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Antropologia: Cultura e Sistema simbólico - Unidade 4 - Métodos e Técnicas de Pesquisa

Antropológica

Antropologia:
Cultura e Sistema
Simbólico

Unidade Nº 4 - Métodos e Técnicas de


Pesquisa Antropológica

Daniel Ferreira Gonçalves de Oliveira


Antropologia: Cultura e Sistema simbólico - Unidade 4 - Métodos e Técnicas de Pesquisa
Antropológica

Introdução
A presente unidade visa fazer uma reflexão acerca de alguns elementos
constitutivos da prática da pesquisa no campo das ciências sociais, buscando
apresentar algumas questões referentes a posição do pesquisador, suas
escolhas e consequentes reflexos destas no seu trabalho. Além disso, iremos
compreender as audiências específicas e amplas pelas quais a pesquisa
pretende ser apresentada enquanto trabalho acadêmico. Veremos os meios
pelos quais as ciências sociais se valem para a concretização da pesquisa
científica, observando as escolhas temáticas, epistemológicas e metodológicas
inerentes a sua prática cotidiana, vinculadas a alguns desafios a serem
superados pelos que desejam se inserir nesse mundo da pesquisa.

As ciências sociais - responsáveis por tentar explicar fenômenos relativos


ao complexo das ações, relações e fatos provenientes dos seres humanos -
devem ser vistas como esforços que buscam profundidade de análise e
compreensão sistêmica, tentando por seus métodos refletir a própria
multiplicidade das questões humanas e de suas sociedades.

Muito se discute a respeito do grau de cientificidade que esse campo


possui ou deveriam possuir, se questiona basicamente a capacidade que elas
teriam de produzir um conhecimento nos moldes das ciências exatas e naturais,
que conseguem em grande medida promover experimentos controlados, testes
de verificação e isolamento dos fenômenos, além da chamada neutralidade do
pesquisador em relação ao objeto pesquisado.

De fato, estudar e pesquisar no campo das ciências sociais é algo


complexo, na mesma medida que os próprios indivíduos a serem pesquisados,
principalmente porque há um agravante, o cientista social também é um ser
humano e compartilha da mesma humanidade complexa do seu objeto de
estudo. Evidentemente que por esse fato, mais que comprovado, não se pode
descartar a importância dessas ciências e sua cientificidade em meio ao
ambiente acadêmico.
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Para que uma ciência seja admita no meio acadêmico ela necessita de
três características básicas: objeto de estudo, teorias e métodos. Para além
disso, vale destacar que a ciência humana e social, mais especificamente se
referindo a Antropologia, possuem objetos dos mais diversos, sempre ligados a
ações, interações, representações, culturas e sociedades humanas, que podem
ser analisadas por diversas teorias que dão conta sempre de um aspecto
particular de cada realidade social a ser estudada. Possuem, ainda, diferentes
métodos de pesquisa classificados em três grandes blocos: métodos
quantitativos, qualitativos e comparativos.

Ainda, temos que levar em consideração um aspecto muito importante e


que torna as pesquisas legítima no campo acadêmico e científico, a audiência.
Esta por sua vez é responsável por discutir e aprofundar os estudos
desenvolvidos nas ciências sociais. Toda ciência possui uma audiência específica,
que pode ser bem restrita, diversificada ou ampla.

1. Questões éticas envolvidas na produção de


pesquisas antropológicas
Uma questão que necessita ser discutida antes de iniciar qualquer
pesquisa antropológica é a questão da ética profissional do pesquisador
envolvido. Pensar a dimensão ética é tomar uma série de cuidados extras na
hora de iniciar pesquisas que envolvam seres humanos, principalmente pelo
fato de lidarmos com grupos sociais, que possuem regras, normas e valores
próprios e precisam acima de tudo serem respeitados.

É necessário pensar em questões básicas, como formas de adquirir o


consentimento informado, possibilidade de passar por comitês de ética,
autorização de instituições com a finalidade de pesquisar arquivos ou
documentos, enfim uma série de procedimentos capazes de nortear nossa
inserção dentro dos espaços que se encontram nosso objeto de estudo.

