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Farmacologia

Sebenta

Andreia Santos
Ana Sofia Cristóvão
Hugo Martins
Nuno Fernandes

Escola Superior de Enfermagem de Lisboa


Curso de Licenciatura em Enfermagem

Programa:

1. Introdução à farmacologia
2. Da origem dos fármacos à sua comercialização
3. Auto-medicação, adesão medicamentosa, erro terapêutico
4. Farmacocinética
5. Farmacodinâmica
6. Anti-bacterianos de uso sistémico
7. Anti-micóticos de uso sistémico
8. Anti-micobacterianos
9. Anti-víricos
10. Soros e imunoglobulinas
11. Vacinas
12. Anti-parasitários
13. Sangue e órgãos hematopoiéticos
14. Sistema cardiovascular
15. Sistema nervoso
16. Sistema músculo-esquelético
17. Tracto gastrointestinal e metabolismo de fármacos
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CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
FARMACOLOGIA

Índice
INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA

1 Farmacologia e alguns dos seus ramos .................................................................................................... 16

1.1 Farmacologia ................................................................................................................................... 16

1.1.1 Farmacologia geral ..................................................................................................................... 16

1.1.2 Farmacologia especial ................................................................................................................ 16

1.2 Farmacognosia ................................................................................................................................ 16

1.3 Farmácia galénica ........................................................................................................................... 16

1.4 Farmacodinâmica ............................................................................................................................ 16

1.5 Farmacocinética .............................................................................................................................. 17

1.6 Farmacogenética ............................................................................................................................. 17

1.7 Toxicologia ...................................................................................................................................... 17

1.8 Farmacoterapia ............................................................................................................................... 17

1.9 Farmacologia experimental ............................................................................................................ 18

1.10 Farmacologia clínica ........................................................................................................................ 18

2 Conceitos em farmacologia ...................................................................................................................... 18

2.1 Fármaco .......................................................................................................................................... 18

2.2 Matéria-prima ................................................................................................................................. 18

2.3 Excipiente ........................................................................................................................................ 19

2.4 Forma farmacêutica ........................................................................................................................ 19

2.5 Medicamento .................................................................................................................................. 19

2.5.1 Nome do medicamento .............................................................................................................. 19

3 Classificação dos medicamentos .............................................................................................................. 20

4 Formulação do medicamento .................................................................................................................. 21

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DA ORIGEM DOS FÁRMACOS À SUA COMERCIALIZAÇÃO

1 Desenvolvimento e comercialização de medicamentos de uso humano ................................................ 23

1.1 Ensaio clínico ................................................................................................................................... 25

1.1.1 Avaliação de medicamentos ....................................................................................................... 26

2 Controlo do risco de utilização do medicamento..................................................................................... 27

2.1.1 Reacções adversas ao medicamento (RAM)............................................................................... 27

2.1.2 Farmacovigilância ....................................................................................................................... 27

AUTO-MEDICAÇÃO, ADESÃO MEDICAMENTOSA E ERRO TERAPÊUTICO

1 Erro terapêutico ....................................................................................................................................... 29

2 Adesão ao regime terapêutico ................................................................................................................. 30

2.1 Não adesão ..................................................................................................................................... 30

2.2 Importância da adesão ................................................................................................................... 30

2.3 Teorias sobre adesão ao regime terapêutico ................................................................................. 31

2.4 Factores de adesão ......................................................................................................................... 31

2.4.1 Factores preditores de não adesão em idosos ........................................................................... 32

3 Automedicação ......................................................................................................................................... 32

FARMACOCINÉTICA

1 Noções introdutórias ................................................................................................................................ 34

2 Farmacocinética ....................................................................................................................................... 35

2.1 Libertação ....................................................................................................................................... 35

2.2 Absorção ......................................................................................................................................... 36

2.2.1 Mecanismos de passagem das membranas biológicas .............................................................. 37

2.2.2 Factores que influenciam a absorção ......................................................................................... 38

2.3 Distribuição ..................................................................................................................................... 43

2.3.1 Volume de distribuição ............................................................................................................... 43

2.3.2 Clearence .................................................................................................................................... 44

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2.4 Metabolização................................................................................................................................. 44

2.4.1 Reacções de metabolização........................................................................................................ 45

2.5 Eliminação ....................................................................................................................................... 46

2.6 Semi-vida......................................................................................................................................... 46

2.7 Modelos farmacocinéticos .............................................................................................................. 47

FARMACODINÂMICA

1 Farmacodinâmica ..................................................................................................................................... 50

1.1 Acção não mediada por receptores ................................................................................................ 50

1.2 Acção mediada por receptores ....................................................................................................... 50

1.2.1 Ligação fármaco-receptor na superfície celular ......................................................................... 51

1.3 Receptor .......................................................................................................................................... 51

1.4 Agonistas ......................................................................................................................................... 51

1.4.1 Agonistas parciais ....................................................................................................................... 52

1.5 Antagonistas ................................................................................................................................... 52

1.6 Interacções medicamentosas ......................................................................................................... 52

1.6.1 Sinergismo .................................................................................................................................. 52

1.6.2 Antagonismo............................................................................................................................... 53

1.6.3 Absorção ..................................................................................................................................... 53

1.6.4 Metabolismo............................................................................................................................... 53

1.6.5 Excreção...................................................................................................................................... 54

1.6.6 Interacções ................................................................................................................................. 54

1.6.7 Farmacodinâmica ....................................................................................................................... 54

1.7 Factores que interferem com a resposta terapêutica .................................................................... 55

ANTI-INFECCIOSOS, VACINAS E IMUNOGLOBULINAS

1 Antibióticos............................................................................................................................................... 57

1.1 Resistência bacteriana aos antibióticos .......................................................................................... 57

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1.1.1 Mecanismos Genéticos ............................................................................................................... 57

1.1.2 Mecanismos Bioquímicos ........................................................................................................... 58

1.2 Mecanismos gerais da acção dos antibióticos ................................................................................ 60

1.3 β-lactâmicos .................................................................................................................................... 60

1.3.1 Penicilina..................................................................................................................................... 61

1.3.2 Aspectos farmacocinéticos ......................................................................................................... 62

1.3.3 Efeitos indesejáveis .................................................................................................................... 63

1.3.4 Resistência .................................................................................................................................. 63

1.4 Cefalosporinas................................................................................................................................. 64

1.4.1 Mecanismo de acção .................................................................................................................. 64

1.4.2 Aspectos farmacocinéticos ......................................................................................................... 65

1.4.3 Efeitos indesejáveis .................................................................................................................... 65

1.4.4 Inibidores das β-lactamases ....................................................................................................... 66

1.5 Agentes antimicrobianos que afectam a síntese de proteínas bacterianas ................................... 67

1.5.1 Tetraciclinas ................................................................................................................................ 67

1.5.2 Cloranfenicol ............................................................................................................................... 69

1.5.3 Mecanismo de Acção .................................................................................................................. 69

1.5.4 Aspectos farmacocinéticos ......................................................................................................... 69

1.5.5 Efeitos indesejáveis .................................................................................................................... 69

1.6 Aminoglicosídeos ............................................................................................................................ 70

1.6.1 Mecanismo de Acção .................................................................................................................. 70

1.6.2 Aspectos farmacocinéticos ......................................................................................................... 70

1.7 Sulfonamidas................................................................................................................................... 72

1.8 Trimetoprima .................................................................................................................................. 73

1.8.1 Mecanismos de Acção ................................................................................................................ 73

1.8.2 Aspectos famacocinéticos .......................................................................................................... 73

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1.8.3 Efeitos indesejáveis .................................................................................................................... 73

1.8.4 Usos Terapêuticos ...................................................................................................................... 73

1.8.5 Resistência .................................................................................................................................. 73

1.9 Quinolonas ...................................................................................................................................... 74

1.9.1 Mecanismos de Acção ................................................................................................................ 74

1.9.2 Aspectos Farmacocinéticos ........................................................................................................ 74

1.9.3 Efeitos indesejáveis .................................................................................................................... 75

1.9.4 Usos terapêuticos ....................................................................................................................... 75

1.9.5 Resistência .................................................................................................................................. 76

1.10 Macrólidos ...................................................................................................................................... 77

1.10.1 Mecanismos de Acção ............................................................................................................ 77

1.10.2 Aspectos farmacocinéticos..................................................................................................... 78

1.10.3 Efeitos Indesejáveis ................................................................................................................ 78

1.10.4 Usos terapêuticos ................................................................................................................... 78

1.10.5 Resistência.............................................................................................................................. 78

1.11 Estreptograminas ............................................................................................................................ 79

1.11.1 Mecanismos de Acção ............................................................................................................ 79

1.12 Lincosamidas ................................................................................................................................... 79

1.12.1 Mecanismos de acção ............................................................................................................ 79

1.12.2 Resistência.............................................................................................................................. 79

2 Antifúngicos .............................................................................................................................................. 79

2.1 Anfotericina .................................................................................................................................... 80

2.1.1 Mecanismos de Acção ................................................................................................................ 80

2.1.2 Aspectos Farmacocinéticos ........................................................................................................ 81

2.1.3 Efeitos indesejáveis .................................................................................................................... 81

2.2 Flucitosina ....................................................................................................................................... 81

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2.2.1 Mecanismos de Acção ................................................................................................................ 81

2.2.2 Aspectos Famacocinéticos .......................................................................................................... 81

2.2.3 Efeitos Indesejáveis .................................................................................................................... 81

2.3 Azóis ................................................................................................................................................ 81

2.3.1 Mecanismos de Acção ................................................................................................................ 81

3 Antivíricos ................................................................................................................................................. 82

3.1 Fármacos anti-influenza .................................................................................................................. 82

3.1.1 Amantadina e Rimantadina ........................................................................................................ 83

3.1.2 Zanamivir e Oseltamivir .............................................................................................................. 83

3.2 Fármacos Anti-retrovirais ............................................................................................................... 83

4 Anti-micobacterianos ............................................................................................................................... 84

5 Vacinas e imunoglobulinas ....................................................................................................................... 85

FARMACOTERAPIA DO SANGUE

1 Anemia ..................................................................................................................................................... 87

1.1 Antianémicos: compostos de ferro ................................................................................................. 87

1.1.1 Renovação e equilíbrio do Ferro................................................................................................. 88

1.1.2 Administração ............................................................................................................................. 89

1.1.3 Efeitos adversos .......................................................................................................................... 90

1.1.4 Toxicidade ................................................................................................................................... 90

1.2 Antianémicos: vitamina B12 ............................................................................................................. 90

1.2.1 Administração ............................................................................................................................. 91

1.2.2 Efeitos indesejáveis .................................................................................................................... 91

1.3 Antianémicos: ácido fólico .............................................................................................................. 91

1.3.1 Administração ............................................................................................................................. 92

1.3.2 Efeitos indesejáveis .................................................................................................................... 92

2 Hemostase ................................................................................................................................................ 92

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2.1 Coagulação ...................................................................................................................................... 93

2.1.1 Heparina ..................................................................................................................................... 93

2.1.2 Anticoagulantes orais ................................................................................................................. 95

2.2 Agregação plaquetarária ................................................................................................................. 97

2.3 Fibrinólise ou trombólise ................................................................................................................ 99

2.3.1 Estreptoquinase (sk) e activador do plasminogénio tecidular (tPA) .......................................... 99

2.4 Hemorragia ..................................................................................................................................... 99

2.4.1 Anti-hemorrágicos ...................................................................................................................... 99

2.5 Substâncias que reduzem os lípidos ............................................................................................. 100

2.5.1 Estatinas ................................................................................................................................... 100

2.5.2 Fibratos ..................................................................................................................................... 101

2.5.3 Resinas de ligação de ácidos biliares ........................................................................................ 101

FARMACOTERAPIA CARDIOVASCULAR

1 Fármacos que actuam no SN simpático ................................................................................................. 104

1.1 Metildopa e clonidina ................................................................................................................... 105

1.1.1 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 105

1.1.2 Metildopa ................................................................................................................................. 105

1.1.3 Clonidina ................................................................................................................................... 106

1.2 Bloqueadores adrenérgicos β ....................................................................................................... 106

1.2.1 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 106

1.2.2 Efeitos adversos ........................................................................................................................ 107

1.2.3 Indicações terapêuticas ............................................................................................................ 107

1.3 Bloqueadores da entrada de cálcio............................................................................................... 107

1.3.1 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 107

1.3.2 Farmacocinética........................................................................................................................ 108

1.3.3 Interacções ............................................................................................................................... 109

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1.3.4 Reacções adversas .................................................................................................................... 109

1.3.5 Usos clínicos ............................................................................................................................. 109

2 Inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) ................................................................... 109

2.1.1 Acções farmacológicas.............................................................................................................. 110

2.1.2 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 110

2.1.3 Farmacocinética........................................................................................................................ 110

2.1.4 Interacções ............................................................................................................................... 111

2.1.5 Reacções adversas .................................................................................................................... 111

2.1.6 Usos terapêuticos ..................................................................................................................... 111

3 Antagonistas dos receptores da Angiotensina II (ARA) .......................................................................... 111

3.1.1 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 111

3.1.2 Farmacocinética........................................................................................................................ 111

3.1.3 Usos terapêuticos ..................................................................................................................... 112

4 Terapêutica farmacológica da insuficiência cardíaca ............................................................................. 112

4.1 Digitálicos ...................................................................................................................................... 112

4.1.1 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 112

4.1.2 Indicações terapêuticas ............................................................................................................ 113

4.1.3 Toxicidade dos digitálicos ......................................................................................................... 113

4.1.4 Farmacocinética........................................................................................................................ 113

4.2 Aminas simpaticomiméticas ......................................................................................................... 114

4.2.1 Dopamina ................................................................................................................................. 114

4.2.2 Dubotamina .............................................................................................................................. 114

5 Terapêutica farmacológica da angina de peito ...................................................................................... 114

5.1 Nitratos ......................................................................................................................................... 114

5.1.1 acções farmacológicas .............................................................................................................. 115

5.1.2 Farmacocinética........................................................................................................................ 116

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FARMACOLOGIA

5.1.3 Tolerância e dependência......................................................................................................... 117

5.1.4 Reacções adversas .................................................................................................................... 117

5.1.5 Interacções farmacológicas ...................................................................................................... 117

5.1.6 Usos terapêuticos ..................................................................................................................... 117

6 Terapêutica farmacológica da arritmia .................................................................................................. 118

6.1 Classe I .......................................................................................................................................... 120

6.1.1 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 120

6.1.2 Classe Ia – quinidina ................................................................................................................. 120

6.1.3 Classe Ib – lidocaína .................................................................................................................. 120

6.2 Classe II ......................................................................................................................................... 120

6.2.1 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 120

6.3 Classe III – amiodarona ................................................................................................................. 121

6.3.1 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 121

7 Diuréticos ............................................................................................................................................... 121

7.1 Tiazidas e análogos ....................................................................................................................... 121

7.1.1 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 122

7.2 Diuréticos da ansa ......................................................................................................................... 122

7.2.1 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 122

7.2.2 Farmacocinética........................................................................................................................ 122

7.2.3 Indicações terapêuticas ............................................................................................................ 122

7.3 Poupadores de potássio ................................................................................................................ 123

7.3.1 Antagonistas da aldosterona .................................................................................................... 123

7.3.2 Não antagonistas da aldosterona ............................................................................................. 124

8 Substâncias que reduzem os lípidos ....................................................................................................... 124

8.1 Estatinas: inibidores da HMG-CoA redutase ................................................................................. 125

8.1.1 Farmacocinética........................................................................................................................ 125

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FARMACOLOGIA

8.1.2 Efeitos adversos ........................................................................................................................ 125

8.2 Fibratos ......................................................................................................................................... 126

8.2.1 Efeitos adversos ........................................................................................................................ 126

8.3 Resinas de ligação de ácidos biliares ............................................................................................ 126

8.3.1 Efeitos indesejáveis .................................................................................................................. 126

FARMACOTERAPIA DO SISTEMA NERVOSO

1 Sistema nervoso ..................................................................................................................................... 128

1.1 Funções do sistema nervoso ......................................................................................................... 128

1.2 Divisões do sistema nervoso ......................................................................................................... 128

1.3 Histologia ...................................................................................................................................... 131

1.3.1 Neurónio ................................................................................................................................... 131

1.3.2 A sinapse ................................................................................................................................... 135

1.4 Síntese ........................................................................................................................................... 138

2 Fármacos com acção no SNC .................................................................................................................. 139

3 Fisiologia da dor ..................................................................................................................................... 140

4 Analgésicos de acção central .................................................................................................................. 141

5 Ansiedade e ansiolíticos ......................................................................................................................... 141

5.1 Ansiolíticos .................................................................................................................................... 142

6 Hipnóticos............................................................................................................................................... 143

7 Psicoses e anti-psicóticos ....................................................................................................................... 143

8 Antidepressivos ...................................................................................................................................... 144

9 Doença de Parkinson e antiparkinsónicos .............................................................................................. 145

9.1 Sintomas da doença de Parkinson ................................................................................................ 146

9.2 Antiparkinsónicos.......................................................................................................................... 146

9.2.1 Dopaminomiméticos ................................................................................................................ 147

9.2.2 Anti-colinérgicos ....................................................................................................................... 147

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FARMACOLOGIA

1 Doenças reumáticas ............................................................................................................................... 149

1.1 Afecções articulares ...................................................................................................................... 149

1.2 Afecções dos tecidos moles .......................................................................................................... 149

1.3 Clínica ............................................................................................................................................ 149

1.3.1 Inflamação ................................................................................................................................ 150

1.3.2 Osteoartrose ............................................................................................................................. 153

1.3.3 Artrite ....................................................................................................................................... 153

1.3.4 Tecido ósseo ............................................................................................................................. 154

FARMACOTERPIA DO TRACTO GI

1 Farmacologia do Sistema Digestivo ........................................................................................................ 160

1.1 Secreção gástrica .......................................................................................................................... 160

1.1.1 Anticolinérgicos ........................................................................................................................ 161

1.1.2 Antagonistas dos receptores H2 ............................................................................................... 161

1.1.3 Inibidores da bomba de protões .............................................................................................. 163

1.1.4 Anti-ácidos ................................................................................................................................ 165

1.1.5 prostaglandinas ........................................................................................................................ 166

1.1.6 Misoprostol............................................................................................................................... 166

1.1.7 Sucralfato .................................................................................................................................. 167

1.1.8 Sais de bismuto ......................................................................................................................... 167

1.2 Emese ............................................................................................................................................ 167

1.2.1 ANtagonistas dos receptores H1 da histamina ......................................................................... 168

1.2.2 Antagonistas dos receptores da serotonina ............................................................................. 168

1.2.3 Antagonistas dos receptores da dopamina .............................................................................. 168

2 Fármacos que actuam sobre a motilidade gastrointestinal ................................................................... 169

2.1 Parassimpaticomiméticos ............................................................................................................. 169

2.2 Pró-cinéticos ................................................................................................................................. 170

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FARMACOLOGIA

2.2.1 Utilizações Clínicas.................................................................................................................... 170

2.2.2 Metoclopramida ....................................................................................................................... 170

2.2.3 Domperidona ............................................................................................................................ 171

2.3 Macrólidos .................................................................................................................................... 171

2.3.1 Eritromicina .............................................................................................................................. 171

2.4 Activadores dos canais de cálcio ................................................................................................... 171

2.4.1 Iubiprostona ............................................................................................................................. 171

2.5 LAxantes ........................................................................................................................................ 171

2.5.1 laxantes expansores do volume fecal ....................................................................................... 172

2.5.2 LAxantes Emolientes ou Emolecedores .................................................................................... 172

2.5.3 Laxantes osmóticos ou salinos ................................................................................................. 173

2.5.4 Laxantes de contacto ................................................................................................................ 174

2.5.5 Laxantes agonistas dos receptores 5-ht4 ................................................................................. 174

2.6 Anti-diarreicos............................................................................................................................... 175

2.6.1 Loperamida (Imodium ®) .......................................................................................................... 175

3 ácidos biliares ......................................................................................................................................... 175

3.1 Ácido Ursodesoxicólico ................................................................................................................. 175

FARMACOTERAPIA DA DIABETES

1 Diabetes .................................................................................................................................................. 178

2 Insulina ................................................................................................................................................... 178

2.1 Efeito da insulina sobre o metabolismo dos hidratos de carbono ............................................... 179

2.2 Efeito da insulina sobre o metabolismo das gorduras .................................................................. 179

2.3 Efeito da insulina sobre o metabolismo proteico ......................................................................... 179

2.4 Diferenças ..................................................................................................................................... 179

2.5 Indicações terapêuticas ................................................................................................................ 179

2.6 Origem .......................................................................................................................................... 180

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FARMACOLOGIA

2.7 Classificação .................................................................................................................................. 180

2.7.1 Insulina de acção rápida ........................................................................................................... 180

2.7.2 Insulina de acção curta ............................................................................................................. 180

2.7.3 Insulina de acção intermédia .................................................................................................... 180

2.7.4 Insulina de acção lenta ............................................................................................................. 181

2.8 Farmacocinética ............................................................................................................................ 181

2.9 Reacções adversas medicamentosas (RAM’s) .............................................................................. 182

2.9.1 Hipoglicémia ............................................................................................................................. 182

2.9.2 Fenómeno de somogyi ............................................................................................................. 182

2.9.3 Interacções ............................................................................................................................... 183

2.9.4 Lipo-atrofia ............................................................................................................................... 183

3 Antidiabéticos orais ................................................................................................................................ 183

3.1 Sulfonilureias ................................................................................................................................ 183

3.1.1 Mecanismo de acção ................................................................................................................ 184

3.1.2 Indicações terapêuticas ............................................................................................................ 184

3.1.3 Efeitos metabólicos .................................................................................................................. 184

3.1.4 Farmacocinética........................................................................................................................ 184

3.1.5 Contra-indicações ..................................................................................................................... 184

3.1.6 Reacções adversas .................................................................................................................... 185

3.2 Meglitinidas .................................................................................................................................. 185

3.2.1 Indicações Terapêuticas ........................................................................................................... 185

3.2.2 Efeitos metabólicos .................................................................................................................. 185

3.2.3 Farmacocinética........................................................................................................................ 185

3.2.4 Contra-indicações ..................................................................................................................... 186

3.2.5 Reacções adversas .................................................................................................................... 186

3.2.6 Particularidades ........................................................................................................................ 186

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3.3 Biguanidas ..................................................................................................................................... 186

3.3.1 Indicações Terapêuticas ........................................................................................................... 186

3.3.2 Efeitos metabólicos .................................................................................................................. 187

3.3.3 Farmacocinética........................................................................................................................ 187

3.3.4 Contra-indicações ..................................................................................................................... 187

3.3.5 Reacções adversas .................................................................................................................... 187

3.3.6 Particularidades ........................................................................................................................ 188

3.4 Glitazonas...................................................................................................................................... 188

3.4.1 Mecanismos de acção............................................................................................................... 188

3.4.2 Indicações terapêuticas ............................................................................................................ 188

3.4.3 Efeitos metabólicos .................................................................................................................. 188

3.4.4 Farmacocinética........................................................................................................................ 189

3.4.5 Contra-indicações ..................................................................................................................... 189

3.4.6 Reacções adversas .................................................................................................................... 189

3.4.7 PArticularidades........................................................................................................................ 189

3.5 Atraso na absorção intestinal dos HC ........................................................................................... 189

3.5.1 Indicações terapêuticas ............................................................................................................ 189

3.5.2 Efeitos metabólicos .................................................................................................................. 190

3.5.3 Farmacocinética........................................................................................................................ 190

3.5.4 Contra-indicações ..................................................................................................................... 190

3.5.5 Efeitos indesejáveis .................................................................................................................. 190

3.5.6 Particularidades ........................................................................................................................ 190

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FARMACOLOGIA

INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA
1. Farmacologia e alguns dos seus ramos
2. Conceitos em farmacologia
3. Classificação dos medicamentos
4. Formulação dos medicamentos
5. Desenvolvimento e comercialização de medicamentos de uso humano
6. Controlo do risco de utilização do medicamento
7. Adesão ao regime terapêutico
8. Automedicação

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

LÜLLMANN, H. et al; Color Atlas of Pharmacology, 2nd edition. New York: Thieme, 2000

Autor: Nuno Fernandes

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1 FARMACOLOGIA E ALGUNS DOS SEUS RAMOS

1.1 FARMACOLOGIA

É a ciência que estuda dos fármacos e os medicamentos. Envolve o conhecimento da sua história, origem,
propriedades físicas e químicas, composição, absorção, biotransformação e excreção, efeitos terapêuticos e
acessórios e os seus mecanismos de acção.

1.1.1 FARMACOLOGIA GERAL

Princípios e conceitos gerais aplicáveis a todos os fármacos.

1.1.2 FARMACOLOGIA ESPECIAL

Estudo de cada fármaco ou similares.

1.2 FARMACOGNOSIA

Estuda a origem, conservação, identificação e análise química dos fármacos que provêm do reino vegetal.

1.3 FARMÁCIA GALÉNICA

Estuda a preparação dos medicamentos de forma a permitir a sua administração às pessoas e animais bem
como o modo de os conservar estáveis. Estuda as várias formas farmacêuticas e as vias de administração.

1.4 FARMACODINÂMICA

Estudo das acções farmacológicas e dos mecanismos do medicamento. Estudo “do que o fármaco faz ao
organismo”. Estuda tudo o que ocorre no organismo até que o fármaco chegue ao efeito final. Contempla:

• Efeitos biológicos;
• Locais e mecanismos de acção;
• Factores que influenciam a segurança e a eficácia do fármaco.

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1.5 FARMACOCINÉTICA

Estuda processos de transformação do medicamento no organismo, “O que o organismo faz ao fármaco”:

• L
o Libertação
• ADME
o Absorção
o Distribuição
o Metabolização
o Ocorre quando o medicamento já está na corrente sanguínea;
o No fígado, quando ocorre a passagem do princípio activo do fármaco no fígado, o fármaco
é activado;
o Os medicamentos sofrem modificações químicas;
o A metabolização está sempre relacionada com o fígado à excepção dos medicamentos que
não sofrem alterações no mesmo.
o Excreção
o Fezes;
o Urina – necessário tornar os medicamentos hidrossolúveis;
o Os pesticidas e os insecticidas são lipossolúveis, ou seja, acumulam-se no tecido adiposo
do organismo o que torna difícil a sua eliminação.

1.6 FARMACOGENÉTICA

Estuda a influência que os factores genéticos podem ter sobre a farmacodinamia, farmacocinética e a
toxicologia dos fármacos e eventuais modificações induzidos por fármacos no material genético que os
recebe.

1.7 TOXICOLOGIA

Estudo dos efeitos adversos dos medicamentos.

1.8 FARMACOTERAPIA

Relaciona a farmacodinamia com a fisiopatologia da doença. Estudo da aplicação dos fármacos na


prevenção, tratamento ou diagnóstico da patologia. Estuda a relação do mecanismo de acção de um
fármaco com o resultado final.

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1.9 FARMACOLOGIA EXPERIMENTAL

Investigação da farmacodinamia, farmacocinética e toxicidade de um potencial fármaco, em animais.


Investigação de fármacos (medicamentos ou tóxicos) que vão ser lançados no mercado e após o seu
lançamento. O estudo é feito primariamente em animais. Avalia-se o efeito terapêutico e a toxicidade da
molécula. O objectivo da farmacologia experimental é ganhar confiança para lançar o medicamento no
mercado.

1.10 FARMACOLOGIA CLÍNICA

Investigação da farmacodinamia, farmacocinética e avaliação terapêutica no Homem, como o objectivo de


fundamentar a terapêutica de cada caso clínico. Quando a investigação nos animais é segura (por vezes leva
meses ou anos) passamos ao teste em humanos. Quando se inicia este estudo podem haver complicações
porque a fisiologia humana não é igual à fisiologia animal. Os objectivos da farmacologia experimental são
os ensaios experimentais. Os ensaios clínicos dividem-se em 4 fases.

2 CONCEITOS EM FARMACOLOGIA

2.1 FÁRMACO

Substância activa de origem humana, animal, vegetal ou química a qual se atribui uma actividade
apropriada para constituir um medicamento.

DL 176/2008, de 30 de Agosto – Estatuto do Medicamento

Todas as substâncias químicas capazes de modificar as funções dos seres vivos podendo utilizar-se com fins:

• Terapêuticos;
• Diagnósticos;
• Profilácticos – prevenção e métodos de diagnóstico (p.e., vacinas).

2.2 MATÉRIA-PRIMA

Qualquer substância, activa ou não, e qualquer que seja a sua origem, empregue na produção de um
medicamento, quer permaneça inalterável quer se modifique ou desapareça no decurso do processo.

DL 176/2008, de 30 de Agosto – Estatuto do Medicamento

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2.3 EXCIPIENTE

Qualquer matéria-prima que, incluída nas formas farmacêuticas, se junte às substâncias activas ou suas
associações para servir-lhes de veículo, possibilitar a sua preparação ou estabilidade, modificar as suas
propriedades organolépticas ou determinar as propriedades físico-químicas do medicamento e a sua
biodisponibilidade.

DL 176/2008, de 30 de Agosto – Estatuto do Medicamento

2.4 FORMA FARMACÊUTICA

Estado final que as substâncias activas ou excipientes apresentam depois de submetidas às operações
farmacêuticas necessárias, a fim de facilitar a sua administração e obter o maior efeito terapêutico
desejado.

DL 176/2008, de 30 de Agosto – Estatuto do Medicamento

2.5 MEDICAMENTO

Toda a substância ou associação de substâncias apresentada como possuindo propriedades curativas ou


preventivas de doenças em seres humanos ou dos seus sintomas ou que possa ser utilizada ou administrada
no ser humano com vista a estabelecer um diagnóstico médico ou, exercendo uma acção farmacológica,
imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas.

DL 176/2008, de 30 de Agosto – Estatuto do Medicamento

Os medicamentos podem ter diversos efeitos:

• Efeitos terapêuticos;
• Efeito adverso/reacções adversas – qualquer resposta a um fármaco que seja nociva e inesperada
com doses normalmente usadas no homem para profilaxia, diagnóstico ou tratamento de doença,
ou para modificação de uma função fisiológica.

2.5.1 NOME DO MEDICAMENTO

Designação do medicamento, a qual pode ser constituída por uma marca insusceptível de confusão com a
denominação comum, pela denominação comum acompanhada de uma marca ou pelo nome do requerente
ou do titular da autorização, contanto que não estabeleça qualquer equívoco com as propriedades
terapêuticas e a natureza do medicamento.

DL 176/2008, de 30 de Agosto – Estatuto do Medicamento

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DENOMINAÇÃO COMUM INTERNACIONAL

A Denominação Comum Internacional (DCI) é o nome oficial não comercial ou genérico de uma substância
farmacológica e foi estabelecida pelo Comité de Nomenclaturas da OMS.

NOME QUÍMICO

Nome químico é o nome do composto indicado como substância activa (responsável pela acção
farmacológica) presente no medicamento. Embora exista apenas um nome químico oficial, aprovado pela
União Internacional de Química Pura e Aplicada, o qual identifica uma determinada substância activa,
costuma utilizar-se uma variedade de nomes tradicionais. Estes últimos são utilizados por serem mais
simples e mais fáceis de lembrar.

