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E do meu lado, ela, ali parada, quieta, pensando sabe-se lá o quê. Quanto a
mim, tentava manter uma postura séria, mas era pura fachada. Imaginava
um ponto escuro na parede e tentava concentrar-me nele. Se arriscasse
olhar para ela, tenho certeza que a “comeria” com os olhos até mal
restar-lhe os ossos.
Num instante tive aquela sensação de ser observado. Era aquele lance
inexplicável que sentimos quando alguém nos observa, uma espécie de
“cutucada de olho”; sei que pode parecer bizarra mas todos concordam que
ocorre. Então, com “rabo de olho” dou uma verificada e constato que
realmente ela observava-me. Viro-lhe rosto, dou aquele sorriso tímido e
faço uma leve mesura com a cabeça. Como é incrível o que a gente consegue
notar com a visão periférica, mesmo sem focar pude notar aquele decote
generoso que por si só já fazia meu cérebro voltar a fervilhar.
Já, do outro lado do corredor, depois da porta de vidro que dava acesso ao
escritório, alguns colegas faziam a pausa para o café, mas era mentira,
foram lá para “secá-lá” e tiveram a sorte de estarem perto da mesa do café
(filhos da puta, sortudos). O que eu não daria para estar lá, tomando aquele
café e apreciando aquela paisagem. Sem que ela visse, eles faziam-me
sinais, para que não obstruisse a vista daquele monumento. Com o dedo do
meio, coço a lateral da cabeça (se eu não vejo, vocês também não!), mas
acabo cedendo, afinal, sou bacana. Finjo mexer no celular e dou um passo
para trás. Em gratidão, recebi mesuras, aplausos e sinais de positivo.
Ofertei a eles aquela visão, um banquete.
(***)
Não é difícil imaginar quem era ela, é um clichê, eu sei! Mas vou ser legal e
direi, ela é a mulher do chefe. Não que isso importasse, se fosse outro chefe.
Você deve imaginá-lo um tirano, ditador. Antes o fosse, assim eu olharia
para ela sem importar-me com a saliva escorrendo-me pela boca. Mas ele
não, o filho da puta era legal, do tipo “pra caralho”. Pra ter ideia, umas
semanas atrás estava numa “bad”, mal mesmo. Era um daqueles dias que
você reza por uma desculpa para “descer a bolacha” em alguém. Tudo por
causa de um descuido meu, deixei o celular a vista e minha esposa
interceptou uma mensagem mais “caliente” da Su. A Su é da contabilidade
da empresa, também casada, e temos uma “lance nosso”. É assim: ela sabe
que não vai me dar e eu sei que não vou comê-la, então, a gente flerta um
com o outro. São coisas bobas, mas pra minha esposa era algo como se
estivessemos fazendo “anal giratório” no almoxarifado do escritório (antes
fosse, porque a Su tem um “senhor rabo”). Nem tentei explicar, amarguei a
derrota e fiquei quieto, o que, de certa forma, foi como lenha no surto dela.
Liguei o foda-se!
- Ooo Jota (meu apelido), vi que hoje você tá estranho. Tá tudo bem?
Era o meu chefe, tinha me visto lá da sala dele, onde a parede de
vidro dava bem pra minha baia.
- Não muito... problemas em casa. Digo, sem dar margem pra estender
aquele assunto.
- Hummm… esposa né?
- Arruma tuas coisas? Ele diz, dando um tapa nas minhas costas.
Bem, talvez por isso a minha relação com setor de lá tenha ficada um tanto
abalada... Paciência!
Chegando na fábrica, com um dos donos, já senti que tinha algum respeito.
Mas não foi só isso, ele apresentou-me como um provável cafetão de
gravata.
Nossa, acho que nunca comi uma lagosta. Então...todas serão a melhor que
já comi na vida. Aproveito da moral com a qual ele me deixou e ando pela
fábrica de nariz erguido. Lá na “engenharia” eu me esbaldei, falei de todos
os problemas que eles nunca quiseram ouvir mas, agora, tinha até uma
secretária para tomar nota. Observe que falei secretária, não uma
estagiária, porque, do contrário, podiam dizer que perderam as anotações e
culpar a infeliz, só pra não executar o que eu pedia. Naquele dia, senti-me
patrão. No café, não era aquele vagabundo de milho torrado que a gente tá
acostumado a tomar, era café “gourmet” lá do sul de Minas, com chocolate e
amêndoas. E de lanche, bolo “red velvet” com cobertura e raspas de limão.
No almoço, comi como se fosse a última vez.
No fim da tarde, ele recebeu uma ligação, que deixou ele meio
desconfortável em falar perto de mim, então se afastou mas podia vê-lo em
sorrisos bem animados. Desligando o telefone e voltando para perto de
mim, aperta-me o ombro e diz:
- Hummm... faz o seguinte. Vou precisar dele amanhã, então, fica com
ele essa noite e devolve no escritório.