Você sabia? De acordo com a Resolução nº 466/12 e a Resolução n. 510/16, “toda


pesquisa envolvendo seres humanos deve ser submetida à apreciação de um
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Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)”, de forma que, caso receba sua aprovação,
possa ser iniciada em seguida a coleta de dados, conforme prevê a resolução.

Todo o processo é realizado pela Plataforma Brasil, ferramenta digital, vinculada


a CONEP, que é a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, ligada ao Conselho
Nacional de Saúde, que tem por objetivo fazer a avaliação ética de pesquisas
envolvendo direta ou indiretamente seres humanos.

Existem Comitês de Ética locais em praticamente todas as instituições que


promovem pesquisa no Brasil.

É hoje o maior sistema de controle ético em pesquisa do mundo.

Para maiores informações consulte as Resoluções citadas anteriormente e


acesse o site da CONEP:
<http://conselho.saude.gov.br/comissao/conep/atribuicoes.html>.

Oliveira nos apresenta uma problemática, que se apresenta como


importante e necessária a todo o fazer etnográfico, principalmente com relação
ao antropólogo que lance mão desse tipo de pesquisa:

(...) os problemas ético-morais do antropólogo podem ser


particularmente dramáticos em dois momentos: a) quando da
negociação da identidade do pesquisador em campo, o que pode
ser bastante complicado; e b) no momento da divulgação dos
resultados da pesquisa, quando o antropólogo não pode se
abster da responsabilidade sobre o conteúdo do material
publicado, assim como sobre as implicações previsíveis de sua
divulgação (OLIVEIRA, 2004, p. 35-36).

Dessa forma devemos ter presentes as questões éticas não apenas no


momento de formulação do projeto, mas em toda a extensão da pesquisa. Isso
é centralmente importante ao se pensar a divulgação, onde devemos ainda
passar por uma série de cuidados, principalmente no tocante aos nomes dos
informantes, os entrevistados e pessoas direta ou indiretamente envolvidos na
pesquisa e seus respectivos discursos.

Como Tornquist (2003) nos explica tão bem: “O encontro etnográfico é


sempre complexo, intransferível, incerto, tenso e instável”, bem como, “um
encontro entre pessoas, premeditado, de um lado, e espontâneo, de outro”. Isso
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nos mostra a complexidade dessa prática, principalmente quando estamos nos


referindo a uma postura ética em campo por parte do pesquisador, que apesar
de fazer um grande esforço na tentativa de prever suas ações, jamais conseguirá
prever com exatidão de quais formas seus informantes e grupos estudados se
comportarão.

Devemos encarar que a visão do antropólogo é sempre parcial, não no


sentido de parcialidade subjetiva, mas no sentido de provisório ou incompleto,
assim como todo e qualquer entendimento do ser humano. Se quisermos
conhecer a identidade médica, através de um estudo antropológico, tal estudo
só irá nos responder a questões próprias da realidade a ser estudada, o que
implica pensarmos, que não devemos e não podemos nunca nos colocar na
posição de conhecedores da totalidade.

Tal discussão se faz presente na medida em que, exemplos de


antropólogos que quebraram com preceitos éticos ao promoverem etnografias
clássicas, brilhantes e ricas em informações, mas com finalidades duvidosas. O
saber etnográfico é rico e cheio de qualidades científicas, um verdadeiro
instrumento benéfico a ciência quando utilizado de forma correta e responsável.

Há uma dificuldade imensa de se discutir ainda questões éticas


envolvendo principalmente o campo das ciências humanas, porque os comitês
de ética e pesquisa ainda são baseados em preceitos da bioética voltada para
pesquisas ligadas a seres humanos no campo da saúde. Entretanto muitas
ciências da saúde começaram se utilizar da etnografia, por exemplo, para
desenvolver seus estudos.