NOME GENÉRICO

Designa um medicamento genérico é um medicamento com a mesma substância activa, forma farmacêutica
e dosagem e com a mesma indicação terapêutica que o medicamento original, de marca, que serviu de
referência.

3 CLASSIFICAÇÃO DOS MEDICAMENTOS

Os medicamentos podem ser classificados de várias formas:

• Por estrutura química – têm em comum a mesma estrutura.


o Ex: penicilinas, opiáceos, esteróides, catecolaminas…
• Por efeito farmacológico – têm em comum o mesmo efeito farmacológico.
o Ex: analgésicos, anti-psicóticos, anti-hipertensivos, antiasmáticos, antibióticos…
• Por sítio-alvo – são compostos que atingem o mesmo sistema no corpo e, usualmente, envolvem
um mediador químico.
• Por local de acção – são agrupados de acordo com a enzima ou receptor com o qual interagem.

A classificação ATC (Anatomical Therapeutic Chemical Classification System) e a Classificação Internacional


de Doenças da OMS permitem uma classificação dos fármacos em diferentes grupos, segundo as suas
propriedades químicas, farmacológicas e terapêuticas.

20 Introdução à Farmacologia | CRISTÓVÃO, A.S.; SANTOS, A.; MARTINS, H.; FERNANDES, N.


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4 FORMULAÇÃO DO MEDICAMENTO

Por exemplo, da formulação de um comprimido fazem parte:

• Princípio activo;
• Ligante – gelatina, amido, alginato de sódio;
• Lubrificante – óleo vegetal, glicol de polietileno;
• Agente molhante – detergente;
• Desintegrante – amido, ácido algínico;
• Corante e adoçante.

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DA ORIGEM DOS FÁRMACOS À SUA


COMERCIALIAÇÃO
1. Desenvolvimento e comercialização de medicamentos de uso humano
2. Controlo do risco de utilização do medicamento
3. Adesão ao regime terapêutico
4. Automedicação

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

http://www.infarmed.pt

Autor: Nuno Fernandes

22 Da origem dos fármacos à sua comercialiação | CRISTÓVÃO, A.S.; SANTOS, A.; MARTINS, H.; FERNANDES, N.
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1 DESENVOLVIMENTO E COMERCIALIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS DE USO HUMANO

• Escolha da doença a investigar (doença na qual o fármaco irá agir);


• Escolha do alvo do fármaco;
• Identificar os ensaios biológicos;
• Encontrar o composto condutor;
• Isolar e identificar o composto condutor se necessário ou seja, determinar a sua estrutura
• Identificar a relação entre a actividade e a estrutura :identificar o farmacóforo (farmacóforo em
termos de química farmacêutica, é a região da molécula de um ligante que está intimamente ligada
ao seu receptor. O conhecimento dessa região possibilita o planeamento de drogas sintéticas;
• Melhorar as interacções com o alvo;
• Melhorar as propriedades farmacocinéticas;
• Estudo do metabolismo do fármaco;
• Fármaco é patenteado;
• Testes de toxicidade;
• Processo de design e manufacturação;
• Ensaios clínicos;
• Mercado do medicamento;
• 15 anos de validade de patente.

Fig. 1 – Circuito interactivo do medicamento de uso humano

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• Inspecção e comprovação da qualidade


o O Departamento de Inspecção realiza acções de inspecção e supervisão sobre as entidades
e respectivos circuitos de comercialização de produtos, nomeadamente medicamentos
humanos, medicamentos veterinários e produtos de saúde. As acções de supervisão e
vigilância do mercado incidem quer sobre o fabrico e importação quer sobre a respectiva
distribuição grossista e dispensa ao público. O Departamento de Inspecção realiza as
actividades de certificação de Boas Praticas de Laboratório e inspecção no âmbito do
controlo de qualidade de medicamentos bem como inspecciona Boas Praticas Clínicas no
âmbito da realização de Ensaios Clínicos. Todas as entidades associadas a estes diferentes
aspectos são directamente supervisionadas pelo INFARMED nos termos das competências
legais em vigor.

• Farmacovigilância

• Investigação e desenvolvimento
o O INFARMED criou, em 2004, um gabinete de Investigação e Desenvolvimento (I&D) de
forma a instituir um sistema de contacto entre a indústria, o meio académico e o
INFARMED facilitador de um maior crescimento em I&D ao nível da indústria
farmacêutica nacional reconhecida como sector estratégico para a economia nacional.
Neste contexto, o Gabinete de I&D dá assistência técnica e regulamentar no âmbito de
I&D ligado à indústria ou academia para o desenvolvimento inicial de infraestuturas e
projectos de acordo com os princípios das boas práticas farmacêuticas. Desde o início da
sua actividade tem dado apoio a 4 projectos relacionados, sobretudo mas não só, com a
biotecnologia e terapias avançadas.
Compete também a este Gabinete criar as condições para o desenvolvimento de projectos
de investigação no INFARMED e elaborar propostas de parceria com outras instituições
científicas, nacionais e estrangeiras.

• Ensaios clínicos
o A realização de ensaios clínicos de medicamentos para uso humano é regulada pelo
regime jurídico estabelecido pela Lei n.º 46/2004, de 19 de Agosto, que transpõe para a
ordem jurídica nacional a Directiva 2001/20/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de
4 de Abril.

• Autorização de introdução no mercado (AIM)


o Para que um medicamento seja colocado no mercado, é necessário que o Infarmed
conceda uma autorização para o efeito, a Autorização de Introdução no Mercado (AIM).
De forma a manter-se sempre actualizado, o medicamento sofre modificações ao longo do
tempo. Essas modificações necessitam também de ser autorizadas pelo Infarmed, e
seguem procedimentos padronizados, e denominados Alterações aos Termos da AIM.

• Fabricantes
o As entidades titulares de instalações que se dedicam ao fabrico de medicamentos e
produtos de saúde estão sujeitas ao licenciamento industrial nos termos da legislação

24 Da origem dos fármacos à sua comercialiação | CRISTÓVÃO, A.S.; SANTOS, A.; MARTINS, H.; FERNANDES, N.
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aplicável - Decreto-Lei n.º 69/2003, de 10 de Abril, Decreto Regulamentar n.º 8/2003, de


11 de Abril, Portaria n.º 464/2003, de 6 de Junho.
A entidade coordenadora do licenciamento industrial é o Ministério da Economia e da
Inovação participando o Infarmed, neste processo, como entidade consultada na área do
fabrico de medicamentos e produtos de saúde.

• Distribuição por grosso


o A comercialização de medicamentos de uso humano está sujeita aos requisitos legaisdo
Decreto-Lei n.º 176/2006, de30 de Agosto,na observância das Boas Práticas de
Distribuição.A actividade de distribuição por grosso de medicamentos de uso humano está
sujeita a autorização do INFARMED, I.P.

• Prescrição, dispensa e utilização

1.1 ENSAIO CLÍNICO

Um ensaio clínico é um teste de comparação de uma medicação e um placebo. É um processo muito


complexo.

• I Fase – Toxicologia e farmacologia Clínica (20 a 80 pessoas)


o Voluntários saudáveis;
o Resposta biológica;
o Determinação da relação dose-efeito, duração acção, limites de tolerância…;
o Identificação de propriedades farmacocinética e os efeitos secundários.
• II Fase – Investigação clínica – eficácia terapêutica (100 a 200 participantes)
o Determinação da dose óptima, da eficácia absoluta, efeitos adversos;
o Avalia o tratamento em indivíduos com a doença;
o Balanço eficácia/segurança (risco-benefício).
• III Fase – Avaliação Terapêutica em Larga Escala (1000 a 3000 participantes)
o Estabelecer o valor terapêutico do novo fármaco por comparação com placebo e ou
fármacos alternativos para as mesmas indicações;
o Duplamente cego Farmacoepidemiologia Experimental (RTC).
• IV Fase – O medicamento é introduzido no mercado (AIM)
o Farmacoepidemiologia observacional;
o Vigilância pós-marketing;
o Monitorização contínua;
o Avaliação da efectividade e detecção de efeitos adversos de longo prazo;
o Estudos comparativos, registo, lançamento e vendas.

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1.1.1 AVALIAÇÃO DE MEDICAMENTOS

São avaliados quanto à sua:

• Eficácia;
• Segurança;
• Qualidade.

Fig. 2 – Da concepção dos fármacos à sua comercialização

26 Da origem dos fármacos à sua comercialiação | CRISTÓVÃO, A.S.; SANTOS, A.; MARTINS, H.; FERNANDES, N.
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2 CONTROLO DO RISCO DE UTILIZAÇÃO DO MEDICAMENTO

Risco associado: qualquer situação ou circunstância, relacionada com a qualidade, a segurança ou eficácia
de um medicamento, que possa pôr em causa a saúde dos doentes ou a saúde pública, bem como produzir
efeitos indesejáveis sobre o ambiente

DL 176/2008, de 30 de Agosto – Estatuto do Medicamento

A gestão do risco associado à utilização do medicamento tem como objectivo optimizar o seu benefício e
minimizar o risco. Trata-se de um processo contínuo e dinâmico, que se inicia na fase de desenvolvimento
do medicamento e que acompanha todo o seu ciclo de vida.

Caracteriza-se por um conjunto de actividades e intervenções com a finalidade de identificar, caracterizar,


prevenir ou minimizar os riscos associados à utilização do medicamento.

2.1.1 REACÇÕES ADVERSAS AO MEDICAMENTO (RAM)

«Reacção adversa», qualquer reacção nociva e involuntária a um medicamento que ocorra com doses
geralmente utilizadas no ser humano para profilaxia, diagnóstico ou tratamento de doenças ou recuperação,
correcção ou modificação de funções fisiológicas.

«Reacção adversa grave», qualquer reacção adversa que conduza à morte, ponha a vida em perigo, requeira
a hospitalização ou o prolongamento da hospitalização, conduza a incapacidade persistente ou significativa
ou envolva uma anomalia congénita.

«Reacção adversa inesperada», qualquer reacção adversa cuja natureza, gravidade, intensidade ou
consequências sejam incompatíveis.

DL 176/2008, de 30 de Agosto – Estatuto do Medicamento

2.1.2 FARMACOVIGILÂNCIA

A farmacovigilância consiste num processo de avaliação e melhoria contínua da segurança dos


medicamentos comercializados. Pode também definir-se como o estudo da segurança dos medicamentos na
fase de comercialização, sob as condições de utilização na prática clínica, na comunidade.

Surgiu em 1961, devido aos efeitos adversos da talidomida: milhares de crianças com focomélia, após
utilização deste medicamento, por parte da mãe, durante a gestação.

Houve, assim, uma consciencialização dos profissionais de saúde e do público das RAM, tendo sido criadas
estruturas de vigilância dos efeitos indesejáveis dos medicamentos.

Os médicos, enfermeiros e farmacêuticos devem notificar reacções adversas medicamentosas.

CRISTÓVÃO, A.S.; SANTOS, A.; MARTINS, H.; FERNANDES, N. | Da origem dos fármacos à sua comercialiação 27
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AUTO-MEDICAÇÃO, ADESÃO
MEDICAMENTOSA E ERRO
TERAPÊUTICO
1. Controlo do risco de utilização do medicamento
2. Adesão ao regime terapêutico
3. Automedicação

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

Autor: Nuno Fernandes

28 Auto-medicação, adesão medicamentosa e erro terapêutico | CRISTÓVÃO, A.S.; SANTOS, A.; MARTINS,
H.; FERNANDES, N.
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1 ERRO TERAPÊUTICO

Erros mais comuns a nível da prescrição, dispensa, preparação, administração e na monitorização:

1. Erro de prescrição 7. Erros de preparação


2. Erro de omissão 8. Erro de técnica de administração
3. Erro horário 9. Erros com medicamentos deteriorados
4. Erro na administração de medicação não 10. Erros de monitorização
prescrita 11. Erros resultantes de não adesão do
5. Erros de dose doente
6. Erros de apresentação farmacêutica 12. Outros erros

ERROS NA ADMINISTRAÇÃO

A administração de medicamentos é uma intervenção da competência dos enfermeiros.

Erro por
omissão
Medicação
Administração
preparada de
de dose extra
forma errada*

Administração
Administração
a velocidade
sem prescrição
errada

ERRO NA
Erro na técnica ADMINISTRAÇÃO
Administração
de
de dose errada
administração

Administração
Administração
no tempo
por via errada
errado

Administração
Administração
de
ao doente
medicamento
errado
deteriorado

Fig. 3 – Erros na administração de medicamentos por parte dos enfermeiros.

*Pode envolver erro na diluição, reconstituição, fraccionamento de comprimidos que não devem ser fraccionados, etc.
CRISTÓVÃO, A.S.; SANTOS, A.; MARTINS, H.; FERNANDES, N. | Auto-medicação, adesão medicamentosa e 29
erro terapêutico
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2 ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO

Segundo a OMS (2003) , a adesão ao regime terapêutico é o “grau ou extensão em que o comportamento
da pessoa, em relação à toma de medicamentos, ao cumprimento da dieta e alteração de hábitos ou estilos
de vida, corresponde às instruções veiculadas por um profissional de saúde.

Nos países desenvolvidos, em terapias a longo prazo, na população geral, a adesão é de cerca de 50% e
muito mais baixa nos países em desenvolvimento.

A adesão ao regime terapêutico contempla três dimensões:

• Adesão de toma – taking compliance;


• Adesão na dose – dosing compliance;
• Adesão na posologia – timing compliance.

2.1 NÃO ADESÃO

• Implicações na saúde individual


o Complicações clínicas e psicossociais;
o Menor controlo na gestão da doença.
• Custos sociais e económicos elevados
o Principal causa sub-optimização de resultados clínicos;
o Desperdício de recursos de saúde.

2.2 IMPORTÂNCIA DA ADESÃO

• A adesão à terapêutica é um problema mundial de grande amplitude;


• O impacto da má adesão cresce em paralelo com o peso da doença global;
• As consequências da má adesão repercutem-se em resultados desfavoráveis nos indicadores de
saúde e no aumento das despesas em saúde;
• A adesão é um importante modificador da efectividade dos sistemas de saúde;
• Investir na adesão poderá ser o melhor investimento no controlo das doenças crónicas;
• Os sistemas de saúde devem evoluir para novos desafios;
• Aumentar a adesão em termos individuais, aumenta a segurança do doente;
• Os doentes necessitam de ser ajudados e não de repreendidos.

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H.; FERNANDES, N.
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2.3 TEORIAS SOBRE ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO

• Modelo de Crenças de Saúde ( Rosenstock,1966;Becker et al,1980);


• Teoria da acção planeada (Ajzen & Fishbein,1980);
• Teoria de comportamento planeado(Ajzen,1985);
• Locus de controlo de saúde (Wallston et al,1976); Modelo de auto-regulação do comportamento
em saúde (Leventhal et al, 1997);
• Modelos de adesão terapêutica (Stanton,1987);
• Modelo de hipótese cognitiva da adesão (Ley,1988);
• Modelo desenvolvimental de adesão ao tratamento (Kristeller e Rodin, 1984).

2.4 FACTORES DE ADESÃO

• Sociodemográficos
o Idade;
o Raça;
o Sexo;
o Ocupação;
o Nível de educação;
o Educação para a saúde.
• Económicos
o Tipo de assistência na saúde;
o Custo da medicação e dos cuidados de saúde;
o Rendimento do doente.
• Comportamentais
o Interacção doente-profissional de aúde;
o Conhecimento do doente;
o Compreensão e crenças face à doença ou doença e medicamentos;
o Conhecimento e crenças do cuidador;
• Clínicos
o Tipo de doença;
o Gravidade e duração da doença;
o Número de doenças associadas;
o Frequência do uso dos serviços de saúde;
o Satisfação dos doentes com os serviços de saúde;
o Qualidade dos cuidados.

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erro terapêutico
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2.4.1 FACTORES PREDITORES DE NÃO ADESÃO EM IDOSOS

Os problemas de adesão existem em todas as situações que requerem auto-administração do tratamento,


independentemente do tipo de doença, gravidade e acessibilidade a recursos de saúde.

Existem diversos factores preditores de não adesão, após diagnóstico e interacção com os profissionais de
saúde:

• Declínio das funções cognitivas;


• Esquecimento;
• Receio dos efeitos adversos;
• Incapacidade física para auto-administrar os medicamentos;
• Limitações económmicas;
• Diminuição intencional da dose prescrita.

3 AUTOMEDICAÇÃO

• Medicamentos não sujeitos a receita médica;


• OTC (over-the-counter);
• Os produtos da ervanária;
• O não controlo do princípio activo e a concomitância da prescrição.

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FARMACOCINÉTICA
1. Noções introdutórias
2. Farmacocinética

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

LÜLLMANN, H. et al; Color Atlas of Pharmacology, 2nd edition. New York: Thieme, 2000

Autor: Nuno Fernandes

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1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Fig. 4 – Passagem de um fármaco no organismo

O ciclo do medicamento no organismo tem uma componente cinética e uma componente de extrensão
(quantidade ou fracção da dose que sofre o processo). É composto por diversas fases:

• (L – libertação);
• Absorção;
• Distribuição;
• Metabolismo;
• Excreção.

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Existem, também, diversas formas farmacêuticas de medicamentos:

• Comprimidos;
• Cápsulas;
• Granulados;
• Pós;
• Supositórios;
• Pomadas;
• Suspensões/emulsões;
• Aerossóis;
• Soluções.

A farmacocinética baseia-se na quantificação das concentrações do fármaco e metabolitos no sangue,


tecidos, urina e outras secreções, em função do tempo, através de uma descrição matemática das taxas de
movimento do mesmo, entre o exterior e o interior do organismo. Desta forma, permite:

• Avaliar uma acção terapêutica (ausência de efeito e presença de efeito colateral);


• Prever ou compreender a duração e intensidade do efeito de um fármaco ou nutriente no
organismo;
• Avaliar a extensão e velocidade de chegada do fármaco ao seu local de acção;
• Prever e compreender os efeitos secundários dos fármacos (doente não segue prescrição, erro de
medicação, interacções)
• Prever condições posologia : forma farmacêutica, dosagens, intervalos de administração, via de
administração
• Prever níveis tecidulares, sem a colheita dos tecidos
• Comparar resultados entre diferentes indivíduos da mesma espécie ou entre espécies diferentes
• Monitorização terapêutica

2 FARMACOCINÉTICA

2.1 LIBERTAÇÃO

A libertação dos fármacos é influenciada por diversos factores:

• Forma farmacêutica
o Forma líquida:
 Soluções aquosas;
 Emulsões;
 Suspensões.
o Forma sólida:
 Pós;
 Pós revestidos;
 Granulados;
 Comprimidos;
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 Cápsulas moles;
 Formas de libertação prolongada;
 Sistemas terapêuticos de libertação constante.

Os fármacos podem também agrupar-se em:

o Formas de libertação rápida:


 Cápsula mole;
 Cápsula dura;
 Comprimidos.
o Formas de libertação prolongada:
 Formas matriciais (inertes, hidrofílicas e lipídicas);
 Formas revestidas (enterosolúveis e insolúveis permeáveis);
 Sistemas de libertação controlada.
• Metodologia de fabrico (força de compressão);
• Excipientes usados (tipo e quantidade);
• Características físico-químicas do fármaco (ionização, pH…);
• Local da libertação (ampola rectal, sub-lingual), etc.;
• Tamanho das partículas;
• Motilidade GI;
• Presença de alimentos (líquidos da toma, refeições, etc.).
• Nota: As prodrogas sofrem biotransformação antes de exercerem efeito.

2.2 ABSORÇÃO

O princípio activo dissolvido, cuja forma não ionizada é suficientemente lipossolúvel, atravessa as
membranas biológicas do local de absorção e penetra na circulação sanguínea.

Fig. 5 – Estrutura da membrane celular

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A membrana celular é constituída por uma dupla camada fosfolipídica, com pólos lipófilos situados no
interior e pólos hidrófilos situados no exterior e proteínas. É lipofílica, facilitando a passagem de moléculas
lipossolúveis (não ionizadas). Encontram-se também poros (pequenas moléculas transportadoras,
hidrofílicas).

2.2.1 MECANISMOS DE PASSAGEM DAS MEMBRANAS BIOLÓGICAS

• Difusão passiva
o Ocorre segundo a Lei de Fick (tem em conta a relação entre gradiente de concentração,
espessura da membrana e superfície de contacto)
 De acordo com o grandiente de concentração;
 Não está sujeita à saturação;
 Pouco sensível às variações de temperatura;
 Importância da superfície de contacto.
o É condicionada por:
 Lipossolubilidade;
 Tamanho da molécula;
 pH do meio (condiciona a ionização das partículas).

• Transporte activo
o Transporte contra o gradiente de concentração
 Consumo de energia;
 Sujeito a competição;
 Sujeito a saturação;
 Muito sensível às variações de temperatura;
 Permite a passagem de macromoléculas.

Fig. 6 – Transporte activo e transporte passivo

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2.2.2 FACTORES QUE INFLUENCIAM A ABSORÇÃO

• Propriedades físico-químicas do princípio activo


o Estabilidade;
o Solubilidade;
o Velocidade de dissolução;
o pKa;
o Ionização.

• Factores fisiológicos e patológicos


o Velocidade de esvaziamento gástrico e do pH gástrico;
o Funcionamento hepático;
o Motilidade intestinal;
o Idade;
o Gravidez;
o Doenças GI.

• Alimentação

• Outros
o Área de absorção;
o Tempo de contacto;
o Intimidade do contacto;
o Intensidade da irrigação da membrana;
o Espessura da estrutura absorvente.

METABOLISMO DE PRIMEIRA PASSAGEM

O metabolismo de primeira passagem, metabolismo pré-sistémico ou efeito de primeira passagem, é um


fenómeno de metabolismo de um fármaco, no qual a sua concentração é significativamente reduzida pelo
fígado, antes de atingir a circulação sistémica. Se este efeito for muito intenso, os fármacos tornam-se
inactivos por via oral.

BIODISPONIBILIDADE

A biodisponibilidade é um termo farmacocinetico que descreve a velocidade e o grau com que uma
substância activa, ou a sua forma molecular terapeuticamente activa, é absorvida a partir de um
medicamento e se torna disponivel no local de acção.

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É, assim, a medida da extensão de absorção de um fármaco e corresponde à fracção do fármaco que


realmente atinge a circulação sistémica, ficando, portanto, disponível para exercer a sua acção terapêutica.
É afectada por factores físico-químicos, farmacêuticos e fisiológicos.

Os estudos de bioequivalência têm por objectivo comparar as biodisponibilidades de dois medicamentos


considerados equivalentes farmacêuticos (ou alternativas farmacêuticas) – contêm a mesma substância
activa, na mesma dose e na mesma forma farmacêutica – e que tenham sido administrados na mesma dose
molar.

Desta forma, um medicamento genérico é um:

“medicamento com a mesma composição qualitativa e quantitativa em substâncias activas, a mesma forma
farmacêutica e cuja bioequivalência com o medicamento de referência haja sido demonstrada por estudos
de biodisponibilidade apropriados”

DL 176/2008, de 30 de Agosto – Estatuto do Medicamento

MARGEM TERAPÊUTICA

A margem terapêutica corresponde ao intervalo de concentrações para o qual há efeito farmacológico sem
haver efeito tóxico (intervalo entre a concentração mínima eficaz e a concentração mínima tóxica).
Considera-se, também, que corresponde à maior probabilidade de ter o efeito esperado com a menor
probabilidade de ter efeitos adversos (toxicidade). Existe também uma variabilidade interindividual na
resposta a uma mesma concentração de fármacos, pelo que os limites da margem de segurança são difusos
e, desta forma, é importante a monitorização terapêutica.

Fig. 7 – Concentração de fármaco no sangue e seus efeitos

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VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DOS FÁRMACOS

As concentrações plasmáticas de fármaco, em função do tempo, dependem da via de administração


utilizada.

• Administração tópica – consiste na administração de medicamentos na pele e mucosas, ou seja, no


seu local de acção.
o Vias:
 Cutânea
 Ocular
 Inalatória
 Rectal
 Oral
o Desvantagens:
 Efeito Irritante Local
 Sensibilização alérgica local e/ou geral
 Possibilidade de efeitos sistémicos – o princípio activo do medicamento pode
atingir outras estruturas criando assim efeitos secundários, efeitos à distância
 A aplicação da terapêutica pode provocar lesões
 Maioria dos medicamentos por via inalatória provoca geralmente efeitos
secundários o que leva a que cada vez mais sejam estudados

• Administração sistémica
o Pressupõe que o fármaco passe por todas as fases para fazer efeito
o Tem que ser transportado pela corrente sanguínea directamente ao seu local de acção
o Quanto maior a lipossolubilidade melhor a passagem das moléculas
o As moléculas atravessam melhor as membranas não estando ionizadas

o Via oral
 Vantagens:
• Simples
• Prática
• Económica
• Auto-medicação facilitada
 Desvantagens:
• Tempo de latência (to)
• Irritação gastrointestinal
• Inactivação do princípio activo por suco gástrico ou alimentos
o Via sub-lingual
 Absorção irregular
 Substâncias de baixo peso molecular
o Via rectal
 É utilizada em caso de vómito e outras situações particulares
 Absorção irregular

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o Via parentérica
 Vantagens:
• Início rápido da actividade terapêutica
• Utilização de princípios activos mal absorvidos por outras vias
• Índices exactos e constantes
• Administração de grandes quantidades de líquidos
• Controlo de medicamentos com pequena margem terapêutica
 Desvantagens:
• Potencial risco de sobredosagem
• Irritação e sensibilização do local de administração
• Custo elevado
• Pessoal qualificado para a preparação e administração
 Vias:
• Endovenosa
o Lipossolúveis não podem ser dados por endovenosa
o Podem ser administradas grandes quantidades de liquido
o Não há absorção
o Vantagens (emergência)
o Riscos e limitações
o Administração lenta da solução (60s)
• Intramuscular
o Muito utilizada
o Absorção pelo tecido muscular
o Vantagens
o Limitações
o Quanto mais irrigado o órgão mais rápida a absorção
o Mais rápida do que a via oral
o Factores que influenciam a absorção: taxa de vascularização,
tempo de contacto, espessura
o Não podem ser administradas grandes quantidades de liquido
• Sub-cutânea
o Pouca tolerância a medicamentos irritantes
o Absorção mais lenta que a intramuscular
o Vantagem - Auto-administração
o Não pode ser administrado por via oral porque os fármacos são
inibidos pelas enzimas gástricas
• Inalatória
o Efeitos secundários
o Absorção muito rápida
o Substâncias de baixo peso molecular
o Voláteis ou gasosos

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• Trandérmica
o Absorção regular
o Substâncias de baixo peso molecular
o Vias mais recentes de administração do fármaco
o Muito fácil
o Não tem transtornos a nível gástrico
o Entra na circulação sanguínea
o Ex.: anti-nicotínicos, hormonas e pílulas
• Intra-raquidiana
o Administração no espaço intravertebral
o Utilização Limitada
o Raquianestesia
o Passagem rápida ao SNC

Fig. 8 – Concentração do fármaco ao longo do tempo

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2.3 DISTRIBUIÇÃO

A distribuição é o conjunto de processos pelos quais o fármaco se distribui nos diferentes órgãos e tecidos a
partir da circulação sistémica.

O princípio activo, na circulação sistémica, pode ligar-se mais, ou menos, com as proteínas plasmáticas e
difundir-se em certos órgãos e tecidos, contendo, ou não, receptores farmacológicos. O volume de
distribuição aparente (VDA) e a percentagem de ligação às proteínas plasmáticas (LP) são características de
um princípio activo e determinam a amplitude da distribuição deste no espaço vascular e extravascular.

É de salientar que o princípio activo, sob a forma livre, não ligado às proteínas plasmáticas, deixa o espaço
vascular, para se difundir no espaço extravascular e nos tecidos, onde se irá fixar, mais ou menos
fortemente, às proteínas extravasculares do líquido intersticial ou aos outros constituintes tecidulares.

Os fármacos atingem, em primeiro lugar, os órgãos e tecidos mais irrigados (por ordem decrescente de
irrigação: glândulas supra-renais, rins, cérebro, tecido músculo-esquelético, vísceras, tecido adiposo).

A distribuição depende de diversos factores:

• Factores intrínsecos ao medicamento


o Peso molecular do medicamento;
o Grau de ionização do medicamento;
o Lipossolubilidade do medicamento;
o Ligação às proteínas plasmáticas.

• Factores fisiológicos
o Irrigação sanguínea dos órgãos e tecidos;
o Permeabilidade das membranas;
o Proteínas plasmáticas.

As moléculas dos fármacos ligam-se a proteínas plasmáticas (albumina e α-glicoproteína ácida), que as
transportam. Assim, a concentração plasmática de um fármaco é dada pela soma da fracção ligada (que não
atravessa a parede capilar, por a molécula ser demasiado grande; farmacologicamente inactiva) com a
fracção livre.

2.3.1 VOLUME DE DISTRIBUIÇÃO

Volume de distribuição (VD), também conhecido como volume aparente de distribuição, é um termo usado
farmacologicamente para quantificar a distribuição de um fármaco pelo corpo, após administração oral ou
parentérica. É definido como o volume no qual uma determinada quantidade de droga precisaria ser
uniformemente distribuída para produzir a concentração sanguínea observada.

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O volume de distribuição pode estar aumentado por insuficiência renal (devido a retenção de fluidos) e
insuficiência hepática (devido ao fluido corporal alterado e ligação a proteínas plasmáticas). Desta maneira,
também pode estar diminuído na desidratação.

Após uma injecção endovenosa:

𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑
𝑉𝑉𝐷𝐷 =
𝐶𝐶𝐶𝐶

• VD <5L, implica que o fármaco é retido no compartimento vascular;


• VD <15L, o fármaco restringe-se ao fluido extracelular;
• VD >15L, grande volume de distribuição por todos os líquidos do organismo.

2.3.2 CLEARENCE

É a medida da capacidade do organismo em eliminar um fármaco. Esta medida é dada pela soma da
capacidade de biotransformação de todos os órgãos metabolizados. É representada pelo volume de líquido
(sangue ou plasma) completamente depurado do princípio activo, por unidade de tempo.

2.4 METABOLIZAÇÃO

A metabolização é o processo de formação de um ou mais produtos – metabolistos- no sentido de


aumentar a sua polaridade e diminuição da actividade farmacológica. Compreende a transformação do
fármaco de modo a torná-lo mais hidrossolúvel e mais rapidamente excretável pelo rim. A metabolização
ocorre essencialmente sob responsabilidade do fígado e do sistema enzimático, através do sistema
microssomal hepático e do citocromo P450.

Durante o metabolismo:

• O fármaco fica mais hidrofílico, o que acelera a excreção pelos rins, uma vez que um metabolito
menos lipossolúvel não é prontamente reabsorvido nos túbulos renais;
• Os metabolitos resultantes são, geralmente, menos activos que o fármaco que lhes deu origem
(p.e., diazepam → nordiazepam e oxazepam [menos activos]);
• As prodrogas são inactivas até serem metabolizadas (p.e., levodopa → dopamina);

A metabolização é condicionada por diversos factores, como a inibição enzimática e a idade.

