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DIREITO

EMPRESARIAL
Teoria Geral da Sociedade

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO EMPRESARIAL
Teoria Geral da Sociedade
Tácio Muzzi

Apresentação..................................................................................................................3
Teoria Geral da Sociedade ..............................................................................................4
1. Teoria Geral das Sociedades. ........................................................................................4
1.1. Conceito.....................................................................................................................4
1.2. Elementos. ................................................................................................................5
1.3. Classificação das Sociedades.................................................................................. 12
1.4. Princípios do Direito Societário...............................................................................24
1.5. Personalidade Jurídica............................................................................................24
1.6. Desconsideração da Personalidade Jurídica........................................................... 30
1.7. Sócios e Acionistas.................................................................................................45
2. Teoria dos Títulos de Crédito.................................................................................... 50
2.1. Conceito de Título de Crédito no Código Civil.......................................................... 50
2.2. Princípios dos Títulos de Crédito............................................................................ 51
2.3. Atributos/Características dos Títulos de Crédito. . ................................................. 60
2.4. Classificação dos Títulos de Crédito.......................................................................62
2.5. Atos Cambiários. .................................................................................................... 73
2.6. Aval........................................................................................................................ 81
2.7. Protesto................................................................................................................. 91
Resumo........................................................................................................................ 99
Questões de Concurso................................................................................................. 106
Gabarito....................................................................................................................... 112
Gabarito Comentado. .................................................................................................... 113
Referências................................................................................................................. 132

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Teoria Geral da Sociedade
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Apresentação

Caro(a) aluno(a), iniciaremos a presente aula abordando tema importantíssimo para o


Direito Empresarial e muito cobrado em concurso: a Teoria Geral das Sociedades.
Pontos do edital:
• Teoria Geral das Sociedades. Sociedades. Conceito. Elementos. Classificação das so-
ciedades. Princípios. Personalidade jurídica. Desconsideração da personalidade jurídi-
ca. Atualização feita pela Lei n. 13.874, de 20 de setembro de 2019. Sócio e acionista.
Direitos. Deveres. Responsabilidades. Capital Social;
• Teoria dos Títulos de Crédito. Conceito de título de crédito no Código Civil. Títulos de cré-
dito, títulos de legitimação e valores mobiliários. Características e atributos dos títulos
de crédito. A emissão do título a partir de caracteres eletrônicos. Títulos eletrônicos ou
virtuais. Classificação dos títulos de crédito quanto ao conteúdo e circulação. Títulos à
ordem, não à ordem, ao portador e nominativos. Modalidades de protesto. Dispensa do
protesto. Prazos. Sustação e Cancelamento do protesto. Endosso. Conceito e natureza
jurídica. Endosso e cessão de crédito. Modalidades. Endosso parcial. Pluralidade ou
cadeia de endossos. Endosso mandato, endosso caução e endosso póstumo. Cance-
lamento. Aval. Finalidade. Características. Aval e Fiança. Lançamento e modalidades.
Aval de pessoa casada e de sociedade. Responsabilidade do avalista. Pluralidade de
avais. Avais Simultâneos e Sucessivos. Aval posterior ao vencimento.

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TEORIA GERAL DA SOCIEDADE

1. Teoria Geral das Sociedades

Antes de mais, é importante saber que a sociedade não é criação do Direito brasileiro e
muito menos é um instituto recente.
Autores como Marcelo Bertoldi e Márcia Carla Ribeiro, acompanhados de outros doutri-
nadores, verificam antecedentes históricos das sociedades no Direito Romano, tanto com o
objetivo de gerenciar bens deixados por herança (sociedade familiar), como para o desenvol-
vimento de atividades específicas (ex., compra de escravos). Contudo, destaco, ainda não se
discutia a constituição de personalidade jurídica própria para a sociedade.
Na idade média, com o mercantilismo, o instituto evoluiu, tendo como base a ideia de se-
paração do patrimônio da sociedade em relação aos seus sócios, objetivando a segregação
de riscos, sobretudo do comerciante.
No século XVII, com as grandes navegações e os empreendimentos de vulto que as envol-
viam, temos o surgimento das primeiras sociedades por ações (v.g., Companhia Holandesa
das índias Orientais em 1602), com a reunião de substancial capital, dividido em ações, e con-
tando com a participação de um número considerável de pessoas. Nessas, o que importava
era o aporte de capital pelos acionistas e não propriamente a pessoa do acionista.
Já em relação à sociedade limitada, tipo mais difundido na atualidade, José Edwaldo Ta-
veres Borba nos informa que a sua concepção é mais recente, surgindo na Alemanha no sé-
culo XIX.

1.1. Conceito

Extraímos o conceito de sociedade do art. 981 do Código Civil (CC), que estabelece:

Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir,


com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados.

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Depreendemos de tal dispositivo legal que a sociedade decorre da celebração de um con-


trato, entre pessoas - ou seja, duas ou mais – podendo ser naturais ou jurídicas (a regra, por-
tanto, é a pluralidade de sócios), que de forma voluntária e recíproca se obrigam a contribuir
com bens ou serviços com o objetivo de explorar atividade econômica (finalidade lucrativa),
repartindo seus resultados (sejam lucros, sejam prejuízos).
Registro que tal conceito se aplica tanto à sociedade empresária como à não empresária,
denominada pelo CC de sociedade simples.

Embora a efetiva segregação do patrimônio dos sócios com o da sociedade somente ocorra
com a constituição de personalidade jurídica própria (o limite da responsabilidade dos sócios
dependerá do tipo societário adotado), a personalidade jurídica não é elemento que necessa-
riamente integra o conceito de sociedade. Basta dizer que o próprio CC prevê expressamente
a possibilidade de sociedades não personificadas, ou seja, sem personalidade jurídica, a sa-
ber: a sociedade em comum (art. 986 a 990) e a sociedade em conta de participação (art. 991
a 996), ambas reguladas no Subtítulo I – Da sociedade não personificada (Título II – Da so-
ciedade).

1.2. Elementos

Por se tratar de ato jurídico, o ato constitutivo terá como elementos gerais os previstos no
art. 104 do CC:
• agentes capazes (no caso, consenso entre agentes capazes);
• objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
• forma prescrita ou não proibida por lei.

No entanto, em razão das suas peculiaridades, temos também elementos específicos


para a constituição da sociedade que são os seguintes:
• acordo de vontade com fim comum: a sociedade decorre de um negócio jurídico entre
duas ou mais pessoas. Dessa forma, prevalece no Direito brasileiro a teoria contratualista,

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no sentido de que a natureza jurídica do ato constitutivo da sociedade é um contrato


plurilateral, em que a vontade dos participantes é dirigida para um fim comum (affectio
societatis, na expressão cunhada por Ulpiano, conforme ensina Carvalho de Mendonça);
• pluralidade de sócios: o acordo de vontade será entre duas ou mais pessoas, podendo ser
naturais ou jurídicas, até mesmo para que seja possível a reciprocidade de obrigações.
Ou seja, a princípio não faz sentido sociedade com somente um sócio (há exceções!);
• definição de obrigações recíprocas: os sócios devem reciprocamente se comprometer
com dinheiro, bens ou serviços (este último somente em alguns tipos societários) no
ato da constituição da sociedade, contribuindo para a formação do capital social;
• exercício de atividade econômica: a atividade desenvolvida pela sociedade deve ter fi-
nalidade lucrativa;
• partilha dos resultados: necessariamente os sócios devem participar dos resultados
sociais (lucros ou prejuízos).

Sociedade Unipessoal: Exceção à Regra da Pluralidade de Sócios

A constituição da sociedade (do latim societas, que entre os seus significados está o de
“associação amistosa com outros”), a princípio somente faz sentido com a participação de

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duas ou mais pessoas. Não por acaso o ato constitutivo da sociedade tem natureza de con-
trato plurilateral.
Em razão disso, o art. 1.033, IV do CC prevê que uma das causas para dissolução da so-
ciedade é “a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias.”
Contudo, há hipóteses legais em que a sociedade pode ser constituída por somente uma
pessoa ou continuar suas atividades temporariamente com apenas um sócio, sendo exceção
à regra da pluralidade de sócios.

Destaco que a sociedade unipessoal, tão defendida por alguns doutrinadores, hoje é realida-
de no Direito brasileiro em relação à sociedade limitada, conforme previsto no §§1º e 2º do
art. 1.052 do CC, cuja redação foi dada pela Lei 13.874, de 2019 (Lei da Liberdade Econômica:

Art.  1.052. Na sociedade limitada, a  responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas
quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.
§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas.
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que couber,
as disposições sobre o contrato social. (negritei)

Nesse sentido, podemos ter sociedades unipessoais nos seguintes casos:


• originalmente unipessoal: i) sociedade limitada unipessoal (art. 1.052, §§ 1º e 2º); ii)
subsidiária integral – companhia (ou seja, sociedade por ações) que terá como único
acionista sociedade brasileira, nos termos do art. 251 da Lei 6.404, de 1976 – Lei das
S.A.); iii) empresa pública (art.  3º da Lei 13.303, de 2016, em que a União, os  Esta-
dos e os Municípios podem ser sócios únicos); iv) sociedade unipessoal de advogados
(art. 15 da Lei n. 8.906/94);
• superveniente - e temporariamente - unipessoal: no caso de redução do quadro socie-
tário a um único sócio ou acionista, como por exemplo por morte de sócio, há previsão
legal para a continuidade do funcionamento. Contudo, as normas conferem prazo para
regularização: i) sociedades em geral (art.  1.033, IV do CC): dissolve-se a sociedade
caso a falta de pluralidade de sócios não for reconstituída no prazo de 180 dias; ii)

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sociedade anônima (art. 206, I, ‘d’ da Lei das S.A.): a companhia será dissolvida caso,
verificada em assembleia geral ordinária (AGO) tal hipótese, não houver recomposição
de no mínimo 2 acionistas até a AGO do ano seguinte.

Questão 1 (CESPE/JUIZ/TJ-PR/2017/ADAPTADA) Acerca de ligações societárias, assinale


a opção correta.
a) A subsidiária integral é uma sociedade limitada ou anônima unipessoal.

Errada.
De fato, a subsidiária integral caracteriza-se por ser uma sociedade unipessoal, contudo ela
é regulada pelo art. 251 e seguintes da Lei das S.A., devendo ser uma “companhia” (ou seja,
sociedade anônima), nos termos dos arts. 1º e 251, caput:

Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade
dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.
(negritei)
SEÇÃO V
Subsidiária Integral
Art. 251. A companhia pode ser constituída, mediante escritura pública, tendo como único acionis-
ta sociedade brasileira.
(...)

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Sociedade Empresária: Possibilidade de Conversão em Empresa Individual


de Responsabilidade Limitada (EIRELI) ou Empresário Individual

Muito importante, caro(a) aluno(a): a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada


(EIRELI), embora tenha personalidade jurídica própria (art. 44, VI do CC), não é uma sociedade,
tratando-se de um novo ente jurídico personificado!
Confira a respeito os Enunciados 469 e 472 da V Jornada de Direito Civil:

Enunciado 469 – Arts. 44 e 980-A: A empresa individual de responsabilidade limitada


(EIRELI) não é sociedade, mas novo ente jurídico personificado.
Enunciado 472 – Art. 980-A: É inadequada a utilização da expressão “social” para as
empresas individuais de responsabilidade limitada.

Nesse sentido, na hipótese de as sociedades em geral ficarem com somente um sócio,


o CC permite que o sócio remanescente, concentrando todas as cotas da sociedade, requeira
a transformação do registro da sociedade para EIRELI ou também para empresário individual,
sendo que este último não tem personalidade jurídica.
É o que se extrai do art. 980-A e do parágrafo único do art. 1.033 do CC:

Art. 980-A, §3º A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da con-
centração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das
razões que motivaram tal concentração.
Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:
IV – a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias;
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hi-
pótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro
Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário indivi-
dual ou para empresa individual de responsabilidade limitada, observado, no que couber, o dispos-
to nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.

Questão 2 (PUC-PR/JUIZ/TJ-MS/2012/ADAPTADA) Considere a afirmativa a respeito da


figura da EIRELI:

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Empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração


das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões
que motivaram essa concentração.

Correta.
O §3º do art. 980-A e o parágrafo único do art. 1.033 do CC permitem expressamente que a
EIRELI resulte da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio.

Empresário Individual: Transformação em Sociedade Empresária

Da mesma forma que a sociedade empresária, caso reste somente um sócio, pode ser
transformada em empresário individual, o Código Civil também admite que esse, caso admita
sócio(s) transforme-se em sociedade empresária.
Confira o disposto no art. 969, §3º do CC:

Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento que contenha:


§3º Caso venha a admitir sócios, o empresário individual poderá solicitar ao Registro Público de
Empresas Mercantis a transformação de seu registro de empresário para registro de sociedade
empresária, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.

Cláusula Contratual com Exclusão de Participação nos Resultados Sociais:


Consequência

Conforme vimos, um dos elementos para se configurar uma sociedade é a participação


dos sócios nos resultados sociais, tanto os positivos (lucro) como os negativo (prejuízo).

Mas, professor, e se o contrato social tiver cláusula excluindo algum sócio da distribuição
do resultado social?

A resposta, caro(a) aluno(a), é  que tal cláusula será considerada nula, nos termos do
art. 1.008 do CC:

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Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e das
perdas.

Contudo, observo que tal dispositivo não tem o condão de anular todo o ato constitutivo
da sociedade (até porque contrariaria o princípio da preservação da empresa), devendo ser
considerada como nula (em outras palavras, não escrita) somente a “estipulação contratual”,
ou seja, a cláusula contratual.
Assim, tal cláusula não gerará qualquer efeito jurídico.
Caso não seja estipulada formalmente a distribuição dos resultados, será aplicado o
art. 1.007 do CC, que estabelece que o sócio participa dos lucros e da perda na proporção das
suas quotas:

Art. 1.007. Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na proporção
das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente participa dos
lucros na proporção da média do valor das quotas.

Também extraímos desse dispositivo que, com relação àquele sócio que contribuiu so-
mente com serviço, esse somente participará dos lucros (e não das perdas) calculado na
proporção da média do valor das quotas.

Questão 3 (CESPE/PROCURADOR/PGE-PE/2018/ADAPTADA) No que se refere à pessoa


jurídica de direito privado que tenha por objeto a prestação de serviços médicos com finalida-
de lucrativa, sob a forma de limitada, assinale a opção correta.
e) O ato instituidor da sociedade será declarado nulo se omitir-se quanto à distribuição dos
resultados.

Errada.
Nos termos do art. 1.007 do CC, aplicado subsidiariamente à sociedade limitada como regra
(“art.  1.053. A  sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas

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da sociedade simples”), na omissão (“salvo estipulação em contrário”), o sócio participa dos


lucros e da perda na proporção das suas quotas:

Art. 1.007. Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na proporção
das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente participa dos
lucros na proporção da média do valor das quotas.

Sociedade x Associação x Fundação

Conforme vimos no art. 981 do CC, as sociedades necessariamente devem desenvolver


atividade econômica, tendo como finalidade a partilha dos resultados (notadamente o lucro)
entre os seus sócios.
Já as associações podem até desenvolver atividade econômica (em regra, desenvolvem
atividades morais, pias, literárias, artísticas), mas mesmo nesses casos a lucratividade nunca
será o fim (ou seja, eventuais resultados positivos não poderão ser partilhados entre seus
associados), mas sim o meio da atividade (gerar resultados positivos para reinvestimento).
Confira o Enunciado 534 da VI Jornada de Direito Civil:

Enunciado 534. As  associações podem desenvolver atividade econômica, desde que
não haja finalidade lucrativa.

Da mesma forma, entende-se que as associações necessariamente têm que ter plurali-
dade de associados (art. 53, caput, do CC), ao passo que as sociedades, excepcionalmente,
podem ser unipessoais.
Quanto à fundação, essa é um complexo de bens, sendo que a aquisição de personalidade
jurídica própria é direcionada para a realização de um fim de interesse público preestabeleci-
do pelo(s) seu(s) fundador(es), de forma estável e permanente. Já na sociedade o que temos
é uma reunião de pessoas, cujos fins são deliberados de forma livre pelos seus membros.
A fundação é regulada pelo art. 62 e seguintes do Código Civil.

1.3. Classificação das Sociedades

Podemos classificar as sociedades de acordo com diversos critérios. Vamos a eles!

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1º Critério: Área de Atuação

A primeira classificação que iremos abordar é significativa, uma vez que tem reflexo na
própria aplicação (ou não) do Direito Empresarial.
Nesse sentido, caso a sociedade explore a empresa (atividade econômica organizada)
estaremos diante de uma sociedade empresária, sendo que as demais deverão ser conside-
radas sociedades simples, conforme preceitua o art. 982 do CC.
Note, amigoa) guerreiro(a), que pelo próprio conceito de sociedade (em sentido amplo)
previsto no art. 981 do CC, tanto a sociedade empresária como a sociedade simples desen-
volvem atividade econômica, ou seja, têm finalidade lucrativa (é um dos seus elementos ca-
racterizadores).
Assim, o principal elemento caracterizador da sociedade empresária não é propriamente
o objetivo do lucro (a sociedade simples também tem finalidade lucrativa), mas sim a organi-
zação dos fatores de produção (capital, mão de obra, insumo e tecnologia).
Dessa forma, a sociedade simples usualmente será utilizada para o desenvolvimento de
atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, havendo pessoalidade na sua
atuação.
É importante saber que, anteriormente à promulgação do Código Civil atual em 2002, fa-
zia-se a diferenciação entre sociedade comercial e sociedade civil. Contudo, essa distinção
deixou de fazer sentido com a introdução de vez da teoria da empresa no Direito pátrio.

DICA!
Por força legal (art. 982, parágrafo único), independentemente
do objeto, as  sociedades por ações serão sempre socieda-
des empresárias e as cooperativas serão sempre sociedades
simples:
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empre-
sária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade
própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples,
as demais.

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Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-


-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.
Fique atento, nobre aluno(a), esse aspecto é muito cobrado
em concurso!

Questão 4 (FCC/JUIZ/TJ-AP/2014/ADAPTADA) Em relação à sociedade cooperativa, é cor-


reto afirmar:
b) É sociedade simples, independentemente de seu objeto.
c) Se exercer atividade empresarial, reputa-se sociedade empresária de responsabilidade
limitada.
d ) Está sujeita à falência.
e) Tem direito à recuperação judicial.

Letra b.
Por força do art. 982, parágrafo único, do CC, a cooperativa, independentemente do objeto,
será sempre considerada sociedade simples:

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto
o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por
ações; e, simples, a cooperativa.

c/d/e) Erradas. A  cooperativa jamais será sociedade empresária, conforme exposto, sendo
que a falência e a recuperação judicial são institutos aplicados exclusivamente aos empresá-
rios (em sentido amplo), nos termos do art. 1º da Lei 11.101, de 2005:

Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empre-
sário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor. (negritei).

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A inscrição da sociedade empresária deverá ser feita na Junta Comercial (art. 982 do CC),
sendo que a sociedade simples será inscrita no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (art. 998
do CC).

Questão 5 (FCC/JUIZ/TJ-PE/2013) No tocante ao estabelecimento e seus institutos com-


plementares, é correto afirmar que
A sociedade simples e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas
Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e o empresário vincula-se ao Registro Civil das Pes-
soas Jurídicas, vedado à sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.

Errado.
A sociedade empresária e o empresário individual (ambos são empresários, em sentido am-
plo) vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comer-
ciais (art. 982 c/c 967 do CC) e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas
(art. 998 do CC), sintetizado pelo art. 1.150 do CC:

Art. 1.150 do CC. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Em-


presas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pes-
soas Jurídicas, o  qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade
simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.

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Devemos ter claro, caro(a) aluno(a), que empresário - entendido como sujeito de direitos (as-
pecto subjetivo da empresa) - é o gênero, contemplando as seguintes espécies:
• empresário individual: pessoa natural que explora a empresa (atividade empresarial –
aspecto funcional), cuja definição está no art. 966 do CC. Assim, não tem personalidade
jurídica;
• sociedade empresária: será, em regra, constituída por mais de um sócio ou acionista e,
quando regularmente criada, terá personalidade jurídica (art. 982 do CC);
• empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI): será titularizada por uma só
pessoa (natural ou jurídica) e terá personalidade jurídica própria após a sua regular
criação, tratando-se de ente jurídico personalizado próprio (ou seja, não se confunde
com a sociedade empresária nem com o empresário individual).

2º Critério: Personificação

Conforme mencionamos, as sociedades podem ter personalidade jurídica ou serem não


personificadas. É importante saber que com a criação da personalidade própria, a partir do
registro, a nova sociedade será titular de patrimônio e será, a princípio, responsável por suas
obrigações:
• sociedades não personificadas (arts. 986/996 do CC): sociedade em comum e socieda-
de em conta em participação;

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• sociedades personificadas (arts. 997/1.141 do CC): as demais, a saber, sociedade sim-


ples, sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade limi-
tada, sociedade anônima, sociedade em comandita por ações, sociedade cooperativa.

Importante registrar que o CC expressamente contempla tal distinção, ao dividir o Título II


(Da Sociedade) em dois subtítulos: i) Subtítulo I – Da Sociedade Não Personificada; ii) Subtí-
tulo II – Da Sociedade Personificada.

3º Critério: Responsabilidade dos Sócios

Por esse critério, verificamos o grau de responsabilidade dos sócios (comprometimento


do patrimônio particular) em relação às obrigações sociais:
• sociedade de responsabilidade limitada: todos os sócios têm responsabilidade limi-
tada, obrigando-se somente pelo valor da sua contribuição ou, em algumas circuns-
tâncias, do capital social integral (ex. caso não tenha sido integralizado todo o capital
social na sociedade limitada). Abarca a sociedade limitada, a  sociedade anônima e,
eventualmente, a  cooperativa (esta somente se adotar a forma de responsabilidade
limitada – art. 11 da Lei 5.764, de 1971);

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• sociedade de responsabilidade ilimitada: todos os sócios respondem ilimitadamente


(embora de forma subsidiária) pelas obrigações sociais. Serão os casos da sociedade
em nome coletivo, a sociedade em comum, a sociedade simples pura e, eventualmente,
a cooperativa (esta somente se adotar a forma de responsabilidade ilimitada – art. 12
da Lei 5.764, de 1971);
• sociedade de responsabilidade mista: a responsabilidade é variável em relação aos só-
cios, alguns respondendo de forma ilimitada e outros de forma limitada. Representam
essa espécie a sociedade em comandita simples, sociedade em comandita por ações e
sociedade em conta de participação.

Mesmo no caso em que a responsabilidade do sócio é ilimitada, ou seja, na hipótese de o patrimô-


nio pessoal responder por obrigações sociais, lembro que tal responsabilidade será subsidiária.
Dessa forma, primeiro tem que ser esgotado o patrimônio social, para a partir daí direcionar a
execução para o patrimônio particular dos sócios. É o que o CC chama de benefício de ordem.
Contudo, esgotado o patrimônio social, os sócios serão demandados de forma solidária (ou
seja, entre si, os sócios serão solidariamente responsáveis).
Nesse sentido preceitua o art. 1.024 do CC:

Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade,
senão depois de executados os bens sociais.

Tal norma é reforçada pelo disposto no art. 795 do Código de Processo Civil (CPC), que assim
dispõe:

Art. 795. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, senão nos
casos previstos em lei.
§ 1º O sócio réu, quando responsável pelo pagamento da dívida da sociedade, tem o direito de exi-
gir que primeiro sejam excutidos os bens da sociedade.
§ 2º Incumbe ao sócio que alegar o benefício do § 1º nomear quantos bens da sociedade situados
na mesma comarca, livres e desembargados, bastem para pagar o débito.

Mas há uma exceção: o art. 990 do CC, parte final, estabelece responsabilidade solidária (e
não subsidiária) para aquele que contratou pela sociedade em comum (aquela cujos atos
constitutivos não foram inscritos na Junta Comercial, se sociedade empresarial ou Registro
Civil das Pessoas Jurídicas, se simples):

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Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído
do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.

Questão 6 (FMP/PROCURADOR/PGE-AC/2012/ADAPTADA) Julgue o item a seguir:


A responsabilidade dos sócios pelas obrigações da sociedade empresária é sempre subsidiá-
ria. Quando a lei qualifica de solidária a responsabilidade dos sócios, ela se refere às relações
entre eles.

Correta.
De fato, o art. 990 do CC deve ser interpretado em harmonia com o art. 1.024 do CC, que esta-
belece que a responsabilidade do sócio, mesmo quando ilimitada, é subsidiária.

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4º Critério: Estrutura Econômica

Com relação à estrutura econômica, iremos verificar se a sociedade confere maior peso à
pessoa dos sócios ou ao capital por ele aportado, tanto na constituição como no desenvolvi-
mento da atividade econômica:
• sociedade de pessoas (intuitu personae): a affectio societatis predominantemente terá
caráter personalíssimo, estando fortemente vinculada à qualidade de seus sócios.
A sociedade simples, sociedade em nome coletivo, sociedade comandita simples, so-
ciedade em conta de participação são exemplos clássicos;
• sociedade de capitais (intuitu pecuniae): a sociedade adota perfil praticamente impes-
soal, conferindo efetivo valor à contribuição do sócio. As sociedades por ações (socie-
dade anônima e sociedade em comandita por ações) enquadram-se nessa categoria
por excelência.

