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Hipertensão e Nutrição

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Nut
ão e
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Hipe

Revista Hipertensão
Volume 18 - Número 3
Julho / Setembro 2015

Editora
Maria Cláudia Irigoyen
Editora Convidada
Márcia Regina Simas T. Klein
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H
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Sebastião R. Ferreira Filho

i
Editorial
37
Índice
Artigo 1

Redução de sódio em alimentos processados


e ultraprocessados: impactos na produção de
alimentos e na saúde pública
38
Artigo 2

Papel da microbiota gastrointestinal sobre a


hipertensão e o impacto da modulação dietética
46
Artigo 3

Papel do nitrato dietético na hipertensão arterial


54
Artigo 4

Vitamina D e hipertensão arterial. O que há de novo?


64
Artigo 5

Ácidos graxos ômega-3 e hipertensão arterial


sistêmica: Evidências científicas baseadas em
ensaios clínicos controlados
73

EXPEDIENTE
Revista HIPERTENSÃO
Órgão de divulgação científica da Sociedade Brasileira de Hipertensão
Publicação trimestral. ISSN 1809-4260

ii
Editorial
Evidências consistentes indicam que modificações na ingestão alimentar
podem auxiliar tanto na prevenção quanto no tratamento da hipertensão
arterial. As principais alterações dietéticas recomendadas para reduzir a
pressão arterial incluem redução na ingestão de sódio, perda ponderal
(entre os indivíduos com sobrepeso ou obesidade), moderação no consu-
mo de álcool (entre aqueles que ingerem bebida alcoólica), aumento na
ingestão de potássio e adoção de um padrão alimentar saudável como o
da dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension). A dieta DASH
enfatiza o consumo de frutas, hortaliças, cereais integrais, laticínios com
baixo teor de gordura, leguminosas e frutas oleaginosas, além de preco-
nizar a redução na ingestão de alguns alimentos como a carne vermelha,
doces e bebidas com açúcar. Outros fatores relacionados com a alimen-
tação tem a possibilidade de interferir na pressão arterial e seus efeitos
têm sido alvo de pesquisas recentes, visando ampliar o conhecimento
científico sobre a complexa relação entre ingestão alimentar e controle
da pressão arterial. Neste número da revista HIPERTENSÃO, dedicado
à nutrição, os leitores encontrarão cinco revisões da literatura abordan-
do temas emergentes, como o nitrato dietético, a vitamina D, a microbio-
ta intestinal, os ácidos graxos ômega 3 e o teor de sódio nos alimentos
processados e ultraprocessados. Agradeço à Prof.ª Dr.ª Maria Claudia
­Costa ­Irigoyen por destinar um número da revista HIPERTENSÃO exclu-
sivamente para a abordagem nutricional e pelo convite para ser a editora
convidada. Meus sinceros agradecimentos aos autores que contribuíram
com seus valiosos conhecimentos e grande dedicação, tornando possível
a construção deste número da Revista.

Boa leitura!

Prof.a Dr.a Márcia Regina Simas T. Klein


Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Editora convidada

37
Artigo 1

Redução de sódio em alimentos processados


e ultraprocessados: impactos na produção de
alimentos e na saúde pública
Sodium reduction in processed foods​​:
impacts on food production and public health

Lucia Gomes Rodrigues


Departamento de Nutrição em Saúde Pública, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
Anderson Junger Teodoro
Núcleo de Bioquímica Nutricional, Laboratório de Alimentos Funcionais e Biotecnologia, Departamento
de Ciência dos Alimentos, UNIRIO – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

Resumo Abstract
O sódio tem papel fundamental na saúde e na produção Sodium plays an important role in health and
dos alimentos processados e ultraprocessados. in the production of processed foods​​. The high
O elevado consumo de sódio em muitos países sodium intake in many countries makes it
torna necessária a diminuição de sua ingestão necessary to decrease their intake due to public
devido a problemas de saúde pública. A construção health problems. The construction of strategies
de estratégias para a redução do teor de sódio em for the reduction of sodium in processed foods​​
alimentos processados e ultraprocessados faz parte is part of a series of initiatives to reduce the
de um conjunto de iniciativas para diminuir o consumo consumption of this nutrient in Brazil by
desse nutriente no Brasil até 2020. Nesse processo, 2020. In this process, a central action is the
uma ação central é o pacto entre o governo e a partnership between government and food
indústria de alimentos, através de metas para redução industry, through targets for voluntary, gradual
voluntária, gradual e sustentável dos teores máximos and sustainable reduction of the maximum
de sódio nos alimentos industrializados. Este artigo levels of sodium in processed foods. This article
apresenta a experiência brasileira na construção e presents the Brazilian experience in building
implementação de medidas para a redução do sódio and implementing measures to reduce the
nos alimentos processados e ultraprocessados e o sodium in processed ​​foods and these impacts
impacto desta redução na saúde pública. in public health.

Palavras-chave Keywords
sódio; alimentos industrializados; doença crônica; sodium; industrialized foods; chronic disease;
saúde pública. public health.

Endereço para correspondência: Anderson Junger Teodoro – Avenida Pasteur, 296 – CEP: 24220-240 –
Rio de Janeiro (RJ), Brasil – E-mail: atteodoro@gmail.com
Fonte de financiamento: nenhuma.

38
Introdução urinária de 24 horas. Com esta dosagem,
tem-se um valor mais próximo do real
Atualmente, a quantidade de sal consumi- consumo de sódio4. Mas estes dados são
da no Brasil, por pessoa, chega a ultrapas- de difícil coleta populacional e devem ser
sar 12 g/dia1. Os últimos dados da Pesqui- analisados em conjunto com os dados ali-
sa de Orçamento Familiar demonstraram mentares do período de coleta da urina
uma inadequação no consumo de sódio (recordatório das 24 horas), contribuindo
pela população. A disponibilidade domici- assim, com informações sobre as diver-
liar de sódio no Brasil foi de 4,7 g/pessoa/dia sas fontes de sódio da alimentação.
(2.000 kcal)2 correspondendo ao dobro da
quantidade máxima recomendada pela Sódio na saúde humana
Organização Mundial da Saúde (OMS) de
2 g/dia (5 g de cloreto de sódio)3. O elevado consumo de sódio advindo do
sal dietético e de produtos processados e
A maior contribuição nesta elevada inges- ultraprocessados, aliado ao crescimento
tão de sódio (75%) vem do sal de adição e exponencial da prevalência do excesso de
temperos industrializados. Somado a isto, peso e obesidade na população brasileira,
o consumo de alimentos processados e ul- em todas as faixas etárias, favorece o sur-
traprocessados contribuiu entre 12 a 30%, gimento e agravamento dos quadros de
dependendo da faixa etária e renda2. hipertensão arterial sistêmica (HAS), dis-
lipidemias, doenças cardiovasculares, in-
No Brasil, o Ministério da Saúde tem co- tolerância à glicose, câncer de estômago,
ordenado estratégias nacionais com vis- osteoporose, litíase renal e até mesmo de
tas à redução do consumo de sódio, com tireoidites autoimunes, devido ao consumo
ações articuladas a planos setoriais como excessivo de sal iodado, dentre outras6.
o Plano Nacional de Saúde (2012–2015)
e o Plano  de Ações Estratégicas para o O consumo excessivo de sal contribui com
Enfrentamento das Doenças Crônicas cerca de 30% na elevação da pressão ar-
­Não-Transmissíveis no Brasil (2011–2022). terial (PA) e o restante é atribuído a ge-
As estratégias de redução do consumo nética e excesso de peso, dentre outros
de sódio no Brasil têm como eixos princi- fatores7. O excesso de gordura corporal se
pais a promoção da alimentação saudável destaca por si só, pois gera um quadro de
(incluindo a redução do consumo de sal); hiperinsulinemia que leva a um aumento
ações educativas nos diversos setores da do ritmo cardíaco, da ativação adrenérgica
sociedade (escolas, profissionais de saúde, e da retenção de água e diminui a produ-
manipuladores de alimentos, dentre outros) ção de óxido nítrico, potente vasodilatador,
e reformulação da composição dos alimen- levando a um aumento da pressão arte-
tos processados e ultraprocessados5. rial8. O aumento da secreção de angioten-
sinogênio também contribui para este au-
Os dados de consumo populacional, na mento da pressão arterial (PA), e isso se
sua maioria, estão subestimados em vir- deve ao excesso de massa adiposa e do
tude da grande discrepância entre o in- aumento na produção de ácidos graxos li-
quérito de consumo alimentar de sódio vres circulantes9. Além do mais, indivíduos
e o sódio urinário. É observado que os obesos apresentam um consumo calórico
pacientes tendem a subestimar o seu total aumentado e, por conseguinte, de
consumo em até 50%. O método ideal na sódio, potencializando a elevação na pres-
avaliação do consumo de sódio deve ser, são arterial, um dos principais fatores de
sempre que possível, pela sua excreção risco para doenças cardiovasculares.

39
O alto consumo de sódio também contri- grande densidade energética, com altos
buiu para um elevado consumo de iodo o teores de açúcar e gorduras saturadas,
que poderá potencializar os efeitos adver- ou excessivamente salgados12.
sos da obesidade. Isto se deve à relação
existente entre o metabolismo lipídico e o O Guia Alimentar da População Brasilei-
metabolismo do iodo, pois baixos níveis ra define esses alimentos como proces-
dos hormônios tireoidianos podem inibir a sados e ultraprocessados. Os alimentos
expressão do receptor de LDL-c, levando processados são produtos relativamente
a um aumento dos seus níveis séricos. simples e antigos fabricados essencial-
Além disso, o iodo tem uma participação mente com a adição de sal ou açúcar a um
importante na redução dos radicais livres, alimento in natura ou minimamente pro-
por ser doador de elétrons na presença cessado. As técnicas de processamento
de peróxido de hidrogênio e alguns áci- desses produtos se assemelham a técni-
dos graxos polinsaturados10. cas culinárias, podendo incluir cozimento,
secagem, fermentação, acondicionamen-
A HAS e as doenças cardiovasculares es- to dos alimentos em latas ou vidros e uso
tão entre as principais causas de morbi- de métodos de preservação como salga,
-mortalidade no Brasil e no mundo e uma salmoura, cura e defumação13.
intervenção focada somente na redução
do consumo de sal para 3 g diários pode Por outro lado, os alimentos ultrapro-
impactar numa redução do número de ca- cessados são formulações industriais
sos de acidente vascular cerebral (43%) e feitas inteiramente ou majoritariamente
infarto agudo do miocárdio (14%)11. de substâncias extraídas de alimentos,
derivadas de constituintes de alimentos
Diante do quadro acima exposto, se faz ou sintetizadas em laboratório com base
premente o monitoramento da ingestão em matérias orgânicas como petróleo e
de sal e, por conseguinte, de iodo, em carvão (corantes, aromatizantes, realça-
toda a população, independente de faixa dores de sabor e vários tipos de aditivos
etária. O estabelecimento de políticas pú- usados para valorizar os produtos de pro-
blicas no que tange ao consumo de sal e priedades sensoriais atraentes). As prin-
iodo pode contribuir na prevenção de do- cipais técnicas de manufatura incluem ex-
enças crônicas não transmissíveis. trusão, moldagem, e pré-processamento
por fritura ou cozimento13.
Sódio na produção de
É comum que ambos os produtos, mas em
alimentos processados e especial os ultraprocessados, apresentem
ultraprocessados alto teor de sódio, por conta da adição de
grandes quantidades de sal, necessárias
Desde a década de 90, grandes mudan- para estender a duração dos produtos, in-
ças vêm ocorrendo no estilo de vida das tensificar sabor, ou mesmo para encobrir
pessoas, sobretudo nos hábitos alimen- sabores indesejáveis oriundos de aditivos
tares, nos níveis de atividade física e no ou de substâncias geradas pelas técnicas
uso do cigarro. Esta nova rotina é fruto envolvidas no ultraprocessamento13.
dos processos de industrialização, urba-
nização, desenvolvimento econômico e O sal exerce importante papel na história
crescente globalização do mercado de da culinária, sendo utilizado em alimentos
alimentos. No mundo inteiro, observa-se principalmente para fins de conservação,
um aumento do consumo de alimentos de textura e palatabilidade. Desta forma, quan-

40
do se reduz significativamente a quantida- Na elaboração de produtos lácteos básicos
de deste ingrediente em um determinado na dieta, como queijo, margarina, manteiga
alimento, normalmente sua aceitação pe- ou cremes, o sal é utilizado para controlar a
los consumidores também diminui14,15. fermentação e para melhorar a cor, a textu-
ra e o sabor destes preparados24,25.
As principais funções do sal nos alimen-
tos, conforme discutido por diversos au- Nos setores de conservas, salmouras e sal-
tores, são apresentadas no Tabela 116-21. gas, intimamente ligados ao emprego do sal
desde a sua existência, utilizam este ingre-
Na indústria de carnes, o sal é o ingre- diente para garantir a conservação natural e a
diente mais importante do processo de segurança alimentar dos seus preparados26.
cura, pois é ele quem promove um dos
principais sabores do produto e ainda é Iniciativas para redução do
essencial para solubilizar as proteínas
miofibrilares, além de aumentar e in- consumo de sódio no Brasil -
fluenciar positivamente na textura final política de redução de sódio
do produto e também serve para preve-
nir o crescimento microbiano antes e de- Em termos globais, a redução do consumo
pois da cura. Porém, devido ao seu sabor de sódio pelas populações tem ocupado
picante, o sal é usualmente utilizado em posição de destaque entre as prioridades
combinação com açúcares, de forma a de saúde pública, tendo em vista a rela-
promover um sabor mais suave22. ção direta entre o consumo alimentar e o
aumento da morbimortalidade por doenças
Os fabricantes de cereais e farinhas de tri- crônicas. Nesse sentido, essas iniciativas
go e arroz empregam o sal como corretor vêm sendo apoiadas e estimuladas por or-
do sabor. Por sua vez, o sal resulta um ganismos internacionais, como a Organiza-
ingrediente fundamental na elaboração do ção Mundial da Saúde (OMS) e a Organi-
pão para controlar o grau de fermentação zação Pan-Americana de Saúde (Opas),
da massa. Além do mais, faz mais sabo- buscando, também, a articulação de inicia-
roso e apreciável ao paladar este alimento tivas regionais e globais para que os impac-
universal, tão importante na dieta23. tos dessas políticas sejam globalizados27.

Tabela 1.
Funções do sal em alimentos processados e ultraprocessados.
Função do sal Ação
A adição de sal tem sido utilizada com objetivo de reduzir a atividade de água (Aw) de diferentes
Conservação
alimentos. A água livre é um fator importante que afeta o crescimento microbiano em alimentos.
O sal contribui para a hidratação de determinadas proteínas e potencializa sua ligação entre si
e com gorduras, conferindo estabilidade a emulsões e promovendo o desenvolvimento da rede
do glúten em pães. Em produtos de panificação, o sal é também necessário para ação das
Textura leveduras, o que também contribui para que a rede de glúten possa ser desenvolvida; além da
estabilidade da mesma. Na produção de queijos, a solubilidade das proteínas e o teor de água
disponível são também afetados pelo sal, com impacto sobre as propriedades reológicas e
alterações que ocorrem durante o cozimento e que são determinantes da textura final.
Substâncias à base de sódio, como o cloreto de sódio e o glutamato monossódico, possuem
Sabor Global a propriedade de realçar o sabor de determinados ingredientes nos alimentos. O sal possui
ainda a propriedade de mascarar o gosto amargo de determinados componentes alimentares.
O gosto salgado é um dos cinco gostos básicos percebidos pelo ser humano e é conferido
exclusivamente pelo sódio. A exclusividade do sódio como estímulo à percepção do gosto
Gosto salgado
salgado pode ser explicada pelo seu também exclusivo mecanismo de transdução envolven-
do canais epiteliais de sódio.
Fonte: Adaptado de Bannwart, Silva e Vidal14.