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2.4.1 REACÇÕES DE METABOLIZAÇÃO

• Fase I
o Estas reacções envolvem a transformação de um fármaco num metabolito mais polar,
através da introdução ou exposição de um grupo funcional (OH, NH2…)
o Oxidação
 Reacções mais comuns, através de enzimas mixed function oxidases (Citocromo
P450s)
o Redução
o Hidrólise

• Fase II
o Conjugação do fármaco com substâncias endógenas – resultam em substâncias menos
activas
o Moléculas polares excretadas pelo rim

Fig. 9 – Reacções de metabolização

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2.5 ELIMINAÇÃO

Existem diversas vias de excreção do fármaco, sendo a mais frequente a via renal:

• Biliar;
• Pulmonar – fármacos voláteis;
• Fezes;
• Leite materno – restrição medicamentosa em mulheres que amamentam;
• Suor;
• Saliva;
• Rim.

A excreção renal depende da filtração glomerular, secreção tubular e reabsorção tubular. É influenciada
pelo pH (a ionização dos ácidos e das bases fracos depende do pH do fluido tubular) e pela lipossolubilidade
do fármaco (a ionização dos ácidos e bases fracos depende do pH do fluido tubular).

2.6 SEMI-VIDA

A semi-vida (ou semivida), ou tempo de meia vida, é o tempo que a concentração de fármaco no sangue ou
no plasma leva a atingir um valor igual a metade do seu valor original. Está relacionada com a constante de
eliminação, da seguinte forma:

𝑡𝑡1/2 = 𝑙𝑙𝑙𝑙2�𝐾𝐾
𝑒𝑒

A semivida contempla:

• Semi-vida de distribuição ou alfa: t/2α ou t1/2 α;


• Semi-vida de eliminação ou beta: t/2β ou t1/2 β.

A semivida terminal ou de eliminação é fundamental para se estabelecer o esquema posológico (modo de


administrar os medicamentos), tendo em atenção que não se deve confundir semivida com duração de
acção.

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A semivida é condicionada pela distribuição, metabolização e eliminação (e pela absorção quando a cinética
de metabolização e eliminação não é linear, proporcional).

Fig. 10 – O sistema LADMER (fase biofarmacêutica – L: libertação; fase farmacocinética: ADME – Absorção, Distribuição, Metabolização, Eliminação; fase
farmacodinâmica: R – Resposta)

2.7 MODELOS FARMACOCINÉTICOS

• Simplificação da realidade;
• Descritos por um conjunto de equações matemáticas e por parâmetros farmacocinéticos;
• Descrevem o movimento do fármaco entre regiões de diferentes características, ao longo do tempo
(ADME);
• Permitem a previsão de resultados noutros estudos;
• Permitem a redução dos numerosos dados, que os estudos farmacocinéticos geram;
• Permitem prever níveis plasmáticos, tecidulares e urinários de fármacos com qualquer dosagem;
• Calcular o regime terapêutico óptimo para cada doente;
• Prever a possível acumulação de fármacos e/ou metabolitos;
• Correlacionar as concentrações dos fármacos com a sua actividade farmacológica ou tóxica;
• Avaliar as diferenças de biodisponibilidade entre formulações diferentes (bioequivalência);
• Descrever como mudanças na fisiologia ou doença podem afectar a ADME;
• Explicar as interacções entre os fármacos.

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• Modelo monocomportamental
o Mais utilizado na clínica;
o Descrito por um conjunto de equações matemáticas;
o Assume o organismo como um “tanque”;
o Distribuição instantânea do fármaco.
• Modelo bicompartimental
o Distribuição do fármaco não instantânea: rápida nos órgãos muito irrigados
(compartimento central) e lenta nos órgãos pouco irrigados (compartimento periférico).

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FARMACODINÂMICA

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

Autor: Ana Sofia Cristóvão

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1 FARMACODINÂMICA

Farmacodinâmica refere-se ao estudo dos mecanismos de acção dos fármacos. Um dos princípios básicos da
farmacologia afirma que as moléculas dos fármacos necessitam de actuar sobre um ou mais constituintes
das células para produzirem uma resposta farmacológica. Assim, é necessário que ocorra uma interacção
química entre as moléculas dos fármacos e as moléculas dos constituintes celulares, de forma a que a
função destas últimas seja alterada (“os fármacos não criam efeitos fisiológicos, apenas os modificam”). Os
processos de acção dos fármacos envolvem consumo energético (transporte activo) para a entrada destes
no meio celular.

Para que os efeitos farmacológicos ocorram é necessário que haja uma distribuição não-uniforme das
moléculas do fármaco dentro do organismo ou tecido, ou seja, as moléculas do fármaco precisam de se ligar
a constituintes específicos das células, moléculas proteicas geralmente, para produzir um efeito (acção
mediada por receptor). No entanto, existem muitos fármacos cuja acção não é mediada por receptores.

1.1 ACÇÃO NÃO MEDIADA POR RECEPTORES

Os fármacos que não são mediados por receptores têm uma acção específica. A sua acção biológica
depende das características físico-químicas do fármaco.

• Anestesia local por diminuição da temperatura


o Cloreto de etilo

• Neutralização do ácido gástrico


o Fármacos anti-ácidos

• Laxantes – Provocam um aumento do bolo fecal.


o Metilcelulose

• Substâncias quelantes – Capacidade de se ligar a outras moléculas com características metálicas,


formando um complexo de grandes dimensões que não tem a capacidade de entrar na corrente
sanguínea.
o Penicilamina

• Alcalinizantes ou acidificantes urinários.

1.2 ACÇÃO MEDIADA POR RECEPTORES

Mais de 90% dos fármacos têm a sua acção mediada por receptores. Neste caso, o fármaco tem que ter
afinidade para o receptor, ocorrendo uma interacção selectiva do fármaco com determinadas proteínas da
membrana (ligação fármaco-receptor).

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1.2.1 LIGAÇÃO FÁRMACO-RECEPTOR NA SUPERFÍCIE CELULAR

• Formação de uma vesícula de endocitose e libertação do fármaco no interior da célula;


• Transporte do fármaco pelo receptor através da dupla camada lipídica
o Iões
• Activação de estruturas celulares internas
o Segundo mensageiro
o Alterações ao funcionamento celular
o Resposta ou efeito

1.3 RECEPTOR

Um receptor é uma macromolécula proteica, constituinte da membrana celular. Constitui uma molécula-
alvo, que se encontra na superfície celular, por meio da qual mediadores químicos (hormonas,
neurotransmissores, etc.) produzem os seus efeitos. Por vezes, o termo receptor é utilizado para indicar
qualquer molécula-alvo com a qual uma molécula de um fármaco tem que se combinar para desencadear o
seu efeito específico.

A ligação fármaco-receptor poderá ser classificada como:

• Reversível
o Forças de Van der Waals
o Pontes de hidrogénio
o Forças iónicas
• Irreversível
o Tipo covalente

Os receptores são responsáveis pela selectividade da acção do fármaco. Um receptor pode ter capacidade
de ligação a várias moléculas, no entanto, da sua estimulação resulta uma mesma resposta. Assim, o tipo de
efeito (resposta) está “preso” ao tipo de receptor.

Por outro lado, uma molécula (endógena ou fármaco) pode ligar-se a mais de um receptor, originando mais
de um efeito.

1.4 AGONISTAS

Um agonista tem a capacidade de se fixar a um receptor (afinidade) e de produzir um efeito (actividade


intrínseca ou eficácia).

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1.4.1 AGONISTAS PARCIAIS

Um agonista parcial tem, também, afinidade para o receptor, no entanto, a sua actividade intrínseca é
menor, quando comparada com os agonistas.

• Vareniclina
o Agonista parcial dos receptores nicotínicos, actuando como elemento que compete
directamente com a nicotina para os respectivos receptores.
o A ocupação dos receptores nicotínicos provoca uma menor libertação de dopamina e,
consequentemente, o prazer de fumar será menor.

1.5 ANTAGONISTAS

Um antagonista apenas tem afinidade para o receptor, não tendo actividade intrínseca. No entanto, ocorre
um efeito terapêutico como consequência da sua acção, uma vez que o bloqueio do receptor provoca um
efeito, e não a molécula do fármaco em si.

1.6 INTERACÇÕES MEDICAMENTOSAS

Uma interacção medicamentosa consiste numa alteração do efeito de um fármaco, provocada pela
administração conjunta de outro.

1.6.1 SINERGISMO

O sinergismo consiste numa potencialização intencional (aumento) do efeito final, que pode ser dada por:

• Adição de efeitos
o Terapêutica oncológica
o Terapêutica da HTA
• Potenciação do efeito
o Ansiolíticos + anti-depressivo

Fármacos com o mesmo efeito, mas com mecanismos de acção diferentes, poderão ser utilizados em
conjunto.

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1.6.2 ANTAGONISMO

Interacções de antagonismo habitualmente não são intencionais, no entanto fazem parte do ajuste
necessário da terapêutica de um doente. Nestas, ocorre uma diminuição ou inibição do efeito final. A
administração conjunta de um agonista e de um antagonista resulta numa interacção medicamentosa.

• Antagonismo não competitivo – Resulta de agonismos em sentido contrário


o Funcional
o Químico
• Antagonismo competitivo – Dois fármacos competem pelo mesmo receptor. A força da ligação
determina o fármaco que se ligará ao receptor em caso de competição.
o Em equilíbrio
o Irreversível – Quando as ligações são de tal forma fortes que, por mais que se administre
uma dose de agonista, não são destruídas.

1.6.3 ABSORÇÃO

• Fármacos que aceleram o esvaziamento gástrico (metoclopramida, por exemplo);


• Quelação, com formação de quelatos insolúveis que não são absorvidos (ciprofloxacina e
hidróxido de magnésio, por exemplo).

1.6.4 METABOLISMO

• Indução ou inibição enzimática, principalmente sobre o cit. P450.

o Indutores enzimáticos
 Fenitoína
 Fenobarbital
 Griseofulvina
 Ciclosporina
 Álcool
 Tabaco

o Inibidores enzimáticos
 Cimetidina
 Macrólidos
 Quinolonas
 Diltiazem
 Cetoconazole
 Alopurinol
 Sumo de toranja

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1.6.5 EXCREÇÃO

• Diminuição da filtração glomerular com consequente acumulação (acumulação da digoxina por


acção da ciclosporina, por exemplo);
• Alterações do pH urinário (intoxicações por fenobarbital ou salicilatos)

1.6.6 INTERACÇÕES

• Doentes polimedicados
• Doentes com insuficiências, hepática ou renal graves
• Fármacos com intervalo terapêutico estreito

1.6.7 FARMACODINÂMICA

• Intervalo terapêutico
o Dose mínima eficaz
o Dose mínima tóxica

Fig. 11 - Intervalo terapêutico

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• A estimulação continuada dos receptores pode originar dessensibilização – down regulation


o Diminuição da intensidade da resposta ao estímulo (dose)

• Dependência física – quando ocorre privação surge um quadro de sintomatologia física


o Síndrome de abstinência
 Álcool
 Ansiolíticos (benzodiazepinas)
• Tremores
• Suores
• Ansiedade generalizada

• Habituação – Impulso muito forte para o consumo da substância


o Obtenção de prazer
o Cessação do mau estar
 Álcool
 Tabaco
 Fármacos

• A ausência de estimulação pode originar hipersensibilização – up regulation


o Depressão

1.7 FACTORES QUE INTERFEREM COM A RESPOSTA TERAPÊUTICA

• Idade
o Crianças
o Idosos
• Interacções medicamentosas
• Factores genéticos
o Alterações na síntese proteica
 Mecanismo de acção
 Metabolização
o Anemia hemolítica por deficiência em glucose-6-fosfato desidrogenase
o Doença hereditária
 Favismo

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ANTI-INFECCIOSOS, VACINAS E
IMUNOGLOBULINAS
1. Antibióticos
2. Antifúngicos
3. Antivíricos
4. Anti-micobacterianos
5. Vacinas e imunoglobulinas

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

LÜLLMANN, H. et al; Color Atlas of Pharmacology, 2nd edition. New York: Thieme, 2000

Autor: Andreia Santos

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1 ANTIBIÓTICOS

Os antibióticos são os fármacos etiotrópicos (toxicidade selectiva), ou seja, são fármacos cujo mecanismo de
acção se dirige ao parasita do organismo e não ao hospedeiro, actuam nos organitos e estruturas dos
microorganismos de forma a diminuir a sua toxicidade para o hospedeiro, tendo o menor efeito possível
neste último.

A acção deste tipo de fármacos pode ser bacteriostática, evitando a multiplicação das bactérias, mas no
entanto se a dose for grande o suficiente pode ter uma acção bactericida, destruindo as bactérias.

A possibilidade de haver toxicidade selectiva depende da capacidade de explorar as diferenças bioquímicas


que possam existir entre o organismo infeccioso e o hospedeiro. No entanto, apesar do sucesso no
desenvolvimento dos fármacos para atacar estes microorganismos, eles são também bem sucedidos em
resistir ao efeito destes fármacos.

1.1 RESISTÊNCIA BACTERIANA AOS ANTIBIÓTICOS

A resistência nas populações bacterianas pode ser espalhada de pessoa para pessoa através da bactéria, de
bactéria para bactéria através dos plasmídeos, de plasmídeo para plasmídeo (ou cromossoma) através de
transposões (sequências de DNA capazes de se movimentar de uma região para a outra num genoma de
uma célula – transposição).

1.1.1 MECANISMOS GENÉTICOS

NATURAIS

Um exemplo deste mecanismo são as bactérias gram negativas. Estas são normalmente mais resistentes, já
que possuem uma membrana externa relativamente impermeável, o que quer dizer que muitos fármacos,
como os antibióticos, não a conseguem penetrar.

Devido à facilidade que as bactérias têm de se multiplicar e a probabilidade que existe de haver na divisão
uma mutação que faça com que passe a haver uma bactéria que em vez de ser sensível ao antibiótico é
resistente ao antibiótico, ainda assim, dado o número reduzido de bactérias resistentes resultantes deste
mecanismo, é pouco provável que estas se sobreponham à acção do sistema imunitário do hospedeiro.

As bactérias têm também facilidade em trocar material genético, os plasmídeos. Os plasmídeos são porções
de material genético extra-cromossomal, que se podem replicar independentemente e que podem conter
genes que codificam a resistência aos antibióditos (genes r).

Os transposões podem ser transposicionados de um plasmídeo para outros, de um plasmúdeo para um


cromossoma ou vice-versa. Um plasmídeo que cotenha um transposão com um gene r pode codificar

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enzimas que façam com que o plasmídeo se integre noutro plasmídeo. Depois da separação dos dois, este
transposão replica-se de forma a que os dois plasmídeos contenham o gene r.

ADQUIRIDOS

A transferência de genes de resistência entre bactérias da mesma espécie ou de espécies diferentes é um


factor fundamental no auento da resistência aos antibióticos.

O método mais importante de tranferência de genes r de uma bactéria para outra é através dos plasmídeos
conjugativos. A bactéria forma um tubo de ligação com a outra bactéria através da qual os plasmídeos
passam, conferindo a resistência à segunda bactéria – Conjugação.

Outro método, embora menos comum, é a transferência de genes r através da transdução, por exemplo, a
transmissão através de um virus bacteriano (bacteriofago) de um plasmídeo que contém um gene r para
outras bactérias.

1.1.2 MECANISMOS BIOQUÍMICOS

INACTIVAÇÃO ENZIMÁTICA

Algumas bactérias conseguem destruir a estrutura do antibiótico com enzimas que produzem.

INACTIVAÇÃO DOS ANTIBIÓTICOSΒ -LACTÂMICOS

O exemplo mais importante de resistência é o causado pela inactivação dos antibióticosβ -lactâmicos. As
enzimas responsáveis são as β -lactamases, que destroiem o anel βlact ãmicos das penicilinas e das
cefalosporinas. Algumas β-lactamases mostram preferência pelas penicilinas e outras pelas cefalosporinas.

Os Staphylococcos são os principais produtores deβ -lactamase, e os genes que codificam estas enzimas
estãoc ontidos em plasmídeos que podem ser transferidos por transdução. Nos Staphylococcos, é enzima é
induzível (ou seja, a enzima não é sintetizada na ausência do antibiótico), concentrações subinibitórias de
antibióticos resultam num aumento da expressão do gene entre 50 e 80 vezes superior. A enzima passa
através da cápsula bacteriana e inactiva as moléculas de antibiótico no meio que rodeia a bactéria. O
problema causado pela secreção de β -lactamase pelos Staphylococcos resistentes foi ultrapassado pelo
desenvolvimento de penicilinas semi-sintéticas (meticilina) e novos antibióticos β -lactâmicos ( as
monobactâmicos e carbapenens) e cefalosporinas (cefamandol), que são menos susceptíceis à inactivação.

Os organismos Gram-negativos também conseguem produzirβ -lactamases, e isto é um factor significativo


para a sua resistência aos antibióticos β -lactamicos semi-sintéticos de largo espectro. Nestes organismos as
enzimas podem ser codificadas tanto pelos genes cromossomais como pelos genes dos plasmídeos. Nos
primeiros, a produção de enzimas pode ser induzível, mas nos últimos, a produção é contínua. Quando isto

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ocorroe, a enzima não inactiva o fármaco no meio que rodeia a bactéria mas em vez disso, mantém-se
ligada à parede celular, evitando o acesso do fármaco aos sítios alvo da membrana a que está associado.
Muitas destas β-lactamases são codificadas por transposões, alguns dos quais também têm informação
genética determinante da resistência a vários outros antibióticos.

INACTIVAÇÃO DO CLORANFENICOL

O Cloranfenicol é inactivado pela cloranfenicol acetiltransferase, uma enzima produzida pelas estirpes
resistentes das bactérias Gram-positivas e Gram-negaticas, estando a resistência presente nos plasmídeos.
Nas bactérias Gram-negativas, a enzima é produzida continuamente, resultante em níveis de resistência 5
vezes mais altos do que nas bactérias Gram-positivas, nas quais a produção de enzima é induzível.

INACTIVAÇÃO DOS AMINOGLICOSÍDEOS

Os Aminoglicosídeos são inactivados pela fosforilação, adenilação ou acetilação, as enzimas que preenchem
estes requesitos são encontradas nas bactérias Gram-positivas e nas bactérias Gram-negativas. Os genes
resistentes estão presentes nos plasmídeos, e vários são encontrados nos transposões.

DIMINUIÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INTRACELULAR DE ANTIBIÓTICO

As bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, contêm plasmídeos cujos genes codificam proteínas (bombas
de efluxo) induzíveis na membrana bacteriana que expulsam as tetraciclinas do interior da bactéria,
diminuindo a sua concentração no interior e, logo, conferindo resistência às bactérias – processo
dependente de energia. Este tipo de resistência é comum e reduziu grandemente o valor terapêutico das
tetraciclinas.

A alteração da permeabilidade da membrana bacteriana resultante da mutação cromossomal que envolve


os componenete polissacáridos da membrana externa das bactérias Gram-necativas pode conferir
resistência à ampicilina.

Mutações que afectem os componentes da cápsula bacteriana podem afectar a acumulação de


aminoglicosídeos, βlactâmicos, cloranfenicol, antibióticos pepticos e tetraciclina.

MODIFICAÇÃO DO ALVO BACTERIANO

É causada por mutações genéticas que modificam o alvo bacteriano (PBP’s) , impedindo assim que o
antibiótico se ligue à bactéria e exerça a sua função.

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1.2 MECANISMOS GERAIS DA ACÇÃO DOS ANTIBIÓTICOS

De uma forma geral os antibióticos actuam das seguintes formas:

• Inibição da síntese da parede bacteriana – como a bactéria fica sem parede não consegue conter
os seus organelos e morre;
• Modificação da permeabilidade da membrana – este método já não é muito utilzado;
• Alteração da síntese dos ácidos nucleicos – dependendo da dose do fármaco e da concentração do
foco infeccioso, pode ser bactericida ou bactériostático;
• Inibição da síntese proteica;
• Inibição de enzimas metabólicas.

Fig. 12- Antibióticos e seu local de acção

1.3 β-LACTÂMICOS

É o maior grupo de antibacterianos. Todos os antibióticos β -lactâmicos interferem na síntese do


peptidoglicano da parede celular bacteriana. Após a sua fixação a sítios de ligação na bactéria, os
antibióticos β -lactâmicos inibem a enzima de transpeptidação que forma as ligações cruzadas das cadeias
peptidicas.

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1.3.1 PENICILINA

As penicilinas são mais eficazes nas bactérias Gram-positivas do que nas Gram-negativas.

Fig. 13 - Estrutura da Penicilina (B) Anel β-lactâmico; (A) local de ligação das enzimas que inactivam este antibiótico

Fig. 14 – Estrutura, origem, modo de acção das penicilinas; métodos


para prolongar a duração da sua acção

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MECANISMOS DE ACÇÃO

• Inibem a síntese da parede bacteriana;


• Ligam-se a proteínas constitutivas de enzimas da membrana citoplasmática das bactérias (PBP’s) e
impedem a transpeptidação. Para se poder ligar às PBP’s o antibiótico tem que manter a sua
estrutura.

Interferem com a síntese do peptidoglicano da parede celular bacteriana. Depois da ligação às proteínas de
ligação à penicilina na bactéria (há vários tipos), inibem a tranpeptidação enzimática que forma as ligações
cruzadas das cadeias peptidicas.

O efeito bactericida final é a inactivação de um inibidor de enzimas autoliticas na parede celular, levando à
lise da bactéria. Alguns organismos, conhecidos como “tolerantes”, têm enzimas autoliticas defeituosas e
são inibidos mas não sofrem lise na presença do fármaco.

TIPOS DE PENICILINA E SUA ACTIVIDADE ANTIMICROBIANA

As primeiras penicilinas a serem descobertam foram a benzilpenicilina (Penicilina G) e a


fenoximetilpenicilina de ocorrência natural.

A benzilpenicilina apresenta um espectro de acção pouco amplo. A sua principal descantagem é a pouca
absorção gastrintestinal e a sua sensibilidade à inactivação βpelas -lactamases. Como tal, deve ser
administrada por via EV ou IM, mas por ser muito rapidamente eliminada, adicionou-se às fórmulas uma
substância que retarda a sua absorção.

Foram elaboradas diversas penicilinas semi-sintéticas pela adição de diferentes cadeias laterais ao núcleo da
penicilina.

• Penicilinas resistentes às β-lactamases – flucloxacilina


• Penicilinas de amplo espectro – ampicilina e amoxicilina (via oral)

1.3.2 ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS

Quando administradas por via oral, as diferentes penicilinas são absorvidas em diferentes graus,
dependendo da sua estabilidade em meio ácido. As penicilinas podem ser administradas por via
intramuscular ou endovenosa.

Estes antibióticos apresentam ampla distribuição nos líquidos corporais, penetrando nas articulações na
cavidades pleural e pericárdica, na saliva, no leite e na placenta.

A eliminação da mioria das penicilinas é principalmente renal e ocorre rapidamente, sendo 90% eliminado
por secreção tubular.

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1.3.3 EFEITOS INDESEJÁVEIS

Os efeitos indesejáveis consistem em reacções de hipersensibilidade, causadas pelos produtos de


degradação da penicilina, que se combinam com proteínas do hospedeiro, ou seja, como a penicilina
provém de um fungo, ao ser administrada pode causa uma reacção de sensibilidade, porque o sistema
imunitário responde à infecção.

É comum a ocorrência de erupções cutâneas, febre, edema e urticária.

Muito mais grave é o choque anafilático agudo, que pode ser fatal, mas que é raro.

1.3.4 RESISTÊNCIA

• Inactivação do antibiótico pelas β-lactamases;


• Presença de uma bomba de efluxo;
• Quantidade insuficiente de fármaco junsto das PBP’s. Ex: bactérias Gram negativas – como têm
uma parede mais expessa que dificulta a penetração do fármaco, este não chega às PBP’s.
• Modificação das PBP’s.

Fig. 15 - Resistência à penicilina

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Tabela 1 - Tipos de penicilina e seus usos terapêuticos

Fármaco Usos terapêuticos


Benzilpenicilina • Faringites
Cocos Gram+ • Amigdalites
Cocos Gram – • Escarlatina
Bacilos Gram + • Pneumonia estreptocócica
• Sífilis
Amoxacilina • Infecções de gravidade média a
Bacilos Gram+ moderada nos tractos respiratório,
Cocos Gram + urinário e intestinal
Bactérias Gram - • Infecções ginecológicas e uretites
gonocócicas.

1.4 CEFALOSPORINAS

As cefalosporinas assemelham-se ás penicilinas quer do ponto de vista químico, no seu mecanismo de


acção, como na toxicidade. No entanto, são muito mais activas em bactérias gram negativas porque
resistem à hidrólise.

De uma maneira geral têm um espectro de acção mais amplo porque são menos sensíveis às β -lactamases.

As cefalosporinas de amplo esprectro semi-sintéticas foram produzidas pela adição e diferentes cadeias
laterais ao núcleo da cefalosporina.

Fig. 16 - Estrutura da cefalosporina (B) Anel β-lactâmico; (A) local de ligação das enzimas que inactivam este antibiotico

1.4.1 MECANISMO DE ACÇÃO

O mecanismo de acção destes agentes é identico ao das penicilinas – interferência na síntese dos
peptidoglicanos bacterianos após ligação às proteínas de ligação (PBP’s).

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1.4.2 ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS

• Algumas cefalosporinas podem ser administradas por via oral, a cefuroxima axetil, a cefadroxil e a
cefixima.
• Os alimentos interferem com a absorção, pelo que devemos espaçar a toma das cefalosporinas das
refeições.
• A maioria é administrada por via parenteral; IM ou EV.
• Exibem ampla distribuição pelo corpo.
• Atravessam a placenta.
• A cefotaxima, a cefuroxima axetil e a ceftriaxona, também atravessam a barreira
hematoencefálica (importante nas meningites).
• São pouco metabolizadas.
• São excretadas por via renal.

1.4.3 EFEITOS INDESEJÁVEIS

Podem-se observar reacções de hipersensibilidade, muito semelhantes às que ocorrem com a penicilina.
Verifica-se ocorrência de algumas reacções cruzadas: assim, cerca de 10% dos indivíduos sensíveis à
penicilina irão apresentar reacções alérgicas às cefalosporinas.

Foi relatada a ocorrência de nefrotoxicidade, particularmente com a cefradina.

Intoletrância ao álcool (há uma acumulação de um constituinte do metabolismo do álcool, é


desaconselhado. Sintomas – calor na face, vermelhidão e confusão).

Pode ocorrer diarreia com as cefalosporinas orais.

RESISTÊNCIA

A resistência a este grupo de fármacos aumentou com o aparecimentoβ de -lactamases codificadas por
plasmídeos ou cromossomas. Além disso ocorre resistência se houver menos penetração do fármaco em
consequência de alterações nas proteínas da membrana externa ou de mutações nas proteínas dos sítios de
ligação.

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Tabela 2 - Tipos de Cefalosporina e seu uso terapêutico

Fármaco Uso Terapêutico


Cefadroxil
Cefalexina
1ª • Infecções estafilocócicas e estreptocócicas
Cefatrizina
Geração • Infecção urinária
Cefradina
Bactérias Gram+
Cefaclor
2ª Cefuroxima Axetil
• Infecções da Comunidade
Geração Bactérias Gram +
Bactérias Gram -
Ceftriazona
Cefixima

Cefotaxima • Infecções Hospitalades
Geração
Bactérias Gram+
Bactérias Gram –

Cefepima
Geração

1.4.4 INIBIDORES DAS β-LACTAMASES

O ácido clavulânico é um β -lactâmico, estruturalmente relacionado às penicilinas, que possui a capacidade


de inactivar uma gama de enzimas β-lactamases comummente encontradas em microorganismos
resistentes às penicilinas e às cefalosporinas. Tem boa actividade contra o plasmídeo mediados dasβ -
lactamases responsáveis pela resistência ao fármaco.

Fig. 17- Estrutura do ácido clavulânico

O sulbactam é, também, um inibidor das β-lactamases que se usa associado à ampicilina.

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1.5 AGENTES ANTIMICROBIANOS QUE AFECTAM A SÍNTESE DE PROTEÍNAS


BACTERIANAS

Fig. 18 - Síntese de proteínas e sítios de acção dos fármacos antibacterianos (imagem)

1.5.1 TETRACICLINAS

São antibióticos de amplo espectro, no entanto não são muito utilizadas porque são muito potentes (actuam
onde mais nenhum fármaco actua).

O grupo inclui a tetraciclina, a doxiciclina e a minociclina.

Fig. 19 - Estrutura da tetraciclina

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MECANISMO DE ACÇÃO

• As tetraciclinas actuam ao inibir a síntese de proteínas após a sua captação nos microorganismos
sensíveis por transporte activo.
• Actuam ao nível da sub-unidade 30s ribossomal (o que quer dizer que para actuarem têm mesmo
chegar ao centro da célula.
• Inibem a ligação codão-anticodão.
• As tetraciclinas são bacterioestáticas, mas não bactericidas.

ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS

• Em geral as tetraciclinas são administradas por via oral, mas também podem ser administradas por
via parenteral.
• A absorção no intestino é irrecular e imcompleta, porém é melhor na ausência de alimento
• Como as tetraciclinas são quelantes de iõe smetálicos (cálcio, magnésio, ferro, aluminio), formando
complexos não-absorvíveis, ocorre a diminuição da absorção na presença de leite, certos antiácidos
e preparações de ferro. A doxiciclina é praticamente absorvida por completo.
• Boa difusão nos tecidos e fluidos.
• Grande afinidade para ossos e dentes (porque têm cálcio).
• Atravessam a placenta
• Excressão renal e biliar.

EFEITOS INDESEJÁVEIS

Os efeitos indesejáveis mais comuns consistem em disturbios gastrointestinais provocados inicialmente


por, irritação directa e posteriormente pela modificação da flora intestinal. Pode ocorrer deficiência em
vitamina do complexo B, bem como supra-infecção.
2+
Por serem quelantes do Ca , as tetraciclinas depositam-se nos ossos e dentes em crescimento, causando
manchas e algumas vezes, hipoplasia dentária e deformidades ósseas. Por conseguinte, não devem ser
administradas a crianças, gestantesm ou mulheres em fase de lactação. Outro risco em mulheres grávidas é
a ocorrência de hepatotoxicidade.

Foi relatada a ocorrência de fototoxicidade (sensibilização à luz solar, uma vez que o fármaco se deposita na
pele) mais particularmente com a demeclociclina. A minociclina pode produzir distúbios vestibulares
relacionados à dose. As tetraciclinas em altas doses podem diminuir a síntese de proteínas nas células
hospedeiras – um efeito antianabólico - , podendo resultar em lesão renal. O tratamento a longo prazo
pode causar distúrbios da medula óssea.

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RESISTÊNCIA

• Diminuição da acumulação intracelular do fármaco ou aumento do efluxo por uma bomba de


transporte activo (grande quantidade do fármaco é expulso da célula logo há menos hipóteses de
actuar).
• Protecção ribossomal – formam-se proteínas que se ligam à porção 30s e impedem a ligação das
tetraciclinas.
• Inactivação enzimática das tetraciclinas.

1.5.2 CLORANFENICOL

Fig. 20 - Estrutura do cloranfenicol

1.5.3 MECANISMO DE ACÇÃO

• Liga-se à sub-unidade 50s do ribossoa bacteriano, bloqueando a síntese proteica.


