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W.W. ATKINSON
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ATK/NONO

A CULTURA
DO
PENSAMENTO

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ÍNDICE

Capítulo 00  PREFÁCIO 3
Capítulo 01  O PODER DO PENSAMENTO 4
Capítulo 02  A NATUREZA DO PENSAMENTO 7
Capítulo 03  FASES DO PENSAMENTO 9
Capítulo 04  A CULTURA DO PENSAMENTO 12
Capítulo 05  A ATENÇÃO 15
Capítulo 06  A PERCEPÇÃO 18
Capítulo 07  A REPRESENTAÇÃO 23
Capítulo 08  NONONONONO 26
Capítulo 09  A ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS 29
Capítulo 10  A GENERALIZAÇÃO 32
Capítulo 11  O JUÍZO 39
Capítulo 12  JUÍZOS DERIVADOS 41
Capítulo 13  O RACIOCÍNIO 45
Capítulo 14  IMAGINAÇÃO CONSTRUTIVA 51

PROJETO "SER" 56

ROTEIRO DE ANÁLISE DO LIVRO 56

SUGESTÃO DE ERRATA 57

Parte das publicações de Atkinson foi organizada numa série intitulada "O Livro dos Poderes",
composta de doze títulos que obedecem à seqüência apresentada abaixo. Sugerimos que o livro “A
Lei do Novo Pensamento” seja lido como introdução a essa série.
Conheça a obra completa do autor:
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"O Poder Pessoal, Ou, Vosso Eu Superior"


"O Poder Criador, Ou, Vossas Forças Construtivas"
"O Poder Do Desejo, Ou, Vossas Forças Energizantes"
"O Poder Da Fé, Ou, Vossas Forças Inspiradoras"
"O Poder Da Vontade, Ou, Vossas Forças Dinâmicas"
"O Poder Do Subconsciente, Ou, Vossas Forças Secretas"
"O Poder Espiritual, Ou, A Fonte Infinita"
"O Poder Do Pensamento, Ou, Radiomentalismo"
"O Poder Da Percepção, Ou, A Arte Da Observação"
"O Poder Do Raciocínio, Ou, A Lógica Prática"
“O Poder Do Caráter, Ou, A Individualidade Positiva"
"O Poder Regenerador, Ou, Rejuvenescimento Vital"

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PREFÁCIO

1. Ao publicar esta obra, a Empresa editora tem em vista preencher uma lacuna, no campo da
psicologia experimental, por falta de uma obra que expresse com clareza o que é a mente humana,
quais são as suas capacidades e os meios de aplicá-las.
2. Ela expõe magistralmente as capacidades e funções de vossa mente, ensinando-vos a
dirigir e controlar as forças que por ela se expressam de modo que possais aplicá-las com maior
eficiência em tudo o que desejardes executar.
3. Explicando com clareza as funções do cérebro e o modo de cultivar cada uma delas vos
encaminha para um maior desenvolvimento tanto da inteligência e compreensão, quanto do poder
mental. Aprendereis a desenvolver o vosso raciocínio pelo conhecimento das leis que o regem e
como evitareis cometer erros de juízo.
4. Aprendendo a desenvolver e aplicar vossa atenção, adquirireis uma boa memória que é uma
das faculdades mais úteis para vosso progresso na vida.
5. O conhecimento das leis mentais, apresentadas neste livro, vos levará a expressar com
maior clareza e método as vossas idéias.
6. Pelo estudo desta obra, vos compenetrareis do valor de vossa imaginação construtiva,
embora talvez já conheçais a força criadora que possui.
7. A imaginação criadora é a faculdade mais útil para a artista, o inventor e para todo aquele
que queira abrir caminho na vida, pois só ela fornecerá a necessária originalidade nas realizações
humanas, para despertar o interesse do público.
8. Desejando que saibais aproveitar os ensinos lavrados nestas páginas, vos apresentamos
nossos cumprimentos, com vibrações mentais de paz e felicidade.

A Empresa

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Capítulo – I –
O PODER DO PENSAMENTO

1. Noutros volumes desta série, consideramos as operações da mente humana, denominadas


Vontade, Memória, etc. Passaremos agora à consideração das atividades mentais que se relacionam
com os fenômenos do pensamento, atividades essas a que geralmente damos o nome de ação do
intelecto ou razão.
2. Que é o pensamento? A resposta não é fácil de dar-se, embora empreguemos o termo
familiarmente a todo o momento de nossa existência. O dicionário define o termo “Pensamento” da
forma seguinte: “O ato de pensar; o exercício da mente sob qualquer modo, exceto na sensação e
percepção; consideração séria; deliberação; reflexão; o poder ou faculdade de pensar; a faculdade
mental, etc.” Isso nos leva ao termo “pensar”, que é definido da forma seguinte: “Ocupar a mente
em algum objeto; ter idéias; revolver as idéias na mente; cogitar; raciocinar; exercer o poder do
pensamento; ter uma sucessão de idéias ou estados mentais; executar qualquer operação mental,
quer seja de apreensão, juízo ou dedução; julgar; formar uma conclusão; determinar; etc.”
3. O pensamento é uma operação do intelecto. O intelecto é “a faculdade da alma humana ou
mente pela qual recebe ou compreende as idéias a ela comunicadas pelos sentidos ou pela
percepção, ou outros meios, distintos do poder de sentir e querer; o poder ou a faculdade de
perceber os objetos em suas relações, o poder de julgar e compreender; também a capacidade para
formas superiores de conhecimento em distinção do poder de perceber e imaginar”.
4. Ao dizermos o que “pensamos”, denotamos que exercemos a faculdade pela qual
comparamos e contrastamos certas coisas com outras, observando e notando seus pontos de
diferença e acordo, e então, classificamo-las de conformidade com essas concordâncias e
divergências observadas.
5. No pensar, tendemos a classificar a multidão de impressões recebidas do mundo exterior,
arranjando milhares de objetos numa classe geral e outros milhares em outras classes gerais, até
encontrarmos apartamentos mentais para toda idéia ou impressão concebível. Começamos então a
fazer inferências ou deduções relativas a essas idéias ou impressões, agindo do conhecido para o
desconhecido, dos particulares para as generalidades ou das generalidades para as particularidades,
conforme o caso.
6. É esta faculdade ou poder do pensamento – este emprego do intelecto que colocou o homem
na sua atual posição elevada no mundo das coisas vivas. Nos seus primeiros tempos, o homem era
um animal muito mais fraco do que aquele com os quais estava em contato. Os tigres, leões, ursos,
mamutes e outros animais ferozes eram muito mais fortes, ferozes e ligeiros do que o homem, e ele
foi colocado numa posição tão deficiente de sorte aparente para sobrevivência, que um observador,
sem hesitação alguma, expressaria a opinião que esse animal fraco e lento certamente logo pereceria
na luta pela existência, e que a “sobrevivência do mais apto” logo o faria desaparecer do cenário das
atividades mundanas. E assim sucederia, se ele não possuísse maior equipamento que o dos outros
animais: força, armas naturais e rapidez. Entretanto, não só o homem sobreviveu, apesar das
desvantagens, mas também venceu realmente, dominou e escravizou esses outros animais, que
pareciam aptos a causar a destruição dele. Por quê? Como?
7. Esse fraco animal denominado homem possuía dentro de si os elementos de um novo poder –
poder esse manifestado apenas em grau insignificante em outros animais. Possuía um intelecto pelo
qual era capaz de deduzir, comparar, inferir – raciocinar.
8. Venceu sua falta de armas naturais aproveitando a idéia dos dentes e garras dos outros animais,
imitando-os em sílex e dando-lhes forma de lança, copiando a tromba do elefante e a garra do tigre e
reproduzindo as qualidades aguçadas deles em suas massas de madeira. Não só isso, mas recebeu
lições dos flexíveis troncos e galhos das arvores, e copiou o princípio em sua inclinação, a fim de
projetar sua lança pequena, sua seta. Abrigou a si, sua companheira e seus filhos, da fúria da
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tempestade, primeiramente em cavernas e depois em casas grosseiras, construídas em lugares
inacessíveis, às quais se chegava apenas por meio de escadas grosseiras, pontes ou varas para subir.
Fez portas para suas habitações, a fim de proteger-se dos ataques desses inimigos selvagens –
amontoou pedras à porta de suas cavernas para mantê-los afastados. Colocou grandes pedras sobre os
penhascos para poder derribá-las sobre os inimigos que se aproximassem. Aprendeu a lançar pedras
com seus braços numa direção certa. Imitou os troncos flutuantes e construiu seus primeiros remos
grosseiros e depois formou a canoa. Empregou as peles de animais para aquecer-se – seus tendões
para cordas de seus arcos. Aprendeu as vantagens da cooperação e efeito combinado, e assim formou
os primeiros rudimentos da vida social. E finalmente – a primeira grande descoberta do homem
encontrou a arte de fazer fogo.
9. Como disse um escritor: “Durante algumas centenas de anos, no plano geral da consciência
própria, se efetuou uma ascensão, gradual para os olhos humanos, porem rápida sob o ponto de vista da
evolução cósmica. Numa raça de cérebro grade, gregária, brutal e que andava em pé, que era humana
em aparência, porem, não de fato, da mais alta consciência simples nasceu a faculdade humana básica
e seu irmão, o dom da palavra. Disso e o que o acompanhou, através do sofrimento, trabalho e guerra;
através da animalidade, selvageria, barbarismo; através da escravidão, maldade, esforço; através das
conquistas, derrotas, esmagadoras, lutas contínuas; através de séculos de existência brutal,
alimentando-se de grãos e raízes; com o emprego da pedra ou da madeira casualmente descoberto;
vivendo em florestas profundas, de nozes e sementes, e nas praias, de moluscos, crustáceos e peixes;
por meio desta vitória que talvez seja a maior de todas, a domesticação e a subjugação do fogo; pela
invenção e arte do arco e da flecha; pelo treino de animais e o seu amansamento para o trabalho; pelo
longo saber que levou à cultura do solo; pela fabricação do tijolo e a construção de casas; pela fusão
dos metais e o lento surgir das artes que dependem deles; pela formação lenta dos alfabetos e a
evolução da arte de escrever; enfim, por milhares de séculos da vida, de aspirações humanas, de
desenvolvimento,se constituiu o mundo de seres humanos como se apresentam hoje, com todas as suas
realizações e posses”.
10. A grande diferença entre o pensamento como o encontramos no homem, e suas formas entre os
animais inferiores está no que os psicólogos denominaram “pensamento progressivo”. Os animais
avançam pouco em seus processos de pensamento, contentando-se com os dos seus antepassados –
seus pensamentos parecem ter ficado firmes ou cristalizados durante o processo de sua evolução. Os
pássaros, mamíferos e insetos, em seus processos mentais, variam pouco dos seus antepassados de
muitos milhares de anos. Formam seus ninhos ou abrigos da mesma forma que seus progenitores da
idade da pedra. O homem, porém, progrediu lenta, mas firmemente, apesar dos obstáculos e
insucessos temporários. Procurou progredir e aperfeiçoar. As tribos, que recuaram em relação ao
progresso mental, ficaram retardadas e muitas delas se extinguiram. A grande lei natural da
“sobrevivência do mais apto” operou continuamente na vida do gênero humano. Os “mais aptos” eram
os que melhor se adaptaram para enfrentar os obstáculos de seu ambiente e vencê-los, e esses
obstáculos foram vencidos melhor pelo uso do intelecto. As tribos e os indivíduos cujo intelecto era
ativo tendiam a sobreviver enquanto as outras pereciam, e, por conseguinte, eram capazes de transmitir
suas qualidades intelectuais aos seus descendentes.
11. Halleck se expressa: “A natureza emprega constantemente seu poder para destruir os
irrefletidos ou amarrá-los no combate da vida. Ela determinou que somente os mais aptos e seus
descendentes sobreviverão. Pelo mais apto, ela se refere aos que refletiram e cujos pais pensaram e
aproveitaram disso. Os geólogos nos dizem que, séculos passados, viveram na Inglaterra ursos, tigres,
elefantes, leões e muitos outros animais poderosos e ferozes. Vivia nesse mesmo tempo um animal
muito mais fraco, que não possuía as garra, nem a força e nem a rapidez do tigre. Na realidade, esse
ente humano era indefeso. Se um ser de outro planeta tivesse de fazer uma previsão, certamente teria
dito que aquele animal inofensivo seria o primeiro a ser exterminado. No entanto, todas aquelas
criaturas ferozes sucumbiram, quer à mudança do clima, quer à força inferior do homem. A razão é
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que o homem tinha um recurso recusado aos animais o poder do pensamento progressivo. A terra
afundou, o mar separou a Inglaterra do continente, o clima mudou e até os mais fortes animais não
puderam resistir. Porém, o homem mudou de roupa com a mudança do clima. Fez fogo; construiu um
abrigo para evitar a morte pelo frio. Pensou em meios de matar ou subjugar os animais mais fortes. Se
os leões, tigres ou ursos tivessem o poder do pensamento progressivo, poderiam ter combinado, e
talvez lhes fosse possível exterminar o homem antes de chegar ao estado de civilização. O homem não
mais dorme nas cavernas. A fumaça não mais lhe enche a casa ou encontra saída pelas frestas das
paredes ou por uma abertura do teto. Para viajar,não está mais restrito aos seus pés ou ao uso de
cavalos. O homem deve ao pensamento todo esse aperfeiçoamento. Este apoderou-se das próprias
vibrações do éter para fazer o seu desejo”.
12. E vemos assim que o homem deve seu lugar atual na terra à Cultura do seu Pensamento.
Certamente nos resta o dever de considerar e estudar cuidadosamente os métodos e processos pelos
quais cada qual pode cultivar e desenvolver as admiráveis faculdades da mente, que são empregadas
nos processos de Pensamento. As faculdades da Mente, como os músculos do corpo, podem ser
desenvolvidas, treinadas e cultivadas. O processo desse desenvolvimento mental é denominado
“Cultura do Pensamento” e constitui o assunto deste livro.

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Capítulo – II –
A NATUREZA DO PENSAMENTO

1. Outrora, considerava-se necessário que todos os livros que tratassem do pensamento


começassem com a descrição das concepções metafísicas relativas à natureza e “realidade” da Mente.
O estudante era levado através de muitas páginas e extensas especulações a respeito das teorias
metafísicas sobre a origem e natureza íntima da Mente. Fato que em lugar de restabelecer uma
explicação definida e firme no seu intelecto, mais servia para produzir-lhe confusão e dar-lhe a idéia
que a psicologia era necessariamente uma ciência especulativa e não possuía a firme base prática dos
outros ramos científicos. Por fim, com as palavras do velho Omar, “voltava pela mesma porta em que
entrara”.
2. Porém, essa tendência foi vencida nestes últimos anos e os escritores que tratam do assunto
deixaram de lado todas as concepções metafísicas a respeito da natureza da Mente, e geralmente
começaram entrando diretamente no campo real da psicologia, que é o do estado prático do mecanismo
e das atividades da mente em se. Como disse um autor, a psicologia não tem mais interesse na solução
do eterno enigma do “Que é a Mente?”, do que a física no problema semelhante do “Que é a
Matéria?”. Os dois enigmas e suas respostas pertencem a ramos inteiramente diferentes de
pensamento do que os que se relacionam com suas leis de operação e princípios de atividades. Como
diz Halleck: “A Psicologia estuda os fenômenos da mente da mesma forma que a Física investiga os da
matéria”. Da mesma forma que as ciências físicas são verdadeiras apesar das várias e mutáveis
concepções sobre a natureza da matéria, a ciência da psicologia é verdadeira, apesar das concepções
variáveis e mutáveis em relação à natureza da Mente.
3. Halleck disse muito bem: “Se um materialista acreditasse que a mente fosse apenas o cérebro e
que este fosse uma grande agregação de moléculas, semelhante a um rebanho de ovelhas reunidas de
várias formas, a sua hipótese não mudaria o fato da sensação ter de preceder a percepção, a memória e
o pensamento; nem as leis de associação de idéias se mudariam, nem o fato que o interesse e a
repetição ajudam a memória deixaria de existir. Tanto o homem que pensou que sua mente era uma
coleção de pequenas células, como o que acreditou que sua mente era imaterial, sonhou, imaginou,
pensou e sentiu. É uma grande felicidade que o mesmo fenômeno mental se efetue, seja qual for a
teoria adotada. Aqueles que quiserem estudar os enigmas da mente e da matéria, devem dirigir-se aos
metafísicos. Embora descubramos que o sal, o arsênico e todas as outras coisas são a mesma
substancia com diferentes arranjos moleculares, ainda assim não as empregaremos umas pelas outras”.
4. Para os objetivos do estudo da psicologia prática, devemos pôr de lado, ao menos por
momentos, as nossas preferidas concepções metafísicas e agir como se nada conhecêssemos da
natureza essencial da Mente (e, na realidade, a Ciência não o sabe), e nos limitar aos fenômenos e
manifestações da Mente que, afinal, é o único meio em que podemos conhecer alguma coisa sobre ela.
Como diz Brook: “A mente pode ser definida apenas pelas suas atividades e manifestações. A fim de
obter uma definição da mente, devemos, pois, observar e determinar suas diversas formas de atividade.
Essas atividades, classificadas sob alguns títulos gerais e atribuídas à coisa invisível que as manifesta,
vos darão uma definição da mente”.
5. O ato de consciência determina a existência da Mente na pessoa que a experimenta. Ninguém
pode ser consciente do pensamento, e, ao mesmo tempo, negar a existência da mente em si mesmo.
Com efeito, o próprio ato de negar é uma manifestação do pensamento e, por conseguinte, da
existência da mente. Podeis afirmar o axioma: “Penso, portanto, tenho mente”, porém, não possuís o
privilegio de argüir: “Penso, portanto, não tenho mente”. A mente tem um conhecimento completo e
final de sua própria existência.
6. A antiga opinião sobre a Mente é que é superior à matéria, que emprega para sua manifestação.
Era considerada como incognoscível em si, podendo-se estudá-la apenas em suas manifestações.
Supunha-se que se envolvia, de certo modo, na matéria e nela se manifestava numa multidão de
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formas, graus e variações. A opinião materialista, que se sobressaiu nos meados do século dezenove,
era, pelo contrario, que a Mente era apenas uma atividade ou propriedade da Matéria: uma função
semelhante à de extensão e movimento. Huxley, expressando essa concepção, disse: “Não temos
conhecimento de qualquer substância pensante separada de uma substância extensa. Chegaremos,
cedo ou tarde, a um equivalente mecânico da consciência, da mesma forma que chegamos a um
equivalente mecânico de calor”. Porém, mais tarde, o próprio Huxley foi obrigado a reconhecer que:
“É tão inexplicável como o aparecimento do gênio, quando Aladim esfregou a lâmpada, que uma coisa
tão notável como um estado de consciência se manifeste em conseqüência de uma irritação do tecido
nervoso”.
7. As mais adiantadas autoridades de hoje se acham inclinadas à opinião que tanto a Matéria como
a Mente são aspecto diferentes de alguma Coisa fundamental; ou, como estabelecem alguns dos mais
penetrantes pensadores, provavelmente os dois são manifestações ou emanações aparentemente
deferentes de alguma Coisa íntima que, como disse Spencer: “transcende não só nossa razão, mas
também nossa imaginação”. O estudo da filosofia e da metafísica tem importante objetivo em mostrar-
vos quanto não sabemos e porque não sabemos – e também para mostrar a ilusão de muitas coisas que
julgávamos saber – mas, ao ter que explicar o verdadeiro “porquê”, a causa real, ou a natureza
essencial de uma coisa,é uma grande desilusão para aqueles que procuram verdades fundamentais e
razões finais. É muito mais agradável “abandonar o porquê e procurar o como” – quando é possível.
8. Muitos psicólogos classificam as atividades da mente em três divisões gerais, a saber: (1)
Pensar; (2) Querer; (3) Sentir. Essas divisões, que resultam do que é conhecido por “classificação
trilógica”, foi primeiramente enunciada de um modo distinto por Upham, embora Kant já a tivesse
indicado claramente. Durante muitos anos antes, a divisão era entre atividades cognitivas ou
conhecedoras, e a atividades conativas ou atuantes, conhecidas geralmente por Inteligência e Vontade,
respectivamente. Passaram-se muito tempo para que as autoridades reconhecessem formalmente o
grande campo dos Sentimentos como formando uma classe por si mesma e na mesma altura que a
Inteligência e a Vontade. Existem certas divisões e matizes, que vos explicaremos mais adiante,
algumas das quais são mais ou menos complexas, e parecem irradiar em outras. Aconselhamos o
estudante a que não considere a mente como um objeto constituído de diversos compartimentos ou
divisões distintas. A classificação não indica isso e se destina apenas como meio conveniente para
analisar e estudar as atividades e operações mentais. O “Eu” que sente, pensa e age é a mesma e única
entidade.
9. Como diz muito bem Brooks: “A mente é uma atividade autoconsciente e não uma simples
passividade; é o centro de forças espirituais, que se apóiam no terreno do ego. Como centro de forças,
se relaciona com as forças do universo material e espiritual e é impulsionado pelas suas
suscetibilidades a essas forças. Como atividade espiritual, toma as impressões derivadas dessas forças,
aplica-as no desenvolvimento orgânico de si mesma, converte-se em conhecimento consciente e
emprega esses produtos como meio de pôr outras forças em atividade e produzir novos resultados.
Estando acima da natureza e sendo superior ao seu ambiente, entretanto se alimenta da natureza, como
poderíamos dizer, e transforma as influências materiais em fatos espirituais afins à sua natureza.
Relacionada com o mundo natural e aparentemente se originando nele, entretanto se eleva acima dele,
e, com a coroa da liberdade na fronte, governa o natural que obedece à sua vontade”.
10. Neste livro, embora reconheçamos perfeita e incontestavelmente a “classificação trilógica” das
atividades da Mente nas divisões de Pensar, Querer e Sentir, respectivamente, todavia, empregaremos,
por conveniência, o termo “Pensamento” no seu sentido mais vasto, extenso e geral, como sendo: “O
poder ou faculdade de pensar; a faculdade mental; a mente”, e não apenas no seu sentido mais
particular e estreito de “faculdade de entendimento ou de cognição da mente”. De acordo com isso,
incluímos a cultura das atividades mentais denominadas Atenção, Percepção. Imaginação, etc., assim
como as faculdades estritamente cognitivas, sob a expressão geral de cultura do Pensamento.
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Capítulo – III –
FASES DO PENSAMENTO

