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ANOTAÇÃO DE AULA
SUMÁRIO
Enquanto a boa-fé objetiva é HORIZONTAL (endógena – diretriz da eticidade [art. 422, CC]), a função social do
contrato é VERTICAL (exógena – diretriz da socialidade [art. 421, CC]).
A boa-fé objetiva é endógena, porque diz respeito à imposição de solidariedade nas relações internas entre as
partes. Por outro lado, a função social do contrato é a materialização da solidariedade nas relações das partes
com a sociedade.
O contrato, atualmente, é um FATO SOCIAL, pois gera efeitos relevantes para toda a sociedade.
Está errada a expressão “liberdade de contratar”, pois o correto é LIBERDADE CONTRATUAL. A liberdade
contratual diz respeito à autonomia das partes.
O outro erro está na expressão “em razão e nos limites”, pois a liberdade contratual NÃO está submetida à
função social do contrato, ou seja, ambas se complementam.
Pergunta: todo negócio jurídico é CAUSAL? Sim, porque os negócios jurídicos somente terão sua licitude
reconhecida se tiverem uma CAUSA (função social) de acordo com os direitos fundamentais.
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Ex.: negócio jurídico com autonomia privada e boa-fé objetiva, mas dotado de cláusula que ofende a dignidade da
pessoa humana (viola a eficácia interna do contrato).
Aduz o Enunciado 360, CJF – o princípio da função social dos contratos também pode ter eficácia interna entre as
partes contratantes.
Ex1.: negócio jurídico celebrado entre empresas com autonomia privada e boa-fé objetiva formando um
oligopólio – ofende direitos metaindividuais. Assim, o CADE visa promover a função social do contrato, a fim de a
formação de oligopólios seja vedado.
Ex2.: contrato que viola o meio ambiente. Nesse caso, legitima-se o MP intervir mediante Ação Civil Pública.
Nessa linha, aduz o Enunciado 23, CJF – a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não
elimina o princípio da autonomia contratual (eficácia interna), mas atenua ou reduz o alcance desse princípio
quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana
(eficácia externa).
Ex.: publicidade com conteúdo discriminatório (art. 37, §2º, CDC): há necessidade de controle social (ex.: MP e
entes legitimados) sobre a função social do contrato.
A eficácia externa da função social na vertente “interesse metaindividual” também se aplica nas relações
empresariais.
Preconiza o Enunciado 26 da Jornada de Direito Comercial – o contrato empresarial cumpre sua função social
quando não acarreta prejuízo a direitos ou interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não
participantes da relação negocial.
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Imagine que “x” compre um Audi. Ocorre que, num determinado momento, estando em alta velocidade, em
virtude do freio falhar, o carro se choca contra um poste e atinge “y”. “X” experimenta várias lesões.
Sabemos que “x” tem direito de ingressar com ação contra a Audi (responsabilidade objetiva – art. 12, CDC
[defeito do produto]).
“Y” (terceiro ofendido) foi vítima de um acidente de consumo, porque o acidente decorreu do defeito do produto.
Porém, ele NÃO pertence à relação contratual.
É possível o terceiro ofendido (“y”) ajuizar ação de responsabilidade objetiva contra a Audi? Sim, pois se aplica o
princípio da função social do contrato na tese do terceiro ofendido, ou seja, “y” é chamado de consumidor
bystander (consumidor por equiparação).
Desse modo, entende-se que numa relação contratual, quando os deveres anexos de proteção, cooperação e
informação dizem respeito às partes, isso caracteriza boa-fé objetiva. Porém, quando as partes têm o dever anexo
de proteger terceiros, que não são partes da relação contratual, isso caracteriza a eficácia externa da função
social do contrato.
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hoje, que as redes sociais contêm um verdadeiro inconsciente coletivo que faz com que as pessoas escrevam
mensagens, sem a necessária reflexão prévia, falando coisas que normalmente não diriam. Isso exige um controle
por parte de quem é profissional da área de comunicação, que tem o dever de zelar para que o direito de crítica
não ultrapasse o limite legal consistente no respeito à honra, à privacidade e à intimidade da pessoa criticada.
