CARVALHAL, Tânia Franco. O próprio e o alheio: Ensaios de literatura comparada.
São Leopoldo: Editora Unisinos, 2003.
A obra intitulada ‘O próprio e o alheio’, publicado no ano de 2003 pela editora
Unissinos, se trata de um livro de literatura comparada. Sua autora, Tânia Franco Carvalhal, possui diversas formações voltadas para a área da Linguística, dentre elas está: uma graduação em licenciatura Letras Português-Francês pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, um mestrado em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e um doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo. Atualmente, Tânia é professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atua, principalmente, em áreas como Crítica Literária e Literatura Comparada e Poética.
Assim como descrito na obra, o livro objeto dessa resenha se trata de um
compilado de diversos trabalhados produzidos em tempos distintos, advindos de palestras, aulas e apresentações em congressos, cuja temática central é a Literatura Comparada. Seu objetivo é expor os textos, realizar uma síntese e situar este campo de estudos na atualidade, paralelamente aos aspectos teóricos, abarcando desde caráteres mais gerais até os problemas específicos da prática comparatista.
A estrutura do livro se dá da seguinte forma: além de elementos como capa,
contracapa e sumário, o livro se divide em introdução e 11 capítulos, cujos temas giram em torno do Comparatismo, suas teorias, seu caráter interdisciplinar e global, seus conceitos e suas relações com o mundo. A autora justifica sua relevância para o meio acadêmico, a partir da crescente necessidade de ampliar a bibliografia básica desse campo de estudo, favorecendo acesso a referências e dados de interesse. Tudo isso, por conta da posição de destaque que a LC tem começado a receber no Brasil.
De acordo com a autora, a Literatura Comparada passou a ser considerada,
de fato, um campo de estudos, no último decênio do século XX. Desde esse período, a LC vem passando por diversas mudanças em sua conceituação e gerando várias discussões acerca do seu objeto de estudo. Junto à essas ampliações, houve, também, uma expansão no seu campo de atuação, o que provocou mudanças metodológicas antes dominantes. Desse modo, os estudos voltados para a LC, que antes eram restritos, passaram a se mover por entre várias áreas, trazendo um caráter interdisciplinar para a disciplina.
Ademais, a autora pontua os estudos comparatistas como um conjunto de
relações múltiplas que ultrapassam as fronteiras nacionais, ou seja, ela dá enfoque as relações entre aquilo que é particular (local) e geral (universal), culminando na abstenção de qualquer ideia nacionalista e excludente do que pertence ao Outro. Além disso, a LC precisa dar conta da complexidade que perpassa as relações interliterárias da obra, que exigem do comparatista a orientação por meio de aspectos supra-individuais do texto.
Tânia destaca, ainda, a relação que a LC possui com as fronteiras, espaço de
divisa e de delimitação que demarca diferenças, afirma identidades, origina necessidades de representação, e que estão para além de fronteiras geográficas, históricas e políticas. Todos esses aspectos elucidam a ideia central da disciplina, que consiste na relação partilhada com o Outro, não só em uma dimensão humana de alteridade, mas também textual. Dessa forma, a LC visa propiciar o encontro de culturas e de pessoas, promovendo a troca daquilo que é próprio com aquilo que é do outro, o alheio.
De modo geral, a autora destaca a LC como um campo que se constitui,
sobretudo, partindo do olhar do outro. Ideia contrária àquela que os Franceses possuíam no início dos estudos comparatistas como destacado por Texte (1994). Essa característica acaba por limitar o campo de estudos da área e por reafirmar preconceitos e ideias nacionalistas que nada têm a contribuir para o desenvolvimento da disciplina. Em acordo com Etiemble (1994) destaco que a sociedade humana não pode ser compreendida sem que se pense nas trocas que ocorrem entre os povos, desse modo, a prática comparatista não deve privilegiar uma língua ou um grupo. Para isso, Wellek (1994) rechaça qualquer atitude patriótica em algumas regiões da Europa e a considera como uma das responsáveis pela crise na LC.
Em suma, Tânia Carvalhal elucida diversos aspectos pertinentes a despeito
do campo de estudos da Literatura Comparada, sob um ponto de vista crítico e reflexivo que coloca a disciplina não só como uma área que visa comparar literaturas, mas que, para além disso, contempla aspectos culturais, históricos e políticos. Se trata do outro e do que o outro pode me ensinar e do que eu posso ensinar para o outro por meio da literatura. Nesse sentido, a comparação não se esgota dentro daquilo que é nacional, mas ultrapassa todas os tipos de fronteiras, promovendo trocas que “bebem da fonte” de diversas áreas do conhecimento.
Thalyta de Albuquerque Santos
Discente de (licenciatura) Letras-Inglês Instituto Federal de Brasília (IFB) – Campus Riacho Fundo Referência
COUTINHO, Eduardo F.; CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura
Comparada: Textos fundadores. Rio de Janeiro: Editora Rocco Ltds, 1994.