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CURSO

l c
6 À Espera
do Pão
a Padaria Espiritual
e o Simbolismo
i e Sânzio de Azevedo

t a
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r e
a n
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u e
r
a

Realização
1.
SEGUINDO
AS MIGALHAS
D’O PÃO
Rua Formosa, moça bela a passear/
Palmeira verde e uma Lua a pratear/
Um olho vivo, vivo, vivo a procurar/
Mais uma ideia pro padeiro amassar/
Mais uma ideia pro padeiro amassar.
Ednardo, em “Artigo 26”.

o Ceará sempre houve grê-


mios, literários ou não. Para
não recuar até os Oiteiros
do tempo do governador
Sampaio (1813), basta lem-
brar, nos anos 70 do século
XIX, a Academia Francesa,
mais voltada para a filoso-
fia e a crítica e, nos anos 80,
o Clube Literário, onde se iniciou Antônio
Sales (1868-1940).

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MALACA
CHETAS
“Artigo 26”, composição de Ednardo,
2.
O ORIGINAL
traz várias referências à Padaria
Espiritual. A “Rua Formosa”, endereço PROGRAMA
das sedes da Padaria, o “olho vivo”,
representando o “Olho da Providência”,
DE INSTALAÇÃO
a função de um padeiro que seria oi assim que, depois de pou-
a de “investigador das coisas e das cos dias, Sales voltou com um
gentes”. A “palmeira”, desde os tempos nome: Padaria Espiritual! O
de Gonçalves Dias, exemplo da flora título foi bem recebido, e An-
nativa brasileira. A “ideia para o padeiro tônio Sales encarregou-se de
amassar” e na fornada se transformar redigir não os estatutos, mas
n’O Pão, veículo da agremiação. Daí um Programa de Instalação
também “O padeiro entregando o que, depois de dizer que se
pão” e “O pão na boca é o que te cura” tratava de uma “sociedade de
(nesse caso, da ignorância “que é rapazes de Letras e Artes”, acrescentava,
indigesta para o freguês”). O “Sanhaçu”, no segundo item: “A Padaria Espiritual se
considerada uma ave (também) comporá de um padeiro-mor (presiden-
brasileira, ao mesmo tempo, nome te), de dois forneiros (secretários), de um
de guerra de Antônio de Castro gaveta (tesoureiro), de um guarda-livros,
(Aurélio Sanhaçu), entre outros. na acepção intrínseca da palavra (biblio-
Ouça a música na voz de seu autor. tecário), de um Investigador das Cousas
Acesse: https://www.youtube.com/ e das Gentes, que se chamará – Olho da
watch?v=fyhbVzqaNQY Providência, e demais amassadores (só-
cios). Todos os sócios terão a denomina-
ção geral de padeiros.”
Já em 1891, reuniam-se vários escritores Advirta-se que, na época, “guarda-livros”
no Café Java (um dos quatro quiosques da era o nome que se dava ao contador...
praça do Ferreira), no centro de Fortaleza. E por que “rapazes de Letras e Artes”?
Desse grupo o citado Antônio Sales, o único Porque, além de escritores, como Sales,
que tinha um livro, Versos diversos, publica- Álvaro Martins (1868-1906), Sabino Ba-
do no ano anterior. tista (1868-1899) e muitos outros, havia
Todos lamentavam o fato de a capital ce- um pintor, Luís Sá (1845-1898), e dois mú-
arense ter pequenos grupos, mas nunca mais sicos, os irmãos Henrique Jorge (1872-
surgira grêmio de peso, como os citados. Os 1928) e Carlos Vítor. Adiante anuncia-se
amigos queriam fundar um grêmio, mas Antô- um livro especial com todos os dados so-
nio Sales era contra: “Associações pequenas, bre os padeiros, o que infelizmente não
cheias de retórica, havia muitas.” E concluía: passou de projeto...
“Só se fosse uma coisa nova, original, e mes- Todos os sócios teriam “um nome de
mo um tanto escandalosa, que sacudisse o guerra único”. Assim é que Antônio Sales era
nosso meio e tivesse repercussão lá fora!” “Moacir Jurema”, nome bem cearense, já
Ele, então, que tivera a ideia, que lhe des- que Moacir era o filho de Iracema, a qual era
se o nome e as diretrizes, disseram os amigos. guardiã do segredo da Jurema.

