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Direito Comparado

Método ou ciência?

Weliton Carvalho

Sumário.
1. Caráter científico do Direito. 2. Caracteri-
zação científica do Direito Comparado. 3. Meto-
dologia em Direito Comparado. 4. Conclusões.

1. Caráter científico do Direito


Para se evitar o máximo possível o dog-
matismo e, conseqüentemente, as verdades
inquestionáveis dos axiomas, impõe-se
questionar a adjetivação científica do Direi-
to, considerado em sua totalidade.
Inicialmente, deve-se entender que a
linguagem é o instrumento para a comu-
nicação entre os homens, em seu aspecto
coloquial ou científico. Assim nenhuma
ciência escapa da elaboração de um discur-
so. Michel Miaille (1979, p. 29) apresenta
o alcance do discurso como elemento da
ciência, ao entender que a linguagem se
forma a partir de um corpo de proposições
que, dentro de uma lógica, se reproduzem e
se desenvolvem. Por evidente que a lingua-
gem busca traduzir o empírico em um nível
de elaboração que a comunidade acadêmica
buscou denominar científico.
A ciência, portanto, é um produto
das indagações e soluções elaboradas ao
Weliton Carvalho é Doutor e Mestre em Di-
longo do tempo, com indispensável carga
reito pela Universidade Federal de Pernambuco,
Especialista em Direito Público pela Univer-
empírica. Científico, então, seria toda de-
sidade Católica de Pernambuco, Professor da monstração convincente de um fenômeno,
pós-graduação do Centro Unificado de Ensino para o qual ainda não há paradigma novo a
do Maranhão – CEUMA, Juiz de Direito. questioná-lo. Com essa afirmação, percebe-

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se que nada é definitivo, a priori, no campo Neste sentido, a ciência do Direito deve
científico. Não fosse assim, a física de muito ao esforço de Hans Kelsen (1984, p.
Newton não teria cedido espaço ao gênio 109), ao delimitá-la, claro que em um corte
de Einstein. A demonstração científica, epistemológico, mas de modo peremptório,
portanto, deve superar os denominados nas suas pretensões de criar um sistema de
obstáculos epistemológicos para merecer a lógica pura do normativo como objeto da
mais elevada qualificação do conhecimento ciência do Direito.
humano. Os denominados obstáculos episte- “Na afirmação evidente de que o
mológicos receberam a seguinte considera- objecto da ciência jurídica é o direi-
ção de Michel Miaille (1979, p. 32): to, está contida à afirmação – menos
“Com efeito, não se trata de modo evidente – de que são as normas ju-
nenhum de umas quantas dificulda- rídicas o objecto da ciência jurídica, e
des de ordem psicológica, mas sim de a conduta humana só o é na medida
obstáculos objectivos, reais, ligados em que é determinada nas normas
às condições históricas nas quais a jurídicas como pressuposto ou conse-
investigação científica se efectua. quência, ou – por outras palavras – na
Assim, estes obstáculos são diferentes medida em que constitui conteúdo de
segundo as disciplinas e as épocas, normas jurídicas.”
pois testemunham, em cada uma Hans Kelsen (1984, p. 118) ainda classifi-
das hipóteses, condições específicas cou a ciência do Direito como normativa para
do desenvolvimento da investigação diferenciá-la das ciências causais. Evidente
científica”. que é possível se abrir uma crítica a Hans
Dentro desse panorama, um determina- Kelsen, não por ter delimitado com precisão
do conhecimento científico só se concretiza singular o substrato em que o conhecimento
quando transpõe os denominados obstácu- jurídico seria peculiar, mas por tentar isolar
los epistemológicos e só se mantém de pé ao a norma em uma bolha de plástico, como se
resistir a novos paradigmas que o colocam à esta não necessitasse de um olhar de cunho
prova. Mesmo aquelas verdades absolutas sociológico e filosófico. De modo empírico
denominadas axiomas não estão imunes de se pode afirmar que nenhum legislador nem
serem superadas pela pesquisa científica. qualquer operador do Direito pode ser in-
Em análise radical, todo o saber humano sensível à sociedade para a qual se destina o
é temporal, com exceção das chamadas comando normativo, nem lhe pode deixar de
verdades reveladas, como é essencialmente reconhecer o valor que catalisou a existência
a teologia, particularmente com relação a do dispositivo jurídico.
fé, e na qual, curiosamente, nasceu o fun- A partir da delimitação do objeto do Di-
damento do Direito. reito e das possíveis generalizações episte-
Em princípio o Direito sofreu durante mológicas em torno de sua fundamentação,
longo tempo de uma crise de identidade, lembra A. L. Machado Neto (1969, p. 19-20)
pois o seu objeto variava da teologia à que os argumentos de Kirchmann, um dos
filosofia, de um modo ou de outro se lo- mais famosos negadores da ciência do Di-
calizando no conhecimento metafísico. Há reito, caiu por terra. Principalmente quando
autores que não reconhecem um caráter se percebe que a dinâmica epistemológica
científico ao Direito: exemplifique-se com deixou de ser objeto exclusivo das ciências
Tércio Sampaio Ferraz (1973, p. 160). Tal naturais, pois se refutava o Direito como
corrente de pensamento reserva ao Direito ciência devido ao seu caráter instável, posto
um substrato de ordem técnica ou de arte, que fenômeno histórico.
considerando-lhe parte da sociologia, da O Direito, portanto, merece o caráter
história e mesmo da etnologia. científico, porque detém um objeto especí-

