4.6 - Curvas de fluxo das pastas ensaiadas a 52 °C .............................. 92
Figura 4.7 - Área de histerese da pasta com 10% de borracha ensaiada
a 27 °C .......................................... .................................................. 93
Figura 4.8 - Área de histerese da pasta com 10% de borracha ensaiada
a 52 °C .......................................... .................................................. 94
Figura 4.9 - Viscosidade plástica em função da concentração de borracha
e da temperatura ............................................................................. 96
Figura 4.10 - Limite de escoamento em função da concentração de borracha
e da temperatura ............................................................................ 98
Figura 4.11 - Gel inicial em função da concentração de borracha e da
temperatura..................................................................................... 99
Figura 4.12 - Gel final em função da concentração de borracha e da
temperatura .................................................................................... 100
Figura 4.13 - Índice de comportamento de fluxo em função da concentração
de borracha e da temperatura ........................................................ 102
Figura 4.14 - Índice de consistência em função da concentração de borracha
e da temperatura ............................................................................ 102
Figura 4.15 - Água livre ambiente em função da concentração de borracha ..... 104
Figura 4.16 - Rebaixamento de topo das pastas em função da concentração
de borracha .................................................................................... 106
Figura 4.17 - Tempo de bombeabilidade em função da concentração de
borracha 107
Figura 4.18 - Consistência inicial máxima para o intervalo de 15 min a 30 min .. 108
Figura 4.19 - Volume de filtrado em função da concentração de borracha
extrapolado para 30 min ................................................................. 109
Figura 4.20 - Resistência à compressão em função da concentração de
borracha e do tempo de cura .......................................................... 110
Figura 4.21 - Resistência à tração por compressão diametral em função da
concentração de borracha e do tempo de cura .............................. 111
Figura 4.22 - Energia de fratura na tração por compressão diametral em função
da concentração de borracha e do tempo de cura ......................... 112
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Exigências físicas e mecânicas dos diferentes tipos de cimentos


Portland ......................................................................................... 21
Tabela 2.2 - Classificação e características dos cimentos Portland .................. 22
Tabela 2.3 - Componentes químicos principais do cimento Portland ................ 23
Tabela 2.4 - Propriedades dos compostos principais do cimento Portland ....... 24
Tabela 2.5 - Principais produtos de hidratação do cimento Portland ................. 26
Tabela 2.6 - Modelos reológicos dos fluidos ...................................................... 61
Tabela 3.1 - Ensaios químicos e especificação para o cimento classe G e
Portland classe especial ................................................................. 72
Tabela 3.2 - Ensaios físicos e especificação para cimento Portland especial ... 73
Tabela 3.3 - Características e propriedades do anti-espumante ........................ 73
Tabela 3.4 - Características e propriedades do dispersante .............................. 74
Tabela 3.5 - Composição das pastas em função do percentual de borracha .... 76
Tabela 3.6 - Valores de densidade e volume específico dos materiais utilizados
para a realização dos cálculos ....................................................... 76
Tabela 4.1 - Razão entre as leituras ascendentes e descendentes das médias
dos ensaios à temperatura de 27 °C ............... ............................... 93
Tabela 4.2 - Resultado da aproximação dos modelos de Bingham e de Potência
aos valores experimentais dos ensaios reológicos à temperatura
de 27 °C ......................................... ................................................ 95
Tabela 4.3 - Resultado da aproximação dos modelos de Bingham e de Potência
aos valores experimentais dos ensaios reológicos à temperatura
de 52 °C ........................................ ................................................. 95
Tabela 4.4 - Força gel em função da concentração de borracha e da
temperatura .................................................... 99
Tabela 4.5 - Índice de comportamento de fluxo (n) e índice de consistência (k)
das pastas ensaiadas, baseado no modelo de potência ................ 101
Tabela 4.6 - Resultados das medidas de estabilidade das pastas formuladas .. 105
Tabela 4.7 - Tempo de espessamento e de bombeabilidade das pastas
ensaiadas ....................................................................................... 107
LISTA DE SIMBOLOS E ABREVIAÇÕES

γ Taxa de cisalhamento
τ Tensão de cisalhamento
τ0 Limite de escoamento real
τL Limite de escoamento
µa Viscosidade aparente

µp Viscosidade plástica

µ Viscosidade dinâmica
API American Petroleum Institute
ASTM American Society of Testing and Materials
C2S Silicato dicálcico
C3A Aluminato tricálcico
C3S Silicato tricálcico
C4AF Ferro-aluminato tetracálcico
CP Cimento Portland
CPP Cimento Portland para poços de petróleo
C-S-H Silicato de cálcio hidratado
FAC Fator água/cimento ou relação água/cimento
G Tipo de classe de cimento Portland
Gf Gel final
Gi Gel inicial
K Índice de consistência
LE Limite de escoamento
Mesh Tipo de classificação de abertura de peneira
n Índice de comportamento ou de fluxo
R² Índice de correlação
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
Introdução 15

1. INTRODUÇÃO

O petróleo tem um papel importante na provisão da energia mundial, além de


ser uma das principais matérias primas utilizadas em diversas indústrias químicas.
No Brasil já ocupa o primeiro lugar dentro da matriz energética nacional. Não
obstante, se observa uma realidade bastante preocupante no tocante à
disponibilidade deste recurso energético. Por um lado, um aumento contínuo na
demanda energética mundial e, por outro, o esgotamento das reservas de energia.
Entretanto, o grande volume das reservas de óleo pesado justifica uma cuidadosa
pesquisa no que se refere ao seu fator de recuperação. Reservatórios de óleos
pesados e poços antigos geralmente apresentam baixa energia e conseqüente baixa
produtividade. A recuperação térmica, particularmente a injeção de vapor, tem se
mostrado eficiente para esses casos, tendo em vista que o calor reduz a viscosidade
do óleo e facilita o seu deslocamento, porém de emprego restrito a reservatórios em
terra, particularmente os arenitos relativamente rasos, espessos e permeáveis
(Queiroz, 2006).

Os problemas mais freqüentes nos poços que se sujeitam à injeção de vapor


estão relacionados à sua cimentação. Apesar do cimento Portland apresentar
excelente comportamento químico diante das condições de poço, seu
comportamento mecânico não é satisfatório quando tensões de tração e de
compressão são despertadas. A injeção de vapor impõe esforços termomecânicos à
interface revestimento metálico/bainha de cimento. O calor injetado provoca a
dilatação do revestimento metálico e este tende a voltar às suas dimensões iniciais
cessado o processo de injeção. Entretanto, a bainha de cimento não acompanha tais
ciclos de dilatação/retração, favorecendo a formação e o crescimento de trincas,
principalmente durante o período de resfriamento. Como resultado, a bainha perde
desempenho mecânico e sua função de isolamento zonal, aumentando os riscos de
danos ambientais e de segurança do poço, com possível produção de água, óleo e
gás pela região do anular (Vale, 2007). Além do mais, os poços passam por
constantes operações corretivas de cimentação que, além do custo direto envolvido
neste tipo de intervenção, o poço é retirado de produção temporariamente (Marinho,
2004).

Abimael Lopes de Melo Dissertação de Mestrado PPGCEM


Introdução 16

Nos poços da região Nordeste, em particular, nos campos de Mossoró-RN, o


emprego da técnica de injeção de vapor faz com que operações de cimentações
secundárias (correções na cimentação primária) sejam freqüentes, em função do
surgimento de fissuras nas bainhas dos poços (Bezerra, 2006).
Como tentativa de solucionar este problema, vários materiais estão sendo
pesquisados, visando melhorias no desempenho das propriedades da pasta de
cimento Portland e no aumento da vida útil dos poços que passam por ciclagem
térmica. Alguns desses materiais são cimentos alternativos, outros são
caracterizados por adições ao cimento Portland, como é o caso das pastas de
cimento com resíduos de borracha de pneus fora de uso. O baixo custo e a grande
quantidade faz desse resíduo uma fonte em potencial de material a ser explorada.
Das aplicações bem sucedidas desse resíduo, destaca-se a adição em cimentos
asfálticos e em concretos convencionais de cimento Portland. Segre (1999), em seu
trabalho com pastas de cimento com adição de resíduos de borracha de pneu para
concreto, concluiu sobre a sua viabilidade técnica. A autora fez tratamento
superficial do resíduo de borracha, com H2SO4 e com NaOH, constatando
significativas melhoras na aderência entre a pasta e a borracha e,
conseqüentemente, melhora na resistência mecânica da pasta endurecida.

Utilizando resíduo de borracha de pneu, tratado superficialmente com NaOH,


em pastas para cimentação de poços de petróleo sujeitos à ciclagem térmica, Vale
(2007) também concluiu que, apesar da perda de resistência mecânica, os valores
se encontram dentro da faixa de uso em poços de petróleo, além de apresentar
significativo ganho de energia de fratura. Na composição das pastas, a autora usou
resíduos de borracha passantes na peneira 14 mesh da ABNT e, com essa
granulometria, a mesma não conseguiu realizar os ensaios de reologia.

Por se tratar de uma pasta com adição pouco usual, necessária se faz a
análise de suas características de fluxo e de viscosidade para possíveis aplicações
em cimentações de poços petrolíferos. O entendimento e o controle das
propriedades reológicas da pasta na operação de cimentação, visam otimizar a
eficiência com que a pasta de cimento desloca o fluido do espaço anular sob
determinado regime de fluxo e a real pressão exercida sobre as paredes do poço
(Nelson, 1990). Esses parâmetros controlam as diferentes propriedades das pastas

Abimael Lopes de Melo Dissertação de Mestrado PPGCEM


Introdução 17

de cimento, e o sucesso na cimentação depende desse controle. Segundo Lima


(2004), somente se as propriedades da pasta são bem caracterizadas, a perda de
carga e o regime de fluxo podem ser corretamente prognosticados.

Além do mais, o uso de resíduos de pneu em compósitos à base de cimento


tem contribuído sobremaneira para a redução do impacto ambiental provocado pelos
mesmos. O pneu fora de uso disposto incorretamente é um excelente meio para
proliferação de epidemias. A sua disposição em aterros é inviabilizada pela baixa
compressibilidade e lenta degradação. A queima a céu aberto libera enorme
quantidade de fumaça negra (altamente nociva à saúde humana) e óleos tóxicos
que penetram e contaminam solos e lençóis freáticos. Isto, por si só, justifica este
trabalho como uma alternativa limpa de descarte para este material prejudicial à
saúde humana e ao meio ambiente, como também pelas propriedades elásticas,
resistência ao impacto e baixa massa específica da borracha de pneu,
características estas muitas vezes desejadas em pastas de cimento.

Dessa forma, o objetivo geral deste trabalho é a caracterização das


propriedades reológicas de pastas de cimento Portland contendo resíduos de
borracha fina de pneu (passante na peneira 35 mesh da ABNT), pela análise dos
parâmetros reológicos do modelo de Bingham (Viscosidade plástica e limite de
escoamento) e do modelo de potência (índice de consistência e índice de
comportamento), bem como da força gel. Também serão analisadas outras
propriedades como: tempo de espessamento, estabilidade, formação de água livre,
perda de filtrado e resistência mecânica.

Os objetivos específicos foram resumidos nos seguintes aspectos:

• Comparar o comportamento da pasta de referência com pastas contendo


resíduos de borracha de pneu nas proporções 5%, 7% e 10%, em relação às
propriedades reológicas, estabilidade, tempo de espessamento, volume de
filtrado e formação de água livre.
• Avaliar as propriedades de resistência à compressão, tração e energia de
fratura da pasta de referência e compará-las às pastas contendo resíduos de
borracha de pneus com curas de 1 dia, 2 dias e 7 dias.

Abimael Lopes de Melo Dissertação de Mestrado PPGCEM


CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Revisão Bibliográfica 19

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Cimento Portland

O cimento Portland, fundamental para a construção civil, resulta da moagem


de um produto denominado clínquer, obtido pelo cozimento até fusão incipiente da
mistura de calcário e argila convenientemente dosada e homogeneizada, à qual é
adicionada pequena quantidade de sulfato de cálcio (Thomas, 2001).

2.1.1. Processo de fabricação

O processo de fabricação do cimento Portland consiste, basicamente, em


retirar o calcário da jazida, levá-lo ao britador para ficar em tamanhos menores e
misturá-lo a argila. Em seguida, a mistura é levada a um moinho de bolas para gerar
um pó bem fino denominado farinha de cru. Essa farinha é bombeada até os silos,
onde é feito o balanceamento nas proporções adequadas à produção do cimento por
meio de peneiras. Após o processo de balanceamento, a farinha de cru é colocada
em um forno rotativo até atingir cerca de 1450 ºC, temperatura necessária às
reações químicas de formação do clínquer. Ao sair do forno, o clínquer é resfriado
para manter as características físico-químicas do produto final e, logo após, o
mesmo é moído juntamente com gesso, que age como retardador de pega. O
resultado desta última moagem é o cimento pronto para ser comercializado,
conforme ilustra a Figura 2.1 (Santos Júnior, 2006).

Abimael Lopes de Melo Dissertação de Mestrado PPGCEM


Revisão Bibliográfica 20

Figura 2.1 – Processo de fabricação do cimento Portland (Kihara & Marciano Jr,
2005).

Como os silicatos de cálcio são os principais constituintes do cimento


Portland, a matéria-prima para sua produção deve fornecer cálcio e sílica em
proporções adequadas. O cálcio é obtido de fontes naturais de carbonato de cálcio,
como a pedra calcária, giz, mármore e conchas do mar, enquanto que a sílica é
extraída de argilas e xistos argilosos.

2.1.2. Tipos de cimentos Portland

Diferentes tipos de cimento Portland são fabricados para atender


propriedades específicas como durabilidade, resistência mecânica, etc. Oito tipos de
cimento são cobertos pela ASTM (American Standart Test Measurements), descritos
com suas respectivas propriedades na Tabela 2.1. Nesta tabela, são apresentados
os limites estabelecidos de exigências físicas e mecânicas para os diferentes tipos
de cimento. As exigências físico-mecânicas garantem o desempenho mecânico e
reológico quando da aplicação em pastas, argamassas e concretos.

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Tabela 2.1 – Exigências físicas e mecânicas dos diferentes tipos de cimentos


Portland (ABCP, 2002).

A evolução da resistência média à compressão dos diferentes tipos de


cimentos pode ser vista na Figura 2.2.

Figura 2.2 – Evolução da resistência à compressão dos diferentes tipos de cimento


Portland (ABCP, 2002).

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O API (American Petroleum Institute) padronizou os processos de fabricação


e composição química do cimento em classes (de A a H), arranjadas de acordo com
a profundidade de aplicação, pressão e temperatura às quais podem ser expostos
(Tabela 2.2).

Tabela 2.2 – Classificação e características dos cimentos Portland (API SPEC, 2000;
Nelson, 1990)

Classe Profundidade
Características
API de uso (m)

A até 1830 m - Similar ao ASTM tipo I


- Alta resistência aos sulfatos
B até 1830 m - Baixo teor de C3A
- Similar ao ASTM tipo II
- Alto teor de C3S e alta área superficial
C até 1830 m - Alta resistência mecânica no início da pega
- Similar ao ASTM tipo III
- Média e alta resistência aos sulfatos
D até 3050 m - Moderada resistência a altas temperaturas e
altas pressões
- Média e alta resistência aos sulfatos
E até 4270 m - Alta resistência a altas temperaturas e altas
pressões
- Média e alta resistência ao sulfato
F até 4880 m - Alta resistência a temperaturas e pressões de
altas profundidades
- Admite uso de aditivos para ajuste de
G até 2440 m propriedades
- Média e alta resistência aos sulfatos
- Admite aditivos para ajuste de propriedades
H até 2440 m - Média e alta resistência ao sulfato
- Menor área superficial em relação ao G

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2.1.3. Composição química

Os cimentos são, essencialmente, produzidos a partir de uma mistura de


calcário e argila, tendo como componentes químicos principais os elementos
constantes na Tabela 2.3 abaixo:

Tabela 2.3 – Componentes químicos principais do cimento Portland.

Componente Indicação Porcentagem

CaO (Cal) C 60% a 67%


SiO2 (Sílica) S 17% a 25%

Al 2 O3 (Alumina) A 3% a 8%

Fe2 O3 (Óxido de Ferro) F 0,5% a 6%

Dos quatro componentes químicos principais (C, S, A, F) constantes na


Tabela 2.3, derivam os compostos fundamentais (Tabela 2.4) mais complexos e que
determinam as propriedades do cimento Portland. As exigências químicas são
estabelecidas com o objetivo de limitar o teor de adições, a pré-hidratação e as
falhas no processo de fabricação do cimento.

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Tabela 2.4 – Propriedades dos compostos principais do cimento Portland.

