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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS- MG


PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA IBÉRICA

BRUNA SOUSA DINIZ

O DIÁLOGO INTER- RELIGIOSO E CULTURAL PRESENTE EM AL-


ANDALUS: CRISTÃOS, JUDEUS E MUÇULMANOS

Trabalho apresentado à disciplina,


História de Al-Andalus, como parte
dos requisitos para obtenção do título
de Mestre em História Ibérica pela
Universidade Federal de Alfenas. Prof.
Dr. Adaílson José Rui.

ALFENAS / MG

JULHO/ 2019
2

O diálogo inter-religioso e cultural presente em Al- Andalus: cristãos, judeus e


muçulmanos

Prezado aluno (a), nosso objetivo é propagar o legado, a heterogeneidade e o


entrecruzamento cultural e religioso deixado pelos seguidores das três religiões
monoteístas que se estabeleceram em Al- Andalus: cristãos, judeus e muçulmanos.
É válido ressaltar que, para além da questão religiosa, cada grupo era provido por
seus próprios hábitos culturais, sociais e por um cotidiano completamente díspar.
Entretanto, habitando a mesma região, fora inevitável que a identidade dessas populações
se interligasse, de modo que não houvera uma unicidade cultural nesses recônditos.
Diante disso, para facilitar sua compreensão sobre a temática supramencionada,
dividiremos este conteúdo em tópicos que versam sobre: o que foi Al- Andalus; a
coexistência dos grupos religiosos e sociais; e o hibridismo cultural que floresceu a partir
das trocas de conhecimento e vivencia dessas comunidades.
Partindo dessa premissa, o convidamos a embrenhar nesse mundo ibérico único e
fascinante. Prepare-se para conhecer a miscelânea presente em Al- Andalus!

1. Afinal, o que foi Al- Andalus?

Daremos início a empreitada que versa sobre a construção de Al- Andalus,


localidade permeada pela fusão de distintas culturas e cujo nome foi dado pelos
conquistadores árabes para as regiões por eles conquistadas na Península Ibérica, sendo
conhecida, também, por Espanha muçulmana.

Como os muçulmanos
conseguiram adentrar na
Península Ibérica?

Figura 1. Disponível em:


https://www.ppgedmat.ufop.br/images/2018/Produto%20Educacio
nal%20Luan%20Martins%20de%20Oliveira.pdf
3

Grupos islamizados deixaram a Península Arábica e se embrenharam em uma


longa caminhada, conquistando povos e territórios oriundos de outros segmentos
religiosos e étnicos. Esses agrupamentos populacionais não sofreram com a conversão
obrigatória à fé dos novos dominadores. A concepção corânica de não imposição religiosa
criou pacificidade entre as comunidades locais, possibilitando, consequentemente, a
rápida expansão do Islã. Contudo, a política tolerante dos islâmicos respaldava-se na
submissão a Alá1.
Os árabes estreitaram laços com as tribos submetidas e é neste contexto de
alianças ratificadas que grupos berberes arabizados, advindos do norte da África,
adentraram na Península Ibérica em 711 da era cristã, marcando a chegada dos
muçulmanos nessa região.
Esses seguidores do Islão, liderados pelo general omíada Tariq, desolaram o
poderio visigótico2, dando início ao efetivo controle islâmico na Ibéria, que perduraria
cerca de 800 anos.

Batalha de
Guadalete.
Tropas visigodas
contra o exército do
general Tariq.
Momento que
coroou a entrada dos
muçulmanos na
Península Ibérica.

Figura 2. Disponível em:


http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2014/
11/al-andalus-da-conquista-arabe-ao-fim-do.html

Abaixo, a linha do tempo apresenta as transições político-administrativas


ocorridas em Al- Andalus no suceder do domínio muçulmano.

1
A submissão pretendida pelos povos oriundos da fé corânica, baseava-se na aceitação mediante o
pagamento de impostos, a jizya.
2
Os visigodos são povos de origem germânica que habitaram e controlaram a Península Ibérica após a
queda do Império Romano, contudo permaneceram utilizando os costumes e o idioma latino.
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Ano 622 Ano 711 Ano 756 Ano 929 Ano 1031 a
1492
• Chegada a
• Criação região • Surgimento • Surgimento • Taifas. Processo
do Islã Ibérica. do Emirado do Califado de fragmentação
Surgimento
do Valiado

Mas, quais são as


diferenças entre as
divisões político-
administrativas
citadas acima?

