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PRÓLOGO
N
o meio da noite, um jovem rapaz corre desespe-
rado pelos becos escuros à procura de sua namo-
rada. Não se via ninguém por ali. Havia tantos
caminhos que parecia um labirinto sem fim. Ele estava perdido
sem saber por onde seguir, passando por vários lugares e não
encontrava nenhum rastro dela. Isaac Martinelli sabia que
Yasmin Endler estava correndo perigo, e isso o deixava mais
desesperado ainda.
— Yasmin! Yasmin! — gritava bem alto na esperança de
que ela pudesse ouvir — onde você está?! — o único som que
Isaac conseguia ouvir era o eco distante da sua própria voz.
Ele para, saca o celular do bolso e tenta ligar para ela. Nada.
A ligação cai na caixa postal. Tenta mais uma vez, e novamen-
te a mesma coisa: Caixa postal.
O rapaz volta a correr sem norte pelos becos escuros e frios.
Uma chuva fina caía sobre a sua cabeça. Então se ouve um
grito de desespero que corta o silêncio daquela noite.
No mesmo instante, Isaac para novamente e tenta descobrir
de onde veio o som na esperança de encontrá-la antes que o
pior aconteça. A adrenalina e o medo correm por todo seu cor-
po o fazendo não conseguir pensar direito e o deixando inquie-
to.
Outro grito cortou o silêncio, dessa vez ele ouve perfeita-
mente Yasmin chamando por seu nome. O garoto toma uma
direção, corre alguns metros e entra em um beco à esquerda,
seguindo em frente gritando por ela.
— Yasmin! — continua correndo desesperadamente.
— Isaac! — a voz responde ao seu chamado — Socorro!
Ele ouve passos de pessoas correndo e tenta acompanhá-los,
até que, em determinado momento, a correria cessa. Porém,
Martinelli continua até passar por uma viela e ver, periferica-
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CAPÍTULO 1
23 de março de 2017, Ilha do Rio Iolete.
O
som fez Isaac acordar em um susto. Seu desperta-
dor tocava com vigor naquela manhã. Ele suava frio
e respirava em ritmo acelerado com o coração dispa-
rado e tentando entender o que estava acontecendo.
Ficou sentado na cama lembrando-se do homem alto de casaco
preto com uma arma na mão que acabara de disparar contra
Yasmin.
Foi apenas um pesadelo, pensou Isaac entendendo aos pou-
cos o que estava acontecendo.
O celular ainda continuava tocando. Ao perceber, imediata-
mente tateou o chão e o apanhou debaixo de sua cama.
Desligou o despertador e olhou as horas. Eram exatamente
11h. Ele toma outro susto e levanta da cama em um salto.
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que a outra. Tenho uma amiga que estuda com elas, Júlia Sin-
ger, que pode nos apresentar para algumas, sem falar que estou
com sorte na minha turma também.
— E lá tem enfermagem? — responde Isaac Martinelli —
Nem sei direito quais são as garotas que estudam comigo, ima-
gine as dos outros cursos. — brincou.
— Você precisa ter os olhos de águia como eu. Observar
todas ao seu redor e chegar chegando nas gatas, ta ligado? —
disse Samuel Greco tentando fazer um olhar sensual.
—To ligado... — respondeu Isaac sem prestar muita atenção
no que seu primo acabara de dizer, pois só conseguia pensar
em Yasmin. — É que ainda estou me adaptando a todas essas
mudanças que vieram acontecendo, sabe? — agora colocando
o par de All Star azul cano longo — Tem muita gente nova
para conhecer e ainda estou decorando os novos rostos, sem
falar que também nunca fui presunçoso como você.
— Eu te entendo. Você está sempre pensando em Yasmin
— falou Samuel como se estivesse lendo os pensamentos do
seu primo — , e sei que não vai esquecê-la. Mas a vida segue.
Ela nunca iria querer te ver triste — concluiu, tentando ajudar
de alguma forma.
— Você tem razão. Mas eu não estou triste. — disse Marti-
nelli amarrando os cadarços e olhando para Samuel com um
sorriso de canto.
— Carpe diem, lembra?— disse Greco retribuindo o sorriso
automaticamente.
— Carpe diem.
Houve um momento de silêncio.
—Tantas garotas dando sopa e você com um garfo. — falou
Samuel finalmente, tentando animar o ambiente — Mano, você
está mais fraco que moto de 50 cilindradas. Estou te fazendo
comer poeira.
— Quero ver você me alcançar nas trilhas depois da aula. —
abre o guarda-roupa e pega uma camiseta preta e justa do Guns
N' Roses que marca a linha do peitoral.
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Isaac Martinelli se sentiu aliviado por Gaspar não ter lhe en-
tendido mal e por ter dado a resposta certa.
— O que você estaria fazendo nesse momento se não esti-
vesse aqui? — o professor continuou perguntando para Isaac
Martinelli.
— Não sei... Tantas coisas... Talvez ouvindo músicas, lendo
um livro, em alguma trilha por aí, tocando guitarra...
— Uhu! Guitarra! “É nós!” — gritou Estella Lewis do fun-
do da sala.
Todos a olharam, mas o professor continuou com a sua linha
de raciocínio.
— Você percebe a quantidade de coisas que poderia estar
fazendo se não estivesse aqui? — perguntou olhando nos seus
olhos. Sem esperá-lo responder, continuou — “Não me entenda
mal... mas, tipo...” não estou tentando te incentivar a largar a
faculdade. — disse em um tom humorado e arrancando garga-
lhadas dos alunos.
O professor Gaspar pegou seu pincel em cima da mesa e
começou a desenhar algo parecido com uma folha de coqueiro
ou uma pena e escreveu uma palavra ao lado do desenho.
— “Bifurcação”. — leu o que havia escrito no quadro —
Imaginem que essa folha de coqueiro seria o começo de suas
vidas, onde cada folhinha dessa — disse apontando com o pin-
cel para cada ponta do desenho que representava as folhas —
fosse uma escolha que você vai seguir, deixando todas as ou-
tras possibilidades de lado. No caso do desenho, escolher uma
folhinha e abandonar todas as outras. — deu uma pausa para
que os alunos conseguissem processar a ideia — Agora imagi-
nem que, na folhinha que você escolheu, surja outra folha intei-
ra de coqueiro e você escolhe mais uma folhinha, como fez
antes, e surge outra folha inteira nela... E assim sucessivamen-
te. Entenderam?
Alguns dos alunos disseram “sim”, outros ficaram meio
confusos tentando processar tudo aquilo que o professor Davi
Gaspar tinha acabado de dizer.
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CAPÍTULO 2
C
larice Ferrier chegara do Rio de Janeiro há dois dias
e ainda não tivera tempo de desfazer suas malas. Sua
viagem de três dias havia sido cansativa e após fi-
nalmente está em casa, a ansiedade de saber logo o
resultado da prova que fizera para concorrer a uma bolsa de
intercâmbio em Portugal só aumentava. Porém, para sua frus-
tração, a divulgação só seria feita em meados do mês de julho.
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CAPÍTULO 3
N
aquela mesma noite, já deitado em sua cama,
Isaac começa a refletir sobre a aula do professor
Davi Gaspar. Pega o notebook para fazer algumas
pesquisas sobre empresas que faliram, mas pen-
samentos antigos invadem sua mente e, inevitavelmente, lem-
bra-se de quando conversara com Yasmin Endler pela primeira
vez.
No dia de seu aniversário de catorze anos, seu pai lhe dera
uma Yamaha TT-R 125 cilindradas. Uma pequena moto off-
road que é própria para percorrer em locais fora da cidade. Ele
também o levou para a pista de Motocross de Bela Vila, mas
dessa vez não fora para assisti-lo competir, e sim para aprender
a pilotar junto com outros filhos de pilotos e amadores.
No meio de todos aqueles meninos, estava apenas uma me-
nina. Ela tinha a pele clara, olhos verdes-esmeralda, cabelos
castanho-claros e era filha de Thomás Endler, o melhor amigo
de seu pai.
Enquanto Miguel Martinelli ensinava as primeiras lições de
como pilotar para seu filho, por vez, ele se distraía e não parava
de olhar para Yasmin Endler, que estava vestindo calça e cami-
seta rosa com preta própria para o esporte e mostrava ter con-
trole sobre a sua moto.
No final da tarde, Thomás e Miguel conversavam enquanto
Isaac já pilotava sozinho.
Decidindo acelerar um pouco mais, o garoto mantém o con-
trole de sua moto, até que, de repente, em uma curva, ele der-
rapa e cai cerca de seis metros de Yasmin, que era a pessoa
mais próxima dele.
— Tudo bem com você? — pergunta ela descendo de sua
moto e estendendo o braço para ajudar Isaac a se levantar.