Assim, a ausência de qualquer controle, prévio ou posterior, configura defeito do serviço, uma vez que se trata de
relação de consumo. Ressalte-se que o ponto nodal não é apenas a efetiva existência de controle editorial, mas a
viabilidade de ele ser exercido. Consequentemente, a sociedade deve responder solidariamente pelos danos
causados à vítima das ofensas morais, que, em última análise, é um bystander, por força do disposto no art. 17 do
CDC. Saliente-se que, tratando-se de uma sociedade que desenvolva atividade jornalística, não se pode admitir a
ausência de qualquer controle sobre as mensagens e comentários divulgados, porque se mesclam com a própria
informação, que é o objeto central da sua atividade econômica, devendo oferecer a segurança que dela
legitimamente se espera (art. 14, § 1º, do CDC). Cabe esclarecer que o marco civil da internet (Lei 12.965/2014)
não se aplica à hipótese em apreço, porque os fatos ocorreram antes da entrada em vigor dessa lei, além de não
se tratar da responsabilidade dos provedores de conteúdo. Consigne-se, finalmente, que a matéria poderia
também ter sido analisada na perspectiva do art. 927, parágrafo único, do CC, que estatuiu uma cláusula geral de
responsabilidade objetiva pelo risco, chegando-se a solução semelhante à alcançada mediante a utilização do
CDC. REsp 1.352.053-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/3/2015, DJe 30/3/2015.
Agora, suponha que “x” atropele “y” (acidente de trânsito). Nesse caso, “y” tem direito de ingressar com ação de
responsabilidade civil contra “x”, pois este agiu com culpa. Imagine que o carro de “x” tenha seguradora.
Pergunta: pode “y” ajuizar ação de responsabilidade civil diretamente contra a seguradora alegando ser terceiro
ofendido? Há polêmica:
O art. 787, CC estabelece que NÃO é possível a vítima ajuizar a demanda diretamente contra a seguradora,
porque primeiro a vítima deve ingressar contra o autor do acidente. Após, o autor do acidente ingressa com ação
de regresso contra a seguradora.
2º posição: PODE. Aduz o Enunciado 544, CJF – o seguro de responsabilidade civil facultativo garante dois
interesses, o do segurado contra os efeitos patrimoniais da imputação de responsabilidade e o da vítima à
indenização, ambos destinatários da garantia, com pretensão própria e independente contra a seguradora.
3ª posição (STJ): NÃO PODE, em observância ao contraditório, ampla defesa e devido processo legal (deve-se
primeiro demonstrar a culpa do segurado). Nesses termos, veja o que preconiza a súmula 529 do STJ:
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4ª posição (atual – STJ): em eventual condenação do litisconsórcio passivo entre segurado e seguradora, legitima-
se executar diretamente contra a seguradora. Nesse sentido, veja o teor da súmula 537 do STJ:
A relatividade significa que as obrigações contratuais só dizem respeito entre as partes (res inter alios acta).
Contudo, apesar dos contratos serem relativos, eles são oponíveis erga omnes, no sentido de que os contratos
devem ser respeitados por toda a sociedade.
Estabelece o Enunciado 21, CJF – a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui
cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros,
implicando a tutela externa do crédito.
O terceiro ofensor é alguém que não faz parte do contrato, porém ingressa de forma ilícita (injustificada) nesse
contrato para violar a sua finalidade. Ex.: Brahma (terceiro ofensor) x Nova Schin – caso “Zeca Pagodinho”. A nova
Schin pode ajuizar duas ações: ação contra o Zeca Pagodinho com base na violação da boa-fé objetiva
(responsabilidade contratual) e outra ação contra a Brahma com base na violação da função social do contrato
(responsabilidade extracontratual).
CC, art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
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REsp 1203133 / MT
Relator(a) Ministro CASTRO MEIRA (1125)
Órgão Julgador - T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento - 21/10/2010
Data da Publicação/Fonte - DJe 28/10/2010
Ementa
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. ART. 535 DO CPC. ALEGAÇÃO GENÉRICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
INDISPONIBILIDADE DOS BENS. DECRETAÇÃO. REQUISITOS. ART. 7º DA LEI 8.429/1992. FUMUS BONI IURIS DEMONSTRADO.
1. Afasta-se a prejudicial de mérito referente à pretensa violação do art. 535 do CPC, em razão da forma genérica pela qual
foi deduzida, limitando-se o recorrente a afirmar que o Tribunal a quo teria deixado de analisar questão trazida nos
embargos declaratórios. Incide o óbice da Súmula 284/STF.
2. O Tribunal a quo concluiu pela inexistência de elementos que justificassem a indisponibilidade de bens dos recorridos, na
forma do art. 7º da Lei n.º 8.429/92, ao fundamento de que o decreto de indisponibilidade de bens somente se justifica se
houver prova ou alegação de prática que impliquem em alteração ou redução de patrimônio, capaz de colocar em risco o
ressarcimento ao erário na eventualidade de procedência da ação.