Fórmula % no
Compostos Símbolo Propriedades
Química clínquer

ALITA - Endurecimento rápido


(Silicato 3CaO . SiO2 C3 S 50 a 65 - Alto calor de hidratação
Tricálcico) - Alta resistência inicial
- Endurecimento lento
BELITA
- Baixo calor de
(Silicato 2CaO . SiO2 C2 S 15 a 25
hidratação
Dicálcico)
- Baixa resistência inicial
- Acelera a pega
- Alto calor de hidratação
CELITA
- Suscetível ao ataque de
(Aluminato 3CaO . Al 2 O3 C3 A 6 a 10
sulfatos
Tricálcico)
- Aumenta a retração e
reduz a resistência final
- Endurecimento lento
FERRITA
- Não contribui para a
(Ferro 4CaO . Al 2 O3 . Fe2 O3
C 4 AF 3a8 resistência mecânica
Aluminato
- Resistente a sulfatos e
Tetracálcico)
de coloração escura
- Em elevadas
quantidades provocam
CAL LIVRE CaO C 0,5 a 1,5
expansibilidade e
fissuração

Geralmente, outros elementos secundários como


Al , Fe, Mg , Na, K , Cr , Ti, Mn e P aparecem como impurezas sob a forma de soluções
sólidas. Além da cal livre ( CaO ) presente em clíqueres com alto teor de cal ou com
problemas no processo de fabricação, frequentemente aparece outro composto

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individualizado em clínqueres magnesianos: o MgO , também conhecido como


periclásio (Taylor, 1998). A Figura 2.3 exibe as principais fases mineralógicas
contidas no clínquer:

Figura 2.3 – Microscopia da seção polida de um nódulo de clínquer (Campos et al.,


2002)

2.1.4. Reações de Hidratação

O processo de hidratação do cimento não é totalmente entendido e, ainda


assim, está sujeito a controvérsias. Análises por calorimetria mostram que as
reações químicas, durante o processo de hidratação, ocorrem muito rapidamente
nas primeiras quatro horas e continuam mais lentamente ao longo do tempo.
Da mistura de certa quantidade de água com cimento, obtém-se uma pasta
plástica, sendo que esta plasticidade dura algum tempo após o qual há o aumento
da viscosidade e inicia-se o chamado processo de pega. Da hidratação do cimento
Portland, resulta os produtos principais, descritos na Tabela 2.5.

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Tabela 2.5 – Principais produtos de hidratação do cimento Portland.

Simbologia da Massa específica Volume molar


Fase
indústria do cimento ( g / cm 3 ) ( cm 3 / mol )

Silicato de cálcio
hidratado C−S−H 1,85 124,0
(tobermorita)
Hidrato de cálcio
CH 2,24 33,1
(Portlandita)

Etringita C 6 A S 3 H 32 1,75 715,0

Monossulfato C 4 A S H 12 1,99 313,0

Hidrogranada C 3 AH 6 2,52 150,0


Hidróxido de
FH 3 2,20 95,2
Ferro

A hidratação do cimento Portland depende de muitos fatores e as condições


em que a mesma ocorre determina boa parte do comportamento à fissuração da
pasta endurecida. A adição de sulfato de cálcio, que tem a função de controlar a
pega do cimento, atua retardando a reação do C 3 A , fase que apresenta cinética

mais rápida. Quando em hidratação, o sulfato de cálcio forma uma película de


etringita ao redor do C 3 A que funciona como uma blindagem, impedindo que o

mesmo se hidrate rapidamente. Com o tempo, a etringita se expande, a película se


rompe e a água volta a entrar em contato com o sulfato de cálcio restante, até que
este seja totalmente consumido, quando então a água irá reagir com o C 3 A gerando

as fases hidrogranada e monosulfato hidratado, conferindo rigidez à pasta (Morelli,


2000).

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Acredita-se que, ao se misturarem com água, os dois silicatos reagem


formando o silicato de cálcio hidratado (C-S-H) ou gel de tobermorita (Figura 2.4 A),
com liberação de cal na forma de Ca(OH ) 2 , também conhecida como portlandita,
(Figura 2.4 B).

(A)

(B)

Figura 2.4 – (A) Micrografia eletrônica de varredura da morfologia da fase


C-S-H, e (B) da fase Portlandita (Lima, 2004).

O processo de hidratação dos silicatos é exotérmico e acontece


simultaneamente, entretanto a do C 3 S (Alita) é bem mais rápida que a do C 2 S

(Belita) e libera mais hidróxido de cálcio. Além disso, a rede cristalina formada

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durante a hidratação desses compostos é que garante a resistência da pasta de


cimento Portland (Nelson, 1990). O grande responsável pela resistência mecânica
do cimento é o C-S-H que possui estrutura praticamente amorfa, Figura 2.4 A. Já a
Portlandita (CH) possui morfologia bem definida, de forma cristalina e prismática,
com tendência à forma hexagonal, como mostra a Figura 2.4 B. Este elemento
pouco contribui para a resistência mecânica da pasta de cimento, mas tem grande
influência no tempo de pega da mesma (Gomes, 2005).
A hidratação do C 3 A é muito importante para as condições reológicas durante

as primeiras horas. Este composto reage com o gesso hidratado evitando a pega
instantânea, que prejudicaria as propriedades físicas da pasta de cimento. O
resultado da reação do gesso com o C 3 A é a formação do sulfoaluminato insolúvel

( 3CaO. Al 2 O3 .3CaSO4 .32 H 2 O ) com eventual formação de um composto metaestável

chamado de aluminato de cálcio hidratado, também conhecido como etringita, a qual


se cristaliza com morfologia fibrosa com longas agulhas hexagonais, conforme
ilustra a Figura 2.5 (Taylor, 1997).

Figura 2.5 – Micrografia eletrônica de varredura da Etringita (Lima,2004).

Além disso, existe a reação do ferroaluminato tetracálcico ( C 4 AF ) com o


gesso, formando o ferroaluminato de cálcio e o sulfoaluminato de cálcio, que podem
acelerar a hidratação dos silicatos. A hidratação do cimento também possibilita a

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dissociação do CaSO4 gerando íons de cálcio e sulfato, fazendo com que apenas
uma pequena parte do composto C 3 A se converta em etringita.

A problemática envolvida na hidratação do cimento Portland diante de


temperaturas elevadas refere-se às mudanças de fase que ocorrem no C − S − H e
que são responsáveis pelo fenômeno da retrogressão de resistência. Para minimizar
os efeitos da retrogressão de resistência, a indústria de cimentação de poços de
petróleo adiciona sílica cristalina (até 40%) em substituição ao cimento, com o
objetivo de incrementar a reação pozolânica (Metha e Monteiro, 1994).
Em função do caráter eminentemente exotérmico das reações de hidratação
do cimento, uma das maneiras mais usuais de acompanhar o desenvolvimento
dessas reações tem sido através de medidas calorimétricas, nas quais se registra a
quantidade de calor liberado em função do tempo de reação. A curva de liberação
de calor em pastas de cimento Portland é composta basicamente por quatro etapas,
ilustradas na Figura 2.6.

Dissolução e
precipitação iniciais
Fluxo de Calor (W/g)

Transformação
Etringita  Monossulfoaluminato
de
ção ) 2
a H
r m (O Final
fo Ca
a e de Pega
ápid -H
R -S
C
Hidratação da
Período de fase Ferrita
indução

Início de Pega
ETAPA I II III IV
Tempo de Hidratação
Figura 2.6 – Curva de liberação de calor na hidratação do cimento Portland
(Quarcioni, 2008).

Poucos minutos após a adição de água no cimento anidro, ocorre uma grande
liberação de calor devido à molhagem e dissolução dos aluminatos e sulfatos. No
período de indução (Etapa II), a liberação de calor se estabiliza devido à formação
de um gel ao redor das partículas (Betioli, 2007) sendo, por essa razão, denominado

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período de dormência. Em seguida (Etapa III), a liberação de calor começa a


aumentar indicando a rápida formação de C-S-H (a partir do C3S) e hidróxido de
cálcio, com a ocorrência do início e final de pega. Na última etapa (Etapa IV) ocorre
a formação do monossulfoaluminato a partir da etringita formada inicialmente e,
após 24 horas ocorre a hidratação da fase ferrita.

2.2. O Petróleo

2.2.1. Generalidades

Sem qualquer sombra de dúvida o petróleo é, de longe, o mais importante


combustível na sociedade industrializada deste século. Já era usado na antiga
Mesopotâmia, há cerca de 5000 anos, como betume, em argamassa para
construções. Por volta de 1850, seu uso na iluminação abriu caminho para sua
exploração industrial. Hoje, mais da metade da quantidade total da energia que a
humanidade produz vem do petróleo. Desse combustível fóssil podemos obter
muitas das substâncias com as quais estamos acostumados hoje, como a gasolina
de nossos carros e a grande variedade de plásticos que se tornaram sinônimo da
nossa época.
O petróleo é geralmente encontrado sob a forma de um líquido preto e oleoso
menos denso do que a água, constituído principalmente de átomos de hidrogênio e
de carbono. Para que se forme uma acumulação de petróleo, são necessárias
condições adequadas de pressão e temperatura, além da existência de rochas
geradoras ricas em matéria orgânica. Também é necessária a existência de
comunicação entre as rochas geradoras, na maioria das vezes folhelhos ricos em
matéria orgânica, e as rochas-reservatórios, porosas e permeáveis, nas quais o
petróleo é acumulado. Para que o petróleo seja acumulado, é necessário que haja
um arranjo espacial adequado entre rochas porosas e permeáveis (reservatórios) e
rochas impermeáveis (selantes), formando o que se convencionou denominar de
armadilha ou trapa, como ilustra a Figura 2.7.

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Figura 2.7 – Esquema do Sistema Petrolífero com seus elementos (Hall, 2006).

Pela teoria mais aceita, o petróleo surgiu da decomposição orgânica em


condições muito especiais. O acúmulo de camadas de materiais que se precipitam
no fundo do mar origina bacias sedimentares. Enormes quantidades de plâncton,
constituído de organismos vegetais e de minúsculos animais que flutuam na água e
que morrem facilmente quando ocorre a mais leve mudança no seu ambiente, são
depositados no fundo do oceano. Esses resíduos orgânicos são sucessivamente
cobertos por diversos sedimentos. O peso crescente das diversas camadas produz
um aumento cada vez maior da pressão e da temperatura. Ao mesmo tempo, ao
longo de um período de milhões de anos, essa matéria orgânica é gradualmente
decomposta por bactérias até se transformar em um fluido viscoso de carbono e
hidrogênio denominado petróleo. Infiltrando-se por rochas porosas, o petróleo migra
para regiões de menor pressão até atingir a superfície ou topar em uma camada
impermeável. Bloqueado, o petróleo se acumula nos poros e fraturas das rochas
sedimentares, de onde é extraído. O gás fica retido no alto do reservatório rochoso,
com o óleo embaixo.
O petróleo geralmente aparece junto a gás e a água salgada que permaneceu
com os resíduos orgânicos e que o formou no fundo dos oceanos. O gás
parcialmente dissolvido no petróleo exerce pressões extremamente altas. Por esta
razão, quando um poço é perfurado pela primeira vez, o petróleo tende a subir como
um geisel.

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No começo só era possível explorar lençóis petrolíferos perto da superfície,


mas, com a crescente demanda por combustível, teve-se a necessidade de
descobrir outras maneiras de achar novos campos de petróleo, em profundidades
bem maiores. A Figura 2.8 ilustra a evolução da tecnologia brasileira na exploração
de petróleo em águas profundas.

Figura 2.8 – Evolução da tecnologia brasileira em águas profundas (Mansano,


2004).

2.2.2. Perfuração de poços

A busca de novas jazidas de petróleo, chamada de programa de prospecção,


tem como objetivo fundamental, localizar dentro de uma bacia sedimentar, as
situações geológicas de maior probabilidade de conter óleo. Com as informações
obtidas decide-se pelas localizações onde serão perfurados os poços utilizando-se
de um equipamento denominado sonda, constituída de uma torre (estrutura metálica
de mais de 40 metros de altura) e de equipamentos especiais. A torre (Figura 2.9)
sustenta a coluna de perfuração, em cuja extremidade é colocada uma broca.

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Através de movimentos de rotação e de peso transmitidos pela coluna de perfuração


à broca, as rochas são perfuradas.

Figura 2.9 – Esquema de uma sonda de perfuração com os principais componentes


(Thomas, 2001).

No mar, as atividades seguem etapas praticamente idênticas às de terra. As


perfurações marítimas podem ser executadas através de plataformas fixas ou
flutuantes e de navios-sonda (Figura 2.10).

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Figura 2.10 – Tipos de plataformas marítimas (Thomas, 2001).

2.2.3. Revestimentos de um poço

O processo de perfuração acontece em fases. A conclusão de cada fase se


dá com a descida de uma coluna de revestimento seguida de cimentação, isolando
assim, o óleo, das paredes do poço no momento em que este poço começar a
produzir. O número de fases no processo de perfuração de um poço de petróleo
depende das características das zonas a serem perfuradas e da profundidade
prevista. As principais funções das colunas de revestimento são: prevenir o
desmoronamento das paredes dos poços; evitar a contaminação da água dos
lençóis freáticos mais próximos à superfície; impedir a migração de fluidos das
formações; e sustentar outra coluna de revestimento. A Figura 2.11 ilustra as fases
de perfuração de um poço com seus respectivos revestimentos.

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Revestimentos
de um poço

Figura 2.11 – Esquema de Revestimento de poços (Nascimento, 2006).

Revestimento Condutor: tem o objetivo de sustentar os sedimentos


superficiais não consolidados. É o primeiro revestimento do poço, assentado a
pequenas profundidades (10 m a 50 m).
Revestimento de Superfície: visa proteger os horizontes superficiais de
água e previnir desmoronamento de formações não consolidadas. É assentado em
uma profundidade maior que a do tubo condutor (100 m a 600 m).
Revestimento intermediário: tem a finalidade de isolar e proteger zonas de
alta ou baixa pressão, zonas de perda de circulação, formações desmoronáveis,
formações portadores de fluidos corrosivos ou contaminantes de lama. Sua faixa de
profundidade de assentamento é bem vasta, variando de 1000 m a 4000 m.
Revestimento de Produção: tem a finalidade de permitir a produção do
poço, suportando suas paredes e possibilitando o isolamento entre os vários
intervalos produtores.

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2.2.4. Cimentação de poços de petróleo

Para fixar a tubulação de revestimento e evitar a migração de fluidos entre as


zonas permeáveis, geralmente o espaço anular entre a coluna de revestimento e as
paredes do poço é preenchido com pasta de cimento. Após o endurecimento da
pasta, o cimento deve ficar fortemente aderido à superfície externa do revestimento
e à parede do poço nos intervalos previamente definidos.

2.2.4.1. Cimentação primária

Denomina-se cimentação primária a cimentação de cada coluna de


revestimento, logo após a sua descida no poço. Seu objetivo básico é colocar uma
pasta de cimento não contaminada em determinada posição no espaço anular, entre
o poço e a coluna de revestimento, de modo a se obter fixação e vedação em todas
as fases cimentadas do poço.
A função da cimentação primária é produzir um selo hidráulico impermeável
no anular. Entretanto, esta operação pode apresentar falhas provenientes de
densidade incorreta, geleificação prematura, aderência deficiente na interface, fluxo
de gás ascendente, entrada de gás na coluna de pasta, contração volumétrica, entre
outros (Santos Júnior, 2006; Pelipenko et al., 2004). A Figura 2.12 ilustra alguns
casos típicos de falhas de cimentação.

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Bainha
Cimentante

Revestimento
Formações exposto à
formação com
Adjacentes zonas de gás ou
sulfatos

Falhas de
Cimentação

Figura 2.12 – Esquema de um poço com falhas na cimentação (Thomas, 2001)

Uma cimentação primária satisfatória está associada a uma boa aderência ao


revestimento e à formação rochosa, além do preenchimento de todo o espaço
anular. Antes do bombeamento da pasta de cimento, são feitos exames laboratoriais
para garantir o sucesso na colocação da pasta no anular (Santos Júnior, 2006)

2.2.4.2. Cimentação secundária

Destina-se à correção da cimentação primária, quando esta apresenta falha.


Se, por alguma razão, o topo do cimento não alcançar a altura prevista no espaço
anular, pode-se efetuar uma recimentação, fazendo-se circular pasta de cimento por
trás do revestimento, através de canhoneios (perfurações realizadas no
revestimento). Quando não é possível a circulação da pasta, realiza-se a
compressão de cimento ou squeeze, visando corrigir defeitos localizados na
cimentação primária ou sanar vazamentos na coluna de revestimento. Os tampões
são utilizados para o isolamento de zonas inferiores, para abandonos de poços e, às
vezes, no processo de perfuração para combate de perda de circulação (Thomas,
2001).

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2.2.5. Completação de poços

Técnicas de avaliação das formações são utilizadas para determinar a


capacidade produtiva e o valor estimado de suas reservas de óleo e gás.
Constatada a viabilidade econômica, após a perfuração segue-se o processo de
completação, que consiste no conjunto de operações destinadas a equipar o poço
para produzir óleo ou gás de forma segura e econômica durante toda a sua vida
produtiva. A otimização da vazão de produção representa um dos aspectos técnicos
mais relevantes a ser planejado na fase de completação. A fim de minimizar as
necessidades de intervenções futuras na manutenção do poço e tendo em vista os
altos custos envolvidos, essa etapa deve ser cuidadosamente planejada.