Mas, professor, e a sociedade limitada: é sociedade de pessoas ou de capitais?

Caro(a) aluno(a), em relação à sociedade limitada, a  resposta dependerá da análise do


contrato social, que tem uma grande liberdade para moldar a sociedade de acordo com a von-
tade dos sócios. Nesse sentido, a sociedade limitada poderá ser de pessoas ou de capitais,
de acordo com a influência (maior ou menor) da pessoa do sócio na constituição e funciona-
mento da sociedade.

Efeitos: Sociedade de Pessoas x Sociedade de Capitais

Alguns efeitos decorrem dessa classificação em relação à constituição e ao funciona-


mento da sociedade:
• entrada de novos sócios: será rigorosa na sociedade de pessoas, ao passo que na de
capitais será livre;
• administração: ficará concentrada nos sócios na primeira, sendo admitido o exercício
por terceiros (notadamente profissionais) na segunda;

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• morte ou incapacidade de sócios: poderá ensejar a dissolução parcial ou total na so-


ciedade de pessoas, tendo pouca – ou nenhuma – influência na sociedade de capitais;
• nome empresarial: a sociedade de pessoas usará como regra a “firma” ao passo que a
sociedade de capitais usará necessariamente “denominação social” (de caráter mais
impessoal);
• affectio societatis: a quebra da affectio societatis poderá ensejar a exclusão do sócio
na sociedade de pessoas.

5º Critério: Forma do Capital

Levando em conta a forma do capital social, temos:


• sociedade de capital fixo: é a regra das sociedades personificadas, em que o capital
social é fixado no contrato ou estatuto social. Qualquer alteração demandará alteração
do próprio contrato/estatuto;
• sociedade de capital variável: a modificação do capital social não necessita de altera-
ção dos atos constitutivos. Como exemplo, temos as cooperativas (art. 1.094, I do CC
– sendo uma de suas características a “variabilidade, ou dispensa do capital social”) e
as companhias de capital autorizado (art. 172 da Lei das S.A.), em que o aumento do
capital pode ser expressa e previamente aprovado em assembleia geral até um deter-
minado limite prefixado.

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Questão 7 (FCC/JUIZ/TJ-AP/2014/ADAPTADA) Em relação à sociedade cooperativa, é cor-


reto afirmar:
a) Deve ter capital social fixo.

Errada.
As sociedades cooperativas caracterizam-se por terem o capital social variável – ou dispen-
sa do capital -, nos termos do art. 1.094, I do CC:

Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa:


I – variabilidade, ou dispensa do capital social;

6º Critério: Natureza do Ato Constitutivo

Dependendo do ato constitutivo, as sociedades podem ser:


• sociedades contratuais: são constituídas por um contrato entre os sócios, em que par-
te das relações entre eles é norteada pelos princípios do direito dos contratos. As so-
ciedades em nome coletivo, em comandita simples, sociedade simples e sociedade
limitada são assim caracterizadas, tendo como ato constitutivo o contrato social

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• sociedades institucionais: embora se constituam por ato de manifestação de vontade,


alguns doutrinadores defendem que tal ato não tem natureza propriamente contratual.
Isso porque os acionistas têm menor liberdade quanto à disciplina das relações so-
ciais, que praticamente já estão moldadas em lei. Enquadram nesse quesito as socie-
dades por ações (sociedade anônima e sociedade em comandita por ações), cujo ato
constitutivo é o estatuto social.

Questão 8 (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2015) À luz da legislação e da doutrina


pertinentes às sociedades empresárias, julgue o próximo item.
A adoção do regime legal das companhias permite maior liberdade quanto à disciplina das
relações sociais, o que constitui uma vantagem desse regime em relação ao das sociedades
contratualistas.

Errada.
No caso das sociedades institucionais, cujo maior exemplo é a sociedade anônima (também
chamada de ‘companhia’ – art. 2º da Lei das S.A.), a regulação da vida social praticamente
encontra-se disciplinada na Lei das S.A., de forma que há pouca liberdade para o estatuto
social disciplinar as relações sociais.

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1.4. Princípios do Direito Societário


Conforme já tivemos a oportunidade de expor, a palavra “princípio” não tem um significa-
do único, mas traz ínsita a noção de “fundamento”.
Nesse sentido, Fábio Ulhoa Coelho identifica 3 princípios que orientam o Direito Societário:
• Princípio da autonomia patrimonial: a sociedade deve ser entendida como sujeito de
direitos e obrigações próprio, não se confundido com os seus sócios. Assim, as obriga-
ções sociais são por ela (sociedade) devidas, não podendo, em regra, serem cobradas
de seus sócios. Como corolário (desdobramento), temos o princípio da subsidiariedade
da responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais, em que mesmo nas formas
societárias em que não há limitação de responsabilidade pelos sócios, estes somente
responderão quando exaurido o patrimônio social (art. 1.024 do CC);
• Princípio majoritário nas deliberações sociais: o acordo de vontades vigora na socieda-
de não somente no momento da sua constituição como também no desenvolvimento
de suas atividades. Ressalto que, como regra (na cooperativa é diverso), tal princípio
expressa-se “pela atribuição de poder deliberativo ao sócio proporcionalmente às quo-
tas ou ações (votantes) tituladas.” Ou seja, a  proporcionalidade será de acordo com
o montante investido na sociedade, objetivando garantir maior participação a quem
assumiu maiores riscos;
• Princípio da proteção ao sócio/acionista minoritário: como limitação ao princípio an-
terior, o princípio da proteção ao minoritário – que tem amparo legal - “não descuida
dos direitos dos demais sócios, cuja contribuição para a empresa não pode ter a im-
portância desprezada.” Assim, não é absoluto o poder dos sócios majoritários, sendo
concedido aos sócios minoritários o poder de fiscalização e, em alguns casos, o direi-
to de retirada da sociedade, notadamente em relação a determinadas deliberações que
o minoritário tenha votado em sentido contrário (direito de recesso).

1.5. Personalidade Jurídica

Já mencionamos que a personalidade jurídica não é elemento necessário para caracteri-


zar a sociedade, até por conta de haver sociedades não personificadas.

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Mas obviamente é um aspecto importantíssimo decorrente da constituição regular da


sociedade.
Cabe-me dizer que o Código Civil, seguindo a corrente normativista, expressamente es-
tabelece as entidades que poderão ser dotadas de personalidade jurídica (numerus clausus):

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


I – as associações;
II – as sociedades;
III – as fundações.
IV – as organizações religiosas;
V – os partidos políticos.
VI – as empresas individuais de responsabilidade limitada. (negritei)

Verificamos que a sociedade se encontra especificada de forma geral, abarcando tanto a


sociedade empresária como a sociedade simples, indistintamente.
Destaco que, nos termos do art. 985 do CC, a aquisição da personalidade jurídica ocorrerá
efetivamente com a inscrição no registro próprio dos atos constitutivos da sociedade:

Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma
da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).

No caso de ser sociedade empresária a inscrição deverá ser feita na Junta Comercial
(art. 982 do CC), sendo que a sociedade simples será inscrita no Registro Civil das Pessoas
Jurídicas (art. 998 do CC).
Registro posição minoritária de Fábio Ulhoa Coelho, segundo o qual a personalidade jurí-
dica decorreria do contrato entre os sócios, mesmo que verbal. No entanto, conforme pude-
mos verificar acima, tal entendimento contraria expressamente o disposto no CC.
A intenção ao se conferir personalidade jurídica à sociedade é lhe garantir existência pró-
pria, conferindo titularidade de direitos e deveres, com a segregação do seu patrimônio em
relação ao dos seus sócios.
Nesse sentido, repetimos mais uma vez pela relevância: a sociedade não se confunde com
os seus sócios, sendo que a autonomia patrimonial a ela conferida é um instrumento lícito de
alocação e segregação de riscos, objetivando incentivar a exploração da atividade econômica.

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Saliento que a Lei 13.874, de 2019 (Lei da Liberdade Econômica) introduziu artigo especí-
fico reforçando tais aspectos no CC:

Art.  49-A. A  pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, instituidores ou
administradores.
Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento lícito de aloca-
ção e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de estimular empreendimentos,
para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos. (destaquei)

Exatamente por esse aspecto, os sócios de uma sociedade empresária não são empresários
– mas empreendedores ou investidores - uma vez que a titular dos direitos, obrigações e pa-
trimônio é a sociedade.

Questão 9 (CESPE/PROCURADOR/TC-DF/2013) Assumindo o seu perfil subjetivo, a  em-


presa confunde-se com o empresário — assim compreendidos os sócios de uma pessoa jurí-
dica que se reúnem para o exercício da atividade empresarial —, e com o estabelecimento — a
universalidade de bens empenhada no desenvolvimento da atividade.

Errada.
Além de a “empresa” dever ser entendida somente no seu aspecto funcional (atividade eco-
nômica organizada), já que há designações próprias para o perfil subjetivo (“empresário”) e
objetivo-patrimonial (“estabelecimento empresarial”), também não há que se confundir a so-
ciedade empresária (que detém personalidade jurídica própria) com os seus sócios (que são
empreendedores ou investidores, mas não empresários).

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Como decorrência da aquisição da personalidade jurídica, passam a ser conferidos à so-


ciedade três atributos:
• Titularidade obrigacional: o efetivo sujeito de direitos é a sociedade, que irá, em nome
próprio, adquirir direitos e contrair obrigações;
• Titularidade processual: a legitimidade para demandar e ser demandada em juízo em
nome próprio é da sociedade e não de seus sócios ou administradores;
• Autonomia patrimonial: haverá segregação do patrimônio da sociedade em relação ao
dos seus sócios, independentemente de a responsabilidade desses últimos ser limita-
da ou não.

Em relação à titularidade patrimonial, destaco que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já


reconheceu a ilegitimidade ativa de sócio-gerente de demandar em nome próprio para discu-
tir contrato celebrado pela sociedade:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE


PRESTAÇÃO DE CONTAS. CONTRATO DE CÂMBIO CELEBRADO POR PESSOA JURÍDICA.
DEMANDA AJUIZADA PELO SÓCIO-GERENTE. ILEGITIMIDADE ATIVA ‘AD CAUSAM’.
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA PESSOA JURÍDICA. PRECEDENTES.
1. Ilegitimidade do sócio-gerente para ajuizar ação de prestação de contas relativas a
contrato celebrado pela sociedade.
2. Aplicação do princípio da autonomia da pessoa jurídica.
3. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
[STJ, AgRg no REsp 1554658/SP, 3ª T, Relator Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
JULGADO EM 08/03/2016]

Capital Social

Com a constituição da sociedade, os sócios prometem (“subscrever”) e realizam (“inte-


gralizar”) o aporte de valores ou bens (em alguns tipos societários permite-se a contribuição
em serviços) para viabilizar que a sociedade comece as suas atividades e consiga concretizar
o seu objeto social.

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A soma da contribuição de cada sócio formará o capital social, representando o patrimô-

nio societário inicial.

Nos dizeres de Carvalho de Mendonça, “é a primeira das garantias oferecidas aos tercei-

ros: é o fundamentum societatis; é o seu sangue.”

Nas lições de Marcelo Bertoldi e Márcia Carla Ribeiro, o capital social desempenha diver-

sas funções, podendo se dividir em dois grupos:

• Função externa: servirá de garantia mínima dos credores da sociedade em relação às

obrigações sociais. Nesse sentido, durante o desenvolvimento da sociedade é vedado

aos sócios reverterem para si o capital social (princípio da intangibilidade do capital

social), somente podendo ter acesso ao lucro, ou seja, ao que exceder o capital social;

• Função interna: viabilizará o início da atividade da sociedade para cumprimento do

seu objeto. Além disso, será relevante para estabelecer as forças que determinarão a

condução dos negócios sociais, uma vez que, como regra geral, o peso dos votos será

proporcional à participação de cada sócio no capital social.

É importante saber, caro(a) aluno(a), que o capital social é estático, embora não seja imu-

tável (pode ser formalmente aumentado ou reduzido).

Devemos distinguir então capital e patrimônio social.

Capital e patrimônio social, em tese, somente serão coincidentes no momento da consti-

tuição da sociedade. A partir daí, o capital social permanecerá fixo (a não ser que seja altera-

do formalmente). Já o patrimônio - formado pelo conjunto de bens e direitos pertencentes à

sociedade (nos dizeres de Bevilaqua, “complexo de relações jurídicas de uma pessoa, tendo

estas valor econômico”) - se modificará constantemente.

Em razão disso, embora o capital social seja o colchão mínimo que irá garantir os credo-

res (por essa razão deve ser intangível, ou seja, não ser objeto de apropriação pelos sócios),

efetivamente será à custa do patrimônio social (dinâmico por natureza) que as obrigações

sociais serão adimplidas.

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Utilizando-se como regra a sociedade simples, o Código Civil permite, a princípio, que a con-
tribuição social possa ser realizada com serviços:

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de
cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
IV – a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V – as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;

No entanto, em relação às sociedades limitadas e sociedade por ações não é possível a con-
tribuição com serviços, por contrariarem o art. 1.055, § 2º do CC e o art. 7º da Lei das S.A.:

CC:
Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a
cada sócio.
§2º É vedada contribuição que consista em prestação de serviços.
Lei das S.A.:
Art. 7º O capital social poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie
de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro.
(negritei)

Questão 10 (CESPE/PROCURADOR/PGE-PE/2018) No que se refere à pessoa jurídica de di-


reito privado que tenha por objeto a prestação de serviços médicos com finalidade lucrativa,
sob a forma de limitada, assinale a opção correta.
O capital dessa pessoa jurídica poderá ser constituído por contribuição relativa à prestação
de serviços.

Errada.
Nos termos do art. 1.055, § 2º do CC, é vedado que a contribuição para a sociedade limitada
seja feita com prestação de serviço.

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CC:
Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a
cada sócio.
§2º É vedada contribuição que consista em prestação de serviços.

1.6. Desconsideração da Personalidade Jurídica


Conforme já tivemos a oportunidade de abordar, um dos mais relevantes princípios do
direito societário é a autonomia patrimonial das sociedades, que se caracteriza como “um
instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade
de estimular empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em
benefício de todos” (art. 49-A, parágrafo único do CC).
Contudo, como todo princípio, ele não é absoluto.
Nesse sentido, em algumas hipóteses, a lei permite que a personalidade jurídica seja afas-
tada, seja para alcançar o patrimônio dos sócios na satisfação de débitos societários, seja o
inverso, alcançando o patrimônio social para honrar dívidas de seus sócios (desconsideração
inversa).
De forma interessante, devemos enxergar a desconsideração da personalidade jurídica
como uma salvaguarda do princípio da autonomia patrimonial, evitando que esse instrumen-
to seja deturpado e utilizado de forma abusiva.
O instituto da desconsideração nasceu como fruto de construção jurisprudencial, nota-
damente no âmbito do direito anglo-saxão (inglês e norte-americano). Não por acaso são
frequentemente utilizadas expressões inglesas para se referir a ela – inclusive em prova: dis-
regard doctrine, disregard of legal entity ou piercing the veil.

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A doutrina empresarial aponta como casos paradigmáticos (leading cases) demandas


julgadas em tais países no século XIX, destacando-se Bank of United States vs. Deveaux
(1809) e State vs. Standard Oil Co. (1892), ambos nos Estados Unidos, e Salomon vs. Salomon
& Co. Ltd (1897) na Inglaterra. Em todos esses, independentemente de lei expressa, firmou-se
a possibilidade de afastar a autonomia patrimonial da sociedade quando houvesse a utiliza-
ção abusiva da personalidade jurídica para prejudicar credores.
Tal ideia ainda orienta o instituto, no sentido de ser cabível a sua aplicação quando houver
abuso de personalidade.
Contudo, hoje, não há necessidade de grandes esforços argumentativos para sua aplica-
ção, uma vez que a desconsideração da personalidade jurídica é expressamente disciplinada
em diversos diplomas normativos, a saber:
• Código Civil: art. 50, com nova redação conferida pela Lei 13.874, de 2019 (Lei da Liber-
dade Econômica);
• Código de Processo Civil: arts. 133 a 137; 790, VII e 1.062 (Incidente de Desconsidera-
ção da Pessoa Jurídica);
• Lei 12.529, de 2011 (Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência): art. 34;
• Código de Defesa do Consumidor: art.  28 (considerada majoritariamente a primeira
norma que disciplinou expressamente o instituto no Brasil);
• Lei 9.605, de 1998 (Infrações ambientais): art. 4º.

Também podemos citar dispositivos legais do Código Tributário Nacional (CTN) e a Con-
solidação das Leis do Trabalho (CLT), embora – ressalto – seja controverso se efetivamente
é disciplinada a desconsideração da personalidade jurídica ou tão-somente são normas que
imputam hipóteses de responsabilização direta dos sócios:
• Código Tributário Nacional (CTN): art. 135 (muitos entendem que nesse caso o que há
é responsabilidade pessoal do sócio);
• Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): art. 2º, § 2º e 855-A (também há entendimen-
to semelhante ao do CTN, no sentido de que não seria hipótese de desconsideração
propriamente, mas de responsabilização solidária).

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Hipóteses Previstas no Código Civil

No âmbito do Código Civil, de forma bem precisa, o legislador estabeleceu como causa
geral da desconsideração da personalidade jurídica o abuso de personalidade.
Confira a redação do caput do art. 50 do CC:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou


pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando
lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas re-
lações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da
pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.

Nesse sentido, o abuso de personalidade pode ocorrer em duas hipóteses:


• Desvio de finalidade: definida no art. 50, § 1º como “a utilização da pessoa jurídica com
o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza”; ou
• Confusão patrimonial: cujo conceito legal é “a ausência de separação de fato entre os
patrimônios, caracterizada por: i) cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações
do sócio ou do administrador ou vice-versa; ii) transferência de ativos ou de passivos
sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante; iii)
ou outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.” (art. 50, § 2º).

Em relação ao desvio de finalidade, o entendimento prevalente é no sentido de ser neces-


sário comprovar o dolo dos sócios ou administradores. Esse entendimento, adotado pelo STJ,
é reforçado pelo fato de o § 1º do art. 50 (introduzido em 2019 pela Lei de Liberdade Econômi-
ca), ao definir desvio de finalidade, estabelecer que a utilização da pessoa jurídica deverá ter
o propósito de lesar credores ou praticar atos ilícitos de qualquer natureza.
Além disso, também de forma expressa, o § 5º do art. 50 exclui do conceito de desvio de
finalidade “a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica es-
pecífica da pessoa jurídica.”
No que diz respeito à confusão patrimonial, a necessidade de comprovar ou não o dolo é
controversa no âmbito do próprio STJ, havendo julgados que ora exigem essa demonstração
[v.g., STJ, REsp 1526287/SP, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado

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em 16/05/2017] e outros que entendem que a prova do dolo somente é necessária no caso do
desvio de finalidade [v.g., STJ, REsp 1721239/SP, Relator Ministro PAULO DE TARSO SANSE-
VERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/11/2018].
No entanto, a  confusão entre patrimônios, seja intencional ou não, desnatura o próprio
princípio da autonomia patrimonial, tendo o condão de lesar credores. Assim, entendo que
não deve ser exigido o dolo, bastando que seja demonstrada a situação ensejadora da confu-
são patrimonial, nos termos do art. 50, § 2 º do CC.
A esse respeito, reproduzo trecho de recente julgado do STJ sobre o tema:

4. Consoante o entendimento consolidado no Superior Tribunal de Justiça, ‘a dissolução


irregular de sociedade empresária, presumida ou, de fato, ocorrida, por si só, não está
incluída nos conceitos de desvio de finalidade ou confusão patrimonial a que se refere
o art. 50 do CC/2002, de modo que, sem prova da intenção do sócio de cometer fraudes
ou praticar abusos por meio da pessoa jurídica OU, ainda, sem a comprovação de que
houvesse confusão entre os patrimônios social e pessoal do sócio, à luz da teoria maior
da disregard doctrine, a dissolução irregular caracteriza, no máximo e tão somente, mero
indício da possibilidade de eventual abuso da personalidade, o qual, porém, deverá ser
devidamente demonstrado pelo credor para oportunizar o exercício de sua pretensão
executória contra o patrimônio pessoal do sócio’ (REsp 1.315.166/SP, Rel. Min. Gurgel
de Faria, DJe 26.4.2017). (...).”
[STJ, REsp 1768459/SP, Relator Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, jul-
gado em 28/03/2019]

Importante saber, caro(a) alunoa) que o STJ entende que a mera inexistência ou eventual
encerramento irregular das atividades da sociedade não é suficiente para aplicação da des-
consideração da personalidade jurídica previsto no Código Civil, sendo imprescindível com-
provar o abuso da personalidade (desvio de finalidade ou confusão patrimonial). Confira de-
cisão nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. REQUISITOS. REVELIA DE UM DOS

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SÓCIOS. PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE. SÚMULAS N. 7 e 83 DO STJ. DECISÃO


MANTIDA.
2. “A teoria da desconsideração da personalidade jurídica, medida excepcional prevista
no art. 50 do Código Civil, pressupõe a ocorrência de abusos da sociedade, advindos do
desvio de finalidade ou da demonstração de confusão patrimonial. A mera inexistência
de bens penhoráveis ou eventual encerramento irregular das atividades da empresa não
enseja a desconsideração da personalidade jurídica”(AgInt no AREsp n. 924.641/SP, Rela-
tor Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 29/10/2019, DJe 12/11/2019).
[STJ, AgInt no AREsp 1473168 / PR, Relator Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 16/12/2019]

Registro que o § 4º do art. 50 do CC, incluído pela Lei da Liberdade Econômica em 2019,
consigna que “a mera existência de grupo econômico”, sem a presença do abuso de perso-
nalidade (desvio de finalidade ou confusão patrimonial) “não autoriza a desconsideração da
personalidade da pessoa jurídica.”
É relevante saber que o CDC, no § 2º do art. 28, estabelece a responsabilidade subsidiária
às sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas no que diz
respeito às obrigações consumeristas. Ou seja, quando estivermos diante de relações entre
empresários (sem relação de consumo), a regra será que a mera existência de grupo econô-
mico não autoriza, por si só, a desconsideração.

DICA!
A doutrina considera que o Código Civil adotou a teoria maior
da desconsideração da personalidade jurídica, uma vez que
não basta o descumprimento de uma obrigação creditícia
para sua aplicação, devendo ser comprovada o desvio de fi-
nalidade (teoria maior subjetiva) ou a confusão patrimonial
(teoria maior objetiva).
Já em relação ao Código de Defesa do Consumidor e a Lei
9.605, de 1998 (Infrações ambientais), o entendimento é que
foi adotada a teoria menor bastando para a sua aplicação o

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não pagamento de um crédito. Confira a amplitude do art. 28


do CDC:
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da so-
ciedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de di-
reito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação
dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será
efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerra-
mento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má admi-
nistração.
§ 1º (Vetado).
§ 2º As sociedades integrantes dos grupos societários e as socie-
dades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obri-
gações decorrentes deste código.
§ 3º As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis
pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 4º As sociedades coligadas só responderão por culpa.
§ 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre
que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarci-
mento de prejuízos causados aos consumidores.
(negritei)

No mesmo sentido, preceitua o art.  4º da Lei 9.605,


de 1998:
Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causa-
dos à qualidade do meio ambiente. (negritei).

Confira, amigoa) aluno(a), excelente decisão da Min. Nancy Andrighi, uma das maiores
referências do Direito Empresarial no STJ, pontuando as hipóteses de aplicabilidade da teoria
maior (regra geral) e da teoria menor (regra excepcional) no sistema jurídico brasileiro:

Responsabilidade civil e Direito do consumidor. Recurso especial. Shopping Center de


Osasco-SP. Explosão. Consumidores. Danos materiais e morais. Ministério Público. Legi-
timidade ativa. Pessoa jurídica. Desconsideração. Teoria maior e teoria menor. Limite de
responsabilização dos sócios. Código de Defesa do Consumidor. Requisitos. Obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Art. 28, § 5º.
- Considerada a proteção do consumidor um dos pilares da ordem econômica, e incum-
bindo ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos

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interesses sociais e individuais indisponíveis, possui o Órgão Ministerial legitimidade


para atuar em defesa de interesses individuais homogêneos de consumidores, decor-
rentes de origem comum.
- A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico brasileiro, não pode
ser aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o
cumprimento de suas obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência,
ou a demonstração de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a
demonstração de confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração).
- A teoria menor da desconsideração, acolhida em nosso ordenamento jurídico excep-
cionalmente no Direito do Consumidor e no Direito Ambiental, incide com a mera prova
de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, independente-
mente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial.
- Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode
ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou
administradores desta, ainda que estes demonstrem conduta administrativa proba, isto
é, mesmo que não exista qualquer prova capaz de identificar conduta culposa ou dolosa
por parte dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica.
- A aplicação da teoria menor da desconsideração às relações de consumo está calcada
na exegese autônoma do § 5º do art. 28, do CDC, porquanto a incidência desse disposi-
tivo não se subordina à demonstração dos requisitos previstos no caput do artigo indi-
cado, mas apenas à prova de causar, a mera existência da pessoa jurídica, obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. - Recursos especiais não
conhecidos.
[STJ, REsp 279273/SP, Relator p/acórdão Ministro NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 04/12/2003]

Efeito Episódico da Desconsideração da Personalidade Jurídica

Aspecto muito importante, nobre aluno(a): o efeito da desconsideração da pessoa jurídica


será episódico, ou seja, atingirá “certas e determinadas relações de obrigações”, tornando
ineficaz alguns atos.