3. No especial, alega-se a existência de fundados indícios de dano ao erário – fumaça do bom direito – o que, por si só, seria
suficiente para motivar o ato de constrição patrimonial, à vista do periculum in mora presumido no art. 7º da Lei n.º
8.429/92.
4. É desnecessária a prova do periculum in mora concreto, ou seja, de que os réus estariam dilapidando seu patrimônio, ou
na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática
de atos de improbidade. Precedentes.
5. O acórdão impugnado manifestou-se, explicitamente, sobre a
plausibilidade da responsabilidade imputada aos recorridos, constatando, assim, a presença da fumaça do bom direito.
6. Recurso especial provido.
Ex.: casamento (contrato) desfeito em razão de adultério por parte de um dos cônjuges. O ofendido pode ajuizar
ação de reparação de danos contra o cônjuge adúltero e contra o terceiro ofensor (amante)? Não. Inexiste a
possibilidade do cônjuge se voltar contra o terceiro (terceiro este que não pode velar pela fidelidade alheia).
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velar pela fidelidade conjugal em casamento do qual não faz parte. O casamento, tanto como instituição quanto
contrato sui generis, somente produz efeitos em relação aos celebrantes e seus familiares, não beneficiando nem
prejudicando terceiros. Desse modo, no caso em questão, não há como o Judiciário impor um "não fazer" ao réu,
decorrendo disso a impossibilidade de indenizar o ato por inexistência de norma posta - legal e não moral - que
assim determine. De outra parte, não há que se falar em solidariedade do recorrido por suposto ilícito praticado
pela ex-esposa do recorrente, tendo em vista que o art. 942, caput e parágrafo único, do Código Civil vigente (art.
1.518 do CC/1916) somente tem aplicação quando o ato do coautor ou partícipe for, em si, ilícito, o que não se
verifica na hipótese dos autos. Com esses fundamentos, entre outros, a Turma não conheceu do recurso.
Precedente citado: REsp 742.137-RJ, DJ 29/10/2007. REsp 1.122.547-MG, Rel.Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
10/11/2009.
Pergunta: a quebra da função social do contrato gera como sanção: a invalidade ou a ineficácia?
Aduz o Enunciado 431 do CJF – a violação do art. 421 conduz à invalidade (ilicitude do objeto: ofende princípios
constitucionais) ou à ineficácia do contrato ou de cláusulas contratuais (fato superveniente em contrato de
execução sucessiva).
Ex.: contrato de “virgindade”, venda de órgãos, venda de filhos etc: ofende limites morais do contrato (objeto
ilícito) – nesse caso, o contrato é nulo por violação da função social.
Por fim, conclui-se que a função social é NORMA DE ORDEM PÚBLICA, nos termos do art. 2035, CC:
QUESTÃO
Ano: 2015 / Banca: FCC / Órgão: TJ-SC / Prova: Juiz Substituto
O princípio da boa fé, no Código Civil Brasileiro, não foi consagrado, em artigo expresso, como regra geral, ao
contrário do Código Civil Alemão. Mas o nosso Código Comercial incluiu-o como princípio vigorante no campo
obrigacional e relacionou-o também com os usos de tráfico (23). Contudo, a inexistência, no Código Civil, de
artigo semelhante ao § 242 do BGB não impede que o princípio tenha vigência em nosso direito das obrigações,
pois se trata de proposição jurídica, com significado de regra de conduta. O mandamento engloba todos os que
participam do vínculo obrigacional e estabelece, entre eles, um elo de cooperação, em face do fim objetivo a que
visam (Clóvis V. do Couto e Silva. A obrigação como processo. José Bushatsky, Editor, 1976, p. 29-30).
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Esse texto foi escrito na vigência do Código Civil de 1916. O Código Civil de 2002
a) trouxe, porém, mandamento de conduta, tanto ao credor como ao devedor, estabelecendo entre eles o elo de
cooperação referido pelo autor.
b) trouxe disposição análoga à do Código Civil alemão, mas impondo somente ao devedor o dever de boa-fé.
c) também não trouxe qualquer disposição semelhante à do Código Civil alemão estabelecendo elo de
cooperação entre credor e devedor.
d) trouxe disposição semelhante à do Código Civil alemão, somente na parte geral e como regra interpretativa
dos contratos.
e) trouxe disposição análoga à do Código civil alemão, mas impondo somente ao credor o dever de boa-fé.
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