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escolha que ele não queria nem mesmo imaginar como seria se
tivesse feito diferente, ou melhor, se não tivesse feito aquilo.
Como Yasmin Endler dizia sempre, eles iriam se lembrar
daquela noite pelo resto de suas vidas, só que agora existiam
apenas as lembranças de Isaac. Ele nunca imaginara que aquele
pedaço de si um dia seria arrancado tão brutalmente e injusta-
mente, lhe causando uma dor horrível. Além disso, ele não
estava lá para ajudá-la e se sentia culpado por ela está no local
errado na hora errada.
Eu causei isso, pensou.
Martinelli fechou a pasta e devolveu ao seu lugar cuidado-
samente embaixo de suas roupas. Deitou-se na cama, afunda o
rosto no travesseiro e começa a chorar...
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CAPÍTULO 4
O
despertador toca nas exatas 5 horas da manhã. O
dia ainda estava clareando e a alvorada surgia ao
longe timidamente roxa e, mais acima, o céu ainda
estava negro e podiam-se ver as últimas estrelas
salpicando-o no fim daquela noite.
Isaac senta-se na cama e começa a se lembrar do pesadelo
que estava tendo. O homem com casaco preto... Yasmin Endler
levando um tiro... Já era a quarta vez nos últimos sete dias.
— Carpe diem — Falou baixinho para si, ouvindo a voz de
Yasmin em sua mente. Logo se levantou da cama e seguiu em
direção ao guarda-roupa. Abre e pega de dentro uma calça e
uma camiseta verde com branco de mangas compridas com o
número 71 estampado nas costas e vestiu. Depois colocou um
colete-protetor, cotoveleiras, joelheiras, botas, luvas e por fim o
capacete. Subiu na sua moto e então partiu.
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CAPÍTULO 6
E
nquanto Clarice Ferrier e Júlia Singer estavam con-
versando distraidamente, um bipe de notificação é
emitido do computador de Clarice. De costas para
ele, a garota empurra os pés contra o chão, fazendo a
cadeira girar 180 graus sobre si para encarar o monitor. A men-
sagem no canto superior direito dizia: VOCÊ RECEBEU UMA SOLI-
CITAÇÃO DE AMIZADE DE ISAAC MARTINELLI. Ferrier esperava que
fosse algo vindo do Rio de Janeiro, mas, mesmo assim, ao ver
a mensagem, reconheceu o nome e a foto do garoto e clicou.
Uma página é carregada e o perfil do rapaz de corpo atlético
e de longos cabelos negros aparece na tela do computador.
— Quem é esse gato?! — quis saber Júlia.
— É o rapaz da turma de Conceitos da Psicologia.
— O que você está esperando? Aceita logo essa solicitação
e vamos ver as fotos desse bonitão!
Sem que Clarice pudesse fazer algo, Júlia se levantou da
cama em que estava sentada e, em seguida, sentou-se no colo
de sua amiga. Colocou a mão sobre o mouse do computador e
ela mesma aceitou a solicitação.
— Huuum... ele está solteiro. Um gato desse solteiro que-
rendo ser seu amigo não quer dizer outra coisa. Se eu fosse
você não desperdiçaria essa oportunidade. — disse sorrindo.
Indo agora ver as fotografias do rapaz, Júlia começou a pas-
sa-las e viram algumas de Isaac com Samuel tocando guitarra
em um lugar que parecia ser seu quarto, outras vestindo uma
roupa própria para pilotar sobre uma moto alta verde com
branca de número 71 e com o capacete embaixo do braço es-
querdo e erguendo um troféu com braço direito.
Passaram rapidamente mais algumas até que Júlia parou em
uma montagem com várias fotos de Martinelli com uma linda
garota de pele clara, longos cabelos castanho-claros e um corpo
divinamente escultural. Elas começaram a analisa-las de uma a
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Clarice andou até sua cama e deixa seu corpo cair sobre o
colchão. Ela sente o lençol frio, então abraça o travesseiro com
força. Apanha uma bíblia ao lado e passa a última meia hora
lendo.
Após terminar a leitura, faz uma oração e, antes de tentar
cair no sono, pega o celular e olha a caixa de e-mails. Naquele
momento não havia nada de importante. Coloca o aparelho de
lado, fecha os olhos e dorme.
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CAPÍTULO 7
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assavam-se pouco mais das 22h enquanto Isaac e
Samuel estavam se preparando para a festinha da
turma do Sam. Isaac vestia uma camiseta preta do
Linkin Park, uma jaqueta preta por cima, calças
jeans azul rasgada nos joelhos e terminava de amarrar os ca-
darços das suas botas enquanto Samuel estava com uma cami-
seta vermelha de manga longa, calça preta e calçava um par de
Nike esportivo.
— Você já avisou para o Thiago que estamos prontos? —
perguntou Greco dando uma última conferida no cabelo.
— Vou mandar uma mensagem no grupo dos AmendoWins
no Whatsapp os avisando.
Isaac Martinelli: Thiago, já estamos prontos. Chegaremos
aí em 20min.
Thiago Lazzo: Certo, estou apenas esperando por vocês.
Bernardo Rivière: Estou pronto há 20min. ¬¬
Isaac Martinelli: Já já estaremos aí, Bernardo.
Estella Lewis: Gente, não vai dar para eu ir :-(
Estella Lewis: Estou morrendo de cólica.
Isaac Martinelli: Está tão ruim assim? Não dar para aguen-
tar um pouco até passar?
Thiago Lazzo: Que é isso? Vamos! Você vai esquecer essa
dorzinha rapidinho quando chegar lá.
Estella Lewis: Você diz isso porque não é mulher. ¬¬
Bernardo Rivière: Também estou sentindo uma enorme dor
por está perdendo uma noite de Gunslinger.
Thiago Lazzo: Deixa de “nerdice”, seu nerd. Hoje vamos
lhe apresentar a vida real e você nunca mais irá jogar Second
Life. Kkkkkkk
Bernardo Rivière: Veremos...
Isaac Martinelli: Estrela, você não vai mesmo?
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— Cara, para onde você pensa que vai? Para uma entrevista
de emprego? — perguntou Martinelli após Bernardo entrar no
carro.
— Não sabia como vocês iriam, então resolvi colocar minha
roupa de festas.
— Que tipo de festas você costuma frequentar, cara? — quis
saber Samuel.
— Festas de formatura de familiares, festas de casamento de
familiares, festas de aniversário de familiares...
— Deixe-me dar um jeito nesse seu visual para ninguém rir
de você. — falou Isaac despenteando o cabelo de Rivière com
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¹ Trecho da música Eduardo e Mônica da Legião Urbana.
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CAPÍTULO 8
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assado o final de semana e com ele a ressaca dos
rapazes, Isaac chegara do treino de todas as manhãs
e já estava com Samuel na Zona do Rock desde às
7h:30min. organizando um carregamento de CDs
que havia acabado de chegar. Ele convencera seu primo que a
melhor forma de organizar os CDs seria primeiramente por
ordem alfabética dos artistas e depois pelo ano em que a banda
lançou o álbum. As pessoas costumam pedir pelo ano em que
eles foram lançados, pois é mais fácil do que aprender o nome
de cada um deles, argumentou Isaac.
— Conferindo... Avenged Sevenfold: primeiro álbum em
2001, o Sounding The Seventh Trumpet... — disse Samuel ob-
servando atentamente os nomes nas lombadas dos CDs na pra-
teleira.
— Confere... — confirmou Isaac olhando a ordem na inter-
net pelo celular.
— O segundo em 2003, o Waking The Fallen...
— Confere...
— Terceiro em 2005, o City Of Evil...
— Confere...
— Quarto em 2007, esse leva o nome da banda, Avenged
Sevenfold...
— Confere...
— O quinto em 2009, o Damonds In The Rough, e o DVD
Live In The LBC...
— Isso mesmo...
— O sexto em 2010, o Nightmare...
— Certo...
— E em 2013, o Hail To The King...
— Okay, tudo certo aqui. Próxima banda é Black Veil Bri-
des. — afirmou abrindo o bate-papo com Clarice Ferrier no
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CAPÍTULO 10
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eitada na cama, Clarice termina de ler alguns pro-
vérbios e coloca a bíblia no criado-mudo ao lado.
Pegou o celular e conferiu os e-mails do dia — não
havia nada de tão importante —. Feito isto, aco-
modou-se na cama e começou a refletir sobre a conversa que
tivera com Isaac há poucos minutos. “Gostei dos seus olhos.
Eles, os traços do seu rosto e um pouco do seu jeito lembram-
me os de uma pessoa que conheci. Isso fez com que você me
parecesse bem familiar.”, recordou Clarice. Então, de repente,
a imagem da garota que ela vira na foto com Martinelli dias
antes em seu Facebook veio à sua mente.