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Voltando ao Programa de Instalação,
BOLACHINHAS anuncia ele dissertações biográficas sobre
“sábios, poetas, artistas e literatos”, sendo
“designados com a precisa antecedência o
Álvaro Martins era irmão de Antônio
dissertador e a vítima”...
Martins, um dos poetas da abolição,
Outro artigo reza: “Haverá um livro em
como vimos no módulo 3.
que se registrará o resultado das fornadas
O paraibano Sabino Batista era marido com o maior laconismo possível.” Esse re-
de Ana Nogueira Batista, poetisa que ferido livro de atas, o autor deste módulo
conhecemos no módulo anterior. considerou desaparecido. Chegou a es-
O desenhista e pintor Luís Sá, membro crever isso e a comentar em programa da
fundador da Padaria Espiritual, seria avô TV. Um dia, porém, José Augusto Bezerra,
do famoso caricaturista, desenhista e então presidente do Instituto do Ceará, re-
quadrinista Luiz Sá (1907-1979), criador cebeu de uma funcionária um livro manus-
dos personagens “Reco-Reco, Bolão e crito que, com sua experiência, concluiu
Azeitona”, estrelas da Tico-Tico, primeira tratar-se de uma raridade: era o livro de
revista dedicada ao público infantil e de atas da Padaria Espiritual, que terminou
quadrinhos do país. sendo publicado. Falemos sobre ele:
O maestro Henrique Jorge, A linguagem das atas é cheia de chistes.
“embaixador da música” na Padaria, Na primeira fornada, por exemplo, depois
seria pai do cronista João Jacques e de de informar que “todos saíram então à rua
Paulo Sarasate (1908-1968), advogado, acompanhados de violinos, flauta e violão”,
redator do jornal O POVO e um dos diz Ulisses Bezerra: “Eu, Frivolino Catavento,
fundadores da revista Maracajá, da qual 1º Forneiro interino, que o digo, é porque o vi.”
falaremos no módulo 7. Em outra ata, escrita por Antônio Sales,
está dito: “A falar francamente, não me lem-
bra do que se passou nesta fornada.”
Só da primeira fase (o grêmio teve duas fa- A ata em que se fala dos 24 anos de
ses), citam-se Ulisses Bezerra (Frivolino Ca- “Moacir Jurema” revela que “Lúcio Jaguar”
tavento), Álvaro Martins (Policarpo Estouro), (nome de guerra de Tibúrcio de Freitas) foi
Henrique Jorge (Sarasate Mirim), Carlos Ví- designado para falar sobre o aniversariante,
tor (Alcino Bandolim), Sabino Batista (Sáti- mas “sentindo alguma dificuldade de arti-
ro Alegrete), Luís Sá (Corrégio del Sarto), Lí- culação começou a molhar a palavra de vez
vio Barreto (Lucas Bizarro), entre outros. em quando, do que resultou ficar dentro em
Estranho é que Raimundo Teófilo de pouco fradescamente adormecido à borda
Moura é “José Marbri”, quando José Maria da mesa, deixando a biografia em meio”.
Brígido, cujo nome se aproxima desse, é Com base em Leonardo Mota, em sua
“Mogar Jandira”. A Padaria Espiritual (1938), o autor destas
Na segunda fase do grêmio, citem-se linhas afirmou várias vezes que Antônio
Antônio Bezerra (André Carnaúba), José Sales fora padeiro-mor interino apenas
Nava (Gil Navarra), Artur Teófilo (Lopo de na inauguração do grêmio e na sua or-
Mendoza) e, entre alguns mais, Cabral de ganização, em 28 de setembro de 1894. A
Alencar (Abdul Assur). leitura das atas, porém, demonstra o que
Fundada em 30 de maio de 1892, a Pada- ninguém havia dito, que “Moacir Jurema”
ria teve 3 sedes na rua Formosa (atual Barão exerceu as funções de padeiro-mor
do Rio Branco), nos números 105, 106 e 11. interino em várias fornadas durante o

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mandato de Jovino Guedes (Venceslau
Tupiniquim) e até em algumas já do tem- BOLACHINHAS
po do segundo padeiro-mor, José Carlos
Júnior (Bruno Jaci).
Interessante é que em Leonardo Mota, no O artigo 7º do Programa de Instalação
citado livro, é transcrito um trecho em que se dizia que “O distintivo da ‘Padaria
diz: “A um gesto expressivo de Moacir Jurema, Espiritual’ será uma haste de trigo
cada qual foi inchando nas apragatas e lendo cruzada de uma pena, distintivo que
as produções seguintes.” Ao ler a ata de 23 de será gravado na respectiva bandeira,
novembro de 1894, porém, o que se vai encon- que terá as cores nacionais.”
trar é isto: “A um gesto expressivo de Moacir Talvez agora o cursista entenda o
cada qual foi inchando nas alpercatas e lendo porquê da inserção desse símbolo,
sucessivamente as produções seguintes.” não na bandeira da Padaria – que
Considerando que Mota jamais iria alterar inclusive nem usou as cores nacionais,
um texto de outrem, e sabendo-se que An- e sim o vermelho –, mas na bateria no
tônio Sales ainda era vivo quando o livro foi centro da ilustração da nossa capa
escrito, chega-se à conclusão de que o poeta colecionadora, envolta pela divisa da
dos Versos diversos fez as modificações... agremiação: “Amor e Trabalho”.
Voltando ao Programa de Instalação, há A inspiração é óbvia: a famosa capa dos
nele este item: “É proibido o uso de palavras Beatles. E o que os Beatles têm a ver
estranhas à língua vernácula, sendo porém com a Padaria? Absolutamente NADA!
permitido o emprego dos neologismos do
Dr. Castro Lopes.”
É que Antônio de Castro Lopes (1827-
1901), médico no Rio de Janeiro, versado em
grego e em latim, tinha horror a galicismos,
anglicismos e barbarismos. Por isso, no seu
livro Neologismos indispensáveis e barba-
rismos dispensáveis (1889), propôs várias
inovações, como nasóculos, em vez de pin-
ce-nez; concião no lugar de meeting; con-
vescote, no lugar de pic-nic etc. Parece que
de suas propostas a mais feliz foi cardápio,
para substituir menu.
Outra passagem do Programa diz: “Os
padeiros são obrigados a comparecer na
fornada – de flor na lapela, qualquer que
seja a flor, com exceção da de chichá.”
Nem todos sabem o que vem a ser a flor
de chichá. O autor deste comentário per-
guntou a sua mãe o que seria isso, e ela, nas-
cida em 1902, respondeu-lhe que se tratava
de uma flor de odor insuportável. A informa-
ção se completou com o nome científico da
planta onde nasce a flor: Sterculia chicha St.
Hil., o que lembra fatalmente esterco.