41
As iniciativas voltadas à redução do con- de alimentos processados para a redução
sumo de sódio se destacam entre as do teor de sódio, gorduras e açúcares5,28.
ações de prevenção e controle das do-
enças crônicas diretamente associadas Neste sentido, em 2007, foi assinado e,
à alimentação por uma relação positiva em 2010, foi renovado o Termo de Com-
entre custo e efetividade. Uma das princi- promisso entre o Ministério da Saúde e
pais estratégias é a redução voluntária do associações representativas do setor pro-
conteúdo de sódio de alimentos processa- dutivo (como a Associação Brasileira das
dos e a realização de campanhas de mí- Indústrias de Alimentação – Abia), que
dia para a promoção de hábitos alimenta- traz, entre seus objetivos, a redução das
res saudáveis, que, segundo estimativas quantidades de açúcar, gorduras e sódio
da OMS, poderiam evitar 2,5 milhões de nos alimentos processados29.
mortes e poupar bilhões de dólares aos
sistemas de saúde no mundo5. Posteriormente, em 13 de dezembro de
2011, o Ministério da Saúde e a Agência
A Estratégia Global para promoção da Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
Alimentação Saudável, Atividade Física e assinaram termo de compromisso com a
Saúde da Organização Mundial da Saú- Associação Brasileira das Indústrias de
de ressalta a importância de informações Alimentação (Abia), a Associação Brasilei-
corretas, padronizadas e compreensíveis ra das Indústrias de Massas Alimentícias
sobre o conteúdo dos alimentos para que (Abima), a Associação Brasileira da Indús-
os consumidores sejam capazes de reali- tria de trigo (Abitrigo) e a Associação Brasi-
zar escolhas alimentares mais saudáveis e leira da Indústria de Panificação e Confei-
que os governos devem exigir que os rótu- taria (Abip) com a finalidade de estabelecer
los apresentem informações sobre os prin- o monitoramento da redução do teor de
cipais aspectos nutricionais dos alimentos1. sódio em alimentos processados no Brasil
utilizando a Rede de Laboratórios Centrais
A redução do teor de sal nos alimentos, (Lacens), por meio da coleta de amostras
assim como o de açúcar e de gordura, é, e análises laboratoriais, bem como prover
entretanto, um grande desafio do ponto informações complementares ao monitora-
de vista tecnológico uma vez que resulta mento anual da redução do teor de sódio
não apenas em redução do gosto salga- em alimentos processados30.
do e aceitabilidade, mas também pode
impactar as importantes funções que este Por fim, no dia 5 de novembro de 2013, foi
ingrediente desempenha na produção e feito outro acordo para diminuir o índice
conservação de muitos alimentos14,17,19. de sódio de mais um grupo de alimentos
industrializados no país, sendo eles: re-
Desde 2010, o governo brasileiro promo- queijão cremoso, sopa instantânea, sopa
ve, por meio do Ministério da Saúde, dis- pronta para consumo e para cozimento,
cussões com instituições e organizações queijo mussarela, empanados, hambúr-
envolvidas direta e indiretamente na agen- guer, presunto embutido, linguiça frescal,
da de redução do consumo de sódio5. linguiça cozida a temperatura ambiente e
mantida sob refrigeração, salsicha e mor-
Entende-se, dessa forma, que, no Brasil, tadela mantida sob temperatura ambiente
é necessário atuar simultaneamente no e sob refrigeração31.
resgate e no incremento do consumo de
alimentos básicos, in natura e minima- Para garantir a redução gradual dos teores
mente processados, e na reformulação de sódio nos alimentos processados até

42
2020, está previsto o estabelecimento de mados com a indústria alimentícia29. As me-
metas intermediárias, a cada dois anos no tas, categorias de alimentos e percentuais
período de 2012 a 2018. A estimativa é que, de redução encontram-se na Tabela 2.
desde 2011, cerca de 11,3 mil toneladas de
sódio deixarão de ser adicionadas aos ali- Até 2020, o Ministério da Saúde em
mentos que foram incluídos nos acordos fir- parceria com a Associação Brasileira

Tabela 2.
Metas e percentuais pactuados na redução do teor de sódio nas categorias prioritárias de alimentos
processados no Brasil.
Etapa do Acordo Alimentos Meta Redução
Macarrão instantâneo 1.920,7 mg de sódio/100 g 30% ao ano até 2012
1ª Etapa Pão de forma 522 mg de sódio/100 g 10% ao ano até 2014
Bisnaguinha 430 mg de sódio/100 g 10% ao ano até 2014
Pão francês 586 mg/100 g 2,5% ao ano até 2014
Batata palha ou frita 529 mg/100 g 5% ao ano até 2016
Salgadinhos de milho 747 mg/100 g 8,5% ao ano até 2016
Entre 204 mg/100 g
e 332 g/100 g de 7,5 a 8% ao ano
Bolos prontos
(varia conforme até 2014
o tipo de bolo)
2ª Etapa
334mg/100 g (aerados) e de 8 a 8,5% ao ano
Misturas para bolo
250mg/100 g (cremosos) até 2016
699 mg/100 g (salgados),
de 7,5 a 19,5% ao ano
Biscoitos 359 mg/100 g (doces) e
até 2014
265 mg/100 g (doces recheados)
Maionese 1.052 mg/100 g 9,5% ao ano até 2014
Rocambole 204 mg/100 g 4% ao ano até 2014
865 mg/250 mL do produto
Caldo Líquido/Gel 3,5% ao ano até 2015
pronto para consumo
1.025 mg/250 mL do produto
Caldo Pó/Cubo 3,5% ao ano até 2015
pronto para consumo
3,5% ao ano até 2013 e
Tempero Pasta 33.134 mg/100 g
3ª Etapa 6,5% até 2015
Tempero Arroz 32.076 mg/100 g 1,3% ao ano até 2015
Demais Temperos 21.775 mg/100 g 4,3% ao ano até 2015
Margarina Vegetal 715 mg//100 g 19% ao ano até 2015
7,5% ao ano até 2013 e
Cereais Matinais 418 mg/100 g
15% até 2015
Requeijão Cremoso 541 mg/100 g 63,2% em 4 anos até 2016
Queijo Muçarela 512 mg/100 g 68% em 4 anos até 2016
Sopa Instantânea 330 mg/100 g 19,5% em 4 anos até 2016
Sopas prontas para consumo
327 mg/100 g 33,2% em 4 anos até 2016
e para cozimento
Empanados 650 mg/100 g 54,8% em 4 anos até 2017
Hamburguer 740 mg/100 g 59% em 4 anos até 2017
Linguiça cozida
1.500 mg/100 g 27,9% em 4 anos até 2017
4ª Etapa temperatura ambiente
Liguiça cozida
1.200 mg/100 g 33,9% em 4 anos até 2017
sob refrigeração
Linguiça Frescal 970 mg/100 g 42% em 4 anos até 2017
Salsichas 1.120 mg/100 g 29,8% em 4 anos até 2017
Mortadela sob refrigeração 1.180 mg/100 g 26,6% em 4 anos até 2017
Mortadela mantida
1.350 mg/100 g 16% em 4 anos até 2017
à temperatura ambiente
Presuntaria 1.160 mg/100 g 35,7% em 4 anos até 2017

43
da Indústria de Alimentos (Abia) espe- Considerações finais
ram evitar a adição de 28,5 mil tonela-
das de sódio29. Apesar da crescente demanda em termos
de redução de sódio na dieta, ainda são
Apesar da proposta ser considerada um controversas as informações disponíveis
avanço no controle da consumo de só- na literatura científica quanto ao impacto
dio, alguns profissionais não acreditam desta redução sobre as características sen-
que tal política terá resultados expressi- soriais de matrizes complexas que são os
vos na saúde humana. De uma lado, a alimentos processados e ultraprocessados.
indústria alega que já estava reduzindo,
gradativamente, a quantidade de sódio A implementação do plano de metas, en-
dos produtos. Por outro lado, especia- volvendo em conjunto, setores público e
listas afirmam que da maneira como as privado, reforça o compromisso da socie-
metas foram estabelecidas houve um dade com a redução do consumo de sódio
favorecimento para a indústria, porque,
primeiro, o acordo é voluntário, então as Neste sentido, as iniciativas na área de
empresas podem ou não aderir a ele e, Educação Alimentar e Nutricional nas
segundo, porque o estabelecimento das ações políticas para redução do consumo
metas, tal como foi feito, fez com que de sódio devem ser valorizadas de modo
grande parte dos produtos já estivesse que as ações educativas façam parte de
adequada ao acordo. Sendo assim, a um contexto mais amplo de promoção da
proposta de reduzir o consumo do sódio saúde, o que irá interferir na transforma-
não significa a implicação direta na redu- ção duradoura de hábitos alimentares das
ção do sódio dos produtos. populações de risco.

Referências
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45
Artigo 2

Papel da microbiota gastrointestinal


sobre a hipertensão e o impacto da
modulação dietética
Role of gastrointestinal microbiota in hypertension
and the impact of dietary modulation

Ana Luísa Kremer Faller


Departamento de Nutrição e Dietética, Instituto de Nutrição Josué de Castro, Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

Resumo Abstract
Atualmente, desequilíbrios na microbiota intestinal Recently, misbalances in gut microbiota have
estão sendo associados a doenças crônicas been associated with chronic non-communicable
não-transmissíveis, como a hipertensão arterial diseases, such as systemic arterial hypertension
sistêmica (HAS). A relação entre dieta-microbiota (SAH). The relation between diet-microbiota
pode influenciar fatores regulatórios da pressão can influence different aspects of pressure
arterial, como a produção endógena de óxido control, such as endogenous production of nitric
nítrico a partir de nitrato inorgânico, ativação de oxide from dietary inorganic nitrate, activation
receptores intestinais (GPR41 e Olfr78) por ácidos of intestinal receptors (GPR41 and Olfr78) by
graxos de cadeia curta oriundos da fermentação short-chain fatty acids from colonic fermentation
colônica de fibra dietética e modulação da of dietary fiber and inflammation modulation
inflamação via lipopolissacarídeo. Estudos em by lipopolysaccharide. Human studies show
humanos demonstram efeito benéfico do consumo beneficial effect of probiotic consumption,
de probióticos, em especial sob a forma de produtos especially as fermented dairy products, in both
lácteos fermentados, sobre a pressão sistólica e systolic and diastolic pressures. This effect
diastólica. Este efeito seria mais pronunciado pela would be more pronounced due to an association
associação da ação dos microrganismos com between activities from the microorganisms and
os peptídios ativos gerados durante o processo bioactive peptides generated during fermentation.
fermentativo. A modulação da microbiota intestinal Gut microbiota modulation is a promising
é promissora como coadjuvante no tratamento da adjunctive to hypertension conventional
HAS, porém cepas e doses adotadas na prática treatment, but strains and dose to be used in
clínica ainda precisam ser estabelecidas. clinical practice still have to be stablished.

Palavras-chave Keywords
microbiota; lactobacillus; bifidobacterium; microbiota; lactobacillus; bifidobacterium;
hipertensão; iogurte. hypertension; yogurt.

Endereço para correspondência: Ana Luísa Kremer Faller – Avenida Carlos Chagas Filho, 373, bloco J, segundo
andar – Cidade Universitária – CEP: 21944-970 – Rio de Janeiro (RJ), Brasil – E-mail: ana.faller@nutricao.ufrj.br
Fonte de financiamento: nenhuma.

46
Introdução rias dos estimulos natriuréticos e antina-
triuréticos contribuem para o desenvolvi-
O corpo humano apresenta trilhões de mento da HAS. As vias antinatriuréticas
microrganismos que habitam o tecido incluem o sistema nervoso simpático e
epitelial, cavidade oral, trato genitou- parasímpático, o sistema renina-angio-
rinário e em especial o trato gastroin- tensina-aldosterona (RAA) e a ação da
testinal (TGI). A microbiota intestinal endotelina sobre o receptor de endote-
do adulto é composta majoritariamente lina tipo A. De forma contrarregulatória,
pelos filos Firmicutes e Bacteroidetes, o sistema renal dopaminérgico exerce
além de Actinobacteria e Proteobacte- efeito natriurético8. Trabalhos recentes
ria numa menor proporção1. A coloni- com modelos experimentais têm de-
zação do TGI inicia-se no momento do monstrado a participação da microbiota
parto e sofre influência de diversos fa- gastrointestinal sobre diferentes meca-
tores ao longo do crescimento do indiví- nismos de regulação pressórica.
duo, como o tipo de parto, alimentação
do lactente (aleitamento materno ou Impacto da microbiota
fórmula), dieta ao longo da vida além
de fatores de estilo de vida como con- sobre a hipertensão arterial
sumo de álcool, medicamentos, exer- sistêmica
cício físico e fumo2-4. Dessa forma, a
microbiota intestinal está em constante A microbiota que habita a cavidade oral
adaptação e sua modificação tanto em pode, ainda de forma precoce, contribuir
termos quantitativos como qualitativos para a regulação da PA. Hortaliças pre-
dos microrganismos, pode ter efeito fi- sentes na dieta, em especial hortaliças
siológico, imunológico e metabólico im- folhosas verde escuro, são fontes de
pactando a relação saúde-doença5. nitrato inorgânico (NO3-). Ao consumir
estes alimentos, o nitrato é absorvido
A associação entre o desequilíbrio da pelas células intestinais e levado pela
microbiota intestinal, também chamado circulação às glândulas salivares, onde
de disbiose, e doenças inflamatórias in- é secretado junto à saliva e entra em
testinais, diarréia e atopias já é conhe- contato com bactérias da mucosa oral.
cida a décadas5. No entanto, recente- Estas bactérias, em especial Veillonella
mente, tem-se traçado um paralelo entre e Actinomices, são capazes de converter
disbiose e doenças crônicas, como obe- o nitrato a nitrito (NO2-), que é novamen-
sidade, resistência insulínica e doenças te deglutido, sendo esta uma etapa cru-
cardiovasculares (DCV)6. A hipertensão cial para produção local de óxido nítrico
arterial sistêmica (HAS) é um fator de (NO), ainda no estômago, ou sua produ-
risco para o desenvolvimento de doença ção periférica na circulação sanguínea e
arterial coronariana, insuficiência cardí- outros tecidos corporais9. Dessa forma,
aca, doença cerebrovascular, doença o consumo de hortaliças folhosas está
renal crônica dentre outras, havendo associado a maiores concentrações sé-
aumento progressivo da mortalidade por ricas de nitrito e menor PA sistólica e
DCV com pressão arterial (PA) superior diastólica. No entanto, este efeito não é
a 115/75 mmHg7. observado quando os indivíduos fazem
uso, por exemplo, de enxaguante bucal
A regulação da PA depende de mecanis- antes do consumo dos alimentos, evi-
mos associados, ou não, à função renal denciando a importância e participação
onde alterações nas funções regulató- da microbiota oral na produção de NO10.