1. Vimos que a Mente é aquilo que, dentro de nós, Pensa, Sente e Quer. Existem varias fases
dessas três formas de atividades. Essas fases foram denominadas “as faculdades da mente”, embora
muitas autoridades condenem o uso desse termo, pretendendo que dá uma impressão de diversas
partes ou divisões da mente, separadas e distintas umas das outras, pois essas fases são apenas diversos
poderes e formas de atividade da Mente. Cada manifestação da atividade mental está sob uma das três
formas gerais, anteriormente mencionadas, a saber: Pensar, Sentir e Querer, respectivamente. Toda
manifestação de atividade mental pertence ao Intelecto, aos Sentimentos ou à Vontade. Consideremos
agora a primeira dessas formas gerais da atividade mental: o Intelecto.
2. O Intelecto é definido como sendo a “faculdade ou fase da mente humana pela qual recebe ou
compreende as idéias comunicadas a ele pelos sentidos ou pela percepção ou outros meios, em
distinção à faculdade de sentir e querer; o poder ou faculdade de perceber objetos em suas relações; o
poder de julgar e compreender; também a faculdade para formas superiores de saber e imaginar”. Este
termo é derivado da palavra latina intellectus, cuja significação primordial é “escolher entre” diversas
coisas, significação essa que dará o verdadeiro sentido essencial do termo no seu uso atual; a saber, a
faculdade ou fase mental pela qual “escolhemos entre” as coisas ou pela qual decidimos.
3. A fase ou faculdade do Intelecto se refere ao Pensar no sentido mais particular e estreito desse
termo. Seus produtos são pensamentos, imagens mentais e idéias. Uma idéia ou imagem mental é
uma concepção mental que expressamos pelos termos homem, animal, casa, etc. Às vezes, a palavra
idéia é empregada para expressar apenas a concepção abstrata ou generalizada da coisa, como, por
exemplo, Homem no sentido de “todos os homem”, quando a imagem mental é empregada no sentido
de concepção mental de alguma coisa particular, como “um homem”, considera-se que não é possível
formar imagem mental de uma generalização. Um pensamento é considerado produto mental
resultante de uma combinação de duas ou mais idéias ou imagens mentais, como, por exemplo: “Um
cavalo é um animal”; “um homem é um bípede”; etc.
4. Consideram-se o Intelecto como abarcando certo número de fases ou faculdades menores,
como sejam: a Percepção, o Entendimento, a Imaginação, a Memória, a Razão e a Intuição, que são
explicadas da seguinte forma:
5. A Percepção é a faculdades da Mente que interpreta o material apresentado a ela pelos
sentidos. É o poder pelo qual alcançamos nosso conhecimento do mundo exterior, como nos trazem os
canais dos sentidos. Pela Percepção somos capazes de formar idéias e imagens mentais, que, por sua
vez, nos levam aos pensamentos. Os objetos de que temos consciência por meio da Percepção são
denominados: percepções, que formam a base do que denominamos concepções ou idéias.
6. O Entendimento é a faculdade da Mente por meio da qual somos aptos a comparar
inteligentemente os objetos apresentados a ele pela Percepção, e pela qual as separamos em partes pela
análise ou as combinamos em classe maiores, em conjuntos ou em sínteses. Produz idéias abstratas e
gerais, conceitos de verdades, leis, princípios, causas, etc. Existem diversas subfases de
Entendimentos, que são conhecidas por: Abstração, Concepção ou Generalização, ou Juízo e
Raciocínio, respectivamente, que são explicadas da forma seguinte:
7. A Abstração é a faculdade da Mente que lhe permite abstrair, tirar e considerar em separado de
um objeto, uma qualidade ou propriedade particular do mesmo, fazendo assim dessa qualidade ou
propriedade particular um objeto distinto de pensamento separado do objeto original. Tais são as
idéias abstratas de doçura, cor, dureza, coragem, beleza, etc. que abstraímos ou tiramos das suas
associações originais, quer para o fim de colocá-las fora da vista e consideração ou então para vê-las e
considerá-las por si mesmas. Ninguém sentiu a “doçura”, embora possa ter sentido o gosto de coisas
doces; ninguém viu o “vermelho”, embora tenha visto coisas vermelhas; ninguém viu, ouviu, gostou
ou sentiu a “coragem” em outrem, embora possa ter visto pessoas corajosas. As idéias abstratas são
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apenas concepção mental de qualidades ou propriedades separadas pela Abstração dos objetos que as
possuem.
8. A Concepção ou Generalização é a faculdade da Mente pela qual forma e agrupa diversas
idéias particulares sob o aspecto de uma idéia geral. Pelo processo de Concepção, formamos classe ou
generalizações de idéias particulares resultantes de percepções. Primeiramente, percebemos as coisas;
depois as comparamos umas com as outras; em seguida, abstraímos suas qualidades particulares, que
não são comuns aos diversos objetos; então as generalizamos de acordo com as suas semelhanças;
depois damos nome ao conceito generalizado. Desses processos combinados formamos um Conceito
ou idéia geral da classe de coisas a que a coisa particular pertence. Assim, sujeitando um número de
vacas a esse processo chegamos ao conceito geral de “vaca”. Esse conceito geral inclui todas as
qualidades e propriedades comuns a todas as vacas, mas omite todas as que não são comuns à classe.
Ou podemos formar um conceito de Napoleão Bonaparte, pela combinação de suas diversas qualidades
e propriedades e formar assim uma idéia geral do homem.
9. O juízo é a faculdade da Mente pela qual determinais o acordo ou desacordo entre dois
conceitos, idéias ou objetos de pensamento, comparando-os entre si. Desta comparação surge o juízo,
que é expresso na forma de uma proposição lógica: “O cavalo é um animal”; ou “o cavalo não é vaca”.
O Juízo é aplicado também, em primeiro lugar, na formação de um conceito, pois precisamos comparar
as qualidades antes de podermos formar uma idéia geral.
10. O Raciocínio é a faculdade da Mente pela qual comparamos dois Juízos, um com o outro e da
comparação deduzimos um terceiro Juízo. Esta é uma forma de comparação imediata ou direta. Deste
processo de Raciocínio provém um resultado que é expresso no que é denominado Silogismo, como,
por exemplo: “Todos os cães são animais; Carlos é um cão; portanto, Carlos é um animal”. Ou
expresso em símbolos: “A igual a C: e B igual a C”; portanto, “A igual a B”. O Raciocínio é de duas
espécies ou classe, a saber: Indutivo e Dedutivo, respectivamente. Explicamos essas formas de
Raciocínio em detalhes noutro volume desta série.
11. Os Sentimentos são as faculdades mentais pelas quais experimentais emoções ou sentimentos.
Os sentimentos são experimentação da natureza agradável ou desagradável de nossos estados mentais.
Só podem ser definidos em seus próprios termos. Se nunca experimentastes um sentimento, não
podereis compreender as palavras que o expressam. Os sentimentos resultam no que é denominado
emoção, afeição e desejo. Uma emoção é o simples sentimentos, como a alegria, a tristeza, etc. Uma
afeição é uma emoção que se dirige para um objeto exterior, como amizade, amor, etc. ou seus
contrários, inveja, ciúme, etc. Um desejo é uma emoção resultante da falta de alguma qualidade ou
coisa necessária, e a inclinação para possuí-la.
12. A Memória é a faculdade da Mente pela qual retemos e reproduzimos ou conscientemente
revivemos toda espécie de experiência mental. Tem duas fases, a saber: a Retenção e a Recordação,
respectivamente. Manifesta-se no armazenamento das imagens mentais e idéias, e na reprodução delas
num período posterior de tempo, e também na recordação delas como objetos de experiência passada.
13. A imaginação é a faculdade da Mente pela qual representamos como imagem mental alguma
idéia, conceito ou imagem anteriormente experimentada. Ela não só tem o poder de reproduzir objetos
já percebidos, mas também outro poder que é o de criação ideal por meio do qual cria novas
combinações dos materiais da experiência passada. É uma faculdade, cuja importância é pouco
conhecida pela maioria dos homens. Visto que a imagem mental deve preceder sempre a manifestação
material, o cultivo da Imaginação torna-se assunto de grande importância e digno do mais cuidadoso
estudo.
14. A intuição é a faculdade da Mente pela qual desenvolve o que foi chamado Verdades primárias
ou idéias primárias. Por Idéias primárias designam-se as idéias de Espaço, Tempo, Causa, Identidade,
etc. Por verdade primárias designam-se as chamadas “Verdades Evidentes” da geometria, matemática e
lógica. Sob o titulo de Intuição são também incluídas as atividades das regiões do Subconsciente ou
Superconsciente da mente, de que falamos detalhadamente num volume desse título, desta coleção.
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3
Algumas autoridades conservam a antiga opinião de “Idéias Inatas” pela qual designam que todo ente
humano nasce com o conhecimento de certas verdades fundamentais, não relacionadas com a
experiência. Outros julgam que essas idéias são simplesmente o resultado da experiência da
humanidade, transmitidas a nós como “idéias-germes”, que devem desenvolver-se pela experiência e o
exercício.
15. Que todas as faculdades da Mente podem ser fortalecidas e desenvolvidas pela Cultura e o
Exercício é considerado atualmente um fato por quase todas as autoridades dignas desse nome. Da
mesma forma que o músculo físico pode ser cultivado por métodos convenientes, assim também as
faculdades mentais podem ser fortalecidas e cultivadas pelos métodos e meios apropriados. Visto que
a maioria da humanidade é deficiente no desenvolvimento de uma ou outra faculdade mental principal,
torna-se assunto de grande interesse e importância que todos adquiram conhecimento dos meios de
corrigir e remediar suas deficiências.
16. Procederemos agora à consideração da Cultura do Pensamento em geral, e, em seguida, à
consideração da cultura de cada faculdade geral em particular, detalhadamente.

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4
Capítulo – IV –
A CULTURA DO PENSAMENTO

1. A Cultura do Pensamento é baseada em dois fatos científicos gerais que podem ser expressos
da forma seguinte:
I – Os centros cerebrais do pensamento podem ser desenvolvidos pelo exercício. Embora não
afirme que o cérebro e a mente sejam idênticos, todavia, é fato cientifico que “o cérebro é o órgão da
mente” e que um dos primeiros requisitos para uma mente boa é um cérebro bom. Foi provado por
experiência que as células cerebrais ocupadas em atividades mentais especiais se multiplicam na
proporção do uso ativo das faculdades especiais empregadas na operação mental.
2. Também foi verificado que a falta de uso de faculdades especiais da mente tende a produzir um
processo semelhante ao de atrofia nas células cerebrais próprias dessa atividade particular, de modo
que se torna difícil pensar claramente nessas linhas particulares após um longo período de desuso.
Além disso, é sabido que a educação e a cultura mental de uma criança são seguidas de um aumento e
desenvolvimento das células cerebrais relacionadas com os campos particulares de pensamento em que
a criança se exerce.
3. Existe uma analogia íntima entre o exercício das células cerebrais e o exercício dos músculos
do corpo. Ambos correspondem a exercícios razoáveis; ambos ficam ofendidos por excesso de
trabalho; ambos se degeneram pelo desuso. Como diz: “A mente se desenvolve pelas suas próprias
energias. O exercício mental é, assim, a lei do desenvolvimento mental. Da mesma forma que um
músculo se fortalece pelo uso, assim qualquer faculdade da mente se desenvolve pelo seu uso e
exercício conveniente. Uma mente inativa se torna fraca e incapaz, da mesma forma que um músculo
inativo. Conservai o braço em atadura e o músculo se tornará flácido, perdendo seu vigor e agilidade;
deixai a mente inativa e ela adquirirá uma flacidez mental que a tornará imprópria para toda atividade
árdua ou prolongada. Uma mente inativa perde seu tom e vigor como um músculo inerte; os poderes
mentais se enferrujam pela falta de atividade e exercício. Para desenvolver as faculdades mentais e
conseguir sua mais alta atividade e eficiência, deve haver um exercício constante e judicioso dessas
faculdades. O objeto da cultura é estimular e dirigir a atividade da mente”.
4. As experiências realizadas por cientistas em cães mostraram que, no caso de cães
especialmente treinados em atividade mental excepcional sempre houve um correspondente
desenvolvimento do número de ativas células cerebrais nas partes particulares do cérebro relacionadas
com aquelas atividades mentais. O exame microscópico dos tecidos do cérebro mostrou grandes
diferenças entre a estrutura cerebral dos cães treinados e dos não treinados da mesma cria. As
experiências foram feitas de um modo tão cuidadoso que foi possível distinguir entre os cães treinados
num conjunto de atividades dos treinados em outro. Os biologistas demonstraram a correção de teoria
do desenvolvimento cerebral além da dúvida razoável e a experiência comum da humanidade também
apresenta seu testemunho em favor dela.
5. Em vista do acima exposto, se verá que, pelo exercício inteligente e o uso continuado, todas as
faculdades da mente podem ser desenvolvidas e cultivadas, da mesma forma que qualquer músculo
especial do corpo. Esse exercício só pode resultar do uso real das faculdades em si. O
desenvolvimento deve vir de dentro e não de fora. Nenhum sistema de estímulo exterior desenvolverá
as faculdades da mente – só poderão ser cultivadas por exercício em seu próprio campo particular de
trabalho. O único meio de exercerdes qualquer faculdade particular do pensamento é pensardes por
meio dela.
6. II - As células cerebrais não só se desenvolvem pelo exercício, mas também parece ser fato que
a mente é efetivamente alimentada pelo conhecimento do mundo exterior das coisas. O material
grosseiro do pensamento é tomado pela mente e digerido pelos processos de pensamento, e depois é
realmente assimilado pela mente, de um modo estritamente semelhante aos processos dos órgãos físico
de nutrição. Para que a mente esteja nas melhores condições, deve ser suprida de uma quantidade
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4
normal de alimento mental. Na falta dele, tende a tornar-se fraca e ineficiente. E assim também, se
seu dono for um glutão mental e lhe fornecer excessivo alimento, principalmente alimento rico, terá
tendência para “dispepsia mental” e indigestão – a mente, incapaz de assimilar o alimento mental
fornecido, tende a rebelar-se. Além disso, se a mente for suprida de alimento mental de uma espécie –
se a mente for limitada a um campo estreito de idéias – enfraquece e os processos mentais se tornam
defeituoso. Esta curiosa analogia é aparente sob muitos aspectos.
7. A mente não só precisa de desenvolvimento, mas também de cultura inteligente. Com efeito,
pode ser desenvolvida por objetos impróprios de pensamento da mesma forma que por objetos
convenientes. Um campo fecundo produz tanto, plantas venenosas e inúteis, assim como bom grão e
boa fruta. A cultura do pensamento não deve limitar-se ao desenvolvimento de uma mentalidade
vigorosa e ativa, mas também deve estender-se à cultura de uma mentalidade sábia e inteligente. A
Força e a Sabedoria devem ser combinadas. Além disso, deveis procurar um desenvolvimento
harmonioso e normal. Uma cultura mental unilateral pode produzir um “maníaco”, ao passo que o
desenvolvimento em campos mentais doentios pode produzir um pensador anormal, que se aproximará
perigosamente da linha da loucura. Os homens de “Uma só idéia” às vezes possuem grande poder e
desenvolvimento mental, porém são desequilibrados e não práticos. As pessoas loucas geralmente têm
mentes muito desenvolvidas – anormalmente desenvolvidas.
8. Certas autoridades, apoiando teorias especiais a respeito da natureza da mente, pretendem que a
Cultura do Pensamento é apenas um treino das faculdades e não a criação de um novo poder mental,
visto que a mente não poder formada de fora. Isto é uma estranha combinação de verdade e erro. É
verdade que a mente não pode ser formada de matéria exterior, no sentido de criar uma mente nova,
mas também é verdade que em cada mente existe uma potencialidade de crescimento e
desenvolvimento. Da mesma forma que se diz que o futuro carvalho está na bolota; assim as
potencialidades de crescimento da mente estão nela à espera de alimento exterior e do cultivo
conveniente. Brooks expôs isso muito bem, da seguinte forma: “A cultura da mente não é criadora em
seu caráter; seu objeto é desenvolver em realidades as possibilidades existentes. A mente possui
faculdades inatas que serão despertadas em uma atividade natural. O desígnio da cultura é ajudar a
natureza a aperfeiçoar os poderes que deu. Nenhum poder novo pode ser criado pela cultura; podemos
aumentar a atividade desses poderes, porém não podemos desenvolver novas atividades. Por meio
dessas atividades, novas idéias e pensamento podem ser desenvolvidos e a soma do saber humano
aumentada; porém isso é realizado por uma atividade superior dos poderes naturais de que a mente é
dotada e não pela cultura de novos poderes. O filósofo profundo emprega as mesmas faculdades que a
criancinha está desenvolvendo nos jogos do quarto. O objeto da cultura é despertar os poderes que a
natureza nos deu em atividade normal e estimulá-los e guiá-lo em seu desenvolvimento.”
9. Em relação à objeção acima mencionada podemos dizer que, embora o desenvolvimento da
mente deva vir de dentro, e não de fora, todavia, a fim de desenvolver, ela deve ter o material nutritivo
do mundo exterior para desenvolver-se. Da mesma forma que o corpo cresce de dentro somente pelo
auxilio da nutrição de fora, também a mente, embora se desenvolva de dentro, precisa do material para
pensar e este só pode vir de fora. O pensamento necessita de “coisas” para exercer-se sobre elas – e
com as quais se nutre. Sem esses objetos externos, não pode ter exercício algum, nem receber
nutrição. O pensamento consiste na percepção, exame e comparação das coisas, e a conseqüente
formação de novas combinações, arranjos e síntese. Portanto, as faculdades perceptivas são muito
necessárias para o Pensamento, e a cultura delas é muito necessária na obra de Cultura do Pensamento.
10. É preciso não esquecer que, na Cultura do Pensamento, é necessária uma grande variedade de
exercícios e forma de nutrição. O que desenvolve uma faculdade exercerá apenas um pequeno efeito
em outras. Cada uma necessita do seu gênero particular de exercício – cada qual sua espécie particular
de alimento mental. Embora seja verdade que a mente inteira ganha certo beneficio pelo exercício de
qualquer de suas partes, esse efeito é de importância secundaria. Um homem bem desenvolvido
mentalmente, é desenvolvido em todas as suas faculdades, cada uma pelo seu modo próprio. A
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faculdade de percepção exige objetos de percepção; a faculdade de imaginação exige objetos de
imaginação; a faculdade de Raciocínio exige objetos de Raciocínio; e assim por diante, cada qual
exigindo objetos de exercício e nutrição de sua própria espécie – na sua própria classe. Em certas
pessoas, algumas das faculdades são bem desenvolvidas, ao passo que outras são deficientes. Segue-se
que, nesse caso, as faculdades fracas devem ser desenvolvidas primeiramente, para serem colocadas na
altura geral. Então, pode ser empreendido, se, se quiser, mais um desenvolvimento geral. Além disso,
no desenvolvimento geral, se verificará que certas faculdades corresponderão mais facilmente ao
cultivo, ao passo que outras serão lentas em corresponder. Nesse caso, a sabedoria manda que seja
dado um maior grau de exercício e nutrição às faculdades mais lentas e que menos correspondem, ao
passo que as que mais correspondem devem receber menos desenvolvimento. Na Cultura do
Pensamento, como na cultura física, as partes menos desenvolvidas e mais lentas em corresponder
devem receber atenção especial.
11. Nos capítulos seguintes devemos apontar os métodos e exercícios calculados para desenvolver
as diversas faculdades da mente com a máxima vantagem, dando conselhos gerais, em cada caso, na
direção da cultura da faculdade particular, que servirá de instrução geral para sua cultura. O estudante
deve analisar cuidadosamente a obra toda, antes de tentar especializar-se no desenvolvimento de
qualquer faculdade particular. A obra particular pode ser ajudada pelo conhecimento de todo campo
da Cultura do Pensamento, pois muitas das faculdades irradiam umas sobres as outras em suas
atividades e são sempre mais ou menos interdependentes. Portanto, não vos esqueçais que a mente é
um todo, e não uma simples agregação de muitas partes. Para compreender as partes, é preciso estudar
o todo – para compreender o todo deveis estudar as partes.

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Capítulo – V –
A ATENÇÃO

1. A Atenção não é uma faculdade mental no mesmo sentido que a percepção, a abstração, o
juízo, etc., mas sim sob a natureza de um ato de vontade relativo à focalização da consciência sobre
algum objeto de pensamento apresentado ou representado na mente. Em certo ponto, tem semelhança
com a Abstração, porquanto escolhe algum objeto particular para a consideração da consciência, com a
exclusão de outros objetos. Wayland explica a atenção como sendo uma condição da mente em que a
consciência é excitada e dirigida por um ato de vontade. Diz Hamilton: “A consciência pode ser
comparada a um telescópio; a Atenção é o impulso e a pressão dada aos tubos de acomodação do foco
para a vista”; e mais ainda: “Um ato de atenção, isto é, um ato de concentração, parece assim
necessário em todo exercício da consciência, pois certa contração da pupila é necessária para
exercerdes a visão... A Atenção é, pois, para a consciência o que a contração da pupila é para a vista,
ou para os olhos da mente o que o microscópio ou telescópio é para os olhos do corpo... Constitui a
metade melhor de todo poder intelectual”.
2. Diz Brodie: “A Atenção é muito mais que qualquer diferença no poder abstrato do Raciocínio,
que constitui a grande diferença existente entre as mentes de indivíduos diferentes”. Diz Butler: “O
hábito intelectual mais importante que conheço é aquele de cuidar exclusivamente do assunto que está
às mãos... Dizem comumente que o gênio não pode ser infundido pela educação; no entanto, este poder
de atenção concentrada, que pertence como partes dos dons de todo grande descobridor, é
incontestavelmente capaz de quase um aumento indefinido por uma prática resoluta”. Expressa
Beattier: “A força com que as coisas impressionam a mente é geralmente proporcional ao grau de
atenção que lhe é dada”.
3. Compenetrando-se da importância da atenção, o estudante naturalmente quererá cultivar o
poder de mantê-la, quando for necessário. O primeiro passo na cultura da atenção é que o estudante
adquira cuidadosamente o hábito de pensar e executar uma só coisa por vez. Esta primeira regra
parecerá fácil, porém, a sua prática será bastante difícil de observar, tão descuidada é a maioria das
pessoas no agir e pensar. Não só serão bem recompensados o trabalho e o cuidado havido com a
aquisição desse hábito de pensar e agir com o desenvolvimento da atenção, como o estudante adquirirá
também facilidade para realizar rápida e perfeitamente seu trabalho. Como expressou Kai: “Nada há
que contribua melhor para o êxito em qualquer empreendimento do que o conservar a atenção
concentrada no assunto em mãos; e, pelo contrário, nada é mais prejudicial do que ter a mente ocupada
com uma coisa ao fazer outra”. Como expõe Granville: “Uma causa freqüente de insucesso na
faculdade da atenção é tentar pensar mais de uma coisa por vez”. Kai, por sua vez, exprime muito
bem: “Se quisermos possuir o poder de atenção em alto grau, devemos cultivar o hábito de atender ao
que está diretamente diante da nossa mente, com a exclusão de tudo o mais. Todos os pensamentos e
sentimentos que desviem a mente do que está imediatamente diante dela para ser executado, deve ser
cuidadosamente evitado. Isto é coisa de grande importância e não pouca dificuldade. Frequentemente,
a mente, em lugar de estar concentrada no que está imediatamente diante dela, pensa em coisa
diferente – alguma coisa que talvez já se tenha passado ou deverá apresentar-se, ou então qualquer
coisa inteiramente estranha ao assunto”.
4. Os seguintes princípios relativos à aplicação da atenção foram estabelecidos pelas autoridades
no assunto:
I – A Atenção se prende mais facilmente às coisas de interesse do que as que não interessem.
II – A atenção perde sua força, se não houver variação no estímulo, quer pela mudança do
objeto, quer pelo desenvolvimento de novo atributo no objeto.
III – Quando a atenção estiver cansada pela contínua direção num só objeto, podeis reanimá-la,
dirigindo-a para outro objeto ou deixando-a dirigir-ser para algum objeto passageiro.

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IV – A atenção se manifesta de duas formas, a saber: (1) a concentração em algum objeto de
pensamento; e (2) o afastamento dos objetos externos. Tem, pois, um lado positivo e outro
negativo. Portanto, quando alguém quer dar a sua atenção firme a um só orador no meio de
numerosos oradores, age positivamente, focalizando sua consciência sobre a pessoa escolhida, e
negativamente, recusando escutar os outros.
V – A atenção não é uma faculdade, mas sim um meio de empregar as outras faculdades com
um crescente grau de eficiência.
VI – O grau de atenção possuído por um individuo é um indicio de seu poder de empregar seu
intelecto. Mas autoridades julgam que, no meio dos gênios, o poder da atenção concentrada
geralmente é muito desenvolvido. A firma Brooks: “A Atenção é um dos principais elementos
do gênio”. Escreve Hamilton: “O gênio é uma alta capacidade de Atenção”. Expressou
Helvécio: “O gênio não é mais que atenção concentrada”. Disse Chesterfield: “O poder de
aplicar a vossa atenção, com firmeza e sem dispersão, a um só objeto é um sinal certo de gênio
superior”.
5. A atenção pode ser cultivada, da mesma forma que as diversas faculdades da mente, pelo
método duplo de Exercício e Nutrição, isto é, empregando-a e aplicando-a ativamente e fornecendo os
materiais convenientes para sentirdes a sua força. O modo de exercitardes a atenção é empregá-la
freqüentemente em vossa vida diária. Se estiverdes escutando um homem que fala, procurai dar-lhe
toda a vossa atenção, e, ao mesmo tempo, fechar vossa consciência a todo outro assunto. No trabalho,
deveis esforçar-vos para empregar a Atenção, concentrando vosso interesse na tarefa particular que
tendes de executar, com exclusão de tudo o mais. Ao lerdes, deveis procurar manter vossa mente firme
no texto, em lugar de lançar um ligeiro olhar pela página, como muitos fazem.
6. Aqueles que quiserem cultivar sua atenção devem empreender algum ramo de estudo em que
seja necessário manter firme a atenção por algum tempo. Meia hora de estudo dessa forma vale mais
do que horas de leitura despreocupada para a cultura da atenção. As matemáticas são de grande
utilidade no desenvolvimento do poder de atenção. Escreveu Gibbon: “Após um ligeiro olhar para o
assunto e a distribuição de um livro novo, suspendi a leitura dele, que retomei apenas depois de ter
examinado o assunto em todas as suas relações”.
7. Alguns autores afirmaram que a atenção pode ser desenvolvida pela prática de escolher a voz
de uma pessoa que fala entre numerosos oradores, e deliberadamente afastando os outros sons, e
conservando a atenção no orador escolhido; da mesma forma, escolhendo um só cantor num coro de
igreja ou num bando de cantores; um instrumento musical numa orquestra; uma máquina a produzir
sons no meio de outras, etc. A prática destes exercícios fortalece o poder de concentração e atenção.
8. Diz Draper: “Embora muitas imagens possam apresentar-se simultaneamente na retina, a mente
possui o poder de separar uma delas e firmar a atenção nela, da mesma forma que pode escolher e
seguir exclusivamente as notas de um dos instrumentos, talvez o mais fraco, tocados num conjunto”.
Assim também expressa Taylor: “Num concerto de diversas vozes, que sejam de intensidade quase
igual, consideradas apenas como impressões orgânicas sobre o nervo auditivo, escolhemos uma à
vontade e a elevamos e separamos do volume geral do som; fechando os ouvidos às outras vozes cinco,
dez ou mais e acompanhamos somente aquela. Tendo feito isso por algum tempo, facilmente a
deixamos de lado e tomamos outra”. Afirmou Carpenter: “Quanto mais completamente a energia
mental puder ser levada para um só foco, do qual seja excluído todo objeto que distraia, mais poderoso
será o esforço volitivo”.
9. Muitas autoridades pretendem que a atenção pode ser aplicada e exercida melhor pela análise
mental de um objeto, e, em seguida, pela consideração de suas partes, uma por uma, por um processo
de abstração. Assim, como explica Kay: “Uma maçã nos apresenta forma, cor, sabor, fragrância, etc.
e, se quisermos obter uma idéia clara de qualquer dessas coisas, devemos contemplá-la em si mesma e
compará-la com outras impressões da mesma espécie que anteriormente experimentamos. Assim
também, ao ver uma paisagem, não mais consideramo-la apenas no seu todo, mas também considerar
16
5
cada uma das suas diversas partes individualmente por si mesma, se quisermos obter uma clara idéia
da mesma. Só podemos obter um conhecimento perfeito e completo de um objeto, analisando-o e
concentrando a atenção sobre suas diferentes partes uma por uma”. Expressou Reid: “Não são
imediatamente pelos sentidos, mas antes pelo poder de análise e abstração, que obtemos as mais
simples e distintas noções sobre os objetos dos sentidos”. É como afirmou Brown: “É quase
impossível dar até mesmo um só passo na física intelectual sem a necessidade de executar alguma
espécie de análise”. Em todos os processos que exigem análise e exame de partes, propriedades ou
qualidades, a atenção é ativamente empregada. Segue-se, portanto, que esses exercícios são os mais
apropriados para o trabalho de desenvolvimento e cultura da própria atenção. Portanto, para terminar,
diremos: Para desenvolver e cultivar o poder de atenção e concentração é preciso: (1) Análise; (2)
Análise; (3) Análise. Analisai tudo e todos aqueles com os quais entrardes em contato. Não há regra
melhor ou mais rápida.
10. O estudante notará também que as diversas direções e conselhos que daremos nos capítulos
seguintes, com relação ao cultivo das diversas faculdades, também se adaptam ao desenvolvimento da
atenção, pois esta é colocada em atividade neles. E assim, também , desenvolvendo a atenção, poderá
praticar os futuros exercícios com maior efeito.