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Há itens encarecendo o uso do humo-
rismo e a pilhéria de espírito, bem como a
Moderna de São Paulo. Tanto bastou para
que mais de uma pessoa qualificasse de BOLACHINHAS
condenação do plágio. Mas é interessante “modernistas” os componentes da Padaria
este: “É proibido fazer qualquer referência à Espiritual. Na verdade, eles, com sua irreve- Sânzio nos conta que Joaquim
rosa de Malherbe e escrever nas folhas mais rência e seu espírito crítico, prenunciaram Vitoriano (Paulo Kandalaskaia)
ou menos perfumadas dos álbuns.” os novos tempos, mas o que o grêmio trou- “não sendo escritor, nem músico,
Fica claro que a Padaria Espiritual era xe de realmente novo foi o Simbolismo, nem pintor, entrou para o grêmio,
contra os lugares-comuns, os clichês ou como oportunamente veremos. segundo Leonardo Mota, ‘não
chapas, como se dizia. A alusão ao famoso Continuando com o Programa, há um em virtude do cérebro e, sim, do
poema de François Malherbe (1555-1628), já trecho que diz: “Será dada a alcunha – de braço e da coragem de que era
no tempo da fundação do grêmio cearense, medonho – a todo sujeito que atentar pu- dono’ Fazia, assim, o papel de
era recurso bastante surrado para se falar blicamente contra o bom senso e o bom guarda-costas dos ‘padeiros’. [...]
de coisas efêmeras... gosto artísticos.” Morreu assassinado em plena
Reforçando o aspecto bem-humorado e Ao chamar de “medonhos” os que aten- praça do Ferreira.”
irreverente de seu Programa, encontramos tassem contra “o bom senso e o bom gos-
“Aquele que durante uma semana não dis- to”, estavam os padeiros aludindo àqueles
ser uma pilhéria de espírito, pelo menos, pseudoescritores (numerosos ontem como
fica obrigado a pagar no sábado café para hoje), ou seja, aos não preparados ou não
todos os colegas. Quem disser uma pilhéria vocacionados para as letras, mas que
superiormente fina, pode ser dispensado assim mesmo se arvoravam em inte-
da multa da semana seguinte.” lectuais. Os que eles chamavam de
Outro item permitia conservar o cha- “ignaros”, pelo menos, não enten-
péu na cabeça durante as fornadas, “ex- diam de arte literária, mas não ti-
ceto quando se falar em Homero, Shakes- nham a pretensão de ser escritores.
peare, Dante, Hugo, Goethe, Camões e
José de Alencar”, pois neste caso, todos
teriam que se descobrir.
Vemos que, apesar de inovadores, os
padeiros não faziam tábua rasa dos valores
consagrados, o que mostra seriedade ao
lado do espírito de pilhéria.
Vem agora um dos itens mais importan-
tes do Programa: “Será julgada indigna de
publicidade qualquer peça literária em que
se falar de animais ou plantas estranhas à
Fauna e à Flora Brasileira, como – cotovia.
olmeiro, rouxinol, carvalho etc.”
Em 1970, no opúsculo A Padaria Espi-
ritual, o autor deste módulo assinalou a
importância desse artigo do Programa de
Instalação do grêmio, lembrando que esse
espírito nacionalista seria uma das preo-
cupações de Monteiro Lobato e, trinta anos
depois da fundação da Padaria Espiritual,
uma das bandeiras da Semana de Arte

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Curiosa a maneira como pensavam em O certo é que os padeiros cultivavam a A nota humorística reaparece no item que
fazer uma biblioteca: “Trabalhar-se-á por boêmia de espírito, mas se vestiam apura- diz: “Encarregar-se-á um dos padeiros de es-
organizar uma biblioteca, empregando para damente, o que se comprova com os poucos crever uma monografia a respeito do incansá-
isso todos os meios lícitos e ilícitos.” retratos que ficaram do grupo. Sendo assim, vel educador professor Sobreira e suas obras.”
Um item que teve alguma repercussão conclui-se que eles gastavam muito com É que João Gonçalves Dias Sobreira,
foi este: “São considerados desde já inimi- os alfaiates. Polícia é que, segundo ainda nascido no Crato em 1847, publicou um Tra-
gos naturais dos padeiros – os padres, os Pedro Nava, “é polícia mesmo, símbolo odio- tado de pronúncia francesa (1873), uma Geo-
alfaiates e a polícia. Nenhum Padeiro deve so do poder”. Em Leonardo Mota – atenção, grafia especial do Ceará (1887), uma Sim-
perder ocasião de patentear o seu desagra- pesquisadores –, em vez de “os padres” está, plificação da gramática portuguesa, com
do a essa gente.” estranha e incorretamente, “o Clero”. várias edições, e ainda cultivou a música, a
A inimizade aos padres certamente se E, corroborando o cuidado com que os literatura e outros ramos do conhecimento,
originou no anticlericalismo que, com a escritores do grêmio se vestiam, o artigo se- sendo ainda autor, em 1892, de uns Apon-
onda cientificista da segunda metade do guinte diz: “Será registrado o fato de apare- tamentos para a carta topográfica do Cea-
século XIX, se refletia nas letras. Quanto aos cer algum padeiro com colarinho de nitidez rá. Claro que se trata de uma brincadeira,
alfaiates, disse Pedro Nava, em Baú de ossos e alvura contestáveis.” uma vez que os padeiros implicavam com
(1972): “É evidente que a palavra alfaiate aí Depois de um item em que se pune o enciclopedismo do educador. Em 1894,
está em sentido simbólico, como exemplo “com expulsão imediata e sem apelo o pa- no Retrospecto dos feitos do grêmio, “Moa-
de extorsão, que é preciso combater.” deiro que recitar ao piano”, costume que cir Jurema” irá revelar que esse artigo “não
vinha do Romantismo, senão do Arcadis- foi possível levar a cabo porque não houve
mo, fala-se de “um calendário com os meio de adquirir dados precisos sobre a ca-
nomes de todos os grandes homens maleônica pessoa do professor Sobreira”.
mortos”, e alude-se ao “nome do Há um artigo dizendo que a Padaria
santo do dia”. Isso acontecia somen- vai organizar brevemente “um Cancioneiro
te nos primeiros tempos. Houve os popular genuinamente cearense”. Não foi
dias de Camilo Castelo Branco, Émile organizado o cancioneiro, mas o jornal dos
Littré, Sócrates, Castro Alves, Joana padeiros (do qual tratamos a seguir) publi-
d’Arc (ainda não canonizada cou trinta e cinco trovas nos números 33, 34
pela Igreja), Canova, Weber, e 36, coletadas por um Padeiro da segunda
Fídias e Zêuxis. fase, José Carvalho (Cariri Braúna), sendo
“inédita a quase totalidade da contribuição
da Padaria Espiritual aos estudos folclóricos
do Brasil”, como afirmou Leonardo Mota,
com a autoridade de estudioso de nossos
versos populares, no seu citado livro.

