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RESUMO
Da busca pela compreensão da figura do Estado como o controlador invisível das grandes
massas, compostas por sujeitos de direito, pauta-se a presente produção acadêmica. Diante
disso, é com destaque a obra 1984 de George Orwell (2009) que sustentamos o exercício da
figura do Estado nesse papel de controlador invisível, situação que vai muito além e, contra as
construções humanas daquele que o chefia, buscando o não cumprimento tangível da CF/88 e
permanece por zelar de uma soberania em processo alienatório. Pautado nesta proposta, nos
colocamos a pensar acerca desta construção fantasiosa de um Grande Irmão, que busca
incansavelmente sustentar-se no poder/liderança, através de um partido que cria raízes em um
sistema feito para que ele se consolide a frente das massas silenciosas. Com isso, podemos
indagar a probabilidade do não garantismo dos Direitos Humanos às massas. Assim,
pautamos a presente composição textual junto ao procedimento de pesquisa bibliográfico
(GIL, 2010, p. 29-43), método dedutivo GIL, 2016, LAKATOS, 2011), bem como quanto ao
tipo de pesquisa qualitativa (RICHARDSON, 2012, p. 79-80).
1. INTRODUÇÃO
Um Grande Irmão que dizia a todo instante o que cada sujeito deveria fazer. Um ser
nunca visto por ninguém, mas ouvido e aclamado por todos os cidadãos da fictícia Oceânia –
cenário do livro 1984, de George Orwell. O líder de um País totalmente opressor, que negava
aos seus habitantes o direito de pensar, manipulando-os diariamente por meio dos órgãos
estatais e fazendo valer seu papel de protetor da nação. Uma realidade totalmente fora de
contexto nos dias atuais. Será?
Na atualidade, não vivemos uma realidade tão exacerbada e cruel, como os habitantes
da fictícia Oceânia viviam, mas não distanciamos deste controle descrito por Orwell em sua
obra, sendo constantemente vigiados por olhos invisíveis que buscam nos manter dentro dos
padrões sócio governamentais impostos pelo Grande Irmão.
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Assim, esta produção acadêmica tem como objetivo analisar o controle do Estado
sobre os comportamentos dos cidadãos na perspectiva de George Orwell, na obra 1984. E,
para isso pautaremos o presente texto junto ao procedimento de pesquisa bibliográfica
(elaborado a partir de material já publicado, revisando de forma intensa a literatura existente
sobre o assunto escolhido – GIL, 2010, p. 29-43), método dedutivo (idealizado a partir de uma
cadeia de raciocínios em ordem descendente, de análise do geral para o particular, até chegar-
se a uma possível conclusão – GIL, 2016, LAKATOS, 2011), bem como quanto ao tipo de
pesquisa qualitativa (busca a compreensão detalhada dos significados e características
situacionais dos fenômenos – RICHARDSON, 2012, p. 79-80)
história, quando elas tomarão a palavra e deixarão de ser a “maioria silenciosa” [...]
(BAUDRILLARD, 1994, p. 5)
Verdade. A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de
cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que
entrava só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente
com meio perfil. E os dois meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta. Chegaram a um lugar luminoso onde a verdade esplendia em
fogos. Era dividida em duas metades, diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir
qual a metade mais bela. As duas eram totalmente belas. Mas carecia optar. Cada
um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia. (ANDRADE, 2002)
controladores invisíveis – que buscam vislumbrar aos olhos daqueles que procuram a verdade
por meio desta construção reflexiva – que a todo instante perquire plantar novas verdades e
fazer com que a verdade de hoje, seja a mentira de amanhã. Isso se tornou extremamente
explícito por meio de George Orwell através do Ministério da Verdade, que tinha como
objetivo, contar a verdade que o Grande Irmão desejava que a massa soubesse, ou até mesmo,
camuflando informações por meio de fraudes rotineiras nos registros presentes, realizando
uma lavagem cerebral em seus liderados – ou melhor, alienados, e fazendo valer aquilo que o
Estado queria – Viva o Grande Irmão!
[...] Ministério da Verdade cuja função primeira não era reconstruir o passado e sim
abastecer os cidadãos da Oceânia com jornais, filmes, livros escolares, programas de
teletela, peças dramáticas, romances – com todo tipo imaginável de informação,
ensino ou entretenimento [...] (ORWELL, 1949, p. 57)
Nota-se esta prática nos dias atuais através dos veículos de comunicação, que fazem a
verdade conforme seu próprio interesse, buscando mostrar o lado que lhe beneficiará,
colocando as massas contra ou a favor de um sistema – nunca contra o Estado –, mas contra
àqueles que estão em sua direção. Esta colocação pode soar estranha, visto que o Estado não é
um ser que se autogoverna, mas assim como em 1984, o Grande Irmão era um ser
desconhecido por todos, somente ouvido e temido pelos alienados à um sistema construído e
dirigido por homens, que a qualquer momento, poderiam deixar de serem o sistema, mas o
Grande Irmão sempre seria o mesmo, e a formação alienatória continuaria a existir. Assim, se
engana aquele que crê em um Estado inanimado. O Estado é um ser vivo, que controla o
homem que está sob seu comando – o verdadeiro controlador invisível.