Com o celular ainda na mão, pesquisou por Isaac na rede
social e encontrou várias fotos dele com a tal garota. Ela tinha
que concordar com Júlia, pois de fato elas eram um pouco pa-
recidas.
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CAPÍTULO 11
V
inte minutos antes do despertador tocar, Isaac acor-
dou e começou a se lembrar aos poucos do sonho
que tivera naquela noite. Diferente dos dias anterio-
res, nenhum pesadelo tinha-lhe arrancado do sono.
Porém, mais diferente ainda foi ter sonhado com Clarice numa
praça florida e sentados em um banco de madeira. Ele não con-
seguia se lembrar de como chegaram até aquele lugar tão lindo
e nem sobre o que estavam conversando ou fazendo ali. Contu-
do, sentiu-se feliz por não ter tido outro pesadelo horrível com
Yasmin.
Talvez o motivo de ter sonhado com Clarice seja devido aos
quatro últimos dias trocando algumas mensagens com a garota
que, apesar da conversa um tanto frequente, Isaac ainda não
sabia de muita coisa sobre ela e vice-versa. O que ele sabe so-
bre a moça, além das informações que vira no seu perfil na
internet, é que ela participa de um grupo de jovens, gosta muito
de ler, trabalha na livraria dos seus pais, localizada ao norte de
Ilha do Rio Iolete, cursa Enfermagem e está adiantando a dis-
ciplina Conceitos da Psicologia em sua turma. E o que ele dis-
sera para ela foi que também gosta de ler, mora na cidade há
quase um mês, é piloto amador de Motocross, curte rock n’ roll
e que trabalha na loja de seu tio, a Zona do Rock.
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— Até.
Ao desligar o telefone, Isaac ouve Samuel gritar por trás da
porta do seu quarto:
— Primão!! — abre a porta e entra no quarto.
— O que houve? — perguntou um pouco assustado.
— Nada de mais, só tive uma ideia. — pelo jeito exagerado
de Samuel, já era de se esperar que não fosse nada de mais.
— Que ideia? — hoje as pessoas tiraram o dia para terem
ideias, pensou Martinelli.
— Sobre minha esquecida e nunca acontecida revanche.
— Eu nem me lembrava mais dela mesmo.
— Imaginei, por isso quero marcar logo uma data. — disse
Samuel sentando-se na cama de Isaac. — Vai ficar para um dia
depois do último dia de aula do período.
— Fechou, então. Mas por que daqui tanto dias, ou melhor,
meses?
— Um cara que estuda comigo, Eric, também curte Moto-
cross e me falou que na fazenda do pai dele tem uma pista bem
legal. Não tão grande como as de competição, mas dá para
treinar.
— Resolveu treinar agora?
— Sim, assumo que estou fora de ritmo, e encontrar um
bom local para treinar no final de semana me fará voltar à ati-
va. — explicou — Você pode ir conosco quando quiser.
— Uso os finais de semana para descanso e prefiro a trilha
que costumo frequentar, já faz parte da rotina. — sem falar no
nascer do sol, lembrou-se.
— Você que sabe. Se quiser ir treinar com a gente, será
bem-vindo.
— Certo. Valeu.
— Eu ganhando a revanche, o desempate será dia dez de se-
tembro no Desafio Regional.
— Esse desempate não vai acontecer, pois irei vencer a re-
vanche também. — brincou.
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sentir mais vivo. Você foi como um prisma que refratou todos
os meus sentimentos que estavam juntos e neutros feito o bran-
co, de modo que eu não conseguisse controlar quais iriam
transparecer e de que forma me comportar.
Olhando para o nada era a melhor maneira de conseguir
manter o foco no que dizer, pois se fosse para ti, esqueceria
tudo e só iria querer te admirar; e enquanto eu falava, perife-
ricamente percebia seus lindos olhos mapeando cada detalhe
do meu rosto, como se aquele encontro fosse o último.
Ouvi notas de harpa saindo suavemente da sua boca, num
arranjo angelical que me levava às nuvens por meio de uma
brisa leve e fria junto com o toque de suas mãos nas minhas.
As horas passaram como o acender de uma lâmpada; e aquela
noite nos forçou a seguir caminhos diferentes após uma longa
conversa e trocas tímidas de olhares. Ao te abraçar novamen-
te, senti que seu corpo se conectava perfeitamente no meu, me
fazendo querer não te largar mais, pois ali me senti confortá-
vel.
Aquele encontro falou muito mais além das palavras; gestos
naturais e simples fizeram grande diferença pelas semelhanças
que nos aproximavam mais um do outro.
Agora me pego pensando em ti e em quando vou te ver de
novo; até lá, espero que você também esteja pensando o mes-
mo que eu.
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CAPÍTULO 12
O
encontro de Bernardo Rivière com Fernanda Heins
já estava em andamento. Isaac estava do outro lado
da rua sentado no banco da praça da igreja matriz
vestindo uma camiseta branca de gola V lisa sem
nenhuma estampa extravagante — como pedira Bernardo —
que encontrara perdida no fundo do guarda-roupa, uma calça
jeans azul-escuro, calçando um Nike preto cano longo e com
um boné bege na cabeça. Só não estava usando óculos escuros
porque já se passavam das 19h, e usa-los acabaria chamando
mais atenção do que se tornando em um disfarce. E nos filmes
antigos de investigação os “detetives secretos” usam sobretu-
do e chapéu nos seus disfarces. Bem discreto!, refletiu ele iro-
nizando quando procurava uma roupa que não chamasse muita
atenção.
Enquanto Isaac curtia tranquilamente o som de Engenheiros
do Hawaii nos seus fones de ouvido, Bernardo mexia impaci-
entemente a perna esquerda e suava muito dentro da camiseta
polo azul celeste que Martinelli o ajudara escolher. ( O diálogo
na escolha da camisa foi mais ou menos assim: Bernardo disse:
O que você acha dessa camisa? / Isaac: Está ótima. Veste lo-
go.)
Bernardo Rivière: Você não acha que ela está demorando?
Isaac Martinelli: Claro que não, você marcou para às
19h:30min. e agora que são 19h:10min., ou seja, contando
com a hora marcada e dando uma tolerância de 30min. de
atraso, você ainda precisará esperar cerca de 50min.
Bernardo Rivière: A hora parece não passar. Vou até aí pa-
ra conversarmos, assim posso me distrair um pouco.
Isaac Martinelli: Nem pensar! Isso poderia estragar todos
os nossos planos. Então nem cogite vir até aqui.
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CAPÍTULO 13
I
naugurada no dia 10 de outubro de 1997, a Zona do
Rock é referência em Ilha do Rio Iolete por ser a
primeira e, até então, a única loja de artigos de rock
da cidade. Nela, é possível encontrar desde pulseiras
e braceletes, até as melhores guitarras que um roqueiro de res-
peito pode ter.
A fachada do estabelecimento contém duas enormes vitrines
onde, do lado direito, ostentam três cobiçadas guitarras: uma
Fender de modelo Strat preta com detalhes prateados, uma
Gibson modelo Les Paul laranja com detalhes brancos que
lembra a lendária guitarra do Slash, e uma Ibanez modelo So-
loist azul marinho com detalhes pretos. Logo atrás das guitarras
estão alguns manequins vestidos com camisetas de bandas,
jaquetas de couro e coletes jeans. Na vitrine do lado esquerdo
contém uma enorme bateria com três tambores, um deles com
pedaleira dupla; vários chimbais, 4 Toms, Surdos, Pratos de
Condução, Pratos de Ataque e etc. Entre as duas vitrines está as
portas de entrada, que também são de vidro. Logo acima das
vitrines está um letreiro de neon azul e vermelho com o nome
ZONA DO ROCK iluminando toda a fachada da loja.
A ideia de abrir uma loja especialmente para atrair e satisfa-
zer pessoas que apreciam um bom rock n’ roll surgiu de Frank
Smith quando ele tinha apenas 20 anos. O ex-guitarrista da
banda Rosa Metálica — que, equivocadamente, muitos acha-
vam que o nome da banda vinha da junção de Pink Floyd com
Metallica devido os integrantes serem grandes fãs das duas
bandas. Porém, era mais simples do que parecia. O nome da
banda veio devido à bicicleta rosa metálica que Frank tinha e
todos os integrantes usavam, principalmente quando era preci-
so buscar todos eles para ensaiar na garagem da casa de Tho-
más Endler, o baterista da banda na época — sempre precisou
se deslocar 270 quilômetros até a capital para comprar seus
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CAPÍTULO 14
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Durante os três dias ele não vira Clarice nem para sequer co-
mentar sobre o que estava achando da obra. Então imaginou
que o melhor a fazer seria terminar de ler todo o livro e avisá-
la, como ela pediu, para que aí sim pudessem comentar.
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les, tirando a miniatura de madeira que seu pai lhe dera e cha-
coalhando na frente dela.
