Sei sulla pagina 1di 15

02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

Notificações AbrilAbril

NACIONAL | FASCISMO

Manuel Loff: «O fascismo não morreu»


NÃO OBRIGADO CONTINUAR

5 DE OUTUBRO DE 2019

Fascismo, populismo e capitalismo, três dos «ismos» sobre os quais se


debruça o historiador Manuel Lo , numa entrevista ao AbrilAbril, para analisar
o momento político em que vivemos.

Benito Mussolini e Adolf Hitler / iela.ufsc.br/

Trabalhas sobre o fascismo, ideologia que marcou o século XX. Mas os


artigos que publicas e muito do conteúdo de algumas entrevistas que te
são feitas falam sobre a actualidade. Há um diálogo entre o teu trabalho
e a realidade política que vivemos hoje?

Há diálogo porque o fascismo não morreu. É muito importante percebermos que na


história das ideias políticas e dos movimentos sociais cada conjuntura histórica
produz novas ideias políticas e actualiza outras. E é evidente que as ideologias de
uma forma ou de outra não morrem nunca.

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 1/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

A convicção sobre a qual se refundaram as democracias liberais a ocidente, a partir


Notificações AbrilAbril
de 1945, e se criaram os novos regimes que se definiram a si próprios como
socialistas na Europa Centro-Oriental, era de que o fascismo tinha morrido, uma
vez confirmada a sua derrota militar. Mas foi uma convicção com validade
provisória. NÃO OBRIGADO CONTINUAR

A extrema-direita que hoje nos aparece, não vou dizer que não seja uma novidade,
porque corresponde a uma conjuntura histórica diferente da do passado. Mas é
herdeira do fascismo dessa época e esteve sempre presente no espectro político
europeu e à escala mundial desde 1945.

Esta «nova» extrema-direita só poderia ter o mínimo de sucesso popular, eleitoral e


mediático uma vez reunidas de novo algumas das condições que habitualmente
estão presentes no momento em que o fascismo ou os «neo-fascismos» têm
aparecido e têm tido sucesso.

Ora, depois dos anos 80 dá-se uma mudança profunda no sistema económico
internacional com a viragem económica a que se tem chamado globalização e que é
uma ulterior expansão do sistema capitalista a regiões do globo de onde tinha
desaparecido, aliada a uma nova ordem internacional com a construção de um
mundo unipolar resultante da implosão do sistema soviético.

Este novo contexto histórico caracteriza-se pelo esgotamento da capacidade de


representação das democracias chamadas liberais e também o esgotamento, a
partir da perestroika, dos modelos de socialismo que estavam vigentes em grande
parte da Europa e abre espaço para que uma reinterpretação de uma velha
ideologia aparecesse como nova.

Chamar-lhe nos nossos dias de «populismo», ou simplesmente «extrema-direita»,


é uma forma sintética e até simplista de definir o que é a readaptação ao contexto
actual do fascismo na sua versão neo-fascista.

Essa extrema-direita é inevitavelmente herdeira dos


«O fascismo surge valores de uma ideologia que no contexto do final da
após a Primeira Primeira Guerra Mundial estava a nascer e que
Guerra Mundial, procurava uma solução radical de direita,
em grande assumidamente violenta, para resolver o problema da
medida como legitimidade popular e política dos regimes liberais,
mobilização de que tinham perdido a sua capacidade de adesão e
uma parte da reunião de consenso.
direita contra a Hoje começam a surgir estes novos movimentos que,
ameaça da em grande medida, são herdeiros do fascismo de há

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 2/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

revolução 100 anos e que pretendem disputar à esquerda a sua


Notificações AbrilAbril
socialista.» capacidade de contestação, procurando roubar-lhes a
bandeira da ruptura.

Ao contrário do fascismo dos anos 20, hoje têm o cuidado de nunca pôr
NÃO OBRIGADO CONTINUAR
formalmente em causa a natureza liberal-democrática dos regimes, embora
assumindo um discurso ultra-securitário do ponto de vista de criação de inimigos
externos, que têm manifestação interna a partir da imigração.