• Nas doses usuais é bacteriostático

1.5.4 ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS

• Por via oral a absorção é rápida e completa e atinge concentrações máximas no plasma em 2 horas.
Pode ser administrado por via parentérica.
• Distribui-se amplamente pelos tecidos e líquidos quando há infecção no local.
• No plasma, 30 a 50% do cloranfenicol encontra-se ligado à proteína. Cerca de 10% são excretados,
inalterados, na urina, sendo restante inactivado no fígado.

1.5.5 EFEITOS INDESEJÁVEIS

• O efeito indesejável mais importante do cloranfenicol é a grave depressão da medula óssea, com
diminuição de todos os elementos figurados no sangue. Este efeito, apesar de raro, pode ocorrer
até mesmo com doses muito baixas em alguns indivíduos.
• Náuseas, vómitos e diarreia.
• Reacções de hipersensibilidade.

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1.6 AMINOGLICOSÍDEOS

Os principais agentes deste grupo são: a gentamicina, a estreptomicina e a neomicina.

Fig. 21 - Estrutura da estreptomicina

1.6.1 MECANISMO DE ACÇÃO

• Os aminoglicosídeos inibem a síntese de proteínas bacterianas.


• Ligam-se a alvos na sub-unidade 30s ribossomal, induzindo uma leitura errada da mensagem
codificada no mRNA. A proteína anómala integra-se na membrana citoplasmática da bactéria,
alterando-lhe a sua permeabilidade (torna a membrana mais porosa), o que justifica o seu
mecanismo bactericida.

1.6.2 ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS

Os aminoglicosídeos são catiões altamente polares. Não são absorvidos no trato gastrintestinal e em geral,
são administrados por via intramuscular ou endovenosa.

Não atravessam a barreira hematocefálica, não penetram nas secreções nem nos líquidos corporais, embora
possam ser obtidas concentrações elevadas nos líquidos articular e pleural. Todavia podem atravessar a
placenta.

A semi-vida plasmática é de 2-3 horas.

A eliminação ocorre quase totalmente por filtração glomerular no rim. Se houver comprometimento da
função renal, verifica-se uma rápida acumulação do fármaco, com consequente aumento dos efeitos
tóxicos, que estão relacionados com a dose.

EFEITOS INDESEJÁVEIS

Os aminoglicosídeos podem produzir graves efeitos tóxicos relacionados com a dose, que podem aumentar
com a duração do tratamento. Os principais riscos consistem em ototoxicidade e nefrotoxicidade.

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A ototoxicidade envolve a lesão


progressiva e destruição das células
sensoriais na cóclea e no órgão
vestibular da orelha. O resultado é
habitualmente irreversível, pode
consistir em vertigem, ataxia e perda
do equilibrio no caso de lesão
vestibular e em distúrbios auditivos,
incluindo surdez, no caso de lesão
coclear. Qualquer aminoglicosídeo
pode produzir estes efeitos, porém a
estreptomicina e a gentaminica têm
mais tendência a interferir na função
vestibular, enquanto a neomicina e a
micacina afectam principalmente a
audição. A netilmicina é menos
ototóxica do que os outros
aminoglicosídeos, sendo preferida
quando existe a necessidade de uso
prolongado.

A nefrotoxicidade consiste em lesão


dos túbulos reanis, que pode ser
revertida com a interrupção dos
fármacos. A nefrotoxicidade tem mais
tendência a ocorrer em pacintes com
doença renal pre-existente ou em
condições nas quais o volume urinário
se encontra reduzido. O uso
concomitante de outros agentes
nefrotóxicos aumenta o risco. Convém
Fig. 22 – Tetraciclina, cloranfenicol e aminoglicosídeos
assinalar que, como a eliminação
destes fármacos é quase totalmente
renal, a sua acção nefrotóxica pode
comprometer a sua própria excreção,
podendo estabelecer assim um ciclo vicioso.

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RESISTÊNCIA

• Inactivação enzimática dos aminoglicosídeos.


• Diminuição da acuulação intracelular do fármaco.
• Alteração da proteína de ligação ao ribossoma.

1.7 SULFONAMIDAS

Sulfonamidas de uso clínico: Sulfadiazina, Sulfadimidina, Sulfametoxazol (mais usado), Sulfametopirazina.


São muito utilizados nas infecções urinárias, devido ao seu tropismo para o tracto urinário.

MECANISMOS DE ACÇÃO

As sulfonamidas são análogos estruturais do ácido p-aminobenzóico (PABA), que é necessário para a síntese
de ácido fólico nas bactérias. O folato é necessário para a síntese dos percursores do DNA e do RNA tanto
nas bactérias cquando nos mamíferos. Os mamíferos obtêm o ácido fólico a partir da dieta, enquanto as
bactérias têm de o sintetizar.

As sulfonamidas competem com o PABA pela enzima dihidropteroato sintetase e o efeito da sulfanamida
pode ser superado pela adição de PABA em excesso.

A acção das sulfonamidas consiste em inibir o crescimento das bactérias, trata-se de uma acção
bacteriostática e não bactericida.

ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS

• Boa absorção oral


• Concentrações máximas no plasma em 4-6 horas
• Metabolização principalmente hepática (o produto principal é um derivado acetilado que não tem
acção antibacteriana).
• Excreção urinária.

EFEITOS INDESEJÁVEIS

Os efeitos colaterais leves a moderados consistem em náuseas e vómitos, cefaleias e depressão mental.

Os efeitos adversos graves que exigem a interrupção da terapia incluem hepatite, reacções de
hipersensibilidade (exantemas, febre, reacções anafiláticas), depressão da medula óssea e cristalúria. Esta
última resulta da precipitação dos matabolitos acetilados na urina.

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RESISTÊNCIA

• Alteração da dihidropteroato sintetase, ficando com baixa afinidade para as sulfonamidas.


• Super produção de PABA.

1.8 TRIMETOPRIMA

1.8.1 MECANISMOS DE ACÇÃO

• Inibe a síntese dos folatos.


• Potencia a acção das sulfonamidas (sulfonamidas+trimetoprima = doses mais baixas, logo diminui-
se a toxicidade).

1.8.2 ASPECTOS FAMACOCINÉTICOS

• Absorção completa pelo tracto gastrointestinal.


• Distribuição ampla por todos os tecidos e liquidos corporais.
• Metabolização hepática.
• Excreção urinária.

1.8.3 EFEITOS INDESEJÁVEIS

• Os efeitos indesejáveis da trimetoprima consistem em náuseas e vómitos, distúrbios hematológicos


e erupções cutâneas.
• Deficiência e folato, com consequente desenvolvimento de anemia megaloblástica.

1.8.4 USOS TERAPÊUTICOS

• Infecções urinárias moderadas (ex: E. coli – sensível)


• Infecções entéricas
• Infecções do tracto respiratório inferior.

1.8.5 RESISTÊNCIA

Alteração da dihidrofolato redutase.

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1.9 QUINOLONAS

Alguns fármacos incluidos neste grupo são: a ciprofloxacina, a levofloxacina, a ofloxacina e a norfloxacina.

1.9.1 MECANISMOS DE ACÇÃO

Inibição da DNA girase e topoisomerase IV, que resulta na:

• Diminuição dos super enrolamentos negativos;


• Impossibilidade de obtenção de DNA circular;
• Alteração do DNA;
• Inibição de síntese de RNA e proteínas;
• Inibição da síntese de DNA;
• Morte celula rápida.

Fig. 23 - DNA girase e Topoisomerase IV e microorganismos em que actuam

Para existir replicação da molécula de DNA, esta tem que se desenrolar de forma a que as enzimas tenham
acesso e se dê a replicação. Quando o DNA se desenrola num sítio, abaixo dele, vai existir um super
enrolamento, existem enzimas para evitarem a quebra da cadeira de DNA: a DNA girase e a Topoisomerase
IV. As quinolonas actuam sobre estas enzimas evitando que o DNA se replique, levando a bactéria à morte.

1.9.2 ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS

• Boa absorção oral.


• Os antiácidos com alumínio e magnésio interferem na absorção das quinolonas.

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• A semi-vida da ciprofloxacina e da norfloxacina é de 3 horas, enquanto que a da ofloxacina é de 5


horas.
• Distribuiem-se em muitos tecidos, particularmente no rim, na próstata e no pulmão. A maioria não
atravessa a barreira hematoencefálica, à excepção a ofloxacina.
• A eliminação da ciprofloxacina e da norfloxacina ocorre, em parte, através do metabolismo
hepático por enzimas P-450 e em parte, por excreção renal.
• A ofloxacina é excretada na urina.

1.9.3 EFEITOS INDESEJÁVEIS

Os efeitos indesejáveis são habitualmente leves e desaparecem com a interrupção do fármaco.

• Distúrbios gastrointestinais e erupções cutâneas.


• Foi relatada a ocorrência de artropatia em indivíduo jovens (não deve ser administrada a pessoas
com idade inferior a 18 anos)
• Podem ocorrer sintomas neurológicos: cefaleias, tonturas, confusão e ansiedade.
• Existe uma interacção clinicamente importante entre a ciprofloxacina e teofilina, através da inibição
das enzimas P-450, que pode resultar em toxicidade da teofilina em pacientes asmáticos tratados
com quinolonas.

1.9.4 USOS TERAPÊUTICOS

• Infecções do tracto urinário.


• Infecções do tracto respiratório.
• Infecções do foro ORL.
• Infecções ginecológicas.
• Infecções ósseas, articulares, da pele e tecidos moles.

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Tabela 3 – Classificação das quinolonas

1.9.5 RESISTÊNCIA

• Alteração da DNA girase ou da Topoisomerase IV (deixam de ser receptivas às quinolonas)


• Redução do número de porinas (entra menos fármaco para o meio intracelular)
• Diminuição da acumulação de fármaco.

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Fig. 24 - Fármacos antibacterianos que actuam no DNA

1.10 MACRÓLIDOS

Os fármacos deste grupo incluem: a Eritromicina, a Claritromicina e Azitromicina.

1.10.1 MECANISMOS DE ACÇÃO

Os macrólitos inibem a síntese de proteínas bacterianas actuando na translocação (passagem de


aminoácidos de um sítio para o outro). A sua acção pode ser bactericida ou bacteriostática, dependendo da
concentração do fármaco no local da infecção e do tipo de microorganismo. Estes fármacos ligam-se à sub-
unidade 50s do ribossoma, bloqueando-o.

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1.10.2 ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS

• Os macrólitos são administrados por via oral.


• A azitromicina e a claritromicina são mais estáveis em ácido.
• A eritromicina pode ser administrada via parentéria, embora as infecções endovenosas possam ser
acompanhadas de tromboflebite local.
• Sofrem rápida difusão na maioria dos teciso, porém não atravessam a barreira hematoencefálica e
têm pouca pnenetração no líquidos sinovial.
• A semi-vida plasmática da eritromicina é de cerca de 90 minutos, enquanto a da claritromicina é
três vezes maior e a da azitromicina cerca de 24 vezes maior.
• A eritromicina é inactivada, em partem no fígado; a azitromicina mostra-se mais resistente à
inactivação; e a claritromicina é convertida em metabolito activo.
• A principal via de eliminação é a biliar.

1.10.3 EFEITOS INDESEJÁVEIS

• Distúrbios gastrointestinais (comuns e desgradáveis mas não graves).


• Reacções de hipersensibilidade.
• Erupções cutâneas e febre.
• Distúrbios transitórios da audição.
• Hepatotoxicidade.
• Podem ocorrer infecções oportunistas do tracto gastrointestinal ou da vagina.

1.10.4 USOS TERAPÊUTICOS

• Infecções genitais.
• Infecções gastrointestinais.
• Infecções do tracto respiratório.
• Infecções da pele e tecidos moles.

1.10.5 RESISTÊNCIA

• Permeabilidade reduzida da membrana, ou bomba de efluxo.


• Hidrólise do fármaco.
• Modificação do sítio de ligação ao ribossoma.

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1.11 ESTREPTOGRAMINAS

Os fármacos deste grupo são: a Quinupristina e a Dalfopristina

1.11.1 MECANISMOS DE ACÇÃO

Inibem o alongamento do péptido em formação.

1.12 LINCOSAMIDAS

Os fármacos deste grupo são: a Clindamicina.

1.12.1 MECANISMOS DE ACÇÃO

Inibem a síntese proteica.

1.12.2 RESISTÊNCIA

Resistência cruzada: Grupo MLSb (Macrólidos, lincosaminas, estreptograminas)

2 ANTIFÚNGICOS

As infecções por fungos (micoses) estão geralmente associadas à pele (por exemplo “pé de atleta”) ou a
membranas mucsas (por exemplo “sapinhos”). No entanto se o sistema imunitário estiver comprometido, os
fundos podem ter acesso à circulação sistémica e infectar orgãos sistémicos, podendo mesmo chegar a ser
fatal.

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Fig. 25 – Agentes antifúngicos

2.1 ANFOTERICINA

2.1.1 MECANISMOS DE ACÇÃO

• A anfotericina liga-se à membrana celular, criando poros, e interferindo na permeabilidade e nas


funções de transporte.
• A anfotericina exerce acção selectiva: liga-se avidamente às membranas dos fungos e de alguns
protozoários e com menos avidez às células de mamíferos, não havendo nenhuma ligação às
bactérias.
• A anfotericina mostra-se activa contra a maioria dos fungos e leveduras.

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2.1.2 ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS

• Por via oral é pouco absorvida (só é administrada por esta via para o tratamento de infecções
fúngicas do tracto gastrointestinal).
• Administrada por via endovenosa.

2.1.3 EFEITOS INDESEJÁVEIS

• Toxicidade renal e anemia


• Comprometimento da função hepática, trombocitopénia e reacções anafiláticas.
• A infusão pode provocar calafrios, febre, zumbidos e cefaleias.

2.2 FLUCITOSINA

2.2.1 MECANISMOS DE ACÇÃO

A flucitosina é convertida no antimetabolito 5-fluorouracilo (5-FU) nas células dos fungos, mas não nas
células humanas. O 5-FU inibe a timidilato sintetase e portanto, a síntese de DNA. Podem surgir
rapidamente espécies mutantes resistentes, de modo que a flucitosina não deve ser utilizada isoladamente.

2.2.2 ASPECTOS FAMACOCINÉTICOS

• A flucitosina pode ser administrada por infusão endovenosa ou por via oral.
• Eliminação renal

2.2.3 EFEITOS INDESEJÁVEIS

Distúrbios gástricos, anemia, neutropenia, trombocitopenia e alopécia, no entanto estes efeitos adversos
são habitualmente leves e revertidos com a interrupção da terapia.

2.3 AZÓIS

2.3.1 MECANISMOS DE ACÇÃO

Os azóis inibem uma enzima fúngica (CYP3A) do citocromo P-450, a lanosina 14-α-desmetilase, que é
responsável pela conversão do lanosterol em ergosterol, o principal esteróide encontrado na membrana
celular dos fungos.
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A consequente depleção de ergosterol altera a fluides da membrana, interferindo na acção das enzimas
associadas à membrana. O efeito final consiste na inibição da replicação.

Os azóis também inibem a transformação da forma leveduriforme da Candida em hifas, a forma invasica e
patogénica do parasita.

3 ANTIVÍRICOS

• São fármacos usados para o tratamento das infecções causadas por vírus.
• Como os virús partilham muitos dos processos metabólicos da célula hospedeira, é difícil encontrar
fármacos que sejams electivos para estes agentes infeciosos.
• Existem algumas enzimas que são específicas do vírus e que podem constituir alvos potenciais para
estes fármacos.
• O objectivo principal da terapêutica antivírica é inibir ou eliminar a actividade vírica com efeitos
mínimos na função das células do hospedeiro.
• Fármacos antivíricos usados na terapêutica das infecções por vírus da imunodeficiência humana
(VIH).

Neste grupo encontram-se fármacos usados no tratamento de infecções causadas por Citomegalovírus
(CMV), Herpes Simplex (VHS), vírus da hepatite B (HBV) e da Hepatite C (HCV), e virus influenza entre outros,
como o aciclovir, valaciclovir, fanciclovir, ganciclovir, lamivudina, estavudina, amantadina, rimantadina e
oseltamivir.

3.1 FÁRMACOS ANTI-INFLUENZA

Fig. 26 - Esquema representativo da estrutura do vírus de Influenza A

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3.1.1 AMANTADINA E RIMANTADINA

Estes fármacos impedem a replicação do vírus Influenza A no interior da célula hospedeira infectada. Ambos
são activos contra o vírus Influenza A mas desprovidos de efeito no vírus Influenza B.

3.1.2 ZANAMIVIR E OSELTAMIVIR

Estes fármacos inibem as neuraminidases dos vírus influenza.

3.2 FÁRMACOS ANTI-RETROVIRAIS

Os fármacos anti-retrovirais são usados para o tratamento da infecção causada por VIH, e incluem os
Inibidores da transcriptase reversa, os inibidores da entrada e os Inibidores da integrase.

Fig. 27 - Fármacos anti-retrovirais

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4 ANTI-MICOBACTERIANOS

Os objectivos do tratamento da Tuberculose


são:
• Curar o doente com TB;
• Previnir a morte por TB activa ou os
seus efeitos tardios;
• Previnir recidivas de TB;
• Previnir a transmissão de TB a
outros indivíduos;
• Previnir o desenvolvimento de
resistência adquirida aos fármacos.

Nos doentes infecciosos é vital atingir todos


estes objectivos, acautelando a prevenção da
selecção de bacilos resistentes.

A terapia inicial para formas não resistentes é


feita com 3 ou 4 fármacos – isoniazida,
pirazinamida, rifampicina e tambutol –
administrados em associação um vez ao dia.

Fig. 28 - Fármacos usados para o tratamento de


infecções por micobactéria (1. tuberculose; 2. lepra)

Os fármacos anti-tuberculosos participam nos regimes terapêuticos mediante três propriedades principais:
actividade bactericida, actividade esterilizante e capacidade de prevenção de resistência. Estas
propriedades têm expressão variável nos diferentes fármacos.

A isoniazida e a rifampicina são os fármacos de maior poder bactericida, sendo activas contra todas as
populações de bacilos de TB. A rifampicina é o fármaco disponível com maior poder esterilizante.

A pirazinamida é activa apenas em ambiente ácido. O etambutol é usado em associação com os fármacos
mais poderosos para previnir a emergência de bacilos resistentes.

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5 VACINAS E IMUNOGLOBULINAS

As vacinas induzem protecção contra infecções estimulando o desenvolvimento de células efectoras e


células de memória.

1. Vacinas Inactivadas ou inertes

Inteiras – o agente bacteriano ou viral é inactivado mas preserva a capacidade de estimular o sistema
imunitário.

Fracções ou sub-unidades do agente infeccioso.

2. Vacinas “vivas” atenuadas


3. Vacinas produzidas por recombinação genética

As imunoglobulinas humanas podem ser específicas ou polivalentes.

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FARMACOTERAPIA DO SANGUE
1. Anemia
2. Hemostase

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

Autor: Hugo Martins

86 Farmacoterapia do sangue | CRISTÓVÃO, A.S.; SANTOS, A.; MARTINS, H.; FERNANDES, N.


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1 ANEMIA

Por definição, os doentes com anemia têm uma redução significativa da massa de eritrócitos, e desta forma
da capacidade sanguínea de transporte de oxigénio. Normalmente, o volume sanguíneo mantém-se
constante. Assim, a anemia corresponde a uma redução da concentração de glóbulos vermelhos ou da Hb
no sangue periférico abaixo do limite inferior dos valores normais. A anemia pode no entanto ser ainda
definida como uma redução de mais de 10% abaixo dos valores médios de Hb consoante o sexo masculino
ou feminino.

Tabela 4 - Valores normais de eritrócitos, hemoglobina e hematrócito

Parâmetros laboratoriais Homem Mulher


3 3
Eritrócitos 5,4 ± 0,9 milhões/mm 4,8 ± 0,6 milhões/mm
Hematrócito 47 ± 5% 42 ± 5%
Hemoglobina (concentração) 16 ± 2g/dl 14 ± 2g/dl

Os mecanismos de adaptação do organismo à anemia podem dividir-se em extra-eritrocitários e intra-


eritrocitários. Os primeiros correspondem à adaptação cardiovascular (aumento do volume sistólico e da
frequência cardíaca; vasoconstrição periférica) e ventilatória (aumento da frequência respiratória).

A anemia pode causar fadiga, mas, se for crónica, é frequentemente assintomática. A causa mais comum é a
perda de sangue relacionada com a menstruação e gestação, mas há diversos tipos de anemias e
diagnósticos.

A diminuição de hemoglobina é resultado de:

• Perda de sangue excessiva (Hemorragia)


• Produção deficiente de eritrócitos
• Destruição excessiva de eritrócitos
• Baixos níveis de ferro no sangue

Os antianémicos dividem-se em:

• Compostos de ferro
• Vitamina B12
• Ácido fólico

1.1 ANTIANÉMICOS: COMPOSTOS DE FERRO

O ferro é um dos elementos mais comuns na crosta terrestre. No entanto, a deficiência de ferro é a causa
mais frequente de anemia, o que se deve à capacidade limitada do organismo para absorver o ferro e à
frequência com que se perde ferro por hemorragia. O ferro é um metal de transição com duas propriedades
importantes relevantes para o papel biológico:

• Capacidade de existir em diversos estados de oxidação;


• Capacidade de formar complexos de coordenação estáveis.

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O corpo de um homem de 70 kg contém 4 g de ferro, 75% dos quais circulam no sangue como hemoglobina,
cerca de metade do restante encontra-se armazenado no fígado, baço e medula óssea, principalmente
como ferritina e hemossidrina. O ferro nessas moléculas está disponível para síntese de hemoglobina. O
restante, que não está disponível para síntese de hemoglobina, encontra-se na mioglobina dos músculos, e
está presente na maioria das células do organismo associado a várias enzimas.

Tabela 5 - Distribuição de ferro corporal num homem saudável de 70 kg (os valores correspondentes para uma mulher seriam cerca
de 55% dos valores apresentados)

Proteína Tecido Conteúdo de ferro (mg)


Hemoglobina Eritrócitos 2600
Mioglobina Músculo 400
Enzimas Fígado e outros tecidos 25
Transferrina Plasma e fluido extracelular 8
Fígado 410
Ferritina e Hemossidrina Baço 48
Medula Óssea 300

Fig. 29 - Hemoglobina (a) quatro cadeias polipeptidicas, cada uma com um grupo heme, formam uma molécula de hemoglobina (b)
cada grupo heme contém um átomo de ferro

1.1.1 RENOVAÇÃO E EQUILÍBRIO DO FERRO

As necessidades diárias normais de ferro variam consoante o sexo e a fase de desenvolvimento da pessoa:

Tabela 6 - Necessidades e perdas diárias de ferro

Necessidades diárias Perdas diárias


Lactentes 1,5 mg Homem adulto 1 mg
Adolescentes 10 a 20mg Mulher após menopausa 1 mg
Adultos 5 a 10 mg Mulher no período menstrual 30 mg
Mulher em período menstrual 10 a 30 mg Após gravidez e aleitamento 500 mg
Grávidas 20 a 30 mg

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A absorção de ferro ocorre no duodeno e na porção proximal do jejuno em duas fases. A primeira fase
envolve uma passagem rápida através das vilosidades intestinais, seguindo-se a passagem para o plasma a
partir do interior das células epiteliais. A segunda fase, que é o limitante da velocidade, é dependente de
energia. O ferro hémico da dieta é absorvido como o heme intacto e o ferro é libertado na célula mucosa
pela acção da hemoxidase. O ferro não hémico é absorvido no estado ferroso.

O ferro não hémico na dieta está maioritariamente no estado férrico e precisa de ser convertido para o
estado ferroso para ser absorvido. O ferro no estado férrico, e numa porção menor, o ferro no estado
ferroso, são pouco solúveis no pH neutro do intestino; no entanto, no estômago o ferro dissolve-se e liga-se
à apoferritina (que serve de transporte), formando a ferritina. A relação entre estas duas proteínas
determina a velocidade de administração. Na presença de ácido ascórbico, frutose e vários outros
aminoácidos, o ferro desliga-se da ferritina, e liga-se a estes últimos formando complexos de baixa
densidade molecular que lhe permitem permanecer solúvel no intestino. O ácido ascórbico estimula a
absorção do ferro, por um lado por formar quelatos ferro-ascorbato e por outro lado, por reduzir o ferro em
estado férrico para a forma mais solúvel, ferro em estado ferroso. Verifica-se também, uma absorção mais
intensa nos doentes com deficiência grave.

A tetraciclina quela o ferro, formando um complexo insolúvel, que resulta na incapacidade de absorção de
ambas as substâncias. O cloranfenicol e os anti-ácidos diminuem também a absorção do ferro.

Dentro da célula, o ferro no estado ferroso é oxidado a férrico, que se liga a um transportador intracelular,
uma proteína semelhante à transferrina; o ferro é, então, ou armazenado na célula mucosa como ferritina
(se os stocks de ferro corporais de ferro forem altos), ou passa para o plasma (se os stocks forem baixos).

O organismo não tem como eliminar o ferro activamente. Pequenas quantidades deixam o corpo por
descamação das células da mucosa contendo ferritina, e quantidades ainda menores saem na bílis, no suor
e na urina.

O equilíbrio de ferro é, portanto, essencialmente dependente do mecanismo de absorção activo na mucosa


intestinal.

1.1.2 ADMINISTRAÇÃO

O ferro é geralmente administrado por via oral, mas pode ser feito por via parentérica em circunstâncias
especiais.

Várias preparações diferentes de sais de ferro estão disponíveis para administração oral. A principal é o
sulfato ferroso, que possui um conteúdo de ferro elementar de 200µg/mg. Outras preparações incluem o
gluconato, o succinilato e o furamato, que constituem os sais ferrosos orgânicos.

A administração de ferro por via parentérica pode ser necessária em:

• Indivíduos incapazes de absorver ferro oralmente


• Indivíduos que foram sujeitos a intervenções cirúrgicas ou com inflamações no tracto
gastrointestinal

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• Indivíduos com insuficiência renal crónica que estejam sujeitos a tratamentos com eritropoietina

As preparações usadas são ferro-dextrana (IM profunda ou EV lenta) ou ferro-sucrose (EV lentamente). Faz-
se uma pequena dose inicial por causa do risco de choque anafiláctico.

Em resposta à terapêutica, a concentração de hemoglobina deve subir cerca de 100-200mg/100ml/dia.


Uma vez atingido o valor normal de Hemoglobina, mantém-se a terapêutica durante mais 3 meses.

1.1.3 EFEITOS ADVERSOS

A frequência e a intensidade dos efeitos adversos depende da quantidade de ferro elementar presente no
preparado, sendo as reacções mais comuns:

• Náuseas
• Dor epigástrica
• Obstipação
• Diarreia
• Fezes escuras
• Choque anafiláctico (no caso do ferro administrado por via parentérica)

1.1.4 TOXICIDADE

Um grama de sulfato de ferro pode causar a morte de uma criança pequena. Os preparados de ferro
apresentam efeitos corrosivos sobre a mucosa intestinal, efeitos metabólicos e hemodinâmicos.

O tratamento da toxicidade por ferro aguda e crónica inclui o uso de agentes quelantes de ferro, como a
desferoxamina, que liga os iões férricos aos grupos 3-hidroxâmicos da molécula de ferro. Este composto não
deve ser utilizado em crianças com menos de 3 anos, devido à má eficácia da sua excreção/remoção. A
administração diária remove 20mg de ferro/dia.

1.2 ANTIANÉMICOS: VITAMINA B 1 2

A vitamina B12 é um composto complexo de cobalamina. A vitamina B12 usada em medicina é a


hidroxicolamina e a cianocobalamina. As principais fontes desta vitamina são a carne, ovos e lacticínios,
sendo as necessidades fisiológicas diárias de 1 a 5µg. O défice de vitamina B12 resulta de um deficiente
aporte alimentar ou da falta de factor intrínseco (doença de Biermer).

A absorção ocorre ao nível do íleo através da ligação ao factor intrínseco por transporte activo. A vitamina
B12 é transportada no plasma por proteínas de ligação chamadas transcobalaminas. A vitamina é
armazenada, principalmente, no fígado, com uma quantidade total no organismo de aproximadamente

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4mg. Uma vez que o stock é bastante elevado, só aparecerão sinais de deficiência de vitamina B12 depois de
2 a 4 anos após a cessação súbita de absorção da vitamina.

A absorção de vitamina B12 é diminuída quando:

• Há uma ingestão excessiva de álcool


• Há uma administração conjunta de fármacos – aminoglicosídeos, anticonvulcivantes
• Há uma autoimunidade – presença de anticorpos ao factor intrínseco

1.2.1 ADMINISTRAÇÃO

Quando a vitamina B12 é usada terapeuticamente (como hidroxicobalamina e Cianocobalamina), é


administrada maioritariamente por via parentérica, uma vez que, a deficiência de vitamina B12 é resultado
de uma má absorção, optando-se assim, por administrar através de IM ou SC profunda. Opta-se por via oral
quando estamos perante carências alimentares.

A hidroxicobalamina é considerada a preparação de escolha, uma vez que, apresenta uma maior captação
hepática, uma maior afinidade para as proteínas específicas no sangue e nos tecidos e ainda, porque
apenas requer 1 injecção a cada 3 meses.

1.2.2 EFEITOS INDESEJÁVEIS

• Urticária
• Acne
• Hipocaliémia

1.3 ANTIANÉMICOS: ÁCIDO FÓLICO

O ácido fólico é percursor de um coenzima – ácido tetrahidrofólico – que sintetiza os ácidos nucleicos e é
responsável pela manutenção dos eritrócitos.

As necessidades fisiológicas diárias rondam entre as 50 e as 100µg.

O défice em ácido fólico pode conduzir a uma anemia megaliblástica com sinais análogos aos da vitamina
B12, mas sem sintomas neurológicos. Esta carência pode resultar de:

• Alimentação pobre
• Gravidez
• Alcoolismo
• Alguns medicamentos – trimetoprim, contraceptivos hormonais, antiepilépticos e metotrexato

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1.3.1 ADMINISTRAÇÃO

O ácido folínico, ou leucovorina, é utilizado em anemias megaloblásticas devido a inibidores da fólico-


redutase, como metotrexato ou trimetoprim, não devendo ser utilizado de forma isolada numa anemia
megaloblástica de causa não identificada, pois há risco de agravamento de patologia a nível neurológico.
Desta forma, deve-se administrar ácido folínico perante:

• Anemias megaloblásticas nutricionais


• Sindromas de malabsorção
• Estados hemolíticos crónicos

A sua administração pode ser por:

• Via oral, através de comprimidos, para anemia por carência


• Via IM, através de uma solução injectável, para deficiências graves

1.3.2 EFEITOS INDESEJÁVEIS

• Febre
• Reacções de hipersensibilidade

2 HEMOSTASE

A hemostase normal pode ser dividida em primária e secundária e é iniciada quando num traumatismo,
doença ou cirurgia se promove uma disrupção do endotélio vascular com exposição de tecido conjuntivo
subendotelial. Hemostase primária é o nome dado ao processo de formação de um coágulo de plaquetas no
local da lesão. Ocorre ao fim de segundos e é muito importante para parar a hemorragia dos capilares,
pequenas arteríolas e vénulas. A hemostase secundária consiste nas reacções do sistema de coagulação
plasmática que resulta na formação de fibrina. Demora alguns minutos e reforça o coágulo primário. É
particularmente importante, em vasos de maior calibre e evita a hemorragia recorrente durante horas ou
dias. A hemostase primária e secundária estão intimamente ligadas actuando conjuntamente.

