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RESUMO
Este estudo tem como finalidade executar uma revisão integrativa da literatura, utilizando periódicos
no recorte temporal de 2000 a 2017, analisar a existência de fatores de risco para o suicídio, verificar
quais as formas de intervenção psicoterápicas mais utilizadas e fornecer subsídios compilados para
profissionais de saúde. Visto que a metodologia utilizada foi a revisão integrativa da literatura, visando
a busca de fontes cientificas publicadas, foram incluídos artigos indexados nas seguintes bases de
dados: Biblioteca Virtual de Psicologia - Bvs-Psi, da Scientific Electronic Library Online – Scielo,
LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Portal de Periódicos
Eletrônicos de Psicologia (PePSIC). De acordo com a análise foi possível perceber que em relação aos
fatores os que mais se destacam são: diagnóstico psicopatológico, principalmente depressão e
comorbidades, uso de substâncias psicoativas, sentimento de tristeza e desesperança, desemprego, ser
do sexo masculino, não possuir filhos, possuir idade entre 15 a 44 anos e a partir de 65 anos, assim
como a falta de fatores protetivos. Em relação as intervenções psicoterápicas mais utilizadas Terapia
Cognitivo-Comportamental destaca-se na literatura, porém, foi verificado por meio dos dados
existentes que há uma carência de pesquisas acerca de intervenções psicoterápicas em pacientes com
comportamento suicida.
ABSTRACT
The purpose of this study is to carry out a integrative review of the literature, using periodic data from
2000 to 2017, analyzing the existence of risk factors for suicide, verifying the most used forms of
psychotherapeutic intervention and providing subsidies compiled for health professionals . Since the
methodology used was the systematic review of the literature, in order to search for published
scientific sources, articles indexed in the following databases were included: Virtual Library of
Psychology - Bvs-Psi, Scientific Electronic Library Online - Scielo, LILACS Latin American and
Caribbean in Health Sciences) and Portal of Electronic Journals of Psychology (PePSIC). According
to the analysis, it was possible to perceive that the factors that stand out most are: psychopathological
diagnosis, mainly depression and comorbidities, use of psychoactive substances, feelings of sadness
and hopelessness, unemployment, being male, having no children, to be aged between 15 and 44 years
and from 65 years, as well as the lack of protective factors. Regarding the most used
psychotherapeutic interventions Cognitive-Behavioral Therapy is highlighted in the literature,
however, it was verified from existing data that there is a lack of research on psychotherapeutic
interventions in patients with suicidal behavior.
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abordando o suicídio é muito proeminente, nos ideação suicida há uma grande dificuldade até
dias atuais. A cada ano que se passa morre cerca mesmo de identificar, perceber esse tipo de
de um milhão de pessoas por suicídio. Estima-se comportamento. O que se resulta disso é que as
que em 2020 o ato de auto-extermínio chegue a pessoas no geral e até mesmo os profissionais de
ter uma prevalência de 2.4% do índice de saúde que por não possuírem instruções,
mortalidade no mundo inteiro. Além disso, o conhecimento acerca dessa temática, acabam
aproximadamente 20 vezes mais alto que o suicídio raramente o faz, ou até mesmo perguntar
suicídio consumado (FOTTI et al. 2006). sobre suicídio pode desencadear o suicídio” (OMS,
causas de morte que ocorrem com maior constantemente com pacientes com ideação
quantidade de casos de morte por suicídio seja cogitaram alguma vez em suas vidas, tentar o ato
maior ainda, mesmo porque alguns casos não são de auto-extermínio, consequentemente estão em
Visto que o número de casos de suicídios sinais de alerta. Nesse sentido, está claro que
vem aumentando a cada dia que se passa de uma precisam ser capazes de identificar fatores de
jovens, se faz necessário estudos aprofundados assunto e que estejam aptos para realizarem
em prol deste tema, afim do entendimento de intervenções assertivas, sendo de fato, a proposta
uma ausência intolerável, a morte é apenas uma Em relação à analogia entre suicídio e os
consequência. meios de comunicação, pode-se observar que as
Para Durkheim (1897/2008) existem informações primordiais de dados de indivíduos
quatro tipos de suicídio: egoísta, altruísta, que se suicidaram logo depois da divulgação de
anômico e fatalista. O suicídio egoísta trata-se da suicídio, surgiram após a exposição da novela
ausência da sociedade na vida do indivíduo, a "Goethe Die Leiden des Jungen Werther" (Os
solidão do mesmo, levando ao individualismo. Já Sofrimentos do Jovem Werther), publicada em
o tipo altruísta, há a presença da sociedade em 1774. O personagem da novela, o herói, se suicida
peso na vida do sujeito, e tal ato é executado por por meio de um tiro, pelo fato de não possuir
reflexos de comunitarismo em excesso. Há o tipo capacidades adaptativas para superar uma
anômico, onde a ausência da sociedade é decepção amorosa. Após a distribuição do livro na
relacionada a crises, que acabam provocando o Europa, muitos jovens cometeram suicídio da
suicídio e por fim o tipo fatalista, no qual o mesma forma, o que contribuiu para a proibição do
indivíduo sente-se oprimido pelas pessoas que o livro e desencadeou o termo “Efeito Werther”, no
cercam e busca fugir dessa pressão. qual se referia a ao ato de reproduzir suicídios,
Silva et al. (2015), ressaltam a existência assim como foram realizados (OMS, 2000).