Como se explica que em Portugal não se assista até agora a um


crescimento eleitoral destas forças? Poderá tratar-se de uma inibição
que resulta do património que ainda existe fruto do processo
revolucionário do 25 de Abril de 1974 e do derrube do fascismo em
Portugal?

Bem, Portugal é só uma relativa excepção. Porque, como acontece geralmente com
este tipo de correntes de opinião, a extrema-direita pragmaticamente insere-se
mais ou menos dissimuladamente nos partidos da direita clássica. Como sempre
acontece com as ideias políticas, um dos aspectos centrais é saber o que é mais útil:
se a autonomia orgânica e criação de partidos próprios ou se, pelo contrário, entrar
em partidos já organizados e mais próximos do poder.

Não entendo que a extrema-direita até agora tenha praticado uma espécie de
entrismo, ou seja, não eram submarinos dissimulados dentro da direita. A direita
clássica portuguesa sempre incorporou homens e mulheres que assumiam, em
determinado tipo de debates, valores abertamente próximos da extrema-direita,
designadamente no que diz respeito à memória da ditadura salazarista. Mas
optaram por estar politicamente organizados dentro desses partidos.

Mas perguntas: é ou não relevante que não haja extrema-direita organicamente


autónoma com sucesso eleitoral em Portugal? Bem, houve uma progressão da
extrema-direita nas últimas eleições para o Parlamento Europeu que não foi pouca
coisa. Não sei qual vai ser o resultado final das eleições legislativas...

Manuel Lo é historiador, professor associado do Departamento de História e Estudos Políticos e


Internacionais da Universidade do Porto, investigador no Instituto de História Contemporânea da
Universidade Nova de Lisboa e autor de vários livros, entre eles «O Nosso Século é Fascista!»

Mas reconheço que é relevante que, em Portugal, a extrema-direita tenha muito


pouca dimensão. Isso decorre da forma como se respondeu à devastação social
criada pela crise financeira e recessão deliberada que o capitalismo assumiu em
2007/2008 – que no caso português tem o seu auge no governo da troika.

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 3/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

Se o descontentamento social não se transformou em centenas de milhares de votos


Notificações AbrilAbril
para aquilo que à escala internacional se tem chamado populismo, o motivo é que,
até à actualidade, nas situações de forte descontentamento social se mantêm à
esquerda forças políticas e sociais que têm conseguido travar eleitoralmente esse
crescimento. NÃO OBRIGADO CONTINUAR

Para além disso, tenho insistido que há uma cultura política de massas em
Portugal, disseminada à escala da sociedade portuguesa, que incorporou a rejeição
da ditadura salazarista.

Sim, alguns dizem que havia mais segurança, mais respeito, menos corrupção, mas
são narrativas normalmente moralistas e todas elas de pura reconstrução do
passado. No caso português, essa nostalgia concentra-se sobretudo na figura de
Salazar.

Em relação ao resto da memória da ditadura, não há nenhuma manifestação


consistente de que em Portugal se tenha relegitimado a falta de liberdade, a
proibição de partidos políticos e sindicatos, a interdição do direito à greve, a
censura, a tortura, a guerra colonial – e isso dificulta a progressão da extrema-
direita.

Em suma, não há saudades da ditadura, nunca se recuperou o salazarismo. Não é


que não haja tentativas, mas a direita portuguesa ainda está na fase de relativizar os
males do salazarismo. Tenta regressar a uma narrativa da casa portuguesa, que era
pobre mas honesta, e é o mais que consegue fazer.

Mas assistimos a uma certa «desinibição» no discurso da direita em


algumas matérias: sobre a entrada de imigrantes e refugiados na União
Europeia (UE), ou quando passa a utilizar a expressão «ideologia de
género» para atacar o que consideram ser medidas «anti-família».