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fico. Aliás, muito a propósito lembra a esse obstante, deve-se perceber que objeto é o
respeito André Franco Montoro (1991, p. substrato no qual incide a observação do
95). Evidente que não é apenas a existência pesquisador; método é tão-somente o ins-
do objeto que caracteriza a ciência, mas a trumento de que se vale o estudioso para
maneira como este é investigado. Assim verificar o substrato por ele eleito. Ademais,
o Direito é ciência porque, além de deter o trabalho do comparativista não se esgota
um objeto determinado para suas consi- num mero método de comparação, posto
derações, o jurista elabora sua investigação que, para entender cada um dos ordena-
com rigor técnico ditado pela lógica sedi- mentos jurídicos estudados, precisará lan-
mentada na experiência exposta aos novos çar mão de outros instrumentos de cultura
paradigmas. para cotejar com segurança o substrato sob
análise.
A confusão entre objeto e método
2. Caracterização científica
tornou-se uma armadilha perigosa capaz
do Direito Comparado de surpreender as mais autorizadas inteli-
O Direito Comparado trabalha sobre gências. Mesmo aqueles juristas que conse-
o mesmo substrato, e não poderia ser guem vislumbrar com lucidez a diferença
diferente, do fenômeno jurídico generica- entre objeto e método em sede de Direito
mente considerado: o conjunto de normas Comparado não conseguem escapar da
postas. Apesar dessa constatação, o caráter armadilha terminológica. Felipe de Sola
científico do Direito Comparado continua Cañizares (1954, p. 104) não escapa a essa
a merecer vacilações por parte dos estudio- armadilha, porque, ao escrever que “lo
sos. Neste sentido H. C. Gutteridge (1954, objeto de la comparación son dos o más
p. 14) afirma que a definição do Direito sistemas jurídicos”, parece estar seguro do
Comparado encontra-se interligada com a substrato sobre o qual repousa o Direito
questão de se saber se essa nova realidade Comparado. No entanto, quando deveria
pode ser considerada uma ciência. evoluir para reconhecer a cientificidade
Em verdade a grande questão para do Direito Comparado, surpreende com
essa celeuma encontra-se na confusão esta passagem:
realizada a partir da própria terminologia “Si la esencia del derecho comparado
deste ângulo da ciência jurídica: Direito es la ‘comparación’, de ello se deduce
Comparado. A rigor, não se vislumbra que se trata de um método aplicado a
outra designação melhor para essa faceta las ciencias jurídicas. La idea de que
do conhecimento jurídico, mas sabe-se el derecho comparado es un método,
que a melhor expressão foi cunhada pelos apuntada entre otros por De Francis-
autores germânicos que perceberam no ci, Messino y Kaden, ha sido brillan-
termo Comparação de Direitos a verdadeira temente desarrollada por Gutteridge,
mensagem deste pathos da ciência. Não se seguido, especialmente, por David,
deve negar, por outro lado, que essa termi- y parece que es la idea que tiende a
nologia alemã ratifica o caráter de método imponerse, porque es la única que
que muitos juristas querem atribuir ao permite formular una noción del
Direito Comparado. derecho comparado compatible con
No cerne da questão, encontra-se distin- todas las finalidades y aplicaciones.”
guir objeto de método. Evidente que não (SOLA CAÑIZARES, 1954, p. 100)
é tarefa das mais fáceis. Tércio Sampaio Cláudio Souto (1956, p. 118), partindo
Ferraz Júnior (1973, p. 32) afirma que as da própria terminologia, escreveu um
modernas contendas a propósito da ciência ensaio para demonstrar a inexistência
encontram-se ligadas à metodologia. Não científica dessa especialidade jurídica,