Puxa vida, eu dirigindo aquele carrão que nem em cinco anos de escravidão
eu conseguiria pagar! Sem falar que poderia usar ele para buscar a “patroa”
na faculdade e quem sabe fazer uma moralzinha. Com sorte acabaria a noite
num motel para um “sexo de perdão”. Embora, também tenha cogitado em
ir na “sauna” e fazer uma moral com as “primas”. Mas... dessa vez a esposa
venceu.
(***)
O elevador chega, faço um aceno com a mão para que ela entre primeiro.
Sou gentil, não é? Mas não, aproveito para olhar aquele corpo. Aquele
vestido colado, delineando aquele quadril esculpido, as coxas grossas e as
costa nuas, que a blusinha não escondia. É… eu sei, vou pro inferno!
- Eu sei o que você pensa de mim! Diz ela, de repente, olhando para
frente. Nem deu aquela viradinha de rosto e um sorrisinho. Pegou-me
desprevenido, na minha cabeça, minha calça já estava arriada e o meu
pequeno amigo estava para fora todo faceiro. Aquela afirmação
fez-me suar frio, eu ali, comendo ela mentalmente e agora descubro
que ela lê mentes! Onde está a privacidade?
Não sei as mulheres, porque ninguém as entende mesmo. Mas, nós homens,
a olhavamos com desejo, todo mundo queria comer ela, exceto, talvez, pelo
Juarez (ele não era muito chegado). Mas não podia dizer isso pra ela,
pensaria que só tocamos bronha no escritório, e é uma mentira porque... lá
a gente também trabalha!
Era mentira, como eu disse, vou pro inferno! Todo mundo achava que ela
tava atrás do dinheiro. Ele tinha mais que o dobro da idade dela, na
verdade, acho que a caçula dele era mais velha que ela. Quando a vi pela
primeira vez, achei que era uma filha desconhecida. Depois, quando os vi se
beijando, até pensei em incesto, mas isso não me deixou excitado (juro!).
Até fizemos uma aposta para ver quanto tempo ela iria durar, já adianto
que perdi, falei um ano e já estão juntos a três. Só o Juarez ainda está no
páreo, porque ele acredita no amor (ehhh frescura). E, mesmo depois desse
tempo, ela continua uma gostosa. Então, arremato o que comecei a dizer:
Ouvindo isso, percebo que ela ficou mais calma. Ela era nova, talvez por isso
acreditasse em qualquer abobrinha.
- Sei que você desceu com ele lá para Florianópolis. Diz, em tom de
desinteresse.
- E você voltou com o carro dele, né? Diz ela, dessa vez encarando-me.
- Voltei sim, até perguntei se devia deixá-lo em algum lugar mas ele
disse pra ficar com o carro e devolver no dia seguinte. Faço uma
pequena pausa, e digo: - Algum problema?
Nos seus olhos castanhos, olhando com atenção, enxergava os meus olhos
em desespero. Ela tinha alguma carta na manga, um trunfo, algo que a
permitiria enrabar o marido dela e, consequentemente, eu também. Nesse
momento meu cérebro já forneceu um subsídio. Quando estava voltando de
Floripa, bem não hora que tocava “Sex on Fire” (da minha playlist) vi um
objeto brilhando no chão, até parei no acostamento para recolher. Era um
brinco, coisa fina, ouro e pedras preciosas (até fiz a cara do “hummm, que
chique”), julguei que era dela (a esposa do patrão), então deixe num nicho
abaixo do multimídia do carro, lugar bem visível. Na hora, nem passou pela
minha cabeça que meu chefe poderia andar “pulando a cerca”. Mas... se ele
comia mignon em casa o que será que ele não pegava fora?
Só podia ser aquilo, agora pensava se arriscava ou não jogar essa carta,
afinal busquei a minha esposa com o carro e poderia dizer que era dela. Por
outro lado, podia dizer que não tinha perdido nada, concordar que ele era
um canalha, quem sabe até conseguiria convencê-la a um sexo de vingança.
Novamente volto onde havia parado, nela com a bunda na minha cintura, as
mãos no espelho do elevador. Quase podia sentir-lhe os seios firmes, com
aqueles mamilos eriçados roçando o centro das palmas de minhas mãos.
- Como era esse brinco, ela pergunta? Com uma cara interessada.
Ela fica séria e depois diz sorrindo: - Olha o que encontrei. Enquanto
levanta-me o brinco.
-Nossa… é esse mesmo! Minha esposa estava aflita atrás dele. Muito
obrigado. Digo-lhe abrindo um grande, largo e falso sorriso.
- Que isso, sei que faria o mesmo por mim! Digo isso com falsa
humildade. Sabia que naquela situação quem mais perderia seria eu.
Então ele apertou-me a mão e acolheu-me em um forte abraço. Depois
pede-me o brinco, afinal, a verdadeira dona o queria de volta. Foi um
“mimo” da parte dele.
- Juro que paro esse elevador! Digo em tom provocativo. - Você está
maravilhosa hoje, como sempre.
- Muito obrigada, diz ela, sem disfarçar certa rubidez, não de timidez
mas de lascívia.
FIM
Dedicado a senhorita Ashley, que ela continue a despertar a inspiração nos corações por
ela admirados.
(Decameron - Jul/20)