47
Já no intestino delgado e, especial- em uma pequena coorte de indivíduos
mente, no intestino grosso, a ação de hipertensos, sugerindo que a modula-
bactérias intestinais sobre componen- ção dietética da microbiota pode ser
tes não digeríveis da dieta, como fibras utilizada como estrátegia terapeutica
dietéticas, pode novamente contribuir no controle da HAS 14.
para a regulação da PA. Fibras dieté-
ticas correspondem a polissacarídeos Modulação da microbiota
que escapam a digestão enzimática
humana; porém, são passíveis da ação e impacto sobre a
de enzimas microbianas, gerando áci- hipertensão arterial
dos graxos de cadeia curta (AGCC),
como acetato, butirato e propionato. sistêmica
Estes AGCC podem ativar receptores
acoplados a proteína G (GPR), como Consumo de produtos
o GPR43 (receptor de ácido graxo li-
fermentados
vre 2), além do receptor olfatório 78
(Olfr78). A ativação do GPR43 apre- A pressão arterial é regulada por diver-
senta ação vasodilatadora, ao passo sos mecanismos fisiológicos e bioqui-
que a ativação via Olfr78 induz a libe- micos como citado anteriormente. Den-
ração de renina 11,12. A ingestão de fibra tre eles, se destaca o sistema RAA, que
e a composição da microbiota podem, regula não somente a PA, mas o ba-
portanto, contribuir, mesmo que indire- lanço de fluidos e eletrólitos. A renina é
tamente, na regulação da PA via sinali- responsável pela hidrólise do angioten-
zação doTGI. sinogênio plasmático em angiotensina I,
forma inativa, que após ação da enzima
Por fim, sabe-se que há estreita rela- conversora de angiotensina (ECA), gera
ção entre HAS e inflamação crônica. angiotensina II, com alta capacidade
Uma das causas da inflamação crôni- vasoconstrictora. Ao mesmo tempo, a
ca pode ser a alteração quantitativa e ECA é capaz de inibir a bradicinina, de
qualitativa da população de bactérias ação vasodilatadora, de forma que inibi-
intestinais, em especial relacionadas dores da ECA tem sido utilizados como
ao aumento na razão entre firmicutes/ terapias hipotensoras15.
bacteroidetes. O aumento de bactérias
gram-negativas, que apresentam em Dentre os inibidores de ECA estão pep-
sua membrana externa lipopolissacarí- tídios bioativos. Estes peptídios obtidos
deos (LPS), pode resultar em um pro- de produtos como queijo, leite e iogurtes,
cesso de endotoxemia com reflexos não apresentam ação inibitória quando
sistêmicos. A razão entre estes dois fi- presentes em suas proteínas nativas,
los, portanto, vem sendo utilizada como apenas após sua liberação pela ação da
marcador para diversas alterações clí- fermentação microbiana destes alimen-
nicas, como obesidade e resistência tos. Bactérias adicionadas tradicional-
insulínica, e já foi demonstrado em mente ao preparo de queijos e iogurtes
modelo experimental de ratos espon- apresentam enzimas com ação proteo-
taneamente hipertensos 13. A alteração lítica levando a degradação parcial da
na razão firmicutes/bacteroidetes foi caseína e podendo gerar peptídios com
acompanhada ainda da menor produ- ação hipotensora, como aqueles forma-
ção de acetato e butirato. O mesmo pa- dos por valina-prolina-prolina (VPP) e
drão de disbiose foi também observado isoleucina-prolina-prolina (IPP)16,17.

48
Dessa forma, o consumo de produ- apresentaram redução significativa da
tos fermentados tem sido considerado PA sistólica e diastólica, e menor au-
uma estratégia para o controle da HAS. mento da massa cardíaca comparado
No entanto, não são todos os micro- com o queijo tradicional e a dieta con-
-organismos que expressam enzimas trole, sugerindo um efeito positivo do
capazes de gerar tais peptidios, sen- consumo regular do produto fermen-
do as cepas Bifidobacterium longum e tado probiótico. Mais recentemente,
Lactobacillus acidophilus as com maior Ahrén e colaboradores testaram o efei-
atividade a partir de estudos in vitro16,18. to anti-hipertensivo do consumo de pro-
Ramchandran e Shah19 avaliaram o im- duto fermentado não lácteo em ratos,
pacto do consumo de leite (grupo con- utilizando como modelo mirtilo fermen-
trole), iogurte e iogurte com bactéria tado com Lactobacillus plantarum DSM
probiótica em modelo de ratos hiperten- 15313. O consumo de 2 g ao dia de mir-
sos19. O iogurte tradicional foi composto tilo fermentado amenizou a hipertensão
de cultura starter com S. thermophilus induzida pela ingestão de Ng-nitro-L-
1275 e L. delbrueckii ssp. bulgaricus -arginina metil éster (L-NAME)21.
1368, enquanto o iogurte probiótico foi
desenvolvido com as mesmas culturas Se a magnitude dos efeitos observados
starter acrescido das cepas probioticas em modelos animais se reproduz em
L. acidophilus 4461, L. casei 15286, e humanos ainda não está claro, porém o
B. longum 5022. Após oito semanas de consumo de alimentos fermentados pare-
consumo, a PA sistólica dos ratos que ce exercer algum efeito positivo. Dong e
consumiram iogurte reduziu 3,7% e a colaboradores22 avaliaram em meta-aná-
diastólica 2,7% em relação ao controle. lise treze estudos relacionados ao con-
No entanto, a redução da PA sistólica e sumo de leite fermentado sobre a HAS22.
diastólica foi mais expressiva no grupo Os trabalhos selecionados pelos autores
com iogurte probiótico, com diminuição apresentaram duração variável, de 4 a 24
de 30 e 44%, respectivamente, em rela- semanas, tendo como mediana 8 sema-
ção ao controle. O resultado se mostrou nas de intervenção e consumo diário de
de acordo com o percentual de inibição 100 a 450 g de leite fermentado.
da ECA avaliada in vitro, de 26,47%
para a dieta suplementada com iogurte Após meta-análise, os autores constata-
e de 36,04% para a dieta com iogurte ram que o consumo de leite fermentado
probiótico, mostrando a necessidade da foi capaz de promover redução média de
identificação de cepas adequadas ca- 3,0 mmHg na PA sistólica e de 1 mmHg
pazes de gerar peptídios com ação hi- na PA diastólica, sendo o efeito mais pro-
potensora19. nunciado em indivídios hipertensos que
normotensos. Em acréscimo, os autores
No Brasil, Lollo et al.20 demonstraram destacam a influência da variação inte-
que o consumo de queijo tipo Minas rindividual e geográfica entre os estudos,
acrescido de probiótico, Lactobacillus uma vez que os efeitos foram mais pro-
acidophilus LA 14 e Bifidobacterium nunciados na população japonesa em
longum em adição a cultura láctica Lac- comparação à população europeia. As di-
tococcus lactis R-704 também apresen- ferenças podem ter como base o diferen-
tou efeito hipotensivo20. Ratos Wistar te padrão dietético, havendo menor con-
consumiram 20 g ao dia de queijo tipo sumo de laticinios por países orientais,
Minas tradicional ou com probiótico por além de diferenças na composição da mi-
15 dias. Após este período, os animais crobiota intestinal por fatores de estilo de

49
vida22. Apesar da redução da PA ser mo- estudos que utilizaram produtos lácteos
desta em humanos, quando associada a fermentados, sete dos nove trabalhos
outras condutas como menor ingestão de incluídos24. A diferença observada pode
sódio na dieta e/ou uso de medicamen- ser em função da matriz utilizada, que
tos hipotensores, pode trazer benefícios garante maior sobrevivência a algumas
à saúde cardiovascular. espécies, mas também pela ação con-
junta com peptídios bioativos, o que não
Consumo de probióticos ocorre em produtos fermentados não
lacteos ou em suplementos encapsula-
O consumo de alimentos fermentados, dos. No entanto, os poucos estudos de
como leite ou iogurte, sempre foi o ve- intervenção utilizando estas matrizes
ículo tradicional da ingestão de micro- não lácteas pode dificultar conclusões
-organismos pela dieta. No entanto, sobre a melhor forma de consumo de
outras matrizes, como produtos não probióticos para melhora da HAS. A du-
lácteos, e em especial suplementos ração e dose utilizadas nas intervenções
nutricionais têm sido uma alternativa em humanos parecem também influen-
para a administração de probióticos ciar os resultados. O impacto do consu-
em estudos clínicos. A sobrevivência mo de probióticos sobre a PA parece ser
de cada espécie probiótica à passa- significativo quando ofertado por mais de
gem pelo TGI pode ser influenciada oito semanas e com doses diárias acima
de forma distinta pela matriz na qual de 1011 unidades formadoras de colônia
se encontram. A espécie Lactobacilli, (UFC). Em acréscimo, a literatura sugere
por exemplo, parece menos sensível uma maior magnitude na redução da PA
às diferentes formas de administração quando mais de uma espécie é adminis-
(queijo, iogurte ou suplemento encap- trada simultâneamente24.
sulado), não havendo grande diferença
na contagem fecal entre as três matri- Considerações finais
zes. No entanto, a contagem fecal de
propionibacteria e bifidobacteria pare- A microbiota do trato gastrointestinal pa-
ce ser reduzida quando administradas rece influenciar na regulação da pressão
sob a forma de queijo em comparação arterial sistêmica. Diferentes fatores die-
ao iogurte e suplemento encapsulado 23. téticos podem contribuir para o equilíbrio
da microbiota intestinal podendo assim
Dessa forma, as diferentes formas de impactar o quadro de hipertensão. A mo-
administração utilizadas nos estudos dulação da microbiota pela dieta pode
de intervenção, e seu consequente im- exercer efeito coadjuvante no tratamen-
pacto sobre a sobrevivência das espé- to da hipertensão, tanto pelo consumo
cies, pode contribuir para as variações de frutas e hortaliças, como modulado-
observadas nos estudos com humanos res indiretos da microbiota, como pelo
­(Tabela 1). Em recente revisão sistemáti- consumo de bebidas fermentadas que
ca com meta-análise, incluindo 9 estudos fornecem peptídios bioativos associados
de intervenção, foi observado um efeito aos microrganismos probióticos em si
positivo do consumo de probióticos so- (Figura 1). Apesar de promissor, o con-
bre a PA, com redução da pressão sis- sumo de probióticos, suas espécies e
tólica em 3,56 e de 2,38 mmHg na pres- combinações, assim como a dose diária
são diastólica. Analisando os subgrupos, a ser administrada na prática clínica ain-
os efeitos foram mais pronunciados nos da precisam ser estabelecidos.

50
Tabela 1.
Efeito do Consumo de Microrganismos Probióticos sobre a Pressão Arterial em Humanos
Matriz Dose Duração Efeitos
Autores Desenho Participantes Cepa
alimentar (UFC) (semanas) observados

Produtos lácteos

Enterococcus
Agerholm- Iogurte Sobrepeso/ 4,7 x PAS (-2,2±1,9)
DG; PC faecium; 8
Larsen et al.25 (450 mL/d) obesidade 1011 PAD (-1,5±1,3)
S. thermophilus

S. thermophilus,
Iogurte 4,8 x PAS (0,91±10,9)
Chang et al. 26 DC, PC Saudáveis L. Acidophilus, 8
(300mL/d) 1012 PAD (-0,43±10,0)
B. infantis

Leite
L. helveticus, 7,0 x PAS (-4,4±3,6)
Hata et al.27 PC fermentado Hipertensos 8
S. cerevisiae 1010 PAD (-2,2±1,9)
(100mL/d)

Savard et al. Iogurte B. animalis lactis, PAS (-0,8±8,4)


DC, PC Saudáveis 109 4
28
(100g/d) L. acidophilus PAD (1,3±6,5)

Sharafedtinov Queijo Síndrome 7,5 x PAS (-11,4±1,8)


DC, PC L. plantarum 3
et al.29 (50g/d) metabólica 1012 PAD (-3,5±1,0)

Leite
PC, Hipertensão L. casei Shirota, PAS (-17,4±4,3)
Inoue et al.30 fermentado ni 12
single leve L. lactis YIT 2027 PAD (-7,2±5,7)
(100mL/d)

Leite
PAS (-6,7±3,0)
Seppo et al.31 DC, PC fermentado Hipertensão L. helveticus ni 21
PAD (-3,6±1,9)
(150mL/d)

Leite
Mizushima Hipertensão L. helveticus, PAS (-5,2)
DC, PC fermentado ni 4
et al.32 leve S. cerevisiae PAD (-2,0)
(160g/d)

Leite
Tuomilehto DC, PC, Hipertensão PAS (-11,2)
fermentado L. helveticus ni 10
et al.33 CO leve PAD (-8,1)
(150mL/d)

Leite
Jauhiainen PAS (-4,7)
fermentado Hipertensão L. helveticus ni 10
et al.34 PAD (-2,7)
(300mL/d)

Hipercoleste- 5,8 x PAS (-3,07±12,3)


Jones et al.35 DC, PC Iogurte L. reuteri 6
rolemia 109 PAD (-1,18±7,51)

Kawase Single- L. casei, 1,7 x


Leite Saudáveis 8 PAS (1±8)
et al.36 blind S. thermophilus 1011

Produto não-lácteo

Naruszewicz Bebida Saudáveis 2,0 x PAS (-2±16)


DC, PC L. plantarum 6
et al.37 não-láctea fumantes 1010 PAD (-4±15)

Suplemento probiótico

Hipercoleste- 5,8 x PAS (-1,18±11,4)


Jones et al.35 DC, PC Cápsulas L. reuteri 9
rolemia 109 PAD (-0,16±5,16)

UFC: unidades formadoras de colônia; DC: duplo-cego; PC: placebo controlado; PAS: pressão arterial
sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; ni: não informado pelos autores

51
Genética Epigenética Atividade física Dieta

Probióticos

MICROBIOTA TRATO GASTROINTESTINAL


(AGCC, peptídios ativos, disbiose, nitrato/nitrito)
Laticínios
fermentados

Fibra dietética

Hortaliças
ECA Olfr78 GPR43 NO LPS verde escuro

Vasoconstricção Vasodilatação Inflamação

PRESSÃO ARTERIAL SISTÊMICA

AGCC: ácidos graxos de cadeia curta; ECA: enzima conversora de angiotensina; Olfr78: receptor
olfatório 78; GPR41: receptores acoplados a proteína G; NO: óxido nítrico; LPS: lipopolissacarideo.
Figura 1.
Mecanismos associados a modulação da microbiota do trato gastrintestinal sobre a regulação da
pressão arterial sistêmica.