— Quando isso vai acabar? — questionou ela. — Quando?!
Houve um momento de silêncio, então Charles argumentou:
— Eu arrisquei minha vida várias vezes para estar com você
na esperança de que um dia nossos planos se tornassem reali-
dade.
— O que você está me sugerindo é loucura. Não percebe
que é impossível ficarmos juntos? Olha como o mundo está. —
sem querer magoá-lo, ela continuou — Além do mais, fui pro-
metida por meu pai a outro homem.
As palavras cortaram o coração do rapaz como um cristal de
gelo.
— Como assim prometida a outro homem? — o jovem não
conseguia entender o que estava acontecendo, pois jurava que
Evelyn queria muito estar com ele, mesmo sendo preciso arris-
car sua vida. — Você se apaixonou por outro?
— Não! Não é isto. Eu te amo. Mas meu pai descobriu que
mantivemos contato. Fiz a idiotice de não queimar as cartas,
como você pediu. Ele descobriu também que era Tom que me
entregava suas cartas e o matou, dando minha mão a Peter, um
soldado do seu batalhão. — concluiu Evelyn com os olhos na-
vegando em lágrimas. — E minha irmã cometeu suicídio por
causa dele. — caiu em prantos.
Charles ficou em choque após todas aquelas informações e
se sentiu culpado pela morte de Tom. Ele sentou-se na cama
abraçando Evelyn na tentativa de fazê-la parar de chorar.
— Maldito! — gritou Adam, entrando no quarto com uma
arma na mão.
Charles salta para o chão, enquanto Adam tenta acompanha-
lo com a ponta de seu revólver. No momento em que ele ia
disparar, Evelyn pula em seu braço, derrubando a arma perto
do jovem judeu. O rapaz a apanha e aponta para o general.
— Parado! — exclamou Charles. — Ou eu disparo!
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CAPÍTULO 15
O
rapaz chegara cedo à aula de Conceitos da Psicolo-
gia. Sentou-se numa cadeira da frente, como de cos-
tume, e fizera uma varredura discretamente com os
olhos à procura de Clarice. Ele não havia telefonado
para a moça e esperava comentar sobre o livro quando a visse
pessoalmente.
Localizou a garota conversando com uma colega do outro
lado da sala na fila da parede.
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— Combinado.
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CAPÍTULO 16
C
ara, vou chamar a galera toda para comemorar
— meu aniversário hoje à noite no Subway depois
da aula. — afirmou Samuel passando um es-
panador em uma caixa amplificadora.
— Comemorar seu aniversário? Você só completa ano em
novembro, e agora que estamos em junho. — indagou Isaac.
— É, eu sei...
— E por que comemorar faltando... — contou nos dedos —
cinco meses? — olhou para Sam sem entender.
— Lembra quando falei que iria dar um jeito de juntar Thia-
go e Mirelly novamente?
— Lembro sim.
— Então, vamos reunir os AmendoWins para sair e eles irão
resolver a situação esta noite. — disse com um ar de segurança.
— Como tem tanta certeza assim?
— Confie em mim, conheço aqueles dois. — deu uma pis-
cadela para Isaac.
— Já que você diz... só me resta esperar.
— Continue com isso — Greco jogou o espanador para
Martinelli — enquanto mando uma mensagem convidando a
todos.
— Vou convidar Clarice — disse Isaac.
— Tudo bem. Se quiser, pode pedir para ela chamar suas
amigas daquele grupo de jovens que você me falou. — deu
outra piscadela para seu primo.
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—... não sei como te dizer isso de uma forma que não te
deixe em desespero, mas... mas... houve um acidente com
Yasmin. — falou dona Tereza. Ao ouvir aquilo, Martinelli sen-
tiu o sangue esvair de seu corpo, e ele quase deixou o celular
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² Trecho e tradução da música Always, do Bon Jovi.
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CAPÍTULO 17
C
larice deitou-se na cama com os cotovelos afundados
no colchão e a pasta catálogo entre eles. Antes de
abrir, leu o que estava escrito na capa: Um pouco dos
meus sentimentos e pensamentos que consegui expressar
em palavras. De: Isaac Martinelli/ Para: Yasmin Endler
Abriu e começou a ler o primeiro texto que ele havia escrito.
Meus Pensamentos. Logo abaixo estava a data que fora escrito,
para quem fora entregue, e no canto superior esquerdo do rosto
do papel havia a assinatura do rapaz.
Clarice continuou lendo os vários outros textos, seguindo a
ordem em que eles foram escritos até chegar ao último. Aquele
Encontro.
Ao ler aquele último texto, sentiu que havia algo em comum
com o dia que falara com Isaac enquanto esperava Júlia. Po-
rém, como na própria capa da pasta estava descrita, eles tinham
sido escritos para Yasmin.
Leu, releu, analisou, e mesmo assim continuava sentindo
que seria uma grande coincidência alguns detalhes descritos
naquele último texto.
Ficou alguns minutos sentada na cama, tentando imaginar
porque Isaac escreveria para ela e colocaria naquela pasta. Esta
possibilidade parecia estar fora de cogitação, pois não havia o
porquê de ele fazer aquilo.
Pensou em telefonar para Isaac e perguntar se ele escrevera
pensando nela, porém, esta seria uma péssima ideia.
— O que ele iria pensar? Que estou louca por fazer tal per-
gunta ou caidinha por ele.
Precisava pensar em outra maneira de descobrir. Algo que
fosse menos constrangedor.
De repente, uma luz veio à sua mente em um estalo.
— A data! Como não pensei nisso antes?
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CAPÍTULO 18
O
final de semana finalmente havia chegado e a pri-
meira banda já subia ao pequeno palco do Rock
Club para começar o show beneficente naquela noi-
te.
Rock Club é um pequeno clube ao sul da Ilha do Rio Iolete.
Possui capacidade para mil pessoas em um espaço bem acon-
chegante com estrutura simples de apenas uma área retangular,
contendo um bar logo na entrada e um palco com cerca de um
metro de altura ao fundo, coberto por telhas cinza de cimento e
um globo de luz ao centro.
Isaac vestia uma camiseta preta do Nirvana, calças jeans
preta, um bracelete de couro e uma bota marrom da West Co-
ast. Clarice usava um suéter preto, calças jeans branca e um All
Star preto.
Dos AmendoWins, apenas Samuel, Isaac e Estella puderam
ir ao evento, pois Thiago marcara de ir ao cinema com Mirelly
naquela mesma noite e Bernardo tinha toda uma tropa para
comandar online. Entretanto, além dos quatro estava Patrick, o
primo de Estella, reunido com os demais na frente do palco
esperando a banda iniciar.
Martinelli começara a se lembrar do primeiro show de rock
que havia ido com Yasmin. Eles tiveram que viajar 370 quilô-
metros de Bela Vila até à Capital para assistirem a Embrião
Humano, uma banda de hard rock muito conhecida no estado,
arrebentar no palco.
Yasmin era uma grande fã e não poderia ir sem estar vestin-
do sua blusa com o nome da banda estampado na frente e le-
vando o CD na esperança de conseguir alguns autógrafos.
Durante todo o show os dois se mantinham elétricos, gritan-
do, cantando, pulando, batendo cabeça e fazendo tudo o que
tinham direito. Yasmin arrastara Isaac até à frente do palco e
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pedira para que ele a colocasse sobre seus ombros, com a in-
tenção de erguer o CD junto com um pincel para que algum
dos integrantes da banda o autografasse. O garoto fizera o que
ela pedira, colocando-a sobre seus ombros e tirando em cerca
de cinco em cinco minutos para descansar.
Apesar de todo o esforço, nenhum dos integrantes pareceu
notar que havia uma jovem sobre os ombros de um rapaz, er-
guendo um CD e um pincel no meio da multidão. Yasmin fica-
ra um pouco triste por não conseguir nenhum autógrafo, po-
rém, se divertira bastante, não deixando se abalar devido a isso
e não se cansava de repetir que aquele havia sido o melhor
show de sua vida, contando cada detalhe para seus amigos e
para seus pais quando voltara a Bela Vila.
Mesmo Martinelli tendo ficado com dores nas costas e nos
ombros por ter que colocar Yasmin algumas vezes sobre eles e
por também ter ficado com o pescoço doendo de tanto “bater
cabeça”, aquele também havia sido o melhor show de sua vida.
Dois anos depois ele guardara o CD e a blusa de Yasmin em
recordação àquela noite inesquecível.
A primeira banda da noite já estava em cima do palco, pron-
tos para dar inicio àquela noite.
— Quem está a fim de pular muito??!! — perguntou o voca-
lista.
A galera toda, cerca de 300 pessoas, gritou.