Sim, mas alimentar o discurso moralmente reaccionário e de pura reacção à


evolução dos tempos nunca foi um exclusivo da extrema-direita. O horror à
transformação e à mudança está patente todas as vezes que se avança na direcção
da igualdade, do reconhecimento efectivo de direitos e da diversidade nas relações
sociais.

A criação desta expressão, «ideologia de género», que não é nova, é mais uma
reacção que vem ao encontro do discurso legitimador da desigualdade, que tende a
querer recordar os velhíssimos argumentos da naturalização. Que conceitos como a
família, a autoridade, a nação, a religião seriam fenómenos da natureza. Dizer que
«isto sempre foi assim» é uma pura invenção, nada na História «sempre foi assim».

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 4/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

Sobre a imigração vale a pena dizer que um dos modismos que a extrema-direita
Notificações AbrilAbril
portuguesa descobriu, e que podia ter saída em Portugal, é a discussão em torno do
outro. No caso português é simultaneamente a imigração e os ciganos. Mas no caso
da imigração existe um problema de fundo: o luso-tropicalismo mitifica a ideia de
que os portugueses seriam uma excepção na história colonial CONTINUAR
NÃO OBRIGADO à escala mundial e
que teriam demonstrado uma capacidade de relacionamento pacífico com os povos
coloniais.

Este paradigma luso-tropicalista, que continua


«A criação desta predominante em Portugal, inibe a extrema-direita,
expressão, na discussão da imigração, de verbalizar ataques
«ideologia de contra a comunidade brasileira e africana. Mas
género», que não manifestam-se de outras formas, por exemplo através
é nova, é mais da tese de que os pobres que não têm a mesma cor
uma reacção que são parasitas do Estado e do resto da comunidade.
vem ao encontro
Esta tese, que é sociológica e economicamente falsa,
do discurso tem popularidade em muitos sectores e passa por
legitimador da uma das formas mais eficazes de demonizar o outro,
desigualdade, que que é transformá-lo num criminoso ou num
tende a querer criminoso potencial.
recordar os
Como vês os argumentos que defendem a
velhíssimos
construção de um Museu sobre o Salazar – o
argumentos da
chamado «Centro Interpretativo do Estado
naturalização.»
Novo»? Como é que se pode justificar do
ponto de vista científico a abertura de um
museu com estas características?

Um conjunto de autoridades municipais, de uma zona tradicionalmente


conservadora do País, decidiu criar uma rede de centros interpretativos e o caso
mais conhecido é o chamado Centro Interpretativo do Estado Novo, cuja
elaboração do projecto foi entregue pela Câmara de Santa Comba Dão ao CEIS20
(Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra).
Começo por dizer que tenho um enorme respeito pelo trabalho do CEIS20 e não
tenho dúvidas sobre as intenções dos investigadores a quem a Câmara Municipal de
Santa Comba solicitou esta tarefa.

Mas solicitou-a depois de um outro executivo municipal ter proposto a criação de


um Museu Salazar, afirmando que era preciso «pôr Santa Comba no mapa». Esse
executivo propunha a criação de um Museu Salazar acompanhado daquilo que no

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 5/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

marketing se chama o branding, ou seja, acompanhado de enchidos de marca


Notificações AbrilAbril
Salazar, vinho Salazar, etc.

Ora, a questão é que criar um Centro Interpretativo do Estado Novo não requer o
território, o lugar da memória, o território associado à figura de António de Oliveira
NÃO OBRIGADO CONTINUAR
Salazar. Ele pode ser feito no Porto, em Guimarães ou em Valença do Minho, em
Olhão ou no Crato. Eu reconheço a razoabilidade de passar de Museu Salazar a
Centro Interpretativo porque um Museu Salazar não teria praticamente nada para
mostrar, não há espólio que justifique fazer-se um museu do antigo ditador.

E começa aqui a minha objecção de natureza metodológica e científica. Eu não


preciso de espólio nenhum materialmente associado à figura do ditador para fazer
um centro de interpretação do regime que ele dirigiu. Eu não preciso de explicar o
nazismo mostrando camisas de Adolf Hitler.