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pois seria “incoerência em tal orientação, objeto determinado, um método específico
o manter, o denominar Direito Comparado e prevalente, princípios organizados na lite-
para referência àquilo que se considera sim- ratura jurídica em vários países do mundo
plesmente um método”. Mais moderado e, finalmente, detém autonomia didática.
mostrou-se José Nicolau dos Santos (1955, Não se pode reclamar do Direito Com-
p. 349) ao ventilar a hipótese de ser o Direito parado a ausência da autonomia legislativa,
Comparado uma ciência auxiliar. pois, como lembra Ivo Dantas (2000, p. 60),
Se entre aqueles que negam cientificida- esta lhe é estranha como objeto. Ademais
de ao Direito Comparado encontram-se in- deve-se registrar que, além da compara-
teligências brilhantes, há uma corrente não ção entre ordens jurídicas, não se utiliza
menos notável de juristas reconhecendo o o Direito Comparado de quaisquer outros
caráter científico ao Direito Comparado. instrumentos estranhos ao cotidiano dos
Naojiro Sujiyama (1941, p. 61) atribui juristas.
caráter científico ao Direito Comparado,
de modo sucinto: “El Derecho comparado
3. Metodologia em Direito Comparado
como tiene por factor esencial la compro-
bación positiva, posee propriamente el Não há ciência sem método, porque o
carácter científico”. conhecimento epistemológico reclama rigor
Em língua portuguesa, Carlos Ferreira e técnica. É verdade que o método é variável
de Almeida (1988, p. 31), da Universidade de acordo com o próprio substrato traba-
Nova de Lisboa, ao constatar a existência do lhado pelo estudioso. Aliás, René Descartes
objeto e de um método específico no âmbi- (1973, p. 38) deixou assentado que “o meu
to do Direito Comparado, lança um olhar desígnio não é ensinar aqui o método que
lúcido sobre essa querela, nesta passagem: cada qual deve seguir para bem conduzir
“Por isso, concluímos (com Zweigert) que o sua razão, mas apenas mostrar de que ma-
direito comparado é uma ciência autónoma, neira me esforcei por conduzir a minha”.
que se subdivide em dois ramos ou verten- Em certos momentos da pesquisa cien-
tes complementares – a macrocomparação tífica, o método atinge uma importância
e a microcomparação”. quase igual à própria ciência a que serve.
Fernando Bronze (1976, p. 378-379), da Cabível lembrar que a divergência do pró-
Faculdade de Direito de Coimbra, entende prio termo ciência guarda estreita relação
que o método comparatístico é instrumental com a metodologia. O Direito Comparado
em relação à ciência do Direito Comparado, talvez seja um dos raros exemplos em que
notando que a metodologia simplesmente ocorra uma hipertrofia do método diante
fornece os dados ao comparativista, os do objeto estudado.
quais serão seriados, catalogados e classifi- Acostumou-se em Direito ter o jurista
cados coerentemente pela ciência do Direito de praticar vários métodos na análise do
Comparado. ordenamento. Em sede de hermenêutica,
No Brasil, Caio Mário da Silva Pereira variados são os instrumentos com os quais
(1952, p. 44) igualmente concorda com a o estudioso trabalha. No âmbito do Direito
autonomia científica do Direito Compa- Comparado, todos os métodos utilizados
rado, vez que este se utiliza do método pelo estudioso são subsídios para a com-
comparativo, mas não se esgota nele. paração. Ninguém seria ingênuo ao ponto
Na medida em que se vislumbra o con- de afirmar que o Direito Comparado, ao
ceito de método, de ciência e de autonomia, desenvolver o seu mister, utilizar-se-ia
não se pode querer restringir o Direito tão-somente do método comparativo. Para
Comparado à mera qualificação instrumen- compreender um determinado ordenamen-
tal. Vai ele muito além, posto possuir um to jurídico, o pesquisador necessariamente