de preconceito e até mesmo vergonha, por parte É daí que se originou o receio da
de familiares de indivíduos suicidas, no que se divulgação de casos de suicídio. Mídias como
refere a assumir a verdadeira causa da morte. televisão, novelas, filmes, meios de comunicação
Provocando certa dificuldade ao se mensurar os em geral que abordem o suicídio são percebidos
dados reais de suicídio consumado, muitas vezes como meios de influência para que outras pessoas
os registros de suicídio não condizem com o que também cogitem a possibilidade de suicidar-se ou
realmente ocorre, o verdadeiro motivo da morte até mesmo de reproduzirem do modo que viram.
pode ser mascarado. Há a concepção de que pode também encorajar, ser
O índice de mortalidade por suicídio pode exemplo para quem já reflete acerca de colocar um
ser ainda mais elevado do que os dados fim a vida.
existentes, considerando-se que ocorrem diversas
1.2 PSICOTERAPIA E SUICÍDIO
vezes subnotificações. Pelo fato de que ainda
costuma-se tratar o suicídio como algo que não
De acordo com Avanci, Pedrão e Júnior
deve ser divulgado, para não influenciar assim a
(2005), foi verificado que entre os jovens que
ocorrência de mais casos e também por ser
tentaram pôr um fim a própria vida, 10%
percebido muitas vezes como um tabu, digno de
conseguiram atingindo o suicídio consumado
vergonha. Nesse sentido, muitos casos são
dentro de cerca de dez anos em seguida da
ocultados. Subentende-se que as estatísticas sobre
primeira tentativa e que apenas 25% dos que
o suicídio são ainda mais alarmantes
tentaram, buscaram ajuda médica.
(MACHADO; SANTOS, 2015).
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Nesse sentido, estudos mostram que precisa de um profissional que esteja de fato
profissionais de saúde mental sentem-se mais preparado para atendê-lo (Amorim, 2015).
mobilizados e possuem atitude mais positiva para Nesse sentido, além da relação entre a
com os pacientes que tentam suicídio do que psicoterapia e o suicídio, é relevante saber também
aqueles que não atuam na área (KISHI et al, quais os métodos suicídio que são mais utilizados,
2011, apud FREITAS; BORGES, 2014). Por isso pelo fato de auxiliar até mesmo em medidas
é importante a procura de ajuda do profissional preventivas relacionadas ao fenômeno. É
adequado, apto para tal, afim de que seja viável a necessária a consciência dessas informações afim
forma de tratamento específica para cada caso, a de que o próprio terapeuta saiba orientar a família
psicoterapia é um método para lidar com de seu paciente, para que os familiares se atentem
pacientes com risco de suicídio. até mesmo a objetos que devem ser retirados de
Assim, momento em que o paciente perto de um indivíduo com comportamento
procura a terapia, principalmente se for a primeira suicida. São informações importantes não só para
vez que busca o tratamento psicológico, o mesmo o terapeuta e para os familiares, mas para a
investe suas expectativas no terapeuta, coloca a sociedade em geral, segue um breve apanhado de
esperança toda nele e não percebe que só vai trabalhos relacionados aos transtornos e
conseguir chegar a algum lugar se houver comorbidades relacionados ao suicídio.