Assim sendo, os fármacos modificadores da hemostase actuam ao nível da:

• Coagulação
• Agregação plaquetária
• Fibrinólise
• Hemorragia

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2.1 COAGULAÇÃO

A coagulação consiste num processo complexo que leva à formação de coágulos pelo sangue, sendo um
factor importante para a hemostasia. Desordens ao nível da coagulação podem levar a uma hemorragia
aumentada e/ou trombos e embolismo.

Os anticoagulantes são fármacos que impedem ou atrasam a coagulação, impedindo a formação ou


crescimento do coágulo (não o dissolvem). As heparinas e os anticoagulantes orais são exemplos deste tipo
de fármacos.

2.1.1 HEPARINA

A heparina não é uma substância única, mas uma família de glicosaminoglicanas sulfatadas
(mucopolissacarídeos). Ela está presente, junto com a histamina, nos grânulos dos mastócitos. As
preparações comerciais são extraídas de pulmão bovino ou do intestino do porco e, como as preparações
diferem em potência, são analisadas biologicamente tendo em conta um padrão internacional comum: as
doses são especificadas em unidades de actividade em vez de massa.

As heparinas são agrupadas consoante o seu peso molecular, dividindo-se em:

Tabela 7 - Heparinas

Alto peso molecular ou não fraccionada Baixo peso molecular ou fraccionada


• Heparina sódica • Enoxaparina sódio
• Heparina cálcica • Nadroparina cálcio
• Reviparina sódio

MECANISMO DE ACÇÃO

A heparina tem uma acção rápida, actuando através de uma ligação à anti-trombina III, que inibe a Xa e IIa,
que por sua vez, bloqueia a conversão de fibrinogénio em fibrina.

1) Ligação com activação da antitrombina III


2) Inibição do factor Xa
3) Inibição da trombina
4) Impedimento da adesão das plaquetas ao colagénio
5) Efeito antitrombótico

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ADMINISTRAÇÃO

A heparina não é absorvida no intestino em virtude da sua carga e elevada dimensão, sendo administrada,
portanto, por via EV ou SC (IM causaria hematomas).

A heparina age imediatamente após a administração EV, mas o seu início de acção demora até 60 minutos
quando é administrada por via SC. A meia-vida de eliminação é de aproximadamente 40-90 minutos. Em
situação de urgência, portanto, é frequente iniciar-se o tratamento com uma dose EV em bolus
(medicamento injectado com rapidez no sangue por meio de uma impulsão forte do êmbolo), seguida de
infusão a velocidade constante.

As heparinas de baixo peso molecular são administradas por via SC, tendo uma meia-vida de eliminação
superior às heparinas não fraccionadas independentemente da dose, logo os efeitos são mais previsíveis e o
intervalo entre as doses maior. Estas heparinas são metabolizadas no fígado e excretadas, principalmente,
por via renal, sendo preferível usar a heparina não fraccionada em caso de insuficiência renal. Há que
referir, que as heparinas não atravessam a barreira placentária e não aparecem no leite materno.

Tabela 8 - Vias de administração da heparina

Administração EV Administração SC
• Início imediato • Início de acção: 1h
• [máxima]: 3h
• Duração: 8h
• Heparina cálcica

EFEITOS ADVERSOS

• Hemorragias
• Trombocitopenia
• Tratamento prolongado
o Osteoporose
o Supressão da função renal
o Alopécia transitória

UTILIZAÇÕES CLÍNICAS

• Profilaxia
o Tromboembolismo (cirurgia e doentes cardíacos – valvulopatias)
o SC
• Tratamento
o Tromboembolismo pulmonar
o Tromboses venosas profundas pós-cirurgia

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CONTRA-INDICAÇÕES

• Lesões susceptíveis de sangrar


• HTA
• Pós-operatório
• Hipersensibilidade à heparina
• Insuficiência hormonal
• Insuficiência renal grave

INTERACÇÕES MEDICAMENTOSAS

• AINEs
• Dipiridamol
• Estreptoquinase (enzima bacteriana isolada de filtrados da cultura de estreptococos hemolíticos,
capaz de digerir a fibrina, utilizada frequentemente em combinação com a estreptodornase para
provocar a dissolução de coágulos nas tromboses arteriais ou venosas) ou Uroquinase (Enzima
extraída da urina humana ou animal, utilizada por via intravenosa no tratamento das tromboses,
melhor tolerada do que a estreptoquinase) – aumenta o risco de hemorragia
• Varfarina

VANTAGENS DAS HEPARINAS DE BAIXO PESO MOLECULAR

• Resposta anticoagulante mais previsível


• Melhor BD (biodisponibilidade – quantidade de fármaco que temos disponível no corpo) em doses
baixas
• Semi-vida de eliminação maior
• Apenas uma injecção diária
• Menor incidência de trombocitopenia
• Menor risco de hemorragias
• A actividade anti-Xa maior do que a actividade anti-trombina permite uma inibição mais eficaz da
formação de fibrina

2.1.2 ANTICOAGULANTES ORAIS

Os anticoagulantes orais são também designados por antagonistas da vitamina k, sendo compostos
orgânicos com uma estrutura semelhante à da vitamina k. A varfina é o anticoagulante oral mais
importante, existindo alguns fármacos alternativos, com mecanismos de acção semelhantes, como a
fenindiona, que são utilizados em casos raros que apresentem reacções adversas idiossincrásicas à varfina.

A varfina e outros antagonistas da vitamina k requerem exames ao sangue frequentes para individualização
da dose.

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MECANISMO DE ACÇÃO

1) Durante a síntese dos factores de coagulação no fígado, a vitamina k transforma-se num


metabolito incativo
2) Por intermédio de uma redutase volta à sua forma activa:

Inibição da síntese dos factores de coagulação sintetizados com a participação da vitamina k:

• Factor II
• Factor VII
• Factor IX
• Factor X

ADMINISTRAÇÃO

A varfina é absorvida rapidamente no intestino após a sua administração oralmente. Ela tem um pequeno
volume de distribuição, encontrando-se fortemente ligada à albumina e outras proteínas plasmáticas. O
pico de concentração no sangue ocorre dentro de 1h após a ingestão, mas por causa do seu mecanismo de
acção, ele não coincide com o pico do efeito farmacológico, que ocorre 48h depois. O efeito no tempo de
protrombina (exame usado para determinar a tendência de coagulação do sangue) de uma dose única
começa em aproximadamente 12-16h e dura 4-5 dias. A varfina é metabolizada pelo sistema hepático e a
sua meia-vida é variável, sendo da ordem de 40h em muitos indivíduos. Efeito antagonizado pela vitamina
K.

Um regime alimentar predominantemente vegetariano pode reduzir a resposta anticoagulante à varfina.

EFEITOS ADVERSOS

• Hemorragia
• Atravessa a placenta (malformações do feto)
• Anorexia e intolerância digestiva
• Ocasionalmente lesões cutâneas (púrpura, urticária, alopécia, necrose da pele)

CONTRA-INDICAÇÕES

• Gravidez
• Hemorragia cerebral ou intra-ocular recente
• Úlcera gastroduodenal em evolução
• HTA grave

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INTERACÇÕES MEDICAMENTOSAS

Potenciação do efeito

• Diminuição do metabolismo
o Metronidazol
o Cotrimoxazol
o Eritromicina
o Alopurinol
• Diminuição da ligação às proteínas plasmáticas
o AINEs
• Efeitos aditivos sobre a hemostase
o AINEs
o Heparina

Diminuição do efeito

• Aumento do metabolismo (indução enzimática)


o Barbitúricos
o Rifampicina
o Álcool (consumo crónico)
o Grisofulvina (antifúngico)
• Diminuição da absorção
o Resinas

INTERACÇÕES ALIMENTARES

• Alimentos ricos em vitamina k podem antagonizar o efeito anticoagulante da varfarina

2.2 AGREGAÇÃO PLAQUETARÁRIA

Ao fim de alguns segundos após a lesão, as plaquetas aderem às fibrilhas do colagénio subendotelial através
de um receptor plaquetar específico para o colagénio (glicoproteína Ia e IIa). Esta interacção é estabilizada
pelo factor de Von Willebrand (FVW), uma glicoproteína adesiva que permite às plaquetas manterem-se
aderentes à parede vascular apesar da corrente sanguínea, ligando as plaquetas (glicoproteína Ib) às
fibrilhas do colagénio subendotelial.

1) Plaquetas aderem a componentes subendoteliais dos vasos lesados


2) Activação das plaquetas (altera-se a forma, expondo receptores do fibrinogénio)

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3) Plaquetas formam, a partir dos fosfolípidos da membrana, o ácido araquidónico que leva à síntese
de tromboxano A2
4) Tromboxano A2 liberta conteúdo granular das plaquetas, que recrutam novas plaquetas
5) Forma-se o trombo plaquetar

Os antiagregantes plaquetários são fármacos que se opõem à activação plaquetar necessária para a
formação do rolhão hemostático ou trombo gerador da trombose; previnem acidentes trombóticos em
doentes que sofreram EAM, AVC isquémico ou angina.

O ASS e o clopidogrel são os fármacos de 1ª linha, no entanto, um número considerável de doentes escapa à
protecção com um só fármaco, passando-se à associação de antitrombóticos.

AAS – ÁCIDO ACETILSALICÍLICO

• Inibe a cicloxigenase e a formação de TXA2


• 1ª escolha

DIPIRIDAMOL

• Aumenta a concentração de AMPc por inibição da fosfodiesterase


• Mais eficaz quando associado com o ASS

TICLOPIDINA E CLOPIDOGREL

• Inibe a ligação do fibrinogénio às plaquetas


• Impedem a retracção do coágulo
• O efeito persiste até vários dias após a interrupção da terapêutica

UTILIZAÇÃO CLÍNICA

• AVC
• Angina de peito
• Prevenção de EAM
• Prevenção da trombose arterial

EFEITOS INDESEJÁVEIS

• Distúrbios gastrointestinais
• Erupções cutâneas
• Hemorragias
• Desordens hematológicas (leucopenia, trombocitopenia)

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2.3 FIBRINÓLISE OU TROMBÓLISE

A fibrinólise ou trombólise são um conjunto de processo fisiológicos que levam à dissolução de um trombo
de fibrina. O sistema fibrinolítico mantém um equilíbrio dinâmico entre a síntese de fibrina e de fibrinólise.

2.3.1 ESTREPTOQUINASE (SK) E ACTIVADOR DO PLASMINOGÉNIO TECIDULAR (TPA)

• Medeiam a degradação da fibrina (e do fibrinogénio) por conversão do plasminogénio em plasmina


no plasma, promovendo a lise do coágulo
• O efeito fibrinolítico do tPA é mais selectivo, fixa-se à fibrina exercendo um efeito que se vai
circunscrever ao coágulo.
• A SK além de actuar sobre o coágulo actua sobre a circulação

UTILIZAÇÃO CLÍNICA

• Utiliza-se nas primeiras 6h após o EAM

EFEITOS INDESEJÁVEIS

• Hemorragia
• Urticária
• Febre

2.4 HEMORRAGIA

A hemorragia consiste na saída de sangue do espaço intravascular para o compartimento extravascular ou


para fora do organismo, estando associada a traumatismos, enfraquecimento da parede vascular e
aumento da pressão sanguínea.

2.4.1 ANTI-HEMORRÁGICOS

ANTI-FIBRINOLÍTICOS E HEMOSTÁTICOS

Estes fármacos são utilizados para restaurar a capacidade de defesa normal do organismo contra a
hemorragia espontânea, estando divididos em:

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• Vitamina k – hemorragias provocadas por anticoagulantes


• Carbamazocromo – hemostático geral, actuando por vasoconstrição
• Naftazona – preventivo, antes de intervenções cirúrgicas
• Aprotinina
• Etansilato
• Hemocoagulase
• Ácido aminocapróico – forma um complexo reversível com o plasminogénio que impede a
interacção com a fibrina

2.5 SUBSTÂNCIAS QUE REDUZEM OS LÍPIDOS

A terapêutica farmacológica para reduzir os lípidos plasmáticos constitui apenas uma abordagem para
reduzir o colesterol. As principais classes são:

• Estatinas
• Fibratos
• Resinas de ligação de ácidos biliares

2.5.1 ESTATINAS

O principal efeito das estatinas é reduzir o LDL-C plasmático. Também há uma certa redução dos triglicéridos
plasmáticos e aumento do HDL-C. Assim, as estatinas inibem a HMG-CoA redutase, que cataliza a conversão
de HMG-CoA a ácido mevalónico. A atorvastatina produz inibição prolongada.

ADMINISTRAÇÃO

As estatinas de acção curta são dadas por via oral, à noite, para reduzir o pico matinal de síntese de
colesterol. São bem absorvidas e extraídas pelo fígado, local de acção, e sofrem extenso metabolismo pré-
sistémico.

EFEITOS INDESEJÁVEIS

• Distúrbio gastrointestinal
• Aumento das concentrações plasmáticas das enzimas hepáticas
• Insónia
• Eczema

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2.5.2 FIBRATOS

Estão disponíveis vários derivados do ácido fíbrico (fibratos), incluindo benzafibrato, ciprofibrato,
gentibrozila, fenofibrato e clofibrato. Estes fármacos causam acentuada redução de VLDL circulante
(diminuição da produção hepática) e, por isso, de triglicéridos, com redução modesta do LDL-C (aumento da
captação hepática) e aumento de 10% do HDL-C.

MECANISMO DE ACÇÃO

• Agonismo no receptor activado pelo proliferador do peroxissoma α com estimulação da


degradação ß oxidativa dos ácidos gordos
• Estimulação da lipoproteína lipase aumenta a hidrólise dos TG e dos VLDL com libertação de
ácidos gordos livres para o tecido adiposo e para o músculo estriado

EFEITOS INDESEJÁVEIS

A miosite é rara, mas pode ser grave, resultando em:

• Mioglobinúria
• Insuficiência renal aguda

2.5.3 RESINAS DE LIGAÇÃO DE ÁCIDOS BILIARES

A diminuição da absorção do colesterol exógeno e aumento do metabolismo do colesterol endógeno em


ácidos biliares no fígado levam a um aumento da expressão de receptores LDL nos hepatócitos e, por isso, a
aumento da remoção de LDL-C no plasma (aumento da remoção do sangue com diminuição da
concentração plasmática). Tais resinas reduzem a incidência de EAM, mas o seu efeito é modesto; são
volumosas, têm paladar desagradável e causam diarreia.

MECANISMO DE ACÇÃO

1) Sequestram os ácidos biliares no intestino e impedem a sua reabsorção e circulação entero-


hepática
2) Diminuição da absorção do colesterol exógeno e aumento do metabolismo do colesterol endógeno
em ácidos biliares no fígado

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EFEITOS INDESEJÁVEIS

• Distúrbios gastrointestinais relacionados com a dose

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FARMACOTERAPIA CARDIOVASCULAR
1. Fármacos que actuam no SN simpático
2. Inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA)
3. Antagonistas dos receptores da angiotensina II (ARA)
4. Terapêutica farmacológica da insuficiência cardíaca
5. Terapêutica farmacológica da angina de peito
6. Terapêutica farmacológica da arritmia
7. Diuréticos
8. Substâncias que reduzem os lípidos

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

LÜLLMANN, H. et al; Color Atlas of Pharmacology, 2nd edition. New York: Thieme, 2000

Autor: Nuno Fernandes

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1 FÁRMACOS QUE ACTUAM NO SN SIMPÁTICO

O principal neurotransmissor que actua ao nível do sistema nervoso simpático é a noradrenalina. Existem
diversos receptores para este neurotransmissor, sendo que a sua ligação a cada tipo de receptor
desencadeia uma resposta específica. Estes receptores não são, no entanto, exclusivos da noradrenalina.
Aos receptores adrenérgicos ligam-se catecolaminas, ou seja, adrenalina e noradrenalina.

A ligação de um agonista, geralmente, causa uma resposta simpática.

Existem dois grupos principais de receptores, α e β, ligados à proteína G, com vários subtipos:

• α1 – vasoconstrição (contracção do músculo liso vascular);


• α2 – feedback negativo, inibição da libertação de neurotransmissores (↓ noradrenalina);
• β1 – vasoconstrição periférica (contracção do músculo liso vascular), aumento do débito cardíaco;
• β2 – vasodilatação (relaxamento do músculo liso vascular, principal importância a nível pulmonar).

Fig. 30 – Receptores adrenérgicos

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1.1 METILDOPA E CLONIDINA

1.1.1 MECANISMO DE ACÇÃO

Reduzem a descarga simpática dos centros vasopressores. Pensa-se que estes fármacos estimulam, a nível
central, receptores adrenérgicos pós-sinápticos desencadeando uma atenuação da actividade simpática.

1.1.2 METILDOPA

É uma amina simpaticomimética. As aminas simpaticomiméticas são fármacos que mimetizam os efeitos
da estimulação do sistema nervoso simpático. Desta forma, são considerados simpaticomiméticos todos os
fármacos que actuam sobre os receptores e são antagonizados pelos mesmos bloqueadores.

As características farmacocinéticas e a afinidade para os diferentes receptores são suficientemente


diferentes para que possa ser diferenciada a utilização de cada amina simpaticomimética como
medicamento.

Fig. 31 – Diagrama generalizado de uma terminação nervosa noradrenérgica, mostrando os locais de acção dos fármacos. MAO
– monoaminooxidase, MeNA – metilnoradrenalina, NA - noradrenalina

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Mecanismo de acção

• Actua sobre os receptores α2 (precursor de falso transmissor) com consequente redução da


actividade simpática;
• Provoca diminuição da resistência vascular periférica.
• Utilizado na hipertensão, especialmente durante a gravidez – não tem efeitos teratogénicos
documentados.

Farmacocinética

• Absorvida por via oral;


• Atravessa a barreira hemato-encefálica;
• Eliminação renal.

1.1.3 CLONIDINA

Mecanismo de acção

• Estimula os receptores adrenérgicos α centrais;


• Reduz os efeitos mediados pelo SN simpático e aumenta os efeitos do SN parassimpático.

Farmacocinética

• Absorvida por via oral;


• Atravessa a barreira hemato-encefálica;
• Eliminação renal.

1.2 BLOQUEADORES ADRENÉRGICOS β

• Propanolol
• Atenolol
• Carvedilol

1.2.1 MECANISMO DE ACÇÃO

• São antagonistas das catecolaminas circulantes e da estimulação simpática sobre a frequência,


débito e contractilidade.
• Têm uma acção antagonista a nível dos receptores adrenérgicos β.
• Reduzem a libertação de renina mediada pelos receptores β 1 renais.

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Principais diferenças farmacológicas

• Cardiosselectividade β1/ β2
• Lipossubilidade/hidrofilia

1.2.2 EFEITOS ADVERSOS

• Diminuição da força de contracção;


• Broncoespasmo;
• Vasoconstrição arterial periférica;
• Efeitos metabólicos;
• Fadiga.

1.2.3 INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS

• Hipertensão;
• Angina de esforço;
• Enxaqueca.

1.3 BLOQUEADORES DA ENTRADA DE CÁLCIO

• Nifedipina
• Verapamil
• Ditiazem
• Amlodipina

Acções farmacológicas: são vasodilatadores arteriais, diminuindo as resistências vasculares periféricas.

1.3.1 MECANISMO DE ACÇÃO

Bloqueiam a entrada de cálcio através de canais dependentes da voltagem no miocárdio, tecidos nodais,
músculo liso vascular e em canais activados por receptores.

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Fig. 32 – Acção dos antagonistas do cálcio

1.3.2 FARMACOCINÉTICA

• Bem absorvidos por via oral;


• Lipossolúveis, apresentam uma elevada taxa de ligação as proteínas plasmáticas;
• Administração de 3 a 4 doses diárias;
• Apresentam intensa metabolização hepática;
• Eliminação renal.

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1.3.3 INTERACÇÕES

Interagem quer com indutores quer com inibidores enzimáticos.

1.3.4 REACÇÕES ADVERSAS

• Cefaleias;
• Tonturas;
• Hipotensão;
• Bradicardia;
• Rubefacção facial;
• Edemas periféricos.

1.3.5 USOS CLÍNICOS

• Hipertensão arterial;
• Agina de peito;
• Arritmias.

2 INIBIDORES DA ENZIMA DE CONVERSÃO DA ANGIOTENSINA (IECA)

O sistema renina-angiotensina estimula a secreção de aldosterona e desempenha um papel central no


+
controlo da eliminação de Na e do volume de líquidos, bem como do tónus vascular.

As principais acções da angiotensina II são mediadas pelos receptores AT1:

• Vasoconstrição generalizada, especialmente marcada em ateríolas eferentes do rim;


• Aumento da libertação de noradrenalina das terminações nervosas simpáticas, reforçando a
vasoconstrição e aumentando a frequência e a força de contracção do coração;
+
• Estimulação da reabsorção tubular proximal de Na ;
• Secreção de aldosterona do córtex das glândulas supra-renais;
• Crescimento celular no coração e nas artérias.

Alguns exemplos de IECA:

• Captopril
• Enalapril
• Lisinopril

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Fig. 34 – Controlo da libertação e formação de renina e acção da Fig. 33 – Sistema RAA e inibidores
angiotensina II

2.1.1 ACÇÕES FARMACOLÓGICAS

• Actuam a nível cardiovascular como vasodilatadores mistos;


• Reduzem a pressão arterial através da redução das resistências vasculares periféricas, com
pequenas alterações no débito cardíaco, frequência e da taxa de filtração glomerular.

2.1.2 MECANISMO DE ACÇÃO

Bloqueiam a enzima de conversão da angiotensina I em angiotensina II.

2.1.3 FARMACOCINÉTICA

• Boa absorção oral;


• Amplamente distribuídos mas não atravessam a barreira hemato-encefálica;

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• Atravessam a placenta e aparecem no leite materno;


• A maioria é excretada pelo rim.

2.1.4 INTERACÇÕES

• Poupadores de potássio;
• AINE.

2.1.5 REACÇÕES ADVERSAS

• Tosse;
• Perda de paladar;
• Hipotensão de primeira dose;
• Aumento dos níveis de potássio;
• Cefaleias e fadiga.

2.1.6 USOS TERAPÊUTICOS

• Tratamento da hipertensão;
• Tratamento da insuficiência cardíaca.

3 ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES DA ANGIOTENSINA II (ARA)

• Irbesartan
• Cadesartan
• Losartan
• Valsartan

3.1.1 MECANISMO DE ACÇÃO

A angiotensina tem dois receptores. Os ARA bloqueiam os receptores do tipo AT1 e, consequentemente,
inibem os efeitos vasoconstritores e retensores de água e sódio da angiotensina II.

3.1.2 FARMACOCINÉTICA

• Boa absorção oral;


• Excreção dupla – renal e hepática;
• Extensa ligação às proteínas plasmáticas.

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3.1.3 USOS TERAPÊUTICOS

• Tratamento da hipertensão arterial;


• Tratamento da insuficiência cardíaca.

4 TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA

4.1 DIGITÁLICOS

• Digoxina
• Metildigoxina
• Digitoxina

4.1.1 MECANISMO DE ACÇÃO

• Aumentam o débito cardíaco porque aumentam a energia de contracção cardíaca;


• Diminuem a frequência cardíaca.

Tabela 9 – Comparação de algumas propriedades da digoxina e da digitoxina

Digoxina Digitoxina
Lipossolubilidade Média Alta
Absorção oral 75% >90%
Semi-vida 40 h 168 h
Fixação às proteínas 20-40 >90
Metabolização <20 >80
Distribuição 6.3 0.6
Excreção renal sim não

Fig. 35 – Acção terapêutica e tóxica dos glicosídeos cardíacos

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A digitoxina é metabolizada no fígado e o seu metabolismo é acelerado por fármacos indutores enzimáticos:

• Barbitúricos;
• Fenitoína;
• Rifampicina.

A digoxona pode provocar fadiga, bradicardia, náuseas, vómitos e anorexia.

4.1.2 INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS

Insuficiência cardíaca congestiva, isoladamente ou em combinação com diuréticos ou vasodilatores.

4.1.3 TOXICIDADE DOS DIGITÁLICOS

São fármacos com uma pequena margem de segurança, pelo que podem provocar intoxicações, pondo em
risco a vida do doente.

As manifestações de toxicidade afectam, sobretudo:

• Coração – bradicardia, bloqueios AV;


• Tubo digestivo – anorexia, náuseas, vómitos, diarreia;
• Sistema nervoso – alucinações, desorientação, tonturas, cefaleias.

4.1.4 FARMACOCINÉTICA

• São bem absorvidos por via oral;


• Amplamente distribuídos;
• São eliminados por via renal;
• Também são utilizados por via EV em situações de urgência;
• A biodisponibilidade da digoxina é afectada pela actividade da flora bacteriana;
• A absorção da digoxina pode ser diminuída pelo uso concomitante de:
o Antiácidos;
o Metoclopramida;
o Citostáticos;
o Colestiramina.
• As concentrações tecidulares (coração, rim e fígado) de digoxina são superiores às concentrações
plasmáticas;
• A digitoxina tem uma semi-vida longa, uma vez que é reabsorvida no intestino, estabelecendo uma
circulação entero-hepática.

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4.2 AMINAS SIMPATICOMIMÉTICAS

O uso das aminas simpaticomiméticas para tratamento da IC tem sido limitado por:

• Acções cronotrópica adversas (taquicardia);


• Efeitos tensionais indesejáveis (subida ou descida da pressão arterial);
• Efeitos arritmogénicos.

As aminas simpaticomiméticas mais usadas como inotrópicos no tratamento agudo da IC com disfunção
sistólica, sobretudo em situações de choque por falência orgânica, são:

• Dopamina
• Dubotamina

4.2.1 DOPAMINA

Trata-se de um percursor da noradrenalina, actuando, da mesma forma, sobre os receptores α e β.

Também exerce efeitos indirectos por libertação de noradrenalina endógena.

4.2.2 DUBOTAMINA

Tem marcada acção inotrópica ep ode exibir um efeito vasodilatador.

5 TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA DA ANGINA DE PEITO

A angina é tratada pelo uso de fármacos que melhoram a perfusão do miocárdio ou reduzem as suas
exigências metabólicas (ou ambos). Dois dos principais grupos de fármacos, nitratos orgânicos e
antagonistas do cálcio, são vasodilatadores e produzem estes efeitos. O terceiro grupo, os antagonistas dos
receptores β-adrenérgicos, tornam mais lenta a frequência cardíaca e, assim, reduzem as exigências
metabólicas.

5.1 NITRATOS

• Nitroglicerina
• Dinitrato de isossorbido

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Fig. 36 - Nitratos

5.1.1 ACÇÕES FARMACOLÓGICAS

• Exercem uma acção global relaxante da musculatura lisa (a venodilatação predomina sobre a
arteriodilatação).
• Reduzem as necessidade do miocárdio em oxigénio.

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• Na angina de esforço, o principal mecanismo pelo qual os nitratos poderão reduzir a isquémia
miocárdica é a redução das exigências e do consumo de oxigénio associado à redução do retorno
venoso e da pré-carga (a administração de nitratos, antes da instalação das crises anginosas de
esforço, permite reduzir significativamente o número de acessos e retardar o seu aparecimento,
proporcionando uma maior tolerância dos doentes ao exercício).
• São venodilatadores contribuindo para a redução dos sintomas de congestão venosa pulmonar.
• Reduzem a pressão de enchimento ventricular e são vasodilatadores coronários pelo que são úteis
nos doentes com Insuficiência Cardíaca ou com Angina de Peito.

5.1.2 FARMACOCINÉTICA

Podem ser administrados por via:

• Oral – os nitratos sofrem um intenso efeito metabólico de 1ª passagem;


• Sublingual – muito importante no tratamento e profilaxia dos ataques agudos anginosos e no
edema agudo do puilmão. Por exibir uma rápida absorção e demonstrada eficácia, constitui a forma
de administração de nitratos mais aconselhável;
• Endovenosa por perfusão – muito eficaz no EAM;
• Percutânea – aplicada na pele (tórax e abdómen) sob a forma de pomada doseada a 20%;
• Trandérmica – a nitroglicerina impregnada numa matriz polimerizada ou num gel de silicone,
proporciona uma libertação lenta e constante do produto através da pele durante mais de 24
horas. É extremamente prática mas pode provocar irritação cutânea.

VIA SUBLINGUAL – VANTAGENS E CUIDADOS

A via sublingual proporciona, de uma forma rápida, as concentrações plasmáticas máximas devido à intensa
absorção e permite evitar que a maior parte do produto atinja logo de início a circulação hepática e seja
precocemente inactivado.

O doente anginoso deve ser aconselhado a recorrer ao produto sempre que necessário (durante a crise ou
imediatamente antes de um esforço) dada a ausência de risco de tolerância, que se justifica pelo recurso
intermitente a esta via de administração.

É indespensável esclarecer o doente que a NTG presente em qualquer comprimido sofre rápida deterioração
quando retirada de uma embalagem de vidro escuro bem fechada.

Deve alertar-se o doente que pode ocorrer uma rápida perda de potência se houver contacto com algodão
ou se for transferida para recipientes de outro tipo.

A exposição ao ar, calor e humidade também provoca perda de eficácia.

Desta forma, é necessário uma renovação frequente das embalagens (de 6 em 6 meses) depois de abertas.

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Além disso, a boa qualidade da preparação pode ser certificada pelo doente enquanto sentir uma leve
ardência ou sensação de picada sempre que coloca o comprimido debaixo da língua.

5.1.3 TOLERÂNCIA E DEPENDÊNCIA

• A tolerância é mais provável com preparações que asseguram a libertação prolongada a partir de
doses únicas de nitratos, como nas aplicações por via transdérmica (discos e cremes) de NTG e
dinitrato de isossorbido ou formulações retard de dinitrato de isossorbido e de 5 mononitrato de
isossorbido;
• O recurso a administrações intermitentes parece ser o processo que assegura um menor risco de
tolerância;
• É aconselhável que se proceda a uma redução gradual das doses, após terapêutica prolongada com
nitratos.

5.1.4 REACÇÕES ADVERSAS

• Cefaleias frequentes e por vezes intensas e de aparecimento rápido após administração (diminui de
intensidade com a continuação do tratamento, podendo ser controlada com a redução da
posologia);
• Alguns doentes, quando de pé, podem sentir vertigens;
• Erupções cutâneas.

5.1.5 INTERACÇÕES FARMACOLÓGICAS

• O fenobarbital acelera a inactivação da NTG mediante indução hepática, reduzindo os seus níveis
plasmáticos;
• O etanol inibe a activação de NTG potenciando a sua acção;
• Os efeitos dos nitratos são reduzidos pela administração concomitante de indometacina.

5.1.6 USOS TERAPÊUTICOS

• Angina de peito;
• Edema agudo do pulmão;
• Insuficiência cardíaca congestiva.