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53
Artigo 3

Papel do nitrato dietético


na hipertensão arterial
Role of dietary nitrate in hypertension

Jenifer Palma d’El-Rei


Clínica de Hipertensão Arterial e Doenças Metabólicas Associadas, Departamento de Clínica
Médica, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
Ana Rosa Cunha
Clínica de Hipertensão Arterial e Doenças Metabólicas Associadas, Departamento de Clínica
Médica, UERJ – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
Mario Fritsch Neves
Clínica de Hipertensão Arterial e Doenças Metabólicas Associadas, Departamento de Clínica
Médica, UERJ – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

Resumo Abstract
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um fator Systemic hypertension is a well established
de risco bem estabelecido para o desenvolvimento risk factor for development of cardiovascular
das doenças cardiovasculares. Hábitos alimentares disease. Poor eating habits are presented as
inadequados apresentam-se também como fatores well as risk factors in that high intake of foods
de risco na medida em que o consumo elevado rich in cholesterol, fat and saturated fatty
de alimentos ricos em colesterol, lipídios e ácidos acids, added to the low consumption of plant
graxos saturados, somado ao baixo consumo de food sources of fiber, participate in the etiology
alimentos vegetais fontes de fibras, participam na of dyslipidemia, obesity, diabetes mellitus and
etiologia das dislipidemias, obesidade, diabetes hypertension. Thus, the nutritional interventions
mellitus e HAS. Sendo assim, as intervenções associated with changes in lifestyle are
nutricionais associadas a mudanças no estilo unanimously recognized as important strategies
de vida são, por unanimidade, reconhecidas for primary prevention of hypertension and
como estratégias importantes para a prevenção as adjuvants in pharmacological therapies
primária da HAS e como adjuvantes em terapias to reduce cardiovascular risk. Epidemiologic
farmacológicas para reduzir o risco cardiovascular. evidence suggests that the consumption of
Evidências epidemiológicas sugerem que o vegetables contributes to reducing blood
consumo de vegetais contribui para reduzir pressão pressure and the risk of cardiovascular disease.
arterial e o risco de doença cardiovascular. O plano The Dietary Approach to Stop Hypertension
alimentar Dietary Approach to Stop Hypertension (DASH) eating plan is one of the most effective
(DASH) é um dos mais eficazes para a prevenção for the prevention and non-pharmacological
e gestão não farmacológica da hipertensão. Esta management of hypertension. This approach
abordagem destaca a importância do aumento highlights the importance of increased intake
da ingestão de frutas e vegetais e recentes of fruits and vegetables and recent research
pesquisas sugerem que os efeitos benéficos do suggests that the beneficial effects of the

Endereço para correspondência: Jenifer Palma d’El-Rei – Hospital Universitário Pedro Ernesto –
Departamento de Clínica Médica – Avenida 28 de setembro, 77 sala 329 – Vila Isabel – CEP 20551-
030 – Rio de Janeiro (RJ), Brasil – E-mail: jeniferdelrei@gmail.com
Fonte de financiamento: nenhuma.

54
plano alimentar DASH na pressão arterial DASH eating plan in blood pressure
estão relacionados com o alto teor de nitrato are related to the high inorganic nitrate
inorgânico de alguns dos produtos alimentares content of some food products included in
incluídos no plano alimentar (por exemplo, the meal plan (eg, leafy greens and root
folhas verdes e legumes de raiz). A beterraba, vegetables). The beet and other food plant
assim como outros alimentos vegetais fontes considered as nitrate sources account for
de nitrato, contabilizam aproximadamente de approximately from 60 to 80% of the daily
60 a 80% da exposição de nitrato diário na nitrate exposure in the western population.
população ocidental. Recentemente, o papel Recently, the role of this anion in biological
que esse ânion exerce na função biológica function has increased the interest of the
tem aumentado o interesse da comunidade scientific community. Nitrite and nitrate
científica. Nitrito e nitrato provenientes da dieta from the diet, and from the L-arginine / nitric
e da via L-arginina/óxido nítrico, participam da oxide via, participate in the synthesis of
síntese de óxido nítrico. O aumento dos níveis nitric oxide. The increased levels of nitrite
de nitrito por meio da ingestão de nitrato parece by nitrate intake seem to have beneficial
ter efeitos benéficos de forma semelhante em effects in a similar way in many of the
muitas das mesmas configurações fisiológicas same physiologic and clinical settings.
e clínicas. Vários ensaios clínicos estão sendo Several clinical trials are being conducted
realizados para determinar o amplo potencial to determine the broad therapeutic
terapêutico de aumentar a biodisponibilidade do potential of increasing the bioavailability
nitrito na saúde humana e doenças, incluindo of nitrite in human health and disease,
estudos relacionados ao envelhecimento including studies related to vascular aging.
vascular. Em conclusão, o nitrato inorgânico In conclusion, the dietary inorganic nitrate
proveniente dadieta parece representar uma seems to represent an inexpensive and a
terapia complementar promissora e de baixo promising complementary therapy to aid
custo para auxiliar no tratamento da hipertensão in hypertension treatment with benefits for
arterial e benéfica para a saúde cardiovascular. cardiovascular health.

Palavras-chave Keywords
hipertensão; endotélio; rigidez vascular; hypertension; endothelium; vascular stiffness;
nitritos; nitratos; Beta vulgaris. nitrites; nitrates; Beta vulgaris.

Introdução uma prevalência de HAS acima de 30%


e com uma taxa de controle de aproxima-
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é damente 20%3-5.
uma condição clínica multifatorial carac-
terizada por níveis elevados e sustenta- Entre os fatores de risco para mortalidade
dos de pressão arterial (PA). É a condi- por doença cardiovascular (DCV), a HAS
ção mais comum observada na atenção explica 40% das mortes por acidente vas-
primária e associa-se frequentemente cular encefálico (AVE) e 25% daquelas
a alterações funcionais e/ou estruturais por doença arterial coronariana (DAC)6.
dos órgãos alvo (coração, encéfalo, rins
e vasos sanguíneos) e a alterações me- A PA é uma variável biológica, dinâmica
tabólicas, com consequente aumento do dependente de muitos fatores. As células
risco de eventos cardiovasculares fatais endoteliais do sistema vascular são res-
e não fatais1-3. ponsáveis por muitas reações bioquími-
cas que mantém a homeostase vascular
Inquéritos populacionais em cidades bra- e consequentemente, a PA7. O endotélio
sileiras nos últimos 20 anos apontaram modula o tônus vascular, não só pela li-

55
beração de substâncias vasodilatadoras, da microcirculação coronariana, espe-
mas também pela liberação de sustân- cialmente em pacientes sem DAC obs-
cias vasoconstritoras através da geração trutiva, pode, portanto, permitir a identifi-
de prostanóides de endotelina, bem como cação dos pacientes nos estágios iniciais
através de conversão da angiotensina I da aterosclerose coronariana e risco de
(AI) em angiotensina II (AII) na superfície eventos cardiovasculares. Esta avaliação
endotelial. Esses agentes vasoconstrito- requer equipamento especializado que
res predominantemente agem localmen- é um procedimento invasivo e, portan-
te, mas podem também exercer alguns to, não aplicável a grandes populações.
efeitos sistêmicos e têm um papel impor- No entanto, alterações na função endote-
tante na regulação e remodelamento es- lial do leito vascular coronário estão bem
trutural da artéria8. Quando a função do correlacionadas com as apresentadas
endotélio é normal, há um equilíbrio entre nos vasos periféricos, incluindo a artéria
a produção destas substâncias, com uma braquial, femoral e carótida em indivíduos
tendência à vasodilatação9. em risco para a aterosclerose e em pa-
cientes com DAC17-20.
Alterações na função endotelial prece-
dem as alterações morfológicas dos va- As modalidades disponíveis para avalia-
sos sanguíneos e contribuem para o de- ção da função endotelial incluem métodos
senvolvimento de complicações clínicas de natureza invasiva e não invasiva. A pri-
das doenças cardiovasculares. Sendo meira classe de métodos engloba a ava-
assim, o início e o curso clínico de even- liação da função microvascular epicárdi-
tos cardiovasculares adversos dependem ca endotelial coronária, realizada através
diretamente das alterações na biologia da angiografia coronária e da avaliação
vascular e, nos últimos anos, se tornou do fluxo sanguíneo obtido pela pletis-
claro que é o endotélio que promove a mografia de oclusão venosa. A segunda
homeostasia vascular8. classe, não invasiva, engloba a dilatação
mediada por fluxo (DMF) da artéria bra-
A presença de disfunção endotelial nos quial, análise da onda de pulso arterial e
vasos periféricos e coronários constitui a tonometria de amplitude de pulso, além
um preditor independente de eventos da medida do fluxo sanguíneo microvas-
cardiovasculares e representa um está- cular com fluxometria por laser Doppler.
gio precoce da DAC10. Sendo a disfunção A dosagem de marcadores bioquímicos
um evento reversível, a detecção precoce e bioensaios; medição de micropartículas
pode ter implicações na terapêutica e no endoteliais derivadas e as células proge-
prognóstico dos pacientes11,12. Desta for- nitoras; e as medidas de glicocálice são
ma, aumenta a necessidade de identifica- métodos complementares na avaliação
ção de um perfil de risco cardiovascular da função endotelial. A habilidade destes
mais individualizado, a fim de personali- métodos para detectar a disfunção endo-
zar o tratamento13. telial antes da manifestação da DCV, as
torna atraentes ferramentas clínicas para
Pesquisas sugerem que os fatores de a prevenção e reabilitação21.
risco cardiovasculares podem causar
comprometimento da função vasomotora Na década de 1990, a alta frequência de
coronariana de ambas as artérias epicár- imagem ultrassonográfica da artéria bra-
dicas e da microcirculação14-16, considera- quial para avaliar a vasodilatação endo-
da uma etapa importante na aterogêne- télio-dependente mediada pelo fluxo foi
se16. A avaliação da função vasomotora desenvolvida. A natureza não invasiva da

56
técnica permite medidas repetidas ao lon- Nitrato dietético e
go do tempo para estudar a eficácia de
várias intervenções que podem afetar a
saúde cardiovascular
saúde vascular18. Os hábitos alimentares apresentam-se
como fatores de risco para as doenças
Este método não invasivo utiliza a ultras- cardiovasculares na medida em que o
sonografia de alta resolução para medir consumo elevado de alimentos ricos em
o diâmetro da artéria braquial em respos- colesterol, lipídios e ácidos graxos sa-
ta à hiperemia reativa17, que provoca au- turados somados ao baixo consumo de
mento do fluxo sanguíneo e estresse de alimentos vegetais fontes de fibras, parti-
cisalhamento (shear stress), estimulan- cipam na etiologia das dislipidemias, obe-
do a liberação de óxido nítrico (NO) que sidade, diabetes mellitus e HAS22. Sendo
pode ser quantificada como um indicador assim, as intervenções nutricionais, asso-
da função vasomotora18. ciadas a mudanças no estilo de vida são,
por unanimidade, reconhecidas como es-
As imagens são obtidas por um aparelho tratégias importantes para a prevenção
de ultrassonografia bidimensional com primária da HAS e como adjuvantes em
Doppler colorido e espectral e transdutor terapias farmacológicas para reduzir o
linear com frequência de 10 MHz posicio- risco cardiovascular23.
nado sobre a artéria braquial. O diâme-
tro basal da artéria braquial e o diâmetro Evidências epidemiológicas sugerem que
pós-oclusão da artéria braquial são então o consumo de vegetais reduz PA e o ris-
medidos entre as interfaces íntima-luz ao co de DCV24-26. O plano alimentar Dietary
final da diástole, sendo este último medi- Approach to Stop Hypertension (DASH) é
do 30, 60 e 90 segundos após a libera- um dos mais eficazes para a prevenção
ção do fluxo, de modo a permitir que a e gestão não farmacológica da hiperten-
DMF seja calculada como o percentual de são10. A dieta destaca a importância de
aumento do diâmetro da artéria braquial um aumento da ingestão de frutas e ve-
pós-oclusão em relação aos seus valores getais27 e recentes pesquisas sugerem
basais (Figura 1). que os efeitos benéficos do plano alimen-

Diâmetro

Velocidade de fluxo

Figura 1.
Ilustração representativa da dilatação mediada pelo fluxo (DMF), em que há a medida do diâmetro
da artéria braquial no estado basal e após a hiperemia reativa provocada pelo aumento do fluxo
sanguíneo, após liberação da oclusão do vaso.

57
tar DASH na PA estão relacionados com A beterraba, assim como os outros ali-
o alto teor de nitrato inorgânico de alguns mentos vegetais fontes de nitrato, con-
dos produtos alimentares incluídos no tabilizam aproximadamente de 60 a 80%
plano alimentar (por exemplo, folhas ver- da exposição de nitrato diário na popula-
des e legumes de raiz)28,29. ção ocidental28. O teor de nitrato nos ve-
getais pode ser influenciado por fatores
Dentre os alimentos fontes de nitrato, relacionados à própria planta como varie-
destacam-se o alface, a beterraba, acel- dade, espécie, maturidade e ao ambien-
ga, rúcula e o espinafre, que possuem te, como temperatura, intensidade de luz
em torno de 250 mg/100 g de produto28. e carência de alguns nutrientes e uso
Na Tabela 1, segue a classificação dos de fertilizantes33.
vegetais, de acordo com o teor de nitra-
to presente. Estimativas internacionais indicam que o
consumo de nitrato dietético seja em tor-
A beterraba é um legume particularmente no de 31 a 185 mg/dia na Europa e de
rico em nitrato inorgânico que contém em 40 a 100 mg/dia nos Estados Unidos34.
média 2.056 mg de nitrato, no cultivo tra- A biodisponibilidade do nitrato dietético
dicional30, e foi, por conseguinte, utilizado é de 100%35. A Organização Mundial de
em vários estudos como uma estratégia Saúde (OMS), em 1962, definiu um limite
nutricional para testar os efeitos da inges- máximo para o consumo de NO3- dos ali-
tão de nitrato inorgânico na PA31. mentos. Uma ingestão diária aceitável é
de 3,7 mg de NO3-/ peso corporal (kg), o
O nitrato (NO3-) e o nitrito (NO2-), presen- mesmo valor que é adotado pela Autori-
tes na beterraba e nos outros alimentos dade Européia para a Segurança dos Ali-
fontes, recentemente foram relacionados mentos. Esse valor equivale a aproxima-
a benefícios cardiovasculares. No entan- damente 300 mg/dia para um adulto com
to, até há alguns anos, eram considera- 80 kg36. No entanto, não há evidências
dos compostos tóxicos desfavoráveis conclusivas de que a ingestão de nitra-
derivados da alimentação, pois estavam to seja carcinogênica em humanos. Pelo
relacionados com o desenvolvimento de contrário, evidências epidemiológicas in-
malignidades como, por exemplo, o cân- dicam que o consumo de vegetais reduz
cer gástrico. Por isso, normas rigorosas a o risco de câncer37.
respeito dos níveis desses ânions inorgâ-
nicos são reguladas nos alimentos e tam- Após a ingestão, o nitrato dietético au-
bém na água potável32. menta sua concentração plasmática ra-

Tabela 1.
Classificação dos vegetais de acordo com a concentração de nitrato.
Conteúdo de nitrato
Vegetais
(mg/100 g de alimento fresco)
Aspargo, alho, cebola, feijão verde, pimenta,
Muito baixo: <20 mg
batata, batata doce, tomate e melancia
Baixo: 20<50 mg Brócolis, cenoura, couve flor, chicória
Médio: 50<100 mg Repolho, nabo, endro
Endívia, repolho chinês,
Alto: 100<250 mg
erva doce, salsa, Alhoporó
Muito alto: >250 mg Aipo, alface, beterraba, espinafre, rúcula, agrião
Adaptado de Hord, Tang e Bryan28

58
pidamente, em aproximadamente 30 mi- baseada no consumo de espinafre, tam-
nutos, atingindo seu pico em 90 minutos. bém foram avaliados, por Liu et al., em
Em contraste, o aparecimento de nitrito 2013, em indivíduos saudáveis, em que
na circulação é consideravelmente mais o consumo de uma refeição rica em nitra-
lento, atingindo seu pico em 2,5 a 3 horas. to (cerca de 220 mg), proporcionou após
A maior parte, cerca de 75% do nitrato 2 horas de consumo, um maior índice de
inorgânico absorvido, será excretado na elasticidade arterial, uma menor pressão
urina e 25% do nitrato plasmático será ex- de pulso e uma menor pressão arterial
cretado na saliva31,38. O mecanismo exa- sistólica, quando comparada com uma
to deste efeito de concentração salivar é refeição padrão, pobre em nitrato41.
desconhecido, mas a consequência é o
fornecimento de substrato para as nitra- Recentes estudos experimentais42-44 e
to redutases expressas por bactérias que clínicos têm demonstrado que o nitrato
colonizam a superfície dorsal da língua, dietético proveniente da ingestão do suco
resultando na redução de nitrato para ni- de beterraba31,45, do pão enriquecido com
trito. O nitrito então é deglutido, e no am- beterraba46 ou de suplementos de nitra-
biente ácido do estômago é reduzido para to inorgânico47, têm efeito protetor contra
NO. O nitrito remanescente é reabsorvi-
do, indo para circulação novamente39.

