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In: https://istoe.com.br/um-novo-jeito-de-fazer-politica-2/
TRANSPARÊNCIA
Marcelo Issa, 35 anos, advogado, cientista político e coordenador do grupo afirma: “As
legendas são financiadas com o dinheiro público e o processo de prestação de contas é muito
rudimentar”,. O movimento realizou um estudo sobre os cinco maiores partidos do País – e
as descobertas impressionam. Dos R$ 738 milhões disponíveis para o fundo partidário em
2016, 34,8% se concentraram nas mãos das três maiores legendas. A prestação de contas é
enviada ao Tribunal Superior Eleitoral até hoje em papel. Em 2017, o TSE ainda se debruça
sobre documentos de 2011. “Isso precisa estar disponível de forma padronizada na internet”,
diz Issa. Após coletar milhares de assinaturas, o grupo montou uma frente parlamentar pela
transparência partidária, que lançará um ranking das legendas no primeiro semestre de
2018. “As pessoas precisam saber de que forma o dinheiro é usado. A transparência é a
contrapartida mínima que os governantes devem oferecer, já que estão sendo vistos como
os principais atores da corrupção dos últimos anos”, afirma Issa.
Com integrantes ativos em dez estados, eles promovem reuniões temáticas: em setembro,
abordaram a reforma política, em outubro, a reforma da previdência. Voluntários
questionam moradores sobre quais os problemas de cada região e as políticas públicas mais
adequadas. “Com isso, muita gente pode se descobrir politicamente.” O movimento criou,
então, um modelo de seleção prévia para escolher 30 pessoas que desejam se candidatar.
Elas serão apoiadas com visibilidade e formação até antes das campanhas. “Queremos
encontrar cidadãos que queiram se arriscar, afinal o Congresso deve ser o espelho da
sociedade”, afirma Lyra Netto.
RESGATE DA CONFIANÇA
Nessa mesma linha nasceu também o Agora, movimento que busca soluções para temas
como segurança, educação e sustentabilidade. O nome reflete a urgência das mudanças em
um ambiente de efervescência. Os integrantes percorrem diversos estados para fazer as
“blitz Agora”: questionários que tentam mapear os problemas locais para então propor
soluções. “Precisamos de professores, empreendedores e profissionais liberais na política”,
diz André Barrence, 33 anos, membro do grupo. A ideia é não apenas para resgatar a
confiança da sociedade como impedir que política seja um reduto permanente dos mesmos
nomes e grupos de interesse. Essa é também a intenção da Bancada Ativista, criada em
2016. O nome foi escolhido em alusão às bancadas que ocupam as casas legislativas.
“Nosso objetivo é ajudar a eleger ativistas por meio de campanhas colaborativas e
pedagógicas que fujam dos vícios da política atual”, afirmam os criadores da Bancada. O
grupo organiza ações presenciais e digitais para reunir em um mesmo espaço cidadãos
comuns e pessoas que tenham interesse em se tornar candidatos. Também se posicionam
contra o fundão e o distritão e levantam a bandeira das candidaturas independentes de
partidos políticos, mudança que vem sendo analisada pelo Supremo Tribunal Federal.
Ainda que a tecnologia seja o grande diferencial desses novos coletivos para ampliar o
alcance e as formas de exercer a cidadania, nada substitui a troca de ideias em campo.
Desde 2014, a Virada Política vem abrindo espaço para discussões. Trata-se de um evento
que ocorre em dois dias, em novembro, com a participação de dezenas de coletivos. Mais
de 80 grupos estão inscritos para a próxima Virada – e a organização estima que o número
de participantes deva chegar a 5 mil só em São Paulo. O encontro ocorrerá também em
Brasília, Rio de Janeiro e Recife. “A política tem estado mais na boca das pessoas desde
2013, mas isso não quer dizer que o debate tenha se qualificado, por isso o objetivo da
Virada é melhorar a cultura política”, afirma Maísa Diniz, 29 anos, administradora pública e
uma das organizadoras. De caráter didático, o encontro busca tornar as pessoas mais
conscientes de seu poder de participação. Um exemplo é mostrar como a população pode
cobrar ações de vereadores em áreas como saúde, educação e transporte.
Agora, esses movimentos reúnem todos os esforços para tornar o debate mais qualificado
em 2018, mas ainda assim as dificuldades a serem enfrentadas não são poucas. “Será um
período interessante para verificar o posicionamento de cada um deles em um ambiente
extremamente polarizado”, diz Romão, da Unicamp. “O grande desafio, porém, será ir além
do temporário e construir uma atuação contínua.” Na prática, segundo o especialista,
mudanças políticas requerem tempo para se consolidar. Além disso, esses coletivos terão
de enfrentar representantes já bem instalados em suas bases de eleitores e grupos políticos
com recursos econômicos – o que lhes impõe o desafio de ultrapassar a efemeridade. No
que depender dos novos movimentos, disposição e planejamento não vão faltar.
“Precisamos, com urgência, superar a onda de intolerância que vem se intensificando no
País desde 2014”, diz Martins. “E o que os movimentos têm mostrado é que problemas da
democracia só serão resolvidos com mais democracia. A solução para a política é mais
política, e não o contrário.”