1.1. Exemplos de trabalhos na antropologia com dilemas éticos

A antropologia é marcada por alguns exemplos traumáticos. Como se vê


no momento de início da formação dessa ciência, com estudos como o de Evans
Pritchard (1993) sobre os “Nuer”, que desenvolveu o que podemos chamar de
uma antropologia colonizadora. Sua pesquisa é financiada pelo governo Inglês
em plena época de conquistas imperiais por parte da Europa. Temos também o
caso de Ruth Benedict (2002) que empreendeu um verdadeiro trabalho de
espionagem antropológica em sua obra “O Crisântemo e a Espada”. Nas
nuances dessa obra, observa-se questões antiéticas que o envolvem, como o
fato de ter sido encomendado pelo órgão de inteligência norte-americano na
época conhecido como OSS, e hoje se chama CIA.
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O trabalho de Benedict (2002) é uma etnografia sobre os japoneses, sem


sequer a autora ter ido ao Japão, sua obra é rica em detalhes etnográficos sobre
a cultura japonesa, até então pouco conhecida pela comunidade mundial, que
só veio a ter ideia do que seria esse país após a segunda guerra mundial.

É um trabalho etnográfico com características de um relatório de


espionagem, em que além de ter análises de dados sobre costumes, crenças e
hábitos dos japoneses, também apresenta recomendações sobre maneiras do
governo americano lidar com os japoneses numa tentativa de intervenção pós-
guerra, de modo a não ser mais traumático do que já haviam sido os combates
durante a guerra entre EUA e Japão.

O fazer etnográfico precisa ser permeado por um processo reflexivo que


não pode estar a serviço de interesses espúrios, sua finalidade precisa ser
eminentemente acadêmica e comprometida com o respeito aos fatos e acima
de tudo do respeito aos outros e seus costumes.

Figura 1 - CONEP. Fonte: CNS.

2. Caminhos Metodológicos
Ao fazermos pesquisa, observamos os fenômenos, colhemos
informações, lidamos com as novidades e diversidades. Ao nos darmos conta
que não devemos adequar nossos fatos e observações à teoria, e sim ampliar o
conhecimento trazendo novas informações sobre os fenômenos. Como nos
apresenta Alberti (2005), qualquer tema pode ser investigado se for
contemporâneo, como no nosso caso específico, vamos investigar sobre a
cultura e a política que faz parte de um processo dinâmico e nos permite uma
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análise da própria história política no Brasil e as transformações e algumas


possíveis resistências que vivemos até hoje.

Nós construímos uma relação com nosso objeto de estudo. Somos


sujeitos, que nos separamos por sermos pesquisadores e pesquisado. Nosso
objeto está constantemente sendo construído e apresentando novas
possibilidades de investigação, pois lidamos com processos que são culturais e,
ao mesmo tempo, dinâmicos. O que nos tornam pessoas que não podem se
conformar com o que é falado e demonstrado, temos que desnaturalizar as
falas dos eleitores para que nossas reflexões sobre nossas hipóteses e objetivos
tornem possível a pesquisa. Assim nos informa, Queiróz:

O pesquisador é guiado por seu próprio interesse ao procurar


um narrador, pois pretende conhecer mais de perto, ou então
esclarecer algo que o preocupa; o narrador, por sua vez, quer
transmitir sua experiência, que considera digna de ser
conservada e, ao fazê-lo, segue o pendor de sua própria
valorização, independentemente de qualquer desejo de auxiliar o
pesquisador. (QUEIRÓZ, 1988, p. 18)

Importante entender que para algumas situações temos que usar diferentes
tipos de fontes, para além dos meios clássicos concernentes à academia. Muitas
vezes nossos informantes não querem falar sobre o que sugerimos no roteiro
de entrevista. Nós sabemos o queremos ao realizar uma entrevista, buscar
possíveis respostas para questões que nos perseguem durante a pesquisa,
entretanto, o informante pode nos passar aquilo que deseja informar, e não
propriamente o que estamos buscando, mesmo que nos esforçamos para
orientar o informante a falar sobre o tema, conforme Queiróz. É nessas
situações que podemos encontrar informes que vão além das palavras. Um
gesto, um olhar, uma respiração profunda, o silêncio refletem momentos que
também devem ser considerados pelo pesquisador. Nesse caminho, Augras nos
informa:

A pessoa que entrevistamos é ao mesmo tempo produto e


produtora de toda uma rede em torna dela, e mesmo que o
nosso objetivo de pesquisa seja apenas investigar um aspecto,
toda essa rede de tensões e representações da realidade está
presente, e vai atuar na dinâmica da entrevista (AUGRAS, 1997, p.
30).
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Mesmo apresentando uma contradição, uma confusão, isso não quer


dizer que aquilo que o informante nos diz não seja verdade. É apenas uma
percepção de sua realidade que não podemos desconsiderar. E para
complementar essa relação entre pesquisador e pesquisado, tomamos a
contribuição de Alberti (2004) que nos diz “o que fascina numa entrevista é a
possibilidade de tornar a vivenciar as experiências do outro, a que se tem
acesso sabendo compreender as expressões de sua vivência.” (ALBERTI, 2004, p.
18-19).

Gilberto Velho apresenta que o envolvimento com o objeto de estudo não


torna o trabalho do pesquisador imperfeito. O esforço é ter um olhar
diferenciado, observar certos detalhes que aqueles que fazem parte do
processo não percebem. Ao observar o que nos é familiar traz na pesquisa uma
reflexão mais profunda do nosso objeto. O que Roberto da Matta já indicava ao
colocar que devemos transformar o “exótico em familiar e o familiar em exótico”
não é uma tarefa simples que vamos aprender em manuais, é na pesquisa que
encaramos de fato esse exercício complexo de observar, interpretar e escrever,
seja o que está mais próximo ou distante de nossa experiência. Neuma Aguiar
relata sua experiência etnográfica como esforço em se situar na pesquisa e
questionar a própria vivência e comportamento, e mesmo as técnicas de
pesquisa, ao estudar o que é familiar.

Percebemos que existem modos diferentes de realizar pesquisa de


campo. Não podemos deixar de notar que Antropologia teve que enfrentar
questões no exercício de pesquisa. Desde as investidas de Malinowski ao
estudar sobre os nativos das Ilhas Trobriands, a Antropologia se faz no outro. Só
conseguimos entender uma cultura a partir da observação participante e
trabalho de campo. Malinowski dedicou parte de seu tempo morando entre os
nativos, percebendo a rotina e eventos para poder interpretar os grupos sociais.
Foi assim que a partir do Kula que o autor percebeu que não era somente uma
troca entre objetos. Ali se concentrava relações de poder, alianças, ritos e
tradições que revelavam como o grupo percebia o mundo e o vivenciava.

E não poderíamos deixar de trazer Geertz ao falar sobre o trabalho em


Antropologia. O autor realizou o esforço de apresentar que nós como
pesquisadores fazendo interpretações de segunda, terceira mão. Estamos
falando do outro, daquele que vivencia a cultura e que relata o que pensa sobre
ela. É o outro que vai nos informar sobre como se constroem as relações sociais,
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como se vivencia os ritos e atividades, como a Briga de Galo. E que são nesses
aspectos culturais que podemos interpretar os grupos sociais.

Nós estudamos o Outro, que pode estar presente na mesma sociedade


que o pesquisador, até porque nós também fazemos parte do campo, ao relatar
e interpretar a experiência humana estamos refletindo sobre nós mesmos.
Nesse aspecto, a etnografia não deve ser encarada como um manual, ou uma
técnica de pesquisa, é mais um exercício de reflexão que todo pesquisador em
Antropologia pode realizar ao se inserir no campo e, posteriormente, no esforço
da escrita ao analisar os dados coletados em campo. A etnografia atua
enfatizando a observação de um fenômeno social particular, de utilizarmos
técnicas de pesquisa, como entrevistas que tornem nossa pesquisa mais
detalhada e termos condições de realizar uma análise do discurso dos
informantes, e, portanto, interpretar os significado e experiências sociais.