Na Constituição Federal de 1988, fica expresso em seu art. 220, § 1º e § 2º, que:
Pautado nisso, e em toda a retórica trazida até o momento, nos deparamos com uma
realidade difusa e expressa na lei maior brasileira, que nos traz a dúvida ou o questionamento
a ser feito neste instante. O Estado nesse papel de controlador invisível – conforme trouxemos
neste Artigo – vai contra as construções humanas daquele que o chefia, buscando o não
cumprimento tangível da CF/88 e permanece por zelar de uma soberania e processo
alienatório como o descrito por George Orwell em sua obra?
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Dentro deste Estado de total caos invisível, partimos de um ponto incomum da verdade,
uma fundamentação de ideias exacerbadas, mas que nos remetem a uma passagem de 1984,
dos horrores causados por um crime irreparável – a crimideia – ou segundo o próprio trecho,
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pensamento crime. O pensamento crime não acarreta a morte: o pensamento crime é a morte
(ORWELL, 1949, p. 40). Chegamos em um ponto de total importância na construção desta
reflexão, pois partimos de uma matéria muito comum no mundo jurídico – o crime. Uma ação
antijurídica, que nos torna imputáveis perante a lei. Mas, imputáveis perante qual lei? A lei
criada, controlada e aplicada pelos operários do Estado ou a lei do Estado, criada e regida por
um ser invisível, uno e soberano perante uma sociedade massificada, alienada e manipulada
pelos Ministérios da Verdade?
Pois bem, a complexidade parece ser tamanha, e nós, como operadores do Direito
começamos a nos sentir meros “fantoches”, manipulados por uma lei que não está ao nosso
alcance de aplicabilidade em tribunais ou supremas cortes, que rege um ordenamento que não
está ao nosso alcance, mas que parte de uma construção totalmente involuntária e precisa,
tendo um ser por detrás desta formação, responsável por descontruir a Pirâmide de Kelsen e
colocando acima da Constituição Federal, um novo ordenamento totalmente fora de nossas
possibilidades, a lei do Estado, que neste contexto se difere das leis aplicadas no Estado,
colocando-a como uma norma una, originária deste controlador.
Responder a indagação feita, parece ser cada vez mais difícil. Distanciamo-nos de nosso
ordenamento, de nossa realidade e nos colocamos em um mundo irreal, o mundo jurídico de
1984, que de maneira magnífica, trazida por George Orwell, nos mostra o paralelo mundo do
Direito, com construções fantasiosas, aplicáveis e acredite se quiser, existentes em nosso
cotidiano - 1984 não foge de nossa realidade em uma vírgula sequer e transmite-nos a real
sensação de controle total.
Para aqueles que ainda insistem em não acreditar que este Direito paralelo, trazido à
tona nesta reflexão, não passa de uma simples invenção infundada, que busca trazer consigo
considerações alucinarias e de cunho literário, devemos nos remeter a um célebre caso da
justiça brasileira, ocorrido em 1937, que ganhou tamanha repercussão a ponto de se tornar
obra cinematográfica. O caso “Irmãos Naves”, ocorrido doze anos antes da publicação de
1984, trata-se de uma questão que será descrita literariamente por Orwell anos depois. Após
serem torturados, obrigados a darem depoimentos que os incriminavam e serem absolvidos
por duas vezes, os Irmãos Naves tiveram seus julgamentos anulados, sendo condenados a 25
anos e 6 meses de prisão. Um caso aparentemente surreal, com contornos de drama e injustiça
– cenário ideal para a obra ora analisada, em um período ditatorial brasileiro, que perpetuou
de 1937 a 1945. Orwell pode ter utilizado o exemplo dos Irmãos Naves em sua obra? Nunca
saberemos.
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Se o Partido era capaz de meter a mão no passado e afirmar que tal ocorrência
jamais ocorrera – sem dúvida isso era mais aterrorizante do que a mera tortura ou a
morte [...] “Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente,
controle o passado”, rezava o lema do Partido. (ORWELL, 1949, p. 47)
Estamos todos condenados a punição com a morte, por sermos grandes infratores da lei
do Estado, através das crimideias, muitas vezes acometidas por intermédio dos Ministérios da
Verdade, que buscam, por meio da grande fidelidade ao Grande Irmão, identificar os grandes
traidores da pátria, que perversamente reproduzem inúmeras vezes em suas mentes abaixo o
Grande Irmão, indo contra a paz e a ordem impostas pelo controlador e se distanciando das
construções ideais das massas silenciosas, tão inquiridas pelo Estado e fonte de controle dos
Ministérios da Verdade, que constantemente, recrutam novos aliados e dispensam criminosos
infiltrados.