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Confira mais uma vez o caput do art. 50 do CC:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou


pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando
lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas re-
lações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da
pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.

E a sociedade, professor, o que acontece com ela?

A sociedade continuará a existir com personalidade jurídica própria, não sendo dissolvida
nem liquidada.
Confira decisão do STJ a respeito:

RECURSO ESPECIAL - DIREITO CIVIL - ARTIGOS 472, 593, II e 659, § 4º, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL - FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE – INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF
- DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA -
MEDIDA EXCEPCIONAL - OBSERVÂNCIA DAS HIPÓTESES LEGAIS - ABUSO DE PERSO-
NALIDADE - DESVIO DE FINALIDADE CONFUSÃO PATRIMONIAL - DISSOLUÇÃO IRRE-
GULAR DA SOCIEDADE – ATO EFEITO PROVISÓRIO QUE ADMITE IMPUGNAÇÃO - BENS
DOS SÓCIOS - LIMITAÇÃO ÀS QUOTAS SOCIAIS - IMPOSSIBILIDADE - RESPONSABILI-
DADE DOS SÓCIOS COM TODOS OS BENS PRESENTES E FUTUROS NOS TERMOS DO
ART. 591 DO CPC - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTEN-
SÃO, IMPROVIDO.
(...)
IV – A desconsideração não importa em dissolução da pessoa jurídica, mas se consti-
tui apenas em um ato de efeito provisório, decretado para determinado caso concreto
e objetivo, dispondo, ainda, os sócios incluídos no pólo passivo da demanda, de meios
processuais para impugná-la.
V – A partir da desconsideração da personalidade jurídica, a execução segue em direção
aos bens dos sócios, tal qual previsto expressamente pela parte final do próprio art. 50,
do Código Civil e não há, no referido dispositivo, qualquer restrição acerca da execução,
contra os sócios, ser limitada às suas respectivas quotas sociais e onde a lei não distin-
gue, não é dado ao intérprete fazê-lo.

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[STJ, REsp 1169175/DF, Relator Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 17/02/2011].

Ainda utilizando esse acórdão como referência, verificamos que a partir da desconside-
ração da personalidade jurídica, o sócio responde com todo o seu patrimônio, ou seja, a sua
responsabilidade limitada não fica restrita às suas respectivas quotas sociais.
Outro ponto importante: somente serão atingidos os sócios e administradores que se
beneficiaram do uso abusivo da pessoa jurídica, incluindo excepcionalmente sócio que não
exerça poderes de administração ou gerência.
Nesse sentido decidiu o STJ:

PROCESSO CIVIL E DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DESCONSIDERAÇÃO DA PER-


SONALIDADE JURÍDICA. EXCESSO DE EXECUÇÃO. JUROS MORATÓRIOS. CABIMENTO
DA EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE EXECUÇÃO DE
VERBA HONORÁRIA DE SUCUMBÊNCIA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. FIXAÇÃO DE
HONORÁRIOS EM EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. NÃO OCORRÊNCIA DE VÍCIO DE
CITAÇÃO.
(...)
9. Nos termos do art. 50 do CC, o decreto de desconsideração da personalidade jurídica de
uma sociedade somente pode atingir o patrimônio dos sócios e administradores que dela
se utilizaram indevidamente, por meio de desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
(...)
11. No caso, o recorrente retirou-se da administração da sociedade em 1984 e dos qua-
dros sociais em 1985, ou seja, 4 ou 5 anos antes dos fatos geradores do decreto de des-
consideração. A decisão é de 2009, vale dizer, 24 anos após sua saída da Cobrasol, res-
soando inequívoca, a meu juízo, a impossibilidade de que a supressão da personalidade
jurídica da aludida empresa possa atingir seu patrimônio.
12. Outrossim, verifica-se que não foi nem mesmo demonstrada a prática de atos frau-
dulentos por parte do recorrente, haja vista não ter o Tribunal a quo especificado quais
as provas que embasaram a sua convicção nesse sentido, limitando-se a crer, de forma
subjetiva, que o ex-sócio controlava a referida sociedade de forma indireta.

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[STJ, REsp 1412997/SP, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, jul-
gado em 08/09/2015]
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO
DA PERSONALIDADE JURÍDICA. SOCIEDADE LIMITADA.SÓCIA MAJORITÁRIA QUE, DE
ACORDO COM O CONTRATO SOCIAL, NÃO EXERCE PODERES DE GERÊNCIA OU ADMI-
NISTRAÇÃO. RESPONSABILIDADE.
1. Possibilidade de a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade limitada
atingir os bens de sócios que não exercem função de gerência ou administração.
2. Em virtude da adoção da Teoria Maior da Desconsideração, é necessário comprovar,
para fins de desconsideração da personalidade jurídica, a prática de ato abusivo ou frau-
dulento por gerente ou administrador.
3. Não é possível, contudo, afastar a responsabilidade de sócia majoritária, mormente se
for considerado que se trata de sociedade familiar, com apenas duas sócias.
4. Negado provimento ao recurso especial.
[STJ, REsp 1315110 / SE, Relator Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 28/05/2013].

Da mesma forma, não se depreende do art. 50 do CC qualquer óbice para se buscar bens
de ex-sócio que se beneficiou do abuso de personalidade (desvio de finalidade ou confusão
patrimonial) quando integrava o quadro social.
Não há que se falar, inclusive, em prazo máximo para perquirir a responsabilidade do ex-
-sócio, uma vez que a desconsideração da personalidade jurídica é considerada hipótese de
responsabilidade extraordinária.
Confira decisão do STJ a respeito:

DIREITO CIVIL E COMERCIAL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.


DIREITO POTESTATIVO QUE NÃO SE EXTINGUE PELO NÃO-USO. PRAZO PRESCRICIO-
NAL REFERENTE À RETIRADA DE SÓCIO DA SOCIEDADE. NÃO APLICAÇÃO. INSTITUTOS
DIVERSOS. REQUISITOS PARA A DESCONSIDERAÇÃO.
REVISÃO. SÚMULA 7/STJ.
1. A desconsideração da personalidade jurídica é técnica consistente na ineficácia rela-
tiva da própria pessoa jurídica - rectius, ineficácia do contrato ou estatuto social da

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empresa -, frente a credores cujos direitos não são satisfeitos, mercê da autonomia
patrimonial criada pelos atos constitutivos da sociedade.
2. Ao se pleitear a superação da pessoa jurídica, depois de verificado o preenchimento
dos requisitos autorizadores da medida, é  exercido verdadeiro direito potestativo de
ingerência na esfera jurídica de terceiros - da sociedade e dos sócios -, os quais, inicial-
mente, pactuaram pela separação patrimonial.
3. Correspondendo a direito potestativo, sujeito a prazo decadencial, para cujo exercício
a lei não previu prazo especial, prevalece a regra geral da inesgotabilidade ou da perpe-
tuidade, segundo a qual os direitos não se extinguem pelo não-uso. Assim, à míngua de
previsão legal, o pedido de desconsideração da personalidade jurídica, quando preenchi-
dos os requisitos da medida, poderá ser realizado a qualquer tempo.
4. Descabe, por ampliação ou analogia, sem qualquer previsão legal, trazer para a des-
consideração da personalidade jurídica os prazos prescricionais previstos para os casos
de retirada de sócio da sociedade (arts. 1003, 1.032 e 1.057 do Código Civil), uma vez que
institutos diversos.

Desconsideração Inversa

Comumente, a desconsideração tem como escopo atingir o patrimônio dos sócios ou ad-
ministradores para satisfazer débito da pessoa jurídica (desconsideração da personalidade
jurídica propriamente).
Contudo, também se admite a desconsideração inversa, ou seja, quando, para satisfazer
dívida de algum sócio ou administrador, o credor direciona sua ação para atingir o patrimônio
da pessoa jurídica.
Atualmente, com a inserção do §3º ao art. 50 pela Lei 13.874, de 2019, o Código Civil con-
templa expressamente essa hipótese:

Art. 50, § 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das
obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.

No entanto, registro que o STJ já admitia a desconsideração inversa mesmo antes de es-
tar previsto no CC, cabendo dizer que o §2º do art. 133 do CPC já fazia expressa referência a
essa modalidade de desconsideração:

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PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO


JUDICIAL. ART. 50 DO CC/02. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA INVERSA. POSSIBILIDADE.
III  – A desconsideração inversa da personalidade jurídica caracteriza-se pelo afas-
tamento da autonomia patrimonial da sociedade, para, contrariamente do que ocorre
na desconsideração da personalidade propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu
patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica por obrigações do sócio
controlador.
IV  – Considerando-se que a finalidade da disregard doctrine é combater a utilização
indevida do ente societário por seus sócios, o que pode ocorrer também nos casos em
que o sócio controlador esvazia o seu patrimônio pessoal e o integraliza na pessoa jurí-
dica, conclui-se, de uma interpretação teleológica do art.  50 do CC/02, ser possível a
desconsideração inversa da personalidade jurídica, de modo a atingir bens da sociedade
em razão de dívidas contraídas pelo sócio controlador, conquanto preenchidos os requi-
sitos previstos na norma.
[STJ, REsp 948117 / MS, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 22/06/2010].

Podemos resumir a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica com base no


Código Civil da seguinte forma:

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Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica Previsto no CPC

O Código de Processo Civil disciplina especificamente “Incidente de Desconsideração da


Personalidade Jurídica”, nos arts. 133 a 137 do CPC.
Vamos aos principais pontos:
• pode ser instaurado a pedido da parte (o entendimento é que a própria sociedade pode
eventualmente requerê-lo) ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no pro-
cesso (art. 133 do CPC);
• tal incidente também se aplica à desconsideração inversa (art. 133, §2º do CPC);
• é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de senten-
ça e na execução fundada em título executivo extrajudicial (art. 134 do CPC);
• como regra, o incidente suspende o processo (art. 134, § 3º);
• não será necessário instaurar o incidente se a desconsideração já for solicitada na
petição inicial (art. 134, §2º do CPC). Por óbvio, nesse caso, não haverá suspensão do
processo;
• instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e
requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias (art. 135 do CPC). Registro que
anteriormente à promulgação do Novo Código de Processo Civil em 2015, estabelecen-
do tal incidente, o STJ entendia ser desnecessária a citação dos sócios ou da pessoa
jurídica quando decretada a desconsideração da personalidade jurídica, que deveriam
se defender a posteriori;
• concluída a instrução, se necessário, o incidente será resolvido por decisão interlocu-
tória (art. 136 do CPC), cabendo agravo interno caso a decisão tiver sido proferida pelo
relator (parágrafo único do art. 136);
• acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em
fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente (art. 137 do CPC).

Desconsideração da Personalidade Jurídica x Responsabilidade Subsidiária

É muito importante, caro(a) aluno(a), não confundir hipóteses legais em que a respon-
sabilidade do sócio é subsidiária à da sociedade (v.g., quando a responsabilidade do sócio é

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ilimitada e os bens sociais não cobrirem as suas dívidas – art. 1.023 do CC) com a desconsi-
deração da personalidade jurídica, que deve ser solicitado por meio de incidente próprio.
Na hipótese de responsabilidade pessoal dos sócios ou administradores, esses podem
ser diretamente demandados, não necessitando de se utilizar a desconsideração.
Confira a respeito o Enunciado 229 da III Jornada de Direito Civil:

Enunciado 229
A responsabilidade ilimitada dos sócios pelas deliberações infringentes da lei ou do con-
trato torna desnecessária a desconsideração da personalidade jurídica, por não cons-
tituir a autonomia patrimonial da pessoa jurídica escudo para a responsabilização pes-
soal e direta.

Pelo mesmo fundamento, também temos o Enunciado 48 da I Jornada de Direito Comer-


cial, desta vez se referindo a dispositivo da Lei de Falências:

Enunciado 48
A apuração da responsabilidade pessoal dos sócios, controladores e administradores
feita independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para
cobrir o passivo, prevista no art. 82 da Lei n. 11.101/2005, não se refere aos casos de
desconsideração da personalidade jurídica.

Desconsideração de Personalidade Jurídica de Associação

No âmbito da IV Jornada de Direito Civil o entendimento foi pela possibilidade de descon-


siderar a personalidade jurídica de associação, desde que presentes os requisitos previstos
no art. 50 do CC.
Confira o Enunciado 284:

Enunciado 284
As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins não-econômicos
estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica.

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Questão 11 (FAURGS/JUIZ/TJ-RS/2015) A desconsideração da personalidade jurídica


a) é consequência necessária da ausência de arquivamento dos atos constitutivos da socie-
dade limitada.
b) é admitida também para a responsabilização da sociedade por dívidas pessoais dos sócios.
c) exige a prova do desvio de finalidade, mesmo quando se trate de relações de consumo.
d) abrange também os empresários individuais, considerando sua função de assegurar o di-
reito dos credores.
e) nunca atinge o patrimônio de sócios que tenham se retirado da sociedade

Letra b.
O art. 50, § 3º do CC, com a redação conferida pela Lei 13.874, de 2019, permite expressamen-
te a desconsideração inversa, devendo ser registrado que o STJ já a admitia mesmo antes de
ser previsto expressamente no CC:

Art. 50, § 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das
obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.

a) Errada. A falta de arquivamento dos atos constitutivos faz com que a sociedade seja con-
siderada irregular. Contudo, para a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica,
é necessário que seja configurado o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial (art. 50,
caput, do CC).
c) Errada. O CDC adotou a teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica, bas-
tando para a sua aplicação o não pagamento de um crédito, nos termos do art. 28, §5º do CDC:

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento


do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou vio-
lação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver

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falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má


administração.
§ 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de
alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.

d) Errada. Não faz sentido a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica aos em-
presários individuais porque simplesmente eles não têm personalidade jurídica própria.
e) Errada. Não há óbice à aplicação da desconsideração aos ex-sócios desde que tenha se
beneficiado do abuso da personalidade jurídica quando integraram o quadro social.

1.7. Sócios e Acionistas

Os sócios ou acionistas serão aqueles que detêm quota ou ação de uma sociedade, re-
presentativa de parcela do seu capital social (excepciona-se somente os casos em que for
permitida a contribuição em serviço).
Importante saber, caro(a) aluno(a), que o Código Civil elegeu a estrutura da sociedade
simples para disciplinar, de forma geral, as principais diretrizes relativas às sociedades, com
exceção da sociedade por ações, que é regida por lei própria (Lei 6.404, de 1976), aplicando-
-se o CC a elas somente no caso de omissão de tal lei.
Nesse sentido, os direitos e os deveres básicos dos sócios encontram-se disciplinados
nos arts. 1.001 a 1.009 do CC (Seção II – Dos Direitos e Obrigações dos Sócios, do Capítulo
I – Da Sociedade Simples), mas também em outros dispositivos do CC.

Deveres

Antes de mais nada, o art. 1.001 estabelece que as obrigações dos sócios começam ime-
diatamente com a assinatura do contrato (salvo se este fixar outra data) e terminam com a
liquidação da sociedade, quando se extinguirem as obrigações sociais.
São estabelecidas as seguintes obrigações aos sócios:
• Contribuir para a sociedade: integralizar suas respectivas quotas com recursos financeiros,
bens ou serviços. Caso não integralize (sócio remisso), responderá pelo dano emergente
da mora caso não cumpra a sua obrigação em 30 dias após ser notificado (art. 1.004);

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• Responder pela evicção caso integralize o capital com transferência de domínio, posse
ou uso: ou seja, o sócio responde pela evicção (perda da posse ou da propriedade deter-
minada judicialmente – art. 447 a 457 do CC) caso integralize o capital social com bens;
• Responder pela solvência caso integralize o capital com crédito;
• Atuação exclusiva do sócio que contribuir com serviço: salvo convenção em contrário,
é vedado ao sócio que contribuiu com serviço empregar-se em atividade estranha à
sociedade;
• Participar das perdas: necessariamente os sócios devem participar dos resultados so-
ciais, inclusive perdas, regra geral na proporção das suas quotas. Há exceção em rela-
ção ao sócio que contribui com serviço, que somente participará dos lucros na propor-
ção da média do valor das quotas (art. 1.007);
• Lealdade: o sócio deverá agir de forma leal com a sociedade. Nesse sentido, o exer-
cício do voto deve ser direcionado a atender ao interesse da sociedade, podendo res-
ponder por perdas e danos caso participe de deliberação aprovada graças a seu voto
em detrimento do interesse social (art. 1.010, §3º). Da mesma forma, é vedado anuir e
ser beneficiário de distribuição de lucros ilícitos ou fictícios, hipótese que responderá
solidariamente caso conheça ou devesse conhecer a ilicitude (art. 1.009), entre outras
hipóteses.

Questão 12 (FCC/AUDITOR/SEFAZ-SC/2018/ADAPTADA) Em relação à sociedade simples,


é correto afirmar:
a) O sócio, cuja contribuição consista em serviços, não pode em nenhuma hipótese empregar-se
em atividade estranha à sociedade, sob pena de ser dela excluído e ser privado de seus lucros.
b) Em até sete dias após sua constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do contra-
to social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e Naturais do local de sua sede.
d) As obrigações dos sócios nessa espécie societária iniciam-se sempre e apenas após o
registro da inscrição do contrato social no Cartório competente.

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e) Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na proporção das
respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente participa
dos lucros na proporção da média do valor das quotas.

Letra e.
Nos termos do art. 1.007 do CC, “salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e
das perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em
serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas.”
a) Errada. A regra é a exclusividade em relação ao sócio que contribua com serviços, mas o
art. 1.006 admite convenção em contrário.
b) Errada. O  art.  998, caput, estabelece o prazo de 30 dias após a sua constituição para a
sociedade simples fazer a inscrição no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua
sede. Caso seja sociedade empresária, tal registro deverá ser feito na Junta Comercial.
d) Errada. Nos termos do art. 1.001 do CC, “as obrigações dos sócios começam imediatamen-
te com o contrato, se este não fixar outra data, e terminam quando, liquidada a sociedade, se
extinguirem as responsabilidades sociais.”

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Direitos

Em relação aos direitos, podemos citar os seguintes:


• Participar dos lucros sociais: é um direito essencial dos sócios, devendo ser considera-
da nula qualquer estipulação em sentido contrário (art. 1.008, que é mais amplo, proíbe
a exclusão de participação nos resultados - lucros e perdas);
• Participar do acervo, em caso de liquidação: liquidada a sociedade e pagos todos os
sócios, o sócio fará jus ao restante (acervo), proporcionalmente ao seu capital;
• Fiscalizar a gestão a cargo dos administradores: os administradores são obrigados a
prestar contas justificadas aos sócios, que podem examinar, a qualquer tempo (salvo
estipulação que determine data própria), os livros e documentos, e o estado da caixa e
da carteira da sociedade (art. 1.020 e 1.021 do CC);

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• Retirar-se da sociedade: orientado pelo princípio constitucional da liberdade de asso-


ciação (art. 5º, XX da CF/88), o art. 1.029 do CC estabelece que, além dos casos pre-
vistos na lei ou no contrato, o sócio poderá retirar-se da sociedade, devendo notificar
os sócios com antecedência mínima de 60 dias caso essa seja de prazo indeterminado
(nos 30 dias subsequentes os demais sócios podem deliberar pela dissolução da so-
ciedade); e se for de prazo determinado, deverá provar judicialmente justa causa. Em
relação às sociedades limitadas e por ações, há previsão do direito de recesso do sócio
que votar contrariamente a determinadas deliberações sociais;
• Direito de voto: é um direito essencial em todas as sociedades, com exceção da socie-
dade anônima (lembremos das ações preferenciais, em que tal direito pode ser suprimi-
do). Confere aos sócios o direito não só de votar, como ser votado, devendo ser exercido
em favor da sociedade.

Responsabilidade

Conforme já abordamos ao falar sobre a classificação das sociedades de acordo com a


responsabilidade dos sócios, essa variará de acordo com o tipo societário adotado, podendo
ser limitada (sociedade limitada, sociedade anônima e eventualmente cooperativa), ilimitada

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(sociedade simples pura, sociedade coletiva e sociedade em comum) e mista (sociedade em


conta de participação sociedade em comandita e sociedade em comandita por ações).
Mas não nos esqueçamos: mesmo quando a responsabilidade do sócio for ilimitada (ou
seja, todo o seu patrimônio puder responder pelas dívidas sociais), tal responsabilidade será
subsidiária, de forma que o sócio somente poderá ser demandado caso o patrimônio social
não bastar para pagar as dívidas.

2. Teoria dos Títulos de Crédito


Quando falamos em “crédito”, caríssimoa) aluno(a), temos presente a ideia de troca de
um bem presente por outro futuro, sendo considerado um fator fundamental para o desenvol-
vimento da atividade econômica. A sua concessão depende necessariamente de relação de
confiança entre duas pessoas, a saber, credor (concede o crédito) e devedor (se compromete
a pagar uma prestação no futuro).
O direito cambiário ou direito cambial objetiva garantir eficiência e segurança para a mo-
bilização de tal crédito, de forma a promover a circulação de riqueza por meio de instrumento
apto a garantir os direitos do credor em caso de não pagamento.
O título de crédito foi criado para desempenhar esse papel.

2.1. Conceito de Título de Crédito no Código Civil


Sem dúvida, o conceito do comercialista italiano Cesare Vivante é o mais aceito e comple-
to, definindo “título de crédito como o documento necessário ao exercício do direito, literal e
autônomo nele mencionado.”
Tal definição foi praticada reproduzida pelo art. 887 do CC:

Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele
contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. (negritei)

Do pouco que mudou do conceito, ao trocar a palavra “mencionado” por “contido”, o Códi-
go Civil recebeu crítica da doutrina, uma vez que se entende que o título não contém o crédito
propriamente, mas sim faz menção a ele por conta do princípio da autonomia que estudare-
mos na sequência.

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Antes de abordar os princípios, atributos e características dos títulos de crédito, faço uma ob-
servação muito importante: o Código Civil somente se aplica aos títulos de créditos regulados
por leis especiais (todos os títulos de crédito próprios são disciplinados em leis especiais)
caso não haja disposição em contrário, ou seja, havendo contrariedade aplica-se a lei espe-
cial de regência:

Art.  903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto
neste Código. (negritei)

2.2. Princípios dos Títulos de Crédito


Podemos extrair de tal conceito três princípios informadores do regime cambial, a saber,
cartularidade, literalidade e autonomia das obrigações cambiais, dos quais irão se desdobrar
os principais atributos e características dos títulos de crédito.

1º Princípio: Cartularidade

De acordo com o conceito de Vivante, adotado pelo CC, o título de crédito é o documento
necessário para o exercício do direito nele mencionado.
Assim, pelo princípio da cartularidade, o credor para exercer o direito de crédito deverá
estar na posse legítima do título de crédito (ou seja, da cártula).
Como desdobramentos temos que:
• a transferência do crédito necessariamente demandará a tradição do título, implicando
a transferência de todos os direitos que lhe são inerentes (art. 893 do CC);
• como regra, o crédito nele mencionado somente poderá ser cobrado com a apresen-
tação do documento original, inclusive quando for necessário ajuizar ação judicial, ou
seja, o título de crédito original deverá instruir a petição inicial;
• a princípio, só é possível o protesto do título com a apresentação do original.

Por oportuno, saiba que alguns autores, como João Eunápio Borges, também se referem
à cartularidade como o princípio da incorporação, sugerindo o “amálgama entre documento
e direito de crédito.”

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Da mesma forma, há doutrinadores, como Newton de Lucca, que, com base na doutrina
italiana, sustentam que os títulos de crédito estão inseridos na categoria de “documentos dis-
positivos”, ou seja, documentos que são essenciais para o nascimento do direito, ao contrário
dos “documentos probatórios”, cuja função é mais processual, no sentido de provar o direito.

A Desmaterialização dos Títulos de Crédito: Emissão a Partir de Caracteres


Eletrônicos (Títulos Eletrônicos ou Digitais)

Apesar da importância do princípio da cartularidade no âmbito do direito cambiário, fato


é, caro(a) aluno(a), que com as novas tecnologias e sobretudo com o desenvolvimento do co-
mércio eletrônico, temos assistido ao que a doutrina chama de desmaterialização do título de
crédito, sobretudo em relação à necessidade de uma “cártula” (forma física).
Nesse sentido, temos que o próprio Código Civil já permite a emissão de título de crédito
a partir de caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente, nos termos do §3º
do art. 889:

Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que
confere, e a assinatura do emitente.
§3º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico
equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previs-
tos neste artigo.

O Enunciado 462 da V Jornada de Direito Civil confere grande amplitude a esse dispositivo
legal, entendendo que não só a emissão, mas os atos cambiários do aceite, do endosso e do
aval também podem ser feitos eletronicamente:

Enunciado 462
Art. 889, § 3º: Os títulos de crédito podem ser emitidos, aceitos, endossados ou avaliza-
dos eletronicamente, mediante assinatura com certificação digital, respeitadas as exce-
ções previstas em lei.