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deverá munir-se inclusive de instrumentos acadêmicas para indagar da praticidade
metajurídicos. de suas pesquisas.
Como bem lembra Naojiro Sujiyama A formação de cada jurista terá impli-
(1941, p. 817-827), os estudiosos guardam cação direta no desenvolvimento de suas
em simultaneidade a tendência teórica e o pesquisas comparativas. Em situação de
viés prático da pesquisa em Direito Com- antagonismo, encontram-se os juristas
parado. A primeira corrente preocupa-se adeptos do positivismo puro e aqueles for-
em investigar o fundamento teórico dos mados pela visão do livre arbítrio.
ordenamentos postos para investigação; a Naojiro Sujiyama (1941, p. 56-57) chega
segunda, trabalha com a realidade presente a afirmar de modo cristalino que o estudio-
e com os métodos práticos para desvendar so do Direito Comparado está envolvido
as semelhanças e diferenças entre os orde- na mescla do social, do político, da vida
namentos estudados. enfim.
A rigor, o que existe é uma predomi- “No hay ningún Derecho compara-
nância na postura do jurista comparatista, do que no exija una comprobación
vez que ninguém é eminentemente prático positiva comparativa y sistemática,
sem teoria e não há teoria que não se con- que consiste, en suma, en investigar
duza pela via mais prática. De todo modo la substancia del derecho viviente,
a persecução dos objetivos, em regra, em para observar los efectos que derivan
Direito Comparado, tem conotação prática, de ella y las circunstancias sociales
pois a ela servem. que se encuentran detrás del derecho
Ao problematizar sobre a cientificidade viviente”.
ou não do Direito Comparado e a própria Demonstra-se, assim, mais uma vez, que
utilização do método, Felipe de Solá Cañi- não há método capaz de neutralizar a ciên-
zares (1954, p. 101) lança mão do pragma- cia, mormente aquelas ditas sociais, como é
tismo para encerrar a contenda em torno o Direito, vez que aqui o estudioso leva para
da cientificidade do Direito Comparado, suas análises toda a carga ideológica que ad-
nesta passagem: quiriu ao longo de sua formação intelectual
“Pero se el derecho comparado es e de vida como ser pensante do seu tempo.
un método, se plantea entonces, com Torna-se previsível que o jurista de
mayor motivo, la cuestión de saber formação positiva pura terá uma postura
se el derecho comparado es o no una meramente formal diante dos ordenamen-
ciencia. En realidad, es preciso saber, tos estudados, ao passo que o estudioso de
previamente, la exacta significación formação mais livre dará uma concepção
de los vocablos ‘ciencia’ y ‘método’, y mais valorativa e facilmente estabelecerá
Gutteridge, aludiendo a la vaguedad um ideal destinado a fomentar uma política
de tales expresiones, cita un estudio jurídica, que pode ser até de fundo legislati-
titulado Método de la ciencia jurí- vo. Não obstante é preciso que se diga que
dica y un libro sobre La ciencia del ambas as escolas têm sua importância para
método científico. No creemos que la o desenvolvimento da ciência jurídica.
cuestión tenga una gran importancia Em sede de metodologia de Direito
práctica”. Comparado, o que verdadeiramente se
Nota-se que Felipe de Solá Cañizares pode afirmar, nos dias que correm, é que os
começa por discutir a matéria em nível comparatistas cada vez mais se aperfeiço-
científico e termina por abandoná-la, por am nos métodos interpretativos compara-
não vislumbrar um efeito prático nessa dos, utilizando-se dos métodos legislativos
contenda. Tal qual a postura do jurista, como subsídios. De modo profundamente
outros estudiosos abandonam discussões didático, Carlos Ferreira de Almeida (1988,

