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neopentecostal
RESUMO
A comunicação é a ferramenta mais eficaz do jogo político. A comunicação midiática
associada à legitimação sagrada aumenta exponencialmente a possibilidade de vitória.
O pleito eleitoral brasileiro demonstrou que o discurso religioso de legitimação de um
candidato, associado à demonização do candidato oposto, obteve resposta positiva
nas urnas. Esse artigo tem por objetivo analisar as questões ligadas à utilização
ideológica da violência simbólica no discurso religioso neopentecostal e sua influência
legitimadora sobre o eleitor neopentecostal. A metodologia empregada consiste na
análise da assimilação pentecostal à cultura do consumo e cultura midiática, o que
culmina no movimento Neopentecostal. Em seguida analisamos a utilização do discurso
religioso Neopentecostal como recurso de articulação e agregação política na
campanha presidencial do ano de 2018. Nesses discursos, através da utilização da
violência simbólica, as esquerdas foram associadas à maldade, corrupção, deterioração
moral, comunismo e marxismo cultural, enquanto a direita assumiu o lado do bem, da
família, de Deus, da moral e da renovação política. Desse modo, os resultados obtidos
no artigo apontam para a utilização do discurso religioso legitimador como ferramenta
principal no processo de passagem da vinculação religiosa para a confiança e adesão
política ao candidato que atendeu os interesses do segmento neopentecostal. A
caracterização dos eleitores de esquerda como esquerdopatas e petralhas, e a
associação dos seus candidatos ao ateísmo/satanismo, por exemplo, foram alguns dos
elementos de violência simbólica utilizados.
Introdução
A comunicação é uma das ferramentas mais importantes do jogo político. A
comunicação midiática e das redes sociais mais ainda. Somando-se a elas a
legitimação religiosa, a possibilidade de vencer o jogo político cresce
exponencialmente. O último pleito eleitoral brasileiro demonstrou que o discurso
religioso de legitimação de um candidato, associado à demonização de outros
candidatos, obteve uma resposta positiva nas urnas. Determinadas vertentes religiosas
estabeleceram discursos maniqueístas como elementos de articulação e agregação
política. Nesses discursos as esquerdas foram associadas à maldade, corrupção,
1
Doutorando e mestre em Ciências da Religião pela PUC Minas. Graduado Em Teologia pelo Centro
Universitário Metodista Izabela Hendrix. Pesquisa realizada com o financiamento da CAPES, sob a orientação
do prof. Dr. Flávio Augusto Senra Ribeiro. sgmaurilio@gmail.com
Um espectro no horizonte
São inegáveis as contribuições advindas das religiões. Especificamente em relação ao
cristianismo podemos elencar contribuições nas áreas humanísticas, culturais,
existenciais, sociais e até científicas. No entanto, deve-se considerar que as religiões
foram apropriadas indevidamente como dossel a serviço de interesses diversos, por
vezes escusos. O flagelo dessa apropriação resultou em guerras, mortes, intolerâncias,
discriminações, domínio, espoliação e outras formas de violência.
A polarização da religião, a laicidade promovida pela secularização e os avanços da
humanidade nos campos filosóficos, científicos, culturais, sociais e humanísticos
somaram esforços no sentido de reduzir os efeitos colaterais da religião. Apesar disso
“nos últimos anos, a violência de carácter religioso voltou a perturbar os espíritos
[sic]” (PINTO, 2009, p. 9).
Peter Berger foi um dos principais promoters da teoria da secularização na década de
60. Porém, no final da década de 90 ele retrocedeu e apontou o fracasso de sua
teorização do pensamento weberiano de extinção da religião. Em seu artigo
denominado A dessecularização do mundo: uma visão global, Berger (2001) aponta o
crescimento exponencial de surtos fundamentalistas religiosos como prova do fracasso
da secularização. A religião demonstrou ter a capacidade de se adaptar à
modernidade, e o processo de secularização promoveu apenas sua polarização ou o
deslocamento da religião para o âmbito do privado (PIERUCCI, 1998), bem como uma
recomposição e reorganização de sua estrutura, o que promoveu uma espécie de
bricolagem das crenças (HERVIEU-LÉGER, 2008), porém, sem a capacidade de extingui-
la.
Na história da humanidade a religião demonstrou ser um importante elemento
fundante de culturas, insumo de normas, valores, comportamentos individuais e sociais.