O STJ tem dado guarida à essa nova realidade, como por exemplo aceitando o protesto de
duplicata virtual por mera indicação, nos termos do art. 15, §2º, da Lei 5.474, de 1968, sem a
apresentação física do título:

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AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRA-


JUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR INDICAÇÃO. POSSIBILIDADE. BOLETO
BANCÁRIO ACOMPANHADO DO COMPROVANTE DE RECEBIMENTO DAS MERCADORIAS.
VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC/73. ALEGAÇÃO GENÉRICA. SÚMULA 284/STF. DESNE-
CESSIDADE DE EXIBIÇÃO JUDICIAL DO TÍTULO DE CRÉDITO ORIGINAL. SÚMULA 83/
STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. É deficiente a fundamentação do recurso especial em que a alegação de ofensa ao
art. 535 do CPC/73 se faz de forma genérica, sem a demonstração exata das matérias
sobre as quais o acórdão se fez omisso. Aplicação, por analogia, da Súmula 284/STF.
2. Nos termos da jurisprudência desta eg. Corte, “As duplicatas virtuais - emitidas e
recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica - podem ser protestadas por
mera indicação, de modo que a exibição do título não é imprescindível para o ajuiza-
mento da execução judicial. Lei 9.492/97.” (REsp 1.024.691/PR, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, DJe de 12/04/2011).
3. A apresentação do boleto bancário, acompanhado do instrumento de protesto e das
notas fiscais e respectivos comprovantes de entrega de mercadoria, supre a ausência
física do título cambiário, autorizando o ajuizamento da ação executiva. Precedentes.
4. Agravo interno a que se nega provimento.
[STJ, AgInt no AREsp 1322266 / PR, Relator Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 23/04/2019]

Esse mesmo entendimento ficou materializado no Enunciado 461 da V Jornada de Direi-


to Civil

Enunciado 461
Art. 889: As duplicatas eletrônicas podem ser protestadas por indicação e constituirão
título executivo extrajudicial mediante a exibição pelo credor do instrumento de protesto,
acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou de prestação dos servi-
ços. (negritei)

Da mesma forma, é importante citarmos o disposto no art. 425, §2º do CPC, que abre a
possibilidade da utilização de cópia digital de título executivo extrajudicial (nos quais os títu-
los de créditos se incluem):

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Art. 425. Fazem a mesma prova que os originais:


§ 2º Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou de documento relevante à ins-
trução do processo, o juiz poderá determinar seu depósito em cartório ou secretaria.

A Lei n. 11.076, de 2004, também abriu a possibilidade de títulos de créditos relacionados


ao agronegócio (Certificado de Depósito Agropecuário – CDA, Warrant Agropecuário - WA,
entre outros) serem emitidos não somente sob a forma cartular, mas também escritural, por
meio do lançamento em sistema eletrônico de escrituração gerido por entidade autorizada
pelo Banco Central do Brasil.
De qualquer forma, um ponto que tem que ficar bem claro, amigoa) aluno(a), é que o pró-
prio conceito de documento se alterou, sendo que o mais importante não é a sua forma (física
ou digital), mas a garantia da sua integridade (ou seja, o seu conteúdo espelha uma manifes-
tação de vontade fidedigna) e autenticidade (certeza de quem o firmou).
Nesse sentido, desde 2001 o Brasil conta com Infraestrutura de Chaves Públicas (ICP-
-Brasil), instituído pela MP 2.200/2, de 2001 (editada antes da EC 32, de 2001, estando ainda
vigente), cujo objetivo é “garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de docu-
mentos em forma eletrônica”.

2º Princípio: Literalidade

O princípio da literalidade também informa o direito cambiário, significando que somen-


te valerá o que estiver efetivamente escrito no título de crédito. Nos dizeres de Fábio Ulhoa
Coellho, “somente produzem efeitos jurídico-cambiais os atos lançados no próprio título de
crédito.”
Tal princípio facilita a circulação do título de crédito, pois quem recebe o documento tem
a exata noção dos compromissos nele assumidos, de forma literal.
Como consequência, temos que:
• eventual quitação parcial somente valerá caso seja registrada na própria cártula. Caso
seja conferida em documento apartado e o título for transferido a terceiro de boa-fé,
este poderá exigir o pagamento integral;

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• eventual aval ou endosso dado em documento separado também não surtirá os efeitos
cambiais que lhes são próprios.

3º Princípio: Autonomia

O princípio da autonomia das obrigações cambiais é considerado o princípio mais impor-


tante, orientando que as relações jurídicas representadas em um título de crédito são autôno-
mas e independentes entre sim.
Na lição de Fabio Ulhoa Coelho, “os vícios que comprometem a validade de uma relação
jurídica, documentada em título de crédito, não se estendem às demais relações abrangidas
no mesmo documento.”
Fábio Ulhoa Coelho nos dá o seguinte exemplo, envolvendo a emissão de nota promissó-
ria:

“Antônio vende a Benedito o seu automóvel usado, consentido receber metade do preço no
prazo de sessenta dias.
Nesse caso, a nota (promissória) representa a obrigação do comprador, na compra e venda do
automóvel. O ato de compra será chamado de ‘relação fundamental’ ou ‘negócio originário’,
porque o título foi emitido com o propósito inicial de o documentar.
Imagine-se, então, que Antônio é devedor de Carlos, em importância próxima ao valor facial da
nota promissória. Se Carlos concordar, o débito de Antônio poderá ser satisfeito com a trans-
ferência do crédito que titulariza em razão da nota (esse ato de transferência é o endosso).
Nessa hipótese, o  título que representava, originalmente, apenas a obrigação de Benedito
pagar a Antônio o saldo devedor do valor do automóvel, passou a representar duas outras
relações jurídicas: a de Antônio satisfazendo sua dívida junto a Carlos; e a de Benedito deve-
dor de título agora em mãos de Carlos.
São três relações documentadas numa única nota promissória. Como as obrigações corres-
pondentes são autônomas, umas das outras, eventuais vícios que venham a comprometer
qualquer delas não contagiam as demais. Quer dizer, se o automóvel adquirido por Benedito
possui vício redibitório, isso não o exonera de satisfazer a obrigação cambial perante Carlos.

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Os problemas relacionados com a compra e venda do automóvel usado podem influir na rela-
ção jurídica entre os participantes da relação originária do título (isto é, Antônio e Benedi-
to), mas não interferem minimamente com os direitos dos terceiros de boa-fé para quem o
mesmo título foi transferido (Carlos).” (negritei)

A doutrina entende que dois subprincípios decorrem do princípio da autonomia das obri-
gações cambiais: abstração dos títulos de créditos e inoponibilidade das exceções pessoais
ao terceiro de boa-fé.

1º Subprincípio: Abstração dos Títulos de Créditos

Depreendemos do subprincípio da abstração que o título de crédito, ao ser colocado em


circulação, desvincula-se do negócio originário (também chamado “relação fundamental” ou
“negócio subjacente”) com base no qual foi emitido.

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No exemplo citado, a circulação - materializada pelo ato cambial “endosso” - é fundamen-


tal para desvincular o título de crédito do negócio originário e operar a abstração.
Assim, Benedito não poderá discutir com Carlos (que recebeu o título mediante endosso)
aspectos relacionados à compra e venda realizada com Antônio e que motivou a emissão da
nota promissória.

Subprincípio: Inoponibilidade das Exceções Pessoais ao Terceiro de Boa-fé

Já o subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé tem


viés processual, no sentido de que não será possível discutir em eventual demanda judicial
matéria de defesa estranha à relação direta com o exequente, salvo comprovação de má-fé.
Assim, em relação aos terceiros (pessoas com as quais o devedor não tenha relação dire-
ta), as defesas (“exceções”) somente poderão versar sobre as obrigações inerentes ao próprio
título de crédito.
Utilizando mais uma vez o exemplo citado, Benedito ostenta em relação a Carlos somente
a posição de devedor do valor da nota promissória, não podendo em eventual ação ajuiza-
da por Carlos (endossatário e portador do título de crédito) discutir aspectos relacionados à
compra e venda realizada com Antônio e que motivou a emissão do título de crédito (negócio
subjacente).
Tal subprincípio encontra-se materializado no art. 916 do CC:

Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente


poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.

Da mesma forma, o art. 17 da Lei Uniforme de Genebra sobre letra de câmbio e notas pro-
missórias (LUG – introduzida no ordenamento jurídico brasileiro por meio do Decreto 57.663,
de 1966) assim dispõe:

Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fun-
dadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos
que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.

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DICA!
Ressalto que o princípio da autonomia e seus subprincípios
(abstração e inoponibilidade de exceções pessoais somente
serão aplicáveis com a circulação do título de crédito. Nesse
sentido, se o título de crédito estiver na posse do credor origi-
nal será possível discutir o negócio jurídico original.

Questão 13 (FUNESP/JUIZ/TJ-SP/2017) O reconhecimento da nulidade de um contrato


determina
a) a autonomia da nota promissória como título executivo em favor do credor original.
b) a inexigibilidade do título pelo novo titular do crédito por endosso.
c) a inexigibilidade das notas promissórias a ele vinculadas, caso estejam na posse do credor
original.
d) a validade do título em favor de qualquer portador.

Letra c.
O princípio da autonomia e seus subprincípios (abstração e inoponibilidade de exceções pes-
soais) somente se fará presente com a circulação do título de crédito, podendo o credor origi-
nal discutir o negócio jurídico originário, inclusive judicialmente.

Prescrição: Perda da Cambiaridade

Ponto importante diz respeito à prescrição do título de crédito: além da perda da executi-
vidade do título de crédito, também desaparecerá a sua cambiaridade, ou seja, o documento
não ostentará mais as características próprias aos títulos de créditos.

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Nesse sentido, para efetuar a cobrança do crédito o credor terá que discutir o negócio
originário que motivou a emissão do título.
Confira decisão do STJ a respeito:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO CAMBIÁRIO. PRO-


TESTO DE CHEQUE PRESCRITO. NÃO CABIMENTO. PRECEDENTES. RECURSO NEGADO.
1. É indevido o protesto na hipótese de cheque prescrito. O protesto tem por finalidade
precípua comprovar o inadimplemento de obrigação originada em título executivo ou
outro documento de dívida e visa, ainda, à salvaguarda dos direitos cambiários do por-
tador em face de possíveis coobrigados.
2. O cheque prescrito serve apenas como princípio de prova da relação jurídica subjacente
que deu ensejo a sua emissão, não detendo mais os requisitos que o caracterizam como
título executivo extrajudicial e que legitimariam o portador a exigir seu imediato paga-
mento e, por conseguinte, a fazer prova do inadimplemento pelo protesto. Precedentes.
3. A Lei do Cheque - em seu art. 48 - dispõe que o protesto deve ser feito antes da expi-
ração do prazo de apresentação (30 dias, se da mesma praça, ou 60, se de praça diversa,
mais 6 meses, a contar da data de emissão do cheque), quando então o título perde a
sua executividade.
4. A perda das características cambiárias do título de crédito, como autonomia, abstra-
ção e executividade, quando ocorre a prescrição, compromete a pronta exigibilidade do
crédito nele representado, o que desnatura a função exercida pelo ato cambiário do pro-
testo de um título prescrito. Precedentes.
5. O protesto do cheque dois anos após sua emissão, no caso, exsurge como meio de
coação e cobrança, o que não é cabível diante da finalidade prevista em lei para o ato
cambiário. Precedentes.
6. Agravo regimental não provido.
[STJ, AgRg no AREsp 593208 / SP, Relator Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, jul-
gado em 25/11/2014]

No que diz respeito ao aval, o STJ entende que “o avalista não responde por dívida estabe-
lecida em título de crédito prescrito, salvo se comprovado que auferiu benefício com a dívida.”
Confira a respeito excerto do Informativo 430:

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FALÊNCIA. AÇÃO MONITÓRIA. AVALISTAS


Na espécie, há duas questões a serem decididas. A primeira, saber se cabe ajuizar ação
monitória depois da falência do devedor cuja sentença declaratória não foi publicada;
a segunda, se podem os avalistas figurar no polo passivo, em razão da prescrição dos
títulos. (...)
Quanto à legitimidade passiva dos avalistas, que figuram como demandados, há, no
caso, omissão no julgado. É  que, conforme a jurisprudência deste Superior Tribunal,
perde eficácia o aval se estiver prescrito o título de crédito, não respondendo o garante
pela dívida, salvo se comprovado ter-se beneficiado com o crédito. No caso, sobre essa
particularidade, não houve pronunciamento. Diante do exposto, a Turma conheceu do
recurso para reconhecer a possibilidade de ajuizamento da monitória e, identificando
omissão no julgado combatido, determinar a remessa dos autos à origem para que seja
suprida a falta.
[STJ, Informativo 430, 12 a 16 de abril de 2010, QUARTA TURMA]

2.3. Atributos/Características dos Títulos de Crédito


Os atributos dos títulos de créditos são especificidades que os diferenciam dos demais
documentos que também representam direitos e obrigações.
Acompanhando lição de Fábio Ulhoa Coelho, ressalto que tais atributos têm como objeti-
vo permitir que o credor consiga encontrar terceiros dispostos a lhe antecipar o valor que lhe
é devido em troca da titularidade do título.
Nesse sentido, seriam três os atributos dos títulos de crédito:
• Encarta unicamente uma relação creditícia: no título de crédito somente é documenta-
do um crédito e nenhuma outra obrigação;
• Negociabilidade: o regime cambial permite que o título de crédito circule e assegure
maiores garantias ao seu detentor;
• Executividade: permite ao detentor do título (credor) promover execução judicial do seu
crédito, uma vez que se trata de título executivo extrajudicial.

De qualquer forma, é importante registrar observação também de Fábio Ulhoa Coelho, ci-
tando diversos outros autores (Fran Martins, Rubem Requião e Newton de Lucca), no sentido

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de não ser incorreto “apresentar os seus princípios informadores [cartularidade, literalidade e


autonomia] como os fatores essenciais de caracterização dos títulos de crédito”.
De qualquer forma, André Santa Cruz também menciona as seguintes características dos
títulos de crédito:
• tem natureza essencialmente comercial;
• são documentos formais, devendo observar requisitos próprios presentes na legislação;
• são bens móveis;
• são títulos de apresentação, uma vez que são documentos necessários para o exercício
do direito que mencionam;
• são obrigações quesíveis (querable), cabendo ao credor procurar o devedor para rece-
ber o valor devido;
• em regra, são pro solvendo, a sua emissão não significa novação da relação que lhe
deu origem, que não irá se confundir com a relação cambiária materializada no título.

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2.4. Classificação dos Títulos de Crédito

Critério: Aplicabilidade dos Princípios e Atributos Próprios dos Títulos de


Crédito (Conceito de Vivante)

Tal classificação toma como base o conceito proposto por Vivante para título de crédito e
consequentemente a aplicação integral (ou não) do regime jurídico cambial.
De forma geral, separamos os títulos de crédito em duas categorias:
• Títulos de crédito próprio: são os títulos de crédito clássicos, que se enquadram inte-
gralmente no conceito preceituado por Vivante, com a consequente aplicabilidade dos
princípios (cartularidade, literalidade e autonomia) e atributos (negociabilidade e exe-
cutividade) que lhe são próprios. São exemplos a letra de câmbio, a nota promissória,
o cheque e a duplicata;
• Títulos de crédito impróprio: não seguem integralmente tais princípios ou ostentam so-
mente parte dos atributos dos títulos de crédito próprios. De forma geral, são subdividi-
dos em: i) título de representação: asseguram ao portador prêmio ou acesso a serviço.
Ex., bilhete de loteria, ticket de cinema ou show; ii) títulos de investimento: emitente tem
como escopo se capitalizar, mas usando distribuição em massa. Ex., debêntures (em
relação ao emissor - companhia), letras de crédito imobiliários; iii) títulos de financia-
mento: título é emitido para garantir financiamento a prazo. Ex., cédula e nota de crédito
imobiliário; iv) títulos representativos: irá representar qualquer outra obrigação, mas
não necessariamente financeira. Ex., conhecimento de frete (frete tem como obrigação
principal entrega de coisa), debênture (em relação ao investidor será gerado crédito
decorrente de contrato de mútuo).

Consigno que os títulos de crédito próprios, por serem talvez os instrumentos mais tra-
dicionais de circulação de riqueza, influenciaram a criação de outros títulos com vocação
semelhante.
Quanto aos títulos de créditos impróprios, embora não estejam sujeitos própria ou inte-
gralmente ao regime cambiário, alguns princípios e atributos lhes aproveitam, a depender da
sua moldura jurídica.

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Valores Mobiliários

Não há dúvida que o título de crédito também inspirou a criação dos valores mobiliários,
que tem objetivo um pouco mais amplo, já que além da circulação de riqueza, também propi-
ciam a captação de recursos no mercado.
Contudo, eles se diferenciam sobretudo pela função econômica. Enquanto o título de cré-
dito enceta somente relação creditícia unitária, os valores mobiliários são vocacionados para
a distribuição em massa, podendo materializar não só uma dívida (v.g., debêntures), como
também a própria participação na companhia emissora (v.g., ação).
O art. 2º da Lei 6.385, de 1976, que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários, assim
os discrimina:

Art. 2º São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei:


I – as ações, partes beneficiárias e debêntures, os cupões desses títulos e os bônus de subscrição;
II – os certificados de depósito de valores mobiliários;
III – outros títulos criados ou emitidos pelas sociedades anônimas, a critério do Conselho Mone-
tário Nacional.
Parágrafo único. Excluem-se no regime desta Lei:
I – os títulos da dívida pública federal, estadual ou municipal;
II – os títulos cambiais de responsabilidade de instituição financeira, exceto as debêntures.

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Critério: Quanto à Forma de Transferência ou Circulação

Tomando como base o Capítulo II (Do Título ao Portador), Capítulo III (Do Título à Ordem)
e Capítulo IV (Do Título Nominativo) do Título VIII (Título de Crédito) do Código Civil, a doutrina
mais moderna classifica os títulos de crédito no que diz respeito à transferência ou circulação
nos seguintes moldes:
• Título ao portador: irá circular com a mera tradição (art. 904 do CC), não havendo men-
ção expressa ao nome do credor. Assim, a titularidade do crédito irá operar com a mera
transferência do título, sendo que o detentor terá direito à prestação mediante sua
apresentação ao devedor.
• Título nominal: o titular é expressamente nominado. Para a sua transferência, além da
tradição, será necessária a realização de ato formal. Subdivide-se em i) título nominal
com cláusula ‘à ordem’, em que o ato formal será o endosso (art. 910 do CC), atraindo o
regime jurídico cambiário. Os títulos de créditos típicos adotam essa modalidade como
regra (cheque, duplicata, nota promissória e letra de câmbio); e ii) título nominal com
cláusula ‘não à ordem’, que significa que o possuidor do título não poderá endossá-lo,
ou seja, a transferência do título será realizada pela forma e com o efeito da cessão civil
de crédito (art. 919 do CC e art. 11, §1º da LUG).
• Título nominativo: é aquele emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro
do emitente (art. 921 do CC). A transferência será realizada mediante termo, em registro
do emitente, assinado pelo proprietário e pelo adquirente (art. 922 do CC) ou endosso,
hipótese em que deverá conter o nome do endossatário e só terá eficácia perante o
emitente se for feita a averbação no referido registro (art. 923 do CC.

Consigno que outros autores dividem tal categoria em somente dois tipos, a saber, ao por-
tador e nominativo (com as subespécies ‘à ordem’ ou ‘não à ordem’). Contudo, diante das
características dessa última espécie (nominativo) positivadas no CC (transferência mediante
termo, em registro do emitente), entendo que a maior parte dos títulos se enquadram em uma
outra categoria, denominada modernamente como “título nominal”.

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Devo dizer que o título de crédito não pode ser reivindicado do portador, a não ser que
a aquisição tenha sido de má-fé ou em desacordo com as normas que disciplinam a sua
circulação:

Art. 896. O título de crédito não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na
conformidade das normas que disciplinam a sua circulação.

Questão 14 (MPE-SP/PROMOTOR/MPE-SP/2015/ADAPTADA) No tocante aos títulos de


crédito, assinale a alternativa correta.
e) O título de crédito poderá ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé, desde que
a transmissão tenha origem ilícita.

Errada.
O art. 896 do CC dispõe de forma contrária:

Art. 896. O título de crédito não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na
conformidade das normas que disciplinam a sua circulação.

Em relação aos títulos de crédito próprios (letra de câmbio, nota promissória, duplicata e
cheque), aos quais são aplicados na integralidade o regime jurídico cambial, a regra geral é
não ser possível a sua emissão sem a identificação do credor, sobretudo após a vedação es-
tabelecida pelo art. 2º da Lei 8.021, de 1991(Plano Collor). Ou seja, tais títulos não podem ser
emitidos ao portador.
A única exceção seria o cheque em valor não superior a R$ 100,00, por força do disposto no
art. 69 da Lei 9.069, de 1995 (Lei do Plano Real):

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Art. 69. A partir de 1º de julho de 1994, fica vedada a emissão, pagamento e compensação de che-
que de valor superior a R$ 100,00 (cem Reais), sem identificação do beneficiário.
Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional regulamentará o disposto neste artigo.

Contudo, há casos em que legislação especial em relação a títulos de crédito impróprios, por
suas peculiaridades, estabelecem como regra a portabilidade do título.
Cito como exemplo o bilhete de loteria, que é disciplinado em lei própria (Decreto-lei 204, de
1967 - Dispõe sobre a exploração de loterias), em que se estabelece que, como regra, tal título
será ao portador, garantindo ao seu detentor o pagamento de eventual prêmio:

Decreto-lei 204/67:
Art. 6º O bilhete de loteria, ou sua fração, será considerado nominativo e intransferível quando con-
tiver o nome e endereço do possuidor. A falta desses elementos será tido como ao portador, para
todos os efeitos. (redação original).

Ou seja, a princípio, a pessoa legitimada para reivindicar o prêmio de loteria será o porta-
dor do bilhete. Contudo, não necessariamente será o titular do direito ao prêmio (lembre-se,
não é um título de crédito próprio!!!).
Nesse sentido decidiu o STJ:

RECURSOS ESPECIAIS - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL – NÃO OCORRÊN-


CIA - ARTIGOS 336, 368, PARÁGRAFO ÚNICO, 401, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL; 227,
DO CÓDIGO CIVIL - PREQUESTIONAMENTO – AUSÊNCIA - INCIDÊNCIA DA SÚMULA
211/STJ - JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - CERCEAMENTO DE DEFESA - AUSÊN-
CIA, EM REGRA - IMPOSSIBILIDADE DE JULGAMENTO POR AUSÊNCIA DE PROVAS -
PEDIDO DAS PARTES DE JULGAMENTO ANTECIPADO - INVIABILIDADE DE SUSTEN-
TAÇÃO POSTERIOR DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA - VIA DE MÃO DUPLA
- RESTITUIÇÃO DOS VALORES - DECORRÊNCIA LÓGICA DO PEDIDO - INEXISTÊNCIA
DE DECISÃO EXTRA PETITA - CONCURSOS LOTÉRICOS - JOGOS DE AZAR - BILHETES
DE APOSTAS - NATUREZA JURÍDICA - TÍTULO AO PORTADOR - DISCUSSÃO QUANTO À
PROPRIEDADE DO DIREITO CONTIDO NO TÍTULO - POSSIBILIDADE - DETERMINAÇÃO
DO EG. TRIBUNAL DE ORIGEM - DIVISÃO, EM PARTES IGUAIS, DO PRÊMIO SORTEADO DA
MEGA-SENA - CONCLUSÃO OBTIDA PELO EXAME DE CONTEÚDO FÁTICO PROBATÓRIO
- IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME - INCIDÊNCIA, NA ESPÉCIE, DO ENUNCIADO DA SÚMULA 7/

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STJ – PROVA TESTEMUNHAL - INVIABILIDADE DE PRODUÇÃO - AMBIENTE DE INCER-


TEZA - PRINCÍPIO DA LIVRE PERSUASÃO RACIONAL DO MAGISTRADO - ADOÇÃO PELO
SISTEMA JURÍDICO PÁTRIO - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO – OFENSAS MÚTUAS
- DISCUSSÃO DA LIDE - CARÁTER INTRÍNSECO – FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA -
OPÇÃO POR UMA DAS TESES POSSÍVEIS - AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ARTIGO 131,
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - RECURSOS ESPECIAIS IMPROVIDOS.
VII – Os concursos lotéricos constituem-se em modalidade de jogo de azar, sendo seus
prêmios pagos apenas aos portadores dos respectivos bilhetes. Dessa forma, os bilhe-
tes de apostas são considerados como títulos ao portador e como tal a obrigação deve
ser cumprida a quem apresente o título, liberando-se, assim, o devedor do compromisso
assumido. Precedentes.
VIII – Entretanto, aquele que possui o bilhete de loteria – a despeito do caráter de título
ao portador - não é, necessariamente, o titular do direito ao prêmio. Dessa forma, é pos-
sível a discussão quanto à propriedade do direito representado pelo título ao portador,
no caso, o bilhete de loteria. Logo, o caráter não nominativo e de literalidade do bilhete
de loteria importam, apenas, ao sacado, no caso, a Caixa Econômica Federal para finali-
dade específica de resgate do prêmio sorteado.
IX – Nesse contexto, o v. acórdão recorrido, ao examinar, com profundidade, o conte-
údo fático da questão, deu correta interpretação à controvérsia, ao determinar a divisão
do prêmio, em partes iguais, aos  ora recorrentes, FLÁVIO JÚNIOR BIASSI e ALTAMIR
JOSÉ DA IGREJA e, portanto, qualquer tentativa de modificação em tal desfecho, ado-
tado, com fundamentação absolutamente coerente ao caso, esbarra no reexame de con-
teúdo fático probatório, ensejando, assim, a incidência, para a hipótese, do enunciado da
Súmula 7 desta Corte Superior.
[STJ, REsp 1202238 / SC, Relator Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julga-
mento em 14/08/2012]

Questão 15 (FCC/JUIZ/TJ-RR/2015) Considera-se título ao portador


a) qualquer título de crédito eletrônico.
b) a nota promissória.
c) a letra de câmbio.