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3.
À ESPERA
D’O PÃO...
QUE CHEGOU!
Entre um vendedor d’O Pão e um cego:
– Meu bem, me dê um pão, pelo amor de Deus.
– Qual, você não enxerga, e este
PÃO come-se é pelos olhos...
Moacir Jurema, em O Pão nº 2

nunciado em um dos ar-


tigos do Programa, O Pão
surgiu em 10 de julho de
1892. Sobre o jornal, disse
“Moacir Jurema” no men-
cionado Retrospecto: “De-
vemos confessar aqui: essa
folha era menos o veículo
literário da Padaria do que
uma válvula para a pilhéria
petulante que se fazia lá dentro.”
Saíram seis números em 1892, mas,
por engano, o nº 3 trazia a repetição do nº
2, o que acarretaria engano na numeração
até o número 6, que foi numerado como 5,
em 24 de dezembro.

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MALACA em 3 de janeiro de 1803, e falecido em For-
taleza, no dia 17 de janeiro de 1872, Verdei-
CHETAS xa redigiu na capital da província os jornais
Juiz do Povo, Sete de Setembro, O Coelho e A
Adolfo Caminha (1867-1897), Liberdade, tendo sido deputado provincial,
o “Félix Guanabarino”, autor de sempre metido em lutas políticas.
romances célebres, embora tenha sido Outro item que não foi cumprido dizia:
membro da Padaria Espiritual, teve “Publicar-se-á no começo de cada ano um
pouquíssima participação nela. Chegou almanaque ilustrado do Ceará, contendo
a ser expulso em 1896 após críticas ao indicações úteis e inúteis, primores literá-
seu “oficialismo, sem os ideais de outros rios e anúncios de bacalhau.” O poeta Lívio
tempos”, entre outras, publicadas em Barreto chegou a falar, em carta a Antônio
suas Cartas literárias (1895). Sales, de um poema que desejava enviar
para esse almanaque.
É, no entanto, considerado um
Há o desejo de que o grêmio tenha “cor-
dos principais autores naturalistas
respondentes em todas as capitais dos pa-
da Literatura Cearense e, portanto,
íses civilizados”, mas pelo menos no Brasil
da Brasileira.
teve a Padaria correspondentes ilustres,
como Araripe Júnior, Olavo Bilac e Coelho
Suspensas as edições do seu jornal, Netto, no Rio de Janeiro; Garcia Redondo
passaram os padeiros a escrever n’A Repú- em São Paulo; Augusto de Lima e Raimun-
blica, periódico que nascera da fusão de do Correia em Minas Gerais, e ainda Clóvis
dois outros (Libertador e Estado do Ceará). Beviláqua em Pernambuco.
E O Pão reapareceria somente em 1º de ja- Curioso é este item: “As mulheres, como
neiro de 1895, com o nº 7, já na segunda entes frágeis que são, merecerão todo o
fase do grêmio, da qual ainda falaremos. nosso apoio, excetuadas: as fumistas, as
Com a publicação do nº 30, em 15 de de- freiras e as professoras ignorantes.”
zembro desse ano de 1895, faz-se um hia- Se até os anos vinte do século passado as
to de oito meses, e o nº 31 vai aparecer em mulheres que fumavam eram as femmes fa-
15 de agosto de 1896. Saem mais cinco tales do cinema, imagine-se o que seria isso
números, e o periódico encerra suas ativi- na Fortaleza do fim do século XIX. A alusão
dades com o nº 36, em 31 de outubro. às freiras segue a antipatia que os padeiros
Mas ainda não terminou nosso passeio tinham aos padres. Quanto às professoras ig-
pelo Programa de Instalação. Um item que norantes, nem é preciso comentário algum...
não foi cumprido dizia: “A Padaria trata-
rá de angariar documentos para um livro
contendo as aventuras do célebre e extra-
ordinário Padre Verdeixa.”
O Padre Verdeixa, o qual dizia chamar-
-se Alexandre Francisco Cerbelon Verdeixa,
deu desde muito jovem “provas de completo
desequilíbrio mental, que a idade não modi-
ficou para melhor”, segundo observação do
Barão de Studart, no seu Dicionário biobiblio-
gráfico cearense (1910). Nascido no Crato,

