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g u a po
l ín maio/06

A difícil arte de interpretar o (con)texto


Ano após ano, as estatísticas têm mostrado que, na contramão do analfabetismo, é cada vez maior o
número de brasileiros analfabetos funcionais, ou seja, pessoas que sabem ler e escrever (“juntar” as letras),
mas não conseguem estabelecer as relações de sentido entre as palavras e as frases e interpretar o que há por
trás delas, o contexto em que se inserem e a intenção de seu autor.
Num recente ranking sobre “interpretação de texto” feito pela Unesco, o Brasil ficou na última posição,
o que se consolida como mais uma vergonha nacional. Quando se fazem as perguntas e se “buscam” as
respostas, invariavelmente a causa primeira de tudo isso se encontra na escola e, mais especificamente, na
sala de aula; portanto, como toda sala de aula tem um professor, de quem é a culpa? Adivinhem...
Ele não deixa de ser responsável, sim, por essa questão, mas é uma figura extremamente solitária para
agir como é necessário. Existem as leis, o diretor, os pais, depois é que vem a sua autoridade. Mas o que a
leitura tem a ver com tudo isso? Tudo.
Quando um professor resolve que seus alunos devem ler este e não aquele livro, já “surrado”, porém “um
clássico”, nem sempre pode levar em consideração o conteúdo e o que dele se pode extrair numa discussão
com a sala, mas interferem também a imposição do diretor, do psicólogo, da religião do aluno e de seus pais,
a “influência” das editoras, e otras cositas más, que não valem a pena citar.
A verdade é que o hábito da leitura é como a boa educação: deve vir de casa, mas, como muitas famílias
não cumprem esse papel, seja por que motivos forem, acaba “sobrando” para a escola.
Ler, como qualquer outro exercício, é hábito. Uns podem ler mais;
outros, menos. O fato é que a leitura exige vontade de aprender e
saber mais, exige curiosidade, coisas que se podem ensinar
e aprender, daí a responsabilidade maior da família. Como
também a leitura “força” a pensar, é natural que a maioria
BIP

não queira adquirir tal hábito: isso dá uma canseira!


E para que fazer tanto esforço, quando se tem dese-
nhos, programas infantis, filmes, games, clips, bala-
das e outras atividades mais agradáveis? Realmente
a tarefa não é fácil.
Há também um outro lado: quando uma in-
dicação, especialmente aquela que vem do pro-
fessor, é muito chata. Às vezes, a adoção de
uma obra é feita levando-se em consideração
apenas o fato de ela ser considerada um “clás-
sico”. Chato (ou inadequado para determinada
série ou faixa etária), mas clássico. É preciso
discernimento e experiência de leitura, também
e sobremaneira, do professor no momento de
escolher e adotar as obras literárias.
Interpretar um texto, curto ou longo, depende
de vários fatores: hábito, discussão de idéias (em
casa, na escola, com os amigos, no trabalho etc.),
ecletismo, experiência de vida, exercícios de pensar

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e escrever, suposições, ler com olhos livres (de preconceito, de religião, de sugestões). Além disso, estar
sempre atento ao contexto em que o texto se insere, caso contrário, a compreensão das idéias nele contidas
fica comprometida. Por exemplo, para a maioria dos jovens de hoje é difícil compreender uma obra de José
de Alencar, porque simplesmente não conseguem se transportar para o século XIX, não conseguem relacio-
nar texto e contexto: lêem um romance romântico com olhos e idéia do século XXI.
Tudo isso, resumido, torna fácil a compreensão de por que o brasileiro lê tão mal. O processo de fazer o
indivíduo ler com atenção e interpretar um texto — verbal ou não — é, antes, um processo de ensiná-lo a
pensar e a pensar por si próprio, alertando-o para as conseqüências que isso acarreta e a responsabilidade
que ele tem sobre suas idéias e ações que delas derivam. A famosa lei de ação-e-reação, infalível.
Esse processo todo demanda um longo tempo e muita paciência, dois fatores que não combinam numa
sociedade como a nossa, imediatista e ansiosa. Algumas gerações, por mais que doa dizer isso, já estão
perdidas no que diz respeito ao tema. Há muito a se fazer para as próximas, mas não como pretendem os
governos, que querem, acima de tudo, resultados. O pensamento é veloz, mas ensinar a pensar, não.

Roseli Aparecida de Sousa


Professora de língua portuguesa no ensino médio

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