Isaac olhou para Clarice e apontou para ela com um sorriso
como se dissesse: “ela está”
O baterista iniciou o compasso batendo uma baqueta na ou-
tra. “tic, tic, tic, tic”. E as guitarras entraram em seguida junto
com o contrabaixo e um grito rasgado do vocalista completou a
agitação.
— Bora endoidar, caralhoooo!! — exclamou Estella pulan-
do na frente dos dois.
Martinelli entrou na animação, colocando o braço esquerdo
sobre o ombro de Estella, o direito sobre o de Clarice e come-
çou a pular, praticamente forçando a moça a pular junto com
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De Repente Um Novo Começo
ele. E foi o que ela fez, passando seu braço esquerdo pelas cos-
tas do rapaz, segurando no ombro esquerdo dele e passado o
outro braço da mesma forma em Samuel, que estava ao seu
lado. Naquele momento todo o grupinho de amigos já estava
pulando juntos.
A noite seguiu assim, entrando banda, saindo banda e toda
galera continuava animada, pulando, sorrindo e se divertindo
bastante com tudo aquilo. Entretanto, Clarice não conseguiu
manter o pique e acabou parando, sendo obrigada a diminuir o
ritmo para manter o fôlego.
— Agora essa vai para todos os casais apaixonados. — fa-
lou o vocalista da última banda que estava se apresentando
naquela noite. — E ela se chama: Always.
Samuel deu uma piscadela para Estella e foi ao seu encontro
puxando-a para dançar.
Martinelli olhou para Clarice com um sorriso e disse:
— Me concede esta dança outra vez? — pediu outra vez in-
clinando-se para frente e estendendo a mão para ela da mesma
forma que fizera na primeira vez.
— Sim. — ela sorriu e fez novamente a mesma reverência.
Patrick ficou entre os dois casais. Olhou para um, depois pa-
ra o outro e ergueu as sobrancelhas e os ombros como se dis-
sesse: “sobrei...”. E saiu à procura de alguém.
Os quatro riram.
— Você se parece com o Patrick. Ou melhor, ele te “lem-
bra” um pouco. — afirmou Clarice enquanto dançavam.
— Você acha? Não acho nada parecido. — riu descontraído.
— Sei lá, algo em vocês parece ser familiar. Porém, não
consigo identificar o que seja.
— Não estou entendendo mais nada.
— Parece ser algo na essência. Quando te vi pela primeira
vez achei você familiar, e com o tempo imaginei que talvez
fosse porque você me lembra o Patrick.
— Você já o conhecia?
— Sim, ele é monitor de Anatomia Aplicada à Enfermagem.
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— Legal.
— Não sei explicar. Algo familiar em vocês me chama a
atenção, mas não sei o que e nem por que. — confessou.
De repente Isaac começou a se lembrar de quando Estella
apresentou Patrick para ele e para Sam. Vocês conhecem o Pa-
trick? Ele é meu primo, cursa enfermagem e é Caprica que
nem você, Caprica Roqueiro, dissera ela. E lembrou-se tam-
bém da vez em que ela dissera sobre signos complementares:
Capricórnio é o signo complementar de câncer, e isso já faz
com que vocês se sintam um atraído pelo outro, e que vocês se
darão muito bem.
— Acho eu que é devido aos nossos signos. — afirmou ele.
— Como? Signos? — perguntou confusa.
— Isso mesmo. Signos. Segundo a Astrologia, capricórnio e
câncer são signos complementares, e isto gera, de certa forma,
uma atração. A Estrela me falou. — explicou.
— Bem interessante, mas, a meu ver, não sei se é algo que
explica a semelhança entre vocês.
— Pode ser uma explicação. Vai de cada um escolher acre-
ditar ou não. — concluiu o rapaz.
— Você acredita?
Ele lembrou-se de quando Estella dissera que, segundo o
Mapa Astral deles, os dois possuem ótimos aspectos favoráveis
para um relacionamento.
— Às vezes sim. — confessou. Ou talvez seja apenas uma
forma de me convencer sobre algumas coisas, pensou.
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CAPÍTULO 19
P
rimão, você ainda tem aquele vídeo que pro-
— duzimos com os nossos melhores momentos?
— perguntou Samuel para Isaac, referindo-se
a um vídeo com vários recortes de manobras
e saltos que mostrava a rotina de treino dos rapazes até chega-
rem ao pódio do Desafio Regional de Motocross de 2015. —
Quero mostra-lo para o Eric. — apontou para o jovem esguio
de cabelos espetados ao seu lado. Ele vestia uma camiseta re-
gata azul e uma bermuda preta.
— Tenho sim. — Isaac já assistira àquele vídeo incontáveis
vezes, pois quando começaram a gravar, Yasmin ainda estava
entre eles e participava dos treinos. Ela também queria docu-
mentar a vitória, caso conseguisse ficar entre os três primeiros.
— E também está disponível no YouTube. — dirigiu-se até o
computador de mesa e digitou: “Campeão do Desafio Regional
de Motocross 2015 em Bela Vila (jornada)” e clicou no pri-
meiro resultado que indicava ter oito minutos. Os dois rapazes
o acompanharam e ficaram um de cada lado de Martinelli, es-
perando o vídeo iniciar.
— Quando foi que você o publicou no YouTube? — inda-
gou Samuel.
— Assim que ficou pronto.
— E você não me disse nada por quê?
Martinelli deu de ombros.
O vídeo iniciava com um close em Isaac, Yasmin e Samuel
lado a lado segurando seus capacetes em baixo do braço es-
querdo e com expressões sérias. Logo em seguida a câmera
focava em Isaac da cintura para cima. Ele vestia sua roupa ver-
de com branco personalizada. Depois a câmera fechava em
Yasmin, que vestia rosa com branco e posteriormente o foco
era dirigido para Sam, que estava de Vermelho e branco.
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CAPÍTULO 20
B
olsas de intercâmbio. Leu Clarice ao abrir sua cai-
xa de e-mails. Prezado aluno, informamos que a
data para a divulgação dos resultados das bolsas
de intercâmbio está prevista para o dia 15 de julho e será pos-
sível conferi-los no nosso site (segue o link).
Após ler a mensagem, a garota coloca o celular de lado e
passa as mãos nos cabelos negros, os deixando escorrer por
entre os dedos. A espera por esses resultados estão me matan-
do, pensou. Em seguida, levantou-se da cama e foi se aprontar
para ir à missa naquele domingo de manhã.
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O som dos sinos ecoou pelo ar, indicando aos fiéis presentes
para que interrompessem suas orações particulares e se unis-
sem a Oração Oficial e Comum da Igreja. Em seguida, todos
ficaram de pé para o Canto de Entrada iniciado pelo coral de
Clarice. As pessoas cantavam e acompanhavam com os olhos a
tranquila caminhada do padre que liderava vários Coroinhas até
o altar. Entretanto, os olhos de Martinelli se mantinham foca-
dos na garota de cabelos negros que cantava à sua frente.
O sacerdote iniciou a Antífona de Entrada lendo um versícu-
lo bíblico e, posteriormente, saudou todos de pé. Após a sauda-
ção, os presentes disseram: “Bendito seja Deus que nos reuniu
no amor de Cristo”.
Por volta de uma hora e meia de muita leitura, cantos e ora-
ções, o padre despede-se dos fiéis dizendo: “ide em paz e que o
Senhor vos acompanhe”. E eles respondem: “Graças a Deus”.
Isaac aproximou-se de Ferrier, que conversava com uma
elegante mulher esbelta que vestia um longo vestido de cor
salmão e aparentava ter cerca de trinta e cinco ou quarenta anos
bem conservados. A garota percebeu sua chegada antes mesmo
de ele estar numa distância adequada para dizer algo, e lhe re-
cebeu com um sorriso simpático.
— Olá, Isaac. — disse ela
— Oi. — respondeu, sorridente.
— Mãe, este é Isaac, o garoto que me levou àquele show
beneficente. — afirmou a moça virando-se para a mulher ao
seu lado.
— Prazer em conhecê-lo, Isaac. Sou Rosy Ferrier. — ela es-
tendeu a mão e o rapaz a cumprimentou.
— Muito prazer. Isaac Martinelli.
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CAPÍTULO 21
I
saac e Samuel estavam passando o som da guitarra e
da bateria quando ouviram alguém batendo no por-
tão de entrada. Como não havia nenhum barulho de
carro antigo, Martinelli já imaginara que seria Clari-
ce. Ele foi até o portão e abriu.
— Perdi alguma coisa? — perguntou a garota, sorridente.
Ela vestia uma saia de seda verde-escura, uma blusa regata
branca e segurava sua bolsa carteira na mão direita.
— Ainda não começamos. Estamos passando o som dos ins-
trumentos e esperando Thiago, Estella e Bernardo chegarem.
— explicou — Entre. — fez um gesto com os braços apontan-
do o caminho.