2.2.6. Elevação artificial do petróleo

Os métodos de elevação de petróleo são classificados como naturais ou


artificiais. Na elevação natural os fluidos contidos no reservatório subterrâneo
alcançam a superfície devido, exclusivamente, à energia contida no reservatório. Os
poços que produzem desta forma são chamados de surgentes. Se a pressão do
reservatório for baixa, para que os fluidos alcancem a superfície é necessária a
adição de alguma energia externa. Essa situação pode ocorrer em poços
recentemente perfurados, porém é mais comum em poços no final da sua vida
produtiva e em poços de óleo muito pesado. Nesses casos, utilizam-se os métodos
de elevação artificiais que, com equipamentos específicos, reduzem a pressão do
fluxo no fundo do poço provocando um diferencial de pressão sobre o reservatório e,
consequentemente, resulta no aumento da vazão.

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2.2.7. Recuperação do petróleo

No processo de recuperação do petróleo de uma rocha-matriz, grande parte


do óleo fica retida nos poros da rocha. Um valor numérico que expressa a ordem de
grandeza de recuperação natural corresponde a cerca de 30 %. A produção de um
poço tende a diminuir com o tempo tornando-se, às vezes, inviável
economicamente. A indústria do petróleo vem desenvolvendo, há mais de meio
século, métodos de recuperação dessa grande parcela que fica retida nas rochas.
Os métodos de recuperação são classificados conforme esquema
representado pela Figura 2.13, em: métodos convencionais e métodos especiais.

Recuperação Primária
Lift artificial:
Fluxo Natural Bombas
Gás lift, etc.

Métodos Convencionais
Injeção de Água Manutenção da pressão:
Água, hidrocarbonetos,
Injeção de gás
Métodos Especiais

Térmicos Miscíveis Químicos Outros

Figura 2.13 – Métodos de recuperação de petróleo.

Os métodos convencionais caracterizam-se pela injeção de um fluido, que


pode ser água ou o próprio gás natural produzido, em um conjunto de poços que
passarão a se chamar de poços injetores. Os poços injetores deixam de produzir
passando a estimular a produção dos demais poços que continuam sendo poços
produtores.

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Revisão Bibliográfica 40

As baixas taxas de recuperação resultantes de um processo convencional de


injeção de fluidos podem ser creditadas basicamente a dois aspectos principais: alta
viscosidade do óleo do reservatório e elevadas tensões interfaciais entre o fluido
injetado e o óleo. Essas duas situações definem a forma de atuação dos métodos
especiais de recuperação, sendo o ponto de partida para a sua distribuição nas
seguintes categorias: Métodos Térmicos, caracterizados pelo aumento da
temperatura da região produtora por meio da injeção de um fluido aquecido ou pela
combustão in situ de gás natural; Métodos Miscíveis, caracterizados pela injeção de
fluidos (dióxido de carbono, gás natural, nitrogênio, etc.) que se misturam com o
petróleo, provocando o seu arrasto para os poços produtores; Métodos Químicos,
caracterizados pela injeção de produtos (polímeros, tensoativos, microemulsões,
soluções alcalinas, etc.) que interagem quimicamente com os hidrocarbonetos do
petróleo resultando em um fluido relativamente homogêneo e de menor viscosidade
que é arrastado com mais facilidade para o interior dos poços produtores (Thomas,
2001).

2.2.7.1. Métodos térmicos

A recuperação térmica, particularmente a injeção de vapor, tem sido aplicada


com sucesso, considerando que o calor reduz a viscosidade do óleo facilitando o
seu deslocamento, embora o seu emprego esteja restrito a reservatórios em terra,
particularmente os arenitos relativamente rasos, espessos e permeáveis (Queiroz,
2006).
Inicialmente, os métodos térmicos objetivavam apenas o aumento do fluxo do
óleo pela redução da sua viscosidade provocada pela injeção de calor. Os
processos evoluíram e, hoje, vários métodos de recuperação são utilizados, dos
quais destacamos: combustão in situ, que consiste no aquecimento do reservatório a
partir da combustão de parte do óleo ali existente; aquecimento eletromagnético que
se baseia na transformação da energia elétrica em energia térmica através da
interação direta entre o campo eletromagnético e as partículas eletricamente
sensíveis do meio (Costa, 1998); injeção de fluídos aquecidos que consiste no
aquecimento do reservatório pela injeção de fluídos, geralmente a água; e injeção de

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Revisão Bibliográfica 41

vapor onde o vapor superaquecido injetado no reservatório forma um banco de


vapor que se condensa e transfere calor para o óleo, para a água e para a própria
rocha.
A injeção de vapor é um processo bastante apropriado para poços que
apresentam óleo muito viscoso, como é o caso dos poços da bacia de Mossoró –
RN, e apresenta dois modos de operação: cíclico e contínuo. O modo cíclico alterna
fases de injeção e produção em um mesmo poço, enquanto no modo contínuo a
injeção permanece em um mesmo poço injetor até os poços produtores vizinhos
serem atingidos pelo banco de alta temperatura. Este método não é recomendado
para formações muito profundas haja vista a grande perda de calor ao longo do
poço, nem para reservatórios com altas saturações de água, uma vez que grande
parte do calor seria consumido no aquecimento da água, sem nenhum benefício
para a recuperação do óleo (Queiroz, 2006). As Figuras 2.14 e 2.15 ilustram,
respectivamente, a injeção cíclica e contínua de vapor.

Figura 2.14 – Esquema da injeção cíclica de vapor (Lima, 2004).

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Revisão Bibliográfica 42

Poço
Unidade de separação e armazenamento dos fluidos Produtor
Lavador de gás produzidos (óleo, água e água)

Gerador de vapor Poço


injetor

Água e óleo
Vapor e água Água próximos a
condensada quente temperatura de
Banco
reservatório
de óleo

Figura 4: Injeção de vapor.

Figura 2.15 – Esquema da injeção contínua de vapor (Green e Willhite, 1998)

Esses poços são sempre cimentados na superfície e quando o calor é


inicialmente injetado, o aumento da temperatura deve ser controlado para prevenir
choque térmico inadequado, tanto no tubo de revestimento como na bainha de
cimento. Contudo, por causa da expansão térmica, altos níveis de tensão são
despertados na tubulação e na bainha de cimento. Cimentos resistentes a
temperaturas elevadas e com baixa permeabilidade são os preferidos para estas
situações (Bezerra, 2006).

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2.3. PNEUS

2.3.1. Generalidades

O látex natural é a matéria-bruta extraída da seringueira, principalmente do


tipo Hevea brasiliensi, e um dos principais componentes do pneu. A partir da
extração o látex poderá tornar-se uma borracha sólida após a evaporação ou ser
preservada líquida para posteriormente tornar-se um artefato de borracha. A Figura
2.16 ilustra o processamento da borracha natural desde a sua extração até o
embarque.

Figura 2.16 – Esquema do processamento da borracha natural (Borracha Atual,


2000).

A borracha natural possui uma grande reatividade química, tornando possível


sua vulcanização por enxofre e aceleradores, por peróxidos e outros agentes
vulcanizantes especiais, por radiações de grande energia, dentre outros. O mais
comum é a vulcanização por enxofre devido à velocidade de vulcanização
relativamente alta.
O pneu possui papel fundamental e insubstituível em nossa vida diária, tanto
no transporte de passageiros quanto no de cargas. Entretanto, quando tornam-se
inservíveis acarretam uma série de problemas. São objetos volumosos que precisam
ser armazenados em condições apropriadas para evitar a proliferação de mosquitos

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e roedores. A sua disposição em aterros é inviabilizada pela baixa compressibilidade


e lenta degradação.
Outro problema relacionado à falta de controle quanto à disposição dos pneus
é a possibilidade de incêndios nos locais de descarte. Uma vez iniciado um incêndio,
sua extinção é dificultada devido ao elevado poder calorífico da borracha de pneu.
Além disso, na combustão de pneumáticos há liberação de grandes quantidades de
dióxido de enxofre (altamente nocivo à saúde humana) e de óleos tóxicos que
podem contaminar o solo e o lençol freático, como pode ser visto na Figura 2.17.

(A) (B)
Figura 2.17 – (A) Fogo em amontoado de pneus durante o verão de 1999, em
Stanislaus, EUA; (B) córrego de óleo liberado pela queima (Campos, 2006).

Nos últimos 25 anos, o problema dos pneus inservíveis tem se agravado,


principalmente, pelo grande incremento no número de automóveis e pela redução do
preço de borrachas sintéticas de petróleo em comparação ao da borracha reciclada,
o que resultou em menor utilização de borracha reciclada na produção de novos
pneus. Somente nos Estados Unidos são produzidos cerca de 250 milhões de pneus
inservíveis todos os anos, que somados aos anos anteriores alcança a casa dos

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bilhões de unidades. No Brasil, o montante de pneus/ano colocados no mercado


chega a 68 milhões (Santos et al., 2002).
O conselho nacional do meio ambiente – CONAMA, conseguiu em agosto de
1999, que o governo brasileiro oficializasse, através da resolução nº 258, publicada
no diário oficial de 2/12/1999, uma destinação final de forma ambientalmente
adequada e segura aos pneumáticos inservíveis dispondo, entre outras coisas,
sobre a reciclagem e os prazos de coleta. Esta resolução proíbe a destinação final
de pneus inservíveis em aterros sanitários, mar, rios, lagos ou riachos, terrenos
baldios ou alagadiços e queima a céu aberto.
Estimativas indicam que, atualmente, o Brasil ainda possui um passivo
ambiental de mais de 900 milhões de pneus e, apenas cerca de 50% desse total são
descartados de forma adequada, enquanto os demais são descartados em campos,
terrenos baldios, aterros sanitários, beiras de estradas ou córregos (ANIP, 2008).

2.3.2. Constituição do Pneu

Os pneus são constituídos de uma mistura de borracha natural e elastômeros


com negro de carbono, que fornece resistência mecânica, durabilidade e resistência
à radiação ultravioleta. A mistura é vulcanizada em temperaturas que variam entre
120 ºC e 160ºC, utilizando aceleradores (compostos de enxofre e zinco) e anti-
oxidantes. Um fio de aço é embutido no talão que se ajusta ao aro da roda. No pneu
radial, uma manta de tecido de nylon reforça a carcaça e a mistura é espalmada a
uma malha de arames de aço entrelaçada nas camadas superiores (Andrietta,
2002).
Os pneus para veículos de passeio são constituídos basicamente de carcaça,
flancos, talões e banda de rodagem, conforme ilustra a Figura 2.18.

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Figura 2.18 – Partes componentes de um pneu. (http://www.rodasepneus.com.br)

• Carcaça: parte resistente do pneu que deve resistir à pressão ao peso e a


choques. Compõe-se de lonas de poliéster, nylon ou aço.
• Flancos: são constituídos de um composto de borracha de alto grau de
flexibilidade, dispostos lateralmente, com o objetivo de proteger a carcaça contra
os agentes externos.
• Talões: são constituídos internamente por arames de aço de grande resistência,
tendo por finalidade manter o pneu fixo no aro da roda.
• Banda de rodagem: é a parte do pneu que entra em contato direto com o solo.
Oferece grande resistência ao desgaste devido à sua composição.

Um pneu típico para veículos de passeio, como por exemplo, o modelo


P195/75R14, possui (Morilha, 2004):
 2,50 kg de 30 diferentes tipos de borracha sintética;
 2,05 kg de 8 tipos diferentes de borracha natural;
 2,27 kg de 8 tipos de negro carbono;
 0,68 kg de aço para o cinturão;
 0,45 kg de poliester e nylon;
 0,23 kg de arame de aço;
 1,36 kg de 40 tipos diferentes de componentes químicos, ceras, óleos,
pigmentos, etc.
Do total de cerca de 9,54 kg de um pneu de passeio, praticamente a metade é
borracha natural ou sintética. Os polímeros mais utilizados são as borrachas naturais
(BN), o butadieno (BR), o estireno-butadieno (SBR), cujas concentrações variam de
acordo com o fabricante e com a utilização do pneu (Santos et al., 2002).

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2.3.3. Reciclagem

Do ponto de vista ambiental, a reciclagem desses resíduos seria a solução


mais satisfatória, mas o pneu, por ser um material compósito, não é
verdadeiramente reciclável, tornando impossível obter as matérias-primas iniciais a
partir da reciclagem.
Algumas soluções utilizadas para dar um descarte adequado aos pneus
inservíveis são: o co-processamento em fornos (indústrias de cimento) com o
controle rigoroso dos gases de combustão; o processo da pirólise ou a moagem dos
pneus, reciclando a borracha como matéria prima. No processo de moagem (Figura
2.19), os pneus são cortados e triturados em várias operações de separação dos
diferentes materiais, obtendo-se borracha pulverizada ou granulada que irá ter
diversas aplicações.

Figura 2.19 – Processo de moagem do pneu (Reschner, 2006).

De todos os processos de reutilização, a trituração é o método que tem maior


capacidade de processamento, sendo etapa prévia para a desvulcanização e para a
incineração em fornos. Portanto, normalmente é instalada uma usina de trituração
em um ponto estratégico da localidade (Figura 2.20).

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Figura 2.20 – Representação do ciclo de destinação do pneu


(http://www.institutoventuri.com.br/img)

É importante observar que, quando analisados os vários mercados para


utilização da borracha de pneus inservíveis, atualmente, somente dois têm
apresentado potencial para utilização de número significativo de pneus: o energético
e o de misturas asfálticas. Entretanto, em alguns locais já existe o reaproveitamento
de pneus como matéria-prima na construção de arrecifes para criação de espécies
marinhas ou na confecção de tatames e tapetes de automóveis, ou ainda, como
combustível na produção de cimento Portland.
A possibilidade de incorporação de resíduos de borracha de pneus em
misturas à base de cimento poderá contribuir significativamente para reciclagem de
resíduos prejudiciais ao meio ambiente, podendo também melhorar o desempenho
dos materiais com sua adição. Na construção civil, o resíduo da recauchutagem vem
sendo experimentado em alguns centros de pesquisas do país como fibra no
concreto, gerando um novo concreto chamado Concreto com Adição de Borracha –
CAB. Resistência ao impacto, baixa massa específica e elasticidade são
características, muitas vezes, desejadas em pastas de cimento que podem ser
melhoradas através da inserção de resíduos de borracha de pneus inservíveis em
sua composição.

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2.4. Reologia: Aspectos conceituais

2.4.1. Generalidades

Na determinação das propriedades das pastas de cimento no estado fresco,


utilizam-se métodos arbitrários e empíricos numa tentativa de simular situações
reais. Para o estudo do comportamento dos aglomerantes no estado fresco, nada
mais adequado do que a utilização do conceito de reologia.
O termo reologia, originado da palavra grega “rhein” que significa escorrer, foi
utilizado por E. C. Bingham em 1929, no estudo da deformação e escoamento da
matéria. Dessa forma, a reologia pode ser definida como a ciência que estuda o
fluxo e a deformação dos materiais quando submetidos a uma determinada tensão
ou solicitação mecânica externa.
No caso dos fluidos, a reologia está relacionada a um sistema de forças que
faz com que os mesmos escoem. Portanto, para melhor compreensão,
conceituaremos coesão, viscosidade e atrito interno que, conjugados, determinam a
trabalhabilidade da pasta.

Coesão: definida como união ou aglutinação, está diretamente ligada aos


constituintes mais finos, ou seja, à área específica dos sólidos. No estado
endurecido da pasta, a coesão tem um significado de tensão e pode ser medida por
meio de um ensaio de tração pura.
Viscosidade: está relacionada à velocidade de deformação de um corpo. A
relação entre viscosidade e consistência é direta, ou seja, quanto maior a
viscosidade, maior a consistência. Geralmente a viscosidade de materiais à base de
cimento é diminuída por agitação, que provoca uma redução na coesão entre as
partículas bem como no atrito interno do volume envolvido.
Atrito interno: está relacionado ao volume intersticial da pasta e seu teor de
água e, principalmente, aos grãos mais grossos e sua distribuição na pasta.
A coesão e o atrito interno determinam o limite de escoamento, que
representa a resistência ao cisalhamento. Como o atrito interno é gerado,
principalmente, pelos grãos mais grossos, o limite de escoamento das pastas se

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reduz, praticamente, à coesão. No caso das pastas de cimento, o limite de


escoamento expressa uma resistência à tração, entendida como uma variação na
coesão devido à pega do aglomerante.
Nas pastas de aglomerantes, o primeiro parâmetro a considerar é sua
granulometria. Caso seja descontínua, haverá grande compacidade entre as
partículas, prejudicando o rolamento entre elas e resultando no aumento da
viscosidade para uma quantidade fixa de água. Quanto mais contínua for a curva
granulométrica, melhor as partículas se distribuem propiciando um melhor rolamento
e, consequentemente, um aumento na fluidez da pasta com a mesma quantidade de
água fixada.
Quando um fluido está em movimento, vários tipos de forças atuam sobre ele.
Essas forças surgem devido o seu movimento (forças de convecção), devido à ação
da gravidade (forças de campo) e devido aos gradientes de pressão e interações
entre as moléculas do fluido (forças de superfície). Considerando um elemento de
volume com a forma de um paralelepípedo e a resposta do material a uma força
externa aplicada, se desenvolverá uma força interna agindo na mesma direção, mas
em sentido contrário, denominada tensão (Figura 2.21).