Figura 3. Disponível em: https://www.edupics.com/coloring-page-thinking-i10044.html

Valiado (de 711 a 756)

• Gerenciamento do espaço islâmico efetivado pelos “valís”, espécie de


governadores designados para administrar províncias.

Emirado (de 756 a 929)

• Conjunto de valiados administrados por emires, que exercem funções


restritamente administrativas.

Califado (de 929 a 1031)

• O poder máximo e central é executado por um califa, que possui


funções administrativo-religiosas. O designado a este posto supremo era
considerado "sucessor" do profeta Maomé no âmbito terreno.

Taifas (de 1031 a 1492)

• Processo marcado pela fragmentação de Al- Andalus, com o surgimento


de vários reinos muçulmanos independentes.
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Extensão territorial com influência islâmica no ano de 715 da Era Cristã

Figura 4. Disponível em: http://oscuridadmedieval.blogspot.com/

Extensão do domínio islâmico na Península Ibérica – Al-Andalus

Figura 5. Disponível em: http://agrega.juntadeandalucia.es/repositorio/15032016/67/es-


an_2016031512_9134500/gabinete_almeria/pags/interactivo/tercerciclo/historia.html
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Ao atentarmos para a imagem acima, podemos observar a fragmentação territorial


progressiva do poderio árabe na Península Ibérica. Esse movimento de retração da
expansão arabesca deveu-se as investidas dos cristãos nessas localidades, processo
intitulado por Reconquista.

2. A coexistência social e religiosa em Al- Andalus

Bom, agora que você conhece o panorama territorial e o contexto de dominação


árabe na Ibéria, dando origem ao reduto majoritariamente islâmico, Al- Andalus, vamos
nos atentar para as questões de ordem social e religiosa, ao passo que cristãos, judeus e
muçulmanos conviveram nessa região por mais de sete séculos.

No cenário multifacetado que se estabeleceu em Al-Andalus, cabe-nos ponderar


que a apropriação da cultura “do outro” não se apresentou de modo unilateral, visto que
a sociedade ibérica permeou-se por novas maneiras de relacionar, com o entrelaçamento
de matrimônios mistos e com um grande contingente de judeus e cristãos aderindo ao
idioma árabe.

Ser adepto da fé corânica tornou-se parte da identidade ibérica, justamente pelo


caráter tolerante previsto nessa religião. Como vimos anteriormente, o Islã não possuía a
perspectiva de acabar com a cultura e religiosidade alheia. A missão dos submetidos à fé
corânica baseava-se em propagar o reconhecimento de Alá para as populações não
islamizadas. Contudo, havia algumas exceções pela ótica jurídico-religiosa do mundo
islâmico em que se proferiam sanções aos não convertidos, vejamos:

Proferir blasfêmias
contra o nome do
profeta Maomé.
Abdicar da crença
corânica para Exercer o
embrenhar-se em proselitismo
outros seguimentos religioso
religiosos.
A não
observação
destas regras
eram punidas
com a pena
capital
7

Na dimensão de Al-Aldalus, a divisão e estratificação social se fez presente, sendo


observada a separação entre os próprios árabes, ao norte: voltados para as práticas
comerciais e possuíam raízes nômades; e ao sul: sedentários e desempenhavam funções
ligadas à agricultura.

Já os berberes, no que tange ao estrato social, encontravam-se abaixo dos


muladis, árabes e judeus. Leia a reflexão da pesquisadora Adeline Rucquoi (1995), acerca
da condição desses povos inseridos no mundo islâmico ibérico:

(...) desprezados pelos seus conquistadores e, como eles, divididos em


tribos (...). Os Berberes emigraram rapidamente para a península, onde
foram, muitas vezes, relegados para as terras menos férteis: a sul, nas
zonas montanhosas da cordilheira Bética; a norte, na Galiza meridional
e na bacia do Douro, ao longo da fronteira, onde eram numerosas as
terras livres. [...] Os Berberes mantiveram-se contudo, largamente
maioritários entre os novos ocupantes. (RUCQUOI, 1995, p.69)

Enfatizamos, brevemente, o cenário das distinções entre os islamizados norte


africanos e árabes advindos da Península Arábica. Agora, vamos nos ater aos papeis
desempenhados por judeus e cristãos que habitavam Al- Andalus!