O que está aqui em questão é: porquê então ter escolhido um lugar da memória?
Um território, um conjunto de edifícios, um espaço natural na paisagem, na
geografia, que está directamente associado e que é relembrado e recordado pela
comunidade como sendo o território de Oliveira Salazar.

E quem é que vai habitualmente ao lugar do Vimieiro para visitar a campa de


Salazar e a casa onde nasceu, que tem placas comemorativas com frases que são
puro ideário neo-salazarista de justificação na democracia de uma alegada grandeza
histórica de Oliveira Salazar?

Há informações sobre um grande número de pessoas que ali vão numa atitude de
nostalgia e homenagem ao ditador. E será muito difícil criar uma interpretação do
que foi o Estado Novo dentro deste território, sendo expectável que a grande
maioria dos seus visitantes serão nostálgicos do salazarismo. Teriam que começar
por interpretar aquelas placas.

O que se vai criar é uma relação esquizofrénica, uma


«Eu não preciso vez que o visitante nostálgico rejeita o que considera
de espólio ser uma historiografia militante. E por sua vez, num
nenhum texto que foi colocado no site da Câmara, dizia o
materialmente presidente que não se tratava de elogiar o ditador
associado à gura nem de o demonizar. O que pretende dizer com isso?
do ditador para Quem é que o tem demonizado? Por que razão
fazer um centro de recomenda o presidente da Câmara aos historiadores
interpretação do que convida para que não se demonize a figura? É em

regime que ele relação a essa atitude que eu, se entendo o que se
pretende vir dizer, não posso senão manifestar a
dirigiu. Eu não
minha discordância total.
https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 6/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

preciso de explicar Há mais de 40 anos de historiografia, de boa


Notificações AbrilAbril
o nazismo investigação feita sobre o salazarismo, que tem
mostrando contribuído para uma interpretação do Estado Novo
sustentada na memória colectiva, nos documentos
camisas de Adolf
escritos e fontes primárias da história e não uma
Hitler.» NÃO OBRIGADO CONTINUAR
historiografia militante. De resto, a rejeição histórica
e política do que foi a ditadura fascista está
consagrada no preâmbulo da Constituição da República Portuguesa.

Enfim, não vejo que a criação de um Centro Interpretativo do Estado Novo em


Santa Comba Dão possa arrastar multidões de curiosos sobre a ditadura que se
sintam representados numa visão da história que tenha natureza científica.

O fascismo e o comunismo como «extremos que se tocam» é uma ideia


usada para aproximar as duas ideologias, nomeadamente dando-lhes o
rótulo de totalitarismo. Mas o fascismo cresce dentro do sistema
capitalista, e é recurso do capital para sobreviver enquanto modelo
económico, enquanto o comunismo pretende superar este modelo. Por
que é que se mantém esta ideia?

Uma das estratégias mais presentes, e até certo ponto mais eficazes, para tentar
legitimar ou reforçar politicamente o triunfo do neoliberalismo na fase final do
século XX e reforçar a legitimidade da ordem capitalista, é a tese que foi criada a
partir da chamada teoria do totalitarismo, que procura do ponto de vista académico
usar a seguinte argumentação: começa por definir como extremismo as opiniões
que de facto ou aparentemente contrariam o pensamento dominante. E daí faz o
raciocínio de que «no meio está a virtude» e que os extremos se tocam. Essa tese,
criada nos anos 30 mas reforçada nos anos 50 durante a Guerra Fria, afirma que
esses extremos são o nacional-socialismo, de um lado, e, do outro lado, o
comunismo, ainda não derrotado militarmente nem politicamente nessa altura.

A teoria totalitária reapareceu com grande impacto com o fim da URSS,


confundindo-se de certa forma com a tese do «fim da história» do Fukuyama e do
triunfo de uma espécie de versão liberal de democracia.