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6
Capítulo – VI –
A PERCEPÇÃO

1. Nos capítulos precedentes, vimos que, na fase de atividade mental que se relaciona com o
Intelecto, cujo processo é denominado “Pensamento” no sentido mais estreito do termo, existe diversos
aspectos ou passos que envolvem a aplicação de várias faculdades mentais. O primeiro deles é
denominado Percepção.
2. Muitas pessoas confundem a idéia de Sensação e Percepção, porém existe uma distinção clara
entre elas. As sensações provêm da atividade nervosa – do estímulo da substância nervosa que dá
origem a um efeito especial sobre o cérebro, resultando numa forma elementar de consciência. Diz
uma autoridade: “A sensação é a propriedade especial do sistema nervoso no estado de atividade pela
qual as impressões são transmitidas ao cérebro ou sensório. Quando é feita uma impressão sobre
qualquer parte da superfície do corpo por contato, calor, eletricidade, luz ou outro agente qualquer, a
mente adquire consciência disso pela sensação. No processo há três fases: recebimento da impressão
na ponta do nervo sensorial, a condução dela pelo nervo até o sensório, e a mudança que excita no
próprio sensório, por meio da qual ele produz a sensação.
3. A ciência é incapaz de explicar exatamente porque e como essa ação nervosa é transladada para
uma consciência elementar. O conhecimento é baseado em grande parte, ou totalmente, nas
impressões que foram recebidas pelo canal dos sentidos – sensações da vista, ouvido, gosto, olfato e
tato. Muitas autoridades pretendem que os cinco sentidos são modificações do sentido do tato ou
sensação; como, por exemplo, a impressão dos órgãos da vista é realmente da natureza de um tato ou
sensação delicada das ondas luminosas ao entrarem em contato com os nervos da visão, etc. Porém,
apesar das sensações nos darem os materiais grosseiros do pensamento, por assim dizer, não são
conhecimento em si mesmas. O conhecimento resulta da operação da Percepção sobre esse material
grosseiro da Sensação.
4. No entanto, a Sensação desempenha uma parte muito ativa na apresentação do material
grosseiro para as faculdades perceptivas, e não pode ser considerada simplesmente como processo
fisiológico. Pode-se dizer que é o laço de ligação entre as atividades físicas e mentais. Como disse
Ziehen: “Segue-se que a constituição do sistema nervoso é fator essencial na determinação da
qualidade da sensação. Este fato revela o erro visível dos séculos anteriores, primeiramente refutado
por Locke, embora ainda compartilhado pelo pensar ingênuo de hoje, que os objetos que nos rodeiam
são coloridos, quentes, frios, etc. Como coisa externa à nossa consciência, só podemos admitir a
matéria, vibrando em seu movimento molecular e permeada por vibrantes partículas de éter. O
aparelho nervoso escolhe apenas certos movimento da matéria ou do éter, que transforma na espécie de
excitação nervosa com a qual são familiares. É somente essa excitação nervosa que percebemos como
vermelha, quente ou dura”.
5. Passando da Sensação para a Percepção, vemos que esta interpreta as relações daquela. A
Percepção traduz em consciência as impressões da Sensação. A Percepção, agindo através de uma ou
mais das faculdades mentais, nos dá nossa primeira nesga de conhecimento real. A sensação pode
dar-vos a impressão de uma pequena coisa que se move – a Percepção traduz isso no pensamento de
um gato. A Sensação é simples sentir – a Percepção é o pensamento resultante desse sentir. Uma
percepção é o resultado da faculdade receptiva, ou, por outras palavras, vossa idéia adquirida por meio
da Percepção. A maioria das nossas percepções é complexa, sendo formada de certo número de
percepções menores; como, por exemplo, a nossa percepção de um pêssego é constituída de nossas
percepções menores da forma, modelo, cor, peso, tamanho, dureza, sabor, etc. do pêssego, cada sentido
empregado dando menores percepções, e o todo sendo combinado no consciente como percepção
completa desse pêssego particular.
6. Diz Brooks: “Todo saber não vem diretamente da percepção através dos sentidos. Temos um
conhecimento dos objetos externos e temos um saber que transcende esse conhecimento dos objetos
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6
externos. A Percepção é a fonte imediata da primeira espécie da conhecimento, e a fonte indireta da
segunda espécie de conhecimentos. Esta distinção é a miúdo expressa pelos termos causa e ocasião.
Dizem, assim, que a percepção é a causa de nosso conhecimento dos objetos, pois é a fonte imediata
desse conhecimento. A Percepção é também a ocasião das idéias e verdades da intuição; pois, embora
seja, em certo sentido, necessária para essas idéias, não é a fonte delas. A Percepção fornece também
ao entendimento materiais de que deriva idéias e verdades acima do campo dos sentidos. Como atinge,
assim, um conhecimento dos objetos externos, fornecendo material para as operações do entendimento,
e fornecendo a ocasião para a atividade de faculdade intuitiva, a percepção pode ser considerada como
ocupando a base de todo saber”.
7. A Percepção é a direção manifestada em todas as pessoas. Porém, varia muito em grau e poder.
Além disso, pode ser desenvolvida e cultivada em alto grau. Como a Percepção é uma interpretação da
impressão dos sentidos, muitas vezes confundimos o cultivo da Percepção com o desenvolvimento dos
próprios sentidos. Duas pessoas de sentidos da vista, igualmente perfeitos, podem variar grandemente
em seu grau de Percepção de impressões visuais. Uma pode ser muito descuidada no observar, ao
passo que outra pode observar com muita exatidão e ser capaz de distinguir muitos pontos de interesse
e importância no objeto visto que não apareça à primeira observadora. A cultura da Percepção é o
cultivo do campo mental além dos sentidos, e não dos próprios sentidos. A percepção que acompanha
cada sentido pode ser desenvolvida e cultivada separadamente da que acompanha os outros.
8. A maioria das pessoas é observadora pouco cuidadosa. Verá as coisas sem perceber as
qualidades, propriedades, característicos ou partes que, reunidas, formam essas coisas. Se duas
pessoas, possuidoras de igual grau de vista, caminharem por uma floresta, ambas verão as árvores.
Para uma delas, serão percebidas apenas as árvores; porém, para a outra haverá percepção das
diferentes espécies de árvores, com suas cascas diversas folhas, formas, etc. Uma percebe apenas “um
monte de pedra”, que para a percepção de outra é reconhecida como granito, mármore, etc. Diz
Brooks: “Poucas pessoas podem dizer a diferença entre o número de membros de uma borboleta e o de
uma aranha; e conheci filhos de fazendeiros que não sabiam dizer se as orelhas de uma vaca estavam
na frente, atrás, acima ou em baixo dos chifres”. Halleck diz a respeito de uma prova escolar: “Quinze
alunos tinham a certeza de ter visto gatos subirem nas árvores e descerem delas. A opinião era
unânime que os gatos subiam com a cabeça para cima. Ao se lhe perguntar se os gatos desciam com a
cabeça ou a cauda em primeiro lugar, a maioria estava certa de que eles o faziam como nunca o tinha
visto fazer. Qualquer pessoa que observasse a forma das garras de um animal de presa, podia ter
respondido a essa pergunta, sem ver uma descida real. Os meninos das fazendas, que a miúdo viram as
vacas e os cavalos deitarem-se e levantarem-se, raramente sabem ao certo se os animais se levantam
com seus pés traseiros ou dianteiros em primeiro lugar, ou se o costume do cavalo concorda com o do
boi nesse ponto”.
9. Diz Brooks: “A educação moderna tende a negligenciar a cultura dos poderes perceptivos. Nos
tempos antigos, os povos estudavam a natureza muito mais do que no presente. Não possuindo livros,
eram obrigados a depender de seus olhos e ouvidos em relação ao conhecimento; e isso tornava seus
sentidos ativo, perscrutadores e exatos. No presente, estudamos os livros para obter conhecimentos
das coisas externas; e os estudamos demasiadamente ou de um modo muito exclusivo, e assim
negligenciamos a cultura dos sentidos. Obtemos de segunda mão nosso conhecimento do mundo
material, em lugar de os receber francamente das páginas abertas do livro da natureza. Não é um
grande erro despender tanto tempo na escola e, entretanto, não conhecer a diferença entre a folha de
uma faia1 e a de um carvalho; ou não ser capaz de distinguir entre espécimes da mármore, quartzo e
granito? A negligencia na cultura das faculdades perceptivas se encontra nos estudantes de hoje.
Pouquíssimos homens instruídos são observadores; é visível que a maior parte deles é tristemente
deficiente nesse ponto Aprenderam a pensar e lembrar; porém, não a empregar seus olhos e ouvidos.

1
Faia – árvore ornamenta da Europa.
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6
Na educação moderna são empregados demais os livros e os óculos, e o resultado é o obscurecimento
dos poderes naturais de percepção”.
10. O primeiro principio da Cultura da Percepção é o emprego correto da Atenção. O governo
inteligente da atenção voluntária é um pré-requisito de uma clara e distinta percepção. Chamamos
vossa atenção para esse assunto no capítulo precedente. Diz Halleck: “Um corpo pode ser refletido na
retina, sem produzir a percepção. Deve haver esforço para concentrar a atenção sobre as muitas coisas
que o mundo apresenta... A Percepção, para produzir resultados satisfatórios, deve chamar em seu
auxilio a vontade para ajudá-la a concentrar a atenção. Somente a menor parte do que entra em contato
com os nossos sentidos em qualquer tempo é realmente percebido”.
11. O sentido da vista é talvez o de maior importância para nós, e, de acordo com isso, a cultura da
Percepção relativamente às impressões recebidas através da vista é a mais importante para o indivíduo
comum. Como expressa Kay: “Ver com clareza é um auxilio valioso até mesmo para pensar
claramente. Em todas as nossas.operações mentais muito devemos à vista. Recordar, pensar, imaginar
é ver internamente, é chamar maior ou menor número de imagens visuais das coisas à mente. Para
compreender uma coisa, geralmente e necessário vê-la, e aquilo que alguém não viu não pode ser
distintamente imaginado ou concebido em sua mente É pela direção habitual de vossa atenção aos
efeitos produzidos em vossa consciência pelas impressões feitas em vossos olhos e transmitidas ao
sensório que nossa vista, assim como outro sentidos, é treinada”. Escreveu Bain: “Treinos e reuniões
coerentes das suas ações da vista são mais importantes do que qualquer outra coisa, talvez mais do que
todas as coisas reunidas, pois constituem o material do pensamento, da memória e da imaginação”.
Expressou Vinet: “A criança, e talvez também o homem, somente conhece bem o que vê, e a imagem
das coisas é o verdadeiro meio entre a sua idéia abstrata e a experiência pessoal dele”. Sendo assim, as
instruções sobre o Cultivo da Percepção devem ser dirigidas principalmente para a cultura da
percepção das impressões da vista.
12. Brooks afirmou: “Devemos adquirir o hábito de observar com atenção. Muitas pessoas olham
para os objetos com um olhar vago e descuidado. Devemos evitar o hábito de olhar desatento.
Devemos fixar o pensamento no objeto que está diante de nós; devemos concentrar a atenção sobre
aquilo em que estamos olhando. A Atenção, com relação à Percepção, foi comparada ao vidro quente;
colocai a lente de modo a concentrar os raios do sol sobre uma tábua e eles a queimarão, abrindo um
buraco nela. Assim também a atenção concentra os raios da força perceptiva e permite à mente
penetrar abaixo da superfície das coisas”.
13. As melhores autoridades concordam com a idéia de que a Percepção pode ser cultivada melhor
pela aquisição do hábito de examinar as coisas detalhadamente. Julgam também que esse exame
detalhado se manifesta melhor pelo estudo separado das partes que vão formar uma coisa complexa, do
que pelo estudo da coisa em seu todo. Explicou Halleck esse ponto: “Olhar para as coisas
inteligentemente é a mais difícil das artes. A primeira regra para a cultura de uma percepção exata é:
Não procureis perceber imediatamente o todo de um objeto complexo. Tomai, por exemplo, o rosto
humano. Um homem que ocupava importante posição a que fora eleito, ofendeu muitas pessoas
porque não era capaz de recordar-se das fisionomias, deixando assim de reconhecer os indivíduos na
segunda vez que os encontrou. Sua dificuldade estava em que via apenas o aspecto geral. Tendo
mudado seu método de observação e observado cuidadosamente o nariz, a boca, os olhos, o queixo e a
cor do cabelo, logo encontrou facilidade em reconhecer. Não mais esteve em perigo de tomar A por B,
pois se recordava que a forma do nariz de B era diferente, ou a cor de seu cabelo um pouco mais clara.
Este exemplo mostra que pode ser formulada outra regra: Dai cuidadosa atenção aos detalhes... Ver um
objeto apenas como massa indiscriminada de alguma coisa em certo lugar é nada mais do que proceder
como um asno ao trotear”.
14. Brooks expõe com relação ao mesmo ponto: “Para treinarmos as faculdades de observação,
devemos analisar os objetos a que olhamos em suas partes e observar essas partes. Os objetos se
apresentam a nós no seu todo; nosso conhecimento definido deles é adquirido por análise, separando-
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6
os nos elementos que os compõem. Devemos, pois, dar atenção aos detalhes de tudo o que estivermos
considerando; e assim cultivar o hábito de observar minuciosamente... Dizem que um professor, ao
tomar a lição da classe, se alguém batesse à porta, levantava os olhos ao entrar o visitante e de um
simples olhar podia descrever a sua aparência, o vestuário, a qualidade do chapéu, espécie de gravata,
colarinho, colete, casaco, calçado, etc., que trazia. O hábil banqueiro também, ao contar o dinheiro
com extraordinária rapidez, logo descobre e retira do maço as notas falsas que, para a vista comum,
parecem perfeitas e sem defeito”.
15. Um dos melhores métodos de desenvolvimento e cultivo da faculdade de Percepção é
empreender algum estudo em que as faculdades perceptivas devem ser empregadas. A botânica, a
física, a geologia, a historia natural oferecem esplêndido exercício de Percepção, se o estudante se
empenhar em trabalho realmente experimental e na observação real, em lugar de limitar-se à leitura
dos textos. Um cuidadoso exame e estudo científico de qualquer espécie de objetos, feitos de um
modo apropriado para expressar os diversos pontos de semelhança e diferença será o melhor meio de
desenvolver a Percepção. Esta espécie de treino desenvolverá essas qualidades em alto grau,
principalmente nas crianças.
16. O desenho também é um grande meio de desenvolver a Percepção. A fim de desenhar uma
coisa corretamente, devemos necessariamente examiná-la em detalhes; pois, se não o fizermos, não
poderemos desenhá-la corretamente. Efetivamente, muitas autoridades empregam a prova do desenho
para verificar o grau de atenção e Percepção que o estudante aplicou num objeto que esteve estudando.
Outros colocam um objeto diante do aluno por alguns minutos, e então o retiram, tendo aquele de
desenhá-lo em esboço com atenção às suas particularidades salientes. Em seguida, o objeto é colocado
diante do aluno para estudá-lo, e é novamente levado a desenhar de memória os detalhes adicionais
que observou nele. Este processo é repetido muitas vezes, até o aluno demonstrar que observou todo
possível detalhe de interesse no objeto. Este exercício produziu o resultado do cultivo de um alto grau
de percepção em muitos estudantes, e sua simplicidade não diminui sua importância. Toda pessoa
pode praticar seus exercícios por si mesma; ou, melhor ainda, dois ou mais estudantes podem combinar
e esforçar-se para sobrepujar um ao outro em rivalidade amigável, cada qual procurando descobrir o
maior número de detalhes no objeto considerado. Os estudantes progridem tão rapidamente com esse
exercício, que um registro diário mostrará firme avanço. Simples exercícios de desenho se encontram
na reprodução, de memória, de mapas geográficos, folhas de árvores, etc.
17. Exercícios semelhantes podem ser encontrados na prática de olhar rapidamente para uma
pessoa, um animal ou construção, e então procurar reproduzir por escrito os pontos particulares da
pessoa ou coisa observada. Persistindo-se neste exercício, os progressos serão rápidos. Pode-se variá-
lo, procurando tomar nota dos objetos existentes numa sala pela qual se tenha passado.
18. A maioria de nossos leitores lembra-se da historia familiar de Houdin, que cultivou tanto a
faculdade de Percepção que era capaz de passar em frente de uma vitrina e imediatamente indicar
detalhadamente todo objeto que ali havia. Adquiriu essa capacidade por desenvolvimento gradual,
começando com a observação de um só artigo da vitrina, depois dois, três e assim por diante. Outros
acompanharam seu método com grande êxito. Falando sobre a admirável percepção de Houdin, disse
Halleck: “Uma águia, cujo olhar é agudíssimo, talvez visse mais coisas num momento do que um
sonolento lagarto em quinze minutos. A extrema rapidez de Percepção, devida a um treino cuidadoso,
foi um dos fatores que permitiram a Houdin e seu filho admirar a todos e constituir fortuna. Colocou
um dominó diante do rapaz e, em lugar de deixá-lo contar as pintas, quis que desse a soma total
imediatamente. Este exercício foi feito até que cada um deles pôde dar instantaneamente a soma das
pintas de uma dúzia de dominós. A soma era a dada com a mesma exatidão que se despendessem
cinco minutos no cálculo”. Houdin, em suas Memórias relatando esses fatos sobre seus próprios
métodos afirma com a devida modéstia, que muitas mulheres sobressaem muito a ele nesse ponto.
Escreveu: “Posso afirmar com segurança que uma senhora, vendo outra passar numa carruagem com
toda a rapidez possível, terá tempo de analisar seu vestuário desde o chapéu até o calçado, e será capaz
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6
de descrever não só a moda e a qualidade dos tecidos, mas também dizer se a renda é à mão ou feita à
máquina”.
19. Existem muitos jogos de crianças que tendem para a cultura da Percepção, e podem ser
adaptados ao uso de pessoas mais velhas. Esses jogos se baseiam no principio geral de que os diversos
participantes lançam um olhar ligeiro para certo número de objetos apresentados na mão, numa mesa,
numa caixa, etc. e depois dizem o que viram. Notar-se-á uma grande diferença no grau de Percepção
manifestado pelos vários participantes. E igualmente interessante será o grau de progresso notado
depois de executar diversas vezes esse jogo, desde que haja tempo de descanso entre duas partidas. É
fato conhecido nos círculos policiais que os ladrões muitas vezes ensinam os rapazes dessa forma,
passando depois para outro processo em que eles devem tirar as coisas de uma sala, janela, quarto, etc.
num momento. Recebem, então, o grau de espião e vão ver os detalhes das cenas dos futuros roubos.
20. No volume dedicado à consideração da Memória, apresentamos numerosos exercícios e
métodos semelhantes ao dado acima, pelos quais a Percepção pode ser cultivada. A Percepção
desempenha um lugar importantíssimo na memória, pois, é da clareza das coisas percebidas que
depende em alto grau a clareza das impressões feitas na memória. Tão íntima é a relação entre a
Memória e a Percepção que o cultivo de uma tende a desenvolver a outra. Por exemplo, a cultura da
Memória requer aguçamento da Percepção no sentido de obter claras impressões originais; ao mesmo
tempo, a cultura da Percepção naturalmente desenvolve a Memória, em virtude do fato que esta é
empregada no experimentar e provar a clareza e o grau da Percepção. Assim sendo, aqueles que
julgarem que os exercícios e métodos dados são muitos difíceis, podem substituir o simples exercício
de recordar a maior quantidade de detalhes possível das coisas vistas. Esse esforço em impressionar a
memória porá involuntariamente em atividade as faculdades perceptivas na aquisição das impressões
originais, de modo que, no final, se verificará que a Percepção se desenvolveu.
21. Os professores e aqueles que se ocupam com crianças devem compenetrar-se do grande valor
do cultivo da Percepção na infância e assim estabelecer valiosos hábitos de observação entre elas. A
experiência e a cultura assim adquiridas serão de grande valor no futuro delas. Como muito bem se
expressou Brooks sobre o assunto: “Os professores devem apreciar o valor do cultivo da faculdade
perceptiva e esforçar-se para fazer alguma coisa que favoreça essa cultura. Devem lembrar-se que,
treinando as capacidades de observação dos alunos, os levamos a adquirir idéias definidas das coisas,
os habilitamos a armazenar em suas mentes conhecimentos novos e interessantes, estabelecemos as
bases para seus triunfos literários ou comerciais, e assim muito fazemos para aumentar-lhe a felicidade
na vida, aumentando a soma do saber humano”.