Forças normais Forças cisalhantes

Figura 2.21 – Tensões normais e cisalhantes em um sólido.

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A tensão é, portanto, uma força por unidade de área, expressa


matematicamente por:

∆F
τ = lim (1)
∆A→0 ∆A

onde ∆F é a força que atua em uma área ∆A . Assim, todas as forças que atuam em
um fluido estão relacionadas à tensão. Ao considerar que tanto a força quanto a
área na qual esta força é aplicada são grandezas vetoriais, pode-se definir tensão de
forma mais rigorosa, associando um escalar a uma direção para obter-se um tensor
=
tensão τ  , definido por:
 
→ − =
F = n .τ (2)
→ −
onde F é o vetor força e n é o vetor unitário normal à superfície onde a força é
aplicada. O tensor tensão representa as tensões em um elemento de fluido sem
considerar a pressão hidrostática ou termodinâmica atuando no elemento. Cada
componente do vetor força está associada a uma direção. Dessa forma, em
coordenadas cartesianas, o tensor tensão tem nove componentes, usualmente
representados na forma de matriz por:
τ xx τ xy τ xz 
=  
τ = τ ij = τ yx τ yy τ yz  (3)
τ τ τ 
 zx zy zz 
As componentes do tensor tensão τ ij , com i = j , são denominadas

componentes normais de tensão (tensões normais). Já as componentes τ ij , com

i ≠ j , são chamadas componentes de cisalhamento (tensões de cisalhamento) e


atuam na direção paralela a uma dada face do elemento do fluido. O tensor tensão
possui a propriedade de simetria, ou seja, τ ij = τ ji . Assim, para se determinar o

estado de tensão de um corpo é suficiente conhecer apenas seis componentes do


tensor tensão: três componentes normais e três componentes de cisalhamento.

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Quanto à deformação, a partir de uma análise física pode-se dizer que a


mesma está associada à mudança de posições relativas das partes de um corpo
(Figura 2.22).

Figura 2.22 – Deformação: (A) rotação sem deformação; (B) deformação por
cisalhamento; (C) deformação por elongação (Bretas & D’ávila, 2000).

A deformação de um corpo pode ser arbitrariamente dividida em dois tipos:


elasticidade ou deformação espontaneamente reversível, e escoamento ou
deformação irreversível (Van Wazer et al., 1966). O trabalho empregado na
deformação de um corpo perfeitamente elástico é recuperado quando o corpo
retorna à sua forma original, enquanto que o trabalho empregado na manutenção do
escoamento é dissipado na forma de calor, não sendo recuperado mecanicamente
(Schramm, 2006). Assim, a elasticidade corresponde à energia mecanicamente
recuperada e o escoamento à conversão da energia mecânica em calor.
O problema fundamental da Reologia consiste em determinar, em cada ponto,
a relação entre o tensor dos esforços e o estado de deformação, que para um fluido
está determinado pelo tensor velocidade de deformação. Consideremos um
experimento ideal para estudar a viscosidade, no qual o fluido está no espaço entre
duas placas paralelas separadas por uma distância pequena, uma das quais está
imóvel e a outra se move paralelamente a si mesma com velocidade constante V

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(Figura 2.23). É possível medir o esforço necessário para manter constante a


velocidade da placa móvel como função da velocidade de deformação.

Figura 2.23 – Ilustração de um fluido cisalhado entre placas paralelas (Schramm,


2006).

A velocidade de escoamento é máxima na camada superior e diminui à


medida que atravessa o corpo-de-prova, até se anular na camada ligada à placa
estacionária.
Do ponto de vista reológico, as propriedades mecânicas de todos os materiais
são descritas em termos de contribuições elásticas, viscosas e inerciais (Van Wazer
et al., 1966). A deformação elástica é definida de maneira elementar como uma
deformação relativa, enquanto a deformação viscosa é expressa em termos de taxa
de cisalhamento.
Fisicamente, a viscosidade nada mais é do que a velocidade de deformação
de um corpo, ou seja, um indicativo da coesão entre as moléculas que constituem as
lâminas adjacentes de um fluido. Matematicamente, a mesma pode ser entendida
como a relação entre a tensão de cisalhamento e a taxa de cisalhamento de um
material, ou seja:

tensão de cisalhamento τ
µ= = (4)
taxa de cisalhamento γ
Da Equação (4) conclui-se que, quanto menor a viscosidade de um fluido,
menor a tensão necessária para submetê-lo a uma dada taxa de cisalhamento

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constante. O gradiente de velocidade é denominado de taxa de cisalhamento e é


definido como um diferencial da velocidade pela distância (Schramm, 2006).

2.4.2. Classificação dos fluidos

De maneira geral, os fluidos podem ser classificados de acordo com a relação


entre tensão de cisalhamento aplicada e taxa de cisalhamento, pois ao submetê-los
a qualquer tensão externa, eles se deformam continuamente até encontrar uma
barreira física capaz de impedir seu escoamento (Pandolfelli et al., 2000). No
diagrama da Figura 2.24 observa-se a classificação dos fluidos em Newtonianos e
não Newtonianos.

Figura 2.24 – Classificação dos fluidos segundo seu comportamento reológico.

2.4.2.1. Fluidos Newtonianos

São considerados fluidos Newtonianos aqueles que apresentam uma relação


constante entre tensão cisalhante e taxa de cisalhamento, independente da
deformação e do tempo, isto é, a tensão de cisalhamento é diretamente proporcional
à taxa de cisalhamento (τ ∝ γ ), cuja constante de proporcionalidade (µ ) é
denominada de viscosidade absoluta ou dinâmica e, de acordo com a lei da

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viscosidade para um escoamento unidimensional (lei de Newton), ela é dada pela


Equação (4).
As curvas de fluxo mostram como a tensão cisalhante varia em função da
taxa de cisalhamento, e esta define o comportamento reológico dos fluidos viscosos,
sendo que a equação matemática entre essas variáveis é conhecida como equação
de fluxo. Os fluidos viscosos podem, ainda, ser caracterizados através da relação
entre a viscosidade e a taxa de cisalhamento, relação esta conhecida como curva de
viscosidade (Machado, 2002).
No caso de fluidos Newtonianos, sua curva de fluxo é uma linha reta que
passa pela origem do sistema e tem uma inclinação cujo inverso é igual ao
coeficiente de viscosidade (Figura 2.25 A), enquanto a curva de viscosidade é uma
reta paralela ao eixo das taxas de cisalhamento (Figura 2.25 B). Desta forma, para
um fluido Newtoniano, um ensaio que mede apenas um dos parâmetros reológicos é
suficiente para a caracterização do seu comportamento ao escoamento (Tattersall,
1983). A água, os solventes, os óleos minerais, as soluções muito diluídas, etc., são
exemplos de fluidos Newtonianos.

Figura 2.25 – Curva de escoamento (A) e de viscosidade (B) de um fluido


Newtoniano (Machado, 2002).

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2.4.2.2. Fluidos não-Newtonianos

Ao contrário dos fluidos Newtonianos, muitos outros (fluidos não-


Newtonianos) não podem ter seu comportamento descrito adequadamente por
relações lineares e independentes do tempo.
São caracterizados como fluidos não-Newtonianos aqueles cuja relação entre
tensão de cisalhamento e taxa de cisalhamento não é linear, isto é, a viscosidade de
um fluido não-Newtoniano não é constante sob uma dada temperatura e pressão,
mas dependente da taxa de cisalhamento (Tattersall, 1983). Tais comportamentos
são ilustrados por curvas de escoamento (Figura 2.27) que não correspondem a
linhas retas passando pela origem do sistema e cujas propriedades de escoamento
não podem ser caracterizadas por uma única constante.
Os fluidos não-Newtonianos são classificados, de acordo com o seu
comportamento, em: fluidos independentes do tempo cuja taxa de cisalhamento, em
qualquer ponto, é função apenas da tensão de cisalhamento naquele ponto; fluidos
dependentes do tempo, cuja relação entre tensão de cisalhamento e taxa de
cisalhamento depende do tempo em que o fluido foi cisalhado; fluidos viscoelásticos,
que apresentam características tanto de sólidos quanto de líquidos e que exibem
recuperação elástica parcial após a deformação.

a) Fluidos Independentes do Tempo

Os fluidos não-Newtonianos independentes do tempo são subdivididos em:


Plásticos de Bingham, Pseudoplásticos e Dilatantes, como ilustra o gráfico da Figura
2.26.

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Figura 2.26 – Curvas de fluxo para fluidos independentes do tempo.

Fluidos Plásticos de Bingham: Trata-se de fluidos que possuem uma


pequena rigidez que lhes permitem resistir a esforços de corte sempre que estes
não superam a um limite, porém escorrem facilmente quando estão submetidos a
esforços grandes. Como exemplos destes tipos de fluidos podemos citar: a massa
de pão, a pasta de dentes, a manteiga, a gelatina e alguns barros e suspensões.

Fluidos Pseudoplásticos: Nestes fluidos, a tensão decresce com a taxa de


cisalhamento, havendo menor resistência ao fluxo para esforços maiores, ou seja, o
fluido escorre mais facilmente quanto maior é o esforço. A maioria das suspensões,
os barros, muitas soluções de polímeros e o sangue se comportam desta maneira.

Fluidos Dilatantes: No meio dilatante, a tensão cresce com a taxa e,


portanto, há maior resistência ao fluxo para esforços maiores. Os fluidos dilatantes
não são tão abundantes como os pseudoplásticos. Como exemplos, podemos citar a
solução de amido em água e a areia impregnada de água (como as areias
movediças).

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b) Fluidos Dependentes do Tempo

Até aqui temos suposto, implicitamente, que a uma dada velocidade de


deformação corresponde um esforço cujo valor se mantém constante, ou seja, a
relação entre tensão e deformação não depende do tempo. Isto ocorre para muitos
fluidos, mas nem sempre é assim. Como pode ser visto na Figura 2.27, o esforço e,
portanto, a viscosidade pode tanto crescer como decrescer com o tempo, à medida
que o fluido é submetido a uma taxa constante de deformação, e tais mudanças
podem ser reversíveis ou irreversíveis.

Figura 2.27 – Curvas de viscosidade com taxa de cisalhamento constante (Machado,


2002).

O comportamento dependente do tempo está relacionado à estrutura


microscópica dos fluidos. Nos fluidos há moléculas de grande tamanho, de formas
planas ou filiformes que, em repouso, podem se encontrar desordenadas, com os
filamentos enrolados sobre si mesmos ou emaranhados uns com os outros. Isto
determina a viscosidade no começo do escoamento. Mas à medida que o fluido se
move, se essas partículas se orientam ou se os filamentos se desenrolam, o fluido
escorre mais facilmente, refletindo na diminuição da viscosidade com o transcorrer
do tempo. Pode, também, ocorrer efeito contrário quando o movimento do fluido
produz reordenamentos e mudanças na conformação das partículas, dificultando o

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escoamento. Quando o movimento termina e o fluido fica novamente em repouso,


pode acontecer que ao fim de certo tempo o fluido recupere suas propriedades
iniciais, caso em que as mudanças produzidas pelo movimento são reversíveis.

Fluidos Tixotrópicos: São fluidos cuja consistência depende tanto da


duração do cisalhamento quanto da taxa de cisalhamento. Apresentam diminuição
de viscosidade aparente com o tempo sob taxa de cisalhamento constante, ou seja,
tornam-se mais fluidos com o aumento do tempo de escoamento sob condições de
estado estacionário. Adquirem um estado semi-rígido quando estão em repouso e
voltam a adquirir um estado de fluidez quando em movimento. Compreendem
soluções de polímeros, tintas, suspensões, argilas, produtos alimentícios,
cosméticos, etc.
A tixotropia ocorre, invariavelmente, em fluidos pseudoplásticos, ou seja,
todos os fluidos tixotrópicos são também pseudoplásticos, ainda que a recíproca não
seja verdadeira, pois existem fluidos pseudoplásticos cuja viscosidade independe do
tempo.

Fluidos Reopéticos: São fluidos que apresentam aumento de viscosidade


aparente com o tempo sob taxa de cisalhamento constante, isto é, o material se
torna mais resistente ao escoamento com o aumento do tempo de escoamento,
quando sujeito ao cisalhamento no estado estacionário. Líquidos reopéticos podem
permanecer em um ciclo infinito entre o aumento de viscosidade dependente do
tempo de cisalhamento e a diminuição da viscosidade relacionada com o tempo de
repouso. Geralmente existe um valor crítico de cisalhamento além do qual a
reestruturação do material não é induzida e a ruptura acontece. Porém, existem
outros materiais cuja estrutura se forma apenas sob cisalhamento e se desintegra
gradualmente quando em repouso, observado apenas sob taxas de cisalhamento
moderadas. É considerado um comportamento reversível e contrário à tixotropia.
São exemplos de fluidos reopéticos, suspensões aquosas diluídas de pentóxido de
vanádio e oleato de amônio. Todos os fluidos reopéticos são também dilatantes.

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c) Fluidos Viscoelásticos

Os efeitos da elasticidade e da viscosidade são observados na maioria dos


materiais sob circunstâncias apropriadas e, caso esses efeitos não sejam
posteriormente complicados pelo comportamento dependente do tempo, diz-se que
esses materiais são viscoelásticos (Tanner, 1988). São considerados materiais
viscoelásticos aqueles que apresentam, ao mesmo tempo, características tanto de
materiais sólidos como de materiais líquidos (Bretas e D’ávila, 2000).

Figura 2.28 – Ilustração comparativa dos vários tipos de fluidos (Kiryu, 2003).

O comportamento viscoelástico, sob condições de estado estacionário, muitas


vezes não é distinguível e, quando observado, é de difícil interpretação em termos
de constantes físicas do material ensaiado (Van Wazer et al. 1996). Isto significa que
as medidas viscoelásticas são melhor caracterizadas em estudos que envolvem
aceleração e desaceleração de uma tensão ou de uma deformação aplicada sobre o
material ensaiado. Resumidamente, o problema experimental no estudo do
comportamento viscoelástico está em determinar a relação entre tensão,
deformação e tempo. É o caso dos materiais poliméricos sólidos, fundidos ou em
solução.

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2.4.3. Modelos reológicos

Modelos reológicos são equações matemáticas que descrevem a relação


entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação de um fluido. A Tabela 2.6
apresenta alguns dos modelos encontrados na literatura.

Tabela 2.6 – Modelos reológicos dos fluidos.

Modelo Equação Parâmetros

Newton τ = µγ Viscosidade dinâmica (µ )

Bingham ou Plástico Viscosidade Plástica (µ a )


τ = µaγ + τ L
Ideal Limite de Escoamento (τ L )

Índice de Consistência (k )
Ostwald ou Potência τ = K (γ )n
Índice de Comportamento (n )

Herschell-Buckley τ = K (γ )n + τ 0 K , n e τ0
1
Casson τ 2 = (µ ∞ ) 2 + (τ 0 ) 2
1 1
µ∞ e τ 0

Robertson-Stiff τ = a(γ + γ 0 )b a, b e γ

O modelo reológico mais simples é o modelo Newtoniano, cuja tensão de


cisalhamento é diretamente proporcional à taxa de deformação. Entretanto, diversos
modelos empíricos e teóricos têm sido usados para descrever pastas de cimento no
estado fresco. Entre os mais utilizados estão os modelos de Bingham, o de Ostwald
de Waale (ou de Potência) e o de Herschell-Buckley, que levam em consideração o
comportamento pseudoplástico dessas suspensões concentradas. Se a tensão de
escoamento estimada for pequena, um modelo puramente viscoso (caso particular
do modelo de Bingham) pode ser suficiente para descrever corretamente o
comportamento de pastas frescas (Roussel & Le Roy, 2005).

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2.4.3.1. Modelo de Bingham

Um fluido binghamiano descreve uma curva representada por uma linha reta
que intercepta o eixo tensão de cisalhamento num ponto denominado tensão de
escoamento (limite de escoamento) e corresponde à tensão mínima que deve ser
excedida para que ocorra escoamento. Quando submetidos a valores de tensão
inferiores à tensão de escoamento, tais fluidos se comportam como sólidos elásticos
rígidos (Pandolfelli et al, 2000).
Bingham estudou o escoamento de soluções coloidais através de condutas
cilíndricas, tendo verificado que o escoamento da solução só ocorria quando as
tensões de corte ( τ ) excediam um valor crítico ( τ 0 ), a partir do qual a taxa de
.
deformação ao corte ( γ ) variava linearmente com a tensão (τ ).

Figura 2.29 – Representação gráfica do modelo de Bingham (Ferraris, 1999).

Quando submetidos a uma tensão inferior a τ 0 , os fluidos binghamianos só

escoam na forma de fluxo tampão. Dessa forma, Bingham propôs um modelo


traduzido pela expressão:

 .

