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Tatuzão!
Até os trinta anos, Moisés não era conhecido por esse apelido.
Tinha cabelos ralos e finos, e por isso também já fora chamado de
Careca, Cabelo, Cabelinho, Topógrafo, João, Felipe, André... já
foi chapeiro de lanchonete, motoboy, foguete de boca de fumo.
Já foi pai e filho.
Mas há quatro anos, após fugir da Penitenciária do Caran‑
diru, na capital do Estado de São Paulo, ignorando a vigilância
da autoproclamada melhor polícia do país, ganhou a alcunha do
animal cavador, que também era como os presos denominavam
o buraco cavado na cadeia em direção à liberdade.
Um título que distinguia sua exímia capacidade no subterrâ‑
neo. Na ocasião, 105 detentos debandaram em desabalada car‑
reira por um buraco de quinze metros de comprimento. Todos
irmãos de fé, de dividir a blindada, a jega e o boi, num trabalho
de dois dias.
Para um empreendimento como aquele não bastaria ape‑
nas a habilidade individual do ladrão. A grandiosidade da obra
exigia muitos braços, e era preciso astúcia para convencê‑los
dos benefícios da liberdade, já que nem todos a buscavam.
Estavam há tantos anos atrás de pedras que se julgavam uma.
Para o preso que se acostumou a acordar sem janela para ver
o dia, abandonar sua vida rústica não era fácil. Os longos anos
vendo paredes e grades de ferro os faziam desprezar as jane‑
las. Era um luxo que nenhuma alma emparedada naquele
inferno precisava.
Mas a ajuda não poderia ser indistinta e sem critérios. Cavar
qualquer um cava. Até coveiro, que nunca passou por uma facul‑
dade, sabe retirar a terra na medida exata do caixão. E Moisés
não tinha qualquer vocação para cemitérios ou faculdade. Era
ágil na palavra e manso nas frases, de movimentos tranquilos
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