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6 TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA DA ARRITMIA

Fig. 37 – A. Impulso cardíaco (geração e condução). B. Antiarrítmicos bloqueadores dos


canais de sódio

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Fig. 38 – Efeitos dos antiarrítmicos bloqueadores dos canais de sódio

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6.1 CLASSE I

São fármacos que bloqueiam canais de sódio sensíveis a voltagem. São subdivididos em: Ia (bloqueio dos
canais de sódio – dissociação intermédia), Ib (bloqueio dos canais de sódio – dissociação rápida) e Ic
(bloqueio dos canais de sódio – dissociação lenta).

6.1.1 MECANISMO DE ACÇÃO

• Bloqueiam os canais de sódio sensíveis à voltagem, inibindo a propagação do potencial de acção.


• Provocam uma diminuição da velocidade de despolarização das células pacemaker e um aumento
do limiar para o qual surge o disparo das referidas células.

6.1.2 CLASSE I A – QUINIDINA

• Bloqueio dos canais de sódio activados;


• ↓ velocidade de despolarização, da condução e da excitabilidade das células de pacemaker.
• Bloqueio dos canais de potássio.

FARMACOCINÉTICA

• Boa absorção oral;


• Metabolização hepática;
• Excreção renal.

6.1.3 CLASSE I B – LIDOCAÍNA

• Bloqueio dos canais de sódio activados e inactivados;


• Actividade predominante nas células despolarizadas;
• Pequena actividade no tecido normalmente polarizado.

6.2 CLASSE II

Compreende antagonistas dos receptores β-adrenérgicos.

6.2.1 MECANISMO DE ACÇÃO

• Aumento do tempo de condução nodal AV e prolongamento do período refractário;


• Diminuição da automaticidade do nódulo AS e dos pacemakers ectópicos.

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6.3 CLASSE III – AMIODARONA

Fármacos que prolongam substancialmente o potencial de acção cardíaco.

6.3.1 MECANISMO DE ACÇÃO

• Aumento acentuado do potencial de acção e do período refractário em todo o tecido de condução.

7 DIURÉTICOS

Fig. 39 – Reabsorção de sódio no nefrónio e nas células tubulares

7.1 TIAZIDAS E ANÁLOGOS

• Indapamida
• Hidroclorotiazida

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7.1.1 MECANISMO DE ACÇÃO

• Diminuem a reabsorção de sódio a nível do túbulo contornado distal, dado que inibem o
cotransporte de sódio e cloro através da membrana luminal do túbulo contornado distal.
• Promovem a excreção de cloro, potássio, magnésio e bicarbonato.
• São os diuréticos mais utilizados porque são eficazes e bem tolerados.

7.2 DIURÉTICOS DA ANSA

• Furosemida

• São diuréticos mais potentes que as Tiazidas o que justifica o seu uso em situações agudas ou
quando há necessidade de um efeito diurético mais potente.
• São os diuréticos que se devem utilizar quando há insuficiência renal.

7.2.1 MECANISMO DE ACÇÃO

• Inibem a reabsorção de cloreto de sódio no ramo ascendente da Ansa de Henle.

7.2.2 FARMACOCINÉTICA

• Administração oral, parentérica e IM;


• Forte ligação às proteínas plasmáticas;
• Semi-vida curta;
• Apresentam uma curva dose-efeito muito íngreme.

7.2.3 INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS

• Devido à sua elevada potência e à rapidez do seu efeito são muito úteis no edema agudo do
pulmão;
• Tratamento da hipertensão arterial;
• Insuficiência renal aguda;
• Em situações de intoxicações agudas para aumentar a excreção urinária dos tóxicos.

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7.3 POUPADORES DE POTÁSSIO

São constituídos por dois subgrupos:

• Antagonistas da aldosterona
o Espironolactona
• Não antagonistas da aldosterona
o Amiloride

Fig. 40 – Diuréticos poupadores de potássio

7.3.1 ANTAGONISTAS DA ALDOSTERONA

Espironolactona

• São antagonistas competitivos da aldosterona;


- + +
• Actuam ao nível do tubo distal, inibindo a reabsorção de Cl e Na e promovendo a retenção de K ;
• É um diurético pouco potente;
• Usa-se quando há hiperaldosteronismo;
• Boa absorção oral;
• Metabolização hepática;
• Elevada percentagem de ligação a proteínas plasmáticas;
• Pode provocar ginecomastia.

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7.3.2 NÃO ANTAGONISTAS DA ALDOSTERONA

Amiloride

• Diminui a secreção de potássio levando à sua retenção;


• Usam-se em associação com outros diuréticos para evitar a deplecção de potássio;
• Não existem, em Portugal, comercializados sob forma isolada, mas em associações de dose fixa;
• Os seus metabolitos, excretados por via renal, podem constituir o núcleo para a formação de
cálculos;
• Devem ser administrados em jejum.

8 SUBSTÂNCIAS QUE REDUZEM OS LÍPIDOS

São utilizados diversos fármacos para reduzir o colesterol do plasma. A terapêutica farmacológica para
reduzir os lípidos plasmáticos constitui apenas uma abordagem para o tratamento.

As principais classes de substâncias utilizadas clinicamente são: estatinas, fibratos e resinas de ligação de
ácidos biliares.

Fig. 41 – Diagrama esquemático do transporte de colesterol nos tecido, com os locais de acção dos principais
fármacos que afectam o metabolismo das lipoproteínas

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8.1 ESTATINAS: INIBIDORES DA HMG-COA REDUTASE

A enzima que limita a velocidade de síntese do colesterol é a HMG-CoA redutase, que catalisa a conversão
da HMG-CoA em ácido mevalonico.

O principal efeito bioquímico das estatinas consiste em reduzir as concentrações plasmáticas de LDL-
colesterol. Além disso, as estatinas reduzem os triglicerídios plasmáticos e aumentam o HDL-colesterol. A
atorvastatina produz inibição prolongada da HMG-CoA redutase.

8.1.1 FARMACOCINÉTICA

• Os inibidores da HMG-CoA redutase são administrados por via oral.


• São bem absorvidos.
• Metabolismo pré-sistémico.

8.1.2 EFEITOS ADVERSOS

Os inibidores da HMG-CoA redutase são bem tolerados. Os efeitos indesejáveis discretos incluem distúrbio
gastrointestinal, aumento das concentrações plasmáticas das enzimas hepáticas, insónia e eczema. A
rabdomiólise e angioedema são raros.

Fig. 42 – Concentração e efeito dos inibidores da HMG-CoA redutase no fígado

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8.2 FIBRATOS

São derivados do ácido fíbrico, incluindo bezafibrato, ciprofibrato, genfibrozila, fenofibrato e clofibrato.

Esses fármacos produzem acentuada redução das VLDL circulantes e por conseguinte, dos triglicerídios, com
redução moderada das LDL e aumento de 10% das HDL.

Os fibratos actuam como agonistas num receptor que estimula a degradação β-oxidativa dos ácidos
gordos.

Os fibratos estimulam a lipoproteína lipase, com consequente aumento da hidrólise dos triglicerídios dos
quilomicras e partículas de VLDL com libertação de ácidos gordos livres para armazenamento do tecido
adiposo ou para metabolismo no músculo estriado.

Estas substâncias diminuem a produção hepática de VLDL e aumentam a captação hepática de LDL.

8.2.1 EFEITOS ADVERSOS

A miosite é rara, mas pode ser grave, resultando em mioglobinúrina e insuficiência renal aguda.

8.3 RESINAS DE LIGAÇÃO DE ÁCIDOS BILIARES

A colestiramina e o colestipol sequestram os ácidos biliares no intestino e impedem a sua reabsorção e


circulação entero-hepática. O resultado consiste em diminuição da absorção do colesterol exógeno e
aumento do metabolismo do colesterol endógeno em ácidos biliares no fígado.

Essa situação resulta numa maior expressão dos receptores de LDL nos hepatócitos e portanto no aumento
da remoção das LDL do sangue e redução das concentrações plasmáticas de LDL-colesterol.

8.3.1 EFEITOS INDESEJÁVEIS

Sintomas gastrintestinais de náusea, distensão abdominal, constipação ou diarreia, que estão relacionados
com a dose.

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FARMACOTERAPIA DO SISTEMA
NERVOSO
1. Sistema nervoso
2. Fármacos com acção no SNC
3. Fisiologia da dor
4. Analgésicos de acção central
5. Ansiedade e ansiolíticos
6. Hipnóticos
7. Psicoses e anti-psicóticos
8. Antidepressivos
9. Doença de Parkinson e antiparkinsónicos

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

Autor: Nuno Fernandes

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1 SISTEMA NERVOSO

Fig. 43 – Sistema nervoso

1.1 FUNÇÕES DO SISTEMA NERVOSO

• Informação sensorial;
• Integração;
• Homeostase;
• Actividade mental;
• Controlo dos músculos e glândulas.

1.2 DIVISÕES DO SISTEMA NERVOSO

O sistema nervoso subdivide-se em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP).

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• SNC – consiste no encéfalo e medula espinhal, que são protegidos pelos ossos que os rodeiam. O
encéfalo localiza-se no interior da caixa craniana e a medula espinhal aloja-se no interior do canal
raquidiano, formado pelas vértebras. O encéfalo e a medula espinhal estão em continuidade um
com o outro através do buraco occipital.

• SNP – exterior ao sistema nervoso central. Consiste em receptores sensoriais, nervos, gânglios e
plexos. Os receptores sensoriais são terminações de células nervosas, ou células isoladas,
especializadas, que detectam a temperatura, dor, tacto, pressão, luz, som, odores e outros
estímulos. Os receptores sensoriais localizam-se na pele, músculos, articulações, órgãos internos e
órgãos sensoriais especializados como os olhos e os ouvidos.

Os nervos são feixes de axónios, com as suas bainhas, que ligam o SNC aos receptores sensoriais, músculos e
glândulas. Doze pares de nervos cranianos têm origem no encéfalo, e trinta e um pares de nervos
raquidianos têm origem na medula espinhal. Os gânglios são aglomerações de corpos celulares neuronais
localizadas no exterior do SNC. Os plexos são extensas redes de axónios e, em alguns casos, também de
corpos celulares neuronais, localizadas no exterior do SNC.

O SNP compreende duas subdivisões:

SNP

Divisão aferente ou Divisão eferente ou


sensorial motora

Os corpos celulares destes


neurónios encontram-se
Transmite potenciais de nos gânglios localizados Transmite potenciais de
acção dos receptores junto da medula espinhal acção do SNC aos órgãos
sensoriais ao SNC ou junto da origem de efectores
determinados nervos
cranianos

Fig. 44 – Subdivisões do SNP

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FARMACOLOGIA

A divisão motora do sistema nervoso divide-se em sistema nervoso somático e sistema nervoso autónomo
(SNA).

O sistema nervoso somático motor transmite os potenciais de acção do SNC aos músculos esqueléticos. Os
músculos esqueléticos são controlados voluntariamente pelo sistema nervoso somático. Os corpos celulares
dos neurónios somáticos motores localizam-se dentro do SNC e os seus axónios estendem-se através dos
nervos até formarem sinapses com as células musculares esqueléticas.

O SNA transmite os potenciais de acção do SNC ao músculo liso, ao músculo cardíaco e a certas glândulas. O
controlo subconsciente do músculo liso, do músculo cardíaco ou das glândulas depende do SNA.

O SNA subdivide-se em simpático e parassimpático e sistema nervoso entérico. Em geral, o simpático,


quando activado, prepara o corpo para a acção, enquanto o parassimpático regula o repouso ou as funções
vegetativas, como digerir os alimentos ou esvaziar a urina da bexiga. O sistema nervoso entérico consiste
em plexos localizados na espessura da parede do tubo digestivo. Embora o sistema nervoso entérico seja
capaz de controlar o tubo digestivo independentemente do SNC, ele é considerado parte do SNA por causa
dos neurónios simpáticos e parassimpáticos que contribuem para a constituição dos seus plexos.

A parte sensorial do SNP funciona primariamente para detectar os estímulos e transmitir informação sob
forma de potenciais de acção ao SNC. O SNC é o mais importante local de processamento da informação,
iniciação da resposta e integração dos processos mentais. A divisão motora do SNP conduz potenciais de
acção do SNC para os músculos e glândulas.

Sistema
Nervoso

Sistema nervoso Sistema nervoso


central periférico
SNC SNP

Divisão aferente ou Divisão eferente ou


sensorial motora

Sistema nervoso
Sistema nervoso autónomo
somático
SNA

Sistema nervoso Sistema nervoso Sistema nervoso


simpático parassimpático entérico

Fig. 45 – Sistema nervoso e subdivisões

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1.3 HISTOLOGIA

1.3.1 NEURÓNIO

Os neurónios, ou células nervosas, recebem estímulos e transmitem potenciais de acção para outros
neurónios ou para os órgãos efectores. Organizam-se de modo a formar redes complexas que
desempenham as funções do sistema nervoso. Cada neurónio consiste num corpo celular e dois tipos de
prolongamentos. O corpo celular designa-se por corpo celular neuronal ou soma, e os prolongamentos
denominam-se dendritos (árvore), o que sublinha a sua disposição ramificada, e axónios (eixo), o que se
refere ao alinhamento rectilíneo e diâmetro uniforme da maioria dos axónios. Os axónios são também
designados por fibras nervosas.

Fig. 46 - Neurónio

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NEVRÓGLIA DO SNC

A nevróglia é de longe muito mais numerosa que os neurónios e constitui mais de metade do peso
encefálico. Consiste no conjunto mais importante de células de suporte do SNC, participa na formação da
barreira hemato-encefálica (barreira de permeabilidade entre o sangue e os neurónios), fagocita substâncias
estranhas, produz líquido cefalorraquidiano e forma bainhas de mielina em torno dos axónios. Cada um dos
4 tipos de glia tem características estruturais e funcionais únicas.

ASTRÓCITOS

Os astrócitos são células gliais que devem a


sua forma de estrela aos prolongamentos
celular que se estendem para fora do seu
corpo. Os prolongamentos dos astrócitos
estendem-se para, e cobrem, a superfície de
vasos sanguíneos, neurónios e da piamáter
(membrana que recobre a superfície exterior
do encéfalo e medula espinhal). Os astrócitos
têm um citoesqueleto de microfilamentos
muito desenvolvimento, que os capacida para
formar uma estrutura de suporte aos vasos
sanguíneos e neurónios.

Os astrócitos desempenham um papel na


Fig. 47 - Astrócitos regulação da composição do líquido extra-
celular do encéfalo. Libertam substâncias
químicas que promovem a formação de tight junctions das células endoteliais dos capilares. Estas células
endoteliais, com as suas tight junctions, formam a barreira hemato-encefálica, que determina quais as
substâncias que podem passar do sangue para o tecido nervoso do encéfalo e da medula espinhal. A
barreira hemato-encefálica protege os neurónios das substâncias tóxicas que existem no sangue, permite a
troca de nutrientes e produtos de catabolismo entre os neurónios e o sangue, e evita que as flutuações na
composição do sangue afectem o funcionamento do encéfalo. Os astrócitos ajudam também a regular a
composição do líquido intersticial, pois regulam a concentração de iões e gases e absorvem e reciclam os
neurotransmissores.

CÉLULAS EPENDIMÁRIAS

As células ependimárias pavimentam os ventrículos (cavidades) do encéfalo e o canal central (virtual) da


medula espinhal – canal ependimário. Conjuntos de células ependimárias especializadas, associadas a vasos
sanguíneos, formam os plexos coroideus, que se localizam em determinadas regiões dos ventrículos. Os
plexos coroideus segregam o líquido cefalorraquidiano, que circula através dos ventrículos do encéfalo. A
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superfície livre das células ependimárias tem muitas vezes zonas providas de cílios, que auxiliam o
movimento do líquido cefalorraquidiano através das cavidades ventriculares. As células ependimárias têm
também longos prolongamentos na sua superfície basal, que se estendem profundamente para o interior do
encéfalo e da medula espinhal. Parece, em alguns casos, terem funções semelhantes às dos astrócitos.

Fig. 48 – (a) As células ependimárias ciliadas que atapetam um ventrículo encefálico


ajudam a mover o líquido cefalorraquidiano. (b) As células ependimárias à superfície do
plexo coroideu segregam líquido cefalorraquidiano.

MICRÓGLIA

A micróglia é um conjunto de pequenas células, macrófagos especializados do SNC, que se tornam móveis e
fagocitárias em resposta à infecção, fagocitando tecido necrótico, microrganismos e substâncias estranhas
que invadam o SNC.

Fig. 49 - Micróglia

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OLIGODENDRÓCITOS

Os oligodendrócitos têm prolongamentos do citoplasma que podem envolver os axónios. Se os


prolongamentos do citoplasma se enrolarem muitas vezes em torno dos axónios, formam bainhas de
mielina. Um único oligodendrócito tem capacidade para formar bainhas de mielina em redor de segmentos
de vários axónios.

Fig. 50 - Oligodendrócito

NEVRÓGLIA DO SNP

Os neurilemócitos, ou células de Schwann, são células gliais do SNP que se enrolam em torno dos axónios.
Se as células de Schwann se enrolarem muitas vezes em torno dos axónios, formam bainhas de mielina.
Diferem no entanto dos oligodendrócitos porque cada neurilemócito forma uma bainha de mielina em torno
de uma porção de um único axónio.

As células satélite, que são neurilemócitos especializados, rodeiam os corpos celulares neuronais nos
gânglios, proprocionam suporte e podem proporcionar nutrientes aos corpos celulares neuronais.

Fig. 51 – Célula de Schwann

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1.3.2 A SINAPSE

Os potenciais de acção de uma célula podem estimular a produção de potenciais de acção noutra célula,
permitindo a comunicação entre elas.

A sinapse, que é uma junção entre duas células, é o local onde os potenciais de acção de uma célula podem
causar a produção de potenciais de acção noutra célula. A célula que transporta os potenciais de acção para
a sinapse chama-se célula pré-sináptica e a célula que transporta os potenciais de acção para longe da
sinapse é a célula pós-sináptica. Existem dois tipos de sinapses: as eléctricas e as químicas.

SINAPSES ELÉCTRICAS

As sinapses eléctricas são gap junctions


(junções comunicantes) que permitem o fluxo
de uma corrente local entre células
adjacentes. Nestas gap junctions, as
membranas de células adjacentes estão
separadas por um hiato cruzado por proteínas
tubulares chamadas conexónios. O
movimento de iões através dos conexónios
pode gerar uma corrente local, de modo que
um potencial de acção numa das células
produz uma corrente local que gera um
potencial de acção na célula adjacente, quase
como se as duas células tivessem a mesma
membrana. Encontram-se sinapses eléctricas
no músculo cardíaco e em muitos tipos de
músculo liso. Há contracções coordenadas
destas células musculares quando os
potenciais de acção numa das células se
propagam às células adjacentes por causa das

sinapses eléctricas.
Fig. 52 – Sinapse eléctrica

SINAPSES QUÍMICAS

Os componentes essenciais de uma sinapse química são o terminal pré-sináptico, a fenda sináptica e a
membrana pós-sináptica. O terminal pré-sináptico forma-se a partir da extremidade de um axónio e o
espaço que separa a extremidade do axónio da célula com a qual se articula na sinapse é a fenda sináptica.

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A membrana da célula pós-sináptica oposta ao terminal pré-sináptico é a membrana pós-sináptica. As


células pós-sinápticas são, tipicamente, outros neurónios, células musculares ou células glandulares.

LIBERTAÇÃO DE NEUROTRANSMISSORES

Nas sinapses químicas, os potenciais de acção não passam directamente do terminal pré-sináptico para a
membrana pós-sináptica. Em vez disso, os potenciais de acção no terminal pré-sináptico provocam a
libertação de neurotransmissores, a partir do seu terminal.

Os terminais pré-sinápticos são especializados em produzir e libertar neurotransmissores. Os principais


organitos citoplasmáticos nos terminais pré-sinápticos são as mitocôndrias e numerosas vesículas sinápticas
providas de uma membrana, que contêm neurotransmissores, como a acetilcolina. Cada potencial de acção
que atinge o terminal pré-sináptico inicia uma série de fenómenos específicos que resulta na libertação do
neurotransmissor. Em resposta a um potencial de acção, os canais dos iões cálcio abrem-se e os iões cálcio
difundem-se no terminal pré-sináptico. Estes iões desencadeiam a fusão das vesículas sinápticas com a
membrana pré-sináptica e a libertação do seu neurotransmissor, por exocitose, para o interior da fenda
sináptica.

Uma vez libertado do terminal pré-sináptico, o neurotransmissor difunde-se rapidamente através da fenda
sináptica e liga-se de forma reversível a receptores específicos da membrana pós-sináptica. Consoante o tipo
de receptores, esta ligação provoca uma despolarização ou uma hiperpolarização da membrana pós-
sináptica.

REMOÇÃO DE NEUROTRANSMISSORES

A interacção entre a substância neutrotransmissora e o receptor constitui um equilíbrio.

Neurotransmissor + Receptor ⇆ Complexo neurotransmissor-receptor

Quando a concentração de neurotransmissor na fenda sináptica é elevada, numerosas moléculas do


receptor estarão unidas a moléculas do neurotransmissor e, se a concentração do neurotransmissor
diminuir, as suas moléculas difundem-se para longe das moléculas do receptor.

Os neurotransmissores têm efeitos a curto prazo nas membranas pós-sinápticas, porque são rapidamente
destruídos ou removidos da fenda sináptica.

A difusão de moléculas de neurotransmissor para fora da sinapse e para o líquido extracelular também
limita o período de tempo em que as moléculas de neurotransmissor permanecem ligadas aos seus
receptores.

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MOLÉCULAS RECEPTORAS NAS SINAPSES

As moléculas receptoras nas sinapses constituem receptores ligados à membrana, activados por ligando
com locais receptores de elevado grau de especificidade. Em consequência disso, apenas moléculas de
neurotransmissor ou substâncias muito estreitamente relacionadas se ligam normalmente aos seus
receptores. Nenhuma célula tem todos os receptores possíveis.

Um neurotransmissor pode estimular algumas células e inibir outras. Para alguns neurotransmissores existe
mais de um tipo de moléculas receptoras. Diferentes células respondem de modo diferente a um
neurotransmissor quando essas células têm receptores diferentes.

Embora a concentração de receptores de neurotransmissores seja maior nas membranas pós-sinápticas,


alguns deles existem também nas membranas pré-sinápticas.

NEUROTRANSMISSORES E NEUROMODULADORES

Os neuromoduladores são substâncias libertadas pelos neurónios que podem, a nível pré ou pós sináptico,
influenciar a probabilidade de um potencial de acção no terminal pré-sináptico resultar na produção de um
potencial de acção na célula pós-sináptica.

POTENCIAIS PÓS-SINÁPTICOS EXCITATÓRIOS E INIBITÓRIOS

A combinação dos neurotransmissores com os seus receptores específicos provoca despolarização ou


hiperpolarização da membrana pós-sináptica. Quando se dá a despolarização, a resposta é estimulatória e a
despolarização local é um potencial excitatório pós-sináptico (PEPS). Os PEPSs são importantes porque a
despolarização pode atingir o limiar, produzindo assim um potencial de acção e a resposta celular. Os
neurónios que libertam substâncias neurotransmissoras causadoras de PEPSs são neurónios excitatórios.
Regra geral, um PEPS resulta do aumento da permeabilidade da membrana ao sódio.

Quando a combinação de um neurotransmissor com o seu receptor resulta em hiperpolarização da


membrana pós-sináptica, a resposta é inibitória e a hiperpolarização local é um potencial inibitório pós-
sináptico (PIPS). Os PIPS são importantes porque diminuem a probabilidade de produzir potenciais de
acção, afastando o potencial de membrana do limiar. Os neurónios libertadores de substâncias
neurotransmissoras que causam PIPS são neurónios inibitórios. O PIPS é o resultado de um aumento da
permeabilidade da membrana celular aos iões de cloro ou potássio.

INIBIÇÃO E FACILITAÇÃO PRÉ-SINÁPTICA

Muitas das sinapses do SNC são sinapses axo-axónicas, em que o axónio de um neurónio faz sinapse com o
terminal pré-sináptico (axónio) de outro neurónio. A sinapse axo-axónica não inicia um potencial de acção
no terminal pré-sináptico. No entanto, quando um potencial de acção atinge o terminal pré-sináptico, os

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neuromoduladores libertados na sinapse axo-axónica podem alterar a quantidade de neurotransmissor


libertado a partir do terminal pré-sináptico.

Na inibição pré-sináptica há uma diminuição da quantidade de neurotransmissor libertado do terminal pré-


sináptico.

Na facilitação pré-sináptica há um aumento da quantidade de neurotransmissor libertado do terminal pré-


sináptico.

1.4 SÍNTESE

• SNA – regulação das actividades que não dependem de controlo voluntário.


o Respiração;
o Circulação sanguínea;
o Temperatura corporal.
o Enervação de todos os tecidos excepto músculo esquelético (nervos somáticos)
 SNA Simpático;
 SNA Parassimpático.
• SNC – coordenador de todas as actividades do organismo.
o Encéfalo e medula espinal;
o Consciência;
o Funções cognitivas.
• Histologia
o Neurónios;
o Células da Glia.
• Transmissão sináptica
o Sinapse: zona de comunicação entre dois neurónios:
• Pré-sináptico envia o sinal;
• Pós-sináptico recebe a mensagem.
 Sinapses Eléctricas
• Membranas dos neurónios pré e pós-sinápticos estão ligadas por canais
proteicos.
 Sinapses Químicas
• Existe um espaço entre dois neurónios;
• Não há comunicação directa entre as duas membranas celulares;
• Comunicação faz-se através de neurotransmissores.
 Fenda sináptica
• “Gap” entre as duas células, de cerca de 20 nm.
 Potencial inibitório pós-sináptico (PIPS)
• Hiperpolarização da membrana da célula pós-sináptica resulta da
-
abertura dos canais de Cl .
 Potencial excitatório pós-sináptico

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• Despolarização da membrana da célula pós-sináptica resulta da abertura


+ + 2+
dos canais de Na , K e Ca .
• Propriedades eléctricas do neurónio
+ -
o Meio extracelular: >[Na ] e [Cl ];
+
o Meio intracelular: > [K ];
o De acordo com este gradiente de concentração:
+ +
 Na tem tendência a entrar na célula e o K a sair.
o Um estímulo provoca desvios ao potencial da membrana:
 Hiperpolarização
• Interior mais negativo
 Despolarização
• Interior menos negativo
• Neurotransmissor
o eurónio deve assegurar:
 Síntese – no interior do neurónio;
 Armazenagem – nas vesículas;
 Degradação e/ou remoção – na sinapse ou no interior do neurónio.
o Exemplos:
 Adrenalina;
 Noradrenalina – função excitatória;
 Serotonina – função excitatória;
 Dopamina;
 GABA – função inibitória;
 Glutamato – função excitatória;
 Acetilcolina;
 Histamina;
 Angiotensina II.
• Receptores
o Têm locais com estruturas de ligação aos neurotransmissores altamente especializadas;
o Normalmente só reconhecem um neurotransmissor e são designados pelo seu nome.

2 FÁRMACOS COM ACÇÃO NO SNC

• Analgésicos de acção central


• Ansiolíticos
• Hipnóticos
• Antipsicóticos
• Antidepressivos
• Antiparkinsónicos

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3 FISIOLOGIA DA DOR

A dor é a causa mais frequente de recurso aos profissionais de saúde. É um sintoma, por ser subjectiva, e é
difícil de caracterizar, dado o seu carácter pessoal.

É influenciada por factores de ordem fisiológica e psicológica, não havendo uma relação directa entre a a
intensidade do estímulo e a da reposta.

O limiar da dor é definido como a intensidade do estímulo a partir da qual é referido como dolorso (o limiar
da dor é, portanto, sensorial). Por outro lado, a tolerância à dor é o ponto a partir do qual não se suporta
um aumento (ou a continuação) da estimulação (é reactiva).

Os impulsos dolorosos são gerados na periferia e conduzidos pelas fibras nervosas até ao SNC, segundo uma
via ascendente:

• Periferia
• Medula
• Tálamo
• Córtex

A via descendente da dor contraria a entrada dos estímulos dolorosos no SNC, dirigindo-se no sentido
inverso à via ascendente, estimulando o sistema endógeno de controlo da dor.

O organismo sintetiza substâncias endógenas analgésicas:

• Encefalinas
• Endorfinas
• Dinorfinas

Estas substâncias estimulam receptores (opiáceos), produzindo analgesia.

Existem vários mecanismos de acção analgésica:

• Depressão directa da via ascendente


o Anestésicos locais
o Anti-inflamatórios
o Cirurgia da dor
• Estimulação da via descendente
o Analgésicos Opiáceos
o Acupuntura

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4 ANALGÉSICOS DE ACÇÃO CENTRAL

• Analgésicos de acção central


o Analgésicos estupefacientes ou opiáceos
 Agonistas dos receptores opiáceos
 Alcalóides do ópio (naturais)
• Morfina
• Codeína
 Sintéticos
• Buprenorfina
• Fentanilo
• Tramadol
o Dor moderada a grave
o Melhor perfil de efeitos secundários
o Reacções adversas:
 Indução de dependência física
 Sedação
 Tonturas
 Náuseas
 Vómitos
o Indicações:
 Dor intensa
 Dor oncológica
 Dor de doença terminal
o Vias de administração:
 Via oral
 Via transdérmica
 Via EV
 Via IM

5 ANSIEDADE E ANSIOLÍTICOS

A ansiedade pode ser definida como um

“Fenómeno humano normal, que só deve ser interpretado como patológico, quando interfere com o bem-
estar e a actividade no geral”

Linford Rees

No controlo e nas manifestações clínicas da ansiedade, estão envolvidos vários neurotransmissores:

• GABA;
• NA;
• 5-HT.

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A ansiedade surge associada a:

• Hiperfunção noradrenérgica;
• Hiperfunção serotoninérgica;
• Hipofunção gabérgica.

5.1 ANSIOLÍTICOS

• Benzodiazepinas
o Actuam nos receptores GABA;
o Aumentam a actividade inibitória do GABA;
o Depressores do sistema nervoso;
o Diminuem a excitabilidade
 Ansiolíticos;
 Indutores do sono;
 Miorrelaxantes.
o Uso crónico provoca:
 Diminuição do número de receptores livres – dessensibilização;
 Tolerância aumentada ao fármaco – dependência.
o Interrupção da terapêutica leva a:
 Hipotensão ortostática;
 Ansiedade;
 Agitação;
 Reflexos hiperactivos.
o Interacções:
 Álcool;
 Administração concomitante com outros depressores do SNC
• Adição de efeito
o Contra-indicações:
 Atravessam a barreira placentária;
 Geriatria – uso cauteloso;
 Condução de máquinas.
o Semi-vida curta:
 Flunitrazepam (Rohypnol)
 Midazolam (Dormicum)
 Triazolam (Halcion)
 Lormetazepam (Noctamid)
 Lorazepam (Lorenin)
o Semi-vida média:
 Alprazolam (Xanax, Pazolam, Unilan…)
 Bromazepam (Lexotan, Bromalex...)
 Estazolam (Kainever)
 Halazepam (Pacinone)

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 Loflazepato de Etilo (Victam)


 Oxazepam (Serenal)
 Temazepam (Normison)
o Semi-vida longa:
 Clordiazepóxido (Paxium)
 Clobazam (Castilium, Urbanil)
 Clonazepam (Rivotril)
 Clorazepato Dipotássico (Medipax, Tranxéne)
 Diazepam (Valium, Metamidol, Unisedil…)
 Flurazepam (Morfex)

• Ansiolíticos não-benzodiazepínicos
o Buspirona (Buspar, Buscalma, Ansiten)
 Actua no sistema serotoninérgico;
 Vantagens:
• Ausência de interaccções (BDZ, indutores do sono ou álcool);
• Ausência de dependência;
• Ausência de sintomas de abstinência.
 Desvantagem:
• Início de acção lento.
o Clonidina (Catapressan);
Propanolol (Inderal).
 Actuam no sistema noradrenérgico;
 Diminuem a libertação de noradrenalina na sinapse;
 Diminuem os sintomas físicos da ansiedade (taquicárdia, tremor, sudorese).