mudança primeiramente nele mesmo. No entanto
1.3 TRANSTORNOS E COMORBIDADES
o que ocorre com frequência é o contrário,
RELACIONADAS AO SUICÍDIO
pacientes acreditando que a responsabilidade é
somente do terapeuta (BECHELLI; SANTOS, Em conformidade com informações da
2005). OMS (2006), há uma prevalência maior, cerca de
Ao deparar-se com um paciente com 10 vezes mais suicídios onde os indivíduos foram
comportamento suicida, primeiramente, em diagnosticados com alguma desordem
relação a conduta do profissional, é preciso que o relacionada a personalidade, em oposição a
mesmo auxilie o indivíduo afim de que ele sinta- aqueles que não foram diagnosticados
se em segurança, onde quer que se encontre. Para pertencentes a algum quadro de transtorno
intervenções psicoterápicas em situações de crise, relacionado ao comportamento, a personalidade
o terapeuta precisa conhecer profundamente as ou até mesmo com presença de indicativos de
teorias que embasam esse tipo de psicoterapia e violência e agressão.
possuir alguns traços tais como: saber Para Barbosa et. al (2011), a concepção de
compreender o paciente, agir com naturalidade, comorbidade consiste em patologias
tranquilidade, transmitir confiança. Mesmo individualizadas ocorrendo ao mesmo tempo em
porque, o indivíduo já chega com o estado um paciente específico. A presença de ambas no
emocional extremamente abalado, o mesmo mesmo espaço temporal modifica a forma em que
a patologia irá se manifestar, o feedback ao
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O presente estudo constitui-se em uma nos quais os títulos correspondiam aos objetivos da
pesquisa de delineamento bibliográfico visando pesquisa foram lidos, para que fosse possível
uma análise de obras da literatura pertinente. selecionar apenas aqueles relacionados a esta área
autores a respeito do suicídio, fatores que o pesquisa. Logo depois ocorreu a análise e inclusão
permeiam e também a articulação da psicoterapia de alguns artigos de outros estudos, localizados
em relação ao fenômeno em estudo, fez-se o uso nas referências dos artigos selecionados, capazes
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de corresponder aos critérios de inclusão QUADRO 1 – Títulos dos artigos e autores utilizados para
estabelecidos. análise dos dados
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Continuação da Tabela
N° Continuação da Tabela
artigo TÍTULO AUTORES
N° artigo
13 Determinantes espaciais e Gonçalves L., TÍTULO AUTORES
socioeconômicos do Gonçalves E.
suicídio no Brasil: uma Júnior L. (2011) 24 Histórico de Violência Padovani R.,
abordagem regional Intrafamiliar em Williams L. (2008)
14 Violência sexual, Mondin T. et. al Pacientes Psiquiátricos
transtornos de humor e (2016) 25 Distorções do Medeiros H. e
risco de suicídio: um pensamento em Sougey E. (2010)
estudo de base pacientes deprimidos:
populacional frequência e tipos
15 Risco de suicídio e Vasconselos J. 26 Caso Vera: Peixoto et. al (2016)
comorbidades psiquiátricas Lôbo A., Neto intervenções do
no transtorno de ansiedade V. (2015) psicoterapeuta e
generalizada aliança terapêutica
16 Suicide risk in cocaine Rocha C. et al 27 Fatores de risco Ferreira N., Pessoa
addicts with a current (2015) relacionados com V., Barros R.,
depressive suicídios em Palmas Figueiredo A. e
episode: feelings and (TO), Brasil, 2006- Minayo M. (2014)
experiences. 2009, investigados por
17 Tentativas e suicídios por Santos S. meio de autópsia
intoxicação exógena no (2014) psicossocial
Rio de Janeiro, Brasil: 28 Substâncias tóxicas e Santos S., Legay L. e
análise das informações tentativas e suicídios: Lovisi G. (2013)
através do linkage considerações sobre
probabilístico acesso e medidas
18 Prevalência e fatores Moreira L. e restritivas.
associados à ideação Bastos P. 29 Estudo epidemiológico Oliveira M., Filho J.e
suicida na adolescência: (2015) da mortalidade por Feitosa F. (2012)
revisão de literatura. suicídio no Estado do
19 Risco de suicídio em King A., Nardi Ceará, no período
paciente alcoolista com A. e Cruz M. 1997-2007.
depressão. (2006) 30 Machado D. e Santos
20 Pacientes em Risco de Ferreira C. & Suicídio no Brasil, de D. (2012).
Suicídio: Avaliação da Gabarra L. 2000 a 2012
Ideação Suicida e o (2014)
Atendimento Psicológico. Fonte: Construção das autoras.