γ = (τ − τ 0 ), para τ > τ 0


1
µ (5)

 .
γ = 0, para τ ≤ τ 0

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onde µ e τ 0 , são denominados, respectivamente, viscosidade plástica e limite de


escoamento, e representam os parâmetros reológicos desse tipo de fluido.
A determinação dos dois parâmetros reológicos do modelo de Bingham
(viscosidade plástica e limite de escoamento) permite a diferenciação imediata de
pastas que poderiam ser erroneamente consideradas idênticas por um dos ensaios
padrões existentes. Além disso, os vários fatores que compõem uma mistura e que
interferem na sua trabalhabilidade podem influenciar a tensão de escoamento e a
viscosidade plástica de maneira diferente. A Figura 2.30 mostra que duas pastas
podem ter um dos parâmetros reológicos idênticos, enquanto o outro pode ser
totalmente distinto, o que implica no fato destes materiais apresentarem
comportamentos reológicos diferentes (Castro, 2007).

Figura 2.30 – Reologia das pastas de cimento: (A) mesma tensão de escoamento e
diferentes viscosidades; (B) mesma viscosidade e diferentes tensões de escoamento
(Ferraris, 1999).

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A viscosidade aparente é função da taxa de cisalhamento, tendendo a um


valor constante e igual à viscosidade plástica com o crescimento indefinido da taxa
de cisalhamento, como descreve a Equação (6) ilustrada pela Figura 2.31 B.

τL (6)
µa = µ p +
γ

Figura 2.31 – Curvas de fluxo (A) e de viscosidade (B) do fluido binghamiano


(Machado, 2002).

2.4.3.2. Modelo de Potência

O modelo de Ostwald, também conhecido como modelo de Potência,


(Equação (7)), não se aplica para todo e qualquer fluido, nem a todo intervalo de
taxa de cisalhamento. Entretanto, existe um número razoável de fluidos não
Newtonianos que apresentam comportamento de Potência num largo intervalo de
velocidades cisalhantes.
τ = k (γ )n (7)
Os parâmetros reológicos do fluido de potência são o índice de
consistência, k e o índice de comportamento ou de fluxo, n. Escrita em
coordenadas logarítmicas, a Equação (7) resulta na Equação (8) dada por:

log τ = log k + n log γ (8)

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Revisão Bibliográfica 65

cuja inclinação determinará o valor de n. O valor de k será dado pela intersecção da


reta com o eixo vertical, para γ = 1 (Machado, 2002). As curvas de fluxo e de
viscosidade do modelo de potência são mostradas na Figura 2.32.

Figura 2.32 – Curvas de fluxo (A) e de viscosidade (B) para fluidos que seguem a lei
de potência, em escala logarítmica (Machado, 2002).

O índice de comportamento n indica fisicamente o afastamento do fluido do


modelo Newtoniano. Se o seu valor se aproxima de 1 (um), então o fluido está
próximo do comportamento newtoniano. Enquanto isso, o valor do índice de
consistência k, como o próprio nome diz, indica o grau de resistência do fluido diante
do escoamento. Quanto maior o valor de k, mais “consistente” o fluido será. Um
grande número de fluidos não Newtonianos se comportam como pseudoplásticos
( 0 < n < 1 ), ou seja, apresentam um decréscimo acentuado de viscosidade quando a
taxa de cisalhamento é aumentada. As emulsões e as soluções de polímeros ou de
macromoléculas lineares são os exemplos mais comuns da indústria do petróleo. Já
os fluidos dilatantes ( n > 1 ) são pouco freqüentes. Algumas pastas dentifrícias,
dispersões de polímeros ou resinas e algumas pastas de cimento podem apresentar
comportamento dilatante.
Outros modelos foram propostos para caracterizar comportamentos de
escoamento como, por exemplo, o modelo de Herschell-Buckley. Este modelo,
representado pela Equação (9), descreve o comportamento de um fluido com tensão
de escoamento τ 0 e com relação não-linear entre a tensão de cisalhamento e a taxa

de cisalhamento.

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Revisão Bibliográfica 66

τ = τ 0 + k (γ ) n (9)

O fluido que segue o modelo de Herschell-Buckley exibirá um comportamento


pseudoplástico quando n < 1 , e dilatante quando n > 1 . Para n = 1 , est reduz-se ao
modelo de Bingham, com k representando a viscosidade plástica do fluido.

2.5. Pastas de cimento Portland

A pasta de cimento pode ser entendida como uma suspensão, sendo ela
própria composta por grãos de cimento e, por vezes, de adições minerais suspensos
em água.

2.5.1. Reologia da pasta de cimento

As novas aplicações das pastas de cimento exigem um maior controle de


suas propriedades reológicas e dos fenômenos de segregação e exsudação. Na
indústria do petróleo, a tendência geral é formular pastas bem concentradas, porém
bastante fluidas e com baixas tensões de escoamento, mediante o controle de sua
composição química e das interações inter-partículas pela absorção dos
dispersantes. Simultaneamente, a homogeneidade da mistura deve ser mantida a
fim de se evitar a segregação.
Assumindo que o comportamento macroscópico das pastas de cimento pode
ser associado ao de um fluido, os modelos clássicos da reologia podem ser
aplicados a estas suspensões. As expressões comumente adotadas para descrever
a reologia de pastas frescas são as que relacionam a tensão de corte com o
gradiente de velocidade (Ferraris, 1999).
As características reológicas da pasta de cimento no estado fresco podem ser
influenciadas por diversos fatores, dentre eles podemos destacar a relação
água/cimento, a idade da pasta, as características do cimento (finura, área
superficial, composição e processo de fabricação), a natureza das adições químicas

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Revisão Bibliográfica 67

e minerais incorporadas à mistura e o procedimento de mistura empregado na sua


produção (Suhr, 1991).
Maior trabalhabilidade em uma pasta de cimento é obtida quando se utiliza
alta relação água/cimento, cimento com pequena área superficial e alta velocidade
de mistura. Estudos realizados em pastas produzidas com cimentos de composições
químicas diferentes indicaram que este fator tem influência sobre a reologia desses
materiais menor do que a relação água/cimento ou a finura do cimento (Claisse,
Lorimer & Alomari, 2001).
As propriedades de escoamento das pastas de cimento, se medidas
corretamente, podem ser usadas para controlar a utilização das adições químicas e
minerais. Para que as pastas de cimento escoem, são necessárias forças
cisalhantes capazes de quebrar as ligações entre os grãos de cimento, provocando
o surgimento de um valor de escoamento inicial (tensão de escoamento). Sob taxa
de cisalhamento constante a tensão cisalhante diminui exponencialmente com o
tempo, até um mínimo. No caso de tensão controlada, a taxa de cisalhamento
aumenta até um máximo.
Quando o escoamento é facilitado pelo cisalhamento ou pela vibração, a
viscosidade aparente da pasta de cimento quase sempre diminui com o aumento da
taxa de cisalhamento (fluido pseudoplástico). A incorporação de dispersante
(superplastificante) causa uma importante redução na tensão de escoamento inicial
sem a ação de qualquer mecanismo externo. Esse efeito físico-químico consiste na
repulsão das forças interpartículas que tendem a mudar o estado de floculado para
disperso. Isto resulta em suspensões concentradas e dispersas que podem
apresentar um aumento na viscosidade aparente com o aumento na taxa de
cisalhamento (fluido dilatante).
Omitindo-se a evolução do comportamento das pastas relacionado com a
atividade química inicial do cimento na presença de água, esses materiais são
caracterizados por um comportamento binghamiano e, mais particularmente,
pseudoplástico ou dilatante, dependendo da concentração de cimento na mistura. A
tensão de escoamento é explicada pela floculação das partículas, sobre a qual é
possível agir tanto pela incorporação de aditivos superplastificantes quanto pela
aplicação de uma força vibratória. As pastas de cimento também exibem alguma

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Revisão Bibliográfica 68

tixotropia e sua estrutura é geralmente modificada pelo fenômeno da exsudação (De


Larrard et al., 1994).
Os modelos de Bingham (ou plástico ideal) e o de Herschell-Buckley (ou de
potência com limite de escoamento), utilizados para descrever o comportamento
reológico de pastas frescas, levam em consideração o comportamento
pseudoplástico dessas suspensões concentradas. Para pequenas tensões de
escoamento, um modelo puramente viscoso (caso particular do modelo de Bingham)
pode ser suficiente para descrever corretamente o comportamento de pastas frescas
(Roussel & Le Roy, 2005). Dependendo do teor de água de mistura, o
comportamento da pasta de cimento pode, ainda, ser do tipo viscoplástico com
pseudoplasticidade ou dilatação.
Por se tratar de um sistema complexo, as pastas de cimento podem
apresentar outros comportamentos reológicos, os quais dependem de condições de
ensaio tais como: a composição da pasta, o estado de dispersão e o histórico de
cisalhamento. Quando incorporadas de adições minerais, a pasta pode ainda
apresentar comportamento dilatante ou tixotrópico. A dilatação é causada pelo atrito
entre as partículas sólidas quando a amostra é cisalhada e aumentada por um
grande volume de fração de sólidos e por partículas de forma não-esférica. Ocorre
em pastas com alto grau de dispersão e com grande empacotamento de partículas,
ou seja, pastas de cimento incorporadas com dispersante são fortes candidatas a
apresentarem comportamento dilatante. Por outro lado a tixotropia ocorre devido à
presença de uma estrutura originada a partir da ligação entre as partículas, mesmo
mecanismo que dá origem à tensão de escoamento.
A tensão de escoamento das pastas de cimento tem sido determinada por
meio de modelos empíricos e teóricos baseados em dados obtidos a partir das
curvas de fluxo do material. Embora esses modelos possam fornecer uma estimativa
razoável da tensão de escoamento, as determinações são bastante dependentes de
considerações do modelo, da precisão dos dados experimentais e das
especificações do reômetro (ou viscosímetro). Erros consideráveis na determinação
da tensão de escoamento, podem resultar em escolha errada da variação da taxa de
cisalhamento para ajustar os modelos.
O papel desempenhado pelas condições experimentais (tempo, intensidade
de mistura, duração do ciclo, número de repetições e geometria do sistema de

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medida) na determinação dos parâmetros reológicos da pasta de cimento, mostra


que diferenças freqüentemente grosseiras e, em alguns casos, até mesmo
contraditórias, podem surgir nos resultados (Atzeni, Massidda & Sanna, 1985).
Dessa forma, qualquer contribuição para a compreensão da reologia das pastas de
cimento deve seguir, necessariamente, condições de ensaios padronizadas.

2.5.2. Pastas contendo resíduos de borracha de pneu

A possibilidade de incorporação de resíduos de borracha de pneu em


misturas à base de cimento é uma contribuição da engenharia para a reciclagem
desse material prejudicial ao meio ambiente, podendo melhorar o desempenho dos
novos materiais, uma vez que suas propriedades elásticas, resistência ao impacto e
baixa massa específica, são características muitas vezes desejadas em pastas de
cimento.
Segre (1999) estudou a utilização de borracha de pneus usados como adição
em pasta de cimento e concluiu sobre a viabilidade técnica. Em sua pesquisa, a
autora tratou as partículas de borracha com água (controle) e soluções aquosas de
H 2 SO4 ou NaOH , visando aumentar a hidrofilicidade da superfície das mesmas para
compatibilizá-las com a matriz de cimento.
O tratamento com solução saturada de hidróxido de sódio utilizado por Segre
e Joekes (2000) mostrou que, embora tenha sido observada perda na resistência à
compressão das misturas contendo borracha tratada, esta foi menor que a obtida
para borracha sem tratamento. Nas micrografias eletrônicas de varredura (Figura
2.33), pode ser observado maior aderência entre a borracha tratada com hidróxido
de sódio ( NaOH ) e a pasta de cimento, quando comparada com a aderência da
borracha sem tratamento.

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Figura 2.33 – Micrografia eletrônica de varredura da superfície de fratura de corpo


de prova contendo 10% de borracha, respectivamente, com e sem tratamento
superficial com NaOH (Segre e Joekes, 2000).

Através das micrografias da Figura 2.33, as autoras concluíram que o


tratamento superficial da borracha de pneu com solução saturada de NaOH melhora
consideravelmente a aderência entre as partículas e a matriz de cimento, resultado
este confirmado por outros ensaios realizados pelas as mesmas, como no ensaio de
resistência à compressão dos corpos de prova contendo 10% de borracha tratada
com NaOH , onde se verificou uma redução de 34% quando comparada com o
testemunho, enquanto na literatura consultada (Lee, 1993), a redução foi 41% com a
adição de 6% de borracha. Segre e Joekes (1999) também observaram redução na
absorção de água para os corpos de prova com 10% de borracha tratada com
NaOH , forte indicativo da redução da porosidade do material.
Segundo Mehta & Monteiro (1994), o concreto reforçado com fibras é mais
tenaz e por isso, mais resistente ao impacto. O mesmo pode acontecer com pastas
contendo resíduos de pneu, uma vez que a borracha tem comportamento
semelhante ao de fibras. Da mesma forma, Turatsinze et al (2005), afirmam que a
borracha confere propriedades mecânicas interessantes em pastas à base de
cimento, atuando como "inibidoras" das fissuras e permitem maior deformação, ou
seja, as partículas de borracha tornam a pasta endurecida mais tenaz.

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CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS
Materiais e Métodos 72

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Materiais Utilizados

Para o preparo das pastas, foram utilizados os seguintes materiais:


• Cimento Portland Especial fornecido pela CIMESA – Cimento Sergipe
S.A., localizada em Laranjeiras – SE, cujas propriedades físico-
químicas estão descritas nas Tabelas 3.1 e 3.2.

Tabela 3.1 – Ensaios químicos e especificação para o cimento classe G e Portland


classe especial (CIMESA, 2007).

VALOR DESVIO ESPECIFICAÇÃO


ENSAIOS
MÉDIO PADRÃO
QUÍMICOS CP CP
(%) (%)
Especial Classe G
Perda ao fogo 0,84 0,33 Máx. 3,0 Máx. 3,0
SiO2 20,17 0,42 ---- ----
Al 2 O3 4,60 0,25 ---- ----
Fe2 O3 3,15 0,18 ---- ----
CaO 61,76 1,01 ---- ----
Análise SO3 2,84 0,13 Máx. 3,0 Máx. 3,0
Química MgO 3,52 0,30 Máx. 6,0 Máx. 6,0
Na 2 O 0,17 0,04 ---- ----
K 2O 0,90 0,13 ---- ----
Na 2 O eq. 0,77 0,10 Máx. 1,0 Máx. 0,75
CaO L. 1,93 0,32 Máx. 2,0 Máx. 2,0
Res. insolúvel 0,51 0,20 Máx. 0,75 Máx. 0,75
C3 S 55,0 4,77 55 a 65 48/58 a 65
C3 S 55,0 4,77 55 a 65 48/58 a 65
Composição
Potencial de C3 A 6,9 0,84 Máx. 7,0 Máx. 8/3
Bogue 2C 3 A + C 4 AF 23,3 1,39 Máx. 24 Máx. 24
C 4 AF 9,5 0,54 ---- ----

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Materiais e Métodos 73

Tabela 3.2 – Ensaios físicos e especificação para o cimento Portland especial


(CIMESA, 2007)

RESULTADOS CIMESA ESPECIFICAÇÃO


ENSAIOS FÍSICOS
Valor Desvio
CP Especial
Médio Padrão

#200 4,3 0,75 –


FINURA (% retido)
#325 21,0 1,03 16 – 20
BLAINE (cm2/g) – 2680 168,84 2800 – 3200

TEMPO DE PEGA Início 130 13,85 –


(min)
Fim 180 16,65 –

• Borracha de pneus usados de procedência variada, na forma de partículas


finas (passante na peneira 35 mesh), fornecida pela PETROBRAS. Durante o
processo de moagem, a borracha passa por separadores magnéticos que
retêm as partículas metálicas. Aspiradores distribuídos na linha de moagem
retiram grande parte das fibras presentes no pneu moído.

• Anti-espumante, aditivo líquido à base de silicone, desenvolvido para redução


da espuma e de micro-bolhas geradas durante o processo de mistura das
pastas de cimento, cujas propriedades estão descritas na Tabela 3.3.

Tabela 3.3 – Características e propriedades do anti-espumante.

Anti-espumante
Base química Silicone
pH 7,5 – 8,5
Densidade (g/cm3) 1,004
Aspecto Viscoso
Cor Branco

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• Dispersante, aditivo de última geração à base de policarboxilato modificado,


cujas propriedades se encontram descritas na Tabela 3.4.

Tabela 3.4 – Características e propriedades do dispersante.

Dispersante
Base química Policarboxilato
pH 5–7
Densidade (g/cm3) 1,067 – 1,107
Aspecto Líquido
Cor Bege

• Água proveniente da rede pública de abastecimento local.