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Capítulo – VII –
A REPRESENTAÇÃO

1. A Sensação e a Percepção, conforme as consideramos no capítulo precedente, são denominadas


pelos psicólogos: “Processos de Representação”. A Representação designa a oferta direta à consciência
das imagens mentais ou objetos de pensamento. Se não houvesse faculdade mental capaz de reter e
representar à consciência a impressão ou registro da Percepção, nunca progrediríamos no saber, pois
cada percepção seria nova cada vez que se apresentasse e não haveria reconhecimento dela como tendo
sido anteriormente percebida, nem haveria poder para recordar voluntariamente qualquer percepção
anteriormente recebida. Enfim, não teríamos a faculdade mental chamada Memória. Felizmente,
porém, como pensadores, temos o poder de Representação, isto é, de reproduzir as percepções e
experiências passadas sob a forma de imagens ou quadros mentais, “na vista mental”, por assim dizer e
isso nos livra da necessidade de perceber direta e imediatamente um objeto cada vez que tivermos de
pensar nele. Os processos pelos quais isso se torna possível são denominados processos de
Representação, pelo motivo que, por meio deles, as experiências passadas de Percepção são
representadas à consciência.
2. O assunto da Representação está intimamente ligado ao da Memória. Estritamente falando, a
Representação pode ser designada como uma fase de Memória, sendo a outra a Associação de Idéias, e
as autoridades preferem tratar todo o assunto sob o título geral de Memória. Escrevi uma obra sobre a
“Memória”, que forma um volume da série atual, e não temos a informação dada nessa obra. Porém,
precisamos considerar o assunto da Representação neste ponto a fim de manter a unidade lógica do
presente assunto geral da Cultura do Pensamento. O estudante, certamente, notará a relação íntima
entre os processos de Representação e os da Imaginação, que consideraremos em outros capítulos desta
obra.
3. A Memória tem diversas fases, a classificação das quais é a seguinte: (1) Impressão; (2)
Retenção; (3) Recordação; (4) Representação; (5) Reconhecimento. Cada fase requer a operação de
processos mentais especiais. A Impressão é o processo pelo qual impressões da Percepção são
registradas ou impressas no campo subconsciente da mentalidade, como a impressão da moeda na cera.
A Retenção é o processo pelo qual o subconsciente retém ou conserva as impressões assim recebidas.
A Recordação é o processo pelo qual a mente recorda as impressões retidas no subconsciente,
trazendo-as novamente à consciência como objeto de conhecimento. A Representação é o processo
pelo qual impressões assim recordadas formam pinturas ou imagens na mente. O Reconhecimento é o
processo pelo qual a mente reconhece a imagem mental ou pintura representada a ela como
relacionada com sua experiência passada.
4. Como expusemos, consideramos o assunto da Memória em outro volume desta série e,
portanto, não tentaremos entrar em discussão do seu assunto geral aqui. Limitar-nos-emos, pois, a uma
breve consideração da base de Representação e sua cultura.
5. A Representação, certamente, depende das fases anteriores da Memória, denominadas
Impressão, Retenção e Recordação. Se a Impressão não for clara, se a Retenção não for normal, não
pode haver Representação. A Recordação (que é realmente recordação de percepções) deve preceder a
Representação na forma de imagens ou pinturas mentais. A Recordação reúne os materiais mentais
com os quais a imagem deve ser formada. Porém, como afirma Brooks: “Não se deve admitir que o
conhecimento seja retido como uma pintura, mas sim que é criado novamente sob a forma de pintura
ou outro produto mental qualquer, ao ser lembrado”. O processo é análogo à transmutação das ondas
sonoras ao entrarem no receptor do telefone, para ondas elétricas que são transmitidas ao receptor,
onde são novamente transmutadas em ondas sonoras que entram no ouvido de quem as escuta. Vemos
logo que existe a mais íntima relação possível entre os processos da Representação e os da Memória –
na realidade, é muito difícil traçar uma clara linha divisória entre eles. Alguns estabelecem a distinção
que a Representação nos fornece uma exata reprodução do passado, ao passo que a Imaginação
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7
combina as nossas imagens mentais em novos produtos, isto é, a Representação apenas reproduz, ao
passo que a Imaginação cria, formando novas combinações, enfim, a Representação trata da
reprodução do Atual, ao passo que a Imaginação trata do Ideal.
6. 6 Wundt, falando dessa difícil distinção, diz: “Os psicólogos estão acostumados a definir a
memória das imagens como idéias que reproduzem exatamente alguma percepção anterior, e imagens
fantásticas as idéias que consistem numa combinação de elementos tirados de um número completo de
percepções. Ora, as imagens da memória, no sentido dessa definição, não existem... Procurai, por
exemplo, traçar de memória algum quadro de paisagem que vistes somente uma vez e, em seguida,
comparai vossa copia com o original. Esperais encontrar abundantes erros e omissões, mas também
invariavelmente notais que colocastes nele muita coisa que não estava no original, mas provêm de
quadros de paisagem que vistes em algum lugar”.
7. Embora geralmente falemos da Representação como pintando as percepções recordadas, ainda
assim não devemos cometer o erro de supor que se relaciona ou se limita apenas às pinturas mentais.
Somos capazes de representar não só as percepções visuais, mas também os sons, perfumes, gostos ou
sentimentos tão vivamente que parecem quase como se existissem realmente. Podemos também
representar simbolicamente os processos de Raciocínio, operações matemáticas, etc. Em resumo
quase todas, senão todas as experiências que são possíveis na Apresentação, também são possíveis na
Representação.
8. Certamente, a fase de Representação, nos processos da Memória, está sujeita às leis gerais da
Cultura da Memória, que expusemos detalhadamente no volume que trata desse assunto. Porém, há
certos pontos especiais de desenvolvimento e cultivo que podem ser considerados resumidamente aqui.
Em primeiro lugar, a importância da Atenção e Percepção clara, como precedentes necessários de uma
Representação clara, deve ser salientada. A fim de formar imagens mentais claras de uma coisa,
devemos, em primeiro lugar, tê-la percebido claramente. Não precisamos repetir aqui o conselho dado
nos capítulos precedentes, sobre o uso da Atenção e Percepção, porém, deve ser dirigida uma atenção
especial a elas em relação com os processos de Representação. Se quisermos cultivar as faculdades
Representativas, é preciso começar pelo cultivo das faculdades de apresentação.
9. Devemos lembrar também o que dissemos sobre o fato do desenvolvimento pelo (1) Uso; e (2)
Nutrição em todas as faculdades mentais. Devemos começar a usar as faculdades de Representação a
fim de exercitá-las. Devemos dar-lhes nutrição sob a forma de objetos de alimentação mental, isto é,
devemos fornecer a essas faculdades materiais para poderem crescer e desenvolver, e fazer exercícios
para fortalecer o músculo mental e também dar às faculdades a oportunidade para “adquirirem o jeito”.
Os exercícios e métodos recomendados em nosso capítulo sobre a Percepção fornecerão bom material
para as crescentes necessidades das faculdades representativas. Percebendo os detalhes das coisas, a
pessoa é capaz de reproduzir imagens mentais claras das mesmas. Ao estudar um objeto tende sempre
em mente o fato de que desejais reproduzi-lo em vossa mente futuramente. Com efeito, se tiverdes
oportunidade, vossa mente deve “repeti-lo para vós” logo que seja possível após a atual ocorrência e
experiência. Da mesma forma que murmurais a vós mesmos ou escreveis o nome da pessoa ou lugar
que acabastes de ouvir, a fim de poderdes recordá-lo melhor depois, assim também será melhor
“repetirdes mentalmente” para vós mesmos as experiências sobre as quais desejais exercer vossas
faculdades representativas.
10. Com relação ao assunto de desenvolvimento e cultivo pelo Uso, aconselhamos que comeceis
gradualmente a treinar vossa mente para reproduzir as experiências do dia, semana ou mês, em
intervalos, até sentirdes que estais desenvolvendo um novo poder nessa direção. Se tentardes esta
noite, verificareis que podeis reproduzir apenas uma pequena parte dos acontecimentos de hoje com
alguma clareza. Com que clareza podeis imaginar os lugares em que estivestes, as aparências das
pessoas que encontrastes, os vários detalhes de pessoa e coisas que percebestes durante as experiências
do dia? A clareza não é muita, me respondereis. Tentai novamente, e vereis que podereis acrescentar
novos detalhes. Executai-o até que vos sintais cansado ou pensardes que esgotastes todas as
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7
possibilidades da tarefa. Amanhã tentai novamente e vereis que as experiências do segundo dia são
mais claramente reproduzidas em vossa mente. Cada dia vos adiantareis mais um pouco, até chegardes
a um ponto em que o grau normal de poder será atingido, e então o avanço será mais lento.
11. Então, no fim da semana, passai em revista as experiências. Fazei o mesmo na semana
seguinte. No fim do mês, dai um apressado passeio geral sobre as vossas experiências do mês. Assim
por diante. Exercícios moderados nesta direção vos farão muito bem. Não só desenvolverão a
Representação, mas também vossos poderes de observação e vossa memória geral melhorarão. Além
disso, ao “mastigar o alimento mental”, pensareis em muitas coisas de interesse e importância em
relação à vossa obra, etc. e vossa eficiência mental geral aumentará, pois, as faculdades mentais são
interdependentes e compartilham seus benefícios umas com as outras.

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8
Capítulo – VIII –
NONONONONONO

1. Como vimos, a primeira fase ou primeiro passo no processo do Pensamento é o denominado


Percepção, que consideramos no capítulo anterior.
2. Conforme foi explicado, a Percepção é o processo pelo qual adquirimos nosso primeiro
conhecimento do mundo exterior como nos é informado pelos canais dos sentidos. As faculdades
perceptivas interpretam o material que nos é apresentado pelos sentidos. Em seguida à Percepção,
vêem os processos que resultam do exercício do grupo de faculdades que são classificadas sob o título
geral de Entendimento.
3. O Entendimento é a faculdade ou faculdades da mente, por meio das quais examinamos e
comparamos inteligentemente as varias percepções, quer separando-as pela análise, quer combinando-
as pela síntese, ou ambas, assim constituindo nossas idéias, princípios, leis e classes gerais, etc. Os
psicólogos e lógicos conhecem diversas subfases do Entendimento, a saber: (1) Abstração; (2)
Concepção ou Generalização; (3) Juízo, e (4) Raciocínio, respectivamente. Neste capítulo,
consideraremos a primeira dessas subfases ou passos do Entendimento, que é denominada
“Abstração”.
4. A Abstração é a faculdade mental pela qual abstraímos ou “separamos”, e, em seguida,
consideramos separadamente as qualidades, propriedades e atributos particulares de um objeto e assim
podemos considerá-las como “coisas” ou objetos de pensamento. A fim de se formar concepções ou
idéias gerais, devemos considerar e examinar dois pontos ou qualidades comuns que entram na
formação das diferenças e semelhanças. O exame ou consideração especial desses pontos ou
qualidades comuns resultam no exercício da Abstração. No processo de Abstração, mentalmente
“retiramos” uma qualidade de um objeto e a consideramos como objeto distinto de pensamento.
Assim, considerando uma flor, podemos abstrair suas qualidades de fragrância, cor, forma, etc. e
pensar nestas como coisas independentes da própria flor de que foram derivadas. Pensamos no
vermelho, na fragrância, etc. não só em relação com essa flor particular, mas também como
qualidades gerais. Assim, as qualidades de vermelho, doçura, dureza, maciez, etc. nos levam aos
termos abstratos, vermelho, doce, duro macio, etc. Da mesma forma, a coragem, a covardia, a virtude,
o vicio, o amor, o ódio, etc., são termos abstratos. Ninguém viu uma dessas coisas – são conhecidas
apenas em relação com objetos ou então como “termos abstratos” nos processos do Pensamento.
Podem ser conhecidas como qualidades e expressas como predicados, ou podem ser consideradas
como coisas abstratas e expressas como nomes.
5. Nos processos gerais da Abstração, primeiramente separamos e pomos de lado todas as
qualidades que não são comuns à classe gral em consideração, pois a concepção ou idéia geral deve
compreender apenas as qualidades comuns à sua classe. Assim, no caso da idéia geral do cavalo, o
tamanho e a cor devem ser abstraídos como não essenciais, pois os cavalos são de diversas cores e
tamanhos. Porém, por outro lado, existem certas qualidades que são comuns a todos os cavalos, e
estas devem ser abstraídas e empregadas ao formar a concepção ou idéia geral.
6. Vedes, portanto, que na Abstração geral, formamos duas classes: (1) as qualidades
dessemelhantes e não gerais; e (2) as qualidades semelhantes ou comuns. Como disse Halleck: “No
processo de Abstração, desviamos a nossa atenção de uma massa de detalhes confusos, sem
importância na ocasião e apenas damos atenção a umas qualidades com exclusão de outras... Ao
formarmos as concepções, abstraímos ou retiramos certas qualidades quer para não lhes dar atenção
quer para considerá-las por si mesmas. Nossos dicionários contêm palavras como estas: pureza,
alvura, doçura, industria, coragem, etc. Ninguém tocou, saboreou, cheiro, ouviu ou viu a pureza ou a
coragem. Não podemos, pois, adquirir conhecimento dessas coisas pelos sentidos. Vimos pessoas
puras, neve pura, mel puro; respiramos ar puro, tomamos café puro. De todos esses diferentes objetos
abstraímos a única qualidade semelhante, a qualidade de serem puros. Dizemos, então, que temos uma
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idéia da pureza e essa idéia é abstrata. Só existe na mente que a formou. Ninguém viu a brancura.
Vimos nuvens, neves, roupa, casas, papel, cavalos brancos, porém nunca vimos a brancura em si
mesma. Simplesmente abstraímos essa qualidade dos diversos objetos brancos”.
7. Na Abstração podemos: (1) abstrair uma qualidade e pô-la de lado, separando-a das outras
qualidades em consideração, pelo motivo de não ser essencial e necessária; ou (2) podemos abstrair
uma qualidade e mantê-la na mente como essencial e necessária para a concepção que estamos
formando. Assim também podemos abstrair (1) todas as qualidades de um objeto, exceto uma, e pô-la
de lado para considerar essa única qualidade por si mesma; ou podemos (2) abstrair essa qualidade
particular e considerá-la com exclusão de todas as suas qualidades associadas. Em todos esses
aspectos temos o mesmo processo essencial de considerar uma qualidade separada de seu objeto e das
suas qualidades associadas. A mente age mais comumente na direção de abstrair uma qualidade e vê-
la separada do objeto e de suas qualidades associadas.
8. A importância de seguras capacidades de Abstração se vê ao compreender que todas as
concepções ou idéias gerais são apenas combinações de qualidades ou idéias abstratas. Como disse
Halleck: “A diferença entre uma idéia abstrata e uma concepção é que a concepção pode constituir-se
de um conjunto de idéias abstratas. Se a classe contém mais de uma qualidade comum também a
concepção deve conter tantas dessas qualidades abstratas quanto as comuns à classe. A concepção da
classe baleia deve conter um grande número dessas qualidades”. Expressou Brooks: “Se não
pudéssemos abstrair, não poderíamos generalizar, pois, a abstração é uma condição de generalização”.
A autoridade mencionada por último também designa habilmente a idéia da forma seguinte: “Os
produtos da Abstração são idéias abstratas, isto é, idéias de qualidade no abstrato. Essas idéias são
chamadas Abstratas. Assim a minha idéia de uma cor, dureza ou maciez particular é abstrata. As
idéias abstratas foram apelidadas espirituosamente: “os fantasmas das qualidades que se foram”.
Podem ser mais apropriadamente designadas por espíritos dos quais são corpos os objetos de onde
derivam. Por outras palavras, são, figuradamente falando, “os espíritos desencarnadas das coisas
materiais”.
9. A cultura da faculdade de Abstração depende muito, e em primeiro lugar, do exercício da
Atenção e Percepção. Mill pretende que a Abstração é resultado principal da Atenção. Outros
pretendem que é apenas o processo mental pelo qual a atenção é dirigida exclusivamente para a
consideração de uma das diversas qualidades, propriedades, atributos, partes, etc. Afirmou Hamilton:
“A Atenção e a Abstração são, pois, o mesmo processo visto sob diferentes relações. São, por assim
dizer, os pólos positivo e negativo do mesmo ato”. A cultura da atenção é realmente parte do processo
da cultura da faculdade de Abstração. Se a Atenção não for dirigida para o objeto e suas qualidades
não poderemos perceber, separar e considerar isoladamente a qualidade abstrata nele contida. Neste
processo, como, efetivamente, em todos os outros processos mentais, a Atenção é um pré-requisito.
Portanto, aqui como em muitos outros lugares, dizemos-vos: “Começai cultivando a Atenção”.
10. Além disso, a cultura da faculdade de Abstração depende materialmente da cultura da
Percepção. Não só devemos sentir a existência das diversas qualidades num objeto, mas também
devemos percebê-las na consciência, da mesma forma que percebemos o próprio objeto. Com efeito, a
percepção do objeto é simplesmente uma percepção de suas diversas qualidades, atributos e
propriedades, pois o objeto em si é simplesmente um composto dessas coisas abstratas, ao menos até o
ponto relacionado com sua percepção na consciência. Procurai pensar num cavalo, sem considerar
suas qualidades, atributos e propriedades, e o resultado será simplesmente um cavalo abstrato – uma
coisa que pertence ao reino da irrealidade. Procurai pensar numa rosa, sem considerar sua cor,
perfume, forma, tamanho, sensibilidade ao tato, etc. e tereis simplesmente uma rosa ideal, que, sendo
analisada, resultará em nada. Tirai as qualidades, propriedades e atributos de uma coisa, e ficará
apenas um nome ou então uma coisa transcendental, idealista, separada do nosso mundo de
conhecimento dos sentidos. Segue-se assim que, a fim de conhecer as qualidades de uma coisa e pode
classificá-la ou formar uma idéia geral dela, devemos empregar a Percepção para interpretar ou traduzir
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8
as impressões dos sentidos que recebemos a respeito dela. Por conseguinte, quanto maior for o nosso
poder de Percepção, maior deve ser a possibilidade de nosso poder de Abstração.
11. Fora da cultura, emprego e exercício da Atenção e Percepção existem apenas mais alguns
métodos práticos para cultivar a faculdade de Abstração. Certamente que o exercício da faculdade o
desenvolverá; e o fornecimento de material para suas atividades lhe dará a “nutrição” de que falamos
anteriormente.
12. Que o estudante tome um objeto e o analise em suas qualidades abstratas, etc. Procure descobrir
qualidades encobertas à primeira vista. Faça uma lista dessas qualidades e as escreva; procure, em
seguida, aumentá-la. Dois ou mais estudantes empenhados numa amigável rivalidade estimularão os
esforços um do outro. Para as crianças, o exercício deve ser tratado como jogo. O primeiro passo é:
Análise dos objetos em suas qualidades e atributos componentes – o esforço de extrair tantos adjetivos
aplicáveis ao objeto. O segundo passo consiste em transformar esses adjetivos em nomes
correspondentes. Por exemplo, numa rosa, percebemos as qualidades que denominamos
“vermelhidão”, “fragrância”, etc. Falamos da rosa como sendo “vermelha” ou “fragrante” – então
pensamos na “vermelhidão” ou “fragrância” como qualidades abstratas ou coisas que expressamos
como nomes. O exercício e a prática nesta direção tenderão a cultivar a faculdade de Abstração.
Conhecendo as qualidades, conhecemos as coisas que as possuem.

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Capítulo – IX –
A ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS

1. Tendo formado idéias gerais ou Conceitos, é importante que os associemos a outras idéias
gerais. A fim de compreender perfeitamente uma idéia geral, devemos conhecer suas associações e
relações. Quanto maior for o número de associações ou relações conhecidas de uma idéia, maior é o
grau de nosso entendimento dessa idéia. Se conhecermos simplesmente muitos milhares de idéias
gerais separadas, sem conhecermos as associações e relações delas, nos encontraremos numa posição
tão difícil como se conhecêssemos apenas milhares de percepções individuais, sem poder classificá-las
em conceitos gerais. É necessário desenvolver a faculdade de associação das idéias em grupos, de
acordo com as suas relações, da mesma forma que agrupamos idéias particulares em classes.
Entretanto, a diferença é que essas idéias-grupos não constituem classes de um gênero, mas dependem
apenas de associações de diversas espécies, como veremos num momento.
2. Disse Halleck: “Todas as idéias têm certas associações com outras idéias e se constituem em
grupos. Há sempre uma associação entre nossas idéias, embora haja casos em que não podemos
determiná-la... Mesmo quando não encontrais associações entre as vossas idéias, podeis ter certeza de
que existem... Então, uma idéia nunca aparece na consciência a não ser que haja uma razão definida
para que apareça de preferência à outra”. Diz Brooks: “Uma idéia ou sentimento na mente chama
outra idéia ou sentimento com a qual se relaciona de qualquer forma. Nossas idéias parecem, por assim
dizer, estarem ligadas umas às outras pelo laço invisível da associação, de modo que, se uma sair do
inconsciente, trará outra consigo. Os pensamentos parecem existir em algum lugar em cachos como as
uvas, de modo que, puxando uma, trazemos o cacho inteiro. A lei da associação é assim, o laço, o fio,
a cadeia de ouro pela qual nossos pensamentos são unidos ao serem reproduzidos”.
3. A maioria dos autores limita a sua consideração de Associação de Idéias à sua relação com a
Memória. É verdade que as Leis da Associação desempenham importante papel na Cultura da
Memória, porém, a Associação das Idéias também formam uma parte importante do assunto geral da
Cultura do Pensamento, e, especialmente, na fase dedicada ao desenvolvimento do Entendimento. Os
melhores autores concordam com esta idéia e a estabelecem positivamente. Afirma Ribot: “A lei mais
fundamental que regule os fenômenos psicológicos é a Lei de Associação. Na sua parte compreensiva,
é comparável à lei de atração no mundo físico”. Escreve Mill: “Aquilo que a lei da gravidade é para a
astronomia, aquilo que as propriedades elementares dos tecidos são para a fisiologia, a Lei de
Associação de Idéias é para a psicologia”.
4. Existem dois princípios gerais ou leis em ação nos processos de Associação de Idéias, a saber:
(1) Associação por Contigüidade; e (2) Associação por Similaridade, respectivamente.
5. A associação por Contigüidade se manifesta especialmente nos processos da memória. Nas
suas duas fases de (1) Contigüidade de Tempo; e (2) Contigüidade de Espaço, respectivamente,
apresenta diante do campo de consciência idéias associadas umas com as outras em conseqüências de
suas relações de tempo ou espaço. Assim, se nos lembrarmos de uma coisa, será fácil nos lembrarmos
de coisas que ocorreram imediatamente antes ou imediatamente depois dessa coisa particular. A
memória verbal depende muito da contigüidade do tempo, como, por exemplo, nossa capacidade de
repetir um poema ou trecho de um livro, se pudermos lembrar as primeiras palavras do mesmo. As
crianças geralmente possuem esta forma de memória em grau surpreendente; e adultos de grau
limitado de inteligência podem repetir livremente extensos extratos de discursos que ouviram, ou
mesmo misturas confusas de palavras. A memória visual depende muito da contigüidade de espaço,
como, por exemplo, a nossa capacidade de recordar cenas, partindo de um ponto dado. Em ambas as
formas de associação por contigüidade, a operação mental é semelhante à de formar um novelo de fios,
as idéias, assim associadas, na seqüência de tempo e lugar, seguindo-se uma à outra no campo da
consciência. A Associação por Contigüidade, embora seja importante por si mesma, realmente

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9
pertence ao assunto geral da Memória, como o consideramos no volume desta série dedicado ao
assunto mencionado, e por isso não falaremos mais sobre ele.
6. A Associação por Similaridade, porém, possui um interesse especial para os estudantes do
assunto particular de cultura do Entendimento. Se fossemos obrigados a confiar na associação por
contigüidade para nossa compreensão das coisas, compreenderíamos uma coisa apenas em suas
relações com a que vinha antes ou depois dela; ou, pelas coisas que estivessem mais perto dela no
espaço – teríamos que enrolar o novelo mental das relações de tempo e espaço para trazer à
consciência as relações associadas de uma coisa. Porém, a Associação de Similaridade corrige esse
defeito e nos dá uma associação superior e mais extensa. Falando sobre a Associação de Similaridade,
diz Kay: “É da máxima importância para nós, na formação de um juízo sobre as coisas, ou na
determinação de uma linha particular de conduta, o poder reunir em nossa mente certo número certo
número de exemplos de espécie semelhante, recentes ou remotos, que possam nos ajudar a chegar a
uma determinação reta. Assim, podemos julgar a natureza ou qualidade de um artigo, e obter
esclarecimento e direção em relação a qualquer assunto que esteja diante de nós. Dessa forma,
arranjamos, classificamos e raciocinamos por indução. Isso é conhecido por associação racional ou
filosófica”.
7. Diz Halleck: “Um filósofo eminente disse que o homem está completamente à mercê da
associação de suas idéias. Todo novo objeto é visto à luz de suas idéias associadas... Não pertence ao
psicólogo expor que a associação de idéias devia ter, mas compete a ele verificar o poder que ela tem.
Ao pensar no fanatismo das épocas passadas, na cruz dos mártires e no apedrejamento das feiticeiras,
podemos compreender a força das palavras do prof. Ziehen: “Não podemos pensar como queremos,
mas devemos pensar exatamente como as associações que estão presentes prescrevem”. Embora isso
não seja literalmente verdade, pode servir para mostrar a importância de um fator divergente que
geralmente não é devidamente apreciado”.
8. Diz Locke: “A relação em nossas idéias que, em si mesmas, são separadas e independente umas
das outras, tem tal influência e é de força tão grande, que nos faz desviar em nossos atos tanto morais
como naturais, paixões, raciocínios e opiniões, que talvez, não exista outra que mereça maior atenção
que ela”. Expõe Stewart: “A maioria da humanidade, estando pouco acostumada a refletir e
generalizar associa suas idéias principalmente conforme suas relações usuais, e antes de tudo às
relações casuais resultantes de contigüidade no tempo e no lugar; pelo contrário, na mente de um
filósofo as idéias são comumente associadas de acordo com as relações que são expressas em
conseqüência de esforços particulares de atenção, como sejam as relações de causa e efeito ou de
premissas e conclusões. Portanto, necessariamente sucederá que, quando tiver ocasião de aplicar seu
conhecimento adquirido, o tempo e a reflexão serão requisitos para que possa recordá-lo”.
9. Essa Associação por Semelhança, ou a “associação de idéias racional e filosófica”, pode ser
desenvolvida ou cultivada por um pouco de cuidado e trabalho. O primeiro principio é o de aprender
as verdadeiras relações de uma idéia – suas varias associações lógicas. Talvez o método mais fácil e
melhor é o adotado por Sócrates, o antigo filósofo grego, o qual é geralmente denominado “método
socrático” – o Método das Perguntas. Fazendo perguntas a si mesmo ou aos outros a respeito da coisa,
a mente da pessoa que responde tende a desenvolver seus depósitos de informação e a fazer
associações novas e verdadeiras. Assim se expressa Kay: “Sócrates, Platão e outros entre os antigos e
alguns modernos, foram senhores dessa arte. O princípio de fazer perguntas e obter respostas pode ser
considerado, para eles, como característicos de todo esforço intelectual A maior coisa é fazer
perguntas justas e obter as respostas certas”. Diz Meiklejohn: “A arte de perguntar que o Dr. Hodgson
possuía era alguma coisa de admirável e única, e era para as mentes da maioria de seus discípulos uma
verdadeira arte obstétrica. Ensinava-lhe pouco ou nada, porém, mostrava-lhe como haviam de
encontrar por si mesmo. “O método socrático – dizia ele – é o verdadeiro, principalmente para os
jovens”.