6 HIPNÓTICOS

• Zopidem
o Mesmos receptores das BDZ;
o Curta duração de acção;
o Muito potente
 Tratamento da insónia (curto prazo)

7 PSICOSES E ANTI-PSICÓTICOS

As psicoses são doenças psiquiátricas acompanhadas de alterações comportamentais graves, caracterizadas


por violência e alucinações (p.e. esquizofrenia).

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Devem-se a alterações no funcionamento do sistema dopaminérgico:

• Aumento da síntese de dopamina;


• Excesso de dopamina no SNC;
• Estimulação excessiva dos receptores dopaminérgicos.

Os antipsicóticos utilizam-se, portanto, no tratamento da esquizofrenia e outras psicoses. São antagonistas


dos receptores dopaminérgicos e impedem a estimulação excessiva dos neurónios dopaminérgicos.

Os mais típicos são:

• Amissulprida (Socian)
• Cloropromazina (Largactil)
• Haloperidol (Haldol)

Os atípicos incluem:

• Risperidona (Risperdal)
• Olanzapina (Zyprexa)
• Clozapina (Leponex)

Têm diversos efeitos secundários:

• Alterações da:
o Capacidade motora
o Postura
o Tónus muscular

8 ANTIDEPRESSIVOS

• Tratamento da depressão (alterações do humor);


• Tratamento de algumas perturbações ansiosas (fobias, ansiedade generalização, perturbações de
stress pós-traumático);
• Inibição da recaptação dos neurotransmissores;
• Alteração da densidade dos receptores;
• Inibição da metabolização dos neurotransmissores
o Serotonina
o Noradrenalina
• Podem ser:
o Tricíclicos (amiltriptilina; imipramina)
 Inibem de forma não selectiva a recaptação da serotonina e da noradrenalina;
 Interferem com os receptores de vários neurotransmissores.
 Reacções adversas:
• Aumento de peso;

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• Sedação;
• Obstipação;
• Boca seca;
• Retenção urinária.
 Efeitos cardiovasculares:
• Alterações na frequência cardíaca;
• Alterações na contractilidade cardíaca;
• Depressão directa do miocárdio.
 Precauções:
• Patologia cardíaca pré-existente;
• Idosos;
• Tendências suicidas;
• Anestesia;
• Hipertrofia prostática;
• Glaucoma.
o IRMAO
 Inibem o metabolismo da serotonina e noradrenalina por inibição reversível da
monoaminoxidade (MAO)
o Inibidores selectivos da recaptação da serotonina (ISRS) – fluoxetina
 Inibem de forma selectiva a recaptação da serotonina;
 Principais efeitos secundários:
• Náuseas;
• Alterações do peso;
• Alterações da líbido.
o Inibidores selectivos da recaptação da serotonina e noradrenalina (ISRSN) – venlafaxina
 Inibem de forma selectiva a recaptação de serotonina e noradrenalina
 Venlafaxina
• Rápido início de acção;
• Não tem acção colinérgica nem histaminérgica.

9 DOENÇA DE PARKINSON E ANTIPARKINSÓNICOS

A doença de Parkinson foi descrita pela primeira vez em 1817, pelo médico inglês James Parkinson. É uma
doença neurológica, que afecta os movimentos. Deve-se à degeneração das células duma região do cérebro
denominada substância negra, estando associada aos neurónio dopaminérgicos: a falta ou diminuição da
dopamina afecta os movimentos.

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Fig. 53 – Níveis de dopamina numa pessoa saudável e


numa pessoa com doença de Parkinson

A doença de Parkinson pode afectar qualquer pessoa, mas tende a afectar pessoas mais idosas. A grande
maioria dos doentes tem os primeiros sintomas a partir dos 50 anos. Pode também acontecer em pessoas
mais jovens, embora os casos sejam mais raros.

Não existe nenhum teste específico para fazer o diagnóstico desta doença, nem para a sua prevenção. Além
disso, não existe cura, uma vez que no cérebro não existe renovação celular.

Pode e deve ser tratada, combatendo os sintomas e retardando o seu progresso.

9.1 SINTOMAS DA DOENÇA DE PARKINSON

• Tremores;
• Lentidão de movimentos;
• Rigidez muscular;
• Alterações na fala e escrita.

9.2 ANTIPARKINSÓNICOS

São fármacos que estimulam o funcionamento do sistema dopaminérgico (dopaminomiméticos).

• Aumentam a produção de dopamina;


• Estimulam os neurónios dopaminérgicos;
• Inibem a destruição/inactivação da dopamina.

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9.2.1 DOPAMINOMIMÉTICOS

• L-Dopa
o Aumento da produção de dopamina
 Benserazida (Madopar);
 Carbidopa (Sinemet).

• Agonistas dopaminérgicos
o Estimulam os neurónios dopaminérgicos
 Bromocriptina (Parlodel);
 Pergolide (Permax);
 Ropinirole (Requip);
 Pirebedil (Trivastal).

• Inibidores da destruição/inactivação da dopamina


o Selegilina (Jumex);
o Entacapona (Comtan).

• Precauções:
o Agitação;
o Alucinações;
o Psicose;
o Mania.

9.2.2 ANTI-COLINÉRGICOS

São fármacos que inibem o funcionamento do sistema colinérgico. Inibem o SNA parassimpático e são
antagonistas dos receptores colinérgicos (muscarínicos).

• Biperideno (Akineton)
Tri-hexifenidilo (Artane)
o Primeiros medicamentos usados no controlo dos sintomas do parkinsonismo;
o Utilização limitada mas pertinente quando há predomínio de tremor;
o Má tolerabilidade:
 Devido à interferência no SNA;
 Alterações da memória;
 Quadros confusionais.

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FARMACOTERAPIA DO SISTEMA
MÚSCULO-ESQUELÉTICO
1. Doenças reumáticas

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

Autor: Ana Sofia Cristóvão

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1 DOENÇAS REUMÁTICAS

Doenças reumáticas são todas as doenças e alterações funcionais do sistema músculo-esquelético de causa
não traumática.

• Doenças inflamatórias
• Doenças degenerativas
• Doenças metabólicas
• Alterações dos tecidos moles periarticulares
• Doenças de outros órgãos e/ou sistemas relacionadas com as anteriores

1.1 AFECÇÕES ARTICULARES

• Inflamatória
o Artrite reumatóide
• Degenerativa
o Osteoartrose
• Funcional
o Fibromialgia

1.2 AFECÇÕES DOS TECIDOS MOLES

• Reumatismo das partes moles


o Tendinites
• Síndromes compressivas
o Síndrome canal cárpico
• Raquialgias
o Torcicolo, lumbago

1.3 CLÍNICA

Existem diversos sinais e sintomas indicadores da presença da doença reumática, entre os quais:

• Dor
• Envolvimento músculo-esquelético
o Sinais inflamatórios (calor, rubor, tumor)
o Diminuição da amplitude de movimentos
o Deformação
o Compromisso da função
• Compromisso sistémico

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1.3.1 INFLAMAÇÃO

O processo inflamatório consiste numa resposta do organismo a uma agressão (infecção, isquémia,
interacções antigénio-anticorpo, agressões térmicas, agressões físicas), tendo como sintomas a
vermelhidão, a tumefacção, o calor local, a febre e a perda de função.

Neste processo ocorre:

• Reconhecimento imunológico
• Síntese dos mediadores da inflamação
• Eliminação do agente agressor

Para além destes, ocorrem uma série de alterações celulares, nomeadamente ao nível do seu
funcionamento, de forma a neutralizar o agente agressor e a reparar os tecidos lesados.

O sistema imunológico está intimamente ligado à resposta inflamatória, intervindo com as suas células na
localização e eliminação de substâncias estranhas ao organismo. A reacção inflamatória acompanha-se de
um número considerável de substâncias com grande actividade. Dos mediadores intervenientes na reacção
inflamatória salientam-se pela sua importância, os metabolitos ou produtos do ácido araquidónico, certas
aminas (histamina, serotonina), radicais livres, ILS, etc.

O ácido araquidónico provém dos fosfolípidos das membranas celulares. Os fosfolípidos são componentes
importantes das membranas celulares, que pela acção das fosfolipases, dão origem ao ácido araquidónico,
que por acção de duas enzimas (ciclooxigenase e a lipooxigenase) dá origem aos percursos da reacção
inflamatória.

A partir do ácido araquidónico formam-se várias substâncias com acção inflamatória marcada:

• Prostaglandinas (PGE, Tromboxano, Prostaciclinas)


• Histamina
• Serotonina
• Leucotrienos
• Radicais livres de O2
• Enzimas lisossomais
• Produtos de clivagem do complemento

ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTERÓIDES (AINE)

Os anti-inflamatórios não esteróides são inibidores da ciclooxigenase e da lipooxigenase, evitando assim a


sintomatologia dolorosa, inflamatória e febril. Os AINE’S apresentam assim uma acção anti-inflamatória,
analgésica e antipirética.

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Uma vez que as prostaglandinas produzidas durante o processo inflamatório têm um efeito vasodilatador,
pirogénico e intensificador do estímulo álgico, é necessário inibir o seu efeito de forma a reduzir a resposta
inflamatória.

Fig. 54 - Acção dos AINE'S

Ácido Acetilsalicílico
Derivados do Ác. Antranílico Ác. Mefenâmico; Ác. Niflúmico; Etofenamato
Derivados do Ác. Acético Aceclofenac; Diclofenac
Derivados do Ác. Propiónico Ibuprofeno; Cetoprofeno; Naproxeno
Derivados Pirazolónicos Fenilbutazona
Derivados do Indol Acemetacina; Etodolac; Indometacina
Oxicans Lornoxican; Meloxican; Piroxican; Tenoxican
Sulfanilamídicos Nimesulida
Inibidores Selectivos da COX2 Celecobix; Etoricoxib

EFEITOS SECUNDÁRIOS

• Intolerância gastro-intestinal
o Úlceras
o Hemorragias digestivas
• Reacções de hipersensibilidade

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• Toxicidade hepática
• Toxicidade renal
o Nefropatia associada ao uso continuado e abusivo

ANALGÉSICOS

Sabe-se que o primeiro passo que conduz à sensação de dor é a estimulação de receptores conhecidos como
nociceptores. Estas terminações nervosas (receptores) existem na pele, vasos sanguíneos, articulações, etc.
O mecanismo exacto da estimulação dos nociceptores não é conhecido, no entanto sabe-se que as
substâncias como as bradicininas, prostaglandinas, serotonina, histamina, etc. quando libertadas estimulam
ou sensibilizam os receptores, contribuindo para a sensação de dor.

• Paracetamol
• Tramadol

PARACETAMOL

• Mecanismo de acção
o Inibição fraca das ciclooxigenases 1 e 2 (COX-1;COX-2)
o Inibição forte da ciclooxigenase 3 (COX-3), que só existe no cérebro

• Efeitos secundários
o Alterações hematológicas
o Rash cutâneo
o Reacções alérgicas
o Toxicidade (relacionada com doses excessivas)
 Aumento da taxa de ligação às proteínas plasmáticas
 Acumulação de um metabolito hidroxilado com toxicidade hepática devido a
ligação irreversível ao tecido hepático

• Toxicidade
o Sintomas
 Náuseas
 Vómitos
 Dores abdominais
 Lesão hepática pode surgir 12 a 48 horas após ingestão excessiva (>10g)
 Insuficiência renal aguda com necrose tubular
o Tratamento
 Rapidez é essencial
 Lavagem gástrica nas primeiras 4 horas
 Administração de acetilcisteína (ineficaz após 15 horas)

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1.3.2 OSTEOARTROSE

A oesteoartrose, também conhecida como doença articular degenerativa (DAD), consiste num processo
degenerativo da cartilagem articular.

Tem como alterações patológicas características:

• Erosão da cartilagem articular;


• Hipertrofia do osso subcondral;
• Formação de osteófitos ou de nódulos ósseos.

Pensa-se que este processo ocorre devido à digestão da cartilagem por enzimas e alteração da nutrição da
cartilagem.

GLUCOSAMINA

A glucosamina estimula a regeneração celular da cartilagem.

• Amino-monossacárido cuja função fisiológica é a biossíntese do ácido hialurónico do líquido sinovial


e dos glicosaminoglicanos pelos condrócitos.
• O sulfato de glucosamina estimula este processo de biossíntese nas cartilagens articulares.

CONDROITINA

A condroitina retarda a degradação enzimática da cartilagem.

• Mucopolissacárideo que integra a composição do tecido cartilagineo.


• Possui uma grande capacidade de fixação da água.
• Assegura as propriedades funcionais mecano-elásticas da cartilagem.

ÁCIDO HIALURÓNICO

• Glucosaminoglicano de origem natural.


• Componente importante da matriz extracelular.
• Presente em concentrações elevadas no líquido sinovial e na cartilagem.

1.3.3 ARTRITE

A artrite consiste numa reacção inflamatória inespecífica e multicausal, resultante de lesões articulares.

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A abordagem farmacológica nesta doença é feita no sentido de controlar a progressão da doença,


recorrendo-se, habitualmente, a corticosteróides e a modificadores da doença reumática.

CORTICOSTERÓIDES (GLUCOCORTICÓIDES)

• A sua libertação em situação de stress tem como finalidade evitar que os mecanismos orgânicos de
defesa saiam do controlo endógeno.
• Têm um potente efeito anti-inflamatório e imunosupressor

MODIFICADORES DA DOENÇA REUMÁTICA

• Hidroxicloroquina
o Profilaxia e tratamento da malária

• Sulfassalazina
o Anti-inflamatório intestinal
 Doença de Crohn
 Colite ulcerosa

• Imunosupressores (deprimem a resposta imunitária)


o Vários mecanismos de acção
 Leflunomida
 Metotrexato
 Ciclofosfamida
 Azatioprina
 Ciclosporina

• Fármacos biológicos
o Adalimumab
o Infliximab
o Anacinra
o Etanercept

1.3.4 TECIDO ÓSSEO

O esqueleto humano consiste em 80% de osso cortical (ou compacto) e 20% de osso trabecular (ou
esponjoso). O osso é composto por componentes inorgânicos (cristais de hidroxiapatite, fosfato de cálcio) e
por componentes orgânicos (osteoblastos e osteoclastos).

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Os osteoblastos (responsáveis pela formação óssea) e os osteoclastos (responsáveis pela reabsorção óssea)
são as principais células responsáveis pela homeostasia óssea. A formação de tecido ósseo conta ainda com
a regulação hormonal: calcitonina (hormona hipocalcemiante) e paratormona (hormona hipercalcemiante).

Quando não existe equilíbrio entre a formação e a reabsorção de tecido ósseo ocorre perda de massa óssea.

OSTEOPOROSE

A osteoporose consiste numa doença óssea que provoca uma diminuição da quantidade de osso, uma
alteração da micro arquitectura do osso, levando a um aumento da fragilidade do osso e do risco de
fractura.

CÁLCIO

Tal como a vitamina D, o cálcio é utilizado para estimular o crescimento ósseo e para manter a força do
osso. O cálcio é o mineral mais abundante do corpo humano, correspondendo a 2% do peso corporal. 99%
da concentração total de cálcio do organismo está nos ossos e dentes. Uma vez que as membranas celulares
são pouco permeáveis ao ião cálcio, a concentração deste no meio intracelular é baixa.

Uma vez que não há síntese endógena de cálcio, todo o seu aporte é feito de forma exógena. Assim, quando
o aporte falha o organismo retira cálcio dos ossos.

• Alimentação
o Leite e derivados
o Vegetais verdes
o Cereais
o Peixe

• Suplementos
o Sais de cálcio (carbonato, gluconato, citrato, fosfato)

• Necessidades diárias
o Crianças, idosos, gravidez, menopausa = 1000mg a 1500mg / dia

• Efeitos secundários
o Distúrbios gastro-intestinais
 Flatulência
 Obstipação
 Diarreia

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CALCITONINA

• Regula o metabolismo do cálcio e do osso


• Hipocalcemiante
• Diminuição a formação de osteoclastos
• Inibe a reabsorção óssea

TERAPÊUTICA HORMONAL DE SUBSTITUIÇÃO THS

• Os estrogénios exercem uma função protectora no metabolismo ósseo


• Terapêutica controversa, aprovada apenas para prevenção em mulheres jovens pós-menopáusicas
• Reduz a perda de massa óssea
• Aumenta a densidade óssea

RALOXIFENO

• Modulador selectivo dos receptores dos estrogénios


• Agonista dos estrogénios no osso, mas não na mama e no útero
• Minimiza os efeitos secundários da THS
• Inibe a actividade osteoclástica
• Inibe a reabsorção óssea

BIOFOSFONATOS

Dentro deste grupo encontram-se:

• Alendronato
• Risedronato
• Ibandronato
• Zoledronato

o Análogos do pirofosfato
o Fixam-se na hidroxiapatite na superfície do osso
o Internalizam nos osteoclastos
o Induzem a morte celular
o Inibem a activação dos osteoclastos, inibindo a reabsorção óssea
o Travam a perda de massa óssea
o Aumentam a densidade óssea na coluna e na anca
o Reduzem o risco de fracturas vertebrais e não vertebrais incluindo a anda (tratamento de 1ª
linha).

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Recomendações:
A sua ingestão deve ser feita com muita água, em jejum. Não deverão ser ingeridos outros medicamentos
ou alimentos durante 30 minutos após a toma, e, durante este período, permanecer em pé ou sentado,
sendo fundamental manter o tronco na vertical durante esse tempo.

Contra-Indicações:
• Disfunção esofágica
• Hipocalcemia
• Insuficiência renal
• Gravidez
• Amamentação

RANELATO DE ESTRÔNCIO

• Diminui a reabsorção óssea


• Aumenta a formação de osso novo
• Efeito anabolizante
o Aumenta a formação óssea
 Aumenta a replicação e a diferenciação osteoblástica
 Aumenta a síntese de colagénio
 Aumenta a mineralização da matriz óssea
• Efeito anti-reabsortivo
o Inibe a diferenciação osteoclástica

Recomendações:
Não deve ser tomado em simultâneo com cálcio ou alimentos que o contenham, uma vez que o cálcio vai
competir com o fármaco para a integração na matriz óssea. É, no entanto, essencial a ingestão de cálcio e
vitamina D durante o tratamento. Deve ser tomado 2g ao deitar.

O ranelato de estrôncio constitui uma alternativa aos bifosfonatos. A sua eficácia demonstrada na redução
do número de fracturas vertebrais e não vertebrais faz com que seja utilizado no tratamento da osteoporose
em mulheres na pós-menopausa.

TERIPARATIDA

• Análogo da hormona paratiroideia


• Estimulação da formação óssea por acção directa nos osteoblastos

A hormona paratiroideia endógena de 84 aminoácidos (PTH) é o regulador primário do metabolismo do


cálcio e do fosfato a nível ósseo e renal.

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• Hipercalcemiante
• Acção reabsortiva
o Aumenta indirectamente a absorção intestinal de cálcio
o Aumenta a reabsorção tubular de cálcio e a excreção de fosfato pelo rim

• A teriparatida, rhPTH (1-34), (FORSTEO), produzida na E.Coli, utilizando a tecnologia de DNA


recombinante, é idêntica à sequência do terminal 34 N-amino ácido da hormona paratiroideia
endógena humana.
• A teriparatida, rhPTH (1-34), apresenta um carácter duplo
o Níveis séricos elevados persistentemente (efeito reabsortivo)
o Elevações intermitentes do nível sérico (efeito anabólico)
 Estimula a osteoblastogénese
 Inibe a apoptose dos osteoblastos
• A dose recomendada é de 20 microgramas de teriparatida administrada uma vez por dia, por
injecção subcutânea na coxa ou no abdómen
o Deposição de osso novo
o Estimulação preferencial da actividade osteoblástica sobre a actividade osteoclástica
o A caneta pré-carregada destina-se a 28 dias de tratamento

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FARMACOTERAPIA DO TRACTO GI
1. Farmacologia do sistema digestivo
2. Fármacos que actuam sobre a motilidade gastrointestinal
3. Ácidos biliares

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

Autor: Andreia Santos e Hugo Martins

CRISTÓVÃO, A.S.; SANTOS, A.; MARTINS, H.; FERNANDES, N. | Farmacoterapia do Tracto GI 159
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FARMACOLOGIA

1 FARMACOLOGIA DO SISTEMA DIGESTIVO

Além da sua função principal de digestão e absorção de alimentos, mo tracto gastrointestinal é um dos
principais sistemas endócrinos do corpo e tem a sua própria rede neuronal integradora, o sistema nervoso
entérico, que contém quase o mesmo número de neurónios que a medula espinhal. Também é o local de
muitas patologias comuns, variando da simples dispepsia às complexas afecções auto-imunes, como a
doença de Crohn. Os medicamentos para tratar estes distúrbios gastrointestinais compreendem cerca de 8%
de todas as prescrições.

Assim sendo, as funções mais importantes do sistema digestivo são:

• Secreção gástrica
• Vómito (emese)
• Motilidade gastrointestinal
• Expulsão de fezes

1.1 SECREÇÃO GÁSTRICA

O estômago secreta cerca de 2,5 litros de suco gástrico por dia. As principais secreções exócrinas são pró-
enzimas, como a pró-renina e o pepsinogénio, elaborados pelas células principais ou pépticas, e o ácido
clorídrico (HCL) e o factor intrínseco secretados pelas células parietais ou oxínticas. As células secretoras de
muco são abundantes entre as células superficiais da mucosa gástrica. Iões de bicarbonato também são
secretados e ficam presos no muco, criando uma barreira protectora como um gel que mantém a superfície
da mucosa num pH entre 6-7 em face de um ambiente muito mais ácido (pH 1-2) na luz. Álcool e bílis
podem romper esta camada. Prostaglandinas “citoprotectoras” produzidas localmente estimulam a
secreção de muco e bicarbonato.

A inibição da secreção ácida divide-se em 3 classes terapêuticas:

• Anticolinérgicos
• Antagonistas dos receptores H2
• Inibidores da bomba de protões

A neutralização do conteúdo gástrico apresenta apenas uma classe terapêutica, os anti-ácidos.

O revestimento da mucosa gástrica divide-se em 4 classes terapêuticas:

• Prostaglandinas
• Misoprostol
• Sucralfato
• Sais de bismuto

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FARMACOLOGIA

1.1.1 ANTICOLINÉRGICOS

Os anticolinérgicos modelam a secreção gástrica através da inervação colinérgica, estando actualmente


ultrapassados, uma vez que, são pouco eficazes e apresentam uma elevada taxa de efeitos adversos. Este
tipo de fármacos é selectivo para os receptores do subtipo M1, sendo utilizado perante úlcera péptica,
gastrites e duodenites.

PIRENZEPINA E TELENZEPINA

• Atravessam com dificuldade a BHE (barreira hematoencefálica), tendo por isso, um efeito central
reduzido
• Não apresenta efeitos sistémicos nas doses terapêuticas utilizadas para inibição da secreção ácida
• A sua absorção oral encontra-se diminuída quando tomados em simultâneo com alimentos

EFEITOS ADVERSOS

• Secura da boca
• Visão enevoada
• Obstipação
• Diarreia
• Cefaleias
• Confusão mental

1.1.2 ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES H 2

Os antagonistas dos receptores H2 da histamina inibem, competitivamente, as acções da histamina em todos


os receptores H2 da histamina nas células gástricas parietais e nos mastócitos do estômago, mas o seu
principal uso clínico é como inibidor da secreção de ácido gástrico. Podem inibir a secreção de ácido
estimulada pela histamina, pela gastrina e pela acetilcolina; a secreção de pepsina também cai com a
redução de volume do suco gástrico. Estes agentes diminuem não só a secreção de ácido, tanto basal como
estimulada por alimentos em 60% ou mais, mas também, segundo inúmeros ensaios clínicos, promovem o
encerramento de úlceras duodenais. No entanto, são prováveis as recidivas depois da suspensão do
tratamento.

FARMACOCINÉTICA

• São rapidamente absorvidos a partir do intestino

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• Apresentam um efeito intenso de 1ª passagem (BD ≈ 50% , à excepção da Nizatidina, que


apresenta uma BD ≈ 100%)
• A semi-vida situa-se entre as 1,1 e as 4h
• A duração da sua acção depende da dose administrada
• Estes fármacos são excretados por um efeito combinado do metabolismo hepático, filtração
glomerular e secreção tubular renal (no idoso há redução da eliminação renal e uma redução
significativa no volume de distribuição)

FARMACODINÂMICA

• Suprimem a secreção ácida basal e estimulada pelos alimentos


• Altamente selectivos para os receptores H2
• Gastrina  activa a libertação de histamina pelos mastócitos, conduzindo a uma estimulação da
secreção de ácido a nível local

REACÇÕES ADVERSAS

Estes fármacos são relativamente seguros, apresentando reacções adversas em cerca de 3% das vezes, das
quais, menos de 1% são reacções graves. Assim sendo, podemos dividir a reacções em:

• Comuns
o Tonturas
o Fadiga
o Rash (alteração da pele que afecta a coloração, aspecto e textura – associada ao prurido,
p.e.)
• Raras
o Cefaleias
o Disfunção hepática
o Alterações sanguíneas
o Bradicardia
o Confusão
o Nefrite intestinal
o Ginecomastia (crescimento das mamas nos homens)

RANITIDINA

• Apresenta maior actividade do que a Cimetidina


• Os anti-ácidos podem diminuir a absorção de ranitidina, por diminuição do seu metabolismo
hepático

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CIMETIDINA

• Usada por via EV na profilaxia da hemorragia gastrointestinal aguda


• Baixa toxicidade
• Inibe o CYP450, retardando o metabolismo de vários fármacos anticoagulantes orais,
antidepressores tricíclicos, diazepam e teofilina
• Os anti-ácidos podem diminuir a absorção da cimetidina

1.1.3 INIBIDORES DA BOMBA DE PROTÕES

O primeiro inibidor da bomba de protões foi o benzimidazol, substituído actualmente pelo omeprazol, que
+ +
inibe irreversivelmente a H /K -ATPase gástrica (bomba de protões), que é a etapa terminal na via secretora
de ácido. Reduzem-se as secreções de ácido gástrico basal e estimuladas por alimentos em 90%,
aumentando o risco de acloridria (ausência de ácido clorídrico no suco gástrico). O fármaco é uma base
fraca, que se acumula no ambiente ácido dos canalículos da célula parietal estimulada, onde é activada
(selectividade), razão pela qual, este apresenta uma grande afinidade para ambiente com pH baixo. Os
inibidores da bomba de protões são pró-fármacos que em circulação atravessam facilmente a membrana
celular.

Diferentes PPI (inibidores da bomba de protões) ligam-se a diferentes locais na bomba de protões, o que
pode justificar a diferença de potência.

Recorrem-se a estes fármacos perante:

• Esofagite de refluxo
• Úlcera péptica
• Dispepsia (não ulcerosa)
• Prevenção de hemorragia na gastrite de stress
• Gastrinoma ou outras situações hipersecretórias

PPIs apresentam maior rapidez no alívio dos sintomas e na cicatrização da úlcera. Após a continuação da
terapêutica, a taxa de cicatrização é semelhante à dos antagonistas dos receptores de H2.

FARMACOCINÉTICA

• Concentram-se e são activados próximo do seu local de acção


• Curto tempo de semi-vida
• Longa duração de acção
• Rápidos efeito de 1ª passagem
• Excreção renal pouco significativa
• Precaução nos doentes hepáticos

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• 3 a 4 dias de medicação para inibição máxima da produção de ácido


• 18h para a produção de nova bomba de protões

INTERACÇÕES

Uma vez que estes fármacos são metabolizados por isoenzimas do CYP450 poderá ocorrer interacções com
outros fármacos metabolizados pelas mesmas.

REACÇÕES ADVERSAS

Estes fármacos são relativamente seguros, apresentando reacções adversas com uma frequência inferior a
1%. As reacções adversas podem ser agrupadas em:

• Comuns
o Diarreia
o Cefaleias
o Náuseas
o Obstipação
o Dor abdominal
o Rash cutâneo
o Tonturas
o Fadiga
• Raras
o Fotossensibilidade
o Angioedema
o Alopécia
o Parastesias
o Confusão
o Mialgia
o Alterações do gosto
o Ginecomastia
o Leucopenia
o Disfunção hepática

OMEPRAZOL

• A inibição da secreção ácida persiste 24h após a administração de uma dose única
• Interacção com varfina e teofilina

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• Não afectado pela presença de alimentos

PANTOPRAZOL

• Não afectado pela presença de alimentos

LANSOPRAZOL

• Administração antes das refeições, já que a presença de alimentos reduz a BD

1.1.4 ANTI-ÁCIDOS

Os anti-ácidos são a mais simples de todas as terapias para tratar os sintomas de secreção excessiva de
ácido gástrico. Neutralizam directamente o ácido, elevando, assim, o pH gástrico; isto também tem o efeito
de inibir a actividade dos enzimas pépticas, que cessa em pH 5. Quando administrados em doses adequadas,
por tempo suficiente, estes fármacos podem encerrar as úlceras duodenais, contudo, a sua eficácia reduz-se
nas úlceras gástricas.

Os anti-ácidos, que são uma base fraca, quando combinados com o ácido clorídrico originam NaCl e água, e
consoante a dose administrada, verificam-se respostas variáveis, nomeadamente, na capacidade de
secreção gástrica (variação individual), na taxa de esvaziamento e na potência do anti-ácido.

Opta-se por administrar este tipo de fármacos, até 1h após a refeição, quando estamos perante uma úlcera
péptica ou sinais de refluxo gastro-esofágico.

INTERACÇÕES

Estes fármacos apresentam interacções com outras categorias de fármacos, razão pela qual, a sua
administração deve ser feita com um intervalo de 2h. Assim sendo, os anti-ácidos podem afectar a absorção
de outros fármacos por:

• Ligação directa ao fármaco: tetraciclinas, anticolinérgicos


• Alteração da solubilidade do fármaco: salicilatos

Os anti-ácidos podem ainda interferir com a excreção urinária.