3.2. Tratamento superficial da borracha

Com o objetivo de aumentar a hidrofilicidade da superfície das partículas e


melhorar a compatibilização destas com a matriz de cimento, a borracha passou por
um tratamento com solução aquosa de 1 mol/L de NaOH. Para isso foram utilizados
240 g de partículas de borracha, passadas na peneira de abertura 35 mesh (0,5 mm)
e 2,8 g de NaOH dissolvidos em 1 litro de água destilada. As partículas de borracha
foram adicionadas à solução de água com NaOH e submetida ao agitador mecânico
por 15 min. Em seguida, a mistura foi filtrada, a borracha foi lavada em água
corrente e seca em estufa a 60 °C.

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3.3. Rota experimental

A Figura 3.1 apresenta um fluxograma esquematizando a rota experimental


desenvolvida nesta pesquisa.

Composição das pastas

Cimento Água Aditivos Borracha

Cálculo Análise
Térmica
Pesagem
Granulometria Granulometria
Mistura

Pasta
Compressão
Espessamento e Tração
Homogeneização

Ensaios

Reologia Estabilidade Água Livre Filtrado

Figura 3.1 – Fluxograma da rota experimental.

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3.4. Cálculo das Pastas

As pastas foram calculadas a partir das concentrações de aditivos sólidos e


líquidos, baseado na norma API RP 10B e planilha utilizada pela PETROBRÁS,
cujas composições estão listadas na Tabela 3.5, além da fixação do peso específico
dos componentes das pastas dispostos na Tabela 3.6.

Tabela 3.5 – Composição das pastas em função do percentual de borracha.

Formulações Componentes da Pasta (g) FAC


(% de Borracha) Cimento Água Borracha Dispersante Anti-espumante (%)

0% 765,49 353,79 0,00 1,50 0,80 46,22


5% 755,67 325,86 37,78 1,48 0,79 43,12
7% 751,81 314,89 52,63 1,47 0,78 41,88
10% 746,09 298,64 74,61 1,46 0,78 40,03

Obs.: Formulações de pastas com densidade constante de 15,6 lb/gal.

Tabela 3.6 – Valores de densidade e volume específico dos materiais utilizados para
a realização dos cálculos.

Densidade a 25 ºC Volume Específico a 25 ºC


Material
(g/cm³) (gal/lb)
Cimento Portland 3,15 0,0380
Água 0,9969 0,1202
Borracha de Pneu 1,2153 0,0986
Anti-espumante 1,004 0,1193
Dispersante 1,067 - 1,107 0,1123 - 0,1082

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3.5. Mistura

Para efetuar a mistura foi utilizado um misturador de palheta da marca


Chandler modelo 80-60 ilustrado na Figura 3.2. Após misturar manualmente a
borracha com o cimento Portland especial, ligou-se o misturador contendo a água de
mistura (água e aditivos líquidos) em velocidade baixa (4000 rpm ± 200 rpm) e
lançou-se neste a amostra de cimento Portland e borracha através de funil de colo
curto em um intervalo de 15 segundos, durante o qual a velocidade se manteve
constante. Após a adição de toda a amostra no copo do misturador, agitou-se a
pasta por 35 segundos em alta velocidade (12000 rpm ± 500 rpm) desligando-se em
seguida o misturador. O tempo de adição foi controlado pelo temporizador do
misturador (NBR 9826, 1993).
Os valores de rotação e o tempo são definidos a fim de reproduzir-se, em
laboratório, os valores da energia de mistura alcançados em operações de campo.

Figura 3.2 – Misturador de Palheta Chandler, Modelo 80-60.

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3.6. Homogeneização das Pastas

Imediatamente após a mistura, realizou-se a homogeneização das pastas em


uma célula do Consistômetro atmosférico Chandler, Modelo 1200 ilustrado na Figura
3.3.

Figura 3.3 – Consistômetro atmosférico Chandler, modelo 1200.

O consistômetro atmosférico Chandler modelo 1200 é composto de um


recipiente de aço inoxidável para banho de água, o qual aloja duas células
cilíndricas que giram a 150 ± 15 rpm. Cada célula apresenta internamente uma
palheta estacionária imersa na pasta de cimento. Esta palheta transmite o torque
imposto pela pasta à mola acoplada ao dial, indicando uma primeira consistência da
pasta. O equipamento é dotado de um elemento aquecedor que possibilita elevar e
controlar a temperatura do banho a partir da temperatura ambiente até180°F (82°C).
A pasta foi vertida na célula do consistômetro atmosférico até o nível indicado
por meio de um sulco ao redor da parte interna da mesma. A célula, juntamente com
a palheta estacionária e o dial, foram colocados no banho, conforme NBR 9826,
(1993). Após a homogeneização desmontou-se o conjunto, retirou-se a palheta e
agitou-se a pasta na célula, com o auxílio de uma espátula, para assegurar a
uniformidade antes de vertê-la para o recipiente do teste seguinte.

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3.7. Peso Específico

Para medir a densidade das pastas de cimento foram utilizadas duas


balanças de lama: uma atmosférica e uma balança pressurizada, modelo 7/22
Lb/gal, da Halliburton Services, como ilustra a Figura 3.4.

Figura 3.4 – Balança de lama atmosférica e balança pressurizada.

Para a realização do teste na Balança de Lama Pressurizada da Halliburton


Services Modelo 7/22 Lb/gal (instrumento geralmente utilizado para a determinação
do peso específico de fluidos de perfuração), a pasta foi vertida no copo da mesma
até um nível ligeiramente abaixo de sua borda. Foi verificado se a válvula da tampa
estava aberta (posição inferior) e ajustou-se a tampa observando a saída de pasta
pela válvula. Em seguida, levantou-se a válvula fechando-a. Lavou-se a balança e
enroscou-se o anel da tampa. Encheu-se o êmbolo (bomba) com ar e injetou-se a
pasta, pressurizando-a por meio da válvula no copo. Quando não foi possível injetar
mais ar, liberou-se a pressão sobre o pistão do êmbolo. O pistão se movimentou
para cima e, rapidamente, retirou-se o êmbolo. Automaticamente a válvula se
fechou, impedindo a saída da pasta. Lavou-se a balança, enxugando-a com um
papel absorvente. Colocou-se, então, a balança sobre a sua base e deslocou-se o
cursor até obter-se o equilíbrio, verificado por meio da centralização da bolha do
indicador de nível. Efetuou-se a leitura na escala desejada, observando-se a
indicação da seta no cursor. Este procedimento baseou-se na norma API SPEC 10A
(2000).

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Materiais e Métodos 80

3.8. Ensaios Reológicos

Este ensaio tem por finalidade determinar as propriedades reológicas das


pastas estudadas de acordo com o modelo adotado: Modelo de Bingham
(viscosidade plástica – VP, e limite de escoamento - LE) e Modelo de Potência
(índice de comportamento de fluxo - n e índice de consistência – k). Foi possível
determinar o gel inicial ( Gi ) e o gel final ( G f ) das pastas. O equipamento utilizado

na realização dos ensaios foi um viscosímetro rotativo de cilindros coaxiais Chandler


modelo 3500, ilustrado na Figura 3.5.

Figura 3.5 – Viscosímetro rotativo de cilindros coaxiais Chandler Modelo 3500.

Utilizando-se a pasta homogeneizada na temperatura programada, realizou-


se os ensaios vertendo-a imediatamente para o copo do viscosímetro e efetuando-
se as leituras nas rotações de 3 rpm, 6 rpm, 10 rpm, 20 rpm, 30 rpm, 60 rpm, 100
rpm, 200 rpm e 300 rpm de maneira ascendente e descendente, com intervalos de
10 segundos entre as leituras, calculando-se posteriormente os valores médios das
duas medidas. Após registrar a leitura a 3 rpm, aumentou-se a velocidade do rotor
para 300rpm, mantendo-a por 1 minuto. Em seguida, o motor foi desligado e após10
segundos, o mesmo foi novamente acionado a 3 rpm, registrando-se a deflexão
máxima observada (Gi). Desligou-se mais uma vez o motor por 10 minutos, no fim

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Materiais e Métodos 81

dos quais o motor foi religado, registrando-se a deflexão máxima observada (Gf). O
copo, o bob e o rotor do viscosímetro foram mantidos na temperatura programada
para o teste durante o ensaio, utilizando-se um copo de aquecimento, de forma a
garantir um bom controle da temperatura. Com base nas leituras obtidas pôde-se
determinar o Limite de Escoamento (LE) e a Viscosidade Plástica (VP) da pasta. O
ensaio foi realizado com base na norma brasileira NBR 9831 (2006).

3.9. Ensaio de Consistometria

Este ensaio tem por finalidade determinar o intervalo de tempo para uma
pasta de cimento atingir 100 unidades Bearden (Uc) em condição dinâmica, sob
pressão e temperatura pré-estabelecidas. Os resultados deste teste indicam o tempo
que a pasta permanecerá bombeável (50 Uc) durante uma operação de cimentação.
Para o ensaio foi utilizado o Consistômetro Pressurizado Chandler Modelo 7716
(Figura 3.6). Após a mistura, a pasta foi vertida em uma célula cilíndrica do
consistômetro pressurizado, onde também, foi colocado um conjunto eixo-palheta.
Depois de fechada, a célula foi colocada sobre a mesa rotativa, dentro da câmara de
pressão e ligada a um termopar. Após a colocação do termopar e do completo
preenchimento da Câmara com óleo, iniciou-se a pressurização e o aquecimento do
sistema de acordo com o Schedule e conforme condições de teste pré-
estabelecidas.

Figura 3.6 – Consistômetro pressurizado chandler modelo 7716 (Lima, 2004).

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Materiais e Métodos 82

3.10. Filtrado

Este teste visa determinar o grau de filtração da água da pasta, cujas


conseqüências principais são a desidratação da pasta com possível obstrução do
anular e dano à formação pelo fluido filtrado, caso a quantidade de filtrado
ultrapasse os níveis permitidos.
Um determinado volume de pasta é confinado na célula do Filtro-prensa Fann
HPHT série 387 (Figura 3.7) à temperatura programada. A pressão aplicada (1000
psi) faz com que o filtrado escoe pela tela metálica. O tempo padrão do teste é de 30
minutos ou até a desidratação completa da pasta.

Figura 3.7 – Filtro Prensa Fann HPHT Série 387.

Para os testes de filtrado que atingem o intervalo de tempo final de trinta


minutos, a perda de fluido é calculada multiplicando-se por dois o volume do fluido
coletado durante o teste. Para os testes que apresentam desidratação da pasta em
tempo inferior a 30 min, extrapola-se o volume de filtrado para um tempo igual a 30
minutos, mediante a Equação (10):

(2 . Qt . 5,477 )
Q30 = (10)
t
Q30 – perda de fluido estimado para um tempo de 30 minutos, em centímetros.

Qt – volume de fluido coletado até o momento “t” da desidratação, em centímetros.

t - tempo, aproximado, de ocorrência da desidratação (final do teste), em minutos.

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Materiais e Métodos 83

3.11. Ensaio de Água livre ambiente

O ensaio de água livre visa determinar a quantidade de água que tenderá a


migrar através da pasta. O valor deve ser limitado, principalmente para evitar
canalizações de gás após a cimentação. O teor de água livre é limitado pelo API RP
2000 em 5,9% de água em relação ao peso do cimento.
Para a realização do ensaio, uma quantidade de 760g de pasta
homogeneizada foi vertida em um frasco de Erlenmeyer. O frasco foi vedado com
filme plástico e assentado sobre uma placa metálica suportada por uma espuma de
poliuretana e colocado em local isento de vibrações. Após 2h de repouso, o volume
de água sobrenadante foi retirada com auxílio de uma seringa e pesado em uma
balança analítica de precisão de 0,01g, de acordo com a NBR 9831 (2006). De
posse desse valor, pôde-se calcular a porcentagem de água livre (sobrenadante) em
relação ao volume inicial de pasta, pela Equação (11):

Val . ρ
Al = 100 (11)
mp

Al é o conteúdo de água livre da pasta, em porcentagem volumétrica;

Val é o volume de fluido sobrenadante coletado, em mililitros;

m p é a massa inicial da pasta, em gramas;

ρ é a densidade da pasta, em gramas por centímetros cúbicos.

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Materiais e Métodos 84

3.12. Ensaio de Estabilidade

Após a homogeneização, a pasta foi colocada dentro de um tubo decantador,


onde previamente foi aplicado um desmoldante. Bateu-se levemente no interior do
cilindro com um bastão de vidro de modo a eliminar as bolhas de ar aprisionadas.
Completou-se o volume até o transbordamento do recipiente, enroscou-se a tampa
superior vazada e levou-se o cilindro à câmara de cura.
O cilindro foi posicionado verticalmente na câmara, submetendo-se às
condições de temperatura e pressão similares aos do teste de resistência a
compressão, mantendo-se a cura por 24 horas. O aquecimento foi desligado 1 h e
45 min antes do término da cura e, em seguida, o mesmo foi resfriado em água
corrente por 5 min. Após o resfriamento, desenroscou-se a tampa superior do
cilindro (tubo decantador), eliminando-se os fluidos existentes no topo por meio de
papel absorvente e, com auxílio de uma seringa, injetou-se um volume de água,
medido em cm3, até completar o volume total do cilindro. Converteu-se esse volume
em comprimento, expresso em mm, denominando-se “Rebaixamento de Topo” e, em
seguida, utilizou-se um martelo de borracha para retirada do cilindro de pasta curada
(endurecida). A amostra foi lavada em água corrente e deixada imersa em água na
temperatura ambiente. Procedeu-se ao corte do corpo-de-prova em quatro partes
iguais (Figura 3.8), identificando-se as seguintes seções: topo (I), intermediárias (II e
III) e fundo (IV) e colocando-se, novamente, em água por 30 minutos.

Figura 3.8 – Tubo decantador com amostra seccionada em quatro partes iguais
(Lima, 2004).

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Materiais e Métodos 85

Cada seção foi presa a um suporte com garra e imersa em água em um


béquer, registrando-se o “Peso da seção na água”. Em seguida, cada seção foi
apoiada no fundo do béquer, de modo que o fio não ficasse tensionado, registrando-
se o “Peso da seção no ar”.
Os cálculos dos pesos específicos de cada seção, em lb/gal, de cada foram
determinados por meio da Equação (12):

 ρ 
ρ =  ar  . 8,33

(12)
 ρ água 

ρ = peso específico da seção (lb/gal);


ρ ar = peso da seção no ar;
ρ água = peso da seção na água.

3.13. Ensaio de Resistência à Compressão

Os ensaios de resistência à compressão foram realizados preparando-se as


pastas e vertendo-as em moldes cúbicos de 50 mm de aresta, tendo as faces
laterais rigidez suficiente para evitar possíveis deformações dos corpos-de-prova. Os
moldes foram imersos em um banho com água com um sistema de circulação por
agitação, à temperatura de 38°C. Após a cura (1, 2 e 7 dias de imersão), os moldes
foram removidos do banho e as amostras foram desmoldadas. Os corpos-de-prova
foram enxutos com papel absorvente e medidos com um paquímetro para avaliar
suas dimensões, verificando possíveis deformações.
Os ensaios de ruptura foram realizados em uma Máquina Universal de
Ensaios Shimadzu, controlada pelo programa computacional TRAPEZIUM 2,
segundo procedimentos da NBR 9828 (1993). Para a ruptura dos corpos-de-prova
usou-se uma velocidade de carregamento de 17,9 kN/min ± 1,8 kN/min.

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Materiais e Métodos 86

3.14. Ensaio de Resistência à Tração por Compressão Diametral

A determinação da resistência à tração por compressão diametral foi baseada


na norma NBR 7222 (1994), que estabelece os procedimentos para ensaios de
corpos-de-prova cilíndricos. Os corpos-de-prova foram preparados em moldes
cilíndricos de 50 mm de diâmetro interno e 100 mm de altura e ensaiados na mesma
máquina de ensaio de compressão.
Para a realização do ensaio de resistência à tração por compressão diametral,
os corpos-de-prova foram colocados de modo que ficassem em repouso, sobre o
prato da máquina de compressão. O contato entre o corpo-de-prova e os pratos da
máquina de ensaio aconteceu ao longo de duas geratrizes diametralmente opostas
do corpo-de-prova. Os pratos da máquina foram ajustados até a obtenção de uma
compressão capaz de manter o corpo-de-prova em posição. A carga foi
continuamente aplicada, sem choques, com crescimento constante da tensão de
tração, a uma velocidade de carregamento de 17,9 kN/min ± 1,8 kN/min, até a
ruptura do corpo-de-prova.
A resistência à tração por compressão diametral foi obtida através da
Equação (13).

2F
f td = (13)
πdl

f td : resistência à tração por compressão diametral, expressa em MPa, com

aproximação de 0,05 MPa;


F : carga máxima obtida no ensaio, em kN;
d : diâmetro do corpo-de-prova, em mm;
l : altura do corpo-de-prova, em mm.

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CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Resultados e Discussão 88

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Caracterização dos Materiais

4.1.1. Análise Granulométrica da borracha e do cimento

A borracha de pneu, passante na peneira de número 35 da ABNT (0,5 mm) e


separada de impurezas, após tratamento superficial foi submetida a ensaio de
microscopia eletrônica de varredura (MEV). Observou-se, através das micrografias
da Figura 4.1, que as partículas da borracha utilizada são bastante heterogêneas no
tamanho e na forma, com irregularidades superficiais repleta de reentrâncias e
tentáculos.