CURSO literatura cearense 89


“Ao cair-vos nas mãos o presente livro
de atas da Padaria Espiritual, afirmaríeis
sem pestanejar que esta benemérita e ori-
ginal associação de rapazes de letras havia
existido até o dia 5 de julho de 1892, data da
última ata inserida neste livro.
“Estais enganada, Posteridade amiga! A

4.
despeito da ausência de atas posteriores a
essa, a Padaria continuou a trabalhar, mui-
to embora não tivesse prédio próprio para
as suas reuniões e estas não assumissem
o caráter de fornadas propriamente ditas.
OS NEFELIBATAS Certo é, porém, que os padeiros conti-
nuaram ligados pelos laços de camarada-
CABEÇAS-CHATAS gem espiritual e – cada qual na sua casa
primeira fase do grêmio, – amassando com o suor do rosto como
que data de 1892, deu ori- do corpo inteiro o pão do espírito – comido
gem a apenas um livro, pelos olhos e digerido pelo cérebro.”
Phantos (1893), de Lopes Esse texto, datado de 27 de setembro
Filho. Houve quem estra- de 1894, fala dos Phantos e de livros que
nhasse esse título, mas tal- vieram depois.
vez haja algum parentesco No dia seguinte, 28 de setembro de 1894,
com “fantasia”... Os outros Antônio Sales reuniu os padeiros restantes
livros da entidade são da e com mais treze membros fez a reorganiza-
sua segunda fase. ção do grêmio. Entre outros, entraram José
O certo é que, não havendo uma só Carlos Júnior (Bruno Jaci), Rodolfo Teófi-
ata relativa ao ano de 1893, o que não é lo (Marcos Serrano), Valdemiro Cavalcanti
referido por Leonardo Mota, encontra-se (Ivan d’Azof), José Carvalho (Cariri Braú-
no livro de atas uma página assinada por na), X. de Castro (Bento Pesqueiro), José
“Moacir Jurema” e intitulada “À Posterida- Nava (Gil Navarra), Artur Teófilo (Lopo de
de”. Nela, entre outras coisas, diz o escritor: Mendoza) e Eduardo Saboia (Brás Tubiba).

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Houve quem achasse que o Centro Li-
terário (fundado com a ajuda dos ex-pa-
deiros Álvaro Martins e Temístocles Macha-
do) era inimigo da Padaria, mas entre seus
fundadores está Jovino Guedes, que fora
padeiro-mor. Também foram do Centro
Literário Rodolfo Teófilo, Almeida Braga,
Antônio Bezerra e até padeiros da primeira
fase, como Ulisses Bezerra e Lopes Filho.
Pelas atas do final de 1894, do ano de
1895 e parte de 1896, sabe-se que as for-
nadas passaram a ocorrer nas casas dos
padeiros, sendo que a última, de 20 de de-
zembro de 1898, ocorreu na casa de Ro-
dolfo Teófilo, estando Antônio Sales, há
muito, no Rio de Janeiro.
Exceto os Phantos (1893), de Lopes
Filho, da primeira fase, todas as demais
obras da Biblioteca da Padaria Espiri-
tual, selo da agremiação, são da segunda
fase: Versos (1894), de Antônio de Castro;
Flocos (1894), de Sabino Batista; Contos
do Ceará (1894), de Eduardo Saboia; Cro-
mos (1895), de X. de Castro; Trovas do Nor-
te (1895), de Antônio Sales; Os Brilhantes
(1895), de Rodolfo Teófilo; Vagas (1896),
de Sabino Batista; Dolentes (1897), de Lí-
vio Barreto; Marinhas (1897), de Antônio de
Castro; Maria Rita (1897), de Rodolfo Teófi-
lo; Perfis sertanejos (1897), de José Carva-
lho; e Violação (1898), de Rodolfo Teófilo.

