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Adriana Machado Casali?
Professora Assistente UFPR ± Universidade Federal do Paraná/Brasil ?
Doutoranda UFSC ± Universidade Federal de Santa Catarina/Brasil ?
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O texto propõe uma análise conceitual da comunicação organizacional a partir da tipologia de
paradigmas em ciências sociais proposta por Burrell e Morgan (1979). Analisados em suas oposições e
convergências, estes paradigmas abrigam duas noções da comunicação organizacional: ³comunicação
nas organizações´ e ³comunicação como organização´. Estes conceitos não apenas incorporam de
refenciais paradigmáticos, mas também assumem suas limitações. Sendo assim, sugere-se a
necessidade de superar fronteiras paradigmáticas para que se alcance uma concepção mais
abrangente da comunicação organizacional.?
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Uma breve retrospectiva histórica das pesquisas em comunicação organizacional ilustra a
variedade de abordagens teóricas existentes na área. As décadas de 60 e 70 foram identificadas como
um período caracterizado por uma hegemonia µtirana¶ por utilizar critérios extremamente limitados do
que era considerado como pesquisa significativa (MUMBY, 2000). Até a revolução crítico -
interpretativista do início da década de 80 (TOMPKINS e WANCA-THIBAULT, 2001), tradições
positivistas eram o modo de pesquisa dominante em comunicação organizacional (MILLER, 2000). No
final dos anos 80, ao mesmo tempo em que a área ainda buscava a conceitualização do seu objeto de
estudo tradicional, também procurava modos de abordagem para estudos emergentes (TOMPKINS e
WANCA-THIBAULT, 2001). Os anos 80 e 90 foram caracterizados como um período de
incomensurabilidade (CORMAN e POOLE, 2000). Em constante evolução, a pesquisa em comunicação
organizacional inicia o século XXI com uma teoria comunicacional dos processos organizacionais
(TOMPKINS e WANCA-THIBAULT, 2001) oposta às abordagens mais restritas construídas nas décadas
passadas. Este ensaio tem como objetivo apresentar e analisar as principais correntes de pensamento
em comunicação organizacional. ?
Na tentativa de desenhar um cenário da comunicação organizacional é preciso reconhecer que a
simples identificação de perspectivas pode refletir uma escolha a priori; e esta revisão não está isenta
deste viés. Deetz (2001) sugere que esforços de categorização são dirigidos por suposições epistemo -
metodológicas particulares e mesmo por percepções ideológicas dominantes. Embora existam múltiplas
compreensões das pesquisas em comunicação organizacional a presente análise baseia-se na discussão
de paradigmas em ciências sociais proposta por Burrell e Morgan (1979). Esta grade analítica
encontrou receptividade entre os pesquisadores porque legitimou programas de pesquisa
fundamentalmente diferentes e permitiu o desenvolvimento de diferentes critérios de avaliação dessas
pesquisas (DEETZ, 2001). Em função de sua importância e tradição, esta revisão utiliza a tipologia de
Burrell e Morgan (1979) como ponto de partida, mesmo que este esquema não seja especificamente
desenhado para os estudos organizacionais ou de comunicação. As linhas de pesquisa mais relevantes
em comunicação organizacional partilham concepções teóricas fundamentais com as ciências sociais e
a estrutura de análise proposta por Burrell e Morgan (1979) foi utilizada como referencial em diversas
análises sobre pesquisa em comunicação organizacional (PUTNAM, 1982; 1983; SMIRCICH e CALÁS,
1987; MILLER, 2000; DEETZ, 2001). ?
Este ensaio teórico está estruturado da seguinte maneira. Primeiramente, será apresentada a
discussão de paradigmas proposta por Burrell e Morgan (1979). Em seguida, serão identificadas e
discutidas as concepções de comunicação organizacional inspiradas por esse esquema. ?