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9
10. Porém, essas perguntas devem ser feitas logicamente e em ordem, não de um modo confuso.
Como diz Fitch: “No propor questões é muito necessário ter em vista a importância de arranjá-las na
ordem exata em que o assunto naturalmente se desenvolveria na mente de um pensador lógico e
sistemático”. Numerosos sistemas foram formulados por diferentes autores sobre o assunto, os quais
têm todos muitos méritos. O seguinte Sistema de Análise, designado ao uso dos estudantes que
pretendem adquirir associações corretas, foi dado no volume desta série intitulado “A Memória”, e é
reproduzido aqui porque é especialmente adaptado à cultura e desenvolvimento da faculdade de
descobrir e formar corretas associações e relações entre as idéias:
11. SISTEMA DE ANÁLISE
Quando desejais descobrir o que realmente sabeis sobre uma coisa, fazei a vós mesmos as
seguintes perguntas sobre ela, examinando cada ponto em detalhe, e procurando reunir em vossa mente
vosso conhecimento completo a respeito desse ponto particular. Completai as deficiências pela leitura
de alguma boa obra de referência, uma enciclopédia, por exemplo, ou consultando um bom dicionário,
ou ambas as coisas.
I – De onde veio ou se originou?
II. – Que é que a causou?
III. – Que historia ou reminiscências tem?
IV. – Quais são seus atributos, qualidades ou característicos?
V. – Que coisas posso, associar com ela, mais facilmente? A que mais se assemelha?
VI. – Para que serve – como deve ser usada – que posso fazer com ela?
VII – Que prova se que pode deduzir dela?
VIII – Quais são seus resultados naturais – que acontece por causa dela?
IX – Que será seu futuro; e seu fim natural ou provável?
X – Que penso dela, em conjunto – quais são minhas impressões gerais sobre ela?
XI – Que sei a respeito dela, no que se refere a informações gerais?
XII – Que ouvi dizer a respeito dela, por quem e quando?
12. A seguinte “Tábua de Perguntas”, do mesmo volume, pode ser útil no mesmo sentido. É mais
simples e menos complicada do que o sistema dado acima. Foi denominada a “Chave Mágica do
Conhecimento” e abre muitas das portas mentais:

13. TÁBUA DE PERGUNTAS


Fazei a vós mesmos as seguintes perguntas relativas à coisa em consideração. Elas farão surgir
muitos fragmentos de informação e conhecimento associado em vossa mente:

I – Que é? V – Como?
II – De onde? VI – Por quê?
III – Onde? VII – Para onde?
IV – Quando?

14. Lembrai-vos sempre que, quanto maior for o número de idéias associadas e relacionadas que
puderdes agrupar ao redor de um conceito, mais rico, completo e verdadeiro ele se tornará para vós. O
conceito é uma idéia geral, e seus atributos de “generalidade” dependem dos fatos associados e idéias
relacionadas com ele. Quanto maior for o número de pontos de vista sob os quais um conceito pode
ser examinado e considerado, tanto maior será o grau de conhecimento relativo a esse conceito.
Pretendem que todas as coisas no universo se acham relacionadas umas com as outras, e assim, se
conhecêssemos todas as idéias associadas e fatos relativos a uma coisa, não só conheceríamos essa
coisa particular de um modo absoluto, mas também conheceríamos tudo do universo. A cadeia da
Associação é de extensão infinita.

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Capítulo – X –
A GENERALIZAÇÃO

01. Vimos que a Sensação é traduzida ou interpretada tornando-se Percepção; e que das Percepções
assim formadas, podemos extrair ou separar várias qualidades, atributos e propriedades pelo processo
de análise denominado Abstração. Como vimos a Abstração constitui, assim, o primeiro passo do
processo que é denominado Entendimento. O segundo passo é denominado Generalização ou
Concepção.
02. A Generalização ou Concepção é a faculdade mental pela qual sois capazes de combinar e
reunir em grupo diversas idéias particulares numa idéia geral. Assim, ao encontrardes certo número de
objetos particulares que possuem as mesmas qualidades, atributos ou propriedades gerais, ponde-vos a
classificá-los pelo processo de Generalização. Por exemplo, em certo número de animais que possuem
certas qualidades gerais e comuns formamos a concepção de uma classe que inclua esses animais
particulares. Assim, no conceito de vaca, incluímos todas as vacas e sabemos que são vacas porque
possuem certas qualidades gerais próprias da classe que incluímos em nosso conceito de vaca. As
vacas particulares podem variar muito em tamanho, cor e aparência geral, porém possuem as comuns
qualidades gerais que agrupamos no nosso conceito geral de uma vaca. Da mesma forma, por motivo
de certas qualidades comuns e gerais, incluímos em nossa concepção do “Homem”, todos os homens,
pretos, brancos, morenos, vermelhos ou amarelos, de todas as raças e graus de desenvolvimento físico
e mental. Desta concepção genérica podemos fazer conceitos raciais, dividindo os homens em
Indianos, Caucásios, Malaios, Negros, Mongóis, etc. Essas concepções podem, por sua vez, ser
divididas em sub-raças. Essas subdivisões resultam da análise da concepção maior. A concepção
maior é formada por síntese dos indivíduos, por meio das subdivisões das concepções menores. Ora,
podemos também formar uma concepção de “Napoleão Bonaparte” com as diversas qualidades e
características que formaram este homem célebre.
03. O produto da Generalização ou Concepção é denominado Conceito. Um Conceito é expresso
numa palavra, ou em palavras, designado “Termo”. Um Conceito é mais que uma simples palavra – é
uma idéia geral. E um Termo é mais que uma simples palavra – é a expressão de uma idéia geral.
04. Um Conceito é formado pelos processos de Percepção, Abstração, Comparação e
Generalização. Devemos, primeiramente, perceber; analisar ou abstrair qualidades; comparar
qualidades; e então sintetizar ou classificar de acordo com o resultado da comparação das qualidades.
05. Pela percepção e comparação das qualidades das diversas coisas individuais, observamos seus
pontos de semelhança – os pontos nos quais concordam ou discordam – nos quais se assemelham ou
não se assemelham. Eliminando por abstração os pontos em que diferem e se discordam; e,
novamente, pela abstração, retendo em consideração os pontos em que se assemelham e concordam,
podemos agrupar, arranjar ou classificar essas “coisas semelhantes” numa idéia-classe bastante vasta
para abarcar todas. Essa idéia-classe é o que denominamos Idéia Geral ou Conceito. A esse Conceito
damos um nome geral, que é denominado Termo. Na gramática, as nossas idéias particulares
resultantes das Percepções são geralmente denotadas pelos nomes próprios e as nossas idéias gerais
resultantes de Conceitos são geralmente expressas pelos nomes comuns.
06. Assim, “John Smith” (particular; nome próprio); o “Homem” (geral; nome comum); ou,
“cavalo” (geral; nome comum); e “Dobbin” (particular; nome próprio).
07. Vemos facilmente que devem existir conceitos baixos e altos. Cada classe contém em si classes
inferiores. E cada classe é em si mesma, apenas uma classe inferior numa superior. Assim, o conceito
superior de “animal” pode ser analisado como “mamífero”, que, por sua vez, contém o “cavalo” e
ainda pode ser dividido em tipos especiais de “cavalo”. O conceito “planta” pode ser subdividido
muitas vezes antes de chegar ao conceito “rosa”, e este pode ser subdividido em variedades e sub-
variedades, até que, afinal, é alcançada uma flor particular. Diz Jevons: “Classificamos as coisas
juntas quando observamos que são semelhantes em algum ponto e, portanto, pensamos juntamente
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nelas. Ao classificar uma coleção de objetos, não os colocamos apenas em grupos que se assemelham,
mas também dividimos cada classe em menores em que a semelhança é mais completa. Assim, a
classe de substâncias brancas podem ser divididas nas que são sólidas e nas que são fluidas, de modo
que temos duas menores classes: substâncias brancas sólidas e substâncias brancas fluidas. É
conveniente ter nomes pelos quais fique patente que uma classe é contida na outra e, de acordo com
isso, damos à classe que é dividida em duas ou mais classes menores a denominação de Gênero; e as
menores em que se divide são designadas por Espécies”.
08. Todo Gênero é uma Espécie da classe que lhe é imediatamente superior; e toda Espécie é um
Gênero das classes inferiores a si. Assim, pareceria que a extensão em ambas as direções seria infinita.
Porém, para os objetivos do pensamento finito, as autoridades ensinam que deve haver um Gênero
Supremo, que não pode ser Espécie de uma classe superior e é denominado o Gênero Supremo. O
Gênero Supremo é expresso por termos como estes: “O Ser”, “A Existência”, “O Absoluto”, “Alguma
coisa”, “Coisa”, “A Realidade Final”, ou algum termo semelhante que expresse o estado do ser final.
Da mesma forma, na ponta mais baixa da escala, encontramos o que se denomina como as Espécies
mais Inferiores ou Espécies Ínfimas. As Espécies Ínfimas são sempre individuais. Temos, assim, o
individuo numa ponta da escala; e o Absoluto na outra. A mente humana não pode ir além desse
limite.
09. Houve muita confusão no fazer as classificações e foram inventados planos engenhosos para
simplificar o processo. O de Jevons é, talvez, o mais simples, sendo bem compreendido. Diz essa
autoridade: “Todas essas dificuldades são evitadas no método perfeitamente lógico de dividir cada
Gênero em duas Espécies, e não mais de duas, de modo que uma espécie possui uma qualidade
particular e a outra não. Assim, se dividir as habitações entre aquelas que são feitas de tijolos e
aquelas que não são feitas desse material, estou perfeitamente certo e ninguém pode criticar-me.
Suponhamos que divida as habitações da forma seguinte:

HABITAÇÕES
_____________________________________________________________________

Tijolos Pedra Terra Ferro Madeira

10. “Farão imediatamente a objeção evidente de que podem ser feitas casas de outros materiais,
além dos especificados. Na Austrália, as casas são feitas, às vezes, da casca da acácia; os Esquimós
vivem em casas de gelo; as tendas podem ser consideradas projetos de casas e é fácil conceber casas
feitas de terracota, papel, palha, etc. Entretanto, todas as dificuldades lógicas podem ser evitadas se
nunca formar mais de duas espécies por vez, da seguinte forma:

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11. “É perfeitamente certo que, nessa divisão, devo deixa um lugar para toda espécie possível de
casa; pois, se a casa não for de tijolos, nem de pedra, madeira ou ferro, entretanto se acha entre as
espécies do lado direito, que não são ferro, nem madeira, nem pedra e nem tijolos. Esse modo de
classificar as coisas pode parecer inconveniente, porém, na realidade, é o único meio lógico”.
12. O estudante verá que o processo Classificação é duplo. O primeiro é por Análise, em que o
Gênero é dividido em Espécies por motivo das diferenças. O segundo é por Síntese, em que os
indivíduos são agrupados em espécies, e as Espécies em Gêneros, por motivo de semelhanças.
13. Além disso, na formação de classes gerais, que são conhecidas como Generalização, devemos,
primeiramente, analisar o individuo, a fim de determinar suas qualidades, atributos e propriedades, e
então sintetizar o individuo com outros indivíduos possuidores de semelhantes qualidades,
propriedades e atributos.
14. Diz Brooks sobre a Generalização: “A mente toma agora os materiais que foram fornecidos e
preparados por comparação e análise e os une num só produto mental, dando-nos a noção ou conceito
geral. A mente, por assim dizer, reúne esses diversos atributos num feixe ou monte e amarra-lhes um
laço mental, como faríamos para um maço de rosas ou de charutos. A Generalização é um processo
ascendente. O conceito maior é considerado superior ao menor; um conceito é considerado superior a
uma percepção; uma idéia geral está acima de uma idéia particular. Vamos, assim, dos particulares aos
gerais; das percepções aos conceitos; dos conceitos inferiores aos superiores. Começando com os
objetos particulares, nos elevamos deles até a idéia da classe deles. Tendo formado um número de
classe inferiores, comparando-as como fizemos com os indivíduos, as generalizamos em classes
superiores. Executamos o mesmo processo com essas classes superiores e procedemos assim até que,
afinal, paramos na mais alta classe, a do Ser. Tendo alcançado o pináculo da Generalização, podemos
descer a escada, invertendo o processo pelo qual subimos”.
15. Vemos, pois, que um Conceito é uma idéia geral. É o pensamento geral que abarca todos os
indivíduos de sua própria classe e tem em si tudo o que é comum à sua própria classe, embora não se
assemelha a qualquer indivíduo particular de sua classe em todos os pontos. Assim, um conceito de
animal contém em si os conceitos menores de todos os animais e a qualidade animal de todos os
animais – entretanto, difere da percepção de qualquer animal particular e dos menores conceitos das
menores classes de animais. Por conseguinte, um conceito ou imagem geral não pode ser imaginado
ou pintado mentalmente. Podemos pintar uma percepção de qualquer coisa particular, porém não
podemos pintar uma idéia ou conceito geral, porque não compartilha das qualidades particulares de
qualquer de sua classe, mas abarca todas as qualidades gerais da classe. Procurai pintar idéia ou
concepção geral do Homem. Vereis que qualquer tentativa de fazê-lo resultará na produção
simplesmente de um homem – algum homem particular. Se derdes à pintura cabelos pretos, deixará de
incluir os homens de cabelos claros; se lhe derdes pele branca, colocará entre os de pele branca as
raças de pele escuras. Se pintardes um homem gordo, os magros serão negligenciados. E assim por
diante, em cada caso. É impossível formarmos uma correta pintura geral de classe, sem incluirmos
todos os indivíduos nela. O melhor que podemos fazer é formar uma espécie de imagem composta,
que não passará de uma espécie de símbolo representativo da classe – imagem ideal para tornar mais
fácil a idéia da classe ou termo geral.
16. Pelo exposto acima, vemos as diferenças fundamentais entre uma Percepção e um Conceito. A
Percepção é a imagem mental de um objeto real – uma coisa particular. O Conceito é simplesmente
uma idéia geral, ou noção geral, dos atributos comuns de uma classe de objetos ou coisas. Uma
Percepção surge diretamente das impressões dos sentidos, ao passo que um Conceito é, em certo
sentido, um pouco pensamento – uma coisa abstrata – uma criação mental – um ideal.
17. Um Conceito concreto é um conceito que incorpora as qualidades comuns de uma classe de
objetos, como seja, o conceito concreto de leão, no qual as qualidades gerais da classe de todo os leões
se acham contidas. Rosa é um conceito concreto; vermelho ou vermelhidão, é um conceito abstrato. A
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seguinte regra de Jevons vos ajudará a lembrar-vos desta distinção: “Um Termo Concreto é o nome de
uma Coisa; um Termo Abstrato é o nome de uma Qualidade da Coisa”.
18. Um Conceito Concreto, incluindo todos os indivíduos particulares de uma classe, deve também
conter todas as qualidades comuns desses indivíduos. Assim, esse conceito é formado das idéias dos
indivíduos particulares e de suas qualidades comuns, em combinação e união. Disso resulta os termos
distintivos denominados o conteúdo, a extensão e a intensidade dos conceitos, respectivamente.
19. O conteúdo de um conceito é tudo o que inclui – seu sentido completo. A extensão de um
conceito depende do aspecto de sua qualidade – é sua propriedade de incluir numerosos objetos
individuais no seu conteúdo. A intensidade de um conceito depende do aspecto de sua qualidade – é
sua propriedade de incluir no seu conteúdo qualidades, propriedades ou atributos comuns ou de classe.
20. Assim, a extensão do conceito cavalo abrange todos os cavalos individuais; ao passo que sua
intensidade inclui todas as qualidades, atributos e propriedades comuns a todos os cavalos – qualidades
de classe que todos os cavalos possuem em comum, e as quais constituem os particulares animais
denominados cavalos, em distinção aos outros animais.
21. Segue-se que quanto maior for o número de objetos particulares de uma classe, menor deve ser
o número das qualidades gerais de classe – qualidades comuns a todos da classe. Resulta também que,
quanto maior for o número das qualidades comuns da classe, menor deve ser o número de indivíduos
da classe. Como expressam os lógicos: “Quanto maior for a extensão, tanto menor será a intensidade;
e quanto maior for a intensidade, tanto menor será a extensão”. Assim, animal é de pouca intensidade,
porém de grande extensão; porquanto, embora existam muitos animais, pouquíssimas são as
qualidades comuns a todos os animais. Pelo contrario, cavalo é menos extenso, porém mais intenso;
porquanto, embora existam relativamente poucos cavalos, as qualidades comuns a todos os cavalos são
maiores.
22. A cultura da faculdade de Generalização, ou Concepção, muito depende, sem dúvida, de
exercício e material, como acontece com toda faculdade mental, como vimos. Porém, existem certas
regras, métodos e idéias que se podem empregar com vantagem no desenvolvimento dessa faculdade
na direção de produzir trabalho claro e útil. Esta faculdade é desenvolvida por todos os processos
gerais do pensamento, porquanto forma parte importante de todo pensamento. Porém, os processos
lógicos conhecidos por Análise e Síntese dão a esta faculdade exercício e aplicação particularmente
adaptadas ao seu desenvolvimento e cultura. Consideremos rapidamente esses processos.
23. A Análise Lógica é o processo pelo qual examinamos e desenvolvemos a significação dos
Termos. Como deveis estar lembrados, Termo é a expressão verbal de um Conceito. Nessa análise,
procuramos desenvolver e descobrir o aspecto-qualidade e o aspecto-quantidade do conteúdo do
conceito. Procuramos, assim, descobrir a particular idéia geral expressa; o número de indivíduos
particulares incluídos nela; e as propriedades da classe ou generalização. A análise depende da divisão
e separação. O desenvolvimento no processo de Análise Lógica tende à clareza, distinção e exatidão
no pensamento e na expressão. A Análise Lógica tem dois aspectos ou fases, a saber: (1) Divisão, ou a
separação de um conceito de acordo com a sua extensão, como, por exemplo, a análise de um gênero
em suas varias espécies; e (2) a Partição, ou separação de um conceito em suas qualidades,
propriedades e atributos componentes, como por exemplo, a análise do conceito ferro, em suas
diversas qualidades de cor, peso, dureza, maleabilidade, tenacidade utilidade, etc.
24. Existem certas regras de Divisão que devem ser observadas, as cláusulas seguintes, sendo uma
simples exposição da mesma:
25. I – A divisão deve ser governada por um principio uniforme. Assim, seria ilógico dividir
primeiramente os homens em Caucásios, Mongóis, etc. e então subdividi-los em Cristãos, Pagãos, etc.,
pois a primeira divisão seria de acordo com o principio de raça e a segunda de acordo com o principio
de religião. Observando a regra do principio uniforme, podemos dividir os homens em raças e sub-
raças e assim por diante, sem nos referir à religião; e podemos também dividir os homens conforme

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suas respectivas religiões e, em seguida, em denominações menores e seitas sem relacionar com a raça
ou nacionalidade. A regra acima é frequentemente violada pelos pensadores e oradores descuidados.
26. II – A divisão deve ser completa e exaustiva. Assim a análise se um gênero deve estender-se a
todas as espécies conhecidas dele, pelo principio de que o gênero é apenas a soma de suas diversas
espécies. Uma ilustração da violação dessa regra é dada pelos livros no caso do conceito ações ao
dividi-los em ações boas e ações más, omitindo a espécie importantíssima das ações indiferentes. O
descuido na observação dessa regra leva para falsos raciocínios e pensamento obscuro.
27. III – A divisão deve ser em seqüência lógica. É ilógico desprezar as divisões intermediárias,
como, por exemplo, ao dividir animais em cavalos, trutas, andorinhas, omitindo as divisões
intermediárias de mamíferos, peixes e pássaros. Quanto mais perfeita for a seqüência, mais clara será
a análise e o pensamento que resulta dela.
28. IV – A divisão deve ser exclusiva. Isto quer dizer que as diversas espécies divididas de um
gênero devem ser reciprocamente exclusivas – devem excluir-se mutuamente. Assim, dividir a
humanidade em masculinos, homens e mulheres, seria ilógico, pois a classe masculina já inclui os
homens. A divisão seria ser: masculino e feminino ou então: “homens, mulheres, meninos e meninas”.
29. O exercício de Divisão nessas linhas e de acordo com essas regras tenderá para o
desenvolvimento da capacidade de conceber e analisar. Qualquer classe de objetos – qualquer
conceito geral – pode ser aplicada para a prática. Uma experiência vos mostrará os grandes poderes de
desenvolvimento contido neste simples processo. Tende a alargar e dilatar a vossa concepção sobre
qualquer classe de objeto.
30. Existem também diversas regras de Partição que devem ser observadas, a saber:
31. I – A partição deve ser completa e exaustiva. Isto é, deve desenvolver a significação completa
do termo ou conceito, no que se refere às qualidades propriedades e atributos gerais. Porém, isso se
aplica às qualidades, propriedades e atributos que são comuns à classe ou conceito, e não às qualidades
acidentais ou individuais que pertencem aos indivíduos separados de qualquer subclasse. As
qualidades devem ser essenciais e não acidentais – gerais e não particulares. Uma famosa violação
dessa regra deu-se no caso da antiga definição Platônica do “Homem”, que era a seguinte: “Animal
bípede sem penas”, que Diógenes ridicularizou apresentando um pinto “sem pena” como sendo o
homem conforme a definição. A clareza no pensamento exige o reconhecimento da distinção entre as
qualidades gerais e as individuais, as particulares e as acidentais. O cabelo vermelho é uma qualidade
acidental de um homem particular e não a qualidade geral de uma classe de homem.
32. II – A partição deve considerar as qualidades, propriedades e atributos, conforme a
classificação da divisão lógica. Isto é, as diversas qualidades, propriedades e atributos devem ser
considerados sob a forma de gênero e espécie, como na Divisão. Nesta classificação, se aplicam as
regras da Divisão.
33. Veremos que existe uma relação o muito íntima entre a Partição e a Definição. A Definição é
realmente uma expressão das diversas qualidades, atribuídas e propriedades de um conceito, quer
expresso em particular ou então em conceitos de outras classes maiores. Talvez não haja melhor
exercício para a cultura de concepção e pensamento claros do que a Definição. A fim de definir, é
preciso exercer em considerável extensão o poder de análise. Diz Brooks: “Os exercícios em definição
lógica são valiosos para desenvolver nossa concepção. A definição lógica, incluindo tanto e gênero
como a diferença específica, dá clareza, limitação e proporção às nossas concepções. Separa uma
concepção de todas as outras, fixando e apresentando as propriedades essenciais e distintivas da
concepção definida. O valor dos exercícios de definição lógica é, assim, aparente”.
34. Se o estudante escolher algum termo familiar e procurar defini-lo corretamente, escrevendo o
resultado, e, em seguida, comparar a definição dada em alguns dicionários-modelo, verá uma nova luz
sobre a definição lógica. A prática na definição, efetuada nestas linhas, cultivará os poderes de análise
e concepção e, ao mesmo tempo, tenderá para a aquisição de métodos corretos e científicos de
pensamento e expressão clara.
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35. Hyslop dá as seguintes excelentes regras de Definição Lógica, que deviam ser seguidas pelos
estudantes em seus exercícios:
“I – Uma definição deve expressar os atributos essenciais da espécie definida.
II – Uma definição não deve conter o nome ou a palavra definição, para não formar o que se
poderia dizer definição em círculo vicioso.
III – A definição deve ser exatamente equivalente à espécie definida.
IV – Uma definição não deve ser expressa em linguagem obscura, figurada ou ambígua.
V – Uma definição não deve ser negativa quando pode ser afirmativa."
36. A Síntese Lógica é exatamente oposta à Análise Lógica. Nesta, procuramos separar e pôr de
lado; naquela, procuramos reunir e combinar os particulares no geral. Começando com as coisas
individuais e comparando-as umas com outras, conforme os pontos observados de semelhança serão
agrupados em espécies ou classe limitadas. Combinamos, então, e essas classes ou espécies com
outras semelhantes, numa classe maior ou gênero; e assim, de acordo com o mesmo processo, em
classes maiores, como mostramos no princípio deste capítulo.
37. O processo de Síntese deve desenvolver e cultivar a mente em diversas direções, e exercícios
nessa direção dará novo hábito e sentido de arranjo ordinário, que será muito útil ao estudante na vida
diária. Diz Halleck: “Quando uma pessoa compara um espécime para ver se pode ser colocado na
mesma classe que outros está pensando. A comparação é um fator absolutamente essencial do
pensamento e a classificação exige comparação. O homem que não classificou convenientemente os
milhares de objetos individuais com que lida, caminhará como um coxo. Só poderá caminhar a passos
de sete léguas aqueles que refletiu nas relações existentes entre esses indivíduos separados e os
colocou em suas classes convenientes. Num minuto, um homem pode pegar uma carta colocada entre
dez mil, se estiver bem classificada. Da mesma forma, o estudante da história, sociologia ou outro
ramo qualquer do saber, pode, se estudar corretamente os assuntos, ter todo o seu saber classificado e
facilmente preparado para empregar-se... Dessa forma, podeis fazer vosso conhecimento do mundo
mais minuciosamente exato. Não podemos classificar sem ver as coisas sob um novo aspecto”.
38. O estudo da História Natural, em qualquer dos seus ramos, fará muito para cultivar o poder de
Classificação. Pode-se, porém, praticar a classificação na vida diária com os objetos que nos rodeiam.
Arranjando as coisas mentalmente, em classes pequenas e estas em maiores, logo a pessoa será capaz
deformar uma relação lógica entre as idéias particulares e as gerais, ou entre os objetos particulares e
as classes gerais. A prática da classificação dá à mente uma tendência construtiva e formadora, que é
muito útil nestes tempos de construção e desenvolvimento.
39. A respeito de alguns dos defeitos da classificação, diz Jevons: “Na classificação das coisas,
devemos tomar grande cuidado em não nos deixar iludir pelas semelhanças exteriores. Muitas coisas
parecerão ser tão semelhantes a outras, sem o serem. As baleias, os golfinhos, as focas e vários outros
animais vivem no mar exatamente como os peixes: possuem forma semelhante e geralmente são
classificados entre os peixes. Dizem pescar baleia, porém, esses animais não são realmente peixes,
mas se assemelham mais aos cães, cavalos e outros quadrúpedes do que aos peixes. Não podem viver
completamente em baixos da água e respirar o ar que ela contém como se dá com os peixes, mas
precisam sair à superfície de tempos em tempos para respirar. Da mesma forma, não devemos
classificar os morcegos com os pássaros só porque voam e embora tenham asas; porque tais asas não
são semelhantes às dos pássaros e os morcegos mais se assemelham a ratos do que a pássaros. Os
botânicos costumavam classificar as plantas conforme o tamanho como sendo árvores, arbustos ou
ervas, mas sabemos atualmente que uma grande árvore é, muitas vezes, mais semelhante em seus
característicos a uma plantinha do que a outra grande árvore. Uma margarida tem pouca semelhança
com um grande cardo da Escócia; no entanto, o botânico os considera muito semelhantes. O bambu
altaneiro é uma espécie de gramínea, e a cana de açúcar também pertence à mesma classe do trigo e da
aveia”.
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40. Lembrai-vos de que a análise de um gênero nas suas espécies componentes é realizada por
separação de acordo com as diferenças; e as espécies são formadas por síntese num gênero por causa
de suas semelhanças. O mesmo acontece com relação aos indivíduos e às espécies, a classificação
sendo feita de acordo com os pontos de semelhança, ao ponto que a análise ou separação é feita de
acordo com pontos de diferença.
41. O uso de um bom dicionário será vantajoso para o estudante no desenvolvimento do poder de
Generalização ou Concepção. Começando com uma espécie, pode formar classes cada vez mais
elevadas, consultando o dicionário; da mesma forma, começando com uma extensa classe, pode descer
às diversas espécies que a compõem. Em muitos casos, uma enciclopédia é ainda melhor para isso.
Lembrai-vos de que a Generalização é requisito principal para um pensar claro e lógico. Além disso, é
um importantíssimo meio de desenvolver o Pensamento.