2.1 Cristãos em Al- Andalus

Quando da chegada das primeiras levas de muçulmanos na Península Ibérica, os


cristãos detinham suas próprias ordens jurídicas e religiosas. Entretanto, existem
divergências historiográficas quanto ao número de adeptos do Cristianismo que
conviveram em terras dominadas pelos árabes. Alguns estudiosos estimam que nas três
primeiras centúrias de dominação islâmica (séculos VIII-X), a grande concentração
populacional era formada por cristãos. Mas, há correntes investigativas que traçam o
primeiro século da invasão muçulmana como o marco do processo de islamização, pois
acreditam que já no século VIII, uma parcela diminuta de cristãos vivia na região de Al-
Andalus.

Conquanto, mesmo diante de distinções historiográficas quanto ao contingente


populacional de cristãos em áreas de domínio árabe, é necessário enfatizar a lei islâmica
que concedia aos adeptos da fé católica o status de povos protegidos3. Esse estatuto
permitia a prática do Cristianismo em território muçulmano, por intermédio da
composição de uma comunidade cristã constituída, ou seja, sedimentada com uma cúpula

3
As populações protegidas – cristãos e judeus – pelas leis corânicas, eram conhecidos por dhimmis.
8

episcopal. Todavia, a precariedade das organizações católicas em solo muçulmano e o


reduzido agrupamento de autoridades clericais com permissão para conceder os ritos
sacramentais e o batismo, viabilizou o crescente movimento de islamização da região de
Al- Andalus. Ademais, muitos cristãos abandonaram suas crenças religiosas para
adentrarem ao islamismo ibérico, devido a isenção de impostos, as possibilidades de
mobilidade social e aumento de riquezas e, inclusive, por interesse genuíno de guiar-se
pela nova fé.

Esse entrecruzamento da fé, dos costumes e do idioma conduziram grupos cristãos


a uma sequência constante e lenta de arabização, chegando a ser confundidos com a
população islâmica de Al-Andalus.

Mouros

• Designação dada pelos cristãos ibéricos aos árabes muçulmanos.

Muladis
• Nomenclatura dada para cristãos e judeus que se converteram ao Islão.

Moçárabes
• Termo utilizado para designar os cristãos que permaneceram seguindo o
Cristianismo, mas que sofreram interferências culturais dos povos
árabes.

2.2 Judeus em Al- Andalus

A presença dos judeus na Península Ibérica remonta ao século I d.C. Durante o


poderio visigótico, mais precisamente, no ano de 616, durante o reinado de Sisebuto,
ocorreu a primeira conversão forçada dos judeus ao Cristianismo, exacerbando
perseguições a cultura e aos preceitos mosaicos.

Os judeus foram estigmatizados como infiéis, uma ameaça à sociedade visigoda.


Essa mácula, corroborou para que inúmeras sanções de ordem canônica e estatal fossem
legitimadas. Ademais, o escasso interesse do poderio real visigótico em integrar a
população judaica, instigou a marginalidade dessa comunidade.
9

As imposições decaídas aos semitas, sendo condicionados como uma comunidade


de “segunda classe”, criou a amistosidade desse grupo diante da entrada dos muçulmanos
no reduto ibérico, haja vista que os judeus, assim como os cristãos, eram considerados
povos protegidos, podendo assim, cultivar suas raízes religiosas e culturais. Com isso, os
semíticos viram na dominação árabe uma possibilidade de “libertação” ao jugo visigótico.

Sob a domínio árabe emergiu a Idade de Ouro da Cultura Judaica, com o


aumento da contribuição dos judeus em distintas áreas, desde a literatura até o campo das
ciências exatas.

Entretanto, diferentemente dos cristãos que se converteram ao Islão em maior


percentual, os grupos judaicos mantiveram suas bases religiosas e culturais sedimentadas,
preservando-se reclusos, em sua maioria, ao processo de islamização.

Relação social
entre judeu e
muçulmano.

Figura 6. Disponível em:


http://ciudaddelastresculturastoledo.blogspot.com/201
8/09/el-rey-sabio-y-los-judios-el-fuero-real.html

Judeu e
muçulmano
jogando zadrez.
Imagem do
século XIII.