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d) somente o cheque que não for nominativo.


e) o bilhete de loteria.

Letra e.
O bilhete de loteria é considerado como sendo, em regra, título ao portador, por força do art. 6º
do Decreto-lei 204, de 1967, salvo se houver no título do nome e endereço do portador:

CC:
Art. 904. A transferência de título ao portador se faz por simples tradição.
Decreto-lei 204/67:
Art. 6º O bilhete de loteria, ou sua fração, será considerado nominativo e intransferível quando con-
tiver o nome e enderêço do possuidor. A falta dêsses elementos será tido como ao portador, para
todos os efeitos. (redação original).

a/b/c/d) Erradas. O entendimento é que a regra no Direito brasileiro é a vedação à emissão de


título ao portador, sobretudo em relação aos títulos de crédito próprios (letra de câmbio, nota
promissória, cheque e duplicata), notadamente a partir da Lei 8.021, de 1990 (Plano Collor),
nos termos do art. 2º:

Art. 2º A partir da data de publicação desta lei fica vedada:


I – a emissão de quotas ao portador ou nominativas-endossáveis, pelos fundos em condomínio;
II – a emissão de títulos e a captação de depósitos ou aplicações ao portador ou nominativos-en-
dossáveis;

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Questão 16 (CESPE/JUIZ/TJ-PR/2017) O ato cambiário pelo qual o credor transmite a ou-


trem seus direitos sobre título nominal à ordem é denominado
a) aceite.
b) aval.
c) endosso.
d) cessão civil de crédito.

Letra c.
O endosso é o ato cambiário típico de circulação do título nominal à ordem, devendo ser
destacado que a cessão civil de crédito, embora posso operar a transferência, não é um ato
cambiário. Confira a respeito os arts. 910 e do CC:

CAPÍTULO III
Do Título À Ordem
Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título.
Art. 919. A aquisição de título à ordem, por meio diverso do endosso, tem efeito de cessão civil.

Questão 17 (VUNESP/JUIZ/TJ-RJ/2016) A cláusula “não à ordem”


a) não é admitida na Letra de Câmbio.
b) inviabiliza o aval parcial.
c) inviabiliza o aceite.
d) impede a circulação mediante endosso.
e) implica em aceite do cumprimento da obrigação assumida em Nota Promissória.

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Letra d.
A inserção da cláusula ‘não à ordem’ implica a transferência pela forma e com os efeitos da
cessão civil de crédito. Confira a respeito o § 1º do art. 11 da Lei Uniforme de Genebra (LUG)
sobre nota promissória e letra de câmbio:

Art. 11. Toda letra de câmbio, mesmo que não envolva expressamente a cláusula à ordem, é trans-
missível por via de endosso.

Quando o sacador tiver inserido na letra as palavras “não à ordem”, ou uma expressão equi-
valente, a letra só é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de
créditos.

Critério: Modelo

Tal critério diz respeito à existência ou não de padrão pré-determinado.


Temos duas hipóteses:
• Título de modelo livre: não há um padrão obrigatório, bastando que sejam atendidos
os requisitos legais essenciais para a produção dos efeitos que lhe são próprios. São
exemplos a letra de câmbio e a nota promissória.
• Título de modelo vinculado: a lei estabelece uma padronização rígida, devendo ser ne-
cessariamente seguida para produzir os seus efeitos. Temos como exemplo o cheque
e a duplicata.

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Critério: Estrutura

Serão divididos em:
• Ordem de pagamento: com o saque (emissão) são estabelecidas três relações jurídicas
distintas: i) a do sacador, que emite o título e ordena a realização de pagamento; ii) a
do sacado, contra quem a ordem de pagamento é emitida; iii) a do beneficiário (ou to-
mador), em favor de quem a ordem de pagamento foi passada. Temos como exemplo o
cheque (sacador será o correntista, o sacado é a instituição financeira e o tomador será
quem receber o cheque), a letra de câmbio e a duplicata.
• Promessa de pagamento: existirão somente duas situações jurídicas: i) promitente (ou
sacador), que promete pagar determinada quantia; ii) beneficiário (ou tomador), a quem
a promessa de pagamento é dirigida. O exemplo clássico é a nota promissória.

Critério: Hipóteses de Emissão

Levando em conta as hipóteses de emissão, os títulos de créditos poderão ser classifica-


dos em:
• Título abstrato ou não causal: é aquele cuja emissão não é vinculada a nenhuma hi-
pótese previamente estabelecida em lei. O cheque e a nota promissória são exemplos.
• Título causal: somente poderão ser emitidos nas hipóteses previstas em lei. A duplica-
ta é o grande exemplo, na medida em que somente poderá ser emitida para materializar
compra e venda mercantil (duplicata mercantil) ou com base em contrato de prestação
de serviço (duplicata de serviços).

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Questão 18 (FUNESP/JUIZ/TJ-SP/2017) Qual dos títulos de crédito a seguir é necessaria-

mente causal?

a) A duplicata.

b) A letra de câmbio.

c) O cheque.

d) A promissória.

Letra a.

A Duplicata é o exemplo clássico de título de crédito causal, uma vez que somente poderá ser

emitida com base em compra e venda mercantil ou com base em contrato de prestação de

serviço. Confira o art. 2º, caput, e o art. 20, caput da Lei 5.474, de 1968 (Lei das Duplicatas):

Art. 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como
efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar
o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador.
Art. 20. As emprêsas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à
prestação de serviços, poderão, também, na forma desta lei, emitir fatura e duplicata.

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Questão 19 (MPE-SP/PROMOTOR/MPE-SP/2015/ADAPTADA) No tocante aos títulos de


crédito, assinale a alternativa correta.
c) A duplicata mercantil é exemplo típico de título não causal.

Errada.
A duplicata é exemplo típico de título causal, uma vez que somente poderá ser emitida com
base em compra e venda mercantil ou com base em contrato de prestação de serviço. Confira
o art. 2º, caput, e o art. 20, caput da Lei 5.474, de 1968 (Lei das Duplicatas):

Art. 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como
efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar
o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador.
Art. 20. As emprêsas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à
prestação de serviços, poderão, também, na forma desta lei, emitir fatura e duplicata.

2.5. Atos Cambiários

O regime jurídico cambiário, que se orienta pelos princípios da cartularidade, literalidade e


autonomia das obrigações cambiais, faz uso de atos próprios (os denominados atos cambiá-
rios), destacando-se o endosso, o aval e o protesto.

Antes de abordar os principais atos cambiário, vamos relembrar: o Código Civil somente se
aplica aos títulos de créditos regulados por leis especiais (todos os títulos de crédito próprios
são disciplinados em leis especiais) caso não haja disposição em contrário, ou seja, havendo
contrariedade aplica-se a lei especial de regência:

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Art.  903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto
neste Código. (negritei)

Endosso

Conceito e Natureza Jurídica

Recordemos, caro (a) aluno(a), que um dos principais atributos do título de crédito é a
negociabilidade.
Nesse sentido, o endosso é o ato cambiário vocacionado para a transferência dos títu-
los de crédito, em que o endossante transmite o título (e consequentemente o direito nele
mencionado) ao endossatário – novo credor do título -, ao qual são conferidas salvaguardas
próprias do regime cambial, como por exemplo inoponibilidade de exceções pessoais pelo
emitente do título ou outros endossantes com os quais este (endossatário) não negociou
diretamente, bem como garantia, a princípio, do pagamento da dívida.
Ressalto que o Código Civil, como regra geral, considera como não escrita qualquer cláu-
sula proibitiva de endosso no título de crédito, nos termos do art. 890:

Art. 890. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a ex-
cludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de
termos e formalidade prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos
e obrigações. (negritei)

Endosso e Cessão de Crédito: Modalidades

A regra geral em relação aos títulos de crédito próprios (letra de câmbio, nota promissó-
ria, cheque e duplicata) é circular mediante endosso, sendo implícita, portanto, a cláusula à
ordem.
O endosso poderá ser lançado no verso ou no anverso (na frente) do próprio título (princí-
pio da literalidade). Quando for no verso, será suficiente a simples assinatura do endossante.
Se for no anverso, além da assinatura deverá ser feita menção expressa de que é um endosso
(art. 910, caput e §1º do CC).
Decorrem normalmente dois efeitos do endosso:

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• transfere o crédito ao endossatário;


• vincula o endossante ao pagamento do título (ou seja, confere uma garantia do paga-
mento).

Nos títulos de crédito próprios a regra é o que o endossante, com seu ato, passe automatica-
mente a garantir o pagamento do título, salvo manifestação expressa em contrário (cláusula
“sem garantia”). É o que dispõe, por exemplo, o art. 15 da LUG:

Art. 15. O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do paga-
mento da letra. O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o paga-
mento às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada. (negritei)

Contudo, de forma criticável, o art. 914 do CC estabeleceu que, como regra, os endossantes


não respondem pelas obrigações constantes no título, salvo cláusula expressa em contrário,
hipótese em que se torna devedor solidário, tendo ação de regresso contra os coobrigados
anteriores:

Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o en-
dossante pelo cumprimento da prestação constante do título.
§1º Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor solidário.
§2º Pagando o título, tem o endossante ação de regresso contra os coobrigados anteriores.

Nesse sentido, por força do já citado art. 903 do CC (“Salvo disposição diversa em lei especial,
regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código”) prevalecerá em relação aos títu-
los próprios o disposto nas suas respectivas leis de regência.

Embora a utilização do endosso seja a regra, é possível a inserção – desde que de forma
expressa - da cláusula não à ordem ao título de crédito. Assim, esse não poderá circular me-
diante o endosso, de forma que o ato de transferência passará a ter os efeitos de cessão civil
de crédito.
É o que preceitua o art. 919 do CC e também o art. 11, §1º da Lei Uniforme de Genebra:

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CC:
Art. 919. A aquisição de título à ordem, por meio diverso do endosso, tem efeito de cessão civil.
LUG:
Art. 11. Toda letra de câmbio, mesmo que não envolva expressamente a cláusula à ordem, é trans-
missível por via de endosso.
Quando o sacador tiver inserido na letra as palavras “não à ordem”, ou uma expressão equivalente,
a letra só é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.

DICA!
A cláusula não à ordem (ou seja, a vedação de a transferência
ser feita por endosso) afasta a aplicação do regime jurídico
cambial, passando a transferência a ser regida pelo regime
jurídico civil relativo à cessão de crédito.

Podemos apontar as seguintes diferenças entre o endosso e a cessão civil de crédito:

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Pluralidade ou Cadeia de Endossos

Destaco que não há limite quanto ao número de endossos, inclusive em relação ao cheque
(houve a revogação da lei da CPMF que estabelecia a possibilidade de apenas um endosso).
Nesse sentido, nos termos do art. 911 do CC, “considera-se legítimo possuidor o portador
do título à ordem com série regular e ininterrupta de endossos, ainda que o último seja em
branco”.
E mais: aquele que paga o título está obrigado a verificar a regularidade da série de endos-
sos, mas não a autenticidade das assinaturas (parágrafo único do art. 911 do CC).

Vedação: Endosso Parcial ou Condicional

Muito importante, caro(a) aluno(a): o endosso parcial (ou limitado a certo valor da dívida),
bem como o endosso subordinado a qualquer condição são vedados tanto pelo Código Civil,
como pela legislação especial.
Confira a respeito o art. 912 do CC e o art. 12 da LUG:

CC:
Art. 912. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o subordine o endossante.
Parágrafo único. É nulo o endosso parcial.

LUG:
Art. 12. O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele seja subordinado consi-
dera-se como não escrita.
O endosso parcial é nulo.
O endosso ao portador vale como endosso em branco.
(negritei)

Modalidades: Endosso em Branco e Endosso em Preto

O endosso em branco é aquele dado com a simples assinatura, sem a identificação do


beneficiário.
É o que preceitua o art. 13 da LUG:

Art. 13. O endosso deve ser escrito na letra ou numa folha ligada a esta (anexo). Deve ser assinado
pelo endossante.

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O endosso pode não designar o benefício, ou consistir simplesmente na assinatura do endossante


(endosso em branco). Neste último caso, o endosso para ser válido deve ser escrito no verso da
letra ou na folha anexa.

Com o endosso em branco, o título passa a poder circular com a mera tradição, ou seja,
se torna ao portador.
Já o endosso em preto é aquele em que se identifica expressamente o endossatário, ou
seja, a pessoa a quem o título está sendo transferido. Para haver nova circulação do título,
o detentor terá que fazer um novo endosso e, como regra, será garantidor do adimplemento
da dívida.

Mas, professor, não tem vedação legal ao título de crédito ao portador?

Marcelo Bertoldi e Márcia Carla Ribeiro respondem com propriedade essa pergunta:

Endosso em branco é aquele que é dado com a simples assinatura do endossante no verso ou na
face do título, sem que conste a designação da pessoa a quem se transfere o título. Para que haja
a transferência do título, basta a tradição manual e, então, a circulação se faz como se ao portador
fosse. Cabe ressaltar que a Lei 8.021/90, em seu art. 2º, II, veda a emissão de títulos ao portador ou
nominativos-endossáveis; entretanto, basta que o endosso em branco seja convertido em endosso
em preto quando da apresentação do título para pagamento. Assim, mesmo vedado por lei, pode
o título circular livremente em branco, desde que, no instante de seu pagamento, seja preenchido.
(negritei)

O art. 913 do CC, ao disciplinar o endosso em branco, estabelece as seguintes possibli-


dades:
• o endossatário de endosso em branco pode mudá-lo para endosso em preto, comple-
tando-o com o seu nome ou de terceiro;
• pode endossar novamente o título, em branco ou em preto;
• ou pode transferi-lo sem novo endosso.

Endosso Impróprio: Endosso-Mandato e Endosso-Caução

O endosso próprio é aquele que desempenha a função típica desse ato cambiário, a saber,
a transferência do direito crédito nele mencionado.

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Contudo, temos duas espécies de endosso que não geram esse efeito propriamente, a sa-
ber: o endosso-mandato e o endosso-caução.
O endosso-mandato (ou endosso-procuração) envolve a concessão de poderes ao endos-
satário para agir como seu legítimo representante e exercer os direitos constantes no título,
incluindo cobrá-lo, protestá-lo e executá-lo. Será materializado por meio da aposição de ex-
pressões como “para cobrança”, “valor a cobrar” ou “por procuração”.
Nos termos do art. 917 do CC, podemos destacar três pontos:
• o endosso-mandato confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao títu-
lo, salvo restrição expressamente estatuída;
• o endossatário só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador, com
os mesmos poderes que recebeu;
• com a morte ou a superveniente incapacidade do endossante, não perde eficácia o
endosso-mandato, ou seja, o endossatário continua com os poderes para a cobrança.

É muito comum que instituições financeiras constem como endossatárias, realizando co-
brança para seus clientes obviamente com remuneração pelo serviço (art. 676 do CC, refe-
rente ao mandato, que garante remuneração pelas atividades, mesmo que não surta o efeito
esperado, salvo culpa do mandatário).
Contudo, embora atue para satisfazer os interesses do endossante, o endossatário so-
mente responderá por eventuais danos causados ao devedor do título se for comprovado que
agiu com culpa, ou seja, extrapolando os poderes do mandato.
É o que preceitua o Enunciado 476 da súmula do STJ:

Súmula 476
O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decor-
rentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário.

No entanto, caso fique configurado que o título foi transferido por meio de endosso translati-
vo (a saber, o endosso normal que opera a transferência completa do título de crédito), o endos-
satário ficará responsável por indenizar eventuais danos decorrentes do protesto, caso o título

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contenha vício formal extrínseco ou intrínseco (ex., protestar duplicata sem causa, ou seja, aque-
la sem aceite e emitida sem a comprovação da entrega da mercadoria ou prestação do serviço).
Nesse sentido decidiu o STJ ao editar o Enunciado 475 da súmula do STJ:

Súmula 475
Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por
endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco,
ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas. (negritei).

Já o endosso-caução (endosso-penhor ou endosso-garantia) é a espécie em que o título


é transferido pelo endossante para garantir dívida que ele contraiu com o endossatário. Serão
utilizadas as expressões “endosso em garantia”, “valor em garantia”, “endosso penhor”, “valor
em penhor”.
Nos termos do art.  918 do CC, tal cláusula permite ao endossatário exercer os direitos
inerentes ao título, ou seja, poderá utilizar-se de todos os meios para realizar a cobrança do
título, incluindo protestar e propor ação judicial. E mais: o devedor não poderá opor ao endos-
satário de endosso-penhor as exceções que tinha contra o endossante, salvo se aquele tiver
agido de má-fé.
Contudo, o endossatário somente poderá endossar novamente o título na qualidade de
procurador.

Endosso Tardio ou Póstumo

Nos termos do art. 920 do CC e do art. 20, primeira parte, da LUG, o endosso posterior ao


vencimento produz os mesmos efeitos do anterior, presumindo-se que o endosso sem data
foi realizado antes de vencer o prazo para a realização do protesto.
Contudo, situação diversa ocorrerá se o endosso somente ocorrer após o protesto por
falta de pagamento ou depois de expirado o prazo para se fazer o protesto, circunstância que
a doutrina chama de endosso tardio ou endosso póstumo. Nesse caso, o ato de transferência
produzirá somente os efeitos de uma cessão ordinária de crédito.

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Confira a respeito o art. 20 da LUG:

Art. 20. O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que o endosso anterior. Toda-
via, o endosso posterior ao protesto por falta de pagamento, ou feito depois de expirado o prazo
fixado para se fazer o protesto, produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.
Salvo prova em contrário, presume-se que um endosso sem data foi feito antes de expirado o prazo
fixado para se fazer o protesto.

Cancelamento do Endosso

Nos termos do § 3º do art. 910, considera-se não escrito o endosso cancelado, total ou

parcialmente.

2.6. Aval

Conceito e Finalidade

Aval é o ato cambiário por meio do qual um terceiro (avalista) se responsabiliza a pagar o
título na mesmas condições que o devedor do título.
O aval poderá ser dado no anverso ou verso do título. Caso seja no anverso (na face),
bastará a assinatura do avalista. Se for no verso, além da assinatura deverá haver menção
expressa de que se trata de aval, como por exemplo a expressão “bom para aval” (art. 898,
caput, e § 1º do CC e art. 30 da LUG).

Questão 20 (CEBRASPE/JUIZ/TJ-SC/2019/ADAPTADA) Determinado título de crédito foi


emitido com eficácia sujeita às normas previstas no Código Civil, não sendo aplicável, na es-
pécie, nenhuma norma especial. A respeito desse título, é correto afirmar que será possível a
realização do
a) aval, que será válido com a simples assinatura do avalista no anverso do título.

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Certo.
Confira a redação do art. 898, § 1º do CC:

Art. 898. O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título.


§1º Para a validade do aval, dado no anverso do título, é suficiente a simples assinatura do avalista.
(...) (negritei).

Modalidade: Aval em Branco e em Preto

O aval será em branco caso não identifique a pessoa que está sendo avalizada. Nesse
caso, presume-se que foi dado em favor do emitente ou devedor do título de crédito, conso-
ante o art. 899 do CC (no caso da letra de câmbio, o sacador – art. 31, §2º da LUG).

Já no aval em preto haverá a expressa designação do avalizado.

É interessante registrar que, segundo lições de João Eunápio Borges, podemos cogitar de

o aval ser dado mesmo contra a vontade do avalizado ou mesmo antes de surgir a obrigação

do avalizado (aval antecipado), tendo em vista os princípios da autonomia e o seu subprincí-

pio da abstração.

Questão 21 (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015/ADAPTADA) A respeito da atividade empresarial e do

estabelecimento comercial, assinale a opção correta.

b) A responsabilidade sobre as obrigações referentes a sociedade empresária limitada de

ex-sócio deve ser extinta — inclusive as que este tenha assumido individualmente como ava-

lista de negócio jurídico celebrado pela sociedade — depois de transcorridos dois anos da

data da averbação, no contrato social, da alteração que tenha desligado o sócio da sociedade

empresária.

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Errada.
O aval concedido pelo ex-sócio constitui obrigação autônoma, não se confundido com a
relação jurídica entre ele e a sociedade (essa sim disciplinada pelo art.  1.032 do CC, que
estabelece limite de dois anos após averbação para a responsabilização pelas obrigações
sociais). Cabe dizer que o STJ entende que o aval se materializa com a assinatura, sendo ato
incondicional:

(...) 2. Diversamente do contrato acessório de fiança, o aval é ato cambiário unilateral,


que propicia a salutar circulação do crédito, ao instituir, dentro da celeridade necessária
às operações a envolver títulos de crédito, obrigação autônoma ao avalista, em benefício
da negociabilidade da cártula. Por isso, o aval “considera-se como resultante da simples
assinatura” do avalista no anverso do título (art. 31 da LUG), devendo corresponder a
ato incondicional, não podendo sua eficácia ficar subordinada a evento futuro e incerto,
porque dificultaria a circulação do título de crédito, que é a sua função precípua.
[STJ, REsp 1633399 / SP, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, jul-
gado em 10/11/2016]

Avais Simultâneos x Sucessivos

Avais simultâneos (ou coavais) ocorrem quando duas ou mais pessoas avalizam conjun-
tamente um título, garantindo a mesma obrigação cambial. Tais avalistas respondem como
se fossem uma pessoa só, respondendo entre eles solidariamente (solidariedade essa em
consonância com as regras do Direito Civil).
Assim, se um dos avalistas pagar a dívida, terá direito de regresso integral contra o de-
vedor principal, mas em relação ao outro avalista somente poderá solicitar o pagamento da
metade da dívida (art. 283 do CC).
Avais sucessivos (ou aval de aval) são aqueles em que uma pessoa avaliza um outro
avalista. Nessa hipótese, todos os avalistas terão a mesma responsabilidade do avalizado,

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sendo que aquele que pagar a dívida terá direito de regresso integral da dívida em relação aos
demais avalistas (e não somente de quota parte).
Em relação aos avais em branco, superpostos, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu
que são simultâneos (e não sucessivos) aplicando-se aos coobrigados a regra da solidarie-
dade em consonância com as regras do Direito Civil, conforme explicamos ao falar dos coa-
vais. Confira o Enunciado 189 da súmula do STF:

Súmula 189.
Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos.

Questão 22 (IBFC/JUIZ/TRF2/2019/ADAPTADA) A respeito dos títulos de crédito é correto


afirmar, com base na Lei e Súmulas do STF e STJ, que:
a) Avais em branco e superpostos não se consideram simultâneos e sucessivos.

Errada.
Nos termos da Súmula 189 do STF, os “Avais em branco e superpostos consideram-se simul-
tâneos e não sucessivos.” Ou seja, serão coavais e não aval de aval.

Aval x Fiança

Tanto o aval como a fiança tem por objetivo garantir a dívida de alguém.
Contudo, podemos destacar as seguintes diferenças entre o aval e a fiança:

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crédito, assinale a alternativa correta.

b) Como instituto típico do direito cambiário, o aval é dotado de autonomia substancial, de

sorte que a sua existência, validade e eficácia não estão jungidas à da obrigação avalizada.

Pelo princípio da autonomia, o  aval constitui obrigação autônoma em relação à assumida

pelo avalizado. Confira a respeito os §§ 2º e 3º do art. 899 do CC:

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Art. 899. O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de indicação, ao emitente ou
devedor final.
§1º Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados
anteriores.
§2º Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação daquele a quem se equipa-
ra, a menos que a nulidade decorra de vício de forma.

Aval de Pessoa Casada e de Sociedade

Em relação ao aval da pessoa casada, discute-se sobre a necessidade (ou não) de outorga
uxória ou marital no momento de firmar tal ato, em virtude do disposto no art. 1.647, III do CC
que, a princípio, condiciona o aval à autorização do outro cônjuge, salvo se o regime for o da
separação absoluta:

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648 , nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do
outro, exceto no regime da separação absoluta:
III – prestar fiança ou aval;

Apesar de haver julgados no passado em sentido contrário, o entendimento mais recente


do STJ é de que tal regra se aplica somente aos títulos inominados ou atípicos – e não aos
títulos de crédito próprios - que são regulados por leis específicas. Nesse sentido, destacou-
-se que o aval, nos termos do art. 30 da LUG, decorre da simples assinatura, devendo ser ato
incondicional:

DIREITO CAMBIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. REVELIA.


