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02/06/2020 Infraestrutura e superestrutura: o antifascismo e o anticapitalismo

Infraestrutura e superestrutura: o
antifascismo e o anticapitalismo
por João Vilela [*]

França, 1958. Charles De Gaulle, tendo aprovado o Programa do Conselho


Nacional de Resistência – onde, entre outras medidas, se previa a
nacionalização da banca e dos monopólios, a melhoria considerável das
condições de trabalho e, fundamentalmente, a criação do Estado social –, e na
vigência de uma constituição literalmente imposta por ele em 1946 (quando
forçou a convocação de uma segunda assembleia constituinte, dado que a
primeira assembleia eleita na subsequência da Libertação produzira uma Lei
Fundamental que julgava demasiado à esquerda), desferiu um golpe de Estado
para assumir o poder ilegalmente. O exército colonialista francês enfrenta
dificuldades na subjugação dos independentistas argelinos. Sob a sua liderança,
esse mesmo exército torturou e assassinou argelinos tanto na frente de guerra
como nos bairros populares das cidades e, na metrópole, a polícia francesa
chacinou, em 1961, a população muçulmana de Paris, arremessando os
cadáveres ao rio Sena, sob a liderança sinistra de Maurice Papon. Ainda no ano
final da guerra, também em Paris, a polícia atacou uma manifestação antifascista
de condenação da OAS (organização racista defensora de uma independência
branca da Argélia), matando, a golpes de matraca no crânio, oito militantes
comunistas.

Chile, 1971. O partido Democracia Cristã, tendo apoiado a eleição de Salvador


Allende em 1970, rompe com a coligação governamental e aproxima-se do
Partido Nacional, de direita, principal força da oposição contra-revolucionária ao
Governo da Unidade Popular. No âmbito desta aliança vão aprovar o Projecto
Hamilton-Fuentealba, alteração constitucional que colocava sérias barreiras à
continuação das reformas político-económicas propugnadas pela Unidade
Popular, e vão reverter, com ele, diversas nacionalizações e requisições feitas
anteriormente. Ao longo de 1972 e 1973 receberão profusamente financiamento
da CIA para minar o Governo Allende e, depois do golpe militar de Pinochet, logo
a 12 de Setembro de 1973, publicou um comunicado expressando alívio com a
derrocada do Governo eleito. Até 1990, e pese embora a diversidade de
posições dos seus militantes, a Democracia Cristã, no essencial, rejeitou o
Governo fascista – para vir, após a queda de Pinochet, a dirigir o processo de
transição do fascismo para a democracia burguesa sem julgamento de
torturadores, sem condenação de carrascos e carcereiros, sob silêncio,
branqueamento e denegação do dever de memória.

Portugal, 1975. Agrupando resistentes antifascistas de longa data (republicanos,


socialistas, católicos progressistas, etc) e depois de apresentar um programa
anticapitalista à eleição constituinte defendendo nacionalizações da banca, dos
seguros, de diversos sectores industriais estratégicos para o funcionamento da
economia nacional – medidas que, na subsequência do 11 de Março, votou
favoravelmente no Governo Provisório –, o PS muda velozmente de opinião, com
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o prestimoso auxílio de
Frank Carlucci,
embaixador norte-
americano em Portugal,
e do financiamento
vultuoso do Governo
norte-americano e da
Internacional Socialista.
Terá ainda ocasião de
votar a Constituição de
1976, a 2 de Abril de
1976: para, bem antes
de ter votado
favoravelmente todas e cada uma das suas alterações, ter, ainda na vigência do
seu texto original, liderado os mais variados ataques às conquistas políticas que
esta corporizava. Sob

Governos do PS se fará a Lei Barreto e os mais sangrentos ataques à Reforma


Agrária, entre eles a desocupação, com dois homicídios, da UCP Bento
Gonçalves, em 1979. Sob Governos do PS se instalarão na direcção das
empresas nacionalizadas gestores vindos directamente das administrações
anteriores à nacionalização, com vista, ostensivamente, à prática de uma gestão
descredibilizadora da propriedade pública dessas empresas. Sob Governos do
PS se apelará, pela voz de Maldonado Gonelha, à criação da UGT para «partir a
espinha à Intersindical».

Não há discussão possível sobre o antifascismo dos supracitados. Nem


discussão possível sobre o posicionamento ideológico antipopular em que se
encontram. As duas coisas, com efeito, nada têm de incompaginável: democracia
burguesa e fascismo são duas organizações do Estado, duas superestruturas,
saídas do modo de produção capitalista. Ambos visam consagrar, defender,
reforçar, e auxiliar a exploração do proletariado pela burguesia, municiando-a
com os utensílios ideológicos e repressivos necessários, consoante a conjuntura,
para o fazer. Quem torna aspecto central do seu posicionamento político a
defesa da democracia burguesa, sem identificar a natureza de classe dessa
forma de organização do Estado, e portanto sem pretender a superação
(inevitavelmente revolucionária) do modo de produção do qual a democracia
burguesa brota, poderá ter desejos nobres e generosos de igualdade (jurídica),
de liberdade (jurídica), de protecção de direitos e garantias dos seus
concidadãos. Não tem, contudo, a pretensão de transformar as relações de
produção vigentes na sociedade. Em rigor, e como se verifica, a maioria das
vezes, defende-as, considerando-as a normalidade, a ordem natural das coisas
que a democracia deve proteger e regular. E muito coerentemente, não vai
encontrar especial contradição entre a defesa da democracia e a supressão ou
mutilação dela para evitar a revolução. Essa supressão visa repor a normalidade,
será o argumento. E a normalidade, evidentemente, sob democracia burguesa, é
o poder burguês.

Por isso, e como verificamos, tantas vezes, com maior ou menor grau de perfídia,

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hipocrisia e calculismo, tantas vezes encontramos, ao longo da história,


antifascistas históricos empunhando o bastão da repressão antipopular,
derrubado o fascismo. Sempre o reencontraremos no futuro, e não devemos
espantar-nos de o vermos. Em verdade, só a incompreensão da ordem de
prioridades entre infra-estrutura e superestrutura pode alicerçar o espanto mais
vago nessa matéria.

Que esta perspectiva nunca se perca na apreciação da política de alianças que


importa ao proletariado para a sua emancipação: a de que as alianças com
forças políticas (e portanto, com classes e fracções de classe) empenhadas no
desmantelamento do modo de produção capitalista deve ser, sempre, anteposta
à aliança com organizações representativas das classes e sectores sociais
apostados na salvaguarda da democracia, sem discutir as relações de produção.
A possibilidade de derrotar a revolução proletária sob a democracia burguesa é
fortíssima e está mil vezes demonstrada pela prática. A de derrotar essa mesma
revolução quando esta arremete, mesmo contra a democracia burguesa, em
nome do desmantelamento do modo de produção capitalista tido por insuportável
mesmo com as liberdades burguesas dificilmente deixa, depois da sua
passagem, os vestígios de poder burguês que, nos exemplos citados, foram
semente da reacção vitoriosa. A lição de Lenine, aliado dos socialistas
revolucionários de esquerda contra os mencheviques, tem muito a ensinar-nos
nesta matéria.

[*] Licenciado em História e mestre em História e Educação.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .


07/Jan/15

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