Quando pretendemos realizar uma pesquisa devemos deixar claro qual o


método que irá nos guiar durante a investigação. Sabemos que a teoria nos
oferece um caminho, nos oferece instrumentos e nos guia para fazermos uma
pesquisa adequada. Pois, lidamos com um objeto que é igual a nós, pesquisador
e pesquisado são parte de um mesmo grupo de ser, que se diferencia pelas
perspectivas e visões de mundo. É nesse aspecto, que nossa pesquisa não é algo
fácil a ser realizado, e precisamos de instrumentos que nos ajudem a investigar
um fenômeno que contribua para a construção do conhecimento.

A perspectiva que o pesquisador toma é uma das possibilidades que ele


pode assumir diante das contribuições dos seus referenciais. Ao relacionar
teoria e prática se expressa um posicionamento teórico-metodológico, que leva
uma das versões possíveis numa pesquisa, seja ela quantitativa, qualitativa ou
comparativa. Nesse aspecto, é necessário ter a clareza dos referenciais que o
pesquisador se apoia, e qual o seu real objetivo ao realizar uma pesquisa, pois
não é algo que se determina aleatoriamente, e sim que requer uma organização
dos materiais que se quer trabalhar e os interesses de pesquisa, sem
necessariamente conceber uma teoria.

2.1. A Antropologia é eminentemente de ordem qualitativa

Diante do que a Antropologia se propõe a realizar, percebemos que


o método qualitativo é o mais utilizado nas pesquisas. Talvez isso se deva
ao fato de que é essa abordagem que nos traz a possibilidade de realizar
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entrevistas. É através de nossos informantes que podemos encontrar


reais chances de chegarmos a algumas conclusões, o que não significa
dizer que não usaremos outros métodos, mas que especificamente, a
abordagem qualitativa é mais interessante diante das hipóteses que
trazemos para a pesquisa e de trabalho e os nossos objetivos. Alberti
(2005) nos informa que “a escolha dos entrevistados é, em primeiro lugar,
guiada pelos objetivos da pesquisa. (...) É no contexto de formulação da
pesquisa, durante a elaboração de seu projeto, portanto, que aparece a
pergunta ‘quem entrevistar?’” (ALBERTI, 2005, p. 31). O autor ainda nos
apresenta que a escolha de quem irá ser entrevistado só se fundamenta
ao realizar as entrevistas, e a partir do que propomos na nossa hipótese e
objetivos geral e específico nossa busca se direciona aos eleitores. São
eles que podem nos informar e ajudar a compreender sobre nossas
questões de pesquisa. Para isso precisamos de um roteiro de entrevista
que deve ser elaborado com base na pesquisa sobre o tema abordado,
levantando questões seguindo os objetivos propostos no projeto,
conforme Alberti (2005).

Você quer ler? Teoria e Métodos de Pesquisa Social traz capítulos escritos por
estudiosos de renome internacional e pesquisadores experientes. Esta segunda
edição foi ampliada e atualizada em grande medida e apresenta todo o leque de
métodos de pesquisa em ciências sociais, em lugar de utilizar um paradigma em
especial. Os leitores são convidados a examinar as ideias expostas nestes
capítulos, com o intuito de aprender de mente aberta e revisitar e questionar
pressuposições.

SOMEKH, Bridget; LEWIN, Cathy (orgs.). Teoria e métodos de pesquisa social.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2015

3. A Relação entre teoria e prática de pesquisa


Passamos agora a discutir a relação entre método e pesquisa nas Ciências
Sociais, buscando ressaltar algumas correntes de pensamento, as estratégias de
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investigação e orientação de uma pesquisa. Ao escolher uma orientação de


pesquisa tomamos como referência a pesquisa quantitativa, qualitativa,
comparativa apresentando suas principais diferenças, ao mesmo tempo em que
temos a oportunidade de refletir sobre nossas próprias questões diante da
relação entre o pesquisador e objeto de estudo.