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Burrell e Morgan (1979) apresentam um modelo bi-dimensional de análise das teorias sociais
(Figura 1). A primeira dimensão (subjetividade/objetividade) engloba suposições sobre as ciênci as
sociais, sendo elas de natureza: ontológica (nominalismo/realismo); epistemológica (anti -
positivismo/positivismo); humana (voluntarismo/determinismo); e metodológica
(ideográfica/nomotética). Estas suposições compõem uma única dimensão de análise porque elas estão
interconectadas e não podem ser dissociadas. A segunda dimensão representa suposições a respeito
da natureza da sociedade a qual pode ser tanto de ordem reguladora ou de natureza dinâmica, em
processo radical de mudança (ordem/mudança). Combinando estas duas dimensões Burrell e Morgan
(1979) propõem quatro paradigmas, contíguos mas distintos (funcionalismo, interpretativismo,
humanismo radical e estruturalismo radical), os quais, ao mesmo tempo que compartilham algumas
características com os seus vizinhos, não perdem a sua especificidade. ?
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? Sociologia da Mudança Radical ? ?
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? µHumanista µEstruturalista ?
Subjetivo? Radical¶? Radical¶? Objetivo?
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µInterpretativista¶? µFuncionalista¶ ?

? Sociologia da Regulação ? ?
Figura 1 ± Quatro paradigmas de análise social?
Fonte: adaptado de Burrell e Morgan (1979) ?
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Embora cada paradigma seja único, por motivo de conveniência eles serão discutidos em pares.
Afinal, os aspectos mais importantes destas divisões são as concepções de base que as fundamentam
(MILLER, 2000). Além disso, cada uma dessas correntes teórica desenvolve -se e redefine-se em
resposta aos seus pares. Os paradigmas definem-se uns aos outros por suas características comuns e
por suas oposições. ?
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De acordo com Burrell e Morgan (1979),
           
 
    
 
   
    
        


 
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! Para Putnam (1983) os pontos comuns das abordagens
interpretativas e funcionalistas são a reificação das estruturas e a busca por explicações causais ±
relações padronizadas. Entretanto estes paradigmas possuem diferentes compreensões de estrutura e
causalidade, bem como possuem procedimentos de pesquisa distintos. Para contrastar estas
perspectivas a Putnam (1983) concentra-se em quatro critérios: (a) compreensão dos fatos sociais e
dos processos simbólicos; (b) visões das organizações; (c) definições de comunicação organizacional e
(d) métodos. Segundo Putnam (1983),   
  
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entidades plurais criadas por seus membros, as quais para serem compreendidas devem ser
investigadas por dentro. ?
Smircich e Calás (1987) também contrastam estes paradigmas. Para estas autoras, o
     
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na documentação de processos e experiências através das quais as pessoas constroem a realidade
organizacional. Para interpretativistas, conhecimento µútil¶ é o que procura compreender o que está
acontecendo em determinada situação, enquanto reconhece que qualquer depoimento sobre o que
está acontecendo depende do ponto de vista da pessoa pois nenhuma situação pode ser
completamente compreendida a partir de um único ponto de vista. ?
Aspectos metodológicos também distinguem os paradigmas funcionalistas e interpretativista.
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Para Smircich e Calás (1987) a distinção metodológica entre os paradigmas compreende
também questões de representação. ’„   „ 
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As análises apresentadas por Putnam (1983) e Smircich e Calás (1987), são fiéis a
caracterização paradigmática de Burrell e Morgan (1979). Entretanto, estas correntes de pensamento
evoluíram e integraram outras perspectivas em seus respectivos quadrantes. O funcionalismo foi
criticado por suas posições estreitas, mas renasceu como neo ou pós -positivismo. Os princípios
positivistas migraram da filosofia das ciências físicas para a sociologia e para os estudos
organizacionais (MILLER, 2000). Estas transformações acrescentaram ao quadrante de referência
funcionalista expressões tais como estruturalismo, abordagem tradicional, empírico analítico (CHENEY,
2000), metáfora mecânica (MORGAN, 1986) entre outras. Do mesmo modo o território inter pretativista
foi enriquecido por termos como interacionismo, construtivismo, simbolismo,e outros. ?