Figura 4.1 – Micrografias da borracha de pneu obtidas por MEV.

O gráfico da distribuição granulométrica da borracha (Figura 4.2) permitiu


quantificar a distribuição granulométrica das partículas presentes na amostra da
borracha utilizada neste trabalho, apresentando diâmetro médio 92,67 µm , enquanto
que a curva granulométrica do cimento Portland classe especial apresentou 7,65 µm
de diâmetro médio das partículas (Figura 4.3), ou seja, mesmo classificada como

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Resultados e Discussão 89

fina, a granulometria média da borracha é cerca de doze vezes a do cimento


utilizado nesta pesquisa.

Figura 4.2 – Curva granulométrica da borracha de pneu.

100
Massa passante acumulada (%)

80

60

40

20

Cimento

0
1 10 100 1000
Diâmetro (µm)

Figura 4.3 – Curva granulométrica do cimento Portland classe especial.

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Resultados e Discussão 90

Por meio destes resultados, foi possível fazer uma comparação entre o
tamanho das partículas de cimento e o tamanho das partículas de borracha de pneu
e, dessa forma, estudar a influência da granulometria da borracha no compósito
produzido.

4.1.2. Análise térmica da borracha

A análise termogravimétrica fornece informações sobre a composição dos


materiais e a sua estabilidade térmica. Entretanto, compostos de borracha
usualmente apresentam muitos aditivos que podem dificultar essa análise.
O resultado da TGA (Figura 4.4) mostra que a borracha começa a
degradação em temperatura próxima de 150°C. No enta nto, a perda de massa total,
até 250°C (temperatura que pode ser alcançada em operações de ciclagem
térmica), é inferior a 5%, ou seja, menos que 0,5% do total da pasta, o que não
afetaria de forma significativa o bom desempenho das propriedades da mesma.

DrTGA TGA DTA


mg/min % uV
150.00
Borracha Fina Tratada.tad DTA
Borracha Fina Tratada.tad TGA40.00
Borracha Fina Tratada.tad DrTGA

0.50 -4.872%
-4.872%
100.00
19.77C 20.00
250.00C

50.00 0.00

-0.00

-20.00
-0.00
-0.00 100.00 200.00 300.00 400.00 500.00
Temp [C]

Figura 4.4 – Análise termogravimétrica da borracha de pneu.

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Resultados e Discussão 91

4.2. Caracterização do compósito cimento/borracha

4.2.1. Reologia

O comportamento reológico da pasta de cimento é de extrema importância


para o projeto de cimentação, uma vez que, com uma boa caracterização reológica
da pasta de cimento a perda de carga e o regime de fluxo podem ser prognosticados
corretamente. Entretanto, não foi possível realizar o ensaio da pasta com
concentração de 12% de borracha, pois a alta viscosidade apresentada pela mesma
inviabilizou a determinação de suas características.

4.2.1.1. Curvas de fluxo e área de histerese

As curvas de fluxo mostradas nas Figuras 4.5 e 4.6 foram plotadas a partir
das médias das leituras ascendentes e descendentes, obtidas no viscosímetro
rotativo de cilindros coaxiais Chandler Modelo 3500.

220

200
0%
5%
Tensão de cisalhamento (MPa.s)

180 7%
160
10%

140

120

100

80

60

40

20

0
0 100 200 300 400 500 600
Taxa de cisalhamento (1/s)

Figura 4.5 – Curvas de fluxo das pastas ensaiadas a 27 °C.

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Resultados e Discussão 92

300

0%
250 5%

Tensão de cisalhamento (MPa.s)


7%
10%
200

150

100

50

0
0 100 200 300 400 500 600
Taxa de cisalhamento (1/s)

Figura 4.6 - Curvas de fluxo das pastas ensaiadas a 52 °C.

Observa-se, a partir das curvas de fluxo, que em todas as pastas ensaiadas a


tensão decresce com o aumento da taxa de cisalhamento, comportamento este,
típico de fluidos pseudoplásticos com limite de escoamento.

A razão entre as leituras ascendentes e descendentes (Tabela 4.1) mostram


que a pasta referência (0% de borracha) e a pasta adicionada de 5% de borracha
apresentam propriedades reológicas independentes do tempo na temperatura média
do teste (razões iguais ou próximas da unidade), enquanto que as pastas com 7% e
10% de borracha apresentam uma ligeira tendência à geleificação à temperatura
média do teste.

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Resultados e Discussão 93

Tabela 4.1 – Razão entre as leituras ascendentes e descendentes das médias dos
ensaios à temperatura de 27 °C.

Concentração de borracha
rpm (1/s)
0% 5% 7% 10%

3 (5,1) 1,00 0,90 0,85 0,75


6 (10,2) 1,00 1,00 0,87 0,68
10 (17,0) 1,00 1,00 0,89 0,71
20 (34,1) 1,00 1,00 0,90 0,72
30 (51,2) 1,12 1,00 0,89 0,75
60 (102,3) 0,91 1,05 0,94 0,83
100 (170,5) 1,00 1,04 0,94 0,91
200 (341,0) 1,00 1,02 0,95 0,95
300 (511,5) - - - -

A diferença verificada no comportamento reológico das pastas quando se


aplicam gradientes de velocidades crescentes e decrescentes, pode ser aferida
através da quantificação da área entre as duas curvas (área de histerese). O valor
dessa área fornece a tendência que as suspensões apresentam para alterar o seu
comportamento reológico em função do regime de escoamento a que se encontram
sujeitas. As Figuras 4.7 e 4.8 mostram a área de histerese das pastas com 10% de
borracha, ensaiadas à temperatura de 27 °C e 52 °C, respectivamente.

200
Leituras ascendentes
180 Leituras descendentes
160

140
Deflexão (grau)

120

100

80

60

40

20

0
0 50 100 150 200 250 300
Rotação (rpm), 1/s

Figura 4.7 – Área de histerese da pasta com 10% de borracha ensaiada a 27 °C.

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Resultados e Discussão 94

250 Leituras ascendentes


Leituras descendentes
200

Deflexão (grau)
150

100

50

0 50 100 150 200 250 300


Rotação (rpm), 1/s

Figura 4.8 – Área de histerese da pasta com 10% de borracha ensaiada a 52 °C.

Em todas as pastas ensaiadas observou-se aumento da leitura descendente


em relação à leitura ascendente do viscosímetro, configurando tendência à
geleificação. No ensaio à temperatura ambiente (área de histerese menor) mais
desfloculada se encontra a pasta e mais reversível será o seu comportamento,
enquanto no ensaio à temperatura de 52 °C a pasta s e encontra mais aglomerada,
necessitando de um processo de mistura mais enérgico para quebrar as ligações
responsáveis pela sua aglomeração.

A aproximação dos resultados experimentais ao Modelo de Bingham e ao


Modelo de Potência foi realizada com base no método dos mínimos quadrados,
contemplando todas as pastas ensaiadas, cujos resultados podem ser vistos nas
Tabelas 4.2 e 4.3.

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Resultados e Discussão 95

Tabela 4.2 – Resultado da aproximação dos modelos de Bingham e de Potência aos


valores experimentais dos ensaios reológicos à temperatura de 27 °C.

Modelo de Bingham Modelo de Potência


Borracha
VP
(%) LE (Pa) R² n k R²
(MPa.s)

Referência 2,99 21,25 0,9988 0,4378 0,0164 0,9839


5 5,74 48,31 0,9992 0,4749 0,0286 0,9843
7 8,15 83,92 0,9990 0,5244 0,0356 0,9890
10 12,82 175,69 0,9961 0,6245 0,0404 0,9981

Tabela 4.3 – Resultado da aproximação dos modelos de Bingham e de Potência aos


valores experimentais dos ensaios reológicos à temperatura de 52 °C.

Modelo de Bingham Modelo de Potência


Borracha
VP
(%) LE (Pa) R² n k R²
(MPa.s)

Referência 4,88 14,41 0,9983 0,2586 0,0449 0,9627


5 11,29 48,07 0,9941 0,3485 0,0765 0,9895
7 15,19 77,28 0,9826 0,4202 0,0779 0,9984
10 19,28 210,49 0,9965 0,5626 0,0720 0,9955

Os coeficientes de correlação (R²) baseados em ambos os modelos ficaram


muito próximos da unidade, indicando uma boa correlação dos dados experimentais
ao modelo matemático proposto. Observa-se, ainda, que o modelo de Bingham se
ajusta melhor aos dados experimentais, com coeficientes de correlação em torno de
0,99.

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Resultados e Discussão 96

4.2.1.2. Viscosidade plástica

Caracterizada pelo atrito das camadas internas dentro do fluido que impõe
resistência ao fluxo, a viscosidade é o termo comumente conhecido para descrever
as propriedades de escoamento de um fluido.
Com base no gráfico da Figura 4.9, observa-se que nas duas temperaturas de
ensaio, as pastas apresentaram significativo aumento de viscosidade em função da
concentração de borracha. Este fato pode ser atribuído a dois fatores: no primeiro, o
aumento da concentração de borracha provoca a redução do fator água/cimento
(FAC) e, consequentemente, o aumento da viscosidade da pasta; no segundo, com
o aumento da concentração de borracha, aumenta o atrito entre as partículas
prejudicando o rolamento entre elas e, dessa forma, dificulta a mobilidade da pasta,
ou seja, aumenta sua viscosidade. Isto justifica a alta viscosidade da pasta com 10%
de borracha.

220
27 °C
200 52 °C
180
Viscosidade Plástica (MPa.s)

160

140

120

100

80

60 Máximo especificado (NBR 9831)


40

20

0
0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.9 – Viscosidade plástica em função da concentração de borracha e da


temperatura.

Para se ter uma idéia da redução do fator água/cimento com o aumento da


concentração de borracha, a pasta referência (0% de borracha), por exemplo,

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Resultados e Discussão 97

apresenta um fator água/cimento de 46,22%, enquanto o fator água/cimento da


pasta com 10% de borracha é de 40,03%, ou seja, houve uma redução de mais de
13% sobre o FAC da pasta referência.
A diminuição da viscosidade da pasta com o aumento da temperatura de
ensaio era esperada. Entretanto, na pasta com 10% de borracha esse fato não
ocorreu tendo em vista que a viscosidade aumentou de forma significativa com o
aumento da temperatura de ensaio. Este fato pode ser atribuído ao dispersante
utilizado que, na presença de temperatura, manteve influência na cinética de
hidratação, provocando a aceleração do processo de formação dos hidratos,
atuando como fator modificador da viscosidade.

4.2.1.3. Limite de escoamento

Os fluidos de Bingham exigem uma tensão mínima (limite de escoamento)


para apresentarem alguma deformação. Quando submetidos a uma tensão menor
que o limite de escoamento, os fluidos binghamianos normalmente se comportam
como sólidos e, em princípio, só escoam na forma de regime tampão.
O gráfico da Figura 4.10 mostra que o limite de escoamento das pastas
contendo borracha aumenta em função da temperatura e da concentração da
mesma. A temperatura promove a aceleração do processo de hidratação e da
formação de seus respectivos produtos, enquanto o aumento da concentração de
borracha induz o aumento do limite de escoamento pela maior coesão e atrito
interno entre as partículas com conseqüente aumento da resistência ao
cisalhamento.
Apesar do aumento do limite de escoamento em função da temperatura e da
concentração de borracha, somente as pastas com 7% e 10% de borracha,
ensaiadas a 52 ºC, atingiram a faixa estabelecida por norma (30 lbf/100pé2 a 70
lbf/100pé2). Os baixos valores do limite de escoamento das pastas podem estar
associados à dificuldade na difusão da água e dos íons cálcio da interface
cimento/solução, provocada pela adsorção das partículas do dispersante
(plastificante de 3ª geração) que promoveu fluidez por maior tempo, com
conseqüente redução do limite de escoamento das mesmas (Pinto et al., 2007).

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Resultados e Discussão 98

40 27 °C
52 °C

Limite de escoamento (lbf/100pé²)


35

Limite inferior (NBR 9831)


30

25

20

15

10

0
0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.10 – Limite de escoamento em função da concentração de borracha e da


temperatura.

4.2.1.4. Força gel

Algumas pastas de cimento apresentam comportamento tixotrópico, isto é,


adquirem um estado semi-rígido quando estão em repouso e voltam a adquirir um
estado de fluidez quando entram em movimento. Uma vez que a força gel indica o
grau de geleificação (ou grau de tixotropia) do fluido provocado pela interação
elétrica entre as partículas dispersas, o estudo deste fenômeno se torna
imprescindível, pois em operações de bombeamento em campo, a pasta de cimento
deverá permanecer fluida o tempo suficiente para que a mesma possa ser
deslocada, com segurança, para a formação de interesse. Caso a pasta comece a
geleificar, poderão ocorrer problemas operacionais que comprometerão a boa
realização da operação.

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Resultados e Discussão 99

Representada pela tensão máxima atingida para a retomada da circulação


após um dado tempo de repouso, a força gel foi aferida após dez segundos (gel
inicial) e após dez minutos (gel final) de repouso, cujos resultados estão descritos na
Tabela 4.4 e podem ser visualizados nos gráficos das Figuras 4.11 e 4.12,
respectivamente.

Tabela 4.4 – Força gel em função da concentração de borracha e da temperatura.

Concentração Gel inicial (lbf/100pé²) Gel final (lbf/100pé²)


de borracha 27 °C 52 °C 27 °C 52 °C

0% 6 9 10 12
5% 12 20 14 23
7% 15 26 19 28
10% 26 56 28 54

60

55 27 °C
52 °C
50

45
Gel inicial (lbf/100pé²)

40

35

30
Máximo especificado (NBR 9831)
25

20

15

10

0
0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.11 – Gel inicial em função da concentração de borracha e da temperatura.

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Resultados e Discussão 100

55
27 °C
50
52 °C
45

40

Gel final (lbf/100pé²)


Máximo especificado (NBR 9831)
35

30

25

20

15

10

0
0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.12 – Gel final em função da concentração de borracha e da temperatura.

Observa-se nos gráficos das Figuras 4.11 e 4.12, significativo aumento nos
valores do gel inicial e final das pastas com borracha. Este fato pode ser atribuído à
redução do FAC, tendo em vista que, quanto menos água na pasta maior é a
interação entre as partículas sólidas e maior é a tendência à formação de gel.
Observa-se ainda, aumento do gel inicial e gel final com a temperatura. Esse
tipo de comportamento demonstra que a temperatura atua na formação de
interações entre as partículas de cimento, como também pode provocar expansão
(dilatação) da borracha que passa a ocupar maior espaço na pasta, proporcionando
uma força resistiva e, consequentemente, aumento da formação do estado gel
durante o repouso.
Com exceção da pasta com 10% de borracha e ensaiada à temperatura de
52 °C, observou-se que todas as outras pastas apres entaram força gel dentro dos
limites de aplicação em poços.

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Resultados e Discussão 101

4.2.1.5. Índice de consistência e de comportamento de fluxo

Os valores dos índices de comportamento de fluxo inferiores à unidade,


mostrados na Tabela 4.5, indicam que as pastas possuem caráter pseudoplástico,
confirmando o que foi dito com base nas curvas de fluxo. Isto significa que o
aumento da taxa de deformação reduz a viscosidade e, consequentemente, facilita o
bombeio das pastas numa operação de cimentação.

Tabela 4.5 – Índice de comportamento de fluxo (n) e índice de consistência (k) das
pastas ensaiadas, baseado no modelo de potência.

Concentração de n k
borracha 27 °C 52 °C 27 °C 52 °C

0% 0,4378 0,2586 0,0164 0,0449


5% 0,4749 0,3485 0,0286 0,0765
7% 0,5244 0,4202 0,0356 0,0779
10% 0,6245 0,5626 0,0404 0,0720

Nota-se que com o aumento da concentração de borracha na pasta, em


ambas as temperaturas de ensaio, os valores de n tendem a aumentar na direção
da unidade. Esse comportamento é um indicativo da ocorrência de mudanças nas
propriedades reológicas das pastas, em direção a um fluido Newtoniano. A
temperatura influenciou no sentido de afastar o fluido do comportamento Newtoniano
(Figura 4.13).

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Resultados e Discussão 102

6,5
27 °C
6,0 52 °C

-1
Índice de comportamento de fluxo X 10
5,5

5,0

4,5

4,0

3,5

3,0

2,5

0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.13 – Índice de comportamento de fluxo em função da concentração de


borracha e da temperatura.

8,0
7,5 27 °C
Índice de consistência X 10 (lbf.s /pé )

52 °C
2

7,0
n

6,5
6,0
-2

5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5

0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.14 – Índice de consistência em função da concentração de borracha e da


temperatura.

O índice de consistência é um indicativo do grau de resistência do fluido


diante do escoamento. Dessa forma, quanto maior o valor de k, mais consistente
será o fluido e, consequentemente, maior sua viscosidade.