O NO e nitrito seguem pela circulação,


onde, nos vasos de grande resistência,
o nitrito remanescente será reduzido a
NO, promovendo vasodilatação e conse-
quentemente redução da pressão arte-
rial31 (Figura 2).
Óxido Nítrico
Recentemente, o papel que esses dois
ânions exercem na função biológica tem
aumentado o interesse da comunidade
científica. Tanto o NO3- e NO2- provenien-
tes da dieta, quanto da via L-arginina/óxi-
do nítrico, participam da síntese de NO40.

Após a ingestão aguda de 500 mL de suco


de beterraba é possível observar uma re-
dução na pressão arterial sistólica em tor-
no de 10 mmHg (após 2,5 horas) e uma
redução em torno de 8 mmHg na pressão Figura 2.
Nitrato (representado pelas setas finas) ingerido
diastólica (após 3 horas), em indivíduos
a partir da dieta é deglutido e completamente
saudáveis. A redução na pressão arterial absorvido no trato gastrointestinal superior.
se manteve tendendo a níveis mais baixos Cerca de 25% dessa quantidade é concentrada
até 24 h após a ingestão do suco. Os va- nas glândulas salivares e, ainda dentro da boca,
lores de maior redução de PA, se relacio- é reduzido a nitrito por bactérias anaeróbias
presentes na língua e novamente será
naram com o pico de nitrito no plasma31.
deglutido. No estômago, o nitrito sofre redução
ácida e é convertido a NO (representado pelas
Os efeitos na pressão arterial e na rigidez setas grossas) que terá ação vasodilatadora nos
arterial de uma refeição rica em nitrato, vasos sanguíneos.

59
DCV, devido redução da pressão arterial, avaliada a pressão arterial durante 24 h
inibição da agregação plaquetária e pre- pela monitorização ambulatorial da pres-
venção de disfunção endotelial. são arterial (MAPA), não hove mudança
significativa nos níveis pressóricos. En-
Recentemente, Bondonno et al. de- saios clínicos também originaram infor-
monstraram que a ingestão crônica de mações a respeito da ação nos níveis
suco de beterraba (1 semana - 420 mg pressóricos e na função vascular após
de nitrato/dia), não melhorou os níveis ingestão de nitrato (Tabela 2).
pressóricos de pacientes hipertensos
tratados. Em um outro estudo realiza- Ainda não há um consenso oficial sobre
do com idosos com sobrepeso, Jajja et os efeitos do nitrato inorgânico dietético
al. encontraram uma redução média de sobre a pressão arterial, função endotelial
7 mmHg na PA sistólica, após 3 sema- e seus efeitos na saúde cardiovascular
nas de consumo de suco de beterraba de uma forma geral, apesar dos estudos
(350 mg de nitrato/dia). Porém, quando com resultados positivos.

Tabela 2.
Ensaios clínicos com a utilização de nitrato inorgânico dietético na saúde cardiovascular.
Desenho
Dose de Medida
Referência Amostra e Duração Controle Resultado
nitrato Vascular
do estudo
VOP ↓ 0,59 m/s
Hipertensos
450 mg Suco de VOP DMF: ↑ 20%
n=68
Kapil et al. Crônico (250 mL de Beterraba DMF PAS ↓7 mmHg
(34 tratados)
(2015)51 4 semanas suco pobre em PAS PAD↓ 2,4 mmHg
57 anos
de Beterraba) nitrato PAD PAS24h ↓7 mmHg
144x88 mmHg
PAD24h ↓5mmHg
Hipertensos
420 mg Suco de
Bondon- tratados
Crônico (140 mL Beterraba PAS
no et al. n=27 Sem efeito
1 semana de suco de pobre em PAD
(2015)52 63 anos
Beterraba) nitrato
133x77 mmHg
Idosos com ± 350 mg
PAS ↓7mmHg
Jajja et al. sobrepeso Crônico (70 mL de Suco de PAS
PAS24h , PAD24h e PAD
(2014)53 n=24 3 semanas suco de groselha PAD
sem efeito
63 anos Beterraba)
DM2 500 mg Suco de
Gilchrist
n=27 Crônico (250 mL Beterraba
et al. DMF Sem efeito
67 anos 2 semanas de suco de pobre em
(2013)54
143x81 mmHg Beterraba) nitrato
Bondon- Saudável 190 mg
Agudo Leite de
no et al. n=30, 47 anos (200 g de DMF Aumento de 2% após 2h
0- 2h arroz
(2012)55 112x68 mmHg espinafre)
375 mg
Saudáveis
Kapil et al. Agudo (250 mL Água PAS PAS ↓5 mmHg após 3h
n=9, 25 anos
(2010)56 0-3h de suco de Mineral PAD PAD sem efeito
121x71 mmHg
Beterraba)
Saudáveis 1437 mg PAS ↓10 mmHg
Webb PAS
n=14 Agudo (500 mL Água (pós 2,5h)
et al. PAD
26 anos 0-6h-24h de suco de Mineral PAD e PAM ↓8 mmHg
(2008)31 PAM
106x70 mmHg Beterraba) (pós 3h)
1437 mg
Webb Saudável Proteção contra isquemia
Agudo (500 mL Água
et al. n=10 DMF de reperfusão,
0 – 2h de suco de Mineral
(2008)31 27 anos após 2h
Beterraba)
VOP: velocidade da onda de pulso; DMF: dilatação mediada por fluxo; PAS: pressão arterial sistólica;
PAD: pressão arterial diastólica; PAM: pressão arterial média.

60
Muitas são as limitações presentes nos em aproximadamente 8 mmHg até 24 ho-
estudos, dentre as quais é possível citar a ras após a intervenção, que se asseme-
população estudada eo efeito que é depen- lha à redução proporcionada pela terapia
dente dos níveis basais de pressão arterial. medicamentosa (9 mmHg). Esta obser-
Por isso, os efeitos provavelmente não se- vação é importante por mostrar que a in-
rão os mesmos entre indivíduos saudáveis gestão de uma única dose por dia poderia
e hipertensos. Além disso, quando são ser suficiente para alcançar benefícios na
avaliados pacientes hipertensos tratados, o pressão arterial48,49.
uso de medicações como os antagonistas
dos canais de cálcio sabidamente afetam Estas melhorias na disfunção vascu-
a função endotelial e, consequentemente, lar e na pressão arterial com o uso do
podem interferir nas variáveis avaliadas. nitrito são mediadas por reduções no
O tamanho amostral também é um fator li- estresse oxidativo e inflamação. O au-
mitante, pois é na maioria dos vezes peque- mento dos níveis de nitrito por meio
no, além de variar muito entre os ensaios. da ingestão de nitrato parece ter efei-
tos benéficos de forma semelhante em
Desde as investigações iniciais em muitas das mesmas configurações fi-
voluntários saudáveis, os estudos siológicas e clínicas. Vários ensaios
conduzidos usando nitrato inorgâni- clínicos estão sendo realizados para
co e formulações com sais de nitrato determinar o amplo potencial terapêu-
apresentam resultados promissores tico de aumentar a biodisponibilidade
em reduzir a pressão arterial, com do nitrito na saúde humana e doenças,
doses de nitrato variando entre 155 a incluindo estudos relacionados ao en-
1.484 mg/dia e com tempo de inter- velhecimento vascular 50.
venção oscilando entre 1 e 15 dias,
com reduções de aproximadamente 4 Em conclusão, o nitrato inorgânico prove-
e 1 mmHg de PA sistólica e diastólica, niente da dieta parece representar uma
respectivamente 29,48. terapia complementar promissora e de
baixo custo para auxiliar no tratamento
Em indivíduos hipertensos, a PA sistólica da hipertensão arterial e benéfica para a
se manteve significativamente reduzida saúde cardiovascular.

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63
Artigo 4

Vitamina D e hipertensão arterial. O que


há de novo?
Vitamin D and arterial hypertension. What is new?

Márcia Regina Simas Torres Klein


Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

Resumo Abstract
Nos últimos anos, surgiram evidências de que a In recent years, emerged evidence that vitamin
vitamina D pode auxiliar na redução da pressão D may help reduce blood pressure (BP) via a
arterial (PA) através de uma série de mecanismos, number of mechanisms including suppression
incluindo a supressão do sistema renina of the renin-angiotensin system, prevention
angiotensina, a prevenção do hiperparatireoidismo of secondary hyperparathyroidism and renal
secundário e a proteção vascular e renal. Os estudos and vascular protection. Observational studies
observacionais indicam de forma consistente que a consistently indicate that vitamin D deficiency
deficiência de vitamina D está associada com valores is associated with higher values ​​of BP and
mais elevados de PA e com maior prevalência e/ou with greater prevalence and/or incidence of
incidência de hipertensão. Entretanto, os ensaios hypertension. However, randomized clinical
clínicos randomizados que avaliaram os efeitos trials that evaluated the effects of vitamin D
da suplementação de vitamina D sobre a PA supplementation on BP have inconsistent
apresentam resultados inconsistentes. Desta forma, results. Thus, currently, the role of vitamin D in
atualmente, o papel da vitamina D no controle da PA BP control is not yet established. Well-designed
ainda não está estabelecido. Estudos randomizados randomized trials, including hypertensive
bem delineados, incluindo participantes hipertensos participants with vitamin D deficiency are
com deficiência de vitamina D, são necessários para necessary to determine the role of vitamin
determinar o papel da vitamina D na prevenção e no D in the prevention and treatment of arterial
tratamento da hipertensão arterial. hypertension.

Palavras-chave Keywords
vitamina D; hipertensão; pressão arterial. vitamin D; hypertension; arterial pressure.

Endereço para correspondência: Avenida 28 de setembro, 77 – sala 363 – Vila Isabel – CEP: 20551-030 –
Rio de Janeiro (RJ), Brasil – E-mail: marciarsimas@gmail.com
Fonte de financiamento: Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro (FAPERJ).

64
Introdução sendo necessárias duas etapas de hidro-
xilação para formar o metabólito ativo.
A vitamina D foi descoberta há quase 100 A primeira etapa ocorre no fígado, atra-
anos e até recentemente acreditava-se vés da ação da enzima 25-hidroxilase,
que os benefícios desta vitamina se limi- formando a 25-hidroxivitamina D [25(OH)
tavam a sua função endócrina clássica, D]. A segunda etapa ocorre pela ação
que envolve o controle da homeostase da enzima 1-α-hidroxilase, converten-
do cálcio e do fósforo e a manutenção do a 25(OH)D em seu metabólito ativo,
da saúde óssea1-3. Entretanto, nos últi- a 1,25-dihidroxivitamina D [1,25(OH)2D]
mos anos, surgiram inúmeras evidências ou calcitriol7,9,10. A 1-α-hidroxilase renal
de que a deficiência de vitamina D pode é a principal responsável pela formação
contribuir para o desenvolvimento de di- da 1,25(OH)2D encontrada na circula-
versas doenças crônicas, incluindo a hi- ção. A atividade da 1-α-hidroxilase renal
pertensão arterial1,4. Tal fato despertou é regulada por fatores relacionados com
grande interesse, pois a deficiência de vi- o metabolismo do cálcio e do fósforo,
tamina D apresenta elevada prevalência como por exemplo, estimulação pelo pa-
em todas as faixas etárias e em diferen- ratormônio (PTH) e inibição pelo fator de
tes regiões geográficas5,6. Esta revisão crescimento de fibroblastos-23 (FGF-23).
tem como objetivo abordar as evidências Esses mecanismos de feedback mantêm
disponíveis na literatura sobre a relação as concentrações séricas da 1,25(OH)2D
entre vitamina D e pressão arterial (PA). dentro da faixa da normalidade, mesmo
em condições de baixo fornecimento de
Metabolismo da vitamina D vitamina D através da ação da luz solar
ou da dieta10, tornando este metabólico
A vitamina D é lipossolúvel, atua como inadequado para avaliar deficiência de vi-
um hormônio esteroide3 e pode ser obtida tamina D. Em contraste, o melhor indica-
a partir da ação da luz solar na pele e a dor do estado de vitamina D é a 25(OH)D
partir de alimentos e suplementos dietéti- que reflete tanto a síntese cutânea quan-
cos2,3,7. A síntese cutânea é a principal fon- to a ingestão dietética desta vitamina10-12.
te de vitamina D, sendo responsável por
cerca de 80% da vitamina D obtida pelo Recentemente, foi descoberto que a en-
organismo humano7,8. Na pele, a radia- zima 1α-hidroxilase e o receptor de vi-
ção ultravioleta B (UVB) induz a conver- tamina D (VDR) estão amplamente dis-
são do 7-dehidrocolesterol em vitamina tribuídos em vários tecidos extrarrenais,
D3 (colecalciferol)2. A dieta contribui com incluindo diferentes tipos celulares envol-
uma pequena quantidade de vitamina D vidos nas doenças cardiovasculares3,11,13
que pode ser obtida a partir de poucos como as células musculares lisas e as
alimentos. Alguns alimentos, naturalmen- endoteliais11,14. Este fato sugere que a vi-
te, já contêm a vitamina D (por exemplo, tamina D pode apresentar vários efeitos
peixes gordurosos, óleo de peixe e ovos), fisiológicos (além do seu efeito endócrino
enquanto outros são fortificados com esta clássico sobre o metabolismo ósseo)13 e
vitamina (por exemplo, algumas marcas que os novos benefícios (não clássicos)
de leite). Os alimentos e suplementos die- atribuídos a vitamina D podem ser me-
téticos fornecem a vitamina D na forma diados pelos efeitos parácrinos ou autó-
de vitamina D2 (ergocalciferol) ou D39,10. crinos desta vitamina em diferentes teci-
dos3. A produção tecidual da 1,25(OH)2D
Tanto a vitamina D2 quanto a D3 não não sofre influência dos mecanismos de
exercem atividade biológica significativa, feedback que controlam a produção re-

65
nal3. Estima-se que 5% da 25(OH)D circu- pecíficas denominadas de elementos de
lante seja utilizada no rim para o sistema resposta da vitamina D (VDREs), modu-
endócrino da vitamina D e mais de 85% lando a expressão de múltiplos genes6,10.
seja usado na produção tecidual para atu- Existem evidências de que esta modula-
ação autócrina/parácrina15 (Figura 1). ção possa ter inúmeros efeitos, como por
exemplo, favorecer a diferenciação e ini-
A 1,25(OH)2D pode exercer seus efeitos bir a proliferação celular; ter efeito anti-in-
biológicos via regulação da transcrição flamatório; reduzir a produção de renina e
gênica através da sua ligação com o VDR aumentar a liberação de insulina16.
nuclear6. Após a ligação da 1,25(OH)2D
com o VDR, este se liga com o receptor Deficiência de vitamina D
retinóide X (RXR). Este complexo atua
como um fator de transcrição através Ainda não existe um consenso em relação
da ligação com regiões promotoras es- aos pontos de corte ideais para classificar

Síntese cutânea de Ingestão de vitamina D


vitamina D (luz solar) (alimentos/ suplementos)

±80 % ±20%

vitamina D3 / D2

Fígado 25- hidroxilase

25(OH)D

Rim 1α- hidroxilase Vários tecidos / células


Ex.: músculo liso vascular,
endotélio e célulasβ pancreáticas

1,25(OH)2D 1,25(OH)2D
Na circulação Tecidual

Efeitos clássicos Efeitos não clássicos


(endócrinos) (parácrinos/autócrinos)

25(OH)D: 25 hidroxivitamina D; 1,25 (OH)2D: 1,25 dihidroxivitamina D

Figura 1.
Metabolismo da Vitamina D.