EFEITOS RELATIVOS. AVAL. NECESSIDADE DE OUTORGA UXÓRIA OU MARITAL. DISPO-
SIÇÃO RESTRITA AOS TÍTULOS DE CRÉDITO INOMINADOS OU ATÍPICOS. ART. 1.647, III,
DO CC/2002. INTERPRETAÇÃO QUE DEMANDA OBSERVÂNCIA À RESSALVA EXPRESSA
DO ART. 903 DO CC E AO DISPOSTO NA LUG ACERCA DO AVAL. REVISÃO DO ENTENDI-
MENTO DO COLEGIADO. COGITAÇÃO DE APLICAÇÃO DA REGRA NOVA PARA AVAL DADO
ANTES DA VIGÊNCIA DO NOVO CC. MANIFESTA INVIABILIDADE.
1. Os efeitos da revelia - presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor - são
relativos e não conduzem, necessariamente, ao julgamento de procedência dos pedidos,
devendo o juiz atentar-se para os elementos probatórios presentes nos autos, para for-
mação de sua convicção.

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2. Diversamente do contrato acessório de fiança, o aval é ato cambiário unilateral, que


propicia a salutar circulação do crédito, ao instituir, dentro da celeridade necessária às
operações a envolver títulos de crédito, obrigação autônoma ao avalista, em benefício
da negociabilidade da cártula. Por isso, o aval “considera-se como resultante da simples
assinatura” do avalista no anverso do título (art. 31 da LUG), devendo corresponder a
ato incondicional, não podendo sua eficácia ficar subordinada a evento futuro e incerto,
porque dificultaria a circulação do título de crédito, que é a sua função precípua.
3. É imprescindível proceder-se à interpretação sistemática para a correta compreensão
do art. 1.647, III, do CC/2002, de modo a harmonizar os dispositivos do Diploma civilista.
Nesse passo, coerente com o espírito do Código Civil, em se tratando da disciplina dos
títulos de crédito, o art. 903 estabelece que “salvo disposição diversa em lei especial,
regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código”.
4. No tocante aos títulos de crédito nominados, o Código Civil deve ter uma aplicação
apenas subsidiária, respeitando-se as disposições especiais, pois o objetivo básico da
regulamentação dos títulos de crédito, no novel Diploma civilista, foi permitir a criação
dos denominados títulos atípicos ou inominados, com a preocupação constante de dife-
rençar os títulos atípicos dos títulos de crédito tradicionais, dando aos primeiros menos
vantagens.
5. A necessidade de outorga conjugal para o aval em títulos inominados - de livre cria-
ção - tem razão de ser no fato de que alguns deles não asseguram nem mesmo direitos
creditícios, a par de que a possibilidade de circulação é, evidentemente, deveras miti-
gada. A  negociabilidade dos títulos de crédito é decorrência do regime jurídico-cam-
bial, que estabelece regras que dão à pessoa para quem o crédito é transferido maiores
garantias do que as do regime civil.
6. As normas das leis especiais que regem os títulos de crédito nominados, v.g., letra
de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito, continuam
vigentes e se aplicam quando dispuserem diversamente do Código Civil de 2002, por
força do art. 903 do Diploma civilista. Com efeito, com o advento do Diploma civilista,
passou a existir uma dualidade de regramento legal: os títulos de crédito típicos ou
nominados continuam a ser disciplinados pelas leis especiais de regência, enquanto os
títulos atípicos ou inominados subordinam-se às normas do novo Código, desde que se
enquadrem na definição de título de crédito constante no art. 887 do Código Civil.

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7. Recurso especial não provido.


[STJ, REsp 1633399 / SP, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, jul-
gado em 10/11/2016]

No que diz respeito a aval dado por sociedade empresária, há discussão relevante se os
créditos por ela avalizados ficam sujeitos à recuperação judicial caso a sociedade avalista
(coobrigada) venha solicitar tal medida, uma vez que o art. 5º, I da Lei de Falências afasta a
exigibilidade a título gratuito:

Art. 5º Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:


I – as obrigações a título gratuito;

Em precedente de 2019, o STJ, após destacar a autonomia deste tipo de garantia (aval),
firmou entendimento que: “É imprescindível a verificação da natureza onerosa ou gratuita do
aval prestado antes do pedido de recuperação judicial por sociedade empresária, para que se
determine se a garantia se sujeita ou não ao processo de soerguimento”.
No entanto, destacou que aval prestado por sociedade empresária, usualmente é direcio-
nado há algum benefício negocial, ou seja, a princípio é oneroso.
Confira a respeito no Informativo 661:

O art. 49, caput, da Lei n. 11.101/2005 estipula que todos os créditos existentes na data
do pedido de recuperação judicial ficam sujeitos a seus efeitos (ainda que não vencidos),
excetuados aqueles listados nos §§ 3º e 4º do mesmo dispositivo, dentre os quais não
se inclui os créditos derivados de garantia cambiária (aval). Assim, dada a autonomia
dessa espécie de garantia e a permissão legal para inclusão no plano dos créditos ainda
não vencidos, não haveria motivos para a exclusão do aval. Há que se ponderar, todavia,
acerca da disposição constante no art. 5º, I, da Lei n. 11.101/2005, que afasta expres-
samente da recuperação judicial a exigibilidade das obrigações a título gratuito. Tratan-
do-se de aval prestado por sociedade empresária, não se pode presumir que a garantia
cambiária tenha sido concedida como ato de mera liberalidade, devendo-se apurar as
circunstâncias que ensejaram sua concessão. É bastante comum que as relações negociais

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travadas no âmbito empresarial envolvam a prestação de garantias em contrapartida a


algum outro ato praticado (ou a ser praticado) pelo avalizado ou por terceiros interessa-
dos. Conforme anota respeitável doutrina, ainda que não exista contraprestação direta
pelo aval, há situações em que a garantia foi prestada com o objetivo de auferir algum
ganho, mesmo que intangível, como ocorre na hipótese de aval prestado em benefício
de sociedades do mesmo grupo econômico ou para viabilizar operações junto a parcei-
ros comerciais, hipóteses nas quais não se pode considerar tal obrigação como a título
gratuito.
[STJ, Informativo 661, de 19-12-2019 – Precedente: REsp 1.829.790-RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 19/11/2019, DJe 22/11/2019]

Aval Posterior ao Vencimento

Nos termos do art. 900 do CC, “o aval posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos
do anteriormente dado.”

Aval: Título de Crédito Vinculado a Contrato de Mútuo

Em relação ao avalista de título de crédito vinculado a contrato de mútuo, a Súmula 26 do


STJ preceitua que:

Súmula 26
O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas
obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário.

Questão 24 (CESPE/JUIZ/TJ-DFT/2016) Assinale a opção correta, no que diz respeito a aval.


a) Se o título de crédito avalizado for vinculado a contrato de mútuo, o avalista deverá respon-
der pelas obrigações nele contidas, ainda que ali não figure como devedor solidário.

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b) No caso do cheque, se houver dois avais superpostos e em branco, considera-se que houve
aval de aval.
c) Os avais simultâneos estabelecem entre os coavalistas uma relação fundada na solidarie-
dade de direito comum, e não cambiária. Assim, se um deles pagar a dívida, terá o direito de
exigir do outro apenas a quota parte que caberia a este.
d) O avalista de cheque prescrito deverá responder pelo pagamento deste em ação monitória,
independentemente da prova de ter-se beneficiado da dívida.
e) O avalista citado para pagar o valor constante do título poderá invocar em seu favor bene-
fício de ordem, de forma que, primeiro, sejam excutidos bens do avalizado.

Letra c.
De acordo com a doutrina de título de crédito, no aval simultâneo ou coavais os avalistas res-
pondem como se fossem uma pessoa só, respondendo entre eles solidariamente (solidarie-
dade essa em consonância com as regras do Direito Civil). Assim, se um dos avalistas pagar
a dívida, terá direito de regresso integral contra o devedor principal, mas em relação ao outro
avalista somente poderá solicitar o pagamento da metade da dívida (art. 283 do CC).
a) Errada. A súmula 26 do STJ estabelece que “o avalista do título de crédito vinculado a con-
trato de mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar
como devedor solidário.” (negritei).
b) Errada. Contraria a Súmula 189, que preceitua que avais em branco e superpostos conside-
ram-se simultâneos (coavais) e não sucessivos (aval do aval).
d) De acordo com entendimento do STJ (v.g, materializado no Informativo 430 de 2010 e ci-
tado em compilação de Direito Empresária do STJ – Títulos de Crédito – n. 56), “o avalista
não responde por dívida estabelecida em título de crédito prescrito, salvo se comprovado que
auferiu benefício com a dívida.”
e) Pelo princípio da autonomia, o aval constitui obrigação autônoma em relação à assumida
pelo avalizado. Confira a respeito os §§ 2º e 3º do art. 899 do CC:

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Art. 899. O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de indicação, ao emitente ou
devedor final.
§1º Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados
anteriores.
§2º Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação daquele a quem se equipa-
ra, a menos que a nulidade decorra de vício de forma.

2.7. Protesto

Conceito e Modalidades

Protesto é conceituado pelo art. 1º da Lei 9.492, de 1997 (define competência e regula os
serviços concernentes ao protesto de títulos), como “ato formal e solene pelo qual se prova
a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos
de dívida”.
Contudo, conforme observa Fábio Ulhoa Coelho, o conceito intrínseco é um pouco mais
amplo, já que, por exemplo, o protesto por falta de aceite em uma letra de câmbio (que confor-
me veremos em outra aula, não é uma obrigação) não se enquadra na definição legal.
Assim, aproveitando as lições de tal autor, podemos conceituar o protesto como ato for-
mal praticado pelo credor (o cartório somente reduz a termo) com o objetivo de incorporar ao
título a prova de fato relevante para as relações cambiais.
Há três modalidades básicas de protesto de acordo com o fato relevante que se quer fazer
prova:
• Falta de aceite do título: são cabíveis em títulos estruturados como ordem de paga-
mento (o aceite, a princípio, é facultativo), sendo que somente poderá ser efetuado an-
tes do vencimento da obrigação e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a
devolução (art. 21, § 1º da Lei 9.492, de 1997);
• Falta de devolução do título: quando o sacado não devolver a letra de câmbio ou a du-
plicada dentro do prazo legal, retendo-a, o protesto poderá ser baseado na segunda via
da letra de câmbio ou nas indicações da duplicata, vedada a exigência de qualquer for-
malidade não prevista na lei que regula a emissão e circulação das duplicatas (art. 21,
§ 3º da Lei 9.492, de 1997);

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• Falta de pagamento do título: será cabível após o vencimento do título (art. 21, § 2º da
Lei 9.492, de 1997).

O ato cambiário do aceite tem lugar nos títulos de crédito que se estruturam como ordem
de pagamento. Neles são estabelecidas, a partir do saque (emissão), três relações jurídicas
distintas: i) a do sacador, que emite o título e ordena a realização de pagamento; ii) a do sa-
cado, contra quem a ordem de pagamento é emitida; iii) a do beneficiário (ou tomador), em
favor de quem a ordem de pagamento foi passada. Com relação ao sacado, a princípio, ele
somente se obriga quando manifesta concordância por meio do aceite. Fundamental saber
que, no caso da letra de câmbio, o aceite é facultativo. Assim, caso haja recusa total ou par-
cial do aceite, o sacado não se obriga no título, não cabendo ser tirado contra ele protesto
por falta de pagamento. O efeito legal será o vencimento antecipado, nos termos do art. 43,
§ 1º da LUG.

Questão 25 (FCC/JUIZ/TJ-CE/2014/ADAPTADA) Analise as seguintes proposições acerca


do protesto de títulos:
V – É admitido o protesto por falta de pagamento de letra de câmbio contra o sacado não
aceitante.

Errada.
Na letra de câmbio, o aceite é sempre facultativo, de forma que o sacado somente se obrigará
caso aceite o título. Assim, caso haja recusa total ou parcial do aceite, o sacado não se obriga

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no título, não cabendo ser tirado contra ele protesto por falta de pagamento. O efeito legal
será o vencimento antecipado, nos termos do art. 43, § 1º da LUG:

Art.  43. O  portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes,
sacador e outros coobrigados: no vencimento; se o pagamento não foi efetuado; mesmo antes do
vencimento:
1º) se houve recusa total ou parcial de aceite;

DICA!
No que diz respeito à relação cambial, o protesto somente será
necessário para garantir o direito de regresso dos codevedo-
res (os devedores indiretos, ou seja, endossantes e avalistas).
Assim, se a execução for ajuizada somente contra o devedor
principal o protesto será desnecessário.

Ressalto um efeito importante do protesto operado a partir da edição do Código Civil de


2002, a saber, a interrupção da prescrição, nos termos do art. 202, III deste diploma:

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
III – por protesto cambial;

Importante ressaltarmos, caro(a) aluno(a), que anteriormente o STF entendia de forma


contrária, inclusive tendo súmula a respeito, no sentido de que “o simples protesto cambiário
não interrompe a prescrição” (Súmula 153). Contudo, com a nova disposição do CC, susten-
tamos que tal entendimento restou superado, inclusive havendo manifestação do STJ a res-
peito, que deve ser interpretada a contrário sensu:

DIREITO CAMBIAL E PROCESSUAL CIVIL. PROMISSÓRIA. PRESCRIÇÃO. PRECLUSÃO.


INOCORRÊNCIA. RENÚNCIA TÁCITA NÃO-VERIFICADA. PROTESTO CAMBIAL. INTER-
RUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. INEFICÁCIA. SÚMULA N.º 153/STF.
3. Não se deve ter por causa interruptiva, antes da vigência do Código Civil de 2002,
o  protesto cambial realizado em cartório notarial, porquanto este não se equipara ao
protesto judicial realizado com o objetivo especial de interrupção daquele prazo.

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4. Com efeito, o protesto cambial é absolutamente dispensável para o exercício da ação


executiva (cambial) direta contra o emitente ou aceitante do título cambiariforme, tendo
apenas “força de documentação solene, autêntica e especialíssima da apresentação da
cambial para aceite ou pagamento, - não tem efeito interruptivo do prazo prescricio-
nal da respectiva ação, que se conta, suspende-se e interrompe-se de acordo com as
normas de direito comum” (RE n.º 18.189/RJ). Incidência da Súmula n.º 153/STF.
5. Recurso especial improvido.
[REsp 694766 / RS, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 06/05/2010]

De qualquer forma, relembremos a responsabilidade do endossatário por danos decorren-


tes do protesto indevido, nos termos do Enunciado 475 da súmula do STJ:

Súmula 475
Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por
endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco,
ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas. (negritei).

Lugar e Prazos

Com relação ao lugar em que o protesto deve ser tirado, não há uma normatização padrão,
que será definido de acordo com a legislação especial aplicável:
• Letra de câmbio: lugar indicado na letra para o aceite ou para o pagamento. Se não
houver indicação do lugar para pagamento, será o lugar designado ao lado do nome do
sacado, que presume ser o seu domicílio (não há disposição específica na LUG, apli-
cando-se o art. 28 do Decreto 2.044, de 1908);
• Nota promissória: lugar indicado para o pagamento. Se não houver indicação do lugar
para pagamento, será o lugar onde o título foi passado (não há disposição específica
na LUG, aplicando-se o art. 28 do Decreto 2.044, de 1908);
• Cheque: deverá ser protestado no lugar do pagamento ou do domicílio do emitente
(art. 28 da Lei 7.357, de 1985);

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• Duplicata: será protestada na praça de pagamento constante no título (art. 13, § 3º da


Lei 5.474, de 1968).

O protesto é ato essencial para o exercício do direito de regresso contra os coobrigados


do título (endossantes e avalistas), devendo ser realizado necessariamente dentro do prazo
previsto.
Marcelo Bertoldi e Márcia Carla Ribeiro sistematizam os prazos previstos em lei da se-
guinte forma:
• Protesto por falta de aceite: deverá ser realizado antes do vencimento da obrigação e
depois do prazo legal para o aceite ou devolução (art. 21, §1º da Lei 9.429, de 1997);
se o título for emitido para vencimento ‘a certa data’ ou ‘a tempo certo da data’, o título
deverá ser apresentado para protesto antes de tal data; se constar ‘data para sua apre-
sentação’, somente deverá ocorrer o protesto após tal data; se for ‘vencimento a tempo
certo de vista’, o protesto deverá se dar entre o dia em que houve a recusa do aceite e a
data de seu vencimento, sendo que caso não conste do título, ele deverá ser apresenta-
do no prazo máximo de 1 ano a partir de sua data (arts. 22 e 23 da LUG);
• Protesto por falta de pagamento: o título deverá ser entregue ao oficial competente no
primeiro dia útil que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do vencimento, e o respec-
tivo protesto deverá ser tirado dentro de três dias úteis (aplica-se o art. 28 do Decreto
2.044, de 1908, valendo ressaltar que não se aplica ao caso a LUG, pois o Estado bra-
sileiro aderiu à reserva do art. 9º do Anexo II, mantendo regra já existente no Direito
brasileiro – e não a padrão da LUG prevista no art. 44).

Questão 26 (FCC/JUIZ/TJ-CE/2014/ADAPTADA) Analise as seguintes proposições acerca


do protesto de títulos:
IV – O protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do vencimento da obri-
gação e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução.

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Correta.
É o que preceitua o § 1º do art. 21 da Lei 9.492, de 1997:

Art. 21. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução.


§ 1º O protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do vencimento da obrigação
e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução.

Sustação e Cancelamento do Protesto

Dados os transtornos que o protesto acarreta, notadamente restrições nas relações cre-
ditícias, admite-se medida processual com o objetivo de sustação do protesto, em que se de-
verá demonstrar a inexigibilidade da dívida (por exemplo, porque ela já foi paga ou por algum
vício impeditivo da cobrança). Tal possibilidade é disciplinada expressamente no art. 17 da
Lei 9.492, de 1997.

Determinação judicial para a sustação do protesto somente é cabível antes da efetiva la-
vratura do protesto. Após a lavratura de tal ato, o entendimento do STJ é que tal sustação é
inviável, por força do art. 34, caput, da Lei 9.492, de 1997, que veda “a exclusão ou omissão de
nomes e de protestos, ainda que em caráter provisório ou parcial, não decorrente do cancela-
mento definitivo do protesto.” Contudo, admite-se que eventualmente podem ser suspensos
liminarmente os efeitos do protesto (e não o protesto em si) ou caberá o cancelamento do
protesto (e não a sustação) [v.g, STJ, AREsp 064613, Relatora MARIA ISABEL GALLOTTI, deci-
são monocrática, publicado em 17/04/2013].

Já o cancelamento do protesto será solicitado pelo devedor, como regra geral, após o
pagamento do título, devendo exibir o título protestado ou, na impossibilidade, declaração de
anuência do credor (a chamada ‘carta de anuência’) (art. 26 da Lei 9.492, de 1997).

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Se o pedido for fundado em outro motivo que não no pagamento do título ou documento
de dívida, somente será efetivado por determinação judicial, pagos os emolumentos devidos
ao Tabelião, nos termos do § 3º do art. 26 da Lei 9.492, de 1997).

O STJ pacificou, ao julgar recurso repetitivo (Tema repetitivo: 725), que o cancelamento do
protesto é, em regra (salvo inequívoca pactuação em contrário), ônus do devedor (ou seja,
o credor não tem a obrigação de promover o cancelamento após receber o valor do título):

CANCELAMENTO DE PROTESTO EXTRAJUDICIAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTA-


TIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. ÔNUS DO CANCELAMENTO DO PRO-
TESTO LEGITIMAMENTE EFETUADO. DEVEDOR. CONFORME DISPÕE O ART. 2º DA LEI N.
9.492/1997, OS SERVIÇOS CONCERNENTES AO PROTESTO FICAM SUJEITOS AO REGIME
ESTABELECIDO NESTA LEI. ALEGAÇÃO DE O DÉBITO TER SIDO CONTRAÍDO EM RELA-
ÇÃO DE CONSUMO. IRRELEVÂNCIA, POR SE TRATAR DE PROCEDIMENTO SUBMETIDO A
REGRAMENTO ESPECÍFICO.
1. Para fins do art.  543-C do Código de Processo Civil: “No regime próprio da Lei n.
9.492/1997, legitimamente protestado o título de crédito ou outro documento de dívida,
salvo inequívoca pactuação em sentido contrário, incumbe ao devedor, após a quitação
da dívida, providenciar o cancelamento do protesto.
2. Recurso especial não provido.
[STJ, REsp 1339436 / SP, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, jul-
gado em 10/09/2014]

De qualquer forma, devemos ter em mente que o Tabelião de protesto concentra sua aná-
lise em aspectos formais do título, não lhes cabendo, por exemplo, investigar a ocorrência
de prescrição ou caducidade do título de crédito, nos termos do art. 9º, caput, da Lei 9.492,
de 1997:

Art.  9º Todos os títulos e documentos de dívida protocolizados serão examinados em seus ca-
racteres formais e terão curso se não apresentarem vícios, não cabendo ao Tabelião de Protesto
investigar a ocorrência de prescrição ou caducidade.

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Questão 27 (FCC/JUIZ/TJ-SE/2015/ADAPTADA) De acordo com a redação atual da Lei no


9.492/1997, que regula o protesto de títulos e documentos,
c) todos os títulos e documentos de dívida protocolizados serão examinados em seus ca-
racteres formais e terão curso se não apresentarem vícios, cabendo ao Tabelião de Protesto
investigar a ocorrência de prescrição ou caducidade.

Errada.
O Tabelião de protesto concentra sua análise em aspectos formais do título, não lhes caben-
do, por exemplo, investigar a ocorrência de prescrição ou caducidade do título de crédito, nos
termos do art. 9º, caput, da Lei 9.492, de 1997:

Art.  9º Todos os títulos e documentos de dívida protocolizados serão examinados em seus ca-
racteres formais e terão curso se não apresentarem vícios, não cabendo ao Tabelião de Protesto
investigar a ocorrência de prescrição ou caducidade.

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RESUMO
A sociedade não é criação do Direito brasileiro e muito menos é um instituto recente. Te-
mos antecedentes históricos no Direito Romano, mas o instituto desenvolveu com mais vigor
na Idade Média, com o objetivo de segregação de riscos do comerciante.
O conceito de sociedade é depreendido a partir do disposto no art. 981 do Código Civil, que
preceitua que celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a
contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre
si, dos resultados.
Os elementos específicos para a constituição da sociedade são: acordo de vontade com
fim comum (a sociedade decorre de um negócio jurídico entre duas ou mais pessoas que é
dirigido a um fim comum); pluralidade de sócios (há exceções); definição de obrigações recí-
procas; exercício de atividade econômica; partilha dos resultados
A personalidade jurídica não é elemento que necessariamente integra o conceito de so-
ciedade, bastando citar que o CC disciplina expressamente duas sociedades não personifica-
das: a sociedade em comum e a sociedade em conta de participação.
Como exceção, podemos ter sociedades unipessoais: i) originalmente unipessoal (socie-
dade limitada unipessoal, subsidiária integral, empresa pública e sociedade unipessoal de
advogados); ii) supervenientemente unipessoal (quando a sociedade fica com somente um
sócio, como por exemplo, no caso da morte de um deles. Nesse caso, haverá prazo para re-
composição societária).
A EIRELI não é uma sociedade, tratando-se de um novo ente jurídico personificado!
Se o contrato social tiver cláusula excluindo algum sócio do resultado social (ganhos ou
perdas) ela será considerada não escrita, sendo que na omissão presume-se que o sócio par-
ticipará dos lucros e das perdas, na proporção das respectivas quotas.
Diferença entre sociedade, associação e fundação: sociedade necessariamente devem
desenvolver atividade econômica com a finalidade lucrativa (partilha dos resultados); asso-
ciação, em regra, desenvolve atividades morais, pias, literárias, artísticas, mas pode até de-
senvolver atividade econômica, desde que o lucro seja o meio (para reinvestir na atividade)

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e não o fim (distribuição); fundação é um complexo de bens, sendo que a aquisição de per-
sonalidade jurídica própria é direcionada para a realização de um fim de interesse público
preestabelecido pelo(s) seu(s) fundador(es), de forma estável e permanente.
As sociedades podem se classificar de acordo com: área de atuação (sociedade empre-
sária e sociedade simples); personificação (sociedades não personificadas e sociedades per-
sonificadas); responsabilidade dos sócios (limitada, ilimitada ou mista); estrutura econômica
(sociedade de pessoas e sociedade de capitais); forma do capital (sociedade de capital fixo e
sociedade de capital variável); natureza do ato constitutivo (sociedades contratuais e socie-
dades institucionais).
São princípios do direito societário: princípio da autonomia patrimonial (a sociedade deve
ser entendida como sujeito de direitos e obrigações próprio, não se confundido com os seus
sócios); princípio majoritário nas deliberações sociais (o acordo de vontades vigora na so-
ciedade não somente no momento da sua constituição como também no desenvolvimento
de suas atividades, devendo a proporcionalidade ser, em regra, de acordo com o montante in-
vestido, privilegiando os sócios que assumiram mais riscos); princípio da proteção ao sócio/
acionista minoritário (o poder dos sócios majoritários não é absoluto, sendo concedido aos
sócios minoritários o poder de fiscalização e, em alguns casos, o direito de retirada da socie-
dade, notadamente em relação a determinadas deliberações que o minoritário tenha votado
em sentido contrário).
A aquisição da personalidade jurídica ocorrerá efetivamente com a inscrição no registro
próprio dos atos constitutivos da sociedade (sociedade empresária será na Junta Comercial
e a sociedade simples no Registro Civil das Pessoas Jurídicas).
Os sócios de uma sociedade empresária não são empresários – mas empreendedores ou
investidores - uma vez que a titular dos direitos, obrigações e patrimônio é a sociedade.
A aquisição da personalidade jurídica acarreta três atributos: titularidade obrigacional;
titularidade processual; e autonomia patrimonial.
A soma da contribuição de cada sócio formará o capital social, representando o patrimô-
nio societário inicial.
O capital desempenhará função externa (garantia mínima dos credores da sociedade) e in-
terna (viabilizará o início da atividade da sociedade para cumprimento do seu objeto e estabele-
cerá as forças na condução da sociedade, de acordo com a proporção de quotas).