CURSO literatura cearense 91


Acrescente-se que O Paroara, romance Quanto à importância histórica, aí, sim,
de Rodolfo Teófilo, editado em 1899, mes- o Simbolismo do Ceará, cujos modelos
mo quando já extinta a agremiação, traz a não estão no Paraná nem no Rio de Janei-
indicação “Biblioteca da Padaria Espiritual”. ro, foi influenciado pela escola de Por-
Quanto a estilos de época, ou escolas lite- tugal, não tendo nascido por geração es-
rárias, ao tempo da fundação da Padaria Espi- pontânea, mas sem dúvida não deve nada
ritual havia ainda no Ceará reminiscências do à escola que pontificava no Rio de Janeiro,
Romantismo, presença do Realismo, tanto com origem no Paraná.
na ficção quanto no verso, e anseios ainda Na “Carta-prefácio” dos Phantos, Antô-
vagos de um Parnasianismo que só viriam nio Sales afirma que os versos de Lopes
bem depois. Por fim, o Simbolismo, que é Filho são oriundos de uma psicologia
uma retomada do subjetivismo romântico, mórbida, e observa: “Bem se vê que leste
mas com características próprias, como a sin- Verlaine, Mallarmé, Moréas, Nobre e Eugê-
gular musicalidade, além de notas de misticis- nio de Castro, esses alucinados vates do
mo. É interessante assinalar no Simbolismo fim do século, apóstolos da escola estra-
a quebra deliberada do ritmo habitual, nha do Decadismo...”
principalmente no verso alexandrino (de 12 Decadismo, explique-se, foi a primeira
sílabas), assim como o uso das maiúsculas designação do Simbolismo, juntamente
alegorizadoras e a repetição constante de com Decadentismo e que, com o tempo,
alguns vocábulos ou grupos de palavras. ficaria circunscrita aos aspectos mais profa-
Antônio Sales se dizia parnasiano, mas nos do Simbolismo.
somente depois de sua longa estada no É sintomática, nessa “Carta-prefácio”, a
Rio de Janeiro, onde conviveu com poetas ausência de qualquer alusão a um nome
como Alberto de Oliveira (1857-1937), é sequer de poeta brasileiro, o que demonstra
que chegou a fazer versos dentro dos câno- que em 1893, no Ceará, não haviam reper-
nes da escola de Bilac. cutido ainda os ecos do movimento que
Lopes Filho publicou Phantos, um mês an- havia eclodido na então capital federal.
tes de Broquéis, de Cruz e Sousa (1861-1898), Os simbolistas, com seu tédio e sua apatia,
que juntamente com Missal é marco do Sim- sentiam-se deslocados no seu mundo, e mer-
bolismo no país. O que deve ser assinalado gulhavam dentro de si mesmos, numa atitu-
é o fato de o poeta cearense não se ter espe- de voluntária de insulamento. Em suma: Insulamento
lhado no livro do maior simbolista brasileiro. habitavam o que se convencionou chamar Ato ou efeito de insular
Quanto ao valor dos poetas, claro que não se de “torre de marfim”. No livro Decadentismo e (-se), isolar-se; solidão.
deve comparar, do ponto de vista literário, os Simbolismo na poesia portuguesa (1975), José
poemas de Lopes Filho aos de Cruz e Sousa, Carlos Seabra Pereira estudou bem essas ca-
um dos maiores da literatura brasileira. racterísticas em poetas de sua terra.

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Típico da corrente é, nos Phantos, o so-
neto intitulado “A Álvaro Martins”, em ale- BOLACHINHAS No poema de abertura do seu livro
Dolentes (1897), de publicação póstuma,
xandrinos (versos de doze sílabas): “Credencial” reflete o Simbolismo do po-
eta, não somente pela sua concepção de
Ó Nirvana! Repouso absoluto e completo! Antônio Nobre definia a sua obra
Sonha, Espírito meu, eleva-te às alturas,
arte, mas também por meio das maiúscu-
Só como “o livro mais triste que las alegorizadoras, dos vocábulos litúrgi-
Onde as águias do Céu, no seu mundo dileto,
há em Portugal”. cos (termos ligados à religião), e da repe-
Olham, cheias de horror, as pobres criaturas!
tição em cada estrofe do vocábulo “Arte”.
Ó Ideal do Amor imaterial e casto,
Harmonias dos Sons, combinação da Cor:
De nosso lábio triste e descorado Dirigindo-se à “Arte! suprema, incompará-
Murchou a flor vermelha da Alegria; vel Arte!”, que é “prenhe de luares”, diz o
Encantado País, Mundo mais que este vasto,
E o nosso rir é um rir contrariado, poeta na terceira estrofe:
Ó região que eu sonho! Ó região do Amor!
Sempre amarelo e cheio de Ironia...
Arte do Verso, Arte das harmonias
Poetas! Meus irmãos! Febris adoradores
Vinte anos! Já velhice! Quem diria Vibrantes, doudas, cálidas, inquietas,
Do Luar e do Sol que morre quando desce
Que chegasse (tão cedo) tal estado, Elétrica centelha dos Poetas,
A noite sob o pálio auricolor dos Astros!
Em que é o coração supliciado Que esfolhas rosas sobre as agonias.
De joelhos, irmãos! Rezemos nossa prece! Um claustro cheio de Melancolia!...
Essa Arte, que é “nevada de dolências
Amigos, a rezar! Nós que vamos de rastros
Schopenhauer! Lusbel, tu semeaste meigas”, e a que o poeta chama de “Pulcra
Por este mundo vil de mágoas e negrores...
A dúvida cruel em nossos peitos, santa de beijos dolorosos”, atinge o máximo
Datado de 1892, esse soneto é um aca- E a Fé e o Amor de nós arrebatastes! da sacralização nas estrofes finais:
bado exemplo de poesia decadentis- Vamos, pois, meus amigos, no abandono!
Resta-nos hoje o derradeiro Sono!... Arte, monja de idílica piedade,
ta ou simbolista, com seu sonho de um Que tens, eterna, angélica visão,
- Coveiros! Onde estão os nossos Leitos?
Nirvana, que tanto influiu no Simbolismo No olhar o Angelus nobre do perdão
através da filosofia de Schopenhauer: essa No soneto 13 do Só, única obra de Antô- E a paz augusta da maternidade;
busca de um paraíso, que seria o Nada, nio Nobre, há estes versos: “Ó meus amigos! Arte! Ideal, ó sacrossanto viático!
opõe-se à vida em um mundo que, para Todos nós falhamos... / Nada nos resta. So- Ó Arte! Mater de consolações!
o poeta, é cheio de mágoas e negrores. mos uns perdidos.” Para adiante, acrescen- Com os meus sonhos e amores e ilusões
Notem-se as maiúsculas alegorizado- ta: “Jesus! Jesus! Resignação... Formamos / Fiz-te um missal de Dor! – sou teu fanático!
ras dos substantivos: Espírito, Águias do No Mundo, o claustro-pleno dos Vencidos!”
Céu, Ideal do Amor, Sons, Cor, País, Mun- O final do soneto de Lopes Filho lembra
do, Luar, Sol e Astros, bem como a nota de ainda outro soneto de Nobre, o de nº 18, que
misticismo, na exortação às preces, não diz: “Ai quem me dera entrar nesse convento /
faltando a rima Astros/rastros, quase epi- Que há além da Morte e que se chama A Paz!”
dêmica na vigência do Simbolismo. Ao que se saiba, os poemas de Lopes Fi-
Exemplo da influência do poeta portu- lho figuram apenas em Literatura Cearense
guês Antônio Nobre (1867-1900) em Lopes (1976), do autor deste trabalho, além, natu-
Filho: “Os Vencidos da vida”, de 1893, em ralmente, no perfil biográfico do autor escrito
versos de dez sílabas (decassílabos): por Túlio Monteiro para as Edições Demócri-
to Rocha, em sua coleção Terra Bárbara.
Menos desconhecido, Lívio Barreto
(1870-1895) tem poemas em O Simbolismo
(1959), de Fernando Góes, e até no Pano-
rama do movimento simbolista brasileiro
(1952), de Andrade Muricy, sendo sua po-
esia superior à de Lopes Filho, cuja impor-
tância é mais histórica.