66
o estado de vitamina D. Em geral, se con- Vitamina D e pressão arterial
sidera que valores de 25(OH)D>30 ng/mL
sejam adequados, pois abaixo de 30 ng/mL Mecanismos de ação
há redução significativa na absorção intes-
tinal de cálcio podendo levar ao hiperpa- Existem vários mecanismos potenciais
ratireoidismo secundário com consequen- através dos quais a vitamina D pode au-
te prejuízo ósseo. Por outro lado, valores xiliar na redução da PA, incluindo a su-
>150 ng/mL indicam intoxicação11,17. Re- pressão do sistema renina angiotensina
centemente, foi proposto que valores (SRA), efeitos benéficos sobre as célu-
<20  ng/dL indicam deficiência, entre 20– las endoteliais e as células do músculo
29 ng/mL caracterizam a insuficiência16,18. liso vascular, prevenção do hiperparti-
reoidismo secundário e renoproteção
O principal fator de risco para a deficiência (redução da proteinúria e da inflamação
de vitamina D é a exposição inadequada renal) (Figura 2)7,13,15,19.
à luz solar, que pode ser causada não só
por um menor tempo de exposição, como Dados provenientes de estudos com ani-
também pelo uso de protetor solar16. mais e com seres humanos sugerem que
Em pessoas de pele escura e em idosos a vitamina D é um inibidor endógeno do
a síntese cutânea de vitamina D é menor. SRA. Em estudos experimentais, ratos
A obesidade predispõe a deficiência, pois knockout para o VDR e também ratos
a vitamina D por ser lipossolúvel é arma- knockout para a 1α- hidroxilase apresen-
zenada no tecido adiposo e na presença tam aumento significativo nos níveis plas-
de obesidade, o tecido adiposo excessi- máticos de renina, angiotensina II, aldos-
vo sequestra a vitamina D reduzindo seus terona e consequentemente valores mais
níveis séricos. Outros fatores de risco in- elevados de PA20,21. Em seres humanos,
cluem latitute elevada, síndrome nefrótica, valores séricos baixos da 25(OH)D estão
uso de algumas medicações como corti- associados com maior atividade plasmá-
coides, anticonvulsivantes, antirretrovirais tica de renina e com concentrações mais
e medicamentos antirrejeição4,14,16. elevadas de angiotensina II22.

A dose recomendada de vitamina D para in- A vitamina D tem sido associada com pro-
divíduos com deficiência é de 6.000 UI/dia teção vascular e este efeito pode ser dire-
ou 50.000 UI/semana durante 8 semanas. to ou indireto via redução da angiotensi-
O objetivo é alcançar valores séricos de na II19. As células endoteliais e as células
25(OH)D>30 ng/mL e posteriormente deve- musculares lisas vasculares expressam o
-se utilizar a terapia de manutenção com do- VDR e a 1α-hidroxilase, permitindo uma
ses de 1.500 a 2.000 UI/dia16. A reposição da produção autócrina de 1,25(OH)2D o que
vitamina D pode ser feita com a exposição pode atuar como um modulador local da
à luz solar e/ou com o uso de suplementos inflamação19. Outros mecanismos poten-
de vitamina D2 ou D3. A exposição ao sol de ciais ligando a vitamina D com a saúde
pernas e braços durante 5 a 10 minutos em vascular incluem redução do estresse
pessoas de pele clara pode fornecer cerca oxidativo, atenuação da ativação do fator
de 3.000 UI de vitamina D17. A suplemen- nuclear-κB (NF-κB), redução das molé-
tação de vitamina D é relativamente fácil e culas de adesão e de citocinas inflama-
segura, podendo ser usados regimes com tórias, além de maior produção de óxido
doses diárias, semanais ou mensais. Efei- nítrico19. Estudos observacionais indicam
tos adversos não têm sido observados com que níveis séricos baixos da 25(OH)D
doses diárias até 10.000 UI16,17. estão associados com disfunção endote-

67
Vitamina D

Supressão SRA Renoproteção

Proteção vascular ↓ Inflamação

Prevenção ↑ PTH

↓ Pressão Arterial

SRA: sistema renina angiotensina; PTH: Paratormônio


Figura 2.
Mecanismos potenciais de ação da vitamina D sobre apressão arterial.

lial23,24. Entretanto, estudos avaliando os pertensão. Na meta-análise realizada por


efeitos da suplementação de vitamina D Burgaz et  al.30, a maior versus a menor
sobre a função endotelial apresentam re- categoria de vitamina D sérica apresen-
sultados inconsistentes25,26. tou prevalência de hipertensão cerca de
30% menor. Além disto, alguns estudos
Os mecanismos relacionando os níveis sugerem que níveis séricos baixos de
séricos de PTH com a elevação da PA 25(OH)D estão associados com ausência
ainda não são conhecidos, porém exis- de descenso noturno em hipertensos32,33.
tem evidências de que o PTH pode au-
mentar a atividade do SRA e do sistema
nervoso simpático8. Estudos observacionais
longitudinais
Estudos observacionais A associação entre deficiência de vitami-
transversais na D e maior risco de desenvolvimento
de hipertensão foi observada na maio-
A relação entre níveis séricos de 25(OH) ria dos estudos prospectivos34-36, porém
D e PA foi avaliada em uma série de estu- não em todos31,37. Por exemplo, na aná-
dos observacionais transversais. Na gran- lise de 613 homens do Health Professio-
de maioria desses estudos foi encontrada nals’ Follow Up Study e 1.198 mulheres
associação inversa entre a concentração do Nurses’ Health Study acompanhados
sérica de vitamina D e os valores de PA por 4 a 8 anos, o risco relativo ajusta-
ou a prevalência de hipertensão27-31. Na do para a incidência de hipertensão foi
revisão realizada por Carbone et  al.8 fo- de 3,18 (IC95% 1,39–7,29) em indiví-
ram identificados 32 estudos transver- duos apresentando concentrações de
sais, dos quais apenas 7 não observaram 25(OH)D<15  ng/mL versus >30 ng/mL34.
associação entre vitamina D e PA ou hi- Nesta meta-análise, os autores estima-

68
ram redução de 12% no risco de hiper- desses estudos o desfecho primário ava-
tensão para cada aumento de 10 ng/mL liado não foi a PA.
na concentração sérica da 25(OH)D34.
Na meta-análise realizada por Kunutsor Na meta-análise realizada por Kunutsor
et al.38, foram incluídos 11 estudos pros- et al.56, foram incluídos 16 ensaios clínicos
pectivos, totalizando 283.537 participan- randomizados nos quais a suplementa-
tes com 55.816 casos de hipertensão, ção de vitamina D foi superior a 600 UI/dia
sendo observado risco relativo de 0,70 e os níveis circulantes de 25(OH)D au-
(IC95% 0,58–0,86) comparando o maior mentaram de forma substancial no gru-
com o menor tercil do nível sérico de po intervenção. Na análise ponderada
25(OH)D no início do acompanhamento. de todos os estudos, não foi observa-
da redução significativa da PA sistólica
Apesar dos estudos observacionais indica- -0,94 mmHg (IC95% -2,98–1,10 mmHg;
rem associação entre o estado de vitamina p=0,37) nem da diastólica -0,52 mmHg
D e a PA, seus resultados devem ser inter- (IC95% -1,18–0,14 mmHg; p=0,12)56. En-
pretados com cautela. Existe a possibilida- tretanto, houve redução significativa da
de de em alguns estudos não terem sido PA diastólica -1,31 mmHg (IC95% -2,28 –
realizados ajustes, nas análises estatísti- -0,34 mmHg; p=0,01) nos participantes
cas, para alguns fatores de confundimento com doença cardiometabólica pré-exis-
importantes. Por exemplo, a idade e a adi- tente56. Em outra meta-análise, realizada
posidade corporal devem ser cuidadosa- por Beveridge et al.57, na qual foram inclu-
mente controladas nas análises multivaria- ídos 46 estudos (n=4.541), também não
das, pois tanto a idade avançada quanto a foi observada redução significativa da PA
adiposidade excessiva aumentam o risco com a suplementação de vitamina D.
tanto de deficiência de vitamina D quan-
to de hipertensão. Outro fator que limita a A ausência de redução significativa da PA
interpretação dos estudos observacionais encontrada em alguns estudos pode ser
é a possibilidade de causalidade reversa. atribuída a diferentes fatores:
Por último, a principal limitação dos es-
tudos observacionais é que não podem 1. inclusão de indivíduos que não apre-
provar que a relação entre deficiência de sentavam deficiência e/ou insuficiência
vitamina D e hipertensão é causal. Essa de vitamina D,
relação causal só pode ser estabelecida
através de ensaios clínicos randomizados 2. inclusão de pacientes normotensos,
com suplementação de vitamina D.
3. utilização de doses baixas de vitamina D,

Estudos com suplementação 4. tamanho inadequado da amostra e


de vitamina D
5. suplementação de vitamina D durante
Até o presente momento, já foram publi- curto período de tempo7,9,44,58.
cados mais de 20 ensaios clínicos ran-
domizados avaliando os efeitos da su- Estudos recentes foram desenhados com
plementação de vitamina D sobre a PA. o objetivo de evitar alguns desses vieses
Apesar de alguns estudos terem observa- e incluíram apenas indivíduos com ní-
do redução significativa da PA39-44, a maio- veis séricos de 25(OH)D<30 ng/mL, pré-
ria não observou tal fato45-55 ­(Tabela 1). -hipertensos ou hipertensos e utilizaram
É importante ressaltar que em muitos doses de vitamina D ≥2.000 UI/dia43,44,54,55.

69
Tabela 1.
Ensaios clínicos randomizados avaliando os efeitos da suplementação de vitamina D sobre a pressão arterial.
25(OH)D Efeito Efeito
Autores Dose vitamina D3 /
n basal Duração ↓ PAS ↓ PAD
(ano) D2 (UI)
(ng/mL) (mmHg) (mmHg)
Sugden et al. 34 ↓14
16,1 100.000 /1 vez 8 semanas NS
(2008)39 DM tipo 2 p<0,05
Nagpal et al. 71 120.000 / sem
14,6 6 semanas NS NS
(2009)45 Saudáveis intercaladas
Jorde et al. 438 40.000 ou 20.000/ 1
23 NS NS
(2010)46 Sobrepeso/obesidade sem ano
305
Wood et al.
Mulheres na – 400 versus 1.000/dia 12 meses NS NS
(2012)47
pós-menopausa
Larsen et al. 130
23 3.000 /dia 20 semanas NS NS
(2012)40 HAS
Larsen et al. 92 ↓4,0 ↓3,0
<32 3.000 /dia 20 semanas
(2012)40 HAS p<0,05 p<0,05
77
Salehpour
Mulheres com 16 1.000 /dia 12 semanas NS NS
et al. (2012)48
sobrepeso
↓2,3
Forman et al. 283 1.000, 2.000 3 meses
16 (4.000UI) NS
(2013)41 Negros ou 4.000/dia
p=0,02
Wamberg 52 obesos com 13,2
7.000/dia 26 semanas NS NS
et al. (2013)49 deficiência vitamina D (<20)
Witham et al. 159 idosos 18 100.000 / cada 3 12
NS NS
(2013)50 HAS (<30) meses meses
Sollid et al. 511 1
24 20.000/sem NS NS
(2014)51 Pré-diabetes ano
Nasri et al. 60 ↓6,8 ↓2,9
36 50.000/sem 12 semanas
(2014)42 DM tipo 2 p<0,01 p<0,01
Witham et al. 68 100.000/ cada 6
16 NS NS
(2014)52 HAS resistente 2 meses meses
322 200.000/mês nos
Scragg et al. 18
Normotensos 28,8 2 primeiros meses, NS NS
(2014)53 meses
e hipertensos depois 100.000/mês
Chen et al. 6 ↓6,2 ↓4,2
126 HAS 19,4 2.000/dia
(2014)43 meses (p<0,01) (p<0,01)
Mozaffari- 42 HAS
↓7,3 ↓3,4
-Khosravi com insuficiência / <30 50.000/sem 8 semanas
p<0,001 p=0,003
et al. (2015)44 deficência vitamina D
200 HAS com
Pilz et al.
insuficiência / <30 2.800/dia 8 semanas NS NS
(2015)54
deficência vitamina D
534 HAS e pré-HAS
Arora et al. 15,3 6
com insuficiência / 4.000/dia NS NS
(2015)55 (≤ 25) meses
deficência vitamina D
PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; HAS: hipertensão arterial sistêmica;
DM: diabetes mellitus; NS: não significativo.

70
Dentre esses estudos, dois observaram plementação de vitamina D apresentam
redução significativa da PA43,44, enquanto resultados inconsistentes. Há necessida-
os outros dois, incluindo um maior número de de novos estudos randomizados bem
de participantes, não observaram benefí- delineados, incluindo participantes hi-
cios sobre a PA54,55. pertensos com deficiência de vitamina D
para que se possa estabelecer o papel da
Considerações finais vitamina D na prevenção e no tratamento
da hipertensão arterial. Enquanto isto, a
Apesar dos estudos observacionais su- monitorização dos níveis séricos de vita-
gerirem que a deficiência de vitamina D mina D e a correção da deficiência desta
está associada com aumento da PA, os vitamina deve ser recomendada visando
ensaios clínicos randomizados com su- a manutenção da saúde óssea.