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retratado por Botega, Werlang, Cais e Macedo comórbido a outras psicopatologias como
(2006), onde os autores ressaltam que em 93-95% transtorno de humor, verifica-se uma exacerbação
dos casos há um diagnóstico psicopatológico, dos riscos de suicídio. Acerca da relação entre
onde divide-se em transtornos de humor, com transtorno de personalidade borderline e suicídio
prevalência maior de depressão grave os estudos de Pastore e Lisboa (2015), corroboram
correspondendo a 40-50% dos casos, dependência com achados na literatura existente.
de álcool, (em torno de 20% dos casos) e Outro fator bastante associado às tentativas
esquizofrenia (10% dos casos). de suicídio trata-se do uso de substâncias
A associação entre depressão e suicídio é psicoativas, na literatura pertinente a essa linha de
extremamente congruente, tal psicopatologia pesquisa, foram encontrados diversos artigos nos
consiste no principal fator associado ao quaispode se observar uma relação forte entre o
comportamento suicida, segundo a literatura. comportamento suicida e esse fator. Segundo
Trata-se do transtorno que mais têm tido Lovisi et al. (2009), um dos principais aspectos
prevalência permeando as tentativas de suicídio, relacionados ao suicídio é o abuso/dependência de
uma série de estudos mostram que o risco de álcool e drogas. A isso se acresce o fato de que
suicídio aumenta mais de 20 vezes em indivíduos quando há a presença de transtorno depressivo, o
com episódio depressivo maior e é ainda maior risco de intento de suicídio é potencializado.
em casos em que haja um transtorno psiquiátrico Nesse seguimento, Moreira e Bastos
juntamente com a depressão (2015), ressaltam que a prevenção ao uso de álcool
(CHACHAMOVICH et al. 2009). e drogas pode reduzir a tentativa de suicídio,
Além da depressão, o transtorno bipolar principalmente em adolescentes. Sob outra
também tem se mostrado prevalente nas perspectiva, Medeiros e Sougey (2010)
tentativas de suicídio. Dados da literatura acerca mencionam o alcoolismo como um fator
deste predomínio podem estar relacionados a desencadeante de tentativas de suicídio. E deste
demora para se chegar a um diagnóstico, que modo ressalta que deve ser dada uma relevância
pode acarretar em maior gravidade do transtorno, maior a tal fator, visto que a prevalência do uso de
além da polifarmácia, o uso de uma série de álcool em pacientes suicidas mostra-se alta.
medicamentos em um mesmo paciente ou até Cantão e Botti (2016) abordam o
mesmo a comorbidade com outro transtorno de comportamento suicida em dependentes químicos,
ordem psicológica (FERNANDES; SCIPPA, abrangendo drogas lícitas e ilícitas, os resultados
2012). das pesquisas dos mesmos corroboram o que foi
O transtorno de personalidade borderline trazido pelos outros autores. Ressaltam a
provoca uma excessiva dificuldade afetiva e prevalência alta de suicídio em dependentes
também leva a impulsividade, predisposição a químicos e o quão é importante avaliar o risco de
agressão ao próprio corpo e tendem a ter suicídio ao lidar com um paciente com
comportamento suicida, principalmente quando é dependência de substâncias psicoativas. É um fator
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que exige atenção no manejo com tais pacientes. variáveis, entretanto é relevante o conhecimento de
Aos fatores de risco se acresce o tais dados, tanto para a sociedade no geral, quanto
sentimento de desesperança, no qual aparece para os profissionais terem o conhecimento acerca
altamente relacionado ao comportamento suicida de padrões de dados inerentes ao suicídio.
