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Aos vinte dias do mês de maio, do ano 2.005, às 17:57 horas, na 3a VARA FEDERAL DO
TRABALHO DE CUIABÁ - MT, por determinação do Juiz JOÃO HUMBERTO CESÁRIO, foi
aberta a sessão de julgamento relativa ao processo No 01005.2004.003.23.00-5, onde contendem
CARMINDO OLIVEIRA DA SILVA (RECLAMANTE) e TRAVASSOS SEGURANÇA LTDA
(RECLAMADA). Observada a praxe, o processo foi submetido a julgamento, sendo prolatada a
seguinte sentença.
I – RELATÓRIO
Realizada a sessão instrutória da audiência, conforme ata de fls. 111, nela sendo tomado o
depoimento pessoal do preposto da reclamada.
II – FUNDAMENTAÇÃO
Como é curial, o artigo 6o do CPC assevera que ninguém poderá pleitear, em nome
próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei
Mais abusivo ainda é o pleito, quando denoto que o vindicante deseja que os valores
descontados de seu salário e pretensamente não repassados à sua filha, detentora potencial dos
créditos, retornem às suas mãos.
Com efeito, extingo o pedido veiculado na alínea “g” (fls. 10) do libelo, sem julgamento
do mérito.
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EM PREJUDICIAL: PRESCRIÇÃO QUINQUENAL
MÉRITO
Pugna o reclamante pela decretação de nulidade da quitação firmada por via do TRCT
encartado às fls. 14 dos autos, com o conseqüente pagamento dos valores que lhe são ainda
devidos, a título das verbas estampas no documento em questão, dentre elas até mesmo horas
extras.
Para tanto, assevera que somente se submeteu ao negócio noticiado em função de erro
induzido por parte da reclamada (vide, v.g., o 3o parágrafo de fls. 06).
Com razão o reclamante, não podendo o Judiciário Trabalhista conferir guarida à quitação
sub exame.
Debruçado sobre o caso a balha, devo esclarecer, já de plano, que os fatos noticiados pelo
trabalhador são públicos e notórios, portanto independendo de prova (artigo 334 do CPC), sendo
a malfadada prática da reclamada exaustivamente conhecida por todos os magistrados trabalhistas
atuantes em Cuiabá – MT, inclusive os de segunda instância.
Como se não bastasse, inquirido o preposto em audiência, disse não saber se o pagamento
havia sido verdadeiramente feito, fato que posicionou a reclamada na condição de confessa
quanto à matéria fática.
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Como se não bastasse o vício do consentimento oriundo de coação famélica, vislumbro a
ocorrência de outra modalidade de achaque, emanada do instituto jurídico da lesão, ocorrente
quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta (artigo 157 do vigente Código
Civil), proposição que se amolda como luva ao caso vertido, onde a única vantagem da falsa
quitação seria a percepção do TRCT 01 e guias CD/SD. Ou isso ou nada!
Com efeito, fica anulada a quitação firmada por via do TRCT de fls.14. Agir de modo
diverso seria render azo ao abuso de direito, em detrimento da dignidade da pessoa humana e dos
valores sociais do trabalho, princípios que, ex vi do artigo 1o, III e IV, da Magna Carta, são
considerados como fundamentos da República Federativa do Brasil.
Por corolário lógico, condeno a reclamada a pagar ao reclamante, com correção monetária
e juros de mora ex lege o montante líquido de R$10.047,71, acrescido da multa do artigo 477 da
CLT, no importe de um salário de sentido estrito.
Ficam indeferidas as diferenças pleiteadas a título de saldo de salário, haja vista que,
obviamente, o saldo salarial deve ser calculado com base no salário de sentido estrito e não na
remuneração (acerca da diferença entre e salário e remuneração, vide o artigo 457 da CLT).
Quanto aos demais fundamentos do pedido de horas extras, a análise resta prejudicada,
tendo em conta os termos da condenação supra, que açambarcou os créditos correlatos.
Indefiro, haja vista que a reclamada assevera que pagou integralmente os salários e 13 o
salários devidos ao reclamante, consoante a prova documental carreada aos autos, não impugnada
pelo reclamante, nos termos do certificado às fls. 110 dos autos. O fato do TRCT não possuir
valor probante, como alhures visto, não contamina o restante da prova documental produzida pela
reclamada, que, frise-se, não foi impugnada pelo obreiro.
Aqui, ao contestar o pleito, a reclamada não faz qualquer remissão à prova documental
que carreou. Outrossim, analisados os documentos de fls. 15/18, trazidos com a inicial, se afigura
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O Novo Código Civil e o Direito do Trabalho, 1a ed., São Paulo: LTr, 2002, pág. 48.
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nítido que nem todas as competências foram adimplidas. De tal arte, condeno a reclamada no
pagamento direto das incidências faltantes, que serão apuradas em regular liquidação por
cálculos, todas elas acrescidas de 40%.
VALES-TRANSPORTE
Indefiro, na medida em que, negado o fato, o reclamante não produziu prova de que a
reclamada lhe entregara somente 50% dos vales-transporte de que necessitava. Ademais disso, o
pleito em questão não merece guarida, na medida em que o obreiro sequer se deu ao trabalho de
indicar o trajeto que realizava para o deslocamento casa-serviço-casa, não possibilitando ao juízo,
com efeito, informações seguras, capazes de determinar as suas necessidades.
III – DISPOSITIVO
Tudo nos termos da fundamentação, que passa a fazer parte do presente dispositivo, para
todos os fins que se fizerem necessários.
Para efeitos do parágrafo 3o, do artigo 832 da CLT, determino que a reclamada comprove
recolhimento das contribuições sociais, cota do empregado (a ser excluída do seu crédito) e do
empregador, incidentes sobre as verbas salariais decorrentes da condenação (não há tributação
sobre os valores de FGTS, títulos indenizatórios e demais parcelas excluídas pelo art. 28, §9º, da
Lei 8.212/91), sob pena de execução pelos valores respectivos (CF, art. 114, §3º).
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A reclamada deverá proceder ao recolhimento das contribuições sociais previstas no
artigo 195, I, ‘a’ e II da CRFB, no prazo de 48 horas após o trânsito em julgado da presente, sob
pena de execução de ofício (artigo 114, par. 3o da CRFB).
Cientes (E.197/TST).