A sociedade tem apresentado uma demanda significativa por consumo de
conhecimento histórico, seja por interesse cultural ou por puro lazer. Independentemente dos motivos que levam o público não acadêmico a consumir história, o fato é que, embora se mostre disposto a buscar a história, não bebe da fonte do conhecimento histórico produzido pelos historiadores, o que gera uma série de transtornos para quem produz o conhecimento e também para quem consome (ou deixa de consumir).
O velho dilema academicista é um espectro que já preocupou muitos colegas
anteriores a nós, nos acompanha no presente e, ao que tudo indica, perdurará no futuro, se o paradigma não se modificar. O resumo da questão é que historiadores são intelectuais acadêmicos que escrevem difícil, de forma nada literária, seguindo um modelo conservador de discurso científico que desperta pouco interesse no público leigo. Em outras palavras, historiadores produzem textos academicistas que são lidos basicamente apenas por eles mesmos (e, faça-se justiça, nem os próprios historiadores aguentam consumir massivamente os textos de seus pares), fazendo o conhecimento histórico ficar isolado dentro de um meio intelectual e culturalmente privilegiado, para não dizer fechado.
Mas o fato é que a história é interessante. Pessoas gostam de ler sobre
história, ouvir sobre história, assistir filmes sobre história, ler romances históricos... A ausência de charme literário, no entanto, afasta o público leigo do discurso acadêmico, abrindo espaço para que outros profissionais (intelectuais ou pseudo- intelectuais) supram esta demanda, o que pode ser pernicioso, uma vez que o grande público acaba consumindo e tendo sua visão sobre história moldada por jornalistas, escritores, romancistas, artistas, cineastas, blogueiros, youtubers... Tudo, menos historiadores.
O público leigo tem se alimentado, por tanto, de discursos e visões sobre a
história que não foram construídas por quem de fato entende de história, daí a presença de um discurso muitas vezes raso, anacrônico e superficial. Mas não podemos julgar o público: a escrita dos historiadores acadêmicos é chata, muito raramente o consumidor buscará um artigo científico ou tese de doutorado para aprender sobre história. Cabe a nós, historiadores, repensarmos nosso papel diante da sociedade e explorar novos espaços de atuação e de mercado.
Há um campo fértil a ser explorado na Era da Informação, e uma infinidade de
meios digitais para se falar sobre história. Se os historiadores podem produzir textos científicos com linguagem técnica e rebuscada, por que não podem produzir textos acessíveis, vlogs, podcasts, filmes, etc.? A História Pública, assim, configura-se como uma área de atuação possível do profissional da História em que alimenta a população não acadêmica com conhecimento científico, produzindo assim um discurso histórico mais “popular” sem perder o rigor metodológico.
Jurandir Malerba - Acadêmicos na berlinda ou como cada um escreve a história? Uma reflexão sobre o embate entre historiadores acadêmicos e não acadêmicos no brasil à luz dos debates sobre public history
Jornalismo cultural no século 21: Literatura, artes visuais, teatro, cinema, música [A história, as novas plataformas, o ensino e as tendências na prática]