Com o desenvolvimento econômico, político, social e cultural da


sociedade, as Ciências Sociais se deparam com várias temáticas que podem ser
analisadas cientificamente. Esse modo de análise busca realizar abordagens
sem a interferência do subjetivo, isso requer um esforço intelectual do
pesquisador que tenta eliminar as interferências do senso comum, e ao mesmo
tempo interpretar os fenômenos do cotidiano, da sociedade. Quando nos
deparamos com a relação entre teoria e método, temos que ter a noção que
não estamos tratando de uma receita simples, em que os ingredientes já estão
dados.

Nas Ciências Sociais lidamos com autores clássicos que construíram


teorias que perduram até hoje. Ao fazermos pesquisa, observamos os
fenômenos, colhemos informações, lidamos com as novidades e diversidade, ao
nos darmos conta que não devemos adequar nossos fatos e observações à
teoria, e sim ampliar o conhecimento trazendo novas informações sobre os
fenômenos. A teoria nos dá um norte, nos oferece instrumentos e nos guia para
fazermos uma pesquisa adequada. Nesse aspecto, a teoria e método devem ser
trabalhados paralelamente sem nos deixarmos cegar ao ponto de acreditar
totalmente na teoria e realizar uma pesquisa que nada vai acrescentar, e sim
confirmar teorias.

Essa discussão complexa nos oferece um novo modo de conceber a


relação entre teoria e prática, métodos, conceitos, as novas propostas diante de
fenômenos também complexos. Trazendo a questão que nos é sempre
colocada, como se apropriar das teorias e métodos para orientar nossas
pesquisas. A teoria e prática não podem ser pensadas como oposições. A
primeira pensada como a ideia, a especulação, anterior à experiência. A segunda
é explicitada como a experiência, o trabalho de campo, como se teoria e prática
devessem ser separadas, e na verdade há uma simultaneidade na reflexão que
permita a produção do conhecimento.
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A perspectiva que o pesquisador toma é uma das possibilidades que ele


pode assumir diante das contribuições dos seus referenciais. Ao relacionar
teoria e prática se expressa um posicionamento teórico-metodológico, que leva
uma das versões possíveis numa pesquisa, seja ela quantitativa, qualitativa ou
comparativa. Como já foi tratado anteriormente, a teoria nos guia na pesquisa,
permitindo um diálogo do pesquisador com o seu objeto de pesquisa. Nesse
aspecto, é necessário ter a clareza dos referenciais que o pesquisador se apoia,
e qual o seu real objetivo ao realizar uma pesquisa, pois não é algo que seja
aleatório, e sim que requer uma organização dos materiais que se quer
trabalhar e os interesses de pesquisa, sem necessariamente conceber uma
teoria.

Esse processo trata da relação entre o sujeito e o objeto, que pode


assumir diferentes perspectivas nas diversas teorias, como também nas
diferentes abordagens na pesquisa. Podemos destacar a corrente positivista,
que acreditava na produção do conhecimento sem a interferência do sujeito.
Um dos principais representantes dessa perspectiva é Émile Durkheim, ao
propor o estudo dos fatos sociais como coisas, se detendo as representações
coletivas. Na Sociologia tomamos outra perspectiva estudada por Marx, em que
no processo de conhecimento se faz uma correlação entre sujeito e objeto,
aquele que conhece faz parte da sociedade que estuda, ou seja, não existe
método sem sujeito. Hoje, fica patente o fato que não se pode descartar que o
objeto de estudo tem voz e se posiciona diante de nossa pesquisa, é um diálogo
entre o pesquisador e o pesquisado que deve ser tratado como parte do nosso
processo de investigação e produção de conhecimento.

Ao realizar uma pesquisa podemos optar pela orientação quantitativa,


qualitativa ou mesmo a comparativa, ou relacionar as orientações. De forma
sucinta, a metodologia quantitativa se caracteriza pelo desenvolvimento da
investigação com base em técnicas específicas, utilizando de testes e
comprovações, e assim buscar o mais geral.

Uma pesquisa qualitativa se refere a técnicas como a observação


participante e entrevistas. Nessa orientação lidamos com os sujeitos, atores
sociais, buscando-se o diálogo, informações importantes para a pesquisa e a
observação das ações dos sujeitos pesquisados, o que requer uma
interpretação do nosso objeto de estudo. E nos estudos comparativos, temos a
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relação entre a história e a sociologia, que ainda abre para muitas discussões
sobre o uso da história no campo sociológico.