Partindo desta consolidação de ideais, nos vemos atrelados ao seguinte trecho de 1984,
que de maneira instintiva, nos traria a impressão da falsa existência do Grande Irmão e da
conseguinte desconstrução da ideia do Estado como ser, que monopoliza, controla e aliena as
massas, manipulando de forma tão peculiar, tornando-a imperceptível aos olhos da grande
maioria, que se agarra aos martírios de seus antepassados e gozam de uma falsa liberdade
disposta pelo Estado. O Grande Irmão existe? Claro que existe. O Partido existe. O Grande
Irmão é a personificação do Partido. (Orwell, 1949, p. 303).
Pautado neste questionamento, nos colocamos a pensar acerca desta construção
fantasiosa de um Grande Irmão, que busca incansavelmente sustentar-se no poder, através de
um partido que cria raízes em um sistema feito para que ele se consolide a frente das massas
silenciosas. Vemos uma personificação do Estado invisível, que se forma em um paralelo de
ideias inatas, surgidas de um momento oportuno para a instauração de um regime, que através
do Controlador Invisível atingiu a figura máxima de um partido, uma ramificação deste poder
uno e soberano, que escondido sobre a face de um Grande Irmão, buscou se colocar a frente
de um todo. O Grande Irmão continua sendo o Estado, mas com porções distintas de poder,
que transita entre um poder uno e soberano para um poder complexo e de extrema
importância para o homem, nos mostrando quão capaz se torna o Estado em se adaptar com as
diversas realidades e manter em suas mãos o controle de um todo, transformando seus
operários em fiéis seguidores de um sistema que acreditam ser de criação humana, mas na
verdade, se baseia em algo arquitetado e controlado por este ser invisível.
Esta fácil adaptação por parte do Estado na busca pelo controle máximo, se torna
evidente em Vigiar e Punir, escrita pelo francês Michel Foucault, que retrata em sua
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4. CONCLUSÃO
O Estado em seu papel de Grande Irmão busca manter-se atento ao comportamento das
massas silenciosas e realizar seus devidos controles quando necessário, seja por meio dos
Ministérios da Verdade – mídia –, seja por meio da Polícia de Pensamento – Poder Judiciário.
Perante as perspectivas trazidas por George Orwell, ficou evidente em sua formação,
uma realidade totalmente involuntária e existente, deixando claro o papel manipulador do
Estado perante não só ao cidadão ou sujeito de direitos, mas a um sistema totalmente
disseminado e de fácil controle por parte de um ser invisível a nossos olhos, mas de grande
poder em suas mãos, que evidencia suas inúmeras personalidades assumidas ao decorrer de
um processo, objetivando manter-se sempre a frente do todo.
Vimos que não são apenas singularidades de uma obra literária, mas o reflexo da
atualidade, que se aperfeiçoou ao longo do tempo e despojou de imponência com sua
consolidação. Um sistema controlado por algo muito além de nossas possibilidades, que nos
atém a simples busca pela própria liberdade, se abdicando cada dia de nossas vontades e
anseios, se atrelando cada vez mais ao controle do Estado e de seus órgãos reguladores, que
buscam dominar os meios com o intuito de chegar ao fim – a alienação. Nós, como
cidadãos/sujeitos de direito, ficamos perplexos com tamanha e espantosa construção reflexiva,
que nos traz o sentimento do medo, de insegurança e falta de liberdade. Liberdade de que ou
de quem? Pergunta esta que jamais conseguiremos responder. Afinal, somos manipulados e
temos nossos direitos humanos dignamente respeitados?
Um fantasioso país, chamado de Oceânia por Orwell em 1949, porém, na atualidade,
poderia ser chamado facilmente de Brasil ou por qualquer substantivo próprio que nomeia os
territórios mundiais. A figura do Estado se perpassa por todos os lugares, todos os
ordenamentos jurídicos, todos os meios de comunicação, todos os regimes de governo. O
Estado é o Grande Irmão mundial, que controla invisivelmente todo e qualquer
comportamento ocorrido nos quatro cantos do planeta – Estado, o grande líder mundial. Seu
papel de liderança totalitária foi bem desempenhado sobre nós, cidadãos, que pelos meios
possíveis, buscamos garantir nossa liberdade de pensamento, sem corrermos o risco de sermos
condenados por prática de crimideia.
Concluímos assim, explicitando a imponência estatal, a submissão das massas
silenciosas e o poder deste controlador invisível, tão citado neste Artigo. Buscamos esclarecer
aos olhos daqueles que buscam o conhecimento o quão perigoso e alienatório se transformou
a realidade, pautada em uma obra fictícia de George Orwell, que já em 1949 previa esta
consolidação de um sistema. Orwell soube explorar uma realidade não tão distante de seu
tempo, deixando um verdadeiro e contemporâneo registro do Século XXI.
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REFERÊNCIAS
ANDRADE, Carlos Drummond de. Verdade: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar. 2002.
BAUDRILLARD, Jean. À sombra das massas silenciosas. 4. ed. São Paulo: Brasiliense,
1985.
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 10. ed. São Paulo: Editores Malheiros, 1967.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
ORWELL, George. 1984. 33 reim. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
RICHARDSON, Roberto Jarry; Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas,
2011.