CURSO literatura cearense 93


SABATINA
As seções “Sabatina”, “Malacachetas”,
“Confeitos” e “Bolachinhas” são
homônimas daquelas que deliciavam
os leitores d’O Pão. Nossa homenagem
aos memoráveis padeiros e as suas
fornadas: Amor e Trabalho!

Houve em nossos dias quem pensas-


se que esse “missal de Dor” teria origem
no título de um dos livros de Cruz e Sousa
(Missal, de prosa poética). É bom lembrar,
porém, que Lívio Barreto não precisaria
ler o poeta brasileiro, já que o soneto 1 do
Só, de Antônio Nobre, diz, em seu segundo
quarteto: “E depois, com a mão firme e se-
rena, / Compus este Missal dum torturado.”
Um dos mais belos e originais poemas
dos Dolentes intitula-se “Os Cravos bran-
cos”, e figura no livro de Andrade Muricy.
Sua musicalidade é estranha e o poema
possui algumas irregularidades que não fo-
ram entendidas na época. Datado de março
de 1893, tem o poema sete estrofes, mas a
leitura das duas primeiras, da quinta e da
última dá uma ideia desses versos, um dos
pontos altos do Simbolismo cearense:
Cravos brancos, cravos brancos como o leite,
Que as noivas levam para a Igreja ao ir casar,
Cravos da cor das escumilhas do corpete,
Brancos de espumas atiradas pelo mar.

Cravos brancos invejados pelos goivos,


Cravos brancos que de brancos dão vertigens;
Cravos que são como hálitos de noivos,
Beijos de noivos embaciando mãos de virgens!
............................
Flores dormentes de volúpia e de desejos,
Sempre a sonhar presas aos seios das donzelas,
Amarrotadas pelo fogo de seus beijos
E sempre brancas, sempre puras, sempre belas!
............................
Cravos brancos como as mãos da minha amada,
Quando eu descer à terra fria, n’um caixão,
Desabrochai, brancos soluços d’alvorada,
Ó cravos brancos que plantei no coração.