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      De acordo com Cheney (2000), esta
perspectiva é restrita pela sua insensibilidade ao papel da linguagem, pela sua falha em considerar a
ambigüidade, que é parte da dinâmica situacional, e pelo fato de não apreciar como o fenômeno em
estudo é modificado pelos próprios participantes ao longo da investigação. &     
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esforços interpretativos são restritos pois não consideram a dinâmica das relações de poder (CHENEY,
2000), os quais serão foco dos paradigmas críticos subseqüentes, situados nos quadrantes superiores
da tipologia de Burrell e Morgan (1979). ?
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Enquanto o funcionalismo e o interpretativismo são normalmente apresentados como opostos,
as perspectivas radical-humanista e radical-estruturalista são geralmente reunidas sob o título de
µteoria crítica¶. Ambos paradigmas partilham a concepção de que a sociedade está em constante
mudança embora partam de pontos de vista diferentes. O humanismo radical é subjetivo, preocupado
com a emancipação individual; enquanto o estruturalismo radical é objetivo explorando forças sociais,
políticas e econômicas que subjugam a ação individual. A visão das organizações como prisões
psíquicas (MORGAN, 1986) é um exemplo de abordagem humanista-radical, por outro lado a visão das
organizações como instrumentos de dominação (MORGAN, 1986) ilustra o paradigma estruturalista-
radical. Diferenças a parte, estes paradigmas assumem posturas críticas quando analisam a sociedade
a partir de forças de exploração social, econômica e política. Teóricos e críticos que se identificam com
esta corrente de pensamento agem como agentes de transformação para expor a opressão embutida
nos comportamentos organizacionais e para elucidar alternativas de mudança (PUTNAM, 1982). ?
De acordo com Mumby (2000), estudos críticos focam em políticas da vida cotidiana e em
políticas epistemológicas. Seguindo esta perspectiva, a preocupação central reside em compreender,
explicar e criticar os vários meios pelos quais são colocados limites políticos e ideológicos nas
habilidades dos atores sociais para realizar completamente suas identidades como participantes ativos
de comunidades de diálogo e significação (incluindo or ganizações). A perspectiva crítica tenta revelar
os processos pelos quais estas formas de poder operam. ?
A perspectiva crítica assume que a organização é um fenômeno secundário, um tipo de campo
de batalha onde forças poderosas lutam para fazer predominar sua ideologia na contínua redistribuição
mundial de recursos. Esta posição é qualificada como uma atitude anti-essencialista, na qual análise e
pesquisa procuram revelar as estruturas e dinâmicas ocultas do sistema (TAYLOR e VAN EVERY, 2000).
Poole e Lynch (2000) assinalam que posturas críticas afastam análises alternativas e mudam o foco de
atenção para operações ocultas de poder e determinismos estruturais. ?
Cheney (2000) identifica os pilares da pesquisa crítica como: (1) preocupação explícita em fazer
avaliações baseadas em valores; (2) atenção especial nas relações de poder em qualquer que seja a
situação em estudo; e (3) questionamento pervasivo e contínuo das suposições básicas (tanto prática
como teoricamente). Apesar de sua habilidade de oferecer perspectivas variantes das correntes de
pensamento dominantes, abordagens críticas são condenadas pelo fato de pressuporem estabilidade,
adoção de uma distância entre o sujeito e a pesquisa e supressão de significados (CHENEY, 2000). ?
As implicações destas posições teóricas e de suas perspectivas metodológicas para a pesquisa
em comunicação organizacional serão exploradas na seção seguinte. ?
