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V HISTÓRIAS SFSURPS Y E X P E C = S Ü S S
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Análise
Crítica da
Narrativa
LUIZ GONZAGA MOTTA
EDITORA
UnB
Capítulo 2
1 Seguindo W . von Hulboldt e F. Nietzsche, Albert Chillon (1999) alega que não existe
uma realidade objetiva nem uma verdade, e nem por isso devemos cair no niilismo. Existem
múltiplas realidades e experiências que conformam sentidos para cada um e que são
compartilhadas com os demais, a partir das quais construímos intersubjetivamente nossas
verdades, afirmação com a qual estou de acordo.
As ideias fundadoras do giro linguístico ocorreram
simultaneamente às mudanças de paradigmas em outras áreas do
conhecimento, que concorreram no mesmo período para reforçar
a busca pelo sentido das coisas, fenômenos e relações humanas. Na
antropologia foram influentes as ideias do antropólogo norte-americano
Cliford Geertz (1989), fundador da antropologia interpretativa (ou
antropologia hermenêutica). Para ele, fazer etnografia é uma atividade
muito parecida com a tarefa do crítico literário: é fazer uma leitura
ou interpretação dos significados das estruturas conceituais complexas.
A cultura, segundo Geertz, consiste em estruturas de significado
socialmente estabelecidas às quais as pessoas respondem, e a análise
cultural é, ou deveria ser, uma adivinhação do significado.
1 0 termo catarse significa purificação, purgação. Foi inicialmente utilizado por Aristóteles na
Poética (2000) para designar os efeitos produzidos no espectador pela tragédia, especialmente
a compaixão e dor.
imaginação imita a vida e a vida imita a ficção. Os processos miméticos,
como observam os citados Gebauer e Wulf (2004), ocorrem em um
nível abaixo das fronteiras de demarcação entre arte, ciência e vida.
1 Barthes (2009) diz que os fait diver são informações totais que contêm em si todo o seu
saber e que não é preciso conhecer nada para consumir um fait divers. Ele não remeteria
formalmente a nada além dele próprio. No nível da leitura, diz Barthes, tudo é dado no
fait diver. suas circunstâncias, suas causas, seu passado, seu desenlace, um ser total que não
remeteria formalmente a nada. Por isso, prossegue o autor, ele aparentaria ser um conto,
uma estrutura fechada. Cito o autor porque seu resumo define bem a semelhança narrativa
entre o fait diver e o conto. Mas identifico neste argumento um excesso de imanentismo, do
qual discordo em várias passagens deste livro.
2 Em uma análise pragmática de dezenas de fait diver publicados nos jornais de referência
atos de fala jornalísticos (MOTTA, 2006). A análise demonstrou que, além de repassar
informações banais, esse tipo de notícia repassa outras instruções de uso
aos receptores: ativam
excedentes de significação para muito além da informação.. Essas notícias são atos realizativos
porque desencadeiam nos interlocutores performances cognitivas e metacognitivas de
exploração permanente entre o verossímil e o inverossímil, o absurdo e o normal, etc.
que contenham princípio, meio e final de uma estória única (como aliás
fazem, de maneira natural, os leitores, ouvintes e telespectadores nos atos
de recepção). Reunindo informações dispersas sobre um mesmo tema ou
assunto (que podem estar separadas por intervalos de dias, semanas ou
meses no noticiário), o analista junta as pontas, encontra os conectivos
e encadeamentos narrativos, os antecedentes e consequentes, recompõe
a serialidade, a sequência e a continuidade da intriga, como o leitor faz
corriqueiramente. O analista precisa reordenar temporalmente a estória,
configurar a cronologia do enredo que no jornalismo costuma apresentar-
se invertida: a estória começa muitas vezes pelo final, quando o incidente
é reportado, e só depois as causas e antecedentes são trazidos a público.
Recompor a serialidade é reorganizar o tempo narrativo no relato difuso
e confuso do jornalismo, que não produz uma definição dos limites
de cada estória. O analisa precisa identificar os conflitos, posicionar as
personagens, descortinar o clímax e o desenlace da intriga.
3 Ricoeur (1994, p. 106) mostra que a configuração da intriga impõe aos sucessivos episódios
o sentido do pontofinal(o fim da estória), a totalidade da qual uma nova qualidade do tempo
emerge, como se escoando do passado em direção ao futuro, como na metáfora da flecha do
tempo: "é como se a recapitulação invertesse a ordem dita 'natural' do tempo".
pensamento contemporâneo em todas as dimensões dessa afirmação.
A análise da narrativa jornalística é um meio caminho entre a análise
da narrativa literária (ficcional) e a análise da narrativa histórica (fática),
integrando elementos dessas duas vertentes em uma síntese narrativa
nova e singular, que precisa dar conta da complexidade semiótica da
comunicação jornalística (ver o capítulo sobre metodologia neste livro).
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2 5 4 p . ; 2 2 cm.
ISBN 978-85-230-1073-7