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BICARBONATO DE SÓDIO

• Liberta elevada quantidade de sódio e de CO2, conduzindo a uma alcalose metabólica


• Neutraliza a acidez gástrica poupando bicarbonato intestinal

HIDRÓXIDO DE ALUMÍNIO

• Provoca obstipação
• Uso frequente
• Toxicidade na insuficiência renal

CARBONATO DE CÁLCIO

• Pode provocar obstipação ou diarreia


• Pode provocar hipercalcemia

HIDRÓXIDO DE MAGNÉSIO

• Provoca diarreia
• Actua rapidamente
• Toxicidade na insuficiência renal

1.1.5 PROSTAGLANDINAS

As prostaglandinas inibem a secreção ácida basal, estimulada pela histamina e pelos alimentos. As
prostaglandinas E1 e E2 têm efeito antisecretor e exercem funções na prevenção de lesões erosivas de AINEs,
aumentando o fluxo sanguíneo da mucosa e estimulando a secreção do muco e bicarbonato.

1.1.6 MISOPROSTOL

• Análogo metilado da prostaglandina E1


• PPIs parecem ser igualmente eficazes
• Administração como rotina não é justificada
• Prevenção de úlceras induzidas pelos AINEs
• Benéfico em doentes com terapêutica crónica (artrite reumatóide)
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• Está contra-indicado em mulheres em idade fértil (efeitos estimulantes da contractilidade uterina)


• Apresenta reacções adversas como:
o Diarreia (dependente da dose)
o Dor abdominal
o Alterações menstruais

1.1.7 SUCRALFATO

• Sal de alumínio do octassulfato de sucrose


• Anti-ácido fraco
• Apresenta efeitos protectores da mucosa, por estimulação da produção de bicarbonato, produção
de muco e estimulação de prostanóides pela mucosa
• Em meio ácido forma gel que adere à superfície ulcerada (protecção física)
• Poderá provocar obstipação e 3 a 5% da dose é absorvida, apresentando, por isso, toxicidade em
terapêuticas prolongadas (IR)

1.1.8 SAIS DE BISMUTO

• O seu mecanismo de acção ainda não foi totalmente esclarecido


• Apresenta propriedades cicatrizantes comparáveis aos antagonistas H2
• É tóxico para H. pylori
• Apresenta reacções adversas como uma coloração escura da língua e das fezes
• Apresenta interacções com as tetraciclinas, diminuindo o seu efeito, por diminuição da absorção

1.2 EMESE

O acto de vomitar é um evento físico que resulta na evacuação forçada do conteúdo gástrico pela boca.
Costuma ser precedida por náuseas (uma sensação de “contracção dolorosa” ou sensação iminente de
vómito) e pode ser acompanhado de ânsias de vómito (contracções repetitivas dos músculos abdominais,
com ou sem efectiva expulsão do vómito). Os vómitos podem ser uma resposta fisiológica valiosa (até salvar
a vida) à ingestão de uma substância tóxica (p.e. álcool), mas também são um efeito colateral indesejável de
muitos fármacos clinicamente úteis, utilizados para quimioterapia, no tratamento do cancro, como opióides,
anestésicos gerais e digoxina (droga utilizada no tratamento de problemas cardíacos). Os vómitos também
ocorrem na cinetose (é uma doença que se caracteriza pela sensação de enjoo ou náusea quando se anda
em qualquer meio de transporte, ou se movimenta o corpo de forma inabitual, perturbando o sistema
vestibular responsável pelo equilíbrio) e durante o inicio da gravidez e acompanham numerosas doenças
(p.e. enxaqueca), bem como infecções bacterianas e virais.

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O mecanismo do vómito resume-se a uma activação do centro de vómito que conduz a um influxo
neuronal proveniente da zona dos quimiorreceptores (CTZ) do TGI:

• Acetilcolina
• Histamina
• Serotonina
• Dopamina

1.2.1 ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES H 1 DA HISTAMINA

• Indicações terapêuticas
o Cinetose
o Vómitos provocados pela presença de substâncias irritantes no estômago
• Desvantagem
o Exercem pouco efeito nas substâncias que actuam na zona dos quimiorreceptores

1.2.2 ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES DA SEROTONINA

• Indicações terapêuticas
o Vómitos provocados pela radioterapia ou pelo uso de citotóxicos
• Vantagem
o Actuam na zona dos quimiorreceptores

1.2.3 ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES DA DOPAMINA

DOMPERIDONA

• Antagonista dos receptores D2 da dopamina, que actuam na zona dos quimiorreceptores


• Actividade procinética  aumenta a motilidade do esófago, estômago e intestino
• Não atravessa a BHE
• Deve ser administrado 15 a 20 min antes da refeição
• O tempo de semi-vida é de 4 a 5h
• É excretado por via renal

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METOCLOPRAMIDA

• Antagonista dos receptores D2 da dopamina centrais


• Actividade procinética  aumenta o tónus do esfíncter esofágico inferior e aumenta a motilidade
do esófago, estômago e intestino
• Deve ser administrado 15 a 20 minutos antes da refeição
• Boa absorção oral
• Tempo de semi-vida é de 4 a 5h
• É excretado por via renal
• Está indicado para emese pós-operatória
• Apresenta reacções adversas como:
o Sonolência
o Tonturas
o Secura da boca
o Espasmos faciais
o Agitação motora
o Secreção de prolactina

2 FÁRMACOS QUE ACTUAM SOBRE A MOTILIDADE GASTROINTESTINAL

Estes fármacos são úteis na obstipação, na paralisia intestinal e nas alterações que surgem a este nível
essencialmente após as cirurgias (ex: íleos paralítico), mas também na preparação intestinal que antecede a
mesma e alguns tipos de exames. Neste grupo estão incluídos fármacos parassimpaticomiméticos, pró-
cinéticos, macrólidos, activadores de cálcio, laxantes e anti-diarreicos. Embora nem todos sejam utilizados
para a alterar a motilidade gástrica, todos têm efeito na mesma.

2.1 PARASSIMPATICOMIMÉTICOS

Estes fármacos estimulam os receptores muscarínicos M3, acelerando o esvaziamento gástrico e intestinal
entre outros efeitos. Os efeitos colinérgicos produzem salivação excessiva, náuseas, vómitos, diarreia e
bradicárdia.

Como exemplo de fármacos que fazem parte deste grupo e têm efeito na motilidade gástrica temos o
betanecol, que tem muitos efeitos colaterais, e a neostigmina, que é um inibidor das acetilcolinesterases.

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Fig. 55 - Acção dos parassimpaticomiméticos

2.2 PRÓ-CINÉTICOS

Estes fármacos são antagonistas dos receptores D2, ou seja, bloqueiam os receptores da Dopamina na
região quimio-receptora, inibindo a estimulação colinergica do músculo liso. Têm um podente efeito anti-
emético e anti-náuseas.

2.2.1 UTILIZAÇÕES CLÍNICAS

• Esofagite de refluxo
• Alterações do esvaziamento gástrico
• Dispépsia não ulcerosa
• Prevenção do vómito
• Estimulação da lactação (pós-parto)

2.2.2 METOCLOPRAMIDA

REACÇÕES ADVERSAS

• Efeitos no SNC
• Inquitação, tonturas, insónias, ansiedade e agitação (em 10-20% dos doentes, em especial nos
idosos)
• Efeitos extrapiramidais
• Discinésia tardia – movimentos repetitivos involuntários (por vezes irreversível)

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• Os níveis elevados de prolactina podem causar galactorreia (produção de leite pelas glândulas
mamárias), ginecomastia, impotência e alterações mentruais

O uso prolongado deste fármaco deve ser evitado.

2.2.3 DOMPERIDONA

FARMACOCINÉTICA

• É muito bem tolerada


• Não ultrapassa a barreira hematoencefálica logo tem menos efeitos ao nível do SNC

2.3 MACRÓLIDOS

2.3.1 ERITROMICINA

É agonista da motilidade, estimulando directamente os receptores no músculo liso gastrointestinal. É


utilisado na gastroparésia e na pseudo-obstrução intestinal.

2.4 ACTIVADORES DOS CANAIS DE CÁLCIO

2.4.1 IUBIPROSTONA

É derivado do ácido prostanóico utilizado no tratamento da obstipação crónica. Ao abrir os canais de Cl-,
este fármaco, promove a produção de líquido para o lúmen intestinal, encurtando o tempo de transito
intestinal. Este fármaco atraza o esvasiamento intestinal, podendo causar náuseas.

2.5 LAXANTES

Estes fármacos facilitam ou estimulam a defecação, e a intensidade da sua acção depende da posologia que
é utilizada.

O uso de laxantes pode justificar-se na preparação de exames endoscópicos, radiológicos, em doentes


cardíacos, com hemorróidas, etc.

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O tratamento da obstipação varia com a sua forma clílina (muitas vezes é iatrogénica) e compreende não só
medicamentos, mas sobretudo regras higieno-dietéticas como o aumento do conteúdo fibroso na
alimentação, a ingestão adequada de líquidos, exercício físico e aquisição de hábitos de evacuação. O uso de
um laxante é uma medida apenas temporária, enquando outras medidas não surtem efeito, no entanto os
laxantes são largamente utilizados como auto-medicação.

2.5.1 LAXANTES EXPANSORES DO VOLUME FECAL

Este grupo de fármacos inclui: a Metilcelulose, Gomas, Farelo, Bassorina, Carboximetilcelulose e preparados
de psílio.

MECANISMOS DE ACÇÃO

Este grupo inclui substâncias que são parcialmente digeríveis. A porção não digerível é hidrofílica (absorve
água) pp que leva a um aumento do volume que estimula o peristaltismo. Podem levar vários dias a actuar
mas não têm efeitos adversos relevantes.

Mimetizam a acção das fibras no organismo.

Fig. 56 - Laxantes expansores do volume fecal

CONTRA-INDICAÇÕES

Doentes com doença inflamatória ou neoplásica: há o risco de oclusão intestinal.

2.5.2 LAXANTES EMOLIENTES OU EMOLECEDORES

Este grupo de fármacos inclui: o Docusato (oral ou enema), a Glicerina (supositórios) e a parafina líquida. É
necessário algum controlo do uso destes fármacos, já que são moléculas gordas e podem condicionar a
absorção de vitaminas lipossolúveis.

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MECANISMOS DE ACÇÃO

Diminuem a consistência das fezes, pois permitem a penetração de água e lípidos (lubrificam as fezes), e
estimulam a distensão do ânus.

Podem ser administrados por via oral ou rectal.

2.5.3 LAXANTES OSMÓTICOS OU SALINOS

Este grupo de fármacos inclui: Leite de magnésia (óxido de magnésio), citrato de magnésio, fosfato de sódio,
sorbitol, manitol, lactulose, PEG (sulfato de sódio, cloreto de sódio, bicabornato de sódio e cloreto de
potássio). Estes fármacos são solúveis mas não são absorvidos.

MECANISMOS DE ACÇÃO

Retêm a água no lúmen intestinal, porque têm propriedades osmóticas, aumentando o fluído fecal, o que
por sua vez aumenta a fluidez das fezes.

Estimulam o movimento intestinal.

Fig. 57 - Laxantes osmóticos ou salinos

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EFEITOS INDESEJÁVEIS

Uma vez que chamam sais e água para o lúmen intestinal, e que estes são eliminados, corre-se o risco de
haver desequilibrios hidroelectrolíticos.

2.5.4 LAXANTES DE CONTACTO

Este grupo de fármacos inclui: Aloe, Sene (Pursenid®), Cáscara Sagrada (Pursenid®), Óleo de Ricínio,
Bisacodil (Dulcolax®)

MECANISMOS DE ACÇÃO

Estimulação directa do SNEntérico (irritação da mucosa), que resulta no aumento do peristaltismo, e da


secreção de fluídos e electrólitos para o cólon.

Fig. 58 - Laxantes de contacto

FARMACOCINÉTICA

• Francamente absorvidos e produzem peristaltismo 6 a 12h após a administração oral ou 2h após


administração rectal.
• Utilização prolongada causa pigmentação castanha característica no cólon (melanosis coli).

2.5.5 LAXANTES AGONISTAS DOS RECEPTORES 5-HT4

MECANISMOS DE ACÇÃO

• Promove o esvaziamento gástrico


• Aumenta o trânsito intestinal mas não tem efeito na motilidade do esófago

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• Aumenta a secreção de Cl- no sólon, aumentando a fluidez das fezes

FARMACOCINÉTICA

• A biodisponibilidade é de 10% se tomado antes das refeições


• Não ultrapassa a barreira hematoencefálica pelo que não afecta os receptores centrais da
seretonina

2.6 ANTI-DIARREICOS

A terapêutica anti-diarreica só deve ser aplicada após diagnóstico etiológico e se a dieta e outras medidas de
suporte, hidratação e correcção das alterações electrolíticas forem insuficientes. Existem numerosas causas
para a diarreia: agentes infecciosos, toxinas, ansiedade, fármacos, etc.

A duração das diarreias infecciosas pode ser prolongada e a incidência de complicações pode ser aumentada
pelo uso de antidiarreicos, uma vez que o uso dos mesmos pode atrasar a eliminação de microorganismos
patogénicos para o organismo.

2.6.1 LOPERAMIDA (IMODIUM ®)

Fármaco opióide que não atravessa a barreira hematoencefálica. Estimula os receptores opióides da parede
do intestino diminuindo o peristaltismo.

Favorece a absorção de água e electrólitos e diminui o volume das fezes.

3 ÁCIDOS BILIARES

3.1 ÁCIDO URSODESOXICÓLICO

Este fármaco é um ácido biliar absorvido por via oral.

• Conjuga-se no fígado com taurina ou glicina.


• Sofre excreção biliar (circulação enteropática).
• Tempo e semi-vida é de 100 horas.
• Se uma racção não conjugada passar para o cólon as bactérias transformam-no em ácido litocólico
que é hepatotóxico.

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UTILIZAÇÃO CLÍNICA

• Diminui a quantidade de colesterol na bílis por diminuir a quantidade de colesterol secretado pelo
fígado
• Dissolução dos cálculos da vesícula biliar formados por colesterol.

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FARMACOTERAPIA DA DIABETES
1. Diabetes
2. Insulinas
3. Antidiabéticos orais

Bibliografia:

RANG, H.P, et al; Rang & Dale Farmacologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

KATZUNG, B. G.; Basic and Clinical Pharmacology. 9th edition. Lange Medical Books: McGraw-Hill, 2004

Autor: Ana Sofia Cristóvão

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1 DIABETES

A insulina é a principal hormona reguladora do metabolismo intermediário, sendo o seu efeito mais óbvio a
redução da glicemia. A secreção reduzida, ou ausente, de insulina, muitas vezes juntamente com a redução
da sensibilidade à sua acção (resistência à insulina), causa o aparecimento da diabetes mellitus.

• DIABETES MELLITUS TIPO 1

A diabetes mellitus tipo 1 é mais rara que a DM tipo2, sendo mais frequente em crianças e
jovens. Neste tipo de diabetes, a genética parece ter um papel determinante, permitindo
aos factores ambientais (provavelmente vírus) desencadear o início da diabetes, pela
estimulação de uma resposta auto-imune.

A diabetes mellitus tipo 1 caracteriza-se por uma produção insuficiente de insulina (ou com
qualidade deficiente). Sendo assim, a abordagem farmacológica feita a esta doença é a
administração de insulina.

• DIABETES MELLITUS TIPO 2

É o tipo de diabetes mais comum, correspondendo a 90% dos casos, sendo mais frequente
na idade adulta. As suas causas são múltiplas, podendo ser devida a uma produção
insuficiente de insulina, bem como a uma resistência das células do organismo à acção da
insulina.

A abordagem terapêutica neste caso é variada, incidindo na dieta alimentar, na actividade


física regular ou, em alguns casos, em fármacos hipoglicemiantes (secretagogos de
insulina, biguanidas, agonistas PPAR/Glitazonas, Inibidores da α-glucosidase ou insulina).

• DIABETES GESTACIONAL

Cerca de 1/20 das grávidas desenvolvem diabetes durante a gravidez, sendo semelhante à
diabetes mellitus tipo 2.

Neste caso, a terapêutica incide sobre a dieta alimentar, um aumento da actividade física ou,
em alguns casos, administração de insulina.

2 INSULINA

A insulina, produzida pelas células beta, é a hormona principal na regulação do metabolismo intermediário,
actuando a nível do metabolismo dos hidratos de carbono (acção principal) e lípidos e influenciando de
forma significativa o metabolismo proteico e electrolítico.

A insulina tem várias acções:

• Facilita a entrada de glicose no músculo, tecido adiposo e vários outros tecidos;


• Estimula o fígado a armazenar glicose sob a forma de glicogénio;
• Inibir a libertação (breakdown) de gordura no tecido adiposo.

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O seu mecanismo de acção consiste, basicamente, na regulação das hormonas hiperglicemiantes e em


manter os níveis de glicemia dentro de valores fisiológicos.

2.1 EFEITO DA INSULINA SOBRE O METABOLISMO DOS HIDRATOS DE CARBONO

A insulina influencia o metabolismo da glicose na maioria dos tecidos, especialmente no fígado, onde inibe a
glicogenólise (degradação do glicogénio) e a glicogénese (síntese de glicose a partir de fontes que não sejam
os hidratos de carbono), enquanto estimula a síntese de glicogénio.

2.2 EFEITO DA INSULINA SOBRE O METABOLISMO DAS GORDURAS

A insulina aumenta a síntese de ácidos graxos e triglicerídeos no tecido adiposo e no fígado. Inibe a lipólise,
em parte através da desfosforilação das lipases. Também inibe as acções lipolíticas da adrenalina, da
hormona do crescimento e do glucagon.

2.3 EFEITO DA INSULINA SOBRE O METABOLISMO PROTEICO

A insulina estimula a captação de aminoácidos pelo músculo e aumenta a síntese de proteínas. Diminui,
também, o catabolismo de proteínas e inibe a oxidação de aminoácidos no fígado.

2.4 DIFERENÇAS

• Inicio de acção (onset)


• Tempo para atingir a concentração máxima (pico)
• Duração de acção
• Não há libertação da insulina para a circulação portal (sem efeito preferencial da insulina no fígado)

2.5 INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS

• Diabetes mellitus tipo 1


• Diabetes mellitus tipo 2, não controlada pela dieta ou por fármacos hipoglicemiantes
• Diabetes pós-pancreatectomia
• Diabetes gestacional
• Coma não-cetósico e hiperosmolar
• Cetoacidose diabética
• Peri-operatório da diabetes tipo 1 e 2

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2.6 ORIGEM

A insulina poderá ter uma origem humana, porcina ou bovina. Dentro da insulina de origem humana temos:

• Biosintética (DNA recombinante)


• Semi-sintética (modificação da insulina porcina)
• Sintética (síntese química total)
• Extracção de pâncreas de cadáveres humanos

2.7 CLASSIFICAÇÃO

Tabela 10 – Classificação das insulinas

Tipos Início de acção (t) Concentação máxima (t) Duração de acção (t)
Rápida 15 min 30 min a 1,5h 3 a 5h
Curta 30 a 60 min 2 a 4h 6 a 8h
Intermédia 1,5h 4 a 8h 18 a 24h
Longa 4 a 8h 20h 30h
Bifásica ou Misturas 30 min 1 a 12h até 24h

2.7.1 INSULINA DE ACÇÃO RÁPIDA

• Análogas da insulina humana com alterações na cadeia de aa (início e duração de acção)


• Pode ser administrada antes da refeição, dando uma grande comodidade ao doente
• Diminui o valor pós-prandial (2h)
• Diminui o risco de hipoglicemia nocturna relativamente às insulinas regulares

2.7.2 INSULINA DE ACÇÃO CURTA

• Aspecto cristalino
• Administração SC ou IV
• Pode ser misturada com insulinas de acção intermédia
• A sua administração tem de ser feita 30 a 60min antes da refeição, o que é uma desvantagem

2.7.3 INSULINA DE ACÇÃO INTERMÉDIA

• Insulina protamina ou em zinco


• Após administração subcutânea, enzimas degradam a protamina ou zinco, permitindo uma
absorção posterior
• Insulina NPH utilizada nas pré-misturas (zinco pode interferir com a acção da insulina rápida)

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• Suspensão de aspecto turvo


• Via SC exclusiva

2.7.4 INSULINA DE ACÇÃO LENTA

• Complexação insulina-zinco
• Via de administração SC
• Utilizada em terapêutica combinada com insulinas rápidas ou de curta duração
• Insulina glargina – duração de 24h

Fig. 59 - Acção dos vários tipos de insulinas

2.8 FARMACOCINÉTICA

Um dos principais problemas ao usar-se insulina, é evitar amplas flutuações da concentração plasmática e,
deste modo, da glicemia.

A absorção da insulina é irregular e depende de diversos factores:

• Local de injecção
o Abdómen (mais elevada)
o Braço
o Glúteo
o Coxa (mais baixa)

• Débito Sanguíneo, que é aumentado com


o Massagem
o Banhos quentes

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o Exercício
o Ortostatismo

• Profundidade da injecção
• Quando administrada pela via IM, a sua absorção é mais rápida

A sua metabolização é feita ao nível hepático, enquanto que a sua excreção é feita ao nível renal.

2.9 REACÇÕES ADVERSAS MEDICAMENTOSAS (RAM’S)

2.9.1 HIPOGLICÉMIA

O principal efeito adverso da utilização da insulina é a hipoglicemia. O tratamento da hipoglicemia consiste


em ingerir qualquer coisa doce ou, caso o doente esteja inconsciente, administrar glicose intravenosa ou
glucagon intramuscular.

Sinais e Sintomas

• 60 a 80mg/dL
o Sudação
o Fome
o Parestesias
o Palpitações
o Tremor
o Ansiedade

• Inferior a 60mg/dL
o Dificuldade de concentração
o Confusão
o Sonolência
o Tonturas
o Visão turva
o Alterações do comportamento
o Alteração da consciência

2.9.2 FENÓMENO DE SOMOGYI

• Diminui com a duração da doença


• Hipoglicemia nocturna com aumento das hormonas contra-reguladoras
o 1º - Glucagina
o 2º - Adrenalina
o 3º - Cortisol, hormona do crescimento
• Sinais e sintomas

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o Durante o sono
Suores nocturnos
Hipotermia
o Pela manhã
Cefaleias
Hiperglicemia

2.9.3 INTERACÇÕES

• Corticóides
• Álcool
• Bloqueadores β
• Diuréticos

2.9.4 LIPO-ATROFIA

A lipoatrofia corresponde a uma atrofia do tecido adiposo no local de injecção da insulina sendo,
provavelmente, uma variante de uma resposta imune à insulina. A lipoatrofia pode causar uma absorção
irregular da insulina, para além de problemas cosméticos.

A insulina deverá ser injectada na periferia dos locais atróficos, de forma a restaurar o tecido adiposo
subcutâneo.

3 ANTIDIABÉTICOS ORAIS

3.1 SULFONILUREIAS

As sulfonilureias foram desenvolvidas após a observação causal de que um derivado de sulfonamida causava
hipoglicemia, sendo um insulinosecretor.

Existem numerosas sulfonilureias:

• 1ª Geração
o Tolbutamida
o Clorpropamida
• 2ªGeração
o Glibenclamida
o Glipizida
o Glicazida
o Gliquidona
o Glimepirida

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3.1.1 MECANISMO DE ACÇÃO

• Aumento da acção da insulina por estimulação das células β do pâncreas


• Estimulação da síntese de transportadores sanguíneos da glucose

3.1.2 INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS

• DM tipo 2, com deficiência de insulina mas com a função das células β-pancreáticas mantida
• DM tipo 2 não controlada com dieta e exercício físico
• 1ª linha no não obeso
• 2ª linha no obeso, juntamente com as biguanidas

3.1.3 EFEITOS METABÓLICOS

• Diminuição da glicemia em jejum


• Diminuição da glicemia pós-prandial
• Diminuição das HbA1c

3.1.4 FARMACOCINÉTICA

• Absorção rápida (atrasada pelos alimentos)


• Forte ligação às proteínas plasmáticas (90%)
• Metabolismo predominantemente hepático
o Salicilatos
o Clofibrato
o Sulfonamidas
o Dicumarol
• Excreção renal ou biliar
• Sulfonilureias de 2ª geração são 100x mais potentes secretagogos da insulina
o Efeito hipoglicemiante máximo não é maior
o T1/2 menor (1,5 a 5h)

3.1.5 CONTRA-INDICAÇÕES

• DM tipo 1
• Gravidez e lactação
• Infecções graves
• Hipersensibilidade ao fármaco
• Predisposição para hipoglicemia

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• Cetoacidose
• Insuficiência renal
• Insuficiência hepática
• AVC
• Doente idoso ou obeso

3.1.6 REACÇÕES ADVERSAS

• Hipoglicemia
• Aumento do peso (efeito anabólico do aumento da insulina)
• Náuseas e vómitos
• Reacções cutâneas
• Fotossensibilidade
• Alterações hepáticas
• Alterações hematológicas

3.2 MEGLITINIDAS

Tal como as sulfonilureias, também as meglitinidas são insulinosecretores.

3.2.1 INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS

• Pode ser administrada em conjunto com a Metformina


• Na DM tipo 2 com deficiência de insulina mas com a função das células β-pancreáticas mantida
• Em situações de tolerância diminuída à glucose
• Particularmente eficaz numa fase precoce da diabetes

3.2.2 EFEITOS METABÓLICOS

• Diminuição da glicemia pós-prandial


• Diminuição das HbA1c
• Não altera o metabolismo dos lípidos

3.2.3 FARMACOCINÉTICA

• A sua absorção é rápida e quase total


• Liga-se extensamente às proteínas plasmáticas

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• O seu metabolismo é feito ao nível hepático


• A sua excreção é feita ao nível renal

3.2.4 CONTRA-INDICAÇÕES

• DM tipo 1
• Gravidez e lactação
• IR, IH severas
• Hipersensibilidade ao fármaco

3.2.5 REACÇÕES ADVERSAS

• Aumento do peso
• Hipoglicemia
• Náuseas e vómitos

3.2.6 PARTICULARIDADES

• Requerem a presença de glucose para exercer a sua acção


• Eficácia semelhante às SFU, mas com acção mais rápida na ligação ao receptor e mais rápida na
reversibilidade da ligação
• A estimulação da secreção da insulina está dependente do valor glicémico
• Comparativamente com as SFU, têm um menor risco hipoglicémico
• Vantagem sobre as SUF quanto a doentes IR

3.3 BIGUANIDAS

As biguanidas (insulinosensibilizadores) reduzem a glicemia através de mecanismos complexos, que ainda


não estão completamente elucidados:

• Aumentam a acção da insulina, ao nível dos tecidos periféricos


• Diminuem a neoglicogénese hepática
• Diminuem a absorção intestinal da glicose

3.3.1 INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS

• Tratamento da hiperglicemia da DM tipo 2, quando não controlada com a dieta e o exercício físico
• 1ª linha na DM tipo 2 no obeso

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3.3.2 EFEITOS METABÓLICOS

• Diminuição da hiperglicemia em jejum


• Diminuição da hiperglicemia pós-prandial
• Interfere no metabolismo dos lípidos
• Diminui os valores de TG, VLDL, LDL sem afectar HDL-C
• Apresenta efeitos benéficos na hemostase (diminui a agregação plaquetária)
• Aumenta a actividade fibrinolítica
• Diminui o peso
• A sua acção não depende da presença de células β funcionais

3.3.3 FARMACOCINÉTICA

• A sua absorção é lenta e incompleta (70%), sendo atrasada pelos alimentos


• Não se fixa às proteínas plasmáticas
• Não é metabolizado
• A sua excreção é feita ao nível renal (por secreção tubular activa) e fecal

3.3.4 CONTRA-INDICAÇÕES

• Situações de hipóxia tecidular (insuficiência respiratória ou circulatória)


o Concomitante com o aumento de lactato
o Risco de acidose láctica!
• DM tipo 1
• Infecções recorrentes
• Gravidez e lactação
• Hipersensibilidade ao fármaco
• Desnutrição grave
• Insuficiência renal
o Acumulação do fármaco
• Insuficiência hepática
o Diminuição da remoção do lactato

3.3.5 REACÇÕES ADVERSAS

As reacções adversas são 10 vezes mais frequentes com Fenformina do que com Metformina.

• Anorexia
• Diarreia
• Naúseas

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• Sabor metálico
• Dor abdominal
• Acidose
• Prurido
• Urticária
• Erupção cutânea

As biguanidas diferem das sulfonilureias por não provocarem hipoglicemia e não aumentarem o peso.

3.3.6 PARTICULARIDADES

• Necessitam da insulina para exercer a sua acção


• Em indivíduos normoglicémicos não se verifica uma diminuição dos níveis de glicemia

3.4 GLITAZONAS

Dentro do grupo das glitazonas (insulinosensibilizadores) encontram-se a troglitazona, pioglitazona e a


roziglitasona.

3.4.1 MECANISMOS DE ACÇÃO

• Antagonismo dos receptores nucleares PPAR-γ


• Aumento da acção da insulina nos tecidos periféricos

3.4.2 INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS

• Na DM tipo 2 com hiperinsulinismo


• Em diabéticos não controlados com dose máxima de metformina ou impedidos de a tomar por
intolerância ou contra-indicação
• Pode ser administrada em conjunto com a metformina ou insulina

3.4.3 EFEITOS METABÓLICOS

• Diminuição da hiperglicemia
• Diminuição da HbA1c
• Diminuição da TG
• Potenciam a sensibilidade dos tecidos alvos à insulina

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3.4.4 FARMACOCINÉTICA

• A sua absorção é rápida


• Liga-se extensamente às proteínas plasmáticas
• Metabolização extensa por hidroxilação e oxidação
• A sua excreção é feita a nível biliar

3.4.5 CONTRA-INDICAÇÕES

• DM tipo 1
• Pessoas com idade inferior a 18 anos
• Gravidez e lactação
• Função renal alterada
• Insuficiência hepática
• Hipersensibilidade ao fármaco

3.4.6 REACÇÕES ADVERSAS

• Aumento do peso
• Cardiomegalia
• Aumento do volume plasmático
• Insuficiência cardíaca (?)
• Risco de carcinogenese (?)

3.4.7 PARTICULARIDADES

• Europa: apenas em associação


• EUA: monoterapia

3.5 ATRASO NA ABSORÇÃO INTESTINAL DOS HC

3.5.1 INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS

• Em monoterapia, em doentes normoglicemicos em jejum, mas com hiperglicemia pp


• Na DM tipo 2 em associação com outros antidiabéticos orais ou insulina

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3.5.2 EFEITOS METABÓLICOS

• Atenua e protege do pico de glicemia pp


• Diminui os picos de insulina pp
• Diminui moderadamente as HbAc1

3.5.3 FARMACOCINÉTICA

• Pouco absorvida
• Fraca ligação às proteínas plasmáticas
• Não metabolizada

3.5.4 CONTRA-INDICAÇÕES

• 1ª linha na DM tipo 1
• Doenças intestinais crónicas
• Gravidez e lactação
• IH e IR
• Hipersensibilidade ao fármaco
• Pessoas com idade inferior a 18 anos

3.5.5 EFEITOS INDESEJÁVEIS

• Aumento das transaminases


• Flatulência
o HC não absorvidos - fermentação pelas bactérias intestinais
• Diarreia
• Desconforto abdominal

3.5.6 PARTICULARIDADES

• Por si só não provocam hipoglicemia


• Não têm acção sobre glucose, lactose e frutose
• Não induz um aumento do peso

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