 
  
  
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Qualquer tema pode ser estudado através dos paradigmas propostos por Burrell e Morgan
(1979). Cada paradigma irá oferecer uma perspectiva diferente do fenômeno sob investigação gerando
uma variedade de possibilidades de pesquisa. Além dos paradigmas, metáforas também oferecem
distintas possibilidades de compreensões dos fenômenos sociais e assim sendo das organizações
(MORGAN, 1986) e da comunicação organizacional (PUTNAM, PHILLIPS e CHAPMAN, 1996). Diferentes
concepções da comunicação organizacional demonstram como cada paradigma ou metáfora aborda
este tema. A comunicação, por sua natureza polissêmica, é um campo bastante fértil para a
multiplicidade de abordagens e interpretações. Cheney (2000) salienta que cada perspectiva de
pesquisa, com suas variantes e formas híbridas, tem seus próprios pontos obscuros, bem como
capacidades de esclarecimento.?
Deetz (2001) sugere que existem três concepções de comunicação organizacional: a primeira é
vista como uma especialidade dos departamentos e associações de comunicação; definindo uma área
particular de especialização ou de pesquisa; uma segunda concepção foca na comunicação como um
fenômeno que existe nas organizações; e uma terceira perspectiva parte da comunicação para
descrever e explicar as organizações. De forma similar, Putnam et al. (1996) cita Smith para
apresentar três possíveis relacionamentos entre organizações e comunicação: container, produção e
equivalência. Neste contexto, este ensaio irá explorar as noções de ³comunicação nas organizações´
(container) como predominantemente funcionalista e ³comunicação como organização´ (produção e
equivalência) como principalmente interpretativista. ?
As perspectivas críticas englobam tanto as noções de comunicação ³nas´ e ³como´
organizações. Nesta tradição de pesquisa, a comunicação organizacional pode ser percebida tanto
como um instrumento de dominação e exploração, ou como um processo que constrói um discurso
opressor. No primeiro caso a comunicação organizacional é concebida como um processo que ocorre
³nas´ organizações, no segundo caso opera na esfera da comunicação como o rganização. Estas
abordagens serão exploradas na seqüência.?
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Esta conceitualização toma a comunicação como uma variável, um elemento das organizações,
alguma coisa que ocorre dentro da estrutura organizacional. Nesta perspectiva, a organização é uma
entidade e tal compreensão percebe a organização a partir de uma atitude essencialista. A atitude
essencialista toma a existência da organização como um fato dado e então coloca em questão como
investigá-la cientificamente. O objetivo é chegar a uma teoria ou modelo de organização e sua meta
final é a eficiência e eficácia administrativa (TAYLOR e VAN EVERY, 2000). ?
Deetz (2001) explica que quando vista como um fenômeno distinto, a concepção de
organização é geralmente reduzida a um µlocal¶ e a concepção de comunicação normalmente torna-se
limitada a interação social, conceitualmente reduzida a atos empíricos de transferência de informação,
o que é o mínimo denominador (ou dominador) em comunicação organizacional. ?
Pesquisas abordando ³comunicação nas organizações´ enquadram-se no paradigma
funcionalista uma vez que pressupõem uma visão objetiva das organizações. Dentro desta concepção,
a organização é percebida como uma estrutura de base com prioridade sobre a ação social e a
comunicação é uma de suas características. Deste ponto de vista, comunicação é um elemento do
container organizacional, estudado de fora. O relacionamento container trata a comunicação como
localizada dentro de uma estrutura organizacional reificada e ou m aterialista. Logo, os elementos
estruturais-funcionais da comunicação são críticos para a manutenção da ordem organizacional
(PUTNAM ET AL. 1996). Supõe -se que a comunicação sistematicamente reproduza as estruturas
organizacionais e será ditada pelas necessidades organizacionais de ordem prática. A visão de que as
organizações incluem comunicação é congruente com o caráter funcionalista regulador no qual a
comunicação é uma função que sustenta o equilíbrio e a ordem dentro da organização. ?