Por exemplo, sempre que haja críticos da UE e da sua política económica, estejam à
esquerda ou à direita, banaliza-se a ideia de que os extremos se tocam. Em primeiro
lugar, há aqui um simplismo de análise e um forçar da realidade. É uma espécie de
tripartição do mundo e a opção correcta está no meio. Em segundo lugar é
descontextualizar o aparecimento destas ideologias, a sua origem e a natureza
social e de classe dos seus projectos.

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 7/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

O fascismo surge após a Primeira Guerra Mundial,


«O fascismo Notificações AbrilAbril
em grande medida como mobilização de uma parte da
nunca pôs em direita contra a ameaça da revolução socialista. E
causa a ordem reforça-se com a grande depressão, a grande crise do
capitalista. E nesse capitalismo internacional em 1929.
NÃO OBRIGADO Ou seja, é, numa
CONTINUAR
sentido é primeira fase, a resposta à necessidade de uma parte
evidentemente um da direita de preservar a ordem capitalista contra a
produto, uma ameaça revolucionária e, numa segunda fase, a
opção, de uma passagem para uma reorganização do mundo e uma

parte maioritária disputa de mercados e hegemonias dentro da ordem


capitalista.
da direita social e
política e dos O fascismo nunca pôs em causa a ordem capitalista. E
interesses da nesse sentido é evidentemente um produto, uma
classe opção, de uma parte maioritária da direita social e
dominante.» política e dos interesses da classe dominante. O
fascismo em vários países europeus foi absorvendo e
«fascizando» grupos inteiros das direitas que até
então não eram fascistas, mas que se foram adaptando, que foram percebendo para
onde os ventos sopravam. Pelo contrário, o comunismo nasce numa procura da
ruptura com a ordem capitalista e consegue fazê-lo em vários casos.

Na Europa dos nossos dias, uma parte da extrema-direita manifesta reservas e


contesta, dentro da tradição nacionalista do fascismo, a forma como a UE retira
soberania e capacidade de decisão aos Estados e portanto, na perspectiva da
extrema-direita, às elites políticas e económicas conservadoras.

Mas o facto de uma parte da extrema-direita contestar as políticas da UE e, ao


mesmo tempo, as forças à esquerda contestarem esse mesmo processo não significa
que sejam semelhantes. Aqueles que, à esquerda, são críticos da forma como a
integração europeia se processou não se devem inibir de persistir nas suas opiniões,
porque não partilham de forma alguma a mesma barricada que a extrema-direita.

Como é que se podem defender os regimes democráticos ocidentais,


por oposição à ascensão do fascismo, quando nos deparamos com
medidas como a lei de emergência em França e a banalização dos
sistemas de vigilância e de outras medidas securitárias que limitam as
liberdades?

O fascismo dos anos 20 e dos anos 30 propiciou o aparecimento do anti-fascismo. E


o antifascismo foi uma das frentes de resistência, em favor da construção da

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 8/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

democracia e do seu aprofundamento, mais importantes para a transformação da


Notificações AbrilAbril
vida da humanidade.

O antifascismo não só garantiu depois do mais trágico e dramático acontecimento


da humanidade que foi a Segunda Guerra Mundial – considerando do ponto de
NÃO OBRIGADO CONTINUAR
vista cronológico um acontecimento que dura seis anos e que teve as consequências
que conhecemos – dizia, não só conseguiu assegurar as condições da derrota de
uma das maiores ameaças para os direitos individuais e colectivos que o fascismo
representou até 1945, como construiu as condições para a emancipação social,
étnica e de género, que ocorreu pelo menos nos 30 primeiros anos depois da
Segunda Guerra Mundial.

O fascismo teve esta capacidade, de mobilizar e de colocar numa luta comum


correntes políticas e grupos sociais com interesses muito diversificados entre si. E
não temos que ter vergonha nenhuma de saber que, em muitos casos, as nossas
políticas de aliança para construir resistência se façam pela negativa, quando
enfrentamos um perigo excepcional e incomum contra os nossos direitos, as nossas
liberdades, até a nossa existência.