A garagem onde seria o ensaio estava quase vazia, havendo
apenas as motocicletas e os instrumentos dos rapazes, um sofá
que Isaac colocara especialmente para as garotas se sentarem e,
ao fundo, uma estante de madeira com vários livros e, na últi-
ma prateleira, dois troféus enfeitados por uma medalha cada.
— Aqueles são os troféus do Desafio Regional? — apontou.
— São sim. — confirmou Isaac caminhando em direção a
eles e os tirando da estante. — Esse é o meu — entregou o que
levava seu nome escrito e antecedido pelo número 1º. No seu
topo havia uma miniatura de motocicleta e sobre ela um piloto,
os dois quase na horizontal efetuando uma manobra —, e esse
é o de Sam. — entregou-lhe o outro, que era idêntico ao seu,
porém, com o nome de Samuel antecedido pelo número 3º. —
E estas são as nossas medalhas. — estendeu as duas na altura
dos olhos de Clarice e as sacudiu.
— São lindos. Espero que consigam levar os desse ano tam-
bém.
— Estamos treinando duro para isso.
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muel, que batucava sua bateria. — Sam, vamos tocar uma das
músicas que escrevi enquanto aqueles dois não terminam.
— Ótima, estava mesmo precisando me aquecer. Qual delas
vamos tocar.
— Pode ser Começos e Finais. — disse passando a correia
da guitarra por cima da cabeça e, em seguida, ajustando a altu-
ra do microfone no pedestal. — Pronto. Vamos lá.
— Essa vai para a garota de cabelo roxo mais bonita dessa
garagem. — apontou com a baqueta para Estella e deu uma
piscadela.
— Terei que registrar esse momento. — falou Clarice pu-
xando seu celular de dentro da bolsa e, antes de começar a fil-
mar, disse: — Isaac, se se sair mal, irei te zoar pelo resto de sua
vida. — brincou.
— Guarde bem esse vídeo porque quando formos muito fa-
mosos, ele irá fazer sucesso no nosso documentário com o títu-
lo: O primeiro ensaio da banda... — interrompeu-se — Qual
será o nome da banda mesmo?
— Eu sugiro Legião Rural. — gracejou Thiago.
— Eu sugiro AJ/DJ — disse Bernardo —, Antes de Jesus/
Depois de Jesus.
— Caso você não saiba, AC/DC não significa Antes de
Cristo/ Depois de Cristo. Significa Anti Christ/ Devil’s Chil-
dren. — afirmou Lazzo
— Os dois estão errados — retrucou Greco —, o significado
de AC/DC é Alternating Current/ Direct Current. Tal nome foi
encontrado no motor de uma máquina de costura e os irmãos
Young acharam interessante e sentiram que ele simbolizaria a
energia da banda e o amor deles pela música.
— Mas a questão aqui não é saber o que significa AC/DC
— Isaac interferiu —, e sim escolher um nome original para a
nossa banda e que signifique algo para nós. — virou-se para
Samuel — Sam, você se lembra de como Yasmin ficou empol-
gada com a ideia de continuar com a banda após tocarmos no
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CAPÍTULO 22
O
grupo de jovens católicos chamado Jovens do Futu-
ro foi criado por Clarice, Lourenço, Amália, Mercês
e Agostinho em meados de 2013. Atualmente conta
com mais vinte jovens com idade entre 14 e 23 anos
que estão a serviço da sociedade, principalmente àqueles com
mais necessidades.
Isaac Martinelli chegara cedo e escolhera aleatoriamente
uma cadeira do círculo. Aos poucos, pessoas chegavam em
grupinhos de amigos e se acomodavam no recinto.
— Bom, pessoal, primeiramente boa noite. — começou Cla-
rice. Todos responderam em uníssono. — Antes de começar de
fato, quero-lhes apresentar meu amigo Isaac que está vindo
pela primeira vez. — apontou para o rapaz — Seja bem-vindo,
Isaac.
— Obrigado. — respondeu assentindo com a cabeça.
— Hoje nossa reunião, como sabem, é sobre as visitas ao
Hospital Pediátrico. Discutiremos qual será sua periodicidade,
quais distrações iremos levar para as crianças, e etecetera. —
explicou — Além de irmos vestidos de palhaço, tive uma ideia
de doar alguns livros. Conversei com meus pais e eles acharam
super legal, então resolveram doar um livro infantil para cada
criança. Não é, meus amores? — virou-se para Rosy e Mateus
Ferrier que estavam assistindo à reunião detrás de uma janela
que ficava de frente para Isaac. Os dois sorriram e assentiram
afirmativamente. — Muito obrigada pela ajuda. — agradeceu
aos pais — Alguém tem mais alguma sugestão?
— Aproveitando os livros doados, vocês podem se dividir
em grupos para lerem para as crianças e, por fim, fazerem a
doação. Creio que muitas ainda não tiveram a oportunidade de
aprender a ler. — sugeriu Martinelli.
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— Certo.
Despediram-se e deixaram os jovens conversando a sós.
— Mostrei o vídeo do ensaio da banda para Júlia. Ela amou.
Pediu-me para perguntar se poderia ir a algum qualquer dia
desses.
— Claro que pode. Fico lisonjeado. E, por falar nisso, con-
seguimos encaixar os instrumentos que faltavam nas músicas
que já tínhamos escritas e fizemos outras novas.
— Isso é ótimo! — exclamou.
— Vá ao ensaio amanhã e leve Júlia. Quero que ouçam.
— Com toda certeza iremos.
— Se quiserem, podemos leva-las para o ensaio depois da
aula.
— Então fica combinado para depois da aula. — concluiu.
— Ok. Até lá. — disse Isaac, despedindo-se.
— Até.
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CAPÍTULO 23
S
amuel batucava em seu caderno com uma caneta e
um lápis enquanto o professor de Introdução à Ar-
quitetura ministrava a aula. Faltando dez minutos
para as 18h, Greco conseguiu ouvir com clareza ape-
nas as duas últimas palavras que o professor falara:
— ... até amanhã.
O garoto guardou seus materiais, levantou-se da cadeira
apressadamente e saiu da sala antes de todos os seus colegas.
Caminhou até a entrada do restaurante da faculdade e esperou
um minuto até que seus amigos chegassem.
— Vamos jantar logo, não posso me esquecer da batida que
me veio à mente quando estava na aula. — disse Sam um pou-
co agitado.
Os AmendoWins sentaram-se todos na mesma mesa. Além
deles, estavam naquela mesa Clarice e Júlia. Todos conversa-
vam sobre os mais diversos assuntos enquanto jantavam. Entre-
tanto, Samuel Greco parecia não estar ouvido nada sobre o que
falavam, pois se mantinha concentrado em seu novo batuque.
Sentado na cadeira e com o olhar distante, imaginando-se
diante de uma bateria, o rapaz batia com os indicadores na me-
sa de mármore, fazendo um barulho com a boca a cada batida e
balançando a cabeça, acompanhando o ritmo.
Ao chegar a sua casa, correu para o instrumento, sentou-se
no banco, pegou as baquetas e começou a bater com entusias-
mo. Todos olhavam para ele, ouvindo atenciosamente ao som
sem falarem nenhuma palavra.
Quando terminou, perguntou com um sorriso de orelha a
orelha.
— O que acharam?
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CAPÍTULO 24
Sábado, 1 de julho de 2017
M
au amanhecera e Clarice já havia acordado. Era
de costume para a garota acordar antes das sete
da manhã, porém, ela parecia ter ouvido algum
barulho vindo de fora do quarto que lhe fizera
acordar. Pegou o celular para ver as horas. 6h:15min. Em se-
guida, levantou-se e caminhou em direção ao banheiro do seu
quarto, lavou o rosto e escovou os dentes.
Quando descia as escadas a caminho da cozinha, avistou um
grupo com cerca de quinze pessoas na sala principal. Ao vê-la,
todas gritaram juntas: “surpresa!!”.
Espantada pela visita inesperada àquela hora, Clarice olhou
para suas roupas, ela estava vestindo apenas um baby doll lilás
de cetim e seus cabelos estavam despenteados. Sem falar uma
palavra, a moça apenas subiu de volta as escadas correndo em
direção ao seu quarto.
Cerca de quinze minutos depois a garota volta, agora estava
vestindo um elegante vestido azul-claro de seda, de banho to-
mado e de cabelos penteados.
— De quem foi a brilhante ideia de me fazer uma surpresa
dessas em plena seis e quinze da manhã de um sábado? — in-
quiriu.
— Nossa. — disse Amália apontando para Mercês.
— Pensei que gostassem de mim. — brincou.
Desceu as escadas e abraçou seus colegas do grupo de jo-
vens um a um.
— Preparamos um café da manhã para você com suas comi-
das preferidas. — falou Mercês.