com frequência na literatura. A desesperança A maior parte dos dados demográficos
constitui-se em uma perspectiva totalmente encontrados na literatura demonstram que a
negativa sobre o que está por vir, há uma tentativa de suicídio é mais comum em mulheres,
considerável falta de expectativas em relação ao mas o índice de suicídio consumado é mais
futuro (PERGHER; STEIN; WAINER, 2004). O elevado em homens, a cada três homens que
indivíduo perde o que o incentiva a viver, acredita falecem por suicídio uma mulher morre pela
que nada vai melhorar e que não possui motivos mesma causa. Percebe-se que os homens possuem
para estar vivo, chega ao ponto de não conseguir dificuldade para procurar e aceitar que precisam de
suportar sua própria vida acreditando piamente ajuda, mesmo encontrando-se em uma série de
que essa situação extremamente negativa que se problemas emocionais ou psicológicos não
encontra não vai mudar, com isso percebe o costumam abrir-se, pedir o auxílio de alguém. E
suicídio como a única saída (MARBACK; também utilizam métodos mais agressivos, o que
PELISOLI, 2014). reduz as probabilidades de sobrevivência
Outro fator trazido diversas vezes pela (FERREIRA; GABARRA, 2014).
literatura consiste no desemprego, no sexo No que tange o suicídio no sexo masculino,
masculino, mais ainda do que no feminino. Isso questões de ordem financeira podem ser mais
se deve o fato do homem sentir-se responsável complexas para os homens lidarem e
pelo sustento da família, provocando assim consequentemente um fator estressante que
intensa perturbação naqueles indivíduos que também pode influenciar na conduta suicida. Visto
encontram-se desempregados principalmente se que a cultura responsabiliza o homem em relação
for durante um longo período de tempo, ao ponto ao que se refere ao sustento da casa, quando há
de acreditarem que não vão conseguir um uma situação de crise financeira, o mesmo pode
trabalho, o que provoca uma pressão muito forte abalar-se extremamente, por carregar tal
(RAPOSO et al., 2016). responsabilidade (SCHLÖSSER; ROSA, 2014).
Verifica-se um padrão relacionado às
3.2 DADOS DEMOGRÁFICOS
tentativas de suicídio, onde a maioria são homens,
Informações demográficas a respeito do solteiros, que não possuem filhos, de idade entre
suicídio são úteis para identificar grupos que 15 á 44 anos e 65 anos na terceira idade. Nos
possam estar inseridos em maior probabilidade de idosos além da possibilidade do suicídio estar
risco de suicídio, mas não podem nortear a relacionado a algum transtorno psicológico ou
avaliação de casos específicos, determinar o risco psiquiátrico, a intencionalidade de suicídio pode
individual, pois este é dado por relações de ser influenciada também pela perda de atividade
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suicidas, contribuindo para a melhora dos manter o sigilo, porém se considerar pertinente a
mesmos (Sudak, 2012, citado por Marback & quebra de sigilo deve agir deste modo, mesmo porque
Pelisoli, 2014). Estudos realizados por Peixoto é importante avisar a família se for identificado
et al. (2016), corroboram com outros achados durante a sessão psicoterápica a possibilidade de
em relação a esse laço constituído entre o tentativa de suicídio. Porém é um direito, não é
terapeuta e seu paciente, principalmente na fase obrigatório que o mesmo haja dessa forma (ZANA;
inicial da terapia, onde o vínculo terapêutico é KOVÁCS, 2013).
estabelecido, o que evidentemente irá impactar o Em relação aos fatores protetivos que devem
decorrer do processo psicoterápico. ser também levados em consideração no que tange a
No que se refere a intervenções prática do psicólogo, os mais mencionados são em
psicoterápicas em pacientes com comportamento prol de uma relação familiar bem estabelecida onde o
suicida estudos mostram que a Terapia indivíduo possa procurar apoio quando necessitar,
Cognitivo- Comportamental – TCC, tem se possuir filhos, como também a religiosidade e
mostrado bastante eficaz no manejo com tais relações sociais bem estabelecidas. Além de outros
pacientes. Segundo Marback e Pelisoli (2014) aspectos relevantes que podem influenciar no que se
em um estudo de Brown e colaboradores (2005) refere ao risco de suicídio como: facilidade para
realizado em pacientes com altos níveis de solicitar ajuda quando necessário, autoconfiança,
desesperança, após 10 sessões de TCC, 50% dos sentir-se bem e ser mais flexível em suas emoções
pacientes se tornaram menos propensos a tentar (SCHLÖSSER et al., 2014).