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72
Artigo 5

Ácidos graxos ômega-3 e hipertensão


arterial sistêmica: Evidências científicas
baseadas em ensaios clínicos controlados
Omega-3 fatty acids and hypertension:
Scientific evidence based on controlled clinical trial

Márcia Gowdak
Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) – São Paulo (SP), Brasil.
Flávia De Conti Cartolano
Departamento de Nutrição, Faculdade de Saúde Pública – São Paulo (SP), Brasil.
Caroline Pappiani
Departamento de Nutrição, Faculdade de Saúde Pública – São Paulo (SP), Brasil.
Nágila Raquel Teixeira Damasceno
Departamento de Nutrição, Faculdade de Saúde Pública – São Paulo (SP), Brasil.

Resumo Abstract
A hipertensão arterial sistêmica é um dos principais Hypertension is the major independent risk
fatores de risco independente para o desenvolvimento factors for the development of cardiovascular
das doenças cardiovasculares. O tratamento efetivo disease. The effective treatment of the
da doença depende das mudanças no estilo de disease depends on the lifestyle changes
vida, assim como do tratamento medicamentoso. and medical therapy. Fish consumption is a
A recomendação do consumo de peixe é ressaltada common advice as part of a healthy diet in
nas principais propostas de dieta saudável. A principal the main dietary advice. Most scientists have
atenção dos pesquisadores está relacionada ao óleo their attention on omega-3 fatty acids and
de peixe, rico em ácidos graxos ômega-3 e seus their active components, eicosapentaenoic
componentes ativos, o ácido eicosapentaenoico acid (EPA) and docosahexaenoic acid (DHA).
(EPA) e o ácido docosahexaenoico (DHA). O efeito The hypotensive effect of omega-3 has been
hipotensor da suplementação de ácidos graxos investigated. The present review discusses the
ômega-3 tem sido estudado. A presente revisão scientific evidences for the effect of omega-3
discute as evidências científicas, baseadas em supplementation to control blood pressure.
estudos clínicos aleatorizados e controlados, sobre
o efeito da suplementação do ômega-3 no controle
da pressão arterial.
Keywords
omega 3 fatty acids; hypertension; clinical trials
as topic.
Palavras-chave
ácidos graxos ômega-3; hipertensão; ensaios clínicos
como assunto.

Endereço para correspondência: Nágila Raquel Teixeira Damasceno – Avenida Doutor Arnaldo, 715 –
CEP: 01246-904 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: nagila@usp.br
Fonte de financiamento: nenhuma.

73
Introdução para a redução do risco de doença car-
diovascular.
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é
um dos principais fatores de risco inde- Entre as principais recomendações die-
pendente para o desenvolvimento das téticas, temos a diminuição do sódio, a
doenças cardiovasculares1. Segundo a mudança no padrão alimentar e a dimi-
Organização Mundial de Saúde2, a preva- nuição do consumo de bebidas alcoó-
lência mundial de HAS em indivíduos aci- licas. No contexto do padrão alimentar
ma de 18 anos é de 22%. Nas últimas dé- destaca-se a clássica dieta Dietary Ap-
­
cadas, embora a proporção da população proaches to Stop Hypertension5 (DASH),
hipertensa tenha apresentado modesta além do estilo Mediterrâneo6, ambas ca-
redução, o número absoluto da doença racterizadas pelo aumento do consumo
tem aumentado em função do crescimen- de frutas e vegetais, aumento do consu-
to e envelhecimento da população. mo de laticínios e derivados do leite, além
da diminuição das gorduras saturadas e
No Brasil, a prevalência de hipertensão aumento das gorduras insaturadas. A re-
é de 30,8%, de acordo com os dados da comendação do consumo de peixe é res-
OMS3, e sua distribuição média segundo saltada nas duas propostas e a principal
o gênero é de 36,8 e 25,3% em homens e atenção dos pesquisadores está relacio-
mulheres, respectivamente. nada ao óleo de peixe, rico em ácidos
graxos ômega-3 e seus componentes ati-
A HAS é multifatorial em sua gênese e vos, o ácido eicosapentaenoico (EPA) e o
desenvolvimento e depende do controle ácido docosahexaenoico (DHA). A quan-
dos diversos fatores de risco modificáveis tidade de ômega-3 nos peixes é bastan-
para a sua prevenção ou tratamento as- te variável, o que dificulta a avaliação do
sociado à medicação. impacto desse ácido graxo isoladamen-
te no controle da pressão arterial (PA) e
A obesidade é o fator de risco modifi- como coadjuvante no tratamento da HAS.
cável que mais eleva o risco de desen- Além disso, a presença de outros nutrien-
volvimento da HAS. O excesso de peso tes pode funcionar com um fator de con-
está frequentemente relacionado com a fusão na interpretação dos resultados.
resistência à insulina e a resistência Desta forma, a maioria das pesquisas
à leptina, condições fisiológicas que au- tem estudado o efeito do suplemento de
mentam a atividade do sistema nervoso ômega-3 na diminuição da PA de indiví-
simpático, favorecendo a reabsorção de duos hipertensos e normotensos.
sódio e água pelo rim, com consequente
aumento do débito cardíaco, da resis- Os mecanismos que poderiam explicar
tência vascular periférica e da pressão o seu efeito hipotensor são inúmeros,
arterial sistêmica4. dos quais podemos destacar: produção
de eicosanóides com propriedades va-
Diante do cenário epidemiológico da sodilatadoras; ação inibidora do sistema
HAS e dos fatores associados, assume- renina-angiotensina; aumento da sínte-
-se que o tratamento efetivo da doença se de óxido nítrico pela ativação da en-
depende das mudanças no estilo de vida, zima óxido nítrico sintase-endotelial; ini-
assim como do tratamento medicamento- bição dos receptores alfa-adrenérgicos
so. Neste sentido, a prática de atividade e consequente diminuição da liberação
física e a adequação da dieta contribuem de cálcio intracelular7,8.

74
A presente revisão discute as evidências Por meio da ação das enzimas COX e
científicas, baseadas em estudos clíni- LOX sobre o EPA, são gerados eicosanoi-
cos aleatorizados e controlados, sobre des (leucotrienos, tromboxanos e prosta-
o efeito da suplementação do ácido gra- glandinas) da série ímpar (E3 e E5) que
xo ômega-3 no controle da HAS. Serão possuem propriedades antiaterogênicas,
discutidos os possíveis mecanismos de anti-inflamatórias e vasodilatadoras12. Es-
ação ao nível metabólico e molecular, as- ses irão competir com a ação dos eicosa-
sim será avaliada a resposta clínica frente noides da série par (E2 e E4) gerados a
a diferentes dosagens e duração das in- partir do AA. Um exemplo dessa compe-
tervenções. Foram pesquisados na base tição ocorre quando há aumento da for-
de dados Pubmed artigos publicados nos mação da PGI3, uma prostaciclina sabida-
últimos 10 anos, usando os seguintes mente vasodilatadora, com consequente
descritores: ômega-3, DHA, EPA, óleo de redução da produção de tromboxano A2,
peixe, hipertensão. um potente vasoconstritor13. Além disso,
o DGLA, um precursor direto do AA, tam-
Aspectos estruturais dos bém compete pela via COX/LOX, levando
à produção da PGE1, outro agente vasodi-
ácidos graxos ômega-3 e latador com propriedade antiplaquetária14.
relevância na saúde e na
Em paralelo, o ácido alfa linolênico (ALA,
doença 18:3, ômega-3) sofre reações de dessa-
turação e elongação para formar o EPA
Para entender o papel dos ácidos graxos (20:5, ômega-3), que é um precursor de
ômega-3 sobre a PA é importante conhe- prostaglandinas da série 3 e leucotrie-
cer o seu metabolismo e as interações nos da série 59. Essas prostaglandinas
com os ácidos graxos ômega-6. Ambos são fisiologicamente menos potentes do
os ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) que as formadas a partir do AA e os seus
compartilham das mesmas vias metabóli- efeitos no tônus vascular, agregação pla-
cas e oxidativas; no entanto os seus pro- quetária e inflamação são antagônicos10.
dutos metabólicos finais têm efeitos fisio- Posteriormente, o EPA é convertido em
lógicos antagônicos9. DHA (22:6, ômega-3). Além disso, o EPA
e DHA são também precursores de lipo-
Após as reações de dessaturação e xinas, resolvinas e protectinas, compos-
elongação, o ácido linoleico (LA, 18:2, tos que modulam a inflamação e servem
ômega-6) converte-se em ácido dihomo como reguladores endógenos do tônus
gama linolênico (DGLA, 20:3, ômega-6), vascular e PA11.
que é convertido em ácido araquidônico
(AA, 20:4, ômega-6). O ácido araquidô- Esses derivados de EPA e DHA (resolvi-
nico (AA) é precursor de prostaglandi- nas, protectinas e maresinas) têm o papel
nas, tromboxanos e leucotrienos das pró-resolutivo na inflamação por meio da
séries 2 e 4, mediadas por ciclo-oxige- inibição do fator nuclear kappa B (NF-kB)
nases (COX) e lipoxigenases (LOX). e diminuição do recrutamento de neutrófi-
Ambas as prostaglandinas e os leuco- los15-18. A Figura 1 descreve os processos
trienos modulam respostas fisiológicas de dessaturação e elongação do ôme-
associadas à vasoconstrição, agrega- ga-3 que favorecem a geração de com-
ção de plaquetas e síntese de mediado- postos bioativos capazes de modular as
res inflamatórios10,11. vias que controlam a PA.

75
Aspectos moleculares de mente com um efeito cardíaco, mediado
pela diminuição da frequência cardíaca7.
ação dos ácidos graxos Atualmente, os possíveis mecanismos
ômega-3 na hipertensão para tais efeitos incluem: supressão de
eicosanoides vasoconstritores, regu-
arterial sistêmica lação do sistema renina-angiotensina,
Os ácidos graxos poli-insaturados pos- maior produção e/ou liberação de óxido
suem múltiplas e complexas atividades nítrico (NO), inibição de receptores alfa-
biológicas, que variam desde a ação di- -adrenérgicos, mudanças no fluxo intra-
reta em receptores até a modulação da celular de cálcio, aumento da fluidez da
expressão gênica19. Especificamente membrana, além da ativação ou inibição
em relação aos ácidos graxos ômega-3 de fatores de transcrição, por exemplo, a
e o controle da PA, os efeitos anti-hiper- proteína de ligação a elemento regulador
tensivos são multifatoriais e envolvem a de esterol (SREBP) e de receptores nu-
modulação da função endotelial e com- cleares, por exemplo, os receptores ati-
placência arterial (grandeza utilizada vados por proliferadores de peroxissoma
para expressar a razão entre variação do (PPARs), o fator nuclear hepático (HNF)
volume e a variação de pressão), junta- e o receptor retinóide X (RXR)7.

Ômega-3 Ômega-6

Ácido linolênico Ácido linoleico


C18:3 (w-3) C18:2 (w-6)
∆6-Dessaturase
Ácido octadecatetraenoico
C18:4 (w-3)
Elongase

Ácido eicosatetraenoico Ácido γ-linolênico


C20:4 (w-3) C18:3 (w-6)
∆5-Dessaturase

Ácido eicosapentaenoico (EPA)


C20:5 (w-3) Ácido dihomo γ-linolênico
C20:3 (w-3)
Ácido docosapentaenoico
LOX
C22:5 (w-3)
COX/LOX Ácido araquidônico (AA) COX/LOX
Ácido docosahexaenoico (DHA) C20:4 (w-6)
C22:6 (w-3)
LOX COX/LOX
Séries 3 e 5 Série 1
Prostaglandinas (TXA3, PGE3) Prostaglanoides
Maresinas
Leucotrienos (LTBA5) Leucotrienos
Resolvinas (série D)
Resolvinas (série E) Protectinas Séries 2 e 4
Protectinas Prostaglandinas (TXA4, PG12, PGE2)
Leucotrienos (LTBA4)

LOX: lipoxigenase, COX: ciclooxigenase.


Figura 1.
Processos de dessaturação e elongação do ômega-3 e ômega-6 e consequente geração de
compostos bioativos.

76
Modificações dos perfis de ácidos graxos inibiu mais efetivamente a atividade da
plasmáticos e teciduais têm sido ampla- ECA (EPA>ALA>DHA>LA>AA)14.
mente descritas após a suplementação
com ômega-320-26, com incorporação de Outro mecanismo pelo qual o ômega-3
EPA e DHA em detrimento da presença pode modular a PA é por meio do estí-
de ácidos graxos da família ômega-6. mulo da liberação de NO, que tem fun-
Desta maneira, o aumento da produção ção vasodilatadora36. Esse efeito pare-
de mediadores com ações vasodilatado- ce ser devido a modificações lipídicas
ras, antitrombóticas e anti-inflamatórias e estruturais nas cavéolas, levando ao
na presença da disponibilidade aumen- deslocamento para o plasma da enzima
tada de ômega-3 tecidual é resultado, óxido nítrico sintase endotelial (NOSe),
tanto do aumento de seus precursores que está ligada à caveolina-1. Essa mi-
na membrana plasmática, quanto da gração para o citossol levaria a ativação
competição com os ácidos graxos ôme- da NOSe37. Ademais, a ativação da NOSe
ga-6 pelas enzimas metabólicas comuns nas células da musculatura lisa vascular
em suas vias de metabolização14. Embo- também parece estar relacionada à inibi-
ra o mesmo conjunto de dessaturases e ção do fator de crescimento derivado de
elongases possa sintetizar AA e DHA a plaquetas (PDGF). Esse fator é regulador
partir de seus respectivos precursores, é da atividade da NOSe e é modulado pelo
bem estabelecido que o aumento dieté- ômega-338,39. Dessa maneira, a incorpo-
tico do ALA inibe a síntese de AA a partir ração de EPA e DHA em fosfolipídios da
de LA27-31. membrana endotelial irá atuar modulan-
do o tônus vascular e, possivelmente, na
Evidências científicas propõem que os complacência arterial40.
efeitos benéficos do ômega-3 sobre a
PA vão além da produção de prostanói- McVeigh et al.41 mostraram que, em indi-
des com propriedades vasodilatadoras. víduos com diabetes tipo 2, a complacên-
Os efeitos antagonistas do ômega-3 so- cia arterial melhorou significativamen-
bre os receptores da angiotensina II po- te após 6 semanas de suplementação
dem também ser responsáveis pela mo- com óleo de peixe em comparação com
dulação da PA por este ácido graxo32,33. azeite de oliva. Em pacientes dislipidê-
Os ácidos graxos ômega-3 também de- micos, a suplementação com EPA ou
monstram ter ação inibidora sobre o sis- DHA melhorou a complacência arterial
tema renina-angiotensina, por meio da em 35 e 27%, respectivamente40. Pase
modulação na secreção da renina e da et al.42 demonstraram em sua meta-
atividade da enzima conversora da angio- -análise resultados que corroboram com
tensina (ECA)34,35. Em um estudo experi- tais achados. Além disso, os ácido gra-
mental com ratos alimentados durante 4 xo ômega-3 podem reduzir a frequência
semanas com óleo de linhaça (represen- cardíaca43-45, sugerindo um efeito cardí-
tando 20% da energia consumida), obser- aco sinérgico associado aos efeitos anti-
vou-se a diminuição da secreção de reni- -hipertensivos, possivelmente, mediado
na34. Além disso, a redução da expressão pela atividade β-adrenérgica e o sistema
e atividade da ECA foram observadas nervoso autônomo19.
em ratos hipertensos com 6 semanas de
idade, após serem alimentados com uma A inibição da ativação de receptores alfa-
dieta contendo 10% de ALA. Posterior- -adrenérgicos também tem sido descrita8.
mente, essas observações foram confir- Como resultado dessa inibição, ­ tem-se
madas por ensaios in vitro, no qual o EPA a diminuição da produção do inositol