Após o café, passaram a manhã toda conversando e tomando
banho de piscina em sua casa. Como era de se esperar, devido à
insistência dos amigos, Rosy e Mateus Ferrier contaram as his-
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CAPÍTULO 25
Sábado, 15 de julho de 2017
R
ESULTADOS DISPONÍVEIS, foi o que Clarice leu ao
abrir sua caixa de e-mails. Instantaneamente seu
coração disparou e ela clicou na mensagem sem
conseguir manter a ansiedade. Leu o que havia
escrito:
Você já pode visualizar o resultado do exame para bolsas
de intercâmbio no nosso site.
Abaixo seguia um link em anexo. A garota clicou e foi dire-
cionada para o site. Procurou até encontrar “Resultados Inter-
câmbio 2017” e clicou. Um arquivo em formato PDF baixou
automaticamente.
Ao abrir a lista, procurou por Portugal e pela Universidade
de Algarve e, logo em seguida, procurou pelo seu nome.
Não precisou perder tempo procurando, pois havia apenas
três bolsas para a Universidade de Algarve e o seu nome apare-
cera logo em primeiro lugar.
— Consegui!! — gritou ela — Consegui! Consegui!
Desceu as escadas apressadamente e correu em direção aos
seus pais que estavam na cozinha.
— Eu consegui! Eu ganhei a bolsa para fazer intercâmbio
em Portugal!
Mateus e Rosy Ferrier pararam o que estavam fazendo para
darem um forte abraço na garota.
— Nós sabíamos que você iria conseguir. — disse seu pai
beijando-a na testa.
— Parabéns, filha. — Falou Rosy com um largo sorriso no
rosto — Quando suas aulas irão começar?
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— Hoje o meu dia foi bem agitado, estou tão cansada que
talvez seja melhor...
— Nada disso — interrompeu —, você não irá perder o ani-
versário de dezenove anos de sua melhor amiga. Onde está a
consideração? Sem falar que a banda do seu amigo vai tocar
pela primeira vez e também devemos comemorar juntas a sua
conquista. Vamos aproveitar enquanto você ainda está aqui no
Brasil.
— Tem razão. Devo aproveitar cada dia com meus amigos.
— ficou de pé — Passe aqui em casa daqui a quarenta minutos.
— Gostei de ver! — exclamou Júlia do outro lado da linha
— Espere... Quarenta minutos?! — Clarice já havia desligado.
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CAPÍTULO 26
O
dia ainda estava por amanhecer quando Isaac Mar-
tinelli parara em frente a casa de Clarice Ferrier às
quatro e trinta da manhã. Nem precisou descer da
sua motocicleta para chamá-la, pois o barulho do
motor já denunciara sua chegada.
Permaneceu sentado sobre a moto com uma mochila nas
costas e esfregando as mãos para aquecê-las enquanto a moça
destrancava o portão de entrada.
— Bom dia! — disse ela sorridente, caminhando em sua di-
reção, vestindo uma calça jeans preta, botas marrons de camur-
ça que subiam até a metade da perna, uma blusa fina branca de
mangas longas e uma jaqueta jeans desbotada por cima dela.
— Bom dia. — respondeu dando lhe um abraço e entregan-
do-lhe um capacete.
Isaac já se acostumara com o frio matinal e, além do mais,
gostava de senti-lo. Ele vestia apenas sua camiseta de treino
verde com branca, uma calça qualquer e um par All Star.
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— Melhor não...
— Ok. Me desculpa... — balbuciou Martinelli se afastando
— Eu... Eu...
— Tudo bem. — sussurrou ela.
O garoto voltou a deitar-se em seu lugar.
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lado. Aí “cê” pode seguir abeirando nela até achar uma entra-
dinha de terra. Aí “cê” pode seguir ela que vai parar lá no “ri”.
— Muito obrigado, “sinhô”. — Samuel agradeceu imitando
o homem — “Cê” ajudou a gente muito.
O homem assentiu com a cabeça e eles saíram em disparada
seguindo as suas orientações.
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CAPÍTULO 27
E
m seu quarto, Clarice não parava de pensar em Isaac
e na sua mão deslizando por seu corpo. A moça não
conseguira raciocinar direito naquele momento, pois
aquilo parecia tão certo, mas ao mesmo tempo tão
errado.
Martinelli é seu amigo, mas ultimamente ela não conseguia
distinguir o que sentia por ele, pois era um tipo diferente de
sentimento que ela nunca sentira por ninguém. Era uma vonta-
de de estar sempre perto do rapaz, conversando, abraçando...
Quando Isaac a beijava no rosto, fazia com que os pelos de
sua nuca arrepiassem.
Começara a imaginar como seria se estivesse deixado acon-
tecer; como se sentiria estando na presença dele; como ficaria a
amizade dos dois, dentre várias outras coisas.
Sua vontade agora era de ter o poder de voltar no tempo e
deixar rolar para saber o que de fato aconteceria. Caso houves-
se algo desagradável, voltaria novamente no tempo e faria o
que fez: não ter feito.
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CAPÍTULO 28
B
ela Vila é uma pequena cidade que fica há 370
quilômetros da Capital. Com cerca de trinta mil
habitantes, a cidade evolui e cresce de forma lenta,
tendo o seu Marco Zero a igreja matriz, que foi de
onde Bela Vila começou a se expandir, tornando-a geografica-
mente o centro da cidade.
No centro da igreja, e tecnicamente no centro da cidade, ha-
via um caixão de madeira bem envernizado e algumas pessoas
vestindo preto ao redor dele.
Isaac Martinelli preferiu ficar sozinho por alguns minutos
em um banco ao fundo na tentativa de, em algum momento,
poder acordar daquele pesadelo. A ficha não caía, e mais uma
vez ele se perguntava o porquê de tudo aquilo está acontecendo
novamente.
O rapaz puxou um lenço do bolso de dentro do terno e secou
uma lágrima dos olhos inchados e escurecidos pelas olheiras
que surgiram após passar a noite anterior acordado e chorado
sem parar.
Um homem senta ao seu lado e passa o braço por cima dos
seus ombros, dando lhe um abraço acolhedor. Isaac descansa a
cabeça sobre o peito dele e diz:
— Somos tão frágeis. Uma hora estamos cheio de vida, e
um segundo depois já não há mais vida.
— Somos mais fortes e ao mesmo tempo mais frágeis do
que você imagina, filho — disse Miguel Martinelli.
O garoto agarrou-lhe pela cintura, fechou os olhos e aquelas
lembranças vieram à tona em sua mente.
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saído da realidade. Sem saber o que fazer, pôs suas mãos por
cima das de Greco. — Vai ficar tudo bem! Vai ficar tudo bem!
— repetia instintivamente sem ao menos perceber que estava
falando.
Samuel diminuiu aos poucos os movimentos agonizantes até
parar. Seu olhar começara a ficar mais relaxado e perdia o fo-
co, trazendo-lhe uma expressão vazia. Martinelli sentira as
mãos de seu primo perdendo a força.
— Fica comigo, primão! — pedia em gritos de desespero
que cortavam e rasgavam o ar. — Fica comigo, por favor! —
seu rosto já estava coberto de lágrimas que pingavam sobre a
poça de sangue formada no chão e sobre a camisa de Sam em-
papada de vermelho.
O rapaz puxou o celular do bolso e discou o número da
emergência. A cada número teclado, suas digitais eram pinta-
das na tela do aparelho que ficara completamente melado de
sangue do seu primo.
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CAPÍTULO 29
O
ito dias antes das aulas retornarem, Isaac voltara a
Ilha do Rio Iolete a pedido de seu tio Frank. Para o
rapaz não havia o menor problema, pelo contrário,
ao menos agora iria estar mais próximos dos amigos
e poderia finalmente matar a saudade de cada um deles. E foi o
que fez naquela noite, convidou todos para sua casa e passaram
a noite jogando conversa fora.
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CAPÍTULO 30
D
eitada em sua cama, Clarice relembrava das pala-
vras que Isaac lhe disse e daquele beijo que lhe
dera. Seu coração disparara, suas mãos suaram frio
e o tempo pareceu ter parado por alguns segundos.
Foi um tipo de sensação que ela nunca havia sentido antes.
Após o beijo, um sentimento estranho começou a lhe inva-
dir, deixando transparecer seu nervosismo.
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CAPÍTULO 31
I
saac marcara um reunião no Subway com Bernardo e
Thiago para discutirem sobre os assuntos da banda,
que estava desfalcada sem Samuel. Eles precisavam
chegar a alguma conclusão o mais rápido possível,
pois faltava apenas um mês para o show da Embrião Humana.
Martinelli chegara primeiro que seus amigos. Deixou sua
moto estacionada, entrou na lanchonete e sentou-se sozinho em
uma mesa vazia.
Enquanto esperava, refletia sobre falar ou não para Bernardo
e Thiago do seu envolvimento com Clarice que, até então, não
comentara com ninguém.