Figura 7. Disponível em:


https://pt.qwerty.wiki/wiki/Social_and_cultural
_exchange_in_Al-Andalus
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3. O intercâmbio cultural presente em Al- Andalus: cristãos, judeus e


muçulmanos

Diferentemente de outras regiões europeias onde as manifestações da fé foram


restritas, em Al- Andalus este cenário mostrou-se multifacetado, criando uma miscelânea
de expressões entre cristãos, judeus e muçulmanos. Podemos apontar algumas
apropriações efetivadas entre esses diferentes grupos:

Sistemas de irrigação
• Adaptação de canais subterrâneos efetivado pelos árabes, com a
finalidade da não evaporação dos recursos hídricos, permitindo o cultivo
de extensas produções agrícolas. Essas construções foram inspiradas em
elementos anteriormente edificados pelos romanos que haviam
estabelecido na região ibérica.

A efervescência multicultural encontra-se presente, inclusive, na arte mudéjar,


desenvolvida entre os séculos XII e XVI, conhecida, também, como arte hispano-
muçulmana. Seus elementos se mesclam ao passo que, artistas muçulmanos eram
contratados para decorar obras financiadas por cristãos.

Cúpula da mesquita de
Córdoba. Tem como
efeito e propósito a
reprodução de um céu
estrelado, envolto por um
véu. Representando a
presença de Deus, sem,
entretanto, evidenciar suas
formas, haja vista que a
representação humanizada
do profeta Maomé e de
Alá são proibidas pelo
Islão. A ideia de
representar Deus por meio
da arte advém de
elementos pertencentes a
cultura cristã.

Figura 8. Disponível em:


https://www.artencordoba.com/en/mosque-
cordoba/location-how-to-get.html
11

Ainda no que tange as expressões arquitetônicas, é possível verificar na Sinagoga


del Tránsito, em Toledo-Espanha, a utilização de elementos muçulmanos nesse templo
judaico.

Sinagoga del
Tránsito em
Toledo.
Construída com
traços da
arquitetura
mudéjar.

Figura 9. Disponível em:


https://yadbeyad.wordpress.com/category/sefara
d/page/15/

Os muçulmanos acreditavam que aderindo ao conhecimento aproximavam-se de


Deus, devido a isso, fizeram inúmeras transcrições textuais científico-filosóficas,
principalmente, do grego para o idioma árabe. Transformaram os conhecimentos
absorvidos em instrumentos para a vida prática. Nesse movimento de desenvolvimento
intelectual, viu-se em Al-Andalus o renascimento das ciências judaicas, fomentada pelos
governantes árabes.

A permanência judaico-islâmica na Península Ibérica pode ser observada através


da escrita ajamiada, que utiliza a fusão da escrita árabe e hebraica como, também, por
meio da inserção de elementos linguísticos advindos da linguagem árabe e hebraica ao
idioma peninsular ibérico.

Caro aluno (a), esperamos que com essa breve explanação você tenha
compreendido mais sobre Al-Andalus e a coexistência entre os distintos grupos
inseridos nessa localidade única da Península Ibérica!
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4. Referências bibliográficas

MACEDO, Cecilia Cintra Cavaleiro de. O Pensamento filosófico judaico em al-


Andalus. Revista Mirabilia, Jun./Dez. 2015.

PALAZZO, Carmen Lícia. Mulçumanos e cristãos em Al Andalus: uma identidade que


transcende o corte entre Oriente e Ocidente. Univ. Hum., Brasília, v. 8, n. 2, p. 1-17,
jul./dez. 2011.

RUCQUOI, Adeline. História Medieval da Península Ibérica. Lisboa: Estampa, 1995.

SANCOVSKY, Renata Rozental. A hermenêutica da conversão obrigatória e seus


impactos identitários. Revista de História Saeculum. João Pessoa, 2014.

____________________________. Entre a Sefarad e Al Andaluz: Coexistências e


Dissensões no Islã Ibérico a partir do século VIII. Revista Brathair, 2017.

SOUZA, Carlos Frederico Barboza de. Islã, culturas e religiões: Um diálogo possível?
Perspectivas históricas acerca da presença islâmica em Al-Andalus. Interações, Belo
Horizonte, v.12, n.22, p. 343-368. Ago./Dez. 2017

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