Abimael Lopes de Melo Dissertação de Mestrado PPGCEM


Resultados e Discussão 103

Observou-se um aumento no índice de consistência das pastas em função do


aumento da concentração de borracha. As partículas da borracha apresentaram
superfícies bastante irregulares, com pequenas dimensões se assemelhando a um
pó (Figura 4.1). As irregularidades da superfície, compostas de reentrâncias e
tentáculos dá ao material capacidade de se prender como as fibras usuais. Este fato
pode ter influenciado o aumento do índice de consistência com o aumento da
concentração de borracha na pasta (Figura 4.14). Por outro lado, o aumento da
temperatura favorece a elevação da taxa de hidratação do cimento, promove a
redução da fluidez das pastas e eleva o índice de consistência.

4.2.2. Água livre ambiente

A quantidade de água que se acumula, depois de certo tempo, na superfície


de uma pasta de cimento é denominada água livre ou água sobrenadante. Para
Freitas (2008), a água livre ambiente é importante na previsão do volume de pasta a
ser preparado para posterior operação de bombeio no poço; já para Bezerra (2006),
geralmente a quantidade de água necessária para hidratar o cimento Portland é
inferior ao valor do FAC comumente empregado pelas normas e pela prática da
cimentação de poços de petróleo.

A partir dos resultados obtidos no ensaio de água livre, mostrados no gráfico


da Figura 4.15, observa-se que, aumentando a concentração de borracha na pasta o
volume de água livre diminui. Este fato pode está associado ao fator água/cimento
(FAC), pois com o aumento da concentração de borracha na pasta o FAC diminui e,
consequentemente, a água livre sobrenadante também diminui. A influência do FAC
na formação de água livre era esperada, pois o excesso de água de mistura permite
que o processo de exsudação, formação de água sobrenadante e sedimentação
ocorram com mais intensidade. Para um FAC alto, existirá mais água livre
deslocando-se para a parte superior da amostra, enquanto as partículas de cimento
têm mais facilidade de sedimentação, pois o meio fica menos viscoso.

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Resultados e Discussão 104

Máximo especificado (NBR 9831)


Água livre ambiente (%)
6

0
0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.15 – Água livre ambiente em função da concentração de borracha.

Todas as pastas adicionadas de borracha apresentaram valores de água livre


bem abaixo do limite máximo estabelecido por norma, que é de 5,9%. A pasta
referência (0% de borracha) apresentou um volume de água livre acima do limite
estabelecido, como pode ser visto na Figura 4.15. A sua aplicação poderia resultar
em canalizações de gás após a cimentação.

4.2.3. Estabilidade

A estabilidade da mistura de cimento é o requisito mais importante para o


sucesso da cimentação de poços petrolíferos, particularmente para poços sujeitos à
ciclagem térmica. A mesma trata da segregação de sólidos na pasta,
correspondendo à variação de densidade ao longo do poço quando da sua
cimentação. Seu valor é obtido a partir da diferença entre as medidas do peso
específico da seção da base e da seção do topo da amostra cilíndrica ( ρ base − ρ topo ),

sendo estabelecido pela norma API SPEC 10B (2000) que, se essa diferença for
maior que 0,5 lb/gal e/ou o rebaixamento do topo for maior que 5 mm, a pasta é dita

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Resultados e Discussão 105

instável e deve ser reformulada. Na Tabela 4.6 são apresentados os resultados dos
ensaios de estabilidade para as pastas formuladas.

Tabela 4.6 – Resultados das medidas de estabilidade das pastas formuladas.

Percentual Coluna Cilíndrica do Teste


de FAC Rebaixamento
Borracha (%) (mm) Peso específico (lb/gal)

Topo I II Fundo Diferença


0% 46,22 9,45 15,78 15,94 16,38 16,31 0,53
5% 43,12 4,42 15,10 15,33 15,17 15,39 0,29
7% 41,88 3,36 15,38 15,18 15,37 15,43 0,05
10% 40,03 3,14 15,93 15,99 15,97 16,02 0,09

Com base na Tabela 4.6, observa-se que a formulação sem adição de


resíduo de borracha apresentou rebaixamento de 9,45 mm e peso específico (Fundo
- Topo) de 0,53 lb/gal, confirmando o excesso de água sobrenadante verificado no
ensaio de água livre ambiente. Caso fosse utilizada uma pasta com estas
características na cimentação de poços petrolíferos, poderia haver sedimentação na
parte inferior do poço e formação de água livre na parte superior, com possível
migração de gás para o anular (LIMA, 2004).

Nota-se ainda que as pastas adicionadas de borracha de pneu apresentaram


valores dentro do estabelecido por norma, tanto para o rebaixamento de topo (Figura
4.16) quanto para o peso específico, conferindo estabilidade às pastas. A redução
do rebaixamento de topo no tubo decantador pode ser atribuído tanto à diminuição
do FAC, resultante da substituição de parte do cimento pelo resíduo de borracha de
pneu, quanto pelo fato da borracha impedir o deslocamento ascensional de parte da
água da pasta, acelerando o processo de hidratação dos compostos constituintes do
cimento e diminuindo a mobilidade dos sólidos para a parte inferior do tubo
decantador.

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Resultados e Discussão 106

10

Rebaixamento de topo (mm)


8

Máximo especificado (API)


5

0% 5% 7% 10%
Concentração de Borracha (%)

Figura 4.16 – Rebaixamento de topo das pastas em função da concentração de


borracha.

4.2.4. Espessamento

O tempo de espessamento, ou tempo de pega, é definido como o tempo


requerido para a pasta atingir 100 unidades de consistência, enquanto o tempo de
bombeabilidade é o tempo requerido para a pasta atingir 50 unidades de
consistência. Com o resultado do tempo de espessamento e do tempo de
bombeabilidade (Tabela 4.7), tem-se informações do tempo em que a pasta se
mantém com fluidez suficiente para ser deslocada com segurança.

Os ensaios de consistometria (Tabela 4.7) mostraram que a adição de


borracha reduz, de forma significativa, o tempo de espessamento das pastas. Esse
comportamento pode estar relacionado tanto à redução do FAC, provocado pelo
aumento da concentração de borracha, quanto pela dificuldade que a borracha
oferece ao cisalhamento, ou seja, com o movimento das palhetas as partículas de
borracha “enclausuram” grãos de cimento provocando o início da pega (Vale, 2007).

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Resultados e Discussão 107

Tabela 4.7 – Tempo de espessamento e de bombeabilidade das pastas ensaiadas.

Concentração de resíduos de borracha de pneu


Espessamento
0% 5% 7% 10%

0% 3 Uc 4 Uc 7 Uc 20 Uc
25% 6 Uc 5 Uc 9 Uc 25 Uc
50% 12 Uc 9 Uc 16 Uc 33 Uc
75% 31 Uc 29 Uc 34 Uc 44 Uc
100% 100 Uc 100 Uc 100 Uc 100 Uc

50 Uc 239 min 161 min 148 min 77 min


100 Uc 269 min 187 min 171 min 97 min

O aumento de consistência quando se introduz borracha na pasta era


esperado, pois as partículas de borracha apresentam comportamento semelhante ao
de fibras e, segundo Mehta & Monteiro (1994), o aumento de consistência é
proporcional à concentração volumétrica de fibra.

260

240

220
Tempo de bombeabilidade (min)

200

180

160

140

120

100

80

60
0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.17 – Tempo de bombeabilidade em função da concentração de borracha.

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Resultados e Discussão 108

O gráfico da Figura 4.18 ilustra a consistência inicial das pastas em função da


concentração de borracha, onde se observa que todas as pastas ensaiadas
apresentam consistência máxima inferior a 30 unidades de consistência (Uc) para o
intervalo inicial de 15 min a 30 min, o que está de acordo com as condições exigidas
para aplicação em poços.

22

20

18
Consistência inicial da pasta (Uc)

16

14

12

10

0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.18 – Consistência inicial máxima para o intervalo de 15 min a 30 min.

4.2.5. Filtrado

A perda de água da pasta para a formação rochosa é benéfica até certo


ponto, pois o excesso de água prejudicial às propriedades mecânicas, é eliminado
(Bezerra, 2006). No entanto, é desejável que a pasta mantenha o mínimo de água
necessária para sua completa hidratação, ou seja, que se perca apenas a água
adicional reservada para que as propriedades reológicas sejam satisfatoriamente
atingidas. O gráfico da Figura 4.19, mostra os resultados do volume de filtrado das
pastas ensaiadas, extrapolados para 30 minutos.

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Resultados e Discussão 109

1000

Volume de filtrado em 30 min (mL) 800

600

400

200

0
0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.19 – Volume de filtrado em função da concentração de borracha,


extrapolado para 30 min.

Como as pastas se desidrataram bem antes dos 30 minutos, os valores foram


extrapolados para 30 min por meio da Equação (10), resultando em valores bastante
elevados. Essas pastas precisam ser aditivadas com controlador de filtrado para
poderem ser aplicadas em operações de cimentações em poços petrolíferos.
Observa-se no gráfico da Figura 4.19 que com o aumento da concentração de
borracha o volume de filtrado das pastas diminui. Essa redução na perda de filtrado
pode ser atribuída à diminuição do FAC com o aumento da concentração de
borracha, ou seja, as características físico-químicas da borracha não exercem
influência no filtrado. Para se ter uma idéia, o FAC da pasta referência (0% de
borracha) é 46,22% enquanto o FAC da pasta com 10% de borracha é 40,03%, ou
seja, houve uma redução de mais de 13% em relação à pasta referência.

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Resultados e Discussão 110

4.2.6. Resistência mecânica

Parâmetros como temperatura, pressão, fator água-cimento (FAC), tempo de


cura e aditivos, exercem forte influência nas propriedades mecânicas de uma pasta
de cimento. Por esta razão, os testes de compressão e de tração por compressão
diametral foram realizados com diferentes curas e diferentes concentrações de
borracha. Os valores médios de resistência à compressão e de resistência à tração
por compressão diametral das pastas, em diferentes idades, estão descritos nos
gráficos das Figuras 4.20 e 4.21. Como era esperada, a resistência mecânica
(compressão e tração) de todas as pastas ensaiadas aumentou com o tempo de
cura, alcançando níveis satisfatórios para utilização em cimentações de poços
petrolíferos.

30
1 dia de cura
28 2 dias de cura
Resistência à compressão (MPa)

7 dias de cura
26

24

22

20

18

16

14

12

10
0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.20 – Resistência à compressão em função da concentração de borracha e


do tempo de cura.

Por outro lado, observa-se que a introdução de borracha na pasta de cimento


provoca uma redução considerável de resistência à compressão (Figura 4.20). Este
decréscimo na resistência pode está relacionado ao fato da borracha absorver
pouco carregamento em relação ao cimento e ao mesmo tempo possibilitar maior

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Resultados e Discussão 111

deformação lateral, levando à ruptura. Essa diminuição de resistência também pode


ser atribuída à redução da quantidade de cimento e à concentração de tensões na
pasta ao redor das partículas de borracha. Da mesma forma, o maior teor de ar
incorporado nas misturas contendo borracha também pode ser considerado como
fator que influencia a perda de resistência das propriedades mecânicas. Em relação
à pasta referência, a pasta com 10% de borracha apresentou uma redução de
resistência de 48,58%, com cura de 1 dia. Já as pastas com cura de 2 dias e 7 dias,
as perdas de resistência foram, respectivamente, 45,08% e 39,46%.

2,8
2,7 1 dia de cura
2 dias de cura
2,6
7 dias de cura
2,5
Resistência à tração (MPa)

2,4
2,3
2,2
2,1
2,0
1,9
1,8
1,7
1,6
1,5

0% 5% 7% 10%
Concentração de borracha (%)

Figura 4.21 – Resistência à tração por compressão diametral em função da


concentração de borracha e do tempo de cura.

As perdas de resistência à tração observadas no gráfico da Figura 4.21,


podem estar associadas à menor capacidade de carga que a borracha oferece
quando comparada ao cimento, e à baixa aderência entre a pasta e as partículas de
borracha. Da mesma forma que no ensaio de compressão, quanto maior a
concentração de borracha na pasta, maior é a perda de resistência à tração por
compressão diametral. Para os corpos de provas com 10% de borracha, a perda de
resistência à tração em relação à pasta referência, com 1 dia de cura, foi 29,22%,
enquanto para as curas de 2 dias e 7 dias, a perda foi de 26,88% e 11,64%,

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Resultados e Discussão 112

respectivamente. Estes resultados nos levam à conclusão de que quanto maior a


concentração de borracha na pasta, menor a resistência à tração por compressão
diametral, e que esta redução é relativamente menor quando comparada à
resistência à compressão, concordando com os resultados reportados na literatura.
Hernandez Olivares et al (2002), trabalhando com concreto, observaram que
quando a tensão máxima é atingida, as fibras de borracha colaboram para evitar a
propagação das fissuras, aumentando a energia absorvida pela deformação e,
consequentemente, a tenacidade. Com as partículas de borracha, este fato também
pôde ser observado, com incrementos da energia de fratura em função da
concentração de borracha na pasta, obtidos nos ensaios de tração por compressão
diametral, como mostra a Figura 4.22.

5,9
5,8
0%
5,7
5,6
5%
5,5 7%
5,4 10%
5,3
Energia de fratura (J)

5,2
5,1
5,0
4,9
4,8
4,7
4,6
4,5
4,4
4,3
4,2
4,1
4,0
3,9
1 dia 2 dias 7 dias
Tempo de cura (dias)

Figura 4.22 – Energia de fratura na tração por compressão diametral em função da


concentração de borracha e do tempo de cura.

Embora se trate de um compósito com reduzida resistência mecânica, a


borracha “inibe” as fissuras, permite maior deformação e confere à pasta de cimento
endurecida, maior energia de fratura e maior resistência ao impacto.

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CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES
Conclusões 114

5. CONCLUSÕES

A possibilidade de utilização do resíduo de borracha de pneu como aditivo em


pastas de cimento para poços sujeitos à ciclagem térmica visa melhorar a
flexibilidade da pasta, bem como tem o nobre propósito de contribuir para a redução
do impacto ambiental e dos problemas de saúde pública provocados por este
resíduo.

Dessa forma, no tocante às propriedades reológicas, pôde-se concluir:


• Em temperatura ambiente (27 ºC), as pastas apresentaram bom
comportamento reológico, exceto para a viscosidade das pastas com 7% e
10% de borracha que ficou acima dos valores admissíveis numa operação de
cimentação;
• A 52 °C a pasta com 10% de borracha apresentou pro priedades reológicas
acima do permitido;
• O percentual de 10% de borracha na pasta representou, nesta pesquisa, o
valor limite de adição (ponto crítico) tendo em vista que, a alta viscosidade da
pasta com 12% de borracha superou os limites desejados.

Quanto às propriedades mecânicas, concluiu-se que:


• Houve significativa perda de resistência mecânica nas pastas com borracha
de pneu, porém todas ficaram acima do valor mínimo estabelecido por norma;
• Embora se trate de um compósito com reduzida resistência mecânica, a
borracha “inibe” as fissuras, permite maior deformação e confere à pasta de
cimento endurecida, maior energia de fratura e maior capacidade de absorver
impacto.

Com relação aos ensaios complementares, foi possível concluir:


• Todas as pastas com adição de resíduos de borracha apresentaram água
livre abaixo do máximo permitido por norma, boa estabilidade, e filtrado bem
acima dos valores permitidos, haja vista a não utilização de controlador de
filtrado nas pastas ensaiadas;

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Conclusões 115

• A adição de borracha provocou significativa redução do tempo de


espessamento das pastas;
• Por análise térmica (TGA), a borracha começa o processo de degradação em
temperatura próxima a 150 °C, suportando até 250 °C com perda total de
massa inferior a 5%.

Os resultados indicaram que as pastas com adição de borracha fina de pneu


podem, com alguns pequenos ajustes, ser aplicadas em operações de cimentação
de poços sujeitos à injeção de vapor, com boas possibilidades de aumento de sua
vida útil.

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Sugestões para trabalhos futuros 116

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

O aprofundamento na análise do comportamento de pastas de cimento


contendo resíduos de borracha de pneu é fundamental para assegurar a viabilidade
de sua utilização em poços de petróleo sujeitos à ciclagem térmica. Determinados
aspectos ainda necessitam de uma investigação mais precisa e, desta forma, como
proposta de continuidade desta pesquisa, sugere-se:

 Fazer uma completa caracterização física e química do resíduo da


borracha de pneu para garantir bom desempenho das propriedades da
pasta, dentro de uma faixa ótima de utilização.
 Realizar ensaios complementares de aderência e permeabilidade.
 Realizar ensaios mecânicos à temperatura de 200 °C e cura de 28
dias.
 Adicionar sílica na composição da pasta para avaliar o processo da
retrogressão de resistência.

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Referências 117

REFERÊNCIAS

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homogeneização das pastas para ensaio de cimento Portland destinado à
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Referências 118

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Portland destinado à cimentação de poços petrolíferos: determinação do
conteúdo de água livre. Rio de Janeiro, 1993.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9828: Cimento


Portland destinado à cimentação de poços petrolíferos: determinação da
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Portland destinado à cimentação de poços petrolíferos: determinação do
tempo de espessamento. Rio de Janeiro, 1993.

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