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Capítulo – XI –
O JUÍZO

1. Vimos que, nos diversos processos gerais de pensamentos, que se agrupam sob o título geral de
Entendimento, a fase ou passo da Abstração é a primeira; em seguida, vem o segundo passo ou fase
denominada Generalização ou Concepção. O terceiro passo ou fase é a que se designa por Juízo. No
exercício da faculdade de Juízo, determinais o acordo ou desacordo entre dois conceitos, idéias, ou
desacordo entre dois conceitos, idéias, ou objetos de pensamentos, comparando-os um com outro.
Desse processo de comparação surge o Juízo, que é expresso sob a forma de Proposição lógica.
Entretanto, na formação atual de um Conceito, é preciso certa forma de Juízo, pois, precisamos
primeiramente comparar as qualidades e formar um juízo sobre elas, para formar uma idéia geral.
Todavia, aqui nos limitaremos à consideração da faculdade de Juízo no emprego estritamente lógico do
termo, como estabelecemos anteriormente.
2. Vimos que a expressão de um conceito é chamada Termo, que é o nome do conceito. Da
mesma forma, ao compararmos dois termos (expressões de conceitos) e fizermos Juízo deles, a
expressão desse Juízo será denominada Proposição. Em todo Juízo e Proposição deve haver dois
Termos ou Conceitos, relacionados por uma das formas do verbo “ser”, na presente do indicativo,
como seja: “é” ou “são”. Essa palavra relacionadora é denominada Cópula. Por exemplo, podemos
comparar os dois termos cavalo e animal, da forma seguinte: “Um cavalo é um animal”, a palavra é
sendo a Cópula ou símbolo do Juízo afirmativo, que liga os dois termos. Da mesma forma podemos
formar um Juízo negativo da forma seguinte: “Um cavalo não é um boi”. Numa proposição, o termo
de que alguma coisa é afirmada se denomina Sujeito; e o termo que expressa aquilo que é afirmado do
sujeito é denominado Predicado.
3. Além da distinção entre os Juízos afirmativos ou Proposições, existe uma distinção resultante
da quantidade que os separa na respectiva classe de particular e universal. Assim, “todos os cavalos
são animais”, é um juízo universal, ao passo que “alguns cavalos são pretos”, é um juízo particular.
Assim, todos os juízos devem ser afirmativos ou negativos e também particulares ou universais. Isso
nos dá quatro classes possíveis de juízo, que são as seguintes, simbolicamente ilustradas:
1. Afirmativa Universal, como “todo A é B”
2. Negativa Universal, como “nenhum A é B”
3. Afirmativa Particular, como “algum A é B”
4. Negativa Particular, como “algum A não é B”
4. O termo ou juízo é distribuído (isto é, estendido universalmente) ao ser empregado no seu
sentido mais lato, no qual designa o sentido de “cada um e todos” de seu gênero e classe. Assim, na
proposição “os cavalos são animais”, a significação é que “cada e todo” cavalo é animal – e, nesse
caso, o sujeito é “distribuído” ou universalizado. Porém, o predicado não é “distribuído” ou
universalizado, permanecendo particular ou restrito e designando apenas “alguns”. Pois, a proposição
não denota que a classe cavalos inclui todos os animais. Porquanto, podemos dizer que “alguns
animais não são cavalos”. Vedes, portanto, que temos muitos exemplos em que a “distribuição” varia,
tanto em relação ao sujeito como ao predicado. A regra de lógica que se aplica neste caso é a seguinte:
1. Nas proposições universais, o sujeito é distribuído.
2. Nas proposições particulares, o sujeito não é distribuído.
3. Nas proposições negativas, o predicado é distribuído.
4. Nas proposições afirmativas, o predicado não é distribuído.
5. Um pouco de tempo dedicado à análise e compreensão das regras acima expostas compensará
ao estudante seu trabalho, pois treinará sua mente na direção da distinção e juízo lógico. A
importância dessas regras aparecerá mais tarde. Diz Halleck: “O juízo é o poder que revoluciona o
mundo. Essa revolução é lenta porque as forças da natureza são tão complexas tão difícil de reduzi-las
às suas formas mais simples e tão disfarçadas e neutralizadas pela presença de outras forças. O
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progresso dos próximos cem anos reunirá novos conceitos, que agora parecem não ter qualidades
comuns. Se a vasta quantidade de energia latente nos raios solares, nos raios das estrelas, nos ventos,
na elevação e queda das marés, for reunida e aplicada para fins humanos, será um novo triunfo para o
juízo. Este mundo está revolvendo num universo de energia, de que o juízo apenas apanhou a mínima
fração apreciável. Felizmente, o juízo está sempre agindo e silenciosamente comparando coisas que,
para épocas passadas, parecem dessemelhante; e está abstraindo e afastando do campo de vista as
qualidades que simplesmente serviram para obscurecer o ponto em andamento”. Diz Brooks: “O
poder do juízo é de grande valor para seus produtos. Está contido em todos os atos do intelecto e os
acompanha, permanecendo assim na base de toda atividade intelectual. Opera diretamente em todo ato
do entendimento; e até ajuda as outras faculdades da mente no aperfeiçoamento de suas atividades e
produtos”.
6. O melhor método para cultivar o juízo é o exercício dessa faculdade na direção de fazer
comparações, ponderar as diferenças e semelhanças, e treinar a mente de um modo geral nas linhas do
Pensamento Lógico. Outro volume desta série é dedicado a esse assunto, e deve ser estudado por
quem desejar cultivar o hábito do pensar lógico e científico. O estudo das matemáticas é considerado
como próprio para desenvolver a faculdade do juízo, porque exige o uso dos poderes de comparação e
decisão. A aritmética mental tenderá especialmente a fortalecer e exercer essa faculdade mental.
7. A Geometria e a Lógica darão os melhores exercícios nessa direção para aqueles que
pretendem dedicar o tempo, a atenção e o trabalho para a tarefa. Os jogos da espécie do xadrez e
damas tendem a desenvolver as faculdades do juízo. O estudo das definições das palavras num bom
dicionário também constitui excelente exercício na mesma direção. Os exercícios dados neste livro
para a cultura e desenvolvimento das diversas faculdades, tenderão a desenvolver essa faculdade
particular de um modo geral, pois o exercício do juízo é necessário em cada passo e em cada exercício.
8. Diz Brooks: “Devia ser um dos principais objetos da cultura dos jovens, levá-los a adquirir o
hábito de formarem juízos. Devem ser encaminhados não só para verem as coisas, mas também para
terem opiniões sobre elas. Devem ser treinados a verem as coisas em suas ralações e a formular essas
relações em proposições definidas. Suas idéias dos objetos devem ser expressas em pensamentos
relativos a esses objetos. São melhores os métodos de ensino que tendem a excitar um hábito de
reflexão que observa as semelhanças e diversidades dos objetos e procura ler os pensamentos que
encarnam e de que são símbolos”.
9. Os exercícios dados no final do próximo capítulo, intitulado “Juízos Derivados”, darão à mente
um impulso decisivo na direção do juízo lógico. Recomendamo-los calorosamente ao estudante.
10. O estudante verá que irá adquirindo o hábito de uma comparação e juízo claramente lógicos,
gravando na mente e aplicando em seu pensar as seguintes excelentes Regras Principais do
Pensamento, expressas por Jevons:
“I. – A Lei de Identidade: A mesma qualidade ou coisa é sempre a mesma qualidade ou coisa,
por mais diferentes que sejam as condições em que se dão.
“II – A Lei de Contradição: Nada pode ser e não ser ao mesmo tempo e no mesmo lugar.
“III. – A Lei da Exclusão da Media: Tudo deve ser ou não ser; não há outra alternativa ou
média”.
11. Jevons diz sobre essas leis: “Os estudantes raramente podem ver a principio significação e
importância completa destas regras. Todos os argumentos podem ser explicados quando essas leis
evidentes forem aceitas; e não é demasiado dizer que toda a lógica será clara para aquele que
constantemente empregar essas leis como chave”.

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Capítulo – XII –
JUÍZOS DERIVADOS

1. Como vimos os juízos são formados pela comparação de dois objetos de pensamento
conforme seu acordo ou diferença. O passo ascensional seguinte, o do Raciocínio Lógico, consiste
na comparação de duas idéias por meio de sua relação com uma terceira. Esta forma de Raciocínio
é chamada mediata, porque é efetuada por meio da terceira idéia. Entretanto, existe certo processo
do Entendimento que tem seu lugar entre este Raciocínio mediato, de um lado, e a formação de um
juízo completo, do outro. Algumas autoridades o consideram uma forma de Raciocínio,
denominando-o Raciocínio Imediato ou Inferência Imediata, ao passo que outros o tratam como
forma superior de juízo, denominando-o juízo Derivado. Seguiremos esta classificação, pois se
adapta melhor aos objetivos particulares deste livro.
2. O princípio fundamental do Juízo Derivado é que os juízos comuns são tantas vezes
relacionados uns com os outros que um juízo pode ser derivado direta e imediatamente de outro. As
duas formas do método geral de Juízo Derivado são denominadas: (1) Oposição e (2) Conversão,
respectivamente.
3. A fim de compreendermos mais claramente os processos lógicos contidos no Juízo
Derivado, devemos, ter conhecimento das relações gerais dos juízos, e também das letras simbólicas
empregadas pelos lógicos como meio de simplificação dos processos de pensamento. Os lógicos
exprimem as quatro classes de juízos ou Proposições por uma letra, tomando as quatro primeira
vogais para designá-las, a saber: A, E, I, O. Notou-se que era muito conveniente empregar esses
símbolos para expressar as diversas formas de Proposições e juízos. Deve-se guardar na memória a
seguinte tábua para esse fim:
A Afirmativa Universal, simbolizada por “A”.
A Negativa Universal, simbolizada por “E”.
A Afirmativa Particular, simbolizada por “I”.
A Negativa Particular, simbolizada por “O”.
4. Vereis que essas quatro formas de juízo estão em certas relações mútuas, das quais resulta o
que é chamado oposição. Isso pode ser mais bem compreendido pela referencia à tábua seguinte,
denominada o Quadrado da Oposição:

5. Assim, A e E são contrários; I e O são subcontrários; A e I e também E e O são


subalternos; A e E e também E e I são contraditórios.
6. O seguinte dará uma tábua simbólica de cada um dos quatro Juízos ou Proposições com o
símbolo lógico que lhe é atribuído:
(A) “Todo A é B”.
(E) “Nenhum A é B”.
(I) “Algum A é B”.
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(O) “Algum A não é B”.
7. São as seguintes as regras que governam e expressam as relações acima indicadas:
8. I. – Dos Contraditórios: Um deve ser verdadeiro, e o outro deve ser falso. Como por exemplo, (A)
“Todo A é B”; e (O) “Algum A não é B”; não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo. Nem (E) “Nenhum A
é B”; e (I) “Algum A é B”; não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo. Eles são contraditórios por
natureza, – e se um é verdadeiro, o outro deve ser falso e se um é falso, o outro deve ser verdadeiro.
9. II – Dos Contrários: Se um é verdadeiro, o outro deve ser falso; porém ambos podem ser falsos. Por
exemplo, (A) “Todo A é B; e (E) “Nenhum A é B”; não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo. Se um é
verdadeiro, o outro deve ser falso. Porém, ambos podem ser falsos, como poderemos ver ao verificar que
podemos dizer que (I) “Algum A é B”. Assim, embora esses dois juízos sejam contrários, não são
contraditórios. Embora, se um deles for verdadeiro, o outro deva ser falso, não se segue que se um é falso, o
outro deva ser verdadeiro, pois os dois podem ser falsos, deixando a verdade para um terceiro juízo.
10. III – Dos Subcontrários: Se um é falso, o outro deve ser verdadeiro; mas ambos podem ser
verdadeiros. Como, por exemplo, (I) “Algum A é B”; e (O) “Algum A não é B”; podem ser ambos
verdadeiros, porque não se contradizem. Porém, um ou outro deve ser verdadeiro e se um é falso, o outro
deve ser verdadeiro não podem ser os dois falsos.
11. IV – Dos Subalternos: Se o Universal (A ou E) for verdadeiro, o Particular (I ou O) deve ser
verdadeiro. Como por exemplo, se (A) “Todo A é B” é verdadeiro, então (I) “Algum A é B” deve ser
verdadeiro também; e também se (E) “Nenhum A é B” é verdadeiro, então (O) “Algum A não é B” deve ser
também verdadeiro. O Universal leva o particular dentro de sua verdade e significação. Porém, se o
Universal é falso, o particular pode ser verdadeiro ou falso. Por exemplo, (A) “Todo A é B” pode ser falso
e, no entanto, (I) “Algum A é B” pode ser verdadeiro ou falso, sem ser determinado pela proposição (A).
Assim também (E) “Nenhum A é B” pode ser falso, sem determinar a verdade ou falsidade de (O) “Algum A
não é B”.
12. Porém, se o Particular é falso, o Universal também deve ser falso. Assim, se (I) “Algum A é B” é
falso, então se segue que (A) “Todo A é B” deve ser falso; ou se (O) “Algum A não é B” é falso, então (E)
“Nenhum A é B” deve também ser falso. Porém, o Particular pode ser verdadeiro, sem fazer que o
Universal seja verdadeiro, Como, por exemplo, (I) “Algum A é B” pode ser verdadeiro (A) “Todo A é B”;
ou (O) “Algum A não é B” pode ser verdade sem fazer que seja verdade (E) “Nenhum A é B”.
13. As regras acima podem ser aplicadas não só com os símbolos, como “Todo A é B”, mas também
com qualquer Juízo ou Proposição, como as seguintes: “Todos os cavalos são animais”; “Todos os homens
são mortais”; “Alguns homens são artistas”, etc. O princípio contido é idêntico em cada caso. A simbologia
do “Todo A é B” é apenas adotada para simplicidade, e para o objetivo de fazer que o processo lógico se
assemelhe ao das matemáticas. As letras desempenham o mesmo papel que os algarismos na aritmética ou
as letras a, b, c; x y, z, na álgebra. O pensar em símbolos tende para a clareza do pensamento e raciocínio.
14. Exercício: O estudante deve aplicar os princípios de Oposição, empregando os juízos acima
mencionados no parágrafo precedente, na direção de formar um Quadrado de Oposição com eles, depois de
atribuir as letras simbólicas A, E, I, O, às formas apropriadas das proposições. Então, deve executar os
seguintes problemas das Tábuas e Quadrado dado neste capítulo:
1 – Se “A” for verdade, que resultará para E, I e O? Também o que se seguirá, se “A” for falso?
2 – Se “E” for verdade, que se seguirá para A, I e O? Também o que se seguirá, se “E” for falso?
3 – Se “I” for verdadeiro, mostrai o que se dará para A, E e O. Da mesma forma, se “I” for falso?
4 – Se “O” for verdadeiro, mostrai o que se dará para A, E e I. Também o que se dará se “O” for
falso?
15. A CONVERSÃO DOS JUIZOS
Os Juízos são capazes do processo de Conversão, ou a mudança de lugar do sujeito e do predicado.
Diz Hyslop: “A conversão é a transposição do sujeito e do predicado, ou o processo de inferência imediata
pelo qual podemos inferir, de uma proposição dada, outra tendo por sujeito o predicado da original, e por
predicado o sujeito da original”. O processo de conversão de uma proposição parece simples à primeira
vista, porém, uma pequena consideração mostrará que há diversas dificuldades na sua efetivação. Por
exemplo, embora seja juízo certo que “Todos os cavalos sejam animais”, não é Juízo Derivado ou Inferência
correta que “todos os animais sejam cavalos”.
16. O mesmo é verdade da possível conversão do juízo “Todo biscoito é pão” no de “Todo pão é
biscoito”. Existem certas regras a observar na Conversão, como veremos em seguida.
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17. O Sujeito de um juízo é, certamente, o termo do qual alguma coisa é afirmada; e o Predicado é o
termo que expressa aquilo que é afirmado do Sujeito. O Predicado é realmente uma expressão de um
atributo do Sujeito. Assim, ao dizermos: “Todos os cavalos são animais”, expressamos a idéia que todos os
cavalos possuem os atributos de “animalidade”; ou ao dizermos “Alguns homens são artistas”, expressamos
a idéia de que alguns homens possuem os atributos ou qualidades incluídas no conceito de “artista”. Na
Conversão, o juízo original é denominado Convertendo; e a nova forma de juízo, que resulta da conversão, é
denominado Converso. Não vos esqueçais desses termos.
18. As duas Regras de Conversão, expressas em formas simples, são as seguintes:
I – Não mudeis a qualidade de um Juízo. A qualidade do converso deve permanecer a mesma que a
do convertendo.
II. – Não distribui o termo não distribuído. Nenhum termo deve ser distribuído no converso que não
seja distribuído no convertendo.
19. A razão dessas regras está em que seria contrário à verdade e à lógica dar a um juízo convertido um
grau de qualidade e quantidade superior ao que existe no juízo original. Fazê-lo seria o mesmo que querer
fazer que “duas vezes dois” fosse mais que “dois mais dois”.
20. Existem três métodos ou espécies de conversão, que são as seguintes:
(1) Conversão Simples;
(2) Conversão Limitada;
(3) Conversão por Contraposição.
21. Na Conversão Simples, não há mudança na qualidade, nem na quantidade. Por exemplo, pela
Conversão Simples podemos converter uma proposição, mudando os lugares do seu sujeito e predicado,
respectivamente. Porém, como diz Jevons: “Não se segue que o novo será sempre verdadeiro, embora o
velho o fosse. Às vezes é, porém, às vezes não é. Se disser: “algumas igrejas são construções de madeira”,
posso convertê-lo e obter “algumas construções de madeira são igrejas”; a significação sendo exatamente
como antes. Essa espécie é denominada Conversão Simples, porque não precisamos fazer mais do que
mudar o sujeito e o predicado para formar uma nova proposição. Vemos que a Particular Proposição
Afirmativa pode ser simplesmente convertida. O mesmo acontece com a proposição Negativa Universal.
“Nenhuma flor grande é coisa verde” pode ser simplesmente convertido em “nenhuma coisa verde é flor
grande”.
22. Na Conversão Limitada, a quantidade é mudada do Universal ao Particular. Jevons prossegue sobre
este ponto: “Porém, é assunto muito embaraçado, converter uma proposição Afirmativa Universal. A
afirmação que “todos os peixes gelatinosos são animais”, é verdade, porém, convertendo-a, temos que “todos
os animais são peixes gelatinosos” o que é absurdo. Isso é porque o predicado de uma proposição universal é
realmente particular. Não afirmamos que os peixes gelatinosos sejam “todos os animais que existem”, mas
apenas “alguns animais. A proposição devia ser realmente “todos os peixes gelatinosos são alguns animais”,
e se a convertermos simplesmente, teremos, “alguns animais são todos peixes gelatinosos”. Porém, quase
sempre omitimos os adjetivos alguns e todos ao se encontrarem no predicado, de modo que a proposição, ao
ser convertida, se torna “alguns animais são peixes gelatinosos”. Esse gênero de mudança é denominado
Conversão Limitada, e vemos que uma proposição Afirmativa Universal, ao ser assim convertida, dá uma
Afirmativa Particular.
23. Na Conversão por Contraposição dá-se uma mudança na posição da cópula negativa, que desloca a
expressão da qualidade. Como, por exemplo, na Negativa Particular “alguns animais não são cavalos”, não
podemos dizer “alguns cavalos não são animais” porque isso seria a violação da regra que “nenhum termo
deve ser distribuído no converso que não for distribuído no convertendo”, pois, assim como vimos no
capítulo precedente: “Nas proposições Particulares, o sujeito não é distribuído”. E na proposição original ou
convertendo, “animais” é o sujeito de uma proposição Particular. Evitando isso e procedendo por Conversão
por Contraposição, mudamos o Convertendo (O) numa Afirmativa Particular (I), dizendo: “Alguns animais
não são cavalo”; ou “Alguns animais não são coisas que não são cavalos”; e, em tão, procedendo por
Conversão Simples, chegamos ao converso “Algumas coisas que não são cavalos são animais”, ou “Alguns
não-cavalos são animais”.
24. O seguinte dá a aplicação da forma apropriada de Conversão para cada uma das quatro espécies de
Juízos ou Proposições:
25. (A) Afirmativa Universal: Esta forma de proposição é mudada por Conversão Limitada. O predicado
não sendo distribuído no convertendo, não pode ser distribuído no converso, dizendo-se “todos”. (“Nas
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proposições afirmativas, o predicado não é distribuído”). Assim, por essa forma de Conversão, mudamos
“Todos os cavalos são animais” em “Alguns animais são cavalos”. A Afirmativa Universal (A) é convertida
por limitação numa Afirmativa Particular (I)
26. (E) Negativa Universal: Esta forma de proposição é alterada por Conversão Simples. Numa
Negativa Universal, ambos os termos são distribuídos. (“Nas proposições universais, o sujeito é distribuído.
Nas proposições negativas, o predicado é distribuído”). Assim, podemos dizer “Os bois não são cavalos” e,
em seguida, converter a proposição em “Os cavalos não são bois”. Simplesmente convertermos uma
Negativa Universal (E) noutra Negativa Universal (E).
27. (I) Afirmativa Particular: Esta forma de proposição é mudada por Conversão Simples. Com efeito,
nenhum termo é distribuído numa Afirmativa Particular. (“Nas proposições particulares, o sujeito não é
distribuído. Nas proposições afirmativas, o predicado não é distribuído”). E nenhum dos termos sendo
distribuído no convertendo, não deve ser distribuído no converso. Assim, de “Alguns cavalos são machos”
podemos derivar, por Conversão Simples, “Alguns machos são cavalos”. Podemos simplesmente converter
uma Afirmativa Particular (I) em outra Afirmativa Particular (I).
28. (O) Negativa Particular: Esta forma de proposição é convertida por Contraposição ou Negação.
Demos exemplos e ilustrações no parágrafo que descreve a Conversão por Contraposição. A Negativa
Particular (I) é convertida por contraposição numa Afirmativa Particular (I) que é, então, simplesmente
convertida em outra Afirmativa Particular (I).
29. Existem mais alguns processos ou métodos menores de formar juízo entre duas proposições, ou tirar
imediatas inferências, porém o exposto acima dará ao estudante uma idéia clara dos métodos menores ou
mais completos.
30. Exercício: O seguinte dará ao estudante uma boa prática e exercício nos métodos de Conversão.
Fornece um valioso treino mental, e tende a desenvolver as faculdades lógicas, principalmente a do juízo. O
estudante deve converter as seguintes proposições, conforme as regras e exemplos dados neste capítulo:
1. Todos os homens são seres de razão.
2. Alguns homens são ferreiros.
3. Nenhum homem é quadrúpede.
4. Alguns pássaros são pardais.
5. Alguns cavalos são viciados.
6. Nenhum bruto é racional.
7. Alguns homens não têm juízo.
8. Todo biscoito é pão.
9. Algum pão é biscoito.
10. Nem todo pão é biscoito.