Ela é a instituição social que possui a maior abrangência e influência na socialização,
(Neo) Pentecostalismo
Em sua análise do panorama religioso mundial, Peter Berger afirma que os “surtos
religiosos” (BERGER, 2001, p. 14) de caráter sobrenaturalista tiveram o melhor
desempenho e crescimento no cenário mundial2. Dentre esses surtos, o
Neopentecostalismo é o segmento de maior crescimento e visibilidade no cenário
religioso nacional e responsável pelo avanço do número de evangélicos no Brasil.
O movimento pentecostal surgiu no início do século XX nos Estados Unidos através
da pregação e dos estudos bíblicos de Willian H. Durham sobre a temática dos dons
do Espírito. Mas foi o pregador Willian Seymour, um de seus discípulos, que criou o
movimento de renovação pentecostal na Rua Azuza, na cidade de Los Angeles,
denominado como Missão da Fé Apostólica (ROMEIRO, 2005).
O pentecostalismo aportou no Brasil através da ação de missionários europeus que
frequentavam a Igreja da Rua Azuza. A capacidade em absorver aspectos da cultura
local e de oferecer solução para os problemas das comunidades fez com que o
pentecostalismo fosse aceito nas camadas mais pobres da população e florescesse no
território nacional (TROMBETTA, 2015). Com o tempo e as pressões da modernidade o
movimento pentecostal passou por desdobramentos históricos que alteraram sua
estrutura inicial. Desse modo, pode-se afirmar que o movimento neopentecostal é
resultante dessas alterações históricas do pentecostalismo (MARIANO, 2014). Mudanças
de ordem estrutural, teológica, axial e ascética, surgiram em virtude do caráter
maleável que o movimento demonstrou diante das pressões da modernidade.
De acordo com Ari Pedro Oro (1992), as igrejas neopentecostais 3 se distinguiram do
pentecostalismo e do evangelicalismo ao desenvolverem as seguintes características: 1)
elas são autóctones; 2) possuem lideranças fortes; 3) falta de inclinação ao
ecumenismo; 4) oposição aos cultos afro-brasileiros; 5) estimulação da expressividade
emocional; 6) utilização dos meios de comunicação em massa; 6) ênfase nos rituais
de cura e exorcismo; 7) estrutura empresarial; 8) utilização de técnicas de marketing
e; 9) fornecimento de serviços e bens simbólicos através de pagamento. A esses
pontos pode-se acrescentar a ênfase na fé, nos dízimos e ofertas, na prosperidade
financeira e na prática verbal da confissão positiva, que é o dogma central da
teologia da prosperidade.
2
Berger fez essa consideração em 1999 e posteriormente os dados dos censos de 2000 e 2010
comprovaram a veracidade dessa afirmação no Brasil.
3
É necessário dizer que não há igrejas que se autodenominem neopentecostais, ou que agreguem o termo
aos seus nomes. Trata-se de um termo pejorativo surgido inicialmente nos Estados Unidos e utilizado no
Brasil para designar igrejas ligadas a teologia da prosperidade.
Conclusão
O Neopentecostalismo, como os demais movimentos religiosos, não pode ser reduzido a
resultante histórico da secularização, globalização, derrocada do comunismo, lógica de
mercado e da sociedade de informação e de tecnologia. Novos sentidos religiosos surgem
de necessidades e sentidos humanos. É importante considerar o fato de que as religiões
possuem determinado traço de violência, além do fato de que a violência apresenta-se
historicamente como elemento constitutivo do ser humano e estruturante da história, das
sociedades, instituições e grupos (MURAD, 2006). Nas relações sociais é necessária a
compreensão de que cultura e religião são fenômenos que se correspondem. Alterações na
cultura promovem mudanças no sentido religioso e vice-versa. A religião é uma construção
social (BERGER, 2012), e como tal, pressupõe a interiorização e a exteriorização, ou seja, ela
tanto recebe como fornece sentido. O indivíduo, por sua vez, não está condicionado
fatalmente aos discursos religiosos. Ele possui a capacidade de transcender sua condição.
Também não se pode lançar a culpa sobre os ombros da mídia e dos demais meios de
informação. Os meios de mídia são apenas ferramentas que respondem aos interesses de
quem as utiliza. Assim como o discurso religioso é instrumentalizado para atender
interesses que se distanciam da velha noção de que a religião existe para religar o ser
humano a Deus.
Referências
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<http://www.uel.br/laboratorios/religiosidade/pages/arquivos/dessecularizacaoLERR.pdf>.
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