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p. 19-30) nos oferece um roteiro prático e Finalmente a quarta e última regra dessa
lúcido para quem deseja iniciar pesquisa etapa exige que o comparatista busque en-
no âmbito do Direito Comparado, ao es- contrar a compreensão do instituto, norma,
clarecer que a metodologia aplicada na ou sistema estudados e a efetiva aplicabili-
seara do Direito Comparado dependerá da dade destes no contexto social.
dimensão desejada. Variando, portanto, a A fase de compreensão ou integrativa
metodologia consoante se trate de macro destina-se à análise crítica do jurista que
ou microcomparação. Esclarece, ainda, o estabelecerá semelhanças e diferenças en-
jurista lusitano que, entre a macro e a micro- tre os parâmetros escolhidos no momento
comparação, há elementos convergentes. imediatamente anterior da pesquisa.
Como se torna inviável, neste espaço, o Na última fase, exatamente denomina-
aprofundamento de cada espécie de com- da comparação ou síntese comparativa, o
paração (macro ou micro) limita o estudo jurista explicará o porquê das semelhanças
aos momentos comuns a qualquer emprei- e diferenças encontradas em sua pesquisa,
tada em sede de Direito Comparado, que expondo todos os dados apurados duran-
se divide em três fases: conhecimento (fase te sua análise, devendo apresentar suas
analítica), compreensão (fase integrativa) e conclusões.
comparação (síntese comparativa).
Em síntese apertada, a fase de conheci-
4. Conclusões
mento (analítica) corresponde à delimitação
do campo de atuação do jurista compara- 1. O Direito é dotado de caráter cientí-
tista. Significa que escolherá parâmetros fico, posto que seu discurso é formulado
sobre os quais vai trabalhar. Nessa primeira de proposições lógicas, as quais regem
fase, 4 (quatro) regras são denominadas de seu desenvolvimento e se expõe a novos
ouro e podem ser enumeradas da seguinte paradigmas.
forma: 1a) utilizar as fontes originárias; 2a) 2. O Direito Comparado assume a pos-
proceder à análise de acordo com a comple- tura científica por ser dotado de um objeto,
xidade das fontes aplicáveis; 3a) usar o mé- de método próprio, além de autonomia
todo próprio da respectiva ordem jurídica; literária e didática.
e 4a) procurar conhecer o direito vivo. 3. A metodologia em Direito cada vez
No primeiro pré-requisito dessa fase, mais recepciona elementos metajurídicos,
faz-se imperativo o conhecimento da língua por uma imposição holística da ciência
em que estão escritos os ordenamentos jurí- contemporânea.
dicos estudados. E aqui cabe a ressalva de 4. O método comparativo é apenas uma
que é imprescindível o domínio dos termos das ferramentas do Direito Comparado não
jurídicos na língua original. comprometendo seu caráter científico, até
A segunda regra reclama do compara- porque, nessa seara do fenômeno jurídico,
tista uma pesquisa minuciosa a propósito o estudioso se vale de outros instrumentos
da jurisprudência e da literatura jurídica co- inseridos no cotidiano dos operadores do
mentadora do ordenamento pesquisado. Direito considerado na sua generalidade.
O terceiro requisito da primeira fase 5. Seguramente é no âmbito do Direito
impõe ao estudioso uma afinidade com os Comparado que a cientificidade do fe-
princípios peculiares que elegeram a ordem nômeno jurídico experimenta sua prova
jurídica estudada. Nesse particular toda cabal, na medida em que qualquer detalhe
cautela é recomendada, porque conhecer os despercebido pode ocasionar o compro-
meandros de uma ordem jurídica alieníge- metimento do estudo formulado entre as
na não é tarefa jurídica das mais fáceis. ordens normativas cotejadas.

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