Se o fascismo fez isto nos anos 20, e criou a tal frente


«Se o de resistência que produziu uma cultura política que
descontentamento desde há 70 anos tem servido de dique para proteger
social não se a democracia dos ataques autoritários à direita, hoje,
transformou em se vai reaparecendo, creio que possa ter a mesma
centenas de utilidade. E já há várias manifestações neste sentido.
milhares de votos Acho que vivemos uma época excepcional a esse nível
para aquilo que à e que este novo vigor da extrema-direita é um
escala fenómeno incomum das nossas vidas.

internacional se Mas nesse sentido, e respondendo à pergunta, para


tem chamado construir esta nova frente antifascista entre muitos
populismo, o sujeitos políticos diferentes, há contudo uma regra de
motivo é que, até coerência que temos que sublinhar. Que muitos dos
à actualidade, nas Estados europeus ocidentais, alguns dos quais com
situações de forte governos que se manifestam contra a extrema-direita,
descontentamento que habitualmente chamam de «populismo», têm
social se mantêm encenado a ideia do perigo do avanço da extrema-
direita, ao mesmo tempo têm transposto para a
à esquerda forças
legislação comum lógicas securitárias
políticas e sociais
verdadeiramente de estado de emergência.
que têm
conseguido travar

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 9/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

eleitoralmente Por um dever de coerência temos forçosamente que


Notificações AbrilAbril
esse crescimento.» denunciar esta deriva autoritária, este liberalismo do
medo que tem sido imposto a muitos cidadãos, num
momento em que, ao mesmo tempo, a extrema-
direita avança alimentando-se desseNÃO
mesmo medo.
OBRIGADO CONTINUAR

Chegando ao poder, pode dessa forma usar os recursos deixados por esses
governos, que não sendo de extrema-direita se comportaram exactamente como
qualquer governo da extrema-direita se comportaria. É fundamental não ter medo
das contradições: para resistir ao avanço do fascismo temos que simultaneamente
denunciar a deriva autoritária das chamadas democracias que escancaram as portas
à extrema-direita e às suas lógicas de acção política alicerçadas na violência.

TÓPICO

fascismo

ARTIGOS RELACIONADOS

Promover o ditador Salazar é branquear o fascismo

MDM evoca os lhos da clandestinidade

Parlamento condena «Museu Salazar» em Santa Comba Dão

50 anos da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos

Antigos presos políticos denunciam criação de um «Museu Salazar»

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 10/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

Notificações AbrilAbril

NÃO OBRIGADO CONTINUAR

FORÇAS ARMADAS

Suplemento da Condição Militar igual para todos

LAY-OFF

Concertação social com lay-off no meio da sala

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 11/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

Notificações AbrilAbril

NÃO OBRIGADO CONTINUAR

José Sena Goulão / Agência Lusa

NOVO BANCO

Lone Star vende Novo Banco em Espanha

/ Agronegócios

AGRICULTURA

Propostas do Governo são o que a lavoura precisa? CNA promove debate

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 12/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

Notificações AbrilAbril

NÃO OBRIGADO CONTINUAR

SOBERANIA NACIONAL

Soberania e desenvolvimento em debate

João Relvas / Agência Lusa

FORÇAS ARMADAS

O cumprimento da lei do associativismo militar continua a marcar passo

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 13/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

Notificações AbrilAbril

NÃO OBRIGADO CONTINUAR

Tiago Petinga / Agência Lusa

ECONOMIA

É o grande capital quem sai a ganhar

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 14/15
02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril

António Cotrim / LUSA

DEBATE QUINZENAL
Notificações AbrilAbril
SNS: um papel insubstituível

NÃO OBRIGADO CONTINUAR

Mantenha-se actualizado
Subscreva a nossa newsletter diária

Subscribe

Trabalho Nacional Local Internacional Opinião Cultura

Siga-nos

Ficha Técnica Quem Somos Contactos

https://www.abrilabril.pt/nacional/manuel-loff-o-fascismo-nao-morreu 15/15

Potrebbero piacerti anche