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O Código Civil adotou a teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica exi-


gindo, além dos indícios de insolvência, que o sócio (mesmo o minoritário ou ex-sócio), e os
administradores tenham abusado da personalidade da pessoa jurídica com as seguintes con-
dutas: desvio de finalidade (pressupõe dolo) ou confusão patrimonial (não necessita de con-
duta dolosa, basta comprovar a sua ocorrência).
O Código de Defesa do Consumidor e a Lei 9.605, de 1998 (infrações/crimes ambientais)
adotaram a teoria menor, exigindo para a aplicação da desconsideração da personalidade
jurídica apenas o não pagamento de um crédito.
O efeito da desconsideração da pessoa jurídica será episódico, ou seja, atingirá “certas
e determinadas relações de obrigações”, tornando ineficaz alguns atos. Nesse sentido, a so-
ciedade continuará a existir com personalidade jurídica própria, não sendo dissolvida nem
liquidada.
O Código Civil prevê expressamente a possibilidade da desconsideração inversa, ou seja,
quando, para satisfazer dívida de algum sócio ou administrador, o credor direciona sua ação
para atingir o patrimônio da pessoa jurídica (a desconsideração da personalidade jurídica
propriamente tem como escopo atingir o patrimônio dos sócios ou administradores para sa-
tisfazer débito da pessoa jurídica).
Entende-se possível a desconsideração da personalidade jurídica de associação.
Os sócios ou acionistas serão aqueles que detêm quota ou ação de uma sociedade, repre-
sentativa de parcela do seu capital social.
Os principais deveres dos sócios são: contribuir para a sociedade; responder pela evicção
caso integralize o capital com transferência de domínio, posse ou uso; responder pela sol-
vência caso integralize o capital com crédito; atuação exclusiva do sócio que contribuir com
serviço, salvo cláusula contrária; participar das perdas; lealdade.
Os principais direitos dos sócios são: participar dos lucros sociais; participar do acervo,
em caso de liquidação; fiscalizar a gestão a cargo dos administradores; retirar-se da socie-
dade; direito de voto.
O direito cambiário ou direito cambial objetiva garantir eficiência e segurança para a mo-
bilização do crédito.
O conceito do comercialista italiano Cesare Vivante é o mais aceito e completo, definindo
“título de crédito como o documento necessário ao exercício do direito, literal e autônomo nele
mencionado”, sendo praticamente reproduzido no art. 887 do CC.

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Podemos extrair de tal conceito três princípios informadores do regime cambial, a  sa-
ber, cartularidade (a princípio, necessidade da posse do documento físico para o exercício
do direitos), literalidade (somente vale o que constar formalmente no próprio título) e auto-
nomia das obrigações cambiais (eventuais vícios de alguma obrigação não contamina as
demais obrigações, sendo que com a circulação o título desvincula-se do negócio originário
– subprincípio da abstração -, não podendo ser oposto em eventual demanda judicial matéria
de defesa estranha à relação direta com o exequente – subprincípio da inoponibilidade das
exceções pessoais ao terceiro de boa-fé).
Com a prescrição do título de crédito, além da perda da executividade do título de crédito,
também desaparecerá a sua cambiaridade, ou seja, o documento não ostentará mais as ca-
racterísticas próprias aos títulos de créditos.
Os três principais atributos dos títulos de crédito são: encartar unicamente uma relação
creditícia; negociabilidade; e executividade.
Os títulos de crédito podem ser classificados de acordo com os seguintes critérios: apli-
cabilidade dos princípios e atributos próprios dos títulos de crédito (títulos de crédito próprio
e títulos de crédito impróprio); quanto à forma de transferência ou circulação (título ao porta-
dor, título nominal e título nominativo); modelo (título de modelo livre e título de modelo vin-
culado); estrutura (ordem de pagamento e promessa de pagamento); hipóteses de emissão
(título abstrato ou não causal e título causal).
O endosso é o ato cambiário vocacionado para a transferência dos títulos de crédito, em
que o endossante transmite o título (e consequentemente o direito nele mencionado) ao en-
dossatário – novo credor do título -, ao qual são conferidas salvaguardas próprias do regime
cambial.
O Código Civil considera como não escrita qualquer cláusula proibitiva de endosso no
título de crédito.
A regra geral em relação aos títulos de crédito próprios (letra de câmbio, nota promissó-
ria, cheque e duplicata) é circular mediante endosso, sendo implícita, portanto, a cláusula à
ordem.
Decorrem normalmente dois efeitos do endosso em relação aos títulos de crédito pró-
prios: transfere o crédito ao endossatário; e vincula o endossante ao pagamento do título

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(Cuidado! O CC estabeleceu que, como regra, os endossantes não respondem pelas obriga-
ções constantes no título, salvo cláusula expressa em contrário, mas o entendimento é que
tal disposição somente se aplica se não houver norma especial a respeito – em relação aos
títulos de crédito próprios há!).
A cláusula não à ordem (ou seja, a vedação de a transferência ser feita por endosso) afas-
ta a aplicação do regime jurídico cambial, passando a transferência a ser regida pelo regime
jurídico civil relativo à cessão de crédito.
Não há limite quanto ao número de endossos, considerando-se legítimo possuidor o por-
tador do título à ordem com série regular e ininterrupta de endossos, ainda que o último seja
em branco.
Segundo o Código Civil, o endosso parcial (ou limitado a certo valor da dívida) será nulo e
cláusula subordinando o endosso a qualquer condição será considerado não escrita.
Endosso em branco é aquele dado com a simples assinatura, sem a identificação do bene-
ficiário. Endosso em preto é aquele em que se identifica expressamente o endossatário
O endosso-mandato (ou endosso-procuração) envolve a concessão de poderes ao en-
dossatário para agir como seu legítimo representante e exercer os direitos constantes no
título, incluindo cobrá-lo, protestá-lo e executá-lo. Confere ao endossatário o exercício dos
direitos inerentes ao título, salvo restrição expressamente estatuída. Além disso, endossatá-
rio só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador com os mesmos poderes
que recebeu, sendo que com a morte ou a superveniente incapacidade do endossante o en-
dosso-mandato não perde eficácia.
O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decor-
rentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário (Súmula 476 do STJ).
Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por
endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando
ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas (Súmula 475 do STJ).
O endosso-caução (endosso-penhor ou endosso-garantia) é a espécie em que o título
é transferido pelo endossante para garantir dívida que ele contraiu com o endossatário. Tal
cláusula permite ao endossatário exercer os direitos inerentes ao título. O endossatário so-
mente poderá endossar novamente o título na qualidade de procurador.

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O endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anterior.


se o endosso somente ocorrer após o protesto por falta de pagamento ou depois de expi-
rado o prazo para se fazer o protesto, circunstância que a doutrina chama de endosso tardio
ou endosso póstumo. Nesse caso, o  ato de transferência produzirá somente os efeitos de
uma cessão ordinária de crédito.
Considera-se não escrito o endosso cancelado, total ou parcialmente.
Aval é o ato cambiário por meio do qual um terceiro (avalista) se responsabiliza a pagar o
título na mesmas condições que o devedor do título.
O aval será em branco caso não identifique a pessoa que está sendo avalizada. Nesse
caso, presume-se que foi dado em favor do emitente ou devedor do título de crédito.
Já no aval em preto haverá a expressa designação do avalizado.
Avais simultâneos (ou coavais) ocorrem quando duas ou mais pessoas avalizam conjun-
tamente um título, garantindo a mesma obrigação cambial. Tais avalistas respondem como
se fossem uma pessoa só, respondendo entre eles solidariamente (solidariedade essa em
consonância com as regras do Direito Civil, ou seja, ambos podem ser demandados pela dívi-
da integral, mas somente poderá solicitar ao outro avalista a metade da dívida paga).
Avais sucessivos (ou aval de aval) são aqueles em que uma pessoa avaliza um outro
avalista. Nessa hipótese, todos os avalistas terão a mesma responsabilidade do avalizado,
sendo que aquele que pagar a dívida terá direito de regresso integral da dívida em relação aos
coobrigados (avalistas anteriores) e não somente de quota parte.
Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos (Súmula
189 do STJ).
O aval, regido pelo direito cambiário, diferencia da fiança por tratar-se de obrigação autô-
noma (a obrigação subsiste mesmo que nula a obrigação do avalizado, salvo vício de forma
(a fiança é obrigação acessória) e por não admitir o benefício de ordem, podendo o avalista
responder conjuntamente com o avalizado (na fiança, o  fiador somente pode ser acionado
depois do afiançado).
Pelo princípio da autonomia, subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a
obrigação daquele a quem se equipara, a menos que a nulidade decorra de vício de forma.

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Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobriga-
dos anteriores.
Em relação aos títulos de crédito próprios (regulados em lei especial), o STJ entende que
não é necessária a outorga uxória ou marital, uma vez que o aval decorre da simples assina-
tura, devendo ser ato incondicional.
É imprescindível a verificação da natureza onerosa ou gratuita do aval prestado antes do
pedido de recuperação judicial de sociedade empresária, para que se determine se a garantia
se sujeita ou não ao processo de soerguimento (STJ).
O aval posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anteriormente dado.
O avalista do título de credito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obri-
gações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário (Súmula 26 do STJ).
Podemos conceituar o protesto como ato formal praticado pelo credor (o cartório so-
mente reduz a termo) com o objetivo de incorporar ao título a prova de fato relevante para as
relações cambiais.
Há três modalidades básicas de protesto: falta de aceite do título; falta de devolução do
título; e falta de pagamento do título.
O protesto é ato essencial para o exercício do direito de regresso contra os coobrigados
do título (endossantes e avalistas). Contudo, é facultativo em relação ao devedor principal.
Admite-se medida processual com o objetivo de sustação do protesto, em que se discu-
tirá a inexigibilidade da dívida. Contudo, a sustação propriamente somente é cabível antes da
efetiva lavratura do protesto. Após a lavratura de tal ato, não é possível cancelá-lo. Eventu-
almente pode ser solicitada a suspensão liminar dos efeitos do protesto, mas não o protesto
em si.
O cancelamento do protesto será solicitado pelo devedor, como regra geral, após o pa-
gamento do título, devendo exibir o título protestado ou, na impossibilidade, declaração de
anuência do credor.
O cancelamento do protesto é, em regra (salvo inequívoca pactuação em contrário), ônus
do devedor. (STJ: tema repetitivo 725).

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QUESTÕES DE CONCURSO
Questão 1 (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2015) À luz da legislação e da doutrina
pertinentes às sociedades empresárias, julgue o próximo item.
O sócio que transferir crédito para fins de integralização de quota social responderá pela sol-
vência do devedor e o que transmitir domínio de imóvel responderá pela evicção.

Questão 2 (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015/ADAPTADA) Maria adquiriu de Alice, por tempo inde-


terminado, 40% das cotas de determinada sociedade empresária de responsabilidade limitada
que atua na área de eventos. Com isso, o quadro societário ficou composto por Maria e Joana
— sócia fundadora, detentora de 60% do capital social —, com o capital social integralizado.
Dois anos depois, houve desentendimentos entre as sócias em relação à forma da realização
dos eventos, com consequente quebra da affectio societatis. Joana, que tencionava perma-
necer com as atividades empresariais, notificou Maria no sentido de que esta não seria mais
sócia e que lhe seriam imediatamente devolvidos, com correção monetária, os valores que
pagara para aquisição das cotas de Alice. Após a notificação, Maria não aceitou a proposta
e resolveu prosseguir com o exercício de suas atividades societárias sem esboçar qualquer
vontade de se retirar. O contrato social nada dispôs a respeito do montante a ser pago à reti-
rante no caso da resolução da sociedade.
Com relação a essa situação hipotética, assinale a opção correta.
b) Caso seja formalizada a retirada de uma das sócias, a sociedade passará a ser unipessoal,
situação em que a sociedade empresária deverá ser dissolvida de pleno direito mesmo que a
sócia remanescente venha requerer, em tempo hábil, a transformação do registro da socieda-
de para empresária individual no registro público de empresas mercantis.

Questão 3 (CONSUPLAN/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E REGISTROS/TJ-MG/2016)


Podem ser consideradas sociedades empresárias, EXCETO:
a) Sociedade Comandita Simples.
b) Sociedade Comandita por Ações.
c) Sociedade Anônima.
d) Sociedade Cooperativa.

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Questão 4 (ESAF/PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL/PGFN/2012) São sociedades


empresárias, independentemente do objeto, exceto:
a) sociedades em comandita por ações.
b) companhias de economia mista.
c) subsidiárias integrais.
d) sociedades anônimas.
e) sociedades limitadas.

Questão 5 (TRF-4ª/JUIZ FEDERAL/TRF4/2016) Assinale a alternativa INCerto.


b) Celebram contrato de sociedade limitada as pessoas que reciprocamente se obrigam a
contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre
si, dos resultados.

Questão 6 (CESPE/JUIZ/TJ-PR/2017/ADAPTADA) Com relação a empresário e atividade


de empresa, assinale a opção correta.
d) É vedada a transformação de registro de empresário individual em registro de sociedade
empresária.

Questão 7 (FUNDEP/JUIZ/TJ-MG/2014) Analise as afirmativas seguintes.


I – Quando fundada no desvio de finalidade, a aplicação da teoria da desconsideração impor-
ta na anulação e supressão da personalidade jurídica do ente societário, permitindo que os
credores invadam o patrimônio pessoal dos sócios que o compõem.

Questão 8 (CESPE/JUIZ/TJ-AM/2016) Acerca do tratamento dispensado pelo CDC à pes-


soa jurídica e à sua desconsideração e responsabilização penal, aos direitos básicos do con-
sumidor e ao instituto do recall, assinale a opção correta à luz da legislação aplicável e da
jurisprudência do STJ.
a) Na desconsideração da personalidade jurídica, o CDC adotou a teoria maior, pois, para tal
desconsideração, exige-se o desvio de finalidade e a confusão patrimonial.

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Questão 9 (CESPE/PROCURADOR/PGE-BA/2014) A desconsideração inversa da persona-


lidade jurídica implica o afastamento do princípio de autonomia patrimonial da sociedade,
o que a torna responsável por dívida do sócio.

Questão 10 (CESPE/DEFENSOR DA UNIÃO/DPU/2017) De acordo com a legislação de re-


gência e o entendimento dos tribunais superiores, julgue o próximo item.
Situação hipotética: B é sócio cotista da sociedade empresária A Ltda., que está encerrando
suas atividades e, consequentemente, dissolvendo a sociedade.
Assertiva: Nessa situação, em eventual demanda judicial envolvendo B e a figura jurídica A
Ltda., esta poderá requerer a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empre-
sária, tendo como fundamento único o seu término.

Questão 11 (CESPE/JUIZ/TJ-DFT/2014/ADAPTADA) De acordo com o disposto no Código


Civil e com o entendimento jurisprudencial predominante no STJ, julgue o(s) item(ns) a seguir:
Na hipótese de desconsideração da personalidade jurídica de sociedade limitada modesta,
com apenas dois sócios detentores, cada um deles, de 50% do capital social, não é possível
responsabilizar pelas dívidas dessa sociedade o sócio que, de acordo com o contrato social,
não exerça funções de gerência ou administração;

Questão 12 (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPE-DF/2013) Julgue os itens seguintes, acerca


da desconsideração da personalidade jurídica
Segundo o Código Civil de 2002, para a autorização da desconsideração da personalidade
jurídica, basta a falta de patrimônio da sociedade para solver suas obrigações.

Questão 13 (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPE-DF/2013) Julgue os itens seguintes, acerca


da desconsideração da personalidade jurídica.
A desconsideração inversa da personalidade jurídica ocorre quando o patrimônio do sócio
é atingido para o atendimento de obrigações da sociedade por atos que tenham sido pra-
ticados por esta com desvio de finalidade do instituto da personalidade ou pela confusão
patrimonial.

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Questão 14 (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPE-DF/2013) Julgue os itens seguintes, acerca


da desconsideração da personalidade jurídica
A aplicação da desconsideração da personalidade jurídica tem por efeito a anulação desta no
caso concreto.

Questão 15 (FUNESP/JUIZ/TJ-SP/2018) A desconsideração da personalidade jurídica em


sociedade limitada abrange
a) todos os sócios.
b) apenas os administradores.
c) apenas os sócios administradores.
d) apenas os sócios controladores.

Questão 16 (FUNESP/JUIZ/TJ-RS/2018) A respeito do tema teoria da desconsideração da


personalidade jurídica, o Superior Tribunal de Justiça em muitos de seus julgados faz menção
à teoria maior e à teoria menor da desconsideração. Com base nessa informação, assinale a
alternativa correta.
a) Considera-se correta a aplicação da teoria maior da desconsideração, regra excepcional
em nosso sistema jurídico brasileiro, com a comprovação da prova da insolvência da pes-
soa jurídica juntamente com o desvio de finalidade ou confusão patrimonial. A teoria menor,
por consequência, regra geral em nosso sistema jurídico, considera-se correta sua aplicação
apenas diante da comprovação da insolvência da pessoa jurídica.
b) Para devida incidência da aplicação da teoria maior da desconsideração, regra geral do
sistema jurídico brasileiro, torna-se necessária a comprovação da insolvência da pessoa ju-
rídica, a demonstração do desvio de finalidade e da demonstração de confusão patrimonial.
Para a correta aplicação da teoria menor, por sua vez, regra excepcional em nosso sistema
jurídico, basta a comprovação da insolvência da pessoa jurídica.
c) Caracteriza-se a teoria maior da desconsideração, regra geral do sistema jurídico brasi-
leiro, com a identificação apenas do desvio de finalidade da pessoa jurídica, ao passo que a
teoria menor da desconsideração concretiza-se com a comprovação somente da insolvência
da pessoa jurídica.

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d) Para aplicação da teoria maior da desconsideração, regra aplicada excepcionalmente em


nosso sistema jurídico, basta a comprovação da prova da insolvência da pessoa jurídica, en-
quanto para incidência da teoria menor da desconsideração é preciso apenas a demonstra-
ção de confusão patrimonial.
e) Para incidência da teoria maior da desconsideração, regra geral do sistema jurídico brasi-
leiro, exige-se para além da prova da insolvência, ou a demonstração de desvio de finalidade
ou a demonstração de confusão patrimonial. Para caracterização da teoria menor, por sua
vez, regra excepcional, basta a prova de insolvência da pessoa jurídica.

Questão 17 (FAURGS/JUIZ/TJ-RS/2015) Assinale a alternativa correta a respeito da disci-


plina dos Títulos de Crédito, prevista no Código Civil.
a) A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de cré-
dito, acarreta a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.
b) O pagamento de título de crédito pode ser garantido por aval total ou parcial.
c) O portador do título à ordem com série regular e ininterrupta de endossos é considerado
legítimo possuidor, exceto se o último for em branco.
d) O devedor pode opor ao endossatário de endosso mandato as exceções que tiver contra ele.
e) O endossante não responde pelo cumprimento da prestação constante do título, ressalva-
da cláusula expressa em contrário, constante do endosso.

Questão 18 (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2012) No que se refere aos títulos de crédi-


to, julgue os seguintes itens subsequentes.
Considere que Ana emita letra de câmbio cuja ordem seja destinada a Bento e cujo benefi-
ciário seja Caio. Nessa situação hipotética, se Bento aceitar parcialmente a letra de câmbio,
ocorrerá o vencimento antecipado do título, sendo admissível, então, a Caio cobrar a totalida-
de do crédito da sacadora.

Questão 19 (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2012) No que se refere aos títulos de crédi-


to, julgue os seguintes itens subsequentes.
O título que for emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente e que for
transferido mediante termo assinado pelo proprietário e pelo adquirente constituirá título à ordem.

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Questão 20 (CEBRASPE/JUIZ/TJ-SC/2019) A aposição de cláusula proibitiva de endosso no


título de crédito é considerada pelo Código Civil como
a) nula de pleno direito.
b) não escrita.
c) anulável.
d) válida, se aceita expressamente pelo tomador.
e) inexistente, se dada no anverso do título.

Questão 21 (TJ-DFT/JUIZ/TJ-DFT/2011) Quanto à sua estrutura, constitui ordem de paga-


mento:
a) o cheque;
b) a duplicata;
c) a letra de câmbio;
d) todas as alternativas acima (a, b, c) são corretas.

Questão 22 (CEBRASPE/JUIZ/TJ-SC/2019) Determinado título de crédito foi emitido com


eficácia sujeita às normas previstas no Código Civil, não sendo aplicável, na espécie, nenhu-
ma norma especial. A respeito desse título, é correto afirmar que será possível a realização do
a) aval, que será válido com a simples assinatura do avalista no anverso do título.
b) endosso, que deverá ser dado exclusivamente no anverso do título.
c) endosso, na forma parcial.
d) aval, na forma parcial.
e) endosso condicional e o aval cancelado.

Questão 23 (FCC/JUIZ/TJ-SE/2015/ADAPTADA) Na cessão de crédito,


d) salvo estipulação em contrário, o cedente responde pela existência da dívida e solvência do
devedor e o terceiro que assumiu a obrigação do devedor, ainda que com o consentimento do
credor, não exonera o devedor primitivo.

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GABARITO
1. C
2. E
3. d
4. e
5. E
6. E
7. E
8. E
9. C
10. E
11. E
12. E
13. E
14. E
15. a
16. e
17. e
18. C
19. E
20. b
21. d
22. a
23. E

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GABARITO COMENTADO
Questão 1 (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2015) À luz da legislação e da doutrina
pertinentes às sociedades empresárias, julgue o próximo item.
O sócio que transferir crédito para fins de integralização de quota social responderá pela sol-
vência do devedor e o que transmitir domínio de imóvel responderá pela evicção.

Certo.
Consoante o disposto no art. 1.005 do CC, “o sócio que, a título de quota social, transmitir do-
mínio, posse ou uso, responde pela evicção; e pela solvência do devedor, aquele que transferir
crédito.”

Questão 2 (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015/ADAPTADA) Maria adquiriu de Alice, por tempo inde-


terminado, 40% das cotas de determinada sociedade empresária de responsabilidade limitada
que atua na área de eventos. Com isso, o quadro societário ficou composto por Maria e Joana
— sócia fundadora, detentora de 60% do capital social —, com o capital social integralizado.
Dois anos depois, houve desentendimentos entre as sócias em relação à forma da realização
dos eventos, com consequente quebra da affectio societatis. Joana, que tencionava perma-
necer com as atividades empresariais, notificou Maria no sentido de que esta não seria mais
sócia e que lhe seriam imediatamente devolvidos, com correção monetária, os valores que
pagara para aquisição das cotas de Alice. Após a notificação, Maria não aceitou a proposta
e resolveu prosseguir com o exercício de suas atividades societárias sem esboçar qualquer
vontade de se retirar. O contrato social nada dispôs a respeito do montante a ser pago à reti-
rante no caso da resolução da sociedade.
Com relação a essa situação hipotética, assinale a opção correta.
b) Caso seja formalizada a retirada de uma das sócias, a sociedade passará a ser unipessoal,
situação em que a sociedade empresária deverá ser dissolvida de pleno direito mesmo que a
sócia remanescente venha requerer, em tempo hábil, a transformação do registro da socieda-
de para empresária individual no registro público de empresas mercantis.

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Errado.
O art. 1.033, parágrafo único, do CC prevê expressamente a possibilidade de transformação

da sociedade que supervenientemente tornou-se unipessoal em EIRELI ou empresário indi-

vidual:

Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:


IV – a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias;
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hi-
pótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro
Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário indivi-
dual ou para empresa individual de responsabilidade limitada, observado, no que couber, o dispos-
to nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.

Questão 3 (CONSUPLAN/TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E REGISTROS/TJ-MG/2016)

Podem ser consideradas sociedades empresárias, EXCETO:

a) Sociedade Comandita Simples.

b) Sociedade Comandita por Ações.

c) Sociedade Anônima.

d) Sociedade Cooperativa.

Letra d.

A sociedade cooperativa nunca será empresária, independentemente do objeto, a passo que

as sociedades por ações (sociedade anônima e sociedade comandita por ações) sempre se-

rão empresárias. Já a sociedade comandita simples poderá ser empresária se tiver como

objeto social a empresa.

Confira o art. 982 do CC:

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto
o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por
ações; e, simples, a cooperativa.

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Questão 4 (ESAF/PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL/PGFN/2012) São sociedades


empresárias, independentemente do objeto, exceto:
a) sociedades em comandita por ações.
b) companhias de economia mista.
c) subsidiárias integrais.
d) sociedades anônimas.
e) sociedades limitadas.