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Capítulo – XIII –
O RACIOCÍNIO

1. Nos capítulos precedentes, vimos que, no grupo dos processos mentais contidos no processo geral do
Entendimento, existem diversas fases ou passos, três dos quais consideramos cada qual por sua vez, a saber:
(1) a Abstração;
(2) a Generalização ou Concepção;
(3) o juízo. O quarto passo ou fase, de que nos vamos ocupar agora, é denominado Raciocínio.
2. O Raciocínio é a faculdade mental pela qual comparamos dois Juízos, um com o outro, e de cuja
comparação pode formar um terceiro juízo. Ele é uma forma de comparação direta ou mediata, ao passo que
o juízo comum é uma forma de comparação imediata ou direta. Assim, ao formar um juízo, comparamos
dois conceitos e decidimos sobre seu acordo ou diferença; da mesma forma, no Raciocínio comparamos dois
juízos e da comparação tiramos ou formamos novo juízo. Podemos raciocinar, assim, que o cão particular
chamado “Carlos” é um animal, pelo seguinte processo.
(1) Todos os cães são animais;
(2) Carlos é um cão; portanto,
(3) Carlos é um animal.
3. Ou, da mesma forma, podemos raciocinar que uma baleia não é peixe, do modo seguinte:
(1) Todos os peixes são animais de sangue frio;
(2) a baleia não é animal de sangue frio; portanto,
(3) uma baleia não é peixe.
4. Nos processos acima, se verá que o terceiro e final juízo é derivado da comparação dos primeiros
dois juízos. Brooks apresenta o processo da forma seguinte: “Examinando o processo mais intimamente,
vemos que, na inferência do Raciocínio, está contida uma, comparação de relações. Inferimos a relação de
dois objetos pela relação deles com um terceiro objeto. Devemos, pois, ter em mente duas relações e da
comparação delas inferimos a terceira. As duas relações de que inferimos uma terceira, são juízos; por isso,
o Raciocínio pode ser também definido como o processo de derivar um juízo de outros dois. Comparamos
dois juízos dados e dessa comparação deriva-se o terceiro juízo. Isso constitui um simples passo no
Raciocínio, e um argumento assim expresso é denominado Silogismo”.
5. O Silogismo consiste de três proposições, as duas primeiras das quais expressam o terreno ou base do
argumento e são denominadas premissas; a terceira expressa a inferência derivada de uma comparação das
outras duas e são denominadas conclusões. Não entraremos em consideração técnica do Silogismo, neste
livro, pois o assunto é considerado em detalhe no volume desta serie dedicado ao assunto da “Lógica”.
Nosso objetivo aqui é apontar o processo e a ordem natural do Raciocínio e não considerar as feições
técnicas do processo.
6. O Raciocínio é dividido em duas classes gerais, conhecidas respectivamente por (1) Raciocínio
Indutivo; (2) Raciocínio Dedutivo.
7. O Raciocínio Indutivo é o processo para chegar-se à verdade, lei ou principio geral pela consideração
de diversos fatos e verdade particulares. Assim, se verificamos que certa coisa é verdade de um grande
número de objetos particulares, podemos inferir que a mesma coisa é verdadeira de todos os objetos dessa
espécie particular. Num desses exemplos dados acima, um dos juízos foi que “todo peixe é animal de sangue
frio”, cuja verdade geral foi concluída por Raciocínio Indutivo baseado no exame de um grande número de
peixes, e então admitimos que todos os peixes são conformes com essa lei geral da verdade.
8. O Raciocínio Dedutivo é o inverso do Raciocínio Indutivo e é o processo de chegar a uma verdade
particular pela admissão de uma verdade geral. Assim, da admissão que “todos os peixes são animais de
sangue frio”, nós pelo Raciocínio Dedutivo, chegamos à conclusão que o peixe particular que está diante de
nós deve ter sangue frio.
9. O Raciocínio Indutivo se apóia no principio básico que “o que é verdade da maioria, é verdade do
todo”, ao passo que o Raciocínio Dedutivo se apóia no principio básico que “o que é verdade do todo, é
verdade de suas partes”.
10. Em relação aos princípios do Raciocínio Indutivo, diz Halleck: “O homem tem que descobrir pela
própria experiência, ou a dos outros, as premissas maiores com as quais argumenta ou tira suas conclusões.
Por indução, examinamos o que nos parece um número suficiente de casos individuais. Concluímos, então,
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que o resto desses casos, que não examinamos, obedecerá à mesma lei geral. O juízo “Todos os homens são
mortais” foi formado por indução. Foi observado que todas as gerações passadas de homens morreram, e
esse fato garante a conclusão que todos os homens morrerão. Fazemos essa afirmação com tanta certeza
como se os tivéssemos visto morrer. A premissa “Os bois ruminam o alimento”, foi estabelecida depois do
exame de um certo número de bois. Se tivéssemos de ver um boi há vinte anos, devíamos esperar que
ruminaria o alimento. Foi observado pelos astrônomos que, depois de certo número de dias, a terra voltava
regularmente à mesma posição em sua órbita, o sol se levantava no mesmo lugar e o dia era do mesmo
comprimento. Assim foi determinada a duração do ano e dos dias sucessivos, e a editora do almanaque
infere agora que o mesmo se dará no futuro. Ele nos diz que o sol, no dia primeiro do próximo Dezembro se
levantará num tempo dado, embora possa lançar-se no futuro para verificar a conclusão”.
11. Brooks diz a respeito deste princípio: “Esta proposição é baseada em nossa fé na uniformidade da
natureza; abandonai essa crença e desaparecerá todo raciocínio por indução. Assim fica estabelecido que a
base da indução é a fé que o homem tem na uniformidade da natureza. A indução foi comparada a uma
escada pela qual subimos dos fatos às leis. Essa escada não pode permanecer se não tiver alguma coisa em
que se apoiar; e essa coisa é nossa fé na constância das leis naturais”.
12. Existem dois modos gerais para obtermos nossa base para o processo de Raciocínio Indutivo. Um
denomina-se Indução Perfeita e o outro, Indução Imperfeita. A Indução Perfeita só é possível quando
tivemos a oportunidade de examinar todo objeto ou coisa particular de que é expressa a idéia geral. Por
exemplo, se pudéssemos examinar todos os peixes do universo, teríamos a base de Indução Perfeita para
afirmar a verdade geral que “todos os peixes têm sangue frio”. Porém, isso é praticamente impossível na
maioria dos casos, e, por isso, nos apoiamos numa Indução mais ou menos imperfeita. Devemos admitir a lei
geral pelo fato que se verifica existir num número muito grande de casos particulares, apoiando-nos no
princípio que “Aquilo que é verdade em relação a muitos, o é em relação a todos”. Como diz Halleck a esse
respeito: “Sempre que fazemos uma afirmação como esta: “Todos os homens são mortais”, sem ter
experimentado cada individual ou, por outras palavras, sem ver cada homem morrer, estamos raciocinando
por uma indução imperfeita. Cada vez que a pessoa adquire um quilo de carne, batata ou pão, apóia seu ato
na inferência de uma indução imperfeita. Julga que a carne, as batatas e o pão são alimentos nutritivos,
embora ainda não tenha experimentado esses comestíveis especiais antes de comprá-los. Verificou por
provas anteriores que eram nutritivos, e ele considera que o mesmo se dará com esse caso especial. Sempre
que um homem se põe a negociar com um banco, uma fábrica ou outra empresa qualquer, deduz de casos
passados que essa aplicação especial de seu dinheiro será proveitosa. Cremos instintivamente na
uniformidade da natureza; pois, se não crêssemos, não consultaríamos nossos almanaques. Se um calor
suficiente faz o fósforo acender hoje, concluímos que o mesmo resultado se dará amanhã, se as
circunstancias forem as mesmas”.
13. Vemos, porém, que é preciso grande cuidado em fazer as observações, experiências e comparações,
e estabelecer as generalizações. Os seguintes princípios gerais darão as opiniões das autoridades a respeito
disso:
14. Atwater dá as duas regras gerais:
15. Regra de Acordo: “Quando um dado objeto ou agente está presente, sem contrabalançar forças, se se
produzir um dado efeito, há poderosa evidencia para que o objeto ou agente seja a causa do efeito”.
16. Regra de Desacordo: “Quando a causa suposta está presente e o efeito também está presente, e
quando a causa suposta está ausente e não há efeito, não havendo outro agente presente para produzir o
resultado, podemos inferir razoavelmente que a causa suposta é a real”.
17. Regra do Resíduo: “Quando, em qualquer fenômeno, vemos que fica um resultado depois de serem
avaliados os efeitos de todas as causas conhecidas, podemos atribuí-lo a um agente residual que ainda não foi
notado”.
18. Regra da Variação Concomitante: “Quando uma variação num antecedente dado é acompanhada por
uma variação de um dado conseqüente, acham-se de qualquer forma relacionados como causa e efeito”.
19. Diz Atwater, sobre as regras acima, que “onde se encontre qualquer destes critérios, livre de provas
contrárias, e principalmente quando diversos deles concorrem, a evidencia é clara que os casos observados
são representativos puros de toda a classe, permitem uma válida conclusão indutiva universal”.
20. Chegamos, agora, ao que é designado por Hipótese ou Teoria, que é um principio geral admitido –
uma conjetura ou suposição fundada em fatos observados e experimentados. Algumas autoridades
empregam o termo “teoria” no sentido de “hipótese verificada”, mas os dois termos são empregados
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livremente e o seu uso varia com as diversas autoridades. O que é conhecido por “probabilidade de uma
hipótese é a proporção do número de fatos que explicará. Quanto maior for o número de fatos que explique,
maior será a sua “probabilidade”. Uma Hipótese é “verificada”quando corresponde a todos os fatos que
forem convenientemente referidos a ela. Algumas autoridades muito críticas pretendem que a verificação
depende também de não haver outra hipótese possível para explicar os fatos; essa posição, porém, é
considerada extrema.
21. Uma Hipótese é o resultado de um processo mental especial que parece agir na direção de dar um
salto antecipado para uma teoria, depois que a mente foi saturada com um grande corpo de fatos particulares.
Alguns falaram do processo como sendo quase intuitivo e, com efeito, o testemunho de muitos descobridores
de grandes leis naturais nos levaria a crer que a região Subconsciente da mente é muito ativa em fazer o que
La Place denominou “a grande conjeturada descoberta de princípio. Como diz Brooks: “A formação de
hipóteses requer mentalidade sugestiva, fantasia viva, imaginação filosófica, que apanha vislumbres da idéia
através da forma ou vê a lei surgir atrás do fato”.
22. Diz Thomson: “O sistema de anatomia que imortalizou o nome de Oken, é conseqüência de uma
fagulha de antecipação que brilhou em sua mente quando encontrou num passeio um crânio de veado,
branqueado e desintegrado pelo tempo, e exclamou depois de um olhar: “É parte de uma coluna vertebral”.
Quando Newton viu a maçã cair, a pergunta antecipadora brilhou-lhe na mente: “Porque os corpos celestes
não caem como está maçã?”. Em nenhum dos casos, o acidente foi de importância; Newton e Oken estavam
preparados pelos mais profundos estudos anteriores para aproveitarem do fato sem importância que se lhes
apresentou, e mostrarem quanto podia tornar-se importante; e se não tivesse havido a queda da maçã, nem
aparecido o crânio de veado, algum outro corpo que caísse ou outro crânio, teria tocado em cordas tão
dispostas a vibrarem. Porém, em ambos os casos, houve um grande passo antecipado; Oken julgou ter visto
o tipo de todo o esqueleto numa só vértebra, ao passo que Newton concebeu imediatamente que o universo
todo estava repleto de corpos com tendência para cair”.
23. Passando da consideração do Raciocínio Indutivo para a do Raciocínio Dedutivo, encontramo-nos
diante de uma condição inteiramente diferente. Como diz Brooks: “Os dois métodos de raciocínio são
inversos um do outro. Um vai dos particulares aos gerais: e o outro dos gerais aos particulares. Um é um
processo de análise; o outro é um processo de síntese. Um se eleva dos fatos às leis; o outro desce das leis
aos fatos. Cada qual é independente do outro; e cada qual é método válido e essencial de inferência”.
24. O Raciocínio Dedutivo é, como vimos, dependente do processo de derivar uma verdade particular de
uma lei, principio ou verdade geral, conforme o axioma que: “O que é verdade do todo é verdade das partes”.
É um processo analítico, da mesma forma que o Raciocínio Indutivo é sintético. É um processo descendente,
da mesma forma que o Raciocínio Indutivo é ascendente.
25. Halleck expressa sobre o Raciocínio Dedutivo: “Após a indução ter classificado certos fenômenos e,
assim, nos dado uma premissa maior, procedemos dedutivamente na aplicação da inferência a qualquer novo
espécime que possa demonstrar-se pertencer a essa classe. A indução entrega à dedução uma premissa maior
já formada, por exemplo: “Todos os escorpiões são perigosos”. A dedução aceita isso como fato, não
investigando se é verdade. Quando se apresenta novo objeto, por exemplo, um possível escorpião, o único
passo embaraçoso é decidir se o objeto é realmente um escorpião. Isso pode ser uma dura tarefa para o juízo.
O habitante comum da zona temperada provavelmente não se importaria de arriscar cem dólares na sua
capacidade de distinguir um escorpião de uma centopéia ou de vinte ou trinta outros seres que se assemelham
com um escorpião. Aqui são necessários conceitos corretamente formados e bom juízo para compará-los.
Logo que decidimos que o objeto é realmente um escorpião, completamos a dedução desta forma: - “Todos
os escorpiões são perigosos; esta criatura é um escorpião; esta criatura é perigosa”. O raciocínio da vida
primitiva deve necessariamente ser indutivo. A mente forma, então, conclusões gerais do exame de
fenômenos individuais. Somente depois que as leis gerais foram estabelecidas, que os objetos foram
classificados, que as premissas maiores foram formadas, pode ser empregada a dedução”.
26. O que é denominado Raciocínio, por Analogia é realmente um grau superior de Generalização. É
baseado na idéia que, se duas ou mais coisas se assemelham entre si em muitos particulares, provavelmente
se assemelharão em outros particulares. Alguns expressaram da forma seguinte esse principio: “As coisas
que possuem alguma coisa em comum, têm outras em comum”. Ou como expressa Jevons: “A regra para
raciocinar por analogia é que, se duas ou mais coisas se assemelham em muitos pontos, provavelmente se
assemelharão em mais pontos”.

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27. Esta forma de raciocínio, embora muito comum e conveniente, é também muito perigosa. Apresenta
muitas oportunidades para fazer falsas inferências. Como diz Jevons: “Em muitos casos, o Raciocínio por
Analogia é guia muito incerto. Em certos casos, cometem-se graves erros. Às vezes morrem crianças por
apanharem e comerem frutas venenosas, inferindo erroneamente que podem comê-las, porque outras frutas,
de aparência semelhante, foram agradáveis e inofensivas. Cogumelos venenosos são, às vezes, tomados por
cogumelos comestíveis, principalmente por pessoas não acostumadas a colhê-los... Não há modo para
podermos estar realmente certos de estar argumentando com segurança por analogia. A única regra que pode
ser dada é esta: que quanto mais coisas se assemelham uma à outra, mais probabilidade há que sejam a
mesma coisa em outros pontos, principalmente em pontos intimamente relacionados com os observados”.
28. Diz Halleck: “Na argumentação ou raciocínio, somos muitos ajudados pelo hábito de procurar
semelhanças íntimas. Podemos empregar aqui o termo analogia no sentido mais restrito de semelhança de
proporções. Existe uma relação analógica, de um lado, entre as geadas do outono e a vegetação, e, do outro,
entre a morte e a vida humana. O gelo se acha na mesma relação com a vegetação que a morte com a vida.
A descoberta dessa relação é um cultivo do pensamento. Para progredir na argumentação, devemos
desenvolver o que alguns denominam o sexto sentido para a percepção dessas relações. Muitas falsas
analogias são estabelecidas e é excelentes treino mental expô-las. A maioria das pessoas pensam tão pouco
que engolem as falsas analogias da mesma forma que os filhotes de pintarroxo engolem as pedrinhas
colocadas em suas goelas. O estudo da poesia pode tornar-se muito útil em descobrir analogias e cultivar a
capacidade de raciocínio. Quando o poeta apresenta com clareza à mente a mudança denominada morte,
empregando como ilustração o corpo da lagarta transformado no espírito da borboleta, movendo-se com a
facilidade de suas asas sobre a florescente campina, está cultivando a nossa apreensão das relações, que não é
menos valiosa do que bela”.
29. Há certos estudos que tendem a desenvolver o poder ou a faculdade de Raciocínio Indutivo.
Qualquer estudo que leve a mente a considerar a classificação e os princípios, leis ou verdades gerais, tenderá
a desenvolver a faculdade de dedução. A Física, a Química, a Astronomia, a Biologia e a Historia Natural
são especialmente adaptadas para o desenvolvimento da mente nessa direção particular. Além disso, a mente
deve ser dirigida para a investigação das causas das coisas. Devem-se observar os fatos e fenômenos e
fazer-se não só uma tentativa de classificá-los; mas também de descobrir os princípios gerais que os movem.
As hipóteses provisórias ou feitas como tentativas devem ser formuladas e os fatos novamente examinados a
fim de ver se justificam a hipótese ou teoria. O estudo dos processos pelos quais as grandes teorias
científicas foram constituídas e as provas dadas em apoio delas, dará à vossa mente o hábito de pensar nas
linhas da indução lógica. A pergunta sempre em mente do Raciocínio Indutivo é “Por quê?”. A idéia
dominante do Raciocínio Indutiva é a Investigação das Causas.
30. Em relação às armadilhas do Raciocínio Indutivo – os chamados sofismas, diz Hyslop: “Não é fácil
indicar os sofismas indutivos, mesmo que seja possível fazê-lo, no processo formal da indução. Entretanto, é
certo que, a respeito do assunto da conclusão no raciocínio indutivo existem limitações muito definidas sobre
o direito de transcender as premissas. Não podemos inferir o que quisermos de quaisquer premissas que
quisermos. Devemos nos conformar com determinadas regras ou princípios. Toda violação delas será um
sofisma. Essas regras são as mesmas dos sofismas materiais na dedução, de modo que os sofismas da
indução, sejam formais ou não, sempre são materiais, pois, acontecem sempre que o equívoco e a presunção
se sucedem Existem, pois, duas simples regras que não devem ser violadas: (1) O assunto ou sujeito da
conclusão deve ser da mesma espécie geral que o das premissas. (2) Os fatos que constituem as premissas
devem ser aceitos e não fictícios”.
31. Podeis desenvolver vossa faculdade e poder de Raciocínio Dedutivo, seguindo certas linhas de
estudo. O estudo das Matemáticas, principalmente em seu ramo de Aritmética Mental, é especialmente
valioso nesse sentido. A Álgebra e a Geometria desde há muito são conhecidas como exercendo uma
influencia sobre a mente que lhe dá uma tendência e orientação lógica. Os processos contidos na Geometria
são semelhantes aos empregados no raciocínio lógico, e devem necessariamente treinar a mente nessa
direção especial. Como diz Brooks: “Tão valiosa é a geometria como disciplina que muitos advogados e
outros formados revêem sua geometria todos os anos a fim de conservar a mente treinada em hábitos de
pensar”. Os estudos da Gramática, Retórica e Línguas são também valiosos na cultura e desenvolvimento da
faculdade de Raciocínio Dedutivo. O estudo da Psicologia e Filosofia também têm valor nesse ponto. O
estudo da Lei é valiosíssimo na criação de hábitos lógicos de pensar dedutivamente.

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32. Porém, é no estudo da Lógica que talvez tenhamos o melhor exercício no desenvolvimento e cultura
dessa faculdade particular. Como muito bem expressa Brooks: “O estudo da Lógica vos ajudará no
desenvolvimento do poder de raciocínio dedutivo. Em primeiro lugar, o faz mostrando o método pelo qual
raciocinamos. Saber como raciocinamos, ver as leis que governam o processo de raciocínio, analisar o
silogismo e ver sua conformidade com as leis do pensamento, não só é um exercício de raciocínio, mas dá
um conhecimento do processo que será, ao mesmo tempo, um estímulo e um guia para o pensamento.
Ninguém pode traçar os princípios e processos do pensamento, sem receber disso um ímpeto a pensar. Em
segundo lugar, o estudo da lógica é provavelmente ainda mais valioso porque dá prática no pensar dedutivo.
Esse, talvez, seja o seu valor principal, pois a mente raciocina instintivamente, sem saber como raciocina.
Pode-se pensar sem o conhecimento da ciência do pensamento, da mesma forma que se pode empregar a
linguagem corretamente, sem conhecimento da gramática; entretanto, assim como o estudo da gramática
aperfeiçoa a fala, também o estudo da lógica não pode deixar de melhorar o pensamento do individuo”.
33. O estudo dos sofismas comuns, como: “Admitir a Questão”, “Raciocinar em círculo vicioso” etc. é
particularmente importante para o estudante, pois, quando ele se compenetra de que existe esse sofisma, e é
capaz de descobri-lo e reconhecê-lo, evitará empregá-lo ao formular seus próprios argumentos, e será capaz
de expô-lo quando aparecer nos argumentos dos outros.
34. O sofisma de “admitir a questão sem provas” consiste em admitir como fato provado uma coisa que
não foi provada ou não é aceita como provada pelo oponente na discussão. É um artifício comum nos
debates. O fato admitido pode ser o ponto particular a ser provado, ou a premissa necessária para prová-lo.
Hyslop dá a seguinte ilustração desse sofisma: “As boas instituições deviam unir-se: a Igreja e o Estado são
boas instituições; portanto, a Igreja e o Estado devem unir-se”. O silogismo acima parece razoável à
primeira vista, porém, a análise mostrará que a premissa maior: “Boas instituições devem unir-se” é uma
simples afirmação sem provas. Destruí esta premissa e todo raciocínio falhará.
35. Outra forma de sofisma, muito comum, é o denominado “raciocínio em círculo vicioso”, que
consiste em admitir como prova de uma proposição a própria proposição, como, por exemplo: “Este homem
é um velhaco, porque é um tratante; é um tratante, porque é um velhaco”. “Vemos através do vidro, porque
é transparente”, “A criança é muda, porque perdeu o poder de falar”. “É falso, porque é mentiroso”, “O
tempo é quente, porque estamos no verão; é verão, porque o tempo é quente”.
36. Estes e outros sofismas podem ser descobertos pelo conhecimento da Lógica, e a percepção e
descoberta deles fortalecem a faculdade de Raciocínio Dedutivo. O estudo das Leis do Silogismo, na Lógica,
dará à pessoa certo sentimento habitual de estabelecer os termos do seu argumento de acordo com essas leis,
e, conseguido isso, a pessoa terá dado um longo passo na direção do pensar lógico e da cultura das
faculdades de raciocínio dedutivo.
37. Ao terminar este capítulo, desejamos chamar vossa atenção para um fato a miúdo desprezado pela
maioria das pessoas. Halleck o expressa muito bem da forma seguinte: “A crença é um estado mental que
pode tanto ser classificada como emoção quanto como pensamento, pois combina os dois elementos. A
crença é uma inferência parcial do conhecido para o desconhecido, e um sentimento e emoção parcial”.
Outras foram tão longe que declararam que a maioria das pessoas emprega seus intelectos apenas para
provar a si mesma e a outros, aquilo que sentem ser verdade ou desejam que seja verdade, e não para
determinar o que realmente é verdade por métodos lógicos. Outros disseram: “Os homens não querem
argumentos para convencê-los; querem apenas desculpas para justificá-los em seus sentimentos, desejos ou
atos”. Por mais cínico que isso pareça, há bastante verdade nisso para mostrar que nos devemos pôr em
guarda contra essa tendência.
38. Jevons diz a respeito da questão da cultura dos processos lógicos de pensamento: “Monsieur
Jourdain, pessoa divertida de uma das peças de Moliére, expressou grande surpresa ao saber que falara em
prosa durante mais de quarenta anos, sem o saber. Noventa e nove de cem pessoas, ao saberem que, durante
muito tempo, estiveram convertendo proposições, silogismos, caindo em paralogismos, formulando hipóteses
e fazendo classificações de gêneros e espécies, ficarão surpresas com isso. Se lhes perguntarem se são
lógicas, provavelmente responderão que não. Estarão parcialmente certas; pois, creio que um grande número
de pessoas, mesmo instruídas, não possuem idéia clara do que é a lógica. Entretanto, até certo ponto, todos
devem ter sido lógicos desde que começaram a falar. Poderão perguntar: “Se não podemos deixar de ser
lógicos, porque precisamos de livros de lógica?”. A resposta é que existem lógicos e lógicos. Todas as
pessoas são lógicas em certo modo e grau; porém, infelizmente, muitos indivíduos são maus lógicos e sofrem
danos em conseqüência disso. O mesmo acontece em outros assuntos. Embora nem conheçamos a
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13
significação da palavra, sempre somos, mais ou menos, atletas. Entretanto, se quiserdes realizar essas coisas
de um modo realmente exato, ter uma vigorosa organização muscular e, assim, gozar boa saúde e segurança
pessoal no maior grau possível, deveis aprender os exercícios de ginástica”.