Pierre Bourdieu (1999) afirma que não podemos dissociar teoria e


método, pois a construção do conhecimento só se realiza na compreensão do
mundo social. A prática científica não garante que nossa investigação esteja
totalmente certa. O trabalho do sociólogo emprega técnicas da teoria do
conhecimento, o que significa que o mesmo pode rever os conceitos e criticar a
própria construção do trabalho. Isso porque no desenvolvimento da pesquisa,
estamos sendo testados, refletimos e questionamos nossa própria maneira de
lidar com os fenômenos e nos métodos que utilizamos no trabalho. Produzir
conhecimento requer o esforço de pensar e repensar o próprio trabalho,
combinando a prática científica e o que não é aparente nos fenômenos sociais, é
um processo de descoberta e produção do conhecimento, segundo Bourdieu.

Assim, quando iniciamos uma investigação temos que ter noção da


pesquisa que iremos desenvolver e qual o melhor método para chegarmos a
algumas conclusões. Passar pelo estudo da metodologia das Ciências Sociais
nos faz refletir sobre as orientações de pesquisa para guiar nossos projetos de
pesquisa acadêmica.

3.1. Campos de atuação de pesquisa do Antropólogo

O nosso campo de atuação pode ser nossa própria cidade. Alguns


elementos na cidade pode nos causar certo impacto que passam a ser interesse
de pesquisa. Quando estamos na universidade nós entramos em contato com
vários autores que podem nos guiar na pesquisa. A partir de nossa própria
vivência e redes sociais, não propriamente ligadas internet, podemos perceber
com um olhar mais profundo elementos que para nós precisam ser mais bem
explorados. Podemos citar uma infinidade de possíveis temas que podemos
estudar. E durante nosso tempo na universidade que esses temas nos chegam,
sejam pelos professores, pela participação em projetos, ou mesmo o que nos
chega a partir de espaços como a internet. Cabe a cada pesquisador ter a
sensibilidade e curiosidade de levar o que encontramos na teoria para a prática.
E muitas vezes é na prática que podemos mudar nossa percepção. Ela pode nos
surpreender e até levar para outros caminhos que não estavam previstos no
início da pesquisa.
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Enquanto pesquisadores precisamos começar com um problema que vai


ser explorado, vai ser aprofundado desde as leituras e vai, no próprio trabalho
de campo se exercer como forma de responder a questões que levantamos
para a pesquisa. Na escolha de nosso método de investigação podemos
encontrar essas respostas ou trazer novas questões que podem se desdobrar
em outras pesquisas.

4. A Etnografia: um recurso amplo e multidisciplinar

Figura 2 - “Caixa Furado”, anotações de Lévi-Strauss. Fonte: MAST.

A etnografia é uma fotografia de determinado povo em determinado


tempo. É preciso nesse método levar em consideração uma questão básica, a
dinamicidade da cultura. Isso porque nosso olhar etnográfico será sempre um
quadro estático diante de uma cultura que a todo instante se modifica. Nesse
sentido, podemos pensar que o estudo etnográfico um registro momentâneo,
enquanto a cultura é dinâmica e se modifica ao longo do tempo.

Outra questão importante sobre a etnografia tem a ver com sua


característica fundamental de descrever uma realidade. O importante não é só o
que os indivíduos dizem, mas também o que eles fazem, ou seja, a etnografia
lança mão de uma série de técnicas e instrumentos de pesquisa, tais como a
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entrevista e a observação. Durante uma pesquisa procuramos sempre ouvir, dar


voz ao nosso objeto, no sentido de tentar captar elementos culturais que sejam
essenciais para o entendimento daquilo que estamos propondo estudar. Mas
para além de uma linguagem verbal expressada por aqueles que estamos
atentos a ouvir, a experiência prática de comportamento, a ação dos indivíduos
e suas formas de se expressar não ditas ou faladas, mas praticadas são
fundamentais e fazem parte da realidade orgânica de determinada cultura. Por
isso que descrever exaustivamente o comportamento do outro, seja nos ritos,
cerimônias, práticas políticas etc é algo de grande relevância na prática
etnográfica.