94 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


Não é possível deixar de ressaltar uma Vindes da noite, vindes da amargura,
afinidade entre Barreto e Nobre: “Ao Can- Desabrochastes sobre a dura frágoa
Do coração ao sol da desventura!
to do lume”, do Só, lembra, principalmen-
te pelo ritmo, a estrofe final de “Os Cravos Vindes de um seio, vindes de uma mágoa
brancos”. Nos versos do poeta português, E não achastes uma urna pura
lê-se: “Faz tanto frio. (Só de a ver, me gela, Para abrigar-vos, frias gotas d’água!
a cama...) / Que frio! Olá, Joseph! Deita Houve dois padeiros que praticaram
mais carvão! / E quando todo se extinguir Simbolismo em prosa: Tibúrcio de Freitas,
na áurea chama, / Eu deitarei (para que quando se transferiu para o Rio de Janeiro,
serve! Já não ama) / Às cinzas frias o meu e Cabral de Alencar, na segunda fase do
pobre coração!” grêmio. Ambos, portanto, já depois da esco-
O poeta chega a empregar mais irregu- la do Rio de Janeiro.
laridades do que o próprio Antônio Nobre, Penso que essa amostra da poesia de
havendo versos de 11 e até de 10 sílabas Lopes Filho e de Lívio Barreto já deu para REFERÊNCIAS
nesse poema, quando a maioria é compos- apresentar o que foi o Simbolismo na Pada-
ta de alexandrinos (12). Alguns não obede-
BIBLIOGRÁFICAS
ria Espiritual.
cem à cesura (ou corte) medial, como estes: AZEVEDO, Sânzio de. A Padaria Espiritual (1892-
“Cravos da cor das escumilhas do corpete / 1898). Fortaleza; UFC, Casa de José de Alencar, 1970.
Brancos de espumas atiradas pelo mar.” CONCLUSÃO ______ . Breve história da Padaria Espiritual.
Isso, sem falar nas rimas imperfeitas (leite/ A Padaria Espiritual foi a mais importante Fortaleza: Edições UFC, 2011.
corpete e vertigens/virgens), muito comuns e original agremiação do Ceará no sécu-
BARRETO, Lívio. Dolentes. 3.ed. Fortaleza:
nos poetas românticos brasileiros. lo XIX, e foi nela que surgiu o Simbolismo Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, 2010.
O poeta Liberato Nogueira, apesar de no nosso estado, não oriundo do grupo do
CAMINHA, Adolfo. Cartas literárias. 2. ed.
elogiar o poeta, afirmou na revista A Janga- Rio de Janeiro, mas bebido diretamente de Fortaleza: UFC Edições, 1999.
da, de novembro de 1909, que Lívio Barreto Portugal, principalmente por intermédio do
JUREMA. Moacir. Retrospecto dos feitos da Padaria
apresentava “alguns defeitos de metrifica- livro Só, de Antônio Nobre. Espiritual. In: AZEVEDO, Sânzio de. Breve história
ção, irregularidade da cesura e deslocação Esse Simbolismo cearense seria contem- da Padaria Espiritual. Fortaleza: Edições UFC, 2011.
do hemistíquio”. Hemistíquio, lembre-se, é porâneo, mas não seguidor da escola do Rio LOPES FILHO. Phantos. Fortaleza: Tip. Moderna, 1893.
o corte medial do verso alexandrino. Isso de Janeiro. Interessante é que chegou a ser,
MOTA, Leonardo. A Padaria Espiritual. 2. ed. UFC,
indica que o crítico, apegado aos tratados no Ceará, anterior ao Parnasianismo, ao Casa de José de Alencar, 1994.
de versificação, não compreendeu as li- contrário do que ocorreu em plano nacional.
MURICY, Andrade. Panorama do movimento
berdades do poeta. simbolista brasileiro. 2. ed. Brasília: INL, 1973.
Prova de que Lívio Barreto dominava
NAVA, Pedro. Baú de ossos. 2. ed. Rio de Janeiro:
totalmente os segredos da metrificação
é o belo soneto “Lágrimas”, talvez o mais FAÇA J. Olympio, 1972.
NOBRE, Antônio. Só. 12. ed. Porto: Tavares
conhecido de seus poemas. Note-se o re-
quinte formal de o poeta fazer repetições de
ACONTECER Martins, 1962.
PEREIRA, José Carlos Seabra. Decadentismo e
palavras no início de cada estrofe. Também Simbolismo na poesia portuguesa. Coimbra:
está no livro de Andrade Muricy: O Programa de Instalação Coimbra Editora, 1975.
Lágrimas tristes, lágrimas doridas, está disponível, na íntegra, entre
PROGRAMA de instalação da Padaria Espiritual.
Podeis rolar desconsoladamente! outras surpresas, na Biblioteca Fortaleza: Tip. D’O Operário, 1892.
Vindes da ruína dolorosa e ardente Virtual do AVA.
Das minhas torres de luar vestidas! SALES, Antônio. Versos diversos. Fortaleza:
Não deixe de, após a leitura do José Lino, 1890.
Órfãs trementes, órfãs desvalidas,
módulo, pegar o seu escafandro e
______ . Poesias. Rio de Janeiro: Garnier, 1902.
Não tenho um seio carinhoso e quente, mergulhar em águas passadas, estas
Frouxel de ninho, cálix rescendente que movem moinhos... de pãos. STUDART, Guilherme. Dicionário biobibliográfico
Onde abrigar-vos, pérolas sentidas. cearense. Fortaleza: Tipolitografia a Vapor, v. 1, 1910.

CURSO literatura cearense 95


AUTOR
Este curso é parte integrante do programa
Circuito de Artes e Juventudes 2019, Pronac nº 190198,
processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a
Sânzio de Azevedo Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.

É licenciado em Letras pela Faculdade de Filosofia FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)


do Ceará e doutor em Letras pela Universidade João Dummar Neto Presidente
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob a orientação André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro
de Afrânio Coutinho. Atuou como revisor do Marcos Tardin Gerente Geral
Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos
jornal Estado de S. Paulo, professor da Faculdade
Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes
de Filosofia e, por 30 anos, exerceu o magistério e Fabrícia Góis Analistas de Projetos
como professor do Departamento de Literatura
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
da UFC, lecionando Literatura Cearense e Teoria Viviane Pereira Gerente Pedagógica
do Verso. É colaborador especial da Enciclopédia Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos
de Literatura Brasileira (2001), dirigida por Afrânio Joel Bruno Designer Educacional
Coutinho e J. Galante de Sousa. É autor de mais de CURSO LITERATURA CEARENSE
vinte obras, sendo a maioria de ensaios, como o Raymundo Netto Coordenador Geral,
referencial Literatura Cearense, A Padaria Espiritual Editorial e Estabelecimento de Texto
e o Simbolismo, Aspectos da Literatura Cearense, Lílian Martins Coordenadora de Conteúdo
Emanuela Fernandes Assistente Editorial
Dez Ensaios da Literatura Cearense, Novos Ensaios
Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico
da Literatura Cearense e Breve História da Padaria Miqueias Mesquita Diagramador
Espiritual. É membro da Cadeira nº 1 da Academia Carlus Campos Ilustrador
Cearense de Letras, cujo patrono é Adolfo Luísa Duavy Produtora
Caminha, do qual é biógrafo. ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-17-6 (Fascículo 6)

ILUSTRADOR
Carlus Campos
Artista gráfico, pintor e gravador, começou
a carreira em 1987 como ilustrador no jornal O POVO.
Na construção do seu trabalho, aborda várias
Todos os direitos desta edição reservados à:
técnicas como: xilogravura, pintura, infogravura, Fundação Demócrito Rocha
aquarelas e desenho. Ilustrou revistas nacionais Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
importantes como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
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