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Capítulo – XIV –
IMAGINAÇÃO CONSTRUTIVA

1. Sob o ponto de vista da antiga psicologia, um capítulo com o título acima seria considerado
inteiramente fora de lugar num livro sobre Cultura do Pensamento, a Imaginação sendo considerada como
fora do plano da psicologia prática, e como pertencendo inteiramente às fases idealísticas das atividades
mentais. A idéia popular a respeito da Imaginação também se opõe ao lado “prático” do seu uso. Na mente
pública, a Imaginação é considerada como alguma coisa relacionada com um sonho vazio e com imagens
mentais fantásticas. A Imaginação é considerada como sinônima de “Fantasia”.
2. Porém, a Nova Psicologia vê além dessa fase negativa da Imaginação e reconhece o lado positivo
que é essencialmente construtivo quando apoiado por uma vontade determinada. Reconhece que, embora a
Imaginação seja, pela sua própria natureza, muito idealística, entretanto, esses ideais podem fazer-se reais –
essas pinturas subjetivas podem ser materializadas objetivamente. A fase positiva da Imaginação se
manifesta no planejar, desenhar, projetar, traçar bosquejos e formar de um modo geral o plano de trabalho
que será depois vestido pela estrutura da realização real. E de acordo com isso, nos pareceu que um capítulo
sobre a “Imaginação Construtiva” podia bem terminar este livro sobre a Cultura do Pensamento.
3. Diz Halleck: “Julgavam outrora que a imaginação devia ser reprimida e não cultivada, que ela era, na
mentalidade humana, como as plantas daninhas nos jardins. 1 Nesta época, não há uma capacidade mental
que tenha maior necessidade de cultivo do que a imaginação. Tão práticos são seus resultados que um
homem sem ela não pode ser um bom encanador. Deve imaginar atalhos para passar seu cano. A imagem da
direção a dar para desviar de um obstáculo deve preceder a colocação do cano. Se o colocar antes de
atravessar o caminho com a sua imaginação, freqüentemente encontrará dificuldade e deverá desmanchar o
que está feito. Disse alguém que, quando mais imaginação um ferreiro tiver, melhor será a ferradura. Cada
vez que bate no ferro em brasa, o faz aproximar-se mais da imagem que está em sua mente. Essa imagem
não é também uma copia literal do pé do cavalo. Se houver uma depressão naquele, a imaginação deve
formar uma elevação correspondente e as marteladas devem fazer que o ferro se assemelhe à imagem”.
4. Diz Brodie: “A investigação física, mais que tudo, ajuda a ensinar-vos o valor real e uso certo da
imaginação – desta admirável faculdade que, deixando-a vagar sem orientação, nos leva para uma imensa
confusão e erros, uma região nebulosa e sombria; porém que, convenientemente governada pela experiência
e a reflexão, se torna o mais nobre atributo do homem, a fonte do gênio poético, o instrumento de descoberta
na ciência, sem o auxilio da qual Newton nunca teria a atração e repulsão, nem Davy teria decomposto as
terras e álcalis2, nem Colombo teria descoberto outro continente”.
5. A Imaginação é mais do que a Memória, pois esta apenas reproduz as impressões feitas nela, ao
passo que a Imaginação reúne o material da impressão e forma novas coisas com eles ou constrói novas
estruturas de suas unidades separadas.
6. Como muito bem disse Tyndall: “Os filósofos podem ter razão de afirmar que não podemos
transcender a experiência; porém, podemos ao menos levá-la para longe de sua origem. Podemos também
aumentar, diminuir, dilatar, qualificar e combinar as experiências, de modo a torná-las úteis para fins
inteiramente novos. Somos dotados do poder de imaginação e, por esse poder, podemos esclarecer a
escuridão que rodeia o mundo dos sentidos. Existem conservadores, mesmo na ciência, que consideram a
imaginação como uma faculdade a ser temida e evitada, e não empregada. Porém, presa e acondicionada
pela cooperação da razão, a imaginação se torna o mais poderoso instrumento das descobertas físicas. A
passagem de Newton de uma maçã que caiu, para a queda da lua, foi, a princípio, um salto de imaginação”.
7. Diz Brooks: “A Imaginação é uma força criadora, assim como combinadora. A Imaginação pode
combinar objetos dos sentidos em novas formas, porém, pode fazer ainda mais que isso. Os objetos dos
sentidos são, na maioria dos casos, apenas os materiais com que age. A imaginação é um poder plástico, que
amolda as coisas dos sem tidos em novas formas para expressar seus ideais; e são esses ideais que constituem
os produtos reais da imaginação. Os objetos do mundo material são para ela como o barro é nas mãos do
oleiro; modela-os em formas de acordo com os seus ideais de graça e beleza. Aquele que não vê mais que

1
CER – Essa posição é defendida pela Logosofia de Carlos Bernardo González Pecotche fundador da Sociedade
Logosófica, em 1952, Buenos Aires, Argentina.
2
Álcalis – Química – Qualquer hidróxilo ou ácido dos metais alcalinos: o lítio, sódio, potássio, rubídio e césio.
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simples combinações nessas criações da imaginação perde o elemento essencial e dá valor ao que é
simplesmente incidental”.
8. A Imaginação, em certo grau ou fase, deve apresentar-se diante da ação física voluntária e da criação
material consciente. Tudo o que foi criado pela mão do homem foi, primeiramente criado na mente humana
pelo exercício da Imaginação. Tudo o que o homem produziu, existiu primeiramente em sua mente como
ideal, antes que suas mãos, ou as mãos de outros, produzissem, na realidade material. Como diz Maudsley:
“É certo que, a fim de executar conscientemente um ato voluntário, devemos ter na mente uma concepção do
objetivo e propósito do ato”. Diz Kay: “É como meio de guiar e dirigir nossas diversas atividades que as
imagens mentais derivam seu valor e importância principal. Em tudo o que nos propomos ou pretendemos
fazer, devemos, antes de tudo, ter uma idéia ou imagem disso na mente, e quanto mais clara e correta for a
imagem, mais exata e eficientemente o propósito será realizado. Não podemos exercer um ato de volição,
sem ter em mente uma idéia ou imagem do que queremos realizar”.
9. As melhores autoridades concordam com a importância de um emprego científico da Imaginação na
vida diária. Diz Maudsley: “Não podemos fazer e agir voluntariamente sem saber o que vamos fazer, e não
sabemos exatamente o que vamos fazer enquanto não tivermos nos ensinado a fazê-lo”. Diz Bain:
“Pretendendo fazer nova construção, devemos conceber claramente o que pretendemos. Quando temos
diante de nós um modelo bastante distinto e inteligível, estamos em boas condições para triunfar; na
proporção em que o ideal é vago e vacilante, cambaleamos e saímos do caminho”. Diz Kay: “Uma idéia
clara e exata do que quereis fazer, e como deve ser feito, é do máximo valor e importância em todos os
assuntos da vida. A conduta de um homem naturalmente se amolda conforme as idéias da sua mente, e nada
contribui mais para seu êxito na vida do que ter um ideal superior e conservá-lo constantemente em vista.
Quando o caso é esse, dificilmente se poderá deixar de alcançá-lo. Números circunstâncias inesperadas se
combinarão para realizá-lo, e mesmo o que pareceu a principio hostil pode ser convertido em meios para seu
desenvolvimento; assim também tendo-o constantemente na mente, sempre estará pronto a tirar vantagem de
todas as circunstancias favoráveis que possam apresentar-se”.
10. Diz Simpson: “Um desejo apaixonado e vontade indomável podem executar impossibilidades ou
coisas que o parecem ser para o frio e fraco”. Escreve Lytton: “Sonha, ó jovem, sonha humana e
nobremente, e vossos sonhos serão proféticos”. Afirma Foster: “É admirável como até as casualidades da
vida parecem curvar-se a um espírito que não se dobre a elas, e se submetem a um desígnio que, na sua
tendência aparente, mostram quererem frustrar. Quando um firme espírito decisivo é reconhecido, é curioso
verdes como o espaço se aclara ao redor de um homem e lhe deixa campo e liberdade”. Expressa Tanner:
“Crer firmemente é quase a coisa mais importante para o fim de realização”. Maudsley afirma: “As
aspirações são muitas vezes profecias, as precursoras do que um homem será numa condição a executar”.
Diz Macaulay: “Dizem que Warren Hastings, na sua idade de sete anos sentiu surgir em sua mente um plano
que nunca foi abandonado em todas as peripécias de sua vida agitada”. Expõe Kai: “Quando alguém está
empenhado em procurar uma coisa, se conservar a imagem dela com clareza na mente, será muito provável
que a encontre, e de outra forma talvez nunca a encontrasse”. Escreve Burroughs: “Ninguém que não tivesse
o feto parasita na mente, não seria capaz de encontrá-lo. Uma pessoa cuja vista está cheia de relíquias
indianas, as encontra em qualquer campo por que passe. Facilmente são reconhecidas porque os olhos foram
encarregados de encontrá-las”.
11. A Imaginação Construtiva difere das fases da faculdade de Imaginação que se assemelham à
“Fantasia”, em numerosos pontos, porém, os principais pontos de diferença são os seguintes.
12. A Imaginação Construtiva é sempre exercida na procura de um intento e propósito definido. A
pessoa que assim emprega a faculdade começa com a idéia de realizar certos objetivos, e com a intenção
direta de pensar e planejar nessa direção particular. Pelo contrário, a fase fantástica da Imaginação age sem
intento ou propósito definido, seguindo a linha da simples fantasia.
13. A Imaginação Construtiva escolhe seu material. A pessoa que emprega a faculdade desse modo
abstrai do seu depósito geral de imagens e impressões mentais os materiais particulares que se adaptam ao
seu intento e objetivo geral. Em lugar de deixar sua imaginação vagar por todo o campo da memória ou
representação, deliberada e voluntariamente escolhe e separa apenas os objetos que observa serem
condutivos ao seu plano ou desígnio geral, e que são logicamente associados com ele.
14. A Imaginação Construtiva age nas linhas do pensamento lógico. Empregando, assim, esta faculdade,
ele sujeita suas imagens mentais ou idéias, às suas faculdades de pensar, e procede com sua construtiva obra
imaginativa nos linhas do Pensamento Lógico. Passa pelos processos de Abstração, Generalização ou
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Concepção, Juízo e as fases superiores do Raciocínio, em relação com sua obra geral de Imaginação
Construtiva. Em lugar de ter os objetos de pensamento diante de si em forma material, tem-nos
representados em sua mente na forma ideal, e age sobre seu material nessa forma.
15. A Imaginação Construtiva é voluntária está sob o domínio e a direção da vontade. Em lugar de ser
da natureza de um sonho dependente da vontade e da razão, é diretamente dirigida não só pela razão, mas
também pela vontade.
16. A Imaginação Construtiva, como todas as outras faculdades da mente, pode ser desenvolvida e
cultivada pelo Uso e a Nutrição. Deve ser exercida a fim de desenvolver seu músculo mental; e necessita de
nutrição para que possa desenvolver-se. O Desenho, a Composição, o Delineamento e o Planejar em
qualquer direção são meios de dar a esta faculdade o exercício que requer. A leitura de boa literatura,
certamente porá esta faculdade em atividade inspirando-a com ideais e incitando-a pelo exemplo.
17. A mente deve ser suprida do material conveniente para exercício dessa faculdade. Como diz
Halleck: “Como a imaginação não tem o poder milagroso necessário para criar alguma coisa do nada, a
primeira coisa essencial é obter a conveniente percepção material na quantidade conveniente. Se uma
criança tiver quantidade suficiente de blocos, poderá construir um castelo ou um palácio. Dai-lhe apenas três
blocos e sua possibilidade de combinação ficará penosamente limitada. Certas pessoas se admiram porque
seu poder imaginativo não é maior, não observando que possuem apenas algumas idéias exatas”. Segue-se,
pois, que o emprego ativo das faculdades perceptivas resultará no armazenamento de uma quantidade de
material, que, sendo representado ou reproduzido pela Memória, dará para a Imaginação Construtiva o
material que necessita para construir. Quanto maior for o conhecimento geral da pessoa, maior será seu
depósito de material para esse emprego. Esse conhecimento não necessita necessariamente ser adquirido, à
primeira vista, pela observação pessoal, mas pode ser também da natureza de uma informação adquirida da
experiência dos outros e conhecida pela sua conversa, escritos, etc.
18. A necessidade de formar claro conceito é muito aparente ao chegarmos ao exercício da Imaginação
Construtiva. A não ser que tenhamos idéias claras das diversas coisas relacionadas com o assunto em mão,
não podemos focalizar firmemente a imaginação em sua tarefa. As idéias gerais devem ser claramente
compreendidas e a classificação deve ser inteligente. As coisas particulares devem ser vistas nos “olhos da
mente” com toda clareza; isto é, o poder de visualização ou formação de imagens mentais deve ser cultivado
em relação com isso. Podemos aperfeiçoar essa faculdade particular, quer escrevendo uma descrição das
cenas e coisas particulares que vimos, quer descrevendo-as verbalmente aos outros. Como diz Halleck: “A
tentativa de uma descrição oral clara de alguma coisa para outra pessoa a miúdo nos dará impressão, e
também a ela, do fato que as nossas imagens metais são nebulosas e confusas, e que o primeiro passo que
devemos dar uma descrição melhor consiste em aperfeiçoá-las”.
19. Tyndall estabeleceu magistralmente a importância da visualização das idéias e conceitos particulares,
da forma seguinte: “Como, por exemplo, haveis de ter conhecimento da base física da luz, pois, da mesma
forma que a própria vida, acha-se inteiramente fora do domínio dos sentidos? Colocai mais uma vez em ação
a vossa imaginação e formai uma série de ondas sonoras passando através do ar. Acompanhai-a até sua
origem e que encontrareis lá?. Um corpo definido, tangível e vibrante. Pode ser as cordas vocais de um ente
humano, os tubos de um órgão ou uma corda esticada. Acompanhai do mesmo modo um feixe de ondas
etéreas à sua fonte, lembrando-vos, ao mesmo tempo, que esse éter é material, denso, elástico e capaz de
movimentos sujeitos a leis mecânicas e determinados por elas. Que é, pois, que esperais encontrar como
fonte de um conjunto de ondas etéreas?. Perguntai à vossa imaginação se ela aceitará uma vibrante
proporção múltipla – uma razão numérica em estado de oscilação?. Creio que não o aceitará. Não podeis
coroar o edifício por esta abstração. A imaginação científica que aqui dispõe de toda autoridade, exige como
origem e causa de um conjunto de ondas etéreas uma partícula de matéria vibrante perfeitamente definida,
embora seja excessivamente diminuta, como a que dá origem ao som musical. A essa partícula damos o
nome de átomo ou molécula. Creio que o intelecto investigador, focalizado de forma a dar definição sem a
nebulosidade da penumbra, certamente chegará, afinal, a realizar essa imagem”.
20. Exercendo repetidamente a faculdade de Imaginação sobre uma idéia particular, acrescentamos
poder e clareza a essa idéia. Isto é apenas outro exemplo do principio psicológico familiar expresso por
Carpenter da forma seguinte: “A contínua concentração da atenção em certa idéia lhe dá um poder
dominante”. Diz Kay: “A clareza e a exatidão da imagem é obtida apenas pela conservação dela na mente ou
pela repetida ação da faculdade. Cada ato repetido de qualquer das faculdades torna a imagem dele mais
clara e exata do que a precedente e, na proporção da clareza e exatidão da imagem, o próprio ato será
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executado fácil, pronta e agilmente. O curso a ser prosseguido, o ponto a ser ganho, a quantidade de forças a
ser dada, se tornam cada vez mais claras à mente. É apenas pelo que fizemos que somos capazes de julgar o
que podemos fazer e compreender como se efetuará. Quando as nossas idéias ou concepções do que
podemos fazer não se baseiam na experiência, se tornam fontes fecundas de erro”.
21. Diz Galton: “Não há dúvida quando à utilidade da faculdade visualizadora quando é são devidamente
subordinadas a operações intelectuais superiores. Uma imagem visual é a forma mental de representação
mais perfeita no que se refere à forma, posição e relação de objetos no espaço. É de importância em todo
serviço ou profissão em que é necessário o desenho. Os melhores operários são aqueles que visualizam tudo
o que se propõem a fazer antes de tomarem a ferramenta nas mãos”.
22. Diz Kay: “Se mantivermos na mente que toda sensação ou idéia deve formar uma imagem na mente
antes de ser percebida ou compreendida, e que cada ato de volição é precedido pela sua imagem, veremos
que as imagens desempenham uma parte importante em todas as vossas operações mentais. De acordo com a
natureza das idéias ou imagens que entretêm será o caráter e a conduta do homem. O homem que é tenaz em
seus propósito é aquele que é tenaz em certas idéias; o homem volúvel é aquele que não pode conservar uma
idéia em sua mente por algum tempo, mas desliza constantemente de uma para outra; o louco é o que
entretêm idéias loucas a miúdo, talvez sobre um ou dois assuntos. Podeis distinguir duas grandes classes de
indivíduos conforme o caráter predominante de suas imagens. Nas mentes de alguns, predominam as
imagens sensoriais, e nas de outros, as imagens são tais que impulsionam para agir. Os que pertencem à
classe anterior são observadores, às vezes pensativos, homens de juízo e talvez instruídos; porém, se também
não tiverem a faculdade ativa na sua devida força, deixarão de expressar ou aproveitar seu conhecimento ou
saber, e os casos dessa espécie não são incomuns. Por outro lado, o homem que sempre tem em sua mente as
imagens das coisas a fazer, é o homem de ação e empreendimento. Se não for, ao mesmo tempo, observador
e refletido, se a sua mente for retardatária no formar as imagens do que é apresentado a ela fora, está
constantemente em perigo de cometer erros”.
23. Diz Galton a respeito da faculdade de visualização: “Nossa educação baseada em livros e preleções
tende a reprimir esse valioso dom da natureza. Uma faculdade que é importante em todas as ocupações
técnicas e artísticas, que dá exatidão às nossas percepções e justeza às nossas generalizações, acha-se
adormecida por falta de uso, quando devia ser cultivada judiciosamente de tal forma que, em conjunto, desse
os melhores resultados. Creio que um sério estudo do melhor método de desenvolvimento e emprego desta
faculdade sem prejudicar a prática do pensamento abstrato em símbolos, é uma das mais prementes
necessidades da ainda não formada ciência da educação”.
24. Esta consideração da faculdade e cultura da Imaginação pode ser convenientemente finalizada pela
seguinte citação do Professor Halleck, que mostra o perigo do mau uso e abuso desta importante faculdade.
Diz essa conhecidíssima autoridade: “De sua própria natureza, a imaginação é particularmente dada a abusos.
As práticas comuns de sonhar acordado e construir castelo no ar são prejudiciais tanto à saúde moral como
física. Alcançamos um verdadeiro êxito com passo lento e pesado. O sonhador alcança o ponto mais alto de
um pulo. Sem dificuldade é general vitorioso num campo de batalha, um orador que arrasta milhares, um
milionário com todos os gozos ao seu dispor, um cientista a confundir o sábio, um presidente, um imperador
ou czar. Ao despertar dessas doçuras da imaginação, o pão seco da luta atual se lhe torna excessivamente
desagradável. É. Pois, muito mais fácil viver em regiões em que tudo se apresenta ao sinal da vara mágica da
fantasia. Não é sem freqüência que esses construtores de castelo abandonam o esforço do mundo atual. O
êxito lhes vem muito lentamente. Tornam-se especuladores ou jogadores, e, apesar de todos os seus grandes
castelos, gradualmente mergulham completamente na nulidade no mundo de ação. O jovem nunca deve dar-
se à construção de qualquer castelo no ar, a não ser que esteja disposto a fazer o duro esforço para torná-lo
realidade. Deve ter vontade de despir seu casaco, entrar na luta da vida, lavrar os blocos de pedra e colocá-
los com muito esforço no lugar apropriado para formarem as paredes do castelo. Se a construção de castelos
for apenas a formação de um ideal, que mostramos pelo nosso esforço que estamos decididos a alcançar,
então tudo irá bem”.
25. Podeis ver que, na realidade, a Cultura da Imaginação é mais o treino e direção inteligente dessa
faculdade do que desenvolvimento do seu poder. A maioria das pessoas tem a faculdade da Imaginação bem
desenvolvida, porém, é uma faculdade quase inteiramente desgovernada, fantástica e teimosa. É preciso
cultivá-la na direção de mantê-la sob a direção da razão e o domínio da vontade. A Cultura do Pensamento
em geral fará muito pela Imaginação, porquanto os próprios processos empregados no desenvolvimento e
cultura das diversas outras faculdades da mente também tenderão a colocar a Imaginação em sujeição e sob
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domínio em lugar de permitir-lhe continuar a ser a violenta e irresponsável que é na maioria dos casos.
Empregai a faculdade de Imaginação como faculdade de Pensamento, em lugar de coisa de Fantasia.
Prendei-a ao Intelecto e não às Emoções. Amarrai-lhe as rédeas ao lado das outras faculdades do
Pensamento, e vossa carruagem de Entendimento e Triunfo alcançará a meta muito antes do que com o
preparo anterior. Estabelecei a harmonia entre o Intelecto e a Imaginação e aumentareis extensamente o
poder e os resultados de ambos.

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ROTEIRO PARA ANÁLISE DO LIVRO

Os estudantes do CER devem utilizar o roteiro que se segue para melhor


aproveitamento dos livros em seus estudos. A cada livro estudado deve ter uma
síntese em que destaque os aspectos de maior relevância para o entendimento do livro
e o aproveitamento dos ensinamentos em seu projeto de autodesenvolvimento:
Projeto “SER4” (Saber, Evolução, Realização).

I - Relacione informações de interesse sobre o livro.

II - Faça uma síntese do assunto estudado em cada capítulo.

III - Destaque os aspectos que mais lhe chamaram a atenção em cada capítulo.

IV - Imagine que você está elaborando um projeto pessoal de evolução consciente e


autodeterminada e precisa escolher os pontos que poderiam aprimorar sua “forma de
ser”. Selecione “chaves” ou “dicas” que poderiam lhe ajudar no seu propósito de
crescimento através da consciência.

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CER – O PROJETO “SER” é uma proposta pessoal de crescimento interno onde cada estudante identifica, seleciona
alternativas e revê procedimentos para impulsionar o autodesenvolvimento. Registra os aspectos que lhe parecem mais
relevantes, decorrentes de seus estudos e experiências pessoais para aplicá-los conscientemente no sentido de seu
crescimento interno. É a Vontade capacitada pelo Conhecimento e dirigida pela Intenção do desenvolvimento mental e
espiritual. O PROJETO “SER” é o principal objetivo do trabalho do Círculo de Estudos Ramacháraca. Uma aplicação
prática do aprendizado adquirido. Sua primeira fase é a do registro das pérolas do aprendizado. As etapas posteriores
obedecem a um roteiro especial aplicado pelos estudantes em etapas mais adiantadas dos programas do CER..
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SUGESTÃO DE ERRATA

Este formulário adotado pelo CER permite que os estudantes colaborem com o aperfeiçoamento do
trabalho, detectando possíveis erros ortográficos, de digitação ou gramaticais. Sua colaboração é
indispensável!

TITULO DO LIVRO:
PROPOSTO POR:
DATA:

Capítulo Parágrafo Linha Trecho com erro Correção Proposta Observação

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