suicídio, diferindo-se do grupo que não foi Ter filhos e obter responsabilidades para com
submetido a intervenções. Notou-se que houve a família sentir-se bem com atividades diárias, assim
uma diminuição relevante no grau de elevação como convívio social são fatores protetivos muito
da desesperança, que é um fator muito presente relevantes no que se refere às tentativas de suicídio.
quando se analisa um paciente com Percebe-se que principalmente na terceira idade, foi
comportamento suicida. mostrado na literatura em diversos artigos que a
Segundo Chachamovich et al. (2009), maioria dos idosos que tenta suicídio não possui
Em vários ensaios clínicos que buscaram avaliar suporte familiar e social adequado, relações afetivas
intervenções psicossociais, que buscam diminuir podem diminuir significativamente o risco de
a probabilidade de novas tentativas de suicídio, suicídio. Sérvio e Cavalcante (2013) abordam esses
houve evidências de que contatos regulares com fatores de proteção e pondera o quanto as relações
grupos de risco de suicídio chegaram a afetivas e a autonomia podem diminuir o risco de
resultados eficazes, diminuindo o número de suicídio na terceira idade.
tentativas.
Afirma que a prática do psicólogo deve 3.4 SUBSÍDIOS PARA PROFISSIONAIS
seguir as diretrizes do Código de Ética Profissional DE SAÚDE E PSICÓLOGOS
do Psicólogo, ser embasada nos preceitos éticos,
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isso, é preciso que os psicólogos se atentem a alarmante, é preciso uma mobilização maior em
esses sinais, por menores que sejam, por mais prol de diminuir essa prevalência tão alta. É
que alguma situação pareça ser simples, é imprescindível que a sociedade, os profissionais de
necessário olhar o paciente como um todo, saúde percebam a complexidade desse fenômeno e
percebendo até mesmo os aspectos mais não negligenciem tentativas de suicídio, por mais
subjacentes. que os motivos que levam a esse ato pareçam não
Ainda em relação aos paradigmas justificar tamanha manifestação agressiva contra a
inassertivos, percebe-se que acreditar que falar vida. Precisamos entender que cada um possui sua
sobre suicídio pode desencadear comportamento singularidade e reage da forma que consegue
suicida e evitar o assunto com pacientes é uma frente eventualidades aversivas. Faz-se necessário
concepção inverídica, porém muito arraigada também que sejam realizados mais estudos em prol
ainda, como mostrado na literatura. Precisamos de intervenções psicoterápicas em pacientes com
falar sim acerca do suicídio, dispor de mais comportamento suicida.
políticas públicas, estudarmos sobre o fenômeno
REFERÊNCIAS
e dar a devida relevância, em prol de assim
AMORIM C. Crise Suicida: Avaliação e manejo.
obtermos subsídios em prol de lutar conta o Psicologia Argumento, 33(80), pp. 221-223, 2015.
aumento do número de casos de suicídio doi: 10.7213/psicol.argum.33.080.REO01
consumado. ANDRADE, C.; HOLANDA A. Apontamentos
sobre pesquisa qualitativa e pesquisa empírico-
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS fenomenológica. Estudos de Psicologia, 27(2), 259-
268. 2010. doi: https://dx.doi.org/10.1590/S0103-
Em relação aos objetivos do estudo, os 166X2010000200013
mesmos foram alcançados de maneira que foi AVANCI, R.; PEDRÃO, L.; JUNIOR, M.. Perfil do
possível verificar que os indivíduos que colocam adolescente que tenta suicídio em uma unidade de
emergência. Revista Brasileira de Enfermagem, 58
um fim nas suas próprias vidas, na maioria dos (5), 535-539, 2005. doi:
casos possuem algum tipo de psicopatologia. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-
71672005000500007.
Acerca dos fatores de risco há uma incidência
maior no sexo masculino, de 15 a 44 anos, e na BARBOSA I., et al.. Comorbidades clínicas e
pisquiátricas em pacientes com transtorno bipolar do
terceira idade, por volta dos 65 anos. Alguns dos tipo I. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 60(4), 271-
mais citados são: abuso e dependência de 276, 2011.
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Educação, Psicologiae Interfaces|1(2) | 51-67 | Setembro – Dezembro de 2017. SILVA, J. V. S.; MOTTA, H. L.
http://www.acm.org.br/acm/seer/index.php/arquivos
/article/view/133/109
Recebido: 02/11/2017.
Aceito: 23/12/2017.
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