Letra e.
As sociedades limitadas serão sociedades empresárias se tiverem por objeto o exercício da
empresa. Caso contrário, serão sociedades simples:

Art. 982 do CC. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por ob-
jeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

a/d) Nos termos do art.  982, parágrafo único, do CC, as  sociedades por ações (sociedade
anônima e sociedade comandita por ações) sempre serão empresárias, sendo reguladas pela
Lei 6.404, de 1976:

Art. 982 do CC. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por ob-
jeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por
ações; e, simples, a cooperativa.

b/c) A sociedade de economia mista e a subsidiária necessariamente serão constituídas


sob a forma de sociedade empresária (ou seja, sempre serão empresárias), nos termos dos
arts. 1º c/c 251 e art. 235 da Lei das Sociedades por ações:

Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade
dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.
SEÇÃO V
Subsidiária Integral
Art. 251. A companhia pode ser constituída, mediante escritura pública, tendo como único acionis-
ta sociedade brasileira.
CAPÍTULO XIX
Sociedades de Economia Mista
Legislação Aplicável

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Art. 235. As sociedades anônimas de economia mista estão sujeitas a esta Lei, sem prejuízo das
disposições especiais de lei federal.

Questão 5 (TRF-4ª/JUIZ FEDERAL/TRF4/2016) Assinale a alternativa INCerto.


b) Celebram contrato de sociedade limitada as pessoas que reciprocamente se obrigam a
contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre
si, dos resultados.

Errado.
Essa definição é de sociedade em geral e não somente de sociedade limitada, consoante o
art. 981 do CC:

TÍTULO II
Da Sociedade
CAPÍTULO ÚNICO
Disposições Gerais
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir,
com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

Questão 6 (CESPE/JUIZ/TJ-PR/2017) Com relação a empresário e atividade de empresa,


assinale a opção correta.
d) É vedada a transformação de registro de empresário individual em registro de sociedade
empresária.

Errado.
Da mesma forma que a sociedade empresária, caso reste somente um sócio, pode ser trans-
formada em empresário individual, o Código Civil também admite que esse, caso admita só-
cio(s) transforme-se em sociedade empresária.
Confira o disposto no art. 969, §3º do CC:

Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento que contenha:


§3º Caso venha a admitir sócios, o empresário individual poderá solicitar ao Registro Público de
Empresas Mercantis a transformação de seu registro de empresário para registro de sociedade
empresária, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.

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Questão 7 (FUNDEP/JUIZ/TJ-MG/2014) Analise as afirmativas seguintes.


I – Quando fundada no desvio de finalidade, a aplicação da teoria da desconsideração impor-
ta na anulação e supressão da personalidade jurídica do ente societário, permitindo que os
credores invadam o patrimônio pessoal dos sócios que o compõem.

Errado.
O efeito da desconsideração da pessoa jurídica será episódico, ou seja, atingirá “certas e de-
terminadas relações de obrigações”, tornando ineficaz alguns atos. Assim, a sociedade conti-
nuará a existir com personalidade jurídica própria, não sendo dissolvida nem liquidada.
Confira o caput do art. 50 do CC:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou


pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando
lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas re-
lações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da
pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.

Questão 8 (CESPE/JUIZ/TJ-AM/2016) Acerca do tratamento dispensado pelo CDC à pes-


soa jurídica e à sua desconsideração e responsabilização penal, aos direitos básicos do con-
sumidor e ao instituto do recall, assinale a opção correta à luz da legislação aplicável e da
jurisprudência do STJ.
a) Na desconsideração da personalidade jurídica, o CDC adotou a teoria maior, pois, para tal
desconsideração, exige-se o desvio de finalidade e a confusão patrimonial.

Errado.
No entendimento do STJ, o Código de Defesa do Consumidor (CDC - Lei 8.078, de 1990) ado-
tou a teoria menor, uma vez que a desconsideração da personalidade jurídica é admitida de
forma ampla, bastando para a sua aplicação o não pagamento de um crédito, nos termos do
§5º do art. 28:

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento


do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou vio-
lação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má
administração.

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§ 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de
alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.
(negritei)

Confira decisão do STJ a respeito:

Responsabilidade civil e Direito do consumidor. Recurso especial. Shopping Center de


Osasco-SP. Explosão. Consumidores. Danos materiais e morais. Ministério Público. Legi-
timidade ativa. Pessoa jurídica. Desconsideração. Teoria maior e teoria menor. Limite de
responsabilização dos sócios. Código de Defesa do Consumidor. Requisitos. Obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Art. 28, § 5º.
- Considerada a proteção do consumidor um dos pilares da ordem econômica, e incum-
bindo ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis, possui o Órgão Ministerial legitimidade
para atuar em defesa de interesses individuais homogêneos de consumidores, decor-
rentes de origem comum.
- A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico brasileiro, não pode
ser aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o
cumprimento de suas obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência,
ou a demonstração de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a
demonstração de confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração).
- A teoria menor da desconsideração, acolhida em nosso ordenamento jurídico excep-
cionalmente no Direito do Consumidor e no Direito Ambiental, incide com a mera prova
de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, independente-
mente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial.
- Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode
ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou
administradores desta, ainda que estes demonstrem conduta administrativa proba, isto
é, mesmo que não exista qualquer prova capaz de identificar conduta culposa ou dolosa
por parte dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica.
- A aplicação da teoria menor da desconsideração às relações de consumo está calcada
na exegese autônoma do § 5º do art. 28, do CDC, porquanto a incidência desse dispositivo
não se subordina à demonstração dos requisitos previstos no caput do artigo indicado,

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mas apenas à prova de causar, a mera existência da pessoa jurídica, obstáculo ao ressar-
cimento de prejuízos causados aos consumidores. - Recursos especiais não conhecidos.
[STJ, REsp 279273/SP, Relator p/acórdão Ministro NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 04/12/2003]

Questão 9 (CESPE/PROCURADOR/PGE-BA/2014) A desconsideração inversa da persona-


lidade jurídica implica o afastamento do princípio de autonomia patrimonial da sociedade,
o que a torna responsável por dívida do sócio.

Certo.
A desconsideração inversa da personalidade jurídica (a pessoa jurídica respondendo por dívi-
da de sócios), embora já fosse reconhecida pela jurisprudência e houve referência no art. 133,
§ 2º do CPC, somente foi positivado no Código Civil em 2019, com a introdução do §3º no
art. 50 pela Lei da Liberdade Econômica, sendo exceção ao princípio de autonomia patrimo-
nial da sociedade:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou


pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando
lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas re-
lações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da
pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei n. 13.874,
de 2019).
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações
de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela Lei n. 13.874, de 2019) (grifei)

Questão 10 (CESPE/DEFENSOR DA UNIÃO/DPU/2017) De acordo com a legislação de re-


gência e o entendimento dos tribunais superiores, julgue o próximo item.
Situação hipotética: B é sócio cotista da sociedade empresária A Ltda., que está encerrando
suas atividades e, consequentemente, dissolvendo a sociedade.
Assertiva: Nessa situação, em eventual demanda judicial envolvendo B e a figura jurídica A
Ltda., esta poderá requerer a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empre-
sária, tendo como fundamento único o seu término.

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Errado.
O STJ entende que a mera inexistência ou eventual encerramento irregular das atividades
da sociedade não é suficiente para aplicação da desconsideração da personalidade jurídica
previsto no Código Civil, sendo imprescindível comprovar o abuso da personalidade (desvio
de finalidade ou confusão patrimonial), nos termos do art. 50, caput do CC. Confira decisão
nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. REQUISITOS. REVELIA DE UM DOS
SÓCIOS. PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE. SÚMULAS N. 7 e 83 DO STJ. DECISÃO
MANTIDA.
2. “A teoria da desconsideração da personalidade jurídica, medida excepcional prevista
no art. 50 do Código Civil, pressupõe a ocorrência de abusos da sociedade, advindos do
desvio de finalidade ou da demonstração de confusão patrimonial. A mera inexistência
de bens penhoráveis ou eventual encerramento irregular das atividades da empresa não
enseja a desconsideração da personalidade jurídica”(AgInt no AREsp n. 924.641/SP, Rela-
tor Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 29/10/2019, DJe 12/11/2019).
[STJ, AgInt no AREsp 1473168 / PR, Relator Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 16/12/2019]

Questão 11 (CESPE/JUIZ/TJ-DFT/2014/ADAPTADA) De acordo com o disposto no Código


Civil e com o entendimento jurisprudencial predominante no STJ, julgue o(s) item(ns) a seguir:
Na hipótese de desconsideração da personalidade jurídica de sociedade limitada modesta,
com apenas dois sócios detentores, cada um deles, de 50% do capital social, não é possível
responsabilizar pelas dívidas dessa sociedade o sócio que, de acordo com o contrato social,
não exerça funções de gerência ou administração;

Errado.
Embora seja excepcional, o STJ admite que a desconsideração atinja patrimônio de sócios
que não exerçam poder de administração ou gerência:

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PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO


DA PERSONALIDADE JURÍDICA. SOCIEDADE LIMITADA.SÓCIA MAJORITÁRIA QUE, DE
ACORDO COM O CONTRATO SOCIAL, NÃO EXERCE PODERES DE GERÊNCIA OU ADMI-
NISTRAÇÃO. RESPONSABILIDADE.
1. Possibilidade de a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade limitada
atingir os bens de sócios que não exercem função de gerência ou administração.
2. Em virtude da adoção da Teoria Maior da Desconsideração, é necessário comprovar,
para fins de desconsideração da personalidade jurídica, a prática de ato abusivo ou frau-
dulento por gerente ou administrador.
3. Não é possível, contudo, afastar a responsabilidade de sócia majoritária, mormente se
for considerado que se trata de sociedade familiar, com apenas duas sócias.
4. Negado provimento ao recurso especial.
[STJ, REsp 1315110 / SE, Relator Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 28/05/2013]

Questão 12 (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPE-DF/2013) Julgue os itens seguintes, acerca


da desconsideração da personalidade jurídica
Segundo o Código Civil de 2002, para a autorização da desconsideração da personalidade
jurídica, basta a falta de patrimônio da sociedade para solver suas obrigações.

Errado.
O art. 50, caput, do CC impõe a necessidade de demonstração de desvio de finalidade ou con-
fusão patrimonial.

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou


pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando
lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas re-
lações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da
pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei n. 13.874,
de 2019). (negritei)

O STJ entende que a mera inexistência ou eventual encerramento irregular das atividades
da sociedade não é suficiente para aplicação da desconsideração da personalidade jurídica

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previsto no Código Civil, sendo imprescindível comprovar o abuso da personalidade (desvio de


finalidade ou confusão patrimonial). Confira decisão nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. REQUISITOS. REVELIA DE UM DOS
SÓCIOS. PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE. SÚMULAS N. 7 e 83 DO STJ. DECISÃO
MANTIDA.
2. “A teoria da desconsideração da personalidade jurídica, medida excepcional prevista
no art. 50 do Código Civil, pressupõe a ocorrência de abusos da sociedade, advindos do
desvio de finalidade ou da demonstração de confusão patrimonial. A mera inexistência
de bens penhoráveis ou eventual encerramento irregular das atividades da empresa não
enseja a desconsideração da personalidade jurídica”(AgInt no AREsp n. 924.641/SP, Rela-
tor Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 29/10/2019, DJe 12/11/2019).
[STJ, AgInt no AREsp 1473168 / PR, Relator Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 16/12/2019]

Questão 13 (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPE-DF/2013) Julgue os itens seguintes, acerca


da desconsideração da personalidade jurídica.
A desconsideração inversa da personalidade jurídica ocorre quando o patrimônio do sócio é
atingido para o atendimento de obrigações da sociedade por atos que tenham sido praticados
por esta com desvio de finalidade do instituto da personalidade ou pela confusão patrimonial.

Errado.
Na verdade, esse é o conceito da desconsideração da personalidade jurídica propriamente
dita (enunciada no art.  50, caput, do CC). A  desconsideração inversa ocorre quando, para
satisfazer dívida de algum sócio ou administrador, o credor direciona sua ação para atingir
o patrimônio da pessoa jurídica, nos termos do §3º do art. 50, introduzido pela Lei 13.874,
de 2019:

Art. 50, § 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das
obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.

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Questão 14 (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPE-DF/2013) Julgue os itens seguintes, acerca


da desconsideração da personalidade jurídica
A aplicação da desconsideração da personalidade jurídica tem por efeito a anulação desta no
caso concreto.

Errado.
O efeito da desconsideração da pessoa jurídica será episódico, ou seja, atingirá “certas e de-
terminadas relações de obrigações”, tornando ineficaz alguns atos. Assim, a sociedade conti-
nuará a existir com personalidade jurídica própria, não sendo dissolvida nem liquidada.
Confira o caput do art. 50 do CC:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou


pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando
lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas re-
lações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da
pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.

Questão 15 (FUNESP/JUIZ/TJ-SP/2018) A desconsideração da personalidade jurídica em


sociedade limitada abrange
a) todos os sócios.
b) apenas os administradores.
c) apenas os sócios administradores.
d) apenas os sócios controladores.

Letra a.
O STJ admite que a desconsideração atinja o patrimônio de todos os sócios, inclusive os que
não exerçam poder de administração ou gerência, desde que tenham praticado concretamen-
te ato de abuso de personalidade (desvio de finalidade ou confusão patrimonial):

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO


DA PERSONALIDADE JURÍDICA. SOCIEDADE LIMITADA.SÓCIA MAJORITÁRIA QUE, DE
ACORDO COM O CONTRATO SOCIAL, NÃO EXERCE PODERES DE GERÊNCIA OU ADMI-
NISTRAÇÃO. RESPONSABILIDADE.

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1. Possibilidade de a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade limitada


atingir os bens de sócios que não exercem função de gerência ou administração.
2. Em virtude da adoção da Teoria Maior da Desconsideração, é necessário comprovar,
para fins de desconsideração da personalidade jurídica, a prática de ato abusivo ou frau-
dulento por gerente ou administrador.
3. Não é possível, contudo, afastar a responsabilidade de sócia majoritária, mormente se
for considerado que se trata de sociedade familiar, com apenas duas sócias.
4. Negado provimento ao recurso especial.
[STJ, REsp 1315110 / SE, Relator Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 28/05/2013]

Questão 16 (FUNESP/JUIZ/TJ-RS/2018) A respeito do tema teoria da desconsideração da


personalidade jurídica, o Superior Tribunal de Justiça em muitos de seus julgados faz menção
à teoria maior e à teoria menor da desconsideração. Com base nessa informação, assinale a
alternativa correta.
a) Considera-se correta a aplicação da teoria maior da desconsideração, regra excepcional
em nosso sistema jurídico brasileiro, com a comprovação da prova da insolvência da pes-
soa jurídica juntamente com o desvio de finalidade ou confusão patrimonial. A teoria menor,
por consequência, regra geral em nosso sistema jurídico, considera-se correta sua aplicação
apenas diante da comprovação da insolvência da pessoa jurídica.
b) Para devida incidência da aplicação da teoria maior da desconsideração, regra geral do
sistema jurídico brasileiro, torna-se necessária a comprovação da insolvência da pessoa ju-
rídica, a demonstração do desvio de finalidade e da demonstração de confusão patrimonial.
Para a correta aplicação da teoria menor, por sua vez, regra excepcional em nosso sistema
jurídico, basta a comprovação da insolvência da pessoa jurídica.
c) Caracteriza-se a teoria maior da desconsideração, regra geral do sistema jurídico brasi-
leiro, com a identificação apenas do desvio de finalidade da pessoa jurídica, ao passo que a
teoria menor da desconsideração concretiza-se com a comprovação somente da insolvência
da pessoa jurídica.

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d) Para aplicação da teoria maior da desconsideração, regra aplicada excepcionalmente em


nosso sistema jurídico, basta a comprovação da prova da insolvência da pessoa jurídica, en-
quanto para incidência da teoria menor da desconsideração é preciso apenas a demonstra-
ção de confusão patrimonial.
e) Para incidência da teoria maior da desconsideração, regra geral do sistema jurídico brasi-
leiro, exige-se para além da prova da insolvência, ou a demonstração de desvio de finalidade
ou a demonstração de confusão patrimonial. Para caracterização da teoria menor, por sua
vez, regra excepcional, basta a prova de insolvência da pessoa jurídica.

Letra e.

A teoria maior, adotada pelo nosso Código Civil, é a regra, sendo exceção a adoção da
teoria menor pelo Código de Defesa do Consumidor e pela Lei 9.605, de 1998 (Infrações/
crimes ambientais). De acordo com a teoria maior, disciplinada pelo art. 50 do CC, não
basta a insolvência da pessoa jurídica, sendo necessário comprovar o abuso da perso-
nalidade (desvio de finalidade ou confusão patrimonial).
Confira decisão paradigma do STJ:
Responsabilidade civil e Direito do consumidor. Recurso especial. Shopping Center de
Osasco-SP. Explosão. Consumidores. Danos materiais e morais. Ministério Público. Legi-
timidade ativa. Pessoa jurídica. Desconsideração. Teoria maior e teoria menor. Limite de
responsabilização dos sócios. Código de Defesa do Consumidor. Requisitos. Obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Art. 28, § 5º.
- Considerada a proteção do consumidor um dos pilares da ordem econômica, e incum-
bindo ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis, possui o Órgão Ministerial legitimidade
para atuar em defesa de interesses individuais homogêneos de consumidores, decor-
rentes de origem comum.
- A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico brasileiro, não pode
ser aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o
cumprimento de suas obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência,
ou a demonstração de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a
demonstração de confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração).

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- A teoria menor da desconsideração, acolhida em nosso ordenamento jurídico excep-


cionalmente no Direito do Consumidor e no Direito Ambiental, incide com a mera prova
de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, independente-
mente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial.
- Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode
ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou
administradores desta, ainda que estes demonstrem conduta administrativa proba, isto
é, mesmo que não exista qualquer prova capaz de identificar conduta culposa ou dolosa
por parte dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica.
- A aplicação da teoria menor da desconsideração às relações de consumo está calcada
na exegese autônoma do § 5º do art. 28, do CDC, porquanto a incidência desse disposi-
tivo não se subordina à demonstração dos requisitos previstos no caput do artigo indi-
cado, mas apenas à prova de causar, a mera existência da pessoa jurídica, obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. - Recursos especiais não
conhecidos.
[STJ, REsp 279273/SP, Relator p/acórdão Ministro NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 04/12/2003]

Questão 17 (FAURGS/JUIZ/TJ-RS/2015) Assinale a alternativa correta a respeito da disci-

plina dos Títulos de Crédito, prevista no Código Civil.

a) A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de cré-

dito, acarreta a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.

b) O pagamento de título de crédito pode ser garantido por aval total ou parcial.

c) O portador do título à ordem com série regular e ininterrupta de endossos é considerado

legítimo possuidor, exceto se o último for em branco.

d) O devedor pode opor ao endossatário de endosso mandato as exceções que tiver contra ele.

e) O endossante não responde pelo cumprimento da prestação constante do título, ressalva-

da cláusula expressa em contrário, constante do endosso.

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Letra e.
Com base na regulação somente do Código Civil (na legislação especial temos disposições
em contrário), a regra é o endossante não responder pelo cumprimento da prestação cons-
tante do título, ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso.
Confira o art. 914, caput, do CC:

Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o en-
dossante pelo cumprimento da prestação constante do título.

a) Errada. O art. 888 do CC dispõe exatamente de forma contrária:

Art. 888. A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de
crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.

b) Errada. O parágrafo único do art. 897 do CC veda o aval parcial:

Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada,
pode ser garantido por aval.
Parágrafo único. É vedado o aval parcial.

c) Errada. O art. 911 do CC não excepciona o endosso em branco:

Art. 911. Considera-se legítimo possuidor o portador do título à ordem com série regular e ininter-
rupta de endossos, ainda que o último seja em branco. (negritei)

d) Errada. No endosso mandato, somente serão oponíveis as exceções relacionadas ao en-


dossante (lembre-se: o endossatário age com base no direito do endossante):

Art. 917. A cláusula constitutiva de mandato, lançada no endosso, confere ao endossatário o exer-


cício dos direitos inerentes ao título, salvo restrição expressamente estatuída.
§3º Pode o devedor opor ao endossatário de endosso-mandato somente as exceções que tiver
contra o endossante.

Questão 18 (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2012) No que se refere aos títulos de crédi-


to, julgue os seguintes itens subsequentes.
Considere que Ana emita letra de câmbio cuja ordem seja destinada a Bento e cujo benefi-
ciário seja Caio. Nessa situação hipotética, se Bento aceitar parcialmente a letra de câmbio,
ocorrerá o vencimento antecipado do título, sendo admissível, então, a Caio cobrar a totalida-
de do crédito da sacadora.

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Certo.
Na letra de câmbio, o aceite é sempre facultativo, de forma que o sacado somente se obrigará
caso aceite o título. Assim, caso haja recusa total ou parcial do aceite, o sacado não se obriga
no título, não cabendo ser tirado contra ele protesto por falta de pagamento. O efeito legal
será o vencimento antecipado, nos termos do art. 43, § 1º da LUG:

Art.  43. O  portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes,
sacador e outros coobrigados: no vencimento; se o pagamento não foi efetuado; mesmo antes do
vencimento:
1º) se houve recusa total ou parcial de aceite;

Questão 19 (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2012) No que se refere aos títulos de crédi-


to, julgue os seguintes itens subsequentes.
O título que for emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente e que
for transferido mediante termo assinado pelo proprietário e pelo adquirente constituirá título
à ordem.

Errado.
Nos termos do art. 921, nessa situação teremos um título nominativo (e não um título à or-
dem, cuja transferência é feita por meio do endosso – art. 910 do CC):

CAPÍTULO III
Do Título À Ordem
Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título.
CAPÍTULO IV
Do Título Nominativo
Art.  921. É  título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do
emitente.

Questão 20 (CEBRASPE/JUIZ/TJ-SC/2019) A aposição de cláusula proibitiva de endosso no


título de crédito é considerada pelo Código Civil como
a) nula de pleno direito.
b) não escrita.
c) anulável.

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d) válida, se aceita expressamente pelo tomador.


e) inexistente, se dada no anverso do título.

Letra b.
É o que preceitua o art. 890 do CC:

Art. 890. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a ex-
cludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de
termos e formalidade prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos
e obrigações. (negritei)

Questão 21 (TJ-DFT/JUIZ/TJ-DFT/2011) Quanto à sua estrutura, constitui ordem de paga-


mento:
a) o cheque;
b) a duplicata;
c) a letra de câmbio;
d) todas as alternativas acima (a, b, c) são corretas.

Letra d.
Quanto à estrutura, os títulos de crédito podem ser: i) Ordem de pagamento: serão estabele-
cidas, com o saque (emissão), três relações jurídicas distintas: i) a do sacador, que emite o
título e ordena a realização de pagamento; ii) a do sacado, contra quem a ordem de pagamen-
to é emitida; iii) a do beneficiário (ou tomador), em favor de quem a ordem de pagamento foi
passada. Temos como exemplo o cheque (sacador será o correntista, o sacado é a instituição
financeira e o tomador será quem receber o cheque), a letra de câmbio e a duplicata. ii) Pro-
messa de pagamento: existirão somente duas situações jurídicas: i) promitente (ou sacador),
que promete pagar determinada quantia; ii) beneficiário (ou tomador), a quem a promessa de
pagamento é dirigida. O exemplo clássico é a nota promissória.

Questão 22 (CEBRASPE/JUIZ/TJ-SC/2019) Determinado título de crédito foi emitido com


eficácia sujeita às normas previstas no Código Civil, não sendo aplicável, na espécie, nenhu-
ma norma especial. A respeito desse título, é correto afirmar que será possível a realização do

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a) aval, que será válido com a simples assinatura do avalista no anverso do título.
b) endosso, que deverá ser dado exclusivamente no anverso do título.
c) endosso, na forma parcial.
d) aval, na forma parcial.
e) endosso condicional e o aval cancelado.

Letra a.
É o que estabelece o § 1º do CC:

Art. 898. O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título.


§1º Para a validade do aval, dado no anverso do título, é suficiente a simples assinatura do avalista.

b) Errada. O endosso poderá ser dado tanto no verso (basta a assinatura) ou no anverso, nos
termos do art. 910, caput, e § 1º do CC:

Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título.
§1º Pode o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, dado no verso do
título, é suficiente a simples assinatura do endossante.

c) Errada. O parágrafo único do art. 912 considera nulo endosso parcial:

Art. 912. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o subordine o endossante.
Parágrafo único. É nulo o endosso parcial.

d) Errada. O parágrafo único do art. 897 do CC veda o aval parcial:

Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada,
pode ser garantido por aval.
Parágrafo único. É vedado o aval parcial.

e) Errada. Qualquer cláusula que condicione o endosso é considerada como não escrita
(art. 912 do CC) e o aval cancelado é considerado não escrito (§2º do art. 898 do CC):

Art. 912. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o subordine o endossante.
Art. 898. O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título.
§2º Considera-se não escrito o aval cancelado. (negritei).

Questão 23 (FCC/JUIZ/TJ-SE/2015/ADAPTADA) Na cessão de crédito,


d) salvo estipulação em contrário, o cedente responde pela existência da dívida e solvência do
devedor e o terceiro que assumiu a obrigação do devedor, ainda que com o consentimento do
credor, não exonera o devedor primitivo.

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Errado.
O cedente, a princípio, responde somente pela existência do crédito. Somente se tiver dispo-
sição em contrário é que irá responder pela solvência do devedor, nos termos dos arts. 295 e
296 do CC:

Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável
ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade
lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé.
Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor.

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