Contudo, o rapaz não queria criar nenhum tipo de expectati-
va, pois Clarice já estava prestes a partir para Portugal e, de-
pois daquele último dia, a moça parecia evita-lo.
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Explicou tudo o que aconteceu para seu pai e lhe avisou que
retornaria para Bela Vila no dia seguinte pela manhã para par-
ticipar do campeonato.
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CAPÍTULO 32
H
á vinte e cinco anos surgia de um grupo de quinze
rapazes a ideia de criar uma competição anual de
motocross em Bela Vila. Inicialmente, batizaram-
na de Desafio Municipal de Motocross, e, aos
poucos, o evento que não passava de apenas uma diversão en-
tre amigos começou a chamar a atenção de empresários, prin-
cipalmente os do ramo de moto-peças, que aproveitavam o
torneio para divulgar suas marcas. Posteriormente, grandes
empresas nacionalmente conhecidas fizeram o mesmo, divul-
gando seus produtos e premiando os melhores competidores.
Devido ao grande sucesso que se estendeu à várias cidades
vizinhas, atraindo cada vez mais competidores e torcedores
anualmente, o evento passou a se chamar Desafio Regional de
Motocross.
No decorrer dos anos a competição sofreu várias alterações.
Hoje em dia a disputa da Categoria Adulto duzentas e trinta
cilindradas é dividida em três corridas com nove pilotos dife-
rentes em cada uma delas. Os três melhores de cada uma se
classificam para a grande final.
Isaac observava apenas dois nomes: Run, pentacampeão do
desafio, e Tartaruga, que ganhou nos dois últimos anos e era o
favorito a levantar o troféu de campeão deste ano. Por sorte, o
jovem não iria competir com nenhum deles na primeira etapa,
o que lhe dava a chance de poder assistir e analisar cada curva
dos seus adversários.
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Areão era uma parte crítica que levantava muita poeira, o que
dificultava a visibilidade e a respiração.
Em alguns trechos a pista estava um pouco úmida, o que fa-
zia com que os pneus das motos arremessassem lama em quem
viesse atrás. Isaac não tivera esse problema, pois liderou por
trinta minutos até completar todas as voltas e terminar em pri-
meiro colocado.
Martinelli respirou um pouco aliviado. Entretanto, o nervo-
sismo começou a tomar de conta do seu corpo quando assistia a
Run deixando seus adversários para trás com toda facilidade,
os fazendo parecerem iniciantes. Ele dominara todo aquele
percurso, parecendo seguir exatamente o mesmo traçado de
cada volta, como se estivesse calculado cada centímetro e des-
coberto por onde passar suas rodas.
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CAPÍTULO 33
Segunda-feira, 11 de setembro de 2017.
E
m seu quarto, às 2h:37min, Clarice e sua mãe arru-
mavam as malas apressadamente para viajarem. Rosy
encontrara duas passagens para Portugal com sessen-
ta por cento de desconto em uma promoção relâmpa-
go. Ela aproveitou a oportunidade e decidiu compra-las sem
pensar duas vezes, já que faltavam apenas dezenove dias para
que as aulas de sua filha começassem.
A garota não estava muito contente com aquilo, pois teria
que partir às pressas em menos de cinco horas para a capital
naquela manhã e pegaria o voo agendado para às 19h. O pior
de tudo isso é que iria seguir viagem sem ao menos conseguir
avisar aos seus amigos. Mesmo odiando despedidas, ela dese-
java dar um abraço apertado em cada um deles para tentar se
sentir um pouco confortável durante aquele um ano que ficaria
distante de todos.
Clarice pegou o celular e enviou uma mensagem ao grupo
Jovens do Futuro e dos AmendoWins dando-lhes a notícia,
porém, ninguém a visualizara. Em seguida, decidiu telefonar
para Júlia e Lourenço e acordá-los, pois eram os únicos amigos
que moravam quase ao lado e que ela poderia ver antes de par-
tir. Pediu para que fossem à sua casa dar-lhes um abraço e con-
versar um pouco enquanto a ajudava com as malas.
Clarice não parava de pensar no fato de que iria sumir assim
e passar um ano fora, despedindo-se apenas de sua melhor
amiga e Lourenço, deixando para trás tudo que construiu em
Ilha do Rio Iolete. Aquilo lhe deixava angustiada, e a vontade
de desistir da viagem e o medo de ficar sozinha no exterior
apenas crescia.
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CAPÍTULO 34
Segunda-feira, 12h:22min.
I
saac acordou com o toque do seu celular no início
daquela tarde. Sentia seus ouvidos ensurdecidos
devido à festa de comemoração ao Desafio Regional
que ficou até o amanhecer juntos com os outros pilo-
tos. Ele tateou o chão até encontrar o aparelho e percebeu que
não era o toque do despertador, mas sim o de chamadas. Aper-
tou os olhos e fitou o display para ver quem lhe telefonava.
Observou a tela por alguns segundos tentando identificar aque-
le número. Não o reconheceu, porém, atendeu mesmo assim.
— Alô?
— O senhor é o Isaac Martinelli? — perguntou o homem da
voz grave do outro lado da linha.
— Sim, sou eu. — respondeu inclinando-se na cama até fi-
car sentado.
— Senhor Martinelli, eu sou o Walter, delegado de polícia
de Ilha do Rio Iolete. Viemos lhe informar que sua motocicleta
foi encontrada abandonada há quinze quilômetros da ponte
oeste por um morador da região que nos contatou. Você já po-
de vir e retirá-la aqui mesmo na delegacia.
— Ótimo! — exclamou — Maravilha! Irei assim que puder.
Muitíssimo obrigado.
— Por nada. Estamos à disposição. Tenha um bom dia.
— Você também.
Isaac suspirou aliviado com aquela notícia.
Levantou-se e foi correndo contar para seus pais.
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— Sim.
Ficou novamente em silêncio fazendo alguns cálculos men-
talmente.
— Me espere no aeroporto — disse por fim —, irei te dar
um abraço de despedida.
— Mas... Isaac, você... — o rapaz já tinha desligado, pois
não havia tempo a perder com explicações.
13h:32min.
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Sua mãe lhe deu um abraço, o que fez Clarice perceber que
não existe nada mais aconchegante do que um abraço de sua
mãe ou de seu pai. Os seus portos seguros.
A jovem pegou o celular de dentro da bolsa e disse:
— Vamos ver o que está passando na TV.
O jornal local noticiava que uma carreta carregada de sacos
de arroz havia tombado na estrada há dez quilômetros da capi-
tal, bloqueando a passagem dos veículos. A moça sentiu-se
angustiada com aquele noticiário. Trocou de canal, mas ne-
nhum dos outros conectavam. Viam-se apenas chuviscos.
Desligou a TV e abriu o reprodutor de músicas. Pegou os
fones de ouvido de dentro da bolsa e ofereceu um lado à sua
mãe. Ela aceitou.
— Gosto muito dessa música. — disse Clarice — Acredito
que a senhora também irá gostar. — deu play na canção Always
do Bom Jovi. Passou o braço pela cintura de sua mãe em um
meio abraço, fechou os olhos e concentrou-se no que ouvia.
15h:10min.
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EPÍLOGO
Terça-feira, 10 de outubro de 2017.
O
show irá começar em cinco minutos. — disse
— um homem que fazia parte da organização do
evento naquela noite.
— Ok. — Isaac assentiu com a cabeça, sentado no sofá do
camarim com Bernardo, Estella e Thiago e segurando uma blu-
sa preta da Embrião Humano que pertencera à Yasmin.
Sua ex-namorada fizera o que pôde na tentativa de que os
integrantes da banda autografassem aquela blusa quando fora
com Isaac prestigiar um show.
Naquele momento, Martinelli olhava para ela e lia a assina-
tura de cada integrante. Finalmente conseguira o que, para En-
dler, seria um sonho realizado.
Um leve sorriso brotou no rosto do rapaz e ele amarrou a
blusa na cabeça.
O último mês do grupo de amigo foi quase que inteiramente
focado na rotina de ensaios para o show daquela noite.
Estella surpreendera a todos com tamanha dedicação e faci-
lidade de aprender tudo sem precisar repetir duas vezes. Ela se
mantinha sempre muito focada naquele objetivo e não se can-
sava de dizer que fazia aquilo por Samuel.
Faltando poucos minutos para subirem ao palco e fazer jus
de todo o esforço das últimas semanas, era notável que a apre-
ensão tomava conta do ambiente.
Thiago batia levemente com as baquetas em sua própria co-
xa, Bernardo balançava a perna freneticamente, Estella fazia
algum tipo de respiração suave para controlar o nervosismo e
Isaac se mantinha pensativo desde que entrara naquele cama-
rim.
— É hora do show. — disse o homem da organização.
Os jovens se entreolharam.
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