77
1,4,5-trifosfato (IP3) responsável pela es- dos com seus efeitos sobre as cateco-
timulação da liberação de cálcio intrace- laminas e ATP. Hashimoto et  al.50 mos-
lular a partir do retículo endoplasmático. traram que ratos alimentados com DHA
Contudo, postula-se que as propriedades apresentaram redução da noradrenalina
vasodilatadoras do EPA e do DHA são no plasma e aumento de ATP, liberado
medidas por mecanismos intracelulares, tanto espontaneamente e em resposta à
além do estímulo à liberação de NO, an- noradrenalina a partir de segmentos de
teriormente descrito. artéria caudal. Esses animais tiveram
44% menos noradrenalina plasmática
No estudo de Taffet et al.46, ratos alimen- e PA atenuada. Os níveis plasmáticos
tados com uma dieta suplementada com de ATP foram inversamente associados
EPA e DHA apresentaram diminuição com a PA. A relevância dessas associa-
na atividade da adenosina trifosfatase ções se deve ao fato do ATP ter ação
(ATPases), transportadora de Ca2+ do re- vasodilatadora, estimulando a libera-
tículo sarcoplasmático do músculo cardí- ção de NO a partir de células endote-
aco, evidenciando o papel desses ácidos liais, através da ação direta nas células
graxos na modulação da liberação de do músculo liso. Portanto, o aumento
cálcio intracelular e, consequentemen- da libertação de ATP a partir de células
te, na contração muscular. Portanto, a endoteliais vascular, em conjunto com
inibição da ativação de receptores alfa- reduzida noradrenalina plasmática, po-
-adrenérgico juntamente com a diminui- deria contribuir para a redução na PA
ção da atividade da ATPase contribuiria associada ao ômega-3.
positivamente para o papel do ômega-3
no controle da PA. Contudo, Abeywardena e Patten51 des-
tacaram que, enquanto uma grande va-
Além disso, a inibição da ativação dos riedade de mecanismos pode contribuir
receptores alfa-adrenérgicos também irá para a ação do ômega-3 na redução da
resultar na menor formação de 1,2-diacil- PA, o papel das células endoteliais vascu-
glicerol (DAG), um ativador da proteína lares parece ser central nesta modulação.
quinase C (PKC), que é responsável pela A Figura 2 destaca os mecanismos asso-
ativação da bomba de sódio e potássio e ciados à homeostase da PA modulados
dos canais de cálcio na membrana celular, pelo ômega 3.
modulando a contração muscular. Contu-
do, estudos sugerem que a PKC e suas Evidências de eficácia
várias isoformas regularam diretamente
os receptores ativados pelos PPARs47-49. clínica do ômega-3 na HAS
Assim, uma vez que a PKC é essencial
para a ativação dos PPARs e existe for- O consumo elevado de ômega-3 tem
te evidência da ação de ômega-3 através sido associado com efeitos cardiopro-
desses receptores, é pouco provável que tetores e melhora da função endotelial,
a contribuição desta via (inibição PKC) por meio dos seus efeitos benéficos
seja crucial na diminuição da PA associa- sobre a PA, perfil lipídico, agregação
da ao ômega-3. plaquetária e pelas suas propriedades
­anti-inflamatórias52.
Em adição, estudos baseados em mode-
los animais sugerem que os efeitos dos Diferentes meta-análises mostraram que
ácidos graxos ômega-3 na modulação doses relativamente altas de ômega-3
da PA também podem estar relaciona- podem levar a reduções da PA clinica-

78
mente relevantes nos indivíduos com hi- ram uma dieta com elevada proporção
pertensão não tratada. Na meta-análise de ácidos graxos saturados ou de áci-
de Appel et al.53, que incluía 17 ensaios dos graxos monoinsaturados. Ambos
clínicos, a redução da pressão arterial os grupos foram ainda distribuídos ale-
sistólica (PAS) e diastólica (PAD) em in- atoriamente para receber suplementa-
divíduos hipertensos foi 5,5 e 3,5 mmHg, ção com óleo de peixe (3,6 g/dia) ou
respectivamente, em um período de inter- placebo (azeite de oliva, 3,6 g/dia).O
venção (3 g/dia) de até 3 meses. principal objetivo foi avaliar os efeitos
de diferentes tipos de gordura sobre a
Outra meta-análise incluindo 36 estudos PA em indivíduos saudáveis. Os resul-
mostrou uma redução de 2,1 mmHg na tados mostraram que a suplementação
PAS e 1,6 mmHg na PAD, com um con- não afetou a PA, independente da quan-
sumo médio de 3,7 g/dia de óleo de peixe tidade de gordura na dieta55. Resultado
durante 12 semanas54. semelhante foi observado em um estu-
do realizado com 37 voluntários saudá-
No entanto, em um estudo randomiza- veis, mas foi utilizado uma dose menor
do, 162 indivíduos saudáveis recebe- de ômega-3 (1,0 g/dia)56.

Produção de eicosanoides Vasomodulação

↑Eicosanoides da série E3 e E5 ↑Óxido nítrico e ATP


↓Tromboxano A2 ↓Liberação de cálcio intracelular
↑Resolvinas, protectinas e maresinas ↓Ativação PKC
↓Inflamação ↓Noradrenalina

↓PA

Sistema renina-angiotensina Sistema cardiovascular


↓Atividade da ECA
↓Frequência cardíaca
↓Secreção de renina
↑Complacência arterial

PA: pressão arterial; ECA: enzima conversora da angiotensina; ATP: adenosina trifosfato;
PKC: proteína quinase C.
Figura 2.
Possíveis efeitos inibitórios do ácido graxo ômega-3 sobre vias que levam à hipertensão. Os efeitos
anti-hipertensivos do ácido graxo ômega-3 são multifatoriais e envolvem: a) produção de eicosanoi-
des vasodilatadores e mediadores pró-resolução, supressão da liberação de tromboxano A2 e da
inflamação; b) modulação da função endotelial; c) inibição da secreção de renina e da atividade da
ECA; d) diminuição da frequência cardíaca e aumento da complacência arterial.

79
Em um estudo transversal, Ramel 1. dieta de peixe contendo 3,65 g/dia de
et al.57 analisaram a associação entre ômega-3;
fatores de risco cardiovascular, dieta
e índice ômega-3 nas membranas eri- 2. dieta de baixas calorias (<30% de gor-
trocitárias em 324 indivíduos, com ida- dura);
des entre 30–35  anos e com excesso
de peso na Espanha, Islândia e Irlanda. 3. combinação de ambas as dietas e
Entre os participantes, 32% apresen-
tavam PA elevada. Os resultados não 4. dieta controle (dieta habitual dos parti-
apresentaram associação entre as vari- cipantes).
áveis e PAS ou PAD.

Resultados semelhantes foram encontra-


dos por Szabo et al.58 em pacientes com Os indivíduos que consumiram gran-
doença cardiovascular. Neste estudo de quantidade de ômega-3 apresen-
duplo-cego, 2.501 indivíduos foram ran- taram redução da PAS e PAD (6,0 e
domizados em 4 grupos: suplementação 3,0  mmHg, respectivamente). No entan-
com ômega-3 (1,2 g/dia EPA e DHA), su- to, a redução foi maior com a combinação
plementação com vitaminas do complexo de ambas as dietas (PAS=13,0 mmHg e
B, a combinação das 2 intervenções e PAD=9,3 mmHg).
placebo (cápsulas de gelatina). No entan-
to, após 5 anos de intervenção, os auto- O efeito do ômega-3 na PA em indivídu-
res não encontraram efeito na PA. os com dislipidemia tem sido contro­verso.
Em um estudo retrospectivo, o efeito da
Há poucos anos foi publicado o estu- suplementação com ômega-3 durante
do de intervenção dietética LIPGENE59. 12 meses foi avaliado em 111 indivíduos
Este estudo avaliou o efeito do ômega-3 com hipertrigliceridemia e HAS sem trata-
sobre a PA de indivíduos com síndrome mento. Os indivíduos receberam 2 g/dia
metabólica por 12 semanas, e os volun- de ômega-3, contendo, pelo menos, 85%
tários foram aleatorizados para uma das de EPA e DHA. Os resultados mostraram
quatro dietas, evitando viés. Em duas redução significativa da PAS e PAD (2,7 e
dietas, 38% da energia total era forneci- 1,4 mmHg, respectivamente)61.
da sob a forma de gorduras: uma elevada
em ácidos graxos saturados e outra em Resultados semelhantes foram encon-
monoinsaturados. Nas outras 2 dietas, trados no estudo realizado por Iketani,
20% da energia era proveniente de gor- Takazawa e Yamashina62 no qual avalia-
duras: uma com suplementação de 1–2 g/ ram 24 pacientes com hiperlipidemia não
dia de ômega-3 e outra com ácido oleico tratada. Desses, 13 pacientes receberam
ou óleo de girassol. A PAS e a PAD per- suplementação com EPA (1,8 g/dia) e 11
maneceram semelhantes após as quatro receberam estatina (10 mg/dia), durante
intervenções, evidenciando a possível 3 meses. No grupo ômega-3, os resulta-
falta de efeito as baixas dosas utilizadas dos mostraram redução significativa da
,quando comparadas a outros estudos. PAS e PAD (7 e 8%, respectivamente).

Em um estudo de intervenção dietética60, Em outro estudo, 60 pacientes hiperlipidêmi-


69 voluntários com excesso de peso e cos foram distribuídos aleatoriamente para
HAS tratada, foram aleatorizados em um dos quatro grupos: placebo (óleo de gi-
uma das 4 dietas diferentes: rassol, 4 g/dia), óleo de peixe (4 g/dia, sen-

80
do 1,4 g/dia de ômega-3), esteróis vegetais rentes suplementos: 2 g/dia de azeite de oli-
(2 g/dia) e a combinação de óleo de peixe e va, seguido de 2 g/dia de ômega-3 e, nova-
esteróis. Houve tendência, não significativa, mente 2 g/dia de azeite de oliva. Ambas PAS
em diminuir PAS e PAD nos grupos conten- ­(TBASAL=131  mmHg e TFINAL=122  mmHg) e
do ômega-363. Por outro lado, foi demons- PAD (TBASAL=83 mmHg e TFINAL=71 mmHg)
trado que a suplementação com dose baixa reduziram significativamente após o período
de ômega-3 (1 g/dia) a longo prazo (6 me- de suplementação com ômega-3.
ses) não reduziu a PA em voluntários com
excesso de peso e hipertrigliceridemia64. Além disso, Miller et al.67 realizaram uma me-
ta-análise baseada em 70 estudos clínicos
Carter et al.65 também avaliaram o efeito aleatorizados controlados e observaram que
do ômega-3 na PA em pacientes normo e indivíduos hipertensos tiveram redução da
pré-hipertensos (n=67, sendo 38 normo e PAS e PAD após serem suplementados com
29 pré-hipertensos). Neste estudo rando- doses doses diárias de EPA e DHA iguais ou
mizado duplo-cego, os participantes rece- superiores a 2 gramas. Esses resultados fo-
beram 9 g de óleo de peixe (2,7 g EPA e ram baseados em intervenções com alimen-
DHA) ou 9 g de placebo (azeite de oliva) tos fonte de ômega-3 e suplementação com
durante 8 semanas. No entanto, após a cápsulas contendo ômega-3 em intervalo de
intervenção, não houve diferença nos va- tempo superior a 3 semanas.
lores da PA dos indivíduos.
A Tabela 1 apresenta os principais estu-
Recentemente, Vernaglione et al.66 publica- dos que avaliaram o efeito do ômega-3
ram um estudo prospectivo a respeito dos sobre a PA.
efeitos do ômega-3 sobre a PA e outras
variáveis em 24 pacientes em hemodiálise. Considerações finais
No estudo do tipo crossover, depois da ava-
liação basal, os pacientes tiveram que seguir A HAS é um grave problema de saúde
períodos consecutivos de 4 meses com dife- pública com repercussões diretas na inci-

Tabela 1.
Estudos clínicos aleatorizados e controlados sobre os efeitos dos ácidos graxos ômega-3 sobre a
pressão arterial.
Dosagem Efeito na PA
Referência Ano Tipo do estudo n Duração
ω3 (g/dia) (PAS e PAD)
Miller et al.67 2014 Meta-análise* 1620 >3 semanas 3,8 ↓
Geleijnse et al.54 2002 Meta-análise* 1404 12 semanas 3,7 ↓
Appel et al.53 1993 Meta-análise* 291 <3 meses 3,0 ↓
Bao et al.60 1998 EC/Dietab 63 16 semanas 3,65 ↓
Rasmussen et al.55 2006 EC/Suplementaçãoa 162 3 meses 3,6 =
Carter et al.65 2012 EC/Suplementaçãoa 67 8 semanas 2,7 =
Vernaglione et al.66 2008 EC/Suplementaçãoa 24 4 meses 2,0 ↓
Cicero et al.61 2010 EC/Suplemantaçãoa 111 12 meses 2,0 ↓
Iketani et al.62 2012 EC/Suplementaçãoa 24 3 meses 1,8 ↓
Micallef et al.63 2009 EC/Suplementaçãoa 15 3 semanas 1,4 =
Gulseth et al.59 2010 EC/Suplementaçãoa 486 12 semanas 1,2 =
Szabo et al.58 2012 EC/Suplementaçãoa 2501 5 anos 1,2 =
Murphy et al.64 2007 EC/Dietab 86 6 meses 1,0 =
*tempo médio de duração e dosagem média de suplementação; aestudo clínico baseado em
suplementação com ômega-3; bestudo clínico baseado em dieta rica em alimentos fonte de ômega-3;
PA: Pressão arterial; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica.

81
dência de doenças cardiovasculares. De- nina-angiotensina, maior produção e/ou
vido aos múltiplos fatores causais e a com- liberação de NO, inibição de receptores
plexidade dos mecanismos associados a a-adrenérgicos, mudanças no fluxo intra-
sua gênese, o tratamento multidisciplinar celular de cálcio, aumento da fluidez da
deve envolver o uso de medicamentos e membrana, além da ativação ou inibição
a mudança no estilo de vida, com ênfase de fatores de transcrição.
na dieta. Particularmente no que se refe-
re ao consumo alimentar, grande atenção A participação desses mecanismos tem
tem sido dada ao possível papel benéfico sido confirmada por estudos clínicos alea-
dos ácidos graxos ômega-3 no tratamento torizados e controlados, em que interven-
da HAS. ções com ômega-3 e, particularmente,
EPA e DHA, administrados em doses su-
O ômega-3 tem se mostrado capaz de periores a 2 g/dia, com duração superior
modular a PA por meio da promoção da a 3 semanas, foram eficazes na redução
vasodilatação, regulação do sistema re- da PA em indivíduos hipertensos.

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