Refletir sobre os objetos de estudo traz possibilidades de termos novos


recortes teóricos e empíricos. A metodologia científica que aplicamos nas nossas
pesquisas é bem mais que aprender sobre regras. Ela serve como um caminho
de busca racional visando alcançar um objetivo. Nós buscamos soluções aos
questionamentos que nos propomos a investigar. Utilizamos métodos e técnicas
que sejam adequados e que faça de nosso trabalho uma pesquisa científica.

O esforço em trazer discussões importantes sobre como construir nossos


textos foi de apresentar caminhos de investigação que buscam novas reflexões
e interpretações sobre os vários fenômenos. Falar do outro exige uma atitude
ética e uma maneira de lidar com os fatos e dados que sejam válidos para
construir textos científicos e que sejam reconhecidos para contribuir para o
desenvolvimento da própria Antropologia e das Ciências Sociais.

Você quer ver? Antropologia, método de pesquisa, diário de campo, Tikuna, Alto
Solimões. Neste video, o professor Silvio Coelho, da UFSC, conta sobre sua
experiência como assistente de pesquisa de Roberto Cardoso de Oliveira em
1962 no Alto Solimões com os índios Tikuna.

Vídeo postado no Canal do YouTube da Barbara Arisi. Publicado em 9 de jan de


2008

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lozkrArK0LU>.


Antropologia: Cultura e Sistema simbólico - Unidade 4 - Métodos e Técnicas de Pesquisa
Antropológica

Síntese
Até aqui trazemos um conjunto de contribuições que revelam
preocupações sobre a forma de se realizar pesquisa. E mais do que isso, exige
do pesquisador uma postura científica para validar a sua investigação que
resulta em artigos, monografias, dissertações e teses. Nós escrevemos para
outros pesquisadores também e precisamos ter o cuidado em lidar com nossos
dados, com nossos informantes e com o fato de no momento da escrita
estarmos colocando nossas observações e conclusões sobre nossos objetos de
estudo.

Nossa atitude ao observar os fenômenos e realizar o trabalho de campo


deve ser científica para não comprometer nossa pesquisa. É um dos desafios
que devemos seguir. Estamos lidando com pessoas que se tornam nossos
informantes. São eles que dão suporte a nossa investigação e são eles que nos
ajudam a refletir e a ter capacidade de expressar na escrita nossa interpretação
sobre os fatos.

A construção do conhecimento passa por todo esse movimento que


estamos discutindo. Desde as leituras e acesso a autores que nos trazem
pensamentos, métodos e objetos de pesquisa e maneiras de lidar com os
fenômenos diferentes, mas atentam à preocupação de que devemos lidar com o
que observamos de maneira científica. Como a escolha do melhor método de
investigação para nos ajudar a responder a questões que nos incomodam e que
buscamos respostas.

O exercício da pesquisa é um esforço de questionamentos incansáveis


que criam novas possibilidades de explicações. Podemos ter interesse em
estudar sobre política, mas podemos ter várias possibilidades de investigar
sobre tema, como a relação de política e gênero, política e a relação com as
instituições, e entre outras. São essas possibilidades que podemos aprofundar
sobre temas e construir uma das possíveis interpretações sobre eles.

Nesta unidade você teve a oportunidade de estudar os seguintes tópicas:

● Questões éticas envolvidas na produção de pesquisas antropológicas;


Exemplos de trabalhos na Antropologia com dilemas éticos;
Caminhos metodológicos;
A Antropologia é eminentemente de ordem qualitativa;
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Antropológica

A relação entre teoria e prática na pesquisa;


Campos de atuação de pesquisa do antropólogo;
A etnografia: um recurso amplo e multidisciplinar.
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Antropológica

Bibliografia
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BENEDICT, R. O crisântemo e a espada. 3º ed., São Paulo: Perspectiva,


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