De acordo com Putnam (1982) o paradigma funcionalista é dominante tanto em teoria das
organizações como em estudos de comunicação organizacional. Nesta perspectiva a organização é
tipificada como uma máquina, um organismo ou um sistema cibernético. A comunicação nesta
perspectiva é primariamente mecanicista, enfatizando a transmissão, os efeitos, a seleção de canais e
o processamento de informação. Hospedada em um container físico, a comunicação segue padrões de
transmissão característicos da hierarquia vertical e a da distância espacial entre os membros. Análises
de redes permitem a emergência de estruturas de comunicação a partir da interação entre os
membros organizacionais, mas a pesquisa é dominada mais pela forma do que pelo conteúdo ou
significado da mensagem. Dentre suas diversas correntes de pensamento, estas pesquisas reificam
tanto as organizações como a comunicação em imagens físicas, em uma realidade objetiva e na prática
da pesquisa reguladora. ?
Esta perspectiva assume uma visão atomística das organizações. Assume-se que as
propriedades organizacionais determinam os processos de comunicação muito mais do que os
processos de comunicação são responsáveis pela modelagem das características organizacionais. Como
conseqüência, designs de pesquisa que percebem as organizações como containers tratam a
comunicação quase exclusivamente como uma variável dependente da estrutura organizacional
(KRONE, JABLIN e PUTNAM, 1987). Alguns exemplos de pesquisa dentro desta abordagem exploram:
comunicação interna, fluxo de mensagens, estruturas de comunicação, efeitos, clima, barreiras,
estilos, distorções, entre outros. A pesquisa em comunicação organizacional nasceu dentro desta
tradição. Durante sua infância e início da adolescência, a área não questionava a nomenclatura e as
concepções do positivismo lógico (TOMPKINS e WANCA -THIBAULT, 2001). Valores e métodos
positivistas foram uma importante fase de ciência aplicada em comunicação organizacional (MILLER,
2000).?
De acordo com a análise de Krone et al (1987) quando a comunicação organizacional é
conceitualizada de forma mecânica ou mesmo psicológica, a organização toma qualidades de um
container no qual as interações ocorrem. Em perspectivas mecânicas a comunicação humana é vista
como um processo de transmissão no qual a mensagem viaja pelo espaço, por um canal, de um ponto
a outro. O locus da comunicação se situa no canal, isto é, explicações do processo de comunicação
emanam do canal, do meio de comunicação. A transmissão ocorre por meio do canal, comunicadores
são conectados por canais, canais também conectam as funções de codificação e decodificam dentro
de cada polo comunicador. Em perspectivas psicológicas a comunicação se situa em filtros conceptuais,
características psicológicas internas ao indivíduo, que afetam significativamente não apenas como a
informação é obtida, transferida e interpretada, mas também como esta informação é processada
(KRONE ET AL. 1987). ?
Focada em características da comunicação tais como transmissão e representação, a visão de
³comunicação nas organizações´ é criticada não apenas por sua compreensão restrita da comunicação
como uma variável organizacional, mas também em grande parte por seu viés gerencial (PUTNAM,
1982). A comunicação tida como uma variável é manipulável de acordo com os i nteresses dos
gestores, os quais estão centrados nos conceitos de performance, produtividade, eficiência e eficácia.
Consequentemente, esta é a compreensão dominante da comunicação em estudos organizacionais;
acadêmicos de administração em sua maioria percebem o relacionamento comunicação/organização
como se comunicação envolvesse a transmissão linear de informação ao longo de canais hierárquicos
relativamente estáveis (MUMBY, 2000). Adicionalmente, as teorias organizacionais tipicamente tratam
a comunicação de uma maneira implícita ou tangencial (EUSKE e ROBERTS, 1987). ?
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De acordo com Deetz (2001) o conceito de ³comunicação como organização´ engloba a
compreensão da comunicação organizacional que foca no processo „
realizado por meio de
interações simbólicas. Este enfoque tem o interesse de produzir uma teoria da comunicação para
explicar o fenômeno organizacional. Esta perspectiva inspira-se na noção de construção social da
realidade (BERGER e LUCKMANN, 1967) e é uma resposta a falácia de reificação, onde as organizações
são entidades em que a comunicação está situada (TOMPKINS e WANCA -THIBAULT, 2001). Ao
contrário, nesta concepção as organizações são vistas como 
 
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quais, por meio da comunicação, são ativamente envolvidos em processos de criação e re-criação da
sua particular ordem social (TOMPKINS e WANCA-THIBAULT, 2001). ?
A noção de ³comunicação como organização´ engloba duas formas de relacionamento entre
comunicação e organizações: produção e equivalência. A relação de produção examina a forma como
as organizações produzem comunicação, ou como a comunicação produz as organizações, ou ainda a
co-produção de ambos. Fica então o dilema de quando um tem existência anterior ao outro, ou se
comunicação e organização se desenvolvem concomitantemente. A relação de equivalência postula
uma mudança ainda mais radical no padrão de relacionamento. Esta abordagem trata comunicação e
organização como unidades monásticas ou como o mesmo fenômeno expresso de maneira diferente,
isto é, comunicação é organização e organização é comunicação, os dois processos são isomórficos
(PUTNAM ET AL. 1996). ?
Seguindo esta perspectiva, a comunicação é a substância de um processo organizante, onde, por meio
de práticas discursivas, os membros das organizações se engajam na complexa construção de diversos
sistemas de significados (MUMBY, 2000). Desta forma, a noção de ³comunicação como organização´
segue a tradição interpretativista. Esta perspectiva se concentra no estudo de significados emergentes,
os quais são revelados por meio de interações da vida cotidiana através da comunicação. No
paradigma interpretativo, a realidade organizacional é socialmente construída por meio das ações
desempenhadas e das palavras e símbolos utilizados pelos membros da organização. A realidade assim
constituída é então ativamente mantida por meio de experiências comunicacionais e os significados
emergentes são promulgados por meio destes comportamentos (PUTNAM, 1982). ?
O mundo social é percebido como interativo, dinâmico e emergente (assim como as
organizações) e esta é a proposição de base da noção de ³comunicação como organização´. Esta noção
concebe a organização como uma realidade social que emerge através da comunicação, ou c omo
propõem Taylor e Cooren (1997), as organizações emergem por meio da linguagem, por meio de
enunciados e atos de linguagem. De acordo com Cheney (2000), posicionamentos interpretativistas
revertem a frase preposicional ³comunicação nas organizações´ par a considerar as características
organizacionais da comunicação, especialmente em termos da construção de uma µvoz¶ e autoridade
por meio de linguagem. Desta forma é o uso da linguagem e o significado promulgado por mensagens
verbais e não verbais que criam e sustentam a realidade social (PUTNAM, 1982).?
A ênfase na linguagem não é a única característica que aproxima a noção de ³comunicação
como organização´ do paradigma interpretativo. Outras abordagens que utilizam uma visão holística
das organizações, aonde a comunicação é um processo constitutivo, incluem exemplos de pesquisa em
discurso organizacional, cultura organizacional, administração de significados, retórica e narrativa,
fases do processo de decisão, processo organizacional, entre outros. Todos estes projetos
compartilham uma atitude construtivista-interacionista, a qual expressa o caráter constitutivo da
comunicação por meio de interações, os quais por sua vez são mediados pela linguagem e permeados
pela cultura.?
Estudos culturais e de cognição organizacional representam outra tendência de pesquisa na
perspectiva de ³comunicação como organização´, pois estes estudos tratam as organizações
comunicacionalmente, tomando a linguagem como um caminho para encontrar padrões de
pensamento que são mantidos por meio da comunicação (SMIRCICH e CALÁS, 1987). Cultura, tal qual
comunicação, é um complexo objeto de pesquisa que pode ser abordado de diferentes maneiras
(EISENBERG e RILEY, 2001; MOHAN, 1993; SMIRCICH e CALÁS, 1987). Dentro da tradição
interpretativista, estudos em cultura organizacional normalmente reconhecem sua inter-relação com os
processos comunicacionais. Entretanto a comunicação ainda é mais específica do que a cultura, a
comunicação é uma manifestação e uma elaboração da cultura (STOHL, 2001). ?
Cultura organizacional é um ramo significativo de pesquisa em comunicação organizacional.
Entretanto, segundo Putnam (1982), as maiores tradições de pesquisa em comunicação organizacional
dentro da abordagem interpretativista são a hermenêutica, o interacionismo simbólico, a
etnometodologia e a metodologia µ„

„3/. Uma agenda de pesquisa adicional que aborda
³comunicação como organização´ é a análise estrutural de redes, uma vez que esta abordagem tem
alertado muitos pesquisadores do papel das redes de comunicação na promoção de objetivos outros
que não apenas o aumento da eficiência, tais como formação da moral e apoio à inovação, dentre
outros. Esta abordagem também examina de forma geral a construção da realidade e os processos de
significação, processos estes centrais para comunicação organizacional (MONGE e EISENBERG, 1987). ?
Krone et al. (1987) compreendem que a noção de ³comunicação como organização´ engloba os
modelos interpretativo-simbólico e sistemas-interação. Quando vista de uma perspectiva interpretativa
a comunicação organizacional consiste de padrões de comportamento coordenados, que tem a
capacidade de criar, manter e dissolver organizações. O modelo interpretativo-simbólico postula que
em virtude de sua habilidade em comunicar, os indivíduos são capazes de criar e modelar sua própria
realidade social. O locus da comunicação no modelo de sistemas-interação é o comportamento
seqüencial padronizado, estes padrões ocorrem em um sistema de comunicação e ao mesmo tempo
servem para definir este sistema (KRONE ET AL.,1987). ?
Apesar de propor uma premissa inspiradora, a noção de ³comunicação como organização´ é
carente de conexão com a realidade, falta perceber a materialidade enfatizada pela noção de
³comunicação nas organizações´. ?
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As diversas compreensões da comunicação organizacional estão associadas a distintas
concepções da realidade social. Burrell e Morgan (1979) sugerem uma compreensão da realidade social
que conduz a percepção da comunicação organizacional como ³comunicação nas organizações´ ou
³comunicação como organização´. Cada noção de comunicação organizacional seja esta situada ³nas´
organizações ou compreendida ³como´ o próprio processo organizacional, está permeada por crenças
paradigmáticas atreladas a suposições objetivas e subjetivas sobre a natureza das ciências sociais e
suposições de ordem ou mudança sobre a natureza da sociedade. Embora ambas sejam posições
válidas, para atingir uma compreensão da comunicação organizacional que ultrapasse as noções de
containers (³comunicação nas organizações´) e/ou de criações simbólicas (³comunicação como
organização´), é necessário ultrapassar fronteiras paradigmáticas.?
O processo de comunicação não se restringe ao domínio subjetivo da linguagem, ele também
possui manifestações objetivas. De fato, a existência de toda organização social humana caracteriza-se
tanto por ser condicionada a comunicação, como por ser uma estrutura na qual a comunicação ocorre.
As organizações não apenas constituem-se através da comunicação, mas também se expressam em
comunicação (TAYLOR e COOREN, 1997). ?
Para compreender a comunicação organizacional de forma mais abrangente, em toda a sua
complexidade subjetiva e objetiva, é preciso superar concepções paradigmáticas de forma a obter um
melhor entendimento da dinâmica existente entre o mundo material e social. Esta proposição teórica
não será uma tentativa de superação dos problemas de incomensurabilidade ou uma tentativa de
construção de um território comum para pesquisa (CORMAN e POOLE, 2000); muito pelo contrário,
será um esforço de fundamentar a análise da comunicação organizacional em um terreno plano
(TAYLOR e VAN EVERY, 2000), sem fronteiras paradigmáticas capaz de abrigar toda a